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Produção, v. 20, n. 2, abr./jun. 2010, p.

160-171
doi: 10.1590/S0103-65132010005000021

Aliança estratégica no canal de marketing :


o caso ALE Combustíveis S.A.

Carlos Eduardo Garcia Cottaa,*, Edson José Daltob


a,
*carlos.cotta@ale.com.br, IBMEC/RJ, Brasil
b
edalto@ibmecrj.br, IBMEC/RJ, Brasil

Resumo
O artigo analisa a estratégia utilizada pela ALE Combustíveis em uma operação desenhada para vender lubrificantes
automotivos em sua rede de postos. O estudo avalia as alianças efetuadas com a Elf e posteriormente com a AC
Delco, revelando as motivações, escolha dos parceiros, desenho do modelo de relacionamento, gestão das alianças
e avaliação do modelo adotado, confrontando a experiência prática com as prescrições da literatura. O modelo
adotado, denominado broker, caracteriza-se pela preservação da autonomia das marcas, com a ALE aportando sua
estrutura e força de vendas, e o parceiro, a logística de reabastecimento e processamento de pedidos. O método
do caso foi adotado como estratégia de pesquisa e o relato revela o acerto na escolha do modelo, porém falhas
estratégicas na capacidade operacional e posicionamento do produto, na aliança com a Elf, e na relação de forças no
canal, na aliança com a AC Delco, conduziram ao fracasso de ambas as tentativas.
Palavras-chave
Aliança estratégica. Canais de marketing . Gerenciamento de alianças. Lubrificantes.

1. Introdução
No Brasil, ao contrário da exploração, produção No mercado varejista, verificou-se o aumento
e refino, a distribuição e revenda varejista nunca de postos com bandeira branca, que em 2003
estiveram sujeitas ao monopólio estatal. Porém, somavam 12.022 de um total de 43.189. Com
até 1997, dependiam de regulamentação do isso, a participação de postos das cinco maiores
Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), que empresas caiu para 72,2% naquele ano (REVISTA
determinava os preços de compra e venda. Com o DE COMBUSTÍVEIS, 2006).
objetivo de dinamizar esse setor, a regulamentação Inserido nesse contexto, o mercado de
começou a ser flexibilizada a partir de 1992. lubrificantes automotivos movimenta anualmente
Em 1997, quando apenas a Petrobras (BR), 606  milhões de litros. As cinco tradicionais
Ipiranga, Shell, Esso e Texaco atuavam no mercado, distribuidoras de petróleo e maiores empresas do
o governo autorizou os postos de combustíveis a se país possuem 77% do mercado (SINDILUB, 2006).
manterem vinculados a uma distribuidora ou atuarem Todas com fabricação própria, apresentando
de forma independente, como “bandeira branca”. Isto embalagens modernas e atraentes e produtos com
permitiu a entrada de pequenas redes de postos, formulação aprovada por institutos internacionais
abrindo espaço para a criação de distribuidoras e montadoras de veículos. Normalmente
menores e ampliando a concorrência. comercializam seus produtos diretamente para
Com o processo de liberalização, a estrutura do clientes contratados (postos e consumidores finais –
mercado sofreu profundas modificações. Em 1998 indústrias, transportadores, empresas de ônibus etc.)
as grandes distribuidoras passaram a controlar 83% e através de distribuidores. Estes têm como objetivo
das vendas, sendo que em 2002 essa parcela havia alcançar outros segmentos, como supertroca (lojas
recuado para 70%. O número de distribuidoras especializadas no serviço de troca de óleo), oficinas
cresceu rapidamente, passando de 67 em 1997 para mecânicas, supermercados e consumidores finais
243 em 2003 (REVISTA DE COMBUSTÍVEIS, 2006). não contratados.
*Faculdades IBMEC/RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido 16/04/2008; Aceito 27/08/2009
Cotta, C. E. G. et al.
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Outras três marcas internacionais atuam no A quarta apresenta as alianças formadas pela ALE
mercado, porém sem ter rede de postos própria. Essa com a Elf e depois com a AC Delco. A quinta parte
carência dificulta a visibilidade de suas marcas, bem analisa as alianças formadas à luz da literatura
como a penetração de seus produtos nesse canal de apresentada. Finalmente a sexta parte dedica-se às
vendas, que é o mais importante. A mais antiga e considerações finais.
tradicional no mercado é a Castrol, multinacional
inglesa fundada em 1957 e com uma participação
de mercado de 7%. As outras duas são a francesa
2. Referencial teórico
Elf e a americana FL (Tutela) com participação
Nesta seção do trabalho são apresentados os
conjunta inferior a 5%. As demais empresas, com
fundamentos teóricos da motivação da formação
participações menores, somadas representam
de alianças estratégicas, condições para o sucesso,
apenas 11% do total (SINDILUB, 2006).
benefícios, riscos, fases da evolução e a tipologia
Embora considere o segmento de lubrificantes
das alianças. A seguir, na seção 2.2, conceituam‑se
estratégico, por completar um importante mix de
canais de distribuição, a diferenciação entre canais
produtos para a empresa, a ALE não contempla em
de marketing e de logística, o conceito de logística
seu planejamento estratégico construir uma fábrica
integrada e nível de serviço nos canais.
ou mesmo operar com uma linha de produtos com
marca própria. Essa decisão significaria aportar
vultosos recursos (estimam-se 10 milhões de reais no 2.1. Alianças estratégicas
primeiro ano) no desenvolvimento de formulação,
embalagens, aprovação em institutos e construção A chave do sucesso para uma aliança sólida é
de marca. Da sua carteira de clientes, estima-se a escolha do parceiro certo. Quando há objetivos
que o potencial é de 200 mil l/mês em termos de estratégicos convergentes, princípios corporativos
volume de vendas, representando aproximadamente semelhantes, necessidades e capacidades
um faturamento de R$ 1,2 milhão. complementares, e espírito de cooperação, a chance
Em consequência desse potencial de vendas de sucesso é grande. Rosenbloom (2002) considera
e de sua carteira de clientes, a ALE vem atraindo que uma aliança estratégica deve possuir os seguintes
empresas fabricantes multinacionais e nacionais que atributos: confiança, segurança, responsabilidade e
não participam do mercado de postos de revenda. habilidades pessoais dos envolvidos, que levam ao
Diante dessa situação, a empresa optou por operar estabelecimento de metas mutuamente benéficas.
de maneira inédita no mercado de lubrificantes Entretanto, o mercado também traz muitos
no Brasil, através de um acordo comercial de exemplos de alianças mal-sucedidas. Nesse sentido,
representação, que lhe dá exclusividade na venda Bowersox e Closs (2001) levantam alguns motivos
dos produtos para os clientes de sua carteira. pelos quais as alianças fracassam: metas imprecisas,
Constituiu-se então um novo modelo de aliança nível inadequado de confiança, promessas
estratégica no mercado de lubrificantes. O caso infundadas de nível de serviço, incompatibilidade
a ser apresentado aborda as experiências da ALE no relacionamento, estrutura operacional fraca e
neste modelo. mensuração inadequada.
O objetivo deste artigo é analisar os motivadores, Outros aspectos levantados por Hitt, Ireland e
o modelo de aliança estratégica adotado pela ALE Hoskinsson (2002) e que precisam ser analisados são:
e o relacionamento com a Elf e AC Delco como falsificação de competências, contratos inadequados,
parceiros no canal de distribuição. habilidades administrativas ineficientes e diferenças
O estudo abrange a teoria e a prática da formação de estilo administrativo.
de alianças estratégicas no canal de marketing, Para que a parceria seja efetiva e funcione
com foco na experiência da ALE no mercado de a contento, todas as partes devem abrir mão
lubrificantes, não abordando a comercialização de de vantagens unilaterais de maneira que o
outros produtos da indústria do petróleo. relacionamento se desenvolva. Focar recursos na
O trabalho está organizado em seis partes. aliança e renunciar aos lucros no início fazem parte
A primeira, já mostrada, apresenta o tema, sua dos sacrifícios envolvidos, inerentes a parcerias de
importância, o objetivo da pesquisa, seu escopo sucesso (COUGHLAN et  al., 2002). Mas, para que
e estrutura. A segunda traz a revisão de literatura a relação de confiança se solidifique, é condição
concentrando-se nos temas de formação de alianças necessária o retorno financeiro esperado. Não
estratégicas e análise de canais de distribuição. A há como construir uma relação forte sem que os
terceira parte revela a metodologia da pesquisa. parceiros atinjam seus objetivos econômicos.
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Segundo Coughlan et al. (2002), a estabilidade compartilhar seus recursos e conhecimentos para o
do fornecedor, corte de custos, diferenciação no desenvolvimento e comercialização de produtos e
mercado e vantagem competitiva duradoura são serviços. Um exemplo clássico desse tipo de aliança é
motivos que conduzem e promovem as parcerias o setor da aviação internacional que compartilha, por
estratégicas entre produtores e distribuidores. Da exemplo, os serviços de manutenção, atendimento
parte do produtor, é importante que o distribuidor ao público, bagagens e outros. Na aliança do tipo
seja um parceiro que ajude a diferenciar sua marca, vertical, as empresas parceiras encontram-se em
especialmente em mercados em que o fator crítico diferentes etapas da cadeia de valor.
de sucesso não é a propaganda, mas a atuação e Segundo Tavares (2002), dois terços das
os serviços do distribuidor. Pelo lado do distribuidor maiores empresas líderes no Brasil estabelecem
as vantagens também podem ser relevantes. Para alianças estratégicas buscando principalmente
Siguaw, Simpson e Baker (1998), distribuidores que compartilhamento de recursos, competências
são orientados ao mercado tendem a conseguir complementares e redução de custos. Sua pesquisa
ganhos consideráveis em seu desempenho relatou ainda que um terço das maiores empresas
financeiro. Nesse sentido, as parcerias ganha-ganha líderes trabalha em redes estratégicas, sendo que
são mais promissoras, na medida em que produtores percebem que essas alianças influenciam seu
e distribuidores estão focados direta e indiretamente desempenho e mudam a natureza da competição.
no aumento das vendas. Por outro lado, a parceria traz como risco
Segundo Dwyer, Schurr e Oh (1987), as parcerias inerente o desenvolvimento de um processo de
estratégicas passam por cinco fases importantes, interdependência, que pode ser desvantajoso para
desde seu estabelecimento até seu encerramento: um dos lados no futuro.
Conscientização (ou amadurecimento); Exploração
(fase de testes); Expansão (aumento dos benefícios);
2.2. Canais de distribuição
Compromisso (investimento na criação e manutenção
do compromisso); e Declínio (insatisfação de um ou Canais de distribuição estruturam a rede de
de ambos os lados). comércio, através dos quais fluem os produtos
Ao abordar a questão do interesse de fazer com manufaturados. Caracterizam-se pelo conjunto de
que todo relacionamento venha a constituir uma entidades que compõem um caminho de acesso
aliança estratégica, Coughlan et al. (2002) postulam dos bens ou serviços aos consumidores. Com maior
que o custo e a dificuldade de desenvolver alianças rigor, Kotler (2003) define canal de distribuição
proveitosas – além da ausência de garantias de como o conjunto de organizações interdependentes
sucesso na relação – impõem grande necessidade envolvidas no processo de oferecimento de um
de avaliação da relação. produto ou serviço para uso ou consumo de um
Hitt, Ireland e Hoskinsson (2002) apresentam cliente final ou usuário empresarial. Intermediários
dois níveis de aliança estratégica: são utilizados em grande parte, devido à maior
• Nível de unidades de negócio – Inclui as alianças eficiência provida, quando o serviço de distribuição
complementares, alianças para redução da é executado. Em função da rede de contatos,
competição, alianças de resposta à competição e especialização e a escala operacional obtida,
alianças para redução de incerteza; decorrem ganhos à indústria quando comparados
• Nível corporativo – Inclui as alianças de com a realização das tarefas diretamente.
diversificação, alianças sinergéticas e franchising. De acordo com Bowersox e Closs (2001),
Dentro do escopo da pesquisa, estaremos existe uma diferença conceitual entre canais de
abordando principalmente as alianças marketing e de logística, que constituem os canais
complementares, para a qual os autores trazem a de distribuição. Canais de marketing são compostos
seguinte definição: por empresas que estão voltadas para as transações
Alianças estratégicas complementares são projetadas de compra e venda. Já os canais de logística são
para tirar proveito de oportunidades de mercado constituídos por empresas que administram os
combinando os ativos da firma sócia de uma forma níveis e a movimentação dos estoques. Enquanto
complementar para criar valor. Alianças horizontais e o canal de marketing opera a transferência de
verticais são os dois tipos de alianças complementares propriedade dos bens entre os elos, a logística se
(HITT; IRELAND; HOSKINSSON, 2002, p. 369). concentra apenas no fluxo de produtos. O fato de
Alianças complementares horizontais são ocorrerem em paralelo significa que não pode existir
formadas por empresas que atuam no mesmo nível uma eficiente gestão de canal sem uma logística
da cadeia produtiva, sendo que estas concordam em também eficiente (BOWERSOX; CLOSS, 2001).
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A administração moderna de logística procura forças a justaposição de proposições contraditórias ou


tratar os seus elos (manuseio de mercadorias, paradoxais, obrigando o pesquisador a descongelar
transporte, controle de estoque, armazenamento, seu pensamento, buscando nas evidências factuais
processamento de pedidos e embalagem) através argumentos para sustentar uma explicação
do conceito de sistemas, constituindo o que se coerente, diferentemente das teorias incrementais.
denomina de logística integrada (BOWERSOX; No entanto, a mesma autora adverte para dois
CLOSS, 2001). problemas na utilização dessa metodologia, que são
As empresas investem em um projeto logístico a falta de parcimônia e a idiossincrasia da teoria.
para assegurar que seus produtos e serviços cheguem Ambos decorrem da profusão e riqueza de dados
ao cliente no momento certo, na quantidade exata, levantados, que sugerem ao pesquisador valer-se
no sortimento almejado, e a um menor custo. Por de grande parte deles na construção teórica, o que
isso, cada vez mais se valoriza a pontualidade, a dificulta a generalização.
informação sobre os pedidos, a disponibilidade De acordo com Yin (2004), para efetuar a
da mercadoria e outros aspectos que se tornaram pesquisa com confiabilidade e dar melhor orientação
diferenciais no mundo globalizado e de grande no processo, o pesquisador deve observar três
concorrência (FLEURY; WANKE; FIGUEIREDO, princípios para assegurar a validade de construto e
2000). a confiabilidade do estudo:
Segundo Hijjar et al. (2003), fica cada vez mais • Utilizar várias fontes de evidência, valendo-se da
evidente que os fornecedores precisam adequar triangulação;
sua forma de trabalho às exigências dos varejistas, • Criar um banco de dados para o estudo de caso;
de modo a proporcionar um serviço melhor ao
• Manter o encadeamento das evidências, na
consumidor. Evidentemente, os níveis de exigência
perspectiva de um observador externo.
e os atributos a serem avaliados dependem do tipo
de serviço e do mercado onde as empresas estão Seguindo essa proposta que ressalta a
inseridas. importância do uso da triangulação de fontes
diversas para gerar conclusões mais sólidas, foram
Mesmo que uma empresa possa desempenhar
coletados dados pelos seguintes meios:
satisfatoriamente as duas atividades, a tendência
é que se estruturem separadamente os serviços de • Fonte secundária, através do estudo e análise
marketing e os de logística. Embora relacionados de documentos para “corroborar e valorizar
entre si, os fatores que afetam o desempenho de um as evidências oriundas de outras fontes” (YIN,
2004). Os documentos foram disponibilizados
podem ter efeito contrário no outro (BOWERSOX;
pela empresa, sendo, em sua maioria, dados
CLOSS, 2001).
publicados;
• Observação participante, realizada por um dos
3. Metodologia autores do trabalho, na condição de diretor
comercial e coparticipante do processo das alianças
O presente trabalho utiliza o método do estratégicas.
estudo de caso, baseado nos seguintes argumentos
apresentados por Yin (2004): • Entrevistas semiestruturadas em profundidade com
os principais executivos da ALE e de seus parceiros
• A pergunta central que orienta este estudo é do para obter suas impressões em relação a diversos
tipo “como”;
fatores das alianças.
• O autor da pesquisa não possui o controle sobre os Os entrevistados e respectivas identificações
acontecimentos;
dividem-se na pesquisa entre:
• O foco da pesquisa está calcado em um fato • ALE: Presidente (E1), Diretor de Logística (E2) e
recente ocorrido na vida real. Gerente de Lubrificantes (E3);
O método do estudo de caso fundamenta-se na
• Elf: Gerente de Lubrificantes (E4);
teoria de estruturação e construção, que procura
avaliar e explicar com mais profundidade fenômenos • AC Delco: Gerente de Projeto de Lubrificantes (E5)
complexos da vida real. O objetivo é trazer para o e Assessor da Linha de Lubrificantes (E6).
meio acadêmico e empresarial novos conhecimentos A etapa de entrevistas realizou-se no período de
através de observações e interpretações holísticas 14 de setembro a 5 de outubro de 2006.
(RIEGES, 2003; REMENYI et al., 1998). A pesquisa foi estruturada de acordo com os
Eisenhardt (1989) argumenta que os estudos seguintes tópicos: criação do modelo, definição da
de casos constituem-se importantes fontes de estratégia de aliança e seus elementos, gestão da
construção teórica, sendo uma de suas principais aliança e avaliação do modelo.
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4. Apresentação do caso ALE Fórmula  1 e principal fornecedora das marcas


Combustíveis S.A. Renault e Citröen. Dispunha de uma linha completa
de produtos e lubrificantes de última geração,
A ALE Combustíveis S.A. foi fundada em 1996, fábrica própria em São Paulo, além de embalagens
com capital nacional privado. Atua no negócio modernas e atraentes. A proposta aprovada
de distribuição de combustíveis no Brasil, que se foi que a ALE receberia 20% da receita líquida
caracteriza por margens baixas e, portanto, escala é (receita bruta – impostos) das vendas efetivamente
fundamental. Nesse sentido, todo o esforço da ALE, faturadas e pagas. Receberia ainda R$ 160 mil pelo
desde sua fundação, concentrou-se em aumentar “direito de passagem” (fee ), por um contrato de
sua cadeia de postos, o que demandou elevados três anos e/ou 4 milhões de litros vendidos. A Elf
investimentos em imagem e capital de giro, além de ficaria responsável pelos materiais promocionais e
construção de bases de armazenagem de derivados. dos pontos de vendas (displays, folhetos e etiquetas
Sua estrutura de capital não comportava, de lubrificação).
portanto, investimentos em fábrica de lubrificantes Esse modelo inovador apresentou, no
e desenvolvimento de uma linha de produtos com entanto, três problemas graves que prejudicaram
embalagens, certificações de montadoras de veículos, sobremaneira o relacionamento entre os parceiros:
formulação de produtos, desenvolvimento de marca a divergência de foco, a distribuição e a liquidação
e contratação de pessoal especializado. Por outro financeira.
lado, não participar do mercado de lubrificantes
Em 2004 o mercado de lubrificantes estava
significava operar com um mix de produtos
bastante acirrado e a Elf concentrava seus esforços
incompletos, ao mesmo tempo que enfraquecia
sua relação comercial com seus revendedores, pois, na linha premium, de preços mais elevados, pois
ao abrir espaço para os concorrentes, a ALE estaria obtinha maior lucratividade. Os postos da ALE
declinando de uma receita importante. localizavam-se em cidades do interior ou periferia dos
grandes centros, nos estados de Minas Gerias, Rio de
Seu dilema consistia em controlar uma
Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, São
importante fatia do principal canal de distribuição de
lubrificantes, sua cadeia de postos, e não ter acesso Paulo, Paraná e Bahia. Seu perfil estava, portanto,
ao produto. Como havia no mercado empresas com voltado para lubrificantes da linha de “combate”, de
posição inversa, ou seja, produtoras de lubrificantes e qualidade inferior e preços mais baixos.
sem a participação no principal canal de distribuição, As vendas da Elf eram focalizadas nas
estava identificado aí um potencial de aliança. O concessionárias Renault e Citröen – fruto de um
modelo desenhado pela ALE, em função de sua acordo internacional – e em alguns distribuidores e,
carteira de clientes e pela atratividade exercida nos portanto, demandavam uma logística muito simples
fabricantes de lubrificantes com marca forte, sem e concentrada em grandes centros urbanos. O perfil
uma rede de postos, foi o de broker. O modelo das vendas da ALE era muito mais fracionado.
permitia aos parceiros atuar cooperativamente Consequentemente, o sistema de entrega não
dentro do escopo da aliança, preservando os direitos funcionou. A fábrica não conseguia entregar de
de propriedade das respectivas marcas. Atribuía-se à modo eficiente as quantidades solicitadas. Havia
ALE a responsabilidade de agenciar os pedidos junto um compromisso de prazos máximos de até quatro
aos consumidores, através de sua força de vendas, dias para entrega na capital e até oito dias no
enquanto o fornecedor arcava com o estoque, interior, que não foram cumpridos. Estes atrasos
gerenciamento do crédito, faturamento e logística. geraram desgaste e afetaram o desempenho das
Inicialmente foram prospectadas as empresas vendas. Na análise da capacidade do fornecedor,
Castrol, Tutela e Elf. Todas com marcas esse fator (logística) foi superficialmente analisado
reconhecidamente fortes no mercado nacional e por ambas as empresas. O problema foi solucionado
internacional, com produção própria, formulações depois de muitos atritos, através da contratação de
aprovadas nas principais montadoras de veículos um operador logístico.
leves e pesados, ampla linha de lubrificantes e Outro ponto de desgaste foi a liquidação
graxas, inclusive no segmento industrial. financeira dos pagamentos. O volume de notas
fiscais e faturamento da Elf eram menores em função
4.1. Aliança com a Elf do número de transações com as concessionárias e
distribuidores. O volume de transações com os postos
Tendo sido visitadas a Castrol, Tutela e Elf, ALE aumentou consideravelmente e a estrutura da
a melhor proposta apresentada foi a da Elf. Elf não estava preparada para fazer a liquidação
Marca internacionalmente conhecida, principal para uma carteira de clientes quase 50 vezes maior.
patrocinadora do Rally Paris–Dacar, presente na Passou de uma venda de atacado para uma venda
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Tabela 1. Vendas de lubrificantes Elf. 2 Receberia a mesma comissão de 20% sobre a


Período Volume (litros) receita líquida;
Jun. 01/Dez. 01 95.158 3 Estavam sendo disponibilizados uma linha
Jan. 02/Dez. 02 280.337 extensa de acessórios e outros produtos da linha
Jan. 03/Dez. 03 652.803 automotiva da AC Delco (baterias, palhetas, filtros,
Jan. 04/Ago. 04 304.875 produtos químicos etc.);
Total vendido 1.333.173 4 Direito de passagem (fee ) de R$ 200 mil/ano, por
Fonte: ALE Combustíveis S.A. um contrato de três anos, sem compromisso de
volume;
de varejo. Mais uma vez houve erro de avaliação 5 Campanha de lançamento voltada para os clientes
quanto à capacidade do fornecedor de administrar ALE totalmente custeada pela AC Delco;
o volume do faturamento. 6 Enxoval para os postos ALE com expositores,
Na Tabela 1 é apresentada a evolução das coletes para frentista, pôsteres, tabelas e material
vendas nos três anos de vigência do contrato. promocional.
Embora a ALE tenha vendido apenas 33% Antes de assinar o contrato, foi feita uma
do volume, o contrato se encerrou depois de avaliação detalhada do fornecedor, particularmente
decorridos os três anos compromissados. No final sobre os pontos críticos do contrato anterior,
deste período, a logística e o faturamento estavam como a logística de entrega e o faturamento.
funcionando em níveis razoáveis de controle. Nesse caso, a AC Delco já possuía uma estrutura
Além disso, um importante segmento em que a de varejo e faturava e entregava de forma muito
ALE atua é o de consumidor final, que consiste nas mais fragmentada que a própria ALE. A marca
vendas diretas para transportadoras, pequenas e aparentemente não foi um problema, pois a AC
médias indústrias, empresas de transportes urbanos, Delco, embora não tenha tradição em lubrificantes,
grandes fazendas e pesca. Para a ALE é uma é muito forte na área de autopeças e carrega a
participação estratégica. Este segmento demanda tradição e a força da marca GM.
uma linha especial de lubrificantes e possui um No primeiro ano de relacionamento, após um
potencial elevado de consumo. Como se utilizam de período inicial de adaptação, o desempenho da
máquinas caras e fundamentais para o funcionamento parceria avançava como esperado. O crescimento
do negócio, a questão da lubrificação (manutenção) das vendas seguia conforme planejado, havia boa
passa a ter um caráter fundamental. A linha da Elf aceitação por parte da revenda e dos consumidores
nesse segmento não era completa. Sua fábrica está dos produtos, a equipe de vendas trabalhava nos
voltada principalmente para lubrificantes da linha investimentos no ponto de venda e a oferta de
leve. Sua estratégia para esse segmento apoiava-se na acessórios da AC Delco foi um diferencial e nova
possibilidade de importar de outras fábricas espalhadas fonte de receita para os revendedores ALE. Todos
pelo mundo, o que na prática não funciona, pois o os compromissos assumidos em contrato estavam
segmento demanda um suprimento regular, com sendo cumpridos, o que deixava a relação mais forte.
preços competitivos e disponibilidade imediata, caso A ALE ficou bastante satisfeita com a divulgação da
algum problema com o maquinário venha a ocorrer. parceria e a associação de sua marca com a GM.
Após um ano de convivência, a AC Delco procurou
4.2. Aliança com a AC Delco a ALE para explicar que não seria mais possível
Essa situação com a frustração dos volumes cumprir o contrato, pois sua fornecedora, a BR
vendidos abriu espaço para uma negociação Distribuidora, não tinha mais interesse em continuar
inédita. A primeira parceria entre uma montadora suprindo-a. Na verdade, a BR estava interessada em
ser fornecedora da GM em combustíveis e aceitou
de automóveis e uma distribuidora de petróleo. A
fornecer lubrificantes para a AC Delco visando
AC Delco, braço da General Motors, oferecia uma
aquele produto. Como a GM fez uma concorrência
proposta para a ALE extremamente competitiva
e a Texaco saiu vencedora, fechando contrato
e atraente. Como todos os produtos que vende,
por dois anos com a montadora, a BR “perdeu o
o lubrificante era produzido por terceiros (BR) e
interesse” e simplesmente cortou o fornecimento de
levava a marca AC Delco. lubrificantes para a AC Delco. A Texaco, além de
Além de se associar a uma marca forte como abastecer a montadora com combustíveis, fornece
a GM, a ALE teria as seguintes vantagens no lubrificantes para a GM (concessionárias) e não tem
contrato: interesse e nem o compromisso de fornecer para a
1 Os produtos da AC Delco seriam 10% mais baratos AC Delco. Para credenciar outro fornecedor na AC
que os similares da Elf; Delco, o processo demoraria pelo menos dois anos
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para homologações e aprovações internamente. A Estes poderão estabelecer uma relação comercial
ALE não poderia esperar este tempo. Estava assim secundária, e tornar-se uma ameaça concreta no
comprometido o que seria um grande negócio para futuro.
a ALE. Outra razão importante para a comercialização de
Para evitar uma demanda judicial, acabaram lubrificantes é o relacionamento com o consumidor
fazendo um acordo. Hoje a ALE está no mercado final, principalmente pelo controle da oferta dos
procurando alternativas. Ainda sofre desgaste com produtos vendidos. Os especialistas entendem que
sua carteira de clientes e a perda de receita, pois, a percepção de qualidade dos produtos ofertados
além de não oferecer uma linha de lubrificantes, está diretamente relacionada com a identificação da
abriu espaço para os concorrentes ocuparem as marca e o controle do ponto de venda por parte da
prateleiras de seus postos. distribuidora. A citação a seguir ilustra essa razão:
E3: “... Dentro da expectativa do consumidor,
não ter lubrificantes no ponto de venda pode ser
5. Apresentação e análise dos resultados
considerado como uma oferta incompleta. Se a
Este item compõe-se da apresentação dos distribuidora não o tem, ela não exerce controle
resultados e análise do processo de aliança sobre a oferta...”.
estratégica da ALE com a Elf e, posteriormente, Desde a sua fundação, a ALE desenvolveu
com a AC Delco. Lembra-se que o objetivo principal 450 postos no Brasil com sua bandeira, além de
da pesquisa é analisar os motivos que levaram à conquistar consumidores corporativos, tais como
formação das alianças, o modelo adotado e sua transportadoras, empresas de ônibus, pequenas
gestão, relacionando o comportamento e as decisões indústrias e outros grandes consumidores, o que
tomadas pelos executivos durante o processo com confere um potencial de vendas de lubrificantes de
a literatura pertinente ao tema. Os resultados são aproximadamente 200 mil l/mês.
organizados em quatro tópicos: motivadores para a Coughlan et al. (2002) afirmam que um dos pilares
formação de aliança, modelo de aliança estratégica, para uma aliança estratégica forte é a capacidade
gestão das alianças e avaliação do modelo. Nessa do distribuidor em colaborar na diferenciação da
etapa são utilizadas principalmente as fontes marca do produtor. Nesse sentido, a ALE exerce
de evidências citadas na metodologia, ou seja, poder sobre a revenda e conta ainda com postos
dados secundários, observação participante do novos, com imagem atraente. O depoimento de um
diretor comercial e corresponsável pelas alianças executivo da Elf corrobora essa consideração:
e entrevistas com executivos das três empresas E4: “... A principal razão da escolha do parceiro
envolvidas. ALE foi o seu compromisso estratégico e ético,
que representará a perenidade da empresa para
5.1. Motivadores para a formação os próximos anos, onde se incluem cuidados com
a própria marca e a de seus parceiros, uma rede
de aliança de pontos de venda estabelecidos e controlados,
Para entender as razões para a criação do planos de expansão e ausência de vínculo com os
modelo por parte da ALE, é necessário inicialmente principais players estabelecidos no Brasil...”.
compreender a necessidade e a importância de uma Pelo lado dos fabricantes, a oportunidade de
empresa de distribuição de combustíveis em vender encontrar um parceiro com uma carteira de clientes
lubrificantes e o surgimento de um ambiente formada era bastante atrativa, principalmente para
propício ao estabelecimento de uma aliança aqueles que não participavam do mercado de postos
estratégica nesse segmento. (exemplos: Elf, Castrol e FL). A seguir são transcritos
A distribuição de combustíveis caracteriza-se comentários que exemplificam esse item:
por ser altamente competitiva e com margens E4: “... No caso da Elf, acreditamos que, apesar
operacionais bastante reduzidas. A venda de da nossa presença em concessionárias, por força
lubrificantes passa a ser um complemento de contratos mundiais e locais, deixávamos de
fundamental na composição da receita bruta. estabelecer um contato permanente e frequente
Também não operar com lubrificantes significa com o consumidor, se não estivermos presentes nos
trabalhar com um mix incompleto de produtos. postos de gasolina, um importante canal para o
Essa constatação é unânime entre os executivos da nosso negócio...”.
ALE entrevistados. E5: “... Em princípio, a ALE, pela exposição e
Não ter o controle da venda de lubrificantes nas cuidados com a marca, além dos seus planos de
prateleiras de seus postos pode significar também crescimento, foi identificada como rede de varejo
estar vulnerável à ação de seus concorrentes. organizada, o que nos pareceu uma oportunidade
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de desenvolver esse canal para vendas de baterias. E2: “... Na aliança com a Elf tivemos a
Com as conversas iniciais vimos que a parceria oportunidade de associar a marca ALE com uma
poderia ser muito mais ampla, envolvendo vários multinacional do setor. Na época, por estarmos
itens de reposição e até serviços. No entanto, para fornecendo para o Carrefour e por termos as cores
ser considerada uma solução completa para o canal azul, branco e vermelho, alguns consumidores
e para o consumidor, era importante incluir a linha passaram até a acreditar que a ALE era francesa. Com
de lubrificantes, item importante de faturamento e a proliferação de pequenas empresas adulteradoras
de imagem no ponto de venda...”. no mercado brasileiro, ser confundida naquele
Com esses fatores, foi possível para a ALE momento com uma empresa internacional até que
desenvolver um modelo que atendesse suas não foi ruim...”.
necessidades (melhorar sua receita bruta e ofertar E1: “... A associação de uma distribuidora de
uma linha completa de lubrificantes), buscando combustíveis com uma montadora de automóveis
produtores interessados em participar de um canal foi um fato inédito na história do setor. Para nós
de vendas importante. Dessa forma, estabeleceu-se foi muito importante associar a marca ALE com a
um projeto de aliança complementar do tipo GM (AC Delco)...”.
vertical (HITT; IRELAND; HOSKINSSON, 2002). A
ALE, primeiramente com a Elf e posteriormente 5.2.2. Objetivos complementares
com a AC Delco, concordou em compartilhar
seus recursos, competências, custos e riscos para Essa complementaridade pode ser facilmente
destacada no depoimento do executivo da Elf:
criar valor para seus acionistas, comercializando
lubrificantes através de um modelo broker (HITT; E4: “... Aqui no Brasil nosso foco inicial foi
IRELAND; HOSKINSSON, 2002). atender as montadoras com nossos lubrificantes
através dos acordos internacionais. Não tínhamos
em nosso planejamento estratégico como formar
5.2. Modelo de aliança estratégica uma cadeia de postos com a nossa marca. A
oportunidade de aliança com a ALE nos permitiu
Nesta subseção analisaremos as razões que
entrar de forma rápida no canal de postos sem
levaram a ALE a estabelecer alianças estratégicas maiores investimentos...”.
utilizando o modelo broker e as variáveis que
influenciaram na escolha dos parceiros. O modelo 5.2.3. Envolvimento da alta administração
broker é entendido como a intermediação de forma
independente na maioria de suas transações, mas Nas entrevistas verificou-se que a participação e
atuando de maneira efetiva nas negociações de o comprometimento das diretorias das empresas nos
compra e venda sem assumir os direitos sobre o projetos foram fundamentais para a consolidação
produto. das alianças, particularmente no que diz respeito ao
A ALE disponibilizou sua força de vendas alinhamento dos objetivos estratégicos e à aceitação
e participação no mercado, ampliando o canal do modelo broker, como ilustram os depoimentos
de vendas do produtor, mediante a vantagem dos executivos da ALE:
de comercializar lubrificantes sem grandes E1: “... Quando percebemos que a diretoria da
investimentos. Elf participava do projeto e se envolvia nas questões
Além do pacote financeiro que foi fundamental fundamentais, percebemos que o acordo poderia ir
para concretização das alianças, os principais para frente...”.
condicionantes da ALE na escolha de seus parceiros E2: “... Tínhamos o compromisso do presidente
foram: da GM no Brasil de que todos os esforços seriam
feitos para que a parceria desse certo. A participação
5.2.1. Marca forte direta dele nos dava a garantia do sucesso...”.

Além da possibilidade de oferecer aos seus 5.2.4. Ausência de conflitos no canal


revendedores uma linha completa de lubrificantes, de distribuição
a parceria com uma empresa de marca forte
possibilitaria a associação da marca ALE, pouco Algumas empresas, embora não participassem
reconhecida pelo consumidor, com outra marca de diretamente no mercado de postos, possuíam uma
maior exposição. Os depoimentos dos executivos da rede de representantes trabalhando nesse canal.
ALE confirmam esse anseio: Certamente esse conflito impediria uma convivência
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sadia e de relação duradoura, conforme a exposição com a contratação de um operador logístico,


de um executivo da ALE: muitos problemas com a revenda tiveram que ser
E1: “... Outras empresas nos fizeram propostas contornados, como observado nos depoimentos a
bastante vantajosas, mas a maioria delas já seguir:
participava de alguma forma do segmento através E4: “... Primeiro tivemos que preparar o nosso
de distribuidores independentes. O fato de quererem sistema operacional para ter um número muito
limitar a nossa atuação para evitar conflitos fez superior de clientes, comparado com o que
diminuir nosso interesse em uma aliança...”. tínhamos. Isto envolvia mais controles e serviços
correlatos como: aprovação de cadastro/crédito,
5.2.5. Complementaridade de competências número de notas fiscais emitidas, boletos de
pagamento, cobrança, reconciliação etc. Tivemos
Aqui entram diversos aspectos, tais como problemas de vários tipos pela novidade e pelo
estrutura organizacional, linha de produtos, volume de transações envolvidas. No que se refere
capacidade de produção, área de atuação e suporte à fabricação, não tivemos problemas, pois o
técnico. A seguir são transcritos comentários que dimensionamento foi adequado à expectativa. No
exemplificam esse item: entanto, a logística de entregas se revelou complexa
E2: “... O fato de a Elf possuir uma fábrica e quase sem controle, quando utilizamos a nossa
moderna e estrategicamente bem localizada nos forma tradicional de compor cargas e rotas, o que
motivou bastante...”. nos obrigou a buscar especialização no mercado
E1: “... Um diferencial foi o treinamento técnico através de um operador logístico, que melhorou
que a Elf ofereceu para os nossos funcionários da bastante a operação já nos primeiros momentos e
equipe comercial...”. conseguiu estabelecer um processo sob controle no
decorrer do tempo...”.
E2: “... Quando a AC Delco acenou com a
E2: “... Além do problema do faturamento,
possibilidade de ampliarmos a linha de produtos
a serem vendidos, disponibilizando uma passamos a ter relatórios imprecisos por um bom
tempo. A sobrecarga de trabalho foi enorme e o
variedade de artigos enorme, ficamos realmente
nível de estresse também...”.
entusiasmados...”.
E2: “... A AC Delco ofereceu a possibilidade de 5.3.2. Nível inadequado de confiança
inovarmos com seu projeto de car care nos postos
de gasolina...”. De acordo com as observações e entrevistas
E5: “... A divisão AC Delco já possuía experiência realizadas, o nível de confiança entre as parceiras e
em vários locais no mundo na operação de centros predisposição para resolver conflitos foi adequado.
de serviços automotivos, mas essa era uma Não houve registro de qualquer fato que prejudicasse
experiência pioneira em rede de postos de gasolina o desenvolvimento do processo, como, por exemplo,
e principalmente de vendas diretas ao varejo (posto), reflete o depoimento a seguir:
sem a intermediação de distribuidores...”. E1: “... Se não houvesse um clima de colaboração
entre os funcionários, o nível de desgaste teria sido
5.3. Gestão das alianças muito maior...”.

Fundamentados na literatura exposta em 2.1, 5.3.3. Objetivos estratégicos divergentes


analisamos separadamente as alianças com a Elf e a
AC Delco, para identificar as causas dos insucessos, Observou-se um ponto que causou muito
iniciando pelo primeiro caso. desgaste, atingindo principalmente as equipes
comerciais e os revendedores. Enquanto a ALE se
5.3.1. Estrutura operacional inadequada posicionava junto a consumidores que buscavam
produtos mais acessíveis, com postos localizados na
A primeira questão que suscitou conflito foi a periferia dos grandes centros e cidades do interior,
avaliação incorreta da capacidade de logística da a Elf concentrava sua produção na linha premium
Elf para o processamento de pedidos e serviço de de preços mais elevados. Os seguintes depoimentos
entrega fracionada e de pequenas quantidades em caracterizam bem essa divergência de perspectivas:
pontos de venda espalhados pela área de atuação E1: “... Esta é uma visão distorcida das empresas
da ALE. A experiência do fornecedor, até então, multinacionais que atuam no mercado brasileiro.
era entregar de forma concentrada e em grandes Querem sempre impor a política internacional
quantidades. Até que a questão fosse resolvida de focar sua produção nos produtos sintéticos e
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semissintéticos de maior lucratividade. Acontece que a aliança fosse desfeita. Uma vulnerabilidade
que o mercado brasileiro, pelas características de não observada no processo de contratação. E um
sua frota de veículos e pelo poder aquisitivo do erro fatal que levou ao fim uma aliança promissora
consumidor, vive outra realidade. A própria revenda e de aspectos mercadológicos muito fortes, como
da ALE está posicionada para lubrificantes de observado no depoimento a seguir:
categoria e preço inferiores. Remar contra a maré E1: “... Jogamos todas as nossas fichas nesse
foi um erro estratégico...”. projeto. Tinha tudo para dar certo. Dentro do nosso
E4: “... A linha premium trouxe ganhos setor era extremamente impactante pela aliança com
significativos para toda a cadeia. Os revendedores e uma montadora e pelo aspecto inovador. Nossos
a ALE também tinham lucros maiores com a venda revendedores aceitaram bem a linha de produtos
desses produtos. Além disso, boa parte da nossa e estavam na expectativa dos investimentos no
estrutura de fábrica estava planejada para atender ponto de venda. Nós subestimamos o fato de uma
também as montadoras e, portanto, produzindo concorrente ser a supridora da AC Delco e não
mais a linha premium...”.
avaliamos a relação comercial entre ambas...”.
5.3.4. Metas imprecisas
5.4. Avaliação do modelo
A estimativa de vendas imprecisa foi a principal
razão para a não renovação do contrato. Pelo fato Na visão dos executivos entrevistados, o modelo
de a ALE ter atingido apenas 33% do volume do broker, utilizado de forma inédita no mercado
contrato, a Elf não realizou os investimentos nacional nesse setor, é perfeitamente adequado para
compromissados no ponto de venda. Essa era uma o propósito pretendido, como ilustrado abaixo:
demanda principalmente dos revendedores que E3: “... A parte da ALE dentro do ciclo do pedido
tinham o investimento como certo. O desgaste estava restrita a negociá-lo junto ao revendedor,
foi grande, pois a ALE havia vendido o projeto de baseado em disponibilidade de estoque, condições
aliança contando com esse aporte de capital que comerciais estabelecidas entre as partes e nível de
seria reinvestido nos postos. A seguir são transcritos serviço acordado para as entregas. Após a obtenção
comentários que exemplificam esse item: do pedido (pela ALE), este era enviado ao ponto
E3: “... Na realidade, para o único e importante faturador (parceiro), aprovado pelo mesmo (crédito)
conflito existente, não houve uma solução adequada, e programado para entrega, ficando então a
em que se deveriam aportar recursos prévios para logística dos pedidos sob total responsabilidade
ter um resultado à frente (investimento). Dessa do parceiro, que fornecia monitoramento contínuo
forma passamos a ter um bom volume de vendas, do processo, sempre se submetendo aos níveis de
mas muito aquém do potencial estimado para o serviço acordados...”.
negócio...”.
No entendimento dos executivos, uma das razões
E4: “... Como as vendas não vieram, nós ficamos do sucesso do modelo foi a elaboração do contrato
desobrigados de investir. Esperávamos renegociar o
que estabeleceu regras claras de convivência e
contrato e aí sim investir. Infelizmente a ALE não
definição de responsabilidades, além da disposição
renovou...”.
dos pares para solucionar conflitos, como mostra o
No caso da AC Delco, o problema da ruptura
depoimento abaixo:
está concentrado em um único aspecto, uma vez
E3: “... A ALE sentiu-se satisfeita com o modelo
que a relação vinha cobrindo todas as expectativas.
Vale ressaltar que a experiência com a Elf evitou adotado, mas insatisfeita com o volume do negócio
que se repetissem os erros. (escala). Já o parceiro passou a ter seu produto
em vários pontos de venda, permitindo maior
5.3.5. Erro estratégico na avaliação da relação divulgação da marca...”.
de forças ao longo do canal
6. Considerações finais
Embora não mapeado por Bowersox e Closs
(2001) e sim por Porter (1979), observou-se que As entrevistas realizadas com os executivos
faltou na análise de parceria a avaliação das forças e especialistas permitiram analisar com mais
do controle da produção e, consequentemente, do profundidade a criação de um ambiente favorável
acesso ao produto por parte da AC Delco. A ruptura para formação de uma aliança estratégica entre
do relacionamento com a BR e a impossibilidade a ALE e seus parceiros, dentro do mercado de
de se conseguir um novo fornecedor fizeram com distribuição de lubrificantes. Na verdade, analisando
Cotta, C. E. G. et al.
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os resultados, puderam se confirmar muitos aspectos Outra constatação foi que a ALE aprendeu com
estudados na literatura. os erros do primeiro contrato. Na aliança com a AC
Ficou claro que a ALE buscou estabelecer uma Delco, o relacionamento foi muito mais tranquilo
aliança com seus fornecedores aproveitando sua do ponto de vista operacional. O fim da aliança
capacidade de trabalhar no canal através da sua deveu-se a um erro de planejamento estratégico: não
cadeia de postos já existente e sua penetração em antever que o fato da AC Delco não ter controle da
outros segmentos, como postos bandeira branca produção poderia se tornar uma verdadeira ameaça,
e consumidores finais. Na verdade ela estaria como realmente aconteceu.
maximizando sua estrutura de vendas agregando Portanto, o resultado da pesquisa nos leva a
lubrificantes de um fabricante de marca forte. entender os motivos que levaram a ALE a adotar o
Para seus parceiros a aliança proporcionaria modelo broker e como ele funcionou, como a ALE
participar do canal mais importante na venda de se relacionou com seus parceiros e o processo de
lubrificantes, dando a oportunidade de expor seus escolha e de ruptura das alianças. Avaliamos que
produtos nas pistas dos postos, sem que houvesse ficou bem estabelecida a relação do caso com a
necessidade de maiores investimentos. Nesse fundamentação teórica apresentada.
ponto, a complementaridade das aspirações ficou Em síntese, a pesquisa revela, tanto no aspecto
bastante evidenciada, e encontramos na literatura acadêmico quanto empresarial, que ao avaliar
que essa é uma das principais razões para o sucesso a possibilidade de estabelecimento de parcerias
das alianças. Tanto a ALE como seus parceiros estratégicas complementares na comercialização
identificaram que poderiam aumentar suas receitas de bens, os pretendentes devem atentar para a
compartilhando competências e dividindo custos e força da marca; complementaridade de objetivos e
riscos, possibilitando assim a criação de valor para competências, tanto estratégicos como operacionais;
seus acionistas. envolvimento da alta administração e ausência de
O modelo adotado também foi descrito com potenciais conflitos na relação. O modelo broker pode
detalhes, sendo este muito bem trabalhado pelas ser bastante satisfatório, na medida em que preserva
empresas. Dada a estrutura montada, o modelo a identidade das marcas, mas devem ser muito bem
broker se encaixou perfeitamente. Ficou evidente estabelecidas as obrigações e competências de cada
a importância do comprometimento da alta parceiro. Os dois insucessos apresentados ressaltam
também a importância de se avaliar o custo de
administração na condução do processo. Também
saída de uma relação, muitas vezes negligenciado
podemos observar como foi fundamental tratar
no projeto de alianças. A má avaliação, tanto dos
com clareza as regras do jogo e formalizá-las no
aspectos estratégicos quanto operacionais, pode
contrato.
comprometer o resultado de parcerias com bom
Analisando o período de contrato com a Elf potencial de sucesso.
podemos notar que o modelo adotado funcionou
bem. Embora a experiência tenha demonstrado
algumas dificuldades no início de sua implementação, Referências
ao longo do tempo estas foram sendo superadas.
BOWERSOX Jr., D.; CLOSS, D. J. Logística Empresarial: o
Ficou claro que essas dificuldades poderiam ter processo de integração da cadeia de suprimentos. São
sido evitadas se o processo de avaliação fosse mais Paulo: Atlas, 2001.
bem planejado, e se alguns aspectos, inclusive COUGHLAN, A. T. et al. Canais de Marketing e distribuição.
levantados na literatura, fossem observados. 6 ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Um exemplo ilustrativo foi a falta de capacidade DWYER, F. R.; SCHURR, P. H.; OH, S. Developing buyer-seller
logística da Elf, citada na pesquisa. Se a ALE e a Elf relationships. Journal of Marketing, n. 51, p.11‑27, Abril
tivessem discutido mais o assunto, observando as 1987.
necessidades de uma e as possibilidades de entrega EISENHARDT, K. M. Building Theories from Case Study
da outra, certamente muitos transtornos não teriam Research. Academy of Management Review, v. 14, n. 4,
acontecido. p. 532-550, 1989.

Na verdade, o rompimento da aliança deveu‑se FLEURY, P. F.; WANKE, P.; FIGUEIREDO, K. F. Logística
Empresarial: A perspectiva Brasileira. São Paulo: Atlas,
a uma avaliação inadequada do potencial de 2000.
vendas e, consequentemente, impossibilitando o
HIJJAR, M. F. et  al. Evolução do desempenho logístico
compromisso da Elf em investir. Mas não foi um das indústrias de bens de consumo: uma análise sob a
problema do modelo broker adotado. O modelo perspectiva do varejista. Rio de Janeiro:COPPEAD, UFRJ,
funcionou perfeitamente como desenhado. Tanto 2003. Artigos Centros de Estudos em Logística (CEL).
é verdade que na aliança com a AC Delco ele se HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração
repetiu da mesma forma, com o mesmo processo. Estratégica. São Paulo: Thomson, 2002.
Cotta, C. E. G. et al.
171
Aliança estratégica ... ALE Combustíveis S.A. Prod. v. 20, n. 2, p. 160-171, 2010

KOTLER, P. Princípios de Marketing. 9 ed. São Paulo: Prentice ROSENBLOOM, B. Canais de Marketing: uma visão gerencial.
Hall, 2003. São Paulo: Atlas, 2002.
PORTER, M. E. How competitive forces shape strategy. SINDILUB. Disponível em: <http://www.sindilub.org.br>.
Harvard Business Review, mar. 1979. Acesso em: 24 out. 2006.

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Management: An Introduction to Process and Method. distributor market orientation and the channel
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Sage Publications, 1998.
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REVISTA DE COMBUSTÍVEIS. Disponível em: <http://www. TAVARES, M. Alianças e redes estratégicas: as tendências nas
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RIEGES, A. M. Validity and reliability tests in case study - Departamento de Administração/IAG, Pontifícia
research: A literature review with “hands-on” application Universidade Católica, Rio de Janeiro.
for each research phase. Qualitative Market Research, YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed.
v. 6, n. 2, p. 75-87, 2003. Porto Alegre: Bookman, 2004.

Strategic alliance in the marketing channel:


the Ale Combustíveis S.A. case
Abstract
This paper analyses the strategy adopted by ALE Combustíveis, a Brazilian Company, in an operation designed to
sell automotive lubricants at gas stations. This study reviews the alliances made with Elf and later with AC Delco,
exposing ALE’s motivations, partner selection, design of relationship model, alliance management and assessment
of adopted model, confronting practical experience with prescriptions in the published literature. The model, named
broker, is characterized by preservation of the brand’s autonomy, with ALE contributing its structure and sales force,
and its partner, in turn, the fuelling logistics and order processing. The case method was adopted as a research
strategy and this report shows how successful the model selection proved, as well as the strategic blunders related
to the operational capacity and product positioning, in the alliance with Elf, and in the forces of management
interrelations within the channel, in the AC Delco alliance case, leading to failure in both attempts.
Keywords
Strategic alliance. Marketing channels. Alliance management. Lubricants.

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