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(0, RENATO JANINE RIBEIRG Ee) DOSSIE DEMOGRAGIA Segunda parte abordalpropostas democraticas Para omeio ambiente, entre ures ciniets GONTRA Nitosealn DO*GPA!: Obralde' Ken Wilber traz explicacoes altérnatives Pare a.evollGad: feleR sii =ie0) ES Fy Peale) efetgiyetllsi Fa) “nmegacao da /O) 7) \DE Pensador vai contra apelos doiconsumo e alerta:#aybase do querer 6 oSotrimento” Sd ARTHUR CONAN DOYLE COLLECTION| de Sherlock Holmes em 4 volumes Sherlock Sherlock HogmeS , Ilo meS Nas, ercvaad ie re Sherlock Homes § HogmeS Ere anc Re re Lafonte EDITORIAL Oquererea organizagcao social esta edicdo, Renato Nunes Bittencourt, docente da Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro, traz a perspectiva schope- nhaueriana sobre a sociedade do consumo, no entendimento de que 0 esforgo do pensador em compreender a vontade humana e como esta € negada na Modemnidade passa por uma andlise desse contexto a luz do capitalismo vigente. O querer irtefredvel e egovsia seria a base dessa sociedade e, possivelmente, a raiz de seu sotimento. Ainda neste niimero, Fabio A. G. Oliveira (org), professor de Filosofia da Universidade Federal Fluminense, ¢ colegas trazem a segunda parte do dossié sobre democracia, agora tratando de temas como feminismo, racismo, tecnologia ¢ meio ambiente. Na edicao passada, a leitora ¢ 0 leitor tiveram contato com o historico de construgao do conceito de demo- cracia, 0 seu tratamento como expressao politica de uma concepcao de justica mais inclusiva e uma discussdo, sob uma perspectiva democratica, de temas como laicidade, inclusdo e sexualidade. Como bem abordou Oliveira, em introducao a esse dossié, em ntimero anterior dle Filosofia, responder a pergunta “o que é democracia” exige de és “um mapeamento hist6rico-flosético que envolve diferentes aspec- tos espaco-temporais da organizacéo social, econdmica, cultural e p da vida’. Trata-se, assim, segundo o académico, de colocar em xeque os valores e processos imbricados na conducéo e manutencao dos direitos, mas também das desigualdades, dos privlégios e da exclusio, muitas vezes institucionalizadas por processos legals, Defender a democracia seria, em suma, um projeto de enfrentamento & nova obscu- ridade, tal qual propde Habermas, combatendo-se, como lembradlo por Oliveira, “uma cespécie de valoracao da ignorénca, fruto da equiparacdo entre crencas e certezas, da valorizacao do dogma © controle persecutorio do diferente, dissenso e contradit6rio através de uma edcagao critica’. Boa leitural Da Redacdo www.portalespacodosaber.com.br + Filosofia cienciasvida * 3 SUMARIO ENTREVISTA Dossié |Clodoaldo Luz e a obra Defender e de Agostinho de Hipona pensar [ey a democraca ate 2 Tens: Foninsres oa quent conergicaene La democracia e feminismo seria inegavel * Antirracismo: Debate sobre a educacio das relagdes étnico-raciais PENEADO REST CARH segue fundamental + Meio ambiente: Pauta ambiental Ginatae oes em uma politica democrética * Tecnologia: Interagbes mudam perspectivas, a esfera publica e a concepgaio da democracia critica a sociedade do FILO ORIENTAL Estratégia e sabedoria, por André Bueno SOCIEDADE Filosofia contra as fake news VIDAE OBRA As teorias de Jean Jacques Rousseau RESENHA Sexo, ecologia e espiritualidade, de Ken Wilber FILOCLINICA Doencas imaginavias, Por Licio Packter PARA REFLETIR OLHO GREGO Literatura, Artes Visuais, Filosofia da Mente 2 A liberdade de expressio, tecnologia nos espacos comandados por Renato Janine Ribeiro por Ana Haddad, Walter Cezar Addeo e Joao de Fernandes Teixeira UOTE COT Nod el eel Ta) ee net? Sy Rio cel USMC) Coa ferro RCoNelUi Lome) Sette 3 MOMENTO DO LIVRO O DIARIO DE ANNE FRANK No auge da Segunda Guerra Mundial, uma garota ganha em seu aniversario de 13 anos um caderno de autégrafos. O DIARIO DE PAINS is iH H b i fants eC) Fonte Rae Livro: 0 Diério de Anne Frank Numero de paginas: 240 Editora: Geek ‘Tinha um fecho e capa dura de tecido, xadrez vermelho e branco. O nome da garota era Anne Frank e ava muito de P crever. Por iss cla gc >, transforma o caderno em um diario. Menos de um més depois, Anne, a irma Margot e os pais vaio para um esconde- rijo secreto, onde passam mais de dois anos, com outras quatro p essoas, para nao serem enviados para um campo de concentracio. Os nazistas acham 0 escondetijo ¢ © grupo nao escapou do holocausto. Anne, que era judia, morreu pouco an- tes de fazer 16 anos. Porém o diario onde foram narrados os momento s0- bre a vida de Anne Frank e os aconte- cimentos vivenciados no anexo secreto sobreviveu e se tornou um dos livros mais lidos do mundo, traduzido para mais de 60 idiomas. JA NAS BANCAS E LIVRARIAS! Veja outras informagées no site: www.escala.com.br ENTREVISTA Clodoaldo da Luz Filosotia x Teologia Académico discorre sobre legado de Agostinho de Hipona, na Idade Média, e destaca a grande contribuigao de Descartes para o advento do periodo moderno Por Fabio Antonio Gabriel * estre em Agostinho de Hipona pela Universidade Federal do Parané, Clodoaldo da Luz conversa com os leitores da Filosofia Ciéncia&Vida sobre o legado do filésofo Agosti- nho de Hipona, Clodoaldo comenta em linhas gerais sobre a filosofia de Agostinho e como esta organizada a pesquisa sobre 0 referido fildsofo no Brasil. A entrevista de Clodoaldo nos remete a dade Média, em que Filosofia e Teologia esta- vam emparelhadas e eram como duas asas de um mesmo aviéo. O entrevistado dialoga com a grande contribuicao de Descartes para o adven- to do periodo moderno. FILOSOFIA * Como entender a contribuicao de Agostinho para a hist6ria da Filosofia? Crovoaip0 * Os anos de 354 d.C. a 430 d.C., perfodo que em que viveu Agostinho de Hipona, podem ser conceituados como um periodo transitério do Classicismo a0 Medievo. Assim, tributario e depositario desse intersticio, Agos- tinho pode embebedar-se da tradigao filosofica antiga, tracejada pelo desejo da vida feliz, a fim de florescer e consolidar 0 que podemos con- + Doutorando em Educagio com boka de doutorado cconcedica no Ambit Capes undagio Araucéria. Agradece as respects instiuigbes pela colaboracdofinanceira nas pesquisas ddesenvolias. Crganizadox de diversas coletineas, entre oss DDocéncia: proceso do ensinare aprender (Editora Multif‘oco). Site ‘wv fabioantaniogabriel.com 6 + filosofia cite navies ceituar de 0 “filosofar na crenga”, convertendo © afd pela felicidade na caminhada rumo a bem- -aventuranca, Se, outrora, Tertuliano (155 d.C. a 222 d.C.) indicava que a Filosofia seria avessa a fé, em Agostinho fé e razao caminham juntas na con- secugao da finalidade do contemplar a verdade. Para Agostinho, a busca pela verdade requeria © didlogo entre a autoridade, sobretudo a di- vina, € a razio, Em que a primeira concedia 4 segunda substrato essencial para sua atividade especulativa. Ou seja, a autoridade dispunha dos elementos necessdrios e pertinazes para a especulagao racional na empreita de busca & contemplagio da verdade. Por isso Agostinho (Cf, 1995, p. 78-79) n’O livre-arbitrio afiema que nao buscava compreen- der para crer, mas acreditava para compreender. Desse modo, nessa interacao entre autoridade e razao, {é € razao, a Filosofia tem a prerrogativa, 8 luz da iluminagao divina, de levar ao homem a busca da verdade, do principio nao principiado. A intercambialidade de heranga ¢ de contri- buto confere a Agostinho 0 legado de ser um filésofo agregador adiante de seu tempo: de reunir, harmonizar a tradicao filosofica recebida com a futura e nascente especulacao filoséfica medieval, a0 mesmo tempo que dispde seu le- gado 8 posteridade. Uma prova disso & a nova perspectiva hist6rica introduzida por Agostinho no seu livro A cidade de Deus. Nessa obra, Agos- tinho suscita a tese de que 0 “movimento” da histéria no € circular conforme advoga- vam 0s gregos (monarquia, tirania, democracia e oligar- quia), mas linear, pois © fim da histéria € teleol6gico, pois tende a um fim, seu termo, segundo Agostinho, é Deus. Além do que é posstvel, conforme indica 0 estaduni- dense professor doutor Ga- reth B. Matthews no livro Santo Agostinho: um filésofo adiante de seu tempo, que 0 pensamento de Agostinho se fez presente na Modernidade filos6fica com Descartes € é vivo na Contemporaneidade filoséfica com 0 racionalismo linguistico de Jerrold Katz. © apandgio de ser um homem que viveu 0 Classi- cismo, mas que, outrossim, anteviu 0 Medievo, fez Agos- tinho ser um filésofo capaz de arregimentar_ 0 modelo do homem cristdo, o qual é norteado pelo desejo de con- templar a verdade, que é, se- gundo 0 parecer agostiniano, © proprio Deus. FILOSOFIA * Uma breve apresentacao da sua traje- t6ria académica Cropoaino * Durante os anos de 1991 a 2000, ensino fun- damental e boa parte do ensino médio eu cursei no Colégio Estadual Juvenal Mesquita, Bandeirantes (PR). O terceiro ano do ensino médio eu cursei em 2002 no Seminério Menor Nossa Senhora da Assuncio, na cidade de Jacarezinho. Filosofia cenciaavida + 7 ENTREVISTA Clodoaldo da Luz E sabido que a organizacgao sitaria tal qual conhecemos hoje teve inicio com as universidades de Bologna e Pari no século X 0 univers De 2003 a 2006 eu fiz a graduacao em Hist6- ria na Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras de Jacarezinho (Fatija), agora Universidade Estadual do Norte do Parana (Uenp), campus Jacarezinho, onde apresentei 0 TCC intitulado *Catolicismo, atefsmo, conservadorismo e comunismo: uma anélise do paradoxo entre D. Geraldo de Proen- ca Sigaud e Eugenio de Proenca Sigaud”, sob a orientacao do professor doutor Alfredo Moreira JGnior (Uenp). Simultaneamente, eu fazia 0 curso livre de Filosofia do Seminario Maior Nossa Se- nhora Rainha da Paz. De 2007 a 2010 eu fiz 0 curso livre de Fi- losofia no Semindrio Maior Divino Mestre, no qual apresentei o TCC intitulado “O itinerdrio de Ematis (Le 24,13-35) sob a 6tica do chamado 4 missao crista’, orientado pelo padre professor Rogélio Aparecido Destefani Em 2014, cursei no Centro Universitario Cla- retiano, Polo Curitiba (PR), a especializacdo em Filosofia e Ensino de Filosofia, na qual defendi o TCC intitulado “A busca da verdade: os principios da l6gica classica na obra Soliléquios de Santo Agostinho', sob a orientagéo do professor mestre Luis Geraldo da Silva. No ano de 2016 lecionei no Seminario Nossa Rainha da Paz a disciplina Teo- ria do Conhecimento, Em 2017 fiz uma segunda licenciatura, em Filosofia, pelo Centro Universit- rio Claretiano, Polo Curitiba, na qual apresentei 0 TCC intitulado “A ética estoica fundamentada na representacao cataléptica’, sob a orientagao do professor mestre Tiago T. Contiero. 8 + Filosofia cienciasvids De 2016 até 0 inicio de 2019 fiz 0 mestrado em Filosofia na Universidade Federal do Para- na, com a anuéncia do nosso bispo diocesano Dom Anténio Braz Benevente. Ao mesmo tem- po, exercia 0 ministério sacerdotal, na fungao de vigdrio paroquial, na Pardquia Sao Benedito, bairro Capao da Imbuia, em Curitiba. Recentemente, no dia 26 de fevereiro de 2019, defendi a dissertacao “A génese do cogito agos- tiniano no Contra os Académicos’, sob a orienta- 40 do professor doutor Maurizio Filippo Di Silva (UFPR). Atualmente exergo 0 ministério sacerdo- tal, na funcao de vigério paroquial, na Paréquia Santo Anténio de Padua, em Santo Anténio da Platina (PR), Parand, e leciono as disciplinas de Filosofia da Ciéncia, para os seminaristas do 2% ano, e Sociologia, para os seminaristas do 42 ano, do curso livre de Filosofia no Seminério Maior Nossa Senhora Rainha da Paz, Jacarezinho (PR). FILOSOFIA + Por vezes, a Idade Média é vista de maneira negativa. Quais s4o as maiores con- tribuigdes da Idade Média para a humanidade? Ciep0rLv0 * © periodo compreendido como Idade Média, que tem inicio com a invasdo de Roma em 476 d.C. pelos hérulos comanda- dos por Odoacro e se encerra com a queda de Constantinopla, em 1453 d.C., pelos turcos oto- manos liderados por Maomé 1 portante para a manutencao da ordem social, © desenvolvimento das artes, o surgimento de uma nova cultura ea manutencao e a capilariza- ¢40 do conhecimento classico. Dentre as varias contribuigdes do Medievo, tais como bissola, vestimenta, cavalheirismo etc., para a historia humana, enfatizo duas: a preservacdo e pro- pagacdo da cultura classica e 0 surgimento das universidades Com as invasGes barbaras, 0s livros classicos foram resguardados da destruigao nos mostei- ros. Tais locais foram importantissimos para o estudo, interpretagdo e disseminacao do conte- do classico. Nao somente em ambito filos6fico, mas se nao toda, boa parte da literatura classica ficou protegida nos mosteiros. £ sabido que a organizacdo universitéria tal e qual conhecemos hoje teve inicio com as foi muito im- universidades de Bologna e Paris, no século XI. A partir dessas instituicées € que se difundiu 0 estudo no ambito € forma universitarios Por isso, 0 erro de se re- ferir ao Medievo como uma lacuna e/ou névoa entre o Classicismo e@ a Moderni- dade 6 um infeliz olvida- mento das benesses e do desenvolvimento intelectu- al protagonizado na Idade Média. Vale lembrar que Descartes, considerado pai da Modernidade, estudou no colégio jesuita Royal Henry-Le-Grand; ou seja, ele bebeu da fonte medie- val para a partir dai edificar um novo sistema filos6fico. © comentador agostiniano Etienne Gilson, na obra Etu- des sur le role de la pensée médiévale dans la formation du systéme cartésien, fala de possiveis bases medie- vais do sistema cartesiano. FILOSOFIA * Vocé realizou na Universidade Federal do Parana uma pesquisa so- bre Agostinho de Hipona. Poderia nos falar sobre as conclusdes a que chegou na sua pesquisa? Ctovoarvo * Quero aproveitar a ocasiao e mani festar minha gratidao a pessoas importantes que me oportunizaram tal experiéncia e realizacio dessa pesquisa. Sou grato a Deus, a Dom Anté Agostino de Hipona nio Braz Benevente, bispo diocesano de Jacare- zinho, a Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo da Arquidiocese de Curitiba, ao professor dou tor Liicio Souza Lobo (UFPR), a0 professor dou- tor Luiz Alves Eva (UFSCar), ao professor doutor www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciatida * 9 ENTREVISTA — Clodoaldo da Luz busca da vera na comtemplacio do Maurizio Filippo Di Silva (UFPR), ao professor doutor Bernardo Brandao (UFPR grupo de estudo Nocées de Historia do Ceticis- mo € ao grupo de estudos de latim, ao padre Danilo Vitor Pena, aos meus familiares: & minha minha mae, Aparecido Karina, minha familia, Maria Helena da Luz (in memoriam), meu pai, irma, Fernanda e Filipe, meus sobrinhos, ¢ Fé bio, meu cunhado; e a Comunidade Paroquial Sao Benedito do Capao da Imbuia, de Curitiba € aos amigos da Universidade Federal Na minha pesquisa percebi que a busca a contemplagao da verdade foram dos legados mais importantes de Agostinho aos seus leitores. E é nessa heranca que reside a origem do cogito, mais especificamente na obra agostiniana Con tra os académicos. Nela, ele ainda € um argu mento incipiente, pois é mais um dentre outros utilizados por Agostinho para contrapor a pos- tura cética académica 10 + Filosofia citnciasvida Também fora visto que Agostinho serve-se de seu cogito como ferramenta para obter 0 auto: conhecimento, conforme se vé na sua obra So- liléquios, e com a fungao propedéutica, a fim de construir um longo argumento da prova da existéncia de Deus, como fora analisado no seu livro O livre-arbitrio. Apesar dessa verificacdo, é possivel asseve rar que a funcao primeira e principal do cogito agostiniano 6 a contraposi¢ao ao posicionamen to epistemoldgico académico. FILOSOFIA * Como esta organizada a pesqui- sa sobre Agostinho de Hipona no Brasil? Ctovoa.vo * Ao participar do XVIII Encontro Na~ cional da Associagao Nacional de P6s-Graduagao em Filosofia (Anpof), realizado de 22 a 26 de ou tubro de 2018, em Vitéria (ES), tive a oportunida- de de conhecer 0 Grupo de Trabalho Agostinho de Hipona e 0 Pensamento Tardo-Antigo, coor denado pelo professor doutor Nilo César Batista da Silva (PPG-FIL/UFS) ¢ que tem como nicleo de sustentacao os seguintes docentes: professor doutor Marcos Roberto Nunes Costa (PPG-FIL/ UFPE), professor doutor Manoel Luts Cardoso Vasconcelos (PPG-FIL/UFPel}, professor cloutor Jorge Augusto da Silva Santos (PPG-FIL/UFES), professora doutora Cristiane Negreiros Abbud (PPG-FIL/UFABC) e professora doutora Simone Nogueira Marinho (PPG-FIL/UFPB), Naquela ocasiao apresentei uma parte da mi- nha pesquisa, a qual nominei de “A genese do cogito agostiniano”. Além disso, pude ter con- tato com algumas das mais recentes pesquisas realizadas sobre Agostinho: do professor doutor Marcos Roberto Nunes Costa (UFPE) ~ “Santo Agostinho frente ao antigo adagio ‘fora da igre- ja nao hé salvagao’*; do professor doutor Nilo César Batista da Silva (UFS/UFCA) ~ “De visio- ne dei no percurso da mens, as fronteiras en- tre 0 humano e o divino em Santo Agostinho”; da professora doutora Maria Célia dos Santos (UFCA) ~ “De vera religione: elementos para uma antropologia da religiao em Agostinho de Hipona’, Além do Grupo de Trabalho Agostinho de Hipona e 0 Pensamento Tardo-Antigo, 0 pro- fessor doutor Maurizio Filippo Di Silva (UFPR), através do projeto “Pluralidade e unidade dos sentidos de ‘ser’ e ‘nao ser’ em Agostinho”, de- monsira um dedicado e eximio trabalho de lei- tura, estudo € reflexdo de pontos e questoes- -chave referentes a Agostinho. FILOSOFIA * Vocé pretende continuar pes- quisando sobre Agostinho? Ctopartoo * Na banca da defesa da disserta- 40, 0 professor doutor Bortollo Vale (PUC-PR), docente de Filosofia Medieval da Pontificia Universidade Catélica do Parana, teceu consi- deracées importantes sobre a minha pesquisa. Dessas destaco a seguinte: possivelmente, Agos- tinho, nas obras de Cassicfaco, pretendeu origi- nar e consolidar o modelo do homem cristao em| substituicdo ao paradigma do homem helénico. Digo tudo isso para afirmar que 6 uma idela in- teressante © que despertou a minha atengao. Pois, de fato, no Contra os académicos, Agos- tinho quis, a0 que tudo indica, asseverar a via- bilidade do conhecimento ao homem e uma necesséria relacao entre verdade e felicidade, sendo feliz quem almeja 0 conhecimento; na Vida feliz, Agostinho enfatiza que a felicidade consiste na “obtencdo” de Deus, 0 “bem” que nem o tempo nem a traca corréi; nA ordem, Agostinho traca o itinerdrio da vivencia da dis- ciplina ética e do estuco e aperfeigoamento das disciplinas liberais, a saber: l6gica, gramética e ret6rica; e, no segundo, de aritmética, astrono- mia, musica e geometria, Semelhante metodo- logia dinamiza, segundo Agostinho, uma melhor busca e contemplacao da verdade, que reside, segundo ele mesmo indica nos Soliléquios, na interiorizagao. Que consiste no adentrar em si para elevar-se ao transcendente, uma dindmica da horizontalidade para a verticalidade. Tudo isso mostra um tema de pesquisa interessante em Agostinho, Também outra ideia € a pesquisa de uma possivel incidéncia do cogito em outras obras posteriores de Agostinho, nas quais ele seria a Percorrendo os momentos {mpar de sua trilha em busca da verdade, Agostinho descobre-se como capaz de desvelar a certeza, a base da certeza tanto em ambito epistemoldgico quanto éetico ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 11 ENTREVISTA Clodoaldo da Luz CO histeriador Peter Brown to), 10 seu lio Santo Agosto: uma biograta, presenta deforma simples eenriquecedora, a caminhade Iistca de Agostino resposta mais eficaz de Agostinho ao desafio cético académico. Mas também me veio a mente, no intuito de ter uma visio mais abrangente da Filosofia crista, estudar Tomas de Aquino, mais especi- ficamente uma possivel prova da existéncia de Deus, além das cinco vias, que ja se encontram no opasculo De Ente et essentia, e que também pode ser rastreada na Suma contra os gentios © na Suma teolégica. Semelhante hipstese € designada por Davies como 0 “argumento da criagdo". Mas penso que tal argumento nao se configuraria como uma prova da existencia de Deus, mas sim num substrato para uma das cin- Co vias, Perante tudo isso exposto, penso, tal- vez, estudar Tomas de Aquino, se for da vonta- de divina e anuéncia do nosso bispo diocesano Dom Antonio Braz Benevente. 12 + Filosofia citnciaswvida FILOSOFIA * Quais as principais obras de Agostinho? E quais as contribuicées delas para a composicao do pensamento agostiniano? Ciopoaipo + As obras Confissdes, Contra 0s aca- démicos, A trindade, O livre-arbitrio, Soliléquios, Cidade de Deus sao importantissimas, pois ex- pressam a vida, a busca pela verdade, a teolo- gia, a nocao de liberdade, o principio de inte- rioridade e © pensamento politico de Agostinho. Para visualizar a caminhada histérica ¢ filo- sdfica de Agostinho, Confissées € 0 norte ideal; no af de compreender 0 seu escopo de con- templar a verdade, Contra os académicos & 0 marco inicial; mergulhar no mistério trinitario juntamente com Agostinho necessita do “tubo de oxigénio” A trindade; para inteligir 0 dom da liberdade humana em meio ao pecado, O livre- -arbitrio € 0 guia imprescindivel; no desejo de entender como a interiorizacdo pode conduzir a0 autoconhecimento © ao conhecimento de Deus, 0s qui fia de Agostinho, é salutar a meditacao do Soli- Isquios; e para ter a devida nocéo sobre qual 0 fim politico da sociedade, e qual deve ser a base © 0 intuito que a devem normatizar, 6 propicia a leitura atenta € a devida reflexao sobre a obra agostiniana A cidade de Deus. is so as duas finalidades da filoso- FILOSOFIA + grada de Ago: co sobre ela? CroporLvo * O desejo de revisitar fatos mar- cantes de sua vida a luz da sua crenga em Deus sob a guisa da especulacdo racional fez com que Agostinho, dentre os anos de 397 d.C. e 398 d.C., escrevesse sua obra Contissdes. Percorrendo os momentos impares de sua tri- lha em busca da verdade, Agostinho descobre- -se como capaz de desvelar a certeza, a base da certeza, tanto em Ambito epistemoldgico quanto ético. Confissées ¢ uma obra através da qual Agostinho apresenta a correlacao entre a liberdade humana e a graca divina, a questa do tempo, que € sempre presente, nao importan- do se é “outrora” ou “vindouro”, alm de bem explorar 0s recdnditos humanos por meio de sua andlise da meméria, a qual € retomada por Confissées & uma obra consa- ho. Poderia nos falar um pou- Nietzsche e Freud, conforme aponta o professor doutor Rogério Miranda de Almeida (PUC-PR) no artigo "Agostinho de Hipona e as ambivalén- cias do seu filosofar”. Tais problematicas marcaram profundamente a Filosofia medieval e concederam as bases para a Filosofia moderna, e ainda ecoam na Filosofia contemporanea, FILOSOFIA + & dissociar o pensamento filos6fico do teolégico em Agostinho? Cto04iv0 * A filosofia agostiniana visa sobre- tudo a busca da verdade e a vida feliz, as quais| consistem na posse e na contemplacao do pré- prio Deus. Nesse sentido, 0 pensamento e dis- curso filos6ficos de Agostinho estao intimamente imbricados com suas elucubragoes teoldgicas. Para Agostinho, pela atividade racional é possivel 20 homem conceber a existencia de Deus. Ademais, segundo a tese da iluminagao divi- na agostiniana, 0 homem é iluminado por Deus, da mesma forma que @ raio de sol ilumina a Ter- ra, lluminando 0 homem, Deus 0 auxilia na sua racionalidade especulativa a ter 0 conhecimen- to de Si. Assim, hd a relacao dialégica entre o pensamento filoséfico e a abordagem teoldgica, ‘em que a autoridade, sobretudo a divina, prece- de concede substrato a especulacao racional FILOSOFIA * Quais leituras voce indica para quem quer conhecer 0 pensamento de Agosti- nho? Quais seriam obras introdutérias? Ctovorino * A obra de Gareth Matthews, San- to Agostinho: a vida e as ideias de um fildso- fo adiante de seu tempo, traz uma série de in- terpretacées interessantes no que concerne a temas-chave do pensamento filosifico e tealé- gico de Agostinho. Nesse mesmo viés, a obra Cambridge Companion to Augustine, publicada pela Universidade de Cambridge sob a organi- zacio de Eleonore Stump @ Norman Kretzmann, oferece uma discussao nao desprezivel acerca das reflexdes epistemoldgicas, éticas e politicas agostinianas. © historiador Peter Brown, no seu livro Santo Agostinho: uma biografia, apresenta, de forma simples ¢ enriquecedora, a caminhada histérica Segundo a tese da iil divina agostiniana ao homem é iluminado por Deus da mesma forma que 0 raio de sol lumina a Terra \luminando o homem, Deus o auxilia na sua racionalidade espec a atero onhecimento de Si de Agostinho. Também Conlissdes, de Agosti- nho, € uma obra relevante para um estudo mais acurado sobre Agostinho, a fim de perceber seus percalcos na realizacdo de seu intento de busca e contemplagao da verdade. A titulo de leitura introdutéria, a fim de um melhor transito acerca de questdes inerentes a0 pensamento agostiniano, indico o livro Intro- ducao ao estudo de Santo Agostinho, de Etien- ne Gilson, a obra Introducao a0 pensamento ético-politico de Santo Agostinho, do professor doutor Marcos Roberto Nunes Costa (PPG-FIL/ UFPE), © 0 liveo Para compreender Agostinho, escrito por James Wetzel. Por fim, quero agradecer 0 professor douto- rando Fabio Antonio Gabriel pela oportunidade de falar um pouco da minha pesquisa e do pen- samento filoséfico de Agostinho, o qual afirmou, no Contra os académicos (Cf. Agostinho, 2008, p. 77), que somente descobriremos a verdade se nos entregarmos totalmente Filosofia. i ‘www,portalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 13 PENSADORES/CAPA A NEGACAO da vontade O pensamento de Schopenhauer e a critica da moral capitalista e suas interfaces na dita sociedade de consumo Renavo Nunes Brrrexcourr Dovronem TiLosom~ Pato PPGF- UFR}, cooRDExaDor Apumnistnagao Da FACC-URR} ‘o decorrer deste texto ve remos 0 caréter filosofica: mente revolucionério do pensamento de Schope nhauer acerca do processo ontoligico dda negagio da vontade, representado na Era Moderna pela ruptura coma ordem materialista da sociedade de consumo, produtora de ilusdes de satisfagao e .go70 para seus sectaric circuns. tancia faz de Schopenhauer uma vor dissonante aos apelos do materialism vulgar do regime capitalista por disse 1 filosoficamente as bases psicoldgicas ‘que o sustentam, a exaltagdo dos d jamais realizaclos convenientemente io desenrolar da Modernidade, marcada seja pela ap smo emancipadora do homem perant suas limitagdes naturais como também pela crenga no progresso continuo nas cigncias, que libertaria a estrutura social de toda contingéncia, a paulatina liber im como pela do dogmatismo eclesidstico e na dissolucéo progressiva da anti para o mundo industrial/urbano, a filo fia de Schopenhauer na¢ ordenagio de mundo feudal ¢ deixa in jcamente por tais fato res, que em nada modificam a esséncia do universo, um ciclo perpétuo de n: cimento ¢ morte de suas forgas vitais. O ‘timismo moderno em rela go sem limites da té (Gées sociais nio seduziu Schopenhauer, e os acontecimentos vindouros da hu- manidade provaram 0 qudo certa esta vaa sabedoria de nosso fildsofo, Nessas condigdes, imputar a Schopenhauer a pecha de representante do reacionaris mo burgués é uma falicia estipida e axiologicamente improcedente, pois de modo algum o » coadunou com 1s paradigmas mediocres dos filistens e seus asseclas, enaltecendo a vida de luxo de uma sociedade moralmente embota dae decadente, desprovida de qualquer enso de justiga e de responsabilidade para com o sofrimento dos seres vivos. Jamais a obra de Schopenhauer chancelou o espirito tacanho € auto trado € egoista do. materialismo vulgar, cuja tinica fruigao se encerra na satisfagao incondicional dos apetites € das _mesquinharias da mundanidade prosaica. Bis assim al concedem a Schopenhauer um pata mar especial no cenirio da Filosofia ns fatores que moderna, pois, acima de tudo, nosso ebrado autor jamais chancelou 0 PENSADORES/CAPA status quo, antes sendo uma das suas antiteses mais impressionan- tes. A racionalidade pode mode- rar o impeto das paixdes, mas nao encontra forgas de contengio que sejam satisfatérias em tal empre. endimento, Para Schopenhauer, querer e esforgar-se sao sua tinica esséncia, comparivel a uma sede insacidvel A base de todo querer, entretanto, é necessidade, caréncia, logo, sofrimento, ao qual conse- quentemente 0 komem esté dest nado originalmente pelo sew ser. Quando the falta 0 objeto do querer, retirado pela ripida e facil satisfa fo, assaltam-the vazio e tédio ater adores, isto é, seu sere sua existén- 16 + Filosofia cienciaswida AS ASPIRAGOES HUMANAS SAO ILIMITADAS, MAS A CAPACIDADE DE REALIZA- LAS, POR SUA VEZ, E LIMITADA. LOGO, SEMPRE DESPONTARA O MAL-ESTAR DESSE DESCOMPASSO. O DESEJO E A RAIZ DE TODO [MPETO HUMANO NO SEU PROCESSO CONSTANTE DE AFIRMAGAO DE SI cia. mesma se Ihe tornam wm fardo insuportivel. Sua vida, portanto, oscila como um péndulo, para aqui e para acold, entre a dor ¢ 0 tédio, ‘as quais em realidade sao seus com- Pponentes bésicos, Isso também fot expresso de maneira bastante sin- gular quando se disse que, apés 0 homem ter posto todo sofrimento e tormento no Inferno, nada restow para 0 Céu sendo o tédio (SCHO- PENHAUER, 2005, p. 401-402). AS aspiragdes humanas. sio ilimitadas, mas a capacidade de realizé-las & limitada; logo, sem: pre desponta o mal-estar desse descompasso, ainda mais se le- varmos em consideragdo que, em decorréncia da fragmentagao da vontade em sua individuagao pe- las categorias do espago e do tem- po, o embate pela conservagio da cexisténcia entre as figuragdes indi Viduais se torna a ténica da vida. O desejo & a raiz de todo impeto +humano no seu processo constante de afirmagao de si em detrimento dos outros, motivando nao raro a realizagao das ages mais violentas extremas para concretizar as in. " : .ROUSSEAU * ReMokpun ar Suas vivéncias, seu tempo, att rei iL) eso try ca i TLrvicta Manta Passos Connéa pocTona MESTRE EM EDUCAGKO E LUCENCADAEMFILOsOmA, PEL UMIVERSIDADE FEDERAL ‘DE PELOTAS.ATUAL.MENTE, EVICEDIRETORA NAESOOLA Srst RAL GIACONRE RofESSORA DE FLOSOFAE Soctovocta no Estapa 50 RIO Grane poStn-FAvTORADO Tivo Ensano De FLasori: ON ESTUDO DE GASO,EDILADO PEL ‘Untvessipape Pepa ot rvotas (2012) 4:80 D0. (Gatiro pr: Est unos FEPRAxis (Fosonin,EoveagA0E Praxis octal). TIcAMP ‘CORREA@GMALT.COM Issac Rousseau e de Suzanne Bernard, era natural de Genebra, Sua mae, por complicagées devidas 20 arto, faleceu sete dias apés seu nascimento, Com uma vida controversa, foi criado até 0s 10 anos por seu pai, que em fungdo de um conflito com o st. Gautier, capitio da Franca, vé-se obrigado a deixar Genebra e expatriar- se, entregando Rousseau aos cuidados de um pastor, 0 ministro Lambercier. Rousseau viveu no periodo que, historicamente, de- rnominamos Idade Moderna. Os anos vividos pelo filéso- fo genebrino destacam-se ean-Jacques Rousseau nasceu no dia 28 de junho de 1712, ha aproximadamente 307 anos. Filho de io das grandes revolu ‘bes que ocorriam em diversos aspectos sociais. Tanto no Ambito com tificos, através do Renascimento, houve transformagoes ~ que acabaram por se tornar caracteristicas peculiares do inicio do século XVIII. O humanismo antropocentrista também era uma forte caracteristica deste tempo, valori- zando, assim, o papel do homem em suas mais variadas| agdes. Strathern (2004, p. 8) comenta o contexto histérico cial quanto nos ambientes culturais e de Rousseau ¢ as implicagies do pensamento rousseau: niano para a humanidade: Nos primeiros anos do século XVII, quando Rousseau nasceu, a revoluséo cientifica e 0 Huminismo estavam dando origem a grandes avangos intelectuais, Ainda as- sim, a sensibilidade europeia sofria de uma profunda doenga, atolada nas limitagaes intelectuais e emocionais muitos in- do Clasicismo, Em meio aos novos progress, dividuos tinham consciéncia de que estavam comecando 4 perder contato consigo mesmos, com quem realmente exam. Tratava-se de wn novo sentimento ~ que permane- ceria como parte de nossa sensibilidade até os dias de hoje. Rousseau foi o primeiro a confrontar essa ainda inarticu. Jada autoconsciéncia, Foi ele que insist que deveriames buscar e experimentar nossa “verdadeira natureza’ Em 1728, apés voltar de um passeio e encontrar os portdes dla cidade fechados, Rousseau decide deixar Ge nebra. Parte para Annecy ¢, por volta de 1729, conhece Madame de Warens, que teré um papel importantissimo Adaptaode cpu d xe edna era plat oa ero lowe somo cin pr oro hana am here aaa de ode Blois A sf ends pb rg de Ri-Gradungio em ag da Jon qs Rees pra pens ras de. Nein on Oli ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 29 VIDA E OBRA Rousseau: sem mistrio sobre suas decsoes contoversis em sua vida. O cidadio de Genebra passa a habitar sua casa nela aprofunda seus conhecimentos filos6ficos, conforme nos afirma Rodriguez: Es ella quien le aconseja sobre sus primeras clases de mi sica, por ejemplo; quien le orienta em sus nuevas lecturas _y quien le anima a viajar para conocer. Em su palicio lee a Légica, de Port-Royal, el Ensayo, de Locke, Malebranch, Leibni, Descartes etc, (1992, p. 78). Apesar de Rousseau ter iniciado suas reflexdes filos6, ficas desde a sua infiincia, quando jd houvera lido cli: sicos da Filosofia como Plutarco, por exemplo, é, sem iivida, neste momento, com a convivéncia de Madame de Warens, que percebemos grandes etapas formativas na vida deste homem, que assim o definiriam como filésof. [Em seus Devaneios de wm caminhante soitério, Rousseau, a0 avaliar sua vida no passado, demonstra a consciéncia| do papel que Madame de Warens desempenhou em sua formagio humana nes poucos anos que viveram juntos: Sent esse breve mas precioso espaco de tempo talvec tivesse permanecido incerto sobre mim nuesmo, pois todo o resto 30 + Filosofia ciénciasvida TEORIAS FORMULADAS PELO FILOSOFO NAO SE PRESTAM SIMPLESMENTE PARA JUSTIFICAR E DESCULPAR AS ESCOLHAS PESSOAIS VIVIDAS POR ELE. SERIA UMA INTERPRETACAO DEMASIADAMENTE SIMPLISTA A DE JULGAR O LEGADO DE UM AUTOR A PARTIR DE SUA VIDA PESSOAL dda minha vida, fraco ¢ sem resistencia, ful tdo agitado, sa cudido, importunado pelas patxdes alheias que, quase pas- sivo numa vida tio tumultuosa teria dificuldade em sepa- rar 0 que existe de meu em minha prépria conduta, tanto «dura fataidade nao cessou de pesar sobre mim. Contudo, durante esse pequeno mimero de anos, amado por uma ‘mulher cheia de bondade e dogura, fiz 0 que queria fazer, fio que quis sere, pelo uso que fiz de meus lazeres, ajuda. do por suas lgdes sew exemplo, soube dar & minha alma ainda simples e nova a forma que mais the convinha e que ainda mantém (20148, p. 133), Apés a estadia na residéncia de Madame de Warens, Rousseau vai para Paris, onde conhece a elite intelectual da Franga, convivendo com outros pensadores como Da- vid Hume, Voltaire, Diderot, Condillac entre outros. Em. 1745, conhece Thérése Levasseur, sua companheira de toda a vida, com quem teve cinco filhos, todos entregues a0 Orfanato das Criangas Abandonadas, que ficava bem, perto da moradia do casal Rousseau é um fildsofo que a0 escrever livros que ‘mesclam Filosofia ¢ Literatura, ¢ ao criar um aluno ima- gindrio, mostra-nos claramente como seria a sua maneira de ensinar Filosofia. O exemplo norteador da sua pritica pedagégica esté explicito em suas obras, que possuem um valor inestimavel para a histéria da humanidade. Propo- imho, entio, que,em um primeiro momento, possamos fa- zer uma separacio entre a obra do autor ea sua biografa Ha quem diga que nao podemos levar em conside- ragdo 0s escritos de um homem que escreveu um trata- do sobre educagio e, contudo, nao foi capaz de educar € criar os proprios filhos. Entretanto, se analisarmos © argumento que tenta desvalorizar a teoria rousseau- niana em fungio do abandono dos fillos percebemos ‘que a ideia ¢ falaciosa. Explico. Nao podemos tragar paralelos a partir de coisas distintas. Ao compararmos dessa maneira, estarfamos cometendo a falicia falsa ‘analogia’ . © abandono dos filhos consiste em um fato da histéria de Rousseau e a filosofia/pedagogia/litera- tura rousseauniana equivale a uma produgio intelec- tual produzida pelo autor. Entretanto, em um segundo momento, pocemas re- fular o argumento de desvalorizagio da obra rousseau- niana em fungio do episédio do abandono dos filhos realizando o caminho oposto, uma outta via do que aca- bamos de dizer. Proponho que, ao invés de separarmos a vvida e a obra de Rousseau, fagamos o contrario,tratemos de vé-Las como ingredientes indissociaveis deste processo de conhecimento, Por mais que sejam coisas distintas ~ a Cnfore Shan (2016), ii eles anal core fade" sgh orem complamente irene eno por fac ang ent obra ea vida do autor ~ Rousseau usa sua obra como um mecanismo de compensagio das suas proprias frustra- ces. Dai segue o fato de que nao ha incongruéncia entre a biografia e a produgio filosética do autor. Por ter sido ‘um homem fiel asi mesmo e as ideias em que acredita- va, a vida de Jean-Jacques dar-nos-ia grandes indicagoes sobre como poderiamos agit de maneira verdadeira € comprometida com aquilo que se acredita , assim, po- deriamos tomar, também, alguns aspectos biogréficos do autor como indicagbes para a pritica floséfica e para 0 exercicio do filosofar. ‘Os antagonismos presentes na vida de Rousseattrefle- tem claramente seus ideais filos6ficos. Starobinski (1991, . 46) comenta sobre as antiteses confrontadas pelo autor: “O que se exige, pensa ele, & que sua existéncia se tone ‘um exemplo, que seus principios se tornem visiveis em. sua propria vida’ Entretanto, o comentador esclarece que as teorias formuladas por Rousseau nao se prestam sim: plesmente para justificar e desculpar as escolhas pessoais vividas pelo filésofo, Seria uma interpretagdo demasiada- ‘mente simplista a de julgar o legado de um autor a partir A ATITUDE DO PENSADOR EM RELACAO, AO ABANDONO DOS FILHOS DEVE SER ENTENDIDA LEVANDO-SE EM CONTA O CONTEXTO HISTORICO DA EPOCA E SUAS IDEOLOGIAS ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 31 VIDA E OBRA de sua vida pessoal, mesmo que desde atitudes como a do “abandono” ou desarrimo dos flhos. Aatitude de Rousseau em relacio a0 abandono dos fihos deve ser entendida levando-se em consideragio 0 contexto histérico da época, bem como as concepgies, ideol6gicas que © autor defendia em relagio ao Estado, Rousseau acreditavae preconizava que o Estado é quede- veriaresponsabilizar-se pela formagio das criangas, [Nas ConfisBes podemos saber desse fato pelas pala- vas do préprio filésofo: ‘Meu terceiro filho foi, pois, entregue & Casa dos Expos tos, como os primeiros; e 0 mesmo sucedew com os dois seguintes, porque foram cinco ao todo, E essa solugdo me pareceu tio boa, tao sensata, tao legitima, que se no me ‘gabava dela publicamente, era apenas em consideragio & ‘mide. Mas contei-a a todos a quem confessava nossa liga- fo [..] Em suma, ndo fiz: nenbum mistério com 0 mew rocedimento, ndo sé porque nunca pude esconder nada aos meus amigos, conto porque, realmente, nada via disso de mal. Pesando tudo, escolhi para meus flhos 0 melhor ou 0 que eu imaginava que o fosse. Quisera eu, e ainda hoje 0 quereria, fer sido educado ¢ sustentado como eles 0 foram: (2008, p. 328) ‘Tal atitude foi repensada em sua maturidade e 0 fi- 16s0fo, em varios trechos de sta obra, demonstra arre- pendimento e culpa pelos seus atos, No Enrilio, Rousseau também comenta suas justficativas a respeito desse as- sunto: Um pai, quando gera esustenta filhos, s6 realiza com iso two tergo de sua tarefa. Ele deve homens sua espécie, deve 4 sociedade homens socidveis, deve cidaddos ao Estado [..] Quent ndo pode cunprir com as deveres de pai ndo tem o direto de tornar-se pai. Nao ha pobreza, trabaas nem ESPECIALMENTE POR VIVER EM MEIO AOS FILOSOFOS DE SEU TEMPO, O PENSADOR CRITICA IDEOLOGIAS, PRESENTES NAS CIENCIAS E NAS ARTES 32 + Filosofia ciencatwida respeito humano que o dispensem de sustentar seus fihos de educé-tos ele préprio [..] Para quent quer que tenha ceninanhas e desdenhe tito santos deveres, prevejo que por ‘muito tempo derramaré por sua culpa ldgrimas amargas, ¢ Jaonais se consolani disso (2014a, p.27). Em 1749, a Academia de Dijon props um prémio a ‘quem respondesse a seguinte questao: "O estabelecimen- todas céncias edas arte ter contribuido paraaprimorar (5 costumes?” Rousseau escreve, entio, o Discurso sobre 1s ciéncias e as artes e € 0 vencedor do concurso, sendo este seu primeiro trabalho estritamente filoséfico. Ade- mais, 0 Primeiro discurso’ assume um papel de critica muito fortes ideologias presentes no ambito das ciénci € das artes. Ao proporem a questio motivadora do Dis- ‘cws0, pode-se dizer que seria uma hipstese consistente ade que 0s membros da Academia de Dijon contavam ‘com uum elogio as esferas cientificas e artisticas. Ao con- traio do que se espera, Rousseau apresenta seu potencial filos6fico e responde negativamente & questio, fato que nos mostra o quo inovador, ousado ecritico era 0 fléso- fo genebrino, Especialmente por viver em meio aos filé- sofos de seu tempo, o pensador critica o carster cultural oriundo das cigncias¢ das artes eo que, de fato, Rousseau realiza, consiste em uma reflexio critica que se estende também aos filisofos, Filosofia em gerale ao papel aque ela se presta na sociedade e na formagio humana. Nas palavras do autor: Respondei-me, pois fildsofesilustres[..] vés de quem rece- bemos tantos conhecimentos sublimes, se ndo nos tivésseis ‘munca ensinado tais coisas, serfamos com iss0 menos mu- ‘merosos, menos bem governados, menos temiveis, menos Plorescentes ou mais perversos? (1983, p-343-344). © Primeiro discurso ¢ obra que possui inestimivel re- levancia para o ensino de Filosofia, quando sio trabalha- das questdes relativas & Filosofia da Cigncia e Filosofia Estética. Dentre outras, a nogio de progresso ¢ elemento colocado em xeque a0 nos depararmos com a resposta negativa de Rousseau para questionamento da Acade- mia de Dijon. ‘Na sequéncia, Rousseau escreve 0 Discurso sobre a *Arespa do Princ dca. 0 Dic rea cea as de OUVEIRAS COUVEIRA: CORREA. As mating de Rous no Prin cst I FAGHERAZZ, Ones ta. ina bee inradooi & Feu da Cc ‘rane 15 2013 ROUSSEAU LOCALIZA-SE, NO AMBITO DAS ESCOLAS FILOSOFICAS, EM UM LIMIAR ENTRE O EMPIRISMO E O RACIONALISMO. TRAZ IDEIAS PARA A EDUCAGAO QUE, ATE ENTAO, HAVIAM SIDO PRATICAMENTE ESQUECIDAS E DESVALORIZADAS origem da desigualdade entre os homens! (1753) ¢ O contrato social (1762). Entretanto, sua maior obra no que concerne a Pedagogia é, sem diivida, Emilio, ou Da educagao (1762). Nela, Rousseau aponta conceitos que foram “divisores de aguas” para a historia das ideias pedagégicas e para a Filosofia da Educagio. Entre eles, tum dos principais seria 0 reconhecimento da crianga como infante, em lugar de ser vista como um adulto * Rose eer ea bra anim ar concoct 0 cetame xpi pea ‘Acadia de Di, Endann dasa ver no ateve ot ang Pie ‘dca, bores cas de a devin ade ecg 0 fbiovenrdocomasa A sped ieismo en cone acranacame ante sno qe Rosen ‘pei no que espe a pcan de ara clr Eaten rps xsd oa Se Coming em 1618, com a pba dh tia magn ha dad am warn sa omar. ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 33 VIDA E OBRA COM PERSONALIDADE EXCENTRICA, O CIDADAO DE sa GENEBRA VIVEU NO CONTEXTO DE EFERVESCENCIA DA RACIONALIDADE ILUMINISTA E DOS IDEAIS QUE INSPIRARAM A REVOLUGAO FRANCESA em miniatura’ , ¢, de acordo com os padroes da época, Rousseau localiza-se, no Ambito das escolas filos6fi- cas, em um limiar entre o empirismo e 0 racionalismo. Traz ideias para a educagao que, até entdo, haviam sido praticamente esquecidas e desvalorizadas pelos pensa- dores de seu tempo. Em Emilio, o genebrino apresenta- -se como um autor altamente propositivo e que valo- riza o projeto de formagio humana, projeto em cuja Viabilidade e execugao das ideias acredita, No preficio do livro, o filésofo nos fala sobre a inovagao que a sua teoria pedagégica apresenta: [..] ha infinitos tempos, todos protestam contra a pritica estabelecidla, sem que ninguém se preocupe em propor ou tra melhor. A literatura ¢ 0 saber de nosso século tender muito mais a destruir do que a edificar. Censura-se com tum tom de mestre: para propor, é preciso assumir urna outra postura, com a qual a altivez flosdfia se compraz ‘menos. Apesar de tantos escritos que, segundo dizem, s6 tém por fim a utilidade publica, a primeira de todas as uutilidades, que é a de formar homens, ainda esti esqueci- da (2014a, p. 4). Rousseau publicou outras obras relevantes, tais como: Ensaio sobre a origem das linguas (1753). Discur- 0 sobre a economia politica (1755), Carta a d’Alembert (1758), Jilia ou a nova Heloisa (1760), Emilio e Sofia ow 0s solittrios (1762), Carta a Christophe de Beaumont (1763), Cartas da montanha (1764), Projeto de consitui $0 para a Cérsega (1764), a autobiogrifica Confissbes (1770), Consideragoes sobre o governo da Polénia (1770), Rousseau juiz de Jean-Jacques (1776), Os devaneios do caminhante solitério (1776), dentre outras. A repercus- sio de seus escritos, entretanto, foi extremamente po- mica, colocando-o, inclusive, em posigdes de risco & sua integridade fisica. Emilio e 0 Contrato, queimados em vias piblicas em Genebra, bem como as persegui- bes vividas por Rousseau, mostram claramente que 0 pensar floséfico, a exemplo de Sécrates, por vezes é re- cebido incompreendidamente, Todavia, a instabilidade 34 + Filosofia citnciasvida que promove naqueles que o experimentam demonstra 4 forga do exercicio do filosofar - capaz de promover mudangas histéricas e (des)estruturar “alicerces” de pensamentos estagnados. Com personalidade excéntrica, 0 cidadiio de Genebra viveu no contexto de efervescéncia da racionalidade ilu ‘minista instaurando-se e dos ideais que inspiraram a Re- volugio Francesa, que aconteceria anos apés a sua morte, em 1789, Suas ideias a respeito da liberdade ¢ da igualda- de entre os homens, presentes em praticamente toda a sua obra, e enfatizadas no Contrato, influenciaram a escrita da Declaragiio dos Direitos do Homem e do Cidadéo, do- cumento de inestimavel relevancia, redigido no apogeu da Revolugio Francesa. Todavia, Rousseau nao chegou a ver suas ideias valorizadas e seguidas, pois faleceu em 2.de julho de 1778, 11 anos antes dos momentos revo- lucionétios decisivos que afetaram a Franga, aos 66 anos de idade, Segundo Dent (1996, p. 22), “nao ha divida de que foi uma presenga dominante durante a Revolugio Francesa, € de que esta hoje consagrado como uma das; grandes figuras da civilizagio ocidental’ io COREA, Leta Maia Paso, Ensino de Flos: um est de cso, Felts tora e Gece da Urnesitad Feral de Pes, 2012 DENT. H. Diino Rousseau. Ri de ri: org: Zaha, 196. FAGHERAZZ, Ona Uma breve inrodaio a Flbsota da iui, Bio Cand: FS, 201. RODRIGUEZ, Harminio Barec. jun Jacobo Rouse, ene a jac y el omantsmoelexones lilo deur ers de Las Confer Educ y Soe 10, p. 6550, Mad, 1982 ROUSSEAU, leanJaoqus Confisies,Bouru ao, 208, Do conto sca: sai sabre a crge ds lings, Discurso sore aig os andamentos da desig entr 0 homens; Discurso sobre as incase ales. Cle Os Rese Talo de Louies artes Mahdi e ota de Pal _Nbose- Basie Loutal Gomes Machado 3 ed 0 Pal: Ab Calta 1963 Emilio, ou Da educa, 4. So Paulo: Martins Fontes, REFERENCIAS 2014, (0s devanios do aminhante soli, Porto Alege: LAPD, aoa. SHULMAN, Max. © amor € uma fii, Dison edie com bidacumentso amore flaa-pormaxshuman-radcao-e- luisfermando-vetisimopatnl ceso em 15 abs 2016 ‘STRATHERN, Paul, Rousseau em 90 minutos. Roce ase: Jorge Zaha, 2008, 5 CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO on = — * O CONHECIMENTO PELA LUZ NATURAL ODIO AO OUTRO: DISTORGOES DA REALIDADE O CONHECIMENTO aoe LUZ NATURAL Um/lhar sobre o inatismo cartesiano flextio apresentada neste artigo expée mas expresses do conhecimento _humano. Inicialmente abordamos questbes referentes as dimensdes da conscitneia, © sujeito € o objeto como as duas orde conhecimento. Em seguida, enfocam-se s do conhecimento no Periodo Cli co: conhecimento sensivel e intelectivo, com mengio as ideias inatas de Descartes que contrapoem aquelas adquiridas pela experiéncia dos sentidos, desenvolvida por John Locke (1632-1704), Conelui-se, apresentan: do & importineia do pensamento de René Descartes (1596-1650) para a contemporaneidade Tod lidades para se desenvolver de acordo com as suas 08 seres vives trazem consigo potencia~ necessidades de sobrevivencia. Uma planta, se colo: cada em um lugar escuro, vai direcionar seu cres- cimento para onde hi luz natural; a ave nao tem tato nem olfato a voar, mas € compensada com uma visio muito agueada que distingue e diferen- cia as cores a longa distancia, o que Ihe permite ver um inseto, Tem-se, ainda, 0 exemplo dos sentido: volvidos pelas pessoas com algum tipo de deficiéneia, seja ina pu adquirida no decorrer da is quais precisam se adaptar a um tipo de vida diferente (Santos, 2000, p. 31). E possivel utilizar xemplos de adaptacio dos seres vivos com a imposigdo dos meios, mas nio é esse o objetivo ao qual nos propomos; pretendemos no texto apresen- tar algumas expresses do conhecime dissertar sobre as dimensdes da consciéneia e, em dens do conhecimento no seguida, sobre as dua: Periodo Classico, Para, no altimo momento, fizer uma reflexio no que se refere a0 racionalismo € as ideias inatas de René Descartes (1596-1650). Os seres vivos possuem muitas caracteristicas comuns, mas somente o homem tem a capacidade especial de pensar, ¢ essa caracteristica que dé a ele uma tendéncia espontinea a descobrir 0 que 6 0 mundo a sua volta, a conhecer e a compreender esse mundo, a si mesmo, a natureza ¢ a sociedade, Essa capacidade de pensar possibilita somente ao homer, CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO + Filosofia cenciaavida + 37 PROPOSTA DIDATICA Para que 0s estudantes fixe conte ido sobre teoria do conhecimento, segundo 0 proposto por pensadores © académicos abordados neste artigo, © excertos da bibliografiaindicada a0 fi nal, vale fazer com que rellitam sobre algo que consideram que conhecem Je forma inata, expondo exemplos para o restante da classe, Devem ana Tsar como se di esse conhecimento a part da Iniciar debate ou dis: custo b nas perguntas: "0 que podemos conhecer realmente? A consciéncia pode conhecer tudo? Qual a origem do. conhecimento? postas, orientadas pelas letras ind cadas,e pelasdiscussdes, com media fo do educador no que diz respeito pode cervir de hase para dissertagbe individuais ou em grupo, revelando 0 aprendizado sobre o tema pesmitin do sua avaliacdo, SSugestio da redag ter a conseiéncia de si; convivendo com a realidade, Ihe & permitido verdade para, assim, conhecer poder compreen “la, Chaui (2000) esclarece que 0 sentido etimolégico das palavras pensamento” e “pensar” origina-se do verbo latino pendere, que si fica ficar em suspenso, estar ow pendurado, Quan do 0 ser humano sai de si mesmo sem sair de seu interior, exerce uma utividade do pensar, suspende o julgamento até formar uma ideia ‘ou opinise, Pode-se observar que nos textos filoséficos escritos em latim nao € empre pensare: para dizer pensar, utilizam (8 verbos « ligere® (p. 193). Portanto, conforme Chau (2000), cegitare & forgar alguma coisa a ficar diante de nés para ser elligere & conhe- cer ¢ entender. Pereebemos que os verbos significam atividade que exige atengio: avaliar, equilibrar, entender ¢ ler por dentro. Assim, © pensamento é a consciéneia ado pendere nem saindo de si, para colher ¢ reunir dados oferecidos pela experiéneia, 0, meméria e linguagem peree| (p. 194). ENCIA CIMENTO A necessidade do homem de explicar acerca do mundo sempre existiu, Recorzer a mitos, religiées para buscar explicagio. das coisas € um dom natural do ser humano. Mas © que mente? A cigneias ¢ a Filosoi Qual a origem do conheriento? Como chegar as certezas? A teoria do conhecimento distingue © cida- dio, 0 “eu” € © sujeito, apresentando graus de consciéncia que entende- mos como sendo a atividade racional que conhece a si mesma e na qual © sujeito do conhecimento € a figu- ra central. Segundo Chaui (2012), podemos dividir a conseiéncia em tués dimensdes: a) Consciéncia ética: que €a capacidade livre e racional que © ser humano tem de escolher e agir de acordo com seus valores e rege Esse ser, dotado de livre vontade ¢ responsabilidade, comportase da maneira que entende melhor para si vesbo vem rar para dante de cli conned dus outa plaas: in (ene gee seni ecole, o clr as ler como lho (Chin, 2012,» 147) era € para os outros. Essa consciéncia moral, tanto racional quanto afeti- vva, busca uma vida feliz © justa; b) Consciéneia psicolégica: trata do sentimento da nossa propria identi- dade, 0 nosso “eu” formado a partir de nossas vivéncias, a maneira como compreendemos nossos sentimentos, nosso corpo nosso mundo interior ©) Consci ca, que é uma atividade sensivel ¢ intelectual dotada do poder de anslise ¢ sintese de representagio dos objetos através de ideias ¢ de avaliagio, compreen- siv e interpretagio desses objetos por meio dos juizos (p. 146). As consciéncias psicolégica e cia epistemol epistemoligica podem ser compre: endidas conforme os exemplos: um aluno pode adorar estudar Fisica e outro nio gostar da matéria, mas 0 sentimento de cada um nio inter- fere nos conceitos das disciplinas, pois seus valores independem de vivéncias dos alunos e sio © objeto construido pelo sujeito do conheci mento. Outro exemplo: um médica pode nao saber que existe a cura para o cineer , a0 ser informado sobre isso, ele nao acredita na cura, © que nio invalida de forma alguma © sentido da pesquisa descoberta e conhecida pelo sujeito do conheci- mento (p. 147). A ESSENCTA Dt CONHECIMENTO Conforme Hessen (2000), aessén- cia do conhecimento esta no sujeito ¢ ro objeto, pois [.]aaomesmo tempo, arelasho entre as dois elementos éuma relasaorecipro~ ta (carselagaa). O sujeito 16 € sujita pera um objeto © 0 abjeto sb € abjeto (para sam sujet.) ser saci & algo tompletamente diverso de ser objeto. A fansite do sujeita & apreender 0 objete a fungao do objeto éser apreensivel ewer apseendide pelo sujeito(.] Dizer que o conbecimento € uma determinasita do sujet pela objeto € dizer que 0 sujei- to comporta-se receptivamente com respeito ao objeto. Essa receptividade, ido, ndo significa passi Pelo contrivio, pode-se falar de uma atividade e de uma eipantaneidade do sujeito no conbecimente, Certamente, a espontancidade nao estd relacionada 40 cbjete, mas a imagem do objeto, na gual a consciéncia pode muito bem ter uma participasaa criadara (Hessen, 2000, p. 18). © homem € limitado em sua capacidade de captar as reais proprie- dades dos objetos, por isso a divida, assim como algumas certezas, est nite em todos os tipos de conhe- ‘CADERNO DE cimento, Com isso, de acordo com Descartes (2001), smunda, etd mais bem disributda: de to castume de desejarem [er] mais de gue ¢ gue ttm, E nisto nde 6 oerestmil gue toda se enganens mas ants, te teste muna que o poder de bem julgar, ¢ de distinguir 0 verdadeiro do fat gue é guile a gue se cama o bom senso ow @ , € naturalmente igual em todos os omens; da mesma forma que a diversi dade das nossasopinides nao provi do fa de un que ‘outros, mas unicamente do fate de nds condcirmos 0 meses pensamentes por vias diversas e de nao considerarmos as ‘mesmas evisas (Descartes, 2001, p. 5). Durante 0 Period Clissico, a maioria dos filésofos reconheceu a existéncia de duas ordens de conhe- cimento: a dos sentidos e a do inte- ecto. Os pensadores da origem platonica (Platao, Plotino, Agosti- nho e Boaventura) subdividiram os conhecimentos, sensivel ¢ intelecti ENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO * Filosofia cenciasvida * 39 vo, em dois tipos: 1) Conhecimento sensivel por imagem direta ou sensi- vel por meio de uma e6pia (imagem indireta); 2) Conhecimento intelec- tivo pelo raciocinio e conhecimento intelectivo pela visio. Jit os pensa- dores de origem aristotélica (A tételes, Avertdis, Alberto Magno ¢ Tomas de Aquino) preservavam a primeira diferenga e recusavam a segunda, pois, para eles, nossa ‘mente no é dotada de eonhecimento intuitivo, somente de raciocinio. No Perfodo Moderno, igualmente, tém- -se duas linhas de raciocinio e, para © presente texto, utiliza-se 0 pensa- mento de René Descartes. O.filb sofo, por vezes chamado de “funda- dor da Filosofia moderna” e “pai da Matemdtica moderna’, considerado racionalista, foi um dos pensadores mais influentes da historia e defendia tanto o conhecimento sensivel quan- too intelectivo, ARAZAO BUNATA OU ADQUIRIDA? Em Meditagées sobre a Filosofia primeira (1641), obra mais completa € rigorosa sobre metafisica © episte- ‘mologia, René Descartes demonstrou as possibilidades do conhecimento a partir de posturas mais céticas ¢, em seguida, estabeleceu uma base firme para as ciéncias. Para que suas crengas tivessem estabilidade e resistencia, © que para ele trata-se de duas importantes marcas do conhecimento, Descar- tes estabelece o célebre argumen- to do erro dos sentidos, argumento esse que coloca sob a agio da daivida metédica o conjunto de nossa experi- éncia cotidiana, dado que a interagto sensorial com 0 mundo em que ela se ampara nio possibilita que elabo- remos um conhecimento que esteja acima de qualquer suspeita de falsi- dade. Descartes argumenta que “LJ porém, descobri que eles [os senti- dos] por vezes nos enganam, € € de prudéncia nunca confiar totalmente naqueles que, mesmo uma s6 ve2, znos enganaram’ (Descartes, 2004, p. 107). Nesse sentido, o nico conhe- cimento verdadeiro nao esti contido no mundo externo da observagio, mas sim nas verdades puramente racionais, no copito ergo sun? Os racionalistas veem na sazio a fonte principal do conhecimento » Gaogita Ergo Sen —“Eapresto cartesian que caprime a auoorideaciaexstencial do ae to pensante, inn a cereza de que 0 sito pensante tem de sua exstencia como tal" (AD Dagnano, 2012, 173), SEGUNDO A FILOSOFA MARILENA CHAUI, AS IDEIAS INATAS NAO PODEM VIR NEM DA EXPERIENCIA SENSORIAL DOS SERES NEM DAS FANTASIAS, POIS NAO SE TEVE EXPERIENCIA SENSORIAL PARA COMPO-LAS A PARTIR DA MEMORIA 40+ Filosofia cienciaswida * CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO_ Jhumano, nesse sentido 0 conheci- mento 36 é verdadeiro se for logica- mente necessirio e universalmente vilido. O- racionalismo cartesiano difere-se do racionalismo puro por trés tipos de ideias: inatas, adventi- cias e facticias. As ideias adventicias chegam aos seres humanos a partir dos sentidos — sensagbes, percepgdes, Iembrangas -, as ideias facticias sio aquelas que criam, na fantasia e na imaginagio, uma unio das imagens cemitidas pelos sentidos e retidas na ‘meméria, cuja combinagio_permi- te representar oa imaginar coisas ‘munca vistas = contos infantis, mitos € superstigbes, por exemplo. E, por fim, as ideias inatas, que sio produzidas pelo entendimento, sem precisar da experiéneia, vivem no mago do ser e pode-se pensar nelas ou nao. Sobre as ideias inatas, Descartes esclarece que Lu] quando comeso a descobri-tas, indo me parece aprender nada de novo, ‘mas recordar 0 que ja sabia. Quero dizer: apercebo-me de coisas que eta- ‘uam ji no meu espirito, ainda que nto sivesse pensado nelas. E, 0 gue & mais nnativel, que ew enconéro em mim una infinidade de ideias de certas cisas gue nndo podem ser consideradas um puro nada. Ainda que nao tenbam taloex existéncia fora do meu pensamento elas nto sao inventadas por min Enbora tenba liberdade de as pensar ou nia, clas tm uma natireza verdadeira ¢ mutavel (Descartes, 2008, p. 97). Segundo Chaui (2012), as ideias, inatas nfo podem vir nem da expe- das rigneia sensorial dos seres ne fantasias, pois no se teve exper cia sensorial para compd-Ias a partir da meméria. Dessa forma, tem-se 0 cexemplo: a ideia de infinito é inata, pois nao ha experiéncia sensorial de infinitude (p. 84). Para Descartes, as ideias inatas slo a “assinatura do ceriador” no espirito das criaturas racionais ¢ a razio é a luz natural inata que permite conhecer a verda- de. Elas so definidas, por ele, como todas as ideias que sio inteiramente . Sao elas: a) Os principios lade, mio contra- digo, terceiro excluido ¢ razio sufi- ciente; 6) Nogdes comuns da razio = 0 todo maior do que as partes; (©) Ideias simples conhecidas por intuigio intelectual — cogito, Sendo as ideias inatas colocadas no espiri to dos seres por Deus, estas sempre serio verdadeiras € mostram que as ideias facticias serio sempre falsas. da razio ~ identid PENSO, LOGO, EXISTO Descartes, em 0 Discurso sobre 0 métode para bem conduzir a razdio e buscar a verdade por meio da ciéncia fatiza o método da civida ida metéidica ou diivida carte- Para a razio bem funcionar, & necessitio limpar o terreno da mente de todo preconceito. E preciso, num primeiro momento, duvidar de tudo, principalmente do que jé se tem estabelecido como verdade absohuta A partir de entio, devem-se buscar verdades elementares, verdades que bastem a si € mio precisem de outras verdades precedentes, pois, duvidan- do de tudo, aquilo que conseguir se estabelecer como verdade depois disso teri, necessariamente, que ser uma verdade absoluta. 0 fil6sofo parte do «agito (pensa~ mento) que faz parte do seu interior, colocando em diivida a sua propria existencia para chegara uma certe- za sobre a concepgao de homem, a qual faz um novo pensar sobre a problemitica (homem), consid rando duas principais substin- cias existentes, que sio 0 corpo EM DESCARTES, PARA A RAZAO BEM FUNCIONAR, E NECESSARIO LIMPAR © TERRENO DA MENTE DE TODO PRECONCEITO. E PRECISO, NUM PRIMEIRO MOMENTO, DUVIDAR DE TUDO, PRINCIPALMENTE DO QUE JA SE TEM ESTABELECIDO COMO VERDADE ABSOLUTA CADERNO DECI € a alma que se fundem em uma unio fundamental, porém distintas entre si, Descartes admite ainda a existén- in de trés substancias. A res divina — substineia eterna, perfeita, infinita, que pensa e € independente. Mente {alma) ¢ corpo sio constituidos por duassubstancias distintas. Outra substancia, a material, que corres- ponde ao ‘mundo corpéreo, a qual ele chamou de substincia extensa (res extensa) € uma imaterial, que corres- ponde a esfera do en ou da conscién- cia, denominada substancia pensante (res cogitans). Essa tiltima, segundo cle, € a determinante no processo do conhecimento. Ainda que sepa- radas, essas substincias sio capazes de interagir. Para Descartes, apenas em Deus essas substincias poderiam se fundir e constituir um todo, pois € da divindade que elas teriam se originado. Ainda, segundo o pensa- mento cartesiano, a aparente oposi- io entre espitito € mente nao é verdadeira, pois ambos perten- com a esfera do res cogitans Alguns pensadores acreditam na distingao entre eles pelas caracteristicas proprias de cada um, uma ver que 0 espiti to € ativo, mutante, inventivo, enquanto a mente tende ao ato reflexivo, meditativo, manten- do-se quase inalterivel. No res ‘ogitans, portanto, 0 elemen- to laborioso é 0 espiritual, ‘20 passo que o intelecto é a fragio inerte, algo por vir, que pode ser pratica- mente pesado, tocado, A garantia de ideias.claras © distintas poe em diivida tanto 0 mundo das coisas sensi- veis quanto o das inteligiveis, ou seja, é necessirio duvidar de tudo. ‘A divida universal de Descar- tes, segundo Barrena (2015), nao € experiencialmente possivel, pois nao se pode duvidar de tudo. A diivida auténtica, por outro lado, surge em um context especifico, embora, as vezes, seja também buscada, pois faz parte da atividade do ser humano que nar o que faz. buscar os erros e as ICIAS SOCIAIS & EDUCACAO + Filosofia cenciaswida + 41 anomalias. Quando se produz uma aivida genuina, o organismo trata de voltar ao seu equilibrio, mediante um processo de pesquisa que se encerra quando € formado um hibito, uma renga verdadeirae revisada (p. 30) ONHECIMENTO E A ERIENCIA DOS SENTIDOS Enquanto o racionalismo susten: ta que a verdadeira fonte do conhe cimento € 0 pensamento, a razio, 0 mntrapoe determinando que a tinica fonte do conhecimento humano € a experién- Gia. Para os empiristas, a razio nio possui nenhuma heranga aprioristi- ca, Segundo Hessen (2012), a cons- contetidos da razio, mas exclusiva mente da experiéncia, Ao nascer, 0 espirito humano esti vazio de conte- tidos, ¢ uma folha em branco sobre a qual a experién conceitos, ¢ até mesmo os universal e abs ja. Ao mesmo tempo em que 0 tos originam-se da experi- racionalismo se deixa conduzir por uum ideal de conhecimento, uma ideia determinada, o empirismo parte de fatos concretos. As percepsoes da a so concretas € so elas que formam, aos poucos, 08 conceitos erais e as representagses e, sendo percepedes desenvolvem-se organicamente a partir da experién- Em um de seus prineipais traba- hos, O bumans (1690), John Locke saia br 0 entendinento ipresen= 10 inatismo ¢ defende que todas as p uma “tdbula rasa’ ou seja, como uma folha em branco, sem conhecimento rnenhum, Destarte, to as comegam por nao saber absoluta: mente nada ¢ aprendem pela expe riéncia, pela tentativa e pelo erro. Locke conclui em tal caso que se 0 homem adulto possui conhecimento, sen sa & eo papel impren as ideias provenientes — todas — da experiéncia” (Monteiro, 1999, p. 10) 42+ Filosofia cienciasvida + CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO Ele busca descobrir quais seriam os elementos que constituem o conheci mento, quais a ns € proces- armbém qual 1 dimensio da sua aplicagio. Dessa sos de formagio, como forma, se, para Locke, o homem nio possui ideias inatas - a0 contririo do que afirmavam Platio ¢ Descar tes ~, surge a pergunta: como pode 0 homem constituir um conhecimento isso & possivel? " Para o empirista, a fonte de todo conhecimento humano esti na expe: riéncia sensivel e na reflexio. Ele esclarece que, em si mesmas, esta € sos que compdem a mente com os elementos do conhecimento, Locke chama esses elementos de ideias deia 6, para esse filésofo inglés, 0 objeto do entendimento, quando qualquer pesson pensa, A. expressio amplo sentido, englobando todas as possiveis ativid: es cognitivas. ‘Monteiro (1999) defende que, para Locke, asideia no interior do sujeito, enguan- dereflexto originam- to as ideias de sensagao derivam do exterior. Como exemplo, podemos citar expresses como “azul”, “frio”, que traduzem ideias de sensagdes. E, por outro lado, palavras como “duvidar”, “pensar” constituem ideias de reflexdo. A essas duas catego- rias, Locke intitula *ideias simples”. Simples porque elas s6 acontecem a partir de experiéncias bem coneretas, Essas experigncias concretas, por sua vez, fornecem ideias simples de txés formas: sensagio, seflexio ¢ ambas simultaneamente. Para_a_primei- ra, citamos como exemplo: sélido, amargo, movimento; na segunda, podemos citar a atengio, a memé- ria, a vontade; ¢, por fim, em rela- 80 As duas juntas, seriam as ideias de existéncia, duragdo, mimero, Para saber se as ideias simples equiva Jem a imagens das coisas exteriores a sujeito que as percebe, Locke as separa em dois grupos: 0 primei- ro € formado por ideias “enquanto pereepgaes em nosso espirito’, 0 segundo, “enquanto modificagées da ‘matéria nos corpos causadores de tais pereepgoes’. Essa altima traduz os efeitos de poderes capazes de afetar os sentides humanos (Monteiro, 1999, p. 13). Chaui (2012) entende que uma percepgio é a reunio de uitas sensagdes, ou seja, percebe- mos um tinieo objeto por meio de virias sensagdes. Quando percebe-se ‘uma rosa, ela 60 resultado da reuniio de virias sensagbes dif objeto de percepgio. Essas percep- goes associam-se por trés moti semelhanga, proximidade ou. suce: Jo temporal. Ao se repetirem essas sensagdes, seja por semelhanga, no ‘mesmo espago de tempo ou préximas tumas das outras, eriamos 0 habito de associi-las e essas associagées sio denominadas pelos empiristas como ideias. Essas ideias trazidas pela experiéncia sio levadas & meméria, onde a razao as utiliza para formar os pensamentos (p. 86). Ainda assim, para Hessen (2000), ‘mesmo que todo contetido do conhe- cimento proceda da experiéncia, 0 seu valor légico nio se limita 4 experién- cia, pois existem verdades que ind. pendem da experiéncia © sao uni O CONHECIMENTO SEGURO E VERDADEIRO, FACULDADE UNIVERSALMENTE PARTILHADA, DEIXA CLARO QUE E SOMENTE A RAZAO OU O BOM SENSO QUE PODEM DISTINGUIR O HOMEM DOS OUTROS ANIMAIS salmente vilidas, Como no caso da ‘Matematica, cujo fundamento res podem, sim, enganar e afastar os seres humanos da verdade. A azo seria ‘no pensamento (p. 71). Compreende- mos que o pensamento de Descartes permanece vivo nos dias de hoje, 2 reflexio sobre as suas ideias expres a certeza da propria existéncia e que todo o verdadeiro saber se distingue pelas notas da necessidade logica ¢ da validade universal, pois 0 mundo da experiéneia mantém-se em conti nua mudanga, por isso 05 sentidos ‘Machado Grape de Drtabuc, 2015, REFERENCIAS a tinica forma verdadeira da qual se deve partir para aleangar 0 conhec mento. O inatismo traduz. a profunda confianga que ele tem na raziio. Essa fonte de todo 0 conhecimento segu- ro € verdadeiro, faculdade univer salmente partithada, deixa claro que € somente a razio ou © bom senso que podem distinguir o homem dos outros anima ABBAGNANO, Nicol, Histra da Flos 1.Usboa resenca, 199 BARRENA, Sara, Pragmatism y eda: Chales, Pee y Jn Dewey en bs us Mack CCHAU!, Malena. Comite a Flsofia io Paulo: Aca, 2000. Iniciagio 3 Flosofa, So Paulo: Aico, 2012, DESCARTES, Reng, Discurso do método, Sv Plo: Martins Fortes, 2001, Meditages sobre Filosofia primeira, So aul: Ee da Unicamp, 2008, HESSEN; Johannes, Tera doconecimento, io Paulo: Martins Fontes, 2000, LOCKE, jn Enso acerca doentendimenta human, So Pao: Nova Cultural, 1998, MONTEIRO, Jao Paulo; Martins, Carlos Etesam Vda e Oba, Coleco Os Pensadores. Ein ‘Acerca do Enendimento Humano, or fonh Locke, tad: Anoar Aes, p. $317. S30 Paulo: Nova Cultural, 1996, REALE, Conan Hira da Filosofia moderna 1. Ss Palo: Pauls, 2007. SSANTOS, Anni Raimundo cs; CORDH, Casiano etal Para sofa. So Pau: Sipione, 2000. CADERNO DECI ICIAS SOCIAIS & EDUCACAO + Filosofia cienciaxvida + 43 ODIO AO OUTRO: DISTORCOES DAN REALIDADE O que acontece no Brasil de hoje é resultado de décadas de questdes nao resolvidas em toda a nossa histéria Vitae historia, As eleigses de 2018 nao deram ao pais um o econdmicas, Ao contritio disso, os e deve ao fato de edade: 0 bofso Muito se atrela tal fendme- no @ questées conjunturais: mi recentes. No entanto, 0 que acon: tece no Brasil hoje é resultado de sows Misti, Waleey ager jt dais, “O mos ‘ainda’ tejam poet séeulo XX ato ¢ nenhus filosstico” Pode panto em constatar hipecautoritario do neoliberalis mo, como afirma Christian Laval O neoliberalismo — suscitou timentos, paixses... paixdes desi gualitarias, mas também paix la igualda- iro... Mas, hoje, estamos EMBORA CADA MO) TENHA A SUA ENTO HISTORICO PECULIARIDADE E AS SUAS PARTICULARIDADES, O FATOR MAIS COMUM DA ASCENSAO DO AUTORITARISMO E JUSTAMENTE O RANCOR SOCIAL, EM SUCESSIVAS CRISES DO CAPITAL visivelmente em outra fase, que eu chamaria de momento hiperauto- ritirio do neoliberalismo.? Embora cada momento histé- rico tenha a sua peculiaridade e as suas particularidades, 0 fator mais comum da ascensio do auto- ritarismo € justamente o rancor social, frustragdes, ressentimentos © paixdes ~ como afirma Laval ~ de uma sociedade que vé todo o ® LAVAL, Christian. Bolsomaro e 0 momen te hiperauoriislo do nealiberaismo. Dis- pponivel em: hetps//blogdaboitempe,com, 1/2018/10/29/0-momento-hiperautorteio- dorneokiberalsmo? seu modo de vida ameagado pelas sucessivas crises do capital, pela violencia ¢ pelo desemprego. Ao mesmo tempo em que gera todos esses sentimentos, no lado oposto obteve-se também forte atuagiio, ‘movimentos coletivos que visam igualdade ¢ fim das opressdes a determina- dos grupos (mulheres, LGBT) A partir do momento em que determinados grupos se levan- tam contra séculos de violéncia, geram-se em outra parte da socie- dade medos, frustragées e, prin- cipalmente, equivocos quanto as negros, 46+ Filosofia cenciatvids + CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO suas pautas, 0 que acaba acirrando ainda mais os conflitos entre esses grupos. Para se ter alguns exemplos mais praticos do que esta sendo dito, nos iiltimos anos tém cres- cido fortemente nos carnavais as campanhas do “Nao ¢ Nao” como uma forma de combater os assé- dios ¢ estupros cometidos contra mulheres durante esse perfodo do ano. Também aumenta o esela- recimento das pessoas negras 20 focuparem espasos que sio ocupa- dos majoritariamente por pessoas brancas e, independentemente de seus interesses no campo da econo- mia politica, possuem a nogao (em maior ou menor grau) de que o racismo (como sistema) precisa ser combatido, E, por altimo, deve- -se notar a liberdade que pessoas LGBTs tém ao expressar mais os seus afetos publicamente. ‘Tudo isso gera uma espécie de frustragdo de uma outra parte da sociedade. Um setor que nio aceita que essas mudangas acontecem ¢ devem acontecer para o desenvol- vimento humano. © fendmeno bolsonarista nao se explica isoladamente, mas é resultado de uma nova onda que se alastra no mundo todo desde © ano de 2016, com a eleigio de Donald Trump. No entanto, hi espago suficiente para fazer andili- ses pastindo da propria conjuncura brasileira. ‘A direita brasileira antes fora liderada pelo PSDB, que visava um aprofundamento das. politicas iniciadas por Fernando Henrique Cardoso na privatizagio de esta- tais, maior autonomia do merca- do ¢ redusio da participagio do Estado na economia. Contudo, a propria direita, na sua totalida- de, necessitava radicalizar 0 seu discurso € as suas id afirma Lu Felipe Miguel: © que existe hoje € a confluén- cia de grupos diversos, cuja unio € sobretudo pragm da pela percepgao de um inimigo jen @ motiva- comum. Os setores mais extrema: dos incluem trés vertentes. prin- cipais, que sko o libertarianismo, © fundamentalismo religioso ¢ a recielagem do anticomunismo.* © autor ressalta a unido de diferentes grupos que, indepen- dentemente de suas diferengas no Ambito moral, tém algo em comum que 08 une, que em suma se trata da eliminagio por completo de seu inimigo comum: as esquerdas Vale também ressaltar 0 fato de que Bolsonaro primeiro plano para as. elites Embora suas ideias estejam alinha- das com os maiores ¢ mais influen- tes empresirios do pais, as classes dominantes precisavam de alguém com um discurso mais moderado, €0 homem do mercado era Geral- do Alckmin; isso até che ponto em que se teve certeza de que o candidato nio ganharia as cleigses. modus operandi pratica- do pelos grupos ultraliberais, no entanto, é pensado desde a da de 1980, © 36 agora, d depois, conseguiram de vez colo- car em pratica. No ano de 1983, fragies da burguesia do Rio de Janeiro, juntamente com intelectuais da Fundagio Getulio Vargas, forma- dos a partir das ideias da Escola Monetarista de Chicago e inspi- rados pelo Institute of Economic Affairs (IEA), fundaram o Insti .), com o objetivo 1 _métodos de difusio do ¢ mesmo contexto, criou- se, no ano de 1984, o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), que tinha como propésito a divul- gacio do pensamento conservador MIGUEL, L. FA reemergéncia da diveta brasieics. In; SOLANO, E ° Sto come pottia, Sho Pal CASIMIRO, Flivio Henrique Cathe Brasil contemporineo, In: SOLANO, Esther (Org). 0 aie ome polities, Sto Paver Boi tempo, 2018, a direit £ IMPORTANTE ANALISAR O DESPREZO QUE A SOCIEDADE PASSOU A TER PELAS INSTITUIGOES POLITICAS TRADICIONAIS, POR OUTRAS QUE APENAS APARENTAM SER ALGO NOVO, ENQUANTO CARREGA CONSIGO TODAS AS CARACTERISTICAS DA VELHA POLITICA no eixo Sudeste-Sul. Instituigio essa que foi responsivel por criar © Forum da Liberdade, um dos eventos de maior importancia da diteita brasileira em, ‘CADERNO DE Dentre as muitas organizagses dos grupos conservadores, vale citar também 0 Instituto Millenium, que possui forte influéncia pelos nomes que colaboram com suas atuagdes, como o apresentador jornalista Pedro Bial, o colunista Rodri 10, 0 editor do jornal fe 8, Paulo Antonio Carlos Pereira, o diretor da Rede Globo Luiz Eduardo Vasconcellos € 0 proprio Joio Roberto Marinho; € por ultimo o Grupo de Lideres Empresariais (Lide), fandado pelo atual_governador Joao Doria. Um grupo muito seletivo de empresi~ rios brasileiros, que buscam diver- sas formas de atuagio politica em beneficio de seus negécios.* Todas essas instituigies atua- ramem para difundir no Brasil o pe 0 liberal, e, de acordo com os préprios, da livre iniciativa ¢ menor dependéncia do Estado. Por fim, & importante analisar 0 desprezo que a sociedade ps a ter pelas instituigdes poli cas tradicionais, por outras que apenas aparentam ser algo novo, enquanto carrega consigo todas as caracteristicas da velha politica. A Iden, ENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO + Filosofia cenciasvida * 47 CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO - CADERNO DE CIENCIAS AS SOCIAIS & EDUCACGAO - CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO, & EDUCACAO - CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO - CADERNO DE C comesar pela eleigio em primeiro turno de Joio Doria para a prefei- tura de Sio Paulo. O que se percebe é que o diseur- so antipolitico jé estava_sendo alimentado, e com o passar dos anos foi se fortalecendo. Fizeram © que Safatle chama de “mobili zar 0 medo”: em meio a uma crise econdmica ¢ politica institucional, ndo-se de te popular, aos poucos ganharam terreno, Alguns fatores de —ordem estrutural contribuiram para que a extremardireita se tornasse a principal alternativa. Isso envol- ve desde a sua forte capacidade de articulagio com programas de protegio a economia, aumento de competigio, Estado minimo, poli- ticas neoliberais, tudo isso atrel: do a um forte anseio de presery sao de seus valores: A verdade € que, a0 longo dos anos, 0 governo do PT possibilitou © surgimento de uma “nova clas- se média brasileira’, que, segundo Ruda Ricci (2013), passa a desfru- tarde aumento de salirios, aumen- to do poder de compra, acesso a lugares antes impenséveis e assim por diante. Nesse periodo, 0 filho da empregada/o passa a frequentar a 48+ Filosofia cenciagvida + CADERNO DE | universidade, 0 empregado/a passa a viajar de aviio na mesma clas- se que 0 patrio, Tudo isso gera desconforto para uma classe acos- tumada com a distingao , nesse arcabougo, tentara de todas as formas recuperar 0 seu prestigio, se € que tem algum. A crise que se inicia em 2008 muda esse quadro de ascensio drasticamente. A partir dela a “nova classe média” aos poucos vai perdendo seu poder de compra e tum quadro de insatisfagao comega ase formar. A principio, a nova matriz. gera resultados. Para dar um exemplo JENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO pritico, em 2011 0 PIB teve um crescimento de 3,9%, entretanto, com 0 passar dos anos, o eresci- mento foi se reduzindo até chegar em 0,1% no ano de 2014. Em meio a crise economica que comega a se instalar, vemos grada- tivamente 0 surgimento de uma nova onda, que cria corpo a partir de junho de 2013. Nos referimos ao surgimento do discurso anti- politico que susfa em meio a crise institucional, ganhando folego em meio & populagao. Para se ter uma ideia, conforme Almeida (2016), entre os anos de 2009 ¢ 2015 0 Ibope realizou varias pesquisas a respeito da “confianga nas insti- tuigdes”, Nelas, péde-se constatar © quanto as instituigdes. politi- cas estavam desacreditadas, e em todas essas pesquisas os partidos politicos ocupavam a altima posi- s com indice de 30% de acei- tagio caindo no wltimo ano para 17%, ou seja, quase a metade. ‘onfianga nas instituiges no esta relacionada apenas a poli tica, mas a todos os setores rela~ cionados ao Estado brasileiro, © dentre eles 0 mais nitido € 0 da seguranga publica A falta de confianga nas insti- tuigdes traz.o sentimento de inse- guranca a milhdes de pessoas por todo o pais, fazendo com que estas desejem alternativas radicais para combater a violencia, como por he exemplo a ansia pelo aumento da Ietalidade policial e principalmen- te a revogagio da lei do desarma- mento. Tudo isso nos leva a uma anilise sobre as distorgGes que 0 bolsonarismo causa na visio poli= tica dos cidadaos. Que distorgoes sto essas? ‘Ao longo dos anos, eriou-se no Brasil uma falsa dicotomia da realidade, © édio a0 outro, 0 “nos contra eles", 0 “bem x mal”, que dificulta qualquer tentativa de consenso entre os que pensam diferente. Para isso, alg temas mostram como 0 bolsonarismo distoreeu a visio daqueles que 0 defendem ¢ se engajam na poli- tica, questdes polémicas como violencia, aborto, racismo ete. sito discutidas nos convivios sociais de maneira muito rasa, tomando sempre como principio as experi- encias pessoais para refutar que as pesquisas dizem. No que tange a violéneia, eriou-se no Brasil a pecha de que aqueles que defendem os direitos humanos, que sio contra a ampli 40 do porte de armas, que ques tionam ages policiais, sto defen- sores de bandidos. A principio, parece apenas uma frase de efeito, mas, ouvindo pessoalmente quem acredita e difunde esses discur- sos, existe uma erenga de que a realidade & exatamente essa, de NO QUE TANGE A VIOLENCIA, CRIOU-SE NO BRASIL A PECHA DE QUE AQUELES QUE DEFENDEM OS DIREITOS HUMANOS, QUE AO CONTRA A AMPLIAGAO DO PORTE DE ARMAS, QUE QUESTIONAM AGOES POLICIAIS, SAO DEFENSORES DE BANDIDOS que © Brasil possui dois lados: os que defendem e os que condenam bandidos. Como dito em artigos anterio- res, a violéncia nao € uma questio moral e de escothas de cada indi~ viduo, mas sim um sintoma de que a sociedade passa por proble- mas estruturais que resultam no aumento do indice da crimi dade, Além disso, como explica CADERNO DECI © filésofo Slavoj Zizek, nio exis te apenas a violéneia midiatizada {aquela em que os meios de comu- nicagio narram de maneira super- ficial), mas diversas formas de violencia e opressio que sufocam 0 tecido social © Estado tem por obrigagao © controle da violéncia, sempre da maneisa mais pacffiea possi- vel, e 0s direitos humanos tém por fungio o controle sobre as agoes do Estado para que nao haja excesdes. Como dizia Bertolt Brecht, “que tempos sio esses em que temos que defender o ébvio?”. Este texto seria, em outro contexto, uma amostra de obviedades sem nada a acrescentar. Pois bem, vive- mos num tempo em que © dbvio parece ser uma novidade para o fendmeno bolsonarista A partir do momento em que 0 ado legaliza 0 armamento, ele assinard a sua propria ineapacida- de de controlar a violéncia, trans- ferindo para seus cidadios a defesa destreinada, podendo gerar efeitos colaterais irreversiveis Ainda na questao da violencia, devemos lembrar que 0 servigo de seguranga € piblico, ¢ como tal deve estar passivel de questiona- ‘mento por parte de seus cidadaos. Portanto, a questio da crimina- lidade e do porte de armas é um dos fatores que evidenciam a visio distoreida da realidade. ICIAS SOCIAIS & EDUCACAO + Filosofia ciznciasvida + 49 Hi um segundo fator que evidencia a visio distorcida da realidade causada pelo bolsonaris: mo: 0 aborto. Existe uma confusio genera- lizada em torno dese Enquanto um lado defende o direi to reprodutivo da mulher, de tratar © tema como um caso de saide piiblica, 0 outro se pauta por ques- tes morais ¢ religiosas sem obter nenhuma evidéncia eientifica. Os que possuem uma visio simplif da sobre o assunto acre- ditam que uma pessoa que defende esse direito esti defendendo 0 ato do aborto. Mas a realidade mostra justamente 0 contririo. De acordo com o mapa do Center for Reproductive Rights, © Brasil é um dos poucos paises a manter a legislagio proibitiva sobre 0 aborto’ Nos paises mais desenvolvidos, no ha restrigdes 20 aborto, e isso interfere diretamente no mimero de abortos feitos em cada um deles. RUIC, Gabriel pelo mundo. Ree mo 0 aborto € tatado « Exame, Disponivel em bril.com.bs/mundo/como-o- htped//exame, aborto-e-tratado-pelo- mundo! m do. De acordo com report Eadec,oxpulserqueaantenuma legislagio mais legalista a respeito do aborto sio os que possuem as taxas mais baixas.* Isso porque, a satide publica e 0 bem-estar de questaes morais, estio toda uma populace. ficialidade do belsonarismo sobre a realidade & a questao do racismo. No Brasil, entende-se equivo- do gostar de pessoas de outras ragas, quando na verdade se mostra aque € algo mais sistematico do que subjetivo, © CHADE, Jamil, Pa sborto Disponivel_em adao,com.br/ noticias agueles que 0. prosbern. httpsi//saude.¢ geral paiaes-que-Hiberaram-a 'as-mais-bainat-de-casor-que-aqueles-que ‘o-proibem, 10000050484 REFERENCIAS BENAMIN, W. Obras escolidas. Vo, 1, Maga cic, ate bistia da cultura, p. 222-232, io Paco: Braise, 1987, No mapa da segregagio racial, ha um levantamento feito por pesquisadores em todo o Brasil sobre como a populagio esti distei- bufda pelo tervite dos sto impressionantes. © os resulta Nas capitais € regioes metro- politanas, hd uma segregagao do espago urbano que se evidencia na cor dos cidadios. Nas regi Ses periféricus, mais afastadas com menos recursos ¢ servigos, & onde se concentra a maior parte de pessoas da cor preta ou parda, cenquanto nas regides mais centrais € desenvolvidas 0 mimero de pessoas da cor branca predomina.” diretamente em Isso. resulta outeas oportu- nidades, profissio- nal, acesso a bens ¢ riquezas, Nas questées universidades, a maioria dos alunos € branea, enquanto nos presidios @ maioria é negra, A taxa de homici- dios de pessoas negras € mais que 0 dobro da de pessoas brancas. presidente disse em entrevista Recentemente, 0 Jair Bolsonar que 0 racismo € algo muito raro no Brasil, jé superado. Como falado cima, contribui muito com a ideia de que racismo se resume a convi ver ou nao com pessoas negras. O dolionarismo nasceu do medo, da desesperanga ¢ do desespero de uma populagao frustrada com a politica nacional, Ele eristali- zou a fase antipolitica do mundo ¢ inaugurou no Brasil uma era em que as frases de efeito, o punitivis: mo € a intolerancia qualquer tentativa para promover maior bem-estar dos cidadaos, (0 que o mapa eacial do Brat! sevela sobre zregico. Disponivel_ em: hrtps/Amew. nexojornal.com-br/especial/2015/12/16/0- ‘que-o-mapa-racial-do-Braail-revela sobre-a-segrega%C3%A7%C3WA30-no: patC3HHADE io pia, Easaios soe iteaturae LAVAL, Chetan. Bolsonaro eo moment hiperaoritrio do neoliberalisme, Dsponvel er hps:boglabotempo.com.o/2018/10/29%o-momento-hiperavortaro-do-necibealsmo! SOLANO, Ether [On| © dio como politica. Sio Paulo: Soempo, 2018, SOUZA. es. A classe média no espelho, Rio de jnsiro: EtacHo Brel, 2018 50+ Filosofia cienciasvida + CADERNO DE CIENCIAS SOCIAIS & EDUCACAO Sete degraus sempre adescer Avtora: Bugénia de Vasconcellos Baditora: Guerra & Paz Eugénia de Vasconcellos: sete degraus sempre a descer FILOSOFIA, LITERATURA E ESTETICA Um mundo sem poesia seria nossa interioridade. Movimen- A. eseritora portuguesa pior do que um céu desestre- tam abstracdes que em nada ga-_publicou diversos_ livros. Con- lado. Mar sem ondas. Floresta rantem nossas pretensas certezas tos, ensaios € poesias. Todos os subtraida de vozes. Abismos sem (nada piores do que elas, diga-se “generos” atravessados por um cos. Sinos aberrantes, Avessem de passagem). alto grau de poeticidade que, na asas, Deserto descolorido. Ven- Sete degraus sempre a descer, _verdade, & a marca das literatu- tos lentos sem alvo. Paisagens da escritora portuguesa Eugénia ras que se pretendem (e devem) acorrentadas sem o sopro da li- de Vasconcellos, Editora Guerra ser universais. Ou seja, um escri= berdade. Porque a poesia nos & Paz, Lisboa, 6 um livia que tor nao pode e jamais deve falar faz, a0 menos, pensar que a alma nos faz parar, queiramos ou no, por si. Poucos (que infelicidade!) existe (por lembrar de Marguerite para repensar ndo somente as conseguem entender que a ver- Yourcenar-Jeanne de Vietingho- armadilhas do amor. Mas, tam- _dadeira voz de um escritor deve, f, O universo postico, em todos —_bém, as ardilosas teias (quase antes de qualquer coisa, despir- 0s sentidos, sintetiza ondulagdes _invisiveis) que a vida , incondi- -se de sua prdpria voz. Despojar- que movimentam nao somente @ —cionalmente, nos impde e cuja _-se. Desnudar-se. Sair de si. Nada concreto. Mas que movimentam _reposi¢ao é sempre pontual pior do que a voz pessoal que gri- ta por ela mesma, Literatura nao O UNIVERSO POETICO, & ret nine prprns mers EM TODOS OS SENTIDOS, (ou pequenos acontecimentos de Infancia ou familiares. Que fique SINTETIZA ONDULAGOES QUE bem entender fenua fala por alguém, como no seguinte poema MOVIMENTAM NAO SOMENTE de Eugenia: "C'est qui la poésiet/ O CONCRETO, MAS A NOSSA A poesia nao & coisa das paginas dos ivos-/ ndo se faz na tipogra- INTERIORIDADE. ABSTRACOES fia "Ainda que seja nas paginas QUE NADA GARANTEM NOSSAS dos livros que/ se fixa depois da tipografia Ihe dar um corpo de PRETENSAS CERTEZAS papel/ sempre de amor que se ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 51 PARA REFLETIR faz um corpo,/ & por amor que um corpo se di, A poesia é da Vida. £ de quem tem./ A dor é de quem tem. O amor é de quem? A alegria? De quem tem,/ Ao fim, depois do tempo, depois de mim, 6 de quem le. Aqui infere-se, quase que facilmente, que a poe- tisa fala pelo préprio conceito de poesia. A eterna ansia do escritor que realmente pensa a linguagem fe que busca (ndo sem dor ¢ de- sespero) em sua mediagao. (Que tanto nos atravessa, que nos da voz, corpo @ alma.) Impossivel diante do fragmento, exposto an- teriormente do poema, esquecer- mos Deleuze. Ou seja: existe uma grande diferenca entre escritores que possuem intengaes literdrias € aqueles que realmente fazer lite- ratura. (A desgraca propriamente da literatura & ser ‘construida”, em grande parte, por intengdes literatias...°verdadeitos —barqui- 52 + filosofia cienciatwida hos de papel que se afogam na primeira poca de guas nao crista- linas..) Mas para se fazer poesia, como diz a poetisa portuguesa, ¢ preciso nascer para isso. Poesia nao se adquire como uma simples caixa de fésforos (por mais que estes possam, de certa maneira, iluminan). preciso t@-la em alma, como no seguinte fragmento: “Sin to, Penso. Sei:/ 0 Amor, porque ngo tem um principio,/ nao tem um fim. ~ / E € de sua condicéo iniciar-se na dor e vencé-la/ sem que a chama se apague./ © outro nome de um coracao é liberdade/ € 56 por isso nos deixamos pren- der./ O outro nome do Amor € tu/ 86 por isso nos deixamos matar-/ Ha outra eternidacle?” No fragmento em questao Eu- sgénia expde a si mesma, sem jul- gamentos (e portanto joga para 05 leitores afogados... em busca da liberdade esquecida) as linhas complexas que brotam (como Agua a espirrar de nascentes) do proprio conceito de amor. Como definir um conceito que carre- ga a multiplicidade de vertentest Pode parecer ingénuo, mas nio 6 “0 Amor 6 um canto/ de riso & de lagrimas,/ um canto concreto € fremente/ uma existéncia./”Uma oragao./ A pequenina chama sem- pre acesa que/ serve a adoracao.” Como nao ouvir, neste momento, ecos e ressoares de Camées, Dan- te e Fernando Pessoa? Como? E 0 canto das sereias evitado, ardua- mente, por Ulisses? Mas nao sem © pessimismo (ou realismo?) de Milan Kundera. Todo amor esta em principio, condenado ao pre- ipicio, De amar e softer ninguém se desabitua nos lembra Guima- raes Rosa. Condenacao humana inrevogavel. Multiplicidades en- volvem © conceito de amor. Pos- se, Citimes, sem concessdes, do passado, presente, futuro (impos- sivel esquecer Goethe em todas as esferas). © amor navega, sutilmente, pelos oceanos (ndo existem anco- ANA Mania Hapna Barrisra (A.M.H.B) festa g Douro Ex Comunicagio &Seandrica POs-DovTORA EM HISTORIA 14, PESQUISADORA E PROPESSORA DA UNIVERSIDADE Nove pe Juino, BscRevEsomne LITERATURA NESTAS PAGINAS, ras) profundos da auséncia. Eis 0 grande ardil. Ardente, insaciével Quase impalpavel. Alerta-nos 0 poeta (Marco Lucchesi), que pos- sui uma incrivel intimidade com as estrelas, assim como transita facilmente por Babel, 0 quan- to amantes ndo percebem o que realmente buscam. As saudades insinuam-se _impiedosamente) quando separados. No entanto, quando os amantes esto juntos. ~— DI VERSOS TONS receitas de felicidades prometidas hé uma incompletude, Hd uma € de correntes espessas que lacam dimensio misteriosa que escapa. INSINUAM-SE faciimente, em especial, aos que E isso remete, novamente, & com- se fazem de surdos ¢ mudos ao plexa questao da auséncia. Im- AQ, LONGO canto poético. Em outras palavras possivel ndo pensar que amamos DE SUA POESIA, tem medo da verdade. Mas, tam- mais quando separados de noss0s. NIQS HIATOS bem, da érvore da vida: amores. Quaisquer que sejam as “e nem 6 que nio ame, amo, dimensdes plurais que envovem — E SILENCIOS. as virtudes enous por ne mesma, DE QUEM as rgdads, sua ns, teratura nos convoca muito mais POSSUI A mas do inferno sonhar 0 nosso em termos de introspeesiol. A CONSCIENCIA maior sonho, literatura trabalha com 0 ausen- ‘0 melhor sonho, te, O que instiga e castiga nossas. DE QUE EXISTIR 6 uma respiragao funda, claris- possiveis reflexdes, eri sima, Sete degraus semprea desceré NAO E UM que nenhum abismo colhe, um convite sedutor (e, portato, ESAFIO ali quando entre camadas perigoso) que nos leva ao con- de nada, nada, nada, fronto, sempre abismal, com nos- - PARA OS FRACOS se chama a existéncia 0 que sa liberdade (sempre um proces- nunca foi — 30 a ser constru‘do), Mas apenas “Nao ha plano. € isto de crucificar a razdo a a um primeiro patamar. (Adverte Nao ha sonho. verdade, Lucchesi: *Sete Degraus sempre a Nao ha futuro faz cair deménios e lanca es- Descer é um livo de alta poesia. $6 hé agora: trelas ao céu da manha.” Alta porque marcada pelo des- de hora a hora O ggrito final da poetisa: “Espe- censo, ensaio de ousadia, pacto al€ 0 passado se desfaz. ra nao morrer, jamais, ainda que de sangue dos happy few. A via- Nao vais morrer: as evidéncias déem a morte por gem de Aleeste e Orfeu pertinaz, respira inevitavel*. Os diversos tons de tal solitéria, a0 longo de uma incon- Poesia? A eterna busca pela afirmacio insinuam-se 20 longo tomavel ceriménia de adeus.")) expresso intima do ser. Das vo- de sua poesia nos hiatos e silen- A nossa indefinivel interioridade zes silenciadas. Subtraidas. Petri- _cios de quem possui a consciéneia nao para de nos escavar, arrastar, _ficadas pelos infamesenvolvimen- de que existir nao & um desafio (para nao esquecer de Bergson), tos do tédio que permeiam toda e para os fracos. Existir-se, com ple da busca desesperada de nos cin- qualquer existéncia, além de seus _nitucle, & reconhecer-se em so- dir, Um caminho quase provavel tentaculos socials. Culturais. His- nos que poderdo se realizar ou se no fOssemos incondicional- trios. Avoz poética se sobrepée, nao. Mas, ao menos, imaginados e mente mediados pela linguagem. quando plena de autenticidade, a plasmados sob a linguagem poéti- Por isso mesmo Eugénia ressalta _outras vozes tentadoras que sur ca que acaricia, atenua e ternura- ‘em “Respira” gem das ancoras, das algemas, das __ liza mesmo o impossivel. i ‘wwwportalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 53 PARA REFLETIR Maaquinas espirituais ARTES VISUAIS Um dia, ligaremos para aempre- sa que nos vendleu nosso computa dor pessoal ¢ informaremos que ele morreu. © servigo de atendimento nos perguntard se queremos que 0 ressuscitem ou se queremos outro ‘com nova personalidade. Bem, se tivermos desenvolvido uma empa- tia muito forte com ele, pediremos que o ressuscitem tal como era. Se a relacéo ndo foi to boa, pedire- mos que nos mandem outro com personalidade diferente. Bem, se isso era uma fiegao ica bastante distante, pare- ce que ja nao é mais tao distan- te assim, Basta atentarmos para © texto que o Ita Cultural veicu- lou para anunciar sua exposicao “Consciéncia Cibemética (2) Ho- rizonte Quantico’. Informam no material promocional que as redes neurais atificiais (RNA) imitando 0 funcionamento dos nossos neurb- nios jd estariam em nosso cotidiano @ que 86 podemos conversar com nosso celular porque seus progra- mas se baseiam nessas redes RNA. AAinda perguntam se nossos celula- res irdo se tornar suficientemente inteligentes para transformarem-se fem nossos amigos. Para enfrentar essas perguntas, a arte mais uma vez 6 chamada a respondé-las, Os artistas presentes na mostra do Had Cultural responderam com maquinas que interagem sem ne- cessidacle de nossa presenca. Seus algoritmos j4 30 suficientemente auténamos para nos dispensarem. Bem, a ficgdo também jé tratou desse tema anteriormente. Nosso primeiro contato inesquectvel com 54 + Filosofia citnciaswida AINDA PERGUNTAM SE NOSSOS CELULARES IRAO SE TORNAR SUFICIENTEMENTE INTELIGENTES PARA TRANSFORMAREM-SE EM NOSSOS AMIGOS. A ARTE MAIS UMA VEZ — CHAMADA A RESPOSTA DISTO uma consciéncia cibemética deu- se no clissico 2001: uma odisseia 1no espaco (Stanley Kubrick), no re- moto ano de 1968, quando fomos apresentados ao computador HAL 9000, no inicio muito simpatico, mas que decide eliminar toda a ti- pulacdo da nave para poder atingir 5 objetivos finais de sua missao. Numa chave mais amorosa, 0 filme fla (Spike Jonze, 2013) nos conta uma historia de amor entre pro- tagonista € 0 seu sistema opera- ional personalizado, que possui comportamento psicoldgico fe- mminino to requintado, capaz de sentimentos tdo reais, que ele se apaixona durante essa interacdo. E, claro, serd traido pelo sistema inteligente de voz sedutora, Entao, 0 tema jé esta entre nds ‘© maquinas cada vez mais capazes de interacdo e decisdo também. ‘A questdo novamente que se co- loca & quem guardard os guardas? Quem controlaré os algoritmos inteligentes dessas maquinas que criam seus proprios programas derivados dos iniciais? Resposta dificil. Talvez, no futuro, nenhum humano esteja mais no comand. Maquinas serdo autonomas e de- Cidirao por si. Teremos que manter didlogos persuasivos para conven- cé-las. Exatamente como fazemos entre nds atualmente. Vejamos, entao, quem o Itaa Cultural convocou para tratar desse assunto cada dia mais incomodo, pois coloca em cheque nossa pri- mazia dentro da cultura Foram nove artistas: 0 austria- co Thomas Fourstein, a brasileira Rejane Cantoni, 0 britanico Robin Baumgarten, a francesa Justine Er- nard, 05 norte-americanos David Bowen e Lynn Hershman Lessen, 0s suigos André e Michel Décos- terd € 0 turco Memo Akten, De maneira consistente essa mostra dé continuidade as propostas da bienal “Emogio Art-Ficial” e da ex- posicdo “Consciéncia Cibernética” de 2017. 0 tema, portanto, nao 6 facil de ser circunscrito @ est a merecer mostras sequenciais en- tre n6s. Tao complexo que o Itai Cultural promoveu, em paralelo a exposicéo, um semindrio sobre consciéncia cibernética Entdo, é dificil falar simplesmen- te em propostas artisticas para essa exposicao. Elas sao hibridas e apre~ sentam uma fronteira imprecisa en- tre arte e tecnologia, Nao sabernos mais quem comanda 0 qué. Cloud piano (2014) de David Bowen, por ‘Mas essa impressio nao é 0 propé= sito final dessa escultura éptica. Os pinos que ao serem tocados criam os efeitos de luz esto, na verda- de, utilizando esses_movimentos aleatérios provocados por nds para alterar a matematica subjacente a esse dispositive e evocar uma exi- bicdo visual que ilustra 0 processo quantico denominado “Stirap". Di- ficl de entender? Nao se preocupe, € dificil mesmo, Transleréncias de estados quanticos de um estado para outro através de estagios inter medisrios sio tao dificeis de enten- UM DIA, ESSAS MAQUINAS IRAO der quanto a propriedade de nao ADQUIRIR CONSCIENCIA E CAPACIDADE lite obserada ne mundo das particulas quanticas. DE AUTORREFLEXAO. ENTAO, Na verdade, todos esses lis- HERDARAO A TERRA. A MENOS QUE positivos so metaforas ainda ru- dimentares do que Ray Kurzweil FAGAMOS UMA SIMBIOSE COM ELAS, chamou de “mquinas espa QUANDO SEREMOS TODOS ANDROIDES {és Un si esse stun tao téria, Um dia, essas miquinas irio adguirir consciéncia e capacidade exemplo, 6 uma instalacdo onde danca interativa entre o dancari- de autorreflexdo. Entao, herdario tum piano responde aos movimen- no Mirai Moryama € 0 rob@ Alter, a Terra. A menos que fagamos uma tos e formatos das nuvens no céu, que usa um algoritmo baseado no simbiose com elas quando seremos movimentos estes captados por sistema de redes neurais artificiais todos androides. Talvez essas futu: uma camera de video. As solugbes (RNA). Utilizando um sistema de ras maquinas espirituais guarcdem musicais obtidas desse modo fariam —aprendizagem pido (Deep Lear- com elas a possibilidade de nossa a alegria de um John Cage, que tra- ning), 0 rob6 aprende a interagir —_imortalidade. io balhou com sons aleatérios em suas com 0 dancarino humano, Lear- composicées. Claro que esse “pia- ning to see (2017) do artista turco | no dle nuvem’ nao se importa nem Memo Akten é praticamente uma um pouco com a nossa presenca. J4 méquina de aprendizado vendo & Justine Emard coloca em cena uma interpretando 0 mundo a partir de dadlos preexistentes em sua mems- ria, exatamente como nés humanos CONSCIENCIA Ciaenwerieatn <<<, fazemos quando “entendemos’ ‘vemos” 0 mundo baseados em sagt nossas expectativas e crengas an- ff Brg tSSion, teriores. Jé Quantum Garden do H ge i britanico Robin Baumgarten chama IK scleenoes de imediato a atencio pelas ondu- Watrer Cezar Apoe0 (W.C.A) fi lacaes de LED a0 ¢riar um jarcim fesrauan Fitosomta Pita quantico luminoso e hipnotizante. Usivensipane ne Sio Pauto (USP) bammrano Da Assoctngso PAvI8rA pe Caéricos pe Arte (APCA), ‘CONSCIENCIA CIBERNETICA () HORIZONTE QUANTICO - Itai Cultural SSCRIORFROTHIRISTA FSCRIVE ~ Av. Paulista, 149, SP. Esteve aberta ao piblico até 10/5/2019. Sonne Ans Visuals ESTAS PAGINAS. WADDEGRUOL.COM.AR ‘wwwportalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 55 PARA REFLETIR Os jovens eo clima FILOSOFIA DA MENTE E TECNOLOGIA Chamou a atengdo nas dltimas semanas a apari¢fo frequente na rmidia da sueca Greta Thunberg, uma jovem de apenas 16 anos que vein liderando protestos contra 0 ddescaso com que 0s governos esto tratando a questo climética, Ela tem convocado todos os estudantes do planeta para faltarem as aulas nas sextas-feiras @ safrem nas ruas para protestar. Greta Thunberg sofre de me de Asperger (um ligeiro autismo) € afirma que s6 fala 0 necessaro. Em outras palavras, ela nio esté disposta a debater as questoes en- volvidas na mudanca climatica, mas apenas exigir que os governos sig natarios clo Acordo de Paris limiter as emissoes de didxido de carbono paara impedir 0 aumento da tempe- ratura global em 1,5 grau nas proxi- mas décadas. O tempo para discu- tir acabou. Esta na hora de colocar em pratica 0 que foi estabelecido, acordado, © que podemos esperar dessa mobilizacdo? Se ela néo se alastrar para paises como os Estados Uni- dos e a China, os maiores emissores, de CO,, essa mobilizacdo corre 0 risco de ser apenas fogo de palha. Ha paises, como a Rassia, que ndo apenas ignoram 0 Acordo de Paris ‘como também apostam que seriam beneficiados com o aumento da temperatura do planeta, As plani- cies siberianas seriam degeladas, tornando-se uma das maiores dreas agricultaveis do mundo. A Rassia aumentaria ainda mais seu poder. Todos sabemos que a questo climatica passa pela economia. Ha uma grande diversidade de interes ses nacionais que no podem ser ccompatibilizados em torno de uma proposta dinica. Ha paises que pro- duzem petréleo, outros que 0 con- somem em seus automéveis @ ca~ minhdes ou na forma de plasticos que servem para fazer embrulhos ‘ou pecas de computadores e de celulares. Ha paises, como 0 nos- s0, que se tornam, cada vez mais, imensos pastos para gado ou imen- sas plantagbes de soja, aumentan- do 0 desmatamento. Mas como poderiamos abdicar de uma ativi- dade econémica téo importante como 0 agronegicio® No Brasil, a NO BRASIL, A SOLUGAO POLITICA TEM SIDO NAO FALAR DE MUDANGAS CLIMATICAS, TRANSFORMANDO-AS EM UM PONTO CEGO NO DISCURSO OFICIAL, DA MESMA MANEIRA QUE POR MUITO TEMPO IGNORAMOS © RACISMO 56 + Filosofia citnciaswvida solucdo politica tem sido nao falar de mudancas climaticas, transfor mando-as em um ponto cego no discurso oficial, da mesma maneira que por muito tempo ignoramos 0 racismo, afirmando que nao havia preconceito racial. $6 agora os governadores de alguns estados estao formalizando sua adesao a0 Acordo de Paris Tudo © que contribui para o aumento do aquecimento global contribui também para a poluigao. Nao 6 apenas a atmosfera que é polufda, Produzir plisticos e des- carté-los poluem a gua potavel e (08 oceanos. Por isso, combater 0 aquecimento global e combater a poluicao so a mesma bandeira, Combaté-los efetivamente, e de forma transnacional, exigiria a im- plementacio de regras draconianas por meio de intervenes militares fem virios paises. Seria a ruptura de regras politicas internacional, aim- plementacdo de um eco-fascismo. Mas haveria outa solugio? Pela pri- mmeira vez, a humanidade no con- segue resolver os problemas que ela mesmo criou. Por séculos nos concedemos uma grande anistia sobre tudo 0 que fizemos 4 natureza apenas por decretarmos que nao faziamos parte dela. Nossa religiio € nosso pensamento filos6fico contribuiram decisivamente para nos excluir da histéria geoldgica do nosso planeta como se ela pudesse ficar imune & acto de 7,5 bilhdes de seres huma nos. Até hoje, as ciéncias humanas nos concebem como criaturas in- dependentes de nossa constituigao biol6gica, da geologia do planeta também do clima. O pice dessa idela foi 0 século XIX, 0 século da ‘questdo social, da crenga de que poderiamos resolver todos os nos- 05 problemas por meio da politica Criamos na nossa imaginacao uma economia independente da. natu- reza e desenvolvemos a crenca de que poderiamos, com o controle das relagdes econdmicas e politi- cas ter tambxém 0 controle da his- Loria, Com isso pudemos ignorar a devastagdo da natureza que pro- movemos por séculos. Mas agora, infelizmente, com nossa entrada no Antropoceno, com a “intrusao de Gaia’, a conta chegou. Temos de nos reinventar as pressas, redefinir nossa posicio na natureza de modo a fazer parte dela e nao apenas uti- lizé-la como queremos. Greta Thunberg corre o isco de estar falando para quem nao precisa ser convencido do que ela diz e, por isso, de seu discurso cair no vazio. O grande desafio nao é mais convencer © piblico europeu dos problemas da mudanca climati- ca, mas levar esse discurso pata os pafses em desenvolvimento, cujas perspectivas sio diferentes e, por vezes, ireconcilidveis com a. pre- servacao da natureza. Isso sem falar dos negacionistas como Trump, que assegura aos cidados americanos a possibilidade de manter seus altos niveis de consumo sem culpa, A reivindicacio das geraches mais jovens é justa, louvavel e leg tima, Ninguém merece herdar um planeta que parecerd um depésito de entulho, No entanto, enquanto esses protestos nao se traduzirem em perdas financeiras eles sero t8o louvaveis quanto inécuos. E nao custard nada a politicos como An- sgela Merkel dizer que 05 apoiam. A tarefa de Greta Thunbeg & hercillea. Como convencer cada vez mais pessoas a aderirem a esse movimento protagonizado pelos jo- venst O desafio é convencer as pes- soas a continuarem a reciclar liso, poupar energia elétrica e econo- mmizar agua apesar de saberem que, enquanto estéo nas ruas protestan- do, grandes corporagdes america~ nas € europeias assinam contratos biliondrios para explorar petsleo ino Artico. Se ela conseguir isso serd, merecidamente, a mais jovem ga- nhadora de um Prémio Nobel. ti Joko De FeRNANDES TeIXEIRA Friosorta na USP. Viveu ESTUDOU NA FRANCA, NA INoLATERRA & NosESTADOS Ustoos. EscnvEU Mas SOBRE FILOSOFIA DA MENTE Tacxoro6ra, LECIONOU NA Uwese, na UFSCaR ENA PUGSP. ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 57 Dossié PENSAR E DEFENDER A DEMOCRACIA (PARTE 2) Este dossié nasce de uma urgéncia: 0 esforco para se pensar a democracia em um momento de erosao democratica. Neste sentido, nao se trata apenas da reuniao de artigos e reflexdes de diferentes pensadoras e pensadores em torno da democracia, mas de um movimento colaborativo em si mesmo democratico 58 + Filosofia ciencasvida Faso A.G.Otavemna DEMOCRACIA E FEMINISMOS PARA QUEM? aaa ARELAGAO ENTRE FEMINISMO E DEMOCRACIA er eee SE ESTABELECE A MEDIDA QUE METADE DA See enone Essen HUMANIDADE NAO E INCLUIDA NEM PELO- son pecnrese oes ESCOPO TEORICO NEM PELA IMPLEMENTACAO DESSA FORMA DE GOVERNO. A REDUGAO DOS FEMINISMOS AS PAUTAS PARTICULARISTAS OBSCURECE O FATO DE QUE HA UM PROFUNDO MOVIMENTO ANALITICO E ereendearvoiens POLITICO TANTO ENTRE AS TEORICAS COMO ee aera ENTRE OS MOVIMENTOS SOCIAIS FEMINISTAS. nica Arucana (NEA UR) See QUE RELACAO, AFINAL, PODEMOS ESTABELECER ipa EDRLASDA DEMOCRACIL, comune ENTRE DEMOCRACIA E FEMINISMO? “a.com Avro NEST DONS DO TESTO *DeiocaActa EFEMINESOS PARA QUE. Lunas (UFP, abet Cammstnof awbausta, Daa ifuoson res ‘Usiveasnane enema po Rios Jan, sree Lavonuroio guns acreditam que as __feminismo tio inegavel que mesmo os demandas do feminismo que no conhecem os escopos tesri- AiweCnusnsa particularistas ¢ exclu- 3s tm pena condi- ‘OuiverapoCammos sontribuigSes| DociTE-ISQUISADORA comprometi _ bo Desarsaero ne ins Seren Pkoson D0 NecLE0 mente, teorias movimentos identitirios? Qual sua car que as relagio. com is € modelos de coneretos ojetos republic democracia e de justiga social? Nesta nos justos ¢ soberanos de pais. Para oportunidade procuro mostrar que aquecer a reflexio que se inicia nesta ‘oportunidade trago aspectos gerais de Racatr Sovza Manis moFESSoRA De Fansorn noCAP. LER} msquispona bo Lasonarsino ne ica ‘AsETALE ASIMAL (LEA) eaci ‘eoastcos. AU "DeocaAcas # QUESTOES AMET! ‘exemple para uma pris politica com sororidade,faternidade e menos sectriemos, 0 qu certa medida € parte do que faa nas democravias emis condutas de democratas Diogo Mocucounent fboutoR mat aoson aia Univesionn Froenat D0 Rio pe Jaxtno (UFRD. 2oauai-co%e AUTOR ‘xo 'DIMocRACAF ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 59 bossié liberal igualitiria, e de perspectivas feministas, ¢elejo uma pergunta para gular esta breve reflex, a saber: no que resulta a noso neutra de syjeitos da democracia? Dito de outra forma: a quem se destina a cidadania na democracia? Tina Grécia Antiga de Va.l.,a democracia nasce como um gover no (eracia) do povo (demas), inte- grado por pessoas livres, iguais € com direito & participasao. Embora devamos a eles essa forma de gover no precisamos perguntar: quem era © povo para os gregos? Responde- se: todos, excetuando as mulhe- res, 05 metecos! ¢ os eseravos. Isso rnos permite conchuir que o que se conceber como sujeito da demo- cracia © como povo determinara a capacidade de inclusao desse gover= no €, por que nao dizer, da prépria democraticidade. Olhando para as teorias e movimentos politicos na modernidade, encontramos te6ri- cos contratualistas cujas concep- goes sobre a criagao do Estado se pautam na ideia de um pacto social entre sujeitos livres. Em geral, sem maiores problematizagoes sobre (08 termos do contrato, no que diz, respeito aos papéis sociais desiguais, concebem a liberdade como carto- -chefe que acompanharia todas as teorias liberais da justiga eda demo- cracia. Critica a0 sexismo presente nessas concepsdes, Carole Pateman. mostra que “Lad a natureza da liber= dade civil nio pode ser entendida sem a metade faltante da hist6ria, que revela como o direito patriar- eal dos homens sobre as mulheres é estabelecido por meio de contrato™. As demais criticas —feministas também se voltam predominante- mente, porém nao exclusivamente, a0s liberais. Seno vejamos 0 caso do governo revolucionitio francés sua procura em ampliar a inclu- Esteangetos na polis, 2? PATEMAN, Carole, 1993, p. 16-17. 60 + Filosofia ciencasvida O FATO DE TODOS OS SUJEITOS SOCIAIS SEREM ENCARNADOS E OCUPAREM DETERMINADOS LUGARES NO STATUS QUO FAZ DA NEUTRALIDADE NAO UM PONTO DE VISTA ETICO SUSTENTAVEL, MAS DELIMITADOR so social e os direitos de liberda- de, Nio Ihes parecia incoerente que mantivessem inalterada a condigio politica © existencial em que as mulheres se encontravam em rela- io a0s seus “camaradas” a todos (05 demais, Nao seriam elas sujeitos da democracia € da justiga social ‘com as quais eles se comprometiam? Como explicar, entio, a exclusso das mulheres? E quanto a seagio que negativa a critica de Olympe de Gouges* ou, em outro contexto, CL GOUGES, Olympe, 1791. ade Mary Wollstonecra®? Ambas revelaram o inegivel carter mascu- linista, portanto exclucente, reves tido de defesa da liberdade e igual dade, Perguntemos-nos: liberdade ¢ igualdade para quem? Quem slo 05 concernidos da democracia? Voltemo-nos para a segunda metade do século XX. Descreven- do a entio realidade empirica da politica como meta a ser mantida, tedricos da democracia agregativa, destacando-se John Shumpeter’, empobrecem ainda mais o Ambito dos concernidos 20 afirmarem que 1 participasio popular geraria riscos de instabilidade politica e desarmo- nizaria os acordos entre as preferén- ciase interesses. Pensados em termos de “pluralismo de valores’, tais inte= resses por sii mesmo expressariam € representariam a “vontade geral” através da escolha “cidada” dos partidos e representantes durante os pleitos cleitorais. Fixado esse ideal de cidadania, 0 distanciamento e 0 desvinculo entre cidadios e institui- ges que dele resultou tomaram-se objeto de criticas desenvolvidas pela concepgio deliberativa de demo- cracia’. Na tentativa de recuperar a dimensio moral e engajada da cida- *CEWOLLSTONECRAFT, Mary, 2016, ‘Cf SCHUMPETER, Joseph, 1984, © CE RAWLS, Joho, 2002; HABERMAS, Figen, 2008, a, | dania eee core aie PARA. SEYLA BENHABIB, ESTRUTURA Fine pan wauibidee FILOSOFICA DA NEUTRALIDADE NA ETICA a soberania a pari da partipasio NA POL{TICA E FICTICIA. REPRESENTA UM deliberativa dos signatirios da poli- . os ae ee PONTO DE VISTA ANDROCENTRICO EM QUE dayem ao mesmo tempo anaiea. _ O MASCULINO SE REPRESENTA HEGEMONICO descrtiva € normativa-eritica, Habermay’ procura se situar entre ainda excludente, jf que a neutrali-brancos. Ea lista poderia continuar liberais © republicanos, defendendo dade" dessas concepgdes de stjeito afunilande-se, pois a misoginia, @ para tanto a co-originalidade entre da demoeracia em lugar de alcangar _homofobia e 0 racismo estio dire= 0s direitos individuais fandamen- todos nao aleanga ninguém. O fito tamente associados as limitagoes do tais (prioridade para liberais) ea de todos os sujeitos sociais serem sistema e 20 direito de exercicio da soberania popular (prioridade para encarnados ¢ ocuparem determi- _cidadania, da identidade individual e republicanos), Ainda assim, nessa nados lugares _no statu que faz da coletiva. Ocorte algo muito simples concepgio os sujeitos da democra- neutralidade nfo um ponto de vista de diagnosticar com alguma_boa cia sio formulados a partir de uma ético sustentivel, mas delimitador. _ vontade intelectual e politica. Tanto perspectiva supostamente neutra, Seu alcance se destina inevitavel- 0 sexismo como o racismo consistem caja condigio de liberdade e igual- mente aqueles que no seio da cultura, em linhas gerais, em uma estrutura dade é, em alguma medida, pressu-_jé sto pensados como neutros, quais de pensamento (e organizagao mate- posta, Promissora, tal concepeio € —sejam, os homens, especialmente os rial da sociedade) que ¢ accita sem {questionamentos por todos ¢ presen (CE HABERMAS, Jngen, 2008, * CE CARVALHO, Pes, 2018, tena estrutura epistemolégiea, ética, politica, de julgamento psicoldgico nas orientagdes educacionais desde Mulher estuda mais, trabalha mais z‘inincia A seuvatidade, assim como a universalidade, a racic e ganha menos clo que 0 HoMeEM iat, come,» eatito © vocagio publica sto atribuidos aos ‘As mulheres trabalham, em média, trés horas por semana a mais do que os homens, a0 passo que as mulheres homens, combinanda trabalhos remunerados, afazeres domésticos e cuidados __slo pensadas e tratadas como perten- cle pessoas. Mesmo assim, ¢ ainda contando com um nivel educacional mais __—_eentes ao mbito do particular, do alto, elas ganham, em média, 76,5% do rendimento dos homens (. natural, do instintivo, do desequi Varios fatores contribuem para as diferencas entre homens e mulheres no mer- brio, da instabilidade, da infanti cado de trabalho. Por exemplo, em 2016 as mulheres dedicavam, em média, de, da pura emotividade © da voca~ Bis hone SSvmre candids ie recara cl Geass Gommeateael ae Se ua coe paren cee Goqueos tomers 105 haa Ea rena chap a6omne Nadewe i PoPganda win, eandese ‘conta 10,5). sso explica, em parte, a propexcao de mulheres acupadas em tea- : 2 valores estereotipados uma relagio balhos por tempo parcial, de até 30 horas semanais, ser 0 dobro da de homens. stp scale eibsienererateiee (28,2% das mulheres ocupadas contra 14,1% dos homens). Renn ten pense eeeineie ares “Em fungi da carga de afazeres e cuidados, muitas mulheres se sentem com-__iorizada. Se oculta, portanto, uma pelidas a buscar ocupacdes que precisam de uma jomada de trabalho mais _estrutura excludente que ¢ androcéi flexivel, explica a coordenadora de Populacdo e Indicadores Sociais do IBGE, trica e que compromete sobremanei- Barbara Cobo, complementando que “mesmo com trabalhos em tempo pat= raoalcance da democracia, Ga a midhor anda tabula tia Combaando-a as boas de tabalho re” Devido a esse diagnestico, aqui resumido, todas as tedricas femi- rnistas identificam inicialmente na cultura © niicleo naturalizado das munerado com as de cuidados e afazeres, a mulher trabalha, em média, 54,4 hhoras semanais contra 51,4 dos homens.” (Forte: pagent ibe goes notis/20T2 genders otes20294- mulher daira mae ganhomens-d> qe homen, Asso on: GO/2018) relagies de poder androcéntricas (e racistas), que nada tém de democri- ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 61 ticas, Analisando no que consiste € rho que resulta a natureza suposta- ‘mente neutra ¢ imparcial do pablico civieo, concebido pela democrac liberal, Iris Young” mostra que sao particulares, excludentes e que resul- fa no tratamento das reivindicagies de grupos oprimidos como desvian- tes do “interesse geral” ¢ da “impar- cialidade”. Escrutinando a estrutura filos6fica da neutealidade na étiea e nna politica, Seyla Benhabib expli- ca igualmente que esta & particular e ficticia, Representa um ponto de vista androcentrico em que 0 mascu= Tino se representa hegeménico incli- sive na linguagem, como nos mostra a fildsofa psicanalista Luce Irigaray" ‘As te6ricas que associam econo mia e cultura — entre as quais est tuma parte das feministas socialistas = mostram como a cultura & capaz de manter certo modo de produgio e vice-versa, Componclo um escopo analitico.bidimensional!, diferem * CLYOUNG, lis 2012. CE IRIGARAY, Luce, 1974 * Um maul tridimensional pode see visto tem Nancy Fraser (2005), 62 + filosofia cienciatwida INTEGRANTE DE UM GRUPO DE INTELECTUAIS QUE PENSA A DEMOCRACIA DESDE UMA OTICA PLURIVERSAL, LUGONES PROBLEMATIZA A CONDICAO RACIALIZADA E GENDRADA IMPOSTA AS MULHERES DAS AMERICAS das socialistas materialistas por no concordarem, dentre outras coisas, que isoladamente a mudanga de sistema de produgio (economia) transformaria « condigio de subal- temnizagio das mulheres, ja que & paridade de direitos dependeria da associagio entre mudanga cultural econdmica!®. Esse diagndstico exige que a democracia para ser concebida como inclusiva precisa necessaria- mente considerar a conexio entre economia e cultura, pois 0 madus aperandi de ambas, além de causar uma dupla dimensio das injustigas, produz injusticas interseccionais por fazer da condigao étnica-rac classe, género sexualidade meios de exploragio ¢ opressio. Pensando 0 papel do capitalis- mo em associagao com 0 patriar- cado, mas também com a colonia lidade do poder", Maria Lugones!* formula um feminismo descolonial que problematiza a mentalidade que persiste no sistema colonial de sgénero que marca a vida social € cexistencial dos povos latino-ameri- anos, sobretudo das mulheres indigenas, ticanas, negras, latinas ce demais colonizadas. Integrante de um grupo de intelectuais que © IBGE (2013) e IPEA (2018) revatam 0 ‘enorme nimero de disparidades entre mu Theres e homens © Paco de poder diggnosicado por Anibal Quin (2002) ome concn e mater ba- seaco em dominato race espleraso capt Tia que a partied seo XVI, que se mantém somo mentale sociale episternoigia “CE LUGONES, Maris, 2014 pensa a democracia desde uma ética pluriversal, Lugones.problematiza 4 condigio racializada ¢ gendrada imposta as mulheres das Américas Pensando em trés dimensoes de injustigas, Nancy Fraser! associa 05 prejuizos causados pela economia, pela cultura e pela falta de acesso i participasao politica mostrando que todas estio articuladas a0 que ela chama de sistema capitalista andro- céntrico de Estado. Alargando 0 escopo analitico, aproximaria as contribuigoes de Fraser as de Lugo- nes, jd que para ambas o patriasca- do e'0 capitalismo se associam e se estruturam de forma racializada © .gendrada, reforando a procugao da dominagio e exploragio das mulhe- res, Porém, se projetarmos a demo- cracia para o contexto internacional € Lugones que nos permite pensar 0 cariter colonialista de referida asso- Em sua esteira sustento que tricas ¢ racializadas, nio podemos com honestidade intelectual, ética e politica — falar em democracia, Posto isso, 6 portanto, indisp sivel para uma praxis democr ca conceber sujeitos e sujeitas tais como compoem 0 mundo real, abandonando as *histéirias de ninar ‘gente grande” com as quais somos formadas(os). ' FRASER, Nancy, 2009 Ag minha bomenagem ao samba da Man snc de 2019 por propor a falar do cos ads pes les de rg colonialist, isa sexta, supostament, democstioa. DEMOCRACIA E ANTIRRACISMO nicialmente, parece _pouco [rie ites fe possa negar os vineulos entre @ ‘oantirracismo. Mas na parecem compreender a importincia do desenvolvimento de priticas antirracistas para o fortax lecimento de regimes democriticos. E que priticas sio essas? Afinal, se todo poder pertence 20 povo, ¢ ele, ‘ou melhor, nds somos diverses, nada mais democritico do que um regime aque reflita essa diversidade interna ‘em suas préprias formas de atuaga0 ‘em se tratando a demo- eracia de um regime de direitos, (0 antirracismo se revela como um pressuposto fundamental desse regi- ‘me, na medida em que constitui um elemento necessirio para a garantia de todos ‘queocompoem, Ou seja, se levarmos ‘em consideragao a permanéncia do racismo estrutural em nossa socied: de, devemos nos perguntar: cia para quem? Quem sto as pessoas ‘que atualmente no Brasil possuem de fato a garantia daquele mfnimo existencial, considerado fandamen- tal para a dignidade humana, como satide, moradia, educagio, trabalho € acesso a justiga? © ponto fundamental, continu- amente repisado pelos movimentos sociais negros ¢ indigenas do pais, & ‘que ni € possivel falar em demoera- cia sem enftentarmos as persistentes esigualdades raciais e sociais her das do colonialismo. O apontamen- to em comum de ambos os movie rmentos € a centralidade do papel da educagio para a consolidagio desse processo, denominado como detce- Ionizagto pela corrente dos estudos pés-coloniais e decoloniais. Tais cestudos possuem como uma de sas principais referéncias 0 fildsofo ¢ psiquiatra martinicano Frantz Fanon que, através de suas obras Pele negra, ‘mdsearas brancas, de 1952, ¢ Os conde nados da terva, de 1961, demonstrou 4 permanéncia de priticas coloniais de dominagio em diversos ambitos, stacando o papel da literatura e da So nesse processo, Nesse sentido, para que se efeti- ve um regime democritico, tal como previsto pela Constituigio Federal de 1988—que constitui um marco na luta pela edemocratizagio do paise ainda ppouco estudada em nossas escolas = € nevessirio promover a dignidade de todas 25 pessoas, através da. garantia de determinados diecitos ¢ liberdades considerados fundamentais ‘Angela Davis (1969), a0 discor- rer sobre as relagdes entre democra- cia e liberdade, indica a importincia do vinculo entre fiberdade de acio € iberdade de pensamento para o desen- volvimento de priticas de resistencia que visam restituir a humanidade de individuos e powos desterrados pelo sistema colonial POR ENVOLVER TRAUMAS COLETIVOS AINDA NAO SUPERADOS DEVIDAMENTE, O DEBATE SOBRE A EDUCAGAO DAS RELACOES ETNICO- -RACIAIS SEGUE FUNDAMENTAL PARA O FORTALECIMENTO DE SOCIEDADES EFETIVAMENTE DEMOCRATICAS Neste breve artigo, preten- do demonstrar de que forma esse vinculo entre liberdade de pensa~ mento ¢ liberdade de agio se expressa_nas paiticas decoloniais antirracistas desenvolvidas por povos indigenas e africanos, do continente e da digspora, ao longo ‘www,portalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 63 Dossié dos anos, frente as pritieas colo- niais de dominagao, tendo em vista a consolidacio de sociedades efeti- vamente democriticas. © PAPEL DA EDUCACAO: CONQUISTAS E DESAFIOS Qual o papel da edueagio em nossas vidas? Qual a relagdo entre democracia e educag questoesétmico-raciais term a ver com educagaoe demscracia? Ora, a persisténcia do racismo como heranga-colonial-moderna, na atualidade, constitui, inegavelmen- te, um dos maiores obsticulos para 2 a democracia. Isso vale no apenas para o Brasil, como em qualquer fant Fanon parte do mundo. Conforme ensina Sueli Carneiro racismo e preconceito seriam frutos (2005), a discriminacao racial no da ignorancia, nio faltariam saberes € apenas fruto da ignorincia ou do suficientemente disseminados para desconhecimento de algumas pesso-_desautorizar as priticas diserimina- as:"Se,comoafirmao senso comum, _térias de natureza racial” (p. 9). A. Eo que as Importantes julgamentos do STF sobre quest6es raciais Nos diltimos anos, 0 Supremo Tribunal Federal foi provocado a se manifestar sobre a consttucionalidade de importantes poltcas paiblicas concementes a questdes étnico-racais. Em especial questdes que afetam diretamente po- pulagées negias e indigenas do pais, e a necessidade de ponderacao entre 6s principios democraticos da igualdade e liberdade fundamentais. Embora cada aco e julgamento tenham detalhes e peculiaridades proprio de cada «aso, todos tiveram como elemento comum importante o reconhecimento por parte da Suprema Corte da importancia do reconhecimento da diversi- dade cultural brasileira para a consolidagao democratica do pais, através do desenvolvimento de polticas efetivas de garantia dos direitos fundamentais dos povos negios e indigenas, para além da declarago formal da “igualdade de todos perante a lei’. A seguir so indicados alguns enderecos eletrOnicos onde & possivel encontrar mais informagies sobre cada caso: Constitucionalidade da reserva de vagas para negros e indigenas em uni- versidades: _http:/tedi-stjus br/paginadorpubpaginadorjspidacTP-=TR&do ID=1 3375729 , Acesso em: 9/3/19. Consttucionalidade do processo de titulagao dos teritirios quilombolas: ht- tps:/terradedireitos.orgbr/acervolartigos/decreto-quilombola-e-consttuci nal-sem-aplicacao-do-marco-temporal-afirma-sti/22732 . Acesso em: 9/3/19. 64 + Filosofia citnciasvida questio é que, embora existam vastos € exaustivos trabalhos que demons- tram os equivocos e efeitos danosos do racismo, além de leis de ambi tos nacionais ¢ internacionais que 0 proibam como crime inafiangével, ainda assim a pritica persiste quase que com o mesmo vigor dos tempos coloniais de 1500. A.esse respeito, especialmente no que tange as marcas da continuid de de priticas coloniais no contex- to estadunidense, através de tema como, por exemplo, a seletividade penal © 0 encarceramento em massa de determinados grupos soviais, os estudos da jurista © advogada Michelle Alexander (2012) ¢ 0 filme A 138 emenda da diretora e produto- ra Ava Duvernay (2016) constituem algumas das obras fundamentai que contribuem para o desenvol- vimento de priticas antirracistas, a fim de que os dizeitos e iberdades fundamentais nfo permanecam pervertidos em privilégios herda- dos do colonialismo, em beneficio exclusivo da supremacia branc No que tange ao contexto brasi- leiro, a0 discutir as relagées entre dranqueamento e branguitude no pais, Maria Aparecida Silva Bento (2002) apresenta um estudo que descreve dduas formas distintas de diserimina- ao racial: “No campo da teoria da scriminagiia como interese, 1 n0gio de privitégio € essencial. A discri minagio racial teria como motor a ‘manutengio ea conquista de privilé- gios de um grupo sobre outro, inde- pendentemente do fito de ser tional ou apoiada em preconceito. Em minha dissertagao de mestrado, discuto essa questo que sempre me Inquietou, que éo fato de quea discri rminagio racial pode ter origem em outros processos sociais e psicolégi- cos que extrapolam o preconceito. O desejo de manter o proprio privilégio bbranco (teoria da discriminagio com base no interesse), combinado ou nfo com um sentimento de rejeigao 20s negros, pode gerar discrimin: (p-28, grifo nosso) Sueli Carneiro (2005) e Achille Mbembe (2018) sio alguns dos nomes centrais da intelectualidade negra que desenvolveram. impor- tantes estudos acerca dos vinales Esses autores partem de um apro- fundamento dos estudos de Michel Foucault sobre o biopoder ea biopo- litica aplicados as questées étnico- raciais no continente afficano € nna dispora, enquanto politicas de produio de vida e morte de deter cas e Caribe, que, aliados ao ideal ido nfo apenas como anulagio ¢ minados grupos, especialmente a de brangueamento, contribuem para _desqualificago do conhecimento partir da modernidade. Nessa pers- a perpetuagio do racismo em nossa _ dos povos subjugados, como também. pectiva,a perpetuagio da supremacia _sociedade. Segundo Camei- um processo persistente de produgao bbranca se desenvolve com auxilio de ro, tais discursos se ef de indigéncia cultural (2005, p. 97) discursos desumanizadores de povos _vezes em priticas epi De acordo com a filésofa brasileira afficanos e originirios das Améri- & promotoras do epstemicidic,enten- “Na nea nas universidades brasileiras, 0 epistemicidio (..) se manifesta Ep istemicidio e su eatentauatemorcavdueles militante versus discurso académi- a histéria nao contada Sasa eee ea (.) Os pesquisadores negros em ‘fo de fon fa versio. mais contempori- A camped de 2019 do defile de escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, stacio Primeira de Mangueira, aponiou em seu enredo para a necessiria reescrta da histria do pats, ao incorporar néo somente herbs negros ¢ indigenas que desenvolveram importantes papeéis na luta antinacista no Brasl, como tam- bem uma nova narrativa sobre essa historia, alravés da identiticacao de importantes ¢ no de interlocutores personalidades da resit@nciaindigena e negra no pas, tais como Sepé Tiaraju, eral ld eel ernest crc Cunhambebe, Dandara e Zumbi dos Palmares, Luisa Mahin, Aqualtune, Esperanca no sio aprisionados exclusivamente Garcia, Chico da Matilde, Mariana Cricla, Carolina Maria de Jesus, denire outros. ao tema do negro” (2006, p. 60). Areescrita da histéria por aqueles historcamente silencio, frequentemente sub- Assim, a fim de romper com ‘metidos a polticas de controle social e exterminio, corsttui um dos elementos esse cielo de desumanizagio conti centiais da corrente dos estudos pés-coloniais e decoloniais, apresentada breve nua de pessoas negras ¢ indigenas mente neste artigo. Tals estudos ackogam a necessidade de descolonizacdo no herdado do colonialismo, tomase presente de pasticas herdadas do colonialismo que impeder o reconhecimento cde populagtes historicamente desumanizadas pelo pracesso colonial, a fim de que clas possam de fato ser consicderacas parte integrante da sociedade a que perten- ‘com, através de uma cidadania plena e nao de segunda class, tendo suas vozes cfetivamente ouvidas. Apesar das polemicas e debates necessirios com relacio 8 fundamental zomper com priviléyios e€ dialogar efetivamente com essas popal: sujeitos produtores de conhecimen- to, cujos saberes devem ser igual- mente considerados em qualquer ss, reconhecendo-as como apropriagao colonial-moderna-capitalista do camaval nes dias atuas, 0 conteddo & acer esate cee impacto do desfile evela, especialmente no atual contexto hstvico e politico em se pretenda democritico sobre temas que viveo Brasil, a urgencia ecentraidade dessas questies para aefetivacao da de que afetem suas realidades. Afinal, rmocracia no pas, que jamais poderd ser considerado democrtioo enquanto seguir a democracia se constitu como um perpetuando préticas genocidas de suas populagbes tradicional. regime de direitos para todos, € no de privilégios para alguns. www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 65 DossIE DEMOCRACIA E QUESTOES AMBIENTAIS + debates ambientis que TEMA NAO SE O= “aio Xx PAUTA APENAS contribuiram fortemente para um = WCQ) PROBLEMA alargamento das concepgdes politi- cas no que tange aessa arena. Insti- D/A ESCASSEZ tuigdes intern ¢ liders de DE RECURSOS, Estados democriticos _proferiram acordos.transnacionais visindo a MAS NA QUALIDADE preservagio do meio ambiente por meio da redusto de suas “pegadas’ DO USO QUE ambientais. A defesa de um meio FAZEMOS DELES, ambiente saudével que possa garan- tiras demandas materiais dasfururas— [STO E, PARA _geragdes no espaco urbano constitu tm discurso fundamental das poli QUE FINS SAO ci socis que se somaram 38182 UJ THLZADOS NA por direitos fundamentais. Alegislagio ambiental ¢introdu-— |CQGICA CAPITALISTA. ida aos poucos no cenisio politico de alguns Estados nacionais repre- suas pautas aspectos importantes dos sentando 0 fortalecimento de pautas problemas ambientais: a questio da socioambientais junto & solidifica- _escassez.€ do uso indevido de recur- sao das democracias. No Brasil, 0 sos naturais apropriados por organi- cenétio politico de redemocratiza- _zagdes do setor industrial, a poluigio, Glo contribuiu para a ascensio de ¢ a degradacio que afeta populagoes ‘movimentos sociais que traziam em em zonas de risco, a demarcasio, Justiga ambiental e democracia no Brasil ‘A questdo ambiental é marcada por dindmicas e tensdes entre grupos de ma- lizes sociais vulnerabilizadas pelos avangos dos processos de industralizagao € corporacées que visam a aceleracao desse processo. Assim, no somente os ‘modos de apropriagao dos espacos sao divergentes entre esas entidades, mas também suas praticas e signiticados simbolicos. Observamos no Brasil a ascensio de movimentos socias que buscam dialogar € denunciar préticas opressoras, buscando a garantia dos direitos fundamentals dos individuos ¢ grupos. Os confitos socioambientais e a nacao de justica am- bientalerguem-se diante da usurpagdo desses direitos. Trata-e nilo somente de populacdes indigenas massacradas pela apropriacao de suas teras, mas tam- bbém de gripos marginalizados por destocamentos territoriais ou pela exposicao a0s rscos da poluigio dos desastres ambientais. 66 + filosofia cienciaswida de terras indigenas, sao alguns dos aspects conflituosos abarcados pelo ambientalismo. O Estado democri- tico proporcionou, assim, a redefini- ¢40 das condigies de cidadania, de reivindicagio de direitos, de deman- das sociais comprometidas com 0 ambientalismo. Contudo, observamos nos dias atuais a fragilidade das instituigoes democriticas frente a garantia. dos direitos fundamentais dos individu- 1s, bem como das condigdes socio ambientais que permeiam os modos de vida de alguns grupos tornados vulneriveis. Trata-se de um déft nna democracia em que os valores sociais sucumbem a auséncia de politicas sociais ou ao crescimento econémico, Pretendemos langar um olhar sobre os conflitos ambientais compreendendo-0s como aspestos inerentes das dindmicas sociais e das priticas democritieas, ACONCEPCAO DOs CONFLITOS ‘Tomando por base a indis- sociabilidade do. binémio socie- dade-natureza, buscamos _com= preender os confitos ambientais como processos oriundos das dini- micas construidas socialmente no espago material de relagées entre os diversos atores. Individuos e grupos sociais, organizagbes e instituigdes _governamentais compdem o tecido social no qual se dio suas tensdes € aproximagées. ‘A concepsio da “socio-natureza” representa 0 cariter necessirio segundo o qual se conectam os atores socioambientais. Nessa miri- ade de relagdes, nio & mais possivel extrait a ideia de natureza ‘pura’, reduzindo-a 4 “matéria ¢ energia’, mas imprescindivel compreender 08 objetos naturais como elementos “dotados de significados culturais historicos’ (Acselrad, 2004). Como salienta Hensi Acselrad: “Os rios para as comunidades indigenas nao apresentam @ mesmo sentido que para as empresas geradoras de hidro- eletricidade [.J” (Acselrad, 2004, p. 6). Ainda segundo Acselrad, nao caberia pensar a questio ambiental objetivamente, isto é, em termos de ‘quantidades de recursos despendi- dos pelos individuos, mas pensé-la a partir da qualidade do uso — para que 0 utilizados? ~ e dos s desses elementos dentro dos proces: sos historicos e culturais dos diversos ‘grupos sociais, ‘© problema da escasser. finitu- de dos recursos, conforme é tratado pela abordagem da “sustentabilida- de", nfo seri tomado como o aspecto central dessa visio, mas a log izemos desses recurs0s, 03 modos hegem@nicos pelos quais 0 ee - sctor industrial se apropria de areas © NO) BRASIL, O CENARIO POLITICO DE produtivas, a mercantilizagio de feaurss ¢ de Areas de preservaggo - REDEMOCRATIZACAO CONTRIBUIU PARA A ambiental que exclui os signifcados ASCENSAQ DE MOVIMENTOS SOCIAIS QUE pris de agile mecanizatss —TRAZIAM EM SUAS PAUTAS ASPECTOS seoerbecmcemecdcia, —IMPORTANTES DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS AAs priticas que sustentam as do capitalismo e o setor econdmico - DEMOCRACIA E JUSTIGA do Bras nds Munduruk fazer maniestacso, em rete ao Minstro da usc, pela demarcasi da tera indgera Save Muybu, no Pd. comunidades tradicionais sto priti- que as desearta SOCIOAMBIENTAL cas distintas dos modelos domi- Os conflitos socioambientais A visio democritica de participa- nantes. As populagoes tradicionais erguem-se diante da usurpagio dos gio e de incluso de pautas ambien- possuem fortes lagos com 0 espago direitos desses grupos sociais, cujos tals no cenitio sociopolitico fez que habitam, o que torna suas priti-. _modos de vida e identidades sio surgir junto aos movimentos sociais, is significativas. Tais grupos se suprimidos por relagdes de poder a pauta da justiga soc terizam por priticas de produ-_opressoras. Trata-se nao somente de Inicialmente se procurou acter ‘gio plurais, artesanais, de pouca populagées indigenas massacradas 0 movimento pela justiga ambiental insergio. no mercado (Florit, 2016). pela apropriagio de suas terras, mas como algo distinto das pautas sociais, As logicas de produgio e manejo que também de grupos marginalizados segmentando assim as nogées de permeiam as comunidades tradicio- por deslocamentos territoriais ou —_natureza e sociedade. Ao compre- nais caminham no sentido oposto a0 pela expos da industrilizagio © mercantiliza- © dos desastres ambientais. lidade das arenas social e natural, io aos riscos da polui- _endermos, contudo, a indissociabi- ao das areas natura. Estamos diante da “desigualdade —identificamos nas pautas ambientais Todo 0 aparato sociocultural das ambiental” que setoriza os danos suas raizes sociais. Vale_ressalt populagées tradicionais bem como —¢ os direciona aos grupos domi- que as demandas ambientais nio sio © valor histérico de seus territ6rios _nados. Convém citarmos aqui os avessas as lutas contra a pobreza e a €¢ priticas vém sendo suprimidos e recentes crimes ambientais oriun- _ desigualdade, mas convergem para os ameagados pelos avangos do setor dos dos rompimentos de barragens _ mesmos objetivos. industrial. Surgem, assim, posigées da mineradora Vale do Rio Doce (Osmovimentos sociais tem papel conifitantes entre vozes que buscam —_causando mortes elevando A incon- primordial na construgio do espayo ser ouvidas em meio is turbuléncias _testivel degradagao ambiental. democritico, viabilizando 0 aces ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 67 bossié NAO CABERIA PENSAR A QUESTAO AMBIENTAL OBJETIVAMENTE, ISTO E, EM TERMOS DE QUANTIDADES DE RECURSOS DESPENDIDOS PELOS INDIVIDUOS, MAS PENSA-LA A PARTIR DA QUALIDADE DO USO so de todos os grupos e individuos a justiga, aos direitos, a liberdade. Movimentos sociais cujas pautas incluiam a questio ambiental tive ram inicio nos Estados Unidos dian- te da contaminagio téxica de locais hhabitados por populagies.pobres. Assim, a pobreza foi tomada como o recorte de classe que serve A opressio © negagao de direitos fundamen- Nao obstante, encontramos na realidade brasileira imimeros episs= dios em que populagées pobres so expostas a condigdes insahubres de Vida nas quais os danos a sade € ao bem-estar so absorvidos como processos naturalizados. Ocorre que as vitimas dos processos de desenvolvimento socio econémico nio somente so deixadas 4 margem do desenvolvimento, mas “assumem todo o seu énus” (Zhouri et al,, 2005). Isso significa que a Aistribuigio dos danos € riscos das atividades produtivas € direcionada ‘0s mais pobres ¢ vulneriveis, sendo estes diretamente afetados pela auséncia de condigées materiais para ‘a minimizagio dos prejuizos. ‘A distribuigao desigual dos danos pode ser vista como um problema social e racial, uma ver, que os afeta- dos pelos danos sio grupos racial € historicamente exch i cas deliberativas da justig ‘mo ambiental presente nas Iigicas ‘opressoras de poder que permeiam a sociedade é um aspecto importante ds latas pela justiga socioambiental somando-se as lutas pela garantia de direitos difusos, tal como o diteito a0 ‘meio ambiente saudavel. ‘A justiga socioambiental exige, assim, que se fortalegam as insti ‘tuigGes e as politicas voltadas para uma nova racionalidade ambiental em que sejam reco- ahecidos os diversos projetos € meios de vida de enti- dades outrora deixadas 2 margem dos proces- sos deliberativos. A condigio democritica 6 portanto, a instineia que nos dirige a busca pelos direitos fundamentais. da Jumanidade. projeto democritico de Estado que se defende abarca um olhar ético acerca de dimensio socioambiental Pensar a justiga socioambien- tal implica numa ressignificagao politica da problemitica ambiental e se caracteriza agora pela poten \e20 da autonomia de grupos vvulherabilizados na gestao da plurax lidade de seus projetos de vida (Leff, 2008). Reconhecer a pluralidade de identidades sociais e 0s aspectos simbélicos de suas priticas € parte central de uma visio ampliada dos debates ambientais. DEMOCRACIA ETECNOLOGIA parte da rotina de muitos de Pitan eit nnossos aparelhos smartphones para saber sobre as tltimas noticias, checar s¢ hii um novo e-mail impor tante, conferir algum status nas reds socias ete. Muitas de nossastarefis © 1 coordenagio de nossas vidas estio to integradas as fenolegias de infor ‘maga ¢ comunicagio (TIC) que, em alguns casos, consideramos que essas tecnologias sia parte de nds. Nossos aparelhos se configuram, em certa medida, como um reposité- rio externo de diversas erengas que, quando alinhadas com uma pessoa, formam uma relagio simbiotica, considerada um. sistema acoplado, capaz, de interagir através de uma causagio reciproca continua? Nosso ambiente simbdlico-tecno- logico se tornou tio influente que a antiga dicotomia entre real x virtual foi substituida pela dicotomia on-line x affine. Nio ha mais a divisio entre dois reinos, em que um seria ifusérios pelo contritio, hi apenas um ambien- te no qual, em determinado momen- to, 0 sujeito est acoplado (on-fne) 20 seu artefato ow nao esté acoplado 20 seu artefato (oftine) Esse novo modus vivend traga- do pela ampliagio das ‘TIC resulta "CLARK e CHALMERS, 1998, “ef CLARK, 1997. A INTERAGAO EA INFLUENCIA DAS TECNOLOGIAS EM TODAS AS ESFERAS DA VIDA DEMANDAM NOVAS PERSPECTIVAS TANTO PARA “ tar quais vantagens ¢ desvantagens 20 da burguesia e dominado pela O CONTEXTO So oriundas deste tipo de eclogiaimprensa excita, Iso se manifesta PUBLICO informacional va através das diseussbes em cafés ¢ Quando o tema & democracia, debates em salées, coma presenga da se a discussio baseada no novaclasse burguesa que destituira 0 QUANTO PARA A dest SS rt conceit de esfera piblica, cunha- poder absolutista. CONCEPCAO DE ateee cide tet rcase oer cor ee pete DEMOCRACIA Jurgén Habermas em sua obra crita, a anilise do fildsofo alemio Mudanca estrutural da esira pba, serve de base para pensar o concei- de 1962. Segundo o autor, a esfera to de esfera piiblica no contexto das ‘em um now habitat, a infayéra'. A piiblica pode ser concebida comouma TIC. Habermas ampliou sua teo infosfera € resultado da convergén- _esferaautdnomadecomunicagio ideal para analisar a crise da esfera pili cia e do uso ininterrupto de aparatos na qual os cidadios sto considerados _devido a influéncia dos conglomera- texnolégicos na sociedad da infor- um corpo pico e podem se com dos midstcos na manipulacao, da magi’, “onde os antigos € os novos nicar sem restrigdes, apresentando _opiniio publica. © filésofo atribui meios de comunicagio colidem” argumentos racionais, sem sofier as grandes corporagoes de midia a (Jenkins, 2006, p. 2). Um exemplo _influéncia do Estado, conglomerados _influéncia na esfera piblica, no senti- de nossa atuagio na infosfera é a midifticos e, ainda, sem condigbes do da conduglo de pautas focadas em forma que recorremos aos aparelhos de desigualdade. O resultado dessa mudangas economicamente atrativas de localizagio global (GPS) para argumentagio racional sem restrigbes a essas empresas. dirigis, oumesmosolicitarum moto- __é, portanto, a opinio publica. Nas Somando ao modelo a concep- rista em um aplicativo para irmos a palavras do autor: io de exfea publica interconetada, do determinado lugar. Nao hi mais professor de Estudos Jaridicos Yochai uma divisio entre real ¢ virtual, ou [J a esfera das pessoas privadas Benkler (2006), € possivel trayar um tangfvel ¢ intangivel. Nos inserimos _reunidas em um publico; els reivin- _ diagndstico contemporineo acerca do ‘eimplementamos dentro da infosfe- ica estaesfera pblica regularmen- enlace entre democracia teenologias. ra da mesma mancira que abrimos te pela autoridade, mas diretamente Benkler defende que a esfera piblica uma porta através da maganeta: sie contra a propria autoridade, a fim de tratada_no cenirio de incorporagio afferdances cognitivos, isto &, atalhos _ discutir com ela as eis gerais da troca das TIC deve ser compreendida como devidamente estruturados para reali--_na esfera fundamentalmente privada, uma esfera publica interconectada, zzarmos tarefas mas publicamente relevante, as leis isto é, 0 ambiente de decisio e pautas ‘Assim, se a infosfera & essa nova de intercimbio de mercadorias e do. da esfera publica estio na rede. ambiéncia na qual estamos inseridos, trabalho social’ A esfera publica interconecta- € importante compreendé-la dentro ‘A concepgio de esfera publica da aponta para a influéncia das TIC do processo democritico, destacando de Habermas se refere a um perfodo a consolidago da infosfera como ‘0 uso das TIC, bem como apresen- _histrico bastante particular, marca- 0 cenatio no qual os atores estio, do pelo surgimento e consolida- alm de mais familiarizados com as ‘f FLORIDI, 2011 diversas tecnologias, mais engajados. ‘ef FLORIDI, 2001, * ef HABERMAS, 2003, p42 Tso pode ser percebido através da ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 69 DossIE diferenciagio entre a maneira que se comporta a divulgasio miditia, Em uma era em que a televisio © a imprensa analégica detinham 10s modos ¢ meios de comunicagao, imaginemos que 0 modelo prove- niente da mass media se baseava em tum formato verticalizado de distri- buigio tep-dewn: uma antena no topo que transmite a mesma infor- magio a diversos receptores. Agora, nna ambiéncia da infosfera, em que ser on-line e digital é algo ao alcance de nossos smartphones, a situagto € completamente distinta. Estamos no modelo bottom-up: um mode- Jo mais horizontalizado, no qual a produgao de informacio € realiza- da através de diversos sujeitos para diversos sujeitos, A tecnologia raz consigo implica bes transformagses que modificam de forma estruturante a sociedade. Se antes a nogio de esfera publica estava coneentrada na burguesia ¢ as ideias floresciam nos cafés, sendo depois contaminada pelos conglomerados miditicos, dentro da infosfera todos 0s sujeitos passam a tera possibilida- de, com baixo custo, de serem produ: tores de informasio e contetidos com alcance global. A voz. de um sujeito pode ecoar em conjunto com diver sos pares engajados por uma mesma causa © provocar mudangas no esta lishment, tanto dos meios de comu- nicagao quanto politico. Um desses resultados da mobili= zagao em massa culmina no modelo de endemsemey, isto €, no auxilio das teenologias de informagio € comu- nicago para promover melhorias na democeacia representativa e aproximé- la de um tipo de democracia direta. Diversas plataformas de conver- sgéncia on-tine x offfine habitam 0 Lniverso democritico atualmente, Os aplicativos fornecem um canal mais rapido, baratoe eficiente que corrobo- 1a para o cidadio reivindicas, propor ¢ fiscalizar medidas implementadas pelos governos, Uima dessas plataformas é o apli- cativo Your Priorities, em Reykjavik, capital da Iskindia, Nessa platafor ma os cidadios islandeses discutem, fem conjunto com os governantes, quais prioridades serio escolhidas para aperfeigoar o funcionamento de determinada cidade. ‘Algumas propostas também podem ser encontradas no Brasil, como € 0 caso da plataforma e-dema= Como funciona o modelo de esfera ptiblica? ‘Acesfera pablica se apresenta como uma intermedia enire a vida privada ea vida riba, Trata-se de questies que sio discutidas dentro de um grupo, julgadasatra~ és de argumentos, sem apelar 8 emogio. Esse assuntos io de demanda esponti nea, ito 6, em uma esfera pila ideal, os temas surgem sem coercio e influencias advindas de grupos externos a esfera pblica, mas que sdo de interese do pablo e que necessitam de muclangas. Os sujetos expiem suas opines e debatem acerca de assuntos que si relevantes para asociedace para, por fim, pressionar a camada politica em busca cle mudangas que favorecam uma determinada sociedade. 70 + Filosofia citnciasvida cracia, Nela, o cidadio esti'em contato direto com a Camara dos Deputados © pode propor melhorias © revisdes cm leis vigentes, além de fomentar debates ¢ sugerir projetos para leis, A e-democracy pode sugerir que tenhamos nos aproximado da demo- cracia direta, e se coloca como uma solugio de baixo custo capaz. de desviar da influéncia das. grandes corporagaes miditicas. Seria, entio, ‘esters piblica interconectada o épice dda participago democritica? Para responder essa pergunta, devemos nos atentar a algumas idios- sincrasias do modelo. A maioria do fluxo informacional na infosfera, em especial na internet, se concentra em poucos provedores de contesido formatados nas redes sociais, orman- do-uma ofigarguia tenologic Isso significa que conforme 0 habito de um determinado usuirio, esse sujeito esti. preso-na_chama- da bolha de conteiide, o que reforga apenas um vies ~ seja ele politico, de entretenimento, académico ete. ~ ¢, no fim, contribui para formar um ‘mecanismo de leitura comportamen- tal que tem como propésito oferecer servigos e produtos para esse sujeito, baseado nesses comportamento. Por isso, 0 fito de quase todo 0 conteiido estar sob controle de uma oligarquia tecnoligica faz com que rio possamos ser t40 otimistas para considerarmos as TIC como um. ‘modelo ideal para a democracia dire- ta, Decerto que hi um movimento 6c YOUSSEF, 2018 HABERMAS AMPLIOU SUA TEORIA PARA ANALISAR A CRISE DA ESFERA PUBLICA DEVIDO A INFLUENCIA DOS CONGLOMERADOS MIDIATICOS NA MANIPULACAO DA OPINIAO proveniente da infosfern que torna ‘0 acesso © a participagio dos sujei- tos muito mais amplos. Entretan- to, 0 fato de as TIC, em especial as redes sociais, estarem sob controle de poueos grupos, significa que até mesmo a forma de operar dentro dessa democracia mais atuante pode ‘estar comprometida. Frente a isso, devemos reivindi- ‘ear uma ética da inférmagio capaz de lidar com nosso novo habitat, tal como aponta Laciano Flori (2013). Segun= do o autor, existen questbes éticas que rio podem ser tratadas conforme os antigos manuais de ética. Problemas ‘como manipulagio de dados, leitu- ras comportamentais com intuito de abrir mercados, influéncia em proces- sos eleitorais através de redes sociais ‘exigem uma nova abondagem. “Todos 0s apontamentos langa~ dos congregam para a accitagio de ‘que introjetamos as TIC eomo parte estamos, de fito, na infosfera. Os moldes da esfera publica se modifi- caram e agora a esfera piblica inter- ‘conectada experimenta a participagao dos atores de forma mais vigorosa, ccontudo toda essa nova ambiéncia traz novos contetidos que suscitam naovas reflexes, sob o risco de acre- ditar estamos dentro da infosfera ‘quando, no fim, estamos aprisionados ‘em uma “bolhasfera’ ib REFERENCIAS DDEMOCRACIA EFEMINISMOS PARA QUEME BENIABI, So. ©.Our gerd ea cut cnet: corso oho Gilg e ates ‘eins BINA; CORNELL Feminsmo cma da mode Rin dio Rs dose 1987, ‘CARVALHO, Ph. Aprende Cem de soa Fc dE, aro X 20,3552 Vinita db Conquisa, 2018. 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Nesse momento, as forcas de Chu atravessavam um rio, € estavam em posicdo total- mente desvantajosa. Mes- mo tendo a oportunidade de atacar, 0 duque de Song resolveu esperar que as forcas de Chu saissem da agua ese alinhassem, pois atacé-las de outro modo néo seria nobre um cavalheiro, e perdeu, Mas nao seria um cavalheiro o mes- mo que um buscador da sabe. doria e dos principios morais? E, sendo assim, nao deveria ele ter ganho a batalhat No livro Lunyu [Analec- tos] de Confaicio esté escrito: “Zilu perguntou: ‘Se tivésseis ‘© comando das Trés Armas, quem tomarieis como vosso lugar-tenente?” © Mestre disse: ‘Para meu lugar-te- nente, nao escolheria um homem que luta com ti gres ou que atravessa os rios a nado sem temer a morte. Fle deveria estar cheio de apreensao an- tes de entrar em acao e sempre preferir uma Vit6ria alcangada_ por meio da estratégia’” A proposta de Con- ficio & clara: © melhor estrategista € que vence a guerra, nem cavalheiresco. O resultado: as tropas de Song foram vencidas, 0 duque ferido e os ofi- Ciais liquidados, Nessa passagem pro: blematica, contada no li~ vro Primaveras € outonos, 0 duque de Song agiu como 72 + Filosofia citnciaswvida © infelizmente, apés 0 inicio de tum conflito, é di- CORTESIA, COMPAIXAO E HUMANISMO EXIGEM UMA FORGA DE CARATER INCRIVEL, E DEVEM SER ADMINISTRADOS COM CUIDADO. MELHOR QUE SE EVITE A GUERRA — MAS SE ELA E INEVITAVEL, QUE SE FACA DA MANEIRA MENOS DESTRUTIVA ficil manter a moralidade e 0 huma- nismo. © que o Mestre notou aqui 6 simples, porém objetivo e pragms- tico: podemos tentar ser bons, mas isso nao significa sabedoria. Pode- mos praticar 0 caminho, mas ainda s. Por fim, no se deve confundir alhos com bugalhos; ninguém, pelo simples fato de ser bom, ird vencer uma guerra — ou fazer qualquer coisa bem apenas porque é bom. & como se um médico, apés ter salvado milhares de vidas, pedisse a Deus 0 “dom” de tocar um instru- mento musical ~ e fosse automatica- mente atendido, tocando de imediato melodias delirantes e dificilimas. Por causa disso, 0 conhecido es- pecialista na arte da guerra, Sunzi, ja falava tanto de preparagao para © combate: “O Caminho significa aquilo que faz com que 0 povo es: teja em harmonia com 0 seu gover- nante, de modo que o siga aonde for, sem temer por sua vida, nem de se expor a qualquer perigo” Outro pensador, Shang Yang Isé- culo 4 a.C., dedicou capitulos intei- 103 a isso, € mesmo Mozi [século 5 a.C.l, um renomado pacifista, se pre- ocupou com os métodos ¢ histérias da guerra. Confiicio, pois, nao pode- tia eximir-se do problema. Em passa gem pelo Estado de Wei, quando o duque Ling quis que ele fosse um pla nejador militar, 0 Mestre desculpou -se € foi embora, prevendo confusées para o seu lado, Iss0 porque, comeca ANDRE BUENO £ PROFESSOR ApIuNTO Na UERJ. ATUa Nos TEMAS: PENSAMENTO CuMINES, Conructontsio, HisTORIA Fiiosoria avrica, piALOGos INTERAGOES CULTURAIS Onrente-Ocroente, E -MEMBRO DA ASS, EUROPEIA > Esrupos CHINESES EDA ASS. EUROPEIA DE FILosoFIA CHINESA: MEMBRO Do GRUPO LEITORADO Antico [UPE]; Mea5n0 DO ALAADA; MEMBRO DA REDE IBEROAMERICANA pe StwoLocta [Ruast]; Musiuo DA TVTERNATIONAL ConFuciaw Assoctarion; Lapuis/Usespan, ‘wwwportalespacodosaber.com.br * Filosofia cienciasvida * 73 FILO ORIENTAL por andré bueno. da uma guerra, 6 a estratégia que um erro terrivel. Melhor que se prevalece, tentando maximizar —_evite a guerra ~ masse ela é ine. 5 ganhos e atenuar ao maximo _vitével, que se faca de maneira as perdas. Cortesia, compaixio menos destrutiva e raciocinada @ humanismo exigem uma forca Por isso estd escrito no Lunyu: de caréter incrivel, e devem ser “Zigong perguntou sobre gover: administrados com cuidado~sob no. © Mestre disse: ‘Alimento © risco de ocorrer 0 mesmo que __suficiente, armas suficientes e a se deu com 0 duque Song que, _confianca do povo’. Zigong dis cheio de pudores, ou tentando se: ‘Se tivésseis de chegar a bom representar, de modo equivoca- _termo sem um desses trés, qual do, valores maiores que buscava —_descartarieis2'. ‘As armas.’ ‘Se compartilhar, acabou cometendo _tivésseis de chegar a bom ter- mo sem um dos dois restantes, qual descartarieis?” ‘O.alimen- to; em Gltima instancia, todo mundo acaba morrendo um dia. Mas, sem a confianca do povo, enhum governo se mantém’. Confiicio resumiu suas ideias sobre conflito, ainda, nesse pequeno trecho: “Em pen dengas eu sou téo bom em decidir quanto os outros; ‘0 melhor mesmo & que elas nao ocorram” Como podiemos perceber, a confianca nos lideres é 0 funda mento de tudo, Essa confianga tem qu ser mitua, do contré- rio nenhum governante pode ir a uma guerra Mais do que isso, porém, numa sociedade em que prevalecem os valores da cultura, e que a ‘ordem se encon- tra instaurada, as pessoas lutam pelo seu pais, por suas fami lias e pelo seu modo de vida Por isso, 0 ideal nao sao os grandes exércitos, mas boas escolas; a melhor estra- tégia € propor 74 + Filosofia cienciaswida UM SABIO CONTROLA SEU POVO DENTRO DOS MAIS ALTOS PRINCIPIOS E O GOVERNA COM RETIDAO, ESTIMULA-O COM RITUAIS E SOSSEGA-O COM TRATAMENTO HUMANO cionar bem-estar ao povo, ¢ fazer com que ele acredite no que de- verd defender. Quando isso ocor- re, 05 exércitos servem ao povo, fe nao contra ele; defendem a patria, so bem treinados, bem cuidados e thes d30 meios para que possam reagir as ameagas vindas de fora ~ isso porque um povo que ama seu pais se dispoe a defendé-lo; mas nao se pode esperar, igualmente, que apenas © ardor mova as pemas dos sol- dados. Do contrério, estariamos cometendo mesmo erro do du que de Song. A melhor estratégia 6 se preparar, em tudo; 0 melhor conflito, aquele que se resolve pela discussdo e pelo acordo; a melhor guerra, a que nao ocorre. Wuzi, outro estrategista do sécu- lo 5 a.C,, disse: “€ por isso que um sabio controla seu povo den- tro dos mais altos principios e 0 governa com retidao, estimula-o Com rituais e sossega-o com tra tamento humano. Quando essas quatro virtudes sao praticadas, © povo floresce; quando sto esque- cidas, desvanece*. ie FILO NA WEB REFilo A Revista Digital de Ensino de Filo- soffa (REFilo) 6 uma publicacdo digital, semestral, vinculada ao Departamento de Metodologia do Ensino, Centro de Educacdo, Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul. A publicacdo € organizada em sessoes, como Demanda Continua, Resenha © Entrevista, destina-se a publica- gio de trabalhos inéditos na drea de ensino de Filosofia. A Revista nao aceita trabalhos encaminhados simultaneamente para outras revistas ou para livros, Tem como —_pablico-alvo professores, estudantes © pesquisadores da area da Educacao e Filosofia, com énfase no ensino de Filosofia. Foi criada 4 em 2015. periodicos.ufsm.brirefilo! Filosofias e infancias O Niicleo de Estudos de Filosofias e Infancias (Nefi) é um ‘espago de ensino, pesquisa e extensdo vinculado a Universida- de Estadual do Rio de Janeiro (UER)). Viabilizado por professores- -estudantes interessados em pensar Filosofia, educagao e infancia, ‘oferece as seguintes atividades: pesquisas € outras experiéncias que articulam Filosofias ¢ infancias; grupo de estucios, elaboracao, producio e traducio de textos, bem como publicagées internas € ‘externas; organizacao de coléquios, encontros e cursos nacionais e internacionais, que pretendem consolidar um novo espago de formacio e intercmbio com universidades e outras instituicoes, ‘como escolas, entre Filosofia, educacdo ¢ infancia. filoeduc.org/ RENOVACAO ° 46 dicas para 0 ‘ANO NOVO Lucia Helena Galvao dy Renovagao A bora da renovacao na vida das pessoas 6 um dos momentos ais dificeis e aguclos, pois é necessério saber lidar com a perda, com o medbo, entre outros sentimentos. No video intitulado Sabemos reno- var? Como renascer a cada ciclo?, a Nova Acropole apresenta 16 dicas flosicas para sere uzadas er 2013, por temo de palesta da professora voluntéria Litcia Helena Galvao. youtube.com/watch’v=1_MPUXavo48 Universidade de Uberlandia eee Filosofia da Universid eee ae fear ee ee eee Seeman Parte sare CCe tier eee cme tens Cree eure eee rere) ‘wow.portalespacodosaber.com.br + Filosofia cenciaswida * 75 RESENHA Muito além do “opa!” A OBRA-PRIMA DE KEN WILBER — A EVOLUGAO DO UNIVERSO NA OBRA DE KEN WILBER E completamente estranho que algo - qualquer coisa — esteja acontecendo. Nao existia nada, de re- pente, um Big Bang, € aqui estamos todos nds. Isto & extremamente esquisit. Sempre houve duas respostas gerais para a arden- te pergunta de Schelling: “Por que existe algo em vez de nada?” A primeira poderia ser chamada de filo- sofia do “opa”. O universo simplesmente acontece; no existe nada por tris; ele é, no final das contas, acidental ou fortuito; basicamente, ocorre ~ opal A filosofia do opa, nao importa quao sofisticada © ma: dura possa, as vezes, parecer — seus nomes e niimeros modernos vao do positivismo ao materialismo cient fico, da analise linguistica ao materialismo hist6rico, do empirismo ao naturalismo ~ sempre chega a mes: ma resposta basica: “nao pergunte’. AA pergunta em si (Por que algo esté acontecendo? Por que eu estou aqui?) ~ a pergunta em si é consi derada confusa, patolégica, absurda ou infantil. Parar de fazer tais perguntas tolas ou obscuras é, afirmam, um sinal de maturidade, um indicio de crescimento neste cosmos, Eu no penso assim, Acho que a “resposta” dada por essas disciplinas “modernas e maduras” ~ isto 6, opal (e, portanto, “nao pergunte!") ~ 6, possivel- mente, a mais infantil que a condicao humana pode oferecer. A outra resposta geral que tem sido proposta que alguma outra coisa esta ocorrendo: por tras do drama casual hé um padrao, ordem ou inteligén ‘mais profunda, mais elevada ou mais ampla. Existem, 76 + Filosofia citnciaswvida SEXO, aH ESPIRITUALIDADE SEXO, BCOLOGIA, ESPIRITUALIDADE Autor: Ken Wilber -itora: Vida Integral ‘Anos 2019 claro, muitas variedades dessa ‘ordem mais profun- da"; 0 Tao, Deus, Geist, Maat, formas arquetipicas, razdo, Li, Mahamaya, Brahman, Rigpa. E, embora essas intimeras variacées da ordem mais profunda discordem entre si em muitos pontos, todas elas concordam em um: 0 universo nao € o que parece. Alguma outra coisa est ocorrendo, algo bastante di- ferente de opa. Este livro € sobre “tudo diferente de opa”. Assim 0 autor comeca sua obra monumental Ken Wilber, polimata, filésofo mistico norte- -americano, desenvolveu a metateoria integral, que tem como um de seus propésitos procurar enfrentar 6s problemas atuais da humanidade usando diferen- tes perspectivas, partindo do principio de que cada uma dessas perspectivas apresenta uma verdade par- cial que precisa ser levada em conta na resolucao do problema, Foi através de Sexo, ecologia, espiritwalida- de (SEE) que Wilber apresentou ao mundo pela pri- meira vez sua metateoria. Para tanto, Wilber estudou inimeras éreas do conhecimento humano, tais como: ciéncias fisicas & biol6gicas, ecociéncias e sustentabilidade, teoria do ca0s, ciéncias sistémicas ¢ da complexidade, politica, economia, sociologi iental, psicologia, matemética, antropologia, mito- negocios, filosofia ocidental © logia, escolas contemplativas e misticas ocidentais orientais, artes, entre outras, criando uma estrutura que integra as verdades parciais de cada uma delas, a saber, a metateoria integral Sexo, ecologia, espiritualidade trata, ‘em esséncia, da evolucio, o que & ex- presso em seu subtitulo *O espirito da evolucéo”, O livro & dividido em duas partes, sendo que a primeira mostra como essa evolucao se deu, ou esté se dando, ao longo desses 15 bithdes de anos, desde 0 Big Bang até os dias atuais, em todos os dominios: matéria, vida, mente e espirito. Na primeira parte, Wilber nos pro- poe uma descrigao do proceso evo- lutivo. embasada_em conhecimentos ientificos, filoséticos e das tradigoes de sabedoria. Sao oito capitulos que tra- tam da teia da vida e suas limitacoes, dos principios basicos que regem a evo- lucao, da evolucao exterior individual & coletiva, da evolucdo interior individual © coletiva, da evolucao da consciéncia humana, das fronteiras da natureza hu- mana e dos dominios transpessoais. ‘A segunda parte do livro trata especk- ficamente das coisas que, de uma certa maneira, deram errado, principalmente ros periodos moderno e pés-moderno, € de como nés podemos redirecionar a ‘evolugao para novos caminhos que le- vem a uma melhoria da situagdo do pla- neta, enfocando problemas éticos, cul- turais, econdmicos, sociais, ecolégicos espirituais contemporaneos. So seis ca~ pitulos que tratam dos caminhos ascen- dente e descendente, do deus ou deusa das diferentes tradicées, da dignidade e do desastre da modernidade e dos acer- tos e eros da pés-modernidade. Ha também as notas de cada ca pitulo; na verdade, elas podem ser consideradas como um livro separado. Muitas das ideias mais importantes de Sexo, ecologia, espiritualidade sao mencionadas e desenvolvidas somen- te nas notas (por exemplo, a intuicao moral basical, bem como em grande parte do didlogo com diversos eru- ditos (Heidegger, Foucault, Derrida, Metaforicamente, Ken Wilber trata da evolugdo como sendo 0 “espirito em agao". Espirito no sentido de Deus, porque, de acordo com sua visdo, tudo 0 que existe no universo 6 uma manifestagao do divino Habermas, Parmenides, Fichte, Hegel, Whitehead, Husserl) e com teorizado- res alternativos atuais (Grof, Tarnas, Berman, Spretnak, Roszak). Metaforicamente, Ken Wilber tra- ta da evolucdo como sendo 0 “espirito em aco”. Espirito no sentido de Deus, porque, de acordo com sua visdo, tudo © que existe no universo & uma mani festacao do divino; a criagao divina (i volugao) nada mais seria do que Deus se esquecendo de si mesmo ~ 0 nivel material ¢ Deus mais esquecido de si. A evolucéo — 0 espirito em acdo - & 0 proceso de rememoracio de Deus, partindo da matéria para a vida, para a mente, para a alma, para 0 espitit. ssa visdo nao dualista tem como essén- cia que a evolugao 6 o retorno das ma- nifestacées divinas (0 Deus imanente) a0 Deus transcendente, de tal maneira que, ao final (se € que esse final existe) nds chegaremos a realizagao de que 56 hd Deus, de que s6 ha o espirito. Minha experiéncia na traducao des- ta obra foi inefavel. Mais do que uma traducao, foi um profundo mergulho em dominios totalmente desconhecidos para mim. Foram quatro anos em que Viajei por mundos maravilhosos. E cor roborando as palavras do préprio Ken: foi “uma viagem e tanto” Ho ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 77 Ani RarNstonD é OUTOR EM ENGENHARIA [NUCLEAR PELO. Massactuserts Insrrrureor ‘Teenwovocy (MIT). Esrupioso DA oRRA DEKEN WiLaeR HA 237 ANOS, NOS ULTIMOS 19 ANOS TEM SE DEDICADO.A DIVULGA-La, MINISTRANDO (CURSOS PALESTRAS, TRADUZINDO FILOSOFIA CLINICA por licio packter Doencas imaginarias neurologista Suzanne O'Sullivan escreveu: “Sei que esta sofren- do, Matthew. Nao que- ro menosprezar esse sofrimento. Voce esté sofrendo e algo precisa ser feito. Mas voc ndo tem es- clerose miiltipla.’ Falei sobre o diagndstico de distirbio neuro- logico funcional, que a paralisia das pernas nao podia ser expli: cada por uma doenca neuroligi ca. Embora nao tivesse chegado a ponto de chamar sua paralisia de psicossomdtica, eu the disse que estava pensando em uma causa psicologica’. Por favor, considere isso: a pessoa vai ao médico, esté em uma cadeira de rodas; por mais que se empenhe, nao consegue andar, e ouve do médico que nada existe em seu corpo que a impega de caminhar. O'Sullivan prossegue: “Esse novo diagnéstico nao gerava apenas confusdo: ele também desnorteava sua ideia de como poderia melhorar. Com um diag- néstico de esclerose miiltipla, 78 + Filosofia citnciaswvida Matthew sabia o que esperar, mas agora precisava aprender a desistir de uma certeza e, no lu- gar, aceitar uma verdade dificil Eu 0 colocara em uma posicao dificil, O que ele ditia aos amigos sobre sua enfermidade? E a seu empregador? Como eles recebe- riam a noticia?’ Qual a reagao de alguém que & comunicado sobre tal situagao? O'Sullivan tem uma opinido: “Da mesma forma que descartamos a esclerose miltipla em uma série de exames, uma avaliagao psico- légica precisa ser apenas outro exame explorat6rio. Infelizmen- te, muitos pacientes acham dificil dar esse passo final no processo investigativo. Para alguns, con- sultar © psiquiatra parece aban- donar a doenca fisica e, assim, perder toda a validacao de seu sofrimento”. Em Filosofia Clinica, fend- menos como esses _aparecem ocasionalmente. © que & mais frequente, no entanto, diz respei to a pessoas que possuem “sad de imagindria". Uma das formas de iniciar esse estranho evento é acreditar que a vida se divide en- tre doenca e sadde e em seguida se empenhar em estar saudavel: academia, alimentacao, cuidados com a pele, vitaminas, medita~ cao. Tudo isso em doses consis- tentes, frequentes, ¢ um reptidio a qualquer evento que possa conduzir a inflamagoes, dores, desgostos, ansiedades. Muitos adoecem de *satide imaginaria”. HA UM REPUDIO A QUALQUER EVENTO QUE POSSA CONDUZIR A INFLAMACOES, DORES, DESGOSTOS, ANSIEDADES. MUITOS ADOECEM DE “SAUDE IMAGINARIA’ Acreditando que estao perfeitamente saudaveis, esto perfeitamente doen- tes, segundo os proprios critérios que utilizam para a diferenciacdo desses fatores. Geralmente, nao sabem dis- 30, O “saudavel imaginério” cumpre rotinas, protocolos, padecimentos, angistias, privac6es para ser saudé- vel. Voltarei a este assunto em breve; aqui fiz apenas a introdugao. Os nao lugares — vocé tem certeza sobre onde esta? Vamos a um trecho da obra Nao lugares: introdugao a uma antropologia da supermodemidade, de Marc Augé: “A supermodemidade produtora de rido lugares, isto 6, de espacos que nao 0 em si lugares antropolégicos e que, ccontrariamente a modernidace baude- lairiana, nao integram os lugares anti- gos: estes, repertoriados, classificados €¢ promovidos a ‘lugares de meméria’, ‘ocupam ai um lugar citcunscrito € es- pecifico, Um mundo onde se nasce numa clinica e se morte num hospital, ‘onde se multiplicam, em modalidades luxuosas ou desumanas, os pontos de transito e as ocupacées provisérias fas cadeias de hotéis ¢ os terrenos in- vadidos, os clubes de pamentos de refugiados, as favelas destinadas aos desempregados ou a perenidade que apodrece), onde se desenvolve uma rede cerrada de meios de transporte que sao também espacos habitados, nos quais 0 frequentador das grandes superficies, das méquinas automaticas € dos cartées de crédito renovado com os gestos do comércio ‘em surdina’, um mundo assim pro- metido a individualidade solitéria, & passagem, ao provisério e ao efémero, propde ao antropdlogo, como aos ou: tros, um objeto novo cujas dimensées inéditas convém calcular antes de se perguntar a que olhar ele estd sujeito”. ‘Agora uma traducao do que pro: poe Augé, uma traducio para os ele- mentos da clinica, do consultério. Um aeroporto, uma rodoviéria, um hotel, estes 30 alguns dos provaveis “nao lugares” em nossos dias. Os espacos, objetos, criaturas, coisas que habitam ‘uma rodoviaria sao em principio dis tantes e frios em relacao ao ambiente, acolhimento, intersegdo que a maio- ria das pessoas vive em seu trabalho, fem sua casa. A rodovidria é um “nao Lécio Packren B SISTEMATIZADOR a Fivosorta Cuistca No BRastt. GRADUADO BM FILOSOFIA PELA PUC-Farime, Porro ALEGRE. COORDENADOR po INstrruro Packrer, E-Man: 1UCIOPACKTER@VOL.COM.BR ‘www.portalespacodosaber.com.br * Filosofia cenciasvida * 79 lugar", nossas casas sao lugares. No entanto, Augé instiga com a questo a0 antever que talvez este fendmeno possa ser amplo @ exceder os parimetros das de- finigdes, Um casamento, a pessoa com quem vivemos, nossa peque- nna cidade, eles podem ser "nao lugares”? Uma resposta é que, por vezes, sim. Por vezes pode ser in- dicado, aconselhavel que alguns vivenciem sua proximidade dessa forma, Algumas pessoas conse- guirdo viver 0 amor, os cuidados familiares, as atengdes domésti- cas se estiverem & yontade © em paz como ocasionalmente vivem + Filosofia cionciasvida quando esto em uma barbearia de rodovisria lendo_um_jornal; para alguns, assim seré. Escreve Marc Augé: “Vé-se bem que por ‘nao lugar’ designa- mos duas realidades complemen- ares porém distintas: espacos constituidos em relacdo a certos fins transporte, transito, comércio, lazer) € a relagdo que os individu- (05 mantém com esses espacos. Se as duas relagbes se correspondem de maneira bastante ampla e, em todo caso, oficialmente (os indivi- duos viajam, compram, repousam), nao se confundem, no entanto, ALGUMAS PESSOAS CONSEGUIRAO VIVER O AMOR, OS CUIDADOS FAMILIARES, AS ATENGOES DOMESTICAS SE ESTIVEREM A VONTADE E EM PAZ COMO OCASIONALMENTE VIVEM EM OUTROS LOCAIS, AS VEZES PUBLICOS pois 08 nao lugares medeiam todo lum conjunto de relacées consigo € com os outros que 56 dizem res- peito indiretamente a seus fins: assim como os lugares antropol6- gicos criam um social orginico, os no lugares criam tensa sol ‘Como isso é em Filosofia Cli- nica? Assim como apontou Augé, algumas vezes encontramos tais fendmenos, ainda que em outras, vestes. Ha elementos hibridos, indistintos, excludentes, entre ou- tros. Exemplo: a pessoa entende como “nao lugar” sua relacao fa- miliar, mas compreende de outra maneira 0 modo como vivencia a relacao com 0 marido. O marido é “nao lugar” somente na experién- cia na qual ele é parte da fai mas & “lugar” na relacdo afetiva com a esposa. As sensacoes sub- jetivas em tomo disso podem oca~ sionar conformacées curiosas para 15 noss0s padres de época, tio LIVROS Pratica interventiva Henri Wallone a pritica psicopedagigea ‘Astor: Lo Deas Paitrac FloCear, 88 pgs, A pricopedtagogia ve estruturu, 20 longo dos anos, como ma drea que se alimenta das mais diversas ens do conhe- Cimento, Assim também acontaceu com a Psicologia gentica desenvalvida por Henri Wallon. Ambas procuram analisar, interpretar, refletir e intervir nna dificuldade de aprendizagem que acomete uma parcela considerdvel da populacdo. Em Henri Wallon e a prética psicopedagdgica, 0 filésofo e psicopedagogo Leon Denis lembra aos etores que a aprendizagem, na visio de Wallon, no se reali por apenas um dos dominios funcionais, nem estd fechada em um Gnico estégjo do desenvolvi- mento psiquico e, muito menos, é composta por apenas uma érea do conhecimento. A teria e a pratica psicopedagogica walloniana interdisciplinar, critica e autocritica, tém capaciade eforca incspensives pra a pricainterentva do psicopedagogo ata O ser humano no mundo Manual de AntropolgiaFlosificn ‘Autor: Wolfang Pleer Eatora: Voce, #40 pgs (© Manual de Antropologia Floséfica oferece uma apresen- tagio compacta e historico-sstemtica dos principais conceitos antropoligicos da histGria europeia. © professor de Filosofia, Wollgang Pleger, analsa a problematica do posicionamento do ser humano no mundo, tal como exposta na mitologia antiga e na narratva bfblica, na ual o homem aparece como criagdo de Deus e, respectivamente, como mortal, ou ainda na antropologia materalista, em que ohomem é pensad a partirda sua materia- lidade e determinagio. Dos antigos aos modemos, de Homero a Sartre, cada conceito 6 analisado a partir de trés posicbes de pensaciores importantes. Operando a partir de uma base interdsciplinar, a obra também oferece, ao lado da abordagem filosstica, «exemplos a parti a poesia, bem como da ciéncia da eligi, ciéncias sociais e natura. Ameaca a democracia ncaa do our. Etudes de era polica Avior ures bear uo: Unesp 376 ‘Ao observar os acontecimentas recentes, tanto no censio ‘nacional quanto internacional, nao ha dvida de que o mundo esté assstindo, em diversas sociedades, por mais distintas que sejam, @ ascensio de atitudes e poltcas que ameagam seria~ mente ideias fundamentais presentes na base das sociedades democraticas. & possivel observar o reaparecimento de posicies nacionalistas xen6- fobas, autoiérias e racistas em todas as partes do mundo, que no poucas vezes se traduzem em atitucles de grave discriminagao de pessoas e formas de vida cultura, cliversas e dvergentes, Em face desse panorama desafiador, livo A incluso do outro Fstudos de teora politica procura contribuir de forma marcante para o dlagndstico das sociedades contemporaneas e para a reflexdo sobre as questbes teéricas e normativas que dele emergem. [Textos informados pelos editores/ edicSo parla de Lucas Vasques) filosofia fasorseifNei € Dk ns paso mel cannons alas eae CENCASEORETOS coMunicaszo, wanxenne ccIRCULAGRO iSdema Arca roa eauzacto oorpancto aoa: smart cho ot tere ebacnsueso-sonue tunes PINE DIRETO COM A REDAGAO fiozoisaesealncom or PARA ANUNCIAR, arundaroescoincombe SKo pauLo: i) 3655-2100 SPIEAMPINAS: (2) 98132-2565 SPIRIBEIRKO PRETO: Ci) 36672800 Ru: (anz224-0095 RS: cs 3209-9368 DeAsiiA (32262218 Sc: (a7) 3042323 ASSINE NOSSAS REVISTAS. Nevassinotscalacom J 385527 VENDA AVULSA REVISTAS E LIVROS (1938551000 ATACADO REVISTAS E LIVROS (ay 38552275 /3855°905, Stcadoescalazomor LOJA ESCALA Conf a oferta 3 ars erevitae ‘wmesealncom.r ATENDIMENTO AO LEITOR De e923, 2898s Bh) 38554000 ‘4 tendmentoBescalacome A liberdade de expressao - - que é liberdade de expresso, 0 que 6 liberdade de im- prensa? A. impren- sa se organiza em empresas de midia bem capitalizadas porque precisa de um parque industrial ‘0u, a0 menos, de acesso intenso 4 internet. Por iss0 sempre esteve ligada ao poder econdmico e, por que nao, politico. |é a liberdade de expresso mais ampla. Qua- se todos a temos hoje, gracas as redes sociais. Expandir a liberdade de ex- pressdo € positivo, Mas € mes mo? As redes sociais expandiram as fake news. A imprensa contra: ataca, vendo seu império sob ameaca, Contra as mentiras que saem nas redes sociais, a im- prensa brande a checagem dos fatos. Mas 0 ideal 6 ndo perder essa multiplicagdo de vozes que a internet permitiv ~ somando a democratizagio da palavra a um compromisso sério com a verdade E af entra outro problema. A liberdade, de expresso ou im- prensa, sempre teve uma relagao conturbada com a verdade, Se 36 for licite publi quem julga se vocé nao mentiu? Esse juiz tera um poder enorme na sociedade. Dai que nas de- ra verdade, moeracias se prefira pecar do lado da mentira que do lado da repressao. Dai o que ouvi de um conhecido, que “liberdade de 82 + Filosofia citnciaswida OLHO GREGO por renato janine ribeiro expressao 6 sem- f pre liberda: ¢ ay de de dizer gy werd: quoi OY g | dizer que nao se deve controléla SS $6 que ele errou. A liber- dade de expressio € uma con- quista do Hluminismo, das Luzes. A Enciclopédia foi uma aposta no conhecimento de qualidade, entendido como emancipador. As pessoas seriam mais felizes, a sociedade mais rica, gracas a ciéncia e a Filosofia, Nao devido a merda ou a mentira. Se a men- tira tem lugar na liberdade de ex- pressio, & como efeito colateral inevitavel, n’o como principio ativo desejado. Uma sociedade sera mais prdspera, um Estado mais demo- ratico se a mentira € 0 dio que convergem nas fake news (por que elas nao sio apenas falsida de: sio armas de guerra contra © outro, o diferente) forem sen- sivelmente mais fracos do que a disposigdo a procurar a verdade € a respeitar os direitos humanos. Como gerar essa sociedade, esse Estado? Nao é vigiando e pu- indo, embora isso seja necessé- rio — e paises exemplares por sua democracia, como a Franca e a Alemanha, criminalizam respecti= vamente a negacdo do Holocaus- to ea defesa do nazismo, Mas 0 eixo principal é um compromisso com a educagao e coma verdade. chegou a esse fundo do poco fem que hoje esté foi porque esse compromisso foi quebrado. A mentira circulou, esses anos, descontrolada. Muitos preferiram Vencer a curto prazo em vez de pensar no futuro. Hoje, temos que reconstruir. 1ss0_ significa, antes de mais nada e pensando em nos, que lemos esta revista, fortalecer o saber cientifico e fi loséfico, A educagao e a pesqui sa sio uma base dificil, pouco conhecida, demorada, mas sélida para uma acio que democratize 0 Estado e a sociedade. tio Renato JANINE RIBEIRO, EX-AUNISTRO ba EDUCAGAO, f PROFESSOR TITULAR DEETICA £ FILOSOrtA POLITICA NA LUNIVERSIDADE De Sio Pavto (USP) WWH:RENATOJANINE.PROLRR COLECAO , A Colegtio Guia Completo da Decoragéio traz todos os passes para comegar um projeto de decoragéio — da analise do ambiente & combinagéio de cores e definigéo de um ponto de destaque. Sdo 8 livros com informagées de passo a passo produzido e ilustrado com fotos. Nds BallCds! CNR eg A | fisedcraiter O Universo Magico de NONTEIRO LOBATO » Narizi nho yy ae Reinagées de Narizinho e Viagem ao Céu sao historias que garantem um delicioso resgate afetivo para adultos e aventuras sem limites para criangas de todas as idades. SS esata NS

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