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Resumo
A Europa há muito tempo tem congregado vasta diversidade cultural; bas-
ta observar as grandes civilizações que no seu seio se desenvolveram. Nes-
te sentido, partindo da constatação desta diversidade, este artigo objetiva
primeiramente analisar como se dá a integração cultural entre os Estados-
-Membros da União Europeia. Secundariamente, tentar-se-á entender como
as políticas culturais desenvolvidas pelo bloco agem de forma prática na in-
tegração comunitária e na promoção do multiculturalismo. Os dois objetivos
se integram na tentativa de provar a veracidade da hipótese: a cultura é forte
fator de integração comunitária e promoção do multiculturalismo, quando
são observadas as políticas culturais desenvolvidas pela UE. Expande-se, com
isso, a noção de União Europeia para além dos motivos econômicos. Para
tornar o artigo mais bem fundamentado, será realizado acoplamento entre o
presente estudo jurídico e o Cinema, uma vez que este último oferece recur-
sos intelectivos complementares. Assim, o filme português de título “Um filme
falado” será utilizado, tendo em vista que congrega toda a riqueza cultural
europeia e propõe, a partir de suas imagens, construções teóricas que serão
elucidadas posteriormente.
Palavras-chave
União Europeia, Direito e Cinema, Política Cultural, Multiculturalismo, Direito
Comunitário.
Introdução
Encontrando origem na Grécia, o conceito de cultura passou por diferentes sig-
nificações durante a história da humanidade. No meio desse processo, a cultura
14 Termo de origem observada na biologia para aferir a capacidade dos seres vivos se autor-
reproduzirem. Foi adaptado para o contexto das ciências sociais na década de 80, consis-
tindo em um método de observação social por LUHMANN, Niklas. El derecho de la socieda-
de. 2ed, México: Heder; Universidad Iberoamericana, 2005.
15 Ibid., p.83.
18 REVISTA DO PROGRAMA DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
16 DELEUZE, Gilles. A imagem movimento. Cinema 1. Tradução Rafael Godinho. Lisboa: Assírio
e Alvim, 2004.
17 PIRES, Nádia. A produção de direito no cinema. Um estudo sociológico. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2011, p. 71. 140 f. Dissertação (Mestrado em Direito) — Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, Faculdade Nacional de Direito.
A POLÍTICA CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA 19
jurisprudência entende que esse princípio deve ser contido em casos que afete
a cultura interna de cada país28. O que acaba originando “feudos” culturais cria-
dos com objetivos latentes de ordem econômica. Quer-se dizer que, por moti-
vos econômicos, algum país pode frear a livre circulação de serviços de outro
sob falsa justificativa de ordem cultural. Em meio a isso, surge uma dúvida já
citada: como desenvolver um aprofundamento das relações da UE, atingindo aí
um aspecto cultural comum, se é possível criar uma barreira dita cultural com
fundo exclusivamente econômico?
No que tange ao direito das minorias dentro do bloco, alguns problemas
também são observados29. Um deles foi o recente debate em torno da proibi-
ção do uso de véus na França30, o que comprova certo atrito na aceitação da
diversidade religiosa no local. Em questões de minorias linguísticas, há o pro-
blema na Espanha, onde o castelhano se sobrepõe frente aos outros idiomas
cooficiais31, que são falados em espaços delimitados.
Além desses exemplos, ainda se observam os ciganos, que são desampa-
rados juridicamente, como também alguns povos que ainda tentam sua inde-
pendência, por exemplo, os flamengos na Bélgica. Em nível mais generalizado,
a xenofobia que acompanha os fluxos migratórios ratifica certa dificuldade da
promoção do multiculturalismo no continente Europeu.
Discursos de chefes de Estados também vêm dificultar a incorporação da
diversidade cultural na Europa como fator de integração e fortalecimento dos/
entre os Países-Membros da UE. Nesse sentido, o primeiro-ministro James Ca-
meron, em 2011, declarou o fim da política multicultural da Grã-Bretanha32. Em
2010, Ângela Merkel explicitou a dificuldade que era a convivência dos alemães
para com os trabalhadores estrangeiros33. Isso só comprova a dificuldade que
ainda existe em atentar ao plural.
34 Tendo em vista que o artigo em questão é o que principalmente trata da pauta posta, vale
explicitá-lo: “Artigo 167° 1. A União contribuirá para o desenvolvimento das culturas dos
Estados-Membros, respeitando a sua diversidade nacional e regional, e pondo simultanea-
mente em evidência o património cultural comum. 2. A acção da União tem por objectivo
incentivar a cooperação entre Estados-Membros e, se necessário, apoiar e completar a
sua acção nos seguintes domínios:- melhoria do conhecimento e da divulgação da cultura
e da história dos povos europeus, - conservação e salvaguarda do património cultural de
importância europeia, - intercâmbios culturais não comerciais, - criação artística e literária,
incluindo o sector audiovisual. 3. A União e os Estados-Membros incentivarão a cooperação
com os países terceiros e as organizações internacionais competentes no domínio da cultu-
ra, em especial com o Conselho da Europa. 4. Na sua acção ao abrigo de outras disposições
dos Tratados, a União terá em conta os aspectos culturais, a fim de, nomeadamente, respei-
tar e promover a diversidade das suas culturas. 5. Para contribuir para a realização dos ob-
jectivos a que se refere o presente artigo:- o Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando
de acordo com o processo legislativo ordinário, e após consulta do Comité das Regiões,
adoptam acções de incentivo, com exclusão de qualquer harmonização das disposições
legislativas e regulamentares dos Estados-Membros, - o Conselho adopta, sob proposta da
Comissão, recomendações.” TRATADO sobre o funcionamento da União Europeia = TRE-
ATY on the functioning of the European Union. 13 de dezembro de 2007. Disponível em:
<http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=uriserv:OJ.C_.2012.326.01.0001.01.
POR#C_2012326PT.01001301bv>. Acesso em: 07 de junho de 14.
A POLÍTICA CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA 23
<http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=uriserv:OJ.C_.2012.326.01.0001.01.
POR#C_2012326PT.01001301bv>. Acesso em: 07/06/14.
40 LAUREANO, Abel. A política cultural da união europeia e a lógica de protecção das diversi-
dades culturais dos Estados-membros. In: Derecho y cambio social. Ano XI, n°36, pp. 1 — 36,
pp. 12 — 13. Peru: Sudamérica, 2014. Disponível em: <http://www.derechoycambiosocial.
com/revista036/A_POLITICA_CULTURAL_DA_UNIAO_EUROPEIA.pdf>. Acesso em: 25 de
maio de 2014.
41 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 13 de outubro de 1997. Programa Rafael. Decisão
n° 2228/97/CE.
42 CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. 22 de setembro de 1997. Sobre o futuro da acção cultu-
ral europeia. Decisão 97/C 305 /01.
43 ANDRADE, Miguel de. Das redes culturais à União Europeia. Lisboa: Escola Superior de
Teatro e Cinema, 2007, p. 16.
44 Este projeto objetiva eleger, pelo período de um ano, uma cidade europeia, que mostrará à
Europa todo o seu desenvolvimento e riqueza cultural. Isto permite melhor conhecimento
mútuo entre os cidadãos europeus sobre sua própria cultura. No ano de 2014, as cidades
eleitas são Riga, na Letônia, e Umeå, na Suíça.
45 ANDRADE, Miguel de, op. cit., p.17.
A POLÍTICA CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA 25
46 Ibid., p.17.
47 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 14 de fevereiro de 2000. Programa Cultura 2000.
Decisão nº 508/2000.
48 PARLAMENTO EUROPEU E CONSELHO. 12 de dezembro de 2006. Programa Cultura
(2007-2011). DECISÃO n.º 1855/2006/CE.
49 CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. 19 de dezembro de 2002. Plano de mobilidade de pes-
soas e obras. Resolução 2003/C 13/03.
50 ANDRADE, Miguel de, op. cit., p. 18.
51 Conforme o texto que instituiu o Programa Cultura (2007-2013), as críticas ao Programa
Cultura 2000 giravam em torno do fato de que o mesmo possuía muitos objetivos a serem
perseguidos se comparado ao orçamento limitado. Foi, apesar de abrir espaço no destaque
à relevância da cultura no cenário europeu, considerado disperso.
52 COMISSÃO EUROPEIA. Compreender as políticas da União Europeia: Cultura e audiovisual.
Luxemburgo: Serviço das publicações da União Europeia, 2013, p. 9.
26 REVISTA DO PROGRAMA DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
53 Ibid., p. 5.
54 Realizado pelo Prêmio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, que congratula
os arquitetos mais criativos da Europa na atualidade.
55 Atribuído a projetos que se qualificam na preservação do patrimônio cultural europeu.
56 Visa destacar a produção literária europeia, recebendo, os autores, apoio na tradução de
suas obras.
57 Cf. http://www.anoeuropeudoscidadaos.gov.pt/mostra-de-cinema-europeu.
58 COMISSÃO EUROPEIA, op. cit., p.3.
59 Ibid., p. 6.
60 IGLESIAS, Maria; KERN, Philippe, MONTALTO, Valentina. Use of structural funds for cultural
projects. Bruxelas: União Europeia, 2012, p.43.
61 TJCE, 03 de abril de 2002, Processo Penal contra Matthias Hoffman, Caso C-144/00.
62 TJCE, 16 de janeiro de 2003, Comissão contra Itália, Caso C-399/01.
A POLÍTICA CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA 27
Conclusão
O que vale primeiro evidenciar é a capacidade de integração que os 28 Esta-
dos-membros da União Europeia possuem. Sendo, de forma principiante, uma
integração econômica; hoje, pode e se estende até o campo cultural. Campo
esse que, por sua sensibilidade, facilita as relações diplomáticas.
Entretanto, como observado, dificuldades são vivenciadas nesse proces-
so de integração cultural. Os embates religiosos, os discursos dos chefes de
estado, a difícil situação dos imigrantes são questões que comprovam tal di-
ficuldade. Partindo disso, podem ser almejadas as diretrizes e políticas im-
plementadas, que surgem no intuito de dissolver alguns desses problemas e
promover uma real integração.
Os diversos programas citados se mostram como de fundamental valia,
sendo eficazes na preservação, divulgação e criação cultural. Em primeira
medida, endossam a noção de identidade europeia, aceleram a produção ar-
tística e integram o povo europeu em torno da sua riqueza cultural. Em última
medida, conduzem a população no respeito ao diverso e contribuição com as
diferenças.
Isto pode ser afirmado, tendo em vista o fato de que as políticas e as diretri-
zes em matéria de cultura apresentam significado prático na vida da comunida-
de europeia. Basta observamos os números alcançados com os programas de-
65 SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural de Direitos Humanos. In:
Lua Nova - Revista de Cultura e Política, nº 39, pag. 105-124.
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Referências Bibliográficas
1. Livros
ANDRADE, Miguel de. Das redes culturais à União Europeia. Lisboa: Escola Su-
perior de Teatro e Cinema, 2007.
2. Artigos e Dissertações
CLOSA, Carlos. Dealing with the past: memory and European integration. Jean
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3. Documentos
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4. Jurisprudência
TJCE, 05 de fevereiro de 1963, Van Gend & Loos contra Administração Fiscal
neerlandesa, caso C-26/62.
5. Legislação e pareceres
6. Filmografia