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Princípios
Na base das providências cautelares encontra-se o princípio nuclear da tutela judicial efectiva
dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos. [4]
Com a Reforma do Contencioso Administrativo, veio suprimir-se uma lacuna grave, que
respeitava à ausência de instrumentos adequados, que garantissem uma tutela efectiva, fora
dos casos de suspensão do acto.
Desta forma, o princípio da tutela judicial efectiva encontra-se, neste momento, plenamente
tutelado, não se limitando as providências cautelares a determinado tipo de pretensões dos
particulares, proporcionando-se assim uma proteção adequada dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos, perante quaisquer actuações ilícitas da Administração.
Seguidamente, com o novo sistema de protecção judicial cautelar, importa ter em conta o
princípio da separação de poderes, que também deve ser assegurado pelas mesmas. Existe,
assim, a possibilidade de os tribunais condenarem a Administração na adopção ou abstenção
de condutas, desde que não seja violado o núcleo essencial da função administrativa. [5]
Por último, deve ter-se em consideração o princípio da processão do interesse público, visto
que na concessão da tutela cautelar, devem ser ponderados de forma equilibrada, dois
princípios constitucionais, o princípio do interesse público e o princípio do respeito pelos
direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
III. Características
Assim, através das providências cautelares é alcançada a satisfação provisória dos interesses
que resultam da relação material controvertida.
A segunda característica é a provisoriedade, visto que a solução que for adoptada será
sempre provisória (decisão transitória) e irá caducar com a execução da decisão principal.
Inevitavelmente, os efeitos da decisão cautelar possuem uma duração temporal limitada e são
ineptos de formar caso julgado, no âmbito do processo cautelar e do processo principal. [8]
Falta ainda ser analisada a característica da sumaridade, que determina o carácter urgente
das providências cautelares.
Neste caso, e tendo em conta a necessidade de urgência, o deferimento ou indeferimento
das providências deve assentar na apreciação sumária dos factos apresentados, exigindo-se
um juízo de mera probabilidade sobre a existência do direito que se pretende acautelar.
IV. Requisitos
Este requisito é referido no art.º 120º CPTA quando se exige que “haja fundado receio da
constituição de uma situação de facto consumado ou da produção de prejuízos de difícil
reparação (…)” para os interessados, ou seja, perigo de dano iminente e irreparável.
Desta forma, deve ser realizado um juízo de prognose, para se apurar se há razões, ou não,
para se proceder à concessão de uma cautela justificada, cabendo ao requerente provar o
fundado receio.
No entanto, segundo o art.º 120/1 alínea a) do CPTA, este requisito não é exigido quando
seja evidente a procedência da pretensão formulada.
Segundo o art.º 112/1, in fine, do CPTA, a adopção de providências cautelares, sejam estas
conservatórias ou antecipatórias, visam apenas assegurar a utilidade da sentença a proferir na
acção principal e não a antecipar a decisão a proferir nessa acção.
Desta forma, este requisito traduz-se na exigência de que o direito acautelado seja tratado
como uma simples probabilidade, e não como um direito efectivamente existente.[11]
iii) Proporcionalidade
Esta característica implica que sejam ponderados todos os interesses, através da sua
avaliação num juízo de prognose.
Sendo assim, este requisito tem uma especial relevância, devendo existir um equilíbrio entre
os interesses em causa, atendendo-se aos danos e prejuízos que poderão resultar, se for
concedida a providência.
Esta ideia de proporcionalidade também surge tanto na dimensão de necessidade, visto que
as providências devem limitar-se ao necessário para evitar a lesão dos interesses defendidos
pelo requerente (Art.º 120/2 CPTA), como na dimensão da adequação, devendo ser adequadas
ao caso concreto, ou seja, à natureza e força jurídica dos diversos bens em conflito.
V. Conclusões
Verificando-se, após a análise dos vários requisitos enunciados, que estes indicam um
caminho mais seguro para a tutela dos interesses discutidos e para o controlo das decisões
judiciais.
Bibliografia:
Andrade, José Carlos Vieira – A Justiça Administrativa (Lições), Almedina, 2009, 10ª edição;
Serra, Manuel Fernando dos Santos – Breve apontamento sobre as Providências Cautelares no
Novo Contencioso Administrativo, Coimbra Editora, 2006.