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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE


HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O

CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO.

APRESENTADA POR

JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO CELSO CASTRO

Rio de Janeiro, abril de 2017.

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O

CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO.

JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO

Rio de Janeiro, abril 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO CELSO CASTRO

JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO

A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O CEMITÉRIO SÃO

JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO.

Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Centro de Pesquisa e


Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais.

Rio de Janeiro, abril 2017

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Monteiro, Jaqueline de Oliveira


A morte e suas representações na sociedade: a arte em desvelar o Cemitério São João
Batista/RJ como atrativo turístico / Jaqueline de Oliveira Monteiro. – 2017.
174 f.

Dissertação (mestrado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas. Programa


de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais.
Orientador: Celso Castro.
Inclui bibliografia.

1. Turismo macabro. 2. Morte – Aspectos sociais. 3. Monumentos funerários. 4.


Ritos e cerimônias fúnebres. 5. Cemitério de São João Batista (Rio de Janeiro, RJ).
I. Castro, Celso, 1963- . II. Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio
Vargas. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais.
III.Título.

CDD – 306.4819

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, com amor.

7
“[...] Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir [...]”

Trem Bala - Ana Vilela

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder o milagre da vida, dirigir os meus passos e a capacitar-me.


Aos meus pais, pelo auxílio de sempre e o amor incondicional.
A minha querida irmã Jéssica pelo incentivo e companheirismo em todos os momentos.
Aos meus queridos amigos, irmãos de coração, André e Virgílio, que dão cor a minha
vida.
Ao professor Celso pelo auxílio em orientar-me e pelo zelo acadêmico que o torna um
diferencial.

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RESUMO

A morte é fato presente em todas as culturas. O que difere são as representações


simbólicas atribuídas a cada sociedade por séculos, manifestadas através de signos.
Nesse universo, a Arte Tumular desempenha o papel de agente perpetuador da história,
denotando símbolos e costumes de distintos períodos.
Observar a “cidade dos mortos” é desvelar de maneira sintetizada as preferências com
que alguns símbolos foram escolhidos pelos entes queridos de forma a representar o
morto e imortalizar sua memória perante o tempo.
Compreender as nuances desse nicho é função da atividade turística que, ao fragmentar
um novo viés turístico, poderá perceber suas imbricações, e, assim, corresponder as
necessidades e expectativas desse consumidor.
O trabalho consiste em analisar o Cemitério São João Batista como potencialidade
turística através de pesquisas qualitativas, além da interpretação da autora vivenciada em
um Tour na necrópole estudada.

PALAVRAS-CHAVE: Arte Tumular. Cemitério. Memória. Interpretação. Turismo.

10
ABSTRACT

The death is a fact present all cultures. What differs them is the symbolism connected to
each society throughout centuries, manifested though signs.
In this universe, tombs art plays the role of perpetrator agent of the history, denoting
symbols ans costumes of differents periods.
To observe "the city of the deads" is to unveil the synthetised way the preferences that
some symbols were chosen by the loved ones so to represent the dead immortalize their
memory before the time.
To understand the nuances of this niche is the function of the touristic activity that by
fragmenting a new touristic idea, will be able to understand it's imbrications, there for,
attend the needs and expectations of those consumers.
The work consistes in analize the cemitery São João Batista as a tourism potential through
qualitative researches, beyond if the experienced interpretation of the author in a City Tour
in the studied necropoli.

KEY-WORD: Art Tumular. Cemetery. Memory. Interpretation. Tourism

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Ossuário de Sedlec ................................................................ 29


Figura 2: Cemitério de Arlington............................................................. 31
Figura 3: Cemitério da Recoleta, Argentina 32
Figura 4: Rodolpho Bernardelli cemitério São João Batista................... 33
Figura 5: Ground Zero............................................................................ 35
Figura 6 Waterloo e Somme ................................................................ 36
Figura 7 Massacre em Ruanda ............................................................ 38
Figura 8 Campo de Auschwitz Birkenau............................................... 40
Figura 9: Anne Frank.............................................................................. 44
Figura 10 Prisões hotéis ......................................................................... 45
Figura 11: Katrina .................................................................................... 47
Figura 12: Julgamento do morto na presença de Osíris ......................... 49
Figura 13: Sepultamento público ............................................................ 52
Figura 14: Sepultamento nas igrejas........................................................ 53
Figura 15: Desembarque dos escravos .................................................. 57
Figura 16: Dia dos Mortos no México ...................................................... 62
Figura 17: Dia de los Muertos.................................................................. 63
Figura 18: Frida Kahlo ............................................................................. 64
Figura 19: Representações da morte ...................................................... 65
Figura 20: Caracterização para o dia dos mortos ................................... 65
Figura 21: Dia dos Mortos................................................................ 66
Figura 22: Túmulos numerados no chão da igreja em Ouro Preto e
Mausoléu em estilo neogótico no Cemitério da Consolação . 73
Figura 23: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan – Forma 80
Feminina ................................................................................
Figura 24: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan – Anjo ................ 80
Figura 25: Cemitério Père Lachaise ……………………………………….. 83
Figura 26: Frederic Chopin ...................................................................... 84
Figura 27: Cemitério da Recoleta ............................................................ 86
Figura 28: Cemitério da Recoleta ............................................................ 88
Figura 29: Cemitério da Recoleta (Evita Peron) ...................................... 88
Figura 30: Cemitério da Consolação Mausoléu da Família Matarazzo ... 90
Figura 31: Cemitério de São Paulo – O Último Adeus............................. 91
Figura 32: Visita ao túmulo de Sylvia de Barros Martins Costa, em
1913 no Cemitério São João Batista....................................... 98
Figura 33: Pórtico do Cemitério São João Batista .................................. 100
Figura 34: Google Street View ................................................................ 106
Figura 35: Alameda principal – São João Batista ................................... 106
Figura 36: Escultura Orville Derby – Gestão Santa Casa ....................... 107
Figura 37: Orville Derby – Gestão Rio Pax.............................................. 108
Figura 38: Representação – Mário Lago ................................................. 110
Figura 39: Túmulo de Clara Nunes ......................................................... 110
Figura 40: Representação – Elke Maravilha ........................................... 111
Figura 41: Distribuição da amostra pesquisada por faixa etária ............. 113

12
Figura 42: Distribuição da amostra pesquisada por escolaridade .......... 113
Figura 43: Distribuição da amostra pesquisada por faixa salarial ........... 114
Figura 44: Distribuição da amostra pesquisada por motivações ............. 114
Figura 45: Distribuição da amostra pesquisada por atrativos mórbidos . 115
Figura 46: Distribuição da amostra pesquisada pelo tema Arte Tumular 115
Figura 47: Distribuição da amostra pesquisada pela relevância do guia
no Tour ................................................................................... 116
Figura 48: Distribuição da amostra pesquisada pela interpretação com
o guia ..................................................................................... 116
Figura 49: Distribuição da amostra pesquisada pela característica
marcante ................................................................................ 117
Figura 50: Distribuição da amostra pesquisada pela postura do guia .... 117
Figura 51: Distribuição da amostra pesquisada pelos elementos
atrativos cemiteriais ............................................................... 118
Figura 52: Distribuição da amostra pesquisada por dilema ético ............ 118
Figura 53: Distribuição da amostra pesquisada por rituais ..................... 119
Figura 54: Distribuição da amostra pesquisada por traço relevante........ 119
Figura 55: Distribuição da amostra pesquisada por pontos positivos e
negativos ................................................................................ 120
Figura 56: Distribuição da amostra pesquisada por interpretações do
Tour ........................................................................................ 121
Figura 57: Distribuição da amostra pesquisada por indicação ao Tour .. 121
Figura 58: Distribuição da amostra pesquisada pelo pagamento e
sugestões de preços para o Tour .......................................... 122
Figura 59: Formulário de inventariação ................................................... 125
Figura 60: Sepultura ................................................................................ 137
Figura 61: Estela ..................................................................................... 138
Figura 62: Oratório .................................................................................. 139
Figura 63: Jazigo capela ......................................................................... 140
Figura 64: Mausoléu ................................................................................ 141
Figura 65: Jazigo monumento ................................................................. 142
Figura 66: Túmulo verticalizado .............................................................. 143
Figura 67: Orville Derby .......................................................................... 145
Figura 68: Orville Derby imagem natural ................................................. 145
Figura 69: Revolta da Armada................................................................. 146
Figura 70: Jazigo Raymundo Juvêncio ................................................... 147
Figura 71: Visconde de Moraes .............................................................. 148
Figura 72: Visconde de Moraes amplo .................................................... 149
Figura 73: Carlos Prestes ........................................................................ 150
Figura 74: Rodolpho Bernardelli .............................................................. 151
Figura 75: Santos Dumont ...................................................................... 152
Figura 76: Santos Dumont amplo ............................................................ 153
Figura 77: Mausoléu da Academia Brasileira de Letras .......................... 154
Figura 78: Elke Maravilha ........................................................................ 155

13
Figura 79: Tom Jobim ............................................................................. 156
Figura 80: Tom Jobim – Palmeira ........................................................... 157
Figura 81: Cláudio de Souza ................................................................... 158
Figura 82: Carmem Miranda ................................................................... 159
Figura 83: Vicente Celestino ................................................................... 160
Figura 84: Cazuza ................................................................................... 161
Figura 85: Clara Nunes ........................................................................... 162
Figura 86: Clara Nunes Jazigo ................................................................ 162
Figura 87: Selarón ................................................................................... 163
Figura 88: Mapa do Cemitério São João Batista .................................... 164

14
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................ 17
2 TURISMO MACABRO: HISTÓRICO E MODALIDADES............... 20
2.1 O HORIZONTE MACABRO DO
TURISMO........................................................................................ 21
2.2 TERMINOLOGIA............................................................................. 23
2.3 ATRATIVOS.................................................................................... 25
2.3.1 Exposições...................................................................................... 27
2.3.2 A Morte Retratada em Igrejas, Cemitérios, Santuários e Eventos. 28
2.3.2.1 Igrejas............................................................................................. 29
2.3.2.2 Cemitérios...................................................................................... 30
2.3.2.3 Santuários Macabros.................................................................... 34
2.3.2.4 Locais de Conflito e Sofrimento Macabros................................. 35
2.3.3 Acampamentos de Genocídios....................................................... 37
2.3.4 Campos de Concentração 38
2.3.5 Museus e Memoriais....................................................................... 40
2.3.6 Prisões............................................................................................. 45
2.3.7 Locais de Catástrofes Naturais....................................................... 46
3 IDEALIZAÇÕES E INTERPRETAÇÕES DA MORTE.................... 48
3.1 A MORTE NA HISTÓRIA................................................................ 48
3.2 A PERCEPÇÃO DA MORTE NO PERÍODO ESCRAVOCRATA
NO BRASIL..................................................................................... 55
3.3 A MORTE NA ATUALIDADE .......................................................... 59
3.4 DIA DOS MORTOS NO MÉXICO................................................... 60
4 SEGMENTO DA ARTE TUMULAR: CEMITÉRIOS NO MUNDO... 67
4.1 CEMITÉRIOS: EXPRESSIVIDADE COMO PRODUTO
TURÍSTICO NO MUNDO................................................................ 82
4.1.1 Cemitério Pére Lachaise................................................................. 82
4.1.2 Cemitério da Recoleta – Argentina – Buenos Aires........................ 86
4.1.3 Brasil - Cemitério da Consolação – São Paulo............................... 89
5 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA NO RIO DE JANEIRO: UM
POTENCIAL TURÍSTICO NO SEGMENTO DA ARTE TUMULAR
A SER DESVELADO...................................................................... 93
5.1 NECRÓPOLE SÃO JOÃO BATISTA DENTRO DA NOVA
GESTÃO RIO PAX.......................................................................... 103
5.2 PESQUISA SOBRE A VIABILIDADE DO CEMITÉRIO SÃO
JOÃO BATISTA COMO ATRATIVO TURÍSTICO........................... 112
6 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA COMO PRODUTO
TURÍSTICO..................................................................................... 122
6.1 FORMATAÇÃO DO PRODUTO TURÍSTICO: OLHARES
URBANOS NA NECRÓPOLE......................................................... 126
6.2 O PAPEL DO GUIA DE TURISMO ................................................. 131
6.3 ROTEIROS – OLHARES URBANOS NA NECRÓPOLE................ 137
6.4 IMPLEMENTAÇÃO DO ROTEIRO HISTÓRICO/ARTÍSTICO........ 144
6.4.1 Orville A. Derby............................................................................... 144

15
6.4.2 Revolta da Armada – Leão.............................................................. 146
6.4.3 Jazigo de Raymundo Juvêncio de Souza....................................... 147
6.4.4 Visconde de Moraes........................................................................ 148
6.4.5 Luís Carlos Prestes......................................................................... 149
6.4.6 Rodolpho Bernardelli....................................................................... 150
6.4.7 Santos Dumont................................................................................ 152
6.4.8 Mausoléu da Academia Brasileira de Letras................................... 153
6.5 IMPLEMENTAÇÃO DO ROTEIRO DOS ARTISTAS..................... 155
6.5.1 Elke Maravilha................................................................................. 155
6.5.2 Tom Jobim....................................................................................... 156
6.5.3 Cláudio de Souza (Dramaturgo) ..................................................... 157
6.5.4 Carmem Miranda............................................................................. 158
6.5.5 Vicente Celestino............................................................................. 159
6.5.6 Cazuza............................................................................................ 160
6.5.7 Clara Nunes..................................................................................... 161
6.5.8 Jorge Selarón.................................................................................. 163
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 165
REFERÊNCIAS.............................................................................. 167
ANEXO A........................................................................................ 172
ANEXO B........................................................................................ 174

16
1 INTRODUÇÃO

O fenômeno do turismo ganha representação nas sociedades


contemporâneas e vem se destacando com expressividade na economia
global. Com relevância no mercado, a atividade se sobressai na promoção de
espaços formatados pelo setor, gerando riquezas.
Por ser recente, a atividade necessita de um embasamento mais sólido,
de forma a desvelar esse universo complexo, intrincado e segmentado.
Com o advento de novos segmentos, ganha relevância um turismo
específico que engloba diversos elementos ligados à temática morte, desde
campos de concentração, a citar como exemplo Auschwitz Birkenau, até
cemitérios com diversos elementos históricos contemplativos.
Compreender as características desse agente social em conjunto com o
seu grau motivacional será o diferencial na implementação de medidas para
seu desenvolvimento, visando ao crescimento do setor, à preservação da
história e ao incremento da atividade.
Nesse contexto a Arte Tumular desponta como um viés dentro do
universo do turismo cultural que percebe a necrópole como um espaço possível
de contemplação artística. Nessa observação, o cemitério é vislumbrado como
um museu a céu aberto capaz de abrigar obras de diversos períodos de
escultores e artistas.
Embora de forma incipiente, a implementação da atividade já chegou ao
turismo no Brasil, tendo em vista a chegada de circuitos em âmbito nacional
que exploram esse nicho, como em São Paulo, no cemitério da Consolação,
por exemplo. Desse ponto, a relevância e pertinência da abordagem do tema
no presente estudo, busca responder a seguinte indagação: Pela sua
representatividade simbólica, a necrópole São João Batista poderia ser
percebida como atrativo turístico focado na Arte Tumular?
A tessitura do trabalho objetiva conhecer o segmento do turismo da Arte
Tumular observado no cemitério São João Batista, em Botafogo, na cidade do
Rio de Janeiro, e, especificamente o trabalho consiste em: traçar dois roteiros

17
turísticos no cemitério de forma a auxiliar os turistas na visitação, direcionando-
os quanto à disposição das sepulturas na necrópole. Através desse trajeto,
procura-se amparar os turistas nessa visitação que desejem desvelar tal
segmento como forma de entretenimento, de sentir emoções fortes; identificar
suas motivações, necessidades e expectativas.
O caminho metodológico seguido para estudo do tema compreende a
pesquisa bibliográfica, através de artigos nacionais e internacionais, além de
livros que abordem a temática da morte dentro da concepção da Arte Tumular.
De forma a obter o conhecimento a respeito da experiência no turismo
nacional optou-se também pela observação da autora como participante na
visita técnica realizada pelo historiador Milton Teixeira a necrópole do cemitério
São João Batista, no Rio de Janeiro, além de entrevistas baseadas na
pesquisa de campo, com aplicação de questionários relacionados à temática
cemiterial.
A estruturação do trabalho foi implementada em sete capítulos, incluindo
a introdução ao tema e a conclusão do trabalho.
O capítulo dois revela o panorama global do segmento, fragmentando
suas possibilidades no segmento do Dark Tourism, de forma a compreender as
motivações que induzem o ser social a escolher um segmento em relação ao
outro.
Todorov e Moreira apud (Rogers, Ludington&Graham, 1997, p. 2)
conceitua: “Sempre que sentimos um desejo ou necessidade de algo, estamos
em um estado de motivação. Motivação é um sentimento interno é um impulso
que alguém tem de fazer alguma coisa”.
O capítulo três analisa as representações e simbologias da morte em
diversas culturas, a mudança do sepultamento do território sagrado para o
espaço extramuros ad sanctos, e como a morte era interpretada na sociedade
da época. O medo pelo desconhecido estimula a imaginação do indivíduo e o
faz questionar sobre a sua vida e suas atitudes em sua trajetória. Essa
convicção clara de que não seremos eternos provoca múltiplos sentimentos em
todas as sociedades em diversos períodos históricos. Dependendo do tempo
abordado, a morte é encarada como um fenômeno natural da vida ou em

18
outros é observado com repulsa, medo e esquecimento. Entretanto, outros
utilizam o término do ciclo da vida para eternizá-lo, como é visto em muitos
cemitérios no mundo cuja sociedade buscava eternizar sua ascensão social em
monumentos fúnebres.
O capítulo quatro foca o segmento da Arte Tumular no mundo e no
Brasil, enfatizando o objeto de pesquisa o cemitério São João Batista com seus
estilos personificados em ornamentos mortuários usados como mecanismo de
retenção da memória.
O capítulo cinco contempla a percepção de possíveis turistas, baseado
na pesquisa de campo, a frequentarem esse novo atrativo turístico. Optou-se
pela observação da autora no Tour realizado pelo Milton Teixeira em conjunto
com aplicações de questionários aos participantes do evento, com o intuito de
averiguar possibilidades de consumo desse novo nicho turístico.
O capítulo seis aborda o cemitério São João Batista como um potencial
atrativo no campo da Arte Tumular. Para adentrar nesse universo
contemplativo, traçou-se duas rotas temáticas intituladas “Roteiro Turístico
Histórico/Artístico” e “Roteiro dos Artistas”, de forma a auxiliar no deslocamento
apreciativo pelo espaço.
No capítulo sete fazem-se as considerações com a síntese final do
assunto, a partir das interpretações obtidas para esse recente segmento, ainda
a ser desvelado.

19
2 TURISMO MACABRO: HISTÓRICO E MODALIDADES

A atividade turística que se insere no terceiro setor, vinculada à


prestação de serviços, estimula fortemente a economia de diversos países que
buscam, em suas diretrizes, mecanismos de desenvolvimento pautados na
arrecadação de divisas e no desenvolvimento social.
Sob essa afirmativa a (OMT) 2014, evidencia as tendências:1

• Las llegadas de turistas internacionales (visitantes que pernoctan)


aumentaron un 4,3% en 2014, alcanzándose la cifra récord de 1.133
millones de llegadas, después de haberse traspasado en 2012 la
cota de los mil millones
• La región de las Américas registró el mayor crecimiento, con un
aumento del 8% en llegadas internacionales, seguida de Asia y el
Pacífico y de Oriente Medio (ambas +5%). En Europa las llegadas
aumentaron un 3%, y un 2% en África.
• Los ingresos por turismo internacional alcanzaron la cifra de
1.245.000 millones de dólares de los EE.UU. a escala mundial en
2014, partiendo de una cifra de 1.197.000 millones de dólares en
2013, lo que significa que se ha producido un crecimiento del 3,7%
en términos reales (teniendo en cuenta las fluctuaciones en los tipos
de cambio y la inflación) […].

Por sua relevância socioeconômica, o turismo adaptou-se a um mercado


ávido por experiências inusitadas que atendessem às necessidades e
expectativas de um turista contemporâneo, rotulado como “pós-turista”, que
não se contentava mais com o trivial massificado ofertado pelas poucas
agências.
Uma nova tendência de consumo turístico fragmentado cada vez mais
nas mudanças culturais induz o consumidor pós-moderno a buscar produtos
fora do padrão tradicional. Assim, o turista é estimulado a procurar o diferente,
baseado nas múltiplas identidades de cada região.

1
• As chegadas de turistas internacionais (visitantes que pernoitam) aumentaram 4,3% em 2014, atingindo a cifra
de 1,133 milhões de chegadas.
• A região das Américas registrou o maior crescimento, com um aumento de 8% em chegadas internacionais,
seguida de Ásia e Pacífico e do Oriente Médio. Na Europa as chegadas aumentaram 3% e na África 2%
• Os ganhos ligados ao turismo internacional alcançaram a cifra de 1.245.000 milhões de dólares em 2014.

20
Sob a ótica de Molina (2003, p.111):

A pós-modernidade é atravessada pelo caos. Na pós-modernidade a


cidade deixa de ser um local tedioso e passa a ser um local com
múltiplas identidades, atividades e alternativas para satisfazer amplos
grupos e diversos interesses: o indivíduo já não é mais um, é muitos, é
um ser errante com muitas identidades e papéis a representar, e que
na hora do consumo não pode ser classificado.

Dessa forma o mercado busca se adequar a esse novo estilo de vida,


atendendo o usuário de forma personalizada. O mercado turístico propicia essa
nova forma de consumo baseado nas diversidades de escolhas mediante a
busca pelo novo. O novo olhar faz com que um “novo turista”, mais exigente, se
volte para as variações turísticas, deixando à margem o destino já previsível,
estático no tempo. (SWARBROOKE; HORNER, 2002).
Nessa visão a atividade turística se fragmentou. O que era centralizado
e massificado ditado pela industrialização, atualmente ganha forma singular,
pois o turista tem consciência de que é único. Amplas segmentações foram
estabelecidas para atender a essa demanda extremamente exigente. Assim,
outros segmentos surgem a cada necessidade de um novo nicho que
desponta. Dentro dessas múltiplas escolhas, o Turismo Macabro aparece como
uma possibilidade turística a ser desvelada.

2.1 O HORIZONTE MACABRO DO TURISMO

O fascínio pela morte estimula o imaginário de uma grande parcela da


sociedade que reconhece a finitude do tempo como uma fragilidade terrena. Se
não existem mecanismos de controle sobre a morte, o sentimento de finitude
torna-se presente no imaginário da população, aguçando a curiosidade pelo
desconhecido. Esse deslumbramento chegou até o mundo do turismo por
meio de atrativos tão diversos como: campos de concentração, prisões,
cemitérios, memoriais, museus, exposições macabras, dentre outros.
Antecedendo a terminologia atual “turismo macabro”, o fenômeno surgiu
pela curiosidade de pessoas, fascinadas pelo contexto mórbido de tragédias e

21
catástrofes. Esse tipo de turismo tem uma longa história e tem sido descrito
como uma tradição thanatológica que remonta às visitações de cenários de
batalhas como a de Waterloo ou as ruínas de desastres naturais como as de
Pompéia.
O que parece ser uma crescente curiosidade mórbida não é fato recente.
No começo do século XI, as pessoas já se deslocavam para lugares como
Jerusalém para visitar o local da crucificação de Cristo (DALE; ROBISON,
2008).
Alguns exemplos citados por Stone (2006) revelam atrações macabras
que eram admiradas pelos precursores do Dark Tourism. Os jogos realizados
por gladiadores no Coliseu eram comemorados por uma multidão que vibrava
com a morte de um competidor. As execuções feitas em praças, além de serem
aplicadas como forma de castigo e lembrete, serviam de espetáculo público.
O começo desse segmento de forma empresarial foi marcado pelos
precursores dessa atividade, que em 1838 levaram excursionistas ingleses
através de transporte ferroviário para a Cornualha a fim de participar como
espectadores do enforcamento de dois assassinos (BOORSTIN, 1987 apud
STONE, 1996). As motivações iniciais que influenciaram esse público a se
deslocar de suas casas direcionando-se a esses atrativos podem ser
encontradas no “deslumbramento” com a morte.
A busca por tais lugares alavancou o crescimento de uma nova
segmentação, no sentido de reafirmar e diversificar produtos referentes a esse
tema. A morte real ou recriada tornou-se preponderante, servindo como
influenciadora na motivação do turista que escolhe conhecer destinos
mórbidos. Essa mudança de comportamento desvela esse segmento que era
considerado como o lado “sujo” da atividade turística, porém tornou-se
apreciado, por um público específico, em relação aos outros segmentos.

22
2.2 TERMINOLOGIA

Existem divergências entre os estudiosos sobre o tema a respeito da


designação a ser adotada para o fenômeno do turismo macabro. Termos como
“dark tourism”, turismo sombrio, turismo de horror, turismo necrófilo, turismo de
aflição, thanatoturismo, turismo negro são alguns dos utilizados por diferentes
autores com nuances específicas.
O termo turismo macabro foi introduzido por dois estudiosos do assunto,
Malcolm J. Foley e John Lennon (2000) em um artigo do International Journal
of Science of Heritage Studies, para classificar viajantes que apreciavam
atrações ou destinos envolvidos com a morte real ou fictícia.
Para Foley e Lenon (2000), existem especificidades no emprego do
termo, ou seja, não é considerado turismo macabro se as visitações aos locais
de horror forem realizadas por parentes e/ou amigos das vítimas. Em
contrapartida, pessoas que se deslocam sem vínculo com as vítimas de forma
casual, com o propósito de desvendar o lado sombrio, encaixar-se-iam nesse
conceito.
Outra designação apontada por Seaton apud Stone (1996) é a
thanatologia, que tem como objetivo a contemplação da morte. Refere-se ao
deslocamento de um indivíduo ou grupo a um local, motivado total ou
parcialmente pelo desejo de interagir com formas reais ou recriadas da morte
em vários graus. A esse respeito, Seaton apud Stone (1996) enumera cinco
categorias: viagens para destinos de testemunhos públicos de morte;
deslocamento para lugares que tiveram em seu contexto mortes individuais ou
de massa, depois de fato trágico; viagens para apreciar monumentos, incluindo
cemitérios, criptas e memoriais de guerra; viagens para ver os elementos de
prova ou representações simbólicas de morte em locais, como museus
contendo armas de morte ou exposições específicas que reconstroem eventos
ou atividades e viagens de simulação da morte. O prazer revelado nos
cemitérios, por exemplo, está em observar lápides, imagens, epitáfios, entre
outros, interpretando assim todo o conjunto arquitetônico.

23
Alguns museus chamados de mórbidos também concentram em seus
espaços materiais que direcionam os visitantes a vivenciarem um contexto
histórico de forma jocosa com simulação de períodos históricos de batalhas
que remetam à morte, utilizando reencenações dessas lutas.
Para Panosso Netto e Ansarah (2009, p. 350) pode-se conceituar
turismo necrófilo como “aquele no qual as pessoas são atraídas a visitar os
lugares relacionados à morte, sejam eles cemitérios, memoriais ou mesmo
lugares onde ocorreram tragédias, genocídios, batalhas, etc”.
O necrófilo pode expressar seu interesse de diversas maneiras, desde a
escolha de materiais de escritas, de áudios ou vídeos que o remetam a
informações trágicas da vida humana, ou mesmo com visitas a ambientes
fúnebres.
Assim, as conversas do cotidiano que remetam à morte como tema
principal são consideradas como fait divers. Na ótica de Barthes (2003) apud
Panosso Netto e Ansarah (2009, p. 353):

O fait divers é uma arte de massa: seu papel é, ao que parece,


preservar no seio da sociedade contemporânea a ambiguidade do
racional e do irracional, do inteligível e do insondável; e essa
ambiguidade é historicamente necessária, na medida em que o
homem precisa ainda de signos (o que o tranquiliza), mas também na
medida em que esses signos são de conteúdo incerto (o que o
irresponsabiliza) ele pode assim apoiar-se, através do fait divers,
sobre uma certa cultura; mas, ao mesmo tempo, pode encher in
extremis essa cultura da natureza, já que o sentindo que ele dá à
concomitância dos fatos escapa ao artifício cultural, permanecendo
mudo.

Um outro termo que aparece ligado ao turismo macabro é o das Black


Spots (Pontos Negros) que se relacionam ao segmento por serem locais em
que aconteceram episódios extremamente violentos como mortes de
celebridades, atraindo centenas de visitantes, como por exemplo, o local de
acidente de carro sofrido pelo ator James Dean, em 1955, o do assassinato do
presidente John F. Kennedy, em Dallas em 1963, ou onde repousam os restos
mortais de pessoas famosas como o cemitério Pére Lachaise, em Paris, local
em que se encontra o túmulo de Jim Morrison, cantor, compositor e poeta da
banda The Doors.

24
Esse horizonte sombrio do turismo possui outra vertente que é
constituída pelos museus do Holocausto, onde história e memória são
preservadas com a finalidade de manter viva a lição humanitária derivada da
tragédia. Por outro lado, o tempo cronológico, um intensificador de sensações
macabras e fatos recentes, está mais presente na memória da população, por
seus sobreviventes e testemunhas, trazendo à tona a comoção coletiva.
O turismo macabro possui graus que diferenciam sua categorização.
Essa diferença é observada em locais que interpretam a morte e em locais que
vivenciam a morte. Assim, a experiência é mais tenebrosa quando há uma real
identificação com o fato, como acontece no campo de concentração Auschwitz
– Birkenau, em que a morte é relatada com toda a sua morbidez. Isso propicia
ao visitante vivenciar toda a trajetória de horror ocorrida no campo de
concentração de forma mais autêntica.

2.3 ATRATIVOS

A morte é inerente ao ser humano; sendo assim, a finitude é observada


como um tempo limitado de vida que cada indivíduo possui. Entretanto a
efemeridade aciona o desejo da eternidade retratada pela lembrança material
deixada pelos familiares, como por exemplo, em lápides e monumentos
tumulares.
A dualidade entre a vida e a morte está presente em todos os contextos
históricos da humanidade. Assim, os espaços urbanos dialogam com a
temática da morte em seu cotidiano e o mundo entre os vivos e os mortos se
mescla em um único território, aguçando a curiosidade de muitos em desvelar
o desconhecido pós-vida.
A implementação dos espaços que reverenciam a morte proporcionou a
cristalização da memória representada pelos entes queridos, transformando-os
em lugares de contemplação, comoção, saudosismo, dentre outros
sentimentos que são expressos por quem visita o lugar.
Sob essa ótica mórbida dentro da concepção turística, existem diversos
subconjuntos dentro desse universo sombrio. Alguns destinos de morte e

25
sofrimento encontram-se relacionados à guerra, cemitérios, morte de
celebridades, Holocausto, entre outras ofertas bizarras.
Na visão de Seaton (2006) apud Fonseca, Seabra et al (2015; pg.162)
os espaços são divididos em graduações de intensidades:2

[...]Some researchers consider that dark tourism sites can be


measured accordingly to their degree of darkness, in a continuum
from the darkest to the lightest (Stone, 2006). In accordance with this
idea, Seaton (2006) defined seven types of Dark Tourism suppliers:

• Dark Fun Factories: visitor sites, attractions and tours that have an
entertainment focus and commercial ethic. They represent fictional
death and macabre events, as that, they need a high degree of
tourism infrastructures. At this degree, attractions such as the London
Dungeon or the Dracula Park should be pointed out, as being the
lightest dark tourism places in the world.
• Dark Exhibitions: offer products that circle around death and
suffering with an often commemorative, educational and reflective
message. These exhibitions are drawn to reflect education and
potential learning activities. The museums that display death with
educational and reminiscent purposes are the best examples of dark
exhibitions.
• Dark Dungeons: places/attractions related to justice and criminal
matters, namely former prisons. Dark Dungeons offer products that
combine entertainment and education as a main merchandise focus.
The Alcatraz Federal prison, the Robben Island prison, the Missouri
State penitentiary among others, are good examples of dark
dungeons.
• Dark Resting Places: focuses upon the cemetery or grave markers
as potential products for Dark Tourism (Seaton, 2002). More and more
tourists include the cemeteries in their tours. Those of large dimension
are true open-air museums that include several architectural works
and sculptures of refined taste. The most visited cemeteries nowadays
are the Cimetiere du Pere Lachaise, the Arlington National cemetery,
La Recoleta cemetery and many others.
• Dark Shrines: sites based on the act of remembrance and respect
for the recently deceased. Dark Shrines are non- purposeful for

2
Alguns estudiosos classificam o Turismo Macabro em graduações de categorias que vão das graduações mais
brandas até as graduações mais escuras.
Assim, Seaton definiu sete categorias dentro do Dark Tourism:
-Fábricas Dark Fun: Estão relacionados a visitação a atrativos que tem o foco no entretenimento com viés comercial.
Representam a morte recriada de forma comercial, porém com infraestrutura. O exemplo de atrativo é o Dungeon
em Londres ou o castelo do Drácula que são considerados os lugares mais brandos da categoria.
-Exposições: Mostram elementos que estão atrelados à morte e ao sofrimento, porém como o objetivo de provocar
a reflexão e a educação.
-Dark Dungeons: Prisões antigas que são utilizadas como atrativos dentro desse segmento. Exemplo é a prisão
Federal de Alcatraz.
-Cemitérios: São museus a céu aberto que denotam diversas obras arquitetônicas que são contempladas pelos
turistas.
-Dark Shrines: São santuários que traz à tona a comoção das pessoas pelas mortes recentes e são cultuados pelas
lembranças e respeito aos mortos.
-Dark Conflict Sites: Guerras recriadas nos campos de batalhas. Tem o foco educacional.
-Campo de concentração: É a categoria mais escura definida pelo autor, pois a visita é feita dentro do espaço onde
aconteceram as atrocidades, exemplos como Auschwitz-Birkenau e Ruanda.

26
tourism and do not possess much tourism infrastructures due to their
temporal nature.
The most evident example of a Dark Shrine are the Solomon Isles
where the battle of Guadalcanal occurred.
• Dark Conflict Sites: sites associated with war and battlefields. These
sites have an educational and commemorative focus, as well as an
historic one. The Solomon Isles, where the battle of Guadalcanal
occurred, are one of the well-known dark conflict sites.
• Dark Camps of Genocide: are those sites that mark a concentration
of death and atrocity. Currently, the tourist attractions associated with
genocides and wars constitute one of the largest categories of visiting
spots around the world. Auschwitz- Birkenau, Cambodja, and
Rwanda, can be highlighted as being, some of the few sites, where
past genocides and mass atrocities happened.

À luz dessa temática percebe-se a grande diversidade de opções


referentes a essa nova possibilidade de turismo. Por consequência, há
necessidade de inventariar os segmentos relacionados a esse nicho e
classificá-los de modo a conhecer sua tipologia e seus limites.

2.3.1 Exposições

Seu enfoque está ligado diretamente ao entretenimento comercial ou


educacional. Os turistas desse segmento visitam locais cuja morte pode estar
representada de forma real ou recriada. Possuem uma ampla infraestrutura
para atender de forma adequada os visitantes. Sua categoria está na forma
mais branda do turismo macabro, sendo representados como menos
autênticos. Exemplos desse gênero podem ser encontrados no Dungeon, em
Londres, que utiliza fotos, retratando um passado mórbido como a peste negra
ou as aventuras do Conde Drácula.
As exposições macabras possuem ainda o intuito educacional voltado ao
aprendizado, de modo a proporcionar ao visitante uma reflexão sobre o tema
morte. Nesse conceito são ofertados produtos informativos com base ética no
histórico trágico, fazendo com que esse segmento seja classificado como uma
categoria mais pronunciadamente sinistra.
Essas exposições podem ser feitas distantes do espaço real da tragédia,
como por exemplo, o Museu Memorial 9/11 que expõe imagens e artefatos dos

27
atentados do dia 11 de setembro. O principal objetivo é captar a história e
promover o sentimento de valorização das vítimas.

2.3.2 A Morte Retratada em Igrejas, Cemitérios, Santuários e


Eventos

O ser humano com toda a sua complexidade tem consciência de que é


finito. Todos possuem um ciclo fisiológico, cujo processo é baseado em quatro
fases: nascimento, crescimento, reprodução e morte.
A morte é representada com variâncias na história da humanidade. No
texto bíblico, no capítulo de Gênesis, a morte é figurada com a expulsão de
Adão e Eva do paraíso pelo pecado, sendo condenados a viver como meros
mortais, desprovidos assim da vida eterna. Na Grécia, a palavra é idealizada
pelo Deus Thanatus, que representa de forma simbólica a pulsão da morte,
interagindo erotismo e idealismo com Eros, representado como a pulsão da
vida.
A morte é encarada por muitos como sendo um assunto a ser esquecido
e somente abordado em ocasiões de uma perda física de um ente querido.
Contudo, em algumas culturas é interpretada e vivenciada de maneira natural,
sendo comemorada com rituais, que podem perdurar por dias, como em certas
tribos indígenas. Um exemplo dessa abordagem é na cidade do México, em
que se reverencia, mediante seus costumes e ritos, essa passagem.
Assim, a morte é um tema extremamente polêmico que divide opiniões,
ocasiona aversão, mas principalmente traz fascínio para grande maioria que
busca respostas para compreender no processo da morte o significado da vida.
A sociedade contemporânea tem intitulado os potenciais turísticos que
lidam com a morte como um espaço romantizado e não com uma conotação
mórbida. Existe o encantamento com os mortos e com isso esses espaços,
tornaram-se centros históricos com intuito ético e comemorativo, fazendo parte
da herança cultural.

28
2.3.2.1 Igrejas

O Ossuário de Sedlec, situado na República Tcheca, é uma capela cristã


ornamentada com ossos humanos que foi construída no século XIV em estilo
gótico francês. Em 1278 o superior do mosteiro trouxe uma quantidade de
terras do calvário, local onde Jesus foi crucificado, adicionando-a ao cemitério.
Muitos acreditavam que por esse ato, as terras fossem consideradas santas,
fazendo com que a nobreza pleiteasse ser enterrada nesse ambiente. No
século XIV mais de 30 mil pessoas foram mortas em consequência da peste,
sendo enterradas em valas rasas no cemitério. Parte do cemitério foi destruída
por guerras que ocorreram no local o que culminou na retirada dos ossos e no
seu armazenamento na capela. Assim, as peças começaram a compor os
adereços da igreja com candelabros, lustres, pias batismais, entre outras que
impressionam pela precisão e riqueza de detalhes de forma assombrosa
(INTERATA, 2008).

Figura 1: Ossuário de Sedlec


Fonte: A capela decorada com ossos humanos, 2016 3

3Sorisomail.com. Disponível em: http://m.sorisomail.com/imagens-engracadas/151704.html.


Acesso em 20 de jul. de 2016.

29
Outro destaque nessa vertente mórbida é a Capela dos Ossos, um
monumento criado na Igreja de São Francisco, na cidade de Évora, em
Portugal. Sua construção foi realizada no século XVII por três monges que
eram contra a reforma religiosa. Como forma de protesto, buscaram
reverenciar a transitoriedade da morte com decoração enfatizando a morte,
como ossos humanos, pinturas com a temática morte e esqueletos pendurados
de forma inusitada.
Poemas são encontrados na igreja enaltecendo a morte como algo
comum a todo ser humano. Um dos poemas citados na igreja e atribuído ao
Pároco da freguesia Padre Antônio da Ascensão Teles:

Poema sobre a existência 4


Aonde vais, caminhante, acelerado?
Para...não prossigas mais avante;
Negócio, não tens mais importante,
Do que este, à tua vista apresentado.
Recorda quantos desta vida tem passado,
Reflete em que terás fim semelhante,
Que para meditar causa é bastante
Terem todos mais nisto parado.
Pondera, que influído d'essa sorte,
Entre negociações do mundo tantas,
Tão pouco consideras na morte;
Porém, se os olhos aqui levantas,
Para...porque em negócio deste porte,
Quanto mais tu parares, mais adiantas.

2.3.2.2 Cemitérios

O cemitério de Arlington (EUA) é um dos santuários mais simbólico do


país. Com os seus heróis de guerra, além de líderes expressivos do país como
John Kennedy, recebe mais de quatro milhões de visitantes anualmente. Com
o seu formato caracterizado por longas fileiras a necrópole abriga mais de
trezentos mil oficiais sepultados, sendo os mais recentes vitimados nas guerras
do Afeganistão e do Iraque.5

4 Extraído do site de Bruno Gomas. Disponível em:


http://www.suricatahomem.blogspot.com/2006_08_01_archive.html Acesso em: 17 jun. 2016
5
Disponível em: https://noticias.terra.com.br/cemiterio-de-arlington-o-santuario-dos-herois-
americanos,58dce9f6e80ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html Acesso em: 21 de jul. De 2016.

30
Figura 2: Cemitério de Arlington6
Fonte: Cemitério de Arlington, 2016

O cemitério da Recoleta é um importante atrativo na cidade de Buenos


Aires, na Argentina. O diferencial desse cemitério é a forma em que os mortos
são sepultados dentro dos mausoléus. O caixão não é enterrado e fica em
destaque para apreciação do público. Depois de certo tempo, esses restos
mortais são transferidos para caixas menores e dispostos novamente para que
sejam visualizados. O cemitério abriga formas diversas de obras de arte,
estimulando a visita de inúmeras pessoas que veem o local como um museu a
céu aberto. Os jardins que rodeiam o cemitério também são aproveitados pela
maioria dos seus moradores para a prática de lazer.
A necrópole da Recoleta é evidenciada pelo sepultamento de inúmeras
celebridades, dentre elas se destacam o túmulo de Evita Perón e os de
presidentes do país como Carlos Pellegrini.
O túmulo mais visitado do local é da marcante Evita Perón que teve uma
trajetória meteórica de sete anos, saindo do anonimato para os palcos como
atriz para após liderar uma atividade política como primeira-dama da Argentina.
De personalidade forte e carisma incontestável promoveu diversas lutas em

6
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=cemiterio+arlington&biw=2277&bih=1095&source=lnms&tbm=is
ch&sa=X&ved=0ahUKEwjF5eHSwo3OAhXCFZAKHVX2AK0Q_AUIBygC&dpr=0.6#imgrc=C3a9Xftm9aq55M
%3A. Acesso em: 27 de jun. de 2016.

31
favor das classes menos favorecidas, morrendo aos 33 anos, vítima de câncer
uterino.

Figura 3: Cemitério da Recoleta, Argentina. 7


Fonte: Recoleta, 2016.

Outro cemitério que atrai turista é o Pére Lachaise, maior cemitério de


Paris e um dos mais expressivos do mundo. De estilo neoclássico foi criado em
1803, pelo arquiteto Alexandre Théodore Brongniart (CEMITÉRIO PÉRE
LACHAISE, 2008).8
O cemitério começou a funcionar com a inumação de uma menina de
cinco anos. A não aceitação dos parisienses ao local era devido à dificuldade
de deslocamento até a necrópole, sendo alterado mais tarde esse pensamento
com o sepultamento de diversas personalidades como Jim Morrison.
No Brasil destacam-se como locais de visitação os cemitérios São João
Batista, no Rio de Janeiro e da Consolação, em São Paulo. O cemitério São

7
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=cemit%C3%A9rio+da+recoleta&biw=2277&bih=1095&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwikutGrxY3OAhXJjZAKHU8FB_gQ_AUIBigB&dpr=0.6#imgrc=7Y
46-0hR9DtqHM%3A . Acesso em: 26 de jun. 2016.
8 Disponível em: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/franca/cemiterio-do-
perelachaise.php. Acesso em: 28 de jun. 2016.

32
João Batista foi implantado pela Santa Casa de Misericórdia em 1852,
possuindo atualmente cerca de 65 mil jazigos. Dentre esses, repousam
diversas celebridades com túmulos rebuscados como Carmem Miranda Santos
Dumont, imortais da Academia Brasileira de Letras, presidentes da República,
músicos e atores, entre outros personagens ilustres.
Diversos túmulos retratam exemplos de arte sacra como trabalhos
esculpidos em mármores, bronze e granito que ostentam as quadras dos mais
abastados Na principal avenida, rotulada de Vieira Souto9, são encontrados
obras de artes de diversos artistas como Rodolfo Bernadelli e Heitor Usai
(PIMENTA, 2008).

Figura 4: Rodolpho Bernardelli Cemitério São João Batista, Brasil. 10

Fonte: Própria autora

2.3.2.3 Santuários Macabros

9 Bairro de Ipanema onde o metro quadrado é o mais caro do Brasil.


http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/06/no-rio-m-de-imovel-de-luxo-pode-custar-mais-
que-o-dobro-do-de-sp.html
10
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=tumulo+de+rodolfo+bernardelli,+sao+joao+batista&biw=2277&b
ih=1095&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwi-
rPqiyI3OAhWCFZAKHVRBDlcQ_AUIBygC&dpr=0.6#imgrc=5YomC8LM6jrqdM%3A. Acesso em: 01 de jul.
de 2016.

33
Os santuários macabros são locais que remetem à lembrança de mortes
recentes como ato comercial. São construídos próximos aos locais das
tragédias e em um espaço curto de tempo em relação ao ocorrido. Muitos
desses santuários não foram criados propositalmente para a atividade turística,
por isso possuem pouca infraestrutura no local. Dessa forma, esses espaços
são criados por uma demonstração de comoção coletiva, transformando o local
em uma massa de homenagens florais como forma de respeito às vítimas.
Um exemplo marcante a ser destacado é o World Trade Center. As
torres gêmeas, como eram conhecidas, foram destruídas por terroristas no dia
11 de setembro de 2001, vitimando quase três mil pessoas. O local virou centro
de atração de Nova York para inúmeros visitantes interessados em observar o
episódio trágico.
Após treze anos de intensas intervenções urbanas foi construído no
espaço um complexo que abriga o Museu e memorial The National September
11 Memorial Museum. O espaço traz em sua essência traços importantes que
relembram a tragédia, como documentários, peças dos escombros, fotos dos
mortos, relatos das famílias, dentre outros que contribuem para que a memória
do horror não seja esquecida. Existem no local, produtos formatados
associados à atrocidade, chamados de “Dia do Horror” como livros, filmes,
bonés e materiais que depreciam o terrorista Bin Laden.
Outro ponto representativo do Marco Zero foi implementado com dois
espelhos d’água localizados exatamente onde estavam as torres gêmeas com
placas de bronze onde estão gravados os nomes de cada um dos mortos.
Outro empreendimento imponente no espaço foi a construção de uma
nova torre intitulada One World Trade Center (World Trade Center 1) sendo a
quarta maior do mundo. O prédio foi idealizado com uma altura de 1.776 pés
(541 metros), fazendo referência ao ano da independência dos Estados
Unidos. 11

11
Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/a-volta-do-world-trade-center. Acesso em:
20 de ago. de 2016.

34
Figura 5: Ground Zero, EUA. 12
Fonte: World Trade Center, 2016.

2.3.2.4 Locais de Conflito e Sofrimento Macabros

Os locais palcos de conflitos macabros compreendem cenários de


guerras e campos de batalhas. Seus potenciais produtos turísticos têm um foco
educacional baseado no autêntico contexto histórico. Por adquirir um
expressivo fluxo turístico necessitou aprimorar sua infraestrutura para atender a
demanda. As visitas são realizadas por meio de operadoras que exercem o
papel de guias, auxiliando nesses deslocamentos aos sítios turísticos de
batalha. Exemplos de batalhas históricas que viraram produto de apreciação
mórbida são Waterloo e Somme.
A Batalha de Waterloo foi um combate decisivo entre as forças
francesas, britânicas, russas, prussianas e austríacas na localidade de
Waterloo na Bélgica. Durante 100 dias a tropa napoleônica lutou para
conquistar o país, sendo derrotada pela superioridade numérica dos prussianos

12
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=cemit%C3%A9rio+da+recoleta&biw=2277&bih=1095&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwikutGrxY3OAhXJjZAKHU8FB_gQ_AUIBigB&dpr=0.6#imgrc=7Y
46-0hR9DtqHM%3A . Acesso em: 26 de jun. 2016.

35
e britânicos. A batalha levou à morte mais de 57 mil soldados de ambos os
lados.13
A Batalha de Somme ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial na qual
os franceses e ingleses lutaram contra os alemães e foi uma das guerras mais
sangrentas da história. Seu contexto violento retrata a inexperiência de
soldados, o descaso de seus generais e a utilização pela primeira vez de
tanques de guerra, deixando um saldo expressivo de mais de um milhão de
soldados mortos (THEODORO, 2008).

Figura 6: Waterloo e Somme, 2016. 14


Fonte: Mega curioso.

No contexto atual esses locais são trabalhados de forma a perpetuar


essa história trágica. Em sua formatação como produto turístico são mostrados
mapas de trincheiras, diários de guerra e comentários que foram importantes
na época dos acontecimentos. Toda a visita tende a ser romantizada pelos
seus guias através de reencenações de batalhas de forma a entreter e atrair os
turistas. Por essa demonstração “teatralizada”, sua categoria se aproxima da
nuance mais suave do segmento do turismo macabro.

13
CORNWELL. Bernardo. Waterloo. A História de quatro dias, três exércitos e três batalhas. O confronto
que Deteve Napoleão. Editora: Afiliada, 2015.
14
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=A+Batalha+de+somme,+turismo&biw=1525&bih=734&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjV_I6JwtPOAhWHjpAKHWGRDaAQ_AUIBigB&dpr=0.9#imgrc=k5Eh8
XRI3o8ZpM%3A Acesso em: 12 de jul. de 2016.

36
2.3.3 Acampamentos de Genocídios

Nesses sítios aconteceram atrocidades, genocídios e catástrofes,


ocupando por essa elevada autenticidade, o lado mais sombrio do turismo.
Lugares como Ruanda, Camboja e Kosovo são extremamente macabros por
estarem no próprio local dos acontecimentos trágicos o que o denota como
categoria mais sombria a ser presenciada pelos participantes no destino
turístico.
O Genocídio Cambojano foi responsável pela morte de
aproximadamente dois milhões de pessoas em quatro anos no período de 1975
a 1979. O Khmer Vermelho, organização comunista que liderou o Camboja
nesse período, ordenou execuções em massa, assassinatos, fome, tortura e
trabalho forçado que eram realizados em espaços chamados de campos da
morte. (CEPALUTI; MENDONÇA, 2006).
O Genocídio de Ruanda foi um massacre executado por facções de
Hutus, atacando tutsis e hutus moderados em 1994. O grupo étnico tutsis era a
minoria e liderava o poder político no país. O fracasso da economia nacional
devido à queda do valor do café exportado foi o estopim para a crise entre as
etnias, sendo utilizado como pretexto para a retirada dos tutsis do poder,
iniciando assim pela rivalidade o período da carnificina. Esse movimento
produziu um deslocamento de pessoas para campos de refugiados, situado na
fronteira com países vizinhos como o Zaire, deixando mais de 800.000 vítimas
assassinadas no país. (O GENOCÍDIO NO RUANDA, 2008)

37
A guerra de Kosovo ocorreu em detrimento à separação de uma das
províncias chamada Kosovo na Iugoslávia. O presidente Slobodan Milosevic,
não aceitando a medida adotada pela província, inicia a guerra. Alegando
questões humanitárias, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
intervém na guerra obrigando Milosevic a aceitar o acordo que propõe a
autonomia da província, porém sem a separação. A guerra também foi um
marco que deixou inúmeras vítimas desse contexto de atrocidades. (SILVA,
2008).

Figura 7: Massacre em Ruanda, 2016. 15


Fonte: Revista Exame.

2.3.4 Campos de Concentração

Na concepção de Panosso Netto e Ansarah (2009), as marcas das


perseguições e de extermínio aos judeus e outras minorias podem ser vistas
nos memoriais que retratam esse sombrio passado de guerra. Suas
lembranças são evidenciadas em museus, cemitérios e até bairros inteiros que
reverenciam à memória do Holocausto. Na Europa Ocidental, os campos de
concentração criados no período da Segunda Guerra Mundial, em destaque na

15
Revista Exame. Disponível em : http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/franca-condena-ex-
prefeitos-de-ruanda-por-genocidio-em-94. Acesso em: 20 de jun. de 2016.

38
Alemanha e Polônia, eram utilizados como campos de extermínio, campos de
trabalhos forçados e campos de trânsito. Como exemplo, pode-se citar Dachau,
na Alemanha, que foi classificado como campo de trabalho forçado, com
utilização da mão de obra de prisioneiros judeus, homossexuais, comunistas,
entre outros.
Bergen-Belsen é um campo de trânsito que abrigou Anne Frank,
personagem ilustre, que revelou ao mundo através de seu diário, a atrocidade
vivida por ela e seus familiares durante a Segunda Guerra Mundial. Anne, por
seu ato de coragem, tornou-se símbolo do sofrimento de milhões de crianças
judias.
Na Polônia foram implantados os campos de extermínio, conhecidos
como complexo Auschwitz-Birkenau, o maior campo da Europa, possuindo
estruturas específicas como as câmaras de gás e os crematórios. Nesses
locais mais de 12 mil pessoas chegaram a ser executas no período do
nazismo.
No contexto atual, o cenário de horror é repassado por meio de um
documentário, sintetizando as atrocidades executadas no campo para os
visitantes desse atrativo. Paulo Franke, um espectador do holocausto,
menciona em seu blog:

Logo à entrada do campo de Auschwitz depara o visitante com a


irônica inscricão em ferro:"Arbeit macht frei" (O trabalho liberta) e
visitando os diversos prédios de dois andares pode-se ver, através de
gigantescas vitrinas, exposições de malas portando ainda os nomes
de seus donos, de roupas, de sapatos (uma somente de sapatos de
criança), de óculos, de escovas, de cabelos (há uma amostra do
tecido feito de cabelos) e, além de outras ainda, a dos chalés de
oração de judeus, o que me emocionou e fez-me pegar a máquina
fotográfica. (FRANKE, 2006)

O relato de um visitante retrata o lado mórbido do campo de


concentração como um produto turístico sombrio.
É preciso salientar que o Holocausto ou turismo de Holocausto tem sido
rotulado como entretenimento de forma inadequada, pois não leva em
consideração a essência histórica das atrocidades cometidas contra o povo

39
judeu. Mesmo assim, esse nicho vem crescendo dentro do espectro macabro
de forma institucionalizada, deixando distorcido o contexto histórico doloroso
desses locais.

Figura 8: campo de Auschwitz Birkenau, 2016. 16


Fonte: Band Mundo.

2.3.5 Museus e Memoriais

O Holocausto para muitos estudiosos foi um período de inimaginável


atrocidade sofrida por judeus, sem precedentes na história da humanidade por
seus atos de extrema morbidez.
Esse período está registrado de maneira viva nos museus que tratam da
temática. Os museus tiveram papel imprescindível como veículo de
interpretação das atrocidades cometidas no período nazista. Têm por objetivo
educar os visitantes, de modo a promover o questionamento sobre atitudes que
venham a ser tomadas futuramente.

16
Disponível em: http://noticias.band.uol.com.br/mundo/noticia/?id=242245 Acesso em: 12 de jul. de
2016.

40
Na cidade de Washington, Estados Unidos, encontra-se o Museu
Memorial do Holocausto. O espaço dedica-se à documentação, análise e
interpretação da história do Holocausto, sendo financiado pelo governo
americano, por judeus ou colaboradores ilustres, como o diretor Steven
Spielberg. O museu desempenha um papel importante no cenário estético do
holocausto e também procura proporcionar um meio adequado para traduzir a
memória, recordação, interpretação e narração do massacre, de modo a
contextualizar a história de maneira educacional. O conteúdo chega ao turista
por meio de imagens, exposições, artefatos culturais e publicações referentes
ao período nazista. (FRANKE, 2006).
A história permanente do museu conta a trajetória cronológica do
Holocausto desde a vida de Hitler e sua ascensão ao poder até a libertação
dos judeus dos campos de concentração.
O museu é criticado por mostrar o contexto do nazismo na interpretação
americana. Sua abordagem menciona citações de George Washington e da
Declaração da Independência, além de excluir da história vítimas não judaicas
e homossexuais.
Em Israel encontra-se o Museu Yad Vashem, fundado em 1953, que tem
como objetivo principal eternizar a memória do Holocausto e divulgar a história
trágica com o intuito de educar para que atrocidade dessa magnitude não
venha ser esquecida com o tempo (PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009).
O museu abriga um memorial perpétuo com arquivos, relatos,
documentos e também testemunhos de sobreviventes de forma a proteger a
memória, ensinar e educar. É dividido em setores como Setor de Estudos e
Pesquisas, Escola Central de Ensino do Holocausto e Centro Internacional de
Pesquisa do Holocausto. Buscando compreender os motivos que contribuem
para a visitação aos museus do holocausto, Yuill (2003) realizou uma pesquisa
de caráter exploratório com objetivo de traçar o perfil do turista que frequentava
o Museu do Holocausto em Houston, no Texas, de modo que os visitantes
manifestassem suas percepções referentes à temática. Para isto, fez uso de
formulário que também foi aplicado à equipe técnica do museu de forma a

41
auxiliar no conhecimento das emoções vivenciadas e expressadas pelos
turistas.
O formulário foi adaptado a partir de estudos precedentes sobre esse
segmento mórbido e por meio das perguntas foram levantados fatores
motivacionais específicos para esse atrativo.
Dentre algumas dificuldades apontadas no estudo, está a limitada
literatura encontrada na área, não havendo precedentes para contrapor
resultados. Outro fator restritivo é o fato da pesquisa ter sido realizada apenas
no Museu, não sendo compatível com outros atrativos da mesma categoria.
De acordo com as informações obtidas por Yuill17 pode-se constatar que
a temática da morte tem um papel relevante na motivação da visita a esses
atrativos. O elemento predominante na busca pelo entendimento da morte é a
carência de uma compreensão aprofundada.
A mídia tem o poder de estimular as motivações. O filme ‘A lista de
Schindler’ do diretor Steven Spielberg lançado em 1993 foi apontado por várias
pessoas, como o fator que impulsionou o desejo de visitar o Museu do
Holocausto.
Quantos aos elementos motivadores, a pesquisa possibilitou a
compreensão de três potenciais: em primeiro lugar, uma ligação pessoal, a
busca de maior compreensão por parte dos visitantes em relação ao
holocausto e a procura por descendentes dos sobreviventes que anseiam por
informações não obtidas pelos familiares; em segundo, através da perspectiva
educacional, as pessoas desejam saber de forma mais aprofundada sobre
esse período histórico; em terceiro, com base no que se pode inferir da
literatura, as pessoas estão interessadas em exposições, especialmente as
itinerantes.
Dessa forma, os fatores motivacionais são múltiplos, como por exemplo
o fato de os visitantes que procuram o museu para compreender melhor a
história de seus antepassados, e dos próprios sobreviventes que visitam o
espaço para compreender um período histórico vivenciado.

17YUILL, Stephanie Marie. Dark tourism: understanding visitor motivation at sites of death and disaster.
2003. 278 f. Tese (Mestrado) - Texas A&m University, Houston,2003. Disponível em:
<https://txspace.tamu.edu/bitstream/handle/1969/89/etd-tamu-
2003C-RPTS-Yuill-> Acesso em: 12 de mai. 2016.

42
Yuill observa que a representação simbólica é imprescindível para a
maioria das pessoas que encontra nesse ritual uma maneira emblemática de
recordar fatos significativos. A pesquisa aponta a lembrança como um fator
motivacional, cuja sua permanência auxilia na manutenção da memória viva,
não permitindo o seu esquecimento pela história. O interesse no contexto
histórico também foi abordado na análise, pois vivenciar a história facilita o seu
entendimento, despertando um interesse maior por parte dos visitantes.
Fora da temática do Holocausto encontram-se memoriais e museu de
cera que podem ser classificados como atrativos do turismo macabro.
No Japão a reverência aos mortos é manifestada através de memoriais
que eternizam seus antecessores. A cidade de Hiroshima abriga a “Cúpula da
Bomba Atômica” que marca o local em que a bomba foi lançada. Esse
monumento faz parte do Parque Memorial da Paz, que inclui em seu acervo
fotos, objetos, relatos de sobreviventes e arquivos relacionados ao bombardeio
(PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009).
Outro museu que desperta o interesse de muitos visitantes é o Museu de
Anne Frank que retrata a vida de uma menina judia que entrou para a história
pelo seu exemplo de força e determinação em detrimento à vida.
Anne foi uma referência na luta contra o terror imposto pelo nazismo. Em
seu diário relata as percepções sobre o mundo, dividida entre recortes de
jornais passados com artistas que admirava e atrocidades cometidas pelo
ditador Adolf Hilter.
De origem judia foi obrigada a ser esconder com os seus familiares,
vivendo por dois anos em um espaço adaptado por seu pai. Descoberto mais
tarde pelos nazistas, teve como consequência a deportação de todos os
ocupantes do esconderijo. O único integrante da família que sobreviveu foi
Oton Frank, pai de Anne Frank, que utilizou as citações do diário de Anne para
que seus ideais permanecessem vivos. (A CASA, 2008).
O museu de Anne Frank abriga um acervo com pertences da família,
sendo o diário da menina Anne seu principal objeto. Atualmente o espaço é
utilizado como Centro Internacional da Juventude, atraindo pessoas de

43
diferentes partes do mundo, tendo como lema, lutar contra qualquer opressão
imposta por elementos da sociedade.

Figura 9: Anne Frank, 2016. 18


Fonte: The Time of Israel

A história comovente de Anne Frank também pode ser vivenciada


através do museu virtual. Pelo site o visitante poderá conhecer um pouco mais
sobre a trajetória da menina que se eternizou mediante as suas palavras de
força, coragem e de esperança.
Um trecho do diário expõe os ideais da menina dentro do contexto de
atrocidades vivenciadas por ela.

“É realmente inexplicável que eu não tenha deixado de lado todos os meus


ideais, porque eles parecem tão absurdos e impossíveis de se concretizarem.
Mesmo assim eu os conservo, porque ainda acredito que as pessoas são boas
de coração. Simplesmente não posso edificar minhas esperanças sobre
alicerces de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo gradativamente se
tornando uma selvageria. Escuto o trovão se aproximando, cada vez mais, o
que nos destruirá também; posso sentir o sofrimento de milhões e ainda assim,
penso que tudo irá se corrigir, que esta crueldade também terminará. Enquanto
isso preciso adiar meus ideais para quando chegarem os tempos em que talvez
eu seja capaz de alcançá-los. ” (15 de julho de 1944).

18
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=anne+frank&biw=1525&bih=734&source=lnms&tbm=isch&sa=X
&sqi=2&ved=0ahUKEwjbtp6F2o3OAhVLDJAKHQ8bD5YQ_AUIBigB&dpr=0.9#tbm=isch&q=the+house+of
+anne+frank&imgrc=AsdQLjCcYGcDEM%3A Acesso em: 12 de jul. de 2016.

44
2.3.6 Prisões

Outro espaço físico utilizado como atrativo macabro no segmento


turístico são as prisões desativadas. Esses espaços repressivos no passado
são comercializados como atmosfera de crime e castigo ao turista na
contemporaneidade. O pacote vendido ao turista inclui o julgamento, a prisão e
execução do condenado com direito a um público de amigos e parentes. Desse
modo, os turistas são introduzidos em um contexto histórico do ambiente
original das prisões, utilizadas como forma de entretenimento (STONE, 2006).

Figura 10: Prisões hotéis, 2016. 19


Fonte: Fato

As Dark Dungeons são prisões e tribunais inativos para essa finalidade


penal e atualmente utilizados como uma combinação de entretenimento e
educação com foco comercial. Possuem uma infraestrutura adequada às
necessidades dos clientes e estão no centro da classificação macabra,
mesclando assim o tom mais escuro da categoria com o mais claro. As
Galerias da Justiça são exemplos dessa atração. Situadas no Reino Unido,
divulgam em seu slogan que a galeria é o único local no país em que o
visitante poderá ser preso, sofrer condenação e receber a pena de morte. Esse

19
Disponível em: http://multticlique.com.br/blog/good-vibes/hospede-se-em-uma-prisao-de-luxo/
Acesso em: 18 de jul. de 2016.

45
marketing convida os turistas a participarem do contexto passado da história do
local. O folheto de divulgação das Galerias convida o visitante a testemunhar
um verdadeiro julgamento em um tribunal vitoriano original e a colocar seus
amigos e família no banco dos réus, antes de ser condenado e “enviado para
baixo” para as celas originais. Os reclusos vão agir como guias enquanto o
turista deve também se tornar parte da história nesse local. (GALERIES DE
JUSTIÇA, 2005 apud STONE,2006)
Esses produtos mesmo inseridos no universo macabro do turismo têm
características próprias que necessitam ser exploradas de formas
diferenciadas, adequando-se a cada nicho. Dentro dessa perspectiva, o turista
poderá fazer sua interpretação nos diversos cenários mórbidos tendo uma
percepção múltipla dos fatos narrados.
Ambientes de turismo sombrio, atrações e exposições apresentam
dilemas complexos na questão ética e moral para os seus gestores.
Desenvolver esse segmento de forma comercial sem comprometer sua
natureza ideológica é papel da mídia como veículo de divulgação da história da
humanidade (STONE, 2006).

2.3.7 Locais de Catástrofes Naturais

O episódio trágico que ocorreu em Nova Orleans, Estados Unidos,


ocasionado pelo furacão Katrina, em 2005 provocou uma catástrofe de
proporções incalculáveis no contexto da cidade. Por negligência das
autoridades, alguns diques que controlavam a quantidade de água do lago
Pontchartrain, não conseguiram suportar a tempestade tropical, deixando 80%
das casas inundadas e milhares de vítimas ( ZONA DEVASTADA, 2008).
O rastro de atrocidade causado pelo furacão é exposto aos turistas que
visitam o lugar e desejam observar a destruição de perto. Chamado “Katrina
Tours”, o destino ficou conhecido, ofuscando assim outros atrativos locais e a
simbologia da cidade que era considerada berço do jazz. Casas abandonadas,
ruas fantasmas, alicerces à mostra, são atrativos exibidos aos turistas pelos
agentes de viagens.

46
Na afirmação de uma agente de viagem (BBCBrasil, 2007): 20

No ano passado, 73% dos pacotes que eu vendi foram para as áreas
devastadas pelo Katrina. Comecei a levar turistas para essas partes
da cidade ainda em setembro de 2005, um mês depois do furacão.
Eu não queria, mas 99% das pessoas querem ver a destruição de
perto. É a natureza humana. As pessoas gostam de ver desastres.

Na maioria, os visitantes que chegam ao local querem interagir com a


destruição ao extremo, isso faz com que haja divergências de opiniões entre
moradores a respeito do que é permitido ou proibido pela ética humana, ou
seja, o City Tour pode ser tido como um veículo invasor ou não da tragédia
alheia.

Figura 11: Katrina, 2016. 21


Fonte: NBC News.

20 BBC Brasil. com . Disponível em:


http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070827_katrinatours_bgpu.shtml
Acesso em: 27 ago. 2007.
21
Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwiEoKeE343
OAhWJl5AKHZF1A-MQjhwIBQ&url=http%3A%2F%2Fwww.nbcnews.com%2Fstoryline%2Fhurricane-
katrina-anniversary%2Flatino-workers-helped-rebuild-new-orleans-many-werent-paid-
n417571&psig=AFQjCNF2MPBBtm9znYa_iwHEgQlCI8CnWw&ust=1469506115897758&cad=rjtAcesso
em: 12 de jul. de 2016.

47
3 IDEALIZAÇÕES E INTERPRETAÇÕES DA MORTE

3.1 A morte na história

A morte é vista como um tema bastante emblemático envolto em


diversas definições entre as culturas. A inviabilidade de ter acesso ao que virá
no pós - vida faz com que muitos agentes sociais, em diversas épocas, tenham
suas próprias conceituações e ritos. Dentro das múltiplas percepções, cada
grupo visualiza a morte e seus processos de maneira singular.
Na conceituação da bíblia, o livro relata no capítulo de gênesis a
idealização da primeira morte. Essa morte é interpretada na aceitação do fruto
dado pela serpente a Eva que se alimenta e oferta a Adão. Após o ato
consumado, os primeiros habitantes da terra são condenados por Deus ao
sofrimento e, pela primeira vez, têm a consciência de que seu erro os levaria a
uma situação de dor e de queda. Na Bíblia (1999, pg. 4) o capítulo três refere-
se: “[...] mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele
não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais[...]”.22
Para Elias (2001, pg. 17):23

A associação do medo da morte a sentimentos de culpa pode ser


encontrada em mitos antigos. No paraíso, Adão e Eva eram imortais.
Deus os condenou a morrer porque Adão, o homem, violou o
mandamento do pai divino.

Escavações arqueológicas revelam que desde as sociedades mais


remotas a prática de ritualizar a morte era um costume presente. O homem de
Neanderthal, por exemplo, utilizava práticas destinadas aos seus mortos
observadas em seu processo de enterramento. Ornamentos eram enterrados
com os falecidos, além de alimentos que, na concepção do grupo, serviriam
para que o indivíduo atravessasse o mundo dos vivos, rumo à outra vida.

22
Bíblia Sagrada contendo o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Tradução em português por João
Ferreira de Almeida. Trecho do capítulo de Gênesis 3: 3
23
NORBERT. Elias. A Solidão dos Moribundos. Editora: Zahar.. 2001.

48
Para Spelder (2002) apud Santos (2007):

Em locais de enterro, ainda mais antigos, como da época dos


Neandertais, que começaram a habitar a Europa há
aproximadamente 150.000 anos, aparecem ornamentos de concha,
implementos de pedra e comida, enterrados junto com o morto,
implicando em uma crença que tais itens seriam úteis na passagem
da terra dos vivos para a terra dos mortos. Em muitos desses locais
de enterro, o corpo está pintado com vermelho ocre e colocado em
uma postura fetal, sugerindo ideias sobre revitalização do corpo e
renascimento.

Assim, a morte faz parte do cotidiano do indivíduo, denotando a sua


expressão concreta e fundamental. Qualquer representação de grupo, mesmo
os mais primitivos, não renega os seus mortos.
No Egito a morte advinha com múltiplas simbologias. Monumentos
expressivos como as pirâmides eram destinadas a fins mortuários, denotando a
necessidade de ostentação dos faraós. Os mortos passavam por rituais como a
mumificação para poder contemplar a eternidade. Também faziam parte dos
signos, sepultar os mortos com adereços, comidas, animais de estimação,
entre outros.

Figura 12: Julgamento do morto na presença de Osíris


Fonte: Disponível no site ....24

24

https://www.google.com.br/search?q=Julgamento+do+morto+na+presen%C3%A7a+de+Os%C3%ADris&biw=1958&bih
=942&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiEy-
r2xOLQAhWBh5AKHTGjBTQQ_AUICCgD&dpr=0.7#tbm=isch&q=Julgamento+do+morto+na+presen%C3%A7a+de+Os
%C3%ADris%2C+tamanho+grande&imgrc=-rzJtMD5ZJqWaM%3A

49
Essas práticas vinham explicitadas no Livro dos Mortos, que orientava
quais os procedimentos que os vivos deveriam adotar para um funeral correto.
De forma a perpetuar a memória do morto seus feitos expressivos eram
descritos em sua tumba. Sua vida eterna era retratada com riqueza e poder e
também era descrita nos relatos, o que mostra a plena satisfação do morto ao
encontrar o paraíso.
Na observação de Kastenbaum (1983, pg. 152) apud Santos (2007):

Os egípcios da Antiguidade desenvolveram um sistema bastante


explícito e detalhado. Pirâmides, tumbas, múmias, objetos mortuários,
escritos funerários e o Livro dos Mortos todos testemunham um
otimismo fundamental perante a morte. A morte era uma questão
central na cultura egípcia. Seu Livro dos Mortos, semelhança de seu
equivalente tibetano, traçava as linhas mestras de um amplo sistema
mortuário, embora quase sempre sob a forma de prescrições para as
práticas fúnebres. Esse sistema ensinava – ou pelo menos destinava-
se a ensinar uma abordagem relativamente integrada que permitiria
aos membros individuais pensar, sentir e agir em relação à morte de
maneira considerada apropriada e eficiente.

Velar o morto e manifestar seus rituais, na idealização das civilizações


precursora ao cristianismo, era um meio dos vivos terem a certeza de não
serem importunados pelos mortos que foram para outra vida. Esse receio
promoveu o afastamento dos cemitérios das cidades.
Na visão de Ariès (2007, pg. 36):

Apesar de sua familiaridade com a morte, os antigos temiam a


proximidade dos mortos e os mantinham a distância. Honravam as
sepulturas - nossos conhecimentos das antigas civilizações pré-
cristãs provêm em grande parte da arqueologia funerária, dos objetos
encontrados nas tumbas. Mas um dos objetivos dos cultos funerários
era impedir que os defuntos voltassem para perturbar os vivos.

Na visão da sociedade do século XII o homem medievo necessitava


saber de sua morte para que assim, pudesse proceder a seus meios
simbólicos. Era imprescindível saber do momento fatídico, pois ele deveria
ritualizar até o instante final. Se se o mesmo não fosse advertido, seria terrível
a morte, em sua concepção. Essas mortes sem notificação eram representadas

50
pelas condições de miséria e pelas doenças como a peste negra, cuja
significância vinha atribuída a um fato de humilhação.
No relato de Pereira (2007, pg. 17):

Sabe-se que na Alta Idade Média, “o moribundo desempenhava o


papel central num drama sobrenatural”. Ele encenava, conduzia, e
mesmo administrava a própria morte e o único modo de salvar a sua
alma era ter uma “boa morte” [...]

[...] Huizinga chamou esta “boa morte” de “ideal cultural”, visto que, no
mesmo período, muitas pessoas morriam vitimadas pela peste negra,
pela miséria, e tinha seus corpos abandonados pelos campos sem
cerimônia ou rituais. [...]

A autonomia da morte torna-se pública. Existe a necessidade de que o


processo seja acompanhado por expectadores nessa dualidade entre a vida e
a morte. O que antes era para ser contemplado de forma individual passa a ter
outro contexto com personagens que auxiliam nesse momento da transição. O
moribundo, sendo o centro das atenções, informa aos familiares e amigos
quais os procedimentos que devem ser adotados antes e depois do fato. O
papel do padre como intermediador entre os mundos buscava promover uma
morte isenta de pecados ao moribundo; em troca, apresenta o paraíso como o
prêmio maior pela sua redenção. A família é confortada pelo ato, o que torna a
espera mais branda.

51
Figura13: Sepultamento público.
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=moribundo+e+seus+familiares&biw=1366&bih=657&sourc
e=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjO3KXA6fLRAhXChpAKHQoXBcgQ_AUIBygC#tbm=is
ch&q=moribundo+e+seus+familiares%2C+phillip+aries&imgrc=roeSWYpJqFAfxM:

Na sociedade oitocentista a igreja, por ser considerado lugar santo, era


reverenciada pelos fiéis, que desejavam, após a morte, serem enterrados
nesse território sagrado de forma a estarem mais próximos a Deus.
Para Rodrigues (2012): 25

As práticas funerárias presentes na sociedade carioca oitocentista


tinham uma influência direta dos dogmas e ensinamentos católicos
provenientes do período colonial. Com a chegada dos primeiros
jesuítas que objetivavam catequizar os nativos e difundir o discurso
católico, foram trazidos ensinamentos referentes à forma de morrer
dentro das normas da igreja. Esses ensinamentos ficaram conhecidos
como pedagogia da morte e buscavam estabelecer uma norma
referente aos hábitos funerários; uma forma encontrada pela igreja
para manter o controle sobre os ritos e os fiéis.

25RODRIGUES. Caroline. Medidas higienistas e a construção dos cemitérios extramuros no


Rio de Janeiro (1800- 1850). ANPUH-MG.2012

52
Ser enterrado perto dos santos fomentou os sepultamentos próximos à
igreja. Com isso a igreja passou a ser um local do descanso final. O seu pátio
era utilizado para os menos abastados, que eram enterrados em fossas, em
amontoados em seus sudários. Para estar mais perto de Deus era necessário
ter condições financeiras além de influência, o que representava uma distinção
desleal de quem, na visão da época, podia chegar mais próximo dos santos.

Figura14: Sepultamento nas igrejas.


Fonte: http://passeandoporai.com.br/wp-content/uploads/2014/03/opreto-145.jpg

O ad Sanctus transformou-se em um espaço sociável. A igreja não foi


abolida pelos seus moradores devido ao seu papel mórbido de
armazenamento. Pelo contrário, o espaço foi integrado ao espaço urbano,
transformando-se em um bairro com casas e comércios. O espaço passou a
ser compartilhado pelos vivos e mortos de maneira bastante aceitável, o que
favoreceu a aceitação do homem perante a sua própria finitude ao se deparar
com os ossos expostos.

53
Ariès traduz esse sentimento (Dias et al, pg. 6):

Todavia, inicialmente, nessa área além da cidade os túmulos


venerados foram substituídos por memoriais, seguidos por basílicas
cemiteriais que ficavam ao lado ou no lugar de capelas para adoração
dos mártires. Ao redor das basílicas e fora do perímetro residências
foram criados bairros cemiteriais. Porém devido ao crescimento dos
limites deste, estes bairros foram incorporados à vida cotidiana, já
que se passou a conviver entre os sepultados.

Com o cemitério fazendo parte da cidade, muitas doenças começaram a


surgir em detrimento do convívio entre os vivos e os mortos. Essa proximidade
trouxe mazelas que foram identificadas pela medicina no início do século XIX.
O que antes era visto com naturalidade, o convívio harmônico, começou a ser
abolido pela sociedade. O papel do padre foi substituído pelo do médico e, com
os novos mediadores entre a vida e a morte, a classe médica passou a
pulverizar informações sobre as doenças ocasionadas pelos mortos enterrados
nas igrejas. Além do odor insuportável dos cadáveres em estado de putrefação,
a população passou a ter uma nova consciência do papel da igreja quanto aos
enterramentos. O moribundo já não deixava os seus bens para a igreja
católica, o seu testamento passou a ser direcionado para os familiares que
materializavam a sua vontade pós - vida.
Na visão de Rodrigues (2012):26

[...] Inicialmente os médicos propuseram uma espécie de


distanciamento do morto, que passa a ser visto como um foco de
doenças, uma vez que exalaria “miasmas”. Acreditava-se que os
cadáveres mal sepultados, quando estavam em estado de
putrefação, emanavam fluídos miasmáticos que eram responsáveis
pela poluição do meio e do ar em que se encontravam. [...]

Assim o espaço sagrado destinado aos viáticos foi transferido para outro
território e, dessa maneira, com a desterritorialização, a igreja já não detinha
mais o controle total dos ritos que eram precedidos na época e que enaltecia
tanto em dinheiro quanto em poder a unidade episcopal.

26
RODRIGUES. Caroline. Medidas higienistas e a construção dos cemitérios extramuros no Rio de
Janeiro (1800- 1850). ANPUH-MG.2012

54
Na visão de Bonjardim (2010):

Assim, a desterritorialização da morte na Europa acontece, isto é, a


partir dessas novas ideias médicas, a morte é afastada e,
concomitantemente surge uma nova forma de encará-la. A
desterritorialização seria a perda de poder de um dado território,
perda essa entendida como um enfraquecimento da atividade
específica do local, no caso da morte, a perda do poder exercido pela
Igreja com relação aos seus fiéis. A se deu, então, pela proibição dos
enterramentos dentro dos templos que provocou uma mudança na
atitude das sociedades cristãs oitocentistas diante da morte.

A morte passa a assumir outro papel na sociedade, que já buscava


ostentar o seu poder não mais nas igrejas que recebiam os seus corpos, mas
em novos territórios santos que foram implementados para essa finalidade.
Vistos os processos pertinentes que levaram a sociedade a refletir sobre
suas indagações e ritos perante a morte, o indivíduo busca desenvolver novas
percepções que o levem a compreender a linha tênue entre a origem da vida e
a sua perenidade. O que difere de ideologias são os fatores condicionantes que
cada cultura representa, fazendo com que cada grupo tenha a sua própria
simbologia.

3.2 A Percepção da morte no período escravocrata no Brasil

No período escravocrata, os negros advindos da África eram


catequizados de forma a ter a mesma doutrina de quem o aprisionava. Esse
procedimento era importante na visão do proprietário que detinha o poder do
ser humano que era visto como mercadoria, sendo pés e braços dos senhores.
Muitos eram convertidos no porto em conjunto e com um nome somente
pelos padres que recebiam dinheiro pelo batismo.
Na observação de Pereira (2007, pg. 40):

[...] Após se assegurar de que os escravos não


haviam recebido o batismo nos portos africanos,

55
como nos casos dos angolas, o padre deveria
fazer as seguintes perguntas aos cativos:

Queres lavar tua alma com a agua fanta?


Queres comer o fal de Deos?
Botas fóra de tua alma todos os teus peccados?
Não has de fazer mais peccados?
Queres fer filho de Deos?
Botas fora da tua alma o demonio?

A prática abolia as expressões simbólicas dos negros que pertenciam à


sua identidade e estabelecia um vínculo com a sua nação de origem. Alterava-
se o nome e ao final da prática era dado um pouco de sal para que os escravos
comessem, pois dentro dos ritos comentados, muitos acreditavam que o sal
anulava os poderes mágicos que eram concedidos aos escravos, que poderiam
voltar para a sua pátria mãe voando.
Na visão de Pereira (2007, pg. 40):

Após as perguntas serem respondidas, os escravos poderiam ser


batizados e, a partir daí, ter acesso ao Reino dos Céus. Nota-se que
a preocupação premente do batizador é a de levar o escravo a deixar
as velhas práticas tidas como pagãs, tais como a adoração de outros
deuses, característica das religiões antigamente chamadas de
animistas, da à adoração de astros e antepassados e uma forte
relação com a natureza. A ingestão de sal era outro costume evitado
na religiosidade africana. Na cosmogonia banto, a abstenção do sal
conferia o patamar de um feiticeiro com poderes bastantes para
retornar voando à África ou saber as coisas ocultas aos homens. Daí
fazer renegar os seus poderes místicos, sua cultura e submetê-los a
um novo dogma, buscando a sua “conversão”.

Na visão do ser humano escravizado, a conversão ao cristianismo seria


a única possibilidade de se ter um enterro digno se a morte viesse a assolar.
As condições precárias de transporte faziam com que muitos escravos
morressem durante a viagem e seus corpos fossem jogados ao mar,
repousando sem vida no mais profundo silêncio. Quando chegavam à terra
firme, muitos eram acometidos de doenças por consequências frágeis em sua
estrutura fisiológica, também morriam e eram enterrados em covas rasas.

56
Figura15: Desembarque dos escravos.
Fonte:https://cdn.papodehomem.com.br/wp-content/uploads/2012/11/rugendas-1835-
desembarque-620x460.jpg

Não ter um enterro digno condizente com as práticas da doutrina


imposta deixava os escravos apreensivos e questionadores quanto à sua vida
pós-morte. Sem autonomia de sua vida terrena, o indivíduo encarcerado
começa a ansiar por uma morte dentro da simbologia cristã que o levasse
diretamente para o céu. Entretanto quando ocorria o viático, dentro desse
contexto, era direcionado a uma cova rasa sem a privacidade de um espaço
apenas seu, compartilhando a sua última área terrena com outros com o
mesmo contexto histórico. A morte era assim vista com temor pela ausência
das práticas católicas. Não ter um ritual funerário dentro dos preceitos cristãos
embutia um sentimento de desespero no indivíduo que se apegava à única
possibilidade de ter a eternidade sem sofrimento. Aceitar a nova religião era o
passaporte para o céu, para uma vida eterna junto com Deus e livre da
escravidão.

57
À luz de Pereira (2007, pg. 11):

Do ponto de vista dos pretos novos, batizados ou não, o dano moral


causado pelas práticas usadas no cemitério era irreparável. Dos
barracões do Valongo, eles podiam avistar o local dos enterros. Os
que morriam talvez não tivessem tempo de tomar conhecimento do
que aconteceria a seus corpos após a morte. Mas sabiam-no seus
parentes, amigos e outros companheiros de infortúnio. Na cultura
banto, esclarece Júlio César, a morte era assunto muito sério para os
indivíduos e, mais ainda, para a comunidade. Ela constituía um elo
entre o mundo dos vivos e o sobrenatural. O morto, desde que
inumado de acordo com os rituais, incorporava-se à comunhão dos
antepassados, passava a integrar a cadeia que unia vivos e mortos.
Sem o acompanhamento dos rituais fúnebres, ele se tornava um des-
garrado, um sem lugar, ocupado permanentemente em atormentar
seus parentes vivos.

A angústia com que era tratada a temática da morte elevava o


sofrimento em vida, pois como escravos eram tratados como mercadoria de
troca, sem nenhum direito como indivíduo que o preservasse como ser humano
envolto em seus ritos socioculturais.
A morte, como abordada pelo autor, denota a pseudo-catequização do
escravo que era obrigado a se abster de seus ritos e se converter às práticas
católicas em troca da salvação, além da visão de seus ditos donos, os
chamados senhores, que embutiam esse conceito a fim de que houvesse
submissão, abolindo em grande parte, as revoltas que nasciam dos ideais
praticados pela antiga religião.
O contexto histórico de submissão enfatiza um panorama de aceitação
da crença do outro, sendo assimilada mais tarde e observada no sincretismo
religioso, porém no primeiro momento, na visão do autor Pereira (2007), os
escravos tiveram que romper com seu arcabouço identitário com o intuito maior
de idealizar uma vida pós-morte mais serena com a alforria para salvação
eterna.

58
3.3 A Morte na Atualidade

Em dias atuais o contexto ostentatório nas práticas funerárias


permanece, servindo, assim, como um indicador de divisão territorial pós-
morte. Alguns cemitérios, como o São João Batista, no Rio de Janeiro e o da
Consolação, em São Paulo, fazem parte desse universo elitizado. Dependendo
da localização o espaço é visto com prestígio e requinte, e, dessa maneira,
repousar próximo aos jazigos de ilustres personalidades como presidentes e
artistas necessitaria de expressiva condição financeira.
Esse reflexo da sociedade é descrito por CYMBALISTA (2012, pg. 3):

[...] Sem exceção, em cada cidade as famílias mais importantes


empenham-se em construir túmulos, capelas e mausoléus que
expressem sua posição. O espaço da contemplação da morte é
igualmente um espaço de reafirmação da hierarquia dos vivos, o que
produz, em cada cemitério, uma infinidade de relações de
exterioridade, cuja função última é sempre a mesma: afirmar uma
posição específica na hierarquia social local.27

Dentro dessa visão, a morte é analisada sobre múltiplas variantes que


estão atreladas a cronologia, condição socioeconômica, cultura vivenciada,
entre outras. Nessa compreensão, interagir com essa passagem e suas
simbologias é interagir com a sua própria essência, pois a morte é inerente ao
ser humano. Assim sendo, não se pode conceber a vida sem associá-la à
realidade irrevogável da morte.

27CYMBALISTA, Renato. CAMINHOS DO PODER E DA FORMA NOS CEMITÉRIOS DO OESTE


PAULISTA. 2012

59
3.4 Dia dos Mortos no México

Na atual conjuntura, podemos tratar sobre essa temática através de um


evento cultural realizado no México, observando seus signos e símbolos
associados a um tema tão emblemático que é a morte.
O Dia dos Mortos no México é uma festividade amplamente
comemorada pela população, que associa a prática do culto a um processo
natural da vida. Essa celebração tem sua gênese nas culturas indígenas pré-
hispânicas centro-americanas, que buscavam reverenciar seus antepassados.
Com a colonização espanhola os missionários tentaram abster as práticas de
culto aos mortos dos indígenas. Entretanto não houve uma ruptura, mas sim
uma incorporação entre o sacro e o profano no rito que são representadas pela
comemoração vinculada ao catolicismo “de todos os Santos” e “Dia dos Fiéis
Defuntos” que tem início em novembro, coincidindo com as festividades,
criando um sincretismo religioso que mescla os ritos dos povos indígenas em
conjunto com as tradições religiosas do catolicismo.
O início da comemoração do Dia dos Mortos começou com os índios da
mesoamérica que praticavam rituais com simbolismos na morte e no
renascimento. Com naturalidade crânios eram armazenados e conservados
como troféus durante os rituais e expostos ao público. Na atualidade, as
festividades reúnem vivos e mortos em uma afável confraternização,
vinculados a muita música, comida, luz e cores e muito ironia.
Sob o prisma de VILLASENOR E CONCONE (2012, pg. 39):28

De fato, a forma de celebrar o dia dos mortos encontra suas origens


pré-hispânicas nas culturas indígenas. Há relatos de que os povos
indígenas Astecas, Maias,
Nahuatls e Totonecas praticavam o culto aos mortos. Os rituais que
celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo
menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de
conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais
que celebravam a morte e o renascimento.

28 Villasenor, R.L. & Concone, M.H.V.B. (2012, agosto). A celebração da Morte no imaginário popular
mexicano.
Revista Temática Kairós Gerontologia,15(4), pp. 37-47, “Finitude/Morte & Velhice”,
Online ISSN 2176-901X. Print ISSN 1516-2567. São Paulo (SP), Brasil: FACHS/NEPE/PEPGG/PUC-SP

60
Relevante por sua diversidade cultural, o evento foi incorporado na lista
de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco.29 Isso denota a significância
cultural do evento e seus laços entre os vivos e mortos, visto por sua
população, que observa, nessa manifestação popular, o fortalecimento de sua
identidade.
Na descrição de Silva (2005):

Todos participam dos festejos e com isso alimentam o ciclo infindo


contido no ato da memória, porque todos, cedo ou tarde, estarão
permutando os lugares e ocupando novas posições nesse vertiginoso
e cálido jogo de vida e morte. Os mortos são raiz, seiva, terra e
cosmos. A relação com eles é um ato de memória, uma memória
coletiva. Por isso, uma frase que escutamos muito frequentemente,
nesses dias é: não se deve deixar morrer os nossos mortos, pois
cada um é a somatória de seus mortos, que só existem se são
lembrados pelos vivos.

A representação da morte como ícone foi retratada pelo gravurista José


Guadalupe Posada, que evidenciou a morte em seus desenhos e gravuras. Os
esqueletos expostos satirizavam fatos cotidianos dos mexicanos de forma a
interpretar a junção de distintas classes e hierarquias, consolidando a Festa
dos Mortos. Dentro dessa afirmação VILLASENOR E CONCONE (2012, pg.
41) expõem: “Vê-se que ironia e iconografia caminham juntas e “políticos e
engraxates” como que representam polos sociais opostos de riqueza e
privilégio irmanados e igualados, na dança macabra. ”

29 VENDRAME, Fábio. Dia dos Mortos é celebrado com festa no México. Disponível:
http://viagemeturismo.abril.com.br/materias/dia-dos-mortos-e-celebrado-com-festa-no-mexico/

61
Figura 16: Dia de los Muertos.
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=Jos%C3%A9+Guadalupe+Posada&biw=1366&bih=657&s
ource=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjPlMu23fLRAhVLHJAKHdxQBh4Q_AUIBigB#imgr
c=zXasa9dOUl_lDM:

Ao tratar a morte com naturalidade, os mexicanos conseguem sobreviver


e conviver com o medo de enfrentá-la algum dia. Crianças são incentivadas a
participar da temática, comendo doces com figuras representando a morte.
Assim, a continuidade mítica é ritualizada como se a vida nascesse da morte,
contextualizada no passado e completada no presente. Flores, velas, bebidas e
comidas são deixadas como oferendas aos mortos. Esse simbolismo é para
demonstrar ao falecido que seus parentes estão a colher bons frutos durante o
período em que ele esteve ausente. Existe também a preparação dos túmulos
para o evento com a limpeza e decoração com flores e guirlandas coloridas.
Sob o prisma de VILLASENOR E CONCONE (2012, pg. 42):

Atualmente, no dia dos mortos se presenteiam os amigos e familiares


com caveiras de açúcar, com os seus nomes escritos na fronte da

62
caveira, para recordar a todos que um dia todos morreremos, e
seremos também parte da morte. Esta forma de celebrar o dia dos
mortos é também uma maneira de conviver e preparar crianças e
adultos para a dura realidade da morte, como parte inevitável da
existência humana.
Todo o folclore da morte nos mostra que no México os mortos não se
vão totalmente, seguem sendo, no imaginário popular, personagens
vivos e presentes de uma outra maneira.

Celebrar a vida compreendendo a sua finitude promove a interação entre


os vivos e os que já se foram. Esses laços identitários estimulam a participação
de diversas faixas etárias e, dessa maneira, tanto crianças quanto adultos
atuam como partícipes dessa manifestação popular. Entre a festividade e suas
brincadeiras atreladas às sátiras, a morte, tão estigmatizada pelo medo, torna-
se mais aceitável, pois todos terão que passar por ela e, se existiu o nascer,
deverá também existir o morrer. Assim, o processo entre a vida e a morte
assume um papel de protagonista, tomando as rédeas do curso natural da vida.

Figura17: Dia del Muertos.


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/veja-fotos-do-dia-dos-mortos-no-mexico-
2olt19vugd2pkgsvf0ff5h7wu

63
Figura 18: Frida Kahlo.
Fonte:http://andreavelame.com.br/vale-conferir/painel-de-inspiracao-dia-dos-mortos-no-mexico/

64
Figura 19: Representações da morte.
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=Jos%C3%A9+Guadalupe+Posada&biw=1366&bih=657&so
urce=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjPlMu23fLRAhVLHJAKHdxQBh4Q_AUIBigB#tbm=is
ch&q=dia+dos+mortos+no+mexico&imgrc=Fhpvl89LSx_82M:

Figura 20: Caracterização para o dia dos mortos.


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=Jos%C3%A9+Guadalupe+Posada&biw=1366&bih=657&s
ource=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjPlMu23fLRAhVLHJAKHdxQBh4Q_AUIBigB#tbm
=isch&q=dia+dos+mortos+no+mexico&imgrc=6BRIaE3RcS-dgM:

65
Ao término das festividades, preces são feitas aos mortos para que eles
retornem ao seu descanso eterno, evitando que os mesmos fiquem presos em
um período temporal diferente do seu e fiquem atormentando os seus
descendentes.
Dentro dessa tessitura a origem do Dia dos Mortos permanece nas
raízes culturais de seu povo e o seu simbolismo se dilui nas percepções de
quem presencia o ritual. O atrativo não é apenas vinculado à morte em seu
contexto sombrio e enternecedor, mas na representação de uma identidade
nacional. Assim, a Festa dos Mortos, tida como uma das manifestações do
turismo sinistro foi incluída na lista de patrimônio cultural imaterial da United
Nations Educational, Scientificand Cultural Organization (UNESCO) por sua
importância histórico-cultural. Sua relevância não se dá apenas pelo fato de
lamentar a morte, mas também pelo de celebrar a vida com cortejos, músicas,
comidas, como lembrança dos entes queridos. O intuito dessa manifestação é
promover a aproximação com os vivos a fim de vivenciar a morte de forma
construtiva e não temerosa e ao mesmo tempo estabelecer um vínculo com a
memória.

Figura21: Dia dos Mortos.


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=Jos%C3%A9+Guadalupe+Posada&biw=1366&bih=657&s
ource=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjPlMu23fLRAhVLHJAKHdxQBh4Q_AUIBigB#tbm
=isch&q=dia+dos+mortos+no+mexico&imgrc=b6hwS-dNFaTsCM:

66
4 SEGMENTO DA ARTE TUMULAR: CEMITÉRIOS NO MUNDO

Com a mudança para um território sagrado e distantes das famílias, os


mortos passaram a ter uma nova morada. Os cemitérios, nome inicialmente
atribuído à parte externa da igreja conhecido como atrium30, foram construídos
em espaços não próximos aos vivos por medidas sanitárias. As práticas de
higiene capilarizadas pelos médicos, novos substitutos dos padres,
impulsionaram esse conceito de repúdio em detrimento do convívio com os
mortos nas igrejas. Com isso, a interação dos mortos com os vivos já não era
vista com bons olhos por questões sanitárias.

Ratificando essa mudança de postura Petruski (2006, pg. 99), afirma:

[...]Transformações de forma mais significativa, a respeito dos


cemitérios, ocorreram a partir da primeira metade do século XVIII,
quando foram levados para fora dos jardins e do interior das
igrejas.[...] Coube à ‘doutrina dos miasmas’ fundamentar essa nova
maneira de pensar e agir. Desenvolvida principalmente na Alemanha,
surgiram preocupações por parte de alguns médicos, quanto aos
problemas causados pelos corpos que estavam em processo de
decomposição, uma vez que “emanavam das sepulturas vapores ou
fumaça que transtornava o ar, e que interferia diretamente na saúde
do ser humano, causando alguns tipos de doenças. Por essa nova
perspectiva, a presença do morto se tornava inconveniente e
representava perigo aos vivos. Na França, a nova postura diante da
morte e dos mortos se delineou ao longo do século XVIII, no rastro do
iluminismo e da secularização da vida cotidiana, criando-se uma
atitude hostil à proximidade com pessoas moribundas e com os
mortos. Além disso, os médicos também recomendavam que essa
aproximação fosse evitada por motivo de saúde pública.

Pelos motivos supracitados, os túmulos extramuros ad sanctos


buscaram uma arquitetura semelhante ao símbolo eclesiástico. A necessidade
de separar os mortos dos vivos por motivos de saúde pública em detrimento

30
Pregava-se os sacramentos nas grandes festas, faziam-se procissões no pátio ou atrium da igreja, que
também era abençoado, contra suas paredes e nas imediações, in porticu, ou sob a calha, sub stillicidio.
A palavra cemitério designou mais particularmente a parte externa da igreja, o atrium ou aître (átrio).
ARIÈS (2003, pg. 40)

67
das epidemias não cristalizou as crenças pregadas no catolicismo. Pelo
contrário, as representações sacras existentes nas igrejas não foram abolidas
do contexto social da população.

Além das doenças acometidas pela putrefação dos corpos o espaço


considerado santo dos templos episcopais não comportava mais os corpos,
que se multiplicavam de forma assustadora devido a epidemias que dizimavam
grande parte da população. Ariès (2003, pg. 74): “[...] Por outro, o chão das
igrejas, a terra saturada de cadáveres dos cemitérios, a exibição dos ossuários
violavam permanentemente a dignidade dos mortos. […].”

Anteriormente, nas igrejas, para receber a redenção dos pecados e o


passaporte para o céu era necessário ser sepultado em território sagrado em
conjunto com os santos. Devido às mudanças e à margem do território
considerado santo, a criação de figuras sacras como réplicas de igrejas,
cruzes, anjos, dentre outros, nos cemitérios foi estimulada de forma a
representar os princípios cristãos. O receio de não fazer parte do paraíso
devido ao distanciamento das igrejas fomentou a criação desses símbolos
sacros nos jazigos. Isso se confirma nas expressivas imagens tumulares, que
eram vistas como imprescindíveis para um pós-vida distante do purgatório.

Para Motta (2010, pg. 56):

Quando no final do século XVIII a convivência e a familiaridade com


os mortos deixaram de existir, quando estes foram levados para fora
das cidades, sendo obrigados a deixar as igrejas e seus entornos
para os cemitérios, os túmulos passaram a preencher esse espaço
anteriormente ocupado pela igreja. [...]

[...] Nos cemitérios, distantes de suas casas e igrejas, de suas


paróquias, a céu aberto, os mortos encontrariam abrigos nos túmulos.
Por isso, muitos deles reproduziram cenários de igrejas e de capelas,
em escalas reduzidas, enquanto outros, com morfologias laicizadas,
assemelhavam-se às residências de seus proprietários. Mas àquela
altura não se tratava apenas de assegurar ao morto um lugar no céu,
mas garantir também um lugar na terra, sob a proteção de uma
coberta, aos cuidados da família, para lhe proteger das intempéries, e
também resguardar a imagem de conservação do corpo. [...]

68
Devido a essa mudança de espaço, diversas representações tumulares
em formato de igrejas foram reproduzidas de forma reduzida para abrigar os
corpos das intempéries climáticas, além da proteção espiritual. Mesmo sem
características religiosas, uma parte da população não seguia os princípios
cristãos e, assim, os seus túmulos exibiam conceitos profanos que indicavam
sua opção laica. Dessa maneira, seus símbolos mortuários imprimiram formas
de sua residência e de seus costumes, perpetuando assim traços vivenciados
de sua vida, transferidos para sua nova e eterna morada.

Distante das unidades episcopais e do convívio da cidade dos vivos, a


cidade dos mortos iniciou o seu traçado em um novo território. Medidas que
visavam à higienização do espaço foram adotadas, criando assim um local
destinado exclusivamente aos mortos, conhecido como necrópole.

Para Jorge (2006, pg. 23):

Esta preocupação revela a sintonia das propostas de Patte com a


teoria médica do período - a teoria miasmática- na qual a purificação
do ar é uma premissa. Nesse contexto, Patte31 propôs, ainda, a
eliminação da prática de enterramento nas igrejas e recomendou que
os cemitérios e hospitais fossem construídos em áreas distantes da
cidade. Suas propostas para a intervenção na cidade, assim como as
encontradas em outros tratados de arquitetura e engenharia do
século XVIII, são as mesmas preconizadas pelo corpo médico.

Com as reformulações paisagísticas em caráter de desenvolvimento, as


cidades passaram por transformações relevantes que visavam à sua
modernização. A cidade ícone dessa nova modernidade era Paris, intitulada
Cidade Luz, admirada mundialmente. O prefeito Haussmann, em sua fase
conhecida como “destruição criativa” devido às grandes mudanças que
implementou na cidade e pelas vultuosas obras modernas, comandou

31
PATTE, Pierre.Considerations sur la distribution vicieuse des Villess et sur leas mohines de rectifer les
incoveniems auxquels elle sont sujetes. In: Mémoires sur les objets les plus importants de
I´Archictecture, 1769. Facsímele. Genebra: Minkoff Reprint, 1973.

69
inúmeras obras que ficariam marcadas como grandes obras da modernidade
nos anos de 1860, sendo plagiado por outras cidades do mundo (MACHADO,
2008).

Essas transformações, além de promoverem o crescimento econômico


da cidade pela geração expressiva de mão de obra, também influenciaram as
medidas sanitaristas. Sem as medidas profiláticas, adotadas pelo serviço
sanitário, as transformações no traçado urbano não teriam alavancado e obtido
o reconhecido sucesso. Assim, na visão de Sá (2010, pg. 154) é visto:
“Ademais, tais obras já eram demandadas em consideração às péssimas
condições de higiene em que vivia a população urbana. ”

Para Sá (2010, pg. 154) a necessidade de medidas sanitaristas


requeria:32

[…] um conceito de política médica, intimamente relacionado com os


ideais de destruição das precárias moradias, sobretudo as coletivas –
moradias das pessoas pobres –, que figurou com destaque, no século
XIX, nos trabalhos realizados por inúmeros médicos sanitaristas do
mundo inteiro, os verdadeiros pioneiros na discussão do
planejamento urbano.

Dentro dessa percepção de modernização, os cemitérios também


sofreram mudanças em suas estruturas físicas e institucionais. Assim como no
Brasil e no mundo, a secularização dos cemitérios buscou administrar a
questão da morte e suas imbricações no desenvolvimento das cidades. Com a
expansão das cidades atribuída à fase da busca pela modernização, as
cidades também obtiveram um aumento expressivo da sua quantidade
populacional, necessitando, assim, de um território maior dentro das práticas
sanitaristas que atendessem a essa nova demanda.

32
SÁ, Tânia Regina Braga Torreão. Ciência Médica na Cidade do Salvador. Três cadeiras, um projeto:
Sanar a doença do Atraso. Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde. 1980.

70
A característica desses cemitérios é a não intervenção do Estado na
questão cemiterial, delegando o poder aos municípios que, assim, passaram a
ter responsabilidade sobre o espaço.

Essa troca de esferas governamentais é ratificada na Revista Brazileira


(1899, pg. 323) que descreve: ”Diz o Prefeito: A administração dos cemitérios
passou do governo central em 5 de setembro de 1850 para o domínio da
autoridade municipal. `Apenas uma simples questão de competência´. ”

A busca pela secularização dos cemitérios no país teve o seu início em


1870 com a movimentação dos políticos liberais que defendiam, dentre outras
contestações, a Plataforma Republicana. Era, para eles, de extrema relevância
que o município administrasse seu cemitério. Essa atitude não era uma forma
de proteger a cidade dos mortos, mas sim uma questão de poder. Com a
Proclamação da República a questão foi solucionada quando ocorreu de forma
oficial a separação do Estado e a Igreja. Assim, os cemitérios secularizados no
país atingiram a plenitude no período da Primeira República (1890 – 1930),
(BORGES, 2001).

Por Borges (2004): Os cemitérios convencionais secularizados podem


ser identificados com base em alguns parâmetros que são comuns a todos
eles:

Analogia com a cidade. O lugar reservado ao morto está circunscrito


a um recinto que reduz o seu limite ao muro. O portal causa solene
impacto na entrada principal da necrópole e reforça a característica
de ser uma instituição fechada. Em seu loteamento a céu aberto, as
carneiras estão dispostas nas quadras, umas após as outras. Pode-
se dizer que se trata de uma cidade em miniatura, com vias de
acesso a um prédio principal, polarizador do espaço interno, que
pode ser uma capela coletiva e/ou um cruzeiro. Como local público, o
cemitério visa ao bem-estar coletivo e está imbuído de razões cívicas
e religiosas. Graças a ele, a pequena burguesia consolida o direito à
individualização também na morte. E as sepulturas passam a ser a
personalização do indivíduo pós-morte.
Discriminação social. Ocorre no momento em que os familiares
escolhem o cemitério para enterrar o morto. A seleção é realizada
levando-se em consideração alguns requisitos como: localização
geográfica, número de amigos e parentes enterrados ali, medida das
carneiras, valor do terreno e, o mais importante, o status que a

71
necrópole confere perante a sociedade vigente. É voz corrente a
distinção existente entre as pessoas enterradas nos cemitérios São
José, mais simples, e no de Nossa Senhora da Piedade, mais
sofisticado, em Maceió. Cabe à classe privilegiada adquirir os lotes
mais bem localizados e mais caros do cemitério, como nas avenidas
e alamedas que normalmente conduzem à capela. […]
[…] MORTOS ocupando o mesmo local, mas de maneira diferente.
Impregnação naturalista. Embora haja alta densidade de
construções no interior desses cemitérios, a arborização sempre
existirá. Retomamos aqui a atenção dada às árvores nativas na
maioria dos cemitérios do Norte e Nordeste; e as árvores típicas do
local. Em geral, elas se acham dispostas geometricamente por entre
as alamedas e avenidas. O caráter naturalístico da necrópole tem
várias justificativas: o pretexto da higiene, a busca de um elemento de
alegria no repouso dos mortos, a intenção de transformar o lugar num
verdadeiro belvedere (a exemplo dos cemitérios oitocentistas dos
países nórdicos).

Com a desterritorialização da morte na Europa devido às mudanças


associadas às práticas médicas, a morte foi afastada da sociedade. Essa forma
de perceber os processos da morte que eram impostos pela igreja foi alterado,
e a forma de pensar sobre a finalização da vida foi se modificando
gradativamente (BONJARDIM, 2010).

Na visão de Bonjardim (2010, pg.7):

Desterritorialização seria a perda de poder de um dado território


perda essa entendida como um enfraquecimento da atividade
específica do local, no caso da morte, a perda do poder exercido pela
Igreja com relação aos seus fiéis.

Dessa maneira, mesmo perdendo a influência política a igreja não


deixou de interferir na vida social. A proteção de um Estado laico, que derivou
muitas representações sepulcrais profanas, formadoras de estilos advindos da
Europa, não ofuscou a opulência dos túmulos com signos sacros. Promoveu,
entretanto, uma mescla artística de adeptos ao cristianismo, de outras religiões
ou daqueles que estavam à margem de qualquer religião.

72
À luz de Borges (2001):

Quanto às representações religiosas, elas vêm reforçar a aparente


recristianização existente no fim do século XIX e início do século XX.
Sabe-se que, mesmo com a perda da influência política, a igreja
manteve-se fiel aos seus dogmas tradicionais, diante da morte e da
existência espiritual. Desse modo, os cemitérios convencionais
seculares guardam em seu bojo uma arquitetura sacra.

Assim, os novos espaços tumulares vislumbraram outro contexto


histórico, além de paisagístico; as imagens, sacras ou profanas, protagonizam
o papel de eternizar o ser. Essa ação de reter as lembranças é vista como uma
provocação à condição da morte, já que não se pode contê-la.

Figura22: Túmulos numerados no chão da igreja em Ouro Preto e Mausoléu em estilo


neogótico no Cemitério da Consolação
Fonte: revista de história.com.br e Flickr do Yahoo

A memória do indivíduo permanecerá cristalizada através de um símbolo


tumular como uma atitude de triunfo sobre a morte. Essa valorização da
individualidade mesmo na morte não era vista nos sepultamentos que eram

73
realizados pela igreja, já que a mesma não identificava os seus mortos que
eram sepultados no chão, paredes ou ossuários dos templos. Na Europa, a
partir da segunda metade do século XVII, e observado diversos túmulos
considerados monumentos com intuito de personificar o morto pelos seus
relevantes feitos (PIOVEZAN, 2011).
Para Borges (2003):

O homem burguês tinha uma atitude de inconformismo em relação à


morte. Pregava-se o triunfo da vida sobre a morte. Essa rejeição era
expressa com muitas lágrimas, súplicas, gesticulações e pêsames.
Assim, não é por acaso que este cemitério reúne uma grande
variedade de pranteadoras – mulheres que interpretam em pranto o
lamento e a dor da perda do ente querido, figurando em posição
inclinada ou ajoelhada sobre o túmulo.

Assim, preservar a identidade de um ente querido requeria mecanismos


que armazenem e representem uma característica marcante, de forma a não
permitir o seu total desaparecimento. Dentro desse contexto, a memória
assume um papel imprescindível na perpetuação da lembrança através das
ornamentações criadas pelos anseios e vontades do próprio viático em vida ou
pelos seus familiares que buscam representá-lo por uma obra que demonstre
um traço marcante do falecido.

Dessa maneira, a memória é vista como perpetuadora de um fragmento


da história, cujas lembranças servem de mecanismos de conhecimento e
interpretação de fatos que foram ou não vivenciados. A priori a memória parte
do individual para o coletivo. O indivíduo e suas percepções referentes ao
mundo que o cerca são analisadas e selecionadas para interagir com a
memória coletiva.

Para Halbwachs (1968) apud Pollak (1989, pg. 3):

Em vários momentos, Maurice Halbwachs insinua não apenas a


seletividade de toda memória, mas também um processo de

74
"negociação" para conciliar memória coletiva e memórias individuais:
"Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que
eles nos tragam seus testemunhos: é preciso também que ela não
tenha deixado de concordar com suas memórias e que haja
suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a
lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre
uma base comum.

Nas sociedades sem escrita essa memória possui três graus de


relevância que são apontados como a idade coletiva do grupo que se funda em
certos mitos, o prestígio das famílias dominantes que se exprime pelas
genealogias e o saber técnico que se transmite por fórmulas práticas
fortemente ligadas a rituais religiosos (LEGOFF, 1996).

A memória sem escrita era perpetuada através de monumentos que


comemoravam uma data de expressiva importância. Na Mesopotâmia os reis
imortalizavam os seus feitos através de representações figurativas. No Egito
Antigo a memória era preservada através de figuras ilustrativas, narrando fatos
contundentes da trajetória do morto. Com a escrita, o mundo greco-romano
transformou-se em um palco de comemorações que buscavam perpetuar as
lembranças, usando parques, cemitérios, templos, entre outros. Para ostentar
essas lembranças escritas, a pedra mármore foi utilizada por sua durabilidade
e estética.
Nesse mesmo direcionamento, o judaísmo e o cristianismo são
considerados religiões de recordação, pois a consistência da sua fé baseia-se
em atos divinos que foram realizados no contexto passado, sendo cultivados
ainda hoje com prestação de cultos e crença. Le Goff (1996, p.447) afirma que
a “associação entre a morte e a memória adquire, com efeito, e rapidamente
uma enorme difusão no cristianismo, que a desenvolveu na base do culto
pagão dos antepassados e dos mortos”.

Começou então a surgir nas igrejas o hábito da oração aos mortos. No


século XVII já considerados como necrólogos ou obituários, as comemorações
foram utilizadas em forma de inscrições e interseções na memória aos vivos ou
mortos benfeitores de forma a reverenciar quem era admirado. O cristianismo

75
incorporou as homenagens que eram feitas em dípticos em marfim pelos
romanos em comemorações aos mortos chamados também de “Libri
memoriale”, ‘O que sempre será lembrado’ (LE GOFF, 1996).

Para se preservar uma herança cultural é imprescindível estabelecer


vínculos com o passado. Nessa vertente, a memória é um meio ao qual se alia
para relembrarmos de quem foi relevante em nossas vidas ou para a
sociedade.
Para Le Goff (1996, p. 423):

A memória, como propriedade de conservar certas informações,


remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas,
graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas.

Armazenar informações requer uma seleção prévia dos fatos ocorridos,


pois nem todas as experiências são selecionas, somente aquilo que é
considerado importante, ou de certa forma, um diferencial para se pinçar de um
universo de percepções vivenciadas.
Nessa vertente, Pollak (1989) menciona que existem escolhas das
informações que serão armazenadas pelo indivíduo conforme o grau de
relevância, indicando assim que a memória é também seletiva. Buscamos
eternizá-la através de atributos que simbolizem sua importância e
permanência. A morte de um ente querido é ritualizada através de símbolos
fúnebres que demonstram a importância do morto para um determinado grupo,
não permitindo o seu esquecimento.
As transformações humanas coletivizam as memórias individuais,
interagindo com outras recordações fora do seu contexto habitual,
democratizando e tornando-se assim memória coletiva. Fatos trágicos são
perpetuados na memória de uma sociedade, como, por exemplo, o acidente
que vitimou a Princesa Diana. Eles deixam a sensação de perda e comoção
global que necessita ser reparada de forma a amenizar o sentimento de perda.

76
A memória, dessa maneira, é imprescindível como ferramenta para
salvaguardar um fragmento escolhido pela família da história do morto. Expor
um fato da história permite o não esquecimento do ser que se foi, porém anseia
em vida, ser relembrado pela eternidade.
Na visão de Etlin (1991) apud Moreira (2007, 839):

Se ontologicamente a morte remete para o não-ser, é na memória dos


vivos que os mortos poderão ter uma existência mnésica. As imagens
produzidas a partir da lembrança garantirão sua existência. Ganha
desta maneira significado o cemitério ocidental que, estruturado como
uma textura de signos e símbolos “dissimuladores” do sem sentido –
a morte – e, “simuladores” da somatização do cadáver, tornará o
cemitério um campo simbólico que convida à anamnesis, encobrindo
o que se pretende esquecer e recusar.

O cemitério, então, se transformou em um espaço de lembranças que


foram filtradas pelos representantes dos finados, através da memória
sintetizada e reproduzida por esculturas mortuárias em diversas épocas,
conhecidas no universo da Arte Tumular.
Na ótica de Valladares (1970, pg. 280):

A arte tumulária varia com a data, acompanha cada estilo de época, e


de região, e jamais sonega o caráter, a espiritualidade do meio em
que ocorre. Sob tal prisma, isto é, tomando-se a arte tumularia como
representativa desses atributos, podemos entender as estruturas
sociais e culturais dos meios, mesmo quando restrita à
disponibilidade de uma pequena parcela.

Assim, a integração entre cemitério e cidade estabeleceu uma ligação


entre as cidades dos vivos em conjunto com os mortos. Dessa maneira, os
signos vivenciados pela sociedade também eram retratados na necrópole que
evidenciava estilos e ostentações de agentes sociais de diversos períodos.
Essa necessidade de expressar um traço pertinente de um ser pós-vida tinha a
finalidade de estabelecer a sua imortalidade.

77
Na percepção de Motta (2010, pg. 56):

No século XIX, à medida que as sociedades se modernizavam,


orientadas pelo princípio da racionalização produtiva, a crença na
morte, anteriormente identificada como signo de mutação, de
passagem a uma outra vida, tendeu, em muitos casos, a ser
substituída pelo sentimento de “imortalidade subjetiva” e, com ela, o
túmulo e o cemitério passaram a ser vistos por muitos como um lugar
no qual o homem realmente deveria cumprir a prova de sua condição
mortal, sem, contudo, abdicar totalmente de sua imortalidade.

Os estilos foram se mesclando com as épocas, denotando um espaço


de múltiplas diversidades como a dinâmica das cidades. Assim, esculturas
tumulares foram se transformando. A simplicidade que era exposta
anteriormente nas obras será, a partir do século XIV, substituída por traços
marcantes que privilegiam a identificação realista do morto, para que não seja
esquecido no universo do anonimato. Essa mudança a priori foi focada em
agentes sociais expressivos em sua época. Os túmulos suntuosos
representavam, em sua grande parte, os mais abastados que financiavam os
custos onerosos dessa arte.

Para Ariès (2003, pg. 60):

[...] Finalmente, no século XIV, levará o realismo ao ponto de


reproduzir uma máscara modelada pelo rosto do defunto. Para uma
certa categoria de personagens ilustres, clérigos ou leigos - os únicos
que possuíam grandes túmulos esculpidos - passou-se então do
completo anonimato à inscrição certa e ao retrato realista. A arte
funerária evoluiu no sentido de uma maior personificação até o início
do século XVII e o defunto pode ser, então, duplamente representado
sobre o túmulo: jazendo e orando.

O invisível representado pelo corpo encoberto se materializa pela


representação visível do túmulo, que não permite a exposição ao
esquecimento. Esse limite de dois mundos, o mundo dos vivos e dos mortos,
demonstra a necessidade de perpetuar o que não é mais visto, mas continua
sendo importante no seu contexto histórico.

78
Na percepção de (REVISTA, 1968) apud Moreira:

Nos cemitérios oitocentistas, os túmulos constituem uma totalidade


significante que articula duas dimensões bem diferenciadas: o
“invisível” (situado e baixo da terra) e o “visível”, o que faz com que,
como escreveu Bernardin de Saint-Pierre em 1868 na Revista dos
Monumentos Sepulcrais, o túmulo constitua se “um monumento
colocado entre os limites de dois mundos”.

Nessa concepção de perpetuação, muitos indivíduos, através de seus


representantes, visavam criar obras que estivessem dentro do estilo da época
em conjunto com uma característica marcante que lembrasse o viático pós-
vida.
A temática da morte também foi vista com conotações eróticas. Essa
conotação é percebida na adoção de símbolos, percebidos no começo do
século XVI ao século XVIII, que faziam referência a Tanatos e Eros33. A morte é
desvelada e associada à pulsão da vida com a representação de Tanatos e
Eros. O término da vida é associado ao ato sexual, simbolizando a
transgressão que remove o ser social da sua vida habitual, do sentido racional
da sua vida regrada, para inseri-lo em um mundo irracional, voraz e violento.
Assim, como o ato sexual a morte é simbolizada como uma forma de ruptura
abrupta, uma passagem com múltiplas transformações. (ARIÈS, 2003).

33 Na mitologia grega, duas figuras se opõem: Eros, o deus grego do amor, e Tânatos, a personificação
da morte. Esses dois personagens foram resgatados por diversos filósofos para explicar a dualidade entre
a morte e o desejo http://culturadigital.br/foureaux/2010/10/09/eros-e-tnatos-a-vida-a-morte-o-desejo-ii/

79
Figura23: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan ( A forma feminina reúne forças
poderosas da morte e da sensualidade, a ligação eterna entre Thanatos e Eros.
Fonte: Northstar Gallery"Of Flesh and Stone".34

Figura 24: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan (anjo)


Fonte: Northstar Gallery"Of Flesh and Stone"35

34
http://northstargallery.com/stone/stone25.htm
35 http://northstargallery.com/pages/CemeteryIndex.htm

80
Esse conceito de erotismo também terá o seu apogeu e será
sublimado nas imagens tumulares.
Os caracteres eróticos serão abolidos ou amenizados, no século XIX
enfatizando agora a beleza da obra sem ostentação ao sexo. A morte passa a
ser percebida e admirada pela sua beleza retratada pelo romantismo.
Essa mudança na visão de Ariès (2003, pg. 66):

Essa noção de ruptura nasceu e se desenvolveu no mundo das


fantasias eróticas. Passará ao mundo dos fatos reais e ocorridos.
Assim, perderá evidentemente seus caracteres eróticos, ou pelo
menos estes serão sublimados e reduzidos à beleza. A morte não
será desejável, como nos romances macabros, mas sim, admirável
por sua beleza: é a morte a que chamaremos romântica, de
Lamartine na França, da Família Bonte na Inglaterra, de Mark Twain
na América.

Dentro das percepções observadas no texto, o cemitério se desenvolveu


em conjunto com a cidade dos vivos. Traços e modismo de cada período
acompanharam e agregaram estilos também na Arte Cemiterial, o que nos leva
a considerar o espaço dos mortos como um museu a céu aberto pela sua
representação social e patrimonial.
Nesse contexto, o cemitério denota a sua relevância como síntese de
uma sociedade e, dessa maneira, ressalta a riqueza de um espaço que,
anteriormente, era visto apenas como um território sombrio e mórbido
destinados apenas para os mortos.
Assim sendo, inúmeros cemitérios transformaram-se em espaços de
lazer de famílias que exploram o espaço tranquilo e arborizado de forma
contemplativa. Isso demonstra que o espaço não perdeu o seu papel
fundamental que é de resguardar os seus mortos; entretanto, os vivos puderam
atribuir outras viabilidades ao espaço, e assim, interagir com a sua própria
história.

81
4.1 CEMITÉRIOS: EXPRESSIVIDADE COMO PRODUTO TURÍSTICO
NO MUNDO

4.1.1 Cemitério Pére Lachaise

O cemitério Pére Lachaise, localizado em Paris, se diferencia como um


espaço relevante que desvela um segmento cultural singular, encontrando-se
dentro do universo dos Patrimônios Históricos importantes de Paris. Com suas
obras e espaço expressivos, atrai milhões de visitantes ao ano, sendo um dos
mais expressivos do mundo.

Para Afonso (2010, pg. 29):

Na Europa o Cemitério Père Lachaise tem a reputação de ser o mais


famoso, e mais visitado do mundo, além de ser o maior cemitério de
Paris. Calcula-se que mais de três milhões de visitantes passem
pelas suas dependências todos os anos. Conta com o maior número
de celebridades das mais diversas áreas. São mais de 70 mil
sepulturas em uma área de 43 hectares, o equivalente a mais ou
menos 50 campos de futebol.

Figura 25: Cemitério Père Lachaise


Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pere+lachaise&biw

82
No início não houve aceitação por parte da sociedade pelo espaço em
detrimento ao difícil deslocamento até a necrópole no século XIX , porém esse
pensamento foi suprimido mais tarde com o sepultamento de diversas
personalidades como protagonista de uma famosa história de amor medieval
Abelard e Heloise (CEMITÉRIO, 2016).

Foi implementado por Napoleão Bonaparte no século XIX. Com 110 mil
túmulos espalhados por 44 hectares de área a necrópole possui ilustres
personagens que em conjunto com a sua arte tumular atrai um público
expressivo. O cemitério que foi imortalizado pela obra do escritor Honoré de
Balzac que sepultava os seus personagens na necrópole.
Sua implementação foi idealizada pelo arquiteto Alexandre Théodore
Brongniart, sendo uma substituição para os pequenos campos dos mortos que
ficavam na área central de Paris que foram fechados em 1786.
A necrópole foi o primeiro cemitério em seu caráter laico, sendo tolerante
ao sincretismo religioso. Além de obedecer às regulamentações sanitárias o
espaço foi utilizado como um ponto de visitação que, em conjunto com flores e
árvores, dão características de parque, sendo apreciada pelos seus
monumentos e esculturas tumulares.
O local não era aceito pela burguesia como necrópole, porém a postura
mediante ao espaço mudou com as transferências dos restos mortais do
literato Jean de La Fontaine e do dramaturgo Molière. Outro fator que
contribuiu para o aumento dos enterros foi à transferência dos restos mortais
do casal Pedro Aberlado e Heloísa de Paráclito. A necrópole recebe
anualmente dois milhões de visitantes que contemplam o seu contexto histórico
com o auxílio de guias de turismo especializados. 36

36
FIGUEIREDO, Olga Maira. Turismo e Lazer em Cemitérios: Algumas Considerações. 2015.

83
Figura 26: Frederic Chopin
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=pere+lachaise&biw=1138&bih=548&source=lnms&tbm=is
ch&sa=X&ved=0ahUKEwiFt5OE7qTSAhXJE5AKHUj8BIgQ_AUIBygC#imgrc=zdccosyylSuJ7M:

A motivação para a implantação do espaço dos mortos foi a necessidade


de possuir um local condizente para os ricos e também para os pobres que

84
saíram das igrejas ou de seus arredores e necessitavam de um espaço e
identificação.
O espaço foi planejado com diversas ruas para o fácil acesso aos
túmulos, além do aspecto arbóreo que favoreceria um clima ameno. Essas
medidas ajudaram consideravelmente no aumento da visitação estimulada com
outra finalidade, ou seja, outros olhares que fossem diferentes da temática da
morte. Desfrutar desse ambiente mórbido com a perspectiva contemplativa
passou a ser um hábito dos parisienses ou dos visitantes, que passaram a
vivenciar o lazer no cemitério Père Lachaise.
Sua organização geográfica permite uma melhor compreensão sobre os
túmulos e seus períodos observados pelos estilos de época. Os túmulos se
mesclam e é possível vislumbrar desde jazigos de estrutura simples até os
mais adornados e rebuscados, fruto das fases sociais. Essa diversidade de
estilos não se contrapõem, mas sim enriquece o território, criando um universo
de estruturas contextualizadas que representam as sociedades.

Na observação de PERE... (2011):

O Pére Lachaise , que era um bosque , continuou a sê-lo e jamais


perdeu o predomínio paisagístico. Suas sepulturas celebrizadas pelos
nomes dos sepultados, vão desde a estela simples até à estatuária
monumental e às capelas jazigo de enorme riqueza. Todavia, o
distanciamento entre um e outro túmulo, a topografia em aclive, as
veredas até o fim da vista e os caminhos curvos arborizados
permitem um percurso e uma compreensão de todas as datas, desde
os túmulos góticos transladados até o da escultura expressionista de
nossos tempos. […]

Dessa maneira, o cemitério Père Lachaise se destaca pela sua


expressividade na Arte Tumular. Seus túmulos, envoltos de ornamentos,
expressam os gostos e os costumes vivenciados em diversas épocas em uma
sociedade e, são para a atual sociedade, instrumentos importantes do contexto
patrimonial. Assim, é imprescindível a conservação dos seus monumentos e
espaços para que as futuras gerações possam conhecer sua história.

85
4.1.2 Cemitério da Recoleta – Argentina – Buenos Aires

O cemitério da Recoleta foi inaugurado em 1822 com a autorização do


Intendente Torcuato de Alvear. As terras utilizadas foram confiscadas dos
frades recoletos e se localizavam ao lado do Convento e da Igreja Del Pilar. O
primeiro nome intitulado ao lugar foi Cemitério General Del Norte, que
posteriormente foi oficializado para Cemitério de La Recoleta em 1949 pelo uso
corrente dos portenhos.
Seu projeto foi elaborado por arquitetos franceses e seguiu a forma de
um quadrilátero cruzado pela cruz latina na entrada e pela letra X grega que
está contida no monogramo de Cristo.

Figura 27: Cemitério da Recoleta


Fonte: Buenos Aires – Recoleta Cementery -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Buenos_Aires-Recoleta-Cementery-P2090035.JPG

86
Os primeiros a serem enterrados no local foram transladados das igrejas
e de seus pátios. Com o aumento expressivo da cidade devido à imigração
houve a necessidade de implementar reformas urbanas. Com a modernização,
o espaço do bairro do Recoleta sofreu expressiva valorização em decorrência
as intervenções. O cemitério também obteve a sua primeira remodelação para
se adequar à nova infraestrutura da capital, concebendo assim a sua fase de
expansão (BORGES).
Para Borges (2010):

[...] A seguir, em 1870, o cemitério recebeu sua primeira remodelação:


ampliou-se o seu perímetro; o solo foi terraplanado; os terrenos novos
seguiam o modelo de planta com planos delineados por ruas
paralelas, a capela sofreu remodelações realizadas pelo engenheiro e
arquiteto Juan Antonio Buschiazzo, que projetou o atual peristilo e o
muro perimetral [...].

Dessa maneira, o cemitério passou a receber visitantes que buscavam


outras percepções extra morte e vinculadas ao lazer, tornando-se o Cemitério
da Recoleta um importante atrativo na cidade de Buenos Aires, na Argentina
pelo seu rico patrimônio no segmento da Arte Tumular. Dentro desse universo
de mesclas sociais em distintos períodos outro aspecto que chama a atenção,
sendo uma particularidade desse cemitério, é a forma em que a maioria dos
mortos são sepultados dentro dos mausoléus. O caixão não é enterrado e fica
em destaque para apreciação do público. Depois de certo tempo, esses restos
mortais são transferidos para caixas menores e dispostos novamente para que
sejam visualizados. O cemitério abriga formas diversas de obras de arte,
estimulando a visita de inúmeras pessoas que veem o local como um museu a
céu aberto. Os jardins que rodeiam o cemitério também são aproveitados pela
maioria dos seus moradores para a prática de lazer.

87
Figura 28: Cemitério da Recoleta
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=recoleta&biw=1138&bih=548&source=lnms&tbm=isch&sa
=X&ved=0ahUKEwiY8MnQ9qTSAhVCiZAKHfofDNQQ_AUIBygC#tbm=isch&q=recoleta%2C+c
emiterio%2C+caixoes+a+mostra&imgrc=XOZ8Q6VJgiEGzM:

A necrópole da Recoleta é evidenciada pelo sepultamento de inúmeras


celebridades, dentre elas se destacam o túmulo de Evita Perón e os de
presidentes do país como Carlos Pellegrini.

Figura 29: Cemitério da Recoleta (Evita Peron)


Fonte: http://ricardonoronha.blog.uol.com.br/arch2009-03-22_2009-03-28.html

88
4.1.3 Brasil - Cemitério da Consolação – São Paulo

No Brasil o Cemitério da Consolação em São Paulo é percebido como


um espaço expressivo da Arte Tumular. Com seus monumentos ostentatórios
criados por artistas renomados, expõe um vasto universo de expressivas obras,
transformando o espaço em um museu a céu aberto.
O cemitério foi inaugurado em 1858, entretanto a sua construção foi
idealizada em 1829 pela necessidade de alocar os mortos extra igreja. As
novas práticas sanitaristas condenavam o sepultamento nas igrejas pelas
proliferações de doenças ocasionadas pela decomposição dos cadáveres,
além do forte odor constante no interior das mesmas.
À luz dessa informação (Camargo, 2007) apud Assis (2010):

O Cemitério da Consolação foi inaugurado no dia 15 de agosto de


1858, porém sua história se inicia em 1829, época em que o vereador
Joaquim Antônio Alvim teria defendido a construção de um cemitério
público na cidade, visto que o sepultamento no interior das igrejas
vinha sendo combatido pelas teorias higienistas. O mau cheiro
presente no interior das igrejas provinha dos corpos sepultados em
seu interior, sendo, entre outros fatores, uma das causas da
proliferação de doenças daquela época.

Entre as obras que se destacam na necrópole o Mausoléu da família


Matarazzo se diferencia, sendo o maior mausoléu da América Latina. Sua
grandiosidade é observada em um espaço de 150 metros por 20 metros de
altura (AFONSO, 2010).
A necrópole, com seu ar elitista, começou a receber ícones da alta
sociedade que desejavam perpetuar, através dos familiares ou por desejo do
próprio, a imagem do falecido através de expressivas obras de arte. Nomes de
artista renomados como Rodolpho Bernardelli, Galileo Emendabili, Victor
Brecheret, Luigi Brizzolara e Bruno Giorgi mesclam os estilos evidenciando
desde a art nouveau ao modernismo.

89
Figura 30: Cemitério da Consolação Mausoléu da Família Matarazzo
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Luigi_Brizzolara__Mausol%C3%A9u_da_Fam%C3%ADlia_
Matarazzo_02.JPG

O cemitério passou a ser um local de sepultamento de expressivos


nomes da política como o presidente Washington Luís e Prudente de Moraes,
artistas como Tarsila do Amaral, os Barões do Café, entre outras
personalidades (OSMAN, RIBEIRO 2007).
Uma obra que evidencia o valor artístico do Cemitério da Consolação foi
criada por Victor Brecheret, intitulada “O Sepultamento” que foi premiado no
Salão de Outono em 1923, em Paris (AFONSO, 2010).

90
Figura 31: Cemitério da São Paulo – O último adeus
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=recoleta&biw=1138&bih=548&source=lnms&tbm=i
sch&sa=X&ved=0ahUKEwiY8MnQ9qTSAhVCiZAKHfofDNQQ_AUIBygC#tbm=isch&q=
cemiterio+da+consola%C3%A7ao&imgrc=j9VzOuB3o---dM:

Dentro dessa perspectiva da Arte Tumular, os cemitérios vislumbram


outra finalidade que abstêm o contexto mórbido da morte. O que era
originalmente considerado um espaço apenas dos mortos foi assimilando outra
conotação. O espaço começou a receber frequentadores que apreciavam a
estética das obras e a sua riqueza cultural. A curiosidade é um dos veículos
motivacionais que estimulam a visita e a contemplação do cemitério que é
exposto com um museu a céu aberto. Entretanto, o espaço não perde a sua
principal característica de abrigar o corpo e permitir que a sua memória não
seja apagada da genealogia de seus familiares e da sociedade.

91
À luz de Afonso (2010, p. 21):

Cemitérios podem ser considerados sombrios, muitas vezes com uma


imagem negativa relacionada a medo, morbidez e pavor. Entretanto
não dá para negar que são espaços que provocam também fascínio e
curiosidade, e oferecem um mundo de descobertas. Dissociando a
ideia negativa é possível perceber os cemitérios como lugares para
se apreciar obras de arte, conhecer a história e desvendar
curiosidades muito peculiares.

Esses novos olhares despertaram outras necessidades que antes não


eram presentes nesse meio e, de maneira a suprir essas carências, setores da
atividade turística buscam incorporar medidas que se adequem a essa
realidade e atenda às necessidades desse turista, promovendo a sua
satisfação.

92
5 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA NO RIO DE JANEIRO: UM POTENCIAL
TURÍSTICO NO SEGMENTO DA ARTE TUMULAR A SER DESVELADO

Os cemitérios, dentro da percepção da Arte Tumular, vêm demonstrando


o seu teor artístico diferenciado a cada sobreposição da sociedade em que
nele se abriga. Esse novo segmento que desponta como um viés possível de
contemplação dos monumentos necessita de formatações alinhadas às
diretrizes da atividade turística. Assim, segmentando esse novo nicho a ser
explorado como atividade do setor, o potencial consumidor poderá usufruir do
serviço com um novo olhar, desmistificando a visão focada somente na morte.

Para Osman e Riberio (2006, pg. 14):

Sendo assim, é possível desmistificar a concepção que visitar


cemitérios é uma ideia mórbida e lúgubre, apresentando aos seus
visitantes um novo olhar, diferente da imagem de tristeza e de medo
que insistem em rondar esse local. Se visitar cemitérios é visto como
algo exótico, “programa de outro mundo”, como explicar então o
interesse pela visitação de monumentos como o Taj Mahal (na Índia),
as Pirâmides de Gizeh e o Vale dos Reis (no Egito), as Catacumbas
Romanas e as criptas de Igrejas Medievais, os Mausoléus de
Napoleão (em Paris) e o Mausoléu de Lênin (em Moscou)? Antes de
se constituírem em atrativos turísticos de projeção mundial, estes
locais foram antes de tudo concebidos como sepulturas para eternizar
a memória dos ali enterrados.

A priori, com as mudanças surgidas no processo de enterramento as


igrejas, vistas, dentre outros aspectos, como locais de sepultamento deram
lugar a novos espaços extramuros ad sanctus, chamados de campos santos
destinados aos mortos. Com a secularização os cemitérios tornaram-se
planejados, respeitando novos padrões administrativos e médicos. Essa nova
conduta de gerir o espaço trouxe mudanças significativas no modo de se
enterrar como a individualização das sepulturas. Essa mudança foi observada
pelas elites brasileiras como um mecanismo ostentatório da imagem do viático

93
a ser personificado na memória. Reter as lembranças através da grandiosidade
dos ornatos dos túmulos passou apenas de representação pós-vida para ser
também um meio de competição entre essa classe mostrada nas
expressividades das construções cemiteriais.
Para Motta (2009, pg. 75):

Por volta do final da segunda metade do século XIX, o gosto pela


sepultura individualizada tornou-se importante referência para as
elites brasileiras urbanas, que logo se adaptariam aos novos padrões
de uso e apropriação dos espaços cemiteriais, assim como de suas
lógicas de enterramento. Havia alguns anos já construídos, os
primeiros cemitérios brasileiros secularizados passaram a concorrer
entre si pela grandiosidade e luxo exibidos na construção de seus
túmulos e jazigos.

Esse novo padrão apreciado pela elite brasileira originou-se também das
práticas de higiene pregadas pelo mundo e da transitoriedade do espaço por
questões sanitárias que foram aplicadas no Brasil como medida profilática de
maneira a conter os casos de óbitos provenientes da epidemia. A questão
pertinente foi essencial para se repensar o espaço destinado aos viáticos. Por
medida de cautela para não se propagar a epidemia ocasionada pela peste
algumas medidas foram tomadas. Os enterros aos poucos foram suspensos da
igreja, já que tornou-se notório que o miasma derivado dos gases exalados
pelos corpos em estado de putrefação eram um agente contaminador. Outro
ponto era a falta de espaço nesses espaços considerados santos devido ao
aumento considerável de corpos em razão da peste e de outras epidemias que
assolavam o mundo.
Dentro dessa percepção José Pereira, sendo Ministro e parlamentar, foi
responsável pelas medidas destinadas às construções mortuárias no Brasil.
Pelo descaso com que alguns mortos eram tratados, a exemplificar os suicidas
e indigentes, que eram direcionados a valas comuns, o ministro, intitulado o
maior provedor da Santa Casa, instaurou no século XIX o primeiro campo
santo do Calafate. Entretanto o espaço era dispensado a quem morria em suas
dependências. Sua ideia foi replicada pela Ordem de São Francisco e Paula
que inaugurou no Catumbi um espaço para essa finalidade.

94
Na ótica de Gerson (1970, p. 52):

[...] Os mortos, membros de irmandades religiosas e entre estes,


certas categorias de negros, eram enterrados em catacumbas, e por
último já em “gavetas” nas igrejas, indo os suicidas e indigentes para
as valas comuns abertas em terrenos baldios no próprio centro
urbano. Contra esses sistemas, além do mais anti-higiênico, quem
primeiro reagiu foi o grande parlamentar e ministro José Clemente
que a Santa Casa teve, ao instalar em 1839 na Ponte Calafate, no
Cajú, o primeiro dos nossos campos-santos na zona suburbana,
embora destinado ainda exclusivamente aos que morriam nas suas
enfermarias. Inspirada na ideia a Ordem de S. Francisco de Paula
inauguraria era a igreja de São Francisco para a sua “Freguesia”, e
finalmente em 1850 um Decreto Imperial proibia os enterros em
igrejas e criava os cemitérios [..]

Com a proibição dos sepultamentos nas igrejas, estabelecido por


Decreto Imperial, iniciou-se a implantação dos cemitérios nos subúrbios para
os diferentes públicos no país. O primeiro cemitério foi implementado pela
Santa Casa em 1852 no bairro do bairro do Caju e o segundo no bairro de
Botafogo, tendo o início de suas atividades com a inumação de uma menina de
quatro anos. O espaço foi ampliado assumindo assim a Santa Casa uma área
relatada por Gerson (1970): “Adquirida para ele a Santa Casa uma área de
183.123 metros quadrados entre e a rua cumeada do morro, território veio da
em sua maior parte da Chácara de Francisco da Cruz Maia [...]”.
Assim sendo, os cemitérios secularizados passam a ser administrados
por empresas que receberam a concessão para administrarem o serviço
funerário. Em troca, a lei impunha condições para essa exploração, sendo
necessária a implantação, por parte da empresa, de enfermarias próximas ou
hospitais de modo a atenderem os menos favorecidos economicamente.
A Santa Casa obteve a concessão para explorar os cemitérios por
cinquenta anos. Em troca, era solicitado à mesma o auxílio aos pobres que não
podiam pagar pelos serviços prestados em caso de doença e ao sepultamento
caso os entes queridos do morto não pudessem pagar. Porém sua supremacia

95
a esses serviços foi questionada pelo Prefeito quanto ao extenso contrato que
permitia o seu monopólio.
Ratificado por Castro (1899, pg. 322):

O Prefeito deste Distrito Federal, apezar de considerar digno de


encômios o ato do Conselho Municipal, autorizando a renovação com
a Santa Casa da Misericórdia, por prazo não menor de 50 anos, do
contracto dos cemitérios de São Francisco Xavier e São João
Baptista, resolveu não sanciona-lo, afim de proporcionar ao Senado
Federal o ensejo de manifestar-se sobre as duas questões, que o
mesmo Prefeito considera controversas.

As questões pertinentes estavam ligadas ao alcance quanto a


disposição, ou seja, se as obrigações dispostas a Santa Casa estavam sendo
cumpridas e quanto ao seu monopólio cedido pela autoridade municipal.
O autor Clarival retrata a posição da Santa Casa como mantenedora
assistencial dos que estavam à margem do poder econômico e da sua
necessidade em obter a renda proveniente dos dois cemitérios para o sustento
da saúde pública. Esse papel era exercido muitas das vezes em detrimento a
ausência do Estado em suas atribuições, além do também de influenciar o
ensino médio.
Na ótica de Valladares (1970, pg. 757):

[...] Nem um nem o outro jamais estiveram preocupados em


se construir com como patrimônio de arte. Ambas representam fonte
de renda necessária para o sustento do vultuoso orçamento
assistencial da Santa Casa da Misericórdia que por séculos assumiu
os gastos do pior e mais difícil da saúde pública, favorecendo o
Estado, inclusive no campo do ensino médio, até a presente data.

A necrópole São João Batista foi beneficiada pelas transformações


urbanas ocorridas na cidade do Rio de Janeiro. A mobilidade espacial advinda
da eletrificação das linhas de bonde e a modernização das cidades, seguidas
por Pereira Passos, e, desenvolvidas a partir dos princípios modernista do

96
Prefeito de Paris Haussmann favoreceram o deslocamento da população ao
bairro de Botafogo.
Valladares afirma (1970, pg. 760):

No período republicano a data de 1892 é importante para o Cemitério


de São João Batista, pois corresponde a eletrificação de linhas de
bonde do Centro ao Largo do Machado e deste ao Jardim Botânico.
Entre 1903 e 1906, ao tempo do prefeito Pereira Passos, a capital do
país se beneficiaram com uma série de obras – novas avenidas,
Avenida Central [...]

Outro ponto também de extrema relevância, estimulando o acesso ao


bairro é visto no governo de Serzedelo Correia, exposto por Valladares (1970):
“[...] cria-se o novo bairro de Copacabana, grandemente melhorado no período
do prefeito Paulo de Frontin, iniciado em 1918. Alaor Prata (1920 – 1026)
ampliou o Túnel Velho, ligando Copacabana a Botafogo ao lado do Cemitério
São João Batista.”
Dessa maneira, o bairro transformou-se em reduto da elite que era
expressão na alta sociedade. A necrópole, como não podia deixar de exercer o
seu papel, também foi partícipe desse desenvolvimento sincrônico da
sociedade, assumindo esse caráter elitizado. Assim, o Cemitério São João
Batista passou a receber ilustres personalidades destacando-se nas esferas da
arte, política e forças armadas, entre outros.

97
Figura 32: Visita ao túmulo de Sylvia de Barros Martins Costa, em 1913 no Cemitério
São João Batista.
Fonte: https://www.flickr.com/photos/carioca_da_gema/59006475/in/photostream/lightbox/

Assim, visitar o espaço fúnebre no Dia de Finados era sinônimo de


status. Ter um ente querido repousando em um território com inúmeras
personalidades ilustres da história era sinônimo de ostentação. Ou seja,
percorrer o cemitério em busca do jazigo de um parente era mais do que um
ato saudosista. Ser notado nesse espaço denotava, a esse agente, prestígio
por pertencer a uma seleta classe que podia sepultar os seus mortos com
pompas e requintes.
Para Valladares (1972) apud Motta (2010, pg.61):

Como sugere Clarival do Prado Valladares (1972), enquanto que o


Cemitério da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de
Paula, no Bairro do Catumbi, inaugurado em 1850, tornara-se o lugar
predileto para o sepultamento da elite nobiliárquica do Império, com
seus marqueses, condes, barões, conselheiros, comendadores,

98
tenentes-coronéis e outros titulares da guarda nacional, além de
proprietários de terras e de escravos, o Cemitério de São João
Batista, construído em 1852, no bairro de Botafogo, ocupou esse
papel durante a República, acolhendo figuras importantes da vida
pública do país: políticos, chefes de estado, banqueiros, prósperos
comerciantes, humanistas, altas patentes militares, bem como
segmentos da nova burguesia endinheirada e ascensionária da
época.

Sua planta demonstra o seu espaço urbanizado. São quadras regulares


tendo em seu centro um Cruzeiro expressivo em granito fluminense. Seu
pórtico foi trabalhado em blocos de granito fluminense conhecido como olho de
tartaruga e seu gradil complementa a majestosa obra. Esse minério também
serviu para a construção de relevantes obras como a Igreja da Candelária e a
Casa da Moeda, dentre outros (VALLADARES, 1972).
O monumental pórtico que chama a atenção pelo seu expressivo portão
de 4,60 m de largura recebe como sustento pilastras de cantaria de granito
gnáissico que, comportando o arco em conjunto, medem o tamanho de 10,10
m, integrando assim, a arquitetura do pórtico. (VALLADARES, 1972).

99
Figura33: Pórtico do Cemitério São João Batista
Fonte: Própria autoria

A necrópole do São João Batista no Rio de Janeiro mescla diversos


estilos que não se sobrepõem através do tempo. Pelo contrário, a arte tumular
exposta pelos períodos representa sociedades com gostos e preferências que
se basearam na essência europeia. O neoclassicismo representado nos
túmulos trazidos de Portugal cede espaço ao romantismo com as suas

100
nuances florais, desvelando a ternura dos sentimentos. Os cemitérios
oitocentistas mostram a exuberância da Art Nouveau, traço marcante no
Cemitério de São João Batista, que expõe a cultura de uma sociedade que
desejava ser percebido como europeia.
Assim, os túmulos começaram a exercer o papel de diferenciador de
classes que, com os seus suntuosos adornos, buscam ratificar o poder dos
mais abastados mesmo após a morte. Nessa percepção tanto na vida quanto
na morte a separação entre ricos e pobres é uma constante.
Na visão de Valladares (1972, pg. 765):

Naquele campo santo o neoclassicismo dos túmulos importados de


Lisboa some de vista e cede lugar a uma nova linhagem de arte
cemiterial. A princípio ainda em termos de derradeiros suspiros do
romantismo, para logo predominar exuberância do art nouveau, no
estilo do último decênio dos oitocentos, ressonante nos cemitérios
brasileiros até novecentos e trinta. Este é o período que confere a
aparência dominante do São João Batista Seu acervo tumulário
reflete uma sociedade metropolitana desejosa de parecer mais
europeia. Quando os jazigos não eram importados da França e Itália,
haviam de ser lavrados por nossos artistas de linhagem alienígena.

A necrópole assume, assim, um papel importante na sociedade carioca.


A Revista da Semana de 1925 descreve o modo com que a sociedade expõe
os seus sentimentos e afetos perante a morte. A coluna da Eva relata a
visitação ao cemitério São João Batista em um dia de finados. Célia (1925, pg.
18) ratifica a informação: “[...] São João Batista o cemitério chic proporciona a
seus mortos uma festa de finados digna da sua reputação de elegância. ”
Senhoras desfilando com os seus carros de luxo contrastando com os
pedintes ou comerciantes de flores. Os entreolhares da elite cumprimentando-
se, palestrando, trocando sorrisos ou até mesmo observando a ostentação dos
túmulos do próximo mostra o cemitério como um espaço destinado ao
espetáculo. A saudade contracena-se com a vaidade em denotar a
grandiosidade da escultura tumular do ente querido destacada das demais.
O cemitério também é relatado por Célia (1925, pg. 18): como um
espaço de lazer: ”A doçura da tarde a diversidade da turba circulando entre a

101
brancura dos mármores commemorativos dão a este scenario de fúnebre
socego o alacre aspecto de uma garden - party ou de um pic-nic.”.
Outro colunista que retrata o dia de finados nessa necrópole é
Escragnolle Doria, que assina sua coluna intitulada IDOS, descrevendo o
cemitério no dia dos mortos.
Para Doria (1925, pg. 16):

Outros annos, outros costumes, mas sempre e sempre os mesmos


idos, as mesmas enxadas abrindo terra, a mesma terra cobrindo
corpos, trazidos diariamente os convidados dos enterros ao
espetáculo da promessa que não falha.
A civilização, nos cemitérios, vae por fim enfeitando a morte com as
pompas da existência, dando-lhe as estátuas, os monumentos, os
bustos, os jazigos, os epitáphios, os vasos, os mármores, os jardins,
tudo o que adorna, disfarça, attenua, encobre ou opia o terror da
angustia final.

Para se destacar dos demais da elite carioca, os mais afortunados


solicitavam os serviços dos artistas renomados da época para a criação das
obras que iriam representar o morto pela eternidade. Os artistas vinham de
escolas da Europa, trazendo novos tendências e estilos empregados em obras
expostas nas cidades e também sendo representadas na Arte Tumular das
necrópoles do Brasil como o cemitério da Consolação em São Paulo e o
cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.
Artistas como Rodolpho Bernardelli, que possui inúmeras obras
registradas na necrópole. Ratificando essa afirmação Godoi (2003) menciona:
“O Cemitério São João Batista possui uma coleção de 64 esculturas de
Rodolpho Bernadelli (1852-1931), formado pela Academia Imperial de Belas
Artes.”

102
5.1 NECRÓPOLE SÃO JOÃO BATISTA DENTRO DA NOVA GESTÃO
RIO PAX

Dentro do período de atuação da Santa Casa de Misericórdia, muitas


irregularidades foram evidenciadas pelos veículos midiáticos, questionando o
papel da mantenedora, visto outrora como de excelência no auxílio aos mais
necessitados. Entretanto o contexto paisagístico do cemitério denotava as
diferenciações entre ricos e pobres. A opulência de uma classe que buscava
cristalizar a sua memória antagoniza com outra classe que era enterrada nas
subidas do Morro de São João, sem qualquer preocupação artística na
retenção memorial.
Outro ponto focal era a desorganização espacial observada pela
construção de túmulos que ocupavam espaços inapropriados, ocasionando
perdas de ruas como a Aléa três. Nessa observação de conduta se destaca
também a criação de túmulos nas escadarias do cemitério, o que revela a
conivência da administração as práticas irregulares, ou seja, com o mote não
mais focado na filantropia, mas sim direcionado à obtenção de receitas.
Para Nogueira (2011, pg. 7):37

O inchamento populacional na zona sul da cidade a partir da metade


do século XX foi percebido também dentro do cemitério, com túmulos,
jazigos e mausoléus ocupando cada vez mais espaços, inclusive os
inapropriados. Considerando a feição caótica atual do Cemitério São
João Batista, onde sepulturas do século XIX convivem com outras
tantas do século seguinte, é possível perceber uma segregação do
espaço semelhante àquela ocorrida anteriormente na cidade, onde os
abastados ocupam a parte plana e a população pobre “sobe” o morro,
e ocupa as encostas, neste caso, com pequenas e discretas gavetas.

Sob diversas acusações de irregularidades o provedor da Santa Casa


Dahas Zarur, que faleceu em 2014, acumulou uma fortuna expressiva com as
práticas ilegais implementadas em sua administração nas necrópoles. Foram

37NOGUEIRA, Renata de Souza. Descobrindo o art-dèco no Cemitério São João Batista. 9º


seminário docomomo Brasil interdisciplinaridade e experiências em documentação e
preservação do patrimônio recente Brasília . junho de 2011 . www.docomomobsb.org

103
mais de trinta e cinco imóveis vendidos no período de vinte anos em sua
gestão, rendendo a ele a construção de um império.
Dentro dessa ótica Araújo (2013): 38

[...] No dia 7 de julho, o “Fantástico”, da TV Globo, revelou um


esquema criminoso que envolve a venda ilegal de sepulturas em três
dos 13 cemitérios públicos administrados pela Santa Casa. A
Delegacia Fazendária da Polícia Civil instaurou inquérito para
investigar se houve crime contra a administração pública nos
cemitérios São João Batista (Botafogo), Caju e Cacuia (Ilha do
Governador). O programa mostrou que os túmulos são vendidos e
construídos ilegalmente por R$ 150 mil o metro quadrado em áreas
mais nobres do cemitério ou em locais que já têm dono. Um
funcionário chegou a acusar Zarur de participar do esquema. A
delegada Izabela Santoni, que investiga o caso, já pediu informações
sobre os imóveis de Zarur e de parentes dele no 5º e no 6º Ofícios de
Registro de Distribuição:
— Estamos analisando a evolução patrimonial de Dahas
Zarur e da família para tentar identificar se há alguma irregularidade
na aquisição dos bens ou vínculo com o patrimônio da Santa Casa.
Vamos investigar se há indícios de lavagem de dinheiro — explicou a
delegada.[...]

Após o longo período de intervenção da Santa Casa Misericórdia a


administradora Rio Pax assumiu a necrópole em 2014 por 35 anos. O
monopólio centenário da Santa Casa de Misericórdia encerra o seu legado em
seis cemitérios do Rio de janeiro. Nascimento (2014) menciona:39 “A Rio Pax
ganhou o direito de concessão por 35 anos do chamado lote 2, que tem os
cemitérios São João Batista (Botafogo), de Jacarepaguá, Irajá, Inhaúma,
Campo Grande e Piabas (Vargem Grande). ”
Dentro dessas mudanças de recadastramento dos jazigos e novas
práticas de serviços e tarifas foi percebido também alterações significativas no
espaço cemiterial. Na vertente virtual é divulgado, no momento apenas para

38 ARAUJO, Vera. Dahas Zarur, provedor da Santa Casa, negociou 35 imóveis em 20 anos.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/dahas-zarur-provedor-da-santa-casa-negociou-35-
imoveis-em-20-anos-9344861#ixzz4ZkLmqXKD

39 NASCIMENTO. Christina. Monopólio Centenário no Fim. 29014. Disponível em:


http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-08-13/monopolio-centenario-no-fim.html

104
ilustres personalidades, o projeto cultural da Rio Pax que utiliza códigos de QR
Code para obter informações dos ilustres. O aplicativo, que pode ser utilizado
em smartphones, direciona o usuário, através dos códigos, à biografia, fotos e,
vídeos do artista desejado.
A luz da afirmação para Queridos... (2017):40

No Rio de Janeiro, a exemplo dos cemitérios mais conhecidos do


mundo, os milhares de visitantes do São João Batista também podem
conhecer ou lembrar detalhes da vida de seus heróis e ídolos
enquanto caminham pelas obras assinadas por grandes nomes das
artes plásticas e da arquitetura tumular. Mais de duzentos códigos QR
Code, criados para celulares com internet, estão identificando os
túmulos escolhidos para o novo roteiro de interesse turístico da
cidade que completa 450 anos. Quem aponta smartphones ou tablets
para os códigos descobre biografias, fotos, vídeos e outras
curiosidades.

Dentro do enfoque digital o cemitério São João Batista foi o primeiro


cemitério da América Latina a ser mapeado pelo Google Street View, sendo
possível a visitação virtual em um ângulo de 360º pelas aléas e túmulos do
espaço.

40 QUERIDOS. Projeto Cultural Rio Pax. Data de acesso: Fev. 2017. Disponível
http://qridos.com.br/projetos-culturais/sao-joao-batista

105
Figura 34: Google Street View – São João Batista
Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/cemiterio-sao-joao-batista-o-primeiro-no-google-street-view-
17655264

Com a nova administração regida pela Rio Pax o cemitério ganhou um


novo layout mais organizado e limpo. As esculturas dos sepulturas dispostas
na ala principal receberam jatos de areia para o clareamento, promovendo uma
limpeza de forma mais detalhada. Também nos túmulos principais foram
replantadas flores que produzem ao espaço ares de conservação e beleza.

Figura 35: Alameda principal – São João Batista


Fonte: Própria autoria

106
Podemos observar as diferenciações entre as gestões pela escultura
retratada abaixo. A primeira ilustração denota o túmulo expressivo de Orville
Derby com uma coloração escurecida pelo tempo e a poluição do entorno. Na
segunda figura o túmulo destoa dos demais elementos pela claridade devolvida
ao bloco de calcário rústico adquirida pela limpeza através do jato de areia.

Figura36: Escultura Orville Derby – Gestão Santa Casa


Fonte: Própria autoria

107
Figura 37: Orville Derby – Gestão Rio Pax
Fonte: Própria autoria

Em novembro de 2016 e fevereiro de 2017 foram realizadas duas visitas


técnicas no cemitério São João Batista com o historiador Milton Teixeira. As
visitas são agendadas pelo próprio site do Cemitério São João Batista, que
realizada, em parceria com historiador, uma visita mensal. Não existe custo
para a participação no evento, entretanto no final de cada Tour é solicitada uma
contribuição para o guia.
A rota começa pelo portão principal, que se situa na Rua General
Polidoro, com o horário de início previsto para as nove horas da manhã. Para
iniciar o tour é enfatizada a história das sociedades e seus rituais fúnebres. A
questão de salubridade e o processo da fragmentação entre as igrejas e os
sepultamentos também são comentados para dar embasamento ao surgimento
da necrópole. As gestões também são citadas e, com isso, são elencados
pontos positivos e negativos das administradoras que geriram e gerem o
espaço.

108
A alameda principal é o ponto de partida onde é feita uma comparação
com o logradouro mais caro do Rio intitulado “Vieira Souto” cujo metro
quadrado é o mais oneroso da cidade. Para a compreensão de valores é feita a
comparação dos espaços entre o mundo dos vivos e dos mortos. Um
apartamento de cinquenta metros quadrados no mesmo bairro custaria o
mesmo que um simples jazigo no valor de R$ 450.000,00. Os túmulos são
destacados pelo teor histórico da vida do morto, ou seja, os túmulos, mesmo
com a sua riqueza tumular não são trabalhados, em sua grande maioria, o que
é destacado é a vida dos personagens e suas particularidades.
A rota contempla aproximadamente vinte sepulturas de artistas que
foram destaques na sociedade, sejam eles no campo acadêmico, histórico,
artístico ou por alguma curiosidade que marcou a sua trajetória terrena. Dentre
eles: Carmen Miranda, Santos Dumont, Carlos Prestes, Elke Maravilha,
Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, Família Prudente de Moraes,
Cazuza, Clara Nunes, dentre outros.
Na metade do percurso o grupo depara-se com a representação artística
do ator Tiago Azevedo, que retrata a vida de um personagem ilustre que foi
sepultado no cemitério. Na primeira visitação foi representada a vida do poeta e
ator Mario Lago e no segundo Tour foi destacada a vida da artista Elke
Maravilha.

109
Figura38: Representação – Mário Lago
Fonte: Própria autoria

Figura 39: Túmulo de Clara Nunes


Fonte: Própria autoria

110
Figura40: Representação – Elke Maravilha
Fonte: Própria autoria

O City Tour realizado finaliza com aproximadamente duas horas de


duração, fechando o seu ciclo com perguntas pertinentes à temática. Outras
divulgações de Tours são feitas nesse término como a visitação ao Cemitério
do Caju ou fora da temática, roteiros realizados no Centro do Rio ou
Copacabana que abordam outros assuntos.
Assim, observa-se que a escolha de uma obra mortuária requer mais do
que um capricho efetuado pela opção da obra que, muitas vezes, foi escolhida
pelos familiares do viático. Representar a vida de um agente social em uma
única obra é buscar compreender a sua profunda essência e, assim, perpetuar
uma particularidade expressiva através das sociedades, pois a maior angústia
desvelada ao medo da morte é o medo de ser esquecido da memória de uma
sociedade.

111
5.2 PESQUISA SOBRE A VIABILIDADE DO CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA
COMO ATRATIVO TURÍSTICO

Com o intuito de obter conhecimento sobre a possibilidade de


implementar o Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, como atrativo
turístico, realizou-se uma pesquisa qualitativa entrevistando quinze pessoas,
com emprego de formulário composto por perguntas objetivas e discursivas.
Além desse instrumento, a autora fez uso da técnica da observação
participante, uma vez que se integrou ao grupo para a visitação programada
para o circuito.
Os formulários foram aplicados em duas etapas. Na primeira, que foi
realizada no dia 24 de novembro de 2016, a autora participou do Tour e no final
do evento obteve os e-mails dos participantes para a aplicação do questionário
de forma virtual. O meio utilizado não obteve um resultado satisfatório: dos
dezesseis endereços eletrônicos cadastrados apenas houve o retorno de cinco
questionários por e-mail. A segunda etapa foi realizada no dia 23 de fevereiro
com a participação da autora no Tour, que aplicou de forma direta os
questionários, obtendo um resultado satisfatório com o preenchimento dos dez
participantes.
De forma a avaliar a nova administração da necrópole foi elaborado um
questionário específico para a compreensão da nova gestão da Rio Pax
atrelada ao viés turístico, entretanto não houve o retorno do gestor que ficou
incumbido de responder ao questionário. Nota-se que a comunicação com
ambas as gestões do cemitério trabalhado continua difusa e carente de
conhecimentos mais concretos, denotando que o receio maior na transparência
das informações está atrelado ao mundo dos vivos e as suas regulamentações.
O questionário continha dezenove perguntas (entre abertas e fechadas)
que procurava compreender a percepção dos participantes diante do espaço
cemiterial como possibilidade de se estabelecer um vínculo turístico.

112
A maior parte dos respondentes era composta por homens (10)
enquanto as mulheres contabilizaram (5) dos participantes. Quanto à faixa
etária (figura ) 33% constituem-se de pessoas com idade entre 21 a 30 anos,
27% entre 41 e 50 anos e 20% para as idades acima de 50 anos e para a faixa
entre 31 a 40 anos. A faixa etária sem representação foi a de 20 anos.

Idade
Até 20 anos
0%

Acima de
50 anos De 21 a 30
20% anos
33%
De 41 a 50
anos De 31
27% a 40
anos
20%

Figura 41: Distribuição da amostra pesquisada por faixa etária


Fonte: Elaboração própria

No que se refere à variável nível de escolaridade, verificou-se que 40%


dos entrevistados tinham o nível superior incompleto, enquanto o nível superior
completo era de 27%. Pós-graduação ficou com 20% enquanto o nível médio
completo foi de 13%.

Escolaridade Nível
Médio
incompleto
fundamental 0% Médio
0% completo
13%
Pós-
graduação
20%

Superior Superior
completo incompleto
27% 40%

Figura42: Distribuição da amostra pesquisada por escolaridade


Fonte: Elaboração própria

113
A respeito da faixa salarial dos entrevistados (figura), 54% recebem
entre 1 e 3 salários mínimos, entre 3 e 5 salários correspondem a 20%, de 5 a
8 salários são recebidos por 13% sendo o mesmo percentual para valores
acima de 8 salários.

Não
possuo Faixa salarial Até um salário
renda
Acima 0%
0%
de 8
salários
13%
Acima de 5 até
8 salários
13%
Acima de 1 até
Acima de 3
3 salários
até 5
54%
salários
20%

Figura 43: Distribuição da amostra pesquisada por faixa salarial


Fonte: Elaboração própria

Referente à motivação, 54% dos participantes são atraídos pela


curiosidade, 33% dos visitantes foram motivados pelo conhecimento, enquanto
13% dos participantes foram fazer o city tour e além de rever os parentes
sepultados no espaço.

Motivação para fazer o City Tour


Compl. de
horas/estágio para
faculdade Outros Outros
0% 13%
-Parente enterrado no cemitério
Curiosidade
Conhecimento 54%
33%

Figura 44: Distribuição da amostra pesquisada por motivações


Fonte: Elaboração própria

114
No que se refere à visitação a um atrativo mórbido, 80% dos
participantes nunca participaram de um evento com essa temática e apenas
20% já fizeram esse tipo de Tour, apontando os cemitérios como atrativos.

Visita a um atrativo mórbido

Sim
-Consolação
20%
-Caju
-Cemitério

Não
80%

Figura 45: Distribuição da amostra pesquisada por atrativos mórbidos


Fonte: Elaboração própria

Referente ao conceito Arte Tumular 60% dos participantes não


conheciam esse conceito nem a sua associação com a necrópole. 40% dos
que visitaram o espaço já conheciam ou ouviram falar sobre a arte em
cemitérios.

Conhecimento sobre o tema Arte


Tumular

Sim
40%

Não
60%

Figura 46: Distribuição da amostra pesquisada pelo tema Arte Tumular


Fonte: Elaboração própria

115
A utilização de um guia para a visitação dos sepulturas foi um diferencial
para todos os participantes que opinaram com 100%, mostrando a relevância
do guia nesse City Tour.

Guia como diferencial Não


0%

Sim
100%

Figura 47: Distribuição da amostra pesquisada pela relevância do guia no Tour


Fonte: Elaboração própria

No que se refere à não utilização do guia de turismo no circuito 77%


consideram primordial o papel do guia no Tour. 15% não quiseram opinar e 8%
se declaram aptos para fazer a visitação através das próprias informações do
cemitério.

Intepretação com o guia

Sim
Não
8%
respondeu
15% Comentários

-O guia tem o conhecimento;


-Visitantes não tem o
conhecimento técnico.

Não
77%

Figura 48: Distribuição da amostra pesquisada pela interpretação com o guia


Fonte: Elaboração própria

116
Sobre a característica mais marcante que deve predominar em um guia
60% dos entrevistados enfatizam o conhecimento técnico como sendo uma
característica relevante. 33% escolheram todas as opções além de
adicionarem traços de humor e observação nas características e 7%
escolheram a boa retórica.

Característica marcante

Outros
Outros
-Humor
33%
-Todos
-Observação
Conhecimento
técnico
60%

Boa retórica
7%

Figura 49: Distribuição da amostra pesquisada pela característica marcante


Fonte: Elaboração própria

Com relação à postura do guia de turismo em um Tour Cemiterial 60%


enfatizam o comprometimento como elemento importante da postura de um
guia. 27% destaca o conhecimento como tema relevante na conduta. Pontos
como humor e abstenção de preconceitos tiveram 7% de opiniões e 13% não
quiseram responder

Postura de um guia
Conhecimento
NR 27%
Sem preconceitos 13%
7%
Humor
7%

Pro- ativo Comprometido


6% 40%

Figura 50: Distribuição da amostra pesquisada pela postura do guia


Fonte: Elaboração própria 117
A maior parte dos respondentes escolheu todo o contexto como opção
de resposta. 27% opinaram como traço relevante a arte tumular. As atrações
vinculadas aos túmulos dos artistas e túmulos históricos ficaram com 13%
cada.

Atração no espaço cemiterial


Todo o contexto
Túmulos
-Túmulo histórico e arte
históricos
tumular.
- Túmulo histórico, arte 13%
tumular e túmulos dos
Artistas. Todo o contexto
-Túmulos dos Artistas e 47% Arte Tumular
a temática morte. 27%

Os túmulos dos
Temática morte artistas
0% 13%

Figura 51: Distribuição da amostra pesquisada pelos elementos atrativos cemiteriais


Fonte: Elaboração própria

Com referência a um possível dilema ético, 93% afirmaram não haver


dilema ético para fazer a visitação ao cemitério. 7% não opinou sobre a
pergunta destacada.

Sim Dilema ético


0%

NR
7%

Não
93%

Figura 52: Distribuição da amostra pesquisada por dilema ético


Fonte: Elaboração própria

118
Sobre a existência de rituais que antecedem a visita, 73% dos
entrevistados relataram não ter nenhum ritual de proteção que ocorra antes da
visitação. 14% utilizam orações e saudações aos mortos mencionando ser um
ritual de respeito. 13% não quiseram opinar sobre o tema.

Rituais pré-visitação

Sim
NR Sim
13% 14% -Oração
-Respeito aos
mortos
(cumprimento)

Não
73%

Figura 53: Distribuição da amostra pesquisada por rituais


Fonte: Elaboração própria

Dentro do conceito de traço relevante na visitação 60% dos


respondentes observaram pontos importantes no cemitério São João Batista.
33% não notaram nenhum elemento que fosse destacado no contexto
cemiterial e 7% não quiseram opinar.

Traço relevante na visitação

NR SIM
7%
-Mausoléus;
-Interpretação do
Não artista;
33% -Arte Tumular;
Sim -Parente enterrado;
-Paz e misto de
60%
tristeza;
-Deterioração de
alguns túmulos;
-Informações

Figura 54: Distribuição da amostra pesquisada por traço relevante


Fonte: Elaboração própria

119
Referente aos pontos positivos e negativos na visitação à necrópole,
40% enfatizaram a história como temática relevante. 33% optaram pela Arte
Tumular. 13% viram como ponto de destaque a explicação do historiador.
Túmulos dos artistas obtiveram 7% em conjunto com a opção de não
responder a essa pergunta.

Pontos positivos
Explicação do
historiador
13% NR
7%

Túmulo dos
Arte tumular
famosos
33%
7%

História
40%

Figura 55: Distribuição da amostra pesquisada por pontos positivos e negativos


Fonte: Elaboração própria

Sobre as interpretações obtidas na visitação ao cemitério 27%


destacaram tanto a sensibilidade artística quanto a fonte de conhecimento
como temas importantes para a compreensão do Tour e a sua proposta. 13%
relataram satisfação ao vivenciar o espaço em conjunto com a possibilidade de
o espaço ser trabalhado como atrativo turístico. 7% apreciaram o espaço de
forma distinta não ligando o passeio ao objetivo principal do cemitério, a morte,
seguindo de 7% que não quiseram opinar.

120
Desigualdades
Satisfação Intepretações do Tour nos túmulos
com o Tour 6%
13%

NR
7% Sensibilidade na
Apreciar fora da apreciação
temática da morte artística
7% 27%
Potencial
turístico
Fonte de
13%
conhecimento
27%

Figura 56: Distribuição da amostra pesquisada por interpretações do Tour


Fonte: Elaboração própria

No que se refere à indicação do City Tour a um amigo, 93%


recomendariam a visitação pela interpretação que obtiveram na visitação a
necrópole. 7% não indicariam.

Indicação do City Tour

Não
7%

Sim
93%

Figura 57: Distribuição da amostra pesquisada por indicação ao Tour


Fonte: Elaboração própria

121
Sobre o valor praticado pela visitação ao espaço cemiterial com o
acompanhamento de um guia, 87% pagariam pelo serviço, porém 13%
acreditam não necessitar de pagamento pelo ato de guiamento a visitação a
necrópole.

Preços
Preço do City Tour
sugeridos em
reais:
Não
- 50,00 (2) 13%
- 30,00 (2)
- 25,00 (1)
- 20,00 (1)
- 15,00 (2)
- 10,00 (3)

Obs.: Quatro
não Sim
estipularam 87%
preço.

Figura 58: Distribuição da amostra pesquisada pelo pagamento e sugestões de preços para o
Tour
Fonte: Elaboração própria

6 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA COMO PRODUTO TURÍSTICO

A atividade turística é um fenômeno recente dentro do contexto


organizacional, entretanto o ato de se deslocar pelo mero prazer da experiência
é primitivo. A priori o deslocamento era realizado de forma rudimentar, ou seja,
não havia uma infraestrutura que atendesse a esse cenário.
Com a Revolução Industrial na fase das benesses trabalhistas, o
deslocamento em prol do hedonismo alavanca. Nesse novo panorama, o
turismo amador começa a destoar devido à necessidade de permanência no
mercado. Planejar a atividade é vital para a sobrevivência dos setores ligados
de forma direta ou indireta ao fenômeno, visto que, as agências, os destinos,
os países, dentre outros se nutrem do Turismo.

122
Mesmo com todos os benefícios ligados ao turismo nem todos os
espaços são viáveis para a atividade. Além da infraestrutura necessária para
que esse processo ocorra de forma satisfatória, o grau de atratividade de um
destino, monumento, restaurante, dentre outros elementos do sistema, irá
depender da quantidade demanda.
O ponto inicial para analisar o valor dos atrativos culturais e naturais de
um lugar é através do inventário. Com esse instrumento que se insere no
planejamento turístico, pode-se elencar todos os elementos que são relevantes
para a atividade. Nesse processo de inventariar é essencial definir os
elementos pertinentes ao patrimônio natural e cultural. Assim para desenvolver
as potencialidades turísticas de uma determinada região é imprescindível o
planejamento, ou seja, é essencial que exista confiabilidade nos dados a serem
trabalhados para que as tomadas de decisões sejam mais assertivas,
objetivando através dessa medida, o aperfeiçoamento constante. Como
instrumento do planejamento, o inventário possibilita o conhecimento
aprofundado dos elementos que comporão o Sistema Turístico de um lugar.
Para INVENTÁRIO... (2011):41

Inventariar significa registrar, relacionar, contar e conhecer aquilo de


que se dispõe e gerar informação, para pensar de que maneira se
pode atingir determinada meta. No caso do turismo, o inventário
consiste em levantar, identificar, registrar e divulgar os atrativos,
serviços e equipamentos turísticos, as estruturas de apoio ao turismo,
as instâncias de gestão e outros itens e condições gerais que
viabilizam a atividade turística, como base de informações para que
se planeje e gerencie adequadamente o processo de
desenvolvimento.

Através desse conhecimento gerado pela inventariação o planejamento


poderá ser traçado com o foco nas especificidades do lugar, desenvolvendo
assim, o seu segmento a ser trabalhado.
Dessa forma, no setor turístico a segmentação dos produtos e serviços
possibilitou uma melhor compreensão de cada nicho e a necessidade de torná-

41
Inventário da Oferta Turística. Roteiros do Brasil. Programa de Regionalização do Turismo. Ministério
do Turismo. 2011

123
los produtos mais próximos aos anseios de um turista mais humano e
perceptível às mudanças globais.
Dentro dessas múltiplas variantes de segmentações no turismo o espaço
cemiterial desponta como um viés possível, pela sua expressividade cultural e
artística, de ser trabalhado como produto turístico. Esse destaque é respaldado
pelo próprio método de inventariação através dos formulários implementador
pelo INVTUR (Sistema de Inventariação da Oferta Turística) como observado
na figura.
Os formulários são pertencentes à categoria C direcionados aos
Atrativos turísticos, dentre dele estão: Elementos da natureza, da cultura e da
sociedade – lugares, acontecimentos, objetos, pessoas, ações – que motivam
alguém a sair do seu local de residência para conhecê-los ou vivenciá-los.
Assim, dentro do universo turístico, o segmento da Arte Tumular
desponta como recente possibilidade para atrair números expressivos de
visitantes ávidos em conhecer símbolos históricos, por exemplo, dentro de um
contexto cultural. Internacionalmente, cresce a oferta por atrativos voltados
para o contexto cemiterial, o que torna esse segmento um campo fértil para
pesquisas e aumento da oferta através do um planejamento pautado na
sustentabilidade.

124
Figura 59: Formulário de inventariação
Fonte: Site INVTUR

125
6.1 FORMATAÇÃO DO PRODUTO TURÍSTICO: OLHARES URBANOS NA
NECRÓPOLE

Dentro do cenário pesquisado, procurou-se traçar dois roteiros turísticos


no cemitério São João Batista. Optou-se em dividir em duas rotas o tour,
intitulados: Roteiros Histórico/Artísticos e Roteiros dos artistas.
Para a formatação dos circuitos foram elencados oito sepulturas de cada
segmento. A opção de escolha baseou-se na relevância da personalidade e na
representação memorial.
Para que esses dois roteiros possam ser implementados é essencial que
a visitação seja conduzida por um guia. Nesse contexto, o guia é um elemento
essencial para que o trajeto seja demonstrado de forma clara, objetiva e
eficiente. Por esse papel de destaque, discorremos sobre a função do guia no
contexto amplo e diversificado, enfatizando o guia cemiterial com a aplicação
de dois questionários com a visão holística de quem se enquadra no mercado
direcionado à Arte Tumular. As perguntas foram direcionadas de forma virtual a
duas guias que são referência no segmento: Angela Arena, historiadora que
trabalha na empresa Graffite e Clarissa Grassi, autora de diversos livros nessa
temática, fazendo também o guiamento no cemitério São Francisco de Paula
em Curitiba

126
Questionário I

Guia de Turismo Ângela Arena

1- Quanto tempo atua como guia de turismo nesse segmento


"mórbido"?

Em torno de 7 anos.

2- Trabalha vinculado a uma agência ou é freelance

Freelance.

3- Quem implementou o roteiro? (Gestão do cemitério, agência, guia,


outros)
Operacional agência, pesquisa histórica guia (Angela Arena)

4- Quais são os pontos relevantes que você elenca no tour?

Todos os pontos são relevantes porque são pautados em fatos


históricos, mas o que mais impacta é a visita na casa da Yaya e o
Castelo da Rua Apa, ambos retratam uma tragédia que culminou duas
famílias da alta sociedade do início do século XX. Percebe-se que os
turistas se chocam com esses fatos.

5- O que os visitantes gostam de apreciar?

Embora o roteiro é de conhecimento prévio, percebe-se que em cada


ponto apresentado os turistas se surpreendem, pelo fato de conhecer as
histórias e curiosidades.

6- Existe algum protocolo de conduta para a realização dessa


visitação?

Nos locais visitados, sempre há uma comunicação prévia. Mas no que


se refere ao Cemitério é necessário solicitar uma autorização ao Serviço
Funerário da Prefeitura.

127
7- Como deve ser a postura de um guia nesse espaço?

Em todos os roteiros realizados é primordial o respeito ao local visitado,


sobretudo em locais públicos, igrejas e cemitérios, que exercessem a
sua atividade original. Esse roteiro, “mórbido”, toca-se em assuntos
sobre o mundo da morte, para isso o discurso deve ser leve, mas não se
esquecendo do seu lado histórico e cultural. O turista encerra o roteiro
adquirindo mais conhecimento sobre o tema e sobre os locais
pontuados. Acredito que o objetivo de qualquer roteiro é o aprendizado.

8- É passado algum procedimento aos visitantes quanto a conduta


antes do tour?

Sim, com relação à fotos e à condução do grupo no Cemitério e em


locais abertos. Peço sempre que não se dispersem do grupo. A
segurança ao turista é primordial.

9- Quais os pontos que são mais evidenciados pelos turistas?

O Cemitério, A Casa da Yaya e o Castelo da Rua Apa.

10- Quanto tempo tem a duração do circuito?

Em torno de 4 horas. Mas estou realizando outro formato com duração


de em torno de 6 horas, com mais locais de visitação.

10- A visita é feita em qual turno?

Pode ser na parte da manhã ou tarde.

128
Questionário II

Pesquisadora Clarissa Grassi

1- Quanto tempo atua como guia de turismo nesse segmento


"mórbido"?

Não sou guia de turismo. Atuo na realização de visitas guiadas há 6


anos.

2- Trabalha vinculado a uma agência ou é freelance?

Sou pesquisadora e trabalho de forma autônoma e voluntária, pois as


visitas são gratuitas.

3- Quem implementou o roteiro? (Gestão do cemitério, agência,


guia, outros)

Eu implementei o roteiro. É resultado de pesquisas realizadas desde


2003 nesse espaço. O trajeto foi planejado a partir do levantamento de
dados que resultou no Guia de Visitação ao Cemitério Municipal São
Francisco de Paula, lançado em 2014.

4- Quais são os pontos relevantes que você elenca no tour?

A visita guiada é dividida em duas partes: uma introdução onde se fala


sobre as diferentes relações do homem com a morte ao longo dos
séculos, elencando a criação e evolução dos cemitérios e na segunda
parte a visitação em si dos túmulos. Aborda-se simbologia da arte
tumular, biografias e arquitetura.

5- O que os visitantes gostam de apreciar?

129
Os túmulos mais curiosos e suntuosos, assim como os milagreiros.

6- Existe algum protocolo de conduta para a realização dessa


visitação?

Os participantes devem enviar um pedido de inscrição via e-mail,


informado nome completo e número de RG. No dia da visita, assinam
uma lista de chamada para registro da participação e recebem crachás
de identificação.

7-Como deve ser a postura de um guia nesse espaço?

Responsável e de bom senso.

8- É passado algum procedimento aos visitantes quanto a conduta


antes do tour?

Sim, é informado que é proibido fotografar ou filmar (norma do cemitério)


e no caso das visitas noturnas, orienta-se utilizar sapatos fechados e
levar lanternas.

9-Quais os pontos que são mais evidenciados pelos turistas?

Arquitetura e simbologia tumular.

10- Quanto tempo tem a duração do circuito?

3 horas.

11- A visita é feita em qual turno?

Diurno e eventualmente noturno.

130
6.2 O Papel do Guia de Turismo

Quando realizamos uma viagem, buscamos obter experiências dos


lugares que visitamos. Essa vivência, para ser considerada “genuína”, deve
compartilhar interações com os autóctones e seus lugares.
Para ZAOUAL (, pg. 70):42

[...] Não-situado, o homem moderno, aquele da sociedade da


competição econômica com todos os efeitos cruéis que nós
conhecemos, também está à procura das raízes culturais, biótipos e
nichos sócio relacionais suscetíveis de colocá-lo em harmonia
consigo mesmo e com o mundo à sua volta.[...]

Nessa busca por uma maior compreensão do espaço a ser desvelado,


denota-se a importância do papel do guia de turismo, que, em conjunto com as
suas atribuições, promove um amparo, respaldado pelos seus embasamentos
técnicos direcionados aos turistas.
Na visão de Portal Brasil (2014):43

[...] de acordo com a publicação, é considerado guia de turismo o


profissional que exerça as atividades de acompanhamento,
orientação e transmissão de informações a pessoas ou grupos, em
visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais,
internacionais ou especializadas. [...]

A profissão foi regulamentada através da lei nº 8.623, de 28 de janeiro


de 1993, beneficiando a classe que já trabalhava com o setor sem o devido
reconhecimento e os novos atores do turismo.
Mesmo com a conquista política na legitimação e sua relevância no
contexto turístico, inserido como partícipe de um dos elementos dos conjuntos

42 ZAOUAL, Hassan. Do turismo de massa ao turismo situado: quais as transições?


Turismo de Base Comunitária diversidade de olhares e experiências brasileiras. Editora: Letra e
Imagem.

43 Portal Brasil. Ministério regulamenta atividade de guia de turismo. 2014. Disponível em:

http://www.brasil.gov.br/turismo/2014/01/ministerio-do-turismo-regulamenta-atividade-de-guia-
de-turismo

131
do Sistema Turístico (SISTUR) intitulado por Beni44, muitos expressam de
maneira equivocada o termo “Guia Turístico”45 como sendo a pessoa que irá
conduzir o grupo a um local quando o termo correto é Guia de Turismo.
Pela complexidade da atividade e suas imbricações se faz necessária a
formação do profissional que atue na área de guiamento para que, assim, a
prestação do serviço seja padronizada e eficiente. Sua formação está atrelada
ao curso de formação profissional de guia de turismo, necessitando do ensino
médio para a sua realização.
Para que se atenda a essa formalidade sob o viés do amparo legal
regido pela lei 8.623, que regulamenta a atividade no país, no Art. 2º,
constituem atribuições do Guia de Turismo: 46

I - acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou


grupos em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais,
interestaduais ou especializadas dentro do território nacional.
II - acompanhar ao exterior, pessoas ou grupos organizados no
Brasil;
III - promover e orientar despachos e liberação de passageiros e
respectivas bagagens, em terminais de embarques e desembarques
aéreos, marítimos, fluviais rodoviários e ferroviários;
IV - ter acesso a todos os veículos de transporte, durante o
embarque ou desembarque, para orientar as pessoas ou grupos sob
sua responsabilidade, observadas as normas específicas do
respectivo terminal;
V - ter acesso gratuito a museus, galerias de arte, exposições,
feiras, bibliotecas e pontos de interesse turístico, quando estiver
conduzindo ou não pessoas ou grupos, observadas as normas de
cada estabelecimento, desde que devidamente credenciado como
Guia de Turismo;
VI - portar, privativamente, o crachá de Guia de Turismo emitido
pela Embratur.

44 Sistema de Turismo. Modelo Referencial. BENI, Mario Carlos. Análise estrutural do Turismo.

Editora: Senac. 2001.


45 Guia Turístico é um manual de informações turísticas destinada à divulgação do turismo.
CHIMENTI. Silvia; TAVARES. Adriana de Menezes. Guia de Turismo. O profissional e a
profissão. Editora: Senac. 2007
46
Presidência da República. Decreto nº 946, DE 1º de outubro 1993. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D0946.htm Data de acesso: 27 de out.
2016.

132
Assim, a compreensão da importância do papel do guia na atividade
turística estimula a padronização do cerne dos conceitos da profissão e suas
ramificações. A atividade de guiamento que se insere no sistema turístico, em
conjunto com os seus elementos, necessita se fragmentar para atender as
especificidades dos turistas, atendendo assim as suas necessidades. Para
Beni (1990): “Três são os elementos importantes para o futuro do turismo:
inovação (criatividade, imaginação, questionamentos), desempenho
(produtividade) e qualidade (profissionalismo, busca permanente da satisfação
do cliente). ”
Fragmentar os elementos do fenômeno turístico proporciona um
aprofundamento das informações que serão segmentadas e trabalhadas de
forma direcionada ao seu público. Nessa solidez de conhecimento o Guia de
Turismo terá expertise sobre um determinado assunto, alavancando as
possibilidades de atender de forma eficiente, suprindo as expectativas do
cliente que escolheu o atrativo a ser visitado. De forma a alcançar esse
objetivo, o profissional deverá se especializar em sua área de atuação de modo
a adquirir fundamentos que corroborem o seu desempenho.
Assim, o fenômeno turístico em busca de alavancar a demanda fraciona
seus produtos e serviços com o intuito de compreender, através do
conhecimento específico, as nuances que permeiam as motivações de cada
cliente, objetivando o encantamento.
Com as transformações globais diversos produtos e serviços são criados
com o intuito de atender as novas demandas que surgem do mercado turístico.
Cada modismo evoca um destino que será exótico naquele período, lançando
novos olhares e, consequentemente, o aumento no consumo da cadeia
produtiva. Para demonstrar essa peculiaridade da região destacada, os guias
de turismo são essenciais para elencar pontos relevantes do espaço a ser
desvelado pelo turista. De praxe as agências trabalham com todo o roteiro e,
assim, utilizam diferentes tipos de guiamento, a citar, como exemplo, os guias
locais que, além de estarem amparados pela legalidade que é essencial para
um serviço com credibilidade, trazem consigo estímulos identitários por
pertencerem ao espaço a ser trabalhado, demonstrando ter uma visão mais

133
aprofundada do local de forma a promover uma experiência enriquecedora. Ou
seja, existem diferenciações nos serviços prestados ao turista dependendo da
região a ser trabalhada pelo guia.
Dentro dessa concepção de guiamento OLIVEIRA (2002) declara:47

[...] o guia funciona como um intérprete de seu país, na medida em


que ensina o visitante estrangeiro (ou o seu compatriota) a ver o país
para além daquilo que os olhos alcançam. O guia vê com os olhos do
visitante estrangeiro, mas fala com a alma e o conhecimento de seu
país (SENAC, 2002).

O turista advindo da pós-modernidade conhece o seu poder de


consumo, assim, a liberdade de optar ou não por inúmeros serviços
disponibilizados pela oferta, faz com que o mercado se recrie constantemente
para que haja a necessidade da compra. Dessa forma, o guiamento poderia ser
visto como uma necessidade secundária para o turista, pois o mesmo
conseguiria desbravar um destino por conta própria, através de ferramentas
virtuais, como a internet. Porém, o local a ser visitado seria interpretado da
mesma forma com a utilização do serviço de um guia de turismo?
Mesmo com indagações pertinentes, o fenômeno turístico requer
profissionalismo em todos os setores da cadeia. Assim, de maneira a denotar a
relevância da atividade dentro da profissão, distinções de classes dentro da
especialização de guia foram estabelecidas pelo mundo.
No Brasil, dependendo da especificidade da formação profissional em
conjunto com as atividades executadas os guias de turismo estão divididos em
quatro classes.
De acordo com a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) pela Lei n
8.623/93 os guias nacionais são classificados como:

I - guia regional - quando suas atividades compreenderem a


recepção o traslado, o acompanhamento, a prestação de informações
e assistência a turistas, em itinerários ou roteiros locais ou

47
OLIVEIRA, Carvalho. Instituto Superior de Novas Profissões. SENAC. 2002

134
intermunicipais de uma determinada unidade da federação para visita
a seus atrativos turísticos;

II - guia de excursão nacional - quando suas atividades


compreenderem o acompanhamento e a assistência a grupos de
turistas, durante todo o percurso da excursão de âmbito nacional ou
realizada na América do Sul, adotando, em nome da agência de
turismo responsável pelo roteiro, todas as atribuições de natureza
técnica e administrativa necessárias à fiel execução do programa.

III - guia de excursão internacional - quando realizarem as


atividades referidas no inciso II, deste artigo, para os demais países
do mundo;

IV - guia especializado em atrativo turístico - quando suas


atividades compreenderem a prestação de informações técnico-
especializadas sobre determinado tipo de atrativo natural ou cultural
de interesse turístico, na unidade da federação para qual o mesmo se
submeteu à formação profissional específica.

A categoria de guia de turismo regional foi fragmentada pelo mercado


em guia de excursão e guia local conquanto continuam inseridos na mesma
categoria profissional.

• O guia de excursão reside próximo ao local de saída


da excursão, sendo responsável por todo percurso da
viagem, desde a saída até o retorno dos turistas.
• O guia local reside na cidade em que será realizada
a visita. Entra em contato com o grupo em sua chegada ao
local e os acompanha durante a sua permanência na
localidade.

O guia de excursão nacional se difere do regional quanto à área de


abrangência do serviço. Essa classe permite acompanhar grupos pelo território
nacional e pela América do Sul.
O guia de excursão internacional se difere do guia nacional pelo seu
deslocamento a países dos cinco continentes. O guia especializado em
atrativos naturais e culturais recepciona os visitantes pelos atrativos,
necessitando de um aprofundamento peculiar para o trabalho. Para que esteja

135
dentro da legalidade é necessário que o guia seja habilitado como guia de
turismo regional. (CHIMENTI; TAVARES, 2007)48
Dentro dessas variantes, o guia exerce a sua capacidade de polivalência,
adaptando as necessidades do espaço a ser desvelado pelo turista. Nessas
múltiplas habilidades, o guia direcionado ao viés cultural, se depara com
inúmeros segmentos que exploram novos nichos do fenômeno turístico, dentre
eles, o segmento vinculado à arte tumular.

48
CHIMENTI, Silvia; TAVARES, Adriana Menezes de. Guia de Turismo: o profissional e a profissão. Editora
SENAC. 2007.

136
6.3 Roteiros – Olhares Urbanos na Necrópole

Para uma interpretação tumular nesse espaço amplo e hermético foi


utilizado uma seleção tipológica de forma a auxiliar na classificação dos
sepulturas pesquisados. Dentro dessa compreensão estão sete modalidades:
sepultura, estela, oratório, jazigo capela, mausoléu, jazigo monumento e túmulo
verticalizado. GRASSI (2016)
Sepultura
Considerada uma das primeiras modalidades de sepultamento, sendo
composta por carneira e cabeceira. Os elementos sacros podem estar
inseridos na carneira ou na cabeceira. A carneira pode ser coletiva ou
individual, que pode conter a modalidade aparente ou subterrânea. A cabeceira
pode possuir diversos tamanhos, desde exemplares grandiosos nos quais a
cabeceira é o destaque até as mais simples, com a utilização do espaço para
uma cruz, escultura ou epitáfio. GRASSI (2016)

Figura60: Sepultura
Fonte:
ttps://www.google.com.br/search?q=sepultura,+cemiterio&biw=1138&bih=548&source=lnms&tb

137
m=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjonLWZusDSAhVBFZAKHdfpAzEQ_AUIBigB#imgdii=1v-
utFrIqAyLjM:&imgrc=XEop_Mlb7thTNM:

Estela

Possui a sua base em uma carneira composta por um elemento vertical


que confere ao viático representatividade, lembrando um monumento ou um
marco com elementos sacros que tem maior destaque nessa tipologia. Em
grande parte, a sua maior demonstração foi constituída em mármore, podendo
apresentar volumétrica única que se compara a um obelisco ou coluna.
GRASSI (2016)

Figura 61: Estela


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=figura+de+estela,+cemiterio&biw=1138&bih=548&source

138
=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiJ7abqtsDSAhVEIJAKHaB8AHsQ_AUIBigB#imgrc=CTn
dIExY_NdllM:

Oratório

Tem semelhança com a estela, mas, como característica particular,


possui a presença do oratório que adorna o elemento vertical. Sua confecção
geralmente é feita em mármore que, em muita das vezes, faz menção ao
neogótico. Seu traço marcante que está ligado ao sacro, lembrando um
pequeno altar. GRASSI (2016)

Figura 62: Oratório


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=figura+de+sepultura&biw=1138&bih=548&source=lnms&t
bm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjy-

139
abbtsDSAhXGjZAKHZJZDZwQ_AUIBigB#tbm=isch&q=oratorio%2C+cemiterio&*&imgrc=eSvpo
a4tUpJtNM:

Jazigo Capela

Pode possui uma ou mais carneiras que dão apoio a uma pequena
capela que é uma espécie de oratório que acondiciona elementos sacros em
seu interior, não possuindo acesso para oração.

Figura 63: Jazigo capela


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=figura+de+sepultura&biw=1138&bih=548&source=lnms&t
bm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjy-

140
abbtsDSAhXGjZAKHZJZDZwQ_AUIBigB#tbm=isch&q=jazigo+capela&*&imgrc=_vCa329TgraIy
M:

Mausoléu

São variações bem complexas, sendo uma espécie de capela com


elementos sacros. Sua construção denota notoriedade ao patriarca ou a família
com o sobrenome na fachada, advindo a sua representatividade com ascensão
da classe burguesa.

Figura 64: Mausoléu


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=figura+de+estela,+cemiterio&biw=1138&bih=548&source
=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiJ7abqtsDSAhVEIJAKHaB8AHsQ_AUIBigB#tbm=isch&
q=mausoleu+da+familia+matarazzo&*&imgrc=_VQV_Rh4j5R-RM:

141
Jazigo monumento

Possui grandes proporções, não podendo traçar a sua volumetria pela


sua materialidade complexa e múltipla. Assim como o mausoléu, possui
notoriedade. O elemento que sobressai é o monumento, ficando no plano
secundário os elementos sacros, possuindo referências ecléticas em seu estilo.
GRASSI (2016)

Figura 65: Jazigo monumento


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=jazigo+monumento,+cemiterio&biw=1138&bih=548&sourc
e=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjipeftucDSAhWIjpAKHeg5C34Q_AUIBigB#imgrc=ZF7i
VHS5RxG0oM:

142
Túmulo Verticalizado

Tipologia recente, que expõe em seu conceito a racionalidade de três ou


mais carneiras, compondo a sua volumetria. Os elementos sacros, quando
possui, são discretos. Também pode abrigar ossário além das carneiras. Sua
composição pode conter tijolo e concreto armado e, em seu revestimento,
granito, cerâmica, dentre outros. GRASSI (2016)

Figura 66: Túmulo verticalizado


Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=tumulo+verticalizado,+cemiterio&biw=1138&bih=548&sou
rce=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjy8fPBusDSAhUFGpAKHcPrDwMQ_AUIBigB#imgrc
=C5Y3X23yfUEteM:

143
6.4 Implementação do roteiro histórico/Artístico

6.4.1 Orville A. Derby


6.4.2 Revolta da Armada – Leão
6.4.3 Raymundo Juvêncio de Souza
6.4.5 Visconde Moraes
6.4.6 Luís Carlos Prestes
6.4.7 Rodolpho Bernardelli
6.4.8 Santos Dumont
6.4.9 Mausoléu da Academia Brasileira de Letras

6.4.1 Orville A. Derby

A primeira escultura abstrata do Brasil. Esculpida por Rodolfo


Bernardelli, a figura em tamanho natural foi gravada em monobloco
de calcário rústico. Sua simbologia, segundo a professora Maria
Elizia,49 retrata a terra que acolhe em seu coração. O medalhão do
lado esquerdo do peito perpetua a imagem do geólogo.
Orville Derby foi o fundador dos serviços geológicos no país,
sendo o mais representativo da época. Suicidou-se em 1915 no hotel
dos Estrangeiros, no Centro do Rio de Janeiro.
Uma curiosidade relata pelo historiado Milton Teixeira no City
Tour vivenciado na necrópole, foi a utilização do rosto do morto para
a elaboração da escultura, já que, não existia nenhuma foto do
geólogo para o ato.

49
BORGES, Maria Elizia. A Arte Funerária no Brasil: Uma Pesquisa Peculiar no Campo das Artes Visuais.
Revista de História. 2013

144
Figura 67: Orville Derby
Fonte: Própria autoria

Figura 68 : Orville Derby imagem natural


Fonte: Própria autoria

145
6.4.2 Revolta da Armada – Leão

Não tem nenhuma inscrição no túmulo. O elemento principal


retrata um leão ferido por uma flecha, agonizando até a morte. O
símbolo do leão, além de outros significados, representa também a
monarquia.
Guarda o ossário dos revoltosos da Revolta Monarquista da
Marinha de Guerra do Brasil, conhecida como a Revolta da Armada
de1893. Para as famílias não serem hostilizadas não foi adicionado
nenhuma informação referente aos mortos.
A simbologia do leão com um ferimento letal retrata também a
“morte” da Monarquia 50

Figura 69: Revolta da Armada


Fonte: Própria autoria

50
Informações obtidas pelo historiador Milton Teixeira no City Tour vivenciado no cemitério São João
Batista.

146
6.4.3 Jazigo de Raymundo Juvêncio de Souza

Único túmulo no cemitério onde os caixões são expostos, como


no cemitério da Recoleta, utilizando o processo de mumificação.
Inicialmente os caixões ficavam abertos, mas pela aparência de
degradação dos corpos, como retórica de uma cena de terror, os caixões
foram fechados pela nova gestão da necrópole.
O jazigo capela foi feito em mármore, sendo todos os seus
elementos trazidos de Portugal pelo artista Cesário Jose de Salles, o
mesmo que fez a cúpula da Candelária.51

Figura 70: Jazigo Raymundo Juvêncio


Fonte: Própria autoria

51
Informações obtidas pelo historiador Milton Teixeira no tour vivenciado no cemitério São João Batista.

147
6.4.4 Visconde de Moraes

Maior jazigo monumental particular do cemitério. Em estilo art-


dèco elaborado na década de 1930, denota a riqueza de detalhes
existentes em sua cúpula adornadas com partes em ouro constituído
no mosaico produzido por Gastão Formenti, cinco anos após a morte
de Moraes. O túmulo mostra a imponente arquitetura, com as suas
linhas geométricas pujantes com elementos decorativos em sua
construção
Visconde de Moraes foi fundador do Banco Português e
filantropo de relevância para a cidade do Rio de Janeiro. 52

Figura 71: Visconde de Moraes


Fonte: Própria autoria

52
NOGUEIRA. Renata de Souza. Quando um Cemitério é um Patrimônio Cultural. 2013

148
Figura 72: Visconde de Moraes amplo
Fonte: Própria autoria

6.4.5 Luís Carlos Prestes

Em uma sóbria sepultura de granito preto, ao lado do ex-


ministro da ditadura Heiltor Beltrão, encontra-se o túmulo de Luís
Carlos Prestes. Militar e político casado com Olga Benário, que foi
morta em uma câmara de gás na Alemanha, foi secretário geral do
Partido Comunista Brasileiro. Seu túmulo de rocha escura denota o

149
luto com uma rosa estilizada que faz alusão ao Cavaleiro da
Esperança, escrito por Jorge Amado.5354

Figura 73: Carlos Prestes


Fonte: Própria autoria

6.4.6 Rodolpho Bernardelli

Santo Estevão, uma figura andrógena em estilo renascentista


florentino quatrocentesco, com os seus membros alongados
representando o seu próprio túmulo (SOUTO, 1980).
A figura em bronze também expressa na fisionomia jovem do
santo a agonia do transe observado em sua feição, revelando a dor

53 Revista Veja. Disponível em: http://vejario.abril.com.br/cidades/tumulos-famosos-cemiterio-2/

54Informações obtidas pelo historiador Milton Teixeira no City Tour vivenciado no cemitério São
João Batista.

150
vivenciada em conjunto com a esperança da redenção que ele expressa
ao olhar para o céu:
Para Silva (pg. 124):

O protomártir da religião de Jesus Cristo está moribundo, o excesso


das dores que lhe causa o martírio exprime-se perfeitamente na
fisionomia, e em todas as fibras de seu corpo ainda jovem, neste
transe supremo ele volve para o céu olhos repassados de mais
pulsante angústia, e a dor física, e [ilegível] da esperança da glória,
que se desenha com rara perfeição, em toda esta estátua, desde os
cabelos a partir de fontes primárias.

Foi moldado originalmente em Roma no ano de 1879. A


habilidade que Bernardelli tinha em detalhar as expressões de modo tão
realista o levou até a arte funerária no horizonte temporal da belle
époque, quando as imagens ganhavam aspectos biográficos através de
recursos plásticos. Era destinada à burguesia que se destacavam no
período pela sua opulência econômica. 55

Figura74: Rodolpho Bernardelli


Fonte: Própria autoria

55
NOGUEIRA. Renata de Souza. Quando um Cemitério é um Patrimônio Cultural. 2013

151
6.4.7 Santos Dumont

Foi construído a pedido de Santos Dumont. A obra imponente


faz alusão a um penhasco de 3 metros onde a imagem mitológica de
Ícaro, em bronze, busca se lançar do penhasco em seu desejo
profundo de voar.
É o primeiro túmulo da necrópole com o tombamento
provisório desde junho de 2011, pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Nacional - IPHAN. Em uma placa de bronze estão os
dizeres: “Este jazigo que mandei construir para a última morada de
meus pais, junto dos quais desejo vir descansar, é a cópia do
monumento levantado em um arrabalde de Paris, em 1913, pelo
Aero Club da França. A obra foi implementada pelo escultor George
Colín. 56

Figura 75: Santos Dumont


Fonte: Própria autoria

56
NOGUEIRA. Renata de Souza. Quando um Cemitério é um Patrimônio Cultural. 2013

152
Figura 76: Santos Dumont amplo
Fonte: Própria autoria

6.4.8 Mausoléu da Academia Brasileira de Letras

Na entrada ficam os restos mortais do patrono da Academia,


Machado de Assis, e sua esposa Carolina, que morreu quatro anos
antes. Como Machado de Assis queria ser enterrado ao lado da esposa,
houve uma ruptura na regra de conduta segundo a qual somente os
imortais poderiam ser enterrados no mausoléu. Assim, depois da

153
solicitação de Machado, todos os imortais puderam ser enterrados com
as suas esposas.
Produzidos nos moldes modernistas com traçado reto com
pouquíssima ornamentação, o espaço foi doado pela Santa Casa em
1962, visto que era custoso construir um túmulo para cada imortal.57

Figura 77: Mausoléu da Academia Brasileira de Letras


Fonte: Própria autoria

57
NOGUEIRA. Renata de Souza. Quando um Cemitério é um Patrimônio Cultural. 2013

154
6.5 Implementação do roteiro dos artistas

6.5.1 Elke Maravilha


6.5.2 Tom Jobim
6.5.3 Cláudio de Souza
6.5.4 Carmem Miranda
6.5.5 Vicente Celestino
6.5.6 Cazuza
6.5.7 Clara Nunes
6.5.8 Jorge Selarón

6.5.1 Elke Maravilha

Elke foi uma artista icônica no país. Nasceu na Rússia, vindo


morar no Brasil ainda criança em Minas Gerais. Executou diversos
papéis em sua vida artista, como modelo, jurada do Chacrinha, atriz,
dentre outros. Sua morte é recente e seu túmulo faz parte do City Tour
realizado pelo Milton Teixeira. Traços coloridos em tons fortes, porém de
forma simples, retratam o seu espaço mortuário.58

Figura 78: Elke Maravilha


Fonte: Própria autoria

58
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/08/corpo-de-elke-maravilha-e-enterrado-no-
rio.html

155
6.5.2 Tom Jobim

Outro túmulo simples com traçado reto em granito faz referência


ao compositor Tom Jobim. Na parte de cima é exposto um fragmento de
sua música, “Longa é a arte, tão breve a vida”, denotando o lado
efêmero do ser humano. Ao lado foi plantada uma palmeira imperial a
pedido do compositor pela sua esposa Ana para a proteção de sua
morada eterna.

Figura 79: Tom Jobim


Fonte: Própria autoria

156
Figura 80: Tom Jobim
Fonte: Própria autoria

6.5.3 Cláudio de Souza (Dramaturgo)

Seu túmulo é uma réplica de um teatro de arena, no palco ornado


por colunas gregas e arquibancada. Possui no centro três elementos
míticos, “As Moiras” sendo três irmãs, Cloto, Átropos e Lóquesis que
determinam o destino dos deuses e dos seres humanos. São
responsáveis por elaborar, tecer e cortar o fio da vida.59

59
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/632/461

157
Figura 81: Cláudio de Souza
Fonte: Própria autoria

6.5.4 Carmem Miranda

Artista performática, a “pequena notável”, como era conhecida,


ganhou o palco global. Seu cortejo foi acompanhado por mais de 500 mil
pessoas que desejavam prestigiar a artista. Em um jazigo retangular
simples de granito avermelhado o elemento sacro principal é o Santo
Antônio em bronze do qual era devota. Também possui uma réplica de
sua assinatura em bronze além dos continentes que ela percorreu. Uma
curiosidade é que em seu túmulo não possui a data de morte da cantora
devido ao seu pedido em vida da omissão pela sua exacerbada
vaidade.60

60 http://guiadoscuriosos.uol.com.br/categorias/1235/1/sepulturas-famosas.html

http://vejario.abril.com.br/cidades/tumulos-famosos-cemiterio-2/

158
Figura 82: Carmem Miranda
Fonte: Própria autoria

6.5.5 Vicente Celestino

Foi um dos mais artistas intérpretes do Brasil. Pertenceu à época


de ouro da música brasileira com o seu estilo próprio e suas músicas
bem expressivas. O declínio acorreu na década de 1950, quando lado
dramalhão que era tão apreciado anteriormente caiu em desuso,
cansando o público que não apreciava mais esse gênero.

159
Figura 83: Vicente Celestino
Fonte: Própria autoria

6.5.6 Cazuza

Considerado um dos poetas do rock nacional. Morreu aos 32


anos vítima da AIDS. Seu túmulo em mármore com traços retangulares
denota a simplicidade do descanso eterno do artista icônico. Com o seu
adorno natural de flores o túmulo recebe um fragmento de sua música
“O tempo não para”, título de um dos seus sucessos.

160
Figura 84: Cazuza
Fonte: Própria autoria

6.5.7 Clara Nunes

O túmulo mais visitado da necrópole possui traços simplistas em


mármore. Em seu epitáfio “ela se foi” indica uma postura de negação à
morte. Após com outro fragmento “até um dia” transmite um possível
reencontro. Em seu túmulo possui diversas placas em agradecimento a
graças alcançadas. Muitos devotos acreditam que a cantora virou uma
santa popular, recebendo flores frescas como gratidão de seus fãs.

161
Figura 85: Clara Nunes
Fonte: Própria autoria

Figura 86: Clara Nunes Jazigo


Fonte: Própria autoria

162
6.5.8 Jorge Selarón

Artista plástico que ganhou notoriedade, revestindo com


cerâmicas coloridas a escadaria que fazia ligação com o convento de
Santa Teresa. Selarón custeava toda a obra da escadaria composta por
215 degraus com a venda de seus quadros. O mosaico vibrante ganhou
representatividade global com o clipe de Michael Jackson, recebendo
também o artista o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro.
Seu túmulo encontra-se na necrópole, destoando dos outros
túmulos pelas cores vibrantes observadas na reprodução da escadaria
executada pelo seu auxiliar Cesar Gomes. Foi confeccionado após três
anos de sua morte com o patrocínio da empresa americana Holland
America Line.61

Figura 87: Selarón


Fonte: Própria autoria

61 http://oglobo.globo.com/rio/mausoleu-de-selaron-inaugurado-no-cemiterio-sao-joao-batista-
19554043
http://www.guiadasemana.com.br/rio-de janeiro/turismo/estabelecimento/escadaria-selaron

163
Roteiro histórico/Artístico
Roteiro dos Artistas

Figura 88: Mapa do Cemitério São João Batista


Fonte: Própria autoria
Selaron
Mausoléu
da ABL

Cazuza
Vicente
Celestino
Santos
Carme Dumont
m

Clara
Nunes

Cláudio
Souza

Carlos
Prestes Tom Bernardelli
Jobim

Visconde
de Moraes

Raymundo

Orville
Derby Revolta da
ELKE Armada

Figura 88: Mapa do Cemitério São João Batista


Fonte: Própria autoria

164
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade do turismo desponta com expressividade na economia

global. Como prestador de serviços, emprega números relevantes de pessoas

e, associada à geração de renda, promove o desenvolvimento local. Nessa

sinergia de produtos e serviços disponibilizados a atividade se fragmenta para

compreender melhor os novos nichos que surgem, com o intuito de aprimorá-

los. Nessa divisão minuciosa surgem os produtos segmentados, originados da

compreensão das novas expectativas e necessidades do pós-turista que,

advindos do modernismo, desejam obter novas experiências que os levem ao

hedonismo.

Sob essa ótica, o setor turístico segmenta seus produtos e serviços,

possibilitando uma melhor compreensão de cada nicho com o intuito de torná-

los produtos mais próximos dos anseios de um turista mais humano e

perceptível às mudanças globais.

Dentro do universo turístico, o segmento da Arte Tumular surge como

possibilidade para atrair números expressivos de visitantes ávidos em conhecer

símbolos históricos, dentro do universo do turismo cultural.

No panorama internacional cresce a oferta de atrativos voltados para a

Arte Tumular, como nos cemitérios Père Lachaise, em Paris, Arlington, em

Virginia e Recoleta na Argentina. No Brasil os cemitérios da Consolação, em

São Paulo, e São João Batista, no Rio de Janeiro, são destaques nesse

quesito.

165
Ressalta-se, entretanto, que é muito prematuro, pelo nível de

informações de que se dispõe a respeito do segmento, pretender padronizar o

perfil desse turista, pois são múltiplas as percepções que atraem seu interesse.

Por isso, o segmento da Arte Tumular, como qualquer outro segmento

da atividade, requer um constante aprimoramento das bases teóricas por meio

de pesquisas, visando a uma maior compreensão das suas categorias e

ressonâncias. Esse conhecimento permitirá desenvolver atividades mais

próximas das necessidades do cliente.

Sendo assim, compreender o cerne do turismo e suas imbricações são

de extrema relevância para a permanência da atividade turística no mundo

globalizado. Nessa observação, a busca constante por uma interação com o

mercado confirma as benesses da fragmentação para com o fenômeno, de

modo que a fragmentação poderá ser o diferencial para a sobrevivência do

setor na economia mundial. Assim, o conhecimento permitirá desenvolver

atividades mais próximas das necessidades do cliente.

Espera-se que o vigente estudo possa ser o ponto inicial para despertar

o interesse para novas pesquisas que permitam ao segmento do turismo

focado na Arte Tumular de forma a construir sua identidade e encontrar seu

lugar dentro do universo do turismo.

166
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ZONA DEVASTADA por furacão Katrina vira roteiro turístico em Nova Orleans.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u91182.shtml/ .
Acesso
em: 10 nov. 2008.

171
ANEXO A

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS


MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
MESTRANDA: JAQUELINE MONTEIRO
PESQUISA: CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO.

Questionário para participantes do city tour no cemitério São João Batista/ RJ.

1- Sexo:

( ) masculino ( ) feminino
2- Qual a sua idade?

( ) Até 20 anos.
( ) De 21 a 30 anos.
( ) De 31 a 40 anos.
( ) De 41 a 50 anos.
( ) Acima de 50 anos.

3- Qual o seu nível de escolaridade?

( ) Nível fundamental.
( ) Médio incompleto.
( ) Médio completo.
( ) Superior incompleto.
( ) Superior completo.
( ) Pós-graduação.

4- Renda mensal:

( ) Não possuo renda.


( )Até um salário.
( ) Acima de 1 até 3 Salários.
( ) Acima de 3 até 5 Salários.
( )Acima de 5 até 8 Salários.
( ) Acima de 8 Salários.

5 - O que te motivou a fazer a visitação ao cemitério?

() Curiosidade
() Conhecimento
() Complementação de horas/estágio para faculdade
() Outro. Qual?_____________

6 - Já havia realizado alguma visitação a um atrativo considerado mórbido?


() sim
() não
- Se sim. Qual(is)?_____________

7- Já ouviu falar sobre o termo Arte Tumular?


() sim
() não

8-A visitação com a utilização de um guia de turismo foi um diferencial no city tour?
() sim

172
() não
9- Se a visita tivesse sido realizada sem um guia de turismo a sua interpretação seria a
mesma? Comente.

10- Em sua opinião, qual a característica que deve predominar em um guia de turismo
nesse segmento?

() Empatia
() Conhecimento técnico
() Boa retórica
() Outro(s). Qual(is)? _______________

11-Como deveria ser a postura de um participante desse city tour?

12- O que mais te atraiu no city tour cemiterial?

() Os túmulos históricos
() A arte Tumular
() Os túmulos dos artistas /artísticos
() A temática morte
() Todo o contexto

13- Você teve alguma dúvida antes de fazer a visitação ao cemitério? Houve algum dilema
ético ou religioso antes de fazer o Tour? Se sim, comente.

14-Antes da visitação ao cemitério houve alguma preparação por sua parte? Exemplo de
algum ritual, como: escolha da cor da roupa, orações, dentre outros.

15- Houve algum fato na visitação ao cemitério que marcou você? Se sim, comente.

16- Quais foram os pontos altos e os pontos baixos de fazer a visitação?

17- Quais foram as suas interpretações sobre o Tour realizado em um cemitério?

8-Você indicaria esse Tour no segmento cemiterial a um amigo?

() sim
() não

19- Você pagaria por esse city tour?

() sim
() não
- Se sim, qual o valor? ______________

173
ANEXO B

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS


MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
MESTRANDA: JAQUELINE MONTEIRO
ORIENTADOR: CELSO CASTRO – CPDOC/FGV

1- Quanto tempo atua como guia de turismo nesse segmento "mórbido"?

2- Trabalha vinculado a uma agência ou é freelance?

3- Quem implementou o roteiro? (Gestão do cemitério, agência, guia, outros)

4- Quais são os pontos relevantes que você elenca no city tour?

5- O que os visitantes gostam de apreciar?

6- Existe algum protocolo de conduta para a realização dessa visitação?

7-Como deve ser a postura de um guia nesse espaço?

8- É passado algum procedimento aos visitantes quanto a conduta antes do


city tour?

9-Quais os pontos que são mais evidenciados pelos turistas?

10- Quanto tempo tem a duração do circuito?

11- A visita é feita em qual turno?

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