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Nessa estância Camões dá dois exemplos de anfitriões que massacravam seus hóspedes.
O primeiro é Diomedes, rei da Trácia, que dava aos seus cavalos como repasto a carne
dos seus hóspedes sacrificados. O segundo é Busíris, tirano egípcio que imolava os
hóspedes para ofertá-los aos deuses.
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Como conselho, Mercúrio aconselha Vasco a seguir em direção ao norte, perto da linha
do Equador, onde o dia e noite tem a mesma duração. Nesse local, segundo Mercúrio,
Vasco encontrará hospedagem segura e um guia correto para leva-lo à Índia.
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Vasco percebe que o sonho é um indicativo de que deve prosseguir, e acata ao conselho
divino,partindo com suas naus, apesar das tentativas de retardo dos mouros.Após a
partida, chegam os portugueses a Melinde, onde são recebidos com hospitalidade.
Vasco da Gama envia um embaixador ao rei, e recebe inúmeros presentes reais:
carneiros, galinhas e frutas. O embaixador português explica ao rei o motivo da viagem
e o porquê de Vasco da Gama não comparecer pessoalmente em terra: este cumpria
ordens do rei, que ordenou ao capitão que não deixasse a frota desamparada para ir em
terra. O rei de Melinde responde cortesmente afirmando estranha o fato de Vasco da
Gama não poder desembarcar, mas que estima a lealdade do português para com seu
rei.
Vai então o rei até a frota conhecer Vasco da Gama. O encontro é repleto de cortesia e
promessas de auxílio por parte dos nativos. O rei pede então que Vasco narre a história
de seu povo.
CANTO III
Levando em conta que o poema épico conta a história heroica de um povo, podemos
dizer com relativa segurança que o Canto III é um dos principais cantos de Os Lusíadas.
É nele que o poeta faz Vasco da Gama contar a história de Portugal. Mas seria pouco
dizer que ele faz apenas isso: temos aqui um painel histórico, geográfico, político e
mitológico de extrema riqueza, uma composição narrativa viva e brilhante, que busca
contar a história de Portugal com o engenho e arte que o poeta pede às musas no início
da obra.
Neste primeiro momento Vasco da Gama faz uma invocação à Calíope, a de bela voz,
musa inspiradora da poesia épica.
Assim o claro inventor da Medicina,
Pede por fim, que a ninfa auxilie Vasco no seu desejo: contar a história dos portugueses
para que os demais povos vejam que das águas do Tejo também corre a água da fonte
Aganipe, que era conhecida como conspiradora dos poetas. Lembremos que na
primeira invocação Camões já se utiliza dessa imagem, remetendo ao Hipocrene, a
fonte surgida a partir da patada de Pégaso.
Pede então que deixe as flores de Pindo, monte localizado na Macedônia e localidade
dedicada a Apolo e às musas. Ao justificar seu pedido, Vasco afirma que se esse não for
cumprido, imagina lhe será negada a inspiração porque a musa teme que seu Canto
supere o de Orfeu, aqui grafado Orfeio.
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Após essa invocação, todos atentam para as palavras de Vasco, que afirma que primeiro
começará sua descrição a partir da localização da Europa para em um segundo
momento narrar a história do seu país, reiterando que tudo a ser narrado ser a pura
verdade dos fatos.
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O último ponto a ser descrito, o único com ligação do continente às demais terras, é o
Oriente, de onde o dia nasce.
Separando os continentes está o Don, rio que corre dos montes ao norte da Cítia (região
que vai dos Cárpatos até a fronteia com a atual Mongólia, passando pela vasta região do
sul da Rússia, abrangendo o território do Cazaquistão e dos demais países que se
avizinham ao Mar Negro e ao Mar Cáspio) e vai desaguar no Mar de Azov (alagoa
Meótis)
Nesse local inóspito o Sol, representado por Apolo, não tem força com seus raios, os
ventos personificados por Éolo sopram incessantemente e as fontes, mares e os montes
permanecem sempre sob a neve.
Aqui viveram os naturais da Cítia, região já descrita como origem do rio Tánais (hoje
conhecido como Don) que brota dos montes Rifeios. Esse povo guerreiro e antigo, em
tempos imemoriais havia travado batalha com os egípcios, porém isso só poderá ser
confirmado àquele que perguntar aos damascenos, ou seja, os primeiros homens, pois
consta que nos campos da região de Damasco, na Síria, Deus criara o homem.
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Aqui Vasco descreve a Lápia, nome alternativo da Lapônia, a inculta Noruega, onde o
processo civilizatório foi mais demorado e o cristianismo chegou tardiamente.
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Estra estrofe faz uma descrição detalhada da Europa Central: entre o Báltico e o rio
Don vivem povos de hábitos estranhos, como os rutenos, habitantes da Galícia e da
Hungria; os livônios, que habitam a atual região das atuais Letônia, Estônia, Lituânia e
Bielorrússia; sármatas, habitantes russos da foz do Don; os marcomanos, povo que
habitava a região da Saxônia e da Boêmia e que foram derrotados pelos romanos no
século II d.C; saxônios, boêmios e panônios povos do sul da Alemanha, na Áustria e na
Croácia, na região dos rios Danúbio e Drava.
Por fim cita as demais nações que vivem às margens dos rios Reno, Danúbio, Amasis
(atual Ems) e o Albis (atual Elba).
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Nessa região da península balcânica (aqui chamada de Hemo, seu antigo nome), está o
Ródope, cadeia de montanhas e é submetida ao jugo dos turcos otomanos após passar
em mãos do imperador Constantino, que cometeu boa injúria ao declarar o
cristianismo a religião oficial do seu império.
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Logo mais ao leste Vasco da Gama descreve a Macedônia, que é contada pelo rio
Vardar, denominado Axios ainda hoje pelos gregos.
Aqui encontramos rimas de louvor ao mundo grego, aos seus costumes, seus feitos e
sua cultura.
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Passa pelos dálmatas, habitantes da Dalmácia, atual Croácia; e cita Antenor, Trioiano
de nascimento que aportou à foz do Timavo e fundou Antenória, hoje Pádua, na Itália.
Antenor já fora citado por Zeus nas suas promessas à Vênus, quando cita Antenor como
um dos três grandes navegadores que terão seus nomes obscurecidos pelos feitos
portugueses.
Perto de Pádua está Veneza, que cresceu sobre as ilhas da lagoa que leva o nome da
cidade.
Seguindo pelo braço que vem ao mar, ou seja, pela península itálica, Vasco lembra dos
sucessos militares desse povo, aqui o braço assumindo o símbolo da força militar
romana, que subjugou muitos outros.
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Vasco reforça a relação dos italianos com Marte, deus da guerra, em decorrência da
frequente beligerância dos romanos. O porteiro divino a que Vasco se refere é o Papa,
sediado no Vaticano e detentor das chaves do céu como sucessor de Pedro, que as
recebeu de Cristo.
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"Gália ali se verá que nomeada
A região da França, nomeada pelos romanos de Gália, é aqui descrita pelo capitão
português como um grande triunfo dos Césares
França que é banhada pelo Séquana (variação antiga do nome do Sena), desaguando no
norte país; pelo Ródano com sua foz ao sul; o Giruna (atual Garona) que deságua ao
oeste; e por fim o Reno, ao leste, na fronteira com a Alemanha.
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Aqui Vasco chega à Espanha, descrita como a cabeça da Europa, (imagem que será
retomada por Fernando Pessoa em Mensagem). Muitos povos diferentes se tornaram
senhorio dessa terra, fazendo girar a roda da Fortuna.
Mas apesar de tudo, nessa terra surgem homens de coragem e nunca haverão de faltar.
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"Com Tingitânia entesta, e ali parece
O país quase encontra ao sul a Tingitânia (ou seja, o Marrocos), quase fechando o
Mediterrâneo. Este só não é fechado porque Hércules, aqui chamado de Tebano porque
lá foi gerado por Alcmena, sua mãe
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Inicia sua descrição da Espanha pelo tarragonês, ou seja, pelo reino de Aragão,
Navarra, à noroeste da primeira, as Astúrias, ao norte, a Galícia, no extremo oeste,
Castela, ao centro, que comandou a Reconquista contra os muçulmanos, e as
imponentes cidades ao sul de Bétis, Leão e Granada.