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The black people in art in São Paulo 130 years after the "Abolition of Slavery"
1Bacharel de Desenho Industrial (2008) pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista (Pós-Graduação Lato
Senso) em Moda & Criação (2012) pela Faculdade Santa Marcelina. Aluna do programa de Mestrado “Educação, Arte
e História da Cultura” da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Desenvolvendo pesquisas relacionadas ao racismo no
Brasil e História e Cultura do negro. E-mail: sheila.aragao@icloud.com; e-mail alternativo: sheila.aragao@uol.com.br.
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presença de negros na arte na cidade de São Paulo, pois são uma quantidade significativa.
Ainda se faz necessário estudar se alguma ou todas elas tiveram motivação na data
comemorativa, mas de toda forma, mesmo se todas tiverem essa inspiração, seria algo
não obrigatório e por isso, positivo. Além disso, conta-se com a presença de dois
curadores negros, apontando para uma presença mais abrangente, e com isso uma entrada
efetiva do negro na arte na cidade de São Paulo.
Resta saber se haverá uma continuação nesse sentido e se existe ou irá existir alguma
repercussão em galerias de arte. Mas sem sombra de dúvida é um marco importante.
ABSTRACT: The "Abolition of Slavery" happened in Brazil in the year 1888, although
despite its end, there were many remnants of how blacks were treated and seen in society.
In general, racism. In this sense also applies to the field of art in the country, which is a
field dominated by white people, little is seen of the black people represented in
exhibitions and perhaps exhibitions of artists or curators in museums. However, 130 years
after the "Abolition of Slavery", in the city of São Paulo there was a change in these facts.
This paper aims to map out the facts that made these changes possible and to analyze how
far they can be considered as progress in the presence and representation of blacks people
in art.
Many authors such as Kilomba, Ribeiro, Almeida and Fanon take place on racism and
how it affects society in all aspects. In the field of art it would not be different, however,
and is even greater because of the presence of blacks being practically nil and this field
tends to reject black artists and curators, and to propagate negative representations of
Afrodescendants.
The Museum of Art of São Paulo has the year 2018 dedicated to exhibitions of black
artists, as well as the exhibition Afro-Atlantic Stories, a continuation of the Tomie Ohtake
Museum and a black curator (Hélio Menezes), the Centro Cultural Brazil had exhibitions
of black and black artists, and the 33rd Art Biennial has a black curator (Wura-Natasha
Ogunji).
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The events above in this paper will be analyzed more widely and checked if there are any
more that may also be important.
The exhibits mentioned in the paragraph above demonstrate an effective advance in the
presence of blacks in art in the city of São Paulo, since they are a significant amount. It
is still necessary to study if any or all of them were motivated on the commemorative
date, but anyway, even if they all have that inspiration, it would be something not
mandatory and therefore, positive. In addition, there are two black curators, pointing to a
more comprehensive presence, and with this an effective entrance of the black in art in
the city of São Paulo.
It remains to be seen if there will be a continuation in this direction and if there is or will
be any repercussion in galleries. But without a doubt it is an important milestone.
1. Introdução
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Com isso posto, fica claro que a população brasileira sempre teve uma tendência a ter
uma maioria negra, sendo neste momento segundo dados do IBGE de 54,9%2 composto
de pretos e pardos, contudo atualmente é tratada como uma minoria e no período
escravocrata, sendo uma maioria evidente, é oprimida para permanecer na condição de
escravizada.
Said, no livro Cultura e Imperialismo, explana sobre as relações de poder que
aconteceram ao longo da história e como elas privilegiaram a divulgação de ideias e da
cultura eurocêntrica, subjugando as outras, tidas como marginais. Com isso, no geral, o
mundo valoriza e reconhece a visão e o posicionamento dos povos dominantes, sendo
uma ferramenta de opressão de um povo e de culturas diferentes as dominantes.
“A teoria que apresento neste livro é a que a cultura também
desempenhou um papel importantíssimo, na verdade indispensável. No
cerne da cultura europeia, durante as várias décadas de expansão
imperial, havia um eurocentrismo incontido e implacável. Ele
acumulou experiências, territórios, povos e histórias; estudou-os,
classificou-os, verificou-os e, como diz Calder, concedeu aos ‘homens
de negócios europeus’ o poder de ‘planejar em grande escala’; mas,
acima de tudo, subordinou-os expulsando suas identidades (exceto
como categoria inferior de existência) da cultura e da própria ideia da
Europa branca cristã. Esse processo cultural deve ser visto como
contraponto vital, capaz de acionar e modelar a maquinaria política e
econômica no centro material do imperialismo. Essa cultura
eurocêntrica codificava e observava incessantemente tudo o que se
referisse ao mundo não europeu ou periférico, e de maneira tão
completa e minuciosa que restaram poucos itens intocados, poucas
culturas inobservadas, povos e terras não reivindicadas”
(SAID, 2011, p. 346-347)
Pode se fazer paralelo desse conceito com o que acontece no Brasil com relação aos
negros, estes foram oprimidos e subjugados ao longo da escravidão, e infelizmente esse
sistema de opressão segue encrustado na sociedade afetando todos os setores, inclusive o
campo das artes.
Entretanto, estamos vivenciando um período de mudanças que estão sendo positivas,
mesmo que ainda pontuais no combate ao racismo. E a cidade de São Paulo em particular
no ano de 2018 está sendo frutífera na arte, tendo várias exposições sobre o negro, sua
cultura e sua história; além de ter dois curados negros envolvidos nesses processos.
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2. Racismo
Em pleno século XXI e a questão da existência do racismo começa a ser debatida mais
claramente na sociedade brasileira e com isso, se encaminha para um reconhecimento. E
assim, um início de solução, visto que para problemas serem resolvidos, eles precisam
primeiro serem admitidos. Com isso, o negro começa a se tornar sujeito, a partir do
momento em que sua história e sua cultura começam a serem difundidas na sociedade, e
a arte é um instrumento potente nesse sentido. Mas isto não quer dizer que o racismo
esteja prestar a se extinguir ou ser amenizado.
Mas afinal, o racismo existe? Sim, ele existe e é sistêmico e estruturante na nossa
sociedade, a tal ponto que pela maioria passa desapercebido, visto que infelizmente é algo
naturalizado. Por muitos anos foi considerado um assunto tabu e ao mesmo tempo
inexistente, o famigerado ideário da democracia racial foi um componente propulsor
nesse quesito. Mas lamentavelmente quando se vê uma maioria populacional ser tratada
como minoria, quando se vê essa mesma população ser encarcerada sistematicamente,
quando apenas atributos negativos são associados a ela, como por exemplo: “a coisa tá
preta”, “ovelha negra”, “da cor do pecado”, “lista negra”, “mercado negro”, dentre tantos
outros. Já é possível concluir que algo está errado. Além disso, quando essa população se
encontra em sua maioria em empregos subalternos, também é ao menos esquisito.
Almeida diz que para entender o racismo é necessário contextualizar o que é o preconceito
e a discriminação, porque muitos indivíduos julgam que atos de racismo acabam sendo
apenas preconceito e discriminação. Munanga decorre que quando se tem uma ideia pré-
estabelecida a respeito de algo, isso se caracteriza como preconceito, e a partir do
momento que sai do campo das ideias e se torna uma ação, se altera para discriminação.
Ambas resultam em tratamento diferenciado ao outro individuo, e evidentemente é
passível que qualquer pessoa sofra tanto de preconceito quanto de discriminação,
entretanto, a partir do momento que ele é recorrente para um individuo e/ou grupo
baseado em sua “raça” /etnia e esse grupo é prejudicado na sociedade perante a outros, se
qualifica como racismo.
Como por exemplo quando o negro é identificado e definido como meliante apenas por
ser negro ou então a solidão afetiva da mulher negra que é além de ter sua beleza
considerada “exótica” por não ser o padrão, é vista ainda com a função da mucama e por
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isso, não é escolhida como namorada ou esposa. Fanon exprime em seu livro Pele negra,
máscaras brancas o preconceito de cor e da negrofobia, dando exemplos que mostram
em realidade o racismo, contudo ele lança o livro no ano de 1952, e talvez por isso, não
se utilize da palavra racismo. Abaixo um trecho que expõe o preconceito de cor:
“O preto é um animal, o preto é ruim, o preto é malvado, o preto é feio;
olhe um preto! Faz frio, o preto treme, o preto treme porque sente frio,
o menino treme porque tem medo do preto, o preto sente frio, um frio
que morde os ossos, o menino bonito treme porque pensa que o preto
treme de raiva, o menino branco se joga nos braços da mãe: mamãe, o
preto vai comer!” (FANON, 1952/2008, 106-7)
E além disso, o autor trata do sentimento de inferioridade que o negro sente dele mesmo
e que o branco percebe o negro, pontuando a cultura europeia como um alicerce e
exprimindo como a cultura negra caribenha acaba não tendo espaço e sendo esquecida
por ser desvalorizada e inferiorizada. E que dessa forma, o negro caribenho se sente mais
próximo do branco na sua terra natal, contudo, estando na França ele se torna negro igual
qualquer outro descendente direto, como um senegalês por exemplo. Entretanto, em todo
seu texto fica bem delimitado a questão do racismo.
Pensando que o autor expõe a questão da inferioridade fazendo um paralelo com a questão
da colonização: “Todo povo colonizado – isto é, todo povo no seio do qual nasceu um
complexo de inferioridade devido ao sepultamento de sua originalidade cultural – toma
posição diante da linguagem da nação civilizadora, isto é, da cultura metropolitana”
(FANON, 1952/2008). E com isso, o colonizado tende a fugir de suas raízes e no caso do
antilhano de sua negritude. Partindo dessa contextualização, uma vez que o Brasil
também foi colônia, faz com que o brasileiro queira estar mais próximo do continente
europeu e também é possível pensar que os negros, ex escravizados queiram estar mais
próximos de seus “senhores” e assim neguem mesmo que inconscientemente a sua própria
cultura. Sendo esse último, um fator que dificulta ainda mais a desconstrução do
paradigma do racismo.
Evidentemente, a escravidão foi um fator propulsionador, juntamente com as teorias
raciais, e no Brasil a democracia “racial” e o racismo à brasileira, entretanto, apesar de
biologicamente já estar comprovado que só existe a raça humana, e o que existe são
diferenças étnicas e culturais, o racismo persiste. E no ano de 2001 a ONU organizou uma
Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
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Correlata na cidade africana de Durban tendo a presença de inúmeros países, inclusive o
Brasil, e teve como resultado uma plataforma de ação para erradicação desses conceitos
na sociedade. E dentre elas se encontram as ações afirmativas, que de certa forma seriam
discriminações positivas, pois visão a inclusão na sociedade como forma de corrigir e/ou
amenizar os problemas advindos do racismo, discriminação racial, xenofobia e
intolerância correlata.
Segundo Almeida, o problema do racismo é tão grave porque é estrutural, e por isso, esse
pode ser considerado um fator para a conservação do racismo no período atual. E ele é
estrutural, uma vez que não é exclusivamente uma ação particular, mas sim institucional,
posto que quando ocorre a discriminação de um grupo/ “raça”/ etnia gera desigualdade
“racial”, no caso dos negros. Acontecendo em empresas privadas e instituições públicas,
e com isso, deixando de ser uma atitude particular de um individuo para outro individuo.
Sendo representada na televisão - nas novelas e telejornais – nos jornais, revistas, livros,
dentre outros; e fazendo com que esse posicionamento de desigualdade e visão de
inferioridade do negro seja cada vez mais enraizado e com isso, replicado na sociedade
brasileira. Ficando em evidência que ele faz parte da estrutura da sociedade, e dessa
maneira:
“O racismo é estrutural. Comportamentos individuais e processos
institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e
não exceção. [...] O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é
que o racismo, como processo histórico e político, cria as condições
sociais para que, direta ou indiretamente, grupos racialmente
identificados sejam discriminados de forma sistemática” (Almeida,
Silvio de, 2018, 38-9)
Por ser um problema estrutural é difícil de ser resolvido, contudo, penso que a arte e a
cultura podem ser dispositivos eficazes nesse combate ao racismo, e por isso, devem ser
exploradas e analisadas.
3. Exposições e Curadoria
A arte pode e deve ser uma ferramenta da construção do sujeito, ou seja, que mostra sua
história e cultura, e assim o transforma em sujeito. Ainda mais do negro, que teve sua
história e seus feitos apagados, e com muita dificuldade vem ultrapassando barreiras e
deixando de ser objeto.
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O ano de 2018 na cidade de São Paulo, com relação as artes feitas e pensadas no negro,
pode ser considerado um marco nesse sentido, uma vez que foi repleto de diferentes
exposições com esse tema e teve ainda a presença de alguns curadores.
O museu foi inaugurado no ano de 2001, no centro antigo da cidade de São Paulo em um
prédio datado de 1901, o diferencial dele é que por estar presente também em Brasília,
Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as exposições terminam por percorrerem os quatro
locais. E por isso, tem se uma visibilidade de certa forma nacional e com isso,
amplificada. Dentre o repertório de amostras o CCBB de São Paulo teve Michel Basquiat
e Ex África.
Sobre a última, foi uma exposição que visou mostrar a arte contemporânea e a identidade
da África moderna, com todas as suas diferentes perspectivas culturais, bem como
possíveis interações entre elas. Tendo a presença de 18 jovens artistas pertencentes de 8
países africanos, além de dois artistas negros brasileiros: Arjan Martins e Dalton Paula.
Já a na exposição de Basquiat, este:
“[...] personifica o caráter de Nova Iorque nos anos 1970 e 1980, uma
mistura de empolgação e decadência que criou um paraíso de
criatividade. A repetição de letras e de palavras reflete ritmos, sons e a
vida da cidade. [...] Suas pinturas subvertem hierarquias artísticas
convencionais ao misturar imagens da cultura erudita e da popular. Era
um dos poucos afro-americanos num mundo artístico
predominantemente branco. Sua obra rapidamente evoluiu de uma
evocação das ruas a uma profunda narrativa sobre a experiência de ser
negro e as conquistas culturais dos negros” (Jean-Michel Basquiat.
Disponível em: < http://culturabancodobrasil.com.br/portal/jean-
michel-basquiat-obras-da-colecao-mugrabi/ > .Acesso em 10 nov.
2018.
3.2 Masp
O museu de arte de São Paulo, conhecido como Masp foi fundado em 1947 pelo
empresário Assis Chateaubriand, e segundo divulgação no site tem o maior acervo de arte
europeia do Hemisfério Sul e “tem a missão de estabelecer, de maneira crítica e criativa,
diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais. […]
bem como promover o encontro entre públicos e arte por meio de experiências
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transformadoras e acolhedoras” 3 . Tendo nesse ano de 2018 o tema central de suas
exposições as histórias afroatlanticas e com isso o enfoque no negro.
Dentre algumas das exposições que aconteceram no museu temos a da artista Maria
Auxiliadora e do escultor Aleijadinho. A primeira é negra e possui trabalho que pode ser
considerado como naif, popular e afro-brasileiro; sendo cheio de cores, contrastes e com
técnicas mais “rústicas”, tendo enfoque na brasilidade, na religiosidade (matriz africana)
e no campo. E além, da exposição desse ano, o Masp fez uma anterior em 1970.
Foto: Acervo Pessoal. Maria Auxiliadora. Carnaval, 1969. Óleo sobre tela. Coleção Ladi
Biezus, São Paulo, Brasil.
3 Segundo site do Masp Disponível em: < https://masp.org.br/sobre>. Acesso em: 07 dez. 2018.
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É um espaço cultural que foi fundado em 1987 pelo empresário Olavo Setubal, sendo um
instituto de pesquisa “voltado para a pesquisa e a produção de conteúdo e para o
mapeamento, o incentivo e a difusão de manifestações artístico-intelectuais” 4. E assim
pode proporcionar uma valorização da cultura brasileira. E nesse ano teve a
exposição/ocupação homenageando o grupo Ilê Aiyê, que é composto apenas por pessoas
negras e surgiu em 1974, período em que ainda estava em vigência a ditadura militar e a
presença do negro segundo visitação a exposição era proibida nos blocos de carnaval de
Salvador.
Com isso, fica exposto uma situação de racismo à brasileira, em que não existe uma
proibição escrita, mas ela acaba sendo subtendida. Nessa ocupação é possível conhecer a
trajetória do grupo: - escolha do nome, da bandeiras e suas cores, - como eles buscam
sempre a valorização da cultura afro(vestimentas, história, música, entre outros), - a
conscientização a respeito da autoestima presente no ensino da história e cultura africana
em suas músicas e depois através de apostilas e aulas; pelo concurso de beleza negra.
O Itaú cultural fica na avenida paulista que é parte do coração cultural (e econômico) da
cidade de São Paulo, e tem entrada gratuita, o que deixa a exposição acessível a um grande
número de pessoas.
4Segundo site do Itaú cultural. Disponível em: < http://www.itaucultural.org.br/quem-somos>. Acesso em: 07 dez.
2018.
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promove reflexões a respeito do tratamento que foi dado aos negros no passado e no
presente. E:
“É importante levar em conta a noção plural e polifônica de “histórias”;
esse termo que em português (diferentemente do inglês) abrange tanto
a ficção como a não ficção, as narrativas pessoais, políticas,
econômicas, culturais e mitológicas. Nossas histórias possuem uma
qualidade processual, aberta e especulativa, em oposição ao caráter
mais monolítico e definitivo das narrativas tradicionais. Nesse sentido,
a exposição não se propõe a esgotar um assunto tão extenso e complexo,
mas antes a incitar novos debates e questionamentos, para que as
histórias afro-atlânticas sejam reconsideradas, revistas e reescritas.
A exposição não segue um ordenamento cronológico ou geográfico,
sendo dividida em oito núcleos temáticos que tencionam diferentes
temporalidades, territórios e suportes, nas duas instituições que
coorganizam o projeto. No MASP: MAPAS E MARGENS,
COTIDIANOS, RITOS E RITMOS e RETRATOS (no primeiro
andar), MODERNISMOS AFRO-ATLÂNTICOS (no primeiro
subsolo) e ROTAS E TRANSES: ÁFRICAS, JAMAICA E BAHIA (no
segundo subsolo). No Instituto Tomie Ohtake: EMANCIPAÇÕES e
RESISTÊNCIAS E ATIVISMOS.” (Histórias Afro-Atlânticas.
Disponível em < https://masp.org.br/exposicoes/historias-afro-
atlanticas >. Acesso em: 11 dez. 2018.
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Fotos: Acervo Pessoal. (Esq.) Sidney Amaral. Incômodo, 2014. (Dir.) Coletivo 3. Onde estão os
negros.
3.5 Curadorias
Além das exposições de artistas negros, esse ano também tivemos negros fazendo
curadoria de exposições, o que faz a presença do negro ainda mais abrangente no mercado
da arte, mesmo que apenas seja um começo. Sendo esse ponto tão importante quanto ou
até mais importante que ter artistas negros divulgados, uma vez que eles estão pensando
a exibição da arte.
Tivemos a 33a Bienal de São Paulo organizada pelo curador geral Gabriel Pérez-Barreiro
que fez uma divisão com sete artistas curadores, e dentre eles Wura-Natasha Ogunji com
o tema sempre, nunca explorando o espaço e o lugar em relação ao corpo, à história e à
arquitetura. E Hélio Menezes como um dos curadores das Histórias Afro-Atlânticas, que
foi eleita segundo o jornal New York Times como a melhor exposição do ano.
4. Discussão
Não foi encontrado nessas exposições nada que deixasse claro que elas aconteceram em
homenagem aos 130 anos da “Abolição da Escravatura”, o que me parece ser algo
positivo. Além disso, penso que o acesso a cultura e a história do negro através da arte
nessas exibições e curadorias fazem com que o negro deixe de ser objeto e se torne sujeito,
por ter um passado. E acaba sendo conforme o pensamento de Kilomba um ato político e
que gera reconhecimento. Fanon enfoca o reconhecimento do ser humano como algo
importante na nossa constituição:
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precisará de um longo período de tempo para enraizar na sociedade e ter uma mudança
de comportamento efetiva. E acontecerá mais rápido quando se admitir oficialmente o
problema do racismo.
O fato de a exposição Histórias Afro-Atlânticas ter sido nomeada pelo jornal norte
americano New York Times como a melhor amostra do ano é um marco importante, é
uma forma que o restante do mundo possa de certa forma conhecer e quem sabe assim
valorizar a cultura do negro e a arte no Brasil. Deixando em aberto a possibilidade dessa
exposição ser exposta em outros países.
Mas fica aqui a questão de se pensar em como poder ser avaliado o quanto as exposições
e as curadorias de fato podem mudar a forma como o próprio negro se enxerga e de como
o branco enxerga o negro, e por isso, é interessante se pensar em perguntas para serem
feitas antes e após a visitação das exposições; e talvez após alguns anos reformular
questionário para público em geram nas proximidades de alguns desses museus para uma
análise mais madura. E claro, seguir acompanhando se nos próximos anos continuaram a
existir exposições com o enfoque no negro e curadorias feitas por negros, e qual
quantidade. Dessa forma, será possível uma melhor analise de resultados.
Referências bibliográficas
ALMEIDA. Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte: Letramento, 2018.
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ITAÚ CULTURAL. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/quem-somos/relatorios.>
Acesso em: 07 dez. 2018
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. SILVEIRA, Renato da. Salvador: EDUFBA,
2008.
MASP. Disponível em: < https://masp.org.br/ >. Acesso em: 08 dez. 2018.
SCHWARCZ, Lília Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no
Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia da Letras, 2017.
33 Bienal de São Paulo. Disponível em: < http://www.bienal.org.br/post/5442 >. Acesso em: 11
dez. 2018.
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