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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL


UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AQUIDAUANA
CURSO DE AGRONOMIA
DISCIPLINA DE CULTURAS DE CEREAIS

PROF. AGENOR MARTINHO CORREA

C U L T U R A D O M I L H O - II

JANEIRO/2015
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PARTE – I

CULTIVARES

1. CULTIVARES
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A produtividade de uma lavoura de milho é o resultado do potencial genético da


semente e das condições edafoclimáticas do local de cultivo, além do manejo da
lavoura. De modo geral, a cultivar é responsável por 50% da produtividade final.
Conseqüentemente a escolha correta da cultivar pode ser razão do sucesso ou do
insucesso da lavoura. Existem atualmente no mercado (safra 2013/2014) 467 cultivares
de milho (EMBRAPA, 2013) e a escolha baseada no gosto pessoal, na disponibilidade e
no preço não é a melhor escolha.
Aspectos relacionados às características da cultivar, tais como potencial
produtivo, resistência a doenças, a pragas e adequação ao sistema de produção em uso e
às condições edafoclimáticas deverão ser levados em consideração, para que a lavoura
se torne mais competitiva. A escolha de cada cultivar deve atender às necessidades
específicas, pois não existe uma cultivar superior que consiga atender a todas as
situações regionais. Como não existe uma cultivar superior, mesmo para um local
definido, é interessante a utilização de um conjunto de cultivares, de forma a maximizar
a possibilidade de sucesso (Embrapa, 2013).
Na escolha da cultivar o produtor deve fazer uma avaliação completa das
informações geradas pela pesquisa, assistência técnica, empresas produtoras de
sementes, experiências regionais e comportamento em safras passadas. O produtor
deverá levar em consideração os seguintes aspectos: a) – tipo de cultivar; b) – adaptação
à região; c) – produtividade e estabilidade; d) – ciclo; e) – tolerância a doenças; f) –
qualidade do colmo e raiz; g) – textura e cor dos grãos; h) – finalidade da exploração; i)
– porte da planta e inserção da espiga.

1.1 – Tipos de cultivar

Cada cultivar apresenta constituição genética única e, portanto, expressa


características próprias. Mesmo assim, muitas dessas características são similares dentro
de grupos de cultivares o que sem dúvida, é benéfico, uma vez que resulta em maior
número de opções para uma mesma finalidade. Quando se considera a base genética as
cultivares de milho são agrupadas em: a) híbridos (de linhagens e intervarietais) e, b)
variedades.

A linhagem é obtida por meio de um processo que conduz as plantas ao estado


homozigoto, sendo adotado, normalmente, o processo de autofecundação que requer de
cinco a sete autofecundações sucessivas para que a linhagem se torne homozigótica ou
pura. As linhagens, assim obtidas, passam por testes de Capacidade de combinação
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(Capacidade de Combinação Geral e Capacidade de Combinação Específica, CGC e


CEC, respectivamente) que permitem verificar a habilidade que apresentam de se
combinarem, originando bons híbridos. Aquelas selecionadas são então utilizadas na
composição de híbridos. Diante o processo de autofecundação há uma perda acentuada
no vigor das plantas (depressão endogâmica), o que é restaurado através do cruzamento
(vigor híbrido ou heterose).
Os híbridos de linhagens existentes no mercado brasileiro podem ser assim
definidos:
Híbrido Simples - obtido pelo cruzamento de duas linhagens endogâmicas. Em geral, é
mais produtivo que os demais tipos de híbridos, apresentando grande uniformidade de
plantas e espigas. A semente tem maior custo de produção, porque é produzida a partir
de linhagens, que, por serem endógamas, apresentam menor produção.
Híbrido Simples Modificado - neste caso, é utilizado como progenitor feminino um
híbrido entre duas progênies afins da mesma linhagem e, como progenitor masculino,
outra linhagem.
Híbrido Triplo - é obtido do cruzamento de um híbrido simples com uma terceira
linhagem.
Híbrido Triplo Modificado - O híbrido triplo pode também ser obtido sob forma de
híbrido modificado, em que a terceira linhagem é substituída por um híbrido formado
por duas progênies afins de uma mesma linhagem.
Híbrido duplo - obtido pelo cruzamento de dois híbridos simples, envolvendo,
portanto, quatro linhagens endogâmicas.

Além desses existem também os “híbridos top cross” que são obtidos dos
cruzamentos entre híbridos e variedades e variedades x linhagens. O termo “top corss”
também é empregado entre linhagens e um testador, que pode ser uma variedade (Testes
de CGC), uma linhagem ou um híbrido, geralmente simples, (testes de CEC).
Híbrido de variedade ou intervarietal – Resultante do cruzamento entre duas
variedades. Embora de menor produtividade que os híbridos de linhagens, apresenta as
vantagens de utilização da heterose sem a necessidade da trabalhosa obtenção das
linhagens. Tem como desvantagem a maior desuniformidade das plantas. Geralmente
expressa boa superioridade em relação a seus pais e por possuir ampla base genética
apresenta também ampla adaptação.
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Geralmente quanto mais estreita for a base genética de um híbrido maior a sua
uniformidade e produtividade e menor a sua adaptação, enquanto que, quanto maior a
sua base genética, maior a adaptação e menor a sua uniformidade e produtividade. Desta
forma, os híbridos simples, simples modificado, triplo e triplo modificado, nesta
sequência, tendem a serem os de maiores potenciais de produção e maiores
uniformidades de plantas e de espigas, porém os menos adaptados. Os duplos
apresentam boa adaptação, contudo, são menos uniformes e produtivos. Os híbridos
simples são os que possuem sementes mais caras, seguidos dos híbridos triplos e dos
híbridos duplos.
Na safra 2013/2014 dos genótipos disponibilizados no mercado uma ampla
maioria são híbridos simples, em segundo lugar vêm os híbridos triplos e os menos
ofertados são os duplos. (Tabela 1)
Variedades. São populações de base genética ampla com alguns caracteres
agronômicos em comum que as diferenciam de outros materiais. É a única modalidade
de cultivar cuja semente produzida na lavoura pode ser utilizada para a semeadura da
próxima geração sem previsão de queda na produtividade. Apresenta, em geral,
potencial produtivo inferior aos dos híbridos, embora a sua ampla base genética possa
conferir-lhe maior capacidade de adaptação às variações ambientais.
Na safra 2013/2014, 17,2% dos cultivares disponíveis (convencionais) foram
variedades melhoradas (populações exóticas que sofreram processo de seleção
recorrente ou variedades sintéticas (população resultante do intercruzamento de
linhagens com alta capacidade de combinação)
Tabela 1. Tipos de cultivar transgênicas e convencionais disponíveis no mercado
brasileiro para a safra 2013/14.
Tipo de cultivar Convencional (%) Transgênicos
Híbrido simples 44,7 81,8
Híbrido triplo 18,6 17,4
Híbrido duplo 19,5 0,8
Variedade 17,2 0,0
Total 100 100
Fonte: Embrapa (2013).

Sementes de variedades melhoradas são de menor custo que sementes de


híbridos e, com os devidos cuidados na multiplicação, podem ser reutilizadas por alguns
anos, sem diminuição substancial da produtividade. As variedades são, ainda, de grande
utilidade em regiões onde a utilização de sementes de milho híbrido torna-se inviável
devido às condições econômico-sociais mais precárias e consequente uso de baixa
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tecnologia na cultura do milho. No segmento da agricultura familiar e em sistemas de


produção orgânica, as variedades são amplamente utilizadas e recomendadas.
A geração F1 do híbrido (semente adquirida no mercado) exibe como principal
vantagem a heterose em relação à variedade e à geração F2. Essa superioridade que só é
mantida no primeiro cultivo é devido a combinação dos genes que aparecem em grande
quantidade na condição heterozigótica (PATTERNIANI e MIRANDA FILHO, 1987).
Os híbridos, portanto, só apresentam vigor elevado e alta produtividade na primeira
geração (F1) sendo necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. A perda
de vigor e produtividade que se observa na geração F 2 é devido a segregação e à
recombinação gênica. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a uma
segunda geração (F2), haverá redução, dependendo do tipo do híbrido, de 15 a 40% na
produtividade, perda de vigor e grande variação entre plantas (EMBRAPA, 2010).
Considerando que os diferentes tipos de cultivares apresentam grande variação,
tanto no custo das sementes como no seu potencial produtivo é obvio que a escolha do
cultivar deve levar em conta o sistema de produção que o agricultor usará, pois de nada
adiantará usar uma semente de alto potencial genético e de maior custo, se o manejo e
as condições da lavoura não permitirem que a semente expresse o seu potencial
genético.
1.2 Adaptação à região

De fato, um dos primeiros aspectos a serem considerados na escolha da


semente é sua adaptação à região. Entretanto, esse aspecto é minimizado, pois
normalmente as empresas de sementes já direcionam suas cultivares de acordo com as
suas regiões de adaptação, das principais doenças que ocorrem na região, do sistema de
produção predominante, das exigências do mercado e do perfil dos agricultores. O
problema é quando o agricultor adquire sua semente em locais diferentes daquele onde
será implantada a lavoura (EMBRAPA, 2010)

1.3 Produtividade e estabilidade

O potencial produtivo de uma cultivar é um dos primeiros aspectos


considerados pelos agricultores na compra de sua semente. Entretanto, a sua
estabilidade de produção, que é determinada em função do seu comportamento em
cultivos em diferentes locais e anos, também deverá ser considerada. Cultivares estáveis
são aquelas que, ao longo dos anos e dentro de determinada área geográfica, têm menor
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oscilação de produção, respondendo à melhoria do ambiente (anos mais favoráveis) e


não tendo grandes quedas de produção nos anos mais desfavoráveis (EMBRAPA,
2010).

1.4 Ciclo
O ciclo de uma cultivar é bastante influenciado pelos fatores ambientais,
principalmente pela temperatura. Assim, é variável de acordo com a época de
semeadura e com o local. Prolongando-se em locais ou épocas com temperaturas mais
baixas. Pode ser determinado em número de dias da semeadura até o pendoamento, até a
maturação fisiológica ou até a colheita.
Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas em normais,
semiprecoces, precoces e superprecoces (EMBRAPA, 2010). As diferenças no ciclo
das cultivares são determinadas principalmente pelo período compreendido entre a
emergência e o florescimento. O período após o florescimento é mais homogêneo,
embora a perda de umidade de grãos apresente variação entre as cultivares. Algumas
empresas não consideram o grupo semiprecoce e outras incluem ainda o grupo
hiperprecoce.
Tecnicamente o ciclo de uma cultivar leva em consideração o número de
unidades de calor (soma dos graus dias) necessárias para atingir o florescimento.
Unidades de calor são as somas das unidades diárias de calor, a partir da emergência até
ao florescimento masculino (início da polinização), dada pela seguinte expressão:
UC = [(T. máxima + T. mínima): 2)] - 10
Temperaturas máximas iguais ou maiores que 30ºC devem ser
consideradas 30ºC e temperaturas mínimas iguais ou menores que 10ºC devem ser
consideradas 10ºC. As cultivares normais apresentam exigências térmicas entre 890 e
1200 graus-dias (GD); as precoces de 830 a 890 GD e as superprecoces de 780 a 830
GD. Esta classificação não é rigorosa uma vez que as diferenças entre as cultivares mais
tardias e as mais superprecoces pode não chegar a dez dias. Além do que uma cultivar
classificada como superprecoce pode comportar-se como precoce e vice-versa. Por
outro lado as cultivares apresentam diferentes taxas de secagem após a maturidade
fisiológica (dry down), sendo algumas mais rápidas o que permite uma colheita mais
cedo.
No mercado há ampla predominância de cultivares precoces (72,5%) que
são as mais cultivadas tanto na safra como na safrinha. Entretanto, em situações
especiais, para escapar de estresses climáticos como geada, em plantios tardios de
safrinha nos estados mais ao sul, ou em condições de período chuvoso reduzido, como
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em algumas regiões do Nordeste, e mesmo em sistemas de sucessão de culturas em


agricultura irrigada, quando há necessidade em liberar a área para o plantio de uma
outra cultura, as cultivares hiperprecoces ou superprecoces, que representam cerca de
24% do mercado, são utilizadas preferencialmente (Tabela 2).

Tabela 2. Disponibilidade de cultivares transgênicas e convencionais quanto ao ciclo no


mercado brasileiro para a safra 2013/14.
Cultivares Convencional (%) Transgênicos
Superprecoce 23,7 23,7
Precoce 64,2 73,5
Semiprecoce 5,6 2,3
Normal 6,5 0,5
Total 100 100
Fonte: Embrapa (2013).

Como dito, pelo fato desta classificação não ser muito rigorosa, para efeito de
zoneamento agrícola de riscos climáticos, houve uma grande mudança a partir da safra
2009/10. Para efeito de simulação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento classifica as cultivares em três grupos de características homogêneas:
Grupo I (n < 110 dias); Grupo II (n maior ou igual a 110 dias e menor ou igual a 145
dias); e Grupo III (n >145 dias), onde n expressa o número de dias da emergência à
maturação fisiológica (EMBRAPA, 2010).

1.5 Resistência ou tolerância às doenças


As doenças podem ocorrer de forma epidêmica, podendo atingir até 100%
das plantas na lavoura. Em áreas de plantio direto, os problemas poderão ser agravados,
principalmente com cercosporiose, helmintospirose e podridões do colmo e espigas.
Atualmente, o problema com doenças é sério em algumas regiões do país,
especialmente onde a cultura permanece no campo durante todo o ano, como em áreas
irrigadas, ou onde o cultivo de safrinha é significante. Nessas situações, é fundamental a
escolha de cultivares tolerantes às principais doenças para evitar redução de
produtividade.
A sanidade dos grãos também deve merecer atenção na escolha da cultivar.
Essa característica é função da quantidade de inóculo, da resistência genética da cultivar
aos fungos que atacam o grão, sendo normalmente associada a um bom empalhamento,
mas é também dependente das condições climáticas nos estágios de desenvolvimento e
secagem dos grãos no campo. Baixa percentagem de espigas doentes e grãos ardidos são
características que podem estar incorporadas ao insumo semente e representam valor
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agregado, pois melhor qualidade de grãos poderá significar maior preço no mercado
(EMBRAPA, 2010).

1.6 Qualidades de colmo e raiz

Com o aumento do nível tecnológico na cultura do milho, um dos fatores que


deve ser considerado é a resistência da planta ao acamamento e ao quebramento.
Embora essas características também sejam afetadas pelo manejo da lavoura, elas
variam com a cultivar. Lavouras que serão colhidas mecanicamente deverão ser
plantadas com cultivares que apresentam boa qualidade de colmo, evitando, dessa
forma, perdas na colheita.

1.7 Textura e cor dos grãos

As cultivares de milho podem ser agrupadas de acordo com a textura do grão.


Os milhos comuns podem apresentar grãos com as seguintes texturas: 1-dentado ou
mole ("dent"); ou 2 - grão duro ou cristalino ("flint").
Para milhos do tipo dentado (“dent”) (Figura 1) os grãos de amido são
densamente arranjados nas laterais dos grãos, formando um cilindro aberto que envolve
parcialmente o embrião, enquanto na parte central os grãos de amido são menos
densamente dispostos e farináceos. O grão é caracterizado pela depressão ou "dente" na
sua parte superior, resultado da rápida secagem e contração do amido mole;
Para milhos do tipo duro ou cristalino ("flint"), os grãos apresentam reduzida proporção
de endosperma amiláceo em seu interior, notando-se que a parte dura ou cristalina é a
predominante e envolve por completo o embrião. A textura dura é devida ao denso
arranjo dos grãos de amido com proteína.
Existem, ainda, os grãos semiduros (SMDURO) e os semidentados
(SMDENTADO), que apresentam características intermediárias.

Figura 1. Milho dentado (mole)


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Os grãos mais duros apresentam a vantagem de boa armazenagem e qualidade


de germinação. Milhos de grãos mais duros, preferidos pela indústria alimentícia, em
algumas situações alcançam preço um pouco superior no mercado, enquanto os de grãos
dentados não são aceitos ou comprados por um preço menor. No entanto, em materiais
para produção de milho-verde e silagem, grãos dentados são uma característica desejada
e frequente.
Verifica-se no mercado uma predominância de grãos semiduros (em torno de
56%) e duros (em torno de 20%). Materiais dentados são minoria (em torno de 6%)
(Tabela 3) e geralmente são utilizados para a produção de milho-verde ou produção de
silagem.
Tabela 3. Disponibilidade de cultivares transgênicas e convencionais quanto à textura do
grão no mercado brasileiro para a safra 2013/14.
Cultivares Convencional (%) Transgênicos
Duro 22,0 18,9
Semiduro 54,5 58,4
Semidentado 15,9 17,5
Dentado 7,6 5,2
Total 100 100
Fonte: Embrapa (2013).

Com relação à cor do grãos, verifica-se uma predominância no mercado, de


cultivares de grãos alaranjados (AL) ou laranja (LR), variando de cerca de 56% a 65%;
grãos avermelhados (AV) e avermelhados/alaranjados (AV/AL), variando de 5,4% a
7,3%; e grãos amarelados (AM) e amarelados/alaranjados (AM/AL), variando de 26,8%
a 35,4% (EMBRAPA, 2010).
Além desses aspectos relatados acima, as cultivares também se diferenciam em
outras características morfofisiológicas, como: arquitetura de planta, sincronismo de
florescimento, empalhamento, decumbência (percentagem de dobramento de espigas
após a maturação), tolerância a estresses de seca e temperatura, tolerância às pragas,
tolerância ao alumínio tóxico e eficiência no uso de nutrientes, prolificidade, massa de
1000 grãos, stay green e dry down. Todas estas outras características também devem ser
consideradas na escolha da cultivar.

1.8 Altura de planta e de inserção de espiga

Alguns autores têm classificados as cultivares de milho em grupos de: porte


alto, médio e baixo e, não existindo normas para estabelecer limites entre eles, tem se
adotado os seguintes valores: a) porte alto – acima de 2,80 m; porte médio, entre 2,80 e
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2,20 m e c) – porte baixo (menos de 2,20 m). Já a altura de inserção da espiga tem
variado de 0,75 a 1,50 em média. Verifica-se atualmente que a maioria dos cultivares
disponíveis apresentam altura variando de 2,00 a 2,50 m, alturas que podem ser afetadas
por condições ambientais.
A redução do porte de planta de milho pode ser devida a presença do gene
braquítico (br2), que na condição de homozigose provoca o encurtamento dos entrenós
da planta. Geralmente cultivares de ciclo precoce apresentam porte mais reduzido do
que as de ciclo normal, sendo a altura da planta também influenciada pela condição do
meio e, portanto, pela época da semeadura, espaçamento e outras variáveis que influem
na disponibilidade de água, luz e nutrientes.
Tem-se correlacionado o porte da planta com a sua tolerância ou resistência ao
acamamento e quebramento do colmo, de forma que, de modo geral, cultivares de porte
alto tendem a ser mais suscetíveis ao acamamento e quebramento de colmo do que as
cultivares de porte médio e baixo.

1.9 Finalidades da exploração

Além de cultivares direcionadas para a produção de grãos, há as cultivares


específicas para a produção de silagem de planta inteira, silagem de grãos úmidos e
produção de milho verde.

1.2 Milho transgênico

1.2.1 Introdução

Plantas geneticamente modificadas são aquelas cujo genoma foi alterado pela
introdução de DNA exógeno. Este DNA exógeno pode ser derivado de outros
indivíduos da mesma espécie ou de outra espécie completamente diferente, podendo ser
inclusive artificial, isto é, sintetizada em laboratório. O termo organismo geneticamente
modificado (OGM) é também freqüentemente utilizado para indicar, de maneira
genérica, qualquer indivíduo que tenha sido manipulado geneticamente, utilizando as
técnicas do DNA recombinante (Figura 2).
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Figura 2. Transgenia (técnica do DNA recombinante)


Os híbridos transgênicos de milho têm sido desenvolvidos, na sua maioria, de
forma a disponibilizar aos produtores novas alternativas no controle de pragas e
espécies daninhas, principalmente. Além disso, diversas instituições de pesquisa estão
desenvolvendo variedades geneticamente modificadas com maior qualidade nutricional
e com outras características que dificilmente poderiam ser obtidas por meio do
melhoramento genético clássico.
Embora as cultivares transgênicas tenham despertado grande interesse dos
produtores, os consumidores têm manifestado preocupação com as plantas
geneticamente modificadas e os produtos delas obtidos. Essa resistência tem se
mostrado de forma bastante diversificada em diferentes países. Tem sido notada maior
restrição aos OGM na Europa, especialmente nos países escandinavos. (BORÉM e
GIUDICE, 2004).
Uma série de potenciais riscos dos organismos geneticamente modificados tem
sido levantada, dentre as quais: criação de novas espécies daninhas, alergenicidade dos
alimentos, redução da biodiversidade, efeito nocivo sobre insetos não-alvo e escape
gênico. Cada nova cultivar transgênica deve ser minuciosamente analisada quanto a
esses e outros possíveis riscos para a saúde e para o ambiente, antes de ser liberada para
a comercialização.
A análise dos riscos para as cultivares transgênicas para a saúde humana,
animal e para o meio ambiente no Brasil é de responsabilidade da Comissão Técnica
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Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão criado em 1995 na estrutura do ministério


da Ciência e Tecnologia cuja função é assessorar o governo federal quanto às políticas
de biossegurança do País.Composta de 27 membros da comunidade científica e de
representantes da sociedade, a CTNBio tem atuado de forma idônea e independente na
análise dos pedidos de avaliação, estudo e comercialização de organismos
geneticamente modificados no Brasil.
O milho é a segunda cultura transgênica mais cultivada no mundo perdendo
apenas para a soja tolerante ao herbicida Glyphosate, conhecida como soja “Roundup
Ready” (evento GTS-40-3-2). Em 2011, apenas seis países produziram mais de 90% dos
transgênicos cultivados em nível mundial: Estados Unidos (43% do total de cultivos),
Brasil (19%), Argentina (15%), Índia (7%), Canadá (7%) e China (2%). A área total
cultivada com transgênico em nível mundial foi de 160 milhões de hectares, o que,
apesar de elevado, ainda assim, constitui apenas os 3% da área agrícola: 97% da
agricultura mundial continuam, portanto, livre de transgênicos.
No Brasil a aprovação do cultivo e comercialização do milho transgênico
somente aconteceu em 2007, com a aprovação de três eventos transgênicos: Liberty
Link (marca registrada da Bayer CropScience), tolerante ao herbicida Glufosinato de
amônio; Bt 11(marca registrada da Singenta) e o evento MON 810-YieldGard (marca
registrada da Monsanto Campany), os dois últimos tolerantes a algumas espécies de
insetos da ordem Lepdoptera. A aprovação desses eventos pela CTNBio ocorreu após
oito anos de análises e uma década após os transgênicos estarem disponíveis para
cultivo nos EUA e na Argentina (PIONNER, 2008).

1.2.2 Milho geneticamente modificado para tolerância a insetos – Milho Bt

Bt são as iniciais do nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis. Esta


bactéria está presente nos solos dos mais diversos continentes, é gram-positiva, aeróbica
e, quando em condições adversas, podem esporular para sobreviver a essas condições.
Tanto na fase vegetativa como na fase de esporulação essas bactérias produzem
proteínas que têm efeito inseticida (a mesma utilizada em formulações comerciais de B.
thuringiensis de amplo uso na agricultura). Os genes denominados de “cry”, presentes
na bactéria, codificam para diferentes versões de proteínas, produzidas durante a fase de
esporulação, que são específicas para as diferentes ordens de insetos ou mesmo
diferentes espécies dentro da mesma ordem.
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Já foram identificadas diversas proteínas tóxicas que atuam em diferentes


ordens de insetos. Essas proteínas são organizadas em família (existem hoje mais de 50
famílias descobertas) e denominadas segundo um código numérico, por exemplo: a
“Cry 1” que atua sobre insetos da ordem lepidóptera; a “Cry 3”, sobre insetos da ordem
coleóptera e a “Cry 4” que atua sobre dípteros (PIONNER, 2008).
O que torna as proteínas do Bacillus thuringiensis eficientes e seguras para
uso é o seu modo de ação altamente específico, onde cada proteína atua de maneira
singular em uma determinada ordem de insetos. Da forma como são produzidas pelas
bactérias essas proteínas são inócuas porque a parte inseticida está fechada por duas
cadeias protéicas. Para liberar o núcleo inseticida é necessário que a proteína, em forma
de cristal, seja primeiramente ingerida, para depois, em ambiente alcalino (pH > 8), ser
quebrada em pontos específicos que liberem este núcleo ativo. No sistema digestivo de
humano e animais superiores, pelo fato do ambiente ser ácido, a proteína é
completamente degradada em minutos, não apresentando nenhum efeito tóxico em
animais superiores e humanos.
Após o núcleo ativo ser liberado este deve se ligar a receptores específicos na
parede do intestino do inseto-alvo. É, por isso, que diferentes proteínas têm diferentes
especificidades, haja vista a variação desses receptores através das diferentes espécies e
ordens de insetos. Uma vez ligada, a proteína em forma de cristal, inicialmente inibe a
absorção de alimento e depois provoca poros nas membranas do intestino, destruindo-o
por completo e provocando a morte do inseto. Em resumo, são três os passos para que
proteína cristal funcione como inseticida: a) – ingestão pelo inseto; b) – quebra nos
lugares corretos; c) – ligação em receptores específicos (PIONNER, 2008)
As formulações de inseticidas à base de Bacillus thuringiensis utilizadas no
controle de lagartas na cultura do milho (produtos comerciais Dipel e Thuricid) têm a
sua eficiência comprometida pelo fato da dificuldade de fixação das proteínas às folhas,
sujeitas que ficam à lavagem pela água da chuva ou irrigação e ainda pela sua
degradação pela luz solar, haja vista a necessidade de a mesma ser ingerida pelo inseto.
Por essas razões a solução encontrada foi inserir genes específicos de Bacillus
thuringiensis nas plantas de milho por meio da aplicação de técnicas de engenharia
genética de plantas e, assim, foi desenvolvido do milho Bt.
Milho Bt, portanto, é o milho geneticamente modificado no qual foram
introduzidos genes específicos de Bacillus thuringiensis que levam à produção de
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proteínas tóxicas a determinadas ordens de insetos consideradas pragas para a cultura.


Os produtos atualmente no mercado foram desenvolvidos em sua maioria pelo método
da biobalística (Figura 3), que consiste no bombardeamento sobre o tecido vegetal
imaturo de micropartículas de tungstênio recobertas de DNA contendo os genes de
interesse, no caso, genes de Bacillus thuringiensis, bem como outros elementos
necessários ao seu funcionamento em plantas (PIONNER, 2008).

Figura 3. Método da biobalística (bombardeamento de DNA)


Posteriormente, os tecidos que sofreram o bombardeamento são colocados
em meio de cultura apropriados para a regeneração das plantas que serão, por sua vez,
avaliadas quanto à expressão desses genes, isto é, se produzem ou não a proteína e a sua
adequação ao uso comercial. Uma vez fixados esses genes se comportarão como
qualquer gene que a planta já possuía e poderão ser transmitidos através das gerações
seguintes em programas regulares de melhoramento genético e desenvolvimento de
híbridos.
Os benefícios da tecnologia Bt estão no fato da presença da proteína em todas
as partes da planta ao longo do seu ciclo o que permite o controle das pragas desde os
seus estádios iniciais até as fases finais de desenvolvimento, evitando a reinfestação, o
aumento da pressão dos insetos e, no caso da lagarta do cartucho (Spodoptera
frugiperda), o seu possível alojamento nas espigas.
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O controle desde a fase inicial é também fator especialmente útil para insetos
que atacam o interior do colmo, como a broca da cana de açúcar (Diatraea sacharallis).
As proteínas tóxicas degradam-se rapidamente nos restos culturais não se constituindo
em fator de contaminação ambiental. Com a tecnologia Bt têm-se as seguintes
vantagens: a) – menor impacto ambiental decorrente da não aplicação ou menor uso de
inseticidas tóxicos e poluentes (redução do risco de intoxicação, contaminação do meio
ambiente, preocupação com descarte de embalagens, etc.) ; b) - economia com água e
combustível decorrente da redução ou não aplicação de inseticidas; c) – preservação dos
inimigos naturais e insetos benéficos; d) – menor custo e melhor qualidade dos
alimentos ( o milho Bt e menos atacado pelos fungos, portanto, apresenta menor
quantidade de micotoxinas), e) – controle satisfatório da broca-do-colmo e da lagarta da
espiga ( praga para as quais não existem hoje método eficiente de controle.). De acordo
com a EMBRAPA (2011), em geral, tem-se conseguido uma redução de perda da ordem
de 16 a 20% na colheita com o uso da tecnologia Bt.
Por outro lado são apontadas como desvantagens do uso desta tecnologia o
maior custo das sementes, pois o agricultor estará pagando antecipadamente pelo
controle de pragas, que podem ou não ocorrer em determinadas épocas ou áreas. Outra
desvantagem é a necessidade do produtor de obedecer às regras de coexistência em que,
a não observação das mesmas, pode levá-lo a sofrer penalidades previstas na legislação,
podendo ser autuado pela Fiscalização Federal Agropecuária do Ministério de
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Na safra 2013/2014 foram disponibilizadas 467 cultivares de milho, sendo
253 cultivares transgênicas (54,17%), ocorrendo, pela primeira vez, maior
disponibilidade de cultivares transgênicas do que convencionais (EMBRAPA, 2013).
As proteínas do Bt apresentam alta especificidade, sendo que mesmo dentro
do grupo de insetos a atividade de cada proteína é diferenciada. A eficiência para
algumas das espécies-alvo é bastante alta e pode dispensar totalmente a aplicação de
defensivos. Entretanto, para os dados indicam variação na proteção oferecida às plantas,
portanto, dependendo do híbrido, do evento e da intensidade de infestação, pode ser
necessário controle complementar com a aplicação de inseticida.
O milho Bt disponível comercialmente hoje no Brasil utiliza toxinas com
maior especificidade para os lepidópteros-praga (lagartas), estando disponíveis para
comercialização eventos que expressam diferentes proteínas (Tabela 4). No registro das
17

empresas, as pragas-alvo incluem três espécies: a lagarta-do-cartucho do milho (lcm),


Spodoptera frugiperda; a lagarta-da-espiga do milho (lem), Helicoverpa zea; e a broca
da cana-de-acúcar (bca), Diatraea saccharalis. Entretanto, há dados na literatura
indicando também a atividade dessas toxinas sobre a lagarta-elasmo, Elasmopalpus
lignosellus. (EMBRAPA, 2012).
Tabela 4. Eventos de milho geneticamente modificados que expressam proteínas
inseticidas de B. thuringiensis liberadas para cultivo no Brasil desde 2007.
Ano/ Evento Marca comercial proteinas lagartas

2007 MON 810 Yieldgard Cry 1Ab lcm; lem; bca


2008 Bt 11 Agrisure TL Cry 1Ab lcm; lem; bca
2008 TC1507 Herculex I Cry 1 F lcm; lem; bca
2009 MON 89034 Yieldgard VT PRO Cry1A.105/2Ab2 lcm; lem; bca
2009 MIR 162 TL Viptera VIP3Aa20 lcm; lem; bca
2010 BT11xMIR162 Agrisure Viptera Cry 1Ab/Vip3Aa20 lcm; lem; bca
2010 MON 89034+TC1507 Power Core PW Cry1A.105/2Ab2/Cry1F lcm; lem; bca
2011 TC1507 x MON 810 OptimumTM Cry 1 F/ Cry 1Ab lcm; lem; bca
Obs: lcm = lagarta do cartucho do milho; lem = lagarta da espiga do milho; bca = broca da cana
de açúcar.
Fonte: Embrapa (2012)

1.2.2.1 Manejo da resistência de insetos

Uma das maiores preocupações no uso do milho Bt é a seleção de insetos


resistentes que possam reduzir a vida útil da tecnologia. O fenômeno de seleção de
insetos resistentes já está presente na agricultura, tendo já sido catalogadas mais de 500
casos de insetos e ácaros resistentes a, pelo menos, uma classe de defensivos agrícolas,
o que ocorre pela seleção de indivíduos já resistentes que, com a eliminação dos outros
indivíduos da população, têm maiores chances de se reproduzir e passar essas
características a seus descendentes (PIONNER, 2008).
Desta forma, para a utilização do milho Bt, é necessário que o produtor cumpra
duas regras: a) - a de coexistência, exigida por lei; e b) - a regra do Manejo da
Resistência de Inseto (MRI), recomendada pela Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio).
Coexistência - A regra exige o uso de uma bordadura de 100m isolando as
lavouras de milho transgênico das de milho que se deseja manter sem contaminação de
transgênico. Alternativamente, pode-se usar uma bordadura de 20m, desde que sejam
semeadas 10 fileiras de milho não-transgênico (igual porte e ciclo do milho
transgênico), isolando a área de milho transgênico.
18

Área de refúgio - A recomendação da CTNBio para o MRI é a utilização de


área de refúgio. Esta recomendação é o resultado do consenso de que o cultivo do milho
Bt em grandes áreas resultará na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às
toxinas do Bt.
Obviamente, o monitoramento da infestação das plantas também é importante,
pois, dependendo do híbrido utilizado e da intensidade da infestação, o produtor pode
precisar adotar medidas de controle complementares. No Brasil, a área de refúgio é a
semeadura de milho não Bt, utilizando híbridos de igual porte e ciclo, de preferência o
seu similar Bt, em cinco ou dez por cento da área cultivada com milho Bt, dependendo
da recomendação da empresa detentora do evento. A área de refúgio não deve estar a
mais de 800m de distância das plantas transgênicas. Esta é a distância máxima
verificada pela dispersão dos adultos da lagarta do cartucho do milho no campo. Todas
as recomendações são no sentido de sincronizar os cruzamentos dos possíveis adultos
sobreviventes na área de milho Bt com suscetíveis emergidos na área de refúgio. O
refúgio estruturado deve ser desenhado de acordo com área cultivada com o milho Bt
(Figura 4). Para glebas com dimensões acima de 800m cultivadas com milho Bt, serão
necessárias faixas de refúgio internas nas respectivas glebas. Ainda segundo a
recomendação da CTNBio, na área de refúgio é permitida a utilização de outros
métodos de controle, desde que não sejam utilizados bi inseticidas à base de Bt.
A intenção das áreas de refúgio é permitir que nas redondezas do campo, onde
esteja semeado o milho Bt, ocorra uma população de insetos suscetíveis e estes se
cruzem com os prováveis insetos resistentes (escapes) da área com o gene Bt. Desse
modo se obtém um descendência que mantém uma proporção de indivíduos suscetíveis
na população original, evitando-se, assim, o aparecimento de insetos resistentes (Figura
5).
Responsabilidade de execução da área de refúgio e riscos da não
adoção.

Nas embalagens de sementes de milho Bt, há um contrato através do qual o


produtor, ao abri-las, assume a responsabilidade de seguir as normas de coexistência e
as de manejo da resistência. Portanto, cabe ao produtor a responsabilidade do uso dessas
regras. O principal risco do não uso da área de refúgio está na rápida seleção de raças
das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. Assim, o produtor que não utilizar a prática
19

do manejo da resistência será, sem dúvida, a primeira vítima da quebra da resistência,


não obtendo controle das pragas-alvo com os híbridos de milho Bt.

Figura 4. Esquemas de áreas de refúgio

Figura 5. Esquema do manejo de resistência

Na Figura 6 observa-se, `a direita milho transgênico Bt, sem danos, e à


esquerda o milho convencional, mostrando os danos sofridos pelo ataque da lagarta do
cartucho..
20

Figura 6. À direita, milho transgênico, à esquerda convencional

Seletividade a organismo não alvo e a inimigos naturais

A especificidade das toxinas do Bt resulta em alta seletividade na sua atividade,


agindo apenas nas espécies-alvo. Assim, afeta menos a comunidade dos insetos que
utilizam o milho como hospedeiro que a utilização de inseticidas convencionalmente
utilizados, por exemplo. Essa seletividade inclui também a comunidade de inimigos
naturais, abelhas e outros insetos como pulgões e tripes. Dados mostram que essas
toxinas, nas formulações de inseticidas à base de Bt empregadas na agricultura, têm sido
consideradas relativamente não tóxicas para abelhas, existindo inclusive uma
formulação comercial para controle de traça-da-cera em favos de mel. Para predadores,
como alguns percevejos e joaninhas, as pesquisas realizadas até o momento indicam
ausência de efeito negativo sobre esses insetos (EMBRAPA, 2012).

1.2.3 Milho geneticamente modificado para tolerância a Herbicidas

As plantas daninhas são responsáveis por enormes prejuízos à agricultura,


vários métodos são empregados no seu controle, entre eles o controle químico com
herbicidas. Uma limitação até então dos herbicidas não-seletivos é que sua aplicação
deve ocorrer antes da emergência da cultura, porém, após a emergência das espécies
daninhas.
Atualmente estão sendo comercializados híbridos de milho tolerantes aos
herbicidas Sulfoniluréia, Glyphosate e Glufosinato. Um grande número de gramíneas e
de espécies de folhas largas é eficientemente controlado pelos herbicidas aos quais as
variedades transgênicas são tolerantes, permitindo aos produtores maior flexibilidade no
manejo e no controle dessas espécies, com menor custo. O uso de híbridos tolerantes a
herbicidas, além de permitir controle mais eficiente das espécies daninhas, aumenta a
21

flexibilidade na rotação de culturas e na adoção alternativa de sistemas de cultivo, como


o plantio direto na palha e o cultivo mínimo de preparo do solo (BORÉM e GIÚDE,
2004).
O gene inserido nas variedades tolerantes ao Glyphosate é denominado “cp4-
epsps”, sendo sua função codificar para a enzima CP4 EPSPS que confere a tolerância a
este herbicida. Tal característica foi obtida pela inserção de um gene da enzima
enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintetase (EPSPS), oriundo da bactéria Agrobacterium
spp, o qual impede o desenvolvimento das plantas. Esta enzima não é bloqueada pelo
Glyphosate, permitindo o crescimento normal das plantas de milho quando pulverizadas
com o produto. Linhagens e híbridos que possuem o gene “cp4 epsps” para tolerar a
ação do Glyphosate permitem a aplicação desse herbicida em pós emergência às plantas
daninhas e à cultura.
Nos híbridos desenvolvidos para serem tolerantes ao herbicida Glufosinato de
amônio foi introduzido o gene “pat” que confere tolerância a esse produto. Este gene foi
clonado do fungo actonomiceto Streptomyces viridochromogenes e codificado para a
enzima fosfinotricina-N-acetiltransferase (PAT) (BORÉM e GIÚDICE, 2004).
O desenvolvimento de variedades tolerantes a herbicidas é uma das primeiras
características agronômicas desenvolvidas pela indústria de biotecnologia do mundo.
Estas plantas geneticamente modificadas visam tornar o controle de plantas daninhas
mais prático, econômico e com menor impacto no meio ambiente. Segundo Borém e
Giúdice (2004) os benefícios das plantas geneticamente modificadas tolerantes a
herbicidas, quando comparadas às convencionais, em sistemas de alta tecnologia,
incluem:
 Menor volume de aplicação de herbicidas;
 Maior conservação do solo de corrente do menor trânsito de máquinas
(pulverizações);
 Redução dos custos com a redução das pulverizações;
 Redução do problema de fitotoxicidade para as culturas seguintes
(certos eventos permitem a aplicação somente até um determinado
estádio de desenvolvimento da planta);
 Controle eficiente de um grande espectro de gramíneas e folha larga;
 Contabilidade total com o sistema de plantio direto.
 Utilização de herbicidas com menor toxicidade para o meio ambiente.
22

Na safra 2013/2014 foram comercializado três eventos transgênicos que


conferem resistência ao herbicida Glufosinato aplicado em pós-emergência
(EMBRAPA, 2013).
a) – evento NK603, marca Roudup Ready (RR);
b) – evento GA 21-TG.
c) – evento Liberty Link. Este evento está presente nos milhos Herculex 1
que, desta forma, são tolerantes às lagartas e ao herbicida Glufosinato de amônio.
Na safra 2013/2014 foram disponibilizadas 65 cultivares transgênicas para,
simultaneamente, controle de lagartas e resistência aos herbicidas Glyphosate e/ou
Glufosinato de amônio, aplicados em pós-emergência no milho e dez cultivares com
resistência exclusivamente ao herbicida Glyphosate, (EMBRAPA, 2013). Os eventos
transgênicos tanto para resistência a insetos como para tolerância a herbicidas, presentes
nas cultivares de milho comercializadas em 2013, encontram-se descritos na Tabela 6.

Tabela 6. Marca, Sigla, Classe de inseto e herbicida dos eventos disponíveis nas
cultivares de milho transgênicas, comercializadas no Brasil em 2013.
Marca Sigla Classe: inseto/herbicida
YieldGard YG, Y Lepidópteros
Herculex I Hx, H Lepidópteros/Glufosinato de Amônio
Agrisure TL TL Lepidopteros /Glufosinato de Amônio
Agrisure TG TG Glifosato
YieldGardVT PRO PRO Lepidópteros
YieldGardeVT PRO 2 PRO 2 Lepidóptero/Glifosato
YieldGardeVT PRO 3 PRO 3 Lepidóptero/Coleóptero/Glifosato
Viptera VIP, Viptera Lepidópteros
Roundup Ready 2 RR, RR2 Glifosato
OptimumTMIntrasectTM YH Lepidóptero/Glufosinato de Amônio
Agrisure TL + Agrisure TG TLTG Lepidóptero/Glufosinato de
Amônio/Glifosato
Agrisure TL + Agrisure TG + TLTG Viptera Lepidópteros/Glufosinato de
Viptera Amônio/Glifosato
YieldGard + Roundup ready 2 YR, YGRR2 Lepidópteros/Glifosato

Herculex + Roundup Ready 2 HR Lepidópteros/Glufosinato de


Amônio/Glifosato
YeldGardVTPRO + Herculex + PW Lepidópteros/Glufosinato de
Roundup Ready Amônio/Glifosato
YeldGard + Herculex + Roundup HXYGRR2, Lepidópteros/Glufosinato de
Ready 2 YHR Amônio/Glifosato
Fonte: Embrapa (2013a)

BIBLIOGRAFIA
23

BORÉM, A.; GIÚDE, M. P. de. Cultivares transgênicos. In: GALVÃO, J. C. C;


MIRANDA, G. V. (Eds). Tecnologias de Produção do Milho. Viçosa: Editora UFV,
2004, p. 85 – 108.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. Cultivo do milho.


Sistema de Produção 1. Versão eletrônica. Set/2010. Disponível em:
http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_6_ed/cultivares.htm Consulta em
26/02/2015.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Milho - Coleção 500


perguntas-500 respostas. Brasília: Embrapa, 2011. 338p.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. Cultivo do milho. Sistema


de Produção, 1. Versão Eletrônica – 8ª edição. Out/2012. Disponível em:
http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_8_ed/milhobt.htm. Consulta em
28/01/2015.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. Cultivares para a Safra


2013/2014. 2013. Disponível no site: www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares.
Consulta em: 13/01/2015.

EMBRAPA. Empresa Nacional de Pesquisa Agropecuária. Indicações Técnicas para o


cultivo do milho e do sorgo no Rio Grande do Sul. 58ª Reunião Técnica Anual e de
Milho. Pelotas: Embrapa. Clima Temperado. 2013a. 113p.

PATTERNIANI, E e MIRANDA FILHO J. B. Melhoramento de populações. In:


PATTERNIANI, E e VIEGAS, G. P. (Eds). Melhoramento e Produção de Milho.
Campinas, Fundação Cargil, 1987, vol. 1, p. 217-274.

PIONNER. Pionner Responde – milho Bt. Revista Pionner, 2008 15p.


24

PARTE – II

IMPLANTAÇÃO DA CULTURA
25

1. SEMEADURA

1.1 – Época
O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo,
temperatura, radiação solar e fotoperíodo. A época de plantio é função destes fatores,
cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática. A época de
semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias
mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas
mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar (EMBRAPA, 2010), isto,
considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta.
Trabalho de pesquisa mostra que as épocas em que a produtividade de grãos
foram maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de
quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem sob boas condições de
água no solo. Nas condições tropicais, devido à menor variação da temperatura e do
comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor
época de semeadura.
No Sul do Brasil, o milho geralmente é cultivado de agosto a setembro e, à
medida que se caminha para os estados do Centro-Oeste e Sudeste, a época de
semeadura na safra varia de outubro a novembro. Resultados de pesquisa mostram que
atraso na época de semeadura além dos meses de setembro - outubro resulta em redução
no ciclo da cultura e na produtividade de grãos (EMBRAPA, 2010).
A época de semeadura afeta várias características da planta, ocorrendo um
decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade) e na
produtividade de grãos. Vários resultados da literatura mostram que o atraso na
semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores a 60 kg/ha/dia. Essa
26

tendência pode ser revertida se não houver déficit hídrico e, ocorrer uma redução na
temperatura do ar, nos meses de fevereiro – março
Comparando as épocas de semeadura das lavouras com produtividades de
grãos superiores a 8.000 kg ha-1, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo verificaram
que na região Sul do Brasil observa-se que o Estado do Rio Grande do Sul obtém
maiores produtividades com a semeadura mais cedo. Cerca de 90% da área é semeada
nos meses de agosto e setembro. Em Santa Catarina, 80% dos cultivos são realizados
também nos meses de agosto e setembro. Esses resultados caracterizam-se pelo fato de
serem locais com clima característico de regiões subtropicais. No Estado do Paraná, os
resultados observados mostram que a época de semeadura das lavouras de maiores
produtividades se concentra nos meses de setembro e outubro (EMBRAPA, 2010).
Na região Sudeste, as épocas de semeadura das lavouras de milho de alta
produtividade concentram-se nos meses de outubro e novembro, chegando a cerca de
80% das lavouras com produtividade acima de 8.000 kg ha-1. O mesmo ocorre nos
estados da região Centro-Oeste, onde as melhores lavouras de milho são semeadas,
principalmente, nos meses de outubro e novembro. Com a análise dos levantamentos,
pode-se concluir que as diferenças edafoclimáticas de cada região influenciam muito na
tomada de decisão da época de semeadura da cultura de milho.
Por ser semeado no final da época recomendada, o milho safrinha ou segunda
safra, tem sua produtividade de grãos bastante afetada pelo regime de chuvas e por
fortes limitações de radiação solar e temperatura na fase final de seu ciclo. Além disso,
como o milho segunda safra é semeado após uma cultura de verão, a sua data de
semeadura depende da época da semeadura dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o
planejamento do milho safrinha começa com a cultura do verão, visando liberar a área o
mais cedo possível. Quanto mais tarde for a semeadura, menor será o potencial e maior
o risco de perdas por seca e/ou geadas (EMBRAPA, 2010).
Uma análise realizada pela Embrapa (EMBRAPA, 2010) por estado mostrou
que nos estados do PR e MS as maiores freqüências de altas produtividades de milho
safrinha são obtidas em semeadura entre a primeira quinzena de fevereiro e a primeira
quinzena de março. Em MT e GO as maiores frequências de altas produtividades são
obtidas no mês de fevereiro, sendo que em GO se concentram mais na primeira
quinzena enquanto em MT se concentram na segunda quinzena. No Estado de São
Paulo, a época de semeadura de maiores quantidades de lavouras de milho estende-se
até o mês de abril.
27

Hoje, com os avanços nos trabalhos na área de climatologia, o Brasil já tem um


Zoneamento Agrícola para o milho, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, que fornece informações sobre as épocas de semeadura, tanto na
primeira como na segunda safra, com menores riscos, para quase todo o país.

1.1.1 - Épocas de semeadura do milho safrinha no Mato Grosso do


Sul/Zoneamento Agrícola.

Objetivando estabelecer a época de semeadura de milho de sequeiro para as


diferentes regiões, foi desenvolvido um estudo para recomendação das épocas de
semeadura em função dos períodos críticos da cultura a estresse hídrico. Nesse trabalho,
além de ser considerado o fator climático precipitação (intensidade e distribuição) e os
elementos temperatura e radiação na estimativa da demanda de água pela planta,
levaram-se também em consideração aspectos fisiológicos da planta e características
físico-hídricas dos solos. As épocas de semeadura de menor risco para a cultura do
milho no Estado de Mato Grosso do Sul podem ser vistas no zoneamento agrícola de
risco climático disponibilizado pelo Ministério da Agricultura, além da Portaria do
Zoneamento para o estado. Na Tabela 7 encontram-se as datas limites para a semeadura
do milho safrinha (segunda safra) nos Estado de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso
(Tabela 7) de acordo com a Embrapa (2009).
O milho safrinha, que é semeado além dos limites dos Cerrados, não tem um
período pré-fixado para sua semeadura, como o milho de safra normal, que é semeado no
início das chuvas. É uma cultura desenvolvida de janeiro a abril, normalmente após a soja
precoce e, em alguns locais, após o milho de verão e o feijão das águas. Isso a torna uma
cultura de alto risco, uma vez que a estação chuvosa encontra-se no fim, o que
proporciona uma variabilidade espacial e temporal muito grande e, como conseqüência,
uma variabilidade de produção. Na safrinha, além do potencial de produção ser reduzido,
há alto risco de frustração de safras, baixo investimento na cultura e, conseqüentemente,
baixa produtividade. O principal fator de risco é o déficit hídrico, sendo atenuado nas
áreas de maior altitude (acima de 600 metros) em razão das temperaturas amenas
proporcionarem menor evapotranspiração (EMBRAPA, 2009).

Tabela 7. Limites das épocas de semeadura para a cultura do milho safrinha para os
Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso .
.Estado Data limite Altitude Região (cidade referência)
28

Baixa e Alta Centro-Norte (Campo Grande,


Mato Grosso do Sul 15 de março São G. do Oeste, Chapadão do
Sul)
Baixa Centro-Sul (Dourados,
Sidrolandia, Itaporã, Ponta Porã)
Mato Grosso 15 de março Alta Centro Norte (Sapezal, Lucas do
Rio verde)
Fonte: Embrapa (2009).

1.2 Sementes
1.2.1 Tamanho e forma das sementes

As sementes de milho por apresentarem forma e tamanho diferenciado na


espiga, no beneficiamento, são separadas em função dessas características, sendo que
elas determinam as regulagens de semeadoras, afetam o tipo e a quantidade de danos
mecânicos e o tratamento químico das sementes. (ANDRADE, 1998).
Para uniformizar e facilitar a semeadura as semente de milho são classificadas
quanto a forma em redondas e chatas, as quais são separadas em diversos tamanhos
(largura, comprimento e espessura) e classificadas em peneiras de furos redondos e
oblongos. Biruel et al. (2010) mencionam que o tamanho das sementes pode ser
considerado um indicativo de sua qualidade fisiológica, sendo que sementes pequenas,
geralmente tendem a apresentar menores valores de germinação e vigor em comparação
as de tamanhos médio e grande. As sementes de maior tamanho geralmente são mais
bem nutridas durante o seu desenvolvimento, possuindo embriões bem formados e com
maior quantidade de substâncias de reserva, sendo, conseqüentemente, as mais
vigorosas (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000). Vanzolini e Nakagawa (2007)
concluíram que sementes menores tendem a germinar mais rapidamente, mas as maiores
originam plântulas de maior tamanho e massa, características essas que propiciam um
maior desenvolvimento inicial.
Estudos têm demonstrado a influência do tamanho e formato de sementes, tanto
nas fases iniciais, como nos componentes de produção e produtividade final de algumas
culturas (KARA, 2011; GHOLIZADEH et al., 2011), no entanto, na cultura do milho
vários trabalhos têm demonstrado não haver relação entre o tamanho de semente,
porcentagem e velocidade de emergência e a produtividade de grãos da cultura.
Trogello et al. (2012) avaliaram a influência de diferentes classes de tamanhos e
formatos de sementes sobre o desenvolvimento e produtividade da cultura do milho na
região sudoeste do Paraná e concluíram que os diferentes tamanhos e formatos de
29

semente de milho não influenciaram a germinação, os componentes de produção e a


produtividade final da lavoura.
Sangoi et al. (2004) também concluíram que o tamanho da semente não
interfere sobre a capacidade de elongação do mesocótilo, a porcentagem e a velocidade
de emergência da cultura do milho, independente da profundidade e da época de
semeadura, todavia, observaram que sementes grandes aumenta o crescimento inicial da
cultura, propiciando a formação de plantas mais altas e maior acúmulo de fitomassa em
relação as sementes pequenas. Já Vasquez et al (2012) concluíram que alterações no
tamanho de sementes de milho interferem apenas no desenvolvimento inicial das
plantas. Após 40 dias da emergência, a altura das plantas e da inserção da primeira
espiga, o diâmetro do colmo, o número de grãos por espiga, o peso e o tamanho do grão
colhido e a produtividade de grãos não sofrem interferência do tamanho e da forma da
semente de milho empregada em semeadura normal de verão.
Para a Embrapa (2002) o tamanho e a forma das sementes não afetam a
produtividade da lavoura de milho desde que as condições do solo, principalmente
umidade, sejam adequadas, caso contrário o tamanho poderá influenciar em função das
sementes pequenas terem menos reserva no endosperma.
Sementes pequenas, contudo, podem acarretar uma economia na semeadura de
até 44% em relação às sementes maiores (EMBRAPA, 2002) devido gastarem menor
quantidade (kg ha-1). Atualmente as firmas de sementes comercializam o saco de
sementes geralmente com 60.000 sementes, quantidade suficiente para a semeadura de 1
hectare. A quantidade de sementes necessárias para a semeadura de 1 ha depende
basicamente do tamanho (peneira) e do seu poder germinativo. Para se calcular o quanto
de sementes (kg) se deve utilizar por hectare o produtor precisa saber o peso de 1.000
grãos e a porcentagem de emergência das sementes a campo, e empregar a seguinte
expressão:
Qtde de sementes (kg ha-1) = nº sementes m-2 x peso de 1000 sementes (gramas)
Emergência das sementes campo (%)

1.2.2 Tratamento de Sementes

1.2.2.1Tratamento com fungicidas

A semente é o vetor mais eficiente de disseminação de patógenos devido às suas


características intrínsecas, uma vez que o patógeno veiculado por ela tem maior chance
de provocar doença na planta oriunda dela se espalhar para outras plantas sadias,
30

iniciando assim uma epidemia. A eficiência da semente como vetor independe da


distância, sendo que os patógenos podem permanecer viáveis por períodos de tempo
mais longos, mantendo sua patogenicidade inalterada (PARISI e MEDINA, s/d).
O uso de sementes certificadas com boa qualidade física, fisiológica e sanitária
é uma das medidas mais eficientes de controle das doenças disseminadas por sementes.
Para tanto, é necessário que o produtor confira a qualidade das sementes antes da
semeadura, através das análises de pureza, germinação e sanidade realizadas em
Laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Quando não se dispõe de sementes de boa qualidade em quantidade suficiente
ou se deseja introduzir materiais de procedências duvidosas, ou ainda para reduzir o
potencial de inóculo primário, recomenda-se o tratamento das sementes.
Fungos de semente e de solo podem afetar a germinação do milho e reduzir a
emergência, principalmente em condições adversas como solo frio, seco ou úmido,
nestas condições há impedimento da germinação ou retardamento na velocidade de
emergência das plântulas expondo-as por um maior período ao ataque dos fungos. O
tratamento de sementes contribui para a manutenção do estande, além de reduzir a
disseminação de vários patógenos. De acordo com Lasca et al. (2005) falhas na
emergência refletem diretamente na densidade final de plantas e, conseqüentemente, na
produtividade pelo fato do milho, segundo Fancelli e Dourado Neto (2000), ter uma
baixa capacidade efetiva de recuperação entre plantas.
De acordo com Pinto (1998), os principais fungos que infestam ou infectam
sementes de milho nas condições brasileiras são Fusarium moniliforme e
Cephalosporium sp. no campo e Aspergillus sp. e Penicillium sp em armazenamento.
Entre os fungos de solo que afetam a germinação do milho destacam-se espécies de
Pythium, Rhizoctonia e Fusarium.
O tratamento químico de sementes além de ser econômico e de fácil execução, é
também considerado seguro ao homem e ao ambiente. Devido à pequena quantidade de
produtos adicionados às sementes e estes estarem em contato direto com o sítio alvo, é
um método pouco prejudicial ao ambiente, quando comparado aos sistemas
convencionais de tratamento de doenças, via aérea. Esta prática representa apenas 0,5 a
1,0% do custo de produção das culturas. 100% das sementes de cultivares híbridos de
milho são tratados com fungicidas e 85% com inseticidas (PARISI e MEDINA, s/d).
Os principais requisitos para um fungicida destinado ao tratamento das sementes
são que ele seja tóxico aos patógenos, não fitotóxico, não acumulável no solo, que tenha
alta persistência nas sementes, grande capacidade de aderência às sementes e cobertura
31

das mesmas, ser compatível com inseticidas, ser efetivo sob diferentes condições
agroclimáticas, ser seguro para os operadores durante o manuseio e a semeadura, não
deixar resíduos nocivos na planta e ser economicamente viável.
Quanto ao modo de ação, os fungicidas utilizados no tratamento das sementes
de milho podem ser classificados em desinfectante, desinfestante, protetor e erradicante.
O fungicida com ação desinfectante atua no controle dos patógenos localizados dentro
das sementes (endosperma e embrião) ou nos tecidos do pericarpo. Os patógenos
infectantes são controlados por fungicidas de ação sistêmica, os quais são absorvidos e
difundem dentro das sementes (p. ex Thiabendazole). O fungicida com ação
desinfestante atua no controle do patógeno que está localizado externamente na
superfície das sementes. Para a desinfestação das sementes de milho destacam-se o
Captan, o Thiran, o Quintozene, o Tolylfluanid. O fungicida com ação protetora é
aquele que protege as sementes e as plântulas contra o ataque de fungos das sementes e
do solo. O fungicida com ação erradicante é aquele que elimina o patógeno que está
associado às sementes, quer seja fungo infectante ou infestante. Ressalta-se que os
fungicidas sistêmicos podem atuar como desinfectantes e erradicantes (ALMEIDA
PINTO, 2007)
As sementes quando tratadas com fungicida de comprovada eficiência, ficam
protegidas contra os patógenos por elas transmitidos e contra os patógenos habitantes do
solo. Isso propicia maior índice de emergência das plântulas garantindo alto estande da
cultura. O tratamento das sementes com fungicida é indicado quando: a) – as sementes
são destinadas à formação de campo de produção de sementes; b) – quando se quer uma
uniformidade de estande; c) – quando houver possibilidade da germinação ser retardada
devido às condições desfavoráveis de solo frio, seco ou úmido; d) – em áreas de plantio
direto com o milho como cultura anterior; e) – quando a infecção fúngica for a razão da
baixa germinação; e f) - quando os patógenos transmitidos pelas sementes representam
uma ameaça para a produção de grãos ou de sementes de milho (ALMEIDA PINTO,
2007).
A seleção do fungicida e a segura identificação do fungo na semente ou no solo
são de fundamental importância e devem ser fundamentadas em resultados da pesquisa.
Deve-se verificar no rótulo do produto para quais fungos o fungicida está indicado. Esse
procedimento evita a utilização de fungicida ineficiente contra um determinado fungo.
Por exemplo, o fungicida Thiabendazole não apresenta eficiência no controle de
32

Pythium spp, mas é eficiente no controle de Fusarium spp. O Quintozene é muito


eficiente no controle de Rhizoctonia spp., mas sem efeito em relação ao Fusarium spp
(ALMEIDA PINTO, 2007). A Tabela 5 relaciona os fungicidas recomendados para o
tratamento de sementes de milho.
Tabela 5. Fungicidas registrados no MARA para tratamentos de sementes de milho
Produto Comercial (PC) Ingridiente Fungos controlados Dose/ PC
Ativo (100 kg/sementes)
Captan 200 FS Captana Pythium spp 375 ml
Rizoctonia solani
Captan 500 TS Captana Fusarium moliniforme 300 g
Fusarium moliniforme
Stenocarpella maydis
Captan 750 TS Captana Coletroticum graminicola 160 g
Pythium spp

Vitavax-Thiram 200 SC Carboxin Acremonium strictum


+ Aspergillus spp 250-300 ml
Thiram Fusarium moliniforme
Penicillium oxalicum
Maxim Fludioxonil Fusarium moliniforme 150 ml
Maxim XL Fludioxonil Pythium aphanidermatum
+ Fusarium moliniforme 100-150 ml
Metalaxyl-M
Carboxina + Tiram Derosal Plus Aspergillus flavus;
Helminthosporium maydis; 200 – 300 ml
Fusarium moliniforme;
Fusarium moliniforme

Fonte: Embrapa (2013 a)

1.2.2.2 Tratamentos com inseticidas


O tratamento de sementes na lavoura de milho proporciona menor incidência
do ataque das chamadas pragas do solo que ocorrem na lavoura durante a germinação
das sementes, emergência de plântulas e fase inicial de crescimento vegetativo, afetando
significativamente a produção de grãos. Várias espécies de insetos atacam as sementes,
raízes e plântulas do milho após a semeadura reduzindo o estande e o potencial
produtivo da lavoura. Esses insetos são de hábito subterrâneo ou superficial e, na
maioria das vezes, passam despercebidos pelo agricultor, dificultando o emprego de
medidas para o seu controle. A importância desses insetos varia de acordo com o local,
ano e sistema de cultivo e medidas de proteção das sementes e plântulas recém-
emergidas atuam como uma prevenção contra o ataque dessas pragas.
A utilização de híbridos de alto potencial produtivo, juntamente com o uso de
sementes tratadas com inseticidas na semeadura tem se mostrado uma excelente opção
33

adotada pelos produtores como solução para o controle de insetos, além de reduzir a
necessidade de pulverização nos estádios iniciais da cultura. Existem no mercado
diversos inseticidas registrados para o tratamento de sementes de milho com diferentes
indicações em função das pragas ocorrentes.
Atualmente os inseticidas do grupo químico neonicotinóides (Imidacloprid,
Tiametoxan, Tiacloprid e Acetamiprid) têm sido um dos mais utilizados tanto no
controle das pragas iniciais sugadoras que atacam a lavoura de milho como sobre os
insetos mastigadores que danificam as sementes e/ou as plântulas (MACHADO et al,
2006).
Nas doses recomendadas, a circulação dos neonicotinóides nas plantas
promove a proteção contra os pulgões, percevejos, cigarrinhas, tripes, mosca - branca e
minadores de folhas, por até 40 dias; esse longo período residual tem promovido uma
verdadeira revolução no controle dos insetos - vetores de patógenos, ou toxinas, com
grande benefício para os produtores e para o ambiente (BRANDL, 2001).
O Fipronil que pertence à classe dos Phenilpirazoles, tem atividade expressiva
sobre os insetos-praga em geral, principalmente aqueles de hábitos subterrâneos e
sociais, como cupins e formigas (MACHADO et al., 2006), enquanto os carbamatos e
os fosforados apresentam espectro de ação mais variável agindo sofre diferentes pragas
em variadas circunstâncias (MELO et al, 2012).
Os inseticidas de tratamento de sementes no solo desprendem-se das mesmas e,
devido sua baixa pressão de vapor e solubilidade em água, são lentamente absorvidos
pelas raízes, conferindo à planta um adequado período de proteção contra insetos do
solo e da parte aérea (SILVA, 1998). Na Tabela 6 estão relacionados os inseticidas
registrados para o tratamento de sementes de milho.
O tratamento de sementes de milho híbrido é realizado por empresas produtoras
de sementes, que as comercializam já tratadas. Existem vários benefícios ao se adquirir
as sementes já tratadas pela empresa produtora. Um deles é a garantia de qualidade, já
que o tratamento industrial das sementes é feito de forma mais uniforme, com doses
mais precisas do ingrediente ativo por semente e com a redução dos danos mecânicos da
semente. Outra vantagem é a eliminação do custo operacional. O tratamento industrial é
realizado com qualidade e não impõe gastos extras para o produtor. Isso, além da
redução de riscos na propriedade, uma vez que não há o manuseio do produto e
34

exposição do tratador, além da eliminação da necessidade de maquinas para ao


tratamento, e preocupações com descarte de embalagens.

Figura 7. Sementes tratadas com defensivos (prontas para a semeadura)


As vantagens do uso do tratamento de semente são: a eficiência, o baixo custo do
produto e da mão-de-obra para efetuar o tratamento, e a seletividade do processo, por
ser uma aplicação localizada. Além disso, dispensa o trabalho de monitoramento e não
utiliza água, essenciais e imitantes quando se faz pulverizações. O inseticida tanto atua
diretamente sobre as pragas matando-as por ingestão e contato como também pode atuar
por repelência. Quando a operação é feita na propriedade (pequenos volumes de
sementes) são utilizados o tambor de eixo descentralizado (Figura 8) ou a betoneira

Figura 8. Misturador de sementes (eixo descentralizado)

Figura 9. Betoneira para tratar sementes

Tabela 6. Inseticidas registrados para o tratamento de sementes de milho.


Ingrediente Marca Comercial Grupo Químico Dose1/ Praga
ativo ( PC ) ( PC)
Tiodicarbe Semevin 350; Saddler Syntermus molestus;
350; Thiodicarbe 350; Deois flavopicta,
35

Semevin 350; Futur Carbamato 2.000 ml Spdoptera


300; frugiperda;
Elasmopalpus
lignosellus;
Diloboderus abderus
Imidacloprido Gaucho 600 A; S. molestus;
Gaucho FS; Neonicotinoide 400 ml Rophalosiphum
maydis;
Imidacloprido Gaucho WS Neonicotinoide 1000 g S. molestus;

Imidacloprido Saluzi 600 FS. Frankliniella


Imidacloprid 600 FS; Neonicotinoide 800 g williansi;
Gaucho 600 A; Dalbulus maydis
Gaucho FS;
Imidacloprido Gaucho FS, Gaucho Neonicotinoide 350 g Dichelops furcatus
600 A
Imidacloprido Gaucho FS, Gaucho Neonicotinoide 600 ml Deois flavopicta
600 A
Imidacloprido Gaucho 700 g Diabrotica spciosa
Benfuracarbe Oncol Sipcam; Laser Carbamato 1.750- S. molestus
400 SC; 2.500 ml Procomitermes
triacifer
S. molestus; S.
Furadan 350 TS; frugiperda; P.
Carbofurano Raizer 350 TS; Carbamato 2.000- Triacifer; E.
Carboran Fersol 350 3.000 ml lignosellus; Astylus
variegates; Agrotis
ipsilon; Cornitermes
snyderi
Carbofurano Furazin 350 FS Carbamato 2.250ml E. lignosellus
Carbosulfano Marzinc 250 DS Carbamato 2.000 g Syntermes molestus;
Carbosulfano Fenix Carbamato 2.000- Syntermes molestus;
2.800 ml P. triacifer;
Carbosulfano Fenix Carbamato 2.400- Elasmopalpus
2.800 ml lignosellus
Carbosulfano Fenix Star Carbamato 1.500 ml Agrotis ipsilon
Spodoptera
Furatiocarbe Promet 400 SC Carbamato 1.600 ml frugiperda;
Elasmopalpus
lignosellus
Clotianida Poncho neonicotinoide 400 ml Rhopalosiphum
maydis
Phyllophaga
Clotianida Poncho neonicotinoide 350 ml cuyabana; Dichelops
melacanthrus;
Dichelops furcatus
Tiametoxan Cruiser 350 FS neonicotinoide 600 ml E. lignosellus
Tiametoxan Cruiser 700 WS neonicotinoide 300ml E. lignosellus
Fipronil Standak sulfinilpirazol 40-50 ml P. cuyabana
1/
= refere-se a 100 kg de sementes
Fonte: Embrapa (2009)
1.3 Profundidade de Sementes
A profundidade de semeadura é condicionada por fatores como: umidade;
temperatura e tipo de solo. O fato da semente ser colocada em profundidades diferentes
não interfere na profundidade do sistema radicular definitivo (Figura 10)
36

Figura 10. Diferentes profundidades de semeadura do milho


A semeadura deve ser mais superficial (3 a 5 cm) em solos mais argilosos,
mais pesados, que dificultam a emergência, ou quando a temperatura do solo é mais
fria, em função da época ou da região. Em solos mais leves, pode ser maior variando de
5 a 8 cm, aproveitando as condições mais favoráveis de umidade do terreno
EMBRAPA, 2002).

Figura 11. Semeadura (plantio direto) Figura 12. Semeadura (sistema convencional)
No sistema plantio direto, onde há sempre um acumulo de resíduos na
superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta retarda a
emergência, reduz o estande e, em alguns casos, pode até causar queda na produtividade
de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. A
Tabela 7 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a
duração do período de emergência na cultura do milho.
Tabela 7. Percentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes
de milho, em diferentes profundidades.

Profundidade (cm) Emergência (%) Vigor1 Duração média (dias)


37

2,5 100,0 3,0 8,0


5,0 97,5 3,0 10,0
7,5 97,5 3,0 12,0
10,0 80,0 2,5 15,0
12,5 32,5 0,7 18,0
Fonte: Embrapa (2010)
¹vigor aos 22 dias após a semeadura. Notas: 3.0 para o máximo vigor a zero para mínimo vigor.

Sangoi et al. (2004) avaliando quatro diferentes profundidades de semeaduras de


milho (2,5, 5,0, 7,5 e 10 cm) concluíram que semeaduras profundas são prejudiciais à
emergência e crescimento inicial da cultura quando realizadas em períodos de menor
temperatura do solo na fase de estabelecimento do estande. Souza et al. (2013), avaliando a
influencia de diferentes profundidades de semeadura do milho na formação do estande e na
eficiência de semeadura, num experimento implantado em um sistema de Plantio Direto (SPD),
em um solo classificado como Latossolo Distroférrico, observaram que o aumento da
profundidade de 5 para 9 cm influenciou de forma negativa o estande bem como a eficiência de
semeadura, enquanto que na profundidade de 5 cm foram obtidos a melhor eficiência de
semeadura e o melhor estande.

1.4 Densidade de semeadura


É pela ocasião da semeadura que se define uma boa ou ruim densidade de
semeadura que, por sua vez, irá definir o número de plantas por unidade de área que tem
papel preponderante na produtividade final de uma lavoura de milho. Pequenas
variações na densidade exercerão grande influência na produtividade final de grãos na
cultura. Esta característica não é tão importante em outras culturas com grande
capacidade de perfilhamento, como o arroz, trigo, aveia, sorgo e outras gramíneas, ou de
maior habilidade de produção de floradas como o feijão ou a soja. Daí a importância em
se dedicar especial atenção à operação da semeadura de forma a assegurar a densidade
de plantas desejada na colheita (EMBRAPA, 2002).
A densidade de semeadura definida como o número de plantas por unidade de
área (EMBRAPA, 2002) tem um papel importante na produtividade de uma lavoura de
milho, uma vez que pequenas variações na densidade, como já dito, exercem grande
influência na produtividade final da lavoura. A densidade de semeadura (ou estande)
inadequada é uma das causas responsáveis pela baixa produtividade do milho no Brasil.
Para o milho, cada planta constitui componente importante na produção final, devido à
baixa capacidade de compensação nos componentes de produção.
A produtividade de uma lavoura se eleva com o aumento da densidade de
semeadura até atingir uma densidade ótima, que é aquela que proporciona a exploração
mais eficiente da área de cultivo, e que é determinada pela cultivar e por condições
38

externas resultantes de condições edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A


partir da densidade ótima, quando a produtividade é máxima, o aumento da densidade
resultará em decréscimo progressivo da produtividade de grãos da lavoura por afetar as
características fenotípicas e os componentes de produção da planta. Ocasionam colmos
delgados e de maior altura, proporcionando o acamamento e quebramento de colmo, o
que, em lavouras mecanizadas torna as perdas elevadas na colheita. Além disso,
diminuem o tamanho e o índice de espigas (relação entre o número total de espigas e o
número total de plantas numa determinada área), podendo ocorrer inclusive aumento na
incidência de doenças, principalmente as podridões de colmo.
Para cada sistema de produção, existe uma população que maximiza a
produtividade de grãos. A população ideal para maximizar a produtividade de grãos de
milho varia de 40.000 a 80.000 plantas por hectare, dependendo da disponibilidade
hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo da cultivar, da época de semeadura e do
espaçamento entre fileiras. A densidade ótima é, portanto, variável para cada
situação e, basicamente, depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e
do nível de fertilidade de solo. Qualquer alteração nesses fatores, direta ou
indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio . A densidade ótima é obtida pela
conjugação do espaçamento entre fileiras e o número de plantas nas fileiras
(EMBRAPA, 2010).
Por estas razões, às vezes deixa-se de recomendar densidades maiores, que
embora em condições experimentais apresentem maiores rendimentos, não são
aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente. A densidade de plantio, dentre as
técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes e, geralmente a
causa principal da baixa produtividade de milho é o baixo número de plantas por área.

Figura 13. Estande uniforme (sem falhas)


39

Fonte: Pionner Sementes

1.4.1 Densidade de semeadura e cultivar

Para que haja um aumento da produtividade, é necessário que vários fatores,


como o nível de fertilidade do solo, o nível de umidade e as cultivares estejam em
consonância com o número de plantas por área. Em termos genéricos, verifica-se que
cultivares precoces (ciclo mais curto) exigem maior densidade de plantio em relação a
cultivares tardias para expressarem sua máxima produtividade de grãos. A razão desta
diferença é que cultivares mais precoces, geralmente, possuem plantas de menor altura e
menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam um menor
sombreamento dentro da cultura, possibilitando, com isto, menor espaçamento entre
plantas, para melhor aproveitamento de luz (EMBRAPA, 2010)
Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças
quanto à densidade ótima de plantio. Uma análise de cerca de 362 cultivares de milho
comercializadas na safra 2010/11 mostra que as variedades são indicadas para plantios
com densidades variando de 40.000 a 55.000 plantas por hectare, o que é coerente com
o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção empregados pelos agricultores
que usam esse tipo de cultivar. As faixas de densidades mais frequentemente
recomendadas para os híbridos duplos variam de 50 a 60, havendo casos de
recomendação até de 70 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é
frequente a densidade de 55 a 65-70 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação
de até 80 mil plantas por ha. Deve ser ressaltado que na safra 2009/10 apenas 23
cultivares eram recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil
plantas por hectare. Nesta safra (2010/11) esse número passou para um pouco mais de
100 híbridos (triplos e simples) representando cerca de 28% de todos os híbridos triplos
e simples disponíveis no mercado, independentemente se são ou não transgênicos,
mostrando também a importância da densidade de plantio para que as cultivares possam
expressar seus potenciais produtivos (EMBRAPA, 2010)
Por outro lado, a idéia tradicional de se utilizar um saco de sementes para o
plantio de um hectare já não é verdadeira, havendo necessidades de se utilizar 1,2 a 1,4
sacos de sementes (com 60.000 sementes) para o plantio de um hectare. A maioria das
empresas já está recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e
da época de plantio. Além disso, já existem empresas recomendando a densidade em
função do espaçamento, o que representa uma evolução. O surgimento de novas
40

cultivares de milho de ciclo mais curto, estatura reduzida, menor número de folhas e
folhas mais eretas aumentou o potencial de resposta da cultura à densidade de plantas.
O aumento e o arranjo da população de plantas podem contribuir para a correta
exploração do ambiente e do genótipo, com conseqüências no aumento da produtividade
de grãos de grãos (EMBRAPA, 2010)
O arranjo de plantas basicamente pode ser manipulado através de alterações na
densidade de plantas e no espaçamento entre fileiras. A interceptação da radiação
fotossinteticamente ativa pelo dossel exerce grande influência sobre o rendimento de
grãos da cultura do milho, quando outros fatores ambientais são favoráveis. Uma forma
de aumentar a interceptação de radiação e, conseqüentemente, a produtividade de grãos,
é através da escolha adequada do arranjo de plantas. Teoricamente, o melhor arranjo de
plantas de milho é aquele que proporciona distribuição mais uniforme de plantas por
área, possibilitando melhor utilização de luz, água e nutrientes. Atualmente, a redução
no espaçamento entre linhas e o aumento da densidade de plantio é uma realidade na
cultura de milho, no Brasil, encontrando-se, no mercado, inclusive, plataformas
adaptáveis às colhedoras que realizam a colheita em espaçamentos de até 0,45 m.
1.4.2 Densidade de semeadura x disponibilidade de água e disponibilidade
de nutrientes.

Com relação à disponibilidade hídrica e à disponibilidade de nutrientes,


observa-se que a densidade deve ser aumentada sempre que esses fatores forem
otimizados, para que seja atingida a máxima produtividade de grãos. Em situações de
áreas irrigadas, ou quando não há restrições hídricas, é aconselhável usar o limite
superior da faixa da densidade recomendada. Um fator importante quando se usa alta
densidade de semeadura é assegurar que a cultivar usada apresenta grande resistência ao
acamamento e ao quebramento. De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior
for a disponibilidade de nutrientes para as plantas, seja pela fertilidade natural do solo
ou por adubação, maior será a densidade para se alcançar a máxima produtividade. As
interações mais frequentes entre o nível de fertilidade e a densidade de semeadura se
dão principalmente com a adubação nitrogenada (EMBRAPA, 2010).
Para a maioria das cultivares de milho para a semeadura na segunda safra
(safrinha) a densidade de 40.000 a 45.000 plantas (em média 20% menor que a primeira
safra) é a mais freqüentemente recomendada pelas empresas produtoras de sementes
todavia, em regiões onde o déficit hídrico na safrinha for mínimo a densidade e o nível
41

de adubação poderão ser iguais ao da primeira safra. Por outro lado, em condições de
agricultura irrigada, em que o fator água não é limitante, a densidade apropriada será
estabelecida por outro fator que se encontrar limitando o sistema (fertilidade, cultivar,
etc.) e não deverá ser inferior a 50.000 plantas por hectare (EMBRAPA, 2004).

1.5 Espaçamento entre fileiras

Ainda é muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras,


embora seja nítida a tendência de sua redução. Dados de pesquisa mostram vantagens
do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras) comparado ao espaçamento
convencional (80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de semeadura
mais elevadas, como é demonstrado na Figura 14.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos,
podem ser citados o aumento da produtividade de grãos, em função de uma distribuição
mais equidistante de plantas na área, aumentando a eficiência de utilização de luz solar,
água e nutrientes, melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais
rápido dos espaços disponíveis, diminuindo, dessa forma, a duração do período crítico
das plantas daninhas, redução da erosão, em conseqüência do efeito da cobertura
antecipada da superfície do solo, melhor controle de plantas daninhas através da menor
velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da
utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, a exemplo do milho e da
soja, poderão ser semeadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e
ganho de tempo. Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos
permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a
colheita, favorecendo o sistema de plantio direto. (EMBRAPA, 2010).
42

Figura 14. Médias do rendimento de grãos de milho, obtidas em dois espaçamentos e seis
densidades de plantas. (Fonte: CRUZ et al., 2007).

De acordo com a Embrapa (2010) diversos trabalhos têm mostrado tendência


de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm),
principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais
ereta. Essa redução no espaçamento resulta também em maior peso de grãos por espiga.
Esse comportamento se deve aos milhos atuais terem características de porte mais
baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais
adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses
materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar.
Uma avaliação de diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de
semeadura, mostrou que a produtividade de grãos cresceu com o aumento da densidade
de semeadura, em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que se
poderia aumentar ainda mais a produtividade, com aumento na densidade; entretanto, no
espaçamento de 0,50 m entre fileiras, a produtividade apresentou maior ampliação
quando se passou de 40.000 plantas ha-1 para 77.500 plantas ha-1 do que no espaçamento
de 0,80 m, indicando que a redução de espaçamento é mais vantajosa quando se
utilizam maiores densidades de semeaduras, comprovando mais uma vez que o
benefício das linhas mais estreitas aumenta à medida que aumenta a população de
plantas.
43

Avaliações realizadas, tanto na safra como na safrinha, em lavouras de altas


produtividades, mostraram que de fato tem havido um aumento da densidade de plantio
e uma redução no espaçamento entre fileiras (Figura 15).

Figura 15. Variação da densidade de plantio do milho e espaçamento entre fileiras em


lavouras de altas produtividades na safrinha (Fonte: Cruz et al.2010).

Quando se pensa em diminuir o espaçamento entre linhas e/ou aumentar a


densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os
híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase
sempre não proporcionam um bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa
razão, já no início do crescimento é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor
porte, mais precoces, desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de
auto-sombreamento, o que proporciona uma maior penetração da luz solar. Estas plantas
permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades.
Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos (Figura 16)
eram as plataformas das colheitadeiras, que, muitas vezes, não se adaptavam a esta
situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse
problema já não existe. Em semeaduras manuais as fileiras deverão ser espaçadas de
0,90 a 1,0 m, as covas espaçadas de 0,40 a 0,50m distribuindo-se duas a três sementes
por cova.
44

Figura 16. Milho em espaçamento reduzido


1.5 Velocidade de semeadura
Um dos aspectos mais negligenciados pela ocasião da semeadura é a
velocidade de semeadura que deve ficar dentro dos limites recomendados, limite este
variável de acordo com o sistema de distribuição das sementes. Para semeadoras de
discos horizontais (Figura 17), que predominam no mercado brasileiro, a velocidade
deve variar de 4 a 6 km hora-1. Semeadoras a dedo ou a vácuo (pneumática) realizam
uma boa operação de semeadura com velocidade de até 10 km hora -1, desde que as
condições de topografia do terreno, umidade e textura do solo, permitam operar com
esta velocidade O aumento da velocidade de 5 para 10 km hora -1 pode implicar em
perdas de até 12% (EMBRAPA, 200; GARCIA et al., 2006) devido a redução de plantas
com espigas.

Figura 18. Disco dosador (semeadura de disco) Figura 19. Detalhe do sistema de vácuo
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.
48

PARTE III

MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS

1. Interferência de plantas daninhas

As plantas daninhas requerem para o seu desenvolvimento os mesmos fatores


exigidos pela cultura do milho, ou seja, água, luz, nutrientes e espaço físico,
estabelecendo um processo competitivo quando a cultura e as plantas daninhas se
desenvolvem conjuntamente. É importante lembrar que os efeitos negativos causados
pela presença das plantas daninhas não devem ser atribuídos exclusivamente à
competição, mas sim a uma resultante total de pressões ambientais, que podem ser
diretas (competição, alelopatia, interferência na colheita e outras) e indiretas (hospedar
insetos, doenças e outras). Esse efeito total denomina-se Interferência (KARAN et al.,
2006).
49

O grau de interferência imposto pelas plantas daninhas à cultura do milho é


determinado pela composição florística (pelas espécies que ocorrem na área e pela
distribuição espacial da comunidade infestante) e pelo período de convivência entre as
plantas daninhas e a cultura. A competição por nutrientes essenciais é de grande
importância, pois esses na maioria das vezes são limitados. Devido a grande diversidade
e densidade das comunidades infestantes, cada indivíduo não poderá crescer de acordo
com seu potencial genético, mas em consonância com as quantidades de recursos que
conseguir recrutar, na intensa competição a que está submetido. Por isso, em altas
densidades, o potencial de crescimento da comunidade é controlado por aquele recurso
que, de acordo com as necessidades gerais da comunidade, apresentar-se em menor
quantidade no ambiente. Em relação à cultura do milho, mesmo esse sendo eficiente na
absorção, não consegue acumular nutrientes como as plantas daninhas fazem em seus
tecidos. Em condições de competição onde o nitrogênio seria o nutriente de maior
limitação entre milho e planta daninha, a adubação nitrogenada merece especial atenção
em condições de alta infestação (KARAN et al., 2006).
A competição por espaço ocorre e a planta do milho assume uma arquitetura
diferente daquela que possui quando cresce livre da presença de outras plantas,
mudando o posicionamento de suas folhas, porque o espaço que deveria ocupar já se
encontra ocupado por outra planta. É importante ressaltar que qualquer mudança na
arquitetura da planta do milho representa sérios prejuízos na produção. A redução do
espaçamento nas entrelinhas aumenta a radiação fotossinteticamente ativa interceptada
pela cultura e diminui a competição intra-específica por luz, água e nutrientes, devido à
distribuição mais uniforme das plantas. O índice de área foliar e a radiação
fotossinteticamente ativa interceptada pelo dossel são influenciados pela redução do
espaçamento nas entrelinhas, sendo o comportamento dependente do estádio fenológico,
da densidade de plantas, ao tipo de arquitetura do híbrido e ao sistema de manejo. Por
outro lado, a redução do espaçamento nas entrelinhas impede a entrada de luz e
conseqüente germinação das plantas daninhas.
O termo alelopatia aplica-se quando uma planta daninha libera substâncias
químicas no meio, prejudicando o desenvolvimento de outro, podendo ocorrer inclusive
entre indivíduos da mesma espécie ou não (SILVA et al, 2002). Diversas plantas
daninhas possuem capacidade alelopática que reduz o desenvolvimento do milho: como
exemplo, o capim-arroz (Echinochloa crusgalli) (Figura 20), o capim-colchão
(Digitaria horizontalis) (Figura 21), o capim-rabo-de-raposa (Setaria faberil), tiririca
50

(Cyperus rotundus), samambaia (Pteridium aquilinum), sapé (Imperata brasiliensis) e


aveia preta (Avena strigosa), entre outros (FOSTER 1991; DEUBER, 1992).

Figura 20. Capim arroz Figura 21. Capim colchão

Figura 22. Capim rabo de raposa Figura 23. Tiririca

O grau de interferência de plantas daninhas pode variar de acordo com as condições


climáticas e sistemas de produção. No entanto, as perdas ocasionadas na cultura do milho
em função da interferência imposta pelas plantas daninhas têm sido descritas como
sendo da ordem de 13,1%, sendo que em casos onde não tenha sido feito nenhum
método de controle essa redução pode chegar a aproximadamente 85% (KARAN et al,
2006). De acordo com a Embrapa (2013) as perdas estimadas na produção de milho no
Brasil em decorrência da interferência das plantas daninhas chegam a cinco milhões de
toneladas de grãos, aproximadamente.

1.1 Período crítico de prevenção de interferência (PCPI)


É o período a partir da semeadura ou da emergência em que as plantas daninhas
devem ser controladas para evitar perda quantitativa e/ou qualitativa da produção. Na prática
este deve ser o período em que as capinas e/ou o efeito residual dos herbicidas deve atuar
(SILVA et al, 2002). O período crítico de prevenção de interferência para a cultura do milho, em
condições normais, vai dos 20 aos 60 dias após a emergência, que em número de folhas da
51

planta corresponde ao intervalo entre a terceira folha (V3) Figura (24) e a décima quarta folha
(V 14). Esse é o subperíodo entre a diferenciação floral e a diferenciação da espiga, momento
em que se define o potencial da lavoura (EMBRAPA, 2006a).

Figura 24. Milho em V3 (início do controle de daninhas)


A pesquisa indica que maiores prejuízos são observados quando a competição ocorre
entre os 20 e 45-60 dias após a emergência; a interferência anterior aos 20 dias após a
emergência (plantas de menos de três folhas) e posterior aos 45 dias (plantas de milho com 14
folhas abertas ou mais) é “tolerável” por não afetar a produtividade do milho. No entanto,
existem na literatura resultados bastante discrepantes em relação ao período crítico de
interferência envolvendo diferentes espécies daninhas e o milho, sendo isto atribuído às
diferentes agressividades das espécies daninhas; à densidade; ao estádio de desenvolvimento da
cultura e das plantas daninhas e às condições climáticas (EMBRAPA, 2006a)
É importante salientar que, mesmo após o período crítico, algumas espécies
daninhas como as pertencentes ao gênero Ipomoea (corda-de-viola) (Figura 25) e ao
gênero Senna (fedegoso) (Figura 26), podem causar problemas consideráveis na
colheita, como embuchamento e quebra da navalha, respectivamente, aumentando
custos e riscos na colheita e reduzindo a eficiência da operação e a qualidade do produto
final.
52

Figura 26. Corda-de-viola Figura 27 Fedegoso


Durante o período crítico, o agricultor deve estar atento para controlar de forma
eficiente as plantas daninhas, evitando que o nível de dano econômico seja atingido (o
nível de dano econômico é atingido quando o valor das perdas é maior que o custo do
controle). Algumas vezes infestações moderadas de plantas daninhas poderão ser tão
danosas à cultura quanto altas infestações. Desta forma, o número de plantas daninhas
por área que justifica o controle varia de acordo com a disponibilidade dos recursos
(água, nutrientes, luz, espaço e CO2) e, principalmente, com a época de estabelecimento
e a espécie daninha invasora. Apesar de inúmeros estudos de predição e trabalhos com
modelagem, estes são alguns dos motivos pelo qual ainda não se dispõe de níveis de
dano econômico para a maioria de plantas daninhas (EMBRAPA, 2006a).
1.1.2 Controle de plantas daninhas
O controle de plantas daninhas consiste na adoção de certas práticas que
resultam na redução da infestação, mas não, necessariamente, na sua completa
eliminação ou erradicação. Silva et al. (2002) mencionam que a redução da interferência das
plantas daninhas, considerando-se uma cultura, deve ser feita até um nível na qual as perdas
pela interferência sejam iguais ao incremento no custo do controle, ou seja, de modo que não
interfira na produção econômica da cultura. O controle eficiente das plantas daninhas muitas
vezes necessita ser iniciado antes da instalação da cultura, ou até mesmo na safra anterior.
2. Manejo de plantas daninhas
O manejo de plantas daninhas na cultura do milho deve enfatizar a utilização das
diferentes estratégias de controle, considerando a infra-estrutura e a mão-de-obra
disponíveis na propriedade, para a obtenção de um bom resultado na produção. A busca
de alternativas que diminuam os custos, mantendo ou melhorando a eficiência do
controle de plantas daninhas, está diretamente relacionada com um sistema integrado de
53

práticas agrícolas. O manejo integrado de plantas daninhas deve ser utilizado com o
objetivo de racionalização do uso dos herbicidas, do ambiente e dos custos de produção.
Podem-se agrupar as práticas de manejo nos seguintes grupos:
2.1 Manejo de plantas daninhas antes da semeadura do milho.
O agricultor deve conhecer as plantas daninhas que infestam a área para
embasar a escolha das práticas e, ou, dos herbicidas a serem empregados. Existem
muitas estratégias que podem ser adotadas para reduzir a infestação das plantas
daninhas antes da implantação da cultura, dentre elas, destacam-se:
a) – Escolha da área: Deve-se dar preferência ao uso de áreas livres ou com baixa
infestação de plantas daninhas, ou ainda, de áreas com espécies de fácil controle.
b) – Preparo do solo: Esta prática elimina as plantas daninhas estabelecidas e torna
o ambiente favorável ao recebimento da cultura e à aplicação de herbicidas usados em
pré-plantio-incorporado (PPI) ou em pré-emergência (Figura 28);

Figura 28. Preparo do solo no controle de plantas daninhas


c) – Preparo antecipado do solo: Esta prática visa induzir à germinação das sementes e
emergência das plântulas que poderão ser controladas mecanicamente ou com a
aplicação de herbicidas totais antes da semeadura;
d) – Uso de cobertura morta e a semeadura em época favorável à germinação
propiciando o estabelecimento rápido da cultura e a baixa germinação de sementes
de plantas daninhas;
Em áreas onde se adota o sistema plantio direto a dessecação antes da
semeadura (Figura 29) elimina as plantas estabelecidas e proporciona a formação da
cobertura morta. Essa palhada exerce efeito físico sobre a população de plantas
daninhas, atuando sobre a passagem de luz, temperatura e umidade do solo, podendo
ainda liberar substâncias alelopáticas, criando condições adversas para germinação e o
estabelecimento das plantas daninhas.
54

Figura 29. Dessecação de plantas daninhas p/semeadura de milho


Em áreas onde a dessecação das plantas daninhas foi feita corretamente, de
uma a três semanas após a aplicação do(s) herbicida(s), é possível, dependendo da
espécie daninha dessecada, realizar a semeadura do milho.
Algumas plantas daninhas com propagação vegetativa como a grama seda
(Cynodon dactylon) (Figura 30) e o capim massambará (Sorghum halepense) (Figura
31), devem ser controlados antes da instalação da cultura do milho ou do preparo do
solo, já que os herbicidas aplicados nesta cultura em pré-emergência não são eficientes
para controlar essas espécies em estádios avançados de desenvolvimento. O uso de
herbicidas totais é uma alternativa eficiente para controlar essas espécies, devendo ser
realizado antes da semeadura do milho.
2.2 Manejo das plantas daninhas após a semeadura
Depois da semeadura da cultura o agricultor dispõe da possibilidade do uso de
herbicidas pré-emergentes, os quais garantem a emergência do milho livre das plantas
daninhas. Após a emergência da cultura o agricultor poderá empregar o controle
mecânico (cultivadores) e/ou o controle químico (com uso de herbicidas pós –
emergentes).

Figura 30 grama seda (Cynodon dacytilon) Figura 31. Capim massambará (S. halepense)
O uso de cultivadores pode reduzir a infestação de plantas daninhas nas
entrelinhas, mas não são eficientes no controle daquelas localizadas na linha da cultura.
55

Além disso, os cultivadores podem provocar danos ao sistema radicular do milho, não
podem ser usados em solos com alta umidade e não controlam plantas daninhas com
reprodução vegetativa.
Os herbicidas aplicados em pós-emergência são uma alternativa eficiente para
controlar as plantas daninhas e também podem ser empregados para corrigir falhas de
outros métodos ou em casos onde não é viável o uso de cultivadores ou outras técnicas.
O emprego de herbicidas pós-emergentes depende das espécies infestantes e do estádio
de desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura. O uso de misturas de herbicidas é
comum em algumas regiões. Nesses casos deve-se dar atenção especial à seletividade
das misturas para a cultura e para o espectro de controle.
2.3 Monitoramento
O monitoramento das espécies daninhas presentes na área e de suas proporções
além de auxiliar na escolha do método do controle a ser usado indica o comportamento
das espécies naquele ambiente. Essas informações são úteis na detecção da seleção de
espécies e na identificação precoce de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Nos
casos em que há seleção de espécies o agricultor deve usar outros métodos de controle.
O monitoramento, na maioria dos casos, proporciona economia na quantidade de
herbicida aplicado, principalmente nos casos em que se empregam produtos aplicados
em pré-emergência proporcionando significativa redução no custo do controle.
3.0 Métodos de controle de plantas daninhas

Diversos são os métodos de controle de plantas daninhas empregados na


cultura do milho, dentre os quais se podem destacar (KARAN et al., 2006):

3.1 Controle Preventivo

O controle preventivo tem como objetivo evitar a introdução ou a disseminação


de plantas daninhas nas áreas de produção. A legislação nacional estabelece a relação
das espécies nocivas e seus respectivos limites máximos específicos de tolerância para
sementes de espécies daninhas toleradas e determina as proibidas. Isso evita que
contaminem novas áreas utilizando sementes com impurezas. A introdução de novas
espécies geralmente ocorre por meio de lotes contaminados de sementes, máquinas
agrícolas e animais. A utilização de sementes de boa procedência, livres de sementes de
plantas daninhas e a limpeza de máquinas e de implementos antes de cercas e de
estradas, em terraços, em pátios, em fontes de água e em canais de irrigação ou em
56

qualquer lugar da propriedade são importantes para evitar a disseminação de sementes e


de outras estruturas de reprodução.

3.2 Controle Cultural

O controle cultural consiste em usar qualquer condição ambiental ou


procedimento que promova o rápido crescimento da cultura, favorecendo esta em
relação às plantas daninhas. Este método está baseado em dois princípios: a) – as
primeiras plantas que ocupam uma área tendem a excluir as demais e, b) – a espécie
melhor adaptada predominará no ambiente (FLECK, 1992).
Este método é normalmente utilizado pelos agricultores, mas não como uma
técnica de manejo de plantas daninhas. O método cultural visa a aumentar a capacidade
competitiva da cultura em detrimento das plantas daninhas. Menor espaçamento
entrelinhas, maior densidade de plantio, época adequada de plantio, uso de variedades
adaptadas às regiões, uso de cobertura morta, adubações adequadas, irrigação bem
manejada, rotação de culturas são técnicas que permitem à cultura tornar-se mais
competitiva com as plantas daninhas.
O plantio direto tem auxiliado no controle das plantas daninhas, especialmente
no milho safrinha, semeado após a lavoura de verão. Nesse sistema, sem revolvimento
do solo, o banco de sementes na parte superficial do solo tende a reduzir, diminuindo a
germinação dos propágulos. A rotação de culturas, além de muitas outras utilidades, é
praticada como meio de prevenir o surgimento de altas populações de certas espécies de
plantas daninhas mais adaptáveis a determinada cultura. Para que a cultura do milho
tenha vantagem competitiva em relação às plantas daninhas, é importante que se tenha
adequado espaçamento. Em termos práticos, o bom espaçamento é aquele que permite a
cobertura do solo, quando a cultura atinge seu pleno desenvolvimento vegetativo,
devendo ser diferenciado para os diversos híbridos e variedades e condições
edafoclimáticas.

3.3 Controle Mecânico

O controle mecânico das plantas daninhas é o método mais antigo usado pelo
homem, consistindo no uso de equipamentos que eliminam as plantas daninhas através
do efeito físico, como fazem a enxada e os cultivadores. Mesmo após a introdução no
mercado dos herbicidas, o uso desses equipamentos ainda é bastante comum,
57

principalmente em pequenas propriedades onde o emprego de outros métodos de


controle é limitado devido à falta de equipamentos ou à topografia do terreno. Em
grandes propriedades o uso do controle mecânico de plantas daninhas é bastante
reduzido, em maior da necessidade de maior agilidade da operação (EMBRAPA, 2002).
Segundo Fleck (1992), os principais mecanismos responsáveis pelo controle
das plantas daninhas por meio do método mecânico são:
a) Enterrio – as plantas morrem por falta de luz e fotossíntese;
b) Corte – consiste na separação da parte aérea das raízes;

c) Dessecação – raízes, rizomas e estolões, quando expostos à superfície do


solo, acabam morrendo por desidratação;

d) Exaustão – a estimulação repetida da brotação das gemas leva à exaustão


das reservas e morte das gemas o que é de grande importância para as
plantas perenes.

3.3.1 Cultivo manual

Esse método é amplamente utilizado em pequenas propriedades. Normalmente


de duas a três capinas com enxada são realizadas durante os primeiros 40 a 50 dias após
a semeadura, pois a partir daí o crescimento do milho contribuirá para a redução das
condições favoráveis para a germinação e o desenvolvimento das plantas daninhas. A
capina manual deve ser realizado preferencialmente em dias quentes e secos e com o
solo com pouca umidade, pois, em períodos chuvosos ou em solo com elevado teor de
umidade torna-se inoperante e ineficiente. A alta umidade do solo favorece a “pega” das
plantas daninhas, assim, o agriculto estará apenas trocando as plantas de lugar dentro da
lavoura. Cuidados devem ser tomados para evitar danos às plantas de milho,
principalmente às raízes. Esse método de controle demanda grande quantidade de mão-
de-obra visto que o rendimento da operação é de aproximadamente oito dias homem por
hectare. (Figura 32)
58

Figura 33. Cultivo manual

3.3.2 Cultivo mecânico

O bom cultivo mecânico, segundo (Foster, 1991) é aquele que controla as


plantas daninhas na entrelinha através dos mecanismos citados (enterrio, corte,
dessecação e exaustão) e cobre aquelas existentes na linha da cultura com solo,
controlando-as por abafamento.
A capina mecânica usando cultivadores, tracionados por animais (Figura 34) ou
tratores (Figuras 35 e 36), ainda é o sistema mais utilizado no Brasil. As capinas devem
ser realizadas nos primeiros 40 a 50 dias após a semeadura da cultura. Nesse período, os
danos ocasionados à cultura são minimizados comparados com os possíveis danos
(quebra e arranquio das plantas de milho) em capinas realizadas tardiamente. A exemplo
da capina manual, o cultivo mecânico deve ser realizado superficialmente em dias
quentes e secos, com o solo com pouca umidade, aprofundando-se as enxadas o
suficiente para o arranquio ou o corte das plantas daninhas. Quando as plantas de milho
encontrarem-se de 4 a 6 folhas utilizar enxadas do tipo asa de andorinha para evitar
danos no sistema radicular do milho pois o mesmo encontra-se superficial. A
produtividade desse método é de aproximadamente 0,5 a 1 dia homem por hectare
(tração animal) e 1,5 a 2,0 horas por hectare (tratorizada) (KARAN et al., 2006).
59

Figura 34. Cultivo mecânico tração animal Figura 35. Cultivador agrícola
(Tração motora)

Figuras 36. Cultivo tração motora

Antes de adotar o controle mecânico das plantas daninhas o agricultor deve


estar ciente da adequabilidade desse método para controlar as espécies daninhas que são
problemas em sua lavoura. Para isso é necessário conhecer algumas características da
espécie daninha envolvida, como: capacidade de enraizamento, profundidade do sistema
radicular, hábito de crescimento e tipo de reprodução. Essas características informam
qual o tipo de equipamento adequado e como este deve ser operado, por exemplo:
plantas daninhas como a tiririca, capim massambará e grama seda, que se multiplicam
por meio de estruturas vegetativas, como rizomas, tubérculos, bulbos e estolhões,
podem ter o seu número aumentado se os equipamentos empregados fragmentar a planta
(SILVA et al., 2004).
Em plantas anuais e bianuais o controle mecânico é eficiente; por outro lado, as
plantas perenes que desenvolvem sistema radicular profundo apresentam maiores
dificuldades de controle. É importante, no entanto, que o equipamento esteja bem
60

regulado, procurando-se eliminar as plantas daninhas trabalhando somente a superfície


do solo, para evitar possíveis danos às raízes da cultura (FOSTER, 1991).
As principais vantagens do controle mecânico são: a) – economia, comparado
com o manual; b) – eficiente em solos secos; c) – a quebra das crostas que
eventualmente se formam na superfície do solo, aumentando a aeração e a infiltração da
água. Por outro lado, as desvantagens são: a) – não controla as plantas daninhas
existentes na linha da cultura; b) – danifica o sistema radicular da cultura; pode reduzir
o estande; e) – em período chuvoso é inoperante e ineficiente; f) – favorece a erosão.

3.4 Controle Químico

O uso de herbicidas é fundamental para o manejo de plantas daninhas,


principalmente em locais onde ocorrem altas infestações e o tempo disponível para o
controle é reduzido devido ao tamanho da área ou à falta de equipamentos com altos
desempenhos. Em grandes áreas de cultivo de milho o uso de herbicidas, associados ou
não a outros métodos de controle é indispensável devido à agilidade e à eficiência do
controle químico em condições de solo úmido.
O controle químico consiste na utilização de produtos herbicidas para o
controle das plantas daninhas, sendo necessário o registro dos produtos no Ministério da
Agricultura e Reforma Agrária. Em algumas situações as Secretarias Estaduais de
Agricultura podem proibir o uso de determinado(s) produto(s). Ao se pensar em
controle químico em milho, algumas considerações devem ser feitas: a) - a seletividade
do herbicida para a cultura; b) - a eficiência no controle das principais espécies na área
cultivada; e c) - o efeito residual dos herbicidas para as culturas que serão implantadas
em sucessão ao milho, lembrando ainda que devido a interações existentes entre o
cultivar e o herbicida que está sendo utilizado alguns híbridos são sensíveis a
determinados herbicidas (SILVA et al., 2004). O uso de herbicidas, por ser uma
operação de maior custo inicial, é indicado para lavouras médias e grandes e com alto
nível tecnológico onde a expectativa é de uma produtividade acima de 4.000 kg há -1.
Embora seja, ultimamente, o método de controle com maior nível de crescimento, o
controle químico, se utilizado indiscriminadamente, pode vir a causar problemas de
contaminação ambiental. Cuidados adicionais devem ser tomados com o descarte de
embalagens, o armazenamento, o manuseio e a aplicação dos herbicidas.
61

As principais vantagens do controle químico são: a) – eficiente; b) – evita a


competição das plantas daninhas desde a implantação da cultura; c) – permite controlar
plantas daninhas em épocas chuvosas quando o controle mecânico é impraticável; d) –
não causa danos às raízes das culturas; e) – não revolve o solo; f) – permite uma melhor
distribuição das plantas na área, g) - controla as plantas daninhas na linha da cultura e,
h) – a operação é rápida. Entre as desvantagens estão: a) – exigências de equipamentos
adequados; b) – falta de capacitação da maioria dos produtores o que induz a aplicações
incorretas o que redunda em elevação dos custos, controle ineficiente, poluição do
ambiente e resíduos nos solos, na água e nos alimentos (SILVA et al., 2004)
A escolha do herbicida a ser usado depende de sua eficiência sobre as plantas
daninhas que estão ocorrendo na área, do estádio da cultura, do tipo de solo, da cultura
que será usada em rotação e das culturas adjacentes.
Para produtos absorvidos pelas raízes das plantas, aplicados em pré ou pós-
emergência, a dose do herbicida a ser utilizado dependem além da cultura e das espécies
daninhas, da textura do solo, da CTC efetiva e da matéria orgânica. Geralmente solos
com textura arenosa e com baixo teor de matéria orgânica requerem doses menores de
herbicidas do que solos argilosos e com maior teor de matéria orgânica para
proporcionar controle mais efetivo das plantas daninhas.
A persistência dos herbicidas é extremamente importante para proporcionar
controle das plantas daninhas durante o período crítico de interferência e para
determinar quais culturas poderão ser instaladas na próxima safra. Alguns herbicidas
possuem longo período residual e, assim, podem causar danos à cultura implantada
posteriormente. A persistência de um herbicida varia de acordo com a estrutura química
da molécula, o tipo de solo e clima que afetam, por sua vez, a adsorção, a lixiviação e a
decomposição microbiana e química (SILVA et al., 2002).
É extremamente importante que os técnicos e os produtores conheçam a
solubilidade e a lixiviação do herbicida para prever a possibilidade do mesmo atingir o
lençol freático e, ainda, a sua persistência, principalmente nas situações em que há a
necessidade de se reinstalar a cultura. A ressemeadura da cultura ou de outra cultura em
seu lugar, após ter ocorrido a aplicação do herbicida, deve ser feito com muito cuidado.
Nesses casos, antes de eleger a cultura a ser instalada na área o agricultor deve verificar
a sensibilidade desta aos produtos que foram aplicados. Os resíduos de alguns
herbicidas podem permanecer durante um longo período no solo. A Atrazine é um
62

herbicida que pode apresentar limitações para algumas culturas em anos secos, podendo
afetar espécies sensíveis como o feijão e a soja no ano seguinte.

3.4.1 Épocas de aplicação dos herbicidas na cultura do milho

Os herbicidas podem ser aplicados:


a) - antes do preparo do solo (manejo da vegetação);
b) - antes da emergência da cultura e das plantas daninhas (aplicação em pré-
emergência);
c) - e após a emergência da cultura e das plantas daninhas (aplicação em pós-
emergência).

3.4.1.1 Aplicação antes do preparo do solo.

Algumas espécies de plantas daninhas são controladas com maior eficiência


antes do preparo do solo. Aquelas com propagação vegetativa como a tiririca (Cyperus
rotundus), capim massambará (Sorghum halepense), a grama seda (Cynodon dactylon) e
outras, devem ser controladas antes do preparo do solo, já que está prática fragmenta as
plantas multiplicando os seus propágulos. A aplicação de herbicida deverá ser feita
quando essas plantas apresentarem vigor vegetativo e condições ambientais favoráveis,
a fim de que o produto seja absorvido e translocado rapidamente, garantindo-lhe alta
atividade. O herbicida Glyphosate é normalmente utilizado nessas circunstâncias.

3.4.1.2 Aplicação antes da semeadura da cultura do milho no plantio direto

No Sistema Plantio Direto (SPD) a eliminação das plantas daninhas, ou


culturas de cobertura de solo, é feita com herbicidas, também denominados de
herbicidas de dessecação ou de manejo. Esta dessecação é de extrema importância, sem
a qual não se viabiliza o SPD. Deve ser tão eficiente quanto o controle realizado pelo
preparo do solo com grades, ou seja, causando a mortalidade de 100% das plantas
presentes, para que a cultura se estabeleça e tenha o seu desenvolvimento inicial sem a
competição das plantas daninhas.
Os herbicidas utilizados como dessecantes são, usualmente, não-seletivos às
culturas, e são aplicados às folhas das plantas em área total, podendo ser de ação
sistêmica ou de contato. São fortemente adsorvidos pelos colóides de argila e húmus do
63

solo, o que os tornam pouco lixiviáveis e não disponíveis à absorção pelas raízes das
plantas, o que permite realizar a semeadura das culturas logo após a sua aplicação.
A utilização de herbicidas de manejo no SPD foi iniciada em 1961 com os
bipiridílicos de contato, Paraquat e Diquat. Em 1975 foi lançado o Glifosate, de ação
sistêmica, com grande eficiência sobre gramíneas. Os herbicidas disponíveis no Brasil
para o manejo das áreas agrícolas são: Glifosate, 2,4-D amina, Paraquat, Diquat e
Paraquat + Diuron (MELHORANÇA, 2002).
A escolha dos herbicidas depende das espécies de plantas existentes na área,
bem como de seus estádios de desenvolvimento. Quando a infestação é composta
basicamente de espécies de folhas largas, utiliza-se o 2,4-D amina. Se for composta
exclusivamente de gramíneas, usa-se o Glifosate. Todavia, se a infestação for composta
de folhas largas e estreitas, em estádio inicial de desenvolvimento, poderão ser
utilizados os dessecantes de contato, tais como Paraquat, Diquat e Paraquat + Diuron,
pois nesse estádio as plantas não apresentam ainda o efeito guarda-chuva, que prejudica
a atividade dos herbicidas de contato, já que parte das plantas não é atingida pelo
dessecante. Glifosate e 2,4-D amina podem ser utilizados nas infestações mistas, tanto
no estádio inicial como nos estádios avançados de desenvolvimento, pois esses dois
herbicidas são de translocação sistêmica e, uma vez em contato com parte da planta, são
absorvidos e translocados para outras partes da planta. Nesse caso, o efeito guarda-
chuva fica bastante reduzido (MELHORANÇA, 2002).
O herbicida mais utilizado na dessecação de manejo é o Glifosate, em doses
que variam de 2,0 a 3,0 L/ha do produto comercial. Em áreas onde ocorrem as espécies
Commelina benghalensis (trapoeraba) (Figura 37), Spermacoce latifolia (erva-quente)
(Figura 38); Richardia brasiliensis (poaia) (Figura 39), Tridax procumbens (erva-de-
touro) (Figura 40) e Sida sp. (guanxuma) (Figura 41), nas quais o controle com
Glifosate não é totalmente satisfatório, utiliza-se o herbicida 2,4-D amina na dose de 1,0
L/ha. Quando a cultura for soja, deve-se manter um intervalo de dez dias entre a
aplicação de 2,4-D amina e a semeadura.
64

Figura 37. Trapoeraba (C. benghalensis) Figura 38. Erva quente

Figura 39. Poaia branca (R. brasiliensis) Figura 40. Erva de touro

Figura 41. Guanxuma (Sida spp)

Em áreas onde a utilização de 2,4-D amina pode representar risco às culturas


vizinhas sensíveis (como, por exemplo, algodão), uma vez que existe a possibilidade de
65

ocorrer deriva ou volatilização, o herbicida Chlorimuron-ethyl ou Carfentrazone pode


ser utilizado com Glifosate, o que melhora a performance e o espectro de controle das
plantas daninhas. Entretanto, esses herbicidas têm preço mais elevado e a eficiência de
controle é inferior ao 2,4-D amina (MELHORANÇA, 2002).
Recentemente uma nova planta daninha, comum nas lavouras de Mato Grosso
do Sul, tornou-se resistente ao herbicida Glyphosate, a buva (Conyza bonariensis)
(Figura 42). Trata-se de é uma espécie anual que se caracteriza pela produção de grande
número de sementes, as quais são facilmente transportadas pelo vento. As sementes
maduras não apresentam dormência, germinam da superfície do solo (menos de 0,5cm
de profundidade) na presença de luz solar e umidade, sendo a maior taxa de germinação
observada a 20 oC. Praticamente existem dois períodos de germinação de sementes de
buva: um após a colheita de soja (abril/maio) e outro no início da primavera
(setembro/outubro)

Figura 42. Buva (Conryza bonariensis)

A Embrapa (s/d) recomenda em substituição ao Glyphosate na dissecação em


áreas onde a buva ocorra a aplicação dos herbicidas Paraquate, Paraquate + Diuron,
Amônio Glufosinato ou 2,4-D.
A cultura de milho pode ser semeada antes ou logo após a operação de
dessecação. No entanto, em áreas com grande quantidade de matéria verde,
especialmente gramíneas, a cultura semeada logo a seguir apresenta um amarelecimento
das folhas, no período inicial, com redução no desenvolvimento vegetativo. Portanto,
nestas condições, a melhor opção é aguardar de 14 a 18 dias após a operação de
dessecação, quando as plantas deverão estar completamente secas, condições em que a
66

semeadura é mais fácil de ser realizada (MELHORANÇA, 2002). Os herbicidas


dessecantes registrados pelo MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento) encontram-se especificados na Tabela 8.

Tabela 8. Herbicidas dessecantes registrados para o manejo no plantio direto

Produto Produto Comercial Mecanismo de ação Grupo Químico Dose


Técnico (PC) (g. i.a.ha-1)
Glyphosate3/ Trop; Roundup WG,
Gliz 480, Gliphogan Inibidor da EPSPs Glicina 480-9602/
480, etc.
Sulfosate Zapp QI Inibidor da EPSPs Glicina 480 – 9602/
Paraquat Gramoxone 200 Inibidor do Bipiridilo 200-4002/
Fotossinstema I
Paraquat Inibidor do
+ Fotossinstema I Bipiridilo 2 a 3 L ha-1
Diuron Gramocil + + (PC)
Inibidor do Uréia
Fotossinstema II
Aminamar; Aminol
2,4-D amina 606, DMA 806 BR, Mimetizador de Ácido 800-11002/
Herbi D4; U 46 BR, auxina Fenoxiacético
etc.
Glufosinato Finale, Inibidor da GS Ácido fosfínico 500-6002/
de amônio Liberty (Glutamina Sintetase)
Glyphosate Command Inibidor da EPSPs + Glicina 4 – 6 L ha-1
+ Mimetizador de + (PC)
2,4-D auxina Fenoxiacético
2,4-D + - Mimetizador de Fenoxiacético 300
Paraquat auxina+ Inibidor do + +
Fotossistema I Bipiridilo 800-1100
Clorimuron Classic Inibidor da ALS
etil + + (acetolactato sintase) Sulfoniluréias 10
Glyphosate Diversos + + +
Inibidor da EPSPs Glicina 960-
2/
= a dose depende do estádio de desenvolvimento das plantas, podendo, inclusive, superar o limite
superior indicado
3/
= A escolha de um produto isolado ou de misturas dependerá do tipo de invasoras predominantes (folha
larga ou/e estreita), do desenvolvimento das mesmas e das resistências que estas possam oferecer aos
produtos relacionados.
Fonte: Oliveira Júnior (2011); Embrapa (2009); Embrapa (2013)

3.4.1.2.1. Aplicação antes da semeadura incorporado ao solo – Herbicidas de


PPI

Recomenda-se que alguns herbicidas que atuam durante ou imediatamente


após a germinação das sementes e que apresentam significativa fotodegradação e/ou
volatilização sejam incorporados ao solo antes da semeadura da cultura. A aplicação
67

também é recomendada nos casos em que após a aplicação em pré-emergência (após a


semeadura, mas antes da emergência) ocorra estiagem prolongada e o produto
permaneça exposto na superfície do solo.
Esta prática é realizada mecanicamente e deve ser uniforme. A profundidade de
incorporação de herbicidas no solo é fator importante, principalmente para culturas em
que a seletividade do herbicida para a cultura do milho ocorra por “posição”, como é o
caso do Trifluralin. Este herbicida quando incorporado ao milho em profundidade maior
que 2 cm causa severa toxicidade à cultura (EMBRAPA 2002). A incorporação é feita
com uma gradagem niveladora após o solo já estar bem destorroado e nivelado,
podendo ser imediatamente após a aplicação (Figura 43) ou aguardar-se algum tempo
após a aplicação, em função das características do herbicida.

Figura 43. Aplicação e incorporação de herbicida

As principais vantagens deste tipo de aplicação são: a) – o herbicida estará


disponibilizado no perfil superficial do solo, local onde se encontram as sementes de
plantas daninhas com potencial para germinar; b) – a operação de incorporação elimina
as plantas daninhas emergidas; c) – os produtos aplicados dessa forma, em geral, não
são facilmente lixiviados devido à sua baixa solubilidade. Além disso este tipo de
aplicação não requer chuva para ativação ou movimentação do produto no perfil do solo
até as sementes das plantas daninhas. Entre as desvantagens estão: a) – pode ocorrer
danos à cultura (perda da seletividade); b) – a movimentação excessiva do solo e a
compactação devido ao trânsito das máquinas poderão favorecer à erosão; c) – a
aplicação é feita em área total; d) – não exerce adequada atividade sobre espécies
perenes com propagação vegetativa; e) – o custo do tratamento é aumentado em razão
da necessidade de realizar a operação de incorporação. Este tipo de aplicação é o que
causa maior impacto ambiental. Atualmente não se encontram no mercado herbicidas
com esta modalidade de aplicação registrados para a cultura do milho.
68

3.4.1.3 – Aplicação após a semeadura, mas antes da emergência – Herbicidas


de pré-emergência

As aplicações pré-emergentes de herbicidas na cultura do milho são aquelas


realizadas antes da emergência das plantas daninhas e da cultura. Podem ser realizadas
simultaneamente ou logo após a semeadura, sem incorporação ou com incorporação
mecânica superficial (Figura 44).

Figura 44. Aplicação de herbicida pré-emergente (cana)

Os herbicidas usados em pré-emergência oferecem a vantagem do controle de


plantas daninhas antes que essas possam competir com a cultura e provocar redução na
produtividade. Na aplicação desses produtos o agricultor deve estar atento para
necessidade de incorporação mecânica ou não do herbicida, visando garantir a eficiência
do produto ou minimizar os riscos de toxicidade para a cultura.
O desempenho dos herbicidas usados em pré-emergência depende de muitos
fatores como: a) – chuva após a aplicação para a sua ativação no solo; b) – temperatura
e tipo de solo; c) – espécies daninhas a serem controladas. Por isso alguns desses
herbicidas podem proporcionar controle insatisfatório da plantas daninhas,
principalmente se as condições ambientais forem inadequadas para a sua atividade no
momento e após a aplicação. Como regra geral pode-se afirmar que os herbicidas
aplicados em pré-emergência necessitam de umidade adequada no solo para se difundir
naturalmente no perfil deste, prevenindo-se perdas por volatilização e
fotodecomposição. Todavia, em alguns casos, quando o herbicida é extremamente
volátil ou muito sensível à fotodegradação torna-se necessária a incorporação mecânica
desses produtos (EMBRAPA,2006b). Os herbicidas registrados na cultura do milho
69

para aplicação em pré-emergência, para o controle de espécies de folhas estreitas e de


folhas largas, encontram-se nas Tabelas 9 e 10, respectivamente.
Tabela 9. Herbicidas registrados para a cultura do milho em pré-emergência para o
controle predominantemente de folhas estreitas
Produto Produto Comercial Mecanismo de Grupo Químico Dose
técnico ação (g. i.a.ha-1)
1/
Acetochlor Kadett; Surpass Inibidor de Cloroacetamida 2000-4000
divisão celular
Alachlor2/ Alachlor Nortox; Inibidor de Cloroacetamida 2400-3360
Laço EC divisão celular
Dimethenamid3/ Zeta 900 Cloroacetamida 1125
4/
Isoxaflutole Alliance SC; Inibidor da
Prowence 750 WG síntese de Isoxazoles 60
carotenóides
S-Metolachlor5/ Dual Gold Inibidor de Cloroacetamida 1440 - 1680
divisão celular
Pendimethalin6/ Herbadox 50 CE Inibidor da Dinitroanilina 1000-1750
formação de
microtúbulos
Novolate; Inibidor da
Trifluralin Premerlin 600 CE; formação de Dinitroanilina 540-3000
Trifluarlina microtúbulos
Nortox Gold
1/
= Para evitar injúrias no milho precisa ser usado com protetor para cultura (Safener) que já vem incluído
na formulação comercial. Controla algumas folhas largas como a guanxuma, picão branco, caruru e
trapoeraba. Pode ser misturado com Atrazine ou Simazine (1,5 a 2,0 kg ha-1);
2/
= Controla folhas largas como guanxuma, poaia, caruru, trapoeraba, carrapicho rasteiro e outras;
3/
= Controla folhas largas como guanxuma, caruru, trapoeraba, poaia e nabo, entre outras;
4/
= Controla além de gramíneas anuais e perenes folhas largas como o caruru, beldroega, guanxuma e
desmódio, entre outras. Para se aumentar o espectro de ação pode ser misturado com Atrazine;
5/
= Controla também folhas largas como guanxuma, caruru, carrapicho rasteiro, picão branco, poaia e
beldroega, entre outras;
6/
= controla também as dicotiledôneas apaga fogo, caruru, serralha e beldroega.
Fontes: MAPA (2009); Embrapa (2013); Oliveira Júnior (2011)

Os herbicidas usados em pré-emergência sem incorporação devem ser


aplicados logo após a semeadura da cultura ou, no sistema convencional, no máximo até
três dias após a última gradagem, uma vez que estes produtos comumente atuam durante
a emergência das plantas daninhas. A área deve estar livre de torrões e apresentar bom
nível de umidade. A ocorrência de chuva ou irrigação após a aplicação é necessária a
fim de permitir a difusão desses produtos no solo, promovendo a incorporação, o que
aumenta a sua eficácia, pois, se estes não atingirem o local onde estão as sementes das
plantas daninhas o tratamento poderá ser ineficiente. A ocorrência de estiagem por
período superior a uma semana poderá afetar o desempenho da maioria dos herbicidas
desta classe, visto que haverá perdas por fotodecomposição e volatilização.
(EMBRAPA, 2006b). As vantagens dos herbicidas usados em pré-emergência são: a) –
70

podem ser usados no sistema de cultivo convencional e no direto; b) – podem ser


aplicados na operação de semeadura com equipamentos acoplados à semeadora; c) –
não necessitam de incorporação havendo com isto economia de tempo, máquinas e
combustível; d) – expõem menos o solo à erosão reduzindo o impacto ambiental
(EMBRAPA, 2006).
Tabela 10. Herbicidas registrados para a cultura do milho em pré-emergência para o
controle predominantemente de folhas largas.
Produto Produto Comercial Mecanismo de Grupo Dose
Técnico ação Químico (g. i.a.ha-1)
Ametryne Ametrina Agripec; Inibidor do
GesapaxGrDa; Gesapax Fotossistema II Triazina 2500 - 4000
500 Ciba-Geigy
Amicarbazone Dinamic Inibidor do Triazina 280
Fotossistema II
Atrazine1/ Atranex 500 SC; Atrazina
Nortox 500; Atrazinax, Inibidor do Triazina 750 - 2000
Coyote, Gesaprin500; Fotossistema II
Herbitrin, Siptran 500,
etc.
Cyanazine2/ Bladex 500 Inibidor do Triazina 750 - 1250
Fotossistema II
2,4-D amina Aminamar, 282 – 2821
DMA 806 BR; Mimetizador de Fenoxiacético 2015-2821
Herbi D 480 auxina 1440-2160
Linuron Afalon SC Inibidor do Uréia 720 - 1485
Fotossistema II
Simazine3/ Herbazin 500 BR; Inibidor do Triazina 750 - 2000
Spazina 800 PM Fotossistema II
Terbutilazine Gardoprim Inibidor do Triazina 2000-3500
Fotossistema II
1/
= não deve ser aplicado em período de deficiência hídrica. Em solo seco sua eficácia será reduzida se
não chover até 6 dias após. No campo tem sido observado toxicidade em aveia semeada até 150 dias a
aplicação de Atrazine na cultura de milho;
2/
= Causa sintoma de fitotoxicidade ao milho; não deve ser usado em solos leves com menos de 25% de
argila. Pode ser misturado com Alachlor, S-Metolachlor, Pendimethalin e Simazine para aumentar o
espectro de controle.
3/
= Quando aplicado em solo seco se não chover até 7 dias a sua eficácia será reduzida. Também controla
eficazmente capim colchão, capim marmelada, capim arroz e capim massambará, além das folhas largas.
Fontes: MAPA (2009); Embrapa (2013); Oliveira Júnior (2011);

Figura 45. Lavoura que recebeu aplicação de herbicida em pré-emergência


71

3.4.1.4 Aplicação após a semeadura e após a emergência - Herbicidas de


pós-emergência
Este tipo de aplicação é feito após a emergência das plantas daninhas, antes
que estas interfiram na cultura (Figura 46). A possibilidade de ocorrer prejuízos devido a
competição é maior neste tipo de tratamento herbicida do que nos anteriores, sendo
necessário monitoramento constante para aplicar o produto na época adequada.

Figura 46. Aplicação em pós-emergência


Há maior probabilidade de ocorrem problemas nesse tipo de aplicação em
grandes áreas cultivadas, em razão do curto período em que as plantas devem ser
controladas, pois, se ocorrerem condições climáticas inadequadas, como, excesso ou
falta de chuvas, ou falta de equipamentos para realizar a operação as plantas daninhas
podem acabar afetando a cultura. A fim de evitar falhas de controle em grandes
lavouras, aconselha-se que o agricultor use, em uma parte da lavoura herbicidas pré-
emergentes e, na outra, herbicidas pós-emergentes, ou realiza a semeadura de forma
escalonada de acordo com as máquinas disponíveis para evitar acúmulos numa mesma
época.
As condições de clima para aplicação dos herbicidas em pós-emergência
devem ser favoráveis à absorção e translocação do herbicida. Em geral, a temperatura
mínima é de 10 ºC; a ideal de 20 a 30 ºC, e a máxima de 35 ºC. A umidade relativa
mínima é de 60%, a ideal de 70-90%, a máxima de 95%. Tanto em pré como em pós-
emergência os herbicidas não devem ser aplicados na presença de ventos com
velocidade superior a 10 km/hora. Os usados em pós-emergência não devem ser usados
sobre plantas estressadas e em caso de chuva iminente, sob pena de perda de eficiência
do tratamento e/ou de causar danos às culturas vizinhas (SILVA et al., 2002).
As aplicações em dias com ventos fortes poderão provocar deriva e as gotículas
podem não atingir o alvo e sim locais com culturais sensíveis, processo conhecido como
72

“deriva”. A baixa umidade relativa provoca a desidratação da cutícula e o consequente


secamento rápido da gota sobre a superfície da folha, provocando a cristalização do
produto sobre esta, o que dificulta a absorção das moléculas. Altas temperaturas podem
provocar a volatilização das moléculas e aumentar a evaporação das gotas. Por outro
lado, temperaturas baixas podem reduzir o metabolismo das plantas e dificultar a
absorção e a translocação deste e poder diminuir o metabolismo das moléculas
herbicidas por parte da cultura, reduzindo a seletividade dos produtos (SILVA, et al.,
2002).
A ocorrência de chuva logo após a aplicação pode lavar as moléculas do
herbicida da superfície da planta, reduzindo a sua absorção. Alguns herbicidas
necessitam de até seis horas sem chuva, após a aplicação, para serem absorvidos em
quantidades suficientes para controlar a planta (FLECK, 1992; SILVA et al., 2002).
As vantagens dos herbicidas aplicados em pós-emergência, de acordo com
Fleck (1992), podem ser assim enumeradas: a) – aplicação localizada; b) – eficiência
não afetada pelas características do solo; c) – uso no sistema convencional e direto; d) –
escolha do produto feito de acordo com as plantas daninhas existentes na área naquele
momento; e) – auxilia a prevenção da erosão (cobertura morta). Estes herbicidas podem
ser aplicados em pós-emergência precoce, normal ou tardia (EMBRAPA, 2006b)

Aplicação em pós-emergência precoce

Herbicidas são aplicados sobre plantas daninhas em estádios iniciais de


desenvolvimento, ou seja, quando as espécies daninhas de folhas largas estiverem com
no máximo duas folhas e as espécies de folha estreita ainda não tiverem perfilhado
(Figuras 47 e 48).

Figura 47 – plântula de picão-preto Figura 48 – plântula de Echinochloa colona

Aplicação em pós – emergência normal


73

São aplicações realizadas quando as plantas daninhas de folhas largas


estiverem com no máximo, seis folhas e as espécies de folha estreita, tiverem com até
três perfilhos (Figuras 49 e 50).

Figura 49. Planta de Brachiaria sp. Figura 50. Plântula de B. pilosa (picão preto)
(três perfilhos) (quatro folhas)

Aplicações em pós-emergência tardia


Neste tipo de aplicação os herbicidas são aspergidos sobre plantas daninhas em
estádios avançados de desenvolvimento, ou seja, quando as espécies folhas largas
estiverem em estádios acima de seis folhas e as espécies de folha estreita tiverem com
mais de três perfilhos. Em tais situações, normalmente, a cultura produtora de grãos já
sofreu danos e terá o rendimento reduzido. A eficiência dos herbicidas aplicados em
pós-emergência tardia pode ser menor do que quando aplicados em pós-emergência
precoce ou normal, sendo quase sempre imprescindível o uso de adjuvante (Figuras 51 e
52).

Figura 51. Planta adulta de Amaranthus sp Figura 52. Planta adulta de B. plantaginea
(caruru) (capim marmelada)
Os nomes dos herbicidas pós-emergentes registrados para a cultura do milho para
controle de folhas estreitas e folhas largas encontram-se nas Tabelas 11 e 12.
Tabela 12. Herbicidas registrados para a cultura do milho em pós-emergência para o
controle predominantemente de folhas estreitas.
74

Produto Técnico Produto Mecanismo de Grupo Químico Dose


Comercial ação (g. i.a. ha-1)

Nicosulfuron1/ Nisshin; Sanson Inibidor da enzima Sulfoniluréias 50 - 60


40 SC ALS (acetolactato
sintase)
Poast 184 – 230
Sethoxydim2/ Inibidor da Ciclohexanodionas
Poast Plus ACCase 180 - 240
1/
= Aplicação em pós emergência em área total quando as plantas de milho estiverem com 2 a 6 folhas (10
a 25 cm de altura) e as plantas daninhas com duas a seis folhas (folhas largas) ou até dois perfilhos. O
milho pipoca e os híbridos /variedades: AG 2003; AG 612; Agromen 2010;Agromen 3000; C-211, C-333,
CO-11; FT- 9043, P-32330, Zeneca 8551, 8392, 8452, GO-503, Avant, Star XL e BR-3123 apresentam
pequena tolerância ao Nicosulfuron. Deve-se aguardar sete dias após tratamento com inseticida
organofosforado, Basagran ou 2,4-D para aplicar Nicosulfuron;
2/
= somente é recomendado para híbridos resistentes ao Sethoxydim. A adição de adjuvante oleoso
(Assist), favorece a distribuição da calda sobre a folhagem, retarda a evaporação e favorece a penetração,
o que resulta num melhor controle das plantas infestantes.
Fontes: MAPA (2009); Embrapa (2013); Oliveira Júnior (2011)

3.4.2 Aplicações dirigidas

A aplicação dos herbicidas usados em pré e pós-emergência pode ser realizada


de forma dirigida, ou seja, somente em parte da área, como por exemplo, em faixas ou
manchas em que ocorre determinada espécie de planta daninha ou nas entrelinhas da
cultura produtora de grãos.
O sucesso das aplicações dirigidas em pós-emergência baseia-se nas diferenças
entre as plantas daninhas e a cultura produtora de grãos. Nos casos em que a altura da
cultura é maior que a de plantas daninhas, pode-se aplicar o herbicida de forma
direcionada à base das plantas da cultura econômica, evitando-se o contato do herbicida
com as folhas desta. Para isso, o agricultor pode usar pingentes ou pistolas acopladas ao
pulverizador (Figura 53).

Figura 53. Esquema de aplicação com jato dirigido

O uso de pingentes visa a direcionar a pulverização para o alvo (solo ou plantas


daninhas, sem atingir a cultura), promovendo melhor cobertura (diminuindo o efeito
guarda-chuva) e protegendo a cultura produtora de grãos de herbicidas com baixa ou
75

nenhuma seletividade. É comum que a aplicação do herbicida Paraquat (Gramoxone)


ocorra dessa forma, para controle de plantas daninhas nas entrelinhas de lavouras de
milho.

Tabela 13. Herbicidas registrados para a cultura do milho em pós-emergência para o


controle predominantemente de folhas largas.
Produto Produto Comercial Mecanismo de Grupo Químico Dose
Técnico ação (g. i.a. ha-1)
Ametrina Agripec; Inibidor do
Ametryne1/ GesapaxGrDa; Gesapax Fotossistema Triazina 3000 – 4000
500 Ciba-Geigy II .
AtrazinaAtanor
50;AtrazinaNortox
Atrazyne 500GesaprimGRDA; Inibidor do
Gesaprim 500 Ciba- Fotossistema Triazina 2500 - 4000
Geigy; Posmil; Primóleo, II
Proof, Siptran 500 SC;
Siptran 800 WP
Bentazon2/ Banir; Basagran 600; Inibidor do Benzotiadiazinona 720
Basagran 480 Fotossist. I e II
Carfentrazone- Aurora 400 EC Inibidor da Aril 10 - 30
etyl3/ protóx triazolinonas
Aminol 806; Capri; 2,4-D Mimetizador 282 - 2821
2,4-D amina4/ Amina 72; Herbi D 480, de auxina Fenoxiacético
Navajo, U 46 BR, etc.
1/
= É recomendado como tratamento complementar em pós-emergência tardia do capim marmelada e
folhas largas, sempre em aplicações dirigidas, quando as plantas de milho estiverem com 40 a 50 cm de
altura (30 dias após a emergência). Requer até 6 horas sem chuvas após a aplicação;
2/
= Recomendado em pós-emergência inicial estando as plantas daninhas com o máximo de seis folhas e
com bom vigor vegetativo. Não deve ser aplicado em períodos de estiagem e umidade relativa do ar
inferior a 60%. A adição do óleo mineral à calda melhora o desempenho do herbicida. Tem ação de
contato (translocação reduzida).
3/
= O controle da trapoeraba (Commelina benghalensis) deverá ser feito quando estas estiverem com 2 a 4
folhas empregando-se a dose de 24 a 31,2 ml do produto comercial(p.c.)/ha e para cordas-de-viola
(Ipomea grandifolia) empregar de 50 a 75 ml/p.c./ha + 0,5% de óleo mineral quando tratar-se de
dessecação no plantio direto.
4/
= É recomendável que a sua aplicação seja feita preferencialmente dirigida estando o milho no estádio
inferior a 3 – 4 folhas. Aplicações mais tardias podem causar deformações nas plantas e diminuição na
produtividade.
Fontes: MAPA (2009); Embrapa (2013); Oliveira Júnior (2011)

A aplicação dirigida também pode ser usada para corrigir falhas, nos casos em
que os cultivadores ou herbicidas aplicados em pré ou pós-emergência não
apresentarem controle satisfatório das espécies presentes na área ou ainda por período
adequado. O uso de herbicidas totais de forma dirigida pode ser a única alternativa
eficiente para controlar plantas daninhas em estádios avançados de desenvolvimento ou
para pequenos produtores controlarem estas espécies em áreas com topografia irregular
(EMBRAPA, 2006b)
76

Entre as vantagens das aplicações dirigidas está a redução do gasto com


herbicida, pois a quantidade de produto aplicada será consideravelmente reduzida
quando comparada com a aplicação em área total. Por outro lado, entre as desvantagens
estão o possível não-controle de plantas daninhas na linha da cultura produtora de grãos
e os cuidados a serem tomados no caso de se utilizarem herbicidas não-seletivos, a
dificuldade de se usar em grandes áreas, a necessidade de equipamentos especiais para
aplicação (pingentes), a dependência das condições climáticas (sem chuvas e ventos)
para a entrada na lavoura e o seu uso restrito apenas em áreas planas.
A aplicação dirigida é ferramenta que deve ser usada para evitar a
multiplicação e disseminação de determinadas espécies daninhas, ainda não
predominantes na área e para controlar plantas resistentes a herbicidas. (EMBRAPA,
2006b).
3.4.3 Cuidados com os equipamentos no momento da aplicação
O sucesso no controle das pragas e doenças depende da escolha do produto
adequado e da sua correta aplicação. Os defensivos são aspergidos sobre o solo ou as
plantas e para garantir que o ingrediente ativo atinja toda a superfície alvo é necessário
que o equipamento esteja distribuindo uniformemente a quantidade correta do produto
por área. A quantidade de ingrediente ativo aplicado deve ser correta para evitar falha de
controle ou danos à cultura. Para isso, antes de iniciar a aplicação é necessário revisar
cuidadosamente o equipamento a ser usado.
Os bicos devem ser examinados individualmente, a fim de avaliar o desgaste e
o alinhamento. Além disso, o volume de calda a ser aplicado, o número e o tamanho das
gotas a pressão de funcionamento dos bicos, a dosagem, a diluição, a agitação e a
necessidade da adição de adjuvantes devem ser verificadas cuidadosamente. A
ocorrência de erros na dose aplicada normalmente apresenta reduzida possibilidade de
correção e são os principais responsáveis pela maioria das aplicações fracassadas. Os
problemas verificados na ineficiência do controle de plantas daninhas na maioria dos
casos estão relacionados à tecnologia de aplicação. Cerca de 46% dos problemas das
aplicações ocorrem na calibragem do pulverizador, 5% na mistura de produtos e 12% na
combinação da calibragem e da mistura de produtos (EMBRAPA,2006B; SILVA et al.,
2004).
3.4.4. Mistura de herbicidas
77

As lavouras de milho são infestadas por espécies daninhas com diferentes


características fisiológicas que lhe conferem a capacidade de responder
diferencialmente aos herbicidas. A fim de superar esse problema, muitas vezes é
necessário usar mais que um herbicida e com diferentes mecanismos de ação para
controle eficiente de todas as espécies daninhas do local. A possibilidade de se utilizar
misturas de herbicidas surge como uma alternativa eficiente para facilitar o manejo das
plantas daninhas e, muitas vezes, é capaz de reduzir o custo do tratamento, além de
prevenir o surgimento de plantas daninhas.
O uso combinado de dois ou mais herbicidas na mesma área pode ser feito pela
aplicação desses produtos separadamente (um herbicida após o outro) ou conjuntamente
(por meio da mistura de tanque, realizadas na propriedade ou ainda adquiridas prontas).
Os herbicidas pré misturados ou misturados no tanque do pulverizador podem
ser mais eficientes ou não, dependendo do modo como foi feita a mistura e da
quantidade adicionada de cada produto. Quando houver menor desempenho da mistura
pode estar ocorrendo incompatibilidade física ou biológica. A incompatibilidade física é
usualmente causada pela formulação e pelas suas interações, resultando em formação de
precipitados e separação de fase. A mistura de um herbicida formulado como pó
molhável (PM), por exemplo, com outro formulado como concentrado emulsionável
(CE) tem elevada tendência a apresentar incompatibilidade física, que resulta numa
rápida sedimentação dos componentes dessa mistura. Por isto, uma das vantagens em se
adquirir a mistura já formulada, em relação àquela em tanque, é evitar possíveis
problemas de incompatibilidade dos componentes da formulação. A incompatibilidade
decreta a incapacidade de dois ou mais herbicidas serem usados em mistura (SILVA et
al., 2002).
Ao realizar a mistura de herbicidas deve-se atentar para a as reações desses
produtos sobre as plantas daninhas e sobre a cultura. São três as interações possíveis:
a) – Sinérgica: quando o efeito dos herbicidas aplicados associados é maior do
que a soma dos efeitos isolados;
b) – Aditiva: quando o efeito dos herbicidas em mistura é igual à soma de seus
efeitos ao serem aplicados separadamente;
c) – Antagônica: quando o efeito dos herbicidas em mistura é menor que a
soma dos seus efeitos ao serem aplicados separadamente.
78

Do ponto de vista prático seria ideal que a mistura apresentasse efeito


antagônica para a cultura e sinergístico para as plantas daninhas (FLECK, 1992).
Várias misturas sinergísticas de herbicidas têm sido reportadas. As bases para
essa interação podem ser: aumento da translocação; inibição do metabolismo e interação
dos mecanismos de ação dos herbicidas envolvidos.
O antagonismo em mistura de tanque acontece quando uma reação adversa
ocorre entre os herbicidas na solução, podendo provocar a redução da penetração foliar,
como ocorre, por exemplo, quando se misturam herbicidas inibidores da síntese de
lipídeos com o 2,4-D ou o Bentazon. O antagonismo também ocorre quando um
herbicida de contato é aplicado com um herbicida sistêmico, como o Glyphosate, por
exemplo, ou com os reguladores de crescimento (Exemplo, 2,4-D). Nesses casos a
absorção e a translocação do herbicida sistêmico ficam prejudicadas resultando em
menor efeito desses produtos.
A mistura de herbicidas com inseticidas e fertilizantes também resulta em
diversos tipos de interação. Em geral, a toxicidade de alguns herbicidas tem mostrado
ser influenciada por alguns herbicidas organofosforados e/ou metilcarbamatos.
Inseticidas organoclorados, fisiológicos ou piretróides não têm apresentado interações
com os herbicidas utilizados na cultura do milho. Entretanto, os organofosforados estão
envolvidos com interações com Nicosulfuron. A tolerância do milho ao Nicosulfuron se
deve ao rápido metabolismo, contudo, inseticidas organofosforados podem reduzir ou
inibir este metabolismo e o herbicida, causa, então, toxicidade à cultura. O inseticida
organofosforado Terbufos (Counter) tem causado grandes problemas em áreas onde se
usa Nicosulfuron.
O manejo dos herbicidas, especialmente das misturas, requer grande cuidado,
além do conhecimento a respeito das possíveis interações entre os produtos para se
obter controle eficiente de plantas daninhas e minimizar injúrias às culturas.
Os herbicidas a serem misturados no tanque precisam ter apreciação formal da
empresa registrante se ainda não houver especificação no rótulo doa produto. É
importante que para a segurança do agricultor, que tanto a empresa fabricante quanto o
técnico sejam responsáveis pela recomendação. Assim, o agricultor deve possuir
aprovação ou recomendação formal para realizar a mistura (SILVA et al., 2004).
A aplicação de misturas de herbicidas pode oferecer vantagens, como:
79

a) – controle de maior número de espécies de plantas daninhas; b) – possibilidade de


emprego de doses menores de cada tipo de herbicida o que resulta em maior segurança
para a cultura e reduz prováveis resíduos nos alimentos e nos solos; c) – controle por
maior período de tempo; d) – maior adaptação a diferentes condições climáticas e tipos
de solo; e) – ampliação da seletividade para as culturas e do controle em razão de
interação sinérgica sobre as plantas daninhas; f)– redução do custo do tratamento; g) –
redução da possibilidade de surgimento de plantas daninhas resistentes; h) – aumento do
lucro do produtor.
As misturas de herbicidas registradas para a cultura do milho estão na Tabela 14.
Tabela 14. Misturas de herbicidas registradas para aplicação na cultura do milho.
Produtos técnicos Produto Comercial (P.C.) Época de Dose (P.C.)
Aplicação (kg/L ha-1)
Alachlor + Atrazyne Agimix1/ pré/pós 6,0 a 8,0
Alaclor + Atrazina NortoxSC Pré 6,0 a 7,0
Alazine 500 SC Pré 7,0 a 8,0
Boxer pré 7,0 a 9,0
Atrazyne + Bentazon Laddok pós 2,4 a 3,0
Atrazyne + Dimethenamid Guardsman pré 4,0 a 5,0
Atrazyne + Glyphosate2/ Gillanex Pós 4,0 a 6,0
Atrazyne + Isoxaflutole3/ Alliance WG pré 1,5 a 2,0
Atrazyne + S-Metolachlor4/ Primagran Gold pré/pós 3,5 a 4,5
Primaiz Gold pré/pós 3,5 a 4,5
Primestra Gold pré/pós 3,5 a 4,5

Atrazyne + Nicosulfuron Sanson AZ pós 1,75 a 2,0


Atrazyne + Simazyne Actiomex 500 Pré/pós 3,5 a 7,0
Atrasimex 500 SC Pré 4,0 a 6,0
Controller 500 SC Pré 3,5 – 6,0
Extrazin SC Pré 3,6 – 6,8
Herbimix SC Pré/pós 6,0 a 7,0
Primatop SC Pré/pós 3,5 a 6,5
Triamex 500 SC Pré/pós 3,5 a 6,0
1/
Aplicar em pós inicial quando as plantas daninhas estiverem no estádio de 2 a 4 folhas,
independentemente do estádio da cultura do milho. Não controla bem o capim marmelada;
2/
= mistura empregada na operação de manejo (dessecação) no plantio direto;
3/
= não deve ser usado em cultivares de milho branco, linhas puras, milho pipoca e em áreas que
receberam calagem nos últimos 90 dias. Pode causar fitotoxicidade para a cultura em temperaturas
inferiores a 21ºC;
4/
= em pós-inicial adicionar adjuvante. Aplicação na pré-emergência é mais eficiente.

BIBLIOGRAFIA

DEUBER, R. Ciências das plantas daninhas: Fundamentos. Jaboticabal: FUNEP,


1992. 431 p.
80

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. Cultivo do Milho. Sete


Lagoas: Embrapa (CNPMS). 2002

EMBRAPA. Período Crítico de Competição. Documentos online 61: Embrapa Trigo.


2006 a. Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do61_4.htm Consulta
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EMBRAPA. Épocas de aplicação de herbicidas na cultura do milho. Documentos


online 61: Embrapa Trigo. 2006 b. Disponível em:
http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do61_8.htm Consulta em 04/02/2015.

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http://panorama.cnpms.embrapa.br/plantas-daninhas/herbicidas/herbicidas-pre-
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EMBRAPA. Manejo e controle da buva resistente ao Glifosato. s/d. Disponível em:


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FLECK, N. G. Princípios do controle de plantas daninhas. Porto Alegre: UFRGS.


1992. 70 p.

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Consulta em 01/02/2015.

MELHORANÇA, A. L. Tecnologia de dessecação de plantas daninhas no plantio direto.


Circular Técnica 10. Dourados, MS. 2002. Disponível em:
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S. de; CONSTATIN, J.; INOUE, M. H. Biologia e Manejo de Plantas Daninhas. Curitiba:
Omnipax Editora. 2011. p. 141 – 192.

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GALVÃO, J. C. C.; MIRANDA, G. V. (Eds). Tecnologia de produção de milho. Viçosa:
Editora UFV. 2004. P. 269-310.
81
82

PARTE IV

PRAGAS E DOENÇAS

1. PRAGAS

1.1 Introdução

Vários fatores determinam as perdas de produtividade da lavoura de milho,


entre os quais se destacam as pragas. Elas provocam perdas desde a fase inicial do
desenvolvimento reduzindo a densidade de semeadura, causam danos diretos e indiretos
durante a fase vegetativa e reprodutiva, além de atacarem os grãos e seus derivados
durante o armazenamento. Cerca de quase uma centena de espécies de insetos fitófagos
são citados na literatura como pragas do milho (GASSEN, 1994), no entanto, se
considerarmos a importância econômica das mesmas este número fica substancialmente
reduzido e, do ponto de vista do Manejo Integrado de Pragas (MIP), poucas espécies de
insetos podem ser relacionadas como importantes ou pragas-chaves desta cultura. No
campo, as pragas têm-se beneficiado com a implementação do cultivo do milho safrinha
(milho semeado em janeiro/fevereiro, logo após a colheita da safra normal). Isto
83

propicia a disponibilidade de alimento para os insetos por um período mais prolongado,


elevando a taxa de sobrevivência e o número de gerações, incrementando a densidade
populacional. A identificação correta e o conhecimento de seus ciclos de vida, seus
hábitos alimentares e os fatores de controle natural são fundamentais para o sucesso de
um manejo econômico e ecologicamente sustentável.
Nos agroecossistemas encontramos vários grupos de insetos que podem ser
definidos como fitófagos (aqueles que se alimentam de plantas), zoófagos (inimigos
naturais de outros insetos) e decompositores de resíduos orgânicos, além de outros com
diversos hábitos alimentares; todos integrados no delicado equilíbrio da cadeia
alimentar. Os insetos que são fitófagos somente tornam-se pragas quando atingem níveis
populacionais que causam danos econômicos às culturas agrícolas exploradas pelo
homem. Quando estes danos são menores que o custo para controlá-los não podem ser
considerados como uma praga. O “status” de praga-chave de uma determinada cultura
(milho ou outra qualquer) é dado a um inseto fitófago quando ele possui ampla
distribuição nas regiões produtoras, bem como pela densidade populacional e freqüência
com que ocorrem.
No Brasil, estima-se que a perda média ocasionada pelo ataque das pragas no
campo está ao redor de 10%, porém em situações regionais ou locais, os danos podem
atingir grandes proporções (VIANA, s/d). Neste estudo consideraram-se as informações
de Viana et al. (2010) na descrição da biologia, hábitos, danos e medidas de controle das
pragas.

1.1.1 Pragas iniciais

Vários insetos atacam as sementes, raízes e plântulas (plantas jovens) do milho


após a semeadura. O tipo de ataque reduz o número de plantas na área cultivada e o
potencial produtivo da lavoura. Esses insetos são de hábito subterrâneo ou superficiais e
na maioria das vezes passam despercebidos pelo agricultor, dificultando o emprego de
medidas para o seu controle. A importância desses insetos varia de acordo com o local,
ano e sistema de cultivo. As principais espécies, sua importância para a cultura,
sintomas de danos e métodos de controle disponíveis são descritos a seguir:

1.1.1.1 Pragas que atacam sementes e raízes

Larva alfinete (Diabrotica spp.)


84

Importância econômica - No Brasil a espécie predominante é a Diabrotica


speciosa cujo adulto é de coloração verde e amarela, por isso também chamado de
vaquinha “verde e amarela” ou “patriota”, mede seis milímetros de comprimento
(Figura 54) se alimenta das folhas de hortaliças, feijoeiro, soja, girassol, bananeira,
algodoeiro e milho. As larvas atacam as raízes do milho e tubérculos de batata. Os
prejuízos causados por essas larvas têm sido expressivo nos Estados do Sul e em
algumas áreas das regiões Sudeste e Centro-Oeste (EMBRAPA, 2010).
As fases imaturas dessa praga são encontradas no solo. Os ovos dessa praga
são colocados na base da planta, próximo às raízes. Desses ovos nascem as larvas, que
são cilíndricas. Quando completamente desenvolvidas atingem 12 mm de comprimento
e um milímetro de diâmetro. São esbranquiçadas com a cabeça e o ápice de abdome de
coloração preta. Alimentam-se da região da raiz e podem atingir o ponto de
crescimento, matando as plantas recém-germinadas. Com o desenvolvimento da planta e
também das larvas, é comum o ataque na raiz adventícia, prejudicando o
desenvolvimento normal da planta, que se apresenta recurvado, sintoma conhecido
como “pescoço de ganso” (Figuras 56 e 57) (EMBRAPA, 2013a).
Entre as culturas graníferas é em milho que a larva-alfinete tem maior
importância pelos danos que causa e pela ampla distribuição geográfica. Pode-se
encontrar mais de uma dezena de larvas junto ao sistema radicular, destruindo as raízes,
deixando a planta debilitada, com sintomas de deficiência nutricional e mais suscetível a
estiagens e a acamamento. Normalmente, os danos são mais intensos entre quatro e seis
semanas após a emergência das plântulas de milho e mais de 3,5 larvas por planta são
suficientes para causar danos ao sistema radicular.

Figura 54. Adulto de D. speciosa Figura 55. Larva alfinete D. speciosa


85

No Brasil, o controle dessa larva é pouco realizado na cultura do milho e tem-


se baseado quase que exclusivamente no emprego de inseticidas químicos (vide Tabela
6) aplicados via tratamento de sementes, granulados ou pulverização no sulco de plantio
(Tabela 15). Excesso e baixa umidade do solo são desfavoráveis a larva. O método de
preparo de solo influência a população desse inseto. A ocorrência da larva é maior em
sistema de plantio direto do que em plantio convencional.

Figura 56. Danos provocados pela larva alfinete

Tabela 15. Inseticidas registrados para a cultura do milho para aplicação no sulco de
semeadura.
Produto Produtos Grupo Dose (PC) Praga
-1
Técnico Comerciais (P.C.) Químico Kg ha
Lagarta rosca
Counter 150 G Larva alfinete
Terbufós1/ organofosforado 13 Percevejo castanho
cupins

Carbofurano2 Diafuran 50 metilcarbamato 20 (Deois flavopicta)


/
30 Lagarta elasmo
Furadan 50 G3/ 20 - 30 Lagarta militar
Fipronil D. speciosa4/
Nortox800WG Fenil pirazol 0,1 Pão de galinha/5
Fipronil Regente 800 WG
Instal 800WG
1/
= aplicar no sulco de semeadura com o auxílio de uma granuladeira acoplada à semeadora-
adubadora, cobrindo com terra a seguir
2/
= aplicar no sulco de semeadura e incorporar;
3/
= não registrado para a cigarrinha (Deois flavopicta)
4/
= proceder a aplicação preventivamente em jato dirigido no sulco de plantio no momento de
realização da semeadura com equipamento adaptado a bico de jato plano (leque) cobrindo o
produto pulverizado imediatamente com terra.
86

5/
= O produto poderá ser aplicado no momento da semeadura com auxílio de pulverizadores
específicos de tal forma que haja uma distribuição homogênea do produto. Volume de calda de
300 L ha-1

Bicho-bolo, coró ou pão de galinha (Diloboderus abderus, Eutheola


humilis, Dyscinetus dubius, Stenocrates sp, Liogenys, sp.)

Os corós são larvas escarabeiformes (corpo recurvado em forma da letra “C”),


de coloração geral branca, com cabeça e pernas (três pares) marrons (Figura 57). As
espécies rizófagas que ocorrem em milho podem atingir de 4 a 5 cm de comprimento
quando em seu tamanho máximo. Para a safrinha, em lavouras instalada em semeadura
direta sobre a resteva da soja, os danos são mais acentuados. Em áreas anteriormente
cultivadas com poáceas (gramíneas), a população do inseto geralmente é elevada.

Figura 57 – Adulto de bicho-bolo Figura 58 – larvas de bicho bolo


As larvas danificam as sementes após a semeadura prejudicando sua
germinação Também se alimentam das raízes provocando o definhamento, seca e morte
das plantas pela falta das raízes. O nível de dano para esse inseto ocorre a partir de 5
larvas/m2 (EMBRAPA, 2013b).
Agentes de controle biológico natural de larvas do bicho-bolo são nematóides,
bactérias, fungos, principalmente Metarhizium e Beauveria sp e parasitóides da ordem
Diptera. O preparo de solo com implementos de disco é uma alternativa de controle
cultural da larva. Com essa prática, ocorre o efeito mecânico do implemento sobre as
larvas que possuem corpo mole e são expostas a radiação solar e aos inimigos naturais,
especialmente pássaros. O controle químico pode ser utilizado via tratamento de
sementes (Tabela 6). Experimentalmente, a pulverização de inseticidas no sulco de
semeadura tem se mostrado viável para o controle dessa larva.
Percevejo castanho (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae)
Inseto adulto medindo entre 7 a 9 mm de comprimento e entre 4 a 5 mm de
maior largura, apresenta as pernas anteriores apropriadas para escavação. Tanto a forma
jovem quanto a adulta vive no solo (Figura 59). Os percevejos-castanhos são facilmente
87

reconhecíveis, pelo cheiro desagradável que exalam. Nas épocas mais secas,
aprofundam-se no solo à procura de regiões mais úmidas, retornando à superfície
durante as chuvas. São insetos que atacam além do milho, vários outros cultivos de
importância econômica como as culturas de soja, algodão e pastagens. As plantas
atacadas têm as suas raízes sugadas por ninfas e adultos, tornando-se raquíticas; Com o
passar do tempo a planta atacada tem desenvolvimento reduzido até ser eliminada. Os
sintomas podem ser confundidos com deficiência nutricional, mas são facilmente
diferenciados quando as plantas são arrancadas do solo, pois nesse momento pode ser
sentido o odor típico oriundo das glândulas odoríferas dos percevejos. O gênero
Scaptocoris provavelmente esteja distribuído em grande parte do território brasileiro.

Figura 59 – ninfas e adultos de percevejo Figura 60. Adultos de percevejo castanho


castanho Fonte: Embrapa. CNPMS

O método cultural pode ser empregado para o manejo desse inseto. A aração e
a gradagem expõem os insetos aos predadores e causam o esmagamento das ninfas e
adultos. A aração com arado de aiveca é o que apresenta maior eficiência no controle do
percevejo castanho. O fungo Metarhizium anisopliae é um agente de controle biológico
da praga. Devido ao hábito subterrâneo do percevejo, o controle químico (Tabela 6) é
difícil de ser realizado e a recomendação de uso de inseticidas tem sido preventivo
(EMBRAPA, 2013c).
Cupim (Procorniterms sp., Cornitermes sp., Syntermes sp. e Heterotermes
sp.)
Os cupins ou térmitas pertencem à Ordem Isoptera e são considerados insetos
sociais, pois são formadores de colônias, devido a cooperação mútua, onde seus
indivíduos são divididos em castas como a dos reprodutores formado basicamente pela
rainha, rei e reprodutores alados (siriris ou aleluias) (Figura 60), a casta dos operários e
a casta dos soldados (EMBRAPA, 2013).
88

Figura 60. Cupins (aleluias e soldado)

Os cupins mais importantes para a cultura do milho são os de hábitos


subterrâneos (Proconitermes e Syntermes - Termitidae). Destroem as sementes antes de
germinação e também as raízes de plantas novas fazendo o descortiçamento total da raiz
axial, deixando intacta a parte lenhosa. Falhas na emergência, mudança de coloração,
murchamento de folhas e morte da plântula podem indicar sintomas do ataque da praga.
São muitas as espécies de cupins, embora o formato geral desses insetos se
assemelha muito. Além das espécies que vivem distribuídas exclusivamente abaixo da
superfície do solo, existem também aquelas espécies denominadas vulgarmente como
cupim de montículo, que reduzem muita a área cultivada além de dificultar as operações
agrícolas. Os cupins não são pragas exclusivas de milho. Podem atacar e causar danos
significativos a praticamente a todos os cultivos de expressão econômica no Brasil,
especialmente em solos de cerrado (EMBRAPA, 2013d).
Os cupins subterrâneos são difíceis de controlar. Pode-se reduzir a infestação e
os danos na lavoura com o emprego de inseticidas aplicados no sulco de plantio (Tabela
15) ou através de tratamento de sementes (Tabela 6).

1.1.1.2 Pragas que atacam a parte aérea da planta (como e folhas)

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)

Adulto de 20 mm de envergadura, com as asas anteriores escuras nas fêmeas


(Figura 61), e claras na parte central, circundada por margens escuras nos machos. As
fêmeas depositam em média de 100 a 120 ovos durante o período de vida. O ovo
inicialmente é claro, passando a uma coloração avermelhada próximo à eclosão da
lagarta.
A lagarta nasce após um período de incubação de três dias após a oviposição e,
inicialmente, alimenta-se das folhas, descendo em seguida para o solo, penetrando no
89

colmo da planta logo abaixo do nível do solo, alimentando-se no seu interior. A lagarta é
esverdeada com anéis e listras de coloração vermelho-escura e mede 16 mm (Figura
62). Geralmente fica associada à planta hospedeira, construindo um casulo, na parte
externa, com restos vegetais, terra e teia, dentro do qual se abriga (Figura 63). Findo o
período de larva (18 dias), a lagarta transforma-se em crisálida, no solo, próximo da
haste da planta e, após oito dias, emerge o adulto. Os maiores prejuízos são causados
nos primeiros 20 dias após a germinação. Quando o ataque ocorre em plantas recém-
emergidas, às vezes não se tem tempo de perceber o ataque da praga, devido ao
secamento de toda a planta e sua remoção por ação do vento. No entanto, em plantas
mais desenvolvidas, é comum ser verificado o sintoma de dano conhecido como
“coração morto”, (Figura 64), ou seja, folhas centrais mortas, facilmente destacáveis e
folhas externas ainda verdes. (EMBRAPA, 2013 e)
Em áreas de risco, deve ser usado o tratamento de sementes com inseticidas
sistêmicos à base de Tiodicarb, Carbofuran ou Imidacloprid (Tabela 6). Sob condições
de estresse hídrico mesmo esse tratamento não é efetivo, recomendando-se a aplicação
de um inseticida de ação de contato e profundidade como os a base de clorpirifós. A alta
umidade do solo contribui para reduzir os problemas causados pela lagarta-elasmo no
milho (EMBRAPA, 2010).

Figura 61. Adulto de E. lignosellus (fêmea) Figura 62. Larva de E. lignosellus


Fonte: Embrapa -CNPMS

Figura 63. Orifício e casulo Figura 64. Sintoma de coração morto


Fonte: Embrapa (CNPMS)
90

Tripes (Frankliniela williamsi)


Os danos causados pelos tripes têm sido verificados nos períodos de estiagem
logo após a emergência das plântulas, podendo, sob altas infestações, causar até morte
das plantas com perdas econômicas significativas. Devido à raspadura do limbo foliar,
as folhas apresentam-se amarelecidas, esbranquiçadas ou prateadas. A infestação pode
ser confirmada pela verificação de pequenos insetos amarelados (Fig. 65) no interior do
cartucho e sob altas infestações ocorre murcha das folhas.

Figura 65. Adulto de tripes e sintomas dos danos. Fonte: Ivan Cruz (Embrapa-CNPMS)
Inicialmente o controle deve ser feito por meio do tratamento de sementes com
inseticidas sistêmicos (Tabela 6), entretanto, sob condições de altas reinfestações podem
ser necessárias pulverizações.

Percevejos [barriga-verde (Dichelops furcatus, D. melacanthus), verde (Nezara


viridula)]

Os percevejos (Hemiptera: Heteroptera) são insetos sugadores, isto é,


alimentam-se introduzindo o aparelho bucal (estiletes) na fonte nutricional. Eles
introduzem uma saliva que irá se solidificar, formando a chamada bainha alimentar ou
flange. Após, injetam uma saliva aquosa, contendo enzimas digestivas, que pré-digerem
o alimento, ocorrendo então a ingestão. Durante ou após a alimentação pode ocorrer a
infecção por microorganismos, causando manchas típicas nas sementes ao redor da
inserção dos estiletes.
A espécie Nezara viridula (Figura 66) é totalmente verde medindo cerca de 20 mm
de comprimento. Seus ovos são colocados em grupos. As ninfas inicialmente ficam
próximas à postura. Os adultos geralmente migram da soja para as plântulas de milho,
podendo causar redução do número de plantas por unidade de área. Plantas de milho
entre 25 e 30 cm quando atacada mostram graus distintos de danos, variando desde um
leve murchamento das folhas centrais até a morte. Quando o ataque ocorre em plantas
mais desenvolvidas e a planta não morre, é comum o aparecimento de perfilhos
91

improdutivos Quando a planta é atacada na fase de formação de grãos as espigas se


deformam e não há o desenvolvimento dos grãos ou os mesmos ficam ressecados.
Quando o grão é atacado no estagio leitoso ou pastoso, ele é completamente destruído
ou apresenta-se manchado na maturidade.
Dentro de gênero Dichelops, há duas espécies de percevejos, conhecidos por
barriga-verde (Figura 67) D. furcatus (Fabr, 1775) e D. melacanthus (Dallas, 1851).
Elas são muito semelhantes na forma geral. No entanto, D. furcatus é maior, com
espinhos nos ombros (pronoto) que são da mesma cor do pronoto. D. melacanthus é
menor e a extremidade dos espinhos é mais escura do que o restante do pronoto (o nome
melacanthus, significa os cantos melanizados ou escurecidos). É essa espécie que tem
causado maiores danos na cultura do milho logo após a emergência da plântula. Os
insetos que estão no solo, devido ao hábito de permanecerem na palhada, atacam as
plântulas de milho na região do coleto, causando pequenas perfurações. De maneira
geral os sintomas de danos se assemelham ao que foi mencionado para o percevejo-
verde. A medida que o milho cresce e as folhas se desenvolvem, a lesão aumenta,
formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha, podendo esta dobrar na
região danificada. Também se podem observar as perfurações causadas pela introdução
do aparelho bucal sugador (estiletes) do inseto. Como resultado do dano, as plantas de
milho ficam com o desenvolvimento comprometido, apresentando um aspecto
popularmente chamado de "encharutamento" ou "enrosetamento", com amarelecimento
das folhas (EMBRAPA, 2013e).
O controle pode ser feito com o tratamento de sementes com inseticidas
sistêmicos (Tabela 6) ou através de pulverizações logo após a emergência das plantas
quando constado a presença dos insetos (EMBRAPA, 2010).

Figura 66. Ataque de percevejo verde Figura 67. Ataque de percevejo


92

Fonte: Embrapa (CNPMS) barriga verde

Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis)

O inseto adulto (Figura 68) mede cerca de cinco milímetros e a fêmea coloca
seus ovos alongados, incrustados na nervura principal, geralmente no interior do
cartucho do milho. Tanto a ninfa como o adulto são sugadores de seiva. Essa espécie no
Brasil, embora com populações crescentes a cada ano, ainda é de importância
relativamente pequena pelos danos diretos ocasionados através da sucção de seiva dos
adultos e ninfas podem reduzir principalmente o desenvolvimento do sistema radicular,
mas os principais prejuízos causados por essa espécie é devido a transmissão de
fitopatógenos como o vírus do rayado fino e dois milicutes Spiroplasma kunkelli
(enfezamento pálido) e fitoplasma (enfezamento vermelho). Os prejuízos causados por
essas doenças podem chegar a mais de 80% dependendo do patógeno, dos fatores
ambientais e da sensibilidade dos híbridos cultivados e são decorrentes da redução
significativa da quantidade absorvida de nutrientes. A incidência da doença está
associada à alta densidade populacional de insetos infectivos o que ocorre no final do
verão (plantios tardios) (Embrapa, 2010; EMBRAPA, 2013f).
A presença do inseto (Fig. 12) pode ser constatada diretamente pelo exame do
cartucho das plantas ou através de amostragem com rede entomológica passada no topo
das plantas. A incidência das doenças só é confirmada depois do aparecimento dos
sintomas: os métodos mais eficientes de controle são os culturais evitando-se a
multiplicação do vetor em plantios sucessivos, erradicação de plantas voluntárias na
área antes da semeadura e erradicação de plantas voluntárias na área antes da
semeadura. Evitar o cultivo de milho pipoca e milho doce em áreas com histórico
recente de alta incidência dos enfezamentos dado à alta susceptibilidade da maioria
dessas cultivares. Finalmente pode também ser utilizado o tratamento de semente com
inseticidas sistêmicos (Tabela 6) (EMBRAPA, 2010).

Pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis)

Esta é a espécie de inseto de ocorrência mais endêmica no milho, mas


raramente constitui problema para a cultura pela ação eficiente dos inimigos naturais
(predadores e parasitóide). Ele ataca as partes jovens da planta, preferencialmente o
cartucho, mas pode infestar também o pendão e gemas florais. Seus danos diretos
ocorrem somente quando a densidade populacional é muito alta e a planta esteja
93

sofrendo de estresse hídrico. Os maiores danos ocorrem sob condições favoráveis para
transmissão do vírus do mosaico. Neste caso, mesmo sob densidades muitas vezes não
detectáveis podem ocorrer perdas significativas, pois o principal vetor é a forma alada e
o vírus é de transmissão estiletar, ou seja, transmite de plantas doentes para sadias
simplesmente por via mecânica, através da picada de prova.

Figura 68. Adulto de Dalbulus maidis (cigarrinha do milho)


Ao fundo: sintomas do rayado fino . Fonte: CNPMS

Sob altas populações é visível a colônias sobre as plantas (Figuras 69 e 70) e


sob estresse hídrico as folhas mostram-se murchas e com bordas necrosadas. O sintoma
da doença aparece no limbo foliar na forma de um mosaico de coloração verde claro
num fundo verde escuro. Para o controle da doença, os métodos culturais, na forma de
eliminação dos hospedeiros nativos do patógeno e do vetor (gramíneas em geral), têm
sido os mais eficientes. No inicio de desenvolvimento das plantas, o tratamento de
sementes oferece proteção (Tabela 6). Durante o ciclo da planta os inimigos naturais
têm ação primordial na manutenção do equilíbrio. Raramente tem sido necessário tomar
outras medidas de controle.

Figura 69. Elevada infestação de pulgões Figura 70. Adultos e ninfas de R. maydis
no cartucho Foto: Ivan Cruz
94

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)


Esta é uma das principais pragas da cultura do milho convencional causando
danos ao milho desde a sua emergência até a fase produtiva destruindo as espigas em
formação, sendo, contudo, a fase de 8 a 10 folhas (V8 – V10) aquela em que o milho se
mostra mais sensível ao ataque, em função das perfurações e destruição total das folhas
centrais da planta (cartucho).
A mariposa (Figura 71) durante o dia pode se encontrar sob a folhagem,
próxima ao solo ou entre as folhas fechadas do cartucho do milho havendo diferença
nítida entre o macho e a fêmea. Os ovos são colocados em massas (Figura 72) e após
três a quatro dias, eclodem as lagartas que iniciam a alimentação, raspando os tecidos
verdes de um lado da folha, deixando a epiderme membranosa do outro lado intacta
(Figura 73).
A lagarta completamente desenvolvida mede aproximadamente 50 mm de
comprimento. Sua coloração varia de pardo escuro, verde até quase preta. Apresenta três
finíssimas linhas longitudinais branco amareladas na parte dorsal do corpo. Na parte
lateral, logo abaixo da linha branco amarelada, existe uma linha escura mais larga e,
inferiormente a esta, uma listra amarela irregular marcada com vermelho. A cabeça
apresenta uma sutura em forma de “y” invertido (Figura 74).
Lagartas maiores em geral dirigem-se para o interior do cartucho começam a
fazer buracos na folha e, quando estão entre o quarto e o sexto instares (oito a 14 dias),
podem destruir completamente pequenas plantas ou causar severos danos em plantas
maiores, sendo a sua presença reconhecida pela grande quantidade de excremento ainda
fresco no interior do cartucho (figuras 75 e 76). Devido ao canibalismo é comum
encontrar-se apenas uma lagarta desenvolvida por cartucho, todavia, podem ser
encontradas lagartas em instares diferentes num mesmo cartucho, separadas pelas
lâminas das folhas.
As lagartas podem ainda se alimentar do colmo, seccionando-o rente ao solo ou
se dirigir para a região da espiga, atacando o pedúnculo e impedindo a formação dos
grãos. Podem também penetrar as espigas (Figura 77) na sua porção basal ou distal,
danificando diretamente os grãos. Findo o período larval, as lagartas penetram no solo,
onde se transformam em crisálidas de coloração avermelhada, medindo cerca de 15 mm
de comprimento. O período pupal é de 21 dias no verão, sendo de 50 dias no inverno,
findos os quais surgem o adulto.
O tratamento de sementes tem sido o método mais recomendado para
controle das pragas iniciais do milho (Tabela 6). Os inseticidas sistêmicos dão controle
95

até cerca de 17 dias após a semeadura sob condições satisfatórias de suprimento de


água. Sob estresse hídrico os tratamentos de semente não apresentam a mesma
eficiência e devem ser suplementados por pulverizações dirigidas para o sitio de ataque
do inseto. Para o ataque mais comum da praga, verificado no cartucho, o agricultor deve
iniciar o controle quando a planta atingir o nível de dano econômico. Para produtividade
ao redor de 100 sacos de milho por hectare, inicia-se o controle quando a incidência da
praga no campo for ao redor de 10% de plantas atacadas

Figura 71. Adulto de S. frugiperda Figura 72. Postura de S. frugiperda

Figura 73. Sintoma inicial (folha raspada) Figura 74. Lagarta desenvolvida

Figura 75. Danos (folhas perfuradas) Figura 76. Cartucho destruído (presença de
excrementos frescos)

Figura 76. Danos à espiga de S. frugiperda Figura 77. Ataque em plântula

Curuquerê dos capinzais (Mocis latipes)


96

A mariposa dessa espécie é de coloração pardo-acinzentada medindo 40 mm de


envergadura (Figura 78). A fêmea coloca os ovos nas folhas de milho ou em capinzais
próximos e o período de incubação é em torno de quatro dias. A lagarta alimenta-se
inicialmente da epiderme da folha, danificando a cultura do milho da periferia para o
centro. Findo o período larval, em torno de 20 dias, tece o casulo na própria folha que
atacou, transformando-se em seguida em pupa e permanecendo nesse período cerca de
dez dias.
Esse inseto pode ser facilmente identificado na cultura do milho pela presença
de lagartas de coloração verde-escura, com estrias longitudinais castanho-escura,
limitadas por estrias amarelas, e locomoção do tipo “mede-palmo” (Figura 79). O inseto
geralmente se alimenta da folha, destruindo-a completamente, com exceção da nervura
central (Figura 80). É interessante observar que esse inseto não se alimenta dentro do
cartucho da planta, como o faz a S. frugiperda (EMBRAPA, 2013g).
Normalmente a infestação inicia pelas bordas da lavoura, sendo bastante
eficiente o controle químico localizado sobre a área infestada. A lagarta é bastante
sensível a maioria dos inseticidas recomendados para a lagarta-do-cartucho, podendo-se
aplicar o inseticida tanto por pulverização convencional como via água de irrigação por
aspersão. Usar produtos registrados para as culturas.

Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta)

Os adultos de D. flavopicta medem 10 mm de comprimento. Apresentam


coloração preta, com duas faixas transversais amarelas nas asas, e clavo amarelo. O
abdome e as pernas são vermelhos (Fig. 81). O milho, o arroz e o sorgo não são
considerados hospedeiros dessa espécie por não permitirem o fechamento do seu ciclo
biológico. Portanto, a infestação do milho pela cigarrinha é resultado da imigração de
adultos proveniente de áreas de pastagens, principalmente daquelas formadas com
capins do gênero Brachiaria.
É relativamente fácil observar a presença dos insetos alimentando-se nas folhas
que após serem picadas, mostram áreas de clorose, amarelecimento e necrose, podendo
causar a morte de toda planta. A sensibilidade das plantas é tanto maior quanto mais
nova forem. As medidas de controle incluem evitar sempre que possível, o cultivo de
milho em áreas próximas a pastagens de brachiárias. O tratamento de sementes com
inseticidas sistêmicos também pode reduzir significativamente os danos causados às
plantas (Tabela 6).
97

Fig. 78. Adulto de M. latipes Fig. 79 lagarta mede-palmo Fig. 80. Danos de M. latipes

Figura 81. Adultos de cigarrinha (D. flavopicta)

Broca-da-cana (Diatraea saccharalis)

Mariposa de coloração amarela-palha, com 20 mm de envergadura (Figura 82)


coloca seus ovos nas folhas e no colmo do milho (Figura 83) e, num intervalo de quatro
a nove dias, dá-se a eclosão das lagartas. A lagarta apresenta a cabeça marrom e o corpo
esbranquiçado, com inúmeros pontos escuros (Figura 84). O período larval médio é de
44 dias. Quando atinge o completo desenvolvimento a lagarta constrói uma câmara,
alargando a própria galeria até o colmo, onde corta uma seção circular, que fica presa
com fios de seda e serragem e transforma-se em pupa, permanecendo nesse estádio por
um período variável de nove a 14, dias até emergir o adulto. As lagartas de D.
saccharalis ocasionam no milho, danos semelhantes aos vistos em cana-de-açúcar,
como coração morto, quebra de colmos, decréscimo do desenvolvimento da planta, no
número de colmo e tamanho das espigas.
98

Os danos provocados pela lagarta de D. saccharalis podem ser também


indiretos, quando os orifícios favorecem a penetração de microrganismos
fitopatogênicos no interior do colmo. Após o completo desenvolvimento a larva
transforma-se em pupa dentro do colmo da planta. A praga tem sido mais problemática
em plantas mais desenvolvidas, mas pode também atacar as plantas recém emergidas.
Neste caso, as plantas atacadas são totalmente improdutivos sendo os prejuízos
proporcionais à redução da população de plantas.
Os danos causados pela broca-da-cana em plantas novas são semelhantes aos
causados pela lagarta-elasmo, folhas raspadas no inicio da infestação e posteriormente o
sintoma do “coração morto" e/ou perfilhamento das plantas sobreviventes. Os métodos
recomendados são os mesmos citados para o controle da cigarrinha das pastagens.
Experimentalmente, o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos ou
pulverização dirigida para a base da planta utilizando inseticidas de efeito de
profundidade e/ou de ação translaminar possibilita um bom controle da praga.

Fig. 82. Adultos de Fig. 83. danos da broca Fig. 84. Lagarta de D. saccharallis
D. saccharallis

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)

Mariposa cosmopolita, marrom-escura, com áreas claras no primeiro par de


asas, coloração clara com os bordos escuros, no segundo par, medindo cerca de 40 mm
de envergadura (Figura 85). Coloca os ovos na parte aérea da planta. As lagartas quando
completamente desenvolvidas medem cerca de 40mm, são robustas, cilíndricas, lisas e
de cor cinza-escura. Quando tocadas enrolam-se tomando o aspecto de uma “rosca”
(Figura 86). A duração do ciclo larval varia de 20 a 25 dias. O estágio de pupa, no solo,
varia de 11 a 15 dias. A lagarta rosca ataca as plântulas de um número alto de
hospedeiro, como hortaliças, feijão, batata-doce, cana-de-açúcar e milho, entre outras. O
inseto é de hábito solitário, noturno, sendo que a larva se alimenta da planta no nível do
99

solo provocando o seccionamento da mesma, que pode ser total, quando as plantas estão
com altura de até 20 cm (Figura 87), pois ainda são muito tenras, ou parcial, após esse
período.
O controle inclui método cultural que envolva a antecipação da eliminação de
plantas daninhas principalmente via dessecante o que pode reduzir a infestação, pois as
mariposas preferem ovipositar em plantas ou restos culturais ainda verdes. O tratamento
de sementes com inseticidas sistêmicos (Tabela 6) também é recomendado em áreas
com histórico de incidência dessa praga. Em áreas menores é recomendado também a
distribuição de iscas preparadas a base de farelo, melaço e um inseticida sem odor como
o Trichlorfon.

Fig. 85. Adulto de A. ipsylon Fig. 86. Lagarta rosca Fig. 87. Danos da lagarta rosca

1.1.1.3 Praga da espiga

Lagarta da espiga (Helicoverpa zea)

O adulto de H. zea é uma mariposa com cerca de 40 mm de envergadura, com


as asas anteriores de coloração amarelo-parda, com uma faixa transversal mais escura,
apresentando também manchas escuras dispersas sobre as asas. As asas posteriores são
mais claras, com uma faixa nas bordas externas (Figura 88). A fêmea fecundada põe o
ovo de preferência nos estilos-estigma. Os ovos, esféricos e com saliências laterais (1
mm de diâmetro) são depositados individualmente (até 15 por espiga) (Figura 88).
Durante o verão, num período de três a quatro dias dá-se a eclosão das
lagartas que se alimentam do estilo-estigma e dos grãos em formação. A lagarta
completamente desenvolvida mede 35 mm e possui coloração entre verde-claro, rosa,
marrom ou quase preta, com partes mais claras (Figura 89). O período larval varia entre
13 e 25 dias dependendo da temperatura. Findo o período larval, as lagartas saem da
espiga e vão para o solo, onde se transforma na fase de pupa. O período pupal requer de
10 a 15 dias (EMBRAPA, 2013h)
100

Essa lagarta é referida prejudicando a cultura nas seguintes formas: atacando os


estigmas impedindo a fertilização e, em conseqüência, surgirão falhas nas mesmas;
alimentando-se de grãos leitosos destruindo-os e finalmente deixando orifícios que
facilitam a penetração de microrganismos que podem causar podridões. A lagarta-da-
espiga pode ser diferenciada da lagarta do cartucho, quando esta também está presente
na espiga, pelo fato de ter a cabeça de coloração marrom bem clara enquanto a lagarta-
do-cartucho apresenta a cabeça quase preta.
O controle de H. zea se faz quase que exclusivamente mediante emprego de
inseticidas, sendo a eficiência deste método, muito baixa. Isto se deve ao fato das
lagartas, encontrarem-se protegidas no interior das espigas. Além disso, provoca um
efeito negativo no equilíbrio biológico existente entre o inseto-praga e seus inimigos
naturais, e o mau uso dos químicos acabam também por forçar a seleção de populações
resistentes aos pesticidas.
O alto custo sócio-econômico do controle e a dificuldade na obtenção de
cultivares resistentes à lagarta-da-espiga e que sejam produtivas, proporcionaram a
busca de alternativas eficientes, economicamente viáveis e ecologicamente corretas.
Assim, tem sido proposto o manejo integrado de pragas (MIP) que associa os
conhecimentos tanto do ambiente como da dinâmica populacional da espécie-alvo e
utiliza todos os métodos e técnicas apropriadas de forma tão compatível quanto possível
para manter a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano
econômico.
Para que o MIP seja plenamente utilizável é necessário que se conheça muito
bem a cultura visada e, obviamente, as características biológicas das pragas a ela
relacionadas. Dessa forma é imprescindível que se conheça não só as características
biológicas das pragas, mas, como mantê-las em condições de laboratório.
Controle Biológico de Helicoverpa zea
Uma das alternativas ao uso indiscriminado de inseticidas é o controle
biológico com o uso de predadores e parasitóides, destacando-se dentre eles a
tesourinha Doru luteipes,(Figura 90) que é um inseto que coloca seus ovos nas
primeiras camadas de palha da espiga. Tanto as formas jovens quanto os adultos
alimentam-se de ovos e de larvas pequenas dessa praga. O consumo médio diário de
uma tesourinha adulta é em torno de 42 ovos da praga.
Além da tesourinha, é bem conhecida mundialmente à alta taxa de parasitismo
de ovos de H. zea por Trichogramma, uma vespinha que parasita os ovos de várias
espécies de insetos-praga. Hoje em dia, esse parasitóide vem sendo amplamente
101

utilizado na China, França, Estados Unidos, Rússia, Nicarágua e Colômbia, pois, além
da sua eficiência no controle pode ser criado de maneira fácil e econômica em
laboratório, utilizando hospedeiros alternativos. A taxa de parasitismo natural pode
chegar em algumas regiões a mais de 80%, fazendo com que a praga não ocasione
danos significativos ao milho (SILVA e BATISTA, s/d)
Em função da dificuldade de controle, a preservação de inimigos naturais e
mesmo a sua liberação na lavoura é uma das táticas mais importantes em programas de
manejo integrado dessa importante praga da cultura do milho no Brasil. Na Tabela 16
estão os nomes dos inseticidas registrados no MAPA para o controle das pragas da parte
aérea da cultura do milho.

Figura 88. Adulto e ovo de Heliothis zea

Figura 89. Lagarta da espiga Fig. 90. Tesourina (D. luteipes)

Tabela 16. Alguns inseticidas registrados no MAPA para o controle das pragas da parte
aérea do milho
Praga Nome comum Produtos técnicos Formul2/ Dose (PC)
Kg/Lha-1
102

Lagarta elasmo Lorsban 480 DS


(Elasmopaplus Lorsban 480 BR,
lignosellus) Clorpirifós1/ Vexter CE 1,0
Amulet
Belure
Lagarta dos Bacillus Thuricide WP 0,6
capinzais thuringiensis
(Mocis latipes)
Clorpirifós Lorsban 480 BR, Vexter CE 0,6
Cipermetrina Cipermetrin 250 EC CCAB CE 0,6

Lagarta rosca Clorpirifós Lorsban 480 BR, Vexter CE 1,0


(Agrotis
ipsylon) Lambda-cialotrina Karate Zeon 20 CS CS 0,1

Permetrina Pouce 384 EC CE 0,1


AlfaCipermetrina + Imunit SC 0,150, - 0,17
Triflubenzuron
SC 0,05
AlfaCipermetrina Festac 100 SC WP 0,4
CE 0,1
B. thuringiensis Thuricide CE 0,085 – 0,1

Lagarta do Beta-ciflutrina Full CE 0,075 – 0,1


cartucho CE 0,2
(Spodoptera Beta-ciflutrina + Thorn CE 0,08
frugiperda) Triflumuron CE .0,05
CE 0,05
Beta-cipermetrina Akito CE 0,05
CE 0,05
Bifentrina Hero CE 0,04
CE 0,1
Arrivo 200 EC;
Commanche 200 EC
Cipermetrina 250 EC CCAB CE 0,25
Cipermetrina Cyptrin 250 CE
Cipertrin 0,5
Cipermetrina Nortóx 250EC SC
Cipermetrina Fersol 100 EC 0,15
CE

Cipermetrina + Polytrin
Protenofos

Clorfenapir Pirate

Clorfluazuron Atabron 50 EC

Tabela 16. Inseticidas registrados no MAPA para o controle das pragas da parte aérea do
milho (continuação...)
Capataz BR; Catcher 480 EC;
Clorpirifós Clorpirifós Fersol 480 EC;
Sabero 480 EC, Curinga, CE 0,4
Klorpan 480 EC; Lorsban 480
103

Deltametrina EC, Nufos 480 EC; Vexter,


Pyrinex 480EC.

Decis Ultra 100 EC CE 0,04


Decis 25 EC CE 0,2
Dominador SC 0,05
Keshel 25 CE CE 0,2

Deltametrina + Deltaphos EC CE 0,25


Triazofós
Lagarta do
cartucho Dimilin, WP 0,1
(Spodoptera Diflubenzuron 240 SC, SC 0,1
frugiperda Diflubenzuron Difluchem 240 SC SC 0,1
Dimilin 80 WG; Du Dim 80WG WG 0,03
Kode 250 WP, Impressive 250
WP WG 0,1

Enxofre Kumulus DF WG 1,0

Estenvalerato Sumidan 25 EC CE 0,6

Fenpropatrina Meothrin 300 CE 0,075

Imidaclorpido +
Betaciflurtina Connect CE 0,75 – 1,0

Lambda-cialotrina Karate Zeon 50 CS; Lecar; CS 0,15


Toreg 50 EC; Trinca CE 0,15

Lufenuron Game; Match EC CE 0,3

Metanol + Metomil Bazuka 216 SL; Rotashok SL 0,597

Metomil Brilhante BR; Extreme; Lannate


BR; Lannate Express; Majesty; SL 0,6
Methomex 215 SL

Novaluron Orego; Ponto; SC 0,1


Rimon 100 EC; Rimon Supra EC 0,15

Parationa – metílica Folisuper 600 BR; CE 0,5


Paracap 450 CS CS 0,7

Permetrina Fersol 84 EC;


Permetrina Talcord 250 EC; CE 0,1
Pounce 384 EC CE 0,065
Supermetrina Agria 500 CE 0,05

Teflubenzuron Dart, Dart 150, Nomolt 150 SC 0,05

Triazofós Hostathion 400 BR CE 0,3

Tabela 16. Inseticidas registrados no MAPA para o controle das pragas da parte aérea do
milho (continuação...)
Alsystin SC; Certero SC 0,05
Lagarta do Triflumuron Alsystin 250 WP WP 0,1
104

cartucho Mirza 480 SC; Wasp 480 SC SC 0,05


(Spodoptera
frugiperda
Fury 180EW EW 0,04
Zeta-cipermetrina Fury 200 EW EW 0,08
Fury 400 EC CE 0,05
Mustang 350 EC CE 0,2
1/
= Direcionar o jato para a base da planta. Aplicar no período após a germinação até uma altura
aproximada de 35 cm, 1 a 2 aplicações.Intervalo de aplicação: 1 a 2 semanas
2/
= CE = concentrado emulsionável; SC = suspensão concentrada; EW = emulsão óleo em água; WP = pó
molhável; SL = concentrado solúvel; WG = grânulo dispersível
Fonte: Embrapa (2013)

2. Doenças

2.1 Introdução
Nos últimos anos, notadamente a partir do final de década de1990, as doenças
têm se tornado uma grande preocupação por parte de técnicos e produtores envolvidos
no agronegócio do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de
patógenos têm sido freqüentes nas principais regiões produtoras do país. Nesse
contexto, vale destacar a severa epidemia de cercosporiose ocorrida na região Sudoeste
do estado de Goiás no ano de 2000, na qual foram registradas perdas superiores a 80%
na produtividade.
É importante entendermos que a evolução das doenças do milho está
estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção desta cultura do Brasil.
Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da
produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo aumento da incidência e da
severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das
épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do
uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais
suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos
patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura
relacionados à ocorrência de doenças (EMBRAPA, 2010).
Dentre as doenças que atacam a cultura do milho no Brasil, merecem destaque a
mancha branca, a cercosporiose, a ferrugem polissora, a ferrugem tropical, os
enfezamentos vermelho e pálido, as podridões de colmo e os grãos ardidos. Além
destas, nos últimos anos algumas doenças (como a antracnose foliar e a mancha foliar
de Diplodia), consideradas de menor importância, têm ocorrido com elevada severidade
em algumas regiões produtoras. A importância destas doenças é variável de ano para
105

ano e de região para região, em função das condições climáticas, do nível de


suscetibilidade das cultivares e do sistema de plantio utilizado. No entanto, algumas das
doenças são de ocorrência mais generalizada nas principais regiões de cultivo, como é o
caso da mancha branca. As principais medidas recomendadas para o manejo de doenças
na cultura do milho são (EMBRAPA, 2010a).
1) Utilizar cultivares resistentes;
2) Realizar o plantio em época adequada, de modo a evitar que os períodos críticos
para a cultura coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao
desenvolvimento da doença;
3) Utilizar sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas;
4) Utilizar rotação com culturas não suscetíveis;
5) Rotação de cultivares;
6) Manejo adequado da lavoura – adubação equilibrada (N e K), população de
plantas adequada, controle de pragas e de invasoras e colheita na época correta.
Essas medidas, além de trazerem um benefício imediato ao produtor por
reduzir o potencial de inóculo dos patógenos presentes na lavoura, contribuem para uma
maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presentes nas cultivares
comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos. A mais atrativa estratégia
de manejo de doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez
que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de
impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas
de controle e é, muitas vezes, suficiente para o controle da doença. Para fins didáticos,
as doenças do milho aqui abordadas serão agrupadas de acordo com o órgão da planta
infectado, formando os seguintes grupos: doenças foliares; podridões de colmo e das
raízes; podridões de espigas e de grãos; e doenças sistêmicas (EMBRAPA, 2010a):

2.2 Doenças foliares

As mais importantes são:

Cercosporiose (Cercospora zeae-maydis)

A doença foi observada inicialmente no Sudoeste do estado de Goiás em Rio


Verde, Montividiu, Jataí e Santa Helena, no ano de 2000. Atualmente a doença está
presente em praticamente todas as áreas de plantio de milho no Centro Sul do Brasil. A
doença ocorre com alta severidade em cultivares suscetíveis, podendo as perdas ser
superiores a 80%.
106

Sintomas: Os sintomas caracterizam-se por manchas de coloração


cinza, predominantemente retangulares, com as lesões desenvolvendo-se paralelas às
nervuras. Com o desenvolvimento dos sintomas da doença, pode ocorrer necrose de
todo o tecido foliar (Figura 91). Em situações de ataques mais severos, as plantas
tornam-se mais predispostas às infecções por patógenos no colmo, resultando em maior
incidência de acamamento de plantas.

Figura 91. Cercosporiose


Foto: Luciano Viana Cota (EMBRAPA, 2010a)

Epidimiologia: A disseminação ocorre através de esporos e de restos de


cultura levados pelo vento e por respingos de chuva. Os restos de cultura são, portanto,
fonte de inóculo local e, também, para outras áreas de plantio. A ocorrência de
temperaturas entre 25 e 30oC e de umidade relativa do ar superior a 90% são
consideradas condições ótimas para o desenvolvimento da doença.
Manejo da Doença: A principal medida de manejo da cercosporiose é a
utilização de cultivares resistentes. Além disso, recomenda-se: evitar a permanência de
restos da cultura de milho em áreas em que a doença ocorreu com alta severidade para
reduzir o inóculo do patógeno na área; realizar a rotação com culturas não
hospedeiras como a soja, o sorgo, o girassol, o algodão e outras, uma vez que o milho é
o único hospedeiro de C. zeae-maydis; para evitar o aumento do potencial de inóculo de
C. zeae-maydis, deve-se evitar o plantio seguido de milho na mesma área; plantar
cultivares diferentes em uma mesma área e em cada época de plantio; realizar
adubações de acordo com as recomendações técnicas para evitar desequilíbrios
nutricionais nas plantas, favoráveis ao desenvolvimento desse patógeno,
principalmente a relação nitrogênio/potássio.
107

Para que essas medidas sejam eficientes, recomenda-se a sua aplicação


regional (em macrorregiões) para evitar que a doença volte a se manifestar a partir de
inóculo trazido pelo vento de lavouras vizinhas infectadas. Em áreas com plantio de
cultivares suscetíveis e sob condições ambientais favoráveis para a ocorrência da
doença, o controle químico deve ser avaliado como uma opção para o manejo da
doença.

Mancha branca (etiologia indefinida)

Importância e Distribuição: A mancha branca é considerada, atualmente,


uma das principais doenças da cultura do milho no Brasil, estando presente em
praticamente todas as regiões de plantio de milho no Brasil. As perdas na produção
podem ser superiores a 60% em situações de ambiente favorável e de uso de cultivares
suscetíveis.
Sintomas: As lesões da mancha branca são, inicialmente, circulares, aquosas e
verde claras (anasarcas). Posteriormente, passam a necróticas, de cor palha, circulares a
elípticas, com diâmetro variando de 0,3 a 1 cm (Figura 92). Geralmente, são
encontradas dispersas no limbo foliar, mas iniciam-se na ponta da folha progredindo
para a base, podendo coalescer. Em geral, os sintomas aparecem inicialmente nas
folhas inferiores, progredindo rapidamente para as superiores, sendo mais severos após
o pendoamento. Sob condições de ataque severo, os sintomas da doença podem ser
observados também na palha da espiga. Em condições de campo, os sintomas não
ocorrem, normalmente, em plântulas de milho.
Epidemiologia: A mancha branca é favorecida por temperaturas noturnas
amenas (15 a 200C), elevada umidade relativa do ar (>60%) e elevada precipitação. Os
plantios tardios favorecem elevadas severidades da doença devido à ocorrência dessas
condições climáticas durante o florescimento da cultura, fase na qual as plantas são mais
sensíveis ao ataque do patógeno e os sintomas são mais severos.
Manejo da Doença: A principal medida recomendada para o manejo da
mancha branca é o uso de cultivares resistentes. Atualmente, estão disponíveis no
mercado cultivares que apresentam excelente nível de resistência a essa doença, como
as cultivares da Embrapa BRS 1010 e BRS 1035. Outra medida importante para o
manejo da enfermidade é a escolha da época de semeadura. Deve-se optar por épocas de
semeadura cujas condições climáticas que favoreçam a doença não coincidam com a
fase de florescimento da cultura. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, os plantios tardios
108

realizados a partir da segunda quinzena de novembro até o final de dezembro favorecem


a ocorrência da doença em elevadas severidades. Portanto, recomenda-se, sempre que
possível, antecipar a época do plantio para a segunda quinzena de outubro ou o início de
novembro. O controle químico também é uma medida viável nas situações em que são
utilizadas cultivares suscetíveis, em regiões cujas condições climáticas são favoráveis
ao desenvolvimento da doença.

Figura 92. Sintomas da mancha branca do milho


Foto: Fabricio Lanza (EMBRAPA, 2010a)

Ferrugem Polissora (Puccinia polysora Underw.)

Importância e Distribuição: No Brasil, foram determinadas perdas superiores


a 40% na produção de milho devido à ocorrência de epidemias de ferrugem polissora. A
doença está distribuída por toda a região Centro-Oeste, pelo Noroeste de Minas Gerais,
por São Paulo e por parte do Paraná.
Sintomas: Os sintomas da ferrugem polissora são caracterizados pela
formação de pústulas circulares a ovais, de coloração marrom clara, distribuídas,
predominantemente, na face superior das folhas (Figura 93).

Figura 93. Ferrugem polissora no milho

A ocorrência da doença é dependente da altitude, ocorrendo com maior


intensidade em altitudes abaixo de 700m, onde predominam temperatura mais elevadas
109

(25 a 35oC). A ocorrência de períodos prolongados de elevada umidade relativa do


ar também é um fator importante para o desenvolvimento da doença.
Manejo da Doença: As principais medidas recomendadas para o manejo da
ferrugem polissora compreendem o uso de cultivares resistentes, a escolha da época e
do local de semeadura, a aplicação de fungicidas em situações de elevada pressão de
doença e o uso de cultivares suscetíveis.

Ferrugem Comum (Puccinia sorghi)

Importância e Distribuição: No Brasil, a doença tem ampla distribuição com


severidade moderada, tendo maior severidade nos estados da região Sul.
Sintomas: A ferrugem comum caracteriza-se pela formação de pústulas em
toda a parte aérea da planta, mas com maior abundância nas folhas. As pústulas ocorrem
em ambas as superfícies da folha, sendo esta uma das características que a diferencia da
ferrugem polissora, cujas pústulas predominam na superfície superior da folha. As
pústulas da ferrugem comum apresentam formato circular a alongado e coloração
castanho clara a escuro, que se acentua à medida em que as pústulas amadurecem e se
rompem, liberando os uredósporos, que são os esporos típicos do patógeno. Sob
condições ambientais favoráveis, as pústulas podem coalescer, formando grandes áreas
necróticas nas folhas (Figura 94).
Epidemiologia: ocorrência de prolongados períodos de temperaturas baixas
(16 a 23°C), alta umidade relativa do ar (>90%) e chuvas frequentes favorecem o
desenvolvimento da doença. Tais condições são encontradas, mais
frequentemente, em locais de altitude elevada (>800m). Os teliósporos produzidos pelo
patógeno germinam e produzem basidiósporos, os quais infectam plantas do gênero
oxalis spp. (trevo), em que o patógeno desenvolve o estágio aecial (fase reprodutiva).
Desse modo, a presença de plantas de trevo na área contribui para a sobrevivência e
para a disseminação do patógeno.
Manejo da Doença: O uso de cultivares resistentes é a principal forma de
manejo da ferrugem comum. A escolha da época e de locais de semeadura menos
favoráveis ao desenvolvimento da doença e a eliminação de hospedeiros alternativos
também contribuem para a redução da severidade da doença. A aplicação de fungicidas
é recomendada em situações de elevada pressão de doença e uso de cultivares
suscetíveis, quando a doença surge nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura.
110

Figura 4. Sintomas da ferrugem comum do milho: pústulas de coloração marrom claro


apresentando halo amarelado (A); coalescência de pústulas apresentando necrose foliar e
bordos arroxeados; detalhe do formato alongado das pústulas (C).
Foto: Rodrigo Veras da Costa (EMBRAPA, 2010a)

Ferrugem Tropical ou Ferrugem Branca (Physopella zeae)


Importância e Distribuição: No Brasil, a ferrugem tropical encontra-se distribuída nas
regiões Centro-Oeste e Sudeste (Norte de São Paulo). A doença é mais severa em
plantios contínuos de milho, principalmente em áreas irrigadas.
Sintomas: A ferrugem branca caracteriza-se pela formação de pústulas de
formato arredondado a oval, em pequenos grupos, de coloração esbranquiçada a
amarelada, na superfície superior da folha e recoberta pela epiderme. Uma borda de
coloração escura pode envolver o agrupamento de pústulas (Figura 95).

Figura 95. Pústulas de aspecto pulverulento e coloração esbranquiçada característica da


ferrugem branca do milho. Foto: Rodrigo Véras da Costa.(EMBRAPA, 2010a)

Epidemiologia: Os uredoóporos são o inóculo primário e secundário, sendo


transportados pelo vento ou em material infectado. Não são conhecidos
hospedeiros intermediários de P. zeae. A doença é favorecida por condições de alta
temperatura (22-34°C), alta umidade relativa e baixas altitudes. Por ser um patógeno de
menor exigência em termos de umidade, a severidade da doença tende a ser a maior nos
plantios de safrinha.
111

Manejo da Doença: As principais medidas de manejo são: semeadura de


cultivares resistentes; escolha da época e do local de semeadura; evitar cultivos
sucessivos de milho; e aplicação de fungicidas em situação de elevada pressão de
doença. Além disso, recomendam-se a alternância de genótipos e a interrupção no
plantio durante certo período para que ocorra a morte dos uredósporos.

Helmintosporiose (Exserohilum turcicum)


Importância e Distribuição: No Brasil, as maiores severidades desta
enfermidade têm ocorrido em plantios de safrinha. Em situações favoráveis ao
desenvolvimento da doença, as perdas na produção podem chegar a 50%, quando o
ataque começa antes do período de floração.
Sintomas: Os sintomas típicos da doença são lesões necróticas, elípticas,
medindo de 2,5 a 15cm de comprimento (Figura 96). A coloração do tecido necrosado
varia de cinza a marrom e, no interior das lesões, observa-se intensa esporulação do
patógeno. As primeiras lesões aparecem, normalmente, nas folhas mais velhas.
Epidemiologia: O patógeno apresenta boa capacidade de sobrevivência em
restos de cultura. A disseminação ocorre pelo transporte de conídios pelo vento a longas
distâncias. Temperaturas moderadas (18-27°C) são favoráveis à doença, bem como a
ocorrência de longos períodos de molhamento foliar ou a presença de orvalho. O
patógeno tem como hospedeiros o sorgo, o capim sudão, o sorgo de halepo e o teosinto.
No entanto, isolados provenientes do sorgo não são capazes de infectar plantas de
milho.
Manejo da Doença: O controle da doença é feito através da semeadura de
cultivares com resistência genética. A rotação de culturas é também uma prática
recomendada para o manejo desta doença.

Mancha de Bipolaris maydis (Bipolaris maydis )


Importância e Distribuição: Esta doença encontra-se bem distribuída no
Brasil, porém com severidade entre baixa e média. Atualmente, em algumas áreas das
regiões Centro-Oeste e Nordeste, tem ocorrido com elevada severidade em materiais
suscetíveis.

Sintomas: O fungo B. maydis possui duas raças descritas, “0” e “T”. A raça
“0”, predominante nas principais regiões produtoras, produz lesões alongadas,
orientadas pelas nervuras com margens castanhas e com forma e tamanho variáveis
112

(Figura 97). Embora as lesões sigam a orientação das nervuras, as bordas das lesões não
são tão bem definidas como ocorre no caso da cercosporiose. As lesões causadas
pela raça “T” são maiores, predominantemente elípticas e com coloração de marrom
a castanho, podendo haver formação de halo clorótico.

Figura 96. Sintomas da helmintosporiose (Exserohilum turcicum) em milho.


Foto: Luciano Viana Cota (EMBRAPA, 2010 a)

Epidemiologia: A sobrevivência ocorre em restos culturais infectados e em


grãos. Os conídios são transportados pelo vento e por respingos de chuva. As condições
ótimas para o desenvolvimento da doença consistem em temperaturas entre 22 e 30°C e
em elevada umidade relativa. A ocorrência de longos períodos de seca e de dias com
muito sol entre dias chuvosos é desfavorável à doença.
Manejo da Doença: A semeadura de cultivares resistentes e a rotação de
culturas são as principais medidas recomendadas para o manejo dessa doença.

Figura 97: Sintomas da mancha de Bipolaris maydis (Bipolaris maydis) em milho.


Foto: Rodrigo Véras da Costa (EMBRAPA, 2010a)

Mancha de Bipolaris Zeicola (Bipolaris zeicola)

Importância e Distribuição: Esta doença encontra-se bem distribuída no


Brasil, porém com severidade entre baixa e média. À semelhança do que foi citado para
113

a mancha de Bipolaris Maydis, a doença tem ocorrido com elevada severidade em


algumas regiões do Centro-Oeste e do Nordeste.
Sintomas: Duas raças de B. zeícola são consideradas predominantes no Brasil,
raças 1 e 3. A raça 1 desse patógeno produz lesões de coloração palha, formato de
circular a oval e com formação de anéis concêntricos (Figura 98). A raça 3 produz
lesões bem distintas daquelas produzidas pela raça 1. As lesões são estreitas e alongadas
e com coloração castanho claro.

Figura 98. Sintomas da mancha de Bipolaris Zeicola (Bipolaris zeicola raça 1) em milho
Foto: Luiano Viana Cota (Embrapa 2010a)

Epidemiologia: As condições ambientais que favorecem a ocorrência da


doença são temperaturas moderadas e alta umidade relativa do ar. A sobrevivência
ocorre em restos culturais infectados e os conídios são transportados pelo vento e por
respingos de chuva.
Manejo da doença: A semeadura de cultivares resistentes e a rotação de
culturas são as principais medidas recomendadas para o manejo dessa doença.

Mancha foliar de Diplodia (Stenocarpella macrospora)


Importância e Distribuição: Esta doença está presente nos estados de Minas
Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia e Mato Grosso e na região Sul do país. Apesar de
amplamente distribuída, a doença tem ocorrido com severidade entre baixa e média até
o momento.
Sintomas: As lesões são alongadas, grandes, semelhantes às de Exserohilum
turcicum. Diferem destas por apresentar, em algum local da lesão, pequeno círculo
visível contra a luz (ponto de infecção). Podem alcançar até 10 cm de comprimento
(Figura 99). Em algumas situações, os sintomas são caracterizados pela presença
de lesões estreitas e alongados (Figura 100). Apesar da variação sintomatológica, em
todos os casos é possível verificar o ponto de infecção pelo patógeno.
114

Figura 99. Sintomas da mancha foliar de Diplodia Figura 100. Lesão estreita e alongada
de Diplodia macrospora.

Epidemiologia: disseminação ocorre através dos esporos e dos restos de


cultura levados pelo vento e por respingos de chuva. Os restos de cultura são fonte de
inóculo local e também contribuem para a disseminação da doença para outras áreas de
plantio. A ocorrência de temperaturas entre 25 e 30 oC e de elevada
umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento da doença.
Manejo da doença: O manejo da doença pode ser feito através do uso de
cultivares resistentes e da rotação com culturas não hospedeiras.

Antracnose foliar do milho (Colletotrichum graminicola)

Importância e Distribuição: Com a ampla utilização do plantio direto, sem


rotação de culturas, e o aumento das áreas de cultivo do milho na safra e na safrinha, a
antracnose tornou-se uma das doenças mais amplamente distribuídas nas regiões
produtoras de milho do Brasil. A doença pode reduzir a produção do milho em até 40%
em cultivares suscetíveis sob condições favoráveis de ambiente. Um fator complicador
relacionado à ocorrência da antracnose é a inexperiência por parte da maioria dos
técnicos em reconhecer os sintomas dessa enfermidade no campo, permitindo que ela
ocorra em elevadas severidades, resultando em perdas significativas à produção.
Sintomas: As lesões foliares são observadas em plantas nos primeiros estágios
vegetativos e, de modo geral, a antracnose é a primeira doença foliar detectada no
campo. Os sintomas são caracterizados por lesões de coloração marrom escura e
formato oval a irregular, o que torna, às vezes, difícil seu diagnóstico. Tipicamente, um
halo amarelado circunda a área doente das folhas. Sob condições favoráveis, as lesões
115

podem coalescer, necrosando grande parte do limbo foliar e surgem, no interior das
lesões, pontuações escuras que correspondem às estruturas de frutificação do patógeno,
denominadas acérvulos (Figura 101). Nas nervuras, são observadas lesões elípticas de
coloração marrom avermelhada que resultam numa necrose foliar em formato de “V”
invertido (Figura 102). Esses sintomas são geralmente confundidos com os sintomas de
deficiência de nitrogênio.

Fig 101. Sintoma da antracnose Fig. 102. Antracnose na nervura e queima foliar em formato
de “V” invertido

Epidemiologia: A taxa de aumento da doença é uma função da quantidade


inicial de inóculo presente nos restos de cultura, o que indica a importância do plantio
direto e do plantio em sucessão para o aumento do potencial de inóculo. Outro fator a
influir na quantidade da doença é a taxa de reprodução do patógeno, que vai depender
das condições ambientais a da própria raça do patógeno presente. Temperaturas elevas
(28 a 30oC), elevada umidade relativa do ar e chuvas frequentes favorecem o
desenvolvimento da doença.
Manejo da doença: As principais medidas recomendadas para o manejo da
antracnose são a semeadura de cultivares resistentes, a rotação de cultura e evitar
cultivos sucessivos, as quais são essenciais para a redução do potencial de inóculo do
patógeno presente nos restos de cultura.

2.3 Podridões do Colmo e das Raízes

Ainda de acordo com a Embrapa (2010a) As podridões de colmo destacam-se,


no mundo entre as mais importantes doenças que atacam a cultura do milho por
causarem redução de produção e de qualidade de grãos e forragens. Sua ocorrência, no
116

Brasil, tem aumentado significativamente nas últimas safras em todas as regiões de


plantio. Os plantios sucessivos, a ampla adoção do sistema de plantio direto sem rotação
de culturas e a utilização de genótipos suscetíveis favorecem a ocorrência da doença em
função da elevada capacidade dos patógenos de sobreviverem no solo e em restos de
cultura, resultando no rápido acúmulo de inóculo nas áreas de cultivo. Incidência de
podridão de colmo acima de 70% e perdas de produtividade em torno de 50% têm sido
relatadas em cultivares suscetíveis sob condições ambientais favoráveis ao
desenvolvimento dos patógenos causadores de podridões de colmo.
As podridões do colmo na cultura do milho podem ocorrer antes da fase de
enchimento dos grãos, em plantas jovens e vigorosas, ou após a maturação fisiológica
dos grãos, em plantas senescentes. No primeiro caso, as perdas se devem à morte
prematura das plantas com efeitos negativos no tamanho e no peso dos grãos, como
consequência da redução na absorção de água e nutrientes. No segundo caso, as perdas
na produção se devem ao tombamento das plantas, o que dificulta a colheita mecânica e
expõe as espigas à ação de roedores e ao apodrecimento pelo contato com o solo. O
tombamento das plantas é função do peso e da altura da espiga, da quantidade do colmo
apodrecida, da dureza da casca e da ocorrência de ventos.
As podridões de colmo apresentam estreita relação com a ocorrência de vários
tipos de estresses durante o ciclo da cultura, os quais promovem alterações no balanço
normal de distribuição de carboidratos na planta. Após as fases de polinização e
fertilização, inicia-se o período de enchimento dos grãos, que se estende até a
maturidade fisiológica. Nesta fase, as espigas tornam-se os drenos mais fortes na planta,
assumindo grande demanda por açúcares e outros carboidratos. Portanto, o “aparato”
fotossintético, nesse período, deve funcionar plenamente para manter o adequado
suprimento de carboidratos para o enchimento dos grãos e para a manutenção dos
tecidos do colmo e das raízes. Qualquer fator que interfira, negativamente, no processo
de fotossíntese nessa fase, como estresse hídrico, temperaturas elevadas, desequilíbrios
nutricionais, redução da radiação solar e perda de área foliar devido ao ataque de pragas
e doenças, resulta em inadequado suprimento de carboidratos para enchimento dos
grãos. Nesse caso, o colmo, que além da função estrutural atua também como órgão de
reserva, passa a ser a principal fonte de carboidratos para o enchimento dos grãos, via
processo de translocação. No entanto, a redução da atividade fotossintética e a intensa
translocação de carboidratos do colmo para a espiga resultam num enfraquecimento dos
tecidos do colmo, tornando-os mais suscetíveis ao ataque de patógenos causadores de
117

podridão. Desse modo, é possível afirmar que qualquer fator que reduza a capacidade
fotossintética e a produção de carboidratos predispõe as plantas à ocorrência da doença.
As podridões do colmo geralmente se iniciam pelas raízes, passando para os
entrenós superiores ou diretamente pelo colmo, através de ferimentos. De um modo
geral, não ocorrem uniformemente na área, sendo possível encontrar plantas sadias ao
lado de plantas apodrecidas.
Por serem os microorganimos causadores das podridões do colmo capazes de
sobreviver nos restos de cultura e no solo, a adoção do sistema de plantio direto pode
aumentar significativamente a quantidade de inóculo no solo, tornando as lavouras de
milho, nesse sistema de cultivo, mais sujeitas à ocorrência das podridões em alta
intensidade.
Vários são os patógenos causadores de podridão de colmo em milho, incluindo
fungos e bactérias. No Brasil, os principais são Colletotrichum graminicola, Diplodia
macrospora, Diplodia maydis, Fusarium graminearum, Fusarium moniliforme e
Macrophomina Phaseolina.

Antracnose do colmo (Colletotrichum graminicola)


Etiologia:Essa podridão, também denominada de antracnose do colmo, é
causada pelo fungo Colletotrichum graminicola. Esse fungo pode infectar todas as
partes da planta de milho, resultando em diferentes sintomas nas folhas, no colmo, na
espiga, nas raízes e no pendão.
Sintomas: Embora o patógeno possa infectar as plantas nas fases iniciais de
seu desenvolvimento, os sintomas são mais visíveis após o florescimento. A podridão do
colmo é caracterizada pela formação, na casca, de lesões encharcadas, estreitas, elípticas
na vertical ou ovais. Posteriormente, essas lesões tornan-se marrom avermelhadas e,
finalmente, marrom-escuras a negras (Figura 13). As lesões podem coalescer, formando
extensas áreas necrosadas de coloração escura brilhante. O tecido interno do colmo
apresenta, de forma contínua e uniforme, coloração marrom escura, podendo se
desintegrar, levando a planta à morte prematura e ao acamamento (Figuras 103 e 104).
Essas podridões são favorecidas por altas temperaturas associadas a altos teores de
umidade.
118

Figura 102. Antracnose Figura 103. Fileira de plantas de milho com sintomas da antracnose do colmo.
do colmo do milho. Fonte: Luciano Viana Cota (EMBRAPA, 2010a)

Epidemiologia: C. graminicola pode sobreviver em restos de cultura ou em


sementes, na forma de micélio e conídios. A disseminação dos conídios se dá por
respingos de chuva. A infecção do colmo pode ocorrer pelo ponto de junção das folhas
com o colmo ou através de raízes. A antracnose é favorecida por longos períodos de
altas temperaturas e umidade, principalmente na fase de plântula e após o florescimento.
As perdas de produção, dependendo do híbrido e das condições ambientais, podem
chegar a 40%.

Podridão de Diplodia

Etiologia: Essa podridão pode ser causada por duas espécies de fungos do
gênero Stenocarpella, Stenocarpella maydis (= Diplodia maydis)
e Stenocarpellamacrospora (= Diplodia macrospora), os mesmos agentes causais da
podridão branca das espigas. A espécie S. macrospora pode, também, causar lesões
foliares em milho conforme descrito anteriormente. S. maydis difere de S.
macrospora por apresentar conídios duas vezes menores e por não causar lesões
foliares.
Sintomas: Plantas infectadas por esses fungos apresentam, externamente,
próximo aos entrenós inferiores, lesões marrom claras, quase negras, nas quais é
possível observar a presença de pequenos pontinhos negros (picnídios). Internamente, o
tecido da medula adquire coloração marrom, pode se desintegrar, permanecendo
119

intactos somente os vasos lenhosos sobre os quais é possível observar a presença de


picnídios (Figura 104).

Figura 104. Sintomas da podridão do colmo do milho causada por Stenocarpela spp. (=Diplodia spp.)
Foto: Nicésio F. F. A. Pinto. (EMBRAPA, 2010 a)

Epidemiologia: As podridões do colmo causadas por Stenocarpella spp. são


favorecidas por temperaturas entre 28 e 30oC e alta umidade, principalmente na forma
de chuva. Esses patógenos sobrevivem nos restos de cultura na forma de picnídios e nas
sementes na forma de picnídios ou de micélio. Apresentam como único hospedeiro o
milho, o que torna a rotação de culturas uma medida eficiente para o manejo dessa
doença. A disseminação dos conídios pode ocorrer pela ação da chuva ou do vento.

Podridão de Fusarium

Etiologia: Essa doença é causada por várias espécies do gênero Fusarium spp.,
entre elas F. moniliforme e F. graminearum, que também causam podridões de espigas.
Sintomas: Em plantas infectadas, o tecido dos entrenós inferiores geralmente
adquire coloração avermelhada, que progride de forma uniforme e contínua da base em
direção à parte superior da planta (Figura 105). Embora a infecção do colmo possa
ocorrer antes da polinização, os sintomas só se tornam visíveis logo após a polinização e
aumentam em severidade à medida que as plantas entram em senescência. A infecção
pode começar pelas raízes e é favorecida por ferimentos causados por nematóides ou
pragas subterrâneas.
Esse patógeno é um fungo de solo capaz de sobreviver nos restos de cultura na
forma de micélio e apresenta várias espécies vegetais como hospedeiro alternativo, o
que torna a medida de rotação de culturas pouco eficiente. Frequentemente, pode ser
120

encontrado associado às sementes. A disseminação dos conídios se dá através do vento


ou da chuva.

Figura 105. Podridão do colmo causada por Fusarium spp.


Foto: Fernando Tavares Fernandes.

Podridão de Macrophomina
Etiologia: Essa doença é causada pelo fungo Macrophomina phaseolina, um patógeno
capaz de causar podridões em mais de 500 espécies de plantas, incluindo as podridões
de colmo nas culturas do milho e do sorgo.
Sintomas: A infecção das plantas inicia pelas raízes. Embora essa infecção
possa ocorrer nos primeiros estádios de desenvolvimento da planta, os sintomas são
visíveis nos entrenós inferiores após a polinização. Internamente, o tecido da medula se
desintegra, permanecendo intactos somente os vasos lenhosos (Figura 106) sobre os
quais é possível observar a presença de numerosos pontinhos negros (escleródios) que
conferem, internamente ao colmo, uma cor cinza típica.

Figura 106. Sintomas da podridão do colmo causada por Macrophomina phaseolina.


121

Foto: Nicésio F. F. A. Pinto. (EMBRAPA, 2010 a)

Epidemiologia: A podridão por Macrophomina é favorecida por altas


temperaturas (37°C) e por baixa umidade no solo. A sobrevivência de M. phaseolina no
solo, bem como sua disseminação, ocorre na forma de escleródios. Esse fungo apresenta
um grande número de hospedeiros, inclusive o sorgo e a soja, o que torna a rotação de
culturas uma medida de controle pouco eficiente.

Podridão por Pythium

Etiologia: É causada pelo fungo Pythium aphanidermatum. Essa podridão não


é tão comum quanto aquelas causadas por C. graminicola, Stenocarpella spp.
e Fusarium spp. e ocorre em condições de umidade excessiva no solo.
Sintomas: Os sintomas iniciais dessa podridão são caracterizados por lesões do
tipo aquosa semelhantes às causadas por bactérias. A diferença é que, nesse caso, a
podridão permanece, tipicamente, restrita ao primeiro entrenó acima do solo (Figura
107), enquanto que nas bacterioses podem atingir vários entrenós. Inicialmente, nota-se
uma alteração da cor dos tecidos, variando de marrom claro a escuro e com aspecto
encharcado. Com a evolução dos sintomas, os tecidos internos do colmo se desintegram,
resultando num estrangulamento do colmo na região. As plantas, antes de tombarem,
geralmente sofrem uma torção característica. Plantas tombadas permanecem verdes por
algum tempo, visto que os vasos lenhosos permanecem intactos. Esse patógeno pode
atacar tecidos novos, verdes e fisiologicamente ativos.
Epidemiologia: Esse fungo sobrevive no solo, apresenta elevado número de
espécies vegetais hospedeiras e é capaz de infectar plantas de milho jovens e vigorosas
antes do florescimento. Essa podridão é favorecida por temperaturas em torno de 32 oC e
alta umidade no solo, proporcionada por prolongados períodos de chuva ou irrigação
excessiva.

Podridões bacterianas

Várias espécies de bactérias do gênero Pseudomonas spp. e Erwinia spp.


causam podridões do colmo em plantas de milho, sendo a mais comum a espécie
Erwinia chrysanthemi pv. zeae. Assim como a podridão causada por
P.aphanidermatum, as podridões bacterianas não ocorrem com elevada freqüência e são
restritas a ambientes caracterizados pelo excesso de umidade no solo.
122

Figura 107. Podridão do colmo Figura 108. Podridão bacteriana do cartucho do milho

Sintomas: As podridões causadas por bactérias são do tipo aquosas e


especialmente aquelas causadas por Erwinia chrysanthemi pv. zeae exalam um odor
desagradável típico. Em geral, iniciam-se nos entrenós próximos ao solo e rapidamente
atingem os entrenós superiores. A infecção causada por E.chrysanthemi pv. zeae pode,
também, iniciar pela parte superior do colmo, causando a podridão do cartucho. Os
sintomas típicos dessa doença são a murcha e a seca das folhas decorrentes de uma
podridão aquosa na base do cartucho. As folhas se desprendem facilmente e exalam um
odor desagradável (Figura 108). Nas bainhas das outras folhas, pode-se observar a
presença de lesões encharcadas (anasarcas). Podem ocorrer o apodrecimento dos
entrenós inferiores ao cartucho e a murcha do restante da planta. Ferimentos no cartucho
causados por insetos podem favorecer a incidência dessa podridão.

2.3.1 Podridões de raízes


Etiologia: As podridões de raízes podem ser causadas por um complexo de
patógenos envolvendo várias espécies de fungos dos gêneros Fusarium spp.,Pythium
spp. e Rhizoctonia spp. Além disso, bactérias, nematóides e insetos que se alimentam
das raízes podem estar associados às podridões radiculares.
Sintomas: Os sintomas típicos das podridões radiculares incluem o
aparecimento de lesões de coloração escuras e, conseqüentemente, de raízes apodrecidas
(Figura 109). Os sintomas na parte aérea são enfezamento, cloroses, murcha e redução
123

da produtividade devido à menor absorção de água e nutrientes (Figura 110). Em alguns


casos, podem evoluir e atingir os tecidos do colmo.

Figura 109. Sintomas da podridão radicular em plantas de milho.

Figura 110. Podridão de raízes e colmo (A) e sintomas na parte aérea da planta (B).

Manejo das podridões de colmo e de raízes

Segundo a Embrapa (2010 a) não existe uma medida única recomendada para o
controle das podridões de colmo e de raízes em milho. Para se obter sucesso no manejo
dessas doenças, um conjunto de medidas devem ser executadas de forma integrada. A
primeira e, talvez, a mais importante é a escolha correta da cultivar. Nesse caso, deve
ser dada preferência para híbridos que apresentem, além de alta produtividade,
satisfatória resistência no colmo. Resultados obtidos pela Embrapa Milho e Sorgo
demonstram a existência de variabilidade quanto à resistência à podridão de colmo e
raízes em genótipos de milho. Outros critérios, como adubação equilibrada,
principalmente quanto à relação N/K, manejo de irrigação, controle de pragas, de
124

plantas daninhas e de doenças, densidade de plantas, época de plantio e colheita, são de


fundamental importância e devem ser considerados num programa de manejo dessas
podridões na cultura do milho.
A ocorrência de podridão de colmo não necessariamente resulta em
tombamento de plantas no campo. Entretanto, alguns pontos devem ser considerados. A
realização da colheita no momento adequado é um dos principais fatores que devem ser
observados em campos de produção apresentando sintomas da doença. Para isso, o
monitoramento da lavoura passa a ser de fundamental importância. O exame de campo
consiste em avaliar, além dos sintomas na casca, a firmeza do colmo. Nesse caso, a
avaliação é feita pressionando-se, com os dedos, o primeiro e/ou o segundo entrenó do
colmo acima do solo. Colmos sadios são firmes e a casca oferece forte resistência à
pressão dos dedos. Em colmos apodrecidos, a casca cede facilmente quando pressionada
devido à desintegração dos tecidos vasculares.
Alguns híbridos apresentam a casca bastante resistente, o que impede o
tombamento da planta, mesmo quando os tecidos internos apresentam-se apodrecidos.
No entanto, a resistência da casca pode não ser suficiente para evitar o tombamento se a
colheita for retardada e as plantas forem expostas a condições adversas como ventos e
chuvas fortes. Recomenda-se que campos apresentando entre 15 e 20% de podridão de
colmo, de acordo com as avaliações descritas acima, sejam colhidos o mais breve
possível para evitar perdas devido ao acamamento de plantas.
Recentemente, grande ênfase tem sido dada ao uso de fungicidas na cultura do
milho para o manejo de doenças. No entanto, existe pouca informação sobre a eficiência
desses produtos sobre os patógenos causadores de podridão no colmo. Resultados
recentes da Embrapa Milho e Sorgo sugerem um efeito indireto da aplicação de
fungicidas no controle dos patógenos causadores de podridões. Desse modo, o uso de
fungicidas, por promover uma melhor sanidade foliar e preservar a capacidade
fotossintética das plantas resulta, indiretamente, numa menor necessidade de
translocação de nutrientes do colmo para a espiga, impedindo ou reduzindo sua
senescência precoce.

2.4 Podridões de espiga e grãos ardidos

Os grãos de milho podem ser danificados por fungos em duas condições


específicas, isto é, em pré-colheita (podridões de espigas com a formação de grãos
ardidos) e em pós-colheita dos grãos durante o beneficiamento, o armazenamento e o
125

transporte (grãos mofados ou embolorados). No processo de colonização dos grãos,


muitas espécies de fungos, denominados toxigênicos, podem, além dos danos físicos
(descolorações dos grãos, reduções nos conteúdos de carboidratos, de proteínas e de
açúcares totais), produzir substâncias tóxicas denominadas micotoxinas. É importante
ressaltar que a presença do fungo toxigênico não implica, necessariamente, na produção
de micotoxinas, as quais estão intimamente relacionadas à capacidade de biossíntese do
fungo e das condições ambientais predisponentes, como a alternância das temperaturas
diurna e noturna (EMBRAPA 2010 a)

Podridão branca da espiga

A podridão branca da espiga é causada pelos fungos Stenocarpela


maydis(=Diplodia maydis) e Stenocarpela macrospora (=Diplodia macrospora). Os
sintomas são caracterizados pela presença de um crescimento micelial denso e
compacto, de coloração branca entre os grãos, que iniciam, normalmente, pela base das
espigas (Figura 111). As espigas atacadas são mais leves e podem ser totalmente
apodrecidas. Uma característica específica dessa doença é o aparecimento de inúmeras
pontuações de coloração escura nos grãos e no ráquis das espigas, que correspondem
aos picnídios dos patógenos, os quais servem como fonte de inóculo para os próximos
plantios.
Uma característica peculiar entre as duas espécies de Stenocarpella spp. é que
apenas a S. macrospora ataca as folhas do milho. A precisa distinção entre estas
espécies só é possível mediante análises microscópicas, pois, comparativamente, os
esporos de S. macrospora são maiores e mais alongados do que os de S. maydis. Esses
patógenos sobrevivem no solo através dos esporos no interior dos picnídios e nos restos
de cultura contaminados e, nas sementes, na forma de esporos e de micélio dormente, as
quais constituem as fontes primárias de inóculo para a infecção das espigas. Cultivares
cujas espigas são mal empalhadas, que possuem palhas frouxas ou que não se dobram
após a maturidade fisiológica são as mais suscetíveis. A alta precipitação pluviométrica
na época da maturação dos grãos favorece o aparecimento da doença. A evolução da
podridão praticamente cessa quando o teor de umidade dos grãos atinge 21 a 22% em
base úmida. O manejo integrado para o controle desta podridão de espiga envolve a
utilização de cultivares resistentes, de sementes livres dos patógenos, da destruição de
126

restos culturais infectados e da rotação de culturas, visto que o milho é o único


hospedeiro destes patógenos.

Figura 111. Sintomas da podridão branca da espiga.


Foto: Rodrigo Véras da Costa (EMBRAPA, 2010 a)

Podridão de Fusarium
Essa podridão é causada por duas espécies de fungos, Fusarium moniliforme e
Fusarium subglutinans. Esses patógenos apresentam elevado número de plantas
hospedeiras, sendo, por isso, considerados parasitas não especializados. A infecção pode
iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, mas sempre associada a alguma
injúria (insetos, pássaros). Os grãos infectados apresentam, normalmente, uma alteração
de cor que varia do róseo ao marrom escuro e, em algumas situações, também
apresentam estrias de coloração branca no pericarpo. Com o desenvolvimento do
patógeno, observa-se, sobre os grãos, um crescimento cotonoso de coloração clara a
avermelhada, correspondente ao micélio do fungo (Figura 112).

Figura 112. Sintomas da podridão de espiga por Fusarium F. moniliforme)


127

Foto: Nicésio F. J. A. Pinto (EMBRAPA, 2010 a)

Quando a infecção ocorre através do pedúnculo da espiga, todos os grãos


podem ser infectados, mas a infecção só desenvolverá naqueles que apresentarem
alguma injúria no pericarpo. O desenvolvimento dos patógenos nas espigas é paralisado
quando o teor de umidade dos grãos atinge 18 a 19% em base úmida. Embora esses
fungos sejam freqüentemente isolados das sementes, estas não são a principal fonte de
inóculo. Como estes fungos possuem a fase saprofítica ativa, sobrevivem e se
multiplicam na matéria orgânica, no solo, sendo esta a fonte principal de inóculo.

Podridão de Giberela

Esta podridão de espiga, causada pelo fungo Gibberella zeae (forma imperfeita
Fusarium graminearum), é mais comum em regiões de clima ameno e de alta umidade
relativa. A ocorrência de chuvas após a polinização propicia a ocorrência desta podridão
de espiga, que começa com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode
progredir para a base (Figura 113). É comum as palhas estarem firmemente ligadas às
espigas devido ao excessivo crescimento micelial do fungo entre as brácteas e os grãos.
Ocasionalmente, esta podridão pode iniciar na base e progredir para a ponta da espiga,
confundindo o sintoma com aquele causado por F. moniliforme ou F. subglutinans.
Chuvas freqüentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em lavoura
com cultivar cujas espigas não dobram, aumentam a incidência desta podridão. Este
fungo sobrevive nas sementes na forma de micélio dormente.

2.4.1 Grãos ardidos

O termo grãos ardidos refere-se aos grãos produzidos em espigas que sofreram
um processo de podridão. São considerados ardidos os grãos que apresentam, pelo
menos, um quarto de sua superfície com descolorações variando de marrom claro,
marrom escuro, roxo, vermelho claro a vermelho escuro (Figura 114). Os principais
patógenos causadores de grãos ardidos são Stenocarpela maydis (=Diplodia
maydis), Stenocarpela macrospora (=Diplodia macrospora), Fusarium moniliforme, F.
subglutinans e Gibberella zeae. Ocasionalmente, no campo, há produção de grãos
ardidos pelos fungos do gênero Penicillium spp. e Aspergillus spp. Os fungos G.
zeae e S. maydis são mais frequentes nos estados do Sul do Brasil e F. moniliforme, F.
subglutinans e Diplodia macrospora nas demais regiões produtoras de milho. Como
128

padrão de qualidade, tem-se adotado, em algumas agroindústrias, a tolerância máxima


de 6% de grãos ardidos em lotes comerciais de milho.

Figura 113. Podridão da espiga por Giberela Fig. 114 Comparação de amostras de grãos de milho ardi
(Giberela zeae). dos (A) e sadios (B)

Controle das podridões de espiga e de grãos ardidos

Para se obter um manejo eficiente da ocorrência das podridões de espiga e de


grãos ardidos na cultura do milho, várias medidas devem ser adotadas de
forma integrada, como: utilização de cultivares com maior nível de resistência
aos principais patógenos que atacam as espigas, como os pertencentes aos
gêneros Fusarium spp. e Stenocarpella spp.; realizar, sempre que possível, a
rotação de culturas para reduzir o potencial de inóculo dos patógenos; evitar
plantios sucessivos de milho; utilizar sementes sadias e densidade de plantio
adequada do cultivar plantado; dar preferência a cultivares com espigas
decumbentes (que viram para baixo após a maturação fisiológica); e evitar
atraso na colheita. A eficiência do controle químico para manejo de grãos
ardidos em milho ainda é motivo de dúvidas quanto à eficiência de produtos,
à época e ao número de aplicações e sua relação com a resistência dos
cultivares. A Embrapa Milho e Sorgo vêm realizando trabalhos nessa linha
visando a obter informações mais precisas quanto aos fatores acima
mencionados (EMBRAPA, 2010 a).

2.5 Doenças sistêmicas

Enfezamentos
129

Importância e distribuição:

Os enfezamentos do milho (doenças sistêmicas associadas a infecções dos


tecidos do floema das plantas) são considerados doenças importantes para
essa cultura no Brasil pelas perdas elevadas na produtividade e por sua ampla
ocorrência nas principais regiões produtoras de milho. As semeaduras tardias e de
safrinha (iniciados a partir de meados de janeiro) contribuem para o aumento
da incidência e das perdas causadas pelos enfezamentos devido ao aumento
da população do inseto vetor nesta época. Esse fato pode ser agravado em
sistemas de cultivos sucessivos de milho.

Etiologia

Os enfezamentos são causados por patógenos pertencentes à classe dos


Mollicutes, cuja transmissão é realizada de forma persistente e propagativa
pela cigarrinha Dalbulus maidis. O enfezamento pálido é causado por um
procarionte pertencente à espécie Spiroplasma kunkelli. O enfezamento
vermelho é causado por procarionte pertencente ao gênero Phytoplasma,
denominado pelo nome comum fitoplasma.

Sintomatologia

Enfezamento vermelho:
Os sintomas típicos dessa doença são o avermelhamento das folhas, a
proliferação de espigas, produção de espigas pequenas, perfilhamento na base
da planta e nas axilas foliares, encurtamento dos entrenós, incompleto
enchimento de grãos e seca precoce das plantas (Figura 115).

Enfezamento pálido:
Os sintomas característicos são estrias esbranquiçadas irregulares na base das
folhas, que se estendem em direção ao ápice. Em alguns casos, observa-se um
amarelecimento das plantas e o surgimento de áreas avermelhadas nas folhas
apicais. Normalmente, as plantas são raquíticas devido ao encurtamento dos
entrenós, podendo haver uma proliferação de espigas pequenas e sem grãos
(Figuras 116 e 117). Quando há produção de grãos, eles são pequenos,
130

manchados e frouxos na espiga. As plantas podem secar precocemente.


Em ambos os casos, os sintomas são mais evidentes na fase de enchimento dos
grãos. A identificação precisa dos enfezamentos com base apenas nos
sintomas, no campo, nem sempre é uma tarefa fácil, tornando-se necessário o
uso de exames laboratoriais para a correta diagnose.

Figura 116. Sintomas do enfezamento vermelho. Figura 117. Sintomas do enfezamento pálido

Figura 118. Detalhe das estrias esbranquiçadas irregulares, na base das folhas, que
se estendem em direção ao ápice. Fotos: Rodrigo Véras da Costa (EMBRAPA, 2010 a)

Epidemiologia:
Os Molicutes, Spiroplasma kunkelli e Phytoplasma ocorrem somente em
células do floema de plantas doentes de milho e são transmitidos de forma
persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis, que, ao se
alimentar em plantas doentes, adquire os molicutes e os transmitem para as
plantas sadias. O período latente entre a aquisição dos patógenos e a sua
131

transmissão pela cigarrinha varia de três a quatro semanas. A incidência e a


severidade dessas doenças são influenciadas pelo grau de suscetibilidade da
cultivar, pela época de semeadura (semeaduras tardias favorecem a doença),
pela temperatura e umidade e pela população do inseto vetor. A ocorrência
de temperatura e umidade elevadas e a alta densidade populacional de
cigarrinhas, coincidentes com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de
milho, favorecem o desenvolvimento da doença em elevada severidade. O
milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha Dalbulus maidis.

Controle:
O controle mais eficiente dos enfezamentos consiste na utilização de
cultivares resistentes. Outras práticas recomendadas para o manejo dessas
doenças são: evitar semeaduras sucessivas de milho; fazer o pousio por
período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; e alterar a
época de semeadura, evitando-se a semeadura tardia da cultura. O uso de
inseticidas para o controle do inseto vetor não tem apresentado eficiência
satisfatória na redução da incidência dos enfezamentos.

Míldio (Peronosclerospora sorghi)

Etiologia: Existem vários organismos causadores de míldio que afetam a


cultura do milho, mas o míldio comumente observado em milho, nas condições
brasileiras, é causado pelo mesmo organismo que causa o míldio do sorgo, ou seja,
Peronosclerospora sorghi.
Sintomas: Plantas de milho sistemicamente infectadas por P. sorghi, o agente
causal do míldio em milho, caracterizam-se por serem cloróticas, algumas vezes
enfezadas, podendo apresentar folhas com estrias esbranquiçadas e que não chegam a
produzir sementes (Figura 119). A área clorótica da folha sempre inclui a base da lâmina
foliar, com margens transversas bem definidas entre tecidos
Epidemiologia: Na superfície das folhas infectadas, ocorre a produção de
esporângios (conídios) com temperatura ótima de produção entre 24 e 26°C. Alta taxa
de infecção sistêmica ocorre quando o milho é cultivado em temperaturas variando de
11 a 32°C e períodos de molhamento foliar superior a 4 horas.
Controle: As principais medidas recomendadas para o manejo do míldio na
cultura do milho são: utilização de cultivares resistentes; rotação com culturas não
132

hospedeiras; enterrio dos restos culturais para eliminação de oósporos; etratamento de


sementes com fungicidas à base de Metalaxyl.

Figura 119. Míldio em milho: sintomas típicos de deformação do pendão, aparecimento de folhas e eretas
com presença de estrias esbranquiçadas. Foto: Carlos Roberto Casela.(EMBRAPA, 2010 a)

2.6 Viroses

Rayado Fino (Maize Rayado Fino Virus)


Importância e distribuição: A virose Rayado Fino, também denominada
risca, pode reduzir a produção de grãos em até 30% e ocorre nas principais regiões
produtoras de milho. Essa doença é transmitida e disseminada pela cigarrinha Dalbullus
maidis.
Sintomas: Os sintomas característicos são riscas formadas por numerosos
pontos cloróticos coalescentes ao longo das nervuras, que são facilmente observados
quando as folhas são colocadas contra a luz (Figura 120).
Epidemiologia: O vírus Rayado Fino ocorre sistemicamente na planta de
milho e é transmitido de forma persistente propagativa pela cigarrinha Dalbullus
maidis que, ao se alimentar de plantas doentes, adquire o vírus e o transmite para
plantas sadias. O período latente entre a aquisição desse vírus e sua transmissão varia de
7 a 37 dias. A incidência e a severidade dessa doença são influenciadas por grau de
suscetibilidade da cultivar, por semeaduras tardias e por população elevada de
cigarrinha coincidente com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho. O
milho é o principal hospedeiro tanto do vírus como da cigarrinha.
133

Controle: O método mais eficiente e econômico para controlar o vírus Rayado


Fino é a utilização de cultivares resistentes. Práticas culturais recomendadas que
reduzem a incidência dessa doença no milho são: eliminação de plantas voluntárias de
milho; fazer o pousio por um período de dois a três meses sem a presença de plantas de
milho; alterar a época de semeadura evitando as semeaduras tardias e sucessivas de
milho. A aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método
muito efetivo no controle dessa virose.

Figura 120: Sintomas de Ryado Fino em folha de milho


Foto: Carlos Roberto Casela.(EMBRAPA, 2010a)

Mosaico comum do milho (Sugarcane Mosaic Virus - SCMV)

Importância e distribuição: O mosaico comum do milho ocorre,


praticamente, em toda região onde se cultiva o milho. Calcula-se que essa doença pode
causar uma redução na produção de 50%.
Sintomas: Os sintomas caracterizam-se pela formação nas folhas de manchas
verde claras com áreas verde normal, dando um aspecto de mosaico (Figura 121). As
plantas doentes são, normalmente, menores em altura e em tamanho de espigas e de
grãos.
Epidemiologia: A transmissão do mosaico comum do milho é feita por várias
espécies de pulgões, sendo a mais eficiente a espécie Rhopalosiphum maidis. Os insetos
vetores adquirem os vírus em poucos segundos ou minutos e os transmitem, também,
em poucos segundos ou minutos. A transmissão desses vírus pode ser feita, também,
mecanicamente. Mais de 250 espécies de gramíneas são hospedeiras dos vírus do
mosaico comum do milho.
Controle: A utilização de cultivares resistentes é o método mais eficiente para
o manejo dessa virose. A eliminação de plantas hospedeiras e a realização do plantio
134

mais cedo podem contribuir para a redução da incidência dessa doença. A aplicação de
inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no
controle do mosaico comum do milho.

Figura 121. Sintomas do mosaico comum do milho.


Foto: Carlos Roberto Casela (EMBRAPA, 2010a)

2.7 Doenças causadas por nematóides

Mais de 40 espécies de 12 gêneros de nematóides têm sido citadas como


parasitas de raízes de milho em todas as áreas do mundo onde este cereal é
cultivado. No Brasil, as espécies mais importantes, devido à patogenicidade, à
distribuição e à alta densidade populacional, são Pratylenchus brachyurus,
Pratylenchus zeae, Helicotylenchus dihystera, Criconemella spp.,
Meloidogyne spp. e Xiphinema spp. Resultados de pesquisa demonstram que o
controle químico de nematóides na cultura do milho permitiu o aumento da
produção de grãos em 39% em área naturalmente infestada por Pratylenchus
zeae e Helicotylenchus dihystera.
A ocorrência de nematóides do gênero Meloidogyne parasitando o milho e
causando prejuízos significativos em condições naturais foi relatada no Brasil
em 1986, sendo identificada a espécie Meloidogyne incognita raça 3 em raízes
de plantas de milho que não se desenvolveram. Contudo, o milho está entre
as culturas mais recomendadas para a rotação em áreas infestadas por
Meloidogyne spp. Atualmente, devido à necessidade de se controlar o
nematóide do cisto (Heterodera glycines) na cultura da soja, o milho tem sido
uma alternativa para a rotação de cultura, pois não é parasitado por este
135

nematóide. Por outro lado, estas duas culturas podem ser parasitadas por
nematóides do gênero Meloidogyne, notadamente por M. incognita e M.
javanica.
Sintomas: As injúrias por nematóides variam com o gênero e a população do
nematóide envolvido, as condições do solo e a idade da planta de milho. Os sistemas
radiculares parasitados por nematóides são menos eficientes na absorção de
água e nutrientes da solução do solo. Conseqüentemente, uma planta
parasitada tem seu crescimento reduzido, apresenta sintomas de deficiências
minerais e a produção é reduzida. Plantas atacadas por nematóides
apresentam, em sua parte aérea, os seguintes sintomas: enfezamento e
cloroses; sintomas de murcha durante as horas mais quentes do dia, com
recuperação à noite; espigas pequenas e mal granadas. Esses sintomas dão à
cultura do milho uma aparência de irregularidade, podendo aparecer em
reboleiras ou em grandes extensões. Quando esses sintomas, observados na
parte aérea, são causados por nematóides, as raízes apresentam os seguintes sintomas:
 Encurtamento e engrossamento das raízes: Trichodorus spp., Longidorus spp. e
Belonolaimus spp..
 Sistema radicular praticamente destituído de radicelas: Xiphinema spp.,
Tylenchorhynchus spp., Helicotylenchus spp., Belonolaimus spp. e
Macroposthonia spp..

 Sistema radicular praticamente destituído de radicelas e com lesões radiculares e


raízes apodrecidas: Pratylenchus spp., Xiphinema spp., Hoplolaimus spp. e
Helicotylenchus spp..

 Sistema radicular com pequenas galhas: Meloidogyne spp..

Controle: A utilização de cultivares resistentes é a medida mais eficiente e


econômica para o controle dos nematóides que parasitam a cultura do milho. A rotação
de culturas com espécie botânica não hospedeira dos nematóides presentes na
área de cultivo também é recomendada. A utilização de plantas armadilha
como Crotalaria spectabilis, as quais atraem e aprisionam larvas de
nematóides, é especificamente recomendada para o controle de Meloidogyne
spp. A espécie Crotalaria juncea possui alto potencial de multiplicação dos
nematóides Pratylenchus spp. e Helicotylenchus spp., enquanto a rotação
136

com mucuna preta (Mucuna aterrima) diminui as populações iniciais de


Pratylenchus spp.. O controle químico dos nematóides parasitas do milho
depende da disponibilidade de produtos registrados no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como da análise econômica da
utilização desta tecnologia.

Recomendações para o controle químico de doenças na cultura do milho


Os resultados de pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo e em outras
instituições de pesquisa demonstram que o uso de fungicidas tem se mostrado
uma estratégia viável e eficiente de manejo de doenças na cultura do milho.
Entretanto, alguns fatores devem ser observados para que a relação
custo/benefício seja positiva, ou seja, que o benefício do controle das
doenças com o uso de fungicidas seja superior ao custo da sua utilização.
Dentre esses fatores, o conhecimento das principais doenças que ocorrem
tanto ao nível de região quanto de propriedade, o nível de resistência das
cultivares às principais doenças, as condições de clima durante o período do
ciclo da cultura, o sistema de produção (plantio direto, rotação de culturas
etc.) e a disponibilidade de equipamentos para pulverização estão entre os
mais importantes. O uso de fungicidas na cultura do milho é recomendado nas
situações de elevada severidade de doenças, que são resultantes da
combinação de todos, ou alguns, dos seguintes fatores: uso de genótipos
suscetíveis condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento
das doenças; plantio direto sem rotação de culturas; e plantio continuado de
milho na área (EMBRAPA, 2010 a).
Para o melhor entendimento do modo como os fungicidas atuam na
produtividade da cultura do milho, é necessário considerarmos os
componentes de produtividade da cultura, que são cinco: 1) número de
plantas por hectare; 2) número de espigas por planta; 3) número de fileiras
por espiga; 4) número de grãos por fileira; e 5) peso de grãos. O primeiro
componente, número de plantas por hectare, talvez o mais importante deles,
é definido na fase de germinação e emergência das plântulas, no início do
ciclo da cultura. Os componentes 2 e 3 (número de espigas por planta e
número de fileiras por espiga) são definidos entre as fases V5 e V8 (cinco a
oito folhas) e o quarto componente (número de grãos por fileira) é definido
137

entre as fases V12 e VT (12 folhas até o pendoamento). Finalmente, o último


componente de produtividade do milho, peso de grãos, é definido de R1 a R6
(florescimento à maturidade fisiológica).
Portanto, fica evidente que, quando a cultura atinge a fase do pendoamento,
seu potencial produtivo já está definido, pois os quatro componentes de
produtividade que poderiam resultar em aumento do número de grãos já
ocorreram. A partir desse momento, ocorre apenas a realização do potencial
produtivo através do enchimento dos grãos. As aplicações de fungicidas na
fase do pendoamento apenas interferem no último componente de
produtividade e atuam preservando o potencial produtivo da cultura através
da proteção contra as perdas causadas pelas doenças. É correto afirmar,
então, que a aplicação de fungicidas não aumenta o potencial produtivo da
cultura, mas evita perdas na produtividade em função da proteção conferida
durante o período de enchimento dos grãos.
Tem sido demonstrado que alguns fungicidas, notadamente aqueles
pertencentes ao grupo das estrobilurinas, apresentam efeitos que vão além do
controle de doenças, denominados efeitos fisiológicos. Dentre esses efeitos,
estão maior resistência a vários tipos de estresses como seca e nutricional,
aumento da capacidade fotossintética, redução da respiração foliar e maior
eficiência do uso de água. Os estudos sobre os efeitos fisiológicos de
fungicidas foram bem desenvolvidos na cultura da soja. Na cultura do milho,
entretanto, esses efeitos não têm sido tão evidentes, sendo detectada, em
algumas situações, menor produtividade em áreas pulverizadas com fungicidas
quando comparadas a áreas não pulverizadas.
Desse modo, mais estudos são necessários para definir a existência e a
magnitude dos efeitos fisiológicos de fungicidas em plantas de milho. Por
outro lado, considerando também a possibilidade de surgimento de
populações de patógenos resistentes às moléculas fungicidas, em função do
seu uso intensivo, e os efeitos negativos desses produtos no meio ambiente, é
coerente enxergarmos os fungicidas como ferramenta importante,
especificamente para o manejo de doenças, e buscarmos elevar os níveis de
produtividade da cultura através de melhorias e adequações em seu sistema
de produção.
138

No processo de tomada de decisão sobre a necessidade de aplicação de


fungicidas na cultura do milho, o primeiro fator a ser observado é o nível de
resistência da cultivar em relação às principais doenças presentes na região e
na propriedade. De modo geral, não se recomenda a aplicação de fungicidas
para cultivares resistentes (EMBRAPA, 2010 a). Os maiores retornos econômico
resultantes do uso de fungicidas na cultura do milho ocorrem em situações de
alto risco de ocorrência de doenças em elevada severidade, situação
caracterizada, principalmente, pelos seguintes componentes: uso de
genótipos suscetíveis; plantio contínuo de milho na área; e uso do sistema de
plantio direto sem rotação de culturas (Figura 122).

Figura 122. Caracterização de ambientes de maior e menor risco de ocorrência de


doenças em elevada severidade e probabilidade de retorno econômico da aplicação de
fungicidas na cultura do milho. Fonte: (EMBRAPA, 2010 a)

Outro fator importante a ser considerado, segundo a Embrapa (2010 a) para a


tomada de decisão, tanto sobre a necessidade de aplicação quanto da escolha do produto
a ser utilizado, é que as doenças normalmente ocorrem de modo simultâneo no
campo, o que pode influenciar a eficiência da aplicação. Por exemplo, os
fungicidas do grupo químico dos triazóis apresentam uma baixa eficiência no
139

controle da mancha branca, uma doença de ampla ocorrência nas principais


regiões produtoras do país. Desse modo, para garantir uma maior eficiência
das aplicações, é fundamental a realização do monitoramento da lavoura na
fase de pré-pendoamento, antes da aplicação do fungicida.
Considerando que as folhas acima da espiga contribuem, em média, com mais
de 90% da produção das plantas de milho e que as doenças foliares, na sua
maioria, aparecem inicialmente nas folhas baixeiras e progridem em direção
às folhas superiores, a folha abaixo da folha da espiga representa uma boa
referência para a realização de inspeções de campo. A presença de sintomas
de doenças nessa folha, em cultivares suscetíveis, associados a condições
climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças, representam um
indicação da necessidade de se intervir com a aplicação de fungicidas (Figura
123). Condições de ambiente caracterizadas por temperaturas elevadas e baixa
umidade relativa do ar desfavorecem a maioria das doenças fungicidas que
atacam a cultura do milho. No entanto, temperaturas moderadas e ambientes
úmidos (elevada umidade relativa do ar, chuvas freqüentes, irrigação e
orvalho) favorecem essas enfermidades.

Figura 123. Presença de doença na folha abaixo da folha da espiga como critério para auxiliar no processo
de tomada de decisão sobre a aplicação de fungicidas na cultura do milho. Outros critérios como
condições climáticas e suscetibilidade da cultivar, devem ser considerados de modo conjunto.
Fonte: Embrapa (2010 a)

Atualmente, todos os produtos comerciais registrados no Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o manejo de doenças do milho
140

pertencem aos grupos químicos dos triazóis e das estrobilurinas, formulados


puros ou em misturas (Tabela 17). As características desses produtos também
devem ser consideradas, quando da sua utilização, visando a uma maior
eficiência no controle das doenças. As estrobilurinas atuam em nível de
respiração mitocondrial, sendo mais efetivas nas fases iniciais do ciclo de vida
dos fungos, ou seja, na germinação dos esporos e nos processos inicias de
infecção. Os fungicidas triazóis, que atuam em nível da biossíntese de
ergosterol, um componente da membrana celular dos fungos, podem
promover o controle de patógenos fúngicos em fases mais avançadas do seu
ciclo, como a colonização (crescimento micelial) e a pré-esporulação.
Portanto, as aplicações de produtos pertencentes a esses grupos químicos
apresentam maior eficiência quando são realizadas nos sintomas iniciais das
doenças no campo. Normalmente, as aplicações realizadas em situações de
elevada intensidade de doenças são menos efetivas (EMBRAPA, 2010 a)
Quanto à decisão sobre a melhor época de aplicação de fungicidas para o
controle de doenças na cultura do milho, dois pontos devem ser considerados:
1) a fase do ciclo da cultura na qual as plantas são mais sensível ao ataque de
patógenos; e 2) o período de ocorrência das principais doenças. Conforme já
mencionado anteriormente, na fase compreendida entre o pendoamento (VT)
e grãos leitosos (R3), as plantas de milho necessitam do máximo de sua
capacidade fotossintética, pois começa um intenso período de translocação de
fotoassimilados para as espigas. Nessa fase, qualquer fator que interfira
negativamente reduzindo a área foliar e, conseqüentemente, a sua
capacidade fotossintética, resulta em reduções significativas na produtividade
de grãos. Essa é a fase considerada crítica para a cultura do milho e que deve
ser considerada quando se pretende proteger as plantas via aplicação de
fungicidas. Se considerarmos que o período residual máximo dos fungicidas
dos grupos das estrobilurinas e triazóis está em torno de 15 a 20 dias e que a
fase de enchimento de grãos no milho dura, em média, 60 dias, deve-se ter
cuidado com as aplicações realizadas muito cedo, ainda na fase vegetativa da
cultura (como exemplo, no estágio de oito folhas, como é feito nas aplicações
com pulverizadores de arrasto), pois quando as plantas realmente
necessitarem da proteção química os produtos não estarão mais efetivos. (Figura 124)
141

Tabela 17. Fungicidas com registros no MAPA para o controle de doenças da parte aérea
do milho
Nome comum Produtos Grupo Dose – PC Fungos controlados
Comerciais (PC) Químico (L ha-1)
Azoxistrobina + Priori Xtra Estrobilurina 0,3 Phaeosphaeria maydis
Ciproconazol + Triazol Cercospora zeae-
maydis
Piraclostrobina Comet Estrobirulina 0,6 Puccinia polysora
Phaeosphaeria maydis

Estrobirulina Puccinia polysora


Piraclostrobina + Opera + 0,75 Phaeosphaeria maydis
Epoxiconazol Triazol Cercospora zeae-
maydis
Propiconazol Tilt Triazol 0,4 Exserohilum turcicum
Physopelia zeae
Exserohilum turcicum
Puccinia polysora
Tebuconazol Constant Triazol 1 Puccinia sorghi
Cercospora zeae-
maydis
Exserohilum turcicum
Tebuconazol Elite Triazol 1 Puccinia polysora
Puccinia sorghi

Puccnia polysora
Tebuconazol Folicur 200 EC Triazol 1 Puccnia sorghi
Exserohilum turcicum

Puccinia sorghi
Trifloxistrobina Estrobirulina Pucnia maydis
+ Stratego 250 EC + 0,6 – 0,8 Phaeosphaeria maydis
Propiconazol Triazol Cercospora zeae-
maydis
Eminent 125 EW Triazol 0,6 – 0,8 Puccinia polysora
Tetraconazol Phaeosphaeria maydis
Cercospora zeae-
maydis
Tebuconazole + Nativo Triazo 0,6 – 0,75 Phaeosphaeria maydis
Trifloxistrobina l+ Cercospora zeae-
Estrobirulina maydis
142

Azoxistrobina Estrobirulina Cercospora zeae-


+ Azimut + 0,5 maydis;
Tebuconazol Triazol Phaeosphaeria maydis
Puccinia polysora
Propiconazol Propiconazole Triazol 1,0 Puccinia polysora;
Nortox Puccinia sorghi
Exserohilum turcicum
Fonte: Embrapa (2013 i)

Por outro lado, é necessário considerar, também, o momento do


aparecimento das doenças na lavoura. Algumas doenças, como as ferrugens e,
em algumas situações, a mancha branca, podem incidir ainda na fase
vegetativa da cultura e, numa situação de uso de cultivares suscetíveis e de
predominância de condições ambientais favoráveis, o controle químico deve
ser considerado de modo a evitar que elevados níveis de doenças alcancem as
folhas acima da espiga na fase de florescimento da cultura. Fica, portanto,
evidente que a época ideal para a realização das aplicações de fungicidas na
cultura do milho depende de um monitoramento da lavoura, que deve ser
iniciado ainda na fase vegetativa da cultura. Todos os aspectos acima
mencionados devem ser considerados para a tomada de decisão.
A disponibilidade de equipamentos para pulverização é outro fator que
influencia a eficiência do manejo de doenças na cultura do milho através de
fungicidas. De modo geral, os equipamentos utilizados são os pulverizadores
de arrasto, principalmente em pequenas propriedades, e autopropelidos e
aeronaves, em grandes propriedades. No caso dos pulverizadores de arrasto,
as pulverizações podem ser realizadas em plantas com até 100cm de altura,
aproximadamente, ou seja, por volta do estágio de 8 a 9 folhas definitivas (V8
a V9). Nesse caso, deve-se dar preferência para o plantio de cultivares que
apresentem bom nível de resistência às principais doenças, pois, em situações
de condições favoráveis ao desenvolvimento das doenças e uso de cultivares
suscetíveis, a aplicação de fungicidas muito cedo (V8 a V9) provavelmente
será insuficiente para o controle adequado das doenças, com conseqüentes
perdas na produtividade. Os equipamentos autopropelidos, cuja altura de eixo
é de aproximadamente 120 cm, permitem a realização de aplicações em fases
mais avançadas do ciclo (V10 a VT), quando comparados aos pulverizadores de
arrasto. As pulverizações realizadas com aviões, embora apresentem um custo
143

mais elevado, não apresentam as limitações mencionadas anteriormente. Os


resultados de trabalhos de pesquisa têm mostrado que a eficiência dessa
modalidade de aplicação é equivalente àquela observada nos pulverizadores
terrestres.

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PARTE V

COLHEITA, SECAGEM E ARMAZENAMENTO


146

1.0 COLHEITA

A fase chamada pré-colheita compreende o período que vai da maturação


fisiológica, caracterizada pelo surgimento da "camada preta" (grão com cerca de 32% de
umidade) até a realização da colheita.
Quando a colheita é realizada logo após a fase da maturação fisiológica,
propicia o mais alto rendimento de grãos; entretanto, não é recomendável colher nessa
fase, pois os grãos ainda estão com alto teor de umidade (32%), requerendo a secagem
complementar por métodos artificiais, com excessivo consumo de energia e a com
possibilidade de comprometer a qualidade dos grãos, provocando-lhes quebras e trincas,
tornando-os mais vulneráveis a serem atacados por insetos, posteriormente. A
temperatura do ar de secagem não pode exceder a 44 ºC no caso de sementes, 55 ºC
para grãos que se destinam à indústria de moagem e 82 ºC para os destinados à
fabricação de ração, sob pena de comprometer a qualidade.
Quando o produtor não dispõe de infra-estrutura de secagem artificial,
normalmente tem que esperar o milho secar naturalmente no campo. O tempo de
permanência do milho no campo por período prolongado, ou seja, o atraso na colheita,
varia de região para região, dependendo das condições climáticas, como umidade do ar,
temperatura e insolação. Fatores como insetos (gorgulhos e traças), pássaros, chuva e
ventos contribuem para aumentar as perdas pelo atraso na colheita. A ocorrência de
chuva na pré-colheita, com a conseqüente penetração de água na espiga, é a principal
causa de perdas. Entretanto, nas cultivares em que predominam espigas decumbentes
(espigas que viram a ponta para baixo, logo após a maturação fisiológica), as perdas por
penetração de água de chuva são minimizadas (EMBRAPA, 2009 )
A época da colheita é reconhecida na prática pelas seguintes características da
planta:
a) – colmo e folhas praticamente secos;
147

b) – espigas dobradas (pontas voltadas para baixo) nas cultivares


decumbentes;
c) – palhas secas e espiga facilmente destacável do colmo;
d) – grãos secos e firmes suportando perfeitamente as pressões do
debulhamento.
Os métodos mais utilizados para a colheita do milho são:
1.1 Colheita manual
No Brasil, a colheita do milho é, ainda, em grande parte (cerca de 40%),
realizada manualmente, ou seja, o trabalhador recolhe espiga por espiga, tanto aquelas
presas nas plantas quanto aquelas caídas pelo chão. O trabalho manual de coleta das
espigas contribui para reduzir as perdas nessa fase, que ocorrem na magnitude de 0,5 a
1%. O grande inconveniente da colheita manual é que ela é realizada, de modo geral,
tardiamente, pois, na falta de estrutura de secagem o produtor espera pelo milho secar
naturalmente no campo, até atingir 13,5 a 14% de umidade. Este atraso na colheita
predispõe os grãos a serem infestados por pragas de grãos armazenados, criando a
necessidade de se adotar um controle preventivo de pragas, antes de armazenar os grãos.
Na colheita manual à medida que as espigas vão sendo colhidas as mesmas vão
sendo amontoadas em pontos dispersos na área (bandeiras) para serem posteriormente
recolhidas por uma carreta ou outro veículo e transportadas em espigas para o
armazenamento, ou lançadas diretamente na carroceria de uma carreta que vai
acompanhando os colhedores na área (Figura 125). Na colheita manual o milho é
colhido geralmente com 16% de umidade.

Figura 125. Aspectos da colheita manual do milho

1.2 Colheita semi mecanizada


148

Neste caso a colheita é feita manualmente, todavia, a debulha (trilha) é feita


mecanicamente por meio de uma debulhadeira (batedeira) acoplada à tomada de força
do trator (Foto 127)
1.3 Colheita mecânica

A colheita mecânica do milho, no Brasil, atinge cerca de 60 % da produção e,


em geral, observam-se perdas totais de grãos caídos pelo chão que atingem a ordem de 8
a 10%. Essas perdas podem ser reduzidas a um patamar aceitável de 3 a 4%, através do
treinamento dos operadores, para a adequada manutenção, regulagem das máquinas,
bem como escolher a melhor velocidade de trabalho. O dano mecânico provocado nos
grãos durante a operação de colheita, causando-lhe quebras e trincas contribuirá para
maior ocorrência de insetos durante o armazenamento, criando a necessidade de para se
tomar medidas preventivas de controle de pragas.

Foto 127. Debulhadeira de milho acoplada ao trator

A colheita mecânica do milho exige um planejamento criterioso de todas as


fases da cultura, Para melhorar o rendimento, as áreas devem ser divididas com
carreadores, de forma a facilitar a movimentação da colhedora e o escoamento da
colheita pelas carretas ou caminhões.
Diferença de produtividade das glebas, assim como desuniformidade nas
condições da cultura no campo, também podem alterar a capacidade efetiva de
utilização da colhedora, isto é, a quantidade de milho colhida em determinada área, por
unidade de tempo (EMBRAPA, 2011).
A semeadura deve ser efetuada com semeadora cujo número de linha seja o
mesmo ou múltiplo do número de linha da colhedora o que facilita o manejo da
máquina na época da colheita, reduzindo, conseqüentemente, significativamente as
perdas.
149

Atualmente existem no mercado nacional dois tipos de colhedoras de milho: a)


– acoplada ao trator e b) – automotriz.
A colhedora nacional acoplada ao trator existente apresenta as seguintes
características:
a) – várias posições de montagem para a altura de corte de (30 a 60 cm);
b) – debulha centrífuga;
c) – exigem 800 a 1000 rpm no eixo superior e
d) – oferece modelos alternativos de manipulação a granel ou em lotes (sacos).
As colhedoras automotrizes (Figura 129) caracterizam-se:
a) – altura de corte (plataforma) regulável desde 5 cm ao nível do solo até
uma altura máxima que varia de acordo com o fabricante, em geral, através
do sistema hidráulico;
b) – permitem regulagem de rotação do cilindro debulhador;
c) – permitem regulagem da distância entre o cilindro e o côncavo;
d) – regulagem da abertura despigadora.

Figura 129. Colheita mecânica do milho (automotriz)

A fim de obter uma boa colheita mecânica, devem ser considerados também os
seguintes itens (EMBRAPA, 2011):
a) - a regulagem do espaçamento entre cilindro e côncavo; a velocidade de rotação
do cilindro;o teor de umidade do grão;
b) - a qualidade do grão e as perdas.
O conjunto formado pelo cilindro e o côncavo constitui-se no que pode ser
chamado de "coração" do sistema de colheita, e exige muita atenção na hora da
regulagem. O cilindro adequado para a debulha do milho é o de barras, e a distância
entre este e o côncavo é regulada de acordo com o diâmetro médio das espigas. A
distância deve ser tal que a espiga seja debulhada sem ser quebrada e o sabugo saia
inteiro ou, no máximo, quebrado em grandes pedaços.
150

Outro ponto fundamental diz respeito à relação entre a rotação do cilindro e o


teor de umidade. A rotação do cilindro debulhador é regulada conforme o teor de
umidade dos grãos, ou seja, quanto mais úmidos, maior será a dificuldade de debulhá-
los, exigindo maior rotação do cilindro batedor. À medida que os grãos vão perdendo
umidade, eles se tornam mais quebradiços e mais fáceis de serem destacados, sendo
necessário reduzir a rotação do debulhador.
A regulagem de rotação do cilindro e a abertura entre o cilindro e o côncavo é
uma decisão entre a opção de perda e grãos quebrados, sem nunca ter os dois fatores
100% satisfatórios. Por exemplo, em caso de sementes, pode-se optar por uma perda
maior, com menos grãos quebrados.
Pesquisas realizadas na Embrapa Milho e Sorgo (EMBRAPA, 2011), com uma
colhedora automotriz, confirmam que, em teores de umidade mais altos (22-24%), há
uma maior dificuldade para se destacar a semente do sabugo, sendo recomendado colher
com rotações na faixa entre 600 e 700 rpm. À medida que os grãos vão secando no
campo, as rotações mais baixas são recomendadas, pela facilidade de debulhar, além de
reduzir risco de danificação mecânica na semente.
No caso da colhedora de cilindro helicoidal, acoplada ao trator, verificou-se
que a debulha foi mais eficiente, tendo-se conseguido retirar praticamente todos os
grãos dos sabugos, apesar de o mecanismo debulhador não ter regulagem para variação
de rotação.
Durante a regulagem do sistema de debulha, devem ser verificadas algumas
partes da colhedora como: tanque graneleiro, para ver se há grãos quebrados; elevador
da retrilha, para saber se há muito material voltando para o sistema de debulha; e saída
da máquina, a fim de verificar se está saindo grão preso ao sabugo e se o sabugo está
sendo muito quebrado.
Com relação aos danos nos grãos os resultados de avaliações desenvolvidas
pela Embrapa, CNPMS (EMBRAPA, 2011) mostraram que, em todas as situações, o
índice de danos é menor quando os grãos foram colhidos em rotações mais baixas e
teores de umidade inferiores a 16%.
Verificou-se, também, que a quantidade de grãos com danificação muito severa
(grãos quebrados com mais da metade faltando) não foi afetada pela rotação do cilindro
na faixa de 400 a 700 rpm, para a automotriz, e na faixa de 850 a 980 rpm, para a
colhedora acoplada ao trator. Entretanto, a danificação dessa categoria aumentou à
151

medida que o teor de umidade aumentava de 12 a 14%, (dano de 2 a 3%) para 20 a 24%
(dano de 6 a 8%), tendo sido maior também na colheita pela máquina acoplada ao trator.
A quantidade de grãos com danos considerados grandes (trincas no embrião, menos da
metade do grão faltando) não foi afetada pela rotação do cilindro (550 a 700 rpm)
quando o teor de umidade estava alto, começando a ser afetada pela rotação (400 a 550
rpm) nas faixas mais baixas de umidade.
Grãos com danos aparentemente menos severos apareceram em maior quantidade em
todos os casos, em teores de umidade mais baixos, mesmo tendo-se usado rotações de
cilindro mais baixas. Os resultados mostram que, para rotações do cilindro debulhador
entre 400 e 550 rpm e grãos com umidade entre 14 e 20%, o percentual de danos foi em
torno de 25%, considerando a colhedora automotriz. Já no caso da colhedora acoplada
ao trator, mais de 50% dos grãos apresentaram esse tipo de dano em todas as situações.
A velocidade de trabalho recomendada para uma colhedora é determinada em
função da produtividade da cultura do milho, por causa da capacidade admissível de
manusear toda a massa que é colhida junto com o grão. A faixa de velocidade de
trabalho varia de 4 a 6 km/h, mas em colheita, o trabalho é medido em toneladas/hora.
Portanto, ao tomar a decisão de aumentar ou diminuir a velocidade, não se deve
preocupar com a capacidade de trabalho da colhedora em hectares/hora, mas verificar se
os níveis toleráveis de perdas de 1,5 sacos/ha para o milho estão sendo obtidos.
Uma estimativa do rendimento de uma colhetadora deslocando-se a uma
velocidade de 4 km/hora, para diferentes espaçamentos e número de fileiras, é
apresentada na Tabela 18.
Tabela 18. Estimativa de rendimento de uma colhetadora

Número de fileiras
Espaçamento entre fileiras 1 2 3 4 5 6
(cm) Rendimento operacional em ha hora -1

100 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4


75 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8
Fonte: Finch et.al. (s/d)
Operação colheita
A operação da colhetadora no campo deve seguir as seguintes normas (Finch et
al., s/d):

1) – em milho tombado ou milho de porte baixo a altura da plataforma deve


ser controlada de maneira que seus bicos toquem levemente ao solo;
2) - em milho de porte alto (não tombado) deve-se operar com a plataforma a
uma altura maior, mas que permita o apanhamento das espigas mais baixas;
152

3) – o alinhamento da plataforma de colheita com as fileiras da cultura deverá


ser o mais preciso possível e;
4) – a velocidade de deslocamento da colhedora deve ser controlada na faixa
de 3,5 a 6 km hora, mostrando um fluxo constante para não sobrecarregar a
espigadeira, cilindro ou unidade de limpeza.
A colheita de grãos com alta umidade exige que o agricultor tenha condições
de secagem artificial do produto na própria fazenda ou que ele tenha facilidade de
transportar rapidamente a produção de grãos para uma cooperativa, a fim de não
permitir a deterioração dos grãos.
O ideal é colher o milho com umidade em torno de 18% (tolera-se de 18-22%)
Dependendo da região e da umidade do ar isto ocorre de 15 a 30 dias após o milho
atingir a maturidade fisiológica. Se não há disponibilidade de um medidor de umidade
dos grãos, estimativas grosseiras são feitas experimentando grãos de milho entre dentes
para quebrá-los. O grão deve apresentar com aspecto de “farinha seca”, não úmido e,
definitivamente, não leitoso.
Na colheita para sementes resultados de pesquisa indicam que a melhor
maneira para colher o milho é: a) – colher com umidade entre 20 – 25%; b) – secagem
da espiga até 15 – 18% para fazer a debulha; c) – colher as espigas à mão ou com
máquina espigadeira; d) – debulhar a mão ou com debulhadeira própria para sementes.
Não é recomendável o uso de colhedora automotriz para a colheita do milho
destinado a sementes, todavia, quando ela for utilizada para esta finalidade, a abertura
do cilindro, côncavo de vê ser maior e a rotação do cilindro bem reduzida. Nestas
condições, há necessidade de se evitar danos no embrião, e, conseqüentemente, reduzir
as perdas.
A secagem natural do milho no campo traz benefícios no sentido de economizar
energia na secagem artificial, mas, à medida que o milho seca, aumenta a concorrência
com as plantas daninhas, aumentando a incidências destas. Este fato traz inúmeros
problemas para a operação de colheita mecânica, como, por exemplo, o embuchamento
das colhedoras com plantas daninhas, impedindo que as máquinas tenham bom
desempenho.

Existem quatro tipos de perdas (Embrapa, 2011):

Pré-colheita - O primeiro tipo de perda ocorre no campo sem nenhuma


intervenção da máquina de colheita e deve ser avaliada antes de iniciar a colheita
mecânica. Essa avaliação tem, também, o objetivo de saber se uma cultivar apresenta ou
153

não problemas de quebramento excessivo de colmo, se é adaptada ou não para colheita


mecânica.

Plataforma - As perdas de espigas na plataforma são as que causam maior


preocupação, uma vez que apresentam efeito significativo sobre a perda total. Podem ter
sua origem na regulagem da máquina de colheita, mas, de maneira geral, estão
relacionadas com: a adaptabilidade da cultivar à colhedora (uniformidade da altura da
inserção de espiga, altura de inserção de espiga, porcentagem de acamamento de
plantas, porcentagem de quebramento de plantas); o número de linhas das semeadoras,
que deverá ser igual ou múltiplo do número de bocas da plataforma de colheita, e
parâmetros inerentes à máquina de colheita (velocidade de deslocamento, altura da
plataforma, regulagem das chapas de bloqueio da espiga e regulagem do espaçamento
entre bocas).
Grão soltos - As perdas de grãos soltos (rolo espigador e de separação) e de
grãos no sabugo estão relacionadas com a regulagem da máquina. O rolo espigador,
geralmente no final da linha, recebe um fluxo menor de plantas e, com isso, debulha um
pouco a espiga, ou então a chapa de bloqueio está um pouco aberta e/ou com espigas
menores que o padrão, entrando em contato com o rolo espigador. As perdas por
separação são ocasionadas quando ocorre sobrecarga no saca-palha, peneiras superior
ou inferior um pouco fechadas, ventilador com rotação excessiva, sujeira nas peneiras.
Grãos nos sabugos - Esse tipo de perda ocorre em função da regulagem do
cilindro e côncavo e apresenta, como possíveis causas, a quebra do sabugo antes da
debulha, grande folga entre cilindro e côncavo, velocidade elevada de avanço, baixa
velocidade do cilindro debulhador, barras do cilindro tortas ou avariadas, côncavo torto
e existência de muito espaço entre as barras do côncavo.
Nos teores de umidade mais altos, testes indicaram que a perda de grãos no
sabugo foi o que mais contribuiu para o aumento da perda total. Por isso, rotações mais
altas (600 a 800 rpm) são mais indicadas.
Nos teores de umidade mais baixos, a perda de espigas, após a colheita, foi a
maior responsável pelas perdas totais, e a rotação mais indicada está na faixa de 400 a
600 rpm.

Exemplo de cálculo para uso da colhedora


154

Considerando-se uma colhedora trabalhando a uma velocidade de 5 km/h e


com plataforma de quatro bocas, espaçadas 90 cm entre si, em um campo cuja
produtividade é de 6.000 kg/ha, a capacidade teórica de colheita é:

Capacidade teórica = (5.000 m/h x 3,6 m) = 1,8 ha/hora


10.000m2/ha

Se no período de uma hora foram colhidos 1,42 ha de milho, a eficiência de


campo é igual a:

Eficiência de campo = (1,42 x 100) = 80%


1,8
No caso de colheita mecânica, são aceitáveis valores médios de eficiência de
campo entre 70% e 80% ou, em outras palavras, 20% a 30% do tempo perdido em
manobras, desembuchamento, consertos, entre outros.
Considerando que as áreas a serem colhidas, de modo geral, apresentam
produtividades (t/ha) desuniformes, é importante relacionar a capacidade efetiva de
trabalho em colheita em t/h.

Cálculo de Capacidade Efetiva de Trabalho (CET):

Se, por exemplo, uma determinada colhedora automotriz estiver trabalhando


em dois locais diferentes, campos A e B, com produtividades de 7 t/ha e 3 t/ha,
respectivamente, e eficiência de campo de 80%, o tempo necessário para colher o
campo B poderá ser menor, mas a quantidade colhida, por tempo, é maior em A.
Justifica-se, assim, a redução da velocidade de colheita, para evitar embuchamento.
Pode-se, então, fazer o seguinte cálculo de Capacidade Efetiva de Trabalho (CET):

Campo A: velocidade 3 km/h

Campo B: Velocidade 5 km/h


155

Para estimar esta velocidade, com colhedoras que não possuem medidores de
velocidade (velocímetro), procede-se da seguinte maneira:
Conta-se o número de passos largos (cerca de 90 cm/passo) tomados em 20
segundos, caminhando na mesma velocidade e ao lado da colhedora;
Multiplica-se este número de passos por um fator 0,16 para obter a velocidade
em km/h.

2. Secagem e Armazenamento

Introdução

O tipo de armazenamento ideal é função da necessidade de armazenar grão ou


espiga de milho. Além disso, o nível tecnológico do armazenamento será estabelecido
de acordo com o volume a ser armazenado e a disponibilidade de recursos para a
construção e para os equipamentos que constituirão a unidade armazenadora. Caso se
queira armazenar em silos, a granel ou em sacarias, em armazéns. Caso se queira
armazenar espigas, estas podem ser armazenadas em paiol ou ensacadas em armazém.
Hoje em dia, em geral, o armazenamento é de grãos, porém, o milho produzido
em pequenas propriedades, com reduzidos níveis tecnológicos, ainda pode ser
armazenados em espigas. A qualidade do milho armazenado, bem como as perdas na
colheita e pós-colheita é dependente de vários fatores como: cultivar, época de
colheita, região de cultivo e da regulagem das máquinas colheitadeiras (EMBRAPA,
2011)
1. Fatores pré-colheita
1.1. Cultivar
1.2. Secagem natural no campo
1.3. Condições climáticas
1.4. Ponto de colheita
1.5. Tipo de colheita
2. Limpeza
3. Armazenamento a granel
3.1. Silo aéreo
156

3.2. Silo subterrâneo


3.3. Sistema hermético
4. Armazenamento em sacaria
5. Armazenamento de espigas
5.1. Paiol aberto
5.2. Paiol fechado
5.3. Armazém
6. Recomendações gerais
1. Fatores pré-colheita
São todos aqueles fatores que conferem características próprias ao milho e que
irão determinar as respostas do produto ao manejo pós-colheita e sua qualidade final.
Estima-se em 3%, o percentual de perdas que ocorrem no milho produzido no cerrado,
abaixo da média nacional (4%), devido às condições climáticas da região (EMBRAPA,
2011).
1.1. Cultivar: As cultivares disponíveis para os agricultores se destinam a
suprir alguma necessidade regional, como adaptabilidade a características de solo e
clima, ciclo, tipo e cor de grão, resistência a doenças, adequação a colheita mecanizada
ou composição nutricional, por exemplo. Desta forma, as diferenças entre as
características dos produtos colhidos, refletidos em sua composição química, na
resistência a danos mecânicos e ao ataque de pragas, influenciam a qualidade final do
milho armazenado. Cultivares decumbentes, ou seja, cujas espigas se curvam para
baixo quando ocorre a maturação fisiológica (32% de umidade) favorecem a qualidade
pós-colheita devido a dificuldade de penetração de água de chuva, dentro da espiga,
ainda no campo.
1.2. Secagem natural no campo: A secagem natural do grão de milho na
planta ainda é um método corriqueiro em muitas propriedades brasileiras. A
permanência do milho no campo traz o inconveniente de expô-lo a condições adversas
de clima, ao ataque de pragas e maior susceptibilidade de trincamento na trilhagem.
1.3. Condições climáticas: As condições climáticas na época de produção e da
colheita podem favorecer ou desfavorecer a qualidade final do milho. Caso as
condições climáticas não difiram muito daquelas para a qual a cultivar foi desenvolvida
a tendência é de que a qualidade física e sanitária do milho correspondam às
expectativas baseadas nos testes de produção que foi submetido. Caso a umidade seja
157

maior que a prevista, pode ocorrer maior incidência de doenças. Na região do cerrado,
em geral não chove na época da colheita, favorecendo a qualidade pós-colheita do
milho.
1.4. Ponto de colheita: O ponto de colheita se refere a características
relacionadas ao momento ótimo para se colher o milho, de acordo com o tipo de
armazenamento disponível ou finalidade a que se destina. O milho doce, por exemplo,
é colhido com 72 a 75% de umidade, de 20 a 28 dias após o florescimento. Já o milho
pipoca é colhido com 20% de umidade, quando se utiliza secagem artificial após a
colheita ou com 13 a 15%, quando se utiliza secagem natural. Outro caso, que será
discutido com mais detalhes, é o caso do grão de milho que será seco em silo cheio,
devendo ter no máximo 20% de umidade, pois o tempo de secagem é longo.
1.5. Tipo de colheita: A colheita manual promove menos danos à espiga assim
como a debulha manual. Estimam-se em 1,0 a 1,5% as perdas promovidas pela colheita
manual. Entretanto, o rendimento da colheita é muito baixo, requerendo muita mão de
obra e aumentando os custos. É mais apropriada para pequenas propriedades e terrenos
muito declivosos. Na colheita mecanizada, a regulagem adequada das máquinas é
importante para se reduzir as perdas quantitativas e qualitativas, ou seja, perda de grãos
ou de massa de grãos, propriamente dita, e redução da qualidade por trincamento e
quebra do grão, além da ocorrência de doenças. As perdas devido a colheita
mecanizada são da ordem de 8 a 10%.

2. Limpeza
É a remoção de impureza, de restos culturais e de grãos trincados, quebrados ou
ardidos do lote a ser armazenado. Deve se realizar previamente ao armazenamento,
com ou sem secagem, para que se garanta a qualidade dos grãos normais e sadios,
reduzindo umidade e minimizando contaminações, uniformizando a massa de grãos,
para os processos de aeração e/ou secagem (EMBRAPA, 2011).

3. Armazenamento a granel
Atualmente é a forma mais comum de se armazenar milho, devido aos avanços
tecnológicos disponíveis aos produtores, como colhedoras e estruturas de
armazenamento/secagem de grãos, apropriada para armazenamento de produções em
maior escala. A armazenagem pode ser feita em silos aéreo ou subterrâneo e em
158

armazéns em sistema hermético.

3.1. Silo: É o método mais seguro de armazenamento, permitindo maior


controle da qualidade, devido à facilidade de associação com sistemas de secagem com
ar forçado. Pode ser vertical ou horizontal, de acordo com a proporção altura: largura.
O silo vertical possui proporção de 2:1, podendo ser de chapa metálica ou de concreto
(Figura 130). O silo horizontal, ou graneleiro, possui altura baixa e base maior, não
sendo vedados, dificultando a fumigação.
No descarregamento dos grãos, o milho pode ser seco após o enchimento
completo do silo (em lotes), ou em camadas. Quando se adota a secagem em lotes (silo
cheio) a secagem é lenta e, portanto, a umidade do grão deve ser de, no máximo, 20%.
Isto reduzirá o desenvolvimento de patógenos em pós-colheita. A secagem também
pode se realizar em camadas, de forma a se realizar a secagem numa massa de grãos,
interrompendo o enchimento do silo, até que esta camada esteja seca. Em seguida, é
descarregada nova camada de grãos e realizada nova secagem. Isto se repetirá até que
se atinja o limite de armazenagem do silo. Na secagem em camadas é recomendável
adotar-se a aeração de manutenção nos grãos que aguardam a secagem.
A secagem de ambos os processos poderá ser com ar natural, ou melhor, em
temperatura ambiente, com o ventilador sendo ligado ao mesmo tempo em que se
realiza o enchimento do silo. Ao se associar um aquecedor ao ventilador, realiza-se
secagem com ar aquecido, acelerando esta etapa do processo, porém correndo-se o
risco de secar o milho além do recomendado. A temperatura de secagem para grãos
destinados a moagem não pode ultrapassar 55 ºC, e para os grãos destinados a
fabricação de ração não deve ultrapassar 82 ºC, de modo a não comprometer a
qualidade do produto a que se destina.
A secagem com ar aquecido deve ser seguida de seca-aeração para se reduzir a
temperatura da massa de grãos, ainda um pouco úmida, mais rapidamente. Durante o
armazenamento, a massa de grãos tende a ter sua temperatura elevada naturalmente
devido a liberação de calor proveniente do processo respiratório. Toda vez que exista
um gradiente de temperatura superior a 5ºC, entre a massa de grãos e a temperatura
externa deve-se proceder a aeração de resfriamento, no próprio silo de armazenagem,
ou transilagem,
159

3.2. Silo subterrâneo: O armazenamento em silo subterrâneo está em desuso.


Apesar de viável tecnicamente e economicamente, a descarga é difícil, sendo sugerido
que se construam vários pequenos silos para que sejam descarregados totalmente, à
medida que for necessário que consiste na transferência da massa de grãos para outro
silo.

Figura 130. Silo metálico vertical (aéreo)


O silo consiste de uma vala escavada, revestida de lona plástica, firmada com
barras de ferro na parte superior, para fixação. Por debaixo da lona plástica, no fundo
do silo é recomendável a colocação de uma camada de palha do próprio milho, ou
outra cultura. O milho, então, é descarregado, com umidade entre 12 e 13%, e coberto
com a lona. Acima da lona coloca-se uma camada de solo, outra de palha e outra de
solo, formando uma estrutura côncava para escorrimento de água de chuva e não
empoçamento. Não se deve esquecer de construir canaletas para escoar água de chuva
e evitar contato quando da abertura do silo ou penetração por alguma abertura
acidental.

3.3. Sistema hermético em armazém ou depósito: consiste em se


acondicionar grãos de milho, com 12% de umidade, em tambores metálicos (200L, por
exemplo), vedando-o com parafina de modo a eliminar trocas gasosas e a entrada de
umidade, ou em sacos plásticos, para 40 kg de grãos. Os sacos plásticos cheios devem
ser colocados dentro de outro saco que também deverá ser vedado (Figura 131). Assim,
realiza-se a modificação da atmosfera pelo consumo de oxigênio pela massa de grãos e
160

acúmulo de dióxido de carbono. Esta modificação torna o ambiente impróprio para o


desenvolvimento de fungos (fungistático) e de insetos (inseticida). Os tambores ou os
sacos devem ser previamente limpos e após seu enchimento devem ser colocados em
ambiente coberto, fresco, sem incidência de raios solares e protegidos do ataque de
ratos, pelas providências que se pode tomar em armazéns e que estão descritos no
armazenamento em sacaria.

Figura 131. Armazenamento hermético em Silos "BAG"


Fonte: Embrapa (2009)

Em armazéns, o armazenamento é feito em sacaria, devendo atentar para


algumas exigências da técnica para garantir a qualidade do milho. O milho deve estar
com umidade entre 12,5 e 14%, e a sacaria deve ser suspensa do piso, sobre estrados, e
mantida distante das paredes de forma que possa haver circulação de carrinhos
hidráulicos ou de pessoas, para movimentação da carga e facilitar inspeções. As
instalações devem possuir boa ventilação.
O piso deve ser concretado, impermeabilizado e estar 30 cm acima do nível do
solo (Figuras 132 e 133). Deve-se proceder ao controle de ratos, com telas em todos os
ralos, janelas e nos vãos entre a estrutura e os telhados. Além de consumir o milho em
sua alimentação, os roedores podem transmitir doenças através da urina e dos pêlos. Os
grãos contaminados são impróprios para o consumo humano e animal. O expurgo
periódico dos lotes deve ser realizado sempre que se identificar alta incidência de traça
e de caruncho.
Os cuidados básicos para este tipo de armazenamento são a garantia da
limpeza dos grãos antes de ensacá-los (remoção de restos culturais, insetos, grãos
quebrados ou ardidos), umidade adequada do grão, limpeza e desinfestação do
armazém, eliminação de focos de ratos e de insetos, uso de sacaria limpa e
161

empilhamento adequado, inspeções permanentes de modo a se efetuar eficaz controle


de ratos e de pragas. O armazenamento em sacaria requer maior mão de obra e requer
maiores espaços que os silos, além do custo da sacaria em si, como inconveniente.
Porém, a detecção de poucos sacos contaminados, impede a inviabilização de lotes
inteiros, pela facilidade de remoção e de inspeção.

Figura 132. Aspectos internos de armazém Figura 133. Arranjo das sacarias

5. Armazenamento de espigas
É um método mais empregado em pequenas propriedades, com baixo
investimento tecnológico, requerendo muita atenção durante o período de
armazenamento, devido às maiores perdas inerentes ao sistema. O bom empalhamento
das espigas favorece a boa conservação, desfavorecendo o ataque de pragas. As
características gerais para estruturas para o armazenamento de espigas são baixo custo
e durabilidade (aproveitando materiais da propriedade), possuir barreiras contra a
penetração de ratos, mas que permita bom arejamento, facilidade para o controle de
pragas e para o manejo da carga.
É apropriado para a alimentação de animais na propriedade (grãos para suínos
e aves, e sabugo e palha triturados para bovinos), ou mesmo, para estocagem seguida
de comercialização. Permite ao agricultor colher o milho com umidade elevada (18%),
ocorrendo continuação da secagem natural já no paiol. Em caso de colheita das espigas
com umidade inferior a 16%, são mínimos os problemas com fungos, desde que o paiol
possua boa ventilação. Pode ser feito em paióis abertos (espigas com palha), paióis
fechados (espigas sem palha) ou em armazéns (EMBRAPA, 2011).

5.1. Paiol aberto: é apropriado para armazenamento de espigas com palha,


162

colhidas com teor de umidade de 13-14%, uma vez que a palhada promove proteção
adicional aos grãos, possibilitando que o produtor possa esperar melhor época para
comercialização. Os materiais utilizados para construção deste tipo de estrutura são
madeira, bambu, alvenaria, etc, e depende da maior ou menor facilidade de obtenção
pelo armazenista. Com exceção dos paióis de alvenaria, os demais possuem frestas
para circulação de ar e são construídos sobre colunas de 0,8 a 1,0m de altura do nível
do solo. Independentemente do material utilizado para sua construção, tais colunas
devem ser fixadas em sapatas de concreto. É fundamental a colocação de "chapéu
chinês", nestas colunas para se evitar o acesso de ratos. As aberturas de acesso devem
ser feitas acima do dispositivo anti-ratos e as escadas de acesso somente devem
permanecer no local quando estiverem em uso (Figura 134).
Deve-se construir o paiol longe de árvores ou de construções que permitam o
acesso de roedores pelo seu telhado. Os paióis de alvenaria não necessitam de vão
entre seu piso e o solo, e o dispositivo anti-ratos consiste de um beiral de alvenaria ou
metálico, projetado 30 cm além das paredes. A construção de paiol de alvenaria deve
seguir algumas recomendações da construção de armazéns, com impermeabilização do
piso, que deve estar a 30-40 cm do nível do solo. Suas paredes podem ser de tijolos
furados ou de tijolos maciços afastados de 2,0 a 3,0cm. Nas duas opções, o início de
sua colocação deve ser a partir de 80 cm do nível do solo. As portas e janelas devem
ser, obviamente, acima do dispositivo anti-ratos. O bom empalhamento das espigas
garante bom controle de pragas, superior até aos tratamentos químicos, devendo-se
classificar as espigas quanto ao empalhamento e armazená-las separadamente. As
espigas com pior empalhamento podem requerer tratamentos periódicos.

Fig. 134. Paiol aberto (telado)


Fonte: Embrapa (2009)

5.2. Paiol fechado: Quando se deseja armazenar espigas sem palha, o paiol
não deve ter aberturas permanentes. Deve-se construí-lo com duas aberturas teladas:
uma em sua parte inferior e outra em sua parte superior, com tampas removíveis.
163

Assim pode-se garantir circulação de ar e possibilitar tratamentos periódicos, para


controle de pragas, garantindo maiores possibilidades de manutenção da qualidade do
que paióis abertos. Nos dois tipos de paióis, é recomendável aproveitar a declividade
natural do terreno para facilitar a operação de descarga (Figura 135)
5.3. Armazém: o armazenamento de espigas em armazéns deve ser separado
do armazenamento de sacaria, devido a diferenças na susceptibilidade a infestação por
insetos. Assim, se possível deve-se evitar ter os dois produtos em uma mesma
estrutura.

Figura 135. Paiol fechado


Foto: Embrapa (2009)

6. Recomendações gerais

Todas as instalações e equipamentos citados devem ser limpos antes de novo


carregamento, de modo a se eliminar focos de infestação e de contaminação. Deve se
ter em mente que todo procedimento realizado no milho colhido não aumentará sua
qualidade pós-colheita, mantendo, no máximo, a qualidade obtida durante o processo
de produção no campo. Assim deve-se ter muito cuidado na escolha da cultivar,
adequada às condições de cada região e às condições de armazenamento, aos tratos
culturais e controle de pragas, época de colheita e adequada regulagem das máquinas
utilizadas na colheita. Devem-se realizar registros de origem e das características de
qualidade de cada lote individual, para que se garanta a rastreabilidade do milho,
devido a ocorrências que possam ocorrer no destino final do produto (EMBRAPA,
2011).

7. Pragas de grãos armazenados

7.1 Introdução

A história da humanidade revela que o homem se valeu de práticas, que embora


intuitivas, constituíam técnicas para conservação de grãos. Escavações em pedras,
seladas com argila, eram utilizadas como depósitos de grãos de trigo. Neste ambiente
164

hermético, sem o oxigênio, que foi consumido pela respiração da semente e com
produção de CO2, insetos e fungos não se desenvolviam e os grãos se conservavam
muito bem. Por milhares de anos o homem utilizou de potes de barro, escavações em
solo argiloso revestidos de capim, como forma de prevenir contra pragas e conservar
grãos de trigo. Entretanto, com o advento da indústria agroquímica, as práticas naturais
deram lugar aos inseticidas. A partir de então o homem passou a adotar medidas
curativas. Portanto, neste trabalho será enfocado, à luz do conhecimento atual, práticas
para o controle preventivo e curativo visando a proteção de grãos armazenados
contra o ataque de pragas (EMBRAPA, 2011).
Como prevenir a ocorrência de pragas
O controle preventivo constitui um passo importante para o sucesso
de um programa de manejo integrado de pragas em grãos armazenados. Para
implementar um efetivo programa de manejo integrado, com redução do potencial de
infestação, torna-se necessário que a gerência da unidade armazenadora se conscientize
da importância da influência dos fatores ecológicos, como temperatura, teor de
umidade do grão, a umidade relativa do ambiente e o período de armazenagem,
envolvidos no sistema. Da mesma maneira a escolha da cultivar, o processo de
colheita, a recepção e limpeza, a secagem de grãos, a aeração e refrigeração, são
fatores também importantes para o controle preventivo das pragas de grãos
armazenados.
Uma característica positiva dos grãos é a possibilidade de serem armazenados
por longo período de tempo, sem perdas significativas da qualidade. Sobre o ambiente
dos grãos armazenados exercem grande influência os fatores como temperatura,
umidade, disponibilidade de oxigênio, microorganismos, insetos, roedores e pássaros.
Importância da cultivar sobre a preservação da qualidade dos grãos
De modo geral as cultivares que produzem grãos mais duros são mais
resistentes ao ataque de pragas. Fatores como o empalhamento (Figura 136), a dureza
do grão e a concentração em ácidos fenólicos são preponderantes para a menor
incidência de pragas, as quais iniciam o ataque no campo, mas é no armazém que se
multiplicam em grande número e causam os maiores danos. È desejável que a cultivar
apresente empalhamento que cubra bem a ponta da espiga, pois esta característica
evita dano por insetos e por fungos que propiciam a ocorrência de grãos ardidos, que
tenha maior teor de ácidos fenólicos e conseqüentemente grãos mais duros para
165

dificultar o ataque de pragas durante o armazenamento.

Figura 136. Diferentes níveis de empalhamento da espiga


Fonte: Embrapa (2007)

Importância do processo de colheita na prevenção contra pragas


A colheita sendo realizada logo após a maturação fisiológica garante a mais
alta produtividade de grãos e a menor incidência de pragas de grãos armazenados.
Entretanto, não é recomendável colher nessa fase, pois os grãos ainda estão com alto
teor de umidade (cerca 36%), requerendo a secagem complementar por métodos
artificiais, com excessivo consumo de energia e com possibilidade de comprometer a
qualidade dos grãos, provocando-lhes quebras e trincas, tornando-os mais vulneráveis
a serem atacados por insetos, posteriormente.
O tempo de permanência do milho no campo por período prolongado, ou seja,
o atraso na colheita varia de região para região, dependendo nível tecnológico, sistema
de colheita e das condições climáticas, como umidade do ar, temperatura e insolação.
Este atraso na colheita favorece à incidência de insetos como gorgulhos e traças.
O grande inconveniente da colheita manual é que ela é realizada, de modo
geral, tardiamente, pois, na falta de estrutura de secagem o produtor espera pelo milho
secar naturalmente no campo, até atingir 13,5 a 14% de umidade. Este atraso na
colheita predispõe os grãos a serem infestados por pragas de grãos armazenados,
criando a necessidade de se adotar um controle preventivo de pragas, antes de
armazenar os grãos.
Na colheita mecânica o dano mecânico provocado nos grãos durante a
operação de colheita, causando-lhe quebras e trincas contribuirá para maior ocorrência
166

de insetos durante o armazenamento, criando a necessidade de para se tomar medidas


preventivas de controle de pragas.

Efeito da temperatura e do teor de umidade do grão sobre os insetos

A temperatura e a umidade dos grãos constituem elementos determinantes na


ocorrência de insetos e fungos durante o armazenamento. A maioria das espécies de
insetos e de fungos reduz sua atividade biológica a 15 oC. E a aeração, que consiste em
forçar a passagem de ar através da massa de grãos, constitui uma operação fundamental
para abaixar e uniformizar a temperatura da massa de grãos armazenados. O teor de
umidade do grão é outro ponto crítico para uma armazenagem de qualidade. Grãos com
altos teores de umidade tornam-se muito vulneráveis a serem colonizados por altas
populações de insetos e fungos. Para uma armazenagem segura é necessário secar o
grão, forçando a passagem do ar aquecido através da massa de grãos ou secando-o com
ar natural. Embora o fluxo de ar durante a aeração seja tão baixo ao ponto de não
reduzir a umidade do grão (quando realizado à temperatura natural), mas deve-se ter
cuidado porque uma aeração excessiva poderá reduzir o teor de umidade e
consequentemente o peso. O desenvolvimento de insetos e fungos acelera rapidamente
sob as condições ideais de temperatura e umidade, impondo limites no tempo para uma
armazenagem segura.
Grãos com umidade adequada e uniformemente distribuída por toda a massa
podem permanecer armazenados com segurança por longo período de tempo. Quando
não houver aeração, a umidade migra de um ponto para outro. Esta movimentação da
umidade ocorre em função de diferenças significativas na temperatura dentro da massa
de grãos, provocando correntes de convecção de ar, criando pontos de alta umidade
relativa e alto teor de umidade no grão e, consequentemente, pontos com condições
ambientais favoráveis para o desenvolvimento de insetos e fungos. Portanto a aeração
exerce uma função essencial tanto para manter a temperatura e a umidade no ponto
desejado, quanto para uniformizar e distribuir estes fatores na massa de grãos. Conclui-
se, portanto, que estabilidade da umidade e temperatura são fundamentais para o
controle preventivo da ocorrência de insetos e fungos.

Monitoramento e amostragem de grãos na prevenção da infestação


167

Monitorar significa obter o registro por amostragem da ocorrência de insetos,


ou de outro organismo, com freqüência previamente definida, ao longo de um período
de tempo e sob determinadas condições ambientais. Qualquer fator que influencia na
movimentação dos insetos afeta a amostragem e, portanto, deve ser registrado. A
magnitude dos efeitos depende principalmente da espécie do inseto a ser capturada, da
temperatura, do tipo e umidade do grão. Portanto, amostragem é o ponto crítico de
qualquer programa de monitoramento visando um controle de pragas em grãos
armazenados. Existem diversos tipos de armadilhas que se mostram eficientes para
detectar a presença de insetos adultos (EMBRAPA, 2011).

Ações para prevenir e/ou controlar as pragas

Além da observância de aspectos importantes como a escolha da cultivar,


colher no momento adequado, de promover a limpeza dos armazéns, ainda existem
outras práticas que contribuem para prevenir (Embrapa 2011)

Efeito da aeração na prevenção e/ou no controle da infestação


O uso da aeração para inibir o desenvolvimento de pragas já vem, há muito
tempo, sendo praticada. A aeração pode reduzir a temperatura da massa de grãos a um
valor que inibe a multiplicação dos insetos. (EMBRAPA, 2011). Porém algumas
espécies de insetos são mais adaptadas às condições de temperaturas mais baixa e o
efeito da aeração, somente, não é capaz de reprimir o desenvolvimento populacional de
algumas espécies A aeração deve ser realizada quando a temperatura do ar estiver mais
baixa e o ar estiver mais seco. Ela pode ser realizada de forma contínua ou em
intervalos de tempo determinado, considerando-se faixas de temperatura ideal, ou
mesmo baseando-se na diferença entre a temperatura do ar ambiente e temperatura dos
grãos.

Efeito do resfriamento do grão na prevenção e no controle da infestação


No processo de resfriamento um ar condicionado: ar frio e relativamente seco
tem sua passagem forçada pela massa de grãos armazenados em silos, os quais podem
ser de diferentes tamanhos. Normalmente, uma vez o grão tenha sido resfriado, ele
assim permanece por vários meses. Além da redução de custos de secagem, de reduzir
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perdas fisiológicas pela respiração do grão e manter alta qualidade, o resfriamento do


grão oferece excelente proteção contra insetos. Mesmo após a colheita os grãos
continuam a respirar. O oxigênio é absorvido e, durante o metabolismo, os carboidratos
se transformam em gás carbônico, água e calor, havendo perda de matéria seca e
conseqüentemente perda de peso. A produção de calor e a intensidade da respiração
dependem, portanto, da temperatura e do teor de umidade do grão.
A influência do resfriamento sobre a perda de matéria seca é expressiva
(Tabela 19). Por exemplo, tomando-se uma quantidade de 1000 toneladas de grãos
com o teor de umidade de 15% e uma temperatura de armazenagem de 35 oC, a perda
de matéria seca após um mês de armazenado, será de cerca de 5,4 t. Se este lote de
grãos estivesse mais úmido as perdas seriam ainda muito maiores. Se a temperatura de
armazenagem for reduzida para 10 oC, estas perdas cairiam para 0,2 t. Isto mostra que
o resfriamento dos grãos pode reduzir a perda de matéria seca em torno de 80 a 90%,
em apenas um mês de armazenagem Inicialmente o resfriamento dos grãos era usado
para condicionar sementes e/ou grãos colhidos muito úmidos enquanto aguardava pela
entrada no secador. Atualmente, proporcionalmente, mais grãos secos do que úmidos
são resfriados como forma de controlar o desenvolvimento dos insetos.
Tabela 19 . Influência do resfriamento na perda de matéria seca, considerando 1.000t de
milho a 15% de umidade e tempo de armazenamento de 30 dias.
Condições ambientais Temperatura Perda matéria seca
Temperatura ambiente alta 35 ºC 0,54% ( = 5,4 t)
Temperatura ambiente 25 ºC 0,12% ( = 1,2 t)
média
Grãos resfriados 10 ºC 0,02% ( = 0,2 t)
Fonte :Embrapa (2009). Em regiões de clima temperado.

Na faixa de temperatura que vai de 17 a 21 oC o ciclo biológico, isto é, o


tempo de desenvolvimento de ovo a adulto, leva próximo de 100 dias para a maioria
das pragas. Temperatura acima de 21 oC, ou em torno de 25 a 30 oC, oferece as
condições ideais para diferentes espécies de insetos se desenvolverem. A atividade dos
insetos, bem como sua multiplicação é suspensa à temperatura em torno de 13 oC. O
controle químico de insetos torna-se desnecessário quando o grão está refrigerado e
cuja temperatura está abaixo de 17 oC, assim como também dispensa a transilagem.
Dependendo do tipo de estrutura, uma vez o grão tenha sido resfriado, assim
ele permanecerá por vários meses (Tabela 20). Neste caso grãos com 15,5 a 17,5% de
169

umidade, uma vez resfriados a 10 oC, permanecem, sem sofrer aquecimento suficiente
para causar danos por até 10 meses. A quantidade de energia para resfriar o grão
depende de vários fatores, como por exemplo, teor de umidade e temperatura da massa
de grãos. Grãos mais úmidos são mais fáceis de serem resfriados do que grãos secos.
Outros fatores importantes são a temperatura do ar ambiente e a umidade relativa do ar.

Tabela-8 . Tempo de duração, ou intervalo necessário para novo resfriamento para garantir a
qualidade do milho, a partir de uma refrigeração inicial de 10 o C.
Teor de umidade do grão Tempo de duração até novo resfriamento
12,0 " 15,0% Aproximadamente 08 " 12 meses
15,5 " 17,5% Aproximadamente 06 " 10 meses
17,5 " 18,5% Aproximadamente 04 " 06 meses
18,5 " 20,0% Aproximadamente 01 " 04 meses
20,0 " 23,0% Aproximadamente 02 " 08 semanas
Fonte: Embrapa (2009)
Higienização espacial
a) Para prevenir e controlar a infestação é preciso conhecer onde os insetos
ocorrem ou se escondem. Levantamentos têm demonstrado que a maioria das unidades
armazenadoras vazias são infestadas por insetos de diferentes espécies e por ácaros.
Alimentos para animais como rações, equipamentos agrícolas como carretas
transportadoras de grãos constituem outras fontes de infestação. Muitos insetos são
dotados de grande capacidade de vôo o que aumenta sua condição de infestar os grãos
armazenados. Para evitar maiores problemas durante a armazenagem algumas medidas
preventivas devem ser tomadas:
 Promover uma boa limpeza dos grãos antes de serem armazenados, isto porque
os insetos têm mais dificuldades de infestar grãos limpos; Limpar toda a estrutura, de
preferência utilizando-se de jatos de ar para desalojar a sujeira das paredes e dos
equipamentos, e recolher todo o material fino com aspirador de pó;Inspecionar todo o
teto e consertar toda e qualquer possibilidade de goteira antes de carregar o silo ou
armazém; Não permitir acúmulo de lixo, dentro ou mesmo fora da unidade
armazenadora; Pulverizar as paredes, tetos e piso de unidades armazenadoras vazias
com produto inseticida registrado e aprovado tecnicamente para esta finalidade;
170

Monitorar a temperatura da massa de grãos, a umidade do grão e a presença dos insetos


em pontos críticos do silo; Somente armazenar grãos de safra nova em estrutura vazia e
que tenha passado por uma higienização geral e nunca misturar grão novo com grão
velho;
 Lembrar sempre que grãos, submetidos a aeração programada, ou melhor ainda se
refrigerados, nunca se deterioram. Pesquisas visando testar a eficiência de diferentes
inseticidas, aplicados sobre superfícies de diferentes natureza, bem como visando
avaliar o efeito residual em operações de higienização espacial, indicaram grande
eficiência dos produtos Deltametrina 2,5 CE, Pirimiphos metil 50 CE e Bifentrina 25
CE, quando aplicados sobre superfície de madeira,, alvenaria, cerâmica, tecido de
algodão, de juta, de plástico trançado, de papel (tipo sacaria de semente).

c) A nebulização é uma prática que consiste na aplicação de um inseticida na


forma de micropartículas que são lançadas numa corrente de fumaça produzida por um
equipamento que queima óleo mineral, produz e lança no ambiente um jato de fumaça.
Esta fumaça, de baixa densidade, carrega as micropartículas de inseticida para os
pontos mais altos da unidade armazenadora onde normalmente não são atingidos por
pulverização. Este tipo de tratamento visa controlar, especialmente, os insetos voadores
como as mariposas que se alojam nos pontos mais altos da unidade armazenadora. A
dose do inseticida na operação de nebulização é calculada em função do volume (m 3)
de espaço interno da estrutura que será ocupada pela fumaça.

Controle preventivo de pragas em diversas formas de armazenamento

O controle preventivo é praticado antes ou imediatamente após os grãos serem


armazenados. Ele tem o objetivo de evitar a multiplicação dos insetos dentro do silo,
do armazém ou do paiol, em cujas estruturas, pelas suas características ou estado de
conservação, não reúnem condições para que nelas seja utilizado um método curativo
de controle de pragas.

Armazenamento a granel
O armazenamento de milho a granel, em estruturas com sistemas de
termometria e aeração forçada, é o método que permite melhor qualidade do produto.
171

Para ter sucesso nesse tipo de armazenamento, é necessário proceder à limpeza e


secagem dos grãos, aeração e controle das pragas. Silos para armazenamento a granel
podem ser construídos com chapas metálicas ou de concreto. São grandes estruturas
posicionadas verticalmente, cuja altura excede a base numa relação superior a 2:1.
Essas estruturas devem, necessariamente, ser muito bem vedadas, para permitirem o
combate dos insetos, através do método de fumigação, utilizando gases tóxicos, como a
fosfina. Devem possuir também sistema de termometria e aeração forçada. Há outra
modalidade de silos, denominada de silos graneleiros horizontais (Figura 137). Eles
possuem grandes dimensões na base, porém com altura baixa. São dotados de sistema
de termometria e aeração forçada, porém não são vedáveis adequadamente para neles
se realizar o expurgo com fosfina. Na verdade, são muito abertos e, portanto, não
permitem o uso eficaz da fosfina, ou outro gás fumigante, como método de combate
aos insetos. Portanto a realização de fumigação em silos graneleiros horizontais é uma
operação ineficiente e de alto risco e, por isso, deve ser evitada.

Figura 137. Silo horizontal


Nesse caso, as pragas devem ser combatidas de forma preventiva pela
aplicação uma solução inseticida sobre os grãos na correia transportadora, dotada de
paletas (tombadores) para revolver os grãos e uniformizar a mistura do inseticida,
durante o enchimento do silo. Para a correta utilização dos silos graneleiros horizontais
recomenda-se remover todo o estoque no início da safra, promover uma higienização
total da estrutura a fim de receber o grão da nova safra não misturar grãos velhos com
grãos novos, na mesma célula armazenadora.
Resultados de pesquisas mostraram que nos silos em que se realiza o expurgo
uma única vez, antes da armazenagem, o milho se conserva bem, embora sofra algum
nível de infestação. Já o milho quando é tratado, de forma preventiva, pela mistura
172

direta com o inseticida Pirimiphos metil mantém-se livre de insetos durante todo o
período de armazenamento (EMBRAPA, 2011). Por esses resultados, pode-se concluir
que a operação de expurgo no armazenamento do milho a granel, não funciona bem
como método preventivo, e, portanto, deve ser repetida, de forma curativa, a cada três
meses. A mistura de inseticida aos grãos também garante o controle dos insetos. As
doses e o tempo de exposição no expurgo com Fosfina encontram-se na Tabela 21.

Tabela 21. Doses e tempo de exposição para expurgo com Fosfina.


Tipo de Materia Doses Temperatura Duração
estrutura la
fumigar
Pastilhas Comprimidos ( ºC ) (dias)
(3g) (0,6g)

Sob lonas Espigas 6 / carro 30 / carro 15-20 10


plásticas (15 sacas) (15 sacas)
Sacaria Sacas/ 2 por15- 20 10 por 15-20 20-25 7
60kg Sacas/ 60 kg Sacas/60kg
+ de 25
No próprio 2 / tonelada 10 / tonelada 5
silo Granel ou 1 m3 ou 1 m3
Obs.: Não se recomenda expurgo a temperatura inferior a 15 ºC.
Armazenamento em sacaria
O armazenamento de milho em sacaria, em armazéns convencionais, pode ser
empregado com sucesso, desde que as estruturas armazenadoras atendam às condições
mínimas. O milho deve estar seco (13-13,5% de umidade), haver boa ventilação na
estrutura. O piso deve ser concretado, cimentado e com a cobertura perfeita e com
proteção anti-ratos. As pilhas de sacos devem ser erguidas sobre estrados de madeira e
afastados das paredes. O combate dos insetos deve ser realizado através de expurgo
periódico, iniciando-se, de forma preventiva, logo após o ensacamento, e repetindo-se
a cada três meses. Recomenda-se também uma pulverização externa das pilhas de
sacos, bem como de toda a estrutura, seguindo as concentrações sugeridas na (Tabela
22) como forma de prevenir a reinfestação.
Tabela 22. Recomendação de inseticidas para tratamento preventivo contra pragas de grãos
armazenados.
Forma de aplicação Deltametrina " 2,5CE Pirimiphos metil "50 CE
Bifentrina " 2,5 CE
Mistura com espigas1/ 500 g / t de espigas _
173

Mistura com grãos 20-40 ml /L.de água / t 8-16 ml/L de água / t


Sobre pilha de sacaria 10 ml/L de água / 20m2 10 ml/L de água / 20m2
Sobre parede de 15 ml/L de água / 20m2 15 ml/L de água / 20m2
alvenaria
Sobre madeira 10 ml/L de água / 20m2 10 ml/L de água / 20m2
Nebulização 10 ml/ 90ml óleo 5 ml/95ml óleo
por 100m3 Por 100m3
1/
K-Obiol 2 P (Deltamerina 0,2% Pó),aplicado em camadas de espigas com 25 a 30 cm de altura, na
quantidade de 40 g / m2 de superfície de área a ser tratada. Fonte: Embrapa (2009).
Armazenamento de milho em espigas
Da produção nacional de milho, cerca de 45,7% permanece armazenados em
meio rural, em paióis, na forma de milho em espiga, para alimentação dos animais
domésticos ou comercialização posterior Esse milho, durante o armazenamento, sofre
ataque de insetos e roedores, que anualmente causam grande prejuízos. Somente
insetos como o Sitophilus zeamais, Sitophilus oryzae e a Sitotroga cerealella,
provocam perdas que atingem até 15% do peso do milho armazenado no meio rural,
além destas pragas comprometem a qualidade nutritiva do milho. O armazenamento de
milho em espigas é uma prática que sempre foi adotada no país. Na verdade, embora
seja um processo muito rústico, existem algumas vantagens em sua utilização:
 É uma forma de armazenamento que permite ao agricultor colher o milho com
teor de umidade mais elevado (18%), pois ele acaba de secar no paiol, desde que esse
seja bem arejado; os produtores rurais, em sua grande maioria, além de criadores de
suínos e aves, também são criadores de bovinos, animais que, além dos grãos,
alimentam-se da palha e do sabugo triturados; no armazenamento em espigas,
normalmente não ocorrem problemas com o desenvolvimento de fungos, salvo nos
casos em que o paiol seja extremamente abafado e o milho tenha sido colhido com
teores de umidade acima de 18%;
 O bom empalhamento da espiga atua como uma proteção natural dos grãos
contra as pragas. Como desvantagem desse tipo de armazenamento, pode-se
citar:
 Há maior dificuldade do controle dos insetos; maior espaço requerido para
armazenamento, devido ao maior volume estocado,
 Aumento da mão-de-obra para manuseio no momento da utilização. Quando o
milho é armazenado em paiol comum de tábua, de tela ou de madeira roliça, o controle
de pragas é realizado de forma preventiva, antes da armazenagem, através do expurgo
com fosfina (Figura 138). A repetição do expurgo requer que o agricultor retire o milho
174

do paiol, faça novo expurgo e guarde-o novamente, novos paios idealizados pela
Embrapa reúnem características que permitem realizar o expurgo, após o
armazenamento, tendo-se o milho já dentro do paiol.
Mesmo com os novos modelos de paióis que facilitam o expurgo, ainda continua o
interesse de pequenos e médios agricultores por um inseticida na forma de pó, em
substituição ao inseticida Malathion que perdeu a eficiência, para ser usado, de forma
preventiva, para o combate de insetos no milho em espiga.

Figura 138. Expurgo de milho em espigas com Fosfina


Foto: Embrapa (2009)

A eficiência do inseticida piretróide Deltamethrin 0,2% pó no controle de insetos-


pragas de milho armazenado em espigas, foi largamente confirmada por pesquisas e há
concessão pelo Ministério da Agricultura do registro de Deltamethrin 0,2% pó para uso
em milho em espiga. Os resultados obtidos em Unidades de Observação indicaram que
o uso do Deltamethrin 0,2% pó (K- Obiol) reduziu o dano médio cerca de 4 vezes
(Tabela 22).
7.1 Principais pragas dos grãos armazenados
São várias as espécies de insetos que se alimentam dos grãos de milho,
porém o gorgulho ou caruncho, Sitophilus zeamais e a traça-dos-cereais, Sitotroga
cerearella , são responsáveis pela maior parte das perdas, podendo provocarem perdas
175

que atingem até 15% do peso do milho armazenado (Figura 137) . Embora ainda não
seja encontrada no Brasil, devido aos grandes prejuízos que vem causando ao milho
armazenado, no México e em países da América Central e da América do Sul, bem
como em alguns países africanos, deve-se prestar atenção à broca-grande-do-grão,
Prostephanus truncatus a fim de evitar sua entrada no país (Fig. 138).

Figura 137. Ataque de S. zeamays em milho

Fig. 138. Principais pragas do grão de milho.


Foto: Jamilton Pereira dos Santos (EMBRAPA, 2009)
A migração do Prostephanus truncatus pode-se dar por processos naturais,
deslocando-se pouco a pouco, através de vôos curtos em busca de alimento, entrando
em outros países pelas fronteiras agrícolas. Entretanto, no caso de grãos armazenados,
o mais provável é que a migração se dê através do comércio de grãos infestados,
transportados de um país para outro, quer seja por caminhões (via terrestre) ou por
navios, entrando através de portos marítimos. Como esse inseto é adaptado às regiões
mais quentes e secas do México, da América Central e da África, além de já ter sido
encontrado no Peru e na Colômbia, e como as condições climáticas de várias regiões
brasileiras são propícias ao seu desenvolvimento, todo cuidado deve ser tomado para
176

que o Prostephanus truncatus nunca chegue e se estabeleça aqui. Há registros de que,


em seis meses, as perdas provocadas por esse inseto chegam a 34 e a 40%, em milho
armazenado em espigas, na Tanzânia e na Nicarágua, respectivamente (EMBRAPA,
2009).
Os prejuízos causados pelos insetos que atacam os grãos se resumem em perda
de peso dos grãos que pode chegar a 24,74% quando se têm 45% de grãos danificados
(SANTOS e OLIVEIRA, 1991); perda do poder germinativo e do vigor das sementes;
perda do valor nutritivo; perda quanto a redução do padrão comercial; perda da
qualidade por contaminação da massa de grãos e perdas provocados por fungos que
têm nos insetos-pragas de grãos um dos principais agentes disseminadores
(EMBRAPA, 2009).

BIBLIOGRAFIA

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Colheita e Pós -Colheita. CNPMS. Sistema de Produção. Versão eletrônica. 3ª
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http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/territorio_sisal/arvore/CONT000fckl80cd
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EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cultivo do Milho. –


Colheita e Pós -Colheita. CNPMS. Sistema de Produção 2. Versão eletrônica. 5ª
Edição. Set/2009. Disponível em:
http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_5_ed/colpragas.htm. Consulta em
15/02/2015.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cultivo do Milho. –


Colheita e pós - colheita. CNPMS. Sistema de Produção 2. Versão eletrônica. 7ª.
Edição. Set/2011. Disponível em
http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_7_ed/colheita2.htm. Consulta em
15/02/2015.

FINCH, E. O.; BAHIA, F. G. F. T. C.; MANTOVANI, E. C. Colheita do Milho –


MANUAL TÉCNICO – Cultura do milho. s/d. Disponível em:
http://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/476387/1/Colheitamilho.pdf.
Consulta em 15/02/2015.

SANTOS, J. P.; OLIVEIRA, A. C. Perdas de peso em grãos armazenados devido ao


ataque de insetos. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1991. 6 p.
(EMBRAPA.CNPMS. Comunicado Técnico, 6).
177
178

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