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Eficiência de um sistema de dessulfuração do

biogás visando a geração de energia elétrica a


partir da metanização da vinhaça
L. F. de D.B. Colturato1; C. H. F. da Silva2; L. C. de Souza3; F. C.S.P.Gomes1; J. P. O. Faria1, T. A.
Seraval1; T. D.B.Colturato1; L. L. dos Santos1; C. A. de L. Chernicharo4.

 Apesar da existência de inúmeros processos para a remo-


Resumo – A biomassa tem sido apontada como uma impor- ção do sulfeto de hidrogênio (H2S) do biogás, poucos estu-
tante fonte primária para o futuro do sistema energético. Neste dos foram destinados à remoção de elevadas concentrações
contexto os resíduos de processos se apresentam com oportuni- deste componente. As tecnologias disponíveis são focadas
dade para a produção de eletricidade e para a eficiência energé-
nos processos de dessulfuração aplicados a efluentes tipica-
tica. Um exemplo disso é a vinhaça no setor canavieiro. Entre-
tanto existe um gargalo tecnológico a ser superado associado mente tratados pela via anaeróbia (efluentes domésticos,
com a purificação do biogás produzido na biodigestão deste fração orgânica de resíduos sólidos urbanos, dejetos, dentre
resíduo. Este artigo apresenta o desenvolvimento de um sistema outros) cuja concentração de H2S geralmente não ultrapassa
de remoção de sulfeto de hidrogênio do biogás proveniente da 5.000 ppmV. Esta lacuna do conhecimento tem dificultado a
metanização da vinhaça, para viabilizar a geração de energia aplicação do tratamento anaeróbio de outras tipologias de
elétrica a partir deste efluente. Espera-se contribuir para a
diversificação da matriz energética do país e também no fomen-
efluentes com significativo potencial de produção de biogás,
to ao desenvolvimento da Geração Distribuída baseada na bio- como a vinhaça ou vinhoto, efluente da produção de etanol
massa, ao mesmo tempo em que se promove a inserção de tecno- gerado pelo setor sucroalcooleiro. Dados levantados pelo
logias para eficiência energética na indústria. projeto indicam que o biogás gerado a partir deste efluente
possui concentrações de H2S que variam de 15 a 30.000
Palavras-chave – Biogás, Dessulfuração, Eletricidade, Meta- ppmV. A origem deste elevado teor encontra-se no processo
nização, Sulfeto de Hidrogênio.
de sulfitação para clareamento do açúcar.
Apesar do gargalo técnico existente para a dessulfuração
I. INTRODUÇÃO do biogás com elevadas concentrações de H2S, o setor su-
O processo de digestão anaeróbia tem sido empregado croenergético tem demonstrado crescente interesse em sis-
temas anaeróbios para o tratamento da vinhaça associado à
com sucesso como tratamento biológico de distintas tipolo-
geração de energia incentivada, visando ampliar a sua parti-
gias de efluentes orgânicos, com destaque para o setor de
cipação no mercado de energias renováveis. Depois do eta-
tratamento de esgoto doméstico e de efluentes da indústria
nol e do açúcar, o principal produto das Usinas é a bioeletri-
alimentícia e de bebidas, apresentando vantagens com rela- cidade a partir dos resíduos de cana de açúcar (bagaço).
ção aos processos de tratamento aeróbio, como baixos cus- Atualmente, o potencial de geração de energia a partir de
tos operacionais, baixa taxa de geração de lodo, geração de resíduos do setor representa 15.300 MW, uma potência pró-
biofertilizante, redução da emissão de gases do efeito estufa xima da Usina de Itaipu (14.000 MW), e são explorados
e geração de biogás, passível de utilização energética varia- apenas cerca de 3.400 MW, correspondendo a 6,5% do con-
da [1]-[3]. Considerando o contexto atual de incentivos para sumo nacional. Somando etanol e bioeletricidade, o segmen-
a diversificação da matriz energética nacional com base em to corresponde a 18% da participação na matriz energética
fontes da biomassa, fomentando a geração distribuída e lim- brasileira, e contribui na redução de 10% das emissões anu-
pa [4], pode-se posicionar a digestão anaeróbia como alter- ais dos gases de efeito estufa [5].
nativa tecnológica com relevância estratégica, na medida em No caso da dessulfurização do biogás, uma análise do es-
que associa o tratamento de efluentes com a produção de tado-da-arte em nível mundial indica a utilização de diferen-
energia de fonte renovável. tes processos unitários para tal finalidade, que se distribuem
em duas categorias principais: processos químicos ou bioló-
gicos [6]-[12].
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e De- Os processos químicos constituem os sistemas mais em-
senvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela
ANEEL e consta dos Anais do VIII Congresso de Inovação Tecnológica em
pregado atualmente, devido ao maior conhecimento e domí-
Energia Elétrica (VIII CITENEL), realizado na cidade da Costa do Sauí- nio tecnológico do processo, às experiências em plantas em
pe/BA, no período de 17 a 19 de agosto de 2015. escala industrial e pelas altas eficiências obtidas, que permi-
1
Methanum: colturato@methanum.com; felipe@methanum.com; tathi- tem atingir concentrações finais de sulfeto de hidrogênio
ana@methanum.com; thiago@methanum.com; ludmila@methanum.com
2
muito baixas. Diversos compostos químicos têm sido estu-
CEMIG: chomero@cemig.com.br;
3
dados e empregados mundialmente, com destaque para os
Efficientia: lucso@efficientia.com.br;
4
óxidos de ferro (Fe2O3); hidróxidos de ferro (Fe(OH)3); car-
UFMG: calemos@desa.ufmg.br.
vão ativado e zeólitas impregnadas (KI, K2CO3, KMnO4); preliminares. A proposta do presente artigo é mostrar os
soluções alcanolaminas (MEA, DEA, DIPA, MDEA); hi- resultados consolidados decorrentes da pesquisa e desenvol-
dróxido de sódio (NaOH); e quelato férrico. Entretanto, as vimento realizados, focando na eficiência do sistema de pu-
experiências operacionais descritas indicam elevado consu- rificação, atualizando o status apresentado em 2013 e rela-
mo de produtos químicos, assim como a necessidade de tra- tando o sucesso na tarefa de purificar o biogás de vinhaça.
tamento dos produtos da reação (resíduo final), resultando
em altos custos de operação e manutenção desses sistemas II. METODOLOGIA E ESPECIFICAÇÃO
[9] e [13]-[17].
O sistema de dessulfuração desenvolvido é formado por
Os processos biológicos também têm sido investigados
uma torre de absorção química do tipo Venturi, uma torre de
em escala de pesquisa e em operações industriais, sendo que pré-condicionamento da fase líquida, uma torre de regenera-
esses sistemas apresentam menores custos operacionais em ção bioquímica da fase líquida e um decantador lamelar. O
comparação com os processos químicos [18]. Os processos biogás é inserido no na torre de absorção do tipo Venturi em
mais aplicados baseiam- se na utilização de biopercoladores, cocorrente com uma solução de hidróxido de sódio (NaOH),
sistemas que se utilizam um material suporte para os micror- que ao serem direcionados aos canais do Venturi, cria-se
ganismos, com recirculação de água e nutrientes para o con- uma zona de turbulência de forma a otimizar o contato líqui-
trole do crescimento microbiano [11], [18]. A injeção con- do-gás e, consequentemente, a reação química. O biogás sai
trolada de ar atmosférico na campânula de gás do reator então do sistema, enquanto o líquido segue para a torre de
anaeróbio também tem sido bastante utilizada em um pro- condicionamento, cuja função é solubilizar o oxigênio no
cesso denominado de microaeração [19]. Nestes sistemas, os mesmo, e em seguida, é direcionado para a torre de regene-
microrganismos sulfo-oxidantes utilizam o oxigênio como ração bioquímica, que possui as condições ideais para o de-
aceptor de elétrons para oxidar o sulfeto de hidrogênio (doa- senvolvimento dos microrganismos responsáveis pela rege-
dor) para obtenção de energia [20]-[21]. Deve-se entretanto neração das hidroxilas disponíveis na fase líquida. Na se-
ressaltar que a utilização destes processo acarreta em riscos quência, o líquido é bombeado ao decantador lamelar, que
de acidificação do sistema reacional e de explosão do siste- promove um gradiente de velocidade do liquido e otimiza a
ma pela possibilidade de formação de atmosfera explosiva. decantação das formas de enxofre resultante do processo de
Com base neste contexto surgiu o projeto de Pesquisa e lavagem e oxidação bioquímica. O líquido regenerado é en-
tão bombeado a torre de absorção do tipo Venturi para con-
Desenvolvimento Tecnológico (P&D) Cemig/Aneel nº 453
tinuidade do processo, em ciclo fechado. A. A Figura 1 ilu-
(Código Aneel: PD-4951-0453/2011), com o objetivo de
tra o sistema de purificação construído.
sanar esta lacuna tecnológica relacionada a tecnologias para
O experimento foi realizado em duas etapas. A primeira
dessulfuração do biogás com elevadas concentrações de etapa foi realizada de forma a se determinar as concentra-
H2S, visando viabilizar sua utilização para geração de ener- ções de hidróxido de sódio em meio líquido que proporcio-
gia elétrica. nassem altas eficiências de remoção de H2S e que o efluente
A proposta do projeto foi projetar, construir e operar uma deste processo fosse passível de regeneração por microrga-
unidade de dessulfuração química utilizando hidróxido de nismos sulfo-oxidantes.
sódio acoplados a sistemas de regeneração biológica do íon Os experimentos foram realizados em bateladas com cin-
hidroxila, resultando em um processo que associa eficiência co repetições onde foram analisados os seguintes parâme-
e baixos custos operacionais, devido à menor demanda de tros: decaimento da alcalinidade e pH, eficiência de remoção
hidróxido de sódio no sistema que viabilize a fonte alternati- de H2S, competição do H2S com CO2 e sulfeto dissolvido.
va constituída pela vinhaça como uma oportunidade de ne- A Tabela I apresenta as condições operacionais dos en-
gócio em energia alternativa e renovável. saios realizados.
No Citenel/2013 foi apresentado um artigo sobre este
P&D 453 que indicava o projeto do sistema e os resultados

Figura 1 – Fluxograma do processo.


Tabela I. Condições operacionais. A Eficiência de Remoção (ER) foi calculada segundo (1),
Parâmetro Ensaio
a capacidade de eliminação (CE) foi determinada através de
(2) e a Carga Volumétrica Aplicada de H2S por (3).
1 2 3 4 5
c
Vazão média de biogás 0,720 0,722 0,859 0,774 0,775 ER  in x100 (1)
(m³.h-1) csaída
Concentração média de 69 70 69 71 70 Onde:
CH4 no biogás (%)
ER = Eficiência de Remoção (%);
Concentração média de 34 29 30 29 30
Cin = concentração inicial de H2S (kg/Nm3);
CO2 no biogás (%)
Csaída= concentração final de H2S(kg/Nm3).
 
Concentração média de 18,03 17,82 19,09 21,64 20,37
Q
H2S no biogás (g/m³) CE  Cin  Csaída x (2)
Carga de H2S (g.h-1) 13,0 12,9 16,4 16,8 15,8 V
Temperatura de operação 32,4 32,9 29,8 31,5 32,6 Onde:
(°C) CR = Capacidade de eliminação (kg H2S.m-3.d-1)
Pressão de operação 5,1 5,1 5,2 4,9 5,0 Cin = concentração inicial de H2S (kg/Nm3);
(mbar) Csaída= concentração de saída de H2S (kg/Nm3);
Q recirculação líquido 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 Q = vazão do gás (Nm3.h-1);
(m3.h-1) V = volume útil da unidade de dessulfurização (m3).
Vsolução (L) 65 65 65 65 65 Qxcin
NaOH (mol.L-1) 5x10-3 5x10-3 5x10-3 5x10-3 5x10-3 CV  (3)
NaOH (%) 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 V
V biogás tratado (L) 1,019 0,875 0,876 0,862 0,749 Onde:
V. NaOH 50% m/v (L) 0,306 0,260 0,260 0,260 0,260 CV = Carga de H2S Aplicada (kg H2S.m-3.d-1)
Cin = concentração inicial de H2S (kg/Nm3);
Q = vazão do gás (Nm3.h-1);
A segunda etapa consistiu na operação em contínuo do
V = volume útil da unidade de dessulfurização (m3).
sistema por um período de aproximadamente 4 meses onde Já as variantes microbiológicas do processo foi realizada em
foram avaliadas a eficiência de remoção de H2S e concentra- 5 etapas, descritas a seguir e resumidas na Tabela II a se-
ção de enxofre no lodo (variantes químicas) e foi realizada a guir. As amostras foram coletadas da fase líquida em dife-
caracterização da diversidade microbiana presente no siste- rentes pontos do sistema, desde sua inoculação.
ma ao longo do tempo, por meio de análise da técnica de
Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE), a Tabela II. Variantes microbiológicas do processo.
fim de estabelecer uma associação entre os grupos microbia- Carga de H2S Rotulo das
nos e a remoção de H2S (variantes microbiológicas). A se- Fase Duração
aplicada amostras
experimental (dias)
gunda etapa foi subdividida em 6 fases, descritas a seguir. (g H2S.m-3.h-1) coletadas
1) Inoculação e Aclimatação: o sistema foi inoculado com Inoculação - 1 1.In
lodo proveniente do tanque de extração, que foi distribu-
Aclimatação 1,4 2a4 3L
ído entre as quatro unidades do sistema, totalizando
aproximadamente 1 m3 de lodo utilizado como inóculo. Aumento de
Posteriormente o sistema foi submetido à aeração através carga e período 12,6 5 a 57 4L/4B
da injeção controlada de ar atmosférico com uma vazão estacionário
de 4,5 m3.h-1 e pulsos diários de H2S com uma carga mé-
Choque de carga 29 58 e 59 5L/5B
dia de 2,1 kg H2S.m-3.h-1.
2) Start-up e subida de Carga: a carga afluente de H2S foi Estabilização e
gradualmente aumentada até ser fixada em aproximada- retorno ao perío- 15,2 60 a 105 6L/6B
mente 7,6 kg H2S.m-3.h-1. do estacionário
3) Primeiro Período Estacionário: a carga de
7,6 kg H2S.m-3.h-1 mantida durante um período de 15 di- Amostras da biomassa foram coletadas do reator de meta-
as. nização, do inóculo e do líquido da torre de regeneração
4) Choque de carga: com o propósito de desenvolver mi- bioquímica durante as seguintes fases: primeiro período es-
crorganismos mais resistentes, foi aplicada uma carga de tacionário, choque de carga e segundo período estacionário,
17 kg H2S. m-3.h-1, superior ao dobro da empregada no de forma a verificar possíveis desenvolvimentos de biomassa
período estacionário, mantida durante um período de 48 específica, correlacionando o substrato com que foi desen-
horas. volvido o inóculo, o inóculo adaptado e as diferentes fases
5) Estabilização e Subida de Carga: a carga de H2S afluente ao longo do experimento. Foram coletadas duplicatas com
foi diminuída ao fim do choque de carga e gradualmente 500 mL de volume cada. As amostras foram encaminhadas
incrementada. em condições de refrigeração para o laboratório onde foram
realizadas as análises, e então processadas e armazenadas a -
6) Segundo Período Estacionário: a carga de 20C° [22]. Posteriormente, o DNA genômico foi extraído a
8,1 kg H2S.m-3.h-1 foi mantida durante um período de 13 partir de 0,25 g de todas as amostras com o kit de extração
dias. PowerSoil DNA Isolation Kit (MO BIO Laboratories,
E.U.A.), de acordo com as instruções do fabricante. O DNA III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
foi quantificado em um fluorômetro Qubit® (Life Technolo-
gies) e a pureza aferida em um espectrofotômetro Nanodrop Experimento 1
1000 (Thermoscientific). O experimento 1 foi realizado com o objetivo de determi-
Com o objetivo de selecionar o melhor par de iniciadores nar a concentração de hidróxido de sódio em meio líquido
e preparar o DNA extraído para o DGGE, foram realizadas capaz de resultar em elevada eficiência de remoção de H2S.
PCRs (do inglês polimerase chain reaction ou reação em A Figura 2 apresenta a variação da eficiência de remoção de
cadeia da polimerase) das amostras com diferentes pares de H2S em função da alcalinidade, obtida pela torre de absor-
iniciadores universais (com adição de um grampo GC) que ção.
105
amplificam regiões distintas do gene da subunidade 16S do

Eficiência de remoção de H2S (%)


95
RNA ribossomal dos Domínios Bacteria e Archaea (região 85
V8, iniciadores 1055F/1392R e região V4, iniciadores 75
515F/806R conforme [23]. Após confirmada a amplificação, 65
0,75
Máximo
as reações das respectivas duplicatas e triplicatas de cada 55
Mediana
45
amostra serão agrupadas e submetidas a uma resolução por Média
35 Mínimo
eletroforese em gel de agarose 2%, com tampão 10x (Pho- 25 0,25
neutria) e marcador de peso molecular Low DNA Mass La- 15
dder (Life Technologies) para quantificação (realizada atra- 5
0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000
vés do software ImageMagick, Thermoscientific). Em se- Alcalinidade (mol/L)
quência, 400 nanogramas de DNA de cada pool serão utili- Figura 2 - Variação da eficiência de remoção de H2S em função da alcali-
zados para o DGGE (Dcode Universal Mutation Detection nidade.
System, Bio-Rad Laboratories). As bandas serão excisadas,
eluídas em água ultrapura e incubadas a 4ºC overnight [24]. Em relação à eficiência de remoção de H2S do fluxo gaso-
Então o DNA eluído será novamente amplificado com os so, observa-se que eficiências de remoção de H2S próximas
iniciadores utilizados na primeira reação, porém sem o a 100% (99,3 a 99,9%) são possíveis até reduzidos valores
grampo GC, nas mesmas condições da primeira reação. Os de alcalinidade, da ordem de 5,00 x 10-3 mol.L-1. Quando a
produtos da PCR serão purificados (Wizard® SV Gel and alcalinidade reduz totalmente, as eficiências de remoção
PCR Clean-Up System, Promega), quantificados (conforme tendem a reduzir consideravelmente, atingindo valores entre
descrito na primeira reação) e enviados para sequenciamento 5,1 a 17,3%. (mediana 10,2% e média de 10,3%). Fica evi-
bidirecional (realizado pela empresa Macrogen Inc., em se- dente a partir da análise deste gráfico que, mesmo com redu-
quenciador 3730XL). zidas concentrações de hidroxilas presentes no meio, o lava-
Os perfis de banda do DGGE foram analisados com o dor do tipo Venturi foi eficiente na remoção de H2S do bio-
programa Bionumerics 7.1, a fim de verificar a similaridade gás nas condições operacionais analisadas.
entre as bandas ao longo do tempo. As sequências foram A Figura 3 ilustra a variação da eficiência de remoção de
montadas, editadas (programa Geneious, 7.1.7, Biomatters) H2S em função da massa de H2S introduzida. É possível
e checadas em relação à presença de quimeras com o pro- verificar que a eficiência de remoção de sulfeto de hidrogê-
grama Decipher [25]. As sequências resultantes foram então nio do fluxo gasoso da ordem de 100% são obtidas quando a
comparadas à base de dados do NCBI (através da ferramenta massa de H2S afluente ao sistema é inferior a 8 g. Para valo-
BLASTn) e também do Ribossomal Database Project (RDP res de sulfeto de hidrogênio afluente superiores a 8 g, a efi-
Classifier). ciência decresce, todavia, é possível observar que eficiências
A verificação da funcionalidade do sistema foi realizada que variaram entre 85,3 e 99,9% (média de 93,8% e media-
da seguinte maneira: i) Aquisição on-line de dados enviados na de 95%) foram obtidas com uma massa de 10 g de H2S
por transmissores instalados em diferentes pontos do proces- afluente. Com 12 g de H2S afluente, obteve-se eficiência de
so; ii) Aquisição on-line de dados relativos ao funcionamen- remoção entre 50,1 e 84,6% (média de 65,8% e mediana de
to dos equipamentos; iii) Aquisição manual de dados em 64,4%). Já com uma massa de 14 g, verificou-se um decrés-
instrumentos mecânicos; iv) Aquisição manual de dados com cimo substancial da eficiência de remoção de H2S, variando
instrumentos de portáteis; v) Realização de análises labora- de 0 a 12%. Para valores superiores a 16 g, não se verificou
toriais de amostras coletadas;vi) Elaboração de planilhas remoção de H2S.
eletrônicas para tabulação e análise de dados. O sistema foi 120
projetado de forma a possibilitar a aquisição on-line dos
Eficiência de remoção de H2S (%)

100
dados essenciais ao monitoramento do sistema e garantir a
confiabilidade nos resultados alcançados. Os dados levanta- 80
0,75
dos por meio do monitoramento on-line eram armazenados Máximo
60
no sistema supervisório e posteriormente exportados para Mediana
Média
uma planilha eletrônica específica. Os dados levantados de 40
Mínimo
forma manual ou por meio de análises laboratoriais eram 20
0,25

registrados em uma planilha eletrônica específica.


0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Massa de H2S afluente (g)

Figura 3 - Variação da eficiência de remoção de H2S em função da massa


de H2S afluente.
Desta forma, considerou-se 10 g, ou 3,41 x 10-1 mol, sulfeto de hidrogênio em solução, por meio da adição, por
como a massa máxima de H2S suportada pelo sistema. exemplo, de acetato de zinco, permitindo a precipitação dos
Tendo em vista que a mediana da alcalinidade nesta sulfetos presentes na forma de sulfeto metálico.
condição foi de 0,009 mol.L-1 e que a quantidade total de 40

35
hidroxila introduzida no sistema foi de 3,25 mol, tem-se que

Sulfeto dissolvido (mg/L)


30
reagiram 2,68 mol de hidroxila para a massa de H2S
25 0,75
estipulada (10 g), ou seja, uma relação de Máximo
7,85 molNaOH.molH2S-1. Este alto consumo se deve ao fato 20
Mediana
15 Média
do CO2 estabelecer uma competição desigual com o H2S Mínimo
10
pelas hidroxilas. Como a concentração de CO2 no biogás é 0,25
5
bastante superior à de H2S verifica-se que, caso não seja
0
necessária a remoção do CO2 do biogás, deve-se buscar 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
alternativas para diminuir esta competição uma vez que, para Massa de H2S afluente (g)
Figura 4 - Variação do sulfeto dissolvido em função da massa de H2S
pH entre 6,35 e 10,33, o CO2 estará majoritariamente na afluente.
forma de bicarbonato na solução e que a reação tende para a
equimolaridade (1:1) no processo, sendo que, os 2,33 mol de A Figura 5 ilustra a variação da eficiência de remoção de
NaOH restantes, reagem predominantemente com o CO2, CO2 em função da alcalinidade. Verifica-se que a eficiência
correspondendo a 87,3% das hidroxilas disponíveis no meio. de remoção de CO2 decresce à medida que a alcalinidade é
Uma das maneiras é trabalhar com um pH próximo a 8. A consumida. Na alcalinidade de 4,50 x 10-2 mol.L-1, obteve-se
dissociação do ácido carbônico acima do valor de pH 10,33 remoções que variaram de 31,5% a 46,4% (média de 40,3%
(pka2), tem no carbonato (CO32-) é a espécie química mais e mediana de 41,7%). Já na alcalinidade 5,00 x 10 -3mol.L-1,
abundante no meio. No intervalo de pH de 10,33 a 14,0, um a eficiência de remoção variou de 24% a 37% (média 31,7%
mol de CO2 tende a consumir 2 mols de NaOH para a e mediana de 32,9%). Quando já não havia mais alcalinidade
formação do carbonato. no meio, verificou-se que a remoção de CO2 variou de 8,5%
No intervalo de pH entre 6,35 a 10,33 (pka 1 a pka2) ob- a 30,7% (média de 21,6% e mediana de 23,6%),
serva-se que o bicarbonato (HCO3-) será a espécie química evidenciando que estava ocorrendo remoção física. A Figura
mais abundante no meio e, portanto, um mol de CO2 tende a 6 indica o incremento da concentração de CH4 em função da
consumir um mol de NaOH, sendo que no pH próximo de 8, alcalinidade.
50
os mecanismos reacionais sofrerão influência do equilíbrio
Eficiência de remoção de CO2 (%)

45

que ocorre efetivamente no pH de 6,35 em conformidade 40


35
com o diagrama de dissociação. Com a liberação de CO2 0,75
30
para a fase gasosa a partir do pH 8,0 ocorrerá o reestabele- 25
Máximo
Mediana
cimento da alcalinidade, sendo esta faixa de pH mais reco- 20
Média
mendável quando o objetivo for minimizar a competição do 15 Mínimo
10 0,25
CO2. Importante salientar que no sistema de regeneração
5
biológico também ocorrerá a liberação de hidroxilas a partir 0
do carbonato e bicarbonato presentes no meio. 0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015
Alcalinidade (mol/L)
0,010 0,005 0,000

Verifica-se ainda que, a partir do pH 9,0, o íon bissulfeto Figura 5 - Variação da eficiência de remoção de CO2 em função da massa
(HS-) atinge a maior fração molar na solução. Entretanto o de H2S afluente.
50
equilíbrio que ocorre efetivamente no pH 6,9 começa a
Incremento Concentração CH4 (%)

45
influenciar os mecanismos reacionais a partir do pH de 9,0, 40

o que faz com o que ocorra um início da liberação do H 2S 35


0,75
para a fase gasosa a partir deste. Na faixa de pH entre 9,0 a 30
Máximo
25
8,0 a função exibe uma queda na concentração de sulfeto 20
Mediana
Média
solúvel. Entretanto a partir do pH 8,0, com a saída de CO 2 15 Mínimo
da solução o H2S na forma gasosa tenderá a reagir com 10 0,25

alcalinidade reestabelecida e novamente voltar para a forma 5

solúvel (HS-). A concentração de sulfeto dissolvido (sulfeto 0


0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000
de hidrogênio, íon bissulfeto e íon sulfeto) consistiu no Alcalinidade (mol/L)
Figura 6 – Incremento da concentração de CH4 em função da alcalinidade.
parâmetro analisado para verificar a solubilização do sulfeto
no meio líquido. A Figura 4 ilustra a variação do sulfeto Conforme mencionado, a utilização do biogás como com-
dissolvido em função da massa de H2S afluente. bustível veicular requer um incremento da concentração de
Este comportamento oscilante da concentração de sulfeto metano no biogás, de forma a aumentar o poder calorífico do
dissolvido pode ser explicado pelas reações que ocorrem ao mesmo e diminuir o volume de armazenamento e consequen-
reduzir o pH para valores próximos a 9. Ao chegar próximo temente aumentar a autonomia dos veículos. Apesar destes
ao pKa1 inicia-se um equilíbrio entre a concentração de HS- testes terem priorizado a dessulfuração do biogás, a utiliza-
e o H2S. Como não foi utilizado nenhum agente precipitante ção de NaOH pode se configurar em uma alternativa para
do H2S e o mesmo tende a volatilizar, o que pode ter realizar concomitantemente a remoção de H2S e CO2. Veri-
ocasionado nesta variação das concentrações de sulfeto ficou-se que, com uma alcalinidade de 4,50 x 10-2 mol.L-1,
dissolvido. A volatilização do H2S gerado a partir da obteve-se um incremento na concentração de metano varian-
redução do íon bissulfeto pode ser evitada fixando-se o do de 12,3% a 18,5%, resultando em um biogás com 79,7%
a 84,9% de metano. Na alcalinidade de 5,00 x 10-3 mol.L-1 Na primeira fase de operação (0 a 4 dias) aplicou-se uma
obteve-se um incremento na concentração de metano varian- carga de H2S em média de 2,2 kg H2S.m-3.h-1 na TAV, sendo
do de 9,8% a 16,3%, resultando em um biogás com 77,4% a que a eficiência de remoção de H2S iniciou com 88,5 sendo
82,6% de metano. que após 66 horas de operação a eficiência atingiu 99,6 %
É fundamental estabelecer uma faixa de pH para a opera- como pode ser observado na Figura 8. Nessa fase aplicou-se
ção em contínuo do meio. A utilização de NaOH acarreta em uma carga de H2S relativamente reduzida
liberação das hidroxilas e consequentemente torna-se o pH (< 2,42 kg H2S.m-3. h-1), tendo como principal objetivo o
da solução básico. Porém, conforme descrito, os principais desenvolvimento e adaptação de microrganismos sulfoxidan-
microrganismos sulfo-oxidantes que podem ser utilizados tes no meio. Uma vez verificado que a eficiência se manteve
para regenerar as hidroxilas possuem faixa de crescimento acima de 99% por um período de 48 horas esta fase foi fina-
em pH inferior a 9. A Figura 7 ilustra a variação do pH em lizada.
função da alcalinidade. Na fase 2, realizou-se sucessivos incrementos de carga.
A alcalinidade inicial introduzida no sistema, correspond- No dia 12, chegou-se a uma carga volumétrica de
ente a 5,00 x 10-2 mol.L-1 de NaOH, resultou em um pH do 9,38 kg H2S.m-3. h-1. A eficiência de remoção de H2S redu-
meio líquido próximo a 12 em todos os ensaios. ziu de 99,1% para 96,9%.
12

11

10
0,75
Máximo
pH

9
Mediana
Média
8
Mínimo
0,25
7

6
0,045 0,040 0,035 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000
Alcalinidade (mol/L)
Figura 7 - Variação do pH em função da alcalinidade. Figura 8 - Eficiência de Remoção de H2S em função da carga aplicada de
H2S.
Uma vez que há reação do H2S e CO2 com as hidroxilas
do meio, a partir da introdução do biogás, com vazão Observou-se, nessa etapa, que para a manutenção de efici-
variando entre 12 e 14,3 L.min-1, o pH decresceu até o ências acima de 99% a carga aplicada deveria ser reduzida,
consumo total da alcalinidade, alcançando em valores que mantida, preferencialmente, abaixo de 8 kg H2S.m-3.h-1.
variaram de 7 a 7,5 (mediana equivalente a 7,2). Após a Após o dia 13, reduziu-se novamente a carga para que a efi-
alcalinidade zerar, os valores de pH são menos dispersos, ciência de remoção pudesse se reestabelecer (>99,0%). A
variando entre 7,12 e 6,95 (mediana 7,02). Com a partir desse momento, foram realizados incrementos na car-
alcalinidade correspondente a 5,00 x 10 -3 mol.L-1, o pH ga com frequências menores, para se determinar com maior
variou de 7,84 a 9,18 (média de 8,22 e mediana de 8). Uma precisão os limites de carga aplicada no sistema. No dia 36,
vez que esta faixa de pH é apropriada ao crescimento de chegou-se a uma carga aplicada de 8,3 kg H2S.m-3. h-1, a
microrganismos sulfo-oxidantes e que nesta alcalinidade qual provocou uma queda da eficiência de 99,0 para 97,5%.
verificou-se eficiência de remoção de H2S que variou de A carga foi então sendo reduzida até que se verificasse uma
99,3% a 99,9%, verifica-se que a operação do sistema em eficiência acima de 99%, o que ocorreu quando a mesma foi
contínuo com a manutenção desta faixa de pH e alcalinidade estabilizada em 7,5 kg H2S.m-3. h-1.
pode propiciar a operação de um sistema de dessulfuração A fase 3 compreendeu um período de 14 dias a qual a
com hidróxido de sódio com regeneração biológica das carga foi mantida em 7,5 kg H2S.m-3. h-1 compreendendo
hidroxilas. portanto o primeiro período em que o sistema operou em
regime estacionário. Ao longo da fase 3, observou-se que a
Experimento 2
eficiência de remoção de H2S do sistema se manteve em
O segundo experimento foi dividido em seis fases de aproximadamente 99,4%
acordo com a Tabela III: Em seguida realizou-se um choque de carga (fase 4) no
Tabela III. Fases do experimento 2. meio tendo como principal objetivo a exposição dos micror-
ganismos a condições extremas de toxicidade. Esta interven-
Fase Intervalo de Descrição
ção teve inicio no dia 57, elevando-se a carga de H2S aplica-
experimental operação
(Dias) da em aproximadamente 220%. O choque foi mantido por
1 Inoculação e 0a 4 Desenvolvimento de microorganis- um período de 48 horas, sendo que a eficiência de remoção
aclimatação mos sulfo-oxidantes de H2S reduziu para um valor médio de 80,7%.
2 Start-up e su- 5 a 42 Condicionamento do lodo a incre- Após o choque de carga iniciou-se um período de recupe-
bida de carga mentos de carga de H2S
3 Estacionária 43 a 57 Aplicação de carga ótima de H2S ração do lodo (fase 5). Esta fase foi dividida em duas etapas
por um período pré-estabelecido subsequentes. A primeira etapa consistia em estabelecer um
4 Choque de 58 a 59 Seleção de linhagens mais re- período estacionário. Durante 20 dias reduziu-se a carga
carga sistentes a toxidade do sulfeto aplicada, sendo mantida entre 3 e 6,5 kg H2S.m-3. h-1 e com
solúvel
5 Estabilização e 60 a 92 Reestabilização do sistema de au- um valor médio de 4,4 kg H2S.m-3. h-1. A primeira etapa
subida de carga mento de carga buscou reestabelecer um processo com eficiências de remo-
6 Estacionário 93 a 105 Operação em regime estacionário ção de H2S superiores a 99%. O lodo apresentou instabilida-
de no inicio, sendo que a eficiência de remoção de H2S apre- para 92,5 µmol.L-1no dia 72, atingindo o maior valor no dia
sentou os valores mais críticos do projeto (93,9%) em con- 77, de 112,5 µmol.L-1. A partir deste dia verificou-se uma
dições ideais de operação. No dia 79, o sistema voltou a redução da concentração atingindo o menor valor no dia 87
restabelecer alas eficiências de remoção de H2S a partir de (7,7 µmol.L-1), sendo que no final desta fase (dia 92) a con-
procedimentos que serão descritos posteriormente, apresen- centração foi de 30,1 µmol.L-1. Pode-se também verificar
tando bons resultados em termos de eficiência de remoção que após a diluição a eficiência de remoção de H2S continu-
de H2S (99,9%). A partir desta etapa realizou-se novamente ou bastante instável, porém no dia 79 foi restabelecida para
incrementos de carga ao sistema chegando ao valor de carga valores superiores a 99% sendo que a partir deste dia, a efi-
de 7,9 kg H2S .m-3.h-1 ao final da fase 5. ciência foi sempre superior a 99,5%.
Em seguida iniciou-se a última fase do projeto (fase 6), No segundo período estacionário, a concentração de sulfe-
tendo como principal objetivo a operação do sistema em um to dissolvido se manteve bastante estável, com valores sem-
regime estacionário, contemplando a maior carga volumétri- pre inferiores a 27,2 µmol.L-1 sendo que o sistema apresen-
ca aplicada ao sistema com boas eficiências de remoção de tava eficiências de remoção de H2S sempre superiores a
H2S. A carga aplicada nessa fase apresentou um valor médio 99,5%. Foi observado e pontuado a partir dos resultados
de 8,1 kg H2S.h-1, sendo que a eficiência de remoção de H2S analíticos, um aumento cinético dos processos de oxidação
foi sempre superior a 99,5% e um valor médio de 99,7%. do sulfeto ao final a fase de estabilização e subida de carga.
A concentração de sulfeto dissolvido no meio líquido foi A concentração de enxofre no lodo foi monitorada e com-
outro parâmetro monitorado durante o experimento. A figura parada com a concentração de oxigênio dissolvido sendo
abaixo apresenta os resultados referentes à concentração de que os resultados são apresentados na Figura 10.
sulfeto no meio em função da Eficiência de Remoção de H2S
ao longo do experimento (Figura 9).

Figura 10 - Oxigênio dissolvido em função da concentração de enxofre no


lodo.
Figura 9 - Concentração de Sulfeto dissolvido em função da Eficiência de
Remoção de H2S. Verifica-se que houve uma correlação entre a concentra-
ção de enxofre no lodo e a concentração de oxigênio dissol-
Com base no gráfico, verificou-se que na fase 1 a concen-
vido presente no meio líquido. Após o choque de carga, o
tração de sulfeto no meio variou de 0 a 97,3 µmol.L-1. Na
sistema não respondia satisfatoriamente na solubilização de
fase 2, este valor sofreu variação de 20,3 a 196,9 µmol.L-1.
O2 no meio líquido, sendo que a concentração de enxofre
Na fase 3 a concentração sofreu pequenas variações durante
atingiu um pico de 1750 mg.L-1 no dia 68. Após a diluição
o período estacionário de 42,1 a 100 µmol.L-1. Durante o
do lodo, conseguiu-se novamente solubilizar O2 no meio
choque de carga a concentração de sulfeto não apresentou
líquido, sendo que, a partir do dia 81 conseguiu-se manter a
grandes variações (93,7 a 97,3 µmol.L-1) porém a partir do
concentração de enxofre em valores inferiores a 65 mg.L-1
dia 63 iniciou-se se um incremento considerável da concen-
até o fim do experimento.
tração de sulfeto dissolvido tendo atingido um pico máximo
A Figura 11 compara a concentração de DQO no sistema
no dia 70, onde a concentração foi de 603,1µmol.L-1, possi-
e a Carga Volumétrica Aplicada de H2S.
velmente pela diminuição da concentração microbiana acar-
retada pelo choque de carga e liberação de enxofre intracelu-
lar dos microrganismos perdidos durante a fase de choque de
carga. Após o choque de carga, a eficiência de remoção de
H2S apresentou grande variabilidade, demonstrando que o
sistema não estava estável, muito provavelmente causado
pela toxicidade referente à concentração de sulfeto dissolvi-
do no meio.
Foi observado que quando a concentração de sulfeto ex-
cede 15 µmol.L-1 a produção de ATP (Adenosina Trifosfa-
tase) reduz significativamente, chegando a completa inibição
Figura 11 - Demanda Química de Oxigênio em função da Carga aplicada
ao se atingir a concentração de sulfeto de 50 µmol.L-1. Po- de H2S.
rém, como foi verificado que o sistema suportou operar com
valores de até 100 µmol.L-1, ou seja, o valor máximo obser- Na fase 1, a DQO do lodo variou de 3.790 a 4.100 a
vado na fase 3, no dia 70 foi realizada uma diluição do lodo mg.L-1.A fase 2 apresentou maiores variações em relação
com água tratada até se atingir um valor inferior a 85 DQO do meio (2.700 a 5.200 mg.L-1). Na fase 3 a DQO
µmol.L-1. Dessa forma, atingiu-se uma concentração de 82,5 permaneceu parcialmente constante variando entre 3.030 e
µmol.L-1 e, pós a diluição, a concentração de sulfeto subiu 4.100 mg.L-1. Na fase 4, com o choque de carga não se ob-
servou variações significativas na DQO do lodo, porém, Na fase 2, variou de 120,5 ppmV a 345,2 ppmV, tendo se
logo após o choque, verificou-se um acréscimo da DQO do mantido abaixo de 180 ppmV durante a fase 3. Na fase 4,
lodo, sendo que no dia 69, a DQO do lodo atingiu seu valor com o choque de carga a concentração atingiu 5.600 ppmV
máximo, de 8.500 mg.L-1. O acréscimo na DQO pode estar e, na fase 5, até se conseguir uma estabilidade do sistema a
relacionado a espécies oxidadas de enxofre (S2O32-, S0, partir do dia 81), a concentração variou consideravelmente,
S4O62-, SO32-). Pode-se ainda deduzir que por conta desse atingindo picos de 801 ppmV no dia 62, 1.132 ppmV no dia
acúmulo de formas de enxofre, os microrganismos sofreram 74 e 1.439 ppmV no dia 78. A partir do dia 82 se manteve
uma inibição por substrato, afetando a velocidade dos meca- sempre abaixo 80 ppmV sendo que na fase 6 a concentração
nismos de oxidação do sulfeto. Nesta fase observou-se além máxima atingido foi de 115 ppmV.
do aumento da DQO e uma redução da eficiência do proces- Uma análise comparativa entre o pH da Torre de Absor-
so logo após o choque de carga para valores abaixo de 98%, ção do tipo Venturi e da Torre de Regeneração Bioquímica
como também o aumento significativo da concentração de da fase líquida são demonstradas na figura a seguir (Figura
sulfeto dissolvido no meio. 13).
Verifica-se que no dia 71 a concentração de DQO caiu pa-
ra 3.150 mg.L-1 sendo que no dia 92 atingiu a menor concen-
tração desta etapa (1.780 mg.L-1) e na fase 6, a concentração
foi mantida em valores inferiores à 2.300 mg.L-1 e estável.
Verifica-se que o monitoramento da DQO, conjuntamente
com a concentração de sulfeto, são parâmetros de simples
execução e que fornecem respostas da estabilidade do siste-
ma.
A concentração de H2S no biogás afluente e efluente foi
monitorada. A Figura 12 a seguir apresenta estes resultados.

Figura 13 - Parâmetros (valores médios) obtidos para as diferentes fases do


experimento.

Verifica-se que, como esperado, o pH é sempre superior


na Torre de Regeneração Bioquímica quando comparado
com a Torre de Absorção, uma vez que há um consumo de
hidroxilas nesta última. Isto pode ser melhor visualizado na
fase 2. Após o choque de carga. Verificou-se uma instabili-
dade do sistema sendo que no dia 74 o valor de pH verifica-
do foi o mais baixo, chegando a 6,24 na TAV e 6,27 na
Figura 12 - Concentração de H2S no biogás afluente e efluente.
TRB. Após a diluição, o sistema se recuperou e a partir do
dia 81 verificou-se que os valores de pH nos dois sistemas
Como o biogás afluente é armazenado em um gasômetro são muito próximos. Isto pode ser explicado pela capacidade
que tem a função de servir como um tanque pulmão, verifi- tampão do meio e consequentemente pela estabilidade do
ca-se uma linearidade no monitoramento da composição do sistema. Ou seja, quando o sistema está estável, apesar de
mesmo. As maiores concentrações, 26.277 ppmV e 26.250 haver um consumo das hidroxilas, o meio biológico conse-
ppmV em que o sistema foi operado ocorreu entre os dias 12 gue regular o pH através dos mecanismos de oxidação.
e 14 e 93 e 98, respectivamente. Verificou-se que no segundo período estacionário valores
A referência [26] operou um sistema de dessulfuração muito próximos de pH Torre de Regeneração Bioquímica
com hidróxido de sódio com uma concentração de H 2S aflu- quando comparado com a Torre de Absorção. Isto pode ser
ente ≤ 3.000ppmV e obteve uma eficiência de 97%. Já [27] explicado pela capacidade tampão do meio e consequente-
operou um sistema de dessulfuração com hidróxido de sódio mente pela estabilidade do sistema. Ou seja, quando o siste-
(2N) com uma concentração máxima de 1.000 ppmV de H2S ma está estável, apesar de haver um consumo das hidroxilas,
e obteve uma eficiência de aproximadamente 85%. Em [28] o meio biológico consegue regular o pH através dos meca-
também operou-se um sistema de dessulfuração com hidró- nismos de oxidação.
xido de sódio (5 g NaOH.L-1) e obteve-se uma eficiência de Com relação aos dados microbiológicos, a Figura 14
remoção de 99%. Vale salientar que nenhum destes autores apresenta o dendograma do perfil de bandas apresentado no
trabalhou com sistemas de regeneração das hidroxilas. Os DGGE. Observa-se a existência de dois grupos distintos, que
autores de [17] operaram sistemas de dessulfuração biológi- possuem apenas 26,6% de similaridade. O primeiro grupo,
cos com biogás sintético com concentrações de H2S que na parte superior do dendograma, é composto por 3 amos-
variaram de 2.500 a 12.500 ppmV e obtiveram resultados de tras: o inóculo (1.In), Reator de Metanização (2.Di) e Fase
remoção de 75-95%. Em [29] ocorreu a operação de um de Aclimatação (3L). Como o inóculo foi preparado a partir
sistema de dessulfuração biológico com uma concentração do efluente do reator de metanização, era de se esperar que
de 2.000 ppmV e obteve eficiências de remoção superiores a estas duas amostras tivessem realmente uma maior similari-
95. dade, porém que apresentassem já alguma diferenciação.
Verifica-se que na fase 1 o biogás efluente iniciou com Verifica-se que elas possuem 57,1% de similaridade. Uma
2.088 ppmV, sendo reduzido no primeiro dia de testes para vez que foi iniciada solubilização de sulfeto no líquido, veri-
154 ppmV.
fica-se que já iniciou-se uma maior diferenciação, com teria, estão incluídos muitos microrganismos oxidadores de
46,1% de similaridade com as amostras iniciais. enxofre, tais como Halothiobacillus e Chromatium. Já as
Uma vez que o inóculo é proveniente do tanque de extra- bactérias do gênero Acinetobacter, que apresentaram simila-
ção, o qual recebe o efluente do reator de metanização, a ridade significativa com as bandas 4 e 5 (na mesma altura do
proximidade entre as duas amostras era esperada. No entan- gel), são amplamente distribuídas na natureza, e apesar de
to, as diferentes condições prevalecentes no tanque e no in- normalmente não serem relacionadas à oxidação de compos-
terior do reator, notadamente a aerobiose na superfície do tos de enxofre, já foram descritas em sistemas de dessulfuri-
primeiro, podem ter favorecido a diferenciação da biomassa zação [31] e há relatos de isolados identificados como Aci-
entre as duas unidades. O curto intervalo de tempo decorrido netobacter capazes de oxidar sulfeto [32]. Já os microrga-
entre as coletas do inóculo e da amostra 3L (4 dias) e a baixa nismos do gênero Arcobacter (banda 2) possuem desenvol-
carga de sulfeto aplicada na etapa de aclimatação podem ter vimento ótimo em condições de microaeração e algumas
favorecido uma maior proximidade de 3L com o clado (gru- espécies são capazes de oxidar sulfeto a enxofre elementar.
po de organismos originados de um único ancestral comum
exclusivo) representado por 1.In e 2.Di.
IV. BENEFÍCIOS E DIFICULDADES DO PROJETO
A aplicabilidade dos resultados deste projeto se dará em
empreendimentos de produção de energia utilizando biogás,
especialmente oriundos da vinhaça. Neste sentido, o presen-
te projeto desenvolveu a tecnologia de purificação necessá-
ria, demonstrando a aplicabilidade em um protótipo de esca-
la piloto. É importante destacar a originalidade e criativida-
de do projeto. O protótipo desenvolvido combina processos
químicos com processos biológicos, onde o diferencial é que
Figura 14 - Resultado do DGGE. 1.In = inóculo, 2.Di = digestor, o processo biológico não está purificando o biogás e sim
3L,4L/4B,5L/5B,6L/6B = amostras do líquido de recirculação e da biomas- regenerando o reagente químico do processo químico. Tal
sa aderida, coletadas nas etapas de aclimatação, período estacionário, após configuração leva a um sistema eficiente e de baixo custo de
choque de carga e retorno ao período estacionário, respectivamente. Os
números no dendograma se referem à similaridade. As setas na imagem
operação e manutenção, atendendo à premissa e requisito
marcam as bandas que foram sequenciadas e utilizadas nesta análise. essencial ao projeto. Além disso, o processo biológico, co-
mo não está diretamente em contato com o biogás se consti-
O segundo grupo do dendograma é composto pelas seis tui em uma segurança operacional.
amostras restantes: 4L/4B, 5L/5B, 6L/6B; que correspondem Do ponto de vista gerencial o projeto necessitou de ajus-
à biomassa do período estacionário, pós-choque e retorno ao tes ao longo do seu desenvolvimento, mas que podem ser
período estacionário, respectivamente. Observa-se que as considerados normais para um projeto de pesquisa. Houve a
amostras do líquido e da biomassa aderida em cada fase ex- necessidade de extensão do prazo em 12 meses, principal-
perimental apresentam significativa similaridade (77,8% mente devido aos seguintes fatores: necessidade de análises
entre 4L e 4B, 82,4% entre 5L e 5B e 70,6% entre 6L e 6B), específicas e de operação da unidade experimental para co-
embora não sejam idênticas. leta de dados de acordo com o período de safra e produção
Notadamente, o clado composto pelas amostras 6L e 6B da Usina Belo Monte (açúcar e etanol). A parte construtiva,
(retorno ao período estacionário) apresenta baixa similarida- como não exigiu nenhum equipamento importado, não gerou
de com os demais dentro do grupo (33,4%), o que sugere problema, mas explorou a criatividade e competência da
que o choque de carga levou a uma alteração significativa da equipe técnica em criar o processo e resolver os problemas
microbiota. No entanto, apesar das diferenças entre os perfis para a sua adequada operação experimental. De maneira
de bandas de cada amostra, alguns grupos de microrganis- geral, as maiores dificuldades desta pesquisa ainda encon-
mos (destacados pelas setas) podem ser vistos em pratica- tram-se associadas a complexidade inerente de um processo
mente todas ou mesmo em todas as fases experimentais. bioquímico e ao pouco conhecimento e domínio sobre o
Com o objetivo de identificar os microrganismos presen- assunto, o que leva inevitavelmente a responder algumas
tes no sistema, bandas de diferentes alturas do gel foram questões e abrir inúmeras outras, que se constituirão em no-
excisadas, eluídas em água ultrapura, tiveram o DNA ream- vas frentes de pesquisa.
plificado e enviado para sequenciamento bidirecional (reali- A Cemig pôde com o projeto entender melhor desta fonte
zado pela empresa Macrogen, Inc.). Uma vez que através da de energia da biomassa e assim direcionar os estudos e es-
ferramenta BLASTn algumas sequências produziram muitos forço internos, ao passo que o projeto oferece uma configu-
alinhamentos significativos com amostras ambientais e clo- ração de parâmetros de biogás sobre o qual é possível mini-
nes não cultivados, optou-se por fixar o limite mínimo de mizar a incerteza quanto a implantação de cogeração usando
identidade em 85%. biogás da vinhaça. A Methanum teve neste projeto uma
Verificou-se a presença significativa de bactérias do filo oportunidade de demonstrar sua competência técnica, se
Proteobacteria nas amostras coletadas, especificamente da desenvolvendo e se consolidando como uma empresa refe-
classe Gammaproteobacteria. As subdivisões do filo Prote- rência no assunto e a Efficientia também pode capacitar pes-
obacteria (Alfa, Beta, Gamma, Delta e Epsilon) se diferen- soal para lidar com a tecnologia e investigar negócios em
ciam em relação à filogenia (baseada na sequência do gene eficiência energética, geração distribuída e cogeração.
do rRNA 16S), porém compartilham muitas características Durante o projeto foram realizadas algumas publicações
fisiológicas e ecológicas [30]. Na classe Gammaproteobac- (Citenel/2013, XI Simpósio Latino Americano de Digestão
Anaeróbica, Revista Engenharia Ambiental e Sanitária, Jor- tema de Distribuição – TUSD, ou Tarifas de Uso do Sistema
nal Biomassa BR e Revista de P&D Aneel Ed. 2015), sendo de Transmissão – TUST se somam impostos evitados, tor-
que no momento outras se encontram em avaliação e sub- nando esta energia atraente para o consumidor.
missão (pelo menos outras duas publicações). A equipe do Essas tarifas compõem a maior parte da parcela de tarifas
projeto defendeu uma dissertação de mestrado (Dez/2014) e e encargos presentes na energia paga pelos consumidores.
uma tese de doutorado (Abril/2015). O protótipo construído No caso de consumidores A4, que são os principais compra-
pode ser verificado nas Figuras 15 e 16. No momento está dores em potencial desta energia, em pesquisa feita com
sendo avaliada por escritório especializado a possibilidade cinco distribuidoras, verificou-se que em 2011 as tarifas e
de deposito de patente da invenção junto ao INPI. Faz-se encargos respondiam por 31% do valor pago. Assim, estima-
necessário também destacar que os resultados deste projeto se que consumidores livres que adquiram energia incentiva-
se constituem em um incentivo para investigação de negó- da produzida a partir do biogás possam obter reduções de
cios da Empresa Adecoagro, proprietária da Usina de Belo custo de energia de até 30%, a depender do custo da geração
Monte, onde foram desenvolvidos os estudos deste P&D. elétrica.
Tal afirmação se baseia no fato de que está sendo realizado Podem optar pelo Mercado Livre consumidores com de-
um estudo de implantação deste projeto já em escala indus- manda contratada maior ou igual a 3,0 MW e consumidores
trial e uma unidade de açúcar e etanol situada no Mato Gros- especiais com demanda maior ou igual a 0,5 MW. Os con-
so. sumidores especiais caracterizados como consumidores A4-
industrial, poderiam ser o mercado alvo para projetos do
setor sucroenergético, que compram energia das distribuido-
ras locais e representa aproximadamente 6% da energia con-
sumida no Brasil, ou seja, 6.300 MW médios.
Esta energia provinda da vinhaça é caracterizada como
geração contínua sazonal (240 dias por ano) e, por ser sazo-
nal, a ANEEL permite que o comprador desta energia com-
plemente, nos períodos de entressafra, com outros contratos
de energias, fósseis ou não, estendendo todos os benefícios
da energia provinda do biogás para os outros contratos. Esta
Figura 15 – Unidade experimental de dessulfuração: conjunto completo. regulação facilita a comercialização desta energia no merca-
do livre, tornando-a competitiva.
Considerando que na safra de 2012/2013 foram produzi-
dos 23,23 Mm3 de etanol e considerando uma taxa de gera-
ção de vinhaça de 12 L.L-1 de etanol e uma concentração
média de DQO de 35 g.L-1 de vinhaça, nesta safra foram
gerados 9,75 Milhões de toneladas de DQO. Considerando
uma taxa de remoção de DQO de 70% e uma produtividade
de 0,4 m3CH4.kg-1 de DQO, o potencial de geração de me-
tano apenas do setor sucroenergético na safra 2012/2013 foi
de 2.731.377.600 m3.ano-1, ou 7.483.226 m3.dia-1.
Considerando o poder calorífico do metano de 9,28
kWh.m-3 e uma eficiência elétrica de um grupo gerador de
Figura 16 – Equipamentos do protótipo do sistema de dessulfuração. energia (CHP) de 43%, o potencial de geração de energia
elétrica a partir de vinhaça na safra de 2012/2013 foi de
A estimativa de benefício do projeto é indicado na Tabela 10,9 TWh.ano-1, o que representa 281,4% do consumo total
IV. de energia elétrica da cidade de Belo Horizonte em 2010.
Tabela IV. Expectativa de impacto do projeto. Considerando um Market Share inicial de 1% deste mer-
cado, o potencial de geração de energia utilizando esta tec-
Benefício Unidade Base Impacto
(%) nologia é de 109 GWh.ano-1. Considerando um consumo
Oferta de Energia TWh*ano 10,9 0,45 interno de 15% da energia gerada e adotando o custo médio
Biogás como com- TWh*ano 27,04 0,45
de geração de R$100,00.MWh-1, que inclui a remuneração
bustível do investimento, UBP, O&M, encargos setoriais etc, e con-
Redução de GEE GgCH4/ano 1.958.397,74 0,1 siderando a venda de energia a R$250,00.MWh-1, a receita
potencial é de R$13.897.500,00.ano-1. Importante frisar que
esta é a única tecnologia de dessulfuração de biogás da vi-
nhaça em operação no Brasil, sendo que este Market Share
V.ESTUDO PRIMÁRIO DE VIABILIDADE ECONÔMICA pode ser ampliado consideravelmente.
Projetos de geração de energia, a partir da biomassa, in- Importante salientar que o tratamento proposto viabiliza o
clusive da metanização da vinhaça ou torta de filtro, gozam tratamento adequado da vinhaça, sendo atualmente um dos
de desconto de até 100% das tarifas “fio”, tanto de geração maiores passivos ambientais do setor sucroenergético, uma
quanto de consumo, caso o produtor atue como Produtor vez que a carga poluidora é reduzida em 70%, atendendo às
Independente de Energia (PIE) ou autoprodutor. No caso de legislações ambientais (Resolução CONAMA 357/2005),
autoprodução, além do desconto na Tarifas de Uso do Sis- que estabelece que a redução da DQO deve ser no mínimo
de 55%, sendo que o sistema de metanização desenvolvido e Os resultados obtidos na segunda etapa demonstraram que
operado pela Methanum a qual este sistema está acoplado o sistema foi capaz de operar com uma carga de
reduz em até 70% a DQO da vinhaça. Desta forma, caso os 7,5 kg H2S .m-3.h-1 no primeiro período estacionário e com
Órgãos Ambientais comecem a exigir um correto tratamento 8,1 kg H2S .m-3. h-1 no segundo período estacionário, ou
da vinhaça, esta tecnologia tem o potencial de realizar o seja, 8% superior, demonstrando que o choque de carga teve
tratamento e gerar receitas, no caso a energia e o biofertili- efeito positivo ao sistema e com eficiências de remoção de
zante. H2S superiores a 99,7%.
No caso do biofertilizante, o sistema de metanização re- Após o choque de carga, a concentração de sulfeto dissol-
duz a concentração de carbono da vinhaça, sendo que a vido incrementou consideravelmente, chegando a
mesma fica estabilizada, sendo que há ganhos ambientais na 603,1µmol.L-1, possivelmente pela diminuição da concentra-
aplicação da vinhaça biodigerida frente à aplicação da vi- ção microbiana acarretada pelo choque de carga e liberação
nhaça in-natura. O custo estimado para um sistema de des- de enxofre intracelular dos microrganismos perdidos. A di-
sulfuração para um potencial de geração de 1 MW é de luição realizada para diminuir esta concentração possivel-
aproximadamente R$ 800.000,00. A Methanum e Efficientia mente tóxica interferiu beneficamente na recuperação da
estão trabalhando em um projeto executivo para aferição estabilidade do sistema, sendo que no segundo período esta-
deste valor, sendo que já há previsão de instalação de uma cionário, concentração de sulfeto dissolvido se manteve bas-
primeira unidade cujo potencial é de aproximadamente 200 tante estável, com valores sempre inferiores a 27,2 µmol.L-1.
kW, o que traduz o sucesso deste projeto e permitirá a reali- Verificou-se uma correlação entre a concentração de en-
zação da primeira planta em escala industrial utilizando a xofre total no lodo e a concentração de oxigênio dissolvido
tecnologia desenvolvida. Vale salientar que a escala média no mesmo, sendo que, quando não se conseguiu solubilizar
das plantas de biogás da Alemanha são de 450 kW. oxigênio no lodo, a concentração de enxofre no lodo se man-
Considerando como referência de custo ou preço de ener- teve alta. Após a diluição, o oxigênio começou a ser solubi-
gia no Brasil, a tarifa média do setor industrial, ou o preço lizado, podendo ter influência no restabelecimento da efici-
da energia no mercado “spot” (PLD), no momento, os resul- ência de remoção de H2S do sistema.
tados financeiros do projeto tornam-se ainda mais atrativos. Verificou-se também que a concentração de DQO após o
choque de carga foi incrementada, possivelmente pelas es-
pécies oxidadas de enxofre presentes no meio (S2O32-, S0,
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS
S4O62-, SO32). Verifica-se que o monitoramento da DQO,
A utilização de hidróxido de sódio dissolvido em água conjuntamente com a concentração de sulfeto, são parâme-
para dessulfuração de biogás com altas concentrações de tros de simples execução e que fornecem respostas da esta-
sulfeto de hidrogênio em uma torre de absorção química do bilidade do sistema.
tipo Venturi, nas condições operacionais descritas, A maior concentração de H2S afluente foi de
possibilitou eficiências de remoção de H2S entre 99,3 e 26.277ppmV. No primeiro período estacionário a concentra-
99,9% até os mínimos valores de alcalinidade mensurados. ção efluente foi sempre inferior a 180ppmV sendo que no
Com uma massa aplicada de 10 g de H2S, as eficiências segundo período estacionário esta concentração foi sempre
de remoção variaram entre 85,3 e 99,9%. Com 12 g de H 2S inferior a 115,03ppmV.
afluente, a eficiência de remoção reduziu para valores entre Quanto aos grupos de microrganismos encontrados no sis-
50,1 e 84,6%. Já com uma massa de 14 g, verificou-se um tema, foi observada, em todas as amostras, a presença de
decréscimo substancial da eficiência de remoção de H2S, membros da Classe Gammaproteobacteria (bandas 1, 3, 4 e
variando de 0 a 12%. 5), a qual inclui muitas bactérias capazes de oxidar compos-
Considerando a massa de 0,341 mol de H2S e que estavam tos de enxofre reduzidos. Mais especificamente, foi detecta-
disponíveis no meio 3,25 mol de hidróxido de sódio, obteve- da a presença de organismos similares aos da Ordem Thio-
se uma razão de 7,85 mol NaOH.mol H2S-1, evidenciando trichales e aos gêneros Acinetobacter e Arcobacter, o último
uma competição das hidroxilas com o CO2, que pode ter pertencente à Classe Epsilonproteobacteria.
consumido 87,3% das hidroxilas disponíveis no meio. A sequência obtida a partir da banda 1 apresentou simila-
Com a alcalinidade correspondente a 5,00 x 10 -3 mol.L-1, ridade com organismos da ordem Thiotrichales, que inclui
o pH variou de 7,84 a 9,18. Uma vez que esta faixa de pH é diversas bactérias capazes de oxidar sulfeto, tais como
apropriada ao crescimento de microrganismos sulfo- Thiobacterium, Beggiatoa e Thiotrix. Com exceção das
oxidantes e que nesta alcalinidade verificou-se eficiência de amostras do inóculo, do reator de metanização e do retorno
remoção de H2S que variou de 99,3% a 99,9%, verifica-se ao período estacionário, bandas correspondentes podem ser
que a operação do sistema em contínuo com a manutenção vistas nas demais amostras da Torre de Regeneração Bio-
desta faixa de pH e alcalinidade pode propiciar a operação química. Grupos similares a Acinetobacter (bandas 4 e 5)
de um sistema de dessulfuração com hidróxido de sódio aparentemente estiveram presentes em todas as etapas expe-
acoplado a um sistema de oxidação biológico de rimentais realizadas na Torre de Regeneração Bioquímica,
regeneração das hidroxilas pode se constituir em uma mas não nas amostras do digestor e do inóculo demonstran-
alternativa para reduzir o consumo de hidróxido de sódio do um desenvolvimento de um grupo específico. Este gênero
deste sistema. é composto por microrganismos aeróbios, capazes de meta-
A utilização deste sistema para realizar a dessulfuração e bolizar diversos compostos orgânicos e encontrados em di-
purificação do biogás pode se constituir em uma alternativa versos habitats, tais como solo, água e esgoto. Estas bacté-
tecnicamente viável, uma vez que verificou-se incrementos rias foram descritas em sistemas de dessulfurização [31] e
da concentração de metano de até 18,5%. associadas à oxidação de sulfeto [32].
Conclui-se, a partir dos dados apresentados, que as condi- [13] TAYLOR, D. K. Natural Gas Desulfurization (Parts 1-4). Oil and Gas
Journal, 1956.
ções estabelecidas no sistema de dessulfurização levaram a
[14] NEUMANN D.W.; LYNN S. Oxidative Absorption of H2S and O2 by
uma diferenciação significativa da microbiota em relação ao Iron Chelate Solutions. AIChE Journal. v.30, no.1, p.62-69, 1984.
digestor e ao inóculo. É possível depreender ainda que, após [15] McKINSEY Z. S. Removal of hydrogen sulfide from biogas using
o choque de carga, uma comunidade microbiana distinta das cow-manure compost. Dissertação de mestrado. Faculty of the
etapas anteriores pode ter se estabelecido (no que se refere a Graduate School of Cornell University, 2003.
[16] BAGREEV, A.; BANDOSZ, T. J. A role of sodium hydroxide in the
alguns grupos microbianos). Novos experimentos serão rea- process of hydrogen sulfide adsorption/oxidation on caustic impreg-
lizados para identificar, de forma mais abrangente, os grupos nated activated carbons. Industrial & Engineering Chemistry Re-
microbianos presentes no sistema. search. v.41, no4, p.672-679, 2002.
O projeto atingiu seus objetivos, construindo e testando [17] SAELEE, R.; CHUNGSIRIPORN, J.; INTAMANEE, J.;
BUNYAKAN, C. Removal of H2S in biogas from concentrated latex
um protótipo de sistema de dessulfuração do biogás, que foi industry with iron (III) chelate in packed column. Journal Scence
instalado e operado experimentalmente para a pesquisa e and Technology, v. 31, p.195-203, 2009.
validação de dados. Os resultados deste projeto estão sendo [18] FORTUNY M.; BAEZA J.A.; GAMISANS X.; CASAS C.;
analisados e utilizados em estudos de ampliação de escala LAFUENTE J.; DESHUSSES M.A.; GABRIEL D. Biological
sweetening of energy gases mimics in biotrickling filters. Chemo-
para implantação de projetos pré-comerciais. Ainda existe a sphere. v.71, p.10–17, 2008.
possibilidade de registro de patentes e posterior licenciamen- [19] WEILAND, P., Biogas production: current state and perspectives.
to, uma vez que se trata de uma tecnologia que pode viabili- Applied Microbiology and Biotechnology, v.85, P.849–860, 2010.
zar um novo mercado de aplicação e de energia. Ao longo [20] JIN Y.; VEIGA M.C.; KENNES C. Effects of pH, CO2, and flow
pattern on the autotrophic degradation of hydrogen sulfide in a bio-
do projeto houve capacitação, treinamento, formação e pu- trickling filter chemical. Biotechnology and Bioengineering. v.92,
blicações conforme esperado para projetos desta natureza e p.463– 471, 2005.
as entidades envolvidas se beneficiaram pelo profundo co- [21] SYED, M.; SOREANU, G.; FALETTA, P.; BÉLAND, M. Removal of
nhecimento que o projeto proporcionou. hydrogen sulphide from gas streams using biological processes – a
review. Canadian Biosystems Engineering. v.48, p.2.1-2.14, 2006.
Espera-se que os resultados e benefícios deste projeto [22] GARCIA, Graziella Patrício; ARAUJO, Juliana Calábria.
atingam além das empresas envolvidas, contribuindo para a EXTRAÇÃO DE DNA DE AMOSTRAS DE LODO, SEDIMENTO
construção do sistema energético futuro com a sustentabili- E ESCUMA. Procedimento Operacional Padrão da Rede PROSAB
dade da fonte renovável biomassa, dada pela resíduo do se- Microbiologia para o Saneamento Básico. . [S.l: s.n.]. , 2010.
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