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Guia de boas prácas:

do diagnósco à intervenção
de pessoas com transtornos
específcos de aprendizagem

Organizadoras:
Ana Luiza Navas
Cína Salgado Azoni
Darlene Godoy de Oliveira
Juliana Posgo Amorina Borges
Renata Mousinho

São Paulo, Brasil


2017
Guia de boas práticas: do diagnóstico à intervenção de pessoas
com transtornos específicos de aprendizagem. / Organização de Ana
Luiza Navas ... [ et al.] – São Paulo : Instituto ABCD, 2017.

Recurso eletrônico. Tipo de Suporte: Publicação digitalizada


ISBN 978-85-94024-01-5

1. Transtornos específicos de aprendizagem 2. Dislexia do


desenvolvimento 3. Diagnóstico 4. Intervenção 5. Multidisciplinar I.
Navas, Ana Luiza II. Azoni, Cíntia Salgado III. Oliveira, Darlene
Godoy de IV. Borges, Juliana Postigo Amorina V. Mousinho, Renata
VI. Título.

CDD- 616.855
Conteúdo

5 Apresentação

7 Capítulo 1. ELO: escrita, leitura e oralidade


RenataMousinho

14 Capítulo 2. Projeto LEIA - LEITURA, ESCRITA E AUDIÇÃO - UFRN


Atuação no modelo de resposta à intervenção
 ,IzabelAugustaPiresHazin ,BárbaraGabrielaAlvesde
CínaAlvesSalgadoAzoni 
Queiroz ,FernandaVanessadaCostaVarela

19 Capítulo 3. ABD: Uma Instuição pela Dislexia


MariaInezOcanãDeLuca

22 Capítulo 4. AND: Transtornos de Aprendizagem – A Formação e Intervenção do


Professor
CléliaArgoloEsll  ,VaniaPavão

26 Capítulo 5. A avaliação de Dislexia do Desenvolvimento no Ambulatório de


Aprendizagem do Projeto ACERTA (PUCRS, InsCer)
RudineiaToazza , AdrianaCCosta , AnaBassôa ,MirnaWeersPortuguez , Augusto
Buchweitz

36 Capítulo 6. Avaliação neuropsicológica no connuo diculdades-transtornos de


aprendizagem da leitura e da escrita: uxo de um serviço-escola da
PUC-RS para evidências de pesquisa
HosanaAlvesGonçalves ,BrunaEvaristoSchefer  ,RochelePazFonseca

44 Capítulo 7. Centro de Invesgação da Atenção e Aprendizagem (CIAPRE):


abordagem interdisciplinar nos transtornos de aprendizagem
RicardoFrancodeLima

49 Capítulo 8. Atuação fonoaudiológica nos Transtornos Especícos de


Aprendizagem: experiência da FOB/USP no diagnósco, intervenção
e orientações aos professores e pais
PatríciaAbreuPinheiroCrenie , AlineRobertaAceitunodaCosta ,ThaisFreire

55 Capítulo 9. A assistência a pessoas com transtornos especícos de


aprendizagem na clínica-escola de fonoaudiologia da UFPB
IsabelleCahinoDelgado

61 Capítulo 10. Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem (LETRA):


relato de experiência em diagnósco interdisciplinar
CláudiaMachadoSiqueira ,DéboraFragaLodi  , JulianaFrançaDrumondAguiar  ,
 JulianaFloresMendonçaAlves ,LucianaMendonçaAlves ,MariadoCarmoMan-
gelliFerreira
67 Capítulo 11. A Experiência do NANI/CPN no Atendimento de Crianças e
Adolescentes com Transtornos de Aprendizagem
ThaísBarbosa ,CamilaCruz-Rodrigues ,CarolinaMaarJuliendeToledo-Piza  ,Cláu-
diaBerlimdeMello

71 Capítulo 12. Avaliação neuropsicológica para crianças e adolescentes:


diagnóscos e condutas: relato sobre seu primeiro ano de
funcionamento em uma clínica-escola da Universidade Federal de
Mato Grosso, Campus de Rondonópolis
RauniJandéRoamaAlves

78 Capítulo 13. Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAPEN)
IzabelHazin ,EdianaGomes ,CínaAlvesSalgadoAzoni 

83 Capítulo 14. Relato do Processo de Intervenção nos Transtornos Especícos de


Aprendizagem no Contexto de Estágio de Linguagem do Curso de
Fonoaudiologia da UFRGS
 JerusaFumagallideSalles ,FabianePuntelBasso

89 Capítulo 15. Serviço de Avaliação e Intervenção em Dislexia (SAID-Mack)


vinculado ao Laboratório de Neurociências Cogniva e Social da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
ElizeuCounhodeMacedo , AmandaDouatCardoso ,MatheusSant’AnaMichelino ,
 AlessandraGotuzzoSeabra
de assistência de crianças, jovens e adultos com dislexia e outros transtornos especícos
de aprendizagem. Além disso, o Instuto ABCD valoriza as parcerias técnico-ciencas
com instuições públicas e privadas em prol do intercâmbio de conhecimento sobre temas
relacionados aos transtornos de aprendizagem.
Com esses objevos em mente, surgiu a proposta de elaboração do “Guia de boas
prácas: do diagnósco a intervenção de pessoas com transtornos especícos de apren-
dizagem”. A convite do iABCD, pesquisadores de várias regiões do Brasil 15 se dispuseram
a comparlhar suas experiências prossionais de ensino, pesquisa e extensão no atendi-
mento público e gratuito de qualidade para crianças e adolescentes com problemas de
aprendizagem.
Os 15 capítulos aqui reunidos trazem contribuições valiosas com rigor acadêmico e
técnico, baseadas em evidências ciencas, e apresentam prácas atualizadas e de qua-
lidade que podem ser implementadas com relava facilidade por prossionais e equipes
muldisciplinares em qualquer local do Brasil. Dentre tais prácas, destacamos o princípio
da Resposta à Intervenção (RTI) e o aumento expressivo da oferta de instrumentos de
avaliação padronizados e normazados que avaliam habilidades cognivas relacionadas
à leitura, escrita e matemáca.
Nossa principal expectava é fornecer neste guia informações e modelos de atuação
que possam instrumentalizar e empoderar prossionais e equipes, que por sua vez passem
a fornecer atendimento de qualidade às crianças, jovens, suas famílias e escolas.
Capítulo 1. ELO: escrita, leitura e oralidade

Renata Mousinho1 – mousinho.ufrj@gmail.com

RESUMO

ELO: escrita, leitura e oralidade é um projeto que faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é voltado
para crianças com Transtornos de leitura e escrita. Com perspecva interdisciplinar, seja para avaliação diagnósca
ou intervenção, tem se pautado na proposta de RTI, Resposta à Intervenção. O apoio à família permeia todas as
etapas.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Escrita. Saúde. Educação. Interdisciplinaridade.

IDENTIFICAÇÃO chamado de Projeto ELO: Escrita, Leitura e Oralidade. ELO,


para sintezar pontos cruciais do projeto: ELO da interdisci-
O projeto ELO faz parte da Graduação em Fonoaudiologia plinaridade, ELO com as parcerias estabelecidas, ELO entre
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio saúde e educação, ELO com os demais Centros de Referência,
de Janeiro. Apesar do nome de Universidade Federal do Rio ELO entre os cinco subprojetos envolvidos na proposta.
de Janeiro (UFRJ) ter sido proposto em 1920, a Faculdade Desde então, o Projeto ELO tem sido apoiado pelo iABCD,
de Medicina da UFRJ já havia sido criada por D. João desde atualmente submedo a aprovações anuais. Trata-se de um
1808. A Graduação em Fonoaudiologia, por sua vez, iniciou projeto cujos serviços são 100% gratuitos para a população.
em 1994. O ambulatório especializado em Transtornos Alguns ajustes foram ocorrendo no decorrer deste perío-
de Leitura e Escrita, localizado no Instuto de Neurologia do, e a experiência foi apontando para os caminhos de maior
Deolindo Couto, iniciou suas avidades cinco anos depois, em sucesso, e para aqueles que precisavam de uma atenção
1999, sob a coordenação da Professora Renata Mousinho. A especial. Mas há pontos que se mostram cruciais em todo o
Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) passou a ser res- percurso: a interdisciplinaridade, o apoio à família, a dispo-
ponsável por intermediar o fomento ao projeto desde 2010. nibilidade para as escolas e professores e as parcerias com
Em 2009, foi lançado um edital para selecionar os Centros outros departamentos, cursos, instuições. Hoje a equipe
de Referência em Dislexia no Brasil pelo Instuto ABCD (iA- conta com fonoaudiólogos (formados, bem como parte
BCD), instuição que se dedica ao atendimento e incenvo dos alunos de último ano de curso da UFRJ), psicólogos e
às pesquisas na área de dislexia, promovendo ações educa- neuropsicólogos (formados e de estágio supervisionado por
cionais e sociais através de nanciamento e apoio técnico professores da Graduação em Psicologia da UFRJ), pedago-
a projetos em parceria com organizações já estabelecidas. gos, professores (incluindo de educação sica) e designers.
Projetos de uma série de instuições foram submedos à
análise de um comitê consulvo composto por alguns dos RELATO DE EXPERIÊNCIA
maiores especialistas em leitura e escrita do mundo: Hugh
Cas (University of Kansas - EUA), Linda Siegel (University Justificativa
of British Columbia - Canadá), Leonard Katz (University
of Conneccut - EUA), Margaret Malpas (Brish Dyslexia Problemas de leitura causam impacto em toda a esco-
Associaon - Reino Unido) e José Morais (Université Libre laridade, trazendo repercussões afevas e sociais. Diversos
de Bruxelles - Bélgica). estudos mostram a importância da prevenção e idencação
Impulsionado pela seleção no programa dos Centros de das crianças em risco de problemas de leitura, para possi-
Referência em Dislexia do IABDC, o programa passou a ser bilitar a intervenção precoce e minimizar futuros prejuízos.

1. Fonoaudióloga. Pós doutora em Psicologia - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora e Mestre em Linguísca-UFRJ. Especializada em Psico-
motricidade-ISRP-Paris e Educação Inclusiva-UGF. Professora Associada da Faculdade de Me dicina, Departamento de Fonoaudiologia- UFRJ. C oordenadora do
projeto ELO: escrita, leitura e oralidade.
Mousinho R

Idencá-los precocemente torna-se emergente diante da é necessário se alinhar às pesquisas nacionais e internacionais,
possibilidade de poder eliminá-los ou minimizá-los através bem como ao Manual Diagnósco(4) e seguir a proposta de
de esmulação precoce. Pesquisadores, educadores e polí- Resposta à Intervenção (Response to Intervenon – RTI)(5).
cos vêm dando mais atenção a estas questões, mostrando A inclusão da abordagem de RTI como um dos critérios do
o impacto posivo de programas de intervenção precoce DSM5 pode ser considerada uma alternava à forma tradicio-
sobre possíveis problemas de leitura (1). Em todo o mundo, nal de idencar estudantes com transtornos especícos de
trabalhos de prevalência dos transtornos de leitura eviden- aprendizagem, avaliando e intervindo dentro de um sistema
ciam valores bastante diversos que variam entre 5% e 40%, mulcamadas, visando maximizar o potencial do aluno na-
 já que os critérios e recortes escolhidos são muitos(2). quelas habilidades, minimizando problemas comportamentais
Ademais, em nosso país temos um fator complicador. secundários(6).
A educação pública brasileira, de modo geral, apresenta Em relação ao diagnósco, ele não é dado a priori, ou
índices desfavoráveis em relação aos resultados em testes seja, podem ser levantadas suspeitas, mas a forma como a
de leitura e compreensão leitora/escrita. O Programme for criança responder à  proposta de RTI poderá conrmar ou
Internaonal Student Assessment  (PISA, 2015) avaliou a habi- não a hipótese inicial. E, independente do diagnósco de
lidade de leitura em adolescentes de quinze anos em diversos base, o programa de remediação elaborado vai favorecer o
países do mundo e o Brasil apresentou péssimo resultado em desenvolvimento de todos.
média de leitura, gurando nas últimas colocações em nível Na proposta de RTI em camadas, o componente instru-
mundial(3). São variáveis biológicas e ambientais interagindo, cional entre as mesmas é adivo. Isto é, todos os estudantes
ou seja, um transtorno especíco de aprendizagem pode ser recebem instrução na camada 1, referente ao rastreio univer-
ainda mais prejudicado diante de um sistema educacional sal, ou seja, em sala de aula. Na camada 2, somente o grupo
que mal dá conta de quem não apresenta diculdades. Tal de alunos que caram com algumas diculdades na camada
realidade exige um plano mais integrado entre saúde e edu- 1 é que vão parcipar, o deveria acontecer prioritariamente
cação, e exige esforços para ações urgentes. O fato é que, nas escolas, mas também é realizado em espaço da saúde(8).
independente da origem das diculdades, há muitas crianças Por m, só parcipam da camada 3 aqueles com diculdades
precisando de ajuda e o aumento de demanda em serviços persistentes, mesmo após a parcipação nas camadas 1 e 2,
especializados é alarmante. sendo indicavo de Transtorno de Aprendizagem (9,10).
No caso do ELO, a primeira camada não acontece no
MÉTODO E RESULTADOS próprio projeto. Só podemos acompanhar, em forma de
parceria, a proposta de esmulação universal realizada em
Uma invesgação diagnósca na área de leitura e escrita um dos campi de uma escola pública federal de referência
não tem como desconsiderar inúmeras variáveis, que vão de no Rio de Janeiro, onde há fonoaudiólogos educacionais
questões educacionais a psicológicas, além das linguísco-cog- concursados dentro da equipe. Os resultados têm sido bas-
nivas. Então, além de ter pontos de vista de áreas diferentes, tante posivos(11).

Figura 1. Modelo RTI em camadas para intervenções acadêmicas e comportamentais, tradução livre (2), a parr de(7).
Mousinho R

Figura 2. Organograma da invesgação diagnósca do Projeto ELO

conseguimos efevar dentro do projeto, como reabilitação narravas também são desenvolvidas no conto, reconto
cogniva, terapia ocupacional ou música. e interpretação.
• Pedagogia/psicopedagogia: o apoio nesta área é im-
Figura 3 prescindível, ainda mais considerando a etapa em que
chegam ao projeto, muitos sem ler, e alguns lendo muito
A abordagem de intervenção é toda baseada em evidên- mal. O ano inicial da alfabezação formal é uma etapa
cias ciencas(14), aliado ao olhar posivo sobre o potencial fundamental, mesmo que o ciclo seja de 3 anos (17). Como
das crianças: acreditamos, e fazemos as próprias acredita- muitos progridem de ano escolar, mesmo sem saber ler,
rem, que todos vão aprender a ler ou ler melhor. O mínimo eles deixam de ter um projeto pedagógico que atenda
oferecido de intervenção, desde o princípio, foi a dupla fono- àquela demanda especíca. Oferecer um trabalho siste-
audiologia-pedagogia, por conseguirem atender às questões mazado favorece todas as crianças mas, em especial,
centrais daqueles com diculdades de leitura(15). Entretanto, aqueles que apresentam diculdades (18,19). O vínculo com
outras áreas, tal qual brevemente descrito anteriormente, a aprendizagem tende a ser retomado.
trazem enormes benecios e são sempre benvindas como • Psicologia: Pouco mais de um terço das crianças e ado-
experiências que só somam no desenvolvimento da criança. lescentes com problemas de aprendizagem apresentam
• Fonoaudiologia: é ulizado como base da intervenção o consequências psíquicas como ansiedade ou depressão,
programa de remediação fonológica(16), com uso dos livros número seis vezes maior do que em crianças que não en-
da Coleção Estrelinha, que apresentam grau crescente frentam essas diculdades  (19-20).Comportamentos agres-
de complexidade. Estimula a consciência fonológica, sivos são também recorrentes. Por esta razão, dar apoio
a memória de trabalho fonológica, aumenta o   input  psicológico a elas torna-se tão relevante. Esta proposta
visual, em um contexto de leitura real. As habilidades de atendimento colevo proporciona um espaço onde

Figura 3. Ocinas oferecidas na intervenção do Projeto ELO


Capítulo 1. ELO: escrita, leitura e oralidade

encontre outras crianças que experimentem as mesmas costumam se reverter negavamente sobre a dinâmica fami-
diculdades e possa se expressar livremente favorece o liar, criando um ciclo vicioso, e este é o maior indicador que
desenvolvimento pleno da criança, facilitando sua adap- o apoio às famílias é de suma importância(33,34,35) .
tação no ambiente social, educacional e familiar. Ao longo dos últimos anos, a abordagem com a família
• Processamento audivo: tendo em vista que a leitura foi variada.
envolve a conexão do processamento visual com o audi- • Psicologia na sala de espera (36): propõe humanizar as
vo, a esmulação deste último pode representar para questões trazidas pelos pais relacionadas ao sofrimento
alguns um bom reforço na equipe de intervenção. A re- da familiar diante das diculdades de aprendizagem das
lação entre processamento fonológico e processamento crianças. Esse aproximação com os familiares possibilita
audivo, especialmente em leitores principiantes, reforça estreitar as relações entre os prossionais, pais e crian-
essa ideia(22). Estudos mostram a ecácia do treinamento ças. Acolher e compreender a queixa dos familiares é
audivo para crianças com Dislexia, discundo inclusive um dos primeiros passos no processo de intervenção.
o enfoque de maior sucesso (23). No projeto aconteceram Essa escuta, muitas vezes, acontece na sala de espera
individualmente, dentro e fora da cabina. e de forma espontânea. Alguns familiares com menos
• Habilidades matemácas: a intervenção das habilidades facilidade de expressão conseguem, neste momento,
matemácas é de suma importância para aqueles com parcipar mais avamente. Essas conversas permitem
diculdades especícas nesta área (24) , mas o trabalho que os pais entendam os momentos diceis que a fam í lia
desenvolvido tem se mostrado útil para outras crianças. está enfrentando, mas também que possam construir
Por exemplo, desenvolver habilidades relevantes na área caminhos para superá-los. Assim claricamos as dúvidas
como a representação numérica, a memória de trabalho, e desmiscamos algumas informações.
a noção espacial e as funções execuvas (25)podem auxiliar • Grupo de psicologia(30): propõe uma abordagem mulfa-
outras áreas da aprendizagem formal. miliar, em que os familiares são reunidos em um local e
• Psicomotricidade: a intervenção integra questões mo- momento especícos para comparlhar suas experiências
toras, percevas e cognivas através de experiências e trabalhar em conjunto para superar seus problemas
corporais, culvando o auto-conhecimento, a atenção individuais(37). O planejamento dos encontros são exíveis
e as funções execuvas, todas habilidades importantes para atender às demandas. Os primeiros encontros são
à  aprendizagem (26). A reabilitação dos transtornos da mais estruturados e visam à  capacitação dos familiares
escrita pressupõe uma estreita associação da produção diante de temas especícos, tais como a natureza das di-
grafomotora e de linguagem. Dessa forma, essa inter- culdades especícas dos lhos, a ligação entre auto-esma
venção também vai desenvolver a grafomotricidade, e movação na aprendizagem, desenvolvimento cognivo
frequentemente prejudicada em crianças com problemas e emocional das crianças, como estabelecer parceria com
de aprendizagem e atenção(27). a escola, o dever de casa , dentre outras questões. Outros
• Teatro: textos de teatro são objevos, cada um lê uma encontros são mais livres, sob a demanda momentânea das
parte, como uma leitura comparlhada, há o apoio de famílias. Eventualmente, algum integrante pode solicitar
todo o corpo para falar os trechos, a interpretação do um momento sozinho com o psicólogo.
que é dito ajuda na prosódia. A movação é constante, • Ocinas de Design Thinking: O DT tem por objevo es-
e o foco sai do binômio escola-ambulatório. Estes são mular um processo de co criação entre os envolvidos na
os maiores argumentos para propor o teatro não como busca de soluções, sendo muito eciente para trabalhos
substuição, mas como uma avidade a mais. Sucessos em grupos para valorizar a troca e a colaboração, com
de experiências em outros países já foram publicados a mediação de facilitadores. Tem etapas básicas como
tanto do ponto de vista da ciência(28), quanto da arte(29). descoberta, interpretação, ideação, experimentação e
evolução, o que tem se mostrado relevante também no
 Apoio à família contexto da aprendizagem(38). Vários temas que são um
Alguns estudos mostram o alto nível de estresse causado grande enfrentamento para as famílias foram abordados.
em uma família que tem uma criança ou jovem com trans- O grupo selecionou um deles e transformou-o no desao
torno de aprendizagem. A frustração das expectavas da principal que permeou todo o processo do DT, muitas ve-
família e do próprio, as longas horas de estudo para resulta- zes com a parcipação de outros prossionais da equipe
dos proporcionalmente baixos, os embates no dever de casa como “convidados”. A perspecva conta com o apoio
são frequentemente relatados(30,31,32) . Essas tensões geradas visual, por isso seguem exemplos nesta modalidade.
Mousinho R

Figura 4. Exemplos de propostas das ocinas de Design Thinking

Através das experiências acima relatadas, o que pudemos dessas crianças ao longo dos meses.
observar foi que existem dois momentos: o momento em Está longe de ser o ideal, mas tem avançado, e ajudado
que a família chega, correspondente ao período da avalia- a muitas crianças e suas famílias. E isso é o mais importante
ção, e o momento em que os pais já acompanham os lhos para quem pretende estruturar serviços similares. O inan-
sendo atendidos, são totalmente diferentes. Inicialmente gível paralisa. E é exatamente esse o senmento que não
não entendem as diculdades dos lhos nem tampouco o pode ser esmulado. Começar com um serviço pequeno,
posicionamento da escola. Porém, em um segundo momen- ampliar de acordo com as possibilidades, exibilizar diante
to, já estão mais serenos, conseguindo trocar mais dicas e de entraves. Mas, começar, sempre.
informações com os pares, mais seguros no como lidar diante
das adversidades. Mesmo que ainda restem dúvidas, como REFERÊNCIAS
em toda família, independente dos lhos apresentarem di-
culdades ou não, percebe-se que as mesmas (dúvidas) se 1. Vloedgraven M, Verhoeven L. Screening of phonological awareness
in the early elementary grades: an IRT approach. Ann Dyslexia.
tornam mais fáceis de serem administradas. São realmente 2007;57(1):33-50. doi: 10.1007/s11881-007-0001-2
dois momentos diversos e, portanto, merecem cuidados e 2. Gavídia JZ. Um sistema de intervenção computacional para rastreio
estratégias diferenciados também. Os grupos de psicologia e monitoramento de leitura em uma proposta de RTI [tese]. Rio de
com temas centrais combinados com as ocinas de DT pare- Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro - Engenharia de Sistemas
e Computação, COPPE; 2017.
cem ser melhor aplicados no primeiro momento, enquanto os 3. OECD: Organizaon for Economic Co-operaon and Development. ECD
grupos de psicologia sob demanda, ou a psicologia em sala de Programme for Internaonal Student Assessment (PISA) [internet]. 2015.
espera, parecem mais adequados a este segundo momento. Available from: www.pisa.oecd.org.
4. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e
estasco de transtornos mentais. 5th ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
SUGESTÕES E ADAPTAÇÕES PARA OUTROS 5. Fuchs LS, Fuchs DA. Model for implementi ng responsiveness
SERVIÇOS to intervention. Teach Except Child. 2007;39(5):14-20. doi:
10.1177/004005990703900503
6. Institute of Education Sciences. Assisting Students Struggling with
O relato aqui realizado é fruto de muitas histórias e en- Reading: Response to Intervention (RtI) and Multi-Tier Intervention
frentamentos. Alguns pontos foramde total relevância neste in thePprimary Grades. Naonal Center for Educaon Evaluaon and
caminho: a parceria com outros projetos, laboratórios e Regional Assistance. U.S. Department of Educaon, Washington, DC; 2008.
instuições, tanto da educação quanto da saúde; a disponi- 7. Fletcher JM, Vaughn S. Response to Intervention: Preventing and
Remediang Academic Dicules. Child Dev Perspect. 2009;3(1):30-7.
bilidade e a seriedade da equipe, que sempre acreditou no doi: 10.1111/j.1750-8606.2008.00072.x
trabalho de qualidade baseado em evidência cienca; e a 8. Silva B, Luz T, Mousinho R. A efcácia das ofcinas de esmulação
tentava constante de construção de uma rede de atendi- em um modelo de resposta à   intervenção. Rev Psicopedag.
2012;29(88):15-24.
mento, para que mais centros possam surgir.
9. Greenwood CR, Bradeld T, Kaminski R, Linas M, Carta JJ, Nylander D.
A contratualização de 100% da instuição no Sistema de The Response to Intervenon (RTI) Approach in Early Childhood. Focus
Regulação de Vagas do Serviço Único de Saúde, o SISREG, tem Except Child. 2011;43(9):1-21.
se mostrado um grande desao, exigindo novas adaptações. 10. Buysse V, Peisner-Feinberg ES, Soukakou E, LaFore DR, Feng A, Schaaf
JM. Recognion & Response: A model of response to intervenon to
Com isso, as famílias não podem se inscrever diretamente no promote academic learning in early educaon. In: Buysse V, Peisner-
projeto. Elas devem ser encaminhadas pelas clínicas da famí- Feinberg ES (org). Handbook of response to intervention in early
lia. A triagem única semestral foi deslocada para a recepção childhood. Balmore: Brookes Publishing Company; 2013. p. 69-84.
Capítulo 5. A avaliação de Dislexia do Desenvolvimento no Ambulatório de Aprendizagem do Projeto ACERTA (PUCRS, InsCer)

Equipe das quais, neste momento, aproximadamente 60 parciparam


Coordenador: da parte nal do projeto que inclui o exame de neuroimagem
Augusto Buchweitz estrutural e funcional. A avaliação consiste de 3 etapas pre-
Equipe Psicologia: senciais, descritas a seguir, mais a sessão de devolução para
Mirna Weers Portuguez os responsáveis.
Equipe de Fonoaudiologia:
Adriana Corrêa Costa MÉTODO
Ana Bassôa
Rudineia Toazza Protocolo de avaliação

RELATO DE EXPERIÊNCIA Os parcipantes incluídos no processo de avaliação são es-


colares com queixa de diculdades de aprendizagem na leitura
O Ambulatório de Aprendizagem foi estabelecido como e na escrita. O contato inicial é feito por e-mail  (projetoacerta@
parte de um projeto guarda-chuva. O ambulatório repre- gmail.com) pelos pais e/ou responsáveis. No e-mail, os respon-
senta um dos braços do projeto e as prácas de avaliação e sáveis informam os dados para contato e armam a vontade
denição da hipótese diagnósca de crianças com DD foram de inclusão na triagem para parcipar no projeto. Os dados
estabelecidas de acordo com testes e literatura existentes e iniciais requisitados são: nome completo da criança e respon-
a parr da produção de novos materiais. Apresentam-se os sável, idade da criança e telefone para contato. Em seguida, a
procedimentos, os novos materiais e os resultados obdos. equipe do projeto realiza contato por telefone para fazer uma
Espera-se contribuir para o estabelecimento de prácas ba- triagem e iniciar os procedimentos de avaliação. Enfaza-se
seadas em evidências para avaliação de DD no Brasil a parr que antes de quaisquer testes, no primeiro encontro presen-
de uma abordagem muldisciplinar e adaptada para crianças cial com os responsáveis, há a apresentação e assinatura de
brasileiras. termo de consenmento livre e esclarecido - TCLE (aprovação
pelo comitê de ética da PUCRS: CAAE 30895614.5.0000.5336
Justificativa e 13629513.0.0000.5336).

O projeto ACERTA iniciou em 2013 com o objevo de Triagem telefônica: critérios de inclusão na pesquisa
invesgar o desempenho leitor e os índices neurobiológicos Esta etapa é realizada por estudantes de Medicina e
de crianças em idade de alfabezação e crianças com risco Psicologia treinados e supervisionados semanalmente. O obje-
de DD. Busca-se entender os processos neurais e adaptavos vo é invesgar se a criança preenche os critérios de inclusão
que subjazem à aprendizagem da leitura, e idencar aque- no projeto e passaria, portanto, para o primeiro encontro
les que se associam com a diculdade inesperada de leitura presencial. São incluídos parcipantes com idades entre 9 e 13
caracterísca da DD. anos, alfabezados, que estejam regularmente matriculados
O projeto, em seus diferentes braços longitudinal e do na escola, com queixas de diculdades de aprendizagem da
ambulatório, vale-se de tarefas que mensuram habilidades leitura e ausência de diagnósco neurológico primário. Este
especícas, pela observação clínica, por dados oriundos de quesonário de triagem foi desenvolvido pelos autores e
quesonários encaminhados à família e à escola e de dados renado ao longo dos quatro anos de experiência com o am-
de neuroimagem funcional e estrutural (hp://inscer.pucrs. bulatório. Apenas um critério, da criança ser destra, não está
br/projeto-acerta-2/). Enfaza-se que os dados de neuroima- relacionado com o diagnósco. Este critério está relacionado,
gem funcional e estrutural tem um m de pesquisa; estes isto sim, com o objevo nal de pesquisa de execução de uma
não são ulizados para diagnósco (entretanto, o exame ressonância magnéca funcional e estrutural (Apêndice I).
de neuroimagem estrutural é ulizado para uma avaliação Nestes casos, explica-se aos responsáveis que a criança escre-
por neuroradiologista para excluir lesões ou más-formações ver com a mão esquerda não dene diagnósco, mas é critério
que possam estar afetando a aprendizagem da leitura e a de exclusão entre os parcipantes de pesquisa: por questões
cognição). Entre setembro de 2013 e meados de 2017, foram de variabilidade na lateralidade de avação relacionada com
diagnoscadas aproximadamente mais de 80 de crianças com a linguagem em pessoas canhotas, estudos de neuroimagem
DD (foram avaliadas mais de 300 crianças, dentro de um uni- funcional invesgam apenas parcipantes destros. Enfaza-
verso maior daquelas que não se encaixaram nos critérios de se que se trata de um ambulatório vinculado a um projeto de
inclusão ou não concluíram todas as etapas da invesgação), pesquisa, e não de um serviço público.
Toazza R, Costa AC, Bassôa A, Portuguez MW, Buchweitz A

Quando a criança preenche os critérios, é agendada a pri- Wescheler Abreviada de Inteligência (WASI)(7) para mensurar
meira entrevista com os responsáveis, juntamente com o par- o Quociente de Inteligência (QI). São excluídos parcipantes
cipante. Cada encontro subsequente depende da conclusão da com QI inferiores a 85. A memória de trabalho é avaliada pelo
etapa anterior. Para crianças advindas de cidades mais distantes, teste de Cubos de Corsi (8); este resultado não é ulizado como
adequa-se o procedimento para realizar mais encontros no critério de exclusão.
mesmo dia. Em geral, entretanto, são marcados dias diferentes
para cada avaliação para evitar a fadiga do parcipante. Terceiro encontro: Avaliação Fonoaudiológica - leitura e escrita
Esta etapa é realizada pela equipe de Fonoaudiologia, so-
Primeiro encontro: histórico médico, familiar e educacional  mente com o parcipante; os responsáveis que acompanham
O procedimento consiste de entrevista clínica com os res- a criança tem de aguardar fora da sala de avaliação. Avalia-se
ponsáveis para estabelecer o histórico médico pessoal pregresso a precisão da leitura de palavras e pseudopalavras, a uência
e familiar e tratamentos de saúde anteriores e atuais (Apêndice leitora de palavras e de textos e a compreensão leitora. Para
II). Além disso, é feito um levantamento do desenvolvimento a avaliação da escrita, invesga-se velocidade de cópia, pre-
cognivo-linguísco e história educacional do parcipante e, cisão ortográca e gramacal e produção textual. As tarefas
por m, é aplicada uma tarefa de rastreio de desempenho em ulizadas são:
leitura e escrita; esta tarefa visa estabelecer um indicavo do ● Tarefa de leitura de palavras e pseudopalavras(9) – avalia
desempenho da criança, posteriormente invesgado mais cri- a leitura de palavras e pseudopalavras, a velocidade de
teriosamente (Apêndice III). Esta tarefa foi desenvolvida pelos leitura de palavras isoladas e a rota de leitura ulizada ou
autores a parr das palavras propostas por Stein, no Teste de não desenvolvida (fonológica ou lexical).
Desempenho Escolar(1). Os critérios de desempenho servem ●  Avaliação da Compreensão Leitora de Textos Exposivos(10)
para rastreio, foram estabelecidos a parr da experiência clínica  – avalia as velocidades de leitura silenciosa e oral e a
dos autores e renados ao longo da pesquisa. compreensão leitora (ideias evocadas espontaneamente
Se a criança esver alfabezada e não houver fator pregres- e perguntas dissertavas, literais e inferenciais).
so que possa estar associado com diculdades de aprendiza- ● Ditado Balanceado (11)  – avalia a precisão da escrita por
gem, o parcipante passa para a avaliação neuropsicológica. quantidade de erros e classificação do tipo de erro
Ao nal da anamnese, os responsáveis recebem uma série de ortográco.
quesonários autoaplicavos para os mesmos e para a escola. ● Cópia – avalia a velocidade de cópia (letras por minuto) e
Estes quesonários devem ser devolvidos devidamente preen- os erros ortográcos.
chidos no terceiro encontro, com a equipe de Fonoaudiologia. ● Produção textual(9) – avalia a produção textual por desen-
Tais quesonários visam fazer um levantamento de dados volvimento de ideias, organização, uso de pontuação e
socioeconômicos, emocionais, comportamentais e de desem- parágrafo e coerência com o assunto proposto.
penho escolar do parcipante. São eles: Nesta etapa, recolhem-se também os quesonários au-
● Lista de vericação comportamental para crianças/ado - toaplicavos que foram fornecidos na anamnese (primeiro
lescentes de 4-18 anos (CBCL)(2); encontro). Somente os parcipantes cujos responsáveis en-
●  Avaliação de sintomas de transtorno do décit de aten- tregaram o material devidamente preenchido são evoluídos
ção e hiperavidade (SNAP IV) - escala validada para o para próxima etapa (discussão clínica e diagnósca).
português(3);
● Quesonário de Capacidades e Diculdades (SDQ-Por)(4); Discussão clínica e hipótese diagnósca
● ELE - escala de rastreamento das diculdades de leitura e Essa etapa é realizada somente com equipe do projeto.
escrita para professores construída para este ambulatório Com os resultados de todas as avaliações e quesonários, é
(argo em preparação)(5). feita a discussão clínica com a presença de todos os prossio-
● Questionário socioeconômico ABIPEME   – Associação nais envolvidos no ambulatório. Cada caso é discudo para
Brasileira de Empresas de Pesquisa [ABEP](6). chegar a um consenso sobre a hipótese diagnósca. Dentre
as hipóteses diagnóscas, consideram-se:
Segundo encontro: Avaliação Neuropsicológica - Quociente de (a) Sem diculdade: desempenho sasfatório de acordo com
Inteligência e Memória de Trabalho a idade e ano escolar.
Essa etapa é realizada pela equipe de Psicologia, somente (b) Diculdade de aprendizagem: diculdade de aprendiza-
com o parcipante; os responsáveis que acompanham a crian- gem, leitura e escrita abaixo do esperado para a idade e
ça tem de aguardar fora da sala de avaliação. Uliza-se a Escala ano escolar mas sem impacto signicavo no desempenho
Capítulo 5. A avaliação de Dislexia do Desenvolvimento no Ambulatório de Aprendizagem do Projeto ACERTA (PUCRS, InsCer)

escolar. Estes pacientes apresentam bom prognósco para com a hipótese diagnósca e encaminhamentos necessários.
intervenção especializada. As caracteríscas e prognósco de cada caso são discudos
(c) Transtorno de Aprendizagem Especíco na Leitura e Escrita com os responsáveis, além dos possíveis impactos no desem-
(Dislexia do Desenvolvimento): desempenho muito abai- penho escolar. É fornecido um parecer descrivo para a escola
xo do esperado de acordo com os critérios diagnóscos com adaptações que podem ajudar a melhorar o desempenho
propostos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos do aluno (Apêndice IV).
Transtornos Mentais (DSM-5)(12). Os critérios do DSM-5 Os pacientes são encaminhados para intervenção em ou-
são: (1) Presença de diculdade no aprendizado e no uso tros serviços disponíveis na rede (gratuitos, como aqueles em
das habilidades escolares indicada por pelo menos um dos universidade ou providos por serviços municipais, por exem-
sintomas a seguir, desde que sejam persistentes por pelo plo). Não é feito encaminhamento parcular e não há vínculo
menos 6 meses a despeito de intervenções especícas com as instuições às quais os pacientes são encaminhados.
para as mesmas: leitura incorreta ou lenta de palavras e As avaliações são repassadas a escolas ou outros somente a
feita sob esforço; diculdade de compreensão do que é pedido dos responsáveis.
lido; diculdades com uso da ortograa; diculdades na Os encaminhamentos mais frequentes são: intervenção
expressão escrita. (2) Presença de habilidades acadêmicas especíca nas diculdades de leitura e escrita (fonoaudiologia
substancial e quantavamente abaixo do esperado para o ou psicopedagogia); avaliação/intervenção por alterações na
ano escolar em que se encontra, com prejuízo signicavo fala (fonoaudiologia); avaliação para questões relacionadas
para o desempenho escolar. (3) Inexistência de décits a queixas de desatenção, hiperavidade, ansiedade e humor
sensoriais que possam explicar os décits apresentados. (psiquiatria); avaliação psicológica (psicologia); avaliação
O diagnósco é estabelecido nos casos em que o paciente neurológica (neurologia). Nos casos inconclusivos, além dos
 já vem recebendo acompanhamento especializado para os encaminhamentos necessários, sugere-se reavaliação no pe-
décits acadêmicos por pelo menos 6 meses ininterruptos. ríodo de 1 ano na condição de terem sido feitas as avaliações
Nas situações em que não há tratamento especializado ou intervenções sugeridas.
ou não ca claro a qualidade e duração do atendimento
ao qual o sujeito está sendo submedo, por meio das in- RESULTADOS
formações da família e dos quesonários, enfaza-se aos
responsáveis que o fechamento do diagnósco depende O desempenho da criança com Dislexia do
de uma reavaliação após intervenção. Desenvolvimento
(d) Inconclusivos: desempenho semelhante à de uma criança
com hipótese de diagnósco de DD, mas com caracte- Até o momento, mais de 300 crianças e adolescentes já
rísticas que confundem e possam estar enviesando a passaram pelo Ambulatório. A maior parte dessa amostra é
avaliação (por exemplo: Transtorno de Décit de Atenção composta por estudantes de escolas públicas, com grande
e Hiperavidade - TDAH com prejuízo signicavo e sem número de repetências e, predominantemente, do gênero
tratamento, Transtorno de Ansiedade sem tratamento, masculino(13). Apresentam-se os resultados das avaliações de
alteração importante no sono que possa interferir na leitura e escrita mais atuais para as crianças com DD, as crian-
atenção, entre outros). ças cuja avaliação foi inconclusiva e as crianças cuja avaliação
Nesta etapa é discuda a possibilidade da criança ser con- sinalizou diculdade de leitura.
vidada para realizar o exame de ressonância magnéca. A maioria (63%) dos parcipantes inclusos em todas etapas
Para este convite, buscam-se parcipantes com DD que de avaliação preencheram critério para DD; 22% apresentaram
consigam ler ao menos 15-20 palavras por minuto. Este diculdades de aprendizagem e 15% apresentaram avaliação
critério é estabelecido para que o parcipante tenha uma inconclusiva (p. ex.: diculdades na aprendizagem possivel-
velocidade de leitura que permita realizar a tarefa de leitura mente secundárias à outras condições clínicas). A quase
no exame de ressonância funcional dentro do tempo hábil. totalidade de crianças com DD apresenta desempenho muito
abaixo da média em ortograa, produção textual, precisão e
Devolutiva aos responsáveis e encaminhamentos uência da leitura (ver a maioria de parcipantes com desem-
necessários penho em barras em azul, representando o resultado muito
abaixo da média). Um padrão semelhante pode ser obser-
Nesta etapa, os responsáveis recebem uma devoluva de vado para os casos com avaliação inconclusiva. No grupo de
toda a avaliação realizada e um parecer descrivo detalhado parcipantes com diculdade de aprendizagem, entretanto,
Capítulo 6. Avaliação neuropsicológica no connuo difculdades-transtornos
difculdades-transtornos de aprendizagem da leitura e da escrita

relacionadas à diculdade na evocação do conteúdo arma- Cognição - impressão geral – e FE:  Está preservada a ca-
zenado e não ao armazenamento em si, uma vez que com pacidade de disnguir detalhes essenciais dos não essenciais,
apoio de pistas Matheus consegue acessar as informações organização perceptual e visualização espacial. Da mesma
memorizadas. Na memória semânca (memória relacionada forma, não foram idencadas alterações no processamento
a fatos, signicados e conhecimentos gerais) o menino obteve de memória de trabalho audiva e visual. Contudo, iden-
desempenho abaixo do que é esperado para sua faixa etária. caram-se décits graves no controle inibitório (capacidade
Linguagem oral : O vocabulário de Matheus apresenta-se cogniva para suprimir respostas automácas), tanto pela
abaixo do esperado para sua idade, demonstrando prejuízos via audiva quanto verbal.
em conhecimento verbal e semânco. Em relação à uência
verbal envolvendo processamento ortográco e semânco SÍNTESE DA AVALIAÇÃO
(capacidade para evocar palavras dentro de um limite de NEUROPSICOLÓGICA
tempo) não foram identificadas dificuldades. Contudo,
quando esta evocação ocorre sem um critério pré-estabe- Matheus não apresenta dificuldades na leitura de
lecido, Matheus apresentou décit que sugere falhas em palavras que envolvem o processamento lexical (leitura
componentes
component es execuvos de iniciação e velocidade. Quanto automatizada), mas naquelas que recrutam habilidades
a estratégias de evocação, não foram idencadas obje- fonológicas. Provavelmente, a preservação da habilidade
ções. Em nível de frase, idencaram-se alterações graves de decodicação de palavras auxiliou na capacidade de
de organização sintáca. Contudo, notou-se que o menino memorização das informações presentes no texto lido (que
não apresenta diculdades para compreende
compreenderr um discurso não foram recordadas livremente, apenas mediante apoio
oral e para processar inferências (compreender informações das questões de compreensão). Contudo, assim mesmo,
apresentadas
apresentad as implicitamente, ou nas entrelinhas). Matheus não compreendeu a ideia implícita no texto lido
Linguagem escrita: Matheus apresentou habilidades (dificuldade de processamento inferencial). Da mesma
preservadas de leitura em nível de palavra e de compreensão forma, Matheus apresenta décits importantes em todos
textual. Neste último, apresenta diculdades
dicul dades para evocar es- os níveis de escrita. As diculdades em leitura e em escrita
pontaneamente as informações lidas; no entanto, demonstra podem estar associadas aos décits em component
componentes es de FE
facilidade para evocá-las tendo questões de compreensão (funções cognivas superiores relacionadas ao alcance de
como apoio. Idenca-se que a memorização do texto não objevos) e de memória semânca (conhecimentos gerais).
garanu que ele compreendesse as informações implícitas na Idencaram-se décits graves em componentes execuvos
história lida. Mais especicamen
especicamente,
te, não demonstrou habili- de exibilidade cogniva e controle inibitório, fundamentais
dade para processar inferências (compreender informações para o desempenho escolar sasfatório a parr da elaboração
nas entrelinhas/implícitas) a parr da leitura textual. Em e do uso de estratégias de aprendizagem em geral. Não foram
relação à leitura de pseudopalavras, Matheus apresentou idencados maiores prejuízos em relação às habilidades de
falhas importantes, demonstrando diculdades na rota fo- aritméca. Portanto, salienta-se que este perl cognivo não
nológica de leitura. sugere transtorno especíco de aprendizagem com prejuízo
Quanto à  escrita, idencaram-se tanto erros na graa em leitura (dislexia), mas sim uma diculdade de escrita e
quanto na ortograa das palavras. Observou-se que Matheus de compreensão textual relacionadas a prejuízos nas FE.
apresenta diculdades importantes na escrita automazada Diante dos resultados encontrados na avaliação de
da sequência alfabéca, conhecimento e habilidade funda- Matheus, a principal indicação é de esmulação cogniva
mental para a produção da escrita. Idencou-se desempenho neuropsicológica com abordagem pedagógica, para omi-
sugesvo de décits na habilidade de escrita de palavras e zação de componentes das FE, essenciais para a melhora de
pseudopalavras, demonstrando possível prejuízo em relação escrita e de leitura. Esta deve ser acompanhada de maior
ao desenvolvimento da linguagem escrita. Observaram-se esmulação domiciliar diária de removação e de formação
erros em relação ao desconheciment
desconhecimento o de regras contextuais e de hábitos frequentes com avidades de leitura e de escrita.
irregularidadess da língua portuguesa, assim como outros pos
irregularidade
de erros não sistemazados (por exemplo, substuição do c CONSIDERAÇÕESS FINAIS
CONSIDERAÇÕE
pelo t ). Na escrita de pseudopalavras Matheus demonstrou
diculdades na conversão fonema/grafema e substuição A avaliação neuropsicológica tem se tornado uma impor-
surdo/sonora. Sua produção textual, embora organizada, é tante ferramenta para os casos de diculdades e transtornos
incipiente e marcada por erros ortográcos. especícos de aprendizagem uma vez que esclarece todos os
Gonçalves HA, Scgefer BE, Fonseca RP

mecanismos cognivos, sociais e emocionais (dependendo Avaliação Neuropsicológica:


Neuropsicológica: bases teóricas e aplicações. In: Barroso SM,
Scorsolini-Comin F, Nascimento E. (Org.). Avaliação Psicológica: da teoria
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o terapeuta na esmulação da escrita e da compreensão
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estratégias
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Capítulo 7. Centro de Invesgação da Atenção e
Aprendizagem (CIAPRE): abordagem interdisciplinar
nos transtornos de aprendizagem

Ricardo Franco de Lima 1 – ricardolima01@yahoo.com.br 

RESUMO

O Centro de Invesgação da Atenção e Aprendizagem (CIAPRE) foi inaugurado no ano de 2 010 e conta com uma
equipe interdisciplinar que atua nas áreas de avaliação, intervenção, supervisão clínica, formação e pesquisa. O
capítulo apresenta as caracteríscas dos procedimentos de avaliação e intervenção, bem como as áreas de desaos
para o atendimento a indivíduos com transtornos de aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Transtorno de aprendizagem. Dislexia. Interdisciplinar.

IDENTIFICAÇÃO possui o Educadi – Educação Digital CIAPRE, um grupo de


intervenção psicossocial criado em 2012 com a parceria ini-
O Centro de Investigação da Atenção e Aprendizagem cial do Comitê para a Democrazação da Informáca (CDI)
(CIAPRE) está localizado na cidade de Campinas/SP e foi inau- e o Instuto ABCD.
gurado em 22 de novembro de 2010. O objevo principal de A equipe interdisciplinar do CIAPRE é composta por 13 pro-
sua constuição foi ampliar o serviço de atendimento para ssionais que atuam nas áreas de Psicologia, Neuropsicologia,
crianças e adolescentes com diculdades de aprendizagem e Fonoaudiologia, Psicopedagogia, Neuropediatria, Psiquiatria
de atenção, realizado no Ambulatório de Neuro-Diculdades da infância e adolescência e Psicomotricidade. Atualmente,
de Aprendizagem, do Hospital de Clínicas da Universidade também possui sócios pesquisadores e educadora social.
Estadual de Campinas (DISAPRE-UNICAMP) desde 1985, e coor-
denado pela Prof.ª Dra. Sylvia Maria Ciasca. Incenvados pela RELATO DE EXPERIÊNCIA
Prof.ª Sylvia, parte da equipe organizou o serviço de avaliação
interdisciplinar. Atualmente, o CIAPRE atua nas seguintes áreas: As fontes de encaminhamento ao CIAPRE são prossio-
(a) Avaliação e diagnósco interdisciplinares. nais e serviços de saúde, escolas ou procura voluntária das
(b) Intervenção interdisciplinar (Psicoterapia comportamen- famílias. As principais demandas recebidas são: diculda-
tal, psicoterapia cognivo-comportamental, reabilitação des gerais ou especícas de aprendizagem; diculdades de
neuropsicológica, terapia psicomotora, intervenção atenção; atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e
psicopedagógica, fonoaudiológica, neuropediátrica, psi- de linguagem; problemas afevo-emocionais, sociais e/ou
quiátrica, intervenção psicossocial e reforço pedagógico). comportamentais. Alguns estudos têm evidenciado que as
(c) Supervisão clínica. queixas escolares são muldeterminadas e frequentes em
(d) Consultoria e cursos de formação. serviços de saúde voltados à infância e adolescência(1,2,3,4) .
Além do atendimento clínico, o CIAPRE atua nas áreas Um estudo conduzido no Ambulatório de Neuro-
de pesquisa em parceria com o Laboratório de Distúrbios, diculdades de Aprendizagem (UNICAMP) no ano de 2005,
Diculdades de Aprendizagem e Transtornos da Atenção demonstrou que 46% dos encaminhamentos foram mova-
(DISAPRE-UNICAMP) e outras instuições de ensino superior dos por queixas de diculdades de aprendizagem, 19% de
do Estado de São Paulo. O CIAPRE também é sede do núcleo diculdades atencionais e de memória, 15% de problemas
Regional Campinas da Associação Brasileira de Neurologia, comportamentais, 9% de diculdades na linguagem oral,
Psiquiatria Infanl e Prossões ans (ABENEPI). Além disso, 5% de diculdades sociais, 4% de problemas emocionais e

1. Psicólogo, neuropsicólogo, mestre e doutor em Ciências Médicas (UNICAMP), P residente do Centro de Invesgação da Atenção e Aprendizagem (CIAPRE).
Capítulo 7. Centro de Invesgação da Atenção e Aprendizagem (CIAPRE)

2% de diculdades motoras(1). Em caracterização do mesmo são as caracteríscas do indivíduo em relação à  leitura? ”,


serviço no ano de 2010, as queixas mais frequentes também “Ele lê palavras isoladas?” , “Ele consegue ler, mas não com -
foram de diculdades de aprendizagem (44%), seguidas por  pree nde? ” , “Quando as diculdades iniciaram?”, “Possui
queixas de desatenção e agitação (34%), queixas relavas hábitos de leitura?” , “Qual é a opinião do indivíduo sobre
às funções de memória, motoras e de linguagem oral (6%), tais diculdades?”. Além disto, o prossional precisa levan-
queixas de problemas emocionais e comportamentais (10%) tar os antecedentes familiares relacionados às diculdades
e hipóteses diagnóscas formuladas por outros prossionais de aprendizagem e os possíveis fatores explicavos para as
(dislexia, transtorno de décit de atenção e hiperavidade ou diculdades mencionadas.
transtorno de aprendizagem não especíco) (6%) (4). Em seguida, são conduzidas sessões com as diferentes
O serviço de avaliação e intervenção interdisciplinar do especialidades: Psicologia/Neuropsicologia, Psicopedagogia,
CIAPRE está organizado conforme demonstra a Figura 1. Para Fonoaudiologia, Psicomotricidade, Neurologia infantil e
o atendimento às queixas escolares, os prossionais levam Psiquiatria da Infância e Adolescência. Também são obdas in-
em consideração algumas especicidades que serão descritas formações com a escola e outros prossionais que acompanham
e sugeridas, a seguir. o indivíduo. Estes dados são fundamentais para contextualizar
Inicialmente, a família ou responsáveis passam por en- as queixas apresentadas e para caracterizá-las na trajetória
trevista de anamnese conduzida por um dos prossionais da de desenvolvimento do indivíduo, bem como para idencar
equipe, na qual são obdas informações sobre as queixas e possíveis respostas que o mesmo apresentou às intervenções
história de desenvolvimento do indivíduo. Neste momento, realizadas. Quando possível, as informações escolares são ob-
é importante que ocorra inquérito mais aprofundado sobre das em visita realizada por algum membro da equipe, visto
as diculdades relatadas e que estas sejam contextualizadas, que há tendência de supervalorização das queixas quando são
do ponto de vista do desenvolvimento. Por exemplo, “ Quais encaminhados quesonários para os educadores responderem.
O Quadro 1 sinteza o papel de cada área de especia-
lidade na abordagem interdisciplinar dos transtornos de
aprendizagem.
Finalizadas as avaliações, a equipe realiza uma reunião
clínica para discur e integrar todos os achados sobre o
caso. O objevo principal desta reunião é esclarecer a quei-
xa mencionada no início do processo avaliavo, tomada de
decisão quanto ao diagnósco e planejamento das condutas
terapêucas recomendadas para cada caso.
Por m, é realizada a devoluva com a família para a
comunicação dos resultados e orientação. No CIAPRE, esta
sessão é conduzida por mais de um membro da equipe com
intuito de oferecer informações mais detalhadas sobre a
avaliação, assim como cumprir um papel psicoeducavo ini-
cial com os membros da família. No caso de um diagnósco
de transtorno de aprendizagem, o relatório deve incluir os
devidos códigos dos manuais internacionais, principalmente
da Classicação Internacional de Doenças (CID-10), uma vez
que o Brasil é signatário deste sistema. Esta informação tem
um valor legal, sendo exigida pelas escolas, universidades
e também em exames, como o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM) e concursos vesbulares.
Para os casos que connuarão em seguimento no CIAPRE,
a equipe realiza o plano terapêuco interdisciplinar (PTI)
indicando as áreas prioritárias de intervenção, bem como as
metas terapêucas de curto, médio e longo prazo. Para os
Figura 1. Fluxograma dos serviços de avaliação e intervenção no indivíduos com “ Transtorno especíco de leitura” (Dislexia
CIAPRE. do desenvolvimento), o PTI envolve, principalmente,
Lima RF

Quadro 1. Abordagem interdisciplinar dos transtornos de aprendizagem. as diferentes demandas escolares, como manejo de tempo,
organização, tomada de notas, lição de casa e estudo para
Áreas Descrição
provas; e (4) Funções Execuvas aplicadas à Leitura: desen-
Psicologia/ Perl psicológico/neuropsicológico.
Neuropsicologia Avaliação intelectual e dos diferentes domí- volvimento de estratégias de funções execuvas aplicadas
nios cognivos (gnosias, atenção, memória, à  compreensão leitora. O programa possui evidências de
praxias, linguagem, funções execuvas).
Avaliação dos diferentes domínios do de- ecácia por meio de resultados posivos sobre o controle
senvolvimento (afetivo-emocional, social, inibitório, memória operacional, planejamento, uso de es-
personalidade).
tratégias de aprendizagem e de compreensão, e também no
Fonoaudiologia Perl de linguagem oral e escrita.
Avaliação dos componentes da linguagem desempenho em compreensão leitora (5).
oral (fonológico, sintáco, semânco e prag- Conforme levantamento de dados dos encaminhamentos
máco).
Avaliação do processamento fonológico (aces- realizados no período de janeiro de 2015 a agosto de 2016,
so ao léxico, memória de trabalho fonológica, foram avaliados 165 indivíduos, sendo 126 do sexo masculino
consciência fonológica).
Avaliação da linguagem escrita (leitura e
(76%) e 39 do feminino (24%) na proporção três homens para
escrita). cada mulher. Foram atendidas crianças de 1 ano até adultos
Psicopedagogia Perl pedagógico/psicopedagógico. com 64 anos. A idade média foi de 9,21 anos (DP = 6,89). A
Avaliação do desempenho acadêmico geral e
fatores que o inuenciam (p. ex. movação, idade média dos homens foi 8,6 anos (DP = 4,8) e das mulheres,
ambiente familiar, relação professor-aluno, 11,2 (DP = 11,1). As faixas etárias mais frequentes foram 7 e
método pedagógico, dentre outros).
Avaliação do raciocínio lógico-matemáco.
8 anos (11%), isto é, nos anos iniciais do ensino fundamental.
Neuropediatria Perl neurológico e diagnósco diferencial. Houve frequência maior de indivíduos de escolas parculares
Exame neurológico tradicional e evoluvo (n = 134; 81%), seguida por indivíduos de escolas públicas (n =
Psiquiatria da infância e Perl psiquiátrico, diagnósco diferencial e 20; 81%) e 7% (n = 11) não frequentava escolas. A procedência
adolescência comorbidades.
Exame psíquico e avaliação psiquiátrica, con- dos casos abrangeu diferentes Estados e cidades do Brasil: São
forme a faixa etária. Paulo (n=151; 92%), Minas Gerais (n=7; 4%), Tocanns (n=1;
Psicomotricidade Perl motor, psicomotor e diagnósco dife -
1%), Manaus (n=1; 1%); e Pará (n=1; 1%)(6).
Fisioterapia rencial.
Terapia Ocupacional Avaliação das funções motoras, psicomotoras, Os principais diagnósticos atendidos pela equipe do
sensivas e funcionalidade. CIAPRE são: “Retardo mental”a (F70), “Transtornos do de-
Exames complementares Diagnósco diferencial.
Acuidade visual, audiometria, exame de
senvolvimento psicológico” (F81), “ Transtornos comporta-
processamento audivo e visual, exames de mentais e emocionais com início habitualmente na infância
neuroimagem. e adolescência” (F90) (CID-10)(7). Dentre eles, destacam-se os
“Transtorno do desenvolvimento das habilidades escolares”b,
intervenções nas áreas da fonoaudiologia, neuropsicologia e “Distúrbios da avidade e da atenção” c e os “Transtorno
psicopedagogia. Quando há comorbidades (p. ex. Transtorno Invasivos do Desenvolvimento”d. Além disso, é frequente a
de humor ou ansiedade) a conduta medicamentosa também associação destes diagnóscos com comorbidades, como
é recomendada pelo neuropediatra ou psiquiatra infanl. A “Transtornos do humor (afevos)”, “Transtornos de conduta”
tulo de exemplo, na área da Neuropsicologia os casos de e “Transtornos emocionais com início especíco na infância”.
Transtorno Especíco de Leitura têm sido submedos ao Estes dados revelam alguns aspectos importantes acerca
programa de reabilitação neuropsicológica composto por do serviço:
sessões distribuídas em quatro módulos: (1) Psicopeducação: (a) O CIAPRE ampliou sua atuação incluindo avaliação e
sessões realizadas com os pais e indivíduo com Transtorno intervenção da primeira infância à idade adulta. Na pri-
Especíco de Leitura ou reuniões com equipe escolar, com meira infância, as demandas principais são de atrasos
intuito de promover esclarecimentos sobre o diagnósco e no desenvolvimento neuropsicomotor e de linguagem
os procedimentos de intervenção; (2) Orientação aos pais e e encaminhamento neuropediátrico com hipótese diag-
professores sobre as estratégias trabalhadas nas sessões; (3) nósca de transtorno invasivo do desenvolvimento. Nos
Funções Execuvas aplicadas às Competências de Estudo: dois últimos anos tem sido crescente a procura de adultos
desenvolvimento de estratégias de funções execuvas para para o diagnósco de transtornos de aprendizagem e da

a
Deciência intelectual, conforme o DSM-58.
b Transtorno Especícos de Aprendizagem, conforme o DSM-58.
c
Transtorno de Décit de Atenção e Hiperavidade (TDAH), conforme o DSM-58.
d
Transtorno do Espectro Austa (TEA), conforme o DSM-58.
Crenie PAP, Costa ARA, Freire T

Tabela 3. Orientações aos professores

Sugestões de orientações aos professores


- Realizar a leitura dos enunciados
- Oferecer tempo extra para realização de provas
Adaptações em provas - Complementar notas por meio de avaliações orais
- Reduzir o número de alternavas em provas de múlpla escolha
- Reduzir o número de palavras em enunciados extensos
- Explorar os canais de entrada (input audivo e visual) para a aprendizagem, exemplo: explicar oralmente os
Explorar canais de aprendizagem
conteúdos (canal audivo) e explorar imagens do livro, mostrar vídeos (canal visual), etc.
- Antes de iniciar um conteúdo solicite o relato dos alunos sobre o já sabem sobre o assunto, essa estratégia
ava conhecimentos prévios, possibilita reexões e auxilia na compreensão de leitura.
- Forneça explicações após cada parágrafo lido para auxiliar na construção da compreensão, além das explicações
fornecidas pelos professores também podemos solicitar explicações dos próprios alunos (estratégia que reforça
Facilitar a compreensão de leitura
a memorização das informações).
-Em avidades de leitura oral, o professor deve inicialmente oferecer tempo para que o aluno leia o texto para
si mesmo, silenciosamente. Em seguida, solicita-se a leitura oral ou comparlhada dos alunos. Pode ser dicil
compreender o conteúdo quando este é lido pelos colegas em sala.
- Descontar pontos por erros ortográcos apenas em provas de redação e português. Nas demais disciplinas
sugere-se que o professor sinalize/circule os erros e peça para o aluno corrigir, mas não desconte pontos
(valorizar conteúdo e não a forma).
Correções ortográcas - Quando a correção ortográca de alguma palavra for necessária o professor deverá circular a palavra e solicitar
(Escrita) que o aluno reita sobre seu erro. Se a criança não idencar os professores devem ler a palavra escrita e
quesonar: o correto é “caterno” ou “caderno”? Qual a diferença entre os sons e as letras? Se, ainda assim
o aluno não conseguir idencar o professor poderá reescrever a palavra, mas não deve escrever por cima
daquela com erros pois causa poluição visual e não permite a visualização/reexão sobre os erros.
- Permir consulta a tabela da tabuada, décits na memória dicultam a memorização da tabuada.
- Ler o enunciado de problemas matemácos, muitas vezes são as diculdades de compreensão de leitura que
impedem a solução dos problemas e não o raciocínio matemáco.
Diculdades na matemáca - Usar canetas marca-texto de diferentes cores para destacar os sinais de cada uma das operações.
- Sinalizar expressões/palavras indicavas das operações. Ex: (1) Adição; ganhar, somar, adicionar, juntar, etc.
(2) Subtração; diminuir, perder, sobrar, rerar, diferença, menos que, etc. (3) Divisão; dividir, distribuir, reparr,
separar. (4) Mulplicação; mulplicar; em tantas vezes, dobrar, triplicar, etc.
- Adotar estratégias de revisão (releitura) da escrita no intuito de auxiliar o aluno na percepção dos seus erros.
Revisões de escrita Muitas vezes na releitura o aluno consegue idencar erros, sejam ortográcos, gramacais, etc. Se o aluno
não perceber o professor poderá verbalizar os erros e fornecer explicações.
- Oferecer o calendário e os conteúdos de provas com antecedência de pelo menos 15 dias.
Auxiliar na organização dos estudos
- Sinalizar as páginas importantes para leitura, sinalizando o que será contemplado nas provas.
- Aproximar-se do aluno e direcionar sua atenção (dar um leve toque nos ombros ou carteira) mediante
comportamentos de desatenção. Não é necessário verbalizar o nome do aluno mediante os demais da sala.
Direcionar a atenção
Principalmente nos casos em que há Distúrbio do P rocessamento Audivo (DPAC) ou Transtorno do Décit de
Atenção e ou Hiperavidade (TDAH) associados aos transtornos de aprendizagem.
- Priorizar as primeiras carteiras, próximas ao professor e lousa, afastado de janelas ou portas, pois os ruídos
Posicionamento em sala de aula
são distratores. Principalmente em casos de DPAC e TDAH associados.
- Reforce posivamente (carimbos/adesivos/elogios) as tentavas e acertos do aluno. Valorize mais os acertos
Aspectos Comportamentais do que os erros. As diculdades sempre estarão presentes nos casos de Transtornos de Aprendizagem, não
(Reforço posivo) se esqueça que as taxas de estresse e depressão infanl são altas nessa população. Portanto, os elogios são
fundamentais para movação do aluno.

com dislexia e foram constatadas associações entre o gene pedagogo e neurologista), uso de instrumentos avaliavos
KIAA0319 e a dislexia, sendo este o primeiro estudo na América padronizados, reabilitação baseada em evidências ciencas,
Lana a estabelecer essa correlação. orientações a pais e professores. Maiores invesmentos são
Por m, ressalta-se que um serviço de qualidade, voltado necessários no ambiente escolar. Acreditamos que atraves-
para a avaliação e reabilitação dos transtornos de aprendi- sar os muros dos centros de saúde ou clínicas e estabelecer
zagem, deve envolver necessariamente: equipe muldisci- parcerias com os educadores é a chave para abrir portas ás
plinar mínima para o diagnósco (fonoaudiólogo, psicólogo, crianças com transtornos de aprendizagem.
Capítulo 8. Atuação fonoaudiológica nos Transtornos Especícos de Aprendizagem

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 21. American Psychiatric Associaon. DSM-V: Diagnosc and Stascal Soware.
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Crenie PAP, Costa ARA, Freire T

  46. Jardini R. Mapa de ideias: os caminhos da produção textual. 1st ed. 56. Costa ALC. Formação docente: programa de atualização voltado para
Bauru: Método das boquinhas; 2016. ações com alunos com distúrbios especícos de aprendizagem [tese].
 47. Papaterra F. Coleção Manual Papaterra. 2nd ed. Ribeirão Preto: Booktoy; Bauru: Universidade de São Paulo; 2016.
2015.  57. Gonçalves TS, Crenitte PAP. Development of a CD-ROM on written
 48. Mauro AMSA, Bitar ML. Cloze: intervenção em compreensão de leitura. language for the continuing education of elementary school
1st ed. Osasco: Gearte; 2017. teachers. J App Oral Sci. 2011;19(6):560-6. doi: 10.1590/S1678-
 49. Rodrigues F, Rimini V. 444 histórias para trabalhar leitura. 1st ed. 2012. 77572011000600004
 50. Junqueira S. Coleção Estrelinha. 2nd ed. São Paulo: Ática; 2012.  58. Freire T, Crenie PAP. Ações da fonoaudiologia na escola: programa de
 51. Machado AM. Coleção Mico Maneco. 2nd ed. São Paulo: Salamandra; esmulação da consciência fonológica, leitura e escrita em escolares do
2014 1° ano do ensino fundamental. Processo Fapesp: 17/02792-2; 2016.
  52. Alvarenga KF, Silva AE, Ferraz E, Crenitte PAP. Potencial cognitivo   59. Santos JBG, Gonçalves TS, Lima RF, Crenitte, Pinheiro PAP. Sinais
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10.1590/S2317-17822014000100002 0216201618420915
  53. Gonçalves-Guedim TF, Capelatto IV, Salgado-Azoni CA, Ciasca SM,  60. Rodrigues IO, Freire T, Gonçalves TS, Crenie PAP. Sinais preditores de
Crenitte PAP. Desempenho do processamento fonológico, leitura depressão em escolares com transtorno de aprendizagem. Rev CEFAC.
e escrita em escolares com transtorno de déficit de atenção e 2016;18(4):864-75. doi: 10.1590/1982-0216201618421015
hiperatividade. Rev CEFAC. 2017;19(2):242-52. doi: 10.1590/1982-  61. Silva CP, Costa ARC. Grupo terapêuco fonoaudiológico de linguagem:
0216201719220815 revisão de literatura integrava. Anais SIICUSP. São Paulo: Universidade
 54. Ferreira LAF, Crenitte PAP. Percepção visual na dislexia: influência de São Paulo; 2016.
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14 ago. 2017]. Disponível em: <hp://sbfa.org.br/portal/anais2016/ linguagem e inuências do processamento fonológico e memória visual
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55. Delladona GS, Gonçalves TS, Domiciano CLC, Henriques F, Rodrigues Bauru: Universidade de São Paulo; 2016.
ST, Crenitte PAP. Percepção visual na dislexia: influência da
oculomotricidade nas habilidades de leitura. Processo Fapesp:
14/26480-1; 2015.
Capítulo 11. A Experiência do NANI/CPN no
Atendimento de Crianças e Adolescentes com
Transtornos de Aprendizagem

Thaís Barbosa1 – barbosa_thais@hotmail.com


Camila Cruz-Rodrigues2 – camilacruzrodrigues@hotmail.com
Carolina Maar Julien de Toledo-Piza 3 – carolatpiza@gmail.com
Cláudia Berlim de Mello 4 – cberlimmello@gmail.com

RESUMO

O Ambulatório de Transtornos de Aprendizagem do NANI/CPN foi criado com base em um modelo neuropsicoló-
gico interdisciplinar de avaliação e com enfoque cienco, estruturado a parr de projetos de pesquisa. Envolve
prossionais das áreas da neuropsicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia, psicologia e medicina. Os objevos
desse serviço são disponibilizar gratuitamente à população o diagnósco interdisciplinar e diferencial e realizar
pesquisas envolvendo os transtornos e as diculdades de aprendizagem em crianças brasileiras. Desde o início das
avidades foram avaliadas 325 crianças, sendo que 149 (46%) receberam o diagnósco de dislexia ou de risco para
transtorno de aprendizagem. É importante ressaltar que essa amostra diz respeito às crianças que efevamente
foram submedas à avaliação completa após a triagem. Nossos achados estão de acordo com outros estudos, nos
quais também foi constatado que as queixas de diculdade de aprendizagem, com frequência, são consequência
de diversas condições que não conguram só os transtornos de aprendizagem. Reforçam, ainda, a importância
do diagnósco diferencial, que deve ser realizado por prossionais capacitados e instrumentados, e não se ba-
sear somente no levantamento da queixa por meio de entrevista clínica e observação do comportamento. Além
disso, essa experiência proporciona o desenvolvimento de inúmeros trabalhos ciencos derivados de projetos
de mestrado, doutorado, iniciação cienca e trabalho de conclusão de curso, o que possibilita uma formação
qualicada para prossionais da área da saúde e da educação.

Palavras-Chave: Dislexia. Avaliação. Neuropsicologia.

IDENTIFICAÇÃO Neuropsicológico Infanl Interdisciplinar), que foi criado em


2003, a parr da necessidade de integrar as várias áreas do co-
A AFIP (Associação Fundo de Incenvo à Pesquisa) é uma en- nhecimento com foco no ensino, pesquisa e assistência sobre o
dade privada, sem ns lucravos, fundada na década de 70 por desenvolvimento da criança e seus distúrbios, com a nalidade
prossionais da área da saúde, professores do Departamento de diagnósco, acompanhamento e orientação a pais, profes-
de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina (atualmente sores e prossionais que lidam com a criança com distúrbio do
UNIFESP), com o objevo de fornecer suporte nanceiro para desenvolvimento, parcularmente em casos de transtorno do
avidades de docência, pesquisa cienca e atendimento à décit de atenção e hiperavidade, transtornos de aprendiza-
comunidade, com ênfase no serviço público de saúde. gem, lesões cerebrais pediátricas e alterações genécas.
Um dos centros mantidos pela AFIP é o CPN/NANI O CPN/NANI atua nas áreas de ensino, pesquisa e as-
(Centro Paulista de Neuropsicologia / Núcleo de Atendimento sistência nos transtornos do neurodesenvolvimento, sendo

Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infanl interdisciplinar (NANI) / Centro Paulista de Neuropsicologia (CPN)
1. Fonoaudióloga e Psicopedagoga, Doutora em Ciências pela UNIFESP
2. Psicóloga e Neuropsicóloga, Doutora em Ciências pela UNIFESP, Professora de Psicologia do Centro de Ciências Biológicas e Saúde da Universidade Presbi-
teriana Mackenzie
3. Psicóloga e Neuropsicóloga, Mestre em Ciências pela UNIFESP
4. Psicóloga e Neuropsicóloga, Doutora em Neurociências e Comportamento – USP, Professora Adjunta do Departamento de Psicobiologia – UNI FESP
Barbosa T, Cruz-Rodrigues C, Toledo-Piza CMJ, Mello CB

o Ambulatório de Transtornos de Aprendizagem orientado ampla invesgação para vericar qual ou quais desses fatores
principalmente para abordagem interdisciplinar da dislexia. estão interferindo de forma mais determinante.
Na área do ensino, o programa envolve formação connu- Os processos de avaliação são fundamentais para se obter
ada de colaboradores voluntários de diversas áreas (medicina, não somente o diagnósco dos transtornos de aprendizagem,
psicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia) em neuropsicolo- como também um diagnósco diferencial. A parr desses,
gia do desenvolvimento, especicamente em métodos de ava- pode-se realizar o planejamento prevenvo e terapêuco
liação e diagnósco diferencial. Também oferecemos palestras apropriado com base nas habilidades linguíscas e cognivas
para comunidade, pais e professores quanto ao conhecimento compromedas, bem como nas preservadas, de forma a mi-
dos distúrbios do desenvolvimento e a sua idencação. nimizar os problemas escolares(1,2,3).
Quanto à pesquisa, são desenvolvidos projetos regulares, Desde 2016, considerando as atualizações dos critérios
mulcêntricos, iniciação cienca, mestrado e doutorado diagnóscos propostos pelo DSM V, está sendo implementado
vinculados à UNIFESP e à AFIP, abrangendo temas como um projeto de intervenção em grupo para crianças de risco
avaliação diagnósca interdisciplinar, protocolos especícos para dislexia a parr de um projeto de pesquisa que tem como
para invesgação na população brasileira que contribuam foco a Resposta à Intervenção (RTI).
para diagnósco e intervenção mais efevos, além de estudos A avaliação desna-se a crianças com idade entre 7 e 15
neurosiológicos e de neuroimagem. anos com queixas de diculdade de aprendizagem.
Por m, na assistência avaliamos crianças entre 7 e 15 Para a avaliação, o ambulatório de TA organiza seu uxo de
anos do estado de São Paulo e de outros estados brasileiros atendimento em duas etapas: triagem e avaliação diagnósca.
com queixas de diculdades de aprendizagem, a parr de uma O processo de triagem tem como objevo vericar se as crian-
triagem diagnósca realizada previamente. A avaliação, que ças que foram encaminhadas para atendimento com suspeita
visa o diagnósco diferencial e funcional, é interdisciplinar e de TA apresentam diculdades de aprendizagem secundárias
envolve prossionais voluntários das áreas da neuropsicologia, a outras condições. São encaminhadas para a avaliação diag-
fonoaudiologia, psicopedagogia, psicologia e medicina. Ao nósca crianças que apresentam indícios de um possível TA.
nal do processo, os prossionais se reúnem em equipe para Nesta condição, a criança realiza uma invesgação ainda mais
o estabelecimento do diagnósco e na devoluva busca-se detalhada do seu funcionamento cognivo, com foco nos
a integração entre os pais, professores e os prossionais do processos de leitura, escrita e matemáca.
NANI, visando orientações e condutas necessárias. A avaliação de triagem é feita em um único dia, no qual
concomitantemente é feita uma entrevista de anamnese com
RELATO DE EXPERIÊNCIA os pais/responsáveis e uma avaliação esmada da inteligência,
de algumas habilidades cognivas (como atenção, memória) e
Visando ampliar a rede de atendimento em transtornos das habilidades de leitura e escrita com a criança. Os critérios
de aprendizagem com base em um modelo interdisciplinar de inclusão para avaliação diagnósca são: idade mínima de
de avaliação, foi criado, em junho de 2005, o Ambulatório de 7 anos; nível esmado de inteligência geral (QI) acima de 80;
Transtornos de Aprendizagem (TA) do Núcleo de Atendimento não apresentar fatores emocionais e/ou familiares que tenham
Neuropsicológico Infanl Interdisciplinar do Centro Paulista gerado as diculdades de leitura e escrita; a presença de dis-
de Neuropsicologia (NANI / CPN), com enfoque cienco e túrbios de linguagem; não apresentar alterações neurológicas
estruturado a parr de projetos de pesquisa desenvolvidos e/ou psiquiátricas; a não-ocorrência de alterações sistêmicas
no Departamento de Psicobiologia da UNIFESP. (diabetes, doenças renais, ter se submedo à quimioterapia,
Os objevos desse serviço são disponibilizar gratuitamen- etc) anteriores à alfabezação; não ter histórico de atraso neu-
te à população o diagnósco interdisciplinar e diferencial e, ropsicomotor; não ter histórico de uso de álcool e/ou drogas
paralelamente, realizar pesquisas envolvendo os transtornos pelos pais na concepção e/ou durante a gestação; não ter do
do neurodesenvolvimento e as diculdades de aprendizagem intercorrências pré, peri ou pós natais que possam ocasionar
em crianças brasileiras. alterações neurológicas; ter nascido após a 36ª semana de
Essa visão integrada é necessária, principalmente no gestação e com, pelo menos, 2 kg.
Ambulatório de TA, pois a aprendizagem da leitura e da escrita Após a triagem, a equipe interdisciplinar se reúne para
envolve muitos fatores, entre os quais estão os biológicos e discur os dados coletados na entrevista com os pais/cuidado-
cognivos, emocionais, familiares, ambientais, socioeconômi- res e na avaliação da criança. Tendo cumprido os critérios, os
cos e pedagógicos. Consequentemente, quando uma criança casos incluídos são encaminhados à avaliação diagnósca, que
apresenta problemas de aprendizagem, é necessária uma engloba aspectos cognivos/neuropsicológicos, de linguagem
Capítulo 11. A Experiência do NANI/CPN no Atendimento de Crianças e Adolescentes

oral e escrita e psicopedagógicos que, segundo dados da lite- Entretanto, é importante ressaltar que essa amostra diz respeito
ratura(4,5), são fundamentais para a conrmação ou exclusão às crianças que efevamente foram submedas à avaliação
do diagnósco de transtorno de aprendizagem, além de serem completa após a triagem, ou seja, as que não possuíam nenhum
necessárias para a denição de possíveis comorbidades, ou fator de exclusão para o diagnósco de dislexia.
de outros diagnóscos. Se exisr indicação clínica, com base Um dado pernente é que, em muitas dessas crianças, fo-
nesses procedimentos, a criança também é submeda à ava- ram detectados outros diagnóscos, que não a dislexia. Sendo
liação familiar, psicológica, psiquiátrica ou neuropediátrica. A assim, nossos achados estão de acordo com outros estudos,
avaliação diagnósca é realizada em cerca de 4 sessões de 1h nos quais também foi constatado que as queixas de dicul-
e 30 min de duração cada. dade de aprendizagem com frequência são consequência de
Os aspectos cognivos, aprofundados na avaliação neu- diversas condições que não conguram só os transtornos de
ropsicológica, incluem a invesgação do nível de desempenho aprendizagem(6). Reforçam, ainda, a importância do diag-
intelectual global e das funções mentais superiores abrangen- nósco diferencial, que deve ser realizado por prossionais
do atenção, memória operacional fonológica e visoespacial, capacitados e instrumentados, e não se basear somente no
memória declarava semânca e episódica, funções execuvas levantamento da queixa por meio de entrevista clínica e ob-
(exibilidade, inibição e planejamento/organização), habilida- servação do comportamento.
des visoconstruvas e visoespaciais. Na gura 1, descrevemos os diagnóscos mais frequentes
Em relação à linguagem oral e escrita, são avaliados os encontrados na amostra descrita.
aspectos sintácos, semâncos e fonológicos, leitura (letras,
sílabas, palavras e pseudopalavras, frases, textos, velocidade
de leitura) e escrita (ditado de letras, palavras e pseudopala-
vras, elaboração de texto).
Nos aspectos psicopedagógicos, invesgam-se as habili-
dades matemácas e aspectos subjevos relacionados com a
vivência da relação ensino/aprendizagem.
Após o término da avaliação diagnósca, a equipe inter-
disciplinar se reúne para integrar os resultados da triagem e
da avaliação diagnósca, sob uma perspecva qualitava e
quantava, a m de compreender como o perl cognivo
atual se relaciona e interfere em aspectos da aprendizagem. Figura 1. Porcentagem dos diagnóscos idencados na amostra
A intervenção, que está atualmente sendo implementada, avaliada no Ambulatório de Transtornos de Aprendizagem
a parr de um projeto de mestrado, consiste em um progra-
ma sistemazado e elaborado em um modelo de Resposta à A idade em que a maioria das crianças chega para a ava-
Intervenção. Os atendimentos são em grupos de 5 crianças liação é após os 10-12 anos de idade, ou seja, a idade em
entre 8 e 11 anos com risco para dislexia, sendo o total de 12 que o diagnósco está sendo realizado é tardia, o que pode
encontros, com sessões semanais de 1h e 30 min de duração. inuenciar na reabilitação e no prognósco do quadro, uma
A intervenção é conduzida por uma dupla ou trio de fono- vez que a dislexia é uma condição crônica e não representa
audiólogas, neuropsicólogas e psicopedagogas, e são trabalha- um atraso temporário no desenvolvimento da leitura.
dos de maneira interdisciplinar os aspectos de linguagem oral Além dos aspectos da leitura e escrita, habilidades cog-
(consciência fonológica, discriminação de fonemas, nomeação nivas também podem estar prejudicadas em quadros de
automáca rápida, vocabulário), princípio alfabéco, corres- transtorno de aprendizagem, como, por exemplo, a memória
pondência grafema-fonema e a compreensão e uência de operacional fonológica e a inteligência verbal(4,7,8,9). De tal ma-
leitura. Também é feita uma aposla para que as crianças façam neira, a avaliação interdisciplinar e individualizada é essencial
exercícios diários em casa do conteúdo trabalhado nas sessões. para todos os casos.
Ao nal do processo de intervenção, as crianças são reava- Um dos fatores que levam ao diagnósco tardio é a es-
liadas para que possamos conrmar o diagnósco, mensurar cassez de serviços, principalmente gratuitos, além da falta
a evolução e a efevidade do próprio processo. de informação sobre os problemas de aprendizagem. Como
Desde o início das avidades em 2005 até o ano de 2016, fo- mostra um estudo brasileiro, os professores têm diculdade
ram avaliadas 325 crianças. Dessas, 149 (46%) receberam o diag- na idencação real do problema, de suas manifestações e
nósco de dislexia ou de risco para transtorno de aprendizagem. das formas como intervir e prevenir.
Barbosa T, Cruz-Rodrigues C, Toledo-Piza CMJ, Mello CB

Outras observações pertinentes dizem respeito aos população, já que há muito tempo de espera por atendimen-
achados clínicos. Dos 149 disléxicos avaliados, 30% (44) apre- to nos serviços gratuitos e, muitas vezes, a avaliação é feita
sentaram comorbidades. Dentre estes, a comorbidade mais tardiamente por causa desta espera. Além disso, a avaliação
comum foi o Transtorno do Décit de Atenção e Hiperavidade é complexa e demanda várias sessões de atendimento, o que
(TDA-H), seguido de alterações psicológicas, Transtornos de não contribui para a agilidade do atendimento, e o critério
Escrita e da Matemáca. Esses achados são semelhantes aos diagnósco de resposta à intervenção (RTI) nem sempre é
encontrados em outros estudos (9,10). viável e facilmente executável na realidade brasileira.
A comorbidade mais comum na dislexia é o TDA-H. Alguns Outro desao envolve a escassez de instrumentos de
estudos referem que aproximadamente 15% a 35% ou 40% das avaliação válidos para a nossa população e a formação dos
crianças disléxicas também apresentavam esse transtorno(11,12). prossionais da educação e saúde, que necessitam de cursos
Esses resultados apontam para a complexidade envolvida complementares para a compreensão dos transtornos de
nos diagnóscos dos distúrbios do desenvolvimento (12). De aprendizagem.
tal forma, mais uma vez, vericamos a importância de pro-
ssionais capacitados e instrumentados para a realização do REFERÊNCIAS
diagnósco. Por isso, é importante que a avaliação englobe
testes que invesguem a presença das comorbidades mais 1. Santos MTM, Navas ALGP. Transtornos de linguagem escrita: Teoria e
práca. São Paulo: Manole; 2016.
comuns, que podem requerer um tratamento mais especíco 2. Landerl K, Ramus F, Moll K, Lyynen H, Leppaänen PHT, Lohvansuu K, et
e mulprossional, além de inuenciar as caracteríscas cog- al. Predictors of developmental dyslexia in European orthographies with
nivas e o prognósco das crianças disléxicas(5,13). varying complexity. J Child Psychol Psychiatry. 2013; 54(6):686-94. doi:
No que tange à formação dos prossionais, a experiência 10.1111/jcpp.12029
3. Schneider W. Introducon: the early predicon of reading and spelling.
do Ambulatório de TA do NANI contempla o desenvolvimento Euro J Psychol Educ. 1993;8(3):199-203.
de projetos de pesquisa oriundos dos trabalhos desenvolvidos 4. Cruz-Rodrigues C, Barbosa T, Toledo-Piza CMJ, Miranda MC, Bueno OFA.
pelos alunos de mestrado, doutorado, iniciação cienca e Caracteríscas neuropsicológicas de crianças com dyslexia. Psicol Reex
Crit. 2014;27(3):539-46. doi: 10.1590/1678-7153.201427315
trabalho de conclusão de curso. Isso permite aos alunos uma
5. Menghini D, Finzi A, Benassic M, Bolzani R, Facoe A, Giovagnoli S,
visão críca e interdisciplinar da avaliação e da intervenção et al. Dierent underlying neurocognive decits in developmental
nos TA. Nesse período, foram concluídos dois projetos de dyslexia: a comparave study. Neuropsychologia. 2010;48(4):863-72.
mestrado, dois projetos de doutorado, um trabalho de conclu- doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.11.003
6. Lima RF, Mello RJL, Massoni I, Ciasca SM. Diculdades de aprendizagem:
são de curso de graduação e outro trabalho de conclusão de queixas escolares e diagnóscos em um Serviço de Neurologia Infanl.
curso de pós-graduação. Atualmente, está em andamento um Rev Neuroc. 2006;14(4):185-90.
projeto de mestrado. Além disso, foram publicados 7 argos 7. Barbosa T, Miranda MC, Santos RF, Bueno OFA. Phonological working
ciencos com dados coletados no ambulatório e diversos memory, phonological awareness and language in literacy dicules in
Brazilian children. J Read Writ. 2009; 22(2):201-18.
capítulos de livros e/ou livros publicados pela equipe que 8. Barbosa T, Cruz-Rodrigues C, Toledo-Piza CM, Navas ALGP, Bueno OFA.
constui o ambulatório. Perfil de linguagem e funções cognitivas em crianças com dislexia
De acordo com a experiência deste serviço, observamos falantes do Português Brasileiro. CoDAS. 2015;27(6):565-74. doi:
10.1590/2317-1782/20152015043
que existe uma lacuna ainda maior para a avaliação de crianças
9. Peterson RL, Pennington BF. Developmental dyslexia. Annu Rev Clin
em idade pré-escolar (antes dos 6 anos de idade) para levan- Psychol. 2015;11:283-307. doi: 10.1146/annurev-clinpsy-032814-112842
tamento de fatores de risco para os transtornos de aprendiza- 10. Artigas-Pallarés J. Problemas asociados a la dislexia. Rev Neurol.
gem. Além disso, a procura antes do início da alfabezação é 2002;34(Sup11):S7-S13.
  11. Willcutt EG, Pennington BF, Olson RK, Chhabildas N, Hulslander
pequena e seria importante que os prossionais da educação J. Neuropsychological analyses of comorbidity between reading
e saúde esvessem melhor informados sobre a possibilidade disability and aenon decit hyperacvity disorder: in search of the
de se idencar e intervir precocemente a m de evitar ou common decit. Dev Neuropsychol. 2005;27(1):35-78. doi: 10.1207/
minimizar o impacto dos transtornos de aprendizagem. s15326942dn2701_3
  12. Jakobson A, Kikas E. Cognitive functioning in children with and
Este trabalho também mostra a importância de uma equipe without Attention-deficit/Hyperactivity Disorder with and without
e abordagem interdisciplinar que leve em consideração toda a comorbid learning disabilies. J Learn Disabil. 2007;40(3):194-202. doi:
complexidade do processo de aprendizagem, já que a maioria 10.1177/00222194070400030101
 13. Capellini SA, Padula NA, Santos LC, Lourence MD, Carrenho EH, Ribeiro
dos pacientes avaliados não nha um quadro de transtorno de
LA. Phonological awareness, working memory, reading and wring
aprendizagem e sim diculdades decorrentes de outros fatores. performances in familial dyslexia. Pro Fono. 2007;19(4):374-80. doi:
Seguem constantes desafios no atendimento dessa 10.1590/S0104-56872007000400009
Capítulo 12. Avaliação neuropsicológica para crianças e
adolescentes: diagnóscos e condutas: relato sobre seu
primeiro ano de funcionamento em uma clínica-escola
da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de
Rondonópolis

Rauni Jandé Roama Alves 1 – rauniroama@gmail.com

RESUMO

O presente capítulo tem como objevo apresentar o relato do primeiro ano de funcionamento de um serviço de
avaliação neuropsicológica, para crianças e adolescentes, desenvolvido na clínica-escola do curso de Psicologia
da Universidade Federal de Mato Grosso de Rondonópolis. O projeto, bazado como “Neuropsi-i”, caracteriza-se
como uma extensão universitária. Busca proporcionar aos alunos do curso de Psicologia formação nessa área,
tanto em aspectos teóricos como prácos. Seu primeiro ano de funcionamento, de julho de 2016 a junho de
2017, pôde ser dividido em dois momentos: (a) primeiros seis meses: organização estrutural (dos instrumentos,
preparo das salas etc.) e preparo dos alunos para os atendimentos; (b) nos meses subsequentes: atendimentos
propriamente ditos. Foram avaliadas seis crianças e adolescentes, que apresentavam queixas de diculdades de
aprendizagem, comportamentais e emocionais. Os diagnóscos encontrados foram: três casos sem Transtornos
do Neurodesenvolvimento; um com hipótese diagnósca para TDAH; um com Deciência Intelectual; um com
Transtorno do Espectro Austa. Nesse período, aspectos importantes sobre os processos avaliavos foram obser-
vados, bem como o impacto do trabalho mulprossional. Atualmente, o projeto encontra-se em andamento e
com propostas de melhorias sendo estabelecidas. Além disso, possui interação com projeto de pesquisa que visa
buscar evidências de validade para um instrumento de triagem denominado “Teste para Idencação de Sinais
de Dislexia”.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação Neuropsicológica. Transtornos do Neurodesenvolvimento. Extensão Universitária.

IDENTIFICAÇÃO diferencial juntamente a esses prossionais; (d) realizar


encaminhamentos necessários para processos intervenvos
O projeto “Avaliação neuropsicológica para crianças e mul/interdisciplinar; (e) atender e envolver demandas da
adolescentes: diagnóscos e condutas (Neuropsi-i)” carac- família e da escola como parte dos processos diagnóscos;
teriza-se como uma extensão universitária, cujo objevo (f) vericar a prevalência dos diagnóscos realizados; (g)
principal é oferecer à comunidade o serviço de avaliação invesgar o perl neuropsicológico dos casos atendidos
neuropsicológica para crianças e adolescentes, incluindo tan- (principalmente Transtornos do Neurodesenvolvimento e,
to os processos diagnóscos como a descrição das condutas dentre eles, os Transtornos Especícos de Aprendizagem);
a serem adotadas para cada caso nalizado. (h) possibilitar ao aluno extensionista a práca do raciocínio
Orienta-se pelos seguintes objevos especícos: (a) rea- clínico e o atendimento direto ao paciente dentro da área
lizar diagnósco neuropsicológico; (b) suprir a demanda da avaliação neuropsicológica. Além disso, visa auxiliar no
de atendimento a crianças e adolescentes que necessitem desenvolvimento de uma pesquisa de busca de evidências
do serviço, de acordo com encaminhamentos de prossio- de validade para um instrumento de triagem denominado
nais da saúde e da educação; (c) auxiliar no diagnósco “Teste para Idencação de Dislexia (TISD)” (1).

1. Psicólogo. Doutor em Psicologia, subárea Avaliação Psicológica. Professor Adjunto do curso de graduação e pós-graduação stricto sensu em Psicologia da
Universidade Federal de Mato Grosso.
Alves RJR

É realizado no Centro de Prácas Psicológicas (CEPRASI), do quarto e quinto ano do curso. Nos seis meses seguintes,
clínica-escola do curso de graduação em Psicologia após toda essa organização e preparo dos alunos, os aten-
da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de dimentos foram iniciados.
Rondonópolis. Em seu primeiro ano de funcionamento (julho Na sessão “método”, a seguir, está apresentada a or-
de 2016 a junho de 2017), a equipe foi formada pelo docen- ganização de como foram realizados esses atendimentos
te responsável/coordenador e seis alunos extensionistas. e na sessão “resultados” o que foi encontrado junto aos
Atualmente (agosto de 2017), início de seu segundo ano de pacientes atendidos dentro desse período. Vale ressaltar
funcionamento, conta com nove extensionistas. Além disso, que os “materiais” e “procedimentos” adotados connuam
tem o auxílio de duas secretárias, contratadas para atender muito semelhantes ao que está sendo atualmente aplicado
demandas do CEPRAPSI, que organizam a agenda e os pron- no projeto. Cada aluno extensionista tem atendido em média
tuários ulizados no projeto. duas crianças ou adolescentes ao mesmo tempo, sendo que
a cada caso nalizado, um novo é iniciado.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
MÉTODO
Justificativa de realização do projeto e breve
relato de sua construção Participantes

A parr de uma carência de serviços que oferecessem Foram avaliados seis pacientes, entre 7 e 14 anos, todos
avaliação neuropsicológica de crianças e de adolescentes no do gênero masculino e provindos da escola pública. Todos
CEPRAPSI, o Neuropsi-i foi proposto. Tal carência abrangia apresentavam queixas de diculdades de aprendizagem,
até mesmo uma demanda da cidade onde a universidade se comportamentais e/ou emocionais.
encontra, de acordo com relatos de prossionais da saúde
e da educação da região. Materiais
Nessa perspectiva, a fim de atender essa demanda,
em agosto de 2016 deu-se início a sua implementação. Foram administrados instrumentos psicológicos e/ou
Basicamente, os primeiros seis meses foram de organização do neuropsicológicos aos pais/responsáveis, à   escola e ao
projeto. Inicialmente, foram levantados os instrumentos que paciente. Na Tabela 1 é possível observar a maioria desses
poderiam ser ulizados. Vericou-se que o curso de Psicologia instrumentos.
contava com alguns, mas a maioria teve que ser adquirida e, Pracamente todos os instrumentos (Tabela 1) foram
atualmente, ainda se tem invesdo na obtenção de novos aplicados em todos os pacientes. No entanto, quando o caso
outros. Foram organizadas duas salas no CEPRAPSI que já eram chamava atenção para determinado transtorno, instrumentos
ulizadas para atendimento infanl, a m de que pudessem referentes a uma invesgação mais especializada eram sele-
também abarcar os processos avaliavos. Os armários foram cionados, de acordo com todo um raciocínio clínico. Em um
organizados e neles foram separados espaços especícos para caso hipotético, se a criança, após avaliação da inteligência
o projeto, nos quais os instrumentos seriam guardados, bem (feita pelo WISC-III, por exemplo) e brevemente, das habili-
como outros materiais que pudessem ser ulizados. dades escolares (teste TDE), apresentasse sinais evidentes
Concomitantemente, um preparo teórico foi realizado de diculdades em leitura, eram administrados instrumentos
 junto aos alunos. Foram abarcados conceitos sobre a neu- para avaliação mais aprofundada de uma possível Dislexia,
ropsicologia, diagnósco, o trabalho interdisciplinar, princí- ou seja, obrigatoriamente, todos aqueles descritos para
pios éticos, bem como a leitura de alguns estudos de caso. avaliação da linguagem e de habilidades escolares (Tabela 1).
Leituras aprofundadas sobre os Transtornos Especícos de É  importante ressaltar que os instrumentos ainda em
Aprendizagem foram realizadas, pois atrelado aos atendimen- processo de estudos de validade foram corrigidos qualita-
tos foi aplicado o TISD. Foi ressaltado com esses estudantes vamente. O TISD, por exemplo, principal instrumento que
que vericar o perl de funcionamento neuropsicológico das o projeto auxilia nesses estudos, não possui notas de corte
crianças nesse instrumento auxiliaria muito em sua inves- para seus subtestes. É composto de oito tarefas: (1) Leitura
gação, no processo de busca de evidências de sua validade (letra, palavras e pseudopalavras); (2) Escrita (letra, palavras e
e em seu funcionamento clínico de padronização. pseudopalavras); (3) Cálculo (quatro problemas matemácos
A princípio, somente alunos do curso de Psicologia par- de resolução mental); (4) Atenção Visual (modelo de teste
ciparam desses processos. Foram selecionados seis alunos, de “cancelamento”, com uma letra sendo o esmulo alvo);
Capítulo 13. Laboratório de Pesquisa e Extensão em
Neuropsicologia da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (LAPEN)

Izabel Hazin1 – izabel.hazin@gmail.com


Ediana Gomes2 - ediana.ogomes@gmail.com
Cína Alves Salgado Azoni 3 - cinasalgadoazoni@gmail.com

RESUMO

O Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LA-
PEN) atende a população infanto-juvenil do Estado, oferecendo atendimento interdisciplinar especializado em
transtornos do neurodesenvolvimento, contribuindo sistemacamente para a compreensão, o diagnósco e a
intervenção junto a grupos clínicos de crianças e adolescentes acomedos por diferentes alterações neuropsicoló-
gicas, transtornos de aprendizagem, lesões e/ou disfunções neurológicas. O LAPEN possui um serviço de triagem/
acolhimento e três ambulatórios, a saber, Ambulatório de Lesão Cerebral, Oncologia Pediátrica e Epilepsia Infanl
realizado em parceria com o Serviço de Psicologia Aplicada da UFRN (SEPA) e dois hospitais públicos de referência
no atendimento oncológico infanl; Ambulatório de Transtornos do Espectro Austa em parceria com o Instuto
Internacional de Neurociências de Natal - Edmond e Lily Safra (IINN - ELS) através do Centro de Educação e Pes-
quisa em Saúde Anita Garibaldi e; Ambulatório de Transtornos de Aprendizagem e TDA/H em parceria entre as
clínicas-escola dos Departamentos de Psicologia e Fonoaudiologia da UFRN. O objevo desse capítulo é apresentar
o funcionamento desse esse último ambulatório, no qual é realizada avaliação neuropsicológica interdisciplinar e
intervenção especíca através do Projeto LEIA - leitura, escrita e audição.

PALAVRAS-CHAVE: neuropsicologia; avaliação; fonoaudiologia; aprendizagem

IDENTIFICAÇÃO linfoide agura (LLA) e tumores de fossa posterior, os quais


atualmente se encontram incorporados ao protocolo clínico
A criação do Laboratório de Pesquisa e Extensão em de atendimento a este público, sendo esse o primeiro Serviço
Neuropsicologia no âmbito da UFRN aconteceu no ano de de Neuropsicologia Infanl idealizado e implementado pela
2007, fomentada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio equipe do LAPEN.
Grande do Norte (FAPERN) e o CNPq. Na ocasião, o LAPEN, Na última década, o LAPEN tem se destacado em seus
ainda em construção, estabeleceu parceria com o Centro de esforços em prol do desenvolvimento da neuropsicologia no
Hematologia e Oncologia Pediátrica (CEHOPE) em Recife – PE. estado e no país, com a consolidação de avidades especia-
Nessa oportunidade, foi possível a realização de avida- lizadas em neuropsicologia do desenvolvimento e da apren-
des de pesquisa e extensão, com destaque para a implantação dizagem como suporte à  pesquisa, formação e extensão.
e estruturação do serviço de neuropsicologia no CEHOPE, Assim, o laboratório busca cumprir os objevos estabelecidos
por meio do desenvolvimento de uma rona de avaliação em sua implantação, a saber, 1) o fomento à emergência de
e acompanhamento neuropsicológico para crianças e ado- projetos de pesquisa diversos cujos métodos de trabalho
lescentes com diagnósco ou em remissão de leucemia incluem a avaliação e reabilitação neuropsicológicas como

1. Graduação em Psicologia pela PUC-SP, Especialização em Neuropsicologia pela UFPE, Mestrado e Doutorado em Psicologia Cogniva pela UFPE, Pós-Doutorado
em Psicologia Cogniva e Neurociências pela Université Paris Descartes. Professora Associada do Departamento de Psicologia da UFRN.
2. Graduação em Psicologia pela UFRN, Mestrado e Doutorado em Psicologia pela UFRN. Psicóloga Escolar da UFRN.
3. Graduação em Fonoaudiologia pela USP-Bauru, Mestrado e Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UNICAMP e Pós-Doutorado
em Ciências Médicas pelo UNICAMP. Professora Adjunta do Departamento de Fonoaudiologia da UFRN.
Capítulo 13. Laboratório de Pesquisa e Ex tensão em Neuropsicologia da UFRN (LAPEN)

prácas de invesgação; 2) a oferta de serviços de avaliação de Atenção/Hiperavidade. Por m, destacam-se os Serviços
e reabilitação a diversos setores das áreas de saúde e educa- de Neuropsicologia, desenvolvidos pelo LAPEN, nos setores
ção, voltados à melhoria da qualidade de vida de pacientes de oncologia pediátrica em dois hospitais de referência no
com lesões e/ou disfunções neurológicas e; 3) a capacitação tratamento do câncer infanl no estado do Rio Grande do
de alunos da Graduação e da Pós-Graduação em Psicologia, Norte, a saber, a Liga Norte Rio-Grandense Contra o Câncer
além de grupos de outros campos do conhecimento da e o Hospital Infanl Varela Sanago.
UFRN nos aspectos teóricos e instrumentais do domínio A oferta de um serviço regular e sistemazado para aco-
neuropsicológico. lher a demanda resultante de encaminhamentos de setores
Após o estabelecimento de parcerias com instuições de da saúde e da educação no âmbito do LAPEN tornou-se pos-
saúde e de ensino na cidade de Natal e municípios tornou- sível após a elaboração e aprovação, junto à Pró-Reitoria de
-se necessário consolidar tais prácas em torno de oferta à Extensão da UFRN, de um Plano de Ação de Extensão. Este
população de serviço especializado nas referidas instuições vem sendo executado por pós-graduandos, discentes de
parceiras, e através deste, sistemazar o estágio curricular mestrado e doutorado em psicologia, vinculados ao LAPEN,
em Neuropsicologia para os alunos de graduação do curso bolsistas de graduação nas modalidades de i niciação cien-
de psicologia da UFRN. Adicionalmente, a oferta do Serviço ca e extensão e estudantes oriundos da especialização em
de Neuropsicologia de forma connuada tornou possível Neuropsicologia.
estruturar avidades prácas do curso de formação pós- Um aspecto salutar, para o qual o LAPEN dirige atenção
-graduada em nível de especialização, fortalecer a linha de constante, é a formação e capacitação dos estudantes e pros-
pesquisa em Desenvolvimento Cognivo e Aprendizagem na sionais que integram o laboratório. Sendo assim, são realizadas
pós-graduação e nos grupos de pesquisa aos quais se vincula reuniões semanais de supervisão em cada um dos ambulató-
o LAPEN, que a parr de 2015 consolidou-se como Grupo de rios que compõem o LAPEN, bem como reunião semanal com
Pesquisa cadastrado no Diretório do CNPq, sob a liderança todo o grupo, cujo objevo maior é a leitura e discussão de
das professoras Izabel Hazin e Cína Alves Salgado Azoni, argos ciencos recentes, abordando temácas transversais
vinculadas aos departamentos de Psicologia e Fonoaudiologia ao fazer neuropsicológico em todos os ambulatórios.
da UFRN, respecvamente. Na seção seguinte será caracterizado, de forma mais de-
Como estratégia de funcionamento, o LAPEN oferta um talhada, o ambulatório de Transtornos de Aprendizagem que,
serviço permanente de avaliação e intervenção neuropsico- como dito anteriormente, é desenvolvido através de parceria
lógica em parceria com prossionais da saúde e da educação, entre as clínicas-escola dos Departamentos de Psicologia e
notadamente da fonoaudiologia, pedagogia, psicologia e me- Fonoaudiologia da UFRN. Salienta-se que no ambulatório é
dicina. Tal experiência tem se revelado exitosa, notadamente realizada apenas a avaliação neuropsicológica interdisciplinar.
no que concerne à oferta de atendimento interdisciplinar e Em sendo diagnoscado um transtorno de aprendizagem,
conjunto, com desdobramentos signicavos para a forma- a criança é encaminhada para a realização de intervenção
ção dos estudantes que nelas atuam. no Projeto LEIA- Leitura, escrita e audição, cujo programa
Os grupos clínicos atendidos pelo LAPEN são alocados encontra-se descrito neste Guia.
nas respecvas instuições considerando qual o local mais
apto a desenvolver os processos de avaliação e intervenção JUSTIFICATIVA
em cada demanda especíca. Nesse contexto, as avida-
des em Neuropsicologia realizadas na Clínica Escola de Atualmente a relevância da neuropsicologia junto a crian-
Fonoaudiologia atendem a crianças e adolescentes com ças e adolescentes com lesões e/ou disfunções cerebrais vem
hipótese ou diagnósco de Transtornos de Aprendizagem da sendo largamente reconhecida na comunidade cienca. Este
Leitura e da Escrita e da Matemáca; no Instuto Internacional crescimento se dá principalmente como resposta às constan-
de Neurociências de Natal - Edmond e Lily Safra (IINN - ELS), tes demandas de invesgação e intervenção em situações
mais especicamente na unidade do Centro de Educação de alterações do desenvolvimento e da aprendizagem que
e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, atende a crianças e se apresentam na práca clínica e educacional, bem como
adolescentes com hipótese ou diagnósco de Transtornos pela necessidade de proposição de estratégias de interven-
do Espectro Austa e Síndromes Genécas, e; por sua vez, ção efevas, capazes de contribuir para a minimização do
no Serviço de Psicologia Aplicada da UFRN (SEPA) crianças e impacto de tais prejuízos sobre o funcionamento cognivo,
adolescentes com hipótese ou diagnósco de Lesão Cerebral aprendizagem e execução de avidades de vida diária por
(tais como a Microcefalia), Epilepsia e Transtorno do Décit parte dos sujeitos afetados.
Hazin I, Gomes E, Azoni CAS

No domínio dos Transtornos de Aprendizagem, idenca- a) Realização de Triagem: Esta etapa inclui dois momentos,
-se uma intensa demanda proveniente inclusive de setores que juntos totalizam em média dois encontros, sendo o
especializados no atendimento à  saúde e à  educação de primeiro realizado com os pais e/ou responsáveis, e o
crianças e adolescentes acomedas por diferentes alterações segundo com a criança. Com os pais e/ou responsáveis
neurodesenvolvimentais ou com Necessidades Educacionais aplica-se um roteiro de anamnese e o Inventário de
Especiais. Adicionalmente, constata-se a grave escassez Comportamentos para Crianças e Adolescentes de 6 a
de prossionais da Neuropsicologia no Sistema Público de 18 anos, versão brasileira do “Child Behavior Checklist
Saúde. Com isso, a experiência de um ambulatório inter-  for ages 6-18 ” CBCL(²). Com a criança aplica-se a técnica
disciplinar especializado em transtornos de aprendizagem, projeva do Desenho-Estória com os temas “Eu”, “Eu
fomentado pela Universidade, tem possibilitado a oferta de e minha escola”, “Eu e minha família” e “Eu e meus
serviço de atenção neuropsicológica integral à população amigos”, com o objevo de compreender o sendo que
pediátrica no estado do Rio Grande do Norte, transcendendo a criança constrói para a sua relação com escola e o
iniciavas pontuais, constuindo-se enquanto um serviço processo ensino-aprendizagem; e o Neupsilin Infanl,
público permanente à disposição das crianças, adolescentes, instrumento que possibilita caracterizar brevemente o
familiares, prossionais de saúde e educação de um estado perl de funcionamento de processos neuropsicológicos
que ainda não dispõe, em suas unidades de atendimento, de visando à descrição cogniva associada a diagnóscos
serviços desta natureza. em transtornos do neurodesenvolvimento, em geral, e
Adicionalmente, tal iniciava pode oferecer à neurop- da aprendizagem, em parcular(³). Após a conclusão da
sicologia um terreno fecundo de atuação e de aprendiza- triagem, caso a criança ou adolescente apresente (ou
gem para prossionais e estudantes de todos os níveis de tenha suspeita) de um dos quadros clínicos mencionados
ensino, da graduação à pós-graduação, abarcando os seus anteriormente (lesão cerebral, transtornos de aprendiza-
três objevos principais enquanto área de conhecimento, a gem, transtorno do espectro austa, síndromes genécas,
saber, pesquisa, avaliação e intervenção(¹). Nesse sendo, o epilepsia, TDA/H ou câncer infanl) será encaminhada
ambulatório de aprendizagem do LAPEN desenvolve atuação para o ambulatório adequado.
integrada às prácas das instuições de saúde parceiras, pos- b) Avaliação Neuropsicológica com a criança ou adolescente:
sibilitando, aos discentes, docentes e técnico-administravos, nessa etapa as crianças serão submedas a protocolos
envolvidos um maior aprofundamento no conhecimento especícos que possibilitem o entendimento amplo das
teórico e técnico da Neuropsicologia do Desenvolvimento caracteríscas do distúrbio, das diculdades e habilida-
e da Aprendizagem, bem como a realização de intercâmbio des apresentadas pela criança. Para o ambulatório de
de produção cienca em âmbito nacional e internacional. transtornos de aprendizagem esta etapa é realizada em
De forma mais estruturada, congura-se em um importante dois momentos, sendo um pela equipe de neuropsicolo-
campo de estágio, oferecendo ao discente em avidade gia psicológica (aproximadamente oito sessões) e outra
curricular a possibilidade de aprendizagem e de desenvolvi- de neuropsicologia fonoaudiológica (cerca de quatro
mento de competências e habilidades necessárias à atuação encontros). Ao nal dos atendimentos de avaliação in-
em neuropsicologia, obtendo experiência em uma área em terdisciplinar é realizada sessão de discussão, na qual
expansão em todo o país. são confrontados os resultados encontrados, levantadas
Por m, pretende ampliar o raio de ação da universidade, hipóteses diagnóscas e realizados os encaminhamentos
através do estabelecimento de parceria formal de trabalho e necessários. Os procedimentos avaliavos de ambas as
de pesquisa com as instuições públicas de saúde e educa- áreas são descritos na seção seguinte.
ção, construindo assim ações que contemplem o retorno do c) Os resultados da avaliação neuropsicológica são informa-
conhecimento acadêmico sob a forma de relevantes serviços dos aos pais/responsáveis e ao paciente, a depender de sua
prestados à comunidade, conforme preconiza o tripé Ensino- faixa etária, através de uma entrevista devoluva, na qual
Pesquisa-Extensão, tão caro à Universidade Federal do Rio os prossionais responsáveis pelo atendimento apresenta-
Grande do Norte. rão o laudo neuropsicológico ao paciente atendido, aos pais
ou responsáveis, bem como à instuição e/ou prossional
MÉTODO que realizou o encaminhamento. Nessa etapa também
serão realizados os encaminhamentos necessários.
O uxo para o atendimento de crianças e adolescentes no d) A criança e/ou adolescente poderá ser encaminhado
LAPEN compreende cinco etapas descritas a seguir: para avidade de intervenção em grupo ou individual:
Capítulo 14. Intervenção nos Tr
Transtornos
anstornos Específcos de Aprendizagem em Estágio de Fonoaudiologia

saber como proceder diante de casos clínicos que possuem (fator ambiental), por exemplo, ou se possui um transtorno
múlplas diculdades, quais as caracteríscas que podem ser especíco de aprendizado(43). Cautela no estabelecimento
esperadas (geralmente
(geralmente quando há comorbidade os décits dos diagnóscos é essencial e precisa envolver uma análise
são mais acentuados), o que privilegiar na intervenção, quais ampla do contexto
contexto,, envolvendo a criança-adolescente
criança-adolescente,, sua
as competências que mais inuenciam na qualidade de vida família e sua escola.
do paciente, etc. Além disso, precisa estar em constante in-
teração com os demais prossionais envolvidos com o caso. CONSIDERAÇÕESS FINAIS
CONSIDERAÇÕE
Todos esses aspectos supracitados são trabalhados de
forma conectada com a teoria. Nesse sendo, são realizadas Com a parcipação nesse estágio, espera-se que o estu-
avidades de apresentação de seminário, com temácas as- dante desenvolva competências prossionais essenciais para
sociadas aos casos clínicos
clí nicos e exposição dos pos de transtor- atuar como fonoaudiólogo, como, por exemplo, a capacidade
nos com base na literatura. A redação de relatórios e laudos de trabalhar em uma rede interdisciplinar,
interdisciplinar, de dialogar com
auxilia nesse processo de compreensão do caso clínico pelo a instuição de ensino e demais prossionais envolvidos na
terapeuta e da visão integral das associações e dissociações avaliação/intervenção
avaliação/inte rvenção do paciente, saber avaliar e planejar
das funções cognivas decitárias e das habilidades que a intervenção de cada caso de acordo com as queixas e ma-
precisam ser trabalhadas. nifestações das diculdades, que variam de indivíduo para
O po de intervenção depende dos resultados das avalia- indivíduo(44). Ao mesmo tempo, espera-se que o estudante
ções de cada caso e, ao mesmo tempo, é embasado em re- tenha uma postura ética frente aos demais prossionais
sultados de pesquisas ciencas, privilegiando a abordagem envolvidos e respeito às normas do código de ética  do pro-
neuropsicológica. Quando se trata de diculdades de leitura, ssional Fonoaudiólogo
Fonoaudiólogo..
os estudos mostram que a intervenção no processamento Como possível recomendação de adaptação para outros
fonológico (consciência fonológica, memória fonológica e serviços, sugere-se a realização de um trabalho que arcule
relação grafema-fonema)
grafema-fonema) é um dos aspectos essenciais para teoria e práca, com base em instrumentos construídos e
uma intervenção de sucesso (39). Além disso, quando esse adaptados para a nossa realidade. Dentro da abordagem
trabalho é associado a uma intervenção direta nos processos ulizada neste estágio (neuropsicologia cogniva), é im-
de leitura (precisão, uência e compreens
compreensão),
ão), os resultados prescindível que o prossional tenha conhecimento teórico
apresentados
apresentad os são ainda mais sasfató
sasfatórios
rios(40,41,42) . sobre os construtos que avalia, só assim é possível realizar
Outro ponto importante que é considerado nos atendimen- uma avaliação individualizada e consequent
consequentemente
emente conse-
tos do estágio diz respeito ao grau de diculdade do paciente guir realizar uma intervenção adaptada às   diculdades e
em interação com o ano escolar. A modalidade de intervenção potencialidades de cada indivíduo.
fonográca é a mais ecaz em crianças
cr ianças menores (até primeiro
ano), enquanto que as abordagens combinadas, ou seja, que REFERÊNCIAS
trabalham o código e sendo ao mesmo tempo (consciência
fonológica, correspondência grafema-fonema
grafema-fonema e compreensão 1. Dornelles S, Olchik MR, Brasil B de C. Manual de estágio do Curso de
Fonoaudiologia da UFRGS. 2014.
leitora) podem ser mais sasfatórias para crianças que estão
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paciente que foram trabalhadas (e a possível generalização N, et al. Neuropsicologia como ciência interdisciplinar: consenso da
comunidade brasileira de pesquisadores / clínicos em Ne uropsicologia.
para aspectos não diretament
diretamentee trabalhados). Nesse sendo,
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Capítulo 15. Serviço
15. Serviço de Avaliação e Intervenção em
Dislexia (SAID-Mack) vinculado ao Laboratório de
Neurociências Cogniva e Social da Universidade
Presbiteriana Mackenzie

Elizeu Counho de Macedo 1 – elizeu.macedo@mackenzie.br 


elizeu.macedo@mackenzie.br 
2
 Amanda Douat Cardoso
Cardoso  – amandadouat94@gmail.co
amandadouat94@gmail.com m
Matheus Sant’Ana Michelino  – matheus.michelino@g
3
matheus.michelino@gmail.com
mail.com
Gotuzzo Seabra  – alessandra.seabra@mackenzie.br 
 Alessandra Gotuzzo 1

RESUMO

A Dislexia do Desenvolvimento é reconhecida no DSM-5 como o Transtorno Especíco de Aprendizagem com pre-
 juízo no reconhecim
reconhecimento
ento preciso
preciso ou uente
uente de
de palavras,
palavras, na habilidade
habilidade de
de decodicaç
decodicação
ão e na precis
precisão
ão ortográc
ortográca.
a. É
um dos transtornos da infância de maior prevalência, angindo de 5 a 10% da população brasileira. Tal transtorno
gera grandes impactos educacionais e psicossociais na vida de quem apresenta esta condição, o que reforça a
importância de prossionais da saúde e educação instrumentalizados para avaliar e promover intervenções junto a
este público. Porém, são poucos os serviços oferecidos para avaliação de crianças e adolescentes com diculdades
de aprendizagem de leitura e escrita, especialmente aqueles disponibilizados de forma gratuita. Os resultados
das avaliações podem ser fundamentais para estabelecimento
estabelecimento de estraté
estratégias
gias de intervenção que sejam baseadas
em evidências e que possibilitem garanr o desenvolvimento de todas as potencialidades cognivas das crianças
e adolescentes. Logo, é fundamental o oferecimento tanto os processos de avaliação quanto de intervenção
baseados em evidências ciencas. O Serviço de Avaliação e Intervenção em Dislexia (SAID-Mack), sediado na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, oferece tais processos gratuitamente à comunidade.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação Neuropsicológica, Dislexia do Desenvolvimento, Diagnósco,


Diagnósco, Aprendizagem

IDENTIFICAÇÃO de especialização em Psicopedagogia da UPM, que realizam


as avaliações e intervenções em conjunto com alunos da
O SAID-Mack faz parte do Laboratório de Neurociências psicologia, psicólogos e neuropsicólogos. O serviço dispõe
Cogniva e Social e está vinculado ao Programa de Pós- de 3 salas de atendimento, gabinetes para professores, ins-
Graduação em Distúrbios do Desenvolvim
Desenvolvimento
ento (PPG-DD) da trumentos de avaliação neuropsicológica e psicopedagógica.
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Esse serviço Além disso, toda a infraestrutura de pesquisa do Laboratório
é  coordenado pelo Prof. Dr. Elizeu Counho de Macedo e de Neurociências Cogniva e Social, bem como de equipa-
conta com a parceria cienca da Profa. Dra. Alessandra mentos de movimentos oculares, eletroencefalograa de
Gotuzzo Seabra. Tem por objevo oferecer serviço de ava- alta densidade e demais recursos são usados para o desen-
liação para crianças, adolescentes e adultos com Dislexia do volvimento de pesquisas ciencas que visam aumentar
Desenvolvimento (DD) e diculdade de aprendizagem. Os os conhecimentos relavos ao transtornos e diculdades
atendimentos
atendiment os são supervisionados por professores do pro- de aprendizagem. O serviço é oferecido desde 2005 e, ao
grama, bem como por alunos do PPG-DD. Além disso, conta longo desses anos, mais de 2 centenas de pessoas foram
com a contribuição de psicopedagogos e alunos do curso avaliadas e/ou parciparam de programas de intervenção

1. Professor do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie


2. Graduanda em Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie
3. Mestrando em Distúrbios do Desenvolvimento Universidade Presbiteriana Mackenzie
Macedo EC, Cardoso AD, Michelini MSA, Seabra AG

para remediação das diculdades de aprendizagem. Além que avaliam inteligência, leitura, consciência fonológica, no-
disso, diversos trabalhos foram publicados em forma de meação, desempenho acadêmico (avaliado através do Teste
argos ciencos, livros, capítulos de livros e apresentações de Desempenho Escolar e análise de relatórios escolar) e
em congressos. Tais trabalhos t êm auxiliado na compreensão memória. A parr dela, o paciente que se enquadrar no perl
do perl cognivo de crianças e adolescentes brasileiros com de DD passa pela bateria expandida. Esta é composta por
diculdades de aprendizagem. avaliações mais aprofundadas de inteligência, leitura, escrita,
vocabulário, habilidades matemácas, funções execuvas,
RELATO DE EXPERIÊNCIA lateralidade, motricidade na, atenção e memória. Após a
avaliação, o caso é discudo em equipe mulprossional
O SAID-Mack tem por objevo geral oferecer um serviço constuída por neuropsicólogos, psicólogos, fonoaudiólogos,
de avaliação neuropsicológica de crianças, adolescentes e assistente social, pedagogos e psicopedagogos, para então
adultos de escolas e universidades públicas e parculares ser elaborado o relatório de avaliação neuropsicológica,
da região metropolitana de São Paulo, que são encaminha- com orientações para os pacientes, responsáveis e para a
dos com queixa de diculdade de aprendizagem de leitura escola ou universidade. Caso seja necessário, são realizados
e escrita. Dessa forma, o serviço tem os seguintes objevos encaminhamentos para outros equipamentos públicos da
especícos: 1) Receber crianças, adolescentes e adultos rede de saúde e educação. Por m, é realizada a devoluva
encaminhados de escolas e universidades com queixas de  junto aos responsáveis e paciente.
diculdades de leitura e escrita; 2) realizar entrevistas de Além das avaliações neuropsicológicas realizadas re-
anamnese com os pais ou responsáveis sobre as diculdades gularmente, o SAID-Mack, por ser um serviço vinculado
de aprendizagem; 3) realizar avaliação compreensiva por a Pós-Graduação e a um laboratório de pesquisa, realiza
meio de aplicação de testes e procedimentos diagnóscos diversos estudos que objevam contribuir para aumentar o
para avaliação de diculdades; 4) estabelecer diálogos com conhecimento cienco acerca da DD. Atualmente, as prin-
os professores e os responsáveis das pessoas avaliadas acer- cipais linhas de pesquisas realizadas na área dos transtornos
ca das potencialidades e diculdades observadas durante a especícos da aprendizagem são: 1) avaliação do perl e habi-
avaliação através de entrevistas, anamnese e quesonários lidades cognivas na DD; 2) estudos ulizando instrumentos
como Child Behavior Checklist (CBCL), Teacher’s Report Form computadorizados e tecnologias de neuroimagem; 3) estudos
(TRF); 5) elaborar relatórios para os familiares acerca das de intervenção para as habilidades de leitura e escrita.
avaliações realizadas. Na primeira linha de pesquisa, diversos estudos foram
O SAID-Mack, atualmente, tem períodos de inscrição produzidos, como a invesgação do perl cognivo de crian-
semestrais, e a cada início de semestre realiza as inscrições ças e adolescentes com DD na Escala de Inteligência para
e triagens telefônicas. Sendo um serviço muito procurado, Crianças – 3ª edição (WISC-III)(1). Os resultados revelaram três
há uma la de espera, da qual a equipe seleciona as chas de pers cognivos diferentes, em função do desempenho na
inscrição para iniciar o processo de avaliação neuropsicológi- tarefa e indicando heterogeneidade no perl das crianças e
ca. O processo sempre é iniciado com uma entrevista inicial adolescentes disléxicos. Ainda, um estudo foi desenvolvido
com os responsáveis, que é baseada em uma anamnese pa- invesgando o perl cognivo de adultos com DD na terceira
dronizada. Escalas e quesonários são enviados para que os edição da Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-
responsáveis preencham em casa, para melhor compreender III), revelando que os parcipantes apresentaram QI verbal
a queixa e histórico do paciente. Nesse primeiro encontro menor que o QI de Execução(2). Também foi visto que a habi-
também é solicitado que os responsáveis apresentem uma lidade mais decitária foi a Memória Operacional, enquanto
cópia de todas as avaliações diagnóscas (neuropsicológicos, a habilidade de Organização Perceptual é a que se encontra
fonoaudiológicos, oalmológicos, entre outros) que o pacien- mais preservada. Outro exemplo de estudo realizado pelo
te já possa ter realizado, além de relatórios pedagógicos que a serviço foi a avaliação e comparação do desempenho em
escola possa ter fornecido. Por m, pede-se aos responsáveis testes psicopedagógicos e neuropsicológicos de crianças e
que encaminhem para os professores uma escala de avaliação adolescentes com DD e diculdade de aprendizagem, visto
do comportamento do paciente em sala de aula (Teacher’s que um dos aspectos mais importantes da avalição diag-
Report Form – TRF) . Tudo isso tem por objevo recolher nósca é o estabelecimento de diagnósco diferencial (3).
informações acerca do paciente pelas mais variadas fontes. Os resultados apontaram que o grupo com DD apresentou
A avaliação em si é dividida em duas partes: triagem e maiores diculdades em testes que avaliam a memória de
bateria expandida. A primeira é composta por instrumentos trabalho e a discriminação visual, além de erros especícos na
Capítulo 15. Serviço de Avaliação e Intervenção em Dislexia (SAID-Mack)

leitura e escrita. Esse perl cognivo evidencia diculdades Os resultados indicaram menores amplitudes e menor efeito
especícas na leitura e nas habilidades cognivas relacio- de especialização hemisférica nos grupos disléxicos tanto
nadas a esse processo. Além disto, o estudo evidenciou a na infância como na fase adulta, indicando que ocorre uma
heterogeneidade do perl de crianças com DD, bem como diferença de avação elétrica no cérebro dessa população(7).
possíveis comorbidades com outros transtornos, tais como Por m, na terceira linha de pesquisa encontram-se os
Transtorno do Décit de Atenção e Hiperavidade (TDAH). estudos de intervenção para as habilidades de leitura e
A segunda linha de pesquisa é focada nos estudos u- escrita. Um estudo decorrente do SAID-Mack é a implemen-
lizando instrumentos computadorizados e tecnologias de tação de um sistema de “Response to Intervenon” (RTI),
neuroimagem. Um exemplo de instrumento ulizado é a ou Resposta à  Intervenção, um projeto com enfoque na
versão computadorizada da Bateria de Avaliação de Leitura prevenção e remediação das diculdades de aprendizagem
e Escrita (BALE – Computadorizada). Trata-se de um instru- baseadas em evidências ciencas. Parcipam do projeto
mento que avalia habilidades de linguagem oral e compo- crianças com idade entre 8 e 12 anos, de ambos os sexos, e
nentes da leitura e da escrita, tais como leitura e escrita com queixa de diculdades em leitura e escrita. É realizada
de palavras e pseudopalavras, compreensão de sentenças uma avaliação breve antes da intervenção, com o objevo
escritas, compreensão de sentenças faladas e nomeação de de caracterizar o perl cognivo dos parcipantes. São ava-
guras. Por ser um instrumento computadorizado, a corre- liadas, através de instrumentos validados e normazados
ção é realizada de maneira mais rápida e conável, e são para a população brasileira, as seguintes habilidades: leitura,
registrados o número de acertos e erros, pos de acertos escrita, nomeação, consciência fonológica, inteligência, de-
e erros e o tempo de realização da tarefa. Diversos estudos sempenho escolar, memória operacional fonológica e viso-
realizados no SAID-Mack ulizando a BALE-Computadorizada -espacial, conhecimento e idencação de letras, uência
conrmam que a bateria é um excelente instrumento para verbal, vocabulário e atenção. São excluídos os parcipantes
invesgar os processos cognivos subjacentes a leitura e que apresentam nível de inteligência inferior à média, bem
escrita, assim como é eciente para realizar diagnósco dife- como aqueles com comorbidades neurológicas, psiquiátricas,
rencial das diculdades de aprendizagem(4). Também na linha evasão escolar ou problemas de visão ou audição, atestados
dos estudos ulizando tecnologia de ponta está a ulização por meio da invesgação do histórico de desenvolvimento
do equipamento de Eye-Tracking, responsável por registrar cognivo e médico junto aos responsáveis. Os parcipantes
e analisar o padrão de movimentos oculares durante tarefas que são incluídos no estudo são divididos em pequenos
de leitura. Estudos com bons leitores indicam que, durante grupos, de no máximo 6 crianças, e são agrupados de acordo
a leitura, o olho realiza movimentos sacádicos da esquerda com a faixa etária (no máximo dois anos de diferença entre
para a direita, alternando com breves momentos de xações, os sujeitos), perl de diculdade e nível de inteligência. São
no qual ocorre o registro e o processamento da informação realizados encontros semanais de duas horas de duração,
escrita e, esporadicamente, ocorrem sacadas regressivas totalizando 16 sessões e 32 horas de intervenção. As sessões
da direita para a esquerda(5) . Os estudos do SAID-Mack são divididas em duas partes, tendo como foco habilidades
com adultos com diculdades de leitura indicam que esse de consciência fonológica e mulssensoriais e de produção
grupo realiza um maior número de sacadas, xações mais escrita e compreensão de texto. Finalizado o programa de
longas e mais sacadas regressivas(6). Outro estudo realizado intervenção, todos as crianças são reavaliadas com os ins-
com crianças disléxicas indicou que esse grupo apresenta trumentos de avaliação, de forma a comprovar a ecácia do
diculdades no controle oculomotor, o que pode prejudi- modelo de intervenção. Aqueles que não apresentam avanço
car o controle visual durante a leitura, prejudicando seu são submedos à avaliação neuropsicológica estendida, mul-
desempenho nessa habilidade (5). Por m, o serviço também disciplinar, para conrmação de hipótese diagnósca. Em
dispõe de um equipamento de Eletroencefalograma de alta paralelo a intervenção com as crianças, são desenvolvidas
densidade (EEG), que possibilita a mensuração da avidade reuniões psicoeducavas com os pais e responsáveis, com a
elétrica cerebral durante a realização de provas de leitura. discussão de temas relevantes às diculdades apresentadas
A ulização desse equipamento é de extrema importância, pelas crianças. O serviço de RTI é conduzido por psicopeda-
pois auxilia na compreensão das bases neurosiológicas gogos e conta com a ajuda de psicólogos quando necessário
envolvidas nas diculdades encontradas na DD. Um estudo (ex: avaliação de inteligência).
teve como objevo vericar o padrão comportamental e Em outro estudo, 10 crianças com DD foram subme-
eletrosiológico de adultos e crianças com DD e com habili- das à intervenção fônica computadorizada, em que foram
dades normais de leitura em uma tarefa de decisão lexical. estimuladas habilidades de consciência fonológica e de

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