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1 Introdução
1
Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Amapá (UEAP). E-
mail: elietefelixnicacio@gmail.com
2
Professora adjunta do colegiado de Pedagogia da Universidade do Estado do Amapá (UEAP). E-mail:
brigida.silva@ueap.edu.br
presentes na escola, suas implicações na aprendizagem e uma abordagem sobre a
questão da escola enquanto espaço de ações politico-pedagógicas.
O trabalho no primeiro momento faz uma abordagem histórica sobre a violência
de uma forma mais ampla como: contexto histórico, definições e influências da era
tecnológica. O segundo capítulo da pesquisa traz alguns tipos de violências presentes no
âmbito escolar. O terceiro trata das implicações da violência psicológica, papel do
professor na mediação de conflitos e para a educação.
A presente pesquisa buscou compreender a violência psicológica sofrida por
alguns alunos e as possíveis consequências sobre o processo de aprendizagem;
analisando a temática a partir de questões norteadoras. Os participantes que
protagonizaram esse estudo foram alunos de três turmas do 5º ano do ensino
fundamental na escola campo (105 alunos), que estudam no turno da tarde, cuja faixa
etária é de 9 a 15 anos, o nível socioeconômico é médio/baixo e que estão matriculados
na escola pesquisada.
O autor faz lembrar que a violência não permeia apenas o universo da camada
pobre da população, mas, de todos que se encontram na sociedade, independente de qual
seja sua posição social, profissão que desenvolve e nível de conhecimento, uma vez que
ela tem a ver com a divergência de interesses, ou seja, de algum modo está atrelada a
interesses pessoais e específicos.
A seguir serão apresentados alguns tipos de violência de acordo com a Associação
Brasileira de Proteção à Infância e a Adolescência - ABRAPIA, (1997), Azevedo e
Guerra (1995) e Cabrita (2007).
Violência psicológica: A Associação Brasileira de Proteção à Infância e a
Adolescência-ABRAPIA, (1997) define a violência psicológica da seguinte forma:
Constitui-se, portanto, em violência psicológica: rejeição, humilhação,
constrangimento, depreciação, ameaça de abandono, discriminação,
desrespeito, utilização da criança como objeto para atender a necessidades
psicológicas de adultos. Pela sutileza do ato e pela falta de evidências
imediatas, esse tipo de violência é um dos mais difíceis de caracterizar e
conceituar, apesar de extremamente frequente. Cobranças e punições
exageradas são formas de violência psicológica, que podem trazer graves
danos ao desenvolvimento psicológico, físico, sexual e social da criança.
(1997, p. 11).
Esta é o tipo mais comum no ambiente escolar, pelo fato de ser considerada
indispensável e necessária para o processo, e ainda por se tratar de uma questão
histórico-cultural, que tem ultrapassado as barreiras do tempo. Bourdieu & Passeron
(1970) classificam-na como a imposição da cultura da classe dominante sobre a classe
dominada e, portanto, consideram-na arbitrária uma vez que valoriza uma minoria em
detrimento da maioria.
3.2 Bullying
O bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão; acontece
quando alguém intenta fazer ou mesmo diz coisas para mostrar poder sobre outra
pessoa. Esse tipo de violência se caracteriza por comportamento agressivo através de
insultos, apelidos cruéis, gozações, ameaças e acusações injustas.
Silva (2006) afirma que o bullying é um problema muito sério e que pode levar
desde o suicídio, homicídio e até mesmo a dificuldades de aprendizagem, isso porque a
vítima sofre calada, não tem coragem de conversar sobre o assunto e porque apresenta
dificuldades de relacionamento, pois, sente-se inferior diante dos outros, essa violência,
segundo o autor, provoca fobia social, psicoses, depressão e principalmente baixo
rendimento escolar.
Essa forma de violência, objeto central desse estudo, está presente nos mais
diversos espaços de convivência como: no lar, na escola, no trabalho e em outros mais,
podendo ser protagonizada por qualquer pessoa, do convívio da vítima, ou seja, os
autores podem ser os pais, professores, podendo ocorrer entre os próprios adolescentes,
em relações de amizade ou até mesmo com os irmãos menores.
Trata-se, portanto, de uma relação de poder desproporcional entre o adulto (ou o
mais velho) que manda, pois, está investido de autoridade e a criança que por ser menor
em idade, deve prestar obediência e em algumas relações, ela deve ser prestada
incontestavelmente, sob pena de punição, podendo esta ser um severo castigo.
Guerra (2008) ressalta que a violência psicológica não deixa de ser uma espécie
de tortura psicológica, uma vez que ocorre quando um adulto de modo contínuo avilta a
criança e bloqueia suas tentativas de auto aceitação, provocando-lhe sofrimento mental.
Este tipo de atitude resulta em que a criança se veja como indigna de qualquer
demonstração de afeto, e desprovida de capacidade para realizar tarefas comuns à sua
idade. Aceitando, portanto, a condição de desprezo que lhe é imposta.
Esse tipo de violência pode ser perpetrado por qualquer agente do ambiente
escolar, portanto, pode ocorrer na sala de aula tendo o professor e os colegas de turma
como autores; ou pode ocorrer nos espaços da escola sendo protagonizado por qualquer
um de seus agentes, ou colegas de outras turmas; esse tipo de comportamento pode
gerar ainda mais violência no ambiente educacional.
As autoras Njaine & Minayo (2003) em sua pesquisa, constatam que a
humilhação é a forma de agressão mais sofrida pelos alunos, inclusive na escola,
relatam ainda que os discentes sentem dificuldades para lidar com a falta de atenção da
escola para suas necessidades e a violência verbal gerada por parte dos professores e
funcionários da escola; salientam ainda que o comportamento distante e autoritário dos
docentes impossibilita a comunicação entre ambos e impede que haja uma boa relação
entre professor e aluno.
5 Metodologia
6 Resultados e Discussões
Esta sessão apresenta os resultados e análises dessa pesquisa, para tanto, se faz
necessário destacar que serão apresentadas apenas as informações que contribuirão para
a compreensão da influência da violência psicológica no processo de aprendizagem;
tendo como objetivos específicos: verificar se os alunos sabem identificar ou não esse
tipo de violência; averiguar se os alunos em questão já sofreram alguma forma dessa
violência no ambiente escolar e identificar a existência de práticas educativas de
prevenção contra a violência na escola, pois, quanto a esta última, durante a observação
nada foi visto, todavia, é necessário constatar através dos alunos.
É importante destacar ainda, que em razão da sutileza pela qual é praticada, essa
manifestação pode ocorrer em qualquer ambiente do convívio social da vítima. Quando
perguntados sobre o local de ocorrência dessa violência, as respostas dos alunos
comprovaram a afirmativa mencionada acima, uma vez que também responderam que é
prevalente, tanto no lar, como fora dele.
É fato que na escola também ocorre violência psicológica, todavia, Nascimento
(2011) destaca que na literatura, essa forma de agressão contra crianças e adolescentes é
geralmente estudada como uma das formas de violência doméstica e/ou familiar.
George - acho errado o que eles fazem com a gente... eles chamam a gente de
vândalo por que a gente tem essa idade (13 à 15 anos) e ainda “tamo” no 5º
ano, a gente é atrasado mesmo, a gente sabe; só que nós “num somo
vândalo”, coisa nenhuma... a gente num rouba... num picha, num quebra
nada. Eles num dão atenção para nós, fala mal da gente pelo corredor.
Maressa - essa pedagoga é igual uma cobra, quando fala com gente, ela finge
que tá sorrindo, quando vai virar a costa pra gente ela vira os olhos fazendo
careta. Quando um da nossa turma vai na sala dela... ela vai logo perguntando
bem alto: o que foi heim? Mas, quando vai alguém das outras turmas ela
atende rápido e atende bem, a gente? A gente tem que esperar a boa vontade
dela, aí quando ela bem quer, atende, quando não quer manda embora e não
tá nem aí.
Para Alencar & La Taille (2007), a humilhação é uma arma poderosa, capaz de
destruir o autorrespeito e, ainda, tornar impossível o respeito entre os seres, o que pode
acarretar em sérios prejuízos no desenvolvimento, tanto da criança quanto do
adolescente, podendo até mesmo interferir nas relações sociais.
A partir dessa explanação, nota-se que aos alunos resta apenas o sentimento de
constrangimento, de vergonha de serem expostos diante dos colegas da turma. Desse
modo, é necessário que o docente repense sua prática, para que esta venha colaborar
significativamente com a aprendizagem de todos os alunos, sem promover a exclusão de
uns em relação aos outros.
A indiferença se constitui uma grave ação de violência psicológica e
provavelmente a mais presente na sala de aula. Ferraz e Ristum (2012) ressaltam que a
indiferença se caracteriza mediante a omissão, ou a negação de necessidades na
aprendizagem ou de afeto, ou mesmo que impossibilitam a criança de se relacionar.
6.2.2 Categoria B: A influência dessa forma de agressão na aprendizagem
Fabrícia- não sei... acho que sim. Acho que sim, por que quando a professora
humilha a gente... eu... eu fico com muita raiva, não consigo me concentrar,
parece que me dá um branco, não consigo ler, pensar direito, só me dá
vontade de pegar as minhas coisas e sair correndo, a verdade é que já fiquei
reprovada por causa disso [...] Já me deu vontade de parar de estudar... mas,
daí eu fico pensando, minha mãe não vai deixar... e, se eu desistir e depois
pegar ela de novo?
Júlio- parece que eu tenho sorte pra isso, já abandonei a escola duas vezes
por causa disso, já fui reprovado também [...] mas, não era essa, era outra
doida, desculpa, era outra professora, ela não está mais aqui (na escola) ...
aquela? Aquela era pior que essa, queria ser rica, chamava a gente de pobre,
de gente sem educação, vivia dizendo: - não adianta, vocês nunca vão
aprender, nunca vão aprender... pobre é assim mesmo. Do nada ela gritava-
não é possível que vocês não aprendam nada. Aí chamava palavrão e dizia,
eu não aguento, eu não aguento mais tanta burrice... acho que não aguentou
mesmo, que ela foi embora daqui.
Preliminarmente, embora a literatura não comprove que a violência psicológica
possa resultar em evasão escolar, percebe-se que entre os alunos existe certa semelhança
nas falas, que é o distanciamento em relação à escola mediante a postura agressiva do
professor para com os mesmos. Esse tipo de violência pode desestimular o aluno, deixá-
lo retraído, excessivamente tímido, pois, em razão de muitas vezes ser censurado pelo
docente, o aluno perde o interesse pela participação na sala de aula.
Por outro lado, a reprovação é constatada como um resultado da violência
psicológica e muitas vezes desperta sentimentos negativos nas pessoas que vivenciaram
essa experiência, e ainda diminui a autoestima dos estudantes. Em pesquisa realizada
com estudantes, Abramovay & Castro (2003) destacaram no depoimento dos mesmos
sentimentos de frustação, decepção, tristeza, vergonha e rejeição por terem sido
reprovados.
Ratificando essa opinião, Souza (2008, p.125) concebe que “a criança que sofre
algum tipo de violência, não tem um bom desempenho em suas atividades escolares e
sociais”, isso ocorre por que compromete todo o desenvolvimento humano, podendo
refletir de forma negativa nas brincadeiras, no exercício escolar e no cotidiano.
6.2.3 Categoria C: O que pensam os alunos sobre os possíveis motivos que levam os
professores agir com violência psicológica na prática docente?
Essa categoria teve como objetivo ressaltar o que pensam os alunos sobre os
possíveis motivos que levam os professores a agirem com violência psicológica na
prática docente.
George - sei lá... só sei que isso que eles fazem é errado, mas, por que eles
fazem eu não sei não, por que se for causa do que a Mikaelle falou, a gente
não tem culpa não, mas, acho que eles deviam chegar com a gente e falar... e
explicar. Acho que é por que não gostam da gente mesmo.
Mikaelle - também não sei não, mas eles reclamam muito, dizem que não é
bom ser professor por que ganha pouco e trabalha muito... que a escola não
dá nada, tem muita gente na sala, que o professor não tem tempo nem para se
coçar, sei lá mais o que...
Diante das falas dos participantes dessa pesquisa, constata-se que de fato eles não
sabem o porquê desse comportamento do docente, porém, apenas fazem suposições a
respeito de quais sejam os motivos.
Corroborando com a fala de Mikaelle, (MARRIEL et al. 2006) chama a atenção
para a necessidade de debater as dificuldades que os professores encontram uma vez
que não são poucos os problemas que permeiam o trabalho docente. Entre eles, pode se
destacar a desvalorização dos professores, a falta de tempo para e a formação
continuada em razão do trabalho excessivo.
Compreende-se que nenhum desses motivos justificam uma ação de violência
psicológica, todavia, se faz necessária a compreensão de que o fato de alguns
trabalharem em diversas escolas, a sala de aula lotada, a falta de material didático, pode
indubitavelmente causar níveis elevados de estresse, de modo que sequer consigam se
aplicar as necessidades do seu trabalho.
6.2.4 Categoria D: A opinião dos alunos quanto à justificativa do uso desse tipo de
agressão para educar e disciplinar os educandos.
A fala dos participantes é contundente ao afirmarem que tal atitude não se justifica
deste modo. Anteriormente, no ensino fundamental e médio, era possível encontrar
professores e demais agentes da escola agindo de modo a humilhar os alunos, isso se
justificava pelo objetivo que era empregado, o qual era o de corrigir com a finalidade de
torná-los pessoas melhores e para tanto, poderiam até mesmo utilizar castigos físicos ou
agressão verbal e todos esses castigos eram feitos em consonância com os pais
(ALENCAR; LA TAILLE, 2007). Corroborando com essa ideia (MARRIEL et al,
2006) afirmam que isso é reflexo de uma pedagogia enraizada no ensino tradicional,
cujo modelo insiste em perdurar nos dias atuais.
Diante disso, é indispensável uma formação mais voltada para a humanização,
que seja totalmente desprendida de raízes tradicionais, que outrora funcionavam como
forma de educar, mas, que hoje só exclui e fere os direitos daqueles que supunham estar
no fazer pedagógico a possibilidade de uma ascensão intelectual, social e econômica.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a violência psicológica perpetrada por
professores na prática docente e suas possíveis influências na aprendizagem, para tanto,
tornou-se necessário destacar quais as atitudes de violência psicológica encontradas na
prática das professoras, evidenciar a influência dessa forma de agressão na
aprendizagem bem como buscou-se ressaltar o que pensam os alunos sobre os possíveis
motivos que levam os professores a agirem com violência psicológica na prática
docente e ainda foi averiguada a opinião dos alunos quanto à justificativa do uso desse
tipo de agressão para educar e disciplinar os educandos.
Mediante a análise das vozes dos educandos participantes do grupo focal, foi
notória a identificação das principais reclamações dos estudantes que estão pautadas,
sobretudo, na necessidade de mostrar respeito para com o outro, de colocar-se no lugar
do outro e do cumprimento do dever, despindo-se de qualquer preconceito e forma de
discriminação. A falta dessas ações, ou de projetos voltados para essa temática tem
proporcionado um distanciamento entre docente e discente, o que se caracteriza
sobretudo em uma lacuna no avanço da aprendizagem dos alunos.
No contexto desse estudo, embora ocorram ações de violência psicológica,
todavia, os alunos não tinham ciência de que se tratava de uma forma de violência,
sequer tinham ciência da existência dessa nomenclatura. Consideravam, antes de tudo,
que se tratava apenas de características da personalidade do professor, ou mesmo de um
distúrbio mental ou emocional. Entretanto, ao passar por esse estudo perceberam que a
prática dessa violência ocorre em qualquer lugar, sobretudo no lar.
Diante de tudo o que foi exposto, a presente pesquisa teve sua construção pautada
no princípio de valorização e do respeito ao outro, a partir de um meio pacífico de
respeito às necessidades alheias, possibilitando assim uma minimização de preconceito
e discriminação no espaço escolar, exigindo mais estudos nessa área, por se tratar de um
tema relevante para a área da educação.
No que concerne à relevância social, espera-se que essa pesquisa possa servir
como indicativo para novas discussões a respeito desse assunto, capaz de incitar
políticas públicas para a formação de professores, redução do excesso de trabalho,
melhores salários, entre outros, e no contexto escolar, mudanças nas práticas educativas,
nas quais o docente possa ser visto como um contribuinte do processo de aprendizagem
e não como um algoz; que é como passam a ser visto aqueles que por algum motivo
agem com violência psicológica.
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