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GLOBALIZAÇÃO E

GOVERNANÇA
AULA 2

Profª Thaíze Kemer


CONVERSA INICIAL
A presente aula tem como objetivo aprofundar o conceito de
globalização e discutir a compreensão desse conceito a partir da perspectiva
das escolas realista e marxista das Relações Internacionais. Para tanto, parte-
se da apresentação do conceito de globalização e da discussão de suas
principais características. Além disso, a aula enseja a reflexão sobre a
globalização e as desigualdades sociais. Para isso, são apresentados os
trabalhos de Karl Marx, Simon Kuznets e de Thomas Piketty relativamente às
tensões entre a globalização e as desigualdades sociais. Por fim, a quinta
seção apresenta a atualidade do marxismo no contexto das RI, especialmente
no que se refere aos temas da globalização e da desigualdade social.

TEMA 1 – GLOBALIZAÇÃO: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS


A globalização representa uma intensificação das ligações multilaterais e
multicontinentais. Portanto, a globalização significa um aumento da densidade
do globalismo, o qual pode ser compreendido como uma forma de relação de
interdependência entre diversos continentes (multicontinental). A globalização
apresenta três características: a) o aumento da densidade das redes; b) o
aumento da velocidade institucional; c) o aumento da participação
transnacional (Keohane, 2002, p. 240).
A primeira característica da globalização é o aumento da densidade das
redes internacionais. Segundo Jervis (1997-8), esse aumento contribui para a
existência de efeitos sistêmicos entre os múltiplos pontos da rede. Os efeitos
sistêmicos referem-se ao fato de que, em razão de esses pontos estarem cada
vez mais conectados, o impacto das ações executadas em um ponto produz
efeitos generalizados no restante da rede.
A segunda característica da globalização é o aumento da velocidade
institucional, a qual pode ser entendida como um aumento no nível de
influência, transformação e resposta das instituições. Esse nível, por sua vez,
depende da velocidade com que a comunicação institucional ocorre. Dessa
forma, o aumento da velocidade institucional está diretamente relacionado à
redução dos custos da comunicação (Keohane, 2002, p. 243). O fenômeno que
permitiu essa mudança qualitativa foi a revolução da informação, a qual

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promoveu a expansão generalizada da rede digital e, assim, permitiu a
diminuição dos custos de comunicação.
A terceira característica da globalização é o aumento da participação
transnacional. Esse aumento ocorre em razão: (1) da existência de canais
múltiplos de comunicação e; (2) da redução dos custos de comunicação. Um
exemplo que permite visualizar o aumento da participação transnacional ocorre
no contexto da formação da opinião pública internacional. Nesse sentido, Zaller
(1992) criou um modelo para compreender a influência dos meios de
comunicação na formação da opinião pública. O modelo de Zaller possui quatro
premissas: (1) os indivíduos diferem em relação à sua atenção ao campo
político e, portanto, em relação ao grau de exposição às fontes de informação
política; (2) As pessoas reagem criticamente à comunicação política apenas na
medida em que tomam ciência dos fatos; (3) As pessoas raramente possuem
opiniões fixas sobre assuntos específicos, mas, sim, elaboram suas opiniões à
medida que são confrontadas com os assuntos; (4) As pessoas, ao elaborarem
suas opiniões, usam, em maior medida, as ideias que estão mais acessíveis
para elas (Mundim, 2009).

TEMA 2 – O ANTAGONISMO ENTRE O REALISMO E A GLOBALIZAÇÃO:


BASES TEÓRICAS
Para o Realismo, a anarquia é uma característica do sistema
internacional e pode ser compreendida como a inexistência de uma entidade
supranacional que tenha capacidades políticas, militares e econômicas
absolutas em relação aos demais membros do sistema. Partindo desse
conceito, o Realismo desqualifica o potencial de influência da globalização na
esfera internacional, na medida em que a globalização não modifica a condição
definidora do sistema internacional: a anarquia.
Assim, no sistema internacional contemporâneo, há dois movimentos
simultâneos: (1) o aumento da densidade das relações entre os atores
internacionais, sejam eles empresas, organizações internacionais ou indivíduos
e, (2) os Estados nacionais formando balanças de poder entre si. A teoria da
balança de poder afirma que os Estados tendem a formar alianças em razão de
sua necessidade de sobrevivência (Waltz, 2002, p. 210). Essa teoria prevalece
sempre que duas condições sejam satisfeitas: que a ordem seja anárquica e

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que as populações desejem sobreviver (Waltz, 2002, p. 210). Portanto, para os
realistas, a formação de balanças de poder persiste no contexto de
globalização existente nas relações internacionais contemporâneas, uma vez
que, na visão dos realistas, a globalização não altera a condição de anarquia
que é inerente ao sistema internacional.

TEMA 3 – CRÍTICA MARXISTA À GLOBALIZAÇÃO: KARL MARX E SIMON


KUZNETS
O mundo contemporâneo presencia o aumento da desigualdade social
e, nesse sentido, o marxismo constitui uma teoria que pode ampliar a
compreensão das relações internacionais relativamente à desigualdade. Nesse
contexto, para compreender a crítica marxista à globalização, é relevante
conhecer o trabalho de Karl Marx e Friedrich Engels e Simon Kuznets no que
concerne à desigualdade.
Marx e Engels, no livro O Capital, de 1867, apresentaram o “princípio da
acumulação infinita”, que consiste na tendência que o capital teria de se
acumular nas mãos de uma parcela cada vez menor da população, sem que
houvesse um limite natural para esse processo de acumulação (Piketty, 2014).
Esse princípio baseava-se em duas premissas: (1) o aumento da riqueza na
Europa, em razão da industrialização e; (2) o aumento da população europeia a
taxas crescentes e constantes. Ou seja, a combinação entre o aumento da
renda do capital, ao ser somada em um aumento da taxa de crescimento da
população europeia, resultaria, no longo prazo, na concentração infinita da
renda nas mãos de uma parcela minoritária da população. No entanto, esse
incremento demográfico não ocorreu, pois a população europeia passou por
um processo de estabilização. Assim, a previsão de Marx de acumulação
infinita não se concretizou.
Outro autor, Simon Kuznets, elaborou uma antítese ao princípio marxista
da acumulação infinita, utilizando dados da economia dos Estados Unidos
entre 1913 e 1948. Kuznets avaliou que, nesse período, houve uma forte
redução da desigualdade de renda nos EUA. Na década de 1910, os 10% mais
ricos entre os americanos recebiam entre 45 e 50% da renda nacional anual,
ao passo que, ao final da década de 1940, os 10% mais ricos passaram a
receber entre 30 e 35% da renda nacional. Por isso, Kuznets concluiu que “a
desigualdade de renda deveria diminuir de modo automático nos estágios mais
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avançados do desenvolvimento capitalista de um país […]” (Piketty, 2014). Em
uma conferência publicada em 1955, com o título “Crescimento econômico e
desigualdade de renda”, Kuznets apresenta o conceito síntese de sua teoria, a
curva de Kuznets. Na sua interpretação, a desigualdade poderia ser descrita
mediante uma curva em formato de U invertido, a qual era formada por uma
fase de aumento da desigualdade, seguida por uma fase na qual haveria uma
queda da desigualdade (Piketty, 2014, p. 21). Ao contrário de Marx e Engels,
que afirmaram a tendência de aumento da desigualdade, Kuznets concluiu que
a desigualdade deveria diminuir em nações que fossem mais desenvolvidas.

TEMA 4 – CRÍTICA MARXISTA À GLOBALIZAÇÃO: THOMAS PIKETTY


Partindo dos extremos de interpretação propostos por Marx e Kuznets,
da relação entre desigualdade e renda, Thomas Piketty, economista
contemporâneo, obteve resultados distintos. A pesquisa de Piketty envolveu a
análise de dados de distribuição da riqueza na França, na Alemanha, nos EUA,
na Inglaterra e na Suécia, com foco na segunda metade do século XX e no
início do século XXI. Segundo Piketty, a desigualdade nesses países cresceu
no final do século XX. Em síntese, Piketty (2014) demonstrou que existe uma
tendência de aumento da desigualdade nas economias americana, francesa,
germânica e britânica. Assim, é possível afirmar que Piketty (2014) apresenta
pontos de aproximação com a tese marxista. Embora Piketty (2014) não
aprofunde o princípio da acumulação infinita; existe, para esse autor, uma
tendência de aumento da concentração de riqueza nos países analisados,
desde que sejam observadas as premissas de seu modelo.

TEMA 5 – O RETORNO AO MARXISMO CLÁSSICO


A globalização representa um impacto diário em nossas vidas, com reflexos na
distribuição de riquezas nas diferentes sociedades contemporâneos. Nesse
contexto, o marxismo clássico fornece ferramentas de análise para
problematizar a distribuição de recursos no mundo atual. O instrumental
analítico marxista parte da premissa de que a distribuição e o controle dos
recursos materiais produzidos pela sociedade são apropriados por seus
agentes de forma desigual. A partir dessa tensão fundadora entre quem detém
e quem não detém o controle desses recursos, a teoria marxista passa a ser
desenvolvida. Logo, evidencia-se que os marxistas têm preocupações distintas
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daquelas encontradas entre realistas e liberais: enquanto estes protagonizaram
um debate entre a guerra e a paz na formação do sistema internacional, os
marxistas enfatizaram a história da tensão entre capital e trabalho. A análise
marxista, nesse sentido, utiliza múltiplos níveis de análise: o sistema capitalista,
as classes sociais e os indivíduos. Esses níveis de análise representam uma
adaptação da classificação de Waltz (2004), para quem os níveis de análise
clássicos eram o sistema, o Estado e o indivíduo.
Para compreender a tensão entre capital e trabalho nesses níveis de
análise, a teoria marxista utiliza os conceitos de superestrutura e infraestrutura
(Marx, 2008): (1) a infraestrutura, simplificadamente ilustrada pela dimensão
econômica e; (2) a superestrutura, ilustrada pelo Estado, pelas ideias e pelo
âmbito político e jurídico. Essa divisão busca demonstrar um jogo entre a
essência e a aparência da vida social e, em particular, da vida internacional.
Neste jogo, os agentes creem na aparente autonomia da superestrutura, mas é
na infraestrutura que as determinações são produzidas. Ao evidenciar a
relevância da infraestrutura, a análise marxista relativiza o papel e a suposta
autonomia do Estado.

NA PRÁTICA
Uma das demonstrações do modelo de Zaller foi o apoio da opinião
pública norte-americana à Guerra do Vietnam, entre 1965 e 1970. Em um
primeiro momento, a pesquisa de Zaller verificou que a maioria da opinião
pública norte-americana posicionou-se favoravelmente à guerra (Mundim,
2009). No entanto, conforme os veículos de comunicação de massa alteraram
o seu posicionamento em relação à guerra, a resposta da população mais
informada foi acompanhar a mudança de posição da mídia, enquanto a
resposta da outra parte da população, menos informada, foi de manutenção do
apoio a guerra (Mundim, 2009). A constatação de Zaller foi a de existe uma
correlação entre o grau de exposição da população às notícias da mídia e o
incremento subsequente das respostas e do grau de atenção dado pela
população às notícias (Mundim, 2009). Assim, segundo o modelo de Zaller, à
medida que a atenção da população mundial sobre eventos internacionais
aumenta, aumentam, também, as formas de participação transnacional
(Mundim, 2009).

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FINALIZANDO
Enquanto os realistas estão preocupados em analisar a interação entre a
globalização e a estrutura do sistema internacional, os marxistas direcionam
sua investigação para a interação entre a globalização e o sistema capitalista.
Assim, tanto realistas quanto marxistas observam os impactos da globalização
nos estados nacionais. No entanto, o marxismo desconstrói o papel dos
Estados nacionais, ao buscar compreender quais são as classes sociais que se
beneficiam com a globalização. Como a sequência da exposição procurou
salientar, ocorre uma coincidência entre as fases de maior incremento do
globalismo, notadamente a década de 1990, e o incremento da desigualdade
social. Assim, a constatação do aumento da concentração de riqueza coincide
com as preocupações do marxismo como marco teórico das relações
internacionais.

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REFERÊNCIAS

JERVIS, R. Complexity and the Analysis of Political and the Social Life.
Political Science Quarterly, vol. 112, n. 4, p. 569-593, (1997-98). Disponível
em:<http://jonathanrenshon.com/Teaching/NPS/ResearchDesign/Complexity%20and
%20the%20Analysis%20of%20Political%20and%20Social%20Life.pdf>. Acesso em:
5 jul. 2017.

KEOHANE, R. O. Power and Governance in a Partially Globalized World.


London: Routedge, 2002.

MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. São Paulo:


Expressão Popular, 2008.

MUNDIM, P. S. A teoria da dinâmica da opinião pública de John R. Zaller:


aplicações para o caso brasileiro. Contemporânea, Salvador, v. 7, n. 2, dez.
2009. Disponível em: <file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/3678-9489-
1-PB.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2017.

PIKETTY, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

WALTZ, K. Teoria das Relações Internacionais. Lisboa: Gradiva, 2002.

_____. O homem, o Estado e a guerra: uma análise teórica. São Paulo:


Martins Fontes, 2004

ZALLER, J. R. The Nature and Origins of Mass Opinion. Cambridge:


Cambridge University Press, 1992

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