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sobretudo, porque ganhou uma urgência, uma qualidade que talvez não
tivesse em 1955, e pudesse ser vista como uma frase poética —
sombria, mas apenas poética. O tempo verbal se tornou, de repente,
mais complicado. Não é, talvez, “vai terminar”, mas “está terminando”.
Em outro sentido, sou pessimista pois não vejo com grande esperança a
capacidade dos Estados-nação, dos Governos mundiais, de
efetivamente mudar com a radicalidade que se impõem as condições de
existência das sociedades avançadas — em particular, as
tecnologicamente avançadas — para que você diminua a velocidade de
deterioração do sistema termodinâmico da Terra.
Além do que nós estamos vendo algo que ninguém imaginava, talvez,
que é uma maré fascista mundial encabeçada pela principal potência
mundial [os Estados Unidos], em breve, segunda potência mundial. A
outra [China] sempre foi o que é, há 5.000 anos, sempre foi um regime
autocrático, sempre foi um regime imperial, num certo sentido.
De outro lado, esse é um país que continua marcado por uma estrutura
profunda da sua natureza, a escravidão. Que continua, de certa maneira,
girando em torno de um modo de ser, de pensar, de agir, que se contém
à memória da escravidão. Não só o racismo, mas a relação do poder
público do Governo com as populações negras, pobres, do Brasil, o
genocídio entusiasmado praticado por governantes.
E agora a gente chegou numa situação no Brasil em que você tem que
usar um vocabulário da psicopatologia para falar dos que estão no
Governo. Esse governador [do Rio, Wilson Witzel] é um psicopata, esse
presidente é louco, e coisa desse gênero. Cada vez mais você vê um
vocabulário… “As pessoas estão loucas.” “Isso é loucura.” Então, o que
que aconteceu para que de repente a política tivesse virado na
psicopatologia?
Isso só tirou esse pessoal do armário, no qual eles estavam desde o fim
da ditadura e, sobretudo, depois que o PT ganhou a eleição em 2002.
Ganhou, aliás, apenas porque o PT se obrigou a fazer concessões. A
Carta aos Brasileiros do Lula, em 2002, falou: não vamos tocar no
sistema. E, apesar disso, ele [o PT] foi apeado do governo por um golpe.
Em parte por causa, evidente, da crise econômica mundial.
De fato eu não sou especialmente otimista, acho que a gente nunca
esteve tão mal, do ponto de vista político, quanto agora. A situação é
propriamente surreal. Eu há pouco tempo fiz uma brincadeira nas redes
sociais dizendo que o sucesso nas fake news no Brasil se deve ao fato de
que a verdade se tornou inacreditável. As notícias verdadeiras são
inacreditáveis, então você acredita nas falsas.
P. Tem uma entrevista que o Celso Furtado deu para a revista Caros
Amigos antes da primeira eleição do Lula [2002]. E ele disse que, da
visão dele, seria uma tarefa fundamental do PT, se eleito, tentar impedir
o processo de desagregação do Brasil. O senhor já discorreu um pouco
disso, mas quais outros pecados o PT cometeu nesse caminho? E Belo
Monte?
R. Primeiro, eu queria fazer uma ressalva. Não é nem dizer que não é o
momento de fazer essas críticas, mas é questão de dizer que perto do
que está aí o PT era o paraíso, em termos de qualidade das relações
políticas, relações sociais. Aliás, com toda a picaretagem, a mamata, a
propina, a negociação no Congresso, o mensalão e tudo, que o PT fez,
não foi o primeiro partido de esquerda a fazer isso na história.
Ele fez um pacto com o diabo para poder governar, e o diabo cobrou a
conta, como sempre cobra.
Com o impeachment foi isso. Ele fez um pacto com as forças mais
reacionárias, mais corruptas do sistema político para poder governar, e
conseguiu isso até certo ponto. Dali pra frente, a conta veio. E a conta
vem da maneira mais atroz, mais absurda, essa prisão do Lula, essa
exposição do fato de que o sistema jurídico é envenenado por pessoas
de má qualidade ideológica, de má qualidade cultural e de má qualidade
política.
Isso tudo, evidentemente, faz com que a gente tenha que criticar o PT,
mas dizendo “olha, vejam bem”. Lula livre pra começar — essa eleição
foi fraudada nesse sentido de que o Lula foi preso para evitar que ele
ganhasse. Nem todo mundo que votaria no Lula — e ele teria ganho em
primeiro turno — era petista, e todo mundo sabe. Assim como nem todo
mundo que votou no Bolsonaro é bolsominion, mas muitas das pessoas
que votaram no Bolsonaro teriam votado no Lula se o Lula estivesse
solto.
Estou usando “o policial” para não usar outra palavra, dos amigos dele,
pessoal que sai em fotografia com ele em tudo que é lugar. Então nós
estamos numa situação de um regime criminoso. Não sei como definir
de outra forma. Não estou falando da criminalidade clássica da política,
que é a criminalidade dos contratos, dos grupos de favorecimento, que
sempre houve e que o PT também praticou, mas numa criminalidade
num sentido de porta de delegacia, criminalidade de assassinato,
extorsão de populações pobres… Essa criminalidade está no poder. Isso
é uma coisa inacreditável.
P. E Belo Monte?
Eu trabalhei lá, conheço lá, não tem perdão o que eles fizeram ali. Aquilo
representa uma ideia de Brasil em que, num certo sentido, há uma
continuidade em algum nível entre o projeto do PT e o projeto desse
governo no que diz respeito à relação com a Amazônia, com os povos
tradicionais, com o Brasil profundo.
Tem que modernizar, tem que civilizar, tem que industrializar, tem que
derrubar, tem que gerar renda, tem que gerar valor, gerar emprego, e a
gente ouve isso há séculos e só vê o pessoal se fodendo.
Parque nacional, reserva ecológica, todas as terras que têm uso especial
estão na mira desse governo. Daí a importância do Ministério do Meio
Ambiente para destruir os sistemas de terras protegidas e para o ataque
aos povos indígenas. Esse ataque, na verdade, exprime um desejo de
transformar o Brasil inteiro em propriedade privada.
Daí essa conversa para boi dormir dos militares: “Ah, a invasão da
Amazônia pelos estrangeiros”. Eles estão vendendo as terras da
Amazônia para um monte de proprietário estrangeiro, o problema deles
não é esse. Isso é mentira.
O problema dos índios é que as terras dos índios são terras da União, e o
objetivo do governo é privatizar. E mais do que do governo, das classes
que o governo representa, das quais ele é o jagunço, porque é isso que
ele é: o jagunço da burguesia.
Viveiros de Castro foi escolhido pelos Aliados da Pública para a entrevista do mês AF
RODRIGUES (AGÊNCIA PÚBLICA)
P. E a Amazônia?
R. A Amazônia é um objeto imaginário, complicadíssimo no Brasil.
Primeiro que a gente precisa sempre lembrar: a Amazônia não é
brasileira. A Amazônia é de nove países.
É um pouco isso que os militares falam, que não tem que se meter com
a Amazônia, a Amazônia é nossa. Nossa pra fazer o quê?
Por que as Forças Armadas não quiseram intervir em três denúncias
recentes de ataque de garimpeiros ao Ibama? Porque eles estão do lado
dos garimpeiros.
É a grande onda agora, e vai por todos os lados. Se não for comprando
eles com dinheiro, vai ser metendo os evangélicos malucos lá pra
quebrar, pra proibir pajelança, fazer o diabo, acusar os índios das coisas
mais loucas.
Daí a confusão: isso é índio, isso não é índio, não sei o quê. Quando, na
verdade, índio é uma forma de relação com o Estado. É claro, tem uma
dimensão histórica, são populações descendentes, remanescentes, e
que se pensam como ligadas às comunidades pré-colombianas. Mas
são também comunidades que têm uma certa relação de exterioridade
em relação ao Estado nacional e à etnia dominante, que é uma relação
muito particular. E essa relação passa, principalmente, por uma certa
relação com a terra.
P. A fome voltou…
Eu sou otimista numa coisa: acho que o Trump não vai ser reeleito. Mas
eu falei que o Bolsonaro não ia ser eleito, e ele foi, né? Eu falei que, se ele
fosse eleito, eu saía do país. Eu não saí, né?
Mas, se o Trump não for reeleito, a situação do Brasil vai mudar muito,
porque não tem mais um outro maluco. Essa aposta total da Presidência
numa relação carnal com os EUA do Trump é bem arriscada.
Boa parte dos refugiados que estão saindo dos seus países de origem
estão saindo por causa de questões de destruição das condições
materiais: secas brutais, enchentes. Então, são refugiados do clima, em
larga medida. Esse pessoal que está indo para os Estados Unidos,
tentando pular o muro de qualquer jeito, em grande medida, é refugiado
do clima.
Mudanças muito radicais, que não vão ser três torres eólicas que vão
resolver. Vai precisar de muito mais que isso, vai precisar de uma
mudança radical nos padrões de consumo, das sociedades
desenvolvidas, de uma redistribuição radical dos recursos pela
população do planeta.
Mas é mais fácil, em vez de acontecer isso, que aconteça outra coisa,
guerras genocidas, extermínios maciços de população, destruições
gigantescas de meio ambientes inteiros… É por isso que eu não sou
muito otimista, né?
P. No seu livro Há mundo por vir?, que você escreveu com a Débora
[Danowski, filósofa e companheira de Viveiros de Castro] se fala que
essa catástrofe climática impõe ao ser humano uma mudança
metafísica de não pensar o mundo inteiro a partir de si mesmo, com
uma centralidade no homem.
P. Você falou que a gente deveria perguntar aos índios a respeito do fim
do mundo porque o mundo deles está acabando desde 1500. Que lições
concretas os povos indígenas podem nos dar a respeito dessa
convivência com esse fim do mundo, que é gradual, não acontece de
uma vez?
É como se a espécie humana fosse o único animal que, porque ela sabe
que é um animal, ela não é um animal. Porque, como ela sabe que é um
animal, isso a torna diferente de todos os outros animais e, portanto,
não é animal.
Eles têm que se “desdesenvolver” para que outros países, outros povos,
possam se desenvolver um pouco mais, de modo a equalizar um pouco
as condições de existência de Bangladesh com a Califórnia.
Quer dizer que Bangladesh tem que virar a Califórnia? Não. Quer dizer
que a Califórnia tem que virar Bangladesh? Também não. Mas tem que
haver um meio-termo aí, tem que haver uma certa aproximação entre
esses dois povos, entre o camponês de Bangladesh, a favela carioca e os
condomínios de luxo de Miami e de Los Angeles. Porque, se não
aproximar, o planeta vai explodir.
Mas os Munduruku agora estão se juntando com, sei lá, Kayapó, com os
Araweté, com os Parakanã… Para que todos esses povos, que não são
uma coisa só, possam apresentar uma frente só diante de um outro
lado, que, esse sim, é uma coisa só, nós, o Estado brasileiro, a etnia
dominante, que é branca.
Por que eles nos chamam de brancos? Inclusive, palavra que, muitas
vezes, pode ser aplicada a um negro? Porque o problema não é de cor.
Uma metonímia, branco pra falar de brancos, negros, amarelos e azuis,
mas ao mesmo tempo é porque o branco é de fato a figura central. O
branco é uma coisa só pra eles: é o Estado.
R. Acho que tudo está naquela frase do Darcy Ribeiro, que todo mundo
cita com razão, que é: a má educação no Brasil, a destruição, o péssimo
sistema educacional no Brasil, não é um defeito, é um projeto. Acho que
existe, sim, um projeto de deseducar a população brasileira, exceto
quando se trata de formar mão de obra qualificada para certas funções
específicas do mercado de trabalho capitalista. Mas, do ponto de vista
do que a gente chama de cultura em geral, acho que existe um projeto
de impedir o povo de aprender.
Por que esse ataque às universidades está se dando agora que a política
de cotas entrou para valer? Tem cursinho de pré-vestibular na Maré,
aprovando todo mundo no vestibular das universidades públicas. “Não
pode isso. Se esse povo começar a pensar, vai dar um problema.” Tem
que manter a população sob controle.
Acho que não é por acaso que chamam o Bolsonaro de “mito”, porque
existe aí uma mobilização de certas estruturas míticas que são
politicamente reacionárias e que estão sendo difundidas, no meu
entender, deliberadamente, por uma elite que, evidentemente, não
acredita nisso. Você acha que o Olavo de Carvalho acha que a Terra é
plana? Claro que não.
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