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A CONCENTRAÇÃO
Numa outra analogia para o uso da palavra concentração, se, diante das portas
fechadas de um auditório, vemos um grande ajuntamento de pessoas esperando que as portas
se abram, podemos dizer que se trata de uma concentração de pessoas. Mais uma vez,
queremos dizer que muitos seres estão reunidos num estado de relativa unidade. Agora,
consideremos a concentração no sentido psicológico, mental. Afirmamos, então, que nos
estamos concentrando em alguma coisa. Novamente perguntemo-nos: que queremos
exatamente dizer com isto? E curioso notar que, com frequência, não pensamos no significado
das palavras que usamos. Elas vão se encaixando, talvez natural ou habitualmente, naquilo que
estamos dizendo. Mas, qual é nossa compreensão pessoal dessas palavras? Uma compreensão
restrita da concentração e suas funções nos levará a tirar pouco proveito desta faculdade.
Suponhamos que desejamos trabalhar com uma coisa de tamanho muito reduzido, ou
intricada. Por exemplo, admitamos que se trata de enfiar uma linha numa agulha finíssima, ou
de colocar um parafuso muito pequeno num orifício de um mecanismo qualquer. Todos
tivemos experiências deste gênero. Sabíamos que, nessas circunstâncias, não podíamos
permitir que nossa visão ficasse mudando de um ponto para outro, porque, para conseguirmos
o resultado desejado, era necessário focalizarmos intensamente a visão nos minúsculos
objetos com que estávamos trabalhando.
Ora, este ato de tornarmos nossa consciência sensível exclusivamente a uma espécie
de impressão introduz um fator muito importante no tocante à concentração. Simplesmente,
trata-se da relativa supressão das demais faculdades sensoriais, ou seja, de as subordinarmos,
no momento, à faculdade que estamos empregando. Isto nos leva à relação da consciência
para com nossas cinco faculdades sensoriais, exteriores ou periféricas. Estas faculdades são:
visão, audição, paladar, olfato e tato.
E que podemos dizer sobre a consciência?
Nossa atenção, nossa concentração em coisas externas, tanto pode ser compelida do
exterior como interiormente decidida. Objetos em movimento atraem a atenção mais
prontamente do que objetos estacionários. Luzes e sons fortes tendem a atrair a atenção, que
neles, então, preferivelmente se focaliza. Eles excitam a consciência, com a intensidade de seu
estímulo. Além disso, o tamanho de um objeto, se ele predomina sobre objetos adjacentes,
também atrai especial atenção. Portanto, simplesmente, concentramos a faculdade sensória
naquilo que mais fortemente atua sobre a mesma.
Certamente, você já ouviu a expressão “ele está longe...”. Isto sugere apenas que,
embora com os olhos abertos, e as demais faculdades sensoriais em estado normal, o
indivíduo não está cônscio de quaisquer impressões por elas captadas. Isto é, sua consciência,
devido ao estado intenso de pensamento, está focalizada numa ideia, em sua sensação
mental.
Pense na cor azul. Concentre-se mentalmente, isto é, focalize sua atenção nesta cor.
Veja-a em sua mente, porém, com os olhos abertos. Use a vontade para repelir quaisquer
impressões de coisas exteriores que o possam distrair. Como recurso inicial, poderá visualizar
uma coisa comum, associada à cor azul. Por exemplo, veja, em sua mente, um límpido céu
azul. Isto deve ser relativamente fácil. Depois, gradativamente elimine de sua consciência a
visualização do céu e faça com que persista somente a cor azul.
Tente o mesmo exercício anterior, porém, com os olhos fechados. Este exercício será
menos difícil do que o anterior. Entretanto, verificará o amado Membro que pensamentos
fugazes, oriundos de sua memória, tenderão a ser despertados em sua consciência, conflito
com sua vontade, ou seja, com seu desejo de pensar exclusivamente na cor azul. Poderá
praticar a concentração mental com outras ideias, diferentes da ideia de cor; por exemplo, um
símbolo, como um triângulo, uma cruz, um círculo. Evite, porém, uma ideia complexa, isto é,
composta de diversos elementos com igual força atrativa.
Suponhamos que você está visitando um museu de arte, onde são exibidos quadros de
pintores famosos. Deseja concentrar-se num determinado quadro, a fim de tirar o máximo
proveito de sua apreciação. Ao concentrar sua atenção visual nesse quadro, deve então fazer
com que um elemento do mesmo se destaque em sua consciência. Esse elemento pode ser a
harmonia de cores, o contraste de luz e sombra, a composição geral, ou o tema da pintura. O
importante é evitar que sua concentração oscile de um elemento do quadro para outro.
Exercício Número Três:
Tente agora este outro exercício de concentração numa imagem mental. Pense num
ponto (.). Veja com clareza esse ponto, em sua mente. Depois, veja dois pontos (..). Em
seguida, sucessivamente, trêSs e quatro pontos. Finalmente, veja em sua mente uma série de
pontos, como abaixo ilustramos. . .. ... ....
Desta feita, porém, não visualize os pontos separadamente. Antes, concentre-se na imagem de
todo o conjunto de pontos, de toda a série, a um só tempo. Não os funda em um ponto único,
mas, repetimos, concentre-se na visão mental de toda a série de pontos: um, dois, três, e
quatro.
Parte 2: A Imaginação
Tente agora. Foi-lhe mais difícil trazer da memória a imagem mental do triângulo do
que vê-lo exteriormente. Isto ocorreu porque as impressões memória não são tão intensas
como as sensações recebidas diretamente através de seus sentidos. Em outras palavras, o
Estudante pode ver uma coisa muito mais nitidamente do que é capaz de relembrá-la.
Em todos esses exemplos, estivemos lidando com realidade, isto é, algo que
percebemos objetivamente. Pelo menos pensamos que se tratava de uma realidade e
procuramos, subsequentemente, percebê-la. Na imaginação, porém, estamos interessados em
algo que não existe; pelo menos nunca existiu para nós, como uma coisa ou condição exterior.
Digamos que pensamos num veículo do futuro, provido de um dispositivo que extrai
do espaço sua energia de propulsão. A fonte é infinita e econômica. Ora, ainda não existe esse
veículo, e suponhamos também que nunca ouvimos falar de coisa alguma que se parecesse
com a nossa ideia, nem vimos qualquer coisa parecida. A possibilidade de essa ideia imaginada
tornar-se realidade só existe como um evento futuro. Suponhamos, por outro lado, que
imaginamos como viviam os primeiros seres humanos, na pré-história, há muitos milhares de
anos. Neste caso, estamos imaginando algo que parece perdido no passado. Mas, se a nossa
concepção, nossa ideia imaginada, posteriormente se tornasse realidade, mediante pesquisa
antropológica e arqueológica, então ela estaria no futuro, em relação a nós. Isto é,
relativamente ao estado atual de nossa imaginação, qualquer prova que corroborasse nossa
ideia torná-la-ia uma realidade do futuro.
Não obstante, nem toda ideia imaginada pode ser absolutamente original em todos os
aspectos. Qualquer ideia tem de se relacionar, a algum grau, com algo que já existia. Deve
representar uma extensão, uma elaboração, ou uma alternativa para algo que já se conhece.
Agora, passamos a lhe propor dois exercícios simples para estimular e desenvolver a
imaginação.
Exercício Número Um:
Portanto, quando vir alguma coisa ao caminhar, procure compreendê-la; isto é, tomar
conhecimento daquilo que veja. Isso deve ter, pelo menos, algum significado para o próprio
Estudante. Pergunte-se então: Poderia isto ser aprimorado? Seria possível torná-lo mais
eficiente, mais útil? Poderia alguma coisa substituí-lo, algo que fosse talvez mais econômico e
prático?
Não insista impositivamente nestas perguntas. Antes, deixe que um fluxo de ideias
intuitivas estimule sua imaginação. Aquilo que visualize talvez não constitua um
aprimoramento; ou, por outro lado, poderá ser emocionantemente surpreendente, para o
Estudante, o fato de que ninguém tenha pensado na sua ideia.
Usamos a palavra intuição, várias vezes. Esse exercício que acabamos de propor não é
realizado necessariamente para provocar uma real mudança, em algum momento futuro,
naquilo que o Estudante vê. Antes, destina-se a desenvolver intuitivamente uma associação de
ideias e, com isto, aprimorar a imaginação criadora.
Afaste de sua mente quaisquer ideias que se lembre de ter lido ou ouvido, sobre o
assunto que a palavra ou expressão designe. Fazemos esta solicitação porque desejamos que
sua própria imaginação seja utilizada no exercício. Se, enquanto o estudante estiver pensando
na palavra ou expressão, surgir em sua consciência uma ideia que pareça racional e original,
isto constituirá um exemplo de imaginação deliberada. Trata-se portanto, em outras palavras,
da extensão de aspectos do conhecimento de alguma coisa a um novo estado, ou uma nova
condição, assim como uma imagem em sua mente.
Admitamos, francamente, que nem tudo que imaginamos tem condição de se tornar
realidade; contudo muitas de nossas grandes invenções, grande parte do nosso progresso
social, ocorreu graças ao processo de imaginação deliberada. Poderá ser vantajoso ao
Estudante ler a biografia de grandes inventores. Cremos que perceberá como muitos deles
chegaram a suas criações pelo processo de imaginação deliberada.
Aqui estão, então, as palavras e expressões que sugerimos com relação a este
exercício:
SUPERPOVOAMENTO URBANO
PAZ
TRÁFEGO
FUTURO DA HUMANIDADE
INTRODUÇÃO
Como sabemos, as emoções nos são úteis de vários modos. No entanto, houve
momentos em que desejamos que tivéssemos sido menos emotivos, devido aos efeitos que se
seguiram. O sermos hipersensíveis tem vantagens e desvantagens. Como podemos saber
quando é melhor expressarmos uma emoção natural, e quando é melhor que a suprimamos?
Além disso, que emoções são automaticamente boas, isto é, benéficas, quase sempre, e quais
as que podem redundar em nosso descrédito? Admiramos a pessoa dotada de razoável
sensibilidade, que reage compassivamente ao seu ambiente e às circunstâncias. Todavia, a
maioria de nós não encara favoravelmente a pessoa que se entrega irracionalmente a
explosões emocionais; ou seja, simplesmente, a pessoa que dá rédeas soltas a toda espécie de
emoção, sem discernimento. Como as emoções desempenham um papel importante em nossa
vida, às vezes mais do que percebemos, cremos que o conteúdo desta terceira parte será útil
ao Estudante, como mais uma “técnica prática para a vida diária”.
Nossos estados emocionais são muito comuns. Aliás, o homem foi um ser emocional
por muito mais tempo do que tem sido um ser racional, ou reflexivo. Durante milênios e
milênios, por incontáveis anos de obscuridade intelectual, o homem foi mais guiado por suas
emoções do que por seus processos de pensamento. Mesmo atualmente, muitos homens são
seres mais emocionais do que racionais; isto é, são mais influenciados por impactos
emocionais do que por estímulos ao seu intelecto. Em outras palavras, somos em maior
percentagem seres “afetivos”, do que seres “pensantes”, usando-se aqui a palavra afetivos
com referência a emoções.
Talvez possamos abordar melhor este assunto revisando as teorias ou os fatos mais
genericamente conhecidos, sobre nossas emoções. Que sentimentos ou sensações são
designados como emoções? Os mais comuns são: medo, aversão, raiva, deleite, exultação,
afeto, alegria, pesar, regozijo, êxtase, espanto, vergonha, pavor, ternura, amor, ódio, ciúme,
ansiedade, apreensão, orgulho, remorso, e exaltação. Algumas dessas palavras referem-se a
uma só emoção básica, porém, constituem diferentes graus da mesma. Por exemplo, pavor,
ansiedade, apreensão, e medo, são correlatas, assim como regozijo e alegria.
A palavra emoção vem do latim, emovere, que significa sacudir ou agitar. Entretanto,
nem todas as chamadas emoções nos agitam, necessariamente. Algumas têm efeito muito
tranquilizante, calmante, assim como um grande sentimento de paz.
Graças aos sorrisos, lágrimas, tons de voz, gestos, muito podemos dizer quanto a que
sensações emocionais está uma pessoa vivendo num dado momento. Somos com frequência
forçados a ajustar nossas próprias reações a suas aparentes emoções. Por exemplo, não
raciocinamos sobre a expressão alegre de outra pessoa. Antes, a ela reagimos, porque pode
induzir semelhante emoção em nós mesmos. Neste sentido, podemos dizer que determinadas
emoções, até certo ponto, são contagiosas; isto é, funcionam como estímulo capaz de
despertar idênticas emoções em nós mesmos.
Em termos simples, essa teoria nos diz que estímulos percebidos produzem alterações
no corpo, e que as sensações que temos dessas alterações constituem aquilo que
experimentamos como emoções. Em outras palavras, a alteração orgânica precede a sensação
da emoção. Assim, isto significaria que, ao percebermos algum fato excitante, nosso coração
poderia começar a bater mais depressa e nossa respiração poderia se tornar mais rápida, antes
de sentirmos a emoção de medo, por exemplo.
Costuma-se afirmar que isto parece contradizer a opinião geral e a experiência geral
das pessoas. Entretanto, filmes de pessoas reagindo a estímulos excitantes determinaram que
se passa apenas meio segundo entre a percepção do evento estimulante e a alteração física
própria da emoção. Por conseguinte, é possível que a alteração física preceda a sensação, e
seja a causa da sensação da emoção.
Se uma pessoa é normal e não apresenta distúrbio mental ou nervoso, pode exercer a
vontade de modo a manter suas emoções dentro de limites razoáveis, embora não
necessariamente para reprimi-las ou suprimi-las de todo.
Ao usarmos a vontade para controlar emoções, ela deve ser fortalecida, o quanto
possível, pelo uso da razão. Por exemplo, consideremos uma pessoa com medo de palco. Sua
imaginação da condição com que se defronta torna-se o estímulo excitante interno que produz
o medo. Não obstante, a razão deve assistir a vontade na oposição à imagem que a mente
estabeleceu. A razão deve dizer a essa pessoa que ela conhece o seu tema, e que seu auditório
não é hostil, mas, neutro, e assim por diante.
Alguns indivíduos, porém, têm maior sensibilidade a estímulos externos do que outros.
Assim, algumas pessoas considerarão imediatamente certo incidente uma demonstração de
crueldade, e reagirão tornando-se zangadas. Outras talvez não sejam absolutamente afetadas
pelo mesmo comportamento, de modo que poderiam ser chamadas, no que concerne a suas
reações, rudes e frias. Algumas pessoas são emocionalmente afetadas por certa música, ao
passo que outras não são por ela comovidas. Em alto grau, portanto, essa variável reação
emocional, no que tange ao seu grau de intensidade, pode ser genética, isto é, hereditária.