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2019.1
Nível: Doutorado
Hall (1999) difere das ciências sociais porque não vê aí uma crise mas
sim a emergência de um novo sujeito: o sujeito pós-moderno. A identidade,
pensada como fixa, nunca foi estável. Isso porque o "sujeito assume identidades
em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um
'eu' coerente" (p. 13).
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Segunda Onda Feminista é como ficou conhecida a retomada do movimento na década de sessenta do
século XX. Após o movimento sufragista (Primeira Onda), o feminismo viveu uma espécie de hiato
político que foi interrompido durante a contracultura.
faz-se homem ou mulher ao agir como homem ou mulher. Tal visão se afasta da
noção de construção social (e de identidade) porque o processo não cessa,
precisa ser continuamente recriado e vivido. Além disso, esse processo é
marcado pela exclusão. Ou seja, a performatividade obriga que haja coerência
entre diversos aspectos da vida para que o sujeito não seja estranhado.
O abjeto, de acordo com a filósofa Judith Butler (2001), seria o ser que
não possui o status de sujeito porque os atos performativos realizados por ele
não teriam coerência do ponto de vista social. A coerência discutida em
Problemas de Gênero é, principalmente, entre sexo, gênero e orientação sexual.
Se alguém é biologicamente mulher, deve se apresentar como mulher e ter
relações afetivas e sexuais com homens. Todo o ser que escapa dessa
coerência é visto como abjeto pelas sociedades ocidentais.
Lesbiandade e identidade
Rich (2010) não reivindica uma identidade para a lésbica, antes considera
que esta é engendrada pelo mesmo mecanismo que institui a “mulher” e o
“homem”. Uma vez que essas duas categorias deixassem de existir, a própria
lesbiandade seria uma impossibilidade. Entretanto, a feminista reivindica
politicamente essa identidade.
Em Corpos que Pesam (2011), Butler explica que o sexo é uma prática
regulatória que produz os corpos que ela controla. Assim, o sexo é materializado
através da reiteração dessas normas. Por serem normas coercitivas,
percebemos que os corpos não se conformam com essa materialização.
Nesse sentido, o que constitui a fixidez do corpo,
seus contornos, seus movimentos, será plenamente
material, mas a materialidade será repensada como
o efeito do poder, como o efeito mais produtivo do
poder. Não se pode, de forma alguma, conceber o
gênero como um constructo cultural que é
simplesmente imposto sobre a superfície da matéria
- quer se entenda essa como o "corpo", quer como
um suposto sexo. Ao invés disso, uma vez que o
próprio "sexo" seja compreendido em sua
normatividade, a materialidade do corpo não pode
ser pensada separadamente da materialização
daquela norma regulatória. O "sexo" é, pois, não
simplesmente aquilo que alguém tem ou uma
descrição estática daquilo que alguém é: ele é uma
das normas pelas quais o "alguém" simplesmente se
torna viável, é aquilo que qualifica um corpo para a
vida no interior do domínio da inteligibilidade cultural.
(BUTLER, 2011, p. 152)
Conclusão
Stuart Hall (1999) pondera que talvez as identidades sempre tenham sido
transitórias. Essa consideração abre caminho para que o conceito seja discutido
de maneira tão radical a ponto de quase eliminá-lo.
Mas são justamente os corpos que não cumprem seu destino que nos
mostram as possibilidades de escapar dessa produção. Assim, ela percebe que
o que chamamos de identidade são, na verdade, atos performativos. Nossos
corpos repetem aquilo que deles se espera porém há possibilidade perene de
erupção. Assim, não estaríamos descentrados, antes estaríamos
performativamente criando novas possibilidades.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In:
Louro, G. L. (Org.). O corpo educado. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.