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1. O que são os livros Históricos


Os livros históricos ocupam a maior parte do Antigo Testamento, nesses livros estão registrados história do povo de
Israel, desde a entrada na terra prometida, quando iniciaram a nação de Israel, até quase a reconstrução da nação
pós-exílio. Os livros históricos compõem a historia de Israel no Antigo Testamento, vale salientar que esses registros
históricos mesmo sendo escritos em forma de prosa, prioriza a teologia, em Israel esses livros são entendidos de
forma literal. Portanto, os livros históricos são registros de como a teologia e o relacionamento nacional do povo
com seu Deus produziu a historia de Israel, nesses livros percebemos que a historia é tecida pelo Senhor, e os fatos
resultados da interação do homem com Deus. São considerados livros históricos em nossas Bíblias, as obras que
narram em forma de prosa a historia de Israel, essa historia compreende desde a entrada do povo na terra
prometida, fato que marca o início oficial da nação, narrados no Livro de Josué, até a reconstrução da nação após o
período do cativeiro babilônico, descritos nos livros de Esdras, Neemias e Ester, portanto, a seção dos livros
históricos abrange de Josué até o livro de Ester.

1.1. Os livros históricos no Canon do Antigo Testamento moderno


O Antigo Testamento moderno é dividido em nossas Bíblias em 39 livros, esta divisão vem da Septuaginta, através da
Vulgata Latina. A Septuaginta foi a primeira tradução das Escrituras (só o AT), feita do hebraico para o grego, em
cerca de 285 a.C em Alexandria no Egito, os livros são divididos na Bíblia por assuntos e dentro desses assuntos em
ordem cronológica. Os livros são agrupados e divididos por assuntos, que são classificados por estilos literários,
exemplo a versão grega e posteriormente a latina agrupou em uma só secção os livros do Antigo Testamento
considerados Proféticos, e dentro dessa divisão criou duas subdivisões, os Profetas Maiores e os Profetas menores.
Os livros históricos constituem a segunda seção do Antigo Testamento atual, estando entre o Pentateuco, a primeira
seção e os Livros Poéticos, a terceira seção, segue os Profetas Maiores e Profetas Menores como 4 e 5 seção. Abaixo
será anexada uma tabela com as divisões de assuntos da Bíblia moderna.

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A divisão dos livros Bíblicos em secções, a partir de seu estilo literário auxilia o interprete da Bíblia a abordar o livro
com um olhar literário correto, nas interpretações textuais é fundamental entender o estilo literário para saber o
modo que os textos do livro devem ser entendidos, um exemplo básico são os livros poéticos, escritos de forma
conotativa, e, portanto, devem ser entendidos de maneira diferente dos livros históricos escritos em prosa e de
forma denotativa. Ao se interpretar as Escrituras o teólogo deve levar em conto o tipo de literatura que esta
estudando e assim aplicar a hermenêutica de forma eficaz, avaliar errado a literatura do texto levará o estudante a
não entender o que realmente Deus revelou através do autor sacro.

1.2. Os Neviim no Canon Judaico


O Antigo Testamento de nossas Bíblias e composto de 5 seções (Pentateuco, Históricos, Poéticos, Profetas Maiores e
Profetas Menores), já o Tanach judaico (Antigo Testamento) é dividido em 3 grandes seções (Torah, Neviim e
Kethuvim), essas seções também representam estilos literários. Tanakh ou Tanach (em hebraico ‫ )תנ״ך‬é um
acrônimo (abreviação) utilizado dentro do judaísmo para denominar seu conjunto principal de livros sagrados
(Primeira letra de cada uma das 3 seções, abaixo anexarei um exemplo), sendo o mais próximo do que se pode
chamar de uma bíblia Judaica. A divisão do acrônimo "Tanakh" está atestada em documentos do período do
segundo templo e na literatura rabínica. Durante aquele período, entretanto, o acrônimo Tanakh não era usado,
sendo que o termo apropriado era Mikrá "Leitura", este termo continua sendo usado em nossos dias, junto com
Tanakh, em referência as escrituras hebraicas. A divisão de livros do Tanach é diferente das nossas Bíblias atuais, as
Escrituras modernas possuem 39 livros no seu Antigo Testamento, já o Tanach é dividido em 24 livros que são os
mesmos 39 livros de nossa Bíblia, mas alguns são ajuntados e se tornam apenas um livro, como por exemplo, na
bíblia moderna temos 1 e 2 Samuel, já na hebraica os dois formam um livro só. O Neviim judaico é a segunda seção
da Bíblia Judaica (Tanach) e é composto pelas seções dos Livros Históricos (Exceto Rute, Esdras, Neemias e Ester) e
os Livros Proféticos (Maiores e Menores), excetuando os livros Lamentações e de Daniel. O Neviim (Livros proféticos
judaicos) é dividido em “Profetas Anteriores” (Josué, Juízes, 1o e 2o Samuel, 1o e 2o Reis, os livros que escreveram a
histórias que compreende da morte de Moisés ao fim do reino, são os livros denominados históricos no sentido
literário) e “Profetas Posteriores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,

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Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, são os livros considerados e denominados de proféticos no
sentido literário).

2. Os Períodos Históricos do Antigo Testamento


Os Livros Históricos compreendem toda a História de Israel no Antigo Testamento, abrangendo da entrada do povo
em Canaã, registrado no livro de Josué, até a volta de Judá do cativeiro babilônico e a reconstrução da nação,
registrados nos livros de Esdras, Neemias e Ester. A historia de Israel é dividida em períodos, e cada um desses com
suas características politicas, sociais e teológicas, abaixo faremos uma síntese com todos os momentos históricos de
Israel.

1º Período: Conquista e Divisão de Canaã: Esse período se inicia após a morte de Moisés, com a passagem do
Jordão e o fim dos 40 anos de Êxodo. A forma de governo era baseada na liderança de Josué, e após dos sacerdotes,
com destaque para Eleazar filho de Arão, sumo sacerdote e contava com a ajuda dos anciões e lideranças das tribos.
As características teológicas marcantes era a revelação que os Cananeus eram um povo amaldiçoado, desde Canaã

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no episodio de Cam, Noé e o vinho, já o povo de Israel tinha a promessa da terra e a benção do Senhor para possuí-
la. Josué e o povo motivado por essa teologia da possessão da terra, e participante dos milagres do Senhor durante a
conquista, angariam sucesso em seu intento, após a conquista cabe a Josué e Eleazar os lideres dos israelitas, dividir
a terra entre as tribos de Israel. Essa forma de governo centralizada em Josué e os anciões permanecem até a morte
de toda a geração, a teologia da conquista também se finda com o termino da possessão de Israel em Canaã.

2º Período: Juízes de Israel: Esse é o período é o mais confuso da historia de Israel, ele começa após a consolidação
de Israel em Canaã e a morte de toda a geração de Josué, e termina com a introdução da monarquia como forma de
governo em Israel. Nesse período não havia uma liderança central em Israel e cada tribo tinha suas leis parcialmente
aplicadas através da forma ineficaz dos anciões, em ultima estancia cada um fazia o que achava melhor. Outra marca
desse conturbado período é a figura do Juiz, esse era alguém levantado por Deus como libertador, para socorrer o
povo durante os castigos de Deus por seus pecados, assim o Senhor levantava uma nação opressora para escravizar
Israel, que clamava a Deus, portanto, o juiz era um libertador enviado por Deus, sua influencia era somente local
entre uma e mais tribos. Sobre a teologia do período, pouco sabemos, já que no período dos juízes não se produziu
literatura canônica, o que podemos deduzir é da interpretação de Samuel, que descreveu o período como um
momento confuso, onde cada um “interagia” com Deus e com a Lei, da forma que achasse melhor.

3º Período: Monarquia Unificada: Esse é considerado o período de ouro de Israel, onde a nação alcançou total
unificação e destaque mundial, através de reis como Davi e Salomão, Israel chegou perto dos desígnios nacionais e
religiosos para a nação. O Reino Unificado é o período que compreende a unção real de Saul com rei de Israel, até a
morte de Salomão e a desfragmentação de Israel como nação, tornando-se dois reinos, Israel ou Reino do Norte e
Judá ou Reino do Sul. Como o nome sugere, a Monarquia Unificada, é marcada por um governo central,
representado pelo rei, nesse período as leis civis estavam a cargo do rei e de seus subordinados, as religiosas, a
cargo do sumo sacerdote e dos levitas, com amparo e apoio do rei. Esse período é marcado por uma teologia de
unificação nacional, tanto religiosa como civil, seu grande expoente foi Samuel, que introduziu o sentimento de
unificação, expondo os erros e abusos no tempo dos juízes e fazendo apologia à organização e unificação trazidas
pelo rei, essa teologia deu suporte para a introdução de Saul ao trono, com a queda desses Samuel incorpora a
teologia da unificação sob u8m rei, o sentimento messiânico, onde a figura real direciona a nação perante um
governo submisso a Deus.

4º Período: Monarquia Dividida: Após a morte de Salomão Israel foi dividida em dois reinos, Norte ou Israel,
comandado por Jeroboão, um ex-funcionário de Salomão e Reino do Sul ou Judá, com Roboão filho de Salomão, da
linhagem de Davi como rei, esse período compreende da separação do reino, até a queda de Judá e cativeiro
babilônico. Quanto à forma de governo, segue essencialmente monarquia, com o reino do Sul reinando somente
governante da linhagem de Davi, e o reino do norte apresentando varias dinastias. Teologicamente esse é o período
mais rico, com a prosperidade do movimento profético, esse realça a importância de seguir a Lei, aponta o pecado
de cada geração e gera uma esperança escatológica de unificação do reino sob a figura messiânica do descendente
de Davi.

5º Período: Exilio: Na Historia do Antigo Testamento de Israel temos dois exilio, o primeiro do reino do Norte ou
Israel, no ano de 722 a.C. aplicado por Salmanaser rei da Assíria, e o segundo do reino do Sul o Judá, em 586 a.C.
levado a cabo por Nabucodonosor rei de Babilônia. Com os referidos cativeiros tanto Israel como Judá, se
transformam em províncias, acabando assim a era monárquica e iniciando a era do governo estrangeiro, como
província, os dois reinos de Israel deixaram de ter soberania nacional, sendo comandados por governadores
normalmente nativos, que respondiam para o imperador. A teologia produzida no cativeiro das tribos do norte, não
chegou até nós, pois não foi produzido nenhum livro canônico, porém, podemos estimar que se desenvolveu um
sentimento de aversão contra o reino do sul, tratado no episodio de Sambalate e Tobias, em alguns casos um desejo
de restauração unificada, que podemos ver no desejo dos samaritanos e participarem da reconstrução do templo e
principalmente uma religião própria, muito bem desenhada na narrativa de Jesus e a mulher samaritana. Já a
teologia do reino de Judá, podemos ter alguns deslumbres pelo livro de Ester e dos profetas pós-exílio, onde é

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introduzido o sentimento de obediência à lei, já que a desobediência foi a motivadora do castigo de Deus, temos
como exemplo a extirpação da idolatria, que após o cativeiro babilônico nunca mais ocorreu em Judá, e outro ponto
teológico determinante é o crescimento do sentimento messiânico, que detém a esperança da renovação total de
Jerusalém e Judá.

6º Período: Retorno do Cativeiro de Judá: Como dissemos anteriormente, o reino do Norte, denominados agora
samaritanos, não produziram literatura inspirada e também seguiram em uma teologia individual desassociada da
apresentada por Moisés no Sinai, por isso teologicamente Samaria sai de cena. O período pós-cativeiro de Judá se
inicia com a ordem de Ciro, rei da Pérsia para que Judá voltasse para sua terra, e se conclui com o começo dá
reconstrução nacional, narrado n livro de Neemias e também nos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, o que
determina o fim da Historia de Israel no Antigo Testamento é ó fim das revelações de Deus (Ultimo livro inspirado é
Malaquias), e consequentemente o fim de escritos canônicos e da ação direta do Senhor em favor de seu povo. A
teologia desse período é muito objetiva, centralizada em cumprir a Lei, e assim receber favor do Senhor, que enviará
o messias para reconstruir totalmente Israel, em ultima instancia essa ainda é a teologia oficial dos judeus.

2.1. Formas Governamentais de Israel


1: Governo Teocrático (teo=Deus; cratico=governo: Essa forma de governo se caracteriza por uma ação direta de
Deus no comando do povo, onde o Senhor levanta e guia os lideres. Essa forma de governo ocorreu nos períodos de
conquista e dos juízes, onde o Senhor escolheu, direcionou e capacitou os lideres escolhidos.

2: Governo Monárquico (monarca=rei; quico/cratico=governo): Foi a forma de governo em maior parte da Historia
de Israel no Antigo Testamento, e era caracterizado pela a escolha de um soberano por Deus, e após uma sucessão
hereditária. Essa forma de governo foi predominante, nos períodos de Reino Unido e Reino Dividido, no reino do Sul
obedeceu-se uma sucessão hereditária da linhagem de Davi, já no reino do Norte, muitas vezes essa sucessão
hereditária era interrompida por um golpe de estado e a ascensão de outra dinastia no poder.

3: Governo Provincial: Marca o final da história bíblica de Israel, após a queda dos dois reinos esses se tornaram
simples províncias, e eram controladas por governadores, ou representantes normalmente nativos que respondia ao
imperador, seja da Assíria no cativeiro samaritano, o babilônico durante o cativeiro do reino do Sul (Samaria também
se torna província de Babilônia) ou o final nos tempos bíblicos, quando tento Samaria como Judá respondem para a
Pérsia.

3. A formação dos Livros Históricos segundo a Alta Crítica

3.1. Relembrando as 4 tradições da Alta Crítica:

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Tradição Javista: A tradição Javista, designada pela letra “J” é assim chamada porque desde o começo a tribo de
Judá dá a Deus o nome de Yahveh. Ela se originou provavelmente no tempo de Salomão, em torno de 950 a.C., nos
meios reais de Jerusalém, o rei ocupa nela um lugar de proeminência; é ele que faz a unidade da fé.

Ainda não se tem uma unanimidade quanto aos limites do documento Javista, mas podemos supor, com numerosos
estudiosos, que ele comece em Gn 2, 4b e termine com a narração de Balaão em Nm 22; 24, incluindo a narração da
falta de Israel em Baal-Fegor Nm 25, 1-5. As narrativas da tradição Javista caracterizam-se por um vigoroso estilo de
conto popular e uma pitoresca descrição de personagens. Para o Javista, Deus envolve-se ativamente na história da
humanidade e, em especial, na de Israel. O Javista começa a narrativa com a criação (Gn 2, 4b -31), apresentando a
história da humanidade como o pano de fundo contra o qual o Senhor chama Abraão e lhe faz uma promessa que só
o Êxodo e a conquista de Canaã realizam plenamente. O tema da promessa e concretização predomina na
apresentação javista da história patriarcal.

Segundo a “Alta Crítica” essa tradição “Javista” originalizou nos tempos possivelmente de Salomão os primeiros
livros históricos (Josué e Juízes), segundo eles a marca dessa tradição nesses livros são, os milagres e os personagens
pitorescos, como Josué, os juízes, Samuel e o rei Davi. Para a “Crítica de fontes”, existiu um núcleo por trás desses
milagres e eventos, o que eles chamam de “evidencias históricas”, porém, a tradição Javista ornamentou tornando
os fatos históricos em intervenções divinas e os personagens humanos em libertadores poderosos.

Refutação: Temos elementos bíblicos e históricos para precisar o surgimento do termo “Yahveh” (origem da tradição
Javista) com o advento de Moisés e a Torah, não a nada na historia e na tradição judaica que defenda o surgimento
do nome pessoal de Deus (Yahveh) somente na época de Salomão, o termo Yahveh é recorrente em toda Torah e no
restante do Tanach e sempre aplicado quando a necessidade de der imanência e personalidade para Deus. A vigor
nas descrições se deve a associação do nome Yahveh com interações pessoais com personagens bíblicos, surgindo
assim descrições de eventos sobrenaturais e personagens marcantes. O Gênesis é um livro em forma de narrativa
em terceira pessoa, feita biblicamente por Moisés, esse fato produz a diferença da aplicação das nomenclaturas de
Deus feita pelo narrador e em seu uso pelos personagens, lembrando que o nome pessoal Yahveh foi revelado
somente a Moisés em Êxodo 3, e antes disso Deus era reconhecido por seus títulos (Ex 3 e 4).

No livro de Josué vemos que ele próprio registrou suas palavras, e que tiveram peso de “livro de Deus” (Js 24:26),
vemos uma narrativa participativa, onde o narrador Josué é parte da historia. As tradições contidas nesse livro são as
mesmas do Pentateuco, e Josué sempre denota obediência a Palavra, as tradições serem análogas ao do Pentateuco
é significativa, já que a lei e o sacerdócio seriam segundo esses críticos elaborados somente pós exilio, nas tradições
Deuteronomista e Sacerdotal, e ainda segundo eles Josué é composto no tempo de Salomão, muito antes de
elaborar a lei e o sacerdócio. Os fatos históricos, geográficos e sociais dos povos de Canaã também são assertivos, e
denotam que Josué foi produzido na época da conquista, já que posteriormente não teriam condições de reproduzir
fatos, que hoje sabemos pela evolução da arqueologia e antropologia.

A tradição Eloísta: É designada pela letra “E”, dá a Deus o nome de Elohim. Ela nasceu talvez por volta de 750 a.C.,
no reino do Norte, depois que o reino unido de Davi-Salomão se dividiu em dois. Muito marcada pela mensagem de
profetas como Elias e Oséias, ela dá muita importância aos profetas. Os limites do documento Eloísta são difíceis de
discernir. Podemos dizer que o documento Eloísta começa com o ciclo de Abraão, o seu final não é fácil de ser
determinados, fragmentos dele podem ser encontrados em Nm 25 e 32, mas provavelmente eles não constituem o
fim primitivo dessa tradição. Alguns autores pensam que há textos Eloístas integrados no Deuteronômio.

A fonte Eloísta está tão entrelaçada com a Javista, que fica muito difícil precisar e separar as duas fontes em todas as
situações. Como a fonte Eloísta ficou subordinada a Javista, o que resta da narrativa Eloísta muitas vezes está
incompleto. Na tradição Javista, temos como fundamento a benção de Deus, dada a Abraão, que será transmitida ao
povo e aos povos vizinhos pela realeza, principalmente por Salomão. Já na tradição Eloísta, como o reino unido está

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dissolvida, a figura da realeza não tem mais a predominância, aparecendo agora à figura do Profeta e o fundamento
será o temor de Deus, não como um medo de Deus, mas como uma obediência à sua Palavra.

Estas duas tradições se fundiram em Jerusalém pelos anos 700 a.C. Esta fusão, chamada Jeovista (JE), não é simples
adição; ela foi a ocasião para se completarem e se desenvolverem algumas tradições, como a tradição
Deuteronômica e a tradição Sacerdotal.

Diferente da fonte “J”, a fonte “E” não possui Escritos Inspirados, e consequentemente não apresenta nenhum livro
que apresente essa tradição. Mas para esses teóricos, a prova da existência dessa tradição esta no fato de os Escritos
judaicos apresentarem além do nome “Yahveh”, que segundo eles é próprio e único da tradição “J”, o nome
“Elohim”, que para esses teóricos é um nome usado originalmente somente nas tribos do norte. Assim sendo,
quando no texto aparece somente o nome “Yahveh” é evidência de uma tradição puramente judaica, já a presença
do nome “Elohim” é sinal de uma tradição do Reino do Norte que foi assimilado aos escritos judaicos pós-destruição
de Samaria, e a presença dos dois nomes “Yahveh” Elohim” evidenciam uma mescla de duas tradições presente nos
dois reinos (Norte e Sul) e unificada em um só ponto de vista, onde a tradição “J” se sobressai à tradição “E”.

Refutação: Segundo a crítica literária a tradição “Eloísta” surgiu no reino do norte (Israel) após a separação do reino
unificado (Saul, Davi e Salomão), segundo esses o nome “Elohim” é advento da influencia Cananéia sobre o reino do
norte. As contradições começam com a origem do nome “El” e seu plural “Elohim”, tido pelos linguistas como tendo
origem em línguas semitas (aramaico e hebraico), oriundas da mesopotâmia, o que se encaixa com os relatos
Bíblicos sobre a origem do patriarca Abraão. Se os Israelitas do reino do norte tivessem sofrido influencia Cananéia
na escolha da nomenclatura para Deus, o mais provável seria a nomenclatura “Ilu” e seu plural “lhm” (fontes: O guia
literário da Bíblia ed. UNESP de Robert Alter, Frank Kermode; A Bíblia e Estudos Ugaríticos no Século XX de Mark S.
Smith), termos usados em Canaã para o titulo deus (originário do ugarítico, uma das primeiras línguas cananeias).
Outro equivoco desses pseudos cientistas é colocar o movimento profético na vanguarda da suposta tradição
“Eloísta”, o primeiro erro está no fato de a maioria dos profetas serem provenientes de Judá e exercer seus
ministérios no reino do Sul, isso tornaria mais coerente inseri-los na tradição “Javista”. O principal argumento que
eles levantam é a questão das pregações de Elias e Eliseu se concentrarem na nomenclatura “Elohim” durante suas
profecias, para um entendedor coerente da Palavra esses fatos não construíram uma amostra de tradição religiosa
separada e sim uma leitura harmoniosa do escritor sagrado (Jeremias) dos fatos ocorridos. Quando Elias recebe a
Palavra profética é citado o nome pessoal de Deus “Yahveh” (1 Rs 17:2,8) demonstrando o conhecimento pessoal do
profeta com Seu Deus, e isso se repete quando Elia fala em nome desse Deus pessoal (1 Rs 17:1), porem quando o
profeta faz o desafio de Baal, Ele pergunta, Quem é Deus? Baal ou Yahveh? (1 Rs 18:21), isso mostra que havia (só na
mente do povo) dois personagens que concorriam ao titulo de Deus (Elohim), essa passagem não demonstra a
junção de duas tradições religiosas e sim a alternação natural entre um nome pessoal e um titulo divino.

Para suster a teoria da fonte “E”, os críticos necessitariam de um Escrito canônico Eloísta, porém o Reino do Norte
não produziu nenhuma literatura inspirada, por isso não eles não têm nenhuma prova que a fonte “E” impactou os
Escritos Canônicos Judaicos. Após a separação com Judá, Israel não produziu nenhum manuscrito canônico, mas
para a “Crítica de Fontes” essa tradição foi assimilada a “Javista” após a queda do reino do Norte em 722 a.C., assim
segundo eles surgiu o nome Elohim (Deus) nas Escrituras). Como vimos antes da revelação do Nome Yahveh a
Moisés, os antigos o chamavam de El ou Elohim, seria desacreditar a coerência Bíblia alegar que o nome usado pelos
patriarcas antes do estabelecimento de Israel, fosse produzido após o surgimento do nome Yahveh em Judá. Quanto
à designação de Deus por Yahveh, Elohim, ou Yahveh Elohim nos livros de Josué e Juízes, já aprendemos que são
aplicados de forma teológica, segundo os atributos e operações divinas, e nunca sendo usados de forma
indiscriminada ou tradicional.

A tradição Deuteronomista: Na suposta fonte “D” (Deuteronômica) acentua fortemente a justiça e a fraternidade
como características do povo eleito e da Nova Aliança a ser estabelecida. A visão deste regime de Monarquia

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constitucional vê em Israel que deve ser realizada a nova obediência a Javé, que será também a felicidade do povo.
Esses escritos irão preservar as narrativas sobre os reis e os profetas. Marcada pela linguagem sapiencial e profética.
Em seu estado avançado pela escatologia. Transcende ao livro de Deuteronômio, todavia nele já se vê precedente a
realeza e aos profetas após Moisés. Segundo a alta crítica essa fonte surgiu através de Esdras e os escribas após o
cativeiro, que pela necessidade de centralizar a autoridade sobre os sacerdotes (uma vez que estavam sem rei) por
intermédio da lei, para que o povo voltasse se unir com esperança de reconstrução, manipularam e editaram os
escritos antigos, cometendo uma “fraude piedosa”, para que alcançasse o fim desejado. Segundo eles as fontes (D)
“Deuteronômica”, estão contidas em sua maior parte no livro de Deuteronômio, que segundo eles foi inteiro
fabricado depois do exilio, mas outros textos da Torah foram manipulados para dar suporte a essa tradição.

Segundo a Ata Crítica essa fonte produziu os livros de Samuel e Reis, e que foram escritos durante a volta do
cativeiro babilônico. A marca da fonte “D” é o forte sentimento em relação à Lei judaica, o profetismo, como agente
de Deus para impor a Lei e o sentimento messiânico, onde o rei representa o próprio Deus e impõe a lei
determinantemente. Os livros dessa fonte apresentam a historia de Israel desde sua entrada em Canaã até a queda
do Reino do Norte e posteriormente do Reino do Sul, aonde descrevem um núcleo histórico tradicional colhido em
comum nos dois reinos e usando como base as duas tradições (J e E). Após esse processo de identidade histórica, os
escribas fazem uma “fraude piedosa”, dando um tratamento sobre as historias, criando assim os milagres,
personagens destacados e as ações de Deus para impor a Lei e suas punições quando o povo desobedece. O intuito
desses escribas segundo esses críticos é formar uma identidade nacional poderosa, a base de milagres e
intervenções divinas, e uma unificação sob o domínio da lei, e assim controlar o povo, disciplina-los para conduzir
uma reconstrução nacional pós-exílica.

Refutação: Ao disser que a suposta tradição “Deuteronômica” é uma “fraude piedosa” feita por Esdras e os escribas
pós-diáspora, a fim de ter autoridade para redoutrinar o povo judaico é um atestado de desconhecimento das
Escrituras e da cultura judaica, Temos alguns livros históricos e outros proféticos pós-exílios com suas autorias
creditadas tradicionalmente por Esdras e profetas que viveram nesse período, porque editar um livro para manipular
o povo, se podia escrever com autoridade canônica? Outro argumento da crítica é que as fraldes editadas pós-exílio
serviam para garantir a unidade da lei e da religião em torno de um só Deus, esse ponto mostra que os críticos
desconhecem a cultura judaica e as Escrituras, primeiro, porque toda a Escritura e tradição pré-exílica demonstra o
conhecimento israelita da existência de um só Deus desde suas origens, segundo, todas as vezes que Israel insistia
em contrariar as Escrituras e sua tradição monoteísta, Deus levantava uma adversidade pedagógica, para assim o
povo retornar as raízes religiosas, a última vez que Deus precisou julgar o povo por seus pecado foi através do
cativeiro babilônico, ficou claro na historia que Judá aprendeu a lição, sendo redundante precisar manipular
falsamente o Tanach somente para tratar de um ponto consumado desde que os judeus habitavam no exilio. Um
argumento que realmente provoca dó, pela falta de conhecimento desses teóricos é o ponto da promessa da “terra
que mana leite e mel”, creditarem isso a algum momento posterior ao Êxodo é risível, uma vez que essa foi a
promessa feita aos patriarcas e força motriz por trás do Êxodo do Egito.

Posteriormente iremos analisar teologicamente as razões que motivaram os autores a escreverem os livros de
Samuel e Reis, livros que segundo a “Alta Crítica” representa a fonte “D”, e perceberemos que esses teóricos
desconhecem os livros que classificaram. Segundo eles a marca principal da “tradição Deuteronomista” é a
imposição da lei, já vimos no “Pentateuco” que esses teóricos creditam o livro de Deuteronômio a essa fonte,
portanto, é de esperar que os livros de Samuel e Reis possuam as mesmas características literárias e tradicionais.
Para a imposição da Lei, eles dizem que se produziu o livro de Deuteronômio, somente para que os escribas
ensinassem a Lei para o povo judeu, e que os discursos de Moisés nunca existiram, já em Samuel e Reis, colocaram a
figura da descendência de Davi (Messianismo), o profetismo e as interações divina na historia nacional (Que segundo
eles foram somente eventos naturais e reinterpretados como ações divinas), somente para que o povo temesse a
Lei, entendesse que Deus ordena a sua observação e que coisas boas ou ruins acontecem de acordo com a
obediência nacional a essas Leis. A conclusão que a “Alta Crítica” chega é que os livros de Samuel e Reis foram
produzidos somente como divulgações e exemplos práticos acerca de obedecer ou desobedecer a Lei, e, portanto,

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com diz a nomenclatura da fonte “D”, os escritos “Deuteronomista” (deuteronômio = segunda lei) são literaturas
puramente legais. Como já estudamos, Deuteronômio é realmente um livro centrado na Lei, que tem como objetivo
repetir a lei (por isso segunda Lei) para os israelitas, visto que a geração que ouviu a revelação no Sinai morreu no
deserto, e a novo que iria possuir a terra necessitava ouvir o pacto do Senhor com seu povo, porém já estudamos
que essa legislação era natural do oriente médio antigo, e, portanto, pertinente para aquele momento, e era
totalmente análogo com as legislações e relações religiosas dos povos da região, nessa época, o que ficaria
deslocado se fosse imposto no tempo de Salomão e aplicado pós exilio, já que não ocorria mais em outros povos da
região. No caso dos livros de Samuel e Reis, relegar esses Escritos a aplicações da lei, é desconhecer seus conteúdos
e a teologia dominante em Israel no momento, o livro de Samuel foi produzido para dar legalidade a monarquia, e a
linhagem de Davi (Messianismo), por ser escrito por profetas (Samuel, Natã e Gade, 1 Cr 29:29), apresenta de forma
destacada o ministério profético, porém esses livro pouco se fala da Lei, o que não era de se esperar de um livro
“deuteronomista”, mas antes foca na vida diária e pratica dos seus personagens. O livro de Reis, também pouco toca
na complexidade da Lei, focando mais nas questões religiosas e em uma vida digna diante de Deus, o foco desse livro
é as biografias dos lideres do povo, tanto de Judá como Israel, e como esses lideres influenciavam a buscar a Deus ou
afastava o povo de seu Senhor, outro dado importante é a narração de fatos tanto no Sul como no Norte, com a
mesma importância e imparcialidade, fato que não ocorreria a uma fonte deuteronomista, que foi produzida
exclusivamente por judeus pós-exílio, lembrando que os judeus excluíram os samaritanos (Reino do Norte) de seu
convívio.

A tradição Sacerdotal: A designada pela letra “P” (Traduzido por “S” de sacerdotal em português) do vocábulo
alemão Priesterkodex (Código sacerdotal), que quer dizer “código sacerdotal”, se originou durante o exílio em
Babilônia, de 587 a 538 a.C., e depois. No exílio, os sacerdotes reliam as suas tradições para manterem a fé e a
esperança do povo. Essa obra se empenha em procurar na herança do passado uma resposta para a seguinte
pergunta: em que apoiar-se para continuar a viver no meio das nações? Insiste primeiro no pertencer a um povo, na
comunidade do sangue, o que explica a importância das genealogias na história sacerdotal: trata-se de manter, por
meio delas, a identidade de Israel em Babilônia a fim de evitar a dissolução do povo e permitir a Deus a realização de
suas promessas. Como não é mais possível ir ao templo (por estarem no exílio) insiste-se no sábado, como o tempo
consagrado a Deus e na circuncisão, como sinal de pertencer a Israel. Com isso, já é possível uma vida religiosa; ela
consiste em criar uma comunidade dirigida por um sacerdote, na qual a função do templo é desempenhada pela
palavra de Deus. Nesta tradição, a figura fundamental não será então mais o rei, nem o profeta, mas o sacerdote e o
fundamento não serão mais a benção nem o temor de Deus, mas a fé e uma esperança de um tempo melhor.
Segundo a alta crítica a maioria da tradição “S” (sacerdotal) está inserida nos livros de Êxodo e Levíticos, pois
segundo eles, é textos editados para dar suporte a autoridade sacerdotal.

Para os críticos essa fonte produziu os livros de Crônicas, Esdras e Neemias, além do livro de Levíticos e a maioria das
adições sobre as leis sacerdotais e os sacrifícios. Segundo eles após o estabelecimento da Lei, através da tradição
“D”, a religião judaica evolui naturalmente para uma tradição sacerdotal, onde esse administra a Lei e a religião,
assim se produziu os livros pós-exílicos creditados a Esdras (mas para eles a tradição “D” foi produzida na época de
Esdras, e a “S” posteriormente), e após produziram Levíticos para dar autoridade legal aos sacerdotes e vários
acréscimos nas demais tradições (J,E e D).

Refutação: Para esses críticos essas “adições piedosas”, foi o modo arranjado para que os sacerdotes conseguissem
ter uma ascendência legal sobre o povo e a religião, porém, analisando a tradição religiosa judaica e de outros povos
da região, é difícil entender porque recorrer a “adulterações” para reclamar uma autoridade que já tinham. Outra
falha no raciocínio é o fato de Esdras precisar mutilar livros e criar Samuel e Reis, para manipular o povo, se seus
escritos (Crônicas, Esdras e Neemias) possuíam autoridade canônica, e se os livros dedicados a Esdras foram escritos
posteriormente, em cima de sua autoridade, porque Esdras não produziria seus livros (se tinha autoridade) e criaria
engodos. Os livros escritos por Esdras após os Exilio repassaram os fundamentos legais deixados por Moisés, que

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reflete a Lei revelada no Sinai, com todas as características daquela época, se Esdras introduzisse Leis e fundamentos
religiosos, com certeza teria o reflexo de sua época e cultura, com influências babilônicas e persas, o que não
ocorreu.

O livro de Rute: Como já aprendemos o Livro de Rute na Bíblia judaica não se encontra na seção de livros proféticos
(Históricos e Proféticos) e sim nos Escritos (Semelhante a nossos Poéticos e Sapienciais), portanto, na analise da
“Alta Crítica” ele também é classificado como “Escritos”, como analisaremos os livros “Poéticos e Sapienciais”
somente na próxima matéria, farei um adento sobre o livro de Ester, já que está classificado na Bíblia protestante na
seção dos Históricos. Segundo esses teóricos o livro de Rute foi produzido no tempo dos Macabeus para dar
esperança Messiânica ao povo, lembrando que os Macabeus libertaram Judá do domínio helênico de Antíoco,
portanto, nesse momento exploraram a esperança messiânica do povo. O primeiro erro de raciocínio é creditar aos
Macabeus que eram sacerdotes levitas, que atingiram o estatos de reis, a apresentação da esperança messiânica em
uma linhagem judaica, preterindo a levita. O objetivo de Rute é dar sustentabilidade real a Davi, e não a um de seus
descendentes, o que se encaixa com a época e teologia de Samuel. Ao lermos Juízes (especialmente do capitulo 17
ao 21) e vemos uma semelhança muito grande entre esses livros, o que nos dá a entender que foram produzidos
pelo mesmo autor (Samuel) e com o mesmo objetivo legalizar a monarquia, enquanto Juízes do 1 ao 16, mostra
necessidade de um rei e prepara o caminho para Saul, Juízes 17 ao 21 e o Livro de Rute, dão sustentabilidade e
legalidade ao governo de Davi.

O livro de Ester: O livro de Ester é análogo ao livro de Rute, também classificado na Bíblia judaica como Escrito e
colocado entre os Históricos em nossas Bíblias modernas, analisemos também separadamente esse livro. Para esses
críticos Ester foi produzido no segundo século antes de Cristo, durante o domínio dos Macabeus (período
Interbíblico), em um momento que todo o Crescente Fértil estava sob domínio grego. Segundo eles esse livro foi
produzido para introduzir em Israel a festa do Purim, ou no mínimo dar uma base canônica para essa festa, portanto,
os Macabeus usaram desse artificio para comemorar um grande milagre nacional durante seus governos. Um
obstáculo a essa interpretação é a falta de uma copia antiga do livro de Ester em grego, o que era de se esperar de
um livro produzido no período, o que vemos facilmente nos livros apócrifos do período, ao contrario, as copias mais
antigas tem total predominância da língua hebraica. As descrições dadas do modo de governo persa e as
características administrativas e sociais reproduzem com fidelidade o que a arqueologia moderna nos revelou acerca
da Pérsia nesse período, mostrando que o autor era contemporâneo, coisa que não ocorreria no tempo dos
Macabeus, pois os gregos dizimaram o império persa e imporão a cultura helênica. O texto de Esdras é
tradicionalmente creditado a Esdras, um escriba que viveu no período e interagiu com Neemias, alto funcionário da
capital persa que poderia relatar a historia de Ester.

3.2. Formação dos Livros Históricos segundo a Alta Crítica

JAVISTA (J) – ELOISTA (E) DEUTERONOMISTA (D) – SACERDOTAL (P)

Segundo a Alta Crítica, no inicio do processo de formação do Pentateuco e dos livros Históricos, se compuseram
pequenos fragmentos de relatos, leis, celebrações litúrgicas, historia, etc., (porém não existe nenhum fragmento
base que poderia sustentar a existência das fontes iniciais),que se transmitem de forma oral ou por escrito. Em
distintas épocas, grupos de escribas, profetas, sacerdotes ou sábios reúnem estes fragmentos para fazer relatos
continuados, originando-se assim quatro tradições que se fundiriam posteriormente num só documento, estas
quatro tradições, conhecem-se como Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal. Este trabalho de unificação
destas quatro tradições considera-se finalizado até ao século V a.C., atribuindo-se com frequência ao sacerdote
Esdras e seus escribas.

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Fonte “J” criada em Judá

Durante o reinado de David-Salomão (séc. IX-X) aparece à fonte “Javista”, assim chamada porque chama a Deus com
o nome de “Javé”. Além dos primeiros esboços do Pentateuco surgem também os Livros de Josué e Juízes, esse
período é marcado pela organização religiosa do reino e o inicio da formação do Canon Judaico.

Fonte “E” criada em Israel

Neste tempo (a partir do ano de 700 a.C.) começam a serem mescladas as tradições Javistas e Eloístas, e começam a
serem formados escritas sagradas de algumas (como conhecemos hoje com a fusão das duas fontes)partes do Livro
do Génesis, do Êxodo, alguns Salmos e nasce a literatura sapiencial. Com a morte de Salomão o reino divide-se, Israel
(ou Reino do Norte) e Judá (ou Reino do Sul). No reino do Norte nasce a tradição “Eloísta” (séc. IX-VIII), assim
chamada porque chama a Deus com o nome de “Elohim”. (Livros dos Reis, Amós, Oseias, Miqueias, Isaias). Não
existem evidências de Livros Sagrados puramente “Eloístas”, porém, a “Alta Crítica” acredita que após o exilio
samaritano, essas fontes “E” influenciaram os escritos judaicos.

Fonte “JE” criada em Judá após o cativeiro samaritano

Em 722 o Reino do Norte caiu sob o poder da Assíria, muito dos habitantes fugiram levando consigo os escritos e as
tradições sagrados do Reino do Norte para o Reino de Judá (Porém não temos nenhum livro puramente do Reino do
Norte). Foi assim que as duas tradições, Javista e a eloísta, se uniram. Nesse tempo com a mescla das tradições “J” e
“E”, se produziu e se editou os livros de Gênesis, Êxodo, Josué e Juízes, o objetivo da edição desses livros, segundo
esses teóricos, é criar uma identidade comum entre os Reinos do Sul e do Norte, com o mesmo Deus (unificação de
Yahveh com Elohim), a mesma lei e um passado comum poderoso (com milagres e intervenções divinas).

Fonte “D” criada em Judá após o cativeiro babilônico

A Palavra “Deuteronômio” significa “Segunda Lei”, este livro contem três discursos de Moisés, à beira da terra
prometida. O Livro do Deuteronômio começou a ser escrito (uma primeira redação) no Reino do Norte, antes da
ocupação assíria (722), tem como base a renovação litúrgica da Aliança em Siquém (Js 24), um século mais tarde foi
encontrado no Templo o chamado o Livro da Aliança ou a Torah (2 Rei 23:3-20), o rei Josias contemporâneo do
profeta Jeremias, tentou por em prática este livro iniciando uma reforma religiosa, a redacção final pode ser datada
nos séc. V-IV a.C. Nesse período (sec. 5 e 4 a.C.), segundo esses teóricos, foram criados e editados os Livros de
Deuteronômio, Samuel e Reis, com o objetivo de doutrinar e guiar os judeus após o termino do Exilio babilônico. O
conteúdo teológico infunde a importância de obedecer a Lei e a esperança messiânica, conhecimentos que dariam
base para a reconstrução nacional.

Fonte “S” criada em Judá pós era Esdras

Em 587 Nabucodonosor, rei de Babilónia, tomou a cidade santa e deportaram muitos dos seus habitantes, em terra
estrangeira os sacerdotes voltaram às antigas tradições, insistindo sobre as celebrações litúrgicas (S), quando
voltaram do cativeiro implementaram imediatamente a fonte “D” (época de Esdras) e após surgiu a fonte “S”,
surgindo assim a Torah e Tanach como conhecemos. Nessa época apareceram os livros de Levíticos, Crônicas, Esdras
e Neemias, com o objetivo de legalizar os sacerdotes como as autoridades da Lei. O foco teológico ficaria na

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importância do sacerdote na apresentação e administração da Lei, lembrando que anteriormente os sacerdotes já
tinham produzido a fonte “D”, e assim legalizar a autoridade sacerdotal sobre a religião.

Os Escritos (Rute e Ester) criados em Judá na época dos Macabeus

Os últimos livros históricos a serem produzidos foram os escritos, nesse momento iremos analisar somente Rute e
Ester, por estarem localizados em nossas Bíblias na seção de Livros Históricos. Segundo a Alta Crítica, o valor
sapiencial desses livros (Rute e Ester) evidenciam uma data posterior para escrita (Sec. 2 a.C), e assim deduzem que
foram produzidos no período dos Macabeus. As motivações teológicas para esses livros é tecer um comentário
sapiencial com cunho histórico, para evocar um passado glorioso, e assim fazer uma apologia as intervenções divinas
durante o reinado dos Macabeus, e produzir uma esperança messiânica, que infundiria o sentimento de restauração
total de Judá.

3.3. Formação dos Livros Históricos segundo a Etnologia judaica


Os escritos judaicos sagrados (Tanach) são produzidos em primazia para dar sustentabilidade teológica em cada
época da nação, assim esses livros tem o objetivo de moldar o povo para se adequar as inspirações divinas nos
contextos históricos. Portanto, os livros históricos além de registrar a historia do povo de Israel e suas interações
com Deus, são produzidos com cunho teológico, a fim de guiar o povo à vontade de Deus, portanto, as formações
paulatinas desses livros são reflexo do momento teológico nacional, e os autores usavam a historia para demonstrar
na prática os motivos teológicos aplicados por Deus. O primeiro livro histórico a surgir, foi o livro de Josué, esse livro
apresenta a conquista e ocupação de Canaã pelos israelitas, teologicamente Josué focou a obediência a Lei, e
demonstrou que isso interferiria na vida da nação, Josué termina seu livro dizendo que ele e a família serviriam o
Senhor (Js 24:15). A segunda grade de livros são os creditados a Samuel e aos profetas de Davi (1Cr 29:29), os
escritos desse período são os livros de Juízes, Rute e Samuel, escritos por volta do ano 950 a.C., a ênfase teológica
que motivou a escrita de Juízes é o suporte teológico para sustentar a monarquia, por isso Samuel frisa varias vezes
em Juízes “Que não tinha rei em Israel e cada um fazia o que achava melhor aos seus olhos”, o livro de Rute foi
produzido após a queda de Saul e criado somente para apresentar a linhagem de Davi, já os livros de Samuel,
escritos também após a queda de Saul, tem como objetivo demonstrar que Saul foi escolhido pelo povo e Davi, o rei
ungido (Messias) por Deus. Os últimos escritos históricos antes do cativeiro babilônico são os livros de Reis, escritos
tradicionalmente por Jeremias pouco após a queda de Judá, a história dos reis de Israel e Judá são apresentadas de
forma que demonstrem sua obediência ou não ao Senhor, o objetivo teológico desses livros é explicar como a
fidelidade ao Senhor molda a história de Israel, e por ultimo explicar o porquê o Senhor permitiu o cativeiro
babilônico, como profeta Jeremias apresenta a historia de forma a priorizar o profetismo e demonstrar as bênçãos e
castigos com olhares proféticos. Após o período de cativeiro tradicionalmente Esdras escreve os livros de Crônicas,
onde conta a mesma historia dos Livros de Reis, porém, com ênfase diferente, enquanto Jeremias explica os motivos
teológicos por trás da historia, que culminaram na destruição de Israel e Judá, Esdras se concentra somente nos
Judeus, destacando a linhagem messiânica de Davi, o qual constitui a esperança da reconstrução de Judá. Os últimos
livros escritos no Canon, também foram tradicionalmente escritos por Esdras, após o exilio, com o objetivo de
mostrar a grandeza de Deus sobre a Babilonia e Pérsia, inferidas na volta e reconstrução de Judá com Zorobabel,
Esdras e Neemias, e no caso de Ester, demonstrar as ações de Deus na capital do Império, esses livros além de
contar fatos importantes sobre o período do cativeiro (único relatos canônicos que temos do período), e da volta e
reconstrução de Judá, ainda apresenta uma teologia messiânica de restauração e domínio universal de Deus.

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3.4. A formação dos Livros Históricos segundo a tradição judaica

A palavra cânon deriva do grego kanõn ("cana, régua"), que, por sua vez, se origina do hebraico “kaneh”, palavra do
Antigo Testamento que significa "vara ou cana de medir" (Ez 40.3). Mesmo em época anterior ao cristianismo, essa
palavra era usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de medida. O
Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl 6.16). É
muito fácil refazer a história do cânon do Antigo Testamento, sabemos que pelo ano de 130 a.C., o tradutor do livro
de Eclesiástico do hebraico para o grego sabia da existência de três grupos de livros que eram o tesouro de Israel: a
Lei, os Profetas e os Escritos. O primeiro e o segundo grupo já estavam bem definidos. Quanto aos escritos, ainda no
tempo de Jesus, havia incertezas. No final do primeiro século depois de Cristo, os rabinos reconheceram que alguns
livros “manchavam as mãos” isto é, eram sagrados e depois de manuseá-los era preciso purificar-se. O Cânon
judaico, com 24 livros, foi fixado nos finais do século II d.C.

A literatura sagrada evoluiu gradativamente e foi cuidadosamente vigiada. Os dez mandamentos escritos em tábuas
de pedra, e que eram a constituição de Israel, foram guardados em uma arca, Ex 40.20. Os estatutos foram
registrados no livro do pacto, 20.23, até cap. 23.33; 24.7. O livro da lei, escrito por Moises, era colocado ao lado da
arca, Dt 31.24-26. A esta coleção se ajuntaram os escritos de Josué, Js 24. 26. Samuel escreveu a lei do reino e a
depositou diante do Senhor, 1Sm 10. 25. No tempo do rei Josias, o livro da lei do Senhor, o bem conhecido livro, foi
encontrado no Templo e reconhecido pelo rei, pelos sacerdotes, pelo povo, pelas autoridades e pelos anciãos, 2Rs
22.8-20.

Josefo apresenta o conteúdo das Escrituras sob três divisões:

1. “Cinco livros pertencem a Moisés, e contêm as suas leis e as tradições sobre a origem da humanidade, até a sua
morte.”

2. “Desde a morte de Moisés até Artaxerxes, escreveram os profetas que viveram depois dele, os fatos de seu
tempo, em treze livros.” Josefo acompanhou o arranjo feito nos livros da Escritura pelos tradutores de Alexandria.
Os treze livros são provavelmente, Josué, Juízes com Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras com Neemias, Ester, Jó,
Daniel, Isaias, Jeremias com as Lamentações, Ezequiel e os doze Profetas Menores.

3. Os quatro livros restantes, contêm hinos a Deus e preceitos de conduta para a vida humana. Sem dúvida ele se
refere aos Salmos, ao Cântico dos Cânticos, aos Provérbios e ao Eclesiastes.

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Havia uma tradição corrente, que o cânon fora arranjado no tempo de Esdras e de Neemias. Josefo, já citado, fala da
crença universal de seus patrícios de que nenhum livro havia sido acrescentado desde o tempo de Artaxerxes, isto é,
desde Esdras e Neemias.

4. O Livro de Josué

4.1. Introdução ao livro de Josué


Autor: Segundo o livro do Baba Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico) o próprio Josué foi quem
escreveu o livro que leva seu nome, com exceção do relato de sua morte, que foi registrada por Eleazar o sacerdote
(24.29, 30) e por seu filho, Finéias (Nm 25.7-13; 31.6-8; Js 22.10-34), que concluiu a parte do livro que registra a
morte de Eleazar, seu pai, 24.31-33. A seguir colocarei o trecho comprovativo da tradição judaica retirado
diretamente do Baba Bathra (Em português, ultimo portão) 14b, que cita a autoria de Josué: “Quem escreveu as
Escrituras? - Moisés escreveu seu próprio livro e a porção de Balaão e Jó. Josué escreveu o livro que leva seu nome e
[os últimos] oito versículos do Pentateuco.”. Quanto o termino do livro de Josué efetuado por Eleazar e Finéias,
inserirei o trecho do Baba Bathra 15a, que cita esses autores como finalizadores do livro de Josué: “Mas não está
escrito: E Josué, filho de Nun, o servo de o Senhor morreu? Foi completado por Eleazar. Mas também está escrito
nele, e Eleazar, filho de Aaron morreu? Phineas terminou”. Essas citações são provas que os judeus consideram
Josué como autor do livro que leva seu nome desde os primórdios de sua cultura, o que respeitamos e damos
créditos, de igual modo à tradição cristã, assegura desde seus primórdios o credito da autoria do livro para o próprio
Josué.

Alguma evidência internas para a autoria de Josué:

1. O livro afirma que Josué registrou o pacto de Deus com o povo (Js 18:9; Js 24:26), portanto nós sabemos que ele
sabia escrever.

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2. É obviamente material de testemunha ocular:

a. “nós,” Js 5:1.

b. “Josué os circuncidou”, Js 5:7,8.

c. Encontro particular de Josué com o Anjo do SENHOR, Js 5:13-15.

d. “ela (Raabe) habitou no meio de Israel até o dia de hoje,” Js 6:25. Este não o relato de um editor posterior, mas de
uma testemunha ocular contemporânea.

3. Ele usou algumas fontes escritas:

a. O Livro de Jasar, (Js 10:13; 2 Sm 1:18).

b. “Em um livro,” Js 18:9.

4. A relação precisa dos nomes de cidades antigas corresponde a um autor contemporâneo, não um ou mais
editores posteriores:

a. Jerusalém, chamada Jebus, Js 15:8; Js 18:16,28.

b. Hebron, chamada Quiriate-Arba, Js 14:15; Js 15:13,54; Js 20:7; Js 21:11.

c. Quiriate-Jearim, chamada Baalá – Js 15:9,10.

d. Sidom é referida como a principal cidade fenícia, não Tiro, Js 11:8; Js 19:28, que mais tarde se

tornou a principal cidade.

5. Josué, assim como o Pentateuco, tem alguns acréscimos editoriais:

a. A morte de Josué

b. A conquista posterior de Hebron, Js 14:6-15; Js 15:13,14.

c. A posterior conquista de Debir, Js 15:15,49.

d. A migração para o norte da tribo de Dã, Js 19:47.

e. A frase “até o dia de hoje” ocorre muitas vezes, o que mostra uma edição posterior, Js 4:9; Js 5:9; (Js 6:25); Js 7:26
(duas vezes); Js 8:28,29; Js 9:27; Js 10:27; Js 13:13; Js 14:14; Js 15:63; Js 16:10; Js 22:3.

Conclusão: Após analisarmos as tradições judaico-cristãs e as evidencias textuais da autoria de Josué, podemos
afirmar sem sombras de duvidas que o autor do primeiro livro da seção de livros históricos da bíblia moderna ou
primeiro livro da seção de profetas do Tanach é Josué filho de Num, servo e substituto de Moisés.

Propósito: A grande máxima do livro de Josué é que Deus sempre cumpre suas promessas, e que é poderoso para
cumprir qualquer juramento, por isso mesmo, a teologia do livro é um lembrete a obediência a Lei divina, e como
essa obediência leva a Israel a alcançar as bênçãos prometidas pelo seu Senhor. O propósito central do livro é provar
pela historia vitoriosa da conquista, que Deus sempre trabalhará a favor de Israel, isso quando eles guardarem seus
mandamentos. Assim Josué serve para introduzir a nação nascente a obedecer a Deus, e construir sua historia com
base na fidelidade ao Senhor, o episodio de “Ai”, serve para demonstrar na prática, os resultados funestos de
desobedecer a Deus.

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Conteúdo: O livro de Josué é uma introdução a historia de Israel e um elo entre o Pentateuco e os livros Históricos,
em Josué encontra-se as aplicações práticas da obediência da Torah e como os israelitas possuíram e se
estabeleceram em Canaã. Esse livro contém uma sucessão natural entre o Pentateuco e o estabelecimento histórico
de Israel na terra da promessa, como o processo que levou a essa conquista, e a divisão da terra entre as tribos de
Israel. Em termos mais amplos, Josué, registra a saída do povo das planícies de Moabe, colocando fim a
peregrinação, as campanhas de conquistas empreendidas por Josué, e o estabelecimento das tribos nos seus
respectivos territórios.

Data de Escrita: Acredita-se que o esboço que deu origem ao livro de Josué seja o diário de bordo de Josué, onde ele
registou todos os acontecimentos que presenciava (semelhante a livro de Números), porém, após a divisão da terra
entre as tribos e o estabelecimento de cada uma delas, Josué revisou, ampliou e editou seu diário em um livro, com
objetivo de servir de lembrete a Israel. Se esse raciocínio estiver certo, podemos deduzir que o livro foi escrito entre
1399 a.C. (após a conquista que durou 7 anos, Js 14:7-10) e 1374 a.C. (ano de sua morte).

Josué afirma que estava com 40 anos quando foi recrutado como expia (Js 14:7), esse ano foi o segundo a
peregrinação (1444 a.C.), com mais 38 anos de deserto chegamos ao ano de 1406 (Josué tinha 78 anos), ele viveu até
os 110 anos (Js 24:29), portanto, 32 anos na terra prometida, (morreu em 1374). Já de acordo com o Livro de Jasher,
1378 a.C. (eu alterei a data para nosso calendário, no original traz a data judaica de 2516 anos depois da criação)
seria de fato a data de sua morte. Vejamos o texto: “E aconteceu depois disto, que Josué se levantou pela manhã e
todo Israel com ele, e caminharam de Sitim, e Josué e todo Israel com ele atravessaram o Jordão, e era Josué de
oitenta e dois anos quando cruzou o Jordão com Israel.” (Jasher 88:9). Se ele entrou com 82 anos, e viveu 110,
esteve em Canaã 28 anos, assim morreu em 1378 a.C. (1406 conquista – 28 anos de vida em Canaã = 1378 a.C.).

Esfera de ação: O livro começa com o povo atravessando o Jordão em 1406 a.C. e termina com a morte de Josué e
toda sua geração por volta do ano de 1374 a.C. Portanto, esse livro cobre um período de tempo de cerca de 32 anos.

4.2. Índice do livro de Josué


1. Preparação para passagem do Jordão – 1,2;

2. Passagem do Jordão – 3 a 5;

3. Batalhas e conquistas – 6 a 12;

4. Divisão da terra – 13 a 22 5.

5. Pacto final – 23,24.

4.3. Esboço sintético do livro de Josué


Josué cap. 1: Confirmação da chamada de Josué;

Josué cap. 2: Espias em Jericó;

Josué caps. 3–4 A Travessia do Rio Jordão;

Josué cap. 5: Aparição do anjo do Senhor;

Josué cap. 6: Queda de Jericó;

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Josué cap. 7: O pecado de Acã;

Josué cap. 8: A Conquista de Ai;

Josué cap. 9: Enganados pelos Gibeonitas;

Josué cap. 10: O Sol e a Lua são detidos;

Josué caps. 11–21: A Conquista e estabelecimento em Canaã;

Josué cap. 22 Estabelecimento das tribos da transjordânia;

Josué caps. 23–24: Despedida de Josué.

4.4. A conquista da terra prometida


4.4.1. A conquista da Transjordânia:

Embora normalmente se pense na conquista a partir do momento que Josué e o povo atravessam o Jordão,
na verdade a mesma tem inicio com a conquista da transjordânia (terras ao leste do Jordão) por Moises. Após a
peregrinação pelo deserto por quase 40 anos os filhos de Jacó em fim marcham para conquista da terra prometida.
Contrariando a logica de invadir a terra pelo sul do que mais tarde seria o território da tribo de Judá, Deus os guia
pelas terras a leste do Jordão, assim eles caminham pela estrada real rumando para o norte até chegarem defronte à
cidade de Jerico (localizada a oeste do Jordão). Por todos os territórios que passaram nesse processo, o povo do
Senhor conquistou e assimilou a nação de Israel. A conquista da transjordânia se compõe de 3 campanhas, a
campanha contra Gileade (amorreus), a campanha contra Basã e a campanha contra Midiã. A conquista de Midiã se
destaca pelo envolvimento de Balaão que recrutado por Balaque rei dos moabitas tentou em vão amaldiçoar o povo
de Deus. As terras que os Israelitas conquistaram na transjordânia foram requisitadas pelas tribos de Ruben, Gade e
a meia tribo de Manassés e dadas a esses por Moisés, com a condição que também participariam da conquista de
Canaã. Abaixo colocarei um mapa com a conquista da transjordânia.

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4.4.2. A conquista de Canaã:
Josué, o sucessor de Moisés como mediador da aliança, já havia se destacado como um homem de sabedoria
e um líder militar de coragem. Enquanto se posicionava no lado oriental do rio Jordão, antecipando-se à conquista
da terra, sua mente já possuía toda uma estratégia militar preparada. Ele percebeu de forma correta que a terra de
Canaã dividia-se em duas grandes áreas que representavam dois elementos étnicos distintos. Para o sul e na região
montanhosa estavam as cidades controladas pelos amoritas; para o norte, especialmente na planície de Jezreel,
estavam as grandes concentrações de cananeus. Procedendo de acordo com a experimentada estratégia de guerra,
Josué sabia que a melhor chance para o sucesso baseava-se no princípio "dividir para conquistar". Para alcançar este
propósito ele sentiu necessidade de penetrar em Canaã pelo norte do mar Morto, seguindo a rota que conduzia ao
interior e que passava por Jericó. Precisamente nesse ponto Josué contemplou seu maior problema: Jericó estava
fortemente armada e preparada para defender-se e impedir a penetração inimiga no interior de Canaã. Além disso,
o próprio rio, que nessa época do ano (primavera) estava cheio, constituía aparentemente uma barreira
intransponível contra qualquer avanço imediato. Jeová ordenou a Josué que efetuasse a conquista imediatamente
(Js 1.2,11), de forma que Josué enviou exploradores para além do rio, a fim de fazer um levantamento da terra, e
especialmente para sondar as possíveis fraquezas nas defesas de Jericó. Eles descobriram que as notícias acerca das
intenções de Israel já os tinham precedido, e que o povo da terra de Canaã estava aterrorizado em razão das vitórias
dos israelitas no Sinai e na Transjordânia. Isso produziu um clima extremamente favorável para a conquista, mas o
momento propício estaria perdido caso não encontrassem uma maneira de atravessar o Jordão. Neste instante,
Jeová revelou que Ele, o Divino Guerreiro, pelejaria por Israel da mesma forma que fizera no Egito. Assim como Ele
partiu as águas do mar de Juncos, como um sinal de seu poder cósmico e redentor, agiria ordenando que as águas
do rio parassem de correr. Ele, como o Grande Rei, iniciaria a conquista começando pelo rio que sempre havia
protegido a terra. Assim o povo compreenderia que a batalha era de Jeová, e que eles alcançariam vitória sobre
vitória reconhecendo que era parte dos exércitos do Todo-Poderoso. E aconteceu que quando a Arca da Aliança - o
símbolo da presença de Jeová - entrou no rio, as águas pararam submissas a Ele e a Israel, permitindo ao povo passar
em terra seca. Como um sinal da natureza redentora deste feito, Jeová determinou que Josué fizesse a circuncisão
de todos os machos que haviam nascido no deserto, revelando assim a sua identidade como o povo da aliança;
também lhe ordenou que celebrasse a festa da Páscoa, que havia sido estabelecida pouco antes do êxodo,
comemorando a redenção do povo realizada por Jeová. Por último, Ele apareceu a Josué, como havia feito com
Moisés, confirmando-o como o mediador do concerto. Toda esta sequência - circuncisão, Páscoa e teofania -
declarava enfaticamente que o Israel da conquista era o mesmo do êxodo. O Deus que tinha salvado seu povo do
Egito agora iria salvá-los em Canaã. Depois de os israelitas terem erigido um altar memorial de pedras para celebrar
sua passagem pelo rio Jordão, os homens de guerra marcharam em direção sul desde Gilgal (Khirbet El-Mafjar), seu
primeiro acampamento em Canaã, até Jericó (Teles-Sultan), à distância de apenas três quilômetros. A cidade é
descrita no Antigo Testamento situado em um monte imponente, que se erguia bastante íngreme desde o riacho
adjacente, ao longo do qual passava "a estrada que subia até Bete-Horon" (Js 10.10), a rota mais importante para o
interior. Relativamente pequena para os padrões da Alta Idade do Bronze (cerca de dez acres), Jericó era facilmente
defensável e praticamente inexpugnável. Josué estava desejoso de conquistar esta cidade não apenas porque ela
guardava a rota que ele intentava tomar, mas também porque se ele a deixasse intacta, ela se transformaria num
bastião da resistência Cananéia contra Israel, o que se tornaria uma fonte de problemas ou mesmo perigo para os
exércitos de retaguarda do povo de Deus. Além disso, e por razões não muito bem nítidas, Jeová havia escolhido
especialmente aquela cidade para manifestar o seu julgamento. Quando isso acontecia a um local ou a um povo,
eles eram designados como "consagrados para Jeová", ou seja, seriam levados ao extermínio. O verbo técnico em
hebraico é haram ("consagrar para destruição"). Objetos debaixo da maldição deveriam ser aniquilados (caso
estivessem vivos) ou dados a Jeová para seu próprio uso. Em hipótese alguma tal coisa poderia ser guardada sem
que para isso houvesse a expressa permissão de Jeová. O primeiro exemplo dessa política foi a destruição dos
cananeus e de suas cidades próximas a Hormá (Nm 21.3). De fato, o nome Hormá reflete a raiz subjacente herem.
Essa política foi aplicada de forma semelhante após a derrota de Seom e dos amoritas na Transjordânia (Dt 3.6).
Moisés também tinha exortado Israel a colocar algumas das cidades cananéias sob herem, explicando que isso

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significava que eles não poderiam fazer acordo nem se unirem em casamento com eles (Dt 7.1-3). Pelo contrário,
Israel deveria destruir seus altares, pedras sagradas, os postes de Aserá e as imagens (v. 5). A razão era que Israel,
mesmo sendo um povo separado por Deus, poderia retornar ao paganismo através da influência dos cananeus (Dt
20.17,18). É óbvio que herem às vezes limitava-se à destruição completa do povo, não se aplicando às cidades
propriamente ditas. E exatamente este o significado das palavras de Moisés quando disse que Jeová entregaria a
Israel cidades que eles não haviam edificado casas cheias de bens e cisternas que eles não haviam construído (Dt
6.10,11; 19.1). Quando por fim concretizou-se a vitória, Josué relembrou ao povo que Jeová fizera conforme havia
prometido - Ele lhes dera cidades que eles não haviam edificado e vinhas e olivais que não haviam plantado (Js
24.13). Um estudo mais cuidadoso revela que durante a conquista, apenas três cidades cananéias, na realidade,
sofreram a totalidade do herem, ou seja, foram fisicamente destruídas justamente com suas populações. Estas
foram Jericó, Ai e Hazor. Quanto às outras, é dito apenas que foram "tomadas" (lakad) por Israel e seus habitantes
passados ao fio da espada. Por enquanto, pode-se apenas especular o porquê de Jericó haver sido selecionada para
estar sob a totalidade do herem. É provável que, por ser a primeira cidade Cananéia situada ao ocidente do Jordão,
seu destino servisse como um alerta para todas as demais cidades, para que levassem em conta que a santidade e o
poder de Jeová é que trabalhavam em favor de seu povo conquistador. O vilarejo de Jericó vinha sendo ocupado
possivelmente desde 7500 a.C.38 Infelizmente a ação deletéria do tempo e das condições climáticas, combinadas ao
trabalho amador e às escavações profissionais, somaram se para praticamente impedir a utilização arqueológica e
histórica da cidade de Jericó. Baseado em alguns escaravelhos de Amenotepe III, o arqueólogo britânico John
Garstang datou o nível D em aproximadamente 1400 a.C., e postulou que esta era a cidade destruída por Josué.
Sendo assim, Garstand sustentou a data de 1400 para a conquista, e uma mais antiga correspondente para o êxodo.
Suas conclusões foram ainda mais confirmadas com a descoberta de muralhas que, ao contrário do resultado normal
de um cerco, caíram para o lado de fora, morro abaixo. A isto ele associou a referência bíblica que descreve a ruína
das muralhas de Jericó como caindo "sob a cidade" (taheta), ou seja, caindo morro abaixo (Js 6.20). Contudo, mais
recentemente Kathleen Kenyon, outra respeitada arqueóloga britânica, passou várias estações em Jericó e concluiu,
entre outras coisas, que Garstand havia interpretado as evidências erroneamente, e que os escaravelhos de
Amenotepe pertenciam a um depósito posterior. Seu nível D, então, tinha de ser remarcado próximo a 1300. Se tal
reavaliação já tem trazido problemas para as datas mais primitivas propostas para o êxodo e a conquista tornam-se
ainda pior para uma data mais recente, uma vez que a conquista de Jericó em 1300 fixaria o êxodo em 1340. Sem
dúvida esta reavaliação não beneficia a nenhuma posição. O melhor que se pode dizer, então, é que a evidência de
Jericó é inconclusiva e que, neste ponto, é de pouco ou nenhum valor para se estabelecer um esboço histórico ou
cronológico em que se possa visualizar a conquista.

A campanha central

Após Jericó cair e ser destruída - um evento descrito do início ao fim como um milagre de Deus - Josué enviou espias
de Jericó através de uma estrada sinuosa até a próxima fortificação Cananéia em Ai. Visto que a cidade já não mais
existia (seu próprio nome significa "ruína"), foi necessário ao historiador localizá-la como a cidade "que está junto a
Bete-Aven, ao oriente de Betei" (Js 7.2). Embora Ai seja identificada por muitos estudiosos com um sítio conhecido
simplesmente por et-Tel ("monte de pedras"), a menos de quatro quilômetros a leste de Betei (Beitin), esta visão
não mais desfruta de consenso. De fato, há muitos argumentos convincentes contra ela, conforme David Livingston e
outros estudiosos têm demonstrado. E irônico que o segundo dentre os três locais que sofreram o herem seja, como
no caso de Jericó, de valor insignificante para a data da conquista. É preciso reconhecer que a própria natureza
violenta do herem pode ser a própria razão para que nem Jericó nem a cidade de Ai tivessem condições de produzir
quaisquer evidências arqueológicas significativas. Depois de uma derrota inicial em sua tentativa de tomar a cidade
de Ai (Js 7.4,5), Josué compreendeu que os termos do herem haviam sido violados na destruição de Jericó. Um
cidadão particular, Acã, tinha se apoderado de objetos que pertenciam exclusivamente a Jeová; Acã e sua família
foram destruídas como resultado da desobediência (Js 7.22-26). Somente assim Josué pôde, com um contingente de
trinta mil homens, atacar e destruir a cidade de Ai, por meio de uma estratégia que incluíam emboscadas e

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armadilhas. Os habitantes de Betei uniram-se aos de Ai na peleja, mas ambos foram clamorosamente derrotados.
Josué então mandou matar os homens e mulheres da cidade - doze mil ao todo - até que não houve mais nem um
sobrevivente. A própria cidade foi queimada até que tudo se consumiu, permanecendo apenas uma coluna de
fumaça, uma ruína ('ay) no exato sentido da palavra. Somente o gado e alguns tesouros da cidade foram poupados,
e isso segundo as ordens específicas de Jeová (Js 8.27). Ai representa o exemplo de um herem com especificações
bem claras. Nada mais é dito acerca do encontro de Israel com Betei. A evidência arqueológica é ambígua, embora
pareçam ter existido alguns sinais de acampamentos tribais durante o século catorze. Pode-se concluir que os
betelitas foram destruídos, mas que a sua cidade, como a maioria das cidades cananéias, foi poupada a fim de
prover residência para Israel. Embora o livro dos Juízes indique que os efraimitas de fato tomaram Betei, isto parece
ter ocorrido após a morte de Josué.

A campanha em direção sul

A o ficar claro que Josué havia ferido o norte de Canaã a partir do sul, e que efetivamente instalara a nação de Israel
na região montanhosa central, os cananeus e outras populações decidiram pôr de lado as diferenças e formar uma
só defesa contra Israel. Os heveus (horitas ou hurrianos?) de Gibeão (El-Jib), situados apenas a onze quilômetros ao
sul de Betei, ficaram tão apavorados em face do que acontecera a Jericó e a Ai que tentaram uma ação diplomática
ao invés de militar. Disfarçados de viajantes que vinham de muito longe, uma delegação de Gibeão foi a Gilgal -
agora acampamento de Israel - e persuadiu Josué a assinar um pacto de não agressão contra eles. Visto que as
instruções de Moisés permitiam tais acordos com terras distantes (Dt 20.10-15), Josué não hesitou em assinar o
tratado. O acordo requeria que o povo servisse a Israel como escravos, (Dt 20.11; Js 9.15,21, 27), uma condição que
embora indesejável, era definitivamente melhor do que a morte. E claro que os gibeonitas eram alvo do herem,
juntamente com os demais cananeus, e por isso deveriam ser destruídos (Dt 20.16,17; Js 9.24). Em vez disso,
despercebido como estava Josué, o pacto teve de vigorar, e os gibeonitas com seus amigos heveus de Quefira (Tel
Kefireh), Beerote (Nebi Samwil?) e Quiriate-Jearim (Qiryat Ye'arim) conseguiram sobreviver, e todas as vilas que
ficavam nas oito quilômetros de Gibeão foram permitidas viver. Este tratado de não agressão entre Israel e os
heveus foi rapidamente posto à prova, pois Israel, a parte mais forte do pacto, teve a responsabilidade de defender
seu novo vassalo contra a ameaça inimiga. A ameaça surgiu em forma de uma coalisão de reis amorreus que
decidiram punir Gibeão por sua deserção para o lado de Israel (Js 10.1-5).

O líder desta coalizão chamava-se Adoni-Zedeque de Jerusalém, então uma fortaleza dos jebuseus. Sem dúvida os
jebuseus eram considerados amorreus, pois Adoni-Zedeque é contado entre os reis amorreus (Js 10.5). Quanto
tempo à cidade de Jerusalém esteve sob o domínio dos amorreus não pode ser definido, mas supõe-se que tenha
sido desde a sua migração para Canaã, no período do Bronze Antigo IV (cerca de 2200). Com apenas alguns poucos
interlúdios, a cidade permaneceu sob o domínio dos jebuseus até o tempo em que Davi a conquistou (1004 a.C.),
estabelecendo Sobre ela o seu domínio e transformando-a em sua capital. Confederados com Adoni-Zedeque
estavam Horã, de Hebrom, Pirã, de Jarmute (Khirbet Yarmuk, cerca de 28 quilômetros a oeste e a sudoeste de
Jerusalém), Jafia, de Laquis (Tel ed-Duweir, cerca de 48 quilômetros a sudoeste de Jerusalém) e Debir, de Eglom (Tel
el-Hesi, cerca de 56 quilômetros a sudoeste de Jerusalém). Essas cinco cidades - cujas localizações formavam uma
espécie de triângulo que ocupava toda a porção ao norte de Judá - eram aparentemente os mais importantes focos
de resistência dos amorreus naquele tempo. A sua derrota, portanto, representaria a abertura de toda a região para
a ocupação Israelita. Quando os cinco reis cercaram Gibeão, a notícia foi logo levada a Josué em Gilgal dizendo que a
cidade estava sob ataque e precisava da ajuda prometida. Depois de uma noite inteira de marcha Josué chegou a
Gibeão, cerca de 32 quilômetros a oeste de Gilgal. Após uma batalha renhida, os amorreus bateram em retirada e
Israel os perseguiu incansavelmente. Cruzando a montanha de Bete-Horom, que passava a oeste de Gibeão, os
amorreus voltaram-se para o sul, rodeando a fronteira oeste de Sefelá, chegando então até Azeca e Maquedá,
aproximadamente a 32 quilômetros de Gibeão. Durante todo o percurso eles sofreram a ira de Jeová, o Deus
guerreiro de Israel, que enviou contra eles uma chuva de grandes pedras de granizo. Os reis conseguiram escapar e

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acharam refúgio em uma caverna em Maquedá. Logo que Josué descobriu lhes o paradeiro, selou-os dentro da
caverna provisoriamente e partiu para liquidar os amorreus que haviam sobrevivido à chuva de pedras de granizo.
Sua instrução dada aos soldados é deveras interessante: eles não poderiam permitir que os amorreus novamente
entrassem nas cidades, pois Josué as queria completamente intactas (Js 10.19). Como já dito, então, o herem não
inclui as estruturas físicas, mas apenas o povo. Portanto, não se deve tomar a devastação das cidades como prova da
conquista e de sua data, pois a política de Josué, como repetidamente enfatizamos, visava a poupar as cidades para
o próprio uso de Israel. Depois de Josué haver liquidado completamente os exércitos dos amorreus, voltou até
aquela caverna e retirou os reis ali aprisionados, eliminando-os sumariamente.

A campanha em direção norte

Com o grande sucesso da campanha militar ao sul, Josué voltou a Gilgal, a base de Israel durante os primórdios da
conquista. Mas muito rapidamente deu início à fase final de seu plano - a invasão das terras cananéias no vale de
Jezreel e na Galiléia ao norte. Os cananeus por essa época já estavam cientes de tudo o que havia se passado nas
regiões sul e central da Palestina, e imediatamente formaram uma aliança para resistir o que sabiam ser um conflito
certo com Israel. O fundador e líder da aliança era Jabim, rei de Hazor (Tel Ed-Quedah) - a maior das cidades do
norte e possivelmente de toda a Canaã. Essa metrópole, cobrindo mais de 110 acres e abrigando talvez mais de
quarenta mil habitantes, situava-se estrategicamente sobre uma alta colina, cerca de 32 quilômetros ao norte do
mar da Galiléia, e menos de oito quilômetros a sudoeste do lago Hulé (as águas de Merom). Era tradicionalmente
reconhecida por sua liderança na região (Js 11.10), de forma que não foi difícil para Jabim alistar as demais cidades
para apoiá-lo nessa causa. Incluía-se na lista Joabe, rei de Madom (Qarn Hattin), cerca de oito quilômetros ao
ocidente de Tiberíades, os reis de Simrom (Tel Semuniyeh) e Acsafe (Tel Keisan). Simrom situava-se na fronteira
norte da planície de Jezreel, perto de 24 quilômetros do Mediterrâneo, e Acsafe cerca de nove quilômetros a
sudoeste de Aco. Portanto, a influência imediata da cidade de Hazor estendia-se como em um semicírculo que
voltava-se para o sul e o oeste, com um raio de aproximadamente 65 quilômetros.

Outros reis que foram alistados, mas não tiveram seus nomes mencionados, reinava sobre territórios ao norte da
Galiléia no vale do Jordão, ao sul de Quinerete (o mar da Galiléia), nas planícies (a planície de Jezreel) e nas alturas
de Dor, provavelmente nas encostas-sul da cadeia montanhosa do Carmelo, paralelo ao Mediterrâneo. Além disso,
Jabim solicitou o apoio dos reis cananeus, amorreus, hititas, ferezeus, jebuseus e heveus de ambos os lados do rio
Jordão e do Hermom, ao norte da região montanhosa de Efraim. Com um numeroso contingente de infantaria e
carros de combate, essas forças combinadas esperavam pela vinda de Israel às águas de Merom, um campo de
batalha preparado pela natureza. Com um ataque relâmpago Josué caiu sobre os cananeus, abatendo-os
completamente. Os que puderam escaparam e fugiram para o mais longe possível, chegando a Sidom, que ficava a
mais de 64 quilômetros para o norte; também foram para Misrefote Maim (Khirbet El-Musheirefeh), que ficava na
costa entre o Carmelo e Tiro. Fugiram ainda para o vale de Mispa (M ARP’AYYUM?), próximo ao sul do monte
Hermom. Então Josué atacou a cidade de Hazor e a tomou (lãkad), matando o seu rei e ferindo grandemente a
população. Então, no que claramente foi uma exceção à política que vinha seguindo até o momento, ele incendiou a
cidade e a demoliu por completo. Se ainda há necessidade de provar que tomar uma cidade e passá-la ao fio da
espada não é o mesmo que destruí-la materialmente, note a forma através da qual o historiador descreve o que
aconteceu às cidades que restaram. Israel, ele diz, tomou as cidades que estavam aliançadas com Hazor, feriu-as ao
fio da espada, destruiu-as completamente, mas não queimaram a nenhuma delas com exceção de Hazor (Js
11.12,13). Tomar uma cidade e passá-la ao fio da espada, mesmo reconhecendo-a sob a maldição, não é
necessariamente reduzi-la a cinzas. Quando é este o caso, de que Hazor é um exemplo, segue uma afirmação
explícita de que tal cidade foi queimada. Abaixo colocarei um mapa com a conquista de Canaã.

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4.5. Povos cananeus pré conquista

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4.6. Mapa de Canaã pré conquista

4.7. Mapa da distribuição de Canaã entre as tribos israelitas

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4.8. Divisão da terra entre os israelitas
Josué e o sacerdote Eleazar voltaram-se para a tarefa de delimitar os territórios designados às demais tribos (Js 14.1-
5). Primeiro vieram os líderes de Judá, representados pelo ancião Calebe. Josué foi lembrado das promessas que
Moisés fizera a Calebe de que este receberia uma parte da terra em que havia estado como espia do povo. Isto
informou Calebe, haviam acontecido quarenta e cinco anos antes, quando ele estava com quarenta anos. A missão
de espionar a terra tinha se dado no segundo ano após o êxodo (1445 a.C.); logo, o lembrete de Calebe a Josué deve
ser datado por volta de 1399, ou seja, sete anos após o início da conquista. Quando os espias retornaram, Calebe e
Josué encorajaram o povo de Israel a entrar em Canaã, não obstante a presença dos enaquins nas regiões
montanhosas do sul. Agora, Calebe usava a mesma força contra os mesmos gigantes, e foram-lhe dadas à cidade de
Hebrom e outras cidades dos enaquins. A conquista de Hebrom deve ter sucedido essa requisição (Js 11.21,22;
15.13- 19; Jz 1.9-15). Depois de expulsar os enaquins de Hebrom, Calebe também tomou Debir, situada cerca de 24
quilômetros ao sudoeste. Isto ele conseguiu oferecendo sua filha como esposa para qualquer herói que pudesse
tomar a cidade, um feito realizado por seu próprio sobrinho Otniel. Aparentemente Otniel, mais tarde o primeiro juiz
de Israel, estabeleceu-se em Debir – uma inferência extraída da solicitação de sua esposa por um dote que incluísse
algumas fontes de águas próximas a essa cidade. Tende-se a concluir que essa conquista de Hebrom e Debir é a
mesma descrita em Josué 11.21-23, já que ambas as cidades são mencionadas também ali. A ligação entre as duas
cidades evidencia-se por terem sido habitadas pelos enaquins, um povo particularmente detestável para Calebe. O
restante da herança de Judá consistiu em uma vasta área cercada por uma linha ao sul que corria desde o sudoeste
do mar Morto até Cades Barnéia, movendo-se daquela região em sentido noroeste até a entrada do Vadi El-Arish. A
fronteira ao oriente era o mar Morto, e ao ocidente, pelo menos em teoria, o Mediterrâneo. A fronteira ao norte
iniciava pouco acima do desaguamento do Jordão no mar Morto, e estendia-se para o ocidente, através de Bete-
Hogla ('Ain Hajlah) até as águas de En-Semes ('A.in El-Hod) e En-Rogel, na junção dos vales de Cedrom e Hinom, em
Jerusalém. Sua extensão até o Hinom significa que Jerusalém situava-se ao norte de Judá, no território de Benjamim.
De Jerusalém, o território de Judá continuava a oeste para Quiriate-Jearim (a morderna Tel El-Azar) e Bete-Semes
(Tel er-Rumeileh). Por fim, passava por dentro de Siquerom (Tel El-Fül), pouco ao norte de Ecrom, e para o
Mediterrâneo próximo de Jabneel (Yebna). A lista das cidades que percorrem a delineação da fronteira inclui
somente aquelas que foram conquistadas durante a invasão de Canaã e as que pertenciam a Judá por promessa. A
referência a Jerusalém (Js 15.63) não implica em que tal cidade houvesse sido destinada à tribo de Judá, mas apenas
que Judá havia feito uma tentativa sem sucesso de expulsar os jebuseus permanentemente (Jz 1.8). A herança de
Efraim (Js 16.5-10) foi fixada por limites que começavam em Atarote-Adar (Kefr 'Aqab), cerca de 13 quilômetros ao
norte de Jerusalém. A fronteira ao sul subia até o alto Bete-Horom (Beit 'Ur El-Foqa) e presumivelmente ao sudoeste
para então unir-se com a fronteira de Judá em algum ponto próximo a Siquerom. Ao norte o ponto inicial era
Micmetate (Khirbet Makhneh El-Foca), menos de 8 quilômetros ao sul de Siquém. De Micmetate a fronteira corria
para o oriente até Tanate-Silo (Khirbet Ta'na El-Foca) e Janoa (Khirbet Yanum), ao sul, sentido Jericó, e ao leste para
o Jordão. A fronteira mais distante ao sul deve ter começado no Jordão, dirigindo-se ao oeste, passando por Jericó
até chegar a Atarote-Adar. Novamente, desde Micmetate, a fronteira norte seguia ao oeste para Tapua (Sheikh Abu
Zarad), até o vadi Kanah, seguindo seu curso até o Mediterrâneo, unindo-se a esse mar na moderna Tel Aviv. Além
disso, Efraim herdou certas cidades que pertenciam ao território de Manassés (Js 16.9). Outras cidades
permaneceram em poder dos cananeus, notavelmente Gezer. E um grande número de cananeus viveu entre os
efraimitas como escravo. Os clãs de Manassés que não permaneceram na Transjordânia ocuparam a área próxima
ao norte de Efraim, em direção ao vale do Jordão, ao norte. A fronteira ao sul, então, era o limite norte de Efraim. A
cidade de Tapua, que geograficamente era uma parte da região de Tapua, foi dada por alguma razão a Efraim (Js
17.8). Por outro lado, Manassés tomou algumas cidades que geograficamente poderiam ter sido mais apropriadas a
Aser e Issacar. Estas eram Bete-Seã (Tel El-Husn ou Beisan), Ibleã (Khirbet Bel'ameh), Dor (Khirbert El-Burj), En-dor
(Khirbet Safsâfeh), Tanaque (Tel Ti'innik) e Megido (Tel El-Mutesellim). Devido à grande resistência armada pelos
cananeus na região norte, Manassés não pôde possuir suas cidades de uma só vez, mas apenas gradualmente
subjugou os cananeus, tornando-os seus escravos. Tanto Efraim quanto Manassés sentiram-se constrangidos com os
elementos cananeus que habitavam nos vales e planícies fronteiriços os seus territórios, de forma que solicitaram a

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Josué que lhes dessa mais terra. Josué replicou que eles deveriam expulsar os cananeus que ainda viviam na subida
de seus bosques; assim, progressivamente se tornaria fortes o suficiente para removerem os cananeus de Jezreel (Js
17.14-18). Ainda restavam sete tribos entre as quais seria repartido o restante da terra. Josué, portanto, reuniu os
líderes em Siló (Khirbet Seilun), o novo centro de culto e política, e aconselhou-os a enviar alguns espias às regiões
que ainda seriam alocadas. Os espias retornaram com um relatório que descrevia a terra e indicava a melhor
maneira pela qual esta poderia ser repartida. Seguindo o relato, Josué resumiu o processo de distribuição. Primeiro
Benjamim recebeu uma pequena porção entre Judá e Efraim, incluindo as importantes cidades de Jericó, Betei,
Gibeá, Gibeão e Jerusalém. Simeão, talvez dizimada pelo julgamento de Jeová em Peor, tinha uma população
insuficiente para garantir um distrito para si mesmo, tornando-se então um clã dentro de Judá. Algumas de suas
principais cidades foram Berseba, Hormá e Ziclague, mais tarde muito famosa por seu relacionamento com o rei
Davi. Ao norte do vale de Jezreel coube a herança de Zebulom. Desde Saride (Tel Shadud), menos de 16 quilômetros
ao norte de Megido, passando pela planície de Jezreel; a fronteira sul de Zebulom corria sentido oeste até alcançar a
Jocneã (Tel Qeimun). Para o oriente de Saride, a fronteira se estendia em direção a Jafia (Yafa), e dali movia-se para
o norte até Gate Hefer (Khirbet ez-Zurra') e Rimom (Rumaneh). Pouco acima de Rimom, a fronteira voltava-se para
oeste, passando pelo vale de Ipta El (Vadi El Malik). A segunda tribo a receber herança na região da Galiléia foi
Issacar. Sua fronteira ao oeste alinhava-se desde Jezreel (Zer'in) indo para o norte, através de Suném (Sôlem), até
Quesulote (Chisloth-tabor). Do oriente de Jezreel a fronteira seguia para Remete (Jarmute), quase a 5 quilômetros
do Jordão e 12 quilômetros ao norte de Bete-Seã. Deste ponto seguia em direção norte ao longo do Jordão e para
oeste até o monte Tabor. Issacar então herdou uma porção de terra muito pequena, cuja grande parte era
controlada por cananeus nos primórdios da história. Aser estabeleceu-se na costa do Mediterrâneo, ao norte do
monte Carmelo. De Helcate (Tel El-Qassis), no Quisom, sua fronteira seguia em direção norte até Acsafe e
provavelmente até Aczibe (ez-Zib). No sul a fronteira começava na costa do Mediterrâneo e tocava o monte Carmelo
e Shihor-Libnath (Vadi Zerqa), voltava-se a noroeste, ao longo da fronteira de Zebulom e do vale Ipta El. De lá se
estendia até o norte para Bete-Emeque (Tel Mimâs), passando por Neiel (Khirbet Ya'nim) e Cabul (Kã- bül),
estendendo-se muito longe para o norte, até Ebrom (Abdon?), Caná (Qânã) e Hosa (Usu?) no Mediterrâneo, apenas
6 ou 8 quilômetros ao sul de Tiro. A fronteira, é claro, seguia a costa sul do Mediterrâneo até Aczibe. Surgem muitos
problemas quando se empreende uma tentativa de reconstruir as fronteiras de Aser, dos quais o principal é a
aparente perda do monte Carmelo e a costa do Mediterrâneo de lá até Aczibe. A primeira fronteira mencionada,
desde Helcate até Acsafe (e Aczibe?), parece ser a ocidental, ao passo que a oriental corria desde o vale Ipta El até a
cidade de Tiro. E bem possível que uma população Cananéia controlasse o Carmelo e a costa ao norte durante a fase
inicial. Um segundo problema é a aparente localização de Dor dentro de Aser, quando já havia sido anteriormente
designada a Manassés. A solução evidentemente é o fato de que, por razões inespecíficas, Manassés possuiu
algumas cidades, inclusive Dor, que na verdade estavam dentro das fronteiras de Aser. A sexta herança distribuída
em Siló foi para Naftali. A fronteira ao sul, começando em Helefe (Khirbet Trbâdeh?), seguia em direção a Jabneel
(Tel en-Na'am) terminando no Jordão. De Helefe, estendia-se para o oeste e para o norte, passando através de
Hukkok (Yakuk), próximo à curva nordeste de Quinerete. Embora o restante da fronteira a oeste e ao norte não seja
especificado, a soma de toda a extensão das possessões de Naftali - até Zebulom ao sul, Aser a oeste e o Jordão ao
oriente - pressupõe que esta tribo estendeu seus limites para o norte o máximo que pôde, chegando até Tiro, ao
ocidente, e ao Jordão, a oriente. Esse fato é confirmado pela lista das cidades fortificadas dessa tribo: En-Hazor
(Hazzur), Cades (Tel Qades) e Hazor (Tel El-Qedah), todas elas situadas no norte da Galiléia. A herança da tribo de Dã
caiu para o oeste de Benjamim, entre as tribos de Judá e Efraim. Mas em conseqüência de Dã ter-se mostrado inapto
para ocupar as terras ao oeste, no Sefelá, e nas planícies costeiras, a tribo imigrou para o norte e apoderou-se do
pequeno reino de Lessem (Lais), que ficava ao norte do lago Hulé. Juízes 18 fornece detalhes a respeito dessa
mudança. A última distribuição de terra coube ao próprio Josué (Js 19.49,50). Como Calebe, ele havia afirmado a
soberania de Jeová sobre a terra da promessa, e agora herdava a sua possessão. A cidade que ele havia solicitado e
recebeu chamava-se Timnate-Heres (Khirbet Tibnah), na região montanhosa ao oeste de Efraim.

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5. O livro de Juízes

5.1. Introdução ao livro de Juízes.


Autor: Segundo o livro do Baba Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico), foi Samuel que escreveu os livros
de Juízes e Rute, colocarei o trecho do Talmude que comprova a autoria de Samuel desde os primórdios da cultura
judaica: “Samuel escreveu o livro que leva seu nome e o Livro dos Juízes e Rute”. O texto possui evidencias internas
comprovativas que o autor é alguém que viveu pouco tempo depois do período dos juízes, vejamos essas evidências:
1) As palavras “naqueles dias, não havia rei em Israel” (Jz 17:6),mostra que esses livro foi escrito num período em
que Israel tinha um rei em Israel, o que sugere que o autor viveu em um tempo que era possível lembrar de um
momento que não havia ainda rei sobre a nação. 2) A declaração de que “os jebuseus habitaram com os filhos de
Benjamim em Jerusalém até ao dia de hoje” (Jz 1:21) aponta que o livro foi escrito em um período imediatamente
anterior à conquista da cidade por Davi (2 Sm 5:6,7). As evidências internas textuais nos mostram que o autor viveu
em uma transição do governo dos juízes para a monarquia e que os escritos foram concluídos antes de Davi tomar
Jebus, restringindo assim a possibilidade de autoria a Samuel, o único com inspiração profética para colocar livros no
Canon. Além da autoria pertinente de Samuel, podemos ver marcas da edição bíblica feitas no tempo de Esdras, na
declaração “até ao dia do cativeiro da terra.” (Jz 18:30), mostrando que possivelmente Esdras, fez um adento para
que os judeus recém chegados do exilio babilônico pudessem entender melhor o livro.

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Propósito: O livro de Juízes é um tratado que visa conceder uma legalidade teológica para o rei Saul, que acabava de
chegar ao poder. Nos primeiros 16 capítulos desse livro, Samuel deseja provar através da historia do período dos
juízes, que a falta de rei em Israel provocou a anarquia, por isso ele frisa varias vezes “naqueles dias, não havia rei
em Israel”. Já o final do livro de Juízes (caps. 11-21) e o livro de Rute, foram escritos após a queda de Saul, com a
intenção de justificar teologicamente a rejeição de Saul e a eleição do rei judeu, Davi. Os últimos capítulos de Juízes
(17-21) e o livro de Rute, teologicamente são chamados de “trilogia de Belém”, pois foram inseridos no Canon, para
denotar a superioridade dos judeus de Belém, frente aos Bejamitas (tribo de Saul), o Livro de Rute ainda abrange a
historia da linhagem de Davi, dando assim autoridade messiânica a esse rei.

Conteúdo: O livro dos Juízes registra a historia intermediaria entre a geração de Josué que possuiu a terra e a
monarquia unificada, iniciada pelo rei Saul. Esse livro cobre os primeiros séculos da ocupação israelita em Canaã, e
demonstra a falibilidade de uma organização nacional sem um poder central e órgãos capazes de aplicar a justiça e
fiscalizar a todos. A primeira parte do livro prova historicamente que sem um rei, o povo se corrompe e faz o que
achar melhor, nessa primeira parte Samuel prova historicamente essa verdade, já a segunda parte do livro, contem
uma base teológica para dar sustentabilidade messiânica ao rei Davi, e por tabela destruir a autoridade do bejamita
Saul.

Data da escrita: Considerando a informação passada no tópico “autor” que o livro foi escrito após a unção de Saul e
a conquista de Jebus por Davi, e entendendo que o autor foi Samuel, temos a data da escrita em algum momento
após a unção de Saul (por volta de 1050 a.C.) e a morte de Samuel (por volta de 1010).

Esfera de ação: O Livro dos juízes cobre um período de cerca de 300 anos da História de Israel, da morte de Josué
em 1374 a.C. até o final da magistratura de Sansão em cerca de 1075 a.C.

5.2. Índice do livro de Juízes


1: A conquista incompleta de Israel e a censura do Senhor. Caps. 1:1 – 2:5.

2: Os opressores e os juízes. Caps. 2:6 – 16:31.

3: O retrato da corrupção de Israel exemplificados na relação judeus/bejamitas. Caps. 17:1 – 21:25.

5.2.1. O esboço sintético do livro dos Juízes


1) Otniel(Judá) (Jz 3.9) Livrou do rei da mesopotâmia;

2) Eúde(Benjamim) (Jz 3.15) Expulsou amonitas e moabitas;

3) Sangar (desconhecida a origem) (Jz 3.31) Matou 600 filisteus;

4) Débora (Efraim) (Jz 4.5) Com Baraque venceu os cananeus;

5) Gideão(Manassés) (Jz 6.36) Expulsou os midianitas; Abimeleque (Jz 9.1) Libertador sem autoridade divina;

6) Tola(Issacar) (Jz 10.1) Subjugou os amonitas;

7) Jair(Manassés) (Jz 10.3) Subjugou os amonitas;

8) Jefté(Manassés) (Jz 11.11) Subjugou os amonitas;

9) Ibsã(Judá ou Zebulom) (Jz 12.8) Perseguiu os filisteus;

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10) Elom (Zebulom) (Jz 12.11) Perseguiu os filisteus;

11)Abdom (Efraim) (Jz 12.13) Perseguiu os filisteus;

12) Sansão(Dã) (Jz 16.30) Perseguiu os filisteus;.

5.3. O período dos Juízes (caps.1-16)


“Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.” Juízes
21:25

O versículo que abre esse capítulo é o que melhor ilustra o tempo dos juízes, Pois Israel sofria a com a ausência de
um governo central e de uma unidade politica. O reflexo dessa ausência de poder centralizado é que praticamente
cada tribo ou clã fazia o que achava melhor, com um distanciamento mais acentuado entre Judá, as tribos da
transjordânia e o resto de Israel. com ausência de um governo forte não havia quem aplicasse as leis de Deus e com
isso o povo rapidamente se desviou da religião monoteísta de só servir Yahveh. Como consequência de seus atos
pecaminosos o senhor levantava um inimigo que oprimia seu povo, o povo então clamava a Deus e esse levantava
um libertador um juiz, que usado pelo Senhor vencia o inimigo e trazia o povo a Deus, morrendo esse Israel voltava
para as praticas pagãs, permanecendo na idolatria até a próxima opressão corretiva de Deus. Podemos resumir todo
esse período como um ciclo composto por 3 ações. A primeira é a APOSTASIA, onde o povo se voltava aos deuses e
praticas das nações vizinhas. A segunda é a OPRESSÃO, Deus então levantava alguma nação para oprimir Israel e
fazer essa voltar de novo para o seu Deus. A terceira ação é chamada de LIBERTAÇÃO, e consistia em Deus levantar e
usar um Juiz que subjugava o opressor e trazia de o povo para a adoração a Deus. Mais quando esse Juiz falecia
infelizmente Israel voltava às costas para Deus e recomeça outro período de APOSTASIA.

Outra particularidade do período dos Juízes era a impossibilidade do Juiz levantado por Deus governar sobre
toda Israel. Como já falado Israel era uma nação fragmentada e dividida por regiões, os Juízes então normalmente
exerciam sua esfera de ação sobre sua tribo original e as vizinhas. Essa divisão era muito aparente as outras nações
que oprimiam Israel, assim somente atacavam determinadas regiões, pois as tomavam por nações independentes.
Essa descentralização politica caracterizou lideres (juízes) simplesmente regionais permitindo até em dados
momentos terem mais de um juiz governando em Israel, logicamente em regiões distintas. Os lideres desse
conturbado período histórico eram chamados juízes (Hb. Nagid) que no português tem o sentido de líder politico e
militar, esse termo não deve ser confundido com nossos atuais juízes que tem funções jurídicas, a esfera legal na
época era tratada pelos anciões das tribos e clãs. Porem a esfera de ação dos Juízes era bem limita, sendo
comparada a um líder tribal, contrastando com a expressão rei (melek) que é aplicado a um soberano nacional.
Abaixo colocarei uma representação com os acontecimentos cíclicos do período dos juízes e um mapa com a região
de cada juiz.

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30
5.4. Trilogia de Belém (caps. 17-21), excetuando Rute que trataremos em seu livro
Antes de examinar a monarquia de Israel, é preciso atentar para a chamada trilogia de Belém - as três narrativas cujo
cenário descreve o período dos juízes. São assim designadas porque a cidade de Belém figura proeminentemente em
cada uma delas. De fato, as narrativas contêm outros temas e motivos em com um. Estaremos submetendo as três
histórias a uma análise detalhada porque representam melhor a narrativa da história escrita. Elas dizem respeito a
indivíduos em contexto mais ou menos particular, cujas identidades e atividades são apesar de tudo inseparáveis, e
conclusivas para a compreensão da monarquia davídica que os seguiu. Relatos de eventos ocorridos na época dos
juízes foram eles incluídos no registro sagrado com o propósito de traçar as origens da dinastia davídica e justificar
sua existência em oposição à linhagem de Saul.

Micas e o levita

A primeira narrativa descreve a história de Mica e o levita (Jz 17 -1 8). 89 Parecem que um abastado homem de
Efraim, chamado Mica construiu uma casa de ídolos, instituindo seu próprio filho como sacerdote desse santuário
pagão. Isto, segundo descreve o historiador, era característica daqueles dias, quando "não havia rei em Israel" e
"cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos" (Jz 17.6). Quando um levita de Belém passou pelo lugar à
procura de emprego, Mica o persuadiu a servir como sacerdote em lugar de seu filho, que não era levita. Enquanto
isso, a tribo de Dã, que não conseguia ocupar todo o território herdado, enviou uma comitiva ao norte em busca de
outro território. Pelo caminho, a delegação encontrou-se com o levita, solicitando-lhe inclusive um conselho a
respeito de seu empreendimento. Satisfeitos, partiram para Lais (Tel El-Qadi), cerca de 19 quilômetros ao norte do
lago Hulé, e perceberam que os habitantes locais viviam vida pacata e desprotegida. O relatório da delegação
encorajou os danitas a partir em massa para Lais. A caminho de Lais, seiscentos homens de Dã, incumbidos de
vencer aquele povoado pacato, pararam para visitar Mica e insistiram para que o levita os acompanhasse, juntando-
se a eles na condição de sacerdote de um novo centro religioso que construiriam em Lais. Chegando ao local,
destruíram completamente a cidade e reedificaram-na com o nome de Dã. Somente neste ponto da narrativa o
nome do levita é revelado - não era outro senão Jônatas, filho de Gérson, neto do próprio Moisés. Esta informação
permite que o ambiente histórico seja mais precisamente definido. Gérson, filho de Moisés, deve ter morrido antes
da conquista, como parte da geração rebelde. Jônatas tinha de estar com vinte anos ou menos em 1444 para que
pudesse entrar na terra. Assim é bem provável que estivesse com cinquenta e oito anos no início da conquista,
sendo, portanto chamado de "jovem” em Juízes 17.7. Apesar de ser este um termo impreciso, sem dúvida não pode
ser aplicado a alguém acima de cinquenta anos. E mais certo que ele fosse bem mais novo. De grande importância
também é a referência em Juízes 18.1 ao fato de Dã ainda não haver tomado posse de sua herança. Por falta de
paciência, a tribo decidiu seguir seu próprio caminho. Deve-se lembrar que o processo de alocação das tribos já
havia terminado dentro de sete anos após o início da conquista. A jornada de Dã até Lais não pode ter acontecido
muito tempo depois disso. Os estudiosos geralmente entendem que a migração de Dã foi conseqüência de pressões
exercidas pelos nativos da região, conforme sugerido em Juízes 1.34-36. É preciso observar a passagem de Josué
19.47, que relata que Dã tomou a cidade de Lais (Lesém), após ter sido o seu termo pequeno; Dã estava com
dificuldades para ocupar seu território herdado. Em Juízes 18.8-13 esclarece que a tomada de Lais precedeu a
ocupação do território original. A sequência, então, mostra que uma parte da tribo, impaciente por não poder
conquistar seu território, moveu-se para o norte (Lais) por conta própria; os danitas remanescentes ocuparam as
cidades mencionadas em Josué 19.40-46. Destes danitas surgiu Sansão trezentos anos mais tarde.

O levita e sua concubina

A segunda história da trilogia é acerca de um levita de Efraim que tomara como concubina uma donzela natural de
Belém (Jz 19-21). A conexão Belém-Efraim é novamente posta em evidência; há obviamente uma deliberada
intenção do autor em ambos os episódios. O levita obteve sua mulher em Belém (para onde ela havia fugido por
razão desconhecida) e retornou a Efraim via Gibeá (Tel El-Füll), de Benjamim, onde encontrou abrigo e segurança na
casa de um ancião. Infelizmente, a mulher foi vista por homens malignos de Gibeá, que a violentaram por toda uma

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noite, deixando-a morta à porta do homem que os hospedara tão gentilmente. O levita então expôs sua triste
experiência aos anciãos de todo o Israel, pois haviam se reunido em Mispa. Então foram à cidade de Betei (Jz 20.18),
onde buscaram a direção divina para agir. Visto que a concubina era oriunda de Belém, estabeleceu-se que os
homens de Judá seriam os primeiros a atacar Benjamim. Depois de dois dias de atraso, os israelitas decidiram retirar-
se para buscar o favor e a bênção de Deus através do sumo sacerdote Finéias, neto de Arão. No terceiro dia Israel
prevaleceu sobre Benjamim, que quase foi aniquilada. Israel reuniu-se outra vez para discutir acerca da quase
extinção da tribo. A resolução foi trazer muitas donzelas de Siló e Jabes Gileade, para servirem como esposas para
cerca de seiscentos bejamitas sobreviventes, preservando assim a tribo. A referência a Jabes-Gileade não é sem
propósito por parte do historiador. A cidade era de certo modo o lar ancestral de Saul. Também está claro na
narrativa que a mulher do bejamita sobrevivente, ancestral de Saul, veio ou de Siló ou de Jabes-Gileade. O interesse
expressado por Saul na cidade de Jabes-Gileade parece demonstrar que suas origens remontam àquele lugar. Saul
somente tornou-se rei depois que Jabes-Gileade foi cercada pelos amonitas, e não a destruíram justamente por
causa de sua intervenção. Além disso, após a morte de Saul e a vergonha diante dos habitantes de Bete-Seã, os
homens de Jabes Gileade pegaram seu corpo e sepultaram-no em sua cidade (1 Sm 31.11-13), de onde Davi mais
tarde o trouxe para sepultá-lo em Zela, cidade de Benjamim (2 Sm 21.12-14). A motivação para se incluir essa
segunda narrativa da trilogia belemita é evidente. Reflete um mau aspecto dos Bejamitas e, indiretamente, dos
ancestrais que constituíram a dinastia de Saul. O sentimento pró-davídico parece cristalino para o historiador
sagrado.

6. O livro de Rute

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6.1. Introdução ao livro de Rute
Autor: Como vimos na introdução do livro dos Juízes, o livro do Talmude do Baba Bathra 14b, atesta
tradicionalmente a autoria do livro de Rute ao profeta Samuel. Devido à genealogia no capítulo 4 que vai até Davi,
mas não até Salomão, alguns estudiosos entendem que este livro tenha sido escrito depois de Davi ser ungido rei,
mas antes de assumir o trono, quando Samuel ainda era vivo, por isso a tradição judaica atribui a autoria do livro de
Rute ao profeta Samuel. A evidência internado livro concorda a com autoria de Samuel, já que o livro de Rute é
análogo a Juízes e os livros de Samuel, outros tomos creditados a Samuel, o livro se conclui com a genealogia de Davi
sugere que o escritor estava a par do propósito de Deus com respeito a Davi. Isto se ajustaria a Samuel, pois foi ele
quem ungiu a Davi para ser rei. Por isso, teria sido também apropriado que Samuel fizesse um registro dos ancestrais
de Davi (I Samuel 16:1-13).

Proposito: O primeiro objetivo do livro de Rute é ser um tratado teológico que dá sustentabilidade e historicidade
para Davi, por meio da apresentação de sua linhagem e a benção de Deus dada a essa vara familiar, após é um
romance histórico com implicações cristocêntrica, apresentando o modelo do resgatador, que seria reeditado pelo
próprio Senhor Jesus. Dentro desse romance histórico, Deus demonstra seu controle total da historia, não só a níveis
nacionais, mas em níveis pessoais, onde todos os elementos do espaço/tempo são manipulados por Deus,
convergindo no plano universal de salvação. Outro proposito implícito, mas de grande importância é a questão de
Rute ser aceita como cidadã judaica e esposa de Boaz através da lei do resgatador (go ’el), fato que prefigura a graça
a todos os povos em Cristo, mesmo os amaldiçoados como os moabitas (Dt 23:3-6).

Conteúdo: O livro de Rute contém um romance histórico, guiado por Deus e realizado durante os dias dos juízes de
Israel. Esse livro teológico e messiânico (após o sacrifício de Jesus vemos também um conteúdo cristocêntrico)
mostra a genealogia do rei messiânico Davi, provando historicamente que o Senhor conduz a historia de seu eleito, e
de toda sua linhagem. Portanto, essa historia infundi um sentimento de soberania divina, de superioridade do Deus
de Israel e seu povo, o amor familiar e da graça exposta na lei do levirato, portanto esses elementos são somente
cenários e ingredientes para a apresentação teológica de Davi aos israelitas pós-queda de Saul.

Data de Escrita: A canonicidade do livro de Rute nunca foi posta em dúvida, nem pela tradição judaica ou a cristã,
prova disso é que os judeus, o incluíram entre seus livros mais conhecidos, os Meghilloth, o livro de Rute é lido
anualmente (desde os primórdios judaicos) e publicamente, durante a festa das Semanas (Pentecostes). Josefo em
um de seus tratados (Contra Apoio 1.8) contou o livro de Rute juntamente com o livro de Juízes, muito especialistas
consideram os últimos capítulos de Juízes e o livro de Rute (Trilogia de Belém) como apêndice do livro de Juízes
(caps. 1-16). A inclusão do livro de Rute entre os Hagiógrafos (ou Escritos), de acordo com o cânon hebraico, não
determina necessariamente uma data posterior para a obra, o livro foi colocado ali devido ao fato de que era um dos
cinco livros lidos nas festividades judaicas (chamados Meghilloth, nos livros Proféticos nos aprofundaremos mais no
tema). Enquanto, os aramaísmos apresentados no livro demonstra somente uma edição posterior feita por Esdras e
seus escribas, pós-exílicos. Como apêndice do livro de Juízes fica claro que foi escrito posteriormente a primeira
parte desse livro (caps. 1-16), que foi datado nesse estudo entre 1050 e 1010 a.C., porém, como tratado teológico
que dá base ao reinado de Davi, foi escrito antes desse chegar ao poder. Podemos concluir que assim como a
segunda parte de Juízes (caps. 17-21), Rute foi escrito entre cerca de 1025 a.C. (segundo a tradição Davi foi ungido
por Samuel com 14 anos e chegou ao poder por volta de 1010, com 30 anos), após sua unção por Samuel e a data
máxima é por volta de 1010 a.C. (data tradicional da morte de Samuel).

Esfera de ação: O livro de Rute é ambientado no tempo dos Juízes (Rt 1.1), além disso, a acusação que comumente
servia como um refrão por todo o livro dos Juízes - "Naqueles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o que
achava mais reto" (Jz 17:6; 18:1; 19:1; 21:25) e que lançava toda aquela era em uma espécie de caos moral e
apostasia da Lei, está sem dúvida refletida nas palavras de abertura do livro de Rute - "Nos dias em que julgavam os
juízes," ou seja, quando não havia um rei. O livro abrange um período de mais ou menos onze ou doze anos,

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provavelmente durante a época de Gideão, a história de Rute aconteceu “na época dos juízes” (1.1), por volta de
1370 a 1041 a.C (Jz 2:16-19) e, desse modo liga o tempo dos juízes ao período dos reis de Israel.

6.2. Índice do livro de Rute


1. Migração e tragédia da família de Elimeleque; Cap. 1:1:5;

2. O retorno para Belém: cap.: 1:6-22;

3. Rute encontra Boaz: cap. 2;

4. O plano de Noemi: cap.3:

5. Casamento de Rute e Boaz: cap. 4:1-17.

6. Genealogia de Davi: cap. 4:18-22.

6.2.1. Esboço sintético do livro de Rute


Rute 1: Noemi e sua família mudam-se para Moabe onde seu marido morre e seus filhos casam-se com mulheres
moabitas. Depois da morte dos filhos, Noemi volta para Belém. Uma das noras de Noemi, Rute, decide ir com ela.

Rute 2: Rute trabalha para sustentar Noemi e a si mesma respigando nos campos de Boaz. Boaz é generoso com
Rute.

Rute 3: Rute deita-se aos pés de Boaz, que lhe promete tornar-se responsável por ela e Noemi se o parente mais
próximo não o fizer.

Rute 4: O parente mais próximo de Noemi e Rute permite que Boaz assuma a responsabilidade de cuidar delas. Boaz
casa-se com Rute e eles têm um filho.

6.3. A história de Rute: ligações patriarcais


A terceira história (da trilogia de Belém), é a de Rute, tem como personagem principal uma donzela moabita,
embora a bênção (Rt 4.11-15) e a genealogia (Rt 4:17- 22) no final mostrem claramente que o principal propósito do
novelista foi traçar uma ancestralidade ligando o rei Davi à tribo de Judá e à cidade de Belém. Como nas duas
histórias anteriores, houve um homem que partiu de Belém de Judá (Rt 1:1; Jz 17:7,8; Jz 19:1-10), mas enquanto os
outros dois mancharam a reputação da cidade pelo comportamento, Elimeleque e sua família levantaram a sua
moral. No livro de Rute vê-se que a cidade de Belém começa a se constituir no local ideal para o nascimento do rei
Davi. Na segunda história, os ancestrais de Saul, os bejamitas, tinham humilhado e desgraçado uma belemita, o que
significou para eles muita agonia e sofrimento futuros. Contudo, a cidade de Belém não apenas sobreviveu a essas
crises, mas por fim produziu aquele que seria o sucessor de Saul, um homem segundo o coração de Deus. O papel da
cidade de Belém nessas histórias jamais deve ser visto como de pouca importância, pois é bastante significativo que
o livro de Rute não trace uma genealogia do rei Davi até os dias dos juízes. A seção genealógica, na verdade, inicia
com Perez, filho de Judá (Rt 4.18); e a bênção de Boaz pelo povo de Belém explicitam ente liga esta cidade (e,
portanto, Davi) a Perez e Judá. Obviamente o uso dos sinônimos Efrata e Belém nessa passagem diz respeito a uma
reminiscência da primeira justaposição dos dois nomes, que é vista na morte de Raquel e no nascimento de
Benjamim (Gn 35.16- 19). E possível que aquele incidente, em que Benjamim torna-se o motivo da morte da mulher

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favorita de Jacó (Israel), em Belém, estivesse já antecipando o futuro conflito entre Saul e Davi, aonde o benjamita
(Saul) viria a se constituir no antagonista daquele que estaria ligado a Belém (Davi)? Seja como for, há outros
antecedentes patriarcais para a narrativa Rute-Davi, que indubitavelmente trarão mais proveito e substância a este
tema. Abaixo colocarei um quadro com os personagens principais da trama e um mapa com a peregrinação de
Elimeleque.

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6.4. A lei do Levirato e a lei do Go’el

Levirato:
“Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se
casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a
obrigação de cunhado para com ela. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão
falecido, para que o seu nome não se apague em Israel.”

Deuteronômio 25:5,6

O termo deriva do latim levir (irmão do marido/ cunhado), levirato era uma instituição frequente entre os povos da
antiguidade (e ainda em uso em algumas populações primitivas), pela qual um homem tem a obrigação, ou direito
de casar com a viúva de seu irmão mais velho. Na Bíblia judaica o nome apropriado é “yabam”, que significa
“cumprir a função de cunhado”, que era a tarefa em decorrência da morte de um irmão sem filhos de casar com a
viúva e gerar um filho em seu nome. Na cultura judaica a continuidade da vida é celebrada, e enquanto o homem
tiver descendentes em seu nome ele permanece vivo em sua prole, por isso, a possibilidade de morrer sem deixar
descendência era considerada em Israel à completa extinção e temida como maldição do Senhor. Para dar
sentimento de continuidade da vida que o Senhor instituiu a lei do Levirato, e assim um modo de todo israelita
perpetuar sua descendência e vida através de sua prole e nome.

Go’el:

“Quando teu irmão empobrecer e vender alguma parte da sua possessão, então virá o seu resgatador,
seu parente, e resgatará o que vendeu seu irmão.”

Levítico 25:25

“Então Noemi disse à sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que ainda não tem deixado a sua
beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Este homem é
nosso parente chegado, e um dentre os nossos remidores.”

Rute 2:20

Go’el (O Go’el HaDahm) é um termo hebraico para a palavra ("redimir"), semelhante a "redentor", pelo qual a Bíblia
hebraica e a tradição rabínica denotam um parente relativo apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa
próxima. Go’el costuma ser usado também em contextos de vingança, geralmente como "vingança de sangue".
Tomar novamente posse de uma pessoa ou coisa, reaver pela compra, tornar a alcançar um direito, são atos que a
lei mosaica regula com muita particularidade. A redenção de terras e de casas (Lv 25:23,24,29), de um israelita (Lv
25:48), e de uma propriedade votada ou consagrada a Deus (Lv 27:9-27) acha-se claramente legalizada. Todavia,
como a pessoa que havia vendido a casa, ou a terra, ou a si próprio, poucas probabilidades tinha de alcançar os
meios de resgatar o que tinha sido alienado, era assegurado aos seus parentes o direito da redenção (Lv 25:48,49).
Deste modo o hebraico go ‘el (resgatador’) veio a significar parente (Rt 2.20), este go’el exercia o direito de vingador
de sangue (Nm 35:19,21,27; Dt 19.12), outra palavra hebraica é empregada para significar a redenção do
primogênito (Ex 13:13,15). No N.T. as duas idéias que as palavras redenção e remir do A.T. sugerem, são compra (Gl
3:13; Gl 4:5, e Ap 5:9), e libertação (Lc 1:68; Lc 24:21; Rm 3:24; Ef 1:7; Tt 2:14; 1 Pe 1:18).

36
6.5. Um estudo tipológico de Ruth
O livro de Rute é uma maravilhosa história de amor entre duas pessoas muito diferentes, Ruth é uma pobreza viúva,
gentil e ferida, que se encontra com um judeu rico e poderoso com o nome de Boaz. Eles se casam no final da
história, e formam a genealógica de Davi e após de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Além de ser uma história
literalmente verdadeira, Ruth é uma figura maravilhosa da noiva de Cristo, e Boaz é uma bela imagem de nosso
Redentor, já as tragédias, infortúnios e as cicatrizes de Naomi, são um retrato surpreendente exato da nação de
Israel.

O livro de Rute é rico em tipologia, que retratam os desdobramentos dos planos de Deus para a redenção. O livro é
abrangente na sua simbologia, na medida em que revela as relações de Deus com a noiva de Cristo e da nação de
Israel ao longo dos tempos, até o final do período da tribulação, quando Israel e sua terra são resgatadas pelo
Redentor, Jesus o messias. A maioria dos estudos sobre Ruth têm enfatizado Boaz como um tipo de Jesus Cristo, o
Redentor, e Rute como um tipo da Igreja, ou seja, a igreja gentílica que é chamada por Deus em meio à tribulação, é
notória que Boaz tira Rute dentro de suas tribulações pessoais, nunca antes dela. Em uma esfera pratica (não
escatológica) Rute e Orfa juntas tipificam toda a Igreja, e Rute tipifica os membros fiéis da Igreja e Orfa representa a
igreja que continua no mundo, isso expresso em Orfa que continua em para Moabe, um tipo de sistema mundial dos
gentios.

37
1. Primeiro livro de Samuel

38
1.1. Introdução ao primeiro livro de Samuel
Autor: Esdras em seu livro de Crônicas (1 Cr 29:29) assume que o livro de Samuel fora escrito por Samuel e
terminado por Natã e Gade, profetas de Davi. Em concordância com Esdras esta o livro do Baba Bathra 14b (Talmude
Aramaico Babilônico Judaico) que diz “Samuel escreveu o livro que leva seu nome e o Livro dos Juízes e Rute”, já o
Baba Bathra 15a completa “Samuel escreveu o livro que leva seu nome. Mas não está escrito, agora Samuel estava
morto? Foi completado por Gade, o vidente, e Natã, o profeta”.

Evidências textuais a favor de Samuel, Natã e Gade:

Em I Crônicas 29.29 e II Crônicas 9.29; 29.25 se diz que os profetas Samuel, Natã e Gade escreveram narrativas das
suas atividades:

1. Samuel = I Sm 1.20; 3.20; 7.6,9,15; 8.1; 19.20.

2. Natã = II Sm 7.2,4,17; 12.1,15,25; II Rs 1.8.

3. Gade = I Sm 22.5; II Sm 24.11.

O caráter do reino foi escrito por Samuel (I Sm 10.25). Estes escritos históricos e outros, incluindo poesias e cânticos
(por exemplo, II Sm 1.18ss; 3.33-34; 22. 1-51), teriam sido acessíveis ao autor.

39
Proposito: No original hebraico os livros de Samuel eram reunidos em um só manuscrito que era chamado “cepher
Sh emu ’el” (livro de Samuel), e posteriormente juntado aos livros de reis pela septuaginta, passou a ser chamado
“1 e 2 basileus” (1 e 2 Reis) e consequentemente 1 e 2 reis (Que no original eram também 1 só livro) passou a se
chamar “3 e 4 basileus” (3 e 4 Reis). Dada essa introdução da formação do Canon antigo, podemos nos concentrar na
primeira parte do livro de Samuel (1 Samuel), que na verdade é o alvo desse capítulo, segundo a tradição, Samuel fez
seus registros até o capitulo 24, após coube a Natã e Gade editar suas notas e completar o livro (lembrando que o
cap. 25 narra a morte de Samuel). Grosso modo o livro primeiro de Samuel narra a transição entre o período dos
Juízes e o da monarquia unidade, detalhando o reino de Saul, primeiro rei de Israel. Textualmente podemos
perceber que o livro começou a ser escrito após a rejeição de Saul, pois enfatiza seus erros e narra a unção de Davi,
feita por Samuel, a vitória divina de Davi sobre Golias e todas as injustiças praticadas por Saul contra Davi. Com esses
dados em mente podemos deduzir facilmente que teologicamente o proposito do livro de primeiro Samuel é
destruir a imagem de Saul para introduzir a de Davi, rei escolhido pelo Senhor. Ao analisarmos cuidadosamente o
texto, vemos que Samuel induz ao povo a acreditar que escolheram a Saul (1 Sm 10:24; 1 Sm 12:11), para sim, os
israelitas acreditarem que eles escolheram Saul, e o Senhor a Davi. Isso mostra que a intenção do livro é dar
sustentabilidade ao reinado de Davi e denegrir o de Saul, juntando-se a primeiro Samuel temos a trilogia de Belém
(Juízes 17-21 e Rute) que foram escritos com a mesma finalidade, disponibilizando uma teologia completa de
substituição de dinastia reinante.

Conteúdo: De acordo com o cânon judaico os dois livros de Samuel eram originalmente um só, e foi designado pelo
nome de seu primeiro herói, Samuel. A divisão em dois livros teve origem com a Septuaginta, nela os dois livros de
Samuel e os dois livros de Reis são contados como quatro e designados de os livros dos reinos, I e II Samuel passando
a serem chamados de o primeiro e o segundo livro dos reinos. A sua divisão em dois livros foi aceita nas edições da
Bíblia Hebraica somente na Idade Média (cerca de 1448 depois de Cristo). Os dois livros de Samuel eram
originalmente um, como aparece na nota massorética para “1 Samuel 28.24”, que declara que este verso é a metade
do livro, eles são tratados como um por Josefo em sua enumeração dos livros do Tanach (Antigo Testamento
Judaico) , e nos manuscritos hebreus. A divisão foi introduzida na Bíblia hebreia impressa em 1517, e era derivada da
Septuaginta e Vulgata. Como Samuel é a pessoa principal durante a primeira metade do período coberto, como ele
era um dos maiores profetas que Israel já teve, o organizador do reino, o agente na seleção de ambos os candidatos
ao trono Saul e Davi, e o coadjutor de Saul enquanto permaneceu como rei fiel em suas obrigações teocráticas, o
livro apropriadamente suporta o nome de Samuel. Como ele contém a história dos dois primeiros reis, é dividido na
Septuaginta em dois livros, e chamaram Primeiro e Segundo do Reino; os dois livros que continuam a história, e são
conhecidos na versão inglesa como Primeiro e Segundo Livro dos Reis, são chamados Terceiro e Quarto do Reino na
Septuaginta, Jerônimo substituiu Livro de Reis para Livro do Reino em sua versão latina (Vulgata). Resumindo, o livro
de primeiro Samuel contém a transição do período dos Juízes para a monarquia, dando ênfase ao reinado falho de
Saul, o “escolhido pelo povo” e a preparação para o reinado de natural de Davi, o “escolhido pelo Senhor”, tema que
será completo em segundo Samuel.

Data de Escrita: O livro de primeiro Samuel a principio deveria ser um esboço de registros do profeta Samuel,
coletados em todo seu ministério, e editado pelo autor após a queda de Davi, onde precisaria dar uma razão
teológica para a troca de dinastia. Portanto, os esboços de Samuel devem ter sido escritos entre cerca de 1025 a.C.
(segundo a tradição Davi foi ungido por Samuel com 14 anos e chegou ao poder por volta de 1010, com 30 anos),
após sua unção por Samuel e a data máxima é por volta de 1010 a.C. (data tradicional da morte de Samuel). Já a
edição dos tratados de Samuel deve ter acontecido após o total estabelecimento do rei Davi a frente de todo Israel
(Davi chega ao reino de Judá em cerca de 1010 a.C. e sobre todo Israel em cerca de 1017 a.C.), e a finalização do livro
feitos por Natã e Gade, possivelmente a após o fim do reinado de Davi em 970 a.C., portanto, o livro de Samuel (1 e
2) foi completado possivelmente após 970 a.C.

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Esfera de ação: O Livro abrange um período de cerca de 110 anos, do nascimento de Samuel em cerca de 1121 a.C.
até a morte de Saul em cerca de 1011 a.C.

1.2. Índice do livro de primeiro Samuel


1 - A juventude de Samuel e os seus primeiros tempos de atuação: caps. 1-7.

2 - Samuel e Saul: unção, sucessos e rejeição: caps. 8-15.

3 - Saul e Davi como rivais: caps. 16-31.

1.2.1. Esboço sintético do livro de primeiro Samuel


I Samuel cap. 1: Oração de Ana e a consagração de Samuel;

I Samuel cap. 2: Cântico de Ana e a maldade dos filhos de Eli;

I Samuel cap. 3: Deus fala com Samuel e sua confirmação para profeta;

I Samuel caps. 4–6: A perca da arca da aliança para os filisteus e sua devolução;

I Samuel cap. 7: a arca em Quiriate-Jearim e a vitória de Samuel sobre os filisteus;

I Samuel cap. 8: Israel pede um rei;

I Samuel caps. 9–10: A unção de Saul;

I Samuel cap. 11: Batalha contra os amonitas;

I Samuel cap. 12: Juramento do povo diante de Deus;

I Samuel cap. 13: Saul age insensatamente, sacrifica no lugar de Samuel;

I Samuel cap. 14: Um Juramento Insensato, sobre abstinência de alimento na batalha;

I Samuel cap. 15: A desobediência de Saul ,batalha contra Amaleque;

I Samuel cap. 16: Unção de Davi;

I Samuel cap. 17: Davi e Golias;

I Samuel caps. 18–26: Perseguição de Saul a Davi;

I Samuel cap. 27: Davi entre os filisteus;

I Samuel cap. 28 Saul e a pitonisa;

I Samuel cap. 29–31: A Vitória de Davi e a Morte de Saul;

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1.3. A linhagem de Samuel

Uma das questões mais curiosas da Bíblia e que suscitam maiores questionamentos é como Samuel foi aceito para
servir Eli no Tabernáculo se ele não era levita e sim eframita de Ramataim-Zofim? A lei é clara no quesito de servir
religiosamente, e só permite homens da linhagem de Levi (Nm 1:51; Nm 3:6-13; Nm 18:22,23), pessoas de outras
tribos poderiam servir a um levita ou sacerdote, porém nunca o Tabernáculo e as coisas santas. Sabemos que a Lei é
exata e não permitia brechas, como elucidamos esse pequeno enigma? Temos 2 genealogias que citam a família de
Samuel, uma em 1 Samuel 1.1 e outra em 1 Crônicas 6:33-43, vemos pela segunda que Samuel era levita. Abaixo
colocarei um esquema com as genealogias de Samuel.

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1.4. Contexto religioso de primeiro Samuel
O livro de primeiro Samuel tem seu início no período dos Juízes, uma época de que a idolatria e a imoralidade
predominante em Israel (1 Sm 7:3). Embora o sumo sacerdote Eli fosse fiel como sacerdote, ele deixou de honrar a
Deus por não disciplinar seus filhos (1 Sm 2:29) que serviam no tabernáculo de Silo com flagrante de imoralidade e
cobiça. Por este motivo, o Senhor proferiu julgamento contra a casa de Eli, dizendo que seria afastado do sacerdócio.
(1 Sm 2:33) e de fato, durante a guerra com os filisteus, o povo do Senhor forra massacrado pelo inimigos dois filhos
de Eli morreram em combate e a arca da aliança foi tomada pelos filisteus (1 Sm 4:17), essa derrota foi uma punição
de Deus a Eli, seus filhos e toda idolatria do povo de Israel.

O único lampejo de adoração ao Senhor era o Tabernáculo, onde permanecia a arca, o Tabernáculo tinha estado em
Silo (14 km ao norte de Betel) desde os tempos de Josué até os de Eli. Após a morte do juiz Eli a arca foi roubada,
esses dois itens principais do sistema religioso de Israel ficaram separados até que o rei Davi fez com que a arca
fosse transportada para Jerusalém (2 Sm 6:16) e colocada em uma tenda que ele mandara fazer (2 Sm 6:17), nessa
ocasião o Tabernáculo estava montado em Gibeom (1 Cr 16:39). Após o termino do Templo, construído por Salomão,
a arca da aliança e os móveis do Tabernáculo foram enfim reunidos no Templo (1 Rs 8:4).

1.5. Contexto politico de primeiro Samuel


Primeiro Samuel inicia-se em uma época de lideranças divididas e anarquia geral, refletindo a era dos juízes, onde
havia muitas lideranças e sem governo central cada um fazia o que achava melhor. Desde a morte de Josué, a nação
vinha sem liderança central, mas nas emergências as tribos eram julgadas por juízes indicados por Deus e, às vezes,
por governantes sacerdotes (Eli e Samuel). Os filisteus do sudeste fizeram nessa época a maior oposição a Israel,
embora outros povos fizessem ataques esporádicos, os filisteus tomaram-lhe não somente a arca, mas toda a
Jordânia ocidental foi várias vezes era tomada pelos filisteus. Sob o reinado de Davi, os problemas de anarquia
interna e opressão externa foram resolvidos aos poucos, sob sua liderança os filisteus foram expulsos, Edom,
Moabe, Amom e Síria tornaram-se vassalos de Israel, e conclui-se um tratado de paz com a Fenícia, o que resultaria
em grandes benefícios no reinado de Salomão. Portanto, primeira Samuel narra em seu principio uma anarquia
politica, característica dos tempos dos Juízes e a implementação da monarquia, durante o reinado de Saul, podemos
observar que nessa ocasião, Saul não conseguiu unificar totalmente o reino, obra que coube a seu sucessor, Davi.

1.6. O reino unificado


Como dito anteriormente à máxima que caracterizou o livro de juízes era, “Naqueles dias não havia rei em Israel,
porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.” (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25). Finalmente o povo se estafou da
vulnerabilidade e anarquia da ausência de um governo atuante, e agora as tribos que eram ligadas apenas por
questões teológicas em torno do culto a Yahveh, almejavam também uma unidade politica que arrobusta-se e
implementasse a ordem e a unidade nacional. O instrumento usado por Deus para a transição da era dos juízes e da
fragmentação nacional, para o período dos reis e da unificação da pátria, foi o profeta Samuel. Após a morte de Eli,
Samuel desponta como líder de Israel exercendo liderança sobre grande parte das tribos israelitas (exceção clara das
tribos transjordânia e Judá). Sob seu governo Israel alcança algum êxito religioso e militar dando mostras de uma
crescente organização estatal. Porem ao atingir uma idade avançada e seus filhos sendo considerados inaptos pelo o
povo para sucedê-lo, o povo receoso de um regresso à anarquia decide verbalizar sua vontade de possuir um rei
como as nações que os avizinham.

Com a unção de Saul inaugura-se o período histórico de Israel denominado reino unido, essa era dura 120
anos (40 de Saul, 40 de Davi e 40 de Salmão), onde Saul começa unificar Israel, Davi consolida e Salomão em seu

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começo de reinado chega ao ápice da unidade federativa e da dimensão do império israelita, porem por seu governo
faraônico financiado pelos recursos da população, Salomão no final do seu império reabre as feridas da desunião
patriótica, replantando a semente da discórdia e fragmentação nacional, cujo seu filho Roboão na colheria na
sucessão do seu reinado. Com a morte de Salomão, chega ao fim o período de união de todas as tribos de Israel sob
um único governo, simbolizado na figura do rei. Esse período foi o mais importante da historia veterotestamentária
de Israel, onde povo de Deus alcançou no reinado de Davi o zênite religioso e sob Salomão o ápice politico e
territorial. Os eventos mais importantes desse período são: a unção de Saul como rei de todo Israel e
posteriormente a de Davi ambas, feitas por Samuel. A coroação de Davi sobre a tribo de Judá após a derrota e morte
de Saul perante os Filisteus. A coroação de Davi sobre todo Israel 7 anos após receber o trono de Judá, dando inicio
assim a linhagem real davídica, que se tornaria também messiânica. A conquista de Jebus por Davi, que a transforma
em Jerusalém sua capital primeiramente politica e mais tarde com advento do Templo também religiosa. A
construção do templo por Salomão e a definição de Jerusalém como lugar central do culto a Yahveh. E terminando
esse período com a morte de Salomão e a subsequentemente a divisão do reino entre sul e reino do norte (reino do
sul chamado de Judá e reino do norte de Israel).

1.7. Traços biográficos dos personagens principais


1.7.1. Samuel
1) Nascimento de Samuel (caps. 1:1-2,10);

2) sua juventude a serviço do templo; reprovação do sacerdote Eli e de seus filhos (caps. 2:11-3,21).

3) Primeira guerra filisteia; derrota, captura da arca, morte de Eli e de seus filhos (cap. 3)

4). Retorno da arca santa caps. (5-7).

5) O Zelo de Samuel: reforma religiosa, segunda guerra filistéia, vitória; governo de Samuel (caps. 7:3-17).

6) Mau governo dos filhos de Samuel. O povo pede um rei. (cap. 8).

7) Saul é ungido e proclamado rei (9-10). Vitória sobre os amonitas. (cap. 11).

8) Samuel abdica e despede-se do povo (12).

Samuel foi um dos maiores profetas de Israel, foi usado por Deus para suscitar uma grande reforma nacional,
renovando a aliança e trazendo o povo de volta à adoração ao Senhor Deus. Quando atacado pelos filisteus, ele teve
tamanha vitória em Ebenézer que eles jamais investiram novamente contra Israel durante o seu mandato de juiz.
Organizou a escola dos profetas, que daria como frutos futuros Elias e Eliseu. Julgou Israel durante toda a vida e
terminou sua obra preparando o caminho para a monarquia, ungiu Saul o primeiro rei de Israel, após ser ele
rejeitado, a Davi, o fundador da dinastia eterna em Israel, cujo próprio Jesus, o messias pertence.

1.7.2. Saul
1) Terceira guerra filistéia; desobediência de Saul; audácias de seu filho Jônatas; vitórias. Sumário do reinado de Saul
(caps. 13-14).

2) Vitória sobre os amalequitas; e outra desobediência de Saul, que é por isso reprovado (cap. 15).

3) Samuel unge secretamente a Davi, rei, que é chamado à corte de Saul, assaltado por mania furiosa (cap. 16).

4) Saul morre no campo de batalha (cap. 31).

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1.7.3. Davi
1) Quarta guerra filistéia. Davi vai ao acampamento e mata o gigante Golias (caps. 7:1- 54).

2) Amizade de Jônatas com Davi e inveja de Saul para com o mesmo (caps. 17:55- 18:9).

3) Saul procura matar Davi, o qual foge da corte (caps. 18,10-19,17); vai ter com Samuel, renova com Jônatas o pacto
de amizade (caps. 19:18-21:1).

4) Davi anda errante por vários lugares (caps. 21:2-22:5) Saul mata os sacerdotes aliados de Davi (cap. 22:6-23).

5) Davi em Queila (cap. 23:1-13); em Zife salva-se de grave perigo (cap. 23:14-28) em En-Gedi poupa a vida a Saul
(cap. 24) ofendido por Nabal, é aplacado por Abigail, que depois desposa cap. (25) novamente, poupa a vida a Saul
(cap. 26) vive entre os filisteus (cap. 27).

6) Quinta guerra filistéia. Saul consulta a nigromante de En-dor (cap. 28). Davi, afastado pelos filisteus (cap. 29),
vence os amalequitas (cap. 30).

1.8. Os contrastes entre Saul e Davi


Como já aprendemos, o livro de primeiro Samuel é um tratado teológico, que foi disponibilizado como teologia
oficial durante a queda de Saul, assim sendo, é proposito do livro exagerar as diferenças de caráter, de um rei
“escolhido pelo povo” e um “ungido por Deus”. O eixo central do livro, passa pela discrepância existente entre os
dois personagens principais, Saul e Davi, e nesse contraste, provar que a sucessão de Davi a Saul, além de natural e
teológica, também é enredada pelo próprio Deus. Abaixo colocarei uma tabela com a comparação entre esses dois
personagens centrais da trama.

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2. Segundo livro de Samuel

2.1. Introdução

Os autores desse livro e seu tempo de escrita constituem o mesmo conhecimento de primeiro Samuel, o que é bem
lógico, visto que no original é somente um livro. O que difere é o proposito, conteúdo e esfera de ação, o que
analisaremos a seguir.

Propósito: Na verdade o segundo livro de Samuel tem um objetivo semelhante ao do primeiro livro, dar uma
legalidade a Davi. Porém enquanto o primeiro foi editado em sua maioria a partir dos relatos de Samuel, o segundo
foi produzido somente por Natã e Gade, membros da corte do rei Davi. Por isso mesmo o primeiro foca nos erros de
Saul e sua injustiça feita a Davi e a diferença do caráter entre os dois, já o segundo exalta o reinado de Davi, o
mostrando superior ao de Saul e o confirmando como rei ungido eternamente por Deus (em sua linhagem).

Conteúdo: O segundo livro de Samuel contém, desde a morte de Saul, enfatizando o início do reinado de Davi sobre
primeiro Judá e depois Israel, e termina com o mau fadado senso de Davi e a compra do terreno que mais tarde
Salomão construiria o Templo. O conteúdo mais importe é a conquista de Jebus (Jerusalém), o qual qualificou a Davi
ser rei segundo a ordem de Melquisedeque (Melquisedeque era o nome dado ao rei/sacerdote de Salém, mais tarde
Jebus e após a conquista Jerusalém).

Esfera de ação: Cerca de 37 anos, que vai desde a morte do Rei Saul até a compra do local do templo Davi, esse
reinou 40 anos em Israel, sendo 7 anos em Hebrom , sobre a tribo de Judá e 33 anos em todo Israel.

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2.2. Índice do livro de segundo Samuel
1) A elevação de Davi Caps. 1-10 As primeiras conquistas de Davi – conquistou o coração do povo

2) A Queda de Davi Caps. 11 – 20 Davi pecou contra Deus e se enfraqueceu.

3. Os últimos anos de Davi Caps. 21 – 24 O Cântico de Davi e sua ultima loucura Davi é o grande
personagem humano deste livro

2.2.1. Esboço do livro de segundo Samuel


II Samuel caps. 1–3: Após a morte de Saul;

II Samuel caps. 4–5: Davi torna-se Rei;

II Samuel cap. 6: Davi trás a arca para Jerusalém;

II Samuel cap. 7: Davi Deseja edificar o Templo;

II Samuel caps. 8–10: Os sucessos políticos e pessoais de Davi;

II Samuel caps. 11–12: Os pecados de Davi;

II Samuel caps. 13–14: Tragédias na família de Davi;

II Samuel caps. 15–18: Rebelião de Absalão;

II Samuel caps. 19–20: Outros problemas de Davi;

II Samuel cap. 21: O caso dos gibeonitas;

II Samuel cap. 22: Cântico de Davi;

II Samuel cap. 23: Os valentes de Davi;

II Samuel cap. 24: O censo e aquisição do terreno para o Templo.

2.3. A conquista de Jebus e o sacerdócio de Melquisedeque


“E partiu o rei com os seus homens a Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela terra; e
falaram a Davi, dizendo: Não entrarás aqui, pois os cegos e os coxos te repelirão, querendo dizer: Não
entrará Davi aqui. Porém Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a cidade de Davi.” 2 Samuel 5:6,7

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“Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de
Melquisedeque.” Salmos 110:4

Quando Davi se consolidou no poder em todo Israel decidiu empreender a conquista de Jebus, para assim a
transformar em Jerusalém sua capital, as motivações davídicas para essa conquista foi puramente teológica. Jebus
(morada do povo jebuseu) era a antiga Salém (Js 18:28), cidade do rei/sacerdote Melquisedeque, portanto,
Melquisedeque era o titulo pertencente ao rei de Salém, sendo agora Davi rei dessa cidade, automaticamente se
torna um Melquisedeque. Esta ordem sacerdotal, portanto, toma-se o ponto central, o eixo em torno do qual o
autor do livro constrói o seu grande argumento temático em favor do sacerdócio de Davi. O escritor extrai o material
de um obscuro evento da antiga história dos hebreus: três versículos do Gênesis (14.18-20) e um dos Salmos (110.4).
Das referências a Melquisedeque, podemos dizer que o Gênesis tem o relato histórico; a alusão, nos Salmos, é
profética, e mais tarde no livro de Hebreus seria doutrinária (7.1-10).

Pela lei levítica revelada por Moisés, Davi e sua descendência (tribo de Judá) nunca poderia preitear a posição de
sacerdote em Israel, porém, a fonte da autoridade sacerdotal de Davis não veio através de linhagens Israelitas e sim
através do sacerdócio de Melquisedeque (Hb 7.11-17). A autoridade de Melquisedeque procede de seu encontro
com Abraão, onde ele abençoa o Patriarca (Gn 14.17-20), as Escrituras ensinam que sempre o maior abençoa o
menor (Hb 7.4-7), assim sendo, Melquisedeque é biblicamente maior que Abraão, e isso servem para todos que são
sua descendência, Isaque, Jacó, Levi (Hb 7.5) e pela linhagem levita Deus levantou os sacerdotes dentre o ramo de
Arão. Melquisedeque que significa “Rei da Justiça” era rei de Salem, que significa em português “paz”, se tornando
uma figura perfeita de Cristo (messias davídico), nosso Rei da paz e da Justiça, além ainda de Melquisedeque não
apresentar antecedentes na Bíblia, sendo assim figura da eternidade de Jesus e da autoridade messiânica (Hb 7.6).

O rei Saul foi rejeitado por Deus por desobediência (1 Sm 15.22,23)e a maior delas foi apresentar sacrifício
antes da chegada de Samuel (1 Sm 13.9,9), pois sacrifícios competem unicamente aos sacerdotes levitas
(Nm 3.10) e esse ofício é vetado a todos que não são levitas pela linhagem de Arão, incluindo reis e lideres
(2 Cr 26.16-19). Mas vemos Davi e seu filho Salomão, reis de Israel oferecendo sacrifícios e não sendo
condenado por Deus (2 Sm6.17,18; 2 Sm 24.25; 1 Rs 3.3,4; 2 Cr 1.6; 2 Cr 7.5), porque? Davi quando se
torna rei de todo Israel escolhe para ser sua capital a cidade de Jebus (2 Sm 5.6-9), que outrora foi à cidade
de Salem (1 Cr 11.4) governada por Melquisedeque (Gn 14.18; Hb 7.1), ao conquistar essa cidade Davi se
proclama rei de Salem e assim sendo se transforma em “Melquisedeque” (Sm 110.4) rei e sacerdote do
altíssimo (Gn 14.18; Sl 110.4; Hb 7.1). Esse Título Melquisedeque passa para toda linhagem de Davi, reis
por direito de Jerusalém. Essa verdade se aplica a Jesus, em suas genealogias (Mateus e Lucas) vemos que
nosso Senhor gozava de plenos direitos para tal posição e assim ser um Melquisedeque (Hb 6.20; 7.15).
Assim, a vida de Melquisedeque e a de Abraão em relação a Davi e a Cristo mostram a ordenação
providencial que lança os alicerces de um sacerdócio eterno fora da ordem levítica e no qual a realeza e o
sacerdócio reúnem-se em uma só pessoa, estes são os argumentos que o autor desenvolverá depois. E fato
significativo que as sementes da decadência de Israel e da inauguração da nova ordem jazem ocultas na
literatura tida pelo povo judeu como sagrada e divinamente inspirada.

2.4. O Messianismo do livro


“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti
um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará
uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.” 2 Samuel 7:12,13

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Em primeiro Samuel vimos à transição do governo dos juízes para a monarquia, o livro de Juízes escrito por Samuel
deu uma legalidade teológica para a troca de modo de governo, historia narrada pelo próprio Samuel. Porém, a
segunda parte de Juízes (a partir do capitulo 17) e o livro de Rute introduz um novo elemento a essa monarquia, a
figura messiânica de Davi. No livro de Rute, Samuel perpetua a linhagem de Davi, através dos feitos de Rute e o amor
de Boaz seu remidor, inserindo historicamente a linhagem que seria eternamente escolhida por Deus.

Em Deuteronômio no capitulo 17 e versículos 14 ao 20, Deus dita a lei sobre a monarquia em Israel, o rei que fosse
eleito por Deus (Dt 17.15) teria a responsabilidade de cumprir toda a Palavra da Lei (Dt 17.18,19) e conduzir o povo
segundo esses preceitos (1 Sm 12.14,24). A monarquia em Israel não seria absolutista (Dt 17.20) e sim teocêntrica (1
Sm 12.14), o rei seria somente um representante do Senhor entre o povo. O rei em Israel teria que ser
exclusivamente nativo, candidato de outras nações foi proibido pelo Senhor (Dt 17.15). Após a escolha de Davi para
o reino Deus promete a Davi que sua descendência estaria eternamente no poder (2 Sm 7.16).

O messianismo judaico encontra-se profundamente enraizado na tradição veterotestamentária, particularmente na


ideologia real, solidamente implantada em Israel, a partir de David. Embora o termo “Messias” (mashiah = ungido)
seja utilizado primeiramente para designar o sumo sacerdote (Lv 4:3; Lv 5:16; Lv 6:15) e também para demonstrar a
unção de figuras proféticas (1 Rs 19:16; Is 61:1), é ao rei de Israel, descendente de Davi, que se atribui, por
excelência, o título de “ungido do Senhor” (mashiah YHWH). O oráculo de Natan (2 Sm 7:8-16), prometeu em nome
do Senhor a estabilidade e a perenidade da monarquia davídica, exprime a ideia de uma espécie de segunda aliança
entre Deus e o povo, paralela à do Sinai, tendo o rei como intermediário. A essa ideia de aliança monárquica, se
assimila a aliança sacerdotal, expressa no pacto da ordem de Melquisedeque. O título de Ungido/Messias exprime,
neste contexto, a autoridade divina do rei, que é escolhido e ungido como representante de Deus no meio do povo,
com o fim de defendê-lo dos inimigos, de administrar corretamente a justiça e de garantir a paz e a prosperidade do
povo de Deus (SI 2; 45:1-9; 72; 89; 110).

“Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o
firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos
fará isto.” Isaías 9:7

Isaías entre os profetas é aquele que mais repercute a promessa divina feita a Davi, por intermédio do profeta
Natan, e baseando-se nessa promessa canônica afirma que a esperança encontrada no messianismo, embora
ancorada no pressuposto das promessas feitas a Davi e seus descendentes, vão muito para além do sucesso nacional
da monarquia israelita e do seu povo, alargando os horizontes a todas as nações, na perspectiva de um novo mundo
e de uma nova criação (consumação dos séculos), em que se fundem a justiça e a sabedoria do salvador prometido,
com uma paz e harmonia de dimensões cósmicas. Isaias baseia sua esperança messiânica na visão traçada por
Samuel (Natã e Gade), no livro que leva seu nome (1 e 2 Samuel), assim, podemos dizer quem em Samuel o
messianismo é lançado suas bases, e através do governo de Davi e da perpetuação de sua linhagem, surge um pacto
monárquico e uma esperança sempre presente de restauração nacional.

2.5. Resumo do governo de Davi


“Então vieram os homens de Judá, e ungiram ali a Davi rei sobre a casa de Judá. E deram avisos a Davi,
dizendo: Os homens de Jabes-Gileade foram os que sepultaram a Saul.” 2 Samuel 2:4

Após a derrota israelita que custou as vidas de Saul e de seu filho Jonatas, amigo de Davi, esse se apresenta em
Hebrom, onde é ungido rei da tribo de Judá. Porém Abner, capitão do exército de Saul, tomou a Is-Bosete, filho de
Saul, e o fez passar a Maanaim para constituí-lo rei sobre Gileade, e sobre todo o Israel (2 Sm 2:8,9), exceto a parte
sul de Israel, onde Judá adotou a Davi como seu rei (2 Sm 2:10). Davi reinou somente sobre Judá, sete anos, com sua
capital localizada em Hebrom (2 Sm 2:11), e por todo esse período ouve guerra entre Israel, liderada por Is-Bosete e

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Judá, liderada por Davi (2 Sm 3:1), porém, a cada batalha, Deus sempre dava crescimento a Judá, por Davi seu rei (2
Sm 3:1).

“Então todas as tribos de Israel vieram a Davi, em Hebrom, e falaram, dizendo: Eis-nos aqui, somos teus
ossos e tua carne. E também outrora, sendo Saul ainda rei sobre nós, eras tu o que saías e entravas com
Israel; e também o Senhor te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel, e tu serás príncipe sobre
Israel. Assim, pois, todos os anciãos de Israel vieram ao rei, em Hebrom; e o rei Davi fez com eles acordo
em Hebrom, perante o Senhor; e ungiram a Davi rei sobre Israel. 2 Samuel 5:1-3

Após o assassinato de Is-Bosete (2 Sm 4:7-12), todas a tribos israelitas se reuniram a Davi em sua capital Hebrom, e
ali ungiram como rei sobre todo Israel. Mesmo contando Saul como primeiro rei unificado de todo Israel, vemos pelo
mapa (colocarei abaixo) e pela rápida aceitação que Davi teve entre os judeus, que imediatamente o coroaram rei de
Judá, rompendo com as outras tribos. Assim, após 7 anos reinado somente sobre Judá, Davi é reconhecido e coroado
como rei de todo Israel, assim como Deus falou por intermédio de seu profeta Samuel. Abaixo colocarei o mapa com
os reis unificados de todo Israel.

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Podemos ver nesse mapa que, Saul controlava somente as áreas centrais de Israel, tendo pouca influencia no norte
do país, transjordânia e Judá. Davi foi realmente o primeiro rei a governar todo Israel, e Salomão, a construir um
império, subjugando todas as nações vizinhas.

“Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir aos jebuseus, suba ao canal e fira aos coxos e aos
cegos, a quem a alma de Davi odeia. Por isso se diz: Nem cego nem coxo entrará nesta casa. Assim
habitou Davi na fortaleza, e a chamou a cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo para
dentro.” 2 Samuel 5:8,9

Após se consolidar no poder de todo Israel, Davi movido por direcionamento teológico (Já debatido no “2.3. A
conquista de Jebus e o sacerdócio de Melquisedeque”) conquista Jebus e faz dela Jerusalém a capital de toda Israel.
Assim, Davi dá o primeiro passo para tornar sua capital à cidade “escolhida por Deus entre todas de Israel” (Dt 12:5-
9), na primeira fase do plano messiânico, Davi torna Jerusalém, capital politica de Israel e absorve o titulo milita e
real de Melquisedeque.

“Então avisaram a Davi, dizendo: Abençoou o Senhor a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tem, por
causa da arca de Deus; foi pois Davi, e trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obede-Edom, à
cidade de Davi, com alegria. E sucedeu que, quando os que levavam a arca” 2 Samuel 6:12,13

O próximo passo de Davi rumo ao seus objetivos era transformar sua capital politica, Jerusalém, na capital religiosa,
onde ele mesmo seria o sacerdote segundo Melquisedeque. Para isso, Davi necessitava do objeto mais sagrado dos
israelitas, a Arca da Aliança, símbolo da presença do próprio Deus. Davi manda então, buscarem a Arca, para colocá-
la em uma tenda que mandou fazer em Jerusalém (2 Sm 6:17), o objetivo cabal de Davi era colocar a Arca em um
templo e assim o0ficializar Jerusalém como centro religioso de Israel (2 Sm 7:1-3),porém, essa honra e consolidação
coube somente a Salomão, seu filho (2 Sm 7:5-16; 2 Cr 5).

“E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de
Eliã, mulher de Urias, o heteu?” 2 Samuel 11:3

2 Samuel foi elaborado por Natã e Gade para mostrar as qualificações do rei messiânico Davi e sua superioridade
sobre o reinado de Saul, porém, a Bíblia é um livro real, e não esconde os erros e a natureza humana. Até o capítulo
10 vemos os acertos e vitórias de Davi, e como o Senhor era com ele em tudo que empreendia, já o capitulo 11
introduz seu maior erro e as suas consequências funestas. O adultério de Davi, além de destruir a santidade de sua
família e a de Urias, provocou a morte desse e de seus comandados (2 Sm 11:17; Urias é contado entre os seus
comandantes nos “valentes de Davi”; 1Cr 11:41). Esses atos infames foram revelados através do profeta Natã (2 Sm
2:1-15), a sentença de Davi imediata foi a morte da criança fruto do adultério (2 Sm 12:15,18) e a permanente foi
não ter paz em sua famílias (2 Sm 12:10,11).

“E a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera
a Israel e a Judá.” 2 Samuel 24:1

“Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.” 1 Crônicas 21:1

Alguns acreditam que a contradição nesses dois versículos que registram a mesma historia, superficialmente parece
ter uma discrepância de relatos, pois um credita a influencia para o erro de Davi a Deus, e o outro texto a Satanás.
Em um estudo detalhado das Escrituras acharemos um texto análogo e conciliatório entre essas duas passagens, em
2 Crônicas 18:18-22, Vemos o desejo do Senhor em destruir Acabe, e para isso usou um espirito mal (demônio) que
usou os falsos profetas para proferirem mentiras a Acabe, e sim o convencer ir a guerra que morreria. Nesse texto
referente a Acabe, vemos a vontade do Senhor em puni-lo e a influencia maligna que o convenceu, assim,
coerentemente com base nesse amplo texto, podemos afirmar que Deus desejou punir a Israel, por algum erro
pontual, ou mesmo os de Davi, e para isso usou um espirito imundo que incitou Davi a errar. Outra prova textual que

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temos está no próprio livro (1 Samuel) onde um espirito maligno da parte de Deus (1 Sm 16;14), atormentava o rei
Saul, o que coerentemente foi similar em Davi. Por ultimo temos uma amostra de costumes, onde em Jó, toda
adversidade do adversário foi creditada a Deus (Jó 1:6; Jó 1:16;21), podemos supor que em Samuel apresenta-se a
mesma cosmovisão.

“Estendendo, pois, o anjo a sua mão sobre Jerusalém, para a destruir, o Senhor se arrependeu daquele
mal; e disse ao anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, agora retira a tua mão. E o anjo do
Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu.” 2 Samuel 24:16

A motivação de Davi para o censo foi bélica, queria saber qual era sua força miliar, isso demonstrou que sua
confiança estava em seus exércitos, não no Senhor, seu Deus. Como punição por não confiar no Senhor, Deus propôs
por intermédio de Gade 3 castigos a Davi “Queres que sete anos de fome te venham à tua terra; ou que por três
meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três dias haja peste na tua terra” (2 Sm 24:13). O qual
Davi escolheu cair nas mãos do Senhor (que é misericordioso), que enviou uma peste que matou70 mil homens, e
quando o Anjo do Senhor estava com as mãos estendidas para destruir Jerusalém, Davi o viu, na eira de Araúna.
Após comprar a eira, Davi determinou a seu filho, Salomão, que o Templo fosse construído nesse local, a eira estava
localizada no Monte Moriá (2 Cr 3:1), que segunda a tradição é o mesmo local onde Abraão iria sacrificar seu filho,
Isaque (Gn 22:2).

“Sendo, pois, Davi já velho, e cheio de dias, fez a Salomão, seu filho, rei sobre Israel.” 1 Crônicas 23:1

Davi fecha seu ofício real fazendo seu sucessor, seu segundo filhos com Bate-Seba (O primeiro morreu), assim, faz
um período de regência até sua morte, o que deixa Salomão preparado para seu governo. 1 Crônicas 29:26-30, narra
a morte de Davi, que com 70 anos, 40 como rei (7 sobre Judá e 33 sobre toda Israel), foi reunido a seus pais. Assim
morre o rei Davi, o homem segundo o coração de Deus (At 13:22).

52
3. Livro Primeiro de Reis

53
3.1. Introdução ao Livro de Primeiro Reis
Autor: Segundo a tradição judaica contida no livro do Baba Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico) que
diz “Jeremias escreveu o livro que leva o nome de Reis (1 e 2 Reis)”. Colocarei um trecho do citado livro “Porque o
Livro dos Reis termina com um registro de destruição e Jeremias fala em toda a destruição e Ezequiel começa com
destruição e termina com consolo e Isaías está cheio de consolo; portanto, nós colocamos a destruição e destruição,
não destruição e consolo ou consolo próximo ao consolo.” já o Baba Bathra 15a completa “Jeremias escreveu o livro
que leva seu nome, o Livro dos Reis e Lamentações”. Textualmente podemos perceber uma semelhança de escrita
entre Jeremias 52 e 2 Reis 24 e 25, apontando necessariamente para um autor comum. Também podemos observar
que a história registrada nos livros dos Reis dá lugar de destaque à vida dos profetas do Antigo Testamento e à
precisão da palavra profética relativa à monarquia de Israel e Judá

Propósito: O livro de Reis (1 e 2 Reis) fora escrito tradicionalmente pelo profeta Jeremias, possivelmente após a
queda de Jerusalém em 586 a.C. com intuito de registrar e apontar como a historia de Israel e Judá cominaram em
suas destruições. O foco do livro de Reis são os registros biográficos dos reis de Israel e Judá, e como a obediência ou
não desses reis, moldaram a historia de suas nações, podemos então realçar que o intuito do livro de Reis, é registrar
as biografias de reis e personagens importantes, e como essas biografias foram responsáveis pelo agir de Deus nas
duas nações. Em ultima instancia os pecados dos lideres e do povo que os seguiam foram responsáveis pela
destruição de Samaria (722 a.C.) e Judá (586 a.C.).

Conteúdo: O livro de Reis (1 e 2 Reis) contém registros históricos e teológicos dos reis, lideres e do povo em geral,
tanto de Israel como de Judá, escritos e registrados sob a ótica profética. Podemos ver essa ótica profética, na
valorização do ministério profético e da palavra profética, e como os registros foram organizados conforme as
biografias relatadas e suas interações com a obediência ou não da Palavra de Deus, a historia parece ser reflexo
dessas relações com a Palavra Profética. Os livros dos Reis indicam um Jeremias além de autor foi compilador de
outras obras, além de testemunha ocular da queda de Jerusalém. Sugere-se que o autor tenha juntado com
habilidade muitas fontes históricas em um documento para descrever a desobediência à aliança de ambos os reinos
e o motivo divino do exílio no estrangeiro. Jeremias demonstrou familiaridade com o livro de Deuteronômio, fica
também claro, que usou uma variedade de fontes documentárias para compilar sua história da monarquia. Três
dessas fontes estão citadas no livro: Registros históricos de Salomão (1Reis 11.41); Registros históricos de reis de
Israel (1Reis 14.19); Registros históricos dos reis de Judá (1Reis 14.29). Como compilador Jeremias reuniu as
informações históricas e registrou teologicamente com base na Palavra Profética, assim a historia passou de simples
curso aleatório, para um reflexo teológico da interação com a Palavra Profética.

Data da Escrita: Leva em consideração que o livro fora escrito para dar suporte teológico para a queda samaritana e
a queda e exilio judaico, além de registrar a destruição de Jerusalém, é coerente dizer que o livro foi produzido após
a queda de Judá no ano de 586 a.C. Outra base para essa afirmação encontra-se no fato que Jeremias com
consentimento de Nabucodonosor tenha ficado em Mizpá (12 Km de Jerusalém) após sua conquista (Je 40:10), e
possivelmente dessa cidade tenha copilado e escrito o Livro de Reis, como suporte teológico para a conquista
babilônica. Porém, é provável que Jeremias escrevesse o livro antes de um ano da destruição de Jerusalém, já que no
sétimo mês após a queda de Jerusalém ouve uma nova rebelião em Judá (Je 41:1-4), que cominou na morte do
governado nomeado por Nabucodonosor e na fuga dos rebeldes (Je 43:2-7), e esses levaram Jeremias com eles para
o Egito (Je 43:7,8), o que não daria mais possibilidades para o profeta escrever seu livro. Com esse raciocínio
podemos precisar a escrita do livro de Reis, para após a queda de Jerusalém em 586 a.C e a rebelião em Judá que
ocorreu entre 585 e 584 a.C. Assim é seguro presumir que o livro fora escrito entre 586 e 585 a.C. O ponto
determinante para colocar o autor e consequentemente o documento em uma data antes do retorno do exilio, é o
fato de os registros de Reis, tratam da mesma forma assuntos e biografias do Reino do Norte e do Sul,
diferentemente de Crônicas (1 e 2 Crônicas), escrito por Esdras pós-exílio, já que esse ultimo prioriza a genealogia
davídica do reino do Sul, em detrimento aos acontecimentos e biografias do Reino do Norte.

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Esfera de ação: 1 e 2 Reis na verdade formam uma só obra literária, que na tradição hebraica é simplesmente
chamada de “Reis”. A divisão dessa obra em dois livros foi introduzida pelos autores da Septuaginta e depois seguida
na Vulgata Latina e na maioria das versões atuais da Bíblia. Em 1448 a divisão em duas seções também apareceu
num manuscrito hebraico e foi perpetuada nas edições posteriores do texto hebraico. Tanto a Septuaginta quanto a
Vulgata Latina designavam Samuel e Reis de maneira que ressaltava o relacionamento entre as duas obras (na
Septuaginta era designado como: Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livros dos Reinos; na Vulgata Latina,
Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Reis). Juntos, Samuel e Reis relatam a história inteira da monarquia, desde sua
ascensão com o ministério de Samuel até a sua queda com a invasão dos babilônios. Os livros de Reis representam a
história seletiva de Israel dos últimos dias do rei Davi à conquista babilônica de Jerusalém. Cronologicamente I e 2
Reis documentam a história política de Israel durante a monarquia unida começando por volta de 970 a.C. passando
pela divisão do reino, relatando o exílio do Reino do Norte na Assíria (722 a.C.) e concluindo com o exílio babilônico
do Reino do Sul (587/586 a.C.). Portanto, a esfera de ação que cobre o livro de reis (1 e 2 Reis) é do início do reinado
de Salomão em cerca de 970 a.C. até a queda de Jerusalém em cerca de 586 a.C. perfazendo um total de 385 anos.

Esfera de ação (somente primeiro Reis): Ao que parece o livro de Reis foi escrito para ser “continuação” do livro de
Samuel, portanto teologicamente, Jeremias é herdeiro profético canônico de Samuel. 2 Samuel termina com a
compra do terreno para a construção do Templo de Jerusalém, primeiro Reis se inicia com a velhice de Davi e a
sucessão messiânica para Salomão. O livro de primeiro Reis termina com a morte de Acabe, assim a esfera de ação
de primeiro Reis é do começo do reinado de Salomão em cerca de 970 a.C. tem seu termino com a morte do rei de
Israel Acabe em cerca de 852 a.C. perfazendo uma esfera de ação de cerca de 120 anos.

3.2. Índice do Livro de Primeiro Reis


1 – O reinado de Salomão: caps. 1-11;

2 – Divisão do reino entre Judá e Israel: cap. 12;

3 – Reino dividido (Judá e Israel): caps. 13-22.

3.2.1. Esboço sintético do Livro de Primeiro Reis


I Reis caps. 1–2: Final do reinado de Davi, sua morte e Inicio do reinado de Salomão;

I Reis cap. 3: Os primeiros sucessos de Salomão;

I Reis cap. 4: Salomão organiza o Reino;

I Reis caps. 5–7: Salomão constrói o Templo;

I Reis cap. 8: O Templo é consagrado;

I Reis cap. 9: O Senhor aparece à segunda vez a Salomão

I Reis cap. 10: A Rainha de Sabá visita Salomão;

I Reis cap. 11: Pecados de Salomão e sua morte;

I Reis cap. 12: Inicio do reinado de Roboão e a divisão do Reino;

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I Reis caps. 13–14: Os Pecados de Jeroboão no Reino do Norte;

I Reis caps. 15–16: Historia dos Reinos (Sul e Norte);

I Reis cap. 17: Surgimento do profeta Elias;

I Reis cap. 18: Elias contra os Sacerdotes Baal e Aserá;

I Reis cap. 19: Fuga de Elias e Deus fala com o profeta;

I Reis caps. 20–21: O reinado de Acabe;

I Reis 22 O profeta Micaías e as mortes de Acabe e Jeosafá.

3.3. Resumo do reinado de Salomão

“Então Adonias, filho de Hagite, se levantou, dizendo: Eu reinarei. E preparou carros, e cavaleiros, e
cinqüenta homens, que corressem adiante dele.” 1 Reis 1:5

“E o rei lhes disse: Tomai convosco os servos de vosso senhor, e fazei subir a meu filho Salomão na mula
que é minha; e levai-o a Giom. E Zadoque, o sacerdote, com Natã, o profeta, ali o ungirão rei sobre
Israel; então tocareis a trombeta, e direis: Viva o rei Salomão!” 1 Reis 1:33,34

O livro de Reis se inicia no final do reinado de Davi, no momento que sua sucessão precisava ser garantida, porém,
mesmo idoso Davi não deixava claro publicamente que seria seu herdeiro. Aproveitando disso, Adonias filho de
Hagite, aliando-se a Joabe o general de Davi e Abiatar, sumo-sacerdote da linhagem de Eli, se autoproclama rei em
lugar de seu pai Davi, sem seu consentimento. Esse fato é relatado a Bate-Seba, mãe de Salomão, o verdadeiro
herdeiro escolhido por Davi, que implora ao rei pela promessa feita a ela e Salomão, seu filho. Davi imediatamente
manda Natã, Zadoque e Joiada, ungirem Salomão rei de Israel, após Davi o encaminha para assentar em seu trono, e
o abençoou em nome de Seu Deus.

“A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna
entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo?” 1 Reis 3:9

“Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti
igual não houve, e depois de ti igual não se levantará.” 1 Reis 3:12

No começo de seu reinado, Salomão, tem uma experiência que marcará sua historia, após os sacrifícios, o
Senhor, aparece a ele em um sonho. Nesse sonho o Senhor ordena Salomão a pedir qualquer coisa, que Ele
concederia, Salomão então, pede um coração entendido, para assim poder guiar o povo de Deus. Esse
sábio pedido agrada ao Senhor, pois Salomão poderia ter pedido riquezas, glórias e vitorias, mas
humildemente pede sabedoria para conduzir sabiamente a nação escolhida de Deus. Assim Deus concede
a Salomão uma sabedoria e inteligência impar, como nunca antes houve e tão pouco haverá. A sabedoria e
inteligência foram às marcas do império que Salomão criou, e enquanto permaneceu obedecendo as
Palavras do Senhor, soube guiar o povo de Deus nos ensinamentos de Sua Palavra. Porém, infelizmente
Salomão não possuía um coração perfeitamente voltado a Deus, como seu pai Davi, e sua inteligência
extraordinária, mas humana, foram um dos fatores que o impeliram para sua queda.

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“Eram, pois, os de Judá e Israel muitos, como a areia que está junto ao mar em multidão, comendo, e
bebendo, e alegrando-se. E dominava Salomão sobre todos os reinos desde o rio até à terra dos filisteus,
e até ao termo do Egito; os quais traziam presentes, e serviram a Salomão todos os dias da sua vida.”
1 Reis 4:20,21

O único rei em que cumpriu as dimensões totais da terá prometida por Deus foi Salomão, que realmente
reino do Rio Eufrates até o mar Mediterrâneo, Salomão foi o único rei israelita a conquistar e assimilar a
Filistia a seu império. O que impulsionou Israel para essas conquistas foi à organização politica que
Salomão implementou em seu reino. Sua organização era baseada em quatro pilares, a pátria que era
dividida em distritos administrativos, as províncias, estados vassalos e reinos aliados; abaixo colocarei o
resumo dessa organização politica salomônica.

A pátria: O povo de Israel sob os governos de Davi e Salomão, seu filho, estavam habitando somente os antigos
territórios das tribos, ou seja, a nação ocupou apenas aquela área que havia sido determinada para as tribos na
época da conquista. Histórico e escatologicamente, o Antigo Testamento fala de um Israel que se expandirá para
além de suas fronteiras tribais, mas isso parece nunca ter sido o caso no período da monarquia unida.

Os distritos administrativos (Pátria): Como já aprendido, os israelitas habitavam nas áreas que foram entregues
a eles após a conquista, portanto, os doze distritos correspondiam basicamente às áreas ocupadas pelas doze tribos,
mas os limites são debatidos até hoje e não podem ser definidos. Cada distrito era administrado por um oficial
designado pelo rei, que recolhia os impostos e suportava os gastos da corte de Jerusalém, por um mês (12 distritos,
cada mês um financiava a corte; 1 Rs 4:7). Abaixo colocarei um mapa com as divisões distritais de Salomão.

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O mais notável de todo esse fato é que Judá e Jerusalém não foram incluídas no processo de designação dos
distritos, isto implica em que Jerusalém e seus arredores foram considerados um distrito federal isento das
obrigações determinadas para as demais tribos. Está claro que havia uma linha de demarcação entre Israel e Judá
pelos comentários do historiador: "Judá e Israel eram tão numerosos quanto a areia da praia" (1 Rs 4.20) e "Judá e
Israel habitavam seguros, cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira" (1 Rs 4.25). A isenção de taxas,
trabalhos forçados e outras obrigações podem ser compreendidos à luz da ancestralidade judaica de Salomão, mas
também pode ter sido um fator decisivo que contribuiu para a divisão do reino, após a morte do rei. Quando
Roboão, filho e sucessor de Salomão, decidiu continuar a efetuar altas cobranças de impostos dos seus distritos, os
Israelitas se revoltaram, escolhendo Jeroboão como rei e separando de Judá.

As províncias: Sob o domínio de Salomão, Israel não incorporou formalmente, sob sua jurisdição, as terras que
estavam fora de suas fronteiras tradicionais. Salomão herdou de Davi um complexo de províncias consistindo em
reinos e estados imediatamente contíguos a Israel. Esses incluíam Damasco, Amom, Moabe, Edom e outros
principados menores. Como províncias, tais áreas não eram consideradas partes integrais da terra, mas, apesar
disso, perdiam sua soberania nacional e ficavam sob o controle de Salomão, por meio de governadores ou outros
subordinados. As províncias eram obrigadas a pagar tributos e taxas, e esperava-se delas que defendessem Israel
contra as hostilidades externas. Em troca, podiam esperar a proteção e os benefícios do governo central.

Os estados vassalos: A terceira esfera de influência política, e a que melhor define o termo a forma de governo
imperial de Salomão, foi o complexo de estados vassalos mais distantes e menos rígidos. Essas nações clientes
incluíam Zobá, Hamate, Arábia e possivelmente a Filístia, essas nações foram trazidas para debaixo do domínio de
Israel por meio da diplomacia internacional ou mediante a força militar e por isso, possuíam certo grau de
autonomia, incluindo governantes nativos e política fiscal interna. Eram obrigados a reconhecer a suserania do rei de
Israel, providenciar os pagamentos das taxas de bens e serviços ao rei em datas definidas em um calendário e, acima
de tudo, manter a lealdade ao governo central em quaisquer circunstâncias, especialmente em tempos de guerra.

Os reinos aliados: Finalmente, a política imperial de Salomão também incluía uma rede de tratados de mútuo
benefício com potências próximas e mesmo distantes de seu reino, com quem ele se ligaria em termos de amizade e
cooperativismo. Esses tratados reconheciam a igualdade das partes contratantes e normalmente continham
provisões para mútua defesa, comércio, tráfego livre, extradição ou semelhantes. O melhor exemplo conhecido nas
Escrituras é o relacionamento entre Salomão e Hirão, rei de Tiro. Nenhum dos governantes estava subordinado ao
outro, e as provisões acordadas beneficiariam ambas as partes. No início de seu reinado Salomão também fez tal
acordo com o Egito, o pacto foi ratificado pelo casamento de Salomão com a filha de Faraó e por seu dote: a cidade
de Gezer.

“No ano quarto se pôs o fundamento da casa do Senhor, no mês de Zive. E no ano undécimo, no mês de
Bul, que é o mês oitavo, se acabou esta casa com todas as suas coisas, e com tudo o que lhe convinha; e
a edificou em sete anos.” 1 Reis 6:37,38

Assim como o Senhor tinha dito a Davi, por intermédio de seu profeta Natã (2 Sm 7), que o filho que reinaria em seu
lugar construiria o Templo do Senhor, a Palavra se cumpre em Salomão, que edifica e consagra o Templo. Abaixo
colocarei uma representação gráfica do templo de Salomão.

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“Sucedeu, pois, que, acabando Salomão de edificar a casa do SENHOR, e a casa do rei, e todo o desejo de
Salomão, que lhe veio à vontade fazer, O Senhor tornou a aparecer a Salomão; como lhe tinha aparecido
em Gibeom. E o Senhor lhe disse: Ouvi a tua oração, e a súplica que fizeste perante mim; santifiquei a
casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão
ali todos os dias.” 1 Reis 9:1-3

Após a consagração do Templo, o Senhor volta a aparecer para Salomão, renovando as promessas messiânicas
davídicas, e o reinado eterno da descendência de Davi, o que se cumprirá cabalmente em Jesus Cristo. Deus também
promete estar com ele, por todo o tempo que o rei for cumpridor de suas Palavras, e ainda o exorta a Salomão

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permanecer fiel e juntamente com todo Israel, pois o dia que Israel e seu rei não for fiéis a suas leis, o próprio
Senhor os destruiria e espalharia entre todas as nações.

“Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para
seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o coração de
Davi, seu pai, Porque Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e Milcom, a abominação dos
amonitas. Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do Senhor; e não perseverou em seguir ao
Senhor, como Davi, seu pai.” 1 Reis 11:4-6

Motivado por sua grande inteligência, Salomão organizou uma politica nacional de sucesso, porém, onerosa para o
povo, o que mais tarde custou à divisão do reino das mãos de seu Filho e sucessor. Sua grande inteligência também
o permitiu fazer inúmeras alianças internacionais, o que sempre selava com um casamento com a filha do rei que
seria seu aliado. Essas inúmeras mulheres pagãs, que contraiu matrimônios políticos, foram à força motriz que o
levou a se desviar do Senhor. Durante o final de seu reinado, em sua velhice, essas esposas pagãs perverteram o
coração de Salomão, o conduzindo para idolatria, os altares pagãos construídos por Salomão, induziram o povo a
idolatria, assim fez o rei o que não agradava o olhos de Deus.

“Assim disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste a minha aliança e os
meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos
teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei;” 1 Reis 11:11,12

Como punição por seus pecados, o Senhor prometeu a Salomão que dividiria o reino após sua morte e daria uma
parte para outro rei. Após a morte de Salomão, cumprindo-se a Palavra do Senhor, o grande reino de Salomão fora
dividido em dois, ao sul ficou o reino de Judá, comandado por Roboão, filho de Salomão e após a sua descendência,
no Norte, o reino de Israel passou a Jeroboão, e após as várias dinastias diferentes. Assim chegou ao fim o reinado e
a vida de Salomão e consequentemente por seus pecados, o fim amplo reino que seu pai e ele tanto trabalharam
para construir.

3.4. O Reino dividido


“Assim se rebelaram os israelitas contra a casa de Davi, até ao dia de hoje. E sucedeu que, ouvindo todo
o Israel que Jeroboão tinha voltado, enviaram, e o chamaram para a congregação, e o fizeram rei sobre
todo o Israel; e ninguém seguiu a casa de Davi senão somente a tribo de Judá.” 1 Reis 12:19,20

Com a morte de Salomão, chega ao fim o período de união de todas as tribos de Israel sob um único governo,
simbolizado na figura do rei. Esse período foi o mais importante da historia veterotestamentária de Israel, onde povo
de Deus alcançou no reinado de Davi o zênite religioso e sob Salomão o ápice politico e territorial. Os eventos mais
importantes desse período são: a unção de Saul como rei de todo Israel e posteriormente a de Davi, ambas feitas por
Samuel. A coroação de Davi sobre a tribo de Judá após a derrota e morte de Saul perante os Filisteus. A coroação de
Davi sobre todo Israel 7 anos após receber o trono de Judá, dando inicio assim a linhagem real davídica, que se
tornaria também messiânica. A conquista de Jebus por Davi, que a transforma em Jerusalém sua capital
primeiramente politica e mais tarde com advento do Templo também religiosa. A construção do templo por Salomão
e a definição de Jerusalém como lugar central do culto a Yahveh. E terminando esse período com a morte de
Salomão e a subsequentemente a divisão do reino entre sul e reino do norte (reino do sul chamado de Judá e reino
do norte de Israel).

60
Com a morte de Salomão e a imprudência de Roboão em lidar com as queixas do povo, a antiga divisão politica entre
a tribo de Judá e as demais tribos voltou a eclodir. Na verdade essa unidade nacional não foi nada mais que
superficial e os 3 governos unificados (Saul, Davi e Salomão) não conseguiram consolidar a unificação de israel.
Podemos ver facilmente nas paginas sagradas que a unificação foi somente aparente, vemos que Saul não tinha
grande apoio na tribo de Judá e nas transjordânia, vemos também que o reino de Davi foi ameaçado algumas vezes
por secções, e ainda Salomão, no caso com Jeroboão e após sua morte com o povo mostrando todo seu desagrado
com o estado.

Com a negativa de Roboão em entender o povo e aliviar as cargas tributarias acontece a ruptura e 10 tribos
se separam da nação criando o reino de Israel ou reino do Norte. A Roboão resta somente Judá e Benjamim. O reino
do sul agora é denominado oficialmente Judá. Faremos agora uma síntese dos reinos do norte e sul da separação até
suas quedas.

3.4.1. Resumo sobre o reino do Sul (Judá)


“E sucedeu que, ouvindo todo o Israel que Jeroboão tinha voltado, enviaram, e o chamaram para a
congregação, e o fizeram rei sobre todo o Israel; e ninguém seguiu a casa de Davi senão somente a tribo
de Judá.” 1 Reis 12:20

Já o reino do sul seguiu com a suas sucessões davídicas, com a capital Jerusalém e o centro de adoração nacional o
templo. Mas isso não garantiu fidelidade de Judá para com seu Deus, longe disso, teve tempos que Judá se
equiparou com Israel no paganismo chegando até se aparentar com a casa de Acabe (e sua mulher Jezabel) e certo
momento até ultrapassando sua irmã Israel, na figura de Acaz que sacrificou seu próprio filho a Moloque.

Porém o que diferenciou Judá de Israel é o fato de mesmo se paganizando em todas as esferas, ainda Deus
levantou alguns reis que trouxeram avivamento religioso à nação a salvando momentaneamente de seu juízo. Outra
diferença é o fato de Judá seguir com a mesma dinastia (de Davi) até o fim de sua história como país independente.
Mas no fim os pecados de Judá também clamavam por Justiça divina e em 586 a.C. Deus levanta então
Nabucodonosor rei da Babilônia como seu açoite punitivo, que destrói Jerusalém, queima o Templo e deporta o
melhor do povo e dos produtos da terra. Começa assim o cativeiro babilônico, após essa data Israel nunca mais
voltaria ser nação independente nas Paginas Sagrada.

3.4.2. Resumo sobre o reino do Norte (Israel)


“Assim se rebelaram os israelitas contra a casa de Davi, até ao dia de hoje.” 1 Reis 12:19

Israel ou reino do Norte teve como primeiro rei Jeroboão filho de Nebate, esse começou seu governo conduzindo
seu povo para idolatria, com medo do coração do povo se voltar a Roboão durante as suas peregrinações, resolver
prover dois lugares para culto um no extremo sul (Betel) e outro no norte (Dã) e nessas localidades colocou bezerros
de ouro. Por esse pecado Jeroboão seria marcado e a cada rei ímpio que subiria no trono de Israel a alcunha de
Jeroboão o seguiria, “e fez conforme todo pecado de Jeroboão filho de Nebate o qual fez pecar Israel”.

Diferente de Judá o reino Israel foi marcado por muitas dinastias (9 dinastias)e golpes de estado, vários reis
foram assassinados e substituídos por seus algoz. A história do reino do norte é marcada por idolatria e
distanciamento de Deus, ao ponto do próprio Deus incitar a Assíria de Sargão II, que no ano de 722 a.C. destrói
Samaria e coloca ponto final na história do reino do Norte.

A Assíria é considerada um dos primeiros impérios mundiais, sua historia diz que Assur, filho de Sem, saiu da
Suméria (sul da mesopotâmia) e se estabeleceu no norte da mesopotâmia, fundando uma cidade com seu nome nas
margens ocidentais do rio Tigre. A Assíria possui uma historia recheada de conquistas e expansões, mas também de
fracassos e subjugações. Mas para o estudante bíblico a Assíria aparece com destaque no século 8º antes de Cristo,

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quando Assurbanipal II retoma a politica de expansão imperial. Sargão II em seu primeiro ano de reinado conquista e
destrói Samaria, eliminando o reino do Norte. Sua magnifica capital Nínive, chega a seu apogeu no reinado de
Senaqueribe, mas menos de um século depois Nínive é varrida do mapa por um exercito conjunto de persas e
caldeus, findando assim o império Assírio.

Abaixo colocarei um mapa com a divisão dos dois reinos e suas extensões territoriais.

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4. Livro de Segundo Reis

4.1. Introdução
Como já dito no capítulo anterior, no original o Livro de Reis era composto apenas de um volume, e que foram
separados por motivos físicos pela Septuaginta, já que o grego é mais extenso que o hebraico, esses rolos quando
foram traduzidos para o grego, necessitaram ser divididos em dois rolos, pois ficariam muito extenso para um só.
Assim sendo, todas as informações que valem para o primeiro Livro de Reis, são as mesmas para o Livro de segundo
Reis, pois fora escrito pelo mesmo autor (Jeremias), na mesma época (cerca de 586 a.C.) e com o mesmo objetivo
(registrar as biografias de reis e personagens importantes, e como essas biografias foram responsáveis pelo agir de
Deus nas duas nações). Único tópico que difere é o conteúdo, pois narram fatos diferentes, por isso, a esfera de ação
desse livro é diferente e complementar do primeiro volume.

Esfera de ação (somente segundo Reis): Por ser somente um livro com o primeiro Livro de Reis, esse volume começa
exatamente aonde o outro termina, isso é com a morte do rei de Israel Acabe em cerca de 852 a.C. e tem seu
termino com a destruição de Jerusalém em 586 a.C. Portanto, a esfera de ação que o livro de 2 reis cobre é de cerca
de 266 anos.

4.2. Índice do Segundo Livro de Reis

1 – O final do ministério de Elias: caps. 1-2;

2 – Ministério de Eliseu: caps. 3-13;

3 – declínio e queda do reino do Norte (Israel): caps. 14-17;

4 – declínio e queda do reino do Sul (Judá): caps. 18-25.

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4.2.1. Esboço sintético do Livro de Segundo Reis
II Reis cap. 1: O Rei Procura a Ajuda dos Ídolos;

II Reis cap. 2: Elias É Levado para o Céu;

II Reis cap. 3: Aliança entre Jorão e Jeosafá;

II Reis cap. 4: Milagres (Multiplicação de azeite na Botija, ressureição do Filho da sunamita);

II Reis cap. 5: A Cura de Naamã;

II Reis caps. 6–7: Eliseu faz saber os planos do rei da Síria e a multiplicação de haveres;

II Reis caps. 8–10: Os Descendentes de Acabe e o final de sua dinastia;

II Reis caps. 11–12: As historias de Atalia, Joiada e Joás;

II Reis caps. 13–16: Reis iníquos;

II Reis cap. 17: Destruição do Reino do Norte (as Dez Tribos);

II Reis caps. 18–20: Historia de Ezequias;

II Reis cap. 21: Os iníquos Manassés e Amom;

II Reis caps. 22–23: Historia de Josias;

II Reis 24–25 Destruição de Jerusalém e cativeiro na Babilônia.

4.3. Profetismo em Israel


Iremos tratar o profetismo em Israel somente de forma sintética, já que nos aprofundaremos quando estudarmos a
seção dos Livros Proféticos, porém, pelo grande destaque que os profetas ganham no Livro dos Reis, é necessário
tratarmos resumidamente desse assunto. O movimento profético não é algo exclusivo de Israel, e sim muito
difundido no mundo antigo, no entanto, a profecia bíblica tem seus matizes, fundada nas verdades que exalam o
conhecimento e a revelação do Deus de Israel, fato que torna o profetismo israelita diferente de todos os outros. Os
profetas foram pessoas normais que atuaram em suas épocas, vivendo e reagindo a contextos diferentes, alguns
foram profetas escritores e outros como Eliseu, somente orais. Os profetas escritores se valeram dos mais variados
gêneros literários, dentro dos quais, o símbolo profético, tipos de sua cultura e época.

Os antigos profetas viveram no período de inspiração profética em Israel (quase simultânea com os ofícios
sacerdotais e governamentais, os juízes e reis) e o ofício profético cessou com o final da inspiração literária, com
Malaquias. Alguns desses profetas detinham as rédeas da liderança em Israel (Moisés, Débora e Samuel), outros
trabalharam na corte real (Natan e Gade), e ainda outros foram verdadeiros conselheiros e confrontadores dos reis
de Israel (Elias e Eliseu). Vimos que os profetas criticaram de forma desmedida a monarquia estatal e seus
componentes, portanto, o profeta não estava comprometido com a política monárquica, antes, seu compromisso
estava com o Senhor. Uma das mais marcantes características dos profetas é a sua vocação, sua relação pessoal com
Deus, essa vocação é o que comum entre os antigos profetas, assim como, Moisés, Samuel e Elias, e também com os
profetas literários Amós, Isaías e Jeremias. O profeta difere, pois, do sacerdote e do rei, que exercem suas funções
pela hereditariedade, já o único requisito para o ministério profético era ser vocacionado diretamente por Deus.

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É nos dias de Samuel que temos a primeira notícia das escolas dos profetas. Em 1 Sm. 10:5, quando Samuel unge a
Saul como o primeiro rei de Israel, o profeta diz a Saul que, no caminho de volta para a sua casa, ele encontraria um
“rancho de profetas” e profetizaria com eles, instante em que o Espírito do Senhor dele se apossaria, sendo, assim,
devidamente preparado para ser o primeiro monarca da nação. Décadas depois, vamos ver que o velho profeta
Samuel presidia uma “congregação de profetas” em Ramá, para onde tinha se retirado depois que entregou a
administração do país para Saul, local onde Davi foi procurar refúgio quando do início da perseguição de Saul contra
ele (1 Sm.19:18-24). Nesse volume nos ocuparemos em estudar sinteticamente somente os ministérios de Elias e
Eliseu, que são os maiores destaque proféticos registrados por Jeremias.

4.3.1. Elias
“Então Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o SENHOR Deus de Israel, perante
cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra.”

1 Reis 17:1

O próprio nome Elias, que significa "Yahweh é Deus" ou "Yahweh é meu Deus", já expressa seu caráter e sua função
na história bíblica. Ele foi um campeão do monoteísmo de Yahweh, é ele quem mantém a fé em Yahweh entre o
povo e quem luta com vigor pelos Seus direitos. Sua árdua luta contra todo sincretismo religioso faz deste profeta,
que "surgiu como fogo e cuja palavra queimava como uma tocha" (Citação de "Eclesiástico 48:1), uma figura de
primeira linha na sucessão das duas Alianças. Enquanto o livro do Eclesiástico (48,1-11) canta suas glórias, os livros
dos Reis nos contam sua vida de forma ampla. Nesta narração distinguem-se dois ciclos: "o ciclo de Elias" (1Rs 17 -
2Rs 1,18), que se centra na atividade do profeta, e o "ciclo de Eliseu" (2Rs 2-13), que começa com o arrebatamento
de Elias, momento em que Eliseu o sucede. Elias exerceu seu ministério no reino do Norte, no século IX a. C., em
tempos de Acabe e de Acazias.

O que a Bíblia nos diz é que o profeta Elias é natural de Tisbe, sendo dos moradores de Gileade, esta informação,
além de escassa, traz uma série de problemas aos estudiosos da Bíblia, visto que a única menção que se faz desta
cidade é no livro apócrifo de Tobias, onde é dito que se tratava de uma cidade que se situava na tribo de Naftali, na
região da Galiléia, enquanto que o texto sagrado diz que Elias era “dos moradores de Gileade”, ou seja, alguém que
morava na região daquém do Jordão, pertencente à meia-tribo de Manassés e à tribo de Gade (Js.13:24,25,30,31).
Assim, ficamos sem saber se Elias morava em Gileade, tendo sido natural de Tisbe de Naftali ou se era de uma cidade
chamada Tisbe que ficasse do outro lado do Jordão, na região de Gade ou da meia-tribo de Manassés. Flávio Josefo,
o grande historiador judeu, parece concordar com a idéia de que se tratava de uma cidade de Gileade que se
chamava Tisbe, enquanto que a Septuaginta chama a cidade de “Tisbe da Galiléia”.

Não existe nenhuma tradição unanime e confiável sobre a origem de Elias e sua vida, antes de sua aparição nesse
versículo (1 Rs 17:1)o, única referencia é que ele é proveniente de Tisbe em Gileade. Vou compartilhar com vocês
duas teorias que ouvi de judeus, porém, não tem nenhum livro de credibilidade para se apoiar, é somente tradição
oral. Uma tradição cabalística judaica, diz que Elias é o mesmo homem que foi arrebatado em Genesis 5:24, ou seja,

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que ele é Enoque, que apareceu para não deixar morrer a fé em Yahveh. A outra tese das origens é que Elias era
filho do governador de Gileade e que conheceu Acabe, o rei, no velório do filho mais novo de Hiel (1 Rs 16:34),
reconstrutor de Jerico (Lembrando que a cidade foi amaldiçoada por Josué (Js 6:26).

“Então Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o SENHOR Deus de Israel, perante
cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra.”

1 Reis 17:1

Frente à idolatria de Israel e seu rei, Elias aparece para acabe e pronuncia uma sentença teológica, “que nestes anos
nem orvalho nem chuva haverá”, com isso desfere o primeiro golpe contra Baal, o senhor dos céus. A seca ordenada
por Deus é uma evidencia verdadeira, que Yahveh é maior que Baal, portanto, controla o céu e as chuvas. Nesse
texto, temos um pequeno mal entendido, pois seguinte fala de Elias “senão segundo a minha palavra”, alguns

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cristãos modernos, insinuam que isso dá autoridade própria para o homem, e que Elias falou por si. Além de a
Palavra deixar claro que nossa autoridade é o nome de Jesus, esse texto é mal compreendido no português, já que
Elias já começa falando, que veio em nome do Deus, cuja face ele está, isso insinua que já tinha a ordem de Deus.
Além do mais, a palavra que traduziu para o português como “segundo”, é “peh”, que significa literalmente “boca”,
o pronome “minha” não aparece no original, sendo a próxima sentença “palavra”. O que realmente o texto diz, que
não choveria até Deus falar as suas palavras através da boca de Elias, como o nome dele mesmo sugere (Meu Deus é
o Senhor), Elias não fazia nada sem a ordem de seu Deus, cujo nome carrega a autoridade.

“Depois veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, e vai para o oriente, e esconde-te junto
ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho
ordenado aos corvos que ali te sustentem.” 1 Reis 17:2-4

Querite é um ribeiro que corre da transjordânia para o Jordão, indicio que talvez sugira que Elias era realmente de
Gileade, pois demonstrou conhecer a região. Por um tempo após profetizar contra Acabe, Elias se escondeu próximo
do riacho, sendo alimentado por corvos, alguns erradamente dizem que corvos eram provenientes de uma tribo
africana, isso é um absurdo, já que corvos são animais carniceiros, por isso traziam carne, não pão como seria de
costume humano. Nenhuma tradição judaica ou cristã antiga, narra outros seres que não sejam corvos, na verdade,
isso é uma invenção moderna, que sequer consegui achar sua origem, para deixar claro irei colocar a etimologia da
palavra abaixo.

“Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva
que te sustente.” 1 Reis 17:9

Abaixo colocarei o mapa do deslocamento de Elias, após entendermos a geografia, nos determos na teologia.

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Sarepta (parte superior esquerda do mapa acima) era uma cidade Fenícia, portanto, de gentios, pessoas que não
serviam ao Senhor, e para uma viúva dessa terra que Deus envia seu profeta. Na casa dessa viúva, Elias impõe mais
um golpe contra Baal, pois proveu comida, para uma mulher adoradora de Baal, agora na terra de Baal, o Senhor
demonstra ter mais poder. Ali ainda, Deus por intermédio de Elias deu um filho para essa viúva, alguém para garantir
sua vida e após ainda ressuscitou o menino. Após 3 anos naquela localidade, o Senhor de novo chama Elias, mas
agora é para desferir o golpe fatal sobre Baal.

“sucedeu que, depois de muitos dias, a palavra do SENHOR veio a Elias, no terceiro ano, dizendo: Vai,
apresenta-te a Acabe; porque darei chuva sobre a terra.” 1 Reis 18:1

“E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe: És tu o perturbador de Israel? Então disse ele: Eu não
tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e
seguistes a Baalim.” 1 Reis 18:17,18

No terceiro ano de estiagem profetizada por Elias, à seca era tão intensa que Acabe chama seu Mordomo Obadias e
juntos um para cada região percorrem todo o reino a procura de agua e vegetação (1 Rs 18:5,6), a Palavra nos diz
que Obadias era temente ao Senhor, e que livrará 100 profetas de Deus durante a matança de Jezabel, e os
escondeu de 50 e 50 em covas, onde os sustenta as escondidas (1 Rs 18:4). Não há muitas informações acerca de
Obadias na Bíblia, o tratado judaico do Sinédrio, diz que esse Obadias, é o mesmo profeta que escreveu o livro que
leva seu nome (Sanhedrin 39b), essa informação não parece muito assertiva, já que aparentemente pelo livro, o
Obadias literário é proveniente de Judá.

Porém, no caminho que percorria Obadias esse se encontrou com Elias (1 Rs 18:7), que mandou a Obadias avisar
Acabe que Elias tinha regressado (1 Rs 18:7), e assim Acabe e Elias, se viram frente a frente (1 Rs 18:17). O
impressionante é que Acabe ainda chama Elias de perturbador de Israel (1 Rs 18:17), o que o profeta responde,
falando que Acabe e sua família é que perturbam a nação de Deus, fazendo essa pecar contra o Senhor (1 Rs 18:18).
Acabado os “cumprimentos” entre os dois, Elias desafia Acabe reunir seus 450 profetas de Baal e 400 profetas de
Aserá, para que no monte Carmelo, de uma vez por todas, prova-se quem é o verdadeiro Deus, Baal ou Yahveh (1 Rs
18:19).

“Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o
Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.” 1 Reis 18:21

Mesmo com a vitória do Senhor sobre Baal, fechando os céus de Israel, o povo ainda não estava convencido, se só o
Senhor era Deus, ou se era Baal o senhor, e alguns ainda coxeavam entre os dois, acreditando que os dois poderiam
ser deuses. Para arrigar de uma vez por todas do coração do povo que Baal não era deus, precisava de uma prova
contundente, de que só Yahveh é Deus, e esse golpe fatal iria ser desferido nessa prova contra os profetas de Baal.
Outra idolatria que o povo praticava era a adoração a baalins (hebraico = Ba Ìal), que eram ídolos místicos,
normalmente representações de Baal, que serviam como materializações para um povo sem fé. Hoje infelizmente
em nosso meio evangélico, muitos utilizam de materializações e símbolos veterotestamentários, para induzir o povo
a mentiras e compensar a falta de fé no Espirito de Deus (Hb 11:1), tais assim como Nadabe e Abiu introduzem fogo
estranho no culto em Espirito ao Senhor (Lv 10:1,2; Jo 4:23). A marca dos falsos obreiros é a atenção em demasia
que chamam para si, na obra de Deus quem brilha é Jesus, a estrela da manhã (Ap 22:16), hoje vivemos em um
evangelhos onde” profetas de Baal” oferecem baalins externos para um povo sem fé, que só deseja bênçãos, e não
querem adorar em espirito e em verdade, desses falsos “profetas”, fujam (2 Co 11:13-20; Fl 3:2; 2 Tm 3:2-9).

“E sucedeu que, passado o meio-dia, profetizaram eles, até a hora de se oferecer o sacrifício da tarde;
porém não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma. Então Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a
mim. E todo o povo se chegou a ele; e restaurou o altar do Senhor, que estava quebrado.” 1 Reis
18:29,30

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Elias propôs um desafio, ambos fariam um sacrifício, e o deus que respondesse do céu com fogo e esse consumisse
seu sacrifício, seria o único verdadeiro (1 Rs 18:23-25). Desde manhã (cerca de 6 horas em Israel), os profetas de Baal
clamaram a seu falso deus, ao meio-dia esse ainda não havia respondido, nem poderia responder, já que Baal não é
deus. Após debochar dos profetas de Baal e seu falso deus (1 Rs 18:27), Elias concerta o altar do Senhor que estava
quebrado (1 Rs 18:30)e com uma pequena oração (1 Rs 18:36,37), clama o verdadeiro Deus, que responde dos céus
com fogo, que consome todo o holocausto e todo o altar(1 Rs 18:,38). Com esse duro golpe, Baal é totalmente
derrotado, e provado sua inexistência, agora todo o povo que duvidada clama “Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é
Deus” (1 Rs 18:39).

“E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles; e
Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou.” 1 Reis 18:40

Após provar que só o Senhor é Deus, Elias manda o povo extirpar o mal de Israel, matando todos os profetas de Baal
e Aserá, e assim destruindo os sacerdotes manipuladores e suas influencias para o povo adorar baalins. Citarei uma
frase do grande romancista Vitor Hugo, que não era cristão, e sua frase era politica, não religiosa, porém, se encaixa
muito bem no evangelho de hoje: “Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha”. Literalmente Elias matou os hereges que
estavam enganando o povo de Deus, nós, porém, podemos seguir figuradamente esse ensino, e “matar” as heresias
no meio evangélico ensinando a verdadeira Palavra e desmascarando esses “falsos profetas”, e sempre devemos
lembra que se deixarmos esses obreiros enganarem o povo de Deus, almas estarão indo para o inferno.

“E sucedeu que, entretanto, os céus se enegreceram com nuvens e vento, e veio uma grande chuva; e
Acabe subiu ao carro, e foi para Jizreel.” 1 Reis 18:45

Israel não tinha mais duvidas de quem era o único e verdadeiro Deus, com Baal totalmente desacreditado, o Senhor
agora faz acabar a seca e envia chuvas a Israel. Só poderemos ver um verdadeiro avivamento da parte de Deus,
quando extirparmos as “idolatrias modernas”, as heresias materialistas e os obreiros fraudulentos, ai sim, o Senhor
responderá com fogo e chuva nossa adoração.

“Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se
de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles.” 1 Reis 19:2

Ao saber da morte de seus profetas, Jezabel mulher de Acabe, envia um mensageiro a Elias, o ameaçando de morte,
após essa ameaça, Elias com medo da morte foge por sua vida (1 Rs 19:3). Para alguns cristãos que costumam
colocar os ícones do Antigo Testamento em um patamar superior a dos outros mortais, é difícil entender como após
uma grande e decisiva vitória, Elias foge assim por sua vida. Para explicar esses fatos devemos primeiro pontuar que
Elias e os outros “heróis da fé” eram homens assim como nós (Tg 5:17), e que ainda não tinham a plenitude do
Espirito como nós, porque o Senhor ainda não havia delegado (Jo 7:39), e que desejavam as promessas do Espirito
que hoje estão sobre nós (Hb 11:39-40). Entendendo isso, poderemos facilmente compreender, que após o Espirito
usar Elias de forma especifica no desafio de Baal, se retirou do profeta, somente quem está em Cristo é habitação do
Espirito (Rm 8:9-11,16,17), e assim Elias se viu como um mero mortal, frente a ira da rainha Jezabel.

“E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada
da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?” 1 Reis 19:13

Em sua fuga Elias foi servido sobrenaturalmente por um anjo (1 Rs 19:7-9), e com a energia desse alimento andou 40
dias e noites até o monte Horebe na terra de Midiã (Vide aula 4 de Pentateuco), onde se escondeu em uma caverna
(1 Rs 19:9). Dentro da caverna Deus falou com Elias, e o questionou porque estava ali (1 Rs 19:9), Elias respondeu
que era o único profeta zeloso de Israel, que os outros mataram a mando de Jezabel e que ainda estavam a sua
procura para matá-lo (1 Rs 19:10). Deus manda Elias sair da caverna (1 Rs 19:11), lhe dá três missões e revela que em
Israel ainda há 7000 que adoram a Deus, e nunca se curvaram a Baal (1 Rs 19:11,12,15-18). Quando temos o zelo
reformador dentro de nós, muitas vezes nos sentimos sozinhos, frente a força dos grandes ministérios e o poder dos

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obreiros fraudulentos, e como Elias pensamos em desistir, porém, sempre Deus conserva verdadeiros adoradores,
que como nós, lutam pelo verdadeiro culto, não estamos sozinhos, Deus tem levantados muitos Elias para reformar
sua igreja, ele conta conosco.

“E o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e, chegando lá, unge a
Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de
Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar.” 1 Reis 19:15,16

Deus deu para Elias três missões, a de ungir Hazael rei da Síria, ungir Jeú rei de Israel e Eliseu profeta em seu lugar,
dessas três tarefas somente cumpriu uma a de ungir Eliseu como seu sucessor (1 Rs 19:19-21), as outras duas foram
cumpridas por seu sucessor Eliseu (2 Rs 8:13-15; 2 Rs 9:1-3).

“Então veio a palavra do Senhor a Elias, o tisbita, dizendo: Levanta-te, desce para encontrar-te com
Acabe, rei de Israel, que está em Samaria; eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para
possuí-la.” 1 Reis 21:17,18

Acabe e Jezabel armaram para roubar a herdade de Nabote (1 Rs 21:1-16), pois esse não queria vender ao rei de
Israel, Porém, Jezabel se valendo de falsas testemunhas, condenou Nabote por blasfêmia contra Deus e o rei, após o
executarem, Acabe tomou a herdade de Nabote como sua possessão. Porém, Deus revela a Elias mais essa má ação
de Acabe e Jezabel (1 Rs 21:17-26, e por essa injustiça Deus promete que iria acabar com a descendência de Acabe e
que onde Nabote morreu, os cães lamberiam o sangue de Jezabel. Diante desse veredito de Deus, Acabe rei de Israel
se humilha perante o Senhor, que aceita seu pedido e posterga a condenação de sua linhagem para depois da morte
de Acabe (1 Rs 11:27-29).

“E caiu Acazias pelas grades de um quarto alto, que tinha em Samaria, e adoeceu; e enviou mensageiros,
e disse-lhes: Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença. Mas o anjo do
Senhor disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de
Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de
Ecrom? E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás.
Então Elias partiu. 2 Reis 1:2-4

Após a morte de Acabe, seu filho Acazias reina em seu lugar (1 Rs 22:52), em uma certa ocasião, o rei cai de seu alto
quarto e fica muito machucado, mais ao invés de buscar ao Senhor, envia mensageiros a Ecrom na Filistia para
consultar Baal-Zebude, a personificação local de Baal. Isso ira Deus que manda Elias aos mensageiros de Acazias,
com a sentença “Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? E por isso
assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás”. Ao saber disso, o rei envia um
capitão de 50 e seus homens para trazer Elias a sua presença, esses foram fulminados por fogo dos céus diante do
profeta, o segundo destacamento de 50 teve a mesma sorte (2 Rs 1:9-12). Porém, o terceiro capitão, se humilhou
diante de Elias, para que não fulminasse ele e seus homens (2 Rs 1:13,14), Elias a mando do Anjo do Senhor, segue
esse capitão até a presença do rei (2 Rs 1:15), onde Elias confirma que Acazias morreria (2 Rs 1:16), e assim como
profetizou, realmente o rei morreu (2 Rs 1:17,17).

“Sucedeu que, quando o SENHOR estava para elevar a Elias num redemoinho ao céu, Elias partiu de
Gilgal com Eliseu.” 2 Reis 2:1

Elias termina seu ministério da mesma forma que se iniciou, de um jeito misterioso, onde o Senhor o arrebata ainda
vivo em um redemoinho. Esse evento foi somente testemunhado por Eliseu, seu sucessor, esta registrado em de 2
Reis 2:12, a Bíblia também deixa claro que após o arrebatamento ninguém o achou (2 Rs 2:16-18). Se entendermos,
o texto de Elias de uma forma análoga com de Enoque, onde a Bíblia diz, “E andou Enoque com Deus; e não
apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou” (Gn 5:24), poderemos nos respaldar para também aplicar que Elias

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nunca mais foi visto, já que se o texto de 2 Reis tiver um fim diferente do de Genesis, teríamos uma incoerência
textual. Muitos ilustram que Elias subiu em uma carruagem de fogo, porém, o é claro, em dizer que foi em um
redemoinho. A questão da carruagem de fogo pode ser ilustrada coerentemente como uma antropomorfia dos
exércitos de Deus, essa característica é repetida mais tarde (2 Rs 6:17).

Outro assunto mal interpretado nessa passagem é a questão da porção dobrada, onde alguns ensinam que em Eliseu
duplicou-se a unção de Elias. O primeiro erro que encontramos é que o texto não fala de unção e sim do “espirito de
Elias” (2 Rs 2:9), pois a unção profética é dada exclusivamente pelo chamado de Deus (1 Sm 3:19-21; Is 61:1,2; , e
não se pode duplicar o poder do Espirito, se ele é Deus. Segundo ponto, o pedido de Eliseu é algo cultural, como
sucessor de Elias ele era herdeiro do profeta, como um primogênito de um pai, e assim pela lei das heranças
receberia porção dobrada frente aos outros profetas (Dt 21:15-17), vimos que Elias era líder da escola de profetas,
herança que passou a Eliseu (2 Rs 2:15). O ultimo ponto para tratar é a questão do pedido da porção dobrada do
“espirito” de Elias, em hebraico o espirito humano era a representação da vida e espiritual, aqui Eliseu somente pede
para continuar a obra de Elias como seu sucessor de direito.

“Então lhe veio um escrito da parte de Elias, o profeta, que dizia: Assim diz o Senhor Deus de Davi teu
pai: Porquanto não andaste nos caminhos de Jeosafá, teu pai, e nos caminhos de Asa, rei de Judá,”

2 Crônicas 21:12

Essa carta é usas pelos céticos do arrebatamento de Elias como prova que Elias nunca fora tirado da terra, pois
escreveu uma carta posterior ao suposto evento. Eles analisam como se a passagem em questão tivesse seu
cumprimento durante o reinado de Jeosafá, assim sendo uma carta para o filho de Jeosafá (Jeorão) seria prova
definitiva que Elias nunca foi arrebatado. Eles baseiam esse raciocínio no fato de no capítulo 3 (2 Reis 2 narra o caso
do arrebatamento) mostrar o segundo sucessor de Acabe, Jorão como rei de Israel, durante o reinado de Jeosafá rei
de Judá, isso leva a crer que a passagem analisada o correu antes da nomeação do sucessor de Jeosafá, o rei Jeorão,
a quem a carta foi enviada. Levando em conta que Elias profetizou a morte de Acazias rei de Israel, é coerente acha
que ele ainda não tinha sido arrebatado durante o inicio do reinado de Jorão de Israel, portanto, Elias ainda estava
na terra durante o 18º ano do reinado de Jeosafá. Assim sendo, Elias não poderia ter sido arrebatado antes dos
últimos 6 anos de reinado de Jeosafá de Judá (Jeosafá reinou 25 anos), levando em conta que era costume em Judá
as co-regências, é possível que Elias ainda estivesse na terra durante a regência de Jeorão de Judá. Outra
possibilidade é que o profeta poderia ter escrito a carta por divina instrução e a entregado a Eliseu para que a
entregasse no momento apropriado, o que teria mesma característica textual das unções de Hazael e Jeú.

4.3.2. Eliseu
“Partiu, pois, Elias dali, e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois
adiante dele, e ele estava com a duodécima; e Elias passou por ele, e lançou a sua capa sobre ele.”

1 Reis 19:19

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Eliseu que significa Deus é a salvação, tem uma etimologia semelhante à de seu mestre Elias (Deus é Senhor), e do
mesmo modo que Elias tem seu nome ligado a sua missão, a de manter a fé no único Deus verdadeiro, Eliseu seu
sucessor, também tem em seu nome vinculado a sua missão, a de salvar Israel de sua destruição. Eliseu era filho de
Safate, de Abel-Meolá no Vale do Jordão, as únicas informações sobre quem foi Eliseu antes do que é registrado
sobre seu ministério, encontra-se em 1 Reis 19:16,19-21, entretanto, nenhum detalhe realmente esclarecedor nos é
revelado sobre sua biografia anterior ao chamado. Se contarmos o período de seu ministério considerando desde
sua chamada, então podemos concluir que seu ministério durou algo em torno de cinquenta anos, atravessando
toda a última metade do século 9 a.C. e cobrindo os reinados de Acabe, Acazias, Jeorão, Jeú, Jeocaz e Joás. Eliseu
também completou a missão de Elias, com referência à unção de Hazael como rei da Síria e a unção de Jeú como rei
de Israel (2Rs 8:12,13; 9:1-10; cf. 1Rs 19:15,16), ele também agiu como líder das escolas de profetas, seguindo a
tradição de Samuel (2RS 4:38-44; 6:1-7; cf. 1Sm 19:20) e sucedendo seu mestre (2 Rs 2:15). Em nosso relato sobre o
ministério de Eliseu, por falta de tempo e espaço na obra omitiremos as passagens que já foram tratados no capitulo
que fala de Elias. No mapa sobre o nascimento dos profetas (Pg. 66), pode ser achada a localização da cidade em
que Eliseu foi chamado, por Elias.

“E disse Jeosafá: Não há aqui algum profeta do Senhor, para que consultemos ao Senhor por ele? Então
respondeu um dos servos do rei de Israel, dizendo: Aqui está Eliseu, filho de Safate, que derramava água
sobre as mãos de Elias.” 2 Reis 3:11

Após a morte de Acabe, o rei Moabe se rebelou contra Jorão (2 Rs 3:4,5), rei de Israel, que convidou a Jeosafá, rei de
Judá, para subir com ele a guerra contra os Moabitas (2 Rs 3:7-10). Após reunirem os exércitos, Jeosafá de Judá,
pede para consultar um profeta do Senhor, ao qual disseram “que aqui está Eliseu, que derramava agua nas mãos de
Elias” (2 Rs 3:11). Eliseu deixa claro que só desceu a presença dos reis, por respeito ao rei de Judá, pois se fosse pelo
rei de Israel jamais desceria (2 Rs 3:13,14). Eliseu profetiza a vitória dessa aliança Israel/Judá, e confirmando essas
Palavras, os aliados vencem Moabe (2 Rs 3:15-25).

“E uma mulher, das mulheres dos filhos dos profetas, clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo,
morreu; e tu sabes que o teu servo temia ao SENHOR; e veio o credor, para levar os meus dois filhos para
serem servos.” 2 Reis 4:1

Uma das passagens mais bonitas da Bíblia é da multiplicação de azeite, onde Deus usa Eliseu para prover sustento
para a viúva, mostrando todo amor de Deus para seus indivíduos. O azeite aqui era alimentício, usado como óleo e
nas massas, não há nada oculto na passagem, o foco deve ser no amor de Deus que prove o milagre. O trecho base
que introduz essa passagem narra a história de vida de uma viúva que morava em Israel, segundo o historiador
Josefo, ela era esposa do mordomo de Acabe, Obadias que fazia parte da escola de profetas liderada por Eliseu. A
viúva (cujo nome não é citado) passava por crise financeira, seu esposo havia deixado uma dívida e ela não tinha
como pagar, talvez por conta dos profetas que ele sustentava escondido (1 Rs 18:4). Não se sabe se a situação se
arrastava por algum tempo, e acabou vindo a se agravar com a falta do marido. Fato é que aquela família chegou ao
extremo da pobreza, não havia meios de suprir as necessidades básicas de sobrevivência. O importante é que Deus
honrou a fidelidade daquela família e providenciou milagrosamente a provisão de recurso.

“Sucedeu também um dia que, indo Eliseu a Suném, havia ali uma mulher importante, a qual o reteve
para comer pão; e sucedeu que todas as vezes que passava por ali entrava para comer pão.” 2 Reis 4:8

Nesse mesmo capitulo também se encena outra das mais lindas historias das Escrituras, é da sunamita e a
ressureição de Seu filho. Nesse texto, a mulher de Suném, vê as virtudes de um homem de Deus em Eliseu, e junto a
seu marido constrói um quarto para o profeta, para descansar em suas viagens. Como gratidão Eliseu, a conselho de
Geazi abençoa a sunamita com a promessa de um filho, observe que aqui já ouve um milagre, pois o marido era
velho. Porém, o maior milagre aconteceu quando subitamente o menino morreu, a mãe aflita procurou Eliseu, que
voltou na casa dela e Deus o usou para o milagre.

72
“Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne
tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado.” 2 Reis 5:14

Eliseu foi um profeta prolifero em milagres, não teremos tempo para abordar todas suas intervenções, aqui
analisaremos somente os mais destacados. O milagre da cura da lepra de Naamã se destaca por ser internacional, e
glorificar o nome do Senhor em outros povos. Naamã o general do rei sírio, homem de grande importância em seu
país, estava leproso, uma doença que segregava o doente, considerada transmissível por toque e que normalmente
matava rapidamente. Por intermédio de uma escrava judia, Naamã ficou sabendo que havia esperança de cura em
Israel, após procurar o rei de Israel, e esse não sabendo o que fazer, a notícia chegou a Eliseu, que mandou Naamã
lhe procurar. O milagre aconteceu quando Naamã obedeceu o profeta e deu 7 mergulhos no Jordão, ficando com a
pele novo, todos os presentes que Naamã quis dar para Eliseu esse rejeito, o que atraiu a cobiça de Geazi, que
enganou o general e pegou presentes contra ordem de Eliseu, como sentença Geazi ficou leproso.

“Então disse Eliseu: Ouvi a palavra do SENHOR; assim diz o SENHOR: Amanhã, quase a este tempo,
haverá uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por um siclo, à porta de
Samaria.” 2 Reis 7:1

Pelo extremo pecado de Israel que deixou o Senhor, para seguir outros deuses, o Senhor levantou um cerco terrível
sobre Samaria, usando para isso os sírios, esse cerco trouxe grande fome em Israel, a ponto de mães comerem seus
próprios filhos. Quando consultado o profeta Eliseu, disse que esse mal veio do Senhor, que estava retribuindo o mal
que Israel fazia, porém o profeta deu uma palavra de esperança, proferindo “Ouvi a palavra do SENHOR; assim diz o
SENHOR: Amanhã, quase a este tempo, haverá uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por
um siclo, à porta de Samaria”. Ao ouvir essa palavra um capitão de Israel debochou de Deus e de seu profeta, por
isso Eliseu o maldiçoou dizendo “Eis que o verás com os teus olhos, porém disso não comerás”. A palavra do Senhor
por intermédio do Senhor se cumpriu, quatro leprosos, que pelo cerco estava morrendo de fome, foram pedir
alimento para os sírios, porém, quando ali chegaram o exército tinha fugido e deixado toda a bagagem e
mantimentos para trás. O Senhor fez os sírios ouvirem ruídos de um grande exercito, e pensando que eram os
heteus e egípcios, fugiram desesperadamente, e como disse o profeta, houve alimentos em abundancia e o capitão
da guarda morreu pisoteado pelo povo que saia da porta da cidade.

“E Eliseu estava doente da enfermidade de que morreu, e Jeoás, rei de Israel, desceu a ele, e chorou
sobre o seu rosto, e disse: Meu pai, meu pai, o carro de Israel, e seus cavaleiros! E Eliseu lhe disse: Toma
um arco e flechas. E tomou um arco e flechas.” 2 Reis 13:14,15

A última ação de Eliseu em vida foi à profecia para Jeoás rei de Israel, quando Eliseu adoeceu, da doença que
morreria o rei foi vê-lo e chorou ao ver Eliseu debilitado. Eliseu mandou o rei tomar um arco é flecha e atirar pela
janela, do lado do oriente, aquela seria a flecha do livramento de Israel contra os sírios. O profeta também mandou o
rei pegar uma flecha e ferir com ela o chão, Jeoás feriu somente 3 vezes o chão, Eliseu ficou visivelmente
contrariado, e perguntou porque o rei não feriu muitas vezes? Pois assim teria tantas vitorias que consumiria os
sírios, mas como feriu o chão somente 3 vezes, somente ferirá três vezes os sírios.

“Depois morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, as tropas dos moabitas invadiram a terra à entrada do ano.
E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram uma tropa, e lançaram o homem na sepultura
de Eliseu; e, caindo nela o homem, e tocando os ossos de Eliseu, reviveu, e se levantou sobre os seus
pés.” 2 Reis 13:20,21

Pouco após a profecia a Jeoás rei de Israel Eliseu morreu e foi sepultado, porém Israel continuou em guerra com os
sírios. O ultimo milagre atribuído a Eliseu é a ressureição de um morto em combate, quando a tirado em sua cova,
diz a Palavra que quando o corpo morto caiu sobre os ossos de Eliseu, o morto ressuscitou.

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4.4. Queda do Reino do Norte
“E sucedeu, no quarto ano do rei Ezequias (que era o sétimo ano de Oséias, filho de Elá, rei de Israel),
que Salmaneser, rei da Assíria, subiu contra Samaria, e a cercou. E a tomaram ao fim de três anos, no
ano sexto de Ezequias, que era o ano nono de Oséias, rei de Israel, quando tomaram Samaria.”

2 Reis 18:9,10

A interpretação dos textos bíblicos não tem uma perspectiva primaria histórica e sim teológica, esse texto narra
teologicamente os últimos anos do Reino do Norte, de forma que o autor bíblico, sob a perspectiva da obediência ou
desobediência da Lei. O autor de Reis encontra o ponto alto de todo esse desenvolvimento histórico de Israel, na
ruína do Reino do Norte, resultado da sua rebeldia contra o Senhor. De fato, é a partir desta narrativa que o texto
bíblico explicita os motivos determinantes que levaram o Reino do Norte ao fim. Narrar esta história é importante
para que Judá não venha a cair no mesmo caminho do Reino do Norte e perca sua herança. A arqueologia tradicional
enfatiza a riqueza de Israel como fruto de um cenário político internacional que libertou o Reino do Norte da pressão
de Damasco e possibilitou um breve período de crescimento, aspecto deixado de lado pela Sagrada Escritura. Já a
arqueologia recente ressalta que o Reino do Norte não é tão frágil e inofensivo como se pensava. Israel age com
sagacidade e audácia durante o avanço do império assírio além do Eufrates. No entanto, o processo de expansão da
Assíria apresentou-se mais eficaz e mais forte diante da riqueza e vitalidade que marcaram os últimos anos do Reino
do Norte.

Devido à idolatria, a injustiça social e a degradação moral do povo de Israel (reino do Norte), Deus suscitou uma
poderosa nação para punir o povo, e seu castigo veio em forma de destruição e cativeiro, e para isso usou a Assíria.
O Reino da Assíria era governado por reis expansionistas, que para ampliar seu império usavam de esforço brutal,
para aniquilar qualquer nação que não se rendesse, de forma incondicional. Muitos governantes cruéis levantaram-
se nesse império, e entre eles, Salmaneser que conquistou Samaria e Senaqueribe, que só não conquistou Judá nos
tempos de Ezequias, porque o Senhor deu livramento. Samaria foi invadida pela Assíria, sob o comando de
Salmaneser V (filho de Tiglate-Pileser) nessa ocasião o rei Oséias foi preso e Samaria foi sitiada por três anos, antes
de finalmente sucumbir em 722 a.C. (2Rs 17:5,6). Já no inicio do cerco, multidões pereceram miseravelmente de
fome e de enfermidades bem como pela espada. E quando a cidade caiu (Samaria)os remanescente das dez tribos
foram levados cativos e espalhados entre as províncias do domínio assírio. Em seu lugar foram colocados outros
povos, dando origem ao povo “samaritano”; era a política usual do rei da Assíria aos povos conquistados, A partir
desse momento nunca mais a nação de Israel voltou do cativeiro. Porém, o profeta Jeremias (33:6,7) após o cativeiro
judeu em Babilônia (586 a.C.), foi usado por Deus para proferir a restauração escatológica de Judá e Israel, dando
uma luz de esperança messiânica nessa nação destruída (Judá e Israel).

74
1. Livro de Crônicas

75
1.1. Introdução ao Livro de Crônicas
Autor: Segundo o livro do Baba Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico), Esdras que escreveu os livros de
Crônicas, Esdras, Neemias e Ester, colocarei o trecho do Talmude que comprova a autoria de Esdras desde os
primórdios da cultura judaica: “Além do Pergaminho de Ester, Esdras escreveu o livro que leva o seu nome e as
genealogias do Livro das Crônicas até o seu próprio tempo. Isto confirma a opinião de Rab, uma vez que Rab Judah
disse em nome de Rab: Esdras não deixou a Babilônia para ir até Eretz Yisrael até que ele escreveu sua própria
genealogia. Quem então terminou [o Livro de Crônicas]? Neemias, filho de Hacalias.”. É evidente que existem muitas
similaridades entre o livro de Crônicas e o livro de Esdras, o livro de Crônicas termina registrando o decreto de Ciro
em 538 a.C. referente à libertação dos judeus do cativeiro na Babilônia (2 Crônicas 36:22,23). O livro de Esdras
parece ser a sequência natural dessa narrativa, visto, inclusive, que os últimos versículos de Crônicas são repetidos
como os primeiros versículos de Esdras. Assim, o livro de Esdras dá continuidade ao relato da história dos judeus a
partir dos dias de Ciro. Além disso, ambos os livros destacam as listas e as genealogias, enfatizando as atividades
sacerdotais e a observância da Lei, isso parece sugerir que o autor de Crônicas tinha afinidades com as preocupações
sacerdotais que são características ao ministério de Esdras. O autor de Crônicas também parece demonstrar um
interesse especial sobre a monarquia davídica o que mostra Crônicas como uma introdução ao livro de Esdras, o
olhar privilegiado para a monarquia judaica em detrimento a do Norte, demonstra claramente que o autor viveu em
um tempo pós-exílio, reduzindo as chances de inspiração proféticas somente a Esdras.

Propósito: Diferente do livro de Reis, que foi escrito com visão profética para mostrar como a desobediência ou a
obediência molda a historia do povo de Deus, culminando na sua destruição, o livro de Crônicas, foca na
reconstrução de Judá. Em Reis vemos as biografias de personagens tanto do Reino do Sul como do Reino do Norte,
justificando a destruição de Samaria e Jerusalém, já em Crônicas que foi escrito depois do exilio a historia é contada
com foco na linhagem de Davi, onde reside a esperança messiânica da reconstrução de Judá. O reflexo de ser escrito
depois do exilio é sentido na pouca importância que o Reino do Norte tem nesse livro, sendo registrados de forma
secundaria, somente quando interage com o Reino do Sul. Essa característica de privilegiar Judá, demonstra
claramente o desentendimento dos Judeus com os Samaritanos, o que mostra que o livro foi escrito no pós-exílio.
Em suma, o livro de Crônicas foi escrito para abalizar a esperança messiânica em Judá, e para mostrar que mesmo na
destruição, sempre haverá uma lâmpada para Davi e seu povo.

Conteúdo: O livro de Crônicas contêm registros históricos escritos sob um olhar pós-exílicos, que demonstra essa
historia sob um prisma de esperança messiânica e da reconstrução de Judá. O livro inicia seus registros com a queda
de Saul e a ascensão de Davi, o rei messiânico, cobrindo toda historia de Judá, através da genealogia de Davi, até a
queda de Zedequias, o ultimo rei de Judá. Porém, diferente de Reis que termina sua historia com a destruição de
Jerusalém, anunciando assim a sentença sobre a desobediência do povo de Deus, Crônicas acrescenta o edito de
Ciro (texto repetido no começo de Esdras), que demonstra a esperança messiânica da reconstrução de Judá, através
da linhagem de Davi. Em suma, Crônicas contém, toda historia dos reis de Israel, a partir da queda de Saul e a
ascensão de Davi, passando pela separação do Reino (Norte e Sul), a queda de Samaria e após de Jerusalém, e
termina com um acréscimo que o livro de Reis não possui o decreto de Ciro libertando os judeus do cativeiro.

Data de escrita: Temos uma pista na tradição judaica que pode nos dar uma pista do tempo que foi escrito o livro,
segundo o livro do Baba Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico), “Além do Pergaminho de Ester, Esdras
escreveu o livro que leva o seu nome e as genealogias do Livro das Crônicas até o seu próprio tempo. Isto confirma a
opinião de Rabi, uma vez que Rab Judah disse em nome de Rabi: Esdras não deixou a Babilônia para ir até Eretz
Yisrael até que ele escreveu sua própria genealogia. Quem então terminou [o Livro de Crônicas]? Neemias, filho de
Hacalias.” Esse trecho nos sugere que Esdras escreveu o livro de Crônicas antes de sair de Babilônia, e após o edito
de Ciro que ele mesmo registrou. O que limita a escrita do livro, entre 538 a.C. (Edito de Ciro), e a chegada de Esdras
a Jerusalém em 458 a.C. Esdras ainda estava em Jerusalém, em 446 a.C. quando chega Neemias, levando em conta
que Esdras escreveu o livro após os 30 anos (idade mínima para ser escriba), e com certeza chega a Jerusalém, com
certa idade, já que é o sumo-sacerdote. Assim sendo é possível que Esdras em sua chegada a Jerusalém contasse

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com 45 anos, idade suficiente para ser o líder dos sacerdotes, o que colocaria a data da escrita entre 473 (possível
data para Esdras fazer 30 anos) e 459 (um ano antes de Esdras chegar a Jerusalém, lembrando que a distância era
longa, desprendendo vários meses para completar a viagem).

Esfera de ação: A esfera de ação de Crônicas se inicia com a queda de Saul e o começo do reinado de Davi em cerca
de 1010 a.C. (desconsiderando as genealogias como esfera de ação)e possui seu fim histórico em 586 a.C. na queda
de Judá, porém, com o acréscimo do decreto de Ciro, a esfera de ação teológica seria em cerca de 538 a.C. Portanto,
a esfera de ação total do livro de Crônicas (No original era um só livro) compreende um espaço de tempo de cerca de
470 anos.

Esfera de ação (somente primeiro livro de Crônicas): O Primeiro livro de Crônicas se inicia no começo do reinado de
Davi em cerca de 1010 a.C. (desconsiderando as genealogias como esfera de ação)e se finda no termino do reinado
do próprio rei Davi em cerca de 970 a.C. Podemos dizer que a esfera de acontecimentos do livro de Primeiras
Crônicas compreende somente o período do reinado de Davi, ou seja, 40 anos (1 Rs 2:11).

Esfera de ação (somente segundo livro de Crônicas): O Segundo livro de Crônicas se inicia no começo do reinado de
Salomão em cerca de 970 a.C. e se finda com a destruição de Jerusalém em 586 a.C. e com o decreto de Ciro em
cerca de 538 a.C. Podemos dizer que a esfera de acontecimentos compreendidas em Segundas Crônicas cobre do
começo do reinado de Salomão a ordem de libertação expelida por Ciro aos judeus, ou seja, cerca de 430 anos.

1.2. Índice do Livro de Primeiras Crônicas


1: Genealogias de Adão até os que retornaram do cativeiro: caps.1-9;

2: Reinado de Davi sobre Judá e Israel: caps. 10-29.

1.2.1. Índice do Livro de Segundas Crônicas


1: O Reinado de Salomão: caps. 1-9;

2: O Reino em Judá: caps. 10-35;

3: O cativeiro de Judá: cap. 36:1-20;

4: O decreto de Ciro: cap. 36:21-23.

1.2.2. Esboço sintético do livro de Primeiras Crônicas


I Crônicas caps. 1-9: Genealogias;

I Crônicas caps. 10-21: Reinado de Davi;

I Crônicas caps. 22-28: Preparativos para a Construção do Templo e administração de Davi;

I Crônicas cap. 29: Final do reinado de Davi.

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1.2.3. Esboço sintético do livro de Segundas Crônicas

II Crônicas cap. 1: Início do reinado de Salomão;

II Crônicas caps. 2-6: Construção do Templo;

II Crônicas cap. 7: Dedicação do Templo e aliança do Senhor com Salomão;

II Crônicas caps. 8-9: Reinado de Salomão e seu final;

II Crônicas caps. 11-12: Separação do Reino de reinado de Roboão;

II Crônicas cap. 13: Reinado de Abias;

II Crônicas caps. 14-16: Reinado de Asa;

II Crônicas caps. 17-20: Reinado de Jeosafá;

II Crônicas cap. 21: Reinado de Jeorão;

II Crônicas cap. 22: Reinado de Acazias e usurpação de Atalia;

II Crônicas caps. 23-24: Morte de Atalia e reinado de Joás;

II Crônicas cap. 25: Reinado de Amazias;

II Crônicas caps. 26: Reinado de Uzias;

II Crônicas caps. 27: Reinado de Jotão;

II Crônicas caps. 28: Reinado de Acaz;

II Crônicas caps. 29-32; Reinado de Ezequias;

II Crônicas caps. 33: Reinado de Manassés;

II Crônicas caps. 34-35; Reinado de Josias;

II Crônicas cap. 36:1-4: Deposição de Jeoacaz;

II Crônicas cap. 36:5-8: Reinado de Jeoaquim;

II Crônicas cap. 36:9-10: Reinado de Joaquim;

II Crônicas cap. 36:11-16: Reinado de Zedequias;

II Crônicas cap. 36:17-20: Cativeiro de Judá

II Crônicas cap. 36:21-23: Decreto de Ciro.

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1.3. O contraste entre os livros de Samuel, Reis e Crônicas
Como antes dito, tanto o livro de Samuel como o livro de Reis e o livro de Crônicas, no original não apresentam dois
volumes e sim um livro. Que foram separados em 2 volumes cada (1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas) na
tradução da Septuaginta, por motivos meramente físicos, já que a tradução grega ocupava mais espaço que a Bíblia
no hebraico, precisando assim dividir em 2 livros ou dois rolos. Esses 3 livros (Samuel, Reis e Crônicas) contam a
historia da monarquia em Israel, Samuel apresenta o final do período dos Juízes e o inicio da monarquia, encerando
sua narração na transição do reinado de Davi para Salomão. Reis inicia textualmente onde Samuel termina, com a
introdução do reinado de Salomão, sendo assim continuação textual de Samuel, em Reis Jeremias descreve a historia
de Israel (Judá e Israel) até a destruição de Jerusalém e o cativeiro babilônico. Já Crônicas, tem uma preocupação
maior com o reinado de Judá, por isso, inicia seu relato com a queda de Saul (ignorando o reinado do rei Bejamita) e
a ascensão do rei Davi, Esdras segue narrando a historia no ponto de vista judaico até a destruição de Jerusalém.
Porém, como foi escrito após a queda de Jerusalém e o edito de Ciro, Crônicas trás em seus registros o mandato de
Ciro para libertação dos Judeus e reconstrução de Jerusalém. Textualmente podemos nos referir que o livro de Reis é
continuação histórica do livro de Samuel, e que o livro de Crônicas é um relato paralelo que prioriza textualmente a
historia do povo judeu e seus reis.

O livro de Samuel foi escrito em partes depois da rejeição de Saul e seu final quando Davi já estava no poder, o de
Reis foi escrito logo após a queda de Jerusalém e Crônicas, após o edito de restauração dado por Ciro. Através de um
estudo da época do autor podemos chegar ao motivo teológico que levou os autores registrarem a historia, o
profeta Samuel (até o cap. 24) registrou a historia de suas origens e do reinado de Saul, para mostrar sua autoridade
profética (1 Sm 3:20), para demonstrar a rejeição de Saul (1 Sm 15:23,26,35; 16:1), bem como dar legalidade ao
reinado posterior de Davi (1 Sm 16:1,13,14,23; 1 Sm 18:28-30; 1 Sm 23:16-18). A segunda parte de Samuel foi escrita
por Natã e Gade, e foram escritos durante o reinado de Davi, sendo os dois escritores dignitários da corte, assim
sendo, o objetivo teológico dos registros históricos primeiro (1 Samuel 25-31) era apresentar um rei mal perseguindo
um injustiçado Davi (1 Sm 26:7-21), já segunda parte (2 Samuel) era mostrar a superioridade do reinado de Davi
sobre de seu predecessor (2 Sm 1:5-17; 2 Sm 3:1; 2 Sm 4:7-12; 1 Sm 5:1-4; 2 Sm 6:13-21; 2 Sm 7:8-17). O livro de
Jeremias mesclou compilações (registros antes da vida do profeta, 1 Rs 11:41; 1 Rs 14:19; 1 Rs 14:29; 2 Rs 14:6; 2 Rs
2:8), com registros de testemunha ocular (Presenciados pelo profeta Jeremias, 2 Rs 25 possui mesmo registros de Je
39 e 52), por isso, o objetivo de Jeremias em Reis era dar legalidade e explicar o porque das destruições dos Reinos
do Norte e do Sul. O Livro de Crônicas foi copilado por Esdras, como vimos antes de sua chegada a Jerusalém, por
sua nacionalidade judaica, ele pretere intencionalmente os registros do reino do Norte, se concentrando em Judá,
assim sendo, sua teologia expressada através dos registros históricos, tem como objetivo mostrar através da historia
que enquanto existir a linhagem de Davi, sempre haverá esperança para Judá.

Teologicamente o livro de Samuel é uma apologia ao rei messiânico Davi, a parte que coube ao profeta Samuel (até
o capítulo 24 de 1 Samuel) registra uma historia desastrosa sobre o rei Saul e como Deus se provê de um rei
escolhido segundo o seu coração. Já a parte que coube a Natã e Gade (funcionários da corte de Davi) em Primeiro
Samuel (Do capitulo 25 ao 31) destaca a perseguição injusta de um rei mal a seu servo fiel e o final desastroso do
reinado de Saul. Já o segundo livro de Samuel, escrito totalmente por Natã e Gade, realça a superioridade do Rei
Davi sobre o rei Salomão, acentuando a exaltação da linhagem que sairia de Davi. A parte escrita por Samuel foi
registrada após a unção de Davi e consequentemente a rejeição de Saul, por isso, esses registros históricos tiveram a
intenção de diminuir a importância de Saul e apresentar a Davi como o escolhido de Deus. Já os relatos de Natã e
Gade foram escritos provavelmente durante o final do reinado de Davi (Porém, ainda em vida do rei, pois não
registra sua morte) e por isso, tende a consolidar o reinado de Davi. No capítulo 7 (2 Samuel) após o desejo de Davi
de construir o Templo, Natã usando as base de Juízes (17-21) e Rute, descreve em Davi a esperança de um rei
messiânico. Podemos concluir que o objetivo máximo do Livro de Samuel (1 e 2) é apresentar o rei messiânico, Davi,
e assim criar uma linhagem de onde viria nascer o próprio Senhor, o messias de Israel, e salvador do mundo.

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Textualmente o livro de Reis (1 e 2) é a continuação histórica do livro de Samuel (1 e 2), porém, seu intuito teológico
é totalmente diferente. Em Samuel vemos a apresentação do rei messiânico e de sua linhagem, em Reis vemos um
profeta em ação (Jeremias) registrando a historia sob o olhar da obediência ou desobediência da Palavra Profética. A
história em Reis é registrada sob o olhar teológico de um profeta, onde essa historia é desenvolvida pelo Senhor,
que reage a obediência ou a desobediência dos reis e lideres frente à Palavra de Deus. Enquanto Samuel registra
teologicamente o inicio da genealogia de Davi, Reis é um livro biográfico, onde de forma igual, registra a vida dos
personagens em destaque tanto do Reino do Norte, quanto do Reino do Sul (prova que foi escrito antes da volta do
exilio). Assim, mesmo sendo textualmente continuação histórica de Samuel, teologicamente Reis não se assemelha
ao livro de Samuel, sendo mais parecido em literatura aos livros proféticos, até porque seu autor é Jeremias.
Enquanto no livro que leva seu nome Jeremias registra sua teologia em forma de Palavra Profética, em Reis essa
mesma teologia é registrada em forma de historia, fornecendo um fundo histórico para o livro que leva seu nome.
Em ultima instancia o Livro de Reis, é um tratado teológico que explica os motivos da queda tanto de Samaria,
quanto a de Jerusalém.

Já o Livro de Crônicas textualmente não se apresenta como continuação de nenhum livro predecessor, antes se inicia
no meio do livro de Samuel (Se inicia junto a 2 Samuel, lembrando que na época de Esdras, Samuel era um só
volume). Sua historia se apresenta paralelamente a 2 Samuel e ao livro de Reis (1 e 2), apresentando ainda um
cumprimento da própria profecia de Jeremias, no seu relato sobre o decreto de Ciro. Porém, teologicamente
podemos dizer que, o livro de Crônicas é uma continuação do livro de Samuel, mas se é assim, porque Crônicas não
narra o reinado de Saul, que é descrito em Samuel? Simples, assim como todos os registros de 1 Samuel tinham o
objetivo de exaltar a linhagem de Davi em detrimento a de Saul, Crônicas também é um livro genealógico, que se
detém em contar a historia da linhagem de Davi e de seu reino Judá. Enquanto Samuel apresenta a linhagem de Davi
e o nascimento da esperança messiânica, Crônicas olha para atrás e apresenta a linhagem de Davi como a esperança
para a restauração de Judá. Em Crônicas a historia dos reis do norte e do reino de Israel é preterida, aparecendo
somente quando interagem com o rei de Judá, dando-nos a certeza que esse livro foi produzido após o exilio,
quando acentuou a magoa entre judeus e samaritanos. Portanto, a teologia de Crônicas é messiânica, registrando a
historia sobre o prisma da linhagem de Davi, demonstrando assim, que a inda a esperança para Judá enquanto viver
a linhagem de Davi. Em Suma, a teologia de Crônicas é genealógica, e se valeu de um registro de Jeremias (1 Rs
15:4), “Que sempre haveria uma lâmpada para Davi”, assim sendo, através da linhagem de Zorobabel (Linhagem de
Davi nos tempos de Esdras), a esperança de restauração ainda estava de pé.

1.4. A genealogia messiânica através das biografias dos reis de Judá

“E há de ser que, quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua
descendência depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino. Este me edificará casa; e eu
confirmarei o seu trono para sempre.” 1 Crônicas 17:11,12

Como dito anteriormente o livro de Crônicas se concentra na genealogia de Davi, contada através dos reis de Judá e
seu reino, como já estudamos a biografia de Davi e Salomão, começaremos por Roboão. Abordaremos nesse tratado
as biografias de maiores impactos, já que por espaço físico não conseguiríamos abordar a historia dos 19 reis de Judá
(mais a usurpadora Atalia). Abaixo colocarei uma tabela com todos os reis de Judá.

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1.4.1. Roboão (1º Rei de Judá, 931-913 a.C.)
“E foi Roboão a Siquém, porque todo o Israel se reunira ali, para fazê-lo rei.” 2 Crônicas 10:1

Após 120 anos de monarquia unida, onde todo Israel estava debaixo de um só governante (Saul, Davi e Salomão), o
rei morre e naturalmente seria sucedido por seu filho, Roboão. Todo o povo de Israel se reúne na cidade Siquém,
que ficava no território da tribo de Manassés (Galiléia), para ali fazer o herdeiro de Salomão rei de todo Israel.

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“Veio, pois, Jeroboão, e todo o povo, ao terceiro dia, a Roboão, como o rei havia ordenado, dizendo:
Voltai a mim ao terceiro dia. E o rei lhes respondeu asperamente; porque o rei Roboão deixara o
conselho dos anciãos.” 2 Crônicas 10:12,13

A vontade do povo era fazer de Roboão rei de todo Israel, e para isso tinha uma única exigência, que Roboão
aliviasse os impostos pesados que impôs em todo Israel. A riqueza do rei Salomão foi construída em partes com os
altos tributos que aplicou em sua seus distritos, empobrecendo extremamente todo Israel, com exceção do território
de Judá onde era tudo mais brando, e esse distrito federal se beneficiava da riqueza das demais tribos. Porém, para
se cumprir a Palavra de Deus dita pelo profeta Aías a Jeroboão (1 Rs 11:30), Roboão ignorou a voz do povo e dos
anciões que o aconselhava e seguiu conselhos de seus jovens amigos, e assim, não deu uma reposta favorável ao
povo de Israel. Frente a negativa de Roboão para aliviar a carga tributaria, os Israelitas deixaram de seguir a
liderança da linhagem de Davi, e colocaram sobre si Jeroboão como rei.

“Assim se rebelaram os israelitas contra a casa de Davi, até ao dia de hoje.” 2 Crônicas 10:19

Após a reposta incauta de Roboão, o império de Salomão se divide, com somente Judá e Benjamim seguindo a
linhagem de Davi (2 Crônicas 11:12) e as demais 10 tribos seguindo Jeroboão. Um ponto interessante é o fato de
somente uma tribo se juntar a Judá reconhecendo Roboão, a tribo de Benjamim, a ultima a reconhecer Davi como
rei de todo Israel, porque era a tribo de Saul seu predecessor.

“Também os sacerdotes e os levitas, que havia em todo o Israel, se reuniram a ele de todos os seus
termos. Porque os levitas deixaram os seus arrabaldes, e a sua possessão, e vieram a Judá e a Jerusalém,
porque Jeroboão e seus filhos os lançaram fora para que não ministrassem ao Senhor.”
2 Crônicas 11:13,14

Jerusalém era o único centro oficial de culto, onde todos os homens deveriam se reunir nas festas fixas para adorar,
todo esse sistema era organizado pelos sacerdotes e levitas, porém, Jeroboão com medo de seu povo descer para
Jerusalém e voltar seu coração para o descendente de Davi, fez templos e festas pagãs em Israel (1 Rs 12:26-31).
Nesses templos Jeroboão colocou como sacerdotes outras linhagens (1 Rs 12:31), preterindo a levita, que fora
escolhida por Deus, com essa decisão do Rei de Israel, os levitas e sacerdotes deixaram o suas habitações nas 10
tribos e se mudaram para Judá.

“Assim fortaleceram o reino de Judá e corroboraram a Roboão, filho de Salomão, por três anos; porque
três anos andaram no caminho de Davi e Salomão.” 2 Crônicas 11:17

A historia do povo de Deus é moldada através da obediência a Lei de Deus, e por três anos Roboão e seu povo foi fiel
a Lei e assim Deus fortaleceu seu reino. A história narrada em Crônicas é vista através de uma perspectiva sacerdotal
de Esdras, onde o cumprimento da Lei capacita o rei da linhagem de Davi a conduzir seu povo à prosperidade,
sempre haverá uma esperança para Judá, enquanto seu “messias” guardar a Lei.

“Sucedeu que, havendo Roboão confirmado o reino, e havendo-se fortalecido, deixou a lei do SENHOR, e
com ele todo o Israel. E sucedeu que, no quinto ano do rei Roboão, Sisaque, rei do Egito, subiu contra
Jerusalém (porque tinham transgredido contra o Senhor)” 2 Crônicas 12:1,2

Deus deu um crescimento extraordinário a Judá, porém, Roboão acreditou que esse crescimento era méritos seus, e
assim deixou de obedecer a Lei, por isso, deus enviou Sisaque rei do Egito para punir Judá por seus pecados. Aqui
vemos a outra faceta da historia teológica relatada por Esdras, onde o rei e o povo deixaram de guardar a Lei e
foram penalizados por isso. Vemos nesses dois exemplos na vida de Roboão, que a historia de Judá é construída
através da teologia, dependendo assim, de sua obediência ou não da Lei do Senhor.

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“E humilhando-se ele, a ira do Senhor se desviou dele, para que não o destruísse de todo; porque em
Judá ainda havia boas coisas.” 2 Crônicas 12:12

Durante a invasão Deus levanta o profeta Semaías, para dizer que a destruição veio do Senhor como reflexo dos
pecados feitos pelo rei e todo o povo, porém, Semaías tinha uma palavra de restauração, pois se o rei e o povo se
humilhassem e se arrependesse o Senhor livraria Judá. Diferente de outros reis mais arrogantes, Roboão se
humilhou diante do Senhor e Deus livrou Judá da destruição total.

“E houve guerra entre Roboão e Jeroboão todos os seus dias. 1 Reis 14:30”

Por mais que Judá não andou inteiramente no caminho do Senhor, ainda existia certo temor de Deus na linhagem de
Davi, por isso, Judá e Israel eram reinos opostos, pois Israel era extremamente idolatra. Essa diferença de teologia
não permitiu que os dois reinos se aproximassem no começo da historia do reino dividido, o que levou a varias
guerras entre Judá (Reino do Sul) e Israel (Reino do Norte). Enquanto ouve temor de Deus em Judá a expressão
“ouve guerra” era recorrente, pois essas guerras eram reflexo da diferença de visão entre os dois reinos de Israel (Sul
e Norte).

“E fez o que era mau; porquanto não preparou o seu coração para buscar ao Senhor.” 2 Crônicas 12:14

Não obstante se humilhar perante o Senhor, no caso da invasão dor rei do Egito, Roboão, filho de Salomão, foi
classificado por Jeremias e por Esdras como um rei mal (1 Rs 14:21-24; 2 Cr 11:14). Mesmo com todos os pecados de
Judá a humilhação de Roboão e seu povo denotava que ainda havia coisas boas em Judá (2 Cr 12:12), e por isso Deus
ainda poupava seu povo da destruição.

1.4.2. Atalia (7ª Rainha, usurpadora de Judá, 841-835 a.C.)

“Da idade de trinta e dois anos era Jeorão, quando começou a reinar; e reinou oito anos em Jerusalém. E
andou no caminho dos reis de Israel, como fazia a casa de Acabe; porque tinha a filha de Acabe por
mulher; e fazia o que era mau aos olhos do Senhor.” 2 Crônicas 21:5,6

No capítulo acima vimos que o desentendimento religioso foi um dos fatores que levaram as guerras entre as casas
de Judá e Israel, mas o que aconteceria quando as duas casas fossem más? A bíblia o rei de Judá, Jeorão filho de
Jeosafá, deixou o caminho de seu pai Davi e antes seguiu o caminho dos reis de Israel, ao ponto de casar-se com a
Atalia, filha de Acabe e Jezabel (A Bíblia não declara a filiação de Atalia com Jezabel, porém a tradição afirma esse
fato; Fontes: Jerusalém: uma cidade e três religiões de Karen Armstrong; História de Israel e Povos vizinhos de
Herbert Donner, pág. 298; Dicionário da Bíblia de Bruce Metzger, pág. 154; Pequena Enciclopédia Bíblica de Temas
Femininos de Alaid Schimdt, pág. 43). Essa parceria com o vizinho idólatra (Reino do Norte) atraiu a condenação de
Deus sobre Judá, assim Jeorão, morreu com uma doença nas entranhas (2 Crônicas 21:18), em seu lugar reino seu
filho mais novo Jeoacaz, pois os outros foram levados cativos (2 Cr 21:16,17), o epiteto de Jeorão foi único e mais
triste de todos os reis de Judá, “e foi sem deixar de si saudades” (2 Cr 21:20), ele foi tão mal que nem enterraram ele
no sepulcro dos reis (2 Cr 21:20). Acazias (variante do nome Jeoacaz) não foi melhor que seu pai, pois seguiu
conselho de sua mão, Atalia (2 Cr 22:3; Chamada aqui de filha de Onri, por ser ele fundador da dinastia do rei
Acabe), e se aliou com o rei de Israel Jorão filho de Acabe, e acabou morto pelo General Jeú (2 Cr 22:7-9)quando
esse dissipava toda a dinastia de Acabe.

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“Vendo, pois, Atalia, mãe de Acazias, que seu filho era morto, levantou-se e destruiu toda a
descendência real da casa de Judá. 2 Crônicas 22:10

O que esperar da filha de Jezabel, se a mãe praticamente extirpou o conhecimento de Deus no reino do Norte? Se a
mãe matou quase todos os profetas de Deus e com traição assassinou Nabote para tomar ilicitamente sua herança?
Claro que a filha iria agir da mesma forma, ao invés de chorar a morte de seu Filho Acazias, Atalia manda matar
todos seus netos, para assim poder reinar em Judá.

“Porém Jeosabeate, filha do rei, tomou a Joás, filho de Acazias, furtando-o dentre os filhos do rei, aos
quais matavam, e o pôs com a sua ama na câmara dos leitos; assim Jeosabeate, filha do rei Jeorão,
mulher do sacerdote Joiada (porque era irmã de Acazias), o escondeu de Atalia, de modo que ela não o
matou.” 2 Crônicas 22:11

A linhagem messiânica de Davi só não chegou ao fim, pois Deus deu um livramento, e usou Jeosabeate filha do rei
Jeorão, e, portanto irmã de Jeocaz e tia de seus filhos, para salvar um dos filhos do rei, Joás. Jeosabeate junto com
seu esposo o sacerdote Joiada, esconderam o menino por seis anos no Templo (2 Cr 22:12) e assim salvaram a
linhagem de Davi, a mesma que adveio nosso Senhor.

“E toda aquela congregação fez aliança com o rei na casa de Deus; e Joiada lhes disse: Eis que o filho do
rei reinará, como o Senhor falou a respeito dos filhos de Davi.” 2 Crônicas 23:3

No sétimo ano após a matança dos filhos de Acazias, o sacerdote Joiada convoca toda a liderança de Judá para
mostrar Joás, o filho do rei e rei de direito (2 Cr 23:1-3). Então juntamente com os Levitas e todos os lideres de Judá,
Joiada, conclama Joás rei em frente ao Templo (2 Cr 23:8-11), todo o povo aclamou Joás como rei (2 Cr 23:12).

“E lançaram mão dela; e ela foi pelo caminho da entrada da porta dos cavalos, à casa do rei, e ali a
mataram.” 2 Crônicas 23:15

Atalia ouvindo o clamor do povo, veio ao Templo junto ao povo (2 Cr 23:12), quando viu Joás coroado, Atalia, rasgou
suas vestes e gritou, “traição” (2 Cr 23:13). Joiada manda que tirem Atalia de dentro do Templo, e a matem foro da
casa do Senhor, então, os centuriões, lançaram mão dela e a executaram enfrente a casa do rei (2 Cr 23:14,15).
Assim, morreu Atalia, rainha usurpadora de Judá, a filha de Jezabel, que quase extirpou a linhagem messiânica de
Davi, e assim, a justiça do Senhor foi feita através das mãos de Joiada, sacerdote da casa de Deus.

1.4.3. Joás (8º Rei de Judá, 835-796 a.C)


“Tinha Joás sete anos de idade quando começou a reinar, e quarenta anos reinou em Jerusalém; e era o
nome da sua mãe Zíbia, de Berseba.” 2 Crônicas 24:1

Após a morte de Atalia e a coroação de Joás, filho de Acazias, o sacerdote Joiada fez uma aliança com o rei e todo o
povo, para que eles fossem unicamente povo do Senhor (2 Cr 23:16), assim, derrubaram todos os altares de Baal (2
Cr 23:17) e reestabeleceram o culto único ao Senhor (2 Cr 23:18). Após Joiada, manda os lideres dos oficiais
conduzirem o rei Joás para seu trono (2 Cr 23:20) e com isso o povo de Deus se alegrou e teve paz em suas moradas
(2 Cr 23:21).

“E, depois disto, Joás resolveu renovar a casa do Senhor.” 2 Crônicas 24:4

Atalia e seus filhos eram ímpios, e assim, arruinaram a casa do Senhor e seus utensílios consagraram a baalins (2 Cr
24:7), porém o Senhor colocou no coração do rei Joás (2 Cr 24:4) o desejo de renovar a casa de Deus. Joás fez que
toda Judá dessem ofertas para a renovação do Templo e um cofre foi colocado na frente da casa de Deus para

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recolher essas ofertas (2 Cr 24:8-11), e esses recursos eram administrados pelo rei e o sacerdote Joiada (2 Cr 24:12).
Após o termino da reforma, Joiada aplica o restante do dinheiro na construção de utensílios para o Templo do
Senhor (2 Cr 24:14), enquanto viveu o sacerdote Joiada, salvador e nomeador do rei, ouve um grande avivamento
em Judá (2 Cr 24:14,15).

“E fez Joás o que era reto aos olhos do Senhor, todos os dias do sacerdote Joiada.” 2 Crônicas 24:2

Joás permaneceu fiel ao Senhor somente durante a vida de Joiada, após sua morte o rei cedeu aos desejos dos
príncipes de Judá, e incorreu no pecado de idolatria (2 Cr 24:17). Deus levantou então profetas para denunciar o
pecado, porém, eles não deram ouvidos à voz de Deus (2 Cr 24:19).

“E o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual se pôs em pé acima do povo, e
lhes disse: Assim diz Deus: Por que transgredis os mandamentos do Senhor, de modo que não possais
prosperar? Porque deixastes ao Senhor, também ele vos deixará.” 2 Crônicas 24:20

Por ultimo Deus levanta Zacarias filho do sacerdote Joiada e, portanto primo do rei (Lembrando que a esposa de
Joiada, Jeosabeate, era irmã de Acazias, pai de Joás), para mostrar que assim como Joás e os principais de Judá
deixaram o Senhor, Deus também os deixariam. Mas infelizmente apedrejaram Zacarias (2 Cr 24:21), e Joás,
esqueceu que o pai de Zacarias foi aquele que o salvou da morte (2 Cr 24:22), porém, Zacarias ao morrer disse “O
Senhor o verá, e o requererá.” (2 Cr 24:22).

“E sucedeu que, decorrido um ano, o exército da Síria subiu contra ele; e vieram a Judá e a Jerusalém, e
destruíram dentre o povo a todos os seus príncipes; e enviaram todo o seu despojo ao rei de Damasco.”
2 Crônicas 24:23

Como forma de punição a Judá por sua idolatria e também ao rei pelo assassinato de Zacarias filho de Joiada, Deus
suscita o coração do rei da Síria, que invade e destrói Judá, levando muitas riquezas para Damasco, sua capital. Os
sírios vieram em poucos homens, porém, o juízo era de Deus e o Senhor deu vitória (2 Cr 24:2424), ao deixarem
Judá, os sírios deixaram Joás gravemente ferido (2 Cr 24:25), então os próprios servos do rei o mataram, em
vingança ao sangue de Zacarias, filho do Sacerdote Joiada (2 Cr 24:25). Joás foi um bom rei por toda a vida de seu
mentor, o sacerdote Joiada, após a morte desse, conduziu o povo para a idolatria e demonstrou ingratidão e total
impiedade na morte de Zacarias, seu primo. Por essas ultimas maldades e por guiar o povo para idolatria, foi negado
a Joás ser enterrado nos sepulcros da linhagem de Davi.

1.4.4. Uzias (10º Rei de Judá, 781-740 a.C.)


“Então todo o povo tomou a Uzias, que tinha dezesseis anos, e o fizeram rei em lugar de Amazias seu
pai.” 2 Crônicas 26:1

Uzias filho de Amazias começou a reinar com 16 anos, após o assassinato de seu pai (2 Cr 25:27) na cidade de Laquis
(sudoeste de Jerusalém), seu reinado foi longo, a Bíblia registra 52 anos (2 Cr 26:3). Uzias foi um dos reis mais
poderosos de Judá, com uma ótima politica administrativa e militar (1 Cr 26:6-15).

“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o
Senhor seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso.”
2 Crônicas 26:16

Seu grande reinado ensorbeceu seu coração, a ponto de querer oferecer incenso dentro da casa de Deus, atributo
exclusivo dos sacerdotes levitas. Os sacerdotes, tentaram impedir o rei de cometer essa loucura (2 Cr 26:17,78),
porém, Uzias não deu ouvidos e adentrou ao templo (2 Cr 26:19), ao entrar Deus o feriu de lepra (2 Cr 26:20).

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“O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará,
como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” 2 Tessalonicenses 2:4

Abrindo um parêntese, acredito que na passagem acima temos um análogo com a interpretação de Paulo, pois assim
como Uzias, rei messiânico da linhagem de Davi, foi tentado impedir sua entrada no Templo, assim imagino que será
no caso do anticristo. Por ser da linhagem messiânica e um grande personagem politico, Israel aceitará a pretensão
messiânica do anticristo, porém, quando esse descendente da linhagem de Davi, tentar entrar no Templo, atributo
levita, encontrará resistência e assim se iniciara a segunda parte das dores de Parto (odin em grego), a quebra do
pacto ou Grande Tribulação (Mt 24:15,21).

“E dormiu Uzias com seus pais, e o sepultaram com eles no campo do sepulcro que era dos reis; porque
disseram: Leproso é. E Jotão, seu filho, reinou em seu lugar.” 2 Crônicas 26:23

Por sua soberba, Uzias fora punido pelo Senhor, e até a sua morte esteve leproso, ao morrer foi privado de ser
enterrado nos sepulcros reais, pois era leproso. Uzias foi um rei bom, que andou segundo o coração do Senhor (2 Cr
24:4), na verdade foi um dos mais poderosos reis de Judá, sua ruina foi sua soberba (2 Cr 26:16), a Palavra nos diz
que Deus resiste aos soberbos e dá graças aos humildes (Tg 2:6).

1.4.5. Ezequias (13º Rei de Judá, 716-687 a.C.)


“Tinha Ezequias vinte e cinco anos de idade, quando começou a reinar, e reinou vinte e nove anos em
Jerusalém; e era o nome de sua mãe Abia, filha de Zacarias.” 2 Crônicas 29:1

Ezequias sucedeu seu pai Acaz, como rei de Judá, seu pai não dez o que era reto aos olhos dos Senhor (2 Cr 28:1,2),
antes praticou tudo que desagradava a Deus (2 Cr 28:3,4), assim o Setor entregou Judá nas mão dos sírios (2 Cr
28:5). Já Ezequias foi um rei que andou nos caminhos do Senhor, e seu coração era semelhante à de Davi (2 Cr 29:2),
em seu tempo Ezequias trouxe uma grande reforma religiosa (2 Cr 29:3-36), a Pascoa e a festa dos Pães Asmos que
Ezequias celebrou foi proverbial, sendo comparado ao tempo de Salomão (2 Cr 30), maior rei de Israel (Reino unido).

“E continuou o Senhor a falar com Acaz, dizendo:” Isaías 7:10

“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem (Jovem em hebraico) conceberá, e dará à
luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” Isaías 7:14

Uma das passagens mais bonitas que o Novo Testamento atribui a Jesus é Isaias 7:14 (Mt 1:23), que tem seu
cumprimento literal em Ezequias. Na passagem de Isaias (7) a Palavra nos diz que Deus dará um sinal a Acaz (rei de
Judá, pai de Ezequias), que seus opressores, Síria e Israel seriam destruídos por Deus (Is 7:2-11), o sinal seria o
nascimento de uma criança que cresceria no Senhor (Is 7:14-16). Durante o reino dessa criança, Deus levantaria o
reino da Assíria como verdugo de Judá (Is 7:17-19), fato que se cumpriu no Reinado de Ezequias (2 Cr 32; Is 36),
porém, pela retidão do rei messiânico Ezequias, o Senhor deu livramento a Judá (2 Cr 32:21; Is 37:36-38). A aplicação
primária da profecia tinha a ver com a promessa de Deus a Acaz, que esse lhe daria um filho iria, e isso seria um sinal
da parte de Deus, de que estaria com Judá, cabalmente essa profecia é cumprida em Jesus.

“Naqueles dias Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal; e veio a ele o profeta Isaías, filho de
Amós, e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás.”
Isaías 38:1

Após as grandes conquistas de Ezequias, a Palavra nos diz que ele se ensorbeceu (2 Cr 30:24), e por isso além da
doença vieram sobre Judá muitos males (2 Cr 30:25). Porém, o Senhor envia Isaias à presença do rei, e diz para ele
botar sua casa (vida) em ordem, pois morreria ao ouvir essas Palavras Ezequias se humilhou perante o Senhor (2 Cr

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30:26; Is 38:2,3). Após sua humilhação o Senhor cura Ezequias (Is 38:5,9), e como sinal desse milagre, o Senhor, fez
regressar 10° (40 minutos) no relógio de Acaz (Is 38:7,8). O relógio de Acaz era um dispositivo que marcava as horas
através da incidência da sombra, com a passagem do sol, essa sombra indicava em um dos riscos, podendo assim
demonstrar a hora pelo sol, abaixo colocarei um exemplo de relógio solar usado na época.

Quanto aos demais atos de Ezequias, e as suas boas obras, eis que estão escritos na visão do profeta Isaías, filho de
Amós, e no livro dos reis de Judá e de Israel.

“Naquele tempo enviou Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei de babilônia, cartas e um presente a
Ezequias, porque tinha ouvido dizer que havia estado doente e que já tinha convalescido.” Isaías 39:1

Quando Ezequias tinha sarado de sua doença, o rei da Babilônia envia seu filho com cartas e presentes a Ezequias, o
que fica muito alegre e mostra aos emissários da Babilônia todas as riquezas de seu reino (Is 39:2). Após a delegação
de Babilônia ir embora, o profeta Isaias repreende Ezequias por mostrar todo seu tesouro para os babilônicos, pois
conhecendo as riquezas de Judá, um dia Babilônia as buscaria, palavra cumprida na invasão de Nabucodonosor.

E dormiu Ezequias com seus pais, e o sepultaram no mais alto dos sepulcros dos filhos de Davi; e todo o
Judá e os habitantes de Jerusalém lhe fizeram honras na sua morte; e Manassés, seu filho, reinou em seu
lugar. 2 Crônicas 32:32,33

Mesmo cometendo alguns erros, Ezequias sem duvidas foi um dos reis mais piedosos de Judá, a libertação da Assíria
e a sua cura miraculosa demonstram claramente que Deus se agradava do rei. Após sua morte, Ezequias o grande
estadista foi enterrado com todas as honras nos sepulcros dos filhos de Davi. Manassés seu filho, que nasceu
durante os 15 anos acrescidos por Deus (o caso com a embaixada de Babilônia também foram nesses últimos 15
anos) reinou em seu lugar (2 Cr 33:1; Manassés começa reinar com 12 anos), e foi um dos piores reis de Judá (2 Cr
32:2-9).

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1.4.6. Josias (16º Rei de Judá, 640-609 a.C.)
“Tinha Josias oito anos quando começou a reinar, e trinta e um anos reinou em Jerusalém.”
2 Crônicas 34:1

Josias começo reinar cedo, com apenas 8 anos de idade, após a morte de seu perverso pai, rei Amom, que foi
assassinado por ser mal. Josias, porém tinha um coração voltado para o Senhor, seu Deus e com apenas 16 anos se
dispôs a buscar ao Senhor (2 Cr 34:3) e no ano duodécimo de seu reinado, começou uma profunda reforma religiosa
(2 Cr 34:3-5). De todos os reis de Judá Josias foi considerado o mais piedoso e o único que andou totalmente nos
caminhos de Davi (2 Cr 34:1,2,33; 34:25). Por intermédio de Josias, Deus trouxe um grande avivamento em Judá (2
Cr 34:31-33), a pascoa que comemorou, a Palavra diz que foi a maior depois dos tempos de Samuel, o profeta (2 Cr
35:1-18).

“E Hilquias disse a Safã, o escrivão: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safã.” 2
Crônicas 34:15

Sob as ordens do rei Josias os sacerdotes começaram a restaurar a casa do Senhor (2 Cr 34:8-13), durante essa
reforma foi achado o Livro da Lei de Moisés (Pentateuco, Torah, 2 Cr 34:14). A expressão bíblica “achei o livro”, pode
dar uma ideia no português, que o livro estava perdido e que foi achado inesperadamente durante a reforma da casa
de Deus, porém, no original a idéia não é de encontrar algo sumido e sim de encontrar algo que não mais se usava,
mas que com certeza se sabia onde estava. A Palavra hebraica “matsa’” traduzida no versículo como “achei”, tem
outras aplicabilidades no original, como “alcançar” e “buscar algo que estava guardado”, no texto analisado, é mais
assertivo entender como que o sacerdote buscou a Torah para mostrar ao rei. Lembrando que a após a morte do
piedoso rei Ezequias, Judá ficou 57 anos governada por reis maus e idólatras (55 anos Manassés e 2 anos Amon, pai
de Josias), o que resultou no preterimento do livro da Lei, com o novo rei, Hilquias sumo sacerdote, vê a
oportunidade de resgatar o livro da Lei.

“E o rei ordenou a Hilquias, e a Aicão, filho de Safã, e a Abdom, filho de Mica, e a Safã, o escrivão, e a
Asaías, servo do rei, dizendo: Ide, consultai ao Senhor por mim, e pelos que restam em Israel e em Judá,
sobre as palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do Senhor, que se derramou sobre
nós; porquanto nossos pais não guardaram a palavra do Senhor, para fazerem conforme a tudo quanto
está escrito neste livro.” 2 Crônicas 34:20,21

Nesse texto simples reside a possibilidade de uma interpretação perigosa para a doutrina bibliológica, a de colocar a
“Palavra Profética” acima da Bíblia, semelhante à doutrina Católica que coloca seu clero e tradições sobre as
Escrituras Sagradas. A Bíblia é totalmente inspirada e apta a doutrinar completamente (2 Tm 3:16), não precisando
de nenhum auxilio externo (2 Tm 3:17), as Escrituras são unanimes e devem ser entendidas conjuntamente (2 Pe
1:20), pois Ela não foi produzida por vontade humana e sim pelo Espirito (2 Pe 2:21). Uma má intepretação desse
texto (2 Cr 34:20,21), pode levar simplórios a entenderem que o rei estava consultando a profetiza Hulda para
descobrir se deveria seguir o livro da Lei, colocando assim “uma profeta” acima da Palavra de Deus, e podem quer
reproduzir (mesmo estando na Antiga Aliança) essa má interpretação, dando poderes a “homens” semelhantes ou
superiores a Bíblia. A palavra hebraica “darash”, traduzida como “consultai”, significa “inquerir”, pedir explicação, e
jamais questionar ou autenticar, até porque a Palavra é soberana (Sola Scriptura; 2 Tm 3:14-17). Já a palavra
hebraica “n ebi ’ah”, é o feminino de “nabi ’” (porta voz, traduzido no português como profeta) e significa uma
mulher que estudava para ser porta voz de Deus (traduzido no português como profetisa), ou seja, alguém que era
preparada para entender hermeneuticamente a Palavra, sabemos que a escola de profetas era uma entidade de
ensino criada nos tempos de Samuel (1 Sm 10:10; 1 Sm 19:20) e essa mesma instituição fora comandada por Elias e
Eliseu (2 Rs 2:3; 2 Rs 2:15; 6:1). O texto aqui nos diz que ao ver o livro da Lei e todas as condenações para suas
inflações, o rei pediu para consultar uma perita, para que entendesse melhor as aplicações, note que o rei mandou

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consultar sobre o que estava escrito no livro, visto que ninguém estava cumprindo (2 Cr 34:21), e que a profetisa
disse que as maldições do livro realmente seriam derramadas (2 Cr 34:24).

“Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus, ouvindo as suas palavras contra
este lugar, e contra os seus habitantes, e te humilhaste perante mim, e rasgaste as tuas vestes, e
choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor.” 2 Crônicas 34:27

Pelos grandes pecados que os últimos dois reis (Manassés e Amon) e toda a nação cometeram o Senhor tinha
decidido destruir Jerusalém, era fato consumado. Porém, pelo coração de Josias, Deus não destruiria a cidade
durante a vida do rei fiel, mas, a após sua morte, o Senhor derramaria o mal que jurou sobre Judá (2 Cr 34:28).

“E os flecheiros atiraram contra o rei Josias. Então o rei disse a seus servos: Tirai-me daqui, porque estou
gravemente ferido.” 2 Crônicas 35:23

Os acontecimento desse texto ocorram em 609 a.C., 3 anos após a queda de Nínive, a capital assíria pelos
babilônios, após essa derrota os assírios se reagruparam em Carquemis, mas a Babilônia continuou atacando os
assírios. O Faraó Neco, quem queria fazer do Egito uma potência mundial, estava preocupado a respeito da
crescente força babilônica, assim enviou seu exército para o norte, cruzando Judá para assim ajudar aos assírios em
Carquemis. Mas o rei Josias, partidário dos babilônicos, procurou evitar que o faraó Neco passasse por sua terra, e
assim saiu com seu exercito para interceptar os egípcios. Josias foi morto, e Judá foi submetida ao Egito (2 Rs 23:25-
30). Mesmo que Josias seguiu ao Senhor, Deus não trocou seu julgamento sobre o Judá pelo pecado do Manassés e
o arrependimento superficial do Israel). Neco continuou ao Carquemis e manteve aos babilônios a distancia durante
quatro anos, mas em 605 foi completamente derrotado, e assim, a Babilônia se torna a maior potencia mundial.

“E Jeremias fez uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras, nas suas lamentações, têm
falado de Josias, até ao dia de hoje; porque as estabeleceram por estatuto em Israel; e eis que estão
escritas nas lamentações.” 2 Crônicas 35:25

Josias foi um grande e piedoso rei, amado pelo o seu povo, que muito choraram a sua morte (2 Cr 34:24), o rei era
tão querido que muitas lamentações foram compostas em sua homenagem e entre elas o próprio profeta Jeremias
em sua tristeza pela morte do rei, compôs uma lamentação (Jr 22:10-25).

1.4.7. Jeoacaz (17º Rei de Judá, 609 a.C.)


“Então o povo da terra tomou a Jeoacaz, filho de Josias, e o fez rei em lugar de seu pai, em Jerusalém.”
2 Crônicas 36:1

Com a morte do piedoso rei Josias, o povo de Judá entroniza Jeoacaz, filho do rei, este reinou apenas 3 meses (2 Cr
36:2), porém, mesmo em tão pouco tempo de reinado, a Bíblia diz que ele foi mal aos olhos do Senhor (2 Rs 23:32).
Por sua maldade, Deus suscitou o coração do faraó Neco que depôs Jeoacaz e levou ele preso para Hamate (2 Rs
23:33; 2 Cr 36:3) e colocou tributos sobre Judá, lembrando que o rei do Egito ainda estava na Síria em guerra contra
a Babilônia.

1.4.8. Eliaquim “Jeoiaquim” (18º Rei de Judá, 609-598 a.C.)


“E o rei do Egito pôs a Eliaquim, irmão de Jeoacaz, rei sobre Judá e Jerusalém, e mudou-lhe o nome em
Jeoiaquim; mas a seu irmão Jeoacaz tomou Neco, e levou-o para o Egito. Tinha Jeoiaquim vinte e cinco

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anos de idade, quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém; e fez o que era mau aos
olhos do Senhor seu Deus.” 2 Crônicas 36:4,5

Jeoiaquim, irmão de Jeoacaz (filho de Josias), foi colocado pelo rei do Egito, para reinar no sugar de seu irmão. Essa
prática de troca de rei era algo corrente na época, mostrando autoridade de um reino mais poderoso e vassalagem
do rei colocado, quando havia traição um rei soberano também substituía o rei rebelde. A substituição de Jeoacaz
por Jeoiaquim feita pelo faraó Neco provavelmente tinha cunho financeiro, já que precisava de vassalos para
financiar seu exercito que estava no norte da Síria, guerreando contra os babilônicos. Jeoiaquim a exemplo de seu
irmão também não fez o que era reto aos olhos do Senhor, nem seguiu o exemplo piedoso de seu pai Josias.

“Subiu, pois, contra ele Nabucodonosor, rei de babilônia, e o amarrou com cadeias, para o levar a
babilônia.” 2 Crônicas 36:6

Em 607 a.C. Nabucodonosor derrotou o faraó Neco e seu exército egípcio em Carquemis e Hamata ( II Rs 23:39; II Cr
35:20; Jr 46:2), após a vitória Jeoiaquim que era vassalo do Egito, tornou-se automaticamente de Nabucodonosor, o
qual serviu por três anos (2 Rs 24:1; Jr 25:1). Jeoiaquim então se rebela contra Nabucodonosor, que invade Judá,
depõe o rei e o leva preso para cativo para a Babilônia, juntamente com muitos nobres e entre esses, Daniel,
Hananias, Misael e Azarias (2 Reis 24:15; 2 Cr 36:6; Dn 1:1-7). Em 601 a.C os babilônios receberam uma derrota dos
egípcios, o rei de Judá, Jeoiaquim, pensando que a derrota era definitiva, quebrou aliança com Nabucodonosor e se
filiou com Egito. Jeremias notou que tal aliança era perigosa e advertiu o rei de Judá sobre a aliança com o Egito (Jr
27:9-11). Em 599 a.C Nabucodonosor derrotou as tribos árabes de Quedar e do leste do rio Jordão, conforme previa
Jeremias (Jr 49:28–33) e assim se encaminhou para Jerusalém para se vingar de Jeoiaquim.

1.4.9. Joaquim (19º Rei de Judá, 598 a.C.)


“Quanto ao mais dos atos de Jeoiaquim, e as abominações que fez, e o mais que se achou nele, eis que
estão escritos no livro dos reis de Israel e de Judá; e Joaquim, seu filho, reinou em seu lugar. Tinha
Joaquim a idade de oito anos, quando começou a reinar; e reinou três meses e dez dias em Jerusalém; e
fez o que era mau aos olhos do Senhor.” 2 Crônicas 36:8,9

A exemplo de seu tio Jeoacaz, o rei Joaquim filho de Jeoiaquim, também reinou somente 3 meses e consegui nesse
pequeno tempo desagradar o Senhor. Nabucodonosor voltou a invadir Judá em 598/597 a.C. (2 Cr 36:6) Jerusalém
caiu diante dos babilônicos a 16 de março de 597 a.C. Nabucodonosor nomeou novo governante para representá-lo,
Matanias/Zedequias e impôs um pesado tributo à Judá. Nabucodonosor removeu objetos do templo de Jerusalém
para colocar no templo de Marduque (2 Cr 36:7; 2 Rs 24:13; Ed 6:5). Em 597 a.C. os cativos começaram a ir para a
Babilônia, e entre eles Ezequiel (Ez 1:2,3).

1.4.10. Matanias “Zedequias” (20º Rei de Judá, 598-586 a.C.)


“Tinha Zedequias a idade de vinte e um anos, quando começou a reinar; e onze anos reinou em
Jerusalém. E fez o que era mau aos olhos do Senhor seu Deus; nem se humilhou perante o profeta
Jeremias, que falava da parte do Senhor.” 2 Crônicas 36:11,12

Zedequias foi o ultimo rei de Judá, tio de Joaquim e, portanto, irmão de Jeoiaquim e Jeoacaz (filhos de Josias), a
exemplo dos últimos reis também fez o que era mal aos olhos do Senhor. Seu reinado chega ao fim depois que
Nabucodonosor, rei da Babilônia destrói Jerusalém, colocando fim ao reino de Judá.

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“Além disto, também se rebelou contra o rei Nabucodonosor, que o tinha ajuramentado por Deus. Mas
endureceu a sua cerviz, e tanto se obstinou no seu coração, que não se converteu ao Senhor Deus de
Israel.” 2 Crônicas 36:13

Zedequias se rebelou contra Nabucodonosor que sitiou Jerusalém novamente, o cerco durou quase dois anos. Por
fim, a o exercito babilônico consegui uma brecha nas muralhas, assim entraram em Jerusalém e destruíram
totalmente a cidade e o Templo (2 Rs 25:8-10). Zedequias foi feito prisioneiro e levado a Ribla, na Síria, onde
mataram seus filhos em sua frente e após o cegaram (2 Rs 25:6,7; 2 Cr 36:17-19). O resto do povo que não morreu
na invasão de Jerusalém, Nabucodonosor levou cativo para a Babilônia (2 Rs 25:11; 2 Cr 36:20), porém, os pobres da
terra não foram levados cativos, e sim deixados em Judá (2 Rs 25:12). Assim chegou ao fim o reino de Judá e a
monarquia messiânica davídica, Judá se torna uma província babilônica, e Nabucodonosor nomeia Gedalias como
seu primeiro governador na Judéia (2 Rs 25:22), após a queda do rei Zedequias, nunca mais ouve rei em Judá e Israel.

Abaixo cegue um esquema com a cronologia da destruição de Judá e os 3 cativeiros de seu povo.

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1.5. Queda do Reino do Sul
O cativeiro babilônico de Judá, não foi um evento único e sim um processo que se desenvolveu em 3 deportações, a
primeira o ocorreu em 605 a.C., onde foram deportados os nobres, as segunda em 597 a.C. que atingiu a elite
sacerdotal e os profissionais especializados e a ultima em 586 a.C. após a destruição de Jerusalém, onde foram
deportados os demais ricos e importantes da terra, ficando somente o população pobre e os trabalhadores rurais.

Nabucodonosor, rei da Babilônia, capturou os judeus em diversas viagens de 605 AC até a queda de Jerusalém em
586 AC. A primeira expedição à Babilônia tomou os tesouros do templo e do palácio. Isso incluía "seus príncipes,
todos os homens valentes, e todos os artífices e ferreiros, ao todo dez mil; ninguém ficou senão o povo pobre da
terra" (II Reis 24: 12-14; II Crônicas 36:10; Jeremias 52:29-30). Um ano depois uma segunda expedição atacou o
rebelde rei judeu Zedequias e seus filhos (II Reis 25: 1, 6-7; Jeremias 52: 4-11). No 19° ano do reinado de
Nabucodonosor, a Babilônia atacou Judá novamente. Nessa época o templo e o palácio do rei foram destruídos, e os
muros da cidade derrubados. Com exceção das pessoas mais pobres, todos foram levados cativos (II Reis 25:8-21;
Jeremias 52:12-16). No século VI AC, Joanã, um judeu, pensou que podia escapar de Nabucodonosor fugindo para o
Egito. Ele obrigou Jeremias e um grupo de judeus a irem com ele. Fixaram-se em Migdol, Tafnes e Mênfis. Contudo,
os babilônios os perseguiram e dominaram o Egito. Muitos judeus foram executados lá (Jeremias 43:5-44:30).
Registros de posse de propriedades e um altar sugerem que uns poucos sobreviventes do exílio estabeleceram
colônias permanentes no Egito (Isaías 19:18-19).

Durante um breve período (2 anos), o cerco babilônico em Jerusalém foi levantado, ainda havia a esperança egípcia,
o que não se concretizou. Finalmente, em 586 a.C., Jerusalém cedeu, e os babilônicos conseguiram fazer uma brecha
nas muralhas de Jerusalém, Zedequias fugiu na direção de Amon (sudeste), mas foi preso e levado diante de
Nabucodonosor a Ribla, na Síria onde assistiu à execução de seus filhos, foi cegado, acorrentado e levado para a
Babilônia, onde morreu. Um mês depois, o comandante da guarda de Nabucodonosor entrou em Jerusalém,
incendiou tudo, derrubou o Templo, as muralhas, levou as pessoas de maior destaque (as quais executou em Ribla,
diante de Nabucodonosor), enquanto deportava outro grupo para a Babilônia. Calcula-se que cerca de 4.600 homens
da classe dirigente judaica tenham ido para o exílio, somadas as mulheres e as crianças, seu número poderia chegar
a quase vinte mil pessoas, a população restante, camponesa, foi deixada no país. Com a queda de Zedequias, a
ultima deportação e a destruição de Jerusalém em 586 a.C. chega ao fim o reinado de Judá, e cai o ultimo rei,
Jerusalém até foi reconstruída postumamente, porém, nunca mais ouve rei em Judá ou Israel.

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2. Livro de Esdras

2.1. Introdução ao livro de Esdras


Autor: Os livros Esdras e Neemias formaram originalmente um livro só, os livros só foram separados quando durante
a tradução para a língua grega na versão da septuaginta (LXX). Junto com 1 e 2 Crônicas eles formaram a "História do
Cronista" que abrange o tempo desde a criação (genealogias) até o período depois da volta do cativeiro babilônico,
esses livros são considerados pela tradição como autoria de Esdras. Vimos na introdução do livro de Crônicas que o
autor de Crônicas, Esdras, Neemias e Ester é o sacerdote Esdras, e que as partes posteriores desses livros foram
editadas pelo governado Neemias. A exemplo das outras introduções de livros, citarei também a parte do Talmud
babilônico que atesta essa tradição: “Além do Pergaminho de Ester, Esdras escreveu o livro que leva o seu nome e as
genealogias do Livro das Crônicas até o seu próprio tempo. Isto confirma a opinião de Rab, uma vez que Rab Judah
disse em nome de Rab: Esdras não deixou a Babilônia para ir até Eretz Yisrael até que ele escreveu sua própria
genealogia. Quem então terminou [o Livro de Crônicas]? Neemias, filho de Hacalias.”, citação do livro do Baba
Bathra 14b (Talmude Aramaico Babilônico Judaico). Além do inicio de Esdras ser uma cópia exata do final de
Crônicas, o que mostra ser o mesmo autor, podemos assim entender o livro de Esdras como uma continuação

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natural do livro das Crônicas. Além disso, ambos os livros destacam as listas e as genealogias, enfatizando as
atividades sacerdotais e a observância da Lei, isso parece sugerir que o autor de Crônicas tinha afinidades com as
preocupações sacerdotais que são características ao ministério de Esdras. O autor de Crônicas também parece
demonstrar um interesse especial sobre a monarquia davídica o que mostra Crônicas como uma introdução ao livro
de Esdras, o olhar privilegiado para a monarquia judaica em detrimento a do Norte, demonstra claramente que o
autor viveu em um tempo pós-exílio, reduzindo as chances de inspiração proféticas somente a Esdras.

Propósito: O livro de Crônicas termina com o decreto de libertação dos judeus dada por Ciro, Esdras também
começa com esse mesmo edito, e após repercute toda a ação restauradora de Deus em Judá, mediante o
desdobramento do edito de Ciro e da esperança messiânica. A teologia de Esdras é derivada da esperança
messiânica, onde pela a linhagem de Davi, o Deus poderoso ira mudar a historia de Jerusalém, que fora destruída
por Nabucodonosor. Portanto, o proposito central de Esdras é registrar pelos fatos históricos que ocorreram com
Zorobabel e ele próprio que Deus ainda restaurará completamente Judá, em Zorobabel vemos a descendência
messiânica de Davi. Na historia de Zorobabel e em sua própria, Esdras mostra a mão de Deus, agindo em todo
mundo (incluindo no império Persa), e as pequenas vitórias e o começo da restauração registradas no livro são a
concretização de uma restauração escatológica cabal, com a entronização do rei messiânico a semelhança de Davi.

Conteúdo: O livro de Esdras contém a ações resultantes do decreto de Ciro, até a despedida das mulheres
estrangeiras que os judeus haviam casado no cativeiro. Para entendermos o conteúdo do livro precisamos dividi-lo
em três partes, a primeira é o decreto de Ciro, a segunda é a historia de Zorobabel e a terceira é a historia de Esdras,
que narra da sua chegada a Jerusalém até a purificação dos judeus e a separação das mulheres estrangeiras.

Data da Escrita: O livro de Crônicas, vimos através do Babba Bathra que o livro de Crônicas foi escrito ainda em
Babilônia, assim esse livro foi trazido por Esdras para ensinar e dar esperança ao povo. Já o livro de Esdras, foi escrito
em Jerusalém, pois narra os fatos que Esdras vivenciou e antes disso os atos de Zorobabel, que ele só poderia saber
estando em Jerusalém. Sabemos que Esdras chegou a Jerusalém em cerca de 458 a.C. e que o livro de Esdras foi
escrito após essa data, e com certeza antes de sua morte, entendemos também que Esdras ainda era vivo quando
Neemias chegou a Jerusalém, treze anos após sua própria chegada. Em Neemias 12:22 é citado Eliasibe como líder
dos levitas, o que mostra sua sucessão a Esdras, Josefo diz que Esdras morre antes do fim do Livro de Neemias (cujo
Neemias terminou como fala o Babba Bathra), e foi substituído por Eliasibe. Se contarmos que Neemias chegou a
Jerusalém em cerca de 446 a. C. (12 anos após Esdras) e seu livro termina em cerca de 434 a.C. (12 anos de esfera de
ação), e por lógica Esdras já tinha falecido. Temos então um tempo de Escrita de 458 a.C. (Quando Esdras chegou a
Jerusalém) e data máxima 435 a.C. (1 ano antes do fim do livro de Neemias).

Esfera de ação: Como já aprendemos o livro de Neemias se divide em três partes, o decreto de Ciro (cap. 1), a
chegada de Zorobabel (caps. 2-5) e a chegada de Esdras (caps. 6-10), analisaremos de forma separada esses três
eventos e suas esferas de ação, após juntaremos em uma única esfera de ação, geral de todo o livro. A primeira
parte fala do edito de Ciro, fato que ocorreu após sua chegada ao poder em 538 a.C, portanto, esse fato ocorreu no
primeiro ano de seu mandato, e marca o começo da esfera de ação do livro de Crônicas. Segundo a cronologia
tradicional Zorobabel saiu retornou do cativeiro no ano de 543 a.C. (fatos que são narrados a partir do capitulo 2), e
a esfera de ação da volta de Zorobabel termina por volta de 515 a.C. na época dos profetas Ageu e Zacarias. Após
chegar a Jerusalém Neemias teria enfrentado uma interrupção das atividades durante um período de dezesseis anos,
aproximadamente de 536 a 520 a.C. (oposição samaritana), mas conseguiu concluir o templo em 515 a.C. e assim
termina a esfera de ação da volta por Zorobabel. A ultima parte do livro narra a volta dos cativos com Esdras, que
começa com a confirmação do edito de Ciro por Dario em 458 a.C. e termina na separação das mulheres estrangeiras
aparentemente no mesmo ano ou em 457 a.C. (Ed 8:32,33;Ed 10:8,16,17). Portanto, a esfera de ação completa do
livro começa com o decreto de Ciro em 538 a.C. e termina na despedida das mulheres estrangeiras em 457 a.C.
compreendendo uma esfera de ação de cerca de 80 anos.

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2.2. Índice do livro de Esdras
1 – Decreto de Ciro: Cap. 1;

2 – Retorno com Zorobabel: Caps. 2-6;

3 – Retorno com Esdras: Caps. 7-10.

2.2.1. Esboço sintético do livro de Esdras


Esdras cap. 1: Decreto de Ciro;

Esdras cap. 2: Genealogia dos que retornaram com Zorobabel;

Esdras caps. 3-6: Reconstruções de Zorobabel, reconstrução do Templo;

Esdras caps. 7-8: Retorno de Esdras;

Esdras caps. 9-10: Purificação e despedida das mulheres estrangeiras.

2.3. Cronologia do retorno do cativeiro


1º retorno com Zorobabel (543 a.C)

De acordo com o primeiro capítulo de Esdras, Ciro autorizou em seu primeiro ano de governo o retorno dos judeus
para Jerusalém com a missão de reconstruir o Templo destruído por Nabucodonosor. Mandou que fossem entregues
a Sesbazar, príncipe de Judá, os milhares de utensílios saqueados. De acordo com Ed 5:14 Sesbazar foi nomeado por
Ciro governador da Judéia. Há uma certa dúvida sobre a possibilidade de Sesbazar e Zorobabel serem pessoas
diferentes ou a mesma pessoa. Mas o texto de Esdras sugere serem a mesma pessoa, de maneira que Sesbazar seria
o nome babilônico de Zorobabel. Vejamos o texto de Esdras 5: “14 E até os utensílios de ouro e prata, da casa de
Deus, que Nabucodonosor tomou do templo que estava em Jerusalém e os levou para o templo de Babilônia, o rei
Ciro os tirou do templo de Babilônia, e foram dados a um homem cujo nome era Sesbazar, a quem nomeou
governador. 15 E disse-lhe: Toma estes utensílios, vai e leva-os ao templo que está em Jerusalém, e faze reedificar a
casa de Deus, no seu lugar. 16 Então veio este Sesbazar, e pôs os fundamentos da casa de Deus, que está em
Jerusalém e desde então para cá se está reedificando, e ainda não está acabada.”

A sugestão de serem a mesma pessoa encontra respaldo em Esdras 5 : 2, que aponta Zorobabel como um dos
responsáveis pela reedificação do Templo: “Então se levantaram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesuá, filho de
Jozadaque, e começaram a edificar a casa de Deus, que está em Jerusalém; e com eles os profetas de Deus, que os
ajudavam.” Em Ed 5:16 diz-se que Sesbazar pôs os fundamentos do Templo, e em Ed 5:2 que Zorobabel começou a
edificar. Eram, provavelmente, a mesma pessoa. Ademais, o nome de Sesbazar não se encontra na lista dos exilados
que retornaram a Israel no tempo de Ciro, conforme Ed 2:2 até Ed 3. Desta forma, retornaram a Jerusalém com
Zorobabel 42.360 pessoas judias, sem contar seus servos (Ed 2:64-65). No mês de Tishrei, Setembro ou Outubro em
nosso calendário, juntou-se toda esta gente em Jerusalém para celebrar a Festa dos Tabernáculos (Ed 3:1-4), que era
originalmente uma celebração da colheita, e que para, além disto, tinha o significado histórico de lembrar a
peregrinação pelo deserto no tempo em que Israel habitava em tendas, quando Deus supriu todas as suas
necessidades.

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Início da reconstrução do Templo (542 a.C)

No segundo ano, contado a partir da saída da Babilônia, o povo, sob a liderança de Zorobabel, neto do rei Joaquim
(Jeconias), ancestral de Jesus, iniciou a reconstrução do Templo. (Ed 3:8). Conforme Esdras, a planta do Templo
ordenada por Ciro era diferente da planta passada por Deus a Salomão, cujas medidas originais eram 60 côvados de
comprimento, por 20 côvados de largura, por 30 côvados de altura (1 Rs 6:2). O novo Templo, por sua vez, teria a
semelhança de um cubo de 60 côvados: “No primeiro ano do rei Ciro, este baixou o seguinte decreto: A casa de
Deus, em Jerusalém, se reedificará para lugar em que se ofereçam sacrifícios, e seus fundamentos serão firmes; a
sua altura de sessenta côvados, e a sua largura de sessenta côvados”. Ed 6:3.

Reconstrução do Templo interrompida por 13 anos (541 a.C a 528 a.C)

Depois de iniciadas as obras, conforme Ed 4:1-5, os adversários de Judá e Benjamim procuraram de muitas maneiras
impedir que as obras de reconstrução do Templo avançassem, as quais ficaram estagnadas até o segundo ano de
Dario (Ed 4:24), ou seja, por 13 anos. Esdras passa do lançamento das fundações do Templo, capítulo 3, para a
interrupção das obras no capítulo 4. Mas explica no verso 4:5 que as obras não foram interrompidas durante o
governo de Ciro, mas sim, frustradas. Imagina-se que se tornaram mais lentas, mas interrompidas só depois.

Morte de Ciro (537 a.C)

Ciro destacou-se dos demais soberanos de seu tempo pela sua piedade bem como pela tolerância religiosa. Quanto
à sua forma de administração, procurou sempre que possível manter os povos conquistados sob a gestão de líderes
locais. Reinou 29 anos sobre os persas, sendo os nove últimos depois da queda da Babilônia. A data acima se refere
ao dado histórico sincronizado de acordo com o relato bíblico, o que coloca a queda da Babilônia em 546 a.C .

2.4. O retorno do cativeiro


“Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do Senhor pela boca de
Jeremias), despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu
reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu
todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.
Quem há entre vós, de todo o seu povo, o Senhor seu Deus seja com ele, e suba.”

2 Crônicas 36:22,23

Do mesmo modo que o cativeiro babilônico de Judá, não foi um evento único e sim um processo que se desenvolveu
em 3 deportações (605, 597 e 586 a.C), o retorno do cativeiro também foi um processo come eventos. O primeiro
retorno, sob Zorobabel foi em 536 a.C. o segundo junto a Esdras em 458 a.C. e o ultimo com Neemias em 446 a.C.
Abaixo teceremos um resumo sobre os três eventos que compõe a volta do cativeiro babilônico pelos judeus.

Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou
de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre vós, de todo o seu povo, seja
seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que está em Judá, e edifique a casa do Senhor Deus de Israel (ele
é o Deus) que está em Jerusalém.

Esdras 1:2,3

O Edito de Ciro foi promulgado após a conquista persa do império babilônico em 538, e foi resultado da estratégia
inversa adotada pelos babilônicos. Os babilônicos usaram o método de cativeiro para consolidar suas conquistas,

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onde distribuíam os povos conquistados para outras províncias em seu império, tirando assim a identidade dos
povos com suas terras natais, eliminando o foco de rebelião e aumentando o controle imperial. Já Ciro, o persa, usou
a estratégia inversa, libertando todos os cativos de seu império, para esses voltarem para suas nações, seu objetivo
era fidelizar seus súditos e atrair a gratidão das nações subjugadas. O resultado dessa politica de Ciro foi o
reconhecimento do rei como o libertador do mundo e o escolhido pelos deuses, cartas como para Judá foram
enviadas a todos os povos em nome de seus próprios deuses. Abaixo colocarei um cilindro de Ciro em nome do deus
Marduk, autorizando todos os povos voltarem do cativeiro.

O primeiro retorno deu-se em 536 a.C., dois anos após a conquista da Babilônia por Ciro, esse retorno teve a
liderança de Zorobabel e 42.360 judeus voltaram para a sua terra. A missão de Zorobabel era conduzir os exilados a
Judá, organizar Jerusalém e construir o novo templo, que substituiria o Templo de Salomão, destruído pelos
babilônicos.

“Assim fala o Senhor dos Exércitos, dizendo: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a
casa do Senhor deve ser edificada.”

Ageu 1:2

E os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando pela profecia do profeta Ageu, e de Zacarias, filho
de Ido. E edificaram e terminaram a obra conforme ao mandado do Deus de Israel, e conforme ao
decreto de Ciro e Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia.

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Esdras 6:14

A conclusão do Templo levou cerca de vinte anos, sua demora pode ser atribuída aos samaritanos, que tiverem
recusado o pedido de ajudar na construção do templo, tecendo assim toda sorte de intrigas e dificuldades para que
a construção não tivesse êxito. Além dos judeus se acomodarem e com a oposição dos samaritanos deixarem de
prosseguir na construção do Templo, contra isso profetizou Ageu, que em nome do Senhor exortou o povo a deixar
um pouco de lado a prosperidade pessoal e lembrar da casa do Senhor.

Este Esdras subiu de babilônia; e era escriba hábil na lei de Moisés, que o SENHOR Deus de Israel tinha
dado; e, segundo a mão do SENHOR seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe
pedira.

Esdras 7:6

Após cerca de oitenta anos do regresso de Zorobabel a Judá, Esdras o sacerdote e escriba conduz um segundo
retorno, tendo a missão restabelecer o judaísmo em Jerusalém, reforçar a obediência a Lei de Deus e trazer um
reavivamentos messiânico aqueles judeus que perderam suas esperanças.

E disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu servo é aceito em tua presença, peço-te que me envies a
Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.

Neemias 2:5

O terceiro e último regresso deu-se com Neemias, copeiro do rei Artaxerxes, que pela graça de Deus conseguiu da
parte do rei permissão e ajuda para seguir para Jerusalém e tratou de construir os seus muros e vencer a oposição
samaritana, no intuito de assegurar a segurança de Judá em seu tempo e no futuro.

2.5. Resumo império persa


A seguir estudaremos um resumo do império persa, o império dominante nos tempos de Esdras e Neemias, e
anexaremos um mapa com a totalidade da extensão desse império (síntese retirada do site:
http://www.historiamais.com/persas.htm).

Origem do Império Persa:

A partir de 2000 a.C., a região foi ocupada por povos de pastores e agricultores, vindos do sul da atual Rússia, que
invadiram o planalto. Os medos fixaram-se ao norte do planalto do Irã, enquanto os persas se estabeleceram na
parte sudeste, próxima ao golfo Pérsico. Os primeiros habitantes desse planalto dedicaram-se ao pastoreio e, nos
vales férteis, desenvolveram o cultivo de cereais, frutas e hortaliças. A região era também rica em recursos minerais,
encontrados nas montanhas vizinhas: ferro, cobre, prata etc.

Formação:

No século VIII a.C., os medos possuíam um reino com exército organizado, que dominava povos iranianos e persas,
obrigando-os a pagar impostos. Em 550 a.C. (séc. VI a.C.), Ciro, do clã persa dos aquemênidas, liderou uma rebelião
contra os medos, vitorioso, reuniu sob seu domínio todas as tribos que habitavam o planalto iraniano. A partir daí,
começou a formação do Império Persa. Ciro conduziu a Pérsia à expansão, conquistando várias regiões,
solucionando o problema do aumento da população e da pequena produção agrícola na região.

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Fundador:

Fundador do Império Persa, Ciro, o Grande, após vencer os medos e reunir sob seu domínio todas as tribos que
habitavam o planalto iraniano, conquistou os reinos da Lídia e as cidades gregas da Ásia Menor. Em 539 a.C.,
conquistou a Mesopotâmia. Por sua ordem, nesse mesmo ano, os judeus retornaram à Palestina, terminando assim
o cativeiro da Babilônia. Ciro incorporou ao império toda a Mesopotâmia, a Fenícia e a Palestina. Ciro morreu em
combate, em 529 a.C., e foi sucedido pelo filho, Cambises, que com um grande exército conquistou o Egito, em 525
a.C., na batalha de Pelusa. Ao voltar para a Pérsia, Cambises morreu assassinado em uma revolta interna. Foi
sucedido por Dario I (521-486 a .C.).

Administração:

O sistema administrativo persa foi um dos mais eficientes da Antiguidade Oriental. O Império Persa era governado
por uma monarquia absoluta teocrática. Possuía quatro capitais: Susã, Persépolis, Babilônia e Ecbátana. O sátrapa
era responsável pela arrecadação dos impostos em seu território. Uma parte dos tributos ele usava para manter a
administração e o exército, a outra, ele enviava para o rei. Para evitar traições, Dario I, enviava fiscais reais às
Satrápias, conhecidos como “os olhos e os ouvidos do rei”, para fiscalizá-los. Como no Egito, a agricultura (base de
sua economia) dependia das cheias dos rios Tigre e Eufrates. O controle econômico era exercido pelo Estado,
conforme os padrões do “modo de produção asiático”. Plantava-se a cevada, o trigo e o centeio.

Declínio:

O governo de Dario I não só marcou o apogeu do império (período compreendido entre o final do século VI a.C. e o
início do século V a.C), mas também o início de sua decadência. O grande objetivo de Dario I era conquistar a Grécia;
mas, em 490 a.C., foi derrotado pelas cidades gregas sob o comando de Atenas. Mais tarde, depois da dominação
macedônica, os persas caíram sob o jugo romano, só ressurgindo de forma independente no século III d. C. No século
VII, o Império Persa acabou conquistado pelos árabes, incorporando traços de sua cultura, como a religião islâmica.

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