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A impunidade colonial estava associada à fragilidade da aplicação dos códigos penais e ao alto índice
de crimes cometidos.
Ademais, os crimes cometidos no Brasil dos séculos XVII e XVIII atingiam um grande
número, haja vista a proporção entre ocorrências delituosas e o número de pessoas que
habitavam as capitanias. Crimes cruentos, como o de homicídio, eram comumente
praticados na colônia. Os pesquisadores citados, Maria e Arno Wehling, deixaram
registrado em sua obra A formação do Brasil Colonial que:
“Um viajante do século XVIII comentou que o Brasil era o lugar do mundo onde se
matava por encomenda a preços mais baratos, sendo aliás comum a contratação de
escravos para matar rivais e desafetos. Nas Minas Gerais setecentistas houve, durante
certo tempo, cerca de oitenta escravos legalmente executados por ano, acusados de
homicídio. Apesar disso, cronistas e viajantes comentam com frequência sobre grande
impunidade que existia no país, inclusive pelo uso frequente do crime à traição, de
emboscada.” (Wehling, Arno; Wehling, Maria José C. De M. A formação do Brasil
Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 267.)
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Um caso famoso de impunidade datado do século XVIII é a participação do
bandeirante Borba Gato no assassinato do tenente-general
Dom Rodrigo de Castelo Branco. Borba Gato saiu impune desse crime por ter sido o
descobridor das minas de Sabará. Como dito em nosso primeiro parágrafo, a “utilidade”
ou “benefício” que a descoberta das referidas minas proporcionou à economia colonial
garantiu também ao referido bandeirante a isenção de culpa naquele crime.
O bandeirante Borba Gato saiu impune de um crime por ter sido responsável pela descoberta das minas de
ouro de Sabará
Arno e Maria Vehling ainda destacaram que os principais crimes cometidos nessa época
eram: “contrabando, furto, roubo, concubinato, bigamia, ligações com quilombos,
prostituição, falsificação de moeda, deserção dos regimentos militares, feitiçaria e crimes
passionais. Esses últimos merecem registro especial pela sua extensão e consequências.”
(Wehling, Arno; Wehling, Maria José C. De M. A formação do Brasil Colonial. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 267.)
Os crimes passionais eram recorrentes sobretudo nas cidades de Salvador (então capital)
e Rio de Janeiro. Era permitido ao homem “lavar sua honra com sangue” em caso de
traição (geralmente suspeita de traição) da esposa. Essa peculiaridade legal estimulava
ainda mais a quantidade de crimes cometidos. Era nessas cidades também onde ocorria a
maior parte dos crimes da colônia, apesar de outras cidades registrarem altos índices
também, como São Vicente, que, em 1613, comportava uma proporção de 65 foragidos
da lei para cada grupo de 190 moradores.