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ORIGEM DA LINGUÍSTICA
O ESTRUTURALISMO SAUSSURIANO
Definido o fonema como a unidade mínima capaz de mudar o sentido, com a técnica
dos pares mínimos, é no acto da comunicação que se apoiam os fonólogos da Escola de
Praga nos anos 30 do século passado, como quando se interessam pelas funções de
linguagem; exploram, portanto, a ideia de que a língua é um dado social. Esse método,
com a determinação das estruturas fonológicas, constitui durante muito tempo o modelo
linguístico mais rigoroso e mais sedutor para as outras ciências humanas. Entretanto, os
fonemas são definidos em termos de traços articulatórios, processo denunciado como
retorno à substância e a uma deturpação à concepção da língua enquanto forma.
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Daqui deriva a designação ESTRUTURALISMO, para a corrente (escola) linguística iniciada por
Saussure.
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fonemas, nem letras, nem significações, mas sim relações. Repelindo a linguística
“transcendente” (baseada em dados exteriores à língua, a fonética, por exemplo),
Hjelmslev quer substituí-la por uma linguística imanente, isto é, que conceba a língua
como uma totalidade absolutamente autónoma, regida por leis puramente internas. Dai,
um refinamento da formalização na teoria do signo, de que cada um dos constituintes se
encontra dividido em forma e substância, sendo o signo apenas a ligação da forma do
conteúdo e da forma de Expressão.
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Alguns autores utilizam a designação DISTRIBUCIONISMO.
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O SIGNO LINGUÍSTICO
CONCEITO
«árvore»
IMAGEM arbor
ACÚSTICA arbor
LÍNGUA E FALA
Saussure é, sem dúvida um dos primeiros a ter explicitado para a linguística a
necessidade de realizar aquilo a que KANT chama “revolução copernicana”. Com efeito,
distingue a matéria da linguística, que compreende um conjunto de fenómenos ligados à
utilização da linguagem, e o seu objecto, quer dizer, o sector ou o aspecto desses
fenómenos pelo qual o linguista se deve interessar.
realizado sobre o eixo sintagmático e combinado sobre este eixo com outros para formar
o sintagma.
Para Saussure uma relação sintagmática é uma relação linear entre outros signos
que estão numa frase.
Paradigma é o conjunto de formas correspondentes a um subconjunto de formas
de uma palavra, definido a partir de uma dada categoria morfológica. Os paradigmas são
geralmente em forma de lista.
O CONCEITO DE GRAMÁTICA
GRAMÁTICA DESCRITIVA
Todo o ser humano que fala uma língua sabe gramática. Ao pretenderem
descrever uma determinada língua, os linguistas tentam descrever a gramática dessa
língua. Podem verificar-se algumas divergências entre o conhecimento que os vários
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falantes têm da língua. Mas existe um conhecimento comum – a gramática – que permite
aos falantes falarem e compreenderem-se. E modelo produzido designa-se por gramática
descritiva. Esta gramática não nos diz como devemos falar; apenas descreve o nosso
conhecimento básico; explica como é possível falarmos e compreendermos e explica
ainda o que sabemos sobre os sons, palavras, sintagmas e frases da nossa língua.
Diz-se que uma frase é gramatical quando ela se harmoniza com as regras da
gramática; uma frase agramatical (marcada com um asterisco) desvia-se de alguma
forma dessas regras.
Toda a gramática é complexa e lógica e capaz de produzir um número infinito de
frases destinadas a exprimir qualquer pensamento.
Diz-se que uma gramática é prescritiva quando ela tem o carácter de legislar o
que deve ser a gramática do falante.
Dos tempos antigos até hoje tem havido “puristas” que pensam que uma mudança
linguística é uma forma de corrupção e que defendem a existência de certas formas
correctas que quase todas as pessoas educadas deveriam utilizar na fala e na escrita.
Nesta perspectiva, a gramática deve apresentar como exemplos modelares os
textos de autores consagrados. Actualmente este modelo se tem observado com maior
frequência na prática escolar, onde o professor tem por missão difundir e defender a
manutenção das normas linguísticas.
EXERCÍCIOS
1. Afirma-se que a linguística, como ciência, surge com a publicação em 1916 do Curso de
Linguística Geral de Ferdinand de Saussure.
2. Os estudos sobre a linguagem, de certeza, não tiveram o seu início com Saussure. Já antes, desde a
antiguidade, o homem interessou-se pela linguagem.
3. Uma das escolas que contribuiu bastante para o avanço da linguística como ciência foi o Círculo
Linguístico de Praga (CLP).
8. Distinga:
Sintagma de paradigma;
diacronia de sincronia.
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A ORIGEM DA LINGUAGEM
Tal como sucedeu com as teorias da origem divina da linguagem, quer defenda a
ideia de que o homem inventou a linguagem, quer defendam que esta surgiu no decurso
do desenvolvimento do homem – sob forma de gritos da natureza, imitação vocálica dos
gestos, canções de amor ou gritos de trabalho – o debate está e continuará sempre aberto.
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Teoria inatista da origem da linguagem.
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LINGUAGEM E EVOLUÇÃO
EXERCÍCIOS
11. «Desde os mitos até as mais elaboradas especulações filosóficas, levantou-se sempre o problema da
origem da linguagem».
Por que motivo se torna difícil identificar o momento do aparecimento da primeira língua e
os seus primeiros passos?
O que entende pelo conceito de língua original?
12. Uma das teorias que tenta explicar a origem da linguagem humana é a teoria divina.
13. Será que um indivíduo, isolado de um meio social pode desenvolver a capacidade da
linguagem, mesmo contando com forças divinas? Argumente a sua posição.
15. Jean Jacques Rousseau apresentou a sua teoria sobre a origem da linguagem.
Apresente, de uma forma muito sumária, as principais linhas desta teoria.
De acordo com a teoria empirista, quais teriam sido as primeiras palavras a serem usadas
pelos homens?
Qual terá sido o principal pressuposto para a construção desta teoria?
17. Um dos estudiosos que se dedicaram ao estudo da origem da linguagem foi Johann
Herder.
Qual é a posição que Herder defendia?
Em que aspectos do fenómeno linguístico Herder se apoiou para afirmar que a capacidade
de linguagem era inata?
18. Será que haverá alguma relação entre a linguagem e o estado evolucionário do
Homem? Explicite-a.
Bibliografia
AS VERTENTES DA FONÉTICA
A transmissão de uma mensagem de um locutor para um ouvinte, num acto de
comunicação oral, passa por três estágios sucessivos que envolvem (1) os mecanismos de
produção da fala, (2) as ondas sonoras e (3) os mecanismos de percepção. Assim,
podemos considerar três vertentes da fonética. Estas são tradicionalmente conhecidas por
(1) fonética articulatória, (2) fonética acústica e (3) fonética perceptiva.
controlo periférico
feed-back
feed-back
In Mateus et alii (1990:22)
OBJECTIVOS DA FONÉTICA
Estabelecer as propriedades articulatórias, acústicas e perceptivas que estão
associadas aos contrastes sonoros que ocorrem nas línguas particulares às
diferenças sonoras sistemáticas existentes entre línguas distintas;
Estabelecer o modo como essas propriedades se relacionam entre si;
Contribuir para o entendimento da natureza da relação entre as
representações e as realizações sonoras.
O MECANISMO DE FLUXO DE AR
GLOTE
ABERTA FECHADA
(o ar passa livremente) (o ar sofre obstrução e provoca-se a
vibração das cordas vocais)
VÉU PALATINO
BAIXO LEVANTADO
(permite que o ar passe tanto (toca na parte posterior da garganta
pela cavidade bucal como pelo e não permite que o ar passe pelas
nariz) fossas nasais
[ k ] (menos vozeada)
[ g ] (vozeada)
VOGAIS E GLIDES
Na produção destes sons, os articuladores mantêm-se suficientemente afastados de
modo a que o fluxo de ar possa passar livremente e quase sem obstáculos. A diferença
entre os diversos sons (vocálicos) decorre da posição em que a língua se encontra e a
configuração dos lábios.
Na articulação das vogais verifica-se que os lábios abrem-se ao mesmo tempo que o
maxilar inferior desce na pronúncia de [ a ], e que se vão fechando progressivamente,
com a subida do maxilar na articulação de [ ε , e , , i , , , o , u ], sendo estes
últimos sons vocálicos arredondados por se pronunciarem com os lábios arredondados.
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[ - bx ] []
[ - bx ] []
[ + bx ] [a]
[ - arr] [ + arr]
AS SEMIVOGAIS
As semivogais possuem as características articulatórias das vogais, mas uma
duração menor. Não constituem núcleo silábico e sempre ocorrem junto de uma vogal
com a qual formam um ditongo.
Apenas < i > e < u > funcionam como semivogais (glides), representadas
foneticamente por [ j ] e [ w ], respectivamente.
TRANSCRIÇÃO FONÉTICA
A transcrição fonética é um instrumento criado para registar os factos observados
em enunciados. Assim, a transcrição fonética de um enunciado é uma representação
simbólica que pretende captar tantos aspectos da realização sonora desse enunciado
quanto possível.
Deve ainda considerar-se a existência de uma transcrição fonémica ou fonológica,
em que as unidades representadas são apenas as que têm função linguística, ou seja,
fonemas ou segmentos subjacentes.
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CONVENÇÕES DE TRANSCRIÇÕES
O ALFABETO FONÉTICO
O alfabeto fonético encontra-se dividido em três grandes classes: vogais, glides
(semivogais) e consoantes. Tomando como exemplo o sistema do Português, temos os
seguintes fones5:
(a) vogais:
orais: [ a , , ε , e , , i , , o , u ]
nasais: [ , ẽ , , õ , ũ ]
(b) glides
orais: [ j , w ]
nasais: [ , ]
(c) consoantes:
oclusivas:
orais: [ b , p , d , t , g , k ]
nasais: [ m , n , , ŋ ]
fricativas: [ f , v , s , z , ∫ , , h ]
líquidas:
laterais: [ l , l , , λ ]
vibrantes: [ , , R ]
africadas: [ t ∫ ], [ d ]
fricatizada: [ β ]
4
O AFI é também conhecido com IPA (International Phonetics Alphabet).
5
Fone é a designação que se dá a um segmento fonético ou som de fala.
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OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
(1) Nas transcrições fonéticas não se estabelece a distinção entre e
maiúsculas, como acontece na escrita ortográfica. É importante lembrar-
se de que a substituição de um sinal por outro pode alterar a pronúncia.
(2) A cada som da fala corresponde apenas um único fone e vice-versa.
Note que o símbolo fonético não se deve confundir com o sinal gráfico
(grafema) que ocorre na escrita ortográfica.
(3) A transcrição fonética é diferente da escrita ortográfica. ela é regida por
regras que são universais e devem ser seguidas, sob o risco de se não
estar a fazer transcrição fonética.
(4) Na transcrição fonética não se podem ligar os segmentos.
BIBLIOGRAFIA:
FONEMA
Prestemos atenção nos seguintes vocábulos:
(a) cala [ k á l ] / gala [ g á l ]
(b) mola [ m l ] / mota [m t ]
Qualquer falante nativo de Português é capaz de perceber que em (a) assim como
em (b) temos pares de palavras semelhantes, porém, cada palavra é diferente da outra
tanto na sua forma como pelo significado.
A diferença de significado entre cala e gala é assinalada pelo facto de a primeira
palavra começar por /k/e a segunda /g/. Diremos, assim, que /k/ e /g/ são os segmentos
responsáveis pela distinção de sentido entre as duas palavras. Por isso, dizem-se
segmentos distintivos. Estes sons distintivos são fonemas.
Resumindo, fonema é a unidade linguística indivisível, discreta, distintiva e
funcional responsável pela distinção de significação entre duas ou mais palavras.
PARES MÍNIMOS
VARIANTES
Por vezes, uma mesma palavra na mesma língua tem duas pronúncias diferentes,
tal como os casos de :
(a) roda [ R d α ] / roda [ d α ] (PE / PM)
(b) vinho [ v í u ] / vinho [ β í u ] (PE)
(c) gente [ ẽ t i ] / gente [ ẽ t∫ i ] (PE /PB)
Nestes exemplos, ao se trocar o [R] por [ ] ou [v] por [β], ou ainda [t] por [t∫],
ou vice-versa, não se verifica a mudança no sentido das palavras, embora o segmento
fonético que ocorre não seja o mesmo. Assim, diz-se que as diferentes realizações ou
pronúncias da mesma palavra (roda, vinho, gente) constituem variações livres. Do ponto
de vista articulatório temos para cada uma destas palavras duas formas distintas e um
mesmo significado. E os fones [ ]/[R], [v] / [β] e [t] e [t∫] são variantes (alofones) do
mesmo fonema. E, porque não geram mudança de significado denominam-se variantes
livres.
Para os sociolinguistas, as variantes livres estão controladas por variáveis
sociolinguísticas. Há factores sociais, geográficos, linguísticos e estilísticos que
determinam quais as variantes que serão usadas com maior frequência.
Porém, casos há em que duas palavras (homónimas ou homófonas) têm
significados, apesar de apresentar formas (fonéticas) idênticas.
Por outro lado, há casos de sons que nunca se podem encontrar no mesmo
contexto fónico, isto é, a ocorrência de um deles é condição suficiente para a não
ocorrência do outro.
Pensemos nas palavras mala[ m á l α ] e mal [ m á l ].
No primeiro caso o /l/ se encontra antes de uma vogal e a realização fonética [l],
e no segundo, encontra-se no final absoluto de palavra (sílaba), realizando-se como [l].
Diz-se então que [l] e [l] estão em distribuição complementar. E, porque a sua ocorrência
depende do contexto, denominam-se variantes contextuais.
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Nem todos os sons que existem na fala são fonemas, isto é, unidades distintivas.
As vogais nasais do Português são todas elas resultados da aplicação da regra de
assimilação do traço de nasalidade de uma consoante vizinha, e não se podem encontrar
na forma subjacente. Logo, elas não são fonemas. O mesmo ocorrendo com as vogais
orais [ α e i ]. Porque a ocorrência destes sons é determinada por regras, faz com que eles
não sejam considerados fonemas, pois, não são unidades distintivas e, porque não são
fonemas não podem figurar na chamada matriz fonológica da língua.
Para que duas formas fonéticas se distingam em significado é necessário que haja
uma diferença fonética entre os sons que foram substituídos. Os pares mínimos selo e
zelo mostram que /s/ e /z/representam dois fonemas diferentes cuja diferença se relaciona
com o vozeamento: /s/ é [- voz] e /z/ é [+ voz]. É este o traço fonético que distingue as
duas palavras. Porque a sonoridade distingue um fonema de outro, em Português constitui
um traço distintivo (ou traço fonémico ou fonológico). Quando duas palavras são
foneticamente idênticas em todos os seus traços excepto num, a diferença fonética é
distintiva, uma vez que por si só explica o contraste de significados, tal como acontece
em cobra/copra, fala/vala e fato/foto.
Dai que definir os segmentos fonológicos de uma língua se revela como um dos
desenvolvimentos mais importantes da teoria fonológica. Um outro objectivo da
fonologia é identificar o conjunto de traços necessários para descrever os sons de
qualquer língua, para, assim, compreender melhor as fonologias das línguas faladas.
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[silábico] [sil]
[consontântico] [cons]
[soante] [soan]
[contínuo] [cont]
[vozeado] [voz]
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O traço [estridente] caracteriza os sons que são marcados por uma turbulência
acústica maior do que a dos sons não estridentes, provocada por certos factores
articulatórios. Assim sucede com as fricativas com [s] ou [f] e com as africadas. O traço
[lateral] identifica um tipo de constrição na emissão do som: nas laterais existe um
bloqueio formado pela ponta da língua, passando o ar pelos dois lados ou por um dos
lados. O traço [nasal] indica a passagem do ar pela cavidade nasal por haver um
abaixamento de véu palatino e identifica tanto consoantes como vogais e glides.
[arredondado] [arr]
[coronal] [cor]
[anterior] [ant]
[alto] [alt]
[baixo] [bx]
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[recuado] [rec]
Certos fonemas diferem entre si apenas num traço, outros diferem em vários.
A teoria dos traços distintivos veio a alterar o conceito de fonema como unidade
mínima da fonologia. Na realidade, o fonema corresponde a um segmento sonoro, e é
esse segmento na sua globalidade que, encarado no nível abstracto, representa para a
escola estruturalista uma unidade mínima. Ora, dado que esse segmento é constituído por
propriedades – os traços distintivos – que se podem identificar e servem para distinguir os
fonemas, é compreensível que essas propriedades passem a ocupar o lugar de unidades
mínimas. Assim, entende-se o fonema como um conjunto de traços distintivos e, por essa
razão, denominam-se segmentos fonológicos; ao isolar esses segmentos na cadeia
fonológica temos em conta sobretudo os traços distintivos que os identificam. Quando se
revelar vantajoso pode se usar o termo fonema sempre com o pressuposto de que se trata
de um segmento complexo e internamente «divisível».
CLASSES NATURAIS
As consoantes as vogais formam grupos que se distinguem em todas as línguas
por terem comportamentos diferente. Se, por exemplo, encontramos palavras constituídas
por uma só vogal, difícil é encontrar palavras que se constituam apenas por uma
consoante. Esta diferença de comportamento entre grupos de segmentos correspondem a
traços que possuem em comum, marcados com o mesmo valor. Assim, as vogais são [ +
silábicas, - consonânticas] e as consoantes [ - silábicas, + consonânticas]. Estes traços
dizem respeito ao modo de articulação tal como o traço [contínuo]: vogais, glides e
algumas consoantes são [+ continuas], as oclusivas são [- cont]. Qualquer agrupamento
de segmentos por partilha de um ou mais traços se designa classe natural por causa do
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funcionamento comum dos elementos que as integram: uma das suas características é o
facto de todos os elementos se definirem em conjunto com um menor número de traços
do que o necessário para definir cada um dele separadamente. Quanto menos traços
forme precisos para definir uma classe de segmentos, mais natural ela é.
AS SÍLABAS
Numa palavra como calo não encontramos apenas os fonemas que a constituem e
que podemos identificar por oposição a outras palavras. Um falante da língua Portuguesa
é capaz de dividir a palavra referida em duas partes (ca-lo), as suas duas sílabas.
As sílabas mais frequentes nas línguas do mundo são as constituídas por uma
consoante e uma vogal (CV) e são as mais frequentes em Português. Nesta forma
canónica da sílaba, a consoante e a vogal correspondem à sua grande divisão interna:
ataque e a rima. Mas porque uma sílaba pode ser constituída apenas por uma vogal, esta
é o seu elemento mais importante, que funciona como centro e se denomina núcleo. No
Português e na maioria das línguas bantu (LB) os núcleos silábicos são sempre vogais,
mas existem línguas em que certas consoantes podem ocupar esse lugar.
As glides nunca podem funcionar sozinhas como núcleos silábicos e esse aspecto
é o que as distinguem das vogais. No entanto ao formarem ditongos com as vogais, as
glides integram o núcleo, como nos exemplos seguintes:
fiéis [εj] judeu [ew]
mãe [αj] faliu [iw]
silábica deve ser feita de tal forma que estas consoantes fiquem em final de sílaba. Se as
sequências são constituídas, por exemplo, por uma oclusiva, como (/b/, /k/) ou uma
fricativa (/f/) seguidas de uma líquida (/l/e /r/). Em Português estes grupos pertencem à
mesma sílaba, ou seja, eles formam o ataque da segunda sílaba da palavra. Muitas
palavras iniciam-se por grupos semelhantes (braço, claro, frito, etc.). À sequência das de
uma consoante oclusiva ou fricativa e uma líquida chamámos de grupo próprio. Ora em
Português ocorrem por vezes, no início de palavras duas consoantes que formam um
grupo próprio (gnomo, psicologia, etc.), estas consoantes pertencem ao ataque da
segunda sílaba, como ocorre em palavras como afta, pacto e absurdo.
A divisão silábica pode representar-se com um diagrama que evidencia a sua
estrutura, no qual σ indica sílaba, A e R indicam «ataque» e «rima» e N e COD indicam
«núcleo» e «coda»-
A R
N COD
[p a r]
O ACENTO
Geralmente, ao se pronunciar uma palavra, há sílabas que são sentidas como mais
proeminentes, porque a vogal que é o núcleo da sílaba acentuada possui, normalmente, as
propriedades de intensidade, duração e altura em grau superior ao das outras vogais da
palavra e essa proeminência atinge toda a sílaba em que ela está integrada. A sílaba que
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regista estas propriedades diz-se que contém o acento da palavra, e é denominada sílaba
tónica.
O Português e todas as línguas românicas 6 , bem como a maioria das línguas
africanas, utilizam as diferenças de posição do acento na palavra e as suas variações para
distinguir significados e para marcar as unidades rítmicas – são línguas acentuais.
Os contrastes provocados nas línguas pelas propriedades do som atrás indicadas –
acento, duração, tom – são denominados traços prosódicos (ou supra-segmentais),
porque não atingem apenas um segmento, mas marcam a sílaba na globalidade.
A maior parte das palavras das línguas possuem um único acento (acento
principal). Outras possuem um a cento principal – o mais proeminente – e um acento
secundário –aquele que, não sendo principal, acaba tendo uma certa proeminência em
relação às outras sílabas da frase.
Unidade acentual: é um grupo de palavras que apenas apresenta um único acento.
Esta unidade pode incluir as chamadas palavras átonas, tais como, conjunções e
preposições. A unidade acentual marca-se com barras verticais ( |x| ).
Dentro dos limites da frase, existem acentos cujo valor prosódico relativo é
superior ao dos outros. São os chamados acentos nucleares, em torno dos quais se
formam unidades ou grupos fonéticos que, por vezes, são separadas por palavras.
REGRAS DA FONOLOGIA
Como já se disse anteriormente, a Gramática Generativa Transformacional,
explica o funcionamento da língua com base em regras. Lembremo-nos de que a língua é
um sistema de regras. Assim, se a mais pequena unidade linguística que se pode articular
é o fonema, quer dizer que sobre ele actuam determinadas regras que transformam os
6
Demoninam-se línguas românicas, às línguas derivadas do latim, tais como o Português, o Italiano, o
Francês e o Castelhano.
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(2) Dissimilação – é o processo (ou regra) pelo qual dois segmentos que
apresentam um traço com o mesmo valor têm a tendência de se diferenciar,
nesse traço, de modo a tornar a sequência mais audível.
/leona/ [ljα]
(4) Metátese – é uma regra fonológica pelo qual determinados fonemas trocam de
posição dentro da cadeia fónica.
/primeiro/ [primerju]
BIBLIOGRAFIA:
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A assimilação e a dissimilação são regras que produzem uma modificação de traços
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CONCEITO DE MORFOLOGIA:
Em síntese, diríamos que a morfologia é uma disciplina (ramo da) linguística que
tem a palavra por objecto, e que estuda, por um lado, a sua estrutura interna, a
organização dos seus constituintes e, por outro lado, o modo como essa estrutura interna
reflecte a relação com as outras palavras que parecem estar associadas de maneira
especial a ela.
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O CONCEITO DE PALAVRA
Uma língua é constituída de um conjunto infinito de frases, cada uma delas possui
uma face sonora (significante), ou seja, uma cadeia falada, e uma face significativa
(significado), que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez, pode ser dividida
em unidades menores de som e significado – as palavras – e em unidades ainda menores,
que apresentam apenas a face do significante – os fonemas.
Assim, de acordo com Cunha & Cintra (1996:75) as palavras são, pois, unidades
menores que a frase e maiores que o fonema.
Porém. Esta não é a única definição de palavra. Vejamos quais são as outras
propostas de conceitualização deste termo:
(i) Palavra: unidade linguística sintacticamente inanalisável, pertencente a
uma categoria sintáctica (classe de palavras) como Nome (N), Verbo (V),
Adjectivo (Adj) ou Preposição (Prep).
(ii) Palavra é a mais pequena categoria linguística que pode ocorrer tanto no
discurso oral como no escrito.
4. Lexema – unidade lexical abstracta, que reúne todas as flexões de uma mesma
palavra. Em princípio, os lexemas são distintos uns dos outros porque portadores
de sentidos diferentes.
Exemplo: (a) pai /mãe
(b) homem / mulher
Por outras palavras, os lexemas são aquelas palavras que, geralmente, constam
dos dicionários e que apresentam uma flexão neutra. Estudiosos consideram o
masculino como o género neutro e o singular também como o número neutro, nos
casos em que a palavra é biforme quanto ao género e/ou ao número.
O CONCEITO DE MORFEMA
TIPOS DE MORFEMAS
Prestemos atenção aos seguintes versos:
«Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas»
básico, e um número variável de outros morfemas que modificam esse sentido, como no
caso das palavras derivadas, por exemplo, em infelizmente, podemos detectar o radical, o
morfema potencialmente livre feliz, e dois afixos in- e –mente. O morfema preso in-, à
esquerda do radical, é um prefixo, e – mente, o morfema preso à direita do radical é um
sufixo.
O afixo é um morfema que ocorre apenas quando concatenado com outro
morfema ou morfemas. Por definição um afixo é, portanto, um morfema preso. Na
palavra pais, junta-se o sufixo flexional plural, -s, ao radical simples, pai. O radical é a
parte da palavra que existe antes de se afixar um elemento flexional, e um afixo cuja
presença é requerida pela sintaxe, como os marcadores de número de nomes. Em
rapazinhos, ocorre mesmo sufixo flexional -s, desta vez depois de um radical complexo,
um radical derivacional, que consiste na raiz rapaz e o sufixo derivacional –zinho, que é
usado para transmitir a ideia de pequeno.
Qualquer unidade à qual um afixo pode ser aliado tem o nome de base. Os afixos
juntos a uma base podem ser flexionais, se seleccionados por razões sintácticas, ou
derivacionais, se alteram o sentido ou a função gramatical da base. Uma raiz como petiz
pode ser uma base, na medida em que é possível juntar-lhe o sufixo flexional para formar
o plural petizes, ou um afixo derivacional para formar um outro nome, petizada.
Os afixos de acordo com Mateus et alli (1990:414) nunca podem constituir por si
sós, uma palavra, devendo-se associar a uma base, que pode ser constituída por um
radical, ou por uma sequência de um radical mais um ou mais afixos.
Distinguem-se os afixos em várias categorias:
(a) afixos de flexão
(b) afixos de derivação
(c) afixos avaliativos (aumentativo e diminutivo)
(a) Uma única palavra, por modificação da sua estrutura, - derivação – quer por
adjunção de um prefixo (prefixação), quer por adjunção de um sufixo
(sufixação), ou de um infixo (infixação).
(b) Uma sequência de palavras – composição.
(c) Uma única palavra, cuja forma não é modificada, mas à qual é atribuído um
novo estatuto gramatical – conversão ou derivação imprópria.
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Para o esclarecimento destes conceitos pode consultar Mateus et alli (1990:415).
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9
N e V são os traços sintácticos que classificam os Nomes, Verbos e Adjectivos
10
[ + N, - V] corresponde a Nome.
11
[ + N, + V] corresponde a Adjectivo;
12
[ - N, + V] corresponde a Verbo.
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MORFEMAS DERIVACIONAIS
Novas palavras podem entrar desta forma no dicionário, criadas pela aplicação de
regras morfológicas. Algumas destas formas são redundantes (planificação, planeamento,
planejamento). Tais redundâncias mostram que as palavras que na realidade existem
numa língua constituem apenas um subconjunto de palavras possíveis.
Algumas regras morfológicas são muito produtivas no sentido em que podem ser
utilizadas bastante e livremente para formar novas palavras da lista de morfemas livres e
presos.
As regras morfológicas são produtivas quando podem ser usadas muitas vezes
para formar novas palavras.
Deste modo, o conhecimento que os falantes têm dos morfemas da sua língua e
das regras de formação de palavras está bem patente quer nos “erros” que fazem, quer nas
formas correctas que produzem. Os morfemas combinam-se para formarem palavras.
Essas palavras formam os nossos dicionários interiores.
Nenhum falante de uma língua conhece todas as palavras. Considerando o nosso
conhecimento dos morfemas da língua e das regras morfológicas, conseguimos muitas
vezes adivinhar o significado de uma palavra que não conhecemos. Muitas vezes, como é
evidente, adivinhamos mal.
COMPOSIÇÃO
As palavras podem juntar-se umas às outras formando novas palavras: as palavras
compostas. Não existe praticamente limite quanto às combinações que podem ocorrer.
Quando duas palavras fazem parte da mesma categoria gramatical, a palavra
composta pertence a essa categoria: (substantivo+substantivo substantivo). Em
muitos casos, quando duas palavras pertencem a categorias diferentes, em Português, é a
classe da primeira palavra que determina a categoria gramatical do composto: mesa-
redonda, cão-guarda, aguardente, couve-flor.
Embora os compostos de duas palavras sejam os mais dominantes, difícil é
estabelecer o limite máximo.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 60
A ortografia nada nos diz sobre a sequência que forma o composto, uma vez que
alguns compostos são escritos com um espaço entre as duas palavras, outros com hífen e
outros sem qualquer separação: por exemplo, fim de semana, guarda-fatos tiranódoas.
Porém, nem sempre é possível determinar o significado do composto a partir das
palavras que o constituem. O significado não é sempre a soma dos significados das partes
(malmequer, louva-deus, beija-flores).
Deste modo, compreende-se que embora as palavras de uma língua não sejam
unidades de som e significado mais elementares, todas as palavras (juntamente com os
morfemas) deverão constar dos nossos dicionários. As regras morfológicas deverão
também fazer parte da gramática, explicando as relações entre as palavras e fornecendo
meios para formar novas palavras.
A composição pode ser por justaposição ou por aglutinação.
Diz-se que há justaposição quando da reunião de duas formas linguísticas resulta
uma nova palavra na qual cada forma se conserva como um vocábulo fonético distinto.
Verde-alface
Fim de semana
BIBLIOGRAFIA:
I. AZUAGA, Luísa (1996) “Morfologia” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. BARBOSA, Jorge Morais (1994) Introdução ao Estudo da Fonologia e
Morfologia do Português. Coimbra: Almedina.
IV. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
V. GLEASON Jr., H.A. (1985) Introdução à Linguística Descritiva. 2ª edição,
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
VI. MATEUS, Maria H. Mira et alli (1990) Fonética, Fonologia e Morfologia
do Português. Lisboa: Universidade Aberta.
«estar») entre objectos («rapaz» e «livro»; «rapaz» e «cinema») - <comprar, rapaz, livro>,
<estar, rapaz, cinema> - ou como uma propriedade («(ser) simpático») que caracteriza
um objecto («rapaz») - <(ser), rapaz, simpático>.
A sequência que deriva de uma proposição ou é uma frase ou um enunciado.
Enunciado: refere-se a uma sequência linguística cujos valores das categorias que
o afectam – número, género, caso, tempo, aspecto, quantificação, determinação –
permitem localizar o estado de coisas expresso pela proposição.
Os enunciados se caracterizam pelo facto de serem verdadeiros ou falsos; nas
línguas naturais se expressam, normalmente, por meio de frases declarativas.
Segundo Duarte & Brito (1996:246), a reacção dos falantes perante certos erros
de tradução, ou produções de falantes que dominam mal a língua alvo, bem como a
atitude correctiva que assumem em situação de interacção com crianças em fase de
aquisição da língua são indícios da pluralidade de aspectos envolvidos no conhecimento
sintáctico intuitivo dos falantes.
(1) *As geladas ervilhas rebolaram pelo chão.
(do inglês: «the frozen peas...»)
(2) *Lamento que ela está muito triste.
(3) *Mãe, dá-me o pente para mim pentear a boneca.
O exemplo (1) ilustra um dos aspectos mais óbvios da organização sintáctica das
línguas naturais. As combinações de palavras são linearmente ordenadas, não sendo
irrelevante dizer «geladas ervilhas» ou «ervilhas geladas».
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 64
O exemplo (2) mostra que faz parte do conhecimento intuitivo que um falante tem
da sua língua o das dependências locais (léxico-sintácticas); o verbo “lamentar”
selecciona como modo verbal do seu complemento finito o conjuntivo (e não o
indicativo).
O exemplo (3) mostra que faz parte do conhecimento sintáctico intuitivo o das
relações gramaticais e dos processos da sua marcação: em línguas como o português, o
constituinte com a relação gramatical de sujeito é marcado com o caso 13 nominativo (e
não com casos oblíquos).
GRAMATICALIDADE E AGRAMATICALIDADE
13
Aqui só fazemos uma simples alusão aos casos nominativo e oblíquo. Porém, a teoria de caso será
aprofundada na cadeira de Linguística Descritiva do Português II, no 3.º ano.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 65
AMBIGUIDADE
A ambiguidade é a propriedade de certas frases realizadas que apresentam vários
sentidos. A ambiguidade pode ser do léxico, quando certos morfemas léxicos (palavras)
têm vários sentidos.
A ambiguidade pode advir do facto de que a frase tenha uma estrutura sintáctica
susceptível de várias interpretações.
Consideremos a frase:
(10) As bibliotecas de História e Geografia inglesas são óptimas.
Repare-se que a ambiguidade da frase (10) não se deve a razão de natureza lexical
ou semântica. Com efeito esta frase é ambígua devido a factores de natureza estrutural
(ou sintáctica). As ambiguidades sintácticas 14 devem-se ao facto de que a mesma
estrutura de superfície sai de duas (ou mais de duas) estruturas profundas diferentes.
Para Duarte & Brito (1996:249), a possibilidade de atribuir várias estruturas a
uma mesma combinação de palavras constitui um argumento a favor da ideia de que as
combinações de palavras, para alem de uma organização linear, são dotadas de uma
estrutura hierárquica (ou de constituintes).
14
Dubois (1993:45) considera que a ambiguidade sintáctica também pode designar-se de homonímia de
construção.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 67
ESTRUTURA DE CONSTITUINTES
A ideia básica da sintaxe é a de que as orações estão dotadas de uma estrutura
interna que se rege por princípios de hierarquia e linearidade. Isso equivale a conceber
a frase como resultado de combinar, em níveis distintos, unidades sintácticas inferiores
(os constituintes).
Segundo Hernanz & Brucart (1987:26) se a frase fosse uma mera justaposição de
palavras, o vínculo que manteria entre si todas as unidades léxicas que a formam seria
idêntico. O que equivale a dizer que não haveria nenhuma estrutura.
Assim, as regras da sintaxe determinam a ordem correcta das palavras numa frase.
As palavras dentro de uma frase podem ser divididas em dois ou mais grupos e dentro de
cada grupo em subgrupos, e assim, sucessivamente, até ficar apenas uma única palavra.
Os grupos e subgrupos constituem agrupamentos “naturais” de palavras.
Tomemos como exemplo a frase:
(12) O mecânico limpou o automóvel com um pano.
SN SV
Art N V SN SP
Art N Prep SN
Art N
Se tomarmos como exemplo a frase (12), diríamos que a frase é constituída por
dois constituintes estruturais: um SN o mecânico e um SV limpou o automóvel com um
pano. E que o SV é constituído por três constituintes estruturais: um limpou, o SN o
automóvel e um SP com um pano, e assim por diante.
15
Alguns autores preferem a designação de Grupo, em vez de sintagma.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 70
As chavetas indicam que podemos escolher tanto a linha de cima como a de baixo
para o lado direito. Se optarmos pela linha de cima, o constituinte entre parênteses pode
estar presente ou ausente
Tanto na frase (17a) como na frase (17b) o sujeito lógico – o agente da acção - ´o
cão, mas em (17a) o cão é o sujeito estrutural (o primeiro SN da frase mais alta),
enquanto em (17b) o sujeito estrutural é o homem. Portanto, há uma diferença entre o
sujeito lógico e o sujeito estrutural. O sujeito lógico é o quem, geralmente, ocorre numa
estrutura profunda (ou seja, na proposição de base), isto é, antes de ocorrer qualquer tipo
de transformação da ordem “natural” dos constituintes frásicos. E o sujeito estrutural é o
que ocorre numa estrutura de superfície, o que se realiza num enunciado/frase concreta.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 73
BIBLIOGRAFIA:
I. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
IV. DUARTE, Inês & BRITO, A. M. (1996) “Sintaxe” In FARIA, I.H. et alli
(1996) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
V. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
VI. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
VII. HERNANZ, M.L. & BRUCART, J.M. (1987) La Sintaxis. Barcelona:
Editorial Crítica.
VIII. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
IX. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 74
são equivalentes. Por exemplos, parece que ‘quer dizer’ poderia substituir ‘significado’
em (1), (3), e (5) sem alterar o significado global da frase; e que ‘valor’ é equivalente a
‘significado’ nas frases (2), (3), (4), (5) e (6), mas não em (7). O sentido em que
‘significado’ é usado em (4) está mais próximo do sentido de significado em (2). ‘Valor’
não é equivalente a ‘significado’ no contexto de (1): a substituição de significado por
valor daria uma frase com um significado bastante diferente de (1).
Em suma, o termo ‘significado’ será sempre usado no que poderia chamar-se o
sentido da linguagem corrente, de todos os dias; ou seja, no que geralmente é descrito
como um sentido intuitivo. (Cf. Lyons, 1980:12-14).
Se (1a) é verdadeira, então (1b) também o é, isto é, não se pode dizer que a
primeira é verdadeira e a segunda é falsa, ou então, se (1b) é falsa, (1a) também o é.
Como se pode notar, qualquer falante sabe que a informação contida em (1b) está, de
certa forma incluída na frase (1b). Veja-se ainda outros exemplos:
(2) (a) Johane axavile xiluva. (= O João comprou uma flor)
(b) Johane axavile xilu. (= O João comprou algo)
hiperónimo de vermelho e este hipónimo 16 de cor, mas não se pode estabelecer esta
relação entre as palavras no exemplo (2).
Ou outro caso de implicação é o seguinte:
(3) (a) Aquilo é um gato preto.
(b) Todos os gatos são animais.
(c) Aquilo é um animal preto. (conclusão)
Estes dois casos ilustram um tipo de raciocínio que se chama silogismo. Neles
interessa verificar que em (3) a conclusão é legítima, mas (4) não o é. Várias observações
podem ser feitas. Em primeiro lugar, se (a) e (b) do exemplo (3) são verdadeiras, então (c)
também o é. Assim, podemos dizer que (a) e(b) implicam estritamente (c). Em segundo
lugar, verifica-se que não se pode aplicar o mesmo raciocínio em (4) e por isso ele não é
válido, (a) e (b) não implicam estritamente (c).
16
Os termos mais específicos incluídos num termo mais geral se descrevem como seus hipónimos e este
funciona como hiperónimo daqueles.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 77
SINONÍMIA E ANTONÍMIA
Outras relações interessantes são as de sinonímia e antonímia. De um modo geral,
diz-se que duas palavras são sinónimas quando têm o mesmo significado. Porém, em
certos casos alguns sinónimos num contexto não o são noutros, como vimos quando
discutimos os conceitos de ‘significado’ e ‘valor’. A sinonímia é uma relação de
equivalência semântica (se A implica B, B implica A).
Contudo, não há sinónimos perfeitos, isto é, não há duas palavras que tenham o
mesmo significado. Por outro lado, há palavras que partilham muitos traços semânticos
mas que não são sinónimos; e palavras que parecem sinónimos mas que podem não ser
adequadas.
Semanticamente, diz-se que duas frases idênticas são paráfrases se tiverem o
mesmo significado. Assim, o uso de sinónimos pode dar origem a uma paráfrase lexical.
(7) A Maria está contente.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 78
Neste exemplo ocorre a anáfora que consiste no uso de uma forma breve ou
proforma em vez de uma expressão extensa. Geralmente tal proforma é usada quando o
seu significado é evidente através do contexto. Os pares em que se usam proformas são
geralmente paráfrases.
O significado de uma palavra pode ser parcialmente definido por aquilo que ela
não é. Masculino significa não feminino, morto significa não vivo. As palavras de
significado oposto geralmente são chamadas antónimos. Os antónimos caracterizam-se
por terem em comum todas as propriedades, excepto uma.
Há várias espécies de antonímia. Há pares complementares como vivo / morto,
casado/solteiro; ausente/presente. Há pares graduáveis como pequeno/grande,
quente/frio, feliz/triste.
No caso dos pares graduáveis a forma negativa de uma palavra não é sinónimo da
outra. Por exemplo, a água não fria não é necessariamente quente. Entre o quente e o frio
há o morno.
Devido ao facto de conhecermos as propriedades semânticas das palavras,
responsáveis em grande parte pelos significados das mesmas, sabemos quando duas
palavras são antónimas, sinónimas, homónimas ou totalmente desprovidas de relação de
significado.
Diz-se que duas palavras são homónimas (ou homófonas) quando se pronunciam
da mesma maneira mas têm significados diferentes, embora possam ter ou não a mesma
ortografia. É importante observar que o uso de palavras homónimas pode dar origem à
ambiguidade semântica.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 79
METÁFORA
A metáfora é tipo de ambiguidade que consiste no facto de duas frases
apresentarem dois significados: um literal e outro não literal ou metafórico. O
significado literal baseia-se nas propriedades semânticas normais das palavras na frase
enquanto o significado metafórico se baseia nas propriedades semânticas que são
inferidas ou que estabelecem alguma relação de semelhança.
Algumas metáforas têm um significado literal anómalo, isto é, não fazem sentido
se se tomar em consideração o estado natural das coisas.
A ambiguidade metáforica é tida como a mais complexa do que a ambiguidade
lexical. Apesar disso, os falantes das línguas naturais conseguem ter a capacidade de
compreender ambos os tipos de frases ambíguas.
Eis alguns exemplos de metáforas:
(10) (a) O Danito quando joga no meio campo é um verdadeiro peixe na água.
(b) Time is money.
(b) A mova wa Antoninyu i mbaweni.
Há outras palavras que soam como de uma dada língua, mas não fazem sentido,
logo são ininterpretáveis e apenas se podem interpretar se se imaginar um significado
para cada uma delas: são palavras que não existem no léxico da gramática.
A NOÇÃO DE VERDADE
«(Prestemos atenção à seguinte frase:)
(11) O Luís conversou com a professora no dia 6 de Maio.
SENTIDO E REFERÊNCIA
De acordo com Abraham (1981:388) a referência refere-se à relação entre as
expressões linguísticas e as pessoas ou objectos que designam (ou identificam de alguma
maneira).
Como se pode notar nesta definição, a referência será, por outras palavras, «a
função pela qual um signo linguístico se refere a um objecto do mundo extralinguístico,
real ou imaginário.» (Dubois, 1993:511).
Geralmente, todo o signo linguístico, ao mesmo tempo que assegura a ligação
entre um conceito e uma imagem acústica, se refere a uma realidade extralinguística. Esta
função referencial coloca em relação, não directamente com o mundo dos objectos reais,
mas com o mundo percebido no interior das formações ideológicas de uma dada cultura.
A referência não é feita com um objecto real, mas com um objecto do pensamento.
Por sentido de uma palavra entendemos a sua posição dentro de um sistema de
relações que a associam com as outras do vocabulário. De acordo com Lyons (1980:163)
o sentido é o termo usado por alguns filósofos para aquilo que descreveriam
simplesmente como o seu significado, ou, de maneira mais restrita ainda, como o seu
significado cognitivo ou descritivo.
O sentido só nos permite conhecer algo se a ele corresponder uma referência. Por
outras palavras, o sentido permite alcançarmos um objecto no mundo, mas é o objecto no
mundo que permite formular um juízo de valor, isto é, que nos permite avaliar se o que
dizemos é verdadeiro ou é falso. A verdade não está, de maneira alguma, na linguagem,
mas sim nos factos do mundo. A linguagem é apenas um instrumento que nos permite
aceder àquilo que há, a verdade ou a falsidade.
Frege, filósofo do séc. XIX, afirma que a conexão regular entre o signo, seu
sentido e seu significado é de tal maneira que ao signo corresponde um sentido
determinado e a este, por sua vez, um significado determinado. Assim, para Frege, a
referência de uma frase é dada pelo seu valor de verdade e o sentido por aquilo Frege
chama pensamento.
Vejamos o triângulo semiótico, proposto por Ogden e Richards, que nos dá conta
da diferença entre sentido e referência:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 82
Significado (conceito)
palavra (signo)
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
Além do que anteriormente se referiu no presente texto, o conhecimento de uma
língua pressupõe também o conhecimento de expressões fixas, compostas por uma ou
mais palavras, cujo significado não pode ser inferido do conhecimento do significado de
cada uma delas, as expressões idiomáticas.
(12) (a) Phula byihola, Petrossi angatapfumela. (Esqueça, o Pedro não vai
aceitar).
(b) It is raining cats and dogs. (Está chovendo torrencialmente).
dicionário mental como unidades únicas com significados específicos e somos obrigados
a aprender as restrições da sua ocorrência.
PRAGMÁTICA
A única diferença existente entre as duas frases acima está na sua estruturação
sintáctica. Enquanto (13a) mostra claramente a acção que está a ser realizada, por meio
do verbo prometer (enunciado performativo explícito), (13b) usa para tal apenas factores
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 84
Dizer, asseverar, afirmar, constatar, assertar, declarar, etc., são acções em tudo
semelhantes a prometer, baptizar alguém, ordenar,... Todos estes tipos de acções são
acções realizadas por meio da fala: actos de fala (ou actos linguísticos).
ACTOS DE FALA
Os actos de fala ilocutórios podem ser caracterizados de acordo com o quadro que
se segue:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 85
DEIXIS
De acordo com Dubois (1993: 168), todo o enunciado se realiza numa situação
definida pelas coordenadas espaço-temporais: o sujeito refere o seu enunciado ao
momento da enunciação, aos participantes na comunicação e ao lugar em que o
enunciado se produz. As referências a essa situação formam a deixis, e os elementos
linguísticos que concorrem para “situar” o enunciado são deíticos17.
A deixis é um modo particular de actualização que usa ou o gesto (deixis mímica)
ou termos de uma língua chamados deíticos (deixis verbal).
A Deixis pode ser encarada em função de cinco grandes categorias que dizem
respeito à pessoa, ao lugar, ao tempo, ao discurso e à própria dinâmica social, ganhando
valores distintos, consoante as categorias postas em acção pelo sujeito. Deste modo,
considerando tais categorias, podemos ter a deixis pessoal, a deixis espacial, a deixis
17
Deítico, para Dubois (1993) é todo o elemento linguístico que, num enunciado, faz referência: (1) à
situação em que esse enunciado é produzido; (2) ao momento do enunciado (tempo e aspecto verbal); (3)
ao falante (modalização). Deste modo, os demonstrativos, os advérbios de lugar e de temo, em geral deles
derivados, os pronomes pessoais, os artigos são deíticos, constituem indiciais da linguagem.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 86
temporal, a deixis discursiva e a deixis social, tal como ilucidam os exemplos que se
seguem:
(14) (a) Não ligues, ele é parvo.
(b) Nós lá não aceitamos cheques.
(c) Telefono-te amanhã.
(d) No próximo capítulo discutirei problemas de deixis.
(e) O Magnífico Reitor deposita enorme confiança em docentes jovens.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 87
BIBLIOGRAFIA:
I. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
IV. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
V. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
VI. GOUVEIA, Carlos A.M. (1996) “Pragmática” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho
VII. LYONS, John (1980) Semântica – I. Lisboa: Editorial Presença.
VIII. OLIVEIRA, Fátima (1996) “Semântica” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
IX. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
X. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 88
Podemos começar a abordagem deste tema afirmando que dentro de uma mesma
língua há várias línguas (normas), o que significa que qualquer falante de uma dada
língua consegue falar uns com os outros e entende-se muito bem com eles, embora não
haja dois indivíduos que falem da mesma maneira. Algumas diferenças têm relação com
as variáveis: idade, sexo, estado de saúde, tamanho, personalidade, estado emocional,
idiossincrasias pessoais, etc.
Assim, o idiolecto será a maneira de falar própria de um indivíduo, considerada
naquilo que ela tem de irredutível à influência dos grupos aos quais pertence.
Além das diferenças individuais, a língua apresenta variações regulares de grupo.
Diz-se que dois grupos falam dialectos (patois, variedades linguísticas) diferentes
quando ao utilizarem a mesma língua, apresentam diferenças regulares e sistemáticas. Os
dialectos de uma língua caracterizam-se por possuir um grau de inteligibilidade mútua
maior. Portanto, há que considerar que a quando dois dialectos se tornam mutuamente
ininteligíveis são tomadas como línguas diferentes.
Como se pode notar, a língua não se pode dissociar do contexto social em que
funciona. Os indivíduos que formam um grupo têm relações regulares e permanentes
entre si, tem direitos e deveres no seu comportamento. A diversidade linguística está
profundamente ligada à natureza dos grupos e categorias que existem numa dada
sociedade.
A coexistência de diferentes variedades não se dá no vácuo, mas no contexto das
relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Em todas
as comunidades existem dialectos que são considerados superiores e outros inferiores. Os
dialectos sociais ou sociolectos nascem das desigualdades sociais. Constata-se a
existência de variedades de prestígio e de variedades não prestigiadas ou estigmatizadas.
Geralmente, nas sociedades ocidentais, o dialecto de prestígio é tomado como a variedade
linguística socialmente mais valorizada, de reconhecido prestígio dentro da comunidade,
usado em contexto de comunicação formal, isto é, o dialecto padrão (norma culta ou
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 89
língua culta). Tal variedade é o resultado de uma atitude social diante da língua, que se
traduz pela selecção de um dos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e
pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo correcto de falar.
Regra geral, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos
linguísticos dos grupos socialmente dominantes. Historicamente, a variedade padrão
coincide com a falada pelas classes sociais mais altas (nobreza, burguesia, habitante de
núcleos urbanos), de determinadas regiões geográficas.
Se a padronização, de acordo com Fishman (1970) é um tratamento social
característico da língua, que se verifica quando há diversidade social suficiente e
necessidade de elaboração simbólica, então, a variedade padrão representa o ideal de
homogeneidade em meio à realidade concreta da variação linguística, o que quer dizer
que ninguém fala o padrão.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Qualquer língua viva está sujeita a variações. Contudo, só se pode estudar a
variação se ela for relacionada com algo que se considere minimamente estável e
homogéneo e este facto reforça a ideia de que as línguas vivem através da diversidade.
Podemos identificar quatro tipos principais de variação linguística:
(i) Variação diacrónica ou histórica – (do grego dia18+ kronos, «tempo»)
é aquela que designa as diversas manifestações de uma língua através
dos tempos. É óbvio que as mudanças que ocorrem nunca são
repentinas, há um período de transição onde encontramos a variação
sincrónica. O ramo que estuda esta variação é a Linguística Histórica.
(ii) Variação diatópica, geolinguística ou dialectal – (do grego topos,
«lugar») é aquela que está relacionada com factores geográficos –
diferentes usos da língua em regiões diferentes. Esta variação tem a ver
com o facto de considerar que a fala utilizada em regiões diferentes
possui características próprias. A Dialectologia estuda este tipo de
variação.
18
O prefixo dia- , do grego, é utilizado para significar «ao longo de, através de»...
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 90
informação sobre o dialecto do falante, por um lado, e, por outro, é usado com frequência
para referir o modo como muitos falantes estrangeiros usam uma determinada língua.
A geografia linguística está relacionada com a elaboração dos chamados atlas
linguísticos ou mapas dialectais. Tais mapas permitem a visualização geográfica da
distribuição de um fenómeno linguístico e a delimitação da sua extensão. Os atlas
linguísticos permitem ainda o isolamento das áreas dialectais, que são caracterizadas
pela concentração de fenómenos linguísticos idênticos, que, em certos tipos de mapas
podem ser circunscritos por meio de isoglossas19. Às fronteiras demarcadas por estas de
denominam feixes de isoglossas.
19
Falámos de isoglossas sempre que é possível traçar uma linha demarcando geograficamente as áreas em
que ocorre um determinado fenómeno linguístico.
20
A tradução é nossa, pois a fonte original é inglesa.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 92
BIBLIOGRAFIA:
XI. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
XII. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
XIII. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
XIV. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
XV. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
XVI. GOUVEIA, Carlos A.M. (1996) “Pragmática” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho
XVII. LYONS, John (1980) Semântica – I. Lisboa: Editorial Presença.
XVIII. OLIVEIRA, Fátima (1996) “Semântica” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
XIX. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
XX. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 94