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Tema 1: Obecto da Linguistica

ORIGEM DA LINGUÍSTICA

Concorda-se geralmente em reconhecer que o estatuto da linguística como estudo


científico da linguagem é assegurado pela publicação em 1916 do Curso de Linguística
Geral, de Ferdinand de Saussure. A partir dessa data, todo o estudo linguístico será
definido como surgido “antes” ou “depois” de Saussure.

Se considerarmos o período anterior, constatamos que deste a antiguidade, os


homens se interessaram pela linguagem e reuniram uma soma de observações e
explicações não negligenciáveis.
Desde a antiguidade aparecem três preocupações principais que dão origem a três
tipos de estudos:
- A preocupação religiosa de uma interpretação correcta dos textos antigos,
textos revelados ou depositários dos ritos, coloca em evidência a evolução da
língua e dá origem à filologia;
- A Valorização do texto antigo, sagrado ou respeitável, faz de toda a evolução
uma corrupção e desenvolve uma resistência à mudança;
- Daí, a aparição de uma atitude normativa que acaba se imobilizando em
purismo.

Paralelamente, a linguagem é aprendida como uma instituição humana e o seu estudo


integra-se na filosofia.
Podem-se reconhecer ao longo da história da gramática, estes três pontos de vista. O
resultado dessas pesquisas é considerável: formação das noções de frase, sujeito, objecto,
partes do discurso, descoberta das relações de parentesco entres as línguas, etc.
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Se se propõe, diante dessas pesquisas a primeira definição da linguística como estudo


científico da linguagem, encontram-se muito poucos que visem a esse objectivo. A
preocupação maior nunca parece ser a da linguagem; mesmo no séc. XIX, tão rico em
estudos gramaticais, é a história das línguas e as relações que elas mantêm entre sí que
são visadas, não a língua em si mesma.
É a essa definição do objecto da linguística que Ferdinand de Saussure dedica os
primeiros capítulos do seu curso.
O termo linguagem encobre um conjunto de realidades muito diversas fisiológicas e
psicológicas, auditivas e vocais, e todas as ciências ou quase todas, podem nela encontrar
objectos que lhe dizem respeito.
Todas as sociedades humanas possuem ou meio de comunicação “articulado”, a
linguagem – mas as línguas são diferentes. Entre esta constatação de diversidade e essa
similaridade de comportamento, há lugar para uma hipótese, para um ponto de vista e a
indicação de um objecto e de um método. Esse objecto é a Língua, componente social
da linguagem, que se impõe ao indivíduo e que se opõe à Fala, manifestação voluntária e
individual. A língua é um sistema de signos.

O ESTRUTURALISMO SAUSSURIANO

Assim definida, a linguagem se encontra relacionada aos outros sistemas simbólicos


e torna-se ciência nova que F. de Saussure constitui no próprio acto de fundação
linguística e no seio da qual esta última tem por papel fornecer os caracteres específicos
da língua, o mais elaborado desses sistemas de signos. Da definição do objecto decorrem
alguns princípios metodológicos:
(a) A linguística geral não pode colocar-se no fim das diversas pesquisas
empreendidas acerca das línguas, mas em sua origem. Cabe a ela dirigir tais
pesquisas. O corte epistemológico operado por Saussure é uma ruptura com
os métodos gramaticais do século XIX e retomada, de um ponto de vista
mais antigo sobre a linguagem;
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(b) Todos os factos da língua são estudados: o ponto de vista normativo é


excluído. As leis procuradas são leis de funcionamento da linguagem, não
são as normas sociais. Daí a constituição terminologia nova e rigorosa;
(c) A língua falada torna-se o objecto (quase) privilegiado da pesquisa;
(d) Sendo a língua definida em sincronia, essa perspectiva torna-se dominante;
(e) Enfim, a língua é uma estrutura1, uma forma e não uma substância. É um
sistema de valores sendo as suas unidades diferenciais, opositivas e
negativas.

Tal é o arsenal de conceitos da linguística estrutural de Ferdinand de Saussure, e


pode ser considerada como sendo a história da linguística até cerca dos anos 60 do séc.
XX, bem como a configuração de uma parte do seu campo actual, como desenvolvimento
das hipóteses Saussurianas.

O CÍRCULO LINGUÍSTICO DE PRAGA (CLP)

Definido o fonema como a unidade mínima capaz de mudar o sentido, com a técnica
dos pares mínimos, é no acto da comunicação que se apoiam os fonólogos da Escola de
Praga nos anos 30 do século passado, como quando se interessam pelas funções de
linguagem; exploram, portanto, a ideia de que a língua é um dado social. Esse método,
com a determinação das estruturas fonológicas, constitui durante muito tempo o modelo
linguístico mais rigoroso e mais sedutor para as outras ciências humanas. Entretanto, os
fonemas são definidos em termos de traços articulatórios, processo denunciado como
retorno à substância e a uma deturpação à concepção da língua enquanto forma.

GLOSSEMÁTICA: ESCOLA DINAMARQUESA

É um aspecto formal da língua que privilegia a escola dinamarquesa da


Glossemática, que visa a uma descrição do sistema a partir de elementos que não são nem

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Daqui deriva a designação ESTRUTURALISMO, para a corrente (escola) linguística iniciada por
Saussure.
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fonemas, nem letras, nem significações, mas sim relações. Repelindo a linguística
“transcendente” (baseada em dados exteriores à língua, a fonética, por exemplo),
Hjelmslev quer substituí-la por uma linguística imanente, isto é, que conceba a língua
como uma totalidade absolutamente autónoma, regida por leis puramente internas. Dai,
um refinamento da formalização na teoria do signo, de que cada um dos constituintes se
encontra dividido em forma e substância, sendo o signo apenas a ligação da forma do
conteúdo e da forma de Expressão.

ESCOLA NORTE-AMERCANA: DISTRIBUCIONALISMO2

Embora isolada com relação à Europa e diante de problemas bem particulares (o


estudo das línguas ameríndias), no contexto filosófico do Behaviorismo, a linguística
norte americana desenvolve-se sem contradição com as hipóteses estruturais, e está
bastante próxima da glossemática.
Baseada na constatação de que as partes de uma língua não se encontram
arbitrariamente, o método distribucional procura constituir, num corpus acabado, a partir
dos contextos das unidades e sem recurso ao sentido, as classes gramaticais de uma
língua. Esse método também pode ultrapassar os limites da frase e desenvolve-se em
análise de discurso, fazendo aparecer leis de funcionamento a um nível que escapava até
então à análise. O estabelecimento das leis de distribuição aos diversos níveis da língua,
leva os linguistas a encontrar os métodos e os resultados dos teóricos e a desenvolver
uma linguística quantitativa, que estuda e classifica os elementos da língua em função da
sua probabilidade de aparecimento, e que formula leis.

GRAMÁTICAS GENERATIVA E TRANSFORMACIONAL

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Alguns autores utilizam a designação DISTRIBUCIONISMO.
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Para o distribucionalismo, como para as escolas precedentes, trata-se de descrever


o sistema de uma língua – residindo as diferenças no método empregado para isolar as
unidades -, de levar, portanto, a uma taxonomia a partir da observação.
Notemos que os conceitos de estrutura e valor não são, para F. de Saussure,
directamente derivados da observação, mas criados para dar conta da língua. A
problemática já não se resume mais em: a língua é estruturada?; e sim em: pode se
estruturar a língua e, em caso afirmativo, como fazê-lo? A uma diligência de pesquisa de
uma estrutura pela observação sucede a estruturação no campo pelo pesquisador.

É essa nova configuração epistemológica que se encontra na base das gramáticas


generativas e transformacionais que se constituíram o nos EUA e na URSS (finais da
década de 60 e início da década de 70) e cujos autores fixam por tarefa dar conta da
aptidão (competência) dos falantes em produzir e compreender (performance) uma
infinidade de frases; É a criatividade linguística que é preciso estudar, aspecto essencial
da competência, e por isso tornar explícita soba a forma de um modelo constituído de um
número finito de regras. Essas regras devem ser de tal natureza que possam engendrar um
número infinito de frases. A noção de língua como sistema de signos é substituído pela de
língua como sistema de regras.

Falar é agir, estudar a fala é, portanto, estudar um acto no qual o indivíduo se


coloca e se afirma. Este não é mais o sujeito passivo. Se lembrarmos agora o carácter
social da língua, essa hipótese enriqueceu-se e fornece um modelo dinâmico da
linguagem no qual a fala, com o seu valor de acto social, é um ponto de tensão.
Assim, a linguística, após um período de fundação, caracterizado por uma
limitação estreita e rigorosa do objecto “língua” e um recuo para aquém de fronteiras
precisas, anexa agora a fala, o discurso, as relações da língua com o indivíduo e o mundo,
graças a métodos explícitos rigorosos. Visto que não há ciência que finalmente não leve a
um discurso, compreende-se a posição central que a linguística ocupa no perfil
epistemológico da nossa época, na medida em que visa a elaborar modelos de produção,
comunicação e compreensão desses discursos.
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O SIGNO LINGUÍSTICO

Signo Linguístico: unidade principal constitutiva da


linguagem humana, representada pela associação entre
um significado e um significante, ou seja, entre um
conceito e uma imagem acústica.
(Dicionário Universal da Língua Portuguesa)

No Curso de Linguística Geral de F. de Saussure, o termo signo adquire a


acepção de signo linguístico. Saussure faz distinção entre símbolo e signo: ele pensa que
existem inconvenientes em admitir que se possa utilizar a palavra símbolo para designar
o signo linguístico. O símbolo tem por característica jamais ser arbitrário, isto é, existe
um laço natural rudimentar entre o significante e o significado. Com Saussure, o signo
linguístico foi instaurado como unidade de língua. Passa a ser a unidade mínima da frase,
susceptível de ser reconhecido como idêntico num contexto diferente, ou de ser
substituído por uma unidade diferente num contexto idêntico.

Os signos linguísticos, essencialmente psíquicos, não são abstracções. O signo –


ou unidade – linguístico é uma entidade dupla, produto de aproximação de dois termos,
ambos psíquicos e unidos pelo laço de associação. Une, com efeito, não uma coisa a um
nome, mas um conceito a uma imagem acústica. Saussure precisa que a imagem acústica
não é o som material, mas a impressão psíquica deste som. Ela é a representação natural
da palavra enquanto facto de língua virtual, fora de toda a realização da fala.
Saussure denomina o conceito de significado e a imagem acústica de significante.
O signo linguístico é o que F. de Saussure denomina uma entidade psíquica de duas faces,
a combinação indissolúvel, no interior do cérebro humano, do significado e do
significante. São realidades que têm seu traço no cérebro; elas são sensíveis e a escrita
pode fixá-las em imagens convencionais.

Saussure (1986:123) «Estes elementos estão intimamente unidos e postulam-se um ao


outro. Quer procuremos o sentido da palavra latina “arbor”, quer
investiguemos qual palavra com que o latim designa o conceito “árvore”,
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é evidente que só as aproximações consagradas pela língua nos aparecem


conformes à realidade e, por isso, afastamos qualquer outra que se
pudesse imaginar.»

CONCEITO
«árvore»

IMAGEM arbor
ACÚSTICA arbor

CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGUÍSTICO


O signo linguístico, tal como o definiu F. de Saussure, apresenta certo número de
características essenciais:

(a) Arbitrariedade do signo


O laço que une o significante e o significado é arbitrário. A ideia de “mesa” não
tem qualquer relação com a sequência de sons que lhe serve se base para
significante: / m / - / e/ - / z / - / a /. Por outro lado, tal ideia pode ser representada
por significantes diferentes, noutras línguas, table em francês, table em inglês,
tafula em xichangana.

(b) Carácter linear do significante


O significante, sendo de natureza auditiva, se desenvolve na cadeia do tempo, de
modo que os signos se apresentam obrigatoriamente uns após outros, formando
uma cadeia de fala, cuja estrutura é linear, em virtude disto é analisável e
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quantificável. Este carácter é ainda mais evidente quando examinamos a


transcrição gráfica das formas vocais.

(c) Imutabilidade do signo


Se, em relação à ideia que representa o significante aparece como livremente
escolhido, em relação à comunidade linguística que o emprega, ele não é livre, é
imposto.
Com efeito, a língua aparece como uma herança do século precedente, como uma
convenção admitida pelos membros de uma mesma comunidade linguística e
transmitida aos membros da geração seguinte.
Por outro lado, é commumente admitido que a língua é um sistema de
comunicação que funciona por meio de um código ou sistema de signos. É
evidente que, para que a comunicação se estabeleça, graças a este sistema no seio
de uma comunidade linguística, é necessário que os signos do código sejam
convencionais, isto é, comuns a um grande número de emissores e receptores,
aceites, compreendidos e mantidos por todos.

(d) Mutabilidade do signo


Conforme F. de Saussure, o tempo, que assegura a continuidade da língua, possui
outro efeito, em aparência contraditório: o de alterar mais ou menos signos
linguísticos. Os factores de alteração são numerosos, mas sempre exteriores à
língua.
As modificações podem ser fonéticas, morfológicas, sintácticas ou lexicais.
Quando se trata do signo elas se situam no nível fonético e semântico: com efeito,
elas levam a um deslocamento da relação significante/significado. É assim que
imacula, que significava entre outras coisas “mancha”, deu, também, origem à
“mágoa” no português.
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LÍNGUA E FALA
Saussure é, sem dúvida um dos primeiros a ter explicitado para a linguística a
necessidade de realizar aquilo a que KANT chama “revolução copernicana”. Com efeito,
distingue a matéria da linguística, que compreende um conjunto de fenómenos ligados à
utilização da linguagem, e o seu objecto, quer dizer, o sector ou o aspecto desses
fenómenos pelo qual o linguista se deve interessar.

Ao objecto chama Saussure língua; a matéria são os fenómenos da fala.


Saussure indica uma série de critérios bastante diferentes que distinguem a língua
da fala:
(a) A língua define-se como um código, entendendo por isso a criação de
correspondência entre «imagens auditivas» e o «conceito». A fala é a
utilização, o emprego desse código pelos sujeitos falantes.
(b) A língua é uma pura passividade. A sua posse põe em jogo somente as
faculdades «receptivas» do espírito e antes de tudo a memória.
Correlativamente, qualquer actividade ligada à linguagem pertence à fala.
(c) A língua é um fenómeno social, enquanto a fala é individual. Para que este
critério seja compatível com o primeiro é necessário admitir que a sociedade
constitui totalmente o código linguístico dos indivíduos. A língua não pode
ser nem criada, nem modificada por um indivíduo.

AS RELAÇÕES PARADIGMÁTICAS E AS RELAÇÕES


SINTAGMÁTICAS

Conforme a definição de Ferdinand de Saussure, as relações associativas ou


paradigmáticas são aquelas que unem os temos “in absentia” numa série de mnemônica
virtual. «Seu lugar está no cérebro, (ela) fazem parte deste tesouro interior que constitui a
língua em cada indivíduo». É sobres este eixo que se opera a selecção, dentre os termos
depositados na memória, associados por uma relação qualquer, de um termo que será
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realizado sobre o eixo sintagmático e combinado sobre este eixo com outros para formar
o sintagma.
Para Saussure uma relação sintagmática é uma relação linear entre outros signos
que estão numa frase.
Paradigma é o conjunto de formas correspondentes a um subconjunto de formas
de uma palavra, definido a partir de uma dada categoria morfológica. Os paradigmas são
geralmente em forma de lista.

Ele pode ir amanhã relações sintagmáticas

Ela deve vir em breve


Eu quero perguntar depois
Tu poderias dormir agora relações paradigmáticas

O CONCEITO DE GRAMÁTICA

O termo gramática tem várias acepções conforme as teorias linguísticas; podem-


se reter quatro principais:
(1) Gramática é a descrição completa da língua, isto é, dos princípios de
organização da língua. Ela comporta diferentes partes: fonética (estudo dos
fonemas, isto é, sons da língua e de regras de sua combinação); sintaxe
(regras de combinação dos morfemas e dos sintagmas); lexicologia (estudo
do léxico); semântica (estudo dos sentidos dos morfemas e de suas
combinações); morfologia (estudo da estrutura interna das palavras) e
pragmática (estudo da influência do contexto no modo de interpretação das
frases). Em síntese: a gramática é o modelo de competência.
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(2) Gramática é a descrição dos morfemas gramaticais e lexicais, o estudo de


suas formas (flexão) e de suas combinações para formar palavras (formação
de palavras) ou frase (sintaxe). Nesse caso, a gramática opõe-se à fonologia;
confunde-se com o que se chama também uma morfo-sintaxe.

(3) Gramática é a descrição dos morfemas gramaticais (artigos, conjunções,


preposições, etc.), excluindo-se os morfemas lexicais (substantivos,
adjectivos, verbos, advérbios de modo) e a descrição das regras que regem o
funcionamento dos morfemas na frase. A gramática comporta o estudo das
flexões, mas exclui o estudo da formação das palavras (derivações).

(4) Em linguística generativa, a gramática de um língua é o modelo de


competência ideal que estabelece certa relação entre o som (representação
fonética) e o sentido (interpretação semântica). A gramática de uma
linguagem L gera um conjunto de pares (S,I), onde S é a representação
fonética de um certo sinal e I a interpretação semântica ligada a esse sinal
pelas regras da linguagem.
A gramática gera um conjunto de descrições estruturais que compreendem
uma estrutura profunda, uma estrutura de superfície, uma interpretação
semântica da estrutura profunda e uma representação fónica da estrutura de
superfície.

Destes conceitos podemos inferir que a gramática é concebida como um modelo


de conhecimento da língua do falante-ouvinte representativo de uma dada comunidade
linguística, reconhecendo-se-lhe várias componentes, que correspondem aos vários tipos
de saber linguístico intuitivo de tal falante.

GRAMÁTICA DESCRITIVA
Todo o ser humano que fala uma língua sabe gramática. Ao pretenderem
descrever uma determinada língua, os linguistas tentam descrever a gramática dessa
língua. Podem verificar-se algumas divergências entre o conhecimento que os vários
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falantes têm da língua. Mas existe um conhecimento comum – a gramática – que permite
aos falantes falarem e compreenderem-se. E modelo produzido designa-se por gramática
descritiva. Esta gramática não nos diz como devemos falar; apenas descreve o nosso
conhecimento básico; explica como é possível falarmos e compreendermos e explica
ainda o que sabemos sobre os sons, palavras, sintagmas e frases da nossa língua.
Diz-se que uma frase é gramatical quando ela se harmoniza com as regras da
gramática; uma frase agramatical (marcada com um asterisco) desvia-se de alguma
forma dessas regras.
Toda a gramática é complexa e lógica e capaz de produzir um número infinito de
frases destinadas a exprimir qualquer pensamento.

GRAMÁTICA PRESCRITIVA (NORMATIVA)

Diz-se que uma gramática é prescritiva quando ela tem o carácter de legislar o
que deve ser a gramática do falante.
Dos tempos antigos até hoje tem havido “puristas” que pensam que uma mudança
linguística é uma forma de corrupção e que defendem a existência de certas formas
correctas que quase todas as pessoas educadas deveriam utilizar na fala e na escrita.
Nesta perspectiva, a gramática deve apresentar como exemplos modelares os
textos de autores consagrados. Actualmente este modelo se tem observado com maior
frequência na prática escolar, onde o professor tem por missão difundir e defender a
manutenção das normas linguísticas.

GRAMÁTICA UNIVERSAL (GU)


A gramática universal formula observações que convêm a todas as línguas. A
gramática universal tem como objecto de estudo os mecanismos necessários e comuns a
todas as línguas, isto é, os universais linguísticos.
A gramática universal é constituída pelo conjunto de regras linguísticas
verificadas no conjunto das línguas do mundo.
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EXERCÍCIOS

1. Afirma-se que a linguística, como ciência, surge com a publicação em 1916 do Curso de
Linguística Geral de Ferdinand de Saussure.

Qual foi o grande mérito de Saussure para a instituição da Linguística


como ciência?
Refira-se ao objecto e à matéria da linguística.
De acordo com Saussure, qual deve ser o objectivo da linguística?

2. Os estudos sobre a linguagem, de certeza, não tiveram o seu início com Saussure. Já antes, desde a
antiguidade, o homem interessou-se pela linguagem.

Quais foram as principais preocupações no estudo da linguagem, neste período pré-


saussuriano?
Que contributo prestaram à linguística actual, os estudos anteriores aos de Saussure?
Qual terá sido a maior «falha» que tais estudos revelaram?

3. Uma das escolas que contribuiu bastante para o avanço da linguística como ciência foi o Círculo
Linguístico de Praga (CLP).

Qual foi o contributo principal desta escola para os estudos linguísticos?


Além do CLP, outras escolas se destacaram. Enumere as principais, indicando o contributo
de cada uma delas.
Qual é a principal diferença entre as escolas estruturalistas e as escolas generativas e
transformacionais, na concepção do objecto da linguística.

4. As gramáticas generativas e transformacionais abordam a questão da competência


(capacidade) e performance (realização) linguísticas e a criatividade linguística.
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O que entende por cada um destes conceitos: competência, performance e


criatividade linguísticas?
Que relação se pode estabelecer entre a competência e a performance linguística?
Comente e exemplifique a validade do conceito de criatividade linguística, tendo como
referência a língua portuguesa.

5. «No Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure, o termo signo adquire a


acepção de signo linguístico».

O que entende por signo linguístico?


Que diferença se pode estabelecer entre um signo e um símbolo, de acordo com Saussure?
Qual é a natureza do signo linguístico?
Defina o conceito de:
- significado;
- significante;
- referente.
Que relação se pode estabelecer entre estes três conceitos?
Elabore um esquema através do qual se pode ilustrar a relação entre o significante e o
significado.
Enumere e explicite as principais características do signo linguístico, de acordo com F. de
Saussure.
Ao falar-se do signo linguístico, faz-se referência ao facto de a relação entre o significado e o
significante ser imotivada, necessária e convencional. Justifique a razão de tais
adjectivações para esta relação.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 15

6. Das afirmações que se seguem, assinale com V, as afirmações verdadeiras, e com F,


as afirmações falsas e explique todos os casos em que tenha considerado falsa alguma
afirmação.

A ideia de que o signo constitui o núcleo fundamental da língua é exclusiva de Saussure.___


Todo o falante de uma dada língua tem a mínima consciência de que a linguagem simboliza,
nomeando os factos reais.___
A ligação que o signo estabelece é entre um conceito e a imagem acústica.___
Saussure acredita que se pode falar do signo, considerando separadamente o significado e o
significante.___
Um signo é sempre institucional e convencional.___
O signo linguístico é uma substância que se pode examinar independentemente dos signos
em que se apreende.___
No signo, a relação entre o significado e o significante é sempre motivada.___

7. «A matéria da linguística são os fenómenos da fala».

Como se distingue a fala da língua, de acordo com Saussure?


Como se explica que a língua seja tomada por Saussure como uma «pura passividade»?
Concorda com a ideia de que a língua é social porque é a sociedade que constitui o código
linguístico de todos os indivíduos? Justifique a sua posição.

8. Distinga:
Sintagma de paradigma;
diacronia de sincronia.
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9. Em que consistem as chamadas relações paradigmáticas?

10. De acordo com Dubois, o conceito de Gramática tem várias acepções.

Explique a razão de existência de várias acepções de definição de gramática?


Indique as principais partes de uma gramática e explique em que cada uma delas consiste.
Defina gramática, de acordo com a perspectiva da linguística generativa.
O que caracteriza uma gramática descritiva.
Estabeleça uma distinção entre a gramática descritiva e a gramática prescritiva.
Qual é o principal objectivo de uma gramática universal?
O que entende por universais linguísticos?
Indique cinco universais linguísticos que considera mais relevantes, e explique a relevância
de cada um deles.
Por que motivo a afirmação «todas as línguas do mundo têm consoantes orais vozeadas»,
não constitui um universal linguístico?
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Tema 2: CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA LINGUAGEM


HUMANA

A ORIGEM DA LINGUAGEM

Desde os mitos até as mais elaboradas especulações filosóficas, levantou-se


sempre o problema da origem da linguagem – o seu aparecimento, os seus primeiros
passos. Embora a linguística como ciência se recuse a admitir e ainda a encará-la, a
questão existe e a sua permanência é um sintoma ideológico constante.
As crenças e as religiões atribuem essa origem a uma força divina, aos animais e a
seres fantásticos que o homem teria imitado.
Pretendeu-se também encontrar a língua original, aquela que teria sido falada
pelos primeiros homens, e de onde derivariam as outras línguas.
Pretendeu-se igualmente descobrir a «origem» da linguagem, observando a
aprendizagem da prática linguística pelos cegos e pelos surdos. Fazem-se observações
com o mesmo objectivo sobra a aprendizagem da língua pelas crianças. Tentou-se
descobrir as leis primordiais da língua, observando os hábitos das pessoas bilingues e
poliglotas, na hipótese de o poliglotismo ser um momento histórico anterior ao
monolinguismo. Por mais interessantes que possam ser estes dados, revelam-nos apenas o
processo através do qual uma língua é aprendida pelos sujeitos de uma determinada
sociedade, e podem ilucidar-nos sobre as particularidades psicossociológicas dos sujeitos
que falam ou aprendem uma certa língua. Mas não podem esclarecer o processo histórico
de formação da linguagem, e ainda menos a sua origem.
Poderíamos concluir que a procura desse conhecimento está condenada ao
fracasso. A única evidência que temos de línguas antigas é a escrita; mas a fala precede a
escrita por um vastíssimo período de tempo e mesmo hoje existem milhares de
comunidades que falam línguas perfeitamente “actualizadas” que, porém, carecem de
sistemas escritos. Que a língua ou as línguas que os nossos antepassados mais remotos
falavam estão decididamente perdidas é uma pura verdade.
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Vejamos agora algumas teorias sobre a origem da linguagem.

ORIGEM DIVINA DA LINGUAGEM

A crença na origem divina da linguagem está intimamente ligada às propriedades


mágicas que o homem tem associado à linguagem e à fala. Recorre-se à linguagem para
apelar à maldição dos deuses, etc., ou seja, para se comunicar com o mundo sobrenatural.
Em todo o mundo encontramos palavras tabús, que não devem ser pronunciadas
de qualquer maneira.
A crença na origem divina na linguagem e nas suas propriedades manifesta-se
também no facto de em muitas religiões apenas certas línguas poderem ser utilizadas em
orações e rituais. Os curandeiros moçambicanos utilizam com frequência nos seus rituais,
por exemplo, a língua Cindau (Ndau).
Os mitos, costumes e superstições não dizem muito a cerca da linguagem e das
suas propriedades milagrosas que o homem lhe atribui. As especulações sobre a origem
divina da linguagem podem abrir perspectivas quanto à natureza da linguagem humana.
Contudo, não se pode provar nem negar a teoria da origem divina da linguagem, tal como
não se pode argumentar cientificamente a favor ou contra a existência de Deus.
Partindo-se da ideia de que todas as línguas faladas no mundo tiveram a mesma
origem comum, vários têm sido os estudo visando descobrir qual terá sido essa primeira
língua. Muitas destas experiências envolvem o isolamento de crianças do meio social.
Contudo, tais experiências parecem mostrar que a capacidade humana de adquirir
linguagem requer um estímulo linguístico adequado. Uma criança afastada do contacto
humano jamais aprenderá a falar qualquer língua que seja.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 19

INVENÇÃO HUMANA OU GRITOS DA NATUREZA

A questão da origem da linguagem, desde a Grécia antiga, estava estreitamente


relacionada com o debate entre os gregos sobres a existência de uma verdade ou
correcção nos «nomes» independentemente da língua, em oposição à perspectiva de que
as palavras ou nomes de coisas resultavam de uma convenção entre os falantes. Este
debate entre os naturalistas e os convencionalistas constituía um dos maiores problemas
linguísticos.
Platão reconheceu a «arbitrariedade» de algumas palavras, acreditando que na
linguagem existiam elementos naturais e convencionais.
Os naturalistas defendiam a existência de uma relação natural entre as formas de
linguagem e a essência das coisas. Faziam referência a palavras onomatopaicas e
sugeriam que essas palavras e constituíam a base da linguagem ou, pelo menos, o núcleo
do vocabulário básico.
Esta ideia de que a forma primitiva da linguagem era imitativa ou “ecoante”
continua sendo defendida por muitos estudiosos.
Um outra perspectiva defende que a linguagem consistia inicialmente em
manifestações emotivas de dor, medo, surpresa, ira, etc. Esta teoria – de que as primeiras
manifestações de linguagem consistiam em gritos da natureza que o homem partilhava
com os animais – foi proposta por Jean Jacques Rousseau.
Segundo Rousseau, o homem recorria quer a gritos emotivos, quer a gestos, mas
os gestos mostraram-se insuficientes para a comunicação e então o homem criou a
linguagem. A partir de gritos da natureza o homem edificou as palavras.
A posição de Rousseau era essencialmente a dos empiristas, que defendiam que
todo o conhecimento resulta de factos observáveis. Assim, as primeiras frases teriam sido
nomes de objectos e as primeiras frases teriam sido constituídas por uma só palavra.

De acordo com Rousseau, não é a capacidade humana de pensamento que


distingue o homem dos animais, mas sim o “seu desejo de ser livre”. Para Rousseau foi
esta liberdade que levou à invenção da linguagem. Rousseau partiu do pressuposto de
que as primeiras línguas utilizadas pelos seres humanos seriam línguas imperfeitas e
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primitivas «aproximadamente com as que as diferentes nações selvagens ainda


apresentam».
Outros estudiosos tais como Sir Richard Paget, Gordon Hewes (Teoria do gesto
oral), A.R.Luria (linguagem fruto do labor) e Otto Jespersen apresentam várias propostas
sobre a origem da linguagem humana, uma das quais (a de Otto Jespersen) considerava a
linguagem como derivada do canto como uma necessidade expressiva e não
propriamente comunicativa, sendo o amor o maior estímulo para o desenvolvimento
linguístico.

Tal como sucedeu com as teorias da origem divina da linguagem, quer defenda a
ideia de que o homem inventou a linguagem, quer defendam que esta surgiu no decurso
do desenvolvimento do homem – sob forma de gritos da natureza, imitação vocálica dos
gestos, canções de amor ou gritos de trabalho – o debate está e continuará sempre aberto.

A ORIGEM DO HOMEM É A ORIGEM DA LINGUAGEM

Em 1969, Johann Herder (alemão) ganhou um prémio da Academia Prussiana ao


se opor às duas perspectivas anteriores (A teoria da origem divina e a teoria da invenção).
Ele apresentou, numa comunicação, as diferenças fundamentais entre a linguagem
humana e os gritos instintivos dos animais. Herder considerava que a linguagem e o
pensamento são inseparáveis, e que o homem poderia nasce com uma capacidade inata
para desenvolver ambos3.
O aspecto mais importante na comunicação de Herder era que a linguagem era
inata. Não se pode falar da existência do homem antes da linguagem. Segundo ele, todos
nós descendemos dos mesmos pais, descendendo também todas as línguas de uma mesma
língua.
Herder propôs esta teoria para explicar a razão por que as línguas apresentam
universais comuns. Herder aceita a posição racionalista cartesiana de que as línguas
humanas e os gritos dos animais são tão diferentes como o pensamento humano e o
instinto animal.

3
Teoria inatista da origem da linguagem.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 21

LINGUAGEM E EVOLUÇÃO

Actualmente se tem verificado o interesse por parte de estudiosos em saber qual a


relação entre a linguagem e o desenvolvimento evolucionário da espécie humana. Alguns
encaram a capacidade de linguagem como uma diferença qualitativa entre o homem e
outros primatas; outros encaram-na como um salto qualitativo. Os linguistas que
defendem a ideia da «descontinuidade» acreditam que a linguagem é “específica da
espécie» e entre esses linguistas encontram-se os que pensam que os mecanismos do
cérebro subjacentes à capacidade de linguagem são específicos da linguagem e não
simples rebento de capacidades cognitivas desenvolvidas. Esta perspectiva defende que
todos os seres humanos estão inata e geneticamente com uma capacidade única de
aquisição da linguagem ou com mecanismos determinados de carácter especificamente
linguístico.
O linguista Philip Lieberman sugere que «os primatas não humanos carecem de
mecanismos físicos necessários à produção da variada fala humana». Ele relaciona o
desenvolvimento da linguagem com o desenvolvimento evolucionário da produção da
fala e dos mecanismos de percepção. Esta perspectiva implica que as línguas dos nossos
antepassados teriam sido sintáctica e fonologicamente mais simples do que qualquer
língua hoje conhecida.
No entanto, a evolução no desenvolvimento do aparelho fonador não é suficiente
para explicar a origem da linguagem uma vez que existem espécies que também
apresentam essas propriedades.
A linguagem humana faz o uso de um número restrito de sons que se combinam
em sequências lineares de modo a formar palavras. Cada um dos sons é reutilizado
muitas vezes, tal como as palavras.
As crianças são capazes de produzir sons/sequências de sons sem que tenham
ouvido, mas os animais não podem produzir sons articulados sem realmente os terem
ouvido.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 22

EXERCÍCIOS

11. «Desde os mitos até as mais elaboradas especulações filosóficas, levantou-se sempre o problema da
origem da linguagem».

Por que motivo se torna difícil identificar o momento do aparecimento da primeira língua e
os seus primeiros passos?
O que entende pelo conceito de língua original?

12. Uma das teorias que tenta explicar a origem da linguagem humana é a teoria divina.

De acordo com esta teoria, como se explica a origem da linguagem?


Por que motivo se relaciona a linguagem humana às propriedades mágicas que o homem a
ela associa?
Na sua opinião os mitos, os costumes e as superstições são suficientes para explicar a origem
da linguagem? Porquê?
Por que razão se afirma que não se pode provar nem negar a teoria da origem divina da
linguagem?

13. Será que um indivíduo, isolado de um meio social pode desenvolver a capacidade da
linguagem, mesmo contando com forças divinas? Argumente a sua posição.

14. Disserte sobre as teorias naturalista e convencionalista da origem da linguagem.

15. Jean Jacques Rousseau apresentou a sua teoria sobre a origem da linguagem.
Apresente, de uma forma muito sumária, as principais linhas desta teoria.
De acordo com a teoria empirista, quais teriam sido as primeiras palavras a serem usadas
pelos homens?
Qual terá sido o principal pressuposto para a construção desta teoria?

16. Comente a teoria de origem da linguagem apresentada por Otto Jespersen.


Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 23

17. Um dos estudiosos que se dedicaram ao estudo da origem da linguagem foi Johann
Herder.
Qual é a posição que Herder defendia?
Em que aspectos do fenómeno linguístico Herder se apoiou para afirmar que a capacidade
de linguagem era inata?

18. Será que haverá alguma relação entre a linguagem e o estado evolucionário do
Homem? Explicite-a.

Bibliografia

SAUSSURE, F. (1986), Curso de Linguística Geral. 5ª edição, Lisboa:


Publicações Dom Quixote.

CRYSTAL, D. (1991), A Linguagem. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

CAMARA Jr., j. Mattoso (1989) Princípios de Linguística Geral. Rio de Janeiro,


Padrão Livraria Editora.

DUCROT, O, & TODOROV, T. (1982), Dicionário das Ciências da Linguagem.


6ª Edição, Lisboa, Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 24
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 25

TEMA 3: PRINCÍPIOS DE FONÉTICA

Quando ouvimos uma língua desconhecida parece-nos uma algarviada. Não


sabemos quando acaba uma palavra e começa outra. E mesmo que soubéssemos não
compreenderíamos o seu significado.
Ao utilizarmos a linguagem para falar ou compreender, os sons produzidos
relacionam-se, pelo sistema linguístico, a certos significados. Qualquer pessoa que
conheça uma língua sabe quais os sons que essa língua tem, sabe como esses sons se
associam e sabe qual é o significado dessas sequências sonoras. Embora existam sons
numa língua que não existem noutra, todas as línguas do mundo reunidas abrangem
apenas um conjunto limitado de sons.
Embora os sons que produzimos, ouvimos e compreendemos sejam sinais acústicos,
todos os que alguma vez tentaram analisar a linguagem aceitaram a noção de que os actos
de fala podem ser segmentados em partes individuais. Ao aprendermos uma língua
aprendemos a segmentar o acto de fala em elementos básicos e discretos de som.

De acordo com Viana (1996:115), a fonética é «a disciplina científica que se


ocupa dos sons da fala humana, do modo como esses sons são produzidos pelos
locutores e são compreendidos pelos ouvintes».
Como seres humanos que somos (biológicos e sociais) a fala tem um papel
importante na nossa vida. Falar e ouvir são actividades que preenchem uma parte
considerável do dia-a-dia da maioria de nós.
Os processos subjacentes a um acto de fala são complexos. O seu controlo situa-se,
fundamentalmente, a nível do sistema nervoso central. No cérebro do locutor, organiza-se
a estrutura subjacente ao enunciado linguístico (representação linguística, fonológica) e
desencadeia-se o plano fonético, um programa detalhado de planeamento e coordenação
de gestos. As instruções motoras centrais são enviadas ao sistema periférico para activar
os mecanismos de produção. Contudo, isto acontece sem que os falantes e os ouvintes
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 26

estejam conscientes dos complexos mecanismos subjacentes às actividades de ouvir e


falar.

AS VERTENTES DA FONÉTICA
A transmissão de uma mensagem de um locutor para um ouvinte, num acto de
comunicação oral, passa por três estágios sucessivos que envolvem (1) os mecanismos de
produção da fala, (2) as ondas sonoras e (3) os mecanismos de percepção. Assim,
podemos considerar três vertentes da fonética. Estas são tradicionalmente conhecidas por
(1) fonética articulatória, (2) fonética acústica e (3) fonética perceptiva.

A fonética articulatória tem a ver com os acontecimentos no cérebro do falante,


os movimentos das estruturas anatómicas e as configurações articulatórias
necessárias à produção dos sons articulados.

A fonética acústica estuda ao sinal acústico, isto é, as variações de pressão de ar


determinadas pela actividade de produção.
Por outras palavras, a fonética acústica ocupa-se das propriedades físicas
dos sons da fala. Fisicamente, produz-se um som sempre que se verifica
uma agitação das moléculas de ar.

Ao expulsarmos o ar dos pulmões, pequenos impulsos de ar atravessam a glote em


vibração, fazendo o ar da boca deslocar-se. Verificam-se, assim, pequenas variações do
ar devido ao movimento ondulatório das moléculas de ar.
Podemos descrever os sons consoante a rapidez das variações da pressão
atmosférica. Assim, determina-se a frequência fundamental dos sons que, para os
ouvintes determina o tom. Podemos também descrever a amplitude das variações: quanto
maior for a dimensão das variações da pressão do ar, maior será a intensidade que
determina o volume do som. A qualidade específica do som é determinada pela forma das
vibrações, ou onda. Esta, por seu turno, é determinada pela forma do tracto vocal no
momento da passagem do ar.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 27

O espectógrafo do som é o aparelho usado na investigação acústica. Este aparelho


produz «imagens» do sinal sonoro chamadas espectogramas.

A Fonética perceptiva estuda a resposta do aparelho auditivo do ouvinte às


variações da pressão do ar e os acontecimentos no cérebro do ouvinte até à
sua compreensão da mensagem.

DIAGRAMA DOS ESTÁGIOS DE TRANSMISSÃO DE


UMA MENSAGEM ORAL

controlo periférico

Produção: Resposta Acontecimentos


Factores do no
Acontecimentos fisiológicos SINAL aparelho cérebro
no e ACÚSTICO do do
cérebro factores ouvinte ouvinte
do aerodinâmicos
falante

feed-back

feed-back
In Mateus et alii (1990:22)

Os processos envolvidos na comunicação através da fala operam sobre a gramática


de uma língua, ou seja, a produção e percepção de uma língua por um indivíduo assentam
no conhecimento que esse indivíduo tem dessa mesma língua (a gramática da língua).
No seu cérebro estão armazenadas enormes bases de informação sobre a língua em
questão.
Esses mesmos conhecimentos permitem ao falante-ouvinte determinar se o
enunciado foi ou não produzido por um falante nativo; permitem reconhecer os sons de
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 28

uma língua e a sua organização de forma específica de acordo com as propriedades


fonéticas que partilham e com as que os distinguem.

OBJECTIVOS DA FONÉTICA
 Estabelecer as propriedades articulatórias, acústicas e perceptivas que estão
associadas aos contrastes sonoros que ocorrem nas línguas particulares às
diferenças sonoras sistemáticas existentes entre línguas distintas;
 Estabelecer o modo como essas propriedades se relacionam entre si;
 Contribuir para o entendimento da natureza da relação entre as
representações e as realizações sonoras.

O APARELHO FONADOR DO HOMEM


O aparelho fonador do homem é constituído por articuladores.
Os articuladores são estruturas anatómicas que intervêm na produção dos sons.
Existem dois tipos de articuladores: articuladores activos (ou móveis) e articuladores
passivos (ou fixos).

Articuladores activos: lábio inferior, maxilares inferiores, língua, glote,


véu palatino.
Articuladores passivos: lábio superior, maxilares superiores, alvéolos,
palato duro.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 29

O MECANISMO DE FLUXO DE AR

O movimento de fluxo de ar está na origem da produção de qualquer som de uma


língua natural. A maior parte dos sons articulados é produzida expulsando o ar dos
pulmões através da boca e/ou nariz. Estes sons designam-se por pulmonares. E, porque o
ar é expelido chamam-se egressivos. Este processo de produção de sons chama-se
egressão pulmonar.
Há outros sons produzidos por outros mecanismos diferentes da egressão pulmonar,
nomeadamente:
Ingressão: quando o ar, em vez de ser expulso dos pulmões, se concentra na boca
para depois ser sugado. Assim, os sons implosivos e os cliques resultam deste mecanismo.
Ejecção: quando o ar se concentra na boca e é expelido. Os sons ejectivos
encontram-se nas línguas dos índios americanos, em algumas línguas africanas e
caucasianas.

CLASSIFICAÇÃO DOS SONS PRODUZIDOS ATRAVÉS


DO PROCESSO DE EGRESSÃO PULMONAR
(i) Sons surdos / sons sonoros (vozeados).
O fluxo do ar provem dos pulmões, passa pela traqueia até chegar à
cavidade entre as cordas vocais e a glote.

GLOTE

ABERTA FECHADA
(o ar passa livremente) (o ar sofre obstrução e provoca-se a
vibração das cordas vocais)

Sons surdos Sons vozeados


[ p, t, k, f, s, ∫ ] [b, d, g, v, z, Ʒ ]
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 30

(ii) Sons orais / sons nasais


O fluxo do ar provém dos pulmões, passa pelas cavidades supra glóticas
(boca e fossas nasais), verificando-se um abaixamento ou elevação do véu
palatino

VÉU PALATINO

BAIXO LEVANTADO
(permite que o ar passe tanto (toca na parte posterior da garganta
pela cavidade bucal como pelo e não permite que o ar passe pelas
nariz) fossas nasais

Sons nasais Sons orais


[ m, ŋ ] [ p, b, t, d, k, g, f, v, s, z, ∫, ]

PARÂMETROS CLASSIFICATÓRIOS DAS CONSOANTES

I. Caracterização das consoantes quanto ao modo de articulação

1. Oclusivas: a sua articulação implica o fechamento completo dos articuladores,


impedindo a passagem do ar pela cavidade bucal. As oclusivas podem ser orais ou
nasais.
(a) oclusivas orais
[ p ] (menos vozeada)
[ b ] (vozeada)
[ t ] (menos vozeada)
[ d ] (vozeada)
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 31

[ k ] (menos vozeada)
[ g ] (vozeada)

(b) oclusivas nasais


[m]
[n]
[]
[ŋ]
2. Fricativas: na pronúncia das consoantes fricativas, os articuladores aproximam-
se, ao mesmo tempo que é produzido um ruído como resultado da fricção entre os
articuladores. Tal como as oclusivas orais, também as fricativas podem ser
vozeadas ou não vozeadas.
[ f ] (menos vozeada)
[ v ] (vozeada)
[ s ] (menos vozeada)
[ z ] (vozeada)
[ ∫ ] (menos vozeada)
[  ] (vozeada)
[ h ] (vozeada)
3. Líquidas: a sua produção envolve uma obstrução completa da cavidade bocal e
um simultâneo escoamento do ar pulmonar pela boca. Estes sons podem ser:
(a) Líquidas laterais
Estas consoantes são pronunciadas com uma obstrução do fluxo do ar
provocada pela língua junto de um ponto da cavidade bocal (alvéolos ou
palato) mantendo-se um canal para a saída do ar entre os lados da língua e
o palato. As consoantes laterais em Português sempre são vozeadas.
Contudo, em xichangana ocorre uma consoante lateral surda.
[l]
[]
[λ]
[l]
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 32

(b) Líquidas vibrantes


[ r ]
[]
[R]

4. Africadas: em alguns dialectos do Português Europeu (PE) e do Português


Brasileiro (PB) e nas línguas africanas, ocorre um tipo de consoante de pronúncia
mista que se inicia por um fechamento completo dos articuladores, igual ao que
ocorre nas oclusivas, seguida de uma constrição (fricção) própria das fricativas.
[t∫]
[ d ]

II. Caracterização das consoantes quanto ao ponto de articulação


1. Bilabiais: [ b, p, m ]
Articuladores: lábios.
2. Labio-dentais: [ f , v ]
Articuladores: lábio inferior e incisivos superiores.
3. Linguo-dentais: [ s, z ]
Articuladores: ponta da língua e os incisivos superiores.
4. Alveolar: [d , t , n ,  , r , l ]
Articuladores: ponta da língua e os alvéolos
5. Pré-palatais: [ ∫ ,  ]
Articuladores: lâmina da língua e a região pré-palatal.
6. Palatais: [  , λ ]
Articuladores: lâmina da língua e o palato duro.
7. Velares: [ k , g , ŋ , l ]
Articuladores: parte posterior da língua e o véu palatino.
8. Uvular: [ R ]
Articuladores: parte posterior da língua e a úvula
9. Glotal: [ h ]
Articuladores: glote e parte de trás da garganta.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 33

VOGAIS E GLIDES
Na produção destes sons, os articuladores mantêm-se suficientemente afastados de
modo a que o fluxo de ar possa passar livremente e quase sem obstáculos. A diferença
entre os diversos sons (vocálicos) decorre da posição em que a língua se encontra e a
configuração dos lábios.

1. POSIÇÃO DA LÍNGUA NA PRODUÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS


(a) Na articulação de [ i , e , ε ] o dorso da língua eleva-se à frente.
(b) Na articulação de [  ,  , a ] a língua encontra-se baixa.
(c) Na articulação de [  , o , u ], o dorso da língua eleva-se progressivamente.

A elevação na parte anterior da cavidade bucal permite denominar as vogais em (a)


como anteriores. Além disso, como a elevação se faz em direcção ao palato podem ainda
receber a designação tradicional de vogais palatais.
A elevação na parte posterior da cavidade bucal está na origem da denominação de
[  , o , u ] como vogais posteriores. E porque a elevação se faz em direcção ao velo (véu
palatino), também recebem a designação de vogais velares.

2. ALTURA DE ELEVAÇÃO DA LÍNGUA NA PRONÚNCIA DAS VOGAIS

Vogais baixas (vogais abertas): [ a ,  , ε ]


Vogais médias (vogais semi-abertas / semi-fechada): [  , o , u ]
Vogais altas (vogais fechadas): [ i ,  , u ]

Na articulação das vogais verifica-se que os lábios abrem-se ao mesmo tempo que o
maxilar inferior desce na pronúncia de [ a ], e que se vão fechando progressivamente,
com a subida do maxilar na articulação de [ ε , e ,  , i ,  ,  , o , u ], sendo estes
últimos sons vocálicos arredondados por se pronunciarem com os lábios arredondados.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 34

Quadro de classificação das vogais do Português


[ - rec] [ + rec]

[ + alt ] [i] [u]

[ - bx ] []

[ - alt ] [e] [o]

[ - bx ] []

[ - alt ] [ε] []

[ + bx ] [a]

[ - arr] [ + arr]

AS SEMIVOGAIS
As semivogais possuem as características articulatórias das vogais, mas uma
duração menor. Não constituem núcleo silábico e sempre ocorrem junto de uma vogal
com a qual formam um ditongo.
Apenas < i > e < u > funcionam como semivogais (glides), representadas
foneticamente por [ j ] e [ w ], respectivamente.

TRANSCRIÇÃO FONÉTICA
A transcrição fonética é um instrumento criado para registar os factos observados
em enunciados. Assim, a transcrição fonética de um enunciado é uma representação
simbólica que pretende captar tantos aspectos da realização sonora desse enunciado
quanto possível.
Deve ainda considerar-se a existência de uma transcrição fonémica ou fonológica,
em que as unidades representadas são apenas as que têm função linguística, ou seja,
fonemas ou segmentos subjacentes.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 35

A transcrição fonética é a representação daquilo que o falante de uma língua


considera serem as propriedades fonéticas de uma realização, tendo em conta, na sua
hipótese o nível de superfície da fala e o conhecimento que, porventura, possui das regras
de gramática da língua.
A transcrição fonética resulta de uma abstracção sobre a realidade. Essa abstracção,
que é simultaneamente uma interpretação do próprio transcritor, não se efectua da mesma
forma sobre uma língua conhecida ou sobre uma língua desconhecida.

TIPOS DE TRANSCRIÇÃO FONÉTICA


O grau de detalhe de uma transcrição depende, fundamentalmente, do fim a que se
destina.
Quando uma análise tem prioritariamente em conta a representação dos contrastes
que asseguram a distinção entre diferentes palavras, opta-se apenas por uma transcrição
que anota apenas os segmentos sonoros que podem comutar com outros, num
determinado contexto, desde que daí resulte uma mudança de significado. Este tipo de
transcrição designa-se, em geral, por transcrição fonética larga.
A expressão transcrição fonética estreita, como o próprio nome indica, emprega-se
para designar transcrições que especificam maior detalhe fonético. Por outras palavras
diríamos que a transcrição estreita é aquela em que o transcritor procura aproximar-se
tanto quanto possível da sequência sonora que ouve, indicando todos os factos do sinal
sonoro, que são muitas vezes resultado da influência de uns sons sobre outros que lhes
são adjacentes.

CONVENÇÕES DE TRANSCRIÇÕES

As transcrições fonéticas figuram entre parênteses rectos, [ ], e as fonológicas entre


barras oblíquas, / /.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 36

A representação dos sons faz-se com a utilização de um alfabeto. Dentre os


diferentes alfabetos que se podem usar, interessa considerar o alfabeto fonético
internacional (AFI)4, presente na convenção de Kiel.
A indicação da sílaba tónica (acentuada) pode fazer-se com um diacrítico colocado
antes da sílaba em que o acento ocorre, ( [ p a ] ), ou sobre a vogal da respectiva sílaba
( [ p á ] ).

O ALFABETO FONÉTICO
O alfabeto fonético encontra-se dividido em três grandes classes: vogais, glides
(semivogais) e consoantes. Tomando como exemplo o sistema do Português, temos os
seguintes fones5:
(a) vogais:
orais: [ a ,  , ε , e ,  , i ,  , o , u ]
nasais: [  , ẽ ,  , õ , ũ ]
(b) glides
orais: [ j , w ]
nasais: [  ,  ]
(c) consoantes:
oclusivas:
orais: [ b , p , d , t , g , k ]
nasais: [ m , n ,  , ŋ ]
fricativas: [ f , v , s , z , ∫ ,  , h ]
líquidas:
laterais: [ l , l , , λ ]
vibrantes: [  ,  , R ]
africadas: [ t ∫ ], [ d ]
fricatizada: [ β ]

4
O AFI é também conhecido com IPA (International Phonetics Alphabet).
5
Fone é a designação que se dá a um segmento fonético ou som de fala.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 37

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
(1) Nas transcrições fonéticas não se estabelece a distinção entre e
maiúsculas, como acontece na escrita ortográfica. É importante lembrar-
se de que a substituição de um sinal por outro pode alterar a pronúncia.
(2) A cada som da fala corresponde apenas um único fone e vice-versa.
Note que o símbolo fonético não se deve confundir com o sinal gráfico
(grafema) que ocorre na escrita ortográfica.
(3) A transcrição fonética é diferente da escrita ortográfica. ela é regida por
regras que são universais e devem ser seguidas, sob o risco de se não
estar a fazer transcrição fonética.
(4) Na transcrição fonética não se podem ligar os segmentos.

BIBLIOGRAFIA:

I. ANDRADE, A. & VIANA, M.C. (1996), “Fonética”. In FARIA, I.H. et alli


(1996) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
II. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
III. GLEASON Jr., H.A. (1985) Introdução à Linguística Descritiva. 2ª edição,
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
IV. MARTINS, M.R.Delgado (1998) Ouvir – Falar: Introdução à Fonética do
Português. Lisboa: Caminho.
V. MATEUS, Maria H. Mira et alli (1990) Fonética, Fonologia e Morfologia
do Português. Lisboa: Universidade Aberta.
VI. SITOE, Bento (1996) Dicionário Changana-Português. Maputo: INDE.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 38

TEMA 4: PRINCÍPIOS DE FONOLOGIA

Fonologia é o ramo da linguística que se dedica ao estudo dos modelos sonoros


das línguas humanas, ou por outras palavras, é o ramo da linguística que se vai ocupar
pela descrição dos sons de uma determinada língua.
Parte-se do princípio de que nem todos os sons que se produzem no acto de fala
funcionam como unidades distintivas, isto é, unidades que geram a mudança na
significação das palavras ao serem substituídas por outras e que os sons da fala, como
realidades físicas, podem tender a variar para o infinito, mas quando funcionam como
elementos de uma língua, ou seja, unidades fonológicas, são extremamente limitados.
Isto significa que ao aprendermos uma nova língua aprendemos quais os sons da
fala que ocorrem nessa língua e quais as regras de sua articulação.

RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Existe entre a fonética e a fonologia uma relação muito íntima.


Uma das constatações que se pode fazer é que par se fazer o estudo da fonologia
se tem como ponto de partida os subsídios que a fonética nos oferece. Assim, pode-se
estabelecer a distinção entre as duas ciências (ou ramos da linguística), dizendo-se que a
fonética estuda os sons da linguagem do ponto de vista físico, articulatório ou acústico,
enquanto a fonologia se ocupa dos sons de uma língua, considerando o seu
funcionamento linguístico, isto é, o papel que desempenham na comunicação
estabelecida nessa língua, as características que distinguem uns dos outros no
desempenho desse papel e as relações que entre eles se estabelecem e permitem
identificar os sistemas que constituem.
Em fonologia, qualquer traço de uma língua, acústico ou articulatório, só se
reconhece estatuto fonológico se desempenhar, pela sua presença ou ausência, um papel
distintivo, na formação dos significantes.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 39

FONEMA
Prestemos atenção nos seguintes vocábulos:
(a) cala [ k á l  ] / gala [ g á l  ]
(b) mola [ m  l  ] / mota [m  t  ]

Qualquer falante nativo de Português é capaz de perceber que em (a) assim como
em (b) temos pares de palavras semelhantes, porém, cada palavra é diferente da outra
tanto na sua forma como pelo significado.
A diferença de significado entre cala e gala é assinalada pelo facto de a primeira
palavra começar por /k/e a segunda /g/. Diremos, assim, que /k/ e /g/ são os segmentos
responsáveis pela distinção de sentido entre as duas palavras. Por isso, dizem-se
segmentos distintivos. Estes sons distintivos são fonemas.
Resumindo, fonema é a unidade linguística indivisível, discreta, distintiva e
funcional responsável pela distinção de significação entre duas ou mais palavras.

PARES MÍNIMOS

Um dos objectivos da fonologia é estabelecer os sistemas fonológicos das línguas,


ou seja, o conjunto de elementos abstractos relacionados entre si que o falante utiliza para
discriminar e delimitar as unidades significativas da sua língua.
Assim, a primeira regra a que, geralmente, recorrem os linguistas para determinar
os sons de uma língua será a de observar se na substituição de um som por outro se
desencadeia uma mudança de sentido.
Sempre que duas palavras forem iguais em todos os aspectos, excepto num
segmento sonoro (seja ele uma semivogal, vogal ou consoante) que ocorra no mesmo
contexto fónico, as duas palavras denominam-se pares mínimos.
mar / lar cola / cala conte / conde

Assim, quando numa mesma posição fónica, é possível substituir um segmento


por dois ou mais segmentos, gerando a mudança de significado das palavras, obtém-se
um conjunto mínimo.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 40

mala / cala / gala / vala / fala

VARIANTES
Por vezes, uma mesma palavra na mesma língua tem duas pronúncias diferentes,
tal como os casos de :
(a) roda [ R  d α ] / roda [   d α ] (PE / PM)
(b) vinho [ v í  u ] / vinho [ β í  u ] (PE)
(c) gente [  ẽ t i ] / gente [ ẽ t∫ i ] (PE /PB)

Nestes exemplos, ao se trocar o [R] por [  ] ou [v] por [β], ou ainda [t] por [t∫],
ou vice-versa, não se verifica a mudança no sentido das palavras, embora o segmento
fonético que ocorre não seja o mesmo. Assim, diz-se que as diferentes realizações ou
pronúncias da mesma palavra (roda, vinho, gente) constituem variações livres. Do ponto
de vista articulatório temos para cada uma destas palavras duas formas distintas e um
mesmo significado. E os fones [  ]/[R], [v] / [β] e [t] e [t∫] são variantes (alofones) do
mesmo fonema. E, porque não geram mudança de significado denominam-se variantes
livres.
Para os sociolinguistas, as variantes livres estão controladas por variáveis
sociolinguísticas. Há factores sociais, geográficos, linguísticos e estilísticos que
determinam quais as variantes que serão usadas com maior frequência.
Porém, casos há em que duas palavras (homónimas ou homófonas) têm
significados, apesar de apresentar formas (fonéticas) idênticas.

Por outro lado, há casos de sons que nunca se podem encontrar no mesmo
contexto fónico, isto é, a ocorrência de um deles é condição suficiente para a não
ocorrência do outro.
Pensemos nas palavras mala[ m á l α ] e mal [ m á l ].
No primeiro caso o /l/ se encontra antes de uma vogal e a realização fonética [l],
e no segundo, encontra-se no final absoluto de palavra (sílaba), realizando-se como [l].
Diz-se então que [l] e [l] estão em distribuição complementar. E, porque a sua ocorrência
depende do contexto, denominam-se variantes contextuais.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 41

Se tais segmentos são realizações diversas de um mesmo fonema, chamam-se


alofones.
Aliás, importa aqui frisar que um segmento fonético é fone, ele é a concretização
da unidade abstracta fonema. Portanto, um alofone será uma variante fonética previsível
de um fonema.

Nem todos os sons que existem na fala são fonemas, isto é, unidades distintivas.
As vogais nasais do Português são todas elas resultados da aplicação da regra de
assimilação do traço de nasalidade de uma consoante vizinha, e não se podem encontrar
na forma subjacente. Logo, elas não são fonemas. O mesmo ocorrendo com as vogais
orais [ α e i ]. Porque a ocorrência destes sons é determinada por regras, faz com que eles
não sejam considerados fonemas, pois, não são unidades distintivas e, porque não são
fonemas não podem figurar na chamada matriz fonológica da língua.

PROPRIEDADES DOS SONS: OS TRAÇOS DISTINTIVOS

Para que duas formas fonéticas se distingam em significado é necessário que haja
uma diferença fonética entre os sons que foram substituídos. Os pares mínimos selo e
zelo mostram que /s/ e /z/representam dois fonemas diferentes cuja diferença se relaciona
com o vozeamento: /s/ é [- voz] e /z/ é [+ voz]. É este o traço fonético que distingue as
duas palavras. Porque a sonoridade distingue um fonema de outro, em Português constitui
um traço distintivo (ou traço fonémico ou fonológico). Quando duas palavras são
foneticamente idênticas em todos os seus traços excepto num, a diferença fonética é
distintiva, uma vez que por si só explica o contraste de significados, tal como acontece
em cobra/copra, fala/vala e fato/foto.

Dai que definir os segmentos fonológicos de uma língua se revela como um dos
desenvolvimentos mais importantes da teoria fonológica. Um outro objectivo da
fonologia é identificar o conjunto de traços necessários para descrever os sons de
qualquer língua, para, assim, compreender melhor as fonologias das línguas faladas.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 42

Assim, (Jakobson, Fant e Halle, 1952) apresentaram uma versão sistemática da


teoria dos traços que foi revista por Jakobson e Halle (1956 e 1968) na obra
Fundamentals of Language. Nesta teoria deu-se privilégio às propriedades acústicas /
físicas dos sons, sendo cada fonema definido com base numa oposição binária: presença
ou ausência de um determinado traço, representados simbolicamente por [ + traço] ou [ -
traço], respectivamente.
As propriedades que servem para classificar os fonemas fazem parte de um
conjunto universal de propriedades de sons e são denominados, conforme se disse
anteriormente, traços distintivos e indicam-se entre parênteses rectos.

TRAÇOS RELACIONADOS COM O MODO DE ARTICULAÇÃO


Estes traços servem para identificar as classes das consoantes, vogais e glides.

[silábico] [sil]
[consontântico] [cons]
[soante] [soan]
[contínuo] [cont]

O traço [silábico] caracteriza os sons que podem ocupar a posição de núcleo da


sílaba. Em Português e nas línguas bantu só as vogais são silábicas. Os traços [soante] e
[consonântico] estão relacionados com a passagem do ar no tracto vocal: respectivamente,
com o vozeamento espontâneo, ou qualquer tipo de obstrução à passagem do ar no tracto
vocal. As vogais, as glides, as líquidas e as nasais são, em Português, soante. Por
oposição a este termo, utiliza-se a denominação de obstruentes para todos os sons que
não são soantes. O traço [contínuo] indica o modo como o ar passa pela cavidade bucal e
refere-se à não existência de uma oclusão no ponto de articulação. Assim, são contínuas
as vogais, as glides, as vibrantes e as fricativas e, não contínuas as oclusivas (orais e
nasais) e as laterais.

[vozeado] [voz]
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 43

O traço [vozeado] implica vibração das cordas vocais. As vogais, as glides e


consoantes como [v] ou [d] são vozeadas.
[estridente] [estr]
[lateral] [lat]
[nasal] [nas]

O traço [estridente] caracteriza os sons que são marcados por uma turbulência
acústica maior do que a dos sons não estridentes, provocada por certos factores
articulatórios. Assim sucede com as fricativas com [s] ou [f] e com as africadas. O traço
[lateral] identifica um tipo de constrição na emissão do som: nas laterais existe um
bloqueio formado pela ponta da língua, passando o ar pelos dois lados ou por um dos
lados. O traço [nasal] indica a passagem do ar pela cavidade nasal por haver um
abaixamento de véu palatino e identifica tanto consoantes como vogais e glides.

TRAÇOS RELACIONADOS COM O PONTO DE ARTICULAÇÃO

[arredondado] [arr]

O traço [arredondado] caracteriza o estreitamento da passagem do ar provocado


pelo arredondamento dos lábios. Em Português identifica vogais como [u] e [o] e a glide
[w].

[coronal] [cor]
[anterior] [ant]

O traço [coronal] identifica os sons em cuja produção intervém a coroa da língua


a coroa da língua, com [s] ou [t]. O traço [anterior] caracteriza sons cuja articulação se
situa à frente da região alveo-palatal.

[alto] [alt]
[baixo] [bx]
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 44

[recuado] [rec]

Os traços [alto], [baixo] e [recuado] caracterizam a posição do corpo da língua em


relação à posição neutra (aproximadamente a que tem antes de iniciar um acto de fala):
[alto], quanto se eleva em direcção ao palato; [baixo] quando existe um abaixamento da
língua: [recuado] quando há uma retracção do corpo da língua como as vogais [o] ou [u],
e nas consoantes velares [k] ou [g].

Certos fonemas diferem entre si apenas num traço, outros diferem em vários.
A teoria dos traços distintivos veio a alterar o conceito de fonema como unidade
mínima da fonologia. Na realidade, o fonema corresponde a um segmento sonoro, e é
esse segmento na sua globalidade que, encarado no nível abstracto, representa para a
escola estruturalista uma unidade mínima. Ora, dado que esse segmento é constituído por
propriedades – os traços distintivos – que se podem identificar e servem para distinguir os
fonemas, é compreensível que essas propriedades passem a ocupar o lugar de unidades
mínimas. Assim, entende-se o fonema como um conjunto de traços distintivos e, por essa
razão, denominam-se segmentos fonológicos; ao isolar esses segmentos na cadeia
fonológica temos em conta sobretudo os traços distintivos que os identificam. Quando se
revelar vantajoso pode se usar o termo fonema sempre com o pressuposto de que se trata
de um segmento complexo e internamente «divisível».

CLASSES NATURAIS
As consoantes as vogais formam grupos que se distinguem em todas as línguas
por terem comportamentos diferente. Se, por exemplo, encontramos palavras constituídas
por uma só vogal, difícil é encontrar palavras que se constituam apenas por uma
consoante. Esta diferença de comportamento entre grupos de segmentos correspondem a
traços que possuem em comum, marcados com o mesmo valor. Assim, as vogais são [ +
silábicas, - consonânticas] e as consoantes [ - silábicas, + consonânticas]. Estes traços
dizem respeito ao modo de articulação tal como o traço [contínuo]: vogais, glides e
algumas consoantes são [+ continuas], as oclusivas são [- cont]. Qualquer agrupamento
de segmentos por partilha de um ou mais traços se designa classe natural por causa do
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 45

funcionamento comum dos elementos que as integram: uma das suas características é o
facto de todos os elementos se definirem em conjunto com um menor número de traços
do que o necessário para definir cada um dele separadamente. Quanto menos traços
forme precisos para definir uma classe de segmentos, mais natural ela é.

AS SÍLABAS
Numa palavra como calo não encontramos apenas os fonemas que a constituem e
que podemos identificar por oposição a outras palavras. Um falante da língua Portuguesa
é capaz de dividir a palavra referida em duas partes (ca-lo), as suas duas sílabas.
As sílabas mais frequentes nas línguas do mundo são as constituídas por uma
consoante e uma vogal (CV) e são as mais frequentes em Português. Nesta forma
canónica da sílaba, a consoante e a vogal correspondem à sua grande divisão interna:
ataque e a rima. Mas porque uma sílaba pode ser constituída apenas por uma vogal, esta
é o seu elemento mais importante, que funciona como centro e se denomina núcleo. No
Português e na maioria das línguas bantu (LB) os núcleos silábicos são sempre vogais,
mas existem línguas em que certas consoantes podem ocupar esse lugar.
As glides nunca podem funcionar sozinhas como núcleos silábicos e esse aspecto
é o que as distinguem das vogais. No entanto ao formarem ditongos com as vogais, as
glides integram o núcleo, como nos exemplos seguintes:
fiéis [εj] judeu [ew]
mãe [αj] faliu [iw]

Se o núcleo terminar a sílaba, ele constitui só por si a rima; se estiver seguido de


uma consoante, a rima é formada pelo núcleo e pela consoante seguinte. A consoante que
termina a sílaba constitui a coda. Em Português, em posição final de sílaba e palavra, só
ocorrem /l/, /r/ e /∫/.
No interior de palavras, em Português, ocorrem sequências de duas e três
consoantes. A divisão das sílabas procede-se da seguinte maneira.
Para os casos em que temos duas consoantes tais como [rt], [lm] e [∫t], as três
consoantes que terminam a palavra [ r , l , ∫ ] seguidas de outra consoante, a divisão
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 46

silábica deve ser feita de tal forma que estas consoantes fiquem em final de sílaba. Se as
sequências são constituídas, por exemplo, por uma oclusiva, como (/b/, /k/) ou uma
fricativa (/f/) seguidas de uma líquida (/l/e /r/). Em Português estes grupos pertencem à
mesma sílaba, ou seja, eles formam o ataque da segunda sílaba da palavra. Muitas
palavras iniciam-se por grupos semelhantes (braço, claro, frito, etc.). À sequência das de
uma consoante oclusiva ou fricativa e uma líquida chamámos de grupo próprio. Ora em
Português ocorrem por vezes, no início de palavras duas consoantes que formam um
grupo próprio (gnomo, psicologia, etc.), estas consoantes pertencem ao ataque da
segunda sílaba, como ocorre em palavras como afta, pacto e absurdo.
A divisão silábica pode representar-se com um diagrama que evidencia a sua
estrutura, no qual σ indica sílaba, A e R indicam «ataque» e «rima» e N e COD indicam
«núcleo» e «coda»-

A R

N COD

[p a r]

O ACENTO
Geralmente, ao se pronunciar uma palavra, há sílabas que são sentidas como mais
proeminentes, porque a vogal que é o núcleo da sílaba acentuada possui, normalmente, as
propriedades de intensidade, duração e altura em grau superior ao das outras vogais da
palavra e essa proeminência atinge toda a sílaba em que ela está integrada. A sílaba que
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 47

regista estas propriedades diz-se que contém o acento da palavra, e é denominada sílaba
tónica.
O Português e todas as línguas românicas 6 , bem como a maioria das línguas
africanas, utilizam as diferenças de posição do acento na palavra e as suas variações para
distinguir significados e para marcar as unidades rítmicas – são línguas acentuais.
Os contrastes provocados nas línguas pelas propriedades do som atrás indicadas –
acento, duração, tom – são denominados traços prosódicos (ou supra-segmentais),
porque não atingem apenas um segmento, mas marcam a sílaba na globalidade.
A maior parte das palavras das línguas possuem um único acento (acento
principal). Outras possuem um a cento principal – o mais proeminente – e um acento
secundário –aquele que, não sendo principal, acaba tendo uma certa proeminência em
relação às outras sílabas da frase.
Unidade acentual: é um grupo de palavras que apenas apresenta um único acento.
Esta unidade pode incluir as chamadas palavras átonas, tais como, conjunções e
preposições. A unidade acentual marca-se com barras verticais ( |x| ).

O Ma´teus | ofere´ceu | uma bo´lacha| ao ´filho.

Dentro dos limites da frase, existem acentos cujo valor prosódico relativo é
superior ao dos outros. São os chamados acentos nucleares, em torno dos quais se
formam unidades ou grupos fonéticos que, por vezes, são separadas por palavras.

A nossa Universi´dade | ainda está a implan´tar-se | aqui em Gaza.

REGRAS DA FONOLOGIA
Como já se disse anteriormente, a Gramática Generativa Transformacional,
explica o funcionamento da língua com base em regras. Lembremo-nos de que a língua é
um sistema de regras. Assim, se a mais pequena unidade linguística que se pode articular
é o fonema, quer dizer que sobre ele actuam determinadas regras que transformam os

6
Demoninam-se línguas românicas, às línguas derivadas do latim, tais como o Português, o Italiano, o
Francês e o Castelhano.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 48

segmentos subjacentes em fones. E isto explica a razão de um mesmo fonema em


contextos diferentes se pronunciar de formas diferentes. Passemos, então a ver algumas
das regras fonológicas e/ou fonológicas que podemos encontrar nas línguas vivas:
(1) Assimilação7 – diz-se que temos uma assimilação sempre que um segmento
“copia”/ apresenta um ou mais traços de um outro fonema, aproximando-se a
ele, do ponto de vista articulatório. Na maior parte dos casos a assimilação é
um processo pelo qual os falantes revelam a tendência de facilidade de
articulação de fonemas seguidos.
Em Português, a nasalização das vogais seguidas de uma consoante nasal é
um dos exemplos de assimilação.
/tanto/ [ t  (n) t u ]

(2) Dissimilação – é o processo (ou regra) pelo qual dois segmentos que
apresentam um traço com o mesmo valor têm a tendência de se diferenciar,
nesse traço, de modo a tornar a sequência mais audível.
/leona/ [ljα]

(3) Redução e reforço – As regras fonológicas podem, além de modificar traços,


omitir ou acrescentar segmentos fonémicos completos.
/amor/ [mor]

(4) Metátese – é uma regra fonológica pelo qual determinados fonemas trocam de
posição dentro da cadeia fónica.
/primeiro/ [primerju]

BIBLIOGRAFIA:

I. BARBOSA, Jorge Morais (1994) Introdução ao Estudo da Fonologia e


Morfologia do Português. Coimbra: Almedina.

7
A assimilação e a dissimilação são regras que produzem uma modificação de traços
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 49

II. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.


Coimbra. Almedina.
III. GLEASON Jr., H.A. (1985) Introdução à Linguística Descritiva. 2ª edição,
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
IV. MARTINS, M.R.Delgado (1998) Ouvir – Falar: Introdução à Fonética do
Português. Lisboa: Caminho.
V. MATEUS, Maria H. Mira et alli (1990) Fonética, Fonologia e Morfologia
do Português. Lisboa: Universidade Aberta.
VI. MATEUS, Maria H. Mira. (1996), “Fonologia”. In FARIA, I.H. et alli
(1996) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 50

TEMA 5:PRINCÍPIOS DE MORFOLOGIA

CONCEITO DE MORFOLOGIA:

De acordo com Dubois (1993:421) morfologia, em gramática tradicional, é o


estudo das formas das palavras (flexão e derivação) em oposição ao estudo das funções
ou sintaxe.
Em linguística moderna o termo morfologia tem duas acepções principais:
i. A morfologia é a descrição das regras que regem a estrutura interna das
palavras, isto é, as regras de combinação entre morfemas-raízes para
constituir “palavras” (regras de formação de palavras) e a descrição das
formas diversas que tomam essas palavras conforme a categoria de
número, género, tempo, pessoa e conforme o caso (flexão das palavras),
em oposição à sintaxe, que descreve as regras de combinação entre os
morfemas léxicos (morfemas, raízes e palavras) para construir frases.

ii. A morfologia é a descrição, ao mesmo tempo, das regras da estrutura


interna das palavras e das regras de combinação dos sintagmas em frases.
A morfologia confunde-se, então, com a formação de palavras, a flexão e
a sintaxe, e opõe-se ao léxico e à fonologia. Neste caso, diz-se de
preferência, morfo-sintaxe.

Em síntese, diríamos que a morfologia é uma disciplina (ramo da) linguística que
tem a palavra por objecto, e que estuda, por um lado, a sua estrutura interna, a
organização dos seus constituintes e, por outro lado, o modo como essa estrutura interna
reflecte a relação com as outras palavras que parecem estar associadas de maneira
especial a ela.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 51

O CONCEITO DE PALAVRA

Uma língua é constituída de um conjunto infinito de frases, cada uma delas possui
uma face sonora (significante), ou seja, uma cadeia falada, e uma face significativa
(significado), que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez, pode ser dividida
em unidades menores de som e significado – as palavras – e em unidades ainda menores,
que apresentam apenas a face do significante – os fonemas.
Assim, de acordo com Cunha & Cintra (1996:75) as palavras são, pois, unidades
menores que a frase e maiores que o fonema.
Porém. Esta não é a única definição de palavra. Vejamos quais são as outras
propostas de conceitualização deste termo:
(i) Palavra: unidade linguística sintacticamente inanalisável, pertencente a
uma categoria sintáctica (classe de palavras) como Nome (N), Verbo (V),
Adjectivo (Adj) ou Preposição (Prep).
(ii) Palavra é a mais pequena categoria linguística que pode ocorrer tanto no
discurso oral como no escrito.

DIFERENTES NOÇÕES DE PALAVRA


1. Palavra ortográfica - unidade escrita, delimitada por espaços em branco. As
palavras ortográfica são distintas umas das outras porque escritas de modos
diferentes;

2. Palavra fonológica – unidade fonológica resultante de um tipo de segmentação


do contínuo sonoro. As palavras a este nível são distintas pelos processos
fonológicos que as delimitam. Constituem-se como sequências que formam
constituintes prosódicos únicos, apresentando uma propriedade unificadora, como
um só acento principal, ou indivisibilidade de produção ou outro critério. De um
modo simplista diríamos que as palavras são diferentes ou distintas umas das
outras porque pronunciadas de modo diferente;
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 52

3. Formas de palavras – as palavras são distintas umas das outras porque


representam variantes da mesma unidade lexical. Trata-se de formas fonológicas
ou gráficas que podem ocorrer isoladamente.
Exemplo: (a) pai / mãe
(b) sou / fui / era / serei.

4. Lexema – unidade lexical abstracta, que reúne todas as flexões de uma mesma
palavra. Em princípio, os lexemas são distintos uns dos outros porque portadores
de sentidos diferentes.
Exemplo: (a) pai /mãe
(b) homem / mulher

Por outras palavras, os lexemas são aquelas palavras que, geralmente, constam
dos dicionários e que apresentam uma flexão neutra. Estudiosos consideram o
masculino como o género neutro e o singular também como o número neutro, nos
casos em que a palavra é biforme quanto ao género e/ou ao número.

O CONCEITO DE MORFEMA

Morfema é , por um lado, a combinação de sequências fonológicas e, por outro,


uma unidade de sentido, ou seja, «uma forma linguística que não apresenta semelhança
fonético-semântica com qualquer outra forma». Ou ainda, morfemas são unidades
indivisíveis, de conteúdo semântico (ou de função gramatical) que constituem as palavras.

Morfes são unidades que, enquanto segmentos da forma da palavra considerada,


podem ser escritos ou falados, ou seja, unidades discretas que, na fala ou na escrita,
realizam as unidades a que chamamos morfemas.
Entre o morfema e o morfe existe uma relação de actualização, sendo o morfe a
expressão física da unidade abstracta morfema, tal como acontece entre o fonema e o
fone. Esquematicamente teríamos, o seguinte:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 53

fonema morfema lexema

actualiza-se em actualiza-se em actualiza-se em

fones morfes Formas de palavras

Os alomorfes são as várias formas que um determinado morfema pode assumir,


ou seja, morfes diferentes que realizam o mesmo morfema.
(1) ilegal
inacessível
impossível

TIPOS DE MORFEMAS
Prestemos atenção aos seguintes versos:
«Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas»

Quando na análise da palavra ruas distinguimos dois morfemas, observamos que


um deles, rua, por si só forma um vocábulo, enquanto o morfema –s não tem existência
autónoma, aparecendo sempre ligado a um morfema anterior. Os linguistas costumam
chamar morfemas livres os que podem figurar sozinhos como vocábulos (lua, rua,
simples, avó, rapaz) e morfemas presos aquelas que não se encontram nunca isolados,
com autonomia vocabular.

Quanto à natureza de significação, os morfemas classificam-se em lexicais e


gramaticais.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 54

Os morfemas lexicais têm significação externa, porque referentes a factos do


mundo extra linguístico, aos símbolos básicos de tudo o que os falantes distinguem na
realidade objectiva ou subjectiva.
Os morfemas lexicais são também chamados lexemas ou semantemas.

Já a significação dos morfemas gramaticais (gramemas ou formantes, para os


linguistas modernos) é interna, pois deriva das relações e categorias levadas em conta
pela língua. Assim, na frase que consta dos versos acima transcritos, são morfemas
gramaticais e o artigo o, as preposições de e sob, a marca de feminino –a (rox-a, erm-a) e
a de plural –s (rua-s, erma-s, céu-s, violeta-s, roxa-s).

Outras características opõem os morfemas lexicais dos gramaticais. Os lexemas


são de número elevado, indefinido, em virtude de constituírem uma classe aberta, sempre
é possível ser acrescida de novos elementos; e os gramaticais pertencem a uma classe
fechada, de número definido e restrito no idioma.

Os constituintes da palavra (morfemas) são unidades que se associam entre si, de


acordo com as suas propriedades inerentes e com os princípios gerais de morfologia, e
pertencem a categorias morfológicas como: radical, prefixo, afixo, infixo.
Palavras como café e pai, que constituem num único morfema livre, são palavras
monomorfémicas, as palavras que consistem em mais do que um morfema, como
cafezinho ou amor-perfeito, são palavras polimorfémicas.

Quanto a sua estrutura interna as palavras podem ser palavras simples ou


palavras complexas.
Em Português, por exemplo, as palavras simples, monomofémicas, de acordo
com Azuaga (1996:234) podem consistir num único morfema não flexional, o radical,
como por exemplo, pai, mãe, tua, ou por radical mais afixo gramatical, -a , -o, ou –e:
poema, bolo, mestre. As palavras complexas, polimorfémicas, são formadas por mais do
que um constituinte não flexional, em geral, contém pelo menos duas palavras, caso das
palavras compostas, como pé-de-atleta, ou um morfema central, que transmite o sentido
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 55

básico, e um número variável de outros morfemas que modificam esse sentido, como no
caso das palavras derivadas, por exemplo, em infelizmente, podemos detectar o radical, o
morfema potencialmente livre feliz, e dois afixos in- e –mente. O morfema preso in-, à
esquerda do radical, é um prefixo, e – mente, o morfema preso à direita do radical é um
sufixo.
O afixo é um morfema que ocorre apenas quando concatenado com outro
morfema ou morfemas. Por definição um afixo é, portanto, um morfema preso. Na
palavra pais, junta-se o sufixo flexional plural, -s, ao radical simples, pai. O radical é a
parte da palavra que existe antes de se afixar um elemento flexional, e um afixo cuja
presença é requerida pela sintaxe, como os marcadores de número de nomes. Em
rapazinhos, ocorre mesmo sufixo flexional -s, desta vez depois de um radical complexo,
um radical derivacional, que consiste na raiz rapaz e o sufixo derivacional –zinho, que é
usado para transmitir a ideia de pequeno.
Qualquer unidade à qual um afixo pode ser aliado tem o nome de base. Os afixos
juntos a uma base podem ser flexionais, se seleccionados por razões sintácticas, ou
derivacionais, se alteram o sentido ou a função gramatical da base. Uma raiz como petiz
pode ser uma base, na medida em que é possível juntar-lhe o sufixo flexional para formar
o plural petizes, ou um afixo derivacional para formar um outro nome, petizada.

Os afixos de acordo com Mateus et alli (1990:414) nunca podem constituir por si
sós, uma palavra, devendo-se associar a uma base, que pode ser constituída por um
radical, ou por uma sequência de um radical mais um ou mais afixos.
Distinguem-se os afixos em várias categorias:
(a) afixos de flexão
(b) afixos de derivação
(c) afixos avaliativos (aumentativo e diminutivo)

As palavras complexas são resultado de aplicação de um processo de formação de


palavras, na origem do qual pode estar:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 56

(a) Uma única palavra, por modificação da sua estrutura, - derivação – quer por
adjunção de um prefixo (prefixação), quer por adjunção de um sufixo
(sufixação), ou de um infixo (infixação).
(b) Uma sequência de palavras – composição.
(c) Uma única palavra, cuja forma não é modificada, mas à qual é atribuído um
novo estatuto gramatical – conversão ou derivação imprópria.

Estes processos de formação de palavras pode ser especificados em função da


categoria sintáctica da base e da categoria sintáctica da palavra resultante de aplicação do
processo.
O conhecimento dos possíveis constituintes de palavras e das suas estruturas
inerentes e contextuais permite também a formação de novas palavras.
A formação de palavras não esgota, no entanto, os recursos para a introdução de
novas palavras no léxico de uma língua, que podem ser inventadas, ou podem resultar da
alteração de várias palavras existentes.
Assim, as línguas servem-se de vários processos de criação lexical, para
introduzir novas palavra nas línguas: acronímia, truncamento, sigla, amalgama,
empréstimos, extensão metafórica.8

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Basicamente é possível identificar dois processos de formação de palavras,


conforme anteriormente foi referido, nomeadamente: derivação e composição.

Como também já se disse, na derivação está envolvido, necessariamente, um


radical e um afixo, enquanto na composição estão envolvidos no mínimo dois radicais ou
palavras.

8
Para o esclarecimento destes conceitos pode consultar Mateus et alli (1990:415).
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 57

Considerando apenas as categorias sintácticas Adj, N e V, cujo estatuto


morfológico parece ser diferente das restantes categorias, podemos esquematizar os
processos de formação de palavras da seguinte forma.

(i) Tomando em consideração a categoria gramatical da derivada temos os


seguintes processos:
1 ... [ +N, - V]9,10 (nominalização)
2 ... [ + N, + V]11 (adjectivalização)
3 ... [ - N, + V]12 (verbalização)

(ii) Considerando igualmente a categoria sintáctica de base obtemos uma


identificação completa dos processos de formação de palavras. Assim, quando a base é
um nome, o processo é denominal; quando é um adjectivo, o processo é deadjectival e
quando é um verbo, o processo é deverbal. O que esquematicamente se pode representar
assim:
4 [ + N, - V] ... (denominal)
5 [ + N, + V] ... (deadjectival)
6.[- N, + V] ... (deverbal)

Assim, ao classificar o processo de formação de palavras resultantes derivação,


especificamos em primeiro lugar, a categoria sintáctica da derivada e, em seguida, a da
palavra de base., como ilustram os seguintes exemplos:
7 [ + N, + V] [ + N, + V] : adjectivalização deadjectival
feliz Adj infeliz Adj
8 [ + N, + V] [ + N, - V] : nominalização deadjectival
claro Adj clareza N
9 [ + N, - V] [ - N, + V] : verbalização deadjectival
claro Adj clarificar V

9
N e V são os traços sintácticos que classificam os Nomes, Verbos e Adjectivos
10
[ + N, - V] corresponde a Nome.
11
[ + N, + V] corresponde a Adjectivo;
12
[ - N, + V] corresponde a Verbo.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 58

REGRAS MORFOLÓGICAS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS


Existem lacunas no léxico das línguas, palavras que não existem mas poderiam
existir.
Algumas lacunas devem-se ao facto de determinada sequência sonora não estar
associada a qualquer significado. Outras lacunas devem-se ao facto de combinações
possíveis não terem ainda sido feitas.
A razão pela qual os morfemas se podem combinar, formando por vezes, palavras
ainda não existentes, está no facto de existirem, em todas as línguas, regras que dizem
respeito à formação de palavras, regras morfológicas, que determinam o modo como os
morfemas se combinam para formarem palavras novas.
Por exemplo, ao acrescentar o sufixo – ificar a um nome ou adjectivos obtém-se
um verbo (purificar, simplificar, falsificar, glorificar, personificar).

MORFEMAS DERIVACIONAIS

Existem, em quase todas as línguas, morfemas que mudam a categoria, ou classe


gramatical das palavras, os chamados morfemas derivacionais. São assim, chamados,
pois quando associados a outros morfemas é derivada, ou seja, formada uma nova
palavra.
A palavra derivada pode inserir-se numa classe gramatical diferente da palavra de
base.
fratern+idade
amá+vel
deriv+ação

Existem também outros morfemas derivacionais que não geram mudança na


classe gramatical. Pertencem a esta categoria muitos prefixos.
des+dobrar in+feliz
re+começar sub+desenvolvido
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 59

Novas palavras podem entrar desta forma no dicionário, criadas pela aplicação de
regras morfológicas. Algumas destas formas são redundantes (planificação, planeamento,
planejamento). Tais redundâncias mostram que as palavras que na realidade existem
numa língua constituem apenas um subconjunto de palavras possíveis.
Algumas regras morfológicas são muito produtivas no sentido em que podem ser
utilizadas bastante e livremente para formar novas palavras da lista de morfemas livres e
presos.
As regras morfológicas são produtivas quando podem ser usadas muitas vezes
para formar novas palavras.

Deste modo, o conhecimento que os falantes têm dos morfemas da sua língua e
das regras de formação de palavras está bem patente quer nos “erros” que fazem, quer nas
formas correctas que produzem. Os morfemas combinam-se para formarem palavras.
Essas palavras formam os nossos dicionários interiores.
Nenhum falante de uma língua conhece todas as palavras. Considerando o nosso
conhecimento dos morfemas da língua e das regras morfológicas, conseguimos muitas
vezes adivinhar o significado de uma palavra que não conhecemos. Muitas vezes, como é
evidente, adivinhamos mal.

COMPOSIÇÃO
As palavras podem juntar-se umas às outras formando novas palavras: as palavras
compostas. Não existe praticamente limite quanto às combinações que podem ocorrer.
Quando duas palavras fazem parte da mesma categoria gramatical, a palavra
composta pertence a essa categoria: (substantivo+substantivo substantivo). Em
muitos casos, quando duas palavras pertencem a categorias diferentes, em Português, é a
classe da primeira palavra que determina a categoria gramatical do composto: mesa-
redonda, cão-guarda, aguardente, couve-flor.
Embora os compostos de duas palavras sejam os mais dominantes, difícil é
estabelecer o limite máximo.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 60

A ortografia nada nos diz sobre a sequência que forma o composto, uma vez que
alguns compostos são escritos com um espaço entre as duas palavras, outros com hífen e
outros sem qualquer separação: por exemplo, fim de semana, guarda-fatos tiranódoas.
Porém, nem sempre é possível determinar o significado do composto a partir das
palavras que o constituem. O significado não é sempre a soma dos significados das partes
(malmequer, louva-deus, beija-flores).
Deste modo, compreende-se que embora as palavras de uma língua não sejam
unidades de som e significado mais elementares, todas as palavras (juntamente com os
morfemas) deverão constar dos nossos dicionários. As regras morfológicas deverão
também fazer parte da gramática, explicando as relações entre as palavras e fornecendo
meios para formar novas palavras.
A composição pode ser por justaposição ou por aglutinação.
Diz-se que há justaposição quando da reunião de duas formas linguísticas resulta
uma nova palavra na qual cada forma se conserva como um vocábulo fonético distinto.
Verde-alface
Fim de semana

Há aglutinação quando da reunião de duas formas se verifica a perda da


delimitação vocabular entre elas. São exemplos da aglutinação: aguardente, agricultura,
etc.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 61

BIBLIOGRAFIA:
I. AZUAGA, Luísa (1996) “Morfologia” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. BARBOSA, Jorge Morais (1994) Introdução ao Estudo da Fonologia e
Morfologia do Português. Coimbra: Almedina.
IV. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
V. GLEASON Jr., H.A. (1985) Introdução à Linguística Descritiva. 2ª edição,
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
VI. MATEUS, Maria H. Mira et alli (1990) Fonética, Fonologia e Morfologia
do Português. Lisboa: Universidade Aberta.

Compilado por: Carlos Lucas Mutondo


Xai-xai, Abril de 2006
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 62

TEMA 7: PRINCÍPIOS DE SINTAXE

A palavra sintaxe significa, etimologicamente, “ordenação”, “disposição”,


“organização” e tem sido entendida como o conjunto das propriedades das
estruturas que estão subjacentes aos enunciados existentes (ou possíveis) numa
dada língua particular e a descrição dessas estruturas.
Vilela (1999: 277)

De acordo com Dubois (1993:55) sintaxe é a parte da gramática que descreve as


regras pelas quais se combinam as unidades significativas em frases; a sintaxe, que trata
das funções , distingue-se tradicionalmente da morfologia, estudo das formas ou das
partes do discurso, de suas flexões, da formação das palavras ou derivação. A sintaxe, às
vezes tem sido confundida com a própria gramática.
Outras definições de sintaxe são-nos dadas por Abraham (1981:426), quando
afirma que, num sentindo mais estrito, (sintaxe) é a disciplina (...) que se ocupa da
relação que os signos linguísticos estabelecem entre si; em sentido mais geral,
tradicional, é o estudo da oração. O mesmo autor, citando Ivic (1971:178), acrescenta
que a sintaxe estuda a relação mútua dos signos num sistema dado exclusivamente com
meios de análise formal, (sem ter em consideração o significado).
Tentando resumir o conteúdo das definições até aqui consideradas, podemos
afirmar que a sintaxe é a parte da gramática que estuda a estrutura das frases. Aliás, esta
ideia é reforçada por Rodman & Fromkin (1993:217), quando afirmam que saber uma
língua significa também ser capaz de juntar palavras formando frases que exprimam o
nosso pensamento. A esta parte do conhecimento linguístico que diz respeito à estrutura
das frases chama-se sintaxe.

Convém-nos, nesta fase, definir alguns conceitos básicos e necessários para a


abordagem da sintaxe, tais como proposição, frase e enunciado.
Proposição: é o núcleo da frase de base. Em gramática tradicional, proposições
(ou orações) são frases elementares cuja reunião por coordenação ou subordinação
constitui a frase efectivamente realizada.
Por outras palavras, a proposição exprime um estado de coisas – real ou
imaginário, concreto ou abstracto – que se pode definir como uma relação («comprar»,
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 63

«estar») entre objectos («rapaz» e «livro»; «rapaz» e «cinema») - <comprar, rapaz, livro>,
<estar, rapaz, cinema> - ou como uma propriedade («(ser) simpático») que caracteriza
um objecto («rapaz») - <(ser), rapaz, simpático>.
A sequência que deriva de uma proposição ou é uma frase ou um enunciado.

Frase: citando Dubois (1993:292) em gramática tradicional, a frase é uma


reunião de palavras que formam um sentido completo, distinta da proposição pelo facto
de aquela poder conter várias proposições. Vilela (1999:288) acrescenta ainda que a
frase configura numa proposição, um dado estado de coisas e ocorre num texto,
transformada em enunciado ou em parte de um enunciado.

Enunciado: refere-se a uma sequência linguística cujos valores das categorias que
o afectam – número, género, caso, tempo, aspecto, quantificação, determinação –
permitem localizar o estado de coisas expresso pela proposição.
Os enunciados se caracterizam pelo facto de serem verdadeiros ou falsos; nas
línguas naturais se expressam, normalmente, por meio de frases declarativas.

Segundo Duarte & Brito (1996:246), a reacção dos falantes perante certos erros
de tradução, ou produções de falantes que dominam mal a língua alvo, bem como a
atitude correctiva que assumem em situação de interacção com crianças em fase de
aquisição da língua são indícios da pluralidade de aspectos envolvidos no conhecimento
sintáctico intuitivo dos falantes.
(1) *As geladas ervilhas rebolaram pelo chão.
(do inglês: «the frozen peas...»)
(2) *Lamento que ela está muito triste.
(3) *Mãe, dá-me o pente para mim pentear a boneca.

O exemplo (1) ilustra um dos aspectos mais óbvios da organização sintáctica das
línguas naturais. As combinações de palavras são linearmente ordenadas, não sendo
irrelevante dizer «geladas ervilhas» ou «ervilhas geladas».
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 64

O exemplo (2) mostra que faz parte do conhecimento intuitivo que um falante tem
da sua língua o das dependências locais (léxico-sintácticas); o verbo “lamentar”
selecciona como modo verbal do seu complemento finito o conjuntivo (e não o
indicativo).
O exemplo (3) mostra que faz parte do conhecimento sintáctico intuitivo o das
relações gramaticais e dos processos da sua marcação: em línguas como o português, o
constituinte com a relação gramatical de sujeito é marcado com o caso 13 nominativo (e
não com casos oblíquos).

GRAMATICALIDADE E AGRAMATICALIDADE

Nos exemplos até agora considerados, intervêm juízos de gramaticalidade: com


base no conhecimento intuitivo que têm de uma língua, os falantes podem decidir se uma
dada combinação de palavras pertence à língua ou é ilegítima.
Qualquer falante de uma língua, que possui a gramática de sua língua, é capaz de
emitir juízos de gramaticalidade sobre os enunciados que ouve. Ele pode dizer se uma
frase feita de palavras de sua língua está bem formada, com relação a regras da gramática
que ele tem em comum com todos os outros indivíduos que falam essa língua (= norma
linguística); essa aptidão pertence à competência dos falantes, não depende nem da
cultura, nem do grupo social do falante.
As frases que obedecem às regras sintácticas da língua, isto é, que estão em
conformidade com a chamada língua norma (padrão/standard) chamam-se frases
gramaticais (vide (4)); e as que não obedecem às regras sintácticas chamam-se
agramaticais e são assinaladas por um asterístico (*), (vide (5)).

(4) O menino gosta de chocolate.


(5) *Gostar chocolate o menino.

13
Aqui só fazemos uma simples alusão aos casos nominativo e oblíquo. Porém, a teoria de caso será
aprofundada na cadeira de Linguística Descritiva do Português II, no 3.º ano.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 65

Como se pode notar, a gramaticalidade de uma combinação deriva apenas da sua


conformidade aos padrões de organização sintáctica característicos de uma dada sincronia
linguística.

ACEITABILIDADE DAS FRASES


Ser gramatical e ser agramatical distingue-se de ser ou não aceitável. Muitas
frases gramaticais são sentidas como pouco «naturais» ou consideradas difíceis de
processar, sem contudo serem julgadas como mal formadas sintacticamente pelos falantes
(6) O rapaz a quem a Maria viu na festa é meu colega.
(7) Que ele tenha recebido a notícia sem pestanejar e que Maria também
o tenha feito surpreendeu os colegas.

Pelo contrário, em muitos casos, os falantes consideram aceitáveis combinações


de palavras não conformes aos padrões de organização sintáctica da variante dominante.
(8) *Haviam muitas pessoas na festa.
(9) *Obriguei-lhes a mostrarem-me as fotografias.

AMBIGUIDADE
A ambiguidade é a propriedade de certas frases realizadas que apresentam vários
sentidos. A ambiguidade pode ser do léxico, quando certos morfemas léxicos (palavras)
têm vários sentidos.
A ambiguidade pode advir do facto de que a frase tenha uma estrutura sintáctica
susceptível de várias interpretações.
Consideremos a frase:
(10) As bibliotecas de História e Geografia inglesas são óptimas.

Os falantes do português atribuem-lhe duas interpretações possíveis:


(10)(a) As bibliotecas inglesas de História e Geografia são óptimas.
(b) As bibliotecas especializadas em História e Geografia Inglesas são
óptimas
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 66

Repare-se que a ambiguidade da frase (10) não se deve a razão de natureza lexical
ou semântica. Com efeito esta frase é ambígua devido a factores de natureza estrutural
(ou sintáctica). As ambiguidades sintácticas 14 devem-se ao facto de que a mesma
estrutura de superfície sai de duas (ou mais de duas) estruturas profundas diferentes.
Para Duarte & Brito (1996:249), a possibilidade de atribuir várias estruturas a
uma mesma combinação de palavras constitui um argumento a favor da ideia de que as
combinações de palavras, para alem de uma organização linear, são dotadas de uma
estrutura hierárquica (ou de constituintes).

PARÁFRASE E NÃO PARÁFRASE


Falamos de paráfrases quando nos referimos a duas frases que possuem a mesma
interpretação.
De acordo com Fromkin & Rodman (1993:221) o conhecimento sintáctico está
também subjacente à nossa capacidade de determinar se duas frases são paráfrases. Os
falantes de português estão geralmente de acordo se estas frases são ou não paráfrases:
(11)
PARÁFRASES NÃO PARÁFRASES
O cão mordeu o menino. O cão mordeu o menino.
É o cão que mordeu o menino. É o menino que mordeu o cão.
O menino foi mordido pelo cão. O cão, o menino mordeu..

Porque intuitivamente conhecemos a sintaxe portuguesa, sabemos como se


relacionam as diferentes partes de uma frase, isto é, quem faz o quê a quem. São estas as
relações gramaticais de uma frase e mostram-nos como os elementos de uma frase
funcionam, quer de ponto de vista gramatical, quer sintáctico.

De tudo quanto se disse anteriormente, podemos concluir que as regras sintácticas


(conhecimento sintáctico intuitivo) nos permitem produzir e compreender um conjunto
infinito de frases nunca anteriormente produzidas ou ouvidas, isto é, são a base da
criatividade linguística.

14
Dubois (1993:45) considera que a ambiguidade sintáctica também pode designar-se de homonímia de
construção.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 67

Em síntese, diríamos que o conhecimento sintáctico intuitivo deve explicar:


(a) a gramaticalidade das frases;
(b) a ordem de colocação de palavras e morfemas;
(c) as ambiguidades estruturais;
(d) que algumas frases podem ser paráfrases de outras;
(e) a função (relação) gramatical de cada uma das partes da frase;
(f) a capacidade de produzir e compreender um conjunto infinito de frases
possíveis.

ESTRUTURA DE CONSTITUINTES
A ideia básica da sintaxe é a de que as orações estão dotadas de uma estrutura
interna que se rege por princípios de hierarquia e linearidade. Isso equivale a conceber
a frase como resultado de combinar, em níveis distintos, unidades sintácticas inferiores
(os constituintes).
Segundo Hernanz & Brucart (1987:26) se a frase fosse uma mera justaposição de
palavras, o vínculo que manteria entre si todas as unidades léxicas que a formam seria
idêntico. O que equivale a dizer que não haveria nenhuma estrutura.
Assim, as regras da sintaxe determinam a ordem correcta das palavras numa frase.
As palavras dentro de uma frase podem ser divididas em dois ou mais grupos e dentro de
cada grupo em subgrupos, e assim, sucessivamente, até ficar apenas uma única palavra.
Os grupos e subgrupos constituem agrupamentos “naturais” de palavras.
Tomemos como exemplo a frase:
(12) O mecânico limpou o automóvel com um pano.

Na frase em (12), as palavras o e mecânico juntam-se para formar um grupo


hierarquicamente superior (o mesmo acontecendo com o automóvel e um pano). A
palavra com e a sequência um pano, por sua vez, formam outra unidade de nível superior.
O verbo limpou e as duas sequências o automóvel e um pano formam a sequência limpou
o automóvel com um pano, hierarquicamente superior aos seus elementos constituintes.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 68

Finalmente, os grupos o mecânico e limpou o automóvel com um pano formam a


sequência estruturalmente mais elevada, isto, é , a frase.
A organização de uma frase em grupos hierárquicos complexos construídos por
uma inclusão sucessiva de elementos de nível inferior em grupos maiores, começando
pelos itens lexicais, chama-se estrutura de constituintes.
A estrutura de constituintes de qualquer combinação de palavras pode representar-
se de várias maneiras: caixa de Hockett, parentetização e diagrama em árvore (ou
árvore sintagmática). Assim, usando a caixa de Hockett, a estrutura da frase em (12) é
representada da seguinte maneira.

(13) o mecânico limpou o automóvel com um pano


o mecânico limpou o automóvel com um pano
o mecânico limpou o automóvel com um pano
o automóvel com um pano
um pano

Transformando o diagrama obtido, numa árvore (invertida), teríamos o seguinte:


(14) F

SN SV

Art N V SN SP

Art N Prep SN

Art N

o mecânico limpou o automóvel com um pano


Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 69

O diagrama em (14) denomina-se árvore (de estrutura) sintagmática. Em cada


ponto em que a árvore se ramifica há um grupo de palavras que formam uma parte de um
constituinte estrutural Para além de mostrar a ordem linear das palavras e outras partes
estruturais da frase, uma árvore de constituintes apresenta uma estrutura hierárquica.
As árvores de constituintes podem ser usadas para, em certos casos, explicitar
certas construções que se consideram ambíguas.

CATEGORIAS SINTÁCTICAS E CATEGORIAS LEXICAIS


Num diagrama em árvore, certos constituintes podem ser substituídos por outros
sem afectar a gramaticalidade da frase (embora o significado possa ser alterado). Os
constituintes que podem substituir-se mutuamente sem afectar a gramaticalidade da frase
formam uma categoria sintáctica (categoria sintagmática, na esteira de Chomsky,
1957).
Como se sabe, as palavras de uma língua podem ser classificadas num número
finito de categorias lexicais (ou classes de palavras). As categorias lexicais principais
são: o substantivo ou nome (N), o adjectivo (A/Adj), o verbo (V), a preposição (P/Prep)
e o advérbio (Adv), que são os elementos centrais (categorias lexicais centrais) das
15
categorias hierarquicamente superiores, o Sintagma Nominal (SN), o Sintagma
Adjectival (SAdj), o Sintagma Verbal (SV), o Sintagma Preposicional (SP) e o Sintagma
Adverbial (SAdv), respectivamente.
Assim, uma árvore sintagmática revela basicamente três aspectos que existem na
estrutura da frase:
(a) a ordem linear das palavras;
(b) o agrupamento das palavras em constituintes estruturais;
(c) a categoria sintáctica de cada constituinte estrutural.

Se tomarmos como exemplo a frase (12), diríamos que a frase é constituída por
dois constituintes estruturais: um SN o mecânico e um SV limpou o automóvel com um
pano. E que o SV é constituído por três constituintes estruturais: um limpou, o SN o
automóvel e um SP com um pano, e assim por diante.

15
Alguns autores preferem a designação de Grupo, em vez de sintagma.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 70

Como se pode notar, um constituinte inclui todos os constituintes mais pequenos


que se encontram abaixo de si na árvore. Cada ponto da ramificação da árvore denomina-
se nó. Uma árvore de constituintes estruturais em cujos nós está representada a categoria
sintagmática de cada um dos constituintes denomina-se indicador sintagmático, no qual
podem ser visualizados os constituintes imediatos de cada constituinte estrutural.

UM MODELO DE GRAMÁTICA GENERATIVA


AS REGRAS SINTAGMÁTICAS
(REGRAS DE REESCRITA CATEGORIAL)

Denomina-se gramática generativa à gramática que tem por objecto de estudo a


descrição e a explicitação das regras gramaticais que os falantes aplicam para produção e
compreensão de um número infinito de frases.
A formalização das regras da gramática permite generalizações explícitas e ajuda-
nos a pôr à prova os objectivos da gramática.
As regras que determinam a estrutura básica dos constituintes das frases
denominam-se regras de estrutura sintagmática. Estas regras enunciam o que compõe
cada constituinte e são capazes de gerar um número infinito de frases com a sua
representação estrutural.

É, no entanto, importante observar que, cada regra sintagmática analisa a


construção dos constituintes imediatos. A construção analisada e os seus respectivos
constituintes encontram-se associados pela relação da reescrita (= ). Os constituintes
apresentados no lado direito da regra formam uma sequência linearmente ordenada
através da operação de concatenação. O constituinte único do lado esquerdo da seta
representa o nó do qual partem os nós assinalados do lado direito no diagrama em árvore.
Nestas regras, as categorias encerradas em parênteses curvos são facultativas na
reescrita das regras, e aqueles que figuram dentro de chavetas representam uma escolha
alternativa.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 71

Pensando na frase em (12) podemos ter as seguintes regras de reescrita, dela


derivadas:
(15) F SN SV
SN Art N
SV V SN (SP)
SN Art N
SP P SN

A primeira destas regras tem as seguintes leituras:


(i) Uma frase pode ser um sintagma nominal e um sintagma verbal.
(ii) Um sintagma Nominal seguido de um sintagma verbal é sempre uma
frase

Prestemos atenção à seguinte regra:


(16) Diagrama do SN
Art N (SAdj)
SN
pro

As chavetas indicam que podemos escolher tanto a linha de cima como a de baixo
para o lado direito. Se optarmos pela linha de cima, o constituinte entre parênteses pode
estar presente ou ausente

Diz-se que uma regra sintagmática é recursiva sempre que o constituinte à


esquerda da seta se repetir como um dos constituintes à direita da seta.

Contudo, as derivações resultantes da aplicação de regras sintagmáticas traduzem


relações de precedência e de dominação (ou dominância). Retomando o diagrama em
(14), podemos afirmar que:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 72

(i) O nó F domina imediatamente o nó SN e o nó SV, uma vez que é a


ponta superior do ramo que tem como nós inferiores SN e SV e que
nenhum nó intermédio intervém entre F e SN e F e SV. F é o nó-mãe
de SN e SV, SN e SV são imediatamente dominados por F.
(ii) SN e SV são nós-irmão, uma vez que têm o mesmo nó-mãe; SN é o nó
irmão à esquerda de SV, uma vez que precede SV;
(iii) F domina não imediatamente V, uma vez que entre F e V intervêm os
Nós intermédios SV.

Quando um nó é a ponta superior de mais do que um ramo, diz-se ramificante

A FUNÇÃO DOS CONSTITUINTES


Quando sabemos uma língua, conhecemos não só os constituintes das frases, mas
também o seu funcionamento na língua. É aplicando esse conhecimento que conseguimos
analisar sintacticamente as frases, isto é, indicar a função sintáctica que cada um dos
constituintes da frase desempenha.
Consideremos as seguintes frases:
(17) (a) O cão mordeu o homem.
(b) O homem foi mordido por um cão.
(c) O João ama a Maria
(d) É a Maria que o João ama.

Tanto na frase (17a) como na frase (17b) o sujeito lógico – o agente da acção - ´o
cão, mas em (17a) o cão é o sujeito estrutural (o primeiro SN da frase mais alta),
enquanto em (17b) o sujeito estrutural é o homem. Portanto, há uma diferença entre o
sujeito lógico e o sujeito estrutural. O sujeito lógico é o quem, geralmente, ocorre numa
estrutura profunda (ou seja, na proposição de base), isto é, antes de ocorrer qualquer tipo
de transformação da ordem “natural” dos constituintes frásicos. E o sujeito estrutural é o
que ocorre numa estrutura de superfície, o que se realiza num enunciado/frase concreta.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 73

(17c) e (174d) são paráfrases com foco diferente. Ao deslocarmos Maria da


posição de complemento do verbo para a primeira parte da frase, a nossa atenção foca-se
em quem o João ama. Tal processo pode servir também objectivos constrastivos em:
É a Maria que o João ama, e não a Suzana.

Muitas frases podem ser perspectivadas como se fossem divididas me tópico – de


que se fala, (ou informação antiga) – e comentário – o que se diz sobre o tópico (ou
informação nova). O tópico corresponde geralmente ao sujeito estrutural da frase. Muitas
línguas têm a tendência de posicionar o tópico no início da frase, seguido da informação
nova.

BIBLIOGRAFIA:
I. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
IV. DUARTE, Inês & BRITO, A. M. (1996) “Sintaxe” In FARIA, I.H. et alli
(1996) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
V. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
VI. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
VII. HERNANZ, M.L. & BRUCART, J.M. (1987) La Sintaxis. Barcelona:
Editorial Crítica.
VIII. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
IX. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 74

TEMA 8: PRINCÍPIOS DE SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

SEMÂNTICA E SEU OBJECTO

A aprendizagem de uma língua inclui a aprendizagem dos significados pré-


estabelecidos de determinadas cadeias de sons e a transformação dessas unidades
significativas noutras, mais amplas, que também têm significado. Esse significado não
pode ser alterado de uma forma arbitraria sob pena de impossibilitar a comunicação.
Todos os falantes de uma língua partilham entre si um conhecimento do
vocabulário básico dessa língua - sons e significados das palavras. E todos os falantes
sabem como combinar os significados de maneira a apreenderem o sentido de expressões
e frases.
Assim, a semântica é geralmente definida como a ciência linguística que estuda
as relações das formas linguísticas com os conteúdos: os significados. (Abraham,
1981:404).
Importa referir que é tarefa difícil definir o conceito de significado. Vejamos
alguns exemplos ilucidativos, que nos são apresentados por Lyons (1980:12) a respectiva
explicitação:
(1) Qual é o significado de ‘sesquiáltero’?
(2) A vida sem fé não tem significado.
(3) Que significado tem para ti a palavra ‘conceito?
(4) A celebridade e as riquezas não têm significado para ele.
(5) Qual o significado da observação dele?
(6) Neste quadro, as cores e as linhas têm significado próprio.
(7) As nuvens escuras significam chuva.

Os vários significados de ‘significado’ e do verbo ‘significar’ ilustrados acima


são diferenciáveis, e não que não estão relacionados. Todavia, a maneira como estão
relacionados uns com os outros constitui uma questão difícil e controversa.
Alguns dos significados (ou sentidos) podem ser distinguidos utilizando a técnica
de empregar outras palavras no mesmo contexto e averiguar então se as f rases resultantes
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 75

são equivalentes. Por exemplos, parece que ‘quer dizer’ poderia substituir ‘significado’
em (1), (3), e (5) sem alterar o significado global da frase; e que ‘valor’ é equivalente a
‘significado’ nas frases (2), (3), (4), (5) e (6), mas não em (7). O sentido em que
‘significado’ é usado em (4) está mais próximo do sentido de significado em (2). ‘Valor’
não é equivalente a ‘significado’ no contexto de (1): a substituição de significado por
valor daria uma frase com um significado bastante diferente de (1).
Em suma, o termo ‘significado’ será sempre usado no que poderia chamar-se o
sentido da linguagem corrente, de todos os dias; ou seja, no que geralmente é descrito
como um sentido intuitivo. (Cf. Lyons, 1980:12-14).

RELAÇÕES E PROPRIEDADES SEMÂNTICAS


Algumas relações semânticas mais importantes entre frases são as de implicação
estrita, pressuposição e contradição.
Uma implicação estrita pode se entendida como uma relação entre uma frase ou
um conjunto de frases (implicans) e uma outra frase (implicatum). Veja-se como isso
acontece:
(1) (a) O carro é vermelho.
(b) O carro tem uma cor.

Se (1a) é verdadeira, então (1b) também o é, isto é, não se pode dizer que a
primeira é verdadeira e a segunda é falsa, ou então, se (1b) é falsa, (1a) também o é.
Como se pode notar, qualquer falante sabe que a informação contida em (1b) está, de
certa forma incluída na frase (1b). Veja-se ainda outros exemplos:
(2) (a) Johane axavile xiluva. (= O João comprou uma flor)
(b) Johane axavile xilu. (= O João comprou algo)

Neste exemplo temos o mesmo tipo de relação que o anterior. No entanto, a


compreensão de (1) é em parte determinada pelo significado das palavras vermelho e cor,
enquanto já não podemos dizer o mesmo em (2). Por isso se pode dizer que cor é
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 76

hiperónimo de vermelho e este hipónimo 16 de cor, mas não se pode estabelecer esta
relação entre as palavras no exemplo (2).
Ou outro caso de implicação é o seguinte:
(3) (a) Aquilo é um gato preto.
(b) Todos os gatos são animais.
(c) Aquilo é um animal preto. (conclusão)

(4) (a) Aquilo é um gato grande.


(b) Todos os gatos são animais.
(c) Aquilo é um animal grande. (conclusão)

Estes dois casos ilustram um tipo de raciocínio que se chama silogismo. Neles
interessa verificar que em (3) a conclusão é legítima, mas (4) não o é. Várias observações
podem ser feitas. Em primeiro lugar, se (a) e (b) do exemplo (3) são verdadeiras, então (c)
também o é. Assim, podemos dizer que (a) e(b) implicam estritamente (c). Em segundo
lugar, verifica-se que não se pode aplicar o mesmo raciocínio em (4) e por isso ele não é
válido, (a) e (b) não implicam estritamente (c).

Uma outra relação aparentada coma de implicação estrita é a de pressuposição.


Segundo Gouveia (1996:405) pressuposição é a relação de sentido que se
estabelece entre um enunciado o que esse enunciado (se) deixa dizer, (...) a qual pode ser
de índole semântica ou pragmática.
Os falantes fazem muitas vezes suposições acerca do mundo real e o sentido de
um enunciado pode depender dessas suposições (Pressuposições). Vejam-se os seguintes
exemplos:
(5) (a) A Maria lamenta que o Manuel tenha chegado tarde.
(b) A Maria não lamenta que o Manuel tenha chegado tarde.
(c) A Maria lamenta que o Manuel tenha chegado tarde?
(d) O Manuel Chegou tarde.

16
Os termos mais específicos incluídos num termo mais geral se descrevem como seus hipónimos e este
funciona como hiperónimo daqueles.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 77

As três primeiras frases apresentam um certo tipo de implicação relativamente a


(5d), isto é, esta última, de é verdadeira em qualquer dos casos. Esta relação chama-se
pressuposição. Se se atribuir à letra A a (5a) e a (5b) a letra B, podemos dizer que se A é
verdadeira, B é também. Desta forma, pode-se concluir que numa implicação estrita, se A
implica estritamente B, se A é verdadeira, B também é verdadeira. Mas no caso da
pressuposição, B é sempre verdadeira, qualquer que seja a atitude.

A contradição é uma outra relação entre frases muito próxima da de implicação


estrita.
(6) A Maria comprou o livro de linguística, mas ninguém comprou o livro de
linguística.

Assim, A e B são contraditórias se se contradizem uma à outra e se uma frase é


contraditória, algumas das suas implicações estritas serão contraditórias, pois, entre as
implicações haverá um par de frases em que uma é a negação da outra (alguém comprou
o livro de linguística / ninguém comprou o livro de linguistica).

SINONÍMIA E ANTONÍMIA
Outras relações interessantes são as de sinonímia e antonímia. De um modo geral,
diz-se que duas palavras são sinónimas quando têm o mesmo significado. Porém, em
certos casos alguns sinónimos num contexto não o são noutros, como vimos quando
discutimos os conceitos de ‘significado’ e ‘valor’. A sinonímia é uma relação de
equivalência semântica (se A implica B, B implica A).
Contudo, não há sinónimos perfeitos, isto é, não há duas palavras que tenham o
mesmo significado. Por outro lado, há palavras que partilham muitos traços semânticos
mas que não são sinónimos; e palavras que parecem sinónimos mas que podem não ser
adequadas.
Semanticamente, diz-se que duas frases idênticas são paráfrases se tiverem o
mesmo significado. Assim, o uso de sinónimos pode dar origem a uma paráfrase lexical.
(7) A Maria está contente.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 78

(8) A Maria está feliz.

Vejamos agora o seguinte exemplo:


(9) (a) Eu amo a Thandeana e o João ama também a Thandeana.
(b) Eu amo a Thandeana e o João também a ama.

Neste exemplo ocorre a anáfora que consiste no uso de uma forma breve ou
proforma em vez de uma expressão extensa. Geralmente tal proforma é usada quando o
seu significado é evidente através do contexto. Os pares em que se usam proformas são
geralmente paráfrases.

O significado de uma palavra pode ser parcialmente definido por aquilo que ela
não é. Masculino significa não feminino, morto significa não vivo. As palavras de
significado oposto geralmente são chamadas antónimos. Os antónimos caracterizam-se
por terem em comum todas as propriedades, excepto uma.
Há várias espécies de antonímia. Há pares complementares como vivo / morto,
casado/solteiro; ausente/presente. Há pares graduáveis como pequeno/grande,
quente/frio, feliz/triste.
No caso dos pares graduáveis a forma negativa de uma palavra não é sinónimo da
outra. Por exemplo, a água não fria não é necessariamente quente. Entre o quente e o frio
há o morno.
Devido ao facto de conhecermos as propriedades semânticas das palavras,
responsáveis em grande parte pelos significados das mesmas, sabemos quando duas
palavras são antónimas, sinónimas, homónimas ou totalmente desprovidas de relação de
significado.
Diz-se que duas palavras são homónimas (ou homófonas) quando se pronunciam
da mesma maneira mas têm significados diferentes, embora possam ter ou não a mesma
ortografia. É importante observar que o uso de palavras homónimas pode dar origem à
ambiguidade semântica.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 79

METÁFORA
A metáfora é tipo de ambiguidade que consiste no facto de duas frases
apresentarem dois significados: um literal e outro não literal ou metafórico. O
significado literal baseia-se nas propriedades semânticas normais das palavras na frase
enquanto o significado metafórico se baseia nas propriedades semânticas que são
inferidas ou que estabelecem alguma relação de semelhança.
Algumas metáforas têm um significado literal anómalo, isto é, não fazem sentido
se se tomar em consideração o estado natural das coisas.
A ambiguidade metáforica é tida como a mais complexa do que a ambiguidade
lexical. Apesar disso, os falantes das línguas naturais conseguem ter a capacidade de
compreender ambos os tipos de frases ambíguas.
Eis alguns exemplos de metáforas:
(10) (a) O Danito quando joga no meio campo é um verdadeiro peixe na água.
(b) Time is money.
(b) A mova wa Antoninyu i mbaweni.

FRASES ESTRANHAS OU ANÓMALAS


Diz-se que uma frase é anómala quando é percebida pelos falantes como uma que
possui alguns problemas na sua construção, não reflectindo, assim, um estado concebido
como natural. Deste modo, a anomalia semântica não é uma propriedade linguística, por
isso, não se pode deduzir forçosamente do saber, das representações e sobre todas as
intenções dos falantes e dos ouvintes.
Há que referir que algumas anomalias semânticas são predominantes na poesia,
onde ocorre, com certa frequência, a violação das propriedades semânticas das palavras
de modo a formar imagens estéticas estranhas mas interessantes.
Desta forma, algumas frases anómalas podem ser compreendidas embora violem
algumas regras semânticas. É a própria violação das regras que cria, de certo modo, as
imagens desejadas. O facto de podermos compreender tais frases e ao mesmo tempo
reconhecer a sua natureza anómala, ou de desvio à norma, revela o nosso conhecimento
do sistema semântico e das propriedades semânticas da língua.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 80

Há outras palavras que soam como de uma dada língua, mas não fazem sentido,
logo são ininterpretáveis e apenas se podem interpretar se se imaginar um significado
para cada uma delas: são palavras que não existem no léxico da gramática.

A NOÇÃO DE VERDADE
«(Prestemos atenção à seguinte frase:)
(11) O Luís conversou com a professora no dia 6 de Maio.

Esta frase é verdadeira, se de facto os dois indivíduos (o Luís e a professora)


conversaram na data mencionada. É claro que podemos não estar em condições de saber
se a conversa teve ou não lugar, mas o que realmente interessa é que, embora não
sabendo quais os factos, sabemos como deveriam ser de forma a tornar a frase (11)
verdadeira. Este conhecimento é semântico, pois é constitutivo do que sabemos ser o
significado de (11).
Esta noção de verdade pode ser encarada de duas formas diferentes, embora
complementares. Pode considerar-se que uma expressão é linguisticamente (logicamente)
verdadeira (falsa) tendo em conta exclusivamente a semântica da língua. Se, pelo
contrário, é necessário recorrer ao mundo extralinguístico, então pode dizer-se que uma
frase é empiricamente verdadeira (ou falsa). As relações de implicação estrita,
pressuposição semântica e contradição tratadas anteriormente são exemplos do primeiro
dos casos. Por isso, uma frase, que em virtude do seu significado, é sempre verdadeira é
uma frase analítica, por distinção com as que o são só circunstancialmente (frase
sintética).
Embora alguns defendam que saber o significado de uma frase é simplesmente
saber as suas condições de verdade, não se pode considerar que o significado se pode
resumir a isso, mas o que é conveniente ter em mente é saber sob que condições uma
determinada frase é verdadeira contribui em grande medida para saber o seu
significado.»
Oliveira (1996:348-349)
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 81

SENTIDO E REFERÊNCIA
De acordo com Abraham (1981:388) a referência refere-se à relação entre as
expressões linguísticas e as pessoas ou objectos que designam (ou identificam de alguma
maneira).
Como se pode notar nesta definição, a referência será, por outras palavras, «a
função pela qual um signo linguístico se refere a um objecto do mundo extralinguístico,
real ou imaginário.» (Dubois, 1993:511).
Geralmente, todo o signo linguístico, ao mesmo tempo que assegura a ligação
entre um conceito e uma imagem acústica, se refere a uma realidade extralinguística. Esta
função referencial coloca em relação, não directamente com o mundo dos objectos reais,
mas com o mundo percebido no interior das formações ideológicas de uma dada cultura.
A referência não é feita com um objecto real, mas com um objecto do pensamento.
Por sentido de uma palavra entendemos a sua posição dentro de um sistema de
relações que a associam com as outras do vocabulário. De acordo com Lyons (1980:163)
o sentido é o termo usado por alguns filósofos para aquilo que descreveriam
simplesmente como o seu significado, ou, de maneira mais restrita ainda, como o seu
significado cognitivo ou descritivo.
O sentido só nos permite conhecer algo se a ele corresponder uma referência. Por
outras palavras, o sentido permite alcançarmos um objecto no mundo, mas é o objecto no
mundo que permite formular um juízo de valor, isto é, que nos permite avaliar se o que
dizemos é verdadeiro ou é falso. A verdade não está, de maneira alguma, na linguagem,
mas sim nos factos do mundo. A linguagem é apenas um instrumento que nos permite
aceder àquilo que há, a verdade ou a falsidade.
Frege, filósofo do séc. XIX, afirma que a conexão regular entre o signo, seu
sentido e seu significado é de tal maneira que ao signo corresponde um sentido
determinado e a este, por sua vez, um significado determinado. Assim, para Frege, a
referência de uma frase é dada pelo seu valor de verdade e o sentido por aquilo Frege
chama pensamento.

Vejamos o triângulo semiótico, proposto por Ogden e Richards, que nos dá conta
da diferença entre sentido e referência:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 82

Significado (conceito)

palavra (signo)

significante referente (o designado)

A leitura deste triângulo semiótico é a seguinte: o signo linguístico é constituído


(sobre a linha inclinada da esquerda do triângulo), pela ligação do significado (conceito)
ao significante; a ligação directa entre o significado e o referente (objecto do mundo) é
assinalada pela linha oblíqua à direita. O pontilhado marca o carácter indirecto da ligação
entre o significante e o referente.
A relação referencial é denominada como denotação de um signo.

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
Além do que anteriormente se referiu no presente texto, o conhecimento de uma
língua pressupõe também o conhecimento de expressões fixas, compostas por uma ou
mais palavras, cujo significado não pode ser inferido do conhecimento do significado de
cada uma delas, as expressões idiomáticas.
(12) (a) Phula byihola, Petrossi angatapfumela. (Esqueça, o Pedro não vai
aceitar).
(b) It is raining cats and dogs. (Está chovendo torrencialmente).

No que se refere à estrutura, as expressões idiomáticas são semelhantes a


expressões normais, porém, denotando quanto à forma, tendência para certa rigidez, não
permitido facilmente outras combinações e impedindo a alteração da ordem das palavras.
Por outro lado, algumas expressões idiomáticas ocorrem em frases de vários tipos
sem afectar o seu sentido idiomático.
Finalmente, as expressões idiomáticas têm características semânticas muito
especiais, quer gramatical, quer semanticamente. Têm de ser assimiladas pelo nosso
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 83

dicionário mental como unidades únicas com significados específicos e somos obrigados
a aprender as restrições da sua ocorrência.

PRAGMÁTICA

A pragmática é a ciência que estuda as relações do signo linguístico com o


homem como emissor e receptor.
A pragmática compreende o estudo dos meios de comunicação e a sua relação
com o homem: o que acontece ao homem quando transmite ou recebe uma mensagem;
de que depende (em princípio e em caso concreto) a forma de comunicação; em que
medida a forma de comunicação está condicionada pela forma cultural. (Abraham,
1981:356).
Em síntese, a pragmática ocupa-se pelo estudo da influência do contexto no modo
como vamos proceder à interpretação das frases. A teoria dos actos ilocutórios faz parte
da pragmática. Tal teoria pretende explicar quando é que ao fazermos perguntas
queremos dar ordens ou ao dizermos uma coisa com uma entoação especial queremos
dizer o contrário.

Geralmente, a forma linguística que um enunciado linguístico pode assumir não é


suficiente para que possamos classificar como uma coisa ou outra, como promessa ou
como afirmação, por exemplo. Independente da forma linguística que apresentam (13a) e
(13b) são enunciados semelhantes, do ponto de vista da acção que realizam:

(13) (a) Prometo que te trago o livro amanha.


(b) Trago-te o livro amanhã.

A única diferença existente entre as duas frases acima está na sua estruturação
sintáctica. Enquanto (13a) mostra claramente a acção que está a ser realizada, por meio
do verbo prometer (enunciado performativo explícito), (13b) usa para tal apenas factores
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 84

contextuais (enunciado performativo primário). No entanto, encarados como veículos de


realização de acções, os dois enunciados realizam a mesma acção: uma promessa.

De acordo com Austin, a noção de performativo refere-se a enunciados activos e


de carácter contratual, criadores de um novo estado de coisas, por oposição a constativo,
tipo de enunciado analisável segundo critérios de verdade ou falsidade.

Os enunciados performativos não descrevem ou verificam algo, não são


verdadeiros ou falsos, não são apenas o dizer ou o afirmar, são sobre tudo parte de uma
acção, isto é, a sua produção pode ter o mesmo efeito da realização de um acto não
linguístico.

Dizer, asseverar, afirmar, constatar, assertar, declarar, etc., são acções em tudo
semelhantes a prometer, baptizar alguém, ordenar,... Todos estes tipos de acções são
acções realizadas por meio da fala: actos de fala (ou actos linguísticos).

ACTOS DE FALA

De acordo com Austin, na realização completa de um acto de fala ocorrem três


tipos de actos de fala: actos locutórios, actos ilocutórios, e actos perlocutórios.
O acto locutório corresponde à enunciação de uma ou mais palavras numa frase, a
partir da operação linguística de atribuição de referência e codificação de significado,
permitindo ao ouvinte compreender o enunciado. O acto ilocutório consiste, por sua vez,
no uso de uma frase linguisticamente operativa para efectuar algo, para realizar uma
acção circunstancialmente funcional, como, por exemplo, prometer, ordenar, etc.
Finalmente, o acto perlocutório traduz-se nos resultados produzidos com o efectivar de
um enunciado-acção. (cf. Gouveia, 1996:390).

Os actos de fala ilocutórios podem ser caracterizados de acordo com o quadro que
se segue:
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 85

TIPO OBJECTIVO ILOCUTÓRIO


ACTOS ILUCUTÓRIOS Relacionar o locutor com a verdade de algo, com a verdade da proposição expressa
ASSERTIVO no enunciado.
ACTOS ILOCUTÓRIOS Tentar que o alocutário (destinatário) pratique uma acção, verbal ou não verbal,
DIRECTIVOS determinada pelo reconhecimento por este efectuado do conteúdo proposicional
do enunciado proferido pelo locutor.
ACTOS ILOCUTÓRIOS Comprometer o locutor, relativamente à prática de uma acção futura, determinada
COMPROMISSIVOS pelo conteúdo proposicional de um enunciado.
ACTOS ILOCUTÓRIOS Exprimir o estado psicológico especificado na condição de sinceridade acerca de
EXPRESSIVOS um estado de coisas que o conteúdo proposicional indica.
DECLARAÇÕES Fazer com que o universo em referência coincida com o conteúdo proposicional
do enunciado, trazendo um novo estado de coisas à existência.
DECLARAÇÕES ASSERTIVAS Trazer um novo estado de coisas à existência, por coincidência do universo em
referência com o conteúdo proposicional do enunciado, relacionando o locutor
como valor de verdade desse conteúdo.
Fonte: Gouveia (1996:392)

DEIXIS

De acordo com Dubois (1993: 168), todo o enunciado se realiza numa situação
definida pelas coordenadas espaço-temporais: o sujeito refere o seu enunciado ao
momento da enunciação, aos participantes na comunicação e ao lugar em que o
enunciado se produz. As referências a essa situação formam a deixis, e os elementos
linguísticos que concorrem para “situar” o enunciado são deíticos17.
A deixis é um modo particular de actualização que usa ou o gesto (deixis mímica)
ou termos de uma língua chamados deíticos (deixis verbal).

A Deixis pode ser encarada em função de cinco grandes categorias que dizem
respeito à pessoa, ao lugar, ao tempo, ao discurso e à própria dinâmica social, ganhando
valores distintos, consoante as categorias postas em acção pelo sujeito. Deste modo,
considerando tais categorias, podemos ter a deixis pessoal, a deixis espacial, a deixis

17
Deítico, para Dubois (1993) é todo o elemento linguístico que, num enunciado, faz referência: (1) à
situação em que esse enunciado é produzido; (2) ao momento do enunciado (tempo e aspecto verbal); (3)
ao falante (modalização). Deste modo, os demonstrativos, os advérbios de lugar e de temo, em geral deles
derivados, os pronomes pessoais, os artigos são deíticos, constituem indiciais da linguagem.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 86

temporal, a deixis discursiva e a deixis social, tal como ilucidam os exemplos que se
seguem:
(14) (a) Não ligues, ele é parvo.
(b) Nós lá não aceitamos cheques.
(c) Telefono-te amanhã.
(d) No próximo capítulo discutirei problemas de deixis.
(e) O Magnífico Reitor deposita enorme confiança em docentes jovens.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 87

BIBLIOGRAFIA:
I. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
II. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
III. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
IV. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
V. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
VI. GOUVEIA, Carlos A.M. (1996) “Pragmática” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho
VII. LYONS, John (1980) Semântica – I. Lisboa: Editorial Presença.
VIII. OLIVEIRA, Fátima (1996) “Semântica” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
IX. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
X. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 88

TEMA 8: A LÍNGUA E A SOCIEDADE

NOÇÃO DE LÍNGUA PADRÃO E DE DIALECTO

Podemos começar a abordagem deste tema afirmando que dentro de uma mesma
língua há várias línguas (normas), o que significa que qualquer falante de uma dada
língua consegue falar uns com os outros e entende-se muito bem com eles, embora não
haja dois indivíduos que falem da mesma maneira. Algumas diferenças têm relação com
as variáveis: idade, sexo, estado de saúde, tamanho, personalidade, estado emocional,
idiossincrasias pessoais, etc.
Assim, o idiolecto será a maneira de falar própria de um indivíduo, considerada
naquilo que ela tem de irredutível à influência dos grupos aos quais pertence.
Além das diferenças individuais, a língua apresenta variações regulares de grupo.
Diz-se que dois grupos falam dialectos (patois, variedades linguísticas) diferentes
quando ao utilizarem a mesma língua, apresentam diferenças regulares e sistemáticas. Os
dialectos de uma língua caracterizam-se por possuir um grau de inteligibilidade mútua
maior. Portanto, há que considerar que a quando dois dialectos se tornam mutuamente
ininteligíveis são tomadas como línguas diferentes.
Como se pode notar, a língua não se pode dissociar do contexto social em que
funciona. Os indivíduos que formam um grupo têm relações regulares e permanentes
entre si, tem direitos e deveres no seu comportamento. A diversidade linguística está
profundamente ligada à natureza dos grupos e categorias que existem numa dada
sociedade.
A coexistência de diferentes variedades não se dá no vácuo, mas no contexto das
relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Em todas
as comunidades existem dialectos que são considerados superiores e outros inferiores. Os
dialectos sociais ou sociolectos nascem das desigualdades sociais. Constata-se a
existência de variedades de prestígio e de variedades não prestigiadas ou estigmatizadas.
Geralmente, nas sociedades ocidentais, o dialecto de prestígio é tomado como a variedade
linguística socialmente mais valorizada, de reconhecido prestígio dentro da comunidade,
usado em contexto de comunicação formal, isto é, o dialecto padrão (norma culta ou
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 89

língua culta). Tal variedade é o resultado de uma atitude social diante da língua, que se
traduz pela selecção de um dos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e
pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo correcto de falar.
Regra geral, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos
linguísticos dos grupos socialmente dominantes. Historicamente, a variedade padrão
coincide com a falada pelas classes sociais mais altas (nobreza, burguesia, habitante de
núcleos urbanos), de determinadas regiões geográficas.
Se a padronização, de acordo com Fishman (1970) é um tratamento social
característico da língua, que se verifica quando há diversidade social suficiente e
necessidade de elaboração simbólica, então, a variedade padrão representa o ideal de
homogeneidade em meio à realidade concreta da variação linguística, o que quer dizer
que ninguém fala o padrão.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Qualquer língua viva está sujeita a variações. Contudo, só se pode estudar a
variação se ela for relacionada com algo que se considere minimamente estável e
homogéneo e este facto reforça a ideia de que as línguas vivem através da diversidade.
Podemos identificar quatro tipos principais de variação linguística:
(i) Variação diacrónica ou histórica – (do grego dia18+ kronos, «tempo»)
é aquela que designa as diversas manifestações de uma língua através
dos tempos. É óbvio que as mudanças que ocorrem nunca são
repentinas, há um período de transição onde encontramos a variação
sincrónica. O ramo que estuda esta variação é a Linguística Histórica.
(ii) Variação diatópica, geolinguística ou dialectal – (do grego topos,
«lugar») é aquela que está relacionada com factores geográficos –
diferentes usos da língua em regiões diferentes. Esta variação tem a ver
com o facto de considerar que a fala utilizada em regiões diferentes
possui características próprias. A Dialectologia estuda este tipo de
variação.

18
O prefixo dia- , do grego, é utilizado para significar «ao longo de, através de»...
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 90

(iii) Variação diastrática ou social – (do grego stratos, «camada, nível») é


a que está relacionada com os factores sociais do uso da língua. O
homem está integrado numa sociedade hierarquizada, com estrutura,
organização e grupos diferentes. Cada grupo social possui códigos de
comportamento que o diferenciam dos outros e permitem, dentro do
grupo, a identificação mútua. O modo de falar faz parte desse conjunto
de códigos. Cabe à Sociolinguística estudar este tipo de variação.
(iv) Variação diafásica – (do grego phasis, «fala, discurso») consoante a
situação mais ou menos formal em que se encontra ou o tipo de
situação discursiva (oralidade, escrita,...) cada falante pode usa
diversos estilos ou registos linguísticos. À variação que está com estes
factores pragmáticos e discursivos e que implica o conhecimento por
parte do falante de um código socialmente estabelecido para cada
situação, dá-se o nome de variação diafásica.

DIALECTOS REGIONAIS E SOTAQUES


A diversidade de dialectos tende a aumentar na razão directa do grau de
isolamento verificado entre os grupos. Mas mesmo dentro de um só país o regionalismo
persiste.
As mudanças operadas na língua usada num determinado espaço geográfico não
são extensivos necessariamente a uma outra área. Dentro de um grupo de falantes que
mantêm entre si contacto, as mudanças são divulgadas, gradualmente, pelo próprio grupo
e reaprendidas pelas crianças desse mesmo grupo. Se houver algum tipo de isolamento
comunicativo as alterações linguísticas não se divulgam com facilidade e, assim, as
diferenças dialectais são reforçadas.
A diferença dialectal regista-se quando uma mudança operada numa determinada
região não se estende à outra. Quando ocorrerem em número considerável, tais diferenças
dão origem à língua falada em certa região a sua característica própria, a esta versão da
língua denomina-se dialecto regional. E as diferenças fonetico-fonológicas são os
sotaques. Este termo é usado para se referir às características linguísticas que dão
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 91

informação sobre o dialecto do falante, por um lado, e, por outro, é usado com frequência
para referir o modo como muitos falantes estrangeiros usam uma determinada língua.
A geografia linguística está relacionada com a elaboração dos chamados atlas
linguísticos ou mapas dialectais. Tais mapas permitem a visualização geográfica da
distribuição de um fenómeno linguístico e a delimitação da sua extensão. Os atlas
linguísticos permitem ainda o isolamento das áreas dialectais, que são caracterizadas
pela concentração de fenómenos linguísticos idênticos, que, em certos tipos de mapas
podem ser circunscritos por meio de isoglossas19. Às fronteiras demarcadas por estas de
denominam feixes de isoglossas.

LÍNGUAS FRANCAS, PIDGINS E CRIOULOS

O fenómeno de contacto linguístico pode é um campo fértil para as pesquisas


linguísticas devido ao enorme número de resultados que dele podem advir, tais como a
morte ou criação de novas línguas, ou ainda situações de mixagem, alternâncias, entre
outros. É nesta ordem que nos interessa falar do tema relativo às línguas francas, pidgins
e crioulos.
Pessoas que falam línguas diferentes quando forçadas a um contacto outras
encontram , por comum acordo, uma forma linguística de se comunicar, a língua franca.
A UNESCO definiu a língua franca como a língua que é habitualmente usada
por pessoas cujas línguas maternas são diferentes com o objectivo de facilitar a
comunicação entre si20. [Wardhaugh, 2002:58].
Várias são os termos que se podem encontrar para descrever este fenómeno.
Samarin (1968) apresenta quatro: uma língua de comercio; uma língua de contacto; uma
língua internacional e ainda uma língua auxiliar. A acrescentar a esta lista, outro tipo de
língua franca é uma língua mista. Actualmente, o Inglês é usado em muitos lugares e para
vários propósitos como uma língua franca: è língua franca quando usado por falantes não
que não a tomam como língua nativa, para alguns é língua segunda ou mesmo língua
estrangeira. Como se pode ver, pode falar-se de língua franca de várias formas.

19
Falámos de isoglossas sempre que é possível traçar uma linha demarcando geograficamente as áreas em
que ocorre um determinado fenómeno linguístico.
20
A tradução é nossa, pois a fonte original é inglesa.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 92

É importante observar que algumas línguas francas surgem naturalmente, outras


se desenvolvem graças a políticas e intervenções governamentais.
Uma língua franca é necessariamente serve de língua materna a um vasto grupo
de falantes. Porém, casos há em que as culturas dos grupos falantes são tão distantes e
que desse contacto dificilmente possa surgir uma língua franca. Nestes casos os grupos
usam as suas línguas maternas como base para a formação de uma língua nova, que sirva
de «meio-termo» entre as duas, de carácter rudimentar, com poucos vocábulos e de
simplificadas estruturas gramaticais, uma língua marginal – o pidgin.
Portanto, o pidgin é uma língua que não tem falantes nativos: não é língua
materna de nenhum dos grupos mas sim uma língua de contacto. Ela é produto de uma
situação multilíngue na qual os que desejam comunicar devem encontrar ou inventar um
sistema linguístico simples que os permitirão atingir este propósito.

Em contraste com o pidgin, temos o crioulo, termo derivado de uma extensão


semântica do substantivo português cria; «que designava, originalmente «animal criado
em casa», tendo sido depois aplicado aos escravos nascidos e criados numa colónia na
América, por oposição aos nascidos em África. [Mota, 1996:525]
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 93

BIBLIOGRAFIA:
XI. ABRAHAM, Werner (1981) Diccionario de Terminologia Lingüística
Actual. Madrid: Editorial Gredos.
XII. CAMARA JR., J.M. (1988) Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª
edição, Petrópoles: Vozes.
XIII. CAMPOS, M.H.C. & XAVIER,M.F. (1991) Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
XIV. DUBOIS, Jean et alli (1993) Dicionário de Linguística. 9.ª edição, São
Paulo: Cultrix.
XV. FROMKIN, V. & RODMAN, R (1993) Introdução à Linguagem.
Coimbra. Almedina.
XVI. GOUVEIA, Carlos A.M. (1996) “Pragmática” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho
XVII. LYONS, John (1980) Semântica – I. Lisboa: Editorial Presença.
XVIII. OLIVEIRA, Fátima (1996) “Semântica” In FARIA, I.H. et alli (1996)
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
XIX. RAPOSO, E.P. (1992) Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem.
Lisboa: Editorial Caminho.
XX. VILELA, Mário (1999) Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra:
Almedina.
Texto de apoio compilado por Carlos L. Mutondo 94

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