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Inana / Ishtar - Arquétipo de Divino Feminino Dinâmico e Não Maternal

A Psicanálise do Dr. Carl Jung introduziu-nos ao importante conceito dos arquétipos.


Fundamentalmente, na totalidade dos seres humanos, o que Dr Jung chama de Self, há em
primeiro lugar um componente consciente e um componente inconsciente, bem como uma
série de imagens mentais, que são os arquétipos. Arquétipos podem tomar muitas formas,
sendo que estas formas podem ser encontradas repetidas vezes em mitos e religiões, desde os
tempos mais antigos.
Os arquétipos têm poder espiritual e força social para as civilizações que os cultivam, e podem
ser estudados de forma científica. O estudo dos arquétipos é fundamental para estabelecer
parâmetros de completude para a experiência humana através dos tempos baseado na cultura,
religião, sociedade, em fatores sociológicos, históricos, econômicos e psicológicos. Portanto,
para entendermos melhor e expandir nossa visão da experiência do feminino passado e
presente, torna-se importante estudar arquétipos do Divino Feminino existentes no passado. O
feminismo mostrou que a voz da mulher tem sido suprimida sistematicamente deste o início do
patriarcado, cujos começos talvez possam ser traçados na Mesopotâmia, em cerca de 1.700
Antes da Nossa Era, quando Marduk, o jovem deus da Babilônia, matou Tiamat, sua avó e
mãe de todos os deuses e deusas da Babilônia, para organizar o universo usando para isto as
partes do corpo de Tiamat. Deve-se salientar que neste mito, Marduk é o organizador do
mundo, não o primeiro Criador de toda vida. A criação como força de vida permanece com
Tiamat, um fato que tem sido negligenciado por muitos analistas na análise do grande Épico
da Criação dos Babilônicos, o Enuma Elish.

Portanto, se quisermos recuperar a voz feminina como ela deve Ter sido antes do patriarcado,
devemos olhar para trás e buscar no tempo por tipos de experiência feminina que irão nos
levar ao mundo das Deusas, que, conforme dito tão bem pela Professora Frymer-Kensky
(1992), são mulheres-deusas, ou mulheres do mundo divino. Apenas então seremos capazes
de deixar para trás as tradicionais e pobres imagens de donzelas inexperientes e em apuros
(cujos modelos atuais são as vítimas em potencial de assassinos em série ou Barba Azuis
modernos), mães que se auto-sacrificam e pior ainda, senhoras sem sexo e amargas retratadas
como solteironas sem amor próprio.

A recuperação da imagem de Inana-Ishtar a partir do cuneiforme é excepcional, mas o


tempo no qual ela ocorre, impecável. Estamos no presente redefinindo gênero, divindades,
sexualidade, teologia e tealogia, portanto deixando para trás as prisões do preconceito e medo
à liberação das mulheres e das deusas, fato que têm aprisionado a alma humana por milênios
e desconsiderado a matéria como destituída de espírito. Mais do que nunca, precisamos nos
voltar para Inana/Ishtar e entender nossa história passada como mulheres de força, e como
tal, criar no presente o nosso futuro.

Inanna-Ishtar leva-nos de volta a um tempo onde o Feminino era ativo, dinâmico, poderoso,
com os dons da paixão, do riso, e da graça envolvente. De Shong Meador diz que os sumérios
viam Inana como uma metáfora para o Divino na Matéria (2000), e eu vou mais longe, para
afirmar que Inana/Ishtar é alegria, conexão, paixão, entusiasmo e força, a guerreira que
mantém sua posição com integridade, sempre como não-vítima. Ela representa a força e o
encantamento da existência sob a forma feminina, e para tanto é autocentrada, autodefinida e
independente.
Entremos agora em Seu Mistério.

INANA: O FEMININO COMO NÃO DOMÉSTICO E NÃO MATERNAL


Inana/Ishtar apresenta-nos talvez com o retrato mais completo do Divino Feminino que não
é Doméstico ou ligado à esfera do lar, e não é maternal da Antigüidade, da infância à
maturidade. Ela é sempre muito feminina, mas não "feminina como a noite (Perera,1981). A
questão é no que se baseia realmente a feminilidade de Inana/Ishtar?

Talvez seja melhor examinarmos a feminilidade Dela à luz dos tradicionais modelos de
feminilidade e papéis desempenhados pela mulher na sociedade. Só então será possível
apreender como a Deusa essencialmente não maternal e dinâmica difere de suas irmãs no
panteão dos deuses e deusas.

a) Em primeiro lugar, a maternidade, o determinante do sexo feminino e tradicionalmente


considerado como o objetivo da feminilidade, não se aplica a Inana/Ishtar. Inana/Ishtar é
definida por ser a Grande Deusa do Amor e da Guerra, por ser a Amada e a Guia, Ponte para
os Deuses, e não por ser uma Deusa-Mãe cheia de dádivas de proteção, que tudo dá e que
tudo perdoa de seus filhos. Diferente das grandes Deusas Mães da Mesopotâmia, como
Ninhursag, Ninlil, Ningal, Tiamat, etc. Inana/Ishtar não alimenta seus filhos do seu
útero, nem dá à luz à vida biológica ou cria a partir do barro grandes heróis, como Aruru deu à
luz a Enkidu a partir de um pouco de argila sagrada no Épico de Gilgamesh. Inana/Ishtar dá
à luz espiritual a heróis e reis através de inspiração e incentivo, ou seja, Ela catalisa o
crescimento através da ação, pois Ela tem sob sua guarda a Planta da Vida, como no Mito de
Etana. Como A Grande Amante e Guerreira, Inana/Isthar exige atenção, cuidados e respeito
do Amado do ponto de vista de parceiros que estão no mesmo nível de entendimento. Além do
mais, as Grandes Deusas Mães são sempre dadivosas, protetoras e tudo e a todos perdoam.

A Amada, por outro lado, não está sempre disposta a perdoar se os votos de Amor são
negligenciados, esquecidos, ou pior, traídos. Daí a inflexibilidade de Inana/Ishtar ao
condenar Dumuzi à Terra dos Mortos no Mito da Descida, quando o Pastor Real não sentiu a
sua falta durante os três dias em que Ela passou nas profundezas. O comportamento de
Dumuzi/Tammuz foi inaceitável, portanto não podia ser perdoável com facilidade, como seria
o caso se Inana/Ishtar fosse uma Deusa-Mãe. Para a mãe, um filho ou filha podem errar e
ser perdoados com facilidade, pois a mãe sempre vê a criança na pessoa do filho ou filha mais
velhos, e como tal, sempre aceita arrependimento genuíno. A Amada exige a prova de
mudança no comportamento da parte do parceiro. Deve ser entendido que a mesma
determinação Ninlil, antecessora de Inana/Ishtar, mostrou com relação a Enlil no mito da
concepção de Nana, o deus da Lua, quando Ninlil permitiu que Enlil fosse condenado à
Mansão dos Mortos por tê-la estuprado. Entretanto, como predecessora de Inana/Ishtar,
Ninlil se definia por ser a Mãe do primogênito de Enlil, enquanto que Inana/Ishtar se define
por ser forte, definidamente única como bela mãe, e sendo neta de Enlil, Inana/Ishtar
define seu ser de Benigno a Força Poderosa e Amada Exigente, a Deusa-Guerreira e Ponte
para os Deuses. Ou seja, Inana/Ishtar é o arquétipo mesopotâmico do Feminino Dinâmico e
Não Maternal. O arquétipo da Grande Mãe nos alimenta a partir do útero e dá-nos sustento
ao longo de toda infância e anos subseqüentes do ponto de vista da proteção e aceitação total.
Por outro lado, as deusas dinâmicas e não maternais aparecem quando estamos no limiar do
portal que nos levará à maturidade e plenitude, quando nos sentimos aptos para tomar as
rédeas de nossas vidas com nossas próprias mãos.

Uma pessoa madura e bem integrada não precisa de uma mãe para lhe dizer o que fazer. O
que uma pessoa madura precisa é a inspiração de uma guia e musa para ultrapassar barreiras
interiores e exteriores em todos os mundos. Isto é o que a Deusa Inana/Ishtar é e faz como
a Deusa Dinâmica e Não Materna, e Senhora do Amor e da Guerra.

Não devemos esquecer que Inana/Ishtar também é mãe. Sabemos através de sua mitologia
que Ela teve dois filhos, Shara e Lulal. Shara chorou por Ela quando de sua descida à
mansão dos Mortos, e é mencionado no mito de Ninurta e o Pássaro de Anzu como um dos
heróis que não se sentiu apto a partir para enfrentar o pássaro poderoso.

Podemos deduzir que Shara sofreu mais do que Dumuzi/Tamuz quando Inana/Ishtar
desceu à Mansão dos Mortos, pois ele chorou por Ela e se vestiu de trapos, enquanto que
Dumuzi/Tammuz continuou a vestir trajes de rei. Sabemos pouco a respeito dos filhos de
Inana, mas eles foram soberanos poderosos de duas cidades mesopotâmicas. O sucesso de
uma mãe pode ser medido pelo sucesso de seus filhos, e Inana/Ishtar formou bons
monarcas. Portanto, a imagem do dinâmico não materno não pode ser vista como uma
contradição ou oposição ao Arquétipo da Grande Mãe, mas sim como um desenvolvimento
natural do Arquétipo da Grande Mãe.

b) Em segundo lugar, Inana/Ishtar se relaciona bem com o feminino, primeiro na figura de


sua mãe Ningal e com as garotas de sua própria idade nos poemas do Ciclo de Inana e
Dumuzi. Ela vai até sua mãe para obter conselhos sobre como se comportar com Dumuzi,
mostrando, portanto o comportamento padrão de garotas de fino trato com relação ao que
fazer com o prometido, apesar de nem sempre Ela seguir os conselhos que lhe são dados. Ou
seja, ela é a Deusa na sociedade e na família, mas também faz suas próprias leis, quando
considera mais apropriado.

Mesmo durante a Descida à Mansão dos Mortos, não vemos antagonismo real entre
Inana/Ishtar e Ereshkigal. Podemos dizer que Inana/Ishtar não mostrou o devido
respeito e graças sociais com relação a Ereshkigal. Em suma, Inana/Ishtar parece estar
confortável com seu gênero e sexo em todos os seus mitos. Ela gosta de ser Deusa.

c) Em terceiro lugar, enquanto as deusas mesopotâmicas que a precedem representam


mulheres na sociedade e as artes de civilização que têm origem na casa, tais como medicina
(Bau and Gula); administradoras e gerentes domésticas (Ninlil), fabricantes de cerveja
(Ninkasi), tecelãs (Uttu), primeiras letras (Nisaba), etc. (Frymer-Kensky, 1992), Inana
compartilha com os Grandes Deuses da Mesopotâmia o aspecto cósmico que não está
presente nas outras Grandes Deusas.

Inana/Ishtar é a Estrela Matutina e Vespertina, cujo culto pode ser traçado a partir de
registros arqueológicos deste o período de Uruk (Szarzynska 2000).

Portanto, os poderes de Inana/Ishtar são imanentes e transcendentes.

d) Em quarto lugar, Inana/Ishtar mostra grande vulnerabilidade a partir de uma posição de


força e de não-vítima. Quando Ela é estuprada pelo jardineiro Shukaletuda, Inana se recupera
e parte para levar à justiça o criminoso. Inana/Ishtar também se curva aos desígnios do
Mundo Subterrâneo e confronta seu Duplo no Hino de Agushaya sem pedir ajuda, contando
com seus próprios recursos.

A questão da força feminina e da manifestação de raiva, cuja evolução natural deve levar à
obtenção de autoridade interior e exterior tem relevância aqui. Estamos na presença da Deusa
Guerreira Que Carrega os Estandartes dos Reis e Heróis da Terra. Os poemas da Alta
Sacerdotisa Enheduanna mostram uma deusa que desafia, que tem imensa coragem e que
sabe o que quer. Toda personalidade forte não hesitará em enfrentar obstáculos e ultrapassá-
los com prazer. Os padrões de uma Deusa Guerreira são altos, e Ela não irá tolerar um
padrão mais baixo do que o que sabe que pode e merece atingir.

e) Aquela que Ultrapassa as Fronteiras de Gênero e Sexo; Nenhuma outra deusa na


Mesopotâmia e talvez na mitologia mundial é chamada de "heróica" e masculina, sem que se
duvide um instante de sua feminilidade triunfante. Mas Inana/Ishtar não se sente limitada
pelo fato de ser mulher, muito antes pelo contrário.

De Shong Meador (2000) diz com propriedade que a importância de Inana/Ishtar começa a
se manifestar no Quarto Milênio, à medida que a ordem econômica e social tornava-se mais
patriarcais. Esta é uma observação interessante, pois pelo menos em nível de panteão divino,
ou seja, em nível das psiques dos mesopotâmicos, que tinham imagens fortes do feminino em
seu panteão, a imagem de Inana/Ishtar compreendia uma visão única da individualidade que
transcendia a definições de gênero e cruzava todas as barreiras.

A metáfora cósmica para Inana/Ishtar como Aquela que Ultrapassa barreiras de Sexo e
Gênero é a Estrela Matutina e Vespertina, pela qual Ela se transforma na Ponte para os
Deuses e Deusas, pois transcender limites pessoais é expandir formas de ser, é viver como
seres humanos mais completos. Neste aspecto, Inana/Ishtar também é a Guia das Almas,
mostrando-se mais completa em sua trajetória do que a imagem de Hermes/Mercúrio. De
acordo com Mircea Eliade (1979), o grande historiador das religiões, cruzar as barreiras do
gênero sexual significa "transcender situações de controle histórico" e "buscar a compleitude
inicial, a fonte do sagrado e poder descrita como o Casamento Sagrado da Alma Humana. Isto
significa ser uma mulher masculina sem perder a feminilidade e ser um homem feminino sem
perder sua masculinidade. Na Grécia, a palavra androginia foi criada a partir de andros,
masculino, e gine, feminino, para descrever seres divinos como a deusa Ártemis, que era
ligada tanto à guerra como às artes de uma parteira”.

A religião mesopotâmica sendo bem mais integrada do que a dos gregos em termos de gênero
e papéis sexuais, estabelece na liturgia de Inana/Ishtar que "Ela torna o homem em mulher
e a mulher, em homem".
Para diferenciar da androginia da grega Ártemis, escolho o termo ginandria para definir a
forma através da qual Inana/Ishtar cruza barreiras de sexo e gênero, pois este termo tem
sua raiz no sagrado feminino que abrange todas as manifestações possíveis. Para entender
todo o espectro de ginandria, devemos deixar de lado todos os estereótipos de castração de
Freud e os conceitos Junguianos de mulheres possuídas pelo Animus para abraçar uma visão
de sexualidade e gênero baseadas em compleitude e muito humanas. Este é o contexto dos
arquétipos fogosos, articulados e independentes que nos enchem de alegria e infundem paixão,
o mistério de anjos ardentes e donzelas vingadoras de grande carisma, tais quais Joana D’Arc,
estadista e Alta Sacerdotisa Cleópatra, bem como as incontáveis e independentes jovens de
nossos dias, que querem reverter às negações do patriarcado pela afirmação positiva do poder
feminino. Ginandria/androginia é o mistério que coloca a experiência do masculino e feminino
interiores de volta à psique humana na visão de integridade que eles representam, ou a
complementaridade da alma humana.

Em suma, Inana/Ishtar como o Feminino Dinâmico e Não Maternal em primeiro lugar


apresenta-se como uma força liberada e liberalizante de ser, e em segundo lugar, apresenta-se
desta forma não em oposição ao arquétipo de Grande Mãe, mas como um desenvolvimento
deste. Este desenvolvimento, na Mesopotâmia, era concebido a nível divino, mas não integrado
na sociedade. Inana/Ishtar representa a versão liberada do poder feminino de gerar vida não
a partir do útero, mas a partir do domínio do espírito, das idéias e atos. A vida biológica desde
o útero, principalmente na infância, é o domínio das grandes Deusas Mães. Inana/Ishtar
representa o florescer da vida interior em conexão, à medida que aprendemos sobre o amor,
físico e espiritual, para darmos uma dimensão maior à vida exterior. Sua visão superior é o
Espírito de Aventura e Motivação para seguirmos nossas idéias e ideais. O oposto/complemento
desta força é a guerra, que é a negação total do amor e de tudo o que faz gerar frutos.
Inana/Ishtar traz-nos, de fato, a vida do Espírito, que vem até nós quando deixamos a
infância do espírito, corpo, mente e alma, ou seja, no momento em que estamos aptos a
decidir e tomar controle e responsabilidade por nossas vidas em todas as esferas.

2.4 A DEUSA LIBERADA E QUE NOS LIBERA TAMBÉM

Como a Deusa essencialmente Não Doméstica e Não Maternal; Inana tem a existência de
uma mulher que está livre para seguir suas próprias verdades. A Professora Frymer-Kensky
(1992) diz que, como tal, Inana vive a mesma existência de homens jovens, mas eu discordo
da escolha de terminologia dela aqui. Como uma Deusa Não Maternal e Não Doméstica
Inana/Ishtar mostra a evolução natural do papel da mulher na sociedade, pois se mulheres
normais na Mesopotâmia não tinham muita liberdade de escolha, ação, de movimento, de
escolher consortes, etc. no mundo divino Inana/Ishtar gozava de todas as prerrogativas que
eram negadas ou não concedidas às mulheres pela Mesopotâmia patriarcal.

Inana/Ishtar, portanto representa o mais completo exemplo de uma Deusa realmente


liberada, que simplesmente por ser Ela mesma possibilitou a outras mulheres Ter papéis
dinâmicos e não maternais na sociedade, mesmo quando a sociedade não concordava
completamente com este papel, e apresentava um comportamento ambíguo com relação à
aceitação desta mesma deusa. Nenhuma outra deusa é chamada de heróica, masculina (sem
jamais perder sua feminilidade), nenhuma outra deusa desperta tanta atração, tinha tanta
independência, força, poder e conhecimento de si mesma através de diversas experiências.
Mais completa do que as deusas virgens Ártemis e Atenas dos Gregos, mais interessante
como amante e amada do que Afrodite e Vênus, uma mestra em confrontos melhor do que a
egípcia Sekhmet ou a celta Morrighan, mais prática do que a escandinava Freya. Todas
estas deusas recém citadas são também arquétipos do Divino Feminino Dinâmico e Não
Maternal, e compartilham com Inana/Ishtar os atributos de independência, valor e
conhecimento do seu próprio poder para construir e destruir o que não tem mais razão de ser.

3. O CICLO DE INANA/ISHTAR E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

De acordo com os estágios do processo de individuação descrito acima, podemos identificar os


seguintes estágios na busca pela individuação conforme representados no Ciclo de Inana:

a) Inana/Ishtar e a Árvore de Hulupu; a jovem Deusa quer seu Trono e sua Cama, que
podem ser entendidos como a busca de toda a garota por Soberania Interior como Rainha de
seus domínios e como a Amada. Neste estágio, Inana/Ishtar está buscando seu potencial
interior. Podemos dizer que o estágio seguinte do mito, conforme Wolkstein e Kramer (1983),
chamado de Inana e Enki ou Inana e as Medidas Sagradas (Me) o foco é Sabedoria Exterior,
quando a jovem deusa adquire as Medidas Sagradas de Enki em Eridu, luta para protegê-las e
compartilha tais graças com seu povo ao retornar a Uruk. Este mito mostra Inana como a
Soberana de Fato e Rainha de direito ante os olhos de seu povo.

b) Ishtar e Saltu/a Descida de Inana/Ishtar; Reconhecimento e integração da sombra - Em


Ishtar e Saltu ou o Hino de Agushaya, temos Ishtar lutando uma batalha por equilíbrio
interior com seu duplo, Saltu, a incontrolável e beligerante figura que Ea criou para aplacar a
forma feroz de ser da jovem deusa da Guerra. Saltu concede graciosa derrota à Deusa ao
final do hino. O tema de confronto com o lado escuro é também descrito no Mito da Descida à
Mansão dos Mortos, quando Inana/Ishtar encontra Ereshkigal, a Grande Deusa da Terra
de Onde não se retorna. Finalmente, é em geral esquecido que outro aspecto excepcional do
Hino de Agushaya é que Ishtar enfrenta Saltu com seus próprios recursos, apesar de Enki/Ea
desempenhar tanto na Descida à Mansão dos Mortos como no Hino de Agushaya papel de
grande importância nestes dois episódios.

c) Redenção da Sombra Coletiva tanto no Mito de Ishtar e Saltu, como na Descida à Mansão
dos Mortos - Em Ishtar e Saltu, após Ishtar ter derrotado o seu Eu beligerante, Ea na sua
sabedoria institui um festival onde Ishtar, a deusa Guerreira será festejada. Ou seja,
podemos dizer que Ea cria o festival de Agushaya para fazer com que toda comunidade se dê
conta de sua Sombra através da liberação da energia grupal não como guerra, mas como uma
série de danças, dentro das festividades rituais que envolviam a vitória de Ishtar sobre Salto.
A Descida à Mansão dos Mortos também tem o aspecto redentor no sentido que tanto
Inana/Ishtar, Dumuzi/Tamuz e Geshtinanna, a irmã de Tamuz, enfrentam as provações
do Mundo das Trevas por toda humanidade, pois todos eles retornam das profundezas a cada
ano, renovando a terra. Na realidade, todos Eles descem às Profundezas e ascendem dela por
todos nós.

d) O Ciclo de Inana e Dumuzi; reconhecimento das figuras e fatos que trazem inspiração em
nossas vidas e conseqüente integração destes valores em nossas vidas. Inanna é a alegria
sexual do cosmo (hi-li), a deusa que traz alegria à toda humanidade, a Amada que dá poder
aos monarcas da Mesopotâmia. Como a Amada e Amante em essencial, Inana/Ishtar é a
ponte para os deuses, pois transcender limites é expandir possibilidades, é viver nossa
humanidade como seres humanos mais completos. Neste aspecto, Inana/Ishtar é a Guia das
Almas, infinitamente mais interessante do que Hermes/Mercúrio, o deus das
transmutações alquímicas da Alquimia Clássica. Mas Inana/Ishtar é mais antiga e não é
uma pregadora de peças. Como a Amada exigente, Ela será exigente, para incentivar ação, e
jamais prejudicar. Os padrões da deusa são altos e Ela não irá tolerar que o amado/fiel seja
menos do que o que ele ou ela possam se transformar.

e) Inana/Ishtar como a Grande Deusa do Amor e da Guerra é também a Senhora da


Multitude de Ofícios, que serve e guia o Seu povo, e que é lembrada principalmente pela forma
com a qual compartilha suas graças com o povo de Uruk, sua cidade em especial.

Finalmente, é em geral ignorado nas análises dos mitos de Inana/Ishtar que Ela é a imagem
da Sabedoria conquistada através da experiência, e, portanto, imperativa para o crescimento
interior e exterior a nível individual e da civilização como um todo.

Em resumo, considerando-se a mitologia de Inana/Ishtar como um todo, seus atos


freqüentemente levam ao sucesso e à integração. Os mitos envolvendo Inana/Ishtar
mostram histórias bem sucedidas, onde apenas aqueles que tratam mal à Jovem Deusa têm de
enfrentar punições devidas. Desta forma, o jardineiro-predador que violenta a jovem Deusa
Inana é condenado à morte, e também o é a garota que se deita com Dumuzi (de acordo
com o poema Jealousy or Ciúme, traduzido pelo Professor Thorkild Jacobsen em The Harps
that Once...). Inana/Ishtar também condena Dumuzi/Tamuz à Mansão dos Mortos, pois
apenas ele não havia sentido a sua falta durante os três dias em que Ela estava em agonia na
Terra dos Mortos.

Portanto, por milênios o Divino Não Maternal Feminino tem sido negligenciado ou não
reconhecido por o que ele é: dinâmico, apaixonado, o imperativo para que possamos buscar
nossa singularidade, auto-respeito e integração que não mede obstáculos para perseguir metas
maiores. Este é o grande apelo das Grandes Deusas Dinâmicas e Não Maternais como
Atenas, Ártemis, Sekhmet, Bast, Freya, a Morrighan, Morgana etc. Mas o Ciclo de
Inana/Ishtar fornece-nos um retrato mais completo de uma deusa desde sua infância à
plenitude para que recuperemos a alegria e garra do Dinâmico Não Maternal Feminino como
modelo de integridade autodefinida, e que é, acima de tudo, independente e auto-suficiente.

4. ACEITAÇÃO E MEDO
Naturalmente, a sociedade mesopotâmica não estava totalmente à vontade com a idéia de
mulheres não domésticas e não maternais, daí o fato de que a existência de Inana/Ishtar
causar tanta adoração quanto medos e receios. Evidências do cuneiforme e da arqueologia
mostram que a sociedade mesopotâmica era patriarcal, e que as mulheres normais muito
provavelmente nunca tiveram as vantagens e prerrogativas possuídas por Inana/Ishtar, sua
liberdade de movimento, de escolher consortes e coroar reis, sua não domesticidade.

Entretanto, pelo menos podemos dizer que a psique mesopotâmica dava permissão para a
existência no reino dos deuses para uma deusa que gozava de liberdade de ação e decisão,
de fazer suas e ultrapassar fronteiras fora da esfera doméstica. É interessante observar esta
liberdade abrangente para as mulheres apenas foi reconhecida e obtida em tempos muitos
recentes, na medida em que o feminismo, a mitologia comparada e a religião começaram a
recuperar a sabedoria do passado para dar mais força e significado às gerações de jovens
homens e mulheres aqui e agora.

Portanto, não surpreende o fato de Inana/Ishtar não ser doméstica, ter enorme poder de
atração e dinamismo, estar se constituindo num poderoso arquétipo de compleitude e
integridade feminina para as gerações atuais. De fato, se as deusas reproduzem a experiência
das mulheres na sociedade, profissionais femininas de brilhantismo e poder têm em
Inana/Ishtar um modelo antigo e respeitável de uma deusa/mulher que não era doméstica
ou ligada à esfera da casa, mas sim uma criadora que não hesitava em ultrapassar barreiras
em todos os mundos, níveis e esferas. Daí os medos e receios sentidos por todos aqueles que
não têm a generosidade para permitir a manifestação completa do feminino também como
dinâmico e não doméstico. Neste sentido, Inana/Ishtar pode ser descrita como a deusa
liberada e libertadora da Antiga Mesopotâmia, e o motivo pelo qual Ela provavelmente
representa uma grande ameaça do patriarcalismo. Isto porquê por ser a Deusa mais Liberada
da Antiga Mesopotâmia, Ela ainda pode nos liberar em nossos dias.

5. INANNA E NOSSA BUSCA POR COMPLEITUDE INTERIOR E EXTERIOR


A integridade de Inana, portanto, nos desafia a ir além dos nossos limites para buscarmos
nossa compleitude. Mais do que tudo, o desconhecimento do que realmente é integridade torna
mais difícil a busca pelo Divino. Sem integridade, a busca pelo Sagrado e o Divino não podem
ser unificadas. Por quê? Porque a busca pelo sagrado é a busca pela transcendência, ou o
ultrapassar de fronteiras, de forma a que se possa chegar à reconciliação de todas as
dicotomias num todo harmônico. É muito provável que este fosse o entendimento místico dos
antigos mesopotâmicos em relação ao feminino dinâmico e não materno, onde Amor/Conexão
e Energia/Libido pudessem abranger todo o espectro de ser e se transformar, portanto
incluindo também a guerra e agressão.
Para compreender melhor Inana/Ishtar como uma imagem de integridade em nossas vidas,
devemos primeiro descobrir quem e o que somos (A Árvore de Hulupu como a busca da
Soberania Interior, e Inanna e Enki e as Medidas Sagradas como Soberania Exterior). Em
segundo lugar, devemos tentar integrar a Sombra em nós, ou o lado escondido ou não
revelado que não vivemos e que deve ser integrado em nosso verdadeiro Eu. Há enorme poder
de cura em conhecer nossos limites. Na realidade, o conhecimento dos nossos limites faz com
que não nos limitemos ao que não somos, para tentar alternativas de viver melhor.

Inana/Ishtar aceitou o seu Eu beligerante em Saltu, no Hino de Agushaya, e Enki então


transformou a ocasião num festival coletivo.

Esta talvez seja uma das mais completas lutas com o lado escuro da personalidade já escritas
na mitologia universal, outro trabalho que podemos considerar como um marco da
Mesopotâmia, onde o Divino Não Maternal Feminino emerge com os dons da graça, sem
derramar gota de sangue qualquer.
Em terceiro lugar, Inana/Ishtar buscou o Amado em Dumuzi/Tammuz, transformando-se
na grande companheira e consorte da maior parte dos monarcas mesopotâmicos. A busca pelo
Amado apenas pode ser bem sucedida quando sabemos quem somos e gostamos de nós
mesmos o suficiente para dar amor e pedir para sermos amados do ponto de vista
da igualdade. A/O Amada (o) não está sempre disposta a tudo entender e perdoar, mas
certamente pode-se negociar com ela (e). A vida com o (a) Amado (a) pode não ser muito
fácil, mas... Será que existe vida sem o toque do (a) Amado (a)?

Em quarto lugar, Inana/Ishtar mostra humanidade transcendente em seus atos,


especialmente quando de sua jornada à Mansão dos Mortos, ao morrer e renascer novamente
de lá. O nome alquímico para se enfrentar humilhações com integridade é mortificado, o
apodrecer dos componentes humanos dentro de um recipiente fechado, ou seja, a experiência
de morte em vida, pois é a morte do espírito. Neste mito, Inana/Ishtar mostra-nos que a
sobrevivência do espírito, da fé que nos sustenta, tem a ver com o enfrentamento e superação
de obstáculos, algo que se torna mais fácil com a chama da esperança, a força da fé, o
conhecimento do que somos e integridade.

Felizmente, Inana/Ishtar está reaparecendo com força e esplendor, pois precisamos de sua
jovialidade, inspiração, motivação e principalmente, de sua integridade para guiar-nos em
nosso mundo moderno. Precisamos, mais que tudo, do Espírito Dela para inspirar nossos
corpos, mentes, corações e alma, para que armados com as flechas de nossos desejos mais
íntimos possamos subir às alturas e descer à terra com o poder para realizar nossos sonhos
aqui e adora em todos os mundos.

Fonte: Lishtar (Drª. Roseane Lopes).

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