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Os Media de Leiria

Periodicidade: Bimestral – Abril-Maio - 2003 - Ano VIII - n.º 70 - Preço Avulso: 2,50

Conheça
o panorama
da comunicação
nesta região
e as opiniões Revista Nacional da Indústria e do Ensino da Comunicação
dos seus
responsáveis
Visão faz dez anos

Missão
Possível
Com a casa arrumada Luís Delgado
fala-nos da reestruturação da Lusa
e dos objectivos que traçou para a agência
Carlos Cáceres noticiosa portuguesa
Monteiro
fala-nos sobre
a revista
que dirige
há dez anos,
e não só
Onde
está a qualidade?

Durante
dois dias várias
personalidades
ligadas
à comunicação
debateram
a qualidade
em jornalismo
Prémios Pulitzer

Martin Baron, chefe


de redacção do The
Boston Globe relata
a investigação que
rendeu ao jornal a
distinção máxima
do jornalismo
internacional
LegendasLegendasLegendasLegendas
Ficha técnica
06 Iuris Opinio
08 Opinião
12 Contracampo
Ano VIII - Nº 70 - Abril-Maio de 2003
14 Actualidade / Imprensa
DIRECTOR INTERINO: Paulo Faustino (jpfaustino@hotmail.com) 15 Novos Mercados / Imprensa
EDITOR: João Morales 20 Entrevista / Carlos Cáceres Monteiro
COLABORAM
24 Transferências
NESTE NÚMERO: Alberto Arons de Carvalho, Aldo Van
Weezel, Ana Cristina Cruz, António José
25 Actualidade / radiodifusão
Laranjeira, António Pedro Pombo, Artur 26 Actualidade / Televisão
Henriques, Carla Martins, Cátia Candeias,
Cláudia Magalhães, Correia de Almeida, 29 Media in
Cristina Ferreira de Almeida, Daniel
Costa, Francisco Rui Cádima, Joana 30 Novas Tecnologias
Duarte, Joana Pais, Luís Tomé, Martine
Pedro, Ricardo Brito Reis, Sara Pina,
32 Portugal Media
Sonja Cintra, Vanda Barata, Waldyr Almeida
35 Dinâmicas da Publicidade
CORRESPONDENTES: Estados Unidos da América - Henrique Mano 37 Dinâmicas do Marketing e Comunicação
Brasil - Rossini Barreira
REVISÃO: Telma de Brito 38 Prémios e Eventos
PAGINAÇÃO: Daniel Heringer
DIRECTORA 40 Comunicação Institucional
ADMINISTRATIVA: Maria Virgínia Brito
(mvfbrito@hotmail.com)
42 Comunicação em Análise
SECRETARIADO:
MARKETING E PUBLICIDADE:
Ana Lourenço
Elisabete Antunes (pub.mediaxxi@iol.pt)
47 Resultados de 2002
FUNDADOR: Nuno Rocha 48 Estatísticas da Comunicação / APCT
ASSINATURA: Notícias Direct - Tapada Nova - Capa Rota -
Apartado 55 — 2711-901 LINHÓ - PORTUGAL 50 Dados Lançados
Tel.:21 924 99 40
IMPRESSÃO: Heska Portuguesa - Indústrias Tipográficas, S.A. 54 Correspondentes de Guerra
Campo Raso - 2710-139 SINTRA
Tel.: 21 923 89 00
57 Questões Contemporâneas
DISTRIBUIÇÃO:
PROPRIEDADE:
VASP / CTT-Correios de Portugal
Formalpress - Publicações e Marketing, Lda.
58 Instituições da Comunicação
ESCRITÓRIOS: Av. Marechal Gomes da Costa, 9, 5º andar 60 A indústria dos Media
1800-255 LISBOA
TELFS: 218375826; 62 Media / Justiça
FAX: 218375826
E-MAIL: mediaxxi@uni.pt 64 Imprensa Regional
Depósito Legal nº 99516/96; Registo nº 120427
TIRAGEM: 5500 exemplares
66 A Contas com os Media
67 Aniversário Media XXI
68 Centros de conhecimento
70 Aula Aberta
71 Congressos Universitários
76 Comércio Online
77 Internacional / Gestão de Media
CAPA... 78 Quem diria...
ENTREVISTA 80 Heróis da Liberdade de Imprensa
81 Coragem no Feminino
82 USA Media
Luís Delgado 84 Internacional / Prémios
Pag. 44-46 86 Internacional / Legislação Brasileira
88 Publicidade Exterior
89 Visto de Fora
90 Internacional / Negócio
92 Aldeia Global
94 Último Olhar

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 3


Editorial

Pensar e exercer
a comunicação

a qualidade de promotor do projecto de mu-


N dança da Media XXI onde tenho assumido
funções a nível da gestão, mas também da redac-
Todavia, o meu distanciamento da área editorial
da Media XXI não significa um afastamento da re-
vista, mas sim uma preocupação acrescida em tor-
ção, tenho encontrado no desenvolvimento desta nar este projecto cada vez mais sustentado e equili-
iniciativa um desafio particularmente estimulante. brado. Por isso, a sua gestão será também parti-
Como já tive oportunidade de referir no editorial lhada por novos parceiros que, oportunamente, se-
anterior, esta revista está a posicionar-se no mercado rão anunciados.
editorial como a Revista Nacional da Indústria e do Apesar de deixar a direcção editorial, irei colabo-
Ensino da Comunicação. A assinatura adoptada, rar regularmente com a revista, através da secção
Media XXI – «A revista para quem pensa e exerce "A contas com os media". Nesta secção terei opor-
a comunicação», traduz bem esta postura. tunidade de escrever artigos na área da gestão e
A presente edição corresponde a mais um me- economia dos media e da comunicação, tema so-
lhoramento editorial, revelador do potencial da bre o qual tenho vindo a desenvolver alguns traba-
nova equipa, ao pro- lhos, quer numa pers-
duzir uma revista útil e pectiva empresarial quer
interessante, destina- académica, e os quais
da a quem, directa ou
A Media XXI pretende tenciono partilhar com os
indirectamente, está li- acrescentar valor à informação leitores da Media XXI.
gado ao sector da co- O novo ciclo de vida da
municação, fazendo existente neste sector editorial, Media XXI, que se iniciou
uma ponte entre infor- por vezes pouco analítica na edição anterior, rep-
mação dispersa relati- resenta não só a intenção
va a questões trans- de inovar ao nível dos
versais ao Ensino e à conteúdos sobre a in-
Indústria da Comunicação. dústria e ensino da comunicação, como também de
Em termos editoriais, esta edição está muito pró- acrescentar valor à informação já existente neste
xima do projecto editorial que temos idealizado segmento editorial, por vezes, muito centrada numa
para o nosso público. Em dois meses, a Media perspectiva profissional e pouco analítica desta ac-
XXI já conseguiu reunir à sua volta um conjunto tividade.
Por Paulo Faustino*
de colaboradores de elevado mérito no sector da Duas das áreas que irão merecer especial
comunicação, tanto a nível nacional, como até con- atenção em futuras edições são a Gestão e
tando com presenças distintas do panorama inter- economia dos media e a cidadania, assim como a
nacional da Comunicação. Educação para os media. Para alcançar este ob-
Considerando que do ponto de vista editorial a Me- jectivo, que depende em grande medida das nossas
dia XXI está a entrar numa fase de apreciável amadu- capacidades, também contamos consigo e com a
recimento, vou, a partir da próxima edição, concentrar sua participação. Participe e desafie-nos a fazer
os meus esforços na tarefa da gestão empresarial da mais e melhor pelo sector dos media e da comu-
revista. Por esse e outros motivos de natureza profis- nicação em Portugal!
sional, a próxima edição vai contar já com um novo di-
*Director interino
rector editorial, que oportunamente será anunciado.

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Iuris Opinio

Publicidade e Patrocínio
a última edição da Revista Média XXI, abordá- mente obedecer ao normativo da publicidade (por se
N mos a problemática legal da distinção entre
patrocínio e product placement.
admitir opinião contrária, fica esta questão para um
próximo artigo de reflexão).
Igual confusão tem sido gerada entre o patrocínio A publicidade também é uma forma de comunica-
enquanto forma especial de publicidade e o conceito ção que visa a obtenção por parte de empresa(s),
de publicidade. serviço(s) ou instituição(ões), de uma boa imagem ou
Importa antes de mais compreender a amplitude aceitação junto dos consumidores, e assim indirecta-
do conceito legal de publicidade: mente promover os seus bens, serviços ou marcas.
Por se admitir o mesmo como certo é que, como
| Noção Legal: | já referimos anteriormente, o patrocínio é uma forma
O artigo 3º do Código da Publicidade (Decreto-Lei especial de publicidade.
n.º 330/90, de 23 de Outubro, com a redacção que E, assim sendo, o patrocínio deve respeitar tam-
foi introduzida pelo DL n.º 6/95, de 17 de Janeiro) bém os princípios da publicidade, concretamente: li-
consagra o conceito de Publicidade, considerando citude, identificabilidade, veracidade e respeito pelos
como tal: direitos do consumidor.
“Qualquer forma de comunicação feita por entida- Mas será que o conceito de Publicidade se esgo-
des de natureza pública ou privada, no âmbito de ta na delimitação legal?
uma actividade comercial, industrial, artesanal ou li- A resposta tem obviamente de ser negativa.
beral, com o objectivo directo ou indirecto de: a) – Em nosso entender qualquer assunção contrária,
Promover, com vista à sua comercialização ou alie- seria esquecer o papel primordial do Marketing e da
nação, quaisquer bens ou serviços; b) – Promover Publicidade enquanto conjunto de interesses, funda-
ideias, princípios, iniciativas ou instituições.” mentais ao desenvolvimento, crescimento económico
Acrescenta ainda o referido Diploma que, enten- e tecnológico de toda uma sociedade. No reconhe-
de-se por Publicidade, como critério jurídico, tam- cimento da sua essencialidade como actividade eco-
bém qualquer forma de comunicação da Administra- nómica, veio a aprovação, em 5 de Março de 2003, do
ção Pública, não prevista supra, que tenha por ob- novo Código da Propriedade Industrial (Decreto-Lei
jectivo, directo ou indirecto, promover o fornecimen- n.º 36/2003). Este diploma, no seu prefácio, refere a
to de bens ou serviços. importância do marketing e publicidade como um dos
Daqui resulta que o conceito de Publicidade, note- factores mais relevantes de competitividade e ino-
se para que seja considerada publicidade (des)pro- vação numa economia orientada pelo conhecimento.
tegida pelas normas da mesma, pressupõe cumula- Acresce que, numa sociedade moderna, com ten-
tivamente os seguintes requisitos legais: a) – A exis- dência marcadamente consumista, o Marketing e a
tência de uma forma de comunicação, qualquer que Publicidade desempenham um papel primordial, en-
seja; b) – Efectuada por entidade(s) de natureza pú- quanto instrumento de fomento da concorrência en-
blica ou privada; c) – Exercida no âmbito de uma tre empresas, da qual deverão ser os primeiros be-
qualquer actividade comercial, industrial, artesanal neficiários os consumidores, num sistema de econo-
Correia de Almeida* ou liberal; d) – E que tenha como objectivo directo ou mia de mercado liberal mas não excessivamente li-
indirecto promover: Quaisquer bens ou serviços beralizante.
(com vista à sua comercialização ou alienação); O Marketing e a Publicidade, como ciência, já de-
Ideias, princípios, iniciativas ou instituições (com ex- monstrou que não é apenas um meio de apelar per-
cepção da propaganda de carácter político, que não manentemente ao consumo, confundindo os seus
do marketing político). destinatários, mormente os consumidores e, que tem
como objectivo único procurar vender todo e qualquer
| Da exclusão da propaganda política | bem ou serviço, desde que o produtor ou anunciante,
O legislador teve a preocupação de excluir, expres- pretenda ver o seu produto colocado no mercado.
samente, do Código da Publicidade a propaganda Pois, mesmo que consiga vender sabonetes co-
política, para a qual criou uma regulamentação pró- mo presidentes ...
pria. No entanto, as outras técnicas de marketing, *Docente da Disciplina de “Direito Aplicado ao Marketing” no
como a comunicação e o marketing político devem, IPAM; Director do Curso de Pós-Graduação em “Direito do
desde que não tenham regras próprias, subsidiaria- Marketing, Comunicação e Autores”

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Opinião

Os Media e a Guer
urante a crise pré-guerra, os Media reflecti-
D ram sobretudo o debate em torno da neces-
sidade e da legitimidade ou não de um interven-
em confronto - totalitário de um lado, democráticos do
outro –, para não assumir como iguais os “constrangi-
mentos” respectivos para com a informação. Ainda
ção militar contra o regime de Saddam. A Co- assim, os dois lados utilizaram os Media como armas,
municação Social, veículo privilegiado entre os sobretudo no jogo calculista da informação/desinfor-
decisores político-estratégicos e as opiniões mação/contra-informação, procurando servir-se deles
públicas, meio de mobilização, de informação e para atingir as várias opiniões públicas. Do lado da
de manipulação das massas, não ficou imune a Coligação, apresentou-se como grande objectivo a
esta crise e a esta guerra espelhando as fractu- “Liberdade Iraquiana” e procurou-se sempre demons-
ras existentes nas suas próprias sociedades. trar que os seus alvos eram exclusivamente as estru-
Alguns Media acabaram mesmo por assumir turas do regime (com ênfase para os “ataques excep-
uma posição militante, deixando-se por vezes cionalmente cirúrgicos” e o uso do termo “Decapita-
embarcar numa vertigem muito mais propagan- ção” para a primeira fase das operações), esperando
dística do que informativa. Nesta fase, abunda- poder jogar com o efeito mediático do “levantamento
ram os políticos e os “fazedores de opinião” - popular” contra Saddam e com uma recepção “com
em detrimento dos analistas e dos especialistas flores”. Entretanto, foi-se desvalorizando progressiva-
- que vinham sobretudo mostrar a sua posição, mente o principal móbil de legitimação para a guerra
infelizmente e quase sempre de uma forma de- – as armas de destruição maciça e as ligações ao ter-
masiado simplista e sumária, fomentando uma rorismo – e não se atribuiu muita importância à ques-
lógica a “preto e branco” ou do “prós e contras”. tão de saber se os líderes iraquianos, em particular
Inevitavelmente, radicalizaram-se posições, e Saddam e os seus filhos, estavam vivos ou mortos ou
esclareceu-se muito pouco. O objectivo, claro, se seriam apanhados. Por seu lado, o regime de Sad-
era o de fabricar o consentimento ou a oposi- dam procurou utilizar os Media de todo o mundo, e
ção, porque também em Democracia a opinião não apenas os seus próprios meios de propaganda,
pública e os órgãos de comunicação são quase para difundir quatro ideias: que se tratava de uma “in-
sempre um meio para se alcançarem fins. vasão e agressão” contra o Iraque; que eram sobretu-
Com o início da guerra, porém, os Media deram do os civis as principais vítimas dos bombardeamen-
muito mais destaque aos analistas e aos especia- tos e dos confrontos militares; que o regime tinha pre-
listas em relações internacionais, estratégia e as- parado uma estratégia capaz de repelir ou resistir lon-
Luis Leitão Tomé*
suntos militares, com o fim de realmente ajudar a gamente às “forças invasoras” (a referência a uma
esclarecer os contornos deste conflito e a “filtrar” as “serpente toda esticada e que seria retalhada às fa-
muitas informações. Curioso notar, aliás, o seguin- tias”); e que todos os iraquianos, bem como muitos
te: na Europa, entre os jornalistas e os “opinado- outros mártires, estavam dispostos a lutar pelo regime
res”, a grande maioria mostrou ser frontalmente e pelo país contra os “mercenários agressores”. A es-
contra a intervenção militar e até anti-americano, tratégia de Saddam dependia muito do efeito que,
enquanto que entre os analistas se notou uma mui- através dos media, conseguisse provocar junto das
to maior compreensão pelas razões do conflito. opiniões públicas, tanto árabes como ocidentais. Daí
Sobre a cobertura jornalística e sobre o papel da o regime ter permitido a presença de tantos jornalistas
comunicação social durante a guerra convém, desde estrangeiros em Bagdad, devidamente manietados, e
logo, recordar a natureza bem distinta dos regimes ter colocado o já célebre Ministro da Informação a pro-

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erra no Iraque
mover visitas guiadas, a debitar números de mortos e so normalmente apresentado como o paradigma
feridos civis e, acima de tudo, a desmentir categorica- da liberdade concedida aos media, apenas 30 ou
mente e com surpreendente desdém os progressos 40 acompanhavam as missões de combate, de
da coligação no terreno. Os termos, a desfaçatez e as entre o meio milhar de jornalistas que havia na In-
mentiras descaradas e absurdas deste Ministro foram dochina; e não foram sequer 30 os repórteres que
tais, aliás, que já entrou no anedatório internacional. acompanharam o desembarque na Normandia,
Da cobertura desta guerra salientam-se outros em 1944. A importância atribuída a este elemento
elementos significativos. Desde logo, a tal presen- foi tal que até os militares das forças especiais
ça de quase trezentos jornalistas, repórteres e americanas não se coibiram de filmar algumas das
“enviados especiais” em Bagdad – na primeira suas operações para depois as difundirem - como
Guerra do Golfo, há 12 anos, apenas lá permane- o resgate da soldado americana Jessica Lynch de
ceram dois jornalistas ocidentais – criando a ilusão um hospital iraquiano. Acresce que todos os repór-
de que, desta vez, os mesmos meios de comuni- teres presentes nesta guerra se ligaram ao mundo
cação difundiam as versões dos “dois lados”. Na através do videofone e dos telefones celulares (já
mesma linha, esta há quem se lhe refira
guerra deu relevância como “guerra do video-
aos media árabes, em
Da cobertura desta guerra fone”), transmitindo-
particular à Televisão salienta-se a presença de nos em directo o es-
Al-jazeera (esta já cé- pectáculo do conflito e
lebre desde o Afega- quase 300 jornalistas em dos combates.
nistão), do Qatar, e à Tudo isto fez desta
TV Abu-Dhabi, dos
Bagdad. Há 12 anos só lá guerra no Iraque a
Emiratos Árabes Uni- permaneceram dois mais mediatizada de
dos. É um elemento re- sempre. Mas foi por
almente novo, na me- isso mais verdadeira?
dida em que deixámos de ter apenas acesso aos Não, porque apenas vimos e conhecemos pe-
media ocidentais – embora seja através destes quenos fragmentos, soltos e dispersos. É que por
que conhecemos os outros. Depois, esta guerra muitos meios que os media tenham ao seu dis-
parece ter feito regressar o verdadeiro espírito dos pôr, e por muita coragem e profissionalismo que
repórteres de guerra, devidamente treinados e in- os jornalistas demonstrem nos campos de batal-
cluídos entre os militares nas várias frentes de ha (nesta guerra morreram 12!), “a primeira ví-
combate, partilhando os mesmos riscos, as mes- tima da guerra é a verdade”, como já em 1917
mas rações, as mesmas fardas e as mesmas sen- dizia o senador americano Hiram Johnson. É cer-
sações (foi assim que começou a reportagem de tamente um cliché... mas este pelo menos é ver-
guerra), dando origem ao novo conceito de “na ca- dadeiro!
ma com”. Os cerca de 150 mil militares da coliga-
ção que entraram no Iraque levaram consigo qua- * Professor nos Departamentos de Relações
se 500 repórteres – por mera comparação, na an- Internacionais e de Ciências da Comunicação da UAL,
terior Guerra do Golfo, os 700 mil soldados aliados analista e comentador de assuntos estratégicos
levaram apenas 160 repórteres; no Vietname, ca- internacionais.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 9


Opinião

OS DIREITOS DOS JORNALISTAS


NA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA

o artigo 38.º da Constituição, garante-se a


N liberdade de imprensa, através de um com-
plexo de direitos e liberdades, em que se desta-
ção, ou seja a identidade das pessoas que a forne-
ceram confidencialmente com o compromisso de o
seu nome não ser revelado. Este direito inclui a não
cam os direitos dos jornalistas. disponibilização dos materiais informativos que pos-
São essencialmente cinco esses direitos: a liberda- sam conduzir à sua revelação.
de de expressão e criação, o direito de acesso às fon- A garantia da independência comporta duas face-
tes de informação, o direito ao sigilo profissional, a ga- tas essenciais: o direito a recusar, em certas situa-
rantia da independência e o direito de participação. ções, a prática de actos profissionais e a possibilida-
A liberdade de criação intelectual, artística e cien- de de invocar a cláusula de consciência.
tífica é uma manifestação particular da liberdade de O direito a recusar a prática de actos profissionais,
expressão do pensamento, encontrando-se o seu nomeadamente a exprimir opinião contrária à sua
exercício protegido pela proibição constitucional de consciência, representa a prevalência da consciên-
qualquer tipo ou forma de censura. A liberdade de cia individual de cada jornalista sobre a orientação
criação compreende o direito à produção e divulga- editorial do órgão de comunicação social.
ção de obras de espírito, e inclui a protecção positi- Por outro lado, a garantia da independência tra-
va dos respectivos direitos de autor. duz-se na chamada “cláusula de consciência”, ou
O direito de acesso dos jornalistas às fontes de in- seja, no direito do jornalista a extinguir a relação de
formação constitui um corolário imprescindível do di- trabalho com a empresa, por sua iniciativa unilateral
reito do público a ser informado. Na verdade, para e com direito a uma indemnização, como se tivesse
que este direito seja assegurado, é necessário que havido um despedimento sem justa causa, no caso
os jornalistas possam recorrer activamente à busca de ter sido reconhecida uma alteração profunda de
de informações. orientação desse órgão de comunicação social.
Seria todavia redutor limitar aos documentos ad- Considera-se, neste caso, que o vínculo laboral é
ministrativos o direito de acesso dos jornalistas às menos importante do que a componente intelectual
fontes de informação. Esse direito concretiza-se da actividade do jornalista.
igualmente, através do direito de entrar e permane- A liberdade de expressão dos jornalistas não deve
cer em segurança nos locais onde o exercício da apenas ser assegurada perante os poderes públi-
actividade jornalística o exige. cos, mas igualmente face aos proprietários e à es-
Noutras situações, o sujeito passivo do direito de trutura hierárquica por estes estabelecida nas em-
acesso às fontes já não é o Estado, mas sim entida- presas de comunicação social.
des privadas, organizadoras de eventos e detento- A empresa estabelece as linhas de orientação ge-
Alberto Arons
ras de direitos exclusivos de transmissão televisiva, ral para execução por parte do director ou da direc-
de Carvallho*
que devem ser tutelados, mas sem pôr em causa o ção. Dentro destas linhas de orientação, o jornalista
direito à informação. goza de um espaço próprio de liberdade de decisão
O direito de manter o sigilo sobre a origem da in- e de formação de opinião.
formação, de não ser punido por não revelar as fon- A liberdade da comunicação social exige hoje for-
tes, ao permitir o estabelecimento de uma relação mas de organização interna das empresas do sector,
de confiança entre o jornalista e a fonte de informa- tanto mais que a liberdade de expressão não perten-
ção, é um elemento essencial para a obtenção de ce apenas aos responsáveis – administradores, direc-
novas informações. tores, chefias –, mas igualmente aos jornalistas.
O sigilo profissional dos jornalistas consiste no di-
*Deputado e Docente Universitário
reito de não revelarem as suas fontes de informa-

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Contracampo

A ilusória
guerra das imagens

á imagens que valem por mil palavras, é usual sido quebrado o benefício do monopólio informativo
H dizer-se. Mas nunca a importância do olhar foi
tão determinante como no caso da ocupação anglo-
detido pela CNN em anteriores conflitos com inter-
venção americana.
americana em curso no Iraque. Mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, nunca
Os meios de comunicação social – salvo as ób- como nesta guerra foi tão fácil confundir a realidade
vias excepções das rádios e de alguns jornais – re- insustentável da morte e da destruição com uma
duziram drasticamente o peso da palavra face à certa ilusão de facilidade, rapidez e transparência
imagem. Os directos televisivos sucederam-se e proporcionada pelo espectáculo mediático. A certa
arrastaram-se por longas horas, entrecortando o fil- altura, tudo parecia não passar de um inverosímil jo-
me da guerra com breves comentários circunstan- go virtual de estratégia militar comandado pelos “jo-
ciais. Vimos, assim, em directo o duelo da propa- gadores” Bush e Saddam, filmado à vez pela CNN
ganda e da contra-informação nas conferências de e a Al-Jazeera. Os comentadores, civis e militares,
imprensa de ambos os lados do conflito. Vimos em sentados nos estúdios a milhares de quilómetros do
directo o avanço das tropas e os ataques às posi- “teatro de guerra”, debitavam informações e anteci-
ções iraquianas. Vimos os mortos e os feridos nas pavam cenários com uma segurança e convicção
ruas e nos hospitais, os rostos de sofrimento, a des- tais que davam a ilusão de ter saído naquele instan-
truição reinante. Vimos os jornalistas a entrevistar te de um briefing com os altos comandos anglo-
em directo os soldados em acção, “interrompendo” americanos. Houve mesmo um conhecido comenta-
a guerra por alguns mi- dor de uma estação de
nutos. Vimos, enfim, em televisão portuguesa
directo a entrada das que, visivelmente diver-
tropas aliadas no “centro
Nunca como nesta guerra foi tido, manipulava diaria-
mediático” de Bagdad – tão fácil confundir a realidade mente um computador
a zona do Hotel Palesti- de bolso e exércitos em
na, onde se concentra- insustentável da morte com miniatura como se de
ram jornalistas de todo o uma certa ilusão de facilidade uma brincadeira de cri-
mundo – e o derrube de anças se tratasse.
uma estátua gigante de “Guerra lúdica”?...
Saddam, clássico sím- Entre as inúmeras
bolo visual da queda de todas as tiranias, de Buca- imagens relevantes que a II Guerra do Golfo propor-
reste a Bagdad. cionou, uma destacou-se como síntese ideal e ícone
António Pedro Pombo*
Com efeito, nunca antes a sensação de proximi- de um certo lado deste conflito: a de uma câmara de
dade física do espectador com os acontecimentos filmar a arder, ainda no cimo de um tripé, numa varan-
numa guerra longínqua havia sido tão intensa, gra- da do Hotel Palestina semi-destruída após um bom-
ças à omnipresença das câmaras de televisão e da bardeamento anglo-americano. A imagem no centro
parafernália de outros meios técnicos, em especial o da guerra, a televisão como sujeito e objecto em si-
popular vídeofone. Por força deste equipamento, multâneo. A ausência de sangue humano, a ilusão da
aliás, a liberdade de captar e difundir imagens para violência sem dor.
todo o mundo foi quase total (descontando a habi-
*sociólogo
tual censura imposta pela hierarquia militar), tendo

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Actualidade/Imprensa Em tempo de crise o mercado conhece novas publicações

A prova dos 7
Sete. A julgar pelo número de novas publicações no mercado,
ninguém diria que estamos a atravessar uma crise. Abordam temas
distintos mas convergem nas expectativas: altas

Por Ricardo Brito Reis


tentes não exercem a função a que se
rojectos de coragem fazem-se em
P
«
momentos de crise». As palavras
são de Paulo Pereira, do departamen-
destinam». Apostando na «ilustração gráfi-
ca de qualidade» e na distribuição – estará
disponível nas 150 academias de maior
to de publicidade da editora Blue Me- destaque do país – a Fitness será mensal,
dia, responsável pelo lançamento de composta por 96 páginas, com um preço
duas novas publicações: a Blue Travel de capa de 2,50 euros e terá uma tiragem
e a Blue Living. Mensais, com um pre- de cerca de 50 mil exemplares. A directo-
ço de capa de 3,75 euros e 60 mil ra é Isabel Santos.
exemplares de tiragem, destinam-se a
quem se identificar com o “Espírito Imagem e crianças
Blue”, ou seja, a quem gosta de Pedro Amaral é o director da Mais Fácil, a
saborear aqueles pequenos momen- nova aposta da BIT, Sociedade Editora. O
tos que tornam a vida algo especial. preço de capa desta revista mensal é 4,80
Paulo Ferreira (ex-responsável pela euros e a tiragem será de 35 mil exempla-
Volta ao Mundo) é o director destes res, com 82 páginas cada. Com grafismo da
dois títulos, que variam entre as 100 e editora inglesa Paragon Publishing, a Mais
as 150 páginas dedicadas às viagens Fácil vai incidir sobre três temas: fotografia
e ao bem-estar, seja em Portugal digital, vídeo digital e internet – focará um
(Living), seja fora do país (Travel). Na tema por mês. «Pretendemos desmistificar
edição de lançamento, foram vendidas a crença que estas três áreas, por serem rel-
em conjunto pelo preço de uma só. ativamente novas, são muito complicadas»,
afirma o editor Rui Nunes da Silva. A edição
Finanças e bem-estar de lançamento inclui um CD com progra-
Três Euros é quanto custa a Carteira, re- mas de edição e tratamento de imagem.
vista de finanças pessoais da nova editora «Temos know-how e experiência dentro
Money Media (uma joint-venture entre a do meio da televisão por cabo e pretende-
Conteúdo&Design e a First Media). Todos mos penetrar no mercado das duas revis-
os meses chegarão às bancas 25 mil tas da concorrência» – é assim que Susa-
exemplares com 100 a 124 páginas de in- na Ribeiro, editora, define o porquê do
formação, para quem pretende conselhos, lançamento da Zapping! TV Cabo, cujo
de forma a melhor investir, gastar e gerir o director é Francisco Vieira. Periodicidade
seu dinheiro. O director Rui Borges (antigo mensal, 84 páginas, tiragem de 30 mil
director do Jornal de Negócios) acredita no exemplares e um preço de capa de 2
sucesso deste «projecto há muito tempo euros são as características do mais
pensado», apoiando-se no «conhecimento recente lançamento da Tele Satélite
de casos como o da revista Smart Money, Publicações.
nos EUA». O grafismo é da autoria de A Edimpresa Editora lançou a Revista de
Vasco Ferreira e as expectativas são ele- TV do Sítio do Picapau Amarelo, na ten-
vadas, pois não há concorrência directa no tativa de «aproveitar o sucesso da série de
mercado de títulos económicos. TV». Segundo Marina Picão Caldeira, ges-
A editora Nau, através da Promercado, tora de produto, «fazemo-lo com o espírito
acaba de colocar no mercado a Fitness, de estarmos a informar e a desenvolver
revista de desporto e saúde. Luis Freitas, hábitos futuros». O título terá uma tiragem
chefe de redacção, afirma que «lançar es- mensal de 35 mil exemplares e o preço de
ta publicação agora é um risco, embora capa é 1,95 euros. Francisco Moita é o di-
calculado. Julgamos que as revistas exis- rector desta publicação de 32 páginas.

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Publicações destinadas às comunidades estrangeiras residentes em Portugal

Imprensa/Novos Mercados
Sonja Cintra

As páginas da saudade
Em Portugal são feitas diversas publicações para as comunidades emigrantes, em especial do Leste e
dos PALOP. Fomos conhecer um pouco melhor algumas delas
Por Waldyr Almeida
e internacionais, cultura e desporto. De nas suas redacções no nosso país, por
ortugal tem uma importante comu- um modo geral, destacam as notícias
P nidade imigrante, com maior ex-
pressão nos cidadãos oriundos de paí-
referentes aos Países de Leste, toda-
via, abordam também notícias de ca-
emigrantes e por redactores portugueses.
Estas publicações têm como principais
fontes outros jornais e colaboradores (jor-
ses do Leste e dos PALOP (Países rácter internacional (do âmbito da ac- nalistas) nos países de Leste, correspon-
Africanos de Língua Oficial Portugue- tualidade), assim como de Portugal, dentes de jornais dos países de Leste res-
sa). Por esse motivo, não é de estra- desde que tenham uma relação directa identes em Portugal, a internet e as agên-
nhar que nos últimos anos tenham sur- com estes imigrantes e que proporcio- cias de notícias. De um modo geral, visam
gido em Portugal diversas publicações, nem uma melhor integração por parte um público alvo que corresponde a toda a
especialmente destinadas a este públi- destes. A título de exemplo, a notícia Comunidade de Leste, tentando abranger
co. Relativamente aos títulos feitos em sobre a Nova Lei da Imigração mere- todas as faixas etárias. Refira-se que não
Portugal para os leitores provenientes ceu destaque em todos eles, assim co- existe nenhuma revista para a comu-
do Leste, podem encontrar-se à venda mo as alterações aos aspectos legais nidade do Leste.
- principalmente em quiosques - os jor- da Legislação Laboral.
nais Imigrante, Slovo, Nasha Gazeta e A maioria dos artigos (principalmente os | Novos mercados? |
Maiki Portugali. Todos eles são sema- de desporto) são feitos por colaboradores O jornal Imigrante foi lançado em 2001 e é
nários e de carácter generalista, escri- residentes nos países de Leste e envia- essencialmente destinado aos imigrantes
tos em língua russa, e abordam temas dos posteriormente para Portugal, sendo eslavos em Portugal. Concede maior des-
relacionados com política, economia, revistos antes de publicados. Apenas os taque às actualidades dos países de Les-
sociedade, actualidades nacionais artigos referentes à comunidade interna- te, de Portugal, embora também aborde a
(dos países de origem ou de Portugal) cional e a Portugal é que são elaborados realidade internacional, temas de cultura e

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 15


sociedade. Segundo o seu editor, Sandro parcela considerável da população portu- os do primeiro trimestre) existe um suple-
Correia Veterano, «o jornal não goza de guesa e, consequentemente, um target a mento de duas páginas, em ucraniano, que
grande poder financeiro e a escassez de ter em conta pelos planeadores de meios. contém também anúncios publicitários.
publicidade nas suas páginas não melhora «Este jornal constitui um meio de comuni-
em nada a situação». E acrescenta: «faze- | Uma forma de apoio | cação entre os imigrantes e as suas embai-
mos questão de que toda a publicidade feita Em Janeiro de 2002 surgiu no mercado o xadas em Portugal, sendo muitas vezes di-
no jornal seja em língua russa». A Empório Nasha Gazeta (O Nosso Jornal). Destina-se vulgadas informações das embaixadas pa-
- Agência de Câmbios, Lda. ou a Western aos imigrantes da Moldávia, Ucrânia, Ro- ra os imigrantes», adianta a chefe de redac-
Union, são exemplos de marcas portugue- ménia, Rússia e Kazaquistão. Contém uma ção, Elisabete Nunes. Cativa pelo seu as-
sas que já utilizaram este veículo para co- informação bastante diversificada, com uma pecto gráfico, utilizando cores fortes na sua
municarem com os seus públicos. As notí- primeira página dedicada a assuntos da ac- capa e tons mais ligeiros no seu interior, as-
cias são apresentadas em “caixas” e os arti- tualidade do Leste. Seguem-se os assuntos sim como fotografias também coloridas. Por
gos são, na sua maioria, bastante longos e relacionados com Portugal – sempre esco- outro lado, é o mais pequeno destes jornais,
com uma acentuada ausência de imagens, lhidos de acordo com os interesses do seu tendo mais ou menos um terço do tamanho
o que lhe concede um aspecto sombrio, público alvo – e assuntos de actualidade in- dos outros (cerca de 12 páginas). Porém,
com uma quase total ausência de cor «existe já um projecto, a médio-longo
(à excepção da capa), pouca publicida- prazo, de aumentar o número de pági-
de e fotografias (estas são bastante re- O jornal Lusófono, com um nas», informa-nos Elisabete Nunes. Os
duzidas e de fraca qualidade). Tem textos não são longos, sendo por isso fá-
uma tiragem de sete mil exemplares e ano de vida, é um dos mais ceis de ler. Tem uma tiragem de 20 mil
é vendido a 1,5 euros. exemplares e o seu preço é de 1 euro.
Quanto ao Slovo, igualmente criado recentes exemplos deste tipo O Maiki Portugali é escrito por molda-
em 2001, destaca as notícias referen- de publicações vos e é o que mais se aproxima do jor-
tes aos Estados Independentes, e tem nalismo russo, uma vez que a maioria
a sociedade e actualidades dos Países dos seus conteúdos é proveniente dos
de Leste, Portugal e outros países do países de Leste. Contém secções de
panorama internacional como princi- política, economia, desporto, ciências e
pais temas. «A totalidade dos artigos é cultura, sociedade, actualidades e até
produzida em Portugal, por imigrantes. beleza feminina (com conselhos e
Existem secções especiais para a Mol- “dicas” de figuras públicas interna-
dávia, Ucrânia e Rússia», explica-nos a cionais). É, portanto, a par do Nasha
chefe de redação Dina Tchijuva. São Gazeta, aquele que aborda uma maior
utilizadas algumas fotografias como variedade de temas. O jornal tem um
complemento na maioria dos artigos, bom aspecto gráfico, com o uso equi-
mas a ausência de cor – somente qua- librado de cores e de imagens (fotogra-
tro páginas em 32 - é também bastante fias, esquemas, etc.). Os textos são cur-
notável, quer nas fotografias, quer no tos e será, talvez aquele que tem mais
próprio jornal em si. Tem 15 mil exem- publicidade. É também o mais recente –
plares de tiragem e custa 1,5 euros. tem pouco mais um ano -, mas encon-
Quanto à publicidade nas suas pá- tra-se já em grande ascensão, tendo em
ginas, «chega quase toda já escrita conta a sua tiragem (12 mil exemplares)
em caractéres cirílicos, excepto e a adesão por parte do público alvo. A
quando se trata de uma empresa por- nível da selecção de informação, todas
tuguesa, situação em que é traduzida as notícias, importadas ou não, são
aqui na redacção», acrescenta Dina revistas, podendo ser alteradas antes de
Tchijuva. Contudo, é algo escassa, serem publicadas. Tem um preço de
uma constante com que nos depará- capa de 1,5 euros.
mos nos vários títulos analisados,
facilmente justificável – ou talvez não – ternacional, com algum destaque para a África em Portugal
pelo recente nascimento deste nicho de Reportagem. Uma página de desporto, um Para os imigrantes dos PALOP (Angola,
mercado. Além disso, existe a já tão cartaz cultural, e uma secção de entrevistas Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau e
estafada crise no sector publicitário, que e opinião, bem como um espaço destinado São Tomé), as publicações disponíveis são,
se faz sentir particularmente no primeiro à recepção de poesia e cartas dos leitores maioritariamente, revistas como a Angolé,
trimestre de cada ano e mais completam o jornal. Um especial realce pa- África Lusófona, África Hoje ou Tropical, ha-
acentuadamente neste tipo de publi- ra as “dicas” e lições sobre a língua portu- vendo apenas um jornal, o Jornal Lusófono,
cações. Contudo, mais uma vez se recor- guesa, uma das secções preferidas dos lei- específico para estes imigrantes.
da que a comunidade imigrante é uma tores. Na maior parte dos números (tirando Todas as revistas são mensais e genera-

16 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Imprensa/Novos Mercados
distribuição nos EUA e, a médio prazo,
está nos dos planos da administração am-
pliar a sua actividade, através da «criação
de um jornal».
A África Hoje é mais virada para «a políti-
ca, economia e cultura dos PALOP», sinte-
tiza Cândida Terra, da área administrativa.
Também é vendida em Portugal ao preço
de 2,5 euros, embora esteja à venda nos
PALOP». A publicidade é «diversificada,
abrangendo empresas portuguesas, africa-
nas e brasileiras». É a mais antiga deste
sector, com 22 anos de existência, e conta
actualmente com uma tiragem de 30 mil
exemplares.

| Dinamismo e novos projectos |


A Tropical aborda todos os temas anterior-
mente referidos mas apenas faz menção a
assuntos e acontecimentos de Angola ou
ligados a personalidades angolanas. Os
seus artigos são praticamente todos feitos
em Luanda e, para alterar um pouco esse
cenário, João Serra, correspondente em
Lisboa, explica que «a Tropical pretende, a
curto prazo, fortalecer a colaboração entre
Luanda e Lisboa, principalmente a nível da
cobertura de eventos». Custa 3 euros e a
listas e preenchidas essencialmente com vista Angolé privilegia a sociedade (eventos sua tiragem está nos 20 mil exemplares.
artigos sobre os PALOP. Na sua maioria, e personalidades) e a cultura de Angola. Ou- Resta falar do Jornal Lusófono, um quin-
feitos por colaboradores residentes nestes tro dos aspectos que marca a diferença nes- zenário que aborda a política, a economia, a
países, visto que são poucos os artigos re- ta publicação é um constante destaque dado sociedade e as actualidades dos PALOP.
lativos a outros locais (acontecimentos co- aos temas relacionados com o Ambiente. A Praticamente não tem publicidade e vive
mo a actual situação do Iraque, justificam redacção conta com duas delegações, uma muito da cor e das fotografias. O seu aspec-
algumas excepções). Quando se trata da em Lisboa e outra em Luanda e está à ven- to gráfico é bastante aceitável, visto que não
cobertura de algum acontecimento em Por- da em Lisboa, Luanda, Holanda e Londres. é um jornal com textos demasiado longos e
tugal, recorre-se a jornalistas residentes no Actualmente a revista está em processo estes são sempre acompanhados por exce-
país, na sua maioria imigrantes dos PALOP. de remodelação «uma vez que existe o lentes fotografias (com boa nitidez, cor e um
Estas publicações possuem um atracti- projecto de ampliar os seus horizontes, tamanho adequado ao texto). «Tem pouco
vo aspecto gráfico, com muita cor e recor- abordando assuntos relacionados com ou- mais de um ano de existência e derivado ao
rendo de sobremaneira à utilização de ima- tros países e conferindo-lhe um carácter lu- facto de ter ainda uma equipa relativamente
gens. Apresentam também bastante publi- sófono», explica Vladimir Romano. Os ob- pequena, a cobertura dos acontecimentos é
cidade (várias páginas inteiras), muitas ve- jectivos a curto prazo passam por um au- restrita, daí não abranger mais temas», jus-
zes até, de empresas estatais e privadas, mento do número de páginas (actualmente tifica o seu director, António Aly Silva. «A
produtos e serviços dos PALOP. São títu- cerca de 66) e diminuição da sua periodici- maioria dos artigos são feitos nos PALOP e
los dirigidos às diversas faixas etárias, com dade para quinzenal. Conta com uma tira- o jornal raramente faz referência a assuntos
informação sobre os PALOP, incluindo con- gem global de 15 mil exemplares e é vendi- ou acontecimentos fora deste universo
teúdos sobre música e internet (para os da em Portugal por 2,5 euros. geográfico». Com uma tiragem de quatro
mais novos) ou política e economia (para A África Lusófona – fundada há cerca mil exemplares e preço de capa de 1 euro
os mais velhos), entre outros assuntos. de 2 anos e com uma tiragem de 30 mil (uma assinatura de seis meses custa 30
exemplares – privilegia a política, a econo- euros e de doze 50 euros) entrou recente-
| Ampliar a Lusofonia | mia e a sociedade dos PALOP e tem o mente no segundo ano de edição.
«A Angolé surgiu nos anos 80, mas nessa preço de 2,5 euros em Portugal. «Além Aquestão impõe-se. E quanto a outras co-
altura em formato de jornal. O objectivo era a dos PALOP a revista é vendida em Fran- munidades de emigração, como a brasileira
divulgação da cultura angolana, só depois ça, Luxemburgo e Holanda», informa a se- ou a asiática? Quem sabe não estará aqui
foram abordados outros países», explica cretária da redacção, Eulália Ramos. Bre- uma nova oportunidade de negócio, quer
Vladimir Romano, um dos redactores. A re- vemente a revista vai passar a contar com para editoras, quer para anunciantes...

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 17


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Revista Visão comemora uma década de existência

Os dez andamentos
A Visão tem dez anos. Em conversa com o director, Cáceres Monteiro, tentámos fazer um balanço desta
aventura, certamente pessoal, mas transmissível

Por João Morales


amizade que se gera entre as pessoas que O que é gostaria de ter feito na
Fotografias Artur Henriques
trabalham juntas. Para ser sincero e directo Visão, que nunca conseguiu?
ez anos é muito tempo, como diz a
D canção. No caso de uma revista,
muitos dias, muitas páginas a
as alturas mais difíceis foram quando surgiu
a Focus e um grupo grande de pessoas, de
quem era e continuo amigo, saíu. Numa per-
O arquétipo de Visão que eu tenho na cabeça
nunca é a revista que sai. Eu gostaria, e
caminhamos para isso, de introduzir
contar...histórias aos seus leitores. No spectiva diferente, terá sido a perda de dois algumas pequenas alterações mas a revista
décimo aniversário da Visão falámos camaradas muito queridos, o Fernando Assis tem, desde o início, uma grelha de assuntos
com o seu director de sempre, Carlos Pacheco e o Afonso Praça. que não se alterou muito. Eu sou muito
Cáceres Monteiro. Quisemos não só a Fale-nos do surgimento da Visão. teimoso e as coisas pelas quais luto, nor-
sinopse destes dez anos, mas também Arevista surgiu na altura em que a Edipresse malmente, acabam por acontecer, embora
a sua radiografia a alguns aspectos – que tem 50% da Visão – entrou no então muitas vezes não com a frequência que eu
relacionados com o jornalismo. Esta é a grupo de O Jornal. O título estava numa crise desejaria. Por exemplo, uma coisa essencial
conversa que resultou. de vendas, tal como o Se7e. Eram os dois neste tipo de produto é a existência de
Qual é a maior dificuldade em fazer principais produtos do grupo e nessa altura dossiers temáticos
semanalmente a Visão? o Pierre Lamuniére, que ainda hoje é um Como é que consegue articular o seu
É inventá-la. Uma revista como esta tem que dos administradores da Visão, percebeu que conhecido gosto pela reportagem
ser inventada todas as semanas porque, e o projecto de O Jornal estava esgotado e com a direcção editorial e as respon-
apesar de parecer um lugar-comum, é feita que havia um espaço ainda livre que era o sabilidades a ela inerentes?
a pensar nos leitores. Temos que tentar con- das Newsmagazines. Muito do êxito da Visão Eu percebo que isso, por vezes, cause
tinuamente perceber qual a informação que tem a ver com termos feito o modelo e a alguma estranheza. Recentemente, quando
os leitores querem, e transmiti-la da forma fórmula da newsmagazine em Portugal... estive em Bagdad, vários colegas meus só
mais rigorosa e apelativa possível Mas inspiraram-se em algum modelo... ao fim de algum tempo é que perceberam –
Como recolhem esse feedback? Basicamente na Time – com quem tínhamos e ficaram um pouco surpreendidos - que sou
Há uma tradição na Edimpresa de fazer es- um acordo de colaboração que vinha do director de uma publicação com a dimensão
tudos regulares e, além disso, fazemos “focus tempo de O Jornal – no Nouvel Observateur, da Visão. Isto só é possível porque a equipa
groups”. Mas, embora existam todos esses e “bebemos” também alguma influência da de direcção da revista é muito forte e sabe
estudos, a reacção informal que nos chega, Veja. Além disso nascemos quase ao muito bem o que está a fazer. Por outro lado,
por conversas, cartas, e-mails é preciosa. Tudo mesmo tempo que a Focus alemã., mas com é evidente que isto tem limitações. Há re-
aliado às vendas, às audiências... uma personalidade própria portagens em que é importante estar
O perfil do leitor da Visão tem muda- Se surgisse hoje quais seriam as presente um ou dois meses, mas aí já não
do ao longo dos anos? principais diferenças? posso. Mas não estou, de forma alguma, in-
Não,.basicamente, serão as classes A, B e Acho que não seriam muitas. Houve um teressado em abdicar dessa vertente jor-
C1. É um público que começa “na casa” dos caminho que foi feito em dez anos e algumas nalística. Até porque é importante que uma
15 anos e vai até aos 55, embora o segmento coisas que existem hoje são fruto desse pessoa com funções de direcção vá fre-
mais forte seja até aos 35/45. Somos talvez caminho e da nossa própria evolução. Além quentemente ao terreno, porque depois,
o caso mais representativo da imprensa por- disso é necessário, tal como já falámos, o quando estamos a tomar decisões, ou a dar
tuguesa, porque temos um público constituído conhecimento daquilo que o público quer. instruções de trabalho, é muito mais fácil
em partes iguais por homens e mulheres. Os primeiros estudos diziam que o público para um jornalista dialogar com alguém que
Quais foram a maior alegria e a maior queria capas com personalidades es- já esteve no terreno, em vez de ser alguém
tristeza que esta revista já lhe deu? trangeiras e isso não se revelou exacto: que apenas tem noções teóricas.
Amaior alegria é a consciência de um produto querem acontecimentos estrangeiros, mas Como vê toda a situação que
que atingiu a sua maioridade; segundo os não forçosamente personalidades. envolveu a Clara Pinto Correia,
dados disponíveis temos mais de 600 mil Quanto às vendas, estão estabi- agora que já passou algum tempo
leitores e nas vendas nunca temos menos lizadas nos 100 mil exemplares... sobre esse episódio?
de 100 mil exemplares vendidos. Temos de Mais concretamente 107 mil, segundo os re- Eu estava em Amã. Os dois directores-ad-
lutar semanalmente pelas coisas mas é sultados de 2002, mas agora estamos perto juntos assumiram o assunto mas estivemos
agradável sermos reconhecidos de uma dos 110 mil, com assinaturas. As vendas em em comunicação permanente. E posso dizer
maneira efectiva. Quanto ao reverso...os pro- banca rondam os 75 mil e temos uma carteira que a reacção que tenho dos leitores é de
jectos jornalísticos valem muito, também pela de 35 mil assinantes. uma profunda aceitação face ao modo como

20 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Entrevista/ Carlos Cáceres Monteiro

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 21


ser muito importantes, nas cadeiras de de-
ontologia, onde os princípios profissionais e
morais são ensinados e discutidos. O único
problema é que, cada vez menos estão a
chegar à profissão pessoas vindas dos
cursos. Há um desequilíbrio entre a grande
massa de pessoas que estuda jornalismo e
que entra para a profissão. Dito de outra
forma: o jornalismo português, dadas as di-
ficuldades de acesso à profissão, não está
a beneficiar suficiente com a aprendizagem
das novas camadas de jornalistas. Uma
coisa que sinto é que quem estuda jornalismo
só teria vantagens numa maior Certificação
dos cursos existentes.
Voltemos à Visão. Como tem corrido
a experiência da Visão Online?
Em termos de meios, foi um projecto no qual
nunca investimos muito, temos feito um in-
vestimento essencialmente qualitativo,
temos alguns dos melhores jornalistas da
Visão na redacção online. Felizmente para
nós, veio a verificar-se que as páginas que
registam maior sucesso são aquelas que
estão ligadas a publicações, pelo que, temos
níveis de audiência bastante satisfatórios.
«os órgãos de comunicação social não têm sido suficientemente cautelosos E quanto aos arquivos da Visão online?
Há acesso aos números atrasados.
nós reagimos. E não podia ter sido de outra Como é que avalia a relação dos media Paralelamente, a Impresa está a desen-
maneira. Foi doloroso e era uma cronista com as instituições oficiais, quer sejam volver um centro de documentação que
muito lida mas ela cometeu um erro e não jurídicas, económicas ou políticas? deverá ter uma saída nas várias unidades
nos deixou outra saída que não fosse deixar Há de tudo. Mas, olhando para os principais online do grupo
de escrever na Visão. órgãos de Comunicação Social, posicionam- Estamos a falar de uma base de
Como comenta a forma como a se bem, o que não quer dizer que não se dados conjunta?
imprensa portuguesa tem lidado com procurem formas cada vez mais eficazes. Sim, vai chamar-se Gesco e as plataformas
alguns casos mais mediáticos, como Na Impresa, ainda muito recentemente estão já em desenvolvimento.
o da Moderna, o de Carlos Cruz ou o tivemos uma reunião supra-editorial com o E em relação ao Prémio de Fotojor-
de José Maria Tallon? intuito de ser criado um código de conduta nalismo, que este ano teve a terceira
São diferentes mas têm alguma coisa que comum, para todos os órgãos do grupo. edição?
os liga, e são casos com os quais é difícil Onde eu acho que tem havido algumas O mais importante a reter é que muitos dos
lidar. Começando pelo [caso de] Carlos Cruz, falhas é, por exemplo, na transmissão de repórteres fotográficos – incluindo muitos free-
acho que há um equilíbrio entre a presunção imagens chocantes em horário nobre, como lancers – acorrem a este prémio. Mas, apesar
de inocência e a consciência da gravidade se passou com o escândalo da pedofilia. Os da qualidade dos premiados nos três anos,
do crime. E essa compatibilização - incluindo órgãos de Comunicação Social – todos eles acho que não podemos pôr a cabeça na areia
a transmissão de manifestações de apoio – – não têm sido suficientemente cautelosos. – e isto não é nenhuma crítica ao júri, que
não é fácil. Em relação ao caso da Moderna, Mas terá sido uma atitude intencional tem sido sempre composto por pessoas de
acho que a informação tem sido equilibrada ou caíram na própria armadilha? primeiríssimo plano a nível do fotojornalismo
e muito centrada no que passa no julgamento, Caíram na própria armadilha. A lógica da in- mundial – e ignorar que há alguma frustração
apesar da Visão ter procurado sempre estar formação, a concorrência...ninguém fez isso entre os o jornalistas portugueses em relação
um passo à frente. Mas tem havido de facto de má fé mas devia haver mais cuidado aos resultados. Há muitos bons trabalhos que
alguns excessos, estou a lembrar-me de um Até que ponto o ensino da comuni- não são premiados.
semanário que trazia as silhuetas de várias cação em Portugal pode ter um papel E a que se deve isso?
pessoas na primeira página...é um terreno importante na responsabilização dos Acho que tem que ver com as opções do júri
em que não se pode entrar. Em relação ao jornalistas e na estruturação da sua e que tem que haver uma atenção ao trabalho
“caso” Tallon, é um pouco diferente, porque dimensão ética? regular. Ou seja, penso que no próximo ano
há um dos lados que está silencioso e outro Acho que pode ter todo. A formação que tem que haver algumas alterações, mas
que tem tido uma grande visibilidade e acu- muitos jornalistas não tiveram – eu próprio, ainda não foram discutidas quais, é
tilância e isso desiquilibra. aprendi na tarimba – aí, as escolas podem necessário fazer um balanço. O facto do júri

22 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Entrevista/ Carlos Cáceres Monteiro
ser constituído por pessoas que vêm de fora um claro problema de afirmação no mercado. Sim, certamente.Até entre a Exame e a Visão.
e não conhecem nem os fotógrafos nem as Mas a que se deve? De qualquer modo, é óbvio que a Exame vai
publicações, tem muitas vantagens, como Ainda não estou na fase de diagnóstico, só ter grandes modificações, estamos a ver
é óbvio, e o prémio tem tido o mérito de tenho impressões pessoais e uma pub- quais, com a colaboração da redacção. Estou
permitir a revelação de muito trabalho que licação deste género não pode ser tratada a ter reuniões também com eles, para
não é evidente, mas também é natural que com palpites. Estou a fazer os primeiros perceber o que pensam e depois, a última
o trabalho corrente, semanal, duro até, dos contactos com o director do Exame, com a decisão será tomada pelo conselho editorial,
fotojornalistas tenha o seu reconhecimento. redacção, com pessoas dos meios empre- que é presidido pelo dr. Balsemão e onde
E nós nem nos podemos queixar, ainda este sariais e económicos, estou a aconselhar- estão o dr. Pierre Lamuniére e o dr. Miguel
ano tivemos dois prémios...mas temos que me com jornalistas do sector, a estudar os Costa Gomes, que tem um conhecimento
arranjar maneira de que não fique esse números...neste momento só tenho in- profundo do meio empresarial e, concre-
sabor de frustração – como este ano senti tuições. Eu costumo acreditar muito nas tamente sobre as revistas deste sector.
que ficou – da parte de grandes fotojor- minhas intuições mas não sei se, neste De que modo a imprensa pode tirar
nalistas portugueses. Não é que eu algum partido do descontenta-
queira que os “monstros sagrados” mento que alguns anunciantes
tenham os prémios, vejo com muito
«Há vários caminhos sentem relativamente à tele-
agrado que jornalistas menos nomeados possíveis e a Exame não está visão?
os recebam, mas temos de encontrar É natural. Somos todos consumidores
uma solução para que trabalhos que com acorda na garganta. Há de televisão e rádio, mas quem está
foram marcantes nas respectivas publi- no sector da comunicação sabe bem
cações também tenham o seu recon-
tempo para pensar e que o efeito do zapping em televisão
hecimento, uma vez que este é o maior equacionar as questões» é poderosíssimo. A imprensa voltar a
e mais importante prémio nesta área. ocupar um lugar importante no inves-
Recentemente assumiu a respon- timento publicitário é o caminho natural,
sabilidade por várias revistas da mas não pode ficar encostada à
Edimpresa. Está prevista alguma sombra da bananeira. Os órgãos de
remodelação em alguma delas? informação têm que ser mais apel-
Fui nomeado director editorial das ativos e perceber o que os leitores
chamadas revistas masculinas da querem. Por exemplo, acho que a im-
Edimpresa mas todas elas têm os seus prensa diária tem um longo caminho a
directores. E director é director. Isto só fazer, mas o reconhecimento do papel
para dizer que o director editorial nunca da imprensa, esse, acho que já existe.
pode invadir o espaço do director de Há tempos disse numa entrevista
cada publicação, portanto, eu vejo-me que a Visão, quando começou era
mais como alguém que com a exper- «mais equilibrada e mais correc-
iência que tenho os pode ajudar ta». O que significa isso?
Mas estamos a falar de publi- Tem a ver com uma certa pureza da
cações que tiveram performances forma de uma newsmagazine. Se pen-
distintas ao longo de 2002 e que sarmos no tamanho dos textos, na gre-
vão ter, forçosamente, que ser lha de assuntos, na divisão das sec-
avaliadas por critério diferentes. ções, a Visão dos primeiros anos estava
Sejamos claros: o problema que há é a mais perto daquilo que ainda hoje é a
Exame. A Turbo está a fazer a sua Time ou a Newsweek. Mas a Visão fez
carreira normal, e com boas per- o seu caminho e as opções que
spectivas, o que significa que a remod- tomámos – mais opinião, mais dossiers,
elação foi bem sucedida. A Exame textos maiores – resultaram numa de-
Informática subiu nos números da rivação, mas no sentido adequado.
APCT...o problema que está a ser equa- Consegue imaginar como será
cionado é a Exame. a Visão daqui a dez anos?
Quais são os problemas da Exame? Depende muito do que acontecer no
Para já, não é possível fazer um diagnóstico, caso, estarão certas. Há vários caminhos mundo da imprensa e no país. Depende de
mas há uma coisa que tem que ser possíveis, a Exame não está com a corda muita coisa, mas penso que vai estar forte
“checkada” definitivamente e que, aliás, é na garganta e há tempo para pensar e equa- e viva. Em jornais e revistas dez anos é
uma polémica em todo o mundo sempre cionar as questões. E a Exame só ben- uma eternidade. Espero estar vivo para ver,
que há uma revista com esta periodicidade: eficia em estar integrada numa estrutura mas não consigo imaginar.
A Exame deve ser quinzenal ou semanal? como a Edimpresa. E imagina-se como director da
Por outro lado, tem quer ser equacionada a As sinergias com outros títulos do Visão, daqui a dez anos?
própria fórmula da revista. AExame está com grupo irão aumentar? Não! De maneira nenhuma!

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 23


Transferências
Deolinda Almeida Júlia Santos Prodiário tem
na Lusa na Investec novo administrador

A antiga directora da Nova Gente, Julia Miguel Moreno é o novo administrador da


Santos, foi contratada pela Investec, Prodiário, editora responsável pelos títulos
holdindg de revistas do grupo Cofina. Julia 24horas e Tal & Qual. A sua entrada na
Santos terá sido convidada para desem- empresa vem preencher a vaga deixada
penhar o cargo de assessora da antiga por Pedro Araújo e Sá, que aceitou o
revista Guia, que surgiu recentemente nos convite para integrar o gabinete do Ministro
escaparates como Nova Guia. Uma das prin- da Economia, como assessor do seu
cipais mudanças operadas na revista é o adjunto, Franquelim Alves. Miguel Moreno,
facto da maioria dos conteúdos serem pro- que integra a administração da
duzidos em Portugal, enquanto até aqui Lusomundo desde o segundo semestre de
eram maioritariamente provenientes da sua 2002, desempenhava até então as funções
congénere espanhola. Apesar das funções de director central do Banco Espírito Santo
até aqui divulgadas, nada impede que Julia de Investimento S.A. Licenciado em
santos venha a desempenhar outras no in- Organização e Gestão de Empresas, pela
terior do grupo. Veja-se o caso de outros Universidade Católica Portuguesa de
profissionais actualmente ligados à Cofina, Lisboa, entrou para o BESI em 1990.
como Emídio Rangel, Nuno Farinha ou João
Gobern, cujo desempenho enquanto cro- Da TSF
nistas é utilizado em diversas publicações. para a Antena 1
D.R.

Eduardo Marino Tiago Alves e Eduarda Maio aban-


dirige Nova Gente donaram a TSF para integrar as di-
Deolinda Almeida é a nova directora de in- recções de programação e informação
formação da agência Lusa. A jornalista, da Antena 1. Na sequência das remod-
que ocupava a direcção interina do Diário elações que a estação tem conhecido, o
Digital (desde a saída de Luis Delgado para director-adjunto para a programação,
a administração desta agência), trabalhou Luís Proença, adiantou ao Diário
na Lusa até 1999, onde foi responsável Económico: «queremos que a nossa
pela delegação de Bruxelas e chefe de equipa assuma uma identidade única em
redacção em Lisboa. Fernando Trigo, an- vez de se concentrar apenas na in-
terior director de informação, ocupa agora formação, na programação ou na auto-
o cargo de director coordenador enquanto promoção da Antena 1».
que a direcção de informação conta ainda
com Rui Moreira e Goulart machado (di-
rectores-adjuntos), Carlos Lobato (sub-di-
rector) e António Bilrero (Editor Executivo).

BBDO contrata
D.R.

Sérgio Carvalho

A BBDO reforçou a sua direcção criativa. Eduardo Marino é o novo director da Nova
Sérgio Carvalho, que desempenhava as Gente, revista de Sociedade editada pelo
funções de director criativo na Z. grupo Impala. O jornalista transita do diário
Publicidade desde 2001, transita para a 24 horas, onde desempenhava as funções
agência dirigida por João Wengorovious, de editor da secção Nacional.
onde irá fazer dupla com Gonçalo Morais Anteriormente Eduardo Marino esteve
Leitão. Além disso, será também re- ligado à Mundo Vip (que entretanto,
sponsável – em conjunto com Nuno fechou) e à TV Mais, editadas pela
Jerónimo – pela supervisão do depar- Abril/Controljornal, actual Edimpresa. Para
tamento criativo. Refira-se que Sérgio a equipa da Nova Gente entraram também
Carvalho, Gonçalo Morais Leitão e Pedro Nuno Pereira - que já pertencia ao grupo,
Bidarra (vice-presidente da agência) já uma vez que estava na Focus – para a
tinham trabalhado em conjunto na TBWA chefia de redacção e Cátia Soveral (prove-
EPG, onde Sérgio carvalho iniciou a sua niente da redacção da TV Mais), como
D.R.

carreira. redactora principal.

24 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Remodelação da Antena 1 inclui nova imagem

Actualidade/Radiodifusão
Uma aposta na informação 18h 45m, é possível ouvir entrevistas
efectuadas por nomes como Ana Sousa
Dias ou José Alberto Carvalho.
A Antena1 está diferente. Um reforço da informação e maior presença Para sublinhar a remodelação, a Antena
1 apresenta-se com um novo logótipo –
da música portuguesa são as “pedras-de-toque” da nova postura
concebido pela Lowe - e lançou uma cam-
panha de comunicação (em televisão e im-
prensa). A mudança inclui também novos
spots e a adopção de uma nova assinatura,
“A rádio que liga Portugal”.
Todo o processo de remodelação da
RDP também engloba e pretensão de
aumentar as sinergias possíveis entre
Antena1, Antena 3, RDP África e RDP
Internacional, ao que não será alheia
Por João Morales
(entre as 13 e 15h, com a informação de uma vontade de contenção de despe-
onsiderada por Almerindo Marques, cada centro regional a ser transmitida sas. Conforme explicou o director de
C presidente da Administração da
RDP, como «o primeiro e mais impor-
para todo país) são algumas das gran-
des apostas editoriais.
programas e de informação, Luís Mari-
nho em entrevista ao Correio da Manhã,
tante passo no processo de reestrutura- A chamada programação de Autor tam- «antes enviava-se um jornalista de cada
ção da empresa» a remodelação da An- bém foi reforçada, através de propostas co- redacção, agora vamos tentar enviar
tena 1 assenta num reforço da informa- mo AMenina Dança? (de José Duarte), Es- apenas um e aproveitar o produto para
ção e da música portuguesa. Antena crita em Dia (de Francisco José Viegas) ou as outras antenas».
Aberta, (um espaço de debate, com a O Sol da Meia-Noite (de Luis Filipe Barros). Recorde-se que a administração da RDP
participação dos ouvintes, conduzido Um outro aspecto que define a nova pretende ainda dispensar cerca de uma
por Francisco Sena Santos e transmiti- Antena 1 é o reforço de sinergias com centena de funcionários, além dos 102 que
do das 10 às 11h) e Portugal em Directo a RTP. Assim, de segunda a sexta, às já aceitaram rescisão de contrato.

Media Capital recupera antiga estação de Radiodifusão

Sons recuperados
A Media Capital relançou o Rádio Clube Português. A estação emite na frequência que era ocupada pela
Nostalgia, actualmente transmitida apenas em formato online
Por João Morales
pela difusão de música calma – dos “clás- essencialmente dos anos 60 e 70. No
madrugada de 25 de Abril trouxe
A muitas novidades. Uma delas foi o
final do Rádio Clube Português (RCP),
sicos” portugueses à bossa-nova, da
canção francesa à música latino-
americana – embora também haja
fundo, uma linha muito semelhante à
Nostalgia que pretende substituir. Pre-
senças habituais serão os locutores José
invadido por um grupo de militares da espaço para alguns êxitos Rock e Pop, Candeias, Dora Isabel, Mariana Marques
revolução que ocuparam os seus estú- Vidal, Susana da Mata, Aurélio Gomes,
dios, na Rua Sampaio e Pina e ali ins- Rui Almeida e Teresa Gonçalves.
talaram o Posto de Comando do MFA. O RCP surgiu nos panorama hertziano
Em Abril de 2003 voltou a estar no ar, português em 1931. Foi a primeira emis-
pela mão da Media Capital Rádios. sora privada do país, e nasceu quan-
Com uma cobertura nacional, o RCP do os ouvintes da Rádio-Parede re-
ocupa agora as frequências da Rádio solveram avançar para um projecto
Nostalgia – estação do mesmo grupo mais sério e fundaram a Rádio Clube
– cuja emissão prossegue, em ex- da Costa do Sol, cujo nome viria a
clusivo, na internet, através da plata- mudar logo na primeira Assembleia
forma Cotonete. Com um target entre Geral, ainda no mesmo ano. A nova
os 42 e os 55 anos, pertencente às clas- assinatura faz evoca a familiaridade do
ses A, B, e C1 e maioritariamente femi- seu nome, junto daqueles que pretende
nino, a aposta do renovado RCP passa atingir: «Sinta-se em casa».

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 25


Actualidade/Televisão O Disney Channel estreia aplicação interactiva em Portugal

Um canal mais animado panhado da criação de um jornal (com no-


tícias sobre o universo Disney, e possibili-
dade de envio de poemas, anedotas e adi-
O Disney Channel abraçou a interactividade e mudou de visual. Uma vinhas) e da secção Bazra, onde os pon-
aposta reforçada para captar a atenção dos mais novos tos obtidos nas várias áreas da aplicação
Disney Channel Active podem ser troca-
dos por prémios.
Por João Morales
cativar os mais pequenos para as A acompanhar esta nova proposta o
Televisão Interactiva portuguesa conta possibilidades das novas tecnologias.
A com mais uma presença. O Disney
Channel Active é uma das mais recentes
Esta nova possibilidade do Canal permite
aos utilizadores aceder a jogos (onde po-
Disney Channel estreou um novo layout, a
acompanhar um processo de uniformiza-
ção da imagem corporativa extensivo aos
apostas da TV Cabo, com o objectivo de dem ganhar prémios respondendo a ques- Disney Channel de todo mundo.
tões sobre o mundo Disney e eventos rela- A nova imagem foi desenvolvida pela em-
cionados com a programação do canal), ao presa norte-americana Razorfish, responsá-
Canal mania (com informações sobre a pro- vel pela criação da imagem de empresas de
gramação, trailers e a possibilidade de renome, como a Microsoft Corporation. Ano-
agendar gravações no Digital Video Recor- va imagem tem como ponto fundamental os
der), a um espaço de comunicação (uma tradicionais três círculos a negro – imagem
área destinada ao envio de e-mails, postais estilizada da cabeça do Mickey – embora
electrónicos, e SMS) e ao espaço Brincar estes surjam agora de um modo mais abs-
(uma área de animação, onde os especta- tratcto. Foram desenvolvidas mais de duas
dores podem participar em jogos e consultar dezenas de logótipos e fundos utilizados em
uma jukebox). off-air, embora todos eles possam ser apli-
O lançamento destes serviços foi acom- cados em off-air.

Canal Odisseia tem nova directora e aposta em programação renovada


Também até Julho o Odisseia está a
2003 Odisseia na TV transmitir Margens em Guerra, uma série de
produção própria, dirigida por Julio Alonso,
antigo correspondente de guerra. A série
Uma nova direcção e documentários inéditos são as mais recentes conta com testemunhos obtidos antes e du-
apostas do canal Odisseia para Portugal rante diversos conflitos, que têm em comum
o facto de Alonso ter estado presente.
Por Vanda Barata
dedicados ao culto do corpo. Beleza de Bis- Em cada mês é transmitido um capí-
arolina Gómez Valido é a nova di-
C rectora do canal Odisseia, canal te-
mático de documentários produzido pe-
turi que foi para o ar a 2 de Maio, desvenda
o antes e o depois de várias operações
estéticas, salientando que nem sempre os
tulo, todos eles iniciados com imagens
de bombardeamentos, enquanto uma
voz-off nos recorda que «todas as guer-
la Multicanal, empresa especializada resultados são os esperados. No dia 24 do ras são iguais».
na produção e distribuição de canais mesmo mês, Ossos por
temáticos em Portugal e Espanha. Medida deu a conhecer
Licenciada em Ciências da Informação, os métodos utilizados
pela Universidade Complutense, a sua tra- para aumentar ou diminuir
jectória profissional esteve sempre ligada a altura ou remover cos-
ao mundo da televisão. Foi responsável telas. Programado para 1
pelos especiais e documentários da cen- de Junho, Fanatismo
tral de compras de Sogecable (1999- Estético, é um documen-
2000) e chefe de compras e de pro- tário que mostra opções
gramação do canal Studio Universal estéticas mais peculiares.
(2000-2001). Antes da sua integração na Nesta vaga de novidades,
Multicanal, Carolina Gómez colaborou a série documental O
com a Paramount Comedy Channel. Corpo Humano vai voltar
a integrar a programação
| Apostas de programação | do Odisseia, sendo Dietas
A partir de Maio os telespectadores pode- Assassinas e Corpos em
rão contar com uma nova programação, na Guerra os primeiros
D.R.

qual se inclui uma série de documentários temas a abordar.

26 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Presidente da TVI descontente com conduta da PT

Actualidade/Televisão
O cabo dos trabalhos
Paes do Amaral acusa a Portugal Telecom de boicotar a entrada da
Media Capital no cabo. E não poupa críticas à política
«economicista» da empresa
Por João Morales*
faça mais com a TVI». Para este responsável
final, parece que ainda não é desta não restam quaisquer dúvidas: «Percebo
A que o canal de Economia da Media
Capital arranca. Em declarações à agên-
perfeitamente a estratégia da PT, mas é
ilegítima, porque um operador monopolista
cia Lusa, o presidente da Media Capital, como a TV Cabo não pode seguir tendências
Miguel Paes do Amaral, explicou o seu economicistas, como está a fazer»
descontentamento: «Estamos prontos Recorde-se que actualmente a SIC conta
para lançar o canal de economia mas a com quatro presenças na distribuição por
Portugal Telecom não nos quer dar as cabo (SIC Notícias, SIC Sempre Gold, SIC

D.R.
condições necessárias. Aliás, parece que Radical e SIC Mulher), enquanto que a TVI
a TV Cabo está mais interessada em blo- tem a TVI Eventos, canal apenas disponível
quear o nosso acesso ao cabo». por assinatura, que transmitiu o BIG Brother Recorde-se também que, recen-
O mesmo responsável não se esquivou a em emissão contínua. O contrato assinado temente, a SIC assinou um acordo com o
comentar a relação da TV Cabo com a sua entre a TVI e a TV Cabo – assinado há Sapo – site do universo PT – para integrar
concorrente directa, a SIC: «Acho muito bem cerca de um ano – prevê a criação de três os seus conteúdos numa plataforma de
o que a SIC tem feito no cabo, tem sido um canais: um dedicado à informação banda larga.
belo trabalho, e eu não quero que a TV Cabo económica, um destinado ao público jovem
* com Lusa
faça menos coisas com a SIC, quero é que e um outro consagrado aos tempos livres.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 27


Actualidade/Televisão Nova Lei da Televisão deixa em aberto gestão do Canal Sociedade

Caixa aberta
A televisão pública prepara-se para grandes mudanças. Um novo método de financiamento e gestão,
acompanhados pelo lançamento de novos canais são as premissas do projecto

Por João Morales


manecem no segredo
exploração do Canal Sociedade que, dos decisores. Quanto
A com a chegada do Outono substituirá
o Canal 2 da RTP, será entregue «a uma
aos canais regionais da
Madeira e Açores, está
entidade representativa» do perfil do prevista a «a possi-
canal, sendo gradualmente afastado «do bilidade destes canais
universo da responsabilidade da televisão serem explorados no
pública». Esta é uma das principais medi- futuro por uma so-
das consagradas na nova Lei da ciedade constituída pela
Televisão, que preconiza a criação da RTP RTP, com a baertura de
SGPS, aglomerando RTP e RDP, embora capital desta sociedade
mantendo redacções próprias. No âmbito às Regiões Autónomas
desta fusão o Governo pretende mesmo e entidades públicas e
que ambas as empresa partilhem o privadas»
mesmo Conselho de Opinião (CO). Será No que respeita aos
criada uma entidade reguladora para a conteúdos, o executivo
televisão, a qual poderá vir a integrar esse pretende que sejam
mesmo CO. Fora desta orgânica per- proibidas quaisquer
manece a agência Lusa, cuja tutela transi- imagens de pornografia
ta para a Direcção Geral do Tesouro. ou violência entre as 6
ARTP deverá manter o seu carácter gen- da madrugada e as 24
eralista, enquanto que o embrionário Canal horas, apelando a que
Sociedade está destinado a quadrantes as televisões adoptem
como cultura, investigação, ciência, in- uma «ética de antena».
ovação, desporto amador, cinema, am- A nova Lei da Televisão
biente e defesa do consumidor, entre foi aprovada em Con-
outros. Esta medida é o corolário da in- selho de Ministros, mas
tenção, já anunciada, de abrir este espaço terá agora que ser dis-
à Sociedade Civil, nas suas diversas rep- cutida na Assembleia
D.R.

resentações. da República, em data


O novo enquadramento abrange ainda por agendar.
também o financiamento da RTP, o qual RTP, considera que a fusão deste órgão
passa ser assegurado pelo Orçamento de | Reacções e críticas | com o CO da RDP é «mais uma decisão
Estado, conjuntamente com a receita re- A Comissão de Trabalhadores da RTP avulso, que carece de justificação». O re-
manescente da «contribuição para o au- define este cenário como «uma porta es- alizador defende que «os CO são a so-
diovisual», uma nova tipologia que toma o cancarada para a privatização do Canal 2, ciedade civil, de que o ministro tanto gosta
lugar da taxa da radiodifusão. As receitas tão cedo quanto as condições de mercado de falar» e quanto ao cenário apontado
provenientes da publicidade serão canal- o permitam», apontando ainda que a in- para o Canal Sociedade, arrisca que «é um
izadas para o pagamento da dívida da tenção é «criar as condições ideais para erro que acabará por cair. Não pode nem
estação estatal (actualmente estimada em satisfazer os interesses privados». Quanto deve sair do universo RTP». Também
cerca de mil milhões de euros. aos restantes pontos, fonte do CT da RTP quanto à nova forma de financiamento,
Além dos restantes dois canais já exis- contactada pela Media XXI apresentou mostra-se reticente, questionado: «quem é
tentes – RTP África e RTP Internacional, que como motivos para não fazer grandes co- que vai pagar a ficção, que é a coisa mais
passarão a contar com conteúdos pro- mentários a falta de informação: «nada cara? Uma hora de telenovela custa cinco
duzidos pelos operadores privados de nos é dito. O que sabemos é o que tem mil contos, mas uma hora de telefilme custa
televisão – serão lançadas novas apostas no saído na comunicação social». cerca de 60 mil. Das duas uma; ou vai
Cabo: um canal assente nos arquivos da Por seu lado António-Pedro Vascon- custar mais ao Orçamento de Estado, ou
RTP e outro de carácter, cujos contornos per- celos, membro do Conselho de Opinião da a qualidade vai descer».

28 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Media in
RTP e TVE Media Capital Ricardo Costa
estreitam colaboração aposta no online... dirige SIC Notícias
Media Capital lançou uma rádio
A colaboração entre a RTP e TVE
vai reflectir-se na gestão dos Ar-
quivos de imagens da RTP. Esta foi
A online dedicada ao desporto,
apostando na expansão do MaisFute-
uma das conclusões do encontro en- bol, jornal online do mesmo grupo.
tre representantes das duas estações, Sob a coordenação de José Nunes, a
que contou com a presença do Minis- MaisFutebol Rádio irá emitir 24 horas
tro português da tutela, Nuno Morais por dia, estando disponível através do
Sarmento. Do encontro, resultou ain- site MaisFutebol e do Cotonete, portal
da o anúncio da intenção da TVE em da Media Capital Rádios (para onde
prestar apoio técnico a Portugal, rela- transitou a emissão da Rádio Nostal-
tivamente ao Euro 2004. Este encon- gia). Entretanto, a Media Capital Multi-
tro foi antecedido por uma reunião en- média adquiriu 50% do capital da Age-
tre Morais Sarmento e o seu homólo- finan, empresa editora do site Agência
go espanhol, com o intuito de concer- Financeira, assumindo a gestão exe-

D.R.
tar posições conjuntas em algumas cutiva do projecto. Além do site a Age-
matérias, como a Televisão Digital finan é também responsável pelo Diá-
rio Financeiro, enviado por mail a ges- s equipas da manhã e da tarde da SIC
Terrestre.

ExpressoEmprego
tores de empresas e decisores de vá-
rios sectores de Economia.
A e SIC Notícias estão a trabalhar de for-
ma integrada. Este é o primeiro reflexo vi-
remodelado sível da nova estratégia de gestão de
meios humanos, depois de Ricardo Costa
...e desinveste ter assumido a direcção da SIC Notícias,
na imprensa em substituição de Cândida Pinto. Recor-
s revistas Computerworld e PC World de-se que jornalista abandonou as fun-
A passaram a ser editadas em Portugal
pela Imediatic, empresa constituída por ex-
ções de chefia invocando a intenção de se
dedicar mais à reportagem, decisão em
quadros da Expansão, editora da Media que foi acompanhada pelo então director-
Capital que era responsável pela sua pu- adjunto da SIC Notícias, José Manuel
blicação. Ambas as revistas são dirigidas Mestre, o qual não apresentou nenhum
por Timóteo Figueiró. Este é mais um pas- motivo para sua atitude. A demissão deste
so dado pela Media Capital na sua estraté- profissional teve como consequência práti-
gia de abandono da imprensa enquanto ca o reforço de poderes do chefe de redac-
área primordial de negócio. Recorde-se ção, Daniel Cruzeiro. Recorde-se que o
que, simultaneamente, o grupo tem efec- avanço desta fusão foi o que esteve na ori-
tuado algum reforço no universo do audio- gem de diferendos entre Nuno Santos e
ExpressoEmprego.pt remodelou a visual (com o anúncio consecutivo da in- Emído Rangel, o que resultou na saída de
O sua homepage. O site tem novas
secções, com conteúdos relativos à
tenção de lançar um canal de Economia
por cabo e o controlo da NBP, que também
Nuno Santos (apesar de Emído Rangel
também ter saído da SIC algum tempo de-
gestão de Recursos humanos, Univer- já está presente em Espanha) e da radiodi- pois). Cabe agora a Ricardo Costa levar a
sidades e Mercados em Análise. As fusão (lançando novas estações). bom porto a tarefa.
funcionalidades de pesquisa também
foram acrescidas, dispondo o internau- SIC
ta das opções “Executivos” e “Trabalho no Sapo
Temporário” secções de formação, e- s conteúdos dos canais da SIC pas-
learning e livros. O site lançou também
um canal em colaboração com o Institu-
O sam a estar disponíveis através do
Sapo. Esta parceria entre o grupo de Pinto
to de Informação em Franchising, dis- Balsemão e a PT Multimédia enquadra-se
ponível a partir do site do ExpressoEm- no lançamento de um canal de banda lar-
prego. Refira-se que o caderno Empre- ga, disponível para os clientes do grupo
go, do Expresso, também passa a in- PT que disponham deste sistema (ADSL
cluir um espaço destinado a este sec- ou Netcabo), os quais terão ainda acesso
tor. Segundo os números disponibiliza- a outros conteúdos; uns em regime de ex-
dos pela própria empresa o Expres- clusividade, outros mediante pagamento.
soEmprego registou no mês de Feve- Aliás, segundo adiantou à Lusa o presi-
reiro cerca de 225 mil visualizações e dente da SIC «este é mais um passo para
18 mil utilizadores únicos. pagamento de conteúdos na internet».

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 29


Novas Tecnologias Rádio analógica ou digital: que opção?

As ondas (hertzianas) do futuro


A Rádio Digital está aí. Mas
apesar das vantagens tecnoló-
gicas persistem algumas dúvi-
das que atrasam a sua adop-
ção de um modo integral

Por Cátia Candeias

suporte digital, ou DAB (Digital


O Audio Broadcasting), esteve em
foco na conferência “Analógico vs Digi-
tal: que opção?”, uma iniciativa da
Associação Portuguesa de Radiodifu-
são (APR) que decorreu no passado
dia 12 de Abril, em Lisboa. Durante o
encontro, Paulo Almeida, membro da
Rhode & Schwarz - empresa pioneira
na criação do DAB -, alertou para o
facto de as exigências de qualidade

Sonja Cintra
sonora serem «cada vez maiores», si-
tuação que a rádio analógica não con-
segue satisfazer porque, entre outras Também a radiodifusão vai acompanhar a evolução tecnológica
razões, «tem demasiados programas
na faixa de FM». Segundo este interlo- para um determinado produto, associan- mais moderno, mas não tão rentável».
cutor «o sistema digital permite um do uma mensagem publicitária a uma Além disso «a conjuntura económico-fi-
som de alta qualidade, bem como uma música, ou particularizar a publicidade nanceira do país não é favorável à mu-
recepção livre e imune a interferên- com os contactos da marca. dança», alerta. Uma postura corrobora-
cias, devido à uniformização do sinal». O director técnico da Media Capital, da por José Manuel Paz, consultor téc-
Através dos “gap fillers” (emissores de Carlos Marques, destacou as vantagens nico da APR e responsável técnico da
menor potência) será possível preen- a nível dos arquivos, principalmente Rádio Litoral Oeste, que recorda casos
cher as lacunas de som e definir-se um «nas rádios locais onde se desperdiça de «rádios que começaram a investir no
patamar de qualidade sonora que não um grande espólio que um dia mais tar- digital e a despedir trabalhadores».
dependa do movimento, nem da locali- de poderá fazer história ou mesmo ser Rádio digital sim, mas progressiva-
zação (a frequência de cada estação reaproveitado na programação». Este mente. Esta é a posição de Jorge Pinho,
será a mesma em todo o país). responsável acredita que o sistema digi- consultor técnico da APR e responsável
tal poderá ser uma solução quando os técnico da Rádio Universidade do Ma-
| Vantagens tecnológicas | recursos humanos e financeiros são rão, que defende a compra de equipa-
O ouvinte passará a dispor de «uma poucos, principalmente na parte da pro- mento com as duas versões - analógico
grande quantidade de informação, como dução, uma vez que permite gravar nu- e digital - ligado posteriormente a uma
as letras dos temas, o trânsito, mapas, ma hora, cerca de seis a sete horas de matriz comutadora. «A filosofia é renta-
meteorologia, cotações da bolsa, men- emissão. «Com a era digital uma só bilizar a rádio: o programador que faz
sagens publicitárias com respectivos pessoa pode fazer uma rádio», concluiu. uma playlist para uma rádio, pode ser o
contactos, e ainda publicidade adaptada mesmo que faz para outras rádios”, con-
à sua faixa etária e aos programas que | Alguma cautela | clui Jorge Pinho.
ouve». A informação digital pode tam- Estas reservas são partilhadas por Pe- Cabe agora às entidades responsá-
bém ser enviada pela Internet, ou serem dro Costa, director da APR e coordena- veis definir o tempo de vida do FM, uma
criadas Play Radio Services (uma espé- dor geral da Rádio e Televisão do Mi- decisão que vai influenciar o tipo de in-
cie de play list personalizada), opções nho, que defende um sistema baseado vestimento a realizar, «embora o entu-
que Paulo Almeida acredita «venham a em computadores para as estações que siasmo com o digital já tenha sido
ser pagas». A nível comercial, existem têm fracas receitas publicitárias, como maior», como afirmou o presidente da
outras vantagens, como a possibilidade as locais. «Às vezes a vaidade pode le- APR, José Faustino, já na recta final do
de ser feita uma exploração específica var-nos a adquirir um equipamento encontro.

30 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Comunicação Social de Leiria pode ser pioneira na concentração

A urgência
de emagrecer
Propomos-lhe uma viagem pelo panorama da Comunicação em
Leiria. Um retracto dos seus jornais, rádios e propostas de formação
neste sector

Por António José Laranjeira


temente, é de José Ribeiro Vieira, proprie-
sector da comunicação social no
O distrito de Leiria tem títulos a mais e
rendibilidade a menos. O que leva os
tário do Jornal de Leiria, que se coloca, para
já, de fora, «neste momento e nas actuais
circunstâncias», adiantando que «não pare-
editores a ponderar cenários até há ce fácil, no actual contexto, a fusão dos princi-
pouco tempo impensáveis, designada- pais jornais, especialmente no que respeita
mente operações de concentração, que aos semanários», pois «têm estratégias de
todos admitem como possíveis e alguns comunicação e interpretações diferentes so-
como desejáveis – o que seria inédito bre o essencial».
na imprensa regional portuguesa. De resto, argumenta com o funcionamento
Leiria é considerado um distrito ímpar em do mercado para justificar a existência de
matéria de imprensa regional. O estudo «A tantos títulos, mas não deixa de admitir que
Imprensa Regional em Portugal – Elementos «dois semanários seriam suficientes».
para a Gestão Estratégica e Planeamento Jaime Antunes, principal accionista do No-
Publicitário», executado em 2001 pelo IPOM tícias de Leiria, o mais jovem semanário do
para a AIND – Associação Portuguesa de distrito, evoca também o mercado para justi-
Imprensa, conclui que este é o terceiro distrito ficar tantos títulos, embora considere que A.J.L.

do País com o maior índice de leitura de jor- Leiria «é um mercado muito competitivo, fru-
nais regionais, com 64,6%, logo a seguir de comunicação social. Estamos sempre
a Braga (67,8%) e a Coimbra (66,9%). disponíveis para dialogar com outros o-
Em quase todos os índices considera- peradores, desde que seja no sentido de
dos no estudo a posição de Leiria é su- A pluralidade de títulos é melhorar a capacidade de oferecer pro-
perior à média nacional. dutos informativos de qualidade.»
Não obstante, é consensual que o
garante da Liberdade de
sector está demasiado gordo, tendo ra- Imprensa, um dos pilares da | Sem implicar extinções |
pidamente de fazer uma dieta para pre- O director do líder de mercado, Francisco
venir o agravamento de doenças e asse- democracia pluralista Santos, é o mais enfático, ao concordar
gurar um futuro com saúde. Adriano Lucas, Diário de Coimbra «em absoluto» que o sector deve cami-
É clara a disposição de alguns edito- nhar no sentido da concentração e conse-
res para dialogarem no sentido de aproximar quente redução de títulos. O responsável do
posições. Já houve encontros bilaterais, ain- to de uma oferta muito grande para um mer- Região de Leiria, o único jornal com tiragens
da inconclusivos, mas, em depoimentos à cado reduzido.» Sobre a eventual concentra- auditadas e que divulgou as contas de explo-
Media XXI, os responsáveis dos principais ção, Jaime Antunes é claro: «É sempre po- ração, entende que, apesar de Leiria «ter a
semanários não fecham a porta a um enten- sitivo perspectivar empresas de maior di- melhor imprensa regional do país», «a con-
dimento. A excepção, pelo menos aparen- mensão para os mercados locais/regionais corrência é excessiva, há títulos a mais e fal-

PRINCIPAIS JORNAIS DO DISTRITO DE LEIRIA - 2002 *


Tirag. Média Nº Assin. Vendas Banca Ofertas Circ. Total Vendas Jornais (¤) Venda Pub. (¤) Fact. Total (¤) N.º Jorn. N.º Págs. Aud. Total***
Região de Leiria** 19.100 10.134 4.110 2.032 16.276 217.500 1.232.500 1.450.000 10 56 17%
Gazeta das Caldas 11.000 8.000 n.d n.d n.d 105.726 365.587 471.313 5 12,4%
Jornal de Leiria 15.000 n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d 10 56 11,8%
Diário de Leiria 2.500 n.d n.d n.d n.d n.d n.d n.d 7 20 2,8%
Notícias de Leiria 8.500 5.000 n.d n.d n.d n.d n.d n.d 6 32 (a)
n.d. = não divulga; * Dados fornecidos pelas empresas; ** Tiragem e vendas auditadas pela APCT; *** Dados IPOM, inquérito de 2000; (a) Ainda não tinha 1 ano de publicação

32 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


História, factos e protagonistas de um sector competitivo

Portugal Media
«Explicações em Leiria:
um negócio da China»
oi por uma questão éti- (o maior grupo empresa-
F ca que acabou a Li-
miar. A revista da Escola
rial da zona centro) para
a comunicação social,
Secundária Francisco Lo- que o adquiriu há sete
bo tinha publicado um tex- anos e consolidou a sua
to sobre as explicações liderança destacada do
em Leiria, precisamente mercado. Edita uma re-
«Explicações em Leiria: vista periódica mensal e
um negócio da China»; a várias outras revistas te-
delegação de Leiria da máticas.
Rádio Renascença deu- O Jornal de Leiria é o
lhe eco nacional, o Minis- segundo título da sede do
tério da Educação enviou distrito. Propriedade de um
uma inspectora averiguar o que se pas- empresário com interesses diversi-
sava, a qual «apertou» q.b. os elemen- ficados, José Ribeiro Vieira, com cuja
tos da redacção da revista (alunos e pro- imagem se identifica fortemente, mantém
fessores) e propôs uma solução: no nú- um suplemento cultural semanal e
mero seguinte da revista publicava-se também edita livros regularmente.
um desmentido ou a publicação acaba- O Notícias de Leiria é o mais jovem se-
va ali mesmo, pelo menos sob a chance- manário do distrito. Fundado em 1999 por
la da escola. Os membros da revista sa- Jaime Antunes (antigo proprietário e direc-
biam que a história era verdadeira, por- tor do Diário Económico) e por um grupo
tanto um desmentido estava fora de cau- de jornalistas e empresários da região
sa. Escolheu-se o caminho mais doloro- (são, ao todo, 16 accionistas), surgiu com
so, mas o mais digno: acabou a revista! uma forte ambição no mercado, mas um
O caso passou-se na cidade de Leiria conjunto de factores fez arrefecer esses
em 1983, há vinte anos, portanto, e seria intuitos.
ta verdade sobre tiragens e vendas. Os títu- apenas mais uma história para contar O Diário de Leiria, fundado em Outu-
los existentes têm filosofias idênticas, pelo aos netos se não tivesse inoculado o ví- bro de 1987, pertence ao chamado Gru-
que se torna óbvio que a quantidade não rus do jornalismo (como todos sabem, po Adriano Lucas, que detém o Diário
se traduz em diversidade.» Por isso consi- cientificamente denominando «o bichi- de Coimbra, Diário de Aveiro e Diário de
dera que, tal como nas rádios, o número de nho») a um punhado dos seus protago- Viseu, entre outros. Publica-se de se-
títulos de imprensa «é excessivo e deveria nistas. Alguns dos quais acabaram, um gunda a sexta-feira e tem um estilo mar-
por isso incentivar-se a especialização, o ano depois, por fundar o Jornal de Leiria, cadamente informativo e de acompa-
que não acontece». Daí que já tenha mani- que seria o precursor do extraordinário nhamento da agenda.
festado essa opinião «a alguns editores» e ciclo de renovação da imprensa regional No sul do distrito, nas Caldas da Rainha,
esteja «disposto a estudar o assunto, em de Leiria que se tem verificado nos últi- lidera a Gazeta das Caldas, propriedade
espírito de grande abertura e cooperação». mos 19 anos. de uma cooperativa fundada em 1925.
Francisco Santos frisa que entendimento Só na sede do distrito, que tem 60 mil Os outros semanários com mais pene-
e concentração não quer necessariamente habitantes, há cinco semanários (três tração no distrito e que se publicam regu-
dizer extinção de títulos: «Os títulos existen- generalistas e dois da Igreja) e um diário, larmente são O Eco e O Correio de Pom-
tes poderão continuar, mas reposicionados além de três rádios. E nas cidades e vi- bal, ambos de Pombal, e o Jornal da Ma-
por segmentos, prestando um melhor ser- las vizinhas há vários semanários, além rinha Grande. O primeiro pertence à So-
viço ao público». de uma quantidade apreciável de quin- jormédia (a mesma proprietária do Re-
A sul, José Luís Almeida e Silva, da Ga- zenários e mensários. Ao todo, são 63 gião de Leiria), o seu concorrente de
zeta das Caldas, pensa que o número de os títulos registados no Instituto de Co- Pombal foi adquirido há cerca de dois
títulos «é muito elevado, havendo muitos municação Social, embora nem todos anos por uma empresa de construção
jornais que apenas servem os interesses estejam em publicação regular. civil e promoção imobiliária. O Jornal da
de meia dúzia de pessoas, nomeada- Marinha Grande é, neste momento, o
mente quem os faz ou os grupos que os | Os protagonistas | único semanário da capital do vidro e é
apoiam e por vezes financiam.» Mas é O jornal mais antigo do distrito (73 anos) detido por uma empresa independente.
mais cauteloso quanto à concentração, é o semanário Região de Leiria, editado
A.J.L.
defendendo que o mercado «provavel- pela Sojormédia, holding do Grupo Lena

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 33


Portugal Media
Três propostas mente poderá ser conduzido a parcerias
de projectos, mantendo a sua individua-
de rádio lidade e especifici-dade.». Para a Gazeta
das Caldas «não é prioritária» essa ques-
história das rádios de Leiria poderia tão, apesar de aceitar «discutir o tema
A ter começado por uma operação de
concentração, mas uma tentativa de
com projectos que se apresentem com
credibilidade e sem falsas preocupações
reunir num só projecto todas as candida- de cooperação.»
turas aos alvarás das rádios locais, não Quem destoa deste grupo é o director do
passou das intenções. Abortada a ideia, Diário de Leiria, Adriano Callé Lucas, para
as três rádios «piratas» então existentes quem «a pluralidade de títulos é garante da
– Rádio Comercial de Leiria, Rádio Clu- liberdade de imprensa e esta um dos pilares

A.J.L.
be de Leiria e Rádio Liz – ganharam as da democracia pluralista.» Por isso, e ape-
três frequências disponíveis. Já todas, sar de se ter vindo a verificar «em Portugal
entretanto, mudaram de mãos, duas de- e no Mundo em geral uma tendência para | Saúde financeira? |
las alteraram a designação, e o negócio, a concentração de meios e títulos e a sua A verdade é que, se todos os editores ga-
face à repartição excessiva do mercado, apropriação por grupos económicos», rantem que as suas publicações se auto-
estará longe de ser atractivo. «compete ao Estado garantir a livre concor- financiam, a maior parte não revela núme-
José Ranhadas, da 94 FM (herdeira rência, evitando a concentração, práticas ros (ver quadro), alegando constituir infor-
da Comercial), e Emília Pinto, da Central monopolistas e de abuso de posição domi- mação confidencial das empresas. Mas,
FM (ex-Rádio Clube) garantem que as nante, através de adequada legislação anti- não obstante, qualquer observador mais
suas empresas se auto-financiam, mas monopolista». atento e informado constata que a publici-
apenas Emília Pinto aceita revelar a fac- Do lado dos investidores, a opinião domi- dade, não esticando, não chega para todos
turação: 175 mil euros em 2002. A Rádio nante é a do excesso de títulos. David Neves, – muito menos em tempo de crise, como
Liz, a outra das três estações de Leiria, da agência de publicidade DCN, que no ano é o actual. E todos sabem os custos e as
detida por um empresário chamado passado colocou 125 mil euros de publici- receitas uns dos outros, pelo que é fácil
Francisco Balsinha e que emite algumas dade nos meios regionais, entende que o concluir que, se tudo está bem, dois mais
horas de programação da Igreja Univer- caminho é precisamente o da concentração, dois são… oito! E ninguém tem dúvidas
sal do Reino de Deus, não respondeu para que a qualidade possa aumentar. de que o negócio, mesmo quando é po-
às nossas questões. No mesmo sentido vai a opinião do res- sitivo, é de tostões, quando poderia ser…
José Ranhadas e Emília Pinto divergem ponsável da Sistema 4, outra agência de de milhões.
quanto às audiências: o primeiro cita a publicidade de Leiria, que investiu 20 mil Acresce que, com as novas regras dos
Marktest para garantir que a 94 FM «é a euros em 2002. Pedro Oliveira acha que apoios do Estado à comunicação social,
rádio local mais ouvida da região centro, quanto às rádios, há lugar para todas, mas com o Governo a garantir que os termos
acumulando um total de audiência de relativamente aos semanários «está um a «rigor» e «fiscalização» vão deixar de ser
1,7%», Emília Pinto alega que «não há mais» e que «mais vale um projecto forte letra morta, o futuro vai ter necessariamente
estudos que nos permitam responder». do que dois a sofrer». de ser diferente.
Quanto à informação, a Central FM
tem um jornalista a tempo inteiro e uma
estagiária, enquanto a 94 FM revela ter Um curso... mais um
dois jornalistas no quadro.
José Ranhadas e Emília Pinto estão stá no segundo ano o curso de Co- companhia. Carlos Silva, da direcção
nos antípodas quanto à apreciação que
fazem do sector. Enquanto a directora da
E municação Social e Educação Mul-
timédia da Escola Superior de Educa-
do ISLA-Leiria, revela que o curso de
Comunicação e Tecnologias de Infor-
Central FM diz que quer o número de ção de Leiria. É um curso de quatro mação desta instituição apenas espera
jornais, quer o de rádios, é «exagerado», anos, neste momento com 78 alunos. autorização do Ministério do Ensino
o administrador da 94 FM considera-o Luís Barbeiro, director do curso, consi- Superior para arrancar, em princípio já
«adequado». Também quanto à eventual dera que a sua criação «foi guiada pela no próximo ano lectivo. Terá quatro
concentração, ambos não estão em sin- preocupação em proporcionar uma for- anos de formação (licenciatura) e, tal
tonia. Emília Pinto concorda, a bem «da mação integrada, mas diversificada», como o seu homólogo da ESEL, aposta
qualidade e da rendibilidade financeira», para formar profissionais «capazes de numa formação prática, que «não des-
e está disposta a analisar qualquer pro- criarem produtos e de dinamizarem es- cura a importância crescente e prepon-
jecto nesse sentido. José Ranhadas, pelo tratégias de comunicação que mobili- derante das tecnologias de informa-
contrário, entende que não, recorrendo zem as potencialidades das novas tec- ção, numa lógica de flexibilidade e po-
às necessidades do mercado e ao direito nologias.» É esta «formação diversifi- livalência do licenciado no mercado de
do público a ter opções para justificar a cada» que o leva a acreditar na boa trabalho.»
sua posição. empregabilidade dos seus formandos.
AJL
O curso da ESEL terá, em breve,
AJL

34 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Dinâmicas da publicidade
Miguel Nóbrega Entradas
na Euro RSCG na FCB
ambém a FCB registou a entrada de
A Euro RSCG já tem um novo director-
geral. Trata-se de Miguel Nóbrega,
que durante os últimos dois anos esteve li-
T novos elementos. Segundo noticiou o
Meios & Publicidade, Maria Pedro assu-
gado à filial brasileira do grupo, a Carillo miu funções de redactora e Miguel Vilaça
Pastore Euro RSCG. Miguel Nóbrega já ti- Carneiro foi contratado para o departa-
nha estado ligado à Euro RSCG em Portu- mento de design da agência. Maria Pedro
gal, desempenhando funções de director trabalhava na Park! Saatchi & Saatchi,
de serviços a clientes. A escolha deste pro- contando no seu percurso com passagem
fissional para o lugar até há pouco ocupa- pela Young & Rubicam e Lintas, enquanto
do por Pedro Graça – que integra actual- que Miguel Vilaça era o responsável pela
mente a direcção da McCann Erickson – fi- direcção de Arte de produção na Tux&Gill,
ca a dever-se ao seu conhecimento dos tendo também estado na DC&E.
mercados português e brasileiro. Entretan-
to, o departamento criativo da agência foi Saídas
reforçado, com a entrada de Marcelo Lou- na Young & Rubicam
renço e Pedro Bexiga, ambos provenien-
D.R.

tes da Leo Burnett.

Caixa Alta comunica imprensa

Caixa Alta desenvolveu uma campa- Assim, surgirá um teaser – “hã?” – interro-
A nha da Associação Portuguesa de
Imprensa (AIND), destinada a «motivar os
gação mais tarde justificada, porque
«quem não lê, não sabe; quem não lê es-
jovens para a leitura de jornais e revis- tá fora», explica Eduardo Homem. A cam-
tas», conforme nos explicou o director panha – que foi concebida pela dupla
criativo da agência. A estratégia desta Paulo Leal (director de arte) e Catarina
campanha é estimular a auto-crítica nos Henriques (redactora) – contará, numa fa-
jovens, transmitindo-lhes a importância da se posterior, com um filme de animação,
informação escrita, como forma de se afir- produzido pela Escola Superior de Comu-
marem como adultos. «Uma das grandes nicação Social. A campanha – que arran-

D.R.
dificulda-des foi o facto da campanha ser ca em Junho — contou ainda com os
veiculada nos próprios jornais e revistas, apoi-os do ICS, RTP (na cedência de es-
que, infelizmente, os elementos do target paço publicitário), Imageone e Zefa Visual s mudanças não param, no mundo da
pretendido – ou seja, os próprios jovens,
não consomem. Por isso optámos por
Media (no licenciamento das imagens
utilizadas na campanha) e RMB (na
A publicidade. A direcção criativa da
Young & Rubicam passou a ser assegura-
uma linguagem telegráfica, na linha da disponibilização da rede de cinemas para da por Albano Homem de Mello, que acu-
comunicação que eles próprios utilizam». passagem do filme). mula com a presidência da agência. O fac-
to fica dever-se à saída Lourenço Thomaz
Preta e Susana Sequeira, que até aqui tinham
e sem álcool essa responsabilidade. Em declarações
ecididamente a cerveja preta está a ao Meios & Publicidade Lourenço Thomaz
D dar que falar. A BBDO é a agência
responsável pela campanha da cerveja
afirma que a sua saída se deve a «motivos
profissionais e pessoais», acrescentando
sem álcool Jansen Preta, um novo pro- ainda: «demos mais à Young do que a
duto da Sociedade Central de Cerve- Young nos deu a nós». Por seu turno Alba-
jas. Trata-se de uma campanha de tele- no Homem de Mello, em entrevista ao
visão e outdoor, protagonizada pela Briefing, justificou-se explicando que «nes-
modelo Imany. A produção do filme es- tes últimos dois anos houve decisões difí-
teve a cargo da Tangerina Azul e a mú- ceis que tiveram que ser tomadas e obvia-
sica é da responsabilidade do grupo Da mente que o meu foco foi para tentativa de
Weasel. Depois das recentes movimen- recolocar a Y&R no lugar que merecia. E
tações no mercado da cerveja preta nessas alturas não se pode olhar muito pa-
esta é a mais recente aposta da Socie- ra trás, com o perigo de não se fazer na-
dade Central de Cervejas, com o objec- da», acrescentando ainda:«desejo-lhes a
tivo de conquistar a liderança no seg- melhor sorte, mas sei que a equipa que fi-
mento de cerveja sem álcool. ca pode fazer melhor».

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 35


Dinâmicas de Marketing e Comunicação
JCDecaux patrocina Prémio Neurónio Ipsis integra ECCO
EXPERIMENTADESIGN 2003
A 13 Edição do prémio “O Melhor em Mar-
keting Relacional” vai introduzir algumas
modificações neste evento. Organizado
pelos CTT-Correios de Portugal em con-
junto com a Associação Portuguesa de
Empresas de Comunicação e Publicidade
(APAP), o concurso vai contar este ano
com mais categorias e aceitar inscrições
online. O novo conceito adoptado traduz-
se na nova designação – prémio Neurónio. A Ipsis, agência de comunicação do

D.R.
No final, será editado um anuário referente grupo MKT, passou a integrar a ECCO,
às participações inscritas. uma rede internacional de agências
A JCDecaux é o patrocinador oficial da ter- independentes de relações públicas,
ceira edição da Bienal de Lisboa EXPERI- Unimagem tendo já participado na reunião desta
MENTA DESIGN 2003. O contrato, assina- reforça equipa entidade que decorreu entre 7 e 9 de
do no passado dia 5 de Maio, prevê que a A antiga directora da revista Valor, Marga- Maio, em Londres, na qualidade de
empresa promova o evento (este ano su- rida Guimarães, passou a desempenhar ECCO Portugal. Esta adesão significa
bordinado ao tema “Para além do consu- funções de directora de comunicação da para a ipsis «a possibilidade de esten-
mo”) não só em território nacional, disponibi- Unimagem. Segundo a notícia publicada der a sua actividade a outros merca-
lizando para isso equipamentos seus em pelo semanário Meios & Publicidade a dos e a participação e colaboração na
diversas cidades, como Madrid, Barcelona agência reforçou ainda a sua equipa com gestão de contas internacionais», con-
ou Paris. A directora e programadora do a entrada de um novo account, João Paulo forme adiantam os seus responsáveis.
vento, Guta Moura Guedes, afirmou que é Aires. Margarida Guimarães foi também di- Michelin, Regus, UPS Worldwide Lo-
«uma honra» contar com este patrociandor, rectora de informação da rádio comercial gistics, BroadVision, Mitsubishi e To-
«dada a ligação desta empresa ao design», e colaboradora do Semanário Económico. shiba são algumas das marcas traba-
salientando que é também «mais uma Quanto a João Paulo Aires, também esteve lhadas por empresas da ECCO. Esta
prova da dinâmica estratégica desta ligado a diversos projectos de imprensa, associação foi fundada em 1989 e per-
empresa, uma vez que a associação da como a já referida Valor, TMT, Comunica- mite a troca de experiências, ao nível
cultura à economia é apanágio daqueles ções/APDC, Todo-o-Terreno e Automotor. técnico e de aprenizagem.
que compreendem verdadeiramente o
mundo contemporâneo». O director-geral Cais lança site
da JCDecaux Portugal, Ruy Vieira, con-
sidera que «é uma excelente oportunidade A Associação Cais lançou um site ofi- mo”. Recentemente a CAIS lançou a
para divulgar o papel da empresa no mun- cial, onde é possível consultar infor- iniciativa Ponte Digital, que assenta
do do design e para aproximá-la ainda mais mações sobre o projecto, bem como na execução de Oficinas de Internet
de potenciais parceiros». sobre as actividades desenvolvidas. em diversas Instituições de Solidarie-
O site – que foi desenvolvido pela O- dade Social, com o objectivo de levar
Mastercard gilvyInteractive – permite também as novas tecnologias até aos mais
no Euro 2004 aceder ao arquivo da revista Cais, um desfavorecidos, reforçando a mais-
A Mastercard juntou-se à lista de patroci- dos principais “motores” desta Asso- valia que elas representam numa in-
nadores do Campeonato Europeu de ciação, fundada em 1994. Entre os tegração social e profissional ade-
Futebol 2004. Amarca reforça assim a sua restantes conteúdos há também notí- quada.
notoriedade, posicionado-se como o maior cias, informação
patrocinador mundial no sector do Futebol. sobre a Cais e os
Além de promoções especiais associadas seus objectivos e a
à venda de bilhetes, a Mastercard pretende possibilidade de
lançar 300 mil cartões com a imagem do conhecer os ven-
Euro 2004. A Mastercard integra a lista de dedores da publi-
patrocinadores globais juntamente com cação, bem como
Canon, Carlsberg, Coca-Cola, Hyundai, outras iniciativas
JVC, NTT e McDonald’s. Entretanto, inerentes ao pro-
Eusébio tornou-se mais uma das persona- jecto, como o 1º
lidades do desporto que irá dar a cara em Concurso de Foto-
iniciativas promovidas pela Mastercard, grafia, subordina-
juntando-se a Pelé, que já se encontra as- do ao tema “Sen-
sociado a esta marca desde 1991. sualidade e Erotis-

36 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Dezena e meia de entidades reunidas no novo projecto

Dinâmicas de Markeing e Comunicação


Lisboa quer mais turismo
Posicionar-se como um destino diversificado e aumentar as verbas provenientes do Turismo são os
objectivos da nova estratégia de Comunicação recentemente apresentada
Por João Morales
pretende valorizar a complementaridade de atenção aos eventos de marketing a de-
Plano de Marketing e Comunica-
O ção da Área Promocional de Lis-
boa, que tem como duração de acção
produtos (turismo de negócios, City Breaks,
Golfe, Turismo Religioso, Sol e Mar, Touring,
Turismo Activo, e Cruzeiros), assentando a
senvolver em Espanha, nomeadamen-
te, nas regiões da Estremadura, Andalu-
zia e Galiza e por acções de promoção
o período entre 2003 e 2006, visa au- sua comunicação em dois vectores essen- junto dos cerca de 3000 mil jornalistas
mentar as verbas turísticas em 50% ciais: por um lado, essa variedade de oferta, que são esperados em Portugal devido
nos próximos três anos. Sob a assina- por outro, a rapidez e facilidade da acesso a ao Euro 2004.
tura “Lisboa tanto, tão perto” este pro- toda ela a partir de qualquer
jecto – que foi apresentado pela Asso- ponto da área promocional.
ciação de Turismo de Lisboa - preten- A marca “Lisboa” foi adopta-
de alargar os trabalhos de promoção a da como “umbrella” para to-
novos mercados, aumentando tam- da a área promocional, onde
bém a capacidade oferta de eventos, estão integradas “Estoril/Sin-
com especial incidência na oferta turís- tra”, “Leiria/Fátima”, “Costa
tica (foi também anunciada a intenção Azul”, “Oeste”, “Ribatejo” e
de aumentar a capacidade de quartos “Templários”.
de hotelaria em 30%). Outros pontos funda-
Através de um entendimento entre as 15 mentais da estratégia de

D.Moska
entidades envolvidas (Câmaras Municipais Comunicação adoptada
e Juntas e Regiões de Turismo) este plano passam por uma especial

Principal marca da Sociedade Central de Cervejas muda de imagem


Sagres engarrafada
de fresco
Mudam-se os tempos, mudam-se as embalagens. Pelo menos a
Sagres assim pensou e adoptou uma nova garrafa
Por João Morales
tar um público mais jovem e resulta de
Sociedade Central de Cervejas mu- estudos efectuados pela empresa, se-
A dou o formato da sua marca princi-
pal, a Sagres. A nova garrafa, mais alta e
gundo os quais a imagem da marca está
envelhecida, o que dificulta uma identifi-
esguia, é mais um passo na estratégia de cação por parte dos novos consumido-
remodelação de imagem que a empresa res. A aposta na nova garrafa implica al-
está levar a cabo. O novo logótipo, ape- terações ao nível de toda a comunicação,
sar de manter os elementos tradicionais incluindo a renovação dos materiais nos
(as cores vermelho e branco e o escudo) pontos de venda e da imagem da própria
apresenta-os de um modo mais estiliza- frota de distribuição.
do, com a intenção de traduzir moderni- Esta mudança é uma forte aposta na
dade e dinamismo. O capital de influência estratégia de comunicação da Sociedade
conquistado pela marca é também um Central de Cervejas, uma vez que a em-
dos aspectos realçados, através da inclu- balagem retornável da Sagres (vulgar-
são da frase “Excelência Comprovada”, mente conhecida como “com depósito”)
uma referência aos prémios já conquista- representa 46% das vendas totais da
Sonja Cintra

dos por esta cerveja. marca, presente no mercado português


Esta mudança tem como objectivo cap- desde 1955.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 37


Prémios e Eventos Prémios Meios & Publicidade entregues em clima de festa

Vencedores!
José Eduardo Moniz, Pedro Bidarra e Miguel Setas foram as três
personalidades distinguidas na primeira edição dos Prémios M&P.
Mas há mais...

Por Cátia Candeias


dios, a vitória foi para a RFM, do gru- Strat) e Personalidade Publicidade do
remiar as empresas e personalida- po Renascença, que levou para casa Ano, entregue ao vice-presidente da
P des que se destacaram em 2002
nos sectores de Media, Publicidade e
o prémio de Rádio do Ano, depois de
o disputar com a Mega FM e com a
agência, Pedro Bidarra. Ainda no sector
da Publicidade, a Tangerina Azul é a
Marketing em 2002, foi o principal ob- Antena 3. Produtora do Ano, um lugar conquistado
jectivo da primeira edição dos Prémios A SIC Notícias foi escolhida como em confronto com Montaini Films e Mi-
Meios & Publicidade (uma iniciativa do Televisão do Ano, estando também nistério dos Filmes. O prémio de Agên-
semanário homónimo) cuja divulgação nomeadas a TVI e RTP2. O director- cia de Meios do Ano foi atribuído à Me-
e entrega decorreu a 10 de Abril, no geral da TVI, José Eduardo Moniz foi dia Planning, estando também nomea-
Pavilhão do Futuro. Recorde-se que a Personalidade Media do Ano, acom- das a Mediaedge:cia e Initiative Media.
um júri, composto por 15 elementos panhado nesta nomeação por Fran- Finalmente, no marketing, a Vodafone
nomeou três candidatos em cada cate- cisco Penim (responsável pelos ca- foi consagrada Anunciante do Ano, con-
goria, mas os vencedores foram esco- nais SIC Radical, SIC Gold e SIC Mu- correndo contra Lactogal e Galp Ener-
lhidos pelos assinantes da M&P. lher) e Paulo Fernandes (presidente gia, enquanto que a Yorn recebeu o Pré-
Nos media, o Expresso foi dupla- da Cofina). mio Originalidade pelo trabalho Insóli-
mente premiado,com os prémios de tos. O prémio Personalidade Marketing
Jornal Semanal Generalista e Publi- | Publicidade e Marketing | do Ano foi atribuída a Miguel Setas
cação do Ano. O Público.pt foi o site Na publicidade, a BBDO conquistou (Galp Energia), tendo sido disputado
escolhido, contra o Negócios.pt e o dois galardões: Agência de Publicidade com Rita Torres Baptista (BES) e Miguel
Diário Digital, enquanto que nas rá- do Ano (contra a J.Walter Thompson e a Figueiredo (Clix).

5ª edição do Festival dos Criativos portugueses

Publicidade em festa dois troféus Ouro, para as campanhas


da Prevenção Rodoviária Portuguesa, e
“Sofá” feita para a Optimus. Na catego-
A Bates venceu o Grande Prémio do Festival e a BBDO sagrou-se ria de Jovens Criativos, o trabalho de
imprensa “Disco Tea”, para a marca Lip-
pelo segundo ano consecutivo a Melhor Agência. Manuel Peres ton Ice Tea e apresentado por José
recebeu o Prémio Carreira Vieira, destacou-se das 49 peças a con-
curso e sagrou-se vencedor.
Por Cátia Candeias
ners com menos idade. E não se trata Distribuídas pelas categorias de
5º Edição do Festival do Clube de mais de contar ou de agir sobre ho-
A Criativos de Portugal, que decor-
reu entre 8 e 11 de Abril, entregou este
mens designers de outras civilizações,
de outras mitologias dos negócios des-
Media Electrónica, Imprensa/Outdoor,
Marketing Directo e Design, estiveram
558 peças, em avaliação. Diogo Ana-
ano um Grande Prémio, seis troféus de ta profissão, que nós sabemos fazer hory, director criativo da McCann-
ouro, 24 de prata, 28 de bronze e ain- melhor, em nossa casa». Erickson, coordenou os trabalhos dos
da duas menções honrosas. O Prémio jurados da competição na publicidade
carreira foi este ano para Manuel Pe- | Os premiados | e Luís Segadães, director-geral da CP
res que agradeceu o facto deste ter si- A agência Bates levou para casa o Proximity, foi o responsável no sector
do atribuído «a um designer», acres- Grande Prémio, com o outdoor “Afegã”, de marketing directo, enquanto que no
centando: «Este prémio vai lembrar- criado por esta agência para a National design, a avaliação foi liderada por
me sempre certos caminhos silencio- Geographic. Tal como no ano passado, Pedro Albuquerque, da Albuquerque
sos do nosso trabalho, sabe Deus por- também a BBDO, agência de João Design. Todos os trabalhos finalistas e
quê, feito por outras nações, numa Wengorovius, foi considerada a Melhor vencedores do festival do CCP
perspectiva dramática, que ameça as Agência, uma distinção reforçada pelos integrarão o 5º Anuário do Clube de
nossa empresas e os nossos desig- 14 troféus aqui conquistados, incluindo Criativos.

38 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Prémio de Fotojornalismo acolhe quase três mil imagens

Prémios e Eventos
O prestígio na fotografia ga dos prémios realizou-se no Centro
Cultural de Belém.
O Grande Prémio Visão-Sagres Preta
Várias fotos sobre o acidente ecológico na Galiza marcaram o 3º (marca patrocinadora do concurso) foi
conquistado por Paulo Freitas, do jornal
Prémio Visão Fotojornalismo. Paulo Freitas foi o grande vencedor O Comércio do Porto. Uma imagem re-
lativa ao acidente do Prestige (precisa-
Por João Morales
gal. Um evento que já conquistou o mente intitulada Tragédia do Prestige –
elo terceiro ano consecutivo o Pré- seu lugar no jornalismo português e
P mio Visão Fotojornalismo distinguiu
os melhores trabalhos de fotógrafos
em que estiveram a concurso 2971
imagens, captadas por 154 fotógrafos.
Os Voluntários limpam as praias carre-
gadas de crude) foi a responsável pela
escolha do Júri, presidido pelo ex-editor
portugueses, ou residentes em Portu- Tal como nos anos anteriores a entre- do The Independent (Colin Jacobson),
e que contou também com Sylvie
Rebbot (editora da revista Geo),
Christiane Gehner (editora da Der
Spiegel) e Jane Evelyn (fotógrafa
freelancer). É interessante realçar
a vasta presença de fotografias re-
lativas a este desastre ecológico,
muitas delas, inclusivé, premia-
das.
As restantes categorias ganhas
por João Carvalho Pina, freelancer
(Notícias); Luís Costa, freelancer
(Retrato); Gonçalo Rosa da Silva,
Visão (Vida Quotidiana); Leonel
de Castro, Jornal de Notícias (Na-
tureza); Pedro Correia, Jornal de
Notícias (Desporto) e Luís Barra,
Visão (Reportagem). O júri optou
por não entregar distinguir vence-
dor para a categoria Espetáculo,
tendo sido entregues menções
Paulo Freitas

honrosas a Rui Xavier (Kamera-


photo) e António Pedro Ferreira
(Expresso).

XIII edição do Hit Parade

Spots de rádio foram a votos meiro, Declaração, criado para as Páginas


Amarelas (com locução de Filipe Duarte,
Isabel Abreu e Diogo Infante) e o segundo
Hit Parade de 2003 premeiam BBDO, J. Walter Thompson e para a Vodafone (com as vozes de Pedro
TBWA/EPG. Os grandes anunciantes estiveram em destaque Laginha e Ana Lamy). A equipa criativa,
em ambos os casos, foi constituída por
João Espírito Santo, Rui Soares e Pedro
s Hit Parade são um concurso que mercial Nissan, contou com a criatividade Magalhães e a produtora a Índigo. As Agên-
O premeia a criatividade publicitária
veiculada nas rádios do grupo Renascen-
de Diogo Anahory, José Bontempo e Nu-
no Jerónimo. A produção de som é da
cias de Meios foram, respectivamente,
Tempo Media e Initiative Media. Quanto ao
ça (Rádio Renascença, Mega FM e Analógico, os locutores são Jaime Fer- Bronze, foi entregue à TBWA, pelo spot
RFM). A organização é da Intervoz — em- nandes, Nuno Lopes e Jorge Dias, e a Distraída, da TMN. Os criativos foram
presa pertencente ao grupo e que explora Agência de Meios é a Tempo Media. De Leandro Alvarez e João Ribeiro; produção
a publicidade nestas rádios — e este ano referir, aliás, o facto de todos os trabalhos da Páteo das Cantigas; a Agência de Meios
a entrega dos prémios decorreu na disco- premiados terem sido concebidos para foi a Espaço OMD e os locutores, Gonçalo
teca O2. A distinção máxima, o prémio grandes anunciantes. Waddington, Fátima Belo e José Carlos
Platina, foi entregue ao spot Kremlin. Con- Quanto aos prémios Ouro e Prata, foram Malato.
cebido pela BBDO para o Entreposto Co- ambos para a J. Walter Thompson. O pri- J.M.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 39


Importância e particularidades da Comunicação nas Grandes superfícies

Comunicar em grande
Os grandes espaços comerciais trouxeram consigo novas abordagens à Comunicação. Um campo em que
a comunicação institucional tem trilhado novos e interessantes caminhos
Por Martine Pedro*

s grandes superfícies multiplicaram-


A se em Portugal a partir dos anos 80,
preenchendo necssidades criadas pelos
novos comportamentos de abasteci-
mento e consumo. Aos poucos, foram
nascendo novas fórmulas de espaços
comerciais, diversificando as tipologias,
as dimensões, e o mix de oferta. A evo-
lução dos formatos comerciais teve
sempre em consideração o mercado-al-
vo a atingir, adaptando os conceitos ao
conhecimento do consumidor, aperfei-
çoando os projectos para acompanhar a
procura.
Essas condições foram essenciais para
edificar uma imagem identificadora, desen-
volvendo um leque de combinações que
procurou juntar num único espaço, comér-
cios e serviços complementares. Os concei-
tos iniciais de supermercado, hipermercado
e centros comerciais, foram complementa-
dos mais recentemente com outras “filoso-
fias” como os “retail park”, os “outlets”, os
“department store” e, futuramente, os “lei-
sure park”.
Cada um destes conceitos resulta do
cruzamento de diversas variáveis, como a
localização da zona que vão servir; os res-
pectivos acessos e as características da
clientela-alvo. Desses inputs, vão surgir a
estruturação do mix com a sua diversidade
e especialização, a notoriedade das mar-
cas presentes, e sobretudo, a proporção
entre o comércio e o lazer.
A preocupação em ter um mix constan-
temente adaptado aos clientes deve ser
uma prioridade, para garantir ao espaço
Sonja Cintra

comercial a sua atractividade e actualida-


de, sobretudo em áreas de grande con-
centração comercial, como acontece nas
zonas urbanas com forte densidade po-
pulacional. | Uma questão de identidade | mento reivindicado pelo espaço onde estão
A captação de novas insígnias, a aten- Nas grandes superfícies, a comunicação de presentes.
ção especial a dar ao espaço em termos produtos e a comunicação institucional são A empresa que está intimamente ligada
de comodidade, segurança, decoração, geralmente complementares. A comunica- aos produtos ou marcas presentes no seu
e animação, devem sobressair e princi- ção dos produtos nas grandes superfícies espaço, adquire pela importância da sua co-
palmente devem ser correctamente ou das marcas presentes num centro co- municação, consciente e sistemática, uma
comunicadas. mercial confirmam e reforçam o posiciona- identidade. E é esta a palavra-chave quan-

40 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Comunicação Institucional
do falamos da importância da comunica- tuitas e a organização de concursos nos lectividade onde está inserido, tem obriga-
ção das grandes superfícies. O cliente vai centros comerciais. ção de sensibilizar os cidadãos para essas
criar uma imagem, resultante de todas as A comunicação das acções promocio- realidades e tem um papel importante na
comunicações a que esteve exposto. nais é a condição fundamental para o seu informação que pode divulgar.
É nessa altura que acontece o reconhe- sucesso. Apresenta ainda outras vanta- O Cascais Shopping, por exemplo, de-
cimento da marca, ou seja, quando um po- gens para a gestora do centro e para o fa- fende causas ligadas à ecologia e defesa
tencial consumidor tem a capacidade de se bricante: pode ser contabilizada e algumas do ambiente. Tem uma função informativa e
lembrar da ligação da marca com uma de- acções (os concursos, por exemplo) permi- educadora, persuadindo as pessoas a res-
terminada categoria de produto ou de ca- tem a recolha de dados estatísticos sobre a peitar determinadas regras. Outros centros
racterísticas. clientela e a preparação de acções de mai- apoiam campanhas de solidariedade social
Assim nasce a identidade própria da ling directo. a favor de ONG`s envolvidas em missões
Grande Superfície que, acompanhada de O patrocínio e o mecenato tem vindo a humanitárias (como foi o caso do “Leilão
símbolos, mensagem ou música conquista assumir um lugar cada vez mais importan- por Timor” no Atrium Saldanha) ou associ-
um espaço na memória do consumidor te na estratégia de comunicação dos espa- am-se a causas relacionadas com a saúde
através da sua repetição e continuidade. ços comerciais; são meios para a empresa (como sejam os grupos de luta contra o
Mas, para isso não basta que exista co- atingir os seus objectivos de comunicação cancro ou a sida, a recolha de sangue ou a
municação, é preciso criar condições e res- e uma “ferramenta” para transmitir uma prevenção contra a osteoporose).
peitar alguns princípios para que ela seja imagem e mostrar os valores da empresa.
adequada: tem que ser simples e de fácil São sempre reforçados com outras | Atenção à evolução |
compreensão, ser redun- A preocupação constante
dante, ter coerência e, muito das grandes superfícies em
importante, ser verdadeira. melhorar a comodidade
Os meios de comunica- dos acessos e parquea-
ção são numerosos e va- mento, a segurança e o
riam consoante o tipo de es- conforto dos seus espaços,
paço comercial: os super- também contribui para o
mercados e hipermercados sucesso destas unidades
apostam mais na Publicida- comerciais em Portugal. O
de nos Locais de Venda público elegeu os centro
(PLV), no Merchandising; as comerciais como locais de
grandes distribuidoras criam passeio e não só com o ob-
campanhas com temas re- jectivo de compra. A conse-
lacionados, por exemplo, quência desta reacção foi a

Sonja Cintra
com a época do ano (a Pás- evolução verificada na ar-
coa e os chocolates, o Natal quitectura dos centros co-
e os brinquedos, o mês de merciais, que se tornaram
Janeiro e o textíl-lar), com mais elaborados, dando
temas populares (feira de vinhos ou de quei- acções tais como a publicidade institucio- prioridade à luz natural, reforçando a com-
jos e enchidos) ou ainda com temas exóticos nal e as relações públicas. Os objectivos ponente da decoração e a presença de
(como a Quinzena dos Países do Oriente). são o reforço da notoriedade e da imagem plantas naturais.
institucional da marca, bem como do seu As animações multiplicam-se: de even-
| Estratégias várias | posicionamento, credibilização e capacida- tos culturais a exposições, de música ao vi-
Há cerca de 20 anos, as acções promoção de de transmissão de confiança. É neces- vo a feiras de velharias aos fins de sema-
acompanharam os primeiros passos das sário referir que estas são acções cujos re- na, sem esquecer todas as animações e
grandes superfícies em Portugal. Primeiro, sultados são alcançados a médio e longo passatempos projectados para as crianças
para responder às solicitações dos fabricantes prazo. A associação repetida e constante a (basta recordar as instalações natalícias
de bens de grande consumo que tinham ne- valores importantes como a cultura, as ar- presentes na maioria destes espaços).
cessidade de compreender os comportamen- tes, a ecologia ou os desportos será neces- No entanto, sem uma comunicação dinâ-
tos de compra, e mais recentemente, para re- sária para ganhar a confiança do publico- mica e persistente, todo o investimento e
forçar a comunicação do espaço comercial alvo e conquistar uma imagem de empresa esforço atrás referidos, não terão qualquer
que assim mostra o seu dinamismo e a aten- dedicada e defensora da cidadania. sucesso a curto prazo estando seguramen-
ção dada a sua clientela, havendo sempre no- te condenados ao fracasso. Por isso, a ava-
vos motivos para voltar. | A dimensão social | liação da eficácia da comunicação adopta-
As técnicas mais utilizadas são as redu- Muitas das acções de comunicação de da tem que ser constante, sendo que a con-
ções de preços e a oferta de mais quanti- causas sociais têm por objectivo fornecer sequência mais visível é materializada na
dade de produto, os vales de desconto e as informações aos cidadãos e elevar o seu adesão do público e na sua fidelidade. Há
provas de degustação - nos hipermercados nível de consciência. Um espaço comercial sempre mais e melhor fazer.
- a distribuição de brindes ou amostras gra- representa e defende causas sociais da co- *Directora de Marketing do Atrium Saldanha

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 41


Comunicação para crianças é cada vez mais aguerrida

Sonja Cintra
Pequenos consumidores,
grandes decisores
As crianças são um dos alvos do marketing, mesmo quando estamos falar de produtos que não foram
originalmente criados para elas. Ainda pequenos, acabam por ser grandes consumidores

Por João Morales


casa: A peça de fiambre apresenta-se Este é um exemplo concreto de como pa-
urante as compras que efectuavam cortada na forma rigorosa de um ursi-
D no hipermercado foram surpreendi-
dos pelo apelo da filha. Sara insistia
nho – com olhos e tudo – e para uma
criança um boneco em forma de urso
ra os publicitários e responsáveis pelo mar-
keting das marcas as crianças são um pú-
blico a ter em especial atenção, uma vez
com os pais para que levassem uma não é somente comida, mas um apelo que, apesar de não possuírem poder de
peça de fiambre. E não adiantava eles à fantasia. Sara tinha apenas cinco compra, os seus ímpetos e capacidade de
explicarem que já tinham fiambre em anos mas já fazia parte de um target. convencerem os seus “patrocinadores” são

42 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Comunicação em Análise
unanimemente reconhecidos, enquanto rar que cada série de animação seja segui- da Miluvit) que mandava os mais pequeni-
factores potenciadores de um retorno a ter da de CD, VHS, DVD, bonecos – em tama- nos para a cama? Aliás, em vários países,
em conta. Estas características, aliadas à nhos e materiais vários – revistas, e até os marcas como a Microsoft, Colgate ou
fertilidade do seu imaginário, torna-as num utensílios do herói em questão (o já referi- Kellog’s integram ou promovem programas
“alvo” apetecível. Um estudo elaborado pe- do Harry Potter e a sua varinha mágica, ou didácticos, onde são as potencialidades
lo grupo Viacom, proprietário do canal de o Universo Pokemon são alguns dos mais das novas tecnologias, as vantagens de
televisão infantil Nickleodeon, conclui que recentes exemplos). uma alimentação adequada, ou os cuida-
mais de 40% das compras dos pais são in- dos a ter para uma higiene oral saudável.
fluenciadas pelos filhos e que 65% deles | Lojas para toda a família | Esta linha de comunicação potencia a
têm em atenção as opiniões dos mais pe- Atente-se agora no caso da Walt Disney. notoriedade da marca (o chamado
quenos ao adquirirem bens e serviços para Em 2002 a marca anunciou a sua intenção “branding”) em duas vertentes: ao
casa – ainda que não se trate de produtos de dividir a sua rede Walt Disney Stores mesmo tempo que é transmitida uma
infantis. em dois registos diferentes: Por um lado, mensagem de preocupação com causas
as Disney Play, tendo como target as crian- que estão relacionadas com os mais
| Brindes e outras invenções | ças e onde seria possível encontrar brin- novos, vai-se incutindo nos futuros con-
Quando nos lembramos das lojas da Mc- quedos, as roupas das personagens ou sumidores uma noção quase subliminar
Donald’s e da importância que os peque- outros «objectos relacionados com as pro- em que a própria marca e o produto
nos “parques de diversão” bem como acabam por confundir-se.
os inúmeros brindes desempenharam E a imaginação – ou não
na sua sedimentação face aos hábi- Trata-se de criar mais uma estivéssemos a falar de crianças –
tos alimentares (e, mais uma vez, não tem limites: A Haier lançou
também dos adultos, porque uma cri- fonte de rendimentos. É fácil recentemente um aparelho denomi-
ança não vai almoçar sozinha, e nado Rabbit TV. Trata-se de um tele-
quem a acompanha acaba por se
de imaginar a quem possa visor, destinado a crianças entre os 4
“render”) compreendemos bem o po- interessar um edredon com a e os 6 anos, mas com uma pequena
der desta estratégia. Ou então o particularidade: o aparelho só se liga,
exemplo mais recente da Royal imagem do Pato Donald depois da criança resolver um prob-
Dutch/Shell Group, cujos postos de lema que lhe é proposto. Só respon-
gasolina lançaram campanhas de dendo acertadamente é que a cri-
oferta de Lego na compra de gasolina duções do estúdio». Este último ítem, ança pode assistir à televisão.
(exemplo actualmente seguido no nosso transcrito da notícia veiculada à época pelo No final desta pequena viagem a noção
país pela Skip, fazendo lembrar uma mí- site Blue Blus, mais parece um eufemismo que fica é que as crianças, embora não
tica colecção de bonequinhos de ani- para o já referido merchandising... sejam os principais pagadores de muitos
mais, distribuída nas embalagens do Coexistindo com estas previa-se o lan- dos bens e serviços com que diariamente
Azur há mais de 10 anos). E quem não çamento das lojas Disney Kids at Home, somos confrontados, têm uma palavra a
se lembra das famosas chamadas de va- supostamente destinadas aos pais, e onde dizer. E essa palavra pode fazer a dife-
lor acrescentado (“telefona já, e podes seria possível adquirir «roupas, toalhas, rença na escolha de um adulto. Razão
ganhar...”)? lençóis e até mobiliário infantil», dizia a mais do que suficiente para que a comuni-
Uma outra vertente explorada pelas mesma notícia. Claro que os mais irónicos cação concebida para este target “de pal-
marcas para assinalar o seu posiciona- poderiam realçar que não consta que a en- mo e meio” desempenhe um papel cada
mento junto dos mais novos é o campo dos trada dos mais jovens ficasse vedada a ne- vez mais importante na estratégia que as
patrocínios e associações entre marcas. O nhum destes estabelecimentos. Na práti- marcas continuamente redesenham.
patrocínio da McDonald’s à programação ca, trata-se de criar mais uma fonte de ren- E mesmo para terminar: num pólo inver-
infantil do Disney Channel nos EUA – onde dimentos, criando produtos que, pela sua so, deparamo-nos com mais um exemplo
eram inclusive incluídos pequenos spots natureza e custos implicados, seriam direc- da sagacidade e olhar técnico que alguns
de 15 segundos no início e final das séries cionados aos pais. Mas é fácil de imaginar marketeers continuam a demonstrar. Uma
animadas – ou a campanha de publicidade a quem possa interessar um edredon do empresa dinamarquesa de publicidade
da Coca-Cola que recorreu à imagem de pato Donald... outdoor, a Nytmedie, lançou-se numa nova
Harry Potter (uma personagem que, aliás, aposta: a publicidade em carrinhos para
já foi alvo de elogios por parte do Vaticano, | Notoriedade e imaginação | bebé. E já conseguiu contratos com uma
com o Conselho Pontíficio para a Cultura a Outra estratégia adoptada por algumas marca sueca de moda (Henne & Mauritz),
salientar, que «as histórias de J. K. Rowling marcas é a associação a um tema ou a um canal de televisão dinamarquês e um
ajudam a entender a diferença entre o Bem uma causa, como o recente projecto Mis- grupo financeiro suíço (Nordea Bank). Por
e o Mal») demonstram como é sempre são Segurança, protagonizado pelas mas- isso, da próxima vez que lhe perguntarem
possível fazer mais e melhor. cotes da Brisa, Allianz e Nestlé. Mas este é qual é a marca do seu filho, pode não ser
Paralelamente, existe toda uma indústria também um caminho que tem preceden- apenas uma forma engraçada de ques-
de merchandising, encarregue de assegu- tes: quem não recorda o Vitinho (mascote tionar se é menino ou menina...

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 43


Reestruturação da Lusa passa por remodelações de carácter tecnológico

A casa das notícias


Optimista. Esta é a postura de Luís Delgado, o homem que liderou a transformação da Lusa e que está
confiante nas decisões que tomou. Saiba os motivos e conheça os projectos na manga
Por João Morales
chefes de fim-de-semana...hoje as pessoas de 296 quadros para 253 e contamos com 91
Fotos Sonja Cintra
sabem quem são os editores, os adjuntos, correspondentes, espalhados pelo mundo. Do
oncluída a primeira fase de reestrutu- a direcção de informação e, desse ponto de ponto de vista da capacidade informativa da
C ração da Lusa é altura de fazer um bal-
anço e medir horizontes. Luís Delgado,
vista, o sistema está a funcionar muito bem.
Outra ideia com que fiquei quando cheguei
Lusa nada foi afectado, porque foi ponderado
de onde saíam as pessoas, até pelo próprio
administrador executivo da empresa, traça à Lusa foi a de que havia muitos grupos, o contrato-programa que mantemos com o
os objectivos e toma o peso às suas que é habitual em órgãos de informação Estado e que define certos locais onde a
próprias decisões. Os próximos passos têm que têm muitos anos. A minha ideia foi Lusa tem que estar presente, por imperativo
como destino a remodelação do site e a cri- conjugar, misturar todas as pessoas e não e estratégia do Estado português. E o
ação de novas receitas. alienar ninguém, por isso não foi ninguém Estado paga para isso. Há delegações em
Pode considerar-se que a remode- “deitado fora”, independentemente de per- que saíram uma ou duas pessoas mas isso
lação da Lusa está completa? tencer a este ou àquele grupo. não afectou a produção informativa desses
O plano de reestruturação está todo ele apli- Porquê a extinção da Direcção de locais ou da sede. E não foi eliminada
cado. Quando chegámos, a Lusa tinha um Relações Internacionais? nenhuma delegação. Em alguns casos
prejuízo acima dos 3 milhões de euros e foi Não era necessária. Aliás só tinha uma reduzi o número de
aplicada uma série de medidas de cortes de pessoa, um antigo presidente da Lusa jornalistas, como
serviços externos em tudo o que poderia ser – por quem, aliás, tenho a maior estima.
considerado despesas marginais, ou não Mas, do ponto de vista funcional,
essenciais, em todas as delegações, todos também não havia a necessidade de
os lugares onde a Lusa está presente. Apli- existir essa direcção. Criei o cargo de
cámos um programa de rescisão amigável a director-coordenador e passei as re-
que aderiram 43 pessoas com uma média de lações internacionais para as suas
casa de 24 anos, o que significa que estas competências. No fundo, é a
pessoas já tinham alguma idade. manutenção da nossa parceria com
Que benefícios operacionais propor- a EPA, com outras agências do
cionou a diminuição de 15 para seis norte de África e de países de ex-
editorias? pressão portuguesa, incluindo o
Teve um grande benefício funcional. Significa Brasil, e isso pode ser assegurado
que toda estrutura de comando da Lusa desta forma.
passou a ser mais funcional, mais respons- Qual foi o peso das resci-
abilizável – do ponto de vista da direcção de sões na redacção?
informação – e rapidamente as pessoas Foram 25 pessoas, mas de
perceberam quem está no comando das op- todos os lados, não só de Lis-
erações e pode ser responsabilizado por boa. Penso que há pessoas
qualquer falha. muito boas, mas não há nin-
Então, esta medida não teve a ver guém insubstituível. Contudo,
com custos, mas sim com uma em dois ou três casos tive o
estratégia editorial? cuidado de perguntar-lhes se
Não teve nada ver com custos, mas sim com era mesmo isso que que-
uma ideia que tenho de há muito e que tenho riam. Mas mantiveram sua
aplicado nos sítios por onde passei: a es- decisão e eu não pude
trutura deve ser muito clara e muito directa. deixar de aceitar.
Não deve haver chefes em cima de chefes, De que modo esta re-
que se anulam na maioria dos casos. Não modelação afectou a
só responsabilizamos as pessoas direc- vossa rede de corres-
tamente, como os redactores sabem a quem pondentes e dele-
se devem dirigir. Havia na Lusa, e por razões gações no estran-
que não interessa agora falar, chefes da geiro?
manhã, chefes da tarde, chefes de secção, Não afectou. Passámos

44 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


em Genebra ou na delegação do Brasil. Neste guesa e o mercado da Lusa. É um novo fechada, em que os clientes podem entrar,

Entrevista/Luís Delgado
caso, que era a delegação com maior peso
financeiro em Portugal, foi pedido ao
delegado que cortasse um conjunto de
tradutores que traduziam o português para «Há um dilema: formação de
brasileiro e chegámos à conclusão que não
havia necessidade de manter essa situação. quadros técnicos internos ou
Não eram pessoas da Lusa e os contratos
foram anulados. “Dar a volta” à Lusa era uma
deixar a Lusa na mão de
exigência não só do Estado, como dos ac- empresas externas»
cionistas privados; é bom lembrar que o
Estado tem 50,13%, mas existem vários
outros accionistas, como a Lusomundo, o
Público ou o grupo Balsemão
Quais são as implicações estratégicas
de existir capital privado envolvido?
Implica uma gestão mais rigorosa e desse
ponto de vista é muito interessante porque
a agência Lusa tem que funcionar ver-
dadeiramente como uma empresa “privada”
e também pública; não pode cometer muitos
erros pensando que o Orçamento de Estado
vai cobrir sempre esses erros. Temos um
conselho de administração com sete ele-
mentos, que reúne todos os meses, e dá o
seu parecer sobre o que considera ser o in-
teresse da agência. Por isso é mais
fascinante mas mais rigoroso. negócio, com potenciais clientes perma- desde que comprem o próprio serviço.
Já disse que uma das grandes apostas nentes, entre bancos, correctoras, empresas, Quais são os problemas do site?
da Lusa passará pela informação enfim, todo o mundo da economia, que hoje Tem dificuldades técnicas e o nosso back-
económica e financeira. Essa aposta tem uma capacidade que há dez anos não office tem várias lacunas. Por exemplo, na
acarreta novas necessidades, em ter- tinha. Por isso, as pessoas que vão para as guerra do Iraque, a dada altura, era neces-
mos tecnológicos e de meios humanos? nossas delegações externas vão já com a in- sário mudar algumas coisas do desenho do
Em termos técnicos não implica nada. Está a cumbência de dedicar muita atenção às site e não tínhamos capacidades internas. O
ser feita uma auditoria externa, que ainda não questões da economia, designadamente ao problema é que Lusa nunca criou ca-
foi avaliada, porque há um sistema interno, investimento português e ao investimento pacidades internas, foi acumulando pessoas
o Syrus, que foi aprovado em 1997 e foi desse país em Portugal. Daqui a três meses na direcção técnica, mas sem terem com-
posto em funcionamento regular há dois ou vamos começar a ter efeitos práticos – em petência específica e técnica para programar,
três anos mas tem tido falhas sucessivas termos de receitas – dessa capacidade. para mexer em códigos, para fazer web-
e estamos a avaliar se vale a pena mantê- Um dos grandes investimentos nos design, para manter alguns sistemas e foi
lo, porque foi mal montado de origem, últimos tempos foi o site. Está a sempre recorrendo a outsorcing e serviços
gastou-se muito dinheiro com ele e nós compensar, em termos de receitas? externos. E há um dilema: formação de
temos que ter um sistema que seja al- Não, de todo. O site está mal feito, não com- quadros internos ou, e é isso que eu não
tamente fiável. Não nos serve de nada pensa e vai ser mudado em termos de web- quero, deixar completamente nas mãos de
termos uma grande agência mas não con- design, é muito pobrezinho. Um outro proble- empresas externas aquilo que é o serviço da
seguirmos pôr as notícias cá fora. Do ma, é que nós acabamos por ter dois sites, o Lusa. Há pouco tempo tivemos uma crise
ponto de vista da secção da economia – lusa.pt e o lusa arquivo. Em termos de design, que durou 30 horas... temos que ter uma es-
que tem 14 pessoas - talvez sejam ne- nem sequer são compatíveis, parece que per- trutura interna que faça a manutenção. É
cessárias mais uma ou duas, vamos tencem a empresas diferentes e tudo isso vai talvez a fase mais complicada porque envolve
procurar ter uma das melhores secções ser uniformizado, com o design reformulado muitos contratos, mas é essencial. Com a
de economia que há em Portugal. Por de base. Vamos usar dois ou três exemplos auditoria nas mãos é que vou tomar as de-
outro lado, dedicar-nos à economia na- que, para mim, são fundamentais: aquilo que cisões finais, mas já percebi que devemos
cional; às cotadas, às grandes empresas, é praticado pela EFE, espanhola; a Reu- pôr em causa todo um conjunto de contratos.
à macro economia, às PME, aos resultados ters.com e um outro caso que, até se poderia Além do protocolo com a TMN, há
de bolsa, aos negócios no exterior, às co- pensar que não tivesse tantas capacidades, outros projectos similares?
tações, no fundo, criar um sistema que a Lusa o caso da Angop, a agência angolana, que Estamos a começar os testes com a
não tem – a Reuters Portuguesa tem – e tentar tem um excelente site. Ou seja, um site com Vodafone, utilizando o potencial da internet
o mais rapidamente possível chegar a um duas componentes: uma, aberta, com algu- móvel em todos os sentidos, poder usar a
ponto em que seja disputado o mercado, mas notícias, não muitas, caso contrário o ne- Lusa nos PDA’s [computadores de bolso],
aquilo que é o mercado da Reuters Portu- gócio da Lusa, ficaria em causa, e uma outra, em todos os sistemas que estão em de-

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 45


Entrevista/Luís Delgado
senvolvimento. Há também um conjunto de
contratos relacionados com as sinergias
com a RTP e RDP, como seja a partilha de
instalações e de meios, em sítios onde custa
muito caro estar presente, a nós e a eles.
E temos novos contratos, por exemplo, com
o POSI. A Lusa vai fornecer conteúdos aos
25 portais digitais regionais que vão ser
criados e também para o portal do Governo.
Temos também um importante banco por-
tuguês, coisa que a Lusa nunca teve.
E quanto aos serviços especiais
para os PALOP e para os jornais das
comunidades portuguesas?
Está correr bem. Fornecemos cerca de 260
jornais e rádios das comunidades, um
serviço que consiste em notícias das várias
secções e até das próprias comunidades.
Temos correspondentes, pagos em avença alguma urgência no que diz respeito ao cartões) os resultados já vão ser visíveis.
ou à peça, que nos fornecem informação, texto, porque há material em papel que, Normalmente é costume amortizar-se as
que é enviada para Lisboa e retorna para pelas condições em que está guardado, rescisões amigáveis num prazo que vai entre
esses órgãos das comunidades. Trata-se está a degradar-se. os três e os cinco anos, nós conseguimos
de um serviço em que esses jornais pagam O ano de 2002 terminou com 3,2 em 2,2 e, por isso, 2004 e 2005 deverão ser
um fee muito baixo e o restante é coberto milhões de euros de prejuízo. Para anos absolutamente normais, tendo em
pelo Estado, através do Ministério dos 2003 quais são as perspectivas? conta que nem há uma grande quebra
Negócios Estrangeiros. Quanto aos Ainda vamos ter prejuízo, por duas razões: naquilo que é a prestação de serviços da
PALOP temos até acordos com agências o custo do processo de reestruturação, que Lusa, na execução orçamental de Abril
locais, para auxiliarmos na formação, na ultrapassou os quatro milhões de euros e, crescemos 3%.
montagem de sites, partilha de software... por outro lado, o atraso das prestações do Como é que o jornalista Luís Delga-
A Lusa sempre foi a melhor agência de Estado, que tem um contrato-programa con- do convive com o administrador
português e quer continuar a ser. nosco de cerca de 12 milhões de euros por Luís Delgado ?
E os projectos conjuntos, em articulação ano e, por tradição, atrasava. Embora fosse Tranquilamente, sempre tive esse feitio es-
com os arquivos de outros órgãos? obrigado a pagar trimestralmente, quando quizofrénico. Quando estou a escrever pa-
Temos uma parceria com a GESCO, que eu cheguei cá estavam atrasadas uma ra o Diário de Notícias ou para o Diário Di-
pertence à Impresa, e que tem todo o arquivo prestação, algumas de outros contratos com gital estou a assumir uma parte do meu pa-
dos órgãos desse grupo, mais o DN. Temos a antiga Secretaria de Estado da Comuni- pel e daquilo que são as minhas convic-
também o arquivo da Lusa, que são milhares cação Social, no valor superior a 3 milhões ções. Quando estou no papel de adminis-
de fotos e notícias, e temos o arquivo do de euros, e a primeira prestação de 2003. trador, bom, vê-se até pela composição da
Público. Dessa parceria vai nascer a maior Esta última, por haver uma comissão de direcção de informação. Ao contrário de tu-
base de dados de consulta de arquivos de avaliação que tem que dar um parecer sobre do aquilo que se disse tive o cuidado de
texto e imagem do país. O modelo de negócio esta matéria. Não havendo dinheiro é preciso convidar uma directora de informação que
é simples: a Lusa tem uma percentagem, a pedir aos bancos, pagando juros elevados. pensa rigorosamente o oposto do que eu
Gesco tem outra percentagem e os órgãos São contas correntes com taxas elevadas penso e aceitar todas as indicações que ela
de comunicação envolvidos têm uma terceira de juro. Agora estamos a gerir de forma a me deu, sobre pessoas dentro da Lusa, sem
parte, superior às outras duas, uma vez que passar uma parte substancial das contas cor- me preocupar se eram de Direita ou de
é o espólio deles. O primeiro cliente vai ser rentes a empréstimos a médio e longo prazo Esquerda, de Cima ou de Baixo. Mas
a RTP e o objectivo é que, dentro de dois – que são pagos a cinco anos – e isso baixa sempre com uma convicção: enquanto jor-
ou três meses, isto esteja acessível ao imediatamente os juros. Por outro lado, a nalista percebo bem o objectivo da Lusa –
público em geral, através de um site comum regularização das prestações permite à Lusa factos, factos, factos; não tem que fazer
e do site de arquivo da Lusa. não estar dependente da banca e do finan- opinião – por isso, se as pessoas não forem
A remodelação do site vai coincidir ciamento externo. Vamos chegar ao final de profissionais eu também tenho a capacidade
com o avanço deste projecto. 2003 com um custo operacional (as op- de os tirar imediatamente.
Nem mais. O único problema que estamos erações correntes entre aquilo que a Lusa Ou seja, ao contrário do que escreveu o
a resolver é catalogação. Dos materiais de recebe e o que gasta) com um valor positivo cronista Luís Delgado, não vai ter que
todas as partes envolvidas. acima de um milhão de euros, o que sig- arranjar um clone?
E a digitalização do vosso arquivo? nifica que, com os cortes que fizemos, a Eu tenho já um clone, mas mental, que
Em termos de imagens está comple- saída das pessoas e o rigor que aplicámos escreve de uma forma mas depois age de
tamente digitalizado, mas estamos com em várias coisas (como o plafonamento de outra quando está na administração.

46 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Resultados para 2002 de algumas empresas de media

Resultados 2002
Fazer contas à vida
Numa altura em que muitos relatórios de actividade correspondentes ao “exercício” de 2002 ainda se
encontram por aprovar, já são conhecidas algumas das performances trimestrais para este ano.

Por Paulo Ferreira


60% acima do ano anterior. Este valor situação acontece num período de seis
lguns operadores já disponibilizam
A números respeitantes à actividade
de 2002. Para a SIC - Sociedade Inde-
reflecte um crescimento de vendas e
prestações de serviços de 8% que se
traduzirá num indicador de EBITDA com
anos. Ou seja, a habitual apresentação de
resultados anuais de cinco milhões de eu-
ros, foi contrariada, essencialmente devido
pendente de Comunicação, em termos valores de 16 milhões de euros, ou seja ao novo encargo proveniente do plano de
de Volume de Negócio consolidado, o superior em 39% em relação ao ano ante- reestruturação da empresa. Este plano in-
ano transacto representou 130,3 mi- rior. clui rescisões de contratos e adesões à
lhões de euros, ou seja um pré-reforma.
decréscimo de 9,7% em relação a
2001. Poderemos observar um | Primeiro trimestre |
decréscimo de 10,8% para as
A PT Multimédia apresenta Já neste primeiro trimestre de 2003, a
receitas provenientes de publici- no primeiro trimestre de Impresa – “casa-mãe” da SIC - regis-
dade e 22,4% para o merchandis- tou um aumento de receitas de 7,3%
ing. Verifica-se, no entanto, cres- 2003, pela primeira vez, em relação ao período homólogo de
cimento nas receitas provenientes resultados positivos 2002, essencialmente pelo o aumen-
das actividades da SIC to das vendas de publicações
Internacional e dos canais temáti- (+13,7%), de receitas para os canais
cos, respectivamente de 14,4% e temáticos de TV (+ 15,1%) e recuper-
18,1%. O resultado dos canais ação das receitas provenientes da
temáticos cresceu de 18,3 mi- publicidade (+2,3%).
lhões de euros em 2001 para 21,6 A PT Multimédia apresenta no
mi-lhões de euros no passado ano. primeiro trimestre de 2003, pela
Segundo informação da empresa, primeira vez, resultados positivos.
«em 2002, a SIC, em termos consoli- Este facto traduz-se em 930 mil euros
dados, conseguiu reduzir os seus cus- de resultado após impostos, ao que
tos operacionais em 26,6 milhões de corresponde um indicador de EBIT-
euros, representando uma descida de DA de 27,4 milhões de euros ou seja,
16,6%, com ênfase para a descida um acréscimo de 54,9% em relação
dos custos de programação na SIC ao período homólogo de 2002.
generalista em 26,2%». Com os pro- Recorde-se que a tendência de
gramas de redução de custos levados viragem no desempenho económico
à prática, a empresa terá conseguido da empresa teve início no exercício
atingir um EBITDA positivo de 452 mil de 2002, com a alienação da tota-
euro, não incluindo os custos de lidade do capital da PTM.com, por
reestruturação, quando comparados parte da PT Multimedia à Portugal
com os 11,8 mi-lhões de euros nega- Telecom, realizada no mês de
tivos apurados em 2001. Setembro. A partir desse momento e
alienados os negócios de Portais, ISP
| Cofina e RDP | dial up e respectivo tráfego, a PT Mul-
casadaimagem.com

Quanto à Cofina SGPS, SA, que além timedia passou a gerir uma estrutura
de várias publicações, detinha então de negócios que inclui maioritaria-
participação no capital da TVI (4,6%, mente receitas provenientes da TV
que a Media Capital recentemente por subscrição; de publicidade; da
adquiriu), 2002 teve uma performance área de Vídeo e Vídeo Jogos e tam-
muito semelhante a 2001. Contudo, em bém a Netcabo. Em menor escala a
termos de consolidado para a holding do Quanto à RDP, está previsto que apre- empresa engloba ainda nas suas receitas
grupo para a actividade de media, isto é a sente para 2002 um resultado de explora- as contribuições provenientes das áreas
Investec, SGPS, registou-se em 2002 um ção deficitário de 14 milhões de euros. De estratégicas de Jornais e Revistas,
resultado de 5,5 milhões de euros ou seja notar que esta será a primeira vez que tal Cinemas e Outros.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 47


Tiragens e Circulação - Análise de desempenho para a imprensa

Consolidação...
e algumas surpresas
O estado da nação em 2002 caracterizou-se pela consolidação de posições para os títulos generalistas e
pelas dificuldades sentidas nas áreas desportiva e económica
Por Paulo Ferreira

recessão económica ou simples-


A mente a ameaça que ela representou
em 2002, teve reflexos na imprensa por-
tuguesa. No entanto, apesar de todas as
projecções apontarem para uma situação
problemática, os números referentes às
tiragens e circulação de publicações rev-
elados pela APCT – Associação Portu-
guesa para o Controle da Tiragem e Cir-
culação, não foram tão catastróficos
como se poderia à partida suspeitar.
Numa breve panorâmica sobre a activida-
de, pode desde já referir-se que na impossi-
bilidade de crescimento, o mercado disputou
“taco a taco” o seu público. Segundo os valo-
res apresentados para a Média de Circulação
Total por Edição, o número de publicações

Sonja Cintra
onde se registou subidas é muito semelhante
ao número daquelas onde se verificou um mo-
vimento inverso. Sectorialmente, o desempe-
nho dos títulos assumidos como de informação
geral, pode ser classificado como bom. A imprensa desportiva e a sua congénere dência sem dificuldade.
económica representadas respectivamente Activa, Elle, Cosmopolitan ou Lux Woman:
| Dia a dia | pelos títulos O Jogo e Record (O título A Bola todas atingiram boas performances e conhe-
O ano de 2002 foi bastante proveitoso para não é auditado pela APCT), e pelos títulos ceram o “sabor do crescimento”. Por seu turno
publicações como o Expresso ou a Visão, as- Diário Económico, Semanário Económico, as suas congéneres masculinas depois da
sistindo-se também à ultrapassagem em ter- Jornal de Negócios e Vida Económica, repre- grande receptividade registada no primeiro ano,
mos de tiragem média do Público face ao seu sentam a parte de negócio mais afectada pe- parecem ter iniciado um ciclo de redução de
concorrente natural o Diário de Notícias. Con- lo decréscimo das circulações médias. tiragens. GQ, Men´s Health são a regra e a
tinuando no segmento dos diários, o Jornal recém-rebaptizada Maxmen a excepção, com
de Notícias reafirmou a liderança, atingindo | O mundo em revista | uma subida de 48068 para 51766 exemplares.
os 108.659 exemplares. Uma estratégia de Por seu turno já o segmento de revistas não O segmento das revistas de televisão regis-
vendas bellow the line fortemente apoiada por apresenta um padrão de desempenho unifor- tou também muita agitação, com a liderança a
“brindes de capa” bem como por “colec- me, pelo que, merece uma análise mais pertencer à TV 7 Dias, secundada pela
cionáveis”, contribuiu para que esta liderança atenta. Esta situação verifica-se pelo facto das Telenovelas e uma descida para a TV Guia.
fosse reforçada. Igualmente acompanhado características do próprio produto “revista” Finalmente saliente-se a vitalidade e a ordem
do mesmo espírito ganhador também o diário privilegiarem cada vez mais nichos de mer- de grandeza dos números verificados pelo im-
24 horas mereceu destaque, subindo de cado bem definidos, em detrimento do mer- prensa gratuita, representada por títulos como
32061 (em 2001) para 39505 (em 2002). O cado generalista. Veja-se, por exemplo, os Jornal da Região e Jornal Destak.
produto Star(1) das Publicações Prodiário, títulosAuto Hoje ou Fortunas & Negócios (que,
S.A., (termo utilizado pelo Boston Consulting curiosamente, viria a fechar no primeiro tri- (1) Segundo esta terminologia existem quatro
Group, e que traduz um produto no qual se mestre de 2003), que apesar de se situarem tipologias: Dog (produto dispensável), Question Mark
deve apostar) registou uma subida superior em áreas onde seria normal um decréscimo (a investir com cautela), Cash Cow (a explorar até à
a 20% face ao período homólogo. de vendas, conseguem contrariar essa ten- exaustão) e Star (produto com potencial)

48 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Dados referentes ao período entre Janeiro e Dezembro de 2002

Estatísticas da Comunicação/APCT
Título Jan/Dez 01 Jan/Dez 02 Diferença Título Jan/Set 01 Jan/Set 02 Diferença
100% Jovem 19.468 23.837 4.369 Jornal de Notícias 106.978 108.659 1.681
24 Horas 32.061 39.505 7.444 Jornal do Fundão 18.709 19.906 1.197
A Capital 11.501 8.287 -3.214 Jornal Vale do Tejo 5.957 8.649 2.692
Açoriano Ocidental 4.501 4.182 -319 Linhas & Pontos 34.365 32.843 -1.522
Activa 59.736 79.891 20.155 Logística Moderna 0 3.776 3.776
Ana 100.455 95.937 -4.518 Lux 48.675 46.302 -2.373
Anamnesis 12.950 12.100 -850 Lux Deco 11.979 11.096 -883
Arquitectura & Construção 16.524 14.541 -1.983 Lux Woman 29.299 40.694 11.395
Arquitectura e Vida 9.042 9.227 185 Maria 320.955 309.871 -11.084
Auto Compra e Venda 10.603 10.385 -218 Marketeer 8.207 8.466 259
Auto Hoje 18.979 19.909 930 Máxima 54.332 55.609 1.277
Auto Sport 15.515 13.674 -1.841 Máxima Interiores 49.480 21.521 -27.959
Autofoco 17.333 17.190 -143 Maxmen (Super Maxim) 48.068 51.766 3.698
Autoguia 14.033 13.734 -299 Mega Score 13.814 19.688 5.874
Automagazine 20.121 17.378 -2.743 Meios & Publicidade 1.795 1.480 -315
Automotor 36.429 33.328 -3.101 Men´s Health 50.658 32.233 -18.425
Badaladas 11.250 10.920 -330 MID 0 8.506 8.506
Barbie 17.749 19.281 1.532 Motociclismo 15.683 14.719 -964
Bataton 18.548 16.172 -2.376 Mulher Moderna 48.060 42.926 -5.134
B-Gamer 12.582 17.273 4.691 Mulher Moderna na Cozinha 79.389 86.928 7.539
Bike Magazine 5.587 6.272 685 Multiconsolas 12.726 12.040 -686
Bit 22.929 21750 -1.179 Mundo da Pesca 9.673 13.692 4.019
Blitz 13.222 12.127 -1.095 National Geographic Portugal 79.673 83.938 4.265
Boa Estrela 26.714 31.320 4.606 Negócios & Franchising 16.618 15.750 -868
Boletim da Ordem dos Advogados 19.231 22.096 2.865 Nova Gente 181.832 177.834 -3.998
Boletim de Informações 3.842 3.699 -143 O Comércio do Porto 7.419 6.629 -790
Bravo 66.102 73.589 7.487 O Crime 26.496 24.066 -2.430
Cabovisão Magazine 0 196.883 196.883 O Guia Cuidar do Bebé 14.046 8.974 -5.072
Caça & Cães de Caça 11.391 13.321 1.930 O Guia da Gravidez 14.809 9.177 -5.632
Cães & Companhia 8.025 10.095 2.070 O Independente 26.314 27.571 1.257
Caras 102.972 112.438 9.466 O Jogo 37.391 34.837 -2.554
Caras Decoração 33.702 27.452 -6.250 O Mirante 22.670 22.010 -660
Casa & Jardim 10.108 10.144 36 Ocasião 21.818 22.336 518
Casa Cláudia 29.620 28.417 -1.203 Offarm 4.374 4.345 -29
Casadez 0 25.550 25.550 Os Meus Livros 0 12.683 12.683
Casas de Portugal 14.580 14.701 121 Pais & Filhos 30.000 28.959 -1.041
Certa 216.833 203.500 -13.333 PC Guia 33.178 36.274 3.096
Connect 8.131 8.812 681 PC World/Cérebro 15.322 13.308 -2.014
Correio da Manhã 102.280 101.506 -774 Performance 1.654 12.993 11.339
Cosmopolitan 45.723 57.824 12.101 Play Station 25.767 21.895 -3.872
Cozinha de Sucesso 0 71.061 71.061 Play Station 2 0 20.214 20.214
Crescer 12.534 12.944 410 Portugal Hotel Guide 0 2.986 2.986
Dance Club 0 12.408 12.408 PostGraduate Medicine 10.693 10.800 107
Diário do Minho 7.254 5.583 -1.671 Premiére 23.814 18.906 -4.908
Diário Económico 13.187 10.876 -2.311 Prestige 0 86.738 86.738
Diário de Notícias 61.119 53.747 -7.372 PSM2 0 14.035 14.035
Diário de Notícias da Madeira 16.493 16.393 -100 Público 55.273 58.070 2.797
Dica da Semana 0 975.365 975.365 Quo 26.776 20.766 -6.010
Disney Especial 8.969 11.945 2.976 Ragazza 60.794 59.437 -1.357
DVD Review 0 7.531 7.531 Receitas de Sucesso 0 22.876 22.876
Economia Pura 14.105 11.192 -2.913 Reconquista 11.790 11.939 119
Elle 52.184 55.739 3.555 Record 97.948 92.869 -5.079
Espiral do Tempo 10.344 18.458 8.114 Região de Leiria 14.855 15.428 573
Estrada Fora 6.674 3.062 -3.612 Rock Sound 0 6.155 6.155
Euronotícias 32.087 28.240 -3.847 Rotas & Destinos 19.099 16.867 -2.232
Evasões 24.482 20.390 -4.092 Segredos de Cozinha 37.684 38.739 1.055
Exame 23.511 23.906 395 Selecções do Reader´s Digest 177.402 161.479 -15.923
Exame Informática 31.760 37.062 5.302 Semana Informática 4.420 5.452 1.032
Executive Digest 24.576 20.997 -3.579 Semana Médica 6.530 6.614 84
Expresso 137.406 141.447 4.041 Semanário Económico 17.597 15.218 -2.379
Família Cristã 18.253 17.186 -1.067 SOS Saúde e Estilo de Vida 34.576 34.878 302
Farmácia Saúde 0 125.000 125.000 Super Foto Prática 4.463 4.731 268
Focus 28.012 30.596 2.584 Super Interessante 56.140 52.895 -3.245
Fortunas & Negócios 14.728 16.915 2.187 Super Pop 57.920 55.210 -2.710
Fórum Ambiente 19.314 9.493 -9.821 T3 0 19.456 19.456
Foto Digital 0 4.862 4.862 Tal & Qual 38.452 38.289 -163
GQ 29.998 19.263 -10.735 Telenovelas 147.059 155.006 7.947
Grande Reportagem 19.892 18.590 -1.302 Tempo Livre 184.143 190.183 6.040
Guia 34.060 28.734 -5.326 The Portugal News 0 8.568 8.568
Guia do Automóvel 43.654 41.520 -2.134 Tio Patinhas 0 11.448 11.448
Hipócrates 25.000 22.778 -2.222 Topos & Clássicos 6.688 7.234 546
Hospital Practice 7.000 7.000 0 Tunning & Car Audio 9.575 12.396 2.821
Hotéis & Viagens 0 58.412 58.412 Turbo 29.393 26.426 -2.967
Ideias & Negócios 17.287 20.185 2.898 TV 7 Dias 142.413 156.306 13.893
Jornal da Região – Amadora 62.686 16.506 -46.180 TV Guia 85.358 71.395 -13.963
Jornal da Região – Almada 64.488 41.732 -22.756 TV Mais 78.070 82.813 4.743
Jornal da Região – Braga 0 17.778 17.778 Unibanco 142.483 139.228 -3.255
Jornal da Região – Cascais 67.205 47.470 -19.735 Update 7.490 8.837 1.347
Jornal da Região – Lisboa Norte 75.985 28.684 -47.301 Vaqueiro Saberes & Sabores 21.888 19.778 -2.110
Jornal da Região – Lisboa Sul 0 27.780 27.780 VDI 5.364 5.747 383
Jornal da Região – Matosinhos 45.141 19.470 -25.671 Vida Económica 20.070 18.390 -1.680
Jornal da Região – Oeiras 63.402 43.786 -19.616 VIP 49.969 48.123 -1.846
Jornal da Região – Porto 55.423 34.717 -20.706 Visão 103.036 110.835 7.799
Jornal da Região – Seixal 43.476 25.089 -18.387 Viva Melhor Em Boa Forma 14.578 16.453 1.875
Jornal da Região – Setúbal/Palmela 48.168 25.008 -23.160 Viva!... 116.906 115.420 -1.486
Jornal da Região – Sintra 72.529 44.082 -28.447 Viver Com saúde 28.036 24.403 -3.633
Jornal de Letras, Artes & Ideias 11.115 10.224 -891 Vogue 0 52.199 52.199
Jornal Destak 35.000 49.139 14.139 Volta ao Mundo 30.298 34.811 4.513
Jornal de Negócios 12.070 9.938 -2.132

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 49


Televisão Digital Terrestre: breve sinopse do processo e motivos do adiamento

A tecnologia
do futuro
A TDT em Portugal não é para já. O adiamento foi acompanhado pela
revogação da licença atribuída à PTDT, apesar de João Pereira
Coutinho dever voltar a candidatar-se

Por Ana Cristina Cruz


lendarizado para 1 de Março de 2003.
TDT- Televisão Digital Terrestre foi
A recentemente adiada, em Portugal,
por deliberação da Anacom (Autoridade
Entretanto, a Anacom propôs, no passa-
do dia 13 de Março, ao ministro da Econo-
mia, Carlos Tavares, a revogação da licença
Nacional de Comunicações), após a atri- atribuída ao consórcio PTDP, liderado por
buição da licença a 17 de Agosto de 2001 João Pereira Coutinho, para a Televisão Di-
e cerca de dois anos depois da abertura gital Terrestre (TDT). Na origem desta de-
do concurso, em Abril de 2001. A indis- cisão estiveram, entre outras razões, «as
ponibilidade de tecnologia viável e de dificuldades objectivas da oferta massifica-
caixas descodificadoras foram alguns da dos equipamentos terminais necessá-
dos motivos apresentados para justificar rios ao início da exploração comercial», da
o abandono do projecto. plataforma TDT para Portugal, justificou a
A exploração comercial da TDT foi atribuí- mesma entidade.
da a 17 de Agosto de 2001 ao consórcio No entanto, a proposta da Anacom teve
PTDP, liderado pela empresa SGC, do em- o aval do consórcio liderado por Pereira
presário João Pereira Coutinho, com 20% Coutinho, que havia ganho o concurso. En-
dos capitais distribuídos pela RTP, operador tretanto, tudo indica que a licença será alvo
público de televisão português, e pela esta- de um novo concurso e Pereira Coutinho
ção de televisão privada SIC. A atribuição voltará a candidatar-se. O accionista maiori-
da licença à PTDP afastou a candidatura da tário da PTDT justificou a decisão de anu-
ONI Plataformas, fruto da ligação da empre- lação do concurso com a forte pressão do euros. O mesmo responsável acredita que
sa de telecomunicações e do grupo Media mercado para o arranque da TDT, numa al- a TDT deverá entrar em testes ainda durante
Capital. tura em que a empresa não está em con- este ano, mas as set-top-boxes de multime-
A 22 de Agosto de 2002 a Anacom con- dições para prestar este serviço e não é dia home plataform (MHP) só serão comer-
cedeu à PTDP seis meses de adiamen- cializadas de forma massificada depois
to (até 1 de Março de 2003), menos de 2004.
seis do que lhe foi pedido pela PTDP Apesar da revogação e da «Neste momento, e apesar da PTDT
para o arranque da televisão digital ter- ter iniciado a transmissão digital terres-
restre. Apesar da importância que o Go- extinção do consórcio PTDT, tre, constata-se por razões externas à
verno atribuiu ao início rápido da explo- empresa e ao país, a impossibilidade de
ração da plataforma, foram decisivos
Pereira Coutinho frisou que o lançar comercialmente e de forma mas-
os atrasos na normalização das normas seu grupo entrou nas sificada a operação de TDT em Portugal
MHP e do correspondente processo de e a impossibilidade adicional de definir
certificação. telecomunicações para ficar limites temporais credíveis para a data
Suportado por recomendação da UE do seu início», declarou a PTDT em co-
e da Anacom, o consórcio PTDPapostou municado.
na adopção do standard europeu MHP para possível definir um prazo para o arranque Apesar desta revogação, e da consequen-
o middleware das Set-Top-Boxes. Devido da operação comercial. te extinção do actual consórcio PTDT, Pe-
aos atrasos verificados na criação da estan- Nessa ocasião, João Pereira Coutinho su- reira Coutinho frisou que o seu grupo SGC
dardização e certificação da norma MHP o blinhou, em conferência de imprensa, não entrou no sector das telecomunicações para
lançamento da operação de TDT, e conse- sair perdedor nem ganhador deste projecto, ficar, adiantando que a tecnologia que desen-
quentemente de BFWAem Portugal foi reca- apesar do investimento de 23,2 milhões de volveu na área das telecomunicações já está

50 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Dados lançados
| O que é a TDT |
A TDT é uma rede de distribuição de tele-
visão, serviços e acesso à Internet, via di-
gital, de acordo com a norma escolhida pe-
los países da União Europeia que substi-
tuirá a rede analógica. A distribuição é feita
segundo a norma pan-europeia DVB- Digi-
tal Video Broadcasting, na sua versão Ter-
restre (DVB-T).
O fim da rede analógica, previsto até
2007, e a introdução da TDT significarão
mudanças para os telespectadores, mesmo
os que escolherem ver apenas os quatro
canais generalistas em sinal aberto. O con-
sórcio estava obrigado a cumprir a cobertu-
ra do território continental em 95% em três
anos depois da entrega da licença e garantir
a recepção do sinal a 99,2% da população.
Tecnicamente, a TDT baseia-se na digita-
lização da informação (imagens, som e da-
dos) de acordo com a norma MPEG 2. A
TDT permite juntar aos conteúdos televisi-
vos outro tipo de informação, como por
exemplo canais de rádio convencionais, ca-
nais de música temática e serviços de da-
dos. Os sinais de DVB-T são também trans-
mitidos pelo ar, mas com um risco de inter-
ferências externas mais baixo que o actual
sistema.
casadaimagem.com
Relativamente à forma como as emis-
sões poderão ser recebidas, será possível
continuar a utilizar as antenas convencio-
nais para a recepção analógica, embora se-
ja necessária uma caixa descodificadora
específica, as set-top box.
O DVBT, Digital Video Broadcasting Te-
a ser utilizada na Europa e em breve será O que está a atrasar o arranque da TDT levision Project, é um consórcio industrial
utilizada noutros continentes, sem, no en- em Portugal é a uniformização com a União para a definição de padrões internacionais
tanto, especificar quais. Europeia da tecnologia (software MHP) das de distribuição de dados e serviços através
caixas descodificadoras do sinal televisivo do sinal televisivo terrestre. Resulta da jun-
| Os motivos dos atrasos | (set-top boxes). «Já existe um protótipo ção de mais de 300 operadores televisivos,
No texto divulgado pela entidade reguladora MHP, mas que ainda não tem todos os fun- empresas de software, indústrias ligadas ao
podem ler-se os motivos apontados para o cionalismos e custa entre 400 e 500 euros. sector da televisão e da Internet, sistemas
adiamento deste projecto. «Reconhecidas É apenas uma caixa intermédia», declarava de regulação de mais de 35 países.
as dificuldades objectivas da oferta massifi- Pereira Coutinho ao Diário Económico, em Ao contrário do que sucedeu com tenta-
cada dos equipamentos terminais neces- Fevereiro do corrente ano, acrescentando tivas anteriores de impor um formato alter-
sários ao início da exploração comercial da que o que se pretende é uma caixa final, a nativo de televisão na Europa, o DVB-T teve
referida plataforma; analisado o modelo de preços mais competitivos. a aceitação do Reino Unido, em 1998, e da
negócio em que assentou o lançamento do «Uma Televisão Digital correcta tem que Suécia, em 1999, por parte dos operadores
concurso público, através do qual foi atri- ter um standard europeu”, acrescentava, públicos e privados de televisão e dos res-
buída a licença de exploração à Plataforma referindo-se à questão da uniformização pectivos Governos daqueles Estados.
de Televisão Digital Terrestre, SA (PTDP); do software MHP. No final de Dezembro Em Fevereiro de 2000, quando em Por-
tendo a PTDP admitido a solução de extin- passado, a Comissão Europeia fez saber tugal o ICP (actualmente designado por
ção dos direitos e obrigações inerentes à que é o MHP que vai para a frente. A exis- Anacom) e o ICS- Instituto da Comunica-
licença que lhe foi concedida e tendo sido tência de um standard europeu permite, ção Social, organizavam a primeira Confe-
ponderada a defesa do interesse público tanto nos conteúdos, como nas set-top bo- rência sobre Televisão Digital Terrestre, no
em presença», a Anacom decidiu adiar a xes, baixar os preços e ter uma oferta mais Reino Unido, já 10% da população britânica
TDT em Portugal. competitiva. era aderente da TDT.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 51


Correspondentes de guerra: Especificidades inerentes a este tipo de jornalismo

Além da fronteira
conhecida

casadaimagem.com
Os correspondentes de guerra são jornalistas destacados para uma missão de informação. Mas a
prática não se resume a isto. Entre a escolha ponderada dos jornalistas e a partida dos mesmos para o
“campo”, há medidas a tomar, quer pelos próprios jornalistas, quer pelos media para onde trabalham

Por Joana Duarte


pelas partes intervenientes no conflito | Riscos, perigos e precauções |
comum a visão “romântica” acerca
É dos correspondentes de guerra e rara
a abordagem ao seu trabalho e aos as-
que, naturalmente, querem a informação
transmitida de acordo com os seus inte-
resses. Atacam o trabalho jornalístico im-
Para que o tempo a passar na zona de con-
flito decorra, o mais possível, sem precal-
ços, é necessário que se cuidem aspectos
pectos relacionados com as suas meto- pedindo a opinião pública de conhecer a desde o cuidado com a roupa adequada, o
dologias. Eles são efectivamente assunto realidade dos factos. Colocando em risco tipo de equipamento a escolher, o sério co-
de notícia quando se encontram, por as suas próprias vidas, cabe aos corres- nhecimento da cultura e costumes da zona
exemplo, em perigo de rapto, desa- até à preparação psicológica – um dos
parecimento e sobretudo em caso de aspectos que devem pautar a escolha
morte. A importância dada à análise Um correspondente de dos profissionais a enviar - para enfren-
dos números das mortes e às suas tar momentos de grande confusão e
razões é pouca ou, quase nenhuma. guerra deve cuidar da sua muita emoção.
Para além de haver a necessidade do Nos últimos 12 anos, segundo os da-
conhecimento desses factos, é igual-
segurança, observar dos da Federação Internacional de Jor-
mente necessário promover a existên- e saber interpretar nalistas (FIJ), morreram mais de um mi-
cia de mecanismos de alerta; um lhar de jornalistas. Apesar deste número
reconhecimento geral dos perigos e o que vai acontecendo não dizer apenas respeito a correspon-
das precauções a tomar. dentes de guerra, é suficientemente es-
Quando acontecem as guerras, os jor- clarecedor para se perceber a necessidade
nalistas têm um papel crucial na transmis- pondentes a tarefa de fazer chegar até da preocupação com a segurança e com a
são dos acontecimentos e na sua actuali- àqueles que “assistem”, a realidade cruel preparação antes da partida, especialmente
zação. Uma guerra está frequentemente resultante dos efeitos colaterais que uma quando os destinos são zonas em guerra.
associada a manipulações de informação guerra tem na vida dos civis. Basta dizer que o relatório anual World Press

52 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Correspondentes de Guerra
Freedom, editado pelo Instituto Internacio- para o terreno. Embora estes aspectos pos- pectos a ter em conta antes de fechar as
nal de Imprensa, relativo a 2002 apontava sam parecer inúteis, podem significar, em malas, para que tudo se combine por forma
para 54 jornalistas mortos, além de viola- algumas situações de risco, uma segurança a facilitar o trabalho e para que o jornalista
ções da Liberdade Imprensa em 176 paí- e uma maior confiança na actuação dos seja identificado como tal. Os jornalistas que
ses. É certo que a profissão jornalística é correspondentes que, ao conhecerem as trabalham em condições de guerra preci-
perigosa, mas não será por isso que não leis que os protegem, se sentem ainda mais sam igualmente de saber quando e como
deva existir uma cultura de prevenção dos motivados e empenhados no objectivo de fornecer auxílio médico a um colega doente
riscos que alerte jornalistas, organizações transmitir a realidade. Ainda menos se pode ou ferido e de transportar consigo kits de
jornalísticas e empregadores. Um corres- imaginar que a preocupação com as roupas primeiros socorros. Nas situações hostis em
pondente de guerra deve cuidar da sua se- usadas e com o equipamento possa ter al- que se encontram não haverá muito mais
gurança, pensar mais adiante, estar prepa- guma importância na preparação da parti- a que recorrer...
rado para tudo, observar e saber interpretar da, como medidas importantes de redução
o que vai acontecendo. Só assim se pode de riscos. | O perigo da memória |
garantir a qualidade, diversidade e veloci- O tipo de vestuário vai depender do clima, Terminada a necessidade de permanecer
dade dos trabalhos. da estação do ano e da duração do trabalho, no campo, os correspondentes de guerra
Os riscos mais óbvios durante uma guer- que muitas vezes é difícil de determinar retornam. Trazem consigo, inevitavelmente,
ra são a proximidade com as armas, as (uma guerra nunca tem uma data de início experiências terríficas de momentos que vi-
bombas ou as minas. Mas existem outros, e uma data de fim marcadas...). O calçado, venciaram na primeira pessoa. Quem pas-
além daqueles que se verificam nos campos a cor das roupas e as suas texturas são as- sa por uma guerra, mesmo que seja a fazer
de batalha. Os correspondentes de guerra
estão também sujeitos a doenças, exaus-
tão, distúrbios psicológicos e até actos de
violência vindos de diversas direcções.

| Aspectos a ter em conta |


Antes de partir, é necessário assegurar que
se está física e psicologicamente prepara-
do, para suportar todas as privações que
estão implicadas em cobrir um aconteci-
mento fora do país em que se vive, longe
das condições habituais de trabalho e com
riscos relacionados com a segurança pes-
soal. O conhecimento da situação do local
é obrigatoriamente necessário para reduzir
esses riscos e envolve o conhecimento não
só político, mas também social e cultural:
que línguas se falam, qual a atitude face
aos media, quais as aprovações necessá-
rias e quem as fornece ou também qual a
prevalência de doenças, são alguns dos as-
pectos cujo conhecimento pode fazer a di-
ferença na forma e facilidade com que um
profissional irá desempenhar sua função,
uma vez no terreno. No fundo trata-se de
ter uma noção da realidade, de conhecer
a comunidade na qual se irá trabalhar para
evitar situações constrangedoras e até pe-
rigosas.
As convenções de Genebra dão aos jor-
nalistas os mesmos direitos que aos civis
em conflitos armados e declaram que cri-
mes contra estes (ameaças, assassinatos,
aprisionamentos e tortura), constituem cri-
mes de guerra. Para que o correspondente
de guerra se sinta ainda mais seguro, de-
verá estar a par dos seus direitos, enquanto
D.R.

observador neutro, antes de ser enviado

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 53


Correpondentes de Guerra

Entre 1990 e 2002 morreram


274 jornalistas em situações
de guerra. Só em 2002 a FIJ
identificou um total de 70
jornalistas mortos

casadaimagem.com
a sua cobertura noticiosa, é sempre afec- que existe o receio em serem “postos de ziam a cobertura da guerra no Afeganis-
tado de algum modo. Os jornalistas foto- lado”, vistos como incapazes para futuros tão. Durante esse ano a FIJ identificou 70
grafaram, filmaram ou relataram eventos trabalhos. No entanto, nos últimos 20 anos jornalistas mortos, dos quais 8 trabalha-
de pessoas feridas ou mortas, perante as (dados da conferência “Emoções, trauma vam em zonas de guerra. O esforço desta
quais não podiam fazer nada. As reacções e bom jornalismo”, Londres, 2002, realiza- organização estabelecer uma consciência
podem variar, muitos correspondentes têm da em conjunto pela BBC World Service e que alerte para os perigos e que possa re-
reacções de curta duração, como a hiper pela delegação europeia do Dart Center) duzir o número de vítimas tem sido grande.
sensibilidade ao barulho, ou ficam insensí- tem havido um crescente reconhecimento Em 1998, a FIJ e um grupo de outras
veis ao sofrimento e à morte. Nestes casos, dos sintomas e uma crescente sensibiliza- organizações semelhantes discutiram a
a partilha das experiências passadas com ção para a importância de existirem órgãos necessidade de existir uma outra organi-
os colegas ou com a família pode ajudar especializados no aconselhamento e zação encarregada de promover a segu-
a ultrapassá-las. Mas pode ainda acontecer acompanhamento. rança. Em Novembro de 2002 a FIJ e o
os correspondentes de guerra sofrerem Instituto Internacional da Imprensa, junta-
problemas que causem distúrbios ao longo | A realidade em números | mente com outras 80 organizações dos
do resto das suas vidas. Sintomas de or- Recorrendo novamente aos números da media, sindicatos, grupos de liberdade de
dem psicológica mais graves, como sinto- FIJ concluí-se que entre 1990 e 2002 mor- imprensa e outros, acordaram estabelecer
mas de Stress Pós-Traumático. De acordo reram 274 jornalistas em situações de guer- o “International News Safety Institute” para
com os dados da FIJ cerca de 25% dos ra e o ano de 2003 conta já com várias promover a boa prática de treinos de segu-
jornalistas que já reportaram várias situa- mortes, algumas das quais no presente rança, dos materiais e da assistência a
ções de guerra sofeam desta “doença” e conflito no Iraque. Os anos de 1991, 1993, jornalistas. As mortes de jornalistas po-
têm aproximadamente a mesma probabi- 1994 e 1999 são os que apresentam nú- dem ser muitas vezes inevitáveis. No en-
lidade de sofrer de Stress pós traumático meros de baixas mais elevados, respecti- tanto, há que combatê-las e este Instituto
que os combatentes. vamente 29, 44, 60 e 40 jornalistas mortos será um forte contributo para a redução
É muitas vezes difícil aos jornalistas nes- em situações de guerra. O ano de 2002 dos números que, cada vez mais, aumen-
tas situações admitir que estão a passar começou com chocantes notícias de uma tam devido à indiferença pelos direitos hu-
por isso ou que se sentem deprimidos, por- série de mortes entre jornalistas que fa- manitários.

54 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


O recente conflito no Iraque é o espelho de um novo jornalismo

A missão renova-se
Ao contrário do que já se apregoou, o jornalismo não está a morrer; está a adaptar-se aos tempos. A quente
e no rescaldo do caos, pelo menos para uma coisa a guerra entre os EUA e o Iraque serviu: demonstrou
que apesar das fragilidades e pressões a que os jornalistas estão sujeitos, a sua presença é um imperativo

Por Cláudia Magalhães desde acidentes de viação (houve inclusive Mas, no fim de contas, a selecção perti-
cmagalhaes@unimagem.pt
um caso de morte natural) até ao inespera- naz da informação é uma das componentes
guerra entre os EUA e o Iraque veio
A contrariar a tendência recente de
decrescimento do número de jornalistas
do ataque dos Aliados ao Hotel Palestina,
em Bagdad. Entre assaltos, espancamen-
tos, detenções e emboscadas, a integridade
genéricas do jornalismo, a par das situa-
ções de ameaça física. De resto, na emi-
nência da guerra no Iraque, foi fundado, em
mortos no exercício da profissão. O re- física e moral de muitos jornalistas também Janeiro deste ano, o International News Sa-
latório publicado no ano passado pelos foi várias vezes posta em causa ao longo fety Institute, a primeira rede mundial funda-
Repórteres sem Fronteiras (RSF) dava das três semanas de Operação Bagdad. E da em nome da defesa da segurança dos
conta de 31 jornalistas assassinados a integridade da informação divulgada tam- media e dos seus profissionais. Tendo em
em 2001 e 25 em 2002. No Iraque, em bém foi posta em causa diversas vezes du- conta todos os episódios que envolveram
apenas três semanas, morreram 12 jor- rante esta guerra através de sucessivas in- meios de comunicação e jornalistas ao lon-
nalistas. vestidas de contra-informação dos dois la- go da Operação Bagdad, os relatórios do
É certo que as causas das mortes foram dos beligerantes. novo Instituto sobre a presença da comuni-

56 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Questões Contemporâneas
cação social nesta guerra prometem ser Vale a pena referir que, no actual con- ções: a principal é a de que o jornalismo,
bastante elucidativos. texto de crise publicitária, há algumas inclusive o clássico jornalismo de guerra
notas positivas: por exemplo, os casos feito por observadores inteligentes e
| A morte (pré) anunciada | de trabalho concertado entre consultores atentos à selecção criteriosa da informa-
Recuemos no tempo até ao final da dé- e editores com vista à afinação e aperfei- ção e da propaganda de guerra, não está
cada de 90. Na época, o El Dorado da In- çoamento do produto jornalístico em ter- morto; está apenas a adaptar-se aos
dústria dos Conteúdos e da Nova Econo- mos de qualidade e interesse dos con- tempos, aos novos tempos pós-11 de Se-
mia, posteriormente agonizante e agora a teúdos, melhor grafismo, antecipação na tembro. Hoje, a posição do jornalista om-
ser definitivamente enterrado pela crise divulgação da informação, etc.. breia cada vez mais com a de actor dos
económica mundial e pelos affaires em Esta é uma realidade que não é recente: acontecimentos. O videofone, instrumen-
que alguns dos principais grupos mun- em conjunturas anteriores de crise nos me- to jornalístico por excelência desta guer-
diais de media estiveram envolvidos nos dia e de retraimento dos investimentos pu- ra, foi outro dos protagonistas. Ou, prova-
últimos anos (a Vivendi, prestes a mudar blicitários, sempre existiram exemplos de velmente,o videofone foi o coadjuvante
de nome e assim também de imagem, é “reactividade positiva”: meios de comuni- principal dos jornalistas/protagonistas de
um dos exemplos mais marcantes), televisão.
conseguiu elevar à ribalta da comuni-
cação a tese de que o jornalismo clás-
Nos dias de hoje a posição do | Jornalistas-protagonistas |
sico estaria em vias de extinção. A Um exemplo deste facto é o exérci-
conjuntura era propícia à expansão de jornalista ombreia cada vez to de George W. Bush ter consentido
correntes de géneses distintas mas que alguns jornalistas, que recebe-
que tinham em comum advogarem o mais com a de actor dos ram formação do Pentágono nas se-
fim do “velho jornalismo”. acontecimentos manas que antecederam a Guerra,
Para muitos incondicionais admira- acompanhassem os soldados norte-
dores dos novos suportes digitais, o americanos nas frentes de batalha.
jornalismo seria progressivamente Esta é uma das componentes das
substituído pela produção de conteú- novas guerras: o jornalista é mais um
dos, essa definição hoje tão em voga, protagonista, potencial mártir ou po-
e cuja polissemia faria inveja ao cria- tencial herói.
dor de neologismos maus imaginativo. A diferença é que o jornalista
Na óptica pessimista dos anti-liberais, nunca é anónimo. Ele transporta
a independência e a isenção jornalísti- sempre uma marca distintiva da do
ca do “quarto poder” seriam definitiva- civil ou soldado: o media a que per-
mente enterradas pelo poder dos no- tence e a repercussão que a me-
vos mega-grupos que integravam em diatização da sua morte ou do seu
simultâneo negócios financeiros e de salvamento têm, resgatam-no do
media. anonimato. Anguita Parrado, Lie-
big, Kelly, Moran, Lloyd, Golestan,
| Renascer em tempos de crise | Rado, são nomes que nada dizem
Com a economia mundial a “baralhar ao cidadão comum. Mas durante al-
e a voltar a dar”, uma das tendências gumas horas, ao longo dos dias
recentes, a nível internacional (Portu- que o conflito durou, cada um deles
gal incluído), é a reorganização do sec- foi propagado pela comunicação
tor dos media. Os tradicionais grupos social de todo o mundo. São os no-
especializados em comunicação social mes de alguns dos jornalistas mor-
mantêm o seu portfólio. O caso muda tos durante as três semanas da
de figura nos grupos financeiros, para guerra.
os quais os media são apenas mais O trabalho dos jornalistas na guerra
uma componente do negócio, que dei- do Iraque foi exemplar, pese-embora
xa de ser estratégica quando perde ren- cação que com qualidade e imaginação os casos de falta de parcialidade no tra-
tabilidade. Nestes casos, a lógica em- conseguem aperfeiçoar-se e melhorar os tamento da informação, as pressões psi-
presarial sobrepõe-se à valorização dos desempenhos de vendas e de fidelização cológicas e os tráficos de informação a
media enquanto produto eminentemente de audiências. que os correspondentes foram sujeitos.
jornalístico. Isto tem culminado na su- Assim como a crise dos media tem ser- Foi exemplar, na medida em que recordou
cessiva troca de proprietários a que vá- vido para que alguns destes reflictam so- que nos acontecimentos de dimensão
rios media têm estado sujeitos. Em detri- bre o respectivo posicionamento e rela- muito importante para todas as nações do
mento da qualidade do produto jornalísti- ção com os públicos-alvo, também a mundo, o trabalho dos jornalistas merece
co e da dignidade laboral dos jornalistas. guerra do Iraque nos trouxe algumas li- todo o apreço da sociedade.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 57


Instituições da Comunicação AACS: Garantir o bom Jornalismo

O fio de prumo
A AACS existe desde 1990 e é uma das instituições da comunicação que visam
a garantia de um jornalismo isento e de acordo com as leis em vigor

Por Ana Cristina Cruz


tencentes ou controlados por entidades pú- | Como funciona |
Alta Autoridade para a Comunica- blicas; fiscalizar a publicação de sondagens Relativamente ao funcionamento, a
A ção Social (AACS) é um órgão inde-
pendente que tem por função zelar pelo
eleitorais; propor medidas legislativas e
promover estudos e pesquisas, nas áreas
AACS toma as suas deliberações em
reuniões plenárias, por maioria abso-
direito à informação, a liberdade de im- das suas atribuições. luta dos membros presentes. O regi-
prensa e a independência dos mento, elaborado pela AACS e pu-
meios de comunicação social pe- blicado na 2ª série do “Diário da
rante o poder político e económico, A AACS é herdeira de República”, define a constituição
bem como a possibilidade de ex- e funcionamento dos grupos de
pressão e confronto das diversas instituições como o Conselho trabalho que este órgão entenda
correntes de opinião e o exercício de Imprensa ou o Conselho da constituir.
dos direitos de antena, de resposta AAlta Autoridade elabora directivas
e de réplica política. Comunicação Social genéricas, publicadas na 2ª série do
Fundada em 1990, e herdeira de or- “Diário da República”, e recomenda-
ganismos semelhantes, como o Con- ções que são de divulgação obrigató-
selho de Imprensa ou o Conselho da ria nos órgãos de comunicação social
Comunicação Social, esta entidade a que digam directamente respeito.
tem como atribuições essenciais ga- Têm carácter vinculativo as deli-
rantir o exercício do direito à informa- berações produzidas pela AACS no
ção e à liberdade de imprensa, o rigor exercício das competências relati-
e isenção da informação e a aplicação vas ao licenciamento de estações
de critérios jornalísticos e de progra- de televisão e rádio, exercício dos
mação que respeitem os direitos indivi- direitos de resposta, antena e répli-
duais e os padrões éticos exigíveis; ca política, fiscalização do cumpri-
assegurar a independência dos ór- mento das normas referentes à pro-
gãos de comunicação social e garantir priedade das empresas de comu-
o pluralismo; assegurar a observância nicação social e das normas que
dos fins genéricos e específicos da ac- obriguem estas empresas à publi-
tividade de rádio e televisão; garantir cação de dados de qualquer espé-
o exercício dos direitos de antena, de cie, e classificação das publicações
resposta e de réplica política bem co- periódicas.
mo fiscalizar o cumprimento da legis- Os encargos com o funciona-
lação aplicável à propriedade das em- mento da Alta Autoridade são co-
presas de comunicação social. bertos pelo Orçamento da Assem-
bleia da República. Esta entidade
| Competências várias | reguladora está sediada em ins-
Compete-lhe também apreciar, por ini- talações fornecidas pela Assem-
ciativa própria ou mediante queixa, as bleia da República e dispõe de
eventuais violações da legislação de um serviço de apoio privativo que
D.R.

comunicação social; atribuir licenças António Torres Paulo, presidente da AACS assegura a assessoria directa,
ou autorizações para o exercício da técnica e administrativa aos mem-
actividade de televisão e de rádio; deliberar bros da Alta Autoridade.
sobre queixas ou recursos relativos ao A sua actividade abrange igualmente A AACS é presidida, desde 2001, pelo
exercício do direito de resposta e de réplica a classificação das publicações perió- Juiz Armando Torres Paulo. Entre os
política e arbitrar os conflitos suscitados dicas e a fiscalização da propriedade membros eleitos pela Assembleia da Re-
pelo exercício do direito de antena; emitir das empresas de comunicação social pública, podemos encontrar nomes co-
parecer sobre a nomeação e exoneração e das campanhas de publicidade do mo: José Garibaldi, Artur Portela, Se-
de directores de informação ou programa- Estado, das Regiões Autónomas e das bastião de Lima Rego e Maria Manuela
ção de órgãos de comunicação social per- Autarquias. Chaves Matos.

58 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


A política audiovisual europeia e a revisão da Directiva TVSF

O ecran europeu
A Comissão Europeia está a promover uma discussão pública sobre a revisão
da Directiva Televisão sem Fronteiras (TVSF). Uma oportunidade para fazer-se
um ponto de situação relativamente à estratégia europeia do sector e reflectir
sobre os próximos passos a dar

Por Francisco Rui Cádima


nio da política audiovisual. Mais tarde, o Tri-
sector do audiovisual da Europa
O dos 15 empregava no final de 2002
mais de um milhão de pessoas. Como
bunal de Justiça Europeu propõe estender
ao sector audiovisual a noção de «livre pres-
tação de serviços» (radiodifusão, progra-
reconhece a Comissão Europeia, «para mas televisivos, cinema). Já no início dos
além da sua importância económica, anos 80, a fragmentação do sistema audio-
este sector desempenha um papel fun- visual e o atraso cada vez maior da Comu-
damental no plano social e cultural: a nidade Europeia em relação aos Estados
televisão é a mais importante fonte de Unidos no sector dos programas televisi-
informação e de entretenimento nas so- vos, levaram a então CEE a tomar novas
ciedades europeias uma vez que 98% iniciativas nos domínios tecnológicos, eco-
dos lares estão equipados de televi- nómicos e culturais.
sores e que o cidadão europeu médio Tal como refere o Tratado da União Euro-
vê televisão durante mais de 200 minu- peia, de 1 de Novembro de 1993, e bem
tos por dia.» assim o "Protocolo relativo ao serviço público
No actual contexto de proliferação de ca- de radiodifusão nos Estados-Membros" ane-
nais (mais de 660 com cobertura nacional xado no Tratado de Amesterdão, a Comu-
no início de 2001 e, até à data, provavel- nidade deve «apoiar e completar a sua acção
mente mais de 800), verifica-se que o tempo em domínios como a criação artística e lite-
consagrado à televisão não foi substituído rária, incluindo o sector do audiovisual», sen- de», com a Directiva 86/529/CEE, relativa
por tempo dedicado aos novos meios de co- do este um sector relevante no contexto es- à adopção das especificações técnicas co-
municação, uma vez que as quotas de mer- tratégico europeu. muns da família de normas MAC/packets
cado e de audiência continuam concentra- Refere-se habitualmente o atraso em re- para a difusão directa de televisão por sa-
das num número reduzido de canais. Veri- lação aos Estados Unidos em matéria de co- télite e o apoio à criação de um canal de te-
fica-se ainda uma reduzida implantação da mércio audiovisual, o que ainda nos anos 80 levisão europeu.
televisão digital terrestre na UE, embora pro- deu origem em 1984 ao Livro Verde relativo Mais tarde surge o Livro Verde sobre a
grida a recepção digital por satélite - dos 33 ao estabelecimento do mercado comum da convergência entre os sectores das teleco-
milhões de lares que captam televisão via radiodifusão [COM(84) 300 final] e no final da municações, dos meios de comunicação so-
satélite, são mais de 19 milhões os que pos- década à Directiva TSF que constitui o ins- cial e das tecnologias da informação, um
suem uma ligação digital (49 milhões de lares trumento fundamental da política audiovisual documento fundamental para todo o proces-
recebem televisão por cabo). da Comunidade Europeia. Adoptada em 1989 so que se tenm vindo a desenvolver neste
Na programação, aumentou da difusão e revista em 1997, a directiva assenta em dois sector. Uma das mensagens essenciais des-
em horário nobre de produções de ficção princípios de base: (i) Aliberdade de circulação te Livro Verde é a de que a convergência
nacional para televisão e de «reality shows», de programas televisivos europeus no mer- «não deve dar origem a um excesso de regu-
enquanto a ficção norte-americana se con- cado interno; (ii) Aobrigação que incumbe aos lamentação». De acordo com a Comissão,
centra quer no prime time, quer no day time. canais de televisão de reservarem, sempre «É preferível considerar as regras em vigor
Refira-se ainda que o défice comercial da que tal seja exequível, mais de metade do e decidir se elas continuam a ser válidas
Europa em relação aos Estados Unidos no seu tempo de antena a obras europeias num quadro de convergência. A UE deve
mercado dos direitos televisivos era, em («quotas de difusão»). prover-se de um quadro regulamentar ade-
2000, de quatro mil milhões de dólares (oito quado que lhe permita tirar o maior partido
mil milhões de dólares para o conjunto dos | Uma política concertada | dessa convergência em termos de criação
serviços audiovisuais). Mas foi no ano de 1986, com a proposta de de postos de trabalho, de crescimento, de
directiva do Conselho relativa à prossecução escolha por parte dos consumidores e de di-
| Medidas na Europa | de actividades de radiodifusão [COM(86) versidade cultural.
O Tratado de Roma não previa competên- 146 final], que se começou de facto a falar No contexto das medidas adoptadas nas
cias específicas da Comunidade no domí- de uma «política audiovisual da Comunida- últimas duas décadas, podem citar-se um

60 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


A Indústria dos Media
ção de transporte e conteúdos, e o reconhe-
cimento do papel do serviço público. Tem
como principal objectivo, no contexto da in-
trodução das tecnologias digitais, definir as
prioridades para os próximos cinco anos e
elaborar os objectivos e os princípios da po-
lítica audiovisual da Comunidade a médio
prazo. Neste documento é ainda importante
a questão do acesso ao conteúdo audiovi-
sual num ambiente digital. Não se refere
apenas à acessibilidade a certos conteú-
dos, mas também ao facto de esses conteú-
dos deverem ser facilmente acessíveis atra-
vés de um EPG (Electronic Programme
Guide).

| Em debate |
A directiva «Televisão sem Fronteiras» está
a ser objecto de um processo de revisão,
iniciado em Junho de 2001. Neste quadro,
a Comissão Europeia apresentou com o
seu Quarto Relatório sobre a aplicação da
Directiva 89/552/CEE "Televisão sem Fron-
teiras" um plano de trabalho, no qual se a-

casadaimagem.com
presentam os temas a debater e o respec-
tivo calendário para que a Comissão pro-
ceda a uma «adaptação mais ou menos
ampla da directiva TVSF», segundo a co-
missária Viviane Reding.
São duas as considerações gerais a ter
novo quadro regulamentar para a criação | Decisões de cada um | em conta no que diz respeito ao futuro
de um mercado europeu com mecanismos Importante é também o Protocolo relativo da regulação europeia: por um lado, o
de apoio próprios, destinados a criar as con- ao serviço público, anexo ao Tratado de âmbito de aplicação da regulação e, por
dições necessárias à livre circulação de pro- Amesterdão, onde a UE defende, nomea- outro, a articulação entre os diferentes
gramas de televisão na Comunidade; linhas damente, que «cabe a cada Estado-Mem- instrumentos comunitários pertinentes. A
directrizes para a instauração de um quadro bro definir e organizar o serviço público de reflexão terá em consideração, designa-
nacional de auto-regulação que complete radiodifusão nas condições que considerar damente, a articulação entre as medidas
as normas sobre a responsabilidade dos serem as mais adequadas, cometendo-lhe legislativas, a co-regulação e a auto-
fornecedores de conteúdos; medidas para as atribuições que lhe pareçam indicadas regulação.
a protecção de menores no acesso a con- para responder ao interesse geral. As dispo- Os temas estratégicos para esta revisão,
teúdos audiovisuais nocivos; actuação na sições do Tratado não prejudicam o poder aberta a consulta pública, são os seguin-
defesa dos interesses culturais europeus de os Estados-Membros proverem ao finan- tes: Acesso aos acontecimentos de gran-
no âmbito da Organização Mundial do Co- ciamento do serviço público de radiodifu- de importância para a Sociedade; a pro-
mércio (OMC) – a dimensão externa da po- são, na medida em que esse financiamento moção da diversidade cultural e da com-
lítica audiovisual comunitária comporta três seja concedido para efeitos do cumprimento petitividade da indústria europeia de pro-
aspectos centrais: a preparação do alarga- da missão de serviço público por eles de- gramas; a protecção dos interesses ge-
mento da União Europeia, as negociações finida. Esse financiamento não deverá, no rais na publicidade televisiva, no patrocí-
comerciais multilaterais no âmbito da OMC entanto, alterar as condições das trocas co- nio, nas televendas e na auto-promoção;
e a cooperação com países terceiros e ou- merciais nem a concorrência.» a protecção dos menores e da ordem
tras organizações internacionais. Depois, ainda um documento relativo aos pública; o direito de resposta; aspectos
Finalmente, de realçar igualmente a ac- Princípios e orientações para a política au- ligados à aplicação: (i) Determinação da
tualização do programa Media, que dege- diovisual da Comunidade na era digital» autoridade competente e do direito apli-
nerou no programa MEDIA Plus, destinado [COM(1999) 657 final], onde se expõem os cável (ii) Comité de Contacto (iii) Papel
a ajudar a indústria europeia do audio- princípios em que se deve fundar a regula- das entidades reguladoras nacionais e a
visual, tentando tirar o máximo aproveita- mentação do conteúdo audiovisual, nomea- questão não abrangida pela directiva:
mento das possibilidades que se abrem damente, o princípio da proporcionalidade, acesso aos resumos de acontecimentos
com a era digital. o princípio da separação da regulamenta- abrangidos por direitos exclusivos.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 61


Justiça e Comunicação Social: a cada um o seu lugar

O segredo é justo
Numa conjuntura em que tanto se fala do segredo de justiça, não será de mais analisar alguns dos aspectos
em que este se relaciona com os media, nem sempre partilhando os mesmos objetivos

Por Sara Pina*

tablóide inglês The Sun assumiu a


O missão de revelar, através de notícias
no jornal, todos os nomes e fotografias a
que conseguir ter acesso de abusadores
sexuais condenados pelos tribunais. A
campanha chama-se «name and shame»
e pretende exercer pressão sobre as
autoridades para alterar a lei no sentido de
dar livre acesso público ao registo judicial
dos agressores sexuais.
No último sábado de Março passado, mais
uma reportagem foi publicada no âmbito des-
ta campanha. Revelou-se a identidade de
um indivíduo com um comportamento per-
verso e a sua fotografia. Mas houve um en-
gano: A fotografia foi trocada e milhões de
pessoas viram a cara de um homem que
nada tinha que ver com o assunto. No do-
mingo seguinte, o jornal The Sun pediu des-
culpas por ter identificado como abusador
sexual o homem errado. As consequências
para este homem da revelação da sua foto-
grafia como sendo um cadastrado ainda
estão por apurar.
Por todo o mundo a justiça tornou-se uma
matéria de grande interesse noticioso. Uma
boa parte da actividade dos media é dedi-
cada às matérias judiciárias, principalmente
às que dizem respeito ao crime. A ocor-
rência de acontecimentos inesperados que
são um desvio à normalidade impressiona
e gera interesse nos cidadãos, interesse
esse, que aumenta quanto maior for a no-
toriedade pública dos envolvidos ou a anor-
malidade dos factos. Relatar crimes, escân-
dalos, denúncias, protestos permite recriar
no receptor sentimentos fortes, emoções
que atraem e assustam (o medo, o deses-
pero, o sofrimento, a morte, a coragem, o bunais e da polícia (ver quadro). Mas a (questionário divulgado em Novembro de
arrependimento, etc). qualidade das notícias e a credibilidade dos 2000, na revista Sub Judice, número 15/16).
media é avaliada muito negativamente. Num Há um forte antagonismo entre as caracte-
| Relacionamento estreito | inquérito a licenciados em direito, para saber rísticas do trabalho dos tribunais e o da comu-
Num estudo publicado em 2002 nos se consideravam fiáveis e correctas as no- nicação social. As decisões judiciárias são
Cadernos do Centro de Estudos Judiciários, tícias sobre justiça nos meios de comunica- tomadas no decurso de rituais, fases pro-
61,2% dos cidadãos inquiridos concordaram ção social, todos os juristas candidatos a cessuais inultrapassáveis que dão garantias
inteiramente ser através da comunicação magistrados inquiridos, e 88,9% dos can- da correcta aplicação do Direito. O Direito
social que conhecem a actividade dos tri- didatos à advocacia, responderam que não aplica-se em espaços próprios com a indis-

62 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Media e Justiça
pensável presença dos intervenientes. A justiça que principia com o início do proces- essencial que se não for respeitada a lei de-
Justiça é necessariamente lenta. A comuni- so-crime e vigora durante a investigação termina a nulidade do processo penal. Mas
cação social rege-se, ao contrário, por cri- criminal. Com este princípio visa-se, funda- por razões que se prendem com critérios
térios muito flexíveis e não burocráticos que, mentalmente, garantir o bom êxito no apu- editoriais, muitas vezes determinados por
embora possam pôr em risco alguma cor- ramento da verdade, na descoberta dos cri- razões económicas e de concorrência, o
recção das informações reveladas, permi- mes e dos seus autores. Visa-se, portanto, grande interesse dos órgãos de comunica-
tem rapidez e eficiência na satisfação do a boa administração e imparcialidade da ção social no processo é durante a fase em
interesse do público por novas informações. justiça, bem como a presunção de inocência que este está sob segredo de justiça. De-
O jornalismo faz-se em todos os luga- pois, perdem o rasto ao processo e os
res que sejam notícia, com um grau Nível de concordância com a afirmação: «Sem a leitores, telespectadores ou ouvintes
de formalidade muito reduzido para comunicação social não teria nenhuma informação aca-bam por nem sequer saber se houve
não prejudicar a adesão e o reconhe- quanto à actividade dos tribunais e da polícia.» acusação e julgamento.
cimento do leitor, espectador ou
ouvinte. Concordo inteiramente . . . . .61,2% | Consciência e responsabilidade |
A linguagem judiciária é rígida, a ora- Tendo a concordar . . . . . . . . .28,2% De todo o modo, os media prestam um
lidade limitada, a argumentação técnica serviço indispensável à Democracia, cuja
é, por vezes, de difícil compreensão. A Tendo a discordar . . . . . . . . . .6,4% qualidade e maturação pode ser medida
linguagem dos órgãos de comunicação pelo grau de esclarecimento dos cida-
Discordo inteiramente . . . . . . .2,1%
social é acessível, de fácil compreensão, dãos. Contribuem para o controlo de-mo-
atraente e agradável. Sem opinião . . . . . . . . . . . . . .2,1% crático da actividade dos tribunais, pondo
Na descoberta dos factos para apli- em prática esta regra da publicidade, e
car o direito, a justiça procura a ver- exercem um papel importante de preven-
dade material. Investiga um aconteci- ção e repressão. Fornecem sugestões
mento ou uma situação segundo re- importantes para investigações e fazem
gras estritas substantivas e proces- algumas denúncias essenciais para a
suais. Os operadores judiciários re- prossecução da própria Justiça.
gem-se por princípios como a pre- Mas a vontade de saber tudo e contar
sunção de inocência, o ónus da prova tudo faz com que as importantes denún-
e a igualdade das partes. As provas cias feitas pelos media possam trans-
são as permitidas e reguladas proces- formar-se em desqualificação da justiça
sualmente e têm em vista a reconsti- e até em substituição desta. Este papel
tuição dos factos. que não lhes cabe põe em risco a
Democracia. Um comportamento
| Outro ponto de vista | assim é uma má interpretação do de-
Os media também buscam a verdade. sejo de transparência e de procura da
Mas por critérios subjectivos, podendo verdade. Como disse Montesquieu:
reconstruir livremente os factos e re- «Há corrupção da demo-cracia não so-
correr ao segredo das fontes. Os ór- mente quando perdemos o espírito de
gãos de comunicação social procuram igualdade, mas também quando assu-
satisfazer o direito dos cidadãos a se- mimos um espírito de igualdade extre-
rem informados da verdade, a conhe- ma e cada uma das pessoas quer ser
cerem os assuntos que afectam direc- igual aos que escolheu para a repre-
tamente os seus interesses. Num Es- sentar: deliberar em vez do Governo,
D.Moska

tado de direito democrático, o exercí- investigar em vez das polícias, julgar


cio do direito de informar dos jorna- em vez dos juizes...»
listas procura dar resposta ao direito Para que todos os direitos sejam
dos ci-dadãos a serem informados e, por respeitados e situações como a relatada
isso, ao direito de informar é por vezes e o direito ao bom nome e reputação do do jornal The Sun se tornem uma rari-
chamado direito/dever ou função porque arguido. dade, os jornalistas devem saber quando
está fundado do dever profissional que o O segredo de justiça vincula todos aque- parar e assumir claramente que pode ser
jornalista têm de informar o público. les que, pelo contacto que tiveram com o desastroso desempenhar funções que
A investigação jornalística e o direito à processo, tenham tomado conhecimento não lhes competem, como seria desas-
verdade do público não são absolutos, nem de informações, obrigando-os a não reve- troso um operador judiciário fazer directos
ilimitados. Exactamente porque se tratam larem essas informações e muito menos na televisão ou conduzir reportagens...
de princípios de um Estado de direito de- dar-lhes eco na comunicação social.
* Assessora de Imprensa da PGR e docente
mocrático há regras que devem ser respei- Excluindo esta fase de segredo, a regra
universitária
tadas. Uma dessas regras é o segredo de é a publicidade - tão reconhecidamente

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 63


Imprensa Regional Em vésperas de alterações legislativas, algumas considerações

Por uma imprensa livre


O Estado português tem vindo a pôr em prática políticas de protecção e apoio à imprensa regional, num
entendimento generalizado de que este é um sector frágil em termos económicos mas com uma
importância para o país que justifica uma atenção especial

Por Cristina Ferreira de Almeida*


da troca de favores, da entrevista vendida porque é que é preciso gastar tanto dinheiro
e atendermos a alguns indicadores juntamente com o anúncio. Na categoria dos na distribuição de jornais regionais? A res-
S que caracterizam as competências
dos portugueses e os instrumentos ao ní-
maus exemplos, existe ainda outro tipo de
imprensa regional em Portugal: a que nin-
posta pode ser: porque sem isso ninguém
os compraria. E isso acontece porque os
vel das habilitações de que dispomos para guém lê, e só existe porque tem a distribuição portugueses não querem ler? Reposta pos-
lidar com a realidade que nos rodeia, per- assegurada pelo Estado. sível: também, mas sobretudo porque não
cebe-se a necessidade de apoiar este Num inquérito realizado no primeiro tri- querem ler “aqueles” jornais. Os casos de
sector. Os números “negros” dizem que mestre de 2003 pelo gabinete do Secretário alguns jornais que sobrevivem e se afir-
temos 9% de analfabetos, dos quais a de Estado Adjunto do Ministro da Presidên- mam sem apoios e sem subsídios leva a
maioria são mulheres; estamos em úl- pensar que pode haver outro caminho
timo lugar a nível da União Europeia para fomentar a leitura da imprensa
na leitura de livros e jornais; apenas regional sem ser o subsidiar a fundo
25% da população portuguesa possui A independência, no entanto — perdido a distribuição postal. E esse
habilitações ao nível do ensino secun- caminho é o de melhorar a qualidade
dário ou superior (em toda a OCDE só
todos o sabemos, mais tarde dos jornais regionais.
o México e a Turquia ficam atrás); se- ou mais cedo — não existe Por isso a reforma da imprensa re-
gundo um relatório do PNUD, metade gional é necessária. A imprensa
dos portugueses tem iliteracia funcio- sem autonomia económica regio-nal tem um potencial de
nal; na União Europeia, somos o povo crescimento que está ainda por de-
que mais horas de televisão vê por senvolver. É importante que esse po-
dia. tencial seja aproveitado pelos títulos que
A protecção à imprensa regional resulta cia e que deu origem ao documento “Para estão no ter-reno, antes que o seja pelos
desta realidade. Os jornais regionais têm uma reforma da comunicação social regio- grandes gru-pos de comunicação social
uma penetração nas regiões do litoral e, nal”, a distribuição é identificada pelos jornais portugueses ou estrangeiros.
sobretudo, do interior, que os nacionais não regionais como um dos principais problemas
* Adjunta do Secretário de Estado Adjunto
atingem sendo, muitas vezes, o principal do sector. Para o combater, nos últimos 11
do Ministro da Presidência
elo de contacto, não só com a região, mas anos o Estado português gastou 40 milhões
também com o mundo. Os princípios de ri- de contos em subsídios ao porte pago, de
gor, isenção e independência do jornalismo que resultou um aumento do número de tí-
fazem dos jornais um instrumento incontor- tulos e uma diminuição da tiragem média.
nável de participação cívica e o que existe
de mais próximo de um “manual de ins- | Problemas a resolver |
truções” para o cidadão em democracia. Mas será que a distribuição é mesmo
o principal problema da imprensa
| O custo da independência | regional? Ou, per-
Aindependência, no entanto – todos o apren- guntando de
demos, mais cedo ou mais tarde –, não existe outra forma,
sem autonomia económica. Portugal tem ho-
je em dia bons títulos de imprensa regio-
nal, sólidos, independentes e apelati-
vos. Mas tem também uma profusão
de jornais que vivem da
protecção partidária ou
autárquica,

64 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


A Contas com os Media Algures entre a redacção e a gestão dos media

Criar e sustentar
O sucesso de um produto de media está relacionado com a articulação entre a sua produção e gestão.
Por outro lado, os grupos que operam exclusivamente neste sector estão descapitalizados
Por Paulo Faustino

a edição de 8 de Maio do Jornal de


N Negócios foi publicado um artigo
assinado por Belmiro de Azevedo, que,
como se sabe, é presidente do Conselho
de Administração da Sonae SGPS e
accionista principal do jornal Público, en-
tre outros negócios na área da comuni-
cação e das telecomunicações.
Neste artigo, cujo título era “Comunica-
ção Social e Inovação”, Belmiro de Azeve-
do fez várias afirmações de inegável inte-
resse e actualidade sobre o conceito de
“inovação” – muito em voga nos últimos
tempos — aplicado à comunicação social.
Segundo ele, «por vezes, quando se fala
na necessidade de reformas ou da defini-
ção de grandes linhas estratégicas para o
desenvolvimento do País, a comunicação
social parece considerar sobranceiramente
que não é também destinatário dessas mu-
danças. Ora a ideia de que as mudanças

D.R.
abrangem o poder político, o poder econó-
mico, a atitude dos cidadãos, mas que não
se dirigem aos meios de comunicação e significa também acrescentar valor a um pro- sivamente nos media estão descapitaliza-
aos jornalistas, parecem revelar uma sufi- duto que se destina a uma audiência e de dos e, por conseguinte, sem capacidade de
ciência perigosa». uma quota digna no mercado dos leitores e investimento em novos projectos.
dos investidores institucionais». Nesse sentido, é previsível que a Cofina
| Responsabilidades partilhadas | Ainda no domínio da gestão, não pode- — que em quatro anos conseguiu tornar-
Na essência, para além de alargar a ideia mos de deixar de assinalar como meritória se no 5º maior grupo de media em Portugal
do compromisso que os media devem ter a decisão empresarial do Grupo Cofina —, para além de uma boa equipa de gestão
com a sociedade em geral, outra das passar o Jornal de Negócios de uma perio- e liderança que parece ter, venha a curto
ideias–chave que Belmiro de Azevedo terá dicidade semanal para uma periodicidade prazo reforçar a sua presença no sector
tencionado transmitir é que, para um pro- diária. Esta decisão assume particular sig- dos media em virtude de possuir posições
duto de media ter sucesso no seu mercado nificado ao nível do risco empresarial, so- significativas noutros negócios mais lucra-
(consumidores de media e clientes de pu- bretudo se tivermos em conta que estamos tivos e, por isso, possuir algumas vanta-
blicidade), é necessário observar-se um atravessar uma conjuntura económica ad- gens competitivas, sobretudo pela sua ca-
compromisso entre os vários protagonistas versa ao desenvolvimento de novos pro- pacidade de investimento comparativa-
do processo de produção da informação: dutos de media. mente com os grupos empresariais com
os profissionais da redacção e os profissio- actividade exclusivamente nos media.
nais da gestão, entre outros. | Situação de descapitalização | Em síntese, entre outros motivos, a actual
Apropósito da gestão e inovação, Belmiro Para os mais atentos ao cenário dos media descapitalização das empresas de media
de Azevedo faz outra afirmação no referido em Portugal, é facilmente perceptível que em Portugal parece estar a criar um con-
artigo que espelha bem qual deve ser a desde há dois anos a esta parte não se ob- texto favorável a duas tendências: 1) reforço
atitude de uma empresa de media orientada servam grandes investimentos nas empre- da presença no sector de empresas com
para o seu mercado: «não vale a pena criar sas deste sector. A passagem do Jornal de interesse noutros negócios; 2) maior per-
um novo jornal para satisfazer o capricho – Negócios a diário parece evidenciar tam- meabilidade face à entrada de empresas
ainda que legítimo – ou para fazer uma expe- bém uma outra realidade: os grupos empre- multinacionais, especialmente espanholas,
riência: é preciso inovar e, neste sector, isso sariais que possuem a sua actividade exclu- no capital das empresas portuguesas.

66 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Media XXI celebra sete anos de existência

Anivesário Media XXI


Hoje somos pequeninos
Um olhar relâmpago sobre sete anos de acontecimentos, com a evolução dos media na bagagem. Estão
todos de parabéns: quem a faz, quem a lê e, claro, quem a protagoniza

om esta edição, a Media XXI celebra português e o seu director, Luís Delgado, não se consegue gerir nada sem uma certa
C o seu sétimo aniversário. Apesar dos
objectivos actuais desta publicação se-
definia o seu público-alvo: «Essencialmen-
te as classes A e B. São empresários, algu-
margem de risco».
No aniversário de 2000, numa entrevista
rem sobejamente diferentes dos que es- mas empresas e a comunicação social, to- com Álvaro Esteves, presidente da
tiveram na sua génese, a verdade é que do o público exterior que se interessa pela APECOM, podia ler-se: «os jornalistas de-
olhar para as suas páginas constitui por informação».Nuno Cintra Torres, adminis- vem reconhecer o direito das pessoas em
si só uma hipótese de viajar pela informarem aquilo que querem, sendo
evolução dos media em Portugal, que as agências de comunicação
dando conta de mudanças e seme- devem pug-nar para que a informação
lhanças, sucessos e fracassos. Acei-
Na capa do primeiro número seja verdadeira». Graça Bau, person-
tam o convite para uma viagem no da Media XXI surgia uma foto alidade emblemática da TV Cabo
Tempo? afirmava então que o canal de notícias
Logo no primeiro número, em Abril de Francisco Pinto Balsemão, do Porto – ainda em gestação – seria
de 1996, falava-se da TVI, “em muta- o patrão da Impresa «um projecto inovador». Uma outra
ção”. Carlos Monjardino tomava o lu- notícia dava conta do primeiro anúncio
gar de Roberto Carneiro e Carlos Cruz em que Catarina Furtado dava a cara
era o novo director de programação – para o champô Organics – uma vez
da estação. Na capa vinha Pinto que, até então, «recusara-se a par-
Balsemão, o patrão da Impresa, e um ticipar em anúncios, já que esta prática
artigo de fundo sobre a Comunicação é incompatível com o exercício da
Social na Alemanha Federal era outro profissão de jornalista».
dos destaques. No 5º aniversário da MediaXXI o en-
Um ano depois, Magalhães Crespo, tão presidente da AACS, José Maria
o homem-forte da Rádio Renascença, Gonçalves Pereira, alertava:«há sem-
declarava à Media XXI que após o pre quem pretenda uma mais ampla
aparecimento das televisões privadas, intervenção da AACS com maior uso
«a rádio retomou rapidamente o seu da competência sancionadora; por ou-
papel único de presença a toda a hora tro lado, há quem deseje que a AACS
e em todos os locais». Luíz Vascon- tenha tão só uma função moral, quan-
cellos, que se assumia como «nº2 de do muito pedagógica». O Cristo-Rei
Balsemão» afirmava que «a televisão alugava as suas fachadas para publici-
comercial não tem que ter objectivos dade e Rui Cupido, director da Publi-
educativos, até porque no país existe turis, referia-se ao ensino do jornalis-
um serviço público». mo, salientando que «há, actualmente,
No número referente a Abril/Maio de um desajustamento entre o que se
1998 Miguel Ribeiro e Silva, então na aprende e como tudo funciona na
administração da Abril/Controljornal, prática».
deixava a sua opinião: «Acho que es- Finalmente, 2002. A edição de
tamos longe do limite do crescimento Abril/Maio trazia na capa a notícia da
não só da Editora [ACJ] mas também ascenção de Henrique Granadeiro à
em termos do próprio mercado (..) No liderança da Lusomundo Media, bem
nosso país há muitíssimo menos títulos do trador do Canal de Notícias de Lisboa como uma entrevista com Luís Queirós,
que há na maior parte dos países europeus, (CNL), afirmava: «Não é um projecto mega- em que o responsável da Marktest expli-
mais desenvolvidos». Margarida Marante lómano e baseia-se em experiências de ou- cava o modo de funcionamento da recolha
aconselhava os candidatos a jornalistas a tros que já o fizerem ou continuam a fazer e estudos de dados sobre audiências. Mais
terem «muito espírito SIC, no sentido de com um perfeito controlo de custos». Des- à frente, um título saltava à vista: «será
serem competitivos, visto o mercado estar taque ainda para uma entrevista com Vera emplogante a luta entre Queluz e Carna-
saturado». Nobre da Costa, então na Young & Rubi- xide». E não se falava propriamente de
Em 1999 surgiu o primeiro diário online cam: «Penso que na maior parte dos casos bairrismo...

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 67


Centros de Conhecimento Curso de Ciências da Comunicação da Universidade Independente

Um novo olhar
O curso de Ciências da Comunicação da Universidade Independente tem-se revelado como uma das
mais modernas e práticas licenciaturas do país. Muitas empresas de referência e prestígio nas áreas da
comunicação têm escolhido licenciados neste curso

Por Daniel Costa*

Universidade Independente (UnI)


A nasceu em 1992 e sempre foi uma
universidade predominantemente ori-
entada para as tecnologias e para as
engenharias, procurando estabelecer
um olhar inovador para as Ciências
Sociais e Humanas, rompendo com a
tendência de fazer apenas cursos de
"papel e lápis" no ensino superior.
Actualmente a UnI conta com 14 Licencia-
turas, diversas Pós-Graduações e quatro
Mestrados. Todos com a aprovação do Mi-

D.Moska
nistério da Educação, divididos por três Fa-
culdades: Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas; Faculdade de Ciências da Enge-
nharia e Tecnologia e a Faculdade de Direito. Economia Política, Ciência Política, Direito, e os alunos vão para o Cenjor, ao abrigo de
O curso de Ciências da Comunicação Gestão, Informática, Sociologia, Psicologia, um protocolo entre a UnI e o Centro Proto-
sempre foi uma forte aposta da UnI ao longo Estudos de Mercado, Tecnologia da Comu- colar de Formação Profissional para Jorna-
de quase dez anos de existência, ocupando nicação, Opinião Pública, Arte e Imagem, listas que se mantém desde 1997.
vários dos seus licenciados lugares de des- Análise de Mensagens, Teorias da Comu- Em Audiovisuais são dadas aulas avan-
taque e liderança nas empresas nas quais nicação e Técnicas de Expressão Escrita. çadas na construção de guiões, aulas teó-
foram integrados. ricas e práticas em produção, realização,
Durante a licenciatura, a UnI esforça-se | Especializar conhecimentos | câmara e montagem, servindo de treino
por colocar à disposição dos discentes os Depois de cumprirem os primeiros anos do para futuros profissionais do meio televisi-
meios técnicos e humanos de que neces- curso, os estudantes escolhem uma das vo e cinematográfico. Os alunos apresen-
sitam para o sucesso da sua preparação. vertentes de especialização: Audiovisuais; tam e desenvolvem projectos para ficção,
A UnI aposta claramente na utilização de Jornalismo ou Marketing, Publicidade e Re- documentários, curtas-metragens, filmes e
novas tecnologias e na componente prática lações Públicas. Ao escolherem, no último anúncios.
como elemento significativo do programa ano, a área de Marketing, Publicidade e Destaca-se também o facto de a UnI gerir
curricular. Nos três primeiros anos os alunos Relações Públicas os finalistas têm que a- um dos maiores e mais bem equipados es-
recebem uma formação que lhes permite presentar, como uma das hipóteses para túdios de televisão existente nas universi-
reunir um conjunto de bases essenciais para trabalho final, um plano de uma campanha dades portuguesas, produzindo programas
uma correcta compreensão da maioria dos de publicidade para um produto ou um ser- e noticiários a nível interno, bem como anún-
assuntos. Assimilam noções e conceitos de viço. Tanto em Marketing e Publicidade co- cios e documentários para empresas exter-
mo nas Relações Públicas sem- nas à universidade, mantendo igualmente
pre que possível é proporciona- protocolos de cooperação com entidades
do um estágio numa empresa da que apoiam a realização e produção de ví-
especialidade. deos institucionais.
Na vertente de Jornalismo, no Como actividades extra-curriculares rela-
último ano, os alunos têm no pri- cionadas com o curso os alunos podem
meiro semestre cadeiras muito optar por participar na televisão interna, de-
práticas denominadas por ate- signada por UnI TV, fazer um programa de
liers, onde aproveitam para “simu- rádio ou participar numa das várias publica-
lar” as situações de um dia--a-dia ções que são editadas no seio da Univer-
na redacção de um jornal, televi- sidade Independente.
são, ou rádio. No segundo semes- *Director Executivo do Curso
D.R.

tre a vertente prática mantêm-se de Ciências da Comunicação

68 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Aula Aberta

Sociedade da informação:
tecno-optimismo?

ada meio de comunicação parece ser porta-


C dor de uma nova civilização. Asa Briggs e
Peter Burke, na obra “The Social History of the
de funcional, uma visão linear na história que identi-
fica modernidade e progresso e a obliteração da
ideia de rede. A vertente mais ideológica da análise
Media”, identificam assim as idades dos cami- de Bell radicaria, porventura, neste conjunto de
nhos de ferro, da radiodifusão, do cinema, da pressupostos. Numa perspectiva crítica, Alain Tou-
televisão e, por fim, da Internet. raine designou as sociedades pós-industriais como
Sobretudo a partir dos anos 70, o paradigma da so- “sociedades tecnocráticas” e “sociedades progra-
ciedade da informação, como patamar último civiliza- madas”, nesta última acepção quando se procura
cional, transforma-se em referencial político a nível defini-las, em primeiro lugar, pela natureza do seu
nacional e internacional. Já nesta altura se pressen- modo de produção e de organização económica.
tem as potencialidades, nos planos económico, so- Em 1994, o presidente e vice-presidente dos Es-
cial, cultural, da articulação da informação com os tados Unidos, Bill Clinton e Al Gore, são arautos de
substratos tecnológicos que permitem a sua recolha, uma nova estratégia mundial: as “info-estradas” ou
tratamento, transmissão e armazenamento. infraestruturas globais da informação.
As sociedades pós-industriais ou pós-modernas Na resposta, as instituições europeias enuncia-
despertaram com a abundância electrónica e com a ram o meta-objectivo da promoção da sociedade
abundância da informação. A liberalização do acesso da informação e do conhecimento, assente no
à informação é praticamente coincidente com a trans- crescimento, competitividade e emprego, outros
posição para a esfera civil de parte de uma tecno- meta-objectivos.
estrutura concebida e concretizada em sede de pro- Esta ligação umbilical entre objectivos transver-
jectos avançados de pesquisa na área da Defesa. sais revela o seu húmus político e até ideológico. O
O slogan “revolução das comunicações” forjado mais recente plano de acção “eEurope 2005: uma
pela política norte-americana no início dos anos 70 sociedade da informação para todos” – parte inte-
é um símbolo desta conversão civil das tecnologias, grante da “estratégia de Lisboa” – sustenta que “a
em contraposição com a estratégia soviética, que sociedade da informação tem muitas potencialida-
mantinha a indústria electrónica fundamentalmente des ainda por explorar que poderão aumentar a
ligada às necessidades militares. produtividade e melhorar a qualidade de vida”.
“A informação é necessária para organizar e fazer “Estas potencialidades vão aumentando com os
funcionar todas as coisas desde a célula até à Ge- progressos tecnológicos do acesso multiplataformas
neral Motors”, escreve, em 1979, o sociólogo norte- e em banda larga. (...) Estes progressos estão a
Por Carla Martins*
americano Daniel Bell, um dos principais teorizado- criar oportunidades económicas e sociais significa-
res da sociedade pós-industrial. tivas”, indica o documento.
Bell foi preciso nas tendências estruturais que Independentemente das interrogações suscitadas
elencou na antecâmara da sociedade do futuro: em torno dos “progressos tecnológicos” – atribuíveis
passagem de uma economia de produção para uma a uma fase de recessão e de transição tecnológica –
economia de serviços; proeminência da classe pro- e dos verdadeiros esforços que os Estados-Membros
fissional e técnica na estrutura do emprego; centrali- canalizam na promoção da sociedade da informação,
dade do saber teórico-científico como fonte de ino- fica uma outra questão mais profunda. Não se estará
vação e coadjutor na formulação de políticas públi- a confiar com demasiada facilidade ao optimismo tec-
cas; necessidade de balizar o futuro, antecipando-o; nológico (tecnocrático) a resolução de problemas
recurso a tecnologias intelectuais (lógico-matemáti- estruturais como a produtividade e o desemprego?
cas) orientadas para a tomada de decisão.
*Jornalista e Docente Universitária
A este enunciado subjaz uma matriz de socieda-

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I Congresso Luso-Brasileiro e II Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos

Congressos Universitários
Joana Pais
No caminho da qualidade
Durante dois dias vários aspectos relacionados com os media e a comunicação foram alvo de
discussão na Universidade Fernado Pessoa. E com algumas conclusões curiosas

Por Joana Pais


mundo onde a concorrência é cada vez
ornalismo de referência. A definição
J deste conceito foi a primeira grande
dificuldade com que se depararam os
mais apertada e onde o fosso entre a teoria
e a prática parece aprofundar-se, iniciativas
como esta – onde os estudantes podem ti-
intervenientes no I Congresso Luso- rar partido da experiência concreta de quem
Brasileiro de Estudos Jornalísticos e II conhece bem o terreno – tornam-se cada
Congresso Luso-Galego de Estudos vez mais pertinentes. E pertinente foi tam-
Jornalísticos. Durante os dias 10 e 11 bém a intervenção de Paquete de Oliveira,
de Abril a Universidade Fernando que sensibilizou a audiência para o facto
Pessoa, no Porto, foi palco de mais de os últimos acontecimentos da Guerra
dois congressos no âmbito do debate do Iraque obrigarem a «reflectir e produzir
sobre questões ligadas ao jornalismo, conhecimento na área do jornalismo, para
que reuniram grandes nomes da que este melhor possa servir a cidadania

Joana Pais
comunicação social e do ensino sob o e assim ser denominado de jornalismo de
tema “Jornalismo de Referência”. referência». Já o conhecido teórico da co-
A lista de congressistas convidados in- municação, Nelson Traquina, considera Ricardo Jorge Pinto
cluiu nomes como Paquete de Oliveira, pre- que «apesar do desenvolvimento da inves-
sidente da Sopcom e da Lusocom, Sónia tigação em jornalismo há muitos campos as forças partidárias e patronais, respeitam
Moreira (presidente da Intercom - Socieda- ainda por explorar e nessa medida os con- os ideais nobres da profissão».
de Brasileira de Estudos Interdisciplinares gressos tornam-se muito importantes». Quanto a Ricardo Pinto, começou por
da Comunicação), Nelson Traquina (do- afirmar que «não há um único modelo de
cente na Universidade Nova de Lisboa, es- | Referência. O que é? | jornalismo de referência», enumerando «as
tudioso da Comunicação e autor de diver- O dia 10 começou com uma sessão ple- características que fazem com que o Ex-
sas obras sobre o sector e ensino dos Me- nária intitulada Jornalismo de Referência presso se associe a ele e seja adjectivado
dia), Xosé Ramon Pousa (presidente da no Brasil, em Portugal e na Galiza, sendo de jornalismo de qualidade». Na sua expo-
Associação Galega de Ciências da Comu- de realçar as intervenções do já referido sição evocou a personalidade e coerência,
nicação), Francisco Rui Cádima (presiden- Nelson Traquina e de Ricardo Jorge Pinto, «mantidas desde a primeira edição»; a es-
te do Obercom), Xosé Soengas (da Uni- editor da redacção Norte do jornal Expresso tabilidade (ao constatar que apenas houve
versidade de Santiago de Compostela) ou e professor na Universidade Fernando Pes- quatro directores desde 1973 e que o actual
Ricardo Jorge Pinto (da anfitriã Universida- soa. O primeiro dirigiu a sua intervenção já o é há quase vinte anos); a credibilidade;
de Fernando Pessoa), entre outros. para os cursos de jornalismo em Portugal a isenção e a qualidade «baseada em mo-
Um auditório repleto de caras jovens de- e para a importância que eles têm vindo a delos como os do Sunday Times ou Sunday
monstrou a importância que a comunidade ter na formação de «jornalistas de qualida- Telegraph. Foram ainda apontadas a so-
académica dá a este tipo de eventos. Num de, que em vez de se comprometerem com briedade «até na própria paginação, atrac-

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Antetítulos

pectativas é o momento de transição».


Os avanços tecnológicos vieram permitir
a introdução de vários narradores de notícias
o que acaba por colocar em causa a questão
da qualidade. A aposta dos jornalistas deve
neste momento incidir sobre uma melhor ob-
servação do facto. «Os factos em primeira-
mão já não são privilégio do profissional. Ao
jornalista cabe agora o aprofundamento do
facto, a análise», explicou Magda Rodrigues.
Para o receptor da informação não se perder
na imensidão de factos disponibilizados pe-
las audiências, os jornalistas que querem
vencer com qualidade têm de trabalhar o

Joana Pais
contexto da informação pois conforme afir-
mou Manuel Pinto, «a qualidade é muitas
Sofia Gaio e Paulo Cardoso, dois dos oradores vezes entendida como característica da or-
ganização do produto».
tiva mas discreta» e a diversidade e multipli- o pé na linha da ficção. Este será eventual-
cidade de informação. Comentando as re- mente o primeiro pressuposto a que devemos | Jornalismo e Publicidade |
centes mudanças do jornal, Ricardo Pinto atender quando o nosso objectivo é a quali- Andreia Galhardo, professora da Universi-
realçou que o Expresso tem a «tradição de dade. É certo que «o jornalismo é, ou pelo dade Fernando Pessoa, fez uma apresen-
mudar quando está em alta». menos devia ser, um serviço público», o que tação onde destacou «as semelhanças entre
Depois da grande dificuldade em definir não faz com que nos possamos esquecer da as propriedades do discurso jornalístico e as
“referência”, adjectivo preferido pela maioria sua «vertente empresarial. O negócio que é do discurso publicitário». À primeira vista eles
em detrimento de “qualidade”, os temas o jornalismo influencia também os contornos nada têm em comum em termos de estra-
abordados durante os dois dias desta reu- tégia de composição, mas o que é certo é
nião diversificaram-se. Tendo em considera- que são já conhecidos casos em que deter-
ção o novo paradigma tecnológico, proble- minados órgãos de comunicação social con-
mas como “a função do jornalista” foram lan- trataram profissionais da publicidade para
çados para a mesa, a par de outros temas construírem os seus títulos noticiosos com
mais específicos, mas nem por isso menos- o intuito de os tornar mais atractivos. Ao con-
prezados. trário do que se possa pensar a semelhança
não reside entre os títulos de ambos os dis-
| Um novo jornalista | cursos mas entre o título jornalístico e o slo-
Na opinião de Manuel Pinto, docente da Uni- gan publicitário. «Quer na publicidade, quer
versidade do Minho, há hoje em dia um «uso no jornalismo, o título tem subjacente a fun-
e abuso recorrente do conceito de qualida- ção de chamar à atenção e convidar à leitura
de» que corre o risco de se esvaziar no seu sendo que o slogan induz mais directamente
sentido segundo os estudos empíricos. Esta à memorização», realçou Andreia Galhardo.
afirmação foi feita com base no projecto Me- Com base na análise da revista Única do
Joana Pais

diascópio, a ser desenvolvido por ele próprio, jornal Expresso, Andreia Galhardo constatou
em colaboração com Sandra Marinho, pro- que, «tanto o princípio da economia narrati-
fessora na mesma universidade. Aparente- Sandra Marinho, do projecto Mediascópio va, como o princípio da simplificação, tão ha-
mente, os estudos sobre o problema da qua- bituais na publicidade», têm expressão nos
lidade, tão em voga nos dias que correm, dados à qualidade», alertou Manuel Pinto. títulos jornalísticos. O texto jornalístico deve
são relativamente reduzidos embora os já Contudo, segundo Magda Rodrigues da ser informativo, disso não há dúvidas, mas
existentes se possam agrupar em três tipos Cunha, da PUCRS (Pontifícia Universidade para que as pessoas o leiam «deve também
de conclusões: qualidade como caracterís- Católica de Rio Grande do Sul) «estamos a ser vivo e convidativo». O enigma, frequen-
tica da organização do produto; qualidade viver o resultado do desenvolvimento do sé- temente sugerido nos anúncios publicitários,
entendida como serviço público e qualidade culo XX». Ou seja, surgiu agora a necessi- tem vindo a ganhar lugar no discurso jorna-
como investimento simbólico e económico. dade de «um novo jornalista para narrar o lístico. Um exemplo apontado foi “Obesida-
Este desdobramento do conceito ajuda a mundo». O conteúdo dos meios e o perfil de. A gordura vai a tribunal”. Para a compre-
demonstrar o seu carácter «complexo e multi- dos jornalistas que sempre nos serviram de ensão deste título é necessária a leitura do
facetado». Perante a importância dos meios referência ganham no decorrente paradigma texto, só assim ele fará sentido.
jornalísticos na sociedade há que regulá-los novos contornos, sendo que, nas palavras Assiste-se também na imprensa aos típi-
e, antes de tudo, não permitir que se ponha da congressista, «o actual horizonte de ex- cos jogos publicitários de intertextualidade

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Congressos Universitários
que resultam da modificação de certos co- Relativamente ao hipertexto (links inter- No que se refere ao alcance global que
nhecimentos perfeitamente enraizados na nos e externos ao jornal) é uma inovação tão bem descreve a Internet, há que lembrar
mente do receptor. Na revista Única a con- positiva, pelo facto de se alargar o espectro que ele diminui os custos das edições uma
gressista encontrou, entre vários, um título noticioso e a «possibilidade de arquivo e vez que não se paga o papel e que «dá voz
que demonstra exactamente aquilo que es- pesquisa» na medida em que se podem a grupos da comunidade» mas, por outro
tamos a dizer “Sino de Colombo” que nos criar links para notícias relacionadas com o lado, incorre-se no risco de «qualquer um
remete imediatamente para o ovo de Co- tema principal. Contudo, é muitas vezes su- poder ser produtor de conteúdos». Final-
lombo. Assim sendo, constata-se que jorna- bestimada a possibilidade de confusão en- mente, foi realçado que a instantaneidade
lismo e publicidade são duas realidades ca- tre o teor editorial e o publicitário através, veio resolver o grande problema da actuali-
da vez mais próximas. por exemplo, de links empresas (como a dade jornalística, acabando por, negativa-
Mas esta não é única forma através da amazon.com), ou ainda, o facto de poder- mente, retirar ao jornalista tempo para cru-
qual ambas as realidades se têm aproxi- mos estar a desviar os leitores para territó- zar e confirmar a informação. Ora, conforme
mado. Nas palavras de Paulo Cardoso, tam- rios demasiadamente movediços, em que Inês Aroso bem demonstrou, «há que con-
bém docente na Universidade Fernando se pode questionar a fiabilidade dos sites trolar bem os media digitais porque as suas
Pessoa, «a possibilidade de segmentação para os quais há links estabelecidos. características favoráveis, rapidamente se
e as potencialidades visuais e textuais fa- Quanto à característica da personaliza- podem transformar em sinais de pouca qua-
zem da imprensa um meio privilegiado lidade informativa».
para a inserção de mensagens publici-
tárias». «O seu carácter de durabilidade, | A imagem online |
o facto de podermos ler os anúncios
Com as edições online Ainda no âmbito dos jornais online So-
quantas vezes quisermos durante quan- reduzem-se os custos com o fia Gaio, docente na Universidade Fer-
to tempo quisermos, recortá-los e guar- nando Pessoa, apresentou uma co-
dá-los fazem com que vários anuncian- papel mas corre-se o risco municação que incidiu sobre a sua
tes lhe recorram». Aliás, nos resultados de qualquer um poder ser vertente comunicativa institucional.
apresentados por Paulo Cardoso os Em vez de abordar os conteúdos jor-
anúncios que requerem maior atenção produtor de conteúdos nalísticos esta foi uma apresentação
e, consequentemente, maior disponibili- que procurou dar a conhecer um pou-
dade de tempo, são aqueles que ocu- co a forma como os jornais se apre-
pam mais espaço no jornal Expresso e sentam. Tendo em mente a boa ima-
na Notícias Magazine. gem como um dos objectivos de qual-
Quer pelas semelhanças no discurso, quer organização, salientou que para
quer pela atracção que estas actividades ela contribuem não só os conteúdos
sentem mutuamente, o que é facto é que jornalísticos, mas também «a intensi-
jornalismo e publicidade andam, cada vez dade da informação de carácter institu-
mais, de mãos dadas. cional como um factor crítico para o
sucesso».
| O paradigma digital | Segundo Sofia Gaio, o que frequen-
Inês Aroso, ex-aluna de mestrado da Uni- temente acontece é que a informação
versidade Fernando Pessoa, apresentou institucional, por exemplo, o historial
resumidamente uma das conclusões da do jornal, é descurada da maior parte
sua tese, que incidiu sobre o impacto das dos sites. Será que esta situação pre-
Joana Pais

novas tecnologias na qualidade do jorna- judica a qualidade do site do jornal?


lismo. Com o intuito de responder a uma Esta é uma questão que poderia levar
pergunta colocada relativamente à “qua- Inês Aroso na sua intervenção muito tempo a responder até porque
lidade” do jornalismo, Inês Aroso procurou ainda está muito enraizado o senti-
analisar as principais características do jor- ção (newsletters, home page, etc.), é certo mento de que só a imprensa pode ser de
nal on-line e ver de que modo elas afectam que há vantagens no facto de o leitor só ace- referência. Contudo, estaríamos assim a
a sua qualidade. Concluiu que a interactivi- der à informação que lhe interessa, corren- deixar de lado estações de rádio nacionais
dade (e-mails, chats, fóruns de discussão, do no entanto o risco de ficar mal informa- como a TSF ou cadeias televisivas interna-
etc.) proporciona uma «diversificação das do na generalidade. O multimédia (vídeo, cionais com a NBC.
fontes» na medida em que há mais infor- audio, fotografia, etc.), uma das principais Em suma, foram dois dias em que muito
mação e, consequentemente, «mais ideias características do meio digital, é apontado se debateu, abordando uma multiplicidade
para reportagens, um maior conhecimento como vantajoso na medida em que permite de aspectos – às vezes mais interligados
da audiência e uma maior participação dos uma visão mais completa do acontecimento, do que possa parecer a um olhar mais sim-
cidadãos». No entanto, como ameaça à embora obrigue a um desdobramento da plista – não com o objectivo de desvendar
qualidade surge a perda de controlo do fluxo função do jornalista, o qual tem de estar apto soluções, mas sim de abrir novas “janelas”
informativo por parte dos profissionais da a manipular várias ferramentas, podendo de discussão, para recorrer a um termo ac-
comunicação. dispersar-se da sua função primordial. tualmente tão em voga.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 73


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PALHA LT 105 LJ 3 CASTELO PAIVA • AV GEN HUMBERTO DELGADO • LG REPUBLICA - SOBRADO • LG CONDE CELORICO BEIRA • RATOEIRA CERCADO • AREA DE SERVICO SHELL CHARNECA CAPARICA •
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RAMOS, 146-CC GIRASSOL CORGA LOBAO • . CORTEGACA • R JORNAL POVO CORTEGACA, 24 COSTA CAPARICA • PC JOAQUIM MARIA COSTA 6 C • R D SEBASTIAO 69 D COSTA NOVA • AV MARGIN-
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• LUG ARRABALDE • AV 29 MARÇO, 837 ESPINHO • R 23, 211 • R 30, 1110 • AV FABRICA 58-NOGUEIRA REGEDOURA • R 62, 113 • AV 8, 1438 • R 19, 182 ESTORIL • AV CONDE BARCELONA AREA
SERV REPSOL EVORA • PCT HORTA DO BISPO 5 • EST NAC 114 KM 182/3-ASV GALP • R REPUBLICA 59/61 • R EBRIM 18 FAMALICAO - NAZARE • CAMARCAO, 13 FAO • R RAMALHAO FARO • R STO
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BACALHOCINOS-ESTACAO SERV BONGAS • AV PRIOR SARDO, 47 • AV JOSE ESTEVAO, 687 GORJOES • SUPERMERCADO (ALISUPER) GRANDOLA • AV ANT INACIO CRUZ-QUIOSQ DO CARLOS GUIA
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248 • R TEIXEIRA PASCOAIS-URB QUINTA • LG VALENTIM MOREIRA DE SÁ, 98 • R PAPA JOÃO II - FERMENTÕES ILHAVO • R ARCEBISPO P BILHANO,19 • AV 25 ABRIL,10 • AV MARIO SACRAMENTO •
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TO PORTELA-V INT LJ 20/21 • R ENG VIEIRA SILVA 3 D • AV JULIO DINIS 10-APOLO 70 LJ 6 • AEROPORTO-CHEG VOOS INTERN • AV LUSIADA-C C COLOMBO LJ 0052 • AV STO CONDESTAVEL-FEIRA
NOVA LJ 22 • AV LUSIADA-C COM COLOMBO LJ 0035 • AV ROMA 110 A-TAB MARTA • R SOEIROS-QUIOSQUE SOEIROS JT BPSM • R TOMAS RIBEIRO-EDIF PLAZA • AV GEN ROÇADAS 72 C • R
ALEXANDRE HERCULANO FT 1 • AV ANT AUGUSTO AGUIAR-CORTE INGLES • ESTAÇAO SANTA APOLONIA LJ 5 • GARE ORIENTE LJ G 211 (TO RAFA) • R ALEX HERCULANO-QUI FT TRANQUILID • PC
ESPANHA-QUIOSQUE JT METRO • R CAMPOLIDE 351-TWIN TOWERS LJ 6 • AV CORONEL EDUARDO GALHARDO 2 C • AV ROMA 48-B C.COM.ROMA LJ 40/41 • AV A J ALMEIDA C C JOAO DEUS
LJ 307 • CAMPO GRANDE 30 LJ C • AV ROMA JT 29 • R ALEXANDRE HERCULANO • AV MARQUES TOMAR,JT MIGUEL BOMBARDA • AV ALM REIS,24 R/C • AV REPUBLICA,JT 15 • R ALEXANDRE
HERCULANO,FT 29 • AV REPUBLICA,FT 55 • ESQ.AV.5 OUTUBRO C/AV.ELIAS GARCIA • AV REPUBLICA FRT 85 • AV REPUBLICA ESQ AV BERNA LOULE • AV 25 ABRIL-EDIFICIO VILA FLOR LJ B LOUREDO
• BOMBAS GASOLINA S VICENTE LOUREDO LOURINHA • C COM ROSSIO LJ 19 LOUROSA • ALDEIRO • R MAE AGUA MOZELOS • LG IGREJA MAFRA • URB VALE AMOREIRA-C CO MODELO LJ 3A MAIA
• AV NOVO RUMO, 31 • R S ROMAO,1019 VERMOIM • JUMBO MAIA LJ 24/25 MAIA-G CENTRAL PLAZA • R D MANUEL II L 102 1P MAMARROSA • R MANUEL NEVES MARINHA GRANDE • R MARQUES POM-
BAL, 45 MASSAMA NORTE • R D FILIPA LENCASTRE 23 A MATOSINHOS • R TOMAS RIBEIRO,475 • R BRITO CAPELO,951 • SARA AFONSO 105-107 NORTE SHOPPING • AEROPORTO FRANCISCO SA
CARNEIRO MEALHADA • LG JARDIM • R DR JOSE CERVEIRA LEBRE • AV 25 ABRIL • AV QTA NORA, 45 MEM MARTINS • R COUDEL 55 • AV BELA VISTA FT C COM BELA VISTA MILHEIROS POIARES • LUGAR
IGREJA MIRAFLORES • AV TULIPAS-C COM DOLCE VITA LJ 011 MIRATEJO • AL 25 ABRIL 33 C C MIRATEJO LJ 20 MOGOFORES • LG CRUZEIRO MONCHIQUE • R ENG DUARTE PACHECO 18 MONTE DA CAPARI-
CA • UNIV NOVA LISBOA-FAC CIENCIAS TECN MONTIJO • R ALM CANDIDO REIS 6 MOSCAVIDE • AV MOSCAVIDE 5 A NAZARE • R MOUZINHO ALBUQUERQUE 8 • AV MANUEL REMIGIO 82 A AP 111
NOGUEIRA CRAVO • LUG CRUZEIRO • LUG BRITES NOVA OEIRAS • AV REPUBLICA POSTO ESSO ODIVELAS • PC ORDEM CRISTO LT 7-CC CHAPIM LJ 9 OEIRAS • R GAZETA OEIRAS 8 A • AV ANT MACEDO-
OEIRAS PARQUE LJ 1053 OIA • LG CRUZEIRO OLHAO • AV 5 OUTUBRO LJ 107 ABC • EST NAC 125 (C COM MODELO LJ 1) • LG RESTAURACAO N 18 LJ 5 OLIVEIRA DO BAIRRO • R MORTA • ZONA
INDUSTRIAL-INTERMARCHE OVAR • MONTE ARADA (JUNTO FARMACIA) PACO D’ARCOS • R RECIFE 8 A-JARDIM DOS ARCOS PACOS BRANDAO • AGENTE JORNAIS PACOS FERREIRA • AV TENENTE LEONAR-
DO MEIRELES 166 PALHACA • R ROQUE, 2 PALHAIS-CHARNECA CAPARICA • AV ELIAS GARCIA-AREA SERV GALP PAMPILHOSA • R REPUBLICA • R DR ABEL SILVA LINDO,Nº 2/4 PAREDE • R LATINO COEL-
HO 4 C C PAREDE LJ 18 PAREDES • MOINHOS - LORDELO PEDROUCOS • R FERNANDO NAMORA,116-CONF BOM CAFE PERA • R ALEXANDRE HERCULANO LT 2 LJ 3 PONTE DE LIMA • MOSTEIRO-REFOIOS
PONTE DE SOR • AV LIBERDADE PONTINHA • R STO ANDRE 9 C COM PORTIMAO • R COMERCIO 42 (APARTADO 31) • URB QUINTAO V 6 (POSTO GALP) PORTIMAO • C COM MODELO LJ 5 PISO 0 •
AV LICEU-QUIOSQUE KALUNGA PORTO • TV SA NORONHA,4 • PC PARADA LEITAO,37 • PC DR FRANCISCO SA CARNEIRO, 143 • R ARQUITECTO MARQUES SILVA, 303 • R SAMPAIO BRUNO, 8 • AV
MARECHAL GOMES COSTA, 107 • R N SRA FATIMA,460 • PC LIBERDADE, 125 • R STA CATARINA - C COM VIA CATARINA • PC DO BOM SUCESSO, 159 ED PENINSULA • ESTR EXT CIRCUNVALA-
CAO,7762 • R DIU, 231 • PC MOUZINHO ALBUQUERQUE, 113 LJ 55 • R GON SAMPAIO LJ 312 C C CID PORTO • R S JOAO BOSCO 327 • R COSTA CABRAL, 2203 • R 5 DE OUTUBRO, 509 • ANGU-
LO SA BANDEIRA/FERNANDES TOMAS PORTO COVO • R VASCO GAMA,3 PORTO SALVO • TAGUS PARK NUCLEO CENTRAL LJ 134 PORTO SALVO/TAGUS PARQUE • EDF 5-GRUPO BCP/ATLANTICO POVOA
PENAFIRME • R COMERCIO 21 (PAPELARIA SABI) POVOA STA IRIA • ESTAÇAO CP-JT BILHETEIRA 1º AND POVOA VARZIM • LG DORES - C COM PREMAR PRAGAL • B MATADOURO HOSP GARCIA ORTA
PRAIA DA ROCHA • AV TOMAZ CABREIRA-ED BELO HORIZONTE • R AFONSO ALBUQUERQUE ED SAFIRA LJ D PRAIA DA ZAMBUJEIRA • CAFE ESTRELA DO MAR PRAIA VAGUEIRA • PRAIA VAGUEIRA QUAR-
TEIRA • R VASCO GAMA-EDIF CORTES REAIS LJ 4 QUELUZ OCIDENTAL • R RUI GAMEIRO 29 QUINTA LAGO • EST VELHA QUINTA LAGO(BOMBAS REPSOL QUINTAS • LG CAPELA RANA • URB TERPLANA LT
16 LJ 4 RINCHOA • R MARQUES POMBAL SHOPP FIT LJ104 RIO MOURO • LUG ALTO FORTE HIPER F NOVA LJ 5 RIO TINTO • TV DR OLIVEIRA LOBO, 145 S BERNARDO • COSTA VALADO • R DR ERNESTO
PAIVA, 3 A • R CONEGO MAIO, 210 S DOMINGOS RANA • EST MATO TORRE-ASV REPSOL S JOAO MADEIRA • AV BENJAMIM ARAUJO, 4 • CRUZ FAJÕES CESAR • R VISCONDE, 2412 • R GUERRA JUN-
QUEIRO, 77 • PC LIBERDADE - CESAR • R D AFONSO HENRIQUES, 470 S M FEIRA • LUG CORGAS FORNOS S MAMEDE • PC CONCORDIA 13 S MARTINHO DO PORTO • R VASCO GAMA 13 S PEDRO DO
SUL • TERMAS S PEDRO DO SUL SALREU • LG IGREJA SANGALHOS • R COMERCIO • R COMERCIO SANGUEDO • LG STA EULALIA, 16 SANTAREM • R PEDRO SANTAREM 110 RC • MODELO HIPER SANTAREM
LJ 8 • R CAPELO IVENS 79 SANTIAGO DO CACEM • AV NUNO ALVARES PEREIRA-C.COM.LJ 3 SANTO TIRSO • R SOUSA TREPA, 67 SENHORA DA HORA • EST EXTERIOR CIRCUNVALACAO,12040 SERPA • PC
REPUBLICA 1-2 SESIMBRA • AV 25 ABRIL 9 C SETUBAL • R BAIRRO AFONSO COSTA 5-PAP ANAISA • PC MARQUES POMBAL 28 • C COM JUMBO PAO ACUCAR LJ 34 35 SILVEIRO • R ROSSIO,6 SOUTO-
FEIRA • . SRA HORA • NORTE SHOPPING LJ 1446 STA BARBARA DE NEXE • LG ROSSIO 17 STA CRUZ • R JUDITE NAVARRO,3-A STA MARIA FEIRA • S JOAO VER • CORGA LOBAO • FORNOS GUIZANDE STA
MARIA LAMAS • R MEROUCO, 633 • R STA MARIA STO ANT CAVALEIROS • AV LUIS CAMOES,EDIF 15-LJ 106 TELHEIRAS • R: PROF. FRANCISCO GENTIL FT-C.G.D. TERRAS DE BOURO • COVIDE TOMAR • CEN-
TRO COMERCIAL MODELO PALHAVA • R INFANTARIA 15,23-APARTADO 227 • AL 1 MARCO LT-L-C COM TEMPLARIOS TORRE DA MEDRONHEIRA • EST OLHOS D’AGUA TORRES • TORRES TORRES NOVAS
• R NUNO ALVARES PEREIRA,7 TORRES VEDRAS • PC REPUBLICA 11 • LUG CONQUINHA C C MODELO LJ 3 TRAVASSO • TRAVASSO TROIA • PPI PUBLICACOES PUBLICIDADE INF V NOVA DE FAMALICÃO •
R ADRIANO PINTO BASTO, 25 • AREA SERVICO CEIDE A7 GUIM-FAM N/S • MEAES-VILARINHO DAS CAMBAS VAGOS • LG BRANCO MELO,55 • R FONTE NOVA,235 RC DTO • R CAMPO FUTEBOL
VALE DE LAMAÇAES • MINHOCENTER - CARREFOUR, LOJA 30 VALE DE LOBO • APARTADO 425-VALE DE LOBO • ALDEAMENTO VALE LOBO VENDA DO PINHEIRO • QTA MUCHARRO LT9 RCE VENDAS GRIJO
• AV S SALVADOR, 105 VERMOIM • URB MANINHO EDF LARA,113 VIANA DO CASTELO • LG JOAO TOMAS DA COSTA JARDIM,85 • R CANDIDO REIS,1 • PC DA REPUBLICA, 33 VIATODOS • LUG DA VENDA
VILA CONDE • AV BRASIL,42-44 VILA DA FEIRA • MOSTEIRO CANEDO • R DR VITORINO DE SA 1 VILA MOREIRA • AGENTE DE JORNAIS VILA NOVA DE GAIA • GAIA SHOPPING, LJ - 210 • R CONCEICAO
FERNANDES,6-A • R D ANTONIO FERREIRA GOMES, 306 • AV REPUBLICA, 2024 HOTEL HOLLIDAY • JOSE FERN CALDAS ARRAB SHOP LJ 13B VILA NOVA MILFONTES • R CUSTODIO BRAS PACHECO 55
VILA REAL • R SANTA IRIA, 54 VILAMOURA • ALDEIA MAR • HOTEL AMPALIUS LJ 4 VILARINHO DO BAIRRO • PEDRALVA VISEU • BARBEITA
Continuamos a evoluir!

A mudou, veja as diferenças!!!


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Comércio Online Comércio e publicidade online crescem em 2002

À venda no seu computador


O crescimento do comércio
online pode traduzir-se numa
maior aposta em publicidade
neste media. Em quantidade e
em qualidade

Por João Morales

aumento do número de computa-


O dores ligados à internet introduziu,
necessariamente, diversas alterações
nos códigos de comunicação. Consi-
derando o termo no sentido mais lato,
não é de estranhar que haja também
reflexos nos hábitos de consumo: com- a sua verba destinada a anunciar na in- | O que é de mais... |
prar pela net é uma opção que tem vin- ternet, ao mesmo tempo que Ford, Dis- Refira-se que, também segundo dados
do a conquistar terreno. ney e Johnson & Johnson estão entre da Nielsen Net Ratings, em 2002 regis-
Segundo os números divulgados pela as dez empresas que mais aumentaram taram-se cerca de 28 mil milhões de
Visa UE, no último trimestre de 2002 as o seu budget para este tipo de publici- anúncios em janelas que se abriram ao
vendas online subiram cerca de 136% na dade. Aliás, a empresa americana que mudar de página na internet. Um outro
União Europeia, face ao período homólo- mais investiu neste suporte em 2002 foi estudo, da responsabilidade da empresa
go. Foram registadas durante esse perío- a AOL Time Warner. Também para 2002 AmericanFeedback alerta que 97% dos
do cerca de 31 milhões de operações, a Pricewaterhouse & Coopers declara internautas ficam furiosos mediante a
com um especial enfoque nas vendas a que o investimento publicitário na inter- presença dos chamados “pop ups”, e
retalho (um aumento de 164% nos artigos net conheceu um aumento de 19%. apenas 2% “clicam” neles.
desportivos, 149% nos informáticos e 98% É natural que novas realidades Ou seja, a presença excessiva deste ti-
nos alimentares). “espevitem” a criatividade dos po de mensagens pode traduzir-se num
Este crescimento do comércio onli- efeito contraproducente, levando a
ne, poderá implicar uma maior aposta que o consumidor associe determi-
em publicidade e outras formas de Grandes marcas como a Ford, nada marca a uma presença impos-
comunicação neste meio. A tendência Disney ou Johnson & Johnson ta, levando-o a preteri-la em favor de
está bem patente nas palavras do outras que se façam comunicar de
Chief Marketing Officer da McDo- estão entre as empresas que um modo mais “sociável”.
nald’s, Bill Lamar, quando fez saber, Apesar de tudo, há quem continue
durante a sua intervenção na 85ª
mais aumentaram o seu a apostar na “imposição”: A Unicast,
Conferência Anual da Associação budget para publicidade online uma empresa que desenvolve softwa-
Americana de Agências de Publicida- re para publicidade online lançou um
de que a esta multinacional pretende novo formato de anúncio - accionado
investir menos em filmes publicitários de comunicadores, reflectindo-se no quando o internauta navega no interior de
televisão, aumentando o seu investimento desenvolvimento de novas formas um site - em que o ecran é totalmente
em marketing e publicidade online: «Os para captar a atenção dos con- ocupado pela publicidade, durante um
dias de gastar centenas de milhões de dó- sumidores – assim nasceram os tão período de 15 segundos.
lares em publicidade na TV terminaram», falados “pop-ups” ou outras “ousadias” Mas não será por acaso que a AOL já
foi o aviso deste responsável, reproduzido mais recentes (recorde-se o caso do oferece aos seus subscritores a possibilida-
pelo site da Advertising Age. New York Times que comercializou de de bloquearem a maioria dos anúncios
anúncios de meia página que acom- que surgem no seu monitor. «Estamos a
| Mais publicidade na rede | panham o texto, associando-se à dar ao serviço um valor acrescentado», sin-
Um estudo recente, elaborado pela imagem offline do título). Mas atenção: tetizou um dos responsáveis pelo marketing
NielsenRatings, aponta que os grandes a publicidade intrusiva é uma das prin- da empresa. Sim, porque numa época em
anunciantes americanos já integram cipais queixas dos internautas. E aqui- que todos dispõem da mesma tecnologia, o
esta tendência nos seus planos de lo que nos incomoda, dificilmente nos conforto com que ela é disponibilizada pode
meios: a Daimler-Chrysler quadruplicou seduzirá. fazer a diferença.

76 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Ensino de gestão de media: Qual o futuro?

Internacional/Gestão de Media
EMMEA reúne-se
priados para cada nível de ensino e faci-
litação de material através de um website
exclusivo da comunidade dos membros.
Das principais conclusões destacam-

em Bruxelas se a necessidade de levar os participan-


tes a resolver problemas e a serem ca-
pazes de identificar as fontes de recursos
Com os constantes desenvolvimentos dos media surge uma nova apropriadas, determinar a escala de ca-
preocupação: a gestão. Neste contexto foi fundada a EMMEA. Saiba tegorias de media e como estas podem
ser aplicadas no ensino, incluir a história
o que é e quais os seus objectivos dos media e questionar o futuro dos me-
dia no pensamento estratégico, e definir
Por Ricardo B. Reis
tamentos universitários, institutos, empre- a diferenciação entre os elementos de
oi com o propósito de servir as neces- sas de me-dia, etc.) e membros individu- cariz profissional/negócios na gestão de
F sidades de ensino de gestão de media
no ensino superior, em programas de trei-
ais (pessoas activas na pesquisa e ensino
de gestão de media).
media, dos outros elementos respeitan-
tes às instituições de jornalismo/comuni-
no da indústria e para estimular o interes- O grupo de trabalho (onde estão in- cação, institutos técnicos e entidades
se académico e intelectual na pesquisa e cluídos nomes como Robert Picard, Al- que fornecem ensino de gestão genérica
ensino de gestão de media que nasceu a fonso Sánchez-Tabernero e Paulo Faus- a indústrias que não de media.
EMMEA – European Media Management tino – director interino da Media XXI) con- Paralelamente, o grupo entendeu que
Education Association, cuja primeira con- cordou que há uma escassez de recursos há aspectos adicionais que precisam de
ferência, com o intuito de discutir o ensino relacionados com gestão de media e desenvolvimento e debate: a posição, a
de gestão de media em instituições de ne- esse facto requer que os membros coo- apli-cação e a relação da teoria com a
gócios e instituições económicas, teve lu- perem no sentido de implementar a par- prática de gestão de media, a imple-
gar nos dias 25 e 26 de Abril, em tilha de interesses comuns, troca de infor- mentação de várias estratégias (internatos,
Bruxelas. Trata-se de uma organização mação, acesso às fontes de case-studies oradores / representantes da indústria), e
sem fins lu-crativos que tem dois tipos de publicados e pertinentes para a gestão a expansão da experiência de apren-
membros: membros institucionais (depar- de media, definição dos materiais apro- dizagem do aluno ou participante.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 77


Quem diria...

«Ao Engº. Graça Bau, da TV Cabo: arranje-me lá uma frequência para


eu fazer um canal por cabo assim do tipo da SIC Mulher. É que eu tenho «Os problemas básicos da imprensa regional diária e semanal são a
dois amigos, muito profissionais, e tenho uma garagem de três lugares distribuição e a publicidade (...) Quanto à publicidade regional, verifica-se
que pode dar para um estúdio onde a gente faça um talk-show durante que as agências quase a ignoram, porque desconhecem o seu peso de
a hora de expediente. Ah! E conhecemos imensas séries giras antigas leitura no interior do país»
que dá para pôr nas outras horas todas. Vá lá...»
Manuel Madeira Piçarra, in Diário de Notícias, 28-4-2003
Eduardo Cintra Torres, in Público, 17-3-2003

«A minha área, que é da publicidade, tem duas revistas técnico-profis-


«A publicidade não assenta na comunicação, mas sim no posiciona- sionais: o Briefing e a Meios & Publicidade (...) Mas, evidentemente, a
mento. A melhor publicidade diz muito pouco sobre um produto ou circulação é muito pequena. O conteúdo acaba por ser limitado, porque
serviço. O que a melhor publicidade faz, contudo, é estabelecer e é evidente que possivelmente não têm dinheiro para pagar a jornalistas
reforçar um posicionamento, face aos anseios e expectativas» séniores como, por exemplo, acontece em Inglaterra com uma revista
com as mesmas características, que se chama Campaign»
Al Ries, in AdAge.com, 17-3-2003
Vera Nobre da Costa, in Meios, Março de 2003

«Um canal de televisão tem que ser dirigido por alguém e não pode
ser dividido em fatias e entregue a 30 mil associações ou fundações. É «O problema crónico das publicações desta indústria tem a ver com
preciso um plano para esse canal e terá de ser feito por quem o dirija e a dimensão. Vera [Nobre da Costa] dizia, na mesma entrevista, que a
não por uma espécie de plebiscito de organizações não governamentais, qualidade das nossas revistas e jornais não se comparava, por exem-
fundações, entre outras» plo, com a inglesa Campaign. Ora aí está uma observação original.
Será que a qualidade da McCann Lisboa se compara com a da
Miguel Freitas da Costa, in O Diabo, 18-3 2003
McCann Londres, ou de Nova Iorque. Duvido. E então? É este o
nosso mercado.»
Mário São Vicente, in Briefing, 22-4-2003

«Durante décadas, a TV só nos dava as emoções dos heróis, ora da


ficção, ora da sociedade. Depois, deu as do povo. Desde há poucos
anos, começou a dar as emoções dos jornalistas. A “pergunta mais idio-
ta”, como lhe chamou Peter Jenkins no 11 de Setembro, faz-se agora «A qualidade é uma das coisas mais contagiantes. Mais que a
também aos colegas jornalistas: “o que sentes?”» “atípica”. Quando se experimenta, ou se vê nos outros, já não quere-
mos outra coisa»
Eduardo Cintra Torres, in Público, 24-3-2003
Pedro Bidarra, in Briefing, 6-5-2003

«Ver a guerra em directo, ver combates em tempo real, é agora um


triste hábito. Não pensaria ser possível ouvir dizer “estive a ver a guerra” «Os jornais, e talvez mais as empresas que têm os jornais
- por muito menos que isto, por uma tímidas imagens (comparadas com desportivos, ganharam uma certa obsessão, nos últimos dois anos,
as de hoje), desencadeou-se uma enorme crise interna nos Estados pelos negócios à volta do desporto e menos, na minha perspectiva, pelos
Unidos durante a guerra do Vietname» interesses dos leitores. Isso é uma coisa que justifica a perda de 60 ou
70 mil leitores em dois anos»
Manuel Falcão, in Fim-DE-Semana, 28-3-2003
João Querido Manha, in Diário de Notícias, 11-5-2003

«Assiste-se a uma confrangedora pobreza da opinião pública,


económica e social. A televisão não comporta duas frases articuladas, as «A liderança da RFM mantém-se e parece quase inabalável. [António
revistas têm espaço restrito para os textos, os jornais dispõem de artigos Mendes] foi corajoso por apostar na continuidade, algo que, quase
de fundo, mas o que influencia são os títulos e as manchetes (...) Este nunca, pela sede de poder e protagonismo, acontece»
modelo favorece a caça às bruxas, a facilidade com que se manipulam
Fredy Vinagre, in Meios & Publicidade, 16-5-2003
informações, a raiva com que se investe contra a racionalidade»
Joaquim Letria, in 24horas, 4-4-2003

78 Media XXI | Fevereiro-Março 2003 | n.º 69


Heróis da Liberdade de Imprensa Turquia

Abdi
Ipekci
bdi Ipekci deixou a intolerância na-
A cional para ajudar a construir pontes
entre jornalistas turcos e gregos. No pro-
cesso, Ipekci tornou-se admirado pelos
jornalistas dos dois países. Ipekci nas-
ceu em Istambul em 1929 e começou a
sua carreira jornalísticas como repórter
para o jornal diário Yeni Sabah. Traba-
lhou com o pessoal das notícias do diário
Yeni Istambul, e depois mudou para o Is-
tambul Ekspres em 1961, um jornal ves-
pertino, onde em breve foi nomeado edi-
tor. Com a idade de 25 anos tornou-se
editor. Chefe do recém formado diário
Milliyet (Nation) e ajudou a tornar o jornal
num dos jornais turcos de maior sucesso
e influência. A sua coluna, Durum, teve
um impacto tremendo tanto na opinião
pública como no governo. Ele era um po-

D.R.
lítico moderado e uma voz poderosa
num país atormentado por violenta pola-
rização. Embora os assassinatos políti- Grécia, foi estabelecido a partir de uma lítico. Foi baleado quando conduzia o seu
cos acontecessem diariamente Ipekci fa- iniciativa grega depois a sua morte. carro do trabalho para casa em 1 de
lava incessantemente para a unidade Membro activo do IPI, Ipekci foi eleito Fevereiro de 1979 por Mehmet Ali Agca, um
nacional e reconciliação e contra a vio- executivo dos quadros em 1964 e vice- militante de direita que mais tarde escapou
lência e o terrorismo. presidente em 1971. Foi também presi- da prisão e tentou assassinar o Papa João
Ipekci foi o instrumento principal no dente do Sindicato dos Jornalistas de Is- Paulo II. Ipekci foi o mais proeminente de
arranjar de um encontro entre jorna- algumas 600 vítimas turcas da vio-
listas gregos e turcos sob os auspí- Abdi Ipekci tornou-se editor executivo lência terrorista em 1979.
cios do IPI em Londres, em Novem- “As balas que o mataram eram diri-
do Milliyet com apenas 25 anos de
bro de 1978. Nessa altura havia ain- gidas à democracia e ordem constitu-
da uma intensa severidade entre os
idade e transformou-o no jornal mais cional” disse Ecevit.
dois países sobre a participação de influente da Turquia. Foi assassinado a No dia do seu funeral, os jornais de
Chipre. Foi devido aos seus esfor- 1 de Fevereiro de 1979 pelo mesmo todo o país interromperam o trabalho
ços que os lideres dos editores da militante da extrema direita que tentou para lhe prestar homenagem e as edi-
Turquia visitaram a Grécia onde se assassinar o Papa João Paulo II. ções diárias apareceram com barras
encontraram com o Primeiro Minis- negras. O funeral tornou-se num dos
tro, e os editores Gregos visitaram grandes encontros públicos com milha-
a Turquia, onde o amigo pessoal de res de pessoas espalhadas pelas beiras dos
Ipekci, Primeiro Ministro Bülent Eurevit, tambul e Leitor na Universidade de Is- passeios por onde o cortejo passou para
se dirigiu a eles. Como sinal de respeito tambul no Instituto de Jornalismo desde prestarem um tributo final a este grande e
pelos seus esforços nesta área, O pré- 1968 até à sua morte. respeitado jornalista que lutou sempre pelos
mio bienal Abdi Ipekci, é entregue a pes- Ipekci estava a organizar uma conferên- direitos democráticos e pela liberdade.
soas e a organizações não governamen- cia internacional sobre extremismo político
Traduzido por Maria Virginia Brito de “Press
tais pela sua contribuição na promoção e a imprensa na Turquia quando ele pró-
Freedom Heroes - International Press Institute
da paz e amizade entre a Turquia e a prio foi vítima desse mesmo extremismo po-

80 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Coragem no Feminino
Carmen Horria Saihi
Algiers, Argélia
Gurruchaga
Basurto C omo produtora de televisão, direc-
tora e repórter, Horria Saihi lutou
contra a censura do governo e contra
Madrid, Espanha a ameaça do fundamentalismo desde
meados de 1980. Foi condenada à
morte por fundamentalistas muçulma-
nos e teve que se esconder no final de
1994 depois de descobrir que fazia
parte de uma lista de pessoas a
abater.
Saihi fez a compilação de uma série de
documentos acerca da censura na televi-
são que foram congelados pelo governo
durante seis meses sem qualquer explica-
ção. Fez filmes com testemunhos de famí-

D.R.
lias das vítimas do terrorismo islâmico, re-
velando o impacto da violência na vida diá-
ria na Argélia. O assassinato de aproxima-
damente setenta jornalistas, incluindo co- Anna
legas e amigos, desde 1992, não alterou
Zarkova
D.R.

a sua determinação.
Em 1996, produziu documentários sobre
armen Gurruchaga Basurto, uma Sófia, Bulgária
C repórter para os assuntos políticos
do El Mundo, jornal diário com a sua
a limpeza de minas terrestres na Argélia e
sobre as mulheres que foram violadas. De-
pois de passar vários meses a tentar obter
sede em Madrid,escreve frequente- nna Zarkova é chefe de notícias cri-
mente acerca do Grupo Separatista
Basco – ETA. Os artigos de Gurrucha-
a aprovação governamental para trabalhar
nestes filmes, ambos foram censurados e
nunca foram exibidos. Saihi viajou incóg-
A minais do Trud Daily. Escreve ar-
tigos a denunciar o crime organizado, a
ga ameaçaram o grupo terrorista des- nita através da Argélia para produzir as violência policial e a corrupção, re-
de 1984 e a ETA empreendeu uma suas reportagens e arquivar as suas his- cebendo também ameaças devido ao
campanha contra ela na esperança de tórias com as estações de televisão fran- seu trabalho. Em Maio de 1998 Zarkova
a intimidar a fim de parar com as suas cesas. As ameaças contra a sua vida conti- foi severamente queimada quando um
reportagens sobre as suas actividades nuam visto que vai entrar no seu sétimo homem lhe lançou ácido sulfúrico para
terroristas. ano de fuga. cima quando esperava pelo autocarro
Originalmente sediada em San Sebas- numa paragem. Da sua cama do hospi-
tian, no País Basco, Gurruchaga que tam- tal ela disse: «Colegas, para nós não há
bém é basca, foi forçada a mudar a sua outra forma. Se não vos atiram ácido à
residência e o seu escritório por várias ve- cara como jornalistas, amanhã matam-
zes devido a repatidas ameaças e atenta- vos na rua como cidadãos».
dos. Assim, em Dezembro de 1997, quan- Zarkova ficou com queimaduras no lado
do Gurruchaga escreveu um artigo identifi- esquerdo da sua cara e corpo e perdeu o
cando a localização de um extremista da seu olho esquerdo. Nenhuma prisão foi fei-
ETA, o grupo terrorista retaliou bombarde- ta, mas a polícia suspeita de um homem
ando a sua residência quando ela lá se en- ligado ao submundo da Bulgária.
contrava com os seus dois filhos pequenos. Zarkova está determinada a continuar a
A seguir ao ataque, Gurruchaga foi colo- luta. «Acredito que a liberdade de expressão
cada em Madrid. Embora continue na “lista só é possível se tivermos sempre presente
negra” da ETA, continua a fazer reporta- a frase romântica dos Três Mosqueteiros:
gens sobre este grupo para o El Mundo e “Um por todos e todos por um!”.»
é também uma comentadora regular na te-
Traduzido por Maria Virginia Brito de
levisão espanhola e na rádio. Gurruchaga
IPI Global Journalist (Jun./Set. 2001),
foi vencedora do Prémio Coragem no Jor-
D.R.

“Chronicles of Courage”
nalismo 2001.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 81


A Playboy, a revista erótica mais famosa do mundo moderniza-se aos 50 anos

Mudanças na revista
do coelhinho
Existe há meio século e é um dos
símbolos do século XX. A revista
Playboy está a ser alvo de um
processo de remodelação

Por HENRIQUE MANO


(MEDIA XXI) em Nova Iorque

o fazer 77 anos, recentemente, o


A milionário norte-americano Hugh M.
Hefner saíu para jantar com as sete mo-
delos com que namora. Todas, claro, ra-
parigas com muitos “atributos” que já
passaram (sem roupa) pelas páginas
da revista que Hefner fundou e que, du-
rante muitas décadas, alimentou a ima-
ginação - para dizer o mínimo - mascu-
lina do mundo ocidental.
Mas se a vida de Hefner continua re-
cheada de entusiasmo, o mesmo não se
pode dizer da Playboy, a revista, que foi
criada há meio século e que começa agora
a sentir o peso da idade. Da idade e da con-
corrência que a internet veio trazer. É que,
se durante muitos anos, as páginas da
Playboy foram o símbolo do atrevimento
sexual, agora não passam de “desenhos
animados” ao lado do que, à distância de
um simples clique no rato do computador,
qualquer jovem pode ter acesso visual.
Por outro lado, a revista, que é publicada
pelo império Playboy Enterprises, com se-
de em Nova Iorque e Chicago, tem outro
concorrente inesperado: as revistas orien-
tadas para os leitores masculinos, do géne-
ro Maxim, Stuff e FHM, que proliferam no
mercado à velocidade da luz.
Apesar de estarem longe do erotismo da
Playboy - onde as modelos realmente se
despem - estas versões “soft” apostam no
imaginário do público. E com uma vanta-
gem: podem pagar a caras conhecidas -
actrizes, cantoras, modelos - para aparece-
rem nas suas capas sem a inconveniência
do nu. Mas com quase tudo à mostra ...
D.R.

82 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


USA Media
| Remodelações na revista | acompanha a revista desde o seu lança- caminho: baixou 18%, para 354,436 mil
Preocupado com estas e outras tendên- mento. Tendo como objectivo reflectir a exemplares nos últimos seis meses de
cias, o senhor Hefner (que passou o con- postura “bon vivant” a que esta publica- 2002 (em comparação com o mesmo pe-
trole da empresa multimilionária à filha, ção pretende ser associada, é hoje uma ríodo de 2001). Para se ter uma ideia, a
Christie A. Hefner) resolveu dar um abanão das criações contemporâneas do design Maxim, editada pelo grupo anglo-ameri-
na revista - que é o porta-estandarte do mais famosas do mundo. cano Dennis Publishing USA, vendeu
grupo - e, cinquenta anos depois de ter lan- Depois, Hefner teve visão e soube cres- uma média de 847,567 exemplares no
çado o primeiro número, fazer transforma- cer, alargando o império também à televi- mesmo período.
ções profundas na sua conduta editorial (e são. Só no ano passado, por exemplo, o
fotográfica, sobretudo). | Opiniões divergentes |
Todavia, Hefner parece não estar Tudo isto está a preocupar dema-
disposto a entregar os pontos. Afinal,
O famoso símbolo do siado o excêntrico Heffner, que con-
sempre é meio século de notoriedade coelhinho foi desenhado por tinua a dar festas (e bacanais) na
que está em causa. Para começar, foi sua famosa mansão nos arredores
à concorrência buscar um novo chefe Arthur Paul e é uma das de Chicago, enquanto espera que
de redacção - James Kaminsky, de 41 alguém a compre ... Não pensou
anos, que esteve ligado ao êxito da
criações de design mais por isso duas vezes em reformar o
Maxim. A sua missão principal é mo- famosas do mundo antigo chefe de redacção, Arthur
dernizar a Playboy, tornando-a o mais Kretchmer, que esteve 36 anos à
possível semelhante à concorrência frente da linha editorial da revista, e
das Maxim, Stuff e outras que tais. em colocar lá Kaminsky. «Ele é mui-
Apesar dos milhões de dólares de to mais que apenas o fundador e
que o império Hefner dispõe, nem tudo dono das instalações da Playboy»,
vão ser rosas, sobretudo por a socie- disse o novo “boss” da revista ao
dade americana - apesar de ainda New York Times. «Ele trabalha to-
muito puritana - já não ser o que era dos os dias na revista», assegura
nos anos 70, quando a Playboy se tor- James Kaminsky.
nou de leitura obrigatória. Para exem- Uma das alterações a introduzir
plo, basta lembrar que a cantora Chris- (espantem-se!), é abrir espaço na
tina Aguillera, recentemente, posou Playboy a modelos com mais roupa.
para a capa da revista Rolling Stone Um erro crasso, opina outro grande
apenas com uma guitarra como folha das revistas eróticas, Larry Flynt,
de parreira ... que publica a Hustler, de conteúdo
bastante mais pesado que a Play-
| Os números falam | boy. Na sua perspectiva, Hefner dei-
Mas a Playboy avança para a meia- xou-se adormecer à sombra do es-
idade com muitos trunfos. Afinal, ain- tatuto de figura icónica e não aceita
da tem uma tiragem de 3,2 milhões que não passa de um pornógrafo. O
de exemplares (apesar de, na década que a Playboy precisa, palpita ele, é
de 70, ter chegado a 6,5 milhões - um de material mais explícito. Mas Hef-
número fabuloso), estatística que a ner parece ter chegado à conclusão
coloca em primeiro lugar entre as pu- que os seus leitores preferem ver a
blicações do género (numa posição deliciosa Britney Spears semi-nua,
muito confortável à frente de outros tí- ao invés de uma prima da cantora
tulos similares, como a Hustler ou a completamente despida.
Penthouse). A postura expressa nas palavras
O primeiro número saíu em Outubro de da filha de Hefner, Christie é esclare-
1953. Actualmente existem edições locais braço televisivo da Playboy Enterprises – cedora: «O que é pornografia para al-
produzidas em 18 países. Só nos Estados que se divide pelas marcas Playboy e Spi- guns homens é erotismo para outros.
Unidos a revista chega a cerca de 10 mi- ce - fez entrar para os cofres da empresa Para aqueles que gostam de ler a Play-
lhões de leitores e, ao contrário do que se qualquer coisa como 121,6 milhões de dó- boy não há qualquer dicotomia no facto
poderia pensar, muitos deles - cerca de lares. Foi, aliás, a primeira vez que os re- de a revista ter uma componente erótica
17% - são do sexo feminino. O famoso sultados da televisão ultrapassaram os do e componente intelectual, bem disposta
símbolo do coelhinho – que, por arrasto, sector editorial do grupo. e de celebridades; esse é o mundo em
se estendeu às playmates, vulgarmente A publicidade na revista Playboy afun- que eles gostariam de viver». Assistire-
designadas como “coelhinhas da Play- dou 25% nos últimos dois anos, e a ven- mos à queda de um império, ou à vitória
boy” foi desenhado por Arthur Paul e da directa ao público seguiu o mesmo de uma estratégia coerente?

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 83


Internacional/Prémios Pultizer Prizes atribuem 3 galardões a Los Angeles Times e The Washington Post

Os títulos da vitória
Os Pulitzer do jornalismo distribuíram os seus 14 prémios por uma dezena de títulos. A nata do
jornalismo, mais uma vez em destaque

Por João Morales


Post receberam três Pulitzer cada. O pri- do Jornalismo” – embora consistam hoje
he Boston Globe foi distinguido
T com o prémio Pulitzer de jornalis-
mo na categoria Serviço Público. A
meiro nas categorias de Reportagem Na-
cional, Reportagem e Reportagem Foto-
gráfica, com trabalhos sobre um avião mi-
na atribuição de 21 prémios diferentes, in-
cluindo áreas como a poesia ou a música.
Anualmente são apresentadas cerca de
opção do júri para a atribuição deste litar que já provocou a morte de 45 pilotos, duas mil candidaturas.
prémio ficou a dever-se ao trabalho da a história de um jovem das Honduras que
Spotlight Team (equipa de investi- emigrou em busca da mãe e imagens de | O pai dos prémios |
gação deste jornal), na divulgação do emigrantes clandestinos da América Lati- A sua designação corresponde ao nome
escândalo sexual que envolveu o na, respectivamente. Quanto ao Washing- do seu fundador, Joseph Pulitzer, nascido
Clero norte-americano. Na atribuição ton Post, viu premiados um texto sobre as na Hungria em 1847 e que veio a falecer
do galardão foi salientada a «corajosa condições do sistema Penal Mexicano (Re- em 1911. A sua importância na evolução
e exaustiva cobertura de abusos se- portagem Internacional), a coluna de Opi- do jornalismo é hoje alvo de inúmeras
xuais levados a cabo por padres, um nião de Colbert I. King (Comentário) e a análises, sendo os seus títulos New York
esforço que motivou reacções locais, sua secção de crítica de cinema (Crítica). World e St Louis Post-Dispatch – dos quais
nacionais e internacionais, dando Foram ainda distinguidos, com um se tornou dono em 1878 – apontados por
origem a alterações na Igreja Católi- prémio cada, os jornais The New York muitos como um contributo essencial para
ca». Este trabalho, aliás, foi ampla- Times (na categoria Reportagem de In- a evolução do jornalismo, americano e não
mente abordado no último número da vestigação), The Eagle-Tribune (Notí- só. Curiosamente, a sua entrada no mundo
Media XXI, pelo nosso correspondente cia), The Wall Street Journal (reporta- do jornalismo fica a dever-se a um acaso:
nos Estados Unidos, Henrique Mano. gem especializada), The Baltimore Sun um dia, na sala de xadrez da biblioteca onde
«Chegamos a estar quatro meses a (Reportagem de Fundo), Chicago Tri-bu- trabalhava, comentou uma jogada com dois
investigar um assunto, antes de publi- ne (Editorial), Seatlle Post-Intelligencer jogadores que, posteriormente, se vieram
carmos o que quer que seja», afirmou (Cartoon Editorial) e The Rocky Moun- a revelar editores do jornal de língua alemã
então Michael Rezendes, do The tain News (Fotografia). Westliche Post. O convite para trabalhar
Boston Globe, realçando o rigor colo- com eles foi feito, o resto dependeu do
cado na investigação que resulta ago- | A origem do prémio | mérito de Joseph. Para mais informações
ra na atribuição de um dos mais impor- Os Pulitzer, atribuídos desde 1917, são a sobre os Pulitzer Prizes, respectiva orga-
tantes prémios do jornalismo mundial. distinção máxima do jornalismo mundial – nização ou sobre o seu fundador pode con-
O Los Angeles Times e o Washington há mesmo quem lhes chame “os Óscares sultar o site oficial em www.pulitzer.org.

84 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Chefe de redacção do The Boston Globe reage ao anúncio dos Pulitzer

Entrevista/Martin Baron
Os holofotes da verdade
Em exclusivo para a Media XXI, o chefe de redacção do The Boston Globe, Martin Baron, demonstra o
seu reconhecimento pelo facto do Pulitzer ter sido entregue ao jornal devido a uma investigação delicada

Por João Morales

artin baron, chefe de redacção do


M The Boston Globe, recorda todo o
processo de investigação e os problemas
que ela envolveu. No fundo e além da
entrega do Pulitzer, o que sobressai de
toda esta história é uma lição de per-
sistência e do jornalismo ao serviço da
cidadania.
O facto de o Pulitzer vos ter sido
atribuído por este trabalho em par-
ticular teve algum significado espe-
cial para o The Boston Globe?

John Blanding
Este prémio teve, de facto, um significado
especial para nós. A medalha de Serviço
Público dos Prémios Pulitzer é a mais ele- Martin Baron (segundo a contar da direita) e a Spotlight Team
vada honra da nossa profissão, e recebê-
la significa que o The Boston Globe foi pre- zê-lo através de uma pesquisa minuciosa longe para ocultar comportamentos erra-
miado por ter alcançado o mais elevado aos casos ocorridos denunciados em Tri- dos por parte de elementos do clero. En-
objectivo da nossa profisão, servir o in- bunal ocorridos na Arquiodocese de Bos- tretanto, alguns católicos sentiram que as
teresse público. ton, incluindo alguns cuja própria existên- nossas revelações eram um sinal de anti-
Quanto tempo demorou esta investi- cia tinha sido mantida em segredo por or- catolicismo. Amaioria das pessoas pareceu
gação? dem do Tribunal. Em terceiro lugar, falá- reconhecer que as nossa investigação era
Iniciámos esta investigação no Verão de mos com vítimas desses abusos, que es- minuciosa e credível e atribuíram culpas à
de 2001. Na totalidade, a investigação que tavam num estado de fragilidade emocio- hieraquia católica por traírem a sua confian-
nos conduziu à publicação das primeiras nal. Muitas delas nunca tinham contado a ça. E diversos jornais continuam a investi-
peças, a 6 e 7 de Janeiro de 2002, levou sua história antes, pelo que, as entrevistas gar casos de abuso sexual por parte de
cerca de cinco meses. Contudo, a inves- requereram o estabelecimento de uma re- elementos do clero.
tigação dos abusos sexuais levados a cabo lação prévia de confiança. Por último, foi Actualmente, em Portugal, está a de-
pelo clero [norte-americano] não ficou por necessário assegurarmo-nos a cada eta- correr uma grande investigação so-
aí. A maior parte das investigações foi con- pa de que as acusações contra os padres bre abusos sexuais em crianças que
duzida já em 2002, e parte dela ainda não eram credíveis. Nunca poderíamos per- começou – e tem sido fortemente
terminou. mitir que quisquer erros pudessem minar acompanhada – pela publicação de
Quais foram as maiores dificuldades a confiança dos nossos leitores. reportagens. Esse caso tem sido
com que se depararam ao longo do O The Boston Globe tem tradição no seguido aí nos EUA?
trabalho? jornalismo de investigação? A minha impressão é que a situação em
Estávamos a investigar casos de abuso Sim, uma longa tradição. A nossa Portugal não recolheu muitas atenções por
sexual efectuados pela membros da igreja equipa de investigação, conhecida como aqui. Contudo, escândalos anteriores, na
Católica, que esta se esforçou por escon- Spotlight Team [a equipa dos holofotes], Irlanda, ou no Canadá, foram alvo de gran-
der durante décadas. Por isso, quebrar o é uma das primeiras unidades de jor- des atenções.
muro de segredo da Igreja Católica foi o nalismo de investigação criadas em Que conselhos daria aos jovens
nosso maior desafio. Primeiro, tivémos de jornais americanos. estudantes de jornalismo que pre-
obter documentos internos que tinham si- Como reagiu a população americana tendem enveredar por este tipo de
do mantidos em segredo, e conseguimo- à publicação destas reportagens? jornalismo?
lo abrindo um processo jurídico em tribunal Compreensivelmente, as pessoas, e em Claramente, qualquer jornalista interes-
que permitisse tornar públicos esses docu- especial os católicos laicos, ficaram “ator- sado em fazer jornalismo de investigação
mentos. Em seguida, foi necessário ava- doados” e furiosos com o que estava a tem de ser persistente, estar fortemente
liar qual a dimensão do problema no inte- ocorrer no interior da Igreja Católica e como comprometido em cingir-se aos factos, ser
rior da Igreja Católica, e conseguimos fa- os responsáveis da Igreja puderam ir tão justo e honesto.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 85


Parlamento brasileiro cria novo órgão para enfrentar os problemas da comunicação

Preparar o futuro
O Conselho de Comunicação Social é a mais recente medida da
política do Executivo brasileiro para o sector dos Media

Por Rossini Barreira


O primeiro presidente do Conselho de Co-
Fotografias Célio Azevedo
municação Social, eleito por unanimidade
á pouco mais de 10 meses, o Brasil pelos seus pares, o jurista natural do Estado
H conta, e pela primeira vez na sua história,
com um instrumento institucional com repre-
de Pernambuco, José Paulo Cavalcanti Fi-
lho, de 54 anos de idade, está confiante: «Eu
sentação da sociedade, destinado a debater sou optimista e tenho razões para isso», afir-
e discutir as questões específicas relativas à ma, explicando que «o trabalho está ainda
comunicação de massas no País. Trata-se do no início. E devido à ampla e democrática
Conselho de Comunicação Social (CCS), ór- forma de composição do Conselho, ele pode
gão consultivo para a assessoria do Congres- funcionar como uma caixa de ressonância
so Nacional, o parlamento brasileiro. da sociedade sobre as questões da comuni-
Embora tenha sido criado há pouco tempo, cação social, e, com isso, transformar-se no
a existência do Conselho de Comunicação grande espaço de discussão destas ques-
Social estava prevista na própria Constitui- tões no Brasil».
ção do País, promulgada em 1988. E já es- O Conselho é composto por 13 elementos.
tava legalmente pronto para entrar em fun- Destes, quatro são representantes de entida-

Célio Azevedo
ções desde 1991, quando foi aprovada a lei des empresariais da comunicação, outros qua-
que o regulamentou. Foram, portanto, mais tro representam categorias profissionais liga-
de dez anos de negociações entre as enti- das ao sector e os cinco restantes são per-
dades representantes da sociedade e as vá- sonalidades com reconhecidos conhecimen-
rias correntes políticas presentes no Con- tos sobre o assunto, em representação da so- micas que envolvem a comunicação social
gresso Nacional - que no Brasil é formado ciedade civil. O próprio Cavalcanti Filho integra no Brasil. Nas suas reuniões mensais, que
por dois órgãos legislativos, o Senado e a o CCS nestacondição. O mandato de pres- ocorrem numa das salas do Senado, em Bra-
Câmara Federal - para que o Conselho, final- idente tem a duração de dois anos, podendo sília, o Conselho já criou cinco comissões de
mente, viesse a ser uma realidade. ser renovado por um período de igual duração. trabalho para elaborar uma análise e tomar
A maior resistência por parte de alguns posições acerca destas questões.
deputados e senadores à instalação do Con- | Temas Polémicos | Uma das comissões está a trabalhar na
selho estava relacionada com o receio de O optimismo de Cavalcanti Filho parece fazer questão da concentração da propriedade
que o novo órgão viesse substituir o Con- algum sentido. Afinal, em pouco mais de dez dos meios de comunicação social no Brasil.
gresso nas suas competências, ao legislar meses de trabalho, o Conselho já se debru- Os seus elementos estão a analisar o facto
sobre assuntos relacionados com a comuni- çou sobre algumas das questões mais polé- de, no Brasil, uma mesma organização em-
cação social. Embora o Conselho tenha ape-
nas um caráter consultivo, a própria Consti-
tuição prevê que determinados temas so-
Composição do Conselho de Comunicação Social
mente podem ser aprovados pelo Congres- O Conselho de Comunicação Social ciedade civil e de especialistas em
so Nacional após a emissão de um parecer brasileiro é composto por representan- diversa áreas relacionadas com o
pelo órgão auxiliar. tes das empresas de comunicação, sector. Os treze lugares do Conselho
Aliás, a disputa de espaço político entre o dos profissionais da área, da so- estão assim distribuídos:
Conselho e os parlamentares está longe de 1. um representante das empresas de rádio
terminar. Pelo contrário. Uma das maiores 2. um representante das empresas de televisão
polémicas que hoje subsistem deve-se ao 3. um representante das empresas da imprensa escrita
facto de as direcções da Câmara e do Se- 4. um engenheiro com reconhecido conhecimento na área da comunicação social
nado desejarem que o Conselho se mani- 5. um representante da categoria profissional dos jornalistas
feste somente quando for chamado a isso 6. um representante da categoria profissional dos radialistas
pelo próprio Congresso, enquanto que os 7. um representante da categoria profissional dos artistas
conselheiros exigem o direito de trazer à dis- 8. um representante das categorias profissionais de cinema e vídeo
cussão questões que lhe sejam apresenta- 9. cinco representantes da sociedade civil
das directamente pela sociedade.

86 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Internacional/Legislação Brasileira
Governo de Lula:
Um parceiro
para as mudanças
«As conversas com o governo do presi-
dente Lula têm decorrido da melhor for-
ma. É um governo que já mostrou que
está comprometido com mudanças na
área da comunicação social, e isso é
um bom caminho». Estes são os elo-
gios de José Paulo Cavalcanti Filho,
presidente do Conselho de Comunica-
ção Social do Brasil, a respeito do novo
governo do país.
Segundo o seu relato os elementos
que integram o Conselho vêm manten-
do contactos directos com os principais
órgãos e agências governamentais rela-
cionados com o sector da comunicação,
como, por exemplo, a Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações) e o
próprio Ministério das Comunicações.
«Nós temos, no Conselho de Comu-
nicação, um poder real. Um poder ba-
seado no convencimento e na força
que representa a composição deste ór-
Cavalcanti Filho (à direita) em conversa com o Senador José Sarney gão», afirma, confidenciando ainda:
«Temo-nos reunido constantemente
presarial poder deter propriedade sobre dis- leis sobre este ponto em tramitação no com diversos elementos do governo
tintas formas de comunicação de massas, Congresso Nacional». responsáveis por decisões nesta área,
como jornais, rádios e televisões. «O nosso de modo a que possamos trabalhar
desafio está em evitar que a comunicação | Nova Lei de Imprensa | juntos com vista a realizar as mudan-
esteja ao serviço dos interesses de gover- O problema das rádios comunitárias, que ças que são necessárias de introduzir
nos ou dos interesses dos detentores des- são emissoras com pequeno alcance de si- no actual modelo de comunicação em
ses patrimónios, ou seja, dos próprios me- nal, mas que funcionam de forma ilegal, vigor no Brasil», conclui José Paulo
dia», afirma o presidente do Conselho, que também preocupa os membros do Conse- Cavalcanti Filho. (R.B.)
defende uma solução em que «se procure lho. Salientando que «existem hoje no Mi-
encontrar um modelo que garanta que a nistério das Telecomunicações do Brasil,
comunicação esteja ao serviço dos interes- pedidos de regularização para mais de qua- sociedade, é de 1969, ou seja, é uma das
ses colectivos». tro mil rádios comunitárias», Cavalcanti Fi- poucas leis ainda remanescentes da ditadura
Uma outra polémica diz respeito à re- lho acredita, contudo, que «este é um pro- militar, sendo designada, portanto, por alguns,
gionalização da programação das empre- blema com data marcada para terminar». como “entulho autoritário”.
sas de rádio e de televisão. Como a pro- «Uma das questões pertinentes é que te- Há mais de cinco anos que o projecto para
dução das grandes empresas está con- mos muitas rádios pequenas instaladas, uma nova Lei de Imprensa está à espera de
centrada nos Estados mais ricos do Bra- muitas outras que pretendem instalar-se, e aprovação no Congresso Nacional. Por en-
sil, mais especificamente São Paulo e Rio um espaço limitado de freqüências para a quanto, ele foi apenas aprovado na Comissão
de Janeiro, os outros Estados e regiões emissão. No momento em que o Brasil de Justiça da Câmara Federal, faltando ainda
sofrem por não verem a sua cultura e as adoptar a rádio digital, o que deverá ocorrer passar pelo plenário e, posteriormente, seguir
suas noticias nas programações das tele- no período compreendido entre cinco e dez para votação no Senado. «Não podemos
visões e rádios. anos, este problema estará resolvido, pois continuar a conviver com a actual Lei de Im-
«Estamos a avançar no sentido de ga- teremos espaço para todas essas peque- prensa. É importantíssima a aprovação de
rantirmos um horário diário mínimo para nas rádios», explica Cavalcanti Filho. uma nova lei. O Conselho está a iniciar a sua
que cada emissora de rádio ou de televisão Mas, um problema maior para ser enfren- discussão para ajudar a resolver os entraves
produza e transmita informações sobre a tado, segundo ele, está na aprovação de uma que possam existir para a sua aprovação pelo
sua região», adianta o presidente do Con- nova Lei de Imprensa para o País. A actual, Congresso», sintetiza Cavalcanti Filho, con-
selho, informando ainda que «já existem que regula as relações entre a imprensa e a fiante nos avanços desta questão.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 87


Publicidade Exterior JC Decaux apresenta resultados de 2002

Um ano em exposição
O gigante do mercado publicitário JC Decaux, apesar da conjuntura em termos de mercado publicitário
se apresentar pouco favorável, apresentou em 2002 um crescimento real de actividade.
Paulo Ferreira
de Resultado Operacional. Quantificando, que continua difícil, o grupo JC Decaux
JC Decaux, S.A., empresa cotada
A na Euronext de Paris como DEC,
apresentou aos investidores e ao pú-
apresentam-se valores de crescimento
claramente favoráveis, isto é, variações de
7,42% e de 17,91% respectivamente para
realizou bons resultados (…)», convirá
não esquecer que a empresa no ano de
2002 viu reduzidos os seus Capitais Pró-
blico em geral o resultado da sua acti- o primeiro e segundo. prios em 0,64%, ou seja, para 2002 é
vidade para o exercício de 2002, cor- apresentado um ratio de dívida líqui-
porizado num crescimento de 2,24% | Ano de consolidação | da/capitais próprios de 46,7% . Num mero
da sua actividade. Em termos absolu- A JC Decaux apresenta-se no merca- exercício de estática comparada podere-
tos trata-se de um crescimento real na do publicitário essencialmente através de mos aferir que depois do intensivo cresci-
actividade da empresa, atingindo uma três grupos de produto, designadamente, mento realizado no período que medeia
facturação de 1.577,7 milhões de euro. Mobiliário Urbano, Grande Formato e os exercícios de 2000 e 2001, em 2002
Em termos de crescimento relativo, Transportes. houve necessidade de consolidar posi-
apesar do valor verificado ser inferior Para cada um destes grupos de produ- ções sob o risco da estrutura entrar numa
ao registado no exercício de 2001, es- to e ao nível de capacidade mundial insta- situação de desequilíbrio. O saudável
te continua a proporcionar à empresa lada, a empresa conta respectivamente crescimento da rubrica de Capitais Pró-
a possibilidade de encarar o futuro com 285.000 faces disponíveis no que se prios, que em termos gerais duplicou de
com entusiasmo. refere à categoria de Mobiliário Urbano; 2000 para 2001, foi efectivamente, muito
Destaque muito particular para o de- 192.000 faces na categoria de Grande por força do aumento verificado em “Pré-
sempenho demonstrado no indicador Formato e 145.000 faces em cerca 147 mios de Emissão”, ou seja rubricas de ca-
EBITDA1 (um dos indicadores que melhor aeroportos e/ou meios de transporte. Es- pital resultantes de operações financeiras
demonstram o comportamento do Volume tes últimos são representados por contra- que não podem reflectir a actividade real
de Negócios, antes de descontados al- tos com empresas de metropolitano, auto- do grupo.
guns custos de funcionamento) e igual- carros, comboios e eléctricos.
mente para o indi- Apesar do exercício de 2002 para a em- | As razões do desempenho |
cador presa a nível mundial ter sido considerado Alguns das razões avançadas para o de-
positivo pelo seu Presidente e co-Director sempenho registado em 2002 foram «o óp-
Geral, Jean-Charles Decaux, timo desempenho da actividade de Mobiliá-
ao declarar que rio Urbano e a melhoria da actividade Gran-
«Num mer- de Formato», bem como dificuldades senti-
c a d o das pela empresa quanto «à actividade
Transportes» e condições particularmente
«desfavoráveis para a publicidade nos aero-
portos nos Estados Unidos».
Em Portugal a actividade da empresa é
representada por JC Decaux Portugal;
Red, JC Decaux Airport e JC Decaux
Neonlight. Para estas, e segundo decla-
rações recentes dos seus responsáveis,
em Portugal o ano de 2003 é encarado
com alguma expectativa, conforme ates-
tam as declarações do director-geral da
JC Decaux Portugal, Ruy Vieira, ao jor-
nal Briefing: «verifica-se nas empresas
de que sou responsável uma procura
que, por vezes, é superior à oferta». Pelo
que se mostra optimista: «passados que
são os primeiros meses do ano, apresen-
tamos crescimento em relação ao ano
passado».

D.Moska

88 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Visto de Fora
O Marketing dos Meios
de Comunicação Social
té há bem pouco tempo algumas pessoas
A ainda associavam o marketing à venda de
produtos que não têm muito valor. Certamente
dos noticiários de televisão deixando de lado os te-
mas verdadeiramente importantes para o país ou re-
portagens de investigação que obviamente resultam
que o Marketing tem a ver com a venda e a ex- em mais custos. O vender de qualquer maneira não
plicação é absolutamente lógica: uma empresa se limita em nenhum caso à televisão, já que os jor-
que não vende não sobrevive. Mas como em nais, com a ideia de obter uma maior circulação são
qualquer outra situação da vida, o fim justifica capazes de oferecer o inimaginável.
os meios e para o Marketing não há excepção. Os meios de comunicação devem procurar sem-
Se uma empresa regista uma baixa nos níveis pre manter o equilíbrio entre a sua oferta de conteú-
de venda, o director de Marketing certamente dos e a procura do público. Qual será o primeiro?
que terá algum grau de responsabilidade nisso, A resposta é nenhum e ambos. O público, certa-
não pelo facto de vender, mas sim porque pro- mente, tem exigências de informação e de entre-
vavelmente existe um problema mais profundo tenimento, mas não sabe “exactamente” o que
radicado na orientação da empresa que tem no quer... e não o pode saber em absoluto. Pode o
Marketing uma forma de apoiar a estratégia que público saber que notícia quer amanhã como título
tenciona seguir. do diário? Não, mas os jornalistas podem saber
Nos meios de comunicação social, esta visão erra- que temas interessam mais aos seus leitores, e é
da do Marketing ainda prevalece em algumas empre- aqui onde o Marketing pode dar o seu contributo.
sas de media. Nas suas origens, a promoção do Por exemplo, a investigação de mercado pode de-
meio, a orientação para satisfazer as necessidades tectar algumas tendências das necessidades de in-
do cliente, o melhorar do serviço, não são temas que formação, mas não são capazes de determinar que
preocupem algumas empresas de media. Estas em- conteúdos satisfazem os ditos requisitos. Nesta eta-
presas preocupam-se apenas em “fazer o melhor pa do processo, as respostas devem vir do compro-
jornalismo”, na expectativa que isso seja suficiente misso editorial do meio, e da personalidade de quem
para que a empresa tenha êxito, independentemente lá trabalha. Este compromisso editorial é uma es-
de saber se interessa ao público e se este está dis- pécie de selo de qualidade da informação para o
posto a comprar esse produto de media. público. Este quer que o meio ao qual costuma re-
Seguramente que as condições do mercado onde correr o surpreenda, mas não quer que o “espante”.
isto sucede não permanecem estáticas. Durante al- O público espera inovação, mais serviço, mais qua-
gum tempo algumas empresas de media nunca ti- lidade, mas não quer que ditos progressos se con-
veram concorrentes. Quando os proprietários e direc- tradigam com as características editoriais que o
tores das empresas de comunicação começaram a meio lhe comunicou antes.
compreender (em muitos casos tardiamente), a im- Aqui voltamos novamente ao marketing, que deve
Aldo Van Weezel*
portância do marketing, alguns percepcionaram, no- posicionar na mente do público essa característica
vamente, o Marketing de uma forma errada . mediante a construção de uma marca que reflicta os
A resposta de alguns meios de comunicação à valores de posse e o tipo de conteúdos que se com-
mudança ocorrida na sociedade baseou-se numa prometem entregar.
aplicação extrema e errada da essência do Marke- Por conseguinte, o marketing é importante para
ting. O jornalista que devia entregar conteúdos “pu- os meios de comunicação e mesmo que às vezes
ros” sem mancha de influências comerciais, transfor- tenha sido desrespeitado pela forma como foi o mar-
mou-se numa “magnífica do Marketing”. Com o termo keting se for bem focalizado pode resultar numa ajuda
aplicação extrema refiro-me principalmente a duas imprescindível para se tentar perceber as necessi-
coisas: 1) ânsia de vender o quer que seja; 2) Es- dades do público e para dar a conhecer o compro-
quecimento das características próprias da empresa misso editorial do meio.
em questão.
*Facultad de Comunicacion de la Universidad
A tendência cada vez maior de mostrar notícias
de los Andes - Santiago - Chile
de sucesso (ou crónica policial) durante grande parte

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 89


KirchMedia: Ascenção e queda de um Império dos Media

Um grande negócio
A aquisição por parte de Haim Saban de uma parte importante do grupo KirchMedia representa uma
importante reorganização no xadrez dos media europeus
Por Joana Duarte

paisagem audiovisual alemã conhe-


A ceu no passado mês de Março uma
revolução nunca antes imaginada. O bi-
lionário israelo-americano Haim Saban
adquiriu ao grupo de media alemão
KirchMedia a sua subsidiária ProSie-
benSat.1, detentora de quatro canais de
televisão privados na Alemanha, e o ca-
tálogo de direitos de 180 mil filmes de
cinema e de séries televisivas por 2 mil
milhões de euros. A KirchMedia, junta-
mente com a Kirch Pay-TV e a Kirch Be-
teiligung, integra o Grupo Kirch, fundado
por Leo Kirch há cerca de 50 anos. É o
principal pilar deste Grupo, a divisão-
chave à qual pertencem 52,5 % da Pro-
SiebenSat.1, considerada a “jóia da co-
roa” por ser a mais bem sucedida ca-
deia de TV na Alemanha, que integra 4
estações transmitidas em canal aberto:
os generalistas ProSieben e Sat.1, o ca-
nal de cinema Kabel 1 e o canal de in-
formação N24.
Além desta participação na ProSieben-
Sat.1 a KirchMedia tem ainda outras mais-
valias. Está ligada à espanhola Telecinco
com 25 % de participação e à italiana Me-
diaSet de Berlusconi. Tem o maior e mais
valioso arquivo cinematográfico europeu e
os respectivos direitos de transmissão, sobre
o qual Leo Kirch construiu a sua fortuna. Tem
também os direitos desportivos da Fórmula
1, de transmissão do Campeonato do Mundo
de Futebol de 2006 e da liga alemã de futebol,
a Bundesliga.

| Nem tudo foram rosas |


Parecia adivinhar-se uma história de suces-
so, mas na realidade a história do Grupo
Kirch não teve um “happy ending”. Numa al-
tura em que a Alemanha se encontra em re-
cessão, o Grupo de Leo Kirch foi o protago-
nista daquele que já foi considerado o maior
casadaimagem.com

colapso empresarial na história do país de-


pois da II Guerra Mundial.
O Império Kirch começou em queda ainda
em 2001, altura em que já apresentava uma
dívida de 5 mil milhões de euros. Depois dis-

90 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Internacional/Negócio
so, avolumaram-se as dívidas aos credores, Quando em Março de 2002 já se dissipam saudita Al-Waleed. As ofertas feitas por
entre os quais os principais bancos ale- as esperanças de salvar o Grupo da falên- estes consórcios rondam 1.5 mil milhões
mães, como o Deutsch Bank ou o Hypo- cia, Leo Kirch cede às exigências dos ban- de euros.
Vereinsbank, seguradoras e estúdios de ci- cos e deixa-os tomar conta da KirchMedia, A primeira etapa da venda do Grupo
nema norte-americanos. Na origem do des- possibilitando o seu funcionamento por aconteceu em Outubro quando o ex-patrão
moronar da totalidade do grupo está o fra- mais algum tempo. Em Abril de 2002, é de- da Adidas, Robert Louis-Dreyfus, comprou
casso do canal Première, da Kirch Pay-TV, clarada a sua falência e a da Kirch Pay-TV, a unidade KirchSport por cerca de 250 mi-
que vinha a perder cerca de 1,5 milhões de que arrastam consigo o resto do grupo. lhões de euros.
euros por dia.
Em Fevereiro de 2002 surgiu uma das | Muitos interessados | | Saban não desiste |
primeiras grandes propostas de compra dos Foi o fim do poder de Leo Kirch, que se No fim do ano de 2002 as conversações
bens do grupo Kirch. O HypoVereinsbank retirou com uma comovente carta dirigida com as editoras continuavam e pareciam
(o segundo maior banco da Alemanha) pro- aos cerca de 10.000 funcionários, agrade- rumar a um fim para este longo processo.
pôs, para os 40 % que a Kirch Beteiligung cendo a sua colaboração e lealdade, co- A proposta é de 2 mil milhões de euros, 700
detém na editora Axel Springer, quase 1 bi- meçando os bancos, a partir de então, a milhões pelos 52,5% na ProSiebenSat.1 e
lião de euros que serviria ao “Kirch Gruppe” receber propostas para reestruturação da os restantes 1,3 mil milhões pela biblioteca
para liquidar a sua dívida para com o Dres- KirchMedia e para a compra da maior cinematográfica, mas em Janeiro de 2003
dner Bank. Leo Kirch decidiu aguardar no- biblioteca de filmes da Europa, dos di- Haim Saban regressa à corrida com uma
vas propostas, com as dívidas a aumenta- reitos desportivos da Fórmula 1, do nova proposta de 100 mil milhões de euros,
rem (de 5 mil milhões subiram para cer- mais atractiva materialmente e com
ca de 7 mil milhões) e os credores a apoios estratégicos importantes.
exigirem o pagamento das suas quan- Será que é desta? Saban vem ainda argumentar que a
tias. A dúvida relativamente à capaci- sua experiência em transmissão é
dade do grupo para sobreviver à crise Em meados de Abril, o Media Guardian muito maior que a do consórcio Bauer.
era cada vez mais persistente. noticiou uma carta enviada pelos bancos que O bilionário israelo-americano, nas-
controlam a KirchMedia, mostrando o seu cido no Egipto, fez fortuna com séries
| Interesses nacionais | descontentamento: «O Plano de Negócio re- infantis como os Power Rangers e já
O mercado televisivo alemão é o maior centemente apresentado revela desvantagens foi gerente da Saban Entertainment e
e mais forte da Europa, por isso há mui- substanciais para os interesses dos bancos, da Fox Family antes de as vender a
to que desperta a cobiça de grandes comparativamente com o Plano de Negócio Rupert Murdoch. A sua proposta voltou
grupos financeiros estrangeiros que inicialmente apresentado», lê-se nesta a levantar interesse por permitir uma
vêem agora, com o desabamento do missiva, enviada à agência Reuters. De venda mais rápida dos atributos da
império Kirch, a oportunidade certa pa- acordo com o jornal inglês, os signatários Kirch, ao contrário da Bauer com quem
ra nele penetrarem. Rupert Murdoch, acusam Haim Saban de «reescrever alguns estava a haver dificuldades em chegar
da News Corporation, desejoso por dos termos do negócio, incluindo os prazos a acordo relativamente ao negócio dos
conquistar uma posição no mercado em que os seus empréstimos seriam direitos cinematográficos.
media alemão e a quem o canal Pre- saldados». Será que a “saga” KirchMedia A dificultar o acordo com a Bauer Ver-
mière da Kirch Pay-TV deve 1.7 mil mi- ainda não vai ter o seu desfecho? lag estava igualmente a conclusão de
lhões de euros, é, a par de Silvio Ber- especialistas que chamava a atenção
lusconi, um dos principais interessados para o facto de a editora se tornar dema-
em adquirir as “jóias” da Kirch Media. Campeonato do Mundo de Futebol de siado influente na televisão alemã com a
O governo alemão não vê com bons olhos 2006 e da Liga alemã de futebol, a compra dos 52,5% da ProSiebenSat.1 visto
a hipótese de negociar com grupos estran- Bundesliga (estes últimos faziam parte da já possuir uma parte do canal RTL, concor-
geiros, uma vez que o mercado audiovisual KirchSport, uma unidade da Kirch Media, rente directo da ProSieben. Os dois canais
alemão esteve sempre ao abrigo de compa- e foram postos ao abrigo de um subsidiário têm o duopólio do mercado da televisão pri-
nhias nacionais e mantém uma relação mui- suíço da Kirch). vada na Alemanha – em conjunto captam
to próxima com a política. Se algum dos in- Em Setembro falava-se de 4 potenciais mais de metade do investimento publicitário
teressados estrangeiros conseguisse real- interessados na compra da KirchMedia, em TV.
mente fechar negócio, seria a primeira vez entre os quais as editoras alemãs Axel No início de Março apenas Saban fica na
que um não-alemão se posicionaria no mer- Springer e Bauer Verlag, apoiadas pelo corrida pela KirchMedia porque o seu prin-
cado, não por discriminação, mas por uma HypoVereinsbank, que eram tidas como cipal adversário, a Bauer, se afastou. A 17
organização demasiado federal do sector, as favoritas por serem integralmente ale- do mesmo mês é finalmente fechado o ne-
com regras complexas e figuras tradicionais mãs. Interessados estavam igualmente o gócio, que envolve valores na ordem dos 2
e poderosas que desencorajam as tentati- bilionário americano, Haim Saban, num mil milhões de euros. Esta data corresponde
vas de implementação de “estranhos”. consórcio com a French Broadcaster, TF1; à venda da cadeia ProSiebenSat.1. Asegun-
Gerhard Schroeder, chefe de governo, ma- o Commerzbank e a Columbia Tristar da da fase ocorreu a 27 de Março, quando Haim
nifestou a sua oposição à entrada de inves- Sony e finalmente um grupo de sharehol- Saban comprou o catálogo de direitos de fil-
tidores estrangeiros nos “media” do seu país. ders da Kirch, entre os quais o príncipe mes e séries de televisão.

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 91


Fotógrafo americano Lucky WSJ aborda
falsifica imagem para homens mercado dos media
ACondé Nast Publications está a desenvol- O Wall Street Journal (WSJ) lançou no mês
ver uma versão masculina da revista Lucky, de Maio um suplemento online, destinado
adiantou uma fonte da empresa ao New a abordar o sector da Comunicação, com
York Times. O objectivo da editora (respon- artigos sobre media, marketing, publicida-
sável por títulos como Vogue, Glamour ou de e relações públicas. Designada como
GQ) é prosseguir o conceito da Lucky desti- Media & Marketing Edition, esta nova pro-
nada ao mercado feminino, ou seja, uma posta – apenas disponível a quem é assi-
revista direccionada para as compras – nante do Wall Street Journal – será publi-
essencialmente de roupa – mas concebida cada diariamente, contando com actuali-
segundo uma perspectiva muito prática, o zações ao longo do dia.
que o que se traduz na inclusão dos preços
dos produtos e informação detalhada sobre Fórmula 1
como e onde é possível adquiri-los. O New promove anti-tabagismo
York Times adianta ainda que a Lucky tem
nos EUA uma Circulação Média Paga su-
perior a 800 mil exemplares, tendo aumen-
tado o número de páginas de publicidade
em cerca de 38% em 2002. Face à eminente proibição de menções
publicitárias ao tabaco na União Euro-
Pearson peia, a BMW Willimas adoptou uma cu-
aumenta lucros riosa estratégia. Asua equipa de Fórmula
Os resultados do grupo Pearson relativos 1 optou pelo patrocínio do NiQuitin, nada
a 2002 ascenderam a 6257 milhões de eu- mais nada menos do que um medica-
ros, o que representa um aumento de 6% mento que ajuda a deixar de fumar. Tal
face ao ano anterior. Relativamente ao FT como realça o Media Guardian, a escolha
Group – unidade onde estão agrupados os desta marca – pertencente ao gigante da
media – registou-se uma descida de 8% indústria farmacêutica GlaxoSmithKline
nas receitas, devido à queda da publicida- — representa uma solução de rotura,
de. Contudo, os lucros aumentaram, na uma vez que a referida proibição estava
mesma percentagem, devido aos resulta- a preocupar sobejamente os responsá-
dos da Recoletos e IDC, bem como da di- veis deste desporto. Recorde-se que en-
minuição de custos no sector da internet. tre os antigos patrocinadores desta equi-
pa encontram-se marcas como Roth-
Saídas mans ou Winfield. E o peso destes patro-
na Coca-cola cínios é tal, que os representantes da Fe-
O responsável pelo marketing da Coca- deração Internacional de Automobilismo
O Los Angeles Times despediu o fotó- Cola, Stephen Jones, pediu a demissão já avisaram que a entrada em vigor da
grafo Brian Walski por ter executado «para perseguir outros interesses», proibição poderá afastar várias provas
uma montagem fotográfica, publicada conforme adianta um comunicado inter- para fora da Europa.
na primeira página do jornal como sen- no assinado pelo chairman e CEO da
do uma imagem real. Conforme se po- Coca-Cola, Doug Daft. Esta saída era Estudo inglês destaca
de ver nas imagens o fotógrafo aprovei- já comentada em alguns meios, «em Finantial Times
tou parte da imagem em que um solda- função da entrada [para a empresa] em Uma pesquisa efectuada em Inglaterra pe-
do apontava a sua arma em frente (foto 2001 de Steven Heyer, actual chief ope- la Media DNAconcluiu que, para os consu-
de cima) e a reacção de um grupo de rating officer, que desde a sua contra- midores locais, o Finantial Times é a marca
civis, mas já com a arma apontada pa- tação absorveu algumas das atribui- mais forte no sector dos media, noticiou a
ra baixo (foto do meio). O objectivo da ções do marketing. Entretanto, o vice- agência Reuters. Um aspecto a realçar é
imagem conseguida após manipulação presidente de marketing da Coca-Cola que estes resultados colocam o título de
por computador (foto de baixo) era Brasil, Fernando Mazzolo, também o Economia à frente de outros fortes candi-
obter um efeito mais dramático. Repa- seu cargo. Segundo alguns observado- datos, como Os Simpsons, a novela Co-
re-se que algumas das pessoas visíveis res, ambas as saídas poderão estar re- ronation Street – emitida há vários anos -
na parte esquerda da imagem truncada lacionadas com o recente discurso de ou até mesmo a BBC. O mesmo estudo
surgem repetidas. É caso para dizer Steven Heyer, em Fevereiro passado, apontou as séries X-Files e Os Homens
que também no campo da deontologia onde foi comunicada a intenção de uma do Presidente como as mais intelectuais e
jornalística a guerra do Iraque fez algu- maior uniformização na Comunicação as revistas Vogue, Elle, Hello! e OK! como
mas vítimas. da marca. as que possuem maior glamour.

92 Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70


Aldeia Global
Brasil Ad Barometer
renova imagem com resultados optimistas
O ano de 2003 poderá ficar assinalado
por um crescimento de 12,7% nos in-
vestimentos publicitários. Esta é uma
das conclusões do Ad Barometer - um
estudo semestral que abrange vários
países europeus – adiantadas pelo site
Blue Bus. Segundo a mesma fonte a
Inglaterra deverá ser o país do “velho
continente” onde esta situação será
mais acentuada, registando-se um
crescimento de 2,3%, enquanto que
na França estes valores situar-se-ão
A nova imagem institucional da Secretaria tentes no país. «A nova marca assume a nos 1,6%. Mas as boas perspectivas
de Comunicação e Gestão Estratégica necessidade de levar mais Brasil para Bra- não ficam por aqui: ainda segundo o
(SECOM) foi criada pelo publicitário Duda sília. A intenção é mostrar um governo mais mesmo estudo, as verbas destinadas
Mendonça, noticiou o site Meio & Mensa- próximo das pessoas, mais próximo da rea- a publicidade deverão crescer 1,1%,
gem. O novo logotipo, que surgirá em todas lidade dos cidadãos, mais próximo do Bra- enquanto que o investimento em be-
as acções de comunicação oficiais do go- sil», sintetizou um elemento da SECOM à low the line deverá aumentar 2,1% face
verno brasileiro, pretende realçar a multipli- referida publicação. Asustentar esta postura aos valores de 2002. É caso para dizer
cidade de influências, realidades, estéticas, foi também criada uma nova assinatura: que nem todas as análises apontam
costumes e valores, raças e etnias, exis- «Brasil: um país de todos». para cenários catastróficos.

Imagens de choque
pela Liberdade de Imprensa

A organização Repórteres sem Fronteiras francesa e tem como assinatura “Come- tivo mundial da Saatchi & Saatchi, Bob
lançou uma campanha de alerta sobre a cem a lutar pela liberdade de imprensa, an- Isherwood, à Adage a intenção é fazer pas-
Liberdade de Imprensa que está dar que tes que a percam». As três imagens mos- sar a campanha em diversos países: «Tra-
falar. A razão é simples, nela são utilizadas tram Christine Ockrent e Guillaume Durand ta-se de uma ideia muito poderosa. Não
imagens de conhecidos jornalistas france- pretensamente baleados, enquanto há razão para que não possamos divulgá-
ses, encenando o seu assassinato. A cam- Emmanuel Chain surge com a garganta la nos Estados Unidos, e em outros países,
panha foi criada pela Saatchi & Saatchi cortada. Segundo declarou o director cria- utilizando jornalistas locais».

Media XXI | Abril-Maio 2003 | n.º 70 93


Último Olhar
Mudanças Heineken Fraudes
na Rádio Renascença renova site no jornalismo

AHeineken remodelou o site, apresentando O New York Times inseriu na homepage


agora novos atractivos, como uma juke- box, do seu site um relatório sobre as fraudes
diversos passatempos e uma loja virtual, jornalísticas de um ex-repórter seu.
onde se pode adquirir diversos objectos e Jayson Blair trabalhou durante quatro
peças de vestuário. Uma nova iniciativa da anos no jornal ao longo dos quais
marca é o projecto Thirst, em que se pretende publicou 36 reportagens em que inventou
descobrir novos talentos da música elec- diversos depoimentos e descrições de
trónica. Os conteúdos do site, e a sua lógica locais onde nunca esteve. As acusações
O grupo Rádio Renascença foi objecto de funcionamento, são da responsabilidade de que foi alvo incluíam ainda plágio a
de algumas mudanças. António Sala é da Desejo sem Limites, em colaboração com outras publicações. Jayson Blair declarou
o novo director-geral de coordenação, a Sociedade Central de Cervejas. em entrevista ao New York Observer: «do
reportando directamente a José Luís meu ponto de vista, e sei que eu não
Ramos Pinheiro, gerente da produção devia dizer isto, brinquei com as pessoas
do grupo. Entretanto, Rui Pêgo (que mais brilhantes do jornalismo». Também
abandonou a direcção da rádio Paris- a revista argentina TXT despediu o seu
Lisboa em Outubro de 2002) foi con- correspondente Jorge Zicolillo,
tratado para a direcção de programação afirmando que este nunca esteve no
da RR e Francisco Sarsfield Cabral Iraque, apesar de ter enviado re-
como director de informação. Ambos re- portagens supostamente feitas no local.
portam também a José Luís Ramos
Pinheiro. Rui Pêgo começou a sua ac- Guia TV
tividade radiofónica em programas uni- personalizado
versitários, em 1973, tendo integrado o
quadro da RR em 1973, de onde saíu Chama-se Molengão e é o primeiro guia de os anunciantes, uma vez que este serviço
em 1983 para fundar a Correio da TV personalizado, enviado diariamente por permite o envio de publicidade segmentada,
Manhã Rádio. Por seu turno, Sarsfield mail. O serviço, que oferece uma listagem juntamente com a programação. Os inscritos
Cabral entrou para o jornalismo em diária de programas, fornecida gra- poderão também consultar a sua lista per-
1970, no Diário Popular, e esteve na RR tuitamente, mediante o preenchimento de sonalizada a partir de um terminal de internet,
entre 1986 e 1998, quando assumiu a uma ficha com os dados do utilizador, con- recorrendo a uma palavra-passe. Mais in-
direcção interina do Público. stitui uma nova oportunidade de negócio para formações em www.molengao.com.

EPCI José Carlos


promove debates Campos na Ogilvy

Entre 27 e 29 de Junho decorre no Auditório José Carlos Campos é o novo director


do Teatro do Centro Comercial City, a décima criativo do grupo Ogilvy, entrando em
edição das Jornadas da Comunicação e substituição de Alexandra Quadros, que
Criatividade, organizada pela Escola Profis- abandona a publicidade para se dedicar
sional de Comunicação e Imagem. O tema a projectos pessoais. Segundo um co-
escolhido para este ano é “As Novas Tec- municado emitido pela Ogilvy José
nologias e o Futuro da Comunicação”. No Carlos Campos – que transita da di-
primeiro dia serão apresentados Toonboon, recção criativa da Strat – será re-
Maya e Kaydara. O segundo dia é subordi- sponsável pela criatividade das em-
nado ao tema “ANova Comunicação” e conta presas Ogilvy & Mather, Advertising,
com as presenças de Helena Faria, Marta OgilvyOne, Ogilvyinteractive e Ogilvy
Prata, Ernâni Carvalho e Nuno Patrício, da Activation. Além da Strat, o seu per-
RTP (da parte da manhã) e Francisco Penin, curso inclui a passagem pelas agências
da SIC Radical; Jorge Bento e João Martins, Young & Rubicam, Z. Publicidade, J.
da Produção Profissional (da parte da tarde). Walter Thompson, e TBWA / EPG.
Dia 29 discuitir-se-ão “as Novas Tecnologias Serão ainda da sua responsabilidade
na Publicidade”, com a presença de Sofia os departamentos de Programação &
Estrela e Bruno Pinhal (da Ozono Films), Tráfego e de Produção Audiovisual.
Afonso Morais (da Eastpack Portugal ) e Joa- Alexandra Quadros foi directora criativa
quim Caetano, professor do IPAM – Instituto da Ogilvy & Mather ao longo dos últimos
D.R.

Português de Administração e Marketing Francisco Penin três anos.

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