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da hist<iria,/
^345h Ilistoria: a artc dc inventar () passacl()' lÌnsaios clc tcoria
I)urval Muniz dc All>utlucrcluc Júni()r -- []auru, SI): Iìdusc, 2(X)7.

256 p.; 21 cm -- ((Ìrlcção I list<iria)

. tsllN ()78-tì5-7460-334-6

1. Ilistriria 2. llistôria c litcratura 3 'l'coria cla histírria I.'l'ítulrr


II. Séric

())l) 900

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c mail do :rtttor:
clu rv:tl:r l (t) ttol. tr xn. l rr A todos ()s Íncus alurros, <tricrrlirrrrkrs t,
ittttigos r;ttc hii rrrrrilo rrrt'tolrrirvirrrr t,.slt, livtrr.
Suvrenrcl

1l AlnEsrNraçÃo

l5 PREpÁcro

t9 ÌNrnoouçÃo

Panre I
História e Literatura

CepÍrur-o I
43 A horq da estrela: História e Literatura, uma questão de gêncr,?

CAPÍTULO 2
História: a arte de inventar o passado

(lAPÍTULO 3
67 No castclo da História só há processos e metamorfoscs,
scm vercdicto final

(lnt,Í'r'trr,o 4
tì5 I listriria: rcrlcnr<lirrlros rlrrc alravcssArìì os rìì()rìlrrr()s rla rrrcrrrr.lr.iir
Prlricio

anunciara quando afirmou que "Foucault revoluciona a História'l Durval Muniz


inspira-se nessa tradiçao para sugerir possibilidades de uma escrita histórica tão
pouco considerada pelos próprios historiadores, aferrados em afirmar a não for-
mação no campo de MicheÌ Foucault. As solenidades da História, tão ironica-
mente apontadas pelo filósofo francês, são tempero indispenúvel para Durval
Muniz pensar seus objetos como construídos eles mesmos historicamente. Du-
vidando do afirmado e repetido, traz à tona as possibilidades do menos visível.
INrnoDúÇÃo
São os "maus costumes de Foucault" que sulerem algumas possibilidacles fecun-
das para o trabalho de historiador que o autor realiza. Desconfiando e desafian-
do essas certezas, o texto ousa sugerir aproximações pouco convencionais reafir-
mando a metáfora como forma por excelência do trabalho historiográfico.
A última parte de seu livro ainda que não articulada a partir de uma
questào que lhe dê unídade, está atravessada pcla unidadc de uma preocupação r)A TERCEIRA MARGEM EU SO(U)RRIO:
em escrever a História em nossa contemporaneidade. Especialmente tocante é SOBRE HISTORIA E INVENÇÃO
seu artigo sobre um outro historiador, seu professor orientador, na universida-
de de campinas, e amigo Alcir Lenharo. Um presente para ele que já partiu, mas Iìá pelo menos três décadas uma palavra começou a aparecer com lic-
também para os que podem agora lê-.Ìo, porque compreenclem como fazer His- rliiôncia nos títulos e subtítulos das obras publicadas não só pelos historiado-
tória pode significar mais do que aprender com alguém um oficio. podemos r.es, como pelos profissionais de áreas como as ciências sociais, a Filosoíìa, a

aprender como fazer história fecundada pela amizade, sentimento atravessado l,cclagogia, a Educação Física, a crítica Literária, a Psicologia, a comunicaçâ<r
por certa gratuidade que lhe dá igualmente sua dimensão sincera e maior. Nes- c ató mesmo como a Literatura, a Religião e a Gastronomia, a palavra invctt'
o uso dcslc
sa mesma parte de seu livro, desafia uma das práticas em nosso campo que rnais çiro.' Mais {o que fruto de uma coincidência ou de um modismo'
ganham adeptos: a história oral. Para alguns, um método de trabalho, para ou- lcnÌì() parece indicar que estes campos do saber partilham, no moment(), colì
(cpça)cs comuns acerca da construção social da realidade e de sua apree'ttsiìtr
tros, uma forma de escrever a História e a partir dela atingir uma verdade mais
pclirs clivcrsas formas de conhecimento. O uso desta expressão parece intliciirr
real acerca do passado experimentado pelas sociedades humanas.
rrrrrrlanças paradigmáticas no campo da produção do conhecimento c tlits
Mas não quero retardar oprazer dessa leitura com um pref;icio (ìue sc
toltccpçires filosóficas que a embasam. A palavra invenção, embora possa sc
alonga. Antes, quero que ele estimule o ato de ler e se deixar afetar por cssa cs-
rclcrir ou cnfatizar aspectos distintos do que seria fundamental na construçittr
crita tão própria em sua formapraticada por Durval Muniz. uma mancira clc
tlo conlrccimento sobre o sublunar, remete este conhecimento e os ql'rjeltts c
conceber o nosso offcio reafirmando-o sempre como uma construção
1.rossívcl, srrjcitos rpuc delc participam para o plano da História, afastando-os dc t;ual-
como condição do exercício de nossa humanidade. uma defesa raclical cla gcrrc-
<lrrcr Íìlrrna clc naturalização. Ao usar a palavra invenção, os autores cstão ctt-
rosidade e da amizade como formas possíveis tambóm dc sc pcnsar a I lislriria.
Íirtiziutrlo a climensão genética das práticas humanas, independentcmcrtlc tkr
t;rrc crlrrsidcrcrn scr as ações determinantes ou Íirndantes da realidaclc ott tlc
Mattocl Lrriz Salgirrlo ( ìrri rrrariìcs ( L l I ilìf /t I I rlÌ, ) slits rcl)rcscntaçiics. Os homens inventariam a História através dc suits itçocs
Satttit'li.'ri..srr. l{io rlc lurrt'iro, rrririo rlt, .l(X)7. e rlc srrirs rcprcscrrtaçircs. lìsta cxpressão remete a umiì tcmporaliz.lçito tlos
Introduça| Introduçao

eventos, dos objetos e dos sujeitos, podendo se referir tanto à busça <Ìe um cepção do texto, vai levando a esta ênfase na dimensão ficcional, poética, ott
dado momento de fundação ou de origem, como a um momento de emergên- seja, inventiva do discurso do historiador. A história passa a se questionltr
cia, fabricação ou instituição de algo que surge como novo. o termo invenção, como discurso, sobre como se dá a produção de sentido neste campo. A ingc-
portanto, também remete a uma dada ruptura, a uma dada cesura ou a um nuidade de pensar que a linguagem apenas espelha o objeto da experiência,
momento inaugural de alguma prática, de algum costume, de alguma concep- . que pode ser uma instância transparente a dizer as coisas como realmente sào,
ção, de algum evento humano. começa a ser questionada pelas reflexões que se dão em torno do papel da lin
No campo da historiografia, este termo ganha destaque com o progres- guagem, num contexto em que o desenvolvimento da indústria cultural ou cltt
sivo àfastamento dos historiadores em relação às explicações que remetiam cultura de massas, coloca as linguagens no centro das reflexões políticas c lì-
para o emprego de categorias trans-históricas, das abordagens metaffsicas ou losóficas. A redescoberta dos indivíduos como personagens da história, cotrrtl
estrutúrais, que tendiam a enfatizar a permanência, a continuidade e pressu- forma de secontrapor àquela historiografia centrada nas categorias coletivas,
punham a existência de uma essência, de um núcleo significativo da História, em conceitos macro-estruturais e abstratos, também contribuiu para a c1rl<l
de determinadas relações ou processos como sendo determinantes de toda a cação da dimensão inventiva das práticas humanas como uma preocuPaçiìrt
variedade do acontecer histórico. Esta forma de ver e de escrever a História dos historiadores. A chamada Nova História, que normalmente é identificadir
poderia ser caracterizada pelo uso de uma outra expressão, a do termo forma- com a terceira geração da Escola dps Annales, a historiografia influenciada pc-
ção, muito comum na historiografia brasileira escrita entre os anos 1930 e los chamados filósofos pós-estruturalistas, entre eles, Michel Foucault, qu a
1950.'? Este termo enfatizava uma visão historicista do evento histórico, pen- historiografia de base hermenêutica sob a influência de autores como Paul lÌi
sando-o sempre como continuidade, desdobramento, evolução, desenvolvi- coeur e Michel de Certeau, ao darem primazia à análise das atividades dcscri
mento, progresso de um dado aspecto da realidade em relação a processos tas como culturais ou mais ligadas ao campo das práticas simbólicas, das mcn'
idênticos no passado. A ênfase se dava na identidade e na semelhança e a bus- talidades, do imaginário ou dos discursos, também irão contribuir para t;uc it
ca das origens, das raízes, das bases, das determinaçÕes, do sentido, dos ele- dimensão inventiva humana e da própria historiografia fosse ressaltada. ()lr
mentos formadores era o que predominava nos trabalhos nesta área. jetos e sujeitos se desnaturalizam, deixam de ser metafisicos e passam, pois' it
/á o uso do termo invenção remete para uma aboriÌagem do evento his- ser pensados como fabricação histórica, como fruto de práticas discursivas ott
tórico que enfatizaa descontinuidade, a ruptura, a diferença, a singularidade, não, que os instituem, recortam-nos, nomeiam-nos, classificam-nos' dão-n6s
além de que afirma o caráter subjetívo da produção histórica. com a çhama- avereadizer.
da virada lingüística, que chega ao nosso campo a partir dos anos sessenta do Mas o uso do termo invenção por diversos historiadores está long,c tlc
século 20, com a aproximação da história de disciplinas como a Antropologia, indicar que haja concordância entre eles quando se trata de definir o t;ttc cittlit
a Etnografia, a Psicanálise e a Lingüística, questiona-se a idéia de universalida- um entende por invenção. Na primeira frase do prefácio que escreveu para sctl
de do homem e da razão ou da consciência, da raçionalidade do sujeito, tan- próprio livro,intituladoA invenção da História, Arno Wehling] comcça lx)r
to do agente dos eventos históricos, como do próprio historiador e se enfati- negar qge entenda invenção da mesma forma que Detienne' Hobsl'rawttt ott
za o caráter político, interessado, construtivo do próprio saber histórico. o su- Certeau,a que, segundo ele, pensam invenção "como o processo atravós tltl
jeito do conhecimento, em História, deixa de ser pensado como uma presen- qual a vida social foi cristalizada num discurso e as razões que existiratÌì l)ilril
ça ausente, uma consciência plena que fala e vê sem a interferência de dimen- isso". SegUndo ele, invenção vai aparecer em Seu texto como "<l itto tlc tlcsttr
sões irracionais, afetivas, morais, ideológicas ou inconscientes. o retorno da lrrir ou encontrar um objeto/coisa qué já existe, cmbora o dcsconhcçattlos",
preocupação dos historiadores com a questão da narrativa, cla escrita da His- c<lm6 "o ato clc apropriação tle algo rlue jazia ignoraclo c clcsprcz.atltt pcltls tltt
1t'rria, tlc c()rÌro cstir participa cla própria clab<lraçã<l tkl Íìrto, l.rnto (ìuanto a rc, lr6s h<lrnc1s". lìstaríarnos cliantc, porliÌnto, dc ciuas poslttras cpislorlolírgittts
Intr0duçaQ Introduçãa

tlistintas, uma que chamaria atenção para o papel do discurso, da narrativa, prática de conhecimento, o objeto e o sujeito, ou como quer E' P' Thompson,
rìo processo de invenção dos objetos históricos, e uma outra que toma o ob- o conceito e a evrdência.t A coisa em si e a tazão pura kantiana seriam pressu-
jcto como algo que preexiste ao discurso, como algo que, estando oculto, seria postos da produção do conhecimento, e este um esforço de mediação, de
rcvclado ou espelhado pelo discurso do, historiador. A própria divisão, um aproximapo progressiva destes pólos distintos, realizado com a ajuda da ex-
lanto quanto artificial, que marca o campo historiográfico hoje, entre a histó- periência, da sensibilidade, da imaginação, da memória e das demais faculda-
riir social e a história cultural, entre o realismo e o nominalismo, o ceticismo des humanas.
()tt o construcionismo ou a dita oposição entre racionalistas e irracionalistas, Poderíamos descrever o esforço do conhecimento, como o faz a frgura
illrirvessa esta discussão acerca do sentido da palavra invenção. a seguir, como esta busca de atingir uma mediana invisível entre os pólos da
Bruno Latour e Michel Foucault' nos falam que esta separação ou dis- natuÍezada coisa em si, do fato ou da realidade e o pólo da cultura, da repre-
tinçiì<l radical entre o mundo das coisas e o mundo das representações, entre sentação, do discurso, da subjetividade e do contexto social. A busca deste cen-
ir nalurcza e a cultura, entre o que seria material e objetivo e o que seria sim- tro imaginário em que se produziria o conhecimento tanto pode ser feito par-
lxilico e subjetivo, entre a coisa em si e a construção social do conhecimento, tindo da coisa, da matéria, da realidade, do objeto, do fatO, çomo propuseram
('rìtrc o objeto e o sujeito é um produto da sociedade moderna e um dos seus os positivistas, os marxistas, a fenomenologia, todos os considerados materia-
prcssuprostos fundamentais. Os pensadores modernos e os conquistadores listas, objetivistas, realistas ou racionalistas, como pode partir da representa-
ocitlcntais vão considerar que os pensadores, sociedades e povos pré-moder- ção, da cultura, da sociedade, das
idéias, do simbólico, do contexto social, da
n()s criìm atrasados justamente por não discernirem, por não separarem as es- subjetividade, como propuseram os românticos, os idealistas, os existencialis-
Íi'rirs cla natureza, da sociedade, da cultura e da divindade. A produção do co- tas ou a semiologia e a hermenêutica, todos os considerados idealistas, subje-
rrhccirnento, no ocidente, caminhou para separar radicalmente estas esferas, tivistas, nominalistas ou irracionalistas. É a esta divisão moderna e pretensa-
ncgando as relações ou hibridações que pudessem haver entre elas. Embora mente irreconciliável, é a esta incomensurabilidade entre os pólos da nature-
sorrlo scmpre um misto de natureza, cultura e sociedade, o homem foi colo- za e da sociedade/subjetividade que remete à divisão exposta por Wehling no
trrrlo clo lado da cultura e pensado como o vencedor da natureza, inclusive da texto citado anteriormente, que aparece em texto de Ciro Flamarion Cardosot
sua prripria. Por um lado, destruiu-se uma visão transcendente da natureza ao como sendo os paradigmas rivais ou que se materializa em nossa área na ça-
rctirii-la do plano do divino, tornando-a um todo imanente regido por suas nhestra divisão entre história social e história cultural'
PrriPlias leis internas, para, em seguida, acabar por tornar estas próprias leis
lrirnsccndentes, pois universais, imutáveis e mecânicas. Por outro lado, tam- Pólo natureza Ponto de clivagem Pólo sujeito/sociedade
lrí'rrr sc contcstou o caráter transcendente da sociedade e da cultura, dessacra- e de encontro
lizirrrrlo-as, mostrando-as como construções humanas imanentes, para em se-
lgrritlir aclv<lgar que as regras e normas criadas pelo próprio homem dele se in-
rlt'Pcrrrlizavam c se tornavam transcendentes, o homem criaria as próprias es-
Irrrlrrnrs r;uc o aprisionavam. Latour e callonu chamarão este processo de se-
l)iu'irç.r() crì1rc a natureza e a subjetividade/sociedade de processo de purifica- A explicação parte de um dos extremos
e aproxima-se do ponto de encontro pela multiplicação dos intermediários.
1iro, crrsiriatkr rlcsric Kant.t O procedimento científico no ocidente moderno se
t irrirr'lcriz.irria por csta prhtica de purificação, pela rejeição de aceitar as mistu-
|irs, rrs rclirç<)cs, as sÌrpcrposições, as mcstiçage ns. No ato cle conhcccr se advo, lìigrrra I - lìctiratla <lc l.Al'()Ulì, l\ru|r<t. lomuis f\mos modernos: ensaio tlc attlropologia
sint('lritir. lìirr tlc litrtciro: lÌlilora .\4, 1994. 1t. 77'
liit it cxislôrtt iir <lc cltras irtstârrcias pttras, aulôn()rììas c prccxistcnlcs:ì pr<ipria
lntrodução
Introdução

A história social seria aquela que não poria em questào a materiarida-


interrogação [seria] uma hipótese; o interrogado [seria] a evidência, com slrâs l)r'(]
de, a objetividade, a realidade do fato histórico, mesmo jánão considerando priedades determinadas. A evidência histórica [terial determinadas proprictlatlcs.
possível apreendê-lo em sua totalidade ou tal como ele foi. Mas Embora lhe possa ser formulada quaisquer perguntas, apenas algumas lscriartrl
o defeito es_
adequadas. Embora qualquer teoria do processo histórico possa ser proposta, lsc
taria do lado do pólo do discurso, gue, por ser mediado por inúmeras
variá_ . riam] falsas todas as teorias que não [estivessem] em conformidade com as <lctcr
veis, não seria capaz de espelhar fielmente a coisa em si. por ser humano,
so_ minações da eüdência."
cial, cultqral' simbólico, ideológico, subjetivo, este não conseguiria dizer
' coisas tais como elas são, os fatos tal como aconteceram, embora
as
não se tenha Ou seja, quem comandaria o processo de produçào do conhecimcnlo
dúvida de que estes aconteceram em si mesmos-o monìento de invenção
de seriam os próprios fatos, as próprias evidências, muitas vezes chamadas at1ui,
qualquer objeto histórico seria o próprio passado e caberia ao saber
histórico equivocadamente, de empiria. O historiador se deixaria guiar pela lógica t;uc
tentar dar conta dos agentes désta invenção, definindo que práticas, rerações
emerge dos próprios eventos, da própria História, lógica histórica que, assilÈ
sociais, atividades sociais produziram um dado evento. os documentos
his- como a razão plora kantiana ouarazão absoluta hegeliana, aparece como vcr-
tóricos são tomados como pistas através das quais se tenta rastrear o momen-
dadeiro ente descarnado, como uma mão invisível e sábia que dirigiria o pro-
to desta invenção, os interesses que estavam na raiz de dado acontecimento,
cesso histórico, cabendo ao historiador compreendê-la e enunciá-la.
os conflitos e as contradições que levaram à sua emergência. Muitas
vezes, lá paru a chamada história cultural não se pode confundir empiria c
como sugere Hobsbawm,'o o historiador terá que discernir entre o que
é uma evidência, nem empiria e realidade, como parece fazer Thompson, pois narlir
invenção, como ação genetica e instituinte dos grupos sociais na
História, e é evidente em si mesmo. A evidência, ao contrário do que faz parecer a argu
uma invenção puramente ideológica, ou seja, uma falsificação propositada,
mentação de Thompson, não é uma empiria pura que está ali esperando para
mitificação sem base na realidade, que visa a justificar uma dada dominação
ser capturada pelo conceito adequado, algo que tem voz própria espcrarrdo
social ou política. Mas nesta historiografia o discurso do historiador
e, mui- que alguém faça a pergunta correta para se manifestar. A evidência é pr<xlu-
tas vezes, o próprio discurso do documento, não são interpelados
enquanto to de uma certa vidência, é construção de uma forma de ver, de uma visibili
partícipes da invenção do evento que é narrado. A invenção do'acontecimen-
dade e de uma dizibilidade social e historicamentelocalizada.'' É o própri<r
to se dá numa instância extradiscursiva, passa-se antes, além ou aquém
dos conceitoa é o discurso lançado sobre a empiria que a transforma em cviclôn-
discursos que o enunciam, é parte de uma realidade entendida como
materia- cia. Nada é evidente antes de ser evidenciado, ressaltado por alguma forma dc
lidade extradiscursiva e aprisionada no passado, que vai ser descoberta,
<Ìeci_ nomeação, conceituação ou relato. Os documentos são formas de enunciaçao
frada, revelada, resgatada, retomada, explicada, interpretada pelo
discurso do e,portanto, de construção de evidências ou de realidades. A realidadc nào ('
historiador, que a interpela. cabe ao historiador ir ao passado e interrogar
as uma pura materialidade que carregaria em si mesma um sentido a scr rcvclir
evidências que este deixou com as perguntas adequadas, munido
dos concei- do ou descoberto, a realidade além de empírica é simbólica, é produto da rlrr
tos e métodos apropriados, para este passado oculto revelar-se
em sua lógica tação de sentido trazida pelas várias formas de representação. A rcalidatlc rrao
subjacente, agora por ele percebida, embora, muitas vezes, ignoracra
por seus é um antes do conceito, é um conceito.
próprios agentes.
Como chama atenção Derrida em seu texto Mal cle anluivo,t' natla rkr
como nos fala um dos mais respeitados historiadores sociais contem-
clue l'ìcou arcluivado do passado o fìli inoccntemcntc. O artluivo, scja tlc tcx
porâneos, E. P. Thompson:
tos, scja de objct<ls, é frut<l dc opcraçCrcs políticas c dc scrrtido. Mcsrno arprc
. discurs. hist<írico disciplinado da prova [c.nsistiria] num diákrgo entre c.ncei_ lc ckrcumcnto <lu vcslígi<l tlo passitrl<l (lue possa tcr chcgirtkr ati'nrís [)ol'l)ur()
to c cvidôncia' unr diárogo conduzido por hitrrírtcses sucessivas,
de tìnr racro, e a pes itcaso íìli protltrz.irl<l tì() sctt tctttpo obctlcccttrlo it inlerrcionalitlirtlcs, orr scjir,
r;rris:r crrrPíric:r <lc outro. o intcrrogador
lscrial a l<'rgica histirrica;9 c.,rrtcú4.6a ls cvitlôrrciits crìr sctt prriptio lctttplr sito Íìrlx'itirtlirs. Âl('rrr rlt't;rrc, iro rorrlrii
Introdução Introduçao

rio do que nos faz parecer o texto de Thompson, as evidências nào são en- mos este impasse se pensarmos como Guimarães, que toda história come\il
contradas nos arquivos, são fabricadas pelos próprios procedimentos, apara- com um acontecimento, e que este Se define,.como fazLacAn,'o por uma
(lllc
tos e pressupostos teóricos e metodológicos do historiador. somos nós que bra da rotina, pela emergência de algo, pela.ruptura com a lei e com a sclììc
evidenciamos, colocamos em evidência dado evento ou conjunto de eventos lhança. As primeiras estórias só começam por um acontecimento, por lnais
e, no mesmo ato, esquecemos ou jogamos para os bastidores outros tantos banal que seja, mas este acontecimento, que no início é só inquietudc, dcs
acontecimentos. conforto, choque sensível, signo sem sentido, desnorteamento, potência viril,
Para a história cultural, portanto, a invenção do acontecimento histó- loucura senil ou inocência infantil, começa a fazer sentido, começa a sc l()r
rico, de qualquer objeto ou sujeito da história, se dá no presente, mesmo nar fatO, começa a ganhar contornos quando começa a ser contadO, narratltl,
quando analisa as várias camadas de discursos que o constituíram ao longo do relatado. O fato, o evento, não pode ser reduzido nem somente à irrul'rçap
tempo, pois esta historiografia é atravessâda pelo tropos da ironia'' que traz a real de uma ação, de uma prática sem sentido, sem significado, incômrl<lo
participação do discurso do historiador na construção da realidade que narra sensível que nada significa, nem somente à sua barroca.e grandiloqüentc rtar
para o centro da reflexão. o historiador irônico é aquele que não se coloca rativa. Como propõe LaÇan,tt o real é o insuportável, o inapelável' 6 irrccçr-
fora do acontecimento que enuncia, do tempo que narra, mas que sabe que rível, é o pai cumpridor, ordeiro, positivo, repetitivo, que um dia toma a ca
seu próprio discurso
é mais uma dobra no inabarcável arquivo de enunciações noa e entra no rio para não mais voltar. Mas nenhum ser humano suPorlil o
que instituem dados sujeitos e dados objetos. No entanto, esta posição, partin- real se não trabalhá-lo simbolicamente, se não aplacar sua estranhez'a alritvós
do do pólo oposto da divisão moderna, ou seja, do pólo do sujeito, da repre- da dotação de sentido e de significado, se não tornar a coisa., a naturcT.il, clìì
jtts
sentação ou da cultura, pode cair no extremo de negar qualquer materialida- algo cultural. A dor da partida do pai logo deve ser explicada, entenditla,
de para o fato ou acontecimento. os fatos seriam apenas fabricações discursi- tificada, deve tornar-se estória, relato, escritura. Todo fato é, ao mcstn1; lctlt
vas' os sujeitos e os objetos existiriam apenas no e como texto, como instân- po, natureza, sociedade e discurso, pois é materialidade, relação stlcial c tlc
cias textuais; a realidade seria apenas uma construção narrativa, um efeito de poder e produção de sentido. Todo evento histórico está constituído pol' vit
realidade, viveríamos entre simulacros e simulações, mitos e mitologias.,' riáveis naturais, que quase Sempre os historiadores têm ignorad<1. Nttttca tttls
Talvez para sairmos deste impasse, desta dicotomia moderna, que só lembramos de dizer o clima que fazia quando um evento histórico ()c()rrctl,
fez se ampliar desde Kant, como mostra a figura a seguir, até chegarmos na embora às vezes tomemos a qualidade do solo como elemento <lc cxplicltçArr
hiperincomensurabilidade defendida por alguns pensadores pós-modernos, de uma dacla forma de produção. Não há evento histórico que nâo scjir Prrr
nossos Górgias redivivos,'u que defendem a absoluta impossibilidade de as duto de dadas relações sociais, de tensões' conflitos e alianças etn lortto tkl
palavras dizerem as coisas e de estas serem definidas por aquelas, precisamos exercício do pocler, <le dada forma de organização da sociedade, protlttlo tlc
da ajuda da própria Literatura que, produto desta cisão moderna, foi coloca- práticas e atitudes humanas, individuais e coletivas. Estas práticas llLlll(il lìo
da do lado da representação, da ficção e excluída do lado da realidade, da ver- dem ser reduziclas a um dado aspecto da realidade' nunca uma priitica cto
dade e do fato.r'Talvez possamos sair desta necessidade de nos filiarmos de nômica pode ser desligada de um conteúdo político ou dcixa tlc citrregitt'
um lado ou de outro destes pretensos paradigmas rivais se, inspirados nas concepções fìlosóficas, políticas, uma simbologia, reprcscntaçircs ltccl'tit tLt
Primeiras estórias'" de Guimarães Rosa, buscarmos pensar a possibilidade de cluc seja 1l prcço justo, o salltritl aclctluado, o lucro deviclo.'ltrtlo cvcrtto lris
uma terceira margem,'' uma margem onde as duas anteriores, fruto das ati- t(lric<l ó cultr.rral c sirnlt(llico c prccisa clc alguma lorrna tlc linguagclrl orr rlt'
vidades de purificação, de racionalização, de construção humana e social cle sinrSçl<lgia l.rara itc()tìlcccr, [)iìriì cslabclcccr os laç()s tlc cotnutticilç.|() clllr('(]s
objetos e de sujeitos como entidades separadas vêm se encontrar, vêm se mis- 66rrrcrrs, scpì ()s r;ttais rrlo lrirvcria cctltrotrtia, lxllítica ott srlcictlittlcì ll('lll
lurar no fluxo, no turbilh<lnar das ações e práticas hurnanas. 'Ììrlvcz sr.rPcrc- tÌìcsrÌr() olrit'lrl ott stt jcilrl.
Inlroduçato lntro.luçto

. Hiperincomensurabilidade (pós-modernos) para o redemoinho do tempo, tornando-as sempre diferentes do que parcciatlt

\ , lncomensurabilidade (Habermas) , ser: Qualquer evento histórico é uma mistura tal de variáveis, é fruto do cnlrc
-2
laçamento de tantos outros eventos de natureza diferenciada, que semprc vistta
ïrabalho de
purificação
lizamos apenas parcialmente e pomos em evidência apenas alguns destcs clc
mentos que o constituem. C,omo o rio, a História arrasta as suas margcns l)ilrtì
Pólo natureza Pólo sujeito/sociedade seu leito, num trabalho incessante de corrosão, em que figuras de objctcl c Íìg,tr
Dimensão moderna ras de sujeito, coisas e representações, natureza e cultura se entrelaçam c sc trtis
turam, remoinham-se, enovelam-se, hibridizam-se. Ao contrário do t;uc pcn
samos, se as margens limitam e contêm o rio, dão a ele forma e curso, nãtl siltr
Trabalho de
mediação as margens que produzem o rio, mas justamente o contrário, é o fluxo das i,'tgttas,
o passar incessante de seus torvelinhos que vai escavando as margens, clantl<l it
Multiplicaçãodos
Quanto mais os quase-objetos elas contornos, é o rio que produz suas margens. O mesmo tipo de engan() c()s
quase-objetos
se multiplicam, mais cresce a
distinção entre os dois pólos Dimensão não moderna tumamos cometer ao pensarmos a História, tanto quando colocamos <ls ttlljc'
tos, a.realidade, a materialidade como sendo seu ponto de partida, como (ltl:llt-
Figura 2 - Retirada de LATouR, Bruno. Jumais fomos modernos: ensaio de antropoÌogia do colocamos os sujeitos, as subjetividades, as representações como scn(lo sctl
simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p.58. ponto de partida. Nem os objetos, nem os sujeitos preexistem à história (ltlc os
constitui. A História possui objetos e sujeitos porque os fabrica, invenla-os, its
O que significa pensar a História e escrevê-la desta terceira margem? Sig- sim como o rio inventa o seu curso e suas margens ao passar. Mas cstcs tlbjckls
nifica primeiro pensar que a História não se passa apenas no lugar da natureza, e sujeitos também inventam a história, da mesma forma que as margclls c()lls

da coisa em si, do evento, da matéria ou da realidade, nem se passa apenas do tituem parte inseparável do rio, ilue o inventam.
lado da representação, da cultura, da subjetividade, do sujeito, da idéia ou da Nós historiadores, ao contrário do que faz crer as dicotomias tlttc'llr,r
narrativa, mas se passa entre elas, no ponto de encontro e na mediação entre vessam nosso campo de estudo hoje, não escrevemos a História da rnargcllt tli

elas, no lugar onde estas divisões ainda são indiscerníveis, onde estes elementos
reita ou da margem esquerda do rio, não podemos optar por habitar a Íììargclll
do objetivismo ou a margem do subjetivismo, a margem da naturcza otl .l tìlilr
e varáveis se misturam. A história se passa nesta terceira margem onde o que
gem da cultura, a margem da realidade ou a margem da construção cliscttrsivit
impera é o devir, o fluxo, que desmancha as formas estabelecidas de objetos e
da História, pois a História em seu acontecer articula e relaçiona toclos cslcs rts
sujeitos, que mistura aspectos que aparecem separados, classificados e ordena-
pectos e a narrativa histórica também deve fazê-lo. Nós escrevctnos a llisl(rril
dos após as práticas de análise levadas a cabo pelas ciências. se de um lado,
de dentro dela mesma, escrevemos a História navegando em scu lcilo, a llartrt
numa margem, temos os objetos já formados, os fatos cristalizados, definidos,
da historiografia, como nos diz Hartog," se não pode ser mais a barcl tlc tJlis
tidos como materiais e se, de outro lado, na outra margem, temos as formas de
ses,pois não podemos viver de lendas e viver as lendas, é a lrarca tlc I lcríltkrkt,
sujeito já estabilizadas, com identidades definidas, fruto de divisões sociais esta-
a barca curiosa, que percorre mundos e tenta dar testcmunhtl tlo tlttc vô, tlc
belecidas, subjetividades pretensamente estáticas, culturas e simbologias bastan-
onde se fala do real, embora com olhos gregos c f<lrmas dc tlarrar grcgirs, irt
te estruturadas. A história se passa justo entre elas, a historicidade é justamente
vcntando, ao mcsmo tempo, o real, o grego c o llltrllaro. Mirs it llist(lriir Ú viir
o que impede que estas formas se mantenham intactas, sem transformaçÕes. A gcm (ìuc c()nccta c rnislura lclnp()s c csJ)aços, tlttc ittlerpcttclrit coisrts c r('Jìtt' i

história como o rio heraclitiano22 arrasta estas formas estabilizadas para o fluxo, scnlaçocs, rcirlitlirrlc c tlisctrrso, raz<)es c sctttitttcttltts, tttrtl('riit t'sttttlto, tlt'st'jo t' r
Introdução

historiador está con<renado,


;:ïï:ï:
'|JfJ*:; i:::Ë:::lïo
como o pai
ttir I Iislória, há multiplicidade, pois um
rio é composto de muitos outr.s c rle
suro' a seguir o (dis)curso,-a *ror-i,.
jeto ou do sujeito, nãolhe
iïï'"ï ïïï:Hffiï,::J,".ï r*rt'rs uguas, embora parcça superficialmente homogêneo.
Embora r)arcç.r
garanter"rt.r.unçu, porque estas tttrta superftcie lisa, o rio, como diriam
não cessam de ser Deleuze e Guattari,,, é estriaclg, 1í19
erodidas' mudadas de forma
p.lu purïug"m ao tempo. irr)crìac pelas canoas humanas que
o percorrem e fazem dele caminho,
clito, "para os que entram como afirmava Herá_ m.s lx)r.
nos mesmos".ior, uflu"_ (),.ras matérias várias, inclusive
preciso' ao conrrário do r.a'a" o*aas águas,,,r, é 'lixl.
naturais, muitas águas que o vêm comr.,or.
que afirmava p".-ê"i;;;;. rio é eneontroentre Negro e solimões. Tàmbém a História, embora
saber sem referentes fixos, ;JJ;";"ssib'i<ra<re do sir r)irrecer' às vezes, homogênea,
p.s_
sem furduar,"., um saber que nasça da navegação contínua, habitada pera semelhanÇa, pera
do fluxo, do qu" .r,, passar rc
nos toca o, o,to' 1x'tiçrìo, pelo mesmo, é trabarhada por dentro pela
diferença, pela heterogcnei_
tlirtlc' pela descontinuidade, pera justaposição
ffJ,ïï*'"',ïïdoresperas"d;';'"i"ïf.:1,'"":lÏl:J:-fi :,i,1'i;ll- ('vcrì[os de distintas características.
de erementos, por relaçÕes, por
como podemos acreditar ser possíver is'-
turais que,"",","'ïïÏÏff e viscosidade, .,,,u-

tanto
ï#:: ïïï:l"alizações l'rr urn faro econômico, de um fato .ultu.ul,
ou um f"a i;;;;;lde um rar.,
podem ser observadu, ,,u
atentos para o fato de:""-r:
nu,,,."#.,ïï:ï:"ïïï:l;:L__ rr.rlrrral. Nós humanos não somos
animais, portanto, natureza?

bém sedimentações, depósitos,


rio do tempo nem tudo é
somente fluxo, há tam- "lJl Pensar que a produção da História
se dá nesta terceira margem, scja
rr
urror"ulr"n,os, o aparecimento lristriria efetiva, seja a história conhecimento,
onde se pode empreend^er de ilhas de é ressaltar que a história, scja
uma u.qu"otogiu das camadas t'ttto evento, seja como narrativa, nasce da relago.
sa condição histórica.'o constitutivas ,a nos_ Entre o realismo e o c()rìs
os eventos, co-J'o, d,izVeyne,r,rao tlrrlivismo, talvez devamos adotar o relacic
tas irrupções que permitem icebergs, es_
os tempos; são ilhas de
inventariar momentaneamente "r,",
as diferenças entre
1
r r ii r icas
sociais, sejam práticas discursivas ; ";ï";ff:'j|.],lã:j ïïlli;,;'
história, como diria Sahlins,r* 1,t's, cle traduções. A ciência moderna enfatizou exageradamente
nar nossa canoa provisoriamente em que podemos estacio_ o resurtir(r() íì
para
podermos ,ivisar ho.ìront", rtirl do processo de produção do conhecimento,
tativa e analisar o espaço de expec_ momento em que os olrjctos c
,1" .o-o nos diz KoselÌeck,n, e fazermos sujeitos apareciam bem definidos e
um diagnóstico relativo deste"rp"rìên.iu, 's crassificados, identificador, groçu,.o
Pn)
momento rcsso de análise, de separação,,de
e ordenamento, de racionalizaçãã, silcncialrtftr
que nos arrastam, dos abismos
canso onde podemos eraborar
nu" ooi";::
"-
p-;"io, b,rr.u. arternativas ,e
ïffiï:l iffi;ïJ:::::: ou cscondendo as etapas intermecriárias,
rììonstros, os elos perdidos, os erros,
as experiências falhadas, os híbri4.s,.s
as manipurações que foram necesshria,s
te rio do tempo que é "
a historicidaáe. rurur,
caminhos nes_
tcs que se chegasse a este estado de purezae
i'r
que saber que nenhuma
ilha é uma ilha, hás
--o
nos lembra Ginzburg,,,o
temos rlc aparecerem como figuras definidas,
separação. os fatos históríc.s arrrcs
após o trabalho de seleção, ortlclrarrrcrr
rerações qu" u d"r-uncham. o nr"u,t" 10, racionalização, conceituação
também cristaÌização, estrutura,
sedimentação,
".":i::::ffiï;:ïi,".ï:::ï
acima de
é,
cortgcrie de múltiplos erementos, uma
e escritura rearizado pelo historiacr.r é,
nuvem composta pela poeira <Jos trcfir
ul'ir
fluxo e cristalização, entre tudo, relação entre
estrutu.u, p.o."rro e evento. lhcs' da singularidacle dos nomes e
No rio, como na Histó_ das coisas.t' euando ao final dc n.s.sa
rrirr-
que pensavam os modernos, rativrr, se o cvento aparece em seu corpo
;i-','ffiïïffiï:"i: nem ,"-oi" ,i,0" o"*",
c.rrrlcmos as costuras, os chureados, os nós
inteiriço e bem amarraclo, ó
lxrrr1rc cs
e as raçadas qr" p.".iroa.rs rcalizar
o ceâ n ico ua nïïïïï:,ïï:, ï.#i:
re,rem
clesconectadas em poças
o i

apod.".idur, ha aguas que


1,"
^
ï? fu:ïïïff ;ï;r* c' coln() nunra lincla lrrusa de tricô' precisamos
s..'lL'ccr, c()nl() nirrrar, i' rclacionar, pôr
esconcrer e disfarçar rì() scr.r irvcs-
cm contato, entrelaçar linhas tlc cliíc,rc'
saem do curso, que se se desencaminhâD, gu€
bifurcam ," lcs corcs, cvclìtos rlc diÍcrcntcs caraclcrísticas,
" em firros, igarapés, riachos, pe_ para (luc sc lcnha urn clcsclrlro
clue vão dar em "rquiruï
(lucnos braços de rio
nada ou em lugar nenhum.
f
lrclrr ortlcrrrrcl<l rro íìrral. lislc lraballro tlc
No rio, como lccitrrrir 1,, rro crrtrrrrlo, olrra rll nriro tle
(lllclÌl lccc' tlil itttitliittitçirtl c hirlrilitlirrlc
rlc t;ucrrr rrirrrrr. Nir<l
lxrtlcrr,s lx.rsi'.
r0
Introdução
Introluçao

que a História escreve a si mesma, que os fatos se impõem ao historiaclor, que


Escrever história é também mediar
se impõem como evidência. Pensar assim seria pensar a possibilidade de o bor- temporalidades, exercer a alivitr;rtrt.
de tradução entre naturezas, sociedacles
dado fazer-se a si mesmo. Todavia, também não podemos achar que se pode te- e culturas de tempos 4istint's. ( ir'r
cados nesta terceira margem da temporaÌidade,
cer sem linha ou agulha, que somente a concepção da blusa que estava idebcta que é o presente, o historintkrr
tem a tarefa de construir com sua narrativa
pela cabeça brilhante da bordadeirarealizaa própria blusa. Não podemos escre- uma canoa que possa mctriirr, Í;r
zer se tocar as margens do passado e
a História sem documentos, nem sem as ferramentas que a cultura historio- do futuro. Ao habitar o tempo, c()rÌì()
-..ver sa a fazer o pai da terceira margem, l)ils
gráfica nos proporciona, inclusive os conceitos. Tecer, costurar, bordar, escrever, ao passar a viver no fluxo, ao invós tlc st,r.
um profissionaÌ que fica preso ao passado, que
como qualquer evento humano, por mais comezinho que seja, põe em relação remói suas lembrarìças, (rr(.
fica ancorado à margem aa memória
a matéria e a idéia, a concepção ideal e o trabalho, a mão e a cabeça, o projeto e e da tradição, o historiador é argrri,rr
tlrrt,
tcm a tarefa de se descolar desta memória cristarizada,
a ação, a naÍvreza e a cultura, a coisa e a palavra. eualquer produto, que apare- d,e fazercom (lrc cslir
retorne ao fluxo temporar, que se liquefaça
ce no final como algo acabado, passou por etapas intermediárias, por media- para que novamente p()ssa c()l.r(,r
na direção do futuro. Mas também vivemos
-ções. A mão da bordadeira medeia e traduz, ao mesmo tempo, a relaçào entre uma época em que a'cam.s trir
canoa daquela historiografia que era escrita
linha, agulha, desenho e concepção. Da mesma forma, como nos diz certeau,.. em nome de um futur', t[rc trcs
pÍczava o presente para viver ancorado
ao fabricarmos a narrativa histórica mediamos elementos tão distintos como na margem da esperança, crì(ra.Ìrìl() ir
um lugar temporal, espacial, social, cultural, institucional; uma disciplina feita canoa ameaçava fazer água e apresentava
furos por todos os laclos. l)cstlc .s
de regras, conceitos, métodos e uma escritura, feita de estilos, gêneros, tropos, tcxtos dos fundadores da Escora dos Annares,o
que invertemos a rcr.çà. crrrr.t,
convenções. Não faz sentido perguntar, portanto, se a bordadeira ou a historia- passado e presente, aprendemos que
e o presente que interroga o
Passirrt. t. .
dora é materialista ou idealista, realista ou construtivista, objetivista ou subjeti- c.necta com a nossa vida, com as suas problemáticas;
o passado, c.rn<l rr r ri*
vista, pois em cada atitude"ou ação de cada uma, por mais corriqueira que se- ttiria' é uma invenção do presente, embora
ancorada nos signos acixatr<ls
rrcr'
jam, elas são tudo isso ao mesmo tempo, elas são produto desta mediação, pois, Passado' Passado que está longe de estar morto, de estar
u.Àu.r.r, passatr, t;rrr,
da mesma forma que só existe o objeto blusa ou o texto de história porque elas i' parte do próprio presente. No rio, como na
História, águas passaclas rr.r.vt.rrr
os produziram, elas só aparecem como sujeito bordadeira ao bordar ou como rrr.inhos e destinos. cabe ao historiador, profissionar
do presenrc c rr'
sujeito historiadora ao escrever história, ao fazerem estes objetos, portanto, se o p.ssaclo, como dizia Broch, construir
em suas narrativas a mccriaçã. crìrr.(,'ir. ()s
sujeito produz o objeto, este também define o sujeito. ÍcrÌìr)os e diferenciar, como queria Kant,'"
o que é atuar, o cluc ó pr<,rpr.i. tr.
ll()ss() tcmpo, do que é apenas contemporâneo,
o que está d<l noss<l lackl, rrrirs
Pólo natureza Trabalho de purificação Pólo sujeito/sociedade vcrtt clc outros tempos, e talvez intuir,
abrir a possibilidade dc horiz.rtcs ().
Itrrs pnlx o futuro. Nada de promessas, já
se foi a época dos hisrori.tr.rcs ,rt,s
siâlricos, rnas possibilidades múltiplas
de futuro, (ìuc st: realizariì<l <lu rìiro tk,
Pcrt<lctttlo cltl imponclerável resultado clo somatório clas
açclcs hrrrrurrirs. A
I listri'ia, c()rììo () ri<1, r;rc su[)ortc
frágir para ancora'nos cspcrirìçiìs, rìlirs (rr(,
Trabalho de mediação vilirlitlittlc' t;uc íìrrça, tltlc cstírnul.
Para rcla'çarÍnos rì()ssils rctlcs tlc ,r''j;15
A explicação parte dos mediadores e atinge os extremos enquanto resultados; orr tlc hclcr<llopias.,,'
.o trabalho de purificação torna-se uma mediação em particular.
lislt'tralllllro tlc rrrcrliirçao, rlc lracluçiìo, cxcrcirlo
Pckr hisloriirtkrr., lt,rrr
t,ttt'PrittllPitl ittslrtttttcttlo it lritrrirtivir, a lirrgrragcrìr, (luc ó. r.t.t.rrr.s. írrrrrl.r
Iìigrrra 3 - lìctirada dc LÂTOUIÌ, llrun<t. Jtnruis
Jitnuts trtrttlrrttttsi cnsuio rlc irnlropologiir tttt'rtlirl rk'rrrcrliirlirrl, tk,rrrislrrrir, tlc r.t,llçiro
sittti'tricir. lìi<r <lc funciro: lxlitora 34, 1994. 1t. 77. rkr lrornr,rrr (()nt () nrurrtkr. N,ro
cxislt't'vt.rtlo lturtt;rrro c lrtrnt;trtiz;trlo r;ttt,tt;to
P,rsst.Pt,lo totttt.ilo, si!irri
Pt.kr
IntroduçÃo lnroluçào

que pensam os realistas' o conheci- tlição de habitantes do fluxo temporal, tentam construir narrativirs-birrtrs,
ficado, pela significação. Ao contrário do
como evidência' mate- t;ue privilegiam um ou outro acidente do percurso, um ou
mento não é fruto da cópula entre o objeto' entendido outrg clcrrrt,rrlrr
saídos do cérebro de um sujei- rlue compõe a historicidade. Nunca podemos dizer que nossa
riaüãade, coisa, e u rutãà,a lógica' o conceito' viagcnr d. ir tlc
quase invisível película' um tercei- Íìnitiva, que ancoramos no porto final da verdade derradeira
to, pois, em meio desta cópula, existe uma ou (luc rcr,rrr;r
própria' que é uma coisa en- rnos até a origem' pois se navegamos o rio ao contrário
ro elemento, a linguagem, que possui espessura descobriremos rrrc t.lt,
que permite transportar o .asce de matéria diferente de que é composto, descobriremos
tre coisas, não é apenas um veículo transparente o momcnl() un
do conhecimento' Mas também r;ue o rio é terra, é pedra, é areia,é mato, é filete de água,
objeto até o sujeito e tealizar o encontro feliz descolrrircnr()s (lu(,!
linguagem' pois todo dia esbarra- .ssim como o fato histórico, ele nunca é feito sempre do mesmo
não podemos achar que só o que existe é a marcrial, rr.
pé, que existem independente- c()meço há apenas dispersão, caos, agroval,.,,onde todas
mos em coisas que nos machucam o dedo do as formas são inrlcci
até para rhes xingar precisare- s.s c as separações entre os gêneros não existem. se o
mente do conceito que as atribuímos, embora historia<ìor ó <l proíìs
que pensavam os modernos' sional que busca narrar invenções deve saber que estas
mos imediatamente nomeá-la. Ao contrário do se fazem relaci1;rriyrtll
de fabricar a natlreza, ín- rlrateriais diferentes e muitas vezes tidos como irreconciliáveis.
não fabricamos só a cultura, também não cessamos As invcrrçoes
clusive a nossa, mas também somos objetos
tanto para a\atureza, como para P,clcm resultar no que não se planejou, as invenções podem surgír cl. crìc()lì
acultura,Somosfabricadosporelas,somosseusprodutoseprodutores.Alin-
lr. inesperado e acidental de elementos que jaziam separados. o m.nrcrrtrl rlc
irtvcnção, como dr irrupção de qualquer evento histórico,
8ua8eméesteterceirotermoqueconectaearticularrat]ulÍezaecultura,que, é um m.rncrrt. trt,
embora vista tt'ltt"al e social' é também dependente de atribu-
sempre.o-o tlisPcrsão, que só ganha contornos definidos no trabalho
de raciorralizlç.ir, t.
vocais' .rtlcnamento feito pelo historiador. ordem que está e não está
tos naturais, não se fala sem língua ou cordas rr. Pr.Pr.i.
Depoisdeterescritooutroslivros,GuimarãesRcisaescrevesuasPrr- t'vcrrto, articulações prováveis, possíveis, mas nunca incliscutívcis
ou cvitlcrr
It's. lìato histórico, ufn misto de matéria e memória, de
meirasestórias,talvezportersidoseuprimeirolivrodecontos,pequenashis. ação e rcprcsc.rirçir(ì,
a irrupção de uma diferen- Ír trt. cle uma pragmática que articula a natureza,a
tórias, em que o inusitado de um acontecimento' socieclacle e . disctrr.s..
os personagens a quererem domar como historiador, historiador de invenções,ro habitantc dcsta tcrtt,ir.ir
ça, a dor d" ,.-u quebra da rotina' levam
lllitrS,cÍn' sei <1ue sou rio, pois sei que sou também natureza
estecortenotempoatravésdanarrativa,dorelato,freudianamente,'embus- e granrrc Pirr.rr,trrr
caderea|izarolutoounietzscheanamente,'embuscadeproduziroesqueci_ nìcu corpo é constituída por água. Mas também sorrio, pois
a consciôncirr irrl
mento. Contar para domesticar a irrupção
do signo sem significado' da coisa . icir rlc Íneu tempo me fazpraticar meu ofício como um lugar
clc rlcsc.rrsr l.rr
da realidade sem
bruta, da materialidade em estado puro' do dilaceramento lito tltl rosto sério e sisudo das verdades definitivas e estabclcciclas. Sorr rio,
justificativa.Ohomemnarraenestemomentorealizaamediaçãoentreoque |.is sci (rue meu saber é composto de muitos outros, sei
cluc nã. s,u a .rigt.l'
e o que é simbólico' A nar-
2 material e o que,( ideal, entre o que é empírico <lo tttctt sabcr, não sou o sujeito funclante da história
clue faço, s6u Íìrlrlrrtlr
captura_as, agencia_as.
rativa atravessa e articula as diferenças, mistura_as, l)()r'urììir socicclacÌc, Por uma cultura, por formações díscursivas, por Pr.iilit.irs
humanos que somos' e
como nos diz Michel serres, nós historiadores' como tlc Potler c linguagcrtr' s()u un.ì cstuiírio cm quc vôm clcsallurrr rnrritos
irrrlrri
narradores, de viajantes do sentido,
sornos humanos somente na condição de vos' lixcrç<l tttn oÍício conÍìrrrnc rcgras (luc não sho apclìas
cslabclccitlirs 1,,r.
deserescapazesdemetáfora'somosseresdainvençãoatravésdoestabeleci_ rtlittl, tocrç:ìo tlc grttPo, rcgras (luc sc rnodiÍìcalÌr c()rn 6 tcrrrp6,
r.1irs s.r.r.i'
de mestiçagens' Somos
mento'de vizinhanças, de.misturas, de hibridismos, lx)l(ltlt'st'i tJttc, ilfrf5;11 tlc ltttl<l isso, cu pirr(icip<l ativirrrrcnlc rlas
irrvcrrç6cs t;rrt.
navesantesdasmargensdainventividade,estaterceiramar!]ememqueSe l'tço' Ârl cs(r('vcr llislririir lcttlto itluirrlo, irl,iirlo, prorlrrzirkr Íirt11s,
cvt'rrl6s t,rrr
trans-porta senticlo, dlferentes formas e matérias e as articulamos'
u"i..rlu--r" l('l)('l(tl\\()('\ sotiitis t'ttllltlritis. Sott, ìs v('zcs, c()tÌr() urrt lio, l1('l() ()l)i(,1() (l(,
atnall4arnatn<r-las. Stlm<rs scres da terceira
mar8,clìì tltr ritr, Scrcs (ìtlc' lìA c()lì lltrx.s, tlt'P11v1 r'ss's, tlt'n,L11'r,s (lu('l)irssiilr
llot.rtríttr, r;ut.rôttt t.rtr tnitil ttttt
Introtìufio Introdução

NEIBURG' Frederico; PEREÌRA, Vera. os interectuuis e a invenção


do r,(,ro,urt,tt).
pontodeapoio'masàSVezessorrioporquepossoburlarestesprocessos'estas são Paulo: Edusp, 1gg7; FERNANDES, sirvia. Memórìa
a elas resistir, com elas me di_ e invençÌio.são rÌrur.,: rt,rs
determinações' estas estruturas, posso ne$á-las' pectiva, 1996; sACRISTAN, J. Gimeno. c) uruno como
invençíio. Ri. <ie Jarrci..: Ârr
med, 2005; KASTRUR virgínia. Invençíio tJe si e do mun'cro.
Vertiredivergir,muitasVezescomumsimplessorrisodeironia.Soudiscipli- cu-pi,,.r, rr.Pir115,
1999; LAFON, Guy.Abraão: a invenção da fé. Bauru:'Edusc,
naeantidisciplina,determinaçãoeliberdade,estratégiaetática,astúciaean_ 1998; SlàN<;, tf.,lu..
ca. A ínvenção do restaurante. São paulo: Record,
das margens' transbordo' ala- 2003.
gústia. Às vezes sigo o (<lis)curso, às vezes saio 2 Para citar apenas os maiores clássicos: FREYRE, Gilberto.
organizadas e as transformo em Casa (ìrandr: c srtt;rtltt:
go, arrasto em meu caminho outras formas formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal. ii .
rio' Às vezes objetivado' às tri,, .t"
novas formas, e ambas compõem o meu existir de Janeiro: /. olympio, l98l; pRADo JR., caio. L'ormação io Brasil cont.,ntl,(,t(l,tro.
".r.

vezes sujeitado, às vezes objetivo, às vezes


subjetivo' sempre os dois ao mesrrío São Paulo: BrasiÌiense, 1942; SODRÉ, Nelson Werne
ck. r-ormação históricu tlo lìrtt
sll. 10. ed. Rio de laneiro: Civilização brasileira, 1979; FURTADO,
cursivo e discursivo' in-
eu sou rio e eu ,o"io, eu, natural e humanQ'
Celso. Iitrntttq.tìrt
tempo, econômica do Brasil. 19. ed. Sao paulo: Ed. Nacional, 19g4.
vento na História e a História' 3 WEHLING, Arno.,4 invenção da História. Rio de
faneiro: Gama Filho; Nitcríri: litl.
da UFF, 1994. p.5.
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I ntroduç.i!)

lntroduçao

16 FiÌósofo grego que viveu entre 4g7 e 320 a.c., escreveu o tratado sobre o não-ser
ou
sobre a naturem, em que afirmava "nada é; se é, não é possíver que
seja apreendido Dints e escritos'Rio
pelo homem; se é e se pode ser apreendido, não pode ser expliiado
á ouìrem ver
lï#;á1.:::.:ïyrÏ;iichet' de ianeiro: F'<,rcrr.sc ,rrivt.rsi
r
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íoos e tsARNES, fona- 33 CERTEAU, Michel de. A
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17 sobre o lugar da literatura na modernidade, ver: FoucAULr, Michel. Raymond p.65_1le.
'ì4 Ver .ìLOCH' Marc' Apol.gía'a
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e FEBüRE'L",;";:.'ï;;ì,ïn
cault: a flosofia e a literatura. Rio de laneiro: Jorge Zahar,2000. pao Históriu.são r,aurr,:
'J,,:",r?lx;;200l r:rr rr;r
l8RosA, Guimarães. primeiras estórias. r5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,200r. ì5 KANT Emmanuel.
eue es la ilustración?Maclrid: Alianz a,2004.
19 Aqui nos referimos especificamente ao conto A terceira margem r/o rio. In: 'ì(r l)ara a noção de hetemtopia'
RosA, como a produçào de novos
Guimarães. Primeiras estórias. 15. ed. Rio de Janeiro: Nova Frúteira
,200r. p.79-g5. to dc desrocamentos nas
relaço", a. pua".
espaços crc rirrcr<ru<rt,, íi.
20 vAr!r EJo' Américo; MAGALHÃES,Ligia. Lacan: operadores de reitura. 2. ed. são re, ver: FOUCAUIiI,
Michel.
or. nos concriciorrarìì lr{)
"'r;l;, r)r(,.\(,rÌ
Out.or; ;;, --.---._-_-.
Paulo: Perspectiva, I 99 l. p. I 16. ncir<r: Forense_Universitária, "rpufnr. Diíos e cscritos. lìio rlc
200r. iit,;."ii'i n r. f;r
2l lbid. ì7 IìrìEUD' Sigmund' psicopatorogíu ".
tlu vida cotiriana.Madricr:
22 Referimo-nos a Heráclito, filósofo grego que viveu entre 540 e 470 a.c., tlì NllÌfzscHE, Friedrich- Arianza, 199(.).
seus ensi- consideração intempestiva
namentos teriam sido reunidos numa obra chamada sobre a Natureza, rricnres da História para sobre a utiricraac c.s irr(rrrrvt,
em que em
um dos mais conhecidos fragmentos afìrmava: "para os que entram nos mesmos
a vida.
paulo: Loyola,
t"inuritur ri;iiì a IIistóriu.Rio tle Jarrcirr: litl. <lrr
l,LJ(.-; São
2005. p.67,17g.
rios, afluem sempre outras águas; mas do úmido também exalam os ì')
vapores,,. HE- Â8r.val - região de brejo,onde pululam
RÁCLfTO. Fragmentos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 19g0. p. 51. germes de animais e vegct.ís
scrr cr.tisrn. criador genético, íl:rgr;rt'rs t.'r
23 r"u ã"ìr.ru.u e cre indccisa.,
HARTOG, François. o espelho de Ireródoto. Belo Horizonte: Ed. da
UFMG, r999. "- a. "rïuào rlt, irrv<.rr
24 H_ERÁcuro- Fragmentuç. Rio de /aneiro: Tempo Brasileiro, 1980. p.51. ver
:;ï,llij,ï1.,.iï;?üïï. Manoet su,-. u,rÀ descreve um âgr<,vat
t,irrrrirrrt,ir.:
ainda:

25
SCHULER, Donaldo. Herócrito e seu (dis)curso. porto Alegre: L&pM,2001.
Parmênides, filósofo grego que viveu entre 540 e 470 a.c.Dere
chegou até nós frag-
r*i : :: m
st.,r'rra,rhas. os'orhos
*ïrr**ffi ïïïrj,. ?=ïï; *ï r
:::- :
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;:r
m€ntos de seu longo poema didático intitulado Da Natureza, em q-ue
afirmava:.,Só ainda sem
v('nrÌcs. Os bulbos de cobras.
ìrr.;, p";;;';;'tr"iiïli.lr_4:,:::ï,ll':l:
falta agora falar do caminho que é. sobre esse são, muitos os sinais de que Arquétipos á".u*".f,...
o ser é lì'n.so tros cmbri<)es dos
ingênuo e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foiìem atos. Uma t u., airf.r._" i,
será,

ï1,ï:,:ïïlïxì;ï::ãlìï.,'"."u,. .._iìJ., ;;;i :iiï:ïïiïi i;lìì::l,l:1,:ì.


pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo'l PARMÊNIDES. Da
Natureza.
São Paulo: Loyola, 2002.
ttt,'s rr,,s
l,rirrrcira.s.;';;Xï:iïÏïi-:;:ïïì::redes e resntas' ìi';;;i;;;;';,-,,.''
26 Inspirado na genealogia nietzscheana, Michel Foucault propõe uma arqueogenea- e Pcdras. () crrrlrriiro rrt.
u.r .rrss.rì .r",,,
logia como método de trabalho para o historirdor. úr, FoucAULT, Michel.
Nietzsche, a genealogia e a história. In:
l('ri,s (r.c ,,..,.,;;;,;',;;;;'Ì"ï; j:ïïi ter asas' Antepassados dc rrrrriri's rll,r,rl,,,
".r.u,"r.-,;;;:;:::'lll,it':t".'"uttos
_. Microfísica do poder.4. ed. Rio de lÌ'rrs' rrrrrrr c.rrrórcí.
faneiro: Graal, l9tì4. p. 15-38. <rc Íiis.s a orar,',r" suc.s
('s(:rÌrirs, tlt. t.re sêr'enr c <rc,<irca,
g <lc scrncrrtcs. <r. rrrrr<rirs <rt.
27 VEYNE, Paul. Como se escreye a ÌIistória. Brasília: Ed. da UnB, 19g2. p. 17_25. P11.ç Un-t a.rrrreraiu ,la, ai,ì
trc í,c.ras c
28 SAHLINS' Marshall. Ilhas de Históra. Rio de Janeiro: lorge zahar, 1994. :ii,lïlïlì;iiìrrrcir. '"i,,,.,,nu.i,,.,. ,,;ì;ì,:;lïï,.ì;:ïi;::lììJï,jliJ;:,:
29 KOSELLECK, Reinhart. Ic Futur pussé. paris: EHESS, 1990. p.308. l'.r Ittrr;t irr,rugrrrrtl.rto (l(,unÌ ()ulr() rrttivcrso. \f'(ru
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1t. t79 214. rrr;rrlirthrs_Por cslit t(,1:ì\iÌ()
r.rrlr.t,lrisloritt t,irrvt.rr1,r0.
32 lrlrt.r1t1,111 y11''lU1l,,,a.trrrrv,rl Vt.r: Al,
Ycr a intercssante reslx)sta que Michcl ÍÌrtrcarrll rc<ligiu Mirrriz,h;;,;ìr.;;,ì;;';
Par:r a rcscrrhl t.ríliru Í.titir l',rrrlrr: ( lrrlr.z: l{r,rilt.: M.rss,rrrlg.rrr;r, !,N1tp1rr,rr!ìrtttt\trt. ..t.t,tt.
lrcl<r historil<lor Jlcrlucs l,conar<l ir scu livro Vitittr t,/rrlrir, irrlilrrlurlir: Â ",rrr .Ì(X}l r. N,'ìtìr"r'lutr,:rrrrr,r
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