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O CASO CONTRA A SUPREMA CORTE: UMA CRÍTICA DO PAPEL

ILUMINISTA DA SUPREMA CORTE

Rafael Bitencourt Carvalhaes


Doutorando em Direito, Instituições e Negócios-PPGDIN/UFF

OBJETIVO:

O presente trabalho visa criticar a ideia do papel iluminista da Suprema Corte por meio da
obra “The Case Against the Supreme Court” de Erwin Chemerinsky, no qual o autor realiza uma
análise da atuação da Suprema Corte americana com relação aos casos julgados no decorrer da
história, demonstrado que a Corte falhou na sua missão de proteger direitos das minorias e defender
a Constituição em face de todos os desejos repressivos de maiorias políticas. A hipótese a ser
demonstrada é que o iluminismo não se comprova como fato histórico, mas como uma face do
ativismo e expansão política do STF. O objetivo é responder se o Supremo Tribunal Federal tem
falhado em sua missão constitucional antes e depois da Constituição de 1988, demonstrando ao fim
que os precedentes das Supremas Cortes ora analisadas não corroboram a tese do papel iluminista.

MARCO TEÓRICO:

O Ministro do STF Luis Roberto Barroso acredita que as Supremas Cortes e Tribunais
Constitucionais desempenham, ao menos potencialmente, três grandes papéis: contramajoritário,
representativo e iluminista, devendo promover, em nome de valores racionais, certos avanços
civilizatórios e empurrar a história. Para o ministro, “para além do papel puramente representativo,
supremas cortes desempenham, ocasionalmente, o papel iluminista de empurrar a história quando
ela emperra. (...) Nos Estados Unidos, foi por impulso da Suprema Corte que se declarou a
ilegitimidade da segregação racial nas escolas públicas, no julgamento de Brown v. Board of
Education, bem como assegurou-se a validade do casamento entre pessoas do mesmo sexo.”
(BARROSO, 2018, p.59-60)
Chemerinsky apresenta uma diversidade de casos em que a Corte falhou, como por
exemplo em Buck v. Bell, no qual foi declarada constitucional a lei de Eugenia (esterilização
involuntária) no Estado da Virgínia. Outra decisão muito criticada é Dred Scott v. Sandford, no qual
o compromisso do Missouri, que proibia a escravidão em determinados Estados dos Unidos foi
declarada inconstitucional, enfatizando que os escravos eram meras propriedades e não possuíam
direitos como cidadãos americanos. Em Korematsu v. United States, a Suprema Corte permitiu a
violação das liberdades básicas dos nipoamericanos pelo governo, apenas com base na etnia, sem
nenhuma prova de conspiração ou condenação por espionagem, sendo um paradigma para violações
futuras. a Suprema Corte foi omissa em Rumsfeld v. Padilla, deixando de julgar as violações de
direitos com base em questões técnicas. A Suprema Corte continuou em Hamdan v. Rumsfeld,
quando deixou de declarar a inconstitucionalidade da Lei de Tratamento de Detenção (Detainee
Treatment Act) que previa que os Tribunais Federais não poderiam julgar os habeas corpus por
combatentes inimigos.
Destaca-se que, por cerca de quarenta anos, entre 1890 a 1937, a Corte declarou
inconstitucional leis federais, estaduais e locais que visavam proteção dos trabalhadores, dos
consumidores e do público. O caso mais emblemático foi Lochner v. New York, em que a Suprema
Corte declarou inconstitucional uma lei do Estado de Nova York que definiu o máximo de horas que
os padeiros poderiam trabalhar.
Chemerinsky não descarta os avanços sociais alcançados pela Corte Warren, ao superar a
doutrina separado mais iguais (Plessy v. Ferguson), como no caso envolvendo o fim da segregação
racial em escolas públicas em Brown v. Board Education, mas destaca que Corte de Warren poderia
ter feito muito mais, já que a própria Corte não deu a devida atenção ao cumprimento do precedente
por parte dos Tribunais dos Distritos, mantendo-se inerte durante um período de 10 anos, evitando
participar diretamente nos casos que envolviam o tema da segregação.
Os casos contra Suprema Corte brasileira também são contundentes, como por exemplo, o
Habeas Corpus nº 3527, de 1914, referente aos acusados de crime político na vigência do estado de
sítio do governo Hermes da Fonseca. O emblemático Habeas Corpus nº 26155, de 1936, em que
Olga Benário Prestes foi extraditada para Alemanha, sob o fundamento de garantia da ordem
pública. A deferência do STF ao Executivo ficou registrada no Mandado de Segurança 14.746,
sedimentando o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, no que tange à aplicação do art. 19,
I, do Ato Institucional 2, de 27 de outubro de 1965.
A jurisprudência do STF é rica em desacertos, sendo certo que os ministros tinham ciência
de seu papel contramajoritário, mas o entrincheiramento da Corte inibia qualquer atuação judicial
divergente. No voto do MS 3.557/DF, de 1956, em que se discutia a inconstitucionalidade do
impedimento do Presidente Café Filho o ministro Ribeiro da Costa destacou que:

Qual a função do juiz? A maior, a mais elevada, a mais pura? É aplicar a


Constituição. Talvez após quarenta anos de serviços à causa pública, dos
quais trinta e dois à magistratura, também eu tenha de dizer, com melancolia
como o grande escritor: “Perdi meu ofício”. Arrebataram meu instrumento
de trabalho, meu gládio e meu escudo: a Constituição. (FUCK, 2012, p. 98)

CONCLUSÃO:

O trabalho visa comprovar que não há qualquer parâmetro histórico que corrobore a tese
iluminista das Cortes, tratando-se de uma construção contemporânea, possuindo muito mais relação
com um engajamento político dos membros do STF e a expansão do próprio poder judiciário no
Estado Democrático de Direito. A análise histórica dos vários casos julgados pelas Supremas Cortes
revela a existência de um mito, ou pelo menos um fetiche quanto à atuação judicial como
salvaguarda da Constituição, mas que muitas vezes emperraram a história constitucional,
demonstrando que o papel iluminista é um simulacro para justificar a transferência de poder das
instituições políticas para o STF.

BIBLIOGRAFIA:

BARROSO, Luis Roberto. A Judicialização da Vida e o Papel do Supremo Tribunal Federal.


Belo Horizonte: Fórum, 2018.

BICKEL, Alexander M. The Least Dangerous Branch: The Supreme Court at the Bar of
Politics. Yale University Press, 1986.

CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Dimensões do Ativismo Judicial do STF. Rio de


Janeiro: Forense, 2014.

CHEMERINSKI, Erwin. The Case Against the Supreme Court. New Yor, USA: Viking, 2014.

FUCK, Luciano Felício. Memória jurisprudencial: Ministro Nelson Hungria. Brasília: Supremo
Tribunal Federal, 2012.

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