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LÍNGUA
PORTUGUESA
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, querido(a) aluno(a), é com imensa satisfação que trazemos até você o nosso mate-
rial sobre Língua Portuguesa, Leitura e Produção Textual.
Temos trabalhado ao longo dos últimos 15 anos com o ensino da Língua Portuguesa
no ensino superior e, podem ter certeza, tem sido muito gratificante na medida em que
testemunhamos o quanto os alunos que se empenham na compreensão de sua língua
materna, extensivamente, têm apresentado êxito na vida acadêmica. Assim, podemos
afirmar que o estudo da Língua Portuguesa contribui para a utilização mais adequada
da linguagem, tanto na leitura quanto na produção de textos escritos.
Caso você já tenha como prática o hábito da leitura e escreva textos coerentes, coesos,
linguisticamente adequados, esta é mais uma oportunidade de aprofundar, solidificar
e atualizar seus conhecimentos. Caso esteja dentre aqueles que têm encontrado difi-
culdades na leitura e produção textual, desafiamos você a ingressar neste curso rumo
a ampliar os seus conhecimentos linguísticos, com o firme propósito de que essa ex-
periência contribua para fazer de você alguém que “maneja bem a palavra”. Conse-
quentemente, esperamos propiciar momentos de aprendizagem significativos para a
sua formação enquanto sujeito consciente do poder que há no universo da linguagem,
usando-a enquanto exercício da cidadania, de modo ativo, proficiente, ético e compe-
tente, não apenas em benefício de seus objetivos acadêmicos, pessoais e profissionais,
mas, sobretudo, em busca de realizações que alcancem a coletividade.
Portanto, nossos principais objetivos com este livro é que você aperfeiçoe suas habili-
dades de escrita e de leitura e amplie seu conhecimento sobre a língua que está ao seu
dispor, na verdade, o quanto ela já faz parte de sua vida e, por isso, deve ser compreen-
dida e utilizada da melhor forma nos diferentes contexto ou situações, sejam eles orais
ou escritos. Nesse sentido, nossa ênfase inicial consiste no estudo de algumas especifi-
cidades da Língua Portuguesa, fundamentais para o bom desempenho da leitura e da
escrita. Em seguida, complementaremos nossa caminhada com as principais técnicas e
ferramentas pertinentes ao universo da linguagem e necessárias para a plena realização
de leituras proficientes e produções de texto coerentes e de qualidade, com vistas a
cumprir com o seu objetivo maior que é compreender e comunicar a mensagem a que
se propõem. Para enfatizar o cuidado que tivemos em selecionar conteúdos pertinen-
tes para sua formação, selecionamos questões de concursos variados envolvendo esses
temas, para serem resolvidas nas atividades de autoestudo, no final de cada capítulo.
Essas questões estão devidamente identificadas, distinguindo-se das questões inéditas.
Dessa forma, propomos que caminhe conosco nesta jornada – breve, porém significa-
tiva –, na qual você terá a oportunidade de somar, aos seus conhecimentos já adquiri-
dos, outros novos que, certamente, serão não apenas úteis e necessários para sua vida
acadêmica, mas, por extensão, fundamental para o desfrute de uma vida profissional e
pessoal de excelência.
Ótimos estudos!
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
15 Introdução
32 Estratégias de Leitura
37 Considerações Finais
49 Referências
50 Gabarito
UNIDADE II
53 Introdução
66 Considerações Finais
75 Referências
76 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
79 Introdução
86 Concepções de Escrita
91 Elementos da Textualidade
94 Gêneros Textuais
113 Referências
115 Gabarito
UNIDADE IV
119 Introdução
136 A Introdução
139 A Conclusão
154 Referências
155 Gabarito
UNIDADE V
159 Introdução
194 Referências
195 Gabarito
196 CONCLUSÃO
Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
I
LEITORES E LEITURAS: DA
UNIDADE
AUTOAVALIAÇÃO PARA A
FORMAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a importância da leitura na formação humana e
acadêmica, de modo a praticá-la com criticidade.
■■ Autoavaliar suas características enquanto leitor, com vistas ao
aprimoramento das habilidades típicas de leitores competentes,
experientes e proficientes.
■■ Entender a leitura enquanto produção de sentidos, colocando-se
como sujeito ativo diante dos textos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Leitores: algumas características
■■ Leitura: etapas, níveis e concepções
■■ Estratégias de leitura
15
INTRODUÇÃO
por uma autoavaliação acerca de suas características enquanto leitor. Esse será
o seu primeiro passo, e as perguntas anteriores podem ajudá-lo(a) a iniciar esse
processo de autoconhecimento. Aliás, para que você seja, de fato, um leitor de
sucesso, é importante que esse passo seja parte de sua rotina acadêmica e, sobre-
tudo, de sua vida pessoal.
Todos nós somos leitores em processo e é sempre importante cuidar da
QUALIDADE das nossas leituras, lançando-lhes um olhar crítico, avaliando
nossas habilidades leitoras, de modo a lidar conscientemente com algumas difi-
culdades que podem interferir no desenvolvimento desse processo fascinante
que é a leitura – de mundo, de imagens, de palavras, de pessoas, de tudo o que
está disponível para atribuição de sentidos.
Tudo o que você já sabe sobre textos e leituras certamente tem algum valor.
Porém, é tempo de aprofundar seus conhecimentos e aperfeiçoar suas habili-
dades leitoras, de modo a acrescentar em sua formação humana, acadêmica e
profissional todas as características de um leitor proficiente, experiente. Nesse
sentido, visitaremos alguns estudiosos da linguagem que nos explicam as prin-
cipais concepções de leitura. Vamos entender o porquê de sua importância,
compreendê-la enquanto processo, analisar o encontro do leitor com o texto e
averiguar as estratégias que constituem esse diálogo.
Estudaremos suas etapas e níveis, concomitantemente passearemos por
alguns textos e, na tarefa de interpretá-los, você perceberá que eles dizem muito
mais do que está explícito em suas palavras.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LEITORES: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
O mau leitor
É característico do mau leitor não apresentar curiosidade relativa ao que lhe
é exterior. Ele não direciona sua vontade para além de seus interesses mais
imediatos, tais como conhecer novas culturas, informar-se sobre política,
buscar novos saberes etc. Ele é omisso ao contexto social.
O mau leitor não consegue interagir com os textos, não faz perguntas, como:
o que sei sobre tal assunto? O que não sei?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ótimo texto para refletir, não é mesmo? Você poderia resumi-lo em algumas
poucas frases, usando suas próprias palavras? Ou poderia apenas sintetizar de
imediato qual seu assunto geral e o ponto de vista defendido pela autora? Ou seria
necessário realizar outra leitura? Se sua resposta para esta última pergunta for
sim, muito bem! Faça-o sem nenhum constrangimento, pois alguns textos, mais
que outros, exigem mais leituras, e releituras fazem parte natural do processo.
Agora, não vamos simplesmente parafrasear ou dizer com outras palavras o
que a autora tão claramente explicou e argumentou. Faremos a leitura daquilo
que está dito por trás das linhas, as ideias implícitas. Se um mau leitor é tudo o
que afirma a autora, então, podemos inferir que:
■■ Um bom leitor é curioso, interessado, ávido por conhecimento.
■■ Um bom leitor não espera que as motivações para a aprendizagem venham
de fora, pois nele mesmo há volição, ou seja, vontade de aprender.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção e seus interesses de fora (outros textos) para dentro (seus próprios
textos) e de dentro para fora, interagindo com conteúdos que enrique-
cem e enchem sua alma de conhecimento.
O que fizemos aqui foi um diálogo com a autora do texto. Ainda com base em
suas ideias, propomos que dê continuidade a esse diálogo, às inferências: se a
autora diz que um mau leitor não se pergunta “o que sei sobre isso?”, um bom
leitor faria o quê?
Vamos lá! INFERIR é uma das ações ou estratégias de leitura sobre as quais
abordaremos mais adiante.
Para dar continuidade à temática, vamos apreciar um poema de Carlos
Drummond de Andrade (2006, p. 854), retirado da obra Poesia Completa.
A PALAVRA MÁGICA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais crítica, prudente, perspicaz e experiente; com uma roupagem nova em sua
visão de mundo, com pontos de vista e conhecimentos enriquecidos. Para o
bem ou para o mal (e, como nos contos de fada, torcemos para que o bem sem-
pre prevaleça), os textos produzem efeitos em leitores atentos. Caso contrário, o
que ocorre é uma leitura desatenta, aleatória, sem objetivos. Uma pseudoleitura.
Na pseudoleitura, o sujeito lê o texto e, ao final dele, resta-lhe apenas um
grande ponto de interrogação sinalizando sua completa falta de compreensão
do que foi lido. Isso ocorre, basicamente, porque algo inadequado, involuntário
e não consciente ocorreu no processo dessa leitura. Seja o cansaço que limita a
concentração e, consequentemente, a compreensão do texto; ou a preguiça de
processar com o cérebro o que está sendo lido com os olhos; ou, ainda, a pressa
de concluir a leitura simplesmente para dizer a quem quer que seja que leu o
texto “in-tei-ri-nho”. Lamentavelmente, existem leitores muito mais preocupa-
dos com a quantidade do que com a qualidade de suas leituras. Para valer de
fato a pena, a quantidade de leituras deve estar de mãos dadas com a qualidade!
Vamos refletir:
■■ Que tipo de leitura faria dessa imagem uma mulher que sofreu violên-
cia doméstica?
■■ Qual seria o sentido dessa imagem para uma senhora que viveu no período
da ditadura? Teria o mesmo sentido para uma jovem socialite contem-
porânea que vive conectada com o consumismo e interessada apenas em
dinheiro?
■■ Qual interpretação faria um homem que considera admirável a natureza
comunicativa da mulher?
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■■ O que diria dessa imagem um homem que se considera senhor da verdade
e que não tolera ser contrariado, principalmente por mulheres?
■■ O que diria uma cidadã comum e bem esclarecida acerca de seus direi-
tos frente a uma imagem dessas?
■■ Enfim, qual o sentido dessa imagem para você, e o que lhe faz pensar assim?
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apreender a perspectiva do autor e é capaz de apontar a discussão tex-
tual. Extrapolando a decodificação textual, ele estende sua atenção para
as entrelinhas, por meio de suas inferências, construídas a partir de seu
conhecimento prévio.
■■ Leitura complexa – é o nível da leitura crítica, em que o leitor extrapola a
compreensão e dialoga com o texto, questionando-o e se questionando.
Ele é capaz de perceber o dialogismo do processo argumentativo e apon-
tar intertextualidades quando houver.
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alguns teóricos acreditam que ler é extrair significado do texto; para outros, atri-
buir-lhe significados; para o terceiro grupo, ler é interagir.
Na primeira concepção, concepção ascendente, o texto tem maior impor-
tância, tem um fim em si mesmo, é a voz absoluta e precisa do leitor apenas para
ser decodificado. O significado, exato e completo, está contido nas palavras do
autor, cabendo ao leitor, simplesmente, a árdua tarefa de compreendê-las inte-
gralmente e, assim, descobrir esse significado.
Na segunda concepção, concepção descendente, o leitor ganha importância.
Nessa acepção, a origem do significado de um texto está no leitor. “O mesmo
texto pode provocar em cada leitor e mesmo em cada leitura uma visão dife-
rente da realidade” (LEFFA, 1996, p. 14).
Por fim, na terceira concepção, concepção interativa, o sentido da leitura
consiste, exclusivamente, da relação entre leitor e texto. Este não é mais impor-
tante que aquele, ou vice e versa. Ambos dependem um do outro e da interação
entre eles para que a atribuição de sentidos ocorra de modo eficaz. A leitura é,
portanto, um processo de interlocução entre leitor e autor, mediado pelo texto.
Não se trata apenas de extrair informações da escrita, decodificando-a palavra
por palavra. É um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de cons-
trução de significados do texto.
Ainda com o intuito de pensar a leitura em seu sentido pleno, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 69-70), encontramos a seguinte
definição:
Observe que, de fato, tal como nos ensinou Paulo Freire (2001, p. 9), “a leitura
do mundo precede a leitura da palavra”, isto é, toda a leitura de mundo e outros
elementos prévios que o leitor traz consigo contribuem, e muito, para que ele
compreenda os conteúdos lidos. A partir da definição supracitada, vamos esmiu-
çar alguns desses elementos e acrescentar outros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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alguns momentos da vida, sermos desafiados a compreender algum texto que
nos apresente assuntos completamente novos, ou velhos assuntos tratados sob
um viés completamente inusitado. Isso significa que, provavelmente, aquele
texto exigirá mais que uma leitura para que possamos compreendê-lo em sua
totalidade. Como já dissemos, releituras fazem parte do processo. Depende do
grau de complexidade não apenas decorrente da novidade do assunto, mas, tam-
bém, do estilo de quem o produziu. Alguns escritores utilizam uma linguagem
bastante rebuscada, períodos muito extensos, inversão de classes gramaticais e
outros fatores que podem, sim, exigir muito mais o empenho de seus leitores.
CONHECIMENTO LINGUÍSTICO
Uma bula de remédios exige uma leitura específica. Um gibi requer outra pos-
tura completamente diferente por parte do leitor. Não é possível ler um texto
científico da mesma forma como se lê uma receita caseira. É fundamental consi-
derar as características específicas de cada gênero, pois esse tipo de conhecimento
auxilia na compreensão.
Ao ler um projeto acadêmico, por exemplo, é importante que o leitor conheça
não apenas as especificidades do gênero e as partes que o compõem, mas, também,
a função de cada uma dessas partes. Se não souber, por exemplo, em que con-
siste a introdução, a justificativa e os objetivos do projeto, encontrará grandes
obstáculos para dialogar com o autor do projeto – via texto – e, por fim, terá
sérias dificuldades para prosseguir a leitura, tornando-se impossível compreen-
der o conteúdo em sua totalidade.
MOTIVAÇÃO E INTENÇÃO
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É muito importante que o leitor esteja motivado para realizar a leitura com a
intenção de fazê-la da melhor forma possível, mesmo quando tratar-se de uma
leitura obrigatória, imposta por um sistema que requer a devolução de resultados
para que lhe seja atribuído algum tipo de conceito ou nota. Se lhe faltar moti-
vação, será mais difícil (não impossível) colocar os neurônios para trabalhar, já
que, em se tratando de leitura, esta consiste em um “trabalho ativo de compre-
ensão e interpretação do texto”. Porém, mesmo sem motivação, a intenção de ler
pode fazer a diferença e ajudá-lo a cumprir suas tarefas.
Ainda assim, a motivação não perde a sua relevância. Como encontrar moti-
vação, por exemplo, para fazer a leitura de textos exigidos pela faculdade e que,
embora abordem assuntos importantes para a sua formação acadêmica e pro-
fissional, não correspondem às suas preferências literárias? Se a motivação não
vem de dentro, terá que buscá-la do lado de fora: nos objetivos!
OBJETIVOS
Antes de iniciar qualquer leitura, é fundamental que tenhamos muito bem defi-
nido ao menos um objetivo para realizá-la. E, mais uma vez, a ideia da intenção
vem à tona. A intenção de ler para cumprir determinado objetivo. Nossa postura
frente aos textos, e também nossa motivação, dependerá disso. Sem motivação
não saímos do lugar e sem objetivos não chegamos a lugar algum.
Seu sucesso enquanto leitor(a) requer, pois, a soma de vários fatores, mas,
sobretudo, de objetivos específicos pré-determinados antes da leitura, com vis-
tas ao cumprimento de algum objetivo geral. Citamos, por exemplo, as leituras
realizadas com fins para uma pesquisa acadêmica. Se, por solicitação do pro-
fessor, o objetivo geral de uma pesquisa for investigar o nível de leitura dos
brasileiros, o acadêmico terá como objetivo específico coletar informações nos
textos que, previamente selecionados para a realização da pesquisa, apresenta-
mos dados necessários. Nem sempre é o professor quem determina o objetivo
geral. Na graduação, em especial, muitas vezes é o aluno quem terá que tomar
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ESTRATÉGIAS DE LEITURA
Estratégias de Leitura
34 UNIDADE I
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Figura 2 - Charge para exemplificação
Fonte: Questão 13. Prova Enade/2014 Letras.
Com base nessa charge, exemplificamos um nível de leitura realizado por leito-
res atentos que leem nas entrelinhas do texto. Leem nas entrelinhas, porque os
sentidos dessa charge não se constroem só pela linguagem verbal e não verbal,
mas também pelos conhecimentos linguísticos e de mundo trazidos pelo leitor.
Assim, a partir dessa charge, podemos inferir estas informações:
■■ Três homens bons morreram – essa inferência dupla (homens bons +
morreram) é feita por uma pista não verbal e outra verbal. A não ver-
bal é a imagem dos anjos conversando. A pista verbal está no segundo
balão, pelo qual o anjo diz “ganhamos três grandes penas”, significando
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que os três foram para o céu, ou seja, não vivem na terra mais (morre-
ram) e foram merecedores do céu, não do inferno (foram homens bons).
■■ Os três homens foram grandes escritores – essa inferência pode ser feita
pela pista não verbal presente no segundo balão, em que o sintagma
“grandes penas” é uma metáfora para grandes escritores. Contudo, se o
leitor já conhecia a profissão dos três homens, o conhecimento de mundo
também participou dessa inferência, facilitando a construção dos signi-
ficados da charge.
■■ Os anjos estão pesarosos pelo falecimento dos autores – essa inferência
pode ser feita pela pista não verbal, mais especificamente, pela expressão
dos anjos, que retrata pesar e não alegria.
Estratégias de Leitura
36 UNIDADE I
imagem pode retratar o afazer desses homens em vida e não sua estada no céu.
Logo, as duas inferências são possíveis, embora não possam ser comprovadas na
charge. A esse tipo de inferência chamamos de subentendido. O subentendido
é uma interpretação que, embora não contrarie o texto da leitura, não é a única
opção. Logo, o subentendido é de responsabilidade do leitor e sua validade está
na condição de não ser uma inferência contraditória ao texto.
A inferência que pode ser confirmada pelo texto é chamada de pressuposto.
Nessa charge, pressupomos que os autores eram homens bons (foram para o céu)
e eram ótimos escritores (grandes penas). Essas informações são comprovadas
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no texto e, por isso, devemos tê-las como verdadeiras, caso contrário, a charge
ficaria sem sentido. Assim, chamamos de pressuposto a inferência que é com-
provada por pistas textuais, é tida como verdadeira e a essa condição atrela-se
os sentidos construídos.
A seguir, apresentamos uma frase que foi pronunciada há alguns anos por
uma personalidade política, e com este exemplo demonstramos a importância
de cuidar das palavras que usamos para expressar nossas ideias.
Na época em que pronunciou essa frase, Mário Amato, autor de tantos outros
dizeres polêmicos, conquistou a antipatia das mulheres. Ele disse, explicitamente,
que Dorothea é mulher e que é inteligente. Temos, então, duas informações escri-
tas na linha do texto. Por outro lado, pode-se inferir outra informação, a que
está implícita: as mulheres não são inteligentes. O que é um pressuposto, na fala
de Mário Amato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
38 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
própria. Sua dedicação, autonomia e iniciativa nesse processo serão sempre fun-
damentais para seu sucesso. Seja um(a) leitor(a) experiente, proficiente, ativo(a),
atuante, competente!
Verifica-se que a palavra “pena”, na primeira fala, foi empregada com o mesmo sen-
tido que no seguinte trecho:
a. “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter
nascido” (Fernando Pessoa).
b. “Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a
vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra sempre tão bobo
e perdido teria sido fatal” (Tati Bernardi).
c. “E pra deixar acontecer/A pena tem que valer/Tem que ser com você” (Jorge
e Mateus).
d. “A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros”
(Arte no Corpo).
e. “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus;
a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Bíblia Sagrada - Salmo).
3. (Adaptado: ENADE LETRAS 2014 – Questão 17) – Assinale a opção que melhor
expressa as ideias desenvolvidas no texto de H. K. Olinto.
A própria produção literária atual encaminha-se na direção de uma fusão com
vários segmentos culturais, de que a chamada cultura de massa, tradicionalmen-
te discutida em sua diferença negativa, constitui tão somente um dos aspectos
de negociação em bases renovadas. A defesa exclusiva da literatura clássica e da
herança nacional, um casamento expresso e legitimado pela construção e ma-
nutenção de repertórios recheados de um saber cultural canônico, no entanto
parece tão problemática quanto a sua rejeição global. Hoje, circulam e prevale-
cem formas culturais mistas, e até os textos canônicos são relidos como pontos
de cruzamento de discursos amplos, que transcendem as fronteiras tradicionais
da esfera do literário e do horizonte de pertença a espaços nacionais linguística
e geograficamente circunscritos.
a.
b.
c.
42
d.
e.
43
A sequência correta é:
a. 4, 2, 3, 1, 1.
b. 4, 4, 3, 1, 2.
c. 4, 3, 4, 2, 1.
d. 3, 4, 3, 2, 1.
e. 4, 4, 3, 2, 1.
5. (Adaptado: ENADE 2014 – Gestão Ambiental) – Ao falar de sustentabilidade, são
necessários parâmetros de medição relativos às exigências humanas em relação
ao planeta e o que o planeta pode oferecer/produzir aos seus habitantes. Assim,
falamos sobre pegada ecológica e biocapacidade do planeta. Pegada ecológica
é um indicador que estima a demanda ou a exigência humana sobre o meio
ambiente, considerando-se o nível de atividade para atender ao padrão de con-
sumo atual (com a tecnologia atual). É, de certa forma, uma maneira de medir o
fluxo de ativos ambientais de que necessitamos para sustentar nosso padrão de
consumo. Esse indicador é medido em hectare global, medida de área equiva-
lente a 10.000 m². Na medida hectare global, são consideradas apenas as áreas
produtivas do planeta. A biocapacidade do planeta, indicador que reflete a rege-
neração (natural) do meio ambiente é medida também em hectare global. Uma
44
O gráfico evidencia:
I. Que, em 1970, o planeta estava equilibrado em se tratando de sustentabili-
dade.
II. Tendência a desequilíbrio gradual e contínuo da sustentabilidade do planeta.
III. Um desequilíbrio relativo à sustentabilidade do planeta, para o qual há uma
solução: o comércio internacional, em que os países mais populosos expor-
tam insumos de países menos populosos, contendo, com essa transação, o
desequilíbrio global.
IV. Um aumento populacional mundial muito intenso de 1970 a 1975, quando o
problema de sustentabilidade do planeta começou, indicando que esse au-
mento causou o desequilíbrio global, confirmado pelos dados até 2008 que
mostraram que a pegada ecológica, medida em termos per capita, era de 2,7
hectares globais (gha).
V. Que, de 1961 a 1970, não havia o que o enunciado explica como pegada eco-
lógica.
45
Estratégias de Leitura
Isabel Sole
Editora: Artmed
Ano: 1998
Sinopse: o livro escrito por Isabel Solé aborda diferentes
formas de trabalhar com o ensino da leitura. Seu propósito
principal é promover nos alunos a utilização de estratégias
que permitam interpretar e compreender de forma autônoma
os textos lidos. Enfatizando sempre que o ato de ler é um
processo complexo, a autora, utilizando um texto simples
e agradável de ser lido, explicita-o dentro de uma perspectiva
construtivista da aprendizagem
47
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utili-
tárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais
etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria
um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões,
menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo.
Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais
subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve
ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem traba-
lhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve
ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para exe-
cutar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores,
alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo
o individual e público,o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz
identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o
mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente mais humano.
Fonte: Grammont (apud PRADO; CONDINI, 1999, p. 71-73).
49
REFERÊNCIAS
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Editora Nova Aguiar: Rio de Janeiro, 2006.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fun-
damental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/
SEF, 1998.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São
Paulo: Cortez, 2001.
GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008.
GRAMMONT, G. de. Ler devia ser proibido. In: PRADO, J.; CONDINI, P. (Orgs.). A for-
mação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus,1999, p.71-3.
LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.
OLINTO, H. K. Literatura/cultura/ficções reais. In: OLINTO, H. K.; SCHOLHAMMER, K.E.
Literatura e cultura. Rio de Janeiro: EPUC, 2008, p. 75.
PROVA ENADE, 2014. Letras, Português: Licenciatura. Nov. 2014. INEP. Disponível
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SILVA, E. T. da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas: Mercado das letras, 1998.
REFERÊNCIAS ON-LINE
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Em: <http://www.espacoacademico.com.br/032/32cnagel.htm>. Acesso em: 21
nov. 2016.
2
Em: <http://veja.abril.com.br/210802/entrevista.html>. Acesso em: 21 nov. 2016.
3
Em: <https://financasfaceis.wordpress.com/2012/07/29/desenvolvimento-susten-
tavel-i/>. Acesso em: 21 nov. 2016.
GABARITO
1. A.
2. B.
3. B.
4. E.
5. D.
Professora Me. Cristina Herold Constantino
II
A FERRAMENTA DA LÍNGUA
UNIDADE
A SERVIÇO DA PRÓPRIA
LÍNGUA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a concepção linguística de língua.
■■ Reconhecer a variabilidade da língua.
■■ Considerar o padrão como uma modalidade necessária.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Língua é sinônimo de gramática?
■■ Concepções de gramática
■■ A relação ortografia e língua
■■ Como observar a gramática nas práticas de texto
■■ Norma padrão: Por quê? Para quê?
■■ Reflexões acerca do emprego da noção de gramática
53
INTRODUÇÃO
simples e tão básica do que vem a ser a língua. Você deve estar imaginando o
que essa imagem mental tem a ver com o que está sendo dito.
Na verdade, pode ter tudo, mas também pode não ter, depende do que você
quer dizer. É isso mesmo! É apenas uma representação do quanto a língua é básica
e faz parte das nossas atividades mais corriqueiras; por outro lado, pode cha-
mar a nossa atenção para a complexidade que a envolve. O que isso quer dizer,
então? Quer dizer que a língua (enquanto palavra – signo linguístico) possui
grande variedade de sentidos; ou, ainda, poderia dizer que a língua, enquanto
instrumento de comunicação, pode ser utilizada de diferentes maneiras, reali-
zada em sua diversidade linguística. Isso quer dizer que a língua portuguesa não
é uma só? São várias ao mesmo tempo? Como assim? A propósito, quando nos
perguntam se não sabemos falar a língua portuguesa, normalmente as pessoas
se referem, até mesmo ironicamente, à gramática? Assim, cabe a seguinte per-
gunta: língua é sinônimo de gramática? Será?
Durante a abordagem sobre esse assunto, vamos refletir sobre três concepções
importantes de gramática, mostrando como elas se manifestam socialmente, em
nosso cotidiano. Também vamos discutir o que vem a ser a língua ou a norma
padrão, destacando a insistência escolar sobre seu ensino e os contextos em que
ela é imprescindível.
Introdução
54 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LÍNGUA É SINÔNIMO DE GRAMÁTICA?
CONCEPÇÃO DE GRAMÁTICA
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óbvios. Dentre eles está o fato de que todos ouvimos diariamente pes-
soas falando diversamente, isto é, segundo regras parcialmente diver-
sas, conforme quem fala seja de uma ou de outra região, de uma ou de
outra classe social, fale com um interlocutor de um certo perfil ou de
outro, segundo queira vender uma imagem ou outra. Esta definição de
língua peca, pois, pela exclusão da variedade, por preconceito cultural.
Esta exclusão não é privilégio de tal concepção, mas o é de uma forma
especial: a variação é vista como desvio, deturpação de um protótipo.
Quem fala diferente fala errado. E a isso se associa que pensa errado,
que não sabe o que quer,etc. Daí a não saber votar, o passo é pequeno.
É um conceito de língua elitista. (POSSENTI, 1983, on-line, p. 64-65)1.
Assim, o primeiro conceito de gramática trazido pelo autor diz respeito a uma
gramática que prescreve normas e regras, sendo que a língua, nesse caso, fun-
cionaria como instituição segundo a qual requer observância e obediência a
conceitos e determinações, é a gramática normativa. Já o segundo conceito
parte da observação daquilo que o falante realmente utiliza em sua realização
linguística e não daquilo que “deve utilizar”, como no caso anterior, por isso, a
gramática é chamada de descritiva, nesse conceito. A terceira concepção de gra-
mática está relacionada, segundo o autor, à variedade. Desse modo, uma mesma
língua poderia ter uma diversidade de manifestações, e a gramática é chamada
de internalizada, nesse caso.
Esperamos que, assim, tenha ficado mais claro o porquê do caráter, por vezes,
paradoxal da língua, sendo ao mesmo tempo tão básica e simples, tão complexa
em si mesma, tão “inculta e bela” ao mesmo tempo, inspirando, com isso, mui-
tos artistas. Entre eles, o jornalista, cronista, contista e poeta parnasiano, um dos
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
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A língua tudo bem, mas, afinal, o que a ortografia tem a ver com a minha
vida?
Contudo vale dizer que, paralelo a isso, temos assistido a um cenário lin-
guístico caótico cujos responsáveis, em diferentes proporções, é cada um de nós.
Temos acompanhado, nos últimos anos, as mudanças na linguagem. Como exem-
plo, citamos a influência do “internetês” na linguagem escrita. Vivenciamos uma
geração que tem sido bombardeada por uma avalanche tecnológica sem a qual
“não se vive”, sendo (mais para alguns, menos para outros) praticamente impossí-
vel acompanhá-la em sua plenitude. Os principais meios de comunicação, como
a TV, a internet e as redes sociais, embora nos coloquem a todo o momento em
contato com a linguagem escrita e com a linguagem falada, parecem não apre-
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COMO OBSERVAR A GRAMÁTICA NAS PRÁTICAS DE
TEXTO
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O terceiro texto possibilita duas formas segundo as quais se concebe escrever
o objeto – xampu ou shampoo – e o que fugir disso também não será reconhecido
pela língua, por isso, representa um exemplo da segunda concepção gramatical,
ou seja, aquela segundo a qual é observada, pode ser descrita e, portanto, pre-
vista em situações reais de fala: gramática descritiva.
Pelas análises, vemos que um parâmetro que entra, inconscientemente, para
nossa avaliação é a norma padrão, até porque ela nos é ensinada e cobrada na
escola e na graduação.
Mas, afinal, o que é norma padrão ou norma culta?
coordenador etc.) que não utiliza adequadamente a linguagem nas suas diferen-
tes modalidades passa a não ser digno de total confiança para o desempenho
de suas funções. Portanto, a linguagem passa a ser também um índice de poder.
Como surgiu a língua culta ou padrão? A língua padrão, na sua origem, é a
língua do poder político, econômico e social. A língua padrão muda com o tempo,
prova disso são as mudanças ortográficas. Contudo, nos diferentes momentos da
história, a linguagem apoia-se em diferentes aspectos, os quais determinam suas
mudanças. Por exemplo, muitos de nós poderíamos afirmar que os “bons escritos”
são coisas do passado e que a qualidade da linguagem literária sofreu uma queda
assustadora. Entretanto, atualmente, a influência dos meios de comunicação é
inegável sobre a linguagem, determinando, em muitos casos, as suas alterações.
A partir desse momento, convém reiterarmos dois aspectos importantes: um
deles é compreendermos o padrão como um parâmetro e o reconhecermos como
uma das variações da língua portuguesa, o outro é sabermos que, tal como qual-
quer outra variedade, a forma padrão também está sujeita a mudanças. Prova
disso é que o nosso português padrão de hoje foi, historicamente, o latim vulgar,
uma linguagem marginal tal qual se costuma rotular algumas outras varieda-
des. Por exemplo, a linguagem utilizada por pessoas que não possuem grau de
instrução, ou mesmo os chamados “caipiras” que se utilizam de uma linguagem
regionalista ou da zona rural. Na sequência, como ilustração de uma linguagem
antes considerada padrão, mas atualmente em desuso, trouxemos um fragmento
da crônica intitulada Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade (1962, p.
97), que foi publicada no livro Quadrante 1:
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Finalmente, é preciso lembrar que o domínio da língua padrão não repre-
senta simplesmente o domínio de certas regras de ortografia, concordância, de
regência, de pontuação etc. Esse domínio é apenas o ponto de partida do que é
efetivamente importante, ou seja, saber utilizar essas e outras ferramentas ade-
quadamente na prática da língua tanto na oralidade quanto na escrita.
Importa, nesse momento, reconhecer que a competência linguística a que
todos nós almejamos é fruto de esforço, estudo, leitura, conhecimento das fer-
ramentas adequadas, prática da oralidade e da escrita. Por isso, mãos à obra!
Aí está um dos motivos pelos quais uma reforma ortográfica se justifica. A
língua, por ser dinâmica e não estática, sofre suas modificações a cada dia, ao
longo do tempo, até que, finalmente, certifica-se que ela tornou-se dissemelhante
da usual. Quando essa diferença passa a afetar a escrita, cumpre que os aspec-
tos linguísticos discrepantes sejam revistos.
Outro aspecto que justifica as alterações no código linguístico é o fato dele
estar espalhado por um vasto território, como é o caso da língua portuguesa que
se estende pelos cinco continentes e figura entre as dez mais faladas do planeta.
Assim, cumpre melhor conhecermos esse código linguístico que, afinal,
representa-nos como cidadãos, é uma extensão da nossa identidade e, portanto,
diz respeito a nossa história, ao que somos e aquilo que almejamos como jovens
universitários e futuros profissionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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que alicerçam as formas de expressão utilizadas por pessoas cultas e de prestígio,
logo, tais formas devem ser seguidas, inclusive, na oralidade. As manifestações
linguísticas que diferem desses parâmetros são consideradas errôneas.
A gramática descritiva apresenta e caracteriza conjunto de regras com que
um estudioso se depara nos usos linguísticos que analisa, a partir de uma certa
teoria e método. Os erros, nesse caso, são construções não sistemáticas em
nenhuma variante da língua.
Já a gramática internalizada designa o conjunto de regras que o falante domina
e usa ao falar. E como nossas experiências moldam todo nosso aprendizado, de
forma muito particular, nessa perspectiva, uma mesma língua possui diversidade
incomensurável de manifestações e não há conotação valorativa para analisá-las.
Damos destaque, no ensino superior, porém, para a escrita padrão, porque
os gêneros acadêmicos são formais e visam à produção de cunho científico em
forma e estrutura. Apenas em produções muito específicas, o aluno poderá utili-
zar outra variante da língua, como é o caso dos futuros publicitários, ao produzir
campanhas publicitárias, por exemplo. Assim, embora possamos utilizar com
criatividade e estilo nossa língua portuguesa, devemos conhecê-la em profun-
didade, para comunicarmos com eficiência e elegância, não a mensagem, mas
a nós mesmos.
ANTIGAMENTE
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e
muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral, dezoito.
Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a
asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E, se levavam tábua, o remé-
dio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando
corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro.
Algumas jogavam verde para colher maduro e sabiam com quantos paus se faz
uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embar-
casse em canoa furada.
HAVIA OS QUE tomaram chá em criança, e, ao visitarem família da maior con-
sideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos
a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com
um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus
Cristo”, ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os
eruditos, se alguém espirrava — sinal de defluxo — eram impelidos a exortar:
“Dominus tecum”. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos que-
riam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era
natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres
ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam
que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo
encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: ver-
dadeiros cromos, umas tetéias.
ANTIGAMENTE, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram
pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o
pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. Uns raros amarravam
cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As
famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam
qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro,
quase sempre um cabrito, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita
do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da
Corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente
ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam
à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais do
que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
68
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
Fonte: Gabriel o pensador (2001).
69
3. (Adaptado: ENEM-2006):
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
c. FACEBOOK:
MAYARA: Lúcia Santana, minha linda, preciso falar com você. Envie seu telefone
no meu e-mail pra eu t ligar. É de seu interesse e penso que você vai gostar MUI-
TO. ENVIE LOGO.Bj.
d. CHAT:
Atendente: Bom dia, Sr. Marcelo, em que posso ajudar?
Cliente: Você pode me ajudar fechando essa empresa de gentinha desleixada!
Atendente: O que houve, senhor? Percebo que o senhor está nervoso. Acalme-se
que eu vou tentar ajudá-lo.
Cliente: Comprei um tênis 38 para minha namorada e foi entregue um 33. Era o
aniversário dela p..., Agora, quero a p... de meu dinheiro de volta. Seus babacas!
(as reticências significam censuras, xingamentos).
Lingüística da Internet
Tânia G. Shepherd e Tânia G. Sliés
Editora: Contexto
Ano: 2013
Sinopse: a internet é uma imensidão virtual a ser explorada.
Ela é movimentada pela comunicação liberta das fronteiras
e distâncias, por meio de mais de mil línguas, sendo que o
português é uma das mais usadas, ficando apenas atrás do
inglês, do chinês, do espanhol e do japonês. Pela interação
que ocorre no ciberespaço, são criados textos dos mais
diversos gêneros, com os mais diversos fins, propiciando,
com isso, novas formas de linguagem, novas possibilidades de
comunicação e interação. A partir dessa comunicação dinâmica e participativa, nasceu o internetês,
uma linguagem muito usada e comentada, mas nem sempre percebida sob uma perspectiva de base
teórica. A partir dessa lacuna, apresenta-se essa obra que investiga as influências e os efeitos da rede
mundial de computadores sobre nossa língua, linguagem e comunicação. É uma leitura interessante
e acessível para aqueles que se interessam pela relação língua+mundo virtual.
Este link traz a diferença entre língua oral e escrita, discutindo algumas questões polêmicas
acerca da norma culta e das realizações informais.
O link a seguir mostra como a língua pode ser apreciada e repensada em um museu.
TERRA, E. Linguagem, língua e fala. 1.ed. 8. imp. São Paulo: Scipione, 2005.
_______. Minigramática. São Paulo: Scipione, 2002.
VILARINHO, S. Sessão, cessão ou seção. Brasil Escola. Disponível em <http://bra-
silescola.uol.com.br/gramatica/sessao-cessao-ou-secao.htm>. Acesso em: 5 dez.
2016.
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/41/20080623_
gramatica_e_politica.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2016.
2
Em: <http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2008/07/o-naufrago/>. Acesso em:
23 nov. 2016.
GABARITO
1. B.
2. E.
3. A.
4. B.
5. C.
Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
PRODUÇÃO DE TEXTOS: DA
III
UNIDADE
REFLEXÃO PARA A PRÁTICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer as concepções de escrita e suas condições de produção, a
fim de que possa planejá-la e executá-la de modo eficiente.
■■ Compreender a importância da autoria e do diálogo interior na
construção da escrita, de modo a constituir-se o sujeito responsável
pelo que diz na escrita.
■■ Conhecer os elementos de textualidade, para que possa atribuir
clareza, coesão e coerência aos textos que produz.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Escrita, estilo e autoria
■■ Concepções de escrita
■■ Elementos da textualidade
■■ Gêneros textuais
79
INTRODUÇÃO
Introdução
80 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESCRITA, ESTILO E AUTORIA
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Assim como o poema de Drummond, o texto da Pereira (2011, on-line)1
é riquíssimo em conteúdo. Ele nos ensina muito sobre a dinâmica da escrita, a
escolha das palavras, o estilo discursivo dos sujeitos, e faz tudo isso por meio
da criação de uma metáfora perfeita: as palavras são as roupas com as quais nos
vestimos e nos despimos. Ao final, uma pergunta que talvez incomode, mas não
deixa de ser fundamental para a nossa, para a sua, reflexão. Oportunamente,
retomaremos a pergunta e outros versos do poema.
[...] o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de seu retorno.
(Michel Foucault)
Nesse sentido, lembramos de uma das teorias mais discutidas nos últimos
tempos, a teoria de Bakhtin e, ainda que o nosso intuito neste nivelamento não
seja estender tal discussão para a filosofia da linguagem, você merece degustar,
ao menos, uma breve citação desse filósofo russo que grandes contribuições e
tão significativo conhecimento nos deixou sobre a dinâmica e complexa relação
entre a linguagem e o homem. Veja:
[...] qualquer palavra existe para o falante em três aspectos: como pala-
vra da língua neutra e não pertencente a ninguém; como palavra alheia
dos outros, cheia de ecos de outros enunciados; e, por último, como a
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minha palavra porque, uma vez que eu opero com ela em uma situa-
ção determinada, com uma intenção discursiva determinada, ela já está
compenetrada da minha expressão (BAKHTIN, 2003, p. 294).
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A palavra não sabe o que diz.
A palavra delira, a palavra diz qualquer coisa.
A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada.
Aprendi que o ato de escrever é uma sequela do ato de ler. É preciso captar
com os olhos as imagens das letras, guardá-las no reservatório que temos
em nossa mente e utilizá-las para compor depois as nossas próprias pala-
vras.
(Moacyr Scliar)
Quem se põe a escrever, precisa ter o que dizer e saber como fazê-lo. Caso contrá-
rio, a palavra dirá tudo, menos o que o autor pretendeu dizer. É mesmo verdade
que a palavra, por si mesma, “diz qualquer coisa” ou “não diz nada”. O locutor
(quem escreve) precisa de conteúdo e, de posse desse conteúdo, precisa manu-
sear muito bem as palavras, empregar adequadamente os sinais de pontuação,
formar frases coesas, períodos claros, parágrafos coerentes, unir todas as partes
formando uma só unidade. Se não tiver o que dizer, não adianta disfarçar ou,
como dizem, “encher linguiça”. Certamente preencherá as linhas com ideias bas-
tante vagas e previsíveis, cairá em redundâncias, fará seu texto circular em torno
escrita e que a intenção não seja simplesmente cumprir uma tarefa para receber
nota, mas sim atribuir ao seu texto uma função social, dizer para dizer-se, ou
seja, mostrar-se ao outro e, ao mesmo tempo, agir sobre ele.
Ou seja, dizer-se para alguém, planejar a escrita de seu texto para interlocu-
tores específicos, adequando-o de modo a atingir seu destinatário.
d) “O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para
quem diz”.
Tem quem usa dos outros.
e) “Se escolham estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d), estratégias discursi-
vas, textuais, linguísticas, tendo em mente o interlocutor e cuidando tanto do
conteúdo quanto da forma do texto produzido”.
Se você deseja produzir textos de qualidade, essas são as condições neces-
sárias, porém, ainda não suficientes. Não basta conhecê-las simplesmente e
cumpri-las passo a passo. Elas servem como ingredientes para fazer o texto, mas
ainda é uma receita incompleta. É preciso aplicá-las dentro de uma concepção
de escrita adequada.
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CONCEPÇÕES DE ESCRITA
Até aqui, apresentamos algumas dicas para uma boa escrita, sugerimos algu-
mas reflexões a respeito, vimos as condições para a produção e talvez você esteja
pensando: “Não adianta, a escrita não é para mim, não gosto de escrever, é com-
plicado demais”. Simples não é. Dizem alguns que “pensar dói” e essa sensação
de dor no intelecto parece sobrevir, em especial, nos momentos de produção
textual. Parece que temos que aprender a lidar e a conviver com esse desafio. E
que bom que a escrita nos desafia, não é mesmo? Há algo melhor que os desa-
fios da vida para nos fazerem crescer?
Existem três concepções de escrita. Para explicá-las, usamos como refe-
renciais teóricos Geraldi (1997), Mayrink-Sabinson (2001) e Sercundes (1997).
Muitos acreditam que a escrita é privilégio para poucos. Trata-se da escrita
como dom ou inspiração. O que isso significa? Que a escrita é privilégio ape-
nas para um grupo seleto de pessoas. A partir dessa concepção, a possibilidade
de reescrita é descartada, já que, uma vez fruto da inspiração, o texto deve con-
servar as ideias em sua gênese, como vieram para o papel. Por outro lado, os que
acreditam nessa concepção e apresentam dificuldades em redigir bons textos aco-
modam-se, acham que o mais certo a fazer é se conformar com tais dificuldades.
Nesse sentido, Graciliano Ramos (2005) cria uma metáfora perfeita para ilus-
trar a escrita como trabalho. Essa metáfora foi mencionada em uma entrevista
de 1948, que foi transcrita para a contracapa do livro de crônicas Linhas Tortas,
lançado em 1962. Leia com atenção:
Concepções de Escrita
88 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Exercite sua leitura crítica:
Qual a metáfora que simboliza a pessoa que se dedica ao ofício da escrita?
Cada procedimento executado pelas lavadeiras de Alagoas sugere cada uma
das etapas pelas quais a construção da escrita deve passar. Quais são essas etapas?
O que mais você acrescentaria ao texto de Graciliano para ilustrar o pro-
cesso da escrita como trabalho?
Ao se colocar como o outro de si mesmo na escrita, você será capaz, por exem-
plo, de preencher lacunas, isto é, partes do texto em que as ideias ainda não estão
suficientemente trabalhadas e, caso não sejam objetos de sua reflexão mais apu-
rada, seriam facilmente contestadas pelo leitor. Ao detectar lacunas assim, você
estará antecipando possíveis problemas de compreensão ou contestação por parte
do leitor. Sua tarefa, então, será reescrever essas partes, de modo a excluir algo
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que não está de acordo com o que de fato pretende transmitir ou acrescentar
argumentos/exemplos, de modo a preencher tais lacunas. Ao praticar a empa-
tia, quem escreve será capaz de tomar várias soluções diferentes para melhorar
seu texto, tais como: substituir vocábulos, retirar excessos, esclarecer passagens
complexas por meio de paráfrases e exemplos, deslocar parágrafos, acrescentar
ou excluir informações, lapidar o título, enriquecer e tornar a introdução mais
convidativa etc. Nesse sentido, é que Isaac Bashevis Singer (1904-1991, Guia de
Produção Textual ) afirmou que “O melhor amigo do escritor é a lata de lixo”.
Por fim, quando você não enxergar mais nada em seu texto que requer
mudanças, apresente-o a um revisor profissional da língua portuguesa. Ele poderá
detectar o que seus olhos deixaram passar (e em razão de alguns vícios da lin-
guagem, isso de fato ocorre). Porém, se isso não for possível, tenha certeza de
que o outro de si mesmo já fez um bom trabalho.
Concepções de Escrita
90 UNIDADE III
Escrever é Reescrever
[...] qualquer pessoa consegue escrever, desde que tente para valer. Talento
natural existe e ajuda, mas não é tudo. Uma boa maneira de começar é sele-
cionar o que se tem a dizer e para quem. A partir daí, da forma mais simples
e direta possível, narra-se o fato. Com as palavras que vierem à cabeça. Até
que se esgotem. Depois, sim, começa a tarefa mais trabalhosa: reler uma,
duas, tantas vezes quantas forem necessárias. E ir retirando, sem autocomi-
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seração, tudo o que parecer duvidoso, exagerado, sem graça nem sentido.
Se não sobrar nada, começa-se de novo. Se sobrar muito, talvez seja melhor
fazer outra leitura.
Quando não houver mais nada para acrescentar ou tirar, e a mensagem prin-
cipal permanecer clara, o texto está pronto.
Parece simples, mas dói um bocado. Só que não tem outro jeito.
Fonte: Souza (1990, on-line)2.
ELEMENTOS DA TEXTUALIDADE
Elementos da Textualidade
92 UNIDADE III
É importante tomar cuidado para não tentar impressionar o leitor com ter-
mos considerados difíceis, pois, desse modo, pode-se conseguir o efeito oposto,
levando o interlocutor a acreditar que por trás de tais palavras há pouco conte-
údo. E ainda corre-se o risco de comprometer a compreensão.
Cuide dos aspectos gramaticais em seu texto. Porém, há mais um detalhe
que merece sua atenção: nem sempre textos gramaticalmente corretos podem
ser considerados bons e, vice-versa. Por exemplo, uma frase de impacto em um
anúncio publicitário pode apresentar uma construção considerada gramatical-
mente incorreta em relação à norma culta, mas cumprir a função a que se destina,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como, a propaganda da Embratel: “Faz um 21”. A forma gramaticalmente cor-
reta seria: “Faça um 21”. Entretanto, a maneira como são articuladas as ideias
por meio das palavras e das frases é que determina se a estrutura da textualidade
foi atingida a contento, ou se, ao contrário, há apenas um amontoado de frases
desconexas e não uma unidade de sentido.
Textualidade é a relação existente entre ideias e frases que formam um texto
com sequência harmoniosa e organização interna de suas partes. Sumariamente,
vamos rever alguns dos principais elementos que a compõem.
Elementos da Textualidade
94 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
GÊNEROS TEXTUAIS
Gêneros textuais (ou gêneros discursivos) são textos que correspondem a certos
padrões de composição de texto determinados pelo contexto de produção, por
sua finalidade, pelo público a que eles se destinam etc. São exemplos de gêne-
ros discursivos: o artigo de opinião, o resumo, a resenha, o editorial, o ensaio, o
anúncio, a notícia, a reportagem, o bilhete, a carta, o e-mail, a receita, a história
em quadrinhos, o conto, a fábula entre muitos outros.
As pessoas reconhecem, sem dificuldade, os gêneros com os quais estão
familiarizadas. Não é necessário ser um médico, por exemplo, para reconhecer
uma bula de remédio, ou um jornalista para reconhecer uma notícia de jor-
nal. Isso acontece porque muitos desses gêneros estão presentes em nossa vida.
Sabemos, inconscientemente, quais são as suas características (estrutura, temas
abordados, contexto de circulação, finalidade etc.), é isso que nos faz reconhe-
cê-los facilmente.
Gêneros Textuais
96 UNIDADE III
Essas estruturas são as tipologias textuais, que (ao contrários dos gêneros textu-
ais), limitam-se a apenas cinco tipos: a narração, a exposição, a argumentação,
a descrição e a injunção. Logo, os tipos textuais são uma categoria mais abran-
gente, pois cada uma agrega seus gêneros:
■■ A narração: conto, crônica, romance, epopeia etc.
■■ A exposição: verbetes enciclopédicos, aulas, seminários etc.
■■ A argumentação: dissertação argumentativa, debates etc.
■■ A descrição: enriquece outros gêneros, tais como o romance, a explica-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção teórica, etc.
■■ A injunção: manuais, instruções de jogo, receitas etc.
RESUMO
Gêneros Textuais
98 UNIDADE III
Leonardo Boff inicia o artigo “A cultura da paz” apontando o fato de que vive-
mos em uma cultura que se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante
disso, o autor levanta a questão da possibilidade de essa violência poder ser su-
perada ou não.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Inicialmente, ele apresenta argumentos que sustentam a tese de que seria im-
possível, pois as próprias características psicológicas humanas e um conjunto de
forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua
superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera
que, nesse momento, é indispensável estabelecermos uma cultura de paz contra
a violência, pois essa estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta.
Segundo o autor, seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres
humanos são providos de componentes genéticos que nos permitem sermos
sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência
e de que a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como
sendo uma relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da
violência.
A partir dessas constatações, o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as po-
tencialidades humanas para a paz, como projeto pessoal e coletivo.
Fonte: Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004).
RESENHA
resumida. Além disso, o resenhista pode fazer referências à outras obras, com-
parar, fazer citações, contra-argumentar, sempre com a intenção de justificar
seu ponto de vista.
Seguem nove dicas para a produção eficaz da resenha crítica relativa a livros:
■■ Identifique a obra: nas normas da ABNT, faça a referência do livro
resenhado.
■■ Identifique o autor: utilize um parágrafo para falar quem é o autor do
livro, sua profissão, atuação, nacionalidade etc. É uma informação que
contribui na contextuação da obra.
■■ Apresente a obra: indique de que se trata o livro, a quem ele se destina.
■■ Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, se possui ilustra-
ções, tabelas, gráficos etc., mencione o foco narrativo e, de forma sutil, o
número de páginas.
■■ Resuma o conteúdo: sintetize as ideias principais de cada capítulo. A
extensão do resumo vai depender do objetivo da resenha. Se for para
publicação em revista científica, você precisará saber quantas páginas tal
revista espera de uma resenha.
■■ Análise de forma crítica: aponte aspectos positivos e negativos da obra
resenhada. Você pode permear esse juízo de valor durante o resumo. Para
ajudar a análise, você pode se perguntar: quais são os aspectos positivos
desse livro? O que facilitou a leitura? O que prejudicou? O que poderia
ser melhor?
Gêneros Textuais
100 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
resenha, comunicação científica etc. Isso não mostra que uma obra seja
melhor que a outra, mas que possuem perspectivas diferentes sobre um
mesmo tema amplo.
■■ Assine e identifique-se: seu nome ficará antes de começar a resenha ou
após finalizá-la, com um número para nota de rodapé, na qual você colo-
cará a instituição onde estuda e seu e-mail (conforme o caso). Por exemplo:
Acadêmico do Curso de Letras da UNICESUMAR.
Exemplo de resenha escrita por Ricardo Morgan e retirada da obra abaixo citada,
de Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004):
Quadro 2 - Exemplo de resenha
Gêneros Textuais
102 UNIDADE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a)! Você deve ter percebido que, no decorrer das nossas discus-
sões, apresentamos textos de autores renomados e de autores que ainda estão
no anonimato. Sabe por quê? Porque existem excelentes autores que merecem
ser conhecidos e reconhecidos e, você pode ser um deles. O importante é que
você não desista diante das dificuldades. É fundamental, entretanto, considerar
a concepção que você tem acerca da escrita.
A escrita não consiste em dom ou inspiração, simplesmente. Exige muito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais que isso. Requer trabalho! A partir da perspectiva de escrita como trabalho,
entende-se a escrita como um processo complexo que envolve organização, com-
paração, desenvolvimento, adequação e avaliação de ideias, não sendo fruto de
inspiração momentânea ou de mentes privilegiadas. Isso porque o texto escrito é
resultado de trabalho consciente, estrategicamente planejado e repensado. Quanto
mais você se dedicar ao ato de escrever e reescrever, mais irá perceber que todos
os textos podem ser modificados. No processo de reescrita, você poderá apri-
morar cada vez mais seus conhecimentos linguísticos, seu estilo discursivo e
suas habilidades, de modo a conferir qualidade singular aos textos que produz.
E como começar esse processo?
Agora! Se você tiver que estudar algo, resuma um texto pertinente, seguindo
as estratégias abordadas. Mas se preferir, escreva uma resenha, a partir de uma
música ou filme que intrigue você. Se você for mais audacioso(a), porém, sele-
cione um livro cuja publicação tenha, no máximo, dois anos e faça uma resenha.
Após ela ser corrigida por um professor seu, busque uma revista científica de
sua área para publicá-la. Não é raro nossos alunos publicarem seus textos, já que
as revistas esperam resenhas bem escritas de livros novos, tendo espaço reser-
vado para elas. Se seu texto não for aceito, tente novamente. Mas, com certeza, o
tempo despendido na tarefa terá sido um excelente exercício de escrita, na pers-
pectiva que privilegiamos. Bom trabalho!
Ficha Técnica
Uma Lição de Vida (The First Grader) – 104 min.
EUA / Quênia / Reino Unido – 2010
Direção: Justin Chadwick
Roteiro: Ann Peacock
Elenco: Naomie Harris, Oliver Litondo, Tony Kgoroge, Vusi Kunene, Alfred Munyua,
Shoki Mokgapa.
TEXTO 2: Crítica
A realidade dos povos africanos após seus conflitos por independência é das
mais diversas, mas possui ainda assim alguns elementos em comum. A bruta-
lidade dos colonizadores, a desorganização destas novas sociedades e a per-
severança de alguns poucos são constantes que volta e meia ganham as telas
dos cinemas com fortes mensagens de luta e modificação social. Uma Lição de
Vida, longa que chega com atraso ao circuito exibidor nacional (foi exibido pela
primeira vez no exterior em 2010) resgata uma história verídica que ilustra com
exatidão questões como as aqui colocadas. E este é, numa análise mais crite-
riosa, o maior mérito do filme dirigido por Justin Chadwick, diretor inglês que,
com este trabalho, deu início a uma espécie de mea-culpa em relação aos seus
antepassados.
105
<https://www.youtube.com/watch?v=mkJT6cULBY8>.
111
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://aescritanasentrelinhas.com.br/2011/08/31/a-palavra-nao-sabe-o-que-
-diz/>. Acesso em: 23 nov. 2016.
2
Em: <http://projosiensina.blogspot.com.br/p/redacao.html>. Acesso em: 23 nov.
2016.
3
Em: <https://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/322091/mod_resource/con-
tent/1/MARCUSCHI%20G%C3%AAneros%20textuais.pdf>. Acesso em: 23 nov.
2016.
REFERÊNCIAS
4
Em: <http://www.papodecinema.com.br/filmes/uma-licao-de-vida>. Acesso em:
19 ago. 2016.
5
Em: <http://www.administradores.com.br/producao-academica/resenha-critica-
-sobre-o-livro-a-arte-de-argumentar/5495/>. Acesso em: 7 ago. 2015.
113
GABARITO
1. E.
2. C.
3. A.
Professora Dra. Angela Enz Teixeira
IV
DIRECIONAMENTOS PARA A
UNIDADE
ESCRITA DE DISSERTAÇÃO
ARGUMENTATIVA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Retomar técnicas de escrita do texto dissertativo argumentativo,
visando uma estruturação textual que atenda às demandas
acadêmicas.
■■ Estudar algumas formas fixas de estruturação das partes do
texto dissertativo argumentativo, para que o aluno reflita sobre
as possibilidades de arquitetura de escrita, selecionando a mais
adequada ao contexto.
■■ Conscientizar sobre a importância do planejamento textual.
■■ Entender a importância do aprimoramento dos conhecimentos
abordados nesta unidade, a partir da prática constante da escrita,
visando uma estruturação textual adequada ao gênero produzido,
mas aperfeiçoada pela criatividade e enriquecida pelo estilo
individual.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A dissertação argumentativa
■■ Por onde começar a tarefa de escrita?
■■ O desenvolvimento: as diferentes formas de organização
■■ A introdução
■■ A conclusão
■■ Imprescindível: revisão final
117
INTRODUÇÃO
ção que o(a) orienta, ensina e avalia, você não vai conseguir comunicar o seu
conhecimento, o seu desenvolvimento e, consequentemente, poderá adiar sua
formação. E o que seria esse “mínimo esperado”? É, em relação aos gêneros tex-
tuais que você produzirá na comunicação com a instituição (nesse contexto, são
as atividades solicitadas, os chats, os e-mails para tutores, coordenadores e secre-
taria etc.), escrever dentro da norma padrão da língua portuguesa, com coesão
e coerência textuais, adequação contextual e estruturação própria dos gêneros
textuais produzidos. Mas não se assuste, porque você não precisa ser um artista
da linguagem para alcançar isso. A escrita almejada de seus alunos pelas insti-
tuições de ensino superior é técnica, portanto, pode ser ensinada, logo, pode ser
aprendida, ademais, grande parte desse conhecimento você possui, afinal, você
sabe escrever! Em relação às lacunas relativas ao seu conhecimento de escrita,
estas podem ser preenchidas pelas aulas que você está assistindo no Nivelamento,
pelas orientações que você terá junto a seus professores e pelos seus próprios
méritos: lendo e pesquisando.
O importante é você querer escrever melhor e trabalhar firme!
Tenha em mente que, ao aprender as técnicas exploradas aqui, você preci-
sará praticá-las, refletir sobre seus erros para aprimorar, gradativamente, sua
escrita. Exercitando-se dessa forma, você escreverá mais e melhor, em menos
tempo e, em um futuro bem próximo, você sentirá prazer em escrever ou, ao
menos, não sofrerá mais!
Boa aula e boa leitura!
Introdução
118 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA
dios básicos para uma escrita dissertativa argumentativa mais consistente. Este
texto não esgota o assunto, mas pode auxiliar aqueles que queiram aprimorar
sua escrita devido a explicações simples e a exemplos claros, além de propostas
de exercícios interessantes.
Aqui, por uma questão didática, apresentamos o modelo de dissertação argu-
mentativa que se organiza em três partes, mas vale salientar que nem todo texto
dissertativo precisa ter essa estrutura. As partes são:
■■ Introdução: apresenta o tema a ser discutido e a tese.
■■ Desenvolvimento: corresponde ao desdobramento do tema, com os argu-
mentos que devem comprovar a tese do autor da dissertação.
■■ Conclusão: pode funcionar como uma confirmação da tese inicial, resu-
mindo os principais aspectos discutidos no texto.
Há vários tipos de parágrafos e eles variam segundo o gênero textual que inte-
gram. Em um texto dissertativo argumentativo, podemos ter parágrafos: de
introdução, de comparação, de repetição de ideias, de definição, de divisão, de
causa e efeito, de conclusão. Contudo, como unidade mínima do texto, o pará-
grafo desse gênero textual deve conter:
A Dissertação Argumentativa
120 UNIDADE IV
■■ Seu tópico frasal, que é uma frase contendo a ideia central do parágrafo.
■■ Uma ou mais frases que desenvolvam essa ideia.
A noção de parágrafo está ligada à ideia central. Assim, cada parágrafo deve
desenvolver-se em torno dessa ideia, para ter unidade, coerência, consistência,
concisão e ênfase. Observando essa construção, um parágrafo tem introdução,
desenvolvimento e conclusão, como o próprio texto dissertativo.
Exemplo:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Explicação retirada do livro A leitura (JOUVE, 2002, p. 17-18), quando o autor
aborda o conceito de leitura a partir de várias perspectivas:
Um processo neurofisiológico
“A leitura é antes de mais nada um ato concreto, observável, que recorre a facul-
dades definidas do ser humano. Com efeito, nenhuma leitura é possível sem
um funcionamento do aparelho visual e de diferentes funções do cérebro. Ler é,
anteriormente a qualquer análise do conteúdo, uma operação de percepção, de
identificação e de memorização dos signos. Diferentes estudos, - entre os quais
o de François Richaudeau (1969) - tentaram descrever com minúcia tal ativi-
dade. Mostraram que o olho não apreende os signos um após o outro, mas por
‘pacotes’. Assim, é frequente ‘pular’ certas palavras ou confundir os signos entre
si. O movimento do olhar não é linear e uniforme; ao contrário, é feito de saltos
bruscos e descontínuos (de ‘movimentos sacádicos’) entre os quais pausas mais
ou menos longas (entre um terço e um quarto de segundo) permitem a percep-
ção. Durante essas paradas, o olho gravaria precisamente seis ou sete signos, ao
mesmo tempo em que anteciparia a sequência, graças a uma visão ‘periférica’
mais vaga”.
A Dissertação Argumentativa
122 UNIDADE IV
Por que delimitar o tema? Para dar consistência ao texto, precisamos cumprir
o que se propõe na introdução. Temas amplos geram textos não aprofundados,
superficiais, frágeis, sem direção.
FAÇA VOCÊ
A seguir, há uma relação de temas bem amplos. Delimite um deles, como se você
fosse elaborar um artigo para ser publicado em um blog da área do seu curso.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1. Mídia.
2. Poluição.
3. Internet.
4. Industrialização.
5. Inovação.
6. Criatividade.
7. Gastronomia.
8. Saúde.
9. Animais.
10. Doença.
11. Economia.
12. Outro: ___________.
■■ Por causas.
■■ Por consequências.
■■ Por fatores que influenciam.
■■ Por fatores que dificultam.
■■ Por características.
■■ Por possíveis soluções.
Exemplo: Todo exemplo que discorre sobre “Poluição dos rios” foi baseado em:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A dissertação (PACHECO, 1988).
Proposta de tema para dissertação: “Poluição dos rios”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pelo plano, o pensamento pode ser expresso com sistema, com maior efi-
cácia. Sem estabelecer um plano sobre o que se vai escrever, as dificulda-
des depressa começam a surgir. Sem plano, há o risco de se perder sem se
aprofundar em nenhum aspecto e pode-se acabar por fazer um trabalho
superficial [...]. O plano traz clareza à exposição.
(Edivaldo Boaventura)
PLANO: CAUSA/CONSEQUÊNCIA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O resultado dessas ações é identificado na morte dos peixes, na contaminação
de aves marítimas, na fuga da fauna aquática, gerando o desequilíbrio ecológico.
Ainda como efeito da poluição dos rios, há a contaminação das plantações que
são irrigadas com essas águas. Outra consequência é a transmissão de doenças
infecciosas aos indivíduos que vivem em torno dessas águas, matando sua sede,
comendo seus peixes e se banhando. Por fim, temos as inundações que decor-
rem do acúmulo de resíduos no leito dos rios.
As referências a tempo e espaço são mais comuns nas narrativas. Contudo, se você
tem que escrever sobre “evolução das faculdades particulares no Brasil”, provavel-
mente organizará o seu texto em termos de tempo. Para facilitar a compreensão
do leitor, é aconselhável que o texto tenha sequência cronológica, destacando os
marcos principais no passado, no presente e as expectativas para o futuro. Ou,
ainda, retomando a proposta das duas partes, é possível, em uma parte, trazer
a evolução do que é analisado e, na segunda parte, examinar a instituição em si
mesma, no momento de seu maior apogeu.
Se o tema proposto for “a industrialização nas diferentes regiões do Brasil”, a
organização do texto poderá ser por espaço, falando, em cada parágrafo, sobre uma
região. O critério para ordenar a sequência de regiões por parágrafos é pessoal.
1a forma 2a forma
O uso da internet no passado O uso da internet na cidade
■■Na cidade. ■■No passado.
■■No campo. ■■No presente.
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PLANO: COMPARAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quanto à administração política dessa ideologia, a China, por questões econômi-
cas e comerciais, mostra-se o país mais flexível, mesmo valendo-se da censura e
da restrição dos direitos do povo. Quanto a Cuba, o país adotou o comunismo, em
1959, por uma revolução liderada por Che Guevara e Fidel Castro. O atual presi-
dente cubano, Raúl Castro, mantém a ideia de impedir o contato de seus habitan-
tes com o mundo capitalista, por isso, este país insular mantém-se atrasado em
diversas situações sociais e econômicas. O país mais radical, porém, é a Coreia do
Norte, onde as pessoas vivem sob fortes restrições em seu cotidiano, sem liberda-
de de pensamento, de religião, de opinião, de expressão, de informação. O povo
também não pode contactar o ocidente e tem acesso apenas a informações que
passam pela censura do governo. O ditador atual é Kim Jong-un. Neste país, os
súditos devem reverenciar seus líderes e o cristianismo é visto como uma afronta
ao governo.
Fonte: adaptado de Portas Abertas (2015, on-line)1 e Gasparetto Júnior (2016, on-line)2.
PLANO: ENUMERAÇÃO
Certos temas podem propor a indicação de fatores, funções ou, ainda, pedir para
classificar ou dividir um determinado objeto. Tudo isso leva a uma organização
baseada em enumeração, o que significa mencionar elementos (razões, fatos,
classificações, eventos etc.) que justifiquem uma opinião acerca de um tema.
Leia o texto Netiqueta – fóruns e redes sociais, atentando-se para os seg-
mentos em destaque, que indicam as enumerações.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EXEMPLO
Netiqueta – fóruns e redes sociais
Você sabia que as regras de comportamento se estendem também ao relaciona-
mento social virtual? Claro! Afinal, mesmo à distância, as pessoas se relacionam,
profissionalmente, amorosamente, amigavelmente etc. Em se tratando da comu-
nicação escrita no ambiente virtual, podemos citar algumas regras de netiqueta.
São bastante conhecidas as regras para a escrita no meio virtual: não escrever em
maiúsculas nem usar negrito, a não ser que você intencione dar destaque a algu-
ma passagem, não usar linguagem abreviada nem emoticons se o texto for formal
etc. Contudo, também há normas para as relações a distância, como em fóruns e
em redes sociais. Vejamos algumas:
Respeitar as regras do grupo do qual você participa é importante. Antes de dispa-
rar mensagens, entenda o funcionamento dele. Muitos grupos têm documentos
com regras e orientações aos participantes. Você não deve deixar de ler.
Se desejar fazer alguma pergunta ou debater algum tema, leia as conversas an-
teriores para não ser repetitivo e passar por descuidado. Se determinado tema já
entrou em discussão, não abra outro tópico, escreva no tópico existente.
Em seus comentários, seja educado(a) e respeitoso(a) com qualquer participante
e acate, por uma questão hierárquica, as decisões dos moderadores.
Assuma seus comentários, não utilizando o “anonimato” comum na internet. De-
vido a distância, os debates tendem a chegar a um nível que não chegariam em
uma conversa face a face, mesmo assim, o bom senso deve prevalecer.
PLANO: EXEMPLIFICAÇÃO
A exemplificação é um recurso que pode ser utilizado sempre que se deseja escla-
recer ou reforçar uma afirmação. Geralmente, os exemplos são introduzidos por
expressões como: por exemplo, como exemplo disso, assim, dessa forma, dessa
maneira etc. Por vezes, o exemplo não é introduzido por nenhuma expressão.
Que exemplos servem para um texto dissertativo? É importante que o exem-
plo seja típico ou representativo da afirmação que se pretende defender. Portanto,
valem desde notícias de jornais até exemplos fictícios. Quando o exemplo se
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estende numa narrativa minuciosa, temos a ilustração.
EXEMPLO
O significado das cores
É interessante como, instintivamente, parecemos compreender o significado das
cores. Não associamos emoções fortes com cores suaves: o vermelho pode repre-
sentar a paixão e o inferno; o amarelo, a riqueza e a alegria. E os tons pastéis ten-
dem a nos passar paz, tranquilidade, harmonia. Assim, o azul representa a tranqui-
lidade e o céu; o branco remete à paz; o lilás, à espiritualidade.
Por estimular nossas emoções e sentidos, há quem acredite que as cores inter-
ferem na nossa saúde. A milenar cultura indiana, por exemplo, pratica a terapia
cromática. No tratamento, expõe-se a água à luz do sol, com um filtro colorido.
A água é ingerida pelo paciente, cujo organismo capta a cor da qual seu corpo
carece.
A ciência tem confirmado essa interferência das cores na saúde e comportamen-
to humanos. Com base em resultados alcançados por experimentos científicos,
pesquisadores têm sugerido algumas mudanças acerca do uso das cores. Logo,
deve-se evitar a cor laranja e vermelha em ambientes com doentes mentais, pois
tais cores os deixam confusos, já que sinalizam tanto o amor, a paixão, quanto
a violência, o orgulho e o poder; sugere-se que os administradores de hospitais
substituam o branco das paredes por tons pastéis, evitando, assim, a impressão de
solidão em pacientes deprimidos.
Fonte: adaptado de Revista Superinteressante (2016, on-line)4.
afirmação de que “a ciência tem confirmado essa interferência das cores na saúde
e comportamento humanos”.
GERENCIANDO A ARGUMENTAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO-ROTEIRO
Exemplo:
A corrupção praticada pelo povo é um problema muito sério e é importante que
conheçamos suas causas e consequências.
A lama que escapou da barragem da mineradora Samarco exterminou o distri-
to de Bento Rodrigues, no município de Mariana/MG. O mar de barro arrastou
casas, veículos, animais, árvores e tudo o que tinha em seu caminho, inclusive
pessoas, e resultou na morte de 19 delas, entre moradores e funcionários da
mineradora. Afora as perdas de vidas e bens materiais, a invasão dessa enxurrada
de lama contaminada com óxido de ferro causou um severo impacto ambiental.
Abordemos sua abrangência na região.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: as autoras.
INTRODUÇÃO-TESE
A introdução-tese aponta aquilo que o autor pretende provar, ou seja, traz a tese
a ser defendida.
Exemplo:
Muitos pais não se preocupam com o tema das histórias em quadrinhos que seus
filhos têm em mãos. Contudo, não é porque pertence ao gênero quadrinístico
que o produto é indicado para crianças.
Neste exemplo, qual é a tese a ser defendida? A tese é que há HQ cuja leitura não
se recomenda para crianças, ou seja, são histórias para adultos: “não é porque
pertence ao gênero quadrinístico que o produto é indicado para crianças”. Logo,
os demais parágrafos deverão provar essa afirmação.
Fonte: as autoras.
Esse tipo de introdução traz exemplos de como a situação a ser discutida ocorre.
O exemplo pode ser real, fictício ou provir da literatura.
A Introdução
136 UNIDADE IV
Exemplo:
Um barulho estrondoso, aterrorizante que acorda a adolescente C.R. toda noite.
O cheiro de lama que não sai das narinas. A força para não dormir e sonhar com
a lama cobrindo tudo o que encontrava pela frente: casa, animais, gente, sonhos.
Este é o resultado psicológico de algumas vítimas do rompimento da barragem
de Fundão da mineradora Samarco.
Fonte: as autoras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTRODUÇÃO-INTERROGAÇÃO
Exemplo:
Após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, quais as providências
tomadas para amparo às famílias, vítimas da tragédia?
O uso de smartphones tem crescido no mundo todo, devido a sua populari-
zação. No Brasil, essa tecnologia tem sido o desejo de consumo inclusive de
crianças. Porém, quais são as consequências do uso de telefones celulares para
nossas crianças?
Fonte: as autoras.
A CONCLUSÃO
CONCLUSÃO-RESUMO
Exemplo:
Observamos, dessa maneira, que a tragédia causada pela mineradora Samarco
vai muito além dos danos ecológicos e materiais.
Fonte: as autoras.
A Conclusão
138 UNIDADE IV
CONCLUSÃO-PROPOSTA
Exemplo:
Conforme os problemas psicológicos levantados nos depoimentos das vítimas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da tragédia em Mariana, espera-se que elas sejam assistidas não só em questões
financeiras, mas que sejam cuidadas de forma específica no que tange aos danos
não materiais, com tratamento psicológico e de qualidade.
Fonte: as autoras.
CONCLUSÃO-SURPRESA
Exemplo:
Pelo que foi discutido, as adaptações de clássicos em quadrinhos podem ser sur-
preendentes, com resultado divertido e de alto grau de elaboração estética, lem-
brando-nos da máxima do honorável químico francês Antoine Lavoisier: ‘Na natu-
reza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’ e pode transformar-se com
louvor. Que os suplementos de leitura não percam isso de vista.
Fonte: as autoras.
Após o término da escrita de seu texto, é necessário fazer uma revisão bem crí-
tica, a fim de aprimorá-lo. Para tanto, é necessário:
■■ Rever a coesão. A passagem de uma parte para outra precisa ter a transi-
ção necessária. Usar sentenças-chave, palavras-elo, frases-ponte.
■■ Buscar contradições.
■■ Verificar se a proposta da introdução foi cumprida.
■■ Eliminar as rasuras, se for possível, faça de novo.
■■ Procurar ser conciso(a), eliminando rodeios e repetições, com isso, ganha-
-se clareza e objetividade.
■■ Eliminar as frases feitas: lugares-comuns, clichês empobrecem o texto e
revelam uma linguagem limitada. Exemplo: “Porque o futuro é de todos
nós” / “Devemos unir nossos esforços”.
■■ Cada parágrafo deve conter uma ideia central.
■■ O título deve ser interessante.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tando. Depois, reescreva-o. Se for possível, digite-o.
ARQUITETANDO UM TÍTULO
O título, geralmente, é o primeiro elemento lido de um texto. Sua função
articuladora é dupla: despertar o interesse do interlocutor e indicar a temá-
tica abordada no texto. Como elemento compositivo que exerce influência
decisória para a leitura, precisa de atenção especial para sua elaboração. Um
título pode ser: impertinente (não ter relação com o tema), pertinente (pos-
suir coerência com a temática desenvolvida) ou convidativo (indicar o as-
sunto abordado e estimular a leitura), conforme Zanini e Menegassi (1996).
Seguem diretrizes para a escrita de títulos pertinentes e convidativos:
Em poucas palavras, pelo título, comunique a principal discussão do texto.
Arquitete uma estrutura composicional criativa.
Só empregue pontuação se for expressiva ou necessária.
Quando possível, desperte o interesse do leitor com ideias curiosas, polêmi-
cas, ou sugestão de benefício, senso de urgência.
Se for pertinente, prefira verbos no presente do indicativo, por se mostra-
rem impactantes.
Fonte: adaptado de Martins Filho (1997) e Zanini (1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a)! Nesta unidade, esperamos que você tenha percebido que
o aprimoramento da escrita depende de seu trabalho de escrever com empe-
nho: observando estruturas, corrigindo seus erros e reescrevendo seus textos.
A partir desses cuidados, você passará a ter maior flexibilidade quanto às estru-
turas textuais, dando liberdade a seu próprio estilo. Mas lembre-se: o insumo
para a conquista de uma escrita melhor parte das suas leituras, do seu olhar crí-
tico para os textos que lê. Um olhar que abrange conteúdo e estrutura do gênero
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textual lido. Escrever é trabalho árduo. Mas vai ficando cada vez mais eficiente
e rápido com a prática.
Em contexto de provas e na elaboração de gêneros textuais mais longos,
aplique o que foi abordado nesta unidade. Vamos relembrar alguns cuidados
importantes.
Reflita sobre o tema. Se for preciso, delimite-o, explicitando um recorte de
abordagem possível. Com o tema delimitado, não se constranja: pare e pense no
assunto a ser escrito, busque, em suas memórias, o que você sabe sobre o tema.
Em seguida, registre as ideias na desordem em que chegam, pois toda lembrança
referente ao tema a ser escrito é válida, neste momento: algum aspecto teórico,
exemplos reais e/ou fictícios (literários ou criados por você), experiências pesso-
ais ou de terceiros, manchetes de jornais, polêmicas etc. Quando terminar isso,
organize essas ideias. No registro de ideias, agrupe as informações que possuam
algo em comum: reúna os exemplos, junte as causas e as respectivas consequên-
cias, os argumentos favoráveis e os desfavoráveis.
Com isso, você iniciará uma lógica para estruturar o desenvolvimento do
seu texto. Agora sim, planeje seu texto. A introdução deve apresentar o tema
e sua importância, a tese a ser defendida (se for o caso); no desenvolvimento,
ordene o tipo de informação a ser discutida, conforme a organização das ideias
feita anteriormente; na conclusão, decida com que tipo de informação você fina-
lizará o texto.
Pratique e escreva melhor!
Considerações Finais
142
Em todo esse trecho do artigo, está presente um tom firme de crítica. Sobre essa
presença, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) A primeira menção de crítica está na interrogativa “Por que, então, o Brasil é
tão cruel com seus doentes?”, constante do primeiro parágrafo.
( ) Nos três parágrafos, a autora apresenta marcas linguísticas para expressar
que a referida crise não acontece no Brasil há pouco tempo.
( ) A ideia de que a referida crise não é atual está no segundo parágrafo apenas,
no trecho “não é novidade a falta de médicos, leitos, remédios e equipamentos”.
( ) A crítica no final do trecho volta-se aos políticos que, segundo a articulista,
dedicam-se à vida real, posto que se enriquecem no poder.
( ) No terceiro parágrafo, foi ampliado o alcance da crítica à crise brasileira que,
antes, era citada somente na Saúde.
145
- Como o autor constrói sua argumentação? com argumentos de autoridade? Com ilus-
trações, estatísticas e gráficos? Os argumentos são variados?
- Como o autor termina o texto? Que informações ele traz nessa parte?
- Esse autor é claro e objetivo? Ele é irônico? Ele é intolerante junto a argumentos con-
trários?
A orientação final para quem quer escrever melhor é: escreva muito, reflita sobre o pro-
cesso, aprimore todo texto que escrever, reescrevendo-o e sempre busque o melhor
resultado.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Se você costuma postar artigos na web, vale a pena acessar o link abaixo para ler o artigo de
Henrique Carvalho que traz alguns direcionamentos válidos para a composição de títulos que são
verdadeiros chamarizes para os leitores. O autor apresenta a técnica AIDA para composição de
títulos, um acrônimo, cuja tradução significa: atenção; interesse; desejo; ação. Acesse o conteúdo
disponível em: <http://viverdeblog.com/como-escrever-titulos/>.
151
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://www.portasabertas.org.br/classificacao/perfil/coreiadonorte/>.
Acesso em: 13 nov. 2016.
2
Em: <http://www.infoescola.com/historia/comunismo-no-mundo-atualmente/>.
Acesso em: 19 mai 2016.
3
Em: <http://www.dicasdeetiqueta.com.br/netiqueta/>. Acesso em: mai 2016.
4
Em: <http://super.abril.com.br/comportamento/jogo-de-cores>. Acesso em: mai
2016.
5
Em: <http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/tabagismo/o-fumo-em-
-lugares-fechados-3/>. Acesso em: 20 mai 2016.
REFERÊNCIAS
6
Em: <http://cmba.org.br/materias.asp?id=13&materia=59&conteudo=Beijar+-
desencadeia+um+coquetel+de+subst%C3%A2ncias+qu%C3%ADmicas+que+-
governam+o+stress%2C+a+motiva%C3%A7%C3%A3o%2C+as+rela%C3%A7%-
C3%B5es+sociais+e+a+estimula%C3%A7%C3%A3o+sexual>. Acesso em: 20 jul.
2014.
7
Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Anne_Frank>. Acesso em: 28 nov. 2016.
153
GABARITO
1. D.
2. C.
3. D.
4. C.
Professora Dra. Angela Enz Teixeira
PONTUAÇÃO EXPRESSIVA E
V
UNIDADE
USO DA VÍRGULA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Ampliar a noção do aluno sobre a pontuação para além de sua
importância para com a coerência textual, mostrando que a
pontuação pode contribuir para a expressividade dos textos, como os
artísticos, por exemplo.
■■ Estudar a especificidade dos vários sinais de pontuação, com ênfase
em seus efeitos significativos e expressivos em diversos gêneros
textuais.
■■ Enfatizar as principais regras para uso de vírgula, visando à produção
de textos mais coesos e coerentes.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Pontuação: definição e funções
■■ Sinais de pontuação e expressividade
■■ Sobre vírgula
■■ Dúvidas frequentes – vale a pena saber
157
INTRODUÇÃO
Introdução
158 UNIDADE V
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PONTUAÇÃO: DEFINIÇÃO E FUNÇÕES
Para entendê-la sob uma concepção restrita, conforme Evanildo Bechara (2000),
a pontuação é um sistema de reforço da escrita, que objetiva organizar as relações
e a proporção das partes textuais. Esse sistema é composto por sinais gráficos,
que podem ser distribuídos, dentre outras perspectivas, em:
■■ Sinais separadores, tais como, ; . ! ? ...
■■ Sinais de comunicação, tais como, ‘’ “ “ - — ( ) [ ]
PARA ESCLARECER
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resolva a situação seguinte, marcando de forma adequada a vírgula:
SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE
QUATRO À SUA PROCURA1.
1
Com ênfase na superioridade masculina: Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de
quatro à sua procura.
Com ênfase na superioridade feminina: Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro
à sua procura.
Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito — como não imaginar que, sem
querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma
hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, viver
em voz alta.
Às vezes, também, a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse
por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de
cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca sabe-
rei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse
com naturalidade porque senti no momento — e depois Wesqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário e o canário não cantava. De-
ram-lhe receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, ba-
tesse alguma coisa no piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em
sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo,
outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante a
transmissão de jogo de futebol... Mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma peque-
na frase melódica de Beethoven — e o canário começou a cantar alegremente.
Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno
pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído — talvez palavras de algum poeta antigo —
foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente
soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste
tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as
suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.
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Quanto ao sinal de interrogação, esse é colocado no final da oração com entona-
ção interrogativa ou de incerteza, sendo essa entonação real ou fingida, como é o
caso da pergunta retórica, explica Bechara (2000). Na crônica acima, nos pará-
grafos 1º e 5º, verificamos que as perguntas não se destinam a um interlocutor, a
um personagem, nem a um leitor hipotético. A interrogação marca reflexões do
próprio narrador, reflete seus pensamentos endereçados a si mesmo. O 1º pará-
grafo traz uma pergunta retórica. Não há dúvida: o narrador reconhece que, por
ter escrito muito, acredita ter ofendido alguém. Logo, a pergunta não é para ser
respondida. Quanto ao 5º parágrafo, este traz uma pergunta reflexiva, o narra-
dor questionando-se sobre a ligação entre as músicas de Beethoven e o pássaro.
É um pensamento seu, também não requer resposta.
A utilização do travessão e a do ponto e vírgula nesta crônica serão aborda-
das nos tópicos seguintes.
COMBINAÇÕES EXPRESSIVAS
Embora cada sinal de pontuação apresente sua função, eles também são
usados de forma combinada para enfatizar significados.
Exemplo:
— Fátima, sua irmã não chegou de viagem ainda?! Mas ela não disse que
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— ?!...
— Bem... então... teremos que adiar a festa surpresa...
— Ah! Sabrina, era isso...
Interrogação + exclamação sinaliza uma pergunta retórica com preocupa-
ção. A repetição dos mesmos sinais (??? e !!!) indica ênfase na pergunta e
na exclamação. O segundo travessão chega ao extremo de possuir 4 sinais
de pontuação juntos. Tal uso sinaliza que Fátima não entende o nervosis-
mo e a preocupação de Sabrina. As reticências, na penúltima fala, indicam
interrupção e incompletude de pensamentos, é como se Sabrina estivesse
pensando o que fazer; enquanto na última fala, as reticências evidenciam
que Fátima não entendia a agitação de Sabrina e que passou a entender.
Fonte: as autoras.
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Quadro 04 - Exemplo de utilização de travessões simples
“Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi
despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém.”
Fonte: Braga (2005).
Use dois pontos para iniciar uma sequência que explica, esclarece, identifica,
desenvolve ou discrimina uma ideia anterior. Os dois pontos sempre chamam a
atenção para o que vem depois.
Lana queria sair com as amigas. Seu pai, contudo, não a deixou sair naquela noite.
Lana queria sair com as amigas; seu pai, contudo, não a deixou sair naquela noite.
Lana queria sair com as amigas; contudo, seu pai não a deixou sair naquela noite.
Lana queria sair com as amigas, seu pai, contudo, não a deixou sair naquela noite.
- (Note que a vírgula depois de “amigas” não facilita a oralização do período, por
conter outras vírgulas próximas. Há a necessidade de uma pausa maior).
Fonte: as autoras.
O “ponto e vírgula” pode ser usado para apartar orações muito extensas ou para
despoluir o texto do excesso de vírgulas, como o último exemplo acima.
O uso de ponto e vírgula, porém, é obrigatório para separar os itens dos
enunciados enumerativos. Eis um exemplo:
Os itens integrantes de uma resenha crítica acadêmica são:
■■ Referência nas normas da ABNT;
■■ Título para a resenha;
■■ Nome do resenhista;
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ção sobre o autor do livro resenhado; resumo; descrição livro; aspectos positivos
e negativos da obra resenhada; comparação com outra obra do mesmo tema.
Retomando a crônica de Braga (2005), avalie o uso de ponto e vírgula empre-
gado pelo autor. Em qual dos parágrafos o emprego de ponto e vírgula é diferente:
no 2º, no 3º, no 4º ou no 6º parágrafo? Por quê?
Nos 2º, 3º e 6º parágrafos, o uso de ponto e vírgula é similar, separando ideias
independentes. Contudo, no 4º parágrafo, o uso de vírgula é bastante acentuado,
logo, o emprego de ponto e vírgula separa grupos de ideias basilares diferentes
acerca dos recursos para fazer o canário cantar. Cada grupo possui ou não dire-
trizes que são organizadas por vírgulas obrigatórias.
Assim, o uso de ponto e vírgula separa essas ideias-base independentes,
facilitando a apreensão dos sentidos: receitas; atitudes com o uso de som, tais
como falar, cantar, tocar piano; deixar a ave perto; arrumar outro canário; ligar
o rádio em jogo de futebol.
Grande parte dos usos das reticências é extremamente expressiva, por isso,
devemos ter cuidado ao utilizá-las em gêneros textuais formais. Normalmente,
nesses casos, as reticências são usadas para indicar supressão em citações, como
no exemplo abaixo:
[...] a partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky sobre as hipóteses de
escrita formuladas pelas crianças, disseminou-se a ideia de que o uso
de letras soltas (de fôrma ou script) no início da alfabetização seria ide-
al, tendo em vista que a criança utilizaria entre seus critérios de raciocí-
nio sobre a escrita a quantidade e a variedade de caracteres grafados ao
escrever. Com o uso da escrita cursiva, o raciocínio sobre a quantidade
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Lendo o exemplo acima, notamos que as reticências sugerem que a lista de recei-
tas ou conselhos para fazer com que o canário cantasse era mais longa ainda.
Um dos efeitos de sentido possível é que a dona do canário já estivesse cansada
de ouvir e tentar tantas coisas, já que nada deu certo.
Leia o texto “O testamento” apresentado no Quadro 7, e pontue-o nas situ-
ações 3 e 4. Marque as iniciais maiúsculas quando necessário.
O TESTAMENTO
Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu
assim: “Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a
conta do padeiro nada dou aos pobres.”
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna? Eram quatro
concorrentes.
1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:
“Deixo meus bens a minha irmã? não! a meu sobrinho. jamais será paga a conta do
padeiro. nada dou aos pobres.”
2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:
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“Deixo meus bens a minha irmã. não a meu sobrinho! jamais será paga a conta do
padeiro. nada dou aos pobres.”
3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:
“Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
padeiro nada dou aos pobres.”
4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpre-
tação:
“Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
padeiro nada dou aos pobres.”
Moral da história: “A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós
é que fazemos sua pontuação. E isso faz toda a diferença…”
Fonte: adaptado de Ventura (1973).
ra o século XIII apresente manuscritos sem elas. Foi somente no século XVII
que a acentuação e a pontuação foram, plenamente, colocadas em prática.
Vamos testar como era?
Com o aprimoramento, chegamos a isso: “O timbre aberto era dado pela
duplicação das vogais a, e e o. O ponto, às vezes, se colocava entre cada
palavra. Depois, seu uso se restringiu” (MORAES, 2008).
Fonte: adaptado de Moraes (2016, on-line)2.
SOBRE A VÍRGULA
Sobre a Vírgula
170 UNIDADE V
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Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula DA sua informação.
Fonte: adaptado de Campanha… (2016, on-line)3.
Há pausas que não são vírgulas e há vírgulas que não são pausas. Mais im-
portante do que a pausa é a mudança de tom. A vírgula corresponde muito
mais à mudança de tom do que à pausa.
(Celso Pedro Luft)
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PRINCÍPIO BÁSICO
Sujeito Predicado
As crianças / trazem singelos presentes à professora durante o ano todo.
■■ Verbo: trazem.
■■ Objeto direto: singelos presentes.
■■ Objeto indireto: à professora.
■■ Locução adverbial: durante o ano todo.
Princípio Básico
Sobre a Vírgula
172 UNIDADE V
EMPREGA-SE VÍRGULA
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1- Para separar termos que exercem a mesma função sintática – sujeito com-
posto, complementos, adjuntos – quando não vêm unidos por “e”, “ou” e “nem”.
2- Para isolar as intercalações: aposto, orações que funcionam como tal, orações
subordinadas adjetivas explicativas, adjunto adverbial e orações subordinadas
adverbiais (OSA).
Como nos exemplos acima, se a OSA vier anteposta ou intercalada à oração prin-
cipal, a vírgula é obrigatória:
Fonte: as autoras.
Sobre a Vírgula
174 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quadro 15 - Exemplo de utilização de vírgula
Fonte: as autoras.
Oi, professora,
Você conhece um bom livro sobre oratória?
Ligar para os pais do garoto foi, sem dúvida, o que deveria ter sido feito.
Quero exemplos de penteados, aliás, de penteados com tranças.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: as autoras.
Podemos usar uma vírgula para indicar a omissão de uma palavra (geralmente
o verbo).
Sobre a Vírgula
176 UNIDADE V
Fonte: as autoras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DÚVIDAS FREQUENTES – VALE A PENA SABER
Mesmo tendo visto tantas regras, ainda vão restar dúvidas. É possível que não
esclareçamos muitas, devido ao uso muito particular que cada indivíduo faz da
escrita. Todavia, seguem algumas questões frequentes.
E antes da conjunção “e”? A conjunção “e” tem a função de unir elementos; a vír-
gula tem a função de separar, e aí? Fácil…
Discursou bonito e ganhou muitos votos. (o não uso da vírgula é correto, pois os
verbos possuem o mesmo sujeito).
Discursou bonito, nas duas reuniões, e ganhou muitos votos. (vírgula correta,
informação intercalada).
Discursou bonito, e ganhou muitos votos. (vírgula proibida!).
Fonte: as autoras.
Outra dica: quando orações ligadas pela conjunção tiverem sujeitos diferentes,
recomenda-se usar a vírgula, embora ela seja facultativa.
Fonte: as autoras.
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Camila chegou do exterior e foi recebida com muito carinho pela família; e cho-
rou, e abraçou, e ficou confusa, e chorou de novo, e sentiu-se em casa.
Fonte: as autoras.
Opa de novo! E quando o “e” significar algo que separa? Usa-se vírgula, né!
Ela bebeu muito suco, e não conseguiu emagrecer! (Este “e” tem valor adversativo,
significa “mas”).
Fonte: as autoras.
VÍRGULA E “ETC”
Variam os casos em que devemos usar vírgula antes da conjunção “ou”. Para pon-
tuá-la adequadamente, devemos buscar a regra que se aplica ao caso.
Para Evanildo Bechara (2000), devemos usar a vírgula para separar:
■■ Orações coordenadas alternativas (ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja...
seja etc.). Essas orações expressam ideia de alternância de fatos ou escolha.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino.
Fonte: as autoras.
VÍRGULA E “ENTÃO”
Estamos de regime, então vamos fazer uma sobremesa com frutas e iogurte.
Estamos de regime, vamos, então, fazer uma sobremesa com frutas e iogurte. (Se
a conjunção então estiver deslocada, deve vir entre vírgulas).
Fonte: as autoras.
Em certos contextos, o “então” será um advérbio e terá outros sentidos. Por ser
advérbio curto, de uma única palavra, pode vir com ou sem vírgulas. Mas lem-
bre-se: duas vírgulas ou nenhuma. Celso Luft (1996), porém, analisa os advérbios
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e mostra que alguns deles não devem carregar vírgulas, é o caso do “talvez” e
do “também”, como veremos abaixo, seguindo o uso do “não” – que também é
advérbio.
Naquela época
Naquele momento
Foi então que tomou a mais difícil decisão de sua vida: deixar o namorado
amado.
Foi, então, que tomou a mais difícil decisão de sua vida: deixar o namorado
amado.
Fonte: as autoras.
Assim sendo
Se for para ficar pedindo tudo no mercado, então você fica em casa. (Esta vírgula
é da oração condicional, não do “então”).
Se for para ficar pedindo tudo no mercado, então, você fica em casa.
Fonte: as autoras.
O “bem como” é uma locução conjuntiva. O uso de vírgulas, nesse caso, depende
do contexto. Vejamos duas situações.
Situação 1:
Essa ética criada pelo calvinismo foi muito bem aceita pela burguesia mercan-
til, já que o trabalho, bem como o acúmulo de riquezas, também foi visto como
uma forma de manifestação da vontade divina.
Na situação 1, o trecho sublinhado, que está entre vírgulas, é uma ideia
intercalada para dar ênfase à ideia anterior – o trabalho. O que comprova a inter-
calação é a locução verbal no singular (foi visto) que concorda com o sujeito
simples (o trabalho). E, como já vimos, ideias intercaladas exigem vírgulas antes
e depois delas.
Já na situação 2, a vírgula é proibida.
Situação 2:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
junção “e” junta ideias. Além disso, o verbo no plural (apreciam) concorda com
o sujeito composto.
VÍRGULA E “COMO”
Pode-se usar vírgula ou não antes do “como”. Normalmente, se for possível subs-
tituir o "como" por "por exemplo", temos a pausa:
Vimos muita gente famosa, como Gisele Bündchen, Angelina Jolie, Leonardo
DiCaprio etc.
Vimos muita gente famosa, por exemplo, Gisele Bündchen, Angelina Jolie, Leo-
nardo DiCaprio etc.
Fonte: as autoras.
Nos demais casos, quando o como denota comparação ou indica modo, não
temos vírgula.
VÍRGULA E “TALVEZ”
Não se usa vírgula após o “talvez”. Se necessário, a vírgula vem antes. Segundo
Luft (1996), o “talvez” impele o subjuntivo ao verbo que o sucede, sendo, por-
tanto, uma ligação íntima que a vírgula não deve separar.
Fonte: as autoras.
VÍRGULA E “TAMBÉM”
Tanto o “também” quanto o “não” são advérbios de uma única palavra que não
devem ser isolados por vírgulas – a não ser que outra situação contextual exija –,
isso porque o “também” é uma partícula de inclusão, e o “não” é uma partícula
de negação, ou seja, estabelecem relação íntima entre suas sequências, relação
que a vírgula não deve separar, expõe Luft (1996).
Quadro 33 - Exemplo de utilização de vírgula e “TAMBÉM”
VÍRGULA E “SIM”
Como enfatiza Luft (1996, p. 46), “partícula entre vírgulas quer dizer elemento
intercalado. Mero acessório explicativo ou coisa parecida”. Assim, quando a
partícula é acessória, um encaixe apenas, ela pode ser suprimida ou trocada de
lugar sem mudar o sentido da frase; nesse caso, pode vir entre vírgulas. Mas se
ela é determinante de sentido, não pode vir “marginalizada” com as vírgulas.
Compare os períodos:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Note que os períodos à direita possuem o mesmo sentido, com o “porém” mudando
de lugar ou sendo suprimido. É palavra de encaixe, neste caso. O mesmo acon-
tece com o sim? Vejamos:
Pelos exemplos, vemos que “e sim” é uma unidade inseparável que indica uma
ideia adversativa, significa “mas”. Logo, só pode ser antecedida de vírgula.
Contudo, se o “mas” acompanhar o “sim”, teremos uma ênfase que pede a
vírgula, porque o “mas” sozinho já é suficientemente adversativo e o “sim” é sim-
ples encaixe.
As mulheres não querem deixar de comer; mas, sim, emagrecer. (vírgula correta, o
“sim” é encaixe).
As mulheres não querem deixar de comer; mas emagrecer, sim. (vírgula correta,
pois sem o “sim”, o período não perde o sentido).
As mulheres não querem deixar de comer; mas emagrecer. (não perde o sentido
sem o “sim”).
O “sim” e o “não” devem ser separados por vírgula quando forem respostas.
Fonte: as autoras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, mostramos como a pontuação pode ser expres-
siva e como ela intervém na construção dos sentidos pretendidos a partir do
texto. Pela pontuação adequada, podemos traduzir para o texto escrito uma
possível reação emocional de um interlocutor, dando vivacidade ao texto. Já em
relação aos gêneros formais, a pontuação adequada organiza de forma lógica e
prática o conteúdo, facilita o entendimento das informações e a vocalização do
texto, quando necessário.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A fim de apresentar a você informações que julgamos interessantes, úteis e
aplicáveis, trouxemos aplicações diferenciadas dos sinais de pontuação que você
pode usar em seus textos formais. A abordagem das reticências será útil para
suas atividades de leitura e escrita, mas acreditamos que você deve ter percebido
que as reticências não se adequam a diversos gêneros textuais acadêmicos, certo?
Contudo, nos gêneros informais você pode utilizá-las com muita eficiência. E se
você gosta de produzir textos artísticos (músicas, poemas, contos, romances, peças
publicitárias etc.), que tal dar um colorido novo a eles, por meio da pontuação?
Para facilitar as explicações, exploramos exemplos variados para ativar sua
capacidade de reflexão para a escrita, inter-relacionando a teoria com a prática.
Enfatizamos o uso da vírgula, por este ser o sinal de pontuação de maior
uso e com mais regras. Por isso, destacamos os casos geradores de dúvidas, mas
privilegiamos a reflexão sobre a regra básica, muitas vezes, esquecida, mas cujo
conhecimento e aplicação podem facilitar (e muito!) a apreensão dos sentidos
pelo leitor.
Não era pretensão desta unidade (nem poderia) esgotar o assunto. Assim,
sugerimos que você busque, em gramáticas, as explicações dos sinais de pontua-
ção não explorados aqui e que aplique os conhecimentos novos em seu cotidiano
de escrita.
3. (UFRRJ) Marco Túlio Cícero, tão famoso quanto Demóstenes na área da retórica,
sempre dizia: Prefiro a virtude do medíocre ao talento do velhaco.
Neste período, está faltando um sinal de pontuação.
a. Vírgula.
b. Ponto e vírgula.
c. Ponto de exclamação.
d. Reticência.
e. Aspas.
d. Eu jurei, ficar contigo na saúde e na doença até que a morte nos separasse foi
isso o que juramos e agora, você quer, ir embora.
e. Durante o treinamento conduziram-me ao segundo andar, mas só mais tarde
notei, que me achava em um departamento onde nada tinha a ver com mi-
nhas habilidades e preferências.
a. 1 e 3.
b. 1 e 6.
c. 3 e 4.
d. 2 e 5.
e. 5 e 7.
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O ponto de interrogação, à semelhança dos outros sinais, não pede que a oração termi-
ne por ponto final, exceto, naturalmente, se for interna: “Esqueceu alguma cousa? per-
guntou Marcela de pé, no patamar” ([MA.1,50].
A interrogação indireta, não sendo enunciada em entonação especial, dispensa ponto
de interrogação. O nosso sistema gráfico não distingue o ponto de interrogação da per-
gunta de sim-ou-não da pergunta total.
No diálogo pode aparecer sozinho ou acompanhado do de exclamação para indicar o
estado de dúvida do personagem diante do fato:
__ Esteve cá o homem da casa e disse que do próximo mês em diante são mais cinquen-
ta...
__?!... [ML.1, 226].
Em português, em geral se despreza o cômodo expediente do espanhol de indicar a
interrogação no início da oração, com sinal invertido: ¿O José chegou? Alguns escritores
nossos fizeram uso deste expediente”.
Obs.
MA.1 = Memórias Póstumas de Brás Cubas, 4. ed. Garnier, 1899.
ML.1 = Cidades mortas. São Paulo, editora Brasileira, s.d.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
2
Em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/sinais-de-pontuacao-ori-
gem-historica-dos-sinais.htm>. Acesso em: 2 nov. 2016.
Em: <https://www.youtube.com/watch?v=uWKpx5Ls1zg>. Acesso em: 2 nov. 2016.
3
4
Em: <http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/237642/Estado-tamb%-
C3%A9m-atira-Eduardo-Cunha-ao-mar.htm>. Acesso em: 12 jun. 2016.
193
GABARITO
1. B.
2. C.
3. E.
4. A.
5. D.
CONCLUSÃO