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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj – 5 a 9 de setembro de 2005

A Gestão da Educomunicação na Saúde: Análise de uma Experiência1

Cláudia Lago – Faculdades Montessori


Denise Guedes Condeixa – Secretaria Municipal da Saúde
Richard Romancini – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo 2

Resumo

Durante o ano de 2004 a Gerência de Comunicação e Educação da Coordenação


da Vigilância em Saúde do Município de São Paulo contratou, junto a UNESCO, a
assessoria de consultores para auxiliar a formação de um modelo de gestão com base
nos princípios da educomunicação. A consultoria desenvolveu uma série de estratégias
com esse fim, como seminários internos, coordenação do Curso de Gestão de
Formadores em Educomunicação em Saúde, bem como materiais educomunicativos,
como o Almanaque Dant, publicação da Gerência de Doenças e Agravos Não
Transmissíveis. O presente trabalho tem por objetivo detalhar essas estratégias,
inscrevê-las no quadro mais amplo das iniciativas de promoção da saúde, bem como
avaliar a viabilidade e necessidade da implantação dos pressupostos educomunicativos
junto ao campo da saúde.

Palavras-chave

Promoção da Saúde; Gestão da Educomunicação; Dant; Formação.

O Município de São Paulo assumiu, a partir de agosto de 2003, a Gestão Plena


do Sistema de Saúde, reafirmando o compromisso com o SUS - Sistema Único de
Saúde. A idéia então era consolidar a regionalização como base para a configuração dos
sistemas hierarquizados de serviços de saúde, como uma estratégia para a eqüidade. Um
dos desafios colocados na época foi a implantação do Sistema Municipal de Vigilância
em Saúde através da organização de novas atribuições e reorganização da rede de
vigilância em saúde de nível central, regional e local. Para tanto, foi criada a
Coordenação da Vigilância em Saúde (Covisa).
Além da mudança das alçadas de atuação, o processo colocado em curso
buscava mudar as práticas, orientando-as para a promoção da saúde, calcando-as na

1
Trabalho apresentado à Sessão de Mesas Temáticas, Mesa Temática Número 11.
2
Cláudia Lago é jornalista, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em
Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Professora da FAMEC, atua como gestora de comunicação do NCE-
ECA/USP e foi, de junho de 2004 a maio de 2005, consultora da UNESCO junto à Secretaria Municipal da Saúde.
Faz parte do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor). Denise
Guedes Condeixa é assistente social, responsável pelos projetos de educação dentro da equipe DANT da
Coordenação da Vigilância em Saúde do Município de São Paulo (Covisa). Foi gerente da Gerência Comunicação e
Educação da Covisa de 2002 a janeiro de 2005. Richard Romancini é Mestre e doutorando em Ciências da
Comunicação pela ECA/USP. Pesquisador do NUPEM - Núcleo de Pesquisa do Mercado de Trabalho em
Comunicações e Artes da ECA/USP. Foi consultor da UNESCO junto à Covisa de outubro de 2004 a maio de 2005.

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educação, a partir da socialização de informações de forma eficiente para a população


alvo, ou seja, organizando um processo comunicativo/educativo (ou educomunicativo,
como preferimos definir) eficaz, que atingisse a população e que incentivasse realmente
a transformação das práticas que implicam em riscos para a saúde (como por exemplo a
mudança dos hábitos frente à ameaça da dengue, ou ao não tratamento contínuo da
tuberculose – duas grandes áreas de intervenção da Covisa).
A Covisa nasce com uma Gerência de Comunicação e Educação (Com&Edu) 3 ,
que deveria ser articulada com outras estruturas de comunicação do nível central da
Secretaria Municipal da Saúde, como Assessoria de Imprensa, o Apoio Logístico da
Administração Central e o Núcleo de Multimeios do Centro de Formação dos
Trabalhadores da Saúde (CEFOR), do Centro de Controle de Zoonoses. Mas,
principalmente, a Com&Edu tem a meta de implementar uma rede comunicacional para
a saúde, baseada na articulação com 31 interlocutores para a comunicação, oriundos das
Coordenadorias de Saúde nas subprefeituras da cidade de São Paulo.
A Com&Edu tinha a atribuição de ser o órgão responsável pela elaboração de
estratégias e materiais de divulgação, bem como projetos integrais de comunicação e
educação para a saúde, estando em sua essência a preocupação com a mudança das
práticas de comunicação, no âmbito externo, isto é, junto à população, e no âmbito
interno, junto aos inúmeros profissionais que atuam na área, desde os centrais, até os
locados nas subprefeituras.
A gerência foi construída com a missão de criar instrumentos de articulação dos
diversos setores da sociedade, enfatizando a perspectiva da co-responsabilidade
individual e grupal, a da participação e co-gestão dos recursos destinados à Saúde e a
possibilidade de interferência real na política de promoção da saúde e qualidade de vida.
A Com&Edu foi idealizada como um sustentáculo das ações de vigilância em saúde, a
partir da política de saúde central e da análise dos indicadores da Vigilância.

3
Desde a década de 80 do século XX a OMS destaca a Promoção em Saúde, enfatizando a importância da
participação ativa da população, e identificando sete princípios caracterizadores das políticas assim referenciadas:
concepção holística, intersetorialidade, empoderamento, participação social, equidade, ações multi-estratégicas e
sustentabilidade (WHO, 1998). A OMS compreende a promoção em saúde (Sicoli e Nascimento, 2003) como
“intimamente relacionada à vigilância em saúde”. Por outro lado, o Ministério da Saúde, em todos os documentos
sobre Promoção em Saúde, evidencia a necessidade de reorientar os serviços de saúde: “o papel do setor saúde deve
mover-se, de maneira gradativa, no sentido da promoção de saúde, além das suas responsabilidades de promover
serviços clínicos e de urgência”. (Ministério da Saúde, 1996). Para que este conceito seja operacionalizado a
“disseminação da informação e educação (são), bases para a tomada de decisão e componentes importantes da
promoção da saúde” (Sicoli e Nascimento, 2003). Nesse sentido, a Com&Edu foi desenhada como um instrumento
estratégico para auxiliar a elaboração de políticas de promoção em saúde. Estas, por sua vez, requerem para ser
operacionalizadas a cooperação entre diferentes setores e a articulação de suas ações, envolvendo iniciativas em
vários âmbitos, incluindo educação e disponibilização de informação para a população.

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Um dos pressupostos de sua atuação foi a criação de instrumentos de


capacitação dos envolvidos para a democratização da informação, tanto dentro da
hierarquia da Covisa, quanto junto às unidades básicas que, por sua vez, têm atuação
direta junto à população.
Munida desse ideário, a Com&Edu aproximou-se do NCE-ECA/USP em finais
de 2003. A aproximação tinha como objetivo criar um processo de "formação em
serviço" que garantisse, de um lado, a apreensão e formulação, por parte dos
funcionários, de um corpo teórico sólido na linha de uma comunicação participativa,
integrando nos mesmos objetivos todos os pólos envolvidos nos processos de inter-
relação e, de outro, o uso de instrumentais metodológicos e de recursos técnicos de
comprovada eficácia na obtenção dos resultados esperados. Nesse sentido, a Gerência
de Comunicação e Educação optou por trabalhar com os parâmetros da
educomunicação, tal como definida pelo NCE4 .
A idéia inicial era formar uma parceria para desenvolver um curso de
capacitação para os funcionários (tanto da gerência como interlocutores e áreas afins)
que enfocasse princípios básicos da educomunicação, enfatizando a questão do
planejamento educomunicativo, a gestão democrática da comunicação, as relações entre
comunicação e educação pensadas para a área da saúde5 .
Para o NCE, tratava-se de implementar em outra área (não especificamente na
Educação), princípios que defendia serem adequados a todos os ambientes educativos
(formais ou não). E a promoção da saúde, sem dúvida, se constituía enquanto um desses
ecossistemas.
Depois de uma série de discussões e tentativas de organização da parceria,
ambos os atores decidiram pela extensão da proposta, estabelecendo por meio do
instrumento de consultoria via Unesco, a contratação de dois assessores que deveriam
atuar não só para a efetivação do curso, mas também para a implementação de outros
projetos concomitantes, que permitissem efetivamente a “formação em serviço”. A
contratação de consultores com especialização em educomunicação (em junho e outubro

4
Soares define a educomunicação como “o conjunto das ações destinadas a planejar, criar, fortalecer e avaliar
ecossistemas comunicativos abertos e democráticos possibilitados pelo uso das tecnologias da informação”. (In:
Soares, 2001).
5
Do ponto de vista da comunicação, a questão da saúde que norteou tanto a constituição da gerência quanto sua
aproximação com o NCE foi, por um lado um modelo da promoção da saúde que reconhece seus beneficiários como
participantes ativos e co-responsáveis no processo de desenvolvimento e nas decisões tomadas por eles e, por outro, a
percepção que estratégias verticais de saúde têm falhado em conseguir um impacto positivo no bem-estar e na saúde
das pessoas e que um processo de desenvolvimento social, mais participativo, implica necessariamente na utilização
de ferramentas de comunicação integradas a um processo global de planejamento, que se articule às intervenções da
área.

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de 2004) foi seguida pela contratação de mais três consultores técnicos, com
especialização em comunicação (em novembro de 2004).
Essa estratégia era necessária principalmente pelas características da equipe
técnica da Comunicação e Educação, que deveria implementar as propostas do órgão
junto aos interlocutores e também às áreas afins.

A equipe técnica da Com&Edu – Na época a equipe era formada por 23 profissionais


oriundos de vários setores, pois o processo de mudança da Vigilância em Saúde
implicou na transformação dos setores e na extinção de alguns. Dessa forma, a
transferência desses profissionais para a gerência nem sempre se deu de acordo com
seus interesses individuais. Na verdade, a maioria deles transferiu-se por não ter outra
opção.
Uma característica da equipe era a heterogeneidade de sua formação e
experiência: médicas veterinárias, médicos, assistentes sociais, pedagogas, psicólogas,
boa parte delas com experiência em educação em saúde, mas apenas uma com formação
em comunicação (que estava em licença médica). Com tantas diferenças estabeleceram-
se desde o inicio vários conflitos de interpretação frente ao que era, ou deveria ser, o
trabalho. E, se o clima era a priori cordial, as diferenças de opinião e procedimentos
eram gritantes.
Outra questão que pesava sobre a equipe é sua “não formação” dentro da área de
comunicação, para a qual todas (no início eram 22 mulheres e um homem) são exigidos.
Essa “não formação”, ou “não experiência” era motivo de queixas e também uma
justificativa frente aos problemas encontrados no dia-a-dia.
Então, tínhamos uma equipe nova (algumas estavam há poucos meses no setor –
que já era novo em si), heterogênea, sem experiência com o campo da comunicação e
oriunda de setores desmontados, que provavelmente eram de sua preferência. Essa
equipe tinha que construir procedimentos novos, trabalhando com conceitos e
instrumentos que não dominava – estando, portanto, constantemente submetida a essa
pressão.
Além disso a equipe como um todo, para agravar o quadro, mantinha uma
subordinação cultural ao campo da saúde, marcado pela excessiva valoração das
atividades específicas e por uma hierarquização clara e sólida, como aliás, todo espaço
ligado ao campo científico, como já aponta Pierre Bourdieu (in: Ortiz, Renato, 1983).

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O Curso de Gestão de Formação em Educomunicação e Saúde – Continuando o


processo de implementação da Gerência, após uma série de encaminhamentos dentro da
estrutura burocrática da Covisa, foi implementado, de outubro a dezembro de 2004, o
curso de Formação de Gestores em Educomunicação e Saúde, destinado a até 90
profissionais que desempenham atividades nas áreas de educação e de comunicação em
vigilância em saúde. Inscreveram-se e participaram 50 profissionais, contando com a
equipe técnica da Com&Edu, vários interlocutores e cinco profissionais ligados ao CZZ.
O objetivo geral do curso foi possibilitar ao grupo de funcionários da Secretaria
Municipal da Saúde, vinculados à Gerência de Comunicação e Educação, bem como às
Coordenadorias de Comunicação em Saúde das subprefeituras, o conhecimento de
estratégias de educomunicação, visando à articulação da rede social em torno de
projetos de vigilância e de programas que promovessem a saúde no Município de São
Paulo. Os objetivos específicos, delineados na proposta do curso, foram promover a
compreensão da rede simbólica de comunicação que garante a teia de representações e
de relações dos promotores e usuários do sistema de saúde; apreender a natureza da
inter-relação comunicação-educação (educomunicação), priorizando questões relativas à
comunicação integrada de saúde; problematizar e criar uma compreensão conjunta da
metodologia de comunicação-educação para a área da vigilância em saúde com base nos
diagnósticos e nas metas da SMS; criar estratégias conjuntas de enfrentamento das
questões prioritárias de saúde da cidade com base nas teorias de comunicação e nas
noções de marketing social; identificar o papel do relacionamento da instituição pública
com as mídias (TVs, rádios de longo alcance e comunitárias, grande imprensa e
imprensa local); estabelecer os parâmetros de planejamento estratégico para construção
dos projetos educomunicativos a serem desenvolvidos.
Para alcançar seus objetivos o curso dividiu-se em dois segmentos principais. O
primeiro, com palestras, discussões e oficinas, abordou os aspectos teórico-
metodológicos da inter-relação comunicação/educação, sob o prisma da
educomunicação, a relação com os meios de comunicação na sociedade e as
possibilidades de atuação para promoção da saúde. Foram debatidos temas como as
linguagens da comunicação, o audiovisual na sociedade contemporânea, psicologia da
comunicação e outros.
O segundo momento voltou-se para a discussão e implementação prática das
estratégias conjuntas para a promoção da saúde, envolvendo as populações, para
garantir a criação e dinamização das redes sociais. Assim, foram enfatizadas a discussão

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e aplicação prática de princípios de gestão, com especial atenção à reflexão sobre o


Planejamento Educomunicativo, contextualizando-o dentro das questões relativas ao
planejamento na Saúde e, principalmente, às dificuldades de implementar neste campo
as políticas planejadas. Assim, por meio de discussões e atividades práticas, os cursistas
forma levados a refletir sobre problemas referentes à gestão e ao planejamento das
ações.
No segundo segmento, além das discussões sobre a gestão, os participantes
foram instados a elaborar um Mapeamento da Situação de sua Região. Para tanto foram
divididos em quatro equipes, correspondentes às regiões do município, detivendo-se no
levantamento de dados tanto sócio-econômico-culturais, quanto epidemiológicos. A
partir do Mapeamento passaram a refletir e elaborar um Planejamento Estratégico de
Atuação, com base em um roteiro, discutido e montado conjuntamente em um dos
encontros. O resultado deste planejamento configurou-se enquanto quatro pré-projetos
de intervenção, envolvendo respectivamente as regiões Centro/Oeste, Sul/Sudeste,
Norte e Leste. Os pré-projetos foram apresentados ao final para os professores do NCE-
ECA/USP, que fizeram avaliações e sugeriram mudanças. O objetivo final era
reavaliação das propostas com vistas à implantação, durante o ano de 2005, a partir do
envolvimento com as demais áreas da Covisa e adequação ao planejamento estratégico
do órgão6 .

O Projeto Dant – Paralelamente ao curso, foram desenvolvidas várias ações que


envolveram a gerência de Com&Edu com seus consultores Unesco e outros setores da
Covisa, na tentativa de ampliar um trabalho educomunicativo interno à estrutura central
do órgão. Desses, o que melhor representa a linha de atuação idealizada foi, sem dúvida,
o processo junto ao setor das Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT), que se
efetivou na concepção e elaboração do Almanaque Dant.
O Almanaque Dant foi idealizado e executado conjuntamente pela Com&Edu e
pela equipe da Dant. É uma revista pensada enquanto uma ferramenta para auxiliar os
profissionais da saúde da rede municipal a dialogar com o cidadão sobre temas como
tabagismo, obesidade, hipertensão, diabetes, etc7 .

6
A idéia inicial era continuar o curso em uma segunda parte, que aprofundasse as discussões sobre as linguagens da
comunicação e acompanhasse a reformulação e implantação dos projetos.
7
O esforço ancorava-se em dois motivos principais:1) O incremento das Dant em nível epidêmico, resultado das
modificações na forma de viver nas sociedades industrializadas (segundo dados da Covisa, em 2003 as doenças e
agravos não transmissíveis foram responsáveis por quase 60% das mortes no país)e a dificuldade do trabalho
educativo em torno das DANT, que permanece marcado por dificuldades culturais, já que os procedimentos de

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As duas gerências envolvidas optaram por criar um material que fugisse ao


padrão excessivamente técnico -- e, portanto, inacessível ao conjunto dos cidadãos
atendidos pela rede pública -- e que pudesse ser usado pelos profissionais da saúde para
conversar com seu público sobre a necessidade das referidas mudanças
comportamentais, além de servir como material de consulta. Outra intenção foi
envolver e dar visibilidade para a extensa rede social que se articula, nem sempre de
forma orgânica em torno da rede pública, e cuja atuação é fundamental para a promoção
ampla da saúde.
Em sua linha editorial o Almanaque pretendeu, em linguagem acessível,
divulgar as experiências inovadoras que têm sido realizadas tanto pelas unidades de
atendimento, quanto pelos grupos organizados que atuam no setor. Pretendeu
também ajudar a fomentar a formação de redes sociais dentro da área. Para alcançar
seus objetivos o Almanaque foi pensado em uma linguagem corriqueira, lúdica8 até.

Desdobramentos – O curso de Formação de Gestores em Educomunicação e Saúde


finalizou em dezembro de 2004 e significou uma articulação inicial dos envolvidos,
interessados em reformular e tentar implementar seus projetos de intervenção no ano
seguinte.
Acreditamos ter sido um momento bastante importante, em que os envolvidos
puderam exercitar uma atuação baseada na parceria multidisciplinar e, principalmente,
levantar e discutir questões que afetam profundamente sua atuação. Dentre estas, os
participantes levantaram como principais a dificuldade de implementar, no município,
políticas macro que são pensadas nacionalmente – e que muitas vezes não conseguem
sensibilizar populações fragmentadas, diferenciadas e também a dificuldade de
operacionalizar estratégias por falta de comunicação entre os níveis locais e central,
dentro do município, e por inadequações estruturais. Foi um momento em que se
reforçou a importância dos processos comunicativos, não só com as populações com e
para as quais são desenvolvidas as ações, mas também dentro da estrutura
administrativa dos próprios órgãos públicos. Outra dificuldade elencada foi a falta de

tratamento e cura envolvem não só o uso de medicamentos mas, em muitos casos principalmente, a mudança de
hábitos de vida ligados à alimentação, ao sedentarismo e ao tabagismo.
8
A idéia da linguagem lúdica partia do pressuposto que esta poderia contrapor-se ao conteúdo expresso por Dant:
propor mudanças de hábitos e culturas sem pesar nas interdições – atitude que se mostra ineficaz na maioria dos
casos.

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vínculos e parcerias, e a necessidade de ampliar e fortalecer as redes sociais, já que a


promoção em saúde, além de multidisciplinar, é eminentemente sócio-abrangente
O Almanaque Dant, finalmente impresso também nessa época, teve uma grande
aceitação nas esferas da saúde, dentro da Covisa e, principalmente, fora dela.
No entanto, a mudança de gestão da Prefeitura, necessariamente implicou em
modificações que, no mínimo retardaram a efetivação de todos os projetos. Um dos
grandes problemas enfrentados foi a desarticulação da gerência de Com&Edu, no novo
organograma gerencial da Secretaria Municipal da Saúde, que passou de um modelo
descentralizado para um modelo centralizado. Com isso, foram desarticuladas também
as Coordenadorias de Saúde, e também a rede de interlocutores.
A nova estrutura da Com&Edu dispensou os profissionais anteriores (que foram
transferidos para outros órgãos) e tornou-se um Núcleo Técnico, com específica
preocupação com ações de marketing. Os novos profissionais contratados têm formação
exclusiva nas áreas de comunicação e a parte educativa passou a ser realizada
novamente, nos moldes tradicionais, por um novo setor que concentra tanto essas
quanto a gestão de pessoal.
A equipe Dant permaneceu coesa na nova estrutura e passou a trabalhar para
editar um segundo número do Almanaque, assessorada pelos consultores, que se
desligaram da Covisa assim que seu trabalho em Dant foi concluído9 .

Conclusões iniciais - Em que pese a mudança de gestão ter desmontado o trabalho


realizado até então, obviamente ela não é responsável pelo completo esvaziamento da
proposta educomunicativa junto ao setor da saúde. Uma avaliação coerente desse
processo, necessariamente tem que levar em conta as dificuldades e entraves internos ao
setor, bem como as dificuldades da própria proposta educomunicativa.
Dessa forma, achamos poder dividir a avaliação em alguns aspectos: 1) Macro-
estruturais, que dizem respeito à gestão do setor público como um todo, 2) Micro-
estruturais, que apontam para a gestão interna aos órgãos em questão, 3) Pessoais,

9
O desligamento dos consultores, solicitado a princípio por “motivos pessoais”, junto a Unesco, deveu-se
principalmente pela constatação de que o contrato estabelecido fugia completamente às solicitações que passaram a
vigorar. Além disso, deveu-se também a uma percepção de que o tipo de trabalho – além de não ser consultoria, mas
simplesmente trabalho jornalístico – poderia ser feito muito mais adequadamente e com custo inferior para órgão, já
que o preço da hora do consultor é muito maior do que o de um estagiário de comunicação, por exemplo. Em suma,
os consultores optaram por não fazer parte das incoerências do serviço público, e só permaneceram ligados à
estrutura por mais tempo do que o desejado em função de seus vínculos e comprometimentos com o projeto da Dant .

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ligado às características dos grupos envolvidos e 4) Educomunicativos, que diz respeito


às dificuldades reais de implementar esse tipo de proposta.
Em relação ao primeiro item, já foi abordado por vários autores o entrave
inerente ao trabalho 10 junto aos setores públicos, caracterizados pela mudança de gestão
contínua, que na prática inviabiliza boa parte das ações desenvolvidas. A cada
interrupção as políticas são revistas e modificadas, num constante começar de novo que,
inclusive, afeta diretamente o ânimo e o moral do funcionário interessado em realizar
um trabalho efetivo. E também ajuda a disseminar uma cultura do funcionalismo
público que se pauta na não responsabilização frente às ações, num tempo de execução
de tarefas extremamente longo e num não compromisso com os resultados – ligados
todos em última instância a não efetivação de instrumentos de accountability11 . Em
setores em que as mudanças se dão sempre em função de políticas públicas de médio e
longo prazo (como a Educação e a Saúde), essa sistemática é extremamente danosa.
Por outro lado, as características do setor saúde em si levantam outras
dificuldades. É um setor extremamente hierarquizado, submetido ao ideário cientificista
da área médica, com uma tendência exacerbada em tratar a doença e não em evitá-la.
Assim, apesar de todas as recomendações tanto da Organização Mundial da Saúde,
quanto do próprio Ministério, na prática o que se observa é uma dificuldade adicional na
implementação de políticas promotoras de saúde. Portanto, qualquer proposta de
mudança nesse sentido necessita, para efetivar-se, de um processo de capacitação dos
indivíduos envolvidos, que introduza a discussão sobre o próprio caráter da técnica,
como algo que pode ser apropriado e, muito mais interessante, transformado de acordo
com os interesses e necessidades dos grupos em questão. Ou seja, que aponte caminhos
efetivos para a implementação de políticas promotoras da saúde. Paralelamente são
necessárias ações para discussão dessa proposta junto aos demais setores gerenciais, em
última instância parceiros no empreendimento.
Em relação a Com&Edu, o que se verificou durante todo o tempo de sua
tentativa de implementação foi uma imensa dificuldade de atrair e convencer os outros
setores sobre o papel estratégico da gerência na implementação da política geral
proposta. Os motivos para isso foram inúmeros, desde disputas com setores que se

10
Fernando Rossetti também identifica essa questão, em sua análise de políticas educativas. In: "Projetos de
Educação, Comunicação & Participação - Perspectivas para Políticas Públicas”, Unicef, Brasília, pesquisa
desenvolvida em 2003-4, disponível em http://rossetti.sites.uol.com.br
11
Por outro lado, cria uma série de entraves aos muito (provavelmente a maioria) funcionários que se sentem
responsáveis por seu trabalho e suas tarefas. A frustração é o sentimento obvio quando percebem que não têm esse
valor absorvido pela estrutura.

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sentiram lesados em seus espaços de exercício de poder (a Assessoria de Imprensa ou


setores que anteriormente realizavam tarefas ligadas à educação), até a dificuldade da
equipe técnica da gerência, sujeita à hierarquização excessiva da área, assumir-se
enquanto especialista em comunicação e educação.
Entrando portanto, no item três da avaliação, que se relaciona às pessoas
envolvidas no processo, percebemos que, desde o início, instalou-se um paradoxo junto
à equipe: se, no início a “não formação” na área de Com&Edu era sentida enquanto uma
grande deficiência e motivo de stress – as pessoas sentiam-se com dificuldades em se
posicionarem em relação às áreas técnicas, por exemplo--, já que a equipe operava
dentro da lógica do saber médico legitimado, por outro lado a hierarquização a que
estava inconscientemente submetida forçava a tomada de posição e a luta pela conquista
de espaços legítimos – com outras ferramentas e regras. Com o tempo, e principalmente
a partir dos esforços de formação, a equipe passou a se perceber como um corpo
coerente, unido em torno de alguns princípios básicos, passando, inclusive, a reivindicar
os paradigmas da educomunicação. Infelizmente, esse processo foi interrompido pela
mudança de perspectivas do órgão.
Por fim, resta também apontar para uma dificuldade estrutural na implementação
de práticas educomunicativas, aspecto ligado ao item quatro proposto pela avaliação
inicial, ou seja, a incompreensão social da própria idéia de gestão participativa, em um
plano mais restrito, e do próprio conceito de democracia, em outro. Esse aspecto, já
explorado anteriormente12 , ainda está poder ser equacionado: se for verdade que a
prática e os pressupostos educomunicativos podem ser fundamentais para repensar as
relações sociais, sua efetivação parece depender dessa mesma prática.
Essa constatação, que a princípio nos colocaria numa aporia, no entanto pode ser
melhor equacionada se pensarmos em outro dos pressupostos da educomunicação, qual
seja, aquele que propõe uma avaliação da ação de forma a percebê-la não enquanto um
resultado, mas enquanto um processo.
Assim, acreditamos ser muito cedo para, em função das dificuldades
encontradas, condenar a possibilidade de implementar a educomunicação junto ao setor
da Saúde. Essa implementação é necessariamente um processo, condicionado por um
setor profundamente hierarquizado — refratário, portanto, a seus princípios. Mas a
semente foi plantada. Um dia germinará.

12
In: Lago, Cláudia, Machado, Eliany S. e Leão, Maria Izabel. Práticas Educomunicativas e a democratização da
comunicação (citado na bibliografia).

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Referências bibliográficas

LAGO, Cláudia, MACHADO, Eliany S. e LEÃO, Maria Izabel. Práticas Educomunicativas e a


democratização da comunicação. Texto apresentado no III Seminário Latino-americano de
Pesquisa da Comunicação. São Paulo, 12 a 14 de maio de 2005.

MS (Ministério da Saúde). Promoção de Saúde: Carta de Ottawa, Declaração de Adelaide,


Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Brasília, (DF), 1996.

ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. São Paulo, Ática, 1983. Coleção Cientistas Sociais.

SICOLI, Juliana Lordello e NASCIMENTO, Paulo Roberto do. Promoção de Saúde:


concepções, princípios e operacionalização. In: Revista Interface: Comunicação, Saúde,
Educação. Botucatu, SP, Unesp. v7, n12, p. 101-122. fev 2003.

SOARES, Ismar de Oliveira. Caminhos da Educomunicação. Editora Salesianas, São Paulo,


2001

WHO (Word Helth Organization). Health Promotion evaluation. Recommendations to


policymakers. Copenhagen: European Working Group on Health Promotion Evaluation, 1998.

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