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CONFLITOS DISTRITAIS NA FREGUESIA DE BAGUÁES


ENTRE OS ANOS DE 1893 ATÉ 1916.

Shayan Desdewalle 1
Alberto de Oliveira 2

Resumo

Conflitos distritais foram confrontos que ocorreram no território de Baguaes entre os


anos de 1897 até 1916, região que foi promovida a distrito por um decreto de lei
provincial n° 420, 10 de maio de 1856, ficando subordinado ao município Lages. Os
conflitos que ocorreram na região estavam caracterizados pela figura do sertanejo e
pelas elites locais, esses que eram latifundiários oficiais da guarda nacional. Os
caboclos dos Entre – Rios foram dizimados, por transmitir uma insegurança aos
proprietários de terra, pois os mesmos associavam o aglomerado de fanáticos ao conflito
de Canudos na Bahia de Antônio Conselheiro.

Palavras-chave: conflitos, distrito, Baguaes, Entre-Rios, fanáticos.

District conflicts in the Baguaes parish between the years 1893 and 1916

DISTRICT CONFLICTS IN THE BAGUAES PARISH


BETWEEN THE YEARS 1893 AND 1916.

Abstract

District conflicts were confrontations that occurred in the territory of Baguaes between
the years from 1897 to 1916. Such region was promoted to district by a provincial law
decree (number 420 from May 10th, 1856) having been subordinated to the municipality
of Lages. The genes that occurred in the region were characterized by the figure of the
sertanejo and by local elites, those who were official landowners of the national guard.
The caboclos of the Entre-Rios were decimated for imparting insecurity to the
landowners because they associated the cluster of fanatics with the conflict of Canudos
in Bahia de Antônio Conselheiro.
Keywords: conflicts, district, baguaes, Entre-Rios, fanatics.

1
Graduado em história pelo Centro Universitário UNIFACVEST. E-mail: desdewallee@outlook.com
2
Especialista em gestão ambiental pelo Centro Universitário UNIFACVEST. E-mail:
adobeto10@gmail.com
2

1. INTRODUÇÃO

A região demarcada em que ocorrem os conflitos, está centrada no território de


“Baguaes”, elevado à criação da freguesia, em função de uma Lei Provincial nº 420, de
10 de maio de 1856 , subordinado ao município de Lages, enquanto termo ( REIS,
Felipe) . A população da localidade em analogia sofreu com alguns conflitos, onde
podemos citar dentre estes, a Revolução Federalista, ocorrida entre 1893 e 1895. Uma
batalha com uma imensa proporção onde ocorre uma grande disputa entre classes que
eram dominantes, em função do domínio do poder local. O conflito deixou alguns
reverses para vários sertanejos da região, de acordo com Machado :

Dolorosas sequelas da luta entre pica-paus e maragatos ainda


latejavam sobre a difícil vida dos lavradores, peões e tropeiros da
região. Os deslocamentos de tropas durante a Revolução Federalista,
tanto rebeldes como oficiais, eram sustentados com a dilapidação dos
recursos da população local: seus alimentos, cavalos, reses e mulas
eram arrebanhados em troca de “requisições” que jamais seriam
saldadas .. (MACHADO, 2008, p. 71)

No que tange a citação acima é possível de se perceber que a população da região


sofreu com as consequências do conflito, teve seu patrimônio dilapidado, seja por
rebeldes ou oficiais com uma promessa de que seriam recompensados ou que teriam de
volta seu patrimônio, através de documentos que poderiam trazer o direito de recuperar
seus pertences, mas o que ocorre são dividas com os sertanejos que jamais foram
saldadas. Posteriormente se tem queixas dos caboclos com relação a sua conduta nas
margens do rio Pelotas, como fica relatado no jornal a Região Serrana:

ENTRE-RIOS – Estando averiguadas as notícias relativas a uma


reunião de fanáticos no lugar Entre-Rios, Distrito de Campo Belo,
foram tomadas providências imediatas pelas autoridades competentes.
Segundo ofício ao Capitão Comissário pelo seu imediato naquele
distrito, o grupo ali formado em promiscuidade de práticas religiosas,
depredações e imoralidades à Basílio de Moraes, compõe-se de mais
ou menos 200 homens e 150 mulheres e crianças[...]Sabida aqui a
notícia deste agrupamento no Sábado atrasado por intermédio do
distinto Coronel Rupp, de Campos Novos, que soubera diretamente do
Sr. Carypuna, residente de Entre-Rios e uma das vítimas de arrebanho
de gados, foi o governo imediatamente informado. 3

Além da revolução federalista podemos destacar o Conflito de canudinhos que


ocorre por volta do ano de 1897, na região do Entre Rios, local passível de divergência
com a sua precisa localização, no contraponto da base na pesquisa em dois autores,
primeiramente Paulo Pinheiro Machado relata com base em fonte jornalística que o
local do conflito está localizado na atual cidade de Celso Ramos, em um entroncamento
dos Rios Pelotas e Canoas como descreve o jornal Região serrana :
Entre-Rios por ser uma extensa língua de terra intercalada entre os rios
Pelotas e Canoas, que correm paralelamente uma considerável
distância, antes de se unirem.2

3
Cf. Região Serrana, Lages, 8 ago. 1897. Arquivo do Museu Histórico Thiago de Castro, Lages SC.
3

Em uma segunda fonte em pesquisa com base no historiador Felipe Reis no seu
Livro a Invernada dos Gateados , cita que o Entre Rios está localizado no
entroncamento entre o rio Pelotas e o Vacas Gordas, território que abrange o atual
município de Campo Belo do Sul.
Entre – Rios [...] Entroncamento entre Rio Vacas Gordas e Rio
pelotas Pelotas, dentro da antiga Invernada dos gateados, área da atual
Fazendo Gateados, em campo belo do Sul. (REIS,2015, p. 15)

Faremos esta argumentação, no decorrer deste trabalho.


Com relação ao conflito de canudinho também se tem uma questão pertinente de
como ocorreu a aglomeração de fanáticos na região citada, o artigo busca compreender
a transformação de formação social do povoado, quem liderou os mesmos, que
características tinham.
Mais adiante expomos outro conflito, onde em analogia é o movimento do
contestado, que ocorreu entre os anos de 1914 e 1916, onde se tinha vários fatores
envolvidos como a luta contra o coronelismo, contra o latifúndio e a própria exploração
de empresas estrangeiras que na época atingiu vários territórios.( REIS,2015, p 17 ) .
O contestado teve características messiânicas4, como também canudinhos,
representadas na figura de João Maria como podemos perceber no artigo Paulo Pinheiro
Machado:

Num período de aproximadamente cem anos, 1848 a


1942, ocorreram concentrações camponesas no sul do Brasil
em torno da figura do monge João Maria, um andarilho leigo
que se apresentava como curandeiro e penitente. Estas
concentrações eram iniciadas quando grandes grupos de
camponeses deslocavam-se de suas regiões em busca,
principalmente, de curas. Estes movimentos assumiram uma
linguagem religiosa, com fortes noções messiânicas e
milenares. (MACHADO, 2008, p. 1).

A pesquisa ter por finalidade entender as relações que foram exercidas entre esses
movimentos na região, o contexto histórico e social de Baguáes; a metodologia utilizada
é o cruzamento de distintos tipos de fonte documental, como periódicos que circulavam
na região no período a exemplo do jornal Região serrana, documentação eclesiástica
que traduz a vivencia e a perseguição da igreja católica a alguns maçons do período que
eram editores do jornal citado em exemplo – também os livros Invernada dos Gateados,
do historiador Felipe Reis e o artigo O conflito do Canudinho de Lages (1897) que é um
fragmento retirado da tese de doutoramento de Paulo Pinheiro Machado e que se tornou
o opúsculo “Lideranças do Contestado” – como fontes primarias a documentação, como
fontes secundarias as bibliografias relacionadas ao tema da pesquisa.
O tempo cronológico abordado em recorte temporal tem inicio com a Revolução
federalista em 1893 e vai até o fim da guerra do contestado em 1916.
Utilizaremos como referencial teórico Michel Foucault, em Microfísica do Poder,
para entendermos a relação do poder institucionalizado no processo que acaba
ocorrendo nesses conflitos, que estão ligados com as similaridades e sociabilidades de
um poder pré-estabelecido que ocorre e marca este cenário, compreendendo melhor
estas relações.

4
Cf. Dicionário Michaelis – esperança na intervenção de pessoas ou circunstâncias providenciais
(concernentes a um movimento ideológico) capazes de instaurar ou reinstaurar um novo tempo de
felicidade e justiça para um povo ou grupo oprimido.
4

Na abordagem de Foucault, no viés destas relações de poder institucionalizados, o


poder é algo que circula, em algo que se parece com uma espécie de cadeia, onde os
seres envolvidos, nas suas malhas, exercem o poder e sofrem a sua ação, mas não
necessariamente o poder é confiscado pelo estado e muito menos criado pelo Estado.

Na abordagem de Foucault em A ordem do discurso, pelo viés da analogia do


discurso institucionalizado do poder de controle e das várias verdades pré-estabelecidas
nesta sociedade em efervescente transmutação em momento decorrente destes conflitos,
em suas hipotéticas causas e verificáveis consequências.
Na abordagem de Michel de Certeau, em A invenção do cotidiano 1: artes de
fazer, o viés dos usos e costumes cotidianos, a criação do espaço de sociabilidade
mantida, por caboclos insurrectos, forças militares, fazendeiros (coronéis) e pessoas
socialmente a parte destes conflitos – e a anunciação da ciência da fábula, no entorno da
criação desta estória, que envolve o cunho mítico e religioso, político e social desta
quadra.

2. OS CONFLITOS DE BAGUÁES E O MESSIANISMO.

Os conflitos que ocorreram na região tiveram uma relação estreita com o


messianismo, essa similitude teve indícios desde a revolução federalista. A situação que
ocorria com a revolução era de disputa entre classes dominantes, que acabavam
dilapidando o patrimônio dos caboclos, esses recebiam títulos para poderem ser
ressarcidos, o que acabou não acontecendo, se evidencia segundo a abordagem de Paulo
Pinheiro Machado, que: “A tragédia desta guerra serviu para introduzir uma prática na
população pobre do planalto, o “arrebanhamento de gado alheio e a degola dos
adversários políticos” (MACHADO, 2008, P.5 ).
O messianismo tem seus indícios de aproximação do federalismo com o
messianismo ocorre com a figura epopeica5 de João Maria, onde pregava uma
condenação da republica e seu discurso apontava para um mundo apocalíptico e essas
ideias foram muito bem aceitas pelos caboclos.

Há indícios que apontam que a aproximação do federalismo à


religiosidade popular no planalto ocorreu durante a própria Revolução
Federalista. Frei Rogério Neuhaus, franciscano alemão que atuava em
Lages desde 1891, afirma que João Maria passou a condenar a
República e a divulgar um discurso apocalíptico com grande
receptividade entre os sertanejos. (MACHADO, 2008, P.6 ).

Essa relação entre religiosidade e povos camponeses é entendida dentro do seu


próprio âmbito, pois ela ocorre para manter e equilibrar seu próprio sistema de
organização do seu meio social, a sua crença cria um vínculo que liga a sua vida
cotidiana, onde mantém seu meio de subsistência, com a ordem vigente religiosa. A
ação dos camponeses era muito atrelada à própria crença, seus costumes são arraigados
na sua religiosidade popular.

A religião camponesa não se explica unicamente em seus próprios


termos. Ela funciona para sustentar e equilibrar o ecossistema
camponês e a organização social e também constitui um componente

5
Algo fabuloso, estória parte fábula parte verdadeira.
5

da ordem ideológica mais ampla. Responsiva aos estímulos que


derivam tanto do setor camponês como da ordem social envolvente, a
religião forja mais um elo que liga o campesinato aquela ordem.
(WOLF, 1976,p. 134)

A sua atuação com relação ao meio social ao qual está inserido é muito próxima
da sua crença, entendendo que aquilo que é transmitido ao indivíduo é de aceitação
como algo sagrado e profano6, então suas ações no cotidiano estão justificadas naquilo
que o mesmo acredita. Como surge a figura de um profeta com um discurso
apocalíptico onde o mesmo teve uma grande aceitação entre os caboclos da região é
possível perceber que os sertanejos locais tinham uma afeição muito grande com
crenças religiosas, algo que se manteve com o passar do tempo.

O camponês está apto a aceitar o ritual tal como é dado e a aceitar as


explicações de suas ações como coerentes com suas próprias crenças.
(WOLF, 1976,p. 136)

Não somente no âmbito da revolução federalista, mas também no conflito de Canudinhos


e Contestado se teve a presença de um profeta, que além de um discurso apocalíptico ia
mais além, certamente carregava um discurso que envolvia igualdade, noções sociais
mais justas, seja essa a causa da grande aceitação dos caboclos terem tamanha
aceitação. Como podemos notar “Os movimentos simples de protesto entre os
camponeses frequentemente se centralizam num mito de uma ordem social mais justa e
igualitária do que presente que ora é hierarquizado”. (WOLF,1976,p.142)

3. CANUDINHOS NO ENTRE-RIOS

O Entre- Rios é um território que causa discordância entre alguns historiadores sobre a
seu posicionamento geográfico, pois segundo Paulo pinheiro Machado o mesmo está
localizado na atual cidade de Celso Ramos, no entroncamento do Rio Pelotas com o Rio
Canoas.
Entre-Rios (entre os rios Pelotas e Canoas, afluentes
formadores do rio Uruguai) no então Distrito de Campo Belo
(antiga Nossa Senhora do Patrocínio dos Baguais), Município
de Lages, em 1897. Entre-Rios, onde hoje se situa o
Município de Celso Ramos, era denominado, no fim do
século XIX como “fundos de Campo Belo” ou “fundos dos
Baguais” ( MACHADO, 2008,p.66 ).

Outro ponto pertinente é a aglomeração dos caboclos que ocorreu em torno de um


engenho de cana, onde o proprietário é Francelino Subtil de Oliveira “O movimento
sertanejo conhecido como “Canudinho de Lages” ocorreu a partir do pequeno
povoado formado rapidamente em torno do engenho de cana de Francelino Subtil de
Oliveira” ( MACHADO, 2008,p.66 ).

6
Vivendo a maior parte do tempo, em atitudes não religiosas, profanas no sentido mundano de agir, não
mensurando consequências no plano espiritual ou moral.
6

O referencial está embasado em um periódico do jornal Região Serrana onde


descreve sobre o agrupamento de fanáticos em torno do engenho e também a
localização da mesma. Com relação às características do povoado, é perceptível uma
particularidade de aspectos urbanos, onde se tinha ao centro do arraial uma praça, onde
a casa de Francelino estava ao centro do mesmo arraial, existia também uma igreja –
porém, a propriedade do engenho é causa de confusão na imprensa como descreve
Paulo Pinheiro Machado.
O agrupamento de fanáticos de canudinhos transmitia uma insegurança aos
proprietários de terra, pois os mesmos associavam o aglomerado de fanáticos ao
conflito de Canudos na Bahia de Antônio Conselheiro :
É emblemática a comparação feita a Canudos. Temos que
considerar que neste momento existe quase uma histeria
nacional [...] Contra a “Cidade Santa” de Antônio
Conselheiro. (MACHADO, 2008, p. 71)

Em função da perseguição, onde sertanejos encalçaram policiais até a entrada da


Vila de Campos Novos, acontecimento que fez com que a imprensa passasse a divulgar
que o ajuntamento de fanáticos do Entre -Rios fosse uma ação com comando de
Antônio Conselheiro descrito por MACHADO:
O ajuntamento “fanático” de Entre-Rios tinha sido iniciativa
de um indivíduo enviado por Antônio Conselheiro, como
afirmou, sem qualquer fundamento ou informação de
credibilidade, o jornal República (MACHADO, 2008,p.73)

O povoado de Canudinhos foi dizimado por 100 cavalarianos, de um regimento


da Guarda nacional, que promovendo um ataque derradeiro nos povos do Entre-Rios7.
Esses povos que viviam nas margens do Pelotas e que seus costumes na maior parte do
tempo foram descritas por seus inimigos. No telegrama do Coronel Bento Porto ao
presidente do Estado do Rio Grande do sul Júlio Prestes de Castilhos descreve como foi
à ação com relação aos caboclos de Canudinhos.
Entre-Rios, 29 de Agosto de 1897, as 11 horas da manhã:
Depois de dois dias de marcha a pé com chuvas constantes,
por brenhas cerradas, caímos esta madrugada sobre principal
reduto da numerosa jagunçada. Três horas de fogo. Fomos, à
unha, escalando as trincheiras. Morreram alguns, inclusive
famigerado maragato Abílio Rosa, temido nos arredores, o
qual transformou ajuntamento fanático em acampamento
bélico e hostil aos governos republicanos. Muitos feridos.
Neste momento, enquanto revisto campo de combate, Capitão
Fabrício persegue fugitivos através das furnas sucessivas nas
barrancas do caudaloso rio Pelotas. Encontrei cruzes,
breviários, bandeiras e outros manipansos das suas bruxarias
com 43 ranchos, além de outras casas. Tudo isto ardeu no
incêndio por ocasião do ataque. Mulheres e crianças, em
quantidade, fugiram espavoridos pela mata. Divisas dos
bandidos são de cor branca e encarnada. Seu grito de guerra

7
Destacamos em suas especificidades que os editores do jornal Região Serrana, eram oficiais da Guarda
Nacional e pertencentes todos a mesma loja maçônica da cidade de Lages. (documentação Arquivo
Público Municipal de Campo Belo do Sul).
7

é: “Morram os Pica-Paus!” Nosso brado é: “Viva a


República!”2

O ensejo do ataque favoreceu aos fazendeiros locais, a oportunidade esperada da


tomada de terras de algumas famílias economicamente sobreviventes de uma agricultura
de subsistência. Acusando-os de insurrectos fanáticos, mataram aleatoriamente homens,
mulheres e crianças – tomando suas propriedades anexadas a grandes áreas de terras já
existentes; ficando ocultas nestes latifúndios. Ao avaliarmos documentação eclesiástica,
de difícil acesso de pesquisa, sendo o arquivo particular propriedade da Igreja Católica –
nos foi escamoteada a informação, uma vez que o livro de Atos da Paróquia foi
extraviado – por algum ato relapso de outrem.
Com base no trabalho do historiador Felipe Reis, relata uma matança nesta região
– onde a hipotética justificativa era a grilagem de terras, por membros da Guarda
Nacional de Lages e de Baguaes8. Como vemos no texto que segue, criando o decreto
lei:

DECRETO Nº 3.895, DE 19 DE JUNHO DE 1867


Crêa um Batalhão de Infantaria de Guardas Nacionaes do serviço activo nas
freguezias da Cidade de Lages e de Baguaes da Provincia de Santa Catharina.
Attendendo ao que Me representou o Presidente da Provincia de Santa
Catharina, Hei por bem Decretar o seguinte:
Artigo unico. Fica creado nas Freguezias da Cidade de Lages e de
Baguaes, da Provincia de Santa Catharina, e subordinado ao Commando
Superior de Guardas Nacionaes da mesma Cidade, um Batalhão de Infantaria
com quatro Companhias, e a designação de setimo do serviço activo, o qual
terá a sua parada no lugar que lhe fôr marcado pelo Presidente da Provincia,
na fórma da Lei.
Martim Francisco Ribeiro de Andrada, do Meu Conselho, Ministro e
Secretario de Estado dos Negocios da Justiça, assim o tenha entendido e faça
executar. Palacio do Rio de Janeiro em dezanove de Junho de mil oitocentos
sessenta e sete, quadragesimo sexto da Independencia e do Imperio.
Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.
Martim Francisco Ribeiro de Andrada.

O encobrimento desta prática de grilagem, pode ter ligação com o


desaparecimento do “Livro de Devassas” 9, uma vez que ainda existem resquícios do
coronelismo de outrora, ainda que de forma velada, nesta região da serra catarinense.
Um dos pontos conflitantes do evento do Canudinho de Lages é a localização do
espaço onde se manteve de forma intensa estas sociabilidades. Trazer tais informações
contraditórias historicamente à luz da verdade histórica, e dar voz e vez aqueles
caboclos que não puderam dar-lhe testemunho, sequer escrito desta relação. Para
entendermos esta conotação espacial:

8
Cf. Coleção de Leis do Brasil – 19/06/1867, Página 213 Volume 1 parte 2 (Publicação Original).
9
Livro de Atos da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio de Baguáes, século XIX e início do XX.
(hoje Paróquia de Campo Belo do Sul – SC.
8

Inicialmente, entre espaço e lugar, coloco uma distinção que delimitará um


campo. Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem
elementos nas relações de coexistência. Aí se acha portanto excluída a
possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar. Aí impera a lei
do “próprio”: os elementos considerados se acham uns ao lado dos outros,
cada um situado num lugar “próprio” e distinto que define. Um lugar é
portanto uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação
de estabilidade. 10
Já no espaço, se percebe que:

Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de


direção, quantidades de velocidade e a variável tempo. O espaço
é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo
conjunto dos movimentos que aí se desdobram; espaço é efeito
produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o
temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de
programas conflituais ou de proximidades contratuais.

O espaço é um lugar praticado.11


A localização do conflito ao sul de Campo Bello, indica uma conotação de espaço
ocupado, um espaço praticado pelos então rebeldes – que por questões logísticas se
instalariam sim, no Entre-Rios, com acesso de fuga para o Rio Grande – mas, em
limítrofes a Serra Geral onde poderiam facilmente se esconder e a norte em direção à
cidade de Lages e suas adjacentes circunvizinhanças. Tendo o Entre-Rios a óbvia
indicação ao sul de Campo Bello, o entroncamento com o Rio Pelotas e Rio Vacas
Gordas um dos afluentes do Rio das Pelotas, esta é a controversa transcrição jornalística
– uma vez que os redatores eram militares da Guarda Nacional.
Entre fatos e considerações, buscamos entender melhor as entrelinhas daquilo que
os documentos não revelam explicitamente. De forma salutar este embate divergente de
interpretações documentais e logísticas incrementa o pensar histórico das fontes que nos
são apresentadas.
Destarte, a demanda desta discussão se amplia de forma densa o que nos parece
inconveniente elucubrar e argumentar neste momento, não cabendo neste Artigo
Monográfico; mas, se estendendo na possibilidade de outras pesquisas e/ou mesmo
especializações, a nível stricto senso.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conflitos que ocorreram na região estavam caracterizados pela figura do


sertanejo e pelas elites locais, esses que eram latifundiários oficiais da guarda nacional.
Sujeitos, hoje vultos históricos que aproveitaram deste prestigio elitizado para
dizimarem caboclos, caboclos estes sujeitos históricos de igualitária forma, porém, que
não tiveram voz e nem vez para contarem a sua verdade desta mesma história.

10
Cf. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: 1. artes de Fazer. Tradução Ephaim Ferreira
Alves. 22 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. (página 184).
11
Cf. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: 1. artes de Fazer. Tradução Ephaim Ferreira
Alves. 22 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. (página 184).
9

O espaço praticado por estes caboclos deixa explicita a origem desta terra, então
contestada, autóctones, remanescentes de negros escravizados e alguns portugueses,
formaram consanguineamente o caboclo – sendo esta terra hereditariamente pertencente
aos caboclos, uma vez que os autóctones se encontram e praticam este espaço a mais de
oito mil anos atrás.
A organização e separação na escolha das fontes primarias pesquisadas foram
metodologicamente cruciais para o desenvolvimento da pesquisa que culmina neste
artigo monográfico.
Na concepção ao primeiro olhar em Paulo Pinheiro Machado, se percebe o
discurso da eugenia, expondo suas verdades concernentes aos caboclos – onde a maior
parte deste referencial, está atrelada a este discurso da elite. Não havendo quase relatos
dos caboclos, de sua própria história.
Surgem aqui a relevância da produção deste artigo, dando voz aqueles que foram
silenciados pela história oficial – dizimados pela segunda vez, com o discurso da
eugenia.

REFERÊNCIAS

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: 1. artes de Fazer. Tradução Ephaim


Ferreira Alves. 22 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 3.ed. São Paulo: Loyola, 1996.


FOUCAULT, Michel . Microfísica do poder. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
MACHADO, Paulo Pinheiro. O conflito do Canudinho de Lages. Revista Estudos de
Sociologia. São Paulo. Vol. 13, n. XXIV, 2008.
REIS, Felipe. A Invernada dos Gateados: Baguáes dos tempos de Lages. 1.ed. Curitiba.
Máquina de escrever,2015.
ERIC R. WOLF, Sociedades camponesas. Tradução Oswaldo Caldeira C. da Silva.
2.ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1976.

FONTES PRIMARIAS

Coleção de Leis do Brasil – 19/06/1867, Página 213 Volume 1 parte 2 (Publicação


Original).

Jornal Região Serrana, Lages, 8 ago. 1897. Arquivo do Museu Histórico Thiago de
Castro, Lages SC.
10

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