Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RITA MORRIGAN
Sara Brown é enganada pela sua mãe, que lhe disse que a saúde de sua
prima Mary, irmã do Conde de Rohard, havia piorado e que seria
conveniente que fosse cuidá-la.
A Senhora Brown crê que, se sua filha for levada para a residência do
Conde e assistir a seus esperados bailes, encontrará um bom partido para se
casar; e sabe que a enfermidade de sua prima é o único motivo que pode
convencê-la. Sara resiste: não quer abandonar a vida simples que leva na sua
casa, não lhe interessam as festas, e, aos vinte e seis anos, já não sonha com
um marido.
De qualquer modo, decide ver Mary por si mesma, mesmo que não tenha
nenhum interesse em voltar a encontrar com o presunçoso Conde.
Estimada prima:
Ravenville, 1.ro de janeiro de 1849
Dando-lhe um olhar afetuoso com o qual ela agradeceu por permitir que ela
recuperasse sua amiga, Mary colocou os braços em volta do pescoço forte de seu irmão e
apertou um beijo alto na bochecha.
Os mais castigados pelo Conde eram sua esposa e seu herdeiro. Ainda que suas notas
fossem sempre excelentes e suas habilidades desportivas extraordinárias, o velho Conde
nunca pareceu satisfeito com seu descendente. Mary recordava as contínuas críticas e os
gritos que Robert tolerava sem pestanejar. Tampouco ela presenciou quando ele batia no
seu irmão, porém tinha certeza de que aquelas práticas não eram estranhas.
Depois de todos esses anos, Mary estava segura de que o objetivo de seu pai não era
alcançar a excelência de seu sucessor; pois isso já houvera obtido. Tão sinistro e atroz
como o mesmo, seu propósito era o de exterminar o amor e a ternura do coração de seu
filho. Porém, apesar de todos os seus esforços, o Conde não conseguiu matar a inclinação
inata de Robert por tudo que era bom e honrado; e é por isso que Mary não poderia se
orgulhar mais de seu amado irmão mais velho.
Robert não parecia participar dos vícios que afetavam a outros nobres ingleses. Não
frequentava as casas de jogo nem outros lugares de má reputação; e seu nome,
diferentemente dos de outros pares do reino, nunca havia sido relacionado com nenhum
escândalo. Aos trinta e cinco anos, os únicos vícios do Conde de Rohard pareciam ser os
negócios. Desde que herdara o título nove anos atrás, Robert havia feito crescer a reduzida
fortuna familiar de uma maneira esmagadora.
Porém ainda que as virtudes de seu irmão fossem muitas, Mary reconhecia que as vezes
era um autêntico chato. Para proteger a seus entes queridos, Robert não tinha nenhum
inconveniente em comportar-se como um legítimo tirano até que todos acatassem suas
ordens. Esta era a única razão dos desentendimentos que tinha com ele. Se empenhava
tanto em protegê-la e afastá-la de qualquer perigo, que conseguia fazê-la explodir de raiva.
Por este motivo precisava recorrer muitas vezes ao único recurso que ele não parecia ser
imune: suas lágrimas e sua incapacidade.
—Ai! —exclamou Sara quando a carruagem deu outro forte tranco e sua testa bateu
contra o frio vidro da janela.
—Você está bem, querida? — perguntou a anciã do assento à frente.
Sara se agarrou novamente a maçaneta da sua porta e, com a outra mão, esfregou a
testa dolorida.
—Sim, obrigada. Porém vai me sair um galo.
Olhando pela janela comprovou que o sol havia saído e estava quase alto, portanto já
devia ser meio-dia. Através do vidro comprovou que já haviam deixado para trás a
paisagem agreste e montanhosa que os havia acompanhado durante quase toda a viagem
desde Ravenville. Atravessavam um verde vale cruzado por um rio caudaloso e azul. Da
estrada podia-se ver algumas granjas próximas compostas pela casa principal de pedra e
outras edificações anexas de madeira que serviam como armazém e estábulo para os
animais. Também se podiam distinguir a distância, nas margens do rio, as rodas de vários
moinhos que eram utilizados para bombear água e obter as melhores farinhas. Várias
ovelhas pastavam plácidamente nas ladeiras de uma pequena colina. E os campos não
deixavam de oferecer um aspecto verde e fecundo. Algumas árvores frutíferas, cujos
galhos eclodiriam com a chegada da próxima primavera, se estendiam ao largo da estrada.
Sem duvida, já haviam chegado ao Condado de Rohard. A prosperidade do condado
era conhecida em todo o leste da Inglaterra, e a dedicação do Conde pelo bem-estar de
seus arrendatários transcendia muito além das fronteiras da comarca.
Seus companheiros de viagem contaram a Sara que Lord Luton havia estabelecido uma
série de medidas para que os jovens regressassem para as abandonadas granjas do
condado. Oferecia crédito a muito baixo custo durante os primeiros anos. Desta forma,
quando o Conde recuperava seu investimento, a granja já proporcionava benefícios a seus
donos, e ambas as partes saíam ganhando.
Graças ao falatório de seus companheiros de viagem Sara também soube que o Conde
havia estabelecido toda uma rede de escolas ao longo de seu território, assim como a
obrigatoriedade de enviar aos meninos e meninas à escola. Alguns caseiros para quem
ainda era difícil renunciar à mão de obra dos menores violavam a norma até serem
Sara contemplava com afeto a Mary, enquanto servia o chá com requintada delicadeza.
—Segues tomando-o sem açúcar e com limão?
Sara assentiu dedicando um sorriso a sua amiga.
Mary havia emagrecido um pouco desde a última vez que se viram, isto fazia que seus
grandes olhos azuis parecessem ainda maiores. Levava um bonito e favorecedor vestido
verde de manga larga, e sua abundante cabeleira loira estava recolhida num sofisticado
penteado que deixava cair algumas mechas ao redor de seu rosto. Depois de observar sua
amiga com atenção e, salvo pela brancura habitual de sua pele, para Sara não lhe parecia
que sua saúde estivesse tão mal como lhe havia assegurado sua mãe.
Depois de sua chegada, Mary a acompanhou até um bonito quarto próximo ao seu.
Todas as vezes que se havia hospedado em Sweet Brier Path, havia ficado na ala de para
convidados; o que lhe havia custado mais de uma caminhada a meia-noite para chegar até
o quarto de sua amiga, aonde permaneciam conversando até o amanhecer.
Uma vez instalada, Sara se deleitou com um banho quente na enorme banheira de seu
quarto, que fez ressuscitar seus doloridos músculos. Depois de devorar o almoço que
Mary ordenou que lhe subissem, se deitou na cama macia e dormiu durante algumas
horas. Ninguém a incomodou até a tarde, quando uma das donzelas de Mary chamou
discretamente na porta e lhe disse que, se havia repousado o suficiente, Lady Luton a
esperava para tomar o chá na sua saleta privativa.
—Aqui tome, querida.
Sara voltou para a realidade e pegou a xícara que lhe oferecia sua amiga. Sabia que
Mary sempre punha obstáculos para falar de sua saúde. Odiava que as pessoas estivessem
mais cientes de sua condição física que dela.
—E bem, conta-me, o que tens feito ultimamente? — perguntou Sara sem interesse
aparente —. Como tens estado?
Mary sorveu um gole de sua xícara e acariciou a cabeça de Smokie que descansava a seu
lado na cadeira.
—Morta de aborrecimento — exclamou pondo os olhos em branco —. Se não tivesses
vindo, teria falecido em poucas semanas de puro tédio.
—Mary, não fales assim — disse Sara em tom reprovador.
—Te digo a verdade. Minha vida é um desgosto, e ninguém parece importar-se o
mínimo. As jovens nobres da minha idade que antes vinha visitar-me se casaram e tem
Diego Lezcano havia viajado de Londres durante dois dias e havia chegado pouco antes
do amanhecer a Sweet Brier Path. Sua presença ali havia sido requerida pelo Conde, que
necessitava da sua ajuda e conselho num projeto de lei dos mais ambiciosos que pretendia
apresentar no Parlamento. Se tratava de uma proposta para a redução da jornada laboral
para dez horas, uma reforma do código penal pela qual não se castigaria as faltas ao
trabalho justificadas com a prisão, e um programa sanitarista, que serviria para a difusão
de alguns hábitos básicos de higiene pessoal entre os trabalhadores das fábricas. Ambos
acreditavam que este último serviria para erradicar grande parte das enfermidades que
acometiam os operários e que muitas vezes reduziam sua capacidade de forma quase
insustentável.
Na sua chegada à mansão, Robert já estava lhe esperando no gabinete com a cabeça
enterrada numa pilha de livros grossos. Três horas depois, ainda seguiam ali. O Conde
caminhava com ímpeto de um lado para o outro do gabinete, enquanto Diego o observava
tombado numa poltrona, incapaz de seguir seu enérgico discurso.
— Se favorecermos a sua qualidade de vida, Diego, trabalharão mais e melhor. E o que
investirmos agora, reverterá para os nossos bolsos no futuro — proclamou —. Na Câmara
terão que ouvir-me. Muitos também são empresários e, aos outros, não lhes interessam as
revoltas. O fantasma da Revolução Francesa ainda sobrevoa suas cabeças, meu amigo.
—Sabes que estou completamente de acordo —disse Diego com ar abatido —. Mas não
poderíamos conversar enquanto comemos?
Robert levava tempo planejando a elaboração daquele projeto. Fazia anos que visitava
os bairros operários pensando nas reformas arquitetônicas que seriam necessárias para
melhorar a qualidade de vida de seus residentes. Fazia muito que desejava fazer algo
importante para melhorar as condições de habitabilidade dos guetos londrinos, e o
A Robert lhe fervia o sangue enquanto percorria a grandes passadas o largo corredor
até seu gabinete. E não era devido às duras palavras da senhorita Brown, nem a bofetada,
que bem havia merecido; sua irritação monumental era consigo mesmo. Havia ido a
biblioteca com a intenção de dar-lhe um pequeno sermão sobre a segurança de Mary, e
havia terminado... Robert se deteve em seco atormentado por sua atitude com a jovem.
Havia comportado-se como um louco. A beijou e acariciou como um cretino no cio. E se
não fossem interrompidos, Deus sabia aonde haveriam chegado. Aquele pensamento o fez
rosnar furioso enquanto passava a mão pelo cabelo.
Ela o provocara, isso era certo. Nunca lhe disse que iria beijá-la; somente lhe perguntou
quantas vezes o haviam feito e, no entanto, ela o desafiou para que não se aproximasse.
Porém, ainda assim, devia reconhecer que morria de vontade de beijá-la. Já fazia muito
tempo desejando-o, sonhando-o.
A garota o havia fascinado profundamente desde o dia em que a conheceu. Mas fazia
três anos que sua ânsia havia crescido mais a cada dia; e agora que compartilhava sua casa
não deixava de pensar nela nem sequer por um instante.
Aquele comportamento escandaloso não era próprio de seu caráter justo. Se queria
fazer honra a seu sentido de decoro e de justiça, não lhe restava outra alternativa: teria que
desculpar-se com ela e prometer-lhe que não voltaria a acontecer. Bom, talvez não
prometer, porém assegurar-lhe que faria o que estivesse a seu alcance para manter suas
mãos afastadas dela. "Absurdo", pensou Robert indignado enquanto entrava no gabinete.
"Isto é completamente absurdo".
—Sirva-me outro, poderias?
Quando ainda faltavam horas para amanhecer, Robert descia de sua carruagem e subia
cabisbaixo a escadaria de entrada de Sweet Brier Path. Sua viagem a Londres havia
resultado esgotadora. Por desgraça, uma das máquinas de sua fábrica de locomotivas
havia explodido e levara junto dois bons trabalhadores. Ele e Lezcano foram avaliar os
danos na cadeia de produção e fazer uma estimativa dos custos para reparos. Iniciaram
também os trâmites para indenizar às famílias dos dois trabalhadores falecidos.
Robert se encerrou no seu gabinete desde antes do amanhecer para finalizar todos os
detalhes para a apresentação de seu projeto de lei. Aquela festa era muito importante para
conseguir seu propósito. A aprovação ou não no Parlamento do projeto em que havia
empregado tanto tempo dependia dos apoios que conseguisse atrair durante aqueles dias
nos quais as pessoas mais influentes do país ocupariam sua casa para comer e beber a suas
custas. Robert voltou a olhar seu relógio de bolso; Lezcano já deveria ter chegado fazia
horas. Com o cenho franzido recordou a última conversa mantida com seu amigo nos
escritórios londrinos de Bond Street.
—No aniversário de minha irmã não só assistirão os membros da Câmara Alta e suas
distintas famílias — explicou Robert com ironia —, mas também os grandes industriais,
meu amigo. A cúpula do poder completa. A Rainha não poderá comparecer, uma lástima.
—Não me agradam as festas — grunhiu Lezcano impaciente.
Robert continuou sem fazer-lhe o menor caso.
—Se quisermos que nossa proposta tenha alguma possibilidade, devemos esmerar-nos
ao máximo. Temos que aproveitar o tempo para fazer uma sondagem entre nossos
semelhantes e conhecer qual é a tendência geral.
Diego parecia exasperado.
—Não são meus semelhantes; são os teus — exclamou.
Sem deixar-se impressionar pelo mal-humor de seu amigo, Robert continuou como se
nada ocorresse.
—Nada disso. Não me escutas? Muitos deles não são nobres, são ricos empresários
como tu. Por certo, alguns te devem dinheiro, não? — Robert riu maliciosamente —. Isso
poderia ser útil.
—Luton — disse Diego com ar cansado —, de verdade estavas tão louco quando nos
conhecemos?
Robert podia sentir contra suas coxas as esbeltas pernas de Sara. O tecido de seu vestido
lhe envolvia em cada giro e o contato íntimo com seu corpo o deixava louco. Aquela
mulher se moldava a ele com suma perfeição. Contemplou o rosto sorridente e corado de
Sara, e uma contundente certeza começou pouco a pouco a formar-se em sua mente:
ninguém, nunca, poderia interessar-lhe mais.
Nenhuma das insossas garotas que sua mãe há anos lhe apresentava lhe havia
provocado o mínimo interesse: os olhos de Sara, seus lábios, seu sorriso e esse corpo
escandaloso; mas, além disso, suas independentes, singelas, obstinadas e espontâneas
opiniões, sua sinceridade, sua rebeldia e obstinação. Era inevitável, a partir desse
momento as compararia todas com ela e nenhuma teria nada a fazer. Aqueles
pensamentos o fizeram sorrir. Não, claro que não poderia fazer uma escolha menos
adequada para o que se esperava dele. Porém o certo era que não lhe importava as
expectativas alheias.
Robert recordou as palavras de Lezcano e compreendeu que poderia seguir lutando
contra e sentimentos, algo que não havia obtido nenhum êxito até o momento, ou poderia
render-se as evidências e reconhecer de uma vez o que já levava anos negando a si mesmo:
amava Sara Brown.
Apesar de tudo, sabia que se casasse com ela não poderia esperar um matrimonio
cômodo e convencional. A ideia de que Sara se convertesse em sua esposa o fez suspirar
de anseio. Estava claro que nunca seria uma esposa submissa e complacente. Porém, ainda
assim, lhe era insuportável imaginar um futuro no qual ela não estivesse. Ao observar
novamente a sorridente face de Sara, se perguntou se era aquilo o que desejava realmente,
e a resoluta voz de sua consciência respondeu no mesmo instante: "Absolutamente".
Diego passeava entre as sebes disfrutando da solidão e da brisa noturna. Não tinha
nenhuma intenção de voltar para a festa. As conversas ébrias da maioria dos cavalheiros o
desgostavam até conseguir enfurecê-lo. Não entendia por que Robert tentava introduzir
algum sentido comum naquelas cabeças ocas, preocupadas unicamente em receber rendas
e não fazer absolutamente nada mais na vida que gastar dinheiro. E, se os mesquinhos
cavalheiros o deprezavam, suas esposas, velhas faladeiras maliciosas, conseguiam irritá-lo
seriamente. E nada a dizer das jovenzinhas bem nascidas; dignas herdeiras de suas mães.
Zangado, voltou a afrouxar o nó de sua gravata. Exceto a homenageada, tudo naquela
reunião o irritava. Ao recordar de Mary Luton um sentimento de ansiedade lhe atravessou
o coração. Estava tão linda: seus incríveis olhos brilhando de emoção, a linha suave de sua
face, seu precioso cabelo, as curvas de seus pequenos peitos espreitando por seu decote...
Rita Morrigan surpreendeu a sua família desde pequena por sua inclinação a devorar
histórias: em voz alta, num filme, numa peça teatral, numa ópera, numa canção.
Assombrada pelo efeito mágico que as histórias produziam naqueles que as recebiam,
tomou a decisão de começar a relatar as próprias .
Na atualidade vive numa cidade dos sonhos à beira mar com seu marido e seu gato
Fume.
Doce Caminho Espinhoso é sua primeira novela romântico-histórica publicada.