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A casa dos loucos pg.

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No fundo da prática cientifica existe um discurso que diz: "nem tudo é verdadeiro; mas
em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade
talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para
aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva,
o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está
presente aqui e em todo lugar".

Se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não
simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá−la. Sua
cronologia a é a das conjunções que lhe permitem se produzir como um acontecimento,
e não a dos momentos que devem ser aproveitados para percebê−la, como por entre
duas nuvens.

aquela que achamos de forma muito elaborada na noção médica de crise, e cuja
importância se prolongou até o fim do século XVIII. A crise, tal como era concebida e
exercida, é precisamente o momento em que a natureza profunda da doença sobe à
superfície e se deixa ver.

Movimento em certo sentido autônomo, mas do qual o médico pode e deve participar.
Este deve reunir em torno dela todas as conjunções que lhe são favoráveis e prepará−la,
ou seja, invocá−la e suscitá−la. Mas deve também colhê−la como se fosse uma ocasião,
nela inserir sua ação terapêutica e combatê−la no dia mais propício. Sem dúvida, a crise
pode ocorrer sem o médico, mas se este quiser intervir, que seja segundo uma estratégia
que se imponha à crise como momento da verdade, pronta a sub−repticiamente conduzir
o momento a uma data que seja favorável ao terapeuta. No pensamento e na prática
médica, a crise era ao mesmo tempo momento fatal, efeito de um ritual e ocasião
estratégica.

Podemos então supor na nossa civilização e ao longo dos séculos a existência de toda
uma tecnologia da verdade que foi pouco a pouco sendo desqualificada, recoberta e
expulsa pela prática científica e pelo discurso filosófico. A verdade ai não é aquilo que
é, mas aquilo que se dá: acontecimento. Ela não é encontrada, mas sim suscitada:
produção em vez de apofântica.
É uma relação ambígua, reversível, que luta belicosamente por controle, dominação e
vitória: uma relação de poder.

Um "bom senso" que de fato repousa sobre toda uma concepção da verdade como
objeto de conhecimento, reinterpreta e justifica a busca da confissão perguntando se
pode haver melhor prova, indício mais seguro do que a confissão do próprio sujeito
acerca de seu crime, ou seu erro ou seu desejo louco.

Mas, historicamente, bem antes de ser considerada um teste, a confissão era a produção
de uma verdade que se colocava no final de uma prova, e segundo formas canônicas:
confissão ritual, suplício, interrogatório. Nesta forma de confissão − tal como as práticas
religiosas e depois judiciárias da Idade Média buscavam − o problema não era o de sua
exatidão e de sua integração como elemento suplementar às outras prescrições; o
problema era simplesmente que fosse feita, e feita segundo as regras. A seqüência
interrogatório/confissão, que é tão importante na prática médico−judiciária moderna,
oscila de fato entre um antigo ritual da verdade/prova prescrito ao acontecimento que se
produz, e uma epistemologia da verdade/constatação prescrita ao estabelecimento dos
sinais e dos testes.

E esta forma singular de produção da verdade que pouco a pouco foi recobrindo as
outras formas de produção da verdade e que, ou pelo menos, impôs sua forma como
universal.

E é esse modelo que, à medida em que se desenvolviam as estruturas do Estado, impôs


ao saber a forma do conhecimento: a de um sujeito soberano tendo uma função de
universalidade e um objeto de conhecimento que deve ser reconhecível por todos como
sendo sempre dado.

A viagem introduziu o universal na tecnologia da verdade; impôs-lhe a norma do


"qualquer lugar", do "qualquer tempo" e, consequentemente do "qualquer um". A
verdade não tem mais que ser produzida. Ela terá que se representar e se apresentar cada
vez que for procurada.

E uma maneira de constatar uma verdade através de uma técnica cujas entradas são
universais. A partir daí, a produção de verdade tomou a forma da produção de
fenômenos constatáveis por todo sujeito de conhecimento.
esta grande transformação dos procedimento de saber acompanha as mutações
essenciais das sociedades ocidentais: emergência de um poder político sob a forma do
Estado, expansão das relações mercantis à escala do globo, estabelecimento das grandes
técnicas de produção. Mas também podemos ver que, nestas modificações do saber, não
se trata de um sujeito de conhecimento que seria afetado pelas transformações da
infra−estrutura. Trata−se sim de formas de poder−e−de−saber, de poder−saber que
funcionam e se efetivam ao nível da "infra−estrutura" e que dão lugar à relação de
conhecimento sujeito−objeto como nome do saber. Norma esta que é historicamente
singular.

podemos então compreender que ela não se aplica sem problemas a tudo que resiste ou
escapa às formas de poder−saber de nossa sociedade, a tudo que resiste ou escapa ao
poder estatal, à universalidade mercantilista e às regras de produção. Ou seja, a tudo que
é percebido e definido negativamente: doenças, crime, loucura. Por muito tempo e ainda
em boa parte nos nossos dias, a medicina, a psiquiatria, a justiça penal, e a criminologia
ficaram nos confins de uma manifestação da verdade nas normas de conhecimento, e de
uma produção da verdade na forma da prova: esta tendendo sempre a se esconder sob
aquela e procurando através dela justificar−se. A crise atual destas disciplinas não
coloca em questão simplesmente seus limites e incertezas no campo do conhecimento.
Coloca em questão o conhecimento, a forma de conhecimento, a norma
"sujeito−objeto". Interroga as relações entre as estruturas econômicas e políticas de
nossa sociedade e o conhecimento, não em seus conteúdos falsos ou verdadeiros, mas
em suas funções de poder−saber. Crise por conseqüência histórico−política.

Seja inicialmente o exemplo da medicina, com o espaço que lhe é conexo, o hospital.
Até pouco tempo o hospital foi um lugar ambíguo: de constatação para uma verdade
escondida e de prova para uma verdade a ser produzida.

Uma ação direta sobre a doença: não só lhe permitir revelar a sua verdade aos olhos do
médico mas também produzi−la. O hospital como lugar de eclosão da verdadeira
doença. Supunha−se com efeito que o doente deixado em liberdade, no seu meio, na sua
família, naquilo que o cercava, com o seu regime, seus hábitos, seus preconceitos, suas
ilusões, só poderia ser afetado por uma doença complexa, opaca, emaranhada, uma
espécie de doença contra natureza, que era ao mesmo tempo a mistura de várias doenças
e o empecilho para que a verdadeira doença pudesse se produzir na autencidade de sua
natureza. O papel do hospital era então, afastando esta vegetação parasita e formas
aberrantes, não só de deixar ver a doença tal como é, mas também produzi−la enfim na
sua verdade até então aprisionada e entravada. Sua natureza própria, suas características
essenciais, seu desenvolvimento específico poderiam enfim, pelo efeito da
hospitalização, tornar−se realidade.

Essas breves anotações podem nos ajudar a compreender a posição do louco e do


psiquiatra no interior do espaço asilar.

Antes do século XVIII, a loucura não era sistematicamente internada, e era


essencialmente considerada como uma forma de erro ou de ilusão. Ainda no começo da
idade clássica, a loucura era vista como pertencendo às quimeras do mundo; podia viver
no meio delas e só seria separada no caso de tomar formas extremas ou perigosas.
Nestas condições compreende−se a impossibilidade do espaço artificial do hospital em
ser um lugar privilegiado, onde a loucura podia e devia explodir na sua verdade. Os
lugares reconhecidos como terapêuticos eram primeiramente a natureza, pois que era a
forma visível da verdade; tinha nela mesma o poder de dissipar o erro, de fazer sumir as
quimeras. As prescrições dadas pelos médicos eram de preferência a viagem, o repouso,
o passeio, o retiro, o corte com o mundo vão e artificial da cidade.

A prática do internamento no começo do século XIX, coincidiu com o momento em que


a loucura é percebida menos com relação ao erro do que com relação à conduta regular
e normal. Momento em que aparece não mais como julgamento perturbado mas como
desordem na maneira de agir, de querer, de sentir paixões, de tomar decisões e de ser
livre. Enfim, em vez de se inscrever no eixo verdade−erro−consciência, se inscreve no
eixo paixão−vontade−liberdade. E o momento de Hoffbauer e Esquirol.

Todas as técnicas ou procedimentos efetuados no asilo do século XIX − isolamento,


interrogatório particular ou público, tratamentos−punições como a ducha, pregações
morais, encorajamentos ou repreensões, disciplina rigorosa, trabalho obrigatório,
recompensa, relações preferenciais entre o médico e alguns de seus doentes, relações de
vassalagem, de posse, de domesticidade e às vezes de servidão entre doente e médico −
tudo isto tinha por função fazer do personagem do médico o "mestre da loucura"; aquele
que a faz se manifestar em sua verdade quando ela se esconde, quando permanece
soterrada e silenciosa, e aquele que a domina, a acalma e a absorve depois de a ter
sabiamente desencadeado.
Cooper disse: "a violência está no cerne do nosso problema". E Basaglia: "a
característica destas instituições (escola, usina, hospital) é uma separação decidida entre
aqueles que têm o poder e aqueles que não o têm". Todas as grandes reformas, não só da
prática psiquiátrica mas do pensamento psiquiátrico, se situam em torno desta relação
de poder; são tentativas de deslocar a relação, mascará−Ia, eliminá−la e anulá−la. No
fundo, o conjunto da psiquiatria moderna é atravessado pela anti−psiquiatria, se por isto
se entende tudo aquilo que recoloca em questão o papel do psiquiatra, antigamente
encarregado de produzir a verdade da doença no espaço hospitalar.

"despsiquiatrização"

No cerne da antipsiquiatria existe a luta com, dentro e contra a instituição. Quando no


começo do século XIX foram instaladas as grandes estruturas asilares, estas eram
justificadas pela maravilhosa harmonia entre as exigências da ordem social que pedia
proteção contra a desordem dos loucos, e as necessidades da terapêutica, que pediam o
isolamento dos doentes (1). Para justificar o isolamento dos loucos, Esquirol dava cinco
razões principais: 1. garantir a segurança pessoal dos loucos e de suas famílias; 2.
liberá−los das influências externas; 3. vencer suas resistências pessoais; 4. submetê−los
a um regime médico; 5. impor−lhes novos hábitos intelectuais e morais. Como se poder
ver tudo é questão de poder: dominar o poder do louco, neutralizar os poderes que de
fora possam se exercer sobre eles, estabelecer um poder terapêutico e de adestramento,
de "ortopedia". Ora, é precisamente a instituição como lugar, forma de distribuição e
mecanismo destas relações de poder, que a antipsiquiatria ataca. Sob as justificações de
um internamento que permitiria, num lugar purificado, constatar o que se passa e
intervir onde, quando e como se deve, ela faz aparecer as relações de dominação
próprias à relação institucional: "o puro poder do médico, diz Basaglia, constatando no
século XX os efeitos das prescrições de Esquirol, aumenta tão vertiginosamente quanto
diminui o poder do doente; este, pelo simples fato de estar internado, passa a ser um
cidadão sem direitos, abandonado à arbitrariedade dos médicos e enfermeiros, os quais
podem fazer dele o que bem entendem, sem que haja possibilidade de apelo".
Parece−me que poderíamos situar as diferentes formas da anti−psiquiatria segundo sua
estratégia em relação a estes jogos do poder institucional: escapar a eles segundo a
forma de um contrato dual, livremente consentido por ambas as partes (Szasz);
estabelecimento de um local privilegiado onde eles devam ser suspensos ou rechaçados
no caso de se reconstituirem (Kingsley Hall); balisá−los um por um e destruí−los
progressivamente, no interior de uma instituição de tipo clássico (Cooper no pavilhão
21); ligá−los a outras relações de poder que, do exterior do asilo já puderam determinar
a segregação de um indivíduo como doente mental (Gorizia). As relações de poder
constituíam o a priori da prática psiquiátrica. Elas condicionavam o funcionamento da
instituição asilar, ai distribuíam as relações entre os indivíduos, regiam as formas de
intervenção médica. A inversão característica da anti−psiquiatria consiste ao contrário
em colocá−las no centro do campo problemático e questioná−las de maneira primordial.

Ora, aquilo que estava logo de início implicado nestas relações de poder, era o direito
absoluto da não−loucura sobre a loucura.

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAANGcAF/olhar-sobre-a-loucura-foucault#

http://www.nodo50.org/insurgentes/biblioteca/A_Microfisica_do_Poder_-
_Michel_Foulcault.pdf

http://monografias.brasilescola.com/filosofia/os-discursos-sobre-loucura-como-
instrumento-poder.htm

http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/a-Casa-Dos-Loucos-Em-a/174807.html?_p=2

http://pt.shvoong.com/social-sciences/1632201-casa-dos-loucos-movimento-anti/

http://pt.shvoong.com/social-sciences/1632203-vigiar-punir-pan%C3%B3ptico-michel-
foucault/

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