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conversas-em-sala-de-aula
Literatura
Ilustração de Bruna Assis Brasil para o livro 10 Bons Conselhos do meu Pai, de João Ubaldo
Ribeiro Foto: Divulgação
Os livros infantis estão entre os materiais mais usados em sala de aula na Educação Infantil e nos
primeiros anos do Ensino Básico. E por uma razão importante: eles podem compor um universo de
temas que o professor quer trabalhar com as crianças e ampliar seu vocabulário e compreensão. “O
livro é um ‘disparador’ para que as crianças possam pensar sobre algumas coisas, como respeito, o
outro e aquilo que que é diferente”, diz Denise Tonello, orientadora educacional e pedagógica do 1º
ciclo Ensino Fundamental 1 no Miguel de Cervantes, em São Paulo. Segundo ela, principalmente na
faixa até o 3º ano, as histórias são importantes para trabalhar essa reflexão das crianças sobre vários
assuntos.
Para o professor, tão interessante quanto as histórias que o livro conta é o que essa leitura trará para a
turma. “A literatura ajuda no desenvolvimento da linguagem, na ampliação do vocabulário, além de
despertar sentimentos, emoções, desenvolver a imaginação, a criticidade, proporcionar experimentar
mundos novos de modo significativo e prazeroso”, afirma a professora Samantha Ishikawa, do Colégio
Santa Maria. Nesse processo, durante ou após a leitura, é crucial ouvir as crianças, para que digam
qual é o seu entendimento. “Às vezes a gente se surpreende com o que elas enxergam naquela
história”, afirma Denise. Ela reforça que as histórias são importantes, mas as crianças também
precisam ver exemplos na vida real. “Não adianta pegar um livro bom, ler com os alunos e achar que já
fez sua parte. É importante dar voz para a criança e perceber o que e como ela entende a história”.
O educador precisa estar ciente que não é uma questão de escolher o livro somente preso a
ensinamentos moralizantes. “Trocar impressões, aguçar percepções, demorar-se em uma página,
voltar e reler trechos provocadores são situações muito mais valiosas do que buscar mensagens, na
maioria das vezes, reducionistas”, destaca Cristiane Tavares, mestre em Literatura e Crítica Literária
pela PUC-SP e coordenadora do curso Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, no Instituto
Vera Cruz.
Nesse contexto, se o professor tem um tema claro de conversa que deseja puxar com a turma, vale
questionar se a escolha do livro contempla o tema como estereótipo ou em suas sutilezas. “Via de
regra os livros que disparam as melhores conversas com as crianças não são aqueles que
necessariamente tratam do tema de forma direta”, pondera Cristiane. Um livro que foi programado
para falar sobre preconceitos, por exemplo, pode sustentar e perpetuar estereótipos, mesmo que não
intencionalmente.
“Ao escolher os livros, os professores preocupam-se muito com a linguagem explícita e com as
imagens, se o livro é visualmente interessante e se o vocabulário é de fácil compreensão para a faixa-
etária”, diz Samantha. Embora a preocupação seja legítima, outros cuidados devem ser tomados
considerando o tema, a ampliação do vocabulário e os significados das palavras e as próprias
interpretações que podem ser feitas a partir da leitura.
Abordagens questionáveis
Nesta semana, por exemplo, uma cartilha com a proposta de apresentar hábitos alimentares
prejudiciais à saúde e a contra obesidade infantil foi distribuída para crianças em São José dos Campos
(SP). O material associava gordo a botijão. A abordagem foi considerada preconceituosa e agressiva.
Em 2017, outro tema causou repúdio. O livro Peppa, de Silvana Rando, suscitou muitas discussões e foi
retirado de circulação. A proposta era discutir como as crianças, por vezes, acabam deixando de
aproveitar a infância ao se obrigar a seguir determinados padrões. O sonho da protagonista Peppa é
ter um cabelo liso. Mas para chegar até a proposta, a personagem passa por situações e comparações
que muitos consideraram ofensivas – apesar da autora não ter tido a intenção e alguns leitores não
enxergarem problemas na forma como o texto trabalha a questão. Os cabelos de Peppa, por exemplo,
eram descritos como “feitos de aço”, o que remeteu comparações entre cabelos crespos e palhas de
aço (ou Bombril) – expressão geralmente usada de forma ofensiva para falar dos cabelos de meninas
negras.
Para Cristiane, a leitura compartilhada com crianças pode ser disparadora de boas conversas sobre os
mais variados assuntos. “Mas conversar sobre livros é, antes de tudo, uma experiência estética. Na
maioria das vezes, os não-ditos são extremamente significativos”, considera. Por esse motivo, a
conversa pode estar baseada em outros elementos que não a mensagem em si. O ‘disparador’ pode
estar nas ilustrações, na construção textual ou no próprio projeto editorial.
Além disso, Samantha destaca que, muitas vezes, é a partir das perguntas dos professores que os
livros trazem essas boas conversas e os alunos percebem o que está nas entrelinhas. Para isso, é
importante aguçar a curiosidade dos alunos em relação ao tema. Ela indica que é possível conversar
antes da leitura sobre o título, imagens de capa e contra-capa e até mesmo o próprio conteúdo. A troca
entre perspectivas dos alunos também é importante nesse processo. “Isso é fazer a predição, é
envolver os alunos na tentativa de estabelecerem relações. Depois a história será contada e
confirmarão ou não suas hipóteses iniciais”, diz.
A seguir selecionamos alguns livros indicados pelas entrevistadas desta reportagem. No entanto, sobre
a lista de bons autores e livros, Cristiane acrescenta: “Uma lista é sempre uma lista - reduzida e
incompleta, ponto de partida, nunca de chegada!”.
3. Roupa de brincar
Eliandro Rocha – Editora Pulo do Gato
Indicado tanto para uma leitura compartilhada quanto para quem está começando a ler sozinho, a
obra conta a história de uma menina que tinha como a melhor diversão o guarda-roupa da tia. É um
livro para se trabalhar as relações familiares, fantasia e realidade, olhar infantil, brincadeiras,
mudanças e superação.
5. O pote vazio
Demi – Martins Fontes
O imperador busca um sucessor e decide distribuir sementes a todas as crianças, para que cultivem
flores, dizendo que uma delas será escolhida. A história trabalha a questão do fracasso e da
honestidade, com ilustrações e texto primorosos.
6. O Reizinho Mandão
Ruth Rocha - Saraiva
O personagem do título é um menino que vive dando ordens aos outros e só faz o que quer. É uma
história para que o professor trabalhe a questão do coletivo, lembrando às crianças que em casa pode
ser uma coisa, mas no dia a dia com o grupo e na escola é preciso dar espaço ao outro.
13. Vazio
Catarina Sobral – Ed. 34
Este é um dos títulos que não fica restrito à história escrita l – até porque se trata de um livro sem
palavras. A partir de recortes, pinceladas, carimbos e garatujas, a autora cria uma fábula visual que
permite vários níveis de leitura sobre o sentimento do vazio.
15. Migrando
Mariana Chiesa Mateos – Ed. 34
Neste livro também sem palavras, a autora aborda um tema cada vez mais presente dentro das
escolas: a imigração. A leitura pode ser iniciada pela capa ou contracapa: tem dois inícios com duas
histórias de imigração paralelas que se cruzam em seu interior.
E no seu caso, professor, quais livros infantis já dispararam boas conversas com a sua turma?
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