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da Península de Setúbal
Nota de Agradeci m e nto :
Os autores deste t r a b a l h o e s t ã o p ro f u n d a m e n te re c o n h e c i d o s e gr a to s a to d o s o s a gr i c u l to re s e a gr i c u l-
toras da Península d e S e t ú b a l p e l a p re c i o s a c o l a b o r a ç ã o n e s te l e v a n t a m e n to, q u e r a t r avé s d e i n fo r m a ç õ e s
únicas, quer atravé s d a c e d ê n c i a d e v a r i e d a d e s p a r a fo to gr a f a r o u p a r a e x i b i r. Q u e e s te t r a b a l h o s e j a t a m-
bém motivo de org u l h o p a r a e l e s.
Le vanta m e n to e fe c t u a d o p e l a As s o c i a ç ã o Co l h e r Para S emear – R ede Por tuguesa de Var iedades
Tradicio n a i s e n t re o s m e s e s d e J u n h o e S e te m bro de 2006 nos concelhos da Península de
S etúbal, e a p re s e n t a d o p u b l i c a m e n te n o â m b i to do e vento Ao Encontro da S emente 2006,
realizad o e m S e s i m b ra n o s d i a s 2 1 a 2 2 d e O u t u b ro de 2006.
introduç ão
Este levantamento pretende ser uma recolha das Assim, chegámos à Abóbora Pau, à Maçã Branca ou
variedades tradicionais de frutos, hortícolas e cereais Moscatel, à Pêra de Inverno, entre outras. Falámos tam-
ainda produzidos na Península de Setúbal. Foram as- bém com alguns agricultores já nossos conhecidos
sim consideradas todas aquelas que, por serem de que, não só nos forneceram preciosas informações,
cultivo antigo, mostraram há muito a sua adaptação como nos mostraram as variedades de que são há
ao clima e tipo de solos próprios daquela região. É de muito tempo guardiões.
salientar ainda que muitas destas variedades aparecem
também noutras zonas do país, onde encontram igual- Visitámos também as casas de sementes mais antigas,
mente condições para o seu pleno desenvolvimento. onde encontrámos algumas das leguminosas aqui cata
logadas. As cooperativas agrícolas prestaram ainda
Porque a recolha foi feita entre os meses de Junho e uma colaboração importante, indicando-nos alguns
Setembro, época de grande produção, foi possível sócios, prováveis detentores de sementes e/ou frutos.
inventariar - e na quase totalidade dos casos, fotogra-
far - mais de 67 variedades, o que consideramos ser Das variedades encontradas, algumas estão próximas
bastante animador. Apesar da vantagem sazonal, a do desaparecimento pela raridade da sua cultura, tais
proximidade da Península de Setúbal com o grande como as uvas Ferral e Santa Isabel, os tomates Rosa da
centro urbano que é Lisboa fazia-nos pensar, à partida, Moita e De Pendura ou De Inverno, e os feijões Cor de
num número bastante mais reduzido. Cana e Patareco ou Ratinho. Por outro lado constatá-
mos com agrado o ressurgimento da Maçã Cunha
Devido às limitações de tempo e meios, optámos em ou Riscadinha de Palmela e a continuação da venda
primeiro lugar por visitar os mercados locais procuran- disseminada nos mercados, de feijões e frutos, como
do aí algumas pistas junto dos agricultores presentes. o Douradinho e o Carrapato Riscado, e a uva Moscatel
Este método levou-nos à procura de mercados de de Setúbal.
produtores, por serem esses os sítios mais prováveis
para encontrar o que procurávamos. O facto de ser Este levantamento pode, e deve, ser continuado, com
no concelho de Sesimbra onde existe o maior número a procura de outras variedades que possam existir na
destes mercados reflecte os resultados obtidos: uma península, tendo em conta que não foi possível abran
grande percentagem dos locais de recolha é precisa- ger toda a região. As hortas urbanas, na periferia dos
mente neste concelho. Porém, parte das variedades aglomerados populacionais, são por natureza propícias
aqui encontradas cultivam-se um pouco por toda a à biodiversidade, e requerem uma atenção especial,
Península. pois não foram, de todo, apreciadas durante este le-
vantamento. Também a introdução de mais sugestões
Através dos dados obtidos por este método, chegámos culinárias pode incentivar ao consumo destes cereais,
a outros agricultores que habitualmente não frequen- frutos e legumes, como modo mais eficaz de preservar
tam os mercados, mas cultivam variedades regionais. o nosso património alimentar.
Ao apoiar a edição do Levantamento de Variedades da
Península de Setúbal, a Câmara Municipal de Sesimbra
está a promover a entidade da Península, do Concel-
ho e da Freguesia do Castelo, que ainda hoje produz
produtos de qualidade reconhecida, que podem ser
adquiridos nos mercados locais e em lojas da espe-
cialidade. Podemos afirmar que as sementes de outros
tempos vão perdurar e passar de mão em mão através
deste registo.
José Polido
Vereador das Actividades Económicas
da Câmara Municipal de Sesimbra
índice
Av e i a d e S e s i m b r a (Ave n a s a t i va )
Ch í c h a r o c o m u m ( La t h y r u s s a t i v u s L . )
F e i j ã o C a r r a pat o R i s c a d o ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
10
Feijão C arrega burros ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
11
Feijão Douradinho ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
12
F e i j ã o m a g a lh ã o ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
F e i j ã o M a n ata ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
13
F e i j ã o Pata r e c o o u R at i n h o ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
14
F e i j ã o S a n ta H e l e n a ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
Feijão roxo ( Ph a s e o l u s v u l g a r i s )
15
grão de bico da a zoia (C i ce r a r i e t i nu m )
m i lh o a m a r e lo d e s e q u e i r o ( Ze a m a y s )
16
Trigo Preto Amarelo, Anafil Preto, Barba Preta ou Cascalvo ( Triticum durum)
17
Abóbora Menina ou Bolina (Cu c u r b i t a m o s c h a t a )
A b ó b o r a Pa u (Cu c u r b i t a m a x i m a )
19
Abóbora Porqueira (Cu c u r b i t a p e p o )
C e b o l a d e Alc o c h e t e (A l l i u m ce p a )
20
Cebola de Setúbal (A l l i u m ce p a )
21
Melancia cu redondo (C i t r u l l u s l a n a t u s )
Melancia poceirão (C i t r u l l u s l a n a t u s )
22
T o m at e d e I n v e r n o o u D e P e n d u r a ( Lyco p e r s i co n l yco p e r s i c u m )
T o m at e R o s a d a M o i ta ( Lyco p e r s i co n l yco p e r s i c u m )
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abrunho ( Pr u nu s d o m e s t i ca )
ameixa c agona ( Pr u nu s d o m e s t i ca )
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Maç ã C amoesa da A zoia ou Férrea ( M a l u s d o m e s t i ca s p )
A Maçã Camoesa da Azoia reúne qualidades e caracte pela apreciada acidez que diminui com o grau de matu
rísticas que a tornam distinta. Já Eça de Queiroz em ração. Não sendo uma maçã doce, mas devido às facul-
O Primo Basílio, (cap. .9) fazia referência à qualidade dades anteriormente descritas, é uma fruta recomen-
perfumada da maçã Camoesa. “Roupa branca, donde dada para doentes anémicos e diabéticos. Um estudo
se exalava um cheiro de madeira e de folhas de Maçã recente, que compara diferentes variedades regionais
Camoesa”. Na verdade, também as donas de casa (as de maçãs, revelou ainda um elevado teor de antioxi-
nossas avós) no nosso concelho, colocavam algumas dantes na camoesa da Azoia, muito superior a qualquer
maçãs desta qualidade entre os lençóis como forma de outra. Para além de apreciada crua, assada preenche de
os perfumar. Ainda hoje, é tradição dispor alguns exe satisfação os maiores apreciadores, na medida que per-
mplares na parte superior dos armários da cozinha, o mite uma cozedura uniforme de toda a polpa.
que permite cheirar o seu delicioso perfume. A Camoesa Vermelha da Azoia, apresenta uma color-
Uma maçã servia de sobremesa aos pescadores de Sesi ação manchada de vermelho na face de maior incidên-
mbra, que após as refeições, se deslocavam às tabernas cia do sol, sobre um fundo amarelo. A polpa distingue-
com um exemplar nos bolsos e as saboreavam no meio se das similares pelo sabor característico, ácida de cor
de conversas sobre a sua faina no mar, numa altura branca e consistência muito firme.
em que a doçaria estava pouco desenvolvida. Quantas A Camoesa Riscada é a maçã mais cultivada, menos áci
vezes serviam até de refeições, no decurso da faina do da do que a anterior, de coloração amarelo uniforme
mar, quando não havia tempo para um intervalo, junta- com listas vermelhas e tons acastanhados.
mente com um pedaço de pão “caseiro” e um gole de As características destas maçã devem-se às proprie-
vinho. Desde há décadas que as maçãs produzidas na dades físicas do solo argiloso, rico em ferro, à altitude
Azoia gozam de elevada reputação, servindo muitas e condições climatéricas especificas junto a um cabo
vezes como pagamento ou reconhecimento de favores e à sua proximidade ao mar. Um dos inconvenientes
ou serviços prestados por médicos e advogados. destes solos argilosos é a sua impermeabilidade. Em
Estas maçãs distinguem-se ainda pelo seu sabor cara- virtude da má drenagem encharcam com facilidade
cterístico, pela consistência da polpa rica em ferro, e quando da ocorrência de chuvas abundantes, o que
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pode ocasionar a morte da fruteira. Este facto, o aban-
dono das vinhas e pomares por razões económicas, a
falta de poda e o desconhecimento de práticas de fru-
ticultura, levou à diminuição drástica do cultivo desta
variedade regional/local.
Muitas das árvores existentes no nosso concelho são
enxertadas em Dulcino, mas era prática disporem es-
tacas de macieira pretendida. As árvores raramente
eram podadas, dando origem a fruteiras baixas, que
estendiam as suas pernadas ao longo do terreno, onde
frutificavam abundamente devido à inclinação dos
ramos. Por vezes estas pernadas enraizavam
e eram aproveitadas para plantação de
novas árvores, não sendo necessário
a sua enxertia. Este método era muito
frequente na Camoesa Branca, que facil-
mente enraíza em contacto com o solo húmido,
após as primeiras chuvas de Outono.
Era prática ranchos de homens amanharem os te
rrenos, cavando de joelhos debaixo destas copas,
que atingiam seis metros de diâmetro. Quantas
vezes surgiam surpreendentemente entre a
erva fome (nome popular dado às Azedas)
maçãs completamente sãs, muito sabo-
rosas, com um aroma único, intenso e
indescritível.
Também grupos de jovens percorriam dezenas de
quilómetros nos meses de Outubro e Novembro na
prática do rabisco (apanha de fruta esquecida entre a
folhagem aquando da apanha) nos vários pomares exis
tentes na Freguesia do Castelo. Também estas maçãs
colhidas nestes meses tinham um sabor mais intenso.
Como a terra é muito dividida, era prática comum
todos os agricultores plantarem fruteiras nas vinhas
existentes na Freguesia. Contudo, presentemente,
apenas três ou quatro agricultores ainda produzem
algumas centenas de quilos de Maçãs Camoesa
para consumo próprio ou de familiares. Apenas um
agricultor tem um pomar com cerca de duzentas
árvores, sendo a sua maioria, árvores jovens em iní-
cio de produção. Este pomar será uma réstia de es-
perança, numa altura de valorização de produtos re-
gionais, na preservação de uma cultura praticamente
perdida.
Local de recolha: Aldeia Nova da Azoia, Sesimbra
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amora (Morus nig ra )
F i g o c a s ta n h a l ( Fi c u s ca r i ca )
28
F i g o M o s c at e l ( Fi c u s ca r i ca )
29
Laranja espinho (C i t r u s s i n e n s i s )
Laranja limão (C i t r u s s i n e n s i s )
30
L a r a n j a m o s c at e l d e s e t ú b a l (C i t r u s s i n e n s i s )
Laranja S. João (C i t r u s s i n e n s i s )
31
Laranja de setúbal (C i t r u s s i n e n s i s )
Maç ã do c asalinho 2 ( M a l u s d o m e s t i ca s p )
33
M a ç ã c r av e i r a o u c r av o ( M a l u s d o m e s t i ca s p )
M a ç ã C u n h a o u R i s c a d i n h a d e Pa l m e l a ( M a l u s d o m e s t i ca s p )
34
M a ç ã E s p e lh o ( M a l u s d o m e s t i ca s p )
35
Pêra bojarda ( P y r u s co m mu n i s )
P ê r a c a r v a lh a l f r a n c e s a ( P y r u s co m mu n i s )
36
Pêras de cozer ( P y r u s co m mu n i s )
P ê r a d ’á g u a ( P y r u s co m mu n i s )
37
Pêra de Inverno ( P y r u s co m mu n i s )
Pêra pérola ( P y r u s co m mu n i s )
38
romã roxa ( Pú n i ca g ra n a t u m )
ta n g e r i n a c a r v a lh a i s (C i t r u s re t i c u l a t a )
39
U v a d i a g a lv e s ( V i t i s v i n í f e ra )
Uva Ferral ( V i t i s v i n í f e ra )
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Uva Melinha ( V i t i s v i n í f e ra )
41
U v a P e r i q u i ta ( V i t i s v i n í f e ra )
U v a S a n ta I s a b e l ( V i t i s v i n í f e ra )
42
Ap e s a r d e n ã o te r s i d o p o s s í ve l i d e n t i f i c a r a s var iedades locais das três espécies que se seguem
Ca s t a n h a (Ca s t a n e a S a t i va ) , M a r m e l o (C i d o n i a oblonga ) e R omã (Punica granatum ) optou-se por
in c l u í - l a s n e s te l e v a n t a m e n to p o r s e re m c o nsideradas culturas de rele vo para as populações
da re gi ã o.
C a s ta n h a (Ca s t a n e a s a t i va )
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M a r m e lo (Cyd o n i a o b l o n g a )
Romã (Punica g ra n a t u m )
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c e r e j a v e r m e lh a ( Pr u nu s a v i u m )
Esta era uma das variedades de cerejeiras que em tempos cobria a vertente norte da serra do Louro; tal como
outras espécies de fruteiras que com ela coabitavam, a cereja Vermelha está hoje praticamente extinta. Apenas
um exemplar encontrado. Árvore de porte médio, ou alto quando em situações de abrigo do vento marítimo,
ramosa e muito produtiva, com tendência para produzir em anos alternados. Fruto grado, de pé longo, vermelho
vivo, polpa firme, sumarenta e doce.
Local de recolha: Quinta do Anjo, Palmela
Pêssego rosa ( Pr u nu s p e r s i ca )
Pêssego de caroço aderente, tamanho médio/grande, cor rosado na sua maior parte, todo ele salpicado com
pintas escuras. Polpa branca, muito sumarenta e doce. Maturação em fins de Julho/Agosto. As árvores do pêssego
Rosa são de porte médio e formam uma grande copa.
Local de recolha: Quinta do Anjo, Palmela
Pêssego de Santiago ( Pr u nu s p e r s i ca )
Pêssego de caroço aderente, tamanho médio/grande, cor rosa escuro numa das faces; polpa firme, muito
sumarenta e doce. Maturação em Julho/Agosto. As árvores desta variedade são de porte vigoroso e requerem
podas regulares para boa frutificação.
Local de recolha: Quinta do Anjo, Palmela
Esta variedade é já muito antiga e rara. Fruto grande, de cor amarelada com laivos rosados. Caroço aderente e
polpa sumarenta. Por serem muito sensíveis, estes pêssegos devem ser comidos após colheita. Maturação em
Julho. Árvore de porte médio/grande, muito produtiva em anos alternados. Esta variedade temporã não é muito
susceptível à mosca da fruta, que ataca especialmente os frutos que amadurecem durante mais tarde.
Local de recolha: Quinta do Anjo, Palmela
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QUADRO - SÍNTESE DOS CEREAIS E L EGUMINOSAS
Local de recolha/
Nome da Variedade Concelho Perigo de extinção
aquisição
47
QUADRO - SÍNTESE DAS H ORTÍCO L AS
Local de recolha/
Nome da Variedade Concelho Perigo de extinção
aquisição
48
QUADRO - SÍNTESE DOS F RUTOS
Local de recolha/
Nome da Variedade Concelho Perigo de extinção
aquisição
49
QUADRO - SÍNTESE DOS F RUTOS
Local de recolha/
Nome da Variedade Concelho Perigo de extinção
aquisição
50
bibliografia
Castilho, A.(1950), O Trigo, Separata do Manual Enciclopédico do Agricultor Português, Edição da Gazeta
das Aldeias, Porto.
Castilho, A.(1950), Os Legumes, Separata do Manual Enciclopédico do Agricultor Português, Edição da Gaze-
ta das Aldeias, Porto.
Dias, J.; Pereira, C. & Cunha, J. (s/data). Catálogo das Castas – Região do ribatejo, Oeste e Península de Setúbal.
Projecto de ampelografia e sinonímia das variedades de videira integrado nas acções de pré-adesão “Portugal-
-CEE”. Instituto da Vinha e do Vinho, Lisboa.
Mota, M (1919), Catálogo Geral de Plantas, Sementes e Outros Artigos n.º 3, Edição de Viveiros Mário da Cunha
Mota, Porto.
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ficha técnica
Título
Levantamento de Variedades Regionais da Península de Setúbal
Autoria
Colher Para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais
Edição
Câmara Municipal de Sesimbra
Projecto Gráfico
Hugo Flórido (Gabinete de Informação e Relações Públicas da Câmara Municipal de Sesimbra)
Tratamento de Textos
Fátima Teixeira
Fotos
Graça Caldeira Ribeiro, José Miguel Fonseca e Jorge Ferreira
Pré-impressão e Impressão
Quadricor Artes Gráficas, Lda.
Tiragem
1000 exemplares
Depósito Legal
276376/08
Informações e contactos:
Colher Para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais
Quinta do Olival, Aguda, 3260 Figueiró dos Vinhos
Tel.: 23 662 22 18 Tm.: 91 490 93 34 E-mail: colherparasemear@gmail.com
Apoios:
FEOGA
Orientação
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Levantamento de
da Península de Setúbal