Sei sulla pagina 1di 12

Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol.

01- Nº 03/Jan-Jun 2015

O PAPEL DO PROFESSOR NA PÓS-MODERNIDADE

Mateus Ramos Cardoso


Filósofo, Especialista em Ética e Ciência da Religião.
Mestrando em Filosofia pela UFRGS/RS
E-mail: teus33@yahoo.com.br

Resumo: A realidade da educação chega a um ponto que faz o educador ter que
reaprender a cada instante o que julgava saber. A escola passa por um período de crise
que, se bem analisadas, fornece material interessante para o educador na pós-
modernidade. O professor precisa tomar consciência da contingência da sua realidade,
buscando cada vez mais uma palavra, uma postura, que melhor se adapte ao momento
que se vive, tornando-se cada vez mais original em um mundo de cópias. Ele é um
peregrino que caminha, mas não almeja o sucesso, prefere estar sempre de partida,
buscando novos meios para o pensar pedagógico.

Palavras-chave: Educação. Pós-Modernidade. Contingência.

Abstract: The reality of education comes to a point that makes the teacher having to
relearn every moment what it believed. The school is going through a period of crisis
that is well analyzed provides interesting material for the educator in postmodernity.
The teacher must be aware of the contingency of their reality, increasingly seeking a
word, a position that best suits the moment that we live, becoming increasingly a world
of original copies. He is a pilgrim who walks, but not crave success, always prefer
starting, seeking new ways to think about teaching.

Key-words: Education. Post-Modernity. Contingency.

103
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

1- INTRODUÇÃO
Vivenciamos neste milênio inúmeras mudanças e, nas últimas décadas, com
maior ênfase. Estas transformações atingem várias esferas de valor como a política, a
economia etc. A educação é um grande alvo destas transformações, de maneira que ser
professor na atualidade é muito exigente, uma vez que alguns se apegaram a métodos
mais tradicionais, impondo, impedindo a livre reflexão. Outros, por sua vez, aderiram
demasiadamente à escola nova que privilegia o aluno em relação ao professor.
Em um primeiro momento vamos analisar o que está no entorno da escola, qual
o pano de fundo sob o qual a escola está colocada. O passo seguinte será refletir as
possíveis mudanças para que se chegue a um perfil do professor que saiba dialogar com
a educação hodierna.

2- A REALIDADE QUE CIRCUNDA O PROFESSOR


Não se pode negar que a educação passa por um período de crise e que precisa
se readaptar à realidade, que, por sua vez, velozmente se modifica. Há uma espécie de
decadência do esforço para novos parâmetros na educação. A fragmentação, a liquidez,
a relação entre o tradicional e o novo fazem parte do cenário educacional.
A evasão escolar de adolescentes tem como principais motivos a falta de
interesse e a necessidade de trabalhar. Estudo baseado em dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 40,1% dos jovens de 15 a 17
anos abandonam a escola por desinteresse e 27,1% saem por razões de trabalho e renda.
O estudo foi realizado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
Segundo a pesquisa, apenas 10,9% deixam de estudar por falta de acesso à
escola e 21,7% o fazem por motivos diversos, entre os quais a gravidez precoce.
Coordenada pelo economista da FGV, Marcelo Néri, no ano passado, o estudo verificou
que 14,1% dos jovens dessa faixa etária deixaram de estudar. O porcentual é mais alto
nas regiões metropolitanas de São Paulo (18,7%) e de Porto Alegre (18,8%) e entre os
jovens empregados (28%), o que indica relação entre mercado e abandono escolar.
Néri analisou Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) de 2004 e
2006 e Pesquisas Mensais de Emprego até o final de 2008. Entre 2004 e 2006, houve
recuo do grupo que sai da escola por desinteresse de 45% para 40,1% e
crescimento da evasão por trabalho ou busca de emprego, de 23% para 27,1%. Os
pesquisadores apontam algumas políticas públicas que poderiam aumentar o interesse

104
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

pela escola, como por exemplo, ampliar o ensino técnico-profissionalizante,


promover a inclusão digital nas escolas e conscientizar os adolescentes sobre os
benefícios de longo prazo dos estudos.
A nova realidade dos jovens mostra que se possui uma linguagem diferente do
modelo tradicional, no qual a escola era um meio de socialização, buscando um
conhecimento num horizonte universal. O que temos é um enorme desafio, no qual seria
necessário rever o valor das paredes educacionais, cada vez mais corroídas. É necessário
que a escola volte a ter algum significado. Seria muito necessário redefinir as escolas
como sendo espaços de encontros e diálogos, onde há produção do pensamento, e o
mesmo possa chegar com consistência na vida dos alunos e professores. (SIBILIA,
2012).
Temos hoje um sistema educacional no qual os professores estão acuados entre
os inúmeros desafios, somado às suas obrigações, multiplicado pela dificuldade de se
lecionar em algumas escolas (ou em muitas). O mais interessante é que se tudo der
errado, o culpado é o professor pela falência educacional, sem se levar em conta o
contexto, por exemplo, familiar.
Faz-se importante compreender melhor o papel das tecnologias no ambiente
escolar. De tal maneira que, segundo o Filósofo Pierre Lévy (1998), nunca na história
ocorreu o que estamos visualizando, a saber, que os conhecimentos adquiridos no inicio
da carreira profissional serão obsoletos no seu fim. Sem contar que ocorre um dilúvio
de informações:
Para o melhor ou o pior, esse dilúvio não será acompanhado por
nenhum refluxo. Devemos acostumarmo-nos a essa profusão e a essa
desordem. A não ser alguma catástrofe cultural, nenhum grande
reordenamento, nenhuma autoridade central nos levará de volta à terra
firme, nem às paisagens estáveis e bem balizadas anteriores à
inundação. (LÉVY, 1998, p.1)

Ao professor não cabe mais o papel de detentor da verdade absoluta, uma vez
que existe uma nova relação com o saber, e, assim, o conhecimento não é mais
empilhado, simplesmente amontoado como se fosse um depósito no qual jamais
ocorreriam mudanças:
(...) o que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem
precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis
de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos
possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos
para todo mundo. Devemos construir novos modelos do espaço dos
conhecimentos. (LÉVY, 1998, p.4)

105
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

Há um processo de individualização do saber, uma vez que o eixo da


subjetividade tem se deslocado.
Segundo o pensador Zygmunt Baumann (2003), as pessoas perderam certas
âncoras sociais que lhes garantiam segurança e promoviam as suas liberdades por um
processo de liquefação e fragmentação; no entanto, o ser humano precisa de tais
âncoras. Segundo ele, houve uma quebra da ideia de comunidade (segurança), e os seres
humanos buscaram a solução para tal crise na individualidade (identidade), contudo, a
identidade sob a ótica da modernidade liquida é frágil, superficial, nunca sólida, fazendo
surgir as identidades-cabide: que nada mais é do que a identidade sob a ótica do
consumo: você a usa enquanto ela lhe for útil e trouxer satisfação. Acabando qualquer
um destes dois elementos, você abandona a identidade, buscando outra que melhor lhe
satisfaça.
Vejamos este exemplo: quando você adquire um celular, pode estar buscando
duas coisas: que o celular seja útil e que ele lhe satisfaça. Eis as duas primeiras leis
básicas da lógica do consumo: a satisfação e a utilidade. Ninguém fica com um celular
em casa que esteja quebrado: ora, um produto tem que ser útil, caso contrário irá para o
lixo! Veja que esses elementos entram nas relações sociais, como quando uma pessoa
não lhe traz nada de bom. Sob esta perspectiva, você não teria por que ficar com ela,
necessitando, numa palavra mais forte, eliminá-la e, consequentemente, buscar uma
outra pessoa útil. Do mesmo modo, ninguém fica com um produto em casa que não
satisfaça os seus interesses. Por isso sempre quando compramos algo, queremos
“satisfação garantida”.
Ao lado da instabilidade, a lógica do consumo ao se impregnar nos
relacionamentos transforma as pessoas em produto a ser consumido. O problema é que
esta realidade passou a fazer parte do cenário educacional, no qual o aluno é o cliente
que,sempre tem razão. Assim ocorre uma relação monetária entre estudante e professor:
os professores se adaptam na perspectivas de alunos-clientes, que por sua vez buscam
somente o que lhes satisfaçam.
Acontece que uma série de fatores, oriundos do modo-de-ser pós-moderno,
provocou ranhuras frontais em quase todas as instituições que eram instrumentos
necessários à almejada existência social harmoniosa, dentre elas, como a perspectiva da
Comunidade, segundo este pensador. É como se estivéssemos andando sobre o gelo. Se
pararmos, o gelo quebra e afundamos, por isso corremos. Nosso chão é frágil e está

106
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

prestes a quebrar, por isso sempre corremos atrás de algo que podemos nos fixar e cada
vez mais sabendo que não encontraremos tal lugar. Isto gera insegurança.
Desta maneira a própria história se encarrega de mostrar que “... o individuo
humano não é autossuficiente e não pode ser autoconfiante. Não se pode condenar a si
mesmo: é preciso ser guiado, e dirigido, e informado do que fazer.” (BAUMAN, 1997,
p. 228). Por isso é importante redescrever o papel do professor para guiar os alunos de
uma nova maneira numa época onde há uma veloz mudança no fazer, no pensar e no
atuar.

3- O EDUCADOR CONTEMPORÂNEO
O papel do novo educador não é mais o de apenas levar numa bandeja as
informações que os alunos por sua vez iriam engolir e depois vomitar numa prova,
restando nada na mente do discente. Assim, o professor seria um mediador entre o aluno
e o conhecimento.
Outro ponto é que o educador precisa ter uma visão holística, enfatizando cada
vez mais a integração de conteúdos e a percepção do aluno, não meramente como um
ser intelectual, mas como um ser emocional, físico, cultural e social. Desta maneira o
professor pode fazer com que a escola se torne um espaço de produção cultural e de
política cultural.
Quanto mais o educador souber sobre o conteúdo, mais capacidade terá de uma
intervenção que leve significado para uma melhor compreensão da realidade. Nesse
sentido, o professor deve conhecer aos menos um pouco a realidade dos seus alunos,
para que, ao escolher os conteúdos, exista uma utilidade. O professor tem que ser
pragmático e saber se situar no universo dos alunos e da tecnologia:
Nos novos «campos virtuais», professores e estudantes põem em
comum os recursos materiais e informacionais à sua disposição. Os
professores aprendem ao mesmo tempo que os estudantes e atualizam
continuamente tanto seus saberes «disciplinares» quanto suas
competências pedagógicas. (LÉVY, 1998, p.14)

Uma característica da escola em tempos contemporâneos é a de que o


conhecimento gera competências variadas, não apenas mantendo o conteúdo, mas
enriquecendo sua coleção de competências.
Nota-se que, com o surgimento da pós-modernidade, ocorreram mudanças tão
significativas de maneira que o ser humano pode ver a si mesmo e aos outros

107
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

diferentemente do que via. Mas é nas crises é que surgem oportunidades para superarem
as crises, inventando soluções para as mesmas.
A docência deve fazer com que o papel do professor seja repensado e
revalorizado, reescrito. Precisamos de professores contingentes, que se adaptem às
novas realidades que cotidianamente aparecem. Segundo o filósofo Richard Rorty, no
final do século XVIII, a visão que se tinha era a de que qualquer coisa poderia ser
compreendida como boa ou má, sendo útil ou não, desde que fosse redescrita, que
também pode ser compreendido como práticas linguísticas que estavam sendo mudadas
rapidamente, e o vocabulário das relações sociais poderia ser mudando quase que da
noite para o dia.
Nunca vamos chegar a verdade de um professor ideal, simplesmente porque não
existe tal verdade. Assim é necessário

Ver a história da linguagem – e, portanto, das artes, das ciências, e do


senso moral – como história da metáfora é abandonar a imagem da
mente humana ou das línguas humanas como coisas que se ajustam
cada vez melhor aos propósitos para os quais Deus ou a natureza as
destinaram. (RORTY, 2007, p. 45)

Para isso seria necessário ter um grande acesso à literatura, às diversas literaturas
que buscam promover uma redenção através do contato com a maior variedade possível
de seres humanos, sob o argumento de que a ideia de crença verdadeira não tem muita
importância. Uma vez que não há essência na linguagem, mas apenas utilidade,
adequação.
É importante fundamentar como deveria ser um professor, analisando o conceito
de “ironista Liberal”, segundo o filósofo Richard Rorty:
Definirei o “ironista” como alguém satisfaz três condições: (1) tem duvidas
radicais e continuas sobre o vocabulário final que usa atualmente por ter
sido marcado por outros vocabulários, vocabulários tomados como finais
por pessoas ou livros que ele deparou; (2) percebe que a argumentação
enunciada em seu vocabulário atual não consegue corroborar nem desfazer
estas dúvidas; (3) na medida que filosofa sua situação, essa pessoa não
acha que seu vocabulário esteja mais próximo da realidade do que outros,
que esteja em contato com uma força que não seja ele mesmo. Os ironistas
que se inclinam a filosofar vêem a escola entre os vocabulários como uma
escolha que não é feita dentro de um meta vocabulário neutro e universal,
nem tampouco por uma tentativa de lutar para superar as aparências e
chegar ao real, mas simplesmente como jogar o novo contra o velho.
(RORTY, 2007, p. 134).

108
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

Para este pensador, o ironista é aquele que percebe “... que qualquer coisa boa ou
má pode ser levada a parecer boa ou má, ao ser redescrita (...) (RORTY, 2007, p. 134).
Não se redescrever seria aceitar a condição de ser meramente um professor que se
contenta com seu “giz e louza”, que se contenta com seu salário e faz greve pedindo
apenas aumento de salário e não aumento na qualidade do ensino. Professores
especialistas que vivem na mesmice.
O professor contemporâneo não pode ser um mero sabedor de coisas, tem que
saber fazer ligações com a realidade dos seus alunos. Não pode haver uma educação
manualística, que jogue no colo do aluno as informações, mas sim reflexões que sejam
feitas, assimiladas, debatidas, duvidadas, capaz de lançar ideias, de incentivar a
crítica e a reflexão, transformando o mundo pela apropriação de consciência.
É interessante perceber como Rubens Alves relaciona a diferença entre o
educador com o do professor, buscando formular uma formação adequada.
Eu diria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma
face, um nome, uma história a ser contada. Habitam em um mundo em
que o que vale é a relação que os liga com os alunos, sendo que cada
aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de
uma história sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a
educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se
estabelece a dois. Espaço artesanal. Mas professores são habitantes de
um mundo diferente, onde o educador pouco importa, pois o que
interessa é um crédito cultural que o aluno adquire numa disciplina
identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais,
nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo,
professores são entidades descartáveis, coadores de café descartáveis,
copinhos plásticos de café descartáveis. (ALVES, 1994, p. 19)

Educadores são todos os membros de uma sociedade. E nesta análise deve


“vestir a camisa” para se tornar um educador. O papel do professor contemporâneo
consiste também em levar o indivíduo à conscientização, instigá-lo a refletir acerca de
tudo, forçar o questionamento e, desta forma, contribuir para a constituição de um
indivíduo e não apenas “mais” um indivíduo. Este indivíduo tem que ter motivações, e
perceba que, mesmo as artimanhas do mercado não servem como motivação para o
estudo.
Por exemplo, como pode ser que no capitalismo, muitas vezes, nem a motivação
para ganhar dinheiro é suficiente para fazer um aluno estudar ? Uma vez que muitas
vezes se usa do argumento de que a escola é o caminho para uma boa profissão. O foco
está errado. O problema do ensino está em não dizer ao aluno porque ele está estudando
aquilo. A falha no método do "socar conhecimento" está exatamente nisso - aluno

109
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

aprende, mas não sabe por que tem que aprender aquilo. Depois os professores se
debatem com os alunos lhes perguntando: "pra que tenho de aprender equações de
segundo grau", e você nem pode usar a desculpa "porque se aprender você vai ganhar
dinheiro", exatamente porque não é mostrado COMO ele vai ganhar dinheiro com isso.
Em suma, não importa o fim do conhecimento, mas COMO esse conhecimento vai ser
usado para atingir um fim, que vai dar no método certo para ensinar.
Creio que é algo que o professor tenha que saber, perceber que o aluno aprende
quando vê sentido naquilo que está sendo ensinado. Como diria Rubens Alves (1994),
“Aprender por aprender é estupidez.”. Novamente é necessário dizer: o professor tem
que ser pragmático!
Por isso a importância de mostrar que o que está sendo ensinado não é mera
descoberta de um dia, numa manhã ensolarada, mas é o legado de uma humanidade, e o
que chega até eles levou muito tempo para estar em suas mãos e, depois, em suas
cabeças. Ninguém dá valor àquilo que não encontra sentido. O professor, por isso
mesmo, não pode ver na escola apenas mais uma vaga, uma garantia para sua
sobrevivência, porque quando ensinar não for o real salário do professor, a educação irá
mal.
O novo professor mostra o motivo de estar aprendendo e motiva o aluno a estar
aprendendo, porque ele mesmo está motivado. O professor deve ser como o jardineiro
que cuida com carinho de seu jardim: rega as plantas, cuida de cada uma, sabe que cada
uma tem seu tempo e se alegra com as suas vitórias e está ao lado das derrotas. Assim, o
professor é aquele que caminhou mais, mas não significa que sabe mais que o aluno.
Significa apenas que ele é um instrumento para beneficiar o aluno a chegar aonde ele
chegou, ou até mais adiante. Um não é melhor que o outro, ambos se complementam.

4- ORIGINALIDADE, EDUCAÇÃO E FILOSOFIA


Parece-nos difícil encontrar originalidade. Vivemos de cópias. Copiamos
constantemente a vida do outro. Podemos ser uma vasta biblioteca, mas a pergunta é:
isto é o que somos? Prefiro ser um simples rascunho, ou um dicionário de palavras que
não me pertencem? Nesse sentido, o professor literato não pode ser superficial e
meramente um especialista:

110
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

Também é possível comparar o especialista com um homem que mora


em sua casa própria, mas nunca sai dela. Na casa, ele conhece tudo
com exatidão, cada degrau, cada canto e cada viga, como, por
exemplo o Quasímodo de Victor Hugo conhece a catedral de Notre-
Dame, mas fora desse lugar tudo lhe é estranho e desconhecido.
(SCHOPENHAUER, 2012, p.31).

Segundo o filósofo Schopenhauer, a peruca pode nos ajudar a entender a postura


de alguns educadores. Assim, como uma bela peruca, o pensamento de alguns
educadores também o são. São belos, mas não são seus! Com isso temos uma postura de
alguns educadores que se resumem em
... ensinar e escrever coisas em que na verdade não acredita, rastejar,
adular, tomar partidos e fazer camaradagens, levar em consideração
ministros, gente importante, colegas, estudantes, livreiros, críticos, em
resumo, qualquer coisa é melhor do que dizer a verdade e contribuir
para o trabalho dos outros..." (SCHOPENHAUER, 2012, p.27).

Com o tempo, restarão educadores que perdem o efeito de "suas" ações, pois são
meros repetidores. Neste sentido, o que surgirá, na melhor das hipóteses, é "...um
velhaco cheio de preocupações."(SCHOPENHAUER; 2012, p.27).
É importante analisar o significado da palavra saber, que está relacionado com a
técnica de como determinada coisa funciona. Então, de maneira fantástica, percebe-se a
ligação etimológica entre a palavra saber e sabor. Sábio, no latim, é aquele que
experimenta, que degusta. Então, apresenta-se uma realidade relacionada a outra, pois
saber é ter conhecimento de algo, mas sabor, é provar o conhecido.
Desta maneira, aprender é muito mais do que ensinar, transmitir conhecimentos,
é levar o aluno a tocar a teoria, a saborear o conhecido, assim, temos a experiência. Do
contrário teríamos alunos com cabeças grandes, mas corações pequenos.
É necessário preparar o aluno para a tomada de consciência da sua existência,
preparando-o não só para a escola, mas para a vida e não para ser um mero acúmulo de
informações. Quando isso não ocorre, a consequência é que temos pais que "depositam"
seus filhos na escola e em grande parte são "visitas" na vida dos filhos e professores,
que se tornam meras máquinas que reproduzem o que está no livro. Assim, associa-se o
processo de aprender com algo cansativo, enfadonho. Do contrário, uma coisa bem
aprendida sempre vai abrir possibilidades. Então, eles passam a existir em sala de aula e
não apenas a estarem em sala de aula.
A experiência da educação com originalidade é uma experiência que
deve nos acompanhar sempre, e ao lado dela deve caminhar a experiência da não

111
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

certeza. Desta maneira não se fecha a porta, mas deixa-se a porta sempre aberta, no
desejo de aprender sempre algo mais, de saber que a vida, que cada leitura, mostra
sempre mais um caminho que ainda não tínhamos visto. Vale aqui a perspectiva
Socrática “Sei que nada sei”. Assim, não há uma experiência de êxito na aprendizagem,
como “já estou formado, já aprendi”, mas, na verdade, estou cada dia me formando,
aprendendo. Nunca estamos prontos, mas sim, sempre nos aprontando, isto é
originalidade. Porque não dizer: estamos sempre num eterno recomeçar. Assim,
caminhamos nos passos da própria vida. Toda manhã milhões de pessoas recomeçam,
toda manhã a vida recomeça, toda manhã os raios solares atingem a face da terra. Da
mesma maneira a educação não poderia ser vista de modo diferente, por isso é muito
interessante quando se diz que a incerteza é uma grande parceira do conhecimento.
Com isso percebemos a importância do contexto social, uma vez que hora somos
educados, formamos pelo contexto, e hora damos forma ao contexto. Aqui há uma
experiência dialética, entre sujeito e objeto, sem haver supremacia de um para o outro.
Portanto, uma imagem sobre a disciplina significa que nós partimos de um
ponto: o que sabemos e o que não sabemos, para chegarmos a saber algo sobre o qual
não sabíamos. Afinal, ninguém fala com clareza daquilo que não entendeu com clareza.
A filosofia ajuda a completar os pensamentos anteriores. Dado que o
conhecimento não está pronto, a filosofia, com seu questionar profundo, suscita sempre
mais perguntas do que respostas, pondo em movimento as atividades intelectuais. As
perguntas são mais importantes que as respostas, pois abrem passagem para outras
perguntas. Contudo, não é tão somente perguntar, mas perguntar de modo coerente,
critico. É interessante a imagem de alguém que toma uma pá nas mãos para cavar
tesouros. A Filosofia é um instrumento de busca, que procura cavar nos escombros da
realidade os tesouros das boas ideias. A filosofia se torna estritamente interessante ao
professor, porque o leva a refletir sobre o saber, não sendo um mero reprodutor de
ideias. Tamanha importância deve-se ao fato de que a filosofia é um pensar sobre a
prática, podendo sempre levar o individuo a pensar sobre o seu fazer educacional.

5- CONCLUSÃO
O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o
ser humano a modificar sua realidade. Foi assim que o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1844–1900) resumiu o poder que o ato de conhecer tem sobre a vida de um
indivíduo. Séculos antes, mais precisamente no século XVII, outro filósofo muito

112
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

conhecido, Baruch Spinoza (1632–1677), enunciava uma afirmação semelhante.


Também o pensador holandês acreditava que no conhecimento a humanidade
encontraria a mais forte fonte de transformação social.
Percebe-se também a importância da presença do Professor, para que não exista
um abismo entre professor e aluno. Por mais que existam medidas, leis para transformar
a educação, tal mudança somente virá quando a mentalidade dos professores também
mudar. E isso implica que o relacionamento entre professor e aluno se torne diferente, a
ponto de a escola ser um ambiente humanizador, onde aluno e professor não sejam
estranhos, mas parceiros de uma mesma caminhada. Ser professor é muito mais
abrangente do que dar aula!
Por isso a importância do caráter reflexivo do professor, o que o leva a dar
sentido ao que faz e com isso contagiar seus alunos pelo saber. Ele precisa ter domínio
dos conteúdos, mas, antes de tudo, saber criar pontes até os alunos. Uma das formas é o
professor se colocar como um eterno aluno, sabendo que pode inclusive aprender com o
próprio aluno. É acompanhar o próprio processo da vida que nos ensina, mas que
também pede de nós que a ensinemos.
Assim, ele será sempre um aprendiz, principalmente quando tem a pesquisa
como uma das suas funções, ou seja, ele não se contenta com as respostas prontas, com
o que está dito, mas está sempre lendo, pesquisando. Principalmente, porque os próprios
alunos hoje têm um grande acesso às informações e, às vezes, mais tempo do que os
próprios professores. Então, professor e pesquisador não sinônimos, porque se o
professor quer inovar, ele tem que conhecer, não há como “tirar um coelho da cartola”
na educação.
A incerteza deve guiar o professor contemporâneo. Isso significa que ele não
está perdido, mas cada vez mais busca encontrar um ponto para, logo depois, partir.
Assim, ele não almeja o sucesso, porque isso paralisa a vida do professor. Desta
maneira o professor não se contenta em saber o que já sabe, ou ensinar tão somente do
modo como já ensina. Ele é um incansável peregrino.

6- REFERÊNCIAS

6.1- Bibliográficas
ALVES. Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética.1994.

113
Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 01- Nº 03/Jan-Jun 2015

BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-Modernidade. R.J., Jorge Zahar, 1997.

_____. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2003.

LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da


informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993

_______. Educação e Cybercultura. Porto Alegre, março de 1998. Disponível


em: http://www.hotnet.net/PierreLevy.html. Acesso em: 20/07/2013

RORTY, Richard. Contingência, Ironia e Solidariedade. Martins Fontes, São Paulo,


2007

SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Trad. de Vera


Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012, 222p.

SCHOPENHAUER,A. A Arte de Escrever. Porto Alegre:L &PM, 2012.

6.2 Eletrônicas
CIMIERI, Fabiana - 40% deixam escola por desinteresse. <Em:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,40-deixam-escola-por-
desinteresse,355484,0.htm.> Acesso em 07 de fevereiro de 2014.

114

Potrebbero piacerti anche