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Resumo: A realidade da educação chega a um ponto que faz o educador ter que
reaprender a cada instante o que julgava saber. A escola passa por um período de crise
que, se bem analisadas, fornece material interessante para o educador na pós-
modernidade. O professor precisa tomar consciência da contingência da sua realidade,
buscando cada vez mais uma palavra, uma postura, que melhor se adapte ao momento
que se vive, tornando-se cada vez mais original em um mundo de cópias. Ele é um
peregrino que caminha, mas não almeja o sucesso, prefere estar sempre de partida,
buscando novos meios para o pensar pedagógico.
Abstract: The reality of education comes to a point that makes the teacher having to
relearn every moment what it believed. The school is going through a period of crisis
that is well analyzed provides interesting material for the educator in postmodernity.
The teacher must be aware of the contingency of their reality, increasingly seeking a
word, a position that best suits the moment that we live, becoming increasingly a world
of original copies. He is a pilgrim who walks, but not crave success, always prefer
starting, seeking new ways to think about teaching.
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1- INTRODUÇÃO
Vivenciamos neste milênio inúmeras mudanças e, nas últimas décadas, com
maior ênfase. Estas transformações atingem várias esferas de valor como a política, a
economia etc. A educação é um grande alvo destas transformações, de maneira que ser
professor na atualidade é muito exigente, uma vez que alguns se apegaram a métodos
mais tradicionais, impondo, impedindo a livre reflexão. Outros, por sua vez, aderiram
demasiadamente à escola nova que privilegia o aluno em relação ao professor.
Em um primeiro momento vamos analisar o que está no entorno da escola, qual
o pano de fundo sob o qual a escola está colocada. O passo seguinte será refletir as
possíveis mudanças para que se chegue a um perfil do professor que saiba dialogar com
a educação hodierna.
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Ao professor não cabe mais o papel de detentor da verdade absoluta, uma vez
que existe uma nova relação com o saber, e, assim, o conhecimento não é mais
empilhado, simplesmente amontoado como se fosse um depósito no qual jamais
ocorreriam mudanças:
(...) o que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem
precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis
de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos
possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos
para todo mundo. Devemos construir novos modelos do espaço dos
conhecimentos. (LÉVY, 1998, p.4)
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prestes a quebrar, por isso sempre corremos atrás de algo que podemos nos fixar e cada
vez mais sabendo que não encontraremos tal lugar. Isto gera insegurança.
Desta maneira a própria história se encarrega de mostrar que “... o individuo
humano não é autossuficiente e não pode ser autoconfiante. Não se pode condenar a si
mesmo: é preciso ser guiado, e dirigido, e informado do que fazer.” (BAUMAN, 1997,
p. 228). Por isso é importante redescrever o papel do professor para guiar os alunos de
uma nova maneira numa época onde há uma veloz mudança no fazer, no pensar e no
atuar.
3- O EDUCADOR CONTEMPORÂNEO
O papel do novo educador não é mais o de apenas levar numa bandeja as
informações que os alunos por sua vez iriam engolir e depois vomitar numa prova,
restando nada na mente do discente. Assim, o professor seria um mediador entre o aluno
e o conhecimento.
Outro ponto é que o educador precisa ter uma visão holística, enfatizando cada
vez mais a integração de conteúdos e a percepção do aluno, não meramente como um
ser intelectual, mas como um ser emocional, físico, cultural e social. Desta maneira o
professor pode fazer com que a escola se torne um espaço de produção cultural e de
política cultural.
Quanto mais o educador souber sobre o conteúdo, mais capacidade terá de uma
intervenção que leve significado para uma melhor compreensão da realidade. Nesse
sentido, o professor deve conhecer aos menos um pouco a realidade dos seus alunos,
para que, ao escolher os conteúdos, exista uma utilidade. O professor tem que ser
pragmático e saber se situar no universo dos alunos e da tecnologia:
Nos novos «campos virtuais», professores e estudantes põem em
comum os recursos materiais e informacionais à sua disposição. Os
professores aprendem ao mesmo tempo que os estudantes e atualizam
continuamente tanto seus saberes «disciplinares» quanto suas
competências pedagógicas. (LÉVY, 1998, p.14)
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diferentemente do que via. Mas é nas crises é que surgem oportunidades para superarem
as crises, inventando soluções para as mesmas.
A docência deve fazer com que o papel do professor seja repensado e
revalorizado, reescrito. Precisamos de professores contingentes, que se adaptem às
novas realidades que cotidianamente aparecem. Segundo o filósofo Richard Rorty, no
final do século XVIII, a visão que se tinha era a de que qualquer coisa poderia ser
compreendida como boa ou má, sendo útil ou não, desde que fosse redescrita, que
também pode ser compreendido como práticas linguísticas que estavam sendo mudadas
rapidamente, e o vocabulário das relações sociais poderia ser mudando quase que da
noite para o dia.
Nunca vamos chegar a verdade de um professor ideal, simplesmente porque não
existe tal verdade. Assim é necessário
Para isso seria necessário ter um grande acesso à literatura, às diversas literaturas
que buscam promover uma redenção através do contato com a maior variedade possível
de seres humanos, sob o argumento de que a ideia de crença verdadeira não tem muita
importância. Uma vez que não há essência na linguagem, mas apenas utilidade,
adequação.
É importante fundamentar como deveria ser um professor, analisando o conceito
de “ironista Liberal”, segundo o filósofo Richard Rorty:
Definirei o “ironista” como alguém satisfaz três condições: (1) tem duvidas
radicais e continuas sobre o vocabulário final que usa atualmente por ter
sido marcado por outros vocabulários, vocabulários tomados como finais
por pessoas ou livros que ele deparou; (2) percebe que a argumentação
enunciada em seu vocabulário atual não consegue corroborar nem desfazer
estas dúvidas; (3) na medida que filosofa sua situação, essa pessoa não
acha que seu vocabulário esteja mais próximo da realidade do que outros,
que esteja em contato com uma força que não seja ele mesmo. Os ironistas
que se inclinam a filosofar vêem a escola entre os vocabulários como uma
escolha que não é feita dentro de um meta vocabulário neutro e universal,
nem tampouco por uma tentativa de lutar para superar as aparências e
chegar ao real, mas simplesmente como jogar o novo contra o velho.
(RORTY, 2007, p. 134).
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Para este pensador, o ironista é aquele que percebe “... que qualquer coisa boa ou
má pode ser levada a parecer boa ou má, ao ser redescrita (...) (RORTY, 2007, p. 134).
Não se redescrever seria aceitar a condição de ser meramente um professor que se
contenta com seu “giz e louza”, que se contenta com seu salário e faz greve pedindo
apenas aumento de salário e não aumento na qualidade do ensino. Professores
especialistas que vivem na mesmice.
O professor contemporâneo não pode ser um mero sabedor de coisas, tem que
saber fazer ligações com a realidade dos seus alunos. Não pode haver uma educação
manualística, que jogue no colo do aluno as informações, mas sim reflexões que sejam
feitas, assimiladas, debatidas, duvidadas, capaz de lançar ideias, de incentivar a
crítica e a reflexão, transformando o mundo pela apropriação de consciência.
É interessante perceber como Rubens Alves relaciona a diferença entre o
educador com o do professor, buscando formular uma formação adequada.
Eu diria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma
face, um nome, uma história a ser contada. Habitam em um mundo em
que o que vale é a relação que os liga com os alunos, sendo que cada
aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de
uma história sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a
educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se
estabelece a dois. Espaço artesanal. Mas professores são habitantes de
um mundo diferente, onde o educador pouco importa, pois o que
interessa é um crédito cultural que o aluno adquire numa disciplina
identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais,
nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo,
professores são entidades descartáveis, coadores de café descartáveis,
copinhos plásticos de café descartáveis. (ALVES, 1994, p. 19)
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aprende, mas não sabe por que tem que aprender aquilo. Depois os professores se
debatem com os alunos lhes perguntando: "pra que tenho de aprender equações de
segundo grau", e você nem pode usar a desculpa "porque se aprender você vai ganhar
dinheiro", exatamente porque não é mostrado COMO ele vai ganhar dinheiro com isso.
Em suma, não importa o fim do conhecimento, mas COMO esse conhecimento vai ser
usado para atingir um fim, que vai dar no método certo para ensinar.
Creio que é algo que o professor tenha que saber, perceber que o aluno aprende
quando vê sentido naquilo que está sendo ensinado. Como diria Rubens Alves (1994),
“Aprender por aprender é estupidez.”. Novamente é necessário dizer: o professor tem
que ser pragmático!
Por isso a importância de mostrar que o que está sendo ensinado não é mera
descoberta de um dia, numa manhã ensolarada, mas é o legado de uma humanidade, e o
que chega até eles levou muito tempo para estar em suas mãos e, depois, em suas
cabeças. Ninguém dá valor àquilo que não encontra sentido. O professor, por isso
mesmo, não pode ver na escola apenas mais uma vaga, uma garantia para sua
sobrevivência, porque quando ensinar não for o real salário do professor, a educação irá
mal.
O novo professor mostra o motivo de estar aprendendo e motiva o aluno a estar
aprendendo, porque ele mesmo está motivado. O professor deve ser como o jardineiro
que cuida com carinho de seu jardim: rega as plantas, cuida de cada uma, sabe que cada
uma tem seu tempo e se alegra com as suas vitórias e está ao lado das derrotas. Assim, o
professor é aquele que caminhou mais, mas não significa que sabe mais que o aluno.
Significa apenas que ele é um instrumento para beneficiar o aluno a chegar aonde ele
chegou, ou até mais adiante. Um não é melhor que o outro, ambos se complementam.
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Com o tempo, restarão educadores que perdem o efeito de "suas" ações, pois são
meros repetidores. Neste sentido, o que surgirá, na melhor das hipóteses, é "...um
velhaco cheio de preocupações."(SCHOPENHAUER; 2012, p.27).
É importante analisar o significado da palavra saber, que está relacionado com a
técnica de como determinada coisa funciona. Então, de maneira fantástica, percebe-se a
ligação etimológica entre a palavra saber e sabor. Sábio, no latim, é aquele que
experimenta, que degusta. Então, apresenta-se uma realidade relacionada a outra, pois
saber é ter conhecimento de algo, mas sabor, é provar o conhecido.
Desta maneira, aprender é muito mais do que ensinar, transmitir conhecimentos,
é levar o aluno a tocar a teoria, a saborear o conhecido, assim, temos a experiência. Do
contrário teríamos alunos com cabeças grandes, mas corações pequenos.
É necessário preparar o aluno para a tomada de consciência da sua existência,
preparando-o não só para a escola, mas para a vida e não para ser um mero acúmulo de
informações. Quando isso não ocorre, a consequência é que temos pais que "depositam"
seus filhos na escola e em grande parte são "visitas" na vida dos filhos e professores,
que se tornam meras máquinas que reproduzem o que está no livro. Assim, associa-se o
processo de aprender com algo cansativo, enfadonho. Do contrário, uma coisa bem
aprendida sempre vai abrir possibilidades. Então, eles passam a existir em sala de aula e
não apenas a estarem em sala de aula.
A experiência da educação com originalidade é uma experiência que
deve nos acompanhar sempre, e ao lado dela deve caminhar a experiência da não
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certeza. Desta maneira não se fecha a porta, mas deixa-se a porta sempre aberta, no
desejo de aprender sempre algo mais, de saber que a vida, que cada leitura, mostra
sempre mais um caminho que ainda não tínhamos visto. Vale aqui a perspectiva
Socrática “Sei que nada sei”. Assim, não há uma experiência de êxito na aprendizagem,
como “já estou formado, já aprendi”, mas, na verdade, estou cada dia me formando,
aprendendo. Nunca estamos prontos, mas sim, sempre nos aprontando, isto é
originalidade. Porque não dizer: estamos sempre num eterno recomeçar. Assim,
caminhamos nos passos da própria vida. Toda manhã milhões de pessoas recomeçam,
toda manhã a vida recomeça, toda manhã os raios solares atingem a face da terra. Da
mesma maneira a educação não poderia ser vista de modo diferente, por isso é muito
interessante quando se diz que a incerteza é uma grande parceira do conhecimento.
Com isso percebemos a importância do contexto social, uma vez que hora somos
educados, formamos pelo contexto, e hora damos forma ao contexto. Aqui há uma
experiência dialética, entre sujeito e objeto, sem haver supremacia de um para o outro.
Portanto, uma imagem sobre a disciplina significa que nós partimos de um
ponto: o que sabemos e o que não sabemos, para chegarmos a saber algo sobre o qual
não sabíamos. Afinal, ninguém fala com clareza daquilo que não entendeu com clareza.
A filosofia ajuda a completar os pensamentos anteriores. Dado que o
conhecimento não está pronto, a filosofia, com seu questionar profundo, suscita sempre
mais perguntas do que respostas, pondo em movimento as atividades intelectuais. As
perguntas são mais importantes que as respostas, pois abrem passagem para outras
perguntas. Contudo, não é tão somente perguntar, mas perguntar de modo coerente,
critico. É interessante a imagem de alguém que toma uma pá nas mãos para cavar
tesouros. A Filosofia é um instrumento de busca, que procura cavar nos escombros da
realidade os tesouros das boas ideias. A filosofia se torna estritamente interessante ao
professor, porque o leva a refletir sobre o saber, não sendo um mero reprodutor de
ideias. Tamanha importância deve-se ao fato de que a filosofia é um pensar sobre a
prática, podendo sempre levar o individuo a pensar sobre o seu fazer educacional.
5- CONCLUSÃO
O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o
ser humano a modificar sua realidade. Foi assim que o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1844–1900) resumiu o poder que o ato de conhecer tem sobre a vida de um
indivíduo. Séculos antes, mais precisamente no século XVII, outro filósofo muito
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6- REFERÊNCIAS
6.1- Bibliográficas
ALVES. Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética.1994.
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_____. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2003.
6.2 Eletrônicas
CIMIERI, Fabiana - 40% deixam escola por desinteresse. <Em:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,40-deixam-escola-por-
desinteresse,355484,0.htm.> Acesso em 07 de fevereiro de 2014.
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