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1 INTRODUÇÃO
Francisco de Assis Toledo relata que a lei humana é tida como menos perfeita
por ser elaborada pelos homens, e deveria refletir princípios da lei natural. Dessa
forma, a lei humana embora merecesse ser obedecida, não era uma verdadeira lei
quando colidente coma lei natural e se colidente coma lei divina, não merecia sequer
obediência4.
1
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: parte geral. 8ed. Rio de Janeiro: Forense,
1985.p. 24.
2
TUCCI, Rogério Lauria. Princípio e regras Orientadoras do Novo Processo Penal Brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 29.
3
PHILIPPI, Jeanine Nicolazzi. A Lei: uma abordagem a partir da leitura cruzada entre Direito e
Psicanálise. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 89,90, 91, 99 e 100.
4
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ed.São Paulo: Saraiva, 2002.
p.8.
da Igreja Católica Romana. Esta, por sua vez, desenvolveu um direito canônico,
estruturado num “conjunto normativo dualista – laico e religioso – que irá se manter
até o século XX”. Como conseqüência, nas Idades Antiga e Medieval, o Direito,
confundido com a Justiça, era ditado pela Igreja, que, possuindo autoridade e poder,
se dizia “intérprete de Deus na terra”5.
Uma das lutas dos Iluministas era o afastamento das exigências formuladas pela
Igreja ou devidas puramente à moral, caracterizando-se o processo de
secularização, ainda não concluso atualmente9.
5
CORRÊA, Darcísio. A construção da cidadania. Ijuí: Editora Unijuí.1999.
6
FRAGOSO. Op.Cit. p. 40 e 41.
7
Idem. p. 40.
8
Idem. p. 41
9
Idem . Ibidem.
No século XIX, surge na Itália, Francisco Carrara, o qual afirma a existência de
uma lei eterna de ordem, formulada por Deus, da qual deriva a sociedade e o direito.
Carrara faz claramente a distinção entre direito e moral, contrapondo-se a Rossi
neste aspecto. Sua obra é um sistema de absoluto rigor lógico, onde analisou o
conceito de crime, e constatou nele uma força física e uma moral, que hoje
correspondem, respectivamente, ao elemento objetivo e subjetivo do crime10.
Com a separação entre direito e moral, de forma que a esta ficasse reservado o
foro íntimo e a ele o foro externo, cada indivíduo passa a ser responsável perante
sua própria consciência pela observância da regras morais, e ao direito cabe regular
as ações humanas, desde que exteriorizadas nas mais variadas formas de
comportamento11. Sendo que ao direito também, cada vez mais, tenta-se restringir
ao mínimo o campo de atuação, é o chamado princípio da intervenção mínima do
Direito Penal, pugnando seus seguidores pela aplicação desse ramo do direito como
ultima ratio, ou seja, apenas e tão somente quando esgotados todos os outros meios
extrapenais de controle social.
10
Idem. p. 42 e 43.
11
TOLEDO. Op. Cit. p.9.
constituyem una adquisición básica de la cultura liberal. Y reflejan el
proceso de secularización, culminado al inicio de la Edad Moderna, tanto del
derecho como de la moral, desvinculándose ambos em tanto que esferas
distintas y separadas de cualquer nexo com supuestas ontologías de los
valore12.
não se pode admitir contradição entre direito e moral, pois ambos contém
princípios reguladores do comportamento humano. Embora não exista
12
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoria del garantismo penal. 4.ed. Madrid: Editorial Trotta,
2000. Traduzido por Perfecto Andrés Ibánez; Alfonso Rui Miguel; Juan Carlos Bayón Mohino; Juan
Terradilos Basoco; Rocío Cantarero Bandrés. Tradução de Diritto e ragione - Teoria del garantismo
penale.p. 218.
13
CARVALHO, Amilton Bueno de. CARVALHO, Salo de. Aplicação da Pena e Garantismo. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2001. p.01 e 09.
14
FERRAJOLI. Op.cit. p. 218.
perfeita coincidência entre os dois, seria intolerável um ordenamento jurídico
em contradição com as normas morais, além de ineficaz15.
A norma moral só tem eficácia com a adesão espontânea dos sujeitos, sendo o
direito um instrumento rude e demasiado exagerado para forçar sua observância.
Desse modo, não pode e não deve o direito intervir na moral, sendo que em o
fazendo promove uma interferência inútil e desastrosa, como foi a experiência da
Inquisição com os crimes de heresia, por exemplo. Portanto, o direito penal, “deve
limitar extremamente o seu campo de atuação, não podendo transformar-se em
desajeitado modelador do caráter, da personalidade, ou em sancionador da
formação moral profunda da pessoa”16.
Salo de Carvalho destaca que Locke, assentado num dos principais temas
políticos da época, a liberdade religiosa, e pregando a separação entre Estado e
Igreja, rompeu os vínculos entre o direito e a moral. Cindiu, dessa forma, a noção
híbrida do modelo inquisitorial, do delito e do pecado, instituindo a tolerância como
fundamento do processo de secularização17.
15
TOLEDO, Op. Cit. p. 12 e 13.
16
Idem. Ibidem.
17
CARVALHO, Salo. Pena e Garantias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 35.
18
SALDANHA, Nelson. Secularização e Democracia. Sobre a relação entre as formas de governo e
contextos culturais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 12.
19
Idem. Ibidem.
3 O PRINCÍPIO DA SECULARIZAÇÃO NO DIREITO PENAL ATUAL
A separação almejada pela secularização é, ainda hoje, uma luta por parte da
doutrina e da jurisprudência, que tenta, através de muitas críticas, afastar critérios
subjetivos na aplicação do direito penal. Assim,
o Juiz não deve submeter à indagação a alma do imputado, nem deve emitir
veredictos morais sobre sua pessoa, mas apenas investigar seus
comportamentos proibidos. E um cidadão pode ser julgado, antes de
castigado, apenas por aquilo que fez, e não, como no juízo moral, também
por aquilo que é 20.
20
Carvalho, Salo; Carvalho, Amilton Bueno de. Aplicação da Pena e Garantismo, Rio de Janeiro,
Lumen Juris, 2001, p. 09.
21
FERRAJOLI, Luigi, Derecho y Razón: Teoría del garantismo penal, Madrid: Editorial Trotta, 1995, p.
223.
A noção de periculosidade surgiu com a corrente doutrinária denominada de
Positivismo, que implantou a concepção de Estado intervencionista, o qual busca
intervir na esfera privada do indivíduo, a fim de combater a criminalidade. Foi com
esta corrente que surgiu a tese do criminoso nato, além de trazer para dentro da
criminologia conceitos médico, biológico e psicológico. Os positivistas, ao contrário
dos doutrinadores da escola clássica, negavam o livre arbítrio do cidadão,
baseando-se na personalidade e periculosidade do autor do fato criminoso.
22
CAVALHO. Op. Cit. p. 34.
23
Apelação crime n.º 70000284455, 5ª Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS; julgado em
09/02/2000.
24
Idem.
Neste sentido, temos, também, a valiosa lição do Des. Sylvio Baptista:
25
Apelação-crime nº 70000907659, 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do RS; julgado em
15/6/2000.
26
Idem.
27
CARVALHO. Op. Cit. p. 139.
integral das potencialidades humanas e de sua concreta execução dentro de uma
política de integração e de participação28.
28
TAVARES, Juarez. Culpabilidade: A Incongruência dos Métodos. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, ano 6, nº 24. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, out-dez 1998, p. 151.
29
CARVALHO, Op. Cit. p. 139.
30
BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 5ªed. Rio de Janeiro: Revan, 1999. p.
91.
31
LOPES, Maurício Lopes, Princípio da Insignificância no Direito Penal, RT, 1997, p. 113.
Como exemplo da necessidade de lesividade ao bem jurídico para configuração
do crime temos que atitudes derivadas não podem ser punidas, tais como a
vadiagem e a embriaguez.
Neste sentido também temos, que os atos meramente preparatórios não podem
ser punidos (artigo 14, II do CP). Assim como, o conluio de duas ou mais pessoas
para a prática de um ilícito penal não será punido se não iniciada a execução32.
32
Idem. p. 92
33
Idem. Ibidem.
34
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 132.
35
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.148.
Na lição de Nilo Batista, o direito não pode reprimir condutas desviadas ou
simples estados e condições pessoais que não afetem nenhum bem jurídico. O que
importa ao direito é o fazer e nunca o ser, pois senão deixaria de ser direito penal de
ação e passaria a se direito penal de autor. Como exemplo temos o
homossexualismo. Também, refere o mesmo autor, não podem ser punidas práticas
que só podem ser objeto de apreciação moral, como a mentira e práticas sexuais
entre adultos36.
36
BATISTA. Op. Cit. p. 92 e 94.
37
Apelação Criminal nº 70.001.513.910, julgada pela 5º Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
RS; em 11 de outubro de 2000.
Nesse contexto, sobressai o chamado Princípio da Intervenção Mínima, também
conhecido como Princípio da Subsidiariedade ou Necessidade, corolário inafastável
da legalidade estrita, como forma de tentar restringir ou, até mesmo, eliminar o
arbítrio do legislador, no momento da confecção das normas penais incriminadoras.
38
Apelação Criminal nº 70.001.513.910, julgada pela 5º Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
RS; em 11 de outubro de 2000.
39
LUISI, Luiz . Os princípios constitucionais penais. Sérgio Antônio Fabris Editor. Porto Alegre, 1991.
p. 26
40
Idem. Ibidem.
O conceito de ressocialização é tão vago quanto o de periculosidade, poderia ser
sinônimo de cura, de mudança interior, de reabilitação individual, ou de
neutralização de reincidência. Considerar a pena como instrumento curativo ou
reeducativo aproxima os conceitos de direito com de moral e direito natural41.
O princípio da secularização implica que a sanção penal não deve ter conteúdo
nem fins morais. Sendo que a execução da pena não pode ter o escopo de modificar
o pensar do apenado, muito menos condicionar seus direitos a esta mudança43.
41
CARVALHO. Op.Cit. p. 141 e 142.
42
AMORIM, Tatiana. O princípio da secularização na seara penal brasileira. Disponível em:
http://www.odireito.com/default.asp?
SecaoID=2&SubSecao=1&ConteudoID=000226&SubSecaoID=5Acesso em: 20. março.2005. p. 1.
43
CARVALHO, Amilton Bueno de , CARVALHO, Salo de . Aplicação da Pena e Garantismo. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2 ed., p.13.
compromete relevantemente o sistema processual acusatório que deveria viger
entre nós, pois são feitos, ainda, calcados em um Direito Penal do autor44.
E, continua o autor,
44
CARVALHO, Salo de. Práticas Inquisitivas na Execução Penal, in: Crítica à Execução Penal. RJ:
Lúmen Júris: 2002, p.150.
45
Idem. Ibidem.
46
FOUCAULT, Michel. Os anormais curso no collège de France : 1974-1975. São Paulo: Martins
Fontes, p. 8.
47
CARVALHO, Salo de. Penas e Garantias: uma leitura de Luigi Ferrajoli no Brasil. Porto Alegre:
Lumen Juris, 2001, p.47.
Muito embora a Lei 10792/03, que alterou a Lei de Execução Penal, ter abolido
os laudos para a progressão de regime (também para o livramento condicional,
indulto e comutação de pena), do parecer da Comissão em referência, assim como
do Exame Criminológico, grande progresso do princípio da secularização, a mesma
lei instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado, um retrocesso no mesmo aspecto e
uma afronta a Constituição Federal e ao princípio da dignidade do ser humano.
A referida lei tem raízes profundas num modelo político-criminal violador dos
direitos fundamentais do homem, em especial do apenado, a ponto de não
considerar o criminoso como ser humano e, além disso, capaz de substituir um
modelo de Direito penal de fato por um modelo de Direito penal de autor48.
48
BUSATO, Paulo César. Regime disciplinar diferenciado como produto de um Direito Penal do
inimigo. Revista de estudos criminais, Sapucaia do Sul: Notadez, v.4, n. 14, p. 138.
Direito adotou uma 'resposta' imediata contra aquele tipo de preso, dito de
'alta periculosidade”. O homem nesta concepção é pouco mais que nada49.
Por fim, como bem acentua a mesma autora, “na justificação da pena, comporta
que a sanção penal não deve possuir “fins terapêuticos””50. Como já referido, a
intimidade é uma esfera do ser humano isenta da ação do Estado e do direito. E
continua, ela, “o Estado não possui o direito de alterar, reeducar, redimir, recuperar
a personalidade do réu”. O problema da criminalidade vai muito além de um
tratamento ressocializador e de uma intervenção clínica no apenado durante o a
execução, é antes de tudo um problema social, com o qual o direito penal não pode
arcar sozinho.
4 CONCLUSÃO
49
AMORIM. Op. Cit. p. 3.
50
Idem. Ibidem.
sócias, e só em último caso deve-se recorrer ao Direito Penal.Dessa forma, ficam
registrados o protesto e o alerta, pois num Estado Democrático de Direito, que preza
pela liberdade e privacidade de seus cidadãos, é inadmissível um Direito penal não
secularizado.
5 BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, Salo de. Pena e Garantias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoria del garantismo penal. 4.ed. Madrid:
Editorial Trotta, 2000. Traduzido por Perfecto Andrés Ibánez; Alfonso Rui Miguel;
Juan Carlos Bayón Mohino; Juan Terradilos Basoco; Rocío Cantarero Bandrés.
Tradução de Diritto e ragione - Teoria del garantismo penale.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 1. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 1995.