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Revista SÍNTESE
Direito Imobiliário
Repositório autorizado
Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087
Diretor Executivo
Elton José Donato
Coordenador Editorial
Cristiano Basaglia
Editora
Simone Costa Saletti Oliveira
Conselho Editorial
Christiano Cassetari, Luciano Lopes Passarelli, Luiz Antonio Scavone Junior,
Luiz Henrique Sormani Barbugiani, Marcelo Manhães de Almeida, Rubens Carmo Elias Filho
Bimestral.
v. 6, n. 30, nov./dez. 2015
ISSN 2236-1553
1. Direito imobiliário.
CDU 347.453
CDD 342.1242
Eliane Beltramini
Gerente Editorial e de Consultoria
Sumário
Normas Editoriais para Envio de Artigos.....................................................................7
Assunto Especial
IPTU
Doutrinas
1. O IPTU Progressivo no Tempo e a Função Social da Propriedade
Carlos A. M. Murrer....................................................................................9
2. Imposto Predial e Territorial Urbano: Análise da Regra-Matriz
Gabriel Azi................................................................................................24
3. Do Marco Prescricional para a Cobrança do Imposto Predial Territorial
Urbano – IPTU
MB Menezes.............................................................................................57
Jurisprudência
1. Acórdão na Íntegra (STJ)............................................................................63
2. Ementário..................................................................................................68
Parte Geral
Doutrinas
1. Alienação Fiduciária em Xeque: a Visão do Superior Tribunal de
Justiça
Luiz Antonio Scavone Junior.....................................................................74
2. As Vantagens Fiscais Proporcionadas pela Sociedade “Holding
Imobiliária”
João Glicério de Oliveira Filho e Luis Henrique Monteiro Brecci..............78
3. Cautelas na Aquisição de Imóveis
Patrícia da Silva Feitosa e José Eduardo Parlato Fonseca Vaz....................86
4. O Direito de Superfície: uma Análise de Sua Evolução Histórica
e o Direito Positivado Nacional
Cesar Calo Peghini..................................................................................100
5. Da Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor nos
Contratos de Locação
Paula Saleh Arbs.....................................................................................123
6. Condomínio Edilício e o Novo CPC
Olney Queiroz Assis...............................................................................126
Jurisprudência
Acórdãos na Íntegra
1. Superior Tribunal de Justiça....................................................................148
2. Superior Tribunal de Justiça....................................................................153
3. Tribunal Regional Federal da 2ª Região...................................................163
4. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios...........................178
5. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás....................................................184
6. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais........................................192
7. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná..................................................199
8. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul................................204
9. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.............................................210
Ementário de Jurisprudência
1. Ementário de Jurisprudência....................................................................214
Clipping Jurídico...............................................................................................240
Bibliografia Complementar..................................................................................244
Índice Alfabético e Remissivo..............................................................................245
Normas Editoriais para Envio de Artigos
1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-
cados em sua área temática.
2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do
Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi
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também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.
4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Re-
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6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-
dicos da Síntese.
7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos
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TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os
pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.
9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou
expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa
ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-
das por ponto.
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“KEYWORDS”.
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co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este
item.
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Assunto Especial – Doutrina
IPTU
SUMÁRIO: Da função social da cidade e o direito à rua; Da política urbana e o IPTU progressivo no
tempo; Do direito à propriedade privada; Da função social da propriedade; Da construção capitalista
do espaço e o esvaziamento estatal; O breve relato de Viçosa; Conclusões; Referências.
1 Conforme ideia extraída de Jane Jacobs (2011, p. 29): “As ruas e suas calçadas, principais locais públicos
de uma cidade, são seus órgãos mais vitais. Ao pensar numa cidade, o que lhe vem à cabeça? Suas ruas. Se
as ruas de uma cidade parecem interessantes, a cidade parecerá interessante; se elas parecem monótonas,
a cidade parecerá monótona. Mais do que isso, e retornando ao primeiro problema, se as ruas estão livres da
violência e do medo, a cidade está, portanto, razoavelmente livre da violência e do medo”.
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Da leitura desse dispositivo, depreende-se que o Estatuto da Cidade inova quan-
do trata da ocupação do solo, não somente considerando a base material da
cidade, ou seja, as necessidades de infraestrutura, de equipamentos públicos e
de prestação de serviços para todos cidadãos. O que o Estatuto da Cidade deter-
mina é que a ocupação do solo urbano se realize, objetivando a melhoria dos
assentamentos humanos, melhoria que requer políticas integradas que propiciem
a educação, o trabalho, o aumento da capacidade aquisitiva, o acesso à moradia,
à segurança jurídica da posse, à participação democrática.
Da função social da cidade e seu solo fértil é que surge a política urbana
nacional e seus instrumentos de gestão e melhora social da cidade.
[...]
[...]
[...]
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e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou
não utilização;
[...]
2 Nas palavras de Jean-Jacques Rosseau (2012): “O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou
de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador
da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero
humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes:
‘Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra
de ninguém!’. Parece, porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de não mais poder ficar como
estavam: porque essa ideia de propriedade, dependendo muito de ideias anteriores que só puderam nascer
sucessivamente, não se formou de repente no espírito humano: foi preciso fazer muitos progressos, adquirir
muita indústria e luzes, transmiti-las e aumentá-las de idade em idade, antes de chegar a esse último termo
do estado de natureza”.
3 Autor da célebre oração “A propriedade é um roubo”, acreditava que a propriedade era um mal social sobre a
Terra.
14 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
Marx4, o debate caminhou sem reais definições até a atualidade.
A visão contemporânea, sob a ótica constitucionalista, oferta ao direito
de propriedade um status de fundamental ao mesmo tempo em que o retira o
absolutismo proposto nos pilares do direito patrimonial ocidental. Em meio à
concepção da função social e ambiental da propriedade, as atenções se voltam
para os domínios onde residem e possam se expressar interesses da coletividade.
[...]
[...]
[...]
Em primeiro lugar, a ação destes agentes se faz dentro de um marco jurídico que
regula a atuação deles. Este marco não é neutro, refletindo o interesse dominante
de um dos agentes, e constituindo-se, em muitos casos, em uma retórica ambí-
5 Cf. Santos (1984): “A lógica do capital é conflitual porque se consubstancia numa relação de exploração. Existe
historicamente enquanto luta de classes. Mas, além disso, é contraditória porque a relação de exploração tem
lugar numa arena jurídico-política de igualdade e liberdade”.
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gua, que permite que haja transgressões de acordo com os interesses do agente
dominante.
Pelo exposto até então, pode-se perceber que, se uma política pública
ou um instituto jurídico urbanístico não sufraga de eficácia prática, deve-se ao
fato de que: a) a máquina administrativa encontra-se engessada e politicamente
desarticulada; b) a gestão pública não é técnica, e sim meramente política (o
presente estudo não defende o tecnicismo, e sim a junção das forças demo-
cráticas e técnicas para alcance de um fim social); c) os interesses públicos se
confundem aos privados em prevalência dos últimos; d) a necessidade da for-
mulação de políticas públicas ou efetivação de instrumentos de gestão urbana
de forma mais ampla e em diferentes gradientes de prazo (que não se percam
a cada mandato); e) os planos urbanísticos atuais, em sua maioria, enfrentam
problemas pontuais e de visibilidade e se olvidam de procurar sanar problemas
sociais; f) nas cidades, a força do mercado ganha mais expressão que a força do
direito ou do justo.
[...]
[...]
[...]
Para tanto, a lei é importante, mas não basta. Sua aplicação também passa pela
correlação de forças especialmente em países como o Brasil, no qual o poder
político, patrimônio e poder econômico confundem-se.
[...]
[...]
[...]
A correlação de forças políticas, claramente favorável a este setor, faz com que
as políticas e ações públicas para o ordenamento da cidade sejam elaboradas e
implementadas evitando contrariar seus interesses.
6 Segundo estudo realizado por Ribeiro Filho (2006) em meados da década de 90: em 1960, a Universidade
possuía 351 funcionários; em 1966, passou a 767; em 1971, passou a contar com 1425 funcionários.
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política urbana citados, no âmbito nacional, pelo Estatuto da Cidade como o par-
celamento, a edificação ou a utilização compulsórios, o IPTU progressivo no tem-
po e a desapropriação com pagamento com títulos da dívida pública. (Pinheiro,
2004 – grifos nossos)
CONCLUSÕES
Após fundamentação teórica abalizada por grandes doutrinadores, o pre-
sente estudo conclui que:
a) o direito à cidade, sob a égide de sua função social, deve ser consi-
derado norma programática em prol da socialização e publicização
do espaço e do território (ou condicionar aos interesses coletivos a
propriedade privada) a fim de propiciar espaços mais qualitativos e
menos excludentes;
b) para efetivação do princípio da função social da cidade, faz-se mis-
ter ofertar eficácia plena à legislação e aos liames dos instrumentos
de gestão e planejamento da política urbana, como, por exemplo, o
IPTU progressivo no tempo;
c) a real efetivação do instituto do IPTU progressivo é um exemplo
hábil e palpável, a curto prazo, para minimizar as desigualdades
fundiárias e a segregação espacial em prol da função social da pro-
priedade, dando um primeiro passo em direção a uma ideia de jus-
tiça urbana;
d) o direito à propriedade é um direito subjetivo fundamental e opo-
nível a toda a coletividade (oponível erga omnes), desde que utili-
zado de forma a não confrontar ou macular outros direitos, sejam
eles individuais ou difusos (como o direito da coletividade, em que
a expansão urbana de sua cidade atenda aos preceitos do desen-
volvimento sustentável), ou seja, cumprindo o imóvel sua função
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social. Crê-se então que a função social da propriedade atua como
condicionante ao direito de propriedade, não como mero óbice ao
exercício por parte do proprietário;
e) o instituto do IPTU progressivo no tempo deve ser utilizado como
faceta para a promoção da justiça urbana em prol de uma gestão
mais igualitária da cidade; contudo, a referida efetivação deve ser
parte de um projeto maior. A majoração da alíquota do IPTU para
imóveis que não cumpram sua função social não deve ser compre-
endida enquanto ato administrativo isolado, mas sim como instru-
mento de um planejamento urbano completo. Não é finalidade do
presente estudo corroborar a prática cotidiana da “acupuntura urba-
na”, ou seja, de realizações e melhorias estrategicamente pontuais
na cidade;
f) após anos de luta dos movimentos sociais de reforma urbana em
prol de conquistas legais na área, pode-se afirmar que o ordena-
mento jurídico pátrio, no que diz respeito aos instrumentos de
efetividade de políticas públicas e regulações urbanísticas, está
completo e bem “amarrado”. Todavia, padece de falta de eficácia
por interesses conflituosos no jogo de poder municipal. Enquanto
a cidade produzir-se exclusivamente e em larga escala através do
modelo capitalista de exploração, assim também se fará;
g) crê-se na influência mútua entre a sociedade e o espaço – a socie-
dade molda o espaço; o espaço a condiciona – a perpetuar o modo
de produção capitalista e seu status quo conflituoso. O conflito não
faz-se prejudicial, afinal a luta destrói amarras urbanas; todavia,
aquele é silenciado constantemente e muitas vezes pelo próprio Es-
tado;
h) considerando que a positivação legal é fruto da valoração social de
um fato, ou seja, expressão lógica da ética popular vigente em de-
terminado espaço e tempo; considerando também que a norma ju-
rídica administrativa deve ser entendida e interpretada em primeiro
plano em prol do interesse público e/ou coletivo, o presente estudo
entende que a prática de aplicar a determinado empreendimento
ou terreno os efeitos do IPTU progressivo deva ser considerado ato
administrativo vinculado, sujeito o gestor municipal às sanções
cabíveis quando em desconformidade ao princípio da legalidade.
Assim, convoca a comunidade científica, jurídica e interessada a
entender e debater o tema para formar ética social neste sentido;
i) o presente artigo não vem exaltar a lei; ao contrário, o descrédito
para com sua eficácia é que motiva o presente. Se a teoria legal é
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perfeita, atitudes devem ser tomadas. As leis urbanísticas pátrias,
quando bem aplicadas, têm o condão de solucionar grande parte
das mazelas da cidade. Mas não “saem do papel” por ser de in-
teresse contrário dos agentes que dominam e moldam as cidades,
falta de proatividade e técnica dos gestores e desconhecimento e
passividade da população.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Publicada no Diário
Oficial da União de 5 de outubro de 1988.
______. Estatuto da Cidade. Lei nº 10.257. Publicada no Diário Oficial da União em 10
de julho de 2001.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1993.
DIAS, Daniella Maria dos Santos. Planejamento e desenvolvimento urbano no sistema
jurídico brasileiro: óbices e desafios. Curitiba: Juruá, 2012.
JACOBS, Jane. A morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
LOUREIRO, Francisco Eduardo. A propriedade como relaxação jurídica complexa.
Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
MARICATO, Ermínia. Brasil, Cidades: alternativas para a crise urbana. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 2001.
NEGREIROS, Rovena; SANTOS, Sarah Maria M. Dificuldade da gestão pública do uso
do solo. In: Direito urbanístico e política urbana no Brasil. Belo Horizonte: Del Rey,
2001.
PINHEIRO, Sérgio Cardoso. Lotes vagos em Viçosa/MG: repercussões legais, ambien-
tais e econômicas no quotidiano da população e nas ações do Poder Público. Mono-
grafia apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Planejamento Municipal, para obtenção do
título de Especialista. Viçosa/MG, 2004.
RIBEIRO FILHO, Geraldo Browne. A produção ilegal do espaço urbano de Viçosa/MG.
In: FERNANDES, Edésio; ALFONSIN, Betânia. A lei e a ilegalidade na produção do
espaço urbano. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
ROSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000053.pdf>. Acesso em: 29
jun. 2012.
SANTOS, Boaventura de Souza. Conflito de direito de propriedade: invasões urbanas.
Rio de Janeiro: Forense, 1984.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
2010.
SOUZA, Marcelo Lopes. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à
gestão urbana. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
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STEFANELLO, Alaim Giovani Fortes. A função socioambiental como novo paradigma
da propriedade contemporânea. In: Hiléia – Revista de Direito Ambiental da
Amazônia, Manaus: Edições Universidade do Estado do Amazonas, a. 2, n. 3, 2006.
STF. Supremo Tribunal Federal. Enunciado Sumular nº 668. Publicado em 24 de setem-
bro de 2003.
Assunto Especial – Doutrina
IPTU
INTRODUÇÃO
O presente artigo científico tem como objetivo promover estudo sobre
o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), tributo esse de competência dos
entes federados municipais. Em sua grande maioria, em especial nos pequenos
municípios, é a principal fonte de receita, cedendo posição apenas para os re-
passes obrigatórios (federais e estaduais) previstos na Constituição.
Merece destacar ainda que a doutrina jurídica (cientistas do Direito) bra-
sileira não estuda o devido tributo com o destaque a que ele faz jus. Em termos
comparativos, manuais, tratados e/ou compêndios que versam sobre o tema
são escassos quando confrontamos com outros tributos, e.g., Imposto sobre a
Renda ou Imposto sobre Produtos Industrializados, Contribuições Sociais etc.
Verificada a carência de trabalhos acadêmicos integralmente voltados ao tema,
tentaremos realizar um pormenorizado sobre o IPTU, sem, é claro, esgotá-lo.
Tal tributo, apesar da aparente falta de complexidade, envolve institutos dos
mais interessantes, levando aos que com ele laboram a necessidade de possuir
conhecimento dos mais diversos ramos do Direito, seja público, seja privado.
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No percorrer desse caminho, mostraram-se indispensáveis à confecção
de considerações propedêuticas, cogentes ao desenvolvimento do artigo e, por
consequência, às conclusões pretendidas. Dito isto, tomaremos como ponto de
partida os ensinamentos do giro-linguístico e do constructivismo lógico-semân-
tico.
Ultrapassado tal esforço, nos concentraremos na construção e análise
de cada um dos critérios (antecedente e consequente) da regra-matriz do IPTU.
Nesse caminho, utilizaremos, como ponto de partida, os enunciados prescri-
tivos inscritos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em
especial o art. 156, I, do mesmo diploma legal. Após essa verificação do texto
constitucional, tomaremos como suporte o texto (em sentido estrito) do Código
Tributário Nacional, Código Civil e legislação esparsa. Como exemplo dos pro-
blemas surgidos ao analisar o IPTU, sem excluir os demais, temos a quantifica-
ção do valor venal (planta/mapa genérico de valores), a progressividade fiscal,
a função social da propriedade e extrafiscalidade, a sujeição passiva: critério
territorial do imposto (conflitos de competência entre IPTU e ITR), entre outros.
Introduzido o tema e delimitados os principais desafios atinentes à esco-
lha efetuada, iniciemos o enfrentamento da matéria proposta.
1 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 4. ed. São Paulo: Noeses, 2011.
p. 162.
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norma jurídica em sentido amplo e em norma jurídica em sentido estrito. Paulo
de Barros Carvalho, em sua Apostila do Curso de Teoria Geral do Direito, afirma
que a primeira
serve para designar tanto as frases, enquanto suporte físico do direito posto, ou
os textos legais, quanto os conteúdos significativos isolados destas. Já a norma
jurídica em sentido estrito, para aludir à composição articulada das significações,
construídas a partir de enunciados prescritivos do direito positivo, na forma hipo-
tético-condicional (H → C), de tal sorte que produzam mensagens com sentido
deôntico-jurídico completo.2
5 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 9. ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 81.
6 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o construtivismo lógico-semântico. 2. ed.
São Paulo: Noeses, 2010. p. 378.
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ção é definir os critérios de uma situação objetiva que, se verificada no mundo
fenomênico, terá relevância para o mundo jurídico. O enunciado da hipótese
da RMI é elaborado com ares de indeterminação, ou seja, deve comportar um
número finito, porém indeterminado de denotações. Ademais, deve-se consi-
derar que todo fato acontece em determinado tempo e lugar e que a função da
hipótese é oferecer os contornos que permitem reconhecer um acontecimento
toda vez que ele ocorra; a descrição promovida pelo legislador deve, necessa-
riamente, conter diretrizes de ação, de tempo e de lugar. Nesse sentido, Alfredo
Augusto Becker afirma que:
Os fatos (núcleo e elementos adjetivos) que realizam a hipótese de incidência,
necessariamente, acontecem num determinado tempo e lugar, de modo que a
realização da hipótese de incidência sempre está condicionada às coordenadas
de tempo e às de lugar. O acontecimento do núcleo e dos elementos adjetivos
somente terão realizado a hipótese de incidência se tiverem acontecido no tempo
e no lugar predeterminados, implícita e explicitamente, pela regra jurídica.7
7 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário. 5. ed. São Paulo: Noeses, 2010. p. 301.
8 Nesse sentido, Paulo de Barros Carvalho, ao discorrer sobre o tema, afirma que: “A invariável presença
do verbo, na esquematização formal do suposto normativo, que levemente sublinhamos na obra Teoria da
norma tributária, tem adnumeráveis consequências práticas. [...] Regressando ao tópico da transcendente
importância do verbo, para a definição do antecedente na norma-padrão do tributo, quadra advertir que
não se pode utilizar os das classes dos impessoais (como haver), ou aqueles sem sujeito (como chover),
porque comprometeriam a operatividade dos desígnios normativos, impossibilitando ou dificultando seu
alcance. Isso concerne ao sujeito que pratica a ação, e bem assim ao complemento do predicado verbal, que,
impreterivelmente, há de existir. Descabe falar-se, portanto, de verbos de sentido completo, que se expliquem
por si mesmo. É forçoso que se trate de verbo pessoal e de predicação incompleta, o que importa a obrigatória
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já ressaltado, o legislador, para demarcar a materialidade do fato, não se utiliza
apenas de verbos que exprimem ação (fumar, dirigir, matar), mas também de
verbos que exprimem o estado de uma pessoa (ser, estar, permanecer). Como
decorrência lógica, não é correto afirmar que todo fato jurídico reporta-se a
uma ação humana, pois o legislador igualmente toma como importante, para
fins jurídicos, certos estados de pessoas. Por tal motivo, quando afirmamos que
critério material é o enunciado da hipótese que delimita o núcleo do compor-
tamento humano, deve-se interpretar o signo “comportamento” na sua máxima
amplitude semântica, isto é, abarcando as duas atividades: refletidas (expressas
por verbos que exprimem ação) e espontâneas (verbos de estado).
O verbo, núcleo material da hipótese, é sempre pessoal, isto porque os
fatos que interessam para o direito são aqueles em que o comportamento huma-
no deve estar indispensavelmente presente. Acontecimentos naturais isolados
não têm importância para o direito, já que este possui como função regular
comportamentos inter-humanos.
presença de um complemento” (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 325-326).
9 ATALIBA, Geraldo. Hipótese jurídica de incidência. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 104.
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Ao tratar desse especifico critério, verificam-se diferentes níveis de ela-
boração de coordenadas de espaço. Assim, podemos classificar o critério es-
pacial em: (i) pontual – quando faz menção a determinada localidade para a
ocorrência do fato; (ii) regional – quando alude a áreas específicas, de tal sorte
que o acontecimento apenas ocorrerá se dentro delas estiver geograficamente
contido; territorial – bem genérico, em que todo e qualquer fato que suceda
sob o manto da vigência territorial da lei estará apto a desencadear seus efeitos
peculiares; e (iv) universal – alude a qualquer lugar, mesmo que fora do âmbito
territorial, em que a regra está apta a produzir efeitos jurídicos.
Pelo exposto, temos que tal classificação permite ao operador estabe-
lecer uma relação entre o campo de vigência territorial da norma e o local de
ocorrência do fato previsto na hipótese, o que demonstrara, com clareza solar,
serem o critério espacial e o campo de vigência da norma entidades diferentes.
10 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o construtivismo lógico-semântico. 2. ed.
São Paulo: Noeses, 2010. p. 400.
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No que tange ao número de sujeitos, pode o legislador estabelecer mais
de um indivíduo para figurar em um dos polos da relação. Tal hipótese é de-
nominada pelo ordenamento jurídico como solidariedade. A responsabilidade
solidária pode ser tanto ativa quanto passiva. Na primeira, cada um dos credo-
res solidários tem o direito de exigir o cumprimento da prestação por inteiro
e o cumprimento desta aproveita aos demais. Na segunda hipótese, cada um
dos devedores fica obrigado ao cumprimento integral da prestação, que será
aproveitada pelos demais. Prescreve o direito outra forma de responsabilização,
qual seja, a denominada responsabilidade subsidiária.
Seja em que situação for, deve o intérprete, ao concretizar o critério pes-
soal do consequente, ficar atento a todas as nuanças prescritas pelo texto le-
gislado, para que possa, com precisão, delimitar quais indivíduos ocuparão os
polos ativo e passivo da relação jurídica.
Critério espacial
Critério temporal
RMI
(Regra-Matriz de Incidência)
C
(Consequência)
Critério pessoal
Sujeito passivo
Sujeito ativo
Temporal:
Período previsto na legislação municipal. Em regra, coincidem com o
ano civil.
11 Merece destaque a que a linguagem produzida pelas casas parlamentares é do tipo técnica (assenta-se
no discurso natural, mas utiliza de recursos e expressões específicas, próprias da comunicação científica)
com função prescritiva; em função disso, muitos dos termos empregados não buscam afastar os vícios da
ambiguidade e vaguidade.
36 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
de 2002, ou seja, ser proprietário faculta ao sujeito de direito o poder de usar,
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem injustamente
a possua ou detenha12. Nesse sentido, Maria Helena Diniz, ao tratar sobre o
tema, afirma que:
Poder-se-á definir, analiticamente, a propriedade, como sendo o direito que a
pessoa natural ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e
dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem
injustamente detenha.13
Vale dizer, enfim, que as normas do direito privado sobre a propriedade privada
hão que ser compreendidas de conformidade com a disciplina que a Constituição
lhe impõe.14
12 No mesmo sentido, as prescrições do artigo do Código Civil de 2002: “Art. 1.228. O proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha”.
13 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 129.
14 SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 72.
15 Nessa mesma linha, temos os ensinamentos do Professor Aires F. Barreto, ao afirmar que: “O núcleo da
hipótese de incidência do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por acessão física,
como definido na lei civil” (Curso de direito municipal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 200).
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 37
que o novel Código Civil não previu a enfiteuse. Porém, as já existentes perma-
necem.
ii) Conforme dispõe o art. 1.196 do CC/2002, possuidor é todo aquele
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade. Vale destacar que a posse aqui trabalhada é aquela que leve à
aquisição do domínio, posse ad usucapionem. Como exemplo clássico dessa
hipótese, temos a constituição de usufruto, em que não se cogita de alcançar o
nu-proprietário, em que pese o poder de disposição.
iii) Direito de superfície, para fins de IPTU, configura-se quando o pro-
prietário concede a outrem o direito de construir em seu terreno, por tempo de-
terminado, mediante escritura pública devidamente registrada. O beneficiário
é o contribuinte do imposto, em razão de retirar, do bem, utilidade que ele é
capaz de produzir.
16 “Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem
como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão
física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. § 1º Para os efeitos deste imposto,
entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência
de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo
Poder Público: I – meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; II – abastecimento de água;
III – sistema de esgotos sanitários; IV – rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição
domiciliar; V – escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel
considerado. § 2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana,
constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao
comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo anterior.”
17 MARTINS, Ives Granda. Manual sobre o imposto predial e territorial urbano. São Paulo: Revista dos Tribunais,
v. 1, 1985. p. 77.
18 Nesse sentido, temos o acórdão de lavra do Ministro Teori Albino Zavascki: REsp 492.869/PR, 1ª S.,
J. 15.02.2005, DJU 1, de 07.03.2005, p. 141.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 39
benfeitorias urbanas para que se possa exigir o IPTU; e (iii) destinação dada ao
imóvel”19.
19 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, derivação e positivação. 1. ed. São Paulo: Noeses, v. II,
2013. p. 303.
20 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributário. 5. ed. São Paulo: Noeses, 2010.
21 “Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido
em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais.”
40 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
cípios. Além desta, compete também ao Distrito Federal promover a cobrança
do encargo.
No que tange à sujeição passiva direta, esta alcança todo aquele que
detém qualquer direito de gozo relativamente ao imóvel, seja este direito ple-
no ou limitado. Diante disto, o próprio CTN, em seu art. 34, prescreve que o
contribuinte do IPTU será o proprietário, titular do domínio útil ou possuidor a
qualquer título, desde que essa posse seja ad usucapionem.
Por fim, encerrada a análise do critério pessoal do consequente da regra-
-matriz de incidência tributária do imposto predial e territorial urbano, notamos
como relevante discorrer, mesmo que rapidamente, acerca dos limites da su-
jeição passiva, em especial as figuras do locatário, arrendatário e comodatário.
Dessa forma, não poderia começar a análise do tema sem antes trazer as pala-
vras de Aires F. Barreto, quando informa:
Já vimos, linhas acima, que não é toda e qualquer posse que pode ser submetida
ao IPTU, mas exclusivamente aquela que pode conduzir ao domínio. [...] Ora,
como é cediço, se o arrendatário, o locatário, o comodatário não têm posse con-
ducente à usucapião, se sua posse não é equivalente à de dono, não expressa
nenhuma capacidade contributiva e, por conseguinte, não pode ser contribuinte
do IPTU.22
22 Curso de direito tributário municipal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 238 e 239.
23 “Art. 33. A base do cálculo do imposto é o valor venal do imóvel.”
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 41
liberdade, devem os municípios observar os princípios constitucionais do não-
-confisco, capacidade contributiva, proporcionalidade, progressividade (fiscal
e extrafiscal).
Base de cálculo dos tributos:
Tema dos mais discutidos pela doutrina pátria ao trabalhar com os tribu-
tos em espécie concerne à demarcação da base de cálculo. No Brasil, um dos
pioneiros e mais festejados estudiosos sobre o tema é o mestre gaúcho Alfredo
Augusto Becker, não deixando de lado os não igualmente primorosos traba-
lhos dos Professores Geraldo Ataliba, Roque Antônio Carrazza, Paulo de Barros
Carvalho, entre outros. Assim, apropriando-se das lições de Geraldo Ataliba,
pode-se definir a base de cálculo ou base imponível como “uma perspectiva
dimensional do aspecto material da h.i. que a lei qualifica, com a finalidade de
fixar critérios para a determinação, em cada obrigação tributária concreta do
quantum debetur”24.
Das lições acostadas, ponto de extrema relevância concerne ao fato de a
base de cálculo, juntamente com a hipótese de incidência, é que definirá a na-
tureza do tributo (imposto, taxa, contribuição de melhoria etc.), ou seja, a base
de cálculo irá confirmar, afirmar ou infirmar a hipótese de incidência. Além
dessa característica, a base de cálculo, juntamente com a alíquota, determinará
o quantum do tributo, e o sujeito passivo da relação jurídica será devedor do
sujeito passivo. Possui assim, como função, medir as proporções reais dos fatos.
Explicamos: o legislador originário reporta-se a eventos ou bens, para conferir
competência legislativa aos entes da federação brasileira. Para utilizar-se dessa
competência outorgada ao legislador o procedimento de fixação das fórmulas
numéricas de estipulação do conteúdo econômico da obrigação a ser cumprida
pelo contribuinte. Com efeito, cria esse legislador os conceitos de valor presu-
mido, valor de pauta, valor venal etc.
24 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 108.
42 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
1. Qualidade de quem tem força; audácia, coragem, valentia. [...] 4. Importância
de determinada coisa, estabelecida ou arbitrada. 5. O equivalente em dinheiro
ou bens de alguma coisa; preço; poder de compra.25 (grifos nossos)
25 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 2044.
26 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 2083.
27 Os Mapas Genéricos de Valores podem ser definidos como o conjunto de plantas, tabelas, listas e índices
determinantes dos valores médios de metro quadrado de terreno e de construção, originários ou corrigidos,
acompanhados de regras e métodos, genéricos ou específicos necessários à apuração do valor venal.
28 No dizer de Hely Lopes Meirelles, “o ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da
Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,
modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos seus administrados ou a si própria”. Já para
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo é a “declaração do Estado (ou de quem lhe faça as
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 43
rios técnicos para a determinação do valor do imóvel, com base nos quais se
estabelece um valor para o metro quadrado e se determina o valor do imóvel
tendo-se em vista sua área e sua classificação no mapa.
A construção e aplicação de tais mapas é tema de grande controvérsia,
tanto na doutrina quanto na jurisprudência pátria. Por tal razão, alguns questio-
namentos devem ser elaborados e prontamente respondidos: (i) a construção de
mapas genéricos de valores e sua respectiva utilização como critério determi-
nador do valor venal, veiculado exclusivamente por ato administrativo, ferem o
princípio da legalidade?; (ii) qual o alcance do princípio da legalidade tributária
na determinação da base de cálculo (ou base calculada) do IPTU?; (iii) os ma-
pas genéricos de valores necessitam de aprovação do Poder Legislativo para a
produção de efeitos?
O art. 5º, I, da Constituição Federal prescreve que “ninguém será obri-
gado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se não em virtude de lei”. Tal
mandamento é conhecido como legalidade em sentido lato ou legalidade geral.
Na mesma linha, o art. 150, I, informa que é vedado à União, Estados e Mu-
nicípios “exigir tributos sem que lei o estabeleça”. Da leitura dos dispositivos
legais mencionados, é de clareza solar que o constituinte originário assentou
que tal princípio é um dos pilares do denominado Estado Democrático de Direi-
to. Nessa esteira, José Afonso da Silva, quando discorre acerca do princípio da
legalidade “geral” e do princípio da “legalidade tributária”, afirma o seguinte:
O princípio da legalidade é nota do Estado de Direito. É, também, por conse-
guinte, um princípio basilar do Estado Democrático de Direito, como vimos, por-
quanto é da essência do seu conceito subordinar-se à Constituição e fundar-se
na legalidade democrática. Sujeita-se ao império da lei, mas da lei que realize
o princípio da igualdade e da justiça não pela generalidade, mas pela busca da
igualização das condições dos socialmente desiguais. [...] O fenômeno tribu-
tário, como atividade estatal, obedece ao princípio da legalidade, mas não à
simples legalidade genérica que rege todos os atos e atividades administrativas.
Subordina-se a uma legalidade específica que, em verdade, se traduz no princí-
pio da reserva de lei. Essa legalidade específica constitui garantia constitucional
do contribuinte, em forma de limitação ao poder de tributar.29
vezes – como, por exemplo, um concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas,
manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, sujeitas
a controle de legitimidade por órgão judicial”.
29 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
p. 420-428-429.
44 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
por meio do Código Tributário Nacional, em seus arts. 32 a 34, regulamentou a
cobrança do imposto predial e territorial urbano. Dessa maneira, exerceu deter-
minação insculpida no art. 146, III30, da Carta de Direitos. Além disso, cabe aos
municípios, por meio de lei ordinária, instituir a cobrança do tributo nos moldes
previstos no art. 156 da CF/1988, bem como dos mandamentos contidos na Lei
nº 5.172/1966. Preenchidos tais requisitos, poderá o ente federado no exercício
de sua competência instituir a cobrança do tributo.
Ocorre que, conforme já anteriormente informado, na apuração do valor
venal dos imóveis, utilizam-se os municípios dos mapas genéricos de valores,
documentos estes confeccionados e introduzidos no sistema jurídico por meio
de ato administrativo da autoridade fazendária, vinculado ao Poder Executivo.
Nesse caminho, pensamos que a fixação do valor do metro quadrado dos imó-
veis ficará à administração tributária, que fixará a base de cálculo do tributo.
Dessa forma, o Poder Executivo não estaria apenas interpretando a norma; pelo
contrário, por meio do mapa de valores, retifica e modifica a própria lei, esta-
belecendo presunções de valor. Com efeito, face ao princípio da legalidade,
somente por meio de lei poderá o ente federado exigir ou aumentar tributo.
Nesse mesmo sentido, Florence Haret afirma que:
A planta fiscal do IPTU é norma presuntiva, que estatui valor, que poderia vir a
ser, mas não é. Determina um quantum – fato conhecido – para substituir o preço
real de venda – fato desconhecido – na posição sintática de base de cálculo na
regra-matriz de incidência do IPTU. Tem em vista o preço provável, e não haven-
do outra forma de determinação, apura o valor com base nessa probabilidade.
Assim, nesse caso, tomamos verdadeiramente a presunção como técnica para
apurar o tributo, ressaltando, pois, a praticabilidade, em termos arrecadatórios,
de seu uso. A função prática da norma presuntiva no âmbito do IPTU, de todo útil
para a autoridade municipal, não significa que ela pode fazer acriteriosamente,
sem delimitações de direito. Claro está que a base de cálculo estipulada em pauta
não pode ultrapassar o valor real de venda do imóvel, superestimando o bem.
Assim, comprovado pelo contribuinte excesso de exação, cabe ao Fisco restituir
ao contribuinte a diferença entre o valor fixado a maior em pauta e o preço efe-
tivo do imóvel. A base de cálculo pautada com base no preço efetivo do imóvel.
A base de cálculo pautada com base nas pesquisas da ABNT e do Ibape deverá
ser sempre igual ou inferior àquela que realmente acontece, nunca o contrário.
O excedente é tributação fictícia, e não presumida, pois parte daquilo que não é
para arrecadar. Esse valor pago a maior é, pois, ficção, e logo é tributo inconsti-
tucional e indevido.31
30 “Art. 146. Cabe à lei complementar: [...] III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos
discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; [...].”
31 HARET, Florence. Teoria e prática das presunções no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2010.
p. 837/838.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 45
Destacamos ainda que os mandamentos insculpidos no art. 33 do Códi-
go Tributário Nacional não são suficientes à aplicação da lei ao caso concreto.
Desse modo, faz-se necessária a confecção dos mapas de valores (ou apuração
individualizada) para que se possa definir a base de cálculo in concreto32. No
entanto, a nosso sentir, tal mapa necessita ser aprovado por meio de lei, vez
que é um dos elementos da base de cálculo do tributo. Face a tal constatação,
repisamos a necessidade de aprovação pela casa legislativa do mapa genérico
de valores. Além disso, somente por meio da aprovação pelo Poder Legislati-
vo estará minimamente comprovado que o labor efetivado pelos prepostos do
Poder Executivo atendem aos critérios técnicos necessários ao atingimento do
“verdadeiro” valor venal dos imóveis, valor este um dos componentes do crité-
rio quantitativo da norma jurídica em sentido estrito33.
Por derradeiro, no que tange à atualização do valor venal dos imóveis
pelos índices oficiais de correção monetária, não constitui tal majoração atua-
lização do valor venal, com modificação de critérios técnicos e até mesmo
jurídicos. Portanto, podem ser promovidas através do veículo introdutor do ato
administrativo de competência Poder Executivo34.
4.3 Alíquota
Conjugada com a base de cálculo, a alíquota irá definir o quantum que
deverá ser levado pelo contribuinte aos cofres públicos. Ademais, o nosso Texto
Maior não definiu o percentual que deve ser aplicado à base de cálculo para a
apuração do imposto. No entanto, face a esse silêncio legislativo, não poderão
os municípios utilizar alíquotas exorbitantes, representando um verdadeiro con-
fisco da propriedade predial e territorial urbana. Dessa forma, promovendo uma
análise sistêmica do nosso ordenamento, podemos interpretar que a fixação
da alíquota deve observar os princípios da progressividade (nas hipóteses do
art. 182, § 4º, da CF/1988) – capacidade contributiva e, conforme já afirmado,
não-confisco.
32 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
33 Nesse sentido, preciosas são as lições do Professor italiano Ricardo Guastini quando informa: “Em primeiro
lugar, o Governo deve, em princípio, agir dentro dos limites fixados pela lei. Trata-se do princípio de legalidade
na administração: o rule of law. [...] Em segundo lugar, os atos normativos típicos do Poder Executivo, ou
seja, os regulamentos, estão subordinados à lei na hierarquia das fontes do direito. Isso significa que a
conformidade à lei é condição necessária de validade dos regulamentos” (GUASTINI, Ricardo. Das fontes as
normas. Trad. Edson Bini. Apresentação: Heleno Taveira Tôrres. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 261).
34 Vale ressaltar, inclusive, que tal ato administrativo não ofende o princípio da legalidade. Nesse sentido, farta
a jurisprudência do STF sobre o tema: STF, RE 93.661-1/SP, Pleno, DJU 27.11.1981, p. 12015.
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seja em função do art. 182, § 4º, III, da CF (extrafiscal), seja em função das
alterações promovidas pela Emenda Constitucional nº 29/2000 (fiscal). Tal tó-
pico é alvo de incansável debate, tanto na doutrina quanto na jurisprudência
brasileira. Nessa linha, a Professora Elisabeth Nazar Carraza afirma o seguinte:
“Sempre que compatível com a natureza do imposto exigido, poderá haver pro-
gressividade de natureza fiscal e extrafiscal”35. Conjugada com a base de cálcu-
lo, a alíquota irá definir o quantum que deverá ser levado pelo contribuinte aos
cofres públicos. De mais a mais, o nosso Texto Maior não definiu o percentual
que deve ser aplicado à base de cálculo para a apuração do imposto. No en-
tanto, face ao silêncio legislativo, não poderão os municípios adotar alíquotas
exorbitantes, representando um verdadeiro confisco da propriedade predial e
territorial urbana.
Nessa toada, conforme já exposto, toda e qualquer análise do nosso sis-
tema jurídico pátrio, especialmente o tributário, deve, necessariamente, tomar
como ponto de partida os enunciados inscritos na Constituição Federal. E, ao
tratarmos da progressão de alíquotas, não se mostra diferente. Com efeito, o
art. 182, § 4º36, III, permite que o imóvel que descumprir sua função social
poderá ter a alíquota majorada no tempo. Tal majoração, somente nestas hi-
póteses, deve-se à natureza jurídica de que se reveste o IPTU, ou seja, trata-se
de um imposto eminentemente real. Parte respeitável da doutrina corroborava
com tal assertiva.
Para tanto, adotou-se, para fins de análise crítico-descritiva, a clássica
divisão dos impostos em reais e pessoais. Em rápidas linhas, podemos con-
ceituar imposto em reais como sendo aqueles que tomam em consideração
manifestações objetivas e concretas do patrimônio, isoladamente considerados,
sem analisar a situação econômica do titular do bem. Diversamente, impostos
pessoais são aqueles cuja imposição lastreia-se nas condições personalísticas
do contribuinte, tomando em conta a sua capacidade contributiva, globalmente
considerada. De mais a mais, vale informar, tal classificação não é uma “in-
venção doutrinária”, pelo contrário. Tal sistematização pode ser construída in-
terpretando-se o texto constitucional, especificamente o art. 145, § 1º, em que
prescreve que, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal. Dessa
forma, é de clareza solar a adoção pelo constituinte originário da sistematização
acima mencionada.
Outro ponto indispensável à compreensão do raciocínio desenvolvido
concerne à delimitação do instituto da função social da propriedade, tantas ve-
37 IPTU, ITBI e capacidade contributiva: diversidade de bases de cálculo e critérios para a progressividade. São
Paulo: Noeses, 2013. p. 1113.
48 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
não ser que se dê por inexistente, vazia e inócua a cláusula final, pétrea, do § 1º
do art. 156, em sua redação originaria, e de outros postulados constitucionais.38
38 BARRETO, Aires F. Curso de direito tributário municipal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 276.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 49
O Supremo Tribunal Federal, em decisão do seu colegiado, entendeu
que a progressividade do IPTU, inserida pela Emenda nº 29/2002, não ofende
cláusula pétrea e muito menos qualquer princípio inserido no sistema tributário
constitucional. Pelo contrário, consignou que essa nova forma de aplicação da
alíquota permite que seja atingido de forma plena o princípio da capacidade
econômica do contribuinte. Nessa mesma linha, o Professor Roque Antonio
Carrazza defende que “o IPTU deve obedecer ao princípio da capacidade con-
tributiva, nos termos do já estudado art. 145, § 1º, primeira parte, da CF. E,
para isso, deve ser progressivo. Esta é uma progressividade fiscal, de existência
obrigatória”39.
Valéria Furlan também coaduna com esse posicionamento:
A alíquota do IPTU – convém ressaltar – é gradativa, de modo a satisfazer o
princípio da capacidade contributiva. Diz-se progressivo sob o aspecto de que
a alíquota aumento à proporção que aumenta a dimensão da base imponível.
Trata-se, então, de progressividade fiscal, pois visa ao abastecimento imediato
dos cofres públicos.
E continua:
Por igual razão, não vemos inconstitucionalidade alguma na lei municipal que
eleja como critério da progressividade de alíquotas do IPTU o aumento do valor
venal do imóvel. Ao contrário, estar-se-ia atendendo ao princípio constitucional
da capacidade contributiva e, de conseguinte, ao da isonomia.40
Pelas lições trazidas, verificamos que esses autores coadunam com a tese
segundo a qual a permissão de que o IPTU seja progressivo em função do valor
do imóvel não fere nenhuma cláusula pétrea; pelo contrário, uma vez aplicada
a progressão de alíquotas, estaria atendendo aos princípios da capacidade con-
tributiva e da isonomia tributária.
Tecidas tais considerações, não podemos deixar de lado questão inte-
ressante que, inclusive, já foi sumulada pelo Supremo Tribunal Federal. Assim,
prescreve a Suprema Corte não ser possível a progressividade de alíquotas do
IPTU com base no número de imóveis do contribuinte. A sistemática teria o
mesmo fundamento filosófico da progressividade baseada no valor do imóvel,
qual seja, tributação mais gravosa para quem presumivelmente tem maior capa-
cidade contributiva. Entretanto, em face da falta de autorização constitucional,
a impossibilidade se impõe.
Nessa linha, a Súmula nº 589 do STF:
41 BARRETO, Aires Fernandino. Curso de direito tributário municipal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 267.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 51
5 CONSTITUIÇÃO DA OBRIGAÇÃO/CRÉDITO TRIBUTÁRIO: LANÇAMENTO DO IPTU
De acordo com o referencial filosófico adotado neste artigo, somente por
meio da linguagem os sujeitos cognoscentes constroem a realidade. Dentro des-
sa realidade, temos o direito como verdadeiro objeto cultural. De mais a mais,
devemos tomar em conta a separação entre os planos dos sistemas sociais e do
sistema jurídico, sistemas esses, a priori, incomunicáveis.
Para que a linguagem social ingresse no sistema jurídico, faz-se necessá-
ria a obediência às “regras do jogo jurídico”. Com efeito, para que um evento
ocorrido no mundo dos fenômenos ingresse na “realidade” jurídica, é indis-
pensável à produção de linguagem por um sujeito competente para tanto. Tal
procedimento de produção linguística, o construtivismo lógico-semântico, de-
nomina incidência. Paulo de Barros Carvalho trabalha a incidência como um
relato, em linguagem competente (jurídica), dos eventos ocorridos no mundo
social. Tal posicionamento transparece quando o autor afirma que,
ali onde houver direito, haverá sempre normas jurídicas e onde houver normas
jurídicas haverá certamente linguagem que lhe sirva de veículo de expressão.
Para que haja o fato jurídico e a relação entre sujeitos de direito, necessário se
faz também a existência de uma linguagem: linguagem que relate o evento ocor-
rido no mundo da experiência e linguagem que relate o vínculo jurídico que se
instaura entre duas pessoas.42
42 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 9. ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 10.
43 TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário. 3. ed. São Paulo: Noeses, 2011, introdução.
52 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente,
determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar
o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.
Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obriga-
tória, sob pena de responsabilidade funcional.
44 “Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos:
I – quando a lei assim o determine; II – quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no
prazo e na forma da legislação tributária; III – quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado
declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a
pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste
satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV – quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto
a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; V – quando se
comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que
se refere o artigo seguinte; VI – quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro
legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII – quando se comprove que o
sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII – quando deva ser
apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX – quando se comprove
que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela
mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser
iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.”
45 Em determinadas situações, prevê a legislação municipal que estará o contribuinte obrigado a proceder a
inscrição do imóvel. Em alguns casos, até mesmo plantas são exigidas. Tal exigência visa a municiar o Fisco,
fornecendo-lhe informações como: nome, endereço, domicílio tributário eleito, área do terreno, dados do título
de propriedade ou valor do imóvel etc.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 53
pressa determinação inscrita no art. 37 da Constituição Federal, dispositivo esse
que, entre outras coisas, prescreve que a Administração Pública, e, por conse-
quência, seus atos deverão observar o princípio da publicidade. De mais a mais,
a devida notificação da realização do lançamento busca referendar o princípio
constitucional do contraditório e, em última análise, a ampla defesa.
Em sintonia com o quanto afirmado, Aires F. Barreto, ao discorrer acer-
ca da necessidade de notificação do lançamento no caso específico do IPTU,
afirma que:
Para que o lançamento possa ter eficácia, é preciso que seja cumprida etapa in-
dispensável: a da notificação. O lançamento só tem existência, no plano jurídico,
a partir de sua notificação ao sujeito passivo. Vale dizer, somente pode produzir
os efeitos jurídicos a que destinado após devidamente notificado ao sujeito pas-
sivo. A notificação do lançamento, em regra – e, de modo especial, no IPTU –,
tem o objetivo (função) de levar ao conhecimento do contribuinte o lançamento
que lhe permite, proporcionando-lhe o direito de contestação e definindo o dies
a quo do prazo de vencimento da prestação tributária.46
CONCLUSÃO
Após longa trilha, longe de esgotarmos o objeto de estudo, pensamos
ter percorrido os principais temas necessários à análise satisfatória do imposto
predial e territorial urbano. Tal tributo, conforme já dito, é a principal fonte de
recursos da grande parte dos municípios brasileiros. Entretanto, em sua grande
parte também, os mecanismos de administrativos de arrecadação e quantifica-
ção desse tributo são precários. Essa situação decorre não só da falta de estru-
tura física (equipamentos e pessoal), mas também do desconhecimento da le-
gislação aplicável, principalmente os enunciados prescritivos inseridos no texto
constitucional.
46 BARRETO, Aires Fernandino. Curso de direito tributário municipal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 267.
47 “Art. 160. Quando a legislação tributária não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocorre
trinta dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. Parágrafo único. A
legislação tributária pode conceder desconto pela antecipação do pagamento, nas condições que estabeleça.”
54 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
Visando a atenuar tal deficiência, pensamos ser o presente artigo cien-
tífico um ferramental eficiente para aqueles que laboram com o tema possam
socorrer-se, seja pela contemporaneidade da jurisprudência colacionada, seja
pelo sólido rol doutrinário escolhido. Logo de plano, realizamos as delimitações
propedêuticas indispensáveis, definindo, assim, nossa linha filosófico-jurídica
de trabalho.
Após tal labor, partimos para a análise do tributo, com o auxílio do fer-
ramental da regra-matriz de incidência (tomada aqui como esquema lógico-
-semântico, método de verificação do objeto). Decompomos a hipótese de inci-
dência, verificando a materialidade (amplitude semântica do signo propriedade,
suas derivações e definição do bem imóvel) e o aspecto temporal e territorial.
Decompomos também consequente da RMI, dissecando a base de cálculo e
a alíquota, além dos sujeitos ativo e passivo. Por fim, foram tecidas algumas
considerações acerca do lançamento do imposto, não com o objetivo de trazer
novel entendimento acerca do tema, porém com o objetivo de demonstrar a
indispensabilidade da produção de linguagem competente com o fim de cons-
tituir a obrigação/crédito tributário.
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Assunto Especial – Doutrina
IPTU
DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA
Inicialmente, cumpre, por oportuno, fazer a distinção entre os institutos
da decadência e da prescrição. A decadência ou caducidade é tida como o
fato jurídico que faz perecer um direito pelo seu não exercício durante certo
lapso de tempo. A decadência, no âmbito do direito tributário, quer dizer que
a Fazenda dispõe de cinco anos para efetuar o ato jurídico administrativo de
lançamento.
O art. 173 do CTN elenca dois marcos iniciais para a contagem deste
prazo: (I) do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetivado; (II) e da data em que se tornar definitiva a decisão
que houver anulado, por vício formal, o lançamento anterior efetuado. Nessa
esteira, temos que o prazo decadencial (de 5 anos) está relacionado, de forma
ínsita, com o lançamento e a consequente constituição da obrigação tributária.
Após a efetiva constituição do crédito tributário, nasce para a Fazenda o direito
de haver a pretensão tributária, e aqui é que nasce o instituto da prescrição.
Conforme preleciona Paulo de Barros,
com o lançamento eficaz, quer dizer, adequadamente notificado o sujeito passi-
vo, abre-se à Fazenda Pública o prazo de cinco anos para que ingresse em juízo
com ação de cobrança (ação de execução fiscal). Fluindo esse período de tempo
sem que o titular do direito subjetivo deduza sua pretensão pelo instrumento pro-
cessual próprio, dar-se-á o fato jurídico da prescrição. A contagem do prazo tem
como ponto de partida a data da constituição definitiva do crédito, expressão que
o legislador utiliza para referir-se ao ato de lançamento regularmente comunica-
do (pela notificação) ao devedor.
58 R���������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
DO LANÇAMENTO DO IMPOSTO PREDIAL TERRITORIAL URBANO – IPTU
O lançamento tributário é o ato jurídico administrativo mediante o qual
se formaliza o vínculo obrigacional entre o sujeito ativo (Fazenda) e o sujeito
passivo (contribuinte), por meio da constituição do crédito tributário. No caso
específico do IPTU, temos que o Fisco dispõe de dados suficientes para efetuar
a cobrança, dispensando o auxílio do contribuinte.
Para que a constituição do crédito esteja perfeitamente formalizada, por
tratar-se de um tributo sujeito ao lançamento de ofício, doutrina e jurispru-
dência coadunam com a tese de que a notificação ao sujeito passivo é que
perfectibiliza o crédito tributário. Sobre o IPTU, entendem que a notificação
do lançamento ocorre com o envio da correspondente guia de recolhimento
do tributo para o endereço do imóvel do contribuinte, iniciando-se, a partir
daí, o prazo prescricional quinquenal para a cobrança do débito tributário, nos
termos do art. 174 do CTN. Seguem abaixo dois julgados do Superior Tribunal
de Justiça nesses termos:
Tributário. Execução fiscal. Requisitos da CDA. Incidência da Súmula nº 7/STJ.
Lançamento de ofício. Desnecessidade de processo administrativo específico e
notificação. 1. Cuida-se originalmente de embargos à execução manejados pelo
ora recorrente que contesta a validade da CDA que instrui o pleito executivo ante
a ausência de prévio processo administrativo. 2. É pacífica a jurisprudência deste
tribunal no sentido de que a aferição da certeza e liquidez da Certidão da Dívida
Ativa – CDA, bem como da presença dos requisitos essenciais à sua validade,
conduz necessariamente ao reexame do conjunto fático-probatório dos autos,
medida inexequível na via da instância especial. Incidência da Súmula nº 7/STJ.
3. Ademais, há nesta Corte jurisprudência consolidada no sentido de que a no-
tificação do lançamento do IPTU e das taxas municipais ocorre com o envio da
correspondente guia de recolhimento do tributo para o endereço do imóvel ou
do contribuinte, com as informações que lhe permitam, caso não concorde com
a cobrança, impugná-la administrativa ou judicialmente. (AgRg-AREsp 370295,
(2013/0225048-4), 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins (1130), DJ 01.10.2013,
DJe 09.10.2013)
Agravo regimental. Processual civil e tributário. Recurso especial que demons-
trou todos os requisitos de admissibilidade. Execução fiscal. Prescrição. Termo
inicial. Notificação para pagamento do tributo. 1. O recurso especial do contri-
buinte reuniu todas as condições de admissibilidade, demonstrando claramente o
motivo da irresignação recursal e a existência de diferentes entendimentos juris-
prudenciais sobre o tema. 2. É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de
que, “nos tributos sujeitos a lançamento de ofício, como no caso do IPVA e IPTU,
a constituição do crédito tributário perfectibiliza-se com a notificação ao sujeito
passivo, iniciando-se, a partir daí, o prazo prescricional quinquenal para a cobran-
ça do débito tributário, nos termos do art. 174 do CTN” (AgRg-Ag 1.399.575/RJ,
2ª T., Min. Humberto Martins, DJe 04.11.2011). 3. Agravo regimental do Fisco
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA.............................................................................................................. 59
a que se nega provimento. (AgRg-REsp 1325143, (2012/0107231-0), 1ª T., Rel.
Min. Sérgio Kukina (1155), DJ 02.04.2013, DJe 08.04.2013)
Segundo o STJ:
A remessa ao endereço do contribuinte do carnê de pagamento do Imposto Pre-
dial e Territorial Urbano (IPTU) é suficiente para notificá-lo do lançamento tri-
butário. Tal entendimento, pacificado na Primeira Seção do Superior Tribunal
de Justiça no julgamento de um recurso especial pelo rito da Lei dos Recursos
Repetitivos (Lei nº 11.672/2008), está contido na Súmula nº 397.
CONCLUSÃO
Pelas considerações acima esposadas e pelos julgados colacionados,
conclui-se que a Fazenda Pública deve entender como termo inicial para a con-
tagem do prazo prescricional a data em que enviou o carnê para a parte reque-
rente. Outrossim, deve levar em consideração ainda a data do vencimento, ou
seja, se o vencimento for posterior à data em que o contribuinte foi notificado
para o pagamento, o marco inicial para contagem da prescrição será a data do
vencimento.
Ademais, no que diz respeito às causas de suspensão da exigibilidade do
crédito tributário (art. 151 do CTN) e também às causas de interrupção da pres-
crição (art. 174, parágrafo único, do CTN), a Fazenda Municipal deve verificar
se houve ou não a ocorrência de alguma delas. Em caso positivo, possivelmente
haverá alteração do prazo para que a Fazenda execute os débitos referentes ao
tributo.
Assunto Especial – Acórdão na Íntegra
IPTU
2127
EMENTA
TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – IPTU –
ILEGITIMIDADE ATIVA DO LOCATÁRIO PARA POSTULAR DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA E REPETIÇÃO DE INDÉBITO – PRECEDENTES
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é no sentido de
que “o locatário, por não ostentar a condição de contribuinte ou de
responsável tributário, não tem legitimidade ativa para postular a de-
claração de inexistência de relação jurídica tributária, bem como a re-
petição de indébito referente ao IPTU, à Taxa de Conservação e Limpe-
za Pública ou à Taxa de Iluminação Pública” (AgRg-REsp 836.089/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, Julgado em 23.02.2011,
DJe 26.04.2011).
2. Agravo regimental não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indi-
cadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,
na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de
julgamento:
“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”
64 R��������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
A Sra. Ministra Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Humberto Martins,
Herman Benjamin e Og Fernandes (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Re-
lator.
Brasília (DF), 03 de novembro de 2015.
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): Trata-se de
agravo regimental (fls. 655/658e) apresentado em face de decisão monocrática
assim ementada:
TRIBUTÁRIO – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – IPTU – ILEGITIMIDADE
ATIVA DO LOCATÁRIO PARA POSTULAR DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA
DE RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA E REPETIÇÃO DE INDÉBITO – PRECE-
DENTES – AGRAVO CONHECIDO PARA NEGAR SEGUIMENTO AO RECURSO
ESPECIAL.
EMENTA
TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – IPTU –
ILEGITIMIDADE ATIVA DO LOCATÁRIO PARA POSTULAR DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA E REPETIÇÃO DE INDÉBITO – PRECEDENTES
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é no sentido de
que “o locatário, por não ostentar a condição de contribuinte ou de
responsável tributário, não tem legitimidade ativa para postular a de-
claração de inexistência de relação jurídica tributária, bem como a re-
petição de indébito referente ao IPTU, à Taxa de Conservação e Limpe-
za Pública ou à Taxa de Iluminação Pública” (AgRg-REsp 836.089/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, Julgado em 23.02.2011, DJe
26.04.2011).
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................................................ 65
2. Agravo regimental não provido.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): Não há como
acolher a irresignação, porquanto o agravante não trouxe argumento capaz de
infirmar as razões consideradas na decisão agravada, fundamentada na orienta-
ção pacificada desta Corte acerca dos temas trazidos a exame.
Com efeito, a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é no sen-
tido de que “o locatário, por não ostentar a condição de contribuinte ou de
responsável tributário, não tem legitimidade ativa para postular a declaração
de inexistência de relação jurídica tributária, bem como a repetição de indébito
referente ao IPTU, à Taxa de Conservação e Limpeza Pública ou à Taxa de Ilu-
minação Pública” (AgRg-REsp 836.089/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª S., Julgado em
23.02.2011, DJe 26.04.2011).
Ainda nesse sentido:
TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO – IPTU – RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO – LEGI-
TIMIDADE ATIVA DO DESTINATÁRIO DO CARNÊ – IMPOSSIBILIDADE – EN-
TENDIMENTO DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ NO AGRG-RESP 836.089/SP
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
AgRg-AREsp 789.835/SP Número Registro: 2015/0245475-4
Números Origem: 00533445220078260000 053040103059
0684316.5/0-00 1030504 53040103059 533445220078260000
6843165000 94404 994.07.053344-7 994070533447
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA............................................................................................ 67
Pauta: 03.11.2015 Julgado: 03.11.2015
Relator: Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes
Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Sandra Verônica
Cureau
Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi
AUTUAÇÃO
Agravante: Fundação Richard Hugh Fisk
Advogado: Alexandre Dantas Fronzaglia e outro(s)
Agravado: Município de São Paulo
Procurador: Pedro Pinheiro Orduña e outro(s)
Assunto: Direito Tributário – Impostos – IPTU/Imposto Predial e Territorial
Urbano
AGRAVO REGIMENTAL
Agravante: Fundação Richard Hugh Fisk
Advogado: Alexandre Dantas Fronzaglia e outro(s)
Agravado: Município de São Paulo
Procurador: Pedro Pinheiro Orduña e outro(s)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epí-
grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”
“Embargos de declaração. Execução fiscal. Cobrança de IPTU sobre imóvel da extinta RFFSA.
Imunidade recíproca. Natureza jurídica da RFFSA. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao
examinar o RE 599.176 RG/PR, de que foi relator o Ministro Joaquim Barbosa (DJe 30.10.2014),
decidiu, sob o regime da repercussão geral (art. 543-B do CPC), que o princípio da imunidade
tributária recíproca não se aplica aos débitos de IPTU relativo a imóveis da extinta RFFSA. 2. Na
ocasião, foi ressaltado que a RFFSA não fazia jus à imunidade tributária, por se tratar de sociedade
de economia mista, constituída sob a forma de sociedade, e submetida, portanto, ao Regime Jurí-
dico das Pessoas Jurídicas de Direito Privado, inclusive quanto ao regime tributário, por expressa
disposição do art. 173, § 1º, inciso II, da CRFB/1988, embora, ao final, o STF tenha esclarecido
que a questão decidida limitava-se à responsabilização no caso de sucessão. 3. Não obstante o
STF venha estendendo a imunidade tributária recíproca às empresas públicas e às sociedades de
economia mista prestadoras de serviços públicos, estabelece claras condições para o gozo do be-
nefício fiscal, que visam impedir o desvirtuamento de suas funções no sistema constitucional (Tri-
bunal Pleno, RE 601392/PR, rel. Orig. Min. Joaquim Barbosa, Red. p/ o Ac. Min. Gilmar Mendes,
DJe 28.02.2013, julgado sob o rito do art. 543-B do CPC). 4. Ocorre que a natureza da RFFSA e
dos serviços por ela prestados, que sempre foram exercidos sob o regime de concorrência, não se
confunde com a verificada nas hipóteses em que o STF reconheceu o direito à imunidade a outras
sociedades de economia mista ou empresas públicas, como, por exemplo, da própria Codesp,
responsável pela exploração de portos e com 99,7% do capital pertencente à União, da ECT,
responsável pela manutenção do serviço postal nacional de que trata a CRFB/1988, sob o regime
de monopólio, e da Infraero, que presta, também em regime de monopólio, serviços de infraes-
trutura aeroportuária. 5. Caberá, então, à União Federal, sucessora da empresa, nos termos da Lei
nº 11.483/2007, quitar o débito. 5. Embargos de declaração da União parcialmente providos, sem
atribuição de efeitos infringentes.” (TRF 2ª R. – AC 2013.51.04.001107-4 – 4ª T.Esp. – Relª Desª
Fed. Leticia de Santis Mello – DJe 23.07.2015)
2129 – IPTU e taxas – art. 166 do CTN – comprovação de inexistência de repasse de imposto –
desnecessidade
“Processual civil e tributário. Embargos de divergência no recurso especial. IPTU e taxas. Repe-
tição de indébito. Art. 166 do CTN. Desnecessidade de comprovação da inexistência de repasse
do imposto. Tributo direto. 1. O art. 166 do Código Tributário Nacional, não tem aplicabilidade
aos tributos diretos, como via de regra, são o IPTU e as taxas incidentes sobre o imóvel, vez que
referidas exações não podem ser enquadradas no rol de tributos que comportem, por sua natu-
reza, transferência do referido encargo. 2. Precedentes: AgRg-REsp 791.261/RJ, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 02.06.2009, DJe 15.06.2009; REsp 916.877/RJ, Rel. Min.
Castro Meira, 2ª T., Julgado em 24.04.2007, DJ 08.05.2007, p. 166; EDcl-AgRg-REsp 633.775/RJ,
Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., Julgado em 05.12.2006, DJ 18.12.2006, p. 311; REsp 778.162/SP, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, 2ª T., Julgado em 21.03.2006, DJ 19.04.2006, p. 127. 3. Embargos
de divergência providos.” (STJ – ED-REsp 775.761 – (2010/0053321-7) – 1ª S. – Rel. Min. Mauro
Campbell Marques – DJe 30.09.2015)
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO............................................................................................................ 69
2130 – IPTU – imóvel afeto ao programa de arrendamento residencial – imunidade – confi
guração
“Tributário. Execução fiscal. Imóvel afeto ao programa de arrendamento residencial. CEF. IPTU.
Imunidade reconhecida. I – Da análise da Lei nº 10.188/2001, infere-se que o Ministério das Cida-
des, Órgão desconcentrado do Poder Executivo Federal, é o gestor do Programa de Arrendamento
Residencial. Além disso, os bens imóveis afetos ao Programa integram o patrimônio da União.
II – Os bens e direitos da União são insuscetíveis de tributação, sendo esse o regramento aplicável
quanto a tais recursos, ainda que revertidos na aquisição dos bens imóveis pela Gestora, a CEF,
uma vez em nenhum momento haver seu destacamento do patrimônio da União, como expressa-
mente disposto pela legislação reguladora do tema. III – Portanto, os imóveis destinados ao PAR
constituem patrimônio da União, apenas destacado para afetação à finalidade pública preconizada
pela citada Lei nº 10.188/2001, sendo ilegítima a cobrança posta quanto ao IPTU, face à imunidade
prevista no art. 150, VI, a, da CF/1988. IV – Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0002002-
61.2014.4.03.6133/SP – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Alda Basto – DJe 17.08.2015)
2131 – IPTU – imóvel pertencente à União – concessão de uso – ausência de animus domini –
imposto cobrado do concessionário – impossibilidade
“Processual civil e tributário. Agravo regimental no recurso especial. IPTU. Violação do art. 535 do
CPC não configurada. Concessão de uso. Imóvel pertencente à União. Relação de direito pessoal.
Ausência de animus domini. Imposto cobrado do concessionário. Impossibilidade. 1. Não houve
violação do art. 535 do CPC, porquanto a insurgência aduzida não diz respeito à eventual vício
de integração do acórdão impugnado, mas à interpretação desfavorável, motivação essa que não
se enquadra nas hipóteses de cabimento dos aclaratórios. 2. Esta Corte possui a orientação de que
é descabida a cobrança do IPTU do concessionário de imóvel público, pois detentor de posse
fundada em relação de direito pessoal, sem animus domini. Precedentes: AgRg-REsp 1.034.641/RJ,
Rel. Min. Sérgio Kukina, 1ª T., DJe 29.10.2013; AgRg-REsp 1.381.034/RJ, Rel. Min. Humberto
Martins, 2ª T., DJe 26.08.2013. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.398.806 –
(2013/0276025-6) – 1ª T. – Rel. Min. Benedito Gonçalves – DJe 28.08.2015)
2134 – IPTU – RFFSA – sucessão tributária pela União – imunidade recíproca – não incidência
“Tributário. Embargos à execução fiscal. IPTU. RFFSA. Sucessão tributária pela União. Imunidade
recíproca. Não incidência. Titularidade do bem no momento do fato gerador. RE 599.176/PR. Ju-
risprudência do STF firmada em repercussão geral. Prescrição. Inocorrência. Inversão dos ônus da
sucumbência. A questão posta em exame diz respeito à cobrança, por parte do Município de São
Paulo, de IPTU dos exercícios de 2005, 2006 e 2007 de IPTU que ensejou a inscrição nº 519.563-2,
sobre imóvel pertencente à época dos fatos geradores, à Fepasa – Ferrovia Paulista S/A, empresa
incorporada à RFFSA pelo Decreto nº 2.502, de 18.02.1998. O Plenário do STF, por votação unâ-
nime, no julgamento do RE 599.176/PR, de Relatoria do Ministro Joaquim Barbosa, Julgado em
05.06.2014, com repercussão geral reconhecida, assentou entendimento de que não se aplica o
princípio da imunidade tributária recíproca a débito de IPTU devido pela extinta Rede Ferroviária
Federal S/A (RFFSA), afastando jurisprudência firmada em sentido contrário. Caberá à União, por
força da Lei nº 11.483/2007, quitar o débito de IPTU devido pela extinta RFFSA. O tributo em ques-
tão refere-se aos exercícios de 2005, 2006 e 2007, com vencimentos em 22.04.2005, 24.04.2006
e 20.03.2007, respectivamente, datas que devem ser consideradas, portanto, como os termos ini-
ciais dos prazos prescricionais. Não ocorreu a prescrição, haja vista que das datas dos referidos
vencimentos, até o ajuizamento da ação em 09.04.2010, não decorreu o prazo superior a 05 anos.
Inverto os ônus da sucumbência e condeno a União Federal ao pagamento das custas processuais
e da verba honorária que fixo em 10% do valor corrigido da execução, o que faço com base no
art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil. Apelação a que se dá provimento.” (TRF 3ª R. –
AC 0020365-17.2012.4.03.6182/SP – 4ª T. – Relª Desª Fed. Marli Ferreira – DJe 26.06.2015)
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO............................................................................................................ 71
Comentário Editorial SÍNTESE
Trata-se de embargos à execução fiscal opostos em face da execução movida pelo Município
de São Paulo contra a União Federal.
A ação movida pelo Município de São Paulo foi referente à cobrança de IPTU dos anos de
2005, 2006 e 2007, sobre imóvel pertencente na época dos fatos à Fepasa – Ferrovia Pau-
lista S/A.
A sentença com fulcro no art. 269, I, do CPC combinado com o art. 1º da Lei nº 6.830/1980,
acolheu os embargos à execução para decretar a prescrição do crédito referente ao ano 2005,
desconstituindo os demais créditos fiscais colacionados na inicial e declarando a extinção do
feito. Condenou a embargada ao pagamento dos honorários advocatícios.
Inconformado, o Município de São Paulo apelou sustentando que não houve a prescrição
quinquenal, tão pouco a existência de imunidade do IPTU.
O nobre Relator, em seu voto entendeu:
“[...]
No que toca à alegação da prescrição, especificamente, em relação ao IPTU, a autoridade
administrativa tem a atribuição de verificar, anualmente, a situação do imóvel, e proceder ao
lançamento, conforme disposto no art. 149 do CTN.
Assim, verificado o lançamento dessa exação, que é automático e direto, presume-se sua
notificação com a remessa do carnê ao contribuinte, cabendo a este o ônus da prova de seu
eventual não recebimento, entendimento pacificado pelo E. Superior Tribunal de Justiça, em
regime de julgamento de recursos repetitivos, in verbis:
‘PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – IPTU – LANÇAMENTO – NOTIFI-
CAÇÃO MEDIANTE ENTREGA DO CARNÊ – LEGITIMIDADE – NÃO OCORRÊNCIA – DEMORA
NA CITAÇÃO NÃO IMPUTÁVEL AO EXEQUENTE – SÚMULA Nº 106/STJ
1. A jurisprudência assentada pelas Turmas integrantes da 1ª Seção é no sentido de que a
remessa, ao endereço do contribuinte, do carnê de pagamento do IPTU é ato suficiente para a
notificação do lançamento tributário.
2. Segundo a Súmula nº 106/STJ, aplicável às execuções fiscais, “Proposta a ação no prazo
fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da
Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.”
3. Recurso especial a que se nega provimento. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do
CPC e da Resolução STJ nº 08/2008.’
(REsp 1.111.124/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª S., DJe 04.05.2009)
‘TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – IPTU/TLP – LANÇAMEN-
TO – ENTREGA DA GUIA DE RECOLHIMENTO AO CONTRIBUINTE – NOTIFICAÇÃO PRESU-
MIDA – ÔNUS DA PROVA – MATÉRIA JULGADA SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC
(RESP 1.111.124/PR)
1. A notificação do lançamento do IPTU e das taxas municipais ocorre com o envio da cor-
respondente guia de recolhimento do tributo para o endereço do imóvel ou do contribuinte,
com as informações que lhe permitam, caso não concorde com a cobrança, impugná-la admi-
nistrativa ou judicialmente. Para afastar tal presunção, cabe ao contribuinte comprovar o não
recebimento da guia.
2. Entendimento pacificado pela Primeira Seção que, sob o regime do art. 543-C do CPC, jul-
gou o REsp 1.111.124/PR, ratificando a jurisprudência no sentido de que o envio do carnê do
IPTU ao endereço do contribuinte configura notificação presumida do lançamento do tributo.
3. Agravo regimental não provido.’
(AgRg-REsp 1179874/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 28.09.2010)
‘TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – IPTU – ENVIO DO CARNÊ DE PAGAMENTO – NOTIFI-
CAÇÃO PRESUMIDA – ÔNUS DA PROVA DO NÃO RECEBIMENTO
1. A decisão agravada foi baseada na jurisprudência pacífica desta Corte, ao entender que o
envio do carnê de cobrança do IPTU ao contribuinte é ato suficiente para notificação do lança-
mento tributário, cabendo a este o ônus de provar o seu não recebimento.
2. Entendimento ratificado pela Primeira Seção deste Tribunal, ao julgar o REsp 1.111.124/PR,
mediante a sistemática prevista no art. 543-C do CPC (recursos repetitivos).
3. Agravo regimental não provido.’
(AgRg-REsp 1194979/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 02.12.2010)
Repise-se, por oportuno, que a questão foi sumulada pelo próprio STJ, nos seguintes termos:
72 R�������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO
‘Súmula nº 397: O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao
seu endereço.’
Destarte, ainda que não haja prova de remessa da guia do carnê, a higidez do lançamento
do tributo segue intacta, subsistindo a liquidez da Certidão de Dívida Ativa que lastreia a
execução fiscal.
[...]
In casu, observa-se que o tributo em questão refere-se aos exercícios de 2005, 2006 e 2007,
com vencimentos em 22.04.2005, 24.04.2006 e 20.03.2007, respectivamente, datas que
devem ser consideradas, portanto, como os termos iniciais dos prazos prescricionais.
Logo, não ocorreu a prescrição, haja vista que das datas dos referidos vencimentos, até o
ajuizamento da ação em 09.04.2010, não decorreu o prazo superior a 05 anos.
Por fim, inverto os ônus da sucumbência e condeno a União Federal ao pagamento das custas
processuais e da verba honorária que fixo em 10% do valor corrigido da execução, o que faço
com base no art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil.
Ante o exposto, dou provimento à apelação.
É como voto.”
Dessa forma, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu provimento à apelação.
2135 – IPTU – sucessão patrimonial pela União – art. 515, § 2º do CPC – aplicabilidade
“Embargos à execução fiscal. IPTU. Prescrição afastada. Aplicação do art. 515, § 2º, do CPC. Su-
jeito passivo originário. Extinta RFFSA. Sucessão patrimonial pela União Federal, por força da Lei
nº 11.483/2007. Análise das demais questões suscitadas na exordial, por força do art. 515, § 2º,
do CPC. Entrega da guia de recolhimento ao contribuinte. Notificação presumida. Presunção de
informação quanto à data do vencimento do tributo. Ônus da prova imputável ao contribuinte.
Aplicação do Enunciado nº 397 da Súmula do STJ. Fatos geradores ocorridos antes da sucessão. A
União Federal responderá pelo débito. Imunidade tributária recíproca da RFFSA. Inaplicabilidade.
TSU. Inconstitucionalidade. 1. O termo interruptivo da prescrição nas execuções fiscais depende
da data em que foi proferido o despacho citatório. Se anterior à alteração do art. 174 do CTN pela
Lei Complementar nº 118/2005, considera-se a citação pessoal do devedor. Se posterior à altera-
ção legal, considera-se o próprio despacho citatório. 2. Em ambos os casos, a interrupção deve
retroagir à data da propositura da ação, conforme estabelece o art. 219, § 1º, do CPC, que neste
ponto complementa a norma de direito material (REsp 1120295/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª S., DJe
de 21.05.2010). 3. Medida que é coerente com o próprio conceito de prescrição, que se relaciona,
unicamente, com a inércia do titular da pretensão, impedindo que o autor seja prejudicado por
demora decorrente de mecanismo da justiça (Súmula nº 106 do STJ). 4. No presente caso, como o
crédito tributário em cobrança se refere a fatos geradores ocorridos em 1994 e 1995, tendo sido a
execução fiscal ajuizada dentro do quinquênio legal, em 1999, a citação da Embargante, realizada
no ano seguinte, retroagiu a essa data, razão pela qual deve ser afastada a prescrição reconhecida
pela sentença hostilizada, com fundamento no art. 174 do CTN c/c § 1º, do art. 219, do CPC.
5. Análise das demais questões suscitadas nos presentes embargos à execução, por força do art. 515,
§ 2º, do CPC: (i) no que se refere à alegação de que o magistrado que atua na execução fiscal em
apreço determinou citação não requerida pelo exequente, deve ser mantido o reconhecimento da
preclusão assentado na sentença recorrida, tendo em vista a ausência de elementos nos autos que
permitam concluir de modo diverso do Juízo a quo; (ii) no que se refere à ilegitimidade ativa, cabia
à Embargante comprovar que os imóveis não seria da RFFSA, nos termos do art. 333, I, do CPC, o
que não fez; e (iii) ‘o contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu
endereço’ e milita em favor do Fisco Municipal a presunção de que a notificação foi entregue ao
contribuinte – com todas as informações necessárias à ampla defesa do contribuinte, dentre elas a
data do vencimento para pagamento do tributo. 6. Quanto à imunidade tributária ao IPTU, o Ple-
nário do Supremo Tribunal Federal, ao examinar o RE 599.176 RG/PR, de que foi relator o Ministro
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO............................................................................................................ 73
Joaquim Barbosa (DJe 30.10.2014), decidiu, sob o regime da repercussão geral (art. 543-B do CPC),
que não se aplica aos débitos de IPTU relativo a imóveis da extinta RFFSA. Não obstante o STF ve-
nha estendendo a imunidade tributária recíproca às empresas públicas e às sociedades de economia
mista prestadoras de serviços públicos, estabelece claras condições para o gozo do benefício fiscal,
que visam impedir o desvirtuamento de suas funções no sistema constitucional (Tribunal Pleno, RE
601392/PR, Rel. Orig. Min. Joaquim Barbosa, Red. p/ o Ac. Min. Gilmar Mendes, DJe 28.02.2013,
julgado sob o rito do art. 543-B do CPC). Ocorre que tais condições não foram atendidas pela RFFS,
tendo em vista a sua natureza e a dos serviços por ela prestados, que sempre foram exercidos sob o
regime de concorrência. Caberá, então, à União Federal, sucessora da empresa, nos termos da Lei
nº 11.483/2007, quitar o débito. 7. No que se refere à TSU, a jurisprudência vem firmando o enten-
dimento de que possui a mesma natureza da TCLLP, cuja inconstitucionalidade já foi reconhecida
pelo STF, por inobservância ao art. 145, II, da CRFB/1988, tendo em vista se encontrar vinculada a
serviço de caráter universal, imensuráveis e insuscetíveis de serem individualizadas, o que vai de
encontro ao caráter contraprestacional das taxas. 8. Apelação do Município de Três Rios e remessa
necessária a que se dá provimento para reformar a sentença que pronunciou a prescrição e, na for-
ma do art. 515, § 2º, do CPC, julgar parcialmente procedente o pedido para afastar a cobrança da
TSU objeto da Execução Fiscal nº 2005.51.13.000575-3, bem como aplicar ao caso a regra alusiva
à sucumbência recíproca prevista no art. 21 do CPC.” (TRF 2ª R. – AC 2009.51.13.000008-6 –
4ª T.Esp. – Relª Desª Fed. Leticia de Santis Mello – DJe 16.10.2015)
RESUMO: No contexto atual da expansão das sociedades holdings e sua extensa utilização para fins
de planejamento tributário, este artigo pretende analisar o caso especial da holding imobiliária. O seu
escopo será o de averiguar a relevância e natureza das vantagens fiscais desse tipo de sociedade.
Analisaremos também as particularidades de cada uma das atividades comumente desenvolvidas
por uma holding, em especial a compra e venda de imóveis e a sua locação.
ABSTRACT: Within the current context of the expansion of holding companies and its extensive use
for tax avoidance purposes, this article shall analyze specifically holdings used for real estate invest-
ments. It aims at verifying the importance and the nature of the tax advantages of such company.
It shall also study the special features of each of the activities commonly developed by a holding,
notably sales and lease of real estate.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que atualmente há uma onda crescente de utilização das so-
ciedades holding para diversos fins. No passado, essas espécies de sociedade
surgiram como uma forma de racionalizar o sistema de tomada de decisões de
conglomerados que possuíam diversas filiais ou atuavam em diferentes ramos.
As holdings então passaram a cuidar das decisões estratégicas do seu grupo,
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA........................................................................................................................ 79
especialmente na área da administração financeira, sem as interferências de
fatores externos ou particularidades das controladas.
A sua chegada ao Brasil, através de grandes empresas estrangeiras (es-
pecialmente americanas) recém-instaladas no País, acabou por incorporar tam-
bém novas funcionalidades a esse tipo de sociedade. Atualmente, observamos a
utilização de holdings precipuamente para fins de: a) planejamento sucessório,
na medida em que simplifica a distribuição dos bens através de quotas/ações da
sociedade e blinda a sociedade controlada de eventuais litígios entre herdeiros;
b) proteção patrimonial, criando um intermediário entre a sociedade opera-
cional e o sócio; c) planejamento tributário, através das reduções de encargos
fiscais.
O presente artigo busca analisar uma das vantagens atribuídas às holdings:
a redução de encargos tributários. Lança-se um olhar sobre a figura específica
da holding imobiliária, usualmente utilizada para atividades de compra, venda
e locação de bens imóveis. O escopo é de observar as vantagens e desvanta-
gens fiscais em deter imóveis em nome de uma pessoa jurídica em detrimento
da pessoa física, especialmente no tocante à incidência do Imposto de Renda
sobre as receitas auferidas da locação dos imóveis e os ganhos de capital no
contexto de sua venda. No primeiro capítulo, busca-se conceituar a noção de
holding, as suas diferentes espécies e as funcionalidades e utilidades afeitas a
essas sociedades. Posteriormente, aborda-se a questão da tributação de renda
das atividades relacionadas à holding, especialmente sob a ótica do Imposto
sobre a Transmissão de Bens Imóveis e do Imposto de Renda.
CONCLUSÃO
A utilização das holdings no Brasil tem crescido exponencialmente nos
últimos anos. Entretanto, em que pese o atual afã do mercado, a constituição
de uma sociedade holding deve ser precedida do estudo do caso posto e da sua
adequação aos interesses do cliente. Se realizada de forma eficiente, a holding
é portadora de uma série de benefícios, como a proteção patrimonial da pessoa
física, o efetivo planejamento sucessório, além da redução de encargos fiscais.
No tocante à holding imobiliária, a sua utilização pode advir de fatores
como a blindagem patrimonial ou evitar o condomínio do bem imóvel em caso
de pluralidade de sócios. Usualmente, no entanto, a utilidade buscada por esse
tipo de sociedade é a redução dos tributos incidentes sobre a locação, compra
e venda de imóveis. As suas vantagens tributárias são relativas. Por um lado, são
inegáveis os ganhos de uma holding optante do regime de lucro presumido no
contexto da locação de imóveis próprios em comparação à pessoa física. No
que concerne à compra e venda de bens imóveis de propriedade da pessoa ju-
rídica, a situação é diversa. As diferenças no regime de tributação de ganhos de
capital exigem uma análise apurada dos custos relativos à constituição da socie-
dade e à diferença entre o valor da alienação e o custo de aquisição do imóvel.
REFERÊNCIAS
LODI, João Bosco. Holding. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
LONGO, José Henrique. Criação de holding e proteção patrimonial. 2013. Disponível
em: <http://www.ibet.com.br/criacao-de-holding-e-protecao-patrimonial-por-jose-hen-
rique-longo/>. Acesso em: 29 out 2015.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA........................................................................................................................ 85
MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding familiar e suas vantagens.
7. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MARTINS, Ricardo Lacaz. Tributação da renda imobiliária. São Paulo: USP, 2009. Tese
(Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
PINTO, João Roberto Domingues. Imposto de renda, contribuições administradas pela
Secretaria da Receita Federal e Sistema Simples. 21. ed. Brasília: Conselho Federal de
Contabilidade, 2013.
VISCARDI, Diego da Silva. Holding patrimonial: as vantagens tributárias e o planeja-
mento sucessório. 2015. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_
dh=12303>. Acesso em: 21 out. 2015.
Parte Geral – Doutrina
Cautelas na Aquisição de Imóveis
PATRÍCIA DA SILVA FEITOSA
Pós-Graduanda em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
– (PUC/MG – 2015), Bacharela em Direito pela FMU – Centro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas – Advogada e Membro da Comissão do Jovem Advogado da OAB/SP.
SUMÁRIO: 1 Introdução; 1.1 Documentação referente ao imóvel; 1.2 Certidões referentes à pessoa
do vendedor; 1.3 Certidões referentes ao condomínio da unidade condominial; 1.4 Terceiro de boa-fé
nos negócios jurídicos imobiliários; 1.5 Breve análise da dispensabilidade das certidões forenses na
aquisição de imóveis – Lei nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015 (Medida Provisória nº 656, de 7 de
outubro de 2014) – Súmula nº 375 do STJ; Conclusão; Referências.
1 INTRODUÇÃO
Podem ocorrer inúmeras causas capazes de invalidar a compra e venda
do imóvel: defeito do negócio jurídico (erro, dolo, coação, estado de perigo,
fraude contra credores e lesão). Pode ocorrer ainda simulação, procuração falsa
e, também, que o comprador ou o vendedor não preencham os requisitos de
validade do negócio jurídico previstos em lei, quais sejam, agente capaz, objeto
lícito e ausência da forma prescrita em lei.
Os negócios jurídicos envolvendo bens imóveis normalmente possuem
riscos, e, como em geral são de valores significativos, a ausência de qualquer
cautela poderá acarretar diversos danos, inclusive a perda do imóvel e do di-
nheiro nele investido.
Como já mencionado, podem ocorrer inúmeras causas que podem in-
validar a compra e venda de imóvel, sendo possível até dizer-se que não há
transação imobiliária absolutamente segura.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA........................................................................................................................ 87
Para a maioria dos compradores, a aquisição de um imóvel constitui a
realização do maior sonho da vida, e, na maioria das vezes, o investimento
absorve todas as economias de uma vida inteira.
Para que isso não aconteça, é imprescindível que, antes de concluir a
transação, o adquirente verifique: a) se o imóvel está com sua documentação
em ordem; b) se a pessoa que oferece o imóvel é sua legítima proprietária – ou
seja, que o bem não está sendo vendido a non domino, vale dizer, por quem
não é dono ou pessoa autorizada; e c) e se o vendedor – o proprietário – é moral
e financeiramente pessoa idônea.
Nessa senda, inarredável se faz evidenciar alguns dos muitos riscos que
corriqueiramente envolvem as negociações com imóveis, a fim de sugerir algu-
mas cautelas e posturas aos compradores.
[...]
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA........................................................................................................................ 95
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indis-
pensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou a
subsistência do devedor e sua família.
[...]
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que dissimulou, se
válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I – aparentemente conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem, ou transmitem;
III – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contratantes do
negócio jurídico simulado.
[...]
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contra-
to, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
[...]
Art. 686. A revogação do mandato, notificada somente ao mandatário, não se
pode opor aos terceiros que, ignorando-a, a boa-fé com ele tratara; mas ficam
a salvas ao constituinte as ações que no caso lhe possam caber contra o procu
rador.
[...]
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou obstáculo que
impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-
-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite essa
presunção.
1.5 Breve análise da dispensabilidade das certidões forenses na aquisição de imóveis – Lei
nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015 (Medida Provisória nº 656, de 7 de outubro de
2014) – Súmula nº 375 do STJ
Inúmeras são as discussões acerca da possibilidade de dispensa das cer-
tidões forenses que são exigidas pelo comprador ao vendedor na aquisição de
imóveis.
No tocante à Medida Provisória nº 656, de 7 de outubro de 2014, con-
vertida na Lei nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015, não há que se afirmar a
existência de mudanças. Veja-se o previsto nos arts. 54 a 56:
Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir, ou modifi-
car direitos reais sobre imóveis são eficazes em relação a atos jurídicos preceden-
tes, nas hipóteses em que não tenham sido registradas ou averbadas na matrícula
do imóvel as seguintes informações:
CONCLUSÃO
Os breves comentários ora expostos não têm o intuito, nem a pretensão,
de esgotar a matéria, que, por sua vastidão e implicações, demandaria análises
mais aprofundadas da legislação e da jurisprudência dos tribunais.
Espera-se que tais notas sirvam de alguma informação àqueles que pro-
curam, na aquisição segura de um imóvel, cercar-se da garantia de seu inves-
timento financeiro, a realização de um sonho, e, mais que isso, a garantia do
futuro próprio e de suas famílias.
REFERÊNCIAS
ARTIGO 54 DA LEI Nº 13.097/2015.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 5. ed. São Paulo: Saraiva, v. I,
2007.
CÓDIGO de Processo Civil. Arts. 593 e 615-A. Vade Mecum Saraiva. 13. ed. 1. sem.
2012.
______. Art. 646. Vade Mecum Saraiva. 13. ed. 1. sem. 2012.
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São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
______. Novo Código de Processo Civil comparado: artigo por artigo. Art. 824.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
Parte Geral – Doutrina
O Direito de Superfície: uma Análise de Sua Evolução Histórica e o
Direito Positivado Nacional
The Surface Rights: an Analysis of its Historical Development and National
Law Positivised
RESUMO: O presente artigo estuda a etimologia da palavra superfície, bem como a origem do insti-
tuto com base no direito romano. Em um segundo momento, o estudo prossegue no direito medieval
com a interferência no presente instituto teve como base os povos germânicos. O último aspecto a
ser analisado foi o direito de superfície no direito pátrio, indicando a regulamentação normativa do
instituto.
PALAVRAS-CHAVE: Direito de superfície; evolução histórica; regulamentação do instituto no direito
pátrio.
ABSTRACT: This article studies the etymology of the word surface, and the origin of the institute ba-
sed on Roman law. In a second step, the study goes on medieval law with interference at the institute
this was based on the Germanic peoples. The last aspect to be analyzed was the Surface Rights Law
in Homeland, pointing to rules regulating the institute.
KEYWORDS: Right surface; historical development; regulation of the Institute on parental rights.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Etimologia da palavra superfície e o direito de superfície; 2 Direito romano:
origem do instituto; 3 O direito de superfície no direito medieval; 4 O direito de superfície no direito
pátrio; 4.1 O direito de superfície pré-codificação nacional; 4.1.1 Ordenações Afonsinas; 4.1.2 Orde-
nações Manuelinas; 4.1.3 Ordenações Filipinas; 5 O direito de superfície e sua codificação nacional;
6 O direito de superfície no Código Civil de 2002 e o Estatuto da Cidade (breve arrazoado); Conclusão;
Referências.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objeto a análise histórica do direito de super-
fície até a atual condição nacional.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 101
Assim, para tanto, será objeto de estudo a etimologia da palavra superfí-
cie, bem como a evolução legislativa do referido instituto. Questões como ori-
gem do instituto, sua evolução no direito medieval, até sua aplicação no direito
pátrio serão abordadas.
Por fim, porém não menos importante, o método de pesquisa utilizado
no presente artigo é o dedutivo-indutivo.
1 Para o dicionário digital Priberam, a palavra etimologia significa: Parte da Gramática que trata da origem
e formação das palavras. Priberam Informática. Língua portuguesa on-line. Disponível em: <http://www.
priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx>. Acesso em: 15 out. 2015.
2 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 54.
3 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 11, 1979.
4 GORAYB, Rima. O direito de superfície. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 19.
5 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana.
Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 25.
6 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 11, 1979.
102 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
[...] o sentido das duas palavras: a primeira é preposição iniciativa da existência
de uma situação superior em relação a outra em plano mais baixo (assim sur na
palavra francesa surface e ober na palavra alemã oberflache); a segunda é um
substantivo destinado a indigitar a ideia de plano ou face (assim face ou flece nas
palavras surfece e oberflache).
7 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico: Q-Z. 2. ed. São Paulo: Saraiva, v. 4, 2004. p. 566-567.
8 Neste sentido: no dicionário digital Priberam, superfície é: Parte exterior e visível dos corpos. Priberam
Informática. Língua portuguesa on-line. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx>. Acesso
em: 15 out. 2009.
9 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 12, 1979.
10 SILVA, de Plácido e. Vocabulário jurídico: A-C. 3. ed. São Paulo: Forense, v. I, 1973. p. 1501.
11 GORAYB, Rima. O direito de superfície. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 20.
12 BARBOSA, Diana Coelho. O direito de superfície: à luz do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
p. 73.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 103
Destarte, é assertiva a existência de tal diferenciação, pois, como poderá
ser verificado no presente trabalho, o referido instituto vai muito além do sim-
ples conceito comum ou jurídico geral aplicado.
13 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. Direito das coisas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2006. p. 409;
PEREIRA, Caio Mario de Silva. Direito civil. Direitos reais. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 4, 2004.
p. 243; CHAVES DE FARIAS, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007. p. 396; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. Direito das coisas. 3. ed. São Paulo: Atlas, v. 5,
2003. p. 391; TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a
1.389. In: ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 256; SILVA, de Plácido e. Vocabulário jurídico: A-C. 3. ed. São
Paulo: Forense, v. I, 1973. p. 1501; LOUREIRO, Luiz Guilherme. Direitos reais à luz do Código Civil e do
direito registral. São Paulo: Método, 2004. p. 272; BARBOSA, Diana Coelho. O direito de superfície: à luz
do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 17; GORAYB, Rima. O direito de superfície. São
Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 22; CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de
efetivação da função social da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 8; LIMA, Frederico Henrique
Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
p. 15; TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
p. 16; ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade.
Curitiba: Juruá, 2009. p. 32; MAZZEI, Rodrigo Reis Mazzei. O direito de superfície no ordenamento jurídico
brasileiro. 2007. 404 p. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP,
São Paulo, 2007. p. 19; GRAMSTRUP, Erik F. Questões intrigantes sobre o direito real de superfície. In:
ALVES, Jones Fiqueiredo; DELGADO, Mario Luiz (Coord.). Novo Código Civil: questões controvertidas: direito
das coisas. São Paulo: Método, 2008. p. 244; ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. Rio de Janeiro:
Forense, 1778. p. 471.
14 Neste sentido: LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de
Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 20, 1979; GORAYB, Rima. O direito de
superfície. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 24 e 25; BENASSE, Paulo Roberto. O direito de superfície e
o Código Civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002. p. 16.
15 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 20, 1979; CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície
compulsória: instrumento de efetivação da função social da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 8.
16 CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função social da
propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 8.
104 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
cessões de solo público a particulares que podiam usufruir das construções que
realizassem em tais terras.
Nesse mesmo sentido, Marise Pessoa Cavalcanti arrola17: “Ao ocorrer tal
fato, surgiu uma relação jurídica anormal e incerta, quando seria muito mais
simples comprar o solo. Mas a sua necessidade decorreu da impossibilidade
de o dono do solo vende-lo quer por ser ele inalienável ou por outro motivo
qualquer”.
Conforme a doutrina, esta é a causa do surgimento do direito de super-
fície, ou seja, a sua criação foi motivada pela necessidade de adaptação às
condições sociais dos novos tempos da conjectura da propriedade romana18.
O primeiro relato histórico do direito de superfície, conforme aduz Ricar-
do Pereira Lira, foi na concessão de terreno de Cartago no século IX antes da era
cristã, bem como no ano de 298 da Fundação de Roma, que teria sido concebi-
do a muitas famílias plebeias, e, por motivos de carência o direito de habitar o
Avelino, cada um morava em um dos pavimentos de casas construídas19.
Não obstante, a fase de sua origem diverge na doutrina; e, nesse enten-
der, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald20:
A superfície surge no direito romano, na fase derradeira do período clássico –
período de intenso desenvolvimento urbano –, inicialmente por meio de relação
de direito obrigacional, e posteriormente como direito real em coisa alheia. Em
Roma, a superfície sempre foi um direito real em coisa alheia, sem que nunca
fosse alcançada a noção de propriedade autônoma.
Há, ainda, quem sustente que a superfície teve origem mais especifi-
cadamente no período pós-clássico ou romano-helênico21, possivelmente em
decorrência de arrendamentos de longos prazos (locati conducti rei).
Tal justificativa tem como fundamento que, em Roma, nesse período,
houve a existência de um instituto com estas características, ou seja, um arren-
22 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 33.
23 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 256.
24 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 277.
25 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 256.
26 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 861.
27 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 256.
28 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. Direito das coisas. 3. ed. São Paulo: Atlas, v. 5, 2003. p. 390 e 391.
106 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
A superfície é um instituto de origem exclusivamente romana. Decorreu da ne-
cessidade prática de se permitir a construção em solo alheio, principalmente
sobre bens públicos. Os Magistrados permitiam que comerciantes instalassem
tabernas sobre as ruas, permanecendo o solo em poder do Estado. Entre parti-
culares, o instituto estabelecia-se por contrato. É consagrado como direito real
em coisa alheia na época clássica. Permitia-se a plena atribuição do direito de
superfície a quem, sob certas condições, construísse em terreno alheio. Assim,
passou-se a permitir que o construtor tivesse obra separada do solo. No entanto,
sob o ponto de vista romano, o direito de superfície somente era atribuído às
construções, não se aplicando às plantações em terreno alheio.
29 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 17.
30 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 257; GORAYB, Rima. O direito de superfície. São Paulo: Quartier Latin,
2007. p. 33.
31 Neste sentido: LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de
Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 17, 1979; BENASSE, Paulo Roberto. O
direito de superfície e o Código Civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002. p. 22.
32 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. Direito das coisas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2006. p. 409.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 107
suas terras a particulares, que se obrigavam ao pagamento dos vectigali, com o
objetivo precípuo de manter a posse das largas terras conquistadas.
33 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 861.
34 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 257.
35 Neste sentido: TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a
1.389. In: ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 256 e 257; RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 1. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2004. p. 861; LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria
geral. Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 23, 1979; CAVALCANTI,
Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função social da propriedade. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000. p. 9; TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993. p. 19: ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil
e do Estatuto da Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 36.
36 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005.
108 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Conforme pode ser verificado pela doutrina, é difícil precisar historica-
mente quando a superfície adquiriu seu caráter de direito real. Sabendo-se ain-
da que tratou de mérito e obra do ius pratorium, o qual tinha como objetivo
buscar a equidade, procurou amenizar a inflexibilidade do ius civile em relação
à acessão37.
Por fim, pode-se concluir que, em decorrência das novas conjecturas
sociais romanas do direito de propriedade, ou seja, pelo rigor dos princípios
reguladores do direito de propriedade, a necessidade de melhoramento quanto
do aproveitamento das terras conquistadas, a adequação habitacional e a valo-
rização do resultado laborativo de quem trabalha nas terras, fez-se necessária a
criação do instituto do direito de propriedade38.
37 GORAYB, Rima. O direito de superfície. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 29.
38 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 26, 1979.
39 Neste sentido: LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de
Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 27 e 28, 1979; BARBOSA, Diana Coelho.
O direito de superfície: à luz do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 149; CAVALCANTI,
Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função social da propriedade. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000. p. 9; BENASSE, Paulo Roberto. O direito de superfície e o Código Civil brasileiro.
Campinas: Bookseller, 2002. p. 29; TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993. p. 22; ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil
e do Estatuto da Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 37.
40 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 258.
41 BARBOSA, Diana Coelho. O direito de superfície: à luz do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
p. 26.
42 BENASSE, Paulo Roberto. O direito de superfície e o Código Civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002.
p. 29 e 30.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 109
Segundo esse direito germânico, imóvel era somente a terra nua, sendo tudo o
mais bem móvel, e assim, a incorporação por acessão não tinha campo de apli-
cação. [...] É desta forma que o direito germânico antigo, não construído no prin-
cípio superfície solo cedit, ignora o direito de superfície romano, como jus in re
aliena, e o pratica através da divisão da propriedade do solo daquela do subsolo.
43 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 38.
44 Neste entendimento, José Guilherme Braga Teixeira pondera que: “O direito canônico também serviu
amplamente da superfície para legitimar as construções realizadas sobre terrenos de propriedade eclesiástica
e para explorar suas terras incultas, mediante concessões superficiárias” (TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O
direito real de superfície. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 25).
45 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 258.
46 Direitos reais. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 397.
47 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 30, 1979.
110 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
da igreja, gerava em favor do locatário direito real, o que não se verificava no
direito de superfície secular.
Dessa forma, não obstante o direito de superfície ter evoluído até então,
este sofrera uma grande perda em função da sua indevida utilização por parte
dos proprietários dos solos. Todavia, desde que devidamente aplicado, é um
instituto adequado que atende a vários preceitos de aplicabilidade os quais se-
rão verificados a seguir.
Nesta linha, Marise Pessoa Cavalcanti60: “Em Portugal, tal direito possuía
outra designação e foi regulado, primeiramente no direito antigo, pela Lei Pom-
balina de 09.07.1773, em relação a construções, árvores e plantações”.
Todavia, não obstante a Independência do Brasil ter ocorrido, ainda as-
sim, nos termos da Lei imperial de 20 de outubro de 1823, determinou o man-
tenimento da legislação do Reino de Portugal no Direito pátrio61.
Sendo assim, dividiremos o presente estudo em três momentos: o primei-
ros deles – em razão da ordem cronológica – será das Ordenações Afonsinas;
em um segundo momento, as Ordenações Manuelinas; e, por fim, as Filipinas,
respectivamente.
58 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O direito real de superfície. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 45.
59 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 56.
60 CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função social da
propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 29.
61 Neste sentido: TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a
1.389. In: ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro.
Rio de Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 260; CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória:
instrumento de efetivação da função social da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 30.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 113
Com o intuito de alocar o presente estudo temporalmente62, bem como
fazer um breve apontamento quanto à vigência das Ordenações no Brasil, veri-
fica-se que as Ordenações Afonsinas teve seu início de vigência em 1500, com
o descobrimento do Brasil, não obstante ser datada de 1446. Por conseguinte,
com o seu término, ou seja, em 1521, deu-se início às Ordenações Manuelinas,
que perduraram até 1521, em que ocorrera o início de vivência das Ordenações
Filipinas até a entrada em vigor do Código Civil de 1916, pois a Consolidação
das Leis Civis aproveitou parte deste último diploma legiferante português63.
62 MAZZEI, Rodrigo Reis Mazzei. O direito de superfície no ordenamento jurídico brasileiro. 2007. 404 p.
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, São Paulo, 2007. p. 92.
63 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 56.
64 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 45.
65 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 58-59.
66 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 60.
114 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
1521. Pontua Marcus Vinicius dos Santos Andrade que foram editadas as Or-
denações Manuelinas com as mesmas influências de um conjunto de normas
locais – contudo, com a participação dos glosadores67.
Em decorrência disto, ou seja, tendo em vista a forte influência das Or-
denações Afonsinas, o direito de superfície mais uma vez não estava previsto,
bem como encoberto por outros direitos, como a enfiteuse e os arredamentos68.
67 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 46.
68 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 60.
69 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 62.
70 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 46.
71 BARBOSA, Diana Coelho. O direito de superfície: à luz do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
p. 60.
72 MAZZEI, Rodrigo Reis Mazzei. O direito de superfície no ordenamento jurídico brasileiro. 2007. 404
p. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, São Paulo, 2007. p. 92.
73 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 47.
74 “Art. 6º Somente se consideram ônus reais: a servidão; o uso; a habitação; o anticrese; o usufruto; o foro.”
75 BENASSE, Paulo Roberto. O direito de superfície e o Código Civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002.
p. 16.
76 LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral. Revista de Direito da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 81, 1979.
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Corrobora essa ideia nuclear José Guilherme Braga Teixeira77:
O seu banimento de tal categoria, por exclusão do rol respectivo, é uma das
aplicadores do sistema de que os direitos reais constituem um número taxativo,
da competência do legislador (a propósito, é o que está ocorrendo atualmente
com a enfiteuse no novo Código Civil ora sob comentário). Banida do elenco
dos direitos reis da legislação vigente no País, reduziu-se a superfície a uma mera
modalidade de arrendamento, deixando de ter maior importância na ocasião.
77 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 260.
78 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 62.
79 Neste sentido: CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função
social da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 30; BENASSE, Paulo Roberto. O direito de
superfície e o Código Civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002. p. 16; ANDRADE, Marcus Vinícius dos
Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 49.
80 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 260.
116 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
reitos reais do então futuro ordenamento pátrio surgiu com o “Projecto Revisto”,
não tendo vingado entretanto tal tentativa.
81 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 861.
82 O anteprojeto de Código Civil elaborado por Orlando Gomes e apresentado em 31 de marco de 1963 ao
então Ministro da Justiça e Negócios Interiores, João Mangabeira, incluía no rol dos direito reais limitados a
superfície (art. 513, II), tratando da disciplina da espécie em oito artigos: concessão temporária do direito
de construir ou plantar, mediante escritura pública devidamente inscrita no registro imobiliário (art. 524);
transferibilidade do direito por negócio entre viços, a título oneroso ou gratuito, bem como por disposição de
ato de ultima vontade (art. 525); objeto do direito podendo ser qualquer construção, ou plantação, suscetível
de ser adquirida por acessão pelo dono do solo (art. 526); a concessão podendo ser gratuita ou onerosa, a
remuneração ao concedente pagável de uma só vez ou periodicamente, excluído o comisso, e ressalvada
a pretensão de cobrança das prestações vencidas e não pagas, acrescidas de juros moratórios (art. 527,
§§ 1º e 2º); reversão ao concedente, em princípio sem indenização, salvo estipulação contrária, não podendo
o decurso do prazo estabelecido para a construção que passe ao domínio do concedente ser inferior a vinte
e cinco anos (art. 528); responsabilidade do superficiário pelos encargos e tributos que recaírem sobre o
prédio (art. 529); preferência conferida a ambos, em igualdade de condições, no caso de alienação dos
correspondentes direitos, estabelecida a necessidade de intimação do concedente, sob pena de nulidade, no
caso de penhora da construção ou plantação, para poder fazer valer o seu direito de preferência em hasta
pública (art. 531); vedação peremptória da estipulação do pagamento de qualquer quantia pela transferência
da acessão (art. 532). (LIRA, Ricardo Pereira. O moderno direito de superfície: ensaio de uma teoria geral.
Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, n. 35, p. 85, 1979)
83 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 260-261.
84 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade. Curitiba:
Juruá, 2009. p. 49 e 50.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 117
524/531 e 685), por primeiro, posicionava o direito de superfície dentre os direito
reais limitados. [...] A proposta de Orlando Gomes terminou por ser recusada
pelos restantes membros da comissão revisora, Caio Mario da Silva Pereira e
Orozinho Nonato. Vale acrescentar que o projeto, embora remetido pelo Poder
Executivo ao Legislativo, através da Mensagem nº 804, de 12.10.1965, não teve
sequência e acabou arquivado.
88 BARBOSA, Diana Coelho. O direito de superfície: à luz do Estatuto da Cidade. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006.
p. 71.
89 RIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação urbana. Rio
de Janeiro: Renovar, 2005. p. 192.
90 Direitos reais. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 397.
91 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões. Arts. 1.277 a 1.389. In:
ARRUDA ALVIM, José Manuel de; ALVIM, Thereza (Org.). Comentários ao Código Civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, v. 12, 2004. p. 261.
92 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. Direito das coisas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2006. p. 409.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 119
de Portugal aqui aplicada no direito pré-codificado, mas não contemplado no
diploma de 1916”.
Conforme podemos notar, depois de um longo hiato legislativo, o direito
de superfície retorna ao direito positivado em dos diplomas distintos, existindo,
assim, um conflito de normas, ou seja, no caso em tela, temos em vigor dois
diplomas infraconstitucionais que regulam a mesma disciplina jurídica, sendo
eles os arts. 1.367 a 1.377 do Código Civil de 2002 e o Estatuto da Cidade, em
seus arts. 21 a 24.
CONCLUSÃO
Em sua essência, o presente artigo tem a finalidade de trazer à baila diver-
sos temas históricos relacionados ao direito de superfície. Neste sentido, foram
enfrentados diversos embates e indagações em relação ao estudo ora abordado,
seja pela aplicação normativa, seja pela doutrinária.
Em decorrência disto, não se pretendeu pôr termo final no estudo em
tela, bem como esgotá-lo, uma vez ser a matéria abrangente e o fato de trazer
consigo vários outros elementos se esbarra diretamente ou indiretamente com
este importante instituto denominado direito de superfície.
Sendo assim, no decorrer deste, fez-se necessário pontuar muitas asser-
tivas referentes ao tema, delimitando ponderações estas acostadas em estudos,
já conhecidos de diversos doutrinadores, bem como se extraindo todos os itens
importantes.
Porém, sempre que considerado oportuno, houve a emissão de uma pon-
deração deste autor.
Superado todos os pontos apresentados, há de fazer constar que a etimo-
logia da palavra superfície é diferente do direito de superfície.
Neste entender, pontua ser possível diferenciar a superfície de duas for-
mas. A primeira delas como simples termo que é, ou seja, simplesmente super-
fície; neste caso, pode ser esta interpretada no mesmo sentido da linguagem
usual já apresentada. Todavia, em um segundo momento, temos, ainda, a su-
perfície como instituto jurídico, que, neste caso, emprega-se o termo direito de
superfície.
Neste diapasão, conforme foi verificado como assertiva, tal diferenciação
do referido instituto, do direito de superfície, vai muito além do simples concei-
to comum ou do termo geral.
Analisada a origem do instituto, observou-se que este tem inegavelmente
seu primeiro momento no direito romano, onde o proprietário da terra era titular
de um direito de propriedade praticamente absoluto, praticamente sem restri-
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ções ao seu uso e gozo, bem como se beneficiava exclusivamente por tudo que
fosse acrescido ao solo.
Sendo assim, em Roma, o proprietário de um imóvel, quando acrescida
qualquer benfeitoria no imóvel – seja na terra, seja no seu espaço aéreo –, este
seria encampado à propriedade como consequência lógica do direito de pro-
priedade.
Porém, em decorrência dessa rigidez, tornou-se inconveniente o direito
de propriedade com este escopo na medida da expansão do território romano o
desenvolvimento das obras públicas.
Verificamos, ainda, que o direito de superfície originariamente é um ins-
trumento de direito público-administrativo que, com o tempo, se confunde com
o direito privado, pois inicialmente foi utilizado para a expansão do território
romano e, posteriormente, arrematava suas terras a particulares, que se obriga-
vam ao pagamento de uma contraprestação.
Assim, somente no período de Justiniano, o referido instituto se criou das
mesmas diretrizes delineadoras do direito real, ou seja, um direito de uso e gozo
sobre imóvel alheio, transmissível, bem como provido de uma ação própria e
demais ações a eles pertinentes (ações confessatórias e negatórias).
Neste diapasão, pode-se concluir que, em decorrência das novas con-
jecturas sociais romanas do direito de propriedade, ou seja, pelo rigor dos prin-
cípios reguladores do direito de propriedade, a necessidade de melhoramento
quanto ao aproveitamento das terras conquistadas, à adequação habitacional e
à valorização do resultado laborativo de quem trabalha nas terras se fez neces-
sária à criação do instituto do direito de propriedade.
Entrementes, no direito medieval, a interferência no presente instituto
foi oriunda do povo germânico. Estes tinham como elemento basilar social a
peregrinação, e assim modificando alguns conceitos e critérios fundamentais
referentes ao binômio construtor/produtor e proprietário do solo.
Em decorrência dessa evolução histórica, o direito de superfície amol-
dou-se ao novo fato social, transformando-se de um direito real para se tornar o
instituto mais equânime ao apresentado inicialmente.
Não obstante o avanço do instituto referido ter ocorrido, este, em decor-
rência dos mesmos acontecimentos históricos já apresentados aqui, sofreu uma
grande perda e tornou-se repudioso perante a sociedade em decorrência dos
abusos cometidos pelos proprietários do solo.
Verificada a nítida repúdia da aplicação do instituto, tão vislumbrada
pela sociedade naquele período, no direito português isso não ocorrera, pois
Marquês de Pombal, verificando todos os excessos ocorridos em todos os terri-
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 121
tórios, restringiu os poderes dos senhores feudais, limitando, assim, as exigên-
cias vantajosas e outros abusos cometidos por estes.
Desta forma, não obstante o direito de superfície ter evoluído até então,
este sofrera uma grande perda em função da sua indevida utilização por parte
dos proprietários dos solos. Todavia, desde que devidamente aplicado, o direito
de superfície é um instituto adequado que atende a vários preceitos de aplica-
bilidade que verificaremos a seguir.
Superada essa evolução, ao analisar o direito de superfície no direito
pátrio, verificou-se que este reflete a realidade de sua evolução, no sentido
que encontrou sucedâneo na divisão propriedade (dominium utile), bem como
incorporado ao Brasil enquanto colônia portuguesa, ele se encontrava sobre a
égide dos diplomas legais de Portugal, até a entrada em vigor da Lei nº 1.237, de
24 de setembro de 1864 (Teixeira de Freitas), que excluiu inicialmente o direito
de superfície do direito nacional.
Em continuidade, pode-se anotar que foram conseguintes três as oportu-
nidades de implementação do presente instituto na legislação nacional.
No direto privado, a primeira tentativa foi a elaboração no Código Civil
de 1916, que, não obstante a importância do instituto, este foi descartado pelo
legiferante nacional por não haver interesse ou utilidade do instituto. A segunda
tentativa, mais expressiva, com previsão expressa em seu projeto, porém rejei-
tada pelo Legislativo, foi o projeto de Orlando Gomes. Por fim – porém não a
primeira legislação vigente (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001) –, a terceira
e vitoriosa pretensão fora a segunda redação do Anteprojeto do Código Civil de
2002.
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função social da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
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2003.
Parte Geral – Doutrina
Da Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor nos Contratos
de Locação
Paula Saleh Arbs
Mestranda em Direito Processual Civil pela Universidade de Coimbra, Portugal.
1 Neste diapasão, a lição da Professora Cláudia Lima Marques, in literis: “Nesse sentido, vale repetir as
observações das edições anteriores, que considero – data máxima vênia – ainda válidas, pois a locação é
tratada, nas grandes cidades, como contratos de adesão elaborados pelas imobiliárias; nas pequenas cidades,
como contratos de locação ainda paritários e discutidos com cada inquilino. O importante é poder caracterizar
a presença de um consumidor e de um fornecedor em cada pólo da relação contratual” (Contratos no Código
de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002. p. 1109).
2 Nesse sentido, Silvio Rodrigues: “Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são previamente
estipuladas por uma das partes, de modo que a outra no geral mais fraca e na necessidade de contratar não
tem poderes para debater as condições, nem introduzir modificações, no esquema proposto. Este ultimo
contraente aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro. O surgimento deste tipo de contrato veio como
forma de economizar tempo e uniformizar as relações” (Direito civil – Dos contratos e das declarações
unilaterais da vontade. São Paulo: Saraiva, v. 3, 2004).
3 Nesse sentido é a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, in literis:
“LOCAÇÃO – FIANÇA – RESPONSABILIDADE CONTRATUAL – MULTA MORATÓRIA – CDC – APLICABILIDADE
– Os fiadores são responsáveis pelas verbas indenizatórias provenientes do contrato de locação até a entrega
definitiva das chaves do estabelecimento locado. A limitação da multa moratória dois por cento do valor da
prestação, prevista no § 1º do art. 52 do CDC, tem aplicação às relações locatícias.”
“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE EXECUÇÃO – LOCAÇÃO – MULTA PENAL – APLICAÇÃO DOS DITAMES
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO ART. 924 DO CÓDIGO CIVIL – Aplicam-se às relações
locatícias os ditames do Código de Defesa do Consumidor, motivo pelo qual a multa moratória prevista no
art. 52, § 1º, do referido diploma legal deverá servir de parâmetro para a redução da multa avençada entre
as partes. Mesmo se assim não fosse levando-se em conta o princípio do equilíbrio contratual permeado
pela atual conjuntura econômica nacional a redução da multa para 2% por cento uma questão de equidade,
pelo que deve ser levada a cabo em conformidade com o art. 924 do Código Civil, evitando-se desta forma o
enriquecimento sem justa causa.”
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 125
A regra, porém, é a inclusão dos contratos de locação não comercial no
campo de aplicação do CDC, que, como norma de ordem pública, estabelece
um valor básico e fundamental de nossa ordem jurídica.
As complexas e reiteradas relações, as quais se estabelecem entre o loca-
tário, o locador, a imobiliária, o condomínio e sua administração, formam uma
série de relações contratuais interligadas que estão a desafiar a visão “estática”
do direito. Como verdadeiro contrato cativo de longa duração, a locação e suas
relações jurídicas acessórias necessitam uma análise dinâmica e contextual, de
acordo com a nova teoria contratual, a reconhecer a existência de deveres prin-
cipais e deveres anexos para as partes envolvidas, seja o consumidor, seja a
cadeia organizada de fornecedores diretos e indiretos.
Deve-se levar em consideração que o serviço da imobiliária não se res-
tringe apenas à corretagem (apenas conseguir um inquilino para o imóvel, por
exemplo). Após a locação do imóvel, a imobiliária se torna responsável por
todos os serviços referentes ao imóvel, tal qual verificar manutenção do mesmo,
receber pagamentos e dar a quitação mensal, fazer vistorias, resolver eventuais
problemas no imóvel constantemente, entre outros. Caracterizando-se assim a
prestação de serviço contínua.
Portanto, tratando-se de locação residencial, a aplicação de normas pro-
tetivas do CDC será a regra.
Parte Geral – Doutrina
Condomínio Edilício e o Novo CPC
Olney Queiroz Assis
Advogado, Mestre e Doutor em Filosofia do Direito e do Estado-PUC/SP, Professor da Facul-
dade de Direito Damásio de Jesus – FDDJ da Escola Superior de Advocacia – ESA/OAB e da
Escola Paulista de Direito – EPD.
RESUMO: Este artigo mostra que o CPC/2015 deu destaque à função operacional das normas pro-
cessuais civis, motivo pelo qual ampliou as funções do condomínio edilício ao possibilitar o protesto
e a ação de execução de contribuições condominiais. O artigo sistematiza essas duas novidades
processuais e aproveita para recuperar o debate sobre o reconhecimento da personalização do con-
domínio edilício. Argumenta que o aumento da complexidade social exige esse reconhecimento e
que os conceitos sujeito de direito e pessoa jurídica foram construídos tendo em vista uma função
operacional. Indica que o condomínio edilício como sujeito personalizado se ajusta à finalidade do
CPC/2015 de gerar um processo civil mais célere e mais justo e obter um grau mais intenso de
funcionalidade.
ABSTRACT: This article shows that CPC/2015 has emphasized the operational function of civil pro-
cessual rules, reason why expanded the mixed-property functions by enabling protest and enforce-
ment action of condominium contribution. The article organizes these two procedural innovations and
brings back the debate about recognition of mixed-property condominium personalization. Argues
that the social complex increase demands this recognition and that the concepts subject of law
and legal person were constructed owing to an operational view. It shows that the mixed-property
condominium as a custom subject fits the purpose of CPC/2015 to create a faster and fairer civil suit
and to obtain a better level of functionality.
INTRODUÇÃO
O novo Código de Processo Civil considerou título executivo extraju-
dicial o crédito referente às contribuições do condomínio edilício, desde que
documentalmente comprovadas. Isso significa que o condomínio edilício pode
protestar o título e utilizar-se do processo de execução contra os condôminos
inadimplentes. No processo de execução é possível penhorar a unidade au-
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tônoma ou a vaga na garagem de propriedade do condômino devedor. Ocor-
re, porém, que se o bem penhorado for levado a leilão, existe dúvida sobre
o direito de preferência do condomínio edilício em relação à adjudicação. A
mesma dúvida é suscitada no caso de unidade autônoma penhorada por falta
de pagamento de prestações ou quando arrecadada pelo administrador judicial
da falência do condômino empresário. Essas dúvidas sobre a possibilidade do
condomínio edilício adquirir bens imóveis decorrem de outra, que consiste em
determinar se o condomínio edilício é sujeito de direito despersonalizado ou
personalizado.
Essas dúvidas têm merecido respostas divergentes, motivo pelo qual
aproveitamos as inovações introduzidas pelo CPC/2015 para retomar o debate e
apontar um entendimento que, acreditamos, é mais compatível com as funções
do condomínio edilício diante da alta complexidade das sociedades urbanas do
século XXI.
Partimos do pressuposto de que as leis e os conceitos jurídicos que elas
veiculam estão submetidos a influências recíprocas, portanto, não podem ser
compreendidos ou aplicados isoladamente. Deve haver uma coordenação entre
normas, tendo em vista a coerência e a função operacional do sistema. Fixamos,
portanto, o entendimento segundo o qual os conceitos jurídicos são criados,
definidos e classificados tendo em vista uma função operacional prática que
consiste na decisão de conflitos com um mínimo e perturbação social, portanto,
de forma mais ágil, mais célere e mais justa.
Disso decorre que a exata compreensão da função operacional de deter-
minados conceitos é decisiva para definir a personalização ou não do condo-
mínio edilício, bem como o seu direito de preferência na adjudicação de imó-
vel penhorado ou arrecadado que constitua uma de suas unidades autônomas.
Nessa trilha, pedimos licença ao leitor para estender a nossa exposição na parte
que trata dos conceitos.
1 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES
Para entender e explicar o Direito, os juristas constroem conceitos, cujas
definições servem como descrições abreviadas dos fenômenos jurídicos. Os
conceitos e as respectivas definições são utilizados como instrumentos de aná-
lise, interpretação, compreensão e aplicação dos textos jurídicos. Os conceitos
jurídicos são usados de forma regular e frequente por todos os profissionais do
Direito, motivo pelo qual grande parte do ensino jurídico consiste em esclarecer
as suas definições e mostrar o uso seu operacional.
Para facilitar a compreensão e definição adequadas, os conceitos são
classificados em gênero, espécies, subespécies, etc. A classificação dos con-
ceitos é uma elaboração extremamente útil à compreensão de qualquer tema
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jurídico. Aliás, todas as áreas do conhecimento operam com classificações. As
classificações organizam o raciocínio e facilitam a compreensão, na medida
em que utilizam procedimento de distinção, divisão, ordenação, coordenação,
hierarquização, etc.
A propósito, o filósofo Aristóteles ensinava que “conhecer é classificar” e,
por conta disso, classificava (agrupava e separava) as coisas em gêneros e espé-
cies. Essa noção aristotélica tem sido amplamente utilizada na compreensão do
Direito desde os tempos dos jurisconsultos romanos, motivo pelo qual é comum
os doutrinadores contemporâneos organizar o estudo das disciplinas jurídicas
mediante classificações.
Todavia, é preciso anotar que as classificações, embora relevantes para o
conhecimento jurídico, não ostentam rigor científico, portanto, convivem com
certa margem de imprecisão. Além disso, as classificações tendem a isolar os
conceitos em prejuízo de uma compreensão dialógica dos mesmos. Isto não
significa, porém, que as classificações sejam desprovidas de consistência, a sua
insuficiência e tendência isolacionista não impedem a sua operacionalização
na interpretação, compreensão e aplicação das regras jurídicas.
Existem classificações restritivas, geralmente utilizadas apenas em deter-
minado ramo do Direito. Nesse sentido, os condomínios são classificados em
duas espécies: condomínio geral e condomínio edilício; este, por sua vez, é
classificado em residencial ou não residencial, enquanto aquele é classificado
em voluntário ou necessário. De outra parte, existem classificações extensivas
ou abarcantes que se estendem para todos os ramos do Direito, ou seja, nenhu-
ma disciplina jurídica ou nenhum regime jurídico pode delas prescindir. Nesse
sentido, a classificação dos sujeitos de direito, que será analisada adiante.
2 TEORIAS
A expressão condomínio edilício é ambígua porque utilizada para in-
dicar duas coisas distintas, a saber: a) uma propriedade: composta de partes
exclusivas (cada condômino é titular de unidade autônoma) e de partes comuns
(cada condômino é titular de partes ideais das áreas comuns); b) um sujeito de
direito: considerado pela maioria da doutrina um ente despersonalizado, mas
dotado de capacidade processual, com órgãos de poder, equiparado às pessoas
jurídicas de direito privado pela legislação tributária, que assume nas relações
jurídicas diversas posições e respectivos papéis, como as de empregador, con-
sumidor, contribuinte, responsável tributário, locador, proprietário, investidor,
etc.
130 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
Diante dessa complexidade, à qual não se aplica os tradicionais princí-
pios consagrados pelo regime jurídico do condomínio geral, as opiniões diver-
gem. Não existe, portanto, consenso entre os juristas sobre a natureza jurídica
do condomínio edilício.
Nessa trilha, Silvio de Salvo Venosa (2006: 338) postula que o condomí-
nio possui personificação anômala, portanto, nada impede que a comunidade
condominial decida ser proprietária, por exemplo, de lojas ou estacionamentos
no edifício, explorando-os comercialmente e, com isso, reduzindo as despesas
condominiais dos titulares das unidades autônomas. Para Venosa, o Direito não
pode ignorar realidades e o condomínio, no mundo dos negócios, age tal qual
uma pessoa jurídica. Nesse sentido, aponta que é comum o condomínio deli-
berar e decidir pela locação de dependências suas para restaurante ou outra
atividade mercantil.
Para alguns autores, negar personalização ao condomínio edilício sig-
nifica impedi-lo de adjudicar ou adquirir imóvel de interesse dos condôminos.
Nesse sentido, citam o caso, tido como paradigmático, no qual o condomínio,
impossibilitado de reunir em uma escritura 200 pessoas (= número de condô-
minos), perdeu a opção de compra de um terreno contíguo que solucionaria o
problema de falta de vagas para o estacionamento de veículos, pois o tabelião
recusou-se a lavrar a escritura em nome do condomínio, representado pelo sín-
dico.
O Código Civil não reconhece expressamente a personalidade jurídica
ao condomínio edilício, tanto que esse sujeito de direito não consta do disposi-
tivo (art. 44) que estabelece o rol das pessoas jurídicas de direito privado. Con-
tudo, o Código prescreve que os instrumentos de instituição e convenção do
condomínio edilício devem ser registrados. Assim, em dois atos e registros dis-
tintos, consumados perante o mesmo Registro de Imóveis, surge juridicamente
o condomínio edilício, com legitimidade de representação da coletividade dos
condôminos nas relações jurídicas concernentes à administração dos interesses
comuns.
A partir do registro, o condomínio é obrigado a requerer na Receita Fede-
ral o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, que o habilita a contratar
empregados e cadastrar-se no Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS.
É sujeito de direitos e obrigações como a generalidade das pessoas jurídicas de
direito privado, sendo obrigado, inclusive, a realizar depósitos de FGTS, pagar
e reter parcelas devidas ao INSS, ao IR, ao PIS, à Cofins, à CSLL e apresentar do-
132 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
cumentos referentes às obrigações fiscais principais e acessórias. O condomínio
edilício cumpre efetivamente uma função operacional de sujeito de direito per-
sonalizado: compra, aluga, empresta, contrata serviço, emprega, faz aplicações
financeiras, recolhe tributos e nada o impede, por exemplo, de ser proprietário
de unidades autônomas, lojas no térreo ou vagas na garagem, que poderá locar
e auferir renda para a comunidade condominial.
Como se nota, os interesses sociais e econômicos cada vez mais com-
plexos que gravitam em torno do condomínio edilício e que apontam para um
horizonte cada vez mais ampliado de relações jurídicas indicam que a personi-
ficação atenderia de forma mais eficaz a sua função operacional.
As divergências teóricas em relação à personalização existem porque o
condomínio edilício, em relação ao condomínio tradicional, apresenta duas no-
vidades: a) uma de caráter objetivo: o condomínio edilício é uma propriedade
composta de partes exclusivas e de partes comuns; b) outra de caráter subjetivo:
o condomínio edilício é sujeito de direito, que administra as partes comuns e
representa os interesses da comunidade de condôminos.
A determinação do condomínio edilício como sujeito de direito perso-
nalizado (pessoa) ou despersonalizado (ente) implica investigar a construção
do conceito sujeito de direito com o intuito de demonstrar que o mesmo foi
elaborado tendo em vista uma função operacional.
4 PERSONALIZAÇÃO
No estudo do condomínio edilício, a doutrina que privilegia o enfoque
do sujeito de direito (conjunto de pessoas) geralmente entende o condomínio
como dotado de personalidade jurídica (pessoa). Já a doutrina que privilegia o
enfoque da propriedade (conjunto de bens) geralmente concebe o condomínio
edilício como sujeito de direito destituído de personalidade jurídica (ente).
Entendemos que a classificação dos sujeitos de direito (personalizados e
despersonalizados) cumpre uma função operacional, portanto, foi construída
para o domínio prático das questões relativas à decisão de conflitos. Nesse sen-
tido, afirmamos que, para cumprir a sua função operacional em uma sociedade
cada vez mais complexa, o condomínio edilício deve ser considerado sujeito
personalizado.
Para explicar melhor esse posicionamento vale mencionar a seguinte de-
cisão do Tribunal de Justiça de São Paulo:
Ação proposta por condomínio contra incorporadora destituída, objetivando a
emissão pela ré de declaração de vontade na outorga de escrituras definitivas de
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 135
compra e venda de cada unidade. Carência decretada quanto ao condomínio au-
tor, já que não tem personalidade jurídica. (TJSP, Ag 170.900-2, Rel. Des. Carlos
Ortiz, 26.03.1992)
6 PROTESTO
Geralmente a cobrança das contribuições vencidas e não pagas exigem a
contratação de advogado para propor ação judicial. É possível, antes de propor
a ação, solicitar o protesto do documento de dívida como forma de demonstrar
em juízo que foram envidados todos os esforços no sentido receber o crédito
amigável ou extrajudicialmente.
O pedido de protesto de títulos ou outros documentos de dívida tem uma
função operacional de extrema importância, tendo em vista que é, indubitavel-
mente, o meio mais eficaz de cobrança extrajudicial de obrigações pecuniárias
vencidas. Muitos pagamentos são realizados em cartório, justamente para evitar
o registro do protesto. As estatísticas sobre recuperação de créditos indicam
que, dos títulos enviados para protesto, 50% são pagos em cartório dentro do
prazo legal de 3 (três) dias úteis, além de outros 30% no prazo máximo de dois
anos (Tribuna do Direito, mar. 2013, p. 7). O protesto é, portanto, uma maneira
eficaz de forçar o condômino inadimplente a pagar as despesas condominiais
vencidas.
140 D��������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA
As estatísticas demonstram que o protesto é uma forma extrajudicial efi-
caz de recebimento de dívidas vencidas, portanto, também uma forma eficaz de
evitar a sobrecarga de processos no Poder Judiciário. Nesta trilha, o CPC/2015
colocou em destaque a mediação e a conciliação como forma privilegiada de
decidir os conflitos. No mesmo sentido, superou as discussões sobre o protes-
to do crédito referente às contribuições condominiais, ao prescrever de modo
inequívoco que são títulos executivos extrajudiciais: “O crédito referente às
contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, prevista na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde quer documen-
talmente comprovadas” (CPC/2015, art. 784, X).
Isso significa que, na sistemática do CPC/2015, o crédito referente às
contribuições condominiais aprovadas em assembleia pode ser protestado se
não for pago no vencimento. Para comprovar a liquidez, certeza e exigibilidade
do crédito, o condomínio deve apresentar ao Cartório de Protesto os seguin-
tes documentos: a) cópia da convenção do condomínio; b) cópia do orçamen-
to aprovado pela assembleia; c) ata da assembleia que aprovou orçamento;
d) documento de dívida (boleto ou recibo); e) planilha de cálculo, destacando
os valores das contribuições devidas, os juros moratórios, a multa e a corre-
ção da dívida. A propósito, o CPC/2015 prescreve: “A necessidade de simples
operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da
obrigação constante do título” (art. 786, parágrafo único).
Enfim, por se tratar de título executivo, a cobrança judicial do crédito
referente às despesas condominiais pode ser feita mediante ação de execução.
Isto, todavia, não afasta a cobrança pelo procedimento comum.
8 PENHORA
O CPC/2015 prescreve que a impenhorabilidade não é oponível à exe-
cução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para a sua
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 143
aquisição (art. 833, § 1º). A doutrina reconhece que as despesas condominiais
são encargos da própria coisa porque necessárias à sua conservação e subsis-
tência, e têm, portanto, natureza propter rem e gravam o imóvel que as geram.
Do exposto decorre que a execução judicial do crédito relativo às con-
tribuições condominiais possibilita a penhora da unidade autônoma do condô-
mino devedor, mesmo quando gravado com a cláusula de impenhorabilidade
e inalienabilidade. A impenhorabilidade da unidade autônoma por disposição
voluntária ou por força da Lei nº 8.009/1990 não impede a penhora do imóvel
fundada em débitos da unidade condominial. Nessa trilha, os Tribunais têm
decidido:
Despesas condominiais. Obrigação de natureza propter rem. Dívida que é de res-
ponsabilidade do adquirente do bem. Irrelevância de o imóvel ter sido adquirido
por meio de adjudicação ou arrematação. (RT, 815/410)
Despesas condominiais. Ação que pode ser proposta contra o adquirente do imó-
vel. Encargos que constituem uma espécie peculiar de ônus real, gravando a
própria unidade do bem. (RT, 811/449)
CONCLUSÃO
O condomínio edilício é um fenômeno jurídico típico das sociedades
urbanas industrializadas, motivo pelo qual tem e continuará a ter expressiva
importância na sociedade contemporânea. É constante o aumento da produção
legislativa e o interesse da doutrina em relação a tal fenômeno. Além disso, os
conflitos levados às instâncias judiciais e que envolvem direta ou indiretamente
o regime jurídico do condomínio edilício têm aumentado cada vez mais, daí
a preocupação em construir um aparato doutrinário com princípios e regras
que possam orientar a atividade dos profissionais do direito. Essa construção,
como dissemos, exige o reconhecimento do condomínio edilício como sujeito
de direito personalizado. Essa exigência encontra o seu fundamento na função
operacional do ordenamento jurídico. Função esta que já havia sido percebida
pela legislação tributária ao equiparar o condomínio edilício às pessoas jurídi-
cas de direito privado para facilitar a arrecadação e a operacionalização das
obrigações tributárias.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – DOUTRINA..................................................................................................................... 147
Na leitura do texto da Exposição de Motivos do CPC/2015 é possível
depreender o destaque dado à função operacional das normas processuais civis
como meios racionais (expectativas de comportamentos) para se alcançar de-
terminados fins racionalmente previstos ou esperados: “Um sistema mais coeso,
mais ágil e capaz de gerar um processo civil mais célere e mais justo” e, desse
modo, “obter-se um grau mais intenso de funcionalidade”.
referências
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de fracionária. São Paulo: Max Limonad, 1953.
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VIEHWEG, Theodor. Tópica e jurisprudência. Brasília: UNB, 1979.
Parte Geral – Acórdão na Íntegra
2136
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – SFH – AFERIÇÃO DE INTERESSE
JURÍDICO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – SÚMULA
Nº 150 DO STJ – AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO
1. Nos termos da Súmula nº 150/STJ: “compete à Justiça Federal deci-
dir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença,
no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
2. Agravo regimental não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indi-
cadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 149
na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de
julgamento: “A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regi-
mental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” A Sra. Ministra
Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e
Og Fernandes (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 27 de outubro de 2015.
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: Trata-se de agravo re-
gimental interposto em face de decisão resumida da seguinte maneira (e-STJ
fl. 643):
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – SFH – AFERIÇÃO DE INTERESSE JURÍDICO
DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL –
SÚMULA Nº 150 DO STJ – AGRAVO CONHECIDO PARA DAR PROVIMENTO
AO RECURSO ESPECIAL.
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – SFH – AFERIÇÃO DE INTERESSE
JURÍDICO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – SÚMULA
Nº 150 DO STJ – AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO
1. Nos termos da Súmula nº 150/STJ: “compete à Justiça Federal deci-
dir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença,
no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
2. Agravo regimental não provido.
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: A pretensão não merece
acolhida.
150 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
No caso dos autos, a controvérsia recursal se resume à atribuição da
competência do processamento desses autos. Assevera a recorrente que esses
autos não devem ser remetidos à Justiça Federal em face da ausência de interes-
se jurídico da Caixa Econômica Federal.
Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de
que “compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico
que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas
públicas” (Súmula nº 150/STJ).
A propósito, confira-se a seguir:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – JUÍZO FEDERAL E JUÍZO ESTA-
DUAL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA – MUTUÁRIOS DO SISTE-
MA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO – PEDIDO DE INGRESSO DA CAIXA ECO-
NÔMICA FEDERAL – ALEGAÇÃO DE COMPROMETIMENTO DO FUNDO DE
COMPENSAÇÃO DE VARIAÇÕES SALARIAIS – FCVS – COMPETÊNCIA INTER-
NA – PRIMEIRA SEÇÃO – COMPETÊNCIA NA ORIGEM – JUÍZO FEDERAL – SÚ-
MULA Nº 150/STJ
[...]
4. Nos casos em que empresa pública federal, como a Caixa Econômica Federal,
pede o ingresso no feito que tramita na Justiça Estadual, cabe à Justiça Federal
apreciar a pretensão, conforme a regra consagrada na Súmula nº 150/STJ: “com-
pete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifi-
que a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
5. Não se está, no caso, definindo a admissão ou não da CEF no feito, mas tão
somente estipulando quem deve resolver a questão. Uma vez esgotada essa dis-
cussão com o trânsito em julgado da decisão da Justiça Federal, o feito deve
permanecer nela se o entendimento for pela existência do interesse jurídico da
CEF, ou ser remetido à Justiça Estadual se a conclusão for pela exclusão da CEF
do processo.
[...]
8. Agravo Regimental não provido.
(AgRg-CC 136.692/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., Julgado em 11.03.2015,
DJe 04.08.2015)
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
AgRg-AREsp 738.802/PR Número Registro: 2015/0162865-1
Números Origem: 1093344702 1093344703
Pauta: 27.10.2015 Julgado: 27.10.2015
Relator: Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes
Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Nicolao Dino de Castro e
Costa Neto
Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi
AUTUAÇÃO
Agravante: Liberty Seguros S/A
Advogado: Milton Luiz Cleve Kuster
Advogada: Mônica Ferreira Mello Beggiora e outro(s)
Agravado: Arcelia Padilha Lois
Agravado: Anatoly Sawczuk
Agravado: Dirceu de Jesus Ramos de Almeida
Agravado: Estela Mara dos Santos Machado
Agravado: Ione Sandeski
Agravado: Lourival de Freitas
Agravado: Marli Mendes
Agravado: Maria Celia Rodrigues de Oliveira
Agravado: Mirian Aparecida de Oliveira
Agravado: Nilton Cezar de Oliveira
Agravado: Pasturina da Conceição Alves
Agravado: Terezinha Rodrigues de Paula
Advogados: Tiago Schroeder Russi
Thiago Haviaras da Silva e outro(s)
Interes.: Caixa Econômica Federal
Advogados: Adenilson Cruz
Edgar Luiz Dias e outro(s)
152 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Assunto: Direito Civil – Obrigações – Espécies de contratos – Sistema Fi-
nanceiro da Habitação – Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS
AGRAVO REGIMENTAL
Agravante: Arcelia Padilha Lois
Agravante: Anatoly Sawczuk
Agravante: Dirceu de Jesus Ramos de Almeida
Agravante: Estela Mara dos Santos Machado
Agravante: Ione Sandeski
Agravante: Lourival de Freitas
Agravante: Marli Mendes
Agravante: Maria Celia Rodrigues de Oliveira
Agravante: Mirian Aparecida de Oliveira
Agravante: Nilton Cezar de Oliveira
Agravante: Pasturina da Conceição Alves
Agravante: Terezinha Rodrigues de Paula
Advogados: Thiago Haviaras da Silva e outro(s)
Tiago Schroeder Russi
Agravado: Liberty Seguros S/A
Advogados: Milton Luiz Cleve Kuster
Mônica Ferreira Mello Beggiora e outro(s)
Interes.: Caixa Econômica Federal
Advogados: Adenilson Cruz
Edgar Luiz Dias e outro(s)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epí-
grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”
EMENTA
RECURSO ESPECIAL – DIREITO CIVIL – EXTINÇÃO DA HIPOTECA – PRESCRIÇÃO DA
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL – INTERPRETAÇÃO DO ART. 1499, I, DO CC/2002 – PROCEDÊNCIA
DO PEDIDO DE CANCELAMENTO
1. Pedido de cancelamento da hipoteca em face da declaração ju-
dicial de extinção da obrigação principal pelo implemento da pres
crição.
2. Prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste
a garantia hipotecária, em face da sua natureza acessória.
3. Inteligência do art. 1499, inciso I, do CC/2002.
4. Doutrina e jurisprudência acerca do tema.
5. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, deci-
de a Egrégia Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Rela-
tor. Os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente), Marco Aurélio
Bellizze, Moura Ribeiro e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Brasília, 20 de outubro de 2015 (data de Julgamento).
154 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino
Relator
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator):
Trata-se de recurso especial interposto por Real e Benemérita Sociedade
Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro com fundamento no art. 105,
inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal contra acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (fl. 850):
AÇÃO RESCISÓRIA – CONFISSÃO DE DÍVIDA – PRESCRIÇÃO – HIPOTECA –
EXTINÇÃO – VIOLAÇÃO DE LITERAL DISPOSITIVO DE LEI – INOCORRÊNCIA
– IMPROCEDÊNCIA
VOTO
O Exmo. Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator):
Eminentes colegas. A polêmica do presente recurso especial situa-se em
torno da possibilidade de ser decretada a extinção da hipoteca em face da de-
claração judicial da prescrição da dívida principal que ela garantida.
A questão é relevante, pois o acórdão rescindendo do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro manteve o tópico da sentença que declarara o implemento da
prescrição da dívida principal, mas sem decretar a extinção da hipoteca.
A solução da questão situa-se em torno da interpretação da regra do
art. 1499, I, do Código Civil, quando regula as causas de extinção da hipoteca,
verbis:
Art. 1.499. A hipoteca extingue-se:
156 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
I – pela extinção da obrigação principal;
II – pelo perecimento da coisa;
III – pela resolução da propriedade;
IV – pela renúncia do credor;
V – pela remição;
VI – pela arrematação ou adjudicação.
Flávio Tartuce (Lei de Introdução ao Código Civil e Parte Geral. 8 ed. Rio
de Janeiro: Forense, São Paulo. p. 424) explica:
[...]
Com o intuito de indicar que não se trata de um direito subjetivo público abs-
trato de ação, o atual Código Civil adotou a tese da prescrição da pretensão. De
acordo com o art. 189, do CC, violado um direito, nasce para o seu titular uma
pretensão, que pode ser extinta pela prescrição.
Se o titular permanecer inerte, tem como pena a perda da pretensão que teria por
via judicial. Repise-se que a prescrição constitui um benefício em favor de deve-
dor, pela aplicação da regra de que o direito não socorre aqueles que dormem,
diante da necessidade do mínimo da segurança jurídica nas relações negociais.
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Número Registro: 2013/0336206-2
Processo Eletrônico REsp 1.408.861/RJ
Números Origem: 00441703820128190000 02217164820108190001
2012280063 201325150133 2217164820108190001 441703820128190000
Pauta: 20.10.2015 Julgado: 20.10.2015
Relator: Exmo. Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva
Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Mário Pimentel Albuquerque
Secretária: Belª Maria Auxiliadora Ramalho da Rocha
AUTUAÇÃO
Recorrente: Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio
de Janeiro
Advogados: Eduardo Corrêa Dias de Almeida
Vanessa Isadora Genaro
Carla Pretti Mercante e outro(s)
Recorrido: Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros Dom
Pedro V
Advogados: João Henrique Silva Chaves
Antônio Carlos da Costa Araújo
Assunto: Direito civil – Obrigações – Espécies de contratos
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar o processo em epígra-
fe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
162 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
EMENTA
SFH – CONTRATO DE MÚTUO – REVISÃO – AMORTIZAÇÃO – EQUIVALÊNCIA SALARIAL – TR
– SEGURO
1. Agravos retidos de fls. 199/218 e 219/231 não conhecidos, uma
vez que inexiste utilidade prática em se discutir provimento de urgên-
cia (tutela antecipada) que foi substituído pela sentença que julgou
improcedente o pedido.
2. Agravo retido de fls. 367/374 conhecido e desprovido, tendo em
vista que foi a parte autora quem efetivamente deu causa à perda
da prova pericial, ao não manter seu endereço atualizado nos autos,
deixando de fornecer os elementos necessários (contracheques) para
a realização da perícia contábil.
3. A parte autora objetiva a revisão do contrato de financiamento
firmado sob a égide do Sistema Financeiro da Habitação, com o re-
cálculo das prestações e do saldo devedor.
4. A inconstitucionalidade da execução extrajudicial do Decreto-Lei
nº 70/1966 já foi categoricamente rejeitada pelo Supremo Tribunal
Federal, em inúmeros julgados, reconhecendo a recepção do aludido
dispositivo legal com a Constituição Federal, pelo que, desde que
respeitadas todas as formalidades exigidas pelo referido Decreto, a
vergastada execução extrajudicial caracteriza exercício de um direito
subjetivo na forma da lei. Direito este que nasce da eventual inadim-
plência do mutuário.
5. In casu, considera-se regular o procedimento de execução extra-
judicial iniciado e as demais teses do apelo (atuação de leiloeiro pú-
164 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
blico, escolha do agente fiduciário, falta de liquidez do título, ino-
bservância do PES, anatocismo, TR, forma de amortização, taxa de
administração e seguro) são desprovidas de amparo, conforme vários
precedentes sobre a matéria.
6. Agravos retidos de fls. 199/218 e 219/231 não conhecidos. Agravo
retido de fls. 367/374 conhecido e desprovido. Apelação da parte
autora conhecida e desprovida.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indica-
das, decide a Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª
Região, por unanimidade, não conhecer dos agravos retidos de fls. 199/218 e
219/231, e negar provimento ao agravo retido de fls. 367/374 e à apelação dos
autores, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo parte do presente
julgado.
Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2015 (data do Julgamento).
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta por Cidcley Samia e Glauce Kelly
Freitas Fernandes Samia contra sentença que julgou improcedente o pedido
(fls. 543/557). A parte autora objetiva a revisão do contrato de financiamento
firmado sob a égide do Sistema Financeiro da Habitação com (i) o recálculo das
prestações e do saldo devedor de acordo com o PES; (ii) o recálculo do saldo
devedor com a exclusão da TR, aplicando-se juros simples, caso não se entenda
pela aplicabilidade do PES; (iii) a exclusão da taxa de administração e da taxa de
risco de crédito. Requer, ainda, a observância do limite legal de juros e do “li-
mite contratual de 24,10% dos rendimentos dos mutuários”; a efetiva variação
do salário mínimo; a devolução em dobro das “quantias pagas em excesso”; a
declaração de nulidade das cláusulas abusivas, especialmente da que institui a
cobrança de saldo devedor residual e da que estabelece o vencimento antecipa-
do da dívida; a condenação da CEF “a providenciar a seu encargo a quitação do
financiamento e a liberação da hipoteca”; o afastamento da cobrança de juros
sobre juros; a devolução dos valores pagos a título de seguro ou a sua correção
desvinculada das prestações, permitindo-se a “livre contratação do seguro habi-
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 165
tacional com a instituição que melhor lhe oferecer condições”; a correta amor-
tização da dívida, nos termos do art. 6º, c, da Lei nº 4.380/1964; indenização
por danos materiais e morais; bem como impedir a CEF de promover quaisquer
atos executórios ou anular os seus efeitos (fls. 42/44).
Nas razões de recurso (fls. 564/602), os autores requerem, preliminar-
mente, a remessa dos autos ao Núcleo de Conciliação e a apreciação do agravo
retido interposto. Sustentam que há pedido de anulação da execução extrajudi-
cial; que deve ocorrer o “sobrestamento do feito neste MM. Juízo, até o julga-
mento definitivo dos RE 627.106/PR e RE 556.520/SP” (fl. 566), ante a existência
de repercussão geral; que, apesar da importância da realização de perícia, os
autos foram conclusos para sentença; que houve cerceamento do seu direito de
defesa, já que ocorreu o julgamento antecipado da lide sem a produção da pro-
va pericial contábil, essencial para a resolução do litígio; que a prova pericial é
importante para se verificar a incorreção dos reajustes aplicados às prestações e
do cálculo do saldo devedor; que a regularidade do procedimento de execução
extrajudicial encontra-se vinculada a ilícito inadimplemento do mutuário; que
o título executivo não é líquido; que a escolha do agente fiduciário não foi de
comum acordo entre credor e devedor; que não foram expedidos os avisos de
cobrança, conforme dispõe o art. 31, IV, do Decreto-Lei nº 70/1966; que, nos
termos do art. 40 do Decreto-Lei nº 70/1966, o devedor tem assegurada a repa-
ração de todas as perdas e danos decorrentes da alienação do imóvel quando
não observadas as regras do referido Decreto-lei; que houve atuação indevida
de leiloeiro público; que o Decreto-Lei nº 70/1966 não foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988 no que se refere às suas normas que regulam a
execução extrajudicial; que o CDC se aplica ao caso; que o seguro deve ser
excluído ante a prática abusiva de venda casada; que a equivalência salarial
deve ser respeitada, bem como o comprometimento de renda em 30%, nos
termos da Lei nº 8.692/1993; que é indevida a aplicação da TR como índice de
correção do saldo devedor; que não se aplicou o disposto no art. 6º, c, da Lei
nº 4.380/1964; que há prática de anatocismo com a cobrança de juros morató-
rios e remuneratórios; que deve ser excluída a taxa de administração cobrada,
por inexistir previsão legal no âmbito do SFH; que deve ser averbada no RGI a
existência da presente ação, nos termos do art. 167, I, 21 da Lei nº 6.015/1973;
que a cláusula que prevê o saldo devedor residual é abusiva; e que fazem jus
à indenização pelos danos morais sofridos em razão da indevida inscrição de
seus nomes no rol de inadimplentes.
Contrarrazões da CEF às fls. 605/620, nas quais requer a apreciação do
seu agravo retido.
O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso
(fls. 624/632).
166 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
É o relatório. Peço dia para julgamento.
Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2015.
VOTO
Em relação ao pedido de remessa dos autos ao Núcleo de Conciliação
feito pelos autores, ora apelantes, indefere-se tal pedido, uma vez que os pre-
sentes autos não foram selecionados para os mutirões de conciliação que se
encontram em andamento. Ademais, foi realizada audiência de conciliação
(fl. 481), mas não foi possível conciliar, uma vez que a ocupante do imóvel não
possuía condições de assumir o valor da proposta de acordo apresentada.
Conheço do apelo, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.
Por sua vez, não conheço dos agravos retidos interpostos às fls. 199/218
e 219/231, uma vez que a impugnação da decisão que antecipou os efeitos da
tutela deveria ter sido feita mediante agravo de instrumento, com devolução
imediata ao Tribunal. Inexiste utilidade prática, neste momento, em se discutir
provimento de urgência que foi substituído pela sentença que julgou improce-
dente o pedido.
No que concerne ao agravo retido de fls. 367/374, devidamente reiterado
na apelação à fl. 565 (CPC, art. 523, § 1º), este é conhecido, mas será desprovi-
do. Os autores se insurgem contra a decisão que decretou a perda da prova pe-
ricial (fl. 366). Alegam a importância da prova pericial contábil para a solução
da lide e o cerceamento de defesa.
De fato, a importância da prova pericial contábil foi reconhecida pelo
Juiz de primeiro grau, tanto que foi deferida sua produção, nos termos da deci-
são de fl. 338. Contudo, nessa mesma decisão, foi determinada a apresentação
de quesitos em 5 dias, bem como a juntada dos comprovantes de reajustes
salariais do mutuário no prazo improrrogável de 30 dias, a fim de viabilizar a
perícia (itens 2 e 4 da decisão fl. 338). Foi ressalvado que o não atendimento
do disposto nos itens 3 e 4 seria tido como desistência da prova pericial (item 5
fl. 338). E tal decisão foi publicada no Diário Oficial em 16.03.2009.
Verifica-se que a CEF indicou assistente técnico e apresentou seus quesi-
tos às fls. 340/342. O advogado da parte autora, por sua vez, requereu dilação
do prazo, em razão de dificuldade na localização dos autores, nos termos da
petição de fl. 360, protocolada em 06.04.2009, o que foi deferido, conforme
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 167
decisão de fl. 361, publicada em 09.10.2009. Em 01.03.2010, foi certificada
a falta de manifestação da parte autora (fl. 361). Foi, então, determinada a in-
timação pessoal dos autores para cumprimento dos itens 3 e 4 da decisão de
fl. 338, no prazo de 10 dias, sob pena de perda da prova pericial (em 02.08.2010
fl. 362). A certidão foi negativa, com informação de que os autores teriam ven-
dido o imóvel e se mudaram para Mauá (fl. 365). Na sequência, foi proferida a
decisão de fl. 366, ora agravada, que decretou a perda da prova pericial.
Não há, assim, que se falar em cerceamento de defesa. Foram dadas
diversas oportunidades para que a parte autora fornecesse seus contracheques,
apesar de ter sido determinado prazo improrrogável de 30 dias na decisão de
fl. 338. Ora, se há questionamento de inobservância do plano de equivalência
salarial no reajuste das prestações, a prova pericial contábil é, de fato, impres-
cindível para se verificar tal alegação. Entretanto, cabe à parte autora, ao reque-
rer tal produção de prova, fornecer os elementos necessários para a realização
da perícia, o que não foi feito. Ademais, é dever do autor manter seu endereço
atualizado nos autos, observado que é o maior interessado na prestação da
tutela jurisdicional. Portanto, foi a parte autora quem efetivamente deu causa à
perda da prova pericial, razão pela qual o agravo retido é desprovido.
Passo a apreciar o apelo.
Quanto ao pedido de sobrestamento do feito até o julgamento definitivo
do RE 627.106/PR e RE 556.520/SP pelo STF, deve-se observar que inexiste
determinação de suspensão dos julgamentos dos processos com o tema objeto
de repercussão geral. E, enquanto não julgado pelo STF (há pedido de vista do
Ministro Gilmar Mendes em ambos os recursos), vale o entendimento anterior
pela constitucionalidade do procedimento de execução extrajudicial.
Com efeito, a inconstitucionalidade da execução extrajudicial do Decre-
to-Lei nº 70/1966 já foi categoricamente rejeitada pelo Supremo Tribunal Fe-
deral, em inúmeros julgados, reconhecendo a recepção do aludido dispositivo
legal com a Constituição Federal, pelo que, desde que respeitadas todas as for-
malidades exigidas pelo referido Decreto, a vergastada execução extrajudicial
caracteriza exercício de um direito subjetivo na forma da lei. Direito este que
nasce da eventual inadimplência do mutuário. Nessa linha:
“EMENTA: Recurso. Extraordinário. Inadmissibilidade. Execução extrajudicial.
Decreto-Lei nº 70/1966. Recepção pela Constituição Federal de 1988. Jurispru-
dência assentada. Ausência de razões consistentes. Decisão mantida. Agravo
regimental improvido. Nega-se provimento a agravo regimental tendente a im-
pugnar, sem razões consistentes, decisão fundada em jurisprudência assente na
Corte.” (AI 678256-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, 2ª T., DJe 26.03.2010)
1. [...]
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Cível do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Leila Arlanch – Relatora, Gislene
Pinheiro – 1º Vogal, J. J. Costa Carvalho – 2º Vogal, sob a presidência do Senhor
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 179
Desembargador Mario-Zam Belmiro, em proferir a seguinte decisão: negar pro-
vimento. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 26 de agosto de 2015.
RELATÓRIO
Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Contratti Administra-
ção de Imóveis Ltda. contra decisão proferida pelo juízo da 8ª Vara Cível de
Brasília que, na ação pauliana ajuizada por Hospital São Francisco em desfavor
do agravante e dos demais agravados, autos nº 2015.01.1.015863-9, deferiu
em parte a antecipação de tutela para decretar a indisponibilidade do imóvel
situado na Área Especial nº 02, Setor E, Sul, Taguatinga/DF, matrícula 33595 do
Livro 2 – Registro Geral do 3º Ofício de Registro Imobiliário do DF.
Em suas razões recursais, a agravante aduz, em síntese, a decadência do
direito de anulação pretendida pela autora da ação pauliana e, em consequ-
ência, que os pedidos da ação originária devem ser julgados improcedentes,
inclusive sem a necessidade da instrução processual. Requer a atribuição de
efeito suspensivo ao agravo e, no mérito, a reforma da decisão, inclusive reco-
nhecendo a decadência do direito vindicado pelo primeiro agravado.
Regular preparo às fls. 14/15.
O pedido liminar de atribuição de efeito suspensivo ao recurso foi inde-
ferido (fls. 635/636v).
O agravado Hospital São Francisco contrariou o recurso consoante peti-
ção de fls. 640/651.
Os recorridos Construtora Villela e Carvalho Ltda., Ranulfo Guedes
Saraiva e Jorge Eduardo Rodrigues Miranda, devidamente intimados, não ofe-
receram resposta ao recurso. Os demais agravados não foram localizados para
serem intimados.
Às fls. 679/81, foi negado seguimento ao recurso em face de sua mani-
festa inadmissibilidade. Contudo, essa decisão foi posteriormente reconsiderada
(fls. 692/694).
É o relatório.
180 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
VOTOS
A Senhora Desembargadora Leila Arlanch – Relatora:
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que deferiu
em parte a antecipação de tutela para decretar a indisponibilidade do imóvel
situado na Área Especial nº 02, Setor E, Sul, Taguatinga/DF, matrícula 33595 do
Livro 2 – Registro Geral do 3º Ofício de Registro Imobiliário do DF.
A questão litigiosa neste agravo cinge-se à verificação dos pressupostos
autorizadores da medida antecipatória de tutela deferida pelo Juízo de origem
nos termos acima referidos.
De acordo com o art. 273 do Código de Processo Civil, o juiz poderá
antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido ini-
cial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança
da alegação.
Assim, para a concessão da medida de urgência devem estar presentes,
simultaneamente, a verossimilhança do direito, isto é, deve haver probabilidade
quanto à sua existência, podendo ser identificado mediante prova sumária, e o
reconhecimento de que a natural demora na respectiva definição, em via de
ação, possa causar dano grave e de difícil reparação ao titular do direito violado
ou ameaçado de lesão.
No caso em apreço, verifica-se presentes os pressupostos para a medida
de urgência.
Conforme explicitado por ocasião da decisão que negou a concessão de
efeito suspensivo ao presente agravo (fls. 635/636), o ato judicial impugnado
limitou-se a decretar a indisponibilidade do imóvel indicado pelo agravante,
fundando a antecipação da tutela na constatação de que o negócio jurídico
entabulado entre Construtora Villela e a Pollo Invest ocorreu após a cessão de
direito entabulada entre a Assefe e o Instituto de Saúde Mutmed, e, ainda, que o
patrimônio deste Instituto deve responder pelos débitos exequendos.
Com efeito, considerando que o processo se encontra em sua fase inicial,
com formação da relação da relação processual, por meio da citação dos réus,
a indisponibilidade do bem litigioso não evidencia qualquer lesão grave ou de
difícil reparação para a agravante. Importa destacar que a medida acautelatória
deferida não obsta a fruição regular do bem, salvo em relação à transferência de
domínio. Contudo, não havendo qualquer notícia de que a recorrente preten-
da a sua alienação ou que a indisponibilidade decretada esteja criando algum
óbice ao exercício do domínio sobre o imóvel, a cautela do magistrado deve
ser prestigiada.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 181
No que se refere a alegada decadência, verifica-se que a decisão agra-
vada não apreciou a matéria. Nesse sentido, mesmo considerando tratar-se de
matéria de ordem pública, sua apreciação neste sede recursal constitui supres-
são de instância.
A propósito, confira-se os seguintes precedentes desta egrégia Corte,
verbis:
PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMEN-
TO – IMÓVEL – IMISSÃO NA POSSE – ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DO
JUÍZO EM RAZÃO DA MATÉRIA – LEILÃO EXTRAJUDICIAL – AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO – PREÇO VIL – INOCORRÊNCIA – MANUTENÇÃO DA DECI-
SÃO AGRAVADA
2. Conquanto a decadência seja matéria de ordem pública, não deve ser ana-
lisada em sede recursal, pois não foi objeto de apreciação pelo juiz a quo, sob
pena de supressão de instância, em obediência ao princípio do duplo grau de
jurisdição (precedentes).
182 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
3. Deu-se parcial provimento ao agravo para declarar o ilustre juízo a quo como
competente para dirimir a questão atinente a decadência e outras correlatas.
(Acórdão nº 863440, 20140020236232AGI, Rel. Flavio Rostirola, 3ª T.Cív., Data
de Julgamento: 22.04.2015, Publicado no DJe 30.04.2015, p. 218)
DECISÃO
Negar provimento. Unânime.
Parte Geral – Acórdão na Íntegra
2140
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL – EMBARGOS DECLARAÇÃO – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REINTEG
RAÇÃO DE POSSE – ESTRADA – SERVIDÃO – ESBULHO CONFIGURADO – PROTEÇÃO POSSES
SÓRIA DEVIDA – INSPEÇÃO JUDICIAL – PRESCINDIBILIDADE – OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA – NÃO CARACTERIZADOS – RESTRIÇÃO – PASSAGEM –
FATO INCONTROVERSO – EXISTÊNCIA DE OUTRO ACESSO ALTERNATIVO – DESNECESSIDADE
– AUSÊNCIA FATO NOVO – REDISCUSSÃO
I – A inspeção judicial afigura-se necessária quando se tratar de causa
de maior complexidade quanto à situação fática, o que não é o caso
dos autos, pois o douto julgador tomou ciência da situação do imóvel
objeto do litígio, por meio do Auto de Constatação e com base nas
provas e testemunhos já existentes nos autos. Desse modo, não há
se falar em ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
II – A restrição procedida pelo apelante à estrada de acesso existente
em sua propriedade encontra-se incontroversa nos autos. Portanto,
independente da inspeção judicial a ser realizada, ainda assim seria
possível o julgamento do litígio de forma justa e satisfatória, com base
exclusivamente nas provas apresentadas pelas partes.
III – A estrada que atravessa a propriedade do apelante é utilizada
pelos apelados e pelos moradores do município de Jussara, há pelo
menos 20 anos, tendo sido, muitas vezes, beneficiada com a manu-
tenção da Prefeitura Municipal, servindo, portanto, aos interesses de
toda a comunidade.
IV – É cediço que a existência de passagem alternativa não descons-
titui ou inviabiliza a servidão, que prescinde do encravamento do
imóvel.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 185
V – O fato de existirem outros caminhos que dão acesso ao imóvel
dominante não afasta o reconhecimento da servidão, já que o encra-
vamento, tal como ocorre no direito de vizinhança, não se constitui
como requisito.
VI – Deve ser desprovido o agravo regimental quando a intenção do
agravante é unicamente a rediscussão de matéria já exaustivamente
examinada quando do julgamento do recurso, mormente quando não
apresentado qualquer fundamento novo capaz de infirmar a decisão
hostilizada.
Agravo interno conhecido e desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Apelação Cível
(Agravo Interno nos Embargos de Declaração) nº 505466-09.2011.8.09.0097
(201195054661), Comarca de Jussara, sendo agravante Antônio Joaquim
Duarte e agravados Edvaldo Vicentini e outro.
Acordam os componentes da Quarta Turma Julgadora da 2ª Câmara Cí-
vel do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade, em co-
nhecer e desprover o Agravo Interno nos Embargos de Declaração na Apelação
Cível, nos termos do voto do Relator.
Votaram, com o Relator, os Desembargadores Ney Teles de Paula e
Zacarias Neves Coêlho.
Presidiu o julgamento o Desembargador Amaral Wilson de Oliveira.
Presente o Dr. José Carlos Mendonça, Procurador de Justiça.
Goiânia, 27 de outubro de 2015.
RELATÓRIO E VOTO
Cuida-se de agravo interno interposto por Antônio Joaquim Duarte em
face do julgamento monocrático de fls. 333/341 que rejeitou os embargos
de declaração opostos da apelação cível manejada em desfavor de Edvaldo
Vicentini e Outro, ora agravado.
Nas razões do presente regimental (fls. 344/352), o agravante reitera as
pretensões apresentados no apelo e nos embargos declaratórios, aduzindo,
186 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
novamente, em sede de preliminar que a sentença afrontou os princípios do
contraditório e da ampla defesa por ter levado em consideração o auto de cons-
tatação produzido de forma unilateral, pois não houve comunicação prévia de
sua produção.
Enfatiza, mais uma vez, que o oficial de justiça designado para a referi-
da diligência “à época do fato, teve problemas pessoais, que com total certe-
za influenciaram no relatório confeccionado, pois só demonstrou no referido
auto pontos negativos da estrada e fez suposições sobre o tráfego na região,
elucidando até, que na época da chuva, com certeza a estrada atolaria, o
que não poderia acontecer, como prova a sentença prolatada no Processo nº
201401400927.” (fls. 345) Conclui que o magistrado de origem não apreciou
o pedido de produção de provas técnicas, o que deu ensejo ao julgamento sem
que tenham sido produzidas as provas pertinentes.
Ainda, quanto ao mérito, prossegue que não há nenhuma servidão de
trânsito apta a justificar a proteção possessória vindicada, tanto que inexiste
comprovação de registro em cartório do direito à estrada.
Informa que só permitia a passagem em sua propriedade por mera tole-
rância e cordialidade entre os vizinhos, o que não constitui direito de servidão,
em especial, porque, a saída da Fazenda Brasília para o município de Jussara
é pela Estrada do Boi e que o acesso pela sua propriedade aumenta em 30km
seu percurso.
Repisa que os agravados não demonstraram qual o prejuízo com a perda
da passagem, inexistindo, portanto, interesse processual para o exercício do
direito de ação.
Noticia que a Estrada do Boi que deveria ser utilizada para o acesso ao
município de Jussara, por representar o caminho mais curto, encontra-se em óti-
mo estado de conservação com condições adequadas de trafegabilidade, tendo
sido considerada importante escoamento da pecuária nacional.
Invoca dispositivos da legislação civil pátria.
Arremata que “o provimento do presente recurso com a modificação da
sentença atacada é medida que se impõe, devendo ser a servidão de tráfego,
bem como a reintegração de posse determinada alteradas para a nova estrada
construída, nos termos do art. 1384 do Código de Processo Civil, o que seria
provado caso designada perícia.” (sic fls. 351-v) Ao final, requer o conhecimen-
to e provimento do presente recurso, para que ocorra a retratação da decisão
recorrida, ou, caso não seja esse o entendimento, que a insurgência seja subme-
tida à apreciação do Órgão Colegiado, para regular julgamento, reformando-se
a decisão monocrática agravada.
Preparo regular às fl. 353.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 187
É o relatório. Passo ao Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, dele conheço.
Como visto, busca a parte agravante, por meio do presente reclamo, a
retratação do acórdão que rejeitou os aclaratórios opostos do recurso apelató-
rio, ou o julgamento deste recurso perante o órgão colegiado, a fim de que seja
reformada a decisão recorrida nos moldes de seu inconformismo.
Na espécie, em que pese os argumentos do agravante, tenho que a insur-
gência recursal outrora intentada de fato poderia ter sido apreciada via decisão
monocrática, nos moldes do art. 557, caput e § 1º-A do CPC, haja vista a exis-
tência de jurisprudência dominante sobre o tema.
Outrossim, da leitura do agravo extrai-se o nítido propósito da parte agra-
vante em promover o reexame da matéria que já restou exaustivamente deci-
dida pela decisão hostilizada, tendo em vista que todas as questões aventadas
foram expressamente examinadas pelo Relator.
Com efeito, o decisum censurado analisou minuciosamente a questão
apresentada no recurso apelatório e fundamentou de maneira coerente o por-
quê a pretensão recursal não mereceria guarida.
Reportando-me à decisão monocrática ora recorrida, tenho que outro
caminho não me resta, senão ratificá-la, valendo-me de seus próprios funda-
mentos:
“[...] Cinge-se a controvérsia em saber se a utilização da estrada que atravessa
a propriedade do apelante constituiu ato de mera permissão ou se existe uma
servidão de trânsito ali instituída.
Preliminarmente, impende consignar que não há se falar em afronta aos princí-
pios do contraditório e da ampla defesa, pois não se vê nos autos, condução uni-
lateral do processo ou qualquer ofensa ao direito de defesa do apelante. Explico.
Embora o recorrente sustente que o feito tenha sido julgado sem a necessária
perícia no local – inspeção judicial –, tem-se que não se mostra imprescindível,
a medida que a inspeção judicial afigura-se necessária quando se tratar de causa
de maior complexidade quanto à situação fática, o que não é o caso dos autos,
pois o douto julgador tomou ciência da situação do imóvel objeto do litígio, por
meio do Auto de Constatação e com base nas provas e testemunhos já existentes
nos autos.
Sobre o Auto de Constatação da situação de fato do local, é de se ressaltar que
não há se falar em ausência de comunicação prévia de sua produção. Isso por-
que, é desnecessária a intimação das partes para acompanhar a realização dessa
diligência, ao reverso da inspeção judicial – em que é necessária a presença das
partes –, bem como pelo fato do apelante ter sido devidamente intimado para
188 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
impugnar o laudo apresentado após sua redução a termo, oportunidade em que
apresentou as manifestações pertinentes.
Nesta via, também não há se falar em ausência de imparcialidade na certidão
expedida pelo Sr. Oficial de Justiça que realizou a diligência, haja vista que os
atos por eles praticados gozam de fé pública, que somente podem ser infirmados
diante de prova em contrário, idônea e inequívoca, o que não ocorreu no caso
dos autos.
Sob esse prisma, não há razão alguma e qualquer prejuízo ao contraditório com
a expedição de Auto de Constatação sem a intimação do apelante, por se tratar
de prova destinada a convicção do magistrado.
Ademais, verifica-se que a restrição procedida pelo apelante à estrada de aces-
so existente em sua propriedade encontra-se incontroversa nos autos. Portanto,
independente da inspeção judicial a ser realizada, ainda assim seria possível o
julgamento do litígio de forma justa e satisfatória, com base exclusivamente nas
provas apresentadas pelas partes.
Quanto a alegação de falta de interesse processual dos apelados para o exercício
do direito de ação, tenho que tal matéria confunde-se com o mérito da demanda
e como tal será analisada.
Pois bem. O instituto da servidão, nas palavras de Cristiano Chaves de Farias e
Nelson Rosenvald, é conceituado como “direito real sobre coisa imóvel, que
impõe restrições em um prédio em proveito de outro, pertencentes a diferentes
proprietários.” (Curso de Direito Civil. v. 5. Ed. 2012; editora JusPodivm).
Desta forma, tem-se que a servidão se constitui por testamento ou pelo acordo de
vontades entre os proprietários dos dois imóveis, no qual um grava parte de seu
prédio (serviente) de modo a prestar certa utilidade ao outro imóvel (dominante)
e se obriga a deixar de exercer suas faculdades de domínio que impliquem em
perda da utilidade da servidão.
Cumpre mencionar ainda que, nos termos do art. 1378 do Código Civil, a ser-
vidão pressupõe, em regra, o ‘registro no Cartório de Registro de Imóveis’, po-
rém, acerca da matéria, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula nº 415,
no sentido de que a servidão de trânsito não titulada, mas aparente, também
merece a proteção possessória, confira: “Servidão de trânsito não titulada, mas
tomada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se
aparente, conferindo direito à proteção possessória”. No caso dos autos, restou
devidamente comprovado pelos documentos de fls. 18/22 e depoimentos de
fls. 231/234 que a estrada que atravessa a propriedade do apelante é utilizada pe-
los apelados e pelos moradores do município de Jussara, há pelo menos 20 anos,
sendo, muitas vezes, beneficiada com a manutenção da Prefeitura Municipal
(fls. 35), servindo, portanto, aos interesses de toda a comunidade.
Em complemento, das afirmações contidas nas razões recursais e das fotografias
anexas às fls. 23/34, denota-se que o apelante estava ciente de que a estrada
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 189
além de servir aos recorridos, beneficiava toda a comunidade local, tanto é que
foram colocadas faixas pelo próprio recorrente informando a terceiros acerca da
interdição da estrada, o que nos leva a crer que o caminho era de conhecimento
público e geral, configurando verdadeira servidão de trânsito para que os pro-
prietários das fazendas vizinhas realizassem travessias. Assim, embora não esteja
registrada em cartório, é de conhecimento público.
Por todo o exposto, por não estar convicto de que deva modificar a de-
cisão recorrida, atento ao disposto no art. 364, § 3º, do RITJGO, deixo de re-
considerar o ato e submeto a insurgência à apreciação do Órgão Colegiado,
manifestando-me, desde logo, pelo desprovimento do recurso.
É o meu voto.
Desembargador
Amaral Wilson de Oliveira
Relator
Parte Geral – Acórdão na Íntegra
2141
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE DESPEJO C/C COBRANÇA – LOCAÇÃO RESIDENCIAL -–
INADIMPLEMENTO – DESPEJO -– POSSIBILIDADE – COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO POR MEIO
DE GARANTIA RECONHECIDA – MULTA MORATÓRIA DE 20% – LEGALIDADE – JUROS –
CORREÇÃO – INCIDÊNCIA – VENCIMENTO DA PRESTAÇÃO – HONORÁRIOS CONTRATUAIS
Tendo sido a garantia prestada através de título de capitalização devi-
damente compensada com o débito, não há que se falar em excesso
de cobrança diante da existência de valor superior ao devido.
Não há vedação legal de que a multa moratória pactuada entre as
partes seja de 20% e nem mesmo que tal penalidade repercuta no
IPTU.
Os juros e a correção monetária deverão incidir a partir do vencimen-
to da prestação, nos moldes do art. 397 do Código Civil.
Evidenciando-se que as verbas de sucumbência foram criteriosamen-
te estabelecidas, conclui-se que nenhuma modificação se pode fazer
na sentença.
ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em negar
provimento ao recurso.
NO MÉRITO
O mérito recursal diz respeito à irresignação da requerida no que con-
cerne (i) ausência de dívida, ii) multa de 20%, iii) multa sobre IPTU, iv) juros e
correção monetária, v) sucumbência recíproca.
Devo registrar que não há impugnação quanto ao valor dos aluguéis e
dos encargos locatícios, nem tampouco quanto ao modo de atualização da dí-
vida.
Manuseando os autos, verifico que em 21 de março de 2011 as partes,
ora litigantes, firmaram contrato de locação de um imóvel residencial situado
na Av. Bandeirantes 1732, apto. 302, Mangabeiras, nesta Capital, de proprieda-
de do autor, por um período de 12 (doze) meses, com início em 21.03.2011 e
término em 20.09.2013 (termo aditivo de fl. 16).
Em virtude da inadimplência no pagamento dos aluguéis e demais en-
cargos, o apelado ajuizou a presente demanda, tendo sido a pretensão julgada
procedente, em parte, o que motivou a interposição do recurso de apelação.
Sobre o primeiro ponto do apelo, em relação à garantia prestada pela
apelante, verifico que o tema foi destacado na parte decisão, tendo o MM.
Juiz de Primeiro Grau feito menção expressa de o “autor levantou o valor de
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R$ 23.563,61 que foi devidamente atualizado e deduzido do saldo deve-
dor conforme planilha de fls. 78/79, restando ainda um saldo devedor de
R$ 36.549,12”.
Quanto à alegação da apelante acerca do saldo existente, nada restou
comprovado acerca da existência de saldo superior àquele devidamente com-
pensado com o débito locatício, não tendo a autora apenas alegado a existência
de um saldo diverso, sem nada comprovar acerca do alegado.
Ademais, o extrato de fl. 83, apresenta o saldo total da conta do admi-
nistrado do imóvel em questão, Silvio Ximenes Imóveis Ltda., e não o saldo o
título de capitalização, até porque não seria crível tal rentabilidade em tão curto
período.
Verifica-se, ainda, que o crédito foi devidamente compensado com o
débito, desmerecendo modificação sentencial nesse ponto.
Do mesmo modo, no tocante à insurgência acerca do alegado excesso de
cobrança de multa, sem razão a apelante, pois, em havendo ajuste escrito entre
as partes, reputo viável a incidência da multa moratória de 20%, nos termos
previstos na cláusula quinta do contrato locatício (fls. 10/14), não se visualizan-
do ilegalidade em tal pactuação, devendo ser dito, ainda, que não há qualquer
ilegalidade na incidência de multa também sobre os encargos locatícios, no
caso, o IPTU, nos termos da previsão contratual.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – PEDIDO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE
JUSTIÇA GRATUITA – RECOLHIMENTO DO PREPARO RECURSAL – INCOM-
PATIBILIDADE – INDEFERIMENTO MANTIDO – AÇÃO DE DESPEJO C/C CO-
BRANÇA DE ALUGUÉIS – MULTA MORATÓRIA – PATAMAR CONDIZENTE
COM O MERCADO IMOBILIÁRIO – OBRIGAÇÃO DO FIADOR – RESPONSA-
BILIDADE ATÉ A ENTREGA DO IMÓVEL – O recolhimento do preparo recursal é
ato incompatível com o pedido de justiça gratuita, devendo ser indeferido o pedi-
do das benesses nesta hipótese. Ao contrato de locação entre particulares, por ab-
soluta ausência de relação de consumo, não se aplicam as disposições do Código
de Defesa do Consumidor e, assim, a contratação da multa em 20% sobre o valor
do débito é legal e condizente com o mercado imobiliário. A teor do disposto no
art. 39 da Lei nº 8.245/1991, salvo disposição contratual em contrário, qualquer
das garantias da locação, inclusive a fiança, se estende até a efetiva devolução do
imóvel. Para se desobrigar o fiador da garantia dada ao locador, cumpre àquele
propor ação própria para exonerá-lo da obrigação assumida. (Apelação Cível
nº 1.0210.13.002877-7/001, Des.(a) Valdez Leite Machado, 17.04.2015) (grifei)
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – ADITAMENTO À INICIAL ANTES DA CITAÇÃO
DE TODOS OS RÉUS – VALIDADE – COBRANÇA DE ALUGUÉIS – RESPONSA-
BILIDADE DO LOCATÁRIO E FIADORES PELO PAGAMENTO, INDEPENDENTE
DA EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE SEGURO – Havendo vários réus na ação
proposta, o aditamento à inicial é válido até a citação válida do último réu. A
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existência do contrato de seguro não exonera o locatário e os fiadores do débito
oriundo da inadimplência do pagamento dos aluguéis.
(VV) AÇÃO DE DESPEJO C/C COBRANÇA – ADITAMENTO DA INICIAL – FOR-
MULAÇÃO DO PEDIDO DEPOIS DA CITAÇÃO DO RÉU – IMPOSSIBILIDADE
– MULTA – REDUÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – INAPLICABILIDADE DAS DISPO-
SIÇÕES DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – SEGURO PARA CO-
BERTURA DO INADIMPLEMENTO DOS ALUGUÉIS – IMPOSSIBILIDADE DE
O LOCADOR DIRIGIR A COBRANÇA CONTA OS LOCATÁRIOS – RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO – Considerando que tais pedidos foram formulados
após a citação de um dos réus do processo, tal aditamento não pode ser aceito,
pois implicaria em violação do disposto no art. 294 do CPC, que admite o adita-
mento ao pedido apenas antes da citação dos réus, in verbis: “Art. 294. Antes da
citação, o autor poderá aditar o pedido, correndo por sua conta as custas acresci-
das em razão dessa iniciativa”. No tocante à redução da multa de 20% incidente
sobre cada parcela de aluguel em atraso, cumpre salientar que não são aplicáveis
aos contratos de locação as disposições do Código de Defesa do Consumidor,
por não se tratar de relação de consumo, de modo que a multa pode ser livre-
mente pactuada entre as partes. Incompatível a pretensão da apelada de buscar o
recebimento dos aluguéis inadimplidos, porquanto a cláusula transcrita é expres-
sa que aludido seguro inclui a cobertura por perda dos aluguéis até o importe de
10% do imóvel objeto do contrato. (Apelação Cível nº 1.0024.10.211994-8/002,
Des.(a) Alberto Henrique, 14.08.2014). (grifei)
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – DESPEJO C/C COBRANÇA DE ALUGUÉIS – PRE-
LIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM – REJEIÇÃO – MULTA MO-
RATÓRIA – 20% – MANUTENÇÃO – PRIMEIRO RECURSO PROVIDO, DES-
PROVIDO O SEGUNDO
A análise das condições da ação deve ser realizada in statu assertionis, com base
na narrativa realizada pela autora na petição inicial. Em se concluindo que a
autora é a possível titular do direito sustentado na peça de ingresso, bem como
que os réus devem suportar a eventual procedência da demanda, estará consubs-
tanciada à condição da ação relativa à legitimidade das partes.
A autora demonstrou sua pertinência subjetiva e a pertinência objetiva dos réus,
ao requerer, na qualidade de proprietária, o despejo e a condenação dos loca-
tários e fiadores ao pagamento dos aluguéis em atraso, referentes ao contrato de
locação por eles firmado.
Deve prevalecer a multa moratória de 20% prevista no contrato, vez que pactu-
ada livremente entre as partes, não ofendendo os princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade.
Preliminar de ilegitimidade ativa ad causam rejeitada; segundo recurso despro-
vido; provido o primeiro. (Apelação Cível nº 1.0024.08.106507-0/003, Des.(a)
Eduardo Mariné da Cunha, 04.02.2014)
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE USUCAPIÃO ORDINÁRIO.JUSTO TÍTULO – AUSÊNCIA –
TRANSFERÊNCIA ASSINADA POR QUEM NÃO É PROPRIETÁRIO – PRESENTES AS CONDIÇÕES
DO USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO – POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO – DEMONSTRAÇÃO DO
CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS ELENCADOS NO ART. 1.238 DO CC – POSSE COM
ÂNIMO DE DONO, CONTÍNUA E SEM OPOSIÇÃO, POR PERÍODO SUPERIOR A QUINZE ANOS –
POSSIBILIDADE DO CÔMPUTO DO TEMPO DE POSSE EXERCIDA PELO ANTECESSOR DE ACORDO
COM O ART. 1.243 DO CC – SENTENÇA REFORMADA – Apelo provido.
Vistos, etc.
I – RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta por Marcos Eron Natel de Oliveira,
em face da sentença de fls. 255/258, que julgou improcedente o pedido inicial,
extinguindo o feito com resolução do mérito, nos termos do art. 269, I, do CPC,
e condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advoca-
tícios, estes fixados em R$ 800,00 (oitocentos reais).
Por fim, foram arbitrados honorários no importe de R$ 400,00, em favor
da curadora nomeada a lide, a serem custeados pelo Estado do Paraná.
200 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Contra a sentença foram opostos, primeiramente, embargos de declara-
ção (fls. 263/264), os quais foram recebidos pelo Magistrado singular, para fazer
constar no dispositivo da sentença a suspensão da exigibilidade do pagamento
das custas e honorários, de acordo com o art. 12 da Lei nº 1.060/1950 (fl. 267).
Nas razões de apelação (fls. 273/278), o apelante aduz, que muito embo-
ra exerça há 13 anos a posse contínua e incontestada, com justo título e boa-fé,
a magistrada a quo descaracterizou a qualidade de justo título, do contrato de
compra e venda, por entender que o instrumento não é hábil a lhe transferir a
propriedade.
Assevera, que a magistrada passou a analisar a possibilidade da declara-
ção de usucapião extraordinário, contudo, entendeu que o autor não dispunha
do tempo necessário para tanto, não aceitando o computo da posse anterior-
mente exercida pela Sra. Patrícia Maciel dos Santos.
Assegura, que restou devidamente comprovado que a Sra. Patrícia
Maciel dos Santos, de quem adquiriu o imóvel, exerceu anteriormente, durante
02 anos, posse mansa e pacífica sobre o bem.
Assim, pleiteia pela soma deste período à sua posse, e pela procedência
do pedido de usucapião na modalidade extraordinária, prevista no art. 1.238
do CC, eis que demonstrada sua posse mansa, pacifica e ininterrupta pelo prazo
de 15 anos.
O recurso foi recebido em ambos os efeitos (fl. 285), e foram apresenta-
das contrarrazões (fls. 293/295 e 298/300).
II – VOTO
O autor pugna pela reforma da sentença, pleiteando a aquisição do bem
através de usucapião extraordinário, requerendo, para tanto, que seja somado
à sua posse o tempo de fruição do seu antecessor sobre o imóvel, a fim de que
seja reconhecida a sua propriedade relativa ao bem objeto destes autos.
Pois bem.
A procedência do pedido de usucapião extraordinário pressupõe o pre-
enchimento dos requisitos legais elencados no art. 1.238 do Código Civil, que
compreende o exercício da posse pelo requerente com ânimo de dono, sem
interrupção ou oposição, pelo lapso temporal de 15 (quinze) anos, independen-
temente de justo título e boa-fé.
No caso dos autos todos os pressupostos acima restaram demonstrados.
Conforme se depreende do instrumento contratual juntado (fls. 13/14), a
contagem do prazo teve início em 10 de janeiro de 2002 e, até a data do ajuiza-
mento da presente ação (03.07.2013 – fl. 02), o usucapiente já havia exercido
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 201
cerca de 11 anos e 6 meses de posse sobre o imóvel, que somado com o tempo
transcorrido até a data do presente julgamento, resulta em pouco mais de 13
anos e 7 meses.
Outrossim, o autor pleiteia pela soma à sua posse a de sua antecessora,
o que é cabível de acordo com o art. 1.243 do Código de Processo Civil, face
a identidade da natureza das posses exercidas pelo autor Marcos Eron Natel de
Oliveira e sua antecessora, Patrícia Maciel dos Santos, de modo que deve ser
reconhecida a almejada acessão.
Por outro lado, a prova testemunhal produzida em juízo foi hábil a de-
monstrar que a referida posse foi exercida pelo autor sem interrupção ou opo-
sição, veja-se:
Denise Aparecida da Silva, em audiência de instrução e julgamento, afir-
mou, em síntese, que:
“[...] O imóvel foi de seu pai, ele adquiriu este terreno antes de seu nascimento.
Hoje conta com 42 anos. Seu pai vendeu o imóvel no ano de 2010, quando
foi morar em Tibagi. Ele vendeu para a Patrícia e esta vendeu para o Marcos.
Atualmente eles moram juntos, mas na época eles não se conheciam. No local
havia uma casa de madeira; Atualmente o Marcos não mora no imóvel; Em todo
tempo que seu pai morou no local ninguém nunca reclamou; Cheguei a morar no
imóvel até os 12 anos, quando me mudei do local e em 2009 meu pai se mudou
também; O imóvel ficou abandonado, até seu pai vender; A patrícia mora ao lado
do imóvel; O Marcos está construindo no local; Afirma que faz 22 anos que seu
pai mora em Tibagi [...].”
III – DECISÃO
Diante do exposto, acordam os integrantes do 18ª Câmara Cível do Tri-
bunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provi-
mento à apelação cível, nos termos do voto do relator.
Participaram do julgamento o Desembargador Marcelo Gobbo Dalla
Dea e o Juiz Helder Luis Henrique Taguchi.
Curitiba, 11 de novembro de 2015.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Nona Câmara Cí-
vel do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento
ao agravo de instrumento.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
Desª Mylene Maria Michel (Presidente) e Des. Marco Antonio Angelo.
Porto Alegre, 24 de setembro de 2015.
RELATÓRIO
Des. Eduardo João Lima Costa (Relator):
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por Ricardo
Caruso Madera e Simone Chaves Madera, relativamente à decisão judi-
cial que deferiu o embargo da obra nos autos da Ação de Dano Infecto
nº 001/11500918335, movida por Ivete Eisenhut Lutz.
Aduzem, em suma, a inexistência da fumus boni iuris para concessão
da medida liminar, pois não se verifica nos autos qualquer informação sobre
as condições estruturais da casa supostamente danificada ou sobre as etapas da
construção dos agravantes que impõe ao imóvel lindeiro.
Referem que o engenheiro responsável pelos cálculos estruturais da
edificação encaminhou a Secretaria Municipal de Urbanismo de Porto Alegre
(Smurb) laudo de estabilidade estrutural da casa da agravada atestando, inequi-
vocamente, que a estrutura está estável, não apresentando qualquer risco de
desabamento ou impossibilidade de ocupação.
Sustentam ausência do periculum in mora, pois a agravada está residin-
do na casa e a continuidade da construção não se refere aos atos externos que
implicasse algum risco.
206 D��������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA
Alegam a necessidade de continuação da obra, a fim de receberem o
financiamento imobiliário do qual depende da conclusão das etapas, eis que o
agente financeiro vistoria o andamento da edificação.
Postulam a revogação da liminar ou a continuação da obra com a per-
missão que os agravantes adotem, as suas expensas, as medidas protetivas su-
geridas na exordial.
Indeferido requerimento de antecipação de tutela em efeito ativo (fl. 195).
Contrarrazões não foram ofertadas (certidão de fl. 213).
Vieram os autos conclusos.
É o relatório.
VOTOS
Des. Eduardo João Lima Costa (Relator):
Estão preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos para apreciação do
agravo.
Pretende a parte agravante a reforma da decisão que deferiu o embargo
liminar da obra, na qual restou assim lançada (fl. 40 da origem):
Concedo a gratuidade judiciária.
Karin Muller Sachs ajuizou demanda em desfavor de Ricardo Karuso Madera
e Simone Chaves Madera, relatando que a parte demandada vem construindo
prédio no terreno vizinho ao seu, ocasionando em seu imóvel inúmeros danos,
dentre eles o deslocamento e desprendimento do revestimento em reboco das
paredes, rachaduras e queda de azulejos. Juntou laudo de vistoria contratado por
engenheiro civil.
Pugnou pelo deferimento do embargo liminar da obra, com base no art. 937 do
CPC com o objetivo de fazer cessar os danos, além da prestação de caução em
valor correspondente aos reparos que são exigidos.
É o relatório.
Passo a decidir.
Pela análise dos documentos juntados com a inicial, verifico que a obra executa-
da pela parte ré vem acarretando danos à estrutura do imóvel de propriedade da
demandante, de forma a comprometer sua higidez.
Releva-se que o pedido vem instruído com laudo de vistoria firmado por enge-
nheiro civil, conferem plausibilidade, em sede de cognição sumária dos fatos, ao
alegado pela parte autora.
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 207
Ademais, sobrelevo que a suspensão da obra, ainda que temporária, implica em
menor prejuízo às partes no caso de possível agravamento na estrutura do imóvel
da autora.
Isto posto, concedo, liminarmente, o embargo da obra.
Intime-se com urgência, devendo o Oficial de Justiça, na diligência, observar o
disposto no art. 938 do CPC.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao agravo de instru-
mento, a fim de permitir a continuação da obra, mas sob a condição de que os
agravantes efetuem, às suas expensas e mediante caução idônea, as medidas
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA................................................................................................. 209
protetivas sugeridas na petição inicial no imóvel da agravada (letra “a”, à fl. 19),
ou seja, os devidos reparos no imóvel.
É o voto.
Desª Mylene Maria Michel (Presidente) – De acordo com o(a) relator(a).
Des. Marco Antonio Angelo – de acordo com o(a) relator(a).
Desª Mylene Maria Michel – Presidente – Agravo de Instrumento
nº 70065837544, Comarca de Porto Alegre: “Deram parcial provimento ao
agravo de instrumento. Unânime”.
Julgador(a) de 1º Grau: Ketlin Carla Pasa Casagrande
Parte Geral – Acórdão na Íntegra
2144
AÇÃO PAULIANA
Autor que pretende ter declarada a nulidade dos negócios jurídicos
que envolvem o imóvel dos correqueridos Ademir e Maria Doralice,
contra quem move execução para recebimento de honorários advo-
catícios. Doação do imóvel por estes aos filhos Dhener e Dailo, e
posterior venda do bem, por estes, a Ana Lucia. Venda realizada anos
antes da execução de título extrajudicial, movida pelo autor. Inviabili-
dade, pela cronologia dos fatos, que a execução produzisse qualquer
gravame sobre o bem. Inexistência de prova de que os correqueridos
Ademir e Maria Doralice são insolventes e que o imóvel objeto desta
ação é o único bem de sua propriedade. Ausência de elementos que
possam caracterizar fraude contra credores. Inteligência dos arts. 158
a 165 do Código Civil. Sentença de improcedência mantida pelos
próprios fundamentos. Recurso desprovido.
Miguel Brandi
Relator
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0001766-
41.2012.8.26.0011, da Comarca de São Paulo, em que é apelante Cleber
Teixeira Baroni (Justiça Gratuita), são apelados Ana Lúcia Valentin, Ademir
Scorsatto, Maria Doralice da Silva Pião Scorsatto, Danilo Ernesto Scorsatto e
Dhener Vanir Scosatto.
Acordam, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Pri-
vado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que
integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores Luis Mario
Galbetti (Presidente) e Mary Grün.
São Paulo, 28 de setembro de 2015.
Miguel Brandi
Relator
Assinatura Eletrônica
Parte Geral – Ementário
2145 – Ação anulatória – negócio jurídico – compra e venda de imóvel
“Ação anulatória. Negócio jurídico. Compra e venda de imóvel. Extinção sem exame do mérito.
Ausência de interesse de agir. Inadequação da via. Apelante que visa invalidar compra e venda
de imóvel, alienado por seu ex-marido a terceira pessoa, sob o fundamento de que o negócio foi
celebrado mediante simulação. Pedido que objetiva o retorno do bem à esfera de disponibilidade
do corréu, possibilitando sua futura excussão para satisfazer pensão alimentícia inadimplida. Hi-
pótese para a qual o ordenamento reserva o manejo de ação pauliana. Inteligência do art. 161 do
Código Civil. Ausência de fungibilidade entre as hipóteses. Ação que se circunscreveu à causa de
pedir da simulação, tendo este sido o escopo da prova produzida, e bem da defesa exercitada pelos
corréus. Anulação do negócio por fraude contra credores que reclama a demonstração de requisitos
específicos bem diversos. Processo extinto por falta de interesse, ressalvado à autora o exercício da
via adequada. Sentença mantida. Recurso improvido.” (TJSP – Ap 0006492-57.2007.8.26.0068 –
Barueri – 6ª CDPriv. – Rel. Vito Guglielmi – DJe 01.10.2015
2146 – Ação anulatória de negócio jurídico – depósito dos alugueres vencidos e vincendos –
locação
“Agravo de instrumento. Ação anulatória de negócio jurídico. Decisão que indeferiu o depósito
dos alugueres vencidos e vincendos. Contrato de locação de imóvel. Existência de escritura pública
com direito real de superfície em favor de terceiro. Direito de preferência ao imóvel que não con-
templa direito de superfície. Exegese do art. 27 da Lei nº 8.245/1991. Recurso desprovido.” (TJPR
– AI 1364392-4 – 12ª C.Cív. – Rel. Des. Mário Helton Jorge – DJe 16.10.2015 – p. 313)
“Recurso especial. Ação declaratória. Reconvenção. Contrato de parceria agrícola. Pedido de re-
tomada. Notificação. Requisitos legais. Preenchimento. 1. No contrato de parceria agrícola não se
admite a denúncia vazia, devendo o pedido de retomada do bem imóvel ter sempre como causa
subjacente um dos motivos admitidos na legislação de regência (art. 22, caput e § 2º, do Decreto
nº 59.566/1966). 2. No caso dos autos, a denúncia não pode ser considerada vazia, porquanto efe-
tivada a notificação extrajudicial a que se refere o § 2º do art. 22 do Decreto nº 59.566/1966, tem-
pestivamente, no ano de 2009, tendo, ademais, as instâncias ordinárias assentado que desde 2005
o parceiro agricultor tinha plena ciência da intenção da parceira proprietária de retomar o imóvel
para uso próprio. 3. Recurso especial não provido.” (STJ – REsp 1.535.927 – (2012/0128260-0) –
3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 20.10.2015 – p. 2914)
“Agravo regimental no agravo em recurso especial. Ação de cobrança. Cotas condominiais. Pres-
crição quinquenal. Precedentes da Corte. Prestações anteriores à vigência do atual Código Civil.
Aplicação da regra de transição do art. 2.028. 1. O prazo prescricional aplicável à pretensão de
cobrança de taxas condominiais é de cinco anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, do Código Civil.
2. Quando ainda não transcorrida a metade do prazo prescricional previsto no código anterior,
aplica-se o prazo reduzido pelo Código Civil de 2002, contado a partir da vigência do código atual,
ou seja, 11.01.2003. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-EDcl-Ag-RE
745.276 – (2015/0169901-8) – 4ª T. – Relª Min. Maria Isabel Gallotti – DJe 01.10.2015 – p. 5021)
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO................................................................................................................... 215
2149 – Ação de cobrança – taxa de manutenção – associação de moradores – descabimento
“Recurso especial. Civil e processual civil. Ação de cobrança. Taxa de manutenção. Associação
de moradores. Descabimento. Proprietário não associado. REsp 1.439.163/SP. Rito do art. 543-C
do CPC. 1. ‘As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não
associados ou que a elas não anuíram’ (REsp 1.439.163/SP, rito do art. 543-C do CPC). 2. Ausência
de prequestionamento da questão referente à anuência tácita do morador. 3. Agravo regimental
desprovido.” (STJ – AgRg-REsp 1.494.283 – (2014/0290110-7) – 3ª T. – Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino – DJe 22.10.2015 – p. 1547)
2153 – Ação de repetição de indébito – dano moral – parcial procedência – corretagem efetiva
mente paga pela compradora
“Civil. Processual civil. Recurso especial. Ação de repetição de indébito c/c indenização por dano
moral. Parcial procedência. Corretagem efetivamente paga pela compradora. Inexistência de con-
venção a respeito no contrato de promessa de compra e venda. Devolução devida. Reforma do
julgado. Incidência das Súmulas nºs 5 e 7 desta Corte. 1. O Tribunal local, soberano na análise do
conjunto fático dos autos, concluiu não ter sido comprovado que a demandada tenha efetivamente
intermediado ou aproximado os interessados na venda da área ali discutida. Rever tal entendimento
requer o reexame dos fatos da causa e análise de cláusulas contratuais. Incidência das Súmulas
nºs 5 e 7 do STJ. 2. Não sendo a linha argumentativa apresentada pela agravante capaz de eviden
ciar a inadequação dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o presente agravo não
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO................................................................................................................... 223
se revela apto a alterar o conteúdo do julgado Impugnado, devendo ele ser integralmente man-
tido em seus próprios termos. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.423.648 –
(2013/0360032-7) – 3ª T. – Rel. Min. Moura Ribeiro – DJe 06.10.2015 – p. 2835)
“Apelação cível. Ação pauliana. Fraude contra credores. Doação de imóvel após a mora. Improce-
dência da ação com fundamento em fraude à execução. Sentença baseada em premissa equivoca-
da. Sentença cassada, de ofício. Recurso prejudicado. 1. Não subsiste o fundamento que embasou
a decisão proferida em primeiro grau de jurisdição, vez que analisou a ação pauliana, na qual se
invoca fraude contra credores, como se fraude à execução fosse. 2. A sentença proferida baseou-se
em premissa equivocada, deixando inclusive de analisar se estavam presentes os requisitos confi-
guradores da fraude contra credores, pelo que, deve ser cassada a decisão, de ofício, a fim de que
tais questões sejam analisadas em primeiro grau de jurisdição, sob pena de supressão de instância.”
(TJPR – AC 1210275-5 – 6ª C.Cív. – Rel. Des. Prestes Mattar – DJe 10.11.2015 – p. 587)
“Fraude contra credores. Ação pauliana. Venda de imóvel de propriedade do apelado para a sua
filha. Alienação ocorrida anteriormente ao ajuizamento de medida cautelar de protesto contra alie-
nação de bens imóveis interposta pela empresa Apelante. Alienação deste bem e de diversos outros
que levou o devedor à insolvência. Eventus damni caracterizado. Existência do conluio fraudulento.
Alienação que ocorreu entre pais e filha, por valor bem abaixo do praticado no mercado. Procedên-
cia da ação pauliana que, no entanto, leva à ineficácia e não à anulabilidade do negócio jurídico.
Honorários advocatícios sucumbenciais. Valor fixado em 10% do valor da causa. Inteligência do
art. 20, § 3º do CPC. Recurso provido.” (TJSP – Ap 0182322-62.2012.8.26.0100 – São Paulo –
1ª CDPriv. – Rel. Rui Cascaldi – DJe 10.11.2015)
2156 – Ação pauliana – separação judicial consensual – destinação de bens superiores à meação
– doação configurada
“Civil e processual civil. Apelação. Recurso adesivo. Ação pauliana. Separação judicial consen-
sual. Destinação de bens superiores à meação. Doação configurada. Patrimônio insuficiente para
a satisfação do crédito. Fraude contra credores. Eventus damni. Nulidade do formal de partilha.
Sucumbência recíproca. Recursos improvidos. 1. Considera-se fraude contra credores toda dimi-
nuição maliciosa levada a efeito pelo devedor, com o propósito de desfalcar a garantia patrimonial,
em detrimento dos direitos creditórios alheios. 2. O art. 158, do Código Civil deixa claro que os
negócios de transmissão gratuita de bens e de remissão de dívida, se o devedor praticá-los mediante
estado de insolvência ou for reduzido à insolvência, poderão ser anulados pelos credores quirogra-
fários como lesivos aos seus direitos. Nessas hipóteses, a fraude contra credores será configurada
pelo simples estado de insolvência, independentemente da demonstração do conluio fraudulento,
que é presumido pela lei. 3. Doutrina. Maria Helena Diniz. Código Civil Anotado, 17. ed., Saraiva,
2014, p. 228. ‘A fraude contra credores constitui a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que des-
falcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento
dos direitos creditórios alheios. Dois são os seus elementos: o objetivo (eventos damni), que é todo
ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de
insolvência, ainda quando o ignore, ou ante o fato de a garantia tornar-se insuficiente depois de
executada; e o subjetivo (consilium fraudis), que é a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor ou
do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança’. 4. Quando o devedor é insolvente ou
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torna-se insolvente pela disposição gratuita de seus bens, a parte do seu patrimônio que foi doada
é, na realidade, porção daquilo que pertence indiretamente a seus credores, restando configurada
a fraude contra credores. 4.1 Aliás, toda execução é real, ou seja, incide sobre os bens do devedor,
presentes, futuros e aqueles maliciosamente transferidos objetivando a frustração da atividade juris-
dicional executiva do Estado. 5. Configurada a fraude contra credores em relação à doação ocorrida
entre os ex-cônjuges no valor que superou a meação, a nulidade do formal de partilha, especifica-
mente quanto ao imóvel doado, é medida que se impõe. 6. Assim, correta a sentença ao considerar
que o bem doado por meio da partilha retornará ao patrimônio do devedor (primeiro Réu) e que
em nada lhe aproveitará, na medida em que deverá voltar-se para a satisfação do crédito. 7. Os
honorários advocatícios devem ser fixados de acordo com a sucumbência de cada parte. 7.1 Tendo
o autor sucumbido, integralmente, quanto à condenação de um dos três réus, deve responder inte-
gralmente quanto aos honorários do respectivo patrono. 7.2 A sucumbência recíproca quanto aos
demais requeridos implica na condenação dos honorários dos próprios patronos e no pagamento
das custas pro rata, entre os sucumbentes. 8. Recursos improvidos.” (TJDFT – PC 20150110521285
– (901359) – 2ª T.Cív. – Rel. Des. João Egmont – DJe 27.10.2015 – p. 244)
2157 – Ação reivindicatória – sucessão causa mortis – partilha – imóvel – conclusão – condomí
nio – formação
“Civil e processual civil. Ação reivindicatória. Sucessão causa mortis. Partilha. Imóvel. Conclusão.
Condomínio. Formação. Substituição do espólio por herdeiro. Legitimidade ativa. Afirmação. For-
mal de partilha. Registro. Inexistência. Transmissão da herança com os atributos que lhe são ineren-
tes. Ajuizamento de ação de desapropriação indireta. Irrelevância para o pleito petitório. Bloqueio
da matrícula. Registro incólume. Propriedade preservada. Lote inserido em área maior. Individua-
lização. Pressuposto atendido. Carência de ação afastada. Rejulgamento. CPC, art. 543-C, § 7º, II.
Teses firmados em sede de recurso representativo da controvérsia (STJ, REsp 990.507/DF). Acórdão
originário reformado. 1. Concluído o processo sucessório e aperfeiçoada a partilha, ensejando a
formação de condomínio sobre o imóvel partilhado, cada um dos herdeiros, de forma isolada, está
legitimado a suceder o espólio na ação petitória que manejara por deter legitimidade para reclamar
do terceiro o imóvel que ilegitimamente detém (CC, art. 1.314), independentemente de o formal
de partilha ainda não estar transcrito, pois, assumindo a condição de proprietário e possuidor da
herança na proporção do quinhão que lhe fora destinado, a assume com os atributos anteriormente
detidos pelo sucedido (CC, arts. 1.784 e 1.791). 2. O detentor da propriedade está revestido de
legitimação para reivindicar total ou parcialmente o imóvel de quem ilegitimamente o possua, com-
petindo-lhe simplesmente individualizá-lo, se reivindicado na íntegra, ou individualizar o quinhão
indevidamente ocupado, sendo irrelevante o fato de não deter matrícula particularizada, de forma
a modular o objeto da pretensão reivindicatória de conformidade com o seu alcance e prevenir que
atinja área não ocupada. 3. O bloqueio da matrícula do imóvel determinada através de decisão
judicial de natureza liminar, cingindo-se a obstar a efetivação de novos registros ou averbações,
não retira daqueles em nome de quem se encontra transcrito a presunção de que continuam sendo
proprietários, devendo continuar a ser havidos como titulares do domínio até que o registro que
lhes confere esse atributo eventualmente venha a ser invalidado e cancelado, assistindo-lhes, pois,
o direito de usufruírem das prerrogativas que irradiam do domínio que ostentam (CC, art. 1.245,
§ 2º). 4. O ajuizamento de ação de desapropriação indireta tendo como objeto o imóvel reivindica-
do não encerra nenhuma incompatibilidade com a pretensão petitória, com ela, ao invés, se con-
formando, pois ambas as lides têm como pressuposto a detenção do domínio, que, ante os atributos
que lhe são inerentes, municiam os proprietários com legitimação e lastro para manejarem todos os
instrumentos processuais que se conformam com a qualidade e o título que ostentam, notadamente
para defender a posse e propriedade do imóvel que lhes pertence contra a atuação de terceiros. 5. A
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ação reivindicatória consubstancia o instrumento processual apropriado para o proprietário que não
detém a condição de possuidor reaver a posse do imóvel que lhe pertence de quem injustamente o
vem possuindo ou detendo, destinando-se, pois, a resguardar ao titular do domínio o direito que lhe
assiste de elidir a indevida ingerência de terceiros sobre aquilo que é seu, permitindo-lhe que dele
se aposse e passe a fruir e usufruir das prerrogativas que irradiam da propriedade. 6. Apelação co-
nhecida e, em rejulgamento, provida. Sentença cassada. Maioria.” (TJDFT – PC 20061010032269
– (902903) – 1ª T.Cív. – Rel. p/o Ac. Des. Teófilo Caetano – DJe 13.11.2015 – p. 190)
“Agravo regimental no agravo em recurso especial. Indenização. Uso indevido de imóvel. Bem de
família. Omissão não configurada. 1. Tendo o Tribunal de origem indicado adequadamente os mo-
tivos que lhe formaram o convencimento, não há falar em prestação jurisdicional lacunosa ou defi-
citária apenas pelo fato de o acórdão recorrido ter decidido em sentido contrário à pretensão da par-
te recorrente. 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 135.068 – (2012/0001152-6)
– 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 27.10.2015 – p. 775)
2159 – Cédula de crédito rural hipotecária – aval prestado por pessoa física – validade
“Agravo regimental no recurso especial. Cédula de crédito rural hipotecária. Aval prestado por
pessoa física. Validade. Precedente. Incidência. Súmula nº 83/STJ. Agravo improvido. 1. Se a parte
agravante não apresenta argumentos hábeis a infirmar os fundamentos da decisão regimentalmente
agravada, deve ela ser mantida por seus próprios fundamentos. 2. Agravo regimental a que se nega
provimento.” (STJ – AgRg-REsp 1.538.456 – (2015/0143303-6) – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze – DJe 23.10.2015 – p. 1196)
“Agravo regimental. Agravo em recurso especial. Compra e venda de imóvel. Comissão de corre-
tagem. Interpretação de cláusulas contratuais. Reexame de prova. 1. Inviável a análise do recurso
especial quando dependente de reexame de cláusulas contratuais e matéria fática da lide (Súmulas
nºs 5 e 7 do STJ). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 775.136 –
(2015/0221556-0) – 4ª T. – Relª Min. Maria Isabel Gallotti – DJe 06.11.2015 – p. 1116)
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2161 – Compra e venda de imóvel – escritura – alegação de ofensa à constituição da república
– legalidade
“Direito civil e processual civil. Eficácia de escritura de compra e venda de imóvel. Alegação de
ofensa ao art. 5º, II e LV, da Constituição da República. Legalidade. Contraditório e ampla defesa.
Natureza infraconstitucional da controvérsia. Eventual violação reflexa da Constituição da Repúbli-
ca não viabiliza o manejo de recurso extraordinário. Acórdão recorrido publicado em 05.09.2014.
1. Obstada a análise da suposta afronta aos incisos II e LV do art. 5º da Carta Magna, porquanto
dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento
que refoge à competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102 da
Magna Carta. 2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos
que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa direta e literal
a preceito da Constituição da República. 3. Agravo regimental conhecido e não provido.” (STF –
AgRg-RE-Ag 915.700 – Rio de Janeiro – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 20.10.2015)
“Recurso especial. Civil. Despesas condominiais. Promissário comprador. Ação de cobrança. Com-
promisso de compra e venda. Penhora dos direitos. Possibilidade. Constrição. Imóvel gerador da dí-
vida. Inadmissibilidade. Princípio da continuidade. 1. Cinge-se a controvérsia a saber se, não tendo
o proprietário do bem figurado na ação de cobrança de cotas condominiais, mas tão somente o pro-
missário comprador, é possível, em execução, a penhora do próprio imóvel que gerou a dívida ou
apenas a constrição sobre os direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda.
2. Ajuizada a ação contra o promissário comprador, este responde com todo o seu patrimônio
pessoal, o qual não inclui o imóvel que deu origem ao débito condominial, haja vista integrar o
patrimônio do promitente vendedor, titular do direito de propriedade, cabendo tão somente a pe-
nhora do direito à aquisição da propriedade. 3. A penhora do unidade condominial em execução
não pode ser autorizada em prejuízo de quem não tenha sido parte na ação de cobrança na qual se
formou o título executivo. Necessária a vinculação entre o polo passivo da ação de conhecimento
e o polo passivo da ação de execução. 4. Pelo princípio da continuidade registrária (arts. 195 e 237
da Lei nº 6.216/1975), a transferência de direito sobre o imóvel depende de que este preexista no
patrimônio do transferente, o que, no caso, torna inviável a penhora do próprio imóvel em virtude
da ausência de título anterior em nome dos executados. 5. Recurso especial não provido.” (STJ –
REsp 1.273.313 – (2011/0134155-4) – 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 12.11.2015
– p. 1313)
2170 – Dano moral – atraso na entrega de imóvel – prescrição – aplicação do art. 27 do CDC –
valor razoável – modificação
“Agravo regimental no agravo em recurso especial. Atraso na entrega de imóvel. 1. Prescrição. Apli-
cação do art. 27 do CDC. Revisão das conclusões alcançadas na origem. Impossibilidade. Súmula
nº 7 do STJ. 2. Dano moral. Valor razoável. Modificação. Necessidade de reexame de fatos e provas.
3. Lucros cessantes. Presunção de prejuízo. Precedentes. Súmula nº 83 do STJ. 4. Agravo improvido.
1. O Tribunal estadual, ao interpretar as cláusulas contratuais e analisar o conjunto fático-probatório
constante dos autos, entendeu haver relação de consumo entre as partes. Sendo assim, aplica-se
à cobrança indevida o prazo prescricional quinquenal, nos termos do art. 27 do Código de Defe-
sa do Consumidor. Rever tal entendimento importa em análise do contrato e o revolvimento do
acervo fático-probatório dos autos, o que é vedado pelos Enunciados nºs 5 e 7 da Súmula desta
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO................................................................................................................... 231
Corte Superior. Precedentes. 2. No tocante ao valor da indenização fixada a título de danos morais,
a análise dos precedentes desta Casa revela que o montante arbitrado na origem – R$ 8.000,00
(oito mil reais) – não se distancia dos padrões de razoabilidade. Incidência do Enunciado nº 7/STJ.
3. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a presunção da existência dos lucros
cessantes decorre da impossibilidade de uso e locação do bem, em razão do atraso na sua entrega,
circunstância essa que denotaria presunção relativa do prejuízo do promitente-comprador, cabendo
ao vendedor, para se eximir do dever de indenizar, fazer prova de que a mora contratual não lhe é
imputável. Súmula nº 83/STJ. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp
748.501 – (2015/0178559-3) – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 23.10.2015 – p. 1131)
2171 – Defesa do consumidor – atraso entrega imóvel – mora – cláusula de tolerância em dias
úteis – invalidade – responsabilidade da construtora – termo inicial
“Apelação cível. Consumidor. Atraso entrega imóvel. Mora. Cláusula de tolerância em dias úteis.
Invalidade. Interpretação das cláusulas contratuais. Força maior. Inexistência. Mora. Responsabili-
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dade da construtora. Termo inicial. Lucros cessantes. Termo final. Vistoria insatisfatória. Ausência
de habitabilidade. Recebimento das chaves pelo promitente. Comprador. Cláusula moratória em
favor do consumidor. Cumulação com lucros cessantes. Possibilidade. Natureza jurídica distinta.
Previsão contratual. Danos morais. Descumprimento contratual. Mero aborrecimento. Sentença
parcialmente reformada. 1. Este c. Tribunal tem reiteradamente proclamado a validade da cláusula
de tolerância, declarando, contudo, a abusividade da fixação do prazo em dias úteis, determinando
o seu cômputo em dias corridos. Precedentes. 2. Os entraves administrativos que atrasam o regular
andamento das atividades de construção civil não constituem eventos revestidos de imprevisibili-
dade, de modo que não se erigem à condição de casos fortuitos ou de força maior aptos a elidirem
a responsabilidade civil da incorporadora pela falta de entrega das unidades no prazo avençado.
3. O atraso injustificado na entrega do imóvel origina a presunção de lucros cessantes suportados
pelo promitente-comprador, pois o inadimplemento retira deste a possibilidade de explorar econo-
micamente o imóvel adquirido. 4. São devidos lucros cessantes em razão do atraso na entrega do
imóvel, pois o consumidor, sem poder usufruir o bem no período em que faria jus, não pode alugá-
-lo nem mesmo nele residir. 5. Os lucros cessantes correspondem à quantia que razoavelmente
o Autor deixou de auferir, no caso, os aluguéis correspondentes, a ser liquidado oportunamente.
6. Havendo previsão contratual de pagamento de multa e, ainda, caracterizada a mora, deve esta
ser paga nos termos pactuados. 7. Sendo certo que se está diante de cláusula penal moratória, é
possível sua cumulação com a indenização por lucros cessantes, sem configurar bis in idem, eis
que tais institutos possuem naturezas distintas. A responsabilidade pelos lucros cessantes surge ex
lege e possui natureza reparatória; ao passo que a obrigação de pagar a referida multa, decorre de
previsão contratual, possui caráter meramente moratório e não visa à substituição ou à compen-
sação do inadimplemento, mas sim à coerção do contratante que incorreu em mora. 8. O mero
inadimplemento contratual não gera danos morais à parte lesada, pois não tem o condão de violar,
por si só, seus direitos da personalidade. 9. Recurso da ré conhecido e desprovido. Recurso do autor
conhecido e parcialmente provido.” (TJDFT – AC 20140111373544 – (902019) – 2ª T.Cív. – Rel.
Des. J. J. Costa Carvalho – DJe 27.10.2015 – p. 243)
2178 – Penhora sobre o faturamento – Substituição da constrição por bem imóvel – Satisfação
do débito
“Agravo regimental em agravo (art. 544 do CPC). Autos de agravo de instrumento. Penhora sobre o
faturamento. Substituição da constrição por bem imóvel suficiente à satisfação do débito. Súmula
nº 7/STJ. Decisão monocrática negando provimento ao reclamo. Irresignação da agravante. 1. O
entendimento firmado na Corte a quo acerca da possibilidade de substituição da penhora, de modo
a se realizar a execução pelo meio menos oneroso ao devedor, ensejaria o reexame do acervo
fático-probatório dos autos, providência esta que atrai o óbice da Súmula nº 7/STJ. Incidência da
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Súmula nº 83/STJ. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 285.538 –
(2013/0011975-9) – 4ª T. – Rel. Min. Marco Buzzi – DJe 26.10.2015 – p. 1183)
2181 – Promessa de compra e venda de imóvel adquirido na planta – ação declaratória de nuli
dade – dano moral – atraso na entrega de imóvel
“Agravo regimental no agravo em recurso especial. Promessa de compra e venda de imóvel adqui-
rido na planta. Ação declaratória de nulidade de cláusulas contratuais cumulada com indenização
por dano moral. Violação do art. 535 do CPC. Inexistência. Atraso na entrega de imóvel. Dano
moral in re ipsa. Responsabilidade objetiva. Nexo causal não afastado. Revisão do valor arbitrado.
Impossibilidade. Reexame de prova. Súmula nº 7/STJ. Agravo regimental improvido. 1. O acórdão
recorrido está devidamente fundamentado e não contém omissão, obscuridade ou contradição,
uma vez que foi dirimida a questão pertinente ao litígio, não se revelando os embargos de declara-
ção como a via adequada à revisão do julgado, em manifesta pretensão infringente. 2. Na espécie,
alterar as conclusões do acórdão recorrido, no sentido de verificar a inexistência de falha na pres-
tação do serviço e a ausência de nexo causal, demandaria reexame de fatos e provas providência
vedada na instância especial, conforme dispõem o Enunciado nº 7 da Súmula desta Corte. 3. A pre-
tensão de reforma do acórdão quanto ao valor indenizatório encontra óbice no Enunciado nº 7/STJ,
porquanto o Tribunal de origem decidiu as questões em atenção às peculiaridades fáticas dos autos.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 715.293 – (2015/0113385-8)
– 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 12.11.2015 – p. 1295)
238 D������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO
2182 – Promessa de compra e venda de imóvel – atraso na entrega pela construtora – cláusula
penal moratória – possibilidade de cumulação
“Agravo regimental no recurso especial. Promessa de compra e venda de imóvel. Atraso na entrega
pela construtora. Cláusula penal moratória. Possibilidade de cumulação com lucros cessantes. Juris-
prudência consolidada no STJ. Decisão mantida por seus próprios fundamentos. Agravo desprovido.
1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ocorrendo atraso na entrega do
imóvel pela construtora, é perfeitamente possível cumular a cláusula penal decorrente da mora
com indenização por lucros cessantes pela não fruição do imóvel, pois aquela tem natureza mora-
tória, enquanto esta compensatória, razão pela qual não há que se falar em bis in idem. 2. Agravo
regimental desprovido.” (STJ – AgRg-REsp 1.544.333 – (2015/0177574-9) – 3ª T. – Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze – DJe 13.11.2015 – p. 1177)
Artigos Doutrinários
ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA
Usucapião
• Apelação cível – Ação de usucapião ordinário.
Assunto
justo título – Ausência – Transferência assina-
da por quem não é proprietário – Presentes as
Ação de dano infecto
condições do usucapião extraordinário – Pos-
• Agravo de instrumento – Ação de dano infec- sibilidade de conversão – Demonstração do
to – Tutela antecipada de embargo da obra cumprimento dos requisitos legais elencados no
deferida na origem – Prestação de caução – art. 1.238 do CC – Posse com ânimo de dono,
Prosseguimento da obra – Possibilidade (TJRS) contínua e sem oposição, por período superior
.................................................................2143, 204 a quinze anos – Possibilidade do cômputo do
tempo de posse exercida pelo antecessor de
Ação pauliana acordo com o art. 1.243 do CC – Sentença re-
• Ação pauliana (TJSP).................................2144, 210 formada – Apelo provido (TJPR)................2142, 199
• Agravo de instrumento – Processual civil – Ação
pauliana – Antecipação de tutela – Pressupos- EMENTÁRIO
tos legais demonstrados – Indisponibilidade do
bem – Cautela do magistrado – Decadência –
Supressão de instância – Recurso não provido Ação anulatória
(TJDFT).....................................................2139, 178 • Ação anulatória – negócio jurídico – compra e
venda de imóvel.......................................2145, 214
Contrato de mútuo • Ação anulatória de negócio jurídico – depó-
• SFH – Contrato de mútuo – Revisão – Amor- sito dos alugueres vencidos e vincendos – lo-
tização – Equivalência salarial – TR – Seguro cação........................................................2146, 214
(TRF 2ª R.)................................................2138, 163
Ação declaratória
Despejo • Ação declaratória – reconvenção – contrato de
• Apelação cível – Ação de despejo c/c cobrança parceria agrícola – pedido de retomada – no-
– Locação residencial – Inadimplemento – Des- tificação – requisitos legais – preenchimento
pejo – Possibilidade – Compensação de crédi- .................................................................2147, 214
RDI Nº 30 – Nov-Dez/2015 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO.......................................................................................................... 247
Ação de cobrança de cobrança – penhora dos direitos – possibi-
• Ação de cobrança – cotas condominiais – pres- lidade.......................................................2162, 227
crição quinquenal.....................................2148, 214 • Compromisso de compra e venda de imóvel
• Ação de cobrança – taxa de manutenção – as- – rescisão – comprovação da realização de
sociação de moradores – descabimento...2149, 215 benfeitorias – ônus da prova.....................2163, 227
• Ação de cobrança – taxa de manutenção – as- Condomínio
sociação de moradores – proprietário não asso-
ciado – impossibilidade............................2150, 215 • Condomínio – ação ordinária – convenção
– critérios de voto e rateio de cotas – regulari-
Ação de obrigação de fazer dade.........................................................2164, 228
• Ação de obrigação de fazer – demolição de Contrato
imóvel – alienação posterior à propositura da
ação – efeitos subjetivos da coisa julgada ina- • Contrato de compra e venda de imóvel – reso-
lterados.....................................................2151, 215 lução – culpa da construtora – devolução de
comissão de corretagem...........................2165, 228
Área de preservação permanente • Contrato de financiamento – ação de revisão –
• Área de preservação permanente – atividades juros remuneratórios – abusividade..........2166, 229
agressoras – edificações – demolição – possibi- • Contrato de financiamento imobiliário – em-
lidade.......................................................2152, 218 bargos à execução e repetição de indébito –
reajuste das prestações – amortização......2167, 229
Ação de repetição de indébito
• Ação de repetição de indébito – dano moral – Corretagem
parcial procedência – corretagem efetivamente • Corretagem – cobrança abusiva – imposição da
paga pela compradora..............................2153, 222 construtora incorporadora – transferência de
encargo ao consumidor – taxas condominiais
Ação pauliana – obrigação propter rem...........................2168, 229
• Ação pauliana – fraude contra credores – doa- • Corretagem – promessa de compra e venda
ção de imóvel...........................................2154, 223 de imóvel – responsabilidade pelo pagamento
• Ação pauliana – fraude contra credores – venda .................................................................2169, 230
de imóvel de propriedade.........................2155, 223
Dano moral
• Ação pauliana – separação judicial consensual
– destinação de bens superiores à meação – • Dano moral – atraso na entrega de imóvel
doação configurada..................................2156, 223 – prescrição – aplicação do art. 27 do CDC –
valor razoável – modificação....................2170, 230
Ação reivindicatória
Defesa do consumidor
• Ação reivindicatória – sucessão causa mortis
– partilha – imóvel – conclusão – condomínio • Defesa do consumidor – atraso entrega imó-
– formação...............................................2157, 224 vel – mora – cláusula de tolerância em dias
úteis – invalidade – responsabilidade da cons-
Bem de família trutora – termo inicial...............................2171, 232
• Bem de família – uso indevido de imóvel – in- • Defesa do consumidor – incorporação imobili-
denização.................................................2158, 225 ária – atraso na entrega de imóvel – lucros ces-
santes – valor de locação do imóvel – apuração
Cédula de crédito rural .................................................................2172, 233
• Cédula de crédito rural hipotecária – aval pres-
tado por pessoa física – validade..............2159, 226 Desapropriação
• Desapropriação direta – conexão – falta de
Compra e venda prequestionamento – Súmula nº 282/STF – in-
• Compra e venda de imóvel – comissão de cor- terrupção da cadeia dominial...................2173, 234
retagem – interpretação de cláusulas contratuais • Desapropriação – imissão na posse – suspensão
.................................................................2160, 226 .................................................................2174, 234
• Compra e venda de imóvel – escritura – ale- • Desapropriação indireta – implantação de ro-
gação de ofensa à constituição da república dovia estadual – proprietários após o desapos-
– legalidade..............................................2161, 227 samento – ilegitimidade ativa...................2175, 234
• Promessa de compra e venda de imóvel adqui- • Negado à Infraero o direito à imissão na pos-
rido na planta – ação declaratória de nulidade se de imóvel a ser desapropriado por interesse
– dano moral – atraso na entrega de imóvel público...............................................................240
.................................................................2181, 237 • Negado direito à partilha de bens mesmo com
• Promessa de compra e venda de imóvel – atra- declaração de união estável................................242
so na entrega pela construtora – cláusula pe- • STF decide suspender trâmite de projeto de lei
nal moratória – possibilidade de cumulação por “contrabando legislativo”.............................241
.................................................................2182, 238 • STJ determina que adjudicação compulsória
• Promessa de compra e venda de imóvel – re- para obter escritura definitiva pode ser proposta
solução – denúncia pelo compromissário com- a qualquer tempo...............................................242