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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

DOUGLAS SOARES DA SILVA GOMES


SABRINA DA ROSA MACHADO

A FASE PRODRÔMICA DA ESQUIZOFRENIA

Rio de Janeiro
2017
DOUGLAS SOARES DA SILVA GOMES
SABRINA DA ROSA MACHADO

A FASE PRODRÔMICA DA ESQUIZOFRENIA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Estácio de
Sá, como requisito para obtenção de grau
de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Prof. Dr. Ronald T. P. Fernandes

Rio de Janeiro
2017
Douglas Soares da Silva Gomes
Sabrina da Rosa Machado

A Fase Prodrômica Da Esquizofrenia

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade
Estácio de Sá, como requisito
parcial para a obtenção do grau
de bacharel em Enfermagem.

Orientador: Prof. Dr. Ronald T. P. Fernandes

Aprovado em:

COMISSÃO DE AVALIAÇÃO

____________________________________________
Universidade Estácio de Sá
Presidente
Prof. Dr. Ronald Teixeira Peçanha Fernandes

__________________________________________
Universidade Estácio de Sá
a
Prof . Ms. Cecilia Claudia S. Tavares
1ª Avaliadora

Rio de Janeiro
2017
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho primeiramente a


Deus, por ser essencial em nossas vidas
e aos nossos familiares que
incansavelmente deram apoio, nos
incentivando, dando força e transmitindo
pensamentos positivos ao longo destes
anos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e aos Jinkisi por estar alcançando o objetivo de me tornar um dos
enfermeiros que compõe o corpo de pessoas que trabalham, incessante e
arduamente, para o bem-estar do próximo.

Agradeço a minha mãe Genilda Noberto da Silva e ao meu pai Edmilson Soares da
Silva (in memoriam), que, demasiado, lutaram e desejaram que me tornasse uma
pessoa de bem e, como diziam, “estudasse para ser alguém na vida”. Neste
momento da minha vida alcanço isto, e não é apenas para satisfação própria, mas
também para a satisfação deles.

A minha irmã Daniele Soares que, afora grandes conflitos, esteve ao meu lado a
despeito de todas as diferenças e amolações, agradeço por simplesmente existir em
minha vida.

Ao meu companheiro Diogo Gomes com quem compartilho minha rotina, minhas
angustias, dificuldades e medos, agradeço por sempre estar ao meu lado. Saiba que
fostes um importante mediador para eu estar onde estou, pois, através de você, há
quatro anos e meio ingressei na universidade e, atualmente, concluo esta fase da
minha existência e, o que é mais importante, contigo ao meu lado.

Agradeço ao Tat’etu Sajemi (enfermeiro Luiz Carlos Amate), por se fazer presente
em minha vida durante todos esses anos dando-me esteio e incentivos para seguir
seus passos, tanto no âmbito espiritual quanto no profissional.

A todos meus amigos, que são inúmeros, meus sinceros agradecimentos, pois com
vocês por perto tudo se torna mais alegre e fácil.

A Professora Andréa Branco por todo carinho, compreensão e dedicação que teve
para comigo e tem com todos os seus alunos. Sua participação neste ciclo foi de
excepcional importância e proveito. Com muita verdade e reconhecimento agradeço.
Ao Professor Orientador Dr. Ronald T. P. Fernandes por todos os ensinamentos que
me foram passados e toda dedicação na orientação para que este trabalho fosse
produzido agradeço imensamente.

A Professora Ms. Cecilia Claudia S. Tavares agradeço pelo tempo dedicado a este
trabalho, pelos os ensinamentos passados no decorrer da graduação e pela
cumplicidade conosco.

Por ultimo, mas não menos importante, agradecer a minha amiga, companheira de
faculdade e dupla neste trabalho, pela paciência e compreensão, por acreditar não
apenas em mim, mas em nós quando muitos desacreditaram. Apenas posso afirmar
que merecemos tudo o que conquistamos, pois buscamos isto em meio a muitas
dificuldades e, com nossos esforços e sacrifícios, vencemos.

Douglas Soares da Silva Gomes


AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse em minha vida, por
ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

A Nossa Senhora Aparecida sou muito grata a sua intercessão junto ao seu filho,
para que eu fosse carregada, quando, por muitas vezes, pensei em não mais
caminhar. Deu-me suporte de Fé e mostrou todo o amor de seu filho a mim.

Ao meu pai Pedro, que apesar de todas as dificuldades, nunca me deixou desistir,
mesmo sabendo que a distância era longa e caberia a ele o papel de pai, mãe e avô,
foi me fortalecendo de uma maneira incrível, demonstrando total credibilidade no
que eu estava destinada a fazer, confiou na minha capacidade de crescimento,
obrigada pelo suporte que me dá na vida Pai.

Aos meus filhos Maria Eduarda e Luís Filipi que nos momentos de minha ausência
dedicados a graduação, sempre fizeram entender que o futuro é feito a partir da
constante dedicação no presente e da importância de saber que eu buscava algo
melhor para nossas vidas. Cada choro por ausências fora remediado com muito
amor cada vez que eu voltava para casa, juntos conseguimos, é nosso! Valeu a
pena toda distância, todo o sofrimento, todas as renúncias.

A minha mãe Irineide, minha irmã Grazielle, minha tia Ereni e prima Alessandra pela
contribuição valiosa que me deram, pensamentos positivos que me acompanharam
por esses longos anos.

Ao namorado Patrick, por todo amor, carinho e paciência, incentivou-me com


palavras e atitudes de encorajamento sempre, sua dedicação total a mim foi de
extrema importância para que eu pudesse continuar, estando sempre ao meu lado,
apesar das distâncias, seu apoio foi muito importante para a conclusão desta etapa.

Ao meu amigo Paulo Rios que junto a Deus, plantou a semente da graduação na
minha história e no decorrer desses anos o incentivo da busca de novos
conhecimentos, mostrando o quanto temos que acreditar em nós mesmos e da
importância de nos tornar pessoas melhores a cada dia que acordamos.

Ao meu amigo Douglas, que aprendi a amar e construí laços eternos, que acreditou
na minha ideia e se tornou a minha dupla, meu irmão acadêmico, aquele que
segurou todas as minhas crises de ansiedade e frustrações, sua contribuição ao
longo dessa jornada foi demasiado valiosa, fez com que eu enxergasse algumas
coisas com mais cautela, e com isso fui me tornando uma pessoa melhor e de mais
fácil convívio, obrigado pelo companheirismo dedicado a mim.

Ao Professor Dr. Ronald, pela orientação, apoio e confiança concedidos, com êxito
e crescimento acadêmico, pelo empenho dedicado a elaboração deste trabalho, por
exigir de mim muito mais do que eu supunha ser capaz de fazer. Agradeço por
dividir os seus conhecimentos, sua ética e, acima de tudo, suas experiências.

A Professora Doutoranda Cecilia Claudia Tavares, pelo suporte, no pouco tempo


que lhe coube, dedicou-o a mim, além disso, tanto tem me inspirado a tornar-me
uma boa profissional, seus direcionamentos ao longo desses cinco anos foram
essenciais, por me proporcionar o conhecimento, caráter e a efetividade da
educação no processo de formação profissional.

Obrigado a todos que, mesmo não citados, tanto contribuíram para a conclusão
desta etapa e para a Sabrina que sou hoje.

Sabrina da Rosa Machado


EPÍGRAFE

“Não somos apenas o que pensamos ser.


Somos mais; somos também, o que
lembramos e aquilo de que nos
esquecemos; somos as palavras que
trocamos, os enganos que cometemos, os
impulsos que cedemos, ‘sem querer’.”
(Sigmund Freud)
GOMES, D. S. da S; MACHADO, S. da R. A fase prodrômica da esquizofrenia.
Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro,
Campus Santa Cruz, 2017.

RESUMO

O presente trabalho teve como linha de pesquisa Saúde e Sociedade, como área
predominante Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria e como tema a fase
prodrômica da esquizofrenia. Como objeto de estudo teve os pródromos da
esquizofrenia. A motivação para a realização deste trabalho surgiu enquanto
cursávamos a disciplina de Saúde Mental na universidade, no decorrer da
graduação. Como objetivo, visamos identificar a fenomenologia que antecede a
manifestação dos primeiros sintomas da esquizofrenia que culmina no surgimento
dos problemas sociofamiliares e apresentar os obstáculos enfrentados pelos
indivíduos no percurso da psicopatologia. Para a produção da presente pesquisa
utilizamos uma abordagem de natureza qualitativa, Minayo (2001), e método
descritivo, Triviños (1987), através de uma revisão bibliográfica, Silva e Menezes
(2005). As fontes, portanto, foram artigos científicos pesquisados na Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS) e em livros. Na pesquisa BVS, em que se utilizou as
palavras-chave, sintomas da esquizofrenia onde foram utilizados os autores
Jardim (2011) e Espíndola e Lima (2015), quadro psicótico onde foi utilizado o
autor Louzã (2007), psicose onde foi utilizado o autor Del-Bem et al. (2010) e
pródromos da psicose onde foi utilizado o autor Carvalho e Costa (2008). Na
análise de dados realizamos a leitura dos artigos selecionados onde foram
identificados diferentes tipos de alterações psíquicas que podem estar presentes
antes do surgimento da esquizofrenia. Na revisão de literatura criamos duas
sessões, sendo a primeira denominada psicose onde utilizamos o autor
Dalgalarrondo (2008) para conceituação. A segunda seção, denominada como
características da esquizofrenia e de outros transtornos psicóticos que apresenta
os diferentes tipos de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Utilizamos
para conceituação autores como Zimerman, (2008), Laplanche; Pontalis, (2001),
Myers (2006), Freud (1990), DSM-IV-TR (2002), Silva, C.; Silva, R.; Viana, (2009),
DSM-5 (2014), CID-10, Holmes (1997) e Cheniaux Jr (2011). Na sessão
resultados e discussões foram apresentados os dados obtidos através da análise
dos artigos selecionados. Tais artigos trouxeram dados referentes aos pródromos
que podem ser indicativos de um futuro surgimento dos primeiros sintomas
psicóticos, estas alterações foram representadas em 7 categorias que são:
alterações de afetividade, alterações do comportamento, alterações de
sensopercepção, alterações do pensamento, alterações cognitivas,
ansiedade/medo e isolamento social. Nas considerações finais buscamos expor
como os pródromos identificados afetam os indivíduos e interferem em sua
interação sóciofamiliar. Buscamos ainda mostrar como as alterações
comportamentais e outras alterações presentes nestes indivíduos afetam sua
família.

Palavras-chaves: Pródromos, Esquizofrenia, Psicose e Adolescência.


GOMES, D. S. da S; MACHADO, S. da R. A fase prodrômica da esquizofrenia.
Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro,
Campus Santa Cruz, 2017.

ABSTRACT

The present work had as research line Health and Society, as the predominant
area Nursing in Mental Health and Psychiatry and as the theme the prodromal
phase of schizophrenia. As object of study had the prodrome of schizophrenia. The
motivation to carry out this work arose while studying the discipline of Mental
Health in the university during the graduation. As a goal, we aim to identify the
phenomenology that precedes the manifestation of the first symptoms of
schizophrenia that culminates in the emergence of socio-familial problems and to
present the obstacles faced by individuals in the course of psychopathology. For
the production of the present research we use a qualitative approach, Minayo
(2001), and descriptive method, Triviños (1987), through a bibliographical review,
Silva and Menezes (2005). The sources, therefore, were scientific articles
researched in the Virtual Health Library (VHL) and in books. In the VHL research,
in which the authors used the authors, the symptoms of schizophrenia where the
authors Jardim (2011) and Espíndola e Lima (2015) were used, a psychotic picture
where the author Louzã (2007) was used, psychosis where the Author Del-Bem et
al. (2010) and prodromes of psychosis where the author Carvalho e Costa (2008)
was used. In the data analysis we carried out the reading of the selected articles in
which different types of psychic alterations were identified that may be present
before the onset of schizophrenia. In the literature review we created two sessions,
the first one being called psychosis, where we used the author Dalgalarrondo
(2008) for conceptualization. The second section, named as characteristics of
schizophrenia and other psychotic disorders that presents the different types of
schizophrenia and other psychotic disorders. We use for conceptualization authors
such as Zimerman, (2008), Laplanche; Pontalis, (2001), Myers (2006), Freud
(1990), DSM-IV-TR (2002), Silva, C .; Silva, R .; Viana, (2009), DSM-5 (2014),
ICD-10, Holmes (1997) and Cheniaux Jr (2011). In the session results and
discussions were presented the data obtained through the analysis of the selected
articles. These articles have been presented in 7 categories that are: changes in
affectivity, changes in behavior, alterations in sensory perception, changes in
thinking, cognitive changes, anxiety / Fear and social isolation. In the final
considerations we seek to expose how the prodromes identified affect individuals
and interfere in their social and family interaction. We also seek to show how the
behavioral changes and other changes present in these individuals affect their
family.

Keywors: Prodromes, Schizophrenia, Psychosis and Adolescence


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12

2. METODOLOGIA................................................................................................ 19
 2.1 ANÁLISE DE DADOS....................................................................... 21

3. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................. 24
 3.1 PSICOSE.......................................................................................... 24
 3.2 CARACTERÍSTICAS DA ESQUIZOFRENIA E OUTROS
TRANSTORNOS PSICÓTICOS.................................................................. 26

4. RESULTADO E DISCUSSÕES........................................................................ 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 43

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 45

APÊNDICE I – Artigos selecionados na BVS........................................................ 48


12

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como linha de pesquisa Saúde e Sociedade e possui


como área predominante Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria, tendo como
tema a fase prodrômica da esquizofrenia. Como objeto de estudo, os pródromos da
esquizofrenia.
A motivação para a realização deste trabalho surgiu após o contato com uma
cliente acometida por este transtorno mental, durante uma visita técnica a um Centro
de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI), na Zona Oeste do Rio de Janeiro,
enquanto cursava a disciplina de Saúde Mental na Universidade no decorrer da
Graduação em Enfermagem.
Perceber o quanto os eventos precursores ao surgimento dos primeiros
sintomas da esquizofrenia interferem no desenvolvimento biopsicossocial do
adolescente e como tais sintomas dificultam a aproximação e a percepção da
realidade, causando, por diversas vezes, perplexidade em algumas pessoas,
podendo acarretar introversão dos familiares e afetar as relações sujeito/família,
sujeito/sociedade e família/sociedade.
As psicoses são transtornos mentais que se apresentam principalmente por
meio de alucinações e delírios onde o sujeito apresenta distanciamento da realidade,
vivenciando uma realidade própria distorcida da realidade.
Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 327) o paciente psicótico, [...] passaria a
viver fora da realidade, sem ser regido pelo princípio de realidade, e viveria
predominantemente sob a égide do princípio do prazer e do narcisismo.
O mesmo evento ocorre na esquizofrenia.

“Não há, todavia, um mundo esquizofrênico unitário, mas


muitos mundos a cercar os esquizofrênicos. Se ‘fôsse’ [sic]
o caso de uma formação cósmica unitária, geral, os
esquizofrênicos se entenderiam entre si e formariam
comunidade, quando o contrário é que é o caso.”
(JASPERS, 2003, p. 343)

É neste domínio em que trava suas batalhas e enfrenta seus medos e


dificuldades, buscando se esconder, sem tomar consciência de que há um mundo
paralelo ao criado onde está seu corpo físico.
13

Dentre os transtornos psicóticos se destaca a esquizofrenia, por ser a psicose


de maior incidência, acometendo cerca de 1% da população mundial e a mais
incapacitante dentre elas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) no
Relatório Sobre a Saúde no Mundo 2001, “a esquizofrenia é responsável por 1,1%
do total de AVAI (Anos de vida ajustados para incapacidade) e 2,8% do AVI (Anos
de vida com incapacidade)”. Dos sujeitos que sofrem desta psicopatologia poucos
tem um bom desenvolvimento psicossocial, podendo manter sua autonomia ou
exercer sua cidadania de forma plena.
O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, DSM-IV-TR
(2002, p. 303) define a esquizofrenia da seguinte maneira:

“[...] perturbação com duração mínima de 6 meses e inclui


no mínimo 1 mês de sintomas da fase ativa (i. é, dois [ou
mais] dos seguintes: delírios, alucinações, discurso
desorganizado, comportamento amplamente desorganizado
ou catatônico, sintomas negativos).”

Tem seu início geralmente no fim da adolescência ou início da idade adulta,


podendo, entretanto, acometer também crianças em idade escolar.
Essas perturbações da realidade tendem a causar o distanciamento da
sociedade, seja por medo do desconhecido ou mesmo por rejeição. Este preconceito
não se aplica apenas aos sofredores de síndromes psicóticas, mas também a
indivíduos acometidos por quaisquer outros transtornos mentais.
O espanto social se dá pelo curso histórico aos quais os pacientes
psiquiátricos foram submetidos no decorrer da trajetória da psiquiatria. A
institucionalização dos sujeitos os afastou da sociedade a tal ponto que estes
ficaram sem espaço no meio social pela não aceitação das diferenças e das
necessidades individuas dos mesmos.
Tais fatos são citados por Amarante (2007, p. 99):

“Por mais de duzentos anos, a relação que a sociedade


ocidental manteve com as pessoas em sofrimento psíquico
foi mais ou menos a mesma: longas e intermináveis
internações em hospitais psiquiátricos, caracterizados pelo
abandono ou pelos atos de violência. O conceito de
alienação mental (assim como suas derivações posteriores,
doença e transtorno mental) implicou atitudes sociais
negativas, de medo e rejeição, devido a concepções dele
decorrentes, tais como periculosidade, incapacidade,
irracionalidade, sempre estigmatizantes e discriminatórias.”
14

As mudanças às quais a psiquiatria está sendo submetida e as novas


abordagens terapêuticas adotadas trazem à tona realidades antes desconhecidas
pela sociedade. Realidades estas que ficavam escondidas do restante do mundo,
nos hospitais psiquiátricos, onde os indivíduos que sofriam dos mais diversos tipos
de transtornos mentais viviam isolados, sem contato social, com vínculo familiar
quase que nenhum ou nulo.
Atualmente, com a redução e o fechamento de leitos de hospitais
psiquiátricos, estes sujeitos estão sendo reinseridos em um meio social em que
poucas pessoas conhecem e compreendem suas diferenças e necessidades.

“[...] o processo de desinstitucionalização de pessoas com


longo histórico de internação psiquiátrica avançou
significativamente, sobretudo através da instituição pelo
Ministério da Saúde de mecanismos seguros para a
redução de leitos no país e a expansão de serviços
substitutivos aos hospitais psiquiátricos.” (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2005, p. 12)

Estes fatos causam estranhamento e medo em algumas pessoas, levando


assim à discriminação e ao preconceito. A sociedade deve ser preparada e bem
informada para que esta inserção seja vista por todos de forma natural e com boa
aceitação, respeito e sem discriminação ou exclusão do sujeito ou da família,
cabendo este preparo social aos órgãos públicos de saúde para que aqueles
possam exercer sua cidadania dentro de suas limitações.

[...] “na realidade tenta-se agora integrá-lo nesta mesma


sociedade, com todos os medos e preconceitos que sempre
caracterizaram esses confrontos, mediante um sistema de
instituições que preserve a sociedade, de certo modo, da
diversidade que o doente mental continua representando.”
(BASAGLIA, 1985, p. 123, grifo do autor)

Ainda segundo o Ministério da Saúde (2005, p. 9-10) “o processo de


desinstitucionalização pressupõe transformações culturais e subjetivas na sociedade
e depende sempre da pactuação das três esferas de governo (federal, estadual e
municipal). ”
A família, inserida no contexto da psicopatologia, sente-se, muitas das vezes,
culpada e incapaz se tornando vítima passiva da doença ao terem o curso de suas
15

vidas modificado. Mudanças no cotidiano, convívio social, trabalho, lazer, entre


outros, se instalam na vida, levando a família a viver em torno de um mundo
desconhecido.

“A frustração de mães e pais manifesta-se geralmente


através de violências constantes sobre os filhos que não
satisfazem suas aspirações competitivas: o filho é
inevitavelmente obrigado a ser melhor do que os outros e a
encarar como um fracasso o fato de ser diferente.”
(BASAGLIA, 1985, p. 100, grifo do autor)

Com o movimento da reforma psiquiátrica, a aproximação do fim do modelo


hospitalocêntrico e o fortalecimento do novo modelo de assistência em saúde
mental, o modelo psicossocial, a família tornou-se sobrecarregada, assumindo a
responsabilidade pelo cuidado e a assistência do enfermo, gerada por inexistência
de preparo integral da família para lidar de forma adequada com as especificidades
da psicopatologia.
A família necessita de cuidado tanto quanto os sujeitos acometidos pela
psicopatologia, necessitando ser acolhida e tratada dentro das individualidades de
cada membro familiar, e das necessidades coletivas.

“Muitas são as doenças que atingem os diferentes membros


de uma família, no entanto o que se observa a partir da
literatura é que, cada vez mais, a família é considerada um
paciente, passível de atendimento, tanto quanto aquele que
realmente adoece.” (FILHO; BURD, 2004, p. 208)

Contudo, esta nova abordagem traz grandes benefícios ao sujeito e a família,


pois mantém a proximidade familiar e social do jovem lhe proporcionando acesso à
educação, lazer e a criação de vínculo social, o que era difícil de ocorrer se o
modelo de assistência à saúde mental não tivesse sido reformulado.
A família tem grandes responsabilidades, tendo que lidar com os problemas
cotidianos do lar, a família em si, o trabalho, a organização da vida de um modo
geral, com isso acaba deixando passar despercebidas as mudanças que ocorrem na
vida das crianças, o início da puberdade, as crises que ocorrem na adolescência, os
medos e dúvidas que estas mudanças criam nos jovens. Assim, os adolescentes
acabam passando por tudo isso muitas das vezes, sem nenhuma diretriz ou esteio.
O preludio da adolescência é um período de grandes mudanças na vida da
criança, tanto fisiológicas, quanto psíquicas. O início desta fase traz consigo
16

importantes alterações fisiológicas, a transformação do corpo infantil em um corpo


mais desenvolvido, o surgimento de desejos antes desconhecidos traz grandes
conflitos ao adolescente.
Esses conflitos podem ser ocasionados pelas mudanças causadas pela
puberdade tendo como foco dos conflitos as mudanças corp orais ou pela
adolescência em si com as mudanças psicológicas.
Kalina (1976) afirma que a puberdade é um processo fisiológico que se inicia
com o surgimento das alterações corporais, o surgimento da menstruação na
menina e da ejaculação no menino, diferente da adolescência que é um processo
psicológico e social que tem seu surgimento influenciado pela sociedade.
Sendo assim não possui uma ordem cronológica para o surgimento, sendo
capaz de uma se apresentar independentemente da outra, podendo assim iniciar os
processos psicológicos da adolescência antes dos processos fisiológicos da
puberdade e vice e versa.
Estas mudanças levam o púbere a vivenciar crises internas, que influenciam
em sua identidade. Estas crises ocorrem na adolescência como um processo
natural, porém muito conflitante para ele e para a família. Um dos principais objetos
das crises é a preocupação com a interpretação de sua imagem pela sociedade,
assim percebemos o quanto a sociedade influencia na formação do ser humano.
As síndromes psicóticas surgem muitas das vezes neste momento, não sendo
identificadas, uma vez que seus sinais são mascarados pelas crises e as mudanças
comportamentais inerentes à adolescência.
Ainda segundo Kalina (1976, p. 20):

“A esta crise, provocada por uma ampla e profunda


desestruturação de todos os níveis da personalidade,
segue-se um processo de reestruturação, passando por
oscilações nas formas de exprimir-se e apresentar-se, ao
longo de vários anos.”

É durante o encadeamento destes episódios psicológicos, de “bagunçar para


organizar” que pode surgir o transtorno esquizofreniforme, que é um transtorno
semelhante à esquizofrenia, porém de curta duração, em que seu quadro
sintomatológico não perdura por mais de seis meses.
17

Destacamos que o presente trabalho visa problematizar como o aparecimento


dos sintomas prodrômicos da esquizofrenia interferem no desenvolvimento do
sujeito e em sua relação familiar e social.

JUSTIFICATIVA

Os transtornos psicóticos são uma das mais incapacitantes psicopatologias


existentes, sendo a esquizofrenia uma delas, e de difícil identificação na
adolescência pelo fato de ser constituído por um quadro clínico muito similar a
outros transtornos mentais e a fenômenos característicos da própria adolescência.
O transtorno mental faz com que muitas vezes a família e a sociedade se
distanciem do sujeito, pela criação de barreiras, dificultando assim o seu
desenvolvimento e a progressão do tratamento. A família e o vínculo social são
fundamentais para que esse desenvolvimento se dê de fato, por ser o principal meio
de resgate destas pessoas. Tais barreiras necessitam ser identificadas e analisadas
para que se crie assim uma abordagem sistematizada para melhor acolher estas
pessoas, estimulando o fortalecimento do vínculo familiar e social pela criação
estratégias de inclusão.
Devido à esquizofrenia ser uma psicopatologia de grande ocorrência na
sociedade, se faz necessário uma pesquisa minuciosa sobre os assuntos em
questão, visando à sintomatologia e o aspecto biopsicossocial da doença no
indivíduo, na família e na sociedade.
Como objetivo, visamos identificar a fenomenologia que antecedem o
surgimento dos primeiros sintomas da esquizofrenia e que culminam no surgimento
dos problemas sociofamiliares decorrentes de sua aparição e apresentar os
obstáculos enfrentados pelos indivíduos no percurso da psicopatologia.

RELEVÂNCIA SOCIAL

O presente trabalho será direcionado para a importância da criação de um elo


sólido entre a família, a sociedade e o adolescente bem como a relevância da
orientação sobre a psicopatologia, os sintomas e as possíveis crises, para que a
família e a sociedade entendam a importância destes fatos e aprendam a se adaptar
e a lidar com os mesmos.
18

Fazendo, dessarte, com que este jovem consiga ser parte integrante da
comunidade ao qual está inserido. Podendo através deste vínculo, desenvolver suas
potencialidades dentro dos seus limites sendo respeitado e visto pelas outras
pessoas não como um doente, incapaz, mas apenas como um cidadão que possui
limitações.
Apontar a importância do cuidado com a família, uma vez que zelar por um
adolescente que sofre de esquizofrenia pode ser uma tarefa causadora de grande
desgaste físico e mental para os familiares. Então expor sobre significância do
suporte familiar se torna indispensável para propiciar conforto e bem-estar à família
e ao adolescente que sofre.

RELEVÂNCIA ACADÊMICA

Como benefício acadêmico, o presente trabalho trará a compreensão sobre


os pródromos da esquizofrenia na adolescência. Isto se faz importante na formação
acadêmica, pois viabiliza compreender sobre a temática da psicopatologia e as
alterações que esta causa nas funções biopsicossociais do adolescente, seus
familiares e sociedade.
19

2. METODOLOGIA

Para a produção da presente pesquisa utilizamos uma abordagem de


natureza qualitativa e método descritivo através de uma revisão bibliográfica.
Realizamos um estudo sobre o tema por meio de referências de autores que se
dedicaram ao estudo cientifico.
O estudo qualitativo nos dá a possibilidade de compreender e interpretar as
opiniões, crenças, comportamentos e hábitos de uma pessoa ou grupos de pessoas,
num determinado período ou lugar, com isso, identificamos a pesquisa qualitativa
como a melhor forma de conceituar o presente trabalho, pois viabiliza abordar sobre
o aspecto biopsicossocial de cada indivíduo dentro de sua individualidade no mundo.
Este tipo de pesquisa tem suas características bem definidas voltadas para o que
não pode ser mensurável, porém que precisa ser identificado e descrito.

“A pesquisa qualitativa responde a questões muito


particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um
nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja,
ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde
a um espaço mais profundo das relações, dos processos e
dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.” (MINAYO, 2001, p. 22)

No presente trabalho buscamos identificar os pródromos da esquizofrenia na


adolescência e a relação sociofamiliar deste indivíduo, com isso identificamos que
para melhor expressar os resultados obtidos da análise dos fatos e fenômenos desta
realidade deveremos utilizar o método descritivo.

“Os estudos descritivos exigem do investigador, para que a


pesquisa tenha certo grau de validade científica, uma
precisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias
que orientarão a coleta e interpretação dos dados. [...] os
estudos descritivos são criticados, muitas vezes, porque
pode existir uma exata descrição dos fenômenos e dos
fatos. Estes fogem da possibilidade de verificação através
da observação.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 112)

A pesquisa bibliográfica nos possibilita ter base para sustentar os


argumentos e questionamentos que podem ser levantados durante o processo de
produção cientifica. Como forma de se obter conhecimento e melhor compreender
sobre o tema, deve-se buscar o que já foi escrito por outras pessoas.
20

Em prol de elucidar sobre a revisão bibliográfica citamos Silva e Menezes


(2005, p. 38).

“Para elaborar uma revisão de literatura é recomendável


que você adote a metodologia de pesquisa bibliográfica. A
pesquisa bibliográfica é aquela baseada na análise da
literatura já publicada na forma de livros, revistas,
publicações avulsas, imprensa escrita, e até
eletronicamente, disponibilizada na internet.”

As fontes, portanto, serão os periódicos, artigos científicos e outros textos


encontrados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e em livros.
Tais artigos foram pesquisados no site da BVS, onde se utilizou para a
pesquisa as palavras-chave sintomas da esquizofrenia, quadro psicótico, psicose e
pródromos da psicose.
Quando submetidas à busca, a palavra-chave sintomas da esquizofrenia
apresentou 17.765 artigos que, ao aplicar os filtros, disponíveis em português e
entre os anos de 2011 e 2015, obteve-se apenas 48 artigos. Dentre os 48 artigos, 1
se repetia 3 vezes, 3 se repetiam 2 vezes, restando 43 artigos. Após realizada
seleção por título onde foram eleitos 8 artigos, dos quais, posteriormente à leitura de
seus resumos, descartou-se parte. Com a apreciação das introduções identificou-se
que apenas 2 artigos atendiam os objetivos da busca; estes permaneceram.
A palavra-chave quadro psicótico forneceu 56 artigos à busca inicial. Com a
aplicação dos filtros, disponíveis em português e publicados nos anos entre 2007 e
2016 restaram apenas 15 artigos, e, dentre eles, 1 artigo se repetia 2 vezes,
subsistindo 14 artigos, sendo, selecionados por título, 2 artigos em que se identificou
apenas 1 artigo, que, ao ter sua introdução lida, atendia o objetivo da pesquisa.
Ao buscar pela palavra-chave psicose, foi gerado resultado de 85.947 artigos
que, ao ser submetido aos filtros, disponíveis em português e publicados entre os
anos de 2010 e 2016 converteram em 443 artigos, dentre estes, 23 artigos se
repetiam. Foram selecionados 15 artigos pelos títulos identificados. Com a leitura
dos resumos permaneceu 1 artigo atendendo ao objetivo da pesquisa.
A investigação da palavra-chave pródromos da psicose retornou 3 artigos à
busca inicial, com a aplicação dos filtros, disponíveis em português e publicados nos
anos entre 2008 e 2011 persistiram os 3 artigos, onde 1 se repetia, sendo este o
21

único que atendia o objeto de estudo ao ter seu título, resumo e introdução
averiguados.
O resultado final obtido com as buscas após a seleção por título, leitura dos
resumos e consecutivamente suas introduções, totalizaram 5 artigos acadêmicos
que atenderam ao objeto e objetivo da pesquisa para a realização do presente
trabalho.

2.1 ANÁLISE DE DADOS

Ao realizar a leitura dos artigos selecionados na busca, foram identificados


diferentes tipos de alterações psíquicas que podem estar presentes antes do
surgimento dos primeiros sintomas da esquizofrenia ou de outros transtornos
psicóticos que foram expostos pelos autores em seus textos.
Louzã (2007), por meio de seu artigo, afirma que meses antes do surgimento
dos sintomas da esquizofrenia o individuo pode apresentar alteração
comportamental que podem ser entendidas como condutas normais da adolescência
ou de aspecto emocional, não sendo identificada como uma variação significante.
O termo trema ou período tremático se faz presente no artigo ao fazer alusão
a fenômenos sintomáticos que ocorrem antes do surgimento do quadro
esquizofrênico, caracterizado por alterações da sensopercepção, pensamento
idiossincrático e sentimento de estranheza, “humor delirante” que não caracterizam
um quadro psicótico onde as manifestações ocorrem posteriormente.
Ele utiliza, inclusive, estados mentais de risco em vez de pródromos para
significar os sintomas e, os comportamentos que sugerem a possibilidade do
surgimento de uma doença no futuro ao invés de pródromos, que afirma o autor ser
expressiva certeza da eclosão de uma psicopatologia.
Em seu artigo, Carvalho e Costa (2008) relatam que os pródromos
caracterizam uma fase não psicótica de alterações na conduta ou na vivência do
indivíduo que antecede o surgimento da psicose. Tais transtornos são identificados
como sendo ansiedade e medo que resultam em desconfiança e isolamento social,
deterioração do funcionamento social, comportamento estranho, deterioração do
trato pessoal e higiene, embotamento afetivo ou afeto inapropriado, alteração do
discurso, crença e pensamento mágico, percepção incomum das experiências e falta
de iniciativa, interesse ou energia.
22

Del-Ben et al. (2010) afirmam em seu artigo que na fase prodrômica que
antecede o surgimento dos sintomas da crise psicótica é identificada a presença de
alterações do humor, pensamento, comportamento, percepção e funcionamento
global, porém, estas disfunções não são pertencentes exclusivamente da psicose.
Afirmam ainda que os indícios do surgimento de tais distúrbios não indicam
necessariamente a evolução de uma psicose, podendo, no entanto, apresentar
manifestação de qualquer outra psicopatologia. De acordo com os autores, para que
se possa considerar como indicador de uma possível crise psicótica os sintomas não
podem se abrandar em nenhum período ou desaparecer, levando o indivíduo ao
estado anterior ao seu surgimento.
Tal como Del-Ben et al. (2010), Carvalho e Costa (2008) afirmam que a
presença de pródromos em algumas situações não significa a evolução de uma crise
psicótica, entretanto, a presença de pródromos psicóticos geralmente evoluem para
esquizofrenia.
Jardim (2011) expôs em seu artigo que a cisão do eu é um dos fenômenos
primários que indicam e sinalizam o surgimento dos primeiros prognósticos da
esquizofrenia observáveis. A cisão do eu acarreta apresentação de alterações do
fluxo do pensamento e ambivalência afetiva, além de ser responsável também pelo
delírio e alucinação presentes na esquizofrenia.
Aponta que o sintoma primário da esquizofrenia é o rompimento da unidade
psíquica funcional do indivíduo em diferentes “eus”; as alterações da afetividade
juntamente com tal rompimento levam ao isolamento e à dificuldade de interação.
Espindola e Lima (2015) estabelecem em seu artigo que, antes dos sintomas
da esquizofrenia se manifestar num indivíduo, ele apresenta principalmente
alterações cognitivas, indicadores que antecedem o surgimento da psicopatologia
propriamente dita e se desenvolve em curso da doença. O detrimento das funções
cognitivas é considerado por eles um importante aspecto da esquizofrenia, uma vez
que estas funções são intrínsecas de cada sujeito.
Com relação às alterações presentes na cognição os autores salientam sobre
a velocidade do pensamento, memória e aprendizado verbal, memória e
aprendizado visual, raciocínio e resolução de problemas, memória de trabalho,
atenção/ vigilância e cognição social. Estas alterações da consciência surgem antes
mesmo dos sintomas iniciais e é compreendido como característica nuclear da
esquizofrenia. Eles apontam que tais mudanças alteram o comportamento e
23

dificultam o desenvolvimento das atividades biopsicossociais, causando a redução


da qualidade de vida, pois as alterações comportamentais estão ligadas ao ambiente
e como o indivíduo se conecta e aprende com ele. Por conseguinte, o artigo salienta
que tais mudanças estão ligadas ao aprendizado em que há a dificuldade de lidar
com o meio e assimilá-lo.
Uma categorização de tais alterações trará à luz, de forma mais ampla e
coordenada, a interpretação e perspectiva de cada um dos autores. Deste modo,
através da conceituação, se torna possível uma melhor compreensão das
informações expostas nos artigos.
24

3. REVISÃO DE LITERATURA

Há séculos, os transtornos mentais afligem o homem, prejudicando de forma


significativa a vida social, não só do doente tal como dos familiares. Estes distúrbios
são dos mais variados gêneros e podem ocorrer nos mais diversos estágios da vida,
podendo ser desencadeado por diversos fatores. Dentre estes, destacamos a
esquizofrenia que é o mais notável em meio aos transtornos psicóticos existentes,
por ser considerado um dos mais incapacitantes transtornos mentais.
Na adolescência, quando ocorre o surgimento dos primeiros sinais de tal
doença, torna-se complexa a identificação pela família, o que atrasa a intervenção e
a prestação do apoio adequado ao adolescente e à família, fomentando o desgaste
familiar e social.
Assim, conceituando a psicopatologia e investigando seu funcionamento e os
conceitos básicos da mente pode-se compreender, por melhor aspecto, como se dá
o surgimento de seus pródromos e como isto vai ao encontro dos conflitos
decorrentes da adolescência e da puberdade.
Desta forma, destaca-se também a condição não menos importante de como
este transtorno acomete a vida do sujeito nas suas particularidades, seja na
dificuldade em seu relacionamento com a família e a aproximação e formação de
vínculos com pessoas fora do círculo familiar. Também demostrando como o
distúrbio afeta a família direta e indiretamente.

3.1. PSICOSE

As perturbações mentais caracterizadas pelo distanciamento da realidade


com possível desenvolvimento antissocial são caracterizadas como transtornos
psicóticos, que possuem, na maioria dos casos, ocorrência no final da adolescência,
podendo, contudo, ocorrer em outros momentos da vida do indivíduo. O
desencadeamento tem a possibilidade de desenrolarem-se pelos mais diversos
fatores, tais como, estresse, doenças ou lesões cerebrais, consumo de substâncias
psicoativas, hereditariedade, entre outros.
Dalgalarrondo (2008) nos trouxe importantes informações e conceitos que
possibilitaram uma compreensão aprofundada sobre os transtornos psicóticos e a
25

esquizofrenia, utilizando o termo Síndromes Psicóticas para nomear as


psicopatologias que apresentam em suas configurações sintomas típicos como
alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente
bizarro - os transtornos psicóticos.
O autor afirma que nas síndromes psicóticas há a presença de sintomas
paranoides e que estão comumente presentes em alguns estudos de
psicopatologias, tais como ideias delirantes e alucinações auditivas de conteúdo
persecutório.
A paranoia é uma síndrome psicótica denominada atualmente como
transtorno delirante que é definida por Dalgalarrondo da seguinte maneira: “A
paranoia caracteriza-se, portanto, por um delírio geralmente organizado e
sistematizado, às vezes com temática complexa, que permanece como que
“encistado”, “cristalizado”, em um domínio da personalidade do doente. ”
Ainda quanto à psicose de modo geral, a desorganização mental e
comportamental é semelhante às presentes em outras psicopatologias como nos
quadros demenciais, de delirium e retardo mental grave.
Dalgalarrondo (2008) prega que tais psicopatologias se diferem em seus
mecanismos, estruturalmente e funcionalmente das síndromes psicóticas. Deste
modo, observamos que alguns sintomas ou eventos comuns de uma psicopatologia,
possam ser identificados em algum momento em outra psicopatologia. Portanto, um
mesmo sintoma pode ser componente de psicopatologias de categorias totalmente
diferentes.
Contudo, se faz importante o conhecimento da composição psicopatológica
de cada síndrome psicótica para que assim se possa diferenciá-las.
O paciente psicótico, para Dalgalarrondo (2008), possui dificuldade em
perceber sua condição patológica, este tem uma consciência precária sobre a
doença e seus sintomas. Este fenômeno é denominado por ele como insight
prejudicado.
A esquizofrenia é considerada pelo autor como a principal síndrome psicótica
por sua maior incidência e manifestação, por apresentar sintomas significativos e
variados que o diferencia das demais, como os sintomas de primeira e segunda
ordem, sendo os sintomas de primeira ordem os de maior interesse clínico para o
diagnóstico da esquizofrenia.
26

Dalgalarrondo (2008) apresenta em seu livro dois tipos de categorizações da


esquizofrenia – uma, que segundo ele, era mais utilizada entre o século XIX e o
século XX e apresentava quatro subtipos de esquizofrenia: a esquizofrenia
hebefrênica, a esquizofrenia paranoide, a esquizofrenia catatônica e a esquizofrenia
simples, a outra classifica a esquizofrenia em três síndromes, as síndromes
negativas, síndromes positivas e as síndromes desorganizadas, sendo esta para ele
o mais atualizado modo de diferenciação da esquizofrenia.

3.2. CARACTERÍSTICAS DA ESQUIZOFRENIA E DE OUTROS TRANSTORNOS


PSICÓTICOS

Os transtornos psicóticos apresentam de um modo geral um quadro de


distanciamento da realidade presentes tanto na esquizofrenia quanto nos outros
transtornos psicóticos, tal distanciamento pode ocorrer gradativamente sem que
possa ser percebido pelas pessoas ao redor, de forma permanente, caracterizando
uma psicose crônica ou ter seu surgimento de forma súbita desaparecendo em
alguns dias ou semanas, sendo assim um caso de surto psicótico ou psicose aguda.

“O quadro clínico de psicose pode tanto ser de surgimento


agudo como, também, pode evoluir de forma muito lenta e
gradativa, constituindo as formas crônicas, quando então
são de prognóstico bastante mais sombrio que as formas
agudas. Estas últimas, embora de sintomatologia muito
mais ruidosa, quando bem diagnosticadas, manejadas e
tratadas, podem ser de excelente prognóstico.”
(ZIMERMAN, 2008, p. 243)

Contudo, para assimilar os eventos que surgem na psicose, torna-se


importante compreender também as estruturas psíquicas do funcionamento da
mente, o consciente, o inconsciente e o pré-consciente e da personalidade, id, ego e
superego.
Sigmund Freud contribuiu de forma grandiosa e importante para a
compreensão dos processos mentais através de sua teoria sobre o inconsciente
como dirigente do comportamento e não apenas o consciente.
O consciente configura todos os fatos percebidos pelo indivíduo, tudo ao qual
está em contato, o que intenciona fazer, premedita e suas lembranças. Assim o
27

consciente é a realidade que se vivencia, é onde a mente encontra-se em contato


com o tempo e o espaço.
Pré-consciente é uma estrutura psíquica que se articula com o consciente e
com o inconsciente, é composto por produtos da psique que não estão conscientes,
porém, em um dado momento poderão ser tornar, podem ser lembrados, acessados
pela consciência.

“Do ponto de vista metapsicológico, o sistema pré-


consciente rege-se pelo processo secundário. Está
separado do sistema inconsciente pela censura, que não
permite que os conteúdos e os processos inconscientes
passem para o Pcs sem sofrerem transformações [...] o
termo pré-consciente é sobre tudo utilizado como adjetivo,
para qualificar o que escapa à consciência atual sem ser
consciente no sentido estrito. Do ponto de vista sistemático,
qualifica conteúdos e processos ligados ao ego quanto ao
essencial, e também ao superego.” (LAPLANCHE;
PONTALIS, 2001, p 350)

Inconsciente, são elementos instintivos, impulsos, lembranças traumáticas


que não são acessados pelo consciente, contudo, alguns elementos podem também
se tornarem conscientes se forem produtos do pré-consciente. Isto ocorre pelo fato
dos elementos traumáticos ou impulsos inaceitáveis pelo eu ou pela sociedade
serem reprimidos, não vindos à consciência, enquanto outros ficam latentes
podendo se tornar conscientes.
Assim, compreendemos que todas estas pulsões negadas pelo eu e seus
traumas são reprimidos, sendo produtos do inconsciente, os produtos latentes,
ocultos, são produtos que não são reprimidos, porém ainda assim são inconscientes.
Freud, Sigmund (1990, p.10) afirma que “[...] o Ics. [Inconsciente] não coincide
com o reprimido; é ainda verdade que tudo o que é reprimido é Ics. [Inconsciente],
mas nem tudo que Ics. é reprimido.” Deste modo, podemos compreender o porquê
de termos produtos do inconsciente que podem ser resgatados para o consciente.
A mente humana possui três elementos funcionando em conjunto com o
consciente e o inconsciente que conduzem o comportamento e dá forma a
personalidade humana, estes elementos são o id, o ego e o superego.
O id está ligado à parte inconsciente da mente onde busca exclusivamente o
prazer, a fuga do sofrimento, é nele onde se encontram as pulsões, nossos instintos
mais primitivos, sendo estes herdados, do próprio eu, adquirido no convívio social e
28

cultural ou de desejos não supridos. Durante todo o tempo procura aliviar as tensões
se conectando a realidade em busca de meios de suprir suas demandas.
Myers (2006, p. 424) o definiu da seguinte maneira:

“O id é um reservatório de energia psíquica inconsciente em


luta constante para satisfazer os impulsos básicos para
sobreviver, reproduzir e atacar. O id opera sobre o princípio
do prazer: se não for recalcado pela realidade, ele buscara
gratificação imediata.”

Na zona consciente da mente encontramos o ego, este faz com que os


processos psíquicos entrem em contato com a realidade do mundo, fora do eu,
sendo a razão necessária para a compreensão e o julgamento desta realidade. É
através deste contato com a realidade que ele procura encontrar o objeto apropriado
para aliviar as tensões contendo os impulsos do id e, também a necessidades do
superego.
O ego por estar presente na zona consciente da mente, é responsável ainda
pela percepção da realidade, identificação dos sentimentos, memória, elaboração do
pensamento.

“[...] o ego procura aplicar a influência do mundo externo ao


id e às tendências deste, e esforça-se por substituir o
princípio de prazer, que reina irrestritamente no id, pelo
princípio de realidade. Para o ego, a percepção
desempenha o papel que no id cabe ao instinto. O ego
representa o que pode ser chamado de razão e senso
comum.” (FREUD, 1990, p. 14)

Durante a fase fálica, a criança começa a adquirir valores morais através dos
seus pais compreendendo o que é correto e o que é errado através do processo de
recompensar para mostrar acerto e punição para os erros. Estes valores morais são
representados pelo superego que age como um juiz nos cobrando e impondo os
valores morais, nos punindo e nos recompensando mediante nossas atitudes.

“O superego opõe-se ao id na tentativa de inibir seu impulso


à gratificação imediata, interferindo sobre este. Seu
desenvolvimento ocorre na medida em que são constituídas
normas, tradições e interposições de condutas dos pais
sobre as crianças, do meio que circunda o indivíduo, da
sociedade, ou seja, é conduzido pelas restrições morais. Id
e superego estão em constantes conflitos, por sua
divergência na condução dos comportamentos.” (PILETTI;
ROSSATO; ROSSATO, 2014, p. 47-48)
29

Destarte, o superego pode ser caracterizado como ideais morais inibidores


que surgem apoiadas na educação durante o processo de socialização dos
indivíduos e como componente moral da personalidade nos orienta para a vida
social inibindo os impulsos do id que não possui afinidade com a moralidade,
buscando assim o aperfeiçoamento do ego.
A exposição de tais conceitos leva a compreensão de quais fatores podem
levar ao afastamento da realidade e como isso pode acorrer. A importância do fato,
é que na psicose há a perda do contato com a realidade que é tida como dimensão
central nos transtornos psicóticos que ocorre pelo surgimento de suas
manifestações clínicas.
A perda ou interrupção do contato com a realidade nas psicoses ocorre pela
degeneração do ego, onde este perde suas características e sua funcionalidade
como ocorre comumente nas esquizofrenias crônicas. (ZIMERMAM, 2008)
Sujeitos acometidos por transtornos psicóticos tendem a apresentar
alucinações, pensamento desorganizado, comportamento extravagante além de
sintomas paranoides como mania de perseguição e roubo do pensamento. Há
geralmente grave comprometimento mental e comportamental como nos quadros de
demência e retardo mental.
Dalgalorrondo (2008) nos mostra que estes sujeitos não são regidos pela
realidade, o que causa o distanciamento, sendo guiados pelo prazer e por sua
autoimagem, pelo eu. Fato que causa o isolamento social e a impossibilidade de
consciência sobre a sua doença e seus sintomas.
As psicoses são regidas por um princípio sintomático básico onde os
sintomas são comuns e se fazem presentes em diversas psicopatologias que
compõe os transtornos psicóticos e outros não psicóticos.
Os indivíduos acometidos por estes sintomas apresentam dificuldade para
organizar seus pensamentos e pensar de forma racional. A sintomática presente na
psicose é constituída por alterações da percepção, consciência ou pensamento o
que leva a fala e ao comportamento desorganizado e bizarro, denominadas como
delírios e alucinações, sendo estes os sintomas positivos.
Delírio segundo o DSM-IV-TR (2002) são crenças ou ideias que não
condizem com a realidade, é uma interpretação errada que envolve a percepção ou
existência, esta pode ser mania de perseguição onde se acredita estar sendo
30

perseguido, espionado ou ridicularizado por alguém ou alguma coisa. Delírios de


referências onde creem que tudo que ocorre ao seu redor é direcionado para ele
como comentários, reportagens entre outros.
Ainda existem os delírios somáticos em que ocorre a queixa de dores ou
deformações não existentes e os grandiosos no qual acredita ser um deus,
presidente ou até mesmo acreditar ter poderes sobrenaturais.
Alucinações são alterações sensoriais que podem ocorrer em qualquer um
dos mecanismos do sistema sensorial, sendo que o mais comum na psicose são as
auditivas. Assim, alucinação é uma “[...] percepção imaginária na ausência de
qualquer estimulação proveniente do exterior. As estimulações podem ser auditivas,
visuais, olfativas, gustativas e táteis.” (SILVA, C.; SILVA, R.; VIANA, 2009, p. 103)
Uma ou mais vozes podem surgir na mente do indivíduo, vozes estas que
ameaçam, insultam ou dão ordens para que se façam coisas da qual o mesmo não
deseja. As vozes não são identificadas como sendo do próprio indivíduo,
fortalecendo assim a convicção de que há alguém falando em seu ouvido.
Comumente estes sujeitos desenvolvem também problemas na comunicação,
dificuldade de manter um diálogo objetivo e coerente, saindo inconscientemente do
assunto original. Não conseguindo elaborar respostas adequadas a perguntas. Isso
ocorre porque suas ideias estão em confusão e sem conexão. O pensamento
desorganizado é também comum nas psicoses principalmente na esquizofrenia
juntamente com as alucinações auditivas.

“A desorganização do pensamento (transtorno do


pensamento formal) costuma ser inferida a partir do
discurso do indivíduo. Este pode mudar de um tópico a
outro (descarrilamento ou afrouxamento das associações).
As respostas a perguntas podem ter uma relação oblíqua ou
não ter relação alguma ‘{tangencialidade)’ [sic].” (DSM-5,
2014, p. 88, grifo do autor)

O comportamento desorganizado pode se manifestar apresentando agitação


ou diminuição da cognição dificultando ou impossibilitando à execução de atividades
comuns e essenciais à vida como o autocuidado. Pode também apresentar agitação
psicomotora ou diminuição e até mesmo ausência da atividade psicomotora,
catatonia.
Existem, dentro do quadro sintomático da psicose, sintomas denominados
negativos, que estão mais ligados às síndromes esquizofrênicas como a perda ou
31

dificuldade de afeto, autismo, isolamento social, ausência de pensamentos que


resulta na falta de compreensão, a alogia, dificuldade na oralidade. A diminuição da
vontade, avolição, também está presente onde surge a dificuldade ou incapacidade
de tomar atitudes para a realização de tarefas simples. Ainda a lentificação do
pensamento e motora.
A autonegligência traz a perda do interesse pela própria aparência, por si
próprio, que é facilmente identificado pela falta de higiene e desarrumação.

“Os sintomas negativos das psicoses esquizofrênicas


caracterizam-se pela perda da função psíquica (na esfera
da vontade, do pensamento, da linguagem, etc.), por um
empobrecimento global da vida psíquica e social do
indivíduo.” (DALGALARRONDO, 2000, p. 329)

Psicose é um aglomerado de sintomas psíquicos, que são comuns a ela,


onde a presença de alguns desses distúrbios em manifestação configura e
caracteriza uma psicopatologia especifica dentre os transtornos psicóticos. É pela
análise e identificação dos sintomas presentes em um determinado indivíduo, que se
torna possível o diagnóstico da síndrome pela qual está sofrendo.
Transtorno da personalidade esquizotípica e esquizoide e borderline
encontram-se dentre os transtornos psicóticos por apresentar alguns dos sintomas
comuns à psicose, porém, sendo tratado mais como um transtorno de personalidade
do que psicótico.
Myers (2006) afirma que os transtornos de personalidade são definidos pelo
desempenho social prejudicado pelo comportamento intransigente e difícil,
relacionamento que perdura por um longo período.
Segundo SADOCK, Benjamim (2008) e SADOCK, Virginia (2008):

“Vários transtornos de personalidade podem ter algumas


características da esquizofrenia [...]. Um transtorno da
personalidade obsessivo-compulsivo grave pode mascarar
um processo esquizofrênico adjacente. Os transtornos da
personalidade, ao contrário da esquizofrenia, têm sintomas
leves e história de ocorrência durante toda a vida, não
configurando uma data de início precisa.” (p. 170)

Transtorno delirante é uma psicopatologia que leva o sujeito à impossibilidade


de separar o real do imaginário, onde há a crença convicta de algo falso. Ele se
diferencia dos transtornos esquizofrênicos pelo tipo de delírio e pelos indivíduos
32

serem capazes de se relacionarem socialmente diferentemente do que ocorre na


esquizofrenia.
Erotomania, delírio de grandeza, delírio de traição, delírio somático e delírios
mistos são tipos de transtornos delirantes.
O CID-10 definiu transtorno delirante:

“Transtorno caracterizado pela ocorrência de uma ideia


delirante única ou de um conjunto de ideias delirantes
aparentadas, em geral persistentes e que por vezes
permanecem durante o resto da vida. O conteúdo da ideia
ou das ideias delirantes é muito variável. A presença de
alucinações auditivas (vozes) manifestas e persistentes, de
sintomas esquizofrênicos tais como ideias delirantes de
influência e um embotamento nítido dos afetos, e a
evidência clara de uma afecção cerebral, são incompatíveis
com o diagnóstico.”

Para o DSM-IV-TR (2002), “o surgimento de um dos sintomas positivos da


psicose de modo súbito que com uma duração curta é a principal característica do
transtorno psicótico breve. Sua duração difere entre um dia e um mês, não
ultrapassando este período”.
Seu desencadeamento pode ocorrer ao sujeito ser submetido a um estresse
ou trauma ou não ter relação nenhuma com esses fatores. O estresse ou trauma
pode desenvolver uma desorganização mental pela incapacidade de lidar com o
fato, o que leva ao surgimento dos sintomas.
O transtorno esquizofreniforme é uma psicose que causa ao indivíduo,
acometido por ela, os mesmos sintomas presentes na esquizofrenia, sendo
diferenciado pelo tempo de duração e a capacidade de sociabilidade do indivíduo
que não se faz presente na esquizofrenia.

“A exigência de duração para Transtorno Esquizofreniforme


é intermediária entre o Transtorno Psicótico Breve (no qual
os sintomas duram no mínimo 1 dia, porém menos de 1
mês) e a da Esquizofrenia (no qual os sintomas persistem
por pelo menos 6 meses). O diagnóstico de Transtorno
Esquizofreniforme é feito sob duas condições: na primeira, o
diagnóstico é aplicado, sem qualificação, para um episódio
da doença com duração entre 1 e 6 meses, do qual o
indivíduo já se recuperou; no segundo caso, o diagnóstico é
aplicado quando uma pessoa que, embora sintomática,
tenha apresentado os sintomas por um período de inferior
aos 6 meses exigidos para o diagnóstico de Esquizofrenia.
[...] se a perturbação persistir além de 6 meses, o
33

diagnóstico deve ser mudado para Esquizofrenia.” (DSM-IV-


TR, 2002, p. 320)

Transtorno Esquizoafetivo é outro transtorno psicótico que apresenta os


sintomas presentes na esquizofrenia, porém este apresenta sintomas de transtorno
de humor, depressão e mania. Como todos os transtornos psicóticos, segue um
período padrão de manifestação dos sintomas que o caracteriza para o diagnóstico
e a sua diferenciação entre esquizofrenia e transtorno do humor.

“Para ser diagnosticado como apresentando transtorno


esquizoafetivo o indivíduo deve em algum momento ter
apresentado os sintomas de esquizofrenia e de um
transtorno de humor, e em outro momento ter apresentado
apenas sintomas de esquizofrenia. Este é um grupo
diagnóstico causador de confusão e controvertido [...].”
(HOLMES, 1997, p. 248)

Sintomas psicóticos podem surgir motivados por eventos externos a mente,


ligados a fisiologia. Tais sintomas podem estar lidados a lesões do sistema nervoso
central ou ainda induzidos por uso de drogas que causam efeito psíquico.
Os sintomas, que têm surgimento relacionado a um problema anatômico,
determinam o transtorno psicótico devido a outra condição médica enquanto os
causados por elementos denominam o transtorno psicótico induzido por substâncias.
Tumor, problema vascular, perda de massa cefálica, encefalopatia hipóxica,
dentre outras circunstâncias médicas que afetem o sistema nervoso central são
causas do transtorno psicótico devido a outra condição médica.

“As características essenciais do Transtorno Psicótico


Devido a uma Condição Médica Geral são alucinações ou
delírios proeminentes, presumivelmente decorrentes dos
efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral
[...]. Deve haver evidências, a partir do histórico, do exame
físico ou de exames laboratoriais, de que os delírios ou
alucinações são a consequência fisiológica de uma
condição médica geral [...].” (DSM-IV-TR, 2002, p. 335)

Transtorno psicótico induzido por substâncias pode ocorrer durante o uso


contínuo e excessivo do item ou pela sua ausência, abstinência, que leva ao
34

surgimento dos sintomas, estes fatos são importantes para a identificação no


diagnóstico.
SADOCK, Benjamim (2008) e SADOCK, Virginia (2008) afirmam que para o
diagnóstico ser completo, “[...] deve incluir o tipo de substância envolvida, o estágio
do uso quando o transtorno começou (p. ex., durante intoxicação ou abstinência) e
os fenômenos clínicos (p. ex., alucinações e delírios).” (p. 190)
Os sintomas catatônicos estão presentes na psicose, mais comumente na
esquizofrenia, porém, é comum a outros transtornos mentais. O transtorno
catatônico apresenta como seu sintoma, a imobilidade motora onde há rigidez do
corpo que pode durar por um longo período ou até mesmo movimentos excessivos.
A repetição sem sentido de palavras também é comum neste transtorno.

“A síndrome catatônica caracteriza-se por alterações na


conação e na psicomotricidade. Ocorrem negativismo,
reação do último momento, sugestionabilidade patológica e
obediência [...]. Podem ser observados também uma atitude
de oposição ou indiferente.” (CHENIAUX JR, 2011, p. 219)

Esquizofrenia é o transtorno psicótico de maior importância dentre os outros


que compõe este conjunto de distúrbios e o mais incapacitante. Possui diferentes
perfis que dão forma aos seus subtipos.
Em meio às características de cada um dos subtipos, identifica-se também,
outros aspectos, como o seu início, duração, acometimento, grau de debilidade do
indivíduo, bem como as particularidades das crises em cada subtipo.
35

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta sessão tem como objetivo apresentar, descrevendo e analisando os


dados obtidos através da análise dos artigos encontrados através das buscas na
BVS. Tais artigos forneceram dados referentes aos pródromos da esquizofrenia, os
eventos que direcionam ao diagnóstico da psicopatologia nos indivíduos cujas
alterações apresentadas podem ser indicativos de um futuro surgimento dos
primeiros sintomas psicóticos.
Ressaltamos que utilizaremos outros autores na conceituação de alguns
tópicos identificados nos artigos que não apresentam consigo uma conceituação
ampla, servindo-nos apenas como resultado, não sendo analisado como dados,
sendo estes, exclusivamente os apresentados pelos autores dos artigos.
Durante a leitura dos artigos selecionados foram identificadas 7 categorias de
grande relevância para a atual produção acadêmica, tais categorias temáticas
atendem ao objeto e objetivos da pesquisa. Estes estarão presentes em categorias,
sendo estas, alterações de afetividade, alterações do comportamento, alterações de
sensopercepção, alterações do pensamento, alterações cognitivas, ansiedade/medo
e isolamento social.

 Alterações da Afetividade

As alterações da afetividade foram citadas como integrantes notórios dos


pródromos da esquizofrenia, tendo alguns de seus componentes citados por quase
todos os autores dos artigos acima mencionados.
Dalgalarrondo (2008) define afetividade como um termo genérico que engloba
várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e os
sentimentos e suas alterações estão relacionadas com a maneira como os fatos e os
eventos ambientais afetam o indivíduo.
Jardim (2011) define as alterações da afetividade como principal sintoma para
diagnóstico da esquizofrenia sendo para ela o responsável pelo distanciamento e o
isolamento.
A autora traz a visão de que as alterações da afetividade como a
ambivalência afetiva, se dão após a “cisão do Eu,” termo utilizado para intitular a
divisão da unidade psíquica, o rompimento da personalidade do indivíduo. Essas
36

alterações psíquicas se fazem presentes antes da manifestação dos principais


sintomas da esquizofrenia, delírio e alucinação. As alterações afetivas são, desta
forma, indícios primários da esquizofrenia.
Del-Ben et al. (2010) citam as alterações do humor como componentes
importantes dos pródromos da esquizofrenia e uma das alterações do estado mental
ou do indivíduo que antecedem o surgimento dos sintomas psicóticos. Estes traços
são, para os autores, responsáveis pela incapacidade de realizar as atividades
cotidianas, assim como também, esta incapacidade pode ser causada pelas
alterações do humor.
Para Del-Ben et al. (2010) as alterações do humor influenciam na interação
social, mostrando o isolamento como o resultado de tais alterações, o
empobrecimento das relações afetivas são marcadores comuns nestes casos.
Segundo Carvalho e Costa (2008) as alterações de afetividades por eles
expostas como o embotamento afetivo e o afeto inapropriado podem estar
relacionados a eventos estressantes ou traumáticos ao qual um sujeito foi submetido
e que causou uma ruptura emocional levando assim a abertura de um quadro
psicótico. Desta forma considera qualquer situação que antecedeu a crise como
evento causador dos pródromos.
Carvalho e Costa (2008), afirmam que as alterações afetivas presentes nos
indivíduos que estão em curso de desenvolvimento de um quadro psicótico, são
responsáveis pelas mudanças sociais e pessoais apresentados pelos indivíduos
além do isolamento social ao qual se submetem.

 Alterações do Comportamento

Louzã (2007), Carvalho e Costa (2008), Del-Ben et al. (2010) e Espindola e


Lima (20015) relatam em seus artigos a presença de alterações comportamentais
que afetam diretamente o convívio social e sua interação com o meio antes mesmo
do surgimento dos primeiros sintomas da esquizofrenia.
Louzã (2007) afirma que a identificação prévia de sinais identificativos de um
futuro surgimento de psicose é um desafio, pois as mudanças do comportamento
normal de cada indivíduo podem ser comumente confundidas com as mudanças
comportamentais ocorrentes no período de transição durante o processo de
passagem da infância para a adolescência.
37

É ainda citado por Louzã (2007) que estas mudanças, contudo, algumas
vezes são atribuídas a outros transtornos como ansiedade ou depressão.
Considera que as mudanças dos comportamentos são, algumas das vezes,
associadas aos fatores emocionais ou sociais não sendo apontados como possível
manifestação de algo maior e mais grave como uma psicose.
Louzã (2007) caracteriza estes fenômenos que antecedem o surgimento dos
sintomas psicóticos como período tremático e afirma vir também acompanhado de
alterações de sensopercepção, pensamento e humor. Tais alterações são para o
autor, responsáveis pelas variações comportamentais presentes em cada indivíduo.
Carvalho e Costa (2008) citam dentre outras alterações que podem estar
presentes anteriormente à eclosão da psicose a presença de um comportamento
caracterizado por ele como estranho, ou ainda bizarro, porém não psicótico que
antecede o surgimento de uma crise psicótica.
Este comportamento bizarro, segundo seu artigo, pode estar relacionado aos
pródromos ou aos delírios e alucinações afetam de forma importante a vida dos
familiares e do próprio indivíduo.
Carvalho e Costa (2008) afirmam, ainda, que tal alteração do comportamento
presente, mais precocemente anterior aos sintomas psicóticos, se apresenta de
forma sutil e é por ele caracterizado como ocasionado pelo medo que leva ao
isolamento social, sendo, desta forma, outro pródromos importante da
psicopatologia.
Del-Ben et al. (2010) apresenta também as alterações do comportamento
como um dos pródromos da esquizofrenia. As alterações do comportamento,
presentes antes dos surgimentos da psicose, apresentadas em seu artigo são
mudanças do cotidiano do indivíduo que não são específicas como distúrbios de
conduta no quadro psicótico em si.
Na psicose se faz presente, afirma Del-Ben et al. (2010), alterações
específicas da idiossincrasia como o comportamento claramente desorganizado. As
alterações comportamentais no período anterior ao quadro psicótico são fenômenos
que se desenvolvem rumo ao sintoma psicótico propriamente dito.
Espíndola e Lima (2015) afirmam que as alterações comportamentais são
produtos de alterações cognitivas presentes nos indivíduos acometidos por
esquizofrenia ou cursando para seu desenvolvimento.
38

Para eles a formação do comportamento do indivíduo é baseada em suas


vivências, seu cotidiano, na cultura ao qual está inserido, sendo assim, por meio do
seu aprendizado. O comportamento, para os autores, é a forma como o ser interage
com o meio ao qual está inserido, como aprende e o compreende e como as
mudanças neste ambiente afeta os indivíduos.
Desta forma, para Espíndola e Lima (2015), as alterações comportamentais
são eventos secundários ligados às alterações cognitivas.

 Alterações de Sensopercepção

Além das alterações comportamentais, Louzã (2007) aponta ainda as


variações de sensopercepção presentes no período prodrômico da psicose. Para o
autor tais variações podem se fazer presentes por fatores de risco ligados a
dificuldade de interação social, dificuldade de desempenhar a função sexual ou
isolamento social.

“Define-se sensação como o fenômeno elementar gerado


por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados,
originados fora ou dentro do organismo, que produzem
alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. [...] por
percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo
indivíduo, do estímulo sensorial [...] diz respeito à dimensão
propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à
transformação de estímulos puramente sensoriais em
fenômenos perceptivos conscientes.” (DALGALARRONDO,
2008, p. 119)

Para Louzã (2007) as alterações de sensopercepção se fazem presentes no


período descrito anteriormente como trema ou tremático formando um conjunto de
fenômenos que compõe o que é chamado na obra de “estados mentais de risco”,
utilizado no artigo para se referir a sinais que indicam o possível surgimento de uma
doença.
A identificação do estado mental de risco é considerada por Louzã (2007) um
importante aspecto para o diagnóstico precoce de psicose, uma vez que, para ele,
um indivíduo com esta condição tem grandes chances de evoluir para um quadro
psicótico.
39

 Alterações do Pensamento

Carvalho e Costa (2008), Del-Bem et al. (2010) e Jardim (2011) apresentam


em seus artigos alterações do pensamento como pródromos presentes na
esquizofrenia.
Dalgalarrondo (2008, p. 193), afirma que “(...) o pensamento se constitui a
partir de elementos sensoriais, que, embora não sejam propriamente intelectivos,
podem fornecer substrato para o processo do pensar: são as imagens perceptivas e
as representações.”
Carvalho e Costa (2008) admitem que as alterações do pensamento como
pródromo psicótico no indivíduo, se apresentam como um pensamento mágico e
fantasioso que agravam com o passar do tempo e dão forma às alterações mais
comuns do pensamento, presentes nas psicoses, que são o roubo do pensamento,
eco e inserção de pensamentos ao quais os indivíduos afirmam vivenciar.
Del-Bem et al. (2010) expõem sobre o pensamento, no episódio psicótico,
como sendo extremamente desorganizado, e este afeta a qualidade e as funções
sociais do indivíduo. Para os literatos tais alterações do pensamento ocorrem em
virtude de disfunções mentais e levam também a alterações comportamentais.
Jardim (2011) apresenta as alterações do pensamento como uma das
manifestações primárias da esquizofrenia. Estas alterações fazem com que o
indivíduo tome os eventos imaginários como uma realidade irrefutável, tornando-os
fechados para o contato com outras pessoas. Em seu artigo afirma que há a ruptura
da integridade do eu e hipervalorização das fantasias vivenciadas.
Jardim (2011) alega que o indivíduo, por numerosas ocasiões, norteia sua
vivência na do outro, se percebe como e usurpa falas e imagem dele.

 Alterações Cognitivas

Espíndola e Lima (2015) destacam as alterações cognitivas como uma


importante evidência, um possível desenvolvimento de esquizofrenia, auxiliando em
sua identificação precoce. Para eles as alterações surgem antes da apresentação da
esquizofrenia e têm sua evolução conforme o desenvolvimento da doença.
Cognição, segundo o artigo, é a capacidade e a habilidade que o ser humano
possui de exercer as atividades cotidianas sociais, pessoais e ocupacionais. Deste
40

modo alterações no comportamento afetam diretamente o funcionamento global e as


atividades sociais prejudicando a qualidade de vida do indivíduo.
Espíndola e Lima (2015) apresentam ainda em sua obra sete dimensões
cognitivas importantes na busca da identificação da esquizofrenia que são a
velocidade de processamento, memória e aprendizagem verbal, memória e
aprendizagem visual, raciocínio e resolução de problemas, memória de trabalho,
atenção/vigilância e cognição social.
Os autores afirmam que a velocidade de processamento é apresentada como
a rapidez em que são executadas tarefas simples que demandam funcionamento
dos processos cognitivos; a memória e aprendizagem verbal é a capacidade de
aprender e recordar informações verbais; a memória e aprendizagem visual são a
habilidade de aprender e recordar informações visuais; o raciocínio e resolução de
problemas são a capacidade de pensar/raciocinar em atividades novas utilizando
conhecimentos previamente adquiridos e, a memória de trabalho é a capacidade de
retenção e manipulação de informações para utilização imediata.
A atenção/vigilância para os autores é a habilidade de manter a atenção
focada em uma atividade e tem como características a seletividade (capacidade de
focar entre um estímulo e outros concorrentes), sustentação (manter a atenção em
uma atividade repetitiva sem perder qualidade), divisão (focar em estímulos
diferentes ao mesmo tempo), alternância (capacidade de alternar de um estímulo a
outro sucessivamente), amplitude atencional (habilidade de extensão da atenção em
relação à quantidade de itens que podem ser processados).
Espíndola e Lima (2015) expõem sobre a cognição social como sendo a
capacidade de identificar, manipular e adequar o comportamento a um determinado
contexto, a partir da detecção de informações provenientes do ambiente em
questão. Afirmam ainda que estas funções cognitivas são as primeiras a
apresentarem déficits previamente aos sintomas psicóticos.
Para os autores as alterações cognitivas são também responsáveis pela
eclosão das alterações comportamentais, uma vez que o indivíduo está inserido em
um ambiente que sofre mudanças a todo instante, aprendendo e se adaptando. Com
um déficit cognitivo presente, esta capacidade de aprendizado e adaptação se torna
reduzida ou ausente causando mudanças idiossincráticas e estranheza no indivíduo
quanto ao ambiente.
41

 Ansiedade/Medo

Carvalho e Costa (2008) afirmam que a ansiedade se apresenta como um dos


pródromos do início de uma crise psicótica, juntamente com o medo que é uma
consequência da ansiedade. Esta, no entanto, afeta tanto o indivíduo acometido
como o ambiente familiar ao qual a pessoa está inserida, sendo assim, um sintoma
que transcende o indivíduo e aflige todos os outros com quem convive, avançando
os eventos que ocorrem no curso da psicopatologia.
Dalgalarrondo (2008, p. 166, grifo do autor) afirma que a “[...] ansiedade é
definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao
futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e
fisiológicas [...].”
O medo é considerado, por Carvalho e Costa (2008), como principal
pródromo, estando presente em todos os transtornos psicopatológicos, mesmo não
sendo considerado como um estado de sofrimento psíquico grave. Afirmam que o
medo é um fenômeno a evoluir para um sintoma específico ou que está
acompanhando um indício.

“A rigor, o medo não é uma emoção patológica, mas uma


característica universal dos animais superiores e do homem.
Trata-se do estado de progressiva insegurança e angústia,
de impotência e invalidez crescentes, ante a impressão
iminente de que sucederá algo que o indivíduo quer evitar, o
que progressivamente se considera menos capaz de fazer.”
(DALGALARRONDO, 2008, p. 170-171)

Para eles o medo ainda caracteriza um grande obstáculo no tratamento de


toda e qualquer psicopatologia.

 Isolamento Social

Carvalho e Costa (2008) apresentam, outrossim, o isolamento como um


componente dos pródromos da esquizofrenia. Esta segregação se dá pela
deterioração da função social que pode estar relacionada com a ansiedade e o
medo.
42

O isolamento social não está presente apenas no indivíduo que apresenta


pródromos psicóticos, mas similarmente na família. Apontam ainda que a família
representa um papel significativo no impacto causado pela psicose no indivíduo.
Segundo Carvalho e Costa (2008), as famílias que vivenciam estes primeiros
eventos sofrem mais do que àquelas em que o combalido se encontra num estágio
avançado da psicopatologia, podendo-se compreender este infortúnio e esta
sobrecarga como um fator para o isolamento social presente não apenas no
indivíduo.
43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decurso dos aspectos discutidos na realização da presente produção


acadêmica, constatamos diferentes fenômenos psíquicos que podem ser expressos
na fase prodrômica da esquizofrenia.
Dentre todos os pródromos, por meio dos artigos dispostos, os que, segundo
os autores, mais interferem no processo sociofamiliar são as alterações do
pensamento, as alterações cognitivas e as alterações comportamentais por
promoverem uma resposta imediata nos indivíduos que presenciam tais eventos
naqueles acometidos por tal psicopatologia.
Percebemos, com estas referências, que os fenômenos que antecedem o
surgimento da esquizofrenia causam aos indivíduos os mais diversos problemas
sociofamiliares decorrentes principalmente do isolamento social e da dificuldade de
criar e/ou manter o vínculo com outras pessoas.
Identificamos as alterações cognitivas, como exposto por Espíndola e Lima
(20015), e comportamentais, por Louzã (2007), Carvalho e Costa (2008), Del-Ben
(2010) e Espíndola e Lima (2015), como as que mais influenciam no círculo social
dos indivíduos. A cognição comprometida dificulta a compreensão sobre os eventos
ambientais e o reconhecimento do meio bem como seu comportamento diferente
causa estranheza nos outros, o que pode levar ao afastamento destas pessoas do
indivíduo.
As alterações do pensamento também levam o sujeito a apresentar
comportamento estranho e bizarro aos olhos dos outros.
Observamos que as mudanças psíquicas manifestadas nestes indivíduos se
apresentam como comportamentos totalmente fora do comum e são responsáveis
por causarem medo nas pessoas, pelo desconhecimento de tais eventos.
A ansiedade e o medo foram identificados como importante impositor de
barreira na interação social tanto do indivíduo com a comunidade quanto da
comunidade com o indivíduo, até mesmo a família.
Evidentemente, a ansiedade e o medo estão presentes em consequência
realidade que vivenciam com tais sujeitos - as dificuldades no convívio e na inserção
e compreensão social destes - que se torna um gerador de sobrecarga familiar.
Concluímos, ainda, que conforme conceitos apresentados nos artigos, os
fenômenos identificados como pródromos podem estar relacionados com outras
44

psicopatologias não classificadas como transtornos psicóticos e que também um


pródromo pode não desenvolver necessariamente uma psicopatologia, podendo
desaparecer e não caracterizar um pródromo propriamente dito.
45

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

APÊNDICE I. Artigos selecionados na BVS

AUTORES ANO TÍTULO

LIMA, AMANDA BARROSO


Esquizofrenia: funções cognitivas, análise do
DE; ESPÍNDOLA, CYBELE 2015
comportamento e propostas de reabilitação
RIBEIRO

A fragmentação do eu na esquizofrenia e o
JARDIM, LUCIANE LOSS 2011
fenômeno do transitivismo: um caso clínico

Diagnóstico diferencial de primeiro episódio


DEL-BEN et al. 2010 psicótico: importância da abordagem
otimizada nas emergências psiquiátricas

CARVALHO, NERÍCIA
Primeiras crises psicóticas: identificação de
REGINA DE; COSTA, 2008
Pródromos por pacientes e familiares
ILENO IZÍDIO DA

LOUZÃ, MÁRIO Detecção precoce: é possível prevenir a


2007
RODRIGUES esquizofrenia?

Fonte: GOMES; MACHADO (2017)

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