Sei sulla pagina 1di 19

https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Identificação
1ª CÂMARA - 1ª TURMA
PROCESSO TRT/15ª REGIÃO nº 0012203-31.2016.5.15.0053
RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTE: PROTEGE S/A PROTECAO E TRANSPORTE DE VALORES
RECORRENTE: ANDREIA DE LIMA RODRIGUES
RECORRIDOS: os mesmos
ORIGEM: 4ª Vara do Trabalho de Campinas
fgd

Ementa
EMENTA: LEI 13.467-17. ILEGITIMIDADE. CONTRARIEDADE
AOS PRECEITOS FUNDANTES DA ORDEM JURÍDICA
DEMOCRÁTICA E AOS PRINCÍPIOS E INSTITUTOS DO
DIREITO DO TRABALHO. DEVER FUNCIONAL DA
MAGISTRATURA. Conforme fixado no Enunciado n. 1, da 2ª
Jornada da Anamatra: "A Lei 13.467/17 é ilegítima, nos sentidos
formal e material". A declaração de ilegitimidade de uma lei serve,
no mínimo, como essencial registro histórico e se apresenta como
o fio condutor do processo de sua interpretação e aplicação,
atendendo, ainda, ao postulado necessário de sua intersecção com
outras normas e institutos jurídicos, conforme definido nos
seguintes Enunciados das "Avaliações Preliminares" da
magistratura trabalhista da 15a. Região, aprovados, em novembro
de 2017, no simpósio "Reforma Trabalhista e Justiça do Trabalho:
desafios e perspectivas", organizado pela Escola Judicial do
TRT15: "A FONTE MATERIAL DE UMA LEI É BASE PARA A SUA
INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO. A Lei n. 13.467/2017,
elaborada e aprovada em tempo recorde, sem os devidos estudos,
debates e demanda popular, foi impulsionada em desrespeito aos
preceitos democráticos para a sua elaboração e aprovação. Além
disso, contrariou os postulados convencionais para a criação de
leis trabalhistas de caráter mais amplo (Convenção 154 da OIT,
bem como os verbetes n. 1.075, 1.081 e 1.082 do Comitê de
Liberdade Sindical do Conselho de Administração da Organização
Internacional do Trabalho), desrespeitou a função histórica do
direito do trabalho de melhoria das condições sociais dos
trabalhadores e ofendeu os princípios jurídicos trabalhistas,
notadamente o da progressividade. Na aplicação da Lei n.
13.467/2017 não se deve descolá-la de seu processo histórico,
pois assim se compreenderá melhor a importância da preservação
das conquistas sociais, da ordem constitucional e do regular
funcionamento das instituições democráticas." "INTERPRETAÇÃO

1 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

DAS NORMAS TRABALHISTAS E INDEPENDÊNCIA DA


MAGISTRATURA. A Lei n. 13.467/2017 não é uma lei superior às
demais. Não faz letra morta da CF e dos tratados internacionais
relativos aos direitos humanos e aos direitos sociais, nem se
sobrepõe aos princípios, conceitos e institutos jurídicos do direito
do trabalho. Não tem o poder de aniquilar a independência dos
juízes, de modo a impedir que cumpram o seu dever de aplicar o
direito, interpretando as leis, em sua totalidade, segundo as regras
da hermenêutica, os princípios, conceitos e institutos jurídicos, e as
normas constitucionais e internacionais, cumprindo-lhe, se for o
caso, declarar as inconstitucionalidades ou inconvencionalidades
da lei. A independência dos juízes é uma garantia da cidadania
contra o autoritarismo e o abuso dos poderes políticos e
econômicos, principalmente quando colocam em risco a eficácia
dos direitos humanos e dos direitos sociais."

Relatório

Inconformados com a r. sentença de fls. 407/414, que julgou


parcialmente procedentes os pedidos, complementada pela decisão dos embargos de
declaração de fls. 496/497, recorrem as partes. A reclamada pelas razões de fls. 427/452 e a
reclamante, às fls. 500/506, pleiteando a reforma da sentença de primeiro grau.

Contrarrazões da reclamante às fls. 511/558 e da reclamada às fls.


564/569.

É o relatório.

Fundamentação

VOTO

Presentes os pressupostos recursais, conheço. Não conheço,


contudo, da petição carreada aos autos pela reclamada, às fls. 460/485, ante os princípios da
preclusão consumativa e unirrecorribilidade das decisões que regem o processo do trabalho.

I - PRELIMINAR SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES

Limitação da matéria recorrida

A reclamada suscita, em preliminar de suas contrarrazões, que se

2 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

reconheça o trânsito em julgado das matérias sobre as quais a reclamante não recorreu.

Ora, entendo que não há qualquer necessidade de pronunciamento


jurisdicional conforme pretendido pela reclamada. Isto porque consta do art. 1013, do CPC, que
o recurso devolve ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada em sede recursal,
operando-se, assim de forma automática, a preclusão e o consequente trânsito em julgado das
questões não suscitadas.

Rejeito.

Recurso Ordinário da Reclamada

II - JORNADA DE TRABALHO

Acordo de compensação - validade - Súmula 85, do TST -


diferenças de horas extras, domingos e feriados.

Pretende a reclamada a reforma da r. sentença quanto à


declaração de nulidade do acordo de compensação de jornada firmado entre ela e a
reclamante e a consequente condenação ao pagamento de diferenças de horas extras e
reflexos.

Sustenta que os registros de ponto retratam a jornada efetivamente


trabalhada, sendo que eventuais horas extras quando não pagas foram compensadas; que a
reclamante não se desincumbiu de seu ônus probatório quanto ao labor extraordinário não
remunerado; em sendo mantida a condenação, requer o pagamento tão somente do adicional
legal, assim como a dedução dos valores pagos sob mesmo título.

Por fim, insiste que é indevida a condenação ao pagamento de


adicional de 100% pelo labor em domingos e feriados, eis que quando a reclamante trabalhou
em tais dias eles foram quitados.

Razão não assiste à reclamada.

De início, cumpre salientar que a r. sentença considerou válidos os


apontamentos constantes dos cartões de ponto juntados pela reclamada. E é justamente da
análise dos cartões de ponto que o juízo do primeiro grau concluiu ser inválida a jornada
praticada pela reclamada, ao reconhecer que "Concedido prazo para que a reclamante se
manifestasse sobre a contestação e documentos que a acompanharam, apresentou diferenças

3 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

de horas extraordinárias que entendia devidas e não foram justificadas pela ré. Vale dizer,
ainda, que na fase de conhecimento basta a assinalação de uma única diferença para autorizar
a declaração de existência do direito ( ), com acolhimento do pleito formulado, an debeatur
certo que o quanto devido do direito declarado (quantum debeatur) será apurado na fase
processual adequada; (...) Ante a habitualidade na prestação de horas extras não há que se
falar na validade do acordo de compensação de horas na forma da súmula 85 do TST" (fl. 408).

No que pertine à aplicação da Súmula 85 do C. TST, a reclamada


apresentou acordos individuais de prorrogação e de compensação de horas de trabalho (fls.
197/198), os cartões de ponto de fls. 206/235 e os recibos de pagamento, nos quais constam
horas extras pagas (fls. 246/274), comprovando, assim, a prática de horas extras habituais que,
nos termos do item IV da Súmula 85 do C. TST, invalidam o acordo de compensação de
jornada, como reconhecido pela origem. Com relação ao item III da referida Súmula, restou
igualmente comprovada que a jornada praticada extrapolou também o limite semanal, razão
pela qual também é inaplicável.

Com relação aos domingos e feriados, não tem interesse


processual a reclamada para a reforma do julgado, eis que foi expressamente determinada a
observância "das anotações dos cartões de ponto" e ainda, "autoriza-se a
compensação/dedução dos valores pagos e comprovados nos autos, das verbas ora
deferidas".

Portanto, sem qualquer razão para alterar a r. sentença, nego


provimento.

III -APLICABILIDADE IMEDIATA DA LEI Nº 13.467/2017 -


minutos que antecedem e sucedem a jornada.

A reclamada pugna pela exclusão da condenação de uma hora


extra diária, com reflexos, pela antecipação e prorrogação da jornada de trabalho e que não era
computada nos cartões de ponto (tempo dispendido para os procedimentos preparatórios antes
e após o trabalho). Argumenta que jamais determinou o início do trabalho antes do horário
indicado na escala e portanto, a jornada era corretamente anotada.

Sustenta, ainda, a aplicabilidade imediata das normas materiais


introduzidas pela Lei nº 13.467/2017 com relação aos minutos que antecedem e sucedem a
jornada de trabalho da reclamante para que não sejam considerados tempo à disposição, em

4 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

observância ao disposto no artigo 4º, §2º, da CLT.

Não tem razão a reclamada.

A respeito da Lei n. 13.46717, primeiro, é importante consignar o


que toda lei se presume constitucional, mas para a preservação da autoridade da Constituição
a presunção de constitucionalidade da lei não basta. É preciso que o preceito jurídico a ser
aplicado não fira a Constituição e esta verificação deve ser feita, concretamente, pois o
compromisso jurisdicional é o do respeito à ordem jurídica como um todo, com vistas,
sobretudo, à efetivação do Estado Democrático de Direito, dentro do objetivo fundamental de
preservação e elevação da dignidade humana.

E a Lei n. 13.467/17 seria apenas mais uma lei dentre tantas outras
que compõem o Direito, que também é integrado por princípios, conceitos e institutos, não
fossem os seus insuperáveis, vez que reais e insofismáveis, problemas de elaboração, que
conduzem, inevitavelmente, ao reconhecimento de sua ilegitimidade.

Vale lembrar que acima da Lei n. 13.467/17 estão a Constituição


Federal, as Convenções da OIT - ratificadas pelo Brasil (e mesmo as não ratificadas, sobretudo
aquelas que são consideradas fundamentais pela Organização) - e os Tratados Internacionais
de Direitos Humanos.

Sobre a ilegitimidade da Lei n. 13.467/17, os juízes do trabalho se


manifestaram neste sentido, conforme Enunciado n. 1, da 2ª Jornada da Anamatra:

"A Lei 13.467/17 é ilegítima, nos sentidos formal e material".

Isto porque, no Estado Democrático de Direito só tem autoridade


de lei a regulamentação que emerge da vontade popular e nas democracias representativas
essa vontade se expressa por meio das instituições que, pelo voto, atuam no processo
legislativo, regulado constitucionalmente.

A garantia mínima que os cidadãos possuem, para que as leis que


vão regular a sua vida em sociedade reverberem seus anseios coletiva e democraticamente
concebidos, é a de que a elaboração das leis deve respeitar às regras do processo legislativo.
O vício formal na elaboração de uma lei gera o efeito inevitável da perda de sua legitimidade,
que sequer precisa ser declarada em processo judicial específico para ser rechaçada, tal é a
gravidade da irregularidade.

O projeto de lei (PL 6.787/16), que deu ensejo ao advento da lei da

5 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

"reforma", foi apresentado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional em 23 de dezembro de


2016, como resposta estratégica a uma crise política. Tratava de poucos assuntos, em meros 7
artigos. Começou a tramitar efetivamente em 9 de fevereiro de 2017, quando designado o seu
relator, e em 12 de abril do mesmo ano, ou seja, após pouco mais de dois meses de
tramitação, já tinha um Parecer, referindo, no entanto, a um projeto de lei que trazia mais de
200 alterações na CLT. O Parecer final foi concluído em 25 de abril e no mesmo dia foi
aprovado na Comissão Especial respectiva e levado a Plenário, sendo aprovado na madrugada
do dia 26 de abril e remetido ao Senado no dia 28 de abril. No Senado, sem qualquer alteração
do texto, o Projeto (já com a denominação PLC 30/17) foi definitivamente aprovado em 11 de
julho de 2017.

Afora os aspectos do tempo recorde de tramitação na Câmara


(dois meses) e de que o texto final do PL 6.787 não passou por qualquer discussão nas
Comissões daquela Casa, não tendo sido, inclusive, alvo de audiências públicas ou diálogo
com as entidades representativas de trabalhadores, como preconiza a Convenção 144 da OIT,
ressalta também o aspecto de que os Senadores, em concreto, não votaram o texto que lhes
foi submetido. Em novo tempo recorde, cerca de dois meses, aprovaram, isto sim, um texto
ainda inexistente, pois o relatório final a respeito, do Senador Ricardo Ferraço, apontava
diversas impropriedades e inconstitucionalidades no então PLC 30, mas remetia ao Presidente
da República a tarefa de realizar os acertos, por intermédio da edição de uma Medida
Provisória.

O que foi votado na Câmara foi um texto que, na sua integralidade,


não passou por qualquer debate prévio nas comissões (CAE, CAS e CCJ) e muito menos foi
submetido a audiências públicas, para a necessária participação da comunidade jurídica e dos
representantes da classe trabalhadora; e o que se votou no Senado foi um texto com teor
desconhecido, vez que os Senadores remeteram ao Presidente da República a tarefa de
"consertar" as impropriedades técnicas e inconstitucionalidades do projeto.

Todos esses fatos são públicos e podem ser verificados na


documentação oficial da Câmara dos Deputados referente à tramitação do PL 6787
(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2122076).

Não se trata, pois, de uma versão. Trata-se de fatos públicos, que


são o quanto basta para reconhecer a ilegitimidade da Lei n. 13.467/17, que é o que resulta
desse atropelo antidemocrático legislativo, até porque não existe nenhuma previsão na
Constituição que permita que: a) a Câmara aprove PL cujo teor, na sua integralidade, não
passou em debate pelas respectivas comissões; b) o Senado aprove texto de projeto de lei em

6 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

que haja, reconhecidamente, impropriedades técnicas e inconstitucionalidades; c) edição de


Medida Provisória para "consertar" lei mal elaborada.

Acrescente-se que a Lei n. 13.467/17 foi publicada no Diário Oficial


da União em 14 de julho de 2017, com vigência prevista para o dia 11 de novembro do mesmo
ano. Mas, passados quase quatro meses, a prometida Medida Provisória, que serviria para
"consertar" a lei, não foi editada e a lei entrou em vigor sem que a tal "correção" tivesse vindo,
em clara demonstração de que não era de "pequenos defeitos" que se cuidava.

A Medida Provisória, n. 808, só veio ao mundo jurídico em 14 de


novembro de 2017, e, refletindo todo açodamento do processo legislativo, trouxe, nada mais,
nada menos, do que 84 alterações na Lei n. 13.467/17.

E para explicitar ainda mais todos os problemas de elaboração


contidos na Lei n. 13.467/17, foram apresentadas 967 Emendas à MP 808, que foi um novo
recorde nessa trágica história.

Depois disso, o Congresso Nacional teve quatro meses para


aprovar a MP 808, mas não o fez, e em 23 de abril de 2017, como se sabe, a MP 808 caducou.

Então, se havia algum resquício de legitimidade no procedimento


adotado, que inclui até a esdrúxula medida do Senado de transferir para o Presidente da
República a atividade legislativa, o fato concreto é que mesmo esse ajuste desviado não foi
cumprido, o que faz da Lei n. 13.467/17 um texto não aprovado por um procedimento legislativo
regular.

O que se tem como resultado é uma lei ilegítima, cujos dispositivos


foram elaborados a toque de caixa, sem qualquer cuidado técnico, tanto jurídico quanto
linguístico, seja pela pressa com que o texto foi elaborado, seja pela tentativa, um quanto torpe,
de criar uma lei para a defesa exclusiva dos interesses econômicos de grandes conglomerados
econômicos internacionais, mas tentando evitar que essa intenção transparecesse de modo
mais explícito.

O resultado é um texto legislativo confuso, ambíguo, incompleto e


contraditório, além de trazer repetidas agressões a diversos dispositivos constitucionais e de
afrontar normas, princípios, conceitos e institutos jurídicos trabalhistas.

Levar adiante o propósito de aplicar essa lei, só porque tem a


aparência de lei, fingindo que nenhuma afronta constitucional ocorreu, só aprofunda os
problemas sociais e econômicos que a lei tende a promover.

7 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

O percurso da tentativa de aplicar a Lei n. 13.467/17 tem deixado


um enorme rastro de muitos outros complicadores jurídicos, aumentando ainda mais a
sensação de insegurança jurídica e fazendo transparecer, para os mal intencionados, que essa
situação é fruto de uma atuação "rebelde" e "imprópria" da magistratura trabalhista, o que é
aproveitado, inclusive, para desferir ataques à Justiça do Trabalho.

Para que os despropósitos da Lei n. 1346717 não sejam


explicitados no momento da sua aplicação, tenta-se destruir o órgão julgador e não é à toa,
portanto, que o relator da "reforma" trabalhista na Câmara dos Deputados foi, na sequência,
indicado para ser o relator do orçamento da Justiça do Trabalho e, agora, na condição de
Secretário Especial da Previdência Social, leva adiante o projeto de reforma da Previdência.
Essa autêntica chantagem institucional é, por outro lado, a explicitação do quanto se sabe que
a Lei n. 13.467/17 é inaplicável.

A respeito dos complicadores jurídicos, lembre-se que nos dias 9 e


10 de outubro de 2017, na 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, promovida
pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), com a
participação de mais de 600 juízes, procuradores e auditores fiscais do Trabalho, além de
advogados e outros profissionais do Direito, divididos em oito comissões temáticas, houve a
aprovação de 125 Enunciados[i] sobre a referida "lei" e quase todos eles em contraste com
várias das projeções que se faziam a partir do advento da lei.

Também foram propostas, no STF, 18 (dezoito) ações: ADI 5766


(relator Ministro Barroso); ADI 5794 (relator Ministro Fachin); ADI 5806 (relator Ministro Fachin);
ADI 5810 (relator Ministro Fachin); ADI 5811 (relator Ministro Fachin); ADI 5813 (relator Ministro
Fachin); ADI 5815 (relator Ministro Fachin); ADI 5826 (relator Ministro Fachin); ADI 5829
(relator Ministro Fachin); ADI 5850 (relator Ministro Fachin); ADI 5859 (relator Ministro Fachin);
ADI 5865 (relator Ministro Fachin); ADI 5867 (relator Ministro Gilmar); ADI 5870 (relator Ministro
Gilmar); ADI 5885 (relator Ministro Fachin); ADI 5887 (relator Ministro Fachin); ADI 5888 (relator
Ministro Fachin); e ADI 5892 (relator Ministro Fachin.

Um dos principais pontos da "reforma", tratado como a prevalência


do negociado sobre o legislado (arts. 611-A e 611-B da CLT), foi questionado junto à OIT, a
qual, após avaliação de peritos, recomendou ao governo brasileiro rever tais dispositivos, até
que em 29 de maio de 2018, por deliberação da sessão de Comissão de Normas, realizada na
107ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) incluiu o Brasil na lista de países acusados de descumprir normas internacionais
de proteção dos trabalhadores, ficando na posição 15 de uma lista com 24 países.

8 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

Em atitude de desespero, para tentar salvar a "lei", o governo, por


intermédio do Ministério do Trabalho, editou, em 23 de maio de 2018, a Portaria n. 349,
alterando vários dispositivos da Lei n. 13.467/17, mas com isso só conseguiu deixar ainda mais
nítido o quanto a lei da "reforma" é mal elaborada e de quase impossível aplicação prática.

Por fim, em 21 de junho de 2018, por meio da Resolução 221, o


Tribunal Superior do Trabalho aprovou a Instrução Normativa n. 41 (IN 41/18), pela qual,
tentando minimizar os efeitos danosos da aplicação da Lei n. 13.367/17 no Processo do
Trabalho, fixou diretrizes dizendo que dispositivos da lei seriam aplicadas e a partir de quando.
Chegou-se, inclusive, à compreensão, contrariando muitos defensores da "reforma", de que os
preceitos processuais da lei não retroagiriam, sobretudo com relação aos honorários
advocatícios.

Não bastasse tudo isso, a aplicação da lei tem provocado inúmeras


decisões contraditórias, notadamente no que se refere às dispensas coletivas de
trabalhadores[vi].

Ou seja, a cada dia que passa se evidenciam os diversos


problemas gerados pela aludida "reforma" trabalhista, sendo que até mesmo na promoção de
empregos, ainda que precários, que é o que a reforma incentiva, não se teve um resultado
adicional, numericamente falando. Aliás, muito pelo contrário, diante das reiteradas dispensas
coletivas, resultado da sensação, conferida pela reforma ao grande capital, da obtenção de
uma espécie de poder absoluto, o que se discute é se a "reforma" reduziu, ou não, o número de
empregos[viii].

O que a realidade demonstra é que se está caminhando cada vez


mais para dentro do labirinto jurídico criado pela Lei n. 13.467/17 e quanto mais se buscam
saídas para a sua aplicação, na forma como imaginaram os seus defensores, o que sequer tem
apoio no próprio texto legislativo editado, mais distante se estará da saída.

Tudo isso, no entanto, é meramente o efeito inevitável de uma lei


elaborada às pressas, sem o respeito ao devido procedimento legislativo constitucionalmente
previsto.

De todo modo, atuando em um órgão colegiado e até sucumbindo


ao posicionamento amplamente assimilado pela prática jurisdicional, não se tem a possibilidade
de conduzir essa declaração de ilegitimidade da Lei n. 13.467 ao efeito de afastá-la, por
completo, do ordenamento jurídico.

9 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

A declaração, no entanto, serve como essencial registro histórico e


se apresenta como o fio condutor do processo de interpretação e aplicação da lei, atendendo,
ainda, ao postulado necessário de sua intersecção com outras normas e institutos jurídicos,
conforme, inclusive, definido em três dos Enunciados das "Avaliações Preliminares" da
magistratura trabalhista da 15a. Região, aprovado, em novembro de 2017, no simpósio
"Reforma Trabalhista e Justiça do Trabalho: desafios e perspectivas", organizado pela Escola
Judicial do TRT15:

"A FONTE MATERIAL DE UMA LEI É BASE PARA A SUA INTERPRETAÇÃO E


APLICAÇÃO. A Lei n. 13.467/2017, elaborada e aprovada em tempo recorde,
sem os devidos estudos, debates e demanda popular, foi impulsionada em
desrespeito aos preceitos democráticos para a sua elaboração e aprovação.
Além disso, contrariou os postulados convencionais para a criação de leis
trabalhistas de caráter mais amplo (Convenção 154 da OIT, bem como os
verbetes n. 1.075, 1.081 e 1.082 do Comitê de Liberdade Sindical do Conselho
de Administração da Organização Internacional do Trabalho), desrespeitou a
função histórica do direito do trabalho de melhoria das condições sociais dos
trabalhadores e ofendeu os princípios jurídicos trabalhistas, notadamente o da
progressividade. Na aplicação da Lei n. 13.467/2017 não se deve descolá-la de
seu processo histórico, pois assim se compreenderá melhor a importância da
preservação das conquistas sociais, da ordem constitucional e do regular
funcionamento das instituições democráticas."

"INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS E INDEPENDÊNCIA DA


MAGISTRATURA. A Lei n. 13.467/2017 não é uma lei superior às demais. Não
faz letra morta da CF e dos tratados internacionais relativos aos direitos
humanos e aos direitos sociais, nem se sobrepõe aos princípios, conceitos e
institutos jurídicos do direito do trabalho. Não tem o poder de aniquilar a
independência dos juízes, de modo a impedir que cumpram o seu dever de
aplicar o direito, interpretando as leis, em sua totalidade, segundo as regras da
hermenêutica, os princípios, conceitos e institutos jurídicos, e as normas
constitucionais e internacionais, cumprindo-lhe, se for o caso, declarar as
inconstitucionalidades ou inconvencionalidades da lei. A independência dos
juízes é uma garantia da cidadania contra o autoritarismo e o abuso dos poderes
políticos e econômicos, principalmente quando colocam em risco a eficácia dos
direitos humanos e dos direitos sociais."

"PRINCÍPIOS DE DIREITO DO TRABALHO. SUBSISTÊNCIA DO CARÁTER


TUITIVO DO DIREITO DO TRABALHO. CONTROLE DIFUSO DE
CONSTITUCIONALIDADE DE LEI FEDERAL. INCOMPATIBILIDADE DE
DISPOSITIVOS LEGAIS COM PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO. VIGÊNCIA DO ART. 5º DA LEI DE
INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. O JUIZ NA
APLICAÇÃO DA LEI DEVERÁ OBSERVAR O FIM SOCIAL A QUE ELA SE
DESTINA. A Constituição estabelece como fundamentos da República
Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa (incisos III e IV do art. 1º) e como objetivos
fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a
erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades
sociais e regionais e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (incisos I, III e
IV do art. 3º); preconiza que em suas relações internacionais o Brasil se regerá
pelo princípio da prevalência dos direitos humanos (inciso II do art. 4º); prevê
que a propriedade atenderá a sua função social (inciso XXIII do art. 5º),
estabelecendo como critério de averiguação dessa condição - tomando como
parâmetro a regularidade da propriedade rural -, a observância das disposições
que regulam as relações de trabalho e uma exploração da terra que favoreça o
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (incisos III e IV do art. 186);

10 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

garante que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou


ameaça a direito, que não haverá juízo ou tribunal de exceção, que a lei punirá
qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais e que
o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos (incisos XXXV, XXXVII, XLI e LXXIV do art. 5º);
assegura que os direitos trabalhistas visam à melhoria da condição social dos
trabalhadores (caput do art. 7º) e impõe que a ordem econômica seja fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, observando a função social
da propriedade (caput e inciso III do art. 170), impedindo, pois, o retrocesso
social, garantindo o acesso à ordem jurídica justa e promovendo a justiça social.
Cabe ao juiz do trabalho declarar a inconstitucionalidade de todos os dispositivos
que entender incompatíveis com os preceitos constitucionais e inaplicáveis
aqueles que ofendam os princípios do direito do trabalho, por contrariarem o fim
social a que se dirige a legislação."

No aspecto do pleito específico da reclamada, de que a Lei n.


13.467 seja aplicada também nas ações propostas antes da entrada em vigor da lei, que
versem sobre vínculos de emprego constituídos anteriormente, não lhe cabe qualquer razão,
uma vez que o ordenamento jurídico não permite a retroatividade lesiva da Lei nova. Assim,
não há que se falar na aplicação da Lei n.º 13.467/2017 aos processos ajuizados em data
anterior à sua vigência, sobretudo aos vínculos de emprego anteriores à Lei. A presente ação
foi proposta em 26/10/2016 e o vínculo em apreço teve vigência no período compreendido
entre 15/04/2013 a 09/12/2015.

Pois bem.

O próprio preposto da reclamada informou ao juízo que "a


funcionária passa pelas portas, troca de uniforme no vestiário e somente depois que registra o
ponto; que o uniforme é camisa e calça; que a troca de uniforme demorava cerca de 2 minutos
e até chegar no ponto é mais 01 minuto no máximo; Que na época da reclamante entravam no
mesmo horário cerca de 30 a 40 pessoas entre homens e mulheres; Que no vestiário feminino
tem uma porta; Que o vestiário comporta grande quantidade de pessoas; Que os mesmo
procedimentos são feitos na saida; Que se passa na tesouraria para registrar o horario de
saida, trocam o uniforme e repetem os procedimentos da entrada" (fl. 347).

Nesse mesmo sentido foram as declarações da testemunha da


reclamante, que asseverou em juízo que "no periodo noturno, gastavam 30 minutos até bater o
ponto; que passavam por cerca de 7 portas no total; Que na segurança era cerca de 4 portas e
demoravam 10 minutos nestas portas; Que no vestiário gastavam 10 minutos se trocando e
depois na cantina gastavam 5 minutos para guardar as marmitas e somando com o tempo de
café, o qual era opcional, gastavam os 30 minutos citados; Que não tinha a opção debater o
ponto antes de guardar a marmita; que na saida batiam o ponto e ainda ficavam cerca de 30
minutos, em razão do tempo gasto para se trocar, em 10 minutos, tomavam outro café de

11 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

maneira opcional e a saida das portas que gastavam mais 10 minutos; Que o tempo gasto no
vestiário era para fazer a troca de roupa e guardar os pertences" (fl. 348).

Como se vê ficou nítida a atitude da reclamada de permitir o


registro da jornada tão somente no setor de trabalho, após as revistas, deslocamento interno e
troca de uniforme, sendo certo que as anotações constantes nos cartões de ponto não refletem
o tempo que os empregados permanecem à sua disposição, desde o momento em que
adentram nas suas dependências, mesmo porque superiores a 10 minutos diários (S. 366, do
C. TST).

IV - INTERVALO DO ART. 384, DA CLT

A reclamada alega que o intervalo previsto no artigo 384, da CLT


não foi recepcionado pela Constituição Federal.

Sem razão.

Não há como se admitir o entendimento de que o art. 384 da CLT


não foi recepcionado pela CF/88, isto porque o argumento da isonomia não é fundamento para
a retirada de direitos e sim para ampliação, conforme prevê, inclusive, o caput do art. 7º da CF.

Também não se diga que a violação ao disposto no art. 384, da


CLT, caracteriza mera infração administrativa, sujeita apenas às penalidades aplicáveis pelos
órgãos de fiscalização. Trata-se, na verdade, de norma de ordem pública, relacionada à saúde
e segurança no trabalho, e que atrai a aplicação analógica dos efeitos previstos no art. 71, §4o,
da CLT, lembrando que a Constituição Federal estabelece como direito fundamental "a redução
dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança" (art. 7o,
XXII, da CF/88).

Aplicando-se por analogia o disposto no art. 71, §4o, da CLT, é


relevante que sejam feitos alguns esclarecimentos quanto à natureza jurídica das parcelas
objeto da condenação.

Não pode ser acolhida a tese de que o pagamento feito, com base
no parágrafo 4o, do art. 71, da CLT, em virtude da supressão de intervalo para refeição e
descanso (aplicado por analogia na hipótese de não observância ao art. 384, da CLT), não
possui natureza salarial e sim indenizatória. Primeiro porque tal conclusão fere a regra geral da
configuração da natureza das parcelas pagas ao trabalhador, fixada no art. 457, da CLT, da

12 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

qual se extrai que todo beneficio concedido ao empregado, de forma habitual, integra a sua
remuneração. Segundo porque só se pode chegar à conclusão de que uma parcela habitual
devida ao empregado não é salário se houver lei prevendo a exceção, como ocorre, por
exemplo, com o vale-transporte, a alimentação, nos moldes do PAT e a participação nos lucros.
Por critério hermenêutico, não se pode chegar às exceções por interpretação ampliativa. As
exceções se interpretam, restritivamente.

Terceiro porque o próprio texto da lei, parág. 4o, do art. 71, da CLT,
é expresso no sentido de que o adicional incide sobre a remuneração do empregado. E quarto,
porque se tal argumento fosse verdadeiro para o intervalo, também seria para o adicional de
insalubridade, o adicional de periculosidade, o adicional noturno e até mesmo para o adicional
de horas extras. Sabe-se bem que com relação a estas outras parcelas não se discute a sua
natureza salarial e estando a supressão do intervalo dentro da mesma lógica não se lhe pode
dar solução diferente. A construção do direito, da qual participa, definitivamente, a
jurisprudência, pressupõe a preservação da lógica e da coerência do sistema.

Além disso, mesmo que de indenização se tratasse, a limitação dos


reflexos não se justificaria, pois insere-se na teoria geral do direito a regra de que a
indenização por dano deve ser calculada de modo a reparar, no maior grau possível, o prejuízo
sofrido.

Como já dito, o intervalo do art. 384 da CLT é preceito de ordem


pública que visa a minimizar os efeitos da prática de horas extras, que nem deveriam existir de
forma ordinária.

Nesse mesmo sentido, também é o teor da Súmula n. 80 deste E.


Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, in verbis:

80 - "INTERVALO DO ARTIGO 384 DA CLT. RECEPÇÃO PELA CF/1988. A não


concessão à trabalhadora do intervalo previsto no art. 384 da CLT implica
pagamento de horas extras correspondentes àquele período, nos moldes do art.
71, § 4o da CLT, uma vez que se trata de medida de higiene, saúde e segurança
do trabalho (art. 7o, XXII, da Constituição Federal)." (RESOLUÇÃO
ADMINISTRATIVA No 18/2016, de 25 de outubro de 2016 - Divulgada no
D.E.J.T. de 27/10/2016)

Portanto, nego provimento ao recurso.

13 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

V- DIFERENÇAS DO ADICIONAL NOTURNO

O próprio reconhecimento do tempo à disposição (minutos que


antecedem e sucedem a jornada) já indica a existência de diferenças de adicional noturno pelo
trabalho em jornada noturna.

Se não bastasse isso, a norma coletiva não considerava a


prorrogação da jornada noturna. Cita-se, exemplo, a cláusula 33ª, § 1º, da CCT 2012/2014: "A
prorrogação da jornada de trabalho após às 5:00 horas do dia seguinte não implicará na
obrigação do pagamento do adicional noturno correspondente ao período excedente, conforme
definição prevista no parágrafo 2º do artigo 73 da CLT" (fl. 289).

Ocorre que o trabalho em horário noturno implica em maior


desgaste físico e psíquico ao trabalhador. Trata-se, portanto, de medida de saúde e segurança
no trabalho, sequer passível de negociação coletiva.

Ora, a questão envolve matéria de norma imperativa, de ordem


pública, cuja força cogente não autoriza as partes a disporem em contrário, restringindo, assim,
a autonomia da vontade ínsita aos contraentes na relação contratual. Nesta órbita, é de se ter
em mente que o legislador constituinte ao estabelecer regras, o fez no intuito de resguardar
garantias mínimas ao trabalhador, cujo caráter não é meramente dispositivo, a ponto de ser
ignorado pelo empregador.

A estipulação de tais limites por parte do legislador não ocorreu de


forma aleatória, mas antes, para preservar a saúde do trabalhador. Sabemos todos que o
trabalho excessivo, não raro, causa distúrbios físicos e psíquicos, o que certamente não será
amenizado com a concessão de algumas horas de descanso, eis que o evento danoso, ou
seja, o trabalho além do limite, já se consumou.

Nada a reformar.

VI - REFLEXOS DAS HORAS EXTRAS E DO ADICIONAL


NOTURNO

Requer a reclamada a reforma da sentença no que diz respeito aos


reflexos das horas extras e do adicional noturno em DSR, por representar bis in idem.

Com razão. Assim, dou provimento para determinar a observação

14 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

da OJ 394 da SDI-1 do C. TST quanto aos reflexos das horas extras e do adicional noturno nos
DSRs.

Reformo.

VII- PPR

A reclamada impugna a condenação referente à PLR.

Entretanto, considerando-se que a reclamante também recorreu da


matéria, os recursos serão apreciados conjuntamente.

VIII- CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL

Requer a reclamada a reforma da r. sentença para excluir da


condenação a restituição dos valores descontados a título de contribuição assistencial.

Com razão.

Inicialmente cabe ressaltar que os descontos de contribuição


assistencial foram efetuados pela reclamada e decorrem da relação de emprego. Portanto, é
parte legítima para responder pelo pedido.

No entanto, o entendimento estampado no Precedente Normativo


n. 119 do TST, "data venia", contraria a lógica do Direito do Trabalho e fragiliza os sindicatos.

No Direito do Trabalho o coletivo prevalece sobre o individual e o


que se pretende é que os trabalhadores se integrem aos seus respectivos sindicatos,
sobretudo nos momentos de negociação, que podem até chegar à greve. Fato é que o alcance
de melhorias das condições de trabalho deve repercutir favoravelmente aos trabalhadores
coletivamente considerados e isso se dá pelo fortalecimento do sindicato. Se os trabalhadores
apenas se veem beneficiados pelas novas cláusulas, como por exemplo, data-base, piso
salarial, PLR e salário substituição, sem qualquer participação e sem contribuir com os
sindicatos estimula-se uma prática individualista que, ao final, gera danos a toda a categoria de
trabalhadores.

Note-se que a reclamante requereu na presente ação, justamente a


aplicação dessas cláusulas favoráveis, em seu favor.

15 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

A pretensão da reclamante de receber de volta o que lhe foi


descontado a título de contribuição assistencial, sem que tenha feito qualquer gestão nas
assembleias deliberativas da categoria, fere de morte toda lógica da organização coletiva dos
trabalhadores.

As contribuições assistenciais e confederativas são relevantes para


a prática sindical de natureza coletiva e, portanto, ainda que se assegure ao trabalhador a
possibilidade de recusá-las há de expressar isso e não simplesmente pretender a restituição
depois de cessado o vínculo e, pior, fazê-lo em face da ex-empregadora, a qual nada mais fez
que cumprir uma norma coletiva, resultado da deliberação dos próprios trabalhadores.

Assim, dou provimento ao recurso para excluir a condenação de


devolução de valores a título de contribuição assistencial.

Recurso Ordinário da Reclamante

I- PLR (matéria comum aos recursos)

A reclamante pretende a condenação da reclamada ao pagamento


da PLR ao longo de todo o período do vínculo.

A reclamada insiste que não são devidas diferenças a título de


PLR, sob o argumento de que os demonstrativos comprovam a efetiva quitação da verba em
questão.

Pois bem.

Pelo ACT 2013/2015 de fls. 93/96, a reclamada acordou o


pagamento de PLR de forma semestral, no prazo de até 60 dias após os períodos de apuração,
sendo de 15% do piso salarial nos períodos de apuração 01/07/2013 a 31/12/2013 e
01/01/2014 a 30/06/2014; 30% do piso salarial nos períodos de 01/07/2014 a 31/12/2014 e
01/01/2015 a 30/06/2015; 50% do piso salarial nos períodos de 01/07/2015 a 31/12/2015 e
01/01/2016 a 30/06/2016. Estabeleceu ainda, critérios de produtividade/desempenho da
empresa e de assiduidade para o pagamento de PLR.

No caso do pagamento da PLR a prova é documental, cujo


encargo recai sobre o empregador (art. 464, da CLT).

A reclamada não comprovou que não atingiu a produtividade

16 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

estabelecida, nem que a reclamante não alcançou a assiduidade determinada, aliás sequer
alegou em defesa que tais fatos tenham ocorrido.

E, conforme demonstrativos de pagamento apresentados às fls.


246/274, é possível verificar à fl. 256 - crédito e débito de R$38,30 (março/2014). Não se
vislumbra nenhum outro pagamento a tal título.

Como visto, além de descumprir a periodicidade prevista no ACT, a


reclamada creditava e debitava idênticos valores a título de PLR, sob pretensão de ter havido
adiantamento dos valores, mas não comprovou tal assertiva.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso da reclamada e dou


provimento ao recurso da reclamante, para condenar a reclamada ao pagamento da PLR de
2013/2014/2015/2016, tendo à vista a projeção do vínculo com a concessão do aviso prévio,
observando-se ainda os períodos e os percentuais previstos no ACT de fls. 93/96 e em
consonância com o piso salarial estabelecido nas CCTs acostadas aos autos.

II- DESCONTOS INDEVIDOS NO TRCT

Requer a reclamante a reforma da r. sentença no que pertine à


devolução dos descontos indevidos do seu salário efetuados no TRCT (fl. 275), sob o
argumento de que não foram autorizados.

Pois bem.

No que pertine ao valor descontado a título de contribuição


assistencial não assiste razão à reclamante, conforme acima já exposto.

Já quanto aos descontos correspondentes aos "atrasos", "Vale Alim


Mensal", "estouro período anterior Desc" e "vale alimentação pgto maior", a reclamada sustenta
se tratar de valores antecipados pela empresa para utilização ao longo do mês e, corrida a
rescisão no íncio do mês, cabe à reclamante a devolução dos valores não utilizados.

Ocorre que o salário é intangível e a reclamada não comprovou a


regularidade dos descontos.

Logo, dou parcial provimento ao recurso para determinar a


devolução dos valores descontados do salário da reclamante, constantes no TRCT, a título de
"atrasos", "Vale Alim Mensal", "estouro período anterior Desc" e "vale alimentação pgto maior".

17 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

PREQUESTIONAMENTO

A decisão adota tese explícita sobre toda a matéria posta em


discussão na lide, não violando as súmulas de Tribunais Superiores, tampouco os dispositivos
constitucionais e legais invocados, os quais, para todos os efeitos, declaro prequestionados.

CONCLUSÃO

Dispositivo

conhecer dos Recursos Ordinários interpostos pelas partes, para


rejeitar a preliminar arguida em contrarrazões pela reclamada, e no mérito, dar parcial
provimento ao recurso interposto por PROTEGE S/A PROTECAO E TRANSPORTE DE
VALORES e a) determinar a observação da OJ 394 da SDI-1 do C. TST quanto aos reflexos
das horas extras e do adicional noturno nos DSRs; e b) excluir a condenação de devolução de
valores a título de contribuição assistencial; e dar parcial provimento ao recurso interposto por
ANDREIA DE LIMA RODRIGUES, para a) condenar a reclamada a pagar a PLR de 2013/2014
/2015/2016, e b) determinar a devolução dos valores descontados no TRCT, conforme a
fundamentação.

Para os efeitos da Instrução Normativa n.º 3/93, II, "c", do C. TST,


fica mantido o valor da condenação.

Em sessão realizada em 15 de outubro de 2019, a 1ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª


Região julgou o presente processo.

Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Desembargador do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior.

Tomaram parte no julgamento os Srs. Magistrados:

Desembargador do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior (relator)

Juiz do Trabalho Oséas Pereira Lopes Junior (quorum)

18 de 19 24/10/2019 09:19
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/VisualizaDocumento/Autenticado/...

Juiz do Trabalho Evandro Eduardo Maglio (quorum)

Compareceu para sustentar oralmente, pela recorrente PROTEGE S/A PROTECAO E TRANSPORTE
DE VALORES, o Dr. Marcelo da Rocha Ciambra..

RESULTADO:

ACORDAM os Magistrados da 1ª Câmara - Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Décima


Quinta Região em julgar o processo nos termos do voto proposto pelo (a) Exmo (a). Sr (a). Relator (a).

Votação por maioria, vencido o Exmo. Sr. Juiz do Trabalho Oséas Pereira Lopes Junior, nos seguintes
termos: "Com o devido respeito, divirjo quanto à devolução das contribuições, cabendo a manutenção da
sentença de origem".

Procurador ciente.

JORGE LUIZ SOUTO MAIOR


DESEMBARGADOR RELATOR

Votos Revisores

Assinado eletronicamente por: [JORGE LUIZ


SOUTO MAIOR] - 6811c39
https://pje.trt15.jus.br/segundograu/Processo
/ConsultaDocumento/listView.seam Documento assinado pelo Shodo

19 de 19 24/10/2019 09:19

Potrebbero piacerti anche