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1. INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Este tema coloca em questão as mudanças no mundo do trabalho na era da
reestruturação produtiva e da mundialização do capital. Os itens abordados servirão de
1. CONCEITUANDO TRABALHO .....................................................................................4 reflexão e aprofundamento do conhecimento. Leia o texto com atenção.

2. TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO ....................................................7 Conceituando trabalho


3. DO FORDISMO A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL ...........................................................12
Na busca pela etimologia da palavra trabalho, essa deriva do latim tripalium, objeto
4. IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL NA CLASSE TRABALHADORA
de três paus aguçados utilizado na agricultura e também como instrumento de tortura
NO BRASIL. ....................................................................................................................14
conforme alguns dicionários. Assim, o trabalho está associado à transformação da
5. A REFORMA DO ESTADO .........................................................................................15
natureza em produtos ou serviços.
6. AS INCERTEZAS NO MUNDO DO TRABALHO DIANTE DA GLOBALIZAÇÃO E DO
Para compreender o seu significado, recorremos a Abbagnano (1998, p. 964), que
NEOLIBERALISMO. .......................................................................................................17
explicita que é uma atividade que tem como finalidade utilizar-se de coisas naturais e
7. MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL: REFLEXOS NO MUNDO DO TRABALHO ...........22 também alterar o ambiente para satisfazer as necessidades humanas. Dessa forma, o
8. AS MUTAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO. ..........................................................27 trabalho implica ainda uma dependência relacional entre o homem e a natureza, pois
envolve interesses que se constituem em necessidades dos sentidos.
9. AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E AS DEMANDAS
CONTEMPORÂNEAS DO SERVIÇO SOCIAL. ...............................................................41 De acordo com Barbosa, o trabalho possui uma trajetória, uma progressividade

10. TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS: IMPACTOS SOCIOPROFISSIONAIS. .........44 histórica. É possível, portanto, falarmos de uma história do trabalho, enquanto uma
delimitação temática da história da humanidade. História do trabalho que expressa o
QUESTÕES DE PROVA – PARTE I ...............................................................................50
fundamento último do ser social, que é a sua capacidade de transformar e criar o
GABARITO 1...................................................................................................................54 mundo natural e o mundo social, em direção da sua plena humanização. (s/d, p. 36).
QUESTÕES DE PROVAS - PARTE II .............................................................................58

GABARITO 2...................................................................................................................63

BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................64
Nos legados da obra marxiana, a categoria trabalho é uma condição eterna do
homem de transformar a natureza para satisfazer as suas necessidades sempre no
interior e por meio de uma forma específica, historicamente determinada de
organização social. Marx (1988) assinala que é no e a partir do trabalho, ou seja, no
seu processo pelo qual passam a produzir a vida material que os homens saltam da
natureza e superam seus limites naturais, produzindo a si humanamente.
Nessa perspectiva, é importante ressaltar conforme Marx que, antes de tudo,
o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o
homem, por sua própria ação, regula e controla seu metabolismo com a Natureza.

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o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita como jogo de suas próprias forças

Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele físicas e espirituais. (MARX, 1988, p. 142-143).

põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e


pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para
2016/ FUNRIO/IF-BA. A história da realização do ser social, objetiva-se através da
sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a produção e reprodução da sua existência, que se desenvolve pelos laços de
ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele cooperação social existentes no processo de produção material. O homem tem
desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita ao jogo de suas forças e de seu ideado, em sua consciência, a configuração que quer imprimir, antes de sua
realização, que se pode demonstrar ontologicamente. Podemos assim afirmar que o
domínio. (MARX, 1988, p. 142).
ser social se realiza através da categoria:
Assim, se partirmos do conceito de trabalho como atividade do homem que
transforma a natureza e por ela é transformado, no intuito de suprir as suas
a) ideologia.
necessidades, podemos constatar que existe uma lógica dialética entre trabalho e
organização social da humanidade. b) trabalho.

c) teleológica.

d) histórica.

Marx entende ainda por trabalho um tipo de atividade muito diferente daquele que e) consciência.
encontramos nas aranhas ou abelhas. Nessas, a organização das atividades e sua
execução são determinadas geneticamente e, por isso, não servem de fundamento para o
Resposta Correta: Letra b) trabalho.
desenvolvimento desses insetos. Por séculos, as abelhas e as formigas produzirão
exatamente da mesma forma, o que já produzem hoje.

Entre os homens, a transformação da natureza é um processo diferente das ações


de aranhas e formigas. Em primeiro lugar, porque a ação e o seu resultado são sempre
projetados na consciência antes de serem construídos na prática. É essa capacidade de
criar ideias antes de objetivar isso, é de construir objetiva ou materialmente que funda, para
Marx, a diferença do homem em relação à natureza, ou seja, funda a relação humana.
Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma
aranha executa operações às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto
humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão,
o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de
construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início
deste [...] existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente. Ele não apenas
efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria
natural seu objetivo, que ele sabe que determina como lei, a espécie e o modo de sua
atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato
isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida à vontade orientada a um fim,
que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais quanto
menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai

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2. TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO

A meta do capital foi sempre o lucro como princípio fundante da economia e que
se reflete nas políticas, nos aspectos sociais, culturais, geográficos, etc. O
O século XX foi marcado por transformações no mundo do trabalho decorrente da período de pós-guerra (1945-1973) é marcado por avanços do capitalismo até a
crise de produção e manutenção na forma de acumulação capitalista. Esta crise determina grande recessão de 1973, ou seja, as regras de produção, consumo, lucro,
as condições no mercado de trabalho, principalmente na correlação de força entre capital mercado já não respondem a acumulação do capital. Frente a esta crise, o capital
x trabalho. Os trabalhadores do sistema capitalista ficaram à mercê das oscilações da necessita rapidamente de novas bases de organização no padrão de produção,
forma de gestão do mundo do trabalho, ou seja, aumento na situação de vulnerabilidade consumo, lucro para continuar expandindo-se.
social, aumento da precarização das condições de trabalho, desregulamentação de direitos
trabalhista e flexibilização do trabalho no modelo neoliberal.

As transformações no mundo do trabalho atingem sem distinção a todas as Para manter o modo de produção do capital corporativo e monopolista é

categorias profissionais ao longo do processo sócio histórico do capitalismo, potencializado necessária a intervenção do Estado (teoria keynesiana), na medida em que há a

pela globalização. necessidade de formas de regulação do mercado e da economia, através de políticas


fiscais, monetárias e de regulação social.
As transformações do capitalismo durante o século XX, ocorridas nas
sociedades de primeiro mundo (mas com fortes reflexos no terceiro mundo) foram Segundo Harvey, a partir de 1945 ocorre uma forte abertura para o investimento

marcadas por duas grandes fases, segundo Harvey (1996). internacional nos EUA e Europa, para o fordismo “significou a formação de massas globais
e a absorção da massa da população mundial fora do mundo comunista na dinâmica global
A primeira inicia aproximadamente, a partir de 1910 e a segunda ocorre a partir de
de um novo tipo de capitalismo” (1996, p. 131).
1973. No início do século XX a fórmula de sucesso do capital era através do fordismo
(1914), taylorismo (1911) e logo em seguida se aliando ao keneysianismo. No ano anterior, o acordo de Bretton Woods (1944) assegura o dólar como moeda
base das taxas de câmbio mundial, fazendo com que os EUA liderassem
Os princípios para acumulação e reprodução do capital eram:
hegemonicamente o desenvolvimento econômico internacional.

✓ Produção em escala;
✓ Linha de produção;
✓ Divisão do trabalho;
✓ Disciplina e Racionalização do processo de trabalho;
✓ Organização hierárquica, produção e consumo em massa;
No período pós-guerra a hegemonia econômica investia no trabalhador na medida
✓ Controle e organização do trabalho por tarefas;
em que, era ele que garantia o consumo em massa, isso também caracterizou um
✓ Repetição;
período de pleno emprego, para alguns seguimentos da sociedade. Autores como
✓ Fragmentação do processo;
e Hobsbawm (1997) e Pochmann (2002) chamam de “era do ouro”.
✓ Redução do tempo na linha de montagem.

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O poder estatal, através das políticas sociais, oferecia alguns benefícios aos início da década de 1970, vem apresentando um claro sentido multiforme [...].
trabalhadores como seguridade social, assistência médica, educação, etc., desde que, (ANTUNES, 2013, p.13).

fosse uma estratégia para garantir a produtividade e o consumo em massa. A partir dessa reflexão do autor sobre as transformações do mundo do trabalho, é
correto afirmar: Na década de 1970, entre os novos processos de trabalho que
As formas de intervenção estatal são variadas e assumem características emergem nos países capitalistas avançados, destaca-se o fordismo:
diferentes nos países de capitalismo avançado, onde se implanta o Estado de Bem- Certo/Errado
Estar Social.
Resposta Correta: Errado.
Nos países do Terceiro Mundo, o desenvolvimento do capital corporativo
assume formas perversas gerando um agravamento nas diversas expressões da Comentário: O fordismo surge nas primeiras décadas do século XX. O ano de 1973 é
marcado pelo declínio do modelo de acumulação fordista.
questão social, pois, os benefícios do modo de acumulação fordista não eram para
todos, gerando uma massa de excluídos frente à crescente desigualdade econômica
e social.

Na visão de Pochmann (2002) o capitalismo encontra-se em crise, pela constatação


Para Harvey o fordismo-taylorismo sobrevive até 1973, período de recessão
dos altos índices de desemprego estrutural, altas taxas de exclusão social e
onde inicia uma nova fase de acumulação flexível. Já para Antunes as grandes
desigualdade. Concordamos com o autor, uma vez que o desemprego, a exclusão
transformações ocorreram na década de 1980 onde o fordismo-taylorismo se mescla com
social e a desigualdade são componentes necessários para manutenção da forma de
novas formas de produção (2002, p. 23). O ano de 1973 é marcado pelo declínio do
produção, reprodução e acumulação capitalista.
modelo de acumulação fordista, embora esta crise já fosse decorrente de uma série de
Na era fordista a lógica era de pleno emprego exclusivamente para assegurar uma
fatos ocorridos na década de 1960, tais como problemas fiscais nos EUA, o dólar deixa de
cultura de consumo em massa até o momento que este modelo se esgota. Sendo assim
ser a moeda reserva, queda do acordo de Bretton Woods, desvalorização do dólar,
necessário, criar novas formas de consumo nas sociedades capitalistas que já
inflação, entre outros. A partir de 1973, Harvey caracteriza como a segunda fase de
estão impregnadas por uma ideologia. Portanto, faz parte da existência do capital
transformação do capital, chamada de “acumulação flexível”. Como ele diria “transição
gerar índices de desigualdade e exclusão, como um dos aspectos que assegura sua
no regime de acumulação e no modo de regulamentação social e política a ele associado”
própria manutenção.
(idem, 1996, p. 118). Esse período é marco por fatos decisivos como a crise mundial nos
Pochmann (2002) considera que o capitalismo está em crise devido a uma
mercados imobiliários, aumento do preço do petróleo, profunda crise fiscal e de legitimação
desordem do capital. Atualmente a acumulação flexível no modelo neoliberal direciona o
(1973).
consumo em massa através do mercado internacional seja através da concepção de
Entendemos que as datas que marcam as fases de acumulação são mundialização ou globalização.
representativas, e não significam uma total ruptura. O taylorismo, por exemplo, que O modelo neoliberal e sua reestruturação produtiva, no geral, têm afetado as
caracteriza a fase de acumulação flexível (pós 1973) tem sua fase inicial na década relações de trabalho no mundo inteiro, em consequência tem produzido uma grande
de 1950 e seu desenvolvimento constante a partir daí. situação de desemprego e falta de condições de trabalho através da precarização e da
desregulamentação do trabalho.
A crise experimentada pelo capital, bem como pelas suas repostas, das quais o
neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumulação flexível são expressão,
2014/UFBA/UFBA. O mundo produtivo contemporâneo, particularmente desde o tem acarretado, entre tantas consequências, profundas mutações no interior do mundo do
amplo processo de reestruturação do capital desencadeado em escala global, no trabalho.

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Dentre elas podemos inicialmente mencionar o enorme desemprego estrutural.
Um crescente contingente de trabalhadores em condições precarizadas, além de 3. DO FORDISMO A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
uma degradação que se amplia, na relação metabólica entre homem e natureza,
conduzida pela lógica social voltada prioritariamente para a produção de Por sua natureza contraditória, o capitalismo é caracterizado por movimentos
mercadorias e para a valorização do capital (ANTUNES, 2003, p. 15). cíclicos de crise e prosperidade. O período mais agudo da crise capitalista ocorreu a
A classe trabalhadora, denominada por Antunes, como “classe-que-vive-do- partir da década de 1970, quando o esgotamento do padrão de acumulação capitalista do
trabalho”, se constitui no núcleo central no conjunto dos trabalhadores produtivos. pós-guerra, o fordismo, evidencia-se no cenário internacional.

“Esse núcleo central, dado pela totalidade dos trabalhadores produtivos, Fordismo
compreende aqueles que produzem diretamente mais valia e que
Em linhas gerais, o fordismo é um modelo de gerenciamento que visa à
participam também diretamente do processo de valorização do capital”,
através da interação entre trabalho vivo e trabalho morto, entre trabalho
organização da produção e do trabalho. Com a finalidade de suprir as debilidades do

humano e maquinário científico-tecnológico. Ele se constitui no polo central sistema artesanal de produção, Ford introduz na esfera produtiva da indústria
da classe trabalhadora moderna (2002, p. 109). automobilística americana a Teoria Geral da Administração, formulada por Taylor, cuja
finalidade era de promover o aumento da produtividade na indústria, por meio de uma
melhoria no nível operacional. Nesse processo, a ênfase recai nas tarefas, e também, visa
eliminar os desperdícios de tempo e matéria-prima, através da adoção de métodos e
A classe trabalhadora fragmentou-se, heterogeneizou-se e complexificou-se ainda técnicas da engenharia industrial.
mais. Tornou-se mais qualificada em vários setores, como na siderurgia, na qual
Apesar da revolução ocasionada pelo modelo fordista na esfera produtiva e
houve uma relativa intelectualização do trabalho, mas desqualificou-se e
organizacional do trabalho, a consolidação desse modelo encontrou resistência dos
precarificou-se em diversos ramos, como na indústria automobilística, na qual o
trabalhadores devido aos danos físicos e mentais provenientes desse processo.
ferramenteiro não tem mais a mesma importância, sem falar na tradução dos
inspetores de qualidade, dos gráficos, dos mineiros, dos portuários, dos
trabalhadores da construção naval, etc. Criou-se de um lado, uma escala
minoritária, o trabalhador “polivalente e multifuncional”, capaz de operar com
máquinas com controle numérico e, de outro, uma massa precarizada sem
qualificação, que hoje está presenciando o desemprego estrutural. Estas Ora, se por um lado o fordismo potencializa a produção, por outro degrada o
mutações criaram, portanto, uma classe trabalhadora mais heterogênea, mais trabalhador à medida que a habilidade dos trabalhadores é substituída e/ou
fragmentada e mais complexificada, entre qualificados e desqualificados, mercado eliminadas pelo parcelamento das tarefas, pois a execução do trabalho torna-se
formal e informal, jovens e velhos, homens e mulheres, estáveis e precários, fragmentada, gerando inquietações na classe operária.
imigrantes, etc. (ANTUNES, 2002). Com a falência do padrão de acumulação fordista/taylorista, abre-se espaço para
a consolidação de um novo modelo de acumulação, assentado em bases flexíveis,
o chamado toyotismo. Ao contrário do fordismo, o modelo nipônico é voltado e
Essas características se manifestam em todos os segmentos dos trabalhadores na
conduzido pela demanda. A produção é flexível e diversificada, a qualidade é fator
divisão sócio técnica do trabalho, especificamente em relação ao Serviço Social cujas
primordial, além do predomínio tecnológico.
repercussões serão demonstradas no final do texto.

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Nesse cenário, segundo Antunes (1998, p.16), novos processos de trabalho
4. IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL NA
emergem onde o cronômetro e a produção em série e de massa são ‘substituídos’
CLASSE TRABALHADORA NO BRASIL
pela flexibilização da produção, pela ‘especialização flexível’, por novos padrões de
busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do
mercado.
Os imperativos do mundo globalizado obrigam as empresas a adotar novos
A transição do fordismo à acumulação flexível não significou apenas uma
padrões de produtividade, tendo em vista o ingresso no mercado competitivo. Com a
mudança no paradigma de produção e acumulação do capital, tal processo demarca
crise econômica de 1970, as empresas são obrigadas a investir em inovações
o que podemos denominar de reestruturação do processo produtivo, que surge como
tecnológicas e substituir a política repressiva de gestão de mão-de-obra do sistema
uma alternativa de superação da crise do capital trazendo graves consequências à
fordista, por formas mais democráticas que permitam uma parceria entre trabalhadores
classe trabalhadora.
e empresários com o objetivo de aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos e
serviços.

É na década de 1980 que, conduzido pela necessidade de se lançar no mercado


externo devido à recessão econômica, o Brasil vivencia o processo de reestruturação
2014.CESPE/TJ-SE. Acerca do trabalho na era da reestruturação reprodutiva e da
mundialização do capital, julgue o item. A expressão dominante do sistema produtiva levando as empresas brasileiras a aderir aos métodos flexíveis de
produtivo e de seu respectivo processo de trabalho - taylorismo-fordismo - vigorou acumulação capitalista alterando significativamente a classe trabalhadora.
na grande indústria, em quase todo o século XX, com base na produção em massa
de mercadorias e estruturada a partir de uma produção homogeneizada e As inovações tecnológicas e organizacionais passam a alastrar-se na economia
verticalizada. brasileira somente a partir dos anos 90. Doravante passa a serem difundida na indústria
Certo/ Errado e serviços públicos os programas de cunho flexível, como forma de reduzir custos e
aumentar a produtividade. Consequentemente, a adesão às inovações tecnológicas
organizacionais e gerenciais começa a atingir um número maior de trabalhadores.
Resposta Correta: Certo
Sendo assim, a reestruturação do processo produtivo das empresas conduz a
Comentário: Sobre o modelo de produção taylorista/fordista Antunes salienta: “De maneira
sintética, podemos indicar que o binômio taylorismo/fordismo, expressão dominante do redução de despesas, na maioria dos casos, através de demissão de trabalhadores como
sistema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho, que vigorou na grande forma de reajustar-se face às necessidades impostas pelo mercado.
indústria, ao longo praticamente de todo o século XX, sobretudo a partir da segunda
década, baseava-se na produção em massa de mercadorias, que se estruturava a partir
de uma produção mais homogeneizada e enormemente verticalizada” (ANTUNES, 1999, De acordo com Antunes (1998, p. 41-42), O mais brutal resultado dessas
p. 36).
transformações é a expansão, sem precedentes na era moderna, do desemprego
estrutural, que atinge o mundo em escala global. Pode-se dizer, de maneira
sintética, que há uma processualidade contraditória que, de um lado, reduz o
operariado industrial e fabril; de outro, aumenta o subproletariado, o trabalho
precário e o assalariamento no setor de serviços. Incorpora o trabalho feminino e
exclui os mais jovens e os mais velhos. Há, portanto, um processo de maior
heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora.

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desenvolvimento é a redução da miséria. Nestas condições, segundo as “regras do jogo”,

5. A REFORMA DO ESTADO o Estado é minimizado, e tem no mercado representado pelos países ricos, o definidor dos
rumos sociais, políticos e econômicos mundiais. A consolidação do projeto neoliberal
ganha mais solidez com o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Aliado ao processo de reestruturação da produção merece destaque à reforma
do Estado. Como já foi destacada anteriormente, a falência da economia internacional
ocorrida na década de 1970 é caracterizada pela saturação dos paradigmas de
acumulação capitalista adotado a partir dos anos 1940 (taylorismo/fordismo).

Os elementos constituintes da contrarreforma iniciada na década de 1990 são: edificação


do neoliberalismo / especulação do mercado financeiro /construção de uma
subjetividade antipública.
Nessa perspectiva, o neoliberalismo não é configurado como uma ideologia, mas
como um projeto objetivo de sociedade caracterizado pela livre concorrência e
Diante do contexto acima mencionado, os países hegemônicos em resposta a essa
predomínio das leis de mercado que ajusta as atividades e os agentes econômicos. É
crise, lançam mão de um conjunto de propostas, por eles elaboradas, concretizadas no
marcado por representar aos interesses do empresariado e do capital privado, entre
que resultou o Consenso de Washington configurado como uma “cartilha” de cunho
outros, prima pela liberdade individual; apoia o crescimento econômico – sem alterar sua
neoliberal formulada a partir dos interesses dos países capitalistas centrais, cujas regras
estrutura, assim como sua intervenção na economia – daí decorrem as privatizações, a
definem que as ações que os países periféricos devem adotar para se adequar aos liberdade nas taxas de juros e a liberdade de ação ao capital estrangeiro (BRUM, 1998).
padrões de exigência capitalista. Com essa postura, o trato as políticas sociais revelam-se privatizadas: no sentido
de privar alguns e dar direitos a outros “atribui-se ao próprio sujeito portador de
necessidades a responsabilidade pela satisfação de suas carências” (MONTAÑO, 2001,

Inserido nesse contexto, o Brasil, na condição de país periférico, é submetido às p. 19).


O ataque neoliberal promove o total desequilíbrio dos direitos sociais
regras impostas pelo Consenso de Washington. A adoção dessas regras modificou
conquistados. Desemprego, trabalho precário, perdas salariais, violação da liberdade
profundamente as relações entre Estado e sociedade civil, o que implica
dos sindicatos, entre outros, fazem parte do cotidiano do trabalhador. No decurso de sua
consequentemente na reforma do Estado, fato este que vai incidir diretamente nas
trajetória, os trabalhadores representados pelos sindicatos, veem encontrando
demandas postas ao Serviço Social.
dificuldades na luta por seus direitos, estes, conquistados ao longo dos tempos. Não
podemos afirmar que a categoria sindical se encontra estruturada diante da atual
Em resposta ao abalo no sistema financeiro internacional, os países hegemônicos
conjuntura, pois a mudança do quadro econômico e as estratégias cada vez mais rudes
apontam à necessidade de se encontrar mecanismos de superação em resposta aos
do capitalismo têm precarizado à classe trabalhadora (BRUM, 1998).
problemas demandados por essa situação.
No atual contexto de reestruturação da produção e das leis do mercado, os
trabalhadores são cooptados a cooperar com o acúmulo do capital e ainda usar seu
potencial de forma participativa e lucrativa (IAMAMOTO, 1998).
A solução encontrada foi a reforma do Estado via implantação de política Em função dessa nova abordagem das relações entre empregador e empregado,
neoliberal. Com a “reforma” as políticas sociais foram adaptadas ao novo contexto cujo eixo principal reside na ideia de que o trabalhador deve dar o melhor de si para o
neoliberal prevalecendo ações preventivas e redistributivas. bem de todos e da empresa, tomam-se medidas cujo único objetivo é o aumento da
lucratividade através de maior exploração do trabalho.
Na transição da década de 1980 a 1990, instaura-se o neoliberalismo com o
governo de Fernando Collor, sob o discurso que a condição indubitável ao

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processo de desenvolvimento e de redistribuição de renda e não no papel de
6. AS INCERTEZAS NO MUNDO DO TRABALHO DIANTE
articulador do ajuste fiscal e controle infindável da inflação, pois, de acordo com
DA GLOBALIZAÇÃO E DO NEOLIBERALISMO
Sposati (1995, p. 16), “a ação assistencial do Estado está imbricada na relação
capital/trabalho, e se faz nas sequelas da exploração da força de trabalho, que, por
Hoje as sociedades contemporâneas, majoritariamente, estão baseadas no modo
sua vez, se expressam nas precárias condições de vida das classes subalternas”.
de produção capitalista, que se constituiu ao longo dos anos, atravessou diversas crises,
mas, na atual conjuntura, apresenta-se relativamente estruturado.

Porém, segundo Martins (1997, p. 32), “o capitalismo, na verdade, desenraiza e


brutaliza a todos, exclui a todos”. Na sociedade capitalista “essa é uma regra estruturante:
todos nós, em vários momentos de nossa vida e de diferentes modos, dolorosos ou não, No caso brasileiro, as políticas focalistas do Estado neoliberal não só excluem
fomos desenraizados e excluídos”. a maioria da população do acesso aos benefícios, como rompem com o que está garantido
na Constituição Federal, principalmente no que se refere à saúde, à assistência e à
De forma particular, todas as mudanças que ocorreram no decorrer do tempo, na
previdência, constantes em leis como o direito do cidadão e dever do Estado, dificultando
sociedade brasileira, causaram significativas repercussões no mundo do trabalho. A partir
a universalização dos direitos e, principalmente, o controle social do ponto de vista
dos anos 70 (séc. XX), a sociedade global apresentou profundas transformações nas
institucional à realidade da assistência pública é a de um sistema que continuamente se
relações de trabalho e nos processos produtivos.
nega enquanto tal. Nega-se pela ausência de uma política social racionalmente integrada
e que, na sua definição, contribuísse para também definir, no seu interior, o perfil da política
assistencial. Nega-se também na medida em que a ossatura material do Estado que dá
sustentação aos inúmeros programas ditos assistenciais é desarticulada, fragmentada,
Os Tais transformações vincularam-se às grandes alterações no padrão de
perenemente marcada por uma atuação pontual e descontínua. Finalmente, anula-se,
industrialização fordista, nos países centrais, segundo Antunes (1995, p. 15-24),
também, pelas características do sistema de financiamento deste caro, mas inexistente
pois “as respostas dadas pelo capital diante da crise foram: neoliberalismos e a
sistema assistencial. (KARSCH; COHN; DRAIBE apud SPOSATI, 1995, p. 9).
reestruturação produtiva, acarretando profundas mutações para o trabalho como o
desemprego estrutural, a precarização do trabalho”. O capitalismo, a partir dessa visão, caracteriza-se por criar grande contingente de
Atualmente, os processos de globalização, a robotização da produção, os pobreza e baixa qualidade de vida, exploração dos trabalhos adulto e infantil, misérias
avanços tecnológicos, a recessão e o desemprego produzem efeitos desastrosos material e espiritual.
às nações mais pobres. Esses efeitos impõem à sociedade brasileira e ao seu
Ianni (1997, p. 25) afirma que “o capitalismo é um processo simultaneamente
contexto social a realidade do trabalho precário, da economia informal e do
social, econômico e cultural e seu desenvolvimento é desigual e contraditório”.
subemprego crônico.
Dessa forma, é importante ressaltar a reflexão de Cattani (2000, p. 33): “A No Brasil, as principais mudanças ocorreram a partir dos anos de 90 (séc. XX), com
precarização, a exclusão, o desemprego e a alienação no trabalho, de forma alguma, a participação do neoliberalismo. Os efeitos da crise provocaram efeito contundente no
podem ser considerados como inevitáveis, como o preço a pagar pelo conforto de conteúdo social das áreas urbanas, nos processos de produção, reprodução e gestão da
uma minoria”. Essa realidade social, política e econômica, tal qual está instituída, força de trabalho. Alguns desses problemas que se acentuam na contemporaneidade são
exige uma compreensão de que a luta contra a crise social que se a falta de emprego formal, a queda nos salários e a precarização das relações de trabalho.
expressa no desemprego, na pobreza, na violência, na fome, no desabrigo, na falta
O renascimento das propostas neoliberais [...] tem resultado no desemprego
de saúde e educação, implica a participação do Estado no papel de condutor no
massivo, no corte dos gastos sociais, acompanhado de uma legislação antisindical e em

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um amplo programa de privatização dos órgãos do Estado. [...] O aprofundamento das
desigualdades e a ampliação do desemprego atestam ser a proposta neoliberal vitoriosa, 2016/ FUNIVERSA/IF-AP. Assinale a alternativa que apresenta característica das
visto serem estas suas metas, ao apostar no mercado como a grande esfera reguladora políticas sociais no neoliberalismo.
das relações econômicas, cabendo aos indivíduos à responsabilidade de “se virarem no
mercado”. (IAMAMOTO, 2004, p. 34-35).
a) Políticas paternalistas, mas articuladas e complementares entre si.

Há, dessa forma, uma fragilização na organização dos trabalhadores, como b) Políticas geradoras de equilíbrio e paz social.
consequência da flexibilização das relações de trabalho, que forçam a perda das c) Políticas planejadas, operantes e que garantem a universalidade do acesso aos serviços
conquistas sociais por parte dos trabalhadores ainda incluídos no sistema produtivo. dela derivados.

d) Tendência a mercantilização das políticas sociais e desfinanciamento da proteção social


As tendências do mercado de trabalho [...] indicam uma classe trabalhadora
pelo Estado.
polarizada, com uma pequena parcela com emprego estável, dotada de força de trabalho
e) Políticas que implementam direitos assegurados em lei, com caráter de ações
altamente qualificada e com acesso a direitos trabalhistas e sociais e uma larga parcela da
permanentes e com regras de acessibilidade objetivas e estáveis.
população com trabalhos precários, temporários, subcontratados, etc. (IAMAMOTO, 2004,
p. 32).

No contexto histórico da política neoliberal, as desigualdades sociais acentuam- Resposta Correta: Letra d) Tendência a mercantilização das políticas sociais e
se e se aprofundam, ampliando a todo o momento o desemprego e quebrando o poder dos desfinanciamento da proteção social pelo Estado.
sindicatos. O neoliberalismo, como responsável pelo acelerado processo de privatização,
desregulamentação e flexibilização das relações trabalhistas, aumenta a competitividade e
desarticula todo o processo de luta da classe trabalhadora, fragilizando ainda mais as lutas
sindicais e a insegurança generalizada.
2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/ Prefeitura de Fortaleza – CE. O neoliberalismo,
segundo estudiosos, passou por fases, a primeira de ataque ao keynesianismo e ao
A insegurança no mercado de trabalho, a insegurança no emprego, a
Welfare State e a segunda mais propositiva, com ênfase em programas sociais, no
insegurança na renda, a insegurança na contratação, a insegurança na trinômio da focalização, privatização e descentralização. Sobre o resultado desse
representação do trabalho, na organização sindical e na defesa do trabalho [...] programa neoliberal nos anos de 1990, do ponto de vista social, assinale a alternativa
correta.
assume particularidades mais graves, visto que ao desemprego, resultante das novas
tecnologias, soma-se o persistente desemprego estrutural, as relações de trabalho
presididas pela violência, a luta pela terra, o trabalho noturno, as relações de trabalho a) Crescimento da pobreza, do desemprego e da desigualdade social.
clandestinas, o trabalho escravo, que passam a adquirir certa “máscara de modernidade” b) Crescimento da pobreza, crise da democracia e crescimento econômico.
nesse país. (IAMAMOTO, 2004, p. 33).
c) Desemprego, individualismo, consumismo.
Essas contradições vêm confirmar a desigualdade social e o empobrecimento d) Desemprego, crise da democracia, individualismo.
de grande parte da população brasileira, pois a tão falada globalização (enaltecida pelos
neoliberais) só beneficiou os mais ricos, porque à imensa maioria do segmento
populacional apenas sobrou o desemprego, a precarização no mundo do trabalho, a Resposta Correta: Letra a) Crescimento da pobreza, do desemprego e da
miséria, a ignorância e a fome, mas também as vulnerabilidades social e emocional a que desigualdade social.
estão expostos, além da exclusão à qual estão submetidos.
Comentário: Behring (2009, p. 11-12, grifo) ao refletir criticamente sobre a Política Social
no contexto da crise capitalista afirma que o neoliberalismo viveu uma primeira fase de

19 20
ataque ao keynesianismo e ao Welfare State. No entanto, há uma segunda fase, esta, mais
propositiva, com ênfase, no que diz respeito aos programas sociais, no trinômio articulado
da focalização, privatização e descentralização [...]. Em fins dos anos de 1990, o resultado 7. MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL:
geral deste programa, que repõe a negação da política e, em consequência, da política
social, é desalentador. Do ponto de vista social, atesta-se o crescimento da pobreza, do
REFLEXOS NO MUNDO DO TRABALHO
desemprego e da desigualdade, ao lado de uma enorme concentração de renda e riqueza
no mundo (NETTO, 2006).

Segundo Ricardo Antunes (2006, p.55) nos dias de hoje observa-se um


retorno à precariedade do trabalho somente vista anteriormente na época da 1ª
Revolução Industrial: “(...) cada vez menos homens e mulheres trabalham muito, em
ritmo e intensidade que se assemelham à fase pretérita do capitalismo, na gênese
da Revolução Industrial...”. Trata-se de uma regressão impetrada pelo sistema
capitalista do último quartel do século passado.

Os trabalhadores são impelidos a voltar às condições de super exploração de


outrora e todas as conquistas das políticas trabalhistas e do Welfare State dissolvem-se
sob a espada dos ditames neoliberais e do Consenso de Washington.

Como já vimos discorrendo durante todo o texto, essa precarização intensiva do


poder do proletariado quanto aos anseios de manutenção das taxas de rentabilidade das
empresas nos níveis mais elevados possíveis. Para tanto, este sistema teve que atuar
diretamente em todas as áreas que determinam as características da categoria trabalho.
No chão de fábrica tratou de investir cada vez mais em Ciência e Tecnologia para
possibilitar a reconfiguração da mão-de-obra e de suas funções. “Avassalada pela terceira
revolução industrial, ou molecular-digital, em combinação com o movimento da
mundialização do capital, a produtividade do trabalho dá um salto mortal em direção à
desregulamentação da legislação de proteção social dos trabalhadores e passou a contar
com cada vez mais funcionários terceirizados.

Os modelos norte-americano e inglês de desregulamentação e flexibilidade


dos contratos salariais servem ainda hoje de base para todos os países do mundo.
Do ponto de vista tecnológico, são eles, também, os maiores exportadores das máquinas
que substituem o trabalho humano. É imprescindível ter em conta a relação direta entre os
setores de P&D e as mudanças nas relações de trabalho. Isto é, avança a tecnologia,
mas regride a legislação trabalhista e depaupera-se a condição do operário. Assim
sintetizou Chesnais: “Cada passo à frente, no sentido da introdução da automação

21 22
contemporânea baseada em microprocessadores, foi motivo para destruir as formas trabalhista e a grande demanda por trabalhadores temporários, sem vínculo empregatício
anteriores das relações contratuais...” (1995, p.8) ou registro formalizado” (ANTUNES, 2006, p.58) se configuram como mais duas
engrenagens desse processo colocado em marcha pelo grande capital a partir da década
Dentre os recém introjetados princípios no chão da fábrica destacam-se o da
de 1970. A aplicação intensiva dessa metodologia (terceirização) resultou, ao menos no
“produção enxuta” (lean production) e o da quantidade de empregados “desengordurada”.
Brasil, em uma economia de R$ 26 bilhões por parte das empresas. Segundo Márcio
A automação que subsidiava a produção inflexível passou a requerer um novo tipo
Pochmann, desse valor principal, R$ 20 bi deixaram de ir para os trabalhadores e R$ 6 bi
de operário, um operário que não mais correspondesse às formações fordistas. Mais
para os cofres do governo. Ademais, no mesmo estudo, Pochmann demonstrou que a
do que um trabalhador especializado em uma única função era necessário um
diferença salarial entre um efetivo e um terceirizado pode chegar quase à metade,
funcionário que correspondesse a uma série de tarefas complexas. A substituição de
afirmando que “o que faz a terceirização se expandir é, muitas vezes, a opção das
muitos proletários de herança fordista foi uma consequência indelével do desenvolvimento
empresas pela redução de custos por meio de salários. No Brasil, em geral, a terceirização
tecnológico: hoje, um número reduzido de trabalhadores desespecializados controlam um
virou sinônimo de precarização do trabalho”. O técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr.,
extenso maquinário responsável pela produção. Segundo Antunes, a retração do
complementou: “A terceirização veio para precarizar. Alguns setores que não podem
operariado industrial de base tayloriana-fordista (que tinham suas tarefas superdivididas e
pagar salário menor do que o piso de determinada categoria acabam contratando
extremamente simplificadas) e a ampliação da lógica da flexibilidade toyotizada foram
empresas de fora só para escapar de acordos coletivos e de passivos trabalhistas”.
responsáveis por grande aumento da produtividade dos capitais empregados na indústria.
Tal intento igualmente foi garantido pela “redução do número de trabalhadores, A deturpação do conceito de cooperativa e o estímulo cínico às modalidades de
intensificação da jornada de trabalho dos empregados, surgimento dos círculos de prestação de serviços – tais como o empreendedorismo – são mais duas formas através
controle de qualidade (CCQs) e dos sistemas de produção just-in-time e kanban...” das quais o capital vai minando a proteção legal que outrora o trabalhador já possuiu.
(2006, p.57) – receituário oriundo do ideário japonês. Tendo como objetivo principal sempre a menor remuneração possível da força de trabalho,
a terceirização também compreende uma sistemática que muito determina o nível geral de
Esse processo em que “as substâncias vivas são eliminadas, como o trabalho vivo,
lucratividade de determinado setor da economia. Chesnais (1995, p.8-9) assim sintetizou:
e substituídas pelo maquinário tecno-informacional presente no trabalho morto” redundou
em taxas de desemprego altíssimas e em um aumento do grau de exploração daqueles [...] essas técnicas de organização de empresa haviam servido desde sempre para
que permaneceram empregados. As estas últimas formas de trabalho humano que que os grandes grupos repassassem às empresas subcontratadas os acasos da

restaram, por enquanto, em determinadas empresas, são ditados os novos formatos que conjuntura e impusessem, a seus assalariados o peso da precariedade contratual,
associada a níveis de salários bastante baixos. Todos os grandes grupos adotaram
esse labor deve possuir:
essas técnicas, e suas operações com o exterior (principalmente com os países
O trabalho que cada vez mais as empresas buscam não é mais aquele menos fortes) frequentemente serviram de campo de experimentação antes que se
fundamentado na especialização taylorista e fordista, mas o que se gestou implantasse o sistema no país de origem...
na fase de ‘desespecialização multifuncional’, do ‘trabalho multifuncional’,
O radicalismo dessa atual fase do sistema capitalista se sustenta justamente em
que em verdade expressa a enorme intensificação dos ritmos, tempos e
processos de trabalho. E isso ocorre tanto no mundo industrial quanto no cima de um aparente paradoxo: a não-necessidade cada vez maior de mão-de-obra
de serviços, para não falar dos agronegócios. (ANTUNES, 2006, p.59) industrial não fez com que diminuísse o ímpeto dos donos de transnacionais de buscá-la
nas periferias mais miseráveis do sistema, tentando com isso “barateá-la”. Trata-se de
Nesse quadro já desesperador onde “os trabalhadores e trabalhadoras
vários movimentos simultâneos: a precarização do trabalho avança entre os
oscilam, cada vez mais, entre a busca quase inglória do emprego ou o aceite de
empregados e a miséria corrói os “dispensados” por esse modo de produção. Hoje
qualquer labor”, a subcontratação e a terceirização chegaram para provocar a
em dia, 1 bilhão de proletários tentam sobreviver através destes trabalhos temporários,
agudização desse movimento de precarização do trabalho humano. A “nítida
cada vez mais instáveis e insuportáveis para qualquer ser humano. O EIR (Exército
ampliação de modalidades de trabalho mais desregulamentadas, distantes da legislação
Industrial de Reserva) é utilizado como expediente de rebaixamento do custo de

23 24
reprodução da força de trabalho urbana. Como podemos observar, o trabalhador hoje é Os trabalhadores parecem viver dentro de um imbróglio que não tem solução:
atacado através de diversas frentes. Desemprego e miséria ou trabalho, terceirização e nunca se viram tão explorados e ignorados pelo capital e, igualmente, nunca se viram tão
precarização – estas são as duas opções dos proletários do século XXI, principalmente sem poder de fogo para lutar contra essa conjuntura. Francisco de Oliveira (s.d.) assim
nas regiões (geralmente ex-coloniais) onde o capitalismo da miséria reproduz-se resumiu a crise do sindicalismo e da representatividade dos proletários na atualidade:
cotidianamente (LIMA FILHO, 2006). Oliveira (s.d.) assim colocou a questão central, neste
As forças do trabalho já não têm ‘força’ social, erosionada pela reestruturação
caso referindo-se especificamente ao Brasil:
produtiva e pelo trabalho abstrato-virtual e ‘força’ política, posto que dificilmente tais

A tendência à formalização das relações salariais estancou nos anos oitenta, mudanças na base técnico-material da produção deixariam de repercutir na
formação da classe (...) A representação de classe perdeu sua base e o poder
e expandiu-se o que ainda é impropriamente chamado de trabalho informal.
político a partir dela estiolou-se
Entroncando com a chamada reestruturação produtiva, assiste-se (...) à desconstrução da
relação salarial que se dá em todos os níveis e setores. Terceirização, precarização,
flexibilização, desemprego às taxas de quase 30% na Grande São Paulo e 25% em 2014/CESPE/TJ-SE. Acerca do trabalho na era da reestruturação reprodutiva e da
Salvador. mundialização do capital, julgue o item. A mundialização do capital possibilitou a
ampliação de empregos e impôs maior intervenção do Estado no atendimento às
necessidades sociais.

Certo/Errado

Constatação não menos grave do que todas que fizemos até agora é a que nos Resposta Correta: Errado
remete à perda do poder de barganha da classe trabalhadora nesse novo estágio
de acumulação capitalista. O proletariado hoje sofre de uma aguda crise de Comentário: O capitalismo, desde o início da sua atual fase de acumulação –
desencadeada na década de 1970, promove uma verdadeira guerra contra o trabalho
identidade e não consegue organizar-se para reivindicar melhores condições de
humano. Investindo tanto em Ciência e Tecnologia quanto em reorganização da força de
trabalho. De fato, era inevitável que o reflexo das transformações dos processos trabalho no chão de fábrica, o capital ampliou a sua supremacia sobre a classe
produtivos dos últimos 30 anos se efetivasse na consciência do operário e nas trabalhadora e manteve os seus índices de lucratividade nos patamares mais altos
possíveis. A terceirização e a flexibilização da legislação trabalhista fazem parte do mesmo
instituições representativas de sua classe.
movimento de precarização da atividade do trabalhador (aumento na intensidade dos
processos de trabalho) e enfraquecimento da consciência operária. A mundialização do
capital adveio com avanço tecnológico por um lado e regressão, no que concerne às
condições de vida e de trabalho dos proletários, por outro.

Constatação não menos grave do que todas que fizemos até agora é a que
nos remete à perda do poder de barganha da classe trabalhadora nesse novo estágio
de acumulação capitalista. O proletariado hoje sofre de uma aguda crise de
identidade e não consegue organizar-se para reivindicar melhores condições de
trabalho. De fato, era inevitável que o reflexo das transformações dos processos
produtivos dos últimos 30 anos se efetivasse na consciência do operário e nas
instituições representativas de sua classe.

25 26
a formas mais desregulamentadas de trabalho, reduzindo fortemente o conjunto de
trabalhadores estáveis que se estruturavam por meio de empregos formais.
8. AS MUTAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO
Com o desenvolvimento da lean production e das formas de horizontalização do
capital produtivo, bem como das modalidades de flexibilização e desconcentração do
O objetivo deste texto é analisar as principais mutações na objetividade e
espaço físico produtivo, da introdução da máquina informatizada, como a “telemática” (que
subjetividade do mundo do trabalho, visando a oferecer uma leitura alternativa e
permite relações diretas entre empresas muito distantes), tem sido possível constatar uma
diferenciada com relação às teses que defendem a ideia do esgotamento ou mesmo
redução do proletariado estável, herdeiro da fase taylorista/ fordista.
do fim do trabalho (e da classe trabalhadora). Num segundo momento, buscaremos
apreender as principais determinações concretas da crise e das metamorfoses do mundo 2) Há, entretanto, contrariamente à tendência anteriormente apontada, outra
do trabalho no contexto da mundialização do capital. Enquanto se amplia muito significativa e que se caracteriza pelo aumento do novo proletariado fabril e
significativamente, em escala mundial, o conjunto de homens e mulheres que vivem da de serviços, em escala mundial, presente nas diversas modalidades de trabalho
venda de sua força de trabalho, tantos autores têm dado adeus ao proletariado, têm precarizado. São os terceirizados, subcontratados, part-time, entre tantas outras formas
defendido a ideia do descentramento da categoria “trabalho”, da perda de relevância do assemelhadas, que se expandem em escala global. Anteriormente, estes postos de
trabalho como elemento estruturante da sociedade. Seguiremos um caminho alternativo trabalho eram prioritariamente preenchidos pelos imigrantes, como os gastarbeiters na
e contrário a estas teses, mostrando como há um processo heterogêneo e complexo, Alemanha, o lavoro nero na Itália, os chicanos nos EUA, os dekasseguis no Japão, entre
quando se analisa a forma de ser da classe trabalhadora hoje. tantos outros exemplos. Mas, hoje, sua expansão atinge também os trabalhadores
remanescentes da era da especialização taylorista/fordista, cujas atividades vêm
desaparecendo cada vez mais. Com a desestruturação crescente do Welfare State nos
1.As mutações no mundo do trabalho: heterogeneidade, fragmentação e países do Norte e com a ampliação do desemprego estrutural, os capitais transnacionais
complexificação. implementam alternativas de trabalho crescentemente desregulamentadas, “informais”, de
que são exemplo as distintas formas de terceirização.
Nossa tese central é a de que, se a classe trabalhadora não é idêntica àquela
existente em meados do século passado, ela também não está em vias de Esta processualidade atinge, também, ainda que de modo diferenciado, os países
desaparição, nem ontologicamente perdeu seu sentido estruturante. Vamos, subordinados de industrialização intermediária, como Brasil, México, Argentina, entre
portanto, procurar compreendê-la, em sua conformação atual. Devemos indicar, tantos outros da América Latina que, depois de uma enorme expansão de seu proletariado
desde logo, que a classe trabalhadora hoje compreende a totalidade dos industrial nas décadas passadas, passaram a presenciar significativos processos de
assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho – a desindustrialização, tendo como resultante a expansão do trabalho precarizado, parcial,
classe-que-vive-do-trabalho, conforme nossa denominação (Antunes, 1995 e 1999) – temporário, terceirizado, informalizado etc., além de enormes níveis de desemprego, de
e que são despossuídos dos meios de produção. Mas ela vem presenciando um trabalhadores(as) desempregados(as).
processo multiforme, cujas principais tendências indicaremos a seguir. Vamos
enumerá-las:

3) Há uma outra tendência de enorme significado no mundo do trabalho


contemporâneo: trata-se do aumento significativo do trabalho feminino, que atinge
1) Com a retração do binômio taylorismo/fordismo, vem ocorrendo uma mais de 40% da força de trabalho em diversos países avançados, e que tem sido
redução do proletariado industrial, fabril, tradicional, manual, estável e absorvido pelo capital, preferencialmente no universo do trabalho part-time,
especializado, herdeiro da era da indústria verticalizada de tipo taylorista e fordista. precarizado e desregulamentado. No Reino Unido, por exemplo, desde 1998 o
Esse proletariado vem diminuindo com a reestruturação produtiva do capital, dando lugar

27 28
contingente feminino tornou-se superior ao masculino, na composição da força de trabalho 5) Outra tendência presente no mundo do trabalho é a crescente exclusão
britânica. dos jovens, que atingiram a idade de ingresso no mercado de trabalho e que, sem
perspectiva de emprego, acabam muitas vezes engrossando as fileiras dos trabalhos
Esta expansão do trabalho feminino tem, entretanto, um movimento inverso
precários, dos desempregados, sem perspectivas de trabalho, dada a vigência da
quando se trata da temática salarial, na qual os níveis de remuneração das mulheres
sociedade do desemprego estrutural.
são em média inferiores àqueles recebidos pelos trabalhadores, o mesmo ocorrendo
com relação aos direitos sociais e do trabalho, que também são desiguais.

Muitos estudos têm apontado que, na nova divisão sexual do trabalho, as 6) Paralelamente à exclusão dos jovens vem ocorrendo também a exclusão
atividades de concepção ou aquelas de capital intensivo são realizadas dos trabalhadores considerados “idosos” pelo capital, com idade próxima de 40
predominantemente pelos homens, ao passo que aquelas de maior trabalho anos e que, uma vez excluídos do trabalho, dificilmente conseguem reingresso no
intensivo, frequentemente com menores níveis de qualificação, são mercado de trabalho. Somam-se, desse modo, aos contingentes do chamado trabalho
preferencialmente destinadas às mulheres trabalhadoras (e também a trabalhadores informal, aos desempregados, aos “trabalhos voluntários” etc. O mundo do trabalho atual
(as) imigrantes, negros (as), indígenas etc.) (Hirata, 2002). tem recusado os trabalhadores herdeiros da “cultura fordista”, fortemente especializados,
que são substituídos pelo trabalhador “polivalente e multifuncional” da era toyotista.
4) É perceptível também, particularmente nas últimas décadas do século XX,
uma significativa expansão dos assalariados médios no “setor de serviços”, que E, paralelamente a esta exclusão dos “idosos” e jovens em idade pós-escolar, o
inicialmente incorporou parcelas significativas de trabalhadores expulsos do mundo mundo do trabalho, nas mais diversas partes do mundo, no Norte e no Sul, tem se utilizado
produtivo industrial, como resultado do amplo processo de reestruturação produtiva, das da inclusão precoce e criminosa de crianças no mercado de trabalho, nas mais
políticas neoliberais e do cenário de desindustrialização e privatização. Nos EUA, esse diversas atividades produtivas.
contingente ultrapassa a casa dos 70%, tendência que se assemelha à do Reino Unido, da
França, Alemanha, bem como das principais economias capitalistas.
7) Como desdobramento destas tendências anteriormente apontadas, vem se
Se, entretanto, inicialmente se deu uma forte absorção, pelo setor de serviços,
desenvolvendo no mundo do trabalho uma crescente expansão do trabalho no
daqueles (as) que se desempregavam do mundo industrial, é necessário acrescentar que
chamado “Terceiro Setor”, assumindo uma forma alternativa de ocupação, por intermédio
as mutações organizacionais, tecnológicas e de gestão também afetaram fortemente
de empresas de perfil mais comunitários, motivadas predominantemente por formas de
o mundo do trabalho nos serviços, que cada vez mais se submetem à racionalidade do
trabalho voluntário, abarcando um amplo leque de atividades, nas quais predominam
capital e à lógica dos mercados. Como exemplos, poderíamos lembrar a enorme redução
aquelas de caráter assistencial, sem fins diretamente mercantis ou lucrativos e que se
do contingente de trabalhadores bancários no Brasil dos anos de 1990, em função da
desenvolvem relativamente à margem do mercado.
reestruturação do setor, ou ainda daqueles serviços públicos que foram privatizados e que
geraram enorme desemprego. A expansão desse segmento é um desdobramento direto da retração do mercado
de trabalho industrial e de serviços, num quadro de desemprego estrutural. Esta forma de
Com a inter-relação crescente entre mundo produtivo e setor de serviços, vale
atividade social, movida predominantemente por valores não-mercantis, tem tido certa
enfatizar que, em consequência dessas mutações, várias atividades no setor de serviços
expansão, por meio de trabalhos realizados no interior das ONGs e de outros organismos
anteriormente consideradas improdutivas tornaram-se diretamente produtivas,
ou asso- criações similares. Trata-se, entretanto, de uma alternativa extremamente limitada
subordinadas à lógica exclusiva da racionalidade econômica e da valorização do capital.
para compensar o desemprego estrutural, não se constituindo, em nosso entendimento,
Uma consequência positiva dessa tendência foi o significativo aumento dos níveis de
numa alternativa efetiva e duradoura ao mercado de trabalho capitalista.
sindicalização dos assalariados médios, ampliando o universo dos trabalhadores (as)
assalariados (as), na nova e ampliada configuração da classe trabalhadora.

29 30
O “Terceiro Setor” acaba, em decorrência de sua próxima gênese e configuração, inúmeras empresas que vêm aumentando as atividades de trabalho produtivo realizado no
exercendo um papel funcional ao mercado, uma vez que incorpora parcelas de espaço domiciliar ou em pequenas unidades produtivas, conectadas ou integradas às
trabalhadores desempregados pelo capital e abandonados pela desmontagem do Welfare empresas. Desse modo, o trabalho produtivo em domicílio mescla-se com o trabalho
State. Se esse segmento tem a positividade de frequentemente atuar à margem da lógica reprodutivo doméstico, aumentando as formas de exploração do contingente feminino.
mercantil, parece-nos, entretanto, um equívoco entendê-lo como uma real alternativa
duradoura e capaz de substituir a sociedade capitalista e de mercado. Essa alternativa tem
o papel, em última instância, de funcionalidade ao sistema. 9) Há ainda uma última tendência que vamos indicar: no contexto do capitalismo
mundializado, dado pela transnacionalização do capital e de seu sistema produtivo, a
Em suma: se o “Terceiro Setor” vem incorporando trabalhadores (as) que
configuração do mundo do trabalho é cada vez mais transnacional. Com a reconfiguração,
foram expulsos do mercado de trabalho formal e passam a desenvolver atividades
tanto do espaço quanto do tempo de produção, novas regiões industriais emergem e
não-lucrativas, não-mercantis, reintegrando-os, este pode ser considerado seu traço
muitas desaparecem, além de inserirem-se cada vez mais no mercado mundial, como a
positivo. Ao incorporar – ainda que de modo também precário – aqueles que foram
indústria automotiva, na qual os carros mundiais praticamente substituem o carro nacional.
expulsos do mercado formal de trabalho, estes seres sociais se veem não mais como
desempregados, plenamente excluídos, mas realizando atividades efetivas, dotadas de Esse processo de mundialização produtiva desenvolve uma classe trabalhadora
algum sentido social e útil. Mas devemos reiterar que essas atividades são funcionais ao que mescla sua dimensão local, regional, nacional com a esfera internacional. Assim
sistema, que hoje se mostra completamente incapaz de absorver os desempregados e como o capital se transnacionalizou, há um complexo processo de ampliação das fronteiras
precarizados. no interior do mundo do trabalho. Assim como o capital dispõe de seus organismos
internacionais, a ação dos trabalhadores deve ser cada vez mais internacionalizada.
Com o desmonte do Welfare State e dos direitos sociais adquiridos ao longo
da vigência da sociedade capitalista, essas atividades acabam suprindo em alguma
medida as lacunas sociais que foram se abrindo. Como mecanismo minimizador do
Podemos exemplificar com a greve dos trabalhadores metalúrgicos da General
desemprego estrutural, elas cumprem uma função, ainda que limitadíssima. Porém,
Motors, nos EUA, de junho de 1998, iniciada em Michigan, em uma pequena unidade
quando são concebidas como um momento efetivo de transformação social, convertem-
estratégica da empresa e que teve repercussões profundas em vários países. A ampliação
se, em nosso entendimento, em uma nova forma de mistificação, que imagina ser capaz
do movimento foi crescente, na medida em que frequentemente faltavam equipamentos e
de alterar o sistema de capital em sua lógica, processo este que, sabemos, é muito mais
peças em diversas unidades da empresa. A unidade produtiva em Flint, que desencadeou
complexo.
a greve e que fornecia acessórios para os automóveis, ao paralisar suas atividades, afetou
as demais unidades, paralisando praticamente todo o processo produtivo da GM, por falta
de equipamentos e peças. Além de todas as transformações indicadas anteriormente, a
8) Outra tendência que gostaríamos de apontar é a da expansão do trabalho
classe trabalhadora também se conforma mundialmente
em domicílio, permitida pela desconcentração do processo produtivo, pela expansão
de pequenas e médias unidades produtivas. Por meio da telemática, com a expansão
das formas de flexibilização e precarização do trabalho, com o avanço da horizontalização
do capital produtivo, o trabalho produtivo doméstico vem presenciando formas de expansão
em várias partes do mundo. Sabemos que a telemática (ou teleinformática) nasceu da É este, portanto, o desenho compósito, diverso e heterogêneo que caracteriza a
convergência entre os sistemas de telecomunicações por satélite e por cabo, juntamente nova conformação da classe trabalhadora, a classe-que-vive do-trabalho: além das
com as novas tecnologias de informação e a microeletrônica, possibilitando enorme clivagens entre os trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos,
expansão e a aceleração das atividades das transnacionais. Essa modalidade de trabalho nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, “incluídos e
tem se ampliado em grande escala, de que são exemplos a Benetton, a Nike, entre as

31 32
excluídos” etc., temos também as estratificações e fragmentações que se acentuam em III. O aumento do novo proletariado fabril e de serviços, escala mundial, presente nas
função do processo crescente de internacionalização do capital. diversas modalidades de trabalho precarizado.

IV. A expansão do trabalho feminino, entretanto, vemos um movimento inverso quando se


trata da temática salarial, na qual os níveis de remuneração das mulheres são em nédia
2014/EBSERH/HU-UNIVASF/IBFC. As consequências da acumulação flexível, ao inferiores àqueles recebidos pelos trabalhadores, o mesmo ocorrendo com relação aos
mundo do trabalho, indicadas por Antunes (2003), são as seguintes: direitos sociais e do trabalho, que também são desiguais.

I. Incremento do novo proletariado, do subproletariado fabril e de serviços. V. Uma significativa diminuição dos assalariados médios no “setor de serviços”, que
inicialmente incorporou parcelas de trabalhadores expulsos no mundo produtivo industrial,
II. Ampliação do trabalho feminino, porém, esse crescendo de forma precarizada e como resultado do amplo processo de reestruturação produtiva, das políticas neoliberais e
desregulamentada. do cenário de desindustrialização e privatização.

III. Redução significativa do proletariado fabril estável. Estão corretas:

IV. Inclusão de jovens e dos idosos no mercado de trabalho a) II, III e V.

V. Há exclusão de crianças no mercado de trabalho. b) I, IV e V

São corretas apenas as afirmativas: c) II, III e IV

a) II, III e V d) I, III e IV

b) III, IV e V e) I, II e IV

c) II, IV e V Resposta Correta: Letra d) I, III e IV


d) I, II e V

e) I, II e III
1.1. A nova forma de ser do trabalho.
Resposta Correta: Letra e) I, II e III
Desse modo, para se compreender a nova forma de ser do trabalho, a classe
trabalhadora hoje, é preciso partir de uma concepção ampliada de trabalho. Ela
compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da
sua força de trabalho, não se restringindo aos trabalhadores manuais diretos, incorporando
EBSERH/HU-FURG/IBFC/2015. Antunes e Alves (2004) analisando as mutações
também a totalidade do trabalho social, a totalidade do trabalho coletivo que vende
processadas no Mundo do Trabalho a partir da mundialização do capitalismo
indicam que tivemos alterações na categoria “trabalho”, trazendo implicações para sua força de trabalho como mercadoria em troca de salário.
a classe trabalhadora. Considerando as colocações dos autores, podemos dizer que
atualmente, a classe trabalhadora, tem vivenciado um processo de mudança Ela incorpora tanto o núcleo central do proletariado industrial, os trabalhadores
multiforme, expresso por meio de determinadas tendências, dentre as quais, produtivos que participam diretamente do processo de criação de mais-valia e da
podemos citar: valorização do capital (que hoje, como vimos acima, transcende em muito as atividades
I. A diminuição do proletariado dando lugar as formas mais desregulamentadas de trabalho, industriais, dada a ampliação dos setores produtivos nos serviços) e abrange também os
reduzindo fortemente o conjunto de trabalhadores estáveis que se estruturavam por meio trabalhadores improdutivos, cujo trabalhos não criam diretamente mais-valia, uma vez
de empregos formais.
que são utilizados como serviço, seja para uso público, como os serviços públicos, seja
II. Acrescente absorção dos jovens, que atingiram a idade de ingresso no mercado de para uso capitalista. Podemos também acrescentar que os trabalhadores improdutivos,
trabalho.

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criadores de antivalor no processo de trabalho, vivenciam situações muito aproximadas Para compreendermos a significação ontológica do envolvimento do trabalho sob a
com aquelas experimentadas pelo conjunto dos trabalhadores produtivos. produção capitalista é importante compreender o conceito de subsunção, utilizado por Marx
no “Capítulo VI Inédito” de O Capital, e seu desdobramento em formal e real. Em primeiro
A classe trabalhadora, hoje, também incorpora o proletariado rural, que vende a
lugar, o termo “subsunção” indica e caracteriza a relação entre o trabalho e o capital. À
sua força de trabalho para o capital, de que são exemplos os assalariados das regiões
primeira vista, poderia parecer mais oportuno denominá-lo “submissão”, já que se trata de
agroindustriais, e incorpora também o proletariado precarizado, o proletariado
expressar a relação que surge quando o trabalhador vende sua força de trabalho ao capital,
moderno, fabril e de serviços, part-time, que se caracteriza pelo vínculo de trabalho
a ele se submetendo. No entanto, subsunção expressa que a força de trabalho vem a ser,
temporário, pelo trabalho precarizado, em expansão na totalidade do mundo produtivo.
ela mesma, incluída e como que transformada em capital: o trabalho constitui o capital.
Inclui, ainda, em nosso entendimento, a totalidade dos trabalhadores desempregados.
Constitui-o negativamente, pois é nele integrado no ato de venda da força de trabalho, pelo
Naturalmente, em nosso desenho analítico não fazem parte da classe trabalhadora qual o capital adquire, com essa força, o uso dela; uso que constitui o próprio processo
moderna os gestores do capital, pelo papel central que exercem no controle, na gestão e capitalista de produção. O termo “submissão” não ressalta a relação por ter em seu
no sistema de mando do capital. Estão excluídos também os pequenos empresários, a conteúdo uma certa carga de “docilidade”. Na verdade, nas relações trabalho/capital,
pequena burguesia urbana e rural que é proprietária e detentora, ainda que em pequena além e apesar de o trabalho “subordinar-se” ao capital, ele é um elemento vivo, em
escala, dos meios de sua produção. E estão excluídos também aqueles que vivem de permanente medição de forças, gerando conflitos e oposições ao outro polo
juros e da especulação. formador da unidade que é a relação e o processo social capitalista.

Dessa maneira, o que é especifico é que a força de trabalho, além de ser um dos
Compreender, portanto, a classe-que-vive-do-trabalho, a classe trabalhadora hoje, elementos constitutivos da relação social que a aprisiona e “submete”, é também um
de modo ampliado, implica entender este conjunto de seres sociais que vivem da elemento que nega aquela relação e por isso mesmo sua “subordinação” precisa ser
venda da sua força de trabalho, que são assalariados e desprovidos dos meios de reiteradamente afirmada. É neste processo que o capital visa a superar uma subordinação
produção. Como todo trabalho produtivo é assalariado, mas nem todo trabalhador (melhor: subsunção) meramente formal, transformando-a em real (subsunção real), com o
assalariado é produtivo, uma noção contemporânea de classe trabalhadora deve corolário de que a transformação da força de trabalho em capital acaba por consolidar-se
incorporar a totalidade dos (as) trabalhadores (as) assalariados (as). socialmente.
A classe trabalhadora, portanto, é mais ampla que o proletariado industrial
Desde a sua origem, o modo capitalista de produção pressupõe um envolvimento
produtivo do século passado, embora este ainda se constitua em seu núcleo
operário, ou seja, formas de captura da subjetividade operária pelo capital, ou, mais
fundamental. Ela tem, portanto, uma conformação mais fragmentada, mais
precisamente, da sua subsunção à lógica do capital (observando que o termo “subsunção”
heterogênea, mais complexificada. Que somente pode ser apreendida se partirmos
não é meramente “submissão” ou “subordinação”, uma vez que possui um conteúdo
de uma noção ampliada de trabalho. E apresentar essa processualidade multiforme
dialético – mas é algo que precisa ser reiteradamente afirmado). O que muda é a forma de
é muito diferente, como vimos, do que afirmar o fim do trabalho ou até mesmo o fim
implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo/fordismo,
da classe trabalhadora.
ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando
O que, entretanto, torna-se relevante é entender as formas e os mecanismos
capturar a subjetividade operária de modo integral.
do envolvimento no interior da fábrica moderna.

2. A fábrica moderna e as novas formas do envolvimento


2.2. Formas do envolvimento operário no fordismo/taylorismo
2.1. A dimensão ontológica do envolvimento do trabalho
Em primeiro lugar, no taylorismo e no fordismo, a “integralização” da subsunção
da subjetividade operária à lógica do capital, a “racionalização total”, ainda era meramente

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formal, já que, como salientou Gramsci, na linha de montagem, as operações produtivas É claro que a operação de captura da subjetividade operária pela lógica do capital
reduziam-se ao “aspecto físico maquinal” (Gramsci, 1985). O fordismo ainda era, de certo é algo posto – e reposto – pelo modo de produção capitalista. Ela é intrínseca à própria
modo, uma “racionalização inconclusa”, pois, apesar de instaurar uma sociedade subsunção do trabalho ao capital. Só que é sob o toyotismo que a captura da
“racionalizada”, não conseguiu incorporar à racionalidade capitalista na produção as subjetividade operária adquire o seu pleno desenvolvimento, um desenvolvimento
variáveis psicológicas do comportamento operário, que o toyotismo procura desenvolver real e não apenas formal.
por meio dos mecanismos de comprometimento operários, que aprimoram o controle do
Apesar de o toyotismo pertencer à mesma lógica de racionalização do trabalho
capital na dimensão subjetiva. Em contrapartida, o toyotismo não possui a pretensão de
do taylorismo/fordismo, o que implica considerá-lo uma continuidade com respeito a
instaurar uma sociedade “racionalizada”, mas apenas uma “fábrica racionalizada”. É a
ambos, ele tenderia, em contrapartida, a surgir como um controle do elemento subjetivo da
partir do processo de produção intra fábrica (e na relação entre empresas) que ele procura
produção capitalista que estaria posto no interior de uma nova subsunção real do trabalho
reconstituir a hegemonia do capital, instaurando, de modo pleno, a subsunção real da
ao capital – o que seria uma descontinuidade com relação ao taylorismo/fordismo.
subjetividade operária pela lógica do capital. Ele procura, mais do que nunca, reconstituir
algo que era fundamental na manufatura: o “velho nexo psicofísico do trabalho profissional Na verdade, a introdução da maquinaria complexa, das novas máquinas
qualificado – a participação ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalho” informatizadas que se tornam inteligentes, ou seja, o surgimento de uma nova base técnica
(Gramsci, 1985). do sistema sócio metabólico do capital, que propicia um novo salto da subsunção real do
trabalho ao capital, exige, como pressuposto formal ineliminável, os princípios do
O toyotismo restringe o nexo da hegemonia do capital à produção,
toyotismo, no qual a captura da subjetividade operária é uma das precondições do próprio
recompondo, a partir daí a articulação entre consentimento operário e controle do
desenvolvimento da nova materialidade do capital. As novas tecnologias microeletrônicas
trabalho. É por isso que, mais do que nunca, salienta-se a centralidade estratégica de
na produção, capazes de promover um novo salto na produtividade do trabalho, exigiriam,
seus protocolos organizacionais e institucionais. É apenas sobre eles que se articula a
como pressuposto formal, o novo envolvimento do trabalho vivo na produção capitalista.
hegemonia do capital na produção. Este é, com certeza, seu “calcanhar-de-aquiles”, na
medida em que, ao reduzir o nexo da hegemonia do capital apenas à esfera intra fabril (ou Sob o toyotismo, a alienação (ou estranhamento/Entfremdung) do trabalho
entre empresas), não o ampliando para além da cadeia produtiva central, para o corpo encontra-se, em sua essência, preservada. Ainda que fenomenicamente minimizada
social total, o toyotismo permanece limitado em sua perspectiva política, pela redução da separação entre a elaboração e a execução, pela redução dos níveis
principalmente se o compararmos ao arranjo fordista. Por isso, sob o toyotismo, hierárquicos no interior das empresas, a subjetividade que emerge na fábrica ou nas
agudiza-se a contradição entre racionalidade intra- empresa e irracionalidade esferas produtivas de ponta tende a ser a expressão de uma existência inautêntica e
societal. estranhada, para recorrer à formulação de N. Tertulian (1996).

2.3 O toyotismo como uma nova forma do envolvimento operário. Apesar de o operário da fábrica toyotista contar com maior “participação” nos
projetos que nascem das discussões dos círculos de controle de qualidade, com maior
Com o toyotismo, tende a ocorrer uma racionalização do trabalho que, por se
“envolvimento” dos trabalhadores, a subjetividade que então se manifesta encontra-se
instaurar sob o capitalismo manipulatório, constitui-se, em seus nexos essenciais, por meio
estranhada com relação ao que se produz e para quem se produz.
da inserção engajada do trabalho assalariado na produção do capital (o que Coriat
denominou de “engajamento estimulado”). Ocorre uma nova orientação na constituição Se o fordismo expropriou e transferiu o savoir-faire do operário para a esfera da
da racionalização do trabalho, com a produção capitalista, sob as injunções da gerência científica, para os níveis de elaboração, o toyotismo tende a retransferi-lo para a
mundialização do capital, exigindo, mais do que nunca, a captura integral da subjetividade força de trabalho, mas o faz visando a apropriar-se crescentemente da sua dimensão
operária (o que explica, portanto, os impulsos desesperados – e contraditórios – do capital intelectual, das suas capacidades cognitivas, procurando envolver mais forte e
para conseguir a parceria com o trabalho assalariado). intensamente a subjetividade operária. Os trabalhos em equipes, os círculos de
controle, as sugestões oriundas do chão da fábrica, são recolhidos e apropriados

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pelo capital nessa fase de reestruturação produtiva. Suas ideias são absorvidas Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais
pelas empresas, após uma análise e comprovação de sua exequibilidade e vantagem intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de
(lucrativa) para o capital. humanidade. Nos estratos mais penalizados pela precarização/exclusão do trabalho, o
estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e
Mas o processo não se restringe a essa dimensão, uma vez que parte do saber
bárbaros em suas formas de vigência. E é o que estamos presenciando hoje,
intelectual do trabalho é transferida para as máquinas informatizadas, que se tornam mais
intensamente, em tantas partes do mundo e em particular na América Latina. Da explosão
inteligentes. Como a máquina não pode suprimir o trabalho humano, ela necessita de uma
de Los Angeles, em 1992, às explosões de Seattle, em 1999, assistimos a muitas
maior interação entre a subjetividade que trabalha e o novo maquinário inteligente. Surge,
manifestações de revolta contra os estranhamentos, daqueles que são precarizados ou
portanto, o envolvimento interativo que aumenta ainda mais o estranhamento do trabalho,
mesmo expulsos do mundo do trabalho e, consequentemente, impedidos de vivenciarem
ampliando as formas modernas de fetichismo, distanciando ainda mais a subjetividade do
uma vida dotada de algum sentido. Sob a condição da separação absoluta do trabalho, a
exercício de uma cotidianidade autêntica e autodeterminada.
alienação assume a forma de perda de sua própria unidade: trabalho e lazer, meios e fins,
Na verdade, com a aparência de um despotismo mais brando, a sociedade vida pública e vida privada, entre outras formas de disjunção dos elementos de unidade
produtora de mercadorias torna, desde o seu nível microcósmico, dado pela fábrica presentes na sociedade do trabalho. Expandem-se, desse modo, as formas de alienação
toyotista, ainda mais profunda e interiorizada a condição do estranhamento presente na dos que se encontram à margem do processo de trabalho. Contrariamente à interpretação
subjetividade operária e dissemina novas objetivações fetichizadas que se impõem à que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um
classe-que-vive-do-trabalho. Um exemplo forte é dado pela necessidade crescente de capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo
qualificar-se melhor e preparar-se mais para conseguir trabalho. Parte importante do histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o
“tempo livre” dos trabalhadores está crescentemente voltada para adquirir aprofundamento das contradições do capital. Quanto mais o sistema tecnológico da
“empregabilidade”, palavra-fetiche que o capital usa para transferir aos trabalhadores as automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende
necessidades de sua qualificação, que anteriormente eram em grande parte realizadas em direção a limites absolutos. Quando se pensa na enorme massa de trabalhadores
pelo capital (ver Bernardo, 2001). desempregados, as formas de absolutização da alienação são diferenciadas. Variam da
rejeição da vida social, do isolamento, da apatia e do silêncio (da maioria) até a violência
3. Dimensões da alienação/estranhamento e do fetichismo capitalista
e agressão diretas. Aumentam os focos de contradição entre os desempregados e a
Como salientamos anteriormente, naquela parcela aparentemente mais “estável” e sociedade como um todo, entre a “racionalidade” no âmbito produtivo e a “irracionalidade”
inserida da força de trabalho que exerce o trabalho intelectual, o estranhamento permanece no universo societal. Os conflitos tornam-se um problema social, mais do que uma
e mesmo se complexifica nas atividades de ponta do ciclo produtivo. No polo mais questão empresarial, transcendendo o âmbito fabril e atingindo o espaço público e
intelectualizado da classe trabalhadora, as formas de fetichismo têm uma concretude societal.
particularizada, mais complexificada (mais “humanizada” em sua essência
Muitas manifestações de revolta contra os estranhamentos ocorreram entre aqueles
desumanizadora), dada pelas novas formas de “envolvimento” e interação entre trabalho
que foram expulsos do mundo do trabalho e, consequentemente, impedidos de ter uma
vivo e maquinaria informatizada. É o que destacamos em nossa análise sobre as formas
vida dotada de algum sentido. A desumanização segregadora leva ao isolamento
de envolvimento operário na fábrica toyotista.
individual, às formas de criminalidade, à formação de guetos de setores excluídos, até a
A alienação/estranhamento é ainda mais intensa nos estratos precarizados da formas mais ousadas de explosão social que, entretanto, não podem ser vistas meramente
força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em em termos de coesão social da sociedade como tal, isoladas das contradições da forma de
condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário e produção capitalista (que é produção de valor e de mais-valor).
precarizado.

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9. AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E AS Esta realidade reflete no campo de atuação dos assistentes sociais, pois se
DEMANDAS CONTEMPORÂNEAS DO SERVIÇO SOCIAL ampliam novos espaços ocupacionais do assistente social, derivados das demandas
postas pelo processo de reestruturação produtiva, no âmbito das organizações públicas e
privadas mais exatamente dentro do conjunto de práticas que objetivam a implantação de
processos de qualidade voltados à maior rentabilidade no mercado profissional.
As transformações no mundo do trabalho têm um rebatimento no serviço social
(ANDRADE, 2000, p.175).
que se insere como profissão participando na divisão social e técnica do trabalho,
contribuindo para a reprodução das relações sociais que não se resume apenas à
reprodução de trabalho, engloba o conjunto das atividades desenvolvidas pelos homens
no processo de produção. Dentro das novas atribuições postas ao serviço social destaca-se a cultura da
qualidade total, o novo símbolo que impera no mundo capitalista, nesse sentido o
A reprodução das forças produtivas envolve também a reprodução assistente social é solicitado para criar um consenso em torno desses programas
ideológica. Na sociedade capitalista, a instituição do Serviço Social enquanto profissão gerando um comportamento produtivo da força de trabalho com a finalidade de
vem responder a reprodução das relações sociais antagônicas. Assim, a profissão é garantir os padrões de qualidade e produtividade dos bens e serviços.
polarizada pelos interesses de segmentos, de um lado o poder do Estado representando a
classe dominante e por outro a classe dos trabalhadores, responsáveis pela reprodução
social. Assim, é indispensável que o profissional vá além das rotinas institucionais Como se percebe, todos os processos que vêm sendo desenvolvidos pelas
buscando apreender o movimento da realidade para identificar tendências e possibilidades organizações, apesar da aparência de modernidade, reeditam o que o Serviço Social vem
impulsionadoras da prática (IAMAMOTO; CARVALHO, 1998). fazendo há muitos anos. Ou seja, a natureza do trabalho não mudou, pois continua voltada

Portanto, os assistentes sociais possuem como objeto de trabalho as várias para o processo de reprodução da força de trabalho, mas com outra roupagem e através

expressões da questão social, fruto da relação de confronto e antagonismo entre de novas estratégias que reforçam o discurso da coesão social. (ANDRADE, 2000, p. 185).

classes. Desse modo, o Serviço Social “situa-se no processo de reprodução das relações
sociais, fundamentalmente como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do
controle social e na difusão da ideologia da classe dominante junto à classe trabalhadora”
(IAMAMOTO; CARVALHO, 1998, p. 93-94).
Iamamoto (1998, p. 131) ratifica: os novos requisitos de qualificação, que
extrapolam o campo empresarial, envolvem capacitação para atuar em equipes
interdisciplinares, para atuar em programas de qualidade total e para elaboração e
realização de pesquisas; reciclagem do instrumental técnico; capacitação em

As demandas contemporâneas do serviço social estão, portanto, articuladas planejamento (planos, programas e projetos), aprofundamento de estudos sobre

às transformações ocorridas nas formas de gestão e consumo da força de trabalho áreas específicas de atuação e temas do quotidiano profissional entre outros. Tais

e as configurações operadas na sociedade devido à adoção da política neoliberal do elementos são indispensáveis para que o assistente social possa responder a novas

país. e antigas atribuições que abrangem funções de coordenação e gerenciamento,


planejamento, socialização de informações referentes a direitos sociais,
Com as mudanças oriundas da minimização do Estado e da reestruturação do mobilizações da comunidade para implementação de projetos além de orientações,
processo produtivo, profissionais das áreas mais distintas são obrigados a encaminhamentos e providência.
redimensionar sua prática para permanecer no mercado.

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10. TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS: IMPACTOS
2013/FUNCAB/PC-ES. O processo de reestruturação produtiva, sobretudo a partir da SOCIOPROFISSIONAIS
década de 1990, atinge o mercado de trabalho do assistente social com redução de
postos governamentais (principalmente nos níveis estadual e federal) e a
descentralização e municipalização dos serviços públicos. Tal processo abre espaço A conexão entre as transformações societárias e a necessidade de atualização dos
para uma nova relação trabalhista do assistente social que consiste em: processos de formação profissional parece óbvia. No entanto, essa vinculação pode
obscurecer mais do que revelar. Mistificadas em suas origens e desdobramentos, as

a) atuação direta com os movimentos sociais. vertiginosas alterações que se verificam na sociedade contemporânea dizem-se, em geral,
decorrentes da globalização, da crise do Estado, da crise da modernidade ou dos
b) desenvolvimento de comunidade.
paradigmas. Não mencionam o capital nem a relação que ele representa e o que é efeito
c) atuação por projeto ou por contrato.
aparece como determinação.
d) priorização na implementação de políticas.
Tais interpretações escondem a centralidade do trabalho, dissimulam as
e) processo de trabalho administrativo.
verdadeiras origens das classes sociais e dos processos que fundam e reproduzem o
Resposta Correta: Letra c) atuação por projeto ou por contrato. capitalismo. Naturalizam as transformações sociais e os processos dos quais emergem,
encobrindo suas contradições e transitoriedade.

Uma característica da presente fase do capitalismo é a brutal ofensiva sobre o


mundo do trabalho e o empenho no sentido de impor maior domínio e subordinação aos
trabalhadores, subsumindo sua existência de classe. (DIAS, 1999; GURGEL, 2003).

Na década de 1980, inicia-se um ataque aberto e declarado aos Estados-nação do


capitalismo periférico, efetivado por um amplo processo de ajustes e reformas destinado a
“ reestruturar nações” (MORAES, 2006) ou, como analisa Eric Toussaint em seu cáustico
A Bolsa ou a Vida (2201, p.33), a “ domesticar os países do Terceiro Mundo”. Objetivo este
gerido por organismos transnacionais como o Banco Mundial (BM), Fundo Monetário
Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio (OMC), BID (Banco interamericano
de Desenvolvimento) encarregados pelos países do centro capitalista de restaurar a
lucratividade do capital (BANCO MUNDIAL), 1995). As ações foram direcionadas
prioritariamente para a remoção de obstáculos à expansão mundializada do capitalismo
(CHESNAIS;1996).

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É necessário conformar perfis socioprofissionais que imprimem novos
Enquadramento que no Brasil ocorre na década de 1990, mediado pela supressão atributos, ideias e valores à força de trabalho. Prevalecem atributos comportamentais
de direitos sociais historicamente consolidados; abertura dos mercados que se exprimem na conduta individual, com ênfase na criatividade, no
nacionais ao capital especulativo; geração de superávit primário para garantia de empreendorismo, adaptabilidade e capacidade de trabalhar sob tensão ou crise.
pagamento dos juros da dívida; privatização do patrimônio público e de
Critérios preferenciais de aferição de empregabilidade e da performance
atividades de reconhecida atribuição do Estado, com as políticas sociais
profissional que devem ser adquiridos individualmente como auto investimento e aferidos
públicas. Medidas que deterioram esses países, sobretudo as condições de vida
por mecanismos de controle de qualidade como exames de proficiência.
das classes subalternizadas.

Conceitos como qualificação, diploma, profissão que predominaram no fordismo,


caem em desuso e entra em cena uma concepção de competência, na qual destrezas e
Redefine-se o ciclo das mercadorias, instala-se o predomínio do capital financeiro, habilidades constituem “capital individual”, “capital humano”, “ferramenta para agir,
o Estado é suplantado pelo mercado nas funções de regulação da vida social, instrumento para ter êxito social”. (VASCONCELOS, 2003, P.1047: FRIGOTO, 1993).
reestruturado e tecnificado torna-se mais homogêneo e indiferenciado.
Concepção que tende a substituir dispositivos consolidados da formação
A racionalidade tecnológica e organizacional imposta aprofunda a supremacia do profissional, exigindo do sistema educacional, dos processos e requisitos educativos-
trabalho morto, depreciando a força viva de trabalho. Esse se torna mais simplificado, formativos adequações que os tornem funcionais ao novo padrão produtivo.
flexível e com maior autonomia.

Impregnado de “atributos fetichistas”, o trabalho torna-se mais carregado de 2015/CONSULPLAN/HOB. Uma característica da presente fase do capitalismo é a
opacidade, sutilezas e alienação (MARX, 1975ª, p.79-93), fortalecendo “o despotismo do brutal ofensiva sobre o mundo do trabalho e o empenho no sentido de impor maior
domínio e subordinação aos trabalhadores, subsumindo sua existência de classe.
capital” e atentando contra a vida do trabalhador. (MARX, 1975b, p. 743).
Na década de 1980, inicia-se um ataque aberto e declarado aos Estados-nação do
capitalismo periférico, efetivado por um amplo processo de ajustes e reformas
Sobre essa contradição, o novo padrão produtivo se consolida mediado por destinado a “reestruturar nações” (MORAES, 2006) ou, como analisa Eric Toussaint
mecanismos e processos ideopolíticos destinados a incutir na sociedade os critérios das em seu cáustico A Bolsa ou a Vida (2002, p. 33), a “domesticar os países do Terceiro
novas formas de gestão e controle do trabalho. Mundo". As ações foram direcionadas prioritariamente para a remoção de
obstáculos à expansão mundializada do capitalismo (CHESNAIS, 1996). No Brasil,
O mercado passa a requerer um trabalhador polivalente, com novas esse enquadramento ocorre na década de 1990. Indique a alternativa que descreve
de forma INCORRETA uma das características de mediação desse enquadramento
características técnicas e sociointelectivas, capaz de atuar em diferentes funções ou ocorrido no Brasil, conforme o contexto anterior.
postos de trabalho. Os conceitos de profissão e formação específica, especializada,
tendem a perder a funcionalidade e desaparecer. O trabalhador, além da escassez de
a) Supressão de direitos sociais historicamente consolidados.
emprego, vai enfrentar a obsolescência do seu saber e a perda de organicidade da
sociabilidade produzida no fordismo/keynesianismo (KUENZER, 2006). b) Fechamento dos mercados nacionais ao capital especulativo.

c) Geração de superávit primário para garantia de pagamento dos juros da dívida.


O novo padrão societário impões outra maneira de trabalhar, viver e pensar
d) Privatização do patrimônio público e de atividades de reconhecida atribuição do Estado,
exigindo atuação na subjetividade do trabalhador para consolidar a sociabilidade do
como as políticas sociais públicas.
capitalismo reatualizado. Trata-se de produzir o “novo homem” e o “novo trabalhador” de
acordo com as atuais necessidades de reprodução capitalista (GRAMSCI, 2001).

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Resposta Correta: Letra b) Fechamento dos mercados nacionais ao capital PONTOS COMENTADOS
especulativo.
O Mundo do Trabalho: Era da Reestruturação Produtiva - Mundo do Capital 1
Comentário: Na década de 1980, inicia‐se um ataque aberto e declarado aos Estados • O ser social se realiza através da categoria trabalho.
nação do capitalismo periférico, efetivado por um amplo processo de ajustes e reformas
• O fordismo surge nas primeiras décadas do século XX. O ano de 1973 é marcado pelo declínio
destinado a “reestruturar nações” (MORAES, 2006) ou, como analisa Eric Toussaint em
seu cáustico A Bolsa ou a Vida (2002, p. 33), a “domesticar os países do Terceiro Mundo” do modelo de acumulação fordista.
[...] Enquadramento que no Brasil ocorre na década de 1990, mediado pela supressão de • Sobre o modelo de produção taylorista/fordista Antunes salienta: “De maneira sintética,
direitos sociais historicamente consolidados; abertura dos mercados nacionais ao capital podemos indicar que o binômio taylorismo/fordismo, expressão dominante do sistema produtivo
especulativo; geração de superávit primário para garantia de pagamento dos juros da e de seu respectivo processo de trabalho, que vigorou na grande indústria, ao longo
dívida; privatização do patrimônio público e de atividades de reconhecida atribuição do
praticamente de todo o século XX, sobretudo a partir da segunda década, baseava-se na
Estado, como as políticas sociais públicas. Medidas que deterioram esses países,
sobretudo as condições de vida das classes subalternizadas (KOIKE, 2009, p. 1-2, grifou- produção em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produção mais
se). A expansão mundializada do capital defende a ABERTURA dos mercados nacionais homogeneizada e enormemente verticalizada” (ANTUNES, 1999).
ao capital especulativo. • Behring (2009) ao refletir criticamente sobre a Política Social no contexto da crise capitalista
afirma que o neoliberalismo viveu uma primeira fase de ataque ao keynesianismo e ao Welfare
State. No entanto, há uma segunda fase, esta, mais propositiva, com ênfase, no que diz respeito
aos programas sociais, no trinômio articulado da focalização, privatização e descentralização
[...]. Em fins dos anos de 1990, o resultado geral deste programa, que repõe a negação da
política e, em consequência, da política social, é desalentador. Do ponto de vista social, atesta-
2015/CONSULPLAN/ HOB. No capitalismo atual, redefine-se o ciclo das mercadorias, se o crescimento da pobreza, do desemprego e da desigualdade, ao lado de uma enorme
instala-se o predomínio do capital financeiro, o Estado é suplantado pelo mercado
concentração de renda e riqueza no mundo (NETTO, 2006).
nas funções de regulação da vida social. O trabalho, reestruturado e tecnificado,
torna-se mais homogêneo e indiferenciado. O novo padrão societário impõe outra • O capitalismo, desde o início da sua atual fase de acumulação – desencadeada na década de
maneira de trabalhar, viver e pensar. Trata-se de produzir o “novo homem” e o “novo 1970, promove uma verdadeira guerra contra o trabalho humano. Investindo tanto em Ciência
trabalhador”, de acordo com as atuais necessidades da reprodução capitalista. É e Tecnologia quanto em reorganização da força de trabalho no chão de fábrica, o capital ampliou
necessário conformar perfis sócio profissionais que imprimam novos atributos, a sua supremacia sobre a classe trabalhadora e manteve os seus índices de lucratividade nos
ideias e valores à força de trabalho. De acordo com o contexto acima e considerando
patamares mais altos possíveis. A terceirização e a flexibilização da legislação trabalhista fazem
que prevalecem atributos comportamentais que se exprimem na conduta individual
do “novo trabalhador”, indique a alternativa que descreve de forma INCORRETA um parte do mesmo movimento de precarização da atividade do trabalhador (aumento na
dos componentes que fazem parte da ênfase direcionada à respectiva conduta intensidade dos processos de trabalho) e enfraquecimento da consciência operária. A
individual. mundialização do capital adveio com avanço tecnológico por um lado e regressão, no que

a) Passividade. concerne às condições de vida e de trabalho dos proletários, por outro.


• Na década de 1980, inicia‐se um ataque aberto e declarado aos Estados nação do capitalismo
b) Adaptabilidade.
periférico, efetivado por um amplo processo de ajustes e reformas destinado a “reestruturar
c) Empreendedorismo. nações” (MORAES, 2006) ou, como analisa Eric Toussaint em seu cáustico A Bolsa ou a Vida
d) Capacidade de trabalhar sob tensão (2002, p. 33), a “domesticar os países do Terceiro Mundo” [...] Enquadramento que no Brasil
ocorre na década de 1990, mediado pela supressão de direitos sociais historicamente
Resposta Correta: Letra a) Passividade consolidados; abertura dos mercados nacionais ao capital especulativo; geração de superávit
primário para garantia de pagamento dos juros da dívida; privatização do patrimônio público e
Comentário: No novo padrão societário, é necessário conformar perfis sócio profissionais de atividades de reconhecida atribuição do Estado, como as políticas sociais públicas. Medidas
que imprimam novos atributos, ideias e valores à força de trabalho. Prevalecem atributos
que deterioram esses países, sobretudo as condições de vida das classes subalternizadas
comportamentais que se exprimem na conduta individual, com ênfase na criatividade, no
empreendedorismo, adaptabilidade e capacidade de trabalhar sob tensão ou crise. (KOIKE, 2009, p. 1-2, grifou-se). A expansão mundializada do capital defende a ABERTURA
dos mercados nacionais ao capital especulativo.

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No novo padrão societário, é necessário conformar perfis sócio profissionais que imprimam novos
atributos, ideias e valores à força de trabalho. Prevalecem atributos comportamentais que se
exprimem na conduta individual, com ênfase na criatividade, no empreendedorismo, adaptabilidade QUESTÕES – PARTE 1
e capacidade de trabalhar sob tensão ou crise.

1. 2016/ FUNRIO/IF-BA. A história da realização do ser social, objetiva-se através da


produção e reprodução da sua existência, que se desenvolve pelos laços de
cooperação social existentes no processo de produção material. O homem tem
ideado, em sua consciência, a configuração que quer imprimir, antes de sua
realização, que se pode demonstrar ontologicamente. Podemos assim afirmar que o
ser social se realiza através da categoria:

a) ideologia.

b) trabalho.

c) teleológica.

d) histórica.

e) consciência.

2. 2014/UFBA/UFBA. O mundo produtivo contemporâneo, particularmente desde o


amplo processo de reestruturação do capital desencadeado em escala global, no
início da década de 1970, vem apresentando um claro sentido multiforme [...].
(ANTUNES, 2013, p.13).

A partir dessa reflexão do autor sobre as transformações do mundo do trabalho, é


correto afirmar: Na década de 1970, entre os novos processos de trabalho que
emergem nos países capitalistas avançados, destaca-se o fordismo.

Certo/Errado

3. 2014CESPE/TJ-SE. Acerca do trabalho na era da reestruturação reprodutiva e da


mundialização do capital, julgue o item. A expressão dominante do sistema
produtivo e de seu respectivo processo de trabalho - taylorismo-fordismo - vigorou
na grande indústria, em quase todo o século XX, com base na produção em massa
de mercadorias e estruturada a partir de uma produção homogeneizada e
verticalizada.

Certo/ Errado

49 50
7. 2014/EBSERH/HU-UNIVASF/IBFC. As consequências da acumulação flexível, ao
mundo do trabalho, indicadas por Antunes (2003), são as seguintes:
4. 2016/ FUNIVERSA/IF-AP. Assinale a alternativa que apresenta característica das
políticas sociais no neoliberalismo. I. Incremento do novo proletariado, do subproletariado fabril e de serviços.

II. Ampliação do trabalho feminino, porém, esse crescendo de forma precarizada e


desregulamentada.
a) Políticas paternalistas, mas articuladas e complementares entre si.

b) Políticas geradoras de equilíbrio e paz social. III. Redução significativa do proletariado fabril estável.

c) Políticas planejadas, operantes e que garantem a universalidade do acesso aos serviços IV. Inclusão de jovens e dos idosos no mercado de trabalho
dela derivados.
V. Há exclusão de crianças no mercado de trabalho.
d) Tendência a mercantilização das políticas sociais e desfinanciamento da proteção social
pelo Estado.

e) Políticas que implementam direitos assegurados em lei, com caráter de ações São corretas apenas as afirmativas:
permanentes e com regras de acessibilidade objetivas e estáveis.
a) II, III e V

b) III, IV e V
5. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/ Prefeitura de Fortaleza – CE. O neoliberalismo,
c) II, IV e V
segundo estudiosos, passou por fases, a primeira de ataque ao keynesianismo e ao
Welfare State e a segunda mais propositiva, com ênfase em programas sociais, no d) I, II e V
trinômio da focalização, privatização e descentralização. Sobre o resultado desse
programa neoliberal nos anos de 1990, do ponto de vista social, assinale a alternativa e) I, II e III
correta.

8.EBSERH/HU-FURG/IBFC/2015. Antunes e Alves (2004) analisando as mutações


a) Crescimento da pobreza, do desemprego e da desigualdade social. processadas no Mundo do Trabalho a partir da mundialização do capitalismo
indicam que tivemos alterações na categoria “trabalho”, trazendo implicações para
b) Crescimento da pobreza, crise da democracia e crescimento econômico.
a classe trabalhadora. Considerando as colocações dos autores, podemos dizer que
c) Desemprego, individualismo, consumismo. atualmente, a classe trabalhadora, tem vivenciado um processo de mudança
multiforme, expresso por meio de determinadas tendências, dentre as quais,
d) Desemprego, crise da democracia, individualismo.
podemos citar:

I. A diminuição do proletariado dando lugar as formas mais desregulamentadas de trabalho,


6. 2014/CESPE/TJ-SE. Acerca do trabalho na era da reestruturação reprodutiva e da reduzindo fortemente o conjunto de trabalhadores estáveis que se estruturavam por meio
mundialização do capital, julgue o item. A mundialização do capital possibilitou a de empregos formais.
ampliação de empregos e impôs maior intervenção do Estado no atendimento às
II. Acrescente absorção dos jovens, que atingiram a idade de ingresso no mercado de
necessidades sociais.
trabalho.

III. O aumento do novo proletariado fabril e de serviços, escala mundial, presente nas
Certo/Errado diversas modalidades de trabalho precarizado.

IV. A expansão do trabalho feminino, entretanto, vemos um movimento inverso quando se


trata da temática salarial, na qual os níveis de remuneração das mulheres são em nédia
inferiores àqueles recebidos pelos trabalhadores, o mesmo ocorrendo com relação aos
direitos sociais e do trabalho, que também são desiguais.

51 52
V. Uma significativa diminuição dos assalariados médios no “setor de serviços”, que a) Supressão de direitos sociais historicamente consolidados.
inicialmente incorporou parcelas de trabalhadores expulsos no mundo produtivo industrial,
b) Fechamento dos mercados nacionais ao capital especulativo.
como resultado do amplo processo de reestruturação produtiva, das políticas neoliberais e
do cenário de desindustrialização e privatização. c) Geração de superávit primário para garantia de pagamento dos juros da dívida.

Estão corretas: d) Privatização do patrimônio público e de atividades de reconhecida atribuição do Estado,


como as políticas sociais públicas.
a) II, III e V.

b) I, IV e V
11. 2015/CONSULPLAN/ HOB. No capitalismo atual, redefine-se o ciclo das
c) II, III e IV mercadorias, instala-se o predomínio do capital financeiro, o Estado é suplantado
pelo mercado nas funções de regulação da vida social. O trabalho, reestruturado e
d) I, III e IV
tecnificado, torna-se mais homogêneo e indiferenciado. O novo padrão societário
e) I, II e IV impõe outra maneira de trabalhar, viver e pensar. Trata-se de produzir o “novo
homem” e o “novo trabalhador”, de acordo com as atuais necessidades da
reprodução capitalista. É necessário conformar perfis sócio profissionais que
imprimam novos atributos, ideias e valores à força de trabalho. De acordo com o
9. 2013/FUNCAB/PC-ES. O processo de reestruturação produtiva, sobretudo a partir
contexto acima e considerando que prevalecem atributos comportamentais que se
da década de 1990, atinge o mercado de trabalho do assistente social com redução
exprimem na conduta individual do “novo trabalhador”, indique a alternativa que
de postos governamentais (principalmente nos níveis estadual e federal) e a
descreve de forma INCORRETA um dos componentes que fazem parte da ênfase
descentralização e municipalização dos serviços públicos. Tal processo abre espaço
direcionada à respectiva conduta individual.
para uma nova relação trabalhista do assistente social que consiste em:

a) Passividade.
a) atuação direta com os movimentos sociais.
b) Adaptabilidade.
b) desenvolvimento de comunidade.
c) Empreendedorismo.
c) atuação por projeto ou por contrato.
d) Capacidade de trabalhar sob tensão
d) priorização na implementação de políticas.

e) processo de trabalho administrativo.

10. 2015/CONSULPLAN/HOB. Uma característica da presente fase do capitalismo é a


GABARITO 1
brutal ofensiva sobre o mundo do trabalho e o empenho no sentido de impor maior
domínio e subordinação aos trabalhadores, subsumindo sua existência de classe.
1 B 7 E
Na década de 1980, inicia-se um ataque aberto e declarado aos Estados-nação do
capitalismo periférico, efetivado por um amplo processo de ajustes e reformas
2 ERRADO 8 D
destinado a “reestruturar nações” (MORAES, 2006) ou, como analisa Eric Toussaint
em seu cáustico A Bolsa ou a Vida (2002, p. 33), a “domesticar os países do Terceiro
3 CERTO 9 C
Mundo". As ações foram direcionadas prioritariamente para a remoção de
obstáculos à expansão mundializada do capitalismo (CHESNAIS, 1996). No Brasil,
4 D 10 B
esse enquadramento ocorre na década de 1990. Indique a alternativa que descreve
de forma INCORRETA uma das características de mediação desse enquadramento
5 A 11 A
ocorrido no Brasil, conforme o contexto anterior.

6 ERRADO

53 54
pela esquerda. Como principais propostas, o novo desenvolvimentismo defende: 1)
complementariedade da atuação de um Estado forte nas falhas de mercado, com o objetivo de
PONTOS COMENTADOS fortalecê-lo, leia-se fortalecer o atual padrão de reprodução do capital imposto desde os anos
1980/90 e aprofundá-lo e consolidá-lo no século XXI; 2) na política econômica: responsabilidade
O Mundo do Trabalho: Era da Reestruturação Produtiva - Mundo do Capital 2
fiscal, superávit primário, metas inflacionárias, câmbio flutuante e tributação regressiva, com
• Na América Latina, a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) intervenções pontuais no câmbio e nos juros; 3) incentivos fiscais, tributários e subsídios para
subdivide a categoria pobreza em dois grupos, indigentes e pobres não indigentes. A conglomerados do capital monopolista aumentarem suas taxas de lucro, sob o manto de uma
metodologia cepalina afirma uma concepção de pobreza que converge com a definição básica política industrial e de inovação tecnológica, a chamada política de "campeãs nacionais"; 4)
de pobreza adotada por diversos países capitalistas no contexto de mundialização do capital. aumento da massa salarial e do crédito para ampliação do consumo do mercado interno e; 5)
Ou seja, para definir quem é a população pobre, costuma-se comparar o rendimento médio das nas expressões mais agudas da "questão social", a política social de transferência de renda de
famílias com o custo da satisfação de suas necessidades básicas. larga abrangência e focalizada nas camadas mais miseráveis da nossa sociedade.
• “E importante salientar o significado do conceito de capitalismo global. Nas nossas • No século XXI, diante da crise estrutural do capital, emergiu a era da acumulação flexível e do
reflexões críticas, ele tem sido utilizado num sentido bastante preciso de capitalismo mundial na chamado toyotismo, com vistas a superar os limites do regime fordista de acumulação, bem
etapa da crise estrutural do capital. O conceito de capitalismo global implica um complexo de como sua rigidez face aos novos requisitos de competitividade e de acirramento da concorrência
múltiplas determinações sócio históricas discriminadas como sendo o capitalismo do novo mundial intercapitalista. Essa nova estratégia de acumulação capitalista desencadeia novas
complexo de reestruturação produtiva do capital sob o espírito do toyotismo ou o novo espírito formas de organização e gestão do trabalho, nas quais a flexibilização, em diferentes níveis, é
do capitalismo(4); ou o capitalismo da financeirização da riqueza capitalista sob a hegemonia a mola-mestra para a redução dos custos da força de trabalho e reversão da queda nas taxas
do capital financeiro(5); ou ainda o capitalismo sob dominância do neoliberalismo como bloco de lucro do capital. Com a acumulação flexível, o mercado de trabalho sofre profundas e
histórico que condiciona e constrange as políticas do Estado político do capital(6); e o regressivas metamorfoses, com impactos nos contratos de trabalho (temporários, em tempo
capitalismo do pós-modernismo como lógica cultural permeado de irracionalidade social (7). parcial, terceirizados, entre outros), na maior rotatividade de trabalhadores, precarização do
Além disso, the last but not the least, capitalismo global é o capitalismo manipulatório em sua emprego e intensificação do trabalho. Para alguns autores, como Souza (2011) apud Raichelis
forma exacerbada tendo em vista a nova base técnica da sociedade em rede (ALVES, 2013, p. e Silva (2015), é nesse contexto que pode ser situada a origem do assédio moral, quando são
15). internalizadas nas relações de trabalho o controle e o uso manipulatório das emoções e dos
• O novo desenvolvimentismo tem uma curta e recente história na América Latina. Surge afetos dos trabalhadores, processo que nos remete à alienação e aos objetivos do capital de
no início do século XXI — mais precisamente no Brasil com os escritos de Luiz Carlos internalizar cada vez mais profundamente a reificação capitalista na subjetividade da “classe-
Bresser Pereira e alguns documentos do empresariado nacional — como uma suposta que-vive‐ do-trabalho”. Antunes (2010), em sua análise sobre a nova morfologia do trabalho,
alternativa à crise do neoliberalismo. Nasce, portanto, como uma tentativa das classes chama a atenção para esse processo, advertindo que o ideal de todo capitalista é fazer com
dominantes e seus ideólogos orgânicos de traçar uma terceira via de desenvolvi- mento, que cada trabalhador (a) possa tornar-se um (a) “déspota de si próprio (a)”. A partir daí seria
criticando tanto o neoliberalismo do Consenso de Washington quanto o socialismo do século possível, como estamos verificando atualmente no sistema de produção flexível, a eliminação
XXI. Rapidamente grupos ligados à social- -democracia brasileira, que então passaram a ocupar de vários cargos para tarefas de controle das metas de produtividade, delegando-se esse
palácios, parlamentos e conselhos de administração de estatais e do grande capital, juntaram- controle aos (às) próprios (as) trabalhadores (as), individualmente ou por meio dos círculos de
se ao novo desenvolvimentismo e passaram a disputá-lo, visando dar um caráter "social", qualidade.
"estatista" e "nacionalista" à nova ideologia. Criaram uma falsa disputa entre burguesia produtiva • Segundo Yazbek, o contexto de crise e mudanças interpela o Serviço Social sob múltiplas
e burguesia rentista, Estado e mercado, nacional e estrangeiro, intervencionistas e privatistas, dimensões e aspectos: 1) A primeira dimensão que interpela o Serviço Social nesse contexto
e foram pautados, política e ideologicamente, pelos antigos neoliberais. Continuaram são as novas manifestações e expressões da questão social, resultantes dessas
hegemonizados pelas antigas frações dominantes do bloco de poder e passaram a ser linha transformações estruturais do capitalismo, com as quais nos deparamos no cotidiano
auxiliar do status quo, influenciando aqui e acolá decisões do governo sem, no entanto, mudar institucional ao lado das velhas questões de sempre; 2) Outra dimensão que interpela a
o essencial. Diante dos recentes protestos populares, perderam toda a credibilidade que profissão diz respeito aos processos de redefinição dos sistemas de proteção social e da política
porventura acumularam nos últimos tempos e hoje buscam se endireitar. Mas ainda deverão social em geral que emergem nesse contexto. Como sabemos, foi no âmbito do enfrentamento
permanecer no poder, por conta de ausência de alternativas concretas tanto pela direita quanto das consequências indesejáveis do novo regime de acumulação e suas medidas de ajuste

55 56
econômico que a política social “foi transformada total ou parcialmente em políticas focalizadas
contra a pobreza, principalmente nos países da periferia do capitalismo”. 3) Finalmente, a
profissão é interpelada e desafiada pela necessidade de construir mediações políticas e QUESTÕES - PARTE 2
ideológicas expressas sobretudo por ações de resistência e de alianças estratégicas no jogo da
política em suas múltiplas dimensões, por dentro dos espaços institucionais e especialmente no
contexto das lutas sociais. Isso porque, como sabemos, questão social é luta, é disputa pela
riqueza socialmente construída. 1. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/Prefeitura de Fortaleza – CE. Segundo Meirelles
• No âmbito da produção e no processo de trabalho, as mudanças tecnológicas e (2015), o processo de mundialização do capital e de neoliberalismo afetou
organizacionais, traçam novas estratégias de gestão e controle da força de trabalho. O que se enormemente a “questão social” latino-americana aprofundando-a. Os fundamentos
verifica é uma nova forma do exercício profissional do Serviço Social nas empresas. críticos que explicam as relações sociais de produção capitalista e suas derivações
“Mundialização do capital, questão social e Serviço Social no Brasil”. Iamamoto tece clássicas de pobreza e de desigualdade social tornam-se elementos indispensáveis
considerações sobre as metamorfoses no mundo do trabalho na era do capital, porque não dizemos, tanto para a compreensão ampliada da questão social quanto para a efetividade da
fetiche do capital. “O capital financeiro avança sobre o fundo público, formado tanto pelo lucro do intervenção profissional do Assistente Social. Assinale a alternativa correta sobre o
empresariado, quanto pelo trabalho necessário dos assalariados, ambos apropriados pelo Estado significado e concepções de pobreza, pauperização e desigualdades sociais.
sob a forma de impostos e taxas. Por outro lado, os investimentos especulativos em ações de
empresas no mercado financeiro apostam na extração da mais-valia presente e futura, dos a) Na América Latina, a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL)
trabalhadores para alimentar expectativas de lucratividade futuras das empresas, interferindo subdivide a categoria pobreza em dois grupos, indigentes e pobres não indigentes. A
silenciosamente: I - nas políticas de gestão e de enxugamento da mão-de-obra; II - na intensificação metodologia cepalina afirma uma concepção de pobreza que converge com a definição
do trabalho e no aumento da jornada; III - no estímulo à competição entre os trabalhadores num básica de pobreza adotada por diversos países capitalistas no contexto de mundialização
contexto recessivo, dificultando a organização sindical; IV- na elevação da produtividade do trabalho do capital. Ou seja, para definir quem é a população pobre, costuma-se comparar o
com tecnologias poupadoras de mão-de-obra; V- nos chamamentos à participação e consentimento
rendimento médio das famílias com o custo da satisfação de suas necessidades básicas.
dos trabalhadores às metas empresariais, além de uma ampla regressão dos direitos, o que se
encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho”. Logo, afirmar que umas das b) A pauperização relativa registra-se quando as condições de vida e de trabalho dos
prerrogativas do capital financeiro é a desaceleração e redução da jornada de trabalho constitui proletários experimentam uma degradação geral: queda do salário real, aviltamento dos
afronta à teoria da retenção dos lucros, mais-valia. padrões de alimentação e de moradia, intensificação do ritmo de trabalho, aumento do
desemprego.

c) A pauperização absoluta pode ocorrer mesmo quando as condições de vida dos


trabalhadores melhoram, com padrões de alimentação e de moradia mais elevados; ela se
caracteriza pela redução da parte que lhes cabe do total dos valores criados, enquanto
cresce a parte apropriada pelos capitalistas.

d) A pobreza relativa é um conceito equivalente ao que se denomina pobreza extrema, ou


seja, o aviltamento das condições materiais de sobrevivência de um ser humano ou de sua
família. Neste caso, a medição é realizada por meio da renda auferida pelo trabalhador
(renda do trabalho) ou pela renda da família (preferencialmente a renda per capita),
avaliando-se em que medida estes sujeitos conseguem adquirir a cesta básica de consumo
para satisfação de suas necessidades imediatas.

57 58
2. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/Prefeitura de Fortaleza – CE. Assinale a 5. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/Prefeitura de Fortaleza – CE. Segundo Silva e
alternativa correta quanto ao significado de capitalismo global na perspectiva de Raichelis (2015) no século XXI, diante da crise estrutural do capital, emergiu a era da
Giovanni Alves (2013). acumulação flexível e do chamado toyotismo. Essa nova estratégia de acumulação
capitalista desencadeia novas formas de organização e gestão do trabalho. Dessa
a) Capitalismo do pós-modernismo como lógica cultural permeado de racionalidade social.
forma assinale a alternativa correta quanto aos impactos dessa estratégia nas
b) Capitalismo da financeirização da riqueza capitalista sob a hegemonia do capital relações de trabalho dos assistentes sociais.
financeiro com a extinção dos entraves alfandegários para o funcionamento do livre
a) Redução dos contratos de trabalho de caráter temporários e terceirizados, repercutindo
cambismo.
na menor rotatividade de trabalhadores, com empregos efetivos ampliados e com justa
c) Capitalismo sob dominância do neoliberalismo como bloco histórico que condiciona e remuneração.
constrange as políticas do Estado político do capital, com a economia centrada no mercado
de ações e no sistema especulativo de créditos, juros e valorizações. b) Ampliação do contrato de trabalho via terceirização, porém com garantias de ambiente
de segurança e respeito aos direitos trabalhistas duramente conquistado pela categoria
d) Implica um complexo de múltiplas determinações sócio históricas discriminadas como profissional, evitando o medo da perda do emprego e aumento da competividade entre os
sendo o capitalismo do novo complexo de restruturação produtiva do capital sob o (as) trabalhadores (as).
espírito do Toyotismo, marcado por uma nova base técnica da sociedade em rede.
c) Presença do assédio moral, quando são internalizadas nas relações de trabalho o
controle e o uso manipulatório das emoções e dos afetos dos trabalhadores, processo que
nos remete à alienação e aos objetivos do capital de internalizar cada vez mais
3. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/Prefeitura de Fortaleza – CE. Assinale a
profundamente a reificação capitalista na subjetividade da classe-que-vive-do-trabalho.
alternativa correta quanto ao que significa trabalho incerto, imprevisível, e no qual
os riscos empregatícios são assumidos principalmente pelo trabalhador e não por d) Ampliação dos postos de trabalho e da prestação de serviços através do concurso
seus empregadores ou pelo governo.
público. Além disso, soma a garantia de direitos materializados em benefícios, como vale-
alimentação, vale-transporte, convênios médicos, entre outros, que funcionam como
a) Trabalho docilizado. salários indiretos a ser repassados aos (às) trabalhadores (as).

b) Trabalho precário.

c) Trabalho alienado.
6. 2016/ FCC/Prefeitura de Teresina – PI. Os processos de I, II e III do trabalho, como
d) Trabalho destrutivo. mais um modo de exploração e dominação dos trabalhadores, vem se inserindo no
espaço público, refletindo transformações no Estado, nas políticas sociais e também
no trabalho do assistente social.

4. 2016/Prefeitura de Fortaleza – CE/Prefeitura de Fortaleza – CE. Assinale a Preenche correta e respectivamente, as lacunas I, II e III:
alternativa correta ao que surge na América Latina, no final do século passado, e
ganha foros de um novo projeto de desenvolvimento para os países da periferia
capitalista, inclusive no Brasil. a) modernização − neoconservadorismo − precarização

b) neodesenvolvimentismo − financeirização − flexibilização

a) Neoliberalismo. c) desemprego estrutural − financeirização − intensificação

b) Desenvolvimentismo. d) flexibilização − precarização − intensificação

c) Neodesenvolvimentismo. e) mercantilização − neoliberalismo − precarização

d) Estado de exceção.

59 60
7. 2016/FUNRIO/IF-PA. Com as novas conformações do mundo do trabalho, a relação contribuindo para ampliar o absenteísmo, viabilizar benefícios sociais, atuar em relações
existente entre assistência social, trabalho e a intervenção do Estado na reprodução humanas na esfera do trabalho.
material e social da força de trabalho se intensifica. A parcela da população que não
b) Com a reestruturação produtiva, o Serviço Social passa a atuar na área de recursos
tiver suas necessidades atendidas pelo mercado, mediante seus salários, tornar-se
humanos, na esfera da assessoria gerencial e no apoio à criação dos comportamentos
alvo da assistência social, através de políticas compensatórias, principalmente pelo
improdutivos, ou seja, construindo o clima social organizacional.
mecanismo de:
c) Visando solucionar os conflitos entre capital e trabalho e envolver os trabalhadores com
as metas das empresas, os assistentes sociais buscam realizar políticas externas e
a) programas de transferência de renda. práticas de gestão pública, integrando-as aos programas organizacionais para garantia de
direitos do trabalhador.
b) programa de volta para casa.
d) No âmbito da produção e no processo de trabalho, as mudanças tecnológicas e
c) programa de erradicação do trabalho infantil.
organizacionais, traçam novas estratégias de gestão e controle da força de trabalho. O que
d) fundos nacionais de assistência social. se verifica é uma nova forma do exercício profissional do Serviço Social nas empresas.

e) programas de atendimento a família. e) A reestruturação produtiva, nas organizações públicas e privadas, impôs a todos os
trabalhadores, incluindo a categoria de assistentes sociais, alterações que promoveram a
precarização das relações de trabalho, a certeza de novos postos de trabalho, o
8. 2016/BIO-RIO/Prefeitura de Mangaratiba – RJ. As mudanças ocorridas no mundo desenvolvimento de novas capacidades, da polivalência e da multifuncionalidade.
do trabalho nos últimos trinta anos impactaram medularmente o exercício
profissional do assistente social, posto que polarizadas por projetos societários
distintos. Para Yazbek (2014), esta conjuntura interpela o Serviço Social em três
dimensões, a saber: 10. 2016/IDECAN/Prefeitura de Natal – RN. “O capital financeiro contemporâneo
avança sobre o fundo público, formado tanto pelo lucro do empresariado quanto
pelo trabalho necessário dos assalariados, que são apropriados pelo Estado sob a
a) centralidade da proteção social, refilantropização das políticas sociais mediante o forma de impostos e taxas. Por outro lado, os investimentos especulativos em ações
surgimento do Terceiro Setor, desemprego em larga escala de empresas no mercado financeiro apostam na extração da mais-valia presente e
futura dos trabalhadores para alimentar expectativas de lucratividade futuras das
b) teórico-metodológica, técnico-operativa, político-organizativa. empresas, interferindo silenciosamente em direção a uma ampla regressão dos
direitos que se encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho. ”
c) crise estrutural do capitalismo, enfrentamento da questão social via repressão,
hegemonia do neoconservadorismo profissional. (Harvey, 1993; Alves, 2000; Antunes, 1997, 1999; Bhir, 1999; Santana, e Ramalho,
d) novas manifestações e expressões da questão social, processos de redefinição dos 2003.)
sistemas de proteção social e da política social, necessidade de construir mediações Assinale a alternativa que descreve de forma INCORRETA uma das interferências
políticas e ideológicas. silenciosas supracitadas que contribui com a regressão dos direitos e que se
e) responsabilidade do Estado, parcerias público-privadas, cooperativismo. encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho.

a) Desaceleração do trabalho e redução da jornada.

b) Elevação da produtividade do trabalho com tecnologias poupadoras de mão de obra.


9. 2016/AOCP/EBSERH. Existe uma crise estrutural do capital, que teve início nos c) Chamamentos à participação e consentimento dos trabalhadores às metas empresariais.
anos 70 e perdura até nossos dias. Assim, o capital, em busca de respostas à sua
crise, deflagra um processo de reestruturação produtiva e empresarial, trazendo d) Estímulo à competição entre os trabalhadores num contexto recessivo, dificultando a
profundas mudanças no mundo do trabalho. Com base no cenário apresentado, organização sindical.
assinale a alternativa correta.

a) Historicamente, o Serviço Social sempre foi chamado pelas empresas para eliminar
focos de tensões sociais, criar um comportamento produtivo da força de trabalho,

61 62
GABARITO 2 BIBLIOGRAFIA

ABREVO, Ana Carolina S. B. FÁVARO, Cláudia Renata. As tradicionais e atuais demandas


requisitadas para o Serviço Social no setor empresarial. Acesse: http://bit.ly/2gPjIuL

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RAICHELIS, Raquel. A questão do neodesenvolvimentismo e as políticas públicas.


Entrevista especial com Rodrigo Castelo. Entrevistadora: PUC-SP. 2013. Acesse:
http://bit.ly/2hO0P

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