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O PILÃO DE ÒSÀÁLÁ

UM SOTAQUE SOTEROPOLITANO EM SÃO PAULO

Por Riz Maglio

Tomando como base o ano em que fui iniciado na Religião dos Òrìsà (1978), imagino que foi
uns quatro ou cinco anos antes que comecei a visitar algumas Casas de Candomblé de São
Paulo. Lembro que aquilo mexia comigo, me encantava: as cantigas, as mulheres vestidas
naquelas roupas, o idioma utilizado nas louvações, o tom de quase lamento de algumas
rezas, o ritmo frenético dos atabaques, enfim, tudo da religião trazida pelos escravos ao
Brasil fazia brilhar os olhos do garoto de ascendência italiana, de rígida formação católica.

O tempo passou, fui iniciado e, por anos e anos, o Candomblé continuou sendo aquela coisa
bonita, com algumas variações. Digo, algumas casas paulistanas apresentavam determinadas
cerimônias de forma mais simples, outras de forma mais elaborada, mas sempre permeadas
por aquela beleza que seduziu o garoto. A entrada do sýrè - instrumento sagrado de sàngó,
no barracão até hoje me causa a mesma sensação, a mesma emoção, que causou da
primeira vez que vi.

Não tinha a menor dúvida de que o Candomblé praticado em São Paulo era belo, mas foi a
decisão por retraçar os caminhos trilhados pelo meu saudoso Pai Kamusuan que me levou,
num passado recente, a ir com certa freqüência para o berço do segmento Kêtu do
Candomblé: Salvador. E foi assim que consegui subsídios para estabelecer alguns
parâmetros comparativos, os quais me fazem ver que, se o Candomblé praticado em São
Paulo é lindo, aquele praticado em algumas tradicionais casas soteropolitanas é belíssimo,
descontando-se a tendenciosidade causada pela minha irrestrita paixão pelas Mães Baianas e
pelo fascínio que a cidade de Salvador exerce sobre mim.

Em total dissonância com o que acontece em São Paulo, a ausência de homens durante o
"sirè Òrìsà" (literalmente, "brincadeira dos orixás", mas, na verdade, a "louvação
introdutória a todos Òrìsà"), até mesmo em casas que têm homens ocupando o mais alto
cargo - Bàbálórìsà, como é o caso da Casa d’Òsùmàrè, é uma das primeiras coisas que chama
a atenção. Aliás, Beniste (1997, pg. 332, ISBN 85-286-0614-7) cita " O cuidado pela
participação de homens no Candomblé, em função apenas de acordo com a sua hierarquia, é
destacada por Ruth Landes, em A Cidade das Mulheres, 1967, fruto de seu trabalho junto
aos negros baianos em 1938/39. Sobre o homossexualismo, a autora relata um momento de
festa no Candomblé do Engenho Velho, em que houve um constrangimento geral diante da
manifestação de Òrìsà num homem visitante. Tentaram impedir sua desenvoltura de dançar
junto às mulheres, mas não conseguiram. Depois de voltar a si foi-lhe mostrada, em tom de
advertência, uma placa afixada no poste central: ‘Por meio deste, pede-se aos cavalheiros o
máximo respeito. Os homens são proibidos de dançar entre as mulheres que celebram os
ritos neste templo’, pág. 60".

Logo em seguida vem o fato de que mesmo as mais ilustres personalidades visitantes não
entram na "roda" para dançar, em outras palavras, convidados são convidados e vão ali para,
pura e simplesmente, assistir - o respeito pelo Òrìsà da casa, da(o) Ìyálórìsà / Bàbálórìsà e o
próprio do convidado é demonstrado através de um gesto tão simples quanto ficar em pé,
nada de louvações como se a casa visitada fosse a própria casa do visitante. Alágbè
"visitante", que chega da rua, sem preparação adequada, não coloca as mãos nos "couros"
(atabaques) - instrumentos sagrados, devidamente preparados para chamar as divindades
africanas ao àiyé. Isto é claro, sem contar a marcante cordialidade do(s) membro(s) da casa
que conhece(m) o visitante. Em outras palavras, a menos que haja uma certa insistência por
parte da (o) anfitriã (o), um convidado é um convidado e comporta-se como tal, com toda
discrição.

Pelo exposto nos parágrafos anteriores, os que estão acostumados ao Candomblé da maior
cidade da América Latina, a terceira do mundo, com mais de 16 milhões de habitantes, já
devem ter percebido que há uma notável diferença. Para os que não estão acostumados,
cabe dizer que em São Paulo homens participam do "sirè Òrìsà", visitantes / convidados
apresentam-se com roupas que fazem inveja a muitos africanos, participam das cerimônias
públicas (e até mesmo das internas) como se a casa fosse deles: os ömö Òrìsà prestam o
dòbálû / yinká para suas Ìyálórìsà como se estivessem em seus barracões, Ìyálórìsà saem
cumprimentando os mesmos pontos físicos sagrados que cumprimentariam em suas próprias
casas, entram na roda para dançar para os seus Òrìsà, os Alágbè já vão logo se
acomodando para tocar os "couros" e assim vai. Não que isto seja uma crítica, é apenas o
"jeito paulista" de ser, o qual, na minha particular opinião, foge às mais básicas regras de
bom senso do comportamento social ocidental.

Como nunca estive no Oeste Africano, não posso falar sobre as regras do povo iorubá, mas
posso garantir que este "comportamento paulista" não pode, nunca, ser utilizado em algumas
das tradicionais casas de Candomblé soteropolitanas. Lembro que desde os meus velhos
tempos - época em que era privado de visitar Salvador pela minha falta de interesse cultural
na religião, ouvia meu Pai Kamusuan contar que este ou aquele Bàbálórìsà (falando
especificamente de homens, incluindo meu Avô Zé Mauro d'Îñïîsì) era muito importante na
Sampa de Caetano Veloso, mas se despia da sua importância quando chegava na "Cidade
das Mulheres". Aliás, até hoje ouço histórias de Bàbálórìsà que mudam radicalmente seu
comportamento e, conseqüentemente, maneira de vestir, quando vão aos Candomblés das
tradicionais casas de Salvador.

Mas o motivo de toda esta introdução é para dizer que, depois destas descobertas que tanto
me agradaram em Salvador, viajando de volta para a minha querida Sampa, digo, por vias
indiretas, acabei por descobrir uma casa de Candomblé paulista diferente, uma casa que faz
lembrar a velha e querida Casa Branca do Engenho Velho da Federação, o Ilè Àseý Ìyá Nasò
Oká. Esta casa é o Ilè Àsë Ajàgunà Öba Olá Fadaká, que tem como Bàbálórìsà o Ûgbön
Alabíyí, iniciado por Maria das Dores da Silva, conhecida como Talaby Deiyi, na cidade do
Recife. Já morando em São Paulo, o Bàbálórìsà Alabiyi foi procurar a ajuda de Vovó
Conceição de Nàná, que eu, infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer, mas me
contam que ela era filha de Ìyá Massi, quinta Ìyálórìsà da Casa Branca (Carneiro, 1948, pg. 56,
ISBN 85-200-0083-5). Tal ajuda, por desejo de Òsàgiyán - Òrìsà de Bàbá Alabíyí, foi sucedida
por Mãe Cinha - filha sangüínea de Vovó Conceição, Ëkëdi d'Òñïîsì e grande e inseparável
amiga de minha querida Mãe Terezinha - Ëkëdi d'Îñun, pessoas das quais pretendo falar à
respeito em um artigo futuro.

Em virtude desta gostosa amizade que há entre Mãe Terezinha (à esquerda), Mãe Cinha (à
direita) e eu (no centro), acabei por também fazer amizade com Bàbá Alabíyí, com o qual tive
chance de conversar umas duas vezes antes de ser convidado para o " Pilão". O que mais me
impressionou logo que comecei a falar com Pai Alabíyí foi o "nível da conversa...” uma coisa
gostosa, bem cadenciada, com um tom cultural que superou as minhas expectativas, isto sem
contar algumas opiniões em comum, entre elas, as que dizem respeito a Ori.

Não só a casa onde mora Bàbá Alabíyí, como também os pontos públicos de seu terreiro
causam a melhor das impressões, pois são extremamente agradáveis. Simplicidade associada
ao bom gosto. Paredes e chão limpo. Grama cortada. Tudo muito bem conservado, a ponto
de ser difícil dizer que a casa tem toda idade que me foi reportada. Incrível!

No dia da festa chegamos - eu, Roberto e Rubens, um pouco mais cedo e fomos recebidos
por um garotinho com seus 5-6 anos, que foi logo dizendo que estava encarregado de
receber as visitas. Fomos conduzidos aos fundos da casa - tão impecável quanto os outros
lugares que já havia conhecido, e lá acomodados. Logo passaram uma, duas, três pessoas
que nos cumprimentaram, apertando socialmente nossas mãos. Vale lembrar que, em
situações diferentes, venho encontrando demonstrações similares tanto na Casa Branca (vide
"O Dia do Caçador"), como no Òpó Àfonjá, como no Gantois e também na Casa d’Òsùmàrè.
E, neste ponto, aproveito para perguntar: "Quem não gosta de ser bem tratado?". Isto cativa,
até mesmo em outras situações do cotidiano, quando a pessoa está em um daqueles dias
que Ölorun determinou que não fosse dos melhores. Não era o caso, mas se estamos com
uma má impressão, muitas vezes causada por outras coisas que nos aconteceram durante o
dia, uma atençãozinha nos faz sentir diferentes, nos faz relaxar e, conseqüentemente, ver as
coisas com olhos menos influenciados por aquele stress tão característico de pessoas que
vivem nos grandes centros urbanos.

Naturalmente, o branco imperava, exceto por mim que decidi vestir uma camisa " azul
clarinho" pra combinar com Ògyian - filho guerreiro de Osàálá, a ponto de chegar a me
sentir meio "deslocado" até que alguns visitantes chegaram trajando as mais diversas cores.

O Candomblé - a cerimônia pública, começou. Na "roda", somente mulheres vestidas com o


mais alvo branco. Lindo. O "pique" baiano já estava claro. As personalidades chegavam e eu
discutia com Pai Roberto sobre o "couro não dobrar" e ele me dizia que aquilo estava
acontecendo, mas meu péssimo ouvido não conseguia identificar. Talvez porque em São
Paulo seja muito comum ver parar tudo quando um visitante importante chega. Por aí já vi o
quanto estou perdendo quando vou a um Candomblé em Salvador! Uma vergonha para mim,
sem dúvida.

O sirè teve início. Meu Pai Ògún foi louvado seguido por meu Pai Îñïîsì. Foi logo após que Pai
Roberto comentou comigo, no melhor dos tons: "o sirè é diferente". Lembrei, imediatamente,
quando o mesmo aconteceu em uma das festas que fui na Casa Branca e um olòtítï (dono da
verdade em iorubá - palavra a mim ensinada por meu grande amigo eletrônico Ödë Lonà
através do ditado "olòtítï lýsû kékeré" que significa "o dono da verdade tem pernas curtas" )
disse atrás de mim: "este sirè está errado!...” Tive que me segurar para não fazer um
discurso ali mesmo. Ufa! Pelo menos estava feliz, pois ouvi alguém iniciado por meu Pai
Kamusuan - Ògán Roberto de sángò, mostrar seu respeito pelo àsë trazido ao Brasil por Ìyá
Nasò, pois acho que ninguém pode ter tanto conhecimento a ponto de dizer que qualquer
coisa feita na Casa Branca do Engenho Velho esteja errada, afinal o Ilè Àsë Ìyá Nasò Oká
está para o Candomblé Kêtu assim como o Vaticano está para a Igreja Católica e, como
sempre digo, negar isto é mostrar a falta de conhecimento histórico da religião, é negar a
brasilidade desta religião que hoje em dia cultua divindades até mesmo esquecidas na
África.

Mas voltando ao barracão do Ilè Àsë Ajàgunà Öba Olá Fadaká, lá pelas tantas, depois de
todos Òrìsà terem sido louvados como de costume, a maioria das pessoas desaparece por
alguns minutos. Parece uma espécie de "recesso" para os poucos leigos presentes. De
repente os atabaques começam com o ìgbín - ritmo característico de Òsàálá, e é então que
o resto da história de Òsàálá começa a ser revivida. Digo "o resto" porque, como a grande
maioria das cerimônias no Candomblé, houve antes muitas outras cerimônias internas até
que a cerimônia pública pudesse ser realizada.

Antes de prosseguir, para tornar mais fácil o entendimento por parte do leitor leigo, aproveito
um dos textos de Verger (1957, pg. 429, ISBN 85-314-0475-4) para lembrar a origem da festa
chamada "Pilão d’Osàálá":

Outrora Osalufön, pai de Osagiyan, rei de Ejigbo, projetou deixar o reino de seu filho para
visitar seu amigo sango, rei de Koso, o país vizinho. Conforme a tradição, antes de partir ele
foi ver um babalawo, o qual, após consultar Ifá, declarou que não deveria empreender
aquela viagem. Osalufön insistiu e perguntou se algumas oferendas ou sacrifícios não
poderiam tornar a sorte mais favorável.

O Babalawo confirmou que a viagem seria desastrosa, que ele seria vítima de inúmeros
aborrecimentos, que ficaria muito pouco satisfeito com as aventuras que o esperavam e que
se ele não quisesse morrer teria de fazer tudo aquilo que lhe fosse pedido, jamais recusando
um favor e jamais se queixando do que viesse a acontecer. Além disso, deveria levar três
mudas de roupa, sabão da Costa e manteiga de karité.

Osalufön pôs-se a caminho, andando lentamente, pois era velho, e apoiava-se em um


pasoro, grande bengala de estanho. Em breve deparou com Esú, sentado à beira da estrada,
com uma grande barrica cheia de azeite-de-dendê perto dele. Esu pediu a Osalufön que o
ajudasse a pôr a barrica em cima de sua cabeça. Ele assim o fez e Esu derramou o conteúdo
em cima dele, começando a rir e a caçoar de Osalufön. Este, seguindo as recomendações
do babalawo, nada disse e não se queixou. Foi até um rio vizinho e tomou um banho, lavou-
se, passou manteiga de karité no corpo, pôs uma roupa limpa e deixou a roupa usada como
oferenda. Retomou o caminho com muita dificuldade e encontrou-se com Esu mais duas
vezes, o qual lhe pregou a mesma peça, com um saco de carvão e com azeite de caroço de
palmeira. Osalufön agiu como da primeira vez e prosseguiu seu caminho.

Daí a pouco chegou ao reino de sango e, ao passar perto de um milharal, viu o cavalo do
rei, que havia fugido. Colheu algumas espigas e deu-as para o animal comer. Os criados de
sango, que procuravam o animal, chegaram naquele exato momento e acreditando que
Osalufön roubara o cavalo caíram em cima dele, dando-lhe muitas porretadas, quebrando
suas pernas e braços. Jogaram-no em um calabouço e levaram o cavalo de volta a seu
senhor.

Sete anos de desgraças se abateram sobre o reino de sango. A seca comprometeu as


colheitas, epidemias dizimaram os rebanhos, as mulheres se tornaram estéreis, etc. sango
foi consultar Ifá, que revelou que o motivo de todos aqueles apuros se devia ao fato de que
um velho havia sido preso injustamente. Realizaram-se indagações, buscas e, finalmente,
Osalufön foi levado diante de sango. Este imediatamente reconheceu seu amigo.
Desesperado e envergonhado do que havia sido feito, ordenou a seus súditos que,
inteiramente vestidos de branco, fossem buscar água, e no maior silêncio, em sinal de
respeito, para lavar Osalufön. Este, em seguida, voltou para junto de Osagiyan, que não
tinha mais notícias de seu pai, apesar das buscas com o objetivo de encontrá-lo. A volta é
comemorada por meio de grandes festas e distribuição de comida para todo o povo.

Com o objetivo de deixar ainda mais claro o “por quê” desta linda festa comemorada todo
ano por um grande número de terreiros de Candomblé Kêtu que têm filhos destes Òrìsà,
faço novamente uso das definições de Beniste (pg. 119):

Òsàgiyán era um guerreiro impetuoso e protetor dos Fùlàní, e sempre se alterca com outros
Òrìsà, com Ömölu em particular. É também conhecido como Ëlýmòsò, um nome ligado à
história de Ogbómînñï, lugar onde se faz o culto a Òrìsà Pópó. Os antigos relatos dizem que
quando Orànmíyàn se dirigia para Meca a fim de vingar a morte de Lámúrúdù, pai de
Odùdúwà, ele se desvia de sua rota e funda a antiga Oyó. Muitos membros de sua família o
seguiam, entre eles Akínjole, um dos filhos de Ògiriniyán, o mais jovem dos filhos de
Odùdúwà. Este Akínjole funda Èjigbò e passa a ser intitulado Eléèjìgbò e denominado
Òsàgiyán ou Ògiyán, por gostar muito de inhame pilado - iyán.
Numa tentativa de concluir o mencionado pelos dois autores/pesquisadores, através da
minha interpretação extremamente simplificada, o "Pilão d’Òsàálá" tem o objetivo de
relembrar os passos de Òsàlúfón - que duraram sete anos, tendo como ápice a festa que
seu filho - Òsàgyán, realizou para celebrar a sua volta. Indo mais além e, tentando
simplificar ainda mais, eu ousaria dizer que o " Pilão" está para os abórìsà (todo aquele que
crê no Òrìsà) assim como o Natal está para os cristãos, lembrando que a diferença reside no
fato de que o ocorrido com Òsàlúfón pertence a "tempos imemoriais". Vale ainda lembrar
que, em Salvador, este ritual dura três semanas, mas em cidades como São Paulo ou Rio de
Janeiro (imagino), torna-se difícil fazê-la aos moldes soteropolitanos em virtude das
dificuldades que os abórìsà têm que enfrentar, principalmente porque os terreiros estão
situados em municípios periféricos, a bons quilômetros de distância da casa/trabalho dos
seguidores.

Mais uma vez, depois destes poucos minutos de " recesso" - que me permitiram divagar tanto,
vamos voltar ao barracão. O ìgbìn está sendo tocado e da porta, a qual imagino ser do quarto
de Òsàgyán, começa a sair uma procissão de fiéis carregando os "apetrechos" que serão
utilizados. Entre outros detalhes inerentes à procissão, além de Bàbá Alabíyí, Mãe Cinha e
Mãe Terezinha, chamam atenção as abòrìsà que carregam um banquinho e o pilão envoltos
em tecido branco. Os assistentes estão de pé e os membros da procissão, um a um, saúdam
os principais pontos da casa: a porta, o mastro central e os atabaques.

Sob a orientação de Mãe Cinha, o apèrè (banquinho) e o odó (pilão) - principais objetos
desta cerimônia, são colocados no chão do barracão e um pedaço de tecido branco é aberto
sobre os mesmos, - sustentado por algumas pessoas, como se fosse uma barraca: o Alá...
Embora a palavra seja de origem árabe, nada tem a ver com o Ser Superior dos mulçumanos,
mas sim com o tecido que cobre/acompanha Òsàálá.

Bàbá Alabíyí se posiciona em frente ao Pilão, Mãe Cinha entoa uma cantiga e, através do
corpo de Bàbá Alabíyí, Òsàgiyán vem nos prestigiar, dançando em frente ao Pilão e,
conseqüentemente, sob o Alá. É o auge da festa.

Outros Òrìsà vêm prestigiar a festa que Òsàgiyán está dando para comemorar a volta de
seu pai - Òsàlúfón, às suas terras. Eles dançam para celebrar a volta do Pai da raça
humana, o reconhecimento do erro cometido pelos súditos do Öba Koso - sàngó.

Os atori são distribuídos entre alguns membros de importância dentro da religião. Estes, por
sua vez, saem tocando os ombros dos presentes, relembrando a guerra simbólica registrada
por Verger (1981, pg. 270/271) em Ejigbò.

A comida de Òsàgiyán é distribuída entre os presentes acompanhada do aluá; -


deliciosamente soteropolitano, vale lembrar.

Após todos terem sido servidos, Òsàgiyán e os instrumentos retornam ao quarto, com a
diferença de que Sàngó - manifestado em uma de suas filhas é quem carrega o pilão. Os
demais Òrìsà, após o dahun (dança característica de cada um), entram - um a um, pela
porta.

Algum tempo passa até que todas divindades retornam ao barracão, desta vez vestida em
suas roupas de gala, predominantemente branca. Òsàgiyán põe-se em frente aos atabaques
e entoa uma reza. Logo após, canta a cantiga que fala sobre a importância de Ölörun na
religião - Oní Sàá wúre, Sáà wúr'àñë... Não lembro bem, mas acho que logo em seguida veio
o "arakétu wúre" - cantiga que exalta a união em Kêtu, quando todos cumprimentam os
Òrìsà manifestados e também os demais presentes. Só lembro que a cantiga foi repetida por
um bom tempo, permitindo assim que todos cumprimentassem todos. Uma beleza sem igual.

As cantigas ao velho pai dos humanos são entoadas e os Òrìsà dançam seguindo o mesmo -
que se manifestou através de uma ömö Òrìsà da casa. Uma, duas, três voltas, em passos de
lentidão sem igual, são dadas em torno do mastro central antes que, finalmente, todos Òrìsà
sejam retirados do barracão, caracterizando o encerramento da festa.

Não fosse o frio característico das madrugadas de Cotia, mesmo durante o verão, aqueles
que já assistiram alguma das muitas festas da Casa Branca do Engenho Velho, por poucas
horas pensariam estar em Salvador, lá nos altos da Avenida Vasco da Gama.

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