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Biodeterioração de concretos e argamassas

Edição 157 - Abril/2010

O tema deste artigo pode soar estranho para muitos engenheiros e arquitetos,
uma vez que não é tratado com frequência nos manuais de patologia de
concretos e argamassa.

É difícil imaginar como organismos vivos, especificamente micro-organismos


como bactérias ou mesmo fungos e algas, podem causar algum tipo de dano a
materiais tão resistentes - e tão largamente utilizados - como o concreto e a
argamassa.

O meio técnico está acostumado a se preocupar com outros agentes


agressivos, tais como a deterioração causada por ataque químico de cloretos,
sulfatos, ciclos de gelo ou degelo, tensões térmicas e mais recentemente as
reações do tipo álcali/agregado.

Os primeiros estudos brasileiros sobre o tema, na década de 1990, devem-se a


Moema Ribas Silva, que identificou a presença de micro-organismos em
amostras de concreto deteriorado, utilizando microscopia eletrônica e a Márcia
A. Shirakawa, que consegue realizar o isolamento de micro-organismos em
concreto. O estudo de Shirakawa teve como foco a biodeterioração do concreto
a ser utilizado como barreira de engenharia em repositórios superficiais de
rejeitos radioativos. A durabilidade do concreto para essa aplicação deve se
estender de 300 a 500 anos. Diversas outras aplicações do concreto têm sido
estudadas do ponto de vista da biodeterioração, como é o caso de fundações,
redes de esgoto e mais recentemente barragens (Metz, et al, 2004).

Os custos envolvidos com a biodeterioração de concretos e argamassas são


difíceis de serem estimados, pois envolvem não somente a reparação, mas a
limpeza, repintura e aplicação de medidas preventivas (Gaylard, 2003).

O principal objetivo deste artigo é tratar a questão e expor conceitos numa


linguagem acessível, uma vez que o assunto é de caráter multidisciplinar
(geologia, bioquímica, microbiologia, ecologia, entre outros) sem deixar de lado
a técnica.

Estabelecendo alguns conceitos

A primeira distinção a ser feita diz respeito a dois conceitos bastante


importantes: biodegradação e biodeterioração.
Nesses tempos em que as questões ecológicas tornaram-se tão relevantes, os
termos "biodegradável" ou "biodegradação" são bastante populares. Eles
referem-se a uma ação positiva de micro-organismos sobre diversos materiais
potencialmente poluidores lançados no meio ambiente, os quais são
degradados e o meio ambiente regenerado.

O termo "biodeterioração" já está em uso há mais de 40 anos (Allsopp, 2004),


possui um sentido negativo e refere-se a interações indesejadas e destrutivas
entre micro-organismos, ou mesmo macro-organismos, e diversos materiais,
como é o caso de metais, vidro, madeira, plástico, concreto, argamassas, óleos
e combustíveis, entre outros. Os danos causados ao concreto ou argamassas
podem ser tanto de ordem estética quanto funcionais (Gaylarde, 2003).

Outro conceito relevante é o de biorreceptividade, que qualifica um material


quanto à sua capacidade de permitir a fixação e o desenvolvimento de micro-
organismos em sua superfície. Essa propriedade está relacionada a diversos
fatores como, por exemplo, a rugosidade, composição da camada superficial e
umidade.

A partir do momento em que bactérias, fungos e algas conseguem se fixar e se


desenvolver sobre a superfície de um material esses passam a constituir uma
comunidade, ou ecossistema complexo. As excreções oriundas desses
organismos constituem uma película que, invariavelmente, provoca
manchamentos superficiais e que é conhecida como biofilme.

Fatores necessários para o desenvolvimento da biodeterioração

Como essa patologia resulta da ação de organismos vivos, os fatores ligados à


manutenção da vida dos agentes envolvidos constituem uma condicionante
para que o processo de biodeterioração se estabeleça.

A água é um elemento vital. Nenhum organismo é capaz de se desenvolver e se


reproduzir sem a água. Daí resulta que ambientes úmidos possuem uma maior
propensão.

A disponibilidade de nutrientes é outro requisito. Esses nutrientes podem ser


desde o aditivo orgânico utilizado na preparação do concreto ou argamassa,
como é o caso dos lignosulfonatos, compostos inorgânicos ou mesmo matéria
orgânica resultante da morte de outros micro-organismos. No caso de algas se
requer a presença de luz e uma fonte de carbono (Gaylarde, 2003). O tipo de
nutriente disponível irá definir, ou selecionar, o micro-organismo capaz de
iniciar o processo.
Fatores ambientais como a temperatura e o pH também são agentes
limitadores, havendo valores ótimos para cada agente. Normalmente bactérias
se desenvolvem melhor em ambientes com pH mais ácido e fungos em pH mais
básico. Temperaturas entre 20oC e 30oC são consideradas ideais para a maioria
dos organismos.

A existência de certo número de organismos viáveis, ou seja, capazes de se


reproduzir, também constitui um fator limitante.

Mecanismos de ação e efeitos da biodeterioração

Os prejuízos causados pela biodeterioração podem ser decorrentes da ação do


micro-organismo em si, que utiliza o substrato como seu alimento ou função de
metabólitos excretados, como os ácidos orgânicos. É uma ação complexa que
envolve processos químicos, físicos e mecânicos.

Os minerais constituintes do cimento, agregados ou argamassas podem ser


dissolvidos por metabólitos ou utilizados diretamente como nutrientes por
alguns tipos de bactérias. É muito comum o caso de bactérias nitrificantes que
geram ácido nítrico ocasionando a dissolução do cálcio pela produção de nitrato
de cálcio solúvel levando ao enfraquecimento da matriz cimentícia.

A tabela 1, elaborada por Gaylarde, relaciona alguns efeitos da biodeterioração


sobre diversos materiais de construção além de concretos e argamassas.

Uma observação importante é que materiais que possuem natureza


mineralógica similar podem sofrer o mesmo tipo de ataque. É o caso de rochas,
concreto e argamassa.

O mecanismo biogeoquímico de ataque e destruição de materiais de natureza


mineral mais conhecido e estudado é a liberação de ácidos de origem
biogênica.

Bactérias quimiolitotróficas, ou seja, aquelas que são capazes de degradar


compostos inorgânicos para obter energia, podem produzir ácido nítrico ou
sulfúrico. Esse é um ataque comum a torres de resfriamento e redes de
drenagem. As bactérias que utilizam compostos orgânicos como fonte de
carbono e energia, as quimiorganotróficas, e líquens, liberam ácidos orgânicos
como o ácido cítrico, ácido oxálico e glucônico entre outros.

Em relação ao aspecto visual para identificação da ocorrência de


biodeterioração, Gaylarde relaciona uma série de alterações e os micro-
organismos causadores (tabela 2), muito embora fatores como clima, estação
do ano e tipo de superfície influenciem o processo como um todo.

A figura 1 apresenta alguns exemplos de biodeterioração causada por fungos,


algas e musgos.

Gaylarde e Gaylarde (2000) ao estudarem revestimentos pintados de fachadas


em oito países na América Latina observam que a condição ambiental mais
influente no desenvolvimento do biofilme foi o constante ciclo de secagem e
molhagem, seguida pela exposição à radiação ultravioleta e temperaturas
elevadas. Constatou-se também que nos imóveis residenciais estudados a
frequente repintura das fachadas impedia um desenvolvimento continuado do
biofilme. A colonização inicial parece se dar a partir de algas e posteriormente
por cianobactérias.
Figura 1 - a) Manchamento de pintura sobre revestimento de
argamassa mostrando o crescimento radial de colônias de fungos;
b) Formação de placas esverdeadas de musgos sobre
revestimento de argamassa; c) Face externa de um muro
evidenciando manchamento esverdeado; d) Detalhe do
manchamento esverdeado mostrando um padrão de crescimento
cônico, o que sugere a colonização por algas

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Biodeterioração de concretos e argamassas


Edição 157 - Abril/2010

Exemplificando o problema

Um dos primeiros estudos envolvendo a biodeterioração de concreto, segundo


Silva e Pinheiro (2005) e Shirakawa (1994), foi relatado por Parker em 1945. O
caso pesquisado pelo autor refere-se à deterioração de uma extensa porção da
rede de esgotos em Melbourne, na Austrália. A superfície interna da rede, na
porção que estava acima da água apresentava regiões com o aspecto de uma
massa acinzentada e mole. Ao mesmo tempo havia uma grande quantidade de
gás sulfídrico no ambiente interno, bem como ácido sulfúrico, sulfato de cálcio e
enxofre elementar nas paredes. A transformação de gás sulfídrico em ácido
sulfúrico ocorre apenas por um processo biológico. A partir dessas
constatações, pesquisou-se a presença de bactérias do
gênero Thiobacillus tendo sido identificadas cinco linhagens produtoras de ácido
sulfúrico. O mesmo tipo de problema foi identificado na rede de esgoto de
Hamburgo, na Alemanha, em 1977.

Silva e Pinheiro (2005) citam o caso de pilares protendidos de uma edificação


urbana que apresentavam descolamento de placas de concreto e exposição de
armadura. Foram colhidas diversas amostras e, pelo uso de microscopia
eletrônica e outras técnicas complementares, pode-se observar a
microestrutura do concreto, que se encontrava deteriorada, especialmente pela
dissolução de cristais de cálcio (carbonato de cálcio, portlandita etc.). Junto a
essas regiões foram identificadas bactérias produtoras de ácido sulfúrico
(Thiobacillus), bactérias filamentosas, leveduras e hifas de fungos.

Um caso bastante grave ocorrido no Brasil no final da década de 1990, talvez o


mais grave já relatado, foi encontrado num túnel de concreto projetado na
cidade de São Paulo. Com as obras paralisadas havia cinco anos, uma
infiltração de água contaminada por um vazamento de óleo diesel serviu como
nutriente para propiciar o crescimento de diversos organismos como bactérias
heterotróficas, bactérias redutoras de sulfato, Thiobacillus e fungos sobre a
superfície do concreto. Nessas regiões o concreto apresentava-se
completamente degradado e com aparência gelatinosa (Shirakawa, 1999).

Conforme sumarizado na tabela 2, há uma diversidade de manifestações de


biodeterioração que podem ser observadas na superfície de materiais de
construção. Gaylarde e Gaylarde (2000) estudaram cerca de 88 amostras de
revestimentos pintados de fachadas, em diversos tipos de ambiente (rural,
urbano, residencial) em oito países da América Latina. Foram identificados
cerca de 1.363 tipos morfológicos diferentes. Os biofilmes continham fungos,
algas, cianobactérias, protozoários, actinomicetos e diversos outros grupos de
bactérias.

Shirakawa (1999) ainda registra o trabalho de Willmzig e Bock (1986), com relação ao
reboco da Igreja de St. Laurentii, norte da Alemanha, em que nas regiões deterioradas
foram identificadas bactérias nitrificantes e fungos, sendo que as argamassas de cal
apresentaram-se mais suscetíveis que as argamassas de cimento nos ensaios
laboratoriais.
Como diagnosticar

O diagnóstico de qualquer patologia, para que possa chegar a bom termo,


precisa satisfazer alguns requisitos básicos. Especialmente no caso da
biodeterioração, em que as condições ambientais têm um papel preponderante,
é necessário um grau maior de atenção. Segundo Silva e Pinheiro (2005) um
bom protocolo seria:

 Verificação das condições da estrutura (observação visual com documentação


fotográfica de áreas deterioradas e sãs)

 Coleta de amostras documentada por croquis e fotografias

 Avaliação geral do ambiente (no período de produção e em serviço)

 Informações sobre o tipo de aglomerante, agregados, aditivos e adições


utilizados

Além das informações descritas acima, faz-se necessária uma avaliação da


microestrutura do concreto ou argamassa. Isso pode ser obtido com a
utilização de técnicas diretas e indiretas. A tabela 3 reúne o conjunto dessas
técnicas que devem ser utilizadas em associação para obtenção de resultados
conclusivos.

É possível vacinar o concreto ou remediá-lo?

É difícil estimar o quanto é gasto anualmente com medidas preventivas, como a


utilização de biocidas. Gaylarde (2003) fala em alguns milhões de euros gastos
anualmente com prevenção, e mesmo assim, essa soma não inclui os valores
investidos em pesquisa e desenvolvimento de novos materiais de construção
menos suscetíveis.

Silva e Pinheiro (2005) apresentam algumas técnicas profiláticas e enumeram


requisitos que um bom tratamento deve satisfazer.

Dentre as medidas preventivas pode-se enumerar: manutenção da superfície


lisa; bom isolamento da água; utilizar declives nas peças para evitar acúmulo
de água; poda adequada da vegetação próxima à edificação e manter o solo
drenado.

Quanto à adoção de medidas corretivas deve-se considerar: baixo custo,


facilidade de aplicação e durabilidade; preservação das características
estéticas; inocuidade ao substrato, ao ser humano e ao meio ambiente.

Todo resíduo removido deveria ser analisado por laboratórios de microbiologia,


química e mineralogia para identificar o tratamento mais eficaz.

Embora a limpeza dos substratos para a remoção de poeira, fuligem, biofilmes


e crostas seja a técnica mais comum, nem sempre é a mais eficaz, ainda que
se utilizem lavagem sob pressão ou a vapor.

Conclusão

O estudo de um tema como este, além de lançar luzes sobre a abordagem do


problema, mais uma vez deixa claro o quanto se deve pensar integradamente e
multidisciplinarmente para a adoção de medidas efetivas na solução das
questões ligadas à engenharia.

Isso fica bastante claro, pois a identificação dos micro-organismos envolvidos


nessa patologia permite o reconhecimento do processo de biodeterioração
instalado, e a necessidade de associar técnicas que vão além das utilizadas nos
laboratórios de engenharia.

Julio Cesar Filla - Universidade Estadual de Londrina, Mestrando do curso de Engenharia e Edificações e

Saneamento, e-mail: jsnfilla@uol.com.br

Jorge Luiz Audibert - Universidade Estadual de Londrina, Mestrando do curso de Engenharia e Edificações e

Saneamento, e-mail: jmaudibert@Sercomtel.com.br

Gilson Morales - Doutor em Engenharia Civil pela Epusp e Professor Associado do Departamento de Construção

Civil da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: gmorales@uel.br


LEIA MAIS

Algae and Cyanobacteria on Painted Buildings in Latin America. Peter M. Gaylarde, Christine C.

Gaylarde. International Biodeterioration & Biodegradation 46 (2000) 93-97.

Biodeterioração de Argamassas por Fungos - Desenvolvimento de Teste Acelerado para Avaliação da

Bio-receptividade. Márcia A. Shirakawa. São Paulo. Instituto de ciências biomédicas da Universidade

de São Paulo, 1999, 131p.

Biodeterioração do Concreto. Moema R. Silva e Sayonara M. de M. Pinheiro. 2005. In: Concreto,

Ensino, Pesquisa e Realizações . Geraldo C. Isaia (editor) . Cap. 28. Pp 857-878.

Estudo da Biodeterioração do Concreto por Thiobacillus. Márcia A. Shirakawa. São Paulo: Instituto de

Pesquisas Energéticas e Nucleares - Autarquia associada à universidade de São Paulo, 1994. 121p

Introduction on Biodeterioration. Denis Allsopp; Kenneth J. Seal; C ristine C. Gaylarde. 2o Ed., (2004),

Cambridge University Press, pp 1-10.

Microbial Impact on Building Materials: an overview. C. Gaylarde , M. Ribas Silva e Th. Warscheid.

Materials and Structures/Materiaux et Constructions, Vol. 36, June 2003, pp 342-352

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