Sei sulla pagina 1di 8

FACULDADE DE DIREITO DE VITÓRIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FELIPE FERNANDES DO NASCIMENTO


JORGE FERNANDO YAMAGUCHI HERINGER
VINÍCIUS PESSOA EGÍDIO

PARECER JURÍDICO
O PACTO FEDERATIVO E A CONSTITUCIONALIDADE DO “IMPOSTO
IBS” NA ORDEM CONSTITUCIONAL BRASILEIRA

VITÓRIA
2019
1 RELATÓRIO

Trata-se de consulta acerca da constitucionalidade da Proposta de Emenda


Constituição (PEC) 45/2019, apresentada pelo Deputado Federal Baleia Rossi
(MDS/SP), que modifica o sistema tributário nacional.

O texto extingue um total de cinco impostos incidentes sobre o consumo, três


federais (IPI, PIS e Cofins), um estadual (ICMS), e um tributo municipal (ISS),
criando, no lugar deles, um imposto sobre o valor agregado, denominado de Imposto
sobre Operações com Bens e Serviços (IBS), de competência dos três entes
federativos, e outro, sobre bens e serviços específicos (Imposto Seletivo), de
competência federal.

Dessa maneira, questiona-se a constitucionalidade da referida Proposta de Emenda


Constitucional e se essa deve ser aprovada ou reprovada pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. O principal ponto discutido
a respeito da proposta é se ela pode criar rupturas no pacto federativo do Estado
brasileiro.

É o relatório. Passo a opinar.

2 FUNDAMENTAÇÃO

O pacto federativo brasileiro está previsto no artigo 1º da Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988, que prevê que o Estado brasileiro é formado pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. Um dos elementos
fundamentais da federação brasileira, conforme disposto no art. 18 da mesma Carta,
é a atribuição de autonomia política, administrativa e financeira aos entes federados,
que recebem competências relativas a essas esferas.

Segundo BULOS (2015, p. 976), na repartição de competências, o legislador aplicou


o princípio da predominância do interesse, repartindo-as com base na natureza do
interesse afeto a cada uma delas. Assim, competem à União as matérias de
interesse geral, aos Estados-membros as matérias de interesse regional, aos
Municípios os assuntos de interesse local e, por fim, ao Distrito federal a temática de
interesse regional e local.

Nesse sentido, os artigos 24 e 30 do texto constitucional apontam que compete à


União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre o direito
tributário, podendo os municípios suplementar a legislação federal e a estadual no
que couber. Cada ente federativo, ao tratar dessa temática, deve respeitar o
princípio da predominância do interesse, se reservando a abranger esferas atinentes
apenas ao seu interesse.

A criação de um imposto único, de competência tripartida, daria margem a um


grande conflito tributário. Conforme dispõe o inciso I do artigo 146 da carta
constitucional brasileira, conflitos de competência, em matéria tributária, entre os
entes federados, devem ser solucionados mediante lei complementar. Entretanto,
como aponta BULOS (2015, p. 1479), isso significa concentrar o poder de decisão
no âmbito da União, o que não é adequado, pois enfraquece o federalismo.

Mais do que isso, a extinção de impostos próprios da União, dos Estados e dos
Municípios fere a autonomia dos entes. Isso porque essa autonomia passa pela
possibilidade de cada ente poder utilizar a tributação como instrumento de política
econômica, o que depende de terem tributos próprios. Assim, como expõe ROCHA
(2019), a proposta analisada seria inconstitucional em diversos pontos, pois limita a
competência dos entes de fixarem suas alíquotas e concederem benefícios fiscais.

Os benefícios fiscais fazem parte da chamada finalidade extrafiscal do tributo,


utilizado pelo Estado para estimular ou desestimular determinada conduta,
ferramenta muitas vezes imprescindível para o atendimento dos mais diversos
comandos constitucionais. Assim, conforme denota a doutora Karoline Marchiori de
Assis (2013, p. 101), essa ferramenta dos tributos não tem motivações fiscais, mas é
motivada por fins político-econômicos, sociopolíticos, culturais, científicos,
ambientais, etc.
Exemplo de concessão de benefício fiscal que gerou debates jurídicos foi o realizado
às empresas que atuam na Zona Franca de Manaus. A fim de garantir o
desenvolvimento da região, foi provido o creditamento de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na entrada de insumos, matéria-prima e material de
embalagem adquiridos junto à Zona Franca de Manaus. Nesse sentido, cumpre
observar o julgado atinente ao caso em questão:

IPI. DIREITO DE CRÉDITO. INSUMOS PROVENIENTES DA ZONA


FRANCA DE MANAUS ADQUIRIDOS SOB O REGIME DE ISENÇÃO.
PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. CF/88, ART.43, 1º, II, E 2º,
III;153, 3º, II. A partir de hermenêutica constitucional sistemática de
múltiplos níveis normativos depreende-se que a Zona Franca de Manaus
constitui importante região socioeconômica que, por motivos extrafiscais,
excepciona a técnica da não-cumulatividade. É devido o aproveitamento de
créditos de IPI na entrada de insumos isentos, não tributados ou sujeitos à
alíquota zero provenientes da Zona Franca de Manaus, por força de
exceção constitucionalmente justificável à técnica da não-cumulatividade.
(STF – RE: 596614 SP – SÃO PAULO, Relator: Min. MARCO AURÉLIO,
Data de Julgamento: 25/04/2019, Data de Publicação: DJe-204 20/09/2019).

Além disso, em São Paulo, por exemplo, o governador João Dória, temendo um
aumento no número de desempregados com a crise das montadoras de veículos,
ofereceu uma redução de 25% do imposto para essa atividade 1. Nesse sentido,
segundo o advogado tributarista Samir Nemer, muitos estados e municípios
dependem diretamente dessa possibilidade de conceder incentivos fiscais. O
Espírito Santo, por exemplo, rodeado por estados gigantes economicamente,
dificilmente teria contas equilibradas na ausência de benefícios fiscais2.

Dessa maneira, restringir a extrafiscalidade de determinados tributos afeta


diretamente a estrutura e o equilíbrio dos entes federados, bem como os impede de
atender com maior propriedade os mais diversos comandos constitucionais, como os
objetivos de garantir o desenvolvimento nacional, redução das desigualdades sociais
e regionais e promover o bem de todos, positivados no art. 3º, II, III e IV, da
Constituição Federal. Assim, além de retirar dos entes federados a autonomia,
prejudicando a gestão de cada um deles, essa restrição impede que importantes
direitos fundados na dignidade da pessoa humana sejam atendidos.

1 Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,doria-anuncia-reducao-de-ate-25-


no-icms-para-montadoras-que-investirem-pelo-menos-r-1-bi,70002747882>. Acesso em: 7 out. 2019.
2 Disponível em: <https://www.folhavitoria.com.br/economia/noticia/03/2019/incentivos-fiscais-saida-

para-um-estado-competitivo-ou-tributacao-desigual>. Acesso em: 7 out. 2019.


Constata-se, dessa forma, um grande impacto à Federação brasileira proveniente da
Proposta à Emenda Constitucional 45/2019. Dada a importância da forma federativa
do Estado, qualquer proposta que tende a sua abolição é vedada por clausula
pétrea, prevista no artigo 60, § 4º, do texto constitucional. Conforme explicitado, a
autonomia dos entes federados constitui um aspecto basilar da forma federativa
brasileira, de tal forma que afetá-la significa afetar a federação como um todo.

3 CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, passa-se à resposta sintética da questão levantada, se é


constitucional a Proposta de Emenda Constitucional 45/2019.

Conforme elucidado, a proposta supracitada, que pretende extinguir variados


impostos, atinge a estrutura federativa brasileira em seu núcleo essencial, uma vez
que:

a) Dá proeminente poder de decisão à União, em detrimento dos Estados e


Municípios.

Isso porque a criação de um imposto único (IBS) de competência da União, dos


Estados e dos Municípios pressupõe a origem de um conflito tributário no que tange
a distribuição da receita, insolúvel pelas regras de distribuição estipuladas. A
solução desse conflito se dá mediante lei complementar, o que daria o poder de
decisão à União, ainda que em uma questão que envolva também o interesse
regional e local. Viola-se, assim, o princípio da predominância do interesse,
desfavorecendo os demais entes federados e enfraquecendo o federalismo
brasileiro.

b) Fere a autonomia dos entes federados.

Pois restringe a atuação dos entes no que tange a estipulação das alíquotas e
concessão de benefícios fiscais, atribuições fundamentais à gestão de cada ente
federado. Restringi-los, nesse sentido, prejudicaria o desenvolvimento e equilíbrio
dos entes, além de impedir que, por meio da finalidade extrafiscal do tributo,
diversos comandos constitucionais sejam melhores atendidos. Assim, cerceia-se um
aspecto essencial do federalismo brasileiro: a autonomia de cada ente federado.

Diante dessas razões, à luz do art. 60, § 4º, da Constituição Federal de 1988, que
veda propostas de emenda à Constituição que tendem a abolir a forma federativa de
Estado, entende-se que a Proposta de Emenda à Constituição 45/2019 é
inconstitucional. Isso porque ela, ao dar proeminente poder de decisão à União em
questão que envolve também interesse regional e local e ferir a autonomia f dos
entes federados, atinge o núcleo essencial da Federação brasileira. Assim, constata-
se que a proposta, ao ter sua constitucionalidade aferida, deve ser reprovada pela
Comissão de Constituição e Justiça.

É o parecer.
REFERÊNCIAS

ASSIS, Karoline Marchiori de. Segurança jurídica dos benefícios fiscais. 2013.
Tese (doutorado) – Universidade de São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2133/tde-13062014-155055/pt-br.php>.
Acesso em: 06 out. 2019.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo:


Saraiva, 2015.

ROCHA, Sérgio André. Questão federativa é central na análise da


constitucionalidade do IBS. 2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/
2019-ago-06/sergio-rocha-questao-federativa-central-analise-ibs>. Acesso em: 07
out. 2019.
Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO INTERNO.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TEMA 653 DA REPERCUSSÃO GERAL. 1. O
Plenário do STF no julgamento do RE 705.423-RG, Rel. Min. EDSON FACHIN,
Tema 653, fixou tese no sentido de que: “é constitucional a concessão regular de
incentivos, benefícios e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Imposto
sobre Produtos Industrializados por parte da União em relação ao Fundo de
Participação de Municípios e respectivas quotas devidas às Municipalidades. 2. O
acórdão recorrido está em conformidade com a jurisprudência desta CORTE, razão
pela qual merece ser mantido. 3. Embargos de Declaração recebidos como Agravo
Interno, ao qual se nega provimento.

TRIBUTÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS


INDUSTRIALIZADOS – IPI. CREDITAMENTO NA AQUISIÇÃO DIRETA DE
INSUMOS PROVENIENTES DA ZONA FRANCA DE MANAUS. ARTIGOS 40, 92 E
92-A DO ADCT. CONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 3º, 43, § 2º, III, 151, I E 170, I
E VII DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INAPLICABILIDADE DA REGRA CONTIDA
NO ARTIGO 153, § 3º, II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL À ESPÉCIE. O fato de os
produtos serem oriundos da Zona Franca de Manaus reveste-se de particularidade
suficiente a distinguir o presente feito dos anteriores julgados do Supremo Tribunal
Federal sobre o creditamento do IPI quando em jogo medidas desonerativas. O
tratamento constitucional conferido aos incentivos fiscais direcionados para sub-
região de Manaus é especialíssimo. A isenção do IPI em prol do desenvolvimento da
região é de interesse da federação como um todo, pois este desenvolvimento é, na
verdade, da nação brasileira. A peculiaridade desta sistemática reclama exegese
teleológica, de modo a assegurar a concretização da finalidade pretendida. À luz do
postulado da razoabilidade, a regra da não cumulatividade esculpida no artigo 153, §
3º, II da Constituição, se compreendida como uma exigência de crédito presumido
para creditamento diante de toda e qualquer isenção, cede espaço para a realização
da igualdade, do pacto federativo, dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil e da soberania nacional. Recurso Extraordinário desprovido.

Potrebbero piacerti anche