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INTERPRETAÇÃ*
PROFÉTICA
Série
, Santuário e profecias
apocalípticas
•U NA SPRE SS
f
pli (
),
Publicada originalmente em inglês com o título de Daniel
and Revelation Committee, a série Santuário e profecias
apocalípticas reúne alguns dos mais importantes estudos
já produzidos no meio adventista acerca da temática. Em
seu conjunto, a coleção representa um verdadeiro tratado
histórico-teológico sobre a profecia bíblica, especialmen-
te no que se refere à doutrina dos últimos eventos.
N -ste volume:
UN Á SP
que colocava em dúvida a
interpretação tradicional
adventista do santuário. O
evento contribuiu para a
rejeição das ideias de Ford e
a consolidação da posição
clássica adventista. Como
resultado dos debates
promovidos naquele local, o
Instituto de Pesouisa Bíblica
Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado em 1915— www.unasp.edu.br
missão: Educar no contexto dos valores bíblico-cristãos para o viver pleno e a excelência no servir.
Visão: Ser um centro universitário reconhecido através da excelência dos serviços prestados dos seus elevados
, .
padrões éticos e da qualidade pessoal e profissional de seus egressos. •
Conselho Editorial:
' .José Paulo Martini, Afonso Cardoso, Elizeu de Sousa, Francisca Costa, Adolfo Suárez, Ernilabn dos '
Reis, Renato Groger, Ozeas C. Moura, Betania Lopes, Martin Kuhn
INTERPRETAÇÃO
ROFÉTIC Á
L'UNASPRESS1
Im rensa Universitária Adventista
iPÀ
ltTNA SPRESS) Estudos Selecionados em Interpretação Profética
•
• •
•
Shea, William H.
- Estudos selecionados em interpretação profética /William H. Shea ; tradução Francisco
Alves de Pontes. —2 ecl: — Engenheiro Coelho, SP : Unaspress - Imprensa Universitária
Adventista, 2012. -- (Série santuário e profecias apocalípticas ; v. 1)
ISBN: 978-85-89504-59-1
12-05581 CDD-221.15
Consoantes
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Vogais
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PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
• Alberto R. Timm
Diretor associado do White State — EUA
PREFÁCIO À EDIÇÃO EM INGLÊS
Esboço do capítulo
. 1. Introdução
2. Juízos do tabernáculo
3. Juízos do templo celestial
4. Juízos do templo terrestre
5. Ezequiel 1-10
6. Resumo
JUIZOS DO TABERNÁCULO
JUÍZOS DESFAVORÁVEIS
Imediatamente fatais
Levítico 10. Logo após terem sido investidos como sacerdotes, Nadabe
e Abiu, filhos de Arão, "trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o
que não lhes ordenara" (v. 1). Os comentários diferem até certo ponto sobre a
natureza mais precisa do sacrilégio cometido, mas, de qualquerforma, como
resultado "saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o
Senhor" (v. 2). Que fato ocorreu ao lado do altar, diante do tabernáculo eviden-
cia-se nas instruções de Moisés para o sepultamento deles: "Tirai vossos irmãos
de diante do santuário, para fora do arraial" (v. 4).
Números 16. Coré era um levita que desafiou Arão pelo sacerdócio (v. 10).
Datã e Abirão desafiaram mais diretamente a liderança de Moisés (v. 13). Juntos,
eles se imaginavam precisamente tão santos e capazes de conduzir Israel como eram
Moisés e Arão (v. 3). Assim, um teste foi planejado para resolver este problema.
Estudos selecionados em interpretação profética
Tomaram, pois, cada qual o seu incensário, neles puseram fogo, sobre eles deita-
ram incenso e se puseram perante a porta da tenda da congregação com Moisés
e Arâo. Coré fez ajuntar contra eles todo o povo à porta da tenda da congrega-
ção; então, a glória do Senhor apareceu a toda a congregação (v. 18-19).
O Senhor rejeitou a pretensão dos rebeldes e eles foram tragados pela terra (v.
32). Os principais simpatizantes do levante entre os anciãos foram consumidos
pelo fogo (v. 35). A congregação voltou no dia seguinte culpando Moisés e Arão de
causar o distúrbio. "Ajuntando-se o povo contra Moisés e Arão, e virando-se para
a tenda da congregação, eis que a nuvem a cobriu, e a glória do Senhor apareceu.
Vieram, pois, Moisés e Arão perante a tenda da congregação" (v. 42-43).
Então, irrompeu uma praga entre o grupo de rebeldes, mas Arão a dete-
ve fazendo expiação por eles. O caso de Nadabe e Abiu, e o de Coré, Datã e
Abirão são os únicos em que os juízos (imediatamente fatais) foram especi-
ficados como saindo diretamente do santuário. Ambos envolviam os planos
humanos para ministração na presença de Deus contrários e em desafio às
instruções específicas para esses ministérios.
Sentenças adiadas
14 Números 14. Esta narrativa conta a história do que aconteceu depois que os
espias trouxeram o relatório de Canaã. Aceitando o relato pessimista, os israe-
litas lamentaram que eles não tivessem morrido no deserto e quiseram escolher
outro líder que os levasse de volta para o Egito. Em resposta, "a glória do Senhor
apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. Disse o Senhor a
Moisés: Até quando me provocará este povo?" (v. 10-11).
Deus então propôs deserdar os israelitas e fazer dos descendentes de Moisés
uma grande nação. Mas Moisés intercedeu por eles. Em resposta, Deus esten-
deu-lhes o perdão. Israel, porém, não escapou impune de sua rebelião. Assim,
aqueles homens e mulheres da geração mais antiga, que tinham visto todos os
sinais e maravilhas que Deus havia operado e que, não obstante, se rebelaram
contra Ele, não deveriam entrar em Canaã. Vagueariam no deserto por 40 anos,
até que surgisse uma nova geração que entrasse na terra prometida.
Números 20. Nem mesmo Moisés foi poupado de tal tratamento. Depois
de vaguear no deserto por 40 anos, os israelitas vieram outra vez a Caeles,
fronteira de Canaã. Mas não havia água em Cades, por isso o povo começou a
• se queixar desejando ter morrido no deserto ou ficado no Egito.
Moisés e Arão se retiraram da multidão de queixosos e se dirigiram "para a
porta da tenda da congregação e se lançaram sobre o seu rosto" (v. 6). Do santuário,
Deus os instruiu a reunir o povo e falar "à rocha, que dará a sua água" (v. 8).
Paralelos bíblicos para o juízo investiga Uivo
Todavia, Moisés feriu a rocha ern'vez de falar-lhe como Deus havia instruído.
A rocha deu a água necessária, mas por causa da desobediência de Moisés o Se-
nhor disse: "Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos
de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe der (v. 12).
O texto não declara especificamente se a sentença de Moisés veio do ta-
bernáculo onde anteriormente lhe fora dada instrução acerca de falar à rocha.
Entretanto, isto é uma possibilidade.
Uma sentença menor
Números 12. Miriã e Arão falaram contra Moisés porque ele havia se ca-
sado com uma mulher cusita (v. 1). Assim, eles não somente criticaram o ma-
trimônio, mas questionaram as atitudes de Moisés como líder de Israel, uma
vez que Deus também falara a eles (v. 2). Como resultado, "o Senhor disse a
Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três, saí à tenda da congregação. E saíram eles
três. Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda" (v.
4-5). Ali o Senhor testificou em favor de seu servo Moisés.
Depois, "a nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se le-
prosa, branca como neve" (v. 10). Moisés, contudo, intercedeu em seu favor. E,
embora curada, Miriã foi banida do acampamento por sete dias.
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JUÍZOS FAVORÁVEIS
Juízos com respeito ao cargo
Números 11. A responsabilidade pelos filhos de Israel pesava muito sobre
Moisés. "Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais"
(v. 14). O Senhor então fez arranjos para indicar assistentes que o ajudassem
a carregar aqueles "fardos":
Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, [...] e os trarás perante a tenda
da congregação, para que assistam ali contigo. Então, descerei e ali falarei con-
tigo; tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a
carga do povo, para que não a leves tu somente (v. 16-17).
Esses homens foram aceitos no cargo pelo Senhor no santuário. Ele evi-
denciou sua aceitação, julgando em seu favor, por assim dizer, ao enviar
sobre eles o seu Espírito.
Números 17. Um teste foi preparado para confirmar Arão como sumo
sacerdote depois de Coré tê-lo desafiado. Doze varas foram escolhidas, uma
para cada tribo. O nome do líder de cada tribo foi escrito em uma vara. No
entanto, o nome de Arão foi escrito sobre a vara de Levi. Esse caso foi resol-
vido, não à porta do santuário, mas dentro do santuário. "E as porás na tenda
da congregação, perante o testemunho, onde eu vos encontrarei" (v. 4).
Segundo as instruções, "Moisés pôs estas varas perante o Senhor, na ten-
da do testemunho" (v. 7). O Senhor julgou a favor de Arão e o confirmou no
cargo. "Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela
casa de Levi, brotara" (v. 8).
Um juízo com respeito à terra
Números 27. Zelofeade não tivera nenhum filho, e, portanto, assim ne-
nhum herdeiro do sexo masculino. No entanto, cinco filhas lhe nasceram
antes que ele morresse no deserto. Depois da morte do pai, as mulheres sen-
tiram-se injustamente privadas do direito de possuir terra em Israel. Assim,
16 elas apresentaram o seu caso à tenda da congregação na presença de Moisés,
líderes e congregação (v. 2). Mais uma vez houve investigação do caso no
santuário e um julgamento pronunciado dali.
Moisés levou a causa delas perante o Senhor. Disse o Senhor a Moisés: As filhas
de Zelofeade falam o que é justo; certamente lhes darás possessão de herança
entre os irmãos de seu pai e farás passar a elas a herança de seu pai (v. 5-7).
Assim, o Senhor julgou em favor das filhas de Zelofeade quando o caso foi
apresentado perante Ele no santuário.
Nos SALMOS
Salmo 11. 0 salmo começa com uma lamentação pessoal sobre a violência feita
aos justos pelos ímpios. O salmista, contudo, continua o texto com uma expressão
de confiança na justiça de Deus que, com seus juízos, endireitará as relações dese-
quilibradas entre os dois grupos. O templo celestial é o lugar onde Deus pronuncia
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
esses juízos: "O Senhor está no seu santo femplo; nos céus tem o Senhor seu trono;
os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. O Se-
nhor põe à prova ao justo e ao ímpio" (v. 4-5a). Do templo vem os seus juízos sobre
os ímpios (v. 6) e o seu juízo em favor dos justos (v. 7).
Salmo 14. Este salmo se inicia com a declaração: "Diz o insensato no seu
coração: Não há Deus." Esta negação da existência de Deus produz seu fruto
na impiedade dos homens e no dano que eles causam ao povo de Deus. O
Senhor observa a tudo de seu templo celestial e avalia tais condutas. "Do céu
o Senhor olha para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há
quem busque a Deus" (v. 2).
Esta situação, no entanto, se reverterá quando Deus julgar contra os ímpios
e em favor dos justos. "Tomar-se-ão de grande pavor, porque Deus está com a
linhagem do justo. Meteis a ridículo o conselho dos humildes, mas o Senhor é o
seu refúgio" (v. 5-6). Baseado nesse tema, o salmista conclui o texto com um apelo
a Deus. Ele suplica pelo livramento do povo e a restauração de sua boa sorte.
Salmo 29. Este salmo contém a expressão do juízo divino sobre os cananeus.
Nele, o salmista descreve o juízo como uma tempestade que vem do Mediterrâneo
para assolar o território cananita (não-israelita) com força destruidora (v. 3-8a).
O texto conta como a tempestade foi ordenada por Deus de seu templo celestial
enquanto a hoste angélica estava a posto (v. 1-2, 9b). Em resposta a esta demons- 17
tração de seu poder, toda a hoste de anjos no templo celestial de Jeová atribuía-lhe
glória, da mesma maneira como foi exortada a fazer no início do salmo. O texto
termina com uma referência ao fato de que Jeová está entronizado como rei para
sempre e com um apelo para que Ele conceda força e paz ao seu povo (v. 10-11).
Salmo 53. Este capítulo é uma duplicata do salmo 14. Veja acima.
Salmo 76. O texto provê uma interessante ilustração de conexão entre a
obra de Deus no templo terrestre e no templo celestial. O início do salmo de-
screve Jerusalém como o lugar de residência divina: "Conhecido é Deus em
Judá; grande, o seu nome em Israel. Em Salém, está o seu tabernáculo, e, em
Sião, a sua morada" (v. 1-2).
Dessa morada terrestre Deus derrotou os inimigos de seu povo, de acordo com
os cinco versos seguintes. Mas isto não era simplesmente uma imagem da atividade
de Jeová no seu templo em Jerusalém. Esse juízo em favor do povo oprimido desceu
do Céu: "Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; tremeu a terra e se aquietou, ao
levantar-se Deus para julgar e salvar todos os humildes da terra" (v. 8-9).
Salmo 102. Este salmo é o clamor de alguém cujos sofrimentos são inexpli-
cáveis. Os primeiros 11 versos transmitem as lamentações do salmista acerca
de sua condição pessoal. O lamento estende-se até incluir sua preocupação
Estudos selecionados em interpretação profética
Ouvi, todos os povos. Prestai atenção, ó terra e tudo o que ela contém, e seja o
Senhor Deus testemunha contra vós outros, o Senhor desde o seu santo templo'.
Porque eis que o Senhor sai de seu lugar, e desce, e anda sobre os altos da terra.
Os montes debaixo dele se derretem, e os vales se fendem; são como a cera dian-
te do fogo, como as águas que se precipitam ninn abismo. Tudo isto por causa da
transgressão de Jacó e dos pecados da casa de Israel.
1 Reis 22. Acabe recrutou a assistência militar de Josafá (Judá) para atacar
os sírios que controlavam Ramote-Gileade no território transjordaniano de
Manasses. Antes de sair com ele, Josafá quis saber se a palavra do Senhor estava
disponível por meio de um de seus profetas. Acabe convocou os profetas da
corte que naturalmente sancionaram a campanha proposta, a ponto de encenar
a vitória que se julgava próxima. Josafá, porém, não ficou satisfeito com a situa-
ção e quis inquirir de um profeta de Jeová. Acabe admitiu que Micaías, filho de
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
Inlá, satisfazia os requisitos propostos por Josafá, mas lhe repugnava chamá-lo,
"porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau" (v. 8).
Ante a insistência de Josafá, Micaía.s foi convocado.
Quando a avaliação foi a princípio procurada, Micaías respondeu sarcasti-
camente: "Sobe e triunfarás, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei" (v.
15). Então, Acabe fê-lo jurar por Jeová que suas palavras eram verdade. Mos-
trando-se à altura dessa ocasião, Micaías respondeu: "Vi todo o Israel disperso
pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: 'Estes não
têm dono; torne cada um em paz para a sua casa"' (v. 17).
O pastor, nesta profecia obviamente era Acabe, e Micaías claramente lhe
comunicou a profecia de sua morte na batalha e a derrota de suas tropas. O pro-
feta confirmou que esta sentença vinha da corte celestial: "Ouve, pois, a palavra
do Senhor: Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava
junto a ele, à sua direita e à sua esquerda" (v 19).
Acabe perseverou nesciamente e a profecia de Micaías se cumpriu quando
ele morreu em combate (v 34-35).
NOS SALMOS
Salmo 9. O início do salmo apresenta um louvor a Deus. O motivo específi-
co para esse louvor é explicado pela derrota de um inimigo (v 5-6). A ruína do
adversário é atribuída ao justo juízo da parte de Deus. "Pois, ao retrocederem os
meus inimigos, tropeçam e somem-se da tua presença; porque sustentas o meu
direito e a minha causa; no trono te assentas e julgas retamente" (v. 3-4).
Em seguida à descrição da derrota do inimigo (v. 5-6), o salmo retorna, em um
modelo temático A:B:A, à ideia de que essa derrota é atribuível ao justo juízo de Deus.
"Mas o Senhor permanece no seu trono eternamente, trono que erigiu para julgar. Ele
mesmo julga o numdo com justiça; administra os povos com retidão" (v 7-8).
No final do salmo, o autor salienta o mesmo pensamento: "Faz-se co-
nhecido o Senhor, pelo juízo que executa; enlaçado está o ímpio nas obras
de suas próprias mãos" (v. 16).
Contudo, uma passagem de louvor no meio do salmo localiza o trono de Deus
em Sião ou Jerusalém "Cantai louvores ao Senhor, que habita em Sião" (v 11).
Salmo 50. A vinda de Deus para julgar o seu povo é descrita neste salmo
em termos de uma teofania. A primeira estrofe do poema identifica Deus como
Estudos selecionados em interpretação profética
o juiz que vem de Sião, portanto, de seu templo terrestre. Ele intima o povo a
comparecer à sua demanda ou pleito judicial contra eles mesmos (v. 1-7). Os
céus personificados atuam como testemunhas neste cenário. Eles não fazem
referência ao lugar de onde Ele vem para julgar:
Desde Sião, excelência de formosura, resplandece Deus (v. 2). Intima os céus
lá em cima e a terra, para julgar o seu povo. Congregai os meus santos, os que
comigo fizeram aliança por meio de sacrifícios. Os céus anunciam a sua justiça,
porque é o próprio Deus que julga (v. 4-6).
As próximas duas estrofes dirigem o texto aos justos em Israel que não ha-
viam compreendido inteiramente o tipo de sacrifício que Deus desejava — não
uma outra rodada de animais oferecidos, mas ações de graças (v. 8-15). A estro-
fe seguinte descreve as várias maneiras como os israelitas ímpios transgrediam
as leis de Deus e sua aliança (v. 16-21). A estrofe final contém uma advertência
aos justos e uma exortação aos ímpios, os dois grupos em Israel a serem julga-
dos por Deus de Sião (v. 22-23).
Salino 60.0 salmo é um lamento público em que o autor descreve uma der-
rota nacional. O capítulo oferece, ainda, uma oração pela vitória sobre os inimi-
20 gos da nação, especialmente Edom. Ele segue uma estrutura literária A:B::.N:13'.
A (v. 3-5) representa a descrição da derrota ou história passada, e representa a
promessa divina de reverter a derrota ou história futura (v. 6-8). B e B' represen-
tam orações oferecidas pela vitória de Israel. A seção A que contém a promessa
divina de vitória futura, é introduzida com a declaração: "Falou Deus em seu
santuário" (v. 6, Revised Standard Version). Assim, a futura derrota dos inimigos
de Israel descrita nesta seção vem como um juízo pronunciado por Deus sobre
eles, muito provavelmente de seu santuário terrestre.
Salmo 73. Este é um salmo sapiencial em que a justiça divina e o problema
da prosperidade dos ímpios são examinados. O salmista não podia compreen-
der isto até que entrou "no santuário de Deus" e atinou "com o fim deles" (v. 17).
O verso 17 é o centro temático e estrutural do salmo. A partir deste ponto, o
autor desenvolve sua compreensão acerca da disposição final dos casos dos ímpios
e dos justos. Os ímpios perecerão como um sopro de vento, mas Deus prometeu
receber os justos em glória. Baseado no seu desenvolvimento desta compreensão, o
salmista se dispõe a confiar em Deus. Portanto, foi nos recintos do santuário terres-
tre que ele desenvolveu a compreensão de que o julgamento final de Deus seria justo.
Salmo 99. Este é um dos vários salmos que descrevem o domínio de Deus. No
texto se destaca a expressão "o Senhor reina". A descrição inicial centraliza o reinado
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
divino em Jerusalém: "Ele está entronizadb acima dos querubins; abale-se a terra. O
Senhor é grande em Sião e sobremodo elevado acima de todos os povos" (v. 1-2).
O aspecto específico do caráter de Deus, aqui destacado como digno de
adoração, encontra-se na descrição do salmista: "És rei poderoso que ama a
justiça; tu firmas a equidade, executas o juízo e a justiça em Jacó" (v. 4).
A segunda metade do salmo fala como Deus comunicou Sua vontade a
Moisés, Arão e Samuel. Contudo, mesmo para esses poucos privilegiados, Ele
foi "Deus perdoador, ainda que tomando vingança dos seus feitos" (v. 8). Com
base neste aspecto do caráter de Deus, como foi demonstrado em seu trato com
esses líderes, Israel é exortado a prostrar-se "ante o escabelo de seus pés" (v. 5).
e "Rute o seu santo monte" (v. 9), isto é, no templo terrestre em Jerusalém.
NOS PROFETAS
Isaías 6. Esta narrativa descreve o chamado de Isaías ao ministério profé-
tico. O primeiro verso data a visão do ano em que morreu o rei Uzias, cerca de
740 a.C, e apresenta o local onde Deus apareceu e identificou como templo. O
segundo e o terceiro versos descrevem os serafins que acompanhavam a Deus
e lhe entoavam hinos de santidade.
Como resultado dessa manifestação da glória divina, "as bases do limiar
21
se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça" (v. 4). Os
comentaristas divergem sobre qual edifício estava envolvido. No entanto, é
provável que a visão se refira ao templo terrestre. Isaías ficou impressionado
com a oportunidade de ver Deus e sua glória. "Ai de mim! Estou perdido! Por-
que sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros
lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" (v. 5).
Deus, então, enviou um dos serafins a Isaías com uma brasa do altar. Quando
os lábios de Isaías foram tocados por da, seus pecados foram perdoados e lhe foi
dada a capacidade cie cumprir a missão para a qual fora chamado — servir como
profeta e levar a mensagem de Deus ao povo. Isaías aceitou a tarefa e sua mensagem.
É a esta altura que comumente param as homilias sobre o capítulo. Geral-
mente elas debatem a glória de Deus, a habilitação de Isaías para servir como
mensageiro divino ou a disposição do profeta em aceitar a responsabilidade.
Mas a narrativa contém mais do que estes três elementos. A solicitação de •
Deus a Isaías incluía a tarefa de levar uma mensagem de juízo ao seu povo. Ao
profeta perguntar até quando a mensagem deveria ser dada, foi-lhe dito: "Até
que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem
moradores, e a terra seja de todo assolada, e o Senhor afaste dela os homens, e
no meio da terra seja grande o desamparo" (v. 11-12).
Estudos selecionados em interpretação profética
Esse juízo deveria ser dupla Deus julgaria em favor de seu povo e contra as
nações. Por sua parte, o povo de Deus seria liberto (2:32), voltaria ao seu país
(3:7), teria sua sorte restaurada (3:1) e gozaria de um futuro próspero e pacífico
(3:18, 20). As nações eram consideradas culpadas por subjugar o povo de Deus
e sua terra (3:2), saquear o país e o seu templo (3:5) e exilar o povo de Deus (3:6).
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
Malaquias 3. Esta profecia é sobre o tempo em que "o Senhor, a quem vós
buscais", "de repente, virá ao seu templo" (v. 1). Esse fato introduzirá um dia de
julgamento: "Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá
subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a
potassa dos lavandeiros" (v. 2).
Nesse tempo, Deus "assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; puri-
ficará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao Senhor
justas ofertas" (v. 3). Além disso, a profecia identifica esse período como um tempo
de julgamento: "Chegar-me-ei a vós outros para juízo" (v. 5). Então, é possível per-
ceber sete classes entre o professo povo de Deus que não serão aceitas pelo Senhor. 23
Ezequiel 1-10. Deus suportou longa e pacientemente a conduta de seu povo
rebelde durante os oito séculos em que eles habitaram a terra prometida de Canaã
(quatro séculos sob os juízes e quatro séculos sob os reis). As atitudes de violação
da aliança com Deus e o fracasso em desenvolver um genuíno relacionamento de
constante amor fez com que Deus permitisse que o seu povo professo fosse exila-
do da terra sobre a qual eles tinham habitado por tão longo tempo
A situação acima apresenta paralelos (os quais já vimos) em que é natural
apenas esperar que o destino do povo de Deus se expressasse na forma de jul-
gamento pronunciado por profetas. Poderíamos não esperar que tal julgamento
fosse pronunciado, porém mais especificamente, que o juízo viria do templo de
Deus, o lugar de onde os juízos já estudados foram lançados.
E assim aconteceu. O juízo que se ajusta a esses critérios é a mais prolonga-
da das cenas de juízo do Antigo Testamento Ezequiel o viu durante os últimos
anos de existência do povo de Deus sob a monarquia. Historicamente, a cena de
juízo da visão profética foi cumprida ou executada por Nabucodonosor quando
conquistou e queimou Jerusalém em 586 a.0 e exilou o povo de Deus. A discus-
são seguinte sobre esta cena de juízo é uma adaptação de meus escritos publica-
dos em outra obra (WALLENKAMPF; LESHER, 1981, p. 283-291).
Estudos selecionados em interpretação profética
EZEQUIEL 1 - 1 O
A VIAGEM DE DEUS
O ministério profético de Ezequiel começou quando a mão de Jeová veio
sobre ele enquanto estava junto ao rio Quebar no quinto dia do quarto mês,
no quinto ano de exílio. A data corresponde a julho de 592 a.0 - cálculo
com base em um calendário de outono a outono usado para interpretar as
datas do livro de Ezequiel (Ez 1:1-3).
Para compreendermos as mensagens registradas nos primeiros 24 capítulos
de Ezequiel concernentes a Judá, é importante notar o compacto espaço cronoló-
24 gico em que essas mensagens foram comprimidas. O cerco de Jerusalém começou
em janeiro de 588 a.C, apenas três anos e meio após o chamado de Ezequiel. Dois
anos e meio depois, em 586 a.C, a cidade caiu nas mãos dos babilônios. Portanto,
as mensagens são datadas dos dias finais do reino de Judá, e representam a última
advertência de Deus ao seu povo. Esta parte do ministério de Ezequiel não foi di-
fundida além de duas, três ou quatro décadas como foram os ministérios de Isaías
e Jeremias. Somente quando esse aspecto cronológico do ministério de Ezequiel é
apreciado suas mensagens podem ser postas na devida perspectiva.
Referindo-se ao seu chamado para o ministério profético, Ezequiel (contem-
porâneo de Daniel) disse que os céus foram abertos diante dele e ele viu visões de
Deus (Ez 1:1). A visão é narrada com extenso detalhe no que se segue. A descrição
não trata tanto de Deus como dos seres e objetos que Ezequiel viu com Ele. Muita
criatividade erudita dedica-se ao estudo dos vários detalhes dessa visão para os
comentários bíblicos. Aqui é importante notar as características essenciais do tex-
to frequentemente omitidas. Já que os comentaristas, ao lidar com um assunto tão•
complicado, têm dificuldade em ver a floresta pelas árvores.
No início, Ezequiel viu um grande redemoinho vindo do norte. Essa nuvem
tempestuosa é descrita em termos mais do que naturais: "Uma grande nuvem,
com fogo a revolver-se, e resplendor ao redor dela, e no meio disto, uma coisa
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
como metal brilhante que saía do meio do fogo" (Ez 1:4). A direção da qual essa
nuvem se aproximava - norte - é significativa, e será discutida posteriormente.
As primeiras feições a saírem da nuvem tempestuosa tomaram a forma de
quatro seres viventes (v. 5-14). Embora esses quatro seres viventes sejam identifi-
cados em Ezequiel 10 como "querubins", «importante notar por razões discutidas
abaixo que o termo querubim não é aplicado a eles no capítulo 1. Esses quatro
seres viventes reaparecem ao redor do trono de Deus em Apocalipse 4. Ainda que
haja pequenas diferenças nas descrições de cada um deles por Ezequiel e João, é
óbvio que seres vistos por ambos os homens eram os mesmos. Eles são menciona-
dos em ambas as passagens em termos similares - como seres viventes.
Deixando de lado os símbolos envolvidos na aparência dos quatro seres vi-
ventes, há três principais características a respeito deles que deveríamos notar. Pri-
meiramente, eles têm asas (v. 6, 8, 11, 14). Como asas são usadas para voar, esses
seres viventes são descritos em movimento (v. 9, 12, 14). Além disso, algo que se
assemelhava a tochas de fogo com carvões incandescentes se movia entre eles (v.
13). A finalidade do fogo é descrito no capítulo 10. O mais importante do contexto,
porém, é a descrição de intensa atividade por parte dos seres viventes Eles estavam
em movimento - voando para algum lugar. Mas, antes de determinarmos o local
para onde se dirigiam devemos também notar o que mais eles levavam consiga
A próxima parte da visão descreve quatro rodas, uma para cada ser vivente 25
(v. 17, 19-21). Mas rodas são usadas para movimento, particularmente sobre a
terra. Desse modo, as rodas tocam o solo de vez em quando (v 19, 21). Nesta
passagem, é importante notar novamente a intensa descrição de movimento.
As rodas também iam para algum lugar. Antes de determinarmos a direção das
rodas, devemos identificar o que elas levavam consigo. A visão continua descre-
vendo o firmamento que se estendia acima das cabeças e asas dos quatro seres
viventes (v. 22-25). Esse firmamento também permanecia em movimento, por-
que os seres viventes se moviam com ele (v. 24) e, por ordem (v. 25), o faziam
parar. O propósito do firmamento era conduzir ao trono de Deus (v. 26).
A parte final da visão (v. 26-28) apresenta o próprio Deus assentado sobre
o trono. Ele é descrito como "semelhança" de forma humana, porém, a maior
parte da descrição de Deus associa-se também a descrição de sua glória. Assim,
a glória que o circunda e irradia de sua pessoa é descrita como "metal brilhante,
como fogo [...] e um resplendor ao redor dela, 27).
Estes são os mesmos elementos vistos na nuvem tempestuosa no início do
capítulo (v. 4). Com isso, é evidente que o esplendor que emanava da nuvem era
simplesmente a glória de Deus. "Assim", diz Ezequiel, "era a aparência da glória
do Senhor" (v. 28). Como resultado da revelação da glória divina, Ezequiel caiu
Estudos setecionados em interpretação profética
O JUÍZO DE DEUS
Os dois capítulos do livro de Ezequiel contêm a missão e encargo do profeta
(Ez 2-3). Os próximos três capítulos (4-7) apresentam urna série de denúncias
para as transgressões de Judá e profecias concernentes ao seu futuro julgamento.
As profecias de julgamento foram tanto encenadas (Ez 4:1 e 5:5) quanto declara-
das em termos como cerco, fome, extermínio, exílio da população e desolação
do país. O mudo profeta só podia falar quando o Espírito o estimulava.
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
A EXPECTATIVA DE DEUS
O décimo capítulo do livro de Daniel relata uma visão de Deus e sua gló-
ria. A visão veio sobre o autor enquanto ele jejuava e orava por um determinado
Estudos selecionados em interpretação profética
problema durante três semanas (Dn 10:3). Miguel e Gabriel lutaram contra Ciro,
presumivelmente, acerca do mesmo problema durante o mesmo período de 21
dias (Dn 10:13). Sendo que Daniel recebeu a visão deste capítulo no final de três
semanas completas, o dia do recebimento da visão corresponderia a um sábado.
Nessa ocasião, Daniel recebeu uma visão de Deus e sua glória. A descrição é se-
melhante à visão dada a Ezequiel (Ez 1 e 10). No caso de Daniel, ele não viu Deus
indo para seu templo ou vindo dele. Deus ainda estava no oriente.
Isto suscita a interrogação acerca da razão pela qual Daniel, Miguel e Gabriel
estavam tão preocupados nessa ocasião. Essa visão foi dada no terceiro ano de
Ciro (Dn 10:1). Nessa época, a primeira onda de exilados já havia voltado para
Judá (Ed 1:1; 3:1, 8), de sorte que o retorno dos cativos não estava mais em risco.
A cidade de Jerusalém não deveria ser reconstruída até quase um século depois,
portanto, Jerusalém também não estava em perigo. Isto exclui o templo.
Conforme está revelado em Ageu, Zacarias e Esdras 5 e 6, não era intenção
de Deus que a reconstrução do templo fosse tão adiada como foi. Esse adia-
mento aconteceu principalmente por causa de oposição local (Ed 4:4). Um dos
aspectos dessa oposição foi que "alugaram contra eles conselheiros para frustra-
rem o seu plano" (Ed 4:5). Alguém aluga conselheiros para servir na corte real
(nesse tempo, a corte mais importante era a de Ciro), o lugar mais eficiente para
30 esses conselheiros alugados fazerem seu lobby.
A convergência desses fatores sugere que Ciro cedeu à pressão exercida pe-
los supostos conselheiros e ordenou aos judeus que suspendessem a construção
do templo. Provavelmente, este é o assunto em jogo no capítulo 10 de Daniel: a
mudança de opinião por Ciro quanto à reconstrução do templo de Jerusalém.
Segundo a visão de Daniel, a glória de Deus permanecia no oriente, pois Ele
ainda esperava para voltar ao seu templo, cuja construção fora retardada pelos
obstáculos, que historicamente não foram superados durante outra década.
O RETORNO DE DEUS
A descrição do retorno do exílio e da restauração de Jerusalém se desenvolve
plenamente no último terço do livro de Ezequiel. Especialmente em seus oito ca-
pítulos finais. A parte central da descrição é a restauração do templo. Ali, há uma
exposição notavelmente detalhada do que é apresentado nos capítulos 40 a 42
Depois de o templo ser reconstruído, a glória de Deus pôde a ele retornar. A gló-
ria divina vinha do oriente, direção para a qual ela anteriormente partira do templo.
E eis que, do caminho do oriente, vinha a glória do Deus de Israel; a sua voz era
como o ruído de muitas águas, e a terra resplandeceu por causa de sua glória. O
Paralelos bíblicos para o juízo investigativo
aspecto da visão que tive era como o da visão que eu tivera ... junto ao rio Que-
bar; e me prostrei, rosto em terra. A glória do Senhor entrou no templo pela por-
ta que olha para o oriente. O Espírito me levantou e me levou ao átrio interior; e
eis que a glória do Senhor enchia o templo (Ez 43:2 5).
-
RESUMO
Vinte e oito passagens que tratam de juízo no Antigo Testamento foram ana-
lisadas anteriormente devido as suas conexões com o santuário. Essa lista não é
exaustiva, mas razoavelmente compreensiva e bastante representativa. As formas
Estudos selecionados em interpretação profética
Os tipos mais comuns de passagens sobre juízo são aquelas dirigidas contra as
nações estrangeiras e aquelas que distinguem entre justos e ímpios entre o povo
de Deus. Seis exemplos das primeiras e cinco das últimas foram recolhidos. Em-
bora seja preeminente a categoria de juízos sobre as nações estrangeiras, deve-se
notar que quando os diferentes tipos de juízos sobre o povo de Deus são reunidos,
eles formam uma coleção consideravelmente maior que a dos estrangeiros.
Das 20 passagens sobre juízo relacionadas aos templos terrestre e celestial,
a preocupação de 14 é com o povo de Deus, ao passo que seis se preocupam
com as nações estrangeiras. Quando são adicionados os oito casos de juízo do
tabernáculo, a proporção se amplia para 22 a 6. Esta proporção se ajusta ao
quadro geral de juízo no Antigo 'Testamento.
Um estudo das passagens acerca do juízo dentro de suas mais amplas ca-
tegorias indica que Deus estava preocupado com três categorias de pessoas no
mundo (em vez de com apenas duas, como insistiriam alguns). Essas três maio-
res categorias consistem nos justos em Israel, ímpios em Israel e nações. Embo-
ra os dois últimos grupos partilhassem destinos um tanto similares em relação
aos seus juízos, eles eram reunidos a partir de diferentes pontos de origem. As
transferências do terceiro para o primeiro grupo se efetuavam somente em uma
base individual. Isto ocorreu nos casos de Rute, Urias, Ebede-Meleque e outros.
34 Nem todos os juízos coletivos sobre nações estrangeiras eram desfavoráveis.
Há, por exemplo, a profecia de restauração do Egito depois de sua desolação, em
Ezequiel 29. Além deste tipo específico de profecia, havia uma visão profética
maior e mais favorável em relação ao lugar a ser ocupado por estas nações rio
reino escatológico de Deus. Uma das mais preeminentes declarações encontra-
-se nas passagens duplicadas de Isaías 2 e Miqueias 4. O texto é citado aqui por-
que se refere ao juízo de Deus sobre as nações e procede de seu templo:
Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor será estabeleci-
do no cume dos montes e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão os povos.
Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus
de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; por-
que de Sião procederá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém. Ele julgará entre
muitos povos e corrigirá nações poderosas e longínquas; estes converterão as suas
espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras (Mq 4:1-3).
seis, está presente em Daniel no surgimento e queda das nações e na queda final,
conforme descrita em Daniel 2:4; 7:11-12, 26; 8:25 e 11:45.
As categorias um e quatro (que tratam dos justos) podem ser agrupadas com
a categoria dois, que distinguia os justos e os ímpios entre o povo de Deus. Isso é
explicitamente mencionado em Daniel 12:1 e 3, e descrito de forma implícita em
Daniel 8:14. A categoria cinco (rejeição de alguns homens do professo povo de
Deus) abrange o lado desfavorável do juízo descrito sob a categoria dois. Este fato
também é explicitamente mencionado em Daniel 12:2 e implícito em Daniel 8:14.
Finalmente, o juízo em favor do povo de Deus e contra os seus inimigos, ex-
postos na categoria três, é o aspecto do juízo subentendido em Daniel 2:44 e mais
explicitamente declarado em Daniel 7:22. Assim, os correlativos para todas as ca-
tegorias de juízo do santuário no Antigo Testamento também são encontrados no
julgamento final, em Daniel. Um quadro composto é precisamente desenvolvido
a partir de todas as passagens sobre juízo do santuário fora de Daniel no Antigo
Testamento. Desse mesmo modo, um quadro composto do juízo final também
deve ser desenvolvido, considerando todas as passagens sobre juízo em Daniel.
Assim como acontece no restante do Antigo Testamento, em alguns casos
esses juízos são especificamente identificados como vindos do santuário e em
outros não. Por exemplo, as passagens sobre juízo em Daniel 2A4, 8:25 e 11:45
não estão especificamente ligadas ao santuário, enquàntõi as cenas do juízo em 35
Daniel 7:9-13, 22, 26; 8:14 e 12:1 estão. Uma diferença nestas duas categorias de
textos em Daniel é que as passagens do juízo ligadas ao santuário estão frequen-
temente mais preocupadas com o povo de Deus do que com as nações. Todavia,
uma vez que todas as decisões do juízo procedem de Deus, das podem ser vistas
no contexto de juízo do santuário - habitação de Deus.
Duas das diferenças significativas entre juízos do Antigo Testamento em geral
e o juízo final descrito em Daniel envolvem tempo e objetiva Os juízos do santuá-
rio nas passagens do Antigo Testamento estudadas acima se referem a juízos sobre
pessoas, povos ou nações que foram contemporâneas do profeta que os anunciou.
Em Daniel, por outro lado, o juízo final se localiza no contexto de uma es-
trutura apocalíptica depois do surgimento e queda de uma série de nações e no
final de um período específico de tempo profético. Desse modo, os outros juízos
no Antigo Testamento e os juízos em Daniel eram qualitativamente semelhan-
tes, mas postos em diferentes dimensões de tempo.
Uma outra grande diferença é a de escopo ou alvo. Esses outros juízos do
Antigo Testamento eram localizados em escopo, lidando com diferentes indi-
víduos, grupos de pessoas ou nações do Antigo Oriente Próximo. Contudo, o
juízo em Daniel é de mais longo alcance, pois indica termos atuais da história
Estudos selecionados em interpretação profética
REFERÊNCIA
WALLENKAMPF, A. V.; LESHER W. R. (Eds.). The sanctuary and atonement. SiIyer Spring:
Biblical Research Institute, 1981.
2
POR QUE ANTIOCO IV
NÃO É O CHIFRE
PEQUENO DE DANIEL 8
Esboço do capítulo
1. Significado da interpretação
2. Daniel 7
3. Daniel8
4. Daniel 9
5. Danie111
6. Sumário
SIGNIFICADO DA
INTERPRETAÇÃO
A visão descrita em Daniel 8
pode ser esquematizada breve-
mente como sdgue: o carneiro
persa apareceu primeiro na visão,
conquistando o norte, o ocidente e
o sul (v. 3-4). O bode grego, com
seu principal chifre, entrou em
cena logo em seguida. Derrotando
o carneiro persa, ele tornou-se o
poder dominante em vista (v. 5-7).
Contudo, depois de alcançar essa
posição, o chifre principal do bode
foi quebrado e quatro chifres, es-
tendendo-se para os quatro ventos
do céu, subiram em seu lugar (v. 8).
Estudos selecionados em interpretação profética
1.150 dias literais. Para eles, a profecia se aplica aos eventos ocorridos na tra-
jetória de Antíoco IV Epifânio, no segundo século a.C.
Utilizando o princípio dia-ano, os historicistas enfatizam que o texto se
refere a um período de 2.300 anos, iniciado em alguma ocasião no quinto sécu-
lo a.C. e encerrado no século 19 d.C.
Como um tipo de obra do anticristo final, alguns futuristas aplicam as "tar-
des e manhãs" como tardes e manhãs literais, ou seja, 2.300 dias. Contudo, eles
afirmam que esse período de tempo ainda não começou, pois a manifestação
final de um anticristo pertence ao futuro.
Mas como essa profecia que trata de um santuário deve ser interpretada?
Os preteristas asseveram que ela se refere à purificação do templo de Jerusalém,
poluído por Antíoco no segundo século a.C.
Devido ao fato de que o templo terrestre foi destruído em 70 d.0 (o período
de tempo profético se estende além desta data), os historicistas afirma que o
texto se refere ao templo celestial. O fato, portanto, comprova a crença dos
principais representantes do pensamento historicista, os adventistas do sétimo
dia, que compreendem a purificação de Daniel 8:14 como uma referência ao
antítipo celestial da purificação do santuário terrestre que ocorria no antigo
Israel no dia da expiação. Uma vez que o dia da expiação simbolizava juízo em
Israel, a purificação antitípica do santuário celestial é interpretada como um 39
tempo de juízo investigativo pré-advento do povo de Deus.
A posição historicista é muito diferente daquela defendida pelos intérpretes
da escola futurista, que afirmam que durante os sete anos finais da história ter-
restre, um templo literal (a ser reconstruído em Jerusalém) será poluído por um
anticristo. A purificação ou restauração do templo acontecerá quando Cristo
vier e pôr um fim ao seu reinado nefando.
Estes três pontos de vista sobre a interpretação dos vários elementos de
Daniel 8:9-14 podem ser resumidos como segue:
DANIEL 7
40
Ao questionar as várias escolas de interpretação sobre como identificam os
diferentes animais de Daniel 7, percebemos que todas concordam que o leão
representa Babilônia (v. 4). As escolas historicista e futurista identificam o urso
como Medo-Pérsia, ao passo que a escola preterista, constituída essencialmente
de críticos eruditos, o identifica apenas como a Média (v. 5). Desse modo, en-
quanto as escolas historicista e futurista continuam sequencialmente identifi-
cando o leopardo e o animal indescritível como Grécia e Roma, a preterista fica
um passo atrás, identificando-os como Pérsia e Grécia (v. 6-7).
Historicistas e futuristas finalmente divergem no que tange ao chifre peque-
no. Os primeiros o identificam com o chifre papal que saiu de Roma pagã. Os
últimos, apegando-se a uma lacuna no fluir da história profética, o identificam
com o final e ainda futuro anticristo (v. 8). Sendo que eles terminam sua sé-
rie de quatro animais com a Grécia, os preteristas identificam o chifre pequeno
proveniente desse animal como Antínco IV.
Existem, é claro, variações nas aplicações feitas por comentaristas indi-
viduais dentro de cada uma dessas escolas de interpretação profética, mas es-
tas variações não possuem real significado aqui. A diferença essencial para o
propósito dos Estudos Selecionados em Interpretação Profética é a divergência a
Por que Antíoco IV não é o chifre pequeno de Daniel8
•
partir da interpretação do segundo animal e as consequências resultantes dessa
divergência na interpretação dos subsequentes animais-nações.
Separando a Média da Pérsia, os preteristas abreviaram seu esquema
profético até o surgimento de Antíoco IV como o chifre pequeno originário
do animal grego, no segundo século a.C. Outro grande esquema que carac-
teriza o segundo animal como um símbolo conjunto para o reino unificado
da Média e Pérsia termina um passo histórico a mais no futuro, com Roma
como o quarto animal. Os esquemas e suas diferenças especificas podem ser
delineados da seguinte forma:
A interpretação dos símbolos para essas nações possuem uma relação di-
reta com a identificação do chifre pequeno de Daniel 7. Por isso, esses animais- •
nações devem ser identificados antes que uma interpretação seja sugerida para 41
o chifre pequeno que saiu do quarto animal.
No entanto, um dos principais argumentos nos quais se apoiam os preteristas
é o de que o autor de Daniel teria cometido um erro histórico crasso quando se
referiu a Dado como o medo (Dn 5:31, 6:28 e 9:1). O argumento corre como segue:
O título "Rei de Babilônia" não foi usado para Ciro nos tabletes contratuais
datados em sua homenagem durante o primeiro ano após a conquista de Ba-
bilônia, em outubro de 539 a.C. Somente o título "Rei dos Países" foi usado para
ele. A homenagem se referia a ele em sua capacidade como rei do Império Persa.
No final de 538 a.C, porém, os escribas acrescentaram o título "Rei de Babilônia"
à sua titulação, termo usado durante todo o restante de seu reinado e de seus
sucessores até o tempo de Xerxes.
Aqui há apenas duas possibilidades. Ou houve um interregno em que o
trono de Babilônia esteve desocupado por um ano, ou alguém mais, além de
Ciro, ocupou o trono por aquele período de tempo. Em minha opinião, o prin-
cipal candidato a ser o outro rei de Babilônia é Ugbaru, o general cuias tropas
conquistaram Babilônia para Ciro. Segundo a crônica de Nabonido, ele no-
meou governadores em Babilônia (compare Dn 6:1) e residiu na cidade até sua
morte, que ocorreu um ano depois. A morte de Nabonido se deu um mês antes
que o título "Rei de Babilônia" fosse adicionado à titulação de Ciro.
Ugbaru estava razoavelmente bem-avançado em idade por ocasião de
sua morte, circunstância que se ajusta à idade de 62 anos para Dano, o
medo (Dn 5:31). As fontes cuneiformes não nos fornecem qualquer in-
formação acerca de seu pai, Assuero, ou sobre sua origem étnica como
42 medo (Dn 9:1). Dano também poderia ser o título real de Ugbaru, uma
vez que o uso de títulos reais é conhecido em Babilônia e na Pérsia. A
explicação lógica para o avanço na,s datas de Daniel no primeiro ano de
Dano, o medo (9:1), ao terceiro ano de Ciro (10:1), é que Dano morreu
no intervalo. Satisfatoriamente, essa proposição apresenta harmonia com
a evidência cuneiforme.
Embora não haja provas conclusivas para o caso devido á falta de referência
direta a Dano, o medo, em um texto cunciforme, deve-se ter em mente que a
maior parte dos tabletes contratuais neobabilônios não estão ainda publicados.
No Museu Britânico, por exemplo, estão 18 mil provenientes de Sippar. Mesmo
sem a publicação desses tabletes, uma hipótese razoável pode ser comprovada a
partir dos tabletes publicados.
Também se deve ter em mente a maneira fragmentária como o passado do
antigo Oriente Próximo é descrito e recuperado até aqui. Assim, a opinião críti-
ca de que o autor de Daniel cometeu um erro estúpido na identificação de um
rei medo de Babilônia não possui apoio pelas fontes históricas do sexto século
a.C. Ao contrário, o conhecimento detalhado da história de Babilônia desse
período, revelado nesta e em outras passagens do livro de Daniel, demonstra
fortemente que o autor foi testemunha ocular desses eventos.
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel8
poder dos persas. Ele poderia retornar ali antes, mas este detalhe não é determi-
nado com exatidão por causa da condição danificada da crônica de Nabonido.
Calculamos, portanto, que a visão do capítulo 7 foi dada a Daniel por volta
de 550 a.C., e a visão do capítulo 8 lhe foi dada em torno de 548 a.C. Mesmo na
ocasião em que Daniel recebeu sua segunda visão, Nabonido ainda achava que
o seu império estava suficientemente seguro para que ele passasse outros sete
anos em Tema. A julgar pela situação de Babilônia naquele tempo, não estava
claro de modo algum que o Império Neobabilônio estava saindo do cenário de
atividades no tempo em que foi dada a visão do capítulo 8 de Daniel. Partindo
da perspectiva divina, o Império Neobabilônio já estava condenado, mas isto
ainda não era evidente sob o aspecto das circunstâncias da política humana ex-
perimentada por Daniel e outros que viviam em Babilônia naquele tempo.
Em vez de excluir Babilônia da visão porque ela estava saindo do cenário
de atividades, ela poderia ter sido suprimida porque não havia mais necessi-
dade de acrescentar detalhes à imagem profética usada para Babilônia na
primeira visão. Ao seguirmos a ordem em que Deus apresentou os elementos
dessas visões, podemos afirmar que Babilônia foi excluída da segunda visão
não porque as circunstâncias políticas humanas já haviam experimentado
mudanças radicais, mas porque Deus desejava ampliar outras partes da visão
46 principal. A Medo-Pérsia já havia sido apresentada na primeira visão como a
sucessora de Babilônia, e não era necessário repetir este detalhe na segunda.
Pode-se tirar uma conclusão idêntica da profecia do capítulo 11. No to-
cante aos reis persas, diz o anjo: "Eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia,
e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado
forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia" (v. 2). É claro
que o quarto rei mencionado é Xerxes e sua invasão da Grécia. A esta altura, o
enfoque muda da Pérsia para a Grécia.
O verso seguinte lesboça claramente as ações de Alexandre, o Grande, e o
verso seguinte retrata a fragmentação do seu reino em termos semelhantes a
Daniel 7:6 e 8:8, 22 (v. 3, 4). Surge, então, a pergunta quanto ao que acontece
com o restante dos reis persas. Sete reis reinaram na Pérsia depois de Xerxes:
Artaxerxes I, Dano II, Xerxes II, Artaxerxes II, Artaxerxes III, Arses e Dado III.
Por que não são estes outros sete reis mencionados nesta profecia?
Seria verdade, como afirmam alguns críticos eruditos, que o autor de Dan-
iel conhecia apenas quatro reis persas porque somente quatro são menciona-
dos por nome na Bíblia? Não cremos nisto. É provável que qualquer cidadão
razoavelmente bem-informado da Palestina no segundo século a.C. (a data
decisiva que os eruditos propõem para a escrita do livro de Daniel) tivesse
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
DANIEL 8
RESUMO
Antíoco IV jamais tomou Alexandria, capital do Egito, mas desfrutou de
sucessos militares no baixo Egito durante suas campanhas de 169 a 167 a.C. 'To-
. davia, ele teve de abandonar esses ganhos brevemente mantidos. e mal-adquiri-
dos, devido à pressão diplomática dos romanos. Somente a primeira parte de sua
campanha rumo ao oriente foi bem-sucedida. Ele morreu antes de ter concre-
tizado seus planos para consolidar o seu controle sobre aquela região.
52 Embora ele caísse sobre os judeus mais duramente do que seus predeces-
sores, ele não foi o que submeteu a Judela ao Império Selêucida, sendo que ela
já era parte daquele domínio quando ele subiu ao trono. As três derrotas que
suas forças sofreram ali, pouco antes da sua morte, sinalizaram avanços que
finalmente levaram a Judeia à independência.Os resultados líquidos do que
Antíoco realizou nestas três esferas geográficas foram um tanto insignificantes
e até mesmo negativos em alguns casos. Assim, ele não se ajusta muito bem à
especificação da profecia que declara que o chifre.pequeno deveria tornar-se
excessivamente grande para sul, para o oriente e para a terra gloriosa".
Atividades antitemplo
É, correto afirmar que Antíoco tirou o tãmid, o "diário" ou "contínuo". Isto
é válido se for aplicado ao holocausto contínuo que era oferecido duas vezes
diariamente sobre o altar do templo, ou ao ofício dos sacerdotes que ofer-
eciam estes e outros sacrifícios. Contudo, a frase "o lugar do seu santuário
foi deitado abaixo" (8:11), que indica o que foi feito ao próprio edifício do
templo pelo chifre pequeno, não se ajusta às atividades de Antíoco. A palavra
usada para "lugar" (hebraico, mãkôn) é interessante e importante. Ocorre 17
Por que Antíoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
vezes na Bíblia hebraica. Em cada exemplo, exceto um, se refere ao lugar onde
Deus habita ou ao lugar sobre o qual se assenta seu trono.
Esta palavra aparece pela primeira vez na Bíblia no "Cântico do Mar", que os
israelitas cantaram na praia do Mar Vermelho depois do seu livramento do exé-
rcito de Faraó (fix 15:17). Nesse cântico, o mãkôn de Deus é identificado como
o lugar onde Ele estabeleceria sua habitação, isto é, seu santuário na terra pro-
metida. O termo aparece quatro vezes no discurso pronunciado por Salomão
quando o templo foi dedicado (veja 1Rs 8 e sua passagem paralela, 2Cr 6). O rei
utiliza uma vez o termo para se referir ao templo; três •outras vezes ele denota o
lugar da habitação de Deus no Céu (1Rs 8:13, 39, 43,49).
Em Salmo 33:14, a palavra é igualmente usada para a habitação de
Deus no Céu. Três outros textos empregam mãkôn para se referir ao lugar
da habitação de Deus na Terra. Ocorre duas vezes em Isaías, uma se refer-
indo ao local da habitação terrestre de Deus no monte Sião (Is 4:5), e outra
se referindo ao lugar de onde Deus olhava sobre a Etiópia em julgamento
(18:4), o qual presumivelmente, é o templo terrestre. Em Esdras 2:68, ele
foi usado mais especificamente para o lugar sobre o qual o templo terrestre
de Deus deveria ser reconstruído. Nos Salmos 89:14 e 97:2 esta palavra foi
usada em sentido metafórico. Justiça e juízo são declarados como o "fun-
53
damento" do seu trono.
Portanto, fora desta ocorrência em Daniel, mãkôn é usada sete vezes para
o lugar da habitação de Deus no Céu, seis vezes para o lugar de sua habitação
terrestre, e duas veies para o lugar do seu trono em um sentido metafórico. O
único exemplo em que esta palavra não foi usada para o lugar da habitação de
Deus, terrestre ou celestial, é Salmo 104:5, onde ela é empregada poeticamente
para os "fundamentos" sobre os quais a Terra foi assentada.
Era este "lugar" do santuário de Deus que deveria ser deitado abaixo pelo
chifre pequeno, segundo Daniel 8:11. É possível aplicar isto ao que os romanos
fizeram ao templo em 70 d.C. Mas Antíoco nunca fez nada ao templo que pu-
desse ser qualificado como '<deitando abaixo seu mãkôn", ou "lugar". Embora o
haja profanado, tanto quanto se conhece, ele não danificou sua arquitetura de
qualquer maneira significativa.
Ao contrário, teria sido para sua desvantagem ter feito isto, sendo que ele
o adaptou a fim de ser usado para o culto de Zeus. Assim, embora seja correto
afirmar que Antíoco suspendeu os sacrifícios/ofícios diários ou contínuos do
templo, não temos nenhuma indicação de que ele o deitou abaixo de seu lugar,
ou deitou abaixo o seu lugar. Consequentemente, este aspecto da profecia está
em oposição à interpretação do chifre pequeno como Antíoco IV.
Estudos selecionados em interpretação profética
Depois disto, Menelau e seu irmão Lisímaco lideraram uma luta contra al-
guns dos judeus que se opunham a eles. Isto não foi uma perseguição selêucida.
Eram sectários judeus em luta, e Antíoco executou seu próprio oficial por sua
parte no incidente. De sorte que nem os 2.300 dias nem os 1.150 dias se ajustam
à profanação do templo por Antíoco ou sua perseguição aos judeus, como al-
guns dos mais ingênuos comentaristas críticos prontamente reconhecem.
A outra maneira de olhar para a relação deste período de tempo com Antío-
co é levar em conta a interpretação historicista. Esta escola de interpretação
profética utiliza o princípio dia-ano para os períodos de tempo encontrados nos
contextos apocalípticos. Se esta posição (ver capítulo 3) é correta, significa que
estamos lidando com um período de 2.300 anos, não 2.300 dias literais. Não
importa onde se fixe seu início na era a.C., é óbvio que eles devem se estender
muito além dos estreitos limites cronológicos de uma década de reinado de
Antíoco no segundo século a.C.
O fim. Quando Gabriel veio a Daniel para explicar a visão do capítulo 8, ele
introduziu sua explanação com a declaração: "Entende, filho do homem, pois
esta visão se refere ao tempo do fim" (8:17). No início de sua real explicação,
Gabriel outra vez enfatizou este ponto declarando: "Eis que te farei saber o que
há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo
determinado do fim" (8:19). As frases "tempo do fim" e "tempo determinado do 55
fim" são também essenciais para a identificação do chifre pequena
Sendo que a terceira e última seção da visão está interessada principalmente
no chifre pequeno e suas atividades, parece razoável concluir que o chifre se
relaciona mais diretamente com o "tempo do fim': Portanto, o final do chifre
pequeno deve coincidir, de uma maneira ou de outra, com "o tempo do fim".
Em um tempo cronológico mínimo, as profecias de Daniel (Dn 9:24-27)
tinham que se estender até o tempo do Messias, no primeiro século d.C. "O
tempo do fina" só poderia chegar algum tempo depois do cumprimento desta
profecia. Portanto, não há nenhuma maneira de a morte de Antíoco em 164/3
a.C. ser levada a coincidir com "o tempo do fim", quando o chifre pequeno de-
veria chegar ao seu final.
Natureza do fim do chifre pequeno
Segundo a profecia, o chifre pequeno deveria chegar, ao seu fim de um
modo específico: "Mas será quebrado sem esforço de mãos humanas" (8:25).
Esta fraseologia parece um tanto semelhante à descrição do destino do rei do
norte em Daniel 11:45 - "chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra': O
final do chifre pequeno de Daniel 7 deveria suceder por uma decisão de Deus
Estudos selecionados em interpretação profética
no tribunal celestial. Em Daniel 2, a imagem foi levada ao seu fim por uma
pedra que a feriu nos pés, uma pedra cortada sem a assistência de qualquer
mão humana (Dn 2:45).
As conclusões para as profecias de Daniel 2, 7, 8 e 11 deveriam todas suced-
er por direta intervenção divina na história humana. Dada a natureza da de-
claração em 8:25 (e suas paralelas nas outras profecias de Daniel), é difícil ver
como Antloco IV poderia cumprir esta peculiar especificação. Até onde é con-
hecido (compare 1 Macabeus 6:8-17), ele morreu de causas naturais (não em
batalha nem em circunstâncias extraordinárias) durante o decurso de sua cam-
panha oriental em 164/3 a.C.
Origem do chifre pequeno
Uma importante interrogação concernente ao chifre pequeno de Dan-
iel 8 é se ele saiu dos quatro chifres precedentes ou de um dos quatro ventos
provenientes das direções às quais esses chifres se estendiam. Isto é importante
pelo motivo óbvio de que se o chifre pequeno veio do chifre selêucida, então
poderia ter sido um rei seleucida como Antioco Epifânio. Contudo, se ele veio
de um dos ventos, então ele não representaria Antloco IV, visto que este deveria
sair, naturalmente, do chifre selêucida.
56 Dada a importância deste detalhe, a sintaxe da declaração sobre a origem
do chifre pequeno em Daniel 8:8-9 deve ser examinada cuidadosamente.
Qualquer comentário que não faz isto está se esquivando de seu dever exegé-
tico, porque a decisão sobre como a estrutura da sentença hebraica deveria ser
traduzida afetará a subsequente interpretação do verso 9.
Este problema envolve a concordância em gênero entre um sufixo pronom-
inal no início de Daniel 8:9 ("deles") [RSV] e os antecedentes propostos para
ele no verso precedente (chifres/ventos). O verso 8 concluí: "e em lugar dele [o
grande chifre de Alexandre que foi quebrado] saíram quatro chifres notáveis
para os quatro ventos do céu" [RSV]. Inspirando-se neste quadro e relacion-
ando-se com ele, continua o verso 9: "De um deles saiu um chifre pequeno". A
pergunta é: no verso 8, "deles" se refere aos chifres ou aos ventos?
O contexto linguístico é mais específico em hebraico do que na tradução in-
glesa [ou portuguesa], na medida em que substantivos e pronomes em hebraico
têm gênero que requer a sua concordância. Este, então, é o problema: o sufixo
pronominal "deles" no verso 9 é um plural masculino. Por outro lado, a palavra
hebraica para "chifre" é sempre feminina. A palavra para "ventos" é escrita como
um plural feminino, embora ocasionalmente possa ser escrita na forma mas-
culina. Isto significa que o texto hebraico não possui nenhuma concordância
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
em gênero entre o sufixo pronominal "deles" (v. 9) ou um ou outro dos seus pos-
síveis antecedentes — "chifres" [compreendido] ou "ventos" — no verso 8.
Este problema é ainda mais agravado pela forma dos numerais usados nest-
es dois versos. O numeral "quatro" no final do verso 8 e o numeral "um" no
início do verso 9 são ambos femininos em forma. Assim, este sufixo pronominal
masculino ("deles") não concorda com o gênero de um ou outro dos seus pos-
síveis substantivos antecedentes ("chifres/ventos"), nem concorda com o gênero
dos numerais ("quatro") usados com "ele" e "deles" [RSV]. A natureza deste
problema, mas não sua solução final, foi resumida deste modo no The Seventh-
day Adventist Bible Commentary:
Quando é seguido este procedimento, pode ser visto que o gênero dos dois
primeiros elementos do verso 9 ("um/deles") se alinha perfeitamente com o
gênero dos dois últimos elementos do final do verso 8 ("ventos/céus").
Ao escrever suas visões, Daniel simplesmente dissolveu a cadeia construtiva
no final do verso 8 ("os quatro ventos dos céus") e distribuiu seus dois elemen-
tos para duas frases preposicionais separadas no início do verso 9 ("daquele/que
procede deles"). Isto não é um paralelismo poético, é um paralelismo sintático
em que o gênero dos elementos da segunda declaração é paralelo ao gênero dos
elementos da primeira (ou precedente) declaração.
58 Assim, o antecedente de "deles" na frase "procedente deles" (v. 9) nem é "ven-
tos" nem "chifres", mas "céus". Sendo,que "céus" é do gênero masculino e tratado
como um plural no hebraico bíblico, de acordo com os verbos e adjetivos usados
com ele, há uma perfeita concordância em gênero e número com o pronome
masculino plural "deles". O feminino "um" do verso 9 se refere ao feminino "ven-
tos" do verso 8. O texto revela a origem com clareza suficiente: ele veio de um
•dos quatro ventos dos céus, isto é, de uma das direções da bússola.
Partindo desta compreensão da sintaxe dos versos 8-9, é evidente que quando
• o chifre pequeno surgiu no cenário de atividades, ele não veio do chifre selêucida,
nem dos outros três. Na visão pictórica ele é simplesmente visto como vindo de
uma das direções da bússola. Assim, a sintaxe desta declaração não apoia o ponto
• de vista de que o chifre pequeno se desenvolveu do chifre/reino selêucida.
DANIEL 9
DANIEL 11
INTRODUÇÃO
Os comentaristas geralmente concordam que as últimas profecias de
Daniel explicam as anteriores. Elas representam um alargamento progressivo
dos temas tratados nas profecias anteriores. Isto é muito evidente, mesmo a
partir de um exame apressado do livro. Suas profecias começam com reinos
simbolizados pelos metais da imagem do capítulo 2. Esses remos são sim-
bolizados outra vez em Daniel 7 por meio da utilização de animais; mas são
dados detalhes adicionais sobre eles em suas divisões, particularmente pelo
uso de chifres para representar algumas de suas divisões. A mesma imagem é
continuada no capítulo 8, onde são fornecidos detalhes adicionais sobre eles.
Finalmente, no capítulo 11 não temos mais animais com seus chifres repre-
sentando esses reinos e sua divisão, mas antes urna série de escolhidos reis
individuais que dominaram esses reinos.
Em certo sentido (que a princípio pode não ser evidente), a profecia do
capítulo 2 equilibra a do capítulo 11. A primeira apresenta uma imagem do
homem individual cujas diferentes partes representam os reinos sucessivos que
60 deveriam surgir e cair. Em Daniel 11, por outro lado, chegamos a uma série de
indivíduos que dominaram sobre esses reinos. A imagem do capítulo 2, por
assim dizer, veio à vida e agora caminha ao longo da história na forma de suas
materializações individuais. No meio dessas duas profecias que usam a imagem
de homem, são encontradas duas profecias em frente e verso que empregam
animal mais imagem de chifres (cap. 7 e 8). Portanto, até onde estas quatro pro-
fecias em cadeia ou esboço dizem réspeito, elas estão equilibradas na estrutura
literária de Daniel como segue:
Homem (2) : Animais + chifres (7) : Animais + chifres (8) : Homens (11)
Esta forma literária confere mais apoio à ideia de que os últimos capítulos
proféticos de Daniel explicam os anteriores. Este é também um argumento que
apoia a autoria única do livro.
Aqui poderia ser suscitada a interrogação sobre se a profecia do capítulo 9 (aus-
ente do equilíbrio literário acima) não está equivocadamente colocada na segunda
metade do livro. Embora o elemento da primeira metade do livro, que equilibra
com o capítulo 9, não seja de caráter profético, ainda há certo equilíbrio entre eles.
Primeiro, alguém poderia olhar para a estrutura da primeira metade do livro
em si. Isto foi elaborado inicialmente por A. Lenglet (1972, p. 169-190) e, depois,
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel. 8
por Joyce Baldwin (1978, p. 59-62). A estrutura literária muito exata da parte ara-
maica da primeira metade de Daniel, capítulos 2 a 7, está como segue abaixo.
Esta estrutura quiástica ou estrutura A:B:C: :C' :A é conhecida como
palístrofe, e demonstra uma só autoria desta parte do livro.
A: ESBOÇO PROFECIA, C: ESBOÇO PROFECIA, C': ESBOÇO PROFECIA, A': ESBOÇO PROFECIA,
HOMEM (2) ANIMAIS/CHIFRES (7) ANIMAIS/CHIFRES (8) HOMENS (10-12)
VERSO 22
Aqui está a minha tradução um tanto literal de Daniel 11:22 - "E os braços de uma
inundação serão alagados diante dele e quebrados, e o príncipe da aliança também:"
O texto apresenta uma descrição de forças inferiores sendo subjugadas e
derrotadas por forças superiores. As forças na defensiva são mencionadas como
"os braços de uma inundação." Esta cadeia constructa ("os braços de uma in-
undação") é o sujeito dos dois verbos passivos seguintes que ecoam cada um
dos elementos da cadeia constructa. Assim, a inundação deve ser alagada, e os
"braços" devem ser quebrados. A inundação menor deveria ser alagada por uma
inundação ainda maior de braços que deveriam vir de um agressor.
Ora, dos cinco outros casos onde ocorre a raiz desta palavra hebraica para
"inundação" como um substantivo no hebraico bíblico, ela aparece em apenas
um outro lugar em Daniel - em 9:26 ("seu fim será num dilúvio, e até ao fim
haverá guerra"). Isto já sugere uma estreita relação entre 9:26 e 11:22. Mas estes
dois versos estão relacionados ainda mais estreitamente notando-se o que mais
deveria ser quebrado por esse agressor além dos braços militares que ele der-
rotaria. O príncipe da aliança também seria quebrada
É importante notar a palavra hebraica nãgfd, traduzida por "príncipe" nesta
passagem Nãgfd está em contraste com a palavra sçar, traduzida como "príncipe" 11
vezes em outra parte de Daniel. Seis vezes áarse refere a seres humanos individuais 63
como príncipes (9:6, 8; 10:13, 20 [duas vezes], e 11:5). Sai» é usado cinco vezes para
personagens celestiais ou sobre-humanas em Daniel (8:11, 25; 10:13, 21; 12:1).
Por outro lado, nãgid ocorre apenas três vezes em Daniel: uma em 11:22 e
duas na profecia de 9:24-27. Na profecia de 9:24-27, ela ocorre primeiro com o
Messias, no verso 25, e outra vez sozinha no verso 26, onde se refere ao príncipe
"que há de vir". O significado do nãgíd da profecia de Daniel 9 foi anotado em
um estudo separado sobre Daniel 9:24-27 (SHEA, 2010); ali ele foi encontrado
referindo-se ao mesmo indivíduo em ambos os exemplos - o Príncipe Messias.
É lamentável que a distinção entre áar e nãgfd tenha se perdido nas
traduções inglesas [e portuguesas] de Daniel, traduzindo-se ambos os termos
pela mesma palavra - "príncipe". Esta distinção é acentuada e clara. Aplicando
estes termos profeticamente a Cristo, o primeiro se refere a Ele em sua posição
celestial como o "príncipe do exército", o "Príncipe dos príncipes"; e o "grande
príncipe" que se levantará pelo seu povo.
Nãgid, por outro lado, se refere a Cristo em seu estado encarnado terres-
tre. É como este nãgid terrestre que Ele deveria ser ungido como o Messias,
ser cortado ou quebrado, fazer expiação pelo pecado, trazer a justiça eterna,
dar um fim ao significado do sistema sacrificial e fazer uma firme aliança com
Estudos selecionados em interpretação profética
seu povo terrestre por uma final semana profética. Aqui, outra vez, portanto, é
outro termo que ocorre em Daniel 9:26-27 e 11:22.
A terceira palavra hebraica que ocorre em ambas as passagens é berft, ou
"aliança': Bertt ocorre em outros partes de Daniel além destas duas passagens.
Assim, não é exclusivo para elas. É correto dizer, porém, que sua conexão com o
príncipe, ou ni2gid, é exclusiva a estas duas passagens. Em 9:26-27 é o nãgid que
deveria fazer firme aliança por uma semana. Em 11:22 temos o nãgfd da aliança.
Se as relações léxicas dentro do livro de Daniel significam alguma coisa, então
o mesmo indivíduo deve ser mencionado nestas duas passagens. Para nossos at-
uais objetivos não importa se alguém interpreta o nãgid de 9:26 como um nãgid
romano ou como Jesus, o Príncipe Messias, conforme delineado acima. Inde-
pendentemente de qual destas duas opções se siga, o cumprimento destes versos
tem de ser posto no período romano.
Existem três pontos de contato entre Daniel 9:24-27 e 11:22. A palavra para
"inundação" é comum a ambas estas passagens, mas não é encontrada em outras
partes de Daniel. O mesmo é verdade quanto à palavra nãgid (príncipe). A pala-
vra para "aliança", embora encontrada em outras partes de Daniel, encontra-se so-
mente nestas duas passagens em combinação com a palavra nãgic 1 para "príncipe':
À luz destes três vínculos linguísticos entre estas duas passagens, é evidente que
64 elas devem se referir a alguns dos mesmos eventos.
Devido a estas relações linguísticas, os intérpretes que identificam o "príncipe da
aliança" em 11:22 como o sumo sacerdote judeu Onias III (assassinado por volta de
170 a.C) são obrigados a fazer o mesmo para o nãgid em Daniel 9:26-27. Mas sendo
que as correspondências históricas da profecia de Daniel 9:24-27 encontram seu cum-
primento no período romano (discutido em outra parte em um estudo separado so-
bre Daniel 9:24-27, ver SHEA, 2010), o nügid da aliança mencionado em 11:22 não
pode ser Onias III. A única maneira de tal interpretação poder ser mantida é pela
quebra das relações linguísticas entre Daniel 9:26-27.e 11:22 ou datando o primeiro
no período dos macabeus. Sendo que a evidência discutida acima indica que ambas
estas posições são incorretas, uma data romana deve ser defendida para Daniel 11:22.
Isto nos concede um ponto fixo cronológico a partir do qual interpretar a
corrente histórica da profecia de Daniel 11. Tudo que precede Daniel 11:22 deve
preceder a execução de Cristo pelos romanos, quando eles quebraram o prínci-
pe da aliança. Além disso, tudo que segue o verso 22 deve correspondentemente
ser cumprido depois da crucifucão de Jesus. Com este ponto fixo em mente,
devemos procurar descobrir onde a profecia de Daniel 11 localiza eventos e
atividades relacionadas com o chifre pequeno de Daniel 8. Outra vez, as cor-
respondências linguísticas são a evidência mais direta em que nos apoiarmos.
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
VERSOS 32-34
Uma correlação de grande importância entre Daniel 11 e as profecias prec-
edentes é aquela que relaciona a perseguição levada a cabo pelo chifre pequeno
de Daniel 7:25, e a perseguição descrita como ocorrendo segundo Daniel 11:32-
34. As relações entre estas duas passagens deve ser elucidada por meio da con-
clusão para a última (11:32-34), que é encontrada em Daniel 12:6-7.
Depois que Gabriel havia repassado a ele toda a profecia de Daniel 11:2
até 12:4, Daniel tinha uma interrogação específica, e esta era acerca do tempo:
"Quando se cumprirão estas maravilhas?" (12:6). O personagem de forma div-
ina que ele tinha visto na visão de Daniel 10:5-6 apareceu-lhe outra vez nessa
ocasião e jurou pelo Deus eterno "que isso seria depois de um tempo, dois tem-
pos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo
santo, estas coisas todas se cumprirão" (12:7).
Do conteúdo de Daniel 12:7 é evidente que o período de tempo profético de
"um tempo, dois tempos e metade de um tempo", ou um total de três tempos e
meio, relacionava-se mais diretamente com o período durante o qual o poder do
povo santo seria destruído - o tempo em que eles deveriam ser perseguidos. Este
diálogo pergunta e resposta vem no final da profecia de Daniel 1112 e, portanto,
deve relacionar-se com algo que foi previamente descrito nesta profecia
65
A pergunta então é: onde, em Daniel 11, são descritos estes três anos e meio
de perseguição? O único lugar em Daniel 11 onde é descrita uma perseguição
do povo de Deus encontra-se nos versos 33-34:
Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo
fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo. Ao caírem eles, serão ajuda-
dos com pequeno socorro.
A conexão lógica entre estas duas passagens indica que os três tempos e meio
de perseguição mencionados em Daniel 12/ são descritos mais detalhadamente em
11:32-34, mas sem o elemento de tempo mais específico encontrado em 12:7. Os três
tempos e meio de 12:7 dão a extensão dessa perseguição, ao passo que 11:32-34 indica
onde, no decorrer da história profética, esse período de perseguição deveria ocorrer.
No entanto, estes três tempos e meio de Daniel 12:7 não estão isolados em
Daniel; eles têm conexões em outras partes do livro fora do capítulo 11. Os
outros lugares (desta vez em aramaico em vez de hebraico) é em Daniel 7:25.
Os três tempos e meio ali mencionados deveriam ser também um tempo de
perseguição durante o qual os santos do Altíssimo seriam entregues nas mãos
(poder) do chifre pequeno e consumidos por ele.
Estudos setecionados em interpretação profética
VERSO 31
Daniel 11:31 identifica três atividades que o poder em vista realizaria: Forças
procedentes dele (1) profanariam o forte templo (hindi(' hammiqclii§ hammã'ôz);
(2) removeriam o contínuo (hésürft hattãmfd); e(3) estabeleceriam a abominação
desoladora (nãtriú haffiqq(ts meremém).
Estas atividades podem ser relacionadas àquelas atividades conduzidas pelo
chifre pequeno de Daniel 8 como segue:
Profana o forte templo
Segundo Daniel 8:11, o lugar do templo do príncipe do exército deveria ser dei-
tado abaixo. Isto se refere ao que o profeta viu em visão. Enquanto vários aspectos
da obra do chifre pequeno são explicados no final do capítulo 8, este aspecto de sua
obra não é; seu equivalente mais terrestre é dado aqui em Daniel 11. Portanto, até
certo ponto, esta passagem provê uma explanação do que significa a frase anteced-
ente do capítulo 8. Um verbo passivo ("foi derrubado/deitado abaixo") ocorre com
Por que Antíoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
' Segundo a maioria dos historiadores, a chamada era medieval encerra-se no século 15. Portanto, mais
de 300 anos antes de terminar o período de supremacia papal, em 1798. Acontecimentos como a Contra-
Reforma e campanhas de perseguições em diversos países da Europa, que custaram a vida a milhares de
cristãos que discordavam de Roma, ocorreram quando já havia passado a Idade Média. Afirmando que
o chifre pequeno é Roma medieval, o autor passa por alto estes e outros fatos importantes. Por exemplo,
segundo a profecia, o chifre pequeno vai até ao firn (ver Dn 7:26 e 8:25); não se limita à Idade Média. Sua
trajetória de crimes e de enganos só terminará com a volta de Jesus (ver 2Ts 2:8) [nota do tradutor].
Por que Antfoco IV não é o chifre pequeno de Daniel 8
ROMA MEDIEVAL
RESUMO
parece incorreta, porque: (1) requer que se faça uma distinção não feita pelo
profeta em seu próprio tempo (sexto século a.C.); (2) necessita a rejeição da
mais óbvia aplicação histórica da imagem do segundo animal que faz plena
concessão à natureza dual daquele reino; (3) o alinhamento bistoricista da pro-
fecia é reforçado por suas analogias com os animais e suas identificações ex-
plicitamente declaradas no capítulo 8.
Isto significa que o chifre pequeno (que procede do quarto animal do capí-
tulo 7) saiu de Roma. Portanto, o chifre pequeno do capítulo 7 não pode repre-
sentar Antioco IV Epifânio, que pertenceu a uma das divisões do reino grego
representado pelo terceiro animal (leopardo dé quatro cabeças).
Sendo que as últimas imagens terrestres das profecias de Daniel 7 e 8 são
ambas representadas por um chifre pequeno, e visto que uma comparação das
atividades desses chifres pequenos indica que eles são muito semelhantes, as
probabilidades são de que ambas as profecias descrevam a mesma entidade
histórica. Sendo que o chifre pequeno de Daniel 7 não pode ser Antíoco IV, o
chifre pequeno do capítulo 8 também não deve representá-lo.
Os principais argumentos para identificar o chifre pequeno do capítulo 8
como Antloco IV repousam sobre (1) sua perseguição aos judeus, (2) sua suspen-
são dos sacrifícios e profanação do seu templo, e (3) localização de sua origem a
70 paritr de do chifre selêucida, uma das quatro divisões desenvolvidas com a dis-
solução do império de Alexandre. Contudo, certa tensão está envolvida aqui em
utilizar a imagem de um chifre para representar rei e reino ao mesmo tempo.
Se os quatro chifres representam os quatro remos que surgiram do império
de Alexandre, então o aparecimento de outro chifre no cenário de atividades po-
deria melhor representar outro reino em vez de apenas um simples rei na linha
sucessória de um daqueles reinos. Por mais que alguém realce as realizações de
Antíoco IV, ele não pode ser considerado maior do que um ou outro dos impérios
precedentes da Pérsia e Grécia, ainda que os superlativos que descrevem o chifre
pequeno indiquem sua grandeza superior.
O chifre pequeno deveria conquistar na direção do sul, do oriente e da terra
formosa, ou Palestina. A vitória de Antíoco IV no delta do Egito foi de curta
duração, visto que Roma o forçou a retroceder depois de apenas um ano de ocu-
pação parcial. Ele tentou recuperar os territórios do oriente que se rebelaram no
final do reinado de Antloco III, mas por ocasião de sua morte seu êxito havia
sido apenas parcial nesta busca.
Não somente ele já estava de posse da Palestina quando subiu ao trono (as-
sim ele não poderia ter-se estendido em sua direção), mas ele foi o principal mo-
tivo para a perda da Judeia pelos selêucidas. Portanto, os resultados alcançados
Por que Antroco IV não é o chifre pequeno de Daniel. 8
por Antíoco nessas três regiões geográficas não é compatível com o que o chifre
pequeno deveria realizar naquelas mesmas áreas segundo a profecia.
Ainda que Antíoco suspendesse os sacrifícios regulares do templo de Je-
rusalém (e ele introduziu ali a adoração de outro ritual), ele não deitou abaixo o
"lugar" (mãkôn) do templo, que é incluído entre as coisas que o chifre pequeno ha-
veria de fazer ao templo em Daniel 8. Nem podem as 2.300 "tardes e manhãs" ser
aplicadas a algum aspecto conhecido de sua carreira antijudaica, quer em relação
ao tempo em que ele perseguiu os judeus, quer quando suspendeu seus sacrifícios.
Gabriel disse a Daniel que a visão era para o tempo do fim. Sendo que a
parte principal desta profecia está associada ao chifre pequeno e suas ativi-
dades, esta parte dela dificilmente pode ser aplicada a Antíoco IV, sendo que
ele não se prolongou até ao "tempo do fim". Tanto quanto se conhece, seu
próprio falecimento foi muito natural. Esta informação não se pode comparar
ao fim predito para o chifre pequeno em Daniel 8. Cronologicamente, o chifre
pequeno deveria surgir no final do reinado dos chifres selêucidas. Andoco IV,
porém, reinou no ponto médio da dinastia selêucida.
O ponto final examinado do capítulo 8 se relaciona com a origem do
chifre pequeno. A melhor interpretação sintática atualmente disponível
para os antecedentes dos pronomes e numerais de Daniel 8:8-9 indicam
que esse chifre saiu de um dos ventos (de um dos quatro pontos da bús- 71
sola), não de um dos chifres. Alguns eruditos que têm identificado o chifre
pequeno com Antíoco IV têm afirmado que sua origem pode ser remon-
tada a um dos chifres. Se a interpretação da sintaxe nestes versos é correta,
tal identificação deve ser suspeita. Alguém poderia ainda argumentar que
Antíoco, a personificação do chifre pequeno, saiu de um dos ventos em vez
do chifre selêucida. Tal interpretação, porém, torna a identificação de sua
origem vazia de qualquer significado.
Em um estudo separado concluímos que nenhuma evidência foi encon-
trada para a existência de Antíoco IV na profecia de Daniel 9:24-27 relativa-
mente ao seu cumprimento histórico. Ao contrário, à luz de nossa exegese
desta passagem, temos encontrado razões convincentes para interpretá-la
mais diretamente como uma profecia messiânica do que têm mantido alguns
intérpretes historicistas anteriores. Até onde diz respeito a Antíoco, o ponto
importante acerca da profecia de Daniel 9 não é apenas sua ausência histórica,
mas a maneira como os títulos para o Messias eram ali usados, especialmente
o de nãgíd, ou "príncipe".
Quando o uso desse título em hebraico é comparado com Daniel 11, pode
ser visto que o nãgid (príncipe) da aliança, ou Cristo, aparece em Daniel 11:22.
Estudos selecionados em interpretação profética
Esta correlação nos fornece um ponto cronológico fixo que nos habilita a inter-
pretar a história profética de Daniel 11.
Quando esse ponto fixo é utilizado, pode ser visto que as atividades do chi-
fre pequeno, conforme descritas no capítulo 8, não aparecem no capítulo 11 até
o verso 31, ou algum tempo histórico depois do ministério terrestre e da morte
de Cristo. Essas relações são reforçadas pela identificação da perseguição de
Daniel 11:32-34 com a perseguição conduzida pelo chifre pequeno, ou Roma
medieval, em Daniel 7. Sendo que Antíoco IV Epifânio reinou brevemente em
Selêucia no segundo século a.C., e as atividades antitemplo do chifre pequeno
de Daniel 8 não deveriam ser executadas até algum tempo depois da morte de
Cristo, Antíoco IV não pode ser esse chifre pequeno.
REFERÊNCIAS
FROOM, L. E. 'lhe prophetic faith of our fathers. Washington: Review and Harold, 1946-1954. v. 3-4.
72 HARTMAN, L. F.; DI LELLA, A. A. The bookof Daniel. New York: Doubleday, 1978. (Anchor Bible, 23).
ROWLEY, H. H. Darius the mede and the four kingdoms. Cardiff: University of Wales Press, 1935.
SHEA, W. 1-1. An unrecognized vassal king of Babylon in the early achaemenid period. Andrews
University Seminary Studies, v. 9-10, n. 1-2, 1971-1972.
O PRINCÍPIO DIA-ANO
(1ª PARTE).
Esboço do capítulo
1. Introdução
2. Linhas gerais da evidência
3. Linhas de evidência mais específicas
. 4. Linhas de evidência muito específicas
. 5. Resumo
INTRODUÇÃO
Comentaristas de duas das·três
principais escolas de interpretação
das profecias apocalípticas de Daniel
e Apocalipse, preteristas e futuristas,
interpretam os elementos de tempo
dessas profecias como tempo literal.
Os .comentaristas historicistas, por
outro lado, têm interpretado essas
· referências como representando
simbolicamente períodos mais lon-
gos de tempo histórico.
· Os historicistas defendem que
esses períodos devem ser interpre-
tados segundo o princípio de que
. um "dia profético" representa um
"ano" de tempo real do calendário,
Estudos selecionados em interpretação profética
FILOSOFIA DA HISTÓRIA
A opinião preterista das profecias apotalipticas e seus elementos de tempo deixa
toda a era cristã, com exceção de uma fração inicial muito pequena, sem qualquer
avaliação histórica ou profética direta de Deus sobre esse período.
Tal perspectiva está em assinalado contraste com a opinião vétero-testa-
mentária de história em que os poderosos atos de Deus em favor do seu povo
são relatos ao longo da história bíblica de Abraão a Esdras. A história do Antigo
Testamento envolve uma narração desses eventos e uma avaliação profética do
seuS caráter. A mesma abordagem da história da era cristã é encontrada, ante-
cipadamente, nos livros apocalípticos de Daniel e Apocalipse, quando eles são
interpretados nos termos historicistas, não nos preteristas.
O princípio dia-ano (P parte)
que ocorrem na profecia apocalíptica que focaliza a visão de longo alcance (isto é,
se os elementos de tempo da apocalíptica são interpretados como literais).
A maneira mais razoável de resolver o paradoxo e restaurar o paralelis-
mo e equilíbrio dessa equação é interpretar os períodos de tempo da profe-
cia apocalíptica como simbólicos e representando períodos consideravelmente
mais longos de tempo histórico real.
TEMPO DO FIM
Em sua declaração inicial da explicação de Daniel 8, Gabriel disse ao profeta
que a visão que lhe fora dada era para o "tempo do fim" (hebraico: 'et-q4 v. 17).
Sua explanação então começou com o primeiro elemento, o carneiro persa (v. 20),
e continuou até o seu último elemento: o fator tempo das "tardes e manhãs" (v. 26).
A inferência óbvia da explanação de Gabriel é que o elemento tempo apresentado
nesta visão, leva o intérprete na direção daquele "tempo do fim" da história humana.
O mesmo ponto é salientado na explanação desta visão dada em• Daniel
11 e 12. As atividades finais do rei do Norte são descritas como ocorrendo
no "tempo do fim" (11:40). Naquele tempo, Miguel se levanta e livra os seus
santos vivos e ressuscita os seus fiéis mortos (12:1-2). Aqui, a referência é ao
estabelecimento do reino final de Deus, e isto ocorre no final do "tempo do
fim". Dentro do mesmo "tempo do fim", as profecias de Daniel deveriam ser
abertas, estudadas e compreendidas (12:4, 9).
Estas referências de Daniel 11:40 e 12:4, 9 indicam que o "tempo do fim"
deveria ser um período de tempo, e que os períodos de tempo proféticos men-
cionados em Daniel 8:14, 26 e 12:7, 11 conduzem até aquele período final.
Sendo que as profecias de Daniel 7 a 8 e 10 a 12 levam até o "tempo do
fim", que deve ser seguido pelo estabelecimento do reino final de Deus, os
períodos de tempo mencionados nestas profecias deveriam naturalmente 79
ser vistos como se estendendo ao longo da história até àquele "tempo . do
fim". Na extensão da história descrita nestas profecias que se estende desde o
profeta no sexto século a.C. até o nosso tempo e além, os períodos de tempo
literais de apenas 3 anos e meio a 6 anos e meio não são capazes de alcançar
nem de longe este final do tempo do fim. Portanto, estes períodos de tempo
proféticos devem ser vistos como simbólicos e representando períodos de
tempo consideravelmente mais longos do tempo histórico real que se es-
tende até o tempo do fim.
CONTEXTO SIMBÓLICO
Na narrativa histórica de Gênesis 15 a profecia foi dada a Abraão de que
seus descendentes literais de carne e sangue deveriam ser oprimidos em um
país estrangeiro, isto é, o Egito, por 400 anos literais (vs. 13). Isto se cumpriu
nestes mesmos termos (compare fix 12:40).
Estudos selecionados em interpretação profética
intencionalmente simbólica foi aqui usada, e essas unidades simbólicas devem ser
interpretadas para determinar o período de tempo real pretendido pelo escritor.
O uso de unidades de tempo incomuns que não eram ordinariamente empre-
gadas para a computação do tempo, tais como "tardes e manhãs", "tempos", e até
certo ponto "semanas", empresta apoio à ideia de que algo mais do que mero tempo
literal está aqui envolvido. Unidades incomuns como estas combinam melhor com
o tempo simbólico e provavelmente foram escolhidas para enfatizar este ponto.
Nas narrativas históricas, a palavra paia "dias" poderia ser usada para es-
pecificar um número geral de anos que haviam se passado. Por exemplo, Daniel
e seus amigos comparecem diante do rei "no fim dos dias" quando sua educação
completara três anos (1:5, 18). Nabucodonosor recobrou sua sanidade "no fim
daqueles dias" (4:34) [31] quando o período envolvido cobriu sete tempos (4:25)
[22] ou anos, como esta unidade é provavelmente melhor interpretada. "Dias" é
também usada em uma narrativa histórica para uma passagem de um período
de tempo no Passado. A referência que retorna aos "dias" de Nabucodonosor em
Daniel 5:11 referia-se a eventos que tinham ocorrido mais de meio século antes.
Uma espécie de utilização semelhante pode ser vista nas profecias de Daniel onde
a palavra para "dias" ocorre sem ser somada numericamente. Por exemplo, o sonho
do capítulo 2 revelou a Nabucodonosor o que viria nos últimos "dias", não nos últi-
mos "anos" (228). O fim da imagem do sonho deveria acontecer nos "dias" dos reis
que haveriam de dominar o reino dividido de ferro e barro (2:44). Uma referência se-
melhante é encontrada em Daniel 8:26 onde é dito a Daniel que selasse a visão porque
se referia a "dias" ainda mui distantes, mesmo ao tempo do fim. O mesmo tipo de
coisa é expresso outra vez em Daniel 10:14. Igualmente, Daniel deverá estar em sua
sorte no "fim dos dias", isto é, ele deve ser ressuscitado no fim dos tempos (12:13).
O aspecto de Deus na utilização desta palavra encontra-se em seu título
82 como "o Ancião de dias" (79-13). O termo descreve sua existência passada, que
não é medida em dias ou anos literais, mas em eras. Ele é também soberano sobre
todos os "dias" históricos e proféticos examinados neste livra
Na profecia final de Daniel é feita referência ao período de "poucos dias",
em seguida ao qual o "exator de tributo" (11:20) deveria ser destruído. Sendo
que ele não poderia ter coletado muito tributo em poucos dias literais, dias figu-
rativos ou simbólicos devem estar aqui envolvidos que se referem à sua carreira
como cobrindo alguns anos.
A mesma coisa pode ser dita acerca da perseguição do povo de Deus men-
cionada em Daniel 11:33, que declara que eles cairiam "pela espada e fogo, pelo
cativeiro e roubo, por [...] dias" (RSV). Que esses dias devem ser compreendi-
dos de forma quantitativa parece provável pelo fato de que esta referência en-
contra-se no mesmo lugar em sua corrente profética como os 3 tempos e meio
ou 1.260 dias de Daniel 7:25. O vínculo entre estas duas passagens é confirmado
por Daniel 12:7, que aplica o período de tempo de Daniel 725 à perseguição de
Daniel 11:32-35. Como é notado na próxima seção sob o título de "Períodos de
tempo especialmente curtos", uma perseguição medida em termos de alguns
dias literais não teria sido muito significativa, de sorte que um período de tem-
po histórico mais longo medido de preferência em anos deve estar em vista aqui.
O princípio dia-ano (la parte)
As maneiras mais gerais e figurativas em que a palavra para "dias" tem sido usada
em Daniel para representar períodos mais longos de tempo histórico real foram aqui
examinadas. Este tipo de utilização já está presente nas narrativas históricas do livro.
Continua em declarações não-numéricas acerca de tempo nas profecias do livro.
Sete dessas declarações proféticas foram aqui revistas. Nem uma delas contém
um caso em que a palavra para "dias" foi usada no sentido normal de dias literais.
Pode-se referir a este tipo de utilização como figurativo ou simbólico, mas não literal.
Portanto, com base nesta utilização antecedente, poder-se-ia esperar, em
exemplos onde unidades de tempo como "dias" são enumeradas nas profecias,
que elas também se refiram a períodos de tempo figurativos ou simbólicos.
A tipologia correta do espectro de uso do termo "dias" em Daniel parece
prosseguir logicamente de dias literais para dias figurativos em narrativas
históricas, para dias não-numéricos figurativos ou simbólicos nas profecias e
para dias numéricos simbólicos nas profecias.
TROMBETAS E PRAGAS
Como observa Kenneth Strand (1975) em seu artigo "A estrutura literária
do livro de Apocalipse", "os paralelos entre as sete trombetas de Apocalipse 8-9
(e 11:15) e as sete taças da cólera de Apocalipse 16 [...] são muito óbvios e há
muito tempo têm sido reconhecidos". Strand (1976, p. 47) esquematizou estas
relações com mais detalhes em seu livro Interpreting the Book of Revelation.
84
NARRATIVAS HISTÓRICAS
Existe nas narrativas históricas do Antigo Testamento um reconhecimento
de um tipo específico de relação entre "dias" e "anos" que transcende a mera
Estudos selecionados em interpretação profética
•
ideia de que os últimos eram constituídos dos primeiros. Nesses exemplos, a
palavra "dias" (sempre na forma plural) era realmente usada para representar
"anos". Esta utilização ocorre em três sentidos gerais:
1. O termo "dia" era usado para representar um "ano" quando um evento
anual era mencionado. Por exemplo, a páscoa deveria ser observada, literalmente
"de dias em dias", isto é, de ano em ano, ou anualmente (Ex 13:10). Falava-se de
um sacrifício anual como o "sacrifício dos dias" (1Sm 20:6). Ana levava as vestes
que ela havia feito para Samuel uma vez cada ano (literalmente, «de dias em dias",
1Sm 2:19). Ela as levava na mesma ocasião em que seu marido Elcana subia a Siló
para oferecer seu "sacrifício dos dias", isto é, seu "sacrifício anual" (1Sm 1:21).
Juízes 11:40 fala acerca da cerimônia de luto que era observada pela filha de
Jefté "de dias em dias", isto é, anualmente. Esta passagem é especialmente instru-
tiva sendo que também declara que o luto era observado por quatro dias cada
ano (sVmãh). Portanto, a equação entre "dias" (de dias em dias) e "ano" (ãnãh)
é feita diretamente através dos termos empregados neste verso. -
2. O termo "dias" era às vezes usado para especificar diretamente um período
de tempo equivalente a um ano. Por exemplo, é declarado (em termos literais) que
Davi e seus homens habitaram na terra dos filisteus "dias e quatro meses" (1Sm
27:7). É evidente que é pretendido um período de um ano e quatro meses, e esta
86 é a maneira como os tradutores da Bíblia têm geralmente lidado com esta frase.
Números 9:22 é parte de uma passagem que discute a peregrinação de Israel
no deserto. As tribos partiam somente quando a coluna de nuvem se erguia
do tabernáculo. De outra forma elas permaneciam acampadas «por dois dias
[forma dual em hebraico], ou um mês [singular], ou [dias]." A progressão lógica
de unidades de tempo descrita aqui deveria prosseguir de dias para um mês, de
um mês para um ano. De sorte que a segunda ocorrência da palavra para "dias"
neste verso (como de costume na forma plural) deve ser considerada como sig-
nificando um ano, que é a maneira como as versões geralmente a traduzem.
3. O termo "dias" é frequentemente usado em igualdade com os anos da
vida de um indivíduo Por exemplo, 1 Reis 11 declara que o "rei Davi era velho
e avançado em anos" [RSV] (literalmente, "nos dias").
É especialmente no livro de Gênesis que encontramos esta espécie de de-
claração de tempo em sua forma mais completa. Por exemplo, Jacó faz a seguinte
declaração a Faraó: "Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trin-
ta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos
dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações" (Gn 47:9).
Este tipo de pensamento parece encontrar suas raízes na genealogia de Gênesis
5. A fórmula que é repetida mais de dez vezes para os patriarcas antediluvianos ali
O princípio dia-ano (l a parte)
registrados é: "X viveu tantos anos e gerou a Y. E viveu X depois que gerou a Y tantos
anos e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de X tantos anos, e morreu:'
Uma importante relação entre dias e anos e profecia tem sido derivada do uso des-
tas duas unidades de tempo na terceira sentença da genealogia de Gênesis 5. Refer-
indo-se à impiedade dos antediluvianos, disse Deus: "O meu Espírito não agirá para
sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos" (Gn 6:3).
O tempo aqui mencionado transmite uma profecia acerca de um futuro
período de prova. Durante esse tempo, Noé deveria pregar e esforçar-se para
persuadir aquela geração pecaminosa a aceitar o divino oferecimento de mis-
ericórdia enquanto perdurava o tempo de provação. Portanto, já em Gênesis 6,
encontramos uma profecia acerca de uma quantidade de tempo futura nitida-
mente delimitada. E nesta primeira profecia de tempo da Escritura os termos
"dias" e "anos" estão ligados direta e simultaneamente.
Da breve pesquisa acima pode ser visto que a relação que veio a ser estabel-
ecida entre os termos para "dia" e "ano" forma o uso linguístico geral e modelo
de pensamento do qual uma posterior e mais especifica relação quantitativa bro-
taria nos textos proféticos. É evidente que o princípio dia-ano não surgiu subita-
mente em profecia sui generis. Quando ele apareceu no cenário de atividades, foi
extraído de uma relação mais geral que já era uma parte do pensamento hebraico. 87
O livro de RS provê vários exemplos em que "dias" e "anos" ocorrem como uma
dupla poética: São os teus dias como os dias do mortal ou são os teus anos como
os anos de um homem? (Jó 10:5). Todos os dias o perverso é atormentado no
curto número de anos que se reservam para o opressor (Jó 15:20). Dizia eu: Fa-
lem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria. (Jó 32:7). Se o ouvirem e o
servirem, acabarão seus dias em felicidade. E os seus anos em delícias (Jó 36:11).
Penso nos dias de outrora, trago à lembrança os anos de passados tempos (SI 77:5).
Pois todos os nossos dias se passam na tua ira. Acabam-se os nossos anos como um
breve pensamento. Os anos da nossa vida (RSV) [literalmente, "os dias de nossos
anos"] sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor
deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos (Si 90:9-10).
Esta lista de textos não é citada como um catálogo exaustivo de tais ocorrên-
cias; é meramente ilustrativa. O paralelismo apresentado nestes exemplos não em-
prega "dias" para se referir a curtos períodos de tempo e "anos" para longos perío-
dos. Os termos se referem aos mesmos períodos, mas são ajustados em unidades
mais curtas e mais longas. Esta é a mesma maneira de pensar que se encontra nas
profecias de tempo, mas ali a equivalência foi feita mais numericamente específica.
Em cada caso citado acima, "dias" é sempre a palavra A que ocorre primeiro,
e "anos" é sempre a palavra B que aparece na segunda posição. Estas palavras
88 provavelmente seguem esta ordem por causa da progressão lógica em pen-
samento de "dias" para "anos". Portanto, quando nos deparamos com a ocor-
rência da palavra "dias" nas profecias de tempo, um antigo semita cuja mente
estivesse impregnada desse tipo de pensamento paralelístico naturalmente teria
feito urna associação de "anos" com os "dias" encontrados em um contexto sim-
bólico, assim como ele naturalmente teria identificado "anos" como a palavra
B que seguiria a palavra A Vias" em sua ocorrência como parte de uma bem
conhecida dupla paralela.
A íntima e especial relação entre "dias" e "anos" que é encontrada na prosa e
na poesia do Antigo Testamento provê uma base para a aplicação mais especí-
fica desse tipo de pensamento nas profecias de tempo apocalípticas.
A declaração poética de Isaías 61:2 apresenta um exemplo incomum da or-
dem inversa dos elementos de tempo "dia" e "ano". O "ano aceitável do Senhor"
é seguido pelo "dia da vingança do nosso Deus? O conceito específico do qual
este uso da palavra "dia" deriva é o "dia do Senhor", uma expressão usada pelos
dos profetas para descrever um tempo final de julgamento para Israel ou Judá,
ou para nações ao redor do povo de Deus, ou para reinos e povos vistos na
profecia como surgindo no futuro. Assim, há um motivo teológico específico,
porque a ordem mais comum [dia-ano] tem sido aqui invertida. É a exceção
para este motivo, e não a regra.
O princípio dia-ano (l a parte)
LEVÍTICO 25:1-7
Este é o texto bíblico mais antigo em que o princípio dia-ano é refletido.
Nesta parte da legislação levítica, uma instituição que veio a ser designada como
o ano sabático foi estabelecida para a economia agrícola israelita. Por seis anos
o agricultor israelita era instruído a semear seus campos, podar seus vinhedos
e guardar a colheita em seus celeiros e armazéns. Mas no sétimo ano ele era in-
struído a deixar a terra em repouso ou inativa e as vinhas e pomares sem serem
podados. O que crescia por si mesmo poderia ser comido como alimento por
qualquer um - o estrangeiro, o pobre, o escravo, bem como pelo proprietário;
mas não devia ser colhido e armazenado.
O ano sabático era assinalado como o sétimo ou último ano em um pe-
ríodo de sete anos. A legislação foi introduzida com estas palavras: "Quando
entrardes na terra que vos dou, então, a terra guardará um sábado ao Senhor"
(v. 2). O "sábado" mencionado neste exemplo, porém, não era o sábado do
sétimo dia semanal, mas o "sábado" de cada sétimo ano. Uma tradução literal
da frase seria: "a terra sabatizará um sábado a Jeová".
Quando o mandamento é outra vez repetido no verso 4, ele é declarado de
uma maneira ligeiramente diferente o sétimo ano deveria ser "um sábado [...]
para a terra, um sábado ao Senhor". Foi também adicionado o comentário de que
ele deveria ser um "sábado de descanso solene (gabbat gabbãtôn)". Quando esta 89
última frase é repetida no verso 5, a palavra para "ano" ocorre na mesma posição
que a palavra para "sábado". Assim, as duas declarações mencionam o sétimo ano:
"haverá sábado de descanso solene para a terra" (v. 4)
"ano de descanso solene será para a terra" (v. 5)
LEVÍTICO 25:8
Embora esta seja uma passagem legislativa, o princípio dia-ano opera aqui
do mesmo modo que em Daniel: o uso de "dias" (estendendo-se para o futuro)
é para assinalar os "anos" do futuro.
A passagem tem a ver com instrução para a observância do ano do jubileu.
Uma tradução literal da cláusula de abertura de Levítico 25:8 diz: "Vós contareis
O princípio dia-ano (l a parte)
sete sábados de anos, sete vezes sete anos, e para vós os dias dos sete sábados de
anos serão quarenta e nove anos".
A explanação da primeira expressão numérica, conforme dada na segunda
frase da mesma cláusula, indica que um "sábado de anos" deve ser compreendi-
do como um período de sete anos. 0 sábado era o sétimo dia da semana. Nesta
passagem, o sétimo dia foi tomado para representar um sétimo ano. Como o
sétimo e último dia da semana, o sábado foi tomado aqui para representar o
sétimo ano de um período de sete anos. Assim, cada dia das "semanas" que ter-
minam com esses "sábados" no ciclo do jubileu representa um ano.
Que a terminologia do "sábado" tinha em vista representar "semanas"
é evidente da fraseologia paralela dada dois capítulos antes. Ali é feita
referência à festa das semanas ou pentecostes sendo celebrada depois de
sete "semanas inteiras", literalmente, "sete sábados, inteiros" (Liabbãtôt
temimõt, Lv 23:15). Sendo que se deve contar mais do que "dias" de sába-
do inteiros para se chegar ao quinquagésimo dia designado para a cel-
ebração de pentecostes, é evidente que "sábados" aqui significa "sema-
nas", do mesmo modo como é comumente traduzido nas várias versões
da Bíblia. Esta fraseologia paralela pertencente ao pentecostes indica que
os "sábados" mencionados em Levítico 25:8 com referência ao período do
jubileu deve também significar "semanas". 91
Assim, o dia de sábado e os seis dias que o precediam vieram a ser usados
como o modelo pelo qual a ocorrência do ano jubilar era calculada segundo
orientações divinas. Cada um desses dias-anos deveria se estender para o futuro
desde o início daqueles ciclos para marcar a vinda do ano do jubileu.
Na profecia, este uso do princípio dia-ano corresponde mais direta-
mente a Daniel 9:24-27. Uma palavra diferente (ãbei 'a) é usada nesta pro-
fecia, mas significa a mesma coisa que os "sábados" significam em Levítico
25:8, isto é, "semanas". A aplicação do princípio dia-ano aos períodos de
tempo de Daniel 9:24-27 é, portanto, especialmente evidente da construção
paralela da instrução levítica sobre o ano do jubileu. Poder-se-ia quase dizer
que o período de tempo envolvido em Daniel 9:24-27 foi amoldado seg-
undo a legislação do jubileu.
Sendo que é legítimo aplicar o princípio dia-ano aos dias das semanas de
Levítico 25 para calcular o tempo no futuro para o próximo jubileu, é também
legítimo aplicar este mesmo princípio dia-ano aos dias das semanas de Daniel
9 para calcular o tempo no futuro desde o início do seu ciclo. Por extensão, este
mesmo princípio pode ser também razoavelmente aplicado aos "dias" das out-
ras profecias de tempo de Daniel.
Estudos selecionados em interpretação profética
NÚMEROS 14:34
A terceira utilização bíblica específica do princípio dia-ano encontra-
se em Números 14:34. Aqui, o princípio é empregado de forma um pouco
diferente de Levítico 25.
Em Números 14, os "dias" usados para marcar os "anos" são derivados de even-
tos do passado histórico imediato: os 40 dias que os espias israelitas gastaram em
sua exploração de Canaã. O povo do acampamento aceitou o relatório negativo
dado pela maioria dos espias, contrário à intenção divina. Como consequência,
Deus os sentenciou a vaguear no deserto por 40 anos: "Segundo o número dos dias
em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis so-
bre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado".
Desse modo, a sorte da geração que deveria vaguear no deserto estava pre-
vista aqui na forma de um julgamento profético, um julgamento profético regu-
lado em função do princípio dia-ano.
Quando se chega à interpretação de um "dia por um ano" na profecia
apocalíptica, é evidente que o "dia" profético é usado para um "ano" históri-
co de um modo ligeiramente diferente do que é usado aqui. Neste exemplo,
um dia passado representa um ano futuro; na profecia apocalíptica um dia
futuro representa um ano futuro.
92 Isto não significa, porém, que estas duas operações são necessariamente
desvinculadas. Com duas espécies de profecias de tempo diferentes (clássicas/
apocalípticas), mas que mantêm relação, era de se esperar que alguns elementos
encontrados no primeiro tipo fossem transformados e usados no último tipo de
uma maneira um pouco diferente.
Isto não significa que o princípio dia-ano encontrado em ambos é de
origem independente. Significa simplesmente que foi adaptado e transformado
para seu uso específico na última espécie apocalíptica de profecia de tempo.
As duas classes de profecia de tempo podem ainda ser vistas como relaciona-
* das; a primeira (clássica) ainda confirma a natureza da última (apocalíptica).
A profecia apocalíptica não tem de usar os dias proféticos da profecia clássica
precisamente do mesmo modo como fez a profecia clássica; mas o uso posterior
da profecia apocalíptica de tais elementos de tempo é ainda extraído do modelo
básico provido pela profecia clássica.
Isto já é verdade da divergência entre a natureza da operação do princípio
dia-ano em Levítico e a maneira como ele é usado aqui em Números. É tam-
bém verdade quanto ao próximo caso discutido, o de Ezequiel 4:6, em que o
mesmo princípio foi aplicado de uma maneira ainda diferente de sua aplicação
em Números 14 e Levítico 25.
O princípio dia-ano (l a parte)
EZEQUIEL 4:6
Ezequiel 4 descreve uma parábola dramatizada com três pontos principais:
o significado da pantomima; o elemento de tempo profético envolvido; e o an-
tecedente histórico para o elemento de tempo.
O contexto deixa claro que o objetivo da parábola era representar o cerco e
conquista de Jerusalém e o exílio do seu povo Os 430 anos (390 -1- 40), dos quais
os 430 dias foram derivados para que o profeta se deitasse primeiro sobre um lado
e depois sobre o outro, parece se referir à condição progressivamente pecaminosa
da sociedade israelita sob a monarquia hebraica dividida. Os dias durante os quais
o profeta devia levar esses pecados correspondem ao tempo que Deus tomaria
para julgar o seu povo no templo conforme está descrito em Ezequiel 1, 9é 10. 93
Os elementos de tempo desta profecia autoriza comparação com aqueles en-
contrados em Números 14:34. Quando tal comparação é feita, surgem similari-
dades distintas entre as duas passagens. A seguinte é uma tradução um tanto literal.
Números 14:34 "Segundo o número dos dias [bemispar hayyãmfm] em
-
que vós espiastes a terra, quarenta dias [arbã 'Em yôm], dia por ano, dia por
ano [yôm laWinãh yôm larsãnãn], levareis vossa maldade [tdu (awônõtêken'd
quarenta anos ['arbã 'Em gitinãh]."
Ezequiel 4:6 "O número dos dias [rnispar hayyãmfm] tu te deitarás sobre
-
teu lado, e tu levarás sua maldade [tisTil rawônãn]. Eu tenho dado a vós os
anos da vossa maldade [.ienê ia wônõm] segundo um número de dias [lemispar
yãmEm], trezentos e noventa dias, e tu levarás a maldade da casa de Israel. [...I
e tu levarás a maldade [nãs'CI tã 'avvôm] da casa de Judá quarenta dias arbã 'Em
yôm], dia por ano, dia por ano [yôm laQãnãh yôm las'etWinãh] eu te tenho dado".
Vários aspectos da língua original nestas duas passagens se correspondem
diretamente. Tanto o ato de "levar" quanto a "maldade" levada são expressos
do mesmo modo. Ambos são introduzidos com a mesma frase que se refere ao
"número dos dias", e ambos expressam a ideia de "cada dia por um ano" com a
mesma frase reduplicada: "dia por ano, dia por ano".
Estudos setecionados em interpretação profética
Destas comparações pode se visto que o último destes dois textos (Ez 4) é 1
diretamente dependente do primeiro de Números de várias maneiras significa-
tivas. Portanto, o princípio dia-ano encontrado em Ezequiel 4-6 é, linguistica-
mente, o mesmo que aquele que se encontra em Números 14:34.
Ainda que o princípio envolvido nestas duas passagens seja o mesmo, há À
uma diferença significativa na maneira como o princípio tem sido aplicado
Os "dias" profeticamente futuros de Ezequiel são derivados de "anos" historica-
mente passados. Este é o inverso da situação em Números, onde os "anos" de
juízo seguem os "dias" de pecaminosidade. Em Números, portanto, temos a
aplicação de um dia por um ano, ao passo que em Ezequiel temos a situação de 1
um ano por um dia. Mas o princípio envolvido em ambos estes exemplos é o
mesmo, como se evidencia das precedentes comparações linguísticas entre eles.
Frquiel não diz "ano por did' quando Números diz "dia por ano': A última fra-
seologia ("dia por ano, dia por and') aparece em ambas as passagens, declarada do mes-
mo moda Não há diferença entre elas a este respeito, embora sua aplicação histórico-
cronológica se diferencie. Este fato demonstra a peculiaridade de que o mesmo princípio
dia-ano poderia ser empregado de diferentes maneiras em ocasiões diferentes.
Os "dias" simbólicos presentes na profecia apocalíptica se referem a eventos
que deveriam ocorrer no futuro a partir do tempo do profeta. Portanto, a apli-
94 cação do mesmo princípio dia-ano desses "dias" simbólicos pode simplesmente ser
vista como mais uma maneira em que este princípio poderia ser aplicada A com-
paração de Ezequiel com Números e de Números com Levítico já abriu esta pos-
sibilidade demonstrando as diferentes maneiras em que este princípio era usado.
SEMANAS DE DANIEL 9
Todos os comentaristas sobre Daniel concordam que os eventos profetizados
em Daniel 9:24-27 poderiam não ter sido concluídos dentro de 70 semanas literais
ou um ano e cinco meses. Sendo que este período de tempo profético representa
r j-nbolicamente um período mais longo do tempo histórico real, é importante de-
cidir precisamente como a extensão desse período mais longo deve ser determinada.
Decisiva aqui é a palavra íãbí,'t 'a, que ocorre seis vezes em suas formas sin-
gular e plural nestes quatro versos. Sendo que esta palavra provê os períodos
básicos da profecia, sua tradução desempenha um papel importante na maneira
pela qual o intérprete os deriva.
Duas abordagens importantes, mas significativamente diferentes, têm sido
seguidas em relação a este assunto. A primeira é traduzir a palavra como "sema-
nas" e derivar os períodos de tempo da profecia dos "dias" que as compõem. O
cálculo é feito com base no princípio dia-ano. Assim, cada dia dessas "semanas"
O princípio dia-ano (l a parte)
é visto como um dia profético que representa um ano histórico. Esta é a abord-
agem seguida pela escola historicista de pensamento.
A segunda abordagem é traduzir esta palavra como "setes, setenados,
héptadas, hebdômadas" ou semelhantes. Desta espécie de tradução puramente
numérica é então mantido que S'ãln2 'a leva consigo "anos" diretamente implíci-
to, isto é, ela é levada a significar "setes (de anos)", tempo literal e não-simbólico.
Desse modo, o passo interveniente por meio do qual aqueles "anos" teriam sido
derivados dos "dias" das "semanas" proféticas é evitado pelo intérprete. Esta é a
abordagem seguida pelas escolas de pensamento preterista e futurista.
Um motivo para esta abordagem na tradução é separar a profecia das 70
semanas de Daniel 9 das outras profecias de tempo do livro e colocá-la em uma
classe distinta por si mesma. O efeito disto é tornar fracas as implicações do
princípio dia-ano defendido pelo sistema historicista de interpretação.
Se é assim negado ao princípio dia-ano sua função na interpretação de Dan-
iel 9:24-27, então preteristas e futuristas igualmente estão na liberdade de negar
sua aplicação às outras profecias de tempo. Por outro lado, se é válido aplicar
o princípio dia-ano aos "dias" das semanas em Daniel 9, então é lógico aplicar
o mesmo princípio aos "dias" das profecias de tempo encontradas em outros
lugares em Daniel bem como aos escritos apocalípticos do Apocalipse.
Assim, uma maneira preeminente pela qual se tenta evitar a ênfase desta con-
clusão lógica tem sido traduzir JãLzCt 'a como "setes" em vez de "semanas". Portan-
to, em qualquer discussão do princípio dia-ano das profecias de tempo de Daniel
é importante um exemplo da maneira como esta palavra deve ser traduzida.
A palavra hebraica para "semana", g'ãbtt 'a, foi derivada da palavra para "sete",
§eba. Contudo, esta foi derivada como um termo especializado a ser aplicado
somente à unidade de tempo que consiste de sete dias, isto é, a "semana". Uma
vocalização diferente foi utilizada para esta especialização. Esta diferença é evi-
dente mesmo em textos hebraicos não acentuados (consoantes hebraicas es-
critas sem vogais) sendo que a letra hebraica wãw era consistentemente escrita
como a letra vogal "u" nesta palavra específica (compare Dn 9:27).
Esta ortografia é consistente na Bíblia bem como em todos os seis dos
textos de Qumran em que apareceu esta palavra. Portanto, dar a esta palavra
apenas um valor numérico em Daniel 9 confunde sua origem etimológica
com sua derivada forma e função.
A desinência plural masculina desta palavra em Daniel 9, em contraste com
sua desinência plural feminina em outro lugar no Antigo Testamento, é signifi-
cativa somente ressaltando que é um dos muitos substantivos hebraicos com
gênero dual (MICHEL, 1977, p. 34-39; BEN-ASHER, 1978, p. 9).
Estudos selecionados em interpretação profética
Sendo que esses eventos não poderiam ter sido realizados em 70 semanas
literais, é evidente que esse último período de tempo deveria ser compreendido
simbolicamente. A semana de sete dias proveu o modelo sobre o qual as uni-
dades simbólicas desse período de tempo foram baseadas. Assim, encontramos
dois períodos de tempo proféticos nesta narrativa de Daniel 9 - os 70 anos no
seu início e as 70 semanas no seu final; um é literal, o outro simbólico. Qual é a
relação entre estes dois períodos de tempo?
Uma relação entre eles pode ser vista no fato de que ambos são de natureza
profética, e o último é dado em resposta à oração acerca do primeiro.
Uma relação entre eles pode também ser sugerida à base de sua localização em
posições semelhantes na estrutura literária da narrativa. Essa estrutura pode ser de-
lineada como A:B:C: em que A e A representam os versos introdutórios 1 e
20-23; B e B' representam os 70 anos e as 70 semanas; e C e C' representam respecti-
vamente o restante da oração de Daniel e o restante da profecia de Gabriel.
O fato de que a profecia dos versos 24 a 27 começa com um elemento de
tempo (70 semanas) em vez de terminar com ele (corno é mais comum nas
outras profecias de Daniel; compare 7:25; 8:14; 12:7, 11-12), tem o efeito de
aproximar o período das 70 semanas com o que o precede, isto é, a oração de
Daniel e o período de 70 anos que ele menciona como motivando sua oração.
98 Outra maneira pela qual estes dois períodos de tempo estão ligados é por
meio do seu uso comum do número 70. Isto não é uma escolha de números
ao acaso. O último foi modelado diretamente conforme o primeiro. O último
período de tempo (as 70 semanas) é simbólico. O primeiro (o período de 70
anos) é literal. Portanto, quando uma unidade de tempo literal é procurada
para interpretar os "dias" simbólicos das «semanas", a relação direta entre estes
dois períodos de tempo sugere que "anos" do primeiro podem ser seleciona-
dos para servir a esta função.
Estas duas profecias de tempo também estão relacionadas pelo fato de que
ambas são múltiplos de sete. Quando as 70 semanas são multiplicadas por suas
unidades individuais, descobre-se que elas contêm sete vezes mais unidades
simbólicas do que as unidades literais dos 70 anos (70 anos: 490 dias-anos).
Além disso, quando as unidades simbólicas das 70 semanas são inter-
pretadas de acordo com as unidades literais dos 70 anos, é produzida uma
relação que é semelhante à relação entre o período do jubileu e o período do
ano sabático (Lv 25:1-9). Pode ser lembrado (compare Lv 25:1-7 acima) que
os anos do jubileu eram também contados em termos de "semanas" na legis-
lação dada sobre eles em Levítico 25:8. A relação entre Levítico 25 e Daniel
9 pode ser esquematizada como segue:
O princípio dia-ano (l a parte)
Estas relações são fortalecidas pelas analogias externas entre a dupla 70 anos
e as 70 semanas de Daniel 9 e a dupla ano sabático e jubileu de Levítico 25:
1. Numéricas. Precisamente como o período de 70 semanas ou 490 dias-
anos é sete vezes maior do que o período de 70 anos (490:70), assim é o período
do jubileu sete vezes maior do que o período do ano sabático (49:7).
2. Terminologia. A terminologia do ano sabático é aplicada ao perío-
do de 70 anos (Lv 25:1-7; 2Cr 36:21; Dn 9:2). Sendo que a terra "repousava"
um sábado cada sete anos, é evidente que o período de 70 anos de cativeiro
continha dez anos sabáticos. De maneira semelhante, a terminologia do
jubileu está ligada às 70 semanas, porque um período de jubileu era tam-
bém medido em termos de "semanas" ("sete semanas [sábados] de anos",
ou 49 anos). Portanto, as 70 semanas, ou, literalmente, os 490 anos, con-
tinham dez jubileus.
3. Qumran. Na medida em que o escritor bíblico (2er 36:21) via os 70 anos
de cativeiro como um período de dez anos sabáticos em que a terra guardava
o sábado, assim pode-se concluir que o período de 70 semanas ou 490 anos
deveria ser visto como um período de dez jubileus. Sendo que os escritores de
Qunram do primeiro século a.C. interpretavam as 70 semanas como dez jubi-
leus, é evidente que eles conscientemente empregavam o princípio dia-ano. É
100 também evidente que eles viam um vínculo definido entre as duplas de tempo
de Daniel 9 e Levítico 25.
4.Cronologia. As 70 semanas de Daniel 9 estão também relacionadas com
os anos sabáticos de Levítico 25 por meio do seu cumprimento histórico nos
conhecidos anos sabáticos pós-exílicos de 457 a.C., 27 e 34 d.C.
base destas relações internas e externas, é razoável interpretar o pe-
ríodo das 70 semanas pelas aferições providas pela profecia dos 70 anos que
iniciou o capítulo de Daniel 9 e pelo período do jubileu. Ele estava ligado
a ambos, e ambos indicam que o período deve ser interpretado simbolica-
mente representando anos literais.
tem duas visões: uma visão acerca do carneiro, do bode e dos quatro chifres, e
outra visão a respeito do chifre pequeno. Sendõ que não aparece no meio da
descrição desta visão nenhuma demarcação para apoiar tal divisão, e sendo que
a visão é descrita em forma contínua dos versos 3 a 12, não há nenhuma base
no texto para se fazer tão arbitrária divisão.
3. O uso da palavra "visão" (hãzôn) em outras partes de Daniel 8 apoia a
ideia de que esta ocorrência no verso 17 se refere a toda a visão dos versos 3-12.
Esta palavra ocorre três vezes na introdução desta visão nos versos 1-2. É óbvio,
em todos os três exemplos, que ela se refere a toda a visão que foi vista desde
então. Esta palavra ocorre em seguida no verso 13, e em conjunção com as três
ocorrências iniciais, sua localização ali forma um inclusio em torno do corpo
da própria visão. O profeta então reagiu às cenas que haviam passado diante
dele declarando: "Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la" (v. 15).
Toda a visão parece estar em vista aqui sendo que, em resposta à busca de com-
preensão por Daniel, a explanação de Gabriel começou com o carneiro persa (v.
20). Em suas outras referências à compreensão da visão (v. 17) e ao ato de selá-la
(v. 26) Gabriel também parece referir-se a toda a visão dos versos 3-12.
zEste ponto é ainda enfatizado pelo uso do artigo com hãzôn na pergunta '
(a visão). O artigo é também prefixado nas últimas três ocorrências da palavra
102 neste capítulo, nos versos 15, 17 e 26, e tem sido assinalado com preposições no
verso 2. É "a" (toda) visão que está em vista aqui, não apenas parte desta visão.
Em outro lugar eu discuti o uso de maleh, outra palavra também traduzida
por. "visão" em Daniel 8:16,26, 27 (SHEA, 1981, p. 235-239; 2010, p. 72-74).
Minha conclusão daquela discussão é que a palavra marjeh significava algo
como "aparência", isto é, a aparência do anjo mensageiro, ou a aparência e con-
versação dos santos personagens; enquanto que hãzôn é usada particularmente
para a visão simbólica que o profeta viu. Esta distinção é especialmente impor-
tante para se estabelecer o vínculo entre as profecias de Daniel 8, 9 sobre a base
do uso de mãrjeh em Daniel 9:23.
Qualquer que seja o tom de significado da palavra int.'," eh, ele não afeta ma-
terialmente a interpretação de hãzôn em Daniel 8, onde este termo é aplicado a
tudo o que o profeta viu conforme descrito nos versos 3-12.
4. Este uso da palavra para visão pode também ser comparado com sua
utilização fora de Daniel 8. Em duas passagens das seções hebraicas de Dan-
iel ela ocorre como um coletivo amplamente inclusivo para as experiências
proféticas: uma vez no próprio caso de Daniel (1:17), e uma vez no caso dos
profetas posteriores (9:24). Em três outros exemplos ela se refere às visões pre-
viamente vistas por Daniel: a ocorrência em 9:21 se refere à visão do capítulo 7,
O princípio dia-ano ela parte)
mão, ou pela pedra cortada das montanhas sem mão, no reino de Cristo,
Daniel 8, 14, 25. Aqueles 2.300 não são o medidor do sacrifício diário ti-
rado, mas de toda a visão, da Monarquia persa, passando pela grega, até o
fim da monarquia anticristã romana, e o reino de Cristo (BEVERLEY apud
FROOM, 1948, v. 2, p. 583).
meramente: "Até quando o santuário será pisado a pés?", mas "quanto du-
rará esta visão que culmina na terrível obra do chifre pequeno?" A visão
realmente começa com a Medo-Pérsia, e, assim, esperaríamos que o perí-
odo dos 2.300 dias devesse igualmente começar nos dias daquele império
(FORD, 1978, p. 188).
Os 2.300 dias de Daniel 8:14 podem assim ser citados juntamente com as
70 semanas de Daniel 9:24-27 como um período de tempo que transpõe reinos
(compare "períodos de tempo que transpõem reinos" acima, página 74). A fim
de estender isto a longa distância no tempo, seus "dias" teriam de ser interpre-
tados como simbólicos em vez de literais.
Contudo, a aplicação do princípio dia-ano a este período de tempo pode ser
104 elucidada ainda mais especificamente quando esses 2.300 dias são comparados
com as referências a "anos" em Daniel 11:6, 8 e 13.
Praticamente todos os comentaristas sobre Daniel concordam que a descrição
literal de eventos históricos em Daniel 11 provê uma interpretação das figuras sim-
bólicas e eventos descritos em Daniel 8. Os "anos" de 11:6 pertencem a Antíoco II;
os anos de 11:13 pertencem a Antíoco III; e os "anos" de 11:8 pertencem a Ptolomeu
III. Esses reis dominaram a Síria e o Egito respectivamente no período que se seguiu
à dissolução do império de Alexandre representado pelos quatro chifres sobre a
cabeça do bode grego em 8:8.
A conclusão para a discussão precedente da palavra "visão" em 8:13 in-
dica que o abrangente período de 2.300 "tardes e manhãs" ou "dias" em 8:14
abarcou o período ao longo do qual os reis selêucidas e ptolomeus reinaram.
Portanto, o que foi descrito nas unidades de tempo simbólicas de 8:14 tem
sido explicado nas literais unidades de tempo histórico de 11; 6, 8 e 13. A in-
terpretação e explicação das últimas proveem os "anos" com que interpretar
os "dias" das primeiras.
Esta relação entre Daniel 8 e l 1, que aqui provê o princípio dia-ano e, por
extensão, às outras profecias de tempo de Daniel, pode ser esquematizada
como na página seguinte:
O princípio dia-ano (la parte)
DANIEL 8
FIGURAS SIMBÓLICAS AÇÕES SIMBÓLICAS TEMPO SIMBÓLICO
Carneiro, bode, chifres Lançou por terra as Tardes e manhãs
estrelas e as pisou
RESUMO
Neste estudo foram revistas vinte e três razões bíblicas validando a apli-
cação do princípio dia-ano para os períodos de tempo das profecias apocalíp-
ticas de Daniel e Apocalipse. Estas linhas de evidência foram divididas em três
O princípio dia-ano (P parte)
REFERÊNCIAS
ANDREASEN, N. A. lhe Old Testament Sabbaths. Missoula: Society of Biblical Literature, 1972.
(Dissertation Series, 7).
SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9. In:
WALLENKAMPF, A. V.; LESHER, R. The sanctuary and Lhe atonement. Silver Springs:
Biblical Research Institute, 1981.
• WACHOLDER, B. Z. lhe calendar of sabbatical cycles during the second temple and earlyrabbinic
110 period. Hebrew Union College Animal, v. 44, 1973.
4
O PRINCÍPIO DIA-ANO
(2 PARTE)
Esboço do capítulo
1. Introdução
2. Sinopse
3. Literatura judaico-helenística
4. Literatura de Qumran
5. Resumo
6. Intérpretes pós-Qumrán
INTRODUÇÃO
Tendo olhado para a evidência
bíblica em busca da aplicação do princí-
pio dia-ano para a interpretação dos pe-
ríodos de tempo das profecias apocalíp-
ticas da Bíblia, agora nos volvemos para
a indagação sobre quando e onde este
princípio veio a ser aplicado na história
da interpretação profética. A discussão
seguinte investiga o mais antigo con-
junto de literatura que se relaciona com
esta matéria, a saber, os escritos judai-
cos do período intertestamental.
Os intérpretes judeus foram os
primeiros e os principais na aplicação
do princípio dia-ano às profecias. O
devido crédito deve ser dado a eles ao
examinarmos a história de sua inter-
pretação. Os intérpretes cristãos, é claro,
também têm seguido esse exemplo em
sua interpretação deste princípio.
Estudos selecionados em interpretação profética
SINOPSE
950 anos
O princípio dia-ano (2a parte)
TESTAMENTO DE LEVI
O Testamento de Levi é uma seção da obra intertestamental pseudepigráfica
conhecida como o Testamento dos doze patriarcas.
Um exame desse documento revela que seu sistema cronológico é com-
posto de um abrangente período de tempo de 70 semanas que "Levi" prediz
que será um tempo de impiedade sacerdotal. É evidente que o autor pretendia
dividir esse período em 10 jubileus (embora no documento ele discuta eventos
somente até o final do sétimo jubileu). O sétimo jubileu é subdividido em sema-
nas (com ênfase na quinta e sétima).
Sendo que os jubileus podem se referir apenas a um período de anos, é evi-
dente que as "semanas" do período de 70 semanas, e da quinta e sétima semanas
do sétimo jubileu eram aceitas como compostas de dia-anos. Assim, é evidente
que o autor empregou o princípio dia-ano quando compôs sua cronologia.
LITERATURA DE QUMRAN
4Q 384-390 PSEUDO-EZEQUIEL
Nesse documento encontramos evidência para 10 jubileus, ou 490 anos.
Embora os jubileus de 490 anos muito provavelmente devessem ser de-
compostos em seus componentes menores, não há nenhuma evidência da
parte sobrevivente desse texto de que fossem. Por outro lado, um jubileu
delimita um período apenas de anos. De sorte que podemos seguramente
inferir que onde quer que os jubileus sejam mencionados, suas semanas
deveriam ser divididas em sete anos individuais, quer isto seja explicita-
114 mente declarado ou não.
Como o documento 110 Q Melquisedeque, esse documento fragmen-
tário não-publicado deriva seus elementos fundamentais das 70 semanas de
Daniel, mas apresenta-as em uma forma reorganizada. Nas poucas linhas
publicadas é notável observar a graduação específica de "uma semana de
anos". Esta espécie de identificação é deixada não especificada na profecia.
canônica de Daniel 9:24-27.
RESUMO
Resumindo, o princípio dia-ano pode ser visto em operação nesses anti-
gos escritos judaicos brevemente pesquisados'. Quatro dos textos discutem um
período de tempo profético da mesma extensão, quer dado em termos de 70
semanas ou como 10 jubileus. Muito provavelmente os autores desses docu-
mentos puseram a data para o início deste período profético em torno do final
do sexto século a.C. Desse modo os 490 anos, ou aproximadamente cinco sécu-
los que essas 70 semanas/10 jubileus cobririam, estender-se-iam até por volta
do final do primeiro século a.C. Esses documentos reforçam assim a ideia geral
de que o período de tempo entre o final do primeiro século a.C. e o início do
primeiro século d.C. foi, de fato, um tempo em que o Messias era esperado. A
evidência para o uso do princípio dia-ano nesses documentos judaicos deriva-
se da maneira como os escritores usam a palavra "semanas". A origem bíblica
desta prática (que esses escritores posteriores têm seguido) pode ser remontada
a Daniel 9:24-27, porque aqui a mesma palavra é usada do mesmo modo.
INTÉRPRETES PÓS-QUMRAN
115
jOSEFO
Josefo (Antiguidades judaicas. X. 275.276) aplicou o "chifre pequeno" de Daniel
8 a Antíoco Epifânio. Ele considerava o elemento tempo da profecia como tempo lit-
eral, declarando serem 1.296 dias (Josefo, Antiguidades judicas.X.271). Este número
é evidentemente uma forma distorcida dos 1290 dias designados em Daniel 12:11
para "a abominação da desolação" que ele substituiu pelas 2.300 tardes e manhãs
(ou dias) originalmente na passagem de Daniel 8:14. Os 1 296 dias são aproximados
aos três anos literais em que o ritual do templo foi interrompido por Antíoco.
O uso aqui dos 1.290 dias por Josefo é evidência indireta, incidentalmente,
para o fato de que ele provavelmente compreendia as 2.300 tardes e manhãs como
mais longas, não mais curtas que os 1.290 dias. Isto é, ele evidentemente com-
preendia que elas não deveriam ser divididas pelo meio para formar 1.150 dias,
um procedimento que teria se ajustado melhor à sua interpretação se ele a tivesse
aceitado como a unidade de tempo envolvida.Embora não esteja inteiramente
claro, parece que Josefo (Antiguidades judaicas. X. 276) compreendia Daniel 9:24-
27 como contendo uma referência aos romanos e sua destruição de Jerusalém e
do templo por eles. Se é assim, tal opinião exigiria que ele interpretasse as 70 se-
manas como simbólicas. Assim, a evidência para o seu uso de algo como o princí-
pio dia-ano é indireta e poderia ser proposta apenas para esta passagem específica.
Estudos selecionados em interpretação profética
42 ESDRAS
Esse apocalipse pseudepigráfico de cerca de 100 d.C. faz uso da palavra para
"semana" como uma "semana de anos" à base do princípio dia-ano em duas pas-
sagens. A mais interessante se refere a um julgamento de sete anos de duração
que precederia o reino messiânico. "E sua duração será, por assim dizer, uma
semana de anos. Tal é o meu juízo e sua ordem prescrita" (4° Esdras 7:43).
Esse apocalipse emprega a palavra para "semana" como representando (por
116
meio dos sete dias da semana) um período de sete anos. Aqui, o princípio dia-
ano torna-se explícito, sendo que a "semana" é identificada como "de anos".
ASCENSÃO DE MOISÉS
Nesse documento, possivelmente do primeiro século d.C., é mencionado
um elemento de tempo que sugere que ele deve ser interpretado simbolica-
mente, ao invés de em sentido literal. Moisés é citado como afirmando: "Desde
minha morte e ascensão até o advento de Deus haverá 250 tempos:' Segundo
Charles, esses "tempos" provavelmente devem ser compreendidos como sema-
nas-anos. Assim, 250 tempos seriam iguais a 1 750 anos (250 x 7), que deveriam
se passar entre os dois eventos mencionados. De sorte que, se a morte de Moisés
fosse datada em torno da metade do segundo milênio a.C., o período de tempo
terminaria então no início da Era Cristã.
5
JUÍZO EM DANIEL 7
INTRODUÇÃO:
. LITERATURA RECENTE
Recentemente, importantes
contribuições de dois eruditos ad-
ventistas do sétimo dia auxiliam a
compreensão de Daniel 7. . Arthur
Ferch (1979) 1 estuda a identidade
do Filho do Homem (em Daniel
7:13) e Gerhard Hasel considera a
identidade dos santos do Altíssimo
(em Daniel 7:18, 21-22) 25, 27; ver
HESEL, 1975, p. 176-185).
118
ESTRUTURA LITERÁRIA
CONTEXTOS DO CAPÍTULO
Este estudo de Daniel 7 se concentrará na visão do juízo conforme foi
vista ocorrendo na corte celestial. A profecia foi dada a Daniel algum tem-
po durante o primeiro ano da corregência de Belsazar, cerca de 550 a.C. Em
contraste com os sonhos de Nabucodonosor dos capítulos 2 e 4, a visão do
capítulo 7 foi dada somente a Daniel. Ela é a visão principal da última parte
de seu ministério. As visões e profecias subsequentes são em muitos sentidos
elaborações sobre essa visão principal.
Daniel viu os "quatro ventos do céu" soprando sobre o grande mar e ag-
itando-o (v 2). Dessa comoção saíram quatro animais sucessivos simbolizando
reinos: um leão, um urso, um leopardo e um animal aterrorizante que era mais
difícil de descrever, porque não se assemelhava aos animais precedentes nem a
outros conhecidos no mundo natural (v. 3-7).
2Para unaaliteratura relevante disponível de eruditos não adventistas o leitor é remetido à biblio-
grafia de 30 páginas que acompanha a tese de Arthur Ferch (1979).
Juízo em Daniel 7
ESTRUTURA DA VISÃO
Desta descrição dos conteúdos do capítulo pode ser visto que o relato
da visão, a experiência do profeta ao vê-la, e a interpretação a ele dada seg-
ue um esquema relativamente direto. Além disso, esse relato parece ter sido
dado através do veículo literário específico de um quiasmo ou palístrofe,
como esboçou Ferch recentemente em sua tese. Esse esquema é aqui em-
prestado com algumas das minhas próprias alterações em sua terminologia
(HASEL, 1975, p. 136-137).
III. Visão final do reino celestial: o reino dado ao Filho do Homem (vs. 13-14).
ESTRUTURA DO CAPÍTULO
Agora, esta passagem da visão pode ser posta em um contexto mais amplo
de todo o capítulo, inclusive a reação do profeta à visão e à sua interpretação
pelo anjo Para esta finalidade, o esquema do capítulo de Ferch foi adaptado
com pequenas alterações na terminologia (HASEL, 1975, p. 142).
Não apenas foi a própria visão descrita na forma de uma palístrofe, mas
a narrativa deste capítulo como um todo apresenta-se descrita de um modo
semelhante. A primeira breve declaração da interpretação dada pelo anjo
ocorre no centro desta narrativa, descrevendo a essência da profecia desde
o primeiro animal-reino até o reino final dos santos. A esta altura de nosso
estudo, esses aspectos da estrutura literária são apenas de• interesse estético e
servem corno um artifício para guardar facilmente na memória os conteúdos
desta profecia. Contudo, eles serão vistos como exegeticamente significativos
para estabelecer a localização cronológica das cenas do juízo.
DANIEL 7:9-10
relações poéticas do quiasmo indica que a hoste angélica do verso 10b é descrita
no verso 10c como se assentando sobre eles. Isto explica por que um substantivo e
verbo no singular foram usados no verso 10c — «assentou-se o tribunal". Por que
Daniel não disse que aqueles que assistiam ao juízo se assentaram? A resposta é
que isto exigiria sujeito e verbo no plural, o que destruiria a correspondência da
frase ("o tribunal se assentou") com a expressão anterior («o Ancião de dias se
assentou"). Assim o mesmo verbo, yetib (assentar-se), é usado no verso 9a para
Deus e no verso 10c para a hoste angélica que se assentou com Ele no juízo.
Esta direta relação verbal é ainda mais enfatizada pelos verbos usados junta-
mente com yetib (assentar-se) nestes dois dísticos. Ambos são verbos perfeitos pas-
sivos e plurais. Desse modo, o verso 9 diz que tronos "foram dispostos, colocados,
postos" (remh2); e o verso 10 declara que livros "foram abertos" (petihil). Assim, a
relação destas duas séries de verbos nos versos 9a e 10c em suarespectiva sequência é:
v. 9: Um verbo na forma perfeita, passiva, plural ("foram postos"):yetib (assentar-se).
v 10: Yetib (assentar-se): um verbo na forma perfeita, passiva, plural ("foram abertos").
»-
Deste modo, estas duas séries [estrutura literária que consiste na colocação
da mesma palavra ou frase no começo e no fim da seção] em torno desta estrofe
unem a seção Este efeito de ligação é ainda mais enfatizado pelo fato de que 123
ambos os dísticos estão escritos em paralelismo sintético, em contraste com o
paralelismo sinônimo dos outros pares de linhas, e pelo fato de que eles são os
únicos dísticos nesta estrofe a empregar verbos no perfeito (veja o gráfico acima
dando a tradução, metro e formas verbais).
B + W. Em princípio, os pensamentos expressos nos versos 9b e 10l; po-
dem parecer não estar diretamente relacionados. Num exame mais minucioso,
porém, percebe-se que o primeiro se refere à pessoa de Deus O segundo, às
pessoas dos anjos que estão reunidos diante dela Portanto, há uma relação de
pessoas unidas nestes dois dísticos correspondentes
O uso dos pronomes sufixados enfatiza esta relação. No verso 9b, o pro-
nome "seu" é sufixado sobre os substantivos («sua veste", "sua cabeça") no início
das duas linhas Já no verso 10b, o pronome "dele" é sufixado sobre os verbos ("o
serviam", «estavam diante dele") nas extremidades das duas linhas, o que provê
um perfeito equilíbrio poético entre «seu" e "dele".
Esses dois pares de linhas também estão equilibrados, na medida em que se
apresentam no mesmo metro 3:4. O uso desse metro específico emparelhado
nos dois dísticos exigiu a alteração da expressão gramatical normal Por ex-
emplo, no verso 9b o profeta-poeta fala dos "cabelos de sua cabeça" em vez da
Estudos selecionados em interpretação profética
• simples expressão "seu cabelo". Na segunda linha do verso 10b, ele insere uma
preposição ("diante") à qual ele sufixou o pronome ("dele"), em vez de simples-
mente sufixá-lo ao verbo como havia feito na primeira linha do verso 10b.
O paralelismo sinônimo empregado nestes dois dísticos é também direto e
completo em ambos os casos. Outra semelhança pode ser notada em sua simi-
lar ordem de sequência. Por exemplo, no verso 9b ambas as linhas consistem
de um substantivo ("veste") ou frase substantiva ("cabelos de sua cabeça") que
está ligada ao seu predicado nominativo ("branco", "pura") por meio de uma
preposição comparativa ("como") em um modelo de A:B: :A:B em termos de
forma poética No verso 10b, cada uma das declarações numéricas ("milhares
de milhares", "miríades de miríades") de ambas as linhas são seguidas por suas
declarações verbais ("serviam", "estavam") no mesmo modelo de A:B: :A:B.
Estas paralelas .e avançadas declarações numerológicas do verso 10b ("mil-
hares de milhares" para "miríades de miríades") são interessantes em vista do
uso desta técnica poética em outros lugares na Bíblia Hebraica e ji toesia cana-
neia. Por exemplo, a descrição da hoste angélica no verso 10b procede de uma
declaração numérica menor sobre eles para uma que é maior e mais abrangente.
A Bíblia Hebraica usa vários pares poéticos numéricos semelhantes:
124 1. A sequência 1/2 — Jó 33:14; 5162:11
2. A sequência 3/4 — Pv 30; Am 1-2
3. A sequência 6/7 -- Pv 6:16; Já 5:19
4. A sequência 7/8 — Mq 5:5; Ec 11:2
5. A sequência 60/80 — Ct 6:8
S. A sequência 70/80 — Si 90:10
7. A sequência 1.000/10.000 — 1Sm 187; S191:7
Exemplos na literatura ca_naneia do uso deste tipo de técnica poética são vis-
tos na "Lenda do Rei Keret", cujas partes foram juntados de uma série de textos
encontrados no século 13 aC., em Ugarit, costa da Síria O conto do rei Keret
inclui o uso de sequências de 2/3, 3/4, 5/6, 7/8 e 70/80 (PRITCHARD, 1950,
p. 143-148). É evidente que esta espécie de expressão era uma antiga maneira
poética de expressar inteireza Portanto, o par numérico final de Daniel 7:10
compreende vasta assembleia nesse tribunal de justiça celestial. Contudo, esta
espécie de comparação não descreve adequadamente em termos humanos a
vasta extensão numérica da multidão reunida
C + Os dois dísticos centrais desta estrofe, verso 9c e verso 10a, desen-
volvem o mesmo tema — a glória que circunda o trono de Deus. A expressão
Juízo em Daniel 7
dessa glória é transmitida por meio do uso da palavra "fogo" (Sr), que ocorre
em três das quatro linhas individuais ("chamas de fogo", "fogo ardente", "rio de
fogo"). Além disso, fogo (ou glória) é obviamente o sujeito do verbo na segunda
linha do verso 10a ("e [fogo] saía de diante dele").
Um pequeno problema de tradução ocorre na interpretação do sufixo pronom-
inal masculino ligado à preposição "diante" na segunda linha do verso 10a. O an-
tecedente deste sufixo pronominal•é•"Deus" ou o seu "trono"? Sendo que estes dois
dísticos são paralelos um ao outro, e que o sujeito é claramente identificado como
o trono de Deus no verso 9c, a estrutura literária sugere que o pronome no final do
verso 10a deve ser traduzido [nas versões inglesas] por "isso [Ui" ("saía de diante
disso"), referindo-se ao trono, em vez de "saía de diante dele [before Hini]", como o
tem vertido várias traduções inglesas [observação: em inglês, os pronomes Mm e her
são usados para pessoas, enquanto it é usado de forma neutra para objetos].
Quando Deus é descrito no início desta estrofe corno assentado, não é pre-
cisamente declarado o lugar onde Ele estava assentada A implicação da primei-
ra linha do verso 9 é a de que Ele estava assentado sobre um trono. Mas, como
foi visto acima, a referência a "tronos" parece designar os assentos que os anjos
deveriam ocupar quando se assentassem com Ele em juízo. O próprio trono
pessoal de Deus é identificado e descrito mais especificamente no centro desta
estrofe, no par constituído pelos versos 9c e 10a. 125
É importante notar que esta descrição realça a ideia de movimento sobre
o cenário de atividade. Precisamente como as chamas de fogo são ativas em
vez de estáticas, assim, o seu uso para descrever o trono de Deus apresenta um
quadro vibrante e dinâmico dessa característica. As rodas de seu trono-carru-
agem são descritas como um "fogo ardente". A dedução é que foi por meio de
alguma espécie de locomoção relacionada com essas rodas que, assentado sobre
seu trono,. Deus entrou na câmara de audiência quando se encontrou com sua
hoste angélica. Aqui, pode-se traçar facilmente uma comparação com o trono-
carruagem de Deus descrito detalhadamente em Ezequiel 1. O movimento do
trono-carruagem também conduzia a divindade ao seu templo para juízo.
O paralelismo no dístico do verso 9c é sinônimo e completo, uma vez que
ambas as suas linhas consistem de sujeitos nominais ("tronos", "rodas") seguidos
por predicados nominativos ("chamas", "fogo"). Uma preposição comparativa
("como") poderia ser entendida no dístico precedente ("como neve", "como lã").
Note que este dístico, como o precedente, é uma declaração existencial
(um estado do ser). Assim, este par de dísticos que conduz ao centro do po-
ema tem o mesmo tipo de estrutura verbal (existencial). Os dísticos seguintes
— posteriores ao centro do poema — contêm pares de particípios e verbos na
Estudos selecionados em interpretação profética
a estrofe subsequente em que está escrita com o artigo (v.13 [RSV]). O fato
poderia ser citado como um exemplo ilustrativo de que a presença ou ausência
do artigo não é de grande significado. Entretanto, nesta fraseologia específica,
pode ser que o artigo seja usado no segundo exemplo por um motivo especial
(veja a discussão seguinte sobre os versos 13-14). Se o nan (a letra hebraica
correspondente ao inglês "n") de attiq, a palavra usada aqui para "ancião", não
tivesse sido assimilada, seria mais facilmente reconhecida como a palavra adap-
tada que veio para o inglês como antique [antigo].
O tipo existencial de declarações verbais ("eraTeram") nos versos 9b e
9c está equilibrado pelos pares de particípios ("precedido"/"saído" [RSV]) e
os imperfeitos ("serviam"/"estavam") usados no verso 10a e 10b. Os imper-
feitos do verso 10b são de interesse, especialmente o segundo ("estavam").
O verbo vem da raiz qúrn comumente significa "surgir, despertar, levantar-
se". O verbo hebraico mais comum usado para expressar a simples noção de 127
levantar-se é 7-anad. Em contraste, porém, o significado fundamental de qúni
poderia indicar a ideia de."surgir".
Neste contexto, talvez a ênfase não esteja tanto sobre as hostes que estão
diante de Deus quanto sobre seu levantamento para demonstrar sua honra e
respeito por Ele ao chegar em seu trono-carruagem.
Não importa se alguém traduz este verbo como "estar" ou "levantar-se"
("surgir"), é óbvio que ele descreve uma ação que é a antítese das ações descri-
tas pelo próximo verbo na estrofe "assentar-se". Uma vez que a hoste angélica
está em pé no verso 10b, e que o "juízo" no verso 10c é de certo modo coletivo,
parece que a hoste angélica está envolvida no ato de assentar-se. Provavelmente,
os anjos também estão envolvidos na ação seguinte de abrir os livros para Deus.
O quadro, portanto, apresenta as hostes de anjos se levantando diante de
Deus ao entrar Ele em um ambiente de tribunal .e tomar assento sobre o dossel
em seu glorioso trono-carruagem. Então, os anjos tomam seus assentos para ini-
ciar as atividades do tribunal celestial.
Esta estrofe conclui com o dístico mais curto de todos eles. O metro está
escrito em 2:2, e seus verbos estão no perfeito ("assentou-se", "abriram"). Esta
seção leva os preparativos para o juízo a um término adequado e minucioso.
Estudos selecionados em interpretação profética
Aqui, não são descritos os atos reais de julgar, mas apenas uma descrição
do início desse juízo. Esta •é uma maneira de realçar o fato de que um novo ato
de juízo divino em contraste com aquelas visões de juízo do tabernáculo e do
templo descritas em outras partes do Antigo Testamento é empreendido.
Como uma observação final quanto à análise poética descrita acima,
podemos dizer que esta estrofe ajusta-se aos cânones da expressão poé-
tica clássica dos tempos do Antigo Testamento. Classificando-se junta-
mente com os melhores exemplos dessas técnicas poéticas. Isto concede
pouco apoio a uma data antiga para Daniel, considerando-se que o uso
dos cânones clássicos da poesia hebraica desapareceu da literatura judaica
nos últimos séculos a.C.
DANIEL 7:13-14
PARALELISMO FORMAS
VERSO TRADUÇÃO VERBAIS**
E METRO*
• A estrutura poética destes versos não é quiástica como nos versos 9-10.
Antes, a passagem constitui-se de um par de duplas paralelas. Estas podem ser
esboçadas como segue:
I. O Filho do Homem, verso 13
1. Sua chegada 13a
2. Sua apresentação 13b
II. O reino, verso 14
1. Sua apresentação 14a
•2. Sua natureza 14b
Juízo em Daniel 7
O metro expresso nos dísticos desta estrofe é mais longo do que o encontrado
na estrofe precedente (v. 9-10). Embora a estrofe anterior fosse escrita com seis
dísticos e esta com quatro, a extensão desta estrofe é quase igual à precedente,
com um total de 32 acentos tônicos, comparados com 36 da estrofe anterior.
Somente um dos quatro dísticos desta estrofe (o segundo) é tão breve com
respeito ao metro quanto qualquer um daqueles encontrados em sua predeces-
sora. O metro desta estrofe também se alonga progressivamente, de sorte que
o primeiro dístico destes pares vai de 4:4 a 5:5, e o segundo de 4:2 a 5:3. Os
primeiros (4:4, 5:5) são equilibrados, e os últimos (4:2, 5:3), não são
Assim, os pares de dísticos seguem o mesmo modelo, com exceção de que
o segundo par é mais longo do que o primeira Deste modo, constrói-se um clí-
max. O ápice do crescimento poético das duas estrofes pode ser encontrado no
dístico 5:5, que fala acerca do reino sendo dado ao Filho do Homem.
O primeiro dístico da estrofe começa com a exclamação "eis!" Ela chama
a atenção para o profundo envolvimento do profeta ao passar esta cena diante
dele (compare referências semelhantes ao longo da visão nos versos 2,7-9)
Os verbos usados para o acesso do Filho do Homem ao Ancião de dias são difer-
entes em todos os três casos ("vinhátdirigiu-seTaproximou-se"). No primeiro ex-
emplo é usada uma construção composta com um particípio do verbo "vir" e um
perfeito do verbo "ser" ãtéh hawãh). Esta construção é outra maneira de expressar 129
o tempo passado ("Um [...] veio"). O segundo verbo é um perfeito simples de rnetãh
(vir, alcançar, chegar). O terceiro também é perfeito, mas escrito no plural em uma
forma causativa do verbo qeréb (chegar perto, diante). O sujeito antecedente deste
verbo plural é "as nuvens do céu" (v 13a), nas quais veio o Filho do Homem. O uso de
três diferentes espécies de construções verbais perfeitas para descrever a deslocação
do Filho do Homem em direção ao Ancião de dias enfatiza esse movimento como
um processa Os verbos sugerem que ele se aproximou mais e mais do Ancião de dias.
A mesma característica é enfatizada pela estrutura poética na qual esse movimen-
to é expressa O metro do primeiro dístico é 44, totalizando oito acentos tônicos. Um
verbo composto encontra-se no final da segunda linha A primeira linha do segundo
dístico também contém quatro acentos tônicos. Da mesma foma, o verbo também é
encontrado em seu final. Finalmente, a segunda linha do segundo dístico contém ap-
enas duas palavras ou acentos tônicos, e o verbo está outra vez localizado em seu final
Deste modo, temos três tipos diferentes de unidades poéticas escritas com
um metro decrescendo à medida que o Filho do Homem se aproxima mais e
mais do Ancião de dias. Esse metro vai de um dístico de acento tônico oito com
o verbo no final, a uma linha de acento tônico quatro com o verbo no final, a
uma linha de acento tônico dois com o verbo no final.
Estudos selecionados em interpretação profética
Há uma semelhança entre a primeira metade dessa estrofe (v. 13) e a primeira
metade da estrofe precedente (v. 9). O Filho do Homem entra em cena precisa-
mente quando o Ancião de dias também entra. Em contraste com a descrição do
Ancião de dias, o texto não retrata mais o Filho do Homem. Em nenhum caso é
explicitamente declarado o local de onde cada uma dessas pessoas entra em cena.
É interessante o uso do artigo definido no primeiro dístico. Ele é usado na
expressão "as nuvens do céu", sugerindo talvez que era algo mais especifica-
mente semelhante a nuvens de anjos em vez de meramente nuvens atmosféricas.
Por outro lado, é notável a ausência do artigo na frase "Filho do Homem" (RSV).
Se alguém toma a ausência como significativa, a frase é mais exatamente traduzida
como "um filho de homem'. Mas se esse "Filho do Homerri' também participa das
características divinas é evidente o fato de que ele vem com "as nuvens do céu». Tal
fraseologia é reservada em outras partes das Escrituras para teofanías.
Há um interessante equilíbrio nas partes aramaicas de Daniel entre as ex-
pressões "Filho do Homem" e "Filho de Deus». Em um contexto terrestre, Nabu-
codonosor viu alguém semelhante a "um filho dos deuses" (também escrito sem
o artigo) como o quarto personagem na fornalha ardente com os três dignos
hebreus. Esta referência é equilibrada por esta visão de um "como o Filho do
Homem" encontrado em um contexto celestial.
130 Ambos os pares desta estrofe seguem o mesmo modelo: primeiro o paralelis-
mo sintético e depois o paralelismo sinônimo em seus respectivos dísticos. O
paralelismo do primeiro dístico é sintético, pois primeiro identifica "as nuvens
do céu" como o veículo envolvido, e depois aponta o Filho do Homem como o
personagem conduzido por esse veículo. O segundo dístico descrevendo a che-
gada do Filho do Homem diante do Ancião de dias é essencialmente paralelismo
sinônimo e usa frases preposicionais e verbos no mesmo modelo A:B: :A:B.
O primeiro dístico do segundo par é igualmente sintético porque indica que o
reino deve ser dado ao Filho do Homem. Então, ele se aprimora para definir a todo-
abrangente natureza desse reino. O segundo dístico expressa a natureza eterna desse
reino em paralelismo sinônimo pelo uso de termos semelhantes (declarado positi-
vamente: o domínio é eterno; declarado negativamente: o reino é indestrutível).
Assim como na primeira estrofe (v. 9-10), ocorre também um quiasmo no
centro destra estrofe no verso 14a. Ele começa com uma frase preposicional p
("e a ele"); que é seguida por um verbo v ("foi dado"); este, por sua vez, é seguido
por três substantivos s ("domínio", "glória", "reino"). Eles descrevem a natureza
do reino dado ao Filho do Homem.
A segunda linha deste mesmo dístico se inicia com três substantivos ("povos",
"nações", "línguas"). Esses, por sua vez, são seguidos por uma frase preposicional
Juízo em Daniel 7
("a ele", literalmente) e um verbo ("o servissem"). Assim, o modelo deste dístico
pode ser esboçado. Esta forma quiástica enfatiza a descontinuidade entre a na-
tureza dos reinos deste mundo e o futuro reino do Filho do Homem.
O uso do artigo é outra vez cle interesse neste dístico. Nenhum dos três
substantivos singulares em sua primeira linha tem o artigo ("domínio", "glória",
"reino" [RS17]). Por outro lado, todos os três substantivos plurais na segunda
linha o têm ("os povos", "as nações","as línguas" [RSVD. A diferença no emprego
do artigo enfatiza a natureza unificada do todo-abrangente domínio do Filho
do Homem. Esse domínio está acima de todo elemento possível que possa ser
concebido como vindo sob sua esfera.
O paralelismo envolvido no último dístico (v. 14b) desta estrofe é incom-
pleto. Uma frase declarada no primeiro cólon deve ser compreendida como
repetida no segundo: "o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o
seu reino [um reino eterno] jamais será destruído" No verso 14a, o verbo que
se refere à doação do reino ao Filho do Homem está na voz passiva ("foi-lhe
dado"). É óbvio que o agente ativo que dá o reino ao Filho do Homem é o
Ancião de dias. Eis por que o Filho do Homem é apresentado a Ele.
A expressão "o Ancião de dias" está escrita nesta estrofe (v 13b) com &ar-
tigo definido ("o Ancião de dias"). A descrição está em contraste com a con-
dição indefinida do mesmo título na estrofe precedente. Aqui, o uso do artigo 131
é significativo na medida que ele provavelmente proporciona um elo entre as
duas estrofes, indicando que foi esse mesmo Ancião de dias, previamente men-
cionado na cena do juízo, que daria o reino ao Filho do Homem.
Esta relação enfatiza as conexões temáticas entre o conteúdo destas duas es-
trofes. Na primeira, o juízo se inicia quando o Ancião de dias entra em cena. Na
segunda estrofe, o Filho do Homem entra em cena no final desse juízo. E como
resultado desse juízo, o reino lhe é conferido. Resumindo, estas duas estrofes
nos oferecem duas descrições do juízo: seu início e seu fim. Sua separação em
duas estrofes poéticas, entre as quais se interfere um trecho de prosa, sugere que
deveria transcorrer algum tempo entre a concretização desses dois eventos. O
andamento do juízo entre eles não é descrito.
O segundo verbo ("o servissem") no dístico, que se refere ao reino a ser
dado ao Filho do Homem (v. 14a), é particularmente digno de nota. Sua raiz,
pelah, identifica a ação pela qual todas as nações, povos e línguas participarão
ao adorarem. O Filho do Homem deverá ser assim adorado por todo ser hu-
mano que povoará seu novo reino mundial e eterno. Esta é outra indicação
do caráter divino do Filho do Homem, uma vez que apenas um personagem
divino supra-angélico, como o Ancião de dias, é digno de tal adoração. A
Estudos selecionados em interpretação profética
extensão e natureza do reino a •ser dado a Ele também sugere que o Filho do
Homem é de caráter divino.
A palavra usada para "domínio" (Kialtãn) se relaciona à palavra adaptada
"sultão". Nenhuma pessoa ou poder futuro, tais como aqueles representados pe-
los animais e chifres precedentes, deverão receber ou tomar dele esse domínio.
Em contraste com os reinos representados pelos animais e chifres, o reino do
Filho do Homem jamais será destruída A mudança no tempo dos verbos em-
pregados na estrofe enfatiza este ponto.
Verbos na forma do perfeito hebraico ocorrem ao longo da estrofe até suas
últimas três linhas. Esses verbos poetem ser descritos como "perfeitos proféti-
cos", da mesma maneira que os verbos no primeiro e último dístico da estrofe
precedente (v. 9-10 -- o "perfeito profético" é urna expressão usada para des-
ignar um fenômeno na língua hebraica em que um evento futuro é declarado
na forma perfeita do verbo como se ele já tivesse ocorrido). Tal utilização do
perfeito é comum na profecia do Antigo Testamento.
Nas últimas linhas desta estrofe há, porém, uma mudança para imperfeitos
("servissem", "não passará", "não será destruído"). Estas expressões verbais não
enfatizam tanto a futura ocorrência desse reino quanto sua natureza contínua e
duradoura. Os últimos dois verbos que expressam esta ideia ("não passará", não
132 será destruído") estão emparelhados juntos no final do último dístico da estrofe.
O segundo deles é até mesmo escrito em uma conjugação reflexiva que trans-
mite a ideia de ação repetitiva, enfatizando assim, indubitavelmente, a natureza
contínua daquele duradouro e eterno reino.
DANIEL 7:23-27
PARALELISMO FORMAS
VERSO TRADUÇÃO E METRO* VERBAIS**
PARALELISMO FORMAS
VERSO TRADUÇÃO E METRO* VERBAIS**
E ele procurará mudar tempos e lei, e eles serão impf + inf
25b dados em sua mão por um tempo, dois tempos, e sint, 4:6
impf
meio tempo
26a Mas o juízo se assentará e eles tirarão seu domínio
impf + impf
26b para destruí-lo e aniquila-lo até o fim. sint, 4:3 inf + inf
E o reino e o domínio, e a grandeza dos reinos
27a debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos sint, 2:4:4
santos do Altíssimo impf
Seu reino é um reino eterno, e todos os domínios o
27b sint, 3:5 impf + impf
servirão
o e obedecerão
* Ext = extramètrico; sint = sintético; sin = sinônimo.
** Pt = particípio; pf perfeito; exist = existencial; impf = imperfeito
Urna certa medida de equilíbrio poético pode ser vista no capítulo 7, quan-
do suas três passagens ou estrofes poéticas são comparadas. Se os dísticos das
duas primeiras estrofes são adicionados, eles são vistos quase iguais aos dísticos
desta terceira estrofe (10 dísticos: :8 dísticos e 1 trístico [três linhas] ). Além 133
disso, os seis primeiros dísticos da terceira estrofe (v. 23-25) se igualam aos seis
dísticos da primeira estrofe (v. 9-10). E os dois dísticos e um trístico da terceira
estrofe quase se igualam aos quatro dísticos da segunda estrofe (v. 13-14).
A ordem consecutiva desta narração esboçada na terceira estrofe é enfati-
zada peto uso contínuo da forma imperfeita dos verbos do começo ao fim (v 23-
27). Seguindo o perfeito introdutório, que põe o discurso de Gabriel no tempo
passado, 18 imperfeitos aparecem no curso consecutivo desta narração. Seus
três infinitivos tomam referência de tempo dos' imperfeitos com que estão liga-
dos. O uso do imperfeito como a forma de narrativa verbal para a descrição de
ações futuras está em wntraste com os "perfeitos proféticos". Encontramos um
bom exemplo na descrição de Daniel acerca da visão, conforme mencionada
acima na análise das duas estrofes precedentes.
Além disso, uma dúzia de perfeitos aparecem na narração da visão que vai
do verso 2 ao verso 8, juntamente com mais três construções verbais compostas
em tempo passado. Esta frequência está em contraste com os três particípios,
dois imperativos e um imperfeito que são encontrados na passagem em prosa.
Assim, o capítulo 7 apresenta uma diferenciação distinta (um exemplo quase
clássico) do uso de tempos para profetizar eventos futuros. O perfeito é utili-
zado para narrar sua visão, e o imperfeito é usado para narrar sua interpretação.
Estudos selecionados em interpretação profética
Este arranjo significa que as palavras dirigidas contra o Altíssimo (v. 25a1)
se relacionam ou pertencem, de certo modo, aos tempos e à lei de Deus, seg-
undo o verso 25b1. Igualmente, a perseguição dos santos mencionada no verso
25a2 deveria continuar ao longo do período de tempo delimitado no verso 25b2.
135
Deste modo, os pensamentos expressos no verso 25b são paralelos e suplemen-
tam os pensamentos expressos no verso 25a em verdadeira forma poética. Out-
ros vínculos entre estes dois dísticos podem ser observados. Por exemplo:
No verso 25a, os verbos ("falará", "consumirá") vêm:: no final das linhas. No
verso 25b, os dois verbos ("cuidará", "serão dados") vêm no início. Assim, estas
duas séries de verbos são colocadas uma após a outra e ligam seus respectivos
pensamentos. Um objeto nominal ("palavras") ocorre no início do primeiro
cólon do verso 25a outro objeto nominal ("lei") ocorre no final da primeira
linha do verso 25b. O uso do infinitivo ("mudar"), no verso 25b1, requer que
a letra lamed seja prefixada a ele no meio daquela linha Larned é também usa-
da como uma preposição ("contra") no meio do verso 25al. Portanto, há uma
relação quiástica de A:B:C: entre estas duas linhas.
Uma relação quiástica semelhante ainda pode ser vista quando o verso 25a2
é comparado com o verso 25b2 no arranjo textual hebraica A ordem é: frase
preposicional ("para/pelos santos"): verbo ("consumirá"): verbo ("serão da-
dos"): frase preposicional ("em sua mão"). Estas relações ginásticas expressam o
poder daninho e destrutivo do chifre pequeno.
A extensa fraseologia da frase temporal que abrange a última declaração do
verso 25 ("por um tempo, dois tempos e metade de um tempo") faz desta a linha
Estudos selecionados em interpretação profética
mais longa da estrofe no que concerne ao seu metro. Isto leva o chifre pequeno ao
clima de sua obra. Mas toda esta obra deve ser desfeita pelo juízo descrito no ver-
so seguinte (v. 26). Aqui, os santos mencionados são o povo de Deus vive na Terra.
Propõe-se (e assim razoavelmente) que a justaposição de "tempos" e "lei"
neste verso (verso 25) representa um caso de hendíadis, construção gramatical
em que duas palavras coordenadas ligadas por "e" expressam uma só ideia, e em
que um dos termos define o outro (SPEISER, 1964, p. 70).
O texto significa que o chifre pequeno tentaria mudar os tempos em relação
à lei. Sendo que, de acordo com nossa análise poética, essa é a lei do Altíssimo, e
sendo que os dez mandamentos constituem a mais elevada expressão de sua lei,
e sendo que o quarto preceito desse código moral é o mandamento específico
que tem a ver com tempo, uma tentativa feita pelo chifre pequeno de alterar
indevidamente o sábado cumpriria este aspecto de sua obra aqui descrita.
A frase "se assentará o tribunal" (v. 26) é idêntica à frase "assentou-se o tri-
bunal" (v. 10). A pequena diferença é que a forma do verbo foi mudada de uma
forma perfeita ria visão para uma imperfeita na explanação. Obviamente, é o
juízo anteriormente descrito (v. 9-10) que tirará o domínio do chifre pequena
O sujeito e verbo plurais, "eles [aqueles que se assentam no juízo] tirarão
o seu domínio", evidentemente se referem aos seres angelicais envolvidos no
136 tribunal celestial como observamos anteriormente (v 9-10).
O verbo usado para "tirar" é o mesmo utilizado no verso 14 concernente ao
eterno domínio do Filho do Homem. A construção verbal intensiva que descreve
a destruição do chifre pequeno na segunda linha do verso 26 ("para o destruir e o
consumir até ao fini') já foi discutida acima em conexão com a construção paralela
do verso 230 verso 27 contém o único trístico destas três estrofes Ele fala sobre a
recepção do reino pelos santos do Altíssimo. Esta ação inverte a triste sorte que eles
sofreram anteriormente sob o chifre pequeno (v. 25). O verbo ("serão dados") ocorre
na terceira linha As duas primeiras linhas descrevem o reino que eles devem receber
A primeira linha se refere a "o reino" e "o domínio", usando o artigo definida Eles
são apresentados em ordem inversa à sua ocorrência anterior e em conexão com a
recepção dos santos pelo Filho do Homem (v 14). Eles também ocorrem em outra
passagem sem o artigo Estas diferenças parecem ser intencionais e poderiam servir
para diferenciar o Filho do Homem de qualquer figura corporativa para os santos.
A construção gramatical sugere que o Filho do Homem recebe domínio ou
autoridade sobre o reino, e, então, dá aos santos o reino ou território e a autori-
zação para seu uso. O reino que eles recebem é o mesmo reino que Ele recebeu
e lhes deu. Portanto, o uso do artigo em seu caso é razoavelmente visto como
um artigo de referência anterior.
Juízo em Daniel7
A linha média no trístico ("a majestade dos reinos debaixo de todo o céu") é
uma elaboração parentética sobre a extensão de seu reina Embora isto incluiu o
reino na Terra, ele é também todo-abrangente ou universal, pois a Terra inteira lhes
é concedida De sorte que além da declaração primordial de que o reino será dado
aos santos, a extensão desse reino é também enfatizada. Se as primeiras duas linhas
estivessem sozinhas, elas seriam chamadas de um dístico sinônimo. Todavia, a ter-
ceira linha, que adiciona o outro pensamento acerca de quem receberá o reino, tor-
na-o um tristico sintético, seguindo o modelo A:A:B com seus elementos temáticos.
O dístico final desta estrofe (v. 27) é particularmente importante por difer-
enciar entre o Filho do Homem, da estrofe precedente (v. 13-14), e os santos do
Altíssimo, desta estrofe. As relações poéticas entre os dísticos finais destas duas
estrofes ressaltam nesta diferenciação. No início, nota-se que o dístico final da
terceira estrofe não se inicia com uma conjunção Considerando-se o fato de
que todos os precedentes dísticos e os trísticos que seguem a partir do verso 24
em diante estão ligados por conjunções. Esta disjunção é estilisticamente distin-
tiva e enfatiza sua diferenciação temática
A maneira como se traduz os sufixos Pronominais do dístico final obvia-
mente tem muito a ver com a maneira como se interpreta as relações desta
unidade poética. Como eles estão no texto massorético, os pronomes sufixa-
dos aparecem na terceira pessoa do singular masculina O reino de Deus que é 137
eterno, e é a Ele a quem todos os domínios prestarão adoração e obediência A
conexão com o Filho do Homem na estrofe anterior é claramente evidente, se
essas traduções dos pronomes são mantidas. Podemos apenas nos desfazer dos
pronomes, como fazem algumas modernas versões inglesas, emendando o tex-
to Isto é, mudando os pronomes do singular ("seu", "para ele") para formas plu-
rais ("deles", "para eles"). Falta evidência manuscrita para o apoio de tal emenda.
Além disso, o preposicional /ãmed ("para, por") ocorre previamente dez
vezes no capítulo com o sufixo pronominal singular Com o sufixo plural, ela
ocorre apenas duas vezes. Em nenhum dos últimos o sufixo plural usado de
tal modo que identifique os santos com o Filho do Homem. Esperar-se-ia
que Daniel tivesse usado o mesmo sufixo plural, se ele pretendia se referir aos
santos do Altíssimo. Assim, é evidente que as traduções adotadas por alguns
("o reino deles" e "todos os domínios servirão e obedecerão a eles" [literal-
mente: "para eles"]) não seguem o texto aramaico. Nos dois exemplos plurais
(lehôn) que temos no verso 12 do capítulo em análise, se refere aos animais, e
no verso 21 aos santos. Deste modo, o chifre pequeno prevalecia "sobre eles".
Todavia, como se notou acima, nenhuma destas duas utilizações do preposi-
cional lãmed e do sufixo plural identifica os santos como o Filho do Homem.
Estudos selecionados em interpretação profética
Emendar o sufixo no verso 27b para ler hôn, "seu" reino [deles], como faz
a RSV, dissolve este paralelismo. A emenda faz um alinhamento diferente da
frase do verso 27 com sua equivalente anterior do verso 14. Fato considerado
138 inaceitável do ponto de vista da análise poética comparativa.
A segunda linha do verso 27 ("e todos os domínios o servirão e lhe obede-
cerão») demonstra relações ainda mais complexas com as declarações escritas
pelo profeta no final da estrofe anterior (v. 14). No verso 14a, a primeira coisa
dada ao Filho do Homem é "domínio". E a segunda linha se inicia com os
diferentes grupos da espécie humana que o adorarão/servirão.
Ora, na última linha do verso 27, vários elementos foram transpostos para
ele do verso14. "Todos" e o artigo são retidos. O termo "domínio" foi de fato
aglutinado com "povos" etc, para produzir o plural "domínios"; e o verbo para
"adorar/servir" foi retido. A preposição sufixada que antecipa (léh, "[para] ele")
é também transposta e precede o mesmo verbo em ambos os casos:
Daniel avançam para os capítulos 8 e 12. Quando os santos são descritos como
recebendo o reino no verso 27a, o que se enfatiza é a sua extensão mundial. Mas
sua eternidade se destaca somente quando é discutida em conexão com o Filho
do Homem. Parece evidente que ele deriva sua natureza eterna de seu domínio.
Embora no capítulo não seja dada nenhuma data específica para o juízo,
uma data aproximada pode ser estabelecida. Contudo, antes de tratarmos do
assunto, algumas observações preliminares devem ser feitas acerca do que, por
um lado, Daniel viu quanto ao juízo, e do que, por outro lado, lhe foi dito mas
ele não viu. Uma vez feito isto, as relações das três referências ao juízo no capí-
tulo podem ser alinhadas com seus respectivos contextos, e uma data profética
pode ser sugerida em harmonia com a história.
Depois disto, eu continuava olhando nas Então, tive desejo de conhecer a verdade a re-
visões da noite, e eis aqui o quarto animal, speito do quarto animal, que era diferente de
terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual todos os outros, muito terrível, cujos dentes
tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, eram de ferro, cujas unhas eram de bronze,
e fazia pedaços e pisava aos pés o que sobe- que devorava, fazia em pedaços e pisava aos
java; era diferente de todos os animais que pés o que sobejava; e também a do outro que
apareceram antes dele e tinha dez chifres. subiu, diante do qual caíram três, daquele chi-
Estando eu a observar os chifres, eis que en- fre que tinha olhos e uma boca que falava com
tre eles subiu outro pequeno, diante do qual insolência e parecia mais robusto do que os
três dos primeiros chifres foram arrancados; seus companheiros.
e eis que neste chifre havia olhos, como os de
homem, e uma boca que falava con insolência.
Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra
contra os santos e prevalecia contra eles
Continuei olhando, até que foram postos uns até que veio o Ancião de dias,
tronos e o Ancião de dias se assentou; [...]
e fez justiça aos santos do Altíssimo; 141
Foi-lhe dado [ao Filho do Homem] domínio,
e glória, .e o reino [...]
e veio o tempo em que os santos possuíram
o reino.
a perseguição dos santos já tivesse sido vista na visão. Mas a perseguição dos
santos também não é parte da descrição original da visão.
A referência à vinda do Ancião de dias é obviamente extraída da primeira
das duas cenas de juízo anteriores (v. 9-10). A referência final aos santos rece-
bendo o reino para sempre poderia ter vindo da resposta do anjo à primeira
interrogação de Daniel ("os santos do Altíssimo receberão o reino, [...] para
todo o sempre" [v. 18]). Como já vimos, a recepção do reino pelo Filho do
Homem não é equivalente à recepção do reino pelos santos. Assim, esta refer-
ência não deve ser vista como extraída daquela segunda e última cena do juízo
registrada anteriormente (v. 13-14).
A mais provável interpretação da origem das primeiras declarações concer-
nentes aos santos é que eles foram vistos na visão mas não foram incluídos
em sua descrição inicial. Estes fatos são agora declarados porque o profeta está
preenchendo detalhes que ele não tinha mencionado anteriormente.
Aparentemente, há duas importantes alternativas para explicar a origem da
frase final acerca da recepção do reino pelos santos (v. 22). Ou o profeta tinha
visto este evento na visão e não o registrou em sua descrição inicial, ou ele tirou
o conceito da conclusão da resposta do anjo à sua pergunta anterior (v. 16-18).
Em vista do fato de que as duas referências aos santos anteriormente menciona-
142 das foram provavelmente vistas na visão, não há nenhuma forte razão contra a
explicação da origem desta última referência a eles do mesmo modo. A íntima
proximidade desta frase com a visão no verso 21 sugere que a recepção do reino
pelos santos também foi vista nela.
• Assim, a mais provável interpretação para as três referências adicionais à ex-
periência dos santos (perseguição dos santos, juízo para os santos e a recepção
do reino pelos santos) é que provavelmente se referem ao que foi visto previa-
mente na visão, mas não registrado na descrição inicial de Daniel. Deste modo,
Daniel e o anjo-intérprete preenchem para o leitor detalhes da visão à medida
que a narração continua.
ALTERNATIVAS
Outras datas, é claro, têm sido sugeridas para estas cenas de Daniel 7 por
eruditos que laboram partindo de outras pressuposições, métodos de exegese
ou escolas de interpretação. Uma ilustração que poderia ser notada particu-
larmente no tratamento dado à segunda estrofe da poesia profética que con-
tém a descrição da recepção do reino pelo Filho do Homem (v. 13-14). Em seu
livro New Testament Development of Old Testament 7hemes, E F. Bruce (1968,
p. 21) resume o cumprimento de várias perspectivas veterotestamentárias no
primeiro advento de Cristo. A história sacra, observa ele, atingiu nesse advento
o seu clímax com a oferenda e aceitação do sacrifício perfeito. Não somente a
promessa é confirmada, mas os tipos também são cumpridos. Em Cristo, apare-
ceu um profeta como Moisés, reina o Filho de Davi, o servo do Senhor é ferido,
e o Filho do Homem recebe o domínio do Ancião de dias.
Mas interpretar Daniel 7:13-14 significando que Cristo, o Filho do Homem,
recebeu o reino do Ancião de dias em sua ascensão obviamente dataria esta
profecia no ano 31 d.C. Pode tal interpretação ser mantida a partir do texto de
Daniel? É isto o que o profeta viu segundo a descrição da cena de sua visão?
Para fazer tal identificação, duas importantes abordagens têm de ser ado-
tadas: (1) Alguém deve mudar este bloco de material do seu contexto, ou (2)
mudar toda a estrutura em que esta passagem se encontra para um período 145
anterior àquele proposto pelos princípios historicistas de interpretação.
A mudança de toda a estrutura para um período anterior é feita pela apli-
cação dos princípios da escola preterista de interpretação profética. Tal pro-
cedimento envolve certas dificuldades. Por exemplo, o segundo animal deve ser
identificado como a Média, o terceiro, como a Pérsia, e o quarto, como a Gré-
cia Segundo essa escola de pensamento, o chifre pequeno representa Antíoco
Epifânio, que proveio de uma das divisões do império de Alexandre. As dificul-
dades desta interpretação não precisam ser criticadas aqui. O que pode ser feito
é ver como esta interpretação se ajustaria à conexão que o professor Bruce tem
proposto-para a passagem do Filho do Homem.
A interpretação preterista de Daniel 7 afirma que Antíoco Epifânio é o
cumprimento do chifre pequeno mostrado neste capítulo. Isto não apenas
exige sua identificação como o perseguidor aos povo de Deus, mas também
requer que o tribunal divino seja convocado para sessão algum tempo durante
seu reinado a fim de julgá-lo, suspender sua perseguição dos judeus e tirar o
seu domínio. Além do problema no cumprimento histórico discutido abaixo,
a escala de participação celestial nessa sessão do tribunal divino parece dema-
siado grandiosa para tratar simplesmente como Antíoco. Algo reduzido à ordem
Estudos selecionados em interpretação profética
do julgamento de Acabe pelo tribunal celestial (veja 1Rs 22) teria sido adequado
e apropriado no caso de Antíoco.
A interpretação preterista conjectura que o motivo para a escrita desta profecia
foi dar aos judeus a coragem para suportar a perseguição e força para sacudir o jugo
do seu opressor. O volume da série Anchor Bible, de Hartman e Di Leila (1978, p.
220), The Book of Daniel, provê um exemplo desta espécie de aplicação à passagem.
O Filho do Homem nessa escola de interpretação é identificado com os santos
— especialmente aqueles que suportaram a perseguição de Antíoco. Como resultado
do juízo, o reino que deveria ser dado aos santos deveria ter sido realizado no reino
do Macabeus. Infelizmente, os soberanos macabeus estavam longe da santidade, e o
seu reino durou menos de um século, não o "para todo o sempre" da profecia (7:18).
Qualquer semelhança entre a descrição do juízo de Daniel 7 e seus pretendidos
resultados e o que realmente ocorreu na história da Palestina no segundo século
a.C. é pura coincidência. Se o autor desconhecido de Daniel (e assim essa escola de
pensamento) escreveu sua obra enquanto se achava no auge do entusiasmo result-
ante da libertação e purificação do templo no final de 165 a.C., então talvez ele pos-
sa ser perdoado por seus excessos em suas expectativas não-cumpridas! O último
reflexo de quaisquer esperanças como estas que foram realizadas como resultado
desses acontecimentos do segundo século a.C. emitiram suas centelhas finais com
146
a conquista romana em 63 a.C., um século antes da ascensão de Jesus ao Céu.
Aqueles intérpretes que aplicam Daniel 7:13-14 à experiência de Jesus no tem-
po de sua ascensão em 31 d.0 (enquanto Roma pagã dominava o Oriente Próxi-
mo), estão em um dilema: se aceitam o ponto de vista preterista (que muda toda
a estrutura de Daniel 7 para uma época anterior), então o tribunal divino deveria
ter-se reunido em sessão e concedido o reino ao Filho do Homem no segundo
século aC Se eles aceitam o ponto de vista historicista, então o tribunal divino
deveria ter-se reunido em sessão e conferido o reino ao Filho do Homem algum
tempo depois de 1798. A interpretação futurista não foi discutida, porque afastaria
esta cena para ainda mais longe da ascensão de Jesus.
•
Deste modo, a interpretação preterista de Daniel 7 é cedo demais para ser feita
uma aplicação a Jesus em 31 d.C., e as interpretações historicista e futurista estão
demasiado tarde no decurso da história humana para fazer uma aplicação a Jesus em
31 d.C. Portanto, é evidente que não há nenhuma base bíblica legítima para aplicar a
sessão do tribunal celestial e a concessão do reino ao Filho do Homem para os dias do
Império Romano e para o tempo da ascensão de Cristo. Além disso, visto que Daniel
7:9-10 e 7:13-14 se acham tão intimamente ligados, poder-se-ia também indagar: por
que seria necessário abrir os livros de investigação no tempo em que Jesus voltava
para o Céu e o seu ministério sacerdotal estava se iniciando, e não terminando?
Juízo em Daniel 7
Qualquer coisa a mais que Jesus reclamou para si mesmo no tempo de sua
ascensão não está totalmente clara em alguma relação léxica reconhecíveis que
Ele afirmou que Daniel 7:13-14 foi então cumprido por Ele. Historicamente
Ele estaria equivocado se tivesse afirmado tal coisa, sendo que todos os "povos,
nações e línguas" (kõl `ammayyã' `umayya' weliMnayyõ ') não o adoraram en-
tão (Mh yiplehrin), e ainda não fazem isto. Sendo que nenhum escritor do Novo
Testamento pode ser citado que aplique esta passagem fora do seu contexto,
qualquer tentativa feita por um intérprete moderno nesse sentido é injustifi-
cada. Fazer tal aplicação de Daniel 7:13-14 corre todos os riscos do método de
exegese prova-texto em que o contexto recebe pouca atenção.
A interpretação historicista de todo o esquema de Daniel 7 continua sendo
o método de interpretação que está fundado na mais razoável aplicação de toda
Estudos setecionados em interpretação profética
INVESTIGAÇÃO NO JUÍZO
A interrogação sobre se o juízo é ou não "investigativo" merece consider-
148 ação. Em primeiro lugar, o uso do termo "juízo" (v. 10) para se referir a essas
cenas no Céu sugere imediatamente que o que deve ocorrer naquela esfera ce-
lestial assumirá a natureza de uma investigação. É somente depois da descrição
do juízo (v. 9-10) que se faz referência aos eventos que podem ser vistos como
executando os "julgamentos" ou decisões daquele tribunal. De sorte que o juízo
celestial aqui descrito deve ser compreendido como envolvendo o processo pelo
qual se chega àquelas decisões sobre as quais se deve atuar posteriormente. Em
tal contexto, o uso da palavra "juízo" implica investigação.
Outra maneira de se chegar a uma decisão seria por escolha aleatória. Esta
certamente não é a base sobre a qual Deus governa. Como disse Einstein: "Deus
não joga dados." Se os tribunais humanos exercem tal cuidado na investigação
dos indivíduos que são levados à sua atenção antes de chegar a decisões, certa-
mente Deus ainda teria mais cuidado em tais assuntos.
Em segundo lugar, é de natureza investigativa por causa da referência à ab-
ertura dos livros ou rolos (v. 10). Independentemente da forma precisa como
aqueles registros são conservados, esses livros ou rolos certamente representam
alguma espécie de guarda de registros no Céu. Um exame dos registros de um
tipo ou de outro está assim envolvido nesse juízo. Deste modo é evidente que
esse juízo celestial é de natureza investigativa.
Juízo em Daniel 7
intérpretes desta escola de interpretação), então esse juízo tem de lidar, entre
outros assuntos, com uma entidade professamente cristã.
Este símbolo tem sido geralmente aceito como se aplicando ao papado
particularmente como a cabeça governante de uma confissão religiosa. Mas tal
liderança tem tido milhões de pessoas seguindo sua orientação. Parece razoável,
portanto, concluir que qualquer juízo desse poder professamente cristão tam-
bém incluiria aqueles que têm seguido ou apoiado sua direção.
De sorte que um juízo do chifre pequeno pareceria envolver um juízo dos
milhões de pessoas que têm procurado seguir a Deus por meio da fidelidade a
esse suposto representante dele. Qualquer investigação do chifre pequeno por
esse juízo deve, portanto, envolver uma investigação dos casos daqueles cristãos
professos individuais que têm constituído e seguido esse grupo corporativo.
Sendo que o chifre pequeno professa um relacionamento com Deus, é evi-
dente que esse juízo celestial está lidando com assuntos religiosos em vez de as-
suntos seculares. Este fato, portanto, implica que de algum modo o julgamento
celestial envolverá todas as pessoas (seja qual for sua confissão) que professam
um relacionamento com Deus.
A identificação do chifre pequeno com o papado não significa que o juízo so-
bre aqueles que o têm seguido será desfavorável simplesmente pelo fato de o terem
150 seguida Isto também não significa que aqueles que estão fora dessa confissão re-
ligiosa que têm professado fidelidade a Deus estão automaticamente classificados
com os "santos do Altíssimo», e qualificados, em consequência, para entrar no rei-
no de Deus. Podemos estar certos de que todas as classes serão pesadas justamente
nas balanças imparciais desse tribunal. O problema fundamental em jogo para to-
dos os envolvidos se relaciona com a maneira pela qual eles têm procurado receber
a salvação. Este assunto se destaca em Daniel 8. Aqui fazemos bem em dar ouvidos
às palavras de advertência de Jesus para todos os que têm tomado o seu nome:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor 7 entrará no reino dos Céus, mas aquele
que faz vontade de meu Pai, que está nos Céus. Muitos, naquele dia, hão de
dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos profetizado em teu nome, e
em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos mi-
lagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci Apartai-vos de mim,
os que praticais a iniquidade» (Mt 7:21-23).
"E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede,
forasteiro, nu, enfermo, ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá:
Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais
Juízo em Daniel 7
pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém
os justos, para a vida eterna" (Mt 25:44-46).
também envolvesse uma separação dos falsos crentes do povo de Deus bem
como um juízo sobre seus inimigos.
Juízos do Antigo Testamento a partir do santuário
Quando os juízos de Deus são especificamente identificados como vin-
dos do santuário de Deus (o tabernáculo/templo terrestre ou o templo ce-
lestial), dois terços desses exemplos envolvem diretamente o próprio povo
professo de Deus. Como foi notado no capítulo sobre juízo no Antigo Testa-
mento, 20 das 28 passagens que tinham a ver com juízo do santuário de Deus
especificamente envolvia um juízo do povo de Deus. Sendo que essas pas-
sagens naturalmente proveem o ambiente para a cena em Daniel 7, e sendo
que Daniel 7 representa um exemplo ainda maior do que eles têm descrito
em uma escala menor, segue-se que o povo de Deus será também envolvido
nesse julgamento final.
O juízo e os livros no• •Antigo Testamento
•
Outro detalhe importante tem a ver com o uso de livros» ou rolos" no
juízo de Daniel 7:0 livro ou livros de Deus no Céu são mencionados seis
vezes no Antigo Testamento. As duas primeiras referências vêm do relato
da intercessão de Moisés diante de Deus no Sinai em favor do rebelde Is-
152
rael. Moisés roga a Deus e solicita que seu próprio nome seja riscado do
livro de Deus se Israel não puder ser perdoado (Éx 32:32). Deus responde
declarando que o pecador impenitente seria apagado de seu livro (v. 33).
Salmo 69:28 transmite a mesma ideia: os impenitentes serão "riscados do
, livro dos vivos" (KJV).
A referência ao livro de Deus em Salmo 139:16 traz uma imagem positiva
sobre isto, uma vez que o conhecimento íntimo de Deus sobre seus seguidores,
inclusive até mesmo os aspectos físicos do seu ser, estão registrados ali. Uma id-
eia semelhante é levada para o mundo da experiência espiritual em Salmo 56:8
onde as lutas dos justos é que são registradas naquele livro: "Contaste os meus
passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre;
não estão elas inscritas no teu livro?"
Uma imagem ainda mais positiva acerca de um livro de Deus é transmitida
pela referência ao livro memorial em Malaquias 3:16, onde são registradas re-
flexões do povo de Deus sobre sua bondade para com eles são registradas.
Assim, cada referência no Antigo Testamento a um livro de Deus no Céu
está ligada, de uma maneira ou de outra, com o povo de Deus e não com seus
•inimigos. Portanto, estas analogias sugerem que os livros mencionados na cena
do juízo de Daniel 7 também devem ter registro do povo de Deus.
Juízo em Daniel 7
RESUMO
A maior parte das passagens do Antigo Testamento (e especificamente
daquelas ligadas com o santuário de Deus) estão envolvidas com o pro-
fesso povo de Deus. Considerando a importância desse julgamento final em
Daniel 7, e considerando o fato de que esse juízo resulta na identificação
dos santos do Altíssimo como aqueles que recebem o reino, estas analo-
gias sugerem que o povo de Deus está também envolvido nesse juízo. Se
os livros de registro abertos na cena do juízo de Daniel 7 contêm somente
o registro das ações do chifre pequeno, então tal conexão é singular para
todas as referências bíblicas quanto à função do livro ou livros de Deus que
são conservados no Céu. Caso contrário, as analogias a esses livros em out-
ras partes sugerem que o povo de Deus está intimamente envolvido com o
resultado do exame desses livros.
especial), ela sugere uma investigação antecedente dos casos do povo de Deus
antes que a ressurreição ocorra.
O melhor contexto em que se encontra tal investigação no livro de Daniel
é a cena do tribunal celestial do capítulo 7. Os detalhes acrescentados por esta
passagem paralela em Daniel 12 fornecem apoio adicional para se identificar
esse juízo como de caráter investigativo com referência ao professo povo de
Deus. Assim o povo que é livrado e ressuscitado depois do levantamento de
Miguel foi julgado digno por aquele tribunal celestial de entrar na vida eterna e
possuir o reino eterno do Filho do Homem.
REFERÊNCIAS
BRUCE, R E New Testament development of Old Testament themes. Grand Rapids: Wm. B.
Eerclman, 1968.
158
FERCFI, A. J. lhe apocalyptic "Son of Man" in Daniel 7. Tese. (Doutorado em Teologia).
Andrews University, 1979.
HARTMAN, L E; DI LELLA, A. A. lhe book of Daniel New York: Doubleday, 1978, 220.
(Anchor Bible, 23).
HASEL, a The identity of "the saints of the most high" in Daniel 7. Biblica, v. 56, 1975, 176-185.
PRITCHARD, J. B. (Ed.). Ancient near eastern texts. SI: Princitown University Press, 1950.
SPEISER, E. A. Genesis. New York; Doubleclay, 1964, 70. (Anchor Bible, 1).
6
RETRATOS DE JESUS
NO CENTRO DE DANIEL
INTRODUÇÃO
Quando nos referimos ao cen-
tro de Daniel, queremos dizer par-
ticularmente os capítulos proféti-
cos. As seções proféticas começam
com o sonho de Nabucodonosor
no capítulo 2 e terminam com a
descrição dos reis do Norte e do Sul
em Daniel 11-12. Essas profecias,
nos dois pólos do livro, não con-
stituem agora nossa preocupação.
O sonho dado a Nabucodonosor é
tão simples que até mesmo um rei
pagão poderia compreendê-lo, en-
quanto que a detalhada e compli-
cada profecia do capítulo 11 é tão
complexa que é difícil encontrar
Estudos selecionados em interpretação profética
dois comentaristas que estejam de acordo sobre ela. Por estas razões as omiti-
mos de nossa presente consideração. Portanto, analisaremos as profecias lo-
calizadas mais ao centro do livro, os capítulos 7, 8 e 9.
Apresentamos aqui a tese de que essas visões estão inter-relacionadas de
modo temático. Um dos temas de conexão é suas várias visões do Messias, re-
tratos proféticos posteriormente cumpridos por Jesus Cristo. Assim, no centro
de Daniel encontramos uma série de retratos de Jesus inter-relacionados.
DANIEL 9
Nosso objetivo não é lidar com os detalhes individuais destas profecias, mas
concentrar-nos sobre o que está em seu centro, seu clímax, seu núcleo.
No centro da profecia de Daniel 9:24-27 está o Messias. Ele é o grande eixo
em torno do qual gira esta profecia. De acordo com Gabriel, o anjo-intérprete,
o povo judeu voltaria para Jerusalém e para a terra de Judá. Eles reconstru-
iriam sua cidade e templo.
Por volta do final da profecia, depois do aparecimento e obra do Messias,
160 a cidade de Jerusalém e seu templo deveriam ser mais uma vez surpreendidos
pela calamidade. Os detalhes são discutidos no terceiro volume da Série San-
tuário e Profecias Apocalípticas (SHEA, 2010, p. 49-82).
Concentrando-nos sobre a figura do Messias, devemos olhar para aquelas
especificações da profecia que se aplicam especialmente a Ele. Estas vêm no
sumário do verso 24 e nas aplicações detalhadas dos versos 25-27. Logicamente,
podemos considerar primeiro as declarações detalhadas sobre Cristo antes de
olharmos para aqueles aspectos do sumário que se aplicamparticularmente a Ele.
A MORTE DO MESSIAS
A segunda grande predição desta profecia é que o Príncipe Messias seria
"cortado" [RSV]. Isto é um idiomatismo que se refere à natureza da morte de
Retratos de Jesus no centro de Daniel
Cristo e que indica dois aspectos importantes sobre a morte dele: (1) Ele seria
morto. Não viveria um período de vida normal, morrendo de causas naturais;
(2) Ele sofreria esta espécie de morte às mãos de outras pessoas. O verbo é pas-
sivo. Isto se cumpriu na experiência de Jesus de Nazaré quando Ele foi crucifi-
cado pelos soldados romanos na primavera de 31 d.C.-
CONFIRMADA A ALIANÇA
Outra afirmação do verso 27 declara que o Messias faria "firme aliança" com
muitos por uma semana, isto é, durante aquela mesma septuagésima semana da
profecia Foi durante esse tempo que Jesus pessoalmente, depois seus discípulos,
ampliaram e engrandeceram a aliança com o povo Como a septuagésima e última
semana dos tempos do Antigo Testamento, esta deveria aplicar-se à aliança que Deus
havia oferecido, primeiro a Abraão e depois ao povo por meio de Moisés no Sinai.
A natureza desta oferta e ensino de Jesus é bem ilustrada no Sermão da
Montanha. Ali ele ampliou os dez mandamentos. Ele os engrandeceu afirmando
que a mera observância externa era insuficiente; esses mandamentos descem
ao nósso próprio coração e sondam nossos motivos. Lamentavelmente, o Israel
do seu tempo não aceitou o seu ensino, e a prometida renovação da aliança (Jr
31:31-34) foi feita com a Igreja (Mt 26:28).
• PASSAGEM SUMÁRIA
Destes detalhes da profecia nos voltamos para o verso sumário: verso 24.
Há neste verso seis declarações que se aplicam diretamente à obra do Messias.
Estudos selecionados em interpretação profética
A primeira é encontrada no verso 24c. O texto declara que por volta do final
do período das 70 semanas seria feita uma expiação pela iniquidade. Esta não
foi o ciclo contínuo de repetidas expiações que caracterizavam o tabernáculo
e o templo (Lv 4-5). Antes, esta foi a única, final e grandiosa expiação pela
iniquidade. Isto foi o que Jesus Cristo realizou com sua morte sobre a cruz.
Essa expiação deveria ter o efeito contínuo descrito na frase seguinte. Fazendo
expiação pelo pecado, o Messias traria "a justiça eterna". Ali era algo além da tem-
porária e transitória justiça do sistema sacrificial. Ali estava uma justiça que tem
fluído da sua morte sobre a cruz e continua fazendo isto agora, 2 mil anos depois.
A última frase do verso 24 também cita uma ação messiânica. Refere-se à
unção de um Santo dos Santos. Um estudo de palavras desta frase no Antigo
Testamento indica que ela sempre é usada para se referir a um santuário. Ja-
mais é utilizada para designar a pessoa do Messias e sua unção. A unção do
Messias é mencionada diretamente em seu próprio título, porque a palavra
"Messias" significa "ungido». Contudo, a profecia está falando acerca da unção
de um santuário para o serviço, nos termos da unção do tabernáculo no de-
serto quando ele foi dedicado (Ex 40).
Com que santuário estamos então lidando nesta profecia de Daniel? O tab-
162 ernáculo do deserto não mais existia e o primeiro templo estava em ruínas. A
profecia disse que ele seria reconstruído, mas também predisse que ele seria
outra vez destruído (v. 26b). Devemos olhar, portanto, para outro templo. A
Bíblia conhece apenas um outro templo para a obra do verdadeiro Deus: o tem-
plo celestial, discutido em alguns detalhes em Hebreus 7-9. Foi esse templo que
entrou em uma nova fase de operação com a ascensão de Jesus ao Céu para se
tornar nosso sumo sacerdote. Esse foi então o santuário a ser ungido no tempo
em que a profecia de Daniel 9:24 chegou ao seu fim; e então ele foi dedicado por
ocasião da ascensão de Jesus em 31 d.C.
Agora podemos recapitular as declarações da profecia de Daniel 9 quanto
ao que ela disse acerca do Messias e sua obra:
1. Ela predisse o tempo do aparecimento do Messias (v. 25);
2. Ela predisse que Ele seria "cortado" ou "tirado", isto é, morto (v. 26a);
3. Ela predisse que Ele daria fim ao sistema sacrificial (v. 27a);
4. Ela predisse que Ele faria um firme oferecimento de aliança com muitos
em seu ensino e ministério (v. 27b);
5. Ela predisse que Ele faria a grande expiação pela iniquidade (v. 24c);
6.Ela predisse que ao fazer essa expiação Ele traria uma justiça eterna (v. 24d);
7. Ela predisse que um novo santuário celestial seria ungido ou dedicado
para sua obra como nosso sumo sacerdote (v. 24-25).
Retratos de Jesus no centro de Daniel
DANIEL 8
DANIEL 7
Mais uma vez nesta grande profecia temos uma sucessão de reinos simbolizados
por uma série de animais. Esses podem ser prontamente identificados como Ba :
164 bilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. O reino ou império de Roma deveria então ser
dividido, conforme simbolizado pelos 10 chifres sobre a cabeça do animal romano, e
entre eles brotaria um outro chifre "pequeno". Várias características - o mesmo tipo
de obra que foi realizada pelo chifre pequeno em Daniel 8 - permitem que esse chi-
fre pequeno seja identificado como um chifre romano, a fase religiosa desse poder.
Um período de tempo específico foi concedido ao chifre para o seu exercí-
cio de poder e domínio, urn período de tempo especificado no verso 25 como 3
"tempos" e meio ou anos. Aplicando o princípio dia-ano a esta profecia de tempo,
conforme discutido nos capítulos 3 e 4 deste livro, identificamos seus 1.260 anos
com a Idade Média ou Idade Escura, de 538 a 1798 d.C.
Mas Deus tem uma resposta para todos os animais-reinos e chifres encon-
trados nesta profecia Sua resposta é o seu juíza Esse juízo é descrito em Daniel
7:9-10, 13-14. Aqui o profeta analisa o santuário celestial e nos versos 9-10 ele
vê o início do grande tribunal celestial. O Ancião de dias se move para assentar-
se sobre seu trono, colocado sobre um trono no início dessa sessão. Todos os
anjos se reúnem, assenta-se o tribunal em julgamento, e são abertos os livros de
registro pelos quais o juízo deve ser conduzido.
Três importantes decisões derivam desse juízo: (1) os santos do Altíssimo irão
para o reino celestial (Dn 7:27); (2) o chifre pequeno e o grupo dos outros animais,
Retratos de Jesus no centro de Daniel
bem como aqueles que estão aliados com ambos, serão destruídos (Dn 7:11, 22,
26), e (3) o reinado eterno é outorgado ou reafirmado ao Filho do Homem. Essa
doação final de domínio direto e físico sobre o eterno reino de Deus é concedida
ao Filho do Homem na cena dos versos 13 e 14. Aqui está a descrição dele sendo
levado diante do Ancião de dias por um séquito de anjos e com as nuvens do céu.
Enfaticamente nos é dito que o seu reino incluirá todos os que habitarão a Terra
no futuro, e esse reino (em contraste com aqueles que foram antes dele) durará
para todo o sempre. Jamais será interrompido ou levado a um fim.
Quem é então esse Filho do Homem que recebe o reino eterno? Jesus to-
mou esse mesmo título para si quando disse coisas como "o Filho do homem
veio buscar e salvar o perdido" (Lc 19:10). Apocalipse 14:14 torna esta conexão
explícita com o mesmo título expresso do mesmo modo, no mesmo contexto,
sobre as nuvens do céu, aplicando-o ali à segunda vinda de Jesus. Portanto, a
partir de uma perspectiva neotestamentária, não pode haver dúvida acerca de
,
quem é essa figura: o rei Jesus. O retrato de Jesus no centro da profecia em Dan-
iel 7 é, portanto, Jesus como rei.
INTER-RELAÇÕES 165
RELAÇÕES TEMPORAIS
Uma outra maneira de olhar para esta sequência é relacionar os retratos de Je-
sus com os dementos de tempo encontrados nestas profecias. É evidente que Dan-
iel 9 é a mais breve das três profecias porque seu espaço de tempo se estende por
apenas 70 semanas proféticas ou 490 anos. O período de tempo desta profecia, con-
forme é compreendido historicamente, leva-nos ao primeiro século d.C, os tempos
romanos nos quais Jesus andou neste mundo e foi crucificado sob aquele poder.
A profecia de Daniel 8, por outro lado, é mais longa em extensão, simples-
mente pelo fato de que seu período de tempo se estende por 2.300 tardes e man-
hãs ou dias, que é o simbólico equivalente de 2.300 anos históricos. Isto nos leva
para era cristã, ao
• longo da Idade Média e mais além, até tempos relativamente
recentes, o século 19 d.C. Isto significa que o sacerdote desta profecia tem atuado
durante uma parte deste período de tempo (começando na ascensão em 31 d.C.).
Retratos de Jesus no centro de Daniel
Ao mesmo tempo, sua contrafação também tem estado em atividade. Mas a profe-
da de Daniel 8 nos fala a respeito de um tempo em que isto teriam um fim. Fala sobre
isto verbalmente. Seu fim não é mostrado ao profeta em visão. Quando a parte visual
da profecia termina em Daniel 8:12,0 chifre pequeno ainda está agindo e prosperando.
Deve ser notado que Daniel 8 não leva os santos do Altíssimo para o final e
eterno reino de Deus. Refere-se ao fato de que haverá um juízo para dar um fim às
más coisas deste capítulo, mas não se refere diretamente à recompensa dos santos
de modo algum. Isso está reservado para a profecia final nesta sequência regressiva.
Em Daniel 7, vemos a culminação final quando o Rei recebe o seu reino (v. 31-
14) e os santos são conduzidos para aquele domínio eterno (v. 27). Esta é a mais
longa em extensão destas três profecias do centro do livro de Daniel. Em termos
de tempo, Daniel 9 é a profecia de breve extensão, Daniel 8 é a profecia de extensão
intermediária relativamente a tempos e eventos, e Daniel 7 é a profecia de mais
longa extensão no que diz respeito aos eventos que ela descreve e sobre os quais
ela conclui. Todas estas relações podem ser resumidas em um gráfico-diagrama:
I
REFERÊNCIAS
SHEA, W R A profecia de Daniel 924-27. In: HOLBROOK, E B. (Ed.). Setenta semanas: levítko e
a natureza da profecia. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2010. (Santuário e profecias apocalípticas, 3).
7
O DIA DA EXPIAÇÃO E
• 22 DE OUTUBRO
• DE 1844
usar o calendário babilônio para esta finalidade. O fato de que Esdras adaptou
esse calendário para seus propósitos, datando seu ano novo em 10 de tishri
• não nega a utilidade do esquema babilônio subjacente como um veículo por
• meio do qual podemos investigar este problema.
Antes de entrarmos em nossos cálculos, devemos fazer uma outra ob-
servação em relação ao efeito da diferença entre os calendários juliano e grego-
riano. Como um padrão de rotina, os historiadores empregam uniformemente
as datas julianas para o período a.C. O ano juliano de 365,25 dias é, porém, 11
minutos e 4 segundos mais longo do que o verdadeiro ano tropical. Por volta do
século 16 d.C., o excesso acumulado de dias numerados sobre os verdadeiros
anos solares transcorridos tinha alcançado cerca de 10 dias.
O papa Gregório XIII decretou que este excesso deveria ser compensado
acrescentando-se 10 dias numerados ao mês de outubro de 1582, de sorte que
a sexta-feira, 15 de outubro, seguiu-se à quinta-feira, 4 de outubro, naquele ano.
• O motivo principal para este ajuste era trazer de voltam equinócio vernal e, com
ele, a Páscoa, para 21 de março, quando ele linha adiantado, relativamente ao
calendário juliano, para 11 de março (MOYER, 1982, p. 144-153).
O ajuste exigido pelo calendário gregoriano precisava de um acerto dos
dias envolvidos; mas este não afetava a ordem dos dias da semana (= rotação
172 da Terra), ou da ocorrência astronômica regular de luas novas e luas cheias,
• ou o número total dos anos transcorridos no calendário. No caso do cálculo
proposto abaixo, esta diferença pode ser ignorada. O motivo para isto é que
estamos lidando basicamente com meses lunares e datas para luas novas e luas
cheias, especialmente aquelas que envolvem o equinócio outonal. A revisão do
calendário descrita acima tinha o objetivo de fixar a data do equinócio da pri-
mavera. Para a realização deste propósito, ela fixou também as datas para o
equinócio outonal que, em tempos antigos, caía no mês de tishri.
O que realmente desejamos saber é, dado o número total de 2.300 anos so-
lares transcorridos, como as luas novas dos mesmos meses dos anos no início e
no final de todo este ciclo se relacionam entre si?
Sendo que havia três principais posições para a lua no tocante às datas numer-
adas do ano lunar em relação ao ano solar (veja a próxima tabela), é na posição
da lua nova e, portanto, no mês lunar em relação ao equinócio de outono que
estamos mais interessados, não no número do dia gregoriano designado para o
dia da lua nova naquele tempo. As tabelas empregadas abaixo, que se baseiam no
calendário juliano, bastam para servir adequadamente a este propósito.
Portanto, o que queremos saber é quando (relativamente ao sistema
babilônio de intercalação) iniciou-se o mês de tishri em 458 e 457 a.C.?
O dia da expiação e 22 de outubro de 1844
Como se pode notar de uma comparação das datas desses anos, a data juli-
ana para a mesma data do calendário lunar basicamente adiantava 10 dias para
cada um dos três anos. Então, com a intercalação de um segundo adar (um se-
gundo mês 12) em 16 de marçoS de 456 a.C., todo o ciclo era revertido um mês
. depois no ano, de cujo ponto a sequência começava toda de novo. Por exemplo,
a data para a lua nova no nisã de 459 a.C. é 19-4. Ela ocorre aproximadamente
10 dias antes no ano seguinte (8-4), e ainda outros 10 dias no ano seguinte, ou
seja, em 457 (27-3). Mas em 456 a.C., a inserção de uni mês intercalado muda a
data da lua nova para 15-4, quase o que era em 459.
0 motivo para este avanço dos meses lunares ao longo do ano solar até que
eles fossem atrasados outra vez, deriva do fato de que 12 meses lunares de 29,5
dias resulta em um ano de 354 dias, que é essencialmente 10 dias menor do que
o ano solar. Os antigos permitiam que este déficit de 10 dias se acumulasse por
três anos (resultando em um total de 30 dias). Eles então supriam essa diferença
inserindo um décimo-terceiro mês de 29,5 dias (= 30) no final daquele terceiro
ano Quer percebam isto ou não, os cristãos têm conhecimento deste sistema
devido à maneira como as datas para a Páscoa mudam de ano para ano.
Por infelicidade, o déficit suprido aproximadamente para cada terceiro ano,
não era precisamente um terço de um mês lunar. Este fato matemático produzia ai-
174 guma irregularidade no padrão dos anos em que o mês adicional era acrescentado.
Aqui, este problema não precisa nos preocupar grandemente, afinal temos o ciclo
de 19 anos com o qual operar sobre uma longa distância como os 2.300 dias-anos.
Agora, precisamos verificar, qual dos três anos do ciclo intercalado perten-
ceu 1844. Sendo que sobrou um ano quando os 2.300 anos foram divididos pelo
ciclo de 19 anos, o tempo final do período profético foi um ano adicional ao
ciclo intercalado, em vez do ano de início dos 2.300 anos. Será necessário, por-
tanto, olhar para o ano em que se iniciaram os 2.300 anos para se saber em qual
parte do ciclo ele caiu. O ano final dos 2.300 anos, 1844, pode ser identificado
como o próximo ano do ciclo.
Da tabela citada acima podemos nos referir a 459 como o último ano, ou posição
A, porque 10 de tishri caiu então em 12 de outubro (12-10). O ano intermediário, ou
posição B, é 458 porque 10 de tishri caiu em 2 de outubro (2-10). O primeiro ano,
ou posição C, é 457 porque 1° de tishri caiu em 21 de setembro (21-9) daquele ano
O ano no qual estamos interessados caiu 2.300 anos mais tarde do que o
ano de outono a outono de 458/457. O ano de outono a outono de 458/457
foi medido por 10 de tishri que caiu nas posições B e C, as posições primeira
e intermediária de 2 de outubro e 21 de setembro. O 1° de tishri de outono a
outono, 2.299 anos depois, caiu nestas mesmas posições B e C. Mas da nossa
O dia da expiação e 22 de outubro de 1844
REFERÊNCIAS
MOYER, G The Gregonan Calendar. Scientific American, n. 246, mai. 1982