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FILOSOFIA
CONCRETA
Tomo l.°
vol. x
(3 .a E D I Ç Ã O )
Prefácio .................................................................................... 11
Introdução ................................................................................. 15
O Ponto Arquimédico ................................................................ 29
Argumentos Correlatos aFavor da Tese ................................. 39
Comentários Dialécticos ...... i ................................................... 55
Conceitos Lógicos e Conceitos Ontológicos ............................. 61
Prova ......................................................................................... 63
Da Demonstração .................................................................... 67
Do Valor do Nosso Conhecimento ........................................... 77
Comentários Subordinados .... .................................................. 81
Refutação do Agnosticismo, do Relativismo e do Nihilismo ... 87
Comentários às Teses ............................................................... 97
Comentários às ProposiçõesExaminadas ................................... 101
Comentários às Teses ............................................................... 111
Comentários ............................................................................... 131
Refutação do Atomismo Adinámico ......................................... 135
Crítica à Posição de Kant ....................................................... 141
A Indubitabilidade dos Universais ........................................... 153
Validez da Metafísica Geral (Ontologia; ............................... 161
Validez da Metafísica Especial ................................................ 163
Objecções Kantianas e Respostas Correspondentes ................. 167
Justificação dos Principios ....................................................... 169
Quaíro Combinado das Formas Puras do Juizo e das Catego
rias, Segundo Kant ........................................................ 173
Teses Dialécticas ...................................................................... 197
P R E F Á C I O
DA 1.a EDIÇÃO
(.1) Já publicados.
(2) Hoje somam a mais de seis centenas de milhares.
12 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
(1) Êste prefácio pertence à '1.a edição. Esta, que ora apre
sentamos, traz novas contribuições, e muitas teses novas foram acres
centadas, bem como muitas sofreram novas demonstrações. Ademais,
as teses foram novamente numeradas.
O Autor.
I N T R O D U Ç Ã O
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COMENTÁRIOS
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b) independente;
c) ingenerado, imprincipiado;
94 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
* # *
(1) Tal não quer dizer que algo venha do nada, realizado por
êste, ou feito de nada, como se fôsse matéria de alguma coisa.
Apenas quer dizer que antes de um ser determinado ser êste ser,
era nada dêste ser. Esta mesa, antes de ser ela, era nada desta
mesa, não porém uma criação do nada ou feita de nada. Por isso
i?m ser começa a ser no precipuo momento em que começa a ser.
102 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS
o poder que permite que tudo que pode ser seja. E êsse
poder não tem limites no nada, pois o nada absoluto é ab
surdo, e está apoditicamente refutado. Conseqüentemente,
todo o ser é do Ser. E é, êste, infinito, porque êle é abso
lutamente todo ser, e absolutamente ser, já que não há o
que o negue totalmente, pois a negação do ser, enquanto ser,
seria a afirmação do nada absoluto, o que é absurdo, nem
tampouco há que o limite, e pois não há o limitante. Con
seqüentemente, percorrendo outra via que as anteriores,
chegamos à mesma demonstração da tese de modo apo-
dítico.
(1) Para outros, êsse vácuo é o éter, que não é um mero nada,
mas um modo de ser outro que o dos átomos ou de seus elemen
tos constitutivos. Êste pensamento não postula o nada absoluto
parcial.
116 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
Por não lhe faltar coisa alguma para ser, pois não há
outro fora dêle, o Ser absoluto é suficiente para ser. E
como é a sua própria razão de ser, pois, do contrário, êle
estaria em o nada absoluto, o que seria contraditório e ab
surdo, é êle suficiente para ser.
E é proficiente, pois todo ser é déle, e só dêle pode vir,
pois, do contrário, algo que surgisse, já que êle é a primor-
dialidade absoluta, viria do nada absoluto, o que é absurdo.
Portanto, tudo quanto há tem seu fundamento 110 Ser,
que é absolutamente proficiente, pois tôda proficiência vem
dêle e não do nada.
E esta é absoluta e infinita, pois não tem limites, já que
o Ser absoluto, como o provamos, não é limitado.
É pois infinitamente proficiente, poderoso, porque o
nada é impossível e impotente.
Dêle, portanto, tem de provir todo 0 poder, primor
dialmente.
dos os sêres, que são um, são, de certo modo, únicos, e en
tram na ordem da unidade, mas o que faz que éste seja este
é apenas déle.
A unicidade é assim a últim a determinação formal do
ser, pois os sêres se determinam pelo genero, pela especie
e pela individualidade, e esta conhece a sua última deter
minação na unicidade.
Mas é ela ainda um conceito transcendental, pois déla
participam todos os sêres e modos de ser, que são únicos,
e tôdas as diferenças de ser que também são únicas.
Estamos-agora em face de uma antinomia entre a uni
cidade e a comunidade. Os sêres da mesma espécie têm
em comum a espécie. Mas a têm como forma de que par
ticipam ontològicamente. Como existentes são. no entanto,
únicos. A unicidade da existencia prova a sua distinção
da essência. E o esquema concreto de cada ente é único
110 sentido que é éste (haec). O que nêles se repete é ape
nas o arithmós, o número no bom sentido pitagórico, como
a haecceitas de uma coisa é o seu arithmós individual. Vé-
-se dêste modo quão positivo é o pensamento platónico, pois
as coisas imitam as formas, permanecendo o que elas são
(haec).
A concepção platônica facilita-nos a compreensão da
unicidade da haecceitas, ao lado do que se repete, do que
ó comum.
Os sêres ontològicamente (no logos do ente) se repe
tem, mas são ônticamente (como entes) únicos.
T e s e 65 — O ser é verdadeiro.
C orolários :
O ente não pocle ser explicado pelo nada.
O conceito de runda inclui contradição, e exclui tanto
o ser " extra-intéllectum” como o no intelecto.
Ente é o que não inclui contradição.
Ente é o que, ao qual, não repugna ser.
Não há proporção (proportio) entre ser e nada.
O Ser Supremo é intensistamente ser, porque é todo
em si mesmo'. E é extensistamente ser, porque so há o ser
e não o nada absoluto.
Os conceitos (intensista e extensista) são usados, aqui.
analógicamente.
COMENTÁRIOS
que era êle substancial, pois como haver accidentes que não
o sejam de alguma coisa que está na relação de substância?
Se infinita, como já o demonstramos, como haver com
binações e interactuações entre os átomos? Se nula, ha
veria contigüidade e identificação num ponto, ou, melhor,
na superfície, o que negaria a absoluta separação entre os
átomos, o que é fundamental na concepção atômica adiná
mica, que passamos a refutar.
REFUTAÇÃO DO ATOMISMO ADINÁMICO
* *
138 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
% v * ,
* * *
192 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
Para que um ser pudesse ser mais que êle mesmo, teria
de receber suprimento de outro. Não poderia recebê-lo de
FILOSOFIA CONCRETA 201
Portanto:
e) O que não é um formado (formatum) não é um ser
material (materiatum).
São cinco contribuições do pensamento de Scot, que
correspondem às positividades da Filosofia Concreta.
ferida, não de outra coisa que seja causa ou efeito dela, nem
de alguma coisa que dela se distinga segundo uma razão
de distinção perfeita, mas de alguma coisa que, implícita e
formalmente, já contém a conclusão. Há ai mera explici
tação, como se pode proceder quanto aos atributos do Ser
Supremo.
Considera-se, assim, o argumento anselmiano (argu
mento a simultaneo ou também chamado ontológico) como
inválido para o fim que pretende. E reduzem-no à seguinte
forma silogística: Deus é o que nada de maior se pode co
gitar, ou seja o máximo excogitável; ora, o máximo exco-
gitável existe; logo, Deus existe.
Em "O Homem perante o Infinito” examinamos as ra
zões apresentadas pelos adversários dêsse argumento, pois
acusam-no de uma ilegítima passagem da esfera meramente
lógica para a ontológica, porque não se prova ainda a exis
tência de Deus ao afirmar que é êle o que de maior se pode
cogitar, pois se não existisse, poder-se-ia cogitar outro, que
existe, e êste seria, então, Deus. Conseqüentemente, Deus
existe.
Podemos, contudo, sintetizar a crítica que se faz a tal
argumento. A premissa maior é convencional, já que mui
tos podem conceber Deus, não como o ser maior que existe,
como se vê em certas crenças primárias, em que há povos
que adoram um deus de menor poder, de preferência a ou
tros mais poderosos. Mas poder-se-ia objectar que, de
qualquer forma, nessas mesmas crenças, há sempre a admis
são da existência de um ser, que é o maior que se pode co
gitar. E, ademais, uma concepção de Deus, que não lhe
atribuísse tal eminência, seria falha. De qualquer forma,
pode-se partir de que, em qualquer pensamento culto, a idéia
de Deus implica sempre a do ser de maior poder que se
pode cogitar. Se êle não existe, poder-se-ia cogitar de ou
tro que existisse, e êsse seria maior, e seria, conseqüente
mente, Deus. Pois, do contrário, o máximo excogitável,
que seria o primeiro, não seria o primeiro, o que é contra
ditório.
A argumentação contrária afirma que, pelo facto de ser
excogitado, não se prova que se dê a existência exercitada,
em seu pleno exercício, fora da mente ( extra mentis). Pro
va-se que a existência é meramente excogitada, não que
FILOSOFIA CONCRETA 47
(1) Essência é o que pelo qual (quo) uma coisa é o que ela
é. A essência sempre se ordena à existência. A que tem aptiáSo
para existir, sem necessidade de nenhum outro ser, é uma essência
absoluta.
Existência é o pelo qual, formal e originalmente, uma coisa
se dá fora do nada, fora da possibilidade. A existência diz-se em
ordem à essência. A existência, quando distinta realmente da es
sência, é relativa; é absoluta, quando não se distingue da esscncia,
e ambas se identificam, como no Ser Supremo. A existência é
sempre o pleno exercício de ser; é a essência exercitada, actuali
zada na coisa. A essência pode ser um mero possível, mas a exis
tência é o possível actualizado. Para alguns tomistas, é a existência
o último acto da essência; para outros é a primeira actualidade da
essência, como também o predicam os suarezistas
No Ser Supremo, essência e existência se identificam; a sua
essência é a sua existência, pois êle é essencial e existencialmente
êle mesmo.
E essa essência e essa existência, que nêle se identificam, são
actualidade puxa, é a actualidade sem qualquer determinação que
exclua qualquer actualidade, porque nada há actual fora dêle que
não seja ser, como o provamos com a demonstração das teses aqui
propostas. A actualidade pura não é o ser absoluto, mas o emi-
FILOSOFIA CONCRETA 73
COROLÁRIOS
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lima mesma coisa, que é uma, não pode ter dois sêres
substanciais.
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PRINCIPIO DE INTELIGIBILIDADE
PRINCÍPIO DE FINALIDADE
quanto pode ser. Ora, um ser que ainda não é tudo quanto
pode ser é, de certo modo, um ser imperfeito em si mesmo.
COMENTÁRIOS
C O R O L Á R I O S
DO ACTO
DA ACÇÃO
A acção é o acto do agente.
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O acto do agente tende para algo determinado.
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O acto do agente prossegue de um princípio que é algo
determinado.
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A acção e a paixão não são duas mutações, mas uma só
(actio et passio sunt unus et idem motus).
* * *
A acção e a paixão diferem do sujeito apenas pela ra
zão que são de espécies diversas.
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O Ser Supremo actua em todo operante.
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Nem tôda a acção que se dâ na criatura, é criação. Cole
tudo, tôda acção da criatura é dependente do Ser Supremo?
formal e. efectivamente.
FILOSOFIA CONCRETA 131
DO PACIENTE E DA PAIXÃO
(1.) Esta tese será provada mais adiante por outras vias.
DA CRIAÇÃO
(TESES PROPEDÉUTICAS)
COROLÁRIOS
C O R O L Á R I O S
DA CRIAÇÃO
Conclusão:
Conseqüentemente:
A infinitude potencial da criação, a matéria primo-
-prima da operação criacional, é infinita potencialmente, e
corresponde inversamente à potência infinita accional. É
o vector inverso daquela, e está profundamente vinculada
no ser. Há aqui a base positiva da divinização da matéria.
Não desta matéria {hoc), não da matéria física, já deter
minada, mas da matéria mater, que em certos pensamentos
filosóficos religiosos é simbolizada pela Virgem-mãe.
A matéria mater é potencialmente infinita, pura, sem
pre virgem, capaz de receber a informação, sem jamais per
der a sua pureza, virgem antes da informação, virgem na
informação, e virgem depois da informação.
A simbólica cristã poder-se-ia enquadrar-se aqui, com
o devido respeito que merece êsse pensamento, que exige o
detido exame do filósofo, quando realmente o é.
Há, assim, na Filosofia Concreta, um fundamento à
divinização de Maria, cujo símbolo procuramos interpretar
dêste modo, sem a menor ofensa, pois julgamos que em nada
o maculamos.
Tese 214 — À realidade actual corresponde uma ac-
tualidade inversa.
Há, assim, um único ser que é acto puro. Ora, tal ser, sen
do acto puro, não tem mescla de qualquer outra coisa, pois;
do contrário, não seria acto puro. Não é composto de
nenhum outro ser, mas apenas de si mesmo. É êle abso
lutamente eficiente e eficaz, porque sendo acto puro seu in
fluxo de ser é absoluto e também primordialmente o pri^
meiro antes que todos os outros; pois, como poderia ser êle
produzido por outro, já que o efeito não pode superar a
causa? Êsse outro teria que ser igualmente idêntico a êle
ou superior a êle. Superior é impossível, porque nenhum
ser pode ser mais puro que o que é acto-puro. Inferior é
impossível, porque como o que tem menos daria mais? Se
idêntico, seria êle mesmo. Conseqüentemente, tal ente
nunca principiou e sempre foi. E como nenhum ser pode
provir d.o nada, todos os sêres compostos posteriores só po
deriam vir dêle. Êle, necessàriamente, é o princípio de
todos os outros sêres. Como nenhum ser composto tem em
si mesmo sua razão de ser, êle, o primeiro, é a razão pri
meira do ser de todos os outros, que, sem êles, não pode
riam ter iniciado a ser, nem poderiam prosseguir sendo.
E por quê? Pela simples razão de não ser o nada capaz
de dar surgimento a alguma coisa, nem sendo possível que
uma coisa dê surgimento a si mesma, pois, neste caso, exis
tiria antes de existir, o que é absurdo. A única solução
é que o ser, que é feito, como o é o composto, que implica
outros para ser o que é, tinha de vir do primeiro, que é
único, e que sempre existiu, o ser absolutamente simples.
Surge agora uma pergunta e de máxima importância;
De que é composto, pois o ser composto?
Não pode ser apenas de sêres compostos, já vimos.
Conclui-se, então, que seria do ser absolutamente simples?
Também não pode ser, porque o composto é pelo menos
constituído de dois. Ora, se estudarmos o que é necessà
riamente da. natureza do ser absolutamente simples, êste
não poderia ser constituinte ou elemento de uma composi
ção. O ser absolutamente simples é acto puro. É primor
dial e fonte e origem de todos os outros. Os sêres compos
tos têm nêle sua razão de ser, pois não a tem em si mesmos.
O ser absolutamente simples, tomado em sua primor-
dialidade, era único, já que todos os outros só poderiam sur
gir dêle. Conseqüentemente, êle era ilimitado, independen
te, e tinha em si mesmo sua razão de ser. Ora, diz-se qué
182 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
está em acto. Que se vê, pois? Vê-se que nem acto nem
potência são propriamente sêres, mas os aspectos que com
põem o ser finito. São suas 'primeiras determinações. Há
ser finito, onde há uma determinação e uma determinabili
dade. O ser finito é, pois, composto do que é (a potência
determinada pelo acto) e do que ainda não é e pode ser (as
possibilidades da potência que o constitui). Nesse caso,
não há lugar para confusões entre potência e possibilidade,
como muitos fazem. E também se esclarece o em que con
siste a composição última do ser finito: nada mais são que
as últimas diferenças que constituem o ser finito: acto e
potência ( enérgeia e dynamis).
Conseqüentemente, enérgeia e dynamis são apenas as
diferenças últimas que compõem o ser finito.
* * *
C O R O L Á R I O S
C O R O L Á R I O S
tam” sem ser ela, como todos os corpos que caem, sejam
quais forem, analogam-se na lei da queda dos corpos e imi
tam essa relação, sem serem ela, pois o corpo que cai não
é o supósito da queda dos corpos.
Êsses logoi são estructuras ontológicas, porque são re
lações, e não têm subjectividade, não têm um sujeito que os
represente.
Não se pode dizer: "Aqui vai a queda dos corpos”. Não
encontramos a subjectividade, a substância singular da atra
ção, mas sim a atração que se dá aqui e ali e, por se dar
aqui e ali, permite que se dê em tôda a parte onde essa lei
da atração, êsse logos, possa reinar, reger.
Assim a animalidade não tem uma subjectividade, um
supósito que a represente. "Ali vai a animalidade”. .. mas,
sim, ali vai um ser que tevi animalidade, um ser no qual
há o logos da animalidade, um ser que imita a lei de pro
porcionalidade intrínseca daquela, mas que não é ela subjec
tivamente, mas apenas formalmente ela, pois, no logos da
sua individualidade, a animalidade é componente do seu
arithmós. Ora, o logos é uma relação, é uma lei, é portanto
um arithmós em sentido pitagórico, pois êste implica fun
damentalmente a diada e, sobretudo, a analogia, pois os
opostos relacionados são analogados para que surja entre e
dentre eles um ser, com o seu logos próprio.
Desta forma, para Sócrates, o katholon, o universal, que
para Aristóteles é uma substância, é para aquele uma rela
ção, um verdadeiro logos, que determina o aspecto da seme
lhança, um logos mvalogante.
E como os diversos logoi, que êle buscava encontrar em
suas constantes perguntas, estão analogados ao Logos Su
premo, que a todos analoga, êsse logos é a lei relacionai das
coisas mutuamente opostas do cosmos, é, em suma, a lei
permanente da evolução universal de Heráclito, à qual su
bordinava a fluência e a oposição, a lei universal da perma
nência do devir, da imutabilidade do devir, que sempre
devém, que portanto realizava a imutabilidade da lei da
evolução universal.
Dessa forma, vê-se como a Filosofia Concreta sabe e
pode reunir as positividades dispersas, tantas vêzes con
trárias de tanto filósofo, mas tôdas participantes de alguma
FILOSOFIA CONCRETA 35
verdade da concepção concreta, que é a nossa, que as reúne,
nao por compromissos, mas por meio dessas positividades,
que são conciliáveis, e que correspondem às positividades
que constituem o arcabouço da Filosofia Concreta.
Entre duas premissas particulares analogadas, Sócra
tes induz o logos analogante (pois a dialéctica socrático-
-platonica é predominantemente inductiva, ao invés da aris
totélica).
Vejamos o exemplo clássico: O leão é o rei do deserto.
D. Manuel é o rei de Portugal.
Dessas duas premissas particulares nada se pode de
duzir dentro dos cánones aristotélicos.
Mas dentro dos cánones socráticos é possível induzir,
pela busca do logos analogante. Tinha razão Aristóteles ao
dizer, na "Metafísica”, que Sócrates era o criador das ra
zões inductivas, dos logoi inductivos.
Essas duas premissas podem ser reduzidas a uma pro
porção (analogia).
Como o rei domina o seu reino, o leão domina o deserto.
Mas se há semelhança entre ambos, podemos ainda sa
lientar as diferenças, pois o reinar do rei é diferente do
reinar do leão, mas afinal, através das inducções socráticas,
alcançamos a um logos analogante, que é este: o relativa
mente mais poderoso domina sempre no campo respectivo
de suas actividades. Ora, o leão é o relativamente mais po
deroso no deserto, dominando neste, no campo respectivo de
suas actividades, como o rei domina no reino.
Ora, ésse logos analogante pode, afinal, ser reduzido
genéricamente ao logos analogante de que o "agente actúa
proporcionadamente ã sua natureza e proporcionadamente
ao campo de spa actividade”.
Essa proporcionalidade, por sua vez, reduz-se genéri
camente ao logos de que "o agente actúa e o paciente sofre
proporcionadamente às suas naturezas”. Por sua vez tal se
dá pela leí do Ser, já induzidas pelos principios por nos
examinados, pois se o agente aetuasse além da sua nature
za, o suprimento viria déle ou de outro, ou do nada. Se
dele, então ele já o conteria, já era poderoso e, portanto,
36 MARIO FERREIRA DOS SANTOS
—Ser Supremo;
ser conceptual — subsistente apenas conceptualmente
em outros (as ficções, os esquemas noético-abstractos, etc.).
Besta forma, a decadialéctica, construindo uma visão
tética e antitética do cronotópico, afirma dialécticamente a
sua superação, na única e verdadeira síntese do Ser Supre
mo, não como soma, mas como superação do dualismo anti
nómico dialéctico, como afirmação suprema da suprema con
creção do Ser.
Nêle, tôdas as formalidades, inevitàvelmente polares,
obedientes à lei dos opostos, têm a sua fonte, origem e fim.
Dialécticamente, o Ser Supremo é sempre êle mesmo» e
pode criar, num só acto, os opostos, porque é sempre o
mesmo, imutável e eterno.
Definir dialécticamente não é apenas situar o ente como
o faz a Lógica Formal.
O ente é isto ou aquilo pelo esquema eidético, que é a
sua lei de proporcionalidade intrínseca. Mas êste logos in
clui-se, e subordina-se com outros, pois um ente, para ser,
depende de outros que o causam e também do conjunto das
coordenadas que formam a sua predisponência. Conexionar
o logos circuiarmente aos logoi, que o conexionan! a uma
estructura maior, é ampliar o saber sôbre êle.
A definição responde à pergunta quid sit (que é?).
Uma resposta concreta não pode cingir-se apenas à sua clas
sificação formal, mas ao que coopera para que seja. Ora,
a dialéctica é, para nós, a lógica do concreto (ela realiza
a conexão dos diversos logoi através das analogias), portan
to ela não deve esquecer tudo quanto é imprescindível para
construir a concreção de alguma coisa quo se deseja estu
dar (1).
ser para que alguma coisa seja, não se pode, porém, inverter
o nexo de necessidade, porque da parte de Deus não há
antes ou depois, há o eterno, e o eterno não permite a prio
ridade disto àquilo.
Assim, no Ser Supremo, os atributos não têm priori
dade real, mas apenas a prioridade que nós captamos, por
sermos temporais e sucessivos.
Já vimos que os nexos ontológicos são simultâneos.
Em Deus, todos os atributos, todos os seus predicados
são simultâneos.
Se a nossa operação intelectiva extrai, deduz uns de
outros, essa extração, essa transducção se processa em nos
sa mente, porque é de sua natureza proceder assim, mas tal
não quer dizer que, nêle, haja antecedência ou conseqüen
tes. Nêle há apenas a eterna presença infinita da omni
potencia.
Por esta razão, não há um antes da criação. E esta
não pode ter tido um comêço no tempo. Êsse tempo come
çou com ela, porque é algo que começa, e que não procura
mos ingênuamente dividir em dias, em meses, em séculos,
êsse tempo, na criação, não se divide essencialmente de tal
modo, êle é absolutamente divisível potencialmente, por
tanto é infinitamente potencial.
A criação é assim ab aeterno, porque ela começa ab
aeterno, porque só o eterno a antecede sempre. Ela não
teve um antes; ela começou quando começou, sem um antes
temporal. Só nesse sentido ontológico, podemos compreen-
dê-la. E nesse sentido ela absolutamente não contradiz o
que é de fé.
O resto, o mistério que ela encerra, desafia a nossa
mente. E não caberia nesta obra, que é uma exposição
geral da filosofia concreta tentar examiná-lo. É o que fa
zemos, numa piedosa tentativa, em ''Filosofia Concreta da
Criação”.
COROLÁRIOS
Portanto,
o que afirma a si mesmo em sua pureza ontológica é
o ser. E não é difícil demonstrá-lo apoditicamente.
Ser é afirmação, é positividade, necessàriamente. Se
afirmasse outro, êsse seria ser. Conseqüentemente, ser é
a afirmação de si mesmo. E por que dizemos que é em sua
pureza ontológica? O que não tem mescla com outro, diz-
-se que é puro. A razão de ser é ser, porque o nada não
poderia dar razão de ser ao ser. A razão logos do ontos
afirma ser, afirma a si mesmo; portanto, o que afirma a
si mesmo em sua pureza ontológica é o ser.
Ser é a afirmação ontològicamente pura de si mesmo.
Há ser onde há essa afirmação ontològicamente pura
de si mesmo.
Perguntar-se-ia se potência, possibilidade, possível se
riam ser também. Embora ainda não tenhamos alcançado
o conceito ontológico dêsses termos, diríamos, por ora, fun
dados no que já foi demonstrado em "Filosofia Concreta”,
que não ser também. Uma possibilidade, um possível são
afirmações ontològicamente puras de si mesmas, porque a
possibilidade, que não é possibilidade, é nada de possibili
dade. Se o possível ainda não é em pleno exercício actual
de ser, é algo positivo que afirma a si mesmo enquanto
possível. É ser, portanto.
Mas, antes de penetrarmos mais analíticamente no tema
da potência, que exige o exame do tema do acto, preferimos
permanecer na análise que vínhamos fazendo, para funda
mentarmos ontològicamente, com rigor apodítico, a termi
nologia da dialéctica concreta.
Quando se afirma algo a algo, o que é afirmado diz-se
pre-dicado (de pre e dicere), e o que ao qual se dirige a
predicação diz-se su-jeito (de sub e jectum)• Ou se afirma
a adequação, ou conveniência; em suma, presença do pre
dicado, ou recusa-se a sua presença. No primeiro caso, é
afirmativo; no segundo, é negativo. O enunciado dessa
predicação de algo a algo é a proposição, e quando há as
sentimento da mente é o juízo, o julgamento, pois há aí um
acto de julgar, o julgamento. Os juízos são, assim, afir
mativos ou negativos, consoante a divisão acima descrita.
FILOSOFIA CONCRETA 185
Quando se dá a algo algo que é de seu direito, diz-se
que se dá um tributo (de tribuere, de dar o que é de di
reito, o que pertence a alguma coisa de pleno direito).
Assim quando se predica, dando a um sujeito algo que lhe
é devido, diz-se que se atribui o predicado. Atributo é o
predicado, que é devido ao sujeito. Neste caso, o atributo
não é um favor que é dado; é o que pertence já, de pleno
direito, ao sujeito. Quando, no juízo, predicamos o atri
buto, não estamos concedendo algo, que, nesse instante, pas
sa a pertencer ao sujeito, mas estamos descobrindo algo que
o sujeito já possui de pleno direito.
Assim, a 'presença e a afirmação são atributos do ser,
porque são de seu pleno direito.
Só é atributo o predicado que é de pleno direito do ser
ao qual é predicado.
Como há antecedência do ser ao nada, sempre houve
ser, pois não seria admissível uma antecedência da negação,
pois esta., em si mesma, não é nada, e teríamos afirmado
a antecedência do nada absoluto. Foi demonstrado em
"Filosofia Concreta” que sempre houve o ser e um ser. Se
guimos ali um caminho ontológico que nos permitiu uma
demonstração apodítica. Mas, o caminho dialéctico-concre
to também permite alcançar a mesma apoditicidade pela
análise dos conceitos, quando fundamentados com rigor
ontológico.
A negação em si mesma é ausência absoluta de ser, é
nada absolutamente. A negação é positiva quando é a re
cusa de uma positividade. E só há negação quando há essa
recusa da positividade. Ora, a positividade é a afirmação
(e a recusa implica a afirmação, porque recusar é realizar
um acto afirmativo de ausência de algo positivo), o que
implica necessàriamente o ser. O ser, necessàriamente, é
antecedente absoluto. Sempre houve necessàriamente o ser.
A predicação da presença constante ao ser é um atributo
dêste, pois o ser é a afirmação em sua pureza ontológica
de si mesmo.
O ser sempre afirmou em sua pureza ontológica a si
'mesmo.
Sempre houve uma afirmação absoluta.
186 MARIO FERREIRA DOS SANTOS