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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0024.06.044294-4/001 Númeração 0442944-


Relator: Des.(a) Edgard Penna Amorim
Relator do Acordão: Des.(a) Edgard Penna Amorim
Data do Julgamento: 03/03/2011
Data da Publicação: 08/06/2011

EMENTA: TRIBUTÁRIO - AÇÃO ORDINÁRIA - MUNICÍPIO DE POÇOS DE


CALDAS - AUTARQUIA MUNICIPAL - ABASTECIMENTO DE ÁGUA
POTÁVEL E MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE ESGOTOS SANITÁRIOS -
IMUNIDADE RECÍPROCA - IPVA - ART. 150, INC. VI, ALÍNEA ''A'' DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 - SERVIÇOS PÚBLICOS E DE
PRESTAÇÃO OBRIGATÓRIA - COBRANÇA DE TARIFAS DOS USUÁRIOS
- NÃO-APLICABILIDADE DO § 3º DO ART. 150 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. 1 - Autarquia municipal que preste serviços públicos obrigatórios,
ainda que cobre tarifas dos usuários, goza da imunidade recíproca, a teor do
art. 150, inc. VI, alínea 'a' e § 2º, da CR/88, não se lhe aplicando a exceção
do § 3º do mesmo artigo, pois descaracterizada a índole econômica dos
serviços. 2 - Recurso provido parcialmente.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.06.044294-4/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): DEPTO MUN AGUA ESGOTO POCOS
CALDAS - APELADO(A)(S): ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO.
SR. DES. EDGARD PENNA AMORIM

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça


do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador
BITENCOURT MARCONDES , incorporando neste o relatório de fls., na
conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à
unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO.

Belo Horizonte, 03 de março de 2011.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DES. EDGARD PENNA AMORIM - Relator

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26/08/2010

8ª CÂMARA CÍVEL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.06.044294-4/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): DEPTO MUN AGUA ESGOTO POCOS
CALDAS - APELADO(A)(S): ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO.
SR. DES. EDGARD PENNA AMORIM

Proferiu sustentação oral, pelo Apelante, o Dr. Fellipe Leonardo Vasques.

O SR. DES. EDGARD PENNA AMORIM:

Sr.ª Presidente, ems. Pares, ilustre Dr. Fellipe Leonardo Vasques, a cuja
sustentação oral dei a devida atenção, tanto quanto aquela que devotei ao
memorial que S. Ex.ª gentilmente me encaminhou.

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Departamento Municipal de


Água e Esgoto de Poços de Caldas nos autos de "ação declaratória de
imunidade c/c de repetição de indébito" que move em face do Estado de
Minas Gerais contra sentença da lavra do i. Juiz de Direito da 4ª Vara de
Feitos Tributários do Estado que julgou improcedente o pedido inicial e
indeferiu os pleitos de expedição de ordem ao DETRAN-MG para liberação
de documentos de licenciamento de veículos, revogando decisões de f. 461 e
474.

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Condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, estes fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com atualização
monetária, pela variação do INPC, desde a data da publicação da sentença,
nos termos do art. 20, § 4º, do CPC.

O autor protocolizou pedido de reconsideração da decisão que indeferiu o


pleito de envio de ofício ao DETRAN, que foi atendido pelo i. Juiz "a quo" às
f. 634/635, que deferiu o pedido determinando ao DETRAN que, em dez dias,
expedisse os documentos de licenciamento dos veículos de f. 494/495, de
propriedade do autor, desde que cumpridos os demais requisitos legais,
salvo o pagamento do IPVA, cuja exigibilidade fica suspensa em virtude de
depósito. Determinou, ainda, que o depósito fique vinculado ao pagamento
do tributo, caso o autor venha a sucumbir na demanda.

Foram opostos embargos de declaração pelo autor às f. 638/643, rejeitados


às f. 644/647.

O autor apresenta recurso de apelação, requerendo a reforma da sentença.


Para tanto alega, em síntese, que: a) o apelante é autarquia e, como tal,
titular de atividade e interesses públicos, prestando serviço essencial e
obrigatório de competência dos Municípios, a serem exercidos sob diretrizes
da União; b) o col. Supremo Tribunal Federal tem entendimento de que a
empresa pública é abrangida pela imunidade de que trata o art. 150, inc. VI,
"a", da CR/88, como é o caso da EBCT; c) o apelante não explora atividade
econômica em sentido estrito; d) a natureza jurídica da remuneração dos
serviços prestados pelo apelante é de taxa, dada a obrigatoriedade do
serviço e, ainda que se entenda se tratar de tarifa, isto não afasta a
imunidade; e) o patrimônio sobre o qual recairão os efeitos da imunidade são
bens que consubstanciam instrumentos essenciais para a prestação do
serviço público fundamental prestado pelo apelante; f) o apelante tem direito
à restituição do IPVA recolhido nas competências de 2002 a 2006. Pede seja
o recurso provido para reformar a sentença e declarar a sua imunidade aos
impostos estaduais, notadamente o IPVA e a inexistência de relação jurídica
que o obrigue ao pagamento do tributo, condenando o Estado de Minas

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Gerais a restituir o indébito, acrescido de juros e correção monetária, a partir


do recolhimento.

Não houve apresentação de contrarrazões de apelação.

Os autos subiram a este eg. Tribunal, vindo-me conclusos.

Conheço do recurso de apelação, presentes seus pressupostos de


admissibilidade.

Da análise dos autos, a discussão gira em torno da imunidade do


Departamento Municipal de Água e Esgoto de Poços de Caldas em relação
ao IPVA.

Assim, a matéria discutida nos presentes autos cinge-se ao reconhecimento


de eventual imunidade tributária recíproca em favor do autor, ora apelante,
amparada no art. 150, inc. VI, alínea 'a', c/c art. 150, § 2º, da CR/88, que
veda a imposição tributária sobre o patrimônio, renda ou serviços dos entes
federados, uns dos outros, e das autarquias ou fundações mantidas pelo
poder público.

Impende verificar, portanto, qual a abrangência da discutida imunidade e


quais os requisitos que a Constituição de República impõe sejam cumpridos,
para aferir se o apelante faz jus à não-incidência constitucional. Para tanto,
transcrevam-se as disposições pertinentes contidas na Lei Maior:

"Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, uns dos outros;

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(...)

§ 2º A vedação do inciso VI, a, é extensiva às autarquias e às fundações


instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à
renda e aos serviços, vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.

§ 3º As vedações do inciso VI, a, e do parágrafo anterior não se aplicam ao


patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos
privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas
pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
imposto relativamente ao bem imóvel."

"Ab initio", vale frisar que, sendo a apelada autarquia criada pela Lei
Municipal n.º 420/1954, posteriormente alterada pela Lei n.º 1.220/65, sendo
responsável pelo abastecimento de água potável e pelo sistema de esgotos
sanitários no Município de Poços de Caldas, a imunidade a que
eventualmente faz jus é a imunidade intergovernamental recíproca, prevista
na alínea 'a' do inciso VI do art. 150 da CR/88, por estender-se às autarquias,
consoante o § 2º do mesmo artigo.

É de se ressaltar que a extensão constitucional da imunidade recíproca às


autarquias deve-se à pressuposta ausência de capacidade contributiva
destas entidades, combinado com o respeito ao princípio federalista que
determina autonomia e cooperação entre os entes. Misabel Derzi dita com
clareza:

"(...) a imunidade recíproca é explicada pela maioria dos juristas como


necessária decorrência da opção pela forma federal de Estado, assentando-
se, em primeiro lugar, na autonomia das pessoas estatais. (...) Outros
juristas, no entanto, preferem fundamentar as imunidades dos entes estatais
na ausência de capacidade contributiva. Nesse caso, o princípio se
estenderia às municipalidades e entes autárquicos,

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mesmo sendo unitária a forma de Estado, uma vez que a riqueza estatal se
destina a fins públicos (...) De fato, esse é outro prisma pelo qual a questão
também deve ser examinada, não se podendo reconhecer nas atividades
estatais próprias, como instrumentalidades governamentais, a capacidade
inerente às atividades econômicas de fins lucrativos. Nem seria razoável
tributar, decepando a renda, aquela atividade para cuja manutenção
compulsoriamente devem contribuir os cidadãos. Tal ângulo de análise
também explica por que motivo se excluem da imunidade as empresas
públicas, organizadas em regime de Direito Privado. Por si, o argumento da
ausência de capacidade econômica, hoje requisito expresso no art. 145 da
Constituição para imposição tributária por meio de impostos, seria suficiente
para justificar e deduzir a imunidade recíproca dos entes estatais. Mas ele
deve ser utilizado complementarmente, porque ele se presta também a
explicar a imunidade das instituições de educação, de assistência social, dos
sindicatos e dos partidos políticos, a qual não pode ser colocada no mesmo
plano comum àquele da recíproca. É que a imunidade recíproca, assentada
apenas na ausência de capacidade contributiva, fica empobrecida em sua
importância prevalecente e em seus distintos desdobramentos. A imunidade
recíproca responde a dois princípios constitucionais igualmente intangíveis,
por meio da emenda constitucional: ao princípio federal e ao princípio da
igualdade (que, no Direito Tributário, deve ser examinado
predominantemente segundo o critério da capacidade econômica) (...)" ("In"
BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2003, p. 125 e 126.)

A Constituição da República, portanto, para garantir que as autarquias sejam,


de fato, desprovidas de capacidade econômica e desenvolvam atividades
dignas da proteção assegurada aos próprios entes da federação, estabelece
requisitos a serem preenchidos para que incida esta limitação ao poder de
tributar. Nesse sentido, os §§ 2º e 3º do art. 150 da CR/88 expressamente
determinam que o patrimônio, renda ou serviços das autarquias ou
fundações devem estar vinculados às suas finalidades essenciais ou às
delas decorrentes, não podendo estar relacionados com a exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos

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privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas


pelo usuário.

O Código Tributário Nacional, por sua vez, o qual regula as limitações


constitucionais ao poder de tributar (art. 146, inc. II, da CR/88), é expresso ao
dispor, no "caput" de seu art. 13, que a imunidade intergovernamental
recíproca "não se aplica aos serviços públicos concedidos, cujo tratamento
tributário é estabelecido pelo poder concedente, no que se refere aos tributos
de sua competência", ressalvado casos de isenção expressamente
consignada em lei especial (parágrafo único do art. 13 do CTN).

Nesta esteira, e para fins de delimitação da abrangência da imunidade, é de


se estabelecer a exata medida em que o patrimônio, a renda e os serviços
das entidades descritas devem estar relacionados com suas "finalidades
essenciais", conforme prescrito no § 2º do art. 150 da CR/88 e se se voltam,
de fato, ao desenvolvimento de atividades desprovidas de finalidade
econômica.

No que tange às instituições de educação e assistência, o Pretório Excelso já


se posicionou por uma exegese menos restritiva no que diz respeito à
medida da vinculação de seu patrimônio, renda ou serviços às suas
finalidades essenciais. O seguinte precedente aplica-se ao caso dos autos,
eis que a CR/88 também dispõe que as autarquias devem cumprir tal
requisito. Nesse sentido:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ENTIDADE DE EDUCAÇÃO. IPTU.


IMUNIDADE.

- O Plenário desta Corte, ao julgar o RE 237.718, firmou o entendimento de


que a imunidade tributária do patrimônio das instituições de assistência social
(artigo 150, VI, "c", da Constituição) se aplica para afastar a incidência do
IPTU sobre imóveis de propriedade dessas instituições, ainda quando
alugados a terceiros, desde que a renda dos aluguéis seja aplicada em suas
finalidades institucionais.

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- Por outro lado, com base nesse precedente do Plenário , esta Primeira
Turma, ao julgar o RE 217.233, entendeu que a referida imunidade também
alcança as instituições de educação nas mesmas circunstâncias. Dessa
orientação não divergiu o acórdão recorrido. Recurso extraordinário não
conhecido." (STJ, RE n.º 210.742, 1ª Turma, Rel. Min. Moreira Alves,
23/10/2001; grifos deste voto.)

Adotando, portanto, a posição do col. Supremo Tribunal Federal, tem-se que


a vinculação direta ou mesmo indireta do patrimônio, renda ou serviços das
entidades aos seus fins institucionais não constitui afronta ao § 2º do inc. VI
do art. 150 da CR/88.

Posto isso, basta que a entidade que pleiteia o reconhecimento da imunidade


recíproca seja, de fato, autarquia regularmente instituída por lei e que esteja
conformada de modo que todo o seu patrimônio, renda ou serviços sejam
versados para preenchimento de seus objetivos (§ 2º do art. 150 da CR/88),
sem exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento
de preços ou tarifas pelo usuário (§ 3º do art. 150 da CR/88).

Neste rumo, a apelante submete-se ao regime jurídico da Lei n.º 1.220/1965


e Lei n.º 5.795/1994, que dispõe sobre a sua reorganização administrativa.
Veja-se alguns dos dispositivos pertinentes:

Lei n.º 5.795/97:

"Art. 2º. O Departamento Municipal de Água e Esgoto - DMAE, é um órgão


autárquico da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, com personalidade
jurídica própria, sede e foro na cidade Poços de Caldas, Estado de Minas
Gerais, dispondo de autonomia econômica, financeira e administrativa.

Art. 3º. - Compete ao Departamento Municipal de Água e Esgoto - DMAE:

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A - Operar, manter, conservar e explorar com exclusividade, os serviços de


abastecimento de água potável e de coleta e tratamento de esgotos do
município;

B - Estudar, projetar e executar diretamente ou mediante contrato com


terceiros, as obras e projetos relativos à ampliação ou remodelação dos
sistemas públicos de abastecimento de água potável e de coleta e
tratamento de esgotos;

C - Atuar como órgão coordenador e fiscalizador da execução dos convênios


firmados entre o Município e os órgãos federais ou estaduais para estudos,
projetos e obras de construção, ampliação ou remodelação dos serviços
públicos de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos
sanitários;

D - Arrecadar as tarifas dos serviços de água e esgotos, as taxas e


contribuições que incidirem sobre os imóveis beneficiados com tais serviços,
bem como lançar, fiscalizar e aplicar multas;

E - Exercer quaisquer outras atividades relacionadas com os sistemas


públicos de água e esgotos, compatíveis com leis gerais e específicas;

F - Baixar normas relativas a projetos e execução de obras relacionadas ao


abastecimento de água e esgotamento sanitário em loteamentos, conjuntos
habitacionais e vilas;

G - Exercer, extraordinariamente, atividades administra-tivas e operacionais


para explorar comercialmente as águas mineral e potável de mesa,
obedecendo a legislação específica vigente no país;

H - Desenvolver, em conjunto com órgãos ambientais, levantamentos,


diagnósticos e ações de caráter preventivo e corretivo nas áreas de interesse
à qualidade dos recursos hídricos.

I - Desenvolver projetos, programas e ações relativos à obtenção de recursos


financeiros, materiais, tecnológicos e administrativos com o objetivo de
viabilizar a autonomia prevista no artigo 2º da presente lei

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e melhorar a sua eficiência. (...)".

Resta claro, portanto, que o apelante é, de fato, autarquia municipal que


deve verter todos os seus recursos para cumprimento de suas finalidades
essenciais de abastecimento de água potável e manutenção do sistema de
esgotos sanitários no Município de Poços de Caldas, sendo, ademais,
supervisionada pelo Tribunal de Contas. Desta forma, impera a presunção
relativa de que os bens, rendas e serviços da apelante atendem ao seu fim
precípuo, sobretudo quando a legislação de regência determina tal
vinculação.

Contudo, é bem verdade, como previsto no item "d" do art. 3º supratranscrito,


que a apelante deve "arrecadar as tarifas dos serviços de água e esgotos, as
taxas e contribuições que incidirem sobre os imóveis beneficiados com tais
serviços, bem como lançar, fiscalizar e aplicar multas". Não obstante, resta
claro que a arrecadação de tarifas pela apelante não a transforma em
entidade que explora "atividades econômicas regidas pelas normas
aplicáveis a empreendimentos privados", pois a atividade que exerce é
essencial e própria do Poder Público.

Em outras palavras, o § 3º do inc. VI do art. 150 da CR/88, regulamentado


pelo art. 13 do CTN, volta-se a proibir que a imunidade recíproca seja
estendida a empresas tais como as concessionárias e permissionárias de
serviços públicos (que visam ao lucro) e que cobram contraprestações de
seus usuários sob a forma de preços e tarifas.

O caso da apelante é claramente distinto, porquanto é uma autarquia que


auxilia o Estado Democrático de Direito em seu "múnus" de garantir os
direitos sociais, tal como a saúde (art. 6º da Constituição da República de
1988).

É de se ressaltar que o col. Supremo Tribunal Federal entendeu pela


extensão da imunidade recíproca à Infraero, empresa pública que executa
como atividade-fim, em regime de monopólio, serviços de infra-estrutura
aeroportuária constitucionalmente outorgados à União

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Federal, ao entendimento de que não lhe seria aplicável o § 3º do art. 150 da


CR/88 pois "a submissão ao regime jurídico das empresas do setor privado,
inclusive quanto aos direitos e obrigações tributárias, somente se justifica,
como consectário natural do postulado da livre concorrência (CF, art. 170,
IV), se e quando as empresas governamentais explorarem atividade
econômica em sentido estrito, não se aplicando, por isso mesmo, a disciplina
prevista no art. 173, § 1º, da Constituição, às empresas públicas (Caso da
Infraero), às sociedades de economia mista e às suas subsidiárias que se
qualifiquem como delegatárias de serviços públicos" (RE n.º 363.412-AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, j. 08/08/2007, "in" DJE. 19/09/2008).

Registre-se que o col. Supremo Tribunal Federal também entende pela


extensão da imunidade recíproca à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos ("ECT") em relação ao IPVA, diferenciando os serviços públicos
de prestação obrigatória e serviços de índole econômica (ACO n.º 765/RJ,
Rel. p/ acórdão Min. Menezes Direito, "in" DJe. 04/09/2009).

Desta forma, no caso, prestando o DMAE serviço de abastecimento de água


potável e manutenção do sistema de esgotos sanitários, estes serviços
qualificam-se como públicos e de prestação obrigatória, não havendo como
qualificá-los como serviços de índole econômica.

De mais a mais, não há nos autos qualquer evidência de que os veículos


objeto da ação não sejam destinados às suas finalidades essenciais, prova
que caberia ao apelado fazer.

A jurisprudência deste eg. Tribunal se divide na matéria. Confira-se, porém,


os seguintes precedentes que chancelam a posição ora adotada:

"IPVA - IMUNIDADE RECÍPROCA - AUTARQUIA.

A imunidade recíproca ou intergovernamental alcança os impostos sobre o


patrimônio, a renda ou serviços, sendo extensiva às autarquias e às
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público."

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

(TJMG, AC n.º 1.0518.06.095346-1/001, 7ª Câmara Cível. Rel. Des. Edivaldo


George dos Santos, "in" DJ. 26/06/2009)

"AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - COBRANÇA DE


TARIFAS - ART. 150, § 3º, C.F. A interpretação do § 3º do art. 150 C.F. não
pode ser literal, porém sistemática e teleológica, harmonizando-se com o
disposto no § 2º do mesmo artigo. Autarquia municipal que exerce atividades
essenciais e próprias do poder público (fornecimento de água e esgoto), é
imune a tributos, ainda que cobre tarifas pelos serviços prestados." (TJMG,
AC n.º 1.0000.00.276946-1/000, Rel. Des. Francisco Lopes De Albuquerque,
"in" DJ. 28/02/2003)

"TRIBUTÁRIO - IPVA - IMUNIDADE RECÍPROCA - AUTARQUIA


MUNICIPAL PRESTADORA DO SERVIÇO PÚBLICO DE SANEAMENTO
BÁSICO -- COBRANÇA DE TARIFA PELA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO -
NÃO APLICAÇÃO DA EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 150, § 3º, CF. - A
imunidade recíproca a que alude o art. 150, VI, a, e § 2º, CF, pode ser
invocada por autarquia pública municipal que explora o serviço de água e
esgoto, na medida em que a cobrança de tarifa não descaracteriza o
benefício constitucional, mesmo em face do disposto no § 3º do art. 150, CF."
(TJMG, AC n.º 1.0461.08.049054-7/001, 1ª Câmara Cível, Rel. Des. Alberto
Vilas Boas, "in" 22/05/2009)

"TRIBUTÁRIO - IPVA - AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE.

- Sendo a autarquia municipal integrante da Administração Pública, é de


direito que se beneficie da imunidade tributária quanto ao IPVA e ditada pelo
comando constitucional de que se ocupa o art. 150, § 2º, da Carta Maior"
(TJMG, AC nº 1.0000.00.238622-5/000, 1ª Câmara Cível, Rel. Des.
Francisco Figueiredo, "in" DJ. 04/10/2002 )

"AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.

A teor do disposto no inciso VI do art. 150 da Constituição da República, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir
impostos sobre patrimônio renda ou serviços, uns

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dos outros, vedação que, consoante o §2º do mesmo artigo, se estende às


autarquias e às fundações instituídas pelo Poder Público, no que se refere ao
patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais
ou às delas decorrentes." (TJMG, AC n.º 000.311814-8/000, 1ª Câmara
Cível, Rel. Des. Geraldo Augusto, "in" DJ. 16/05/2003)

Ao exposto, resta claro que a apelante faz jus à imunidade recíproca


estabelecida no art. 150, inc. VI, alínea 'a', c/c art. 150, § 2º, da CR/88, em
relação ao IPVA.

Registre-se, por derradeiro, que a o pedido e a causa de pedir postos na


inicial (f. 02/20) se voltam para o reconhecimento da imunidade do autor em
relação ao IPVA, não devendo ser acolhido o pedido genérico posto no
recurso de apelação para declaração de imunidade em relação aos
"impostos estaduais".

Em face do exposto, dou provimento parcial ao recurso para reformar a


sentença e julgar procedentes os pedidos iniciais, declarando a imunidade do
autor em relação ao IPVA, determinando a restituição do indébito referente
aos exercícios pleiteados - 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006, acrescidos de
juros e correção monetária pelo índice único da SELIC a partir do trânsito em
julgado da decisão. Ficam invertidos os ônus de sucumbência.

Custas recursais, "ex lege".

A SR.ª DES.ª TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO:

Dei a dedicação costumeira às palavras do ilustre orador, e, por uma das


ponderações feitas por S. Ex.ª da tribuna, peço vista deste processo.

SÚMULA : RECURSO PROVIDO EM PARTE PELO RELATOR. PEDIU


VISTA A REVISORA.

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8ª CÂMARA CÍVEL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.06.044294-4/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): DEPTO MUN AGUA ESGOTO POCOS
CALDAS - APELADO(A)(S): ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO.
SR. DES. EDGARD PENNA AMORIM

O SR. DES. EDGARD PENNA AMORIM:

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Departamento Municipal de


Água e Esgoto de Poços de Caldas nos autos de "ação declaratória de
imunidade c/c de repetição de indébito" que move em face do Estado de
Minas Gerais contra sentença da lavra do i. Juiz de Direito da 4ª Vara de
Feitos Tributários do Estado que julgou improcedente o pedido inicial e
indeferiu os pleitos de expedição de ordem ao DETRAN-MG para liberação
de documentos de licenciamento de veículos, revogando decisões de f. 461 e
474. Condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com atualização
monetária, pela variação do INPC, desde a data da publicação da sentença,
nos termos do art. 20, § 4º, do CPC.

O autor protocolizou pedido de reconsideração da decisão que indeferiu o


pleito de envio de ofício ao DETRAN, que foi atendido pelo i. Juiz "a quo" às
f. 634/635, que deferiu o pedido determinando ao DETRAN que, em dez dias,
expedisse os documentos de licenciamento dos veículos de f. 494/495, de
propriedade do autor, desde que cumpridos os demais requisitos legais,
salvo o pagamento do IPVA,

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cuja exigibilidade fica suspensa em virtude de depósito. Determinou, ainda,


que o depósito fique vinculado ao pagamento do tributo, caso o autor venha
a sucumbir na demanda.

Foram opostos embargos de declaração pelo autor às f. 638/643, rejeitados


às f. 644/647.

O autor apresenta recurso de apelação, requerendo a reforma da sentença.


Para tanto alega, em síntese, que: a) o apelante é autarquia e, como tal,
titular de atividade e interesses públicos, prestando serviço essencial e
obrigatório de competência dos Municípios, a serem exercidos sob diretrizes
da União; b) o col. Supremo Tribunal Federal tem entendimento de que a
empresa pública é abrangida pela imunidade de que trata o art. 150, inc. VI,
"a", da CR/88, como é o caso da EBCT; c) o apelante não explora atividade
econômica em sentido estrito; d) a natureza jurídica da remuneração dos
serviços prestados pelo apelante é de taxa, dada a obrigatoriedade do
serviço e, ainda que se entenda se tratar de tarifa, isto não afasta a
imunidade; e) o patrimônio sobre o qual recairão os efeitos da imunidade são
bens que consubstanciam instrumentos essenciais para a prestação do
serviço público fundamental prestado pelo apelante; f) o apelante tem direito
à restituição do IPVA recolhido nas competências de 2002 a 2006. Pede seja
o recurso provido para reformar a sentença e declarar a sua imunidade aos
impostos estaduais, notadamente o IPVA e a inexistência de relação jurídica
que o obrigue ao pagamento do tributo, condenando o Estado de Minas
Gerais a restituir o indébito, acrescido de juros e correção monetária, a partir
do recolhimento.

Não houve apresentação de contrarrazões de apelação.

Os autos subiram a este eg. Tribunal, vindo-me conclusos.

Conheço do recurso de apelação, presentes seus pressupostos de


admissibilidade.

Da análise dos autos, a discussão gira em torno da imunidade do

15
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Departamento Municipal de Água e Esgoto de Poços de Caldas em relação


ao IPVA.

Assim, a matéria discutida nos presentes autos cinge-se ao reconhecimento


de eventual imunidade tributária recíproca em favor do autor, ora apelante,
amparada no art. 150, inc. VI, alínea 'a', c/c art. 150, § 2º, da CR/88, que
veda a imposição tributária sobre o patrimônio, renda ou serviços dos entes
federados, uns dos outros, e das autarquias ou fundações mantidas pelo
poder público.

Impende verificar, portanto, qual a abrangência da discutida imunidade e


quais os requisitos que a Constituição de República impõe sejam cumpridos,
para aferir se o apelante faz jus à não-incidência constitucional. Para tanto,
transcrevam-se as disposições pertinentes contidas na Lei Maior:

"Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, uns dos outros;

(...)

§ 2º A vedação do inciso VI, a, é extensiva às autarquias e às fundações


instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à
renda e aos serviços, vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.

§ 3º As vedações do inciso VI, a, e do parágrafo anterior não se aplicam ao


patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis

16
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento


de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da
obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel."

"Ab initio", vale frisar que, sendo a apelada autarquia criada pela Lei
Municipal n.º 420/1954, posteriormente alterada pela Lei n.º 1.220/65, sendo
responsável pelo abastecimento de água potável e pelo sistema de esgotos
sanitários no Município de Poços de Caldas, a imunidade a que
eventualmente faz jus é a imunidade intergovernamental recíproca, prevista
na alínea 'a' do inciso VI do art. 150 da CR/88, por estender-se às autarquias,
consoante o § 2º do mesmo artigo.

É de se ressaltar que a extensão constitucional da imunidade recíproca às


autarquias deve-se à pressuposta ausência de capacidade contributiva
destas entidades, combinado com o respeito ao princípio federalista que
determina autonomia e cooperação entre os entes. Misabel Derzi dita com
clareza:

"(...) a imunidade recíproca é explicada pela maioria dos juristas como


necessária decorrência da opção pela forma federal de Estado, assentando-
se, em primeiro lugar, na autonomia das pessoas estatais. (...) Outros
juristas, no entanto, preferem fundamentar as imunidades dos entes estatais
na ausência de capacidade contributiva. Nesse caso, o princípio se
estenderia às municipalidades e entes autárquicos, mesmo sendo unitária a
forma de Estado, uma vez que a riqueza estatal se destina a fins públicos (...)
De fato, esse é outro prisma pelo qual a questão também deve ser
examinada, não se podendo reconhecer nas atividades estatais próprias,
como instrumentalidades governamentais, a capacidade inerente às
atividades econômicas de fins lucrativos. Nem seria razoável tributar,
decepando a renda, aquela atividade para cuja manutenção
compulsoriamente devem contribuir os cidadãos. Tal ângulo de análise
também explica por que motivo se excluem da imunidade as empresas
públicas, organizadas em regime de Direito Privado. Por si, o argumento da
ausência de capacidade econômica, hoje requisito expresso no art. 145 da
Constituição para

17
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

imposição tributária por meio de impostos, seria suficiente para justificar e


deduzir a imunidade recíproca dos entes estatais. Mas ele deve ser utilizado
complementarmente, porque ele se presta também a explicar a imunidade
das instituições de educação, de assistência social, dos sindicatos e dos
partidos políticos, a qual não pode ser colocada no mesmo plano comum
àquele da recíproca. É que a imunidade recíproca, assentada apenas na
ausência de capacidade contributiva, fica empobrecida em sua importância
prevalecente e em seus distintos desdobramentos. A imunidade recíproca
responde a dois princípios constitucionais igualmente intangíveis, por meio
da emenda constitucional: ao princípio federal e ao princípio da igualdade
(que, no Direito Tributário, deve ser examinado predominantemente segundo
o critério da capacidade econômica) (...)" ("In" BALEEIRO, Aliomar. Direito
tributário brasileiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 125 e 126.)

A Constituição da República, portanto, para garantir que as autarquias sejam,


de fato, desprovidas de capacidade econômica e desenvolvam atividades
dignas da proteção assegurada aos próprios entes da federação, estabelece
requisitos a serem preenchidos para que incida esta limitação ao poder de
tributar. Nesse sentido, os §§ 2º e 3º do art. 150 da CR/88 expressamente
determinam que o patrimônio, renda ou serviços das autarquias ou
fundações devem estar vinculados às suas finalidades essenciais ou às
delas decorrentes, não podendo estar relacionados com a exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos
privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas
pelo usuário.

O Código Tributário Nacional, por sua vez, o qual regula as limitações


constitucionais ao poder de tributar (art. 146, inc. II, da CR/88), é expresso ao
dispor, no "caput" de seu art. 13, que a imunidade intergovernamental
recíproca "não se aplica aos serviços públicos concedidos, cujo tratamento
tributário é estabelecido pelo poder concedente, no que se refere aos tributos
de sua competência", ressalvado casos de isenção expressamente
consignada em lei especial (parágrafo único do art. 13 do CTN).

18
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Nesta esteira, e para fins de delimitação da abrangência da imunidade, é de


se estabelecer a exata medida em que o patrimônio, a renda e os serviços
das entidades descritas devem estar relacionados com suas "finalidades
essenciais", conforme prescrito no § 2º do art. 150 da CR/88 e se se voltam,
de fato, ao desenvolvimento de atividades desprovidas de finalidade
econômica.

No que tange às instituições de educação e assistência, o Pretório Excelso já


se posicionou por uma exegese menos restritiva no que diz respeito à
medida da vinculação de seu patrimônio, renda ou serviços às suas
finalidades essenciais. O seguinte precedente aplica-se ao caso dos autos,
eis que a CR/88 também dispõe que as autarquias devem cumprir tal
requisito. Nesse sentido:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ENTIDADE DE EDUCAÇÃO. IPTU.


IMUNIDADE.

- O Plenário desta Corte, ao julgar o RE 237.718, firmou o entendimento de


que a imunidade tributária do patrimônio das instituições de assistência social
(artigo 150, VI, "c", da Constituição) se aplica para afastar a incidência do
IPTU sobre imóveis de propriedade dessas instituições, ainda quando
alugados a terceiros, desde que a renda dos aluguéis seja aplicada em suas
finalidades institucionais.

- Por outro lado, com base nesse precedente do Plenário , esta Primeira
Turma, ao julgar o RE 217.233, entendeu que a referida imunidade também
alcança as instituições de educação nas mesmas circunstâncias. Dessa
orientação não divergiu o acórdão recorrido. Recurso extraordinário não
conhecido." (STF, RE n.º 210.742, 1ª Turma, Rel. Min. Moreira Alves,
23/10/2001; grifos deste voto.)

Adotando, portanto, a posição do col. Supremo Tribunal Federal, tem-se que


a vinculação direta ou mesmo indireta do patrimônio, renda ou serviços das
entidades aos seus fins institucionais não constitui afronta ao § 2º do inc. VI
do art. 150 da CR/88.

19
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Posto isso, basta que a entidade que pleiteia o reconhecimento da imunidade


recíproca seja, de fato, autarquia regularmente instituída por lei e que esteja
conformada de modo que todo o seu patrimônio, renda ou serviços sejam
versados para preenchimento de seus objetivos (§ 2º do art. 150 da CR/88),
sem exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento
de preços ou tarifas pelo usuário (§ 3º do art. 150 da CR/88).

Neste rumo, a apelante submete-se ao regime jurídico da Lei n.º 1.220/1965


e Lei n.º 5.795/1994, que dispõe sobre a sua reorganização administrativa.
Veja-se alguns dos dispositivos pertinentes:

Lei n.º 5.795/97:

"Art. 2º. O Departamento Municipal de Água e Esgoto - DMAE, é um órgão


autárquico da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, com personalidade
jurídica própria, sede e foro na cidade Poços de Caldas, Estado de Minas
Gerais, dispondo de autonomia econômica, financeira e administrativa.

Art. 3º. - Compete ao Departamento Municipal de Água e Esgoto - DMAE:

A - Operar, manter, conservar e explorar com exclusividade, os serviços de


abastecimento de água potável e de coleta e tratamento de esgotos do
município;

B - Estudar, projetar e executar diretamente ou mediante contrato com


terceiros, as obras e projetos relativos à ampliação ou remodelação dos
sistemas públicos de abastecimento de água potável e de coleta e
tratamento de esgotos;

C - Atuar como órgão coordenador e fiscalizador da execução dos convênios


firmados entre o Município e os órgãos federais ou

20
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

estaduais para estudos, projetos e obras de construção, ampliação ou


remodelação dos serviços públicos de abastecimento de água e de coleta e
tratamento de esgotos sanitários;

D - Arrecadar as tarifas dos serviços de água e esgotos, as taxas e


contribuições que incidirem sobre os imóveis beneficiados com tais serviços,
bem como lançar, fiscalizar e aplicar multas;

E - Exercer quaisquer outras atividades relacionadas com os sistemas


públicos de água e esgotos, compatíveis com leis gerais e específicas;

F - Baixar normas relativas a projetos e execução de obras relacionadas ao


abastecimento de água e esgotamento sanitário em loteamentos, conjuntos
habitacionais e vilas;

G - Exercer, extraordinariamente, atividades administra-tivas e operacionais


para explorar comercialmente as águas mineral e potável de mesa,
obedecendo a legislação específica vigente no país;

H - Desenvolver, em conjunto com órgãos ambientais, levantamentos,


diagnósticos e ações de caráter preventivo e corretivo nas áreas de interesse
à qualidade dos recursos hídricos.

I - Desenvolver projetos, programas e ações relativos à obtenção de recursos


financeiros, materiais, tecnológicos e administrativos com o objetivo de
viabilizar a autonomia prevista no artigo 2º da presente lei e melhorar a sua
eficiência. (...)".

Resta claro, portanto, que o apelante é, de fato, autarquia municipal que


deve verter todos os seus recursos para cumprimento de suas finalidades
essenciais de abastecimento de água potável e manutenção do sistema de
esgotos sanitários no Município de Poços de Caldas, sendo, ademais,
supervisionada pelo Tribunal de Contas. Desta forma, impera a presunção
relativa de que os bens, rendas e serviços da apelante atendem ao seu fim
precípuo, sobretudo quando a legislação de regência determina tal
vinculação.

21
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Contudo, é bem verdade, como previsto no item "d" do art. 3º supratranscrito,


que a apelante deve "arrecadar as tarifas dos serviços de água e esgotos, as
taxas e contribuições que incidirem sobre os imóveis beneficiados com tais
serviços, bem como lançar, fiscalizar e aplicar multas". Não obstante, resta
claro que a arrecadação de tarifas pela apelante não a transforma em
entidade que explora "atividades econômicas regidas pelas normas
aplicáveis a empreendimentos privados", pois a atividade que exerce é
essencial e própria do Poder Público.

Em outras palavras, o § 3º do inc. VI do art. 150 da CR/88, regulamentado


pelo art. 13 do CTN, volta-se a proibir que a imunidade recíproca seja
estendida a empresas tais como as concessionárias e permissionárias de
serviços públicos (que visam ao lucro) e que cobram contraprestações de
seus usuários sob a forma de preços e tarifas.

O caso da apelante é claramente distinto, porquanto é uma autarquia que


auxilia o Estado Democrático de Direito em seu "múnus" de garantir os
direitos sociais, tal como a saúde (art. 6º da Constituição da República de
1988).

É de se ressaltar que o col. Supremo Tribunal Federal entendeu pela


extensão da imunidade recíproca à Infraero, empresa pública que executa
como atividade-fim, em regime de monopólio, serviços de infra-estrutura
aeroportuária constitucionalmente outorgados à União Federal, ao
entendimento de que não lhe seria aplicável o § 3º do art. 150 da CR/88 pois
"a submissão ao regime jurídico das empresas do setor privado, inclusive
quanto aos direitos e obrigações tributárias, somente se justifica, como
consectário natural do postulado da livre concorrência (CF, art. 170, IV), se e
quando as empresas governamentais explorarem atividade econômica em
sentido estrito, não se aplicando, por isso mesmo, a disciplina prevista no art.
173, § 1º, da Constituição, às empresas públicas (Caso da Infraero), às
sociedades de economia mista e às suas subsidiárias que se qualifiquem
como delegatárias de serviços públicos" (RE n.º 363.412-AgR, Rel. Min.
Celso de Mello, j. 08/08/2007, "in" DJE. 19/09/2008).

22
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Registre-se que o col. Supremo Tribunal Federal também entende pela


extensão da imunidade recíproca à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos ("ECT") em relação ao IPVA, diferenciando os serviços públicos
de prestação obrigatória e serviços de índole econômica (ACO n.º 765/RJ,
Rel. p/ acórdão Min. Menezes Direito, "in" DJe. 04/09/2009).

Desta forma, no caso, prestando o DMAE serviço de abastecimento de água


potável e manutenção do sistema de esgotos sanitários, estes serviços
qualificam-se como públicos e de prestação obrigatória, não havendo como
qualificá-los como serviços de índole econômica.

De mais a mais, não há nos autos qualquer evidência de que os veículos


objeto da ação não sejam destinados às suas finalidades essenciais, prova
que caberia ao apelado fazer.

A jurisprudência deste eg. Tribunal se divide na matéria. Confira-se, porém,


os seguintes precedentes que chancelam a posição ora adotada:

"IPVA - IMUNIDADE RECÍPROCA - AUTARQUIA.

A imunidade recíproca ou intergovernamental alcança os impostos sobre o


patrimônio, a renda ou serviços, sendo extensiva às autarquias e às
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público." (TJMG, AC n.º
1.0518.06.095346-1/001, 7ª Câmara Cível. Rel. Des. Edivaldo George dos
Santos, "in" DJ. 26/06/2009)

"AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - COBRANÇA DE


TARIFAS - ART. 150, § 3º, C.F. A interpretação do § 3º do art. 150 C.F. não
pode ser literal, porém sistemática e teleológica, harmonizando-se com o
disposto no § 2º do mesmo artigo. Autarquia municipal que exerce atividades
essenciais e próprias do poder público (fornecimento de água e esgoto), é
imune a tributos, ainda que cobre tarifas pelos serviços prestados." (TJMG,
AC n.º 1.0000.00.276946-1/000, Rel. Des. Francisco Lopes De Albuquerque,
"in" DJ.

23
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

28/02/2003)

"TRIBUTÁRIO - IPVA - IMUNIDADE RECÍPROCA - AUTARQUIA


MUNICIPAL PRESTADORA DO SERVIÇO PÚBLICO DE SANEAMENTO
BÁSICO -- COBRANÇA DE TARIFA PELA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO -
NÃO APLICAÇÃO DA EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 150, § 3º, CF. - A
imunidade recíproca a que alude o art. 150, VI, a, e § 2º, CF, pode ser
invocada por autarquia pública municipal que explora o serviço de água e
esgoto, na medida em que a cobrança de tarifa não descaracteriza o
benefício constitucional, mesmo em face do disposto no § 3º do art. 150, CF."
(TJMG, AC n.º 1.0461.08.049054-7/001, 1ª Câmara Cível, Rel. Des. Alberto
Vilas Boas, "in" 22/05/2009)

"TRIBUTÁRIO - IPVA - AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE.

- Sendo a autarquia municipal integrante da Administração Pública, é de


direito que se beneficie da imunidade tributária quanto ao IPVA e ditada pelo
comando constitucional de que se ocupa o art. 150, § 2º, da Carta Maior"
(TJMG, AC nº 1.0000.00.238622-5/000, 1ª Câmara Cível, Rel. Des.
Francisco Figueiredo, "in" DJ. 04/10/2002 )

"AUTARQUIA MUNICIPAL - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.

A teor do disposto no inciso VI do art. 150 da Constituição da República, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir
impostos sobre patrimônio renda ou serviços, uns dos outros, vedação que,
consoante o §2º do mesmo artigo, se estende às autarquias e às fundações
instituídas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos
serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes."
(TJMG, AC n.º 000.311814-8/000, 1ª Câmara Cível, Rel. Des. Geraldo
Augusto, "in" DJ. 16/05/2003)

Ao exposto, resta claro que a apelante faz jus à imunidade recíproca


estabelecida no art. 150, inc. VI, alínea 'a', c/c art. 150, § 2º, da CR/88, em
relação ao IPVA.

24
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Registre-se, por derradeiro, que a o pedido e a causa de pedir postos na


inicial (f. 02/20) se voltam para o reconhecimento da imunidade do autor em
relação ao IPVA, não devendo ser acolhido o pedido genérico posto no
recurso de apelação para declaração de imunidade em relação aos
"impostos estaduais".

Em face do exposto, dou provimento parcial ao recurso para reformar a


sentença e julgar procedentes os pedidos iniciais, declarando a imunidade do
autor em relação ao IPVA, determinando a restituição do indébito referente
aos exercícios pleiteados - 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006, acrescidos de
juros e correção monetária pelo índice único da SELIC a partir do trânsito em
julgado da decisão. Ficam invertidos os ônus de sucumbência.

Custas recursais, "ex lege".

A SRª. DESª. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO:

VOTO

Adiro ao voto proferido pelo eminente Relator, apenas ressalvando meu


entendimento pessoal no sentido de que, a despeito do serviço de água e
saneamento ter caráter público e ser fornecido por autarquia municipal, está
relacionado com exploração de atividade que pressupõe contraprestação ou
pagamento de tarifa pelo usuário, não se aplicando a regra da imunidade
recíproca, posto se enquadrar na exceção constitucional prevista no § 3º, do
artigo 150.

Contudo, recentemente o Supremo Tribunal Federal, a quem incumbe a


interpretação das normas constitucionais, se posicionou pela aplicabilidade
da imunidade tributária a autarquia municipal que presta serviço público de
água e esgoto, in verbis:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA.


AUTARQUIA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO.
ATIVIDADE REMUNERADA POR CONTRAPRESTAÇÃO.
APLICABILIDADE. ART, 150, §3º DA CONSTITUIÇÃO. PROCESSUAL
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. 1.

25
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Definem o alcance da imunidade tributária recíproca sua vocação para servir


como salvaguarda do pacto federativo, para evitar pressões políticas entre
entes federados ou para desonerar atividades desprovidas de presunção de
riqueza. 2. É aplicável a imunidade tributária recíproca às autarquias e
empresas públicas que prestem inequívoco serviço público, desde que, entre
outros requisitos constitucionais e legais não distribuam lucros ou resultados
direta ou indiretamente a particulares, ou tenham por objetivo principal
conceder acréscimo patrimonial ao poder público (ausência de capacidade
contributiva) e não desempenhem atividade econômica, de modo a conferir
vantagem não extensível às empresas privadas (livre iniciativa e
concorrência). 3. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto é imune à
tributação por impostos (art. 150, VI, a e §§ 2º e 3º da Constituição). A
cobrança de tarifas, isoladamente considerada, não altera a conclusão.
Agravo regimental conhecido, mas ao qual se nega provimento. (RE 399307
AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em
16/03/2010, DJe-076 DIVULG 29-04-2010 PUBLIC 30-04-2010 EMENT VOL-
02399-07 PP-01492)

EMENTA: Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, "a", da Constituição


Federal. Extensão. Empresa pública prestadora de serviço público.
Precedentes da Suprema Corte. 1. Já assentou a Suprema Corte que a
norma do art. 150, VI, "a", da Constituição Federal alcança as empresas
públicas prestadoras de serviço público, como é o caso da autora, que não
se confunde com as empresas públicas que exercem atividade econômica
em sentido estrito. Com isso, impõe-se o reconhecimento da imunidade
tributária prevista no art. 150, VI, a da Constituição Federal. 2. Ação cível
originária julgada procedente. (ACO 959, Relator(a): Min. MENEZES
DIREITO, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-088 DIVULG 15-05-
2008 PUBLIC 16-05-2008 EMENT VOL-02319-01 PP-00001 RTJ VOL-00204
-02 PP-00518 LEXSTF v. 30, n. 356, 2008, p. 23-37)

No mesmo sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. AUTARQUIA.


FORNECIMENTO DE ÁGUA. TAXA. IMUNIDADE. 1. São passíveis de

26
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

cobrança de taxa os serviços públicos dotados de obrigatoriedade, como o


fornecimento de água e esgoto, atividade inerente à função essencial do
Estado de promoção da higiene e saúde. 2. Os valores percebidos por
autarquia a título de taxa, decorrentes da prestação de serviço público
vinculado à sua atividade essencial, são imunes à incidência de imposto de
renda. 3. Recurso ordinário provido. (RMS 18.441/SC, Rel. Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/09/2005, DJ
26/09/2005 p. 271)

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - IMUNIDADE - FATO


IMPEDITIVO - ART. 331, IV, DO CPC - ÔNUS DA PROVA - VIOLAÇÃO
REFLEXA. 1. Presunção juris tantum quanto à imunidade da autarquia
municipal, por força da própria sistemática legal (art. 334, IV, do CPC), de
forma que caberia ao Município, mesmo em sede de embargos à execução,
apresentar prova de fato impeditivo em relação a esse favor constitucional
(art. 333, I, do CPC), através da comprovação de que os serviços prestados
pelo ente administrativo ou seu patrimônio estão desvinculados dos objetivos
institucionais. 2. Violação reflexa a dispositivos federais não ensejam a
interposição de recurso especial - precedentes. 3. Recurso especial
improvido. (REsp 320.948/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 22/04/2003, DJ 02/06/2003 p. 244)

Assim, ressalvando meu entendimento pessoal quanto à matéria,


acompanho o voto antecedente, para reconhecer que o Departamento
Municipal de Água e Esgoto de Poços de Caldas é imune à tributação por
impostos, por prestar serviço público, não desenvolvendo atividade
econômica tipicamente privada, com divisão de lucros, ausente a
comprovação de que o patrimônio da autarquia municipal estaria sendo
desvirtuado dos seus objetivos institucionais.

Com esse adminículo, acompanho o entendimento do eminente Relator.

O SR. DES. VIEIRA DE BRITO:

VOTO

27
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

De acordo.

>>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. BITENCOURT MARCONDES):

O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 26/08/2010, a pedido


da Revisora, após votar o Relator provendo o recurso em parte.

Com a palavra a Des.ª Teresa Cristina da Cunha Peixoto.

A SR.ª DES.ª TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO:

VOTO

Adiro ao voto proferido pelo eminente Relator, apenas ressalvando meu


entendimento pessoal no sentido de que, a despeito do serviço de água e
saneamento ter caráter público e ser fornecido por autarquia municipal, está
relacionado com exploração de atividade que pressupõe contraprestação ou
pagamento de tarifa pelo usuário, não se aplicando a regra da imunidade
recíproca, posto se enquadrar na exceção constitucional prevista no § 3º, do
artigo 150.

Contudo, recentemente o Supremo Tribunal Federal, a quem incumbe a


interpretação das normas constitucionais, se posicionou pela aplicabilidade
da imunidade tributária a autarquia municipal que presta serviço público de
água e esgoto, in verbis:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA.


AUTARQUIA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO.
ATIVIDADE REMUNERADA POR CONTRAPRESTAÇÃO.
APLICABILIDADE. ART, 150, §3º DA CONSTITUIÇÃO. PROCESSUAL
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. 1. Definem o alcance da imunidade
tributária recíproca sua vocação para servir como salvaguarda do pacto

28
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

políticas entre entes federados ou para desonerar atividades desprovidas de


presunção de riqueza. 2. É aplicável a imunidade tributária recíproca às
autarquias e empresas públicas que prestem inequívoco serviço público,
desde que, entre outros requisitos constitucionais e legais não distribuam
lucros ou resultados direta ou indiretamente a particulares, ou tenham por
objetivo principal conceder acréscimo patrimonial ao poder público (ausência
de capacidade contributiva) e não desempenhem atividade econômica, de
modo a conferir vantagem não extensível às empresas privadas (livre
iniciativa e concorrência). 3. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto é imune
à tributação por impostos (art. 150, VI, a e §§ 2º e 3º da Constituição). A
cobrança de tarifas, isoladamente considerada, não altera a conclusão.
Agravo regimental conhecido, mas ao qual se nega provimento. (RE 399307
AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em
16/03/2010, DJe-076 DIVULG 29-04-2010 PUBLIC 30-04-2010 EMENT VOL-
02399-07 PP-01492)

EMENTA: Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, "a", da Constituição


Federal. Extensão. Empresa pública prestadora de serviço público.
Precedentes da Suprema Corte. 1. Já assentou a Suprema Corte que a
norma do art. 150, VI, "a", da Constituição Federal alcança as empresas
públicas prestadoras de serviço público, como é o caso da autora, que não
se confunde com as empresas públicas que exercem atividade econômica
em sentido estrito. Com isso, impõe-se o reconhecimento da imunidade
tributária prevista no art. 150, VI, a da Constituição Federal. 2. Ação cível
originária julgada procedente. (ACO 959, Relator(a): Min. MENEZES
DIREITO, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-088 DIVULG 15-05-
2008 PUBLIC 16-05-2008 EMENT VOL-02319-01 PP-00001 RTJ VOL-00204
-02 PP-00518 LEXSTF v. 30, n. 356, 2008, p. 23-37)

No mesmo sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. AUTARQUIA.


FORNECIMENTO DE ÁGUA. TAXA. IMUNIDADE. 1. São passíveis de
cobrança de taxa os serviços públicos dotados de obrigatoriedade, como o
fornecimento de água e esgoto, atividade inerente à função

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essencial do Estado de promoção da higiene e saúde. 2. Os valores


percebidos por autarquia a título de taxa, decorrentes da prestação de
serviço público vinculado à sua atividade essencial, são imunes à incidência
de imposto de renda. 3. Recurso ordinário provido. (RMS 18.441/SC, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/09/2005, DJ 26/09/2005 p. 271)

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - IMUNIDADE - FATO


IMPEDITIVO - ART. 331, IV, DO CPC - ÔNUS DA PROVA - VIOLAÇÃO
REFLEXA. 1. Presunção juris tantum quanto à imunidade da autarquia
municipal, por força da própria sistemática legal (art. 334, IV, do CPC), de
forma que caberia ao Município, mesmo em sede de embargos à execução,
apresentar prova de fato impeditivo em relação a esse favor constitucional
(art. 333, I, do CPC), através da comprovação de que os serviços prestados
pelo ente administrativo ou seu patrimônio estão desvinculados dos objetivos
institucionais. 2. Violação reflexa a dispositivos federais não ensejam a
interposição de recurso especial - precedentes. 3. Recurso especial
improvido. (REsp 320.948/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 22/04/2003, DJ 02/06/2003 p. 244)

Assim, ressalvando meu entendimento pessoal quanto à matéria,


acompanho o voto antecedente, para reconhecer que o Departamento
Municipal de Água e Esgoto de Poços de Caldas é imune à tributação por
impostos, por prestar serviço público, não desenvolvendo atividade
econômica tipicamente privada, com divisão de lucros, ausente a
comprovação de que o patrimônio da autarquia municipal estaria sendo
desvirtuado dos seus objetivos institucionais.

Com esse adminículo, acompanho o entendimento do eminente Relator.

O SR. DES. VIEIRA DE BRITO:

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO.

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