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REVITALIZAÇÃO DE ÁREAS CONTAMINADAS ∗

LUIS ENRIQUE SÁNCHEZ

RESUMO

Os problemas ambientais associados à presença de solos contaminados começaram a ser


reconhecidos no Brasil durante a década de 1980, mas foi somente a partir de meados da
década seguinte que respostas do Poder Público começaram a ser estruturadas. O Estado de
São Paulo foi pioneiro, ao estabelecer um programa de capacitação de recursos humanos e
de desenvolvimento de ferramentas de gestão, contando com a cooperação do governo
alemão. A ação governamental vem se dando através de diferentes iniciativas, como a
constituição de um cadastro de áreas contaminadas e a introdução de novos requisitos
legais. Há diversos projetos de remediação em andamento e várias empresas já adotam
procedimentos de precaução antes da realização de transações imobiliárias que envolvam
terrenos potencialmente contaminados. O próximo passo, ainda incipiente, será desenvolver
mecanismos para promover a revitalização de áreas contaminadas, de modo a dar um novo
uso sustentável a essas áreas, incentivando, ao mesmo tempo, a requalificação urbana.

ABSTRACT

Environmental issues associated with the presence of contaminated soil were first
recognized in Brazil during the 80s, but it was only after the middle of the following decade
that governmental responses began to be structured. The state of São Paulo acted as a
pioneer by establishing a program for the training of human resources and for the
·development of management tools, banking on the cooperation of the German government.
Governmental action has occurred through different initiatives, such as the preparation of
a reference file of contaminated areas and the introduction of new legal requirements.
There are several remediation projects currently in progress, and various companies have
already adopted precautionary measures prior to carrying out real estate transactions that
involve potentially contaminated land. The next step, which is s till incipient, consists of
developing mechanisms to facilitate redevelopment of contaminated areas, in order to
provide these areas with a new sustainable use, promoting urban re-qualification at the
same time.

1. INTRODUÇÃO

Apesar de mais de três décadas de políticas ambientais, a degradação da


qualidade do ambiente continua seu curso na maior parte do globo. Já não bastam
políticas preventivas, pois para reverter os processos que levam à degradação


Como citar: Sánchez, L.E. Revitalização de áreas contaminadas. In: Moeri, E.; Coelho, R.; Marker, A.
(orgs.), Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas: Aspectos Técnicos, Legais e Financeiros. São
Paulo: Signus Editora, p. 79-90, 2004.
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ambiental são necessárias iniciativas concretas de reparação dos danos causados


no passado - o passivo ambiental. A contaminação do solo por atividades
industriais ou pelo lançamento de resíduos é uma das mais significativas
evidências do passivo ambiental.
O reconhecimento público do problema data dos anos de 1970, quando, nos
Estados Unidos e na Europa, foram evidenciados problemas de saúde em pessoas
expostas a substâncias químicas presentes em áreas contaminadas. Dois casos
paradigmáticos são Love Canal, no Estado de Nova York, Estados Unidos, e
Lekkerkerk, próximo a Roterdã, na Holanda. No primeiro, uma escola e diversas
residências foram construídas sobre um antigo canal usado para disposição de
resíduos de indústrias químicas. No segundo, residências foram construídas sobre
um aterro onde haviam sido depositados resíduos de diversos tipos.
Em ambos os casos, depois de intensas polêmicas sobre as causas dos
problemas de saúde manifestados pelos moradores, houve a remoção das pessoas
e a interdição da área. Love Canal continua até hoje sendo remediado, enquanto em
Lekkerkerk os resíduos foram removidos e as residências reconstruídas.
Inúmeros outros casos foram sendo paulatinamente descobertos em
praticamente todos os países industrializados, que passaram a adotar legislações
específicas para a proteção do solo ou para o gerenciamento de áreas
contaminadas. Das mais conhecidas é a lei americana Comprehensive Environmental
Response Compensation and Liability Act, conhecida pela sigla CERCLA ou ainda
como Superfund, do nome do fundo público criado por ela para ser usado em ações
de emergência para remediação ambiental e para a promover a limpeza (clean-up)
de áreas cujos responsáveis são insolventes ou não possam ser localizados.
A aplicação destas leis de proteção do solo e de gerenciamento de áreas
contaminadas foi feita com razoável sucesso, tendo contribuído para prevenir a
repetição de casos de reocupação indevida (sem prévia remediação) de áreas
contaminadas e para obrigar os responsáveis pela contaminação do solo e das
águas subterrâneas a proceder à remediação de um grande número de áreas.
O sucesso das políticas de áreas contaminadas na América do Norte e na
Europa trouxe consigo um efeito colateral, que foi a imposição de restrições ou
pelo menos de dificuldades para a reutilização de imóveis contaminados, com a
conseqüente redução de seu valor de mercado e da mesma forma dificultando a
reintegração ao tecido urbano de áreas contaminadas ou mesmo de áreas
potencialmente contaminadas.
Desta forma, áreas contaminadas representam problemas múltiplos: (i) um
risco à saúde humana e dos ecossistemas; (ii) um risco à segurança pública; (iii)
restrições ao desenvolvimento urbano; (iv) redução do valor dos imóveis (Sánchez,
2001). A presença de áreas contaminadas e de terrenos de indústrias desativadas
impõe problemas especiais de gestão urbana, ao contribuir para a desvalorização
não somente do imóvel contaminado, mas também de seu entorno, ao deteriorar a
imagem de uma cidade perante investidores e a opinião pública, ao favorecer a
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disposição clandestina de resíduos e a ocupação de terrenos. Provocam, assim,


verdadeiros cortes no tecido urbano.

2. RECONHECIMENTO DO PROBLEMA NO BRASIL

No Brasil, as primeiras áreas contaminadas foram reconhecidas em meados


da década de 1980. Um dos casos de maior repercussão foi o que envolveu a
empresa Rhodia na região da Baixada Santista, litoral do Estado de São Paulo. Em
1976, a Rhodia adquiriu a empresa Clorogil, fabricante de solventes
organoclorados, mas pouco tempo depois fechou a fábrica localizada em Cubatão.
Ocorre que a Clorogil empregava métodos pouco recomendáveis de gestão de
resíduos industriais, que resultaram na dispersão de resíduos contendo compostos
organoclorados em uma vasta área da Baixada Santista. Durante os anos de 1970 e
1980 a região era uma importante produtora de areias industriais e de construção
civil e as cavas de mineração foram locais preferenciais para o lançamento desses
resíduos. Descoberto o problema, teve início uma ação administrativa da Cetesb
visando avaliar a extensão do problema e remover os resíduos, enquanto era
também aberta uma ação civil pública, pelo Ministério Público Estadual, visando a
reparação dos danos ambientais. A empresa assumiu a responsabilidade pela
contaminação e iniciou um processo de remediação até hoje não concluído, dada a
extensão da área afetada e a persistência e toxicidade dos poluentes.
Mas não foi somente em São Paulo que casos de contaminação de solo
vieram à tona. No Rio de Janeiro, a antiga fábrica de BHC do Ministério da Saúde,
é outro dos casos pioneiros no país. Em Santo Amaro da Purificação, cidade
situada no Recôncavo Baiano, uma metalurgia de chumbo que funcionou entre
1961 e 1993 representa outro caso conhecido há bastante tempo. A escória da
fundição de concentrado de minério de chumbo foi depositada diretamente sobre o
solo na própria área industrial e foi também utilizada para pavimentação de
estradas e encascalhamento de ruas. Mas esta escória é um resíduo perigoso (Anjos
e Sánchez, 2000), por conter chumbo e cádmio e mesmo depois do encerramento
das atividades industriais, a exposição da população a estes metais continua
elevada (Carvalho et al., 2001).
Mas foi a partir de 2001 que diversos casos ocorridos em São Paulo tiveram
enorme repercussão na imprensa, como (i) Barão de Mauá, um condomínio de
edifícios residenciais construídos sobre uma antiga área de disposição de areias de
fundição no município de Mauá; (ii) Recanto dos Pássaros, uma área de chácaras e
sítios de lazer vizinha a uma indústria química desativada pertencente à Shell no
município de Paulínia; (iii) Vila Carioca, onde um condomínio de apartamentos
localizado em terreno vizinho a uma base de armazenamento de combustíveis
também pertencente à Shell utilizava água subterrânea contaminada; (iv) a
indústria de baterias automotivas Ajax, no município de Bauru, situada nas
proximidades de um bairro residencial.
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3. AS RESPOSTAS AOS PROBLEMAS REPRESENTADOS PELAS ÁREAS CONTAMINADAS

No Estado de São Paulo, os primeiros passos para enquadrar de modo


sistemático e organizado os problemas representados pelas áreas contaminadas
foram dados em 1993, quando teve início um programa de cooperação técnica
entre a Cetesb e a GTZ – Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit, entidade do
governo alemão voltada para a cooperação técnica para o desenvolvimento. Este
programa teve diversos frutos, dentre os quais o principal talvez tenha sido a
capacitação técnica da equipe da Cetesb, que hoje já dispõe de pessoal com grande
conhecimento e experiência em gestão de áreas contaminadas, vários deles com
mestrado ou doutorado concluído em universidades públicas.
Outros resultados da cooperação técnica são publicações - devendo-se
destacar o Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (Cetesb, 2001) -, e o
cadastro de áreas contaminadas, implementado segundo metodologia descrita no
Manual e tornado público pela primeira vez em 2001. Parte do cadastro é acessível
via Internet e traz a lista das áreas já investigadas e confirmadas como
contaminadas. Depois da divulgação inicial, uma atualização foi divulgada em 29
de outubro de 2003, contendo 727 áreas contaminadas.
Em paralelo, outro trabalho importante foi desenvolvido pela Cetesb, que
resultou na publicação do relatório de estabelecimento de valores orientadores
para solos e águas subterrâneas (Casarini et al., 2001). Neste trabalho, foram
estudadas as características de diferentes tipos de solo de ocorrência no Estado e
obtidos valores representativos da concentração de fundo de metais. Ademais, com
a aplicação de ferramentas de análise de risco, foram definidos valores de
referência, alerta e intervenção para 37 metais e compostos orgânicos.
Outra iniciativa significativa teve início em junho de 2002, no âmbito da
Câmara Ambiental da Construção Civil, presidida pelo Sinduscon – Sindicato das
Empresas de Construção Civil e coordenada pela Cetesb. Na esteira dos graves
problemas representados por casos como o Barão de Mauá e Vila Carioca, ficou
evidente que os agentes envolvidos na construção civil deveriam agir com
precaução antes de iniciar novos empreendimentos. Assim, um grupo de trabalho
composto por representantes de diversas entidades, trabalhou na preparação do
Guia para Avaliação do Potencial de Contaminação em Imóveis (Silva et al., 2003),
lançado em outubro de 2003. O guia explica pormenorizadamente as precauções
que podem e devem ser tomadas antes da aquisição de um imóvel ou antes da
elaboração de um projeto de reutilização. Agora empresas incorporadoras,
construtoras e projetistas não podem alegar desconhecimento ou falta de
orientação para prevenir a construção de imóveis residenciais (ou para outras
finalidades) em locais que representem um risco para a saúde ou a segurança dos
futuros ocupantes.
Outra dimensão da resposta governamental aos problemas colocados pela
presença de áreas contaminadas foi a formulação de novos requisitos legais. Em
termos legislativos, a primeira iniciativa governamental foi a lei 9999 de 9 de junho
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de 1998, enviada pelo Executivo, que modificou uma lei anterior sobre o
zoneamento de áreas industriais. Estabelece a nova lei:
Artigo 1º - Nas Zonas de Uso Predominantemente Industrial – ZUPI (...) poderão
ser admitidos os usos residencial, comercial, de prestação de serviços e institucional
quando se tratar de zona que tenha sofrido descaracterização significativa do uso
industrial e não haja contaminação da área, mediante parecer técnico do órgão
ambiental estadual, desde que o uso pretendido seja permitido pela legislação
municipal.
Com as mudanças no perfil da indústria em São Paulo, tem havido uma
tendência de mudança de uso dessas zonas designadas como de uso
predominantemente industrial, com a instalação de empreendimentos comerciais,
faculdades privadas, edifícios de apartamentos e mesmo residências. Esta lei criou
um primeiro controle para prevenir novos usos incompatíveis com a qualidade do
solo.
Vale também lembrar o decreto estadual 47.400, de 4 de dezembro de 2002,
que introduziu novos requisitos para o licenciamento de atividades e inovou ao
exigir a comunicação do encerramento de atividades e a apresentação de um plano
de desativação:
Artigo 5° - Os empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental deverão
comunicar ao órgão competente do SEAQUA [Sistema Estadual de
Administração da Qualidade Ambiental] a suspensão ou o encerramento das
suas atividades.
§ 1° - A comunicação a que se refere o "caput", deverá ser acompanhada de um
Plano de Desativação que contemple a situação ambiental existente e, se for o caso,
informe a implementação das medidas de restauração e de recuperação da qualidade
ambiental das áreas que serão desativadas ou desocupadas.Se for bem usado e
não se tornar mero requisito burocrático, este é um instrumento extremamente
poderoso para prevenir o surgimento de novas áreas órfãs.
Finalmente, a Secretaria do Meio Ambiente preparou um anteprojeto de lei
inovador sobre proteção da qualidade do solo e gerenciamento de áreas
contaminadas, enviado para discussão no Consema – Conselho Estadual de Meio
Ambiente e que o Executivo deve encaminhar à Assembléia Legislativa. É uma
iniciativa da maior importância, uma vez que os instrumentos legais atualmente
disponíveis não são plenamente suficientes nem inteiramente adequados para dar
conta dos desafios representados pela problemática de áreas contaminadas
(Sánchez, 2001a). Por outro lado, se aprovada, a nova lei estadual será a terceira lei
estadual estruturante da ação governamental de gestão ambiental, ao lado da lei
997 de 31 de maio de 1976, que até hoje orienta a ação da Cetesb e da lei 9509 de 20
de março de 1997, que tardiamente adaptou a administração ambiental paulista às
normas federais.

4. AS RESPOSTAS NO ÂMBITO MUNICIPAL


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O gerenciamento de áreas contaminadas pode e deve ser objeto de atuação


municipal, haja vista as responsabilidades do município na regulação do uso do
solo. As únicas iniciativas até o momento são recentes e exclusivas do município de
São Paulo. Trata-se, em primeiro lugar, do decreto municipal 42.319, de 21 de
agosto de 2002, que dispõe sobre diretrizes e procedimentos relativos ao
gerenciamento de áreas contaminadas no Município de São Paulo. e estabelece
que:
Art. 3º - Qualquer forma de parcelamento, uso e ocupação do solo, inclusive de
empreendimentos públicos, em áreas consideradas contaminadas ou suspeitas de
contaminação, só poderá ser aprovada ou regularizada após a realização, pelo
empreendedor, de investigação do terreno e avaliação de risco para o uso existente
ou pretendido, a serem submetidos à apreciação do órgão ambiental competente.
Por outro lado, uma proposta legislativa apresentada por um vereador,
resultou na aprovação da lei 13.564, de 24 de abril de 2003, que dispõe sobre
aprovação de parcelamento de solo, edificação ou instalação de equipamentos em
terrenos contaminados ou suspeitos de contaminação:
Art. 1º - A aprovação de qualquer projeto de parcelamento de solo, edificação ou
instalação de equipamento em terrenos considerados contaminados ou suspeitos de
contaminação (...), ficará condicionada à apresentação de Laudo Técnico de
Avaliação de Risco que comprove a existência de condições ambientais aceitáveis
para o uso pretendido no imóvel.
O assunto também foi tratado no Plano Diretor Estratégico do município,
uma lei que define as diretrizes para o plano diretor municipal, segundo o qual:
Art. 190 § 4º - “(..) áreas contaminadas ou suspeitas de contaminação (...) só
poderão ser utilizadas após investigação e avaliação de risco (...).”
Espera-se que outros municípios que, como São Paulo, também assistem à
transferência e ao fechamento de indústrias, assumam suas responsabilidades na
prevenção de usos potencialmente inseguros dessas áreas.

5. PERSPECTIVAS

É bem provável, à imagem do ocorrido em outros países, que a ação mais


rigorosa do Estado e dos tribunais, com a esperada aprovação do projeto de lei
estadual, cause dificuldades de reutilização de terrenos contaminados ou suspeitos
de contaminação. Por um lado, se os objetivos de uma política de proteção da
qualidade do solo e de gerenciamento de áreas contaminadas forem atingidos, não
deve haver a reprodução de casos como o do condomínio Barão de Mauá. Porém,
investidores poderão ficar reticentes em relação a projetos de reutilização de áreas
contaminadas ou potencialmente contaminadas, devido aos riscos de
responsabilização civil por danos ambientais.
Esta foi a situação observada nos países que primeiro adotaram políticas de
gerenciamento de áreas contaminadas. Esses imóveis vazios ou subutilizados
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passaram a ser chamados, nos Estados Unidos, de brownfields, conceituados como


“instalações industriais e comerciais abandonadas, vagas e subutilizadas cuja
reutilização é dificultada por problemas reais ou percebidos de contaminação
ambiental” (EPA, 1999). Assim, os brownfields não são apenas áreas contaminadas,
mas todos os terrenos onde possa ter havido alguma contaminação, uma suspeita
que já basta para que sejam tomadas certas precauções. Um termo correlato já era
utilizado na Grã-Bretanha para designar zonas ou terrenos remanescentes de
atividades industriais encerradas, derelict lands, conceito que transmite mais a idéia
de um vazio urbano ou de uma extensa área sem uso, sem necessariamente
veicular a idéia de contaminação do solo. É semelhante o sentido da expressão
francesa friches industrielles, termo usado para descrever o processo de decadência
de regiões de antiga industrialização, especialmente a indústria pesada como a
siderurgia e a indústria carbonífera. Um geógrafo belga assim define friches
industrielles: “terrenos ou edifícios (ou ambos) anteriormente utilizados para
finalidades industriais e hoje total ou parcialmente abandonados por seu
utilizador, e degradados de tal maneira que todo novo uso somente é possível após
um reordenamento notável” (Bruyelle, 1992).
No Brasil, à falta de um termo apropriado em língua portuguesa, é o
vocábulo brownfields que tem sido empregado. É importante frisar que o termo não
se confunde com o de área contaminada, pois basta que haja a percepção, ou a
possibilidade, de que um terreno esteja contaminado, para dificultar sua
reutilização (se houver uma política efetiva de áreas contaminadas). Brownfield é
um termo urbanístico. A Figura 1 mostra seu lugar dentro do universo de áreas
ocupadas: parte deste universo inclui um conjunto de áreas contaminadas,
enquanto outra parte constitui o conjunto de brownfields. Há sobreposição entre
ambos, mas não coincidência. Em outras palavras, alguns brownfields são áreas
contaminadas, enquanto nem toda área contaminada é um brownfield, como é o
caso de áreas contaminadas situadas em indústrias ativas, por exemplo – neste
caso trata-se de um terreno industrial contaminado.

6. O CONCEITO DE REVITALIZAÇÃO

Já é hora de se pensar, em São Paulo, na revitalização de brownfields, e nos


instrumentos necessários para promovê-la. Revitalizar significar reinserir essas
áreas no tecido urbano (já que a maioria delas situa-se em zonas urbanas), de
modo que sua reutilização possa ser um instrumento de requalificação urbana.
Revitalizar não é o mesmo que remediar uma área contaminada. A Figura 2 ilustra
a diferença conceitual. Nela, emprega-se o conceito mais amplo de recuperação
ambiental ou recuperação de áreas degradadas, plenamente inserido na legislação
brasileira e amplamente praticada na mineração, em obras civis, em áreas de
pastagens degradadas e na recuperação de vegetação ciliar (Sánchez, 1992).
Os objetivos da recuperação ambiental podem ser (Sánchez, 2004): (i) a
restauração, ou o retorno do sítio degradado a uma situação idêntica ou quase
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idêntica àquela que precedeu a degradação; ou (ii) a reabilitação, entendida como a


transformação de uma área degradada em um local onde é possível um novo uso
produtivo. A reabilitação pode levar a um novo uso do solo ou mesmo à criação de
um ambiente radicalmente diferente daquele que precedeu a degradação, como
um lago em uma antiga cava de mineração.
Neste marco conceitual, a remediação designa as ações de recuperação
ambiental realizadas em áreas contaminadas. Eventualmente a remediação pode
levar à restauração do sítio, tornando possíveis todas as formas de uso que já
seriam possíveis se não tivesse havido a contaminação. Por outro lado, a
remediação pode conduzir à reabilitação, em que o sítio fica apto para novos usos,
mas pode haver restrições. Por exemplo, uma área remediada pode ser adequada
para um uso industrial ou para a implantação de um estacionamento
pavimentado, mas não para um parque infantil, devido à qualidade do solo.
Desta forma, a revitalização, como indicado na Figura 2, é a reabilitação de
um brownfield que, como sabemos, muitas vezes também é uma área contaminada,
que poderia ser remediada até o ponto em que é seguro o novo uso pretendido.

7. UMA POLÍTICA DE ÁREAS CONTAMINADAS

Da definição dessas políticas, nos três níveis de governo, depende a


estratégia de revitalização que pode ser adotada em áreas contaminadas.
Essencialmente, uma política de áreas contaminadas, tal como a que está se
delineando em São Paulo, deve buscar responder a certas questões fundamentais
(Sánchez, 2001): (i) quanto à partilha de custos entre o poder público e os agentes
responsáveis pela contaminação e (ii) quanto à opção de vincular a limpeza de
uma área a seu uso futuro ou de exigir a restauração das condições de
multifuncionalidade do solo. Tal política deveria possibilitar uma resposta a pelo
menos três questões básicas:
1) Quem paga a conta da descontaminação? -ou seja, como arbitrar a
partilha de custos entre o poder público e os agentes responsáveis pela
contaminação de cada sítio e como financiar a remediação de sítios órfãos.
2) Qual o montante dessa conta? - ou seja, qual o grau de risco aceitável.
3) Qual a partilha de custos entre as gerações presentes e as futuras? - ou
seja até que ponto deve-se descontaminar cada sítio e transferir ou não parte do
risco para o futuro.
As orientações dessa política determinarão a escolha dos instrumentos de
ação, como: (1) inventário e cadastro, (2) responsabilidade civil, (3) auditoria e
avaliação de terrenos, (4) valores de referência para qualidade do solo, (5)
regulação e controle do uso do solo, (6) instrumentos econômicos, (7) apoio ao
desenvolvimento tecnológico, (8) auxílio à participação pública, (9) avaliação de
impacto ambiental, (10) análise de risco (Sánchez, 2001).
Destes, a regulação e controle do uso do solo e os instrumentos econômicos
têm grande influência sobre as possibilidades de revitalização desses imóveis,
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assim como as definições sobre eventuais limites à responsabilidade civil. Aos


municípios cabe promover a “ordenação e controle do uso do solo”, segundo o
estatuto da Cidade (Lei federal 10.257/2001). No que se refere às áreas
contaminadas, essa regulação deveria:
 evitar a ocupação de áreas de risco
 garantir o uso seguro dos imóveis
 impor restrições de uso nos casos em que a remediação se faça
somente de modo a garantir um novo uso pouco exigente em
termos de qualidade do solo (ou seja, caso no futuro outro uso
venha a se estabelecer, nova avaliação da qualidade ambiental
deverá ser feita)
Dentre os instrumentos econômicos, a política fiscal pode ser utilizada para
encorajar a revitalização, desde o imposto predial e territorial urbano – IPTU –
progressivo, até as denominadas operações urbanas, instrumento urbanístico já
empregado no município de São Paulo. A existência de fundos para remediar áreas
órfãs também pode favorecer a revitalização, à medida que algumas áreas que
necessitem ser revitalizadas podem se enquadrar nesta categoria.
Já as questões relativas à responsabilidade civil precisam ser bem
clarificadas. Os agentes promotores da revitalização, como os investidores em
projetos de reutilização, poderão ser responsabilizados por danos ambientais
ocorridos no futuro, mas decorrentes de atividades realizadas no passado? É
justamente este o problema que leva ao surgimento dos brownfields, ou seja, os
riscos de responsabilização dos proprietários de um terreno contaminado, mesmo
que não tenham sido eles os causadores da contaminação. E este foi o principal
motivo que levou o governo dos Estados Unidos a criar o Brownfields Initiative, um
programa destinado a encorajar a revitalização destas áreas.

8. DE QUÊ DEPENDE A REVITALIZAÇÃO?

Na atualidade, há uma demanda pela reutilização de imóveis (construções


ou terrenos) industriais e comerciais disfuncionais. Silva (2002) fez um
levantamento do uso atual de grandes imóveis industriais situados ao longo dos
eixos ferroviários de São Paulo – justamente as zonas de industrialização mais
antiga. De um total de 309 imóveis industriais de grande porte (de área maior que
2500 m2) mapeados em 1980, constatou que 54% já não mais apresentavam o
mesmo uso (Quadro 1).
Que essa reutilização seja feita levando em conta a saúde e a segurança
públicas é um dos objetivos das leis de proteção ambiental e uma das funções das
agências governamentais. No entanto, um programa de revitalização pode servir a
outros objetivos de políticas públicas:
 a conservação do patrimônio histórico (muitos antigos edifícios
industriais,mesmo que não sejam tombados, têm valor
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arquitetônico ou por seu significado na história econômica e


social da cidade e do país);
 a requalificação de áreas urbanas centrais, muitas vezes
decadentes;
 a promoção do desenvolvimento sustentável na escala local
(projetos viáveis de revitalização podem gerar receitas
suficientes para cobrir os custos de remediação, atingindo
assim, objetivos ambientais, e criar empregos, atingindo
desta forma, objetivos sociais).
A revitalização de áreas contaminadas (e de qualquer brownfield) pode e
deve ser promovida como objetivo urbanístico, mas a experiência estrangeira
mostra que seu sucesso tem algumas condicionantes, sintetizadas na Figura 3.
Mecanismos de financiamento, com participação direta ou indireta do poder
público, podem ser necessários para estimular a revitalização. O esquema das
operações urbanas é promissor, pois permite induzir investimentos em
determinados perímetros. Além disso, as operações urbanas são formuladas com
base em objetivos urbanísticos, e a reintegração ou reinserção de brownfields no
tecido urbano pode ser um dos objetivos dessas operações. Finalmente, a questão
da responsabilidade dos promotores da revitalização ainda é nebulosa no Brasil e
pode se converter em um empecilho para a revitalização de áreas contaminadas.
Dentre os desafios para a revitalização de áreas contaminadas no Brasil destaca-se :
(i) a definição dos objetivos e dos instrumentos de uma política de áreas
contaminadas; (ii) o estabelecimento de um compromisso (negociado?) entre os
objetivos de proteção ambiental, proteção da saúde humana e revitalização de
cada área; e (iii) assegurar a participação dos interessados no processo decisório,
esta ainda uma grande lacuna até mesmo na remediação de áreas.

Agradecimentos

Durante a preparação de minha apresentação no seminário, origem deste


artigo, foram de inestimável valia as discussões mantidas com Andreas Marker, do
projeto GTZ-Cetesb.

Referências bibliográficas
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Áreas Degradadas

Áreas contaminadas

Brownfields

Áreas Ocupadas
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Figura 1 – Uma tipologia de áreas degradadas.

Restauração

Áreas Degradadas Recuperação

Áreas contaminadas Remediação

Brownfields Revitalização

Áreas Ocupadas Reabilitação

Figura 2 – Diagrama esquemático da revitalização de brownfields.

objetivos urbanísticos financiamento

b row n fi e ld s

responsabilidade civil

Figura 3 – Principais requisitos de um programa de revitalização.


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Quadro 1
Mudanças de uso de imóveis industriais em São Paulo
Uso atual número %
indústria ativa 142 46 %
para alugar ou vender 16 5,1 %
desativada 43 13,9%
outro uso industrial 42 13,6%
novo uso não industrial 66 21,3%
comercial 24

serviço 25

institucional 11

residencial 6

Total 309
fonte: Silva (2002)

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