A dimensão afetiva do sujeito psicológico:
algumas definições e principais
características
Fausto Eduardo Menon Pinto
Mestre em Educação pela UNICAMP
Psicólogo da Prefeitura Municipal de Descalvado/SP
e-mail: faustomenon@bol.com.br
Resumo
O presente ensaio tem por fim discutir o tema afetividade,
destacando a sua importância no funcionamento psicológico
do ser humano. Para esse debate teórico, inicialmente,
questiona-se o porquê se deva estudar as emoções na
Psicologia, fazendo para isso uma reflexão da dicotomia entre
razão e coração. Depois, apresenta-se um breve debate sobre
as principais definições dos termos emoção e sentimento,
comparando-os entre si. Por último, busca-se uma definição e
caracterização do vocábulo afetividade que esteja voltada para
a Psicologia Básica, acentuando nessa perspectiva seus
aspectos mais significativos, tais como os principais conteúdos
psíquicos referentes à dimensão afetiva e a sua possível inter-
relação, quer seja complexa e dinâmica, com a dimensão
cognitiva.
Palavras-chave: Psicologia; funcionamento psicológico;
cognição; afetividade
Introdução
“Amor é fogo que arde sem se ver; Amor é fogo
que arde sem se ver; É ferida que dói e não se
sente; É um contentamento descontente; É dor
que desatina sem doer; É um não querer mais
que bem querer; É solitário andar por entre a
gente; É nunca contentar-se de contente; É
cuidar que se ganha em se perder; É querer estar
preso por vontade; É servir a quem vence, o
vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor Nos corações
humanos amizade, Se tão contrário a si é o
mesmo Amor?”
Luís Vaz de Camões
Abstract
The theoric essay has finally to discuss the theme
affectivity, outstanding its importance in the human being
psychological working. For this theoric debate, inicially, ask
why we must study the emotions in Psychology, for doing it a
reflexion of dichotomy, between reason and heart. Then,
present a short debate about the main definitions of the terms
emotion and feeling, comparing between themselves. At last,
we seek a definition and characterization of the affectivity word
that is turned to the Basic Psychology, accentuating in this
perspective its more significative aspects, such as the main
psychic contents regardings to the affective dimension and its
possible inter-relation, in that is complex and dynamic, with the
“congnitivy” dimension.
Key-words: Psychology; psychological functioning;
cognition; affectivity.
O presente ensaio tem por finalidade básica
dialogar sobre a temática da afetividade. Mas, para se
realizar tal tarefa, tem-se como intenção fazer um breve
retrospecto da importância dos afetos no funcionamento
psicológico. Inicialmente, faz-se um breve
questionamento sobre o porquê do estudo das emoções
para a compreensão do ser humano. Mais à frente, será
proposta uma discussão entre as diferenças de significado
entre a emoção e o sentimento. Por último, será proposto
um debate acerca da afetividade em termos de definição
e principais características. De qualquer maneira,
levantam-se aqui algumas questões teóricas e indicam
prováveis caminhos metodológicos futuros quanto ao
debate do tema abordado, que é o estudo da dimensão
afetiva.
9
 Por que o estudo das emoções?
O estudo das emoções está intimamente
relacionado ao fascínio com que tem despertado nos
pensadores e cientistas desde a Grécia até a Idade
Moderna. Há de se procurar entender que desde a
História Antiga já se relatava a influência do universo
subjetivo sobre a dinâmica da alma do ser humano.
Pensando desse modo...
É sabido, repetidas vezes, nos tantos manuais
acadêmicos, que as primeiras descobertas
científicas objetivaram desvendar mundos que
estavam além do alcance dos mortais, seja, por
exemplo, através da observação direta a planetas
longínquos [...] Desse modo, o ser humano há
tempos - por sua natureza psicológica envolta
de curiosidade acerca dos fenômenos ao seu
redor, que é um traço bastante peculiar -
enveredou nos liames da descoberta científica,
inclusive com referência à alma humana
(PINTO, 2004, p. 113).
Há muito tempo, comenta-se que a origem das
emoções vem do mito de Eros (mais conhecido como
Cupido), cuja figura lembra uma criança com asas que
porta arco e flecha nas mãos e aquele que for atingido,
seja um mortal ou um deus, ficará profundamente
apaixonado (SCHMIDT, 1998; KURY, 2001).
Diz-se também que o mundo dos sentimentos é
uma das temáticas assaz mais requisitadas por poetas,
desde que o ser humano começou a transpor para o
papel seus mais íntimos, e por que não dizer, subjetivos
pensamentos. Assim falando, muitos foram os amantes
da literatura que no transcorrer do século passado
amoedaram poesias tendo por base o tema dos
sentimentos. Descreviam suas personagens sendo o
produto de um jogo complexo de sentimentos, e
ambivalência de sentimentos: o amor e o ódio, a alegria
e a tristeza. É imaginável pensar que na civilização grega
se tenha elegido o coração como a sede das emoções,
possivelmente, por ser um dos órgãos em que sejam
visivelmente observadas as alterações de caráter
corpóreo quando o ser humano sente-se emocionado
(PINTO, 2005a; 2005c).
Hoje em dia, há diversas explicações para o
fenômeno emocional, concentrando em temáticas
diversas do conhecimento humano. De fato, as emoções,
os sentimentos e os afetos podem ser definidos como
um capítulo à parte do estudo da psique, ora pela
importância devida do tema no âmbito da Psicologia
Básica, em ensaios teóricos e estudos empíricos
clássicos e atuais, ora na compreensão acerca das
10
particularidades do ser humano que os fazem amar e
até mesmo odiar. Tais explicações são derivadas de
concepções filosóficas, psicológicas e até mesmo no
campo da biologia (LYONS, 1993; D’URSO e
TRENTIN, 2001; EVANS, 2003), fomentando, então,
uma série de ensaios instigantes que refletem a
necessidade de se compreender a natureza subjetiva do
ser humano.
Em um estudo filosófico, por exemplo, no clássico
estudo intitulado em De Anima (Sobre a Alma),
Aristóteles (384-322 a.C.) descreve minuciosamente a
natureza da alma humana (BARNES, 1987; BITTAR,
2003). Segundo tal filósofo, nos atributos da alma (quais
sejam: a inteligência, a memória, o pensamento ou o
sentimento) é inegável que eles se revelem diretamente
no corpo, formando uma unidade substancial, algo
indivisível. Assim sendo, as emoções, além de
envolverem estados corpóreos, ou movimentos do corpo,
envolvem também aspectos psicológicos. Um aspecto
psicológico se expressaria por um alto nível da
consciência, servindo-se ao papel do processamento da
emoção e ao conhecimento da experiência emocional a
psyche sobre os estados corpóreos (ARISTÓTELES,
1991).
Por outro lado, se os impulsos dos sentimentos se
tornados ilógicos e irracionais (as paixões da alma)
devem ser afastados do espírito para não molestarem o
galgar do conhecimento filosófico (ARISTÓTELES,
2000). Parece que mesmo não negando a importância
das emoções no raciocínio, põe-nas em um plano
secundário na hora de se realizar um raciocínio válido,
que seja verdadeiro. Como se as emoções alterassem
erroneamente o curso do pensamento, alterando os juízos
por completo (PINTO, 2005a).
Quer isso dizer que uma pessoa um estado
apaixonado não poderá trazer modificações benéficas
na funcionalidade da alma racional e pensante; que está
entretida somente com o cunho da lógica, do bom senso.
Mesmo fazendo parte integrante da alma filosófica, a
emoção que Aristóteles concebe é a de cunho racional,
a emoção racionalizada. Metaforicamente interpretando,
a razão simbolizaria um cocheiro e a emoção a um animal
feroz amarrado numa carruagem: o cocheiro (razão) deve
amansar a fera (emoção), dominá-la a um distanciamento
do espírito para se realizar um juízo válido (PINTO,
2005a, 2005e).
Comentando de um modo mais simples, há o
status, quase que majoritário, ou superior, da razão em
relação à emoção, permeando com isso um dualismo
secular, ou seja, uma separação entre razão e coração,
ou seja, uma parte que pensa e a outra que sente, fazendo
uma divisão psíquica entre o que é pensado e o que é
sentido (PINTO, 2005f). Nesse sentido, passou-se a
decompor o conhecimento psicológico em fragmentos,
em elementos isolados e dissociados entre si. Então, ou
se estudaria, separadamente, a afetividade ou a cognição,
jamais estudando as duas juntas, em pleno diálogo
dinâmico e construtivo.
Emoção e sentimento: um começo
Derivado do latim movere1, que é a mesma raiz
latina que motivação (MAGALHÃES, 1959), as
emoções significam reações complexas que se
manifestam em todos os seres humanos, ocorrendo de
maneira “intensa e breve do organismo a um lance
inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de
conotação penosa ou agradável” (DICIONÁRIO
ELETRÔNICO DE PSICOLOGIA, 2006). Em outro
modo de dizer...
Uma emoção intensa inclui vários componentes
gerais. Um desses é a reação corporal. Quando
está com raiva, por exemplo, você pode tremer
o levantar a sua voz, embora não deseje fazer
isso [...] Quando você experiencia repugnância,
por exemplo, provavelmente franze a testa,
freqüentemente com sua boca muito aberta e
suas pálpebras parcialmente fechadas
(ATKINSON e colaboradores, 1995, p. 336).
Como é sabido, qualquer ser humano em presença
de um estado emocional pode ser acometido por
aumentos consideráveis de pressão sangüínea, aumentos
de força e freqüência da bomba cardíaca e ritmo
respiratório, com doses de irritação, tensão e frustração
(STRONGMAN, 1998; REBER e REBER, 2001). A
emoção significa muito mais um movimento do que um
estado pura e simplesmente inerte do ser humano. Nessa
mesma comparação, Webster (1979) destaca que o
termo emoção inclui a idéia de se pensar em agitação da
mente, cujo efeito se observa no corpo.
Geralmente, a maioria dos mantenedores da
palavra emoção acaba, por repetir, seu uso corrente em
todas as experiências humanas, porém, usa-a como
estado de alteração do organismo entre a excitação e
inibição em padrões visíveis por um observador. Esse
uso possibilita mensurar quantitativamente a expressão
emocional por uma observação apurada de uma alteração
emocional orgânico-corpórea.
Dessa forma, “o conceito emoção apresenta muito
mais dificuldade e ainda não foi definido [...] incluem a
falta de um único critério, ou mesmo de um grupo de
critério” (DELGADO, s/d: 7), misturando-se nos
significados conceituais um comentário muitas vezes
orgânico do que uma descrição subjetiva - por exemplo,
a tradução de amor estaria limitada ao aumento das
batidas no coração, que é concreto e mensurável ou
“palpável”, mas e os sentimentos que são guardados
nele?
Porém, pensa-se que a representação psicológica,
ou melhor, valoração subjetiva, não deve ser confundida
por estados de excitação e inibição comportamental,
comumente associados a uma resposta emocional. Tem-
se como idéia de que a experiência sentimental deixa no
ser psicológico uma representação simbólica ou psíquica.
Nesse sentido, todos os seres humanos,
indiscutivelmente, lidaram, pelo menos uma vez na vida,
com uma experiência emocional; um medo, uma cólera.
Entretanto, a representação é única (subjetiva) a cada
ser humano, a cada sujeito psicológico, aí se chamando
de sentimentos. Ou seja, é muito importante entender
aquilo que se sente. Especificando melhor, Saconni
(1996, p. 606) define a palavra sentimento como: “[...]1.
Ato ou efeito de sentir. 2. Faculdade de sentir;
sensibilidade. 3. Manifestação do que se sente. 4.
Noção; senso. 5. Afeição; amor”. Ferreira (1986, p.
1571) completa dizendo que dentre os sentimentos,
encontram-se “[...]pesar, tristeza, desgosto, mágoa”.
Basicamente, costumam-se definir os sentimentos
como um estado psicológico de longa duração e que
têm um componente mental ou psíquico (PESTANA e
PÁSCOA, 1998; COLMAN, 2003), isto é, atribui-se
um valor aquilo que se sente, seja um objeto, uma
experiência qualquer ou uma pessoa. Um dos exemplos
de sentimentos é a ternura, ou também chamado, carinho.
Quando se sente uma ternura por alguém, quer-se ficar
perto da pessoa, dar-lhe cuidados e encher de dengos.
Parece que a vida se resume na pessoa que se ama.
Deixa-se de se viver para si, até em certo ponto, e passa
a pensar somente no outro.
Com certa freqüência, nos tópicos de Psicologia
Básica compreendem os sentimentos por uma atividade
sensitiva e estão acoplados à capacidade do ser humano
em captar estímulos oriundos do meio externo, através
dos órgãos dos sentidos. Compreendem-se aos estímulos
à causa física - onda sonora, um jato de luz - que agem
nos órgãos dos sentidos para produzir a sensação, e,
posteriormente, a percepção.
Muito provavelmente, no jargão popular, e até
mesmo no meio acadêmico, a palavra sentir ficou
corrompida. Vem sendo empregada, sem salvaguardas,
ao ato de sentir (tátil) e aos sentimentos (emoções e
afetos). Como uma comparação, a palavra emoção, por
exemplo, do latim, movere, seleciona na sua raiz fonética
11
 uma idéia de mobilidade ao ser humano. Seria ilógico,
pois, falar em emoções passivas: como paixão e cólera
que expressam uma modificação estrutural do organismo
humano. Ao invés de amor e amizade, conceitos
próximos de sentimento.
Por isso, opta-se pela afetividade (em latim,
affectus) pelo rigor contextual que compreende esse
vocábulo. Sendo assim, os seres humanos agem
psicológico-afetivamente às experiências da vida: a
afetividade contém a dedução próxima das qualidades
de pessoas, objetos ou experiências que os seres
humanos sentem deles (PINTO, 2005a).
A dimensão afetiva: algumas definições e
características
Opta-se pela afetividade pelo rigor contextual do
vocábulo. A afetividade consegue englobar uma miríade
de estados de ânimo e, além do mais, englobando uma
organização viva de significados e de conteúdos
psicológicos; como tristeza, amor, paixão, inveja,
desesperança e outros mais. Sendo assim, os seres
humanos agem psicológico-afetivamente às experiências
da vida: a afetividade contém a dedução próxima das
qualidades dos objetos anímicos ou reais que os seres
humanos “sentem” deles. Em suma, os seres humanos
são “afetados” pela afetividade (PINTO, 2005d).
Sobre tais aspectos, surge a definição que o afeto
conseguiria integrar tanto a resposta emocional
(empadelicimento, cólera, ansiedade e estresse), vindo
a incluir, os aspectos expressivos e gestuais da pessoa
(lágrimas, risos e sorrisos) num mesmo experienciar. Em
resumo, os afetos englobariam um legado que vai do
temperamento, personalidade, atitudes aos valores
pessoais (PINTO 2005a, 2005c). Para a definição
arrolada, a afetividade pode ser tida como o conjunto
de...
[...]emoções, os sentimentos e as paixões,
procurando, como é óbvio, a descrição dos
respectivos estados de consciência. Assim, as
emoções são fenômenos afectivos internos que
surgem geralmente de forma brusca e que
também rapidamente se desvanecem. Os
sentimentos são fenômenos afectivos estáveis
que resultam, em regra, da intelectualização das
emoções[...] (RODRIGUES e colaboradores,
1989, p. 15).
No que se refere ainda à afetividade, Doron e
Parot (2001, p. 35) afirmam que essa palavra refere-se
a...
Noção de uma extensão e de uma compreensão
12
muito vaga, englobando estados diversos como
as emoções, as paixões, os sentimentos. A
ansiedade, a angústia, a tristeza, a alegria, e até
as sensações de prazer e de dor [...]
insubstituível e comum a todos.
Além dessa definição, pode-se supor que a
afetividade acolhe às expectativas de lidar com um
homem, uma mulher, imersos num complexo universo
de significados simbólicos e de atribuições de qualidades,
principalmente subjetivos, às experiências, pessoas e
objetos. Um objeto inanimado informa perceptualmente
ao sujeito psicológico de suas propriedades físicas (cor,
tamanho, textura e composição material). O sujeito
psicológico “devolve” ao objeto o resultado de sua ação
psíquica em qualidade valorativa: o objeto é bonito ou
feio, apaixonante ou decepcionante ou até tudo isso ao
mesmo tempo (PINTO, 2005e).
Porquanto, por afetividade entende-se o conjunto
de emoção e sentimento. Isso significa dizer que a
afetividade engloba tanto uma reação do corpo
(emoção), como também uma experiência subjetiva
(sentimento). Um dos exemplos de afeto é o amor;
sentido por si mesmo ou mesmo por alguém. Em suma,
se é afetado pela afetividade a todo o tempo (positiva
ou negativamente). Como muito bem destaca Olinto (s/
d, p. 169) “nas manifestações afetivas nos temos a
consciência de nossos interesses imediatos”, isto é, a
afetividade acaba interferindo intima e profundamente
na organização do pensamento. Procurando um outro
sentido à mesma explicação, Bock e colaboradores
(1999, p. 193) enfatizam que...
Os afetos ajudam-nos a avaliar as situações,
servem de critério de valoração positiva ou
negativa para as situações de nossa vida; eles
preparam nossas ações, ou seja, participam
ativamente da percepção que temos das
situações vividas e do planejamento de nossas
ações ao meio.
Desse modo, Piéron (1969) afirma por afetividade
a capacidade de experimentar os sentimentos, além de
uma reação emotiva generalizada com efeitos bem
definidos sobre o corpo e o espírito. Ou seja, os afetos
alteram todo o funcionamento psicológico, bem como a
homestosase biológico-corpórea; corpo e alma unidos
como uma unidade indissociativa.
Do exposto, é relevante explicitar que se inclina
conceitualmente pelos afetos (como aqueles que têm vida
e atributos próprios) num plano de estudo coercível com
o sujeito psicológico, observando-os na organização no
funcionamento psíquico, na faculdade do pensamento.
Os afetos estariam unidos ao domínio do íntimo e pessoal,
do mundo privado e subjetivo, dos conteúdos
psicológicos.
Frente a tais indagações, começam a surgir alguns
estudos iniciais que visam discutir o complexo
funcionamento psicológico do ser humano, procurando
explorar, basicamente, a relação que existe entre a
cognição e a afetividade. Nesses estudos publicados
recentemente, sugere-se hipoteticamente que o pensar
e o sentir estejam convivendo em um diálogo complexo
e dinâmico, constituindo-se em um mesmo processo no
funcionamento psicológico, sendo de pouca importância
dividi-los em fragmentos dissociados entre si. Em cada
experiência diária, o ser humano é cognitivo-afetivo
ao mesmo instante, estando em proporções variáveis
mais afetivo ou mais cognitivo ou ainda ambos somados.
Isto é, sendo inseparáveis.
Recentemente, há inúmeros trabalhos no campo
da Psicologia Básica (ARANTES, 2000, 2006;
ARAÚJO, 1999, 2003; AFFONSO, 2003; MARTINS,
2003; SOUZA, 2003) que sinalizam para um possível
rompimento entre razão e coração, entre cognição e
afetividade. Visto desse ângulo, tais estudos procuram
demonstrar teórica e empiricamente que a organização
do pensamento humano comporta, complexa e
dinamicamente, aspectos cognitivos e afetivos
conjuntamente. Nessa abertura promissora para novos
paradigmas, a afetividade passa de uma simples
energética para influenciar no funcionamento psíquico.
Além disso, há alguns ensaios teóricos, em caráter
preliminar de idéias e hipóteses teóricas (PINTO, 2003a,
2003b, 2004a, 2004b, 2005a, 2005b, 2005c, 2005d,
2005e, 2005f), lançando questionamentos sobre a
importância de se definir, cada vez mais, o termo
afetividade de emoção e sentimento, assim como defini-
la como uma dimensão do psiquismo que possui
características próprias, afetando a forma de se valorar
objetos, experiências e pessoas. Noutra maneira de dizer,
a afetividade é o conteúdo psíquico que dá cor aos
pensamentos, motivações, temperamentos e quejandos
dos seres humanos (MIRA Y LÓPEZ, 1967), alterando
substancialmente todo o estado de ânimo.
Pensando mais sobre isso, supõe-se que a
afetividade seja analisada futuramente como uma
dimensão do psiquismo, que organiza subjetivamente
os seres humanos, entendendo-se que o fenômeno
afetivo possa ser definido como um sistema muito mais
complexo, dinâmico e repleto de conteúdos psicológicos
que se intercomplementam entre si mesmos, o que parece
sugerir de agora em diante que não há um pólo afetivo
definido, como amor ou ódio, alegria ou tristeza, mas
sim uma complementaridade dinâmica entre ele, ou seja,
amor e ódio, alegria e tristeza (PINTO, 2005c).
Já concluindo, é interessante imaginar que haja um
ser humano que seja integral, onde haja o conjugado
intercâmbio vivo e dinâmico de processos cognitivos e
afetivos. Ele vai sendo coordenado, de um modo todo
dinâmico, pelo jogo psico-funcional das dimensões
psicológicas (como cognição e afetividade...),
constituindo-se um sistema psicológico de integração de
múltiplas estruturas psíquicas. A suposição básica é que
cada dimensão psicológica possuiria seu status próprio
e poderia coordenar outras mais. Com isso em mãos,
integrariam conhecimentos distintos e não se sobrepujaria
uma área sobre a outra: todas teriam um valor de
importância no funcionamento do sujeito psicológico
(PINTO, 2005c).
Outrossim, sugere-se que a afetividade poderia
ser mais bem explorada, definindo-a tal qual fosse não
apenas um estado puro e simples da alma humana, como
é descrita nos manuais de Psicologia Básica, e sim uma
dimensão psicológica com características singulares e
formas específicas de organização psicológica. Procura-
se, pois, caracterizá-la não apenas como um simples
conteúdo psicológico que sensibiliza de forma agradável
e/ou desagradável o pensamento dos seres humanos –
mas que com certeza aloje em si mesma um rol de
significados e conteúdos psicológicos próprios. Ademais,
procurando integrá-la complexa e dinamicamente com
outras dimensões para a formação de um ser humano
mais integral, seja pela cognição, seja pelo inconsciente,
por exemplo2. Nessa perspectiva, a afetividade é uma
dimensão própria e que tem ligação associativa e que
tem corresnpodência com outras dimensões, mantendo
um diálogo psicológico em que um sistema interfere no
outro e vice-versa.
Considerações finais
Neste breve ensaio teve-se como proposta geral
argumentar acerca da dimensão afetiva, com base na
Psicologia Básica. Deve-se começar a diferenciar o termo
afetividade de emoção e sentimento, pois muitas das
vezes eles são confundidos como sinônimos ao se falar
de uma experiência subjetiva, mas verdadeiramente não
os são. A afetividade, portanto, pode ser tratada como
uma dimensão do psiquismo humano que compreende
um conjunto, complexo e dinâmico, de características
particulares voltadas à valoração que se dá a uma pessoa,
objeto ou experiência particular e que afetam o
funcionamento psíquico do ser humano, tanto em um
plano cognitivo, quanto em um inconsciente. Sintetizando,
13
 sinalizam-se quais serão os caminhos teóricos de uma York: Oxford University Press, 2003.
discussão mais bem detalhada futuramente. Naturalmente, FERREIRA, A. B. de O. Novo dicionário Aurélio da
é sabido que se necessita de um texto posterior que língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
objetive aprofundar tanto a parte teórica, como a KURY, M. G. Dicionário de mitologia grega e romana.
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14
SACONNI, L. A. Minidicionário da língua
portuguesa. São Paulo: Atual, 1996.
SOUZA, L. L. de. Modelos organizadores na
resolução de conflitos morais: um estudo com
adolescentes autores de infração. Assis: Faculdade de
Ciências e Letras/Unesp, 2003 (Dissertação de Mestrado
em Psicologia).
WEBSTER, N. Webster’s new twentieth century
dictionary. New York: Simon and Schuster, 1979.

Notas

1
Significando, no sentido literal da palavra, mover-se e/
ou deslocar-se.
2
Reconhece-se que esse tópico é uma hipótese ainda
muito geral, o siasue mercem um material e humano que
merece um outro material mais detalhado, cuja proposta
aqui não é essa.

Anexos

A figura acima procura esquematizar, bem como intentar

resumir, a discussão contida no bojo teórico desse ensaio,
ao se propor de um modo didático, quer pelo uso de setas
direcionais, que o ser humano possa ser composto por
uma dimensão afetiva, ou simplesmente a própria
afetividade, aqui neste caso sendo representada pelo con-
junto de emoção e de sentimento.

Recebido em 19 de junho de 2007 e aprovado em

01 de agosto de 2007

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