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PUC-SP
Solange de Oliveira
Mestrado em Direito
São Paulo
2017
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Solange de Oliveira
Mestrado em Direito
São Paulo
2017
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof. Dr. André Ramos Tavares – PUC-SP
_______________________________________
_______________________________________
A foto da plenária da VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) registra um
momento de participação política muito importante para a Reforma Sanitária
Brasileira em prol da saúde pública do Brasil. Fotografia do Acervo da Câmara
dos Deputados.
Direito à Saúde [...]. Esse direito não se
materializa, simplesmente pela sua
formalização no contexto constitucional. Há,
simultaneamente, necessidade do Estado
assumir explicitamente uma política de saúde
consequente e integrada às demais políticas
econômicas e sociais, assegurando os meios
que permitam efetivá-las. Entre outras
condições, isso será garantido mediante o
controle do processo de formulação, gestão e
avaliação das políticas sociais e econômicas
pela população.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição percentual das operadoras com registro ativo na ANS ..... 148
Gráfico 2 – Inscrição para a dívida ativa (2011-2014)............................................. 163
Gráfico 3 – Ressarcimento ao SUS (repasse ao FNS) ........................................... 164
16
INTRODUÇÃO
1
Foi o 30.º Presidente do Brasil, de 1979 a 1985, e o último Presidente do período do regime
militar.
2
SOUZA, Francisco Eduardo Pires de. Metamorfoses do endividamento externo. In: CASTRO,
Antonio Barros de Castro; SOUZA, Francisco Eduardo Pires de. A economia brasileira em
marcha forçada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. p. 97-190.
17
3
Relatório Final da VIII Conferência Nacional de Saúde. Realizada em Brasília de 17 a 21 de
março de 1986. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatorios/
relatorio_8.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2016.
4
Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/17961-71-dos-
brasileiros-tem-os-servicos-publicos-de-saude-como-referencia>. Acesso em: 2 ago. 2016.
18
CAPÍTULO 1
SAÚDE E CONSTITUIÇÃO
5
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988.
6
O tema que envolve o direito à saúde na Constituição Brasileira: complexidades de uma
relação público-privada no SUS estão intimamente ligado à história, uma vez que trata de
direito das pessoas. Por isso, requer, ainda que breve, a realização de estudos à luz da
história. Não simplesmente como um retorno ao passado, mas na busca de um conceito de
direito fundamental que foi travado pela própria condição humana e incorporado pelos
movimentos econômicos, políticos, culturais e em seguida no plano jurídico.
7
Consoante Norberto Bobbio: “[...] o elenco dos direitos do homem se modificou, e continua a se
modificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos
interesses, das classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das
transformações técnicas etc. Isso significa que os direitos do homem constituem uma classe
variável, como a história dos últimos séculos demonstra suficientemente” (A era dos direitos.
Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 7.ª tiragem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 13).
21
8
STERN, Staatsrecht III/I, p. 56 Apud SARLET, Ingo W. A eficácia dos direitos fundamentais:
uma teoria geral dos direitos fundamentais. 11. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.
p. 37.
9
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 37 e 39.
10
LEAL, Rogério Gesta. Direitos humanos no Brasil: desafios à democracia. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1997. p. 20.
22
presença de três requisitos: (i) Estado: entendido como Estado Moderno, que
para o seu funcionamento requer um poder centralizado que efetivamente
controle território e, assim, estabeleça as suas decisões por meio da
Administração Pública, dos tribunais, da polícia, das forças armadas, das escolas
(como aparelhos de educação) e dos meios de comunicação; (ii) Indivíduo:
pessoa física compreendida como ser moral e autônomo e sujeito de direito; e,
por último, (iii) Texto normativo regulador da relação entre Estado e
indivíduos: trata-se da Constituição no sentido formal, que deve ter validade em
todo o território nacional e ser dotado de supremacia.11 André Ramos Tavares
concorda com essa tese, mas acrescenta que essas condições “reúnem-se,
integralmente, apenas no final do século XVIII”.12
11
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 2. ed. São
Paulo: RT, 2009. p. 22-23.
12
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p.
336.
13
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral (comentários aos artigos
1.º a 5.º da Constituição da República Federativa do Brasil – doutrina e jurisprudência). 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2000. p. 24-25. (Coleção Temas Jurídicos, v. 3.)
14
São identificados como exemplos normativos o Código de Uruinimgina, também chamado de
Código de Urukagina (data aproximada de 2350 a.C.), o Código de Ur-Nammu (de 2100-2000
a.C. aproximadamente), o Código de Hammurabi (datado possivelmente de 1700 a.C.), a Lei
de Torah (elaborada por volta de 1.200 a.C.) e o Código de Manu (do século II a.C ao século II
d.C, aproximadamente, embora alguns historiadores entendam que o Código de Manu
antecedeu o Código de Hammurabi) (TAIAR, Rogério. Direito internacional dos direitos
humanos: uma discussão sobre o conceito de soberania face à efetivação da proteção
internacional dos direitos humanos. 2009. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São
Paulo: USP, p. 134).
23
15
Sexto rei sumério durante período controverso (1792-1750 ou 1730-1685 a.C.) e nascido em
Babel, “Khammu-rabi” (pronúncia em babilônio) foi fundador do 1.º Império Babilônico
(correspondente ao atual Iraque), unificando amplamente o mundo mesopotâmico, unindo os
semitas e os sumérios e levando a Babilônia ao máximo esplendor. O nome de Hamurabi
permanece indissociavelmente ligado ao código jurídico tido como o mais remoto já
descoberto: o Código de Hamurabi. O legislador babilônico consolidou a tradição jurídica,
harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a todos os súditos. Seu código estabelecia
regras de vida e de propriedade, apresentando leis específicas, sobre situações concretas e
pontuais.
O texto de 281 preceitos (indo de 1 a 282, mas excluindo a cláusula 13 por superstições da
época) foi reencontrado sob as ruínas da acrópole de Susa por uma delegação francesa na
Pérsia e transportado para o Museu do Louvre, Paris. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-
cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/codigo-
de-hamurabi.html>. Acesso em: 6 jul. 2016.
16
TAIAR, Rogério. Direito internacional dos direitos humanos cit.
17
Também nos Livros dos Profetas Isaías e Amós, por volta do século VII a.C, que são exemplos
de profetas que lutavam pelas causas sociais. Em Isaías: “Cessai de fazer o mal, aprendei a
fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido. Fazei justiça ao órfão, defendei a viúva”.
Amós, como Isaías, tinha um sentimento de justiça: “Portanto, já que explorais o pobre e lhe
exigis tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porém, não habitareis nelas, plantareis as
mais excelentes vinhas, porém, não bebereis do seu vinho. Porque eu conheço as vossas
inúmeras transgressões e os vossos grandes pecados: atacais o justo, aceitais subornos e
rejeitais os pobres à sua porta”.
24
18
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 38.
19
Jesus Cristo nasceu na Galileia, no ano I d.C, e pregou o amor e o monoteísmo (crença em um
só Deus). Em relação ao governo da cidade, o cristianismo separou a religião do governo,
quando disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Bíblia Sagrada.
Marcos, capítulo 12, versículo 17).
20
Bíblia Sagrada. Revista e atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014. Gálatas,
capítulo 3, versículo 28.
21
Jorge Miranda destaca que as principais marcas dessa evolução até os séculos XV e XVI são:
“A prevalência do factor pessoal sobre o factor territorial, como elemento definidor da
comunidade política na Grécia e em Roma (apesar de não se reconhecer ao homem, só por
ser homem, necessariamente personalidade jurídica); a reflexão e a criação cultural da Grécia
clássica, quando questionam o poder estabelecido, afirmam a existência de leis que lhe são
superiores e reivindicam um direito de desobediência individual, de que fica sendo emblemática
a atitude de Antígona; a análise filosófica do conceito de justiça – distributiva e cumulativa –
feita por Aristóteles e a análise técnico-jurídica subsequente feita pelos juristas romanos; a
distinção de poder público e poder privado e, correlativamente, de Direito Público e Direito
Privado, em Roma, acompanhada, porém, da completa prevalência da família sobre a
personalidade individual; a formação, em Roma, do jus gentium como complexo de normas
reguladoras de relações jurídicas em que interviessem estrangeiros (peregrini) e a atribuição
progressiva aos habitantes do Império de direitos e até da cidadania romana; o
reconhecimento, com o cristianismo, da dignidade de cada homem ou mulher como filho de
Deus, do destino e da responsabilidade individual, da unidade do gênero e da autonomia do
espiritual perante o temporal; a doutrina da lei injusta e do direito de resistência formulada pela
Escolástica medieval; a conquista de algumas garantias básicas de liberdade e segurança
pessoal, na Inglaterra, a partir da Magna Carta de 1215; o aparecimento também de algumas
garantias básicas da propriedade e até de participação política das pessoas e dos grupos,
conexas com a intervenção das assembleias estamentais na criação de impostos (precursoras
do princípio, mais tarde proclamado, no taxation without representation); é com o cristianismo
que todos os seres humanos, só por o serem e sem acepção de condições, são considerados
pessoas dotadas de um eminente valor” (Manual de direito constitucional. Direitos
fundamentais. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2000. t. IV, p. 15-17).
25
22
SODER, José. Direitos do homem. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960.
23
ELDERS, Leo J. A ética de Santo Tomás de Aquino. Tradução de Daniel Nunes Pêcego.
Aquinate – Instituto de Pesquisa e Ensino São Tomás de Aquino, Rio de Janeiro: Aquinate, n.
6, p. 61-80, 2008.
24
Suma Teológica, I, 29, artigo 1.
26
25
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 38.
26
Giovanni Pico nasceu em Miràndola, norte da Itália, em 24 de fevereiro de 1463, e faleceu em
Florença, também na Itália, em 17 de novembro de 1496. Teve uma vida curta, mas marcada
por grande entusiasmo intelectual e dedicação à filosofia. Oriundo de uma família nobre, muito
jovem foi para Bolonha para estudar direito canônico. Estudou por dois anos, mas desistiu
porque gostaria de se tornar filósofo. Dedica-se à filosofia, sua verdadeira vocação. Entre suas
obras, a mais conhecida é o Discurso sobre a dignidade do homem.
27
PICO DELLA MIRÀNDOLA, Giovanni. A dignidade do homem. Texto integral. Tradução,
comentários e notas. São Paulo: Escala. 2006.
28
Consoante Jordan Michel Muniz, os homens para Johannes Althusius “unem-se pela instituição
de leis comuns e por meio de um contrato no qual o governo é concedido sob condições a
representantes. A integração territorial do Estado é fruto de uma união federativa na qual a
consideração dos interesses das partes é princípio constitutivo. Os direitos associativos
preveem a secessão e a possibilidade de impeachment do governante. Há um
constitucionalismo incipiente, bem como um rudimentar esquema de checagem mútua entre os
poderes. Os bens do Estado são patrimônio da nação, e não de quem a dirige. É verdade que
a representação althusiana equivale geralmente a uma rígida e restrita procuração. O
representante deve sujeitar-se aos limites que lhe são prescritos no mandato pela vontade dos
representados” (Representação política em Althusius e Hobbes. 2012. Dissertação (Mestrado
em Filosofia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, p. 32).
27
se por vontade de cada um ou por delegação deles. Além disso, “as liberdades
expressas em lei deveriam ser garantidas pelo direito de resistência”.29
29
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 39.
30
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos cit. Para esse autor, “[...] os direitos do homem, por mais
fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias,
caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de
modo gradual, não todos de uma vez nem de uma vez por todas”. Assim entendemos como
Bobbio, que a construção do direito foi gradual. De modo que o direito constitucional, se
analisado sob a ótica da evolução humana, foi construído a passos lentos, nascido de um
sistema totalmente rudimentar, em que as primeiras noções elementares de território,
população e governo eram orientadas por princípios que regulavam a vida de primitivos
agrupamentos humanos.
31
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 39.
28
32
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 340.
33
Idem, p. 336.
34
Idem, p. 335.
29
35
Petição de Direitos (1628). Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/
Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%
C3%B5es-at%C3%A9-1919/peticao-de-direito-1628.html>. Acesso em: 5 dez. 2015.
36
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 38. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2015. p. 154-155.
37
Habeas Corpus Act (1676). Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/
hc1679.htm>. Acesso em: 5 dez. 2015.
38
Declaração dos Direitos (1689) em seu item 14. Disponível em: <http://www.dhnet.
org.br/direitos/anthist/decbill.htm>. Acesso em: 5 dez. 2015.
39
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo cit., p. 155.
30
40
Idem, ibidem.
41
Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (1776). Disponível em: <http://www.
direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-
da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-bom-
povo-de-virginia-1776.html>. Acesso em: 3 jan. 2016.
42
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 43.
43
Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776). Disponível em: <http://www.
direitobrasil.adv.br/arquivospdf/constituicoes/CUSAT.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2015.
31
44
TAIAR, Rogério. Direito internacional dos direitos humanos cit., p. 166. “A par disso, as
categorias sociais da Europa moderna (nobreza, clero e burguesia) conviviam com profundas
desigualdades de fato face aos inúmeros direitos da nobreza [...] e do clero [...] enquanto que
os burgueses, os artesãos e os camponeses não possuíam as mesmas regalias [...]. A
Revolução Francesa de 1789 aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios
universais de liberdade, igualdade e fraternidade. Desse modo, por alterar o quadro político e
social da França, passou a ser considerada como acontecimento que deu início à Idade
Contemporânea. Além disso, criou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26
de agosto de 1789, apoiada na ideia de que, ao lado dos direitos dos seres humanos e do
cidadão, existe a obrigação do Estado de respeitar e de garantir os direitos humanos” (Idem, p.
167).
45
Constituição dos Estados Unidos da América (1787). Disponível em: <http://www.direitobrasil.
adv.br/arquivospdf/constituicoes/CUSAT.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2015.
46
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 338.
47
Emendas acrescentadas à Constituição dos Estados Unidos, de acordo com o artigo 5.º da
Constituição Original. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.
php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7
%C3%B5es-at%C3%A9-1919/constituicao-dos-estados-unidos-da-america-1787.html>. Acesso
em: 3 jan. 2016.
48
Sobre a teoria de Separação de Poderes, que é um dos princípios fundamentais do
constitucionalismo moderno, tem como ideia evitar a concentração absoluta de poder nas mãos
32
político e social da França, passou a ser considerada acontecimento que deu início à Idade
Contemporânea (TAIAR, Rogério. Direito internacional dos direitos humanos cit., p. 168).
52
Posição divergente encontra-se na obra de Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de teoria geral
do Estado. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 75, na qual sustenta que é fora de dúvida
que essa Declaração, cuja influência na vida constitucional dos povos, não só do Ocidente,
como também do Oriente, ainda hoje é marcante, representou um considerável progresso na
história da afirmação dos valores fundamentais da pessoa humana. Entretanto, como um
produto do século XVIII, seu cunho é nitidamente individualista, subordinando a vida social ao
indivíduo e atribuindo ao Estado a finalidade de conservação dos direitos individuais. Nesse
ponto era muito mais avançada a Declaração de Direitos da Virgínia, segundo a qual a
sociedade não poderia privar os homens dos meios de adquirir e possuir propriedade e
perseguir e obter felicidade e segurança. A predominância do liberalismo assegurou,
entretanto, a prevalência da orientação passiva do Estado, como simples conservador dos
direitos dos que já os possuíam, sem nada fazer pelos que não tinham qualquer direito a
conservar.
53
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18. ed. ampl. e atual. São Paulo: Celso
Bastos Editora, 2002. p. 301.
54
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 24. ed. atual. e ampl. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 562.
34
55
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo cit., p.159 e 160.
56
Constituição da França de 1791. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/
~luarnaut/const91.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2015.
57
Constituição Mexicana de 1917. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/
educar/redeedh/anthist/mex1917.htm>. Acesso em: 6 dez. 2015.
58
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2001. p. 172.
59
Consoante Denise Auad, no modelo de Weimar, a efetivação de direitos sociais tornou-se uma
responsabilidade do Estado de natureza constitucional, possível de ser cobrada
institucionalmente. (Os direitos sociais na Constituição de Weimar como paradigma do modelo
de proteção social da atual Constituição Federal brasileira. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p. 337-355, jan.-dez. 2008).
60
André Ramos Tavares ensina que a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil,
de 16 de julho de 1934, ao encampar direitos de cunho social, o fez – sob forte influência da
Constituição de Weimar. Assim, instaura-se uma nova etapa no constitucionalismo brasileiro.
Curso de Direito Constitucional cit., p. 89.
35
61
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais cit., p. 29.
62
Carta del Lavoro de 1927. Disponível em: <http://www.historia.unimi.it/sezione/
fonti/codificazione/cartalavoro.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2016.
63
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia – 2000. Disponível em: <http://www.
direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-n%C3%A3o-Inseridos-nas-
Delibera%C3%A7%C3%B5es-da-ONU/carta-dos-direitos-fundamentais.html%3E>. Acesso em:
19 set. 2016.
64
Carta dos Direitos Fundamentais. Jornal Oficial das Comunidades Europeias, Portugal,
Caderno 364/8, 18 dez. 2000.
36
65
A União Europeia (UE) foi oficializada em 7 de fevereiro de 1992, por meio do Tratado de
Maastricht. Esse bloco é formado pelos seguintes países: Alemanha, França, Reino Unido,
Irlanda, Holanda (Países Baixos), Bélgica, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal, Luxemburgo,
Grécia, Áustria, Finlândia e Suécia, e possui uma moeda única que é o Euro, um sistema
financeiro e bancário comum. Disponível em: <http://www.caerj.org.br/
index.php?option=com_content&view=article&id=91&Itemid=89 >. Acesso em: 26 set. 2016.
66
Disponível em: <http://europa.eu/rapid/press-release_SPEECH-12-403_pt.htm>. Acesso em:
26 set. 2016.
67
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos cit., p. 17.
37
Paulo Bonavides, por seu turno, cogita uma quarta geração (quarta
dimensão)70 que é composta dos direitos à democracia, à informação e ao direito
ao pluralismo.71 Nos seus dizeres: “[...] deles depende a concretização da
sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a
qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência”. 72
68
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p.350.
69
ARAUJO, David; SERRANO, Vidal. Curso de direito constitucional. 19. ed. São Paulo:
Verbatim, 2015. p. 158.
70
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 50.
71
ARAUJO, David; SERRANO, Vidal. Curso de direito constitucional cit., p. 159.
72
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 571.
73
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 57.
38
possibilitará um futuro melhor para todos, uma vez que a CR/1988 confirma a
titularidade de direitos fundamentais a toda e qualquer pessoa, seja ela brasileira
ou estrangeira residente no País (artigo 5.º). Por isso, são vistos tais direitos como
direito do ser humano reconhecido juridicamente.
74
MOREIRA, Lucas Pessoa; ZABALA, Tereza Cristina. Trabalho sobre as Constituições
brasileiras. Disciplina: Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel dos agentes do Estado
e das políticas públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David Araujo. Curso de Mestrado
na PUC-SP, 2.º semestre de 2015.
39
75
LIMA, Ana Júlia Vaz de; SPONTON, Leila Rocha; VINCI, Luciana Vieira Dallaqua. Trabalho
sobre as Constituições brasileiras. Disciplina: Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel
dos agentes do Estado e das políticas públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David
Araujo. Curso de Mestrado na PUC-SP, 2.º semestre de 2015.
76
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional cit., p. 91.
77
MURARO, Igor; OLIVEIRA, Solange de. Trabalho sobre as Constituições brasileiras. Disciplina:
Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel dos agentes do Estado e das políticas
públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David Araujo. Curso de Mestrado na PUC-SP,
2.º semestre de 2015.
78
LEE, Yun Ki; PIERONI, Claudio Giovanni. Trabalho sobre as Constituições brasileiras.
Disciplina: Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel dos agentes do Estado e das
políticas públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David Araujo. Curso de Mestrado na
PUC-SP, 2.º semestre de 2015.
40
79
CARDOSO, Diego Brito; PRADO E SILVA, Laís Sales do. Trabalho sobre as Constituições
brasileiras. Disciplina: Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel dos agentes do Estado
e das políticas públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David Araujo. Curso de Mestrado
na PUC-SP, 2.º semestre de 2015.
80
TAVARES, André Ramos. Direito constitucional e econômico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: Método, 2011. p. 116.
81
MARQUES, Letícia Yumi; DI CESARE, Paula Paschoal. Trabalho sobre as Constituições
brasileiras. Disciplina: Direitos fundamentais e sua efetividade: o papel dos agentes do Estado
e das políticas públicas. Ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto David Araujo. Curso de Mestrado
na PUC-SP, 2.º semestre de 2015.
82
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 63.
83
Idem, p. 69.
41
84
A metódica jurídica tem como tarefa investigar as várias funções de realização do direito
constitucional (legislação, administração, jurisdição) e, para captar a transformação das normas
a concretizar numa decisão prática, a metódica pretende-se ligar à resolução de problemas
práticos.
85
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais. São Paulo: RT, 1999. p. 44-
45.
42
86
Sobre o conceito de princípios, ver as significativas anotações de BONAVIDES, Paulo. Curso
de direito constitucional cit., p. 255-258.
87
CLEMENTE, F. de. El método en la aplicación del Derecho Civil. Revista de Derecho Privado,
ano IV, n. 37, out. 16, p. 290 apud BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p.
256.
88
A partir de leituras realizadas para a elaboração deste trabalho, verifica-se que Crisafulli
pertence à classe dos juristas que mais contribuíram para a normatividade dos princípios.
Atesta esse entendimento BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 272.
89
CRISAFULLI Vezio. La Costituzione e le sue Disposizioni di Principio, Milano, 1952 apud
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 257.
43
90
GUASTINI, Riccardo. Dalle Fonti alle Norme, p. 112 apud BONAVIDES, Paulo. Curso de direito
constitucional cit., p.257-258
44
91
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Princípios jurídicos e Constituição: conceitos operacionais. São
Paulo: RT, 1998. p. 57.
92
Conforme escreveu BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 260: “A fase
jusnaturalista dominou a dogmática dos princípios por um longo período até o advento da
Escola Histórica do Direito. Cedeu lugar, em seguida, a um positivismo tão forte, tão
dominante, tão imperial, que ainda no século XX os cultores solitários e esparsos da doutrina
do Direito Natural nas universidades e no meio forense pareciam se envergonhar do arcaísmo
de professarem uma variante da velha metafísica jurídica”.
93
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Princípios jurídicos e Constituição: conceitos operacionais cit.,
p. 58.
94
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 261.
95
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Princípios jurídicos e Constituição: conceitos operacionais cit.,
p. 58.
96
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 265.
45
97
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 265.
98
TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios. In: LEITE, George
Salomão (Org.). Dos princípios constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 25-26.
99
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 116.
100
Importante sublinhar o trabalho lido: A força normativa da Constituição (Die Normative kraft der
Verfassung) do alemão Konrad Hesse. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre:
Fabris, 1991. p. 20-24. Ao tratar da força que constitui toda a sua essência e a capacidade de
46
que o direito aconteça, sendo certo que por meio dela a calcificação de todo o
ordenamento jurídico (leis, decretos e/ou quaisquer outros atos normativos)
ocorrerá e que sem o seu manto perde o sentido e o significado.
torná-la eficaz, residem justamente na natureza das coisas que a impulsiona para transformar-
se em força ativa. Por isso, quanto mais o conteúdo da Constituição for capaz de corresponder
ao presente, tanto mais seguro há de ser o desenvolvimento de sua força normativa. Ela não
pode ser separada da realidade concreta de seu tempo.
101
Ainda segundo André Ramos Tavares, os princípios infraconstitucionais estão albergados nos
princípios constitucionais, ou seja, para ele “diz-se infraconstitucionais não só porque estes
princípios não são estatuídos na Constituição, mas também porque não se configuram senão
como próprios de determinados setores do Direito, aos quais se restringe sua aplicação”
(Elementos para uma teoria geral dos princípios cit., p. 32).
102
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo:
Martins Fontes, 2002. p. 23-72
103
Idem, p. 39.
104
TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios cit., p. 33.
105
Idem, p. 34.
47
1.6 Por uma revisão para uma teoria dos princípios na perspectiva
constitucional – suas características: segundo André Ramos Tavares
106
TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios cit., p. 34.
107
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional cit., p. 154.
48
Por sua vez, de acordo com André Ramos Tavares, a (iii) característica
da relatividade expressa que todos os princípios incluem também os direitos
fundamentais, e “são relativos em sua normatividade”. Considera que não existe
um princípio que se sobrepõe a outro, tornando-o absoluto, ou melhor, que outro,
pois mesmos os princípios que tratam dos direitos fundamentais são reputados
relativos em sua normatividade. Assim sendo, convém registrar o que André
Ramos Tavares (ao analisar as características dos princípios) observou no
estágio atual da dogmática jurídica, acerca da relatividade dos princípios:
108
TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios cit., p. 37-38.
49
109
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 364-365.
110
Para Vezio Crisafulli, grande professor da Itália que contribui para consolidar a doutrina da
normatividade dos princípios, estes têm eficácia imediata e a eficácia mediata (programática)
apud BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional cit., p. 272.
111
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda nasceu em 23 de abril de 1892, em Maceió – AL, e
morreu em 22 de dezembro de 1970. A obra dele contribuiu de tal forma para o enriquecimento
da ciência jurídica neste país que sua produção colocou o Brasil no contexto universal do
pensamento jurídico como nação respeitável no campo do direito. A filosofia e a lógica o
fascinavam, colecionava corujas e conhecia bem os clássicos, o que demonstrava claramente
o seu refinamento intelectual. Disponível em: <http://www.trt19.jus.br/mpm/
secaopatrono/vida.htm>. Acesso em: 7 ago. 2016.
50
112
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1999. p. 208-209 e 219.
113
Idem. Hermenêutica, Constituição e autonomia do direito. Revista de Estudos Constitucionais,
Hermenêutica e Teoria do Direito, São Leopoldo: UNISINOS, 2009. p. 66-69.
51
114
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p.181.
52
115
BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas. Limites e
possibilidades da Constituição brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 82-85.
116
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 191.
53
117
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 191.
118
SARMENTO, Daniel. A proteção judicial dos direitos sociais: alguns parâmetros ético-jurídicos,
p. 17. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&pid=S0034-
7612201500020029300036&lng=en>. Acesso em: 16 jan. 2016.
54
obrigação de criar condições que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. 119 A
propósito, a manifestação do STF pela Ministra Ellen Gracie:
Com tal entendimento, mais uma vez é reiterada a posição de que cabe
ao Estado brasileiro desenvolver políticas públicas responsáveis pela garantia de
condições mínimas de bem-estar para a população a fim de que ocorra o
desenvolvimento econômico e social. Entretanto, de nada adiantará, para que se
promova o direito à saúde em todas as ações e serviços, se não for possível
concretizar o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana como
fundamento do Estado Democrático de Direito, conforme será tratado no próximo
item.
119
AI 734.487-AgR, 2.ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 03.08.2010, DJe 20.08.2010.
55
120
AITH, Fernando. A emergência do direito sanitário como um novo campo do direito. In:
ROMERO, Luiz Carlos; DELDUQUE, Maria Célia (Org.). Estudos de direito sanitário: a
produção normativa e saúde. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas,
2011. p. 13-40.
121
Valor (lat. valor). Literalmente, em seu sentido original, “valor” significa coragem, bravura, o
caráter do homem, daí por extensão significar aquilo que dá a algo um caráter positivo. A
noção filosófica de valor está relacionada por um lado àquilo que é bom, útil, positivo; e, por
outro lado, à de prescrição, ou seja, à de algo que deve ser realizado. Cf. Dicionário básico de
filosofia.
122
Alguns exemplos: (1) Lei Fundamental alemã, de 24 de maio de 1949, que no artigo primeiro
estabelece: “A dignidade do homem é intangível. Respeitá-la e protegê-la é obrigação de todo
o poder público”. Disponível em: <https://www.btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf>. Acesso
em: 10 jan. 2016. (2) A Constituição de Portugal, promulgada em 25 de abril de 1976, com as
sucessivas reformas de 1982, 1989, 1992, 1997, 2001, 2004 e 2005, preceitua: “Portugal como
uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e
empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”.
Disponível em: <http://www.parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf>. Acesso
em: 10 jan. 2016. (3) Constituição da Colômbia, promulgada em 20 de julho de 1991, preceitua:
“Artigo 1. Colômbia é um Estado social de direito, organizado na forma de República Unitária,
descentralizada, com autonomia de suas entidades territoriais, democrática, participativa e
pluralista, fundada em respeito a dignidade humana, no trabalho e na solidariedade das
pessoas que a integram e na prevalência do interesse geral. [...] Art. 1. Colombia es un Estado
social de derecho, organizado en forma de República unitaria, descentralizada, con autonomía
de sus entidades territoriales, democrática, participativa y pluralista, fundada en el respeto de la
dignidad humana, en elj trabajo y la solidaridad de las personas que la integran y en la
prevalencia del interés general”. Original em espanhol. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/21401-21402-1-PB.htm>. Acesso em:
10 jan. 2016. Tradução livre.
56
123
Para Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade da pessoa humana, assim como acabou sendo
recepcionada por meio do pensamento cristão e humanista e para a manifestação jurídica,
significa uma última garantia da pessoa em relação à disponibilidade do poder estatal e social
(Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 4. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 38-39).
124
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo cit., p.107.
125
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. In: LEITE,
George Salomão (Org.). Dos princípios constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 216.
126
SÓCRATES. Os pensadores. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 30.
127
Suma Teológica, I, 29, artigo 1.
57
128
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 32. (Coleção Os
pensadores.)
129
Como bem salienta André Ramos Tavares, a dignidade da pessoa humana não surgiu com
Kant. E cita Ingo Wolfgang Sarlet: “já no pensamento estoico, a dignidade era tida como a
qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o distinguia das demais criaturas, no sentido de
que todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade, noção esta que se encontrava
intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de cada indivíduo (o Homem como ser livre e
responsável por seus atos e seu destino), bem como a ideia de que todos os seres humanos,
no que diz com a sua natureza, são iguais em dignidade” (TAVARES, André Ramos. Curso de
direito constitucional cit., p. 439).
130
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura cit., p. 59.
131
Idem. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa:
Edições 70, 2007. p. 77.
132
Ingo Wolfgang Sarlet sustenta que é “com Kant que, de certo modo, se completa o processo de
secularização da dignidade, que, de vez por todas, abandonou suas vestes sacrais” (Dignidade
da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988 cit., p. 32).
58
Por sua importância, Willis Santiago Guerra Filho, ao tratar do tema, 134
afirma como:
133
MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da (Coord.). Tratado Luso Brasileiro da
Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 170.
134
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Dignidade humana, princípio da proporcionalidade e teoria
dos direitos fundamentais. In: MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da (Coord.).
Tratado Luso Brasileiro da Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p.
305-319.
135
Idem, p. 310.
59
136
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Dignidade humana, princípio da proporcionalidade e teoria
dos direitos fundamentais cit., p. 319.
137
CARVALHO, Paulo de Barros. A dignidade da pessoa humana na ordem jurídica brasileira. In:
MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da (Coord.). Tratado Luso Brasileiro da
Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 1144.
60
situação, pelo valor coletivo, por exemplo, esta opção não pode
nunca sacrificar, ferir o valor da pessoa.138
138
SANTOS, Fernando F. Princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo:
Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999. p.94.
139
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 442-443.
140
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros, 2008. p. 111.
141
Ana Paula de Barcelos e Luís Roberto Barroso descrevem a ponderação como um processo
em três etapas: “1.ª etapa – cabe ao intérprete detectar no sistema as normas relevantes para
a solução do caso, identificando eventuais conflitos entre elas; 2.ª etapa – cabe ao intérprete
examinar os fatos, as circunstâncias concretas do caso e sua interação com os elementos
normativos. Assim, o exame dos fatos e os reflexos sobre eles das normas identificadas na
primeira etapa poderão apontar com maior clareza o papel de cada uma delas e a extensão de
sua influência; 3.ª etapa – é nesta etapa que a ponderação irá singularizar-se em oposição à
subsunção. Esta é a fase da decisão. [...] A metáfora da ponderação, associada ao próprio
símbolo da justiça, não é imune a críticas, se sujeita ao mau uso e não é remédio para todas as
situações” (A nova interpretação constitucional: ponderação, argumentação e papel dos
princípios. In: LEITE, George Salomão (Org.). Dos princípios constitucionais. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 117-119).
61
de uma pessoa em relação à dignidade de outra, mas não com qualquer outro
princípio, valor ou interesse.142
142
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na
Constituição Federal de 1988 cit., p. 130.
143
Para Jorge de Miranda, “a ligação jurídico-positiva entre direitos fundamentais e dignidade da
pessoa humana só começa com os grandes textos internacionais e as Constituições
subsequentes à Segunda Guerra Mundial, e não por acaso. Surge na Carta das Nações
Unidas (no preâmbulo); e na Declaração Universal, ao afirmar-se que o desconhecimento e o
desprezo dos direitos do homem tinham conduzido a atos de barbárie que revoltaram a
consciência da Humanidade e que o reconhecimento e o desprezo dos direitos do homem
tinham conduzido a atos de barbárie que revoltaram a consciência da Humanidade e que o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus
direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz do mundo
(preâmbulo). Surge em resposta aos regimes que tentaram sujeitar e degradar a pessoa
humana (preâmbulo da Constituição francesa de 1949) e quando se proclama que a dignidade
da pessoa humana é sagrada (artigo 1.º da Constituição alemã de 1949)” (Manual de direito
constitucional cit., p. 216).
144
Artigo 196 da Constituição da República de 1988.
145
Fábio Konder Comparato explica que, no campo da Teoria Geral do Direito, a noção de
fundamento diz respeito à validade das normas jurídicas e à fonte da irradiação dos efeitos
delas decorrentes. Em outras palavras: Por que a norma vale e deve ser cumprida?
Fundamento dos direitos humanos. Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, São
Paulo, p. 4, 1997. Disponível em: <www.iea.usp.br/artigos>. Acesso em: 10 jan. 2016.
146
Aprecio a definição dada por Celso Antônio Bandeira de Mello, de que princípio é o
“mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se
irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata
compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema
normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos
princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há
62
por nome sistema jurídico positivo” (Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros,
2015. p. 986-987).
147
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o princípio da dignidade da pessoa humana. In: LEITE,
George Salomão (Org.). Dos princípios constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 191.
148
Idem, p. 192-193.
149
SARLET Ingo Wolfgang, Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988 cit., p. 223.
150
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo cit., p.107.
151
TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios cit., p. 32 e 48.
63
dignas para que todos, e não apenas alguns, tenham acesso a esse direito que
muito precisa ser alcançado, conforme será visto nos capítulos seguintes deste
trabalho, especialmente quando serão abordados o histórico e o conceito de
saúde.
64
CAPÍTULO 2
O SISTEMA DE SAÚDE
152
Ulysses Silveira Guimarães nasceu em Rio Claro (SP), no dia 6 de outubro de 1916.
Desapareceu em 12 de outubro de 1992 em um acidente de helicóptero no litoral do Rio de
Janeiro. Seu corpo não foi encontrado, mas a morte foi oficialmente reconhecida. Foi
presidente da Câmara dos Deputados durante 1956/1957, 1985/1886 e 1987/1988. De 1987 a
1988 presidiu ainda a Assembleia Nacional Constituinte. A nova Constituição, na qual Ulysses
teve um papel fundamental, foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988, tendo sido por ele
chamada de Constituição Cidadã. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/
Jango/biografias/ulisses_guimaraes>. Acesso em: 2 ago. 2016.
65
153
DALLARI, Sueli Gandolfi. Os Estados brasileiros e o direito à saúde. São Paulo: Hucitec, 1995.
p. 20.
154
Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.) nasceu na Ilha de Cós, na costa da Ásia Menor. Era filho de
Heráclides e Fenareta, descendentes de Asclépio, deus grego da Medicina, por parte de pai, e
de Hércules, por parte de mãe. Seu trabalho marca o fim da Medicina como manifestação
mágica e divina e inaugura a ciência baseada na observação clínica. É considerado o pai da
medicina e o juramento, trabalho que resume sua ética, é pronunciado até hoje pelos
formandos de Medicina.
155
CAIRUS, H.F.; RIBEIRO JR., W.A. Textos hipocráticos: o doente, o médico e a doença. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2005. p. 62. (Coleção História e saúde.) Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-311x2006000100029&script=sci_arttext&tlng=pt>.
Acesso em: 31 jan. 2016.
156
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário: a proteção do direito à saúde no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2007. p. 51.
66
157
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 52.
158
Idem, p. 54-55.
67
159
John Snow descreveu a epidemia de cólera de Broad Street em Londres, demonstrando sua
transmissão pela água de um poço que fora contaminado durante a lavagem de uma criança
infectada.
160
AGUIAR, Eurico de. Arte e cura: passado, presente e futuro. Porto Alegre: Simers, 2009.
161
Advogado, considerado um dos pioneiros da saúde pública.
162
Os determinantes sociais da saúde são as condições em que as pessoas nascem, crescem,
vivem, trabalham e envelhecem, incluindo o sistema de saúde. Essas circunstâncias são
moduladas pela distribuição de renda, poder e recursos em nível global, nacional e local e são
influenciadas por decisões políticas. Os determinantes sociais da saúde são os principais
responsáveis pelas iniquidades em saúde – as diferenças injustas e evitáveis entre pessoas e
países. Disponível em: <http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&
task=doc_view&gid=1371&Itemid=423 >. Acesso em: 3 abr. 2016.
163
DAVIES, Ana Carolina Izidório. Saúde pública e seus limites constitucionais. São Paulo:
Verbatim, 2012. p. 37.
68
164
Denominação dada ao médico, já que a medicina, na época, era considerada medicina física.
165
Aos boticários cabia a manipulação das fórmulas prescritas pelos médicos, mas a verdade é
que eles próprios tomavam a iniciativa de indicá-los, fato comum até hoje. Os boticários não
dispunham de um aprendizado acadêmico, o processo de habilitação na função consistia tão
somente em acompanhar um serviço de uma botica já estabelecida durante certo período de
tempo, ao fim do qual prestavam exame perante fisicatura e, se aprovado, o candidato recebia
a carta de habilitação, e estava apto a instalar sua própria botica (POLIGNANO, Marcus
Vinícius. História das políticas de saúde no Brasil. Disponível em: <http://www.uff.br/
higienesocial/images/stories/arquivos/aulas/Texto_de_apoio_3_-_HS-
Historia_Saude_no_Brasil.pdf >. Acesso em: 23 fev. 2016).
166
POLIGNANO, Marcus Vinícius. História das políticas de saúde no Brasil cit.
69
houve uma proliferação de boticários pelo País, pois havia carência nesse período
de profissionais médicos. É importante registrar que as políticas de saúde no
Brasil ocorrem com a vinda do Príncipe Regente D. João VI e sua corte à Bahia
em 22 de janeiro de 1808. Nesse ano é criado por D. João VI o Colégio Médico-
Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e no mês de novembro a
Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Hospital Militar, a fim de formar
cirurgiões e resolver a situação da saúde.
167
BARROSO, Luís Roberto. Da falta de efetividade à judicialização excessiva: direito à saúde,
fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial. Disponível em:
<http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/da_falta_de_efetividade_a_
judicializacao_excessiva.pdf>. Acesso em: 15 maio 2016.
168
Pudemos verificar, após pesquisa realizada no Centro de Pesquisa e Documentação de
História (CPDOC) da FGV que o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), criado em
02.01.1920, pelo Decreto n.º 3.987, substituiu e ampliou as atribuições e o alcance da Diretoria
Geral de Saúde Pública (DGSP), que fora criada pela Lei n.º 429, de 10.12.1896, e
regulamentada pelo Decreto n.º 2.458, de 10.02.1897. O DNSP foi o principal órgão federal da
área de saúde, subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios interiores. A extensa
regulamentação estabelecida para o funcionamento do DNSP, dada pelo Decreto n.º 14.354,
de 15.08.1920, contava com 1.195 artigos, destacava o combate às então chamadas doenças
venéreas, à lepra e à tuberculose, definiam atividades regulatórias mais amplas para a saúde
pública e reforçava os poderes dos serviços sanitários, aspectos que teriam impacto potencial
sobre o exercício das profissões e atividades do setor de saúde, e também sobre atividades
comerciais e econômicas, tais como produção e comercialização do leite e de gêneros
alimentícios. [...] A crise econômica de 1929, a Revolução de 1930 e a instabilidade do governo
provisório de Getúlio Vargas tiveram impacto no funcionamento do DNSP. O próprio Ministério
da Educação e Saúde Pública, que foi criado em 1930, também experimentou a instabilidade
dos primeiros anos de Getúlio Vargas no poder, não garantindo ao seu principal departamento
na área de saúde a continuidade de sua atuação em âmbito nacional. Na reforma do Ministério
da Educação e Saúde em 1934, na curta gestão do ministro Washington Pires, o DNSP foi
70
de julho de 1953, com a Lei n.º 1.920, que desdobrou o então Ministério da
Educação e Saúde em dois: Saúde e Educação e Cultura. Surgem os Institutos
de Aposentadoria e Pensão (IAP), que prestavam serviços de saúde de caráter
curativo, mas beneficiavam apenas os trabalhadores que contribuíam para o
respectivo Instituto.169 Como se vê, a saúde pública não era universal.
extinto e suas funções foram incorporadas à nova Diretoria de Saúde e Assistência Médico-
social (DNSAMS), Decreto n.º 24.438, de 21.06.1934. As marcas e os avanços do DNSP
seriam as bases de um novo ciclo de expansão da saúde pública com as reformas realizadas
em 1937 e 1941 na gestão de Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde (1934-
1945). Conforme Gilberto Hochman. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/sites/default/
files/verbetes/primeira-republica/DEPARTAMENTO%20NACIONAL%20DE%20SA%C3%9ADE
%20P%C3%9ABLICA%20(DNSP).pdf>. Acesso em: 15 maio 2016.
169
BARROSO, Luís Roberto. Da falta de efetividade à judicialização excessiva cit., p.12.
170
Anos de incerteza (1930-1937), Instituto de Aposentadoria e Pensões. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/PoliticaSocial/IAP>. Acesso em:
15 maio 2016.
71
171
AITH, Fernando. A emergência do direito sanitário como um novo campo do direito cit., p. 15.
172
O conceito consta no preâmbulo da Constituição da Assembleia Mundial da Saúde adotada
pela Conferência Sanitária Internacional realizada em Nova York, de 19 a 22 de junho de 1946,
pelos representantes de 61 Estados, inclusive o Brasil, que formaram a Organização Mundial
de Saúde (OMS) com vigência a partir de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da
Saúde). Convém relatar que essa Constituição não sofreu qualquer emenda.
173
Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) 1946. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-
Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 15
maio 2016.
72
174
No livro Ética a Nicômaco, Aristóteles traça o problema da ética. A motivação inicial desse livro
foi descobrir qual é o bem que o ser humano busca para a sua realização e qual o espaço que
a ética ocupa em nossas vidas? As hipóteses encontradas indicam a vida ideal como local das
virtudes com as outras pessoas e que essa vivência é a felicidade. Uma vez que as pessoas (o
Humano) estão lançadas para a felicidade, devem motivar-se por ela. Ensina que para “ser feliz
é, então, necessário [...] tanto uma excelência completa como uma existência completa”
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução do grego de António de Castro Caeiro. São
Paulo: Atlas, 2009. p. 32).
175
O estado de insatisfação é essencial na evolução de indivíduos e da espécie.
176
Hannah Arendt explica que “a condição humana compreende mais que as condições sob as
quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condicionados, porque tudo aquilo com
que eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. O mundo
no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas
as coisas que devem sua existência exclusivamente aos homens constantemente condicionam,
no entanto, os seus produtores humanos. Além das condições sob as quais a vida é dada ao
homem na Terra e, em parte, a partir delas, os homens constantemente criam suas próprias
condições, produzidas por eles mesmos, que a despeito de sua origem humana e de sua
variabilidade, possuem o mesmo poder condicionante das coisas naturais. [...]” (A condição
humana. Tradução de Roberto Raposo. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 9).
73
177
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), adotada e proclamada pela
Resolução 217 (III) da Assembleia Geral, em seu preâmbulo “proclama a presente Declaração
Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas
as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por promover o
respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e
efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos
territórios sob sua jurisdição”. Trata de um documento incomparável na história da
humanidade, que consagrou o ser humano como sujeito de direitos.
178
SCHWARTZ, Germano. Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 223.
74
179
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 718.
180
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 196.
181
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 718.
75
182
AITH, Fernando. A emergência do direito sanitário como um novo campo do direito cit., p. 17.
76
que as causas de doenças não são naturais, mas sociais, e que a partir delas o
Estado deve promover as políticas públicas, por meio da adoção de um conceito
de saúde pública que tenha como preocupação cada pessoa e a coletividade.
183
WINSLOW, C.E.A. Apud AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 53-54.
184
AITH, Fernando. A emergência do direito sanitário como um novo campo do direito cit., p. 18.
77
185
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição cit., p. 24: “[...] a Constituição jurídica está
condicionada pela realidade histórica. Ela não pode ser separada da realidade concreta do seu
tempo. A pretensão de eficácia da Constituição somente pode ser realizada se levar em conta
78
essa realidade. A Constituição jurídica não configura apenas a expressão de uma dada
realidade. Graças ao elemento normativo, ela ordena e conforma a realidade política e social.
As possibilidades, bem como os limites da força normativa da Constituição, resultam da
correlação entre ser (Sein) e dever ser (Sollen)”.
186
BORTOLOTTO, Franciane Woutheres; SCHWARTZ, Germano. A dimensão prestacional do
direito à saúde e o controle judicial de políticas públicas sanitárias. Revista de Informação
Legislativa, Brasília, n. 45, n. 77, p. 259, jan.-mar. 2008.
187
Preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2015.
79
188
BRASIL. Constituição de 1824: 1.ª Constituição brasileira. Foi promulgada por D. Pedro I.
Embora outorgada pelo Imperador, foi a Constituição mais longeva de toda a história brasileira.
Vigeu 65 anos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso em: 15 maio. 2016.
189
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 77.
190
Idem, p. 85.
80
menção sobre o direito à saúde. Não havia preocupação formal sobre a saúde da
população. Há, portanto, um retrocesso em relação à Constituição de 1824.
191
DALLARI, Sueli Gandolfi. Direito constitucional à saúde. In: ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO,
Roseni (Org.). Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 87.
192
ASENSI, Felipe Dutra. O direito à saúde no Brasil. Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012. p. 17.
82
193
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Notas sobre o direito fundamental
à proteção e promoção da saúde na ordem jurídico-constitucional. In: ASENSI, Felipe Dutra;
PINHEIRO, Roseni (Org.). Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 36.
194
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 294-295.
195
DALLARI, Sueli Gandolfi. O direito à saúde. Revista Saúde Pública, São Paulo, n. 22(1), p. 60,
1988.
196
Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, do Sistema Único de Saúde (SUS).
83
sua execução ser realizada diretamente ou por terceiros, e, também, por pessoa
física ou jurídica de direito privado. Por seu turno, o artigo 129, II, atribui ao
Ministério Público a função de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e
de serviços de relevância pública, como é o caso da saúde pública.
197
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais cit., p. 226.
84
relevância do bem jurídico tutelado pela ordem constitucional, por sua importância
como pressuposto de manutenção da própria vida, e vida com dignidade. Já a
fundamentalidade no sentido formal decorre do direito constitucional positivo, que,
nos termos do que dispõe o § 1.º do artigo 5.º da CR/1988, as normas definidoras
de direitos e garantias fundamentais são diretamente aplicáveis, vinculando de
maneira imediata as entidades estatais e os particulares. E nessa condição de
direito fundamental a saúde efetiva-se como dever fundamental, a ser prestado
pelo Estado.198 Trata-se, portanto, de direito-dever. Assim, é certo que o objeto
dos deveres fundamentais decorrentes do direito à saúde guarda relação com as
diferentes formas pelas quais esse direito é efetivado.
198
Conforme o texto positivado do artigo 196 da CR/1988: “A saúde é direito de todos e dever do
Estado [...]”.
85
199
A VIII Conferência Nacional de Saúde superou todas as expectativas e estimativas feitas
anteriormente, mais de quatro mil pessoas participaram da Conferência em jornadas de
discussões que duraram até 14 horas. Desse total, mil delegados foram escolhidos e/ou
indicados pelas instituições, organizações e entidades como seus representantes [...]. O
comparecimento do Presidente José Sarney e de várias personalidades políticas como Waldir
Pires (Ministro da Previdência), Carlos Santana (Saúde), Ulisses Guimarães (Presidente do
PMDB e mais tarde da Constituinte), dentre outras personalidades. Em seu discurso, Sarney
disse que [...] o Governo, que fez da opção social sua meta prioritária tem a obrigação de fazer
saúde dos cidadãos um bem tutelado pelo Estado e pela sociedade. [...] Aqui se definem os
rumos de uma nova organização do sistema de saúde no Brasil [...] Faço votos que esta
conferência [...] há de representar a pré-constituinte da saúde no Brasil. [...] O relatório final da
Conferência traduziu as principais conclusões predominantes na quase totalidade dos grupos
de trabalho. Tais conclusões foram aprovadas por expressiva votação na plenária final.
Materializaram-se sem maiores dificuldades o consenso em torno da conceituação de saúde,
seus determinantes, sua incorporação ao direito da cidadania, o consequente dever do Estado,
a criação do Sistema Único de Saúde, a interdependência entre política social e econômica
(com os entraves existentes no caso brasileiro), assim como a caracterização dos serviços de
saúde como bens públicos e essenciais, propondo-se várias alterações no relacionamento com
o setor privado (Conferência Nacional de Saúde, 1986, p. 15-20).
86
Como dito, o SUS foi previsto e definido pela CR/1988, pois trata-se de
uma instituição jurídica criada por ela, com a finalidade de organizar todas as
ações e serviços públicos de saúde no País,200 com o fim de assegurar a saúde a
todos os cidadãos, uma vez que, como alertado no artigo 2.º da referida lei, “a
saúde é um direito fundamental do ser humano devendo o Estado prover as
condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
200
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p.340.
201
Por política pública utiliza-se o conceito: “um sistema de decisões públicas que visa a ações ou
omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou
vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da
alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos” (FERRAREZI,
Elisabete; SARAVIA, Enrique (Org.). Introdução à teoria da política pública. Brasília: Enap,
2006. p. 13. (Políticas públicas, v. 1.)
87
202
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 341.
203
Idem, p. 343.
88
2.7.1 Objetivos
204
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros
Editores, 2015, p. 143.
205
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 344.
206
O Decreto-lei n.º 200, de 25.02.1967, em seu artigo 4.º, incisos I e II, dispõe: “A Administração
Federal compreende: I – a Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na
estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios; II – a Administração
Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade
jurídica própria: a) autarquias; b) empresas públicas; c) sociedades de economia mista; d)
fundações públicas [...]”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del0200.htm>. Acesso em: 28 abr. 2016.
89
207
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS).
Disponível em:
<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=1371&Itemid=4
23>. Acesso em: 14 jan. 2016.
90
2.7.2 Diretrizes
A) Descentralização
208
Expressão utilizada pelo Deputado Federal Ulisses Guimarães à Constituição promulgada em 5
de outubro de 1988. Na sessão solene de promulgação da Constituição de 1988, ressalta: “[...]
É o clarim da soberania popular e direta, tocando no umbral da Constituição, para ordenar o
avanço no campo das necessidades sociais. O povo passou a ter iniciativa de leis. Mais do que
isso, o povo é o superlegislador; habilitado a rejeitar pelo referendo projetos aprovados pelo
parlamento. A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos. Do Presidente da
República ao Prefeito, do Senador ao Vereador. A moral é o cerne da pátria” (Trecho extraído
de Discurso de Ulisses Guimarães em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/25-anos-
da-constituicao-de-1988/constituinte-1987-1988/pdf/Ulysses%20Guimaraes%20-
%20DISCURSO%20%20REVISADO.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2016).
209
Adib Jatene, pouco antes do seu falecimento, em entrevista ao editor da Revista da CAASP,
Paulo Henrique Arantes, sustentou que o SUS não tem o volume de recursos que a medicina
91
privada tem. Segundo ele, nisso está a discrepância entre um sistema concebido corretamente
e sua aplicação na prática.
210
Conforme artigo 198 da CR/1988.
211
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 356-357.
212
SERRANO, Mônica de Almeida Magalhães. O Sistema Único de Saúde e suas diretrizes
constitucionais. São Paulo: Verbatim, 2012. p. 118.
213
Federalismo Cooperativo remete-se a título exemplificativo, ao STF, Plenário, RE n.º 576.762,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 04.09.2008.
92
214
SARMENTO, Daniel; TELLES, Cristina. Judicialização da saúde e responsabilidade federativa:
solidariedade ou subsidiariedade. In: In: ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO, Roseni (Org.).
Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 121.
93
eles”.215 Nesse sentido, todos os entes federados são gestores do SUS, não
havendo hierarquia entre eles, mas competências que estão previamente
distribuídas dentro de seus limites. Dessa forma, cabe à União a direção nacional
do SUS; aos Estados, a direção no âmbito regional de cada Estado; e aos
Municípios, a gestão das ações e recursos em matéria de saúde.
B) Atendimento integral
215
SARMENTO, Daniel; TELLES, Cristina. Judicialização da saúde e responsabilidade federativa:
solidariedade ou subsidiariedade cit., p. 119.
216
Conforme Dicionário da educação profissional em saúde. Elaborado por Roseni Pinheiro.
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Osvaldo Cruz
(FIOCRUZ). Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/intsau.html>.
Acesso em: 10. abr. 2016.
94
C) Participação da comunidade
217
PINHEIRO, Roseni. Saúde pelos sanitaristas: O Sistema Único de Saúde sob a ótica do
princípio universal da integralidade das ações. In: ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO, Roseni
(Org.). Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 71-73.
218
Idem, p. 76.
219
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 357.
220
Idem, ibidem.
95
221
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de gestão estratégica e participativa. Departamento
de apoio à gestão participativa. Participação Social em Saúde. 2006.
222
De acordo com o Dicionário básico de filosofia, democracia (do gr. demos: povo e kratos:
poder) 1. Regime político no qual a soberania é exercida pelo povo, pertence ao conjunto dos
cidadãos, que exercem o sufrágio universal. 2. Democracia direta é aquela em que o poder é
exercido pelo povo, sem intermediário; democracia parlamentar ou representativa é aquela na
qual o povo delega seus poderes a um parlamento eleito; democracia autoritária é aquela na
qual o povo delega a um único indivíduo, por determinado tempo, ou vitaliciamente, o conjunto
dos poderes. 3. Geralmente, as democracias ocidentais constituem regimes políticos que, pela
separação dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, visam garantir e professar os
direitos fundamentais da pessoa humana, sobretudo os que se referem à liberdade política dos
cidadãos.
96
223
MORONI, José Antônio. O direito a participação no Governo Lula. 32 International Conference
on Social Welfare. 2006.
224
Idem, ibidem.
225
Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/14cns/historias.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.
As Conferências de Saúde devem ser realizadas tanto no nível federal como nos níveis
estaduais e municipais. Encontramos histórico das Conferências de Saúde. Registra-se a
primeira Conferência Nacional de Saúde (CNS) há 75 anos: 1.ª CNS (1941) com o tema:
Situação sanitária e assistência dos estados. 2.ª CNS (1950) – Legislação referente à higiene e
à segurança do trabalho. 3.ª CNS (1963) – Descentralização na área de Saúde. 4.ª CNS (1967)
– Recursos humanos para as atividades em saúde. 5.ª CNS (1975) – Implementação do
97
Sistema Nacional de Saúde, II. Programa de Saúde Materno-Infantil; III. Sistema Nacional de
Vigilância Epidemiológica; IV. Programa de Controle das Grandes Endemias; e V. Programa de
Extensão das Ações de Saúde às Populações Rurais. 5.ª CNS (1977) I. Situação atual do
controle das grandes endemias; II. Operacionalização dos novos diplomas legais básicos
aprovados pelo governo federal em matéria de saúde; III. Interiorização dos serviços de saúde;
e IV. Política Nacional de Saúde. 7.ª CNS (1980) – Extensão das ações de saúde por meio dos
serviços básicos. 8.ª CNS (1986) – I. Saúde como Direito; II. Reformulação do Sistema
Nacional de Saúde; e III. Financiamento Setorial. 9.ª CNS (1990) – Municipalização é o
caminho. 10.ª CNS (1996) – I. Saúde, cidadania e políticas públicas; II. Gestão e organização
dos serviços de saúde; III. Controle social na saúde; IV. Financiamento da saúde; V. Recursos
humanos para a saúde; e VI. Atenção integral à saúde. 11.ª CNS (2000) – Efetivando o SUS:
acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social. 12.ª CNS (2003) –
Saúde: um direito de todos e um dever do Estado. A saúde que temos, o SUS que queremos.
13.ª CNS (2007) – Saúde e Qualidade de Vida: Política de Estado e Desenvolvimento. 14.ª
CNS (2011) – Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social – Política Pública, Patrimônio do
Povo Brasileiro. E no sítio <http://conselho.saude.gov.br/web_15cns/index.html>. Acesso em:
14 abr. 2016, encontramos informações sobre a 15.ª CNS (2015) – Saúde pública de qualidade
para cuidar bem das pessoas. Direito do povo brasileiro.
226
Lei n.º 8142, de 28.12.1990, artigo 1.º, § 1.º.
227
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 35.
98
O direito à saúde não vive somente da norma textual; assim, por meio
dessas instâncias, deve-se procurar apresentar questões problemáticas que
ocorrem no dia a dia desses Conselhos de Saúde, mas, por outro lado, deve-se
buscar ampliar algumas possibilidades de efetividade, a partir da
representatividade de conselheiros e suas respectivas entidades, para que eles
possam de fato representar os cidadãos. Francini Lube Guizardi aponta que não
há como negar a grande conquista democrática com a criação dos Conselhos de
Saúde. Entretanto, lembra que esse importante instrumento da cidadania para
sua concretização tem encontrado muitas dificuldades que a cada dia
obstaculizam todas as expectativas neles depositadas. Mas por quê? Uma das
dificuldades apontadas por Guizardi é a seguinte:
228
Em consulta feita pela pesquisadora ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), em 13.04.2016
sobre o número de Conselhos de Saúde, recebeu-se resposta em 21.04.2016, da seguinte
forma: Atualmente o Brasil está composto de 5.570 (CMS), 27 Estados/DF (CES) e 1 Nacional
(CNS), não sabemos se todos os 5.570 CMS existem. Nem todos os CMS estão cadastrados
no SIACS. Após consulta na tabela do Quadro Demonstrativo da Situação dos Conselhos
Estaduais e Municipais (SIACS), verifica-se que existem 5.631 municípios cadastrados, ou
seja, 61 municípios não são mencionados.
229
GUIZARDI, Francini Lube. Direito à saúde e a participação política no SUS: cenários,
dispositivos e obstáculos. In: ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO, Roseni (Org.). Direito sanitário.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 585.
99
230
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de gestão estratégica e participativa. Departamento
de apoio à gestão participativa. Participação em Saúde. 2006, p. 17.
231
WEICHERT, Marlon Alberto. Saúde e Federação na Constituição brasileira. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004. p. 173.
232
Expressão utilizada por Amélia Cohn.
100
deste trabalho, uma nova configuração de sociedade mais ativa e que tem na
cidadania uma possibilidade de a sociedade interagir com os governos.
233
SANTOS, Tatiana Gonçalves. Notas para o debate sobre participação social. Disponível em:
<http://cebes.org.br/site/wp-content/uploads/2014/03/notas-para-o-debate-sobre-a-participa%C
3%A7%C3%A3o-social.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2016.
101
234
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 354.
235
Segundo Japiassu e Marcondes: “universal é aquilo que se aplica a totalidade”, que “exprime a
ideia de extensão completa de um conjunto. Universalização é o ato, o efeito de universalizar,
referindo-se a generalidade ou a qualidade do que é universal” (JAPIASSU, Hilton;
MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p. 265).
102
Como se vê, tanto pela CR/1988 como pelo artigo 2.º da Lei n.º
8.080/1990, “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Portanto, o SUS
existe para garantir o direito à saúde – como um direito fundamental – e um direito
universal. Portanto, é dele a responsabilidade para a sua efetividade em todas as
esferas de poder público (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Assim,
no caso da área da saúde, a sua plena realização depende da atuação do Estado
brasileiro, já que a promoção, a proteção e, por que não, a recuperação da saúde
sempre dependerão de ação a ser desenvolvida pelos órgãos estatais, seja na
elaboração de leis destinadas à proteção do direito à saúde (pelo Legislativo),
seja por parte do Executivo, executando políticas públicas, por exemplo, no
atendimento clínico ou hospitalar, como vigilância sanitária, regulamentando,
aplicando leis e no fornecimento de medicamentos. Ou até mesmo no caso
judicial, quando uma pessoa se sente lesada no seu direito à saúde.
Movimento da Reforma Sanitária, tem sido um dos princípios que tem provocado
maior resistência, uma vez que o projeto da saúde articulado ao mercado é
guiado por concepções individualistas e fragmentadoras da realidade, que se
contrapõe às concepções coletivas e universais do SUS. Além do que deve-se
observar a relação da universalidade com a equidade, pois em um sistema em
que há iniquidade,236 ou seja, no qual as desigualdades são extremas, não há
como desconsiderar as diversidades (regionais ou de condições de vida, de
moradia, de renda, de gênero ou de etnia). Não se podem ignorar as
necessidades e as capacidades dos sujeitos, as prioridades políticas na melhoria
da qualidade de vida da população mais pobre e em situação de risco e
vulnerabilidade, mas isso não significa reduzir a saúde a uma política para os
pobres.237 Sobre a segmentação do SUS, ela será tratada no último capítulo deste
trabalho como uma das propostas para que o direito à saúde seja alcançado.
236
De acordo com Alberto Pellegrini, iniquidades – “são as desigualdades injustas e evitáveis. E
são estas que devem ser combatidas e evitáveis” (Alberto Pellegrini, em entrevista ao
programa Sala de Convidados, do Canal Saúde (Fiocruz), Diretor do Centro de Estudos,
Políticas e Informação em Determinantes Sociais da Saúde (Cepi-DSS) da Escola Nacional de
Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz, falou sobre a relação entre o meio ambiente e os
Determinantes Sociais da Saúde. Disponível em: <www.youtube.com/
watch?v=gmThUIr0tJc&ebc=ANyPxKr5dBQnRyN_KiL73rMHbpk75-4PhmTdu6ETlusdwJXQNQ
jjylG6fTJCYznLZPNQ4CdzkhDpbeBTu4YWHRCbq870EYM88Q>. Acesso em: 4 abr. 2016).
237
BRAVO, Maria Inês Souza. Política de saúde no Brasil. In: MOTA, Ana Elizabete et al. (Org.).
Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: OPAS; OMS; Ministério da
Saúde, 2006. p. 88-110; OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. A Constituição de um modelo de atenção
à saúde universal: uma promessa não cumprida pelo SUS? Texto para discussão n.º 1376,
São Paulo: IPEA, p. 9, fev. 2009.
104
238
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. A Constituição de um modelo de atenção à saúde universal: uma
promessa não cumprida pelo SUS? cit., p. 9.
239
Conforme tratamento dado pelo artigo 197 da CR/1988: “São de relevância pública as ações e
serviços de saúde [...]”.
240
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2012. p. 61.
241
Para Carlos Octávio Ocké-Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a
proposta do Ministro Ricardo Barros de criar planos de saúde populares cumpre um duplo
papel para o governo neste momento. Posição que também acompanho. Segundo ele: “Num
contexto de recessão, de desemprego, de redução da renda média, e, portanto, de maiores
dificuldades para a expansão do mercado de planos de saúde, do ponto de vista de um
governo liberal ou neoliberal, essa proposta é a tentativa de criar um novo filão de mercado.”
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/saude-os-planos-da-
segregacao>. Acesso em: 13 nov.2016.
242
Consulta feita pela pesquisadora em 14.05.2016 ao Serviço de Acesso ao Cidadão (SIC) do
Ministério das Relações Exteriores, sobre a posição que o Brasil ocupa no mundo em relação à
105
245
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 225-226.
246
Idem, p. 226.
247
A Ministra Carmem Lúcia rebateu críticas sobre a judicialização da saúde. Analisando a
questão dos remédios adquiridos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) através de ações
judiciais individuais, [...] declarou: “A dor tem pressa”. Alegou que é juíza, não ministra da
Fazenda. Não desconheço a responsabilidade dele. “Eu não sou ministra da Saúde. Eu sou
juíza, eu tenho a Constituição, que diz que é garantido o direito à saúde. Eu estudo que a
medicina pode oferecer uma alternativa para essa pessoa viver com dignidade”. Também
compreendo o que a Constituição diz sobre a saúde, no entanto, pode parecer paradoxal, mas
é diante da universalidade que a igualdade também se manifesta. Daí o que tem sido
enfatizado neste trabalho sobre a urgência de políticas públicas que atendam a todos e não
apenas alguns. O artigo de José Nassif está disponível em: <http://jornalggn.
com.br/noticia/como-a-ministra-carmen-lucia-impediu-medicamentos-mais-baratos>. Acesso
em: 13 nov. 2016.
107
248
DAVIES, Ana Carolina Izidório. Saúde pública e seus limites constitucionais cit., p. 83.
249
Nos termos da Lei n.º 8.080/1990, em seu artigo 7.º, inciso II.
108
Sob essa ótica, o Estado deve ser capaz de estruturar o SUS para que
possa fornecer a integralidade do atendimento.250 Para Roseni Pinheiro, a
integralidade como definição legal e institucional é concebida como “um conjunto
articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e curativos, individuais e
coletivos, em cada caso, nos níveis de complexidade do sistema”.251 Esse
princípio, portanto, é concebido como um conjunto em que as ações de serviços
de saúde precisam estar articuladas, visando um atendimento que deva ser
prestado com um olhar destinado a cada caso (individual e coletivo),
independentemente do nível de sua complexidade.
250
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 223
251
PINHEIRO, Roseni. Saúde pelos sanitaristas: O Sistema Único de Saúde sob a ótica do
princípio universal da integralidade das ações cit., p. 73.
252
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 225.
109
253
PINHEIRO, Roseni. Saúde pelos sanitaristas: O Sistema Único de Saúde sob a ótica do
princípio universal da integralidade das ações cit., p. 73-74.
254
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 719.
110
255
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 719.
111
assunto será desenvolvido logo adiante, quando a penúltima parte deste trabalho
será propositiva.
256
ASENSI, Felipe Dutra. O direito à saúde no Brasil cit., p. 11.
257
PINHEIRO, Roseni. Saúde pelos sanitaristas: O Sistema Único de Saúde sob a ótica do
princípio universal da integralidade das ações cit., p. 74.
113
258
Manual de Atuação do Ministério Público Federal em Defesa do Direito à Saúde, p. 13, 2005.
Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/publicacoes/
saude/manual_atuacao.pdf>. Acesso em: 4 maio 2016.
259
Lei n.º 6.259, de 30.10.1975, regulamentada pelo Decreto n.º 78.231, de 12.08.1976.
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6259.htm>. Acesso em: 13 nov.
2016.
260
Artigo 7.º da Lei n.º 6.259, de 30.10.1975, regulamentada pelo Decreto n.º 78.231, de
12.08.1976.
261
Artigo 7º, inciso I, da lei citada.
114
262
Lei n.º 8.080, de 19.09.1990.
115
263
AITH, Fernando. Curso de direito sanitário cit., p. 373-374.
117
264
SANTOS, Lenir. Conceito e atribuições do Sistema Único de Saúde. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/14816-14817-1-PB.html>. Acesso em:
8 ago. 2016.
118
CAPÍTULO 3
COMPLEXIDADES DE UMA RELAÇÃO
PÚBLICO-PRIVADA NO SUS
265
MÉDICI, André. Disponível em: <http://cebes.org.br/2014/07/26-anos-de-sus-avancos-e-
desafios-andre-medici/>. Acesso em: 25 maio 2016.
266
Em setembro de 2000, refletindo e baseando-se na década das grandes conferências e
encontros das Nações Unidas, os líderes mundiais reuniram-se na sede das Nações Unidas,
em Nova York, para adotar a Declaração do Milênio da ONU. Com a Declaração, as Nações se
comprometeram a uma nova parceria global para reduzir a pobreza extrema, em uma série de
oito objetivos – com um prazo para o seu alcance em 2015 – que se tornaram conhecidos
como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). São eles: 1) redução da pobreza; 2)
atingir o ensino básico universal; 3) igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4)
120
Com base nisso, vê-se, pois, que há uma contradição entre a legislação
que prioriza a prática e ação do Estado na saúde e a realidade política e
econômica que faz com que o próprio Estado reduza a sua ação social,
inviabilizando, assim, esse Sistema que deve ser universal.269 Tudo isso porque
os princípios da universalidade, integralidade, equidade, que deveriam permear
de forma prática todas as ações e serviços propostos pelo SUS, não são
observados. Outra autora, Telma Maria Gonçalves Menicucci, analisa que o
problema enfrentado pelo SUS se refere ao subfinanciamento da saúde:
270
MENICUCCI, Telma Maria Gonçalves. Implementação de reforma sanitária: a formação de
uma política. Revista e Sociedade, v. 15, n. 2, p. 74, ago. 2006.
271
PAIVA, Andrea B.; PIOLA, Sérgio F.; RIBEIRO, José A.; SERVO, Luciana Mendes S.
Financiamento e gasto público de saúde: histórico e tendências. In: MELAMED, C.; PIOLA,
Sérgio F. (Org.). Políticas públicas e financiamento federal do Sistema Único de Saúde.
Brasília: IPEA, 2011. p. 86.
122
272
VIANNA, Solon Magalhães. A seguridade social, o Sistema Único de Saúde e a partilha dos
recursos. Revista Saúde e Sociedade, v. 1, p. 46-47, 1992. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/6906>. Acesso em: 8 ago. 2016.
273
Idem, p. 47.
274
O Imposto Provisório sobre a Movimentação ou a Transmissão de Valores e de Créditos e
Direitos de Natureza Financeiro (IPMF) foi instituído pela Lei Complementar n.º 77, de 13 de
julho de 1993, com previsão para vigorar até 31 de dezembro 1994. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp77.htm>. Acesso em: 8 ago. 2016.
275
SERVO, Luciana Mendes Santos et al. Financiamento e gasto público de saúde: histórico e
tendências. In: MELAMED, C.; PIOLA, Sérgio F. (Org.). Políticas públicas e financiamento
federal do Sistema Único de Saúde. Brasília: IPEA, 2011. p. 87.
276
Fonte: Siafi/Sidor (Gasto Social Federal – Ipea: 1995-2007); Siga Brasil (2008).
123
277
Em outubro de 2014, poucos dias antes de sua morte, o Médico Adib Jatene (Ex-Ministro da
Saúde e autor da criação da CPMF) concedeu uma entrevista à Revista da CAASP/OABSP.
Assim se pronunciou sobre a referida contribuição: “[...] Aí eu pensei: o Plano Real foi feito em
julho de 1994, nós estávamos em fevereiro de 1995. O IPMF (Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira) havia sido extinto em dezembro, e não aconteceu nada, ele não
prejudicou em nada a implantação do Plano Real. Eu disse: vou pegar o IPMF, transformá-lo
em contribuição para poder vinculá-lo e não ter anualidade, e isso vai me ajudar um pouco.
Mas era necessário que não mexessem no meu orçamento, porque se entrasse de um lado e
saísse do outro não resolveria. Infelizmente, foi o que aconteceu. Foi uma dificuldade muito
grande para conseguir a CPMF. Depois que eu consegui, retiraram do meu orçamento o valor
correspondente à contribuição, o que inviabilizou o Ministério. [...]” (ARANTES, Paulo Henrique.
Entrevista com Adib Domingues Jatene. Revista da CAASP, São Paulo, ano 3, n. 13, p. 11, out.
2014).
278
SERVO, Luciana Mendes Santos et al. Financiamento e gasto público de saúde: histórico e
tendências cit., p. 87.
124
Por que a CPMF não foi capaz de mudar essa situação? Carlos Octávio
Ocké-Reis explica que essa contribuição acabou por levar “à retração de fontes”
que tinham por tradição financiar o MS, ou seja, ela não foi capaz de possibilitar
que os recursos necessários para a saúde fossem elevados, conforme se
esperavam, uma vez que houve redução de outras fontes.280 Com base nos
dados levantados, percebe-se que de fato ocorreu muita instabilidade nas fontes
apresentadas e esse comportamento desestabilizou o orçamento da saúde,
gerando insegurança no desenvolvimento de suas ações.
279
Veja-se, a propósito, a entrevista completa com Adib Domingues Jatene realizada por
ARANTES, Paulo Henrique. Revista da CAASP, São Paulo, ano 3, n. 13, p. 11, out. 2014.
280
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único cit., p. 43.
125
Tabela 1 – Distribuição do gasto do Ministério da Saúde por fonte de recursos. Período: 1995-2008
(%) vigência da CPMF (1997 A 2007)
FONTE 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Recursos Ordinários 3,2 0,2 1,0 10,8 15,1 5,3 12,5 10,3 13,1 7,4 4,8 7,1 5,2 20,1
Operações de crédito interna e externa 1,1 0,9 0,5 1,1 1,5 2,7 2,2 1,9 1,1 0,7 0,7 0,4 0,1 0,0
Recursos Diretamente Arrecadados 2,5 2,5 2,4 2,6 3,5 3,3 5,1 2,7 2,3 2,2 2,4 3,1 3,7 4,0
Título Responsabilidade Tesouro Nacional 2,7 3,4 2,8 0,2 0,3 0,2 0,3 0,4 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Contribuições Sociais 70,5 66,2 72,8 71,8 61,5 80,9 74,9 81,3 82,5 88,3 91,3 88,8 87,1 71,8
Contribuição Social Lucro – PJ (CSLL) 20,2 20,7 19,3 8,0 13,2 12,6 7,0 22,5 27,4 32,3 39,7 40,3 38,7 34,7
Contribuição Financiamento Segur. Social 48,8 42,2 25,6 25,9 26,3 37,1 38,5 18,6 21,1 25,2 19,2 13,5 15,4 34,9
Contrib. Prov. Movimentação Financeira (CPMF) 0,0 0,0 27,9 37,0 22,0 31,2 28,2 38,4 32,5 29,4 29,3 32,4 30,8 1,0
Contrib. Plano Segur. Social Servidor 1,5 3,3 0,0 0,9 0,0 0,0 1,2 1,9 0,8 0,9 1,2 1,0 0,9 0,2
Contrib. Patronal Plano Segur. Social Servidor 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,8 0,5 1,9 1,6 1,3 1,0
Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,5 2,4 0,0 0,9 0,3 0,0 3,0 3,0
Fundo Social de Emergência 11,7 17,9 19,6 13,3 14,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Demais Fontes 8,3 8,9 0,8 0,3 3,6 7,6 0,6 0,9 0,6 0,5 0,6 0,6 0,8 1,1
TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Siafi/Sidor (Gasto social federal – Ipea: 1995 a 2007); Siga Brasil (2008).
126
Em 2004, com a Emenda Constitucional n.º 29 (EC n.º 29) foi possível
dizer que os recursos da CPMF estavam de fato representando um novo aporte
de recursos para a saúde no nível federal. No entanto, não se pode deixar de
mencionar que a CPMF pelo seu caráter provisório sempre causou preocupação
aos gestores da saúde, sendo apresentadas no Legislativo diversas propostas
mais abrangentes e muitas delas com ponto em comum, por exemplo, “a busca
pela vinculação para a saúde dos recursos orçamentários dos entes
federados”.282
281
SERVO, Luciana Mendes Santos et al. Financiamento e gasto público de saúde: histórico e
tendências cit., p. 89.
282
Idem, p. 91.
127
283
A receita vinculada refere-se à base de cálculo para aplicação mínima dos recursos em saúde.
A base de cálculo dos Estados compreende as receitas de impostos estaduais (ICMS, IPVS,
ITCMD), as receitas de transferência da União (FPE, IPI, Lei Kandir), o Imposto de Renda
Retido na Fonte (IRRF), outras receitas correntes (receita da dívida tributária de impostos,
multas, juros de mora e correção monetária) e exclui as transferências constitucionais e legais
a municípios (ICMS, IPVA e IPI-exportação). A base de cálculo dos municípios abrange as
receitas de impostos municipais (ISS, IPTU, ITBI), as receitas de transferências da União
(FPM, ITR, Lei Kandir), o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), as receitas de
transferências do Estado (ICMS, IPVA, IPI-exportação) e outras receitas correntes (receita da
dívida tributária de impostos, multas, juros de mora e correção monetária).
284
RIBEIRO, J.A.C.; PIOLA, S.F.; SERVO, L.M. apud SERVO, Luciana Mendes Santos et al.
Financiamento e gasto público de saúde: histórico e tendências cit., p. 91.
285
SERVO, Luciana Mendes Santos et al. Financiamento e gasto público de saúde: histórico e
tendências cit., p. 92.
128
Tabela 2 – Gasto público das três esferas com ações e serviços públicos em saúde, 2000-
2010 (em bilhões R$ de 2010, deflacionados pela média anual do IPCA)
ESFERA
Tudo isso teve desdobramento no gasto per capita das esferas federal,
estadual e municipal com o SUS, que passou de R$378,7, no ano 2000, para
R$717,70 em 2010, com um crescimento real de 89,7%. No tocante ao PIB, o
129
gasto do SUS passou de 2,89%, do ano 2000, para 3,77%, em 2010, como se vê
no detalhamento, a seguir descrito na Tabela 3,286 do gasto público das três
esferas de governo com as ASPS.
Tabela 3 – Gasto público das três esferas de governo com ações e serviços públicos de
saúde, como proporção do PIB e em per capita – 2000-2010
286
SERVO, Luciana Mendes Santos et al. Financiamento e gasto público de saúde: histórico e
tendências cit., p. 93.
287
Idem, p. 94.
288
Quinta Diretriz da Resolução n.º 322/2003: Para efeito da aplicação da Emenda Constitucional
n.º 29, consideram-se despesas com ações e serviços públicos de saúde aquelas com pessoal
ativo e outras despesas de custeio e de capital, financiadas pelas três esferas de governo,
conforme o disposto nos artigos 196 e 198, § 2.º, da Constituição Federal e na Lei n.º 8080/90,
relacionadas a programas finalísticos e de apoio, inclusive administrativos, que atendam,
simultaneamente, aos seguintes critérios:
I – sejam destinadas às ações e serviços de acesso universal, igualitário e gratuito;
II – estejam em conformidade com objetivos e metas explicitados nos Planos de Saúde de
130
Saúde (ASPS), o aporte de recursos poderia ter sido ainda maior. Essa Emenda
teve vigência provisória até 2004, quando se aguardava a edição de lei
complementar que pudesse regular a matéria de forma definitiva, o que só
ocorreu depois de uma década com a Lei Complementar n.º 141, aprovada em 13
de janeiro de 2012. No que tange aos recursos mínimos para a saúde, no artigo
5.º define-se que:
290
Diante da não consolidação da Lei Complementar n.º 141, a sociedade organizou-se no
Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública (Saúde + 10), que reivindica que a União
destine 10% das receitas correntes brutas para a saúde pública brasileira. Foram coletadas
mais de 1 milhão e 900 mil assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular que
encontra-se em fase de tramitação na Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei de Iniciativa
Popular visa assegurar o repasse efetivo e integral de 10% das receitas correntes brutas da
União para a saúde pública brasileira, alterando, dessa forma, a Lei Complementar n.º 141, de
13 de janeiro de 2012. A Coordenação desse movimento é composta pela Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Nacional de
Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Conselho nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems), Fórum Sindical dos Trabalhadores (FST), Força Sindical, Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Saúde (CNTS), Federação Nacional dos Farmacêuticos
(Fenafar), Pastoral da Saúde, Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Conselho Municipal de
Saúde de Belo Horizonte (CMSBH).
291
Entrevista com José Gomes Temporão. É irreal imaginar que a medicina privada possa
substituir o SUS. Publicada em 23.05.2016 04h11. Disponível em: <http://www.
cartacapital.com.br/politica/temporao-e-irreal-imaginar-que-a-medicina-privada-possa-substituir-
o-sus>. Acesso em: 11 nov. 2016.
292
Como a Associação Brasileira de Economia da Saúde (Abres); Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco); Associação do Ministério Público de Defesa da Saúde (Ampasa); Centro
Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes); entre outros. Disponível em: <http://
cebes.org.br/2015/01/pelo-sus-com-financiamento-mais-justo/>. Acesso em: 11 nov. 2016.
293
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Boletim de Políticas Sociais, Brasília: IPEA,
n. 15, mar. 2008.
132
294
O vocábulo complementar significa: dar complemento a ou receber complemento; completar (-
se), concluir (-se). Dicionário Eletrônico Houaiss, 2009.3.
133
295
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único cit., p. 24.
296
Essa expressão foi utilizada por diversos autores, entre eles Paulo Faveret e Pedro Oliveira.
297
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único cit., p. 24-25.
134
298
BRASIL. Ministério da Saúde. Consultoria Jurídica. A implementação do direito à saúde no
Brasil. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. p. 13-14.
135
299
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição. In: ASENSI, Felipe Dutra; PINHEIRO, Roseni (Org.).
Direito sanitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 224.
300
BAHIA, Lígia. O sistema de saúde brasileiro entre normas e fatos: universalização mitigada e
estratificação subsidiada. 2009, p. 755. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/
csc/v14n3/11.pdf>. Acesso em: 29 out. 2016.
136
Por outro lado, a assistência suplementar atua sem qualquer vínculo (ela
é extraordinária) direto com o SUS, por meio de consultórios, laboratórios, clínicas
e hospitais particulares, ou de planos e seguros privados de saúde. Portanto, a
atuação da iniciativa privada no âmbito da saúde se dá de forma suplementar à
301
WEICHERT, Marlon Alberto. Saúde e Federação na Constituição brasileira cit., p. 199.
302
Idem, p. 200.
303
Para entender a gestão do SUS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).
Brasília, 2007. p. 27. (Coleção Progestores.)
137
rede pública quando seu acesso é garantido apenas àqueles que tiverem
condições financeiras de contratar seus serviços, sendo as contraprestações
sanitárias delimitadas por meio de um contrato privado, bilateral e de adesão,
estabelecido entre o agente econômico e o particular interessado na contratação
de seus serviços.
304
BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários a Constituição do
Brasil (promulgada em 5 de outubro de 1988). São Paulo: Saraiva,1998, v. 8, p. 115.
305
GRAU, Eros. O conceito de “relevância pública” na Constituição de 1988. In: DALLARI, Sueli
Gandolfi. O conceito constitucional de relevância pública. Brasília: Opas, 1992. p. 13-20. (Série
Direito e saúde, n. 1.)
138
306
SCHEFFER, Mário. A exclusão de coberturas assistenciais nos planos de saúde privados.
Saúde em Debate, Revista do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Rio de Janeiro, Cebes,
v. 29, n. 71, p. 231-247, set.-dez. 2005. p. 232.
307
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 718.
308
PIOLA, Sérgio Francisco; BARROS, Elizabeth Diniz; NOGUEIRA, Roberto Passos; SERVO,
Luciana Mendes; SÁ, Edvaldo Batista de; PAIVA, Andrea. Barreto. Vinte anos da Constituição
de 1988: o que significaram para a saúde da população brasileira?, p. 110. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/politicas_sociais/06_capt03_7e.pdf>.
Acesso em: 14 ago. 2016.
139
309
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 225.
310
Idem, p. 226.
311
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 226.
140
Tomando essa questão, vale citar o que Aluísio Gomes da Silva Júnior e
Maria Thereza Carolina de Souza Gouveia escreveram sobre o tema:
312
A Susep é a autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, responsável pelo controle e
fiscalização dos mercados de seguros, resseguros, previdência complementar aberta,
capitalização e corretagem. A Lei 10.185/2001 transferiu para a Agência Nacional de Saúde
(ANS) a competência para supervisionar o seguro-saúde no Brasil que, até então, era da
Susep. A íntegra da Circular Susep n.º 05, de 09.03.1989, publicada no DOU de 13.03.1989,
está disponível em: <http://www.susep.gov.br/textos/Circ005-89.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2016.
313
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 227.
314
BAHIA, Lígia. Planos privados de saúde: luzes e sombras no debate setorial dos anos 90.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v6n2/7006.pdf>. Acesso em: 10. jun. 2016.
141
O que não ocorreu, como exemplo, na prestação pela dupla porta, onde
o contrário é instaurado: o hospital e todo o seu patrimônio (material e humano)
315
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 228.
316
Audiência Pública realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), em 26.05.2014, teve como
finalidade discutir a possibilidade de melhoria nas acomodações em internação e contratação
de profissional da preferência por meio do pagamento da diferença pelo paciente, tema
constante do Recurso Extraordinário (RE) n.º 581488, com repercussão geral reconhecida, em
que se discute ação civil pública na qual o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do
Sul (Cremers) procura reverter decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4),
segundo o qual esse tipo de pagamento confere tratamento diferenciado a pacientes dentro de
um sistema que prevê acesso universal e igualitário.
142
Lenir Santos explica que os hospitais com duas portas têm uma
fundação de apoio, que num passe de mágica transforma tudo (até o seu
servidor) em privado no âmbito público, o que, para ela, é uma aberração
jurídica.318 Um exemplo dessa realidade é o Instituto do Coração (Incor), 319 onde
o ambulatório para atendimento do SUS fica no subsolo do edifício e está sempre
lotado. As pessoas esperam oito meses a um ano para ter acesso a determinados
atendimentos. Enquanto isso, não há filas para os pacientes de convênio que
também são atendidos nesse hospital, que é público.320
317
Sobre essas questões sugere-se a leitura do trabalho de: SANTOS, Isabela Soares; SANTOS,
Maria Angelica Borges dos; BORGES, Danielle da Costa Leite. A saúde no Brasil em 2030 –
prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: estrutura do financiamento e do gasto
setorial. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República, 2013. v. 4, p. 95-96. Disponível em: <http://books.scielo.org>.
Acesso em: 19 out. 2016.
318
SANTOS, Lenir. A dupla porta de atendimento no SUS. Disponível em: <http://cebes.
org.br/2014/04/a-dupla-porta-no-sus/>. Acesso em: 10 jun. 2016.
319
O Incor atende pacientes com tratamento financiado por três fontes: SUS, empresas de saúde
suplementar (convênios) e particulares. Cerca de 80% do atendimento global do Instituto é
prestado a pacientes com financiamento pelo SUS. Informação disponível em:
<http://www.incor.usp.br/sites/incor2013/index.php/atendimento>. Acesso em: 10 jun. 2016.
320
Notícia: Sem fila para plano de saúde, cirurgia no Incor demora até um ano para quem é do
SUS. Estadão (on-line). São Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/
noticias/geral,sem-fila-para-plano-de-saude-cirurgia-no-incor-demora-ate-um-ano-para-sus-
imp-,665467>. Acesso em: 10 jun. 2016.
143
321
SANTOS, Lenir. A dupla porta de atendimento no SUS cit.
322
Em seu artigo 1.º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]”.
144
323
AITH, Fernando. A emergência do direito sanitário como um novo campo do direito cit., p. 21.
324
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 718.
325
Empresta-se a este trabalho a definição de Glória Conforto sobre marco regulatório: “O marco
regulatório é o conjunto de regras, orientações, medidas de controle e valoração que
possibilitam o exercício do controle social em atividades de serviços públicos, gerido por um
ente regulador que deve poder operar todas as medidas e indicações necessárias ao
ordenamento do mercado e à gestão eficiente do serviço público concedido, mantendo,
145
para ações do setor público, mas também para as ações e serviços que serão
desenvolvidos pelo setor privado, que inclui neste caso específico a saúde
suplementar.
327
Diz a Lei n.º 9.656 de 1998, em seu artigo 32: “Serão ressarcidos pelas operadoras dos
produtos de que tratam o inciso I e o § 1.º do art. 1.º desta Lei, de acordo com normas a serem
definidas pela ANS, os serviços de atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos,
prestados a seus consumidores e respectivos dependentes, em instituições públicas ou
privadas, conveniadas ou contratadas, integrantes do Sistema Único de Saúde – SUS”.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9656compilado.htm>. Acesso em: 9
ago. 2016.
328
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 229.
147
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados obtidos Cadop/ANS/MS do site da ANS/MS (março/2016).
No Brasil, existem 1.320 operadoras com registro ativo na ANS, sendo 965
(73,1%) operadoras médico-hospitalares e 355 (26,9%) exclusivamente
odontológicas,329 conforme aponta o Gráfico 1. Desse total, na Tabela 4 analisa-se
como estão distribuídas as operadoras, conforme modalidade de classificação.
Destaca-se, porém, diante do crescimento dos planos de assistência à saúde
coletiva, a figura das Administradoras de Benefícios que são a modalidade mais
recente de operadora incluída pela ANS.330 Sobre o papel dessas administradoras
tratar-se-á mais adiante quando será enfocado, neste trabalho, o orçamento público
no financiamento de planos privados para os servidores públicos da União, quando
se aborda como o próprio sistema público desqualifica o SUS ao incentivar, por meio
de subsídios, que o servidor público faça adesão aos planos de saúde privado.
329
Disponível em: <http://www.ans.gov.br/resultado-da-busca?q=dados+consolidados+sa%C3%
BAde+suplementar+mar%C3%A7o+2016&f=1>. Acesso em: 9 maio 2016.
330
Por meio da Resolução Normativa n.º 195, de 14 de julho de 1999, voltada para administrar a
contratação dos planos de saúde.
331
Um exemplo é o Termo de Parceria n.º 01/2015 (Processo n.º 23000.0011746/2014-58)
firmado com o Ministério da Educação (MEC) e Aliança Administradora de Benefícios de
149
um plano de saúde coletivo. Elas não comercializam seus próprios planos, mas
captam no mercado carteiras de clientes, sendo, portanto, intermediárias com as
operadoras dos planos de saúde.
FILANTROPIA 58 4.40
constituídas na forma da Lei n.º 5.764, de 1971,333 que operam planos de saúde.
As cooperativas,334 além dos serviços prestados pelos cooperados em nível
ambulatorial, mantêm convênios com provedores de serviços médico-
hospitalares. Por sua vez, a Filantropia é classificada como sem fins lucrativos
que opera planos de saúde que tenham obtido certificado de entidade filantrópica
no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e declaração pelos órgãos
competentes de utilidade pública federal, estadual ou municipal, por exemplo, as
Santas Casas de Misericórdia. As medicinas de grupo administram vários tipos
de planos de saúde para empresas, indivíduos ou famílias, cuja abrangência, em
geral, é regional. No tocante à sua estrutura de atendimento, compõe-se de
serviços próprios e credenciados que antes eram conhecidos como convênios
médico-hospitalares.335 As administradoras e seguradoras em saúde são as
empresas que comercializam o seguro como plano privado de assistência à
saúde, devendo realizar tal atividade com exclusividade. Esclarece-se que a
regulação dessa modalidade de seguro é anterior ao mercado de saúde
suplementar. Registra-se, oportunamente, que o seguro-saúde era regido pelo
Decreto-lei n.º 73, de 21 de novembro de 1966, e fiscalizado pela Susep, sob a
regulamentação do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Com a
edição das Leis n.ºs 9.656/1998 e 9.961/2000, o seguro-saúde passou a se
enquadrar como plano privado de assistência à saúde e, por sua vez, as
seguradoras como operadoras de plano de assistência à saúde, de acordo com o
artigo 2.º da Lei n.º 10.185, de 12 de fevereiro de 2001, que determina a
especialização dessas sociedades e disciplina sua subordinação às normas e à
fiscalização da ANS.336 A livre escolha dos serviços de assistência à saúde,
333
A Lei n.º 5.764, de 16 de dezembro de 1971, define a Política Nacional de Cooperativismo,
institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm>. Acesso em: 23 ago. 2016.
334
De acordo com Célia Almeida: “A Unimed é a mais forte delas, representa a quase totalidade
desse segmento do mercado, e apresentou importante crescimento no final da década de 80
com difusão em todo o território nacional e representações regionais” (O mercado privado de
serviços de saúde no Brasil: panorama atual e tendências da assistência médica suplementar.
Texto para discussão. Brasília: IPEA, n. 599, p. 7, 1998).
335
ALMEIDA, Célia. O mercado privado de serviços de saúde no Brasil: panorama atual e
tendências da assistência médica suplementar cit., p. 9.
336
Convém registrar o art. 2.º. Para efeito da Lei n.º 9.656, de 1998, e da Lei n.º 9.961, de 2000,
enquadra-se o seguro saúde como plano privado de assistência à saúde e a sociedade
seguradora especializada em saúde como operadora de plano de assistência à saúde.
151
337
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 233-234.
338
BAHIA, Lígia. O mercado de planos e seguros de saúde no Brasil: tendências pós-
regulamentação. In: NEGRI, Barjas; DI GIOVANNI, Geraldo. Brasil: radiografia da saúde.
Campinas: Unicamp, 2001.
339
ALMEIDA, Célia. O mercado privado de serviços de saúde no Brasil: panorama atual e
tendências da assistência médica suplementar cit. Apresenta como exemplo de Planos
Próprios das Empresas. O surgimento da previdência complementar nos anos 1970 incentivou
o desenvolvimento desses planos, sendo que a Fundação de Seguridade Social da Petrobras
(Petros) serviu de modelo para outras empresas (p. 8).
340
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único cit., p. 65.
341
Idem, p. 65-67.
152
MODALIDADE DE OPERADORA
ANO
COOPERATIVA MEDICINA DE
AUTOGESTÃO MÉDICA FILANTROPIA GRUPO SEGURADORAS TOTAL
342
Fonte: Sistema de Informações de Beneficiários/ANS/MS – 09/2016. Disponível em:
<http://www.ans.gov.br/perfil-do-setor/dados-gerais>. Acesso em: 6 nov. 2016.
343
BAHIA, Lígia; SCHEFER, Mário. Planos e seguros privados de saúde. In: GIOVANELLA, L.
(Org.). Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. p. 453.
344
Artigo 197: “São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo
sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado”.
345
O Ministro da Saúde, Ricardo Barros, defendeu (em 06.07.2016) a criação de uma espécie de
plano de saúde mais popular, com custos menores, numa tentativa de aliviar os gastos do
154
governo com o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS). “O que estamos propondo
como reflexão é que possamos ter planos com acesso mais fácil à população e,
evidentemente, com cobertura proporcional a esse acesso. [Precisamos] ter outras faixas de
planos de saúde para que a gente possa permitir que mais pessoas possam contribuir para o
financiamento da s1aúde no Brasil”. Disponível em: <http://agenciabrasil.
ebc.com.br/geral/noticia/2016-07/ministro-defende-plano-de-saude-popular-para-aliviar-gastos-
com-o-sus>. Acesso em: 22 jul. 2016.
346
OCKÉ REIS, C. O. SUS: o desafio de ser único cit., p. 34.
347
Fonte: Sistema de Informações de Beneficiários/ANS/MS – 09/2016. Disponível em:
<http://www.ans.gov.br/perfil-do-setor/dados-gerais>. Acesso em: 6 nov. 2016.
348
O percentual de 25% foi mencionada com base no cálculo realizado pela pesquisadora, no site
do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), de acordo com projeção da população do Brasil
que foi de 206.062.749 às 22h09:36, de 07.11.2016. Disponível em: <http://www.ibge.
gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 7 nov. 2016.
155
a pressão exercida sobre o SUS deve aumentar. Por isso entende-se que nesse
momento o Estado deve se fazer mais presente e não achar que os planos de
saúde privados a preços populares serão capazes de substituir o SUS.
349
OCKÉ REIS, C. O. SUS: o desafio de ser único cit., p.23.
350
Relatório Final da 8.ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) realizada em Brasília-DF, de 17 a
21 de março de 1986, p. 5-9.
156
351
SILVA JÚNIOR, Aluísio Gomes da; GOUVEIA, Maria Thereza Carolina de Souza. Saúde
suplementar: regulação e jurisdição cit., p. 237-238.
352
Idem, p. 238.
353
Idem, ibidem.
354
Idem, p. 231-232.
157
Convém pontuar neste breve estudo sobre a Lei n.º 9.656/1998, que
regula os planos privados de assistência à saúde. observando que ela buscou
assegurar um equilíbrio entre as partes envolvidas (consumidores e operadoras),
mas que não é alcançável, tendo em vista a relação conflituosa entre as partes.
De acordo com Andrea Lazzarini Salazar, Karina Rodrigues e Vidal Serrano
Nunes Júnior, apesar de a proteção aos beneficiários de planos de saúde
apresentar avanços, a referida lei não resolveu os principais conflitos entre os
beneficiários e as operadoras, e de certa forma pareceu desobrigar o setor
privado de obedecer à Lei Orgânica da Saúde. Consoante os mesmos autores, “o
único aspecto da relação entre sistema público e privado tratado pela Lei n.º
9.656/1998 diz respeito ao ressarcimento do SUS previsto no artigo 32”, 356 que
será analisado neste capítulo.
355
1) Autogestão; 2) Cooperativa Médica; 3) Filantropia; 4) Medicina de Grupo; 5) Seguradora
Especializada em Saúde; 6) Cooperativa Odontológica; 7) Odontologia de Grupo; e 8)
Administradora de Benefícios.
356
SALAZAR, Andrea Lazzarini; RODRIGUES, Karina; SERRANO, Vidal. Assistência privada à
saúde: regulamentação, posição do Idec e reflexos no sistema público. Direito Sanitário e
Saúde Pública, v. 1, p. 360, 2005.
158
A Lei n.º 9.656, de 3 de junho de 1998, cria pelo artigo 32 358 a figura do
ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pelas normas
da Agência Nacional de Saúde Suplementar359 (ANS). De acordo com o referido
artigo, torna-se obrigatório o ressarcimento ao SUS, sempre que ele prestar
357
Relatório Estatístico e Analítico do Atendimento da Ouvidoria da ANS (Ano-base: 2015).
Disponível em: <http://www.ans.gov.br/images/stories/A_ANS/Ouvidoria/rea-2015.pdf>. Acesso
em: 24 ago. 2016.
358
Artigo 32: “Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1.º
do art. 1.º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de
atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e
respectivos dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas,
integrantes do Sistema Único de Saúde – SUS. § 1.º O ressarcimento a que se refere o caput
será efetuado pelas operadoras à entidade prestadora de serviços, quando esta possuir
personalidade jurídica própria, e ao SUS, mediante tabela de procedimentos a ser aprovada
pela ANS. § 2.º Para a efetivação do ressarcimento, a ANS disponibilizará às operadoras a
discriminação dos procedimentos realizados para cada consumidor. § 3.º A operadora efetuará
o ressarcimento até o décimo quinto dia após a apresentação da cobrança pela ANS,
creditando os valores correspondentes à entidade prestadora ou ao respectivo fundo de saúde,
conforme o caso. § 4.º O ressarcimento não efetuado no prazo previsto no § 3.º será cobrado
com os seguintes acréscimos: I – juros de mora contados do mês seguinte ao do vencimento, à
razão de um por cento ao mês ou fração; II – multa de mora de dez por cento. § 5.º Os valores
não recolhidos no prazo previsto no § 3º serão inscritos em dívida ativa da ANS, a qual
compete a cobrança judicial dos respectivos créditos. § 6.º O produto da arrecadação dos juros
e da multa de mora é revertido ao Fundo Nacional de Saúde. § 7.º A ANS fixará normas
aplicáveis ao processo de glosa ou impugnação dos procedimentos encaminhados, conforme
previsto no § 2.º deste artigo. § 8.º Os valores a serem ressarcidos não serão inferiores aos
praticados pelo SUS e nem superiores aos praticados pelas operadoras de produtos de que
tratam o inciso I e o § 1.º do art. 1.º desta Lei. [...]”.
359
A Lei n.º 9.961, de 28 de janeiro de 2000, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), autarquia especial cuja finalidade é promover a defesa do interesse público na
assistência suplementar à saúde, regulamentando as relações jurídicas entre as operadoras de
planos de saúde, os prestadores de serviços e os consumidores. O artigo 4.º, inciso VI, desta
lei define como uma das competências da ANS, dentre outras, estabelecer normas sobre o
ressarcimento ao SUS.
159
CNPJ da operadora.
Data do atendimento.
360
BAHIA, Lígia. Padrões e mudanças no financiamento e regulação do sistema de saúde
brasileiro: impactos sobre as relações entre o público e privado. Saúde e Sociedade, v. 14, n.
2, p. 27, maio-ago. 2005.
361
De acordo com nota publicada na página da ANS, em 02.02.2011. Disponível em:
<http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/integracao-com-o-sus/317-ressarcimento-ao-
sus?highlight=WyJyZXNzYXJjaW1lbnRvIiwiYW8iLCJzdXMiLCJyZXNzYXJjaW1lbnRvIGFvIiwic
mVzc2FyY2ltZW50byBhbyBzdXMiLCJhbyBzdXMiXQ==>. Acesso em: 26 jun. 2016.
362
O Conselho de Saúde Suplementar (Consu), por meio da Resolução n.º 9, de 3 de dezembro
de 1998, instituiu a Tabela Única Nacional de Equivalência de Procedimentos (Tunep).
161
que no próximo item será mais bem desenhada, que a ANS adote medidas mais
eficazes, a fim de que o ressarcimento ocorra e o sistema público de saúde possa
dele se valer para melhor prestar os seus serviços.
363
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9656compilado.htm>. Acesso em: 24
ago. 2016.
364
O ABI tem as seguintes informações: a) código do beneficiário na operadora; b) CNPJ da
operadora; c) nome, código e valores dos procedimentos de acordo com a Tunep; d) data do
atendimento; e) nome da unidade prestadora do serviço e sua natureza jurídica; f) número e
mês de competência do atendimento SUS; g) município onde foi realizado o atendimento.
365
Na análise da impugnação: a operadora, por lei, pode recorrer até duas vezes.
162
TIPO DE N.º DE
VALOR EM R$ PERCENTUAL(%)
ATENDIMENTO ATENDIMENTO
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados obtidos do site da ANS. Boletim Informativo abr. 2016. Acesso à
Informação.
366
Conforme Boletim Informativo – utilização do sistema público por beneficiários de planos de
saúde e ressarcimento ao SUS. Disponível em: <http://www.ans.gov.br/images/
stories/Materiais_para_pesquisa/Materiais_por_assunto/boletim_ressarcimento.pdf>. Acesso
em: 15 jun. 2016.
163
Fonte: ANS/2014.
367
Conforme Boletim Informativo – utilização do sistema público por beneficiários de planos de
saúde e ressarcimento ao SUS cit.
164
368
Conforme Boletim Informativo – utilização do sistema público por beneficiários de planos de
saúde e ressarcimento ao SUS cit., p. 26.
369
Audiência pública: Transparência e Funcionamento da Agência Nacional de Saúde
Suplementar. Conforme apresentação em powerpoint de José Carlos de Souza Abrahão
(Diretor-Presidente da ANS). Brasília, em 15.03.2016. Slide n.º 20.
Disponível em: <https:// www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=BEJiVvHGJ-KB8QfF_oC4Cg
&gws_rd=ssl#q=audi%C3%AAncia+p%C3%BAblica+-+ans+jos%C3%A9+carlos+de+souza+
abrah%C3%A3o.+power+point>. Acesso em: 2 jul. 2016.
165
relação a 2013, que foi de R$ 183,86 milhões. Segundo informa a ANS, tudo em
razão de melhorias internas promovidas no órgão, a fim de possibilitar maior
efetividade ao comando legal.370 Complementa-se a esta pesquisa o valor
repassado ao FNS no ano de 2015 que correspondeu ao montante de R$399,85
milhões, o que representou um aumento de apenas 1,58% em relação ao ano de
2014, o que é irrisório diante das dívidas das operadoras, conforme se constata
na Tabela 7.
Deve-se destacar que nem todos os valores cobrados pela ANS são
efetivamente pagos pelas operadoras de planos de saúde,371 conforme ficou
demonstrado no Gráfico 3. A fim de desestimular interposição de contestações ao
procedimento de ressarcimento ao SUS, “tendo em vista notória conduta
protelatória adotada por algumas operadoras, que, mesmo sem argumentos
suficientes a resolver o mérito da questão, interpunham defesas sem qualquer
fundamento a fim de postergar a resolução do processo”.372 Foi consignado, a
partir da Resolução Normativa n.º 358, de 27 de novembro de 2014, que se
mantém inalterada a fluência de juros de mora mesmo diante da interposição de
impugnação ou de recursos tempestivos, considerando a data do vencimento
para pagamento do valor devido.373 De acordo com a ANS, houve diminuição
significativa por parte das operadoras de planos de saúde em relação ao número
de procedimentos impugnados. No entanto, ressalta-se que o instituto do
ressarcimento ao SUS é importante como instrumento de política pública que
garanta o financiamento da saúde pública, mas que por isso a ANS deve buscar
aprimoramento para que as operadoras cumpram com as suas obrigações em
relação aos seus consumidores.
370
Conforme Boletim Informativo – utilização do sistema público por beneficiários de planos de
saúde e ressarcimento ao SUS. Rio de Janeiro: Agência Nacional de Saúde Suplementar, n. 1,
p. 25, 2016.
371
Recomenda-se a leitura de Estudo do Idec que mostra que operadoras de planos de saúde
devem ao SUS mais de R$742 milhões. Disponível em: <http://www.idec.org.br/em-acao/em-
foco/estudo-do-idec-mostra-que-operadoras-de-planos-de-saude-devem-ao-sus-mais-de-r-742-
milhes>. Acesso em: 10 nov. 2016.
372
Conforme Boletim Informativo – utilização do sistema público por beneficiários de planos de
saúde e ressarcimento ao SUS cit., p. 20.
373
Nos termos do artigo 33, § 1.º, letras “a” e “b”, e § 2.º da Resolução Normativa n.º 358/2014.
Disponível em: <http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao&task=
TextoLei&format=raw&id=MjgyNw==>. Acesso em: 2 jul. 2016.
166
374
Artigo 3.º da Lei n.º 9.961, de 28 de janeiro de 2000. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9961.htm>. Acesso em: 27 jun. 2016.
167
375
A competência da ANS está disposta no artigo 4.º da mesma lei, em uma longa lista de 42
incisos. Entre eles destacamos o inciso VI – “Estabelecer normas para ressarcimento ao
Sistema Único de Saúde – SUS” – por se constituir do cerne de nosso trabalho, que versa
sobre o direito à saúde: suas dificuldades e possibilidades.
376
A Confederação Nacional de Saúde (CNS) questiona diversos pontos da Lei n.º 9.656/1998,
dos quais se destacam: a) medida provisória editada um dia depois da promulgação da Lei,
que altera seus dispositivos e prescrevendo novas exigências; b) por contrariar princípios
constitucionais de liberdade de associação, de livre iniciativa e de livre concorrência,
inviabilizando, ou pelo menos, cerceando a atividade econômica das operadoras; c)
determinação da aplicação retroativa de normas para os contratos firmados antes da vigência
da Lei. [...] Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=
AC&docID=347335>. Acesso em: 29 jun. 2016.
168
[...]
44. Outra questão tida como contrária e ofensiva ao princípio da
proporcionalidade seria o ressarcimento ao Poder Público, de que
trata o caput do artigo 32 da lei, dos serviços de atendimento que
a rede hospitalar de saúde pública prestar ao contratado do plano.
Frise-se que esses serviços só atingem os atendimentos previstos
em contrato e que forem prestados aos respectivos consumidores
e seus dependentes por instituições públicas ou privadas,
conveniadas ou contratadas, integrantes do SUS, como está
explicitamente disciplinado no § 1.º do artigo 32, na versão atual,
verbis: “O ressarcimento a que se refere o caput será efetuado
pelas operadoras à entidade prestadora de serviços, quando esta
possuir personalidade jurídica própria, e ao Sistema Único de
Saúde – SUS, mediante tabela de procedimento a ser aprovado
pelo CONSU”.
45. Não vejo atentado ao devido processo legal em disposição
contratual que assegurou a cobertura desses serviços, que, não
atendidos pelas operadoras no momento de sua necessidade,
foram prestados pela rede do SUS e instituições conveniadas e,
por isso, devem ser ressarcidos à Administração Pública,
mediante condições preestabelecidas em resoluções internas da
Câmara de Saúde Complementar. Observo que não há nada nos
autos relativamente aos preços que serão fixados, se atendem ou
não as expectativas da requerente. Tudo gira em torno de
hipóteses.
46. Também nenhuma consistência tem a argumentação de que a
instituição dessa modalidade de ressarcimento estaria a exigir lei
complementar nos termos do artigo 195, § 4.º, da Constituição
Federal, que remete sua implementação ao artigo 154, I, da
mesma Carta. Como resulta claro e expresso na norma, não
impõe ela a criação de nenhum tributo, mas exige que o agente do
plano restitua à Administração Pública os gastos efetuados pelos
consumidores com que lhe cumpre executar.
169
377
Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 1.931-8, Min. Maurício Correa, DJ
28.05.2004, p. 326-327.
170
378
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p.718.
379
Artigo 7.º: “As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou
conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com
as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes
princípios: I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência; II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso
em todos os níveis de complexidade do sistema; [...]”.
171
380
Disponível em: <http://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STJ/IT/AGRG-RESP_866393_RJ_
1264330547151.pdf?Signature=onr3zIlTF9b0LN%2FEKTTdNLIo4oo%3D&Expires=147087647
2&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XEMZACAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-
amz-meta-md5-hash=5ce726761dab3426e21f9d94c2af554e>. Acesso em: 10 ago. 2016.
381
Em matéria produzida por Conceição Lemes, jornalista e blogueira do Blog da Saúde, Mário
Scheffer, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e Lígia Bahia,
integrante da Comissão de Política, Planejamento e Gestão da Associação. Disponível em:
<https://www.abrasco.org.br/site/2016/01/blog-da-saude-entrevista-mario-scheffer-e-ligia-bahia-
sobre-financiamento/>. Acesso em: 4 jul. 2016.
173
Sabe-se, porém, que uma das possibilidades para que o SUS382 se torne
forte tem a ver com o seu financiamento, ou seja, de que forma ele será mantido
para que a saúde seja efetivamente como um bem público de todo os cidadãos.
Dessa maneira, reitera-se que o ressarcimento ao SUS é importante instrumento
de política pública e, se bem implementado pela ANS, poderá contribuir para
garantir como mais uma fonte de financiamento da saúde pública brasileira.
382
Ao longo deste trabalho apresentou-se o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme previsto na
Constituição (artigo 198) e na legislação vigente (artigo 7.º da Lei n.º 8.080/1990), como
estratégia consistente de reforma democrática do Estado, os princípios: da universalidade, da
integralidade e da equidade; a hierarquização do sistema e das ações e serviços de saúde; a
descentralização da gestão, ações e serviços; a participação da população na definição da
política de saúde; o controle social da implementação da política de saúde e a autonomia dos
gestores serão o fundamento desse sistema.
383
Conforme Dalila Andrade de Oliveira: “Considera-se que políticas de governo são aquelas
que o Executivo decide num processo elementar de formulação e implementação de
determinadas medidas e programas, visando responder às demandas da agenda política
interna, ainda que envolvam escolhas complexas. Já as políticas de Estado são aquelas que
envolvem mais de uma agência do Estado, passando em geral pelo Parlamento ou por
instâncias diversas de discussão, resultando em mudanças de outras normas ou disposições
preexistentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade” (Das políticas de governo
à política de Estado: reflexão sobre a atual agenda educacional brasileira, p. 7. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v32n115/v32n115a05.pdf>. Acesso em: 5. jul. 2017).
174
384
GUIMARÃES, R. O mal-estar na saúde pública. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 37, n. 96,
p. 163. jan.-mar. 2013.
385
No Dicionário Houaiss da língua portuguesa, o termo é definido por 1. Sensação desagradável
do organismo; indisposição que chega a configurar doença; incômodo; indisposição. 2. Estado
de inquietação, de aflição mal definida; ansiedade, insatisfação. 3. Situação embaraçosa;
constrangimento.
175
Tabela 8 – Despesa da União com saúde suplementar e quantidade de servidores ativos e aposentados, com respectivos dependentes,
no período de janeiro de 2015 e dezembro de 2015
Janeiro 327.916 33.676.585,27 223.956 26.097.563,41 61.512 7.839.557,16 516.219 51.156.809,08 1.129.603 118.770.514,92
Fevereiro 327.431 33.637.315,96 223.769 26.093.528,38 61.525 7.839.482,16 513.589 50.913.468,02 1.126.314 118.483.794,52
Março 331.352 33.899.587,45 224.307 26.102.627,70 61.637 7.843.260,28 516.049 50.991.708,14 1.133.345 118.837.183,57
Abril 331.448 33.910.773,28 222.457 25.877.735,92 61.626 7.841.517,18 513.154 50.703.188,36 1.128.685 118.833.214,74
Maio 334.660 34.231.879,00 222.300 25.863.782,89 61.610 7.838.930,36 514.834 50.845.341,47 1.133.404 118.779.933,72
Junho 333.334 34.094.543,15 222.107 25.850.474,89 61.593 7.836.406,54 511.797 50.551.904,68 1.128.831 118.333.329,26
Julho 331.507 33.913.340,19 220.912 25.718.767,56 61.487 7.823.069,90 508.047 50.185.872,61 1.121.953 117.641.050,26
Agosto 325.888 33.324.432,71 217.955 25.384.973,40 60.980 7.755.448,68 499.051 49.292.553,20 1.103.874 115.757.407,99
Setembro 324.627 33.195.236,99 217.091 25.290.445,34 60.899 7.744.300,01 496.428 49.033.361,39 1.099.045 115.263.343,73
Outubro 331.504 33.908.442,93 219.153 25.530.772,06 61.151 7.774.454,07 503.172 49.695.801,51 1.114.980 116.909.470,57
Novembro 377.893 38.596.974,01 235.480 27.430.007,52 60.874 7.737.520,43 551.114 54.266.754,16 1.225.361 128.031.256,12
Dezembro 378.769 38.668.787,48 234.902 27.362.319,51 60.773 7.724.034,48 549.818 54.123.498,54 1.224.262 127.878.640,01
R$ 1.433.019.140,41
Fonte: Elaboração própria, a partir de extração de dados do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos – Siape
(Apuração Especial – Serpro), posição fevereiro de 2016.
177
386
A fundamentação legal para o repasse de verba pública aos planos privados para os
servidores públicos civis da União é: Artigo 230 da Lei n.º 8.112, de 11.12.1990; Decreto n.º
4.978, de 03.02.2004; Portaria Conjunta n.º 625, de 21.12.2012; e SRH/SOF/MP n.º 01, de
29.12.2009, o que em nosso entender contraria o artigo 199, § 2.º, da CR/1988.
387
De acordo com Lígia Bahia: “Os gastos orçamentários com saúde para quem trabalha no
Legislativo e Judiciário variam desde o ressarcimento integral de qualquer despesa, ou
pagamento integral ou parcial de planos privados à organização de redes credenciadas.
Portarias e instruções normativas nos âmbitos do Ministério Público e do Conselho Nacional
de Justiça regulamentam o valor da devolução do plano privado, que pode ser integral ou
80% de limites por faixa etária (mais de mil reais, acima de 59 anos)”. Disponível em:
<https://www.abrasco.org.br/site/2016/04/espelho-meu-artigo-de-ligia-bahia/>. Acesso em: 5
jul. 2016.
388
Gastos destinados pelo Governo Federal em âmbito nacional em 2014 – aplicações diretas:
Programa 2015 – Aperfeiçoamento do SUS. Disponível em: <http://transparencia.
178
gov.br/PortalTransparenciaGDProgramaPesquisaAcao.asp?ano=2014&codigoPrograma=20
15&textoPesquisaPrograma=&Pagina=3>. Acesso em: 10 nov.2016.
389
Portal da Transparência. Transferência de recursos por função orçamentária. 2015. Total
destinado à Função Área (SAÚDE). Disponível em: <http://www.
portaldatransparencia.gov.br/PortalFuncoes_Detalhe.asp?Exercicio=2015&codFuncao=10&
Pagina=2>. Acesso em: 10 nov. 2016.
179
390
De acordo com o Ministério do Planejamento, Orçamento Público, é um instrumento de
planejamento governamental em que constam as despesas da administração pública para
um ano, em equilíbrio com a arrecadação das receitas previstas. É o documento no qual o
governo reúne todas as receitas arrecadadas e programa o que de fato vai ser feito com
esses recursos. É onde alocam os recursos destinados a hospitais, manutenção das
estradas, construção de escolas, pagamento de professores. É no orçamento que estão
previstos todos os recursos arrecadados e para onde esses recursos serão destinados.
391
De acordo com consulta feita ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG),
em 08.03.2016 e respondido em 08.04.2016. Protocolo sob o n.º 23480003808201664.
181
392
BAHIA, Lígia. Espelho meu. Disponível em: <https://www.abrasco.org.br/site/2016/
04/espelho-meu-artigo-de-ligia-bahia/>. Acesso em: 5 jul. 2016.
393
Sobre o repasse de verba pública aos planos privados para os servidores públicos civis da
União: artigo 230 da Lei n.º 8112, de 11 de dezembro de 1990; Decreto n.º 4.978, de 3 de
fevereiro de 2004. Portaria Conjunta n.º 625, de 21 de dezembro de 2012; e SRH/SOF/MP
n.º 01, de 29 de dezembro de 2009. Em nosso entender, contraria o artigo 199, § 2.º, da
CR/1988.
182
394
Disponível em: <http://www.idisa.org.br/img/File/Domingueira%20da%20Sa%C3%BAde%
20-%20008%202015%20-%2024%2005%202015.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2016.
395
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm>.
Acesso em: 13 jul. 2016.
396
LEVI, Maria Luiza; MENDES, Áquilas. Gasto total com saúde no Brasil: a importância e o
esforço de medi-lo. Domingueira da Saúde, Campinas: Idisa, 24 maio 2015. Disponível em:
<http://www.idisa.org.br/img/File/Domingueira%20da%20Sa%C3%BAde%20-
%20008%202015%20-%2024%2005%202015.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2016.
183
397
3.8 A renúncia fiscal
397
Representa recursos que o Estado deixa de recolher por meio do IRPF e IRPJ, com gastos
com saúde (médica e odontológica) pelas famílias ou pelos empregadores com os seus
empregados.
398
SANTOS, Nelson Rodrigues. A regulamentação da Emenda Constitucional n.º 29:
dificuldades e perspectivas. ROMERO, Luiz Carlos; DELDUQUE, Maria Célia (Org.).
Estudos de direito sanitário: a produção normativa e saúde. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2011. p. 74.
184
sido fácil para os defensores do SUS conviver com essa contradição,399 e muito
menos para a população que está doente e carece de um sistema de saúde.
Carlos Octávio Ocké-Reis, assim manifestou-se:
399
FAVERET FILHO, Paulo; OLIVEIRA, Pedro Jorge de. A universalização excludente:
reflexões sobre as tendências do sistema de saúde. Dados: revista de ciências sociais, v.
33, n. 2, p. 257-283, 1990.
400
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. Renúncia de arrecadação fiscal em saúde no Brasil: eliminar
ou focalizar. Disponível em: http://cebes.org.br/2014/12/carlos-ocke-escreve-sobre-gasto-
tributario-em-saude/>. Acesso em: 10 jul. 2016.
401
A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 14, § 1.º, enumera as várias situações em
que se verifica a “renúncia de receita”; são elas: a anistia, a remissão, o subsídio, o crédito
presumido, a concessão de isenção em caráter não geral, a alteração de alíquota ou a
modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou
contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.
185
402
OCKÉ-REIS Carlos Octávio; SANTOS, Fausto Pereira. Mensuração dos gastos tributários
em saúde. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/
PDFs/TDs/td_1637.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2016.
403
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. Renúncia de arrecadação fiscal em saúde no Brasil: eliminar,
reduzir ou focalizar? Brasil em desenvolvimento. Estado, Planejamento e Políticas Públicas.
Brasília: Ipea, 2014. 2 v., cap. 12, p. 268-270.
186
404
GAMA, Filipe Nogueira da; ÓCKE-REIS, Carlos Octávio. Radiografia do gasto tributário em
saúde. Nota Técnica, Brasília: Ipea, n. 19, maio 2016.
405
Idem, p. 12.
406
O percentual de 25% foi mencionado com base no cálculo realizado pela pesquisadora, no
site do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) de acordo com projeção da população do
Brasil que foi de 206.062.749, às 17h0036, de 22.06.2016. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 22 jun. 2016.
187
407
Entende-se como saúde primária a atenção básica ou atenção primária, conhecida como a
porta de entrada dos usuários nos sistemas de saúde. É o atendimento inicial. Tem como
objetivo orientar sobre a prevenção de doenças e direcionar os mais graves para níveis de
atendimento superiores em complexidade. Saúde secundária é formada pelos serviços em
nível ambulatorial e hospitalar. Fica entre a atenção primária e a terciária (que é de alta
complexidade).
408
MENDES, Aquilas; WEILLER, José Alexandre Buso. Renúncia fiscal (gasto tributário) em
saúde: repercussões sobre o financiamento do SUS. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 39,
n. 105, p. 503, abr.-jun. 2015.
409
Perguntas e respostas (Imposto sobre a Renda): no exercício de 2016, ano-calendário de
2015. Disponível em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/interface/cidadao/irpf/2016/
perguntao/irpf2016perguntao.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2016.
188
411
Tabela 10 – Participação percentual, gasto tributário em saúde: anos 2003-2013
Fonte: Receita Federal do Brasil (RFB) Centro de Estudos Aduaneiros e Tributários (Ceat)
Elaboração: Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (DIEST)/Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada/IPEA (maio/2016).
410
Tese do Cebes para a 15.ª Conferência Nacional de Saúde. Realizada em Brasília/DF.
Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2015/08ago05_Cebes_
divulga_tese_15CNS.html>. Acesso em: 23 jul. 2016.
411
O Ipea lançou nesta terça-feira, dia 31 de maio de 2016, em Brasília, a Nota
Técnica Radiografia do Gasto Tributário em Saúde 2003-2013. É o mais recente estudo no
País sobre o gasto tributário em saúde (2003-2013). Disponível em: <http://www.
ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=27856>. Acesso em: 10
ago. 2016.
189
412
GAMA, Filipe Nogueira da; ÓCKE-REIS, Carlos Octávio. Radiografia do gasto tributário em
saúde cit., p. 21.
413
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único cit., p. 146.
190
MEDICAMENTOS
HOSPITAIS
IRPF IRPJ
E PRODUTOS FILANTRÓPICOS
QUÍMICOS
ANO % % % % TOTAL %
2003 3.745 43.3 1.162 13.4 1.122 13.0 2.613 30.2 8.641 100.0
2004 4.558 43.4 1.309 12.4 1.477 14.0 3.171 30.2 10.515 100.0
2005 4.975 43.5 1.503 13.2 1.732 15.2 3.215 28.1 11.426 100.0
2006 5.776 38.8 1.721 11.6 3.958 26.6 3.439 23.1 14.894 100.0
2007 6.507 43.0 2.102 13.9 2.876 19.0 3.664 24.2 15.148 100.0
2008 7.521 44.1 2.181 12.8 3.092 18.1 4.255 25.0 17.050 100.0
2009 6.794 39.4 2.277 13.2 3.456 20.1 4.703 27.3 17.229 100.0
2010 6.813 37.4 2.657 14.5 3.614 19.7 5.293 28.8 18.376 100.0
2011 7.716 38.5 2.937 14.7 3.576 17.8 5.813 29.0 20.042 100.0
2012 8.762 38.0 3.345 14.5 4.188 18.2 6.744 29.3 23.039 100.0
2013 9.596 37.8 4.048 16.0 4.338 17.1 7.381 29.1 25.363 100.0
Fonte: Receita Federal do Brasil (RFB) Centro de Estudos Aduaneiros e Tributários (CEAT). Elaboração: Diretoria de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e da Democracia
(DIEST)/Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
191
CAPÍTULO 4
PROPOSIÇÕES PARA UM DIREITO À SAÚDE DE ACORDO COM A
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988
414
Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand Von Humboldt escreveu a monografia Denkschrift über
dic Deutsche Verfassung (1813) sobre a Constituição alemã. Agradeço ao amigo Guido Zaniolo
pela leitura do texto em alemão. Dessa forma, pude compreender melhor a força impulsionadora
da Constituição.
193
415
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição cit., p. 17-20.
416
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 116.
417
Idem, p. 191.
418
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição cit., p. 21.
194
419
Quando se utiliza o termo “portadores”, implica-se algo que se “porta”, de que é possível se
desvencilhar tão logo se queira ou se chegue a um destino. Hoje, a forma mais adequada passou
a ser “pessoas com deficiência”, que busca valorizar a pessoa.
420
Thomas Humprey Marshall (1950) atribui a conquista da cidadania à universalização progressiva
de três tipos de direito: (i) os direitos civis (todos são cidadãos livres) foram os primeiros a serem
conquistados; surgiram no século XVIII e visavam garantir os direitos relativos à vida, à segurança
e às liberdades individuais, sobretudo o direito à propriedade, aos contratos e à justiça; (ii) os
direitos políticos (todos devem eleger quem os representa no governo e parlamento), século
XIX, garantindo aos cidadãos de um determinado Estado a participação livre na atividade política,
seja como membros de organismos do poder político, seja como simples eleitores de
representantes nesses organismos; e (iii) os direitos sociais, que corresponderiam à terceira
onda de expansão dos direitos, tendo se configurado no século XX. Os direitos sociais respondem
às necessidades humanas básicas, assegurando o direito a um bem-estar econômico mínimo,
relacionam-se principalmente com o direito a salário, saúde, educação, habitação e alimentação.
Para uma leitura sobre cidadania, ver SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Cidadania e justiça. A
política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Campos, 1979.
195
recursos para provê-las, nisso todos concordam, são escassos. Sendo assim, é
preciso estabelecer prioridades a fim de que aquilo que se busca universalizar não
seja algo abstrato, mas possível e alcançável. O que se propõe neste trabalho,
portanto, não é algo inédito, mas trazido pelo Texto Constitucional e acompanhado
pela Lei do SUS.
421
MÉDICI, André. Propostas para melhorar a cobertura, a eficiência e a qualidade no setor saúde.
Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/simon/agenda1.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2016.
422
Portaria n.º 4.279, de 30.12.2010, que estabeleceu diretrizes para a sua organização.
423
Portaria n.º 4.279, de 30.12.2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2010/prt4279_30_12_2010.html>. Acesso em: 16 jul. 2016.
424
MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. Belo Horizonte: Escola de Saúde
Pública de Minas Gerais, 2009.
196
diferenças existentes encontradas no País, que muito têm a ver com uma das
diretrizes do SUS denominada regionalização. A caracterização da população é
peça fundamental para o sucesso desse empreendimento humano, que exige definir
qual será a região, quais os seus limites geográficos, bem como quais as ações e
serviços que poderão ser ali ofertados e que serão essenciais para o tipo de pacto
que se formará entre o Estado e o Município, dando suporte principalmente para as
políticas públicas em que os recursos são escassos e os problemas são
complexos.425
O olhar deve estar voltado para a população, pois ela deve estar no centro
das ações da Rede de Atenção à Saúde (RAS), de modo que o SUS terá como
definir quais as populações que estão nos territórios singulares e organizados
socialmente em famílias, para depois cadastrá-las e registrá-las em subpopulações
por riscos sociossanitários, que serão conhecidas nos consistentes sistemas de
informações da RAS-SUS, por meio da implantação universal do cartão SUS, que
conterá todas as informações demográficas, epidemiológicas, sociais e de utilização
de serviços que são (foram) realizados.
425
MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde cit., p. 78-79.
426
A Conferência de Alma-Ata, promovida pela OMS, aprovou, por unanimidade, como meta de seus
países-membros a “saúde para todos no ano 2000”, tendo como definição de atenção primária
“uma atenção à saúde essencial, baseada em métodos e tecnologias práticas, cientificamente
comprovadas e socialmente aceitáveis, cujo acesso seja garantido a todas as pessoas e famílias
da comunidade mediante sua plena participação, a um custo que a comunidade e o país possam
suportar, em todas as etapas de seu desenvolvimento, com espírito de autorresponsabilidade e
autodeterminação. A atenção primária é parte integrante tanto do sistema nacional de saúde, do
qual constitui-se como função central e núcleo principal, como do desenvolvimento social e
econômico global da comunidade. Representa o primeiro nível de contato dos indivíduos, da
família e da comunidade com o sistema de saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo
possível de onde residem e trabalham as pessoas, constituindo o primeiro elemento de um
processo permanente de assistência sanitária” (OMS, 1979).
197
Tem-se por certo que de um bom alicerce se constrói um bom edifício. Por
isso, as RAS servem, se bem estruturadas, como canal para uma política pública
sólida e de qualidade para atenção à saúde secundária428 (média complexidade) e
terciária429 (alta complexidade), ou seja, aqueles atendimentos especializados, que
são na atualidade uma das fragilidades do sistema público. Ressalte-se que
possuirão a mesma dinâmica sob o ponto de vista da territorialização, das RAS, mas
com uma diferenciação que, segundo Eugênio Vilaça Mendes:
427
MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde cit., p. 80-85.
428
Atenção Secundária à Saúde (ASS): é formada pelos serviços especializados em nível
ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a
terciária, historicamente interpretada como procedimentos de média complexidade. Esse nível
compreende serviços médicos especializados, de apoio diagnóstico e terapêutico e atendimento
de urgência e emergência.
429
Atenção Terciária à Saúde (ATS): são aqueles de maior densidade tecnológica (alta
complexidade).
430
MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde cit., p.100.
431
Portaria n.º 4.279, de 30.12.2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/
2010/prt4279_30_12_2010.html>. Acesso em: 16 jul. 2016.
198
432
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional cit., p. 702.
199
O Brasil como nação distribui muito mal a sua riqueza e quem paga por
essa desigualdade sempre são as pessoas mais pobres e são estas que acabam
por necessitar das ações governamentais que na maioria das vezes são
descompassadas e tímidas e não conseguem corrigir essas desigualdades. De
acordo com Alberto Pellegrini Filho, “iniquidade em saúde – são as desigualdades
injustas e evitáveis. E são evitáveis através das ações sobre os determinantes
sociais de saúde”.433
433
PELLEGRINI FILHO, Alberto. Determinantes Sociais da Saúde cit. (entrevista).
200
434
FERRAREZI, Elisabete; SARAVIA, Enrique (Org.). Introdução à teoria da política pública cit., p.
13.
435
Organização Pan-americana da Saúde (Opas)/Organização Mundial da Saúde (OMS). Disponível
em: <http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=1371&Itemid=
423>. Acesso em: 14 jan. 2016.
201
e emprego, porém elas podem ser modificadas se houver ação efetiva para que
esse quadro seja alterado.
Fonte: CONDSS
436
Paulo Buss, em entrevista (22.08.2011) ao programa Sala de Convidados, do Canal Saúde
(Fiocruz), na época Diretor do Centro de Relações Internacionais da Fundação Osvaldo Cruz
(Fiocruz). Ele fala sobre os Determinantes Sociais de Saúde (DSS). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=FzOZqa88UCU>. Acesso em: 19 jul. 2016.
437
Göran Dahlgren, professor visitante da Universidade de Liverpool e colaborador do Centro de
Pesquisas de Políticas sobre os Determinantes Sociais de Saúde. Disponível em:
<http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0018/103824/E89384.pdf>. Acesso em: 25 ago.
2016.
438
Margaret McRae Whitehead é Professora da cadeira de Saúde Pública da Escola de Ciências da
População, Comunidade e Comportamentais da Universidade de Liverpool. Trabalha com
desigualdades sociais na saúde e nos cuidados de saúde, em particular a questão do que pode
ser feito para reduzi-los. Disponível em: <http://phrc.lshtm.ac.uk/collaborator_whitehead.html>.
Acesso em: 25 ago. 2016.
202
Isso significa que a saúde, vista sob essa ótica, de fato é produto da ação
humana e por isso pode ser transformada pela ação humana, mas não de uma ação
individual, mas de uma ação do Estado por meio de políticas públicas que atuem
sobre as condições materiais e até psicossociais nos locais onde as pessoas vivem
e trabalham com o fim de assegurar que elas tenham acesso a água tratada, esgoto,
condições de habitabilidade (dentro e fora), alimentação saudável, emprego
decente, serviços de saúde e de educação de qualidades.440 Assim, a implantação
de políticas públicas com intuito de alcançar o direito à saúde é um desafio a ser
enfrentado pelo Estado brasileiro, posto que constitui um dever deste que:
439
BUSS, Paulo Marchiori; PELLEGRINI FILHO, Alberto. A saúde e seus determinantes sociais.
Phisis: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 17(1), p. 77-93, 2007, p.83.
440
Idem, p. 86.
203
441
Artigo 2.º, § 1.º, da Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990.
442
A participação da comunidade faz parte dos princípios e dos objetivos do SUS, conforme
preceitua o seu artigo 7.º, VIII, da Lei n.º 8.080/1990.
204
443
TAVARES, André Ramos Curso de direito constitucional cit., p. 720.
444
Oitava Conferência Nacional de Saúde (de 17 a 21 de março de 1986). Relatório Final, p. 9-29.
445
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. A constituição de um modelo de atenção à saúde universal: uma
promessa não cumprida pelo SUS? cit., p. 7.
446
Alguns exemplos de países que funcionam dessa maneira: Suécia, Dinamarca e Inglaterra.
205
447
COHN, Amélia. O estudo das políticas de saúde: implicações e fatos. In: CAMPOS, Gastão
Wagner de Sousa et al. (Org.). Tratado de saúde coletiva. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: Hucitec,
2012. p. 236-237.
448
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. A constituição de um modelo de atenção à saúde universal: uma
promessa não cumprida pelo SUS? cit., p. 9.
449
Idem, p. 8.
206
públicos,450 que recebem os seus salários dos cofres públicos, eles são estimulados
pelo próprio Estado a adquirir planos privados de saúde, pois o próprio governo,
além de financiar com recursos do orçamento público, promove a expansão das
empresas privadas de planos de saúde, o que se entende como tamanha injustiça
com os mais pobres.
450
Celso Antônio Bandeira de Mello, ao tratar dos Servidores Públicos, assim esclareceu: “Os
servidores públicos são uma espécie dentro do gênero ‘agentes públicos’ [...] quem quer que
desempenhe funções estatais, enquanto as exercita é um agente público. Por isso, a noção
abarca tanto o chefe do Poder Executivo (em quaisquer das esferas) como os senadores,
deputados e vereadores, os ocupantes de cargos ou empregos públicos da Administração direta
dos três Poderes, os servidores das autarquias, das fundações governamentais, das empresas
públicas e sociedades de economia mista nas distintas órbitas de governo, os concessionários e
permissionários de serviço público, os delegados de função ou ofício público, os requisitados, os
contratados sob locação de serviços e os gestores de negócios públicos” (Curso de direito
administrativo cit., p. 251).
451
BAHIA, Lígia. As contradições entre o SUS universal e as transferências de recursos públicos
para os planos e seguros privados de saúde. Rio de Janeiro: Revista Debate, 2008. p. 1381.
207
risco que têm doenças crônicas, quando retirados dos planos de saúde, são
atendidos pelo SUS, sem qualquer preocupação por parte das operadoras com esse
beneficiário e muito menos com a figura do ressarcimento que deve ser regular e
sistemático o seu pagamento.452 Daí a configuração de um sistema público dual, que
acaba por privilegiar os que mais podem, promovendo desigualdades sociais, uma
vez que estimula as pessoas ao consumo de planos de saúde. Consequentemente,
tais práticas têm privado o SUS de obter mais recursos financeiros, que poderiam
ser utilizados para a ampliação da sua cobertura, da qualidade e também dos efeitos
inequitativos que segmentam o acesso dos mais pobres.
Tudo o que fora visto até aqui tem como preocupação a saúde conforme
retratada na Constituição: direito de todos e dever do Estado. Consoante classificou
Amélia Cohn: (i) ao Estado cabe a responsabilidade por providenciar as condições e
os recursos que garantam a todo cidadão brasileiro o acesso à satisfação de suas
necessidades de saúde; (ii) o direito à saúde é de todos os indivíduos legitimados
pela sociedade como cidadãos (portadores de direitos e deveres iguais). Como se
aponta, a saúde é um direito da cidadania, e não uma mercadoria, o que implica que
seja concebida e desenvolvida pelo Estado mediante políticas específicas que têm
como alvo toda a população, independentemente de sua condição social, pois, se o
próprio Estado brasileiro, por meio das suas ações e serviços, segmentar a
população em dois grupos, para pobres e para ricos, continuará reforçando as
desigualdades sociais existentes no País. O que se conta é como implantar políticas
públicas de saúde que, ao priorizarem os segmentos socialmente mais vulneráveis
num primeiro momento, o façam sob a lógica da universalização, da integralidade e
da equidade.453 É nesse sentido que propõe a CR/1988.
452
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio et al. O mercado de planos de saúde no Brasil: uma criação do
Estado? Revista Econômica Contemporânea, v. 10, n. 1, p. 157-186, 2006.
453
COHN, Amélia. O estudo das políticas de saúde: implicações e fatos cit., p. 241.
208
Estado que é o provedor do direito à saúde e que, portanto, pode atuar de forma
segura e transparente, possibilitando a confiança da população nas ações
propostas.
Sabe-se que esse movimento não se dará como num passe de mágica,
mas que para a sua efetividade deve-se contar não apenas com a boa vontade da
classe política, mas também com a participação da sociedade. Convém ressaltar
que a sociedade não substituirá o Estado, que é a instância competente, uma vez
que possui os instrumentos capazes de redistribuir as riquezas socialmente
produzidas, e uma delas é a promoção, recuperação e atenção à saúde como um
direito de todos e dever do Estado.
209
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, esta pesquisa teve como foco discutir como essa relação (tão
complexa) acontece, e para chegar a esse objetivo necessitou-se apresentar desde
a evolução dos direitos fundamentais, as constituições existentes e qual(is) a(s)
sua(s) vinculação(ões) com a saúde, contextualizar a saúde pública no Brasil, e o
seu consequente meio de financiamento. Sentiu-se a necessidade também de
verificar o marco regulatório da saúde suplementar, a Lei n.º 9.656, de 03.06.1998
(Lei dos Planos de Saúde), que, além de disciplinar os planos de saúde, dispôs pelo
ressarcimento desses planos ao SUS, pois, no entender deste trabalho, a cobrança
por parte da ANS em relação a essas operadoras acontece de maneira muito tímida.
Reafirma-se que o caminho para as suas decisões passa por uma nova
postura que deve ser adotada nas instâncias de representação da sociedade. No
211
454
GUIZARDI, Francini Lube. Direito à saúde e a participação política no SUS: cenários, dispositivos
e obstáculos cit., p. 587.
455
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016: que tem como objetivo a desvinculação de
recursos para a saúde e a educação.
212
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