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APRESENTAÇÃO

Ê com particular satisfaçüo que incluímos, na série de Cadernos


de Administração Pública, o presente trabalho, de autoria do
Prof. PEDRO MUNOZ AMATO, diretor da Faculdade de Ciências
Sociais da Universidade de Pôrto Rico. Tanto na origem, como
na execução, êste ensaio constitui um depoimento expressivo em
favor da ação pioneira da EBAP.
O Caderno Introdução à Teoria Geral de Administração Pública
abrange os dois primeiros capítulos da obra intitulada Introducción
a la Administración Pública, da qual o Fundo de Cultura Económica
do México, a.caba de publicar o primeiro volume. O Prof. M UNOZ
AMATO escreveu-a em grande parte no Rio de Janeiro, por iniciati1'u
da EBAP e para a EBAP.
A fim de e.rPlicar as ra:::ões por que a EBAP se regozija, tifo
particularmente, com o lançamento dêste ensaio, 'vale aqui referir,
em linhas gerais, a história do li'l-'1"o com que o Prof. MUNOZ AMATO
'uai enriquecer a literatura latino-americana sôbre ciências políticas.
E1n 1952, de passagem para Nova York, o autor destas linhas
foi a Pôrto Rico especialJnente para convidar o Prof. MUNOZ AMATO
a colaborar, durante algum tempo, nos trabalhos da EBAP. Dentre
as tarefas que o Prof. AMATO deveria cumprir no Brasil, a principal
seria a de escrever um livro introdut6rio sôbre administração pública.
A Escola poria à sua disposição as facilidades requeridas, a fim de
que pudesse acumular o trabalho de dirigir o seu curso de Introdução
à Administração Pública com o de redigir a referida obra.
Desde logo o ilustre cientista social pôrto-riquenho se sentiu
seduzido pelo convite, que mais tarde seria endossa.do pela Divisão
de Administração Pública das Nações Unidas, graças a cujo apoio
foi possível ao mttor prosseguir na elaboração do livro em Pôrto Rico.

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DuraJlte o primeiro semestre de 1953, em que estêve no Rio e
teve a seu ca.rgo a regência da cadeira de Introdução à Administração
Pública, o Prof. MUNOZ AMATO, trabalhando afanosamente, esta-
beleceu o plano geral da obra e escrc1/eu os dois primeiros capítulos,
(( Que é Administração Pública?" e ((Sistematização da. Adminis-
tração Pública", os quais, fundidos neste Caderno, publicamos agora.
O terceiro e quarto caPítulos, ((Planejamento" e « Orçamento", que
integram o primeiro volume, também serão publicados separada-
mente na série dos Cadernos de Administração Pública, e repre-
sentam esforços de tratamento especializado dos respectivos assuntos.
O fato de a Divisão de Administração Pública das Nações
Unidas haver dado apoio a esta iniciativa da EBAP é mais um
motivo de alegria para nós. Como é do conhecimento público, a
EBAP surgiu e desenvolve o seu programa de trabalho sob os
ausPícios diretos das Nações Unidas e com a colaboração financeira
e técnica daquela Divisão.
Ao encampar a iniciativa da EBAP, a Divisão de Administração
Pública das Nações Unidas incentivou um jovem cientista polí-
tico, certamente digno, por todos os títulos, de animação e estímulo,
contribuindo também, para quc a obra 'viesse a ter repercussão
continental.
Sob o mesmo título Introdução à Administração Pública, o
livro scrá publicado, em versão portuguêsa, pela EBAP. Como,
porém, a ta,refa de escrevê-lo foi solicitada ao Prof. MUNOZ AMAro
precisamente porque tínhamos necessidade imediata de literatura
em português e espanhol sôbre a matéria versada, a EBAP deliberou
publicar os capítulos progressivamente, enquanto prepara a edição
do primeiro '()olume da obra, único até agora concluído.
Eis as razões por que a EBAP experimenta a mais legítima
satisfação ao ver ca,nalizada para a prática, sob a forma de um
tratado e de uma série de folhetos, a iniciativa, que em boa hora
tomou, de provocar a elaboração da obra.
Finalmente, algumas palavras sôbre o conteúdo dêste Caderno.
Os leitores verão que o autor pensou maduramente no assunto.
Coligiu e analisou copiosa. doc1lmentação para lançar as bases do
trabalho (' foi bem sucedido em úl1pl'i111ir-lhe f/11t cunho de gra#d,
utilidade, amplialldu, j)ur assim di~cr, as frullteiras da teoria geral
da administração pública. COII! reunir e analisar a docutltentação
euroPéia, norte-americana e latino-americalla e ao trabalhá-la com o
cimento de sita experiência e as luzes de sua cultura especializada,
o Prof. PEDRO lVIUNOZ A~IATO conseguiu uma síntese oportuna.,
destillada a contribuir, em larga mcdida, para a capacitação dos
ad mi nistrad ore s latino-americanos.

Rio de Janeiro, abril de 1955.

BENEDICTO SILVA

23'
Título do original espanhol (1.° e 2.° capítulos elo livro inti-
tulado Infroducción a la .1d11linislración Pública):

- Qué es administración pública?


- La sistematización de la adminis~

tración pública.

Tradllçâo (' adaptação

de

HENElJICTO SILVA
fNDICE
I - QUE É ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? 3
A - OS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DO GOVÊRNO •...•. 3
B - POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .••......•..•• 15
C - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DIREITO .•.••...••..•.. 23
D - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CULTURA ......•••..•. 31
E - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E ECONOMIA ..•....•.... 36
F - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA .•.....•...•.. 42

11 - A SISTEMATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-


BLICA ......................................... 47
A - ANTECEDENTES •.....••.••......•....•......•••. 47
B - O FUNDO HISTÓRICO DOS SÉCULOS XIX E XX ..... 50
C - As TENDÊNCIAS ATUAIS ••••••..•.••.•••••...••.. 53
1. O critério jurídico .........•................ 54
2. Administração científica ...•................ 56
3. Clenüficismo e especialização na administração
pública ................................ 59
4. O CrItério político: científico e filosófico .... 60
5. O estudo científico das relações humanas .... 64
6. O critério antropológico .................... 69
7. N ürmativismo e relações humanas ........... 73
8. A atitude prática .......................... 74
D - RESUMO DAS ADVERTÊNCIAS METODOLÓGICAS .••.... 79
1. A utilidade dos métodos das ciências naturais 79
2. O problema dos valores éticos ............... 86
3. O objetivo final - teoria e prática .......... 88
4. A umficação dos estudos sociais ............ 89

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS .................... 91


23'
o , 'ror a:i,a~:;:~:;pr~~~~~~~~::: e~~:.--II'
nho, sublinhando, destac'lndo, re.?,·l'l~rrm10, cODl::,ntaEdo o que
lhe Jla:r~ce digno de at~ncão ou crítica. Ii
A fim de criar ou es1imular nos IcHmrwl o hábito inteJi-
gente da leitura anotada, os Cadernos dI? Administn:cão PÚ-
blica contêm. na parte final, quatro ou mais U?~i!:JlIS wn II
branco, especialmente dcst'71adas a recolhe!' as a:wt,,~;;::s i!e
cada leitor. -
:fl;sse hábito capitali7.a () esfflr~o do !d1or e estimula o
processo de fixaeão, no cabedal de co!;hecim~ntos de cada
um, das coisas Ui{as e ar()!adas.
Se ainda não o cultiva, Ilar qm~ não (,I'mc:.;ar a~ü:'::J, neste
Caderno?
INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DE
ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

I - QUE É ADMINISTRAÇÃO PúBLICA '?

A - Os processos adminis- liticalllente organizada tem seu


trativos do govêrno próprio universo de idéias, ati-
tudes, normas, processos, insti-
Que pessoas deverão ter a in- t uições e outras formas de ex-
cu11lbência de, mediante o exer- pressão hU111ana, para responder
cício do Poder Público, dirigir a às indagações acima. No sentido
conduta dos cidadãos e orientar mais amplo, a administração pú-
os processos sociais? Quais de- hlica é o govêrno, isto é, o con-
vem ser os propósitos do Estado junto de condutas humanas que
e as normas para realizá-los? determina a distribuição e o
Como se devem ordenar os pro- exercício da autoridade política.
cessos e as instituições governa- Em face desta realidade - o Es-
mentais? De que modo devem tado, o sistema de govêrno - ,
conduzir-se os governantes e os têm-se desenvolvido, desde a an-
governados em suas relações po- tiguidade, diversos métodos de
líticas? Sob que formas e em ~istematização.
que graus devem ser fixados os N a situação contemporânea,
limites da autoridade e os da li- um dos métodos mais úteis é o
berdade do povo? Tais são os que focaliza os problemas de
problemas de natureza, justifica- administração em meio às nor-
ção, fins, administração e limites mas políticas, definindo assim
do govêrno. Cada sociedade po- administração pública de modo
4 CADERNOS DE ADM1NISTRAÇ'XO PÚBLICA

ll1ais re:,tritu (1). Tal lIlétOlln Cunstitui um dos lenomenus


distingue a administração das ou- mais interessantes e prometedo-
tras fases do govêrno - a lcgis- res do século XX. Em geral,
lati'lia e a judicial - que consis- ~(,11 etllos sintetiza-se no ideal
tem, r'~spectivamente, na criação de aperfeiçoar as atividades go-
das normas jurídicas e em sua \·ernamentais para que sirvam
aplicaçilo, para conferir e prote- com maior intensidade aos ideais
ger direitos. coletivos. Trata-se de um movi-
O estudo da fase administrati- mento de ação, de reforma, que
va elo govêrno tem prececlentes persegtce implacàvelmente a cor-
em épocas anteriores -- por rução e a ineficiência. Em cer-
exemplo, os "cameralista,," elos tos países, como os Estados Uni-
séculos XVII e X\'III -, mas dos, a Inglaterra e a França, o
somente no séc;!lo XX adquire movimento manifesta-se através
ímpeto e difusão. Êsse estudo de programas acadêmicos, litera-
supõe um esfôrço ;)ara analisar tura científica, associações pro-
os aspectos mais específicos e fissionais, programas de refor-
concretos do g(wêmo, a fi1l1 de ma, organizações cívicas, coope-
imprimir-lhes melhor qualidade. ração internacional e outros es-
Em vez ele atender às I!Uestõe~ j,)rços de grande valor.
dos fins e da constitu ição do Es- Ainda não existe, entretanto,
tado, aplica-se principalmente a cntre os que se dedicam à prá-
problemas de planejamento, or- tica e ao estudo da administra-
ganização, pessoal, direção, fi- \ão pública, um grau razoável de
nanças, métodos de trabalho c concordância em tôrno daquilo
outros da mesma família. que constitui o âmbito de seu tra-
A corrente profissional que se balho. Vejamos as definições dos
interessa por êste setor chamado principais comentaristas, selecio-
"administração pública" é, sem nados principalmente dentre os
dúvida, uma fôrça importantís- americanos, por serem os Esta-
sima no mundo hodierno. dos Unidos o país em que mais

(1) Aqui se esboçam algumas noções gerais sôbre a evolução da


disciplina e suas diferentes posiÇjões metodológicas. Apresentam-se em
grandes traços e à marg-em do problema de delimitação do âmbito da
administração pública.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 5

se desenvolveu a literatura sô- rar que a política manipule as


bre a teoria geral da administra- repartições públicas ...
ção pública. WOODROW WILSON, " . .. A administração pública
em seu famoso artigo" O Estudo é a execução minuciosa e siste-
ela Administração", publicado em mática do Direito Público. Tô-
1887, traçou rumos que têm da aplicação particular da lei ge-
exercido grande influência. ral é um ato de administração ...
"A administração é a parte "Não se trata aqui, exatamen-
predominante do govêrno; é () te, c1e uma distinção entre von-
govêrno em ação; é o executivo, tade e ato correspondente, pois
atuante, o aspecto mais proemi- u administrador eleve ter e efe-
nente do go"êrno ... tivamente tem yontade própria
"O campo da administração 11a c·:~"lha elos meios para rea-
é um campo de negócios, no sen- l iz::r ~:ell j 1'a balho. Não é nem
tido clássico da palavra. Estú deve ser mero instrumento pas-
afastado da balbúrdia e das lutas sivo. ;\ distinção refere-se a
políticas e, em muitos aspectos, planos gerais e mei()~ específi-
da controvertida arena do direi- coso "
to constitucional. Está para a O artigo de \ \'ll.'UN ilustra
\'ida política assim como a ma- jJc-rÍeitamentc algumas elas falhas
quinaria para o produto manu- teóricas, que têm caracterizado a
faturado. 1\0 mesmo tempo, pu- daLorac:iio da 110va disciplina.
rém, situa-se muito acima do ní- i ,'Ormltblll--,e, 1)ara justificar o
vel enfadonho da simples minú- empenhu ele reformar o govêrno
cia técnica, por isso que está di- c cle estimular () estudo mais sis-
retamente ligado, pelos elos de temático de seus problemas, ba-
seus princípios fundamentais, às ses teóricas ele valielez muito du-
máximas duradouras e às ver- "idosa.
dades permanentes da sabedoria i\S afirmações de que "a ad-
e elo progresso político ... ministração está fora da esfera
" ... a administração está fora própria da política", de que "o
<la esfera própria da política. As campo da ac1rnini~tra(;ão é um
questões administrativas não são campo de negócios... afasta-
questões políticas. T':n:bora a po- do ela ktlbúrdia c elas lutas
lítica determine as tarefas ela políticas" e de que "as Cjues-
administração, nflO se deve tole- tiies administrativas não são
6 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

(luestões políticas", estabelecem clE'finidos. A ciência da adminis-


como premissa uma distinção tração é, portanto, o sistema de
que, por seus têrmos absolutos, conhecimento com o qual os ho-
llão se justifica. ::\ão l- aceitá- mens podem desenvolver rela-
"el como interpretação descriti- ções, predizer deitos e influir sô-
va, nem como preceito norma- bre os resultados, em qualquer
tivo; tão pouco dela necessitaria situação em que haja pessoas
o autor para cimentar as suas trabalhando conjuntamente, de
recomendações em favor de um forma organizada, para um fim
sistema de administração de pes-
comum. A administração pública
soal baseado no mérito e de ou-
é a parte da ciência de admir,is-
tras reformas práticas (2).
A mesma ambigüidade afeta tração que se refere ao govêrno,
constantemente as tentativas de e se ocupa por isso, principal-
definição. Tomemos exemplos 1l1ente, do poder executivo, onde
de outros tE'xtos. se faz ü tralJalho do govêrno,
Em 1937 Lt:TIIER GCLIO:: ainda que haja evidentemente
demarcou assim o âmbito da ao- problemas administrativos que se
ministração pública: relacionem aos poderes legislati-
.. A administração se destina a \'0 e judiciário, A administração
[azer coisas, a realizar objetivos pública é, pois, uma divisão da

(2) WOODROW WILSON, "The Study of Administration", l'olitical


Science QuarteTly, II (1887), 197-222. Para demonstrar a proce-
dência de nO'SSa crítica, neste ponto, basta assinalar a contradição
fundamental em que \VILSON incorre ao chegar, na parte final do
ensaio, à seguinte conclusão: "Nossa própria política deve ser a
pedra de toque de tôdas as teorias. Os princípios nos quais devemos
basear uma ciência da administração para a América têm de ser prin-
cípios repassados, até o âmago, da aura democrática". Se é ne-
cessário adaptar cuidadosamente as generalizações aos fins e pro-
cessos fundamentais que caracterizam a política de um país, então
não se justifica a distinção absoluta entre política e adminis-
tração. O problema exige respostas mais específicas sôbre quais
sejam as formas desejáveis e indesejáveis de entrosar as distintas
fases do govêrno. Frustra-se assim o intento de delimitar um setor
"administrativo" com autonomia própria, dentro do cOntexto gover-
namental.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 7

Ciência Política (' uma elas ciên- autoridacle (em que as subdivi-
cias sociais" (3). sões de trabalho se integrem, or-
r,melo ele lado outras conside- denadas, definidas e coordena-
raçi;cs metodológicas aqui pre- das), a fim de alcançar determi-
sentes, que discutiremos mais nado objetivo;
adiante, cabe perguntar, em face Administração de pessoal
da definição transcrita: pode di- (staffing) - função de recrutar
zer-se que a administração é so- e adestrar o pessoal, e manter
111,:,nte execução, isto é, um pro- condições favoráveis de traba-
cesso indC'pendente da formula- lho;
ção de normas e das decisões sô- Direção - a tarefa contínua
brc fins e meios? Acaso será mc- que compete ao líder da emprê-
r2 obediêllcia mecânica a diretri- sa, de tomar decisões e formu-
zes determinadas em outras esfe- lá-Ias em ordens gerais e espe-
ras ou etapas? E, além disso, por cíficas;
que ra:~ão l,')gica ou realista se há Coordenação - trabalho im-
de aceitar o ramo executi"o como portantíssimo de inter-relacionar
a administração pública, como o
as diversas partes do trabalho;
luga:- onde se realiza o trabalho
Informação (reporting)
elo go"êrno?
incumbência do chefe executivo
Em outra exposição da mesma
de manter a par das ocorrências
época, GULICK descreveu por
o pessoal por quem é responsá-
meio de conceitos mais específi-
cos os "elementos funcionais" da vel, pressupondo-se que estenda
acl1l1inistra(;ão, tais como existem os efeitos de tal atividade a si
para o chefe executivo: mesmo e a seus subordinados
"Planejamento - exposição, imediatos, mediante registros,
em têrmos gerais, do que deve estudos e inspeções;
ser feito c dos métodos a serem Elaboração ele orçamentos
empregaclos, para que a emprê~a (blldgeting) - tarefa que abran-
atinja os seus objetivos; ge tudo que se relacione com
Organiz:lçilO estabeleci- os on:;amentos, inclusive quanto
mento da estrutura formal da as atividades relativas a plane,
(3) "Sdence, Values ano Public Administration", in Papers OH
the Sciencc oi Administration (Nova York: Instihlte of Public Admi-
nistration, 1937), pág. 191.
8 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLKA

jamento, contabilização e con- hoje 111antélll:·( a adn1i-


trôle fiscais" (4). nistração refere-se ao quê e ao
Esta é a lista que deu origem à como do govêrno. O quê é a
famosa palavra POSDCORB, es- substância, o conhecimento téc-
pécie de acróstico formado pelas nico de um campo, que habilita
iniciais das palavras principais o administrador a executar a
em inglês. Trata-se, segundo o sua tarefa. O co mo são as téc-
próprio GULICK declara, de uma nicas de gerência, os princípios
adaptação da análise funcional que conduzem os programas ao
elaborada por HENRY FAYOL em êxito. Cada um dêstes elementos
seu livro Administration Indus- é indispensável; juntos, formam
trielle et Générale (5). a síntese a que se chama admi-
COllstitllÍ um hom resumo dês- r.istração ... " (6).
ses as;;cctos do goyêrno C[ue tra- O que e o como do govêr-
dicionalmente se incluem no lJO abrangem tôdas as fases
conceito administraçiio P'iblica. do sistema político, desde o ato
Pode objetar-se. todavia, que o eleitoral, até as decisões judiciá-
rOSDCORB exclui os funda- rias. ~stes conceitos não delimi-
mentos culturais e políticos e tam nenhum setor particular, uno
também a influência determinan- e autônomo, dentro dos proces-
te dos propósitos suhstantivos ; e, sos governamentais de uma so-
por outro lado. que não dá su- ciedade. Conseqüentemente, tão
ficiente destaC[tle às relações hu- pouco justificam a concentração
manas l'a administração. do interêsse teórico no poder
No mesmo ano de 1937 MAR- executivo. A definição equivale
SHALL E. DIl\fOCK formulou uma a administração p~íblica é o go-
defin i c1io mais ampla, que até vhno, sem esclarecer o que seja
(4) "Notes on the Theol"y of Organization", in Pa,pe-rs OI! the
Science of Administration (cit..) , pág. 13.
(5) AdminislmtÚ)il I ndustrielle et Généralc (Paris: Dunod,
1937) ; tradução espanhola: A dminisíración Industrial y General (Bue-
nos Aires: Editorial Argentina de l"inanzas y Administración, 1942).
(6) l\IARSHALL E. DIMOCl{, "The Study of Administration", Ame-
rican Political SC'Ícllce Ret·iew, XXX, n. o 1 (fev., 1937), 31-32. " ... o
estudo da administra~ão pública refere-se ao "quê" e ao "como" daquilo
que o govêrno faz." Pllblic Admhlistration (Nova Yor];: Rinehart,
1953), pág. 4.
TEGRIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 9

govêrno, nem que aspectos do so, a realização da política. pÁ-


mesmo se hão de estudar na dis- blica, dos objetivos do Estado,
ciplina cuja defioição se tenta é a tarefa que na realidade exe-
fazer. cutam conjuntamente os cida-
Em 1950, LEONARD D. WHITE dãos, os partidos políticos, as as-
opina: "Definida em seus têrmos sociações, os parlamentos, os tri-
mais amplos, a administração bunais, os órgãos da opinião pú-
pública abrange tôdas as opera- blica, os grupos de interêsses eco-
ções que têm por propósito a nômicos, os funcionários do Po-
realização ou o cumprimento dos der Executivo e outros agentes.
desígnios públicos (7). Os autores SIMON, SMITH-
"Um sistema de administração BURG e THOMPSON, em seu livro
pública é o conjunto de leis, re- Public Administration, de 1950,
gulamentos, práticas, relações, definem administração como "a
códigos e costumes que prevale- atividade de grupos que coope-
cem em momento e lugar deter- ram para a realização de objeti-
minados, para a realização e exe- vos comuns ... " (9), ao passo
cução da política pública" (8). que, quanto à administração p~í­
Se bem que WIHTE não seja blica, dizem:
claro quanto ao que pretende di- " No uso corrente, adminis-
zer com ,'ealização das dire- tração pública significa as ativi-
trizes políticas, todo o sistema dades dos ramos executivos dos
político está contido em seus am- governos nacionais, estaduais e
plos conceitos. O tênue tanto locais; das juntas e comissões in-
pode significar a formulação dependentes criadas pelo con-
quanto a execução das normas; gresso e pelas câmaras legislati-
também poderia ser interpretado, vas dos Estados; das autarquias
mais restritamente, como equiva- e outras emprêsas públicas; e de
lente a execução. Em todo ca- certas outras entidades de cará-

(7) "Defined in the broadest terms public administration consists


of ali those operations having for their purpose the fuIfillment or
enforcement of public policy". Introduction to the Study o/ Public
Administration (3.a. ed.; Nova York: Macmillan, 1950), pág. 3.
(8) Ibid., pág. 4.
(9) HERBERT A. SIMON, DONALD W. SMITHBURG e VICTOlt Á.
THOMPSON, Public Administration (Nova York: Knopf, 19150), pág. 3.

28'
10 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ter e~lJecializado. Excluem-se es- acrescenta claridade e precisão à


pecificamente dessa expressão os definição geral de administração
organismos legislativos e judiciá- pública, elaborando em seus res-
rios do govêrno, bem como a ad- pecti vos tratados os elementos in-
nJinistração que não é governa- tegrantes do objeto de estudo
mental ... " A fixação do âmbito desta ciência. Os ensinamentos
do prolJ!ema é arbitrária, em par- dêsscs autores siío sumamente
te, por causa da tradicional clivi- valiosos, tanto para a teoria como
s~:o acadêmica de especialidades; para a prática. E' somente para
em parte, pela necessidade de cir- demonstrar a ambigüidade que
cunscrever a atenção a um campo prevalece no estado atual da dis-
que se possa dominar dentro de ciplina, e também para adquirir
um período de tempo relativa- perspectiva no comêço de nosso
mente limitado; e, em parte, por- estudo, que apresentamos com
que há certos problemas e práti- atitude crítica os esforços de sín-
cas nos organismos governamen- tese dêsses autores.
tais que são diferentes dos que Em tôdas as ciências, sobretu-
S'.C encontram em outras organi- do nas ciências sociais, há dispu-
zações" (10). tas em tôrno da definição dos
Esta definição focaliza, em correspondentes âmbitos de es-
primeiro lugar, o campo geral da tudo. Cada posição ou escola se-
administração. Em seguida ad- leciona aquelas fases da realida-
mite que há vantagens pragmá- df' que, segundo os seus interês-
ticas no estudo do setor público ses e pronósitos. tenham maior
e até certas peculiaridades na ~;gnificação.
realidade do govêrno. Não é uma Assim, por exemplo, na teoria
identificação completamente ade- elo direito, a escola analítica, re-
quada da administração públi- presentada por JOHN A USTIN e
C,l, porque não sintetiza as ca- HAKS KELSEN, concentra a aten-
racterísticas essenciais do govêr- ção nos preceitos do direito po-
110, nem da administração, e re- sitivo, porque intenta descrever
pousa muito na arbitrariedade da a configur2ção lógica das normas
tradição. Cumpre observar que jeríc1icas consider:tdas como fa-
cada um dos autores citados tos. Colocadéls em outro ponto

(10) Ibid., pág. 7.


TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 11

de observação, as escolas hi~l')­ psicologia, para não entrar no


ricas e sociológicas estudam não terreno mais afastado das ciên-
somente as leis, senão também cias naturais (12).
os processos sociais que se refe- O que interessa, nesta altura,
rem à sua formação, evolução e é assinalar os fenômenos concre-
aplicação, porque vêem o direito tos que os estudiosos têm incluí-
como um meio de contrôle so- do nessa categoria administra-
cial. De outro lado, as escolas ção pública, bem como as carac-
filosóficas preocupam-se sobre- terísticas principais de sua in-
tudo com os fins do direito no terpretação teórica, para julgar
que tange à sua justificação éti- mais adiante o grau de unidade
ca. Dentro dessas classificações e independência que apresentam
simples, aqui apresentadas ape- dentro do contrxto elas relações
nas como exemplo de diversida- socIaIs.
de de critérios, há, sem dúvida, Em primeiro lugar, a caracte-
uma grande variedade de mati- rística mais rvidente daquelas
zes teóricos, com diferenças mais experiências (fenômenos con-
específicas (11). eretos) e interpretações con-
A mesma diversidade se en- siste em que se referem ao ramo
contra 11tU ta tis 1nutandis, na executivo do govêrno. Neste sen-
economia, na ciência política, na tido, a uniformidade de critério
sociologia, na antropologia e na é quase total. Mesmo WHITE e
(11) JULIUS STONE, The Province and Function of Law (Sydney,
Austrália: Associated General Publications, 1946); LUIS RECASÉNS
SICHES, Vida Humana, Sociedad y Derecho (México: Fundo de Cultura
Econômica, 1945); ROSCOE POUND, Outlines of Lectures on JU'rispl'u-
dence (Cambridge: Harvard, 1943); EDGAR BODENHEIMER, Teoda deZ
Derecho (México: Fundo de Cultura Econômica, 1942).
(12) F. S. C. NORTHROP, The Logic of the Sciences and the
Humanities (Nova York: Macmillan, 1947); FELIX KAUFMANN, La
Metodologia de las Ciencias Sociales (México: Fundo de Cultura Eco-
nômica, 1946); CARL J. FRIEDRICH, Teoria y Realidad de la Organi-
zación Constitucional Democrática (México: Fundo de Cultura Eco-
nômica, 1946) ; tradução de C01UJtitutional Government and Democracy
(Boston: Little Brown & Co., 1941), do qual há tradução espanhola
revista (Boston: Ginn & Co., 1950). Ver aí especialmente o capítulo
UBosquejo deI Objeto y Método de la Ciencia Política", edição espa-
nhola de 1946.
12 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

])IMOCK, apesar de suas defini- tância lllovil1lento chamado


ções tão amplas, limitam seus administração científica, sur-
tratados gerais de administração gido com o propósito de melho-
pública a esta parte da realidade rar as práticas administrativas
política. Em uma época de ini- nas emprêsas privadas de produ-
ciativa e concentração de auto- ção econômica. E' certo, igual-
ridade no ramo executivo, êste mente, que outros modelos, como
interêsse é l1:ltural, mas também a administração militar, também
é perigoso, porque sói ser acom- têm exercido influência, mas ne-
panhado de um descuido alar- nhum exerceu tanto quanto o da
mante dos ramos legislativo e (/dministraçZío cientifica.
judicial. Em terceiro lugar, o efeito
Em segundo lugar, em muitos deslumbrante das ciências natu-
casos foram selecionadas as ati- rais com seus triunfos de siste-
vidades que êste setor do govêr- matização e aplicação, não só
no tem em comum com as em- tem inspirado imitações inteli-
prêsas privadas de produção eco- gentes, senão também até pro-
nômica, pondo de l:ldo quase tu- duzido complexos de inferiori-
do qu:: estabelece a diferença. dade e outros excessos, como
Em outras palavras, illc1nem-~c acontece' em tôdas as ciências so-
as similitudes como f:ltos admi- CiaIS.
nistrati7/os e excluem-se as pe- Em alguns setores admite-se
culiaridades do glwêrno como como certa a existência de uma
fatos políticos. ciência da administração pública
Eis uma analogia imposta ar- de âmbito definido e independen-
bitràriamente pela circunstância te, com sistematização e unidade,
de que as emprêsas industriais com generalizações de validade
têm conseguido com tamanho universal. .
êxito seus propósitos de eficiên- As analogias das Clencias na-
cia para auferir lucros, e porque turais e da administração comer-
em vários países os movimentos ciaI têm exercido influência mar-
dirigidos para a sistematização cante na orientação da disciplina.
da administração governamental Daí haver sido tão grande o em-
têm surgido sob os auspícios dos penho de excluir dela todo o
círculos industriais. Neste par- político; daí o fato de muitos
ticular assume especial impor- atribuírem valor supremo à efi-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 13

C/cncia, definida como "a reali- 3. 11á tuna percepção 111ais


zação dos objetivos com o menor clara cle que, em última instân-
gasto possí vel de recursos"; daí cia, todo esfôrço para melhorar
a proposição dogmática de a teoria e a prática do govêrno
fórmulas de organização e proce- se justifica e adquire perspectiva
dimentos com pretensões a vali- relativamente aos valores, às fi-
dade universal e permanente; daí nalidades da vida humana na so-
a ignorância dos elementos cul- ciedade; e, por conseguinte, que
turais e pessoais; daí o desdém é cficiência a ordenação das
freqüente por tudo aquilo que ações governamentais para rea-
possa perturbar as concepções lizar êsses fins com a máxima
mecanicistas. intensidade possível.
Felizmente, os exageros neste 4. Gradualmente manifesta-
sentido têm provocado uma rea- se uma compreensão mais ade-
ção vigorosa, que se manifesta quada: a) da inter-relação ínti-
nas seguintes tendências: 111a, q\1e na realidade existe em
1. Reconhece-se, com inten- tôdas as fases cle uma cultura;
sidaoe crescente, que os proble- b) e da necessidade correspon-
mas identificados como de "ad- dente de unificar os ensinamen-
ministraçiío pública" - planeja- tos das ciências sociais.
mento, administração fiscal. or- Podemos tomar por ponto de
ganização e métodos, administra-
partich a definição já menciona-
ção de pessoal, relações humanas
da de CJue a administração p~í­
!lO trabalho etc. - são aspectos
do govêrno e devem ser analisa- Mica, no sentido mais amplo, é
dos do ponto de vista dos pro- todo o sistema ele govêrno, todo
cessos políticos, com os quais es- o conjunto de idéias, atitudes,
tão intimamente ligados. N ou- normas, processos, instituições e
tras palavras, seu estudo é ape- outras formas c1e conduta huma-
nas uma parte da ciência polí- na, que determinam: a) como se
tica. distribui e se exerce a autoridade
2. Desenvolve-se o interêsse política; b) como se atendem
pelo conteúdo psicológico, antro- aos interêsses públicos. :li,ste é
pológico e sociológico dêsses fe- o âmbito da ciência política, es-
nômenos, destruindo muitos dog- J)oçada gradualmente desde a an-
mas do mecalJicismo anterior. tiguidade. em lrmga evolução
14 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

que tem acumulado um acêrvo sas maneiras pelas demais fases


de interpretações bastante rico. do sistema político.
A política é uma fase da cul- Para os propósitos do presente
tura de cada povo e manifesta-se Caderno, vamos adotar uma defi-
em interpenetração íntima com nição mais restrita de adminis-
os demais aspectos dessa confi- tração pública, focalizando cer-
guração total de seu estilo de tos processos de govêrno, que
vida. Cada atividade política é constituem os elementos essen-
condicionada por êsses outros ciais da aplicação administrativa
complementos culturais - pelas das normas políticas e são, por
preferências valorativas, pelas conseguinte, de grande impor-
característ icas da personalidade, tância no funcionamento de todo
pelos processos econômicos, pe- o sistema político.
las rebções sociais etc. Qual- São os seguintes:
quer tentativa de análise ou re- 1. Planejamento - a formu-
forma deve levar em conta a lação de programas, especial-
illes!riJlcaúiZ,idade do aspecto mente a integração do plano a
govertlarnetltal, dentro do com- longo prazo de todo o govêrno,
plexo cultural respectivo. Em incluindo a elaboração de orça-
outro., Cadernos desta série, ve- mentos e as funções correlatas
remos, através de ilustrações de administração financeira.
concretas, como êste dado fun- 2. Administra.ção de pessoal
damental complica de mil manei- - a seleção, o preparo e a di-
ras a tarefa de construir e apli- reção das pessoas que hão de
car generalizações para o me-
participar nas tarefas governa-
lhoramento da administração
merrtais, proporcionando o fator
púhlica.
Tampouco nos l- facultado mais decisivo de tôda a situação
ignorar, dentro do setor político, administrativa, a qualidade hu-
a significação do todo, bem como mana, com especial referência aos
as inter-relações de SéJaS diver- problemas de relações humanas
sas partes. Cada função do ra- no trahalho.
mo executivo, cada forma de or- 3. Organização e métodos ---
ganização, cada método de tra- a ordenação das estruturas ins-
halbo csrí ,'ondicionado df' divf'r- titt1\ionais, feita do ponto de vis-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 15

ta da divisão de trabalho, das desta disciplina em seu estágio


hierarquias em relação às auto- atual de desenvolvimento.
ridades, dos vários tipos de con- Em resumo, a administração
trôle, dos graus de centralização pública é a fase do govêrno que
c desccntralização, da coordena- consta da cooperação ordenada
ç50, da sistematização dos pro- dc pessoas, mediante o planeja-
cu;sos e ele outros assuntos co- mcnto, organização, educação e
llexos. direção de seu comportamento,
4. Relações do poder executi- para a realização dos fins do sis-
vo com o p~íblico e com os pode- tema político.
res legislath'o e judiciário - o
sistema de govêrno em sua signi- B - Política e administra-
ficação total, incluindo considera- ção pública
ções específicas sôbre as relações
de suas partes e as responsabili- No campo da administração
dades dos administradores pe- pública, muitos aceitam a pre-
missa de que política e admi-
rante o público.
nistraçtio são dois fenômenos
Trataremos de reconhecer, em
distintos, que devem separar-se
nossa análise, as relações dês- tanto na realidade como na teo-
ses processos com o resto da ria, para maior pureza da aná-
realidade social, aproveitando os Ese e melhor qualidade nas ati-
ensinamentos das mais cten- vidades práticas. Bom exemplo
cias soc:ais; fá-Io-emos sem pre- elesta crença, encontramo-lo no
tensões exageradas de autono- cit:tdo artigo de VVOODROW \VIL-
mia ou sistematização científica, SON, que tanta influência tem
antes com realismo e humildade, exercido no pensamento norte-
tendo em conta as limitações amcricano sôbre êste ponto (13).
(13) Supra, págs. 5 e 6. Veja-se a evolução desta idéia em ALBERT
LEPAWSKY, Adminisb"ation, The Art und Science of Organization
((nd Managcment (Nova York: Knopf, 1949), capo lU, onde se incluem
f. se comentam excertos das seguintes obras que sustentam a diferença:
o artigo de WILSON, cp. cit.; VV. F. WILLOUGUBY, The Govermnent of
l'dodem Slates (Nova York: Appleton-Cent:lry Crofts: 1920) e Princi-
pies of Public Administmtion (Baltimore: Johns Hopkins Press, 1927) ;
JOHN M. PFlFFNER, Public Administration (Nova York: Ronald, 1935);
LEONAIU> D. WHITE, Inh'od1lction to the Study of Public Administration
16 C.ADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A distinção geralmente se ba- síve1 de recursos - dos obje-


seia. no seguinte: administrar tivos predeterminados nas esfe-
é exclusivamente creel'far (no ras políticas".
sentido de obedecer automàtica- Destas conclusões se haure,
mente) as normas predetermina- consciente ou inconscientemente,
das nas esferas políticas. Tal uma fobia contra as incursões da
premissa facilita as seguintes política, que em alguns casos ul-
conclusões: trapassa as conveniências analí-
1. Os problemas ela admi- ticas e chella até às preferências
nislrar;iio pública encontram-se práticas. Em dadas circunstân-
no ramo executivo do govêrno. cias, essa fobia pode converter-se
2. ~sses problemas são illuais em uma tendência antiholítica,
aos das organizações privadas, sobretudo se, nas realidades de
esperi'dmente as de produção govêrno, não se haia estabelecido
econômica. uma coordenação adequada entre
3. O tratamento dêsses pro- o ramo executivo e os processos
blemas deve sistematizar-se na políticos.
prática e na teoria com exclusão Assim, por exemplo, em cer-
dos ingredientes políticos. para tos países, a política é fonte de
que se consio-a maior efiriência. divisões extremistas, ele corru-
4. O critério da eficiência po- ção, de violência e desordem, de
de definir-se como "a realiza- instabilidade e ineficiência. E'
ção - com o menor gasto pos- certo que êstes sintomas podem

(ed. 19~9). Entretanto. manifestam-se contrários à distincão: HOWARD


LEE McBAIN, The L;V7?1.q Cnnstitution (Nova York: Macmillan, 1927) ;
LUTHER GULICK, "Politics, Administration and the "New Deal ", Annals
of the Amel·ican Academy of Poliacal and Social Scienee, CLXIX
(set., 1933); E. PENDLETON HE1?RING, Public Admini.stration and the
Publ;c lr>terest (Nova York: McGraw-Hill, 19~6); CARL J. FRIEDRICH,
"Public Policy and the N ature of Administrative Responsibility. in
PubUc Poli~y, Anuário da Escola de Administracão Pública, Univer-
sidade de Harvard (Cambridge: Harvard University Press, 1940); PAUL
H. ApPLEBY, PoNcy and Administra,tion (Alabama: University of
Alabama Press, 1949); HERBERT A. SIMON, Administrative Behavior
(Nova York: Macmi1lan. lfl47); V. O. K"'Y. Polit;cs, PartiM and
Pre.ssure Groups (Nova York: CroweIl, 1952); DWIGHT C. WALDO,
The Administrative State (Nova York: Ronald, 1948).
TEORIA GERAL DE ADMINI~TRAÇÃO PÚBLICA 17

modificar-se, vois que não cons- pela politica e o desejo incontido


i itnem características inerentes de novos remédios pseudocientí-
da política, em todos os lugares ficos. Trata-se de uma tendên-
e tempos. Mas se não se com- cia cle grandes possibilidades de-
preende essa verdade evidente, a magógicas.
aversão à política e aos políticos A melhor resposta que se pode
pode conduzir aquêles que se de- dar a tais aberrações é o esc1a-
clicam aos processos do ramo ,ecimento de como funciona real-
executivo do govêrno a ilusões mente o govêrno, dentro da di-
muito perigosas de auto-suficiên- nâmica social. Por êsse meio se
cia. A concepção platônica dos pode compreender sem dificul-
filósofos-reis, habilitados, por dade: que não é possível formu-
um rigoroso processo de educa- lar planos de validade universal e
ção, a elaborar e executar o pla- jJermanente; que a vida em so-
!lO perfeito de vida em socie- ciedade se caracteriza pela trans-
(lade, sem os vícios nem as per- iormação constante; que o go-
turbações anárquicas dos contrô- "êrno tem ele se adaptar conti-
les exercidos pelo povo ignaro, nuamente às circunstâncias so-
emerge com fascinação quase ir- ciais; que a política é um meio
resistíyel. de conseguir essa adaptação; que
Essa tendência é alimentada as atividades elo ramo executivo
não somente pelas correntes po- devem ser condicionadas pela po-
líticas, que favorecem o govêrno lítica; e que o verdadeiro pro-
autocrático, senão também pelas blema consiste em determinar as
promessas excessivas, que fazem melhores formas de orientar e
alguns sistematizadores da admi- relacionar os diversos aspectos
nistração pública. A crença in- do govêrno.
gênua na possibilidade de fórmu- Conseqüentemente, é muito
las científicas, de validade abso- importante compreender com
luta, para reger a administração realismo as relações entre a po-
pública, encontra terreno fértil lítica e a administração pública.
nos países em que a má quali- Já dissemos que, em seu sen-
dade da política anda de mãos tido mais amplo, administra-
dadas com a falta de estudo ri- ção pl~blica, significa política,
goroso do govêrno. Sob tais cir- sistema político, sistema de
cunstâncias floresce o desdém go'{)êmo. Ou seja: o conjunto
23'
18 CADERNOS DE ADMINISTRA<.~ÃO PÚBLICA

de manifcsla,'õcs da (ondula IllI- 1·cctu Ilortuativo, jJoi::, qua::,e selll-


mana. dete1'1J1ina a distribui-
IjU(, pre a seleção dos meios envolve
ccio ( o CXC'r(Ícío da autoridade tambélll preferl'ncias no que diz
f,ública. kJll cumo o tratamento respeito aos fins,
dosiJlt,n~sscs públicos. E' o pa- Tsso significa que a escolha de
drão de idéias, atitudes, normas, iillS e meios, a elaboração de de-
proces~os, instituições e outras i er11linações, as expressões de
expressões humanas, que carac- i IlÍci;;ti va e capacidade criadora,
teriza a direção da sociedade por as manifestações da personalida-
seu grupo de governantes. Se, de, as influências da cultura, são
dentro clêsse conjullto, focaliza- j'lgredientes decisivos em tôda
mos os processos admini:;trati- :I(;ão administraii"a. A ad11li-
vos, i meebatamente vemos como !li,"ração !,'íbliCll não pode ser
estão ligados :\s outras fases do ('()J]cebida, meS!110 110S setores
é'ovênn e da cul tura. Até os de- mais especializados do ramo ex e-
f'enson's mais rec~ 1citrantes da ('11ti\Cl, como simples obediência
dicotolili:l !'o/íti('7 (' a-l1l111i:.\'- (lU execução automática de dire·

traça.) ]'Cl,lll!tccrlll 'i~lC 110,; pu'· I rizes impostas por autoridades


cessos políticos se elaboram as ~uperi,ores, ou por uma lógica de
norma'i mais gerais e fundamen- , ,;gal11zação.
tais, as diretrizes húsicas e de Em o1ltras palavras, a le.r;is-
maior amplitude, as decisões !({(.i () (a criação de normas) e
principais, Mas ao falar da par- a cxccuçiio representam partes
te c."((I[li1\1 (lL! administru. inseparáveis de um processo con-
tiZia, deixiLil de recollhecer a tínuo, que se desenvolve através
importância do coeficien te de e ao longo do govêrno, desde as
discriçíio pessoal (discrecionali- ações dos partidos políticos, até
dad), que é um fator significa- os planos inferiores do ramo exe-
tivo em todos os níveis do go- cutivo, com escala pelas câmaras
vêrno. Ao agir dentro das dire- legislativas, Não é certo que se
trizes CJue recebe dos superio- possa demarcar uma fronteira
res, cada funcionário goza de (lJ1(k termine a legislaçüo e co-

certa margem de arbítrio para mece a pxecur;üo.


orientar sua conduta. E não se O que se pode dizer é que, em
trata, aqui, apenas da escolha de geral, existe uma hierarquia de
meios, sem consideração do as- clecisões, mais gerais e funda-
tEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 19

mentais nos setores contiguos ao Tudo isso pode parecer óbvio,


ramo legislativo, mais limitadas mas há várias formas de ignorar
e específicas à medida que se êsse truísmo que estão muito ar-
aproximam dos níveis inferiores raigadas na prática da adminis-
do ramo executivo. Na base do tração pública. Mencionemos
sistema estão a constituição cul- três exemplos de maior relevân-
tural e a constituição política, Cia:
das quais as leis são aplicações ou 1. A concepção autoritária
execuções mais específicas. da administração, baseada na
Eis por que é mais útil falar de crença de que administrar é dar
legislação e execução como ele- e receber ordens, limitando-se à
mentos complementares, do que questão de aclarar as relações de
distinguir entre uma e outra, ctutoridade e os têrmos das or-
como se fôssem etapas ou aspec- dens.
tos diferentes. Assim se compre- 2. A concepção legalista, que
ende melhor que tôda lei, regu- identifica a administração com as
lamento ou ordem de serviço re- regras jurídicas e reduz seu pro-
quer, para a sua aplicação, o blema à elaboração de leis e re-
complemento da discrição, que a gulamentos de aplicação geral,
afeiçoa às circunstâncias parti- com todos os pormenores neces-
culares de cada situação humana, sários para seu cumprimento au-
determinando seu conteúdo espe- tomático.
cífico. O ato administrativo com- 3. A concepção mecanicista,
pleta-se com os ingredientes da- que se caracteriza pelo afã de
quilo a que chamamos o coefici- prescrever fórmulas de organi-
ente de discrição pessoal. A va- zação e métodos com suficiente
riabilidade e dinâmica das situa- pretensão de validade para exigir
ções humanas tornam inconve- sua observância ao pé da letra.
niente e quase sempre impossí- Estas concepções errôneas po-
vel aprisionar a liberdade e a dem combinar-se e efetivamente
capacidade criadora dos adminis- exercem grande atração recípro-
tradores dentro de mandatos es- ca. Sabemos que os seus sinto-
tritos, que pretendam dirigir mi- mas se manifestam abundante-
nuciosamente sua conduta, pre- mente na América Latina.
vendo tôdas as eventualidades Se o coeficiente de discrição
futuras. pessoal é U111 fator de tamanha
20 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLlCA

importância em todo alo admi- cutivo, legisladores ou outras


nistrativo e, por conseguinte, nas personal idades oficiais.
atividades do ramo executivo, Por outro lado, as ações ad-
torna-se evidente que a política ministrativas significam muito
condiciona essas atividades, ex- para a po!ític:l. A melhor prova
pondo-as a diversas influências. dis~o é a iníluência do ramo exe-
Cada ato administrativo será de- n;tivo nas funções das câmaras
terminado em grande parte pelas legislativas e, em geral, sua tre-
atitudes, preferências e sensibi- menda importância nos governos
lidades políticas do funcionário contemporâneos. Os êxitos ou
1;0 que concerne aos modos de fracassos do executivo pesam
tratar os cidadãos, respeitar ou grandemente nas decisões bási-
violar seus direitos; usar devi- cas relativas à escolha das pes-
damente a autoridade ou abusar soas que h:ljam de deter o poder
dela; discriminar em favor de de- e à maneira por que hajam de
terminados indivíduos ou grupos, exercê-lo. Os êxitos ou fracas-
uu contra êles; trabalhar com ~os do executivo freqüentemente
Illaiur ou menor devoção; usar decidem se um grupo ou partido
o cargo para benefício próprio pode manter-se no poder.
ou para servir ao povo; conceber As operações administrativas
o papel do govêrno na sociedade; do govêrno ~ em seus aspectos
e outras possibilidades. de planejar1ento, organização,
Serão igualmente fatôres im- métodos, pessoal, relações de tra-
portantes no processo as pressões balho, direção etc. - são exe-
cutadas em íntima relação com
de indivíduos e grupos interes-
as atividades de caráter político,
sados em afetar o exercício da
Co'l1 as fórmulas fundamentais ria
autoridade, e a capacidade cor- organização governamental e
respondente do funcionário para com os propósitos de todo o sis-
julgar tais influências à luz dos tema.
interêsses gerais do povo. Está O planejamento, por exemplo,
bem visto que o funcionário po- nada mais é do (lue a formula-
derá ser afetado por considera- ção do programa de govêrno
ções de igual teor quando as in- para atender às necessidades e
fluências partirem de líderes po- aos ideais da sociedade. Consti-
líticos, titulares do poder exe- tui o processo de deliberação
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 21

para ordenar as atividades go- Cüncerne à liberdade e ao con-


v::.rna1l1entais num conjunto har- trôle social.
mô;:ico de decisões, com consci- Igualmente óbvia é a relação
e ;~'ia das influências e repercus- el1 tre os aspectos políticos e
s::cs que possa11l ter na viela dos adi1linistrath'os, quando consi-
cidadãos. i\s questões chamadas deramos as funções de formular
adlllil1 is{rll f ivas, de como or- e executar um orçamento, já que
ganizar e metodizar as funções estas são apenas uma parte do
ele planejamento, necessàriamen- planejamento - aquela que se
tt: h;',o ele estar subordinadas às refere ao programa de trabalho
decisões políticas. As diretrizes para um prazo imediato, expres-
centrais do plano terão de ema- so em têrmos financeiros.
nar das pessoas com autoridade A administração de pessoal se
para dirigir o govêrno. O con- caracterizará, igualmente, pela
teúelo ele um plano - sua subs- natureza peculiar das diretrizes
tância - tem ele ser formulado políticas e das formas fundamen-
e executado com base em crité- tais ele organização e métodos
rios políticos. governamentais. O estabeleci-
Albl1 disso, êste aspecto subs- mento de um sistema baseado no
tantivo rege as questões ele or- mérito será possível ou impossí-
ganização e métodos. Se se re- yel, conforme as circunstâncias
qt;er Ulll órgão central de plane- políticas. sendo de importância
jamento é porque o programa de secundária as consid>:rações téc-
govêrno deve estar bem integra- nicas. Uma vez estabelecido, sua
do no toelo e harmoniosamente efetividade dependerá sempre
relacionado nas diversas partes. das bases culturais e políticas em
Se êsse órgão central de planeja- que repouse.
mento deve haurir sua autori- E' s~rvidor ou administrador
dade do poder executivo ou do público todo aquêle que, como
poder legislativo, é questão que funcionário ou empregado, par-
depende do maior ou menor grau ticipa elos trabalhos do govêrno.
de coatrôle democrático. O âm- :Este conceito amplo abarca tanto
bito e a intensidade de sua in- () poder executivo como o legis-
tervenção na vida elos cidadãos lativo e o judiciário. Os servi-
serão regulados ele acôrdo com ços chamados profissionais -
as premissas políticas, no que prestados pelos médicos, enge-
CADEHNOS DE ADMINIS1'IL\J;..\.ü PÚBLICA

nheiros, advogados --- têm, pelo global cige, e a qualidade de


próprio fato de estarem situados seu concurso para o rendimento
no govêrno, um caráter de res- dos serviços. Cada um refletirá,
ponsabilidade pública, que os co- sem dúvida, a atmosfera política.
loca na mesma categoria de ser- N a administração de pessoal,
"iços públicos. Revestem-se de c sistema do mérito ou de car-
importância especial todos aquê- reira, que mantém os funcioná-
les servidores públicos que exer- 1 ios em seus cargos independen-
cem funções ele organizar e diri- temente do revezamento dos par-
gir o trabalho de outras pesso;-cs : idos políticos no poder, não po-
que, coletivamé?nte, em grupo~, de ser interpretado como um
realizem tarefas; não m~nos im- ITieio de neutralizar as preferên-
portantes são, também, os encar- cias políticas dos servidores pú-
regados das funções auxiliares e 1Jlicos. O que realmente justifica
assessoramento, tai s como o pla- a sua Superioridade é que o siste-
11ejamento, a elaboração orça- ma elo mérito permite orientar
mentária. a administração fiscal. essas preferências para os valo-
a acl1l1inistraçflO de pessoal e a res mais fundamentais e perma-
organização e métodos. nentes da comunidade política.
Além do grau de especializa· A eficiência burocrática depen-
ção que a caela um corresponda, derá sempre, em larga escala.
e não obstante a infinita varieda- da fidelidade aos fins; e a efi-
de ele tarefas da complexa teia
ciência ele todo o sistema terá.
governamental, há certas condi-
de ser medida em têrmos da uti-
ções que afetam por igual todos
os participantes da responsabili- 1idade social de seus resultados.
dade pública. Todos atuam na O mesmo pode ser dito dos:
engrer:.:· :::'~'n elo sistema político. problemas de organização e mé-
Tanto mais compreendam com todos, de administração finan-
clareza o funcionamento elo todo reira. de direção e de todos os
e as relações entre as diferentes 11 :ais aspectos tradicionalmente
partes, especialmente as formas incluídos no ri'.mjY) ela ad11linis-
em que flui a autoridade entre o tNiÇão fúblira .Um sistema gu-
povo e seus governantes, melho- ITrnamental manifesta-se na rea-
res serào a sua adaptação às nor- lidade como um complexo de re
mas de conduta, que a situação lações humanas, 110 qual tôdas
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 23

as fases se acham intimamente lação com a administração pú-


entrelaçadas. lJlica é também muito importan-
E' inútil argumentar - como te. Trata-se do direito - o con-
muitos têm feito - que essas in- junto de normas sancionadas
fluências reciprocas, ainda que pelo Estado, incluindo os ideais,
existentes na prática, devem ser aS técnicas e as instituições, que
eliminadas para assim se prote- informam sua criação e aplica-
ger a administração contra per- ção.
turbações indesejáveis. Como j;'t O sistema jurídico é outra ma-
vimos, não se pode conceber a l.ifestação do Estado, que na tra-
administração separada da polí- dição da jurisprudência (teoria
tica. O verdadeiro problema do direito) emerge como corpo
'.onsiste em melhorar a qualidade ,lr preceitos vigentes e aplicação
dêstes elementos complementares dêst(~s lWS distintas formas de
e de suas relações mútuas, para ;,dministrar a justiça. A ativida-
que cumpram o fim do govêrno de profissional concentrada nesta
- servir (administrar) os in te- fase do Estado geralmente se de-
rêsses do Pln'O, com a maior efi- dica a conhecer, interpretar c
ciência possível. A questão (- :lplicar os preceitos do direito po-
proteger a administração pública sitivo. Slla missão é determinar
contra determinadas influéncia" (J,; direitos e as obrigações das
da política e vice-vcr!'a. pessoas e resolver as controvér-
,ias de acônlo COlll as regras es-
c- Administração pública i :tbelecidas. E' uma forma espe-
e direito ··ial de administrar as norma3
políticas (14).
Das distintas fases do govêr- E' certo ql1e algumas escolas
no, há outra que vale a pena dis- dão perspectivas mais amplas ao
cutir separadamente e cuja re- estudo do direito, em atenção a
(14) A propósito é interessante notar que Ll1CK[';, ao classificar
os ramo~ de govêrno, mencionava o legislativo, o federativo e o exe·
cutivo, illduindo nest<' último as atividades judiciárias: Segundo T·ra·
lado sôbrc o GU1'él"iw Civil, capítulo XII. lJm sé~ulo mais tarde, MON·
TES'jUmu elaborou .: :!hmoso esquema da separação do;, poderes de
forma djstinta -- le,l!:islativo. (\'-:(\ctltivo (' jl1dir'!(ti'jo. () l'}spi,.ito da,~
Leif., LíVl'tl :Xl; capÍinJ()~~ l-I\'.
CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

critério,; filosóficos, históricos os ideais prevalecentes na ordem


e sociológicos, preocupando-se jurídica, bem como a personali-
também 1'('10 problema do como (jade daquele que julga o méri-
dC71C ser. .\ Ias o que prevalece tu do problema legal. Em sín-
na profissão legal é a tarefa de tese, a legislação judicial é um
conhecer e aplicar o direito, tal fato tão certo como a legislação
como é, separando-a das questões exec1ltiva, com a diferença que
relaciolladas com a legislação, nesta última o arbítrio tem opor-
com a formulação de normas. tunidades mais amplas. Ignorar
Esta (. uma distinção paralela esta realidade à sombra de dis-
à (lue existe entre legislação e tinções absolutas, que não se jus-
execu<;ão, e que já comentamos à tificam. serve tão somente para
luz das fU11l:ões executivas. Tam- fugir das dificuldad~s de com-
pouco se justifica em têrmos ab- preender e ordenar devidamente
solutos para diferenciar a legis- as relações entre a legislação e
lação dêste outro tipo particular a administração. Tampouco per-
de administração - a que se rea- mite atender bem à questão de
liza nos processos judiciais. Aqui fazer com que o arbítrio admi-
também o arbítrio tem um papel nistrativo seja eficaz e responsá-
importante. A s leis são quase vel pelo cumprimento cabal dos
sempre normas gerais e flexíveis. propósitos públicos e evite o des-
que permitem certa margem, virtuamento dêsses propósitos ou
mais ou menos ampla, de liber- (\ abuso de autoridade.
dade para interpretação e aplica- Com efeito, na fase executiva
ção aos casos individuais. Sabe- u problema administrativo é dis-
mos que as opiniões dos juristas tinto da função judicial. E' ver-
e as decisões dos tribunais não dade que exige, igualmente, o co-
são determinadas estritamente nhecimento, a interpretação e a
pelos preceitos jurídicos, formu- aplicação das leis, mas seu prin-
lados nas câmaras legislativas ou cipal meio de ação não consiste
na trajetória dos precedentes. em determinar direitos e obriga-
Quase todo problema jurídico ções e assim resolver controvér-
apresenta possibilidades de ca- sias e111 processos judiciais. O
ráter discricionaI. administrador procede por outro
Na administração da justiça caminho mais amplo para cum-
influem, portanto, as técnicas e prir os mandados das leis que
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 25

orientam suas atividades - o de Muitas vêzes é um pouco mais


organizar, educar, inspirar e di- limitado e exclui do próprio âm-
rigir a conduta coletiva das pes- bito a dinâmica da aplicação do
soas incumbidas de aplicar os direito na administração judicial,
programas públicos nos proces- atendendo exclusivamente à sig-
sos executivos. nificação dos preceitos. Então,
Tôda situação administrativa sumente importa conhecer as
tem seus elementos jurídicos e, normas do direito positivo, em
vice-versa, tôda situação jurídica forma analítica, para decifrar-
tem seus elementos administra- lhes a lógica -- as hierarquias,
tivos. Tão errôneo é distinguir ramificações, categorias e outros
como identificar absolutamente aspectos de sua sistematização
estas duas realidades complemen- interna - abstraindo-as dos pro-
tares. Cada ato administrativo é blemas filosóficos, quanto à jus-
baseado, direta ou indiretamente, tificação de seus fins; e dos as-
numa norma jurídica; sua signi- pecto;; históricos, sociológicos e
ficação completa não emana, po- político-administrativos referen-
rém, dessa base legal, pois a ad- tes aos processos de criação e
ministração consta em grande a plicação do direito positivo.
parte de elementos de discrição. Essa interpretação limitada
ou arbítrio. não basta para compreender a
Uma concepção ampla do di- ordem jurídica, que inclui tam-
reito, que inclua todos os fenô- bém a criação e aplicação dos
menos relacionados com sua preceitos. Muito menos serve
criação e aplicação, pode abar- para compreender a administra-
car todo o govêrno e, por con- ção pública em sua fase executi-
seguinte, as atividades do poder
va. Esta consiste principalmen-
executivo. Isto equivale a am-
pliar o conceito de direito para
te na ordenação cooperativa de
fazê-lo equivalente a estado. pessoas, mediante o planejamen-
Geralmente, porém, o critério to, organização, educação e dire-
legalista refere-se à análise dos ção de sua conduta, para o cum-
preceitos jurídicos e à aplicação primento dos propósitos públi-
dêles nos processos judiciais. cos (15).
(15) Supra, pág. 15.
23
26 CADEHNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

~uallluer telltati \ia para inter- Cxposlçao às análises das dispo-


pretá-la como um conjunto de sições legais.
leis e relações d~ autoridade le- Em contraposição a estas sim-
gal estará inquinada do yício ~a plificações, vale a pena assina-
parcialidade, que pode condUZlr lar que a teoria do direito, nas
a distorçõc: e superficialidades suas melhores expressões, en-
cerra muitos ensinamentos va-
crassas.
Em alguns países prevalece a 1iosos para a administração exe-
cutiva. Em primeiro lugar, en-
noçào de que é suficiente anali-
contra analogias muito instruti-
sar a adll1inistraçào pública por
las na administraçào judicial,
êste prisma legalista de âmbito fjUe é outra forma de concreti-
muito limitado. Nestes casos, o zar as normas político-jurídicas.
pensamento teórico e prático sô- I~1ll segundo lugar, a jurispru-
bre a administraçào pública re- dência conta com uma tradição
duz-se ao conhecimento do que ele rigor sistemático nas inter-
dispõe a lei no tocante às formas 1'retações.
de organizaçào, funções, hierar- Tomemos alguns exemplos re-
quia~, ,'elações de autoridades e lacionados com o tema. Um é
outros aspectos, sem elltrar, po- de HANS KELSEN) representante
rém, na administração dos pre- da escola analítica. Ainda que
ceitos legai:-:. ÇJua ~e sempre, en- seu interêsse teórico esteja con-
tào, o pensamento teórico se centrado no estudo lógico-posi-
identifica como direito adminis- tiyo elo direito, considerado
trati vo. I sto é particularmente como uma hierarquia de normas,
certo na América Latina. todavia interpreta com uma cla-
Chega-se ao extremo, em cer- reza admirável as relações entre
tos tratados, de adotar a f'riori direito e administração e entre
legislaçào e execução.
uma definição ambiciosa de di-
Vejamos:
reito administrativo, que inclua
"Na função legislativa, o Es-
a administraçào dos preceitos tado estabelece regras gerais abs-
tanto nos processos executivos tratas; na jurisdição e na admi-
como nos judiciais, esquecendo- nistração, desenvolve uma ativi-
se imediatamente tal definição dade individualizada, resolve di-
ampla para limitar o resto da retamente tarefas concretas. Tais
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 27

são as respectivas noções mais l11ais elevada .- quer dizer, a


gerais ... (16). norma geral, abstrata - deter-
"A fim de penetrar no centro mina mais ou menos o conteúdo
da verdade contida nesta velha da norma de grau inferior - isto
distinção, é preciso inicialmente é, da norma individual concreta.
acabar com os dois erros que a Todo o processo de criação jurí-
envolvem como uma crosta. Em dica constitui uma sucessão con-
primeiro lugar não se deve iden- tínua de atos ele concretização e
tificar o conceito de criação de individualização crescentes do
direito expresso no conceito de Direito. .,. A legislação é apli-
legislação. o legislativo, com a cação do Direito. da mesma for-
atividade de certos órgãos histo- ma que a jurisdição é criação ju-
ricamente individualizados, que rídica - embora a doutrina tra-
realizam uma tarefa especializa- dicional contrapusesse ambos os
da, confundindo dessa forma o conceitos, definindo-os C01110
conceito de Direito com o de criação e aplicação. respectiva-
"lei". Em segundo lugar, porém, mente. A sentença judicial é apli-
urge advertir que a antítese de cação do direito se é considerada
legislação e jurisdição, isto é, de em relação ao grau normativo su-
criação e aplicação do Direito, perior da lei, pelo qual a senten-
não é absoluta, mas relati- ça é juridicamente determinada.
va .. , (17). l\f as é criação de direito se é
... o ato de jurisdição (de- considerada em relação aos atos
claração do direito) é criação, jurídicos que se hão de realizar
produção ou posição de Direito, "sôbre a base" da mesma - por
como o ato legislativo. Um e ou- exemplo, os atos de execução -
tro não são senão duas etapas ou em relação às partes cujos de-
diferentes do processo de criação veres concretos são estatuídos
jurídica. A unidade dos mesmos pela sentença. Do mesmo modo,
se baseia na subordinação neces- a lei que é criação de direito com
sária da etapa inferior à supe- relação à sentença, é apH~ação
rior, pois que a norma da ordem do mesmo com relação a uma

(16) HANS KELSEN, Teoria General del Estado (Madrid: Edito-


rial Labor, 1934), pág. 301.
(17) Ibid., pág. 302.
28 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

fase normativa superior, pela siste em submetê-Ia a uma re-


qual são as leis determinadas ju- gra para chegar a uma solução
ridicamente" (18). universal aplicável a uma classe
"De tudo que afirmamos, tor- de casos, da qual é apenas um
na-se óbvio que a função do Es- exemplo o caso de que se trate.
tado que se conhece com o nome O tratamento administrativo tí-
de "administração" não pode ser pico de uma situação consiste em
compreendida de outra forma se- considerá-Ia como única, em in-
não como individualização ou di __ idualiZ<Í-Ia ele um modo que
concretização de normas gerais saliente suas características es-
(leis), e que não existe uma di- peciais em vez de sua significa-
ferença essencial entre ela e a ção geral ... A idéia de que não
função jurisdicional com relação há elementos administrativos nas
à legislação, nem tampouco entre decisCíes judiciais, de que a apli-
esta e aquelas" (19). cação do direito deve ser um pro-
O jurista norte-americano cesso puramente mecânico, re-
ROSCOE POUND, um dos princi- monta à Política de ARISTÓTE-
pais representantes da Escola So- r,ES. Como êle escreveu antes de
ciológica da Jurisprudência., se haver desenvolviclo o direito
oferece-nos interpretaçCíes histó- estrito em uma época que se po-
ricas e sociológicas sôbre o mes- de considerar como o ápice do
mo tema, na passagem segl1inte: direito prillliti7'o - quando o ca-
"A interpretação dos precei- ráter pessoal e os sentimentos
tos jurídicos converte-se por um momentân:,os dos reis, magistra-
lado em legislação e, assim, a dos e juízes, influíam muito na
função judicial é em certos sen- prática ela just;ça legal - , AlUS-
tidos função legislativa; por ou- TÓTELES buscava um remédio
tro lado, a interpretação é aplica- para a situação existente na dis-
ção e, portanto, a função judi- tinção entre o judicial e o admi-
cial encerra também elementos nistrativo. Concebia o arbítrio
administrativos ou executivos. como um atrihuto aelministrati-
Especificamente, o tratamento VI). As considerações de tempo,
judicial de uma controvérsia C011- : fó,fJaS e outras circunstâncias
(18) Ibid., pág. 305.
(19) Ibid., pág. 309.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 29

espeCIaIS eram, em conseqüên- sas disposições constitucionais de


cia, ohjeto ua administração. O separação de poderes pediam
poder executivo devia exercer aquela concepção. Mas na prá-
com sabedoria êsse arbítrio para tica ela sucumbiu, da mesma for-
ajustar o mecanismo do govêrno ma que a idéia análoga de sepa-
às sitllaçõ'c's da realidade, con- ração completa entre a fl1nção
forme fossem surgindo. ARISTÓ- judicial e a legislativa" (20).
TELES, entretanto, preconizava ~stes esclarecimentos têm
que as cortes não deviam ter ne- grande importância prática. Bas-
nlmm arbítrio. De acôrdo com tarão breves ilustrações para de-
essa premissa, a função judicial mon strá -10.
era a de ajustar cada caso a seu Quando a administração pú-
!cito jurídico. à maneira de PRO- blica é concebida como o conhe-
CUSTO, mesmo com intervenção cimento e a aplicação mecânica
cirúrgica. se ftlsse necessária. dos preceitos legais, não se culti-
Esta concepção satisfazia então va nem a teoria nem a arte de
às exigf~ncias do direito estrito. administrar; não há escolas para
Em outra época. cle 11lll/ztridade educar administradores públicos;
legal, serviu à teoria bizantina
os cargos executivos destinam-se
que considerava o direito como
a pessoas alheias às técnicas e
a vontade do imperador e o juiz
aos ideais da administração; as
como delegado elo imperador
práticas administrativas caracte-
para aplicar e efetuar dita von-
rizam-se pela obediência rígida
tade. Durante a ielade média te-
ao direito, sem a capacidade cria-
ve suficiente base na autoridade
e nas necessidades ele outro pe- dora que elas requerem; faz-se
ríodo de direito estrito. Mais uso exagerado de procedimentos
tard~ se aelaptou à teoria bizan- judiciais e dá-se um predomínio
tina de criação ele direito que os correspondente às opiniões le-
publicistas franceses postularam gais; e a obcessão pelo aspecto
e difundiram nos séculos XVII e jurídico dos negócios públicos
XVIII. Nos Estados Unidos eclipsa os problemas de criação
pareceu a princípio que as nos- c administração das normas.
(20) HOSCOE POUND, An Illtl'oduction to the Philosophy of Law
(N ew Heaven: Vale Univr:rsity Press, 1922), págs. lOR-lIl (Os grifos
f.iío nossos).
30 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Às vêzes pretend~-se impor, administração universitária, são


como fiat legislativo, normas determinados por lei, a fim de
que não estão ajustadas às con- que sejam rigidamente observa-
dições do meio. Pode-se dar o dos em tôdas as universidades
caso de adotar-se um sistema de do país.
administração de pessoal basea- E' certo que, em algumas si-
do no princípio do mérito, sem tuações, o principal motivo que
envidar esforços suficientes para se esconde atrás desta atitude
que seja compreendido e aceito: mesquinha é a desconfiança em
para conseguir e preparar fun- relação ao arbítrio na administra-
cionários que possam adminis- ção. O poder legislativo quer
trar ê'~~e sistema con1 eficiência; proteger-se contra abusos por
nem, ain(la, para que sua or- parte dos funcionários executi-
ganização e métodos seiam efi- vos e o contrôle legislativo po-
cazes dentro elas exigências da de, em certas circunstâncias, ter
adaptação. Isto é o mesmo que um valor hierárquico mais alto
controlar preços, por meio de do que a eficiência administra-
regubmentação governamental, tiva. Todavia, o que queremos
sem atf11der às realidades da salientar aqui é a falácia de igno-
procura e da oferta. rar a importância das faculdades
N a América Latina, o exem- de arbítrio para o cumprimento
plo mais dramático desta fé exa- eficiente dos programas públicos.
gerada na capacidade das leis O sacrifício parcial da fase ad-
para controlar as fôrças sociais ministrativa, quando as circuns-
é o das constituições que, com tâncias o exijam, deve ser deter-
tôda a sua grand;osidade, são minado por decisões conscientes,
freqüentemente reduzidas ao fra- haseadas em todos os elementos
casso. Entretanto, na legislação ele justiça. O que se deseja é
ordinária dos países respectivos, uma compreensão absoluta quan-
também abundam as experiências to ao limite da eficácia das leis,
do mesmo tipo. Modalidade inte- a necessidade de complementá-
ressante é a de especificar minu- las com a administração, a ver-
ciosam~nte nas leis os pormeno- dadeira natureza dos valores em
res de sua aplicação. No Brasil conflito e as relações respectivas
os programas de estudo, curso dêstes valores com os meios dis-
por C\1r~o, e o11tros aspectos da poníveis. quer seja ne contrôle
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 31

legislativo ou de eficiência admi- Há certos países em que o am-


nistrativa. Somente assim pode biente cultural não oferece con-
haver um esfôrço inteligente dições favoráveis para que o go-
para lograr o melhor equilíbrio ,oêrno seja honesto e eficiente. /\í
possível. se praticam impunemente o su-
bôrno, a malversação de fundos
D - Administração públi('a e outras formas de corrução ad-
e cultura ministrativa, e não existe na so-
ciedade um consenso de des'fpro-
Ainda que geralmente se reco- vação suficientemente articulado
nheça a relação entre a adminis- c intenso para pôr fim a tais ir-
tração pública e as outras fases regularidades. Em certos casos,
complementares do Estado, é to- a atitude dos cidadãos e de seus
davia muito tímida a disposição líderes em tôrno do govêrno é
para apreciar os processos admi- de puro cinismo. Consideram-no
nistrativos do govêrno como uma apenas como simples cenário da
expressão da cultura de cada po- luta pelo poder, onde cada com-
vo. Por certo, a administração petidor tem por único objetivo
j)ública, tanto no poder executivo ,.,atisfazer suas ambições egoístas.
como nos demais setores do go- Não concebem o sistema político
vêrno, é um reflexo do estilo de como um instrumento do povo
vida de cada sociedade -- ele sna para enriquecer e distribuir o pa-
configuração de idéias, atitudes, trimônio coleti\Oo, tanto espiri-
("ustumes, normas, instituições, tual C01110 material. Tampouco
processos e outras formas de con- imaginam a enorme potenciali-
duta. dade de serviço que existe no
Mostra-nos a antropologia as g-ovêrno. Ao contrário, conside-
relações entre os diversos aspec- ;:am-no como fonte de opressão,
tos da cultura e o valor de seu obstáculos e procrastinações, ou,
exame global. São inumeráveis pelo menos, não lhe atribuem im-
e às vêzes passam despercebidos Jlortincia positiva na vida da so-
os ensinamentos que se podem ciedade.
colhêr dês te exame global. Po- Esta atitude derrotista conta-
demos assinalar, a título de ilus- gia tôda a conduta relacionada
tração, alguns referpntps ao nos- com os processos políticos, pro-
so tema principal. duzindo desdI" a apatia dos ci-
32 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dadãos até a corrução dos fun- para a frente neste setor pode
cionários públicos. O problema ~er muito efetivo como fôrça ori-
parece então insolúvel, porque entadora. Tampouco queremos
suas raízes penetram até as en- repetir o conhecido clichê - tão
tranhas da cultura, até os mais característico das situações de
profundos aspectos da personali- desalento coletivo - de que as
dade, e exige esforços titânicos tarefas de educação consomem
de transformação total. Os re- muito tempo. E' certo que se re-
médios têm de ser, pois, de gran- quer um cultivo prolongado para
de amplitude e intensidade, com radicar bem as novas formas de
projeções de longo prazo. convivência. Mas com um alto
Não bastarão as reformas da grau de qualidade nos progra-
organização e métodos no poder mas de reforma, a transformação
executivo do govêrno, especial- pode adquirir impulso e produ-
mcnte quando estas modificações zir resultados importantes dentro
se limitem aos aspectos mais es- de um período relativamente
pecializados da administração curto.
pública. Nesta situação, cumpre A êsse respeito, as experiên-
cultivar a qualidade humana, cias de Pôrto Rico - tanto em
dentro e fora das escolas, sem seus êxitos como em seus fra-
limitar o esfôrço aos meios tra- cassos - são muito fecundas,
dicionais. Se se reconhece, a~sim, principalmente para os demais
a verdadeira dimensão do pro- povos da América Latina. Mos-
blema, será possível tomar me- tram dramàticamente como um
dida de categoria corresponden- movimento de reforma, implan-
te. Seria fatal a ingenuidade de tado por meios pacíficos e de-
se atribuir demasiada importân- mocráticos, pode em pouco tem-
cia às estrutnras formais e às po revitalizar radicalmente o es-
minúcias técnicas. Sem a devida tilo de vida de um povo, desde
perspectiva, é fácil laborar em as atitudes fundamentais para
enormes superficialidades. com os processos políticos, até
Não queremos, com isto, me- as operações quotidianas das re-
nosprezar a importância inegável partições governamentais.
das reformas eventuais dos ele- Com quatro séculos de coloni-
mentos principais do poder exe- zação, miséria, e a braços com
cutivo. j:í que 11m hom passo o analfahetismo em sua herança
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 33

cultural, o povo pôrto-riquenho mocracia e otimismo criador. E'


surgiu na década 1930-40 - interessante advertir que os pro-
época da depressão econômica e tagonistas desta revolução pací-
pessimismo geral - com um Ím- fica daquela década descrevem
peto renovador, que produziu no- os acontecimentos como uma pas-
táveis frutos: direito ao voto (er- sagem da oj)craçllo-lamento para
radicação da venda do voto), operaçüo-1I1110S à obra (21).
participação intensa do povo nas O processo teve seus momen-
atividades políticas, eleições sem tos de obsessão com os detalhes
fraude nem violência, proteção e elementos superficiais, porém
à" minorias, planejamento eco- gradualmente vai adquirindo
nômico, maior eqüidade na dis- maturidade. Cada dia se com-
tribuição do patrimônio coletivo, preende melhor, em Pôrto Rico,
melhores condições de saúde, in- a relação entre os fenômenos po-
tensificação e melhoramento do lítico-administrativos e as bases
sistema educacional e, em geral, da cultura.
maior hem-estar e dignidade para Inicialmente, na administração
0S cidadãos, em um clima de de- pública, quase todo o interêsse
(21) Para que melhor se possa apreciar o asp<,cto quantitativo
dêste progresso na década 1940-50, aqui estão alguns índices estatísticos:
O valor real da receita per capita aumentou de 700/0 e o da
receita geral, de 2000/0, Se tomarmos como base os preços de 1940,
para descontar assim a parte de aumento que corresponde à elevação
dos preços correntes. O desemprêgo baixou de 17.90/0 para 12.8% na
população e de 25% no meio operário. Também considerados na base
dos preços de 1940, os salários subiram de 118%, os lucros de 121%
e os gastos de consumo, pe/' capita, de 54%. O índice de mortalidade
baixou, para cada mil habitantes, de 18 para 10 e o de longevidade
subiu de 45 para 58. O analfabetismo diminuiu de 3,5% para 2,2%.
A matrícula nas escolas elementares subiu até 44% e a universitária
para 120%. ~stes números foram tomados da .Junta de Planificação
de Pôrto Rico, Divisão Econômica, Economic Development of Puerto
Rico, 1940-1950, 1951-1960 (1951), págs. 1-8. Quanto ao significado
geral da transformação, vejam-se: HARVEY S. PERLOFF, Puerto Rico's
Economic Future (Chicago: University of Chicago Pl'ess, 1950);
"Puerto Rico, a Study in Democratic Development", The Annals of the
American Academy of Political and Social Science, janeiro, 1953; BEN-
JAMfN CARRIÓN, Puerto Rico, Um Povo "Mãos à Obra" (Quito, Equa-
dor: Editorial Casa da Cultura Equatoriana, 1952).
23'
34 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

se concentra\'<1 cm criar institui- 1rUlllC'ilto eficiente l}~Lra :;er\'il" ao


ções, reorganizar, implantar ;\(J- jlm'u, e cum a <l':Cit:tC/10 crescel\-
\OS sistemas de trabalho, ao pas- te da icll'ia de 1;11e os {'argo~
so que, hoje, se dá maior impor- púhlicos c!C\'cm ser o~'llpac!lJS pur
tância ao fator humano e se cle- mt>rito, (lcH'1111o-se fon;,ar pes-
dica mais atenção aos aspectos scms llwis capazes para aspirar
ele educat,;:lo e de liderança, a êsses cargos. C01110 co:'se-
O conceito mecanicista vai, a qüência desta nmelalll;a IWS ft1J]-
pouco e pouco, cedendo terreno damentos, surge a neces:'Íebele
ao de rclaçiJcs hltlllanas. de novas moda!iclc:cks de orga-
O sistema cio mérito na aclmi- nização e 1\1éto:;0~ adlll;nistrati-
nistração de pessoal - um as- \"05.
pecto mais específico - {oi a ::-,r este momento está aclCjuirin-
princípio o meio para acabar com do fôn;a a t'_ndência à descentra-
os privilégios partidários e os fa- lização, a fim de permitir maior
,"ores pessoais, Como tal, sua iniciativa aos diretn:'cs cxccnti-
aplicação se caracterizou por um YOS (o ljue, naturahll.1,[C:, prc~-
grau muito alto de rigor mecâ- supõe, também, 1l0t[(Ve! me!ho-
nico. Tinha de ser assim. A lei ria na qualidade dêsses clireto-
foi específica em suas disposi- res). Sil11ultâneamente, está-se
ções, os regulamentos completa-: ,trallsladando o interêsse para as
ran: a 1~1illuciosidad~ :10 ma~datoL,ltarefas ele educar, estimL!lar e di-
l~glslatt\'o. e a adm1l11straçao, do ::Jrigir os colaboradores. Na fase
sIstema fOI altamente centra!Jza- de formação para o serviço pú-
d~ e~1 todos .os ,seus aspectos. hlico, valoriza-se, cada dia mais,
Ve]nc?elja a p,nmelra ~btapa, esta- a cdu(oçiio [leral para os car-
j)e eClc o o SIstema 50 re a base
,. ., gos c1c (IreçaO,
I' - (Ie assessora111en-
do mento Ja agora se começa a ' ..
, .. to de servIços auxlhares c de
condenar o excesso de meca111-' ,
.
CIsmo, , cI e f'01'-
C01110 uma canllsa quantos requeIram " nma~
ampla
,
ça, que entorpece a iniciativa dos margem de. arbltno. ~ornge-se
administradores e os desalenta, desta maneIra o exceScil\'O e'ltu-
N outras palavras, está-se pro- siasl110 anterior pelos eSl'e~ialis-
duzindo sensível modificação no tas. reconhecendo-se que a espe-
ambiente cultural - com a nova cialização eleve ser aCü1l1panhaela
concepção elo govêrno como ins- de uma compreensão profunda,
'TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 35

ll{W ~liperficial,
da cultura e seus l:ão e descenlralizaçüo c a coorde-
a~p(:ctos diversos. llaçiio das unidades go\'ernamell-
De olltro ponto de vista, é tais dedicadas a atiyidades de im-
também importante (lue se enten- portância para o plano.
da bem a relação entre os pro- O Yalor dêste amplo critério de
cessos hásicos da cultura e os al)\'eciação da matéria e\"iclencia-
problemas da administração pú- ~e quando tentamos transferir
blica. Xão se trata apenas de práticas administrativas de U111
compreender a dinâmica social e ambiente cultural para outro. i\
ele conseguir meios efetivos para necessidade de adaptar cl1ic1ac1o-
orientá-la. E' preciso, além dis- "a111ente a experiência estran-
~o, ter cautela contra as reper- geira às peculiaridades culturais
cussGes que a:; reformas gover- do IJO\'O meio é U111 princípio que
nal11entais podem ter nos qua- quase sC'1l1pre se alega e pouca,;
dros fundamentais da cultura. \"êze" se cumpre. Atualmente,
l'm plano de desellvoh'imento in- "iio nU111eroC'ns os trahalhos de
dustrial formulado e executado cooperaçiio internacional para
• por funcionários especializados melhoramento da administração
e111 ecolwmÍa, à revelia dos efei- pública. E' interessante notar a
tos da industrialização nas pre- advertência contida em um re-
ierências 'C'aluralivas do po\"o, latório, a êsse respeito, recente-
IlaS rela(;(Scs ele família, na per- mente publicado pelas ~ ações
sonalidade humana e em mui tos L~nic1as com o propósito de orien-
outros asp~ctos da cultura, pode tar as ati "idades ele assist€-ncia
constituir, Jlor exemplo, notável técnica no setor ela ac1ministra-
fracasso e até converter-se em ção pública. Diz:
instrumento de destruição. Cum- "i\ administração púhlica efi-
pre, p01~, que a preparação cIo ciente adapta suas características
pessoal para as tarefas de plane- à:: da \"ida nacional respectiva.
jamento seja orientada pelo co- Os recursos administrativos es-
nhecimento das relações entre a pecíficos, (l\1e se podem selecio-
cultura e a administração pú- nar entre as diversas alternati-
blica. Isto é certo, também, em vas, oferecidas pelo incessante
relação aos demais aspectos ad- crescimento da experiênç..ia ad-
ministrativos do planejamento - ministrativa moderna, devem
tais como o grau de centraliza- sintonizar-se com as caracterís-
::;6

1ica~ ClI lt llr<l ('(UllullllGt>, su- 1:lql1e1C~que estãu empenhauo,;


ciais (' 1"dítios dos paíscs sub- !lOS programas de assistência
desenvolvido;;. COlll respeito à técnica" (22).
assistência tél'1lica para o 111elho-
r:1111('l1to da administração púhli E - Administração pública
(':1, de\'elllos levar scmpre eu e economia
conta a diyersidade de pessoas E.
circul1stàllcias, assim como o fa- I),) 1111C ioi dito anteriormente
to de (lue nen1lt1ma nação che- deduz-se que é muito estreita a
gOtl à perfeição nc"ta matéria. lclaçilo C1l! re a administração pú-
Entretantu, apesar de Hão ser hlica c a economia. O sistema
ueres,;t riq rcc()rrr!" 1\ ~~ri(1s des- de pr'Jdllção e distribuição de
yios dils IWn;j;LS ger:d1l1elltc ado- I )Ulc; econômicos l\ sem dúvida,

tadas 1l1;r lilllil administração pú- ill1 dos aSjl~'ctos mais destacados
hlica COlllllct'''lltc, pode haver alll illf1UC1l1 cs em ql1alquer situa-
]lIas yariantes !lOS meios utiliza I ('\\ltural.
(los para l n gr:lf as mencionada"
11on111';;. (i~ problemas de adap-
\< tcorias marxistas vao ao
extremo r!c atribuir-lhe o papel
.
tação ]', ,dc111 ser c\'idelltemente dominan!e. Segundo elas, a na-
(lS mais i1l1portanles ao trans- Lmeza peculiar das relações eco-
plantar li LI aperfeiçoar as insti- nômicas domina a configuração
tuições adll1iuistratiyas. Não sô- i ota1 da cultura. Os aspectos ar-
mente existem diversos :;istema~ ístico::" religiosos, políticos, ju-
de admi11l,;tração pública, senãe I'ídicos da superestrutura social
tambérn c1iferl'1lles formas de im- "ão determinados - em tôdas as
plantar os sistemas administra- suas fases - pelas formas bá-
tivos, a fim de facilitar a tarefa ~icas de atividade econômica. A

(2'2) Comitê Especial sôbre Problemas de Administração Pública,


Sistemas e NOrl)lllS da Arlmi)/i~tração Pública (São José, Costa Rica:
Esc01a Superior de Administração Pública- América Central, 1954) ;
tradução mimeografa(~a do "Special Committee on Public Administra-
tion Problems ", S/cwdrtrr/s aua Techniqul's of P11blic Administratioll
with SJFciri/ Rejc;'e1lce to Tcclmiml Assistance for Underdeveloped
Cauntries (Nova York; N. U., Administração de Assistência Técnica,
1951), pág. 11. Há uma versão em português mimeografada,
da Escola Brasileira de Arlminisira,i'io Pública da Fundação Getúlio
Vargas, Rio de Janeiro.
TEORIA GEI~AL DE ADMINISTRAÇAo PÚBLICA 37

luta de classes é a chavc de todo direitus e as liberdades funda-


o sistema social baseado na eco- mentais ela cultura ocidental, As
nomia capitalista, O govêrno diierenças internas neste campo
não é mais do que o "comitê" referem-se ao maior ou menor
executivo ela classe dominante, grau de participação governa-
Somente uma transformação nas lllental no~ processos econômicos
raízes econômicas -- posse cole- (' as correspondentes limitações
tiva dos meios de produção -- ela iniciativa privada, Os conser-
pode mudar o sistema de viel;l, .. adores ele hoje -- que se con-
Conquanto geralmente não <elera ,'am radicais nu século
aceite essa interpretação eco- XIX -- tém mais confiança na
nômica da hist{lI'Ía, a tradição li- eficiência do mercado livre para
beral-democrática reconhece ~\ (lr;'1iilr as atividades de produ-
importância elas rdaçi"ie.-; eco- l:ii() c rli~trilll1ü:ão mediante os
nômicas, E' certo Cjue a doutrina ajustes da procura e ela oferta,

. l;beral difere irreconciliit\'cl11lcn-


te elos processos marxistas, Í!.s-
refletidos no índice dos preços,
()s reiorlllistas assinalam as im-
!rs postulam () colapso inc\'i([\vel Feriei(;ões c1e tal sistema e pro-
do capitalismo. cuITllimlll(]() In prclll fjllC () g()n:']TJ(l as corrija,
rcvolllc;ão e ditadura do proleta- atll:l11d" U):110 orientador da ecú-
riaclo, ('0111Ci <:1:lpélS de transi('t<J :l(lillia por meio ele cuntrôles, ill-
<:1l1 que a rl'forma cé:onômica 11:'l cellti';os (' l'11lprésas próprias
de impor-se, com sacrifício de :\ Ias alJl];a.i as correntes, dentr(o
tudo (lUantll se lhe anteponha, d,) selor lÍc;uucr"ltiClJ, atribuem
Segundo êles, êste processo COJl- ;to gOV('l'll() a l1li;-;siío ele fomen-
lÍuzirú, finalmente, à verdadeira t;! r a l'roc1l1Çfto c tornar mais
democracia, sem divisão de clas- l'\[uitativa a distribuição da ri-
ses, nem sistema político basea- queza coleti\'a, () desacôrcto, que
do na coação, l11iás vai aos poucos diminuindo,
Do outro lado, no setor demo- cifra-se na questão ele grau,
{Tático, as correntes mais con- Êsse dehate constitui o dilema
servadoras tanto quanto as mais ct'ntral de nos:;a época, Em ou-
reformistas der enclem a tese da tros cadernos anali'iare1l1os a sua
11ludança legal e paci iica dentro sl1bst,'l1lcia, Por agora nos limi-
do sistema cle govêrllo represell- t;\I11US a utilizar a luz que projeta
tatiYIl, salvaguarclallrlo assim uS "úlJl'c a ad \'crtência ele Cjt1e a ad-
38 CADERNO;:; r;E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Illillistraçâu pública e a econCJlllia poderes legislatiyo e executivo


são manifestações complementa- para êstes propósitos? Que es-
res ela cultura, em íntima e cons- pécie cle investigações e decisões
tante interaç;io. scrú necess[lria? Como se há de
Em oj)o,iç;"to ,'L tl'~e lIlarxista, preparar () p:,ssoal para essas
a doutrina dell10crútica postula tarefas?
Cjue o grl\":'rno controlado pelo Em qualquer local e época, a
povo p ,de 1ransfortnar a eco- eiicácia na administração pú-
nomia num pnKeSHJ ele evolução hlica é uma determinante para
rUlllU a [()ruJas mais eficientes e solução dos problemas econômi-
equitati\·a o• l\ilO admite a subor- cos. Senão vejamos: nos países
(lillação inexorúnl da política que necessitam de considerável
;\Os intcrl'ises de uma classe elo- melhoramento na sua eficiência
1l1in:lntc. An: has as ideologias econômica, é sempre dramática e
reconhecem, porém, a interde- às vêzes trágica a significação C\O
pendência da economia e (la polí- elemento administrativo. "Cma
tica. vez após outra, a experiência re- ..
No que se refere ao poder pete a lição cle que é impossível
executivo do govêrno, teremos de realizar reformas econômicas
estudar, nos próximos cadernos, sem o apoio de práticas aelc-
questões do seguinte tipo: Como (Iuadas de govêrno. Quando se
eleve o poder executivo orga- ignora esta relação, os remédios
nizar ~uas funções e metodizar se tornam efêmeros e, ~LS vêzes.
seus trabalhos para regulamen- contraproducentes. O desper-
tar, orientar. complementar e dício pode atingir proporções
influir por outros meios nas ati- muito grandes.
vidades econômicas? Como deve Em relação a essas afirmati-
levar a cabo o planejamento vas, é sumamente instrutivo ver
econômico? Qual deve ser o grau a coincidência dos critérios que
cle centralização destas funções? dois grupos de técnicos, conhe-
Sob que forma conseguirá a co- cedores dos prohlemas ele coope-
onlenaçào necessária? Quais são ração internacional para a assis-
os problemas elas entidades au- tência técnica, externaram recen-
tônomas do govêrno? Que rela- temente. Reuniram-se, em dife-
ções deH'm prevalecer entre os rentes ocasiões, soh os auspício,
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇ.\O PÚBLICA 39

llelS :',aç(jes Gllidas, 11111 grupo cle políticos e sociais. Todos os pro-
economistas e outro de adminis- blemas de desenvolvimento eco-
tradores públicos, procedentes de nômico podem ser solucionados
t'l,-cCS::lS partes do mundo, com o quando a liderança política e a
1'1Opé"ito de traçar normas para vontade pública são fôrças van-
a condução dos programas inter- gltardeiras. .. (24).
nacionais destinados a promover "A evolução econômica depen-
o des':nvoh'imcnto dos países derá em larga medida de que o
sll!)dcs(,1l'l'oh·idus. g-ovêrno se conduza com acêrto
CJs economistas, ao assinalar na legislação e na administração,
a.-; hases indispensáveis para o tanto no que diz respeito ao
progresso econômico, assim se setor público como no priva-
expressaram: do ...
"Não haverá progresso eco- "Honradez e eficiência - eis
nômico se o ambiente não fôr a condição básica de todo go-
píOpício. Será necessário que o vêrno ... " (25).
povo deseje êsse progresso e que Os técnicos de administração
as instituições sociais, econômi- pública começaram o seu rela-
cas, políticas e legais favoreçam tório com estas palavras:
tal propósito ... (23). "Ao realizar o presente estu-
"~20 ]Jode haver progresso elo, a Comissão partiu da hipó-
econômico rápido a não ser que tese cle que em todo país, por
os bleres do país, ele todos os muito antigo ou novo que seja,
níveis, - os políticos, professô- quer se encontre numa fase
r?s, engenheiros. administrado- avançada cle evolução ou, ao con-
res de nogócios. operários, sa- trário, esteja subdesenvolvido.
cerc\otes. jornalistas - , desejem qualquer programa de fomento
tal me1horam;ento econômico e econômico ou fiscal, para me-
estejam dispostos a pagar o seu lhorar as condições educativas,
preço - a criação de uma socie- sanitárias, sociais e de trabalho,
Jade sem privilégios econômicos, ou realizar reformas e reorga-
(i..'cl) Mcasnrc3 for the Economic DevclopmeJ1t of Ullderde1!elopcd
Coun{rics (Nova York: N.· U., Dé'purtumento de A,,~untos I<~ronômicos,
1%1), pág. 13.
(24) Ibid., pág. 16.
(25) Ibid., pág. 17.
CADERNOS DE ADMINISTRAÇAo PÚBLICA

nizar qualquer dos sen-iços pú- lllillistr~lti\'as de G:ráter interno


blicos, só pode alcançar bons que, pro"àvelmente, dêem origem
resultados se se apóia numa ou estimulem tanto o desenvol-
organização administrativa cujos yimento econômico em esferas
métodos estejam inspirados em especiais, C01110 os planos gOl'er-
princípios corrC'tos, CJue se adap- namentais ele progresso social
tem à situação c1êsse país. Cjue contribuirão para qne todos
"No que respeita aos países os habitantes empreendam as ta-
subdesem'ol\'idos a Comissão refas árduas que se lhes depa-
considera que esta suposlçao rarem no futuro. Por definição,
chegue a ter unn validade que êste é o papel da administração
supere a simpl:,s hipótese. Os pública" (26).
pro j etos de assistência técnica Há países em que a adminis-
já empreendidos pelas Nações tração pública é, efetivamente,
Unidas demonstram sempre que, UI11 instrumento de exploração
virtualmente, em tôda iniciativa nas mãos da classe dominante.
para resolver problDmas técnicos O poder econômico, excessiva- •
e econômicos. existem numero- mente concentrado por falta de
sas necessidades de caráter ad- eqüidade na distribuição da ri-
ministrativo referentes à or\!ani- queza, domina os fenômenos po-
zação, pessoal, orçamento, plane- líticos. Nega-se o direito c1e
jamento e métodos. Ainda mais, votar a numerosos grupos da
110S sucessivos projetos de assis- população; a dependência eco-
tência témica, quer seiam de na- nômica impõe a lealdade política:
tureza agrícola, industrial, mi- é freqüente a compra do voto,
neira, quer ohjetivem o forneci- pratica-se o subôrno por diver-
mento de ctlcqôa, descobriu-se sos meios e as várias formas
que pr>' mente se deve satis- de corrução minam o govêrno.
jazer à necessidade ele insHuir i\ estas condições, qualquer es-
cOlllllnicaçcJes e servicos públicos fôrço para melhorar o p<.lder
dacl1Jeles que e1l1 geral são C011- executivo terá ele reconhecer ()
"irlerados como fUI1\ôes do Es- dado básico do contrôle econ(J-
tado, assim CO!1l0 medidas ad- mico. A reforma dêste setor rc-
(SG) Comitê ES1JeciH! sôol'e Pl'ob!emas de Adrnini.'( la,;itn l'.·I},' i,;l,
tipo cit., pág.·1da publlcaçi:!O oficial em inglês.
TEORIA GERAI; DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 41

sulta, em alguns casos, simples- da nqueza, a inércia da InICIa-


mente impossível. Como estabe- tiva privada, a irracional idade
lecer, nestas circunstâncias, um dos participantes e outras. Exis-
sistema racional de planejamento, tem situações de fato em que o
orçamento ou ad1llinistração fi- govêrno pouca influência exerce
nanceira? As mudanças especí- dentro da dinâmica econômica.
ficas, que se fizerem dentro das Em momentos de intensa ativi-
limitações apontaclas, podem ser- dade privada e govêrno débil, as
vir para aumentar a injustiça. formas de organização, os mé-
Todavia, é certo que, em mo- todos de trabalho e até as ati-
mentos de transição, o aumento tudes dos administradores pú-
da eficiência governamental pode blicos estarão condicionados por
converter-se em fator decisivo êste papel de passividade e im-
para transformar o status quo. potência. Então os processos
Se tomamos como exemplo do planejamento coordenado não
outras situações SOCIaIS, será serão considerados necessários,
mais fácil esclarecer a influ- não haverá autoridade para arre-
ência das condições econômicas cadar receitas suficientes, não
nas formas e processos da admi- haverá justificaç~lO para maiores
nistração pública. gastos públicos, não haverá en-
O laisscz-faire supõe que a tt1siasmo pelo govêrno, nem se
produção e distribuição de bens cultivará a st1a eficiência.
serão dirigidas pelo mercado Per contra, 'lllando um go-
livre, pelas fôrças da oferta e vêrno se dedica à orientação dos
da procura, pela concorrência. fenômenos econômicos, a admi-
Por isso, a intervenção do go- nistração pública deverá ser efi-
vêrno deve reduzir-se ao mínimo ciente e enérgica e estar organi-
indispensável. Mas, como já dis- zada segundo os princípios mais
semos antes, mesmo os defen- consentâneos a tal propósito.
sores desta teoria já admitem Isso é certo tanto no caso da
hoje a necessidade de partici- economia dirigida dos países
pação governamental bastante comunistas e de socialismo de-
intensa para corrigir as imper- mocrático, como nos de sistemas
feições da livre concorrência - de mercado livre, em que a par-
as práticas monopolísticas, a ticipação governamental seia li-
falta de eqüidade na distribuição mitada, porém positiva. Mesmo
2'1'
42 CADE!tNOS DE ADMINISTRAÇÃO PlJBLICA

l1esta última hipótese, as tarl'- l'úbliG, e prh·ada, ocorre o CU11-


fa5 de regular e complelllentar trário : tradicionalmente tem
as operações privadas para cor- prevalecido o empenho de iden-
rigir as imperfeições ela concor- tificá-Ias. Por isso cabe aqui
rência e tornar mais equitativa um esclarecimento que contra-
a distribuição de bens são suma- balance as tendências de assimi-
mente difíceis e exigem formas lação, levando-as a um equilíbrio
espeCIaIS de organização e mé- justo, onde se reconheça também
todos. a importância das diferenças.
Não há dúvida de que os pro-
F - Administração pública blemas de administração ocor-
e privada rem em todo agrupamento 11U-
mano. Sempre que várias pes-
1\ as seções anteriores dêste soas trabalham juntamente para
Caderno foi mister relacionar a a realização de propósitos co-
administração pública C0111 ou- muns, estarão presentes em sua
tros aspectos do Estado e da conduta questões de planejamen-
cultura, e dêstes aspectos cer- to, organização, direção, pessoal,
tas teorias têm querido distin- métodos, relações de trabalho e
guir aquela com exagerado afã outras da mesma classe. Assim
separatista. Vimos que as dis- acontece na igreja, nas emprê-
tinções referentes ú política, à sas de produção econômica, nos
legislação, ao direito e à admi- sindicatos, nas associações pro-
nistração judiciária não são sus- fissionais, no exérc;to, na família
cetíveis de formulação em têr- e cm Cjualqucr outro tipo de ati-
mos absolutos, já que tôdas vidade coletiva.
estas fases do govêrno se entre- 1\' a soluçiío dêsses prohlenns
laçam em processos cle inter- surgem certos prillcípios de> apli-
ação. Reconhecendo, embora, a cação geral. As normas hásicas
utilidade das classificações, não ele programação, divisão de tra-
podemos permitir que o entu- balho, relações de autoridade,
siasmo analítico exagere as dife- organização de funções e res-
renças e nos leve ;1 i(':110rar as ponsahihlades, orçamDntos, COl1-
semelhanças e relações. tabiliclade, pessoal e outros as-
No qu~ concerne à significa- pectos, são úteis em toclos os
ção recíproca da administração tipos de administração. Entre-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 43

tanto, isto é certo unicamente ~e Vrodução econômÍca, seja dito,


se observam os princípios fun- entretanto, que a tendência do-
damentais apenas como normas minante é no sentido de não se
flexíveis, adaptando-os às pe- reconhecerem as diferenças entre
culiaridades de cada emprêsa. a administração pública e a admi-
As diferentes características de- nistração privada. Por isso a
terminam, em grande parte, as questão torna-se mais interes-
formas particulares de adminis- sante neste ponto.
tração. N as comparações entre a ad-
É óbvio que a divisão de tra- ministração pública e a comer-
balho, as relações de autoridade ciaI, geralmente se tomam certas
e os demais aspectos adminis- atividades específicas de uma e
trativos de uma família são ma- outra por pontos de referência,
nifestações especiais da "razão omitindo-se as características es-
de ser" desta instituição social. senciais de cada uma.
N o seio da família a divisão do Afirma-se, por exemplo, que
trabalho e as linhas de autori- não ocorre mudança alguma sig-
dade não se pautam, por exem- nificativa, quando o govêrno
plo, pelos critérios de eficiência toma em suas mãos a posse e
para a obtenção de lucro, os quais administração de uma emprêsa
regem as emprêsas comerciais. comercial - um sistema de
Assim também, a administração ferrovias, por exemplo. Diz-se,
militar, em contraste com a do também, que certas técnicas,
govêrno civil, tem de ser mais C01110 a estatística, são iguais
autoritária. Transferir desta
dentro e fora elo govêrno. Che-
para aquela os mesmos valores
ga-se, por estas e outras compa-
e métodos democráticos condu-
ziria ao desastre. rações c1e fases específicas, à
Poderíamos assinalar múlti- conclusão ele (lue são mais im-
plas variações nos numerosos portantes as analogias do que as
negócios administrativos das di- diferenças entre as organizações
versas instituições, porém não é públicas e privadas (27). -
necessário provar o óbvio. No Vejamos, porém, quais são as
que se refere às emprêsas de características fundamentais que
(27) Veja-se, como exemplo, SIMON, op. cit., págs. 8-12.
44 CADERNOS Im AlJl\1INI0TRA(,'I\ü j'ÚBLICA

dito pcr~)Jcdi \'a às cOl11jlarações (lente mente de suas imperfeições


mais particularizadas. práticas.
Em primeiro lugar, o govêrno ;-J o presente contexto U l111e
existe para servir aos interêsses importa é advertir como essa
gerais eb sucieclacle, ao lJasso que caracterização do govêrno impõe
uma emprêsa comercial serve aos peculiaridades à sua administra-
interêsses de n111 indivíduo ou ção. É-nos fácil enumerar algu-
de um grupo. mas conseqüências:
Em segundo lugar, entre tôdas 1) A tarefa governamental é
as instituições o govêrno é aquela ellorme, complexa, difícil. A en-
que detém a antoriclaele política vergadura das operações, a mul-
snprema. tiplicidade dos propósitos e a
Em terceiro, a autoridade do complexidade dos programas de-
govêrno é sancionada pelo mo- mandam formas especiais de ad-
nopólio da violência. ministração.
Em quarto, a responsabilidade 2) Em face ela universali-
do govénj() dCI'c corresponder à dade e soberania do govêrno,
natureza c ;\ dimensã() de S"\1 pressupõe-se que a êste caiba
poder. "esolver os conflitos de inte-
Não se pode ignorar que estas résses particulares, a fim de
características fundamentais apa- alcançar o máximo possível de
recem muitu menos pnras na rea- hem-estar geral. Para o desem-
lidade elo q11e em sua descrição penho desta fun,ão, há requisi-
teórica. Há governos que não tos de imparcialidacle e eqüidade,
afetam ele maneira signiiicativa que condicionam o comporta-
a vida ela sociedade, que estão mento administrativo distinguin-
subordinados ao pocler de gru- do-o do das emprésas particula-
res. São evidentes as manifes-
pos particubres, que não podem
la,ões dêste traço característico.
executar cabalmente seus man- 3) O govêrno é responsável
datos, ou que, em vez de senir perante o povo. Suas ações es-
aos interêsses gerais do povo. tão constantemente expostas à
são instrumentos para explorá- publicidade e à crítica. As opi-
lo. Note-se, porém, que estamos niões dessa autoridade - o povo
tratando aqui das características - são muito diversas e variá-
essenciais elo govêrno, indepen- veis. Qualquer assunto pode
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 45

converter-se em ingrediente ex- on;amentos equilibrados ~,


::'.CUS
plosivo para a opinião pública. eis UI11 equÍvoco muito comul11.
~ão padece dúvida que a admi- .\ menos que o govêrno seja um
lJistração governamental tem de negócio dos governantes, sua
se adaptar a tais exigências com eficiência deve ser jt1lgada sem-
maior apêgo que a particular. pre :'t luz ele sua contribuição
~ um sistema democrático, o ca- para a satisiação elas necessida-
ráter representativo de govêrno des e dos ideais do povo.
acentua esta peculiaridade. Relativamente aos serviços
4) Os governantes, desde os tradicionais, C0l110 aos de edu-
mais altos na hierarquia até os cação, saúde e segurança, êsse
de nível inferior, representam ponto não é tão discutível quanto
11m poder imenso de coação, em o que se refere às novas funções
face do qual se requerem pro- governamentais ele orientar os
teções especiais. As ações das processos econômicos. Quando

, autoridades púhlicas devem ser


controladas pela supervisão de
seus colegas, do povo e, sobre-
o go\'r1'll0 administra organiza-
\ões de tipo comercial, a conta-
hilidade de lucro:; c perdas é
tndo, pelo seu próprio senso de útil para determinar a eficiência
responsabilidade. Isto pressupõc interna de tais emprêsas. Mas
métodos, atitudes e formas de isto é apenas um aspecto. pois
organização especiais, que limi- o que ill1jXlrta em última ins-
tem a autoridade e e"itcm t ância é o benefício social.
ahlsos. A importância prática ele tal
5) A eficiência ele uma enti- princípio confirma-se continua-
dade governamental não deve mente nos países em que haja
medir-se pelo aumento de suas programas ele desenvolvimento
receitas ou pela redução de seus econômico intenso. Em face das
gastos, senão pela qualidade e operaGões das emprêsas gover-
intensidade com que realize os namentais ele produ\ão econô·
propósitos públicos. Julgar-se o mica, a opinião pública protesta
govêrno em têrmo de lucros e quando a contahilidade interna
1lerdas, C0l110 se fôsse uma não reyeb 1l1cros. Os aclminis-
elllprêsa comercial ~ com o em- tI'adores, por sua YCZ, insistem
penho ele qlle gaste pouco, não 11a mesma tecla. Jliio ~,') p:1]'a sa-
incorra em dívidas e mantenha tisfazfr as exigências do púhlico,
46 CA:DERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

senão também o seu próprio or- para correr o risco de aurir no-
gulho profissional. Conseqüên- vos caminhos de produção; que,
cia: os políticos acabam por ver em certos casos, se aumentam os
com certo temor qualquer pro- gastos para prestar serviços ne-
jeto dêstes. Desvirtua-se, des- cessários à sociedade; ou que se
ta sorte, o propósito principal reduzam os preços em uenefício
da participação governamental cle outros propósitos similares de
nos processos econômicos, que conveniência geral (28).
é o de estimular a eficiência do Sem entrar em pormenores que
sistema cconômico, considerado aqui não cabem, vemos a neces-
globalmcnte, para melhorar as sidade de formas administrativas
condições de vida do povo. e~peciais. Todo o problema -
Dêste ponto de vista, a efici- autonomia verslIs contrôle polí-
ência interna de cada unidade tico - , nas corporações públicas
produtiva assume caráter secun- (também chamadas "entidades
dário. A atividade governamen- autônomas" ou "autárquicas")
tal dêste tipo surRe precisamente prende-se ao fato básico de que
para preencher os claros que no o govêrno é diferente. São inú-
sistema econ(Jmico deixam as meras as complicações que difi-
emvrêsas orientadas pelo prin- cultam nessas entidades o esfôrço
cípio da eficiência interna. Isso por harmonizar o princípio da
justifica que, na iniciativa gover- eficiência interna com o ela uti-
namental. haia maior disposição li(lade social.

(28) Pouemos dar aqui alguns exemplos concretos: prejuízos no


período inicial de funcionamento de novas indústrias administradas
pelo govêrno; redução dos lucros percebidos por determinado mono~
"

.
pó1io de transporte, com o fim de baixar os preços; idem, para esta-
belecimentos comerciais destinados à venda de alimentos; utilização
de um monopólio de energia elétrica para expansão dos respectivos
~erviços, mediante a redução correspondente de lucros, etc. "Puerto
Rico, A Stndy in Dell10cratic Development, The Annals af the Amc-
rican Acadf'my 01 Political and Social Science (janeiro, 1953), espe-
cialmente o artigo de TEODORO Moscnso, "T ndnstrinl Dl'velopment in
Pnerto Eir",", pág~. 60cr,Çl.
II - A SISTEMATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
PúBLICA

A - Antecedentes que inclui a Igreja Católica


Romana, o Estado europeu mo-
?\ o que concer11e aos proces- derno e as emprêsas capitalistas
sos administrativos do govêrno, (30). Define "Q caráter essen-
a sistematização da teoria e da cial de uma autoridade burocrá-
prática não é U111 desenvolvi- tica ou magistratura" - que" se
mento recente, como supõem al- tem desenvolvido completamen-
guns. Desele priscas eras da his- te. .. só com a aparição do Es-
~ tória da humanidade, reconhe-
! tado Moderno... e as formas
ceu-se a importância de ordenar avançadas do capitalismo" - na
racionalmente as atividades go- forma seguinte:
yernamentais dêsse tipo. "a) rege o princípio das atri-
MAX \VEBER, o grande soció- buições oficiais fixas, ordena-
logo alemão, demonstra que na das ... Existe uma firme clistri-
antiguidade houve exemplos de buição das atividades metódicas
um "Lurocratismo até certo pon- - consideradas como deveres
to claramente desenvolvido ... o oficiais - necessárias para cum-
Egito na época do Império N 0- prir os fins da organização bu-
\"0 . . . e o Principado romano ... rocrútica; li) os poderes de man-
especialmente a monarquia dio- cio IJecessários para o cumpri-
cl~cianét e o Estado bizantino ba- mento dêstes deveres se encon-
~ieac1o nela" (29). Classifica ésscs tram igualmente determinados de
f'xemplos 110 mesmo grupo flll modo fixo, estando bem delimi-

(29) MAX WEBER, Economía y Sociedad (México): Fundo de Cul-


tura Econômica, 1944), IV, pág. 93.
(:;0) Ibid.
48 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tados por normas os meios coati- !lO século XYI, XVll e


listas
vos que lhes são atribuídos ... ; XVIII é muito significativo.
c) para o cumprimento regular :e.ste grupo de professôres e ad-
e contínuo dos poderes assim ministradores constitui a primei-
distribuídos e para o eX'êrcício ra escola no desenvolvimento
dos direitos correspondentes, to- moderno da administração pú-
mam-se as medidas necessárias blica. Seus principais represen-
com o objetivo de nomear pes- tantes foram GEORG ZINCKE e
soas com aptidões bem determi- JOHANN VON JUST!.
nadas" (31). O movimento teve como fundo
ALBERT LEPAWSKY, professor histórico o apogeu da adminis-
conté'I1lporâneo de administração tração pública da Prússia, no sé-
pública, aprescnt<l em seu livro culo XVIII. Lá e então, em
Ad111Ínistration excelentes pro- um regime cle militarismo e cen-
Y<lS para clestrnir a tese de que tralização, floresceu também a
o surgimento desta disciplina eficiência administrativa, caracte-
ocorreu no século XIX. Seus ar- rizando-se pelo melhoramento
gumentos nada mais são do que considerável da capacidade e ho-
declarações cle funcionários egíp- nestidade dos funcionários públi-
cios, de Confúcio, de Pérides. de cos; a sistematização das funções
Sócrntes, de Cícero e de outras e as demais condições de traba-
grandes personalidades históri- lho; a regulamentação dos mé-
cas, arompanhac1as por comentá- todos para selecionar os funcio-
rios de investigadores eminen- nários, incluindo requisitos de
tes (32). educação especializada e exames;
S",gundo ohserva o citado e a profissionalização do serviço
\VERER, a racionali,cação da ad- público, que se manifestou por
ministração púhlica desenvolve- meio do estabelecimento de cur-
se plenamente deDois do advento sos universitários sôbre canwra-
do Estado M oelerno e da eco- lismo, é dizer, administração e
nomia capitalista. Nessa ordem economia com base na educação
de idéias '0 trabalho dos camera- geral (33).
(31) lb id.. pág. 85.
(32) op. cit., capítulo IV.
LF'PAWSKY,
(33) H8RMAN FINER. Theo'ry and Prartice oi Model'lI Gove)'J/-
mellt (Nova York: Holt, 1949), págs. 724-734.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 49

C\RL J. FRIEDRICH, em seu tentemos traçar aqui a trajetória


magnífico livro Teoria e Reali- histórica da administração pú-
dade da Organização Constitu- blica. Pareceu-nos, porém, ne-
cional Democrática, refuta a no- cessúrio apresentar êstes antece-
ção freqüentemente aceita de que dentes de sistematização teórica
a administração pública moderna e prática para demonstrar o equí-
se haja originado no continonte voco daqueles que situam esta
europeu. Baseanclo-se em T. F. disciplina exclusivamente nos sé-
TOCT (34) e outros autores, culos XIX e XX.
~ustenta insistentemente que a Além da inexatidão histórica,
Tnglaterra começou a metodizar o êrro prejudica muito as possi-
os processos executivos muito bilidades de progresso neste cam-
antes da Prússia. Assinala que po, porque nos conduz a renun-
nos séculos XII, XIII e XIV, os ciar a um caudal valioso de in-
inglêses desenvolveram institui- terpretações que se vêm enrique-
ções centrais de supervisão e cendo através dos séculos. Já
contrôle, tais como: o conselho advertimos que a profissão da
real, o erário, a chancelaria e ou- administração pública perde mui-
tras; um sistema de arquivos e to quando não se beneficia dos
registros; a diferenciação de fun- ensinamentos legados pela tra-
ções; a regulamentação dos re- dição ela ciência política e da ju-
quisitos para ingresso nos car- risprudência. Agora vemos que
gos públicos; e certo grau de a mesma advertência serve para
profissionalização (35). indicar, nos processos executivos
As limitações de espaço, im- ele épocas passadas, anteceden-
postas pelo propósito pedagógico tes e analogias cle grande utili-
dêste Caderno, não permitem que dade.

(34) THOMAS F. Tom', Chap.'el"s in AJmillistrative History 01


Medieval Ellgland (6 vo1s., Manche~,ter: Manchester University Press,
1920-1933) .
(35) CARL J. FRIEDRICH, Tcol'Ía y Realidad de In Oi"gnnización
Constitucional Democl'ática (México): Fundo de Cultura Econômica,
~ 946); tradução espanhola de Constitutional Government and Demo-
C1'tCy (Boston: Little Brown & Co., 1941), págs. 44-47. Há uma edição
ing'êsa revista, com o me~,mo título. publi('aoa em 1 !l50 pela Editôra
Gim. & Co.
50 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃU t'Ú.l:SLICA lO

A ê.óse respeito, é absurda a nar muito sôLre os problemas


pretensão de buscar em situações administrativos de hoje.
culturais distintas, de etapas an-
t('riores, as características de um B - O fundo histórico dos
fenômeno que por definição fa- séculos XIX e XX
zemos exclusivamente contempo-
ràneo. As peculiaridades cultu- Devemos reconhecer a signi-
rais da polis grega, do império ficação das épocas anteriores
romano, do feudalismo medieval, para assim estabelecer uma pers-
ou de qualquer outra situação pectiva histórica melhor. E' in-
histórica, são significativas para discutível, porém, que a partir
os nossos problemas se, em vez do último têrço do século XIX,
a sistematização da administra-
de nos impormos categorias
ção pública entrou em fase de
atuais, analisamos essas expe-
desenvolvimento sem preceden-
riências passadas com objetivi-
tes. Poder-se-ia dizer que é prin-
(la de, para aproveitar tanto a im- cipalmente um produto do sé-
portància das diferenças como culo XX.
das semelhanças. As transformações radicais da
Reconheça-se, por exemplo, cultura ocidental no século XIX
que naquelas formas de cultura são as causas primárias do auge
não existia, como existe hoje, a alcançado pela sistematização da
diferenciação das funções gover- administração pública. Para o
namentais em legislativas, exe- nosso propósito de síntese, po-
cutivas e judiciais. Reconheça- deríamos grupar essas mudanças
se, também. que a administração fundamentais em quatro catego-
judicial, sistematizada desde a rias: o apog-eu da ciência, a re-
antiguidade, apresenta analogias volução industrial, a revolução
l1luito instrutivas para a admi- democrática e a revolução socia--
nistração contemporânea de tipo lista.
executivo. Atente-se ainda no O ê'xito das ciências naturais,
fato de que a ordenação dos pro- tanto nos aspectos analíticos.
cessos políticos tem sido sempre como nas aplicações tecnológicas.
rle significação fundamental para granjeia para o método cientí-
a administração pública, pelo fico, nesse momento, um prestí-
(Ju(, a hi,tória 11(), po(lf ensi- gio qne dnmin<1 <1 irlenlogia d<1
TI<.:Ul\IA. liERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 51

época, penetrando todos os cam- guns casos, até para converter


pos do conhecimento e da prá- as interpretações descritivas em
tica. ~ os estudos sociais, a ati- fórmulas de validade normativa.
tude cielltificista triunfa sôbre a A sistematização da adminis-
escola do direito natural, que pre- tração pública no século XX está
valecia no século XVIII, e im- ill1pregnada pela influência avas-
põe o método po;;itivo de ob- salaelora das ciências naturais.
servação, illdução e experi- ::\1 ais adiante veremos as conse-
mentação ..\ formulação a priori quenClas metodológicas dêste
de normas ideais para reger a fato.
conduta humana em sociedade é A revulução industrial, indis-
deslocada. gradualmente, pela ~()li1\·ell11ente ligada ao apogeu
nova tenckllcia, que busca a exa- das ciências naturais, tem signi-
tidão do conhecimento dos fato~ ficação especial para o nosso te-
e dêles cleriva generalizações des- ma. O progresso tecnológico e
critivas. as novas formas cle organizar o
A mutação ll1~toclológica ocor- trabalho para a produção em
re na ciência política e no direi- massa geram a formidável caudal
to, assim c()mo nas demais ciên- de técnicas administrativas que
cias sociais. Diante cio avanço caracteriza o capitalismo. Nunca
do cientificismo, a decadência do antes se haviam deparado pro-
iusnaturalis1IIo culmina com a blemas tão complexos à organi-
Escola Utilitarista, na primeira zação do esfôrço comum dos ho-
metade do século XIX. BEN- mens.
THAM e os 1\1ILL reformaram a Ao desatar-se, a enorme fôrça
teoria política e JOHN AUSTIN, criadora do capitalismo chega a
a teoria do direito. Fundamen- penetrar nas atividades do govêr-
talmente, é a m~sma corrente de no. Daí encontrar-se a adtninis-
pensamento que produz a eco- tração púhlica tão dominada por
nomia clássica e o positivismo analogias com a administração
~ociológico. Em todos os setores particular. .Além dessa influência
prevalece a atitude científica o direta, ressalta n fato de que a
empenho ele analisar a realid~de revolução industrial e o desen-
tal como é, para descobrir rela- volvimento do capitalismo, com
ções de causa e efeito, para predi- seus múltiplos efeitos sôbre as
2t"r os arontt"cimt"ntos c, ('m al- rebc:ões so,iais, gt"ram para o
52 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO p(TYLIGA

govêrno contemp0r:lneo proble- tendendo sua influência por todo


mas de magnitude e complexi- () mundo.
dade insólitas. Ainda que alguns pretendam
A revolução democrática é ou- desvincular a administração pú-
tro grande acontecimento dos úl- hlica da política - segundo vi-
timos dois séculos. a qual orienta 1110S no capítulo anterior - não
a trajetória atual da administra- se pode negar que, tanto na prá-
c;ão pública. tica como na teoria, as premis-
Apesar de ser a democracia sas liberal-democráticas condicio-
moderna uma evolução do li- nam a administração pública nos
beralismo dos séculos XVII e países onde prevalece tal sistema
XVIII, e de que suas raízes se de organização político-social.
estendem até à antiguidade. a A revolução socialista do sé-
elahoração das práticas demo- culo XIX é, em certos sentidos,
cráticas e a extensão de sua in- uma projeção das tradições libe-
fluência pertencem aos séculos ral-democráticas. Seus postula-
XIX e XX. E' certo que as re- dos de maior equidade na fun-
yoluções da França e Estados ção do patrimônio coletivo estão
Vnidos marcam, no final do sé- essencialmente baseados no res-
culo XVI lI, a culminação da peito à dignidade do ser humano,
corrente liberal, empenhada em considerado C01110 indivíduo, e na
assegurar a liberdade dos súdi- democratização do contrôle po-
j os mediante a fixação de limi- lítico. A melhor prova desta re-
;('s para a autoridade do govêrno. lação encontra-se na marcha dos
)J este sentido, êsses dois gran- governos democráticos rumo a
des acontecimentos históricos se novas formas de orientar os pro-
cristalizam nos séculos XVII e cessos econômicos e SOCIaIS, a
XVIII. Mas, ao mesmo tempo fim de oferecer às respectivas co-
iniciam nova etapa na evolução munidades condições mais justas
da filosofia social, orientada pela de vida.
aspiração de estabelecer o con- As possibilidades cle incompa-
trôle do povo sôbre o govêrno. tibilidade entre esta tendência
E no que respeita ao desenvol- socialista e os ideais de liberalis-
vimento prático dêste ideal de- 1110 e democracia constituem para
mocrático, a tarefa foi levada a tais países a interrogação mais
('feito dnrante o século XTX. es- :lI1g11st;osa do momento; e o so-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

cialismo marxista, C01110 alterna- capitalislllo illllustrializado, a re-


tiva desafiante de organização volução democrática e a revolu-
social. mantém o dramatismo da cão socialista - são as chaves
grande questão. Não cabe aqui (lue o observador há de utilizar
analisar o dilema de nosso tem- para compreender o curso atual
po, senão advertir que os pro- elas interpretações sôhre a admi-
blemas da administração pública nistração pública.
estão hoje envoltos, inevitàvel-
mente, neste conflito da época. c- As tendências atuais
"\0 lado dos outros traços fun-
(lamentais dos últimos dois sé- Como disciplina sistemática, a
culos, comentados nesta seção, a administração pública. é muito
advertência pode servir-nos, ape- jovem e ainda não tem em sua
sar de sua brevidade, para re- tradição escolas bem definidas.
cordar () fundo histórico em que C0111 caracteríticas constantes.
se desenvolvem atualmente os Se\! estaclo pre~ente é de fluidez.
problemas ela administração pú- Individualmente, os protagonis-
hlica. A perspectiva histórica é tas trocam com freqüência suas
especialmente necessária para posições e às vêzes suas teoria:;
identificar as premissas políticas incluem contradições metoclol(l-
elas teorias e práticas administra- gicas. A mesma incerteza mani-
tivas, que serão ohjeto de nosso resta-se na ativírlade coletiva dos
estudo." As idéias ~ experiências grupos e das instituiçõe,:.
fIe outros países devem julgar-se Tais condições derivam, (111
;l luz das tradições a que perten- geral. da complexidade elos
ce111. Em qualquer tentativa de problemas e jm'entllcle ela maté-
transferir 110rmas e técnicas a ria. E' pref crível a rl isposição
novos ambientes, será imlispen- para reexami11ar constant~ll1ente
sável êste cuidado. as hipóteses. A ê."se respeito, ()
Em resumo, estas fôrças dire- livro ele LEOXARD D. \VHITE.
toras do pensamento e da ação Tntraductir)}! to Ilze Stud'l' af
que caracterizam os séculos XIX ]Jublic /ldlllillislralia!l (.~ó),
e XX - o apogeu da ciência, o cnnstitui Ulll mnrlêlo ebssico.

(36) Publicado p01" Macmillan Co., Nova York.


51

;)uas tr0" cdiçúcs, de 1()2(1, I 'I3() prlllcijJai:, cntenus, CUlll o único


e 1950, ~hsorvna1l1 o progresso propósito de ir a(lquirindo cons-
oTadl1allllcnte ocorrido !lU campo ciência metodológica para a aná-
~rofissiollal. Aquilo c]ue no curso lise elos processos adll1inistrati-
dessa ohra é ecleticismo admirá- \'OS ell1 ()utr()s cadernos desta
\'('I e ausência de apaixonamen- série.
to, elll Illuitos casos serviu tam-
hém para propiciar colaborações 1. O critério jurídico
frutíferas e evolução progres- L
T

dos primeirns passos lIO


l11
sista. t,:;tuclo dos jlroces~os aclministra-
E' certu que em algumas oca- ti\'()s do govêrno foi a all{tlise dc.
siões a yacilação metodológica "CUS aspectos jnríclieos. A atell-
deriva ela preS9, descuielo e (';l(j dos jnristas recOll!wcell ime-
superficialidade. E' certo tam- diatan1l'Ilte a importância do ra-
hém que já é hora de pedir que 1110 excnítil'n do go\,('rno e pre(J-
se proceda COl11 rigor maior. Por \'tlpClll-Se C0111 estudar Sllas hases
outro lado, a existência ele divi- legais. Foi ~liraída pelos proces-
~ão prematura em escolas rigi- ~()s judiciais (' quase-judiciais ela
damente definidas. C01110 acon- <ld111illi s tr;u,:iio pública. ~a situa-
tece em outras disciplinas, COI1S- cão contemporânea, datam cios
t itui Ullla vantagem. Seria fatal fins elo século XIX os acirra-
a propensão a fixar as lealdades cios (lehates sôbre a justiça admi-
metodológicas antes do tempo, lIistra/h'a c o papel ela adminis-
con vertendo-as em pressupostos tração !lOS processos jlleliciai".
inquestionáveis, que impeçam a Já explicamos no capítulo an-
colaboração entre os distintos terior os pontos principais das
grupos e dificultem o progresso relal:õe,; elltre o direito e a aclmi-
ria matéria. !listra<;iio pública (37). Foi ne-
Em atenção a estas advertên- ccssú rio destacar nessa explica-
cias preliminares, não tentare- ,fio a 11tilidade do critério jurí-
HIOS desta feita uma classificação dico e advertir contra seus peri-
de escolas: limitar-nos-emos a gos, no que se refere ao estudo
iclentificar as tendGncias e os dos prnc('s~os administratil·os.

(37) Supra, págs. 23-34.


TEORIA GERAL DE ADMINISTRA(ÃO PÚBLICA 55

l\gura cUlllpre apenas resumir u quando se interessa não só pelas


que se tem dito e tanto quanto regras legais, como também pelos
seja necessário para a identifi- processos de criação e aplicação
cação desta posição metodoló- do direito. Então julga o direito
glca. positivo em têrmos de suas fina-
De acôrdo com a tendência do- lidades e analisa os processos de
,",linante na profissão legal, a apli- legislação e administração. Esta
cação do critério jurídico à ad- concepção leva, inevitàvelmente,
ministração pública limita a aten- a considerar os aspectos históri-
ção CJuase sempre aos preceitos cos, sociológicos, filosóficos e ad-
legais que regem a conduta dos ministrativos de ordem jurídica,
funcionários e aos requisitos for- incluindo o ramo executivo do
mais dos métodos quase-legisla- govêrno. E, conforme aparece
tivos e quase-judiciais. Pelas nas escolas sociológicas e socio-
razões já mencionadas, esta filosóficas da jurisprudência, en-
é uma visão parcial, que exclui cerra ensinamentos muito impor-
os ingredientes essenciais da ad- tantes para a administração pú-
ministração - a ordenação co- blica.
operativa de pessoas mediante o A compreensão das técnicas e
planejamento, organização, edu- dos ideais vigentes na adminis-
cação e direção de sua conduta tração judicial pode revelar ana-
para o cumprimento dos propó- logias muito interessantes. Neste
sitos públicos (38). Se bem que sentido, o critério jurídico já rea-
os atos administrativos do go- lizou notável serviço de aprecia-
vêrno sejam baseados em normas ção, crítica e melhoramento dos
jurídicas, a administração pú- métodos quase-judiciais do po-
blica consiste principalmente em der executivo, demonstrando as
faculdade discricional. vantagens e falhas da jltstiça
O critério jurídico é mais útil administrativa em comparação
para a administração pública com a justiça judicial (39).
(38) Supra, págs. 15 e 25.
(39) JAMES M. LANDIS, El Poder Admini8trativo (Buenos Aires:
Depalma, 1951); tradução espanhola de The Admini8trative Proces8
(New Haven: Yale, 1941); KENNETH C. DAVIS, Administrative Law
(St. Paul: West Publishing Co., 1951), págs. 13-17; ROSCOE POUND,
Admi'lllistrative Law (Pittsburgh: University of Pittsburgh Press,
56

.\ antiga tradição da teoria du nistra,Jiu. Produz a Illentalidade


direito, Ijue remonta às concep- le~alista, Cjue se enreda nas rni-
(:ues cio direito natural dos filóso- lluciosiclades da análise lógica e
ios gre~'os e il sistematização nos truques dos tecnicismos pro-
prútica dos juristas romanos, cessuais e não pode chegar à
oferece ~\ administração pública realização cios propósitos públi-
métodos e interpretações cle in- cos. Por não compreender a di-
calculável valor. () rigor lógico nâmica dos processos sociais,
ele seus conceitos, o significado que informam a criação e aplica-
dos ideais e a" técnicas para a ção cio direito, incorrc em fias-
aclministração de justiça, as no- cos legislativos.
ções de eqüidade e imparciali-
dade e outras contribuições de 2. Administração científica
igual categoria constituem 11111
legado precioso. () movimcnto de admi1listração
Diga-se, porém, (lue o lega- cicntífica (sciclltific 11lanagc-
lismo estreito, que somente aten- lI1Cllt) é, claramente, um produto
ta nas disposições das leis e dos da revolução industrial. Surge
regulal1lentos, nas relações legais como resposta aos problemas de
c1e autoridade legal e nos tecni- administração em emprêsas in-
cismos processuais, é prejudicial dustriais e logo aspira a que seus
à teoria e à prútica da adminis- princí pios orientem a adminis-
tração pública. Conforme já vi- tração pública e até a organiza-
mos, encerra a capacidade cria- ,:ão social.
dora dos administradores em B' difícil identificar as origens
moldes rígidos e anicJuila as me- desta escola, pois os historiado-
lhores potencialidades do serviço res encontraram antecedentes de
público. Estimula a concenção seu método na Idade Média e até
autoritária e mecânica da admi- na antiguidade (40).
1942) ; WALTER GELLHORN, Federal Admínistrative Proceedin{l8 (Balti-
more: John Hopkins, 1941), págs. 41-74.
(40) LEPAWSKY, op. cit., págs. 103-105, que cita CHARLES A.
BEARD, "The Elements of Scientific Administration" em Public Policy
and General Welfare (Nova York: Rinehart, 1941), págs. 152-55; e
OLlVER SHELDON, "The Development of Scientific Management in
England", in Harvard B1Isincss Review, IH (janeiro, 1925), pág. 129.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 57

?\a época do capitalismo e da ((111PO, a fim ele propor métodos


industrialização, porém, geral- mais eficientes e econômicos. Era
mente se considera o inglês a aplicação do método científico
CHARLES BABBAGE como um dos aos aspectos físicos do trabalho
principais precursores, graças a a fim ele conseguir maior produ-
seu livro Thc Econom)' of Ma- ti vidade , Mas TAYLOR e seus
Ilufacturcrs publicado em 183.:?, discípulos \"islumbraram logo as
O trabalho do industrial norte- ros:iihiliebdes ele aplicar suas
americano HENRY TOWNE, na técnicas num âmbito maior.
última parte do século XIX, re- TAYLOR insistiu então em que
presenta uma contribuição im- o aspecto lIlccúllico não era a es-
portante, segundo pode apreciar- :ic'ncia de suas teorias, Advertiu
se em sua famosa comunicação que os tstuc10s de tempo e mo-
de 1886 à Sociedade Americana \ illlCllto, a :iupervisão funcional,
de Engenheiros ~r ecânicos (41),
a contahilidade de custo, os sa-
Mas foram os ensinamentos de
brins diferenciais c outros ele-
FREDEIHCK \V, TAYLOR que con-
l11cnto;,; similares eram apenas
solidaram o movimento de admi-
nistração científica de que êle ('. (l('(al]l('s de sua filosofia func1a-
por isso, considerado fundador. il",'nta1. da rC7'olll((~O iJ/t,'lectuol,
N o início, T.\ YLOR interessoll- ":; !ioz'a atitude, _\ l'ha\'c de sen
se principalmente pelo., estt1d()~ :;Í,te111a é a ;-tpliccllJl\l do método
ela eficiência em tlTil10S ele mo- C:Clltífico a todos (I:; problemas
vimento e tempo. aplicados an c' llíyei~ da adll1illi.-;tração, in-
trahalho de indivíduos e organi- cluim]o :t edl!cação cios trabalha-
zações industriais. nsses estu- dores e a cooperação dêstes com
dos consistiam em medir COJ1l os patrões. c projetando seus
precisão o movimento de oper;'t- eicitos benéficos a tôc1as as fases
rios e materiais com relação ao (~:'S rC'br/es soci;-tis (42).

HEr-:'lY Tcy,r-:E, "Thc Engineer as :1 n Economist", Trrwwlc-


(11)
tiOil8 the .A. ;?l('}·if·((l~ Socictu (li 1l-1e r!Zrcl:"cu l E'ngi!1(f';':\ j,':,\(;, 'VIl,
nl
4?8-42!J, citado em LEPAWS!{Y, o)). cit., pág, 115.
(42) F, W. TAYLOR. Thfl }'riuci]llcll ol SCiCdtifi;; llIalJ1[}CIiLi:llt
(Nova York: Harpel', 1911). rág-s. 128-130; traduzido para o espa-
Ilhol: P/';lIcipios de Admi Ili~i iifciúlI Ciclllihca (Buenos 1\ ires: Edíto-
l'ial Argentina de Finanzas y Ac!ministración, 1944).
58 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Us c1is,:í pulos de TA YLOl{ -- produtiva ela indústria norte-


1lENRY L. GANTT, FRA:-<K n. americana. T ôda a teoria da ad-
CILBRETIl, lIARJUNGTOl" EJYIER- ministração pública apresenta os
W.'<, MORRIS L. COOKE, LOUIS cf eitos dêste parentesco.
D. 13RANDEIS e outros -- am- Em seu livro Tlze Administra-
pliaram o âmbito de sua teoria, tivc Statl', DWTGHT VI/ ALDO es-
elaborando-lhe os postulados. tucla as idéias fundamentais que
13RANDEIS destacou-se na cam- comandaram o movimento ele
panha para demonstrar a neces- administração pública 110S Esta-
c;idade de maior eficiência, não dos Unielos e demonstra qne,
apenas 110 trabalho dos operá- 11essa ideologia. a escola ele ad-
rios, mas também nos níveis mais ministração científica tem exer-
(\estacac1os da administração. cido grande influência. A mesma
Outros proclamaram a adminÍs- relação, em outros países, pode
t((lçiío científica como a filosofia ,olT fàcilmente comprovada, quan-
de uma !lova orde1l1 social (43). elo se escrutina a literatura sôbre
O interessante para o nosso ('ste assunto.
plano ele estndo é assinalar a in- O movimento de gerência ci-
fluência da ad1l1inistraçiío cic1/- entífica, (!ne parte da administra-
tífica na administração pública ção industrial, trouxe contribui-
de noss()s dias. Es":'a influência ções muito valiosas para a ad-
tem sido illt~'llSa não só nos Es- ministração pública, principal-
tados Lnidos. C01110 em todo o mente pela insistência no méto-
mundo --- incluindo a América do cientíiico, pela atenção aos
Latina e a própria Rússia! (44). problemas concretos ela prática
.\ póia-se na grande eficiência quotidiana, e por haver elabora-

(43) H. L. GANTT, Work, lVagl's ali!! P/'ofits (Nova York:


McGraw-Hill, 1913) ; H. EMERSON, Elliciency as a, Basis lo'r Operation
Clnd WaIJcs (Nova York: John R. Dunlap, 1909); M. L. COOKE,
Academic anel Industrial Elliciellcy (Nova York: The Carnegie
Foundation for the Advancement of Teaching, 1910) ; LOUIS D. BRAN-
m;Is, BllSÍllcss - a Prolession (Boston: 8mall Maynard & Co., 1914),
citados em LEPAWSKY, op. cit., págs. 122-128. Ver também WALDO,
O}J. cit., pág's. 47-61.
(44) ""ALDO, op, cit., págs. 53-CU; LEPAWSKY, O]). cit., página~
12.9-133. 110-173.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 59

elu técllica~ específicas ele admi- vimos, analogias e coincidêf!cias


nistração, aplicáveis com provei- entre a administração pública e
to nas entidades púhlicas. Isto a administração industrial. Mas
é evidente em organização e mé- em outras ocasiões, dentro do
todos, pessoal, planejamento, ad- campo da administração governa-
Illinistração financeira, relações mental ou nalgum setor parti-
humanas, em todos os setores es- c\1lar dela, êste cientificismo ca-
pecializados. rece de pontos de contato com
Diga-se, porém, tlue quando se a administração privada. Carac-
exagera a similitude entre a ad- teriza-se então pelo empenho de
ministraç;io particular e a púhli- definir a província da adminis-
ca, ignorando-se as peculiaricla- tração pública e criar uma espe-
des do goyêrno, especialmente a cialização com unidade e inde-
sua significação global e propó- pendência. uma vez isolado, es-
sitos, os efeitos do taylorisl11o são tuda-se êste setor da realidade
prejudiciais ..h assinalamos an- pelos métodos positivos das ciên-
tes cstas di fcrenças (45). O mé- cias naturais.
todo jJositi\'() científico da admi- ftste critério pode ser muito
nistração particular não pode dar benéfico para se conseguir exa-
ao govêrno soluções adequadas tidão no conhecimento e na in-
para os problemas cle selecionar
terpretação analítica elos fatos.
objetivos ele utilidade social,
adaptar a êstes os meios admi- Insiste em aperfeiçoar a obser-
nistrativos, estabelecer os contrô- vação, os conceitos, a terminolo-
les e as responsabilidades pró- gia, a sistematização lógico-des-
prias e fixar limites à autoridade critiva, a comprovação de hipó-
pública. teses, a experimentação, as apli-
cações práticas e, em geral, to-
3. Cientificismo e especializa- dos os meios de aumentar o ri-
ção na arlministração pública gor científico da disciplina. Tra-
1\ o quc diz respeito ~l aplica- ta-se, sem dúvida, de uma con-
ção rIo método cicutífico-natu- tribuição valiosíssima, conforme
ra;, 11;1. C111 llluitos casos. como se PO( le \'erificar nos estudos de

(45) Supra, pág-s. 42-4G.


60 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

organização e métodos, adminis- nar os valores primários :lS con-


tração financeira e outros. siderações processuais, tumultu-
No entanto, quando não reco- anelo tôcla a perspectiva; d) o
nhece suas limitações, a atitude mecanismo administrativo pre-
científica é perigosa. Na admi- tende aprisionar a liberdade hu-
nistração pública, como em ou- mana e o arbítrio administrativo
tros campos, encontramos as se- un esquemas de organização, re-
guintes tendências prejudiciais: gras cle procedimento e outras
a) a especialização excessiva, f órlI1ulas cle suposta validade ci-
seja na administração pública entífica, sem perceber que a ad-
considerada glo~)almente, seja em mini:otração se propõe, antes de
qualquer de seus setores, impecle tudo. estimular a capacidade
que se perceba sua interdepen- niadora (las pessoas, em traha-
dência com as outras fases eia 1~ lO C(I!)l inativo.
vida humana em sociedade; b)
as pretensões exageradas de va- 4. O critério político: cientílico
lidade científica ignoram a ima- e filosófico
turidade ela disciplina e a clehi-
lidac1e de seus postulados, que- \ illflltl'llt';:l d() cientifici"lllo
renc10 impor como regras de va- lllanifestou-se também na ciên-
lidade alJsoll1ta e universal prin- cia política c1esfle () século XIX.
:1 fastando-a da e~cula jl1snatura··
cípios CJue só devem aceitar-se
('()mo hipóteses ou guias; r) a 1i~ta dominante 110 século XVIII
obsessão pelo métoclo positivo do t' orientandu-a cada "ez mai.;
conhecimento ele fatos deixa dt' para os métodos pusitivos e em-
lado os problemas cle selecionar píricos (46). Foi então que a ci-
fins e cle aclaptar a ('les os meios ência política desenvolveu Ul11 in-
administrativ'os: e muitas vêzes terêsse muito maior pelos pro-
tem a consef1üência ele suhorcli- cessos ac1111inistratinls do govêr-

(46) GEORGE H. SABINE, História de la Tcoría Polítiea (México:


Fundo de Cultura Econômica, 1945); tradução espanhola de: A IlistoJ'lI
o! Political TheoJ'lI (J\' ova York: Holt & Co., 1937), especialment~
capítulos XXVII, XXXI-XXXIII; HERMAN HELLER, "Political Science"
Encllelopcdia. oi lhe Social Seieuces, eds. Edwin R. A. Seligman ~
Alvin 'V. Johnson, XII (19-42), págs. 207-223; GEORGE E. CATLIN
P'r/nciples of Politics (Londres: G. Allen, 1930), págs. 19-56. '
'rEORIA GERAL Dg ADMINlSTRA(.':\.O PÚBLICA 61

IH!, [()rmélndo assim a disciplina acentuar, do ponto de visia me-


da adl11inistração pública, como todológico, a utilidade ela teoria
urna su1xlivisão da teoria do Es- política (48).
tado. Se l!em que êste desenvol- Assim, por exemplo, os que
vimento se deva em parte à im- estlldam os processos adminis-
portância evidente do setor exe- trativos por êste prisma esclare-
cuti 1'0 110S governos contempo- cem melhor os aspectos constitu-
rtineos, o qual reclama a atenção cionais, as relações do poder exe-
telJrica, sua explicação se encon- cutivo com os poderes legislativo
tra tamhém na tendência cienti- e judicial, os contrôles políticos,
ficista, Às questões mais gerais a distribuição real cio poder, as
c abstratas da política, o novo pressões dos partidos e demais
critério prefere os problemas es- grupos de interêsses, a influên-
pecíficos e cOllcretl1S da adl1li- l-ia da opinião pública e outros
llistração (47). iatôres políticos de grande signi-
Êste critério da teoria política ficação para a administração
é benéfico para a administração pública.
pública porque lhe situa os pro- Com referência a esta discipli-
hlemas dentro da moldura do Es- na poderíamos classificar os es-
tado. Compreende-se assim a tudiosos da política em três gru-
~ignificação global dos processos
pos principais: a) os indiferen-
tes; h) os positi \-istas: c) os
político-administrativos e estabe-
llnrmati \-istas.
lecem-se as relações entre as Se hem que possa parecer es-
(luestões mais fundamentais de tranho, de"emos referir-nos ao
organização política e as mais grupo dos indiferentes, porque
específicas de administração pú- é lamentá Y(~l a tendência - ain-
blica. Vimos no capítulo anterior da muitu forte nos círculos da
a significação recíproca dos as- ciêlKia política - a não estudar
pectos políticos e administrativos os problemas administrativos do
do Estado; as mesmas explica- grwêrno. E' a contrapartida da
ções podem aduzir-se' af]l1i para res; ,t rll('ia qne apresentam mni-

(47) W ALDO, O}i. éit., pÚg. ::;:;.


(48) Supra, págs. 15-23.
tos adlllii1istraclurcs púlJ!icu:, lnclll llU\ é!" CUilext'JCS de meIOs
frente à teoria política. A falta e iins, considerados (-stes como
de comtlllicaçüo prejudica sensi- L.t,lS o!'i'r({I!!cs c, em geral, am-
yclmente () progresso cle amhos pliam () à1111lito de compreensão,
os setores. Basta perlustrar rà- mell1oralldo assim a perspec-
pidal11ente a literatura dos dois tiva dos administradores púhli-
lados para comprovar os efeitos cos (-1-9).
prejnckiai:i dêste isolamento. Se helll que o lllétodo positiyo
E' mais construtivo obsenar (la ciência jlo1itica algumas vêzes
a colaboração que se opõe a esta "e enCJui~tc em ljt1e~t()e:i proces-
tendência. Cumpre-nos, porém, suais de mcnor ill1]lortf\llcia e eó'-
distinguir aCjui novamente entre queça o~ pr()hk1l1a~ iumlal11cl1tai~
as influências dos positivistas c ele organizaç;iu po]íti,'<l. acenttl-
as elos nonnativistas. ando a~.,illl as tl:l1dências iguais
Mesmo as teorias positivas, da ad1llinistração púhlica, pode-
que se limitam a descrever e in- 1110S dizer que e111 geral tem
terpretar os fatos políticos tal exercido sôhre esta influências
como são, sem entrar nos proble- bxorán'i~, ,\0 as~illalar. para O:i
mas de Sl1a orientação normati- csi l1diosos dos processos admi-
va, encerram ensinamentos mui- 1listrativos. a implJrtâllcia elos
to importantes para a adminis- nlttros aspectos do Estado;
tração pública. RenIam a inte- ao destacar as peculiaridades
ração dos processos políticos do governo em contrac;te com
com os administrativos, desco- a ad11lilllstra(:;"i() pri\:\r1a: ao

(49) Neste sentido veJal1lo~ algumas eontriLuiçucs importantc3, aqui


apresentadas como exemplos de uma litcl':ltLll'a vastí~,jma: E. PEND-
LETON HERRING, Pllblic Administra/io" (f1irl lhe FI/li/ic lnlcrest (Nova
York: McGl'aw-Hill, 1936) e 1'he Po/itics of Dc?JtoC/'(fcy (Nova York:
Norton, 1940); GAETANO MOSCA, Th0 Rulill.q Class, traduzido para o
inglês por HANNAH D. KAHN (Nova York e Londres: McGraw-Hill,
1939); CHARLES E. MERRIAM, Political Powcr (Nova York: McGraw-
Hill, 1934): HAROLD D. LASWELL, l'::J!JcÍio)Jath%,q!l (l}}d Politic8
(Chicago: University of Chica!2'o Pres~, ] 930); ROBERTO MICHELS,
Political Partics; A Soci%gical Study of the Oligarchical Tendencies
of Modem Democracy, traduzido para o inglês por EDEN e CEDAR PAUL
(Nova York: Hearst's International Library Co., 1915).
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 63

c:itl1:lf () puder executivo dentro cos os convites aos estudiosos ela


elo conjunto dos processos polí- teoria política para que ajudem
ticos, inC'yitàyelmente apresenta a ampliar os horizontes (la admi-
questôes fundamentais, não so- nistração pública. Todavia, será
mente de interpretação descriti- necessário bastante tempo para
n" como também de orientação se conseguir n1l1 enxêrto frutí-
normativa, fero e para isso. ademais, ter-se-ú
Não obstante as enormes difi- que esperar que se formule uma
culdades teóricas que o harmo- filosofia para os filósofos! Por-
nizar as fases normativas com as que a teoria política também se
descritivas oferece, como também tornou objetiva, científica; seus
a conyeniência de dividir o tra- cultores encontram-se agora na
halho, para que alguns se con- situação caricaturesca do diretor
centrem em \1111a só destas tare- de l1111seu de arte quc s(/I~c !lIdo
fas, é indiscutível a co11\'eniência sóbre a arte. exceto lJlIais as
de que amhos os asrectos se c\1l- obras de qlle [Justa. Os estudio-
j i\e:;] iuntamente. sos da administraç.1o pública, e\1l
Aquilo que constitui um pro- gnal, têm lido pou::o da história
blema grave para todos os estu- da teoria política, mas, não ohs-
dos humanÍ;,ticos e sociais - êste tante, não ü:m dúvidas Sl)lJre ()
abismo entre as proposições do ele que gostalll! Os c~tuclios(),;
ser e as elo dn'c ser - incide da teoria política podem ofe-
com a mesma persistência angus- recer maturidade e refinamen-
tiosa na comunicação entre a fi- to aos de administração pú-
losofia política e a administra- blica, mas ainda têm que cami-
ção púhlica. Em sua análise sô- nhar muito, antes flue possam
hre a ideoloaia, desta última dis- dar-lhes ajnda positiva no exa-
ciplina, DWIGHT W ALDO faz os me de problemas fundamentais,
seguintes comentários interessan- como o das relaçôes da adminis-
tes: tração com a democracia ou com
"N os últimos anos se tem ma- a ciência" (50).
nifestado freqüentemente a sêde A melhor maneira de indicar
de filosofia e não têm sido pon- as possihilidades de colahoração

(50) WALDO, 011. cit., pág. 206, nota 1.


64 CADERNO~ DE ADMINISTRACÂO PÚBLICA

que cstào sendo dc~perdiçada" 5. O estudo científico das


é citar contribuições valiosas, relações humanas
que constitucm exceções à situa- () c~tlldo das relações huma-
ção geral, As obras de CARL J. !:as na administração apresenta.
l"RIEDRICII (51), HERl\TAN FI-
recentemcnte, contribuições va-
NER (52). J\IARSHALL E. DI-
liosíssimas. Concentrando a
MOCK (53) C HAROLD J. LASKI
atenção nos aspectos psicoló-
(54) representam alguns exem-
gicos c sociológicos dos pro-
plos de uma escola que trata de
harmonizar a ciência c a filosofia cessos administrativos, tanto nas
políticas COI11 a administração pú- cmprêsas particulares, como nas
hlic<1. E' 11m dos movimentos públicas, esta escola aspira a
mais pronletedores na evolução rc\'el' as fórmulas tradicionais,
contemporânea desta disciplina. mediante uma compreensão me-
Em inglês, êsse movimento às lhor do elemento humano. In-
\'êzes é mencionado como flfblic siste em que muitas das inter-
policy, pretações e práticas aceitas hoje

(51) COilstitutional GoveJ'1/ ment and Dem.ocracy (Boston: Ginn


& Co., 1950); há tradução espanhola da edição de 1941 por VICENTE
HERRERO, Teoría y Realidad de la Organización Constitucional Demo-
crática (l\féxico: Fundo de Cultura Econômica, 1946). Ver também
CARL J. FRIEDRICH e EDWARD S. MASON (eds.), Public Policy, Anuário
da Escola Superior de Administração Pública, Universidade de Harvard
(Cambridge: Harvard University Press, 1940, 1941, 1942).
(5í:.') The Fufw'c of Government (Londres: Methuen, 1946);
Theory anel P1'actice of Modern Government (Nova York: Holt, 1949);
The Road to Reaction (Boston: Little Brown and Co., 1945).
(53) "Los Objetivos de la Reorganización Gubernamental", La
Reo1'ganización de la Rama E.iecutiva (Rio Piedras, Puerto Rico:
Escuela de Admínistración Pública, Universidad de Puerto Rico, 1951) ;
"Administrative Efficiency with a Democratic Policy", em New Hori-
zons of Public Aclminislmtion (A1abama: University of Alabama
Press, 1946); Modern Politics and Administration (Nova York: Ame-
rican Book Co., 1937); "The Role of Discretion in Public Adminis-
tration, The F1'ontie1's of Public Administration (Chicago: University
of Chicago Press, 1936).
(54) The A-merican PI'csidency: an InterlJl'etation (Nova York:
Harper, 1940); Parliamenfm'y Govcnnnent in England (Londres:
G. Allen & Urwin, 1938).
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 65

são o produto de tradições ou trativa - isto é, descrevê-los de


especulações sem base no conhe- modo que a descrição proporcio-
cimento cxato dos fatos. E ad- lJe a base para a análise cientí-
verte que, por causa da pressa fica da eficiência de sua estru-
em formular teorias e recomen- tura e iuncionamento ...
dações prúticas, muitos têm des- "Antes de que possamos esta-
cuidado do primeiro passo indis- belecer princípios imutáveis de
pensá \'el em tôda atividade cien- administração, devemos ser ca-
tífica - a percepção adequada pazes de descrever, em palavras,
da realitkde, a compreensão de exatamente como é e como tra-
todos os aspectos relevante.';. ldha uma organização adminis-
A prova disto é que o empenho t:at i \',1. . . . I, ;\fin}lac) conclusõcs
da especialização traiu seu pró- não constituem uma teoria da
prio objetivo de exatidão ciC'n- administração, pois com exceção
tífica, por ignorar as fases sócio- cJ;: alguns dida propClstos com()
psicológicas da administração. hipóteses, não se estabelece ne-
Demais, pode criticar-se a falta nhum pritlcípio administrativo.
de realismo cm outros sentidos Se llÚ alguma teoria implícita,
e a deLilida<le geral da metodo- esta é a de que a formulação de
logia. decisões é o coração das ativi-
Vale cibr aqui as palanas de dades administrativas e que o
vocabulário da teoria adminis-
HERBERT A. SnfON, U111 dos
trativa tem que se derivar da
principais representantes desta
lógica e da psicologia das de-
atitude metodológica: cisi)es humanas" (55).
"~ste estudo... deriva de
A margem dêste protesto de
minha convicção de que ainda SIMON, podemos anotar que sua
não temos neste campo instru- rebeldia contra o pseudocienti-
mentos lingüísticos e conceituais ficis1l1o não realista é similar aos
suficientemente adequados para movimentos atuais de reforma
descrever em forma realística e nas outras ciências sociais. Re-
significativa ne111 sequer os tipos cordemos, como exemplos, a de-
simples de organização admmis- cadência do conceito !tonto eco-
(55) HERBERT A. SUlON, ,1(7 m i7'igtrcttive Behaviow' (Nova York:
M!l('milhl'l. Hl'17), pR!,:S. 1::l-14.
66 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

llOtnicus, os ensinamentos das cia das relações humanas é aper-


escolas sócio-filosóficas da teoria feiçoar o estudo da administra-
do direito e a tendência para a ção, em seu sentido descritivo,
unificação das ciências sociais. sem prejuízo de que separada-
Efeti"amente, o propósito de mente se considerem os pro-
SIMON e outros cultores da ciên- hlemas normativos (56).

(56) Um grupo de estudiosos da administração pública proclama:


"Devemos converter-nos, francamente, em cultores da ciência aplicada.
Se vamos fazer isto, temos que trabalhar com uma escala de valores
e ampliar nossos interêsses para cobrir todos os valores envolvidos por
qualquer questão importante de organização administrativa. Como a
eficiência é só um dêstes valores, não podemos ocupar-nos exclusiva-
mente da eficiência. E' necessário abranger todo o campo da política
(public í'Jolicy).

Mas esta ciência aplicada da administração púb1ica não pode


deter-se, uma vez que englobe tôda a ciência política; terá também
que tratar de absorver a economia e a sociologia.

A verdadeira meta dêste grupo particular de revolucionários fica-


ria muito claramente definida se êles se apresentassem - segundo
alguns já têm feito - como interessados no campo da política pública,
ou melhor ainda, se revivessem as expressões mais antigas e respei-
táveis: economia política e economia social. A expressão engenharia
8ocial, que sublinha claramente o caráter prático da atividade, leva
a marca da contaminação do critério mecanicista.

Além dos que cultivam a ciência social aplicada, e consideram o


campo da administração pública demasiado estreito para seus inte-
rêsses e necessidades, encontramos um segundo grupo de rebeldes,
do qual me considero membro, que quer criar uma ciência pura de
conduta humana em organizações, e particularmente em organizações
governamentais. e que se propõe construir uma teoria mais sólida
com base na psicologia social. ftste grupo não tem e nem deve ter a
ilusão de estar receitando para a política pública. Quanto ao valor
prático de seus trabalhos, encontra-se exc1usivamente no uso que
possam fazer de suas proposições, juntamente com as de várias outras
ciências sociais, aquêles que chamo economistas políticos. HERBERT
A. SIMON, "A Commrnt on the Science of Public Administration",
f'lIblic Admini~t1'rrtiorl Rcvie71', VTJ (Verão, 1947), págs. 200-202.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 67

Como nas ciências naturais, de incluir as fases psicológica,


aqui também se aplica o método sociológica e antropológica das
científico com interêsse pura- relações pessoais.
mente analítico e positivo. A Tomemos, por exemplo (57).
aspiração dêste grupo é precisa- o livro de SIMON sôbre os pro-
mente lograr maior realismo e
cessos de formular decisões, inti-
rigor na descrição dos processos
tulado Ad11linistrative Behaviour
administrativos. Quanto a esta
característica, a ciência das rela- ( 58); o trabalho do mesmo
SIMON, de parceria com Do-
ções humanas tem as virtudes
e limitações inerentes à atitude NALD W. SMITHBURGH e VIC-
científico-natural. TOR A. THOMP90N, Public Ad-
Mas constitui sem dúvida uma ministration (59); as investi-
superação das outras aplicações gações empíricas da Escola de
do método científico à adminis- Administração de Negócios de
tração pública, já antes dis- Harvard sôbre relações de tra-
cutidas, porque seu critério é balho nas emprêsas particulares
mais amplo e profundo pelo fato (60); os estudos similares da

(57) ,MOléTON GJWDZINS, "Adnünistl"ação Pública e Ciência das


Relaç,ões Humanas", Revista do Se1'viço Públ'ico, voI. I, n.o 2 (feve-
J'eil'o, 1952), pág. 24; traduzido de "Public Administration and the
Science of Human Relations ", in Public Administration Re1Jjew, XI (Pri-
mavera, 1951), págs. 88-102; ROBERT DUBIN, Human Relations in
Administration (antologia de leituras e casos) (Nova York: Prentice
Hall, 1951); ALFRED DE GRAZIA, Human Relations in Public Adminis-
tration (bibliografia anotada) (Chicago: Public Administration Ser-
vice. 1949); WAGNER ESTELITA CAMPOS, Chefia, sna Técnica e seUR
Problemas (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947); tradução em
espanhol: J ACK BERENSHON, Administración de Empresas (Buenos
Aires: Editorial Bibliográfica AnJ;entina, 1952); SCHUYLER DEAN
HOSLETT (ed.), Human Factors in lifanagement (Parkville, Mo.: Park
College Press, 1946).
(58) Supra, pág. 15, nota 13.
(59) Supra, pág. 9, nota 9.
(60) EDMUND P. LEARNED, DAVID N. ULRICH e DOKALD R. Booz,
Execu,tive Aiction (Cambridge: Harvard University Press, 1951);
ELTON MAYO, The Hwman Problerns of an Industrial Civilization
(Hoston: Harvrlrd Gradnate School of Business Administration, 1946);
68 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Universidade de Michigan, tam- (65), E:\!ILE DURKH UM (66).


bém sôbre problemas de relações e de psicólogos como H ENRI DE
humanas nas emprêsas públicas MAN (67), T. N. \VruTEHE,\]),
c particulares (61); a obra de (68), ELTON .l\IAYO (69), ORD-
CIlESTER T. BARNARD, especial- WAY TEAD (70) e HAROLD LAS-
mente Thc FUllctions of lhe WELL (71).
F,xecutiz'c (62); as interpreta- Os temas interessantes para
ções de sociólogos como MAx ê~te ponto de vista são a lideran-
\ \' EBER (63), R-OBERT K. MER- ça, a supervisão, os padrões ex-
TOX (64), TALCOTT PARSON tra-oficiais de organização, a

T. N. WHITEHEAD, The Industrial Worker (Cambridge: Harvard Uni-


versity Press, 1938), e Leadership in a Free Society (Cambridge:
Harvard University Press, 1936).
(61) Process of the Admin;strafive Conference, Spec?al rleport,
relatório mimeografado (Universidade de Michigan, marco, 1950). Ver
os relatórios do Research Center, Universidade de Michigan.
(62) Cambridge: Harvard University Press, 1938.
(63) WERER, op. cit.. especialmente voI. IV, capítulo VI.
(64) "Role of the Inte!lf'dual in Pllblic BUl'caucl':J.cy", Social
FOI'CeS, XXIII (maio, 1945), págs. 405-415; "Bureaucratic Structure
and Personality", Social FOTces, XVIII (maio, 1940), págs. 560-568;
"The Machine, The Worker and the Engineer", Science, CV (1947),
págs. 79-81.
(65) "Motivation of Economic Activities", in ROSE!?1' DURIN,
Human Relations in AdmillistTation (Nova York: Prentice HalI, 1951),
págs. 27-38, extraído do Canadian Journal of Economics and Political
Science, VI (1940), págs. 187-200, e The Structure of Social Action
(Nova York: McGl'aw-Hi1I, 1937).
(66) De la Division du Tra1Jail Social (Paris: Alcon, 1926).
(67) Joy in Work, tradu7ido do alemão por E. e C. PAUL (Nova
YOl'lc: Henry Holt & Co., 1929).
(68) "Social Motives in Economic Activities", OCCU1Ja fional
PS1jcholo01f, XII (1938), págs. 271-290; The IndustTial W orker (Cam-
bridg'~: Harvard University Press, 1938).
(GO) The Hwnan Problems of an Indu3('l'ial Civiliza fi Vil.
(70) Thr Art of Admínisí1'lltion (Nova York: MeGruw-Hill.
JfJ51); New Adventuresin Democracy (Nova YOl'k: McGraw-Hill,
1939); The Art of Leader,3hip (Nova York: McGl'aw-HiII, 1935);
Human NafuJ'e anel Managcment (Nova York: McGraw-HiI1, 1929).
(71) PS1jchopatholoU1/ and Politics (Chicago: Universitv of
rhicago Prpss, 1930). ' .
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 69

distribuição real de autoridade, a humanas deu últimamente mais


comunicação, os incentivos, o um passo no sentido de estender
treinamento, a lealdade aos pro- e aprofundar a sua análise. Esta
pósitos, o "trabalho de equipe", dimensão antropológica revela a
a discrição, os contrôles subje- relação entre os processos admi-
tivos, a patologia administrativa nistrativos e a cultura; permite
e outros da mesma classe. compreender como a administra-
Aqui também procedem as ad- ção reflete o estilo de vida de
vertências que fizemos anterior- cada povo; esclarece os proble-
mente sôbre os excessos da pre- mas relativos à adaptação de prá-
tensão científica e a aplicabili- ticas administrativas de um a ou-
dade de analogias industriais. tro meio cultural.
Reconhecendo embora o enorme Nas investigações sócio-psico-
valor clêste critério que tem por lógicas, freqüentemente se supõe
hase as relações humanas, deve- a configuração total da cultura,
mos, entretanto, acautelar-nos aceitando-a tal como suposta.
contra uma confiança exagerada Então procede-se à análise de re-
em suas interpretações. A natu- lações administrativas tal como
reza humana é muito complexa se manifestam no ambiente cul-
e variável. E, como o mesmo tural pertinente. sem revelar-se
SIMON indica, estamos no iní- a significação dêste dado básico
cio de uma ciência das relações 12.0 importante. Noutras pala-
humanas na administração. Por vras, tôdas as conclusões estão
outro lado, o empenho de esta- condicionadas e limitadas por
belecer generalizações que abran- esta primeira hipótese: referem-
jam tôdas as formas de adminis- ,p 30 padrão cultural que se su-
tração, particulares e públicas, pôs e aceitou.
- empenho que atualmente ca- O critério antropológico trata
racteriza êste movimento - , pas- precisamente de penetrar nesse
sa por alto, às vêzes, as condi- significado do estilo peculiar da
ções próprias da administração vida de cada povo e analisa a
governamental. administração como uma fase da
cultura. É sumamente útil para
6. O critério antropológico aprofundar nas raízes do proble-
Ao adquirir a dimensão antro- ma, não só com referência aos
pológica, a escola das relações interêsses próprios de cada povo,
70 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAo PÚBLICA

CUIllO tambélll para tornar pus- presente Caderno, que provàvel-


,,,ível a tradução cultur::tl de mente será uma resposü insufi-
idéias e experiência~, adaptan- ciente a tão difícil problema.
do-as às exigências de outros É que, a êsse respeito, ainda
ambientes. há muito por fazer. Até o mo-
Ka administração pública, o mento, o que se conseguiu de
desenvolvimento dos programas mais importante foi estabelecer
de cooperação internacional. es- a exigência e despertar o inte-
pecialmente os da AclministraçflO rêsse dos que cultivam a admi-
de AssisiÊ:ncia Técnica das N a- nistração pública. K esta con-
ções Unidas e do Ponto Q1Iatro quista são muitos os pioneiros.
dos Estados l~-nidos, pôs de ma- Ao citar alguns trabalhos escri-
nifesto a exigência dêste ajuste tos, não podemos esquecer o tra-
cultural. A maior parte da teoria balho daqueles que. na adminis-
e prática da administração pú- tração internacional, nos centros
lJlica está limitada às condições regionais de treinamento, nas
particulares dos países em que se universidades, nas missões de as-
haja formulado . .:\1esmo os mc- sistência técnica e noutras ati-
lhores tratados apresentam o vidades similares, contribuem,
problema, não mais da tradução neste momento, para o desenvol-
lingüística, senão da interpreta- vimento do novo critério.
ção cultural. Tomemos como São ele especial interêsse para
exemplo o texto introdutório dc a América Latina as escolas do
LEONARD D. \VIIITE (72) com Brasil (73), Costa Rica (74),
referência à sua utilidade na Pôrto Rico (75); as experiên-
Anlérica Latina. E també'11l o cias da missão Keenleyside na

(72) Introduction to Pllblic Adl11iJ/is'raiio" (3. a edição; Nova


Y ork: Macmillan, 1950).
(73) Prospecto e Regimento da E.B.A.P. (lUo de Janeiro: Insti-
tuto Brasileiro de Administração, Fundação Getúlio Vargas, 1953);
BENEDICTO SILVA, A Necessidade do Ensino de Administração Pública
(Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Administração Pública, 1952).
(74) Proposta pam a Criação de uma E,~cola Superio'r de Admi-
nistração Pública na América Central (Nova York: Nações Unidas,
E/CN. 12/AC.17/31).
(75) Catálogo de la Universidad de Puerto Rico (San Juan,
P. R.: Universidad de Puerto Rico, 1953-54), págs. 99-104; PEDRO
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇAo PÚBLICA 71

Ilo/ívia (76); e a missão de nizacão de J-\')\'tu l{ico (7i) e elu


Currie na Colômbia (77) ; os es- Public Administration Senicc
t\1dos da Comissão de Reorga- em Ptlrto l{ico (79), E1 Salva-

MUNOZ AMATO, La Educación de los Servidores Públicos, Experiencias


en Puerto Rico y su 8'i,qnificación para la América Latina (San Juan,
p, R.: Escuela de Administración Pública de la Universidad de Puerto
Rico, 1952),
(76) Relatório ria Mi88fio dI' AS8isféncia Tim/iea das Naçõe8
Unidas ra Bolívia (Nova York: Nações Unidas, 1951, ST/TAA/K/
Bolívia/1); Relatório Keenleyside (La Paz: Universidad Mayor de
San Andrés, Escue1a de Derecho y Ciencias Políticas, Cu aderno n,o 8,
195~') ,
(77) La Rcorgani,:aó'JI/ d(' lc! Rama E,icClrt;p(t deZ Gobierno de
Colombia (Bogotú: Imprenta Nacional, 1952) e Bases de Wl Proarama
ae Fomento para Colombia (2 vols.; Bogotá: Impl'enta deI Banco de
la República, 1950).
(78) Pôrto Rico. Relatório da ComiR.'Jão de Reorganização do
Poder Executivo do Govêrno de Pôrto Rico (San Juan, 1949).
(79) Os principais projetos do Serviço de A(hTtinistração Públicn
em Pôrto Rico foram os seguintes: estudo das relações entre os muni-
cípios e o Estado Livre Associado (1952-53); instalação de melhorias
administrativas no Departamento de Trabalho (1952-53); estudo admi-
nistrativo do Departamento de Agricu1tura e Comércio (1951-53);
mstalação de um sistema de aposentadoria para os empregado's do govêr-
no (1951-52); dese'lvolvimento e instalação de um programa de organi-
zação e métodos (l(l51); estudo do Departamento de Obras Públicas
(1950-51); instalação de reformas no sistema de contabilidade e de
administração no Departamento de Fazenda (1950); preparação de
um sistema de pensõps para a Universidade (1950); assistência para
a elabornç?,o e instalação de um sistema de taxação da propriedade
(1950); estudo administrativo da Polícia Insular (1950); assistência
sôbre problemas de pensões (1950) ; estudo de organização e métodos no
Departamento do Interior (1950); estudo da organização da Adminis-
tração de Fomento Econômico (1950-53); estudo da organização e prá-
ticas administrativas da Repartição de Transporte (1949) ; estudo admi-
nistrativo do Departamento de Fazenda (1949); assessoramento à Co-
missão de Reorganização (1949) ; elaboração e instalação de um sistema
de contabilidade e contrôle para a propriedade pública (1948); estudo do
Departamento de Educação (1948); estudo administrativo da Univer-
sidade (1947); revisão do sistema de administração de pessoal (1947);
assistência contínua em problemas de contabilidade (1947); estudo dos
sistemas de aposentadoria (1946); instalação de um novo sistema de
72 CA.DERNOS DE ADl\llNISTEM.:.~O I'ur~L1C'A

dor (gU) L Costa ]{ica (~l); () :\ estes programas, a ('xigência


relatório das :t\ a,ões C niebs prática do critério ;mtropológicn.
Sistema da Administrqüo j'/Í- da aclapl~'l~ão cultural. stlrgl' a
Mica (82) e outros trahalhos sô- cada passo e. muita,; \'êze~, per-
bre o desenvolvimento econômi- Illanece insatisfeita. Os equívocllS
co de muita significação para os são freqüentes. Transferem-se
problemas de administra,ão pú- fórmulas sem o necessário ajus-
hlica (83). te. E. em certos grupos, persiste

relações e outras relcrma:: nu contahi!idat:e (H).lli) ; ('~tudo dos sistemas


de contabilidade em doze corporações públicas (1946); estabeleci··
mento de melhores métodos na administração de pessoal (1945); estudo
dos vencimentos em cargos fora do serviço classificado (1945); estudo
dos métodos administrativos nas repartições do Auditor e do Tesou-
reiro (1944). Os relatórios sôbre êstes projetos foram publicados em
inglês. SW1'vey and Insiallation Pro,ieets, 1943-1950 (Chicago: Public
Administration Service, 1950). O Serviço de Administração Pública
de Chicago é uma organização sem fins de lucro que provê serviçoiS
de consulta exclusivamente a organismos governamentais.
(80) Estudo :::er:21 da organizaciío do poder executivo (1950);
estudo da administração de pessoal (1950); formulação de um plano
de classificações e vencimentos para os cargos públicos (1950); estudo
do programa de casas (1950); estudo e estabelecimentos de reforma!!
na administração financeira (1950); estudo e estabelecimento de novos
métodos de compra (1950); formulação de um sistema de pessoal para
o Banco Hipotecário (1950); assistência no estabelecimento de um
programa de exames e outras funç;ões da Repartição de Pessoal (1950);
formulação de um programa de reformas administrativas (1949). Ibid.
(81) Estudo preliminar de certos problemas governamentais para
um pro<;rama de reforma administrativa (1 rd9). Ibid.
(82) (São JOS8, Costa Rica; Escola Superior de Administração
Públicn -- Al11€rica Cémtral, 1954) ; traduc:âo mimeograúda do "Special
Committee on Public Administration Problen1 s", SfaYl!/ards and Techni-
ques of Public Administration, 1i.:hit Special Refc'rence to Tech17ical
Assistance for Underdevelopcd Counfries (Nova York: N. D., Admi-
llistração de Assistência Técnica, 1951).
(83) Vejamos, como exemplos: Naçõé'3 Unidas, Conselho Eco-
nômico e Social, Technica.l Assistal1ce Activities in the E. C. L. A.
Region (Nova York: N. D., 1953); Measuns for the Economic Dev(!-
lornnent of Undc/'Cleveloped CountYies (Nova York: N. D., 1951) e
Economic Developrnellt in Selcetrd Count·ries (2 vols., Nova York:
N. D., 1947, 1950).
TEORIA CERAL DE ADMINISTRAÇ.~O PÚBLICA n
a tendência para ver os proble- yável que o desenvolvimento
mas administrativos só em seus mais importante da administra-
aspectos formais, sem penetrar ção pública como disciplina sis-
em suas raízes psicológicas. so- temática, nos próximos anos, ve-
ciológicas e antropológicas. Ain- nha a ser o reexame das teorias
da abundam as soluções in- tradicionais, à luz das relações
gênuas, que pretendem transfe- humanas, especialmente com re-
rir esquemas de organizrrc;:ão c ferência aos padrões culturais de
regras de procedimento a situa-
cada povo. O livro de ALExAN-
c;:ões cnlturais C111 (lue não se po-
DER LEIGIITON, The Governing
dem ajJlicar, Otl corrigir llla1cs
de raiz com remédios superfi- of M en, é testemunho das poten-
ciais. Não ohstante. as experiên- cialidades que encerra esta nova
cias e interpretações v;io-se \"isão metodológica (85).
acumulando gradnalmente. à es-
pera de um2. sistematiz~l.(~ão que 7. Normativismo e relações
porventura as converta num humanas
conjunto coerente (]e teoria
administrativa. .\ análise positiva das rela-
A tese de que elevemos com- <.;l-les humanas precisa do COD1-
preender a ecologia da adminis- llemento de juízos normativos
tração púLlica (84) - que tanta (lue orientem a aplicação de
significação tem tido nos último,; suas interpretações descritivas à
yinte anos - está. afortunada- prática da administração. Sem
mente. perdendo seu sensaciona- esta orientação ética, seus ensi-
lismo. Nos grupos mais progres- namentos podem servir para a
sistas j á está bem enraizada a manipulação e exploração de sê-
perspectiva antropológica. f~ pro- res humanos, ensejar o autorita-

(84) JOHN GAUS, "The Present Status of the Study of Public


Administratioll in lhe Unitcd States ", Amel'1'can Political Science
Revicw, XXV (1931), P<Ígs. 120-34; Reflections on Public Administra-
tion (Alabama: University Press, 1947); J. GAUS, L. WHITE e M.
DIMOCK, The Frontiers of Public Administration (Chicago: University
of Chicago Pre88, 1936), pág8. 66-91.
(85) Princeton: II niversity Press, 1945.
74 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rismo ou cunduzir a outro~ fins zem tendências autoritúrias e


indese já veis. paternalistas. Defende com entu-
A êsse propósitD, cUlllpre des- siasmo a tese de que dewm pre-
tacar a tendência representada valecer, na administração, os
por DAVID LILLIENTITAL, ORD- princípios democráticos de r('s-
WAY TEAD e outros, de utilizar pC'Íto à dignidade e à liherdade
o critério elas relações humanas elo ser humano e de participação
para a consecução dos icleais li· equitativa, tanto nos processos
heral-democráticos nos procc:;- administrativos como na realiza-
sos administrativos. Segundo ção elo::; propósitos. Sua atitude
esta escola, os contrôles externos é claramente idealista ou 110r111G-
de caráter ckmocrático, exercidos tizoista, mas baseia-se 110S mais
diretamente pelo povo ou por recentes e corretos descobrimen-
meio de seu,; rep;l:senLntc:;. j ;', IUS analíticos, do critério das re-
não bast::I1I. Cumpre, akm disslJ. laçõeo, humanas na aclministra-
democratizar il1terll~ltnentc a pr/l- Ç~l().
]lria admillistração.
Graças ao seu trabalh() ('<lmll 8. ,\ atitude prática
diretor da bmosa Ad1l1ini"tr:ll~fí()
elo '-ale do Tennessee, LTLLlE",- "\ maior parte dus Cjlle traua-
TIL\L ellc:\rna o princípio de c!c- llt;Ull 11;[ aclministraçüo pública
H1ocraci:l administrativa akall- Cllfn'll1<t seus proLlemas sem es-
çada mediante a participação ati- quemas teóricos hem organiza-
\'a dos cidadãos num sistema dos. liC'll1 atitudes metodológicas
que estimula a descentraliz:!- definidas. Note-se que, elêste
ção (86). grupo majoritário, também fa-
TEAD ataca, muna série dt' zem parte alguns elos escritores
1l1agnífico~ livros (87), as con- c professôres. f!ste tipo c1e COIl-
cepções tradiciom;is quc tr:J c] \1- duta pode classificar-se como a

(86) })AVID LILLIB:-.1TlIAL, T. V. A., FlcJiwcracy OI! tI/(: M(/j'('h


(Nova York: Harper, 1:)44); WALDO, op. c-it., págs. 149-50.
(87) Nc'W Ad1Jel1tu/'(',~ il' Democracy: Insf'incts in hidustJ'!f (Nova
York: HoughtOll. 1918); C/'cative Managemenf. (Nova York: Associa-
tion Press, 19:J5i: Til!' ,41' (Ir Administration; V(ALDG, OJ!. cit" pági-
nas 151-1fí2.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 75

atitude prática diante dos pro- Em alguns casos, pode chamar-


blemas administrativos. se sentido comum ou bom senso,
Milhares e milhares de fUll- em outros experimentação, em
cionários dia após dia realizam outros, puro descuido metodoló-
seu trabalho em todos os países, gico. Suas melhores expressões
sem nenhum esfôrço de sistema- revelam ecletismo, adaptação
tização consciente. Suas ações dos métodos às exigências da
são determinadas por tradições, realidade, reconhecimento das
rotinas especializadas, normas imperfeições teóricas no estado
impostas por autoridades supe- atual da disciplina, aplicação das
riores, hábitos, imitação, impul- interpretações analíticas às ques-
sos irracionais, destrezas adqui- tões de valores éticos e às deci-
ridas e repetidas mecânicamente sões práticas. Revelam, enfim,
e outros fatôres da mesma famí- um pragmatismo sistemático, que
lia. lVI uitos dêsses funcionários aproveita idéias e experiências,
cumprem a missão que dêles se mas sempre insiste em verificar
espera. É certo, porém, que se se os resultados práticos são
fôssem estimulados, adequada- 11011S.
mente, poderiam enaltecer seu :-r estas manifestaçiíes superio-
trabalho mediante a interpreta- res, a atitude prática sintetiza e
ção e ordenação racional de suas ullifica as interpret:lções das (li-
experiências.· Contrihuiriam. as- versas escolas. utiliza os critérios
sim, para o melhoramento da metodológicos na medida em que
prática e da teoria da adminis- se prestem às peculiaridades da
realida(k. reconhece a insufi-
tração pública. Trata-se de U1ll
ciência dos principios existentes.
assunto de grande interêsse que
experimenta as hipóteses para
discutiremos mais adiante, pois pôr à prova seus efeitos, mistura
agora nos interessa identificar os ingredientes analíticos com os
outro tipo de critério prático. normativos c acaba por incluir
Trata-se do empenho de re- uma forte dose de bom sel1SO n;'.
50h'er problemas administrati- solução dos prohlel1la~. l~m tT-
vos com esfôrço consciente, mas sumo, predominam as exigências
sem um sistema teórico hem or· da situação concreta, subordi-
ganizado, nem métodos definidos Ilando-se a elas as preconcepções
e aplicados com regnbricladc. teóricas. É o ato cle aplicar a
76 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Clencia e a filosofia às decisões rios nomes e que nós pOC1el11u~


práticas, reconhecendo que boa chamar de praticismo ingênuo.
parte do processo é arte. Os movimentos de reforma
Em seus piores momentos, a prática - para imphntar o siste-
atitude pr:ltica exibe as ~,cg'uin­ ma do mérito na administração
tes características: il!l1orància de pessoal, reorganizar as fun-
dos problelllél.s metodc\1,,')gícos e ções e estruturas governamEn-
das interpretações feitas com an- tais, estimular as investigaçõe~
teriorichde : desconhecimento dos empíricas. desen\'ol ver progra-
fatos; aceitação irracional dé'
mas de treinamento e .organizar
tradiçD,''i, imitações ou princí-
escolas profissionais - estão
pios; desdém pela teoria. por
mero complexo de inferioridade; cheios de exemplos elo critério
ingenuidade simplista que não prático. em set1s diversos graus
penetra na complexidade e pro- de qualidade. Não é necessirio
fl1ndidac1e das questões; reações citar nomes. Basta analisar al-
extremadas contra a situação guns elos planos recentes ele re-
existente, sem precisão no diag-·· organização executiva - os da
nóstico nem nos remédios; inca- Comissão Houver nos Estados
pacidade para fazer c1i~tinções de 1.) nielos (88), ela Comissão Rowc
grau; e dCf!matis!11o produzido em Pôrto Rico (89) e do Serviço
pela irn:;'lex:lO e os preconceitos. de Administração Pública em E1
.Assim, apre:3cnta-se a antítese Salvador (90), Costa Rica (91)
(h sabcdnria pr;ttica. que tem y;'t- e Pôrto Rico (92).

(88) Commission OIl the OJ'g'anization oi the Executive Branch


of the Government, Reports (Washington: Government Printing
Office, 1949).
(89) Relat/)rio da Cm;~i8siio de R(Orgwiiza~ão, citado acima,
pág. 71, nota 78; MARSHALL E. DIMOCK, Los Objetivos de la Reorga-
nización Gubernamentaí, e PEDRO MUNOZ AMATO, "La Reorganización
de la Rama Ejecutiva", em La Reorganización de la Rama Ejecutiva
(San Juan, P. R.: Escuela de Administración Pública, Universidad
df' PUE'rto Rico, 1951).
(90) Supra, nota 80, pág. 72.
(91) Supra, nota 81, pág. 7:2.
(9~') Supra, nota 7~1. pág. 71.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 77

Os prúticus, sem sistematiza- programas de treinamento prá-


~:ío racional, chegam ao clímax tico para o serviço público:
das dificuldades quando se lhe,; "É necessário dizer que e~ta
(>xige a articulaçào de suas ex- literatura (sôhre os programas
periências para propósitos teó- de treinamento), com algumas
ricos ou educativos. Surgem, en- exceções notáveis e em sua
tão, com crueza implacável, os maioria recentes, não é de qua-
efeitos prejudiciais do empiris- liclade muito impressionante, a
1110 irrefletido, não só porque despeito do grau de favorabili-
êste destrói possibilidades de dade de nossa opinião sôbre o
transmitir idéias e habilidades êxito dos próprios programas. As
por llleio dos processos educati- razões a favor do treinamento
vos e do desenvolvimento da teo- para o serviço público e as con-
ria. senão também porque in j etJ. siderações sôbre os seus prohle-
muitas falhas na própria prática. mas foram elaboradas com um;\
O empirismo é rotineiro e errá- ~rande dose ele ignorância ou in-
tico; diante de sitllaçõé's novas, diferença para C0111 a história de
1I12.nifesta :-ua esterilidade; perde 25 séculos de pCl1:,amcnto sôbrc
a perspectiva e incorrc em distor- a educaçã{). Apesar de serem ill-
separáveis a filosofia da educa-
çôes, subordinando as considera-
ção e a filosofia políticZ\, pouco.;
ções princip~lis às da minúcia
esforços conscientes têm sido fri-
processual. Fàcilmente chega ao
tos nestes círculos a~é agora,
preconceito e ao dogmatismo. para considerar, seja a relação
Impede a análise racional e a da filosofia política C0111 as teo-
comunicação tolerante, desper- rias e práticas pedagógicas, seja
diçando as oportunidades de a relação de cada uma destas com
educação c{)operativa, que a ad- as técnicas da sociedade moderna
ministração constantemente ofe- e os instrumentos disponíveis.
rece. Em conseqüência, há confusão.
Em face das delicadas ques- Distinções importantes são obs-
tões da educação, tais sintomas curecidas. De acôrdo com a opi-
têm conseqüências fatais. Veja- nião de um c{)mentarista, é im-
mos como DWIGIlT \V ALDO re- possível descobrir nesta litera-
sume a situação norte-america- tura o que é exatamente a ad-
na no que se relaciona com os ministração pública, quem deve
78 CADERNOS DE i\Dl\'IINfS'l'RAÇí'ío PÚBLICA

ellsiná-Ia, 11111111 dC\(' ;ljlfCll(k-h na1' administraç;'w pública, esta


(' por que motivos. Felizlllé'nte, verdade evidente é indispensável.
é possível que esta situação seja Do ponto de vista da educação
logo remediada: "úrias publica- para o serviço público, o realis-
ções recentes - apesar de 11;\0 mo acaba de conseguir uma de
coincidirem em suas opiniões - suas melhores conquistas nos
fizeram consideráveis progressos Estados Unidos. Com o propó-
na defini':3o ele objetivos, consi- sito ele apresentar problemas ad-
deração de meios e apreciação ministrativos, tal como existem
de resultados" (93). na prática, e ensinar os proce:;-
Esta ach'ertência sôbre o,; Es- sos da administração pública em
tados -Cnidos deyc aproveitar a sua realidade viva, um comitê in-
outros p~íses -- os ela América tegrado por professôres de "á-
Latina. por exemplo -- onde se rias universidades publicou em
estão iniciando agora programas 1952 um livro de rasos intitu-
ele eelucaçüo para o serviço pú- lado Pub!ic Administratiol1 alld
blico. 1\ os períodos de reforma Policy Development (94). Em
administrativa, é natural q1le sua introdução e na apresentação
haja entusiasmo pela prática e dos casos, os autores revelam
impaciência com as formulações uma sólida base teórica e m;:to-
teóricas. Mas a sabedoria prá- dológica: o estudo de tôdas as
tica somente se alcança com a su- fases da administração pública e
peração do empirismo ingênuo, suas relações, incluindo o as-
com a interpretação da expe- pecto político; a compreensão da
riência, que deve ser realista, dinâmica dos processos adminis-
mas l1em por isso deixar de ser trativos; a consideração de valo-
teoria. Quando se trata ele ensi- res éticos; a utilização dos c1'i-

(93) WALDO, op. cit., págs. 30-31.


(94) HAROLD STEIN (ed.), Public AdministTat-ion and Pol-icy
Development (Nova York: Harcourt Brace & Co., 1952). Vejamos:
KENNETH C. DAVIS e JOSEPH P. HARRIS, "Reflections of a Law Pro-
fessor on Instruction and Research in Public Administration; An
Exchange"; A merican Political Science Review, XLVIII (março, 1954),
pág. 174; KENNETH C. DAVIS, "Reflections of a Law Professor on
Instruction and Research in Public Administration ", American Poli-
tical Science Review, XLVII (setembro, 1953), pág. 728.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRA~'ÃO PÚBLICA 79

tenu::; (h o; ciellcia.\ slwiais; ;\ (Js problemas. as hiplJtcsc~ pro-


aplica(;ã(, dos conhecimentos e postas como s01\1(;6es, para de-
métodos na s()lução de prohle- pois formar juízos sôhre os mé-
mas prúticos: e a revisão rigo- todos. Mas, tamhém é certo que
rosa das generalizações à luz dos lhes cumpre adquirir consciência
fatos observados e anotados com de tais questões, orientar sua
maior exatidão. Esta é a atitude perspectiva, aguçar seu entendi-
eclética e realista, sem illgenni- mento e afinar sua sensibilidade
dade teórica, que no ensino da para extrair melhor significado
administração pública está ahrin- das situações concretas que hão
do caminho, ràpidamente. 110S de estudar posteriormente. Estas
Estados "Cnidos. Ainda qne êste cnnsiderações metodológicas de-
não seja o momento para apre- \-em ser tomadas C01110 advertên-
ciar os méritos pedagógicos de::;- cias preliminares e pnwisórias
.'ia atitude, antecipamos aqui suas -~ pontos de partida.
características principais, porqu\' De modo geral, a administra-
constituem uma das melhores ção pública ainda não adquiriu
i1l1Strações da atitude prática. capacidade ,;uficiente de intros-
pecção para e~c1arecer seus difí-
D - Resumo das advertên- n~js pmhLi1~as d(~ método. A his-

cias metodológicas t(Jria de Sé'U desenvolvimento


ainda não +"i escriéa; os textos
Ü exame crítico que acabamo~; quase Ilcc,lCl h;eLm explicita-
de fazer das principais tendên- mente :ou:' s preferências metodo-
cias contemporâneas na sistema- lógica~: por tôdas as partes ain-
tização da administração pública da é mister insistir na considera-
é indispensável para desem"olvi- ção da llletodologia. Estas razões
mento do assunto. :\ alguns lei- justificam a inclnsão de tais ad-
tores, que fazem sua primeira \'Crtências preliminares no pre-
incursão na disciplina por meio ,;('n! trabalho.
f'

dêste Caderno, as referidas consi-


derações metodológicas poderã(, ,, , A utilidade dos métodos das
parecer moldes vazios, elabora- ciências naturais
ções puramente formais. seUl
conteúdo concreto. É que êles C:tda disciplina deve adaptar
precisam conhecer antes os tatos. seus métodos às peculiaridades
80 CADERNOS DE ADMI~lSTRM.'AO PllBLICA

dos problemas lrue constituelll u l'iêllcia~ llaturai" podelll ser l!e


objeto de seu estudo. E' o que grande proveito para as ciência ~
ucorre. por exemplo, !las distin- sociais, pelas seguintes razões;
tas ciências naturais. As classi- 1) As ciências naturais de-
ficações da biologia, as generali- senvolveram técnicas muito efi-
zações da física, as predições da cientes para o conhecimento dos
astronomia, as aplicações práti- fatos. S'ua insistência na objeti-
cas da medicina, representam vidade das ollservações e na per-
adaptações do método científico cepção exata da realidade deve
às diversas manifestações da rea- servir de exemplo para os estu-
lidade natural. Os estudos so- dos sociais, e1;1 que tanto aht1"'-
ciais têm q\1e ser encarados e da a fantasie}.
formulados exatamente C01110 () É certo que em nosso call1Jx
são as questões metodológicas. de estl1do há dificuldades espe-
Ao passo que as ciências na- ClalS.
turais se ocupam C0111 descrever O oben"aclor é parte da reali-
os fenômenos do mundo mate- dade que e8tuda; está condicio-
rial, os estudos sociais enfren- nado por ela; será afetado por
tam o problema da ,"ida humana suas próprias interpretações. Se-
em sociedade, que exige nãCl leciona e interpreta os fatos de
apenas fórmulas descriti\"as. mas acôrdo com suas experiências an-
também juízos normativos. ivIes- teriores; e esta subjetividade do
mo no plano da interpretação conhecimento é mais intensét
analítica ou descritiva a tarefa lluando se trata de fatos huma-
torna-se difícil, porque o homem nos. Mas ainda assim, não há
é, antes de tudo, um ser espiri- dúvida de que existem enormes
possibilidades de aumentar a ob-
tüal, livre, em busca de propó-
jetividade nos estudos sociais.
sitos. Não obstante, \"ejamos
Com métodos adequados a con-
mais de perto como podem apro- dição de observador-participan-
veitar-se, nos estudos sociais, as te pode converter-se em vanta-
grandes conquistas metodológi- gem. pois permite uma percep-
cas das ciências naturais. ção interna que está vedada a
Uma vez afeiçoados devida- quem estuda a natureza.
mente às peculiaridades dos pro- Os fenômenos sociais exigem
blemas humanos, os métodos das meios cle observação aplicáveis à
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 81

sua condição especial. Não vale possível a comunicação das ob-


a pena contar o número de pa- servações e int~rpretações com
lavras de uma constituição, em- suficiente seRnr2.nça. A exatidão
bora seja importante excluir na comunicação é indispensável
dela tudo o que não tenha cará- para o progresso de qualquer
ter fundamental. Pela mesma ra- disciplina. Sem ela. cada estu
zão. resn1ta inútil observar a re- dioso tem flue começar do prin-
gularidade de uma prática ad- cipio; não pode confiar nas con-
ministrativa, para predizer sua tribuições de seus colegas -
repetição, quando estamos con- ainda supondo que as observa-
vencidos de que deva ser suspen- ções e interpretações haiam sido
sa, por não conduzir a resulta- feitas com rigor. Nas ciências so-
dos convenientes. A necessidade ciais e, especificamente, na ad-
de adaptar o critério à natureza ministração pública, é difícil en-
do problema é comezinho para contrar conceitos e têrmos com
os físicos e demais cientistas da significação bem definida. A ex-
natureza, mas não para os que periência das ciências naturais é
estudam as relações humanas na aproveitável neste sentido.
sociedade. No entanto, o rigor 3) A sistematização lógica
dos historiadores contemporâ- das ciências naturais constitui
neos com o método da documen- outro exemplo que deve apro-
tação, as observações cuidadosas veitar aos estudos sociais. Quan-
dos sociólogos e antropólogos e to a isto, a administração públi-
a exatidão das estatísticas eco- ca tem muito que aprender com
nômicas são amostras do que se suas Irmãs - a economia e a
pode conseguir nas ciências so- teoria do direito. A utilização
ciais. inclusive na administração das mensurações, relações quan-
pública (95). titativas e elaborações matemá-
2) As ciências naturais de- ticas pode ser proveitosa, se fei-
senvolveram sua conceituação e ta com a devida cautela. É osten-
terminologia de modo que torna siva a cegueira freqüente de me-

(95) Vejamos, como excelentes exemplos da aplicação dos méto-


dos estatísticos na ciência política: V. O. KEY JR., A Primer 01 Statis-
tics lor Political ScientiBts (Nova York: Crowell, 1954), e Politics,
ParUel1 anel Pressure Group,q (3. a ed., Nova York: CroweJI, 1952).
82 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dir coisas sem importância, ig- leção dos meios administrat! \'OS
norando as verdadeiramente sig- conducentes a efeitos determina-
nificatiyas, por não se prestarem dos, a avaliação da cfetivid;l,de de
ao cômputo matemático. Con- tais meios para produzir os
tam-se por dezenas os estudos fins desejados e o descuhriment()
sociolc)gicos que pertencem a de nO\'a; alternativas mais efi-
esta classe. Com referência ao cientes. Nestas formas, o estudo
pbnejamento, a obsessão pelas analítico é uma hase incli,:pen<l-
estatísticas conduz ao armazena- vel para as decisões normativas.
mento de cifras e mais cifras, Devemos tomar cuielado a fim
sem qualquer referência ao pro- de não incorrermos no mecani-
blema da formulação de pautas cismo ingênuo que, diante dos
ele conduta. Notamos também problemas da conduta humana,
que a fobia contra a individua- quer encontrar uma explicação
lização das decisões é produzida causal para tudo. Temos ouvido
pela mania da generalização, tantas yêzes justificarem a cor-
pelo anseio de fazer regras de rução no govêrno como produ-
aplicação geral para tudo. to de causas sociais, que deter-
4) Os estudos sociais podem minam inexoràvelmente as ações
haurir grande proycito dos mo- dos governantes! A podridão elo
elos empregados pelas ciências govêrno é, sem dúvida, um re-
naturais para traçar os nexos de flexo elas condições sociais, mas
causa e efeito. É certo que a não se trata, em casos como êste.
complexidade e variabilidade das de atribuir inevitabilidade me-
situações humanas dificultam a cânica a tais fenômenos para
tarefa de isolar os fatôres e de- contemplarmos com resignação
terminar snas conexões causais. sua regularidade ou dedicarmo-
Mas, apesar destas limitações, nos à dura e longa tarefa ele eli-
podc obter-se muito mais do que minar, uma por uma, as supos-
se tem ohtido até agora. Por tas causas sociais, para que e\'en-
exemplo, a psicologia proporcio- tualmente se produza o efeito
na explicações da conduta huma- desejado. Há outra forma, b(,111
na que os administradores não mais realista, de encarar o pro-
podem ignorar. Dentro do âmbi- blema, qual seja a de reconhecer
to das interpretações descritivas, que a natureza humana é telco-
(' possíwl melhorar muito a S('- lógicil, conta com capacidacl(' r;\-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 83

cional e tem vontade livre. O falível. Neste campo já não se


caminho certo para a reforma é concebem as fórmulas como
orientar e educar a conduta de seguras, mas somente como alta-
governantes e governados em mente prová-z,'eis.
direçào aos valores éticos de ho- Cumpre reconhecer, além dis-
nestidade. As considerações me- so, que a realidade física, quando
canicistas têm importância, mas comparada com a enorme com-
somente em plano ~t1hordina('o i plexidade e variabilidade da vida
questão moral. humana, caracteriza-se pelo pe-
5) As generalizações descri- queno número cle fatôres domi-
tivas das ciências naturais, sollrc nante',. a simplicidade das rela-
tudo as da física, são ohjeto ele- ,:ies tlltre êstes fatôres e o alto
admiração por parte dos e~tudio-­ grau ele continuidade nos fenô-
sos da realidade social. Den~11lo-; mcno::; (96l.
notar aqui ljue a,~ formas e gr:ll1"; Vi~;tas ;'l luz ela unidade sis-
ele generalizac;ão variam eetre as temática da iísica, ao; ciênci:Ls so-
ciências da natnreza. não somen- ciais e, em particular, a admi-
te pela etapa de desenvoh-imentlJ Ilistração pública, apresentam
em que cada nma se encontre. poucas generalizações de aplica-
senão também I>élJ.s cxi2';ência:; hilidade razoável. Admitindo
dos respectivos obje!os de es- mesmo que haja margem muito
tudo. Assim, a J)iologia e a ana- ampla para superar o presente
tomia diferem el:l física e da as- e~tado de desenvolvimento, deve-
tronomia. O que calibra a aele- ElOS m:tntel"-noS sempre atentos à
quaçào ele uma ciência não é o natureza peculiar dos fenômenos
seu grau de generalização, e sim que queremos entender. Nossas
a sua exatidão descritiva. fórmulas descritivas devem cons-
Devemos também lembrar que tituir-se e postular-se com cau-
nas ciências físicas foi necessário tela, como hipóteses. Sua aplica-
rever, recentemente, à luz das ção a situações concretas deverá
novas teorias ela relatividade. sempre ser condicional, em con-
todo o sistema teórico, que por seqüência das eventualidades
tanto tempo fôra considerado in- que surgem dos tatôres e elas rc-

(96) FELIX KAUFMANN, La Metodología de las Ciencias Sociales


(Méxieo: Funrlo <lf' Culturn Eronômi("H, 1946), págs. 190-196.
84 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

lações variáveis e, sobretudo, da tal, que tanto tem servido às


capacidade criadora do homem. ciências naturais para verifica.r
Não podemos deixar que o suas hipóteses. Esta crença ig-
efeito deslumbrante das constru- nora o fato de que, em alguns
ções teóricas nos impeça de des- campos - a astronomia, por
cobrir seus defeitos de exatidão exemplo - , as investigações sô-
empírica ou adequação teleológi- bre a natureza se processam sem
ca. Relembremos a experiência experimentos controlados. Por
da economia clássica que, no pro- outro lado, a experimentação é
cesso de construir um arcabouço útil e indispensável nas questões
teórico de admirável consistência sociais. Apesar de os homens.
lógica, negligenciou a necessida- por sua dignidade e liberdade
de de verificar sms premissas essenciais, não poderem ser ma-
descritivas e suas finalidades nipulados para fins de experi-
éticas. Teve que modificar seus mentos controlados, como se fôs-
postulados para atender às refu- sem meros elementos químicos
tações da realidade. O mesmo ou cobaias, é possível submeter
ocorre com as elaborações lógi- à prova hipóteses descritivas ou
co-positi vas da escola analíti- normativas, desde que se proce-
ca do direito, que assinalamos da com as devidas precauções. A
anteriormente. vida humana é uma aventura
Os princípios de admillistra- constante. Diàriamente, em todos
ção pública de que hoje dispo- os setores de atividade põem-se
mos nada mais são do que hi- em prática novas formas de con-
póteses, guias, que se devem duta, variações diversas, rela-
adaptar cuidadosamente às COll- ções diferentes. O que falta é a
dições culturais e psicológicas observação sistemática dessas
das relações humanas e aos pro- experiências. Esta percepção das
pósitos da atividade administra- conexões entre os fenômenos
tiva. Qualquer tentativa de atri- ocorridos, isolando os fatôres
buir-lhes validade absoluta care- relevantes, descobrindo os resul-
cerá de base e terá conseqüên- tados significativos, é que cons-
cias prejudiciais. titui a essência do método expe-
6) Freqüentemente se acre- rimentaI, independentemente de
dita que, nos estudos sociais, não haver sido, ou não, planejada f'
é possível () método f'xperimen- controlada a situação dos estu-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 8;)

dados. Antes de tudo, () que se de regularidade O\l variabilida-


requer é a disposição para veri- de. Em muitos casos, as predi-
ficar as hipóteses - prospecti- ções estão condicionadas pela
va ou retrospectivamente - e continuidade ou igualdade das
confrontá-Ias com a realidade circunstâncias. supondo-se a não
empírica (97). intervenção de variantes. Eis
Pensemos, I){)r um momento, por q\le. em face de situações
nos programas internacionais concretas, a meteorologia e a
para melhorar a administração medicina, por exemplo, sumente
pública em certos países aos podem falar de probabilidades
quais levam práticas administra- muito relati,-as, ao passo que a
tivas que em outros lugares se astronomia, por estudar condi-
~" .. ..;icleram boas. Se prevaleces- ções mais estáveis, consegue um
se, sempre, nestes esforços. a grau mais alto de probabilidade.
atitude experimental, de cons- Nas situações humanas as
tante verificação empírica. em condiçôes variáveis são 111uita~.
lugar das pretensões dogmáticas Além disso, as predições têm um
ou pseudocientíficas, estaría- deito sugestivo capaz de gerar
mos em vésperas de grandes sua própria comprovação ou re-
contribuições para a felicidade futação, conforme o caso. O
huma1la. E isto porque analisa- homem é, antes de tudo, um ser
ríamos o contexto de experiên- racional e livre. q\le constante-
cias em que se desenvolveram as mente altera o curso dos aco:\-
hipóteses, trataríamos de iden- tecimentos com sua capacidade
tificar os fatôres que entraram criadora. toma novos rumo:;, e
em sua formação c estaríamu:, destrói as prediçiícs dos cien-
dispostos a sondar cuidadosa- tistas.
mente as condições culturais nu N a maior parte das vêzes, a
processo de nOvas aplicaçi,)",.,;. iorma eiicaz por excelência de
7) No que toca às predições, predizer a conduta humana con-
as ciências naturais observam (' siste em orientá-la na direção
descrevem os acontecimento:; em desejada, ao Í1wés de se obser-
têrmos de maior ou menor gra\l \'ar seu curso. C01110 espectador

(97) KAUFMANN, op. cit., pág. 198.


86 CADERNOS DE ADMINISTRM.~t;O FlII:r,TCA

passivu, à procura de regulari- signar sistl'l11as de pellsalllento e


dades que não existem. Então, o prática qne incluem não sômente
problema interessante e difícil proposições desnitiyas slJhre o
será o de traçar o rumo e sele- que é, como também proposições
CIonar os meios de orientação. normativas sôbre o que d C"<!i'
Por mais úteis que possam ser scr. É o caso elas expressões
as predições descritivas para a ciêllcia polítira, ciaJ1cias huma-
solução dos problemas humanos, nísticas, ou ciancias sociais, quan-
estarão sempre subordinadas à do elas envolvem considerações
natureza normativa do homem. éticas sôhre os fins da viela l1t1-
Em síntese, os métodos das mana.
ciências naturais podem contri- Independentemente elo uso dus
buir muito para () desenvolvi- vocálmlos e de suas acepções
mento dos estudos sociais e, em mais ou menos imprecisas, o
particular, da administração pú- que nos interessa arllú é com-
blica, se amoldados às peculia- preender a essência do método
ridades dos problemas humanos, descriti7'O e suas limitações em
sem imitações ingênna~ 11<:111 prc- face elos problemas humanos.
tensões cxces.;iva.;. Primeiramente, é necessário real-
(;ar a prl'll1is~'a, tantas vêzcs es-
2. O problema dos valores quecida, de que nenhuma inter-
éticos pretação do que é pode respon-
der a questões sôhre o (lue dCi'c
Diallte dos problemas da vi- scr. Por mais exata que 5eja,
ela bumana em sociedade, cos- uma proposição descri ti \"a não
t uma-se definir o tênno ciên- nos habilita a deduzir direta-
cia como apliGlção dos métodos mente conclusões normativas. O
descritinJs, positivos que ca- problema das ciências naturais
racterizam as ciências naturais, somente exige entendimento de
embora não alcancem, qt:andn como funciona a natureza, ao
adaptados às peculiaridades lh passo que o problema dos estu-
realidade social, g-ran ele ade- dos hUil1~l11ístjccs e, dentre êles,
quação comparável ao dos estu- os sociais, requer an:dise, não
dos da natureza. somente de como é a conduta
É certo que, algumas vêzrs, humana, mas tCll11héí11 de C0mo
o vocábulo ciêllcia serve para de- dez1c ser.
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇ,\O PÚBLICA 87

Tão logo passam da mera des- em alguns casos, por simples ill-
crição de fatos para as recomen- consciência ou omissão.
dações sôbre as práticas existen- A análise descritiva tem, no
tes, os estudos administrativos entanto. enorme utilidade para
adquirem imediatamente conota- as decisões normativas. É muito
ções normativas. Em adminis- fácil provocar resultados opostos
tração de pessoal, organização e a nossos propósitos por não en-
métodos, finanças, enfim, em tendermos a realidade. O primei-
qualquer setor da administração ro passo para prevenir isso é o
pública, as recomendações sôhre conhecimento exato dos fatos e
o que se deve ou não fazer ba- de suas inter-relações. Assim po-
seiam-se' em última instância, deremos começar a compreender
em preferências éticas. nstes os problemas e a perceber as al-
juízos de valor permanecem ge- ternativas exeqüíveis para solu-
ralmente inarticulados, como cioná-los.
pressuposições que não se dis- Por mais altruístas que sejam
cutem. Mas sempre estão aí para nossas intenções, não poderemos
dar sentido às interpretações tornar a distribuição econômica
descritivas. Sem êles, os mais mais equitativa se não conhecer-
exatos descobrimentos de fatos mos como funciona o mercado
seriam completamente neutros de bens e serviços. Similarmente.
diante do problema do que fazer. de nada vale a convicção em fa-
Isto significa que as fórmulas vor da eficiência no serviço pú-
puramente descritivas podem blico, se não soubermos quais
servir indistintamente à honesti- são os meios que conduzem a
dade ou à corrução, ao interês- êsse objetivo. A ignorância da
se geral ou ao egoísmo de um realidade pode levar-nos inclu-
grupo, à liberdade ou ao auto- sive a exigir dos homens mais do
ritarismo, à justiça ou à injus- que são capazes; ou a propor in-
tiça. Diante das situações con- gênuamente remédios superfi-
cretas da realidade, essas fórmu- ciais para seus problemas. Daí
las necessitam do complemento a grande utilidade da atitude
dos juízos valorativos. A prática científica, a qual busca o conhe-
da administração pública é uma cimento necessário para diagnos-
série contínua de decisões dêste ticar as situações; traça as ra-
tipo - explícitas ou implícitas; mificações dos problemas; escla-
88 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rece as COIlCXllCS ell tre meios c adl1linis tração pública é esscu-


,fins; descobre novas alternatiyas cialmente uma disciplina prática.
para relacioná-los; indica as con-
seqüências das hipótest;s ; demar- 3. O objetivo final - teoria
ca os limites da capacIdade nor- e prática
mativa dos homens e proporcio- N o estudo d~ administração
na sob outras formas, as bases pública, o objetivo final é me-
, , 1
para as decisões. Sem este." e e- lhorar as práticas administrati-
mentos de juízo, as consldera- vas do govêrno, para, assim, me-
.ções normatiyas c.arecem ~e fu~­ lhor servir aos interêsses públi-
Jamento na realIdade, nao so- cos, aos ideais c às necessidade"
mente no que se refere à sua do povo.
aplicabilidade prátfca: mas, .tam-
Como já vimos, por ser um,
bém, em sua propna valIdade
disciplina prática, a aclministra
,ética. Afinal de contas a seleção
ção pública exige a síntese da~.
de fins consiste, em grande par- interpretações descritivas e nor-
te, em enaltecer a qualidade hu- mativas para a solução de seus
mana até o máximo possível,
problemas concretos. Tôda deci-
tlentro das alternativas impostas são administrativa tem que levar
pela realidade. . em conta e harmonizar elemen-
Daí a respeitabilidade da POSI- tos de ambas as classes.
ção metodológica que l?r~coni~a Aqui surge o problema da co-
a análise dos fatos SOCIaIS, deI-
Illunicação entre a teoria e a
xando a outras matérias a tarefa
prática. Os práticos sem teoria
normativa. Há tanto por fazer
no esclarecimento analítico das não conseguem interpretar suas
relações humanas. e será tão útil próprias experiências, nem, tam-
ICssa tarefa para cimentar .as ~:­ pouco, explicá-las àqueles que
cisões valorativas, que se JustIfI- cultivam a sistematização teóri-
ca tal divisão de trabalho. l\1as ca. Inversamente, há estudiosos
de qualquer modo cumRre. cons- que não conhecem as experiên-
truir a ponte entre a CIenCla e a cias práticas e, por esta razão,
filosofia social, a fim de que as suas teorias carecem de base em-
aplicações práticas .selan; bem pírica.
orientadas. E esta exlgencta con- Impõe-se, pois, nos programas
duz-nos à conclusão de que a de educação para o serviço pú-
TEORIA GERAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 89

blico, nas investig:lções, a neces- as sensibilidades e habilidades;


sidade de unir, mediante esfor- estimula-se a devoção aos pro-
ços espeCiaiS, êstes elementos pósitos; aviva-se a simpatia hu-
complementares na atividade mana, que facilita a colaboração;
quotidiana da administração. É e inspira-se a capacidade cria-
requisito indispensável capacitar dora elo homem.
os administradores p:na que po~­ COIlsCI;úcntemclltl', a silllplifi-
sam analisar e orientar racional- c:u;.1 I ) (111 que incorrem alguns
mente sua conduta, e contribuir entusiastas defensores da siste-
assim para a educação de seus matização administrativa, ao pro-
colaboradores, interpretando pa- clamar a administração pública
ra êles a significação de suas ex- como ciê/1cia. constitui êrro gra-
periências. Os estudiosos, por \"C. Cumpre advertir que esta
sua vez, devem estar di;;postos a di,;ciplina, ;'[ margem ele su:::s in-
assumir a posiç~lo de participém- st111clencias analíticas atuais,
tes, com plena responsahilidade, apresenta-se como ciência aPli·
para que possam afinar sua ,('11- cada em certas manife,;tações, e
sihiliclac1e prática. como arte, em outras. O conjuro
Há, 110 entanto, certas cxp::- da palavra 11ligica -- ciêilcia --
nencias que não se prestam l:ão é o melhm' meio, l!e,tc caso,
a sistematização teórica. N es- :,ra fazer {) mib:;re.
te sentido, a administração IÚO
é ciência aplicaeh, senão ar- .1. A unifieação dos estudos
te, Sem nega r fj \lê' a !in ha rI i- sociais
visória pode 1110\"er-5('. amplian- 1'elr (livci"ioS caminhos che-
do o setor elas formulações teó- ga1l10S à cmlclusão ele que os
ricas, é necessário destacar a
problemas ela viela humana em
proeminência do ingrediente ar-
,;ocieelaclc não se amolelam à de-
tístico. Quandü se ignora o fa-
tor artístico, o estudo, a apren- partamcntaliz:lção que lhes têm
dizagel11 e a prática da adminis- querido im[Nr os estudiosos. O
trae;ãu se redu;~e11l a mero exer- cntrehç:\lll':'ni () de stJ:lS distinta"
cício mecânico de regras. Mas, fases l; tão complexo, que a [\J-
se est:1 presente a cnllcepçii.o fi" calizaç;lo analítica de <jua 1CFllT
que o trabalho aumi;listrutivú ,: delas s,'llnente 110, pode dar in-
também arte, então se cultivam terpretações fiéis, quando revela
90 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

o seu enredamento com as de- vara as suas raízes psicológicas.


mais. É por isso que, atualmente, sociológicas e antropológicas e
as tendências no sentido da uni- orientando as aplicações práticas
ficação. convergindo de todos os para a realização de normas
setores dos estudos soci::i". <io éticas.
tão fortes. Embora a especialização seja
Se no século XIX pr.'d'l1nillt)\l muito útil, porque concentra a
o empenho de criar ciaJ/cias so- atenção em problemas específi-
ciais autônomas, cada qual C0111 cos e permite assim maior dedi-
sua província bem delineada. e cação a êles, às vêzes conduz ao
com U1êidade interna, o século superficialismo, faz perder a
XX apresenta uma trajetória perspectiva e obscurece a signi-
que conduz à integração elas in- ficação do panorama geral. Os
terpretações sócio-filosóficas. Por
problemas práticos da adminis-
tôd~'." as partes aumenta o ím-
I >cco da tendência unificadora: tração pública exigem a ~í!1tesc
- no realismo: nas escolas só- dos ensinamentos l}1\C os respec-
cio .. [ilosóficas da teoria do dirci- tivos estudos sociais nos ofere-
to; nas aspinH;ões da antropolo- cem. O servidor público l1cces,;Í-
!l,ia COl1!O conceito integrador da ta de visão de conjunto. Não
cultura; lJaS invrstigações da pode parar nas fronteiras dos
psicoloi;ia-socd e da sociologia; departamentos analíticos, ne11\
t' até I1~S recentes concepções da fugir as questões normativas.
economia. Estas exigências, que recla-
Na administração pública. a mam a unificação dos estuclos
escola das relações humanas, a sociais, libertanclo-os dos exces-
filosofia política e as melhores sos de cientificis11\o e especiali-
expressões do realismo prático zação e projetando suas inter-
representam, em conjunto, os pretações para a solução de pro-
mais prometedores intentos de blemas práticos, constituem a
unificação. Sem ignorar os ele- mais digna aspiração da disci-
mentos jurídicos e formais da ad- plina. Ainda mais. é provável
ministração governamental, tra- que, no fim de contas, csta venha
tam de col11;Jreender a dinâmi- a ser uma elas mais \'aliosas C011"
ca de se1ls processos. em tôda tribuições do século XX paq ~t
a sua complexidade. atentando felicidacle humana.
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