Sei sulla pagina 1di 116

1

Outras obras de interesse'.

Jean Shinoda Bolen, M.D. o TAO E A REALTZAÇÃO PESSOAL


lohn Hcider
TAOISMO O cllrnnro pene e
-
IMORTALIDADB
Iohn Bloleld
TAO-TE KING

A TAO
LaoTzu

-
DO CORFO
Tn,usron lr.lçÃo DA MENrE E

SINCRONICIDADE Hwi-ChinNan
OS MESTRES DO TAO

EOTAO Henry Normand


CHUANG-TZU Escnrros rÁsrcos
- (org.)
Bwton Watson
A ENERGI4A CURATIVA ATRAVÉS
DO TAO
MantakChia
O LIVRO DO CAMINHO PERFEITO
(Tqo Te Chine) Lao Tsé
-
O TAO DA FISICA
Fritjol Copra
I CHING O r-rvno oes *ruuçõrs
t_tl -
Richard ll ilhelm (org.)
I CHING ILUMINADO
Diversos
Ft
JI.]NG E O TARÔ
o Sallie Nichols
O DESENVOLVIMENTO ADULTO

I
DE C. G. JUNG
J ohn-Raphael Staude
Cultrix

)
ASINCRONICIDADEEOTAO

§
§ 3s
ãc
§$ ãFÊ
ÉUltr

ô §o
I

W I
I

I
JEAN SHINODA BOLEN, M.D.

ASincronicidadeeoTào

Tratuçtu
AIÁYDE MUTZENBECHER

+
EDrroR.À_crrlTnx,
SÍo Paulo
L9?4, Â38 p
Título do oriinal:
The Too of Ptycltology: §yrctwntctty ord thc SalÍ

Copyriht @ 1979 by Jcen Shinoda Botat

Edlção
.2-t"1-5.6. r-6.9
J E6-$-90.9 r .92.95

Direitot rescnado
EETTORACULTRD( LTDA.
Rur Dr. Múio Vicente.371-0{'270 Sío hulo, Sp - Fone: 63 3t,Íl
lmprcw nos oficitrtt gnilicat do Edttom Pcnsmanto.
§UMÁRI O

PÍrftciD ll
Gpínúo I O que é oTao - O que é a dança 15

Crpítulo 2 Jung,a sincronicidade e o §ef 27

Crpítulo 3 A obordagern da sincronicidade por Agaúa Chriíie 43

Capítulo 4 Como num devaneio 57

Capíttúo 5 Encontroc significâtivo8 e o elemento dncronrstico


casameÍrteiÍo 7l

Cspítulo 6 A sabcdoria sincronística do I Aúng 85

Cepítulo 7 Peças perapsicológicas do qucbn+abcça sincronístico 97

Capítulo t O Tao como um caminho com o coração 113

Capítulo 9 A mensagem da experiência do Tao: náo estamos Ús 125

BiHiografia 135
PREFÁCIO

"Qurndo o discípulo estó pÍonto, o mcstÍe aparece." Essc antigo


ditado chinês descrew umr idéiâ básica do Pemâmento oricntel: a @ne-
)(ã0 entÍe a pstque humana e as ocorÉncias exterioÍB' entrc o mundo
interioÍ e o exterioÍ. A sincronicidade, definida por C. G. Jung como
"coincidência simiÍica tivâ" , é uma msneiÍs @Ílo essa coneÉo é ex'
pÍe§§a no nosso cotidliflo A mente oriental considerou oomo realida' i)
de essencial a conex6o subja ê€nle entÍe nÔs ê -_ol gutrosr entrc-nós e o 1 lt
univeÍso, e a denominou To. Pua aqueles que senttan o Poder dos
eventos, e en@ntÍos que PsÍe@m conteÍ sigrilicados mú pro-
fundos do que os que têm em 3i mesmos, essa pode ser uma janela que
se abre a um mundo mais amplo e mais perfeito do que o mundo do ra'
ciocínio lógico e dos fatos @ncÍetos.
A êstÍutura dc íe livÍo não é linear poÍque o meu tem,â-é. â btldlga'
e a totalidâde Em vez-d-isso, éít-*t-fryl üagêm ciÍculaÍ giÍanAo
em -
ta do tema ou, usândo a palavratilãõ-ãiliõtrF-niiãcia alada
por Jrurg, será uma "qg!Ín_{4!!LlÉ9", rcvelando os asPecto§ que Podem
ser focalizados, iluminando uma paÍte de cada vez - do mesno modo
que â sonda circulou em voltâ do planeta Vênus, tiÍando uma
séÍie de fotografias. Os capítulos úo como essas fotogr aíias, cada qual
ÍrostÍaÍrdo um aspecto da sincronicidade e do Tao s pâÍtiÍ de uma peÍs'
pectiva difeÍente.

lt
Minha introdução ao Tao deu-se atnÉs de uma experiência pessoal.
As explica@es vieram depois. Para os que exjraem a maioria do§ _s!gniÍi.
vo@artir
cados das idéias , eu apÍe§ento e xpliõ@s que I de minha
o_ pngei[9-_d:gLaSnq-ojlgidade é eqúydente_ ao-Tao e os
.... a tt_t'' cxgeÍlência
-
motivos pelos quais nós, ocidentais, tivemos diÍiculdados em saber avaliar
esse conceito oriental da realidade subjacente. Outros talvez posam revi.
rer a lembrança de terem tido uma experiéncia do Tao, através da qual a
idéia pode seÍ intútivamente conhecida.
Minha compreensão dos conceitos de Jung s resp€ito da sincronici.
dade, dos âÍqútipos, do inconsciente @letivo e do se{f, desenvolveram-
se ao longo da minha carreira de psiquiatra. Uma compreensão da teoria
1
I junguíana ajuda a captsr o pleno significado da sincronicidade. E,
no en.
tanto, a @mpÍeensão também pode surgir por meio dos exemplos e des.
cri@es que os capítulos oentrais focalizam.
A sincronicidade pode ser araliada de modo mais imediato quando a
,r fvêmos op€ÍaÍ no nosso dia.a-dia. QgfElg_lg_rfrpyilhar com voçês os
pélo_dolquedpsenvolvipqr?-pesqüsaÍ_--;t[dEôspo-síúiiGgnifica--
^f
' ldos de um evento sincronístico e pâÍr compreender como cada ocorrência
/ isincronística pode conectar-nos com algo especíÍico de nós mesmos, assim
I omo pode revelar conexões @m os outros.
Além de explicar acontecimentos do cotidiano, o conceito de sincro
dar um no_vo -ponto de vista a respeitg de certas idéias.
nrer_d_g9e.pg_d_e_rps
OI ChW, por exemplo , é um método oracular em ue aquele que peÍgun.
ta voca de[beradamente uma "leítura" atrar{s da $ncKrru , que
então aonselha as aÉes ou atitudes apropriadas ao momento e à situação.
r iA sincronicidade verte um fluxo de luz sobre a pesquisa da parapsiologia
jt lÍe substancializa a existéncia de conexões entÍe nós e os outÍos ou entre
Inós e os objetos.
Grande paíe do valor da sincronicidade jaz em sua habilidade de nos
Iigar a um princípio intuitivamente percebido e que confere um sentido I
nossas üdas, atrav'és do gual podemos encontrar um "caminho do oora-
ção", um tao, vma maneira de viveÍ em harmonia com o universo. A sin-
cronicidade nos pode dar a confirmação de que estarÍros no caminho oor-
reto, do mesmo modo que pode nos cpmuníctr quando não o estaÍnos
seguindo.
Finalmente, num nível mais profundo, a sincronicidade nos pode
conduzir à oonscientízação de que somos parte integrante de algo müto
maior do que nós mesmos e a um sentido de totalidade no arqútipo do
§ell, expresso como uma metáfora pela lrnda do Graal, pelo conceito
do Reino de Deus ou pelo íetoÍno ao Tao.

t2
AGRADECIMEI{TOS

Por participar de un ercnto siÍcÍonístioo, pelo conselho editorial,


por informapes auxiliaÍes, pela datilografia do texto e poÍ todâ e quâl'
quer ajuda na elaboraç6o deste livro, agradeço a Daúd F. Brown' lois
Búis, Marie Cantlon, Georgiana Cummings, Tenita Deal' Mary Ivy Dekker,
Kaúleen Gauen, JaÍrs Goodwin, Jean Hayes, Kay Hensley, Ann Hogle'
Nrncy Haugen, Chauncey lrvine, Donna lGsper, David lombardi, Jr.'
lrene Peck, Linda Purrington, SÂÍú Rush, Comeüa Schútz, Nancy Scot'
ton, Fredeiich Sreele, Lynn Thomas, Judy Vibberts, Kimberley Wilkins,
Carol lVolman, Jim Yandell.
Apesar de soÍ o autoÍ dêste livÍo, sinto teÍ §do também um PâÍtici'
pa[te priv[eBiâdo de um a@ntecimento siÍlcronístico. Houve coincidên'
cias frvoúveis de pesoas e de ocorÉncias desde o início que facilitaram
e âpoiâÍsm â suâ criâçlo e publicação' Coníio também que este livro che'
gue às mãos de todo aquele a quem devÊ chegaÍ, sin cÍonisticamente, e que
dcsnce até onde devt alcançar.

Jcoa Bolan
Mlll Yolhy, hnÍeúb
tlotço dc 1979

t3
AGRADECIMENTOS

Excertos de textos ÍcpÍoduzidos com a permissâo de:

I ol fuok of Clwtges, traduzido


Ching PaÍa o inglês por CaÍy F. Baynes,
Bollingen Series XtX. Copyright O 1950, Princcton University Press,
renovado en 1977 pela mesma editora. [Publicado pela Editora Pensa'
mento sob o título de f Otirtg - O livro dos rutuçel'l

Thc bllectd Works olC. G. Juttg, traduzido para o iÍglês por R. F. C.


Hull, Bollingen Series XX. Volume 8: "Tlre StÍuctuÍÊ and Dynemics of the
Psyche", copyright O 1960. Volume 9,1: l"The Archctypcs and úc Collec-
úve Unconscious", copyright O
1959, 1969. Volume 14: "Mysreriurn
Coniunctionis', copyright O 1963. Volume 15: 'The Spirit in Man, Art
and Literature", copyright @ 196ó. Volume 16: "The Prrctice of Psy'
chotherapy", copyright O 1954. Todos editados Pela hinc€ton UniveÍ'
sity Press.

Fow Quotets, de T. S. Eliot, copyright @1943. Copyright @1971 Esme


Valerie Eliot. Reproduzido com a permisão. de Harcourt, Brace, Jovano'
úch, lnc.

Tao Te Ching, de Lao-Tzu, coPyÍight @ 1972, Gia'Fu Feng c Jane En'


gliú, Reproduzido com autorizaçâo de Alfrcd A. Knopf, lnc. I Publicado
pela Editora Pcnsamento sob o título dc TaoTe Kil1g.1

Memolcs, I»eotts ond Refiectbm of C G, Jung, grtvado e organizado por


Aniela Jaffé, traduzido do alemão para o inglês por Nchard e Clara
Winston. Copyright da traduçe-o @ 1962, 1963, Random Housc, lnc.
Refroduzido com a peÍmbsão de Pantheon Books, uma diúsão da Pan'
theon House, lnc.

Ilhtsions: The Advcntwcs of a Refuctot MessrÚ, de Richard Bach. Copy'


right Ol9?? - Crcrture EnteÍPÍises, Inc. Reproduzido com autoÍizâção de
Delacorte hess/Elconor Friede.

9
O Tao que pode ser nomeado não é o Tao eterno.
O nome que pode ser pronunciado não é o nome eterno.
O que não tem nome é o princípio (que antecede) o céu e a
terra
O que é nomeado é a m8tÍiz das dez mil ooisas.
Eternamente desproüdo de desejos, pode.se ver o mistéÍio.
Descjando eternaÍnente, pode-se wr a manifestação.
MistéÍio
e manifcstrçõo brotam da mesma fontc,
porém dúerem no nome; essa identidade aparece omo trelas.
Trevas dentÍo de trevss.
O portal que conduz a todo o mistério.

l,3'o:Iztr, Tdo.T. Kl,,,g


Dc rcordo con
r trduÉo dr
Glanf u Fcrg c
,l!tê Erulktr

l4
ÊF'
9 |r§ql'
o o§9
Êo{Fo'-
o aú9

lJnu percp*tiva pessul sobre o compieenslo ilo Tao do religifu


oimtol. De cono o sincrunicifude é o únio equi»alente psicologim fu
Tao. O motivo de nós, ocidentais, temos tanto dlfianlfude com este
corteito decone do modo como funciorum os nosv,s mcrrtes.

Quando eu era criança, dirigia-me às montanhas e deitava'me no meu


saco de dormir sob as estrelas, olhândo PaÍa cimâ e contemplando a vasti'
dão da Vialáctea. Minha alma úvenciava o que üam os meus olhos' Sentia
uma sensção de reverência e de admira$o diante da imen§dão e da bele'
za do universo. Isso me comovia. Sentiâ a PÍesença de Deus nas moÍtâ'
nhas, nas árvoÍes e na ampüdão do céu' O que esta acima de mim e à
minhâ voltâ e que me incluía era ilimitado, eterno, úvo. Isso me emocio'
nava. Bandos de nuvens Passâvam sobre minha cabeça. Eu podia ver
uma estrela cadente e formular um desejo e, sem saber quando, a visão
teÍminavâ e eu adormecia. lsso me confortava' Surgia então o amanheceÍ'
fresco e revigorante e, ao a@rdar, deparava-me @m um céu azul ou cinza,
ou @m â auÍoÍa raiando, brilhante, em tons dourados ou alaranjados.
Nesse céu, então Íesplandecente, já não se via nenhuma estrela. Era hora
de acordar e de me pôr em marcha, de entrar em âtiüdade'
Eslamos despeíos e em atiüdade â maioÍ PaÍte do tempo, encarando
o que precisa ser feito e aqueles que nos rodeiam. Concenlramo'nos no

l'1
que no§ e§peÍa, lidando com as @isas palpá\reis de nossas üda§ no tempo e
espaço limitados de que dispomos. À luz do nosso mundo cotidiano, não
podemos ver as estrelas. Mesmo à noite, ngsss visão dos céus é tolhida
pelas luzes de nossas cidades e pela poluiçãollançada ao ar por nossas md.
quinas. Cercados de edifícios, estamos @mo que enclausurados e nos es-
quecemos da natureza. Os ev€ntos que o@rrem em nossas noítes nos
mânté m tão ocupados, que não somos capazes de olhar para cima e de vi.
rrcnciar a imponência do céu à noite. Poém, as estrelas lá estão, não ím-
porta se olhamos paÍa elas ou não. [üí um universo em expansão, infinito,
atemporal e contudo em mutação, do qual somos parte. Sabê-lo intuitiva.
mente ao vislumbrar uma parc€la do céu à noite antes de adormecermos
mais uma vez, pde ser algo semelhante ao gue o discÍpulo zen busca na
meditação - aquele momento de súbita iluminação no qual se vívencia
a visiío do To.
Se estou deitada sob as estÍelas, sêntada em meditaçâ:o zazen, ou na
paz de uma oÍação, o coúecimento intuitivo de que há um universo pa,
dronizado e wsntido subjacente a toda experiência, ou uma fonte pri-
moÍdial d qul "eu" estou hterligada, sempÍe evoc€ um sentimento de
reverêncía. Mais do que ÍeÍletiÍ a Íespeito, é, algo que se sabe, de modo
que as pahvras de explicação são inadequadas; assim como o TaoTe
Khg de lao-Tzu começa afiÍmando: "O Tao que pode ser nomeado nrÍo
é o Tao eterno". Entretanto, há e:remplos que ajudam a compreensão, pois
quase todos nós tivemos algum üslumbre do que se denomina Tw, am
freqüéncia, no inÍcio de nossas üdas.
Frederick Franck, artistae fioÍ deThe ZenofSeetg: SeeinglDmwing
as Mdiutbn, descreveu um momento de percepção intuitiva dessa realida.
de, que ele vivenciou a partir de uma p€Íspectiva introvertida (assim como
a minha peÍcepção sob as estrelas fora a de um extrovertido, ao participar
de algo que paÍecia "distante" e que no entanto me incluía).

Certa vez, numa taído sombria, quando tinha uns dez ou onze Etros.
eu andava por uma estrdâ rural. À minha esquerda haria ume planta
çEo de repolhos crs6po3, à direito creeciam alguns pés de couvedebru.
xelas. Senti um floco de neve bater na minha face e, lá de longe, no
éu de um colorado cinze.escuro, observei a lenta aproxim4ão de
uma tempestade de neve. F§uei imóvel.
Alguns flocos caíam 4ora em volta de meus És; outros so derre
tiam ao cair no chão. Outros ainda continuavsm antactos. Então e*
ortei e queda da nov€, no mais suavs som sibilante.
Permareci moravilhdo, escutando... e comprond i aquilo que nunca

18
godo ,or dito: guê o natuÍal é sobrenatural, que 9u o olho que esclta
e o ouvlio que vê. E quo quilo quo ostá no extrior ocorre dentro
de mim, gue o oxtsÍ'roÍ ê o interior são insepaÉveis.

EObon as Elawas não possam expÍ$stlÍ plenamente ou.descrever d-e


ryQ_..9qf*9-o- l-_eryÍlq4.d-q algq.rttlql4o de modo.intútivo_, como o
Tao eterno ou a realidade de Deus, PoÍque oontêm a qualidade da rerala-
ção, elas podem trrnsmitir a idé,ia.t! boas r1zões para discutir aquilo que
ngq nq!g. seff_lq!Ef!!e4!e apreendi(o PoÍ-PCâfttt - porque é possível pre'
parar o camirüo pâÍa s Íealizâção de uma úÉncia. A comcientizâção inte-
lectual e s sceitaç5o de um conceito espiritual reunido à ÍecePtividade ou
à abertura fundamentem o trabalho de base pua uma experiência sentida
intútivrmente, que pode então a@ntÊceÍ. Como dL o ditado oriental:
"Quando o discípulo cstá pronto, o mestre aparece".
Ao Tao eterno oü Brnde Tao atribuíam*e úrios nomes, rePÍesentap-
do a idéia de que exiíe uma lei eterna ou um princípio em fimcionamen.
to, subjacente ro quê aPâÍecia @Íp um mundo em rnovimeÍrto, em eterna
mut.çao; os troístas rcfcriam-sc a ele por vários nomes, chamandoo inclu-
sivc dc Unidade e Foqte bcrrdial, a Miie Cósnica, o Infinito e Inefável
hincípio de Vida, o Uno. Costumava-* faz*r referência ao Tao como o
coÍreto, r ordem rmral, o priocípio, a natuezr das forçrs vitais, â idéia
do mundo, o ÍrÉtodo ou o caminho. Alguns 8té traduziram Tao por Deus.
Riúud Wilhelm, o 11qlogo e tradutor ôo I Chltg, tsgg3g-e+r
"sêntido". Em vários aspectos, o conceito do Tao se assemelha ao concei'
tô gego do bgos. Nas tÍrduç6es modemas do Noro Testamatto pora o
úinês, lryps i lÍÀduzido por "Tao". A abertura do Erargelho de São João
diz então: "& coÍnggaej!_o Tâo"
Todos oTt-s6frípara áxp-licar o Tao usam palavras que ÍepÍesentam I
idéias abstratâs ou metáforas. O TooTe Kbg dtz:

O Tao á um rccipiento yazio, urilizdo, poróm nrma prcencàÉo ".


oculto nas profu;rdezat, poÍám stoÍnaÍnente PÍ6ênte... Semelhame à
água que dá vida às dez mil coisas rom esíorco... não pode 36Í viío
- ená alóm da forma; não pode ear ouvldo - eíá alám do som; não
podo rsÍ rairo - ó intôngívÊ|... nb podc ser exaurido... o Tao ó
oculto e $m mme, ó o Tm nutre e faz oom qu€ tudo sala realiza
do... todas as co'rsar arÍgem do Tr, elâ ó a íom€ das dez mil coisa.'.
o grandc To ílui por todas as partc.

A experiência do Tao ou de um princípio unificador no univeÍso inteÍ-

t9
ligsndo túo o que existe no mundo é a base drs principais religiõcs orien.
tais - hinduísno, budismo, coníucionisrno, taoísmo e zen. Embora cads
religião possa úamar esa experiência poÍ um nome diferente, a essêncís
de todas as variedades de misticisÍno oriental é I mesmt. Todas afrmam
que e totalidade dos fenômenos
- pessoas, animaís, plantas e oisas _,
desde as partículas atômicas às galáxias, sío rspectos do Uno.
No Blugovad-G7Íá, o poema religioso mais coúecido do hindurt_
mo, a instÍuç5o espiritual do deus Krishnr baseia-se no onceito de que as
miríades de coisas e a profusão de eventos que nos rodeiam são msnifesta.
@es da mesma realidade última denomintdt Bralntot - a €ssêncis ínterior
de todas as @isas; suas qualidades sío coÍno o Tao - *m @nrcço, incom.
preensível, indescritírel, uma essência eternamente transformadora de
todrs as oisas, unindo e permeando os numerorcs deuses e dcusas renerl-
dos. A manifestaçõo de Brahman na alma humana é o Atttot. Atman é um
aspecto da rcalidade unr ósmica de Brahman.
O budismo fala do alcanc da realidade de acyntb, na qu't todos os
elementos siio como a "essencialidade" una e indivisa ou o tothoto, gitrdvés
de uma vivência m ística do despertar, participsndo da essência búdica de
Dlarmalaya que I tudo permeia. O Zen enfatiza e experiência de ilumina.
ção ot ytori, a consciência mística direta da natureza búdica de todos os
§ere§, em que s€ntimo§ gue srmos uma paÍte integral do grnde conti
nuum de tudo o que é. O confucionismo e o taoísmo são dois pólos om-
plementares - o primeiro, pragmrítico, e o segundo, místico; fundamen.
tando-se ambos no conceito do Tao eterno.
Enquento as princípais Íelig.iões do Oriente estão bsseedas na peÍcep.
$o da unidade e no inter-relacionamento de todas as coisss e de todos os
fatos e üvenciam as diversas formas das dez mil coisas como manifesta.
@es de uma unidade básica, a tradição ortodoxa judeu+ristã enfatiza as
dualidgdes em oposigão: em cima Ders e embaixo o humano pecador, a
alma em oposição ao mundo, o espírito lutando püa superaÍ a carne, a
retidão do homem resistindo à mulher semelhante a Era.
Até há pouco o conceito oriental de totalidade esteve ausente do pen-
ssmento científico do Ocidente, guc se concentra em experimentos dupli.
cáveis, baseados em causa e efeito, nos queis se pode considerar uma
rariável deÍinida a cada rrez. Qualquer 'unicidade" entre obserrador e
observado era "impensdral" omo algo "demasiado ridÍculo" eín vez
de coÍno "sabedoria além do pensamento ". Poém, com o sdvento da
física qúntica e da teoria da relatividade, está ocorrendo uma transfor-
meção radical.

20
Em O To da Físia,t FÍitjof CâpÍa postula o fato de que a física
âtômica ÍDdeÍna nos conduz a urn enfoque da realidade muito s€me.
lhante à visão intuitiva da realidade do místico do Oriente. É da física
qúnticâ que emerye o quadro de uma teia ósmica interliSada, na qual o
observador humano é sempre pârtícipe. No nível da partícula atômicâ, a
visão do mundo torna.se múto oÍiental e mística; o tempo e o espaço
toÍnâm.se úm aontirnatm, â mâtéria e a eneryia se alternam, o observa-
dor e o observado iÍteÍagem.
Fascina-me ÉÍific que as "Íespostas" à questão sobÍe a natuÍezâ
do universo às quais a cÉncia ocidental está chegando através de urna m8-
quinâria sofisticada, tremendamente cara e deücada, e de complercs fór-
mulas matemáticâs quasê incompreensíveis, são, de fato, as mesrnas que
um mísüco oriental em meditação solitáÍia já @nhecÊ como o Tâo eteÍno.
Ambos partilham dois temas básicos: a unidade e a correlaçâo de todos os
fenômenos e a natuÍeza intrinsecamente dinâmica do universo.
A filosofia ocidental, assim como â Íeli8ião ocidental, têm sido domi-
nadas pela dualidade espírito/matéria. A divisão "cartesiana" da natureza
de René Descartes em dois mundos fundamentalmente disüntos mente e -
matéria -é o melhor exemplo do que preponderou, poralelamente, à física
newtoniana clássics, com o seu modelo mecaDicistâ do universo. Assim
como houve místicos ocidentais nos gabinetes da ortodoxia, houve filóso-
fos que vislumbraram um universo interftado, em contínua mutação.
Entre os mais notáveis, há dois que me vêm à mente: Heráclito de Éfeso
que ensinava que tudo cÍesce etemamenle inseÍido num pÍocesso de trans-
formaçâo, e Gottfried lVilhelrn von Leibniz, que percebia o humano como
uma expressâo microcósmica do macrocosmo.
Em psicologa, somente Jung dedicou-se a esse tema, descrevendo
ocoÍÍênciâs _
sincronísticâs- 99qg_rrynr{9s1,a1ôe_s_ge fUtíÉo. feUgla.
E:ÍIEÉo lqlivalgnlg _â_o- !ao. asim como
Sua teoria é de que as pessoas.
todó§ôí objetos animados e inânimâdos, estão inteÍligados por meio de
urÍ in@nsciente ooletivo. Assim como os físicos atômicos Íe@nhe@fl
que o pesquisadoÍ afela qualquer matéria que estudâ no nírel da partí-
cula, Jung suBere que a psique da pessoa que obseÍva inteÍage no momen-
to @m o que oooÍre no mundo exleÍioÍ.
Jung descreveu a sincÍonicidade @mo um princípio âcâusâl integ,Ía-
dor que se manifesta atraÉs de g4gldê19-19 su3,estivas. Não hd explicâ-
ções racionais para situâções em que uma pessoa tem um pensamento, um

' PuUlicado peb Eaíorâ Cultrix, São Paufo

2l
sonho ou um estâdo pcicológico inteÍioÍ que coincida @m um aconteci-
mento. Por exemplo, uma mulher tem um soúo vívido de que a casa de
sua irmã está p€gando fogo e, impulsivamente, telefona para srber se ela
estí bem; há de fato um inéndio, e o telefonema que desperta a irmã
pode ter.lhe salvo a vida. Ou então u4_p§llg!§9.djlesgljn0-baÍaçado num
po-49-ç[ujjcl,precixndodealguma-ilormaÉ-óãurc*ã"rtr.ãii.Eã.
cr, e num jantar paÍa arçariar fundos encontra-se sem queÍer sentado ao
lado de alg#m que possú esa informaç5o. Uma mulher chega a uma
cidade querendo entrü em @ntato com uma antiga ompaúeira de
qu8Éo, mas não pode loaliú.la; ao entÍaÍ num elevador abanotado de
gente, depara.se om ela. Penso em algúm, o telefone toca, e quem chama
é a pessoa na qual eu estava pensando.
Todos esses são exe de sincpnicidade , vsriando do dramítico ao
corriqueiro. Em cada situaçlio, a pessoa espantou-se com a coincidêncir, e
não @de explicar omo isso a@nte@u. kltuitivamente, cade evento pü€.
ce_u,§ig4iÍicstivoedJlpeÍggC_Ig§!!iLqd9.dJ_h-araruiã_coneúãinyi
slcl 9-,{çs99a[99{a- glt,geflgdo p.[!9_9.§l§ goisos scontecem. Ao afiÍ-
tnaÍ que esse fenômeno era de "sincronicidade", Jung lhe onferiu um
nonrc. Também indicou sua importáncia, ao declarar que "a_qgmpreensão
da sincronicidede é a úave que abre a po4q qúq a percepçe-o orientrl da
tôtalidade. qrrç ndr-mos tão misterjqsaa
A mente ocidental pode chegar a saber o que é o Tao atrarés da sin.
cronicidade. Como conceito, a sincronicidade é um ponto entÍe o leste e
o oeste, entre a filosoÍia e a psicologia, entre o lado direito do oérebro e o
esquerdo. O Tao da psicologia é a sincronicidade que relaciona o indivíduo
com r totalidade. Se percebemo§ pessoalmente a at'o da sincÍonicidâde
em nossas üdas, sentimo.nos mais interligados do que isolados ou aliena-
dos dos outros; s€ntimo.nos parte de um universo divino, dinâmico e inter-
ligado. Ocorr€ncias sincronísticas nos proporcionam peroepções qu€
podem ser úteis ao nosso cÍescimento psi@hgi@ e espiritual e, através
do conhecimento intütivo, podem nos rerrelar que nossas üdas têm um
§entido.
Todas as wzes que tomei @nsciência de uma experiência sincronrstica
ela reio aomprrüada da sensação de que eu obtirrers una gÍaça. Todas ss
rezes que algúm comportilhou omigo um evento sincÍonístico, s€nti-me
como um porticiprnte privilegiado. Ao vislumbrarmos o Tao através de
episódios sincronísticos, sentimos algo de imponente qw nos infunde
humildade, porém também algo de enternecedor e ompreensivo.
Asim como as estrelas não podem scr vistas ao meio.dia, apesar de
estrrem H, as condições de nossas mentes ocidentak úo sâo apropriadrs

22
para "ver" um prdrão subjacente de unisidade. Talvez o Íec€nte inteÍesse
no funcionrmcnto dos hcm[férios direito e esquerdo do cdrebro possa
cxplicar por quc as condi@es de pêÍcepção não são adequadas. Temos fa-
_ rorecido um ccrto lipo
de conscienlizâçõo, em detrimento de ouro. As
peguisas que dizrm Íespeito ao modo como tpslgqeq nqlsa-s_mentes
{9ry q$fa!4 que às vezes é N@.n!ôo _dizeÍ:19ú9_q!âs!Edqg!_ê-qslgler
peito", porque temos de fâto duss-mente_s_ Í[tg U$-,_alhjtrl de modo ts8êl-
ap--íG-il-ifaerent-e. Asim como â noile e o dia, os hemisférios cerebrais
diÍeito e esquerdo diferem na maneira de perceber e de funcionar.
O hemidério esqucrdo contém nossos cenlÍos da fala, controla o lado
diÍeito de nossos coÍpos e usa a lógica e a racionalidade do pensamento
linear para chegar às avaliações ou conclusões. En&ga-9_SueÉÉ[BtvÊ!_g
4en_surável. O pensamento do "cérebro esquerdo" é a base de toda a pes-
qúsa e observaçâo científicas. O tÉmisferio esouer0o É tod s-:&ag-
mentos" ou.'paíe!:g § 1elaɧ-q9_carmldelq!úI! jles! Ín4r g9_Íll9
a inteÍação de todo o quadro. Seu relacionamenlo com o mundo comiste
eã8trõ6rF'-al§ó--separado de si mesmo, algo a ser usado ou algo a do-
minar - seu estilo é efetivo e_"mêsculino".
idério cerebral direito é te imâ8ens , mais do ue
palavras, sâo os seus inst Ele sabe por intuiçâo qual é a totalidede
IIT-e4!o_s.
do quad Íoe am m ul€ncla um en teÍdimento de onde algo suryiu, e a
que pode levar. O "cérebro direito" pode conteÍ ambfiüdades e oposi-
ções. Capta o todo de um episódio de imediato, em vez de focalizar um
de ou uma paÍte, sen do capaz de perceber e sentiÍ simultaneaÍnente
aquilo qrr capta. O hemisfério direilo compaÍa, de preferência, PoÍ metá-
foras, mais do que por medidas. Seu estilo é receptirD e reflexirc, um$
molde mais "feminino" do que o do hemisfério esquerdo.
A cultura masculiná do mundo ocidentâl desvalorizou o fnnciona- lrtÜ
tnento d;f,ãiliffiliÍe-ito, e nossa experiência indiúdual e coletit/a é -'f
mais pobre deúdo a essa des veloÍizâcão. A intuiciío foi rebaixada a mera
' -=\,-i--
(
feminina". Desde pequenos, os mêffiõi são instados a seÍem \(
lógcos a todo nrcmanto; bate-se incessantemente sobre a tecla de que )
nffilEign reagir a ur!-a-situaÉo-de&ImO -gÍnQcronal. A mensagem de
nossâ cultuÍa é de que os âÍistâs, os mú§cos, os poetas e as mulheres )
podem agir utilizúdo es;is_IÉ todos "inferiores ]apÉ!q, qs- yg-r_d illEilqs
hornens não agem assim. Conse q temente, tudo aquilo que não pode ser
t
L
pêrcebidri e julgado pelos cinco sentidos e pelo pensamento é @nsideÍado
de menor valor e, pouco a pouco, vários indivíduos deixam de exP€rimen-
taÍ o que scja comorer-se emocionalmente @m â músicâ ou @m um sím-
bolo ou dei:ram de teÍ int úçôes sobre uma realidade subjactnte.

23
A_ ciuilizagão ocidental permitiu assim que uma metade do cérebro
depreciasse, reprimisse e dominÁ*e 㧠peicepções intútivas da outÍa metâ-
dé. Pois é atrarrÉs da intuição-que podemos vivenciar a totalidade de oàe-
xões ou de padrões subjacentes - invisíveis aos s€ntidos
- que têm sido
tão fu ndamentais no pensamento oriental. Não é necesário virjarmos ao
Oriente para tomaÍmos consciência de sua sabedoria, jrÍ que temoc em
nosso interior o potencial paÍa peÍceber, e pÍecisamos âpenas despert6
lo; a viagem ro Oriente é, na realidade, uma viagem inteÍioÍ.
Por mais valioso que sejâ o intelecto, ele encerrr limita@es em rela-.
cão ao "todo e à parte". R. H. Blyth, o erudito especialists cm luik.t,
descreveu isso da seguinte forma: "O intelecto @e entender C.uhueT
pane de algo omo uma pote, ptém nib @nut um ndo; pde conprcen-
da qualquer Lpi& que nfu seia Deus". Para vivenciar o Tao eterno, é ne-
cessdrio que nosa conscientização perceba atraÉs das operações do hemis.
fério cerebral direito, desligando as operagões analíticas e oéticas do hemis.
íério esquerdo. Segundo observações de Goethe, nós assassinamos quando
dissecamos; matamos a ütalidade da experiência, assassinanps o espírito
e neganrrs a alma ao solicitarmos que tudo seja procesado por intermédio
de trabalhos lógicos e computadorizados do nosso hemisfério esquerdo.
Diante de nossa insist€ncia em que o método cientíÍico é o único meio
pelo qual qualquer coisa pode ser coúecida, as poías da percepção se
feúam, a sabedoria do Oriente nos é negada e nosso mundo interior tor.
na.se unilateÍal. Oriente e Ocidente são duas paÍtes de um todo, Íepresen.
tam os dois aspectos ínteriores de cada indivíduo, seja homem ou mulher.
A cisão psicológica precisa scr curada poÍ umâ união interior, permitindo
o fluxo entre os hemisférios esquerdo e direito, entre o lado científio e o
espiÍitual, entre o masculino e o feminino, entre o yin e o ysng.
Quando nós, em nosso estado @nsciente e a partir da nossâ úsão oci-
dental, também nos toÍnaÍmos capazes de perceber a realidade espiritual,
seÍá então possír,el estarmos ónscios de sermos indivíduos separados e,
ao mesmo tempo, de estaÍmos relacionados @m um todo maior. Podere-
mos viver então num mundo de tempo lineaÍ, ainda que capazes de viven.
ciar a atemporalidade de uma realidade eterna,.da qual somos parte; capa.
zes de ver tanto com a peÍcepçâo do dia como com a visão da luz das estre.
las. Nossa consciéncia será úvenciada entío como mutável, em vez de Íixa.
T. S. Eliot explora esse jogo em sw obrt Four Quotets. Num de seus
poemas, intitulado "Burnt Norton", há uma passagem que transmite espe.
cificamente essa relação entÍe um ponto "em repouo" e a "dança", seme.
lhante ao Tao, permeando todo o movimento, semelhante à quietude de

24
Deus no âmago de toda a atividade

No ponto gm ropouso do mundo em mutação.


Nem caÍno nêm ausância de caÍna;
Nem ida nêm volta: no ponto em Íopouso há dança,
Mas nem interrupção tpm movimento.
E não se chame de fixo o lugor am guo o pas§do e o íuturo se
otroontÍam.
Narn movimanto de vlnda ou de volta,
Nern ascensão nôm doclínio.
Se não houvesso oponto. o ponto em Íêpouso,
Não haveria nenhuma daÍTa, e ó há dança.

Para prosseguir @m â metáfoÍâ de Eliot, somos paíe de uma dança


na qual nada do que acontece @nos@ ou que se dá em nosso inteÍioÍ
jâmâir se Íepête exrl:rmente, enquânto o princípio integÍadoÍ subjacente,
com o quâl tudo no universo se relaciona - inclusive nós mesmos - per'
mânece sempÍe o mesÍno.

25
SEIF

CBON1ÓDÀDÉÉO
IÚNG'ÀSN

thm viqem pessul oo intaior fu psiqtiotrio e o tteirúmento arulíti'


co de Juttg. Ihru intmàrçõo oos conccitos de tung sobre oquétipos, ln'
convicnte colelivo, sinooniciüde c o Self.

Deúdo a uma série de enoontros e eventos, tornei-Íne uma anústa


jungúanâ. E, no entanto, no início, não tinha essâ intenção. Durante o
meu último ano na escola de medicina, pensei em loÍnaÍ'me psiqúatÍa
porque havia tido uma experiêÍci8 inteÍrssante e Eratificante atendendo
pacientes na clínice de poiqústÍia pua adultos e umbém durante meu
tÍeinamento no decorrer dos dois últimos anos na faculdade, no deParts'
mento de pacientes extenps. Falr comigo, apesar de minha inexperiên'
cia, parece ter sfulo útil para aqueles pocientes. Assim, solicitei minha ma'
tÍícúa no lnsütuto NeuÍopsiquiátÍico langley Porter, que é parte do
Centro Médico da Universidade da Califómia, an São Francisco, onde
eu estudava medicina. Logo depois, pensando melhor sobre o âssuto,
não lelrei essa idéia até ao fim, e não tÍstei das deüdas cârtâs de Íe@men.
dação. Em vez disso, minhas inclinações penderam para a medicina hospi
tâlaÍ e comecei um estágio poÍ tuÍno§ como intema no llospital Municipal
de los Angeles, optando pela medicina oomo minha primeiÍa alteÍnativa.
Eu haúa permanecido no Hospital Municipal bastâÍrte tempo pâÍâ sentiÍ
saudades de São Francisco, e já haüa adqúrido bâstante exPeriência tÍa'

29
tando de complica@es médicas decorrentes do alcoolismo - males como
círrose hepática, hemorragias das varízes do esôfago, gâstrites, delbfum
tuemcns incipiente, - quando, de modo totrknente inesperado, recebi um
telegÍama de Iangley Porter, informando-me que me haüam ac€ito coÍno
residente €m s€u pÍog:rma.
Deviam teÍ-se utilizado dos meus cÍéditos coÍx, estúante de medicina
em vez de rrsarem as cartas de rccomendação. hdianirne uma Íesp$ta ime-
diata por telegrama. A exigéncia de uma decisão rápido induziu-me à im-
pulsiw aceítação da proposta. Fui inlluenciada, em primeiÍo lugar, pela
oportuÍridade de voltar a São Francisco, pois sentia saudades. Ainda não
tinha certeza de querer s€Í psiqúatra, porém raciocinei que pclo menôs
poderia começar a re§déncia. Se eu descobrisse que a psiquiatria nõo era
o que eu queú, o ano de experiéncia seria útil para qualqueÍ outÍo raÍro
que eu viesse a escolher.
Iniciei minha re§dência num atendimento de internaçõo de pacientes,
em que as pessoas éram hospitalizadas ou poÍque tiúam se tornado psicó-
ticas, desligadas da realidade e temporaÍiamente incaPszes de agir normal-
mente, ou porque eÍam suicidas em potencial e precisavam sÊÍ intemados,
a fim de que pudéssemos mantê-las vivas dursnte uma depressõo grave. Fui
encarregada de cuidar de cinco pacientes toÍnando-me respondvel por eles.
Tratava-se de 'lrimeiras internações" - indivíduos que nunc€ haviam sido
hospitalizados. Em vez de me psreceÍem esquisitos ou estranhos, aúei que
eÍam pessoas que estavam cons€guindo üver bem, sté sr scntiÍem oprimi-
das. Em cada um deles havia tanto um clemento ssudúvel, com o qusl eu
podia trabalhar, @mo uma prrte doente quo era destrutiva e sem espeÍsn.
ças, alucinada, iludida ou obsêcada. Percebi que podia ompreender as
srrqs situações e que me preocupav! com elas. Mais do que tÍatar de uma
doença, eu estava tratando urna pessoa inteira, não apenas um'caso de"
alguma coisa. A portfu do encontro com esses pacientes, já na primeira
s€rnana, eu soube qu€, poÍ sorte, havia encontrado o trabalho de miúa
úda.
No deoorrer dos tr€s anos de treinamento, atÍibuem-§e superúsores
aos residentes. A maioria dos supcrvisores, assim como os residentes, era
@nstituída de freudianos ou ecléticos, porém hrvia alguns poucos super-
visores psiqúatÍrs junguianos. Por uma est'cie de sorteio, tive como supeÍ-
üsores John Perry e Donald Sandner. Enqurnto isso, Joseph lVheelwright
ministÍava um cuÍso jrurguiano no subsolo. Mais taÍde, eu tive outro jun-
guiano como con$ltor num caso de lorga duraç5o: John Talley. Só bem
mais tarde compreendi que lanqley PoÉer é a única residência universi-
tária nos Estados Unidos que tem supervisoÍes ou cursos junguianos, e que

30
mfuüa e:pcriência indiúduâl como rcsidente fora pouco comum. Se não
foso por ossca ?Ír@ntÍos apaÍÊntemetrte "foÍtútos', eu nío teÍia üdo
contato com as idéias de C. G. Iung.
O quc eu obüw do Dr. Wheclwright foi uma @mpÍeensão de Jung.
Wheel,rright era um homem alto, carinhoso e encantador, cujos cursos
eram informris e não-teóricos, e com freqüência extrcÍDaÍ[ente eruÍa.
çados, pois ele era um mímico magnííl@, com um gande acenro de his.
tóries. Ele haüa sido analirado por Jung, e era um dos fundadores do lns-
tiluto C. G. Jnng de §õo Francisco.
A imsgem dc Jurg que emergu foi a de um homem extraoÍdináÍio,
cu! apüêndr cra mrig r de um cúlp$ino suíço do que a de um erúito
tntelcctud. Soube qrr elc posuía uma útalidade csrbÍútica, qrr atraía
rs pGrsoa3, umo risrdo gostosr e umr exp̀sdrra erpontaneidade (que cer.
tsmcrte nlo rpaÉoc cm srlB 6critos). A cristividsde e o fôlego de seu
pcmrmcnto crem rcrdrdciraÍDÊírtc impÍlssionrntB, eÍlqusnto suâ intú-
fo beirara o paíquico, ure qurlidedc inercnte à sru famflir.
Atreínm.m ar idóis dc lung sobre o falo de os homcns rêrem moti-
rados por imprÍlm ciativos, rcflexivos c cspiriturir tânto como pelos ins-
tinto3 agrersivos, rüroc c rxueic cÍfocados por Freú. Ao termlnaÍ a
minha residêncie, indhci.mc r ingrelsaÍ rc Instituto lungüano, nlo poÍa
tomar-me umr rndfutr, poÉm para epc'ndor mÂis. Oito enos mals tarde,
harendo pcrcebido quo esc cra de fato o hr8nr "oerto" pôÍa mim, tomei
mc urna urdiía jttrrguiam diplomda.
Durentc rqrrlc período, r Dra. Elizabah Ostcrmsn ministrcu um
curp pbrc r cincúorúddrde, quc me sêrviu @rno intÍodu@ a esr tem!.
Br frlou a Íespeito da sincÍonicidâdc e dr tendência de padronização do
univEÍD, e tÍrnmitiu a idóia de quc hrvir algo de profundo e importante
robrc o rrunto quc n[o podia ser captâdo intclcct-rlmGrtê. Não ente[di
tot.lmatG o qrr cla cstrn dizcndo naquele rmmarto, rpesâÍ de haréJo
rprcondílo htuitivrÍÉntc. OÍros puticipantcs do cuÍso paÍeciam téÍ
diÍiculdrder ainda maioÍGt. Lmbrc-me dos protcstos de um de meus
oolegrs, orja racionalidrde foi dolorossmcnte post. â prora qusnto r
esse tcma- Ao que prredr, s dncÍonicldade cÍ! uma das teoÍias mú eso-
téricas dc Jurg. Deixando qrr a idéir croluísc Í. minhâ cabeça, lendo
mâis a Ícspcito nos úto3 quê se seguiÍâm e consdcnüzsndo-flÉ então dos
episódios sincÍonísticos quc econtêci.Íl ô minhr volts, o concêito tcóÍico
da sincronicidrÇc deixou (c rcr umr idáa para tomtÍ.sê uma rcalidade
do dia-adia em minhr üdâ. AgoÍa eu também cofftato o scu ralor na prá-
tica dâ p8icotcrapir.
Jung ercrernu a rapeito da slncronicidode nuÍna ctapa Íelatirarnente

3t
tardia de sua úda proÍisional. Sua exposição de maior importrincia -
"Sincronicidade: um princípio de conexão acausal" - foi publicada em
1952, quando ele tinha por \olta de 75 anos. Ele a descrerre @Írc um
esforço "de elaboração de um relato @nsistente de tudo o que eu tenho
a dizer sobre este tema" para 'franquear um campo múto obscuro da
maior importância filoúÍica". Trata*e de um ensaio múto complexo
intitulado '§obre a sincronicidade" com váús notas de rodapé, que
haüa sido abordado como conferência no ano anterioÍ. A sincronicidrde
tem sido mais mantida num gabinete privado do que divulgada ao mundo,
possivelmente porque é uma monograÍia de leitura difícil, ou talvez poÍque
o conceito em si sêja difícil de captar pelo mcro intelecto, requerendo uma
habilidade intútiva.
Em 1930, Jung havia spreEentado "o princípio do sincronicidade"
numa palestra dedicada à memória de seu amigo Richard lVilhelm, o sinó-
logo tradutor de ínúmeros sntigos textos chineses. EntÍetanto, sua pri-
meira descrição da sincronícidade aprÍe@u na introduçlo d traduçío de
Wílhelm-Baynes do I Ching ou O livro das mataçõeq em 1949. Nos trinta
anos precedentes, Jung haüa feito outras mengões fugazes a respeito da
sincronicidade em suas onfer€ncias e em seus escritos. Esse eÍa um @ncei-
to de há müto incubado. "Sincronicidade" é um termo descritirro que
desigrra o elo existente entre dois eventos encadeados devido ao seu
significado, um elo que não pode ser explicado por meio de carsa e efeito.
Para ilustrar a sincronicidade, Jung contou um epMdio oorrido com uma
de suas pacientes, uma mulher que "sempre sabia mais a Íespeito de tudo"
e, conseq(bntemente, sua análise não estaw dando bons resultados.

AÉs várias tentativas infrutíferas de suavizar o sgu racionalismo


oom um8 compreensão um pouco mais humana, tive de restrirqir-me
à esperaça de que acontecesse algo de inesperado e irrrcional, algo
que quebrasse I Ístorts intelectusl na qual ela se havia confinodo.
Pois bem, certa v€z eu sstavr sentado à sua frente, de coctas pera a je
nela, escutando o seu fluxo de retórica. Ela tivera um sonho imprecsio-
nante na noite anterior, no qual alguém lhe havia dado um escaravelho
de ouro - uma ióia valbsa. Enquanto me @nt8v8 esse sonho, ouvi
algo bater de leve na isngls atrás de mim. Ao me virar, vi que era um
inseto vo€dor bem grande quo bâtia do lado de Íora, no vidro da ia
nela, obviamento tentaído entrar no aposento escuro. Pareceume
muito estranho. Abri a lanela imediatamente e peguei o inseto no
ar, quando sle voava para dentro. TrstSva-§o de um bçouro escara-
brdeo, cuia tonalidade verdedourada o fazia assemslhar-se com

32
um orcaÍôyslho de ouro. E ntregprei o bcouro à minha cliente, di'
zendelhe: "Aqui está o seu escaravelho". Esta experiência abriu
uma brecha Em sou ÍúionalisÍno, a quórou o 9610 do suâ Íêsiíân'
cia inteloctual. AgoÍa o tratamento podiâ continuâÍ, e com resulta
dos sât isfatôÍio3,

Para esa mulher, o fato de um besouÍo sêmelhrÍrte a um $caÍavelho


ter entrado na sala naquele preciso momento eÍa utna coincidência mis'
reÍiosâ. Coincidênciâs significativas iguais a essa chegrm a atingir um níwl
profundo de sentimentos nâ P§ique. Essa mulher pÍecissvr de uma expe-
riência emocionat tranúormadoÍa, que o escararrelho proporcionou. É
inteÍessante notar que o evento eÍâ simbolicamente paralelo À sua situação.
O escaravelho é um símbolo egípcio do lenascimento ou da transforma-
ção, "ele" prccisava etrtrar na análise ' Quando o besouro
escerabídeo
urt o, no aposênto, pôde iniciar'se a tÍandormação de uma âtitude
rígida, e um novo sescimento pôde ocorrer.
A sincroniddade Íequer um paÍticipânte humano, pois é uma expe'
riência subjetiva na qual a própria pessoa dá senlido à coincidência. O "sig'
nificado" diferencia a sincronicidade dc um evento sincrônico. Um evento
sincrônico é qualquer coisa simultânea, eventos que ocoÍÍem ao mesmo
tempo. Os relógios sâo sincronizados, os aúões são progamados para
deoolu ao mesmo temPo, mútas pessoas §e encaminhrm Púa um mesmo
âuditóÍio ao rnesmo temPo, Poém ninSúm v€ nada de sigrificativo nesas
'coincidências". Contudo, na sincronicidade, a "coincidência" sigrúílca'
tiva acontece dentro do maÍco de um temPo subjeürro. A Pe§soa faz a liga'
que sejaÍi simútáneos, embora com
ção dos dois episódios, e não é preclso
freqiÉncia isso aconteça.
Jung descreveu tÍês tipo3 de sincronicidads. Na de primeira categoÍia,
existe uma @incwncia enfie o @ntaido mental (que pode ser um peruw'
maúo ou um sentlmento ) e um oenÍo atefno. Esse parece ter sido o caso
num incidente ocorrido eÍrtÍe eu e minha Íilha, então @m quâtÍo anos.
Eu estava na cozinha preparando o jantü, quando mencionei a Jim, meu
marido, que necessitrva de algumas flores pua decorar a mesl' Meus
filhos estavam brincando lá fora, longe de qualquer âlcance auditivo.
Alguns instantes mais tde, Melody entrou em casa com um ramo de ge-
rânios cor-de-rosa nas mãos, dizendo: "Olhe aqui, mamãe". O incidente do
o eveflto exteÍno reflele
escaravelho exemplifica essa cateEoria, na qual
misteÍiossmente aquío que está acontecendo psicologicamente naquele
momento.
No segundo gÍupo de eventos §incronísti@s, ,t ru pesga tem um

33
snlp ou unut vl,úo $tc @inciile @m um d@ntecimcüo qE es t o@t-
retfu a ca'to dtsürcia (e isto é contptwodo tÚlis tode). Trata-ç de uma
peÍc€pçlo do que está ocorrendo som a utilizaçõo de nenhum dos cinco
§entidos. Por exemplo, meu avô tinhs um modo secÍoto de saber quando
um yclho amfo ou um prÍente ia morrer: a pessoa lhe aparecia em sonho
ou numa üs5o, quando ele estava acordado, corregando uma mala. Desse
modo, cle srbis que ela o estava dcixando, indo para longe. Minha míe
recorda que nrs várias ocasiões em que ele mencionou a morte de dgúm
havia-o 'tisto" com a mala. Então, quase sempÍe yáÍirs semânss mais
tarde, chegeva a notrtis comprovando o que meu rvô já soubcra pela
clarividéncia. Como ele havia chegado à América vindo do Iapão, uma
ooruiderável distância sepaÍava meu avô na cidrde de lúva lorque de
seus pEÍentes e de mútos velhos amigos. As notícias lewvam bastante
tempo psrs s€rem tÍansÍnitidas por meios normais _ poÍ mrÍ, através do
oceaoo PrcíÍico, e poÍ terrr, rté I costa leste. Um evcnto hiíórbo que sc
enquadra nesss cltegoria está na '.Vis[o do grande incendio" de Swe_
denborg, em Estocolmo, no qual ele doscreve sos outÍos o que havia
'rristo". Alguns dias mais tarde chegou a notícia desse ov€nto, ocorrido
ro m€sno tcmpo em que Swedcnborg tiveo a virão e tal como ele o des_
cÍaveÍil.
Ns teÍc€iÍr categoÍis sincronística, unu pewa vé unu itttqem (arw
erúp, vÍúo ou preroil@ ) de fuo Ete oorreá rc fututo, c (W entfu
efetivonante eotÍace. Quando eu estaw grávide, meu mrrido Jim cstava
ceÍto dc qual seÍir o sexo de cada criança que estavs poÍ na§c€Í, bascado
numa forte impresão psíqúcá, e eu deduzi que ele realmente ssbis.
Tíúamos taÍlta coÍtezr dc que o sentido comum ntro prevalecia que só
havíamos escolhido um nome, e de mulher, püa nossll primeira filha _
Mebdy Jean -, e um de homem prra nosso frlho. - Andre Joseph que
-,
veio à luz quar dois snos mais tarde. Pouoo antes do seu arsasinato, o
pÍesidente Ljncoln oontou haver tido soúos nos guais ele üa seu próprío
oorpo sendo velado numa cômrn rrdente; esse é um exemplo hiíóríco do
oincidência entre um sonho e um roontecimcnto futuro.
Em cada uma das situaçõcs acima citadas, houvc a coincidência de
um evento real com urn pemrmento, uma visão, um soúo ou umr pÍe-
monição. Os meus póprio3 exemplos nlo são paÍticúrÍmcÍrte dÍaIlúti@s
e podem não rcr dc todo oonrÍincGntca, c oo cntlnto rcsldtrm na minhr
memóú poÍ crusr dos scntimentor que os roompührrrm: o sentimeoto
dos lagos entre todos ús - o fato de que Mehdy c eu estívamos aÍinadas
umr @m s outÍr, que Jim sabia "quem" eu csrrçgrva Gm meu ventre. O
que foi sigriÍicativo prra mim foi r semsçío de interação que o rcompa.

34
úava, quando um evento extemo coincidia @m o Pensâmento ou com a
princípio que lung postula como o elo
-a A sincronicidade é o
gremonição.
lue lga psique e o evehto numa coincidência sigrriÍicrtiva. É o partici'
pante quem dctermina (atrav& de sentimentos meÍâmênte nrbjetivos) se as
coincidênclas sgo "significativas". Para compreender plounante o qve é
um epiúdio sincronístico, talvez seja necessário vivcnciar pessoalmente
umo coincidência misteriosr e §entiÍ reaÉes emocionais espontáneas - de
cslafrio $bindo pela espiúr, de esPantoou de calor -, emogões que
freqüenternentc acompanham ! sincÍonicidrdc. O melhor seria que nlio
houvese mêios dc explicar a coincidência nciondrncntc ou PoÍ meÍo
aca§o.
Existcm algumas difcrenças imPortantes GíltÍc ! sincrcnicidade e a
causrlidsde. A crusalidade lcm ! YeÍ com o coúccim eúo obletirgi N
obsêÍv!ção e o raciocínio rlo utilizados Püa exPlicar como um evento
nrrge diretamente de um outro. Qurndo urna pedra é lançada @ntÍa umâ
janeta e essa se quebrr, r crusa c o cfeito cstão cnvolvidos' Não importa
qucm lança a pedrr, onde ou quando isso ocore ou quem está observando.
A causalirtade alirma que uma pedra lançada com basturte força quebrará
o údro da janela. A sincronicidade, pclo oontrário, tem a veÍ com a exPe'
tênciz aúJetfua - se algúm tcm uma §úbita PreÍnonição, aüsandoo para
que sê afaste dr jrncla e, se alguns scgundos mais taÍde umâ Pedra bate
ncssa janela, a consciência da premonição torna a janela quebrada um
evento sincÍonístico. A detêÍminrÉo do temPo é significativa para a
pessoa, pois para elao sontimcnto de premonição Psicológica interioÍ está
dc certa formr interligrdo 0 umr ocorrênch exterior que aooÍilec€u cm
scguida.
Para rvdiar causa e efeito, é preciso a habilidade de observar os
eventos extcÍioÍes e de panrar com lógica. Para avúaÍ um evento sincÍo'
nístico, é pÍcsiso ter a capacidsde de notar um estâdo inteÍior subjetivo'
um peísamento, um !êntimcnto, umo úsão, um sonho ou umâ PÍemo'
n&ão, c cntão conectáJo intuitivâmcote a um evento exteÍioÍ â ele inteÍ'
ligedo. A sincronicidade é uma "co'incidência" de eventos significativa
paÍa qucm doles participr. Dcsç modo, csda experiência sincÍonísticâ é
únicg. A causalidode é uma scqiiÉncia de eventos que pode scr explicada
pcla lógica e que geralmentc pode ser rcpeüda.
Jung sustentava que o inoonsciente coletivo ou a cmada rÍquetíPics
do inconsciente (dois tcrmos que designam o mesmo fenômeno)' estava
envolvido em eventos sincÍonísticos. Embora concordâsse com Freud no
scntido de que cada um de nós tem um inconsciente púprio que deve
sua existência à experiêncir pessoal, pois conlém tudo aquilo que havia

35
sido esquecido ou Íeprünido, Jung também descreveu uma camada mais
profunda do inconsciente, à qual chamou de in@nscicnte alatw, gor
ele oonsiderada como universal e cong€nita.
Centenas de páginas foram escritas por Jung para explicar em gue
consiste o inconsciente coletivo e o que sã=o os arquétipos. Dois rolumes
de suas Oáas completos contêm o núcleo da tcorb junguiana. São eles:
Os orqÉtipos e o hconscicne colctiw (vol. 9, ll
pute) e Aion (vol.9,
2? garle). Seria portanto pÍ€sunçoso, se bem que necessário, pretendçr
explicar os arquétipos aqui, em poucos parágrafos, para mostrar a reh.
ção existente entre eles e a sincronicidede.
Jung descreve os arquétipos como "padrões de compoÉamento instin.
tivo", afirmando que "há tantos arqútipos quantas situâgões típicas
houver na úda. A repetição infmita grâwu ersas experiências dentro de
nossa constitúção psÍquica". Exemplos de situações arquetípicas são as
de nascimento ou morte, de casamento, os laços entre mõe e frlho, ou as
lutas heróicas. Temas que com freqiÉncia dizem respeito a situações ar-
quctípicas são os relacionamcntos e conflitos lcvantodos nas tragédias
gÍegrs, nos mitos ou nas peças teatÍtis mod€mas. É por tocsr uma corda
@mum a todos nós que $lscitam um atrativo universal. A corda omum
é essa camrda do arqútipo.
Há ainda uma outÍâ definição de arquétipos utilizada por Jung, refe-
rcnte às 'Írnagens primordiais" ou às f[uras arquctípicrs que siio ative.
das e então revestidas @m umâ coloração emocional inferida pessoal-
mente. Isso ocorre qurndo se desenvolve uma situação emociond que
oorresponde I um deteÍminado arqútipo. Por exemplo, uma pessoa
pode ir
assistir a uma conferência pronunciada por um homem idoso cuja
presença e cujas palavras evocam uma reação emocional do arquétipo do
Sábio Ancião. Ese homem torna-se imediatamente "numinoso", ou
misterioso. Ele passa a ser vivenciado como úbio e poderoso; cada palavra
por ole pronunciada parece imbuída de significado. Uma vez aceito como
um SCbio AncEo, qualquer coisa que ele d[a daí em diante jó não scrá
mais submetida a exame crítico. Considerado como a própú fonte da sa.
bedoria, ceda uma de suas pelavres, nâo impoÍta quão banais, püecer[o
uma pérola de sabedoria. O arquétipo foi personificado, revestido ncssc
homem em particulaÍ, a quem slo concedidos todos os atributos do arqué.
tipo do §ábio Ancião. Outros exemplos das flguras rÍquetípicas são r
criança divina, a mãe todadoação, o pai pstrirÍc{, a tentadora, o impos.
tor - todas são figuras simbólicas Ícptidss em soúos, na üteratura e nas
Íeligiõe§.
Quando, numa determinada situação, o nívcl rrquetípico do incons-

36
ciente coletivo for atingido, hartrá uma intensidade, assim como uma
tendêncig pâÍa a expÍessão simbótca. Dar'se'á então uma alteração no
nívct do cotidiano habirual; haverá mais 'tn{gica" no ar, poderemos
ficar "inspirados" ou empreender 'tma cruzada". As expressões co'
loqúais recoúe@m essâ mudança no nível Psicológico: "Que diabo
deu nele?" ou "Ele foi íisgado PoÍ uma idéia" ou ainda, "Ela perdeu as
estribefuâs poÍ medo ou Por raiva".
Quando esse níral do arquéüpo carregado emocionalmente é ativado,
podem surgir imagens de soúos de grande intensidade, e eventos sincto'
nísticos tornam-se mais freqiientes. Tanto os sonhos como os evÊntos
sincionístioos são expressos simbolicamente, o que demonstra sua inter'
ligaÉo comum no in@nscieÍte coletivo. Entretaflto, isso não "explica'
@mo ou poÍ que ocore a sincronicidade - nota.se apenas que há, de fato,
uma conexão enlÍe a sincÍonicidade e um úqÚtiPo âtiro no incoÍlsciente
coletivo.
Jung descreveu a relação existente entre o inconscientc coletivo e o§
eventos sincronisticos numa cârta datada de 1945, dirigida ao Dr. J. B'
Rhine, o conhecido pesquisador da percepfo extÍa'sen§oÍial. Escreve
Jung que o inconsciente coleti!,o comPortava-se "@mo se Íosse uro, e
,rfu @rrp se fosv Íncbúo mtrc vár'bs indivíduos" e que se manifes'
la'ffi qerus em geres humo@s, ,rlr,s também on onirrlotis, e oté em
andições físicas". E Jung deu um exemplo para ihstrar o que disse :

Eu caminhava oom uma p*ieme pela floresta. Ela me comou o


primeiro soúo de sua vida, que lhe havia delxado uma imprasão
duÍ6doure, Ela havia viío uma raposa o§pcctÍal do§ccndo as .3ca'
das da casa dos satrs pais N4uêle iÍEtants suÍ0iu uma raposa veÍ'
dadoira saindo do meio das árvores, a cerca de quôrentô metros de
distância, que camlúotr siloncbsamsnto sobre E tÍilha à msa frente
durônto váÍios minutos O animd oompontxr'sa oofi)o 50 fosse um
anmplice na situ4ão.

Esa é uma daquelas sincronicidades mágicas que PaÍecem dizer que o


que estâva sendo discutido naquele momento era múto impoÍtante, enceÍ'
rando uma alta carga emocional. A raposa ÍePÍesentava o que deve teÍ sido
umâ questão ceÍltral na situâÉo famiüar da paciente.
Em sua aútobiograÍiâ intitulada llemortcs, Drums and ReÍlttiow,
Jung descreve o evento sincÍonístico que paÍa ele foi de maior relevância
pessoal. Haúa ocorrido ao final de um período lonSo e solitário que segÚu
ao seu rompimento com Freud, EIe haúa discordado de Freud a ÍesPeito

37
de urna premissa da maior importiincia, afirmando que, mais do que um
probleÍnr literal, como Freud rfumava, o incoto err um problema smbó.
lio. Essa postuÍ:r "ex@mungou" Jung do movimento psicânâIítio, dei.
xando.o isolado dos seus colegas. Ele onünuou dando consultas a sers
pscientes, e prossegúu no trabalho do estúo da psique isotadamente.
Suas divergências tóricâs citusaÍam o Íim de sua amizade tão signiÍicatíva
com Freud, o quc resultou na sua expulsõo da comunidadc proÍissional
que girava em torno de Freud. Jung o descreveu como "zrn pabdo de
inccrtaas inteTiore§, um estdo de detudenta@ ". Isso ocorreu quando
ele ainda não havia encontrado a sua própria posição. Em vez de dar ouü.
dos aos pacientes com uma teoria em mente, Jung Íesolveu pÍestaÍ atençiio
aos s€us sonhos e às su-c fantasias, adotando uma total abertura mental e
perguntandclhes apenali: "O que lhes vem à mente em relação a esse
sonho ou fantasia?". Ou então: "O que você quer dizer com isrc? De onde
lhe vem essa idéia? O que você pensa a Íespeito?". Ele submeteu os seus
próprios sonhos à mesma observaçib, esmiuçou suas próprias recorda@es
de inÍ-ancia e segúu um impulso paÍa construir uma aldeia em miniatuÍs
às margens de um lago, enquanto os sets pensamentos se esclareciam.
Ao explorar os conteúdos de seu próprio inconsciente seus soúos,
-
visõcs e fantasias-, ele Íez esboços de deseúos e se deparou com un
material psíqúco semelhante ao que se encontra orn criançrs, nos pscien.
tes mentaís e ns imaginação mítics. Essr Íepetiç6o de motivos e de ima-
g€m nos indivíduos e na literatura mundial apontava em diÍrç6o so @n-
ocito de aÍquétipos conservados colctivamente.
-
Ele se viu então atÍaído pelas mandalas figuras que apaÍecem pÍo-
fusamente nas religiões místicas do Oriente e no desenho espontâneo das
pۤsoos em,conflito, e tentou comprcender o que elas significavam. (Man.
dalas são descúos que contêm um ponto central, mútas vezes Íepresen.
tando círculos dcntro de um quadrado.) Pouco a pouco foi surgindo a
idéia de que a mandala Íepresentava o centro que dá scntido à personali.
dade - centro ess€ que Jung denominou §ell e que gua ela é a meta do
desenvolvimento psíquico.
Ele oonceitualizou o §b{f como um ponto médio relacionado tanto
com o ego como. com o inconsciente, sem contudo ser equivalente a n+
nhum dos dois. E uma fonte de energia que impele a p€ssoa a "tornar-se
o que ela é", um arquétipo que confere um sentido de ordem e de sentido
à personalidade . Em Memories, Drqms and Reflectbns ele afirmr quc
se a meta do descnvolvimento psicológico é o Self, então "ttão lui nei,lanu
evohq:ao linw (uceto no prircípio de vidt); lai aperus a cbanntmbula-
&dosrl?'.
38
Enquanto tÍabalhava oom esse conceito, Jung sonhou com um câstelo
dourado bem fortificado. Ele estava pintando essa imagem no centro de
uma mandala que sua sensibilidade intuÍa como chinesa, quando recebeu o
texto de O segredo tla flor de oum, de Richard ll'ilhelm, junto com um
pedido para redigir um prefácio pâÍa essâ obra. Esse evento emocionoü
Jung, pois era uma coincidência incrivelmente siSnificativâ, e escÍeveu:

Li o mânuscÍito imodiatamente, pois o texto mE pÍopoícionava a


conÍirm4ão nunca antos sonhada de minhas idéias sobre â maÍÉalE
e sobÍe ô cirorm-ambulação do centÍo. Essa foi a primeira ocorrôncía
guo nompou mou isolamento. Tornei-me consciente de uma afinidde,
e podiô estâbslocer laços com alguma coi3â ou com alguóm. Recordan'
do essa coincidilncia e e§a sincronicidade, oscÍÊvi âs seguinto pala'
yÍas ombaixo do quadro qtr me havia causâdo ume imprê§sâo tâo
drinesa: "Em 1928, guando 6tava pintaÍldo este quadro, delineando
o castolo dourado íoniÍicdo, Richad Wilhelm enviou'me, de Frank'
Íun, o tcxto milonar sobre o câstelo dourdo, germe do corpo imor'
tal."

O mmpimento com FÍeud o@ÍÍeÍa há cerca de dezesseis anos. No de-


correr de todo esse tempo, Jung nâo tiveÍâ nenhum aPoio Para süas idéias.
Encontrar um ponto de vista paralelo às suas próprias conc€Pções
num texto chinês arcaico era a confumação do valor de seus estudos soli'
táÍios sobÍe a natuÍezâ da psique. Esse evento sincronístico deve teÍ acü'
Íetado a conscientizâçâo de que os conceitos que ele haúa pesquisado
duÍante todos estes anos tinham afinal um sentido, dissolvendo dúúdas
sobre as escolhas que haüa feito. Suas diferençâs teóricas o hâüam isolado,
e a decisão de investigar a psique o havia preocupâdo tânto que ele havia
se ÍetiÍâdo da universidade na qual lecionavâ há oito anos e onde esPeÍava
fazer uma carreira acadêmica serena. O sentido de isolamento resultante
dessas opções transformou-se atrarés do evento sincÍonístico. AgoÍa ele
sentia umâ afinidade @m os outÍos.
Penso na circum-ambula$o do ^Sef de Jung oomo um paralelo ao es'
forço da mente oriental para se relacionaÍ com o Tao. Penso na consciên'
cia girando em lorno de um centro, nunca sendo igual ao centro.poÉm
tocada pela sua energia ou diúndade, do mesmo Ínodo que um planeta
ciÍculâ ao redor do Sol, que o âquece e ilumina. Mais uma vez, é â imâ'
gem da dança em toÍno do ponto em ÍePouso. "No ponto em neqrlo
do mundo em ,tuta@" onde a nossâ @nscienlização ou a munda'
-
39
neidade do ego ciÍculâ, gira e circum-ambula ou dança em torno de um
princípio eterno, infinito, inexplicável, indescritível, centralizador, ou-
torgador de um sentido. Ese ponto em repouso no centÍo da dança é o
Tao do Oriente e o Self da psicologia junguiana. Geralmente sente-se o
§ell como â percepção interior de um @ntÍo numinoso, enquanto o
Tao ao nos confeú uma oonscientização de uma unidade subjacente
-
atrarés da qual estamos interligados a tudo no uniyerso freqüentemen.
-
te parece seÍ exteÍioÍ a nós. Ambas são versões de uma mesma üsão da
Íealidade, e são permutáveis. Recordemos â intúção de Frederick Franck:
"Aquib que estd Íora oone dentro de mim; exteÍbt e interbt úo lnse-
gniveis ". O Tao e o Sef podem ser considerados como uma única coisa,
ambos dando um sentido e ambos além de qualquer defurição.
Ao considerar a relação entÍe o ego e o Self, minha sugestão é de
suspender a necrssidade de definir o lugar que o §ef ocupa no espaço.
Nós, ocidentais, estamos presos à idéia de gue tudo o que é "psicológioo"
precisa estar localizado no espaço existente entÍe as nossas duas orelhas.
Não fazer questão da localização nos ajuda a entendeÍ melhor o sel;t'.
Pressentir uma energia divina d a experiência. Será que deveríamos argu.
mentar se "Deus" está "li fora" - como nos versos de Robert Browning:
"God's in his hqven, all's right with the world" [Deus está no seu céu/tudo
está certo no mundol - ou dentro de nós mesmos, quando o charnamos
de Espírito Santo? Que importa o que pensamos do Tao ou do §ef, quan.
do a similitude crucial é a experiência da graça naquele momento, cuja
fonte está além da nossa compÍeensão e é inefável!
Se a sincronicidade é de fato o Tao da psicologia, como é que eu
rgorr estou tÍocândo o §ell com o Tao? Do ponto de vista metafórico,
vejo a tÍoca como semelhante à descoberta, na física qúntica - do aspec-
to dual da matéria no nível atômico -, aparecendo como partículas e
oomo ondas, dependendo da situação; é semelhante ao que os cristãos
üvenciam no mistério da Trindade, em que Deus é uno e entretanto é
Pai, Filho e Espírito Santo. São aspectos da mesma realidade, focalizados
de uma perspectiva diferente. Já que nosrcs oérebros - particularmente os
nossos hemisférios esquerdos dominantes -
têm dificuldades em captaÍ a
totalidade, nós vivenciamos algumas partes do quadro inteiro, e a cada
aspecto damos um nome diferente. O que üvenciamos internamente quan.
do sentimos uma relação com a unidade, com o Tao eterno que interliga
todo o exteÍioÍ a nós, é o §ell. Sente-se a sincronicidade atrards de um
evento coincidente signiÍicativo para nós, pelo qual o Tao subjacente é
revelado.
A sincronicidade é o princípio qrue iaz a tigagão (quando causas e efei-

40
tos são eliminados pela imPossibilidade de qualquer exPlicâção racional)
entÍe nossas psiques e uma ocorrência exleÍioÍ, nâ quâl sentimos uma mis'
teriosa sensa;ão de união entÍe o sêÍ inteÍioÍ e o seÍ exteÍioÍ' No decorrer
da experiência de uma ocorÉncia sincronística , eÍn vez de nos sentirmos
como entidâdes sepuadas e isoladas num vasto mundo, experimentamos
a interligação com os outÍos' e percebemos o universo num nível
profundo
e signiÍicaiivo. Essa conexão subjactnte é o Tao eteÍÍo, e o evento sincÍo'
nístico é uma de suas manifesta@es específicas.

41
toç
!r§9

|'9OSp
*t.§}ss
Ft

Detectando o sigaificaito de um e»mto sincronístico' A atirude infu'


pam des'enfur e a procum de um sigdtfiufu específico'
-EventosMétodos
godom.
sincronísticos como pistos de qgc estunos invlslvelmente inte i'
gados uns aos outros e ao univetlo-

É lriste saber que Ílão haverá mais nenhuma nova história policial
de autoria de Agatha Christie. É como se nos tomássemos crianças e
perdêssemos o nosso mundo do "faz'de'conta"; ou como se assistís'
i.ro, .o último capítu1o de urna aventura aPaixonante' Até sua moÍte
(duas histórias poüciais foram publicadas após seu falecimento), Àgaúa
Chrisüe foi uma incansável institúçiio inglesa. C-omo ela publicasse um
novo Íomance, todos os ânos, eu me divertia lendo a obra mais recente,
na exPectâtiva de q ue em breve apareceria outra. Para um psiqüatra, ler
essas histórias deve rePrese ntar mais ou menos o
que Íeprcsentâ um feriâdo
paÍa um condqto r de ônibus, pois seus detetives Herc ule Poirot e Jane
Marple abordam si tuações humanas de uma maneiÍa em muitos Pontos se'
que susci'
melhante à do psiqúa tra. Em em cada liwo havia fatos ou objetos
rcâ isso?" Ou entâo
tâÍiam a peÍ$rnta de fuatha ChÍistie: "O ue
ela descreveria o câÍáteÍ de uma Pe ssoa e, já que "o câúteÍ o destin
o'],
'ão
á-ãha\,ffi enco-mrúrtio-froãã16- aa Éc§e-L"Eü& iiã-ritiãâ-dii
susDeito

45
/.rn
i ''
A meu ver a abord_ag,em de Agatha pois pe Ísunta
c ç; 'lC C_ue s-gL! fica este evento?'
9!§!ie_q-$túgs,
iÍcunsüincias ele aconteceu? "
E-ni- que c
"Que possibilidades lhe são inerentes?" Uma mente mais concÍeta e lite-
ral , ao contÍáÍio, ocuPa-se -p-frnii-paimente com o evento ou com a @isa
em si mesma o que ela ÍepÍesenta agora e o que os cinco sentidos podem
-
câptar s respeito. Para visualizar o quadro inteiro, precisa-se de ambas as
abordagens.
Abordando os eventos sincronísticos à maneira de Agatha Christie,
procede-se na suposição de que esses eventos enceÍrem unl{gllfigdo_gge
p9de.§.e.L::detectado".Porexemliõlüm-E-iGG[ac-iãtes,sabendode
meu interesse pelos fenômenos psíquicos, iniciou certo dia sua consulta
com o que ele considerava um aparte, contando.me uma anedota a Íespeito
de um curioso acontecimento de percepçiio extra-sensorial. pois bem, esse
tipo de relato sempre encerÍa uma caÍactenttica do tipo: .,puxa vida! "; é
como tÍopeçar inesperadamente em algo maravilhoso e cheio de fantasia.
Porém, ir além da indagação '.Não é intrigante?" para chegar a ..O que
pode significar iisol" -
é o mistério a desvendar a irm de achar uma rile_
vância pessoal inserida nesse evento.
Meu paciente havia participado de um clrv:aliro pelo pacíÍico, durante
o qual teve um sonho apaÍentemente insignificante. No sonho ele estava
na Holanda com um grupo de rapazes. Eles haüam descido de um naüo
e alugado um cáÍÍo pa:.a fazer uma excursão pelos arredores, e estavam
entrando novaÍnente no cilrÍo para voltar ao nayio. Ele era o último que
ainda estavr de fora, quando viu um gigante usando uma boina de menino
holandês caminhando a passos largos na sua düeção. Sua atenção fixou-se
nessa Íigura que se aproximou, mas depois continuou seu caminho. En.
quanto meu paciente o seguia com os olhos, o grande homem vottou.se,
encarandoo diretamente por cima dos ombros, com um olhar foÉe e in-
qúsidor, como se perguntasse: "Vooê me seguirá?". Enquanto isso, os
companheims de sonho o apÍessavam pam entÍar no cirrro. O sonho aca.
bou e meu paciente não o julgou muito importante.
No dia segúnte, na vida real, o barco atrâ@u em Honolulu, onde um
amigo o espemva. O amigo sugeriu que eles fizessem uma üsita a uns
amigos seus, pessoas que meu paciente nunca vira antes e de quem nem se
quer ouvira falar. Ao entrrÍ ns casa daquelas pesrcas, ele Íicou surpreso
com a grande influência holandesa na decoração. Acima da chaminé ele
üu um quadro de um holandês vestido exatamente oom o mesmo unifor.
me do homem do soúo, com o mesmo boné, andando por uma rua e
olhando para tÍás, por cima dos ombros, com o mesr.no olhar e na mesma

46
postuÍa do sonho. A única diferença era que na pintura havia uma mulher
ao seu lado.
Meu paciente ficou bastante abalado com a coincidência, sentindo
o elemcnto espectral de tudo aquilo, mas não Pensou nem analisou seu
significado. Como tantos eventos de percepçâo extm'sênsorial' esse sonho
precogniüvo lrouxe à tona uma impressâo de encantamento e de assom'
bro.
.Adotando uma aütude semelhante à de fuatha ChÍistie em relação à
sincronicidade, continuei na suPosição de que o sonho era pâÍticulaÍmeÍ'
te importante, justâmente porqr. foi suUtit t ado pelo evento PES'. O
fato
tle o holandês simbóüco teÍ aPaÍecido duas vezes justificava o interesse.
Focalizando o soúo na suposição de que ele eÍa uma "Pista" imPortante '
nós usamos a amPliâção e a imaginação ativa paÍa compreendê{o ainda
melhor. "Ampliar" é como pedir ao Paciente para olhar por uma lente de
aumento, concentÍando'sê nos detalhes do sonho, fazendo associações re'
feÍentes a seus elementos, enquanto o analista pode sugerir outras possí'
veis conexões simbólicas ou significados em Potencial' Nesse sonho sim'
ples, avaliamos a altura do holondês, que deveria ser de mais ou menos
dois metros e meio, comPúada com meu Paciente, de apenas um metÍo
e noventâ; tratavâ'se da postuÍâ de um homem adulto olhando PaÍa um
menino- Seus compuüeiros no caÍÍo eram esteÍeótiPos de rapazes ricos
à procura de avenluÍas e de divertimentos.
Numa imaginação ativa, â Pes§oâ oomeça com a imâ8em de uma pes'
soa ou de um lugar, de um mimal, de um objeto ou símbolo, freqúente'
mente de um sonho e, num estado de relaxamento mental,'aê" ou ima'
ginâ o que o@ÍÍe â seguiÍ. A imagem vai se elaborando à medida que a
pessoâ a observa. Pode ser @mo que um devaneio. No presente caso'
meu paciente aúou que o holandês ÍePÍesentâva uma figura patriarcal
numa famflia numeÍostt, ou num clâ. Era um trabalhador sólido como
uma rocha, seguro, diglo de conliança e ÍesPeitado pelos seus conselhos
sensâlos.
Ese homem Sigantesco estava apÍe§entaído ao meu paciente uma
questão crucial Para o §êu crescimento: "Você me segúrá ou ficará com
seus companheiros?". Vooê segúrá os princípios PatÍiâÍcâis -ao toÍnaÍ'
sê adulto, seÉ um homem que os outÍos podem pÍocuÍaÍ devido à sua
força e confiabÜdade, ou permanecerá junto de seus iovens companhei'
ros de cruzeiro, à procura de diversões e de mais aventuras? A escolha era

4 AbÍevilaçeo de PocepçAo Ettra'sensorbl

47
cÍucial e apÍesentada de modo oportuno: princípio patriarcal ou juventu.
-
de eterna com qual ele iria se identificar e qual iria seguir?
Admitindo-se que o sonho era particulsrmente ímportrnte como
base do evento PES, nós descortinamos o seu significado. O holandês
simMlco era o principal arquétipo novo ou símbolo da psique. O meu
psciente sentiu pela primeira vez uma identiÍicaçõo com o póprio pai,
notando até, contente, que §urs mãos sc parecism com as de-seu pai.
0 Aoontecimentos aparentemente triviais podem seÍ sincronísticos e
I levados adiante. quando o seu signiÍicado é observado. por exemplo,
na
manhã em gue eu devia atender uma c€rta moça, en@ntrei no meio de
minha correspondência um cheque seu devolvido por fatta de fundos.
Quando ela entrou, ciente da devolugão de seu chàque, dise: ..Eu nío
queria falar de dinheiro, mas aúo que serei obrigada a fazê.Io". O di.
nheiro haüa sido uma questão múto importante, poém nunca mencío-
nada, e ela relutava em lÍirzeÍ ess€ rssunto à tona. Foi como se I sincro-
nicidade o exigisse agora, passando-lhe a mensagem de que ela não podia
eütar falar nisso. Ela não havia tido um cheque devolüdo nos ri,tiimos
três anos. Ela haúa assinado uns quinze a vinte úeques anteriores e pos_
teriores ao meu, e todos haviam údo pagos pelo bana. fumante o meu
cheque havia sido devolvido por falta de fundos. para ela, esta foi uma
coincidéncia extremamente signiÍicativa, na qual o evento exterior estava
interligado com uma questão altamente emocional.
Para a maioria das pessoas, a devolução de cheques é uma oonse-
qiÉncia previsível do fato de não se depositar dinheiro suficiente no
banoe. A mensagem não é misteriosa;é questilo apenas de repor os fundos
disponíveis ou então de contrabalançaÍ as despesas. porém, guando so
trata de uma "ocorÉncia do acaso", a abordagem de Agatha Christie
s€Íia a pergunta: "O_ fa!g_1-§!!gg!§!l!gr?". Se a resposta for positiva,
desejaria saber qual seria o seu significado. euando o chegue da minha
paciente nõo foi pogo, isso signiÍicou que ela já niio podia continuü s
se esqúvar da questão monetária. O custo da psicoteÍapia a estava amrÍ_
gurando, pois investir dinheiro co n§Eo mesm& @ um roblema
oara ela: daí sua dificuldade et e§§l
O cheque devolvido de modo sincronístico a confrontou @m a men.
-8!,
sagem de que ela não podia fugir dessas importantes questões emocÍonais.
Frederic Spiegelberg, o eminente erudito de religiões comparadas
de Stanford e pÍesidente do lnstituto de Fstudos Asiáticos de São Fran-
cis@, @mprÍa e enfatiza o contÍaste da atitude de um oriental com a
reação de um ocidental, diante de acontecimentos infelizes inesperados.
Em suas aulas em Stanford, Spiegelberg descreveu a diferença entre um

48
pÍofe-ssoÍ g qqltlglla, âo seÍem âtingidos PoÍ ún tijolo caindo, quando
atÍavessavam os jaÍdins da Universidade. Ao ser alingido pelo tijolo que
lhe quebrou o brâço, o professor gritou, suÍPÍeso e deúdo à dor, atraindo
os estudantes, que se reuniram à sua volta. Procurou.se ajuda médica ime'
diata. A área foi entâo isolada e chamou-se a manutenção. A Universida-
de foi responsablhzada e a companhia de seguros pagou pelo acidente.
Enquanto isso, o professor achou que foi falra de soÍte e zangou-se, fi.
cando com pcna de si mesíno; sentiu-se magnânimo por não processar a
Universidade. Os outros também se compadeceram dele desempenhan'
do um papel paÍecido, isto é, oonsideraram o incidente como uma fa.lha
da Universidade ou então como algo impreúsível.
Ao seÍ âtiÍUido pelo üjolo, o PlQ1ylila atravessou o páüo da universida-
de, nlio 8Íitou parâ atraiÍ atençiio para o seu bÍâço quebrado, pois consi-
dera essa ocorrência oomo um reflexo sobre si mesmo, um efeito decoÍ'
Íente de um carÍna merecido. Ao contrrírio, ele começa imediatamente
a se auto-examiflar, para desoobriÍ o que fizeÍâ Para causaÍ tal incidente.
Nem sequer lhe ôcorÍe a idéia de PÍotegeÍ os demais de oulÍâs eventuâis
quedas de tijolos ou de contu com a cobertura do seguro. Ele assume a
pópria culpa e tâmbém não s€ Íespon$bilizâ por mais ningúm.
Para o professoÍ, essê evento tão adveÍso ocoÍÍe poÍque deve acon-
te@Í, sem e mais remota explicação. Ele era um PedestÍe inocente e nada
tinha a ver com tâl âcontecimento. Para o pândita, tudo squilo que lhe
ocoÍÍe é considerado merecido. Motivo pelo qusl ele se sente comPleta.
mente ÍespoÍlsável pelo braço quebrado.
âEuém---q* _-ggInnlÊenCg a existência da sincronisidade e
que
no
entanto âcÍeditâ ueebnfué usâ õFéiiúõíelp-iõvavel-mente

PÍrmerÍo como o pno fessor e, depois, a Íespeito, como


o pândira. Não asumirá a culpa pelo acidente, ao considerar a possibili
dade da sincronicidade. Aplicando a abord mde Christie, a
pessoa enfocará o incidente como uma coincidência significativa em po-
tencial, indagando: "O fato estará porventura 'comentando' alguma situa'
)
Éo inteÍns em minha vida?". Qlando aceitantos a idéia d
usral q q4-colúLeI|ll paraÍ e ppnssÍ.
dlr quÀlquglloglteci!9nt9 pouco-pôssível
--ÃãiíüA;ilãFõffia-dãffi; explicsção ou de um significail-o
potencial, tanto Ía üda normal como nâ psicoteÍaPia, pode ser aplicada a
soúos incong
e a ocorrências sincronísticâs, Ambos são eventos nos quâis o
ciente coletivo é manifesto em linguagem simbóüca. Em geral, âs pessoâs
os passâm por alto ou os esquec€m, e primeiro precisam notâÍ e lembÍaÍ-
se de tais eventos e dos soúos. Só enlão podem oonsiderâÍ os significados
potenciais, pensando sobre os elementos simbólicos e tendo a curiosidade

49
de saber sê esses são análogos a algo atualmente importante ou problemá.
tico.
. Freqiientemente, o significado não é totalmente claro; entretanto, o
lpro."t* é valioso em si, mesmo quando não resulte numa interpÍetação
fiue se encaixe. O valor reside em sentir.se interligado ao inconsciente
simbólico, coletivo, que nutre subjetivamente. Quando algúm que costu-
U I mava lembrar-se de seus sonhos os "p€Íde", atravesando um período de

1
I
tÍ diminüção de sonhos, paÍec€ estar fora de contato com algo importante,
ou ter sido desconectado de uma fonte expresiva de sugestões.
Dada a limitaçiio de nossa percepção, que só pode "ver" uma parce.
Ia do inconsciente coletivo de cada vez, os símbolos e as impressões de
sonhos ou de eventos sincronísticos são, com freqii6ncia, apenas parcial-
mente entendidos por in termédio de alusões seguidas do adiüúa@es
Às vezes, quando ocorre uma série de eventos uco comuns, podeÍnos
sentÚ que "algo gstá tentando nos &eÍ sensa-
. ção aumenta com cada novo acontecimento no mesmo sentido. Talvez
.,ir...,r' o fator indicador seja um fio de cabelo levantado atrás do pescoço ou
..^ ,.,,, u-" "comichão nos dedos dos pés". &ja qual for o sinal, sentimos
t(!,;r que é preciso decifrar uma mensagem, e então I abordagem de fuatha
F.-,.
dt Christie torna-se algo múto natural.
n"' Minha amiga pintora Ann Hogle foi surpreendida justamente por
uma tal série de ocorrências. Seu filho haüa' imaginado uma brincadeira
que gueria fazer na aula de latim no dia seguinte, e a @nyenceu a a@m.
panháJo à loja de armâs para obter alguns cartuchos sem ba.las. Ele e seu
amigo queriam dar um tiro em aula, num @rto momento crucial. No
caminho de casa, ao pé de uma @lina, eles cruzaram os destroços de um
acidente recente, de caÍro, em que este havia sido completamente des-
truído pelo fogo. A cena era terrível. Naquela tarde, em sua casâ, â porte
de cima do fogão pegou fogo, os grãos de café queimados foram apagados
e remoüdos pelo aspirador. Então o aspirador pegou fogo (sem dúvida,
alguns griios de café haviam ficado acesos lá dentro). Esses foram os dois
únicos casos de fogo ocorridos em sua casa. Ao sentar.se um pouco diante
da televisão, minha amiga notou que estava vendo um fllme sobÍe um in.
oêndio. Inqúeta, achando que a ÍepetiÉo do fogo era significativa, ela
"
procuÍou a palavra "fogo num dicionário de símbolos. Porém, ainda
não chegara a nenhuma conclusão Íe o possrve significado desus ooor
rências. Foi dormir inqúeta e intÍigsds, gcordândo às quatro horas da
madrugada, convencida de que todos os fogos deviam ter algo a ver com
os tiros de c€rtuchos.
Pela manhã ela conversou com o frlho, dizendo-lhe que preferia que

50
ele não desse os tals tiÍos. Apesar de nÍIo ter nenhum motivo lógico paÍâ
ligar a Crie de inéndios a essê evento, intuitivamente parecialhe haver
uma intêÍligâção. Seu filho concordou oom pÍesteza, havendo percebido
a estranha coincidência daqueles eventos. Mais taÍde, no decorrer da aula
de latim, duranle a qual ele haúa pretendido atiÍaÍ os cartuchos, ouüram.
sc explosôes de arrebentar os t ímpanos do lado de fora da saia. Dois me-
ninos e$avam manipulando fogos de artifício, que depois explodiram.
As mâos de um dos meninos estavam feridas.
O que pensar de tal evento? O que teria ocorrido se â mãe nílo se tiyes.
sê sentido alertada? Será que a explosão dos petardos substituiu algo que
podeÍiâ teÍ aoontecido? E se deveras isso ocoÍÍesse, quâl o motivo? Estou
a1pqt941q-d_4 !s o!uç9g_s-CgS nryEtiqg ae_âggl! çtrÍjsfiç" que são em-bó.
lhadas com tanto esrnero, e esse final deixa-me insatisfeitâ e ihtÍanqülâ.
Porém, minha amiga lhe atribúu um sentido sfnificativo, intúndo que o
epiódio dos petardos fora o toque importante atrards do qual ela sentiu
o impacto da seqiiência de eventos.
A série de eventos sincronísü .cp-q..de1xq e" nCttg !pg!çq .ias.a1!9{e.r!g,
porém sua mente intútiva, que pâÍticipou do episódio, teve uma conúc-
ção profunda (que as palavras são incapazes de tÍansmitiÍ de modo adequa-
do) de haver vivenciado aquela realidade cósmica subjacente o Tao. -
Miúa amiga não pÍe cisou de um samen I teoÍia aÍa
"racionalizar" a experiência -a pópria série de eventos sincronísticos
jáJo-ilu mEniêmõíGãara; sig,nifi cát iva.
A comunicação teleÉticâ proporciona outro exemplo no qual os
scntimentos evocados pela experiência sincronística paÍecem mais impor-
tantes do que qualquer merlsagem específica, transmitida pelo evento.
Duas mulheres @ntaÍam-me Íecentemente que receberam tais mensagens,
- nos dois casos foram literalmente "comunicsções de níwl úsceral".
Uma delas é ,udy Vibberts, que estava passando uma taÍde agadável,
sossegêda e relaxada flo parque Golden Gate quando, exatamente às
qustto e meia (inexplicavelmente ela tomou nola da hora), teve uma
súbita doÍ abdominal lancinante e irxuportável, ocompanhada de incrível
dor de cabeça. Naquela noite ela soube que uma gande amiga sua haüa
sofrido um terrível acidente. Houve uma batida no seu lado do carro e ela
sofreu ferimentos sérios no abdômen e na cabeça. Haviam-na tÍansportado
imediatamente ao hospital, e foi preciso uma cirurgia de emergência para
ÍemoveÍ o bago perfurado; sua situaçâo era crÍtica na unidade médica de
teÍapia intensiva. O acidente o@Íreu exatamente às 4,30 hoÍas, e a "mcn-
sagem" foi imediatamente enüada a Judy, que câptou o sinâl lelepárico
de modo viscenl.

5t
Nancy Haugen também foi "golpeada" por ums mensagem dolorosa.
Desta vez foi uma comunicação de mãe para filha, transmitida através de
todo um continente. A mãe de Nancy sofreu um acesso de dores no ab-
dômen: a princípio, houve dúüdas quanto ao diagnóstico, pois os sintomas
predominantes eÍam yrômitos, ânsias de vômito e ólicas. O quadro mos.
trou, afinal, uma obstrução que exigia uma ciruryia. Ênquanto isso, no
norte da Califórnia, Nancy parece teÍ tido "vibÍa$es haÍÍnônicas" no seu
sistema gastrointestinal. Antes do telefonema do pai contando.lhe o que
estava a@ntecendo, Nancy passou mal várias horas, com a sensaç5o de
ânsia de vomitos.
Eventos teleÉticos o@Írem geralmente entre duas pessoas que man.
têm um profundo elo afetivo -
entre pais e filhos, marido e mulher,
amürtes, bons amigos e, especialmente, entÍe gêmeos. Parecem estar afi.
nados intuitivamente através de uma conexão emocional em que o amoÍ
éo laço mais oomum. !!5g_glCg§g gravado na psique quando qmamos,
de modo que estamos abertos g4{Le-!EnU§!ão ,
-E! s fgcepção, através
de um canal particulai aberto poÍ ess€ relacionamento. Penso no "meio"
transmissor e ÍeceptoÍ dessils mensagens como o inconsciente coletivo, que
nos interliga a todos. (Alguns médiuns são capazes de afinar.se nesse nível,
perscrutandoo para obter informações, sem precisar de um laço emocional
funpoÍtante, poÉm quase todos os outros eventos telepáticos surgem entÍe
dois indivíduos com uma profunda interação emocional.)
Pois bem, pars que o pÍocesso analítico sej q 9 fr_ct-e_t!!9,. í
-p,r9cj!9l9sr-
bém que haja uma profúdiligàção. O relacionamento toca elementos do
,"1 ; íncoriscieritã-!ô;úãfe-cofetiíõiâã[o do analista como do paciente. Já que
i a sincronicidade envolve o in@nsciente coletivo e já que a comunicação te-
"ii I lepática pode acontecer entÍe duas pessoas que compartilham de um laço
emocional, poderdamos concluir que no relacionamento teÍapeutico po-
Il-dem
ocorrer PES ou eventos sincronl'sticos. E, de fato, isso acontece. Jung
observou qll,e 'b relocbttonento enfie médio e paciente, esryciolmcnte
quando oane unu transfaência da We do @ente ou unu identifiu-
@ mds ou menos inconsciente de média e Wientq disso pode readtar
um fenômcro yrupsicologico". Certa vez ele descreveu uma conexâo te.
lepática tÍansmitida visceralmente entÍe ele e seu paciente. Jung havia
üajado para fezer uma pdestÍâ, e voltava ao seu hotel por volta da meia.
noite. Ele havia se deitado, e continuou acordado duÍante bsstante tempo,
quando "por volta de duas horas -
eu deúa ter acabado de adormecer
- acordei de sob ressalto, sentindo que alguém havía entrado no quarto;
r
tive sté impÍessão de que a porta havia sido apressadamente aberta.
Imediatamente acendi a luz, mas não vi ningúm. Pensei que alguém talvez

52
tivesse sê confundido de porta, e olhei pelo coÍÍedoÍ. Mas tudo estavâ
-
mortâlmcntc quicto. 'EstraÍúp peruêi -, alguém efetivâmente entÍou
no quaÍto!'. Tentei relembrar exâtamentc o quc havia acontecido, e ocor-
Íeu.me quê êu tinhâ sido acordado poÍ uma doÍ imPÍecisa, como se algo
üvtsse âtingido minha lesta e, depois, o fundo do meu crânio. No diâ
seguinte, recebi um telegÍama dizendo que meu paciente havia se suicidado
com um tiro. Soube mâis tâÍde que a bala havia se fxado na parte de tÍás
de seu crânio".
Às vezes é o paciente, e não o médico, o ÍeceptoÍ da comunicação
telepática. Uma de minhas colegas descreveu uma situâção assim. Ela haúa
se ausentado da sua clínica em São Francisco gara iazlÍ uma viagem de um
mês pelo Oriente Médio e pela Europa - férias que tiveram de ser brusca-
mente inteÍÍompidas devido a uma tragédia: o duplo suicídio de seus pais.
Como eles moÍavam na oosta le$e dos Estados Unidos e o evento o@ÍÍeu
em lsrael, nada se soube a Íespeilo em Sõo Francisco. Minha colega voltou
ao seu trabalho junto a seus pacientes, como foÍa progamado snterioÍ-
mente. Julgou que oontar-lhes com detalhes todo o ocorrido seria um ônus
desnecessário paÍr eles. Por outro lado, comportar-sê como se estive$e
apenas voltando de férias seria uma simulaçâo nociva. Decidiu contar-lhes
apenas que as férias programadas haviam sido inteÍrompidas poÍ uma tÍa-
gédia na família. Uma de suas pacientes contou-lhe, então, um sonho em
que ela eslava viajando de ônibus com â suâ tcrapêuta (que estava acompa-
úada de sêus paÍentes) quando o ônibus comcçou a se encher de um gás
venenoso. Como a morte de seus pais havia sido ocasiomda por monôxido
de carbono, minha colega julgou que sus pâciente haúa captâdo detalhes
de seu estado emocional e os havia incorporado num sonho.
relação _col-oaúal, é difícil alirmar
Qgalqg-4.u-as-Pqsgoqs mantêm uma
onde teÍmina a int uiqã9_ e -o]&_coloc§ÂljÊllpdie NjgÂ-_qsry.tí@,
PAÍeCe freq ilcnte o analist 9-9-P!99!!r q{!r9!!L4!!4-e- stado de transe leve
q
suave e oo ado. Face a face, em cadeiras scparadas, refletem incons-
cientemente suas s coÍpoÍais e gestos recíprocos, ao mesmo tempo
que oompaÍtilham profundamente o mateÍial e os sentimentos. com fre-
qüência pênso em algo, e as próximas pahwas do meu paciente sc referem
a isso. Ou então, na desuição de um sonho, paÍece que a minha imagem
mental e o sonho devem seÍ semelhântes porque a situação onírica é múto
prontamenle compreendida. (Certa vez, Harry Wilmer, então PÍofessoÍ de
psiquiatÍia no lnstituto Langley Porter, propôs chamar um artista PaÍa
reproduzir o que o pâciente e o teÍapeutâ viam, Para confeú 3e a sua scn-
sação subjetivr de "ver" a Ínesrnâ imagem onírica era verdadeira, para
depois compreender o que a sêmâção poderia signiÍicar. PoÉm, pelo que

53
sei, isso não foi testado.) Quatro analistas junguianos, que formavam um
grupo de pesquisa em Berlim, únham anotando a ocorrÉncia de eventos
sincronísticos no processo analítico. llans Dieckmann fez um relatório a
Íespeito de suas descobertas em §zccess and Faifure in Arutysis. *vs
exemplos enfocam as p€Ícep@es extra-sensoriais qu€ suÍgem durante as
sessões analÍticas, quando há a presençe de material arguetípico. O ana.
lista pode teÍ o que lhe parece ser uma imagem mental *alheia", pora des-
cobriÍ que é múto significativa para o paciente. Ou o sonho de um pa.
ciente pode disparar reoordações e p€nssmentos extremamente pessoais
no teÍapeuta que, surpreendentemente, o levam a compreender as ima-
gens dos soúos do paciente. As vezes, o teÍapeuta e o paciente paÍecem
corrcctados por um vínculo terspeutico ou parecem compartilhar uma
psique interligada. A profundidade dessa conexiio também foi percebida
pela maioria das pessoas fora do consultóÍio psiqüátrico, quando uma
pessoa conta uma experiência profundamente @Ínovente, importante e
Íntima paÍa outra, que a compreende, fazendo conexões sentimentais
com suas próprias experiências similares, quando ceda uma está com-
partilhando eventos que podem ser imaginados üsualmente e emocio.
nalmente vivenciados pela outra.

&9gr
excepciona
3fl 9l.emp!9s. -de. sincrgnicidaqe tã9 ::p istas" ou eventos
is, interesssntes em si mesmos. Ao abordá.los à maneira de
Agatha Christie, podemos veÍ que o padrão subjscente nesas pistas sugere
ou indica o signiÍicado desses eventos.
Um acontecirnento sincronístioo pode tornrr.se simbolicamente sig
nificativo quando nossa compÍeensão do símbolo presente no ev€nto nos
mostra a vcrdade sobre a nossa situação psicológica particular. Trabalhar
com eventos sincronístios eTg se lgr*lt pdpg_CgsJetúando_@
sigliiliõãaiõísfi bõIiils,ú-deteitantgvqlgl'qygliotra!:Jharú-soúo-s.
Para mim, a tãlepáÍia e]rlrídiras ireisoas eüdencía a interaçào di amb-as
no nível mais profundo do inconsciente ooletivo, através de laços que
podem s€Í biológicos ou psicológicos. Quando isso ocorre em terapia, é
uma medida da existéncia de tÍansfeÉncia e de contratransferência ,ou
ilãe Gíerrrgaçao am;rc;;ou ambas as ooisas. O evento indica a orofundi
lla3aegg o tratalho alcançou.
Cada um desses eventos é uma pista que sugere a posibilidade de que
nós, e tudo o mais no universo, podemos scr de.lprefeÉncia vinculados invi.
sivelmente, mais do que desconectados ou separados, o que seÍw de apoio
paÍa a eústêncis de uma matriz subiacente, ou
!gt. P34_qlogrgg glin-
gronicidade, o lspary ellryjLgqvri.llg- e as coisÀ mais-do que
- "a.

54
zio -
deve, de cêÍto modo, "conter" um vínculo de interligação ou ser
um meio de tÍansÍnissão. Jung o chama de inonsciente aletiw.
Os eventos sincronisticos sÍío as prsÍas que apontam em direção a um
princípio ineÍente de inrerligação. Sempre que ocoÍÍe a sincronicidade,
as "dez mil coisas" üsíreis e tângíveis são úvenciadas coÍno aspectos do
uno, enq uânto â matÍiz invisivel, aquela conexão não posível de ser ex-
presa, inefável e invisível - o Tao - é o gÍande mistéÍio

55
rr$t"
fÉ"
$§$
cd$o

Eventos sincronísticos úo comosonhos. O elenco principl atuo com


perfeiçõo. A interpremçõo simbôlica como wn meio de compreensõo b
qinüo shcrontstico.
Há uma velha curção popular que começa assim: "Hove you ever seen
a drean wolking? l+,ell, I hsve" I Você alguma vezjá sonhou enquânto an'
dava? Pois eu soúei-] Pouco importa se na forma de soúo dourado ou
de peudelo, um evento sincÍonístico pode ser como um sonho que ocoÍÍe
quando se está despêÍto. Semelhânte aos sonhos, essês eventos estão Íela-
cionados ao que afeta a psique. Geralmente são observações metafóricas
sobre algo psicologicamente impoÍtânte e, quando compreendidas, podem
proporcionar um úslumbre da situação. Um evento sincronÍstico pode ser
imediatarnente imbuído de significado ou pode neL:essitaÍ de uma pausa
para refletirmos sobre o seu possível significado. Do mesmo modo, o sen'
tido de alguns sonhos parece de imediato imPortanle e claro, porém a maio'
ria requer uma análise para elucidar a mensagem que en@ÍÍa. Além disso,
os instÍumentos que permitem a oomPreensão do significado da sincro'
nicidade são os mesmos que funcionam na inteÍpÍetação dos sonhos.
Assim como a experiência onírica, a sincronicidade revela uma tÍe'
menda variação de pesoa Para Pes$a. Alguns recordam os seus sonhos
todas as noites; outros aÍirmam nunca sonhar. Alg,umâs pesoas lembram'

59
s€ apenas de ter tido um pequeno número de rcnhos importantes em toda
a sua úda, e essas poucas recordações talvez sejam de soúos ocorridos na
infância. Algumas pessoas têm sonhos cheios de sÍmbolos e de cor; outros
Íelatam seus sonhos em tons de cinza ou âbundsntes de trívialidades do
dia-a-dia. O mesmo ocoÍre com a sincronicidade: há pessoas que se dão
onta da sincronicidade ocorrendo à sua volta todos os dias, enquanto
outras nunca podem se lembrar de ter vivenciado uma coincidéncia muito
significativa; e outÍos ainda tiveram uma ou duas experiências sincronísti-
cas importantes em suas vidas, que lhes deixou uma impressão duradoura.
a
A lembrança, a freqiiéncia, a intensidade e qualidade dÍamática dos
eventos sincÍonÍsticos podem vâri8r tanto quanto os sonhos, e os temas
rep€titivos que Íeap ecem nos eventos sincronísticos podem ser oomo
sonhos Íepetitivos, enquanto a distribuição central do elenco pode ser
tão imaginativa e tão precisâ em eventos sincronísticos como nos sonhos.
Visto ser tão $ande a vaÍiação de testemuúos, ao perguntarmos às
pes.soas a resp€ito de seus soúos ou epMdios sincronÍsticos, é inteÍessan.
te especularmos sobre a discrepância entre a lembrança e a realidade.
Quando William Dement - o coúecido pesquisador dos estágios do
sono e seus colaboradores da Universidade de Stanford, estudanm o
-
sonho, descobriÍam que, sem levar em @nta o que nós recordamos, todos
sonhamos entre seis a oíto vezês cada noite. Eu arrisco uma opínião in.
tuitiva de que isso também é pertinente no que diz respeito à sincronic!
dade - de que eventos sincronísticos o@Írem à nossa volta todos os dias,
mesmo s€m os notarmos.
As variações individuais talvez dependam das características da perso.
nalidade. Parece-me que aqueles que denotam as maiores diÍiculdades de se
lembrar dos sonhos ou de se relacionar com êles, quando podem recordá-
los, tendem a s€Í pessoas lógicas, por demais racionais, centÍadas no tÍa-
balho; são mais freqiientes nos homens do que nas mulheres as denomina.
das "personalidades sujeitas a ataques cardíacos", detentoÍas de mentes
rÍgidas e pouco brincalhonas. Para esse tipo de pesoa, o conceito de sin-
cronicidade é altamente suspeito, e tende a ser desprezado junto com a
PES ou a expansão mÍstica religiosa. Como lhes falta um múecimento
intútivo, ÍaÍamente üvenciam a percepçiio de que algo poesa teÍ um sen.
lido espiritual ou um s€ntido psicológico. Desse modo, os soúos e os
eventos sincronÍsticos são menos prop€nsos a csusaÍ.lhes um impacto e,
quando recordados, não são percebidos como algo signiÍicativo.
Como acontece nos sonhos, a sincrcnicidade depende da atiüdade da
psique. Alguém, vivendo em grande agitação interioÍ, lembra-se com fre-
qiiéncia de soúos de grande intensidade, inusitadamente víüdos e cane-

60
gados dc cmoçâo; e também sê lembÍam de seus sonhos. A sincÍonicidâ'
de'também prÍecÊ aumentú de dimensâo quando há intensidade de sen'
timentos -não impoÍta se essc aentimento se deve ro fato de algúm sc
apsixonaÍ, de estaÍ atravessando um período de lutas criativas ou de
êtú cnfrcntando uma úria sitttâção dc conflito emocional. Com o aumen'
to da ten§o ernocional, os evcntos sincronísticos parecem mais fÍeqüentes,
aumcotam os incidentes de PES, e o uso oracular ôo Ahg I - quê §ê
-
rpóia sobre a sincronicidade muitas vezes induz a leituras de uma Preci'
sâo faÍtáslica. Posivclmente o aumento de intensidade psicológica produz
mais cfeitos ou tahcz o turbilhão emocionâl seja desorientado, de modo
quc o indivíduo prosta mais atençâo aos soúos do que à sincÍonicidâde.
Scmelhante ros soúos, que psÍecem teÍ sido concâtenados com a aju-
da de umr esffcie de elenco principal especializado na escolha de uma de-
teÍminsda pessoa ou de um símbolo em paÍticulaÍ PaÍa ÍePÍes€ntaÍ algo,
também o eyÊnto sincronístico pode sr formado PoÍ uma escolha de ele-
mentos igualment? imaginativos, ou até de preci§o humorísüca. Vou me
refeÍlt a urna oonversa que houve duÍânte um jântar festivo para ilustrar
o exemplo quc citarei a seguir, comprovando a alta qualidade do "elenco
principal" e mostrando de que modo o evento sincÍonístico pode ser in-
terpretado e trabalhado como um sonho.
O jentar hovia terminado e havíamos nos agrupado numa sala com
uma porla coÍÍediçâ gue se abria PaÍâ a gÍamâ verde, passando por arbus.
los e poÍ umr ceÍcá, cúntinuândo pelas colinrs onduladas de Tiburon, re-
cobcías dc gnmr dc toneliladcs ÍLÍÍons. Trà casais conversavaÍn, loman-
do café e coúrque. Ann erâ aÍtista e levantou una questão pessoal intri-
gante, que a todos lbsoÍveu. Ela descreveu experiências ocásionais de
fechar os olhos e vtr, cntão, imagpm de Íostos demoníacos e maligtos.
lnstintivamentc, eh recuava e, ao abú os olhos, quebrava o @ntato com
o que queÍ que fossem ou ÍepÍesentasscm aquelas imagens. Perguntava
então a si mesÍna se deveria tê-las enfrentado de alguma maneira. Será
quc essc seu proccdimento as cstava excluindo covardernente? Seria psico'
lo$camente errado eütá-las? Sua peryunta nos inteÍessou de vários ângu-
los éramos tÉs p$quirtÍas Ío Brupo; hsvia mais uma aÍtista e Jim, meu
-
marido, na oc$iío err editor e divulgador da revista Psycâtb (atualmente
denominada New Ralfrhs). lrvântamos premissas intelectuais, seja favo.
rávEis a um maioÍ coÍltalo (através da imaginação ativâ ou do diálogo),
seja para evitáJo, como ela fizcra. No meio dessa discussão, fomos impor-
tunados pelo barulho de um animal ananhando a porta conediça de vidro.
O barulho desviou a noirâ atenção. Ao nos virarmos, deparamos com

6l
um gambó. Era o primeiro gambi que nossos anfitriõcs hrviam üsto naque.
las redondezas. Os gambás geraknente eütam rs pe$xrrs - por que aquele
estaria tentando entrar? Houve mútas risadas à sugestão de que um de nós
devia levsntar.se e deixó-lo entrar. A noitada logo rcabou, pois estava Íi-
cando tarde.
Quando nos dirigíamos psÍa csslt, Jim levantou a posibilidade de que
o gombá à porta scria ums Íesposta sincronr'stica à pergunta de Ann. Até
certo ponto, o ocorrido era epenas um s@ntecimento pouco usual, inte.
resÍrnte por si mesmo e sem nenhum signiÍicado. (Antcs de minha anílise,
eu também tinha essa s€nsação s Íespeíto de meu soúos, que eram colori.
dos e se pareciam com um enredo de um filme. Para mim eÍsm de inteÍesse
passageiro, oomo ir ao cinema todas as noites - importrntes soment€
quando acontecesse algo incomum.) Ao levar em coníderrçio a sincronici.
dade, o evento do gambi arranhando a poía incoÍporou um signiÍicado.
Era incrível como ambas as coisas estavam inscridas no evento - a analogia
da situação de Ann e a resposta à sua pergunta.
Ao guereÍ entrar, o gambá agia como os rostos dcmoníacos. Abrir a
-
porta teÍia sido bobagem uma decisão tomada pcla sabedoria e pelo
senso comum, e nâo por ovardia. Se dei:rássemos o animal entrar, ele
contaminaÍia a sala, que ficaria cheirando mal, sugerindo rtravés de uma
metáfoÍa que p€ÍmitiÍ a entrada das imagens dcmonÍacas carregedas de
energia negativa teria ess€ mosmo efeito sobre o seu próprio espaço inte.
rior. A disposição centrd desrc evento sincÍonístico fomcccu um símbob
claro. A reflcxão sobre o contcxto e os atributos do símbolo deu-nos um
üslumbre da rituação de fuin e uma subsegüente escolhr de oção, isto é,
ela devia continuar a evitá-los.
Para r compreendcr um ewnto sincÍonísü@ ou um oúo, dew-se
primeiro averiguar a Íospeito do @ntexto enrocional em que ooneu. O
que esta\a incomodando? Qual era o problema que necessitrw de soluÉo?
Como estrvam s§ @isss, o ánimo int€Íior e as circunstáncias extcÍiores?
Os eventos sincronÍgtios prÍe@m o@rreÍ dentro de um contoxto eÍnocio-
nal que explica s siturÉo da vida real e traça paralelos com a mesml. l,lo
exemplo do gambí, êslc evento foi uma explicaç5o por analogia, imcdia.
tâ e simultânes.
A segúr, scrir útil teÍmos s curiosidade de seber o que as pessors, ani
mais ou'coisss envolvidss no ewnto (um gamM é muito óbüo) podem
signiÍicar e que significedo anílogo podem encerrar.
Às wzes, um eyento sincronístio é pcrturbadoramente óbvio pâra
quem nele está enyolvido. A batida de um cano no s€u cachorÍo fez s€n-
tido imediato e lúgubre para deteÍminada mulheÍ, por haver ocoÍrido logo

62
após sui sêpaÍação do homem com o qual estava úvendo. Ela só teve um
cachorro uma única vez rnteriormcÍte, mas haüarn-no roubado de seu
carro logo após sua dccisiio de não !e casrr @m o seu companheiro nessa
época.
Na primeira vez, ela havia cluamênte terminado a relaçr-o, e o coúor-
ro nunca mais foi encontrado. Agorr, r separaça-o tinhr acontecido poÍ
diferença de valores e de estilog de údr, ainda que fosr duvidosa a sobre-
viréncia do relacionamento, esse aindr não estâva morto. O cachorro
tamHm €stiva úvo - tevre um feÍimeDto na8 @8tas e srrastrva as palas
tÍaseiÍas e a cruda. Se não melhorarse, seria preciso du-lhe um injeção
paÍa ftlú.1o. Se a cspinha dorsal tiwssc gido afetrdr (numa ruptura per-
manente), o cachorm não podorie sc cunr; poÉm, se a prralisia fosse
rpenas temporária, devido à pressão, o Íe3tabelecimento seÍia posircl.
Ao final, houre r sobreúv€ncia tmto do cachorro quanto do relaciona-
meato. A espinha dorsal não haúa sido qrcbrada, e essa eparação, em
particular, foi apenas tempoúria.
Um en@ntÍo sincÍonííico cntÍc Pcsroas podc scr mútas vezes enfo-
cado como algo semelhante a um dcvaneio, no qual a p$soa en@ntÍa um
símbolo que lhe indica uma direção ou que resolve um onflito. Às vezes,
uma pessos tem um sonho em que a situaçib é "solucionada simbolica-
mente", e ele ou ela pode acordar com uma nova atitude que resolva a
tensão. Do mesmo modo, urnâ pessoa podc corüccer algúm num encon-
tro sincÍonístico, que püâ ela representa um símbolo úvo; o efeito de tal
en@ntÍo puece atingir os mais profundos níveis da psique, trazendo à
tona uma nova ener$a, que sÊ torna então uma força decisiva na sua úda.
Um exemplo de tal enconro sincronístioo emocional decisivo oooÍÍeu
na úda de uma profisional que haúa estado envolüda pela indecisão du-
Íante úrios meses. Ela queria abandonar seu tÍabalho @mo PsicoteÍaPeu-
ta pâra teÍ um filho e voltar a trabalhâÍ como pintora. Porém, cada vez que
p€nsava em fazê-lo, sua ansiedade crescia. Seu peÍrsamenlo vacilava entÍe
um lado e outÍo, sem nenhuma resolução. Ela queria múto seÍ Íúe, poÍém
não desejava depender Iinanceiramante nem mesflxl do marido. Essa sensa-
Éo estsrrs enrdzoda nas dificuldades financeirgs que a haviam assolado
junto om sue mãe devido à morte pÍematuÍa do pai. Naquela ocasião,
ela havia deixedo um início de câÍÍeiÍa muito pÍomhsoÍ nas artes pela
metâdê, optando por uma carreira que lhe oferecia uma mâioÍ seguÍonça
financcira"
AgoÍa, rs ciÍcunstâncias eram bem diferentes. Ela haúa recomeçado
a pintaÍ utn pouoo, o súiciente pâra ÍeacendeÍ scu velho amor pela arte,
sentindo-se prorita para teÍ um íilho. Ela percebia claramente que era isso

63
o que queria fazer, porém hesiteva. Terie de livrrr-se gradualmente da
sua clínica particular como terapeuta paÍa tornú.se mãe e pintoÍs, e uma
paÍte sua temia que isso significase desistir da üda profissionrl e da in-
dependência psÍa sempre. Ela estava num dilema intenso, presâ entÍe o
que desejava Íaztr agoa e o medo de arrepcnder.se mú tarde.
Em tais situações, às vezes suÍge um "gânde" soúo que ajuda a re-
solver a situação. Poém, no seu c8§o, o que acontec€u foi um encontro
sincronístico. Ela havia assictido a um simpósio que durou o dio inteiro, e
havia sentado ao lado de uma antigr colega, que não via há s€te ou oito
anos. Ambas haviam trabalhado nâ mesma fluma, porém haüam seguido
caminhos diferentes. Durante o almoço, começaÍam a preenúer as lacunas,
contando todo o ocorrido duÍante aquele tempo. Ao escutar a outÍa mu.
lher, ela percebeu sua Íeação profundr, com tur Ímpeto de alegria e um
súbito sentimento de liberaçlo de sua tensão, &o se sentiÍ liwe do conflito
imobilizante no qual havía estado.
Ela descobriu que a sna colega havia deixado de trabalhar durante
teÍ um filho e s€r uma mãe de tempo integral; havia plan-
seis anos paÍa
tado um grande jardim, fazia o próprio põo, üvendo plenamente uma
úda domésüca calma, num cenário semi-rural. Durante esse período, ela
também haúa se tornado ums ceramista. Agora voltava à sur vida profs-
sional e, dém de estar trabalhando, lecionava no centro Írúdico.
O encontÍo @m essa mulher foi coÍno o en@ntro com um símbolo
que onferiu um clemento de fé ao seu poderoso anseio materno. Ela
éntiu iinediatamcntc o elemento de sincronicidade, reconheceu que o
en@ntro era miíerioramente siSnificativo. Os eventos sincronísticos
conferem a percepção de serem partÍcipes num todo maior. Encontros
como esse podem tÍansmitiÍ s senlação de que se está dizendo sim ao des.
tino, ao acatarmos a mensagem contida no evento. O impacto desse en.
contro foi tõo imediato que ela abandonou o simpósio pela metade, foi
para casa, jogou fora suas pílulas anticoncepcionais e prs{lou a tarde Ía-
zendo amor com seu marido.
Enquanto en@ntros sincronísticos podem suscitar esse tipo de im.
pacto, quando o níre| simbólio do mesmo é percebido de imediato, al.
gumis vezes a conscientizoção da sincronicidade de um encontÍo é gradual
e a compÍeensão de ru sigrificado também chega devagar. Estou pensando
na experiência de um advogado que estava passando por dificuldades pro.
Íissionais. O encontro sincronístio, neste caso, foi acontece4do no decor.
rer de vários rneses e tew a configuraç5o de uma longa e desagradánel dis-
puta com um outÍo advogado - personificação de sua "sombra" interior
e negative, de seu âspecto autodesúutivo e obscuro.

64
Ele me relatou suâ sensâção de consumiÍ-se num emPÍego de advoga'
do de uma empÍesa, num trabalho de rotina com poucos desafios, sem
nenhuma peÍspectivâ futura diferente. Ele haüa se sobressaído numa
das Faculdades de DiÍeito mais ban conceituadas do país e, após sua for'
matua, aceitou a oferta de um emprego numa firma importante' Ele
pÍossêBúu sua carreira demonstrando brilhantisÍÍlo nos litígios, vencendo
p-cr**s contra profissionais experientes e de boa Íeputação. Mais tarde
ã1. d.i*ou essa firma e tentou algumas outras posibilidades' antes de ter'
minar onde sê en@ntrava agora. Sentia'se derrotado e limitado, conside'
rando o sêu emPÍego e o seu trabalho medíocres. Também estâva depri'
mido e ficava facilmente irritado; reconhecia que descontava suas frustra'
sua compa'
Ées em sua família, úegando em casa rabugento e Íessêntido;
nhia não era agadável.
Quando estava no trabalho, usava uma fachada -parecia ocupado,
qurndo estava apenas encàendo o tempo' A§§lm coÍlo lValter Mitty, sua
fantâsia o tÍanspoÍtava P a outÍo lugar, onde seu trabalho eÍa mais inte-
Íessante, mais heóico c apreciado, enqurnto r Íotina o âmaÍguÍava e o
seu autodesprezo aumentava.
Com o tempo, ele foi percebendo que üúa uma prioridade pessoal
que estava ignorando: sua necesidade de teÍ sêu nÉrío reconhecido' Mes'
mo considerando suas consideráveis habitidades e e$a sua necesidade' a
Íeâlização lhc havia esccpado. A busca de uma exPlicação tomou'se uma
forte atitude interior de autofrusração que depreciava e minava o§ seus
esforços. Essa era uma pÍesença sombria em suâ Pslque, um elemento que
denoiava uÍna atitude clnica de adolescente em relação ao tÍaba[lo e à sua
pópria realização, sâbotando e impedindo qualquer §ensação de êxito'
Após dar-se conta de quai§ eÍam as suas prioridades, ele agiu de modo
decisivo e rápido. Pediu demissão do emprego na emPÍesa e tornou'se só'
cio ativo de uma firma pcquena e batalhadora, onde suas habiüdades como
adrogado poderiam contribuir Para conduziÍ e firma ao sucesso. Ao tomaÍ
essa decisão, ele sabia que ela seria minada pela sua negrtividade inteÍioÍ'
Sabia que falharia se não enfrentasse e §uPeÍasse suâ tendência Pârâ não
dar o deúdo valor ao que fazia quando se envolvia no trabalho ou para se
desligar em devaneios, inventando desculpas.
Sentin<lo-se a8oÍ8 Pronto para enfrentar as stas próprias tendências
âutodestrutivrs, ele teve um encontÍo inesperedo e sincÍonístico @m umâ
personificação de todos os seus raços negativos. Tratava'se de um sócio do
iscritório, outÍo advogado com quem tÍavou @nhecimento quando assu'
miu novo emprcgo. Superficialmente, esse homem parecia charmoso' inte'
ligente e bâstante agradável. Embora parecese ocupedo, ele revelou'se im'

65
pÍodutivo, nem Ír€$no compcnsrndo o cLvrdo custo de tê.lo no escritó_
rio. Ele tinha depresões, adiava o trsbalho prra, depois, dcsculpar-se. Meu
paciente surpreendeu-se observando ese homem dc nrodo obsessivo,
excesrivemente perturbado, por scntir que tods a Íirma poderia rr, por
ele, arrastada ao fracasso. Começou €ntõo r se dar conta de que o estava
focalizando de modo tão obscsivo como elemento importante de sucesrc
ou fracasso, poÍque ess€ homem era o símbolo üvo - gue respirava, anda.
va e falava - de sua pópria ne$tividade interior com a qual se deparava
diariamente em seu escritório. Talvez essa sincÍonicidrde repctida tenha
substituído os soúos que ele poderia ter tido à noite, nos quú, talvez,
lutasse com um homem obscuro ameaçador, símbolo de sut luta contra
esse seu elemento de "sombra" negativo.
Sua luta para confrontar o homem exterior era a mesmr luta interioÍ
para dominar os esforços dcíruidores de sua póprir sombra. Finalmente
ínventou uma maneira de afastar o homem do escritório, dando.lhe cada
vez menos trabalho - uma solução bareda na compÍe€nsão do que é
negativo dentÍo de si mesmo, decidindo oonceder s essa parte cada vez
menos energia, até que o "negstivo" uí embora. No momento exato em
que o outro homem partiu, meu paciente havia dominado sincronistica.
mente sua pópÍis rtitude negstiva de rdolescente. AgoÍs estava total-
mente envolúdo no trabslho, responsabilizando.se pelo desenvolúmento
da fumr, trabalhando com eÍicícia e rrqrmindo rcsponssbilidrdes.
A diferença cntÍe um cn@ntÍo sincronístico - sentido instanta.
neanrente como significrtivo e percebendo.& o seu sentido num lampejo
-
intuitivo e a situação guc evolú mris lentamcnte, cÍrrno no exemplo
acirna citado, onde tanto s percepção como a resolução o@ÍÍem duÍante
urn ceÍto período, é múto scmclhrnte ro que o@ÍÍe em rnálise, na inter.
pÍetaÉo de soúos. Ií que embas as oiras -soúos e sincronicidade -
têm uma onexão com o inconsdente coletivo, não constitú suÍpÍesa
o fato de gue trabrlhar com os soúos rja muito semolhante a trabalhar
com a sincronicidade.
Às vezes umr pessos tcm um sonho extremamente eÍnotivo, cujo
signiÍicado é de imcdiato evidcnte e que conduz s um sto decisivo. No
entanto, o mais comum é guc o soúador lute repetidamente com os
mesrnos pontos oontÍovcrtidos, compreendendo pouco a pou@ a que se
ÍefeÍem os eventos do soúo, adguirindo uma percepção da natureza do
conÍlito antes de o@rler a trsrufoÍmaç5o. Temas de soúos pouoo con.
fortáveis e repetitivos oontinusm hsbitualmente sté que o conflito psico-
lógio interior mudc ou r situsçgo extertoÍ se modifique. Os eventos sin.
cronístioos seguem o mesmo esqucma.

66
Por cxemplo, uma mulher sofreu três acidentes de carro' um após o
outro - em vez de ter sonhos ÍePetidos negativo§, que a despeÍtassem.
Apesar de sua ficha de motoristâ isêÍta de qualquer manúa, ela surpreen'
deu a si mesúna dizendo ao coordenador da indenização: "Fú eu de novo".
Aparentemente ela não era culpada em nenhum dos tÍ€s casos. Da primeira
vez, estava na faixa do meio esperando o sinal ficar verde, quando escutou
um som estÍidente, como o de um cflro derrapando' A Íua estava es@Í'
regadia, molhada pela chuva; umâ outÍa motoÍista havia freado tarde
demais, batendo na tÍâsêira de seu carro. No segundo âcidente, ela dirigia
pela faixa central, seguindo o fluxo do tráfego, quândo ÍePentinamente
uma mulher tÍocou de faixa e deu uma guinada, bâtendo em §êu cáÍo
(talvez por não estâÍ olhândo, ou pode ter sido ofuscada por algum reflexo
luminoso). No teÍceiÍo incidente, asim como no primeiro, ela haúa para'
tto na faixa do meio, esperando o sinal mudu, quando o impacto de outra
oüsâo traseira empu ou o sêu cârÍo para o meio da rua. Desta vez, o freio
do carro de uma |ovem havia falhado, fazÊndo'a iÍ de encontro à parte
tÍaseira do carro, da minha Pacienle, causando uma ruptuÍÀ no tanque de
gasolina e criando uma situaSo potencialmente explosiva.
O que deveria ela concluir de tudo isso? Nenhum motivo causal exPli'
caria essa sêqtlência. Foi mero acaso, má sorte ou sincronicidade?
O primeiro acidente poderia ser uma metáfora do que a estava afli'
gindo profundamente: uma de suas companheiras de trabalho haúa lhe
causado há pouco um imPacto emocional, e os §entimentos intensos esta'
vam em conílito (situação que pode teÍ sido decoÍÍente de nÂo frcor os
sentimentos com a deúda antecedência). Â possibilidade de sincÍonicidade
no segundo acidente também foi considerada, mas iglorada. PoÉm, o
teÍaefuo acidente foi totalmente @nvincente: no mesmo dia em que ele
o@ÍÍeu, o freio do carro de sua colaboradora também pifou. Depois disso
ficou claro que já era tempo de âceitâÍ os acidentes como eventos sincro'
nísticos que estavam exPressândo â situação. Os acidentes eÍaÍn @rno uma
série .de soúos nos quais o mesÍno temâ se rePetia cm diferentes cenários
até que o sonhador entendesse a mensâ8em, recoúecendo que o relaciona'
mento eÍa prejudicial para ambas. Era chegado o momento de parar de
tentâÍ sêÍem âÍri8âs.
O momento certo de coincidência e a qualidade simbÓlica de tais
eventos @nveflclm as Pessoâs dâ existência da sincronicidade. A coint
cidência se dá ontre uma situaç5o psicológica e um acidente, um en@ntÍo
ou um evento exterioÍ - no qual a §ituâção exterior é uma ÍePÍe§êntação
simbólica de luta ou do conflito psicológico. Parece'me que a sincronicida-
de é freqüente mâs, â não §eÍ que um indivíduo teúa alguma PeÍcePçâo

67
da situação psicológrca, a oincidência simbólica não é percebida. Como
os sonhos ignorados, não caussm neúum impacto
Às vezps um coúo e um ewnüo exterioi reverberam juntos, cÍisndo a
sincronicidade. Por exemplo: um psiquiatra sonhou que havía podado o
seu bordo japonês com múto cuidrdo. Ele era um homem de mütos ta-
lentos que fazh anílie omigo, e úu essr tarefa omo uma metáfora
daquilo gue nocessitava ízzer. Ele esteve dispersando sua energia em ú-
rias dire@es, e isso o afastava do trabalho egseno't de su üda. O bordo
japones, símbolo do seu Eu interior mris profundo, que ele hrüa chegado
a conhecer por mcu intermédio, precisavr de uma poda para eliminar essas
ramificações menores, de modo que o tÍonco pudessc crescer com força.
No outro fim de semana, quando ele efetivamente podou essa árvore,
consciente do rignificado simbólico dessa tarefa, sentiu arrepios a lhe su-
birem pela espinha, ao pilsso que uma sensoção de numinosidade o preen.
cheu om um sentido de reverÉncia, de oonscientização mística e de ale.
gria. Esa foi uma üvência do Tao atrarrés da sincronicidade, ao coincidi-
rem, em signiflcrdo, o sonho durante o sono e o derreneio.
Ao prestar atcnçiÍo à sincronicidade, bem como aos soúos, acrescen.
ta-se uma dimensâo a mais que enriquece as nossas vidas interiores e soma
mais uma faceta à nossa compreensão. Esteremos muito melhor equipados
para entendermos a nós mesmos e a situaçâo que nos rodeia, se formos ca-
pazes de ÍecehÍ e de processar informações tanto de fontes simbólicas co-
mo de fontes lógicas. Quondo consideramos a energia fornecida por rmbas
as fontes - a lógica e a simbólica -, podemos visualizar o quadro completo,
o modo corno o pensamento e as peÍc€pções dos cinco sentidos são proces.
sados em um hemisfério cerebral, e como a:i funções simbólicas e intúti
vrs pâÍecem estaÍ loc€lizrdas no outÍo. No que concerne à natureza da
situação, nosas percepções e nossas decisões a Íespeito da atitude ou da
ação r ser tomada, então, tanto podem estaÍ baseadas no que sabemos ou
senúmos intuitivamente oomo em considerações Írcionais.
Iá gue a sincronicidade se assemelha em tantas facetas aos soúos,
não é surpresa const4taÍ que as mesmas adwrtências sobre os perigos de
nos tomarmos demasiadamente absorvidos ou fascinados pelos soúos
também sc aplicam à sincmnicidade. A unilateralidade potencial de foca-
lizarmos apenas os soúos e a sincronicidade implica abdicar do pensa.
mento lógico e da comprovação da realidade. Ao perdermos o noiso ca-
minho, o pensrmento mágico nos domina e pKrcurrmos preságios sobre
os quais fundamentâmos nossas âções. Uma tal unilateralidade- também
limita o campo de lnformação â disposição do aceso e do proceso.
De modo análogo, é igualmente empobrecedor confiar apenas no

68
pensâmento e na PeÍcepção lineues atrarés dos cinco sentidos (visâo,
audição, olfato, tato c degusaçáo). lsso pode resultar nutna exPeÍiência
pessoal isenta de sigriliçado emocional, carente de dimensões ideológicas
ou espirituais. hecisamos de um componente intuitivo, sensível e emo'
cional para âpÍeciaÍmos a música, r aÍte e as expcriêncies simMlicas.
r
Assim como os sonhos, a sincÍonicidâde nos conúda Particip , no
nível simbólico, lá onde compartilhamos um inconsciente coleüvo com a
humanidade, onde tempo e esPrço sê tomrm ÍÊlôtivos e onde, no decorrer
do nósso dia-adia, vivenciamos uma rcalidadc incomum.
A sincronicidade é semelhrnte a um devaneio no qud vivtnciamos o
ponto de intêÍsecfão do atemporal com o temPo, onde se atualiza a união
impossínel das esferas de existência c onde são insparáreis o qu€ esú
dentro e o que está fora de nós. A sincronicidade revela' como um sonho,
algo que câptamos Yagamente, lâmPgos do Tao subjacente.

69
9o

Encontros "acidentois" que levon a relacionottentos signifiutiws. A


sincronicifude lunciorundo como elem€nto casananteiro. Arquétipa in'
teiores e pess@s exteriorcs"

A sincronicidade pode pÍePâÍaÍ o caminho PaÍâ as Pessoíxi se aproxi.


marem. Pode-se discernir a mâo delicada e oculta da sorte, do destino,
da sincronicidade ou do Tao subjacente - seja qual for o nome que se dê
ao elemento casâmenteiÍo -, ao deslindar as circunsláncias atÍarés das
quais duas pessoas se en@ntÍam para ingessar num Íelacionamento
signiÍicativo. Quando um encontÍo acidental provocado apâÍentemente
pelo acaso corresponde â uma situaçâo psicológica interioÍ, essâ é entlo
uma coincidência significaüva, em que a sincronicidade é eúdente. Foi
assim que funcionou paÍâ mim, tanlo nâ minha úda pessoal como na
profissional.
Pouco antes de conhecer o meu marido, PoÍ exemplo, eu únha scn-
tindo que uma fase de minha üda haüa terminado e que eÍâ chegado o
momento de passar a outÍâ elapa. Reagi a esse chamsdo interior deci.
dindo deveras me mudâÍ. Organizei as coisas de modo a sair de São Fran'
cisco e de mudar-me para a cidade de Nova lorque, para completar o meu
último ano de residência em psiquiatÍiâ antes de ir para londres por um

73
aÍlo de É&re§dência. Pouco antes dessa mudança, o rc€so de um encon-
tro mudou o rumo de minhs vida.
Aproximava-se a comemoração do Dia de Ação de Graças e decidi
pasaÍ o feriado em los Angeles. Uma de minhas compaúeiras de quar-
to, Elaine Fedors, estava planejando dar uma festa poÍ ocasião dessa data
no nosso apartamento, em Sausalito. A festa haüa sido inspirada por
Dick Rawson, um psiqúatra residente que estava querendo apresentar
um de seus amigos a Elaine. Dois dias antes da data comemorativa, eu me
dei conta de que devia estar na clínica de Sâo Francisco na sexta.feira
seguinte, o que impossibilitava estender o fim de semana em los Angeles.
Eu estava "encalhada" e, afinal, estaria em Sausalíto para a festa. Como
conseqiiência, oonheci James Bolen, com quem me casei seis meses mais
tarde. Por uma coincidência, Jim temMm haúa planejado pasar o Dia de
Ação de Graças com paÍentes na região de los Angeles, poém teve de per.
manecer em São Francisco por motivos inesperados de trabalho. Como
resultado dessa mudança de planos, não sabia o que fazer naquela data,
telefonou para Dick paÍa veÍ se o convite que havia recusado há algumas
s€manas ainda estava em aberto. A resposta foi positiva. Dessa forma,
Jim entrou em minha üda.
Dick e Jim haüam estado juntos na Força Aérea há uns doze anos
como jovens Íecrutas. Após um lapso de tantos anos, seus caminhos
se cÍuzsÍarn novsmente. Neste ínteÍim, Jim havia mudado de engeúaria
para jornalismo e relações públicas, o que o levou de towa para o sul da
Califórnia, antes de trazê.lo à região da baía de São Francisco. Dick foi
de Berkeley para a Escola de Medicina de [,os Angeles; depois, para a
FiladélÍia, antes de ÍegÍcssrr a São Francisco.
Seja como for, para que o encontro entre Jirn e eu acontecesse foi
preciso uma série complexa de coincidências. Nosa disponibilidade
interior paÍa ess€ en@ntro, do qual o amor crescerir rapidamente até
culminar no casamento, tamUm havia exigido uma quantidade de des.
üos, de curvari e de outros relacionamentos , até che4rÃr a essa encÍuzi-
lhada significatíva. Esse en@ntÍo transformou o runp de nossas üdas;
daí em diante, nossos csminhos se fundiram.
É imposírel saber se o en@ntÍo foi produto da sincronicidade em
ação ou apenas o modo como as coisas o@rÍeram. Numa Íetrospectiva,
parece-me que o fato de acontec€r naquele preciso momento foi signi
ficativo, pois eu estava saindo de um relacionamento con0itante, deixan-
do para trás uma longa fase percorrida e terminada; agora eu estava pÍonta
para en@ntraÍ "um homem já adulto". Um episódio exterior disposto
pela sincronicidade oincidiu om a minha tánsformação interior, que

74
oooÍÍeu psÍalelamente a uma situação similü interioÍ simultânea em Jim.
Quando duas pessoas se en@ntÍam em sincronicidade, cada qual é
"um outro significativo" e ambas estão numa encruzilhada pessoal cÍiticâ,
capazes de seÍcm profundamente afetadas. Podem ocorrer então tÍansfoÍ-
mações dramáticâs. CoÍÍlo diz Jung: "O encontro de duas personalidades
é como o contâto de duas substâncias químicas: se houver alguma reação,
ambos sofrem uma transformação." Em alguns casos, naquele preciso
momênto do tcmpo, cada pessoa pode estar excepcionalmente suscetível
àquela açÃo "química" específica do outro.
Reflita sobrc os seus próprios encontnos significativos -
aqueles que
conduzem a relacionamentos inten5s e importontes, a umâ nova caÍÍeiÍâ
profissional ou ao cÍescimento intelcctual, psicológico ou espiritual. Pense
sobre as pessoss que você conheceu ê que, de um modo ou de outro, trans-
formaram pÍofundamente a dteção dc sus úda. I-embre-se então das ciÍ-
cunstâncias do encontro iniciâl com crds uma delas. O encontro foi opor-
tuno do ponto de úta psicológico? Você teria estado pouco Íeceptivo ou
indisponível um pou@ antes? Haúa uma nova abertuÍa ou suscetibilidâde
correspondenle a essa nova pessoa? O elemento câsamenteiÍo podeÍia ter
sido a sincronicidade? Encontms signiÍicativos resultaram dâ colisão âci-
dental de dois carros, ou @mo conseqiÉncia de algúm perder-se numa
cidade do estÍângeiÍo esbarrando com outro compotÍiote, ou ainda de se
estaÍ sentado poÍ acaso âo lado de outÍa Pessos num Boeing ?47 - tç
dos esses enconlÍos, obviamente nâo-intencionâis nan planejados, revelam
a mão sutil da sincronicidade. Quando a regulagem do momento exato in-
terioÍ e o encontÍo exteÍioÍ se encaixâm com precisão, quando um encon-
tro paÍecê fântasticâmente feito sob medida, sem a possibilidade de haver
sido intencional, enta-o pode seÍ que â §ncronicidade lenha sido o elemen-
to casamenteiÍo em âçfo.
Mútos encontros siÍlcÍonísticos PâÍecem teÍ ocoÍído cm minha vida
proÍissional. Talvez sejam mais óbvios, PoÍque o modo como uma Pessoa
chega a mim (ou a qualquer terapeuta) pode ser seguido num caminho em
ziSuezague que indica estâr cheio de coincidências. A sincronicidade
tirmbém pode desempenhar um papel na cÍiâção de uma abertura no meu
pÍogrârnâ, pÍecisamente no deüdo momento, PâÍâ PeÍmitiÍ que eu receba
uma determinada pessoa. Um novo paciente pode ser profundamente
movido pelo sentimento de que uma extraordinária série de circunstân-
cias sincronisticas ocasionaram seu en@ntÍo comigo, devido a algo especial
ou objetivo ocorrido no encontÍo. Quando ese sêntimento é somado às
poderosas expectâtivas e à nece§dade que envolvem o fato de consultar
um psiquiatÍa pela primeira vez, lodos eses elementos contÍibuem PâÍa a

75
intensidEde de uma situação terapeutica na qual entra.se prontamente em
contato com as imagens e os sentimentos.
Ocorreu um "casamento" particularmente fantástico quando um
pastor episcopal veio me ver. Eu era a psiqúatra de um amigo ao qual ele
havia confiado seu desespero e ansiedade, atiás a única psiquiatra de quem
ele ouvira falar - uma refeÍ€ncia bastante comum na superfÍcie. Esse
homem tinha bastante diÍiculdade em confiar em mulheres e havia relu.
tado em me telefonar, até que o aumento do desespero de sua situação o
obrigou finalmente a superar suas restrições. Para ele, era duro consultar
uma psiquiatÍa mulher. C,oúecendo.me apenas omo dra. Jean Bolen e
supondo, pelo meu nome, que eu era uma mulher branca, s€ntaÍa-se na
sala de espera temendo que a sua consulta fosse um terrível erro. euando
desci as escadas, ele enontrou.se inesperadamente diante de uma nipo-
americana baixinha, e esse fato alterou consideravelÍnente a situaçá'o.
A úníca imagem feminina positiva que ele tinha - graças às his.
tórias de um tio que havia sido seu ídolo, â Íespeito da ocuprçâ'o do Japõo
pelo exército ameÍicano - era a da mulher japonesa. Considerava as de-
mais mulheres artificiais e manipuladoras, pessoas vagamente hostis e pode.
rosis que estavam à espera de uma chance para poderem criticar. A mu-
lher japonesa sobre a qual o seu tio lhe havia falado era estraúa à sua
pópria üvência, porém simbolizava a idéia de que, entÍe essa sua im-
pÍessão negativa avalassadora das mulheres, a japonesa poderia não ser
ameaçadora e, sim, atenciosa , cagaz de dar apoio e ajuda.
É claro que ao coúecer-me, ele ficou muito aliviado diante desse
fato inesperado: eu me @nvertia em alguém @m quem ele poderia tra.
balhar. &u alívio inicial foi cedendo lugar à admiração, à medida que
se eüdenciou mais ainda a sincronicidade de tudo isso. Ele precisava re-
rolver tanto I sua vocação espiritual como os seu empenhos criativos de
escreveÍ; e, entÍe todas as teÍapias à sua disposiçiio, a perspectiva junguia.
na (que ele nâo havia buscado conscientemente) era a que oferecia maior
ajuda nessas dreas. Parecia.lhe que uma mulher, japonesa e psiguiatra jun-
guiana, err exatamente o elemento que ele precisava. Sendo assim, a sin-
cronicidsde tinha de estar bem afinada para haver planejado o nosso
encontro, jrí que eu era a única analista jungúana Jsponeso à disposiso.
Outro encontro inicisl que teve o saboÍ da sincronicidade oonduziu,
à minha terapia analítica, uma pintoÍa que teÍia para mim um significado
especial. O meu nome lhe havia sido indicado há alguns meses e, nada
sab€ndo a meu resp€ito, ela nib telefonou paÍa maÍcaÍ umâ entÍevista,
porém lercu o meu noÍne anotedo num pedaço de papel. Algum tempo
depois a sua mãe, que moÍavs no sul da Catifórnia, pediu.lhe que pÍocu.

76
Íasse a Íevista Psychic, publicada em São Francisco. Durante uma úsitâ
a uma amiga, ela deparou-se @m essa Íevistâ sobÍe a mesa de café um -
número antigo e gasto, de quâsê um ano. Ao folhear a revista, devido à
curiosidade quq a mãe lhe desPertou, eflcontÍou o único aÍtigo que eu
haúa escrito paÍa essâ Íeü§ta, no decorrer de seis anos desde a sua pri'
meira publicação. Meu tÍabalho eÍâ â Íespeito da psicoterapia e da me-
ditação no tÍatamento do cáncer, mencionândo o trabalho do Dr. Carl
Simonton. No final do artigo haÚa a minha foto e uma síntese biográ'
fica.Esse encontÍo inesperado comigo na Íeústâ a induziu a me ligar no
dia seguinte, momento em que eu dispunha de uma vaga. Se ela tivesse
telefonado logo após lhe ter sido indicado o meu nome, eü PÍovavelmente
a teria Íecomendado â outÍa pessoa, pois não tinhâ disponibíidade de
horário para um novo Paciente.
O encontro dos Pacientes acima mencionados com8o foi de uma
coincidência significativa. Eles tiveram a sensibilidade de perceber que os
fatos haviam sido dispostos por circunstâncias especiais, fazendo com que
tÍabalhássemos Jrxrtos, € desde o início isso os conven@u de que o nosso
rrabalho seria significativo. A sincmnicidade flos tÍansmitiu uma sensação
de "ineütabilidade". Levei múto mais tempo paÍa avaliu que também
para mim esses encontros seriam particularmente signilicativos' que §êriam
importântes PrÍa o meu próprio cÍescimento.
Meu trabalho com o PastoÍ transformou-se afinal numa tese que redí
gi, em detâlhe, pâÍa aPÍesentaÍ à banca examinadora como PaÍte do "rito
de passagem" final ao meu credenciamento como analistâ Junguiâna.
A análise do pastor estava repleta de episódios sincronísticos que tiveÍam
uma forte inÍluência sobre o desenvolvimento do meu pensamento ness:r
direção. O fato de que eu esteja agora escrevêndo este livÍo a respeito da
sincronicidade resulta ern pâÍte dâquelâ minha exPeriênciâ'
A piÍltoÍa, que teve â sênsâção de que o destino haüa contÍibuído
para conduzi-la a mim, teve uma profunda influência sobre a minha cons'
cientização da natureza da análise. Quando percebi inesPeÍâdâmeíte, no
meio de sua análise, que não podia ver de modo claro o meu próprio rumo,
ating,i um coúecimento mais profundo da alquimia como um metáfoÍa
desse processo. E compreendi por que Jung talvez tenha pesquisado esse
temâ tâo profundamente (€ín sua obra Ps icologio e alquimia; em Pslcolo
gia da ffo$erência; qne utiliza um tÍâtado alquímico como meio de ex'
plicação, e no luIysiéium Coniunctionis). A análise que empreendi com
elâ começou a dar á impressão de estarmos juntas num labirinto ou num
emaranhado. Na mitoloS,iâ, quando Teseu penetÍâ no lâbirfuito pâÍa en'
frentar o Minotauro, ele conta com a ajuda do fio dourado de Ariadne

71
paÍa guiá.lo na volta. Para mim, à medida que cada novo enroscar e cada
curva do emaranhado psicológico exigia a escolha de uma ação ou de uma
interpretoção, parecia-me que o Íio dourado no qurl havíamos de conÍirr
paÍa nos conduzir à saída era a intuiçío. Eu tive de apostsr em algo mais
profundo do que aquilo que eu conhecia atraÉs do meu treinanrento tó.
rico e de minha experiência clínica anterior, e poÍ interíÉdio dessa vi
v€ncia adquiri a humildade e a conÍiança necesírias ao sceitaÍ que os
sonhos e os epiúdios sincronÍsticos me conduzísscm.
Iá que uma análise é um en@ntrc humano múto prcfundo, não ú
o paciente é afetado por este processo, pois o poder de efetivar uma trans-
formação no relacionamento também pode afetar o analista. por esse
motivo, Jung considerava o proce§so analÍtico omo algo similar à reação
-
alquÍmica paÍa que um dos elementos se tÍansfoÍme no deoorrer do pro.
cesso (o paciente), o outro também tem de ser afetado (o analista). Cómo
anústa, parece.me que meus pâcientes passam peh poÍta de meu oonsul.
tório acompanhados da oportunidade e da necesidade de trazerem à tonr
s{rcctos de mim mesma. Seja o que for aquüo de que eu ainda precise me
conscientizar, seja qual for o calcanhar de Aquites, scje qual for o meu
momento crítico de crescimento, este úegisrá à minha porta sincÍonisti-
camente. Ao perceber quando a sincronicidade paÍece eíar contÍibuindo
para aproúmar alguém de mim, eu me peÍgunto se estc será um en@ntro
que en@rre um significado especid tanto para mim @Ím psÍa o prciente.
Todos oqueles cujo trabalho envolve uma ajudo ou o ensino a outrem
fariam bem em Íicar atentos à sincronicidade. Esso elemento qrsrmenteiro
provavelmente atraird outras pessoas importantes paÍa su4s údas, criando
oportunidades de crescimento mútuo ou de uma reviravolta nos sentimen.
tos intensos e conflitantes. Em todos os en@ntÍos sincronísticos, um ele.
mento importante está atuando em uma ou em ambas as pessoas, conferin-
do uma carga emocional à situação. A atraç5o, a aveÍsão ou a fascinagão
estão invâriaveLnente presentes entre as duas pessoas que se encontÍam
por meios sincronísticos. Isso porque o encontro fez com que emergisse,
do fundo da psique, uma imagem ou um arquétipo carregado emocional.
mente, tornandoo üvo. uma reagão ernocional intensa a uma ímagem
erquetípica é bem natural.
Temos essas imagens poderosas em nosso interioÍ, mais variadas do
que as pÍopoÍcionadas pelos nossos peis, que residem no inoonsciente
oletivo, ao qual temos acesso. Quando o poetl romano TenÊncio disse:
"Nenhum elemento humano me é estranho", estava falando como algúm
que mantém contato com o inconsciente coletivo e sua inÍinidade de ar.
quétipos, comuns a todos os seres humanos.

78
As imagens aÍquetípicas são múltiPlss e variadas; por exemplo, o
Patriarca ou Pai (Jeová, Zcus), o Herói (Hércules e, pera alguns, John F.
Kennedy), a M6e Terra (DenÉter, talrez Golda Meir), a Beleza Feminina
(Helena de Tóia, Afrodite) ou Cristo (Osíris) -PaÍa mencionâÍ apenas
alguns. Os antigos deuses e dcusas geSos iá não vivem mais no monte
Olimpo, poÉm ainda e$ão úvos e passando bem, sejam quais forem os
nomes que lhes deÍnos em no§so inconsciente coletivo.
Sêntimcntos intensos sâo gcrados, uma Yez ativada essâ camada ar'
quetípica poÍ uÍna situat'o psicológica que toc:l ou evoca um aÍquétipo
em particulaÍ. Por exemplo, se CÍisto é o aÍquétiPo ativado, sâo Possíveis
então úriâs rea@es emocionais, dependendo de como é vivenciada essa
mistura de sentimento e imagem. Sa é erocado por um líder reli$oso
cadsfirático, o arqúlipo pode nele rcr projetado, levando as Pe§soas a
wneráJo com toda a devoção (como se ele fosse Cristo). Ou então o âÍ'
-
qútipo podeÍia ser úvenciado intemâmcntc P$à ceÍla pessoa pode scr
percebido como urna inteffs convicçto pesroal dc que CÍisto vive dentÍo
delc ou deh, cnquúto um oulro pode scr "possuído" pelo arquétipo ou
estar totslmcntc idcntificado com cle, proclamando entâo ao mundo:
"Eu sou Criío".
Quando, no cotidi.no, algúm "apaixona'sc perdidamente", a pessoa
amada proporcbnou o tnnúo" que atÍri â pÍojeção arquetíPica. Otsn'
cho é freqltenteÍncnte um atÍibuto e§tético, umo caÍacteÍística fígica es'
pecial ou um estilo de personalidade. htriSodo pela intensidade adorado'
ra de um am[o, algúm poderia se peryuntaÍ: '0 que ele vê nela?" -
consciente de quc seu amigo está "vcndo" algo que Ihe escapa. O que esú
sendo ústo é uma imagem arquêtíPicâ, que é uma proje$o. Em outras
palavras, "a beleza reside no âÍqútiPo daquele que a contempla".
As imagens netÊtivâs também arsstam predicados maiorcs do que a
vida. Um chefe cÍítico e rabugento pode tomar rs dimensóes de um
Jeoú viÍrg.tivo do Vclho Testâmento. Uma mulher idosa, epísta e intÍo'
meüda, pode parecer um ser devorador, cotno uma esÉcie de Kali, a deusa
hindu da procÍiaçáo e da destruição, quc deve ser apaziguada e temida.
Quando algúm êvoca uma emoção semelhante à enfatuação, ao medo ou
à ira exacerbada, alguna coisa em sru maneira de ser, alguma carâc1cÍís'
tica dele ou dela pode suscitar umr iÍnegem 8ÍquetíPica. Reage'se então
emocionalmente diante desa Pessos, como se ole ou ela fosse esss mesma
imagem. Todos nós já agimos asim, PaIr oonstâtaÍ mais tarde que "agi de
modo exagerado", "descobri que mêu ídolo tinha frs de barro" ou "eu
deviâ estâÍ enfeitiçado" - quando a verdadeira dimensão humano reo'
parece após umr Íeação emociond inicid do arqútiPo.

79
Aquilo que está fora de mim também estií dentro de mim: sempre
que alguém é magneticamente atraído por outra pessoa imbuída de um
aÍquétipo positiro, ou quando oondena, em demasia, alguém que lhe des.
p€rta uma intensa sensação de ser uma pessoa completamente negativa,
é prcúvel que um arqútipo tenha sido ativado no meio ambiente. Assim,
o que esÉ sendo vivenciado "fora", na realídade é uma situaçã.o interior.
Lembrando o meu en@ntÍo sincronístico com o pastor: em sua experién.
cia consciente, ele não aúava que uma mulher pudesse ser confiável e
solícíta. Entretanto, no nÍvel arquetípioo, existia potencialmente uma
mdher que considerava de modo positivo e como ponto de apoio: e ele
imaginou que ela existise na forma de uma mulher japonesa. euando
apareci, preenchendo o requisito do uquétipo, essa imagem arquetÍpica
positiva foi totalrnente projetada em mim. Suas sensações imediatas de
bem-estar não eram, a princípio, emoções atribuÍdas a mim, mas dirigidas
à imagem formada em sua mente. A essa altura, a confiança que eu lhe
inspirava não era baseada no fato de me coúecer, porém na sua expe.
riência a meu respeito, cotlo se eu fosse esa imagem feminina positiya.
Sua depressão e suas emoções de pouca valia estavam relacionadas
com uma âtitude inteÍioÍ negativa; havia uma poderosa ..mulher de má
conduta" interioÍ em sua psique que o estava depreciando, dizendo.lhe,
de modo cortânte e sarcástico, como ele en insfnificante, que ele mere.
cia sentir.se mal e que seus esforços eram fúteis e sem sentido. (Iso me
fez lembrar uma história em quadrinhos de Jules Feiffer que me foi tra-
zida por umâ outÍ8 psciente - era a imagem de um homem encolhendo.se,
enquanto um acusador encapuçado lhe berrava declarações semelhantes.
Então o homem começou a se levantar e a ÍetoÍquir, conseguindo final.
mente repudiar o acusador. A essa altura, a frgura tira o capuz e indaga:
"Como pode dizer tais coisas à sua mãe?") Esse homem precisava muito
de um relacionamento interior com o feminino positívo, com ..algúm"
que, caso ele se sentisse rejeitado ou sem estÍmulo, não se aproveitasse
dessa oportunidade para atacá.|o, liberando decepções hostis, ,.alguém"
que pudesr estimulá-lo e apoiáJo. Até que esa sua capacidâde de auto-
nutrição s€ tomasse parte de sua vida interior, ele poderia projetá.la em
mim e eu poderia carregá.la temporariamente. Ele poderia então ver.me
@mo uma mulher alentadoÍa e protetora em sua vida exterior (iniúal_
mente gragâs à imagem da mulher japonesa). Pouco a pouco essa atitude
positiva se tomaria uma imagem ou atitude inteÍior, que lhe era útil
quando se s€ntiss€ desestimulado. Esa imagem interior era o que ele
precisava en@ntÍar quando se deparou comigo na sala de espera do meu
oonsultório.

80
O fato de ele buscu a leÍapiâ sem saber âo certo o que necessitâva
e de haver achado imediatamenle "o aÍqútipo" que precisava en@ntÍâÍ,
é algo que me sensibiliza. O arquétipo dentro dele foi evocado no momen-
to de nosso encontÍo, e @m o decoÍÍeÍ do tempo ele também o foi conhe-
cendo interiormente. Ambas as coigs - o psiquiatÍa que nâo conhecia mas
era feito sob medida para o caso, e o importânte aÍquétipo interioÍ - foÍam
encontradas sincronística e simultaneamente.
Algumas pessoas têm encontÍos sincÍonÍsti@s nos quais o mesmo tipo
de personalidade ou âs mesmas figuras arquetípicas Íeaparecem continua-
menle. Colocam essa pessoâ simbolicâmênte "no palco", a cada tez, parc
ÍepÍesentaÍ de novo o me§mo drama. Para um c€Íto homem, a ÍePetição
do drama se configurou em ações recíprocas desagadáveis com o que pas-
samos a chamar de "mulheÍes-dÍa8âo". Ele era o recipiente de atençoes
solícitas e indesejáveis de certo tipo de mulheÍ mais velha que, na super-
fície, era doce como sacarina, porém eÍgente, diante da qual ele se sentia
submisso e Íessentido. Para ele, esse tipo de mulher era devastador e pode-
Íoso, ao qual resistia de modo passivo. Ele precisava descobrir e desenvol-
ver o seu próprio poder, sentiÍ â agÍessividade e a coÍagem do herói interior
(para tornar-se um São Jorge). Ele também distoÍcia a imagem desse tipo
de mulher através de sêu Íessentimento e de sua sensaçâo de impotência.
Apesar de essa mulher não seÍ tão monstÍuosa como ele a vivenciava, ela
apÍesenlava uma aparência de doçura que não estava em harmonia com a
insatisfação interioÍ e com â iÍa que sentia.
Ao toÍÍaÍ-se mais forle inleÍiomente, ele foi mudando o padrão de
interaçâo com esse tipo de mulher. Seu estilo aPâÍentemenle condescen.
dente, poÍém passivamente Íesistente,.havia incentivado essa mulher a au.
menlaÍ suas expectalivas e e toÍnaÍ-se entiio mâis exigente e zangada, 'a
medida que ele se retraía. Agora, ele era firme e claro desde o início. É ób.
vio que seu cÍescimento psicológico significava que teria menos problernas
com esse tipo de mulheÍ. Porém, não hav-ia um motivo objetivo paÍâ que
um menoÍ número delas suÍgisse em seu camiúo; no entanto, isso eÍâ o
que de fato parecia ocorrer, mesmo levando em conta que tais encontÍos
seÍiâm muito menos difíceis a partir de agoÍâ. Pelo fato de haver apÍendi'
do a reconhecer essas mulheres, como Parte da sua percepçâo daquilo que
estâva a@ntecÊndo, agora ele se maravilhava diante da mudança. I;í onde
elas o haviam confrontado pÍeúamente de lodos os lados, ele constatava
âgoÍa que há meses não suÍ8,ia nenhuma nova mulher-dragão no hoÍizonte.
A constatação de que "uma outÍa veÍsão daquele personagem simbó-
lico está aparecendo novamenle" é uma ajuda. O Íeconhr\imenlo do
padriio é o início da sensatez, poÍque peÍmite que alguém observe, em

8t
vez de §er puxâdo, independente da sua vontade, em direção à pessoa
detentora de uma carga emocional especÍÍica. Cada encontro sincronís.
tico parece envolver de alguma Íorma os arquétipos do inconsciente cole.
tivo; daí a pÍesença do magnetismo inconsciente quando se é atraído por
uma imagem aÍquetípica, Se a imagem for positiva, psÍece que uma mágica
envolve a pessoa; porém, se foí um arquétipo n€gativo, podem ocorrer
úrias reações - uma intimidsÉo que faz a pessoa se encolher diante
de um poder muito surpreendente atriburdo a ela, um medo ou uma
raiva intensos e apropriados.
Muitos parecem en@ntÍaÍ certo tipo de pessoa em coda esquina;
e, desse modo, suas experiências paÍecem consolidar suas suposições.
Por exemplo, s€ um homem acÍedita que todss as mulheres são promÍs.
cuas, há boas chances de que essa "eüdência" se vá acumulando. As ra.
zões são múltiplas e complexas. Atuando oom bâse nessa suposição, tal
homem trataní tode mulher oom a qual se enwrlver ou se casar com des.
confiança, presupondo que ela lhe é ou lhe será infiel. A distáncia emo.
cional gerada por essa desconÍiança, aliada ao ressentimento da mulher,
poÍ s€Í supostamente culp8da, aumenta a probabilidade de ela se voltar
paÍa outra pessoa, em busca de calor humano e de valoÍização. Por causa
e efeito, pode ooorrer então a suposte situação. Esse homem também pode
sentfu.se atraído por mulheres cujas personalidades denotam uma inc[na-
çõo à promiscuidade, a fim de repetir a situaçõo compulsiva e neurótica.
Trata-se, mais uma vez, da causa e do efeito. Ou talvez um homem projete
essa suposição numa mulher que ele conhece vagamente. Essa é uma ima-
gem forte e colorida que, à semelhança de um projetor de cinem a, Íocaliza
a pessoa que, de outro modo, permaneceÍia no escuro; o que o homem vé
é a sua própria projeça-o, sem levar em conta as características da mulher.
Finalmente, a projeçõo pode ter um efeito do tipo "Pigmaliio" numa
mulher imatuÍa, influenciando-a a desempenhrr o papel que Ihe foi deter-
minado.
Admitindo a possibilldade da sincronicidade - uÍna hipótese gue eu
somo às situações p,sicologicamente causais acíma mencionadas
-, es.se
homem pode deparar-se com uma mulher promÍscua 8 csda passo, não só
porque é isso o que ele está prepaÍado para ver, mas porque, devido a
uma @incidêncis, esse é Íeaknente o tipo de pessos que ali se enontra.
A sincronicidade sugere que o mundo exterior Íeflete, de fato, o mundo
inteÍior, e niío só rpsÍenta refleti-lo. Eu poderia ocÍes@ntaÍ que uma
peÍspectiva iunguiana da psique interior desse homem o descreyeria cemo
tendo um aspecto feminino negâtivo, o que o afetaria de duas maneiras:
daria, por um lado, um colorido negativo à sru visdo das mulheres, como

82
já foi mencionado, e, por outÍo, o seu próprio "feminino interior" prova'
velmente seria tão defeituoso como a imâ8em das mÚheres que ele carrega.
Em conseqúência, ele provavelmente Íão teÍia desenvolvido as capacidades
de nuüir e de amar orientadas para o relacionamento, e, desse modo, é
ban poosível que sua própria fidelidade não fosse de todo confiável.
Se esse homem Pudesse âceitaÍ a possibilidade de que o mundo que
ele úvencia é um espelho e o que ele vê e oondena é um reflexo do que
deve ser mudado em si mesmo, então a tÍansformação seria possível. Para
a maioriâ das pessoas, é impossível alterar o padrão de como as coisas
â@ntecem no mundo exterior, enquanto que mudaÍ aquilo que se vê como
pÍoblemático na própria psique, apesar de dificil, é possível.
A sinuonicidade fornece ainda mais um inslrumenlo para ajudar a
motivaÍ a tÍansfoÍmaçâo individual: sê uma Pessoa pode reconhecer um
problema interior ao veÍ o modelo refletido na situação exterior, pode
então assumir a responsabilidade pela transformafo. Ou ainda, como diz
Richard Bach em seu livro llfusicns.'

Every peron,
All the events of your liíe
AÍe there becaug you have drawn them there
What you choog
To do with them is
Up to you.

Câda p€ssoa, todos os episódioo de sua vida, Aí estão porque você


aí os coloclu. O que vocô ascolhe, Fazer com eles, Depende de vooâ.

Ceia vez, uma mulher de tÍinta e cinco anos de idade queixou'se de


que não havia homens que pÍestassem, pois todos os que enconlÍava eÍam
I[ys ou queÍiam apÍoveitaÍ.se dela, não desejando ou não sendo capazes de
assumiÍ compromissos. Ao mudar de enfoque, passando da qualidade la-
mentável de seu meio ambicnte social a um âuto€xame, ela descobriu
dois âÍquétipos problemáticos. Um deles eÍâ mâteÍnâl e sofredor, uma
"kdy Bountiful" que estava sempre dando e perdoando e que de fato
não espeÍava nem @ntavâ com umâ 8Íande ÍetÍibuição. A segunda desco'
berta (e essa a surpreendeu ainda mais) era a de uma adolesctnte rebelde
pÍesâ num âÍÍúrio, que na Íeâlidade nâ-o queria estabelecer um vínculo
duradouro - desafianle (apesar de sua expÍessão inibida), zanBada (isso
estava en@bêrto como por uma tampa) e inconformada. Ela parecia sentir
uma afinidade m{Írética por homens egoístas que fâziam PaÍte da conlra'

83
cultura, hoÍnens infantis, e ela os tÍatava de modo materpal e com admiÍa.
ção (sua faceta de adolescente oculta gostava, indiretamente, das atitudes
inconformadas desses homens).
Ao visualizar o padÍão e as conseqüências de suas intera@es, ela co.
meçou a agir de modo diferente: refreou o que veio a considerar como um
instinto matemal mal.dirigido e como uma falta de discernimento de
adolescente, passando a expÍessar suas necessidades legítimas de um com-
poÍtamento solícito e responsável aos homens de sua vida. Eles comegaram
entâo a tratá-la melhor, mudança que obviamente deve ser diretamente
atribuÍda à tÍansformação de suas expectativas e de sêu comportsmento.
E o que era ainda mais interessante: agora ela se suÍpreendia sendo apresen.
tada a homens inteÍessantes, decentes e adultos oomo que caÍdos do céu
ou de onde quer que a sincronicidade os fosse buscar. Isso levanta a seguin.
te questão: tendo em vista a sincronicidade, quando a mulher estirar pron-
ta, será que o homem certo chegará?
Encontros sincronÍsticos são como espelhos, refletindo de rolta para
nós algo de nós mesmos. Para podermos crescer, deveremos ter uma boa
aparência. A sincronicidade mantém a promessa de que, se nos trânsfor.
maÍmos inteÍiormente, os padrões de nossa vida exterior também muda.
rão. Se as pessoas e os epiúdios de nossas vidas aqui estão porque nós os
atraímos, então o que ocore em nossas vidas, apaÍentemente por acaso
ou por sorte, não é realmente acidental.

84
G
lcttN
» oo

$§cço${$lc

h 9»99spç1F

O I Ching @rno onia.lo. A sinsonicidde e o prtncípio wbiocmte.


O Too como lurúonento da filonfu e da sabcbria b I Chtrry.

O I Ating ort O livro &s mutações éum best+eller moderno e um livro


secular de sabedoria filosófica. É tambem um oráculo em forma de livro
consultado por mútos, imbuidos do mesmo espÍrito daqueles que certa
vez viâjâÍam a Delfos para consultar o oráculo de Apolo. Alguns abordam
o livÍo com rcverência e acreditam dele obter conselhos úbios e apropria'
dos; outros dispensam tanto o livro como a idéiâ de que possa funcionar'
considerândo os oráculos âl8o tão insensato quanto acreditaÍ nâ mensâ'
gem contida Dum biscoito da sorte chinês.
Asincronicidade suÍge nâ üda de modo espontáneo, e esses episó'
dios permitem darmo-nos conta de que há um vínculo entre nós mesmos
e o mundo -
vínculo e§§e que não Pode ser atribuído à lógica. O I AW
Íeverte essa seqüência: suPomos que a sincronicidade existe ao consÚtar'
fios O livto &s mutações. Nâo há uma explicaçiio racional de como é
posírrcl o seu funcionamento; o método depende da sincronicidade, e
uma leitura mbteÍiosamente correta confere a confirmação emocional'
I
O Airrt é pmvavelmente um dos liwos mais importantes da literatura
mundial, pois nete *
enralza a origem comum das duas correntes da filo'
sofia chinesa - o confucionismo e o taoísmo. O livro resalta valores

87
eteÍnos no seio de um universo em constante mutação, pÍe§§uÉc um
cosmo inserido num padrão subjacente possÍvel de seÍ discernido e reco.
menda enfrticsmente a perseveÍança de valoÍes interiores, ao mesmo tem.
po que opina a respeito de ações e stitudes apropriadas à situação exte_
tíor. O I Chütg ensina os princípios que posibilitam aprender a üver em
harmonia com o Tao, matriz invisÍvel que dá sentido ao universo.
Tomei conhecimento do I Chhg em 1967 , pot meío de uma paciente,
durante o primeiro ano de minha clÍnica particular. Ela haüa passado de
uma depressão suicida desesperada, imobilizante e sombria para aquele
estado de indiferença triste, que é o estado tÍrnsitóÍio entre I depressão
profunda e o retorno à vida, com o seu variado colorido eÍnocional.
Durante essa fase de restabelecimento, tinha a sensrçiío de estar passando
através das engrenagens da vida, funcionando de novo, trabalhando de
modo efetivo e convivendo com as pessoas; porém, ainda não havia recupe_
rado a vitalidade e a vontade de fazer as coisas.
Ela estava desmotivada e impaciente, e haüa perigo de que, por
causa dessa sua maneira de sentir, desistisse ou sgisse de modo destrutivo
ou impulsivo. Ela havia consultado o I üitg ne$e estado de espírito e
veio ao mcu consultório para ler a Íesposta que hevia obtido. O texto era
uma metáfora eloqüentemente reveladora de sua situação. Tratava.sc do
hexagrama 5, "A cspen (nutriçío)', que começa dizcndo o seguinte:

Todos os serc necessitam do alimento. porám, a doção do ali.


monto tem seu t€mpo póprio, e por ele se deve esperar. O hexqrerna
mostír ai nuvens do c{u trazendo ô dtuvs, pora a alegria de tudo o
quo cr6c€... a clruva virá em sou t€mpo próprio. Não se pode foçá-
la; devese esperá-lâ. A k éis ds 6por8 á tambám ílgprí.Ja pelos atribu.
to6 dos doir trigram⧠- a foça no int€Íior e diante dela, perigo. A
força d iante do perigo torn&se irquieta e não tem a prciôncia para
a espsÍ8.

Era oportuno o enfoque do hexagrama sobre a necesidade de nutri.


ção como umt maneira de descrerrer sue situação. Eu sebia que não havia
nutÍição no que ela estava Íazendo, e que, psÍa ela, a üda era um exercÍcio
s€m sentido. Essa etapa de uma depresão é semelhante à terra após uma
prolongada seca, à espera da chuva, da unidade geradora necesMria para
ttazeÍ o verde de volta à terra improdutiva. É uma etapa desestimulante
e potencialmente perigosa, pois há suficiente energia paÍa @meteÍ uma
tentativa de súcídio, no caso de desespero, se a pessoa julgar que esse
período será inteÍminável.

88
O texto ofereceu a ela um siíbio pâÍeceÍ â Íespeito dâ atitude que pÍe-
cisava âssumiÍ durante essa etapa difícil:
Aespera não é uma cpeÍança vazia. Possui â cortêza intârioÍ dê
alcar4ar o seu obletivo. Só essa censza coníere a luz única que conduz
ao $c6sso. lsso leva à perseverança, quo tÍaiz boâ fonunâ e provê a
Íorça para atravessar a grande água.
Alguém s6 encontÍa diante de um perigo qus dsve ser superdo.
Fraqueza e impriência nede consâguiÍão. Só o fone pode enfrentar
sêu dostino pois, graças à sra regurarlça interioÍ, é capaz de rasistir.
Esa íorça maniÍesta-se atravds de uma incoÍÍuptível veracidade para
consip m6sÍÍro. Só quando 3o á capaz de ver a coisâs diÍetamsntt,
tais oonro sâo na realilde, sÊm 9e deixaÍ emanar nem iludir, é qua
snÍgÊ uma luz quo permha recor*recer o caminho para o sucosso. A
esse reconhecimürto devlsê seguir uma 4ão resoluta o peÍsovoranto,
pois ó quom enírenta sêu d€§tiÍlo de modo decidiio o realizará.
Assim, poderá âtÍavessâr a grande ága, isto ó, tomar uma decisâo
i ,ercar o perigo.
Esse hexaglama do I Aing falouJhe diÍetamente e tocou num ponto
sensível no seu inteÍioÍ. Eu estava apoiando I sus Parte hesitânte que havia
estabelecido uma aliança de trabdho comig,o, foÍtalecendo.a. Apesar de a
leituÍa sê referir à paciente, senti que também continha uma mensâgem
que me eÍâ destinada,já que precisava aprender a ser maig paciente, de mo'
do a dar mais tempo às pessoas, Permitindo que se Íestabelecessem e cÍes.
@ssem em sêu pÍópÍio Íitmo.
I
Como se consulta o Chingl É aqui que entÍâ â siÍcÍonicidade, pois
a suâ existência ou a de um Tao subjacente é a única base sobre a qual
poderia funcionu. É lOgco que não há um modo de justificar â PÍecisão
e a relevância dos textos obtidos. Assim como a mamangaba que, segundo
a teoria aeÍodinâmicc, não deveria voar, o I Ahg não poderia funcbnar
como um oráculo, mas de fato funciona,
Há duas maneiras PrinciPais de * lazer uma leitura do I Ching. En
ambos os métodos, algúm, à busca de um conselho poÍ inteÍmédio do
livro, precisa primeiro formular uma PeÍgunta em palawas. A pessoa deve
então, ritualmenfe, distÍibuiÍ as quaÍentâ e nove vaÍetas de milefólio seis
vezes consecutivas, paÍa obteÍ seis números correspondentes às seis linhas
que formam o hexagama. Ou então, usando o método mais rápido das
moedas, jogô-se tÍês delas para o ar, deixando'as cÀiÍ num rotal de seis
vezes, sendo que cada jogada indica uma linha. Cada hexagrama remete
o leitor a um texto em PaÍticulaÍ. A êdição tililhelm/Baynes do I Ching
inclui em seu apêndice uma sessão útil intitulada "De como consultar

89
o oÍáculo", Íelrtando corno utilizsr as vaÍeta§ 9 alt nroedas oÍaculaÍes.
Uma explicação no Íinal do livro dá uma lista de todos os hexagramas
e onduz o leitor ao texto que revela o significado de cada hexagama.
Do mesmo modo como os episódios sincronísticos espontáneos re$
soam em sintonia com situsções interiores carregadas emocionalmente,
ativando.as de modo paralelo, o I Aing funciona melhor quando há uma
situação interior de tensão e de intensidade. Não funciona absolutamente
oomo um jogo de salão. Responde à pergunta quando esta é um foco cen-
tral emocional. Eu geralmente formulo a questão, pedindo "uma explicação
sobre a natuÍeza da situa$o e sobre a atitude e linha de ação que devo to.
mar naquele momento". Uma vez qve o I Chtg geralmente fala a esse res-
peito dc todas as formas, acho melhor perguntar.lhe díretamente. (Se
alguém Í-zer uma pergunta fr ívolt rcI Aing, estando envolvido emocional.
mente oom outra coisa, o livro inwúvelmente "responderá" à situaçiÍo
subjrcente e'não à pcrgunta de pouca importáncia.) Joseph Henderson, um
emin€nte analista e erudito junguiano, enfoca o uso do / Cftr4g como "uma
aplicação prítica do taoísmo na üda cotidiana e aconselha o seguinte: o

Ao Íormular suss peÍgunt6, seria melhor que Ir p€ssoss esperassem


etó reduzi-lrs à Ers msas rimples expres€o, à sua forma mais específi
cs, 6t8ndo coÍt6 do que rcalmente não podem reçondê-las por ei
moírsa,.. então a nrtrrcza do rimbol ismo taoísta s€ria rsalments
respeiteda, o quo tg pode de:crovor como uma busca para atingir um
tipo de iluman8ção do real, em combinação com um proceso de
auto-real ização simultânee.

O própriro I ChW, no seu Segundo Liwo, denominado Ta Ch'uan ou


Grrndc Tratado, expÍessr isso da seguinte maneira:

Portento, o homsm supsrbÍ consJlta as muta@es sempre que deve


rÍetror clgo. o 3anpÍo o faz com palavras, CopE a sua monsagem
como um eo; prri o I Chiry não existem Ílem porto nem lonç,
nem ob*uro nem profundo, o dessc modo ele sabe das coisas do
futuro. Sc erse livro não íosss a mais espiritual de todas as coisas
sobre a Terra, como podcria fazê-lo?

Nem todos são igúalmente capazes de trabalhar com o / Chhg. É, pre-


ciso certa crpacidade para intúr o significado e aprecisÍ r metáfora e a
imagem, rssim como teÍ uma persp€ctiva filoúÍica em harmonia om a
idéir do Tro. O / Ching a.dverte: "Sc aquele que consultar o orácuto não

90
estiveÍ em sintonia com o Tâo, nâo ÍecebeÍá uma Íesposla inteligível, já
que esta de nada lhe sÊrviÍiâ". Trabalho com o/ Chhg em meu consul-
rório quando o tema é sugerido pela pessoa que estou analisando. Do mes-
mo modo que em um episódio espontâneo ou em um sonho, sinto que
esse liwo é uma outÍa expÍessão da atividade simMlica da psique e que
nos pode prover de uma valiosa compreensão do significado da âtual si-
tuaçlo. Se um paciente pÍop6e uma leituÍâ do I Ching ntma sessâo anali-
ücs, é porque csç foi um episódio impoÍtanle para ele. Eu o uso em meu
trabalho do mesmo modo que os sonhos e os episódios sincÍonísti@s.
Mesmo se as imâgens metafóricas do I Chhg nâo forem cÍiâdas nâ psique
dâ pessoa, sendo por isso mesmo menos indiúduais, sen e de ajuda para
mim nâ compreensãô da situaç5o, na busca de significados Pessoais nâs
imsgens e símbolos. Foram.me de grande valia as ampliações feitas atra.
vés da associação com as metáfoÍas aprescntadas.
Um outro exemplo é â imogem do hexagrama 34, "O poder do gran-
de": "Um bode dá marradas contÍa uma cerca. Não Pode iÍ nem PaÍa fÍen^
te nem paÍa tÍás". Esse é o quâdro de uma situação na qual a pessoa está
presa de modo infrutífeÍo, gastando eneryias numa luta inútil e obstinads.
Uma maior smpliÍicaÉo revelou mais duas conclusões: o medo de ser
julgado como "o bode" era um dos motivos Para continuar obstinado nesse
esforço; do mesro modo, a tendência a exagerar e a sobrevaloÍizsÍ s peÍds
monetária estave âssociâdâ àquilo que ess:l P6§oa chama de elemeDto ne8a-
tivo câpÍiooÍniâno (o bode em astrologia) de § mesmo.
Outra metáfora, a do hexagrama 47, "Opres§o", tem a seguinte ima-
gem: "Eb é oprimilo W n@eiras". Esta é a dcscrição de vínculos que
podem ser facilmente desfeilos. Ao paciente que obteve essa leitura, a irna-
gem sugeriu a 'lrepadeira" como uma associação pessoal, e a mistura de
culpa e hostilidade evocada pcla dependência era o problema Psicológico
imobilizador a ser encarado. O paciente obteve uma comPreemão bastante
pessoal atraÉs da associâção da imagem.
Constato que se passsm às vezes semanas sem que ninguém mencione
o I Alguns o tÍszêm à tonâ vez ou outÍa; alguns PacieÍltes jamsis
Aing.
ouviram falar desse livro, enquanto outros sabem da existência do mesmo,
porém nunca o Jdgaram impoÍtânte do ponto de vista Pessoal. Assim
como nos soúos e na sincronicidade espontânea, existe gande variação
de um indivÍduo a outro.
Enqrunto eu estava escrevendo este capítulo, duas mulheres, em
meu consultório, revelaram o mesmo hexagrama. Os casomentos de ambas
haviam atingido um período de crise. As duas estavam pensando cm scpa'
ÍaÉo e hâviam lançado as moedas pua obter uma maior comPÍeensão que

9t
o I Chirrt talvez lhes pudesse fornecer. Ambas obtiveram o hexagrama 49,
"Revoluça-o", que descreve I Íevolução atÍavés da analogia com a mudança
de çÉlo em um animal, que se transforma no decorrer do ano. Esa analo-
gia é aplicada então à vida política, as grandes revoluções sendo ligadas âs
mudanças de governo. Apesar de as situações matrimoniais daquelas
mulheres serem bem diferentes, elas desempeúavam um papel comum:
estavam revoltadas contÍa os velores sustentados pelos seus respectivos
maridos e sentiam a necessidade de mudar os princípios que governavam
os seus ca§8mentos.
Certa vez, uma mulher que eu estava analisando obteve o hexagrama
62, "Preponderância do pequeno", Íepetidamente durante um lapso de
dois anos. Ela o obtinha lançando moedas, ou então o resultado era algum
outro hexagÍama, com liúa móvel, que se transformava nr "Preponderân.
cia do pequeno". A repetição foi excessivamente convincente, e ela seguiu
o conselho que não lhe era particularmente agíadável, porque concordava
com o enfoque do I Chhg a Íespeito de sua situação, mesmo não gostando
de ser lembrada disso. O fato de obter a mesma Íesposta Íepetida a ímpres-
sionou. O hexagrama dizia, em seu julgamento:

A preponderância do pequeno. Sucesso.


A perseverança é favorável.
Pequenas coisas podem ser realizadas; grandes coisas não devem
ser feitas.
O pássaro, voando, traz a mensrgem:
Não é aconselhável o esforgo em diregão ao alto. É aconselhável
permanecer embaixo.
Boa fortuna.

A mensagem coloquial era: "Continue trabalhando com afinco e nío


tenha idéias de grandeza", Ele aconselhava que fosr conscienciosa e par.
cimoniosa, cumprindo os seus deveres no trabalho, pois esse não era o mG
mento de tentar algo maior. Ela estava lutando para ingressar na universi.
dade, com o objetívo de obter um diploma de graduação em consultoria.
A Íepetição do hexagrama incentivou-a a @ntinuaÍ na trilha que havia de.
lineado para si pópria, uma carreira para a qual eu achava que ela tinha
aptidões especiais, assim ooÍno experiências pessais que contÍibuiriam
PAÍA O SeU SUCeSlp.
Essa mulher geralmente @nsultava o I Ching sÊmpÍe que suÍBia I
oportunidâde de tentaÍ umâ outÍa carreira que atraÍa a sua parte mais
impulsiva. Obtendo e liúa móvel citada s seguiÍ, contraÍiou a idéia de

92
que haveria atâlhos ou camiúos mais fáceis PaÍa alcançaÍ as $ras metas

primein posiçío significa:


Seis na
Em su v6o o páso ot oontra o iníominio

A explicafo que se segúâ desenrolveu mais ainda o seu significado

lJm pá§f,/D deve permarccer no ninho até emplumar'*. Se ela


tcnta voar pnmaturo,nalte, atrai o iníonúnio. iledidas exütudi'
nérias ú dernm *r tomads g.ando ié não houmr outra solução. No
início, devçÍ, flfror1er eos n'f/ia§ tadiciaais e utitizá'los etnuanto
fot posível, pois de outro mdo c ptowcaria uma cxausÍ, o, fryotan'
&-* s forçes *nt ralizar cois alguma.
Sua interpretação era a de que puecia oportuno PeÍseveÍaÍ em sua
linha de educação, âté obteÍ credcnciai§ e experiência.

Do modo como eu o vejo, o trabalho de análise faz bem em levar em


consideração â sâbedoÍia do I ChW, a filosofia taoísta básicâ que PeÍmeia
o texto e que recoúece a necesidade de o indivíduo estar em relação com
a nâturezâ cíclica dâs estaÉes, de ser ativo ou pasivo, dependendo do que
é apropriado pâÍa âquele momento, e, PoÍtanto, de estaÍ em harmonia tân'
lo com o que ele é. oomo com a estaçâo em que se en@ntÍâ. A palavra
estoçfu é usada aqui no seu sentido mais amplo. Um significado refere'se às
"estagões dâ vida". Por exemplo, a etapa independente do jovem adulto ou
a época'de teÍ filhos, o período da meia.idade, ou quando se encara a imi'
-
nência da própria morte cada qual é uma "êstação" difercnte que requeÍ
de nós ÍeaçOes diversas. Outra "estação" a ser considerada é o período de
paz ou de guerra, de depÍêssão ou de afluência econômica. A "e§tação"
pode ser meÍamente pessoal, um pcríodo de bemcslar ou um período de
pÍovas e de privações. No Eclesiastes 3: l-2, há uma ütania poética que co
meça assim: "Para tudô há uma estação e um momento para cada assunto
debaixo do céu: um momento Píua nasceÍ e um momento Püâ moÍÍeÍ,
um momento para plantar e um momento para colher o quê se plantou".
Analogamente ao I Ching, essa PâssaBem enfatiza o fato de que hó estâções
pelas quais temos de passar.
Seria uma loucura esperar com impaciência que os brotos verdes dos
narcisos irroml»ssem no meio do inveÍno só poÍque estamos tÍatando do
solo no qual os bulbos estão plantados. As pessoâs, â$im como as plantas
e as árvores, crescem de acordo com o seu póprio relógio interior, assim

93
como em relação âs e§taçõe§ exteÍiores. É importante re§peítaÍ os ritmos
e as estações em cada uma de nossas üdas, prestando atenção aos sonhos e
aos episodios sincronísticos, gue nos ajudrrão a cresoer de modo orgânico.
A sintonia com a situação é um valor @murn aos analistas e ao /
Chitrg. Olirt similitude está na atitude que respeita a Íestrição, que só age
quando necessário e que enfatizâ a peÍs€verânç8 em períodos de dificulda.
de. A ÍilosoÍia do I Chinç é pÍontamente apliaível ri minha metáfora da
análise.
Para mim, fazer análise é semelhsnte à jardinagem. O relacionamento
entre o analista e o paciente, com suas regras de confiabilidade e seu cará-
ter de sacralidade, em que se.pode tÍazer à tona qualquer tema com s€gu-
rança, serve como um recipiente no pÍocesso de crescimento. Retirar as
ervas daninhas e as pedras, lawar e umedecer a teÍra são tarefas prelimina-
res na jardinagem, assim como a fase de psicoterapia na análise. Os obstá-
culos que impedem o crescimento, as ervas daninhas e as pedras devem ser
eliminadas, não importa se procedem da nossa primeira infância em família
ou se são inseridas na nossa situação atual. Seja o que for que reduziu o
espaço do crescimento individual, deve ser reoonhecido e removido. A
água, que é semelhante à emoção, deve ser levada até a situação, de modo
a peÍmitir que as defesas se suavizem e sejam penetradas. Dessa maneira,
as emoções dos outros podem inÍiltrar-se, trazendo a nutÍiÉo, assim como
a água penetra até as raízes das plantas, até entiio crescendo em solo resse.
quido, compacto ou argiloso. Em análise, o cÍescimento se dd às ocultas
ou nas profundezas do inconsciente, paÍa manifestar.se mais tarde, apare-
cendo acirna do solo.
Aquilo que vem a existir depende da natureza da semente. Um bom
jardineiro ajuda cada planta a crescer perfeita e a produzir o que queÍ que
ela contenha intrinsecamente: uma fruta, um vegetal ou uma Ílor; deve ser
somente aquilo que é em si - carvalho, sequóia, geránio ou âté cacto.
Quase sempre um analista um pólo de apoio, durante algum tempo,
é
na vida de uma pessoa. A maioria dos seres em crescimento tomam.s€ sufi.
cientemente fortes para cresceÍem, eventualmente, por si sós, abrcrvendo
a ígua e o brilho do sol de seu meio ambiente, extraindo o alimento da
terÍa na qual estão agora fumemente enraizados, numa üda que jorra de
um solo produtivo
Em decorrência do que eu disse a respeito do I Ching, é óbvio que res-
peito a riqueza ÍiloEófica e a pertinência do conselho dado. É significativo,
de modo eyidente, que em cada exemplo utilizâdo o indivÍduo üvia um
momento emocionsl importsnte, tomando o I Ching como um consulente
adicional. Eu tamHm i o I Chtttg sendo usado de modo pouco síbio e

94
pÍomíscuo, como se fosse um hoÍóscopo de jornal, PâÍa decidiÍ, poÍ
exemplo, se alguém deveria ou não sair de casa baseando'se nas frases que
soam como presságios, sem a deúda reflexão ou compreensão do significa'
do do hexagrama em si. Uma consulta dessa espécie invalida o seu propósi'
to e apenas sufoca o cÍescimento e o desenvolvimento do indivíduo.
Se este capítulo lhe serviu de introdução ao I ChW, eu talvez o tenha
apÍesentado a um âmigo úbio e ponderado, capaz de ajudáJo. Na con'
cluúo ao prefácio do I ChinS, Jung tem as se8uintes palavÍâs a dizer a
respeito de se tÍavaÍ conhecimento com O livro das mutações:

O I Ching não se apÍesenta com provas e rosultados, não'se vanglo'


Íia de si mesmo, nem é de fácil abordagem. Como uma parte da natu'
roza, êspera até seÍ dBcoberto. Não oÍerece fatos, nem poder; poíém,
para os amantes do autoconhecimento, da sabedoria - se é gue exis'
tem - paÍece sêr o livro iÍdicdo. Para alguns, sêu espíÍito parecerá
claro como o dia; para outÍos, indistinto como o crepúsculo; e para
outros ainda, obscuro como a noite. Ouem não apreciá'lo, não precisa
uúlo, e guem Íor contra não á obrigado a consfuJerá'lo veÍdadeiro.
Oue o deixem seguiÍ. pelo mundo para o bem daqueles gue sêjam ca
pazos de emêÍrdeÍ o seu signiÍicado.

e5
|,99q|'

gó a$99ç»'c
p$

;T
9|'$
fgq

Unu olhodela dc primeiru mão na paropsicologia, atro»és do Wrricipo'


perceryao ex tm'senso'
çõo ru revista hychic. A mente acima da nutério, o
riol e o lenbneno poltergeist. Testes de pocqçiío exm'sensorbl "impo*
síveis" e o oquétipo ilo milage. O universo simétrico do físico quôntica.

Em l9ó8, meu marido e eu - éramos então visionários intuitivos e


parecíamos crianças ao lidar com os emaranhados dos negócios - decidi'
mos iniciar uma novâ ÍevistrsobÍ.e fenômenos psíqúcos, cobrindo o cam'
po emeryente da parapsicologia. Jim a editâÍiâ e publicaria- O nosso lado
sonhador tinha a visão da necesidade de uma publicação de alta qualidade
que se Íeportasse às numerosas facetas da nova ciência, ao entraÍmos na
Era de Aquário. Âs publicações já estabelecidas nesse campo enfatizavam
o oculüsmo e não faziam jus à iÍnPÍessionânte PesqÚsa e aos relatórios de
verdadeira importância.
Jim rinha um inteÍesse de longa dâta poÍ assuntos psíqúcos e Íiloó'
Íioos, além de uma mnsiderável experiência como escÍitoÍ. Como onse'
lheiroexecutivo numa lirma de relações públicss em ascensão e de suceso,
ele estava cada vez mais desanimado por ter de escrever sobre pessoas e ins'
titúçõ'es que não apoiava. Os clientes que ele representava eram corPoÍa'
peÍante o pútlico e em @n'
ções inteÍessadas em consolidar suas imagens
seguiÍ os seus próprios pÍoÉsitos. Ao final da década de ó0, essas compa'

99
nhias estavam transformando a riúa de arraúa-éus em são Francisco
em algo semelhante ao que ocorria em Manhattan. Seu ú[timo e maior
cliente estava querendo preencher mais uma parte da baía de são Francis-
co com um complexo de vúrios milhões de dólares. Iim nâ.o gostava da
idéia de estar proÍissionalmente contribuindo para que isso a@ntecesse,
pois pessoalmente ele valorizava o meio ambiente. A decisão de iniciar
uma Íevista suryiu desa mistuÍa de insatisfação com um eremento üsioná-
rio.
A revista hychic cx:mepu como ..um negócio familiar", com um ú
empregado de tempo integÍal. Todo o restante eÍa escrito pr
free_lancers
ou pelo póprio Jim, que redi$a, revisava e se ocupava da produção e da
comercialização. Eu ajudava em tudo o que podia, no início até angariando
assinaturas aos sábados, ocasionarmente lendo manuscritos, compart
han.
do das decisões, promovendo reuniões com pesquisadoÍes, autores ou in.
vestidores em potencial. Mas minha atividade principal era a minha pópria
proÍissão de psiqüatra, enquanto Jim dedicava todó o seu tempo à revista.
kvando em conta todo o esforço, energia e cuidado que a revista exigia,
costumávamos referir-nos a ela, de brinãdeira, oomo ..o nosso primeiÍo
Íilho".
No decorrer dos oito anos em que foi publicad 4 psychic tornou_se
uma fonte.autorizada popular e Íespeitada nósse setor, contribuindo peÍa
tornar conhecidos nacionalmente os indivíduos e as organizações psiqui.
cas, oxpondo as descobeías dos pesqúsadores em parapcicologi. , airiu-
tindo as implicações dessas pesqúsas. Foi uma reüsti múto bonita do
começo ao Íim, oolorida e de qualidade. No inÍcio de 1977, Daüd Ham.
mond, que dela haüa sido um psrticipante müto impoíante durante
qustro anos, tornou.se úcio do emprecndimento . psychic mudou seu
nome para New RfUllittbs nessr épocr, já que o tÍtulo rntigo não corÍes-
pondia ao rumo que a revistâ estava tomando. Além de ela estabelecer a
autenticidade e a extensão de episódios e pesquisas parapsicológicas,
oomeçou então a publicar aÍtfos exploÍando a relevância da parapsicolo-
gia para o indivÍduo. A reüsta ampliou-se no s€ntido da conscientização
espiritual e psíquica, da saúde holística, do meio ambiente e de outros
novos modos de pensamento e de úda.
Embora os meus principais inteÍesses profissionais residissem na psi-
quiatria e na aúlise junguiana, durante os anos em que Jim publicou
Ptychic, eu continuei entrando em @ntato com pessoas impoÍtantes
nesse setor e me mantive a par da pesquisa e dos indivíduos com talentos
especiais. Como analista junguiana, julguei desnecesário colocar os dois
setores - p§cologia e parapsicologia - em oompartimentos separados,

r00
já que o oonceito de trmg sobre a sincÍonicidade induía o fenômeno pa'
iapsicológio, e asim eles não conflitavam. Em contraste om essa minha
atitude, a maioria dos rdcptos dr coÍÍlnte principol da psioologia eÍa antâ'
gÊnica ou indiferente à parapsioologia.
Em 1972, viajei r Durham, nr Carolina do Norte, PâÍ8 entÍevistaÍ J'
B. Rhine pua a rcuint Psychlc. Ao PaÍtiÍ, scntia como se 6tivesse voltan'
famosa' o
do no tcmpo PaIr @nvrÊÍsaÍ oom uma personúdade histórice
-Banks
Dr. Joseph Rhine é o "pei da parapsicolo$a" nos Estados Unidos,
responsórtl pelo Úabalho clóssico de lsboratóÍio e pela bredta que com'
provou estatbticâmente a cÉstênci8 da percepção extra'rnsorial e da psi.
cocinesia, isto é, a mente acima da razão. Rhine era um PioneiÍo batalha'
dor que lutara denlro de comunidade científica para oonferir respeitabí
üdade e aceitaçâo a e3se camPo' Sue posição era semelhante à de Freud
ou Jung em psicolo$a. Como fundador de um novo setoÍ, ele atÍaiu os
homens e as mulheres que seriam a póxima geração de pesqÚsadoÍes'
Junto com sua mulher, a Dra. louisa E. Rhine' havia passado msis de
cinqiienta anos iluminândo â abcrtum dessa trilha e depois executando o
trab-alho árduo e Íepetitivo de e§tabêleccr os fundamentos científicos
da parapsicologia. Rhine toÍnou'§ê um nome popular no centro de uma
tcmpcstade cútltrca, apos publirr uma monografia intitulada ExÍle
Senory Paceptbn em 1934., anles do meu nâscimento'
Fú apresentada ao Dr. Rhine e a sua mulher em frente à Dúe Uni'
velsity, na Fundação para Pesqúsas sobÍe a Natuezâ do Homem' que eles
haviam fundado en 1962. Numa rua tranqii'ila e arborizada, no que antes
havia sido uÍna casâ ântig,a e gaciosa, ainda prossegúa a mais moderna
pequisa sobre puapsicologia, agora usando computadores e geradores
àu n trn.ros destórios, asim como outÍas mâquinarias complexas para
testes. Nrscido em 1895, o Dr. Rhine tinha ent§o s€tenta e sete aÍos'
Deparei-me com um homem vi§toso, alto' de bom PoÍte, oom um Íosto
áspero e cabelos brancos, em tudo aParentando menos idade' Pela quali'
ttade áritla e eststisticâ de sua pesqúsa, cu não espeÍavâ que ele fosse o
homem caloroso, expressivo e charmoso que eÍa na realidade' Tanlo
Rhine como sua mulher haviam sido biólogos que ingressaram inicial'
mente aesse câmPo, rtentos à investiSação da sobrevivência da consciên'
cia apos a morte; isso os conduziu ao estüdo dos médiuns, e daí à pesqui'
sa "áos meios próprios através dos quÀis um médium pode ser médium"'
Começaram concentrando'se na clariúdência e nâ telepatiâ, seguirâm com
a pÍecognição e, mais adiante, enveredaram pelo campo da psicocinesia'
A moderna parapsicologia começou com os Rhine que, junto com
os estudantes seú colaboradoÍes, e agoÍa @m os §€us colegas nos cenários

r0l
univeÍsitários pelo país rfoÍa, levaÍam o fenômeno psíqúco prÍa dentÍo
do laboratório. Testes rigorosos e Íepetitivos eram avaliados sob controles
cientÍÍicos, a Íim de produzirem resultados eststisticament€ válidos. Esse
setor foi perdendo a sua auÍa de misticisÍno paÍs se tomü uma leituÍa
enfadoúa, na medirlo em que o jarglo cientr'Íico e os quadros estatísticos
substituíÍün os Íelatos de casos fascinantes. Ambas as nuences _ a espirí
tual e a ocultista - foram abordadas no processo quc rdquiria boa repute.
ção. A idéia de que os dados de laboratório fosscm rcsultantes de umE
fraude. ou de uma trama (a que se aferrrvam os descentes, considcrrndo
tais dsàos como algo mais plausr'vel do que a pES) foi sc tornando ridícula,
na medida em que o número e o porte de pesquisadorer que sc unirm ros
Rhinc aumentava r grandes passos.
A respeitabilidade final foi conferida à parapsioologia, devido ao scu
recoúecimento cientíÍico, em 1969, quando a Ààerican Association
for the Advanccment ofscience, de grande pÍestl'gio, aceitou r panpgychs.
logical Asociatión como uma organização associadr. Apór havercm sido
rejeitrdos dois pedidos de recoúecimento .rteÍiores, com a eleiçâo dc
Margaret Mead, e§te foi um sinal de mudança de atitude em relação r cssc
sGtoÍ.
Embora os cientistas no campo psíqúco fossem importantes, vrírios
entÍe os indivíduos psíqücos causavarn.me um verdrdeiro desapontamen-
to. Mesmo que outros acrcditassem na precisão de surs leituraJpsÍqúcas,
estas continuaram a me desapontar, pois os esforços no sentido de ..fazer
a minha leitura" eram imprecisos ou por demais generalizados. No início
de 1973, comecoi a m€ dsr oonta de que eu mesma poderia ser o fator li.
mitador - que o meu próprio ccticismo inicial, acompaúado de uma mis-
tura de descédito e de desalento sentido intimamente, quando eles não
@nseguíam me impÍessionaÍ, podir estâr contribuindo para que o desem-
peúo delos fose fraco. Considerando o palco emocional alentsdor de in.
terrç5o em qu€ a telepaüa normdmente ocorre de modo espontáneo, pare.
cia proúvel que a minha atitude talvez formasse esse bloqueio e que eu
estivesse delimitando a minha própria experiência. U a autobiogralra de
John Lilly intitulads Center of thc üclone, e uma de suas idéias, que
parafrrserrei a seguiÍ, úamou.me a stenção: hecl.ynos ttwtwndq os
rcstla,s póprias ctutças lünüdoms, a fon de qesern Írs WE além delas
ou W vfuencisnps as aperüncios que nos pamítan ctexer.
Isso é o que ocorre em psicoterapia. As pessoas bucam a terapia
porque algo não está funcionando bem em suss údes, quando os seus
póprios esforços para achar respostas ou sotuções ou psÍs mudar as
@isas paÍa melhor não tiveÍsm êúto- Nesse estado de esprtito fÍustrado,

t02
seu enfoque "rigidamente assentado", de si mesmos ou de sua situaçâo,
não está fixo de modo imuúvel, mí§ está abeÍto à mudança. Com fre'
qiiência, as pessoas foram programadas por pais exageradamente críticos
ou que os rejeitaram, passando a a@itaÍ um enfoque negâtivo ou limirado
de § mesmos ou então tomando-se desconfiados, jttlgando os outros como
suspeitos. A situaçâo teraÉuticâ peÍmite que as antiS,as conÚcções sejam
Íeexaminâdâs e que PeÍmâfleçÀm em susPensão enquânto são tentados
novos modos de perceffio de si mesmo ou dos outros e novâs mâneiras
de agir no mundo. Para crescer, d precig tonscender os limites mentais,
poír esses fu empecilhos. Quando compreendi isso, PâÍeceu'me que eu
devia suspender minha âtitüde desafiadora, cÍílica, tiPo '\rá adiânte e me
mostre". Ao contÍário, o que eu pÍecisâva eÍa encontrar um indivíduo
psíquioo, quando me sentissê reoeptiva a isso, na espeÍânçâ de que ele ou
ela pudesse ser bem sucedido. Tomei a determinaçâo de tentar essâ nova
âtitude na próxima oportunidade, e decidi presenciar a póxima entÍevistâ
de Jim com um sensitivo.
O póximo a ser entÍeüstâdo foi Uri Geller, de quem alé então eu não
tivera notÍcia. A oportunidâde de conheccr o mais imPÍessionante PeÍsona-
gem sensitivo da época ooorreu de acordo com a sincronicidade, isto é,
logo aÉs a minhâ mudança de âtitude inteÍioÍ. Geller era um jovem isae'
lense sensível e bonitâo, capaz de âfetâÍ os objetos com a $ra mente; tam'
bém câptâvâ mensâgens telepálicas e de clarividência.
,im o entÍevistou num quaÍlo de hotel, no San Francisco Holiday lnn.
Dois cientistas do lnstituto de Pesqüsa de Stanford estavam PÍesente§,
assim como a maioÍ Parte do quadro de funcionários da reüsta. Uri se
ofereceu para fazer uma demonstração de psicocinesia (PK), isto é, a
mente acima da matéria, ao lent entortaÍ as chaves de cobre, muca
Sclrlage, do hotel, passando a mão levemente sobre o metal com a iDtençiio
de ve4áJo. Enquanto olhávamos, a chave de fsto se dobrou ! Jim a colo'
cou então sobre um pedaço de papel e delineou o ângulo da curva. A chave
Íepou$va sobÍe a mesâ de café, sem seÍ tocâda por Geller ou por qualquer
outÍa pe$oâ, e todos â ob§eÍvavam. E quando conferimos da próÍma vez,
-
o ângulo da curva tinhâ se âcentuâdo a chave continuava a dobrar.
Geller demonstrou o que os PaÍapicólogos haviam estabelecido nos
laboratórios -que a meÍte Podê influenciar a matéria (por meios ainda
descoúecidos). Foi para mim uma coincidência siSnificativa teÍ a oportuni'
dade de testemuúar essa experiência com os meus pÍóPrios olhos logo
após haver ofâ$sdo o meu celicisÍno. Essa foi uma das expcriências que me
fizeram acreditar no princípio de que "quando o discípulo está PÍonto, o

103
mcstre apaÍe@". O estar pÍonto é uma atitude interior, quando então, poÍ
"coincidência", ocorre um episódio exterior paralelo.
Quando Geller tenta dobrar uma chave ou consertar um relógio
@n@ntrando-se no objeto, ou quando um jogador em I as Vegas está com
uma boa estrela e s€nte.se "quente", pÍonto para .,cantar os dados", ou
algúm num laboratório tenta inÍluencíar qualquer objeto do teste - desde
uma máquina de lançar dados até um magnetômetro que mede os campos
graütacionais -,todos estão @nscientemen e tentsndo mostrar a mente
acima da matéria, ou a psicocinesia.
A influência inonsciente da mente sobre a matéria também é uma
situação inteÍessante. É aqui que entra o fenômeno Wlteryeist. Assunto
que goza de popularidade entre os jornalistas, os pltergeist estão associa.
dos a fenômenos estranhos e inexplicíveis: os objetos movimentam.se
sozinhos, voando pelo ar ou atuando de forma ainda mú estranhs. Nos
cr'rculos parapsicológicos, uma desfnação mais cientrfica se refere a esses
fenômenos como "psicocinesie espontânea ÍecoÍrente". A, pailzvn pol-
teryeist pÍgvém do alemío e designa "fantasma travesso", poÍque as casas
onde se dão esses fenômenos parec€m mal-assombradas, habitadas por
fantasmas brincalhões. Um estudo sério a respeito de tais asuntos é objeto
que concerne, apropriadamente, à pesqúsa alemã. O psiquiatre Hans
Bender, principal parapsiólogo alemão e sua equipe de ínvestigadores de
pesquisa do Instituto para Areas LimítÍofes da Psicologia e da Saúde
Mental, da Universidade de Freiburg, no limiar da Floresta Negra, são
responsáveis por alguns dos casos mais bem documentados. Comprovou.se
a ocorrência de epiúdios estraúos e assustsdores prra a mente - objetos
que p€netravam paredes, tÍancavam armários e caixas a drave. Nos estudos
e nas investigações, os objetos eÍam apaÍentemente movidos pela mente, e
o ciÍcuito elétrico era rompido, assim como também havia a oconêncir
mais comum de coisas voando pelo ar. Bender descobriu que guase sempÍe
havia um adolescente em grande tumulto inteÍíoÍ na casa ..assombrsda".
Um antigo editor de Psychic que passou algum tempo com Bender, Alan
Vaughan, relatou o seguinte:

Concordando con s teorix do fsttoso psicólqo atíço Cart


Gus6v Jung, Bander aryumenb que E psigue e a maérie lnnêoam
ln*parevehqrte interligadas e gue estudos psialógios interiores
podem chcgar a * furúir am epiúdios flsios atratés de poderoas
enetgias emociotpis e nqrtais; em elguns ratos adlolewtter.. eg
íut çfu resrltE em fenômcnos mllteryois..

t04
Os movimentos, as rachaduras e as quebras motivadas por poltergeist e
que â
manifestadas no mundo exterioÍ são formas de sincroiúcidade, em
siluaçâo exterior paÍece expÍessaÍ o conflito, a ÍePÍessão e a confusão do
munáo interior daquele adolescenre. (Tive vontade de averiguar se os
em outÍo aposento, e que sc
objetos que voam pelo ar, materializando'sê
inilinam, câem e quebrâm, assim como os desl8amentos dos ciÍcuitos
elétricosenceÍramumsentidosimbólicoparaaqueleadolescenteespecí.
fico. Como eu não me dedico âo campo da investiSaçâo, espero que algúm
faça.essa pesquisa algumdia.)
As instâncias em que o mundo fisico PaÍece seÍ afetado, influenciado,
ou o modo como Íeâge à mente humana implicam ums @nexão demons'
trável entÍe nossas menles e emoções e o universo físico' O mí§tico do
Oriente o chama de Tao. Jung o denomina hconsciente cobtivo e sinoo'
nicidade.
Outra área que diz ÍesPeito à parapsicolo$a é â PeÍcePção extÍa'sen'
sorial ou PES, que l[Í,d]I[ à tebpatio ou a comunicaçáo direta de mente a
mente, a cWiviüncia ou a habilidade de '\er" ou de "coúecer" um
episódio oconendo além do alcance dos sentidos noÍmais e a preúgúçb
ou habilidade de saber o que iní o@ÍÍeÍ no futuro. Ao Po§tulaÍ â sincÍoni'
cidade, J ung considerava todos esses exemplos como coincidências signifi'
cativas entÍe a Pe$oâ e o evento no qual a conexâo e,nocionel ou simbóli'
ca não pode ser explicada Por causa e efeito.
Geralmente há uma ligação emocional entÍe siturçõês em que o@ÍÍem
fenômenos de percepção extÍa'sênsorial espontâneÀmente, sendo que o
coúecimento é recebido de modo @nsciente. O elemento emoclonal é

críüco - mesmo nos experimentos impessoais que en@ÍÍam adivinhrç6es


controladas pelo laboratório; nesse câso' tÍâta'se do envolvimeÍto emocio'
nal no póprio exPerimento. Rhine descobriu que sêmPÍe há um efeito de
declínio nos assuntos de PeÍcepçâo extra-sensoÍiâl de releváncia' No come-
go, quando haúa um alto interesse, o resultado eÍa múto melhor do qw
mais tarde, quando, pelâ natureza Íep€titiva das provas, entrsvâm os ele'
mentos de tédio e de desintêÍesse.
A Dra. Gertrud Schmeidler, cate&dúcâ do City College de Nova lor'
que, começou a investigar as PeÍcepções extra'sensoriais qurndo esteve
associada à pesquisa na Universidade de Harvard' Seu primeiro exPeÍimen'
to é â8oÍâ um clásico que enÚou pÚa a Históri8' Ela separava as pe$oas
de aco-rdo com suas apidões em relação à percepção extra'scnsoÍisl: as
"ovelhas" acÍeditâvam m PeÍcePçâo extra'sensorial, os "bodes" não
acreditavam.Elaconstatouqueoscrédulostinhanponlosconsistente.

r05
mente mais elevados do que or incrédulos, cujos resultedos Íicavam
abaixo da média.
Tmto nos experimentos de Schmeidler quânto nos de Rhine, o indi-
vÍduo tinhs uma tarefa imporsÍwl @n@rnente ao ego. Imagine a seguinte
útuação: pedem a vocÉ para escolher uma segiÉncia de símbolos, tãntan.
do ca$-los com una lista já determinada, à gual vooe niio tem acesso.
Ou, ç isrc ainda nõo for suÍicientementc difícil, tente um outro teste:
escolha uma seqtiéncia de sÍmbolos mais uma wz e tente casá_los com
uma lista a ser esolhida futuÍamente, que nem sequcÍ eúste no momento.
Essas tarefas suscitam as seguintes perguntas: .Como que é se pode sabeÍ?,,.
"Como se podc realizar o impossÍvel?"
As 'bwlhas" empreendem a tarefa de modo otimista, acreditando que
é posdwl ooorreÍ a p€Íepçiío extÍa.sonsorial, mesmo nessas circunstânci-rs,
e se aproximam espeÍsnçosas da tarefa. Os ..bodes", contudo, os incrédu.
los, réem o seu ceticismo amparado pela ..imposibilidade da tarefa".
Em notas manuscrit$ dirigidas a ka hogoff, Jung comparou a situa.
ção da percepçõo extra-sensorisl com os mitos, cm que o herói encara
umr situsçío impossr'vel;

A I soÍ testds, ou dwida da posibililade de súer algo


p€rso8
imposíwl, ou ecpeÍs que iso sja possírrol e que o milqre se realize.
De todos os modos, ao ser confrontsds com umo tersÍo qur parece im.
porsíwl, a per$o testads €n@ntr&s€ num! situção aÍguotípic€ que
tlntas v3ze3 se dá rrcs mitos e ms contos de fadas, €m qug a interven.
ção divlne, iío ó, um milagre, oÍerece o única solução.

Ao se aproxirnar dessa tarpfa impossívet de percepção extra-sensorial,


com expectatiyss espeÍanços:rs e com intensidade mental, r pessoa €voca o
que Jung denominava "o aÍquétipo do milage" ou o arqútipo do .tfeito
nuígoo". Nesse estado de expectativa, o ..milagre" pode ocorrer, e os resul-
tados de percrpção extra-sensorial são altamente positivos.
A oração evoca o mesmo estado psicológico de expectativa espeÍanço.
I
sa. Aquele que se aproxima do Abg de modo sincero, precisando de
uma Íesposts ou de uma dire$o sobre alguma questío em que esteja múto
envolüdo e qrnc€ntÍado! espera ajuda paÍa tomsÍ uma decisão, en@ntran.
do-se também num estado de expectativa focalizada semelhante. Nesse
estado de ánirno, é provárrel que a leitura do f Olt4, Íesdte em algo muito
rclerante. Adormecer nesse estado de espÍrito, pedindo mentalmente um
sonho que possa ajudar, freqüentemente gera soúos que podem fomecer
Íespostas simbólicas paÍa situações psicológicas insolúveis. Em cada uma

106
destas situâÉes, â Pessoa paíiu do princíPio de que o ego pessoal não
pode fornecer uma Íesposta - ou PoÍque, @mo no caso de percepção ex-
ira-sensoriel, encontrá-la está âlém da capacidade ou da função do ego, ou
então poÍque o ego está em conflito e não Pode decidir o que fazer. Tendo
percebido o impasse em que o ego se encontÍa, a pessoa busca outras dire'
tivâs pÍooedentes de algo além do ego.
A expectativâ espeÍançosâ de que há "algo" além do ego está bascada
na expeÍiência, daquele indivíduo ou da humanidade, de "algo" maior do
que o si-mesmo. Esso é a experiência do inconsciente coletivo ou do poder
no nírcl aÍquetipico, no qual esse "algo maior" é úvenciado diÍetâmente e
é sentido de modo intuitivo. "Sabe'se" então â ÍesPeito, ou Deus o "sabe"'
ou úvencia o Tao.
se
Para acolher essâ exPeÍiênciâ é pÍeciso que â pessoa esteja receptiva.
Ingressar @nscientemente num estado de expectativa esperançosa é uma
manetâ de a camada aÍquetiPica do inconsciente coletivo estar constela'
da. Este pode ser um dos significados ocultos por tnÍs da afirmação bíbli'
ca de Mateus ?'.7, "Peça e lhe será dado; procure, e encontrará; bata à
poía, e ela lhe seÍá abeÍta". Nos contos de fadas ou nos mitos, o herói
ou heroíno paÍte PaÍa uma busca difícil, com estado de esPírito espeÍan'
çoso. Crm ooÍa8em, peÍseveÍaíça e, freqiientemente, com ingenúdade
e
pureza, elc ou ela depara.se com uma situação impossíral' mas enconlÍa
uma .âiuda inesperada ou uma intervençáo mágica que âcontece nos mo'
mêntos cÍucisis.
Nossa jomada pela vida Pode seguiÍ essê pâdrão. Se üvemos com a
oonücção espeÍançosa dc que o que fazemos de nosas údas é imPortante
e imbuído de slgnificado, e se 8iÍros de acordo -
com irte8Íidade, espe'
Íança, coragem e compaixão -, então â "intervenção divina" Pode tomar
várias formrs e sigriÍicar que o scesso ao inconsciente coletivo é inrccado
pela nossa atitude cofficiente. Uma solução criativa pode surBiÍ do interioÍ
de nossrs mentes, ou pode o@ÍÍeÍ uma incÍível sincronicidade que solucio'
ne a situação, ou um sonho pode fomccer umâ oÍientaçâo' ou então a Íe9
posta pode úr durantc a mcditaçâo (todas essas, formas de "inteÍvençgo
rtivina"). Dependendo da metáfora usada nesse pÍocesso, um indivÍduo
pode úvenciar e$a "inteÍvenção diüna" dentro de um contexto religioso
ou sem qualquer referência religiosa. Quando isso o@ÍÍe, a pessoa esú
passando poÍ umâ expcriência srquetípica junto com r compreensão in'
iuitiva a soluçfo cÍirtiva, o ePiúdio sincronístico ou a experiência de
-
Deus. Normalmente ele ou ela também tem uma sensação de graça ou um
sentimento de alegria.
Alegria é a emoção que o artistâ, o teórico ou o inventor sente no

lo7
rnomento da crieçõo. A alegria acompanha qurlquer coisa que transcenda
- na qual o ego vive a experiência de algo maior do que ele póprio. Ale.
gria é uma disposição de ánimo que emeÍge sempre que algo ..novo" está
sendo criado. Sua presença está intelligada com uma maioÍ @nscientizs.
ção de nossas potenciâlidades, e s€mpÍe acompaúa uma úvência do Tao
percebido de forma intútíva. Entretanto, quando se Íeúnem testemunhos
paÍa compÍovaÍ algo cientificamente, a alegria não é r disposição qrrc pre_
valece. Em vez disso, sente.§e satisfsç5o ou grãtidÍo quando a eüdência
contribui para invalidar uma posiçõo. Isso é assim, mesmo quando essa
pesquisa pareça indicar uma ooncepção da reúdade extraordinariamente
semelhante ao conceito mÍstioo do Tao.
r
.As pesquisss sobre precognição pareccm sustcntsr posibiüdade
de (ue o tempo é eternsmento pÍes€ntt, e que o tempo lincrr é uma ilu-
são. Apesar de normalmente üvermos a vida eó no presente, a preogni.
ção implica que o presente e o futuro podem eústir simultaneamente.
Até agora a pesqúsa da telepatia não denota nenhuma diminuição de ha.
bilidade à distância, de modo que o espaço, da forma como o medimos,
é descartado como uma barreira. A clarividência e a telepatia continuam
a operaÍ, mesmo quando as pessoas são colocadas em caixas Famdty fo«*
das de úumbo, sugerindo que essss conscientizâções não dependem da
energia eletromagnética nem de nenhum outÍo meio ,.causal" de que se
tenha notÍcia. Se a matéria pode interpenetraÍ outra matéria segundo
anunciam as investiga@es de fenômenos phergeist, e se a mente pode in-
Íluenciar a nlatéÍia de acordo oom os experimentos da psicocinesia, então
parece que todas as leis usuais da fÍsica que governam a mstéria, a energia
e o tempo, não se aplicam.
O único fatoÍ consistente na percepção extÍa-sensorial e na poicoci.
nesia até agora é o elemento psicológico. O coeÍiciente de sucesso em dc.
cldnio nos testes parece ser urna função do envolvimento emocional. A
telepatia ou a clerividência espontânea envolvem pessoas entre si ou situa.
gões que lhes digam emocionalmente respeito. Fenômenos polü ergeist o\
jogadas de sorte com os dados paÍecem estaÍ íelscionados com estados
psicológicos alterados. Já que o envolúmento emocional da pessoa é o fa-
tor necessário ou o denominador comum em todos os eventos de percep.
ção extía.sensorial e de psicocinesia, todos ç incluem na câtegoria da §in.
cronicidade, na qual há uma interligação entre um epMdio ou uma situa-
ção e uma pesrca envolvida, paÍa quem ese episódio ou situaç,iío é signili-
cativo.
Cada parte da pesquisa parapsioológica ou cada novo epMdio confe.
re uma outra peça ao amplo quebra*sboça sincronístico, apesar de ser

t08
ainda um quadÍo múto incompleto, no qual a maioria das peçâs pârece
estar faltando. Faltam'nos até !3 múBen§ que o delimitam. PoÉm, o que
de falo temos em puapsicologia é significaúvo, Pois une o elemênto sub'
jetivo da rrcnte e das emoÉes ao universo físico, comprovando alguma
onexão inúsírtl ou alguma energia desconhecide em nosso interior, que
nos inteÍligâ aos outós e a episódios distântes, exeÍcÊndo influência sobre
a mâtériâ.
A física teóÍica soma'se a esse quadro científico. Quando a "inflexí-
rrcl" ciência da física, eminentemente respeitÁvel, ingressou no mundo
tóÍico da física subatômica, onde a teoria qúntica e a relatiüdade foram
comprovadas pela experimentação, os gânhadoÍes de prêmios Nobel sem'
pre descreveram uma realidade que cada vez mais sc assemelhava À idéia
-
àriental do Tao. O físico Fritjof Capra reuniu os dois conceitos fÍsica
teóÍica e misticismo oriental - em seu livro O To
Íístu. Em sua obra
da
The Roots oÍ @hcüerce, futhur Koestler descreve, junto com Capra,
o emeryir de um mundo inteirsÍnente não'material, no qual não existe
a substância como matéÍia e ondc rs coiros que normslmente vemos ou to'
câmos @nshtem em padrões de energia em eteÍno movimento e muta'
em ondas que podem
ção, onde há partículas que podem tnnsformar'se
iegredir no tempo, onde tudo é paíe dc uma dança, movendo'sc constan'
lemente, onde o espaço e o tempo são aspectos de wn ontbuttn e onde
paÍece existir um padrâo subjacente.
Minha única incursão pela fíúca, rumo a esa úsão de universo padro'
nizada, durou pouco tempo. Ao fÍeqüêntaÍ um cuÍso de física pré'médica
na Universidade dr Califórnir, durrnte um verão, fui inspirada pelos assis
tentes de ensino, estudantes graduados em física, trabalhando "sobre a co'
lina" no Licbtton (situado acima da área universitária de Berkeley)'
De certâ forma, eles haüam se sentido uÍn pouco "ligados" à descoberta
Íecente do antiPólon, procurado porque "tinha de exisfir' PoÍque o uni'
lreÍso é simétÍico". Minha imâginação foi excitada pela idéia de que o
equilíbrio peÍfeito existiâ o fato de cada PaÍtícula atômica teÍ o seu PÍlr
-
oposto complementâÍ eÍâ, Para mim, algo lindo e ateÍÍrdoÍ' Parece'me que
â 3ênsâçâo intuitivâ que eu sentiÍâ ao olhsÍ as eslrelas era, de certo modo,
paralela ao conceito de simetriâ subjoceílte à físicâ teóÍica; smbas tinhâm
r ,.r*. a peÍcePção sensorid de um universo padronizado, em moú'
mento, imbuído de signiÍicado, do qual eu fazia parte ' SeS,undo ArthuÍ
Koestler:

Desde a descobertâ da pÍimoira pôníqrla "anti", o ami'olótÍon, 03

109
Ííaicot snconúsÍsrÍt o(, pÍoduzirsm, üÍr ccut lcboratórios, lntipar.
tíclrls3 correspoÍd€nt6 a cada partr.cula coúeckJa. As cinqüenta par.
tícuhs coú€cidas hoie. oom írss cinqüenta ,,enti§,, rão iguais em
todor oi sp€ctos, exceto pelo frto de tcrem caryas elétrbes, momsn.
tor m{Íúticot " glros" e,,singul arkldes,, opoÍos.
Pela primeira vez, urna idéia, mais do que um sentimento,
me como_
rau profundamente - o conceito de um univirrc siÍrútri@. Inspirada
nessa
üsitro, eu rclicitei minha inscrição em qílculo e em engenharia
fÍsica.
Poém, logo desisti, quando a minha intuição deu de cara oom a minha
ab.
rcluta falta de jeito para esse tipo de coisa. Mas esse único vislumbre, que
era mais uma maneira de apreciar a üsão do Tao, havia permanecido
co.
migo.
Wolfgang Pauli, ao desenvolver um dos conceitos-chave
da física
moderna - o princípio Pauli de exclusão, um princÍpio de simetria
ma-
te[útica -, achava que o fenômeno parapsicotógico, incluindo as aparen.
tes coincidências, eram os traços üsíreis de um princípio subjaentà
nao.
delinoável do universo. Arthur Koestrer achava que isso fornecia
a base de
colaboração entre Pauli e Jung, na qual ..Iung usou paú, por assim
dizer,
como um tutor em física moderna". Essa colaboraçâo produziu duas pu-
bliceções. Pauli escreveu um trabalho intitulado n, úfiu*r" of Arche
tyyl ldeas on the Sctcntifrc Theories of Kepler [Á inftuência dos idéias
arqtetípicas sbre os t@rios científicas de Kepterl, um estudo a respeito
do
emergír da ci€ncia a partir do misticismo, como foí exempliÍicado por
Johannes Kepler, místi@ fundador da astronomia moderna. O trabalho
de lung intitulava.se Sinoonicidade: um princípb de anex@ ouusl.
§uas publicações em oonjunto interlig:uam simbolicamente a fÍsica
e a psí.
cologia. Essa foi a aÍirmação definitiva de Jung a respeito da sincronicida-
de, na qual ele postula gue a sincronicidade é um princÍpio tão importante
quanto r causalidade, e na qual ele inseriu esse conceito de psimlogia.
Com a noção da sincronicidade, a psicologa deu as mios à parapsioo-
loqía e à física teórica, ao perceber ..algo" subjacente semelhantá ao
çe o
místico sempre vira. o clemcnto importante que a sincronicidade acrescen-
ta é uma dimensâo de s@iÍicado pessoal que recoúece o que una pessoa
sente lntultivarnentc quando vivcncia dlretamcntc um episod.io sincronísti.
co. As tooú! e rs experiêndiar dc laboratório tornrm posíwl a idéia de
um elo subjrccnte, invisrtcl, cntÍr tudo o que há no univers. porém,
qundo csr cxpsnsío é rntila de formr intútiva, cntÍa no contcxto um
elemento eryiriruol. A psique humana pode scr o úLnico receptor no univeÍ-
so cirpaz de apreender @rÍetâmente o sentido que a tudo pcrmeia, o signi-
ficado daquilo que se denomina To ou Deur

u0
Tlere only hints end guess,
ere
Hints foiloyyd by gress; and the tÚt
ls pny*, obsrvancc, di*iplirc. tlro.rght a,rd action.
The Four Ouern*: Tlp Dry Salvaçs
T. S. Eliot

[Há apenas insinuaç{es e suposiçôes, insinua@es seguidas de


suposições; c o Íesto é oração, é obseryância, disciplina, pensamento e
ação.l

lll
o coçt'd'o
""t[
cnnto*o
6'$

o{}'o ""$'

O Tao como caminho pom »i»er em httmonia com o etemo Tao. O


cominho com o comçilo. O sentimeato iníuitivo como guio. A viagem
interior rumo oo Oriente.

O coração tem razões


Que a razão desconhece

Blaisc Pascal

Na China antiga hrúa umâ distinção etlre o Too metafísico e c§Pi'


ritual dos filósofos taoístôs, o eteÍno ou Grande Tao, e o tao do Confu-
cionisÍno, um ideel ético de equilíbrio entre o desenvolvimento de sus
sabedoria iÍterioÍ e o testemunho desa sabcdoria atuando na atiúdâde
exlerior. A metâ do desenvolvimento psicológico era "a qualidade da sabe'
doria inteÍioÍ e a qualidade da realeza extêrior".
A qualidade da sabedoria eÍa um. conqubta inteÍioÍ; a qualidade de
rcaleu en a sua evidência na vida extcÍior. O rei como sJmbolo era "me'
diador entre o céu e a Terra", "umr pcsoa virtuosa, íntegra e equíibrada".
Os dois signilicrdos do Tao e do to não estão em conflito. Complemen'
tâm-sê e reforçam-se mutuirmente, Pois Ô ,ao diz Íespeito a como uma
pessoa que viveÍlcia o elerno To pode viver a sua Úda.

ll5
Supondo que um lao subjacente r tudo interliga num dado momen.
to, os chineses consultaram o I C'ltittg em busca de oonselho sobre I atua-
Éo ou atitude apÍoprisda paÍs sêgufu o ,@.
Jd gw se chega a um determinado hexagrama do I Chittg poÍ inteÍ-
médio da diüsão de vaÍetrs ou pelo langamento de moedas, seria precíso
que a sincronicidade fosse operânte paÍa que surgisse uma coincidéncia
signiÍicativa entre a leitura do texto e a situação em si mesma. O conse-
lho enontrado .to I ChW - em grande prrte elaborado nos comentários
feitos por Confúcio e seus côlaboradores - volta.se prra o ideal de basear
a aÉo exterioÍ sobre a sabedoria inteÍior.
O Grande T@ é enlão a premissa subjacente sobre a qual funciona o
I ChuS; e a sincronicidade é a manifestação do Grande Tao. A base filoú.
fica consiste num ideal étio de existiÍ um Í@ ou um "modo de üda" em
harmonia oom o Grande Io.
Examínar os @mponentes do caráter pictórico úinês ajudaria na
comprecnsão do tao. Maí-mai Sze, autor da obra Thc Tao ofPainting, dexre-
ve o ideograma correspondente a tao - lradvido por "trilha, caminho ou
via" como sendo formado de dois elementos, ch'o e shu. Ch'o é vma
-
oonfiguração omplexa composta de "um fr esquerdo dando um pas.rc",
junto com outÍo símbolo cujo signiÍicado é "puu" . Slou signiÍica "cabe.
çs", o que sug€Íe a idéia da inseÍção do pensamento. As conotaÉes do
ideograma sugerem que há uma progessão envolúds e que essa se dá passo
a passo, incluindo parsas para que se pense antes de dar o póximo passo.
E mais ainda, sendo o ff esquerdo associado à direção yrr, implica que o
.tao é um caminho inteÍior.
Visto que o ideograma chinês que designa o Ío é a combinação de
uma cabeça e de um t', simboliza também a idéia de um rodo em que
está implÍcita a necessidade de um crescimento. Dese modo, o tao gode
ser apreciado @mo um câminho interior rumo a uma harmonia que vai
dos ffs à cabeça. E, mais ainda, o sÍmbolo de "cabeça" estava associado
ao céu, ao sol, à energia ycng:, masculina, enquanto o "fr" era associado
à terra e à ener$a yh, feminina. Portanto, esse caminho ou do tamHm
deve ser umâ integraçâo de ambas as forças -céu e Terra, mascrrlino e
feminino, ym e yang. O ideograma chinês que designr do se refere clara.
mente a um camiúo espiritual inteÍioÍ a ser seguido de modo consciente.
O Ta Eterno também implics o sentido de um csminho como modo
de vida, de caminhar pela vida com uma peÍcepção consciente de ser parte
de um universo divinamente putsante. E um modo de ser, um tao que Íe-
onhec oTu.
Ao camiúar pela úda, o qtre fica evidente paÍa os outros é a trilha

lt6
exteÍioÍ que foi tomâda. Pode'se distingür a direçâo, o paÍceiÍo e o estilo
de vida. A trilha inteÍior é muito menos evidente. Ao trilhaÍ os nosv)s
câminhos, talvez estejâmos nos âventuÍando num teÍritório novo, acenden'
do a chama que ilumina a trilha âo lonEo de nossa tÍaietóÍia; ou Podemos
nos dirigir pâra uma âutopistâ, de muito tráfego' Podemos seguiÍ a multi'
dão, empurrados e puxados Pelos outÍos ao longo do tÍajeto' ou entâo
podernos estar abrindo o nosro próprio caminho conscientemente, mesúno
entÍeâs massas, PaÍando de vez em quando para reconsideraÍ e para ouvir
o nosso tambor inteÍioÍ.
Que caminho tomâr? O que escutar? Que sinais seguir? Há tantas
diÍeÉes potencialmente oonfu§il§, tânta 41882ârra e alarido à nossa volta'
que afogam nossâ câPacidsde de permaneceÍ @nscientes do "ponto em
tlpor*;', âo úajaÍ seja Por qual trilha for que escolhamos' Talvez os
caminhos exteÍioÍes "não levem a parte alguma", sendo significativo o
fato de continuârÍnos em @ntrto oom um caminho inteÍioÍ, âo úaiaÍ-
mos poÍ qualquer uma das eslradas exteÍioÍes'
g^ fn" Teachitrgs oÍ Don Jwn, Carlos Castafieda enfocou a quest6o
de qual camiúo seguir e de @mo fattr a escolha' O conselho de Don Juan
a Castafreda foi o seguinte:

Oualquer coisa ó única Entrê milhõ6 dô csminhos. Por is§o, vocô


dove romprc tor Pro§nte que um caminho ó apenas um caminho.
Se voc6 eante que não deve sogui'lo, não deve nele permanecer sob
gualquer coÍdição. Para discernir com tal claraza, é preciso que você
tenhô uma vida disciplinada. Somente então vocô saberá que qualquer
caminho é âpoítôs um carninho, ô abEndoú'lo não implica nenhuma
ofensa, nem para voc§, íBm pâÍa os outros, se á isso quo o seu cor4ão
the diz. Porúm, $a dGci€o de continuar no c8minho ou de daixá'lo
devá sor tomada sêm medo ou ambição... olhe cada caminho bem de
pôrto e coín deliberação. Experimente'o tantâs vêzos quantas Íorem
necessár ias,

Don Juan enfatizou a necesidade de decidir qual o caminho a se

tomâÍ com todâ a consciência e aconselhou a segúr de preferência aquele


sêntido pelo coração (em vez de se guiar pelo intelecto). A neccssidade de
levar uma vida disciplinada, a fim de ter a clarcza para a escolha, é bastante
semelhante ao esforço dc que se necessita PaÍa seguÍ o Í4o.
Don Juan revelou a Castafleda a PeÍBunta-chave â seÍ feitâ ao escolher
um câminho: "Eslr umhlo tcm um @ruçfu?"' EIe continuou indicando
qrre "Todos os conbúos slb o mewto: nfu onàtzem a gte alguttu-

1t'7
fu cottinhos que attayesvrm o tmrto ou que entt@t no tttúo',. (O objeti.
vo é trilhar o caminho com o coÍação; o destino é indiferente. Don luan
paÍec€ estar descrevendo um caminho interíor scmelhante ro rrro e
estar
enfatizando mais o processo do quc a meta.) Entío, ele contraltou a con-
seqiÉncia de fazer uma escolha:

Acaso eeic csminho tem coreção? Em caso aÍirmativo, o camlnho


á bom; em caÍ, contrário, de nada servirá. Amboc os caminhos não
conduzem a parte alguma; poÉm, um deles é dotado de sentimento
e o outro. não. Um del€s deíins.se a uma viagem Íeliz; enguanto
voct o reguir. ÍormaÉ ume unídde com ele. O outro Íaró com que
vocô maldige a sua vida, Um deles o torna forte, o outÍo o enÍrque
c8.

Ssber como escolher um csminho @m o coração é aprender como


seguir a batida interior do sentime o intuittvo. A lógica pode lhe indicar
superÍicialmente aonde um caminho pode conduzir; porém, não pode jul-
gar se o seu coração estará inseÍído nele. Vale a p€na peÍscÍutar toda
e
qualquer opçâo de vida como pcnssmento racionel, mas soria errado
basear
uma escolha de vida sobre esse pensamento. É preciso inclúr o coÍsção ao
escolher o parceiro @m quem se cssaÍ, o que fazcr como trabalho de uma
vida ou sobre que princípios fundamentar a sua vida. O pensamento racio.
nal pode ser um excelente assistente ou ajudante, poÍém não pode saber
nem sentiÍ aquilo que é intangivelmente valioso nem o que, em ri{tima
instância, confere um sentido.
Ao esoolher um caminho, Don Jún adverte para a necessidade de se
estar livÍe do medo ou da ambição e aconselha a examinar cada camiúo
bem de perto e com deliberação . O Too-Te Ching também fala da possibilí
dade de se tornsÍ confuso ou de ser tolhido pela variedade de itríbutos
superflrciais:

As cinco cores cegam o olhar.


Os cinco tons ensutdecem o ouvido.
Os cinco saborer anulam o paladar.
A corrkla e a caçr €nlouquooem E mente.
As coisas preciort desencaminhsm.
Portanto, o sébio. s gtiia pelo gue snte e não peto gue vê
Ele deslste daquílo e opte por isto.

Ao se fazer opções de vida, a ambição e o medo siío forças obviamente

ll8
podeÍosas que podem influenciar ou decidir a Í$Peito de que caminho
tomar. Contudo, a advertência de Don J uen é bem acolhida, pois ambas
resultam deveras em úâgens insatisfarórias. Se §omos motivados Pela
ambição, procurando o poder ou o PÍestÍgo, sempÍe e§taremos na de'
pendência de como estaÍnos Progedindo em relação aos outros. Ês§e
caminho é umâ Pistâ de corrida na qual ultrapasamos os outÍos e, poÍ
outÍo lado, tememos que um mesmo destino estejâ à nossâ esPreitâ.
Quando as pesoas 3âo motivâdas pelo medo, escolhem um caminho que
lhes parece relativamente seguro. Selecionam uma carreira pela sêguÍ:lrlçâ
finmceirs que oferece, escolhem um esPoso ou esPosa po1 ser um bom
paÍlido, sêgundo os parâmetros da expectativa, espêÍâm evitrÍ cÍíticâs
ao não se aÍÍiscuem â "cometeÍ um erro". Quando o medo e a ambição
são decisivos, o coÍação nem s€queÍ é consultado. Findmente, como ad'
verte Don Juan, esse camiúo as levará a amaldiçoar a vida.
O I ChW tamHm fala da necessidrde de se fazer opções partindo do
coÍeção, seÍ sinceÍo consigo mesmo sob quaisquer condições. Diz o seguin'
te "Se uma pesoa for sincem quando tivo de mlrmtor difianlddes, san
omçiio podem entender o significado da situa@. E quotdo eh on*guir
domino intqiomente um goblerno, o §tcesp aampanhoó, de nuneim
natuml, as ações" (do hexagrama 29, "O abissal").
A dêlibeÍaÉo, a reflexão e a consciênciâ no decorrer da úagem por
um caminho significa parar entre os epiódios ou situâções Para considerar
e escolher o que fazer e À tÍilha a ser seguida' Se a conscientização in'
teÍvém entÍe o estímulo e a Íeaçlo, podemos prefcú escolhas conscicn'
tes, em vez de reagir de forma iNtintiva ou programada. Cada opção nos
petB,a numâ encruzilhsda, refletindo sobre qual caminho tem coraÉ'o e
qual pode estar disfarçado pela ambição e pelo medo; cssc é o que deve
sÍ eútado.
Em Canmge oAeote, Rollo Mey fala do potencial que temos para
nos criarmos atraÉs de nos§a§ oPçõês e de nosso comPÍomis§o PaÍa com
elas:

A coraçm dos ssres humanos é necessária pôra toÍnôÍ possíveis


o soÍ o o vir.a-ser. Para que o sa/í teú8 uma realidade gualquer, ó
essoncial uma assação de si mesmo, um clmpÍomi3so. Esa é a diíe
rBnça entíe os seres humanos â o Íeío da natureza. O bulbo do car'
valho toÍna-ss um carvalho por meio de seu crescimento autoíÍÉti'
co; não é necessário qualquor compromisso. O gainho torna-se um
gato do modo s8molhante, baseado no seu instinto. Em criaturas
oomo essât Natureze e Ser são idênticos. Mas um homom ou uma

l19
mulh€r Ú §o tornSÍn plensm€nto humanos pelsa ruar groolhEr e p€lo
ceu compromiso prÍs oom elat. As pescoas alcaçam o :eu valor e
:ua dignHde stÍarró3 ds vcricdde de dcisõer quo tomün todor os
d ias.

Psicologicamente, escolher um caminho oom o cora@, atingir um


sentido de plenitude fazendo opções que nos tornem mais consclentes e
plenamente humanos - tudo isso tem a veÍ @m estü em @ntato c{rm
o
aÍquétipo e com o &{f. Nossas a@es prordm entío do fluir com o Tro
- noss&s opções são então bas€adas no amoÍ e na fé de que o amor é a
melhor bússola interior.
De uma maneira ou outÍa, num dado momento, pÍaticsmente todos
já üvenciaram o §e{f, sabendo intütiwmente que o arrxrÍ e a sabedoú
existem. É mais freqiiente que isso tenha oorrido n8 nossa infiincia,
quando somos múto mais abertos e confiantes. porúm, o .§cf é vivencir.
do de vez em guendo no deorrer da úda. O problema nÍo é .tncontÍá.
lo" algum dia. A diÍiculdade consiste em manteÍ-se ónscio do seÍl,
assim gue ele foi vivenciado.
O liwo de Hermann Hcsse intitulado Wan @ futte ftlr- lrlbrc
um homem que c€rta. vez üajou com um grupo _ ao qual se refere omo
-
a Liga numa viagem única e maravílhosa: /tíoss meta ú erz opew$ o
Orbnte, ou meüor, o Oriente niio az qaus um pís ou a$o
S";grdfr*,
e sim o b e a iuventude da almt; estova em todos os fugoes e em nenlun
ütgw, em a unifu de tofus os éput A peregrinaçdo rumo ao Oriente era
ao mesmo tempo a av€ntura particulaÍ do narrador e um moümento atra.
r,és da históú dos crentes e dos discípulos, una @ÍÍonte de seres
humrnos
seguindo os etefi@s ansebs fu egírito hntnoo runo o Oriente, rurro ú,
Lo. O nanadoc perde então contato com §€us companheiros e abandona a
peregrinação. Vivendo uma vida vazia e sem sentido, ele hrvia perdido o
cáminho e julgqyl que a Liga não mais eústia, porquc ele já nÍo tinha no-
tÍcias, guando na realidede havia continuado e continuaÍir por todos os
tempos. A Viagem ao Ortentc, que talvez seja autobiognífica, é uma ando
gia pessoal paÍa um grande número de pessoas que em algum rnomento
confiaram,ns pópú intúção, soúeram da existência de um caminho
com o coração, estiycÍsm ligados ao Tao e, mais tarde, cínicos e racionais,
pÍoclamaram que "Deus está morto", quando o que estaw moío era o
espírito em seu interior.
Poém, reencontrar a "Liga" outrora perdida, Íetomü ro cminho
com.o cora-ção ou readquirir acesso ao inoonsciente ooletivo o ao arquéti.
po do §c/1f ú é posrtel quendo é valorizado e procurado. O cam'iúo

120
de volta passâ poÍ várias sendas. Uma delas é recordar aquilo que já foi
úúdo anteÍioÍmeÍlte, é permâneceÍ um momento embalado poÍ essa
lembrança, aferrando-se aos detalhes e à memória. Essc caminho é uma
forma de meditação. Fode.se voltar então à exPeriência do Tao, do §ef
ou de Deus seja qual for o concrito pessoal
- -, ÍePetidâmente, como
uma experiênciâ inteÍioÍ. Pode não seÍ tão emocionante ou profundo
como o episódio místico original esPontâneo em si, PoÍém a lembrança
é imbuída de sentimeflto e de calor interior e nos traz à memória nossos
valoÍes espirituais. A meditâção, a recordaçâo de memória de uma viv€n'
cia mística ou a oÍação já sâo, por si mesmas, psicolo$camente nutÍitivas,
fomecendo um meio de renovar e de reafirmar algo inteÍioÍ a que darnos
valor.
Podemos buscar tamMm uma religaçâo e uma Íenovação da experiên'
cia do Tao voltândo aos lugaÍes ou às situaçóes em que isso tenha proba'
bilidade de oconer. Pua alguns, a úsitâ a umâ catedral ou a uma capela,
gaÊ Íeu , pode proporcionar uÍn ac€sso. outros, talvez precisem reservar
-
um tempo paÍa PênetÍü na natuÍezâ escalando montanhas, acampando
na vastidão selvagem, PeÍambúando Pela PÍaia ou sentando'se na floresta.
-
Outro acesso é âtÍst és de uma atividade solitária e cÍiativa PintaÍ, escÍe'
ver poesias ou tocü flauta ajuda algumas pessoas a se reooflectâÍem a
uma fonte espiritual. EscutâÍ músicâ pode ser mais um caminho; há melo'
dias que nos @movÊm profundamente, que nos dão uma "nova alma",
Todos esses crminhos exfem que cmPÍeguemos um ceÍto tenp 6N
pÍogamâçâo de horários inexoráveis de Íotinâs enfadonhas que preenchem
a nosa úda e nos dcixam intêúoÍmente vazios. Seguir o cÀminho interioÍ
do Tao exige que paremos para PenG e pan efetuar uma Íenovação espi'
ritual, ao úajarmos atraús da úda. A renovaçãGesptitual, a nutÍiçâo qmo'
cional, o a@sso a umâ fonte interior, a sensâç6o de ser uno @m a natuÍeza
ou estaÍ em @ntato com o Tao oooÍÍem duÍante pêríodos em que nossa
sensâção de tempo se altera em relação à nossa mentalidade usual de vigi'
lância ao relógio. Temos uma só palavra para designar o tempo; os greS,os
tiúâm duâs palavras, cada uma descrevendo a diferença na üvência e na
qualidade do tempo. lJm erc lçorÚ.s, o lemPo como noÍmalmeÍlte "o
obr"rr"rot", o temPo medido so passar. É a nossa üda progamada,
quando devemos chegar ao trabalho, quando ocorrem os nossos encontÍos
marcados, o tempo pelo qual temos de responder: o Tempo'Pai. O segun'
do, lairos, eÍa múto difeÍente. Mais do que um temPo medido,é Wtici
^
paç:oo no tempo; o temPo que nos envolve de tal maneira que o perdemos
de vista; o temPo atemporal, os momentos em que o relógio pára; um
tempo que nutÍe, que Íenovâ, que é mais maternal. O tempo fraios ocorre

t2t
quando estrmos Íelaxados, de papo parr o aÍ, ao sol, quando o tempo pa-
rece ter.sc ampliado amoldando-se às nossas necessidrdes. Ele ocorre quando
estamos totalmente concentrados naquilo que estamos fazendo. Acompa-
úa sempre momentos de signiÍicado emocional ou espiritual o tempo-
em que nos s€ntimos "unosom" mais do que separados do &I/, do Tao,
do amor que nos interliga aos outÍos.
, Eústem oportunidades para voltar r teÍ @ntato om as prioridades
interiores, para voltar a experimentaÍ um momento de atemporúdade no
tempo - como convites ao retoÍno. Os soúos e os epiúdios sincronísti.
cos enviam menssgens repetidas a Íim de que as recebamos. S€melhante à
metáfora cristã sobÍe o pastoÍ à procura de suas oralhas perdidas, o aspec.
to ínterior intuitivo, sentimental e espiritual, decepado da psique, continua
à procura de uma reonciliação. O caminho interior chama; r decMo de
segú.lo depende de nós.
Prestando rtençâo aos sonhos e aos eventos sincronísticos, percebe.
mos outÍo modo de alcançar os nosÍrs proÉsitos. Atendendo a eles ou
não, os soúos e os eventos sincronísticos continuam a ocorrer; se decidi.
mos não pÍ€staÍ.lhes atenção nem tentar recordáJos, passam desperceb!
dos. Como aÍ-rrma o Talmud: "Um onho nõo exan udo é como wtu car-
I
ta qre ,rfu dbriu". Cada soúo, cada epiúdio sincronístico é um convite
à intÍospec{ão.
Se algúm está üajando por um crminho que vai de encontro aos seus
valores interiores e, no decorrer desse processo, está mudando parar pior,
é provável que os sonhos sejam negativos, muitâs vezes cheíos de Íiguras
desagradáveis ou hostis qrrc niío estão sendo confrontados. A sincronici.
dade "ncgativa" descreve um amontoado de eventos sincronísticos que
obstruem, impedem ou frustram aquilo que se está tentando.
De modo inverso, quando uma pessos está soguindo um camiúo com
o coÍação, seus sonhos a alimentam, são inteÍessantes e agadáveis e, com
freqiÉncia, conferem uma sênsação de bem.estar. Sincronisticamente, é
como se oportunidades se abrissem de modo fortuito; as pessoas que de-
veríamos sncontrsÍ cÍuzam poÍ ecallo o nosso camiúo, um fluxo de faci[.
dades acompanhr o nosso trabalho. Scm haver sido buscado, cada evento
é íacilitado, começa a dar a sensação de ser abençoado, cada qual serve
como urnâ lantema ao longo do caminho, iluminando a senda do coragão.
Para viajar poÍ e$te caminho com o corsção, a pessoa deverá posúr
um mundo interior cujo ego esteja saciodo de uma abundáncia espiritual
proveniente de seu elo com o .§ell. Há generosidadc c liberação do medo
no interioÍ da psique e no mundo. As pessors cÍu:zam o nosso caminho e
os eventos s€ desdobram em sincronicídade, faci[tando em vez de obstruir,

122
o Íumo que tomamos. Â sensâção de plenitude e de fluência domina o
senlido do tempo; paÍece haver tempo suficieÍte pua fazfÍ tudo âquilo
que é a Íazão dc estarmos aqui; até os cstacionamentos se mâteriâ.lizâm
com sincronicidade.
Se "realmente estiveÍmos bem po§cionados" inteÍiormente, é como se
estivéssemos "zunindo pelo mundo afora" -
uma descriç5o comum e pró-
priâ desse estado. É inteÍe$ânte notaÍ que a palawa annindo (ou zumbin-
do, a§m @íno h.ming, em inglês) é úeia de übrações, cnmo bm-indo',
semelhante ao sÂnscrito Om moi pdme htm, Possivelmente o mantÍa
mais difundido no mundo orientâI. (Mantra é um som ou uma frase musi-
cal repetida sêrn cessaÍ, com o propósito de sintonizar a pessoa com d'e-
terminada harmonia do universo.) EntÍo, quando "zunimoe pela vida afo-
ra", é como sc estivéssemos @nsciente3 de estar interligados ao padrâo
subjacente da unidade do universo. É como sc fôsscmos parte de uma dan-
çâ cósmicâ a girar em volts do ponto em tepou3o, ouvindo o tênue lintilâÍ
de tonalidadc musical ao sndrÍmos - afinados com o Tao.

123
{»o'
op

§
ir

A upeiêncb dg Tao, A proÍuntb con§iência de sermos Wte de


algo maito ,tuiot do quc nôs meenos" O relno de Dans" O fazcdor de chu'
yos c o retono ao Tao. A lendo do Groal. O Too cono conaão ente nôs
e o universo.

Em algum momento de nossas ú.1.s, quase todos vivencirmos uÍna


experÉncia do Tao. Pode ter ocorrido no cume de uma montanha, aPÍêen-
dida como uma sensaçâo mágico de sêr uno com o uoivcrso. Fode ter acon.
recido de manhã cedo numa cozinha, ao sc fundirem o aPosênto e o @Í4.
ção numa calidez indescritírcl de luz radiante. Ou pode teÍ acontecido
na extensâo deserta de uma praia, após havermos encontrado as Értebras
de un peixe talhadas exatamente omo urna borboleta uma oferenda
-
simbólica do mar que apÀrece no momento em que a imagem da borbole.
ta já foÍa imbuída de um signilicado pessoa.l decorrente de sonhos ou da
contemplat'o; é aceila então como um epi§ódio sincÍonííico, imediâta-
mente a@mpanhado de um fluxo interior de alegia e de amor.
A experiênch do Tao nos confere uma profunda consciênciâ de sêÍ-
mos paÍe de algo múto maior do que nós mesmos, de sermos incluídos,
amados e de estarmos tocando uma reúdade etema invisível. No momen-
to atemporal em que o Tao é scntido, sabemos que isso é mais siSnificâtivo
do que o mundo tangírrcl que nos rodeia e múto mais sugestivo do que as

127
nossas prcocupâções corriqueiras do dia-a.dia. Nesse momento, tudo e
todos parecem interligados sincronisticamente, unidos por uma expresà'o
espirítual subjacente.
O que se sabe intútivamente atÍavés da experiência do Tao é que
não somos criaturas solitárias, isoladas, insigniÍicsntes e sem sêntido,
evoluindo poÍ acâso a psrtiÍ do lixo orgánico, num ponto minúsculo
deátro da ampüdão do cosmo. Em vez disso, a experiéncia do Tao nos
confere o diÍeito de ssber que estamos inteÍligados a todos os outros e
ao universo por aquilo que é a base de tudo e que denominamos Dans.
Os eventos sincronísticos são vislumbres do interior dessa unidade sub-
jacrnte cujo signiÍicado é transmitido por uma coincidência mágica. O
elo inúsível nos impulsiona e o evento sincronístico nos diz que não
e§tamos Ú§.
Ao final de uma confeÉncia que proferi c,eft?- vez a respeito da
sincronicidade, um membro da audiência dirigiu-se a mim peÍa ÍelatsÍ
um eyEnto sincronístic,o em que ele havia sentido essÊ tipo de ligrção.
O fato ocorreu durante a II Guerra Mundial; ele era então um jovem
nego piloto combrtente, em tÍeinrmento temporário nuÍna distante base
da Força Aérea no extÍemo sul. Era época de Natal e ele se sentia solitário
e isolado, com saudades do calor e das comemorações festivrs com su!
famflia, no sul da Califórnia. Pela primeira vez em sua úda, ele üvenciou
a intensa animosidade paÍs com os combatentes negros, quando iam à
cidade. Iso o transformou virtuâlmente num prisioneiro, conÍinado à
base. CeÉa noite ele palscsw â esmo, sentindo.se mais miseÉvel e solitá.
rio do que nunca em sua úda, quando de Íepente ouviu um canto na
capela -
era um coÍo de Natal ensaiando. Ao entrar na capela, sentou.se
num dos bancos de tÍás, I ouür os cántícos familiares. Então oomeçou
a p€ns.:rÍ em seu avô, um homem podeÍoso, afetuoso e pÍotetor, um diá.
cono-chefe batista que adorava cantar e que muitas vezes haüa levado o
s€u neto, relutante, junto com ele à igreja. O hino preferido de seu avô
lhe veio fluindo à memória - não era um cântico de Natal e intitul8va-se
"I Come to the Garden Alone" I Veúo sozinho ao jardim l.
Seu depoimento foi o s€guinte: "Eu estava sentindo imensa saudade
dele e, redmente, gostsris de ouvir essa canção; ontõo, poÍ algum motivo,
eu sube que o ooral iria cantáJa - e güecr que naguele pÍeciso instante
eles começaram: Venlo szinlo o iodim, enqunto o onalla oinfu
Wbt sbre as Íbtes, e Eb caminlu omigo, e Ele me fala, e Ele me dE
que an pertenp a Eb. IJ,grimas me brotaram aos boÍbotões e spnti uma
imensa alegria, na maior paz de espírito de minha vida". O epiúdio sin-
cronístico trouxe-lhe uma sensação imediata de carinho, de já não estaÍ

128
mais sozinho. Ele sentiu aquela unidade que é tão difícil de expÍe§saÍ em
palawas e que, no entanto, é tão sbsolutamente @nvincente.
Uma coincidência mbteÍiosâ e sr4p§tiva parece conduzir'nos a utna
peÍcepção de um princípio integÍadoÍ subjacente, na medida em que os
eventos sincÍonísticos e\Íocfln uma reúdade esPiritual apreendida de
modo intúüva. Ao contÍáÍio, loÍnaÍ'se centralizado $PiÍitualmente,
estâr em @ntato com o Tao, associa'se à ocorr€ncia de epMdios sinoo'
nísticos positivos. Estar em contato com o Tao parece impelir um Íluxo
fácil de episódios exteÍioÍes oÍtoés da sfuoonicillade. Esta é a mensa'
gem dos ensinamentos religiosos, tarto no Oriente como no Ocidente:
procure primeiro os valores espirituris; sêja o que for neces$rio, virá
então â seguÍ de modo Pa$vel.
Em seu ministério, Jesus PÍonunciou um serínão sobre ô reino de
Deus, exortando âs pessoa§ a buscarem essc mais alto valor, pois está
foi inteÍPretado como
ao alcance; é possível atingiJo. O reino de Deus
uma metáfora paÍa expÍes$Í a posibilidade de uma experiência diÍetâ
de um Deus que ama, eterno. Nos ensinamentos de Jesus sobre "as aves
do céu' e sobre os "lírios no câmPo", PaÍece'me que ele está dizendo que
a sincronicidade proúdenciará os meios mateÍiais, se primeiro se ProcuÍaÍ
o Reino de Deus.
Olhai as aves do cóu: não camôiam, Írcm colhêm, nem aiumam em
coleiror. E, m entamo, vorco Pai col€íê I alimentâ. Ora, não valois
vós mair do que claeT Ouem dentre vôt com ae sras preocupaçõet
pode pmlongar, poÍ pouGo gue cefa, a dur4ão de $a vida? E com a
roupa, poÍ quo andaic preoorpdor? Apro€ndel dos lírio3 do câmpo,
oomo cÍoscom, o não trSalhem nem íiam. E, m entanto, eu vos
asssguÍo qua Írem Salomão, em todo o seu ospleíÉor, sê vôstiu como
um deloi Orr, o Deur yegte assim a erva do campo, que Existê hoio ê
amanht rcrá laçda o form, não íará ele muito mais por vót ho-
menl írpc na fó? For isso, não andeis procupados, d izendo: Oue
irsmor comer? Ou, quo ircmos bebor? Ou, que iremor vestlr? Dâ íôto,
sb or çntios gue síão à proorra do tudo ier; o vosso Pôi cêleste
3So quo toÍrdos nqgcsirde de todss eltar coisas Buxal, em primei'
m luger, o Reino de Deus e a ua just$a s todas a§tâs dEi§,,s vos
§f]rão acre*entadas

(Mat6us, 626-33)

Para a mente oriental a expÍessão, "relornar ao Tao" está imbuída de


um significado emelhante e "encontraÍo rêino de Deus". Richard lVilhelrn,

t29
que residiu na China, contou a Jung a história do fazedor de chuvas de
Kiao Chan; essa história é uma maravilhosa parábola gcicológica sobre a
sincronicidade e sua afinidade com o Tao.

Houve uma grande seca. Durante meses não caíra uma gota de
chuva e a situação torfttvlt.s€ cataÍÉÍica. Os católicos fsziam procis.
sõet os pÍot6tantês oraram e Os óinesgs queimavam varetss de in.
cenro e disparavam cenh{lo para efugentar os demônios da seca,
porém sem ÍEnhum rsírltado. Finalmente, os úineses disseram:
"Buscaremos o Íazedor de cfiuvas". E apareceu um velhinho magér-
rimo, víndo de um8 outrs província. A úníca coisa que pediu foi uma
p€quena casa trenqüils em elgum lugar, onde re tÍancou durente tÍ6s
dias. No quarto dia, formarEm-se nuvens e houve uma grande tempes.
tade de neve, numa época do ano em que a n€ve era inesperada e em
quantidde inu§itada. A cidade Íervilhava tanto de oomentáÍios a
rep€ito do maravilhorc fazedor de druvas que R ichard Wilhelm foi
perguntar ao homem como ele a havia realizado. lndagou de modo
tipicamente europeu: "Chamam-no de fazedor de úuvas; @eria
me dizer como causou 8 n€vo?". Ao que o pequeno ch inês respondeu :
"Eu não fiz a neve, nfo sou o responsável". "Mas o que você íez du.
rante essas trÊs dias?". "Ah, isso eu polp explicar. Venho de um
outro país onde as co isss €stão €m oÍdem. Aqui as coisas estão em de.
sordem; não são como devem, de acordo com a disposhão do cóu.
Por isso, todo o país nõo está no Tao, e eu também não estou inserllo
na ordem natural dessas coisas, porque mg encontro num país em
desordem. Tive Então que ssperar três dias até estar novamente no
Tao; então, natunlmente, a chuva caiu".

Carl Gustav Jung,


My ster iu m Con iu nction is, pp. 4 1 9-20

O fazedor de chuvas descreveu o paÍs atormentado pela seca. ao qual


havia üajado, como um país em denrdem, atribuindo a seca e o sofrimen.
to ao fato de não estar inserido no Tao. Para mim, "uver num paÍs enr de.
soÍdem" significa psicologicamente que o ego vivencia a si rnesnro num
estado em que há uma falta de ordem subjacente. Em tal situação, há
ansíedade e medo da caréncia emocional ou material. A sensação de quc
agora não há o suficiente paÍa repartiÍ, e que no futuro haverá ainda me.
nos, é a "mentalidade de seca" que suÍge como conseqúêncra. Todos se
tornam, então, competidoÍes em potencial numa selva psicológica despro.

t30
úda de leis, cheia de predadores, cada qual "à procura do número 1".
Ao chegar a csse país desordenado, o fazedor de chuvas ÍetiÍou.sê
em sua pequeÍa casa sossegada, tÍancou-se nela duÍante tÍês dias, esPe'
rando "até estar de novo no Tao; então, natuÍalmente, a chuva caiu".
Psicologicamente, estar de novo no Tao é úveÍ mais uma vez â experiência
de seÍ p8Íte into$ante da unidade que está subiacente, nutrindo todas as
coisas; é conectírÍ-se de novo com o que Jung chama de §ef, é sentÍ a
abundáncia do amor disponínel, tanto paÍa dar como para receber. Estar
noyamente no Tao é outro modo de dizer: "Sinto-me centrado de novo,
em @ntato com a sensa$o de que a vida tem um sentido". Estar nova'
mente no Tao significa que "posso viver de modo otimista, confiando
que haverá quantidade suficiente de tudo o que for necessário". "Entiio,
nâturalmente, a chuva caiu", é a promessa do princípio de sincronicidade
do fazedor de chuvas. Se o mundo interior se refletiu no mundo exterior
através da sincronicidade, então o ÍetoÍno interior ao Tao resultaÍá, evi'
dentemente, dê um relorno da chuva, @mo uma ÍestauÍação da ordem
natural.
A paúbola do fazedor de chuvas paÍticiPa uma semelhança simbólicâ
com a lenda do Graal. Mais uma vez, há um país devastado, um país asso'
lado, onde o gado não se ÍeProduz, as crianças sâo órÍãs, as donzelas cho-
Íam e todos estão de luto. Desta vez os problemas do PaÍs estão Íelacio.
nados com o rei pescador que está ferido, cujo sofrimento é incessante,
pois sua chaga não se cura. O Graal está no seu próprio caslelo, mi§ o Íei
não pode tocáio nem ser por ele curado até que, segundo a PÍofecia, um
jovem inocente chegue à corte e faça â seS,uinte peÍ8unta: "A quem serve
o Graal?". O Graal era o lendário cálice da comunhâo usado por Jesus
na Última Ceia, símbolo do Cristo ou do Setl (Cristo e Self , ambos des-
crevem algo além do ego humano, algo diúno, espiritual, reconciliador,
algo que dá um senrido).
Se o goveÍnante do país - o ego - Pude§§ê s€Í tocado Pelo Graa.l
e se expeÍimentasse â espiritualidade do Sef ou do CÍisto interioÍ, isso
teÍia o podeÍ de curáJo. De modo sincronÍstico, quando sua ferida se
cuÍasse, o país se Íestâbeleccria. A alegia e o cÍescimento retomariam.
A ferida pode simbolizar a situÀção do ego sendo cindido do Self, en
que a sepaÍâção é umâ chaga que nunca fecha, molivo de dor contínua
na forma de ansiedade e de depressão PeÍsistentes e cÍônicas.
A ferida do rei pescador é o problema PsicolóBico dos tempos modeÍ'
nos. Numa sociedade competitivâ e materialista - em que existe o cinis'
mo em relação aos valores esPirituais, em que se declarou a morte de
Deus, em que os pensmentos cienlÍfico e psicológico não dão imPoÍ'

l3t
táncia ao reino espíritual -, os indivíduos sentem.s€ isolados e insigni.
Íicantes. A procura da intimidade sexual como cura do isolamento ou a
procura da agressividade como solução para o sentimento de insignificán-
cia não cura a doençe. Quando o ego é impedido de üvenciar o sell - ou,
em outÍas palawas, quando a um indivíduo falta a sensação interior de
estar interligado a Deus e de ser parte do Tao -, eúste então uma ferida
que a pessoa scnte @mo uma insegunnça corrosiva, penetrante e persis.
tente. Todos os tipos de manobras defensivas, desde fumar até acumular
poder, são esforços insatisfatórios psÍa sentfu.se melhor. Os sentimentos
de caÉncia e dc desnutrição emocional e espiritual - que são paíe da
mesma chaga - parecem scr o ombustírrel que alimenta o narcisismo dos
tempos modernos. A pessoa essim ferida busca a noüdade, a excitaç5o,
o poder ou o prestÍgio @mo compensrção da falta de alegria ou de paz
inteÍioÍ. A raiva cronica e a depressõo paÍecem ocultar-se um pouco
abaixo da superfície da pasoru, isto é, da face apresentada ao mundo.
Essa é mEis uma conseq(Éncia de ferida, do fato de o ego estrr sepando
do Self. Esa ferida afeta a capacidade tanto de dar como de receber amor.
Emocionalmente, a csrencia prewlece sobre a abundância e, dessc modo, a
generosidade, a compaíxão, a doação de esperrnça e de ajuda estão @n-
traídas, sufocsndo a alegria e o cÍescimento.
Em seu poema The Wastebtd -em qu€ um dos temas principais é a
lenda do Graal -T. S. Eliot descreve a desolação e a nudez emocional do
rcino do rei pcscador. O pocma descreve un ptís espiÍiturlmcnte vrzio,
onde se úve num estado de pcrfftua seca sem rcntimento e sem rrnor
-
-, à espera da chuva que nunca chegr, e incapaz de escapar do isolamento
emocional e da atiüdade desproüda de sentido que a tudo permeia.
Para restaurar a vida à teÍra deserts, seú preciso curar a ferida do rei
pescador. O reí pode ser equacionado como o princípio psicológico goner-
-
nante da psique aquilo que o ego utiliza paÍa determinaÍ vdores e pora
fazer opções. Para úrios indivÍduos e, @rtamente, para a no*sa cultura
oomo tun todo, o racionalismo ou o pensrmento cientíÍico é o princípio
dominante. Na lenda do Graal, este estí separado do veiculo de comunhío
espiritual úravés do qual se daria r curr e pelo qual a útalidade voltaria a
fluir. A ferida quc nío cura é resultante da cisão de uma conexão cruciel
para o bem+star. O Íei afastado do Graal é o ego racionalista afastado da
espiritualidsde, pcnsando em separado do sentimento intútivo, o 'tipo
A" propenso I ataques cardíacos, a personalidade linear afastada de tudo
o que é não-racional e qúe confere um sentido.
O rei não pode ser tocado ou curado pelo Graal até que um jovem
-
inocente às vezes descrito como um jovem ingênuo entre em cenr.
-
t32
Do ponto de vista do princípio Eovernânte - tÍata'se aqui do pensemento
racionol -, a ferida continuará incessantemente abena e sem cuÍs âté que
um elcmcnto novo entÍe na situâçiio psicológica. Pode ser que somente o
elcmcnto jovem, singelo e inocente dentro da psiquc - que de uma PeÍsPec'
tivâ do pensâmento mundano seria considerado bobo -, possa ÚvenciâÍ
a maravilha e a magia do Graal como simbolo de Cristo e formular per'
guntas sobre o significado que conduz então à restauração de um elo entre
o ego e o §ef. Então, a paisagem inteÍioÍ, que fora uma teÍÍâ assolada ou
um deserto árido, pode floresctr de novo, na medida em que a emoção e a
espiÍiturlidade, os elementos iÍÍacionais inteÍli88dos à camada simbólica
do incon3ciente, 8e inseÍem na personalidade'
Ao considerar como todas as inÚmeras parábolas, metáforas, ensina'
mcntos espfuituâis e vidumbres psicológicos anotados neste livÍo Podem
se complementrr, obteúo â concePção imPÍessionistâ e subjetivr que
exporei a seguir. Parece-me que a visão cÍistâ do reino de Deus, a üsão
oriental do Tao, a idéia do ,Se{f e da sincronicidade de Jung, a mane.ira
intútiva que o hemisfério à direita percebe a totúdade, contendo os
opostos que enc€ÍÍâ, o teslemunho parapsicológico ôa consciência sepa-
rada da mente e do corpo, e a nova realidade como es§a é enfocada pela
física qúntica são todâs pâÍte de "algo" inefárel, inúsívtl, que dá um
sentido. Cada qual é um vislumbre enfocado â pârtiÍ de um diferente
ponto de observação - cada um de nós dá uma impressão diversa, que é
verdadeira sem seÍ completa. Semelhante aos seis c€gos que taleaÍam
o elefante paÍa en@ntÍâÍ a realidade, nós só captamos uma paÍe de
cada vez. Esse conto, proveniente da Índia, relata que o primeiro cego
tateou o lado do elefante e disse que ele era uma parede' O segundo
taleou a ponta de sua pÍesa e ficou convencido de que um elefante se
assêmelhava a uma espada. O terceiro, ao tateaÍ a tromba a se @ntoÍceÍ,
proclamou que o elefante era semelhante a uma cobra. O quarto envolveu
a peÍna com os seus braços e afirmou que o elefante se parecia @m umâ
árvore. O quinto, âo tocarlhe a orelha, declarou que o elefante eÍa múto
parecido com um leque, enquanto o sexto, ao agaÍÍâÍ o seu rabo, disse que
o elefante eüdentemente se parecia @m uma corda. Todos sê PuseÍam
então a discutiÍ sobre quem tinha Íazão. Enquanto cada um havia captado
uma parte, todos haviam deixado escâPaÍ o todo.
Ou talvez sejamos semelhantes aos homens acorrentados na caverna
de Platão, incapazes de ver o lado de fora, percebendo âPenâs âli sombras
fugazes desenhadas contra a parede, inventando teorias e certezas sobre o
que haveria fora da caverna. Nunca podemos câPtaÍ plenamcnte o que é
ilimitado, infinito e eteÍno. No entânto, aquele pequeno vislumbre de

133
compreensiio ou intuiçâo apÍeendida _ da rcalidode do Tao, ou de Deus,
ou do §ell, em qualquer uma de suas Íormas _ é psicologicamente central
à experiência humana. Nutre o nosso espíÍito, cura a nossa sensação de se-
paraç5o e isolamento e reconstitui a nossa alma.
Num dos episódios de Star Trek [Jornada nas Estrelasl, um seÍ pÍo.
veniente de outro mundo, cuja forma era a da energia consciente não en.
volvida pela matéria, precisava comandar os controles da nave espacial
Entupi*. PaÍa tanto, ele precisava pedir um corpo emprestsdo e, com a
autorização de Spock, p€netrou em seu corpo, experímentando.o corno o
faria com um teÍno. Suas primeiras palawas de surpresa e de dor foram
"Como é solitírio!", ao experimentaÍ a separatividade, que também é
parte da vivência humana. O mais profundo significado da sincronicida-
de reside em sua demonstração de certos aspectos do inconsciente coletivo,
que se comporta como se fosse uno, e niio dividido em vários indivíduos,
animais e meio smbiente. No momento sincronÍstico, o ..eu" separado já
não sente "Como é solitário"; em vez disso, a pessoa vivencia diÍetamente
uma sensação de unicidade. Isso é o que é tão profundamente comovente
nas experiéncías de sin cronicidade; por isrc é que eses eventos são, com
freqüência, percebidos como experiências numinosas, religiosas ou espiÍi-
tuais. Quando percebemos a sincronicidade, sentimo.nos como parte de
uma matriz cósmica, como participantes no Too. A sincronicidade nos
proporciona um úslumbre do interior da realidade _ de que há de fato
um elo entre todos nós, entre nós e todos os seres úvos. entÍe nós e o
universo.

134
BTBLTOGRAFIA

Ohw Cotnphw de Jung fonm cxtraí'


Todas rs ÉfcrÉncirs fcitrs à§
fu &, Cdtatat Work ol C. G. tung, orp. Sir Herücrt Rced' Mictocl
Fordhrm e Gcrhrrd Àder, tndu$o dê R' F. C' Ilull' Bollfucn Scrics
)O(, puhlicado pdt hincÊto Uoiverd$ of hcrs, Nova tcr*y. O cditor
exccutivo é Willirm MccuiÉ.

Capítulo I : O çc é o Teo - O çc é e dmçe


,laam, ttlictraei, hrandqing in Eden: Tbe Ways to the Ea§ Withh Us'
Nova York: Knopt,l976.
Blyth, R. H. IIaílctL Yol. l: fustem Aiwe' Japão: Hokuseido, 1949,
CepÍâ, Fritjof. The Tao of friysics, Boulder, Colorado: Shambala, 1976;
Nova York: Bantam Books, 1977.
Eliot, T. S. Four Qustets: Bumt Norton ' Nova York: Harcourt Brace
Jovanoúch, t943.
Frank, Frederik . The Zen of Se:lrrg: SeeinglDllwing as Medltatbn Nova
York: Random House, 1973.
Galin, Daúrt. "Implications for Psychiatry of l*ft and Right Cerebral
Specialization';' Archives ol Gatral Psychbtry 3I (outubro de
1914):572-582.
Jung, C. ô. 'Pr.fi.io a fust Asta Thtnks Othewisc, de Lily Abegg" em
-Collected
Works de Jung, vol. l8 (1976)' p' ó55'

135
lao Tsu. Tao-Tc Kittg, One. TrtdvçÃo de Gia-Fu Fcng e Jano Engliú
Nova York: Random Í(ou*,, 1972.
Sze, Mai-Mai. The Tao of Painting. Vol. l: Bollingen Series 49. Nova york
Pantheon Books, 1956, cap. l: ..On Tao and thc Tao".

Capítulo 2: Jung, r rincronicid& e o sctf


-> Bolen, Jean Shinoda. "Synchronicity, Jung's View". Em Intenutbml
Encycbpedb of Psychiatry, Psyctoarulysts and Neuobgt. Nova
York: Van Nostrand Reíúold, 197 7 . Yol. II, pp. 67 -7 A.
--+ Frey.Wehrlin, C. T. "Reflection
of C. G. Jung's Concept of Synchronici.
ty".tounul of Árutyticol Psyct@bgr, t976,2I (l),3749.
The I dtittg, or Book of C'lwges. Trad. de Richard Wílhelm e Cary F.
Baynes. Prefaciado por C. G. Iung. Bollingen Series 19. princeton,
Nova Jersey: Princeton UniveÍsity Press, 1950.
Jung. C. C. "In Memoriam, For Richard Wilhelm-. @üectd Works.
vol. ls (1930), 9p. 53-62.
-> Jung, C. G. "On Synchronicity: An Acausal Connecting princíple".
@llected Works.Yol. S (1952), pp.4t7-519.
Jung. C. G. "Prefácio", I Ching, or Book of Ch,ange;.. Trad. de Richard
Wilhelm e Cary F. Baynes. Bollingen &ries 19. hinceton, N.J.: hin-
c€ton UniveÍsity Press, 1950, pp. XIX. XXXX.
Jung, C. G. Letters. Sclecionadas e org. por G. Adler em colaboração
com Aniela Jaffé. Vol. I (1906.1950), p. 395.
Jung, C. G. Metturies, Dreorc ard Relleabns. Nova york: pantheon
Books. 1961. Crp. VI, "Confrontations with the Unconscious".
Jung, C. G. Prefácio e comentário a The Secret of the Golden Fbwq: Á
Chinese Book of Life,|aad. de Richard lVilhelm. Nova york: Harcourt
Brace Jovanovich, 1931.
Jung, C. G. "The Archetypes and the Collective Unconscious',. Coltead
Works, vol. 9, parte I:
..Archetypcs
of the Collective Unconscious',
( 1934), pp. 3.41 ; "The Concepi of úe C,ollective Unconscious',
(1936), pp. 42-53; "Concerning Mandala Symbolism" (1950), pp.
355-384.

3:A obordagem dr sincrqúci&d. por Agrtte Chrbtic


Capíúulo
Dieckamnn, Hans. "The Constellation of the Countertransference in
Relation to the PÍesentation of Archetypal Dreams: Research Methods
and Results". Edição de Gerhard Adlet,success and Fatture in Arulysis.
Nova York: Putman's, 1974. (Este artigo contém informagão sobre
Percepção Extra.sensorial (PES) e Sincronicidade na aÍuílis€)

r36
Jung, C. G. Memoies, Dreons oú Reflections. Nova York: Pantheon
Books, l9ó1,P. 137.
on Sanskrit Terms A
Spiegetberg, Frederic. Coirferência, "Reflecúons -
Psychological Guide to Eastem Wisdom",28 de outubro de 1978'
no C. G. Jung Institute, São Francisco.

Capítulo 4: Como num dcvmeio


Bach, Richard. Ilhtsions: The Adventures of a Refuctant J)íessíolr. Nova
York: Delacorte/Eleanor Friede, 1977' P. I l0
Jung. C. G. "hoblems of Modem Psychotherapy" ' blbcted Worlcs, vol.
ló (19óó), p. 7l.
ôqrÊnren'
Capítulo 5: Encmtro ignifcativc e o clemento sincronístico
teho
Dement, William C. "Sleep and Dreams". Orgs. A. M. Freedman e H' I'
Kaplen, Comprchensive Textbok ol Psychiatry ' BaftimoÍe; lUilliams
&Wilkins, 1967.
Capítnlo 6: A srbcdorir sincÍonístía do I Ching
Henderson, Joseph L. "A Comentary on the Book of Aarye& the I ChW".
Psychic j, n9 2 (setembro'outubÍo 6e l91l):pp.9-12A6.
Holy Bible, Versão padrão reúsada' Nova York: Nelson, 1973' Eclesiâste§
3:l-2.
I Ains, or Book oí Change§. Trad. de Richard ltilhelm e Cary F. Baynes'
Bollingen Series XIX, Princeton, N.J.: Princeton University Press,
1950.
Jung. C.G. "Prefácio ao I Ching, Tradução dê Wihelm-Baynes". Bollingen
Series XIX. Princeton, N.J.: PÍinceton UniveÍsity Press, 1950.

Capítulo 7: Peças parapsicológicrs do quebn+abcça sincrmígtico


Boien, Jean Shinoda. "lnterview - Dr. J. B. Rhine". Psychic 3, n9 6
(ulho de t9'72): 7 -lO, 3O'34.
Eliot, T. S. The Four Quonets: Dry Salvag*. Nova York: Harcourt Bract
Jovanoúch, l96l .

Jung, C. G. Menories, Dreams ortd Reflectiont Nova York: Pantheon


Books, 1961.
Koestler, Arlhrtr. The Roots of @inciilence. Nova York: Random House,
t973.
Lilly, John C. The Centq of the Cyclone: An Autobiogrophy of lrner
§pace. Nova York: Julian Press, 1972.

137
Entreüstâ oom UÍi Geller, psychic 4, n9 5 (maio.juúo de 1975): 6.10,
30-32.
Progoff, lra. tuttg, Synchmnicity and Hunm Datiny. Nova york: Dell,
1973, 99. 104.106. Reimpresso por aoordo lumado com a lulian
Press, copyright l97i de ka progoff.
Schneidler, G€rtrude. Edição de Extruynsty perceptbn. Nova york:
Atheíon, 1969. (Uma coleção importante de oscÍitos parapsiológí-
cos inclu§ve sobre sus experi€ncia com a ..oralha" ã o i.Uod.,;1.
Vaughan, Alan. "lnterview, Gcrtrude Schneidter". hychb 3, n9 4 (anei.
ro-fevereiro dc 197 2): 4ó; 32-36.
Vaughan, Alan. "Poltergeist Investgations in Germany', . kychic I ,
n9 5 (muço.abril de 1970):9.13.
Vaughan, Alan. "The Phenomenos of Uri Geller". psychic 4, ng 5 (maio-
junho de t973): 13.t8.

Capírulo 8: O Tao como um camiúo com o coÍrÉo


Castaãeda, Carlos.The Teachings ofDonJuan: A yagui Way of Knowledge.
Nova York: Simon & Schuster, 1974, p. lO7 . (púlicado originalmãn.
te em I968.)
Hesse,Hermann.louney to the Easa Trad. de Hilda Rosner. Nova york:
Farrar, Strauss & Giroux, 1961.
The I Chittg, or Book of Clwtges. Trad. de Richard lVilhelm e Cary F.
Baynes. Bollingen series 19. Princeton, N. J.: princeton Univercity
Press, 1950.
lao Tsu. Tao-Te Ching, Ttuelve Tl:,d. Cia-Fu Feng e Jane Engliú. Nova
York; Random House, 1972;
May, Rollo. C.outtge to Oate. Nova york: Norton, 1975, pp. 13.14.
Sze, Mai-Mai. "On Tao and the Tao" em The To ol painting. yol. l,
Bollingen Series 49. Nova York: pantheon Books, 1956.

Capíhúo 9: A mensaçm dr experiencia do Tao: nio crtamos ús.


Eliot, T. S. The Wasteland. Org. com uma introdução de Valerie Eliot.
Nova York: Harcourt Brace Jovanovich, lg7l. (Fac.simile e trans.
__ crição dos escritos originais, inclusive as anotações de Ezra pound.)
Johnson, Robert A. He: (Indentanding Male hychologt Nova york:
Harper & Row, 1977. (Discute o significado da lenda do Graal.)
Jung, C. G. "Mysterium Contunctionis,,. @llected Works. yol. 14
(1963), pp. 419-420, nota de rodapé. Holy giáÍe, versão padrão
revisada. Nova York: Netson, 1953.

138
Leia também
Richard Wilhelm
I CHING
O Livro das Mutações
Prólogo de C. G. lung
Depois de amplamente divulgada em alemão, inglês, francês,
italiano e espanhol, aparece pela primeira vez em Português a-mais
abalizada tradução deite clásiico da sabedoria oriental - o I Ching,
ot Livro das úutações -, segundo a versão realizada e comentada
pelo sinólogo alemão Richard Wilhelm.
Tendo como mestÍe e mentor o venerável sábio Lao Nai Haüan,
oue lhe oossibilitou o âcesso direto aos textos escritos em chinês
arcaico, Richard Wilhelm pôde captar o significado vivo do texto
originai, outorgando à sua versão uma profundidade de perspectiva
qrã run.u pod-eria provir de um conhecimento purâmente acadêmico
da filosoÍia chinesa.
Utilizado como oráculo desde a mais remota antiguidâde, o
I Chinc, considerado o mais antigo livro chinês, é -também o mais
modernó, pela notável influência que vem exercendo' de uns anos
para cá, ná ciência, na psicologia e na literalura do Ocidente, devido
não só ao fato de sua filosofia coincidir, de maneira assombrosa' com
as concepçóes mais atuais do mundo, como também por -sua fun-ção
como insiíumento na exPloÍação do inconsciente individual e coletivo'
C. G. fung, o grande psicólogo e psiquiatra suíço, autor do pre-
fácio da ediçãõ ingiesa, incluído nesta versão, e um dos principais
responsáveis pelo réssurgimento do interesse do mundo ocidental pelo
t Ôning, resüme da seguinte forma a atitude com a qual o leitor
ocidenúl deve se aproximar deste Livro dos Oráculos:
"O IChing não olerece provas nem resultados; não laz alarde
de si nem A de íacil abordagem' Como se lora umu purte da nalurcza,
esryru até que o descubramôs. Não olerece nem tatos nem poder, mas,
pora
'existem
os amantes do auloconhecimento e da sabedoria - se é que
parece ser o livro indicado. Para alguns, seu espírito. pare'
'cerá -,
tão ,íoro o dio; para outros, sombrio como o crespúsculo;
"o.o escuro como a noite. Aqueles u quem.ele não.
paru outros ainda,
àsradar não têm pot que usú-lo, e quem se opu§er ü ele não é
'
oírieatto a achá-lo' verdàdeiro. Deixem'no ir pelo mundo pura benelí-
-dos
cio que lorem capazes de discernir sua signilicação"'

EDITORA PENSAMENTO
ADryINHAçÃO E SINCRONTCIDADE

Marie.Louisc von Franz

Marie-t ouisc von Franz, durante muitos aoos colabora_


!or: dc.C..9: Jurlg,de
é uma coúecida autoridade o" int rpre.
1geão nsicolóeics contos de fadq soúos, mitos e aquiriria.
ti"r_", qu: numa série ae'palesúÀ t it* oo
IT!: !,ve origem
{nsgtutq Juu-g dc Zurich, eta volta sua atençãopara o significado
do irraciongl.

. 9p pcnctrante perspicáciq a autora exsminou o fundo


pslcotôgrco_do tempo, do orimero c dos métodos de adivinhação,
cotuo o I Ching, a astrologia, as cartas do Tarô, a quiromancia.
o! da_d-o§ e os padrõcs alcatórios etc. Contrastando as atitudes
cientÍficas do Ocidente com a dos chineses e a dos chamados
primitivos, ela explica c ilustÍa as idéias de lung sàbre arqup_
tipos, projeção, energia psíqúca e sincronicidadõ.
»tgq 9q que qualquer outro suror dcsta área, Marie-Louise
tem a habilidadc de bascar suas teorias psicológicas em exem_
plos prátigos da üda diária, o que torni a sua- obra acessível
tanto ao lcigo cono ao terapista profissional.
aaa

_ Estc volumc 6 o primeiro de uma série de estudos sobre


Psicologia luoguiano feita por aoalistas junguianos.

EDTTORA CULTRTX
ALqUIMIA

Marie-Louise uon Franz

Foi a genialidade de C. G' Jung que descobriu, na "técnica


saerada" dã alquimia, um paralelo com o pÍocesso de indivi-
-u.ápsicológica. Este livro, ricamente ilustrado-, foi escrito
àu-ação
por velha amiga e colaboradora.de Jung e funciona, ao
mesmo tempo, como urn guia práÚco para o que-está ocorrendo
no laborarório do inconiciente e como uma introdução aos
estudos que Jung dedicou ao assuDto.
Mais uma vez, a Dta. Marie-Louise confirma o seu dom
excepcional parâ tÍanscÍever material esotérico, simbólico' para
a experiênciÀ do cotidiano, mostrando gue as imagens e 03 mo'
tivos que tanto interesse despertavam nos alquimistas eram de
natureza arquetípica e, como tais, aparecem constâtrtemente
em nossos sônhos e nos desenhos modernos.
Este é um livro importante, de valor inestimável para a
compÍeensão dos sonhos i para os interessados no bom relacio-
nameDto e comunicação' entÍe os sexos.
aat

Na Coleçâo "Estudos de Psicologia Iuogruana poÍ anâlistas


junguianos", á Cutttlx já publicou, mesma atrÍoÍa, Adivinha'
-signilicododa
çãí e sincronicidade e-O psicológico dos motivos de
redenção nos contos de lodas.

EDITORA CULTRIX
JUNG E A TNTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

James Á. Hall

Os sonhos, chamados, por alguns, de língua esquecida de


Deus e, por outros, de mensagenJ do dernônió, durante muiro
tempo foram considerados bons ou maus presságios do futuro.
A crença moderna, porém, de que estão diretaminte relaciona_
dos com a psicologia de cada um, e com as atitudes e padrões
de comportamento de quem sonha, deve-se ao trabalho pioneiro
do psiquiatra suíço C. G. Jung, que introduziu a idéia'de que
nos sonhos o inconsciente emergé de uma forma muito clara.
. Esle é um guia prático e abraogente para a compreensâc
dos sonhos com base nos princípios da Ariálise psicotógica de
Jung. Aqú,. o modelo da psique segundo Jung é discut-ido de
forma concisa, com muitos exemploi clínicos de sonhos e do
modo como eles podem ser interpretados em seu contexto.
Atenção particular é dada aos temas comuns e repetidos
nos sonhos (quedas, perseguições, casas, carros, mortes, mágoas,
casamentos, o fim do mundo, os símbolos sexuais, etc. ) ,- aos
sonhos traumatizantes, à função intencional e compensatória dos
sonhos, aos sonhos que prognosticam doenças
-ou
mudanças
físicas e ao modo como os sonhos estão relacionados com a
etapa da vida e com o processo de individuação de quem sonha.
O autor, dr. James A. Hall, estudou na Universidade do
Texas e no Instituto C. G. Jung, de Zurich. Atualmente, é psi-
quiatra e analista junguiano em Dallas, onde é professor clínico
associado de psiquiatria na Medical School de Southwestern.

EDITORA CULTRIX
O SIGNIFICADO PSICOLÓGICO
DOS MOTIVOS DE REDENÇÃO
NOS CONTOS DE FADAS

Marie-Louise uon Franz

Qual a causa de esiarmos freqüentemenle descontentes com


nós mesmos? Qual o motivo dos nossos conflitos e problemas
de relacionamento? Têm eles algum significado? Este livro, re'
sulrado de uma série de palestras realizadas no Instituto C. G'
Jung, de Zürich, explora essês lemas, entÍe vários outros. Ele
é o único que demonstra a importância dos contos de fadas para
a compÍeensão do processo de amadurecimento psicológico, es-
pecialmente no destaque atribuído à integração das naturezas
animal e humana.
Leitores familiarizados com a apreciação ponderada da
Dra. von Franz acerca da realidade psíquica encontrarão aqui
outra jóia preciosa. Sua abordagem simbólica e nãoJinear do
sigpifióado dos temas típicos dos contos de fadas, e que também
aparecem nos sonhos banhos, derrotas, mutilações, trajes,
eic. e sua clara -
descrição da imaginação ativa, dos comple-
xos,-,das projeções e dos arquétipos, combinam-se para fazer
deste livro um clássico moderno.
A Dra. Marie-Louise von Franz, durante muitos anos
colaboradora no trabalho de C. G. Jung, é uma autoridade
reconhecida na itrterpretação psicológica de contos de fadas,
sonhos, mitos e alquimia.

Este é mais um volume da Coleção "Estudos de psicologia


junguiana por analistas junguianos", iniciada com Adivinhaçãr
e sincronicidade, a psicologia da probabilidade signilicativa.

EDITORA CULTRIX
O ENCONTRO ANALÍTICO

Mario tacoby

A psicoterapia profunda consiste no encontro entre duas


pessoas com a finalidade de tentar entender o que está ocor-
rendo no inconscicnte de uma delas. O relacionamento que
nasce entre elas envolve Íeações tanto de transferência como de
contratransferência (projeção) e de genuíno sentimento humano.
Qual a dinâmica psicológica que está por trás desse en-
contro terapêutico? Como ele difere do que ocorre entre duas
pessoas numa situação corriqueira? Qual a diferença que existe
entÍe os relacionamentos baseados na projeção e aqueles carac-
terizados pela separação psicológica? E quando o ãmor não é
apenas projeção?

Este estudo esclarecedor, dirigido tanto ao leigo como ao


profissional, oferece respostas a essas perguntas partindo do
ponto de vista da psicologia junguiana. "Minha preocupação',,
escreve o autoÍ, "está ligada às sutilezas envolvidas em qual-
quer encontro humano, especialmente nas que ocorrem no iela-
cionamento íntimo que é desenvolvido na análise".

-t
Mario Jacoby analista junguiano que a profissão
em Zurique - D. em filosofia e religião exerce
é Ph. pela Universidade
de Zurique e- é diplomado em Psicologia Analítica pelo Instituto
C. G. Iung dessa cidade.

EDITORA CULTRIX
O MITO DO SIGNIFICADO NA ASINCRONICIDADEEOTAO
OBRA DE C. G. JUNG
Aniela tallé
C. G. JUNG f,N1rsvr5r^r t lean Shinoda Bolen
ENCONTROS -
W. McGuire
INTRODUÇÁO À PSICOLOGIA A sincronicidade é o Tao da Psicologia,
JUNGUIANA pois liga o indivíduo à totalidade. Pode-se di-
Hall & Nordby zer que os eventos coincidentes significativos,
não explicáveis racionalmente, são sincÍonís-
A CRIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA i{r ticos.
Edward F. Edinger Jean Shinoda Bolen, psicanalista e ana-
ADIVINHAÇÃO E lista junguiana, membro do corpo docente do
Instituto C. G. Jung de São Francisco, Cali-
SINCRONICIDADE
fórnia, mostra em Á Sincronicidade e o Tao
M arie-Louise Von Franz
que os acontecimentos coincidentes da vida
ALQUIMIA não são sem sentido nem isolados e, sim, evi-
Marie-Louise Von Franz dências de que fazemos parte da unicidade do
universo. Em linguagem clara e exposição cheia
JUNG E A INTERPRETAÇÃO DOS de exemplos e relatos elucidativos valendo-se até do recurso cria-
soNHos tivo de uma abordagem ao estilo- de Agatha Christie a autora
larnes A. Hall mostra como aplicar o conceito de sincronicidade na vida - diária e
como descobrir o sentido das mensagens simbólicas e compactas
O ENCONTRO ANALITICO enviadas ao consciente. Destaca, ainda, a atuação fundamental da
Mario lacoby sincronicidade no Tarô, nos horóscopos e, principalmente, no I Ching.
Nessa associação dos conceitos de Tao e Sincronicidade, realça as
ligaçôes relevantes entÍe a psicologia ocidental e a espiritualidade
oriental, entre o indivíduo e o mundo exterior. A compreensão deste
princípio também lança luz sobre as pesquisas desenvolüdas no cam-
do da parapsicologia, em particular nas áreas das ESP (Experiências
Extra-Sensoriais ), como premonição, telepatia e clarividência.
"Quando percebemos a sincronicidade, sentimo.nos como parte
de uma matriz cósmica, como participantes do Tao. A sincronicidade
nos proporciona um vislumbre do interior da realidade de que há,
de fato, um elo entre todos nós e todos os seres vivos, -entre nós e o
universo" eis a mensagem deste livro.
Peça catálogo gratuito à -
EDITORA CULTRIX
Rua Dr. Mário Vicente, 3 74 Fone : 63 3141
- SP
04270 São Paulo, EDITORA CULTRIX

Potrebbero piacerti anche