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NUNES, Iratan Vieira.

Mulheres sertanejas: os cabarés e becos em Delmiro Gouveia


- AL, no final do Século XX. 2018. 59 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) - Unidade Delmiro Gouveia - Campus do Sertão, Universidade Federal
de Alagoas, Delmiro Gouveia, 2018.

Iratan Vieira Nunes - Mulheres sertanejas: os cabarés e becos em Delmiro


Gouveia - AL, no final do Século XX

Objetivo geral da monografia: “analisar a trajetória da “mulher do sertão” e sua


contextualização à prostituição especificamente nas décadas de 70 a 90.”

Metodologia: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com produção de


entrevistas.

CAPÍTULO I - BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA DA MULHER


BRASILEIRA
Nunes inicia seu texto abordando o desenvolvimento do campo historiográfico
História Das Mulheres. A emersão desse campo, intimamente ligado com as ações do
movimento feminista, impõe uma reavaliação do papel da mulher ao longo da história
da humanidade, uma vez que esteve predominantemente secundarizada nas
narrativas históricas, enquanto o homem assumia a centralidade. Nesse sentido, na
modernidade ocidental, vemos o aparecimento de representações de uma mulher
marcada pela fragilidade, aprisionada ao espaço privado, complemento do homem.
No Brasil, já após a proclamação da República, nos deparamos com um
policiamento geral da mulher, exercido por homens e mulheres, esteja ela trabalhando
no comércio ou nas casas de família; saída do lar, a vigilância sobre ela deve ser total.
Nesse momento, a prostituição aparece como atividade mais ameaçadora a imagem
da mulher ideal, “mãe, filha ou esposa”, “honesta, honrada e de família”; a prostituta é
a antítese desse tipo de mulher. A prostituta serve como reforçador negativo para
manter as boas mulheres em seu devido lugar, a prostituta é a sempre possível
decadência diante do desvio, e muitas prostitutas internalizam a imagem de
inferioridade que a sociedade produz para elas. E se nem todas as mulheres se
prostituem por necessidade, as prostitutas pobres tem sido das que mais sofrem da
inferiorização da sua prática, do seu corpo e das suas individualidades.
Para aqueles que não se lançaram por necessidade à prostituição nem foram
forçadas a tal, surge um perfil das prostitutas que permite uma análise para além da
redução dessas mulheres a vítimas; o que não anula a percepção negativa da
prostituta ao longo das histórias brasileiras. As pesquisas, ainda recentes, sobre
corpo, sexualidade, e prostituição feminina tem lançado alguma luz sobre os
descaminhos dos seus agentes históricos e sociedades. Diante dessa luz, Nunes
sustenta que a história da prostituição tem mostrado a continuidade da percepção do
corpo da mulher como fonte de lucro, um corpo marginalizado e sobre o qual recaem
infindos preconceitos.
SEGUNDA PARTE DO CAPÍTULO I – ANÁLISE SOBRE A HISTÓRIA DA MULHER
SERTANEJA

O primeiro apontamento de Nunes, neste momento da pesquisa, é: a estrutura


patriarcal na formação das sociedades “nordestinas”, com os homens dominando as
mulheres e estas com poucos espaços de ação autônoma. Ainda assim, algumas
mulheres souberem se soerguer sempre que as condições lhes foram um pouco mais
favoráveis. A historiografia brasileira da mulher também é recente, e a mulher
sertaneja foi das mais ignoradas, por participarem do estereótipo de inferioridade que
criou sobre os nordestinos. Na prática, diante da desigualdade da distribuição de
renda e da desigualdade de gênero de forma geral, muitas mulheres sertanejas foram
arredias; um tipo de mulher corajosa, aventureira, capaz de ser a cabeça da sua
família, de conduzir a vida sem o marido que a abandonava ou morria. Ao assumir
posturas de independência que estavam consagradas aos homens, essas mulheres
foram “masculinizadas”. Muitas mulheres que não conseguiram alternativas para lidar
com essas situações caíram na prostituição: para muitas uma prática julgada como
deplorável e que, de fato, deplorava muitas mulheres; para outras, mais insurretas, a
prostituição foi assumida como prática que possibilitava “vencer a subordinação
masculina e construir uma nova ordem” não-falocentrada e dar um novo rumo às suas
vidas (p. 13-14).

CAPÍTULO II - PROSTITUIÇÃO COMO FONTE DE RENDA, STATUS E PRAZER


Abordando a história geral da prostituição, o autor aponta que o seu valor variou
ao longo do tempo. Antes da virada patriarcal das sociedades humanas, a prostituição
já foi “respeitada” e esteve ligada às práticas e representações do sagrado. Fazendo
referência a outro autor, Nunes sustenta que no ocidente, com a ascensão do
cristianismo, a prostituição é repudiada, está ligada à lepra. Em seguida a prostituta é
vista como um mal necessários, nos tempos mais contemporâneos é vista como
escrava e vítima; logo depois, a prostituição aparece como prática ordinária, que pode
ser livremente escolhida pela mulher. Como a prostituição é atividade que não se
desliga da totalidade das sociedades, sua existência está sempre relacionada às
condições materiais e sociais dessas sociedades; nesse sentido, muitas vezes é a
situação precária das mulheres que as levam à prostituição, como meio de
subsistência, geralmente acompanhado pelo sofrimento das prostitutas e de
preconceitos diversos pelo restante da sociedade, ao fim os seus corpos se tornam
mercadorias para um número indefinido de consumidores.

Contudo, há aquelas mulheres que se laçam à prostituição como forma de obter


“status e prazer”, que querem manter uma vida luxuosa e se satisfazem o máximo
possível sexualmente. O consumo é fator primordial para esse tipo de prostituta, e boa
parte do dinheiro que conseguem é gasto com vestiários, produtos de beleza e
cirurgias para modificação estética.

SEGUNDA PARTE DO CAPÍTULO II - TRÁFICO DE MULHERES PARA A


PROSTITUIÇÃO
Nesta parte, Nunes aponta o cenário de violências e abusos que sofrem as
prostitutas, motivos pelos quais muitas acabam recorrendo a uma força de proteção,
um cafetão ou cafetina, que acabam tomando para si grande parte do que essas
prostitutas ganham. Uma vez na mão desses cafetões, muitas mulheres não
conseguem deles se desvincular, sendo intensamente exploradas. Um dos ápices de
lucratividade com a prostituição se dá com o tráfico de mulheres de um país para
outro, muitas vezes mulheres que não estavam envolvidas com essas práticas, que
foram seduzidas com alguma proposta de trabalho, mas acabam no mercado sexual
sendo agenciadas por esses cafetões e aos quais não podem desobedecer, sob o
risco de todo tipo de agressão. Os clientes dessas prostitutas são dos seus principais
agressores; é uma situação alta de fragilidade, onde somam-se os perigos de doenças
sexualmente transmissíveis.

Segundo os dados levantados por Nunes, pode-se notar um aumento


significativo no número de mulheres brasileiras que caem nas mãos de traficantes,
sendo vendidas para vários países para serem sexualmente exploradas. A nível
mundial, cerca de 500 mil pessoas mulheres de países pobres seriam traficadas para
a Europa, a cada ano! O mais preocupante é que essas mulheres acabariam sendo
tratadas, na maioria das vezes, como imigrantes ilegais, levando a um impedimento
das ações jurídicas que as autoridades deveriam conduzir nestes casos. O perfil
socioeconômico das vítimas do tráfico sexual tem apontado predominante mulheres
em situação de vulnerabilidade; são mulheres pobres, de baixa escolarização,
moradoras das zonas periféricas, sem expectativas de emprego ou mal remuneradas.

CAPÍTULO III - PROSTITUIÇÃO EM DELMIRO GOUVEIA-AL NO FINAL DO


SÉCULO XX: OS CABARÉS

Neste último capítulo, Nunes aponta que há indícios para a existência da


prostituição na cidade de “Delmiro Gouveia”, ainda não possuía este nome, desde os
primeiros germes dessa cidade, na vila Pedra, que tem seu desenvolvimento
alimentado pela fundação da indústria de fiação e tecelagem, na segunda década do
século XX. Contudo, o recorte do autor abrange apenas o período entre a década de
70 e 90. Na década de 70, a cidade de Delmiro Gouveia teria conhecida um grande
fluxo no mercado da prostituição, com vários prostíbulos, dos mais simples aos
luxuosos, e onde homens de todas as idades, classe e status civil se punham a
frequentar, sedentos de realizar seus anseios sexuais. Nestes espaços, nos cabarés,
um comportamento explícito era adotado pelas mulheres para angariar uma clientela;
por outro lado, quando em espaço público essas mulheres reproduziam o
comportamento das “boas mulheres”, sem, no entanto, escaparem com sucesso à
identificação como putas.

Segundo Nunes, no período abordado, destacam-se três casas de prostituição


em Delmiro Gouveia: o Cabaré da Tonha; a Boate de Pecília; e a Casa de Campo.
Essa primeira casa de prostituição funcionou entre a década de 70 e 80. Nunes
conseguiu entrevista com o filho de dona Tonha, ainda viva mais sem condições de
dar seus depoimentos. Tonha teve quatro filhos, criando-os sozinha, em meio às
dificuldades que enfrentava, optou por abrir um prostíbulo. Nas representações do seu
filho, Tonha aparece como uma mulher ousada, quase uma heroína, agindo na
contramão da sociedade conservadora e coronelista da época. As mulheres que
trabalhavam nessa casa vinham das cidades da redondeza, sendo evitadas as
delmirenses, por uma questão moral e por uma questão de renovação do cardápio do
puteiro. O sistema na casa era: as prostitutas deviam pagas a hospedagem dos
quartos e as bebidas que consumissem; o dinheiro dos programas ficava
integralmente nas mãos das mulheres que vendiam seus corpos. A casa possuía oito
quartos que acomodavam duas mulheres cada um; esse prostíbulo funcionava todos
os dias, com pico às quinta-feira e aos domingos, dias de comércio na cidade. Dias
em que Tonha saia com suas meninas para exibição ao público consumidor da cidade.
Essa casa vai à falência conforme vão se disseminado “forrós” e bares em Delmiro
Gouveia.

A segunda casa de prostituição, a Boate de Picília. A dona Picília foi uma


mulher que teve três filhos, acabou separada e em péssimas condições financeiras,
decidindo por abrir uma casa de prostituição para se sustentar. Detalhe, seu ex-marido
era engenheiro da Chesf. Primeiro, Picília abriu uma casa nas proximidades de Paulo-
Afonso, só depois migrando para a cidade de Delmiro Gouveia, onde vislumbrava
poder fazer ainda melhores negócios, pois os prostíbulos delmirenses tinham pouco
luxo a oferecer. Instala em Delmiro Gouveia, Picília trazia as suas “meninas”
principalmente das cidades de Caruaru e Recife, com a sua casa se tornando “a maior
e melhor” das casas de prostituição da cidade à época. A cafetina Picília conseguiu
status social positivo na cidade de Delmiro Gouveia, espalhando bom humor e
frequentados jogos de futebol, além de fazer a alegria dos comerciantes, pois era uma
grande consumidora. Segundo a filha de Picília, entrevista por Nunes, a Boate era
muito higiênica, possuindo quatro quartos e espaço para os clientes dançarem e
consumirem bebidas. As mulheres que decidiam se prostituir na Boate de Picília
deviam ser agradáveis e servir bebidas aos clientes, deviam pagar o aluguel do quarto,
ficando com o dinheiro integral dos programas. Mesmo algumas filhas de Picília
acabaram se prostituindo em sua casa, não por necessidade, mas motivadas por
“desilusões amorosas”. Católica ferrenha, dona Picília era das mulheres mais
caridosas da cidade, sendo agraciada com a simpatia de alguns cantores famosos
que fizeram show em Delmiro Gouveia. Já idosa, nos anos 90, Picília tenta passar seu
prostíbulo à direção de sua filha, que recusa, acabando o estabelecimento de portas
fechadas.

A terceira casa de prostituição estudada por Nunes é a “Casa de Campo”,


estabelecimento que funcionou dos anos noventa até 2008, e foi dirigido por uma tal
de “Dona Maria”, ainda viva e que aceitou ceder entrevista, mas sem ser identificada.
Maria é uma mulher que teve origem humildade, ajudando os pais no trabalho rural
desde criança. Mais velha, sonhava em ser “mulher direita” e arrumar um marido;
passando a trabalhar em “casas de famílias”, Maria se vê vítima de abusos sexuais, o
que a levará a algumas desilusões com seus objetivos. Com filhos, sozinha e sem
expectativa de trabalho, dona Maria decide abrir um prostíbulo para se sustentar e
aos seus. O primeiro prostíbulo que ela abre e que conseguiu sucesso acaba fechado,
pois em zona “inadequada”, sendo reaberto em bairro pobre e periférico da cidade
com o nome de “Casa de Campo”. As “meninas” de Maria vinham principalmente da
cidade de Batalha, com outro número significativo vindo de Serra Talhada. Maria
relata que os tempos de dirigente de prostíbulo foram de grande divertimento. Depois
do fechamento da casa, Maria realiza seu velho sonho, conseguiu um marido e se
tornou evangélica.

SEGUNDA PARTE DO CAPÍTULO III - OS BECOS

Nunes se debruça sobre os becos no estudo da prostituição em Delmiro


Gouveia por conta do seu grande número, à época. Esses becos possuíam bares que
mantinham as prostitutas, vendendo sexo e ajudando os donos dos bares na venda
de bebidas. Muitas das mulheres que escolhiam se prostituir nesses becos eram
oriundas da própria cidade, com uma tendência a realizarem os programas em suas
próprias casas e assim ganhar algum dinheiro a mais, já que não tinham que pagar
os quartos nos bares reservados para as práticas sexuais. O caso maior trazido nesta
parte da pesquisa é o da prostituta conhecida como “Mocó”, ainda viva (2018). Mulher
que acabou expulsa de casa depois de perder a virgindade aos 14 anos. De
“personalidade aventureira” no sexo e necessitando de dinheiro, não necessitou para
Mocó encontrar os caminhos dos becos da cidade de Delmiro Gouveia, levando
homens para consumar o sexo em sua própria casa. Segundo essa entrevista, vários
homens a buscavam, pobres e “ricos”, mesmo um juiz da cidade, mas principalmente
jovens virgens.

Nunes encerra a sua pesquisa com essa apreciação dos becos da prostituição
delmirense. Na sua conclusão, além da apresentação de um rápido resumo dos seus
achados, dispostos nos capítulos anteriores, ele apresenta um breve perfil das
prostitutas contemporâneas da cidade de Delmiro Gouveia e dos seus clientes. Os
prostíbulos atuais se tornam mais discretos, “camuflados”, concentrando prostitutas
de origem pobre e clientes, em sua maioria, trabalhadores assalariados. As prostitutas
de luxo não frequentariam essas novas casas de prostituição, pois conseguem
clientes de outras formas, sem se exporem; esses clientes seriam das classes altas,
como empresários.

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