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Uma breve dissertação abrangendo a natureza da Bruxaria Tradicional e formas afins de Prática Mágica na Inglaterra dos dias de hoje.
Por Andrew D. Chumbley Tradução: Quíron
"A Bruxaria Tradicional é o Caminho Sem Nome da Arte Mágica. É o Caminho da Bruxa, o
chamado do coração que indica a vocação do Homem de Conhecimento e da Mulher Sábia; é o
Círculo Secreto de Iniciados constituindo o corpo vivo da Antiga Fé. Seu ritual é o Sabá do
Sonho-feito-Carne. Seu mistério jaz no Solo, abaixo dos pés Daqueles que trilham o caminho
tortuoso de Elphame. Sua escritura é o caminho dos Homens de Conhecimento e fascinadores,
o tesouro da tradição relembrada por Aqueles que honram os Espíritos; é a gramática do
conhecimento sussurrado ao pé do ouvido, amados por Aqueles que mantém sagrados os
segredos dos mortos e confiados Àqueles que olham sobre adiante... As respostas a quem
pergunta sobre a Bruxaria Tradicional jazem nas suas terras nativas: o Círculo da Arte das
Artes!"
Tais são os meus pensamentos sobre essa questão e como tais eles são somente meus e, não
menos do que isso, eles são os pensamentos de um homem que caminhou muitas vezes em
volta do círculo do povo astuto. Para a questão "o que é Bruxaria Tradicional?" há tantas
respostas úteis quanto há praticantes desta crença misteriosa. Não há uma resposta direta
somente para tal indagação e é a maravilhosa diversidade de respostas possíveis que os
genuínos praticantes oferecem que é, para mim, mais atraente. O escopo de práticas e crenças
que o nome "Bruxaria Tradicional" abrange é desconhecido e deve assim permanecer para
sempre; e, todavia, se uma percepção dessa diversidade puder ser alcançada por um discurso,
nós podemos então talvez intuir a natureza secreta que nos unifica a todos. Quando me refiro
acima para "respostas úteis", eu quero dizer especificamente aquelas respostas que possam ser
de uso e valor diretos para irmãos praticantes. Pois o espírito no qual esse discurso é entendido
é aquele que possa ser de préstimo para cada um de nós todos para os quais a questão é
endereçada. Contudo, existe um certo número de pessoas que pode prestar contas sobre a
natureza da Bruxaria Tradicional. Tais adeptos são, em verdade, poucos e discretos. Durante
tempos recentes tem havido uma evidente mostra da superfície da Arte Antiga no domínio
público da literatura publicada, livros e artigos. Esta atividade pública é o eco de um
reerguimento interno de conhecimento. A florescência da Fé Antiga está tornando público a sua
essência vital, fervendo os canais subterrâneos da prática mágica, subvertendo o seu poder
para as veias que se entranham pela terra, alimentando e nutrindo a terra verdejante de Albion
novamente. Pois nós que partilhamos do Mistério da Fé Antiga somos os guardiões da terra:
nosso conhecimento é o arcano do seu coração e também do nosso. A este caminho nós
devemos ser fiéis! A manifestação pública da Fé Antiga não tem aparecido de um modo
uniforme, ao contrário, tem exibido uma variedade estimulante de formas. A estes vários canais
da Tradição alguém pode se referir como "costumes" do Antigo Rito; cada um diferindo de acordo
com o Mestre ou Mestra responsável pela distribuição do seu conhecimento. Alguém poderia
pensar que a existência da literatura pública disponível indicaria a tendência rumo um
enfraquecimento – uma diluição – da essência espiritual da Tradição, mas este não tem sido o
caso. De fato, exatamente o contrário é que é verdade: a direção é rumo a um alargamento e
aprofundamento na riqueza espiritual da Fé Antiga. A Arte Antiga está emergindo como um
Caminho que possui uma amostra de aspectos diversos, estendendo-se da feitiçaria prática
gerada no nível da magia popular – as artes dos homens de conhecimento e fascinadores – até
o espectro de técnicas mágicas apreendidas, alcançando em apoteose as alturas de um genuíno
misticismo. Com o intuito de esclarecer esta diversidade é útil citar e dar um breve resumo de
tradições exemplares e específicas que estão na vanguarda do nosso presente ressurgimento:
O Caminho dos Oito Ventos: este é o ressurgimento Anglicano Oriental da Arte sem Nome
exposto por Nigel Pennick. Essencialmente, representa uma escola específica de prática mágica,
derivada do caminho iniciático de "Sigaldry", uma tradição de conhecimento rúnico, incorporando
tanto elementos pagãos quanto cristãos em uma síntese mágica coerente. Seu modo de
sucessão é, de acordo com Pennick, passado de mestre para discípulo e é perpetuado por
transmissão de conhecimento tanto oral quanto escrito. É importante notar que no seu livro
Secrets of East Anglican Magic, é feita uma referência a Antient Order of Bonesmen, à
fraternidade mágica de cultuadores de cavalos e aos mistérios solitários dos homens e
mulheres-sapos. Estas são outras formas de práticas mágicas ainda operativas nas mesmas
regiões e às quais podem ser referidas, em termos generalistas, como "Bruxaria Tradicional".
Cultus Sabbati: este é o nome adotado por razões de comunicação e identidade entre diferentes
grupos de iniciados em tradições de Bruxaria sem nome. Na sua presente forma, o Cultus é
servido pelo autor desse tratado no papel de seu Presidente Magista. Como tal eu vou procurar
descrever seu nome e função com a objetividade cabível. O Cultus opera como veículo para a
transmissão da Corrente Mágica Quintessencial e é ativo no ressurgimento da prática mágica
referida em transmissões oral, ritual e escrita como "A Feitiçaria do Caminho Tortuoso". Dentro
do Cultus várias práticas da Arte estão em operação concomitante; isto é refletido na estrutura
dos seus grupos constituídos. Estes grupos incorporam o contexto de trabalho tanto de covens
quanto de círculos menores de trabalho; a ênfase dos grupos se dá na autonomia de cada
iniciado. Uma importante função do Cultus é servir como um mediador para a confluência das
suas forças mágicas de poder. Apesar deste campo de operação estar presentemente
centralizado dentro do condado de Essex, o Cultus conhece um número de linhas iniciáticas
trans-culturais de sucessão desde os arredores do país até além dele. Os ensinamentos de
sabedoria centrais são passados adiante tanto oralmente quanto ritualmente, através da
Feitiçaria Transcendental e da Gnosis dos Mistérios Sabbáticos. Estes são apenas quatro formas
de expressão da Fé Antiga, mas a sua diversidade é o testamento da rica estrutura da
Espiritualidade Mágica Britânica.
A validade histórica destes quatro exemplos de "Bruxaria Tradicional" não é bem o meu encargo
afirmar ou questionar, mas, por outro lado, o impulso criativo diáfano que eles geram são, para
mim, a mais valiosa forma de autenticidade, independentemente de qualquer outra coisa. Há
uma impressão notável de insights e sincretismos criativos concedidos pelos trabalhos
publicados sobre estes exemplos e isso serve para futuras "respostas" à minha questão inicial. É
típico dos genuínos homens-de-conhecimento utilizar o que quer que esteja à mão e mudar o
rumo de todas as influências, independentemente da sua procedência religiosa, para as causas
secretas da Arte. É por isso, então, que a Arte Antiga adota para si mesma uma grande opção de
atitudes e métodos, estendendo-se desde simples tópicos de feitiçaria até às mais altas formas
cerimoniais de conjuração.
Para retornar à questão inicial deste discurso e para seguir outro caminho através do labirinto,
deixe-nos considerar a Bruxaria Tradicional, seus nomes e sua significância em discussões
gerais sobre magia, e também os significados pelos quais o seu Caminho é perpetuado.
Em termos gerais e através deste artigo a "Bruxaria Tradicional" refere-se às práticas pagãs
mágicas e religiosas que têm sido transmitidas desde pelo menos o começo do século vinte.
Geograficamente, o termo implica à magia popular britânica do passado e contemporânea, mas
pode se estender para abarcar crenças e práticas de proveniência européia, principalmente do
norte da Europa. A despeito da demarcação espacial assumida em razão deste discurso, a Fé
Antiga possui formas inumeráveis e pode ser vista em muitas regiões da Terra. Além disso, as
influências culturais que caracterizam formas antigas e modernas da Bruxaria Tradicional na
Bretanha são muitas e diversas, caracterizando marcas de conhecimento que testemunham uma
mescla de métodos iniciáticos provindos do mundo todo.
Muitas discussões são feitas sobre tais palavras e nomes; isto pode ser útil para o praticante
desde que possa encorajá-lo a ver novas perspectivas sobre o caminho, mas quando isto não
pode ser feito tais discussões são irrelevantes para aqueles engajados na prática da Arte. As
pessoas deveriam prestar atenção para o que é útil dentro do círculo e o que não é.
Certos escolásticos da academia convencional tem alegado que a palavra wicca era usada
originalmente apenas em sentido pejorativo, ou seja, como um termo de abuso ou insulto contra
qualquer desafeto ou suspeito de malefício ou magia negra, e ficou, de fato, fora de uso sob
qualquer forma que fosse até o movimento da bruxaria moderna. Apesar de tudo, pode-se citar o
uso não-pejorativo de derivações conectadas tais como witan "saber" – em vários exemplos
históricos. Entretanto, a despeito destas alegações, deve ser dito que a palavra derivada Wytcha
esteve em uso durante o século vinte entre certos descendentes contemporâneos das tradições
dos homens-de-conhecimento em Essex. Quer o termo tenha sido transmitido através de séculos
de prática secreta ou retomado como um nome de identificação apenas no dia de ontem, é
pertinente falar sobre algumas das razões para o seu uso atual. Da perspectiva do praticante, a
adoção deste termo é um meio autoconsciente de expressar a sua identidade como pertencente
aos Homens-de-Conhecimento, como "Aquele que Sabe", um portador do sangue bruxo e
também como um iniciado na verdadeira tradição bruxa. Além disso, sendo que wytch significa
"curvar ou girar" é um termo apropriado em se considerando a natureza "tortuosa" do caminho
dos feiticeiros. Se o uso pejorativo de wicca for aceito, então o uso presente do Wytcha também
desse ser. O Homem da Arte move-se no limiar da sociedade; ele caminha dentro do mundo da
Humanidade, mas na verdade está fora dele. Um caminho de culpa e da blasfêmia será apagado
quando alguém se mover além dos parâmetros normativos da sociedade.
Além do mais, alguém poderia dizer que ‘Wytcha’ é simplesmente a pronúncia correta da palavra
anglo-saxã wicca e que é usada auto-conscientemente por homens-de-sabedoria
contemporâneos como uma reivindicação deliberada de uma identidade única e distintiva dentro
do espoco da religião mágica moderna. Tendo-se dito isso, é uma preferência costumeira de tais
praticantes usar o termo "feiticeiro" e "feitiçaria" para si mesmo e para a sua Arte ou então,
freqüentemente, não usar nome algum.
Outros epítetos em uso para as Práticas Ancestrais da Arte são, como mencionados acima, ‘A
Arte sem Nome’, ‘A Via Noturna’, ‘A Arte Sabática’, entre outros. Todos estes epítetos podem ser
usados em discussões sobre magia para dar nome a "algo" que por natureza não tem nome:
nomes são funcionais para propósitos de comunicação e auto-identidade.
Uma vez que é útil definir e então distinguir os vários modos de Antiga Arte uns dos outros e das
suas contrapartes modernas, dever-se-ia ter em mente que em certos momentos a Antiga Arte se
fundiu ou adotou crenças de tais práticas reformadas. Dadas as inclinações naturais do
praticante mágico em direção ao sincretismo, há uma constante fertilização cruzada entre
aqueles que interagem entre si dentro e fora do círculo; conseqüentemente, nós todos
emprestamos idéias uns dos outros. Entretanto, as várias formas de Wicca moderna não são o
assunto em questão e ainda que elas tenham um papel importante na história e desenvolvimento
da prática mágica no século vinte, o propósito desta dissertação investigar a natureza daquelas
correntes da Arte cuja origem é de grande Antigüidade.
Pois dentro de tais correntes será encontrado um sincretismo que tem simplesmente sido
operativo por um longo período e que é provável que tenha absorvido mais influências e que as
tenha integrado dentro de um corpo de grande maturidade espiritual. A integração de influências
wiccans modernas em correntes mágicas mais antigas é apenas um aspecto em
desenvolvimento; há muitas outras influências nas práticas de Bruxaria Tradicional que também
podem ser citadas. Ao se falar sobre tais integrações, eu preciso, por motivos de cortesia, dar
todo o respeito àqueles praticantes da Arte Antiga que vêem as suas próprias práticas como
puras e distintas. O fato de haver influências de outras fontes não é nenhuma mancha e nem é
necessariamente um ato comprometimento; este fato pode ser uma parte consciente de uma
espiritualidade criativa em andamento. Dentro deste contexto do meu próprio caminho eu tenho
tido contato direto com iniciados de outras tradições mágicas notáveis e tenho aprendido
grandemente com tais interações. Tais contatos me conduziram a envolvimentos ativos dentro
dos Caminhos de Uttar Kaula Tantrikas e, em um nível superficial, dentro da Tradição Sufi de
Ovaysiyya. Este envolvimento tem servido apenas para enriquecer o meu trabalho dentro dos
Conclaves dos Mistérios Sabáticos. Tanto através do Cultus Sabbati e como praticantes
independentes, eu e outros iniciados na Tradição dos Homens-de-Conhecimento de Essex
temos procurado conexões iniciáticas transculturais e através de tais esforços muitas influências
importantes tem servido para sustentar o reerguimento contemporâneo da nossa prática. Uma
consideração mais profunda de tais influências pode ser deixada para outra ocasião.
Fundamentalmente, este é o motivo que fundamenta os propósitos de tal interação a qual, para
mim, distingue as várias correntes da arte. Em Crença, todos nós somos guiados por motivações
aparentemente similares, mas no meio Prole de Cain há uma metodologia diferente de crença
que surgiu da disposição natural rumo a uma mentalidade feiticeira. Não é por nada que nó
temos sido chamados de "Homens-de-Conhecimento"!
Quando se fala em Bruxaria Tradicional faz-se freqüentemente muitas menções a ela sendo
deixada como legado ou sendo passada adiante. O que se entende por essas duas frases
diferentes?
Da minha própria experiência como iniciado e iniciador dentro da Sabbatic Cultus, eu posso
contar muitas maneiras pelas quais a Tradição é transmitida de uma pessoa a outra de geração
a geração. A maneira mais óbvia é a transmissão oral: a palavra falada. Este é o "conhecimento
passado de boca para ouvido" que é relatado de um praticante para outro, seja de Mestre para
aprendiz, seja como conhecimento dividido em discussões entre contemporâneo de um círculo
ou clã. Freqüentemente, é neste contexto que os mais preciosos fragmentos dos ensinamentos
são preservados e é ao redor dessa sabedoria não-escrita que existe uma certa aura de tabu.
Por serem intraduzíveis para a palavra escrita, os ensinamentos orais da Arte existem no reino
entre o Pensamento e o Texto; eles habitam com os espíritos nos reinos movediços da memória
e da lembrança Quando deveriam tais ensinamentos serem escritos? – esta é uma questão que
eu tenho feito a mim mesmo. Em resposta, eu concluo que alguém deveria escrever tais coisas
quando há o perigo de eles serem perdidos ou esquecidos. Apesar de tudo, eu acredito que
nada é realmente esquecido sobre a Arte, pois dentro do seu próprio domínio – o Círculo – os
espíritos irão falar àqueles com ouvidos para escutar. É de boca em boca que o verdadeiro e
invisível grimoire dos Homens-de-sabedoria é transmitido através das eras; é um livro cujas
folhas foram espalhadas por várias mãos e que mesmo assim são costuradas sob uma mesma
capa de pele e sangue.
Uma terceira forma de "transmissão" é a transmissão textual dos ensinamentos; isto é de alguma
forma parecido com a maneira de perpetuação dos shastras ou versos da escritura sagrada no
Tantrismo. Na Arte, há alguns livros manuscritos ou grimórios da Arte, os quais são passados de
um iniciado para outro. Tais livros são os repositórios dos ensinamentos que pertencem a
correntes ou práticas específicas. Estes tomos são conhecidos por vários nomes: O Celeiro
Secreto; a Bíblia do Homem de Osso; a Plantação do Demônio; O Livro do Dragão e outros.
Ao lado destes grimórios está o "Livro de Sombras", o nome genérico para um livro de práticas
wiccan escrito à mão. Este nome tem sido, em alguns casos, adotados por certos membros da
Antiga Arte; a sua ressonância poética é em geral a principal razão para que isso aconteça. Em
algumas formas da Arte, cada candidato deve fazer a sua própria cópia manuscrita do livro do
seu Mestre, pois o livro da Arte de cada membro é queimado após a sua morte.
A natureza essencial de todos estes textos é a de que eles são coleções pessoais de
conhecimento mágico acumulado através da experiência direta e compreensão da Arte. É assim
que o seu conteúdo é a única preservação dos seus donos; este é com razão o seu tabu natural.
O Círculo da Arte é lançado em muitos níveis e, acima de tudo, deve ser lançado sem falhas.
Trabalhar cautelosamente com tal objeto permite que o iniciado se ocupar com o espírito que
nele reside e tirar dele, em transes ou sonhos, uma grande sabedoria sem qualquer contato
físico com os seus portadores anteriores. Tal método de trabalho pode trazer novas influências
para as práticas do iniciado em Bruxaria Tradicional e pode ativar um estrato profundo de uma
sabedoria ancestral que permaneceu adormecida dentro tanto do círculo quando corpo. Ainda
que um objeto carregado magicamente obviamente partilhe do plano material, ele pode servir
como um conduíte para a transmissão de energias do tipo mais sutis e intangíveis.
Isto nos leva à próxima forma de "transmissão": Bruxaria Hereditária e Tradições Mágicas
Familiares. Este tipo de transmissão ocorre dentro do contexto de descendência familiar: os
conhecimentos, os costumes e/ou as posses mágicas de uma crença pagã mágico-religiosa
preservada dentro dos limites de um grupo fechado e familiar. Tais formas de crenças podem
variar grandemente de uma família a outra. Exemplos com os quais eu estou familiarizado
abrangem de tradições de feitiçaria americana até a fé britânica cristo-pagã (às vezes chamada
de fé dupla) no que concerne ao poder dos santos como guias espirituais. Tais crenças podem
ser citadas como pertencentes, embora não exclusivamente, às Tradições Hereditárias; pois elas
podem ser encontradas se dividindo e tornando-se operativas dentro de outras correntes. Eu
tenho autorização de relatar, a partir de um contato pessoal, um exemplo em que uma família
preservou um interesse em assuntos mágicos e ocultistas a ponto de coletar material de fontes
clássicas, que poderiam ser úteis em conjurações aos deuses antigos. Quando a filha da família
tornou-se envolvida com a bruxaria moderna, ela então começou a usar o material passado para
ela. A sua magia familiar, ou como quer que queiram chamá-la, tornou-se operativa fora dos seus
parâmetros originais. Através de subseqüentes gerações iniciáticas tais materiais mágicos
"hereditários" integraram-se com outras práticas e se desenvolveram em sua própria corrente de
sucessão. Este exemplo contém elementos tanto de descendência familiar quanto de sucessão
iniciática ritual; e como tal, deve ser considerada como uma parte distinta da Bruxaria
Tradicional, pelo seu próprio direito.
O modo pelo qual as Tradições Hereditárias são perpetuadas varia de família para família e
pode ser passada para as próximas gerações usando-se alguns dos caminhos citados
previamente. Tradições Familiares são uma raridade e podem ser altamente secretas. Em alguns
casos, eles não desejam ser vistas como parte de outras formas de paganismo e práticas
mágicas, ou mesmo ter qualquer conexão com elas. Isto deve ser respeitado como uma faceta
intrínseca do seu caminho, e apesar de tudo, estas sobrevivências de crenças pagãs são parte
da essência espiritual que ressuscita a Fé Antiga. Em exemplos aonde a Tradição Familiar
interage com Praticantes da Arte de fora da família, pode haver um enriquecimento mútuo de
conhecimento prático e uma garantia de que a sabedoria antiga sobreviva com integridade. Esta
interação deve, portanto, ser elogiada.
Ao lado dos caminhos descritos previamente pelos quais a Tradição é transmitida, há outros
caminhos de transmissão, tais como aquelas que pertencem ao reino sutil. O meio principal é o
da indução onírica.
É neste ponto que eu devo cessar de escrever sobre magia e começar a escrever através da
magia. Seria tolice persistir em discutir contextos sem conteúdo: o Místico não precisa expressar
a revelação do seu coração em outros termos que não aqueles da linguagem do seu coração e
nem o artista deveria desperdiçar tempo demais construindo as molduras das suas pinturas e
deixar de pintar o seu quadro. Tradutores e emolduradores é que devem fazer estes trabalhos!
Há um tipo de feitiço o qual eu devo relatar e por ele procurar convidar o leitor,
independentemente da sua disposição, a caminhar para fora e depois para dentro dos mistérios
sobre os quais ele está lendo.
Para este feito da Arte um cordão de couro e uma pedra-de-bruxa são necessários; a pedra-de-
bruxa é uma pedra que tem um furo no meio, surgido naturalmente: um portal gravado pelas
mãos da terra e encantado para abrir os idiomas dos rios. Ao obter uma pedra-de-bruxa, a
pessoa deveria contemplar a sua abertura e rogar para que ela seja uma entrada para a sua
ação em sonhos. Então, a pessoa deveria pegar o cordão de couro e, segurando-o em suas
mãos, deveria imaginar os caminhos da procissão mágica noturna. Considere os espíritos.
Pense sobre Aquela que voa de fora do corpo para a liberdade da sombria meia-noite.
Suba com os espíritos através das aberturas da carne; separe-se da sua moradia mortal e
vagueie pelos reinos espirituais com a companhia invisível do ar. Ande sobre o vento e deite-se
nos braços do céu. Ouça a sonora batida de asas de um passarinho e das asas do espírito; ouça
o ritmo do seu vôo ecoando as palavras de encantamento, enfeitando os planos noturnos com
sigilos de desejos esquecidos. Contemple os portais para o Outro Mundo: vislumbram-se
silhuetas contra a abóbada das estrelas. Esteja de acordo com elas; esteja de acordo com o seu
anfitrião do céu que vagueia pela noite. Deixe a brisa do rio estelar vivificar a sua alma e guiá-lo
pelo rastro do caminho intransitável. Ouça a batida das asas do espírito e sinta a batida do seu
coração; ouça a batida do coração e conte os seus passos até a dança sem limites do deus,
homem e fera. Contemple os participantes da dança circular. Contemple!
Nisto, o Sabá é percebido como um protótipo de todos os trabalhos mágicos e como um círculo
unificador de um simbolismo vivo e vital, integrando todos os aspectos da sabedoria da Bruxaria
e da técnica mágica. Estes aspectos são reinterpretados via mitopoética pessoal e então
revitalizados diretamente por sonhos experimentais do praticante iniciado. Da experiência do
sonhador, elementos específicos são extraídos e utilizados como a base para procedimentos
rituais na hora do despertar. O inverso também pode ser útil: aspectos do ritual do despertar
podem ser traduzidos em sonhos e então podem assumir novos e profundos significados. É
assim que o Sabá do Místico Witânico opera como o cruzamento entre os mundos como sendo a
arena para a refeição de poder mágico primal da sua fonte e para além dela.
A Iniciação no Sonho Sabático é diferente de outras formas de transmissão dentro da Arte; ela
ocorre fora do contexto da linearidade temporal e permite a entrada de qualquer um que possua
habilidade mágica o suficiente. Ainda que a transmissão onírica seja freqüentemente uma parte
do processo de instrução dentro do modo formal de transmissão ritual de conhecimento, ela é,
apesar de tudo, uma maneira através da qual qualquer verdadeiro aspirante pode entrar no
mistério sagrado da Arte. Pode-se então supor que qualquer um possa reivindicar um status
iniciático via estes meios. Isto pode acontecer, mas um contato genuíno com a corrente interna
da gnosis mágica é sempre aparente e não pode ser simplesmente assumida. Uma pessoa deve
ser chamada à noite, deixar a sua moradia carnal, o corpo, e voar com na Companhia de
Espíritos. O chamado do outros mundos da Convocação Sabática guia o aspirante diretamente
para a fonte do poder iniciático. Alguns podem interpretar isto como uma expressão imaginária
ou como uma elaborada reinterpretação de path-workings imaginados sob controle, mas eu
asseguro a todos que o Sonho do Sabá – a Convocação Espiritual das almas andarilhas da
Noite – é uma realidade além da imaginação! É o segredo do Grande Retorno, segundo o qual
nós podemos realizar um congresso com o Arcano do Ser Primordial e então com tudo e nada,
que nós chamamos de Tradição da Arte Mágica dos Sábios.
Voltemos à nossa questão inicial: "O que é Bruxaria Tradicional". Se nós tivermos ganhado uma
sensação – uma atmosfera de alguma coisa desta dissertação – então possivelmente a
"resposta" foi dada através da reunião nostálgica da verdade. Pois nós podemos busca por
muitos anos, mas é sempre entre as atmosferas de magia que a sua essência pode ser
apreendida de uma maneira que melhor conduz à realização da sua substância. Eu tenho então
procurado dar uma breve insinuação do espírito que impregna a Arte Antiga e formas associadas
de práticas mágicas. Com este intento em mente, eu fiz referências a formas exemplares de
atividade e uma prévia de cinco caminhos pelos quais o seu conhecimento é perpetuado.
Todos estes aspectos transcendem as limitações impostas por nomes e todos são
freqüentemente entrelaçados em um profundo contexto de mitologia vida – em uma auréola de
mistério que cerca a realidade dos homens-de-conhecimento. Alguns podem dizer que a questão
deveria ser "Bruxaria Tradicional existe"? A pergunta-título e a natureza desta dissertação são
uma asserção afirmativa. As respostas do reino são encontradas em livros de pele e sangue.
Agora, quem são os "homens-de-conhecimento" e foi realmente dada à questão inicial deste
artigo qualquer forma de uma resposta ou algo que o valha? Bem, deixe que os leitores decidam
por si mesmos. Sobre quem são os "homens-de-conhecimento", bem... eles estão no meio da
procissão Daqueles que andam pela Noite, sejam eles chamados de Bruxas, Feiticeiros,
Homens-de-Conhecimento ou Mulheres Sábias – eles são todos parte da herança mágica e
mística da Arte dos Sábios de Albion.
Proscrito: O meu trabalho na Arte me guiou a confiar um grande valor no conhecimento oral,
textual e ritual da Tradição e eu passei a apreciar profundamente o que foi transmitido a mim.
Durante os últimos anos, eu tenho ganhado uma consciência mais profunda da responsabilidade
que uma pessoa carrega por ser o detentor de tal conhecimento; esta responsabilidade é em
relação à própria Tradição e àqueles que irão herdá-la em dias que virão. Conseqüentemente,
eu tenho feito contatos com vários companheiros iniciados e tenho procurado preservar qualquer
ensinamento que eles tenham confiado a mim. Esta intercessão tem provado ser valiosa e é um
passo positivo em direção ao futuro do caminho, em todas as suas formas.