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A música ocidental como hoje é reconhecida sempre foi para mim uma
verdade absoluta, uma estrutura e organização que nunca questionei e que
sempre assumi como existente. Nunca me interroguei porque razão se
escolheram entre milhares de sons possíveis, 12 sons para representar uma
escala e o que esteve na base da sua escolha e relação.
A música foi inicialmente associada ao canto das aves, ao vento formado nas
canas das plantações ou ainda ao som da água. Hoje a ciência define-a
como uma sucessão de energias em vibração transmitidas pelo ar e
recebidas pela nossa membrana auditiva (sons). Para se distinguir do banal
ruído estes sons deverão estar encadeados temporalmente e organizados
segundo uma métrica precisa.
Com a ajuda dos seus discípulos inicia uma pesquisa sobre os sons e
descobre que dois fios esticados, se estes fossem tocados simultaneamente
o som seria agradável se as razões entre os seus comprimentos fossem
formadas por um conjunto de números simples. Eles observaram que as
relações existentes entre os comprimentos dos fios sempre obedeciam a
determinadas razões em certos intervalos. A relação entre a matemática e a
música passou a ser tão forte que os Gregos chegavam a afirmar que a
música eram números em movimento.
!
A partir desta experiência, as relações entre matemática e música ficaram
D%+%! 0#$E(+! .-,4%$-F%+0(,!
muito mais próximas;(! passou
G4#! %/()*#/#!
a ser /(0!
uma (,! /(01+-0#)*(,H!
forma de descrever a natureza e de
2#0(,! 1#),%+! #0!desenvolvimento
40%! 2#*#+0-)%2%!da/(+2%!
ciência.
2#! /(01+-0#)*(! <), =(7I! %! G4%$!
%0%+#0(,! 2#! J! )(,! 1+K5-0(,! #5#01$(,L!
Estabeleceram-se @(0%)2(!
relações 0#*%2#!
entre 2(! ,#4! *%0%)E(!
a música &>,
e as formas geométricas. A
proporção de uma quinta (2:3) corresponde aos lados de
7(*H! #)/()*+%+#0(,! (! JM! N(4! J! (-*%.%! %/-0%OH! 40%! .#F! G4#! (! /(01+-0#)*(! 2%! um triângulo de um
pentagrama, a quarta (3:4) corresponde aos lados de um triângulo de um
0#-+%!,#+P!24%,!.#F#,!0%-(+!G4#!(!2%!,#34)2%!#!1(+*%)*(!(!-)*#+.%$(!/(),-2#+%2(!C!
pentágono e a oitava (1:2) corresponde a um rectângulo composto por dois
quadrados dividido por uma diagonal.
(-*%.%L!>#!%!2-.-2-+0(,!#0!*+Q,!1%+*#,!-34%-,!#!*(0%)2(!G4%*+(!&<),=(7(,2=,?,=(,7(,
@=9;$072;, 62.;9:$0"0, "8$.";, 2, 9./$01"%2, :$, =7", 29/"1"*H! (R*#+#0(,! 2#,*%! .#F! %!
Também se estabeleceram relações entre a música e as médias. A média
aritmética entre os comprimentos de corda de duas notas em oitava
*%!SH!%!G4%$!T(+0%!40!-)*#+.%$(!2#!G4%+*%!/(0!(!J!/(),-2#+%2(L!
determinavam o tamanho de corda da nota que forma um intervalo de quarta
!
com a primeira. Arquitas por seu lado construiu sua escala baseada em
! frações da corda resultantes de médias harmônicas e aritméticas daquelas
encontradas por Pitágoras. Já Erastótenes elaborou a diferenciação entre
!
intervalos calculados aritmeticamente à maneira de Aristoxeno, de intervalos
! calculados pela razão.
!
O astrónomo alemão Kepler (1609) tentou estabelecer a relação entre os
! aspectos divinos da música e o movimento planetário. Afirmava que os
diâmetros das órbitas dos planetas eram proporcionais uns aos outros em
,
razões de números inteiros, tal como os tons numa escala musical (1:2, 2:3,
etc..) Marte, por exemplo,
, está a metade da distância de Júpiter relativamente
ao Sol, isto é, 1:2, ou uma “oitava acima”.
A9B=0"&'()*+,-)*#+.%$(!2#!G4%+*%!
A doutrina da música
! das
! esferas de Kepler encontrou a sua expressão mais
gloriosa na arquitectura das grandes abadias e catedrais da Europa
D+(/#2#)2(! 2#,*%! 0%)#-+%H! C! 1(,,U.#$! 2#*#+0-)%+! (,! 2#0%-,!
Medieval, conscientemente concebidas para obedecer às proporções da
01+-0#)*(,! 2#,*#!harmonia
-)*#+.%$(! musical
04,-/%$H!e geométrica.
/(0(! )%! /"#$%", '('L! "#1%+#! G4#! (,!
01+-0#)*(,!2#!/(+2%!2%,!)(*%,!#,*'(!+#$%/-()%2%,!,#34)2(!+#3+%,!2#!*+Q,!,-01$#,H!
O
Músico
C.’.M.’.
2/3
.%)2(! ,#01+#! #0! /(),-2#+%&'(!
%,! +%FV#,! (R*-2%,! )%! /"#$%", '()(, #! %,! 1(,-&V#,! )%!
A
Música
como
Geometria
do
Som
Em resumo, o que hoje ouvimos como música é apenas uma ínfima parte do
que a natureza tem para nos dar. Será por isso que não conseguimos igualar
com uma flauta o cantar de um pássaro, nem com um piano o som do vento
nas árvores. Tendo sido uma das maiores descobertas da humanidade, nem
sempre é observada como tal, mesmo no ensino da música. Mais do que
compor novas músicas com os sons definidos por Pitágoras, o desafio
poderá passar por trabalhar novos conjuntos de sons e suas possibilidades.