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Panorama do
Antigo Testamento

Ewerton Barcelos Tokashiki

Curso de Teologia
2018
1

Panorama do Antigo Testamento

Introdução

Este texto surgiu da necessidade de um roteiro de aula para a disciplina


“Panorama do Antigo Testamento” no Instituto Bíblico de Rondônia. Quando
convidado para lecionar, em 2004, precisa de um texto breve, mas que cumprisse
o propósito de um curso de um semestre. Além disso, havia a minha necessidade
de estudar e preparar as aulas, bem como a dificuldade de obter literatura para
os alunos, motivou-me escrevê-lo. Durante o semestre letivo questionado pelos
alunos, e as dúvidas pessoais, levaram-me a acrescentar notas e outros tópicos
em cada capítulo. Criei algumas tabelas comparativas para facilitar a
visualização do conteúdo de algumas aulas, ou menções recorrentes.
Atualmente não leciono mais introdução ao AT. Mas nunca parei de ler, ou
pensar sobre o assunto. Após 2004 continuei aplicando cursos modulares de AT
nas igrejas que pastoreei, por isso, adquiri outros livros que tratam do Antigo
Testamento.1 Todavia, a urgência com outros textos e assuntos, e a falta de
oportunidade que justificasse continuar escrevendo, fizeram com que não mais
mexesse nele.2 Mas, surgiu o interesse do professor de compartilhar com a
classe de AT da Escola Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana de Vila Guarani,
por isso, propus fazer uma revisão pelo menos gramatical.
É verdade que o texto está longe de seu término. Mas ele pode ser usado
em aulas de cursos básicos e médios de teologia, ou em classes de escola
dominical. Este é um projeto em andamento, sem data, mas com o intuito de um
dia tornar-se num livro.
Sinceramente desejo que ele contribua com o conhecimento estrutural do
AT. A minha oração é que ele seja útil para despertar um continuado estudo da
lei, narrativa, poesia, orações, cânticos e todo o conjunto literário que forma a
revelação da antiga aliança.

“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são


dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor
são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e
trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As
ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas.” (Salmos 19:7-9,
NVI)

1
Doravante será usada a abreviatura AT.
2
A última revisão do texto foi em 2008.
2

O ANTIGO TESTAMENTO É PALAVRA DE DEUS

A revelação especial no Antigo Testamento


A mente infinita de Deus ao comunicar a revelação da sua perfeita vontade
entra em contato com o finito e imperfeito. Por isso, ocorre sob o controle do
Espírito de Deus a acomodação da revelação. A Palavra de Deus é acomodada em
categoria do pensamento humano, bem como à sua linguagem comum. Ela passa
a participar e se manifestar com, em, através e além da cultura do escritor.
Cremos que a Palavra de Deus registrada no Antigo e no Novo Testamento,
sendo escrita por autores humanos, foi inspirada por Deus (2Tm 3:16)
garantindo a sua inerrância, autoridade, suficiência e clareza. Absolutas
verdades existem na mente de Deus, que através da revelação vêm à mente do
escritor original, assim na inspiração esta revelação registrou-se em Escritura:
a Palavra de Deus em palavras humanas. Com a preservação dos manuscritos
temos os textos atuais que precisam ser criteriosamente comparadas todas as
cópias para termos o que foi originalmente escrito pelos autores. Pela tradução
obtemos as nossas versões que procuram transmitir fielmente o significado
essencial do texto original. Por fim, através da interpretação a verdade chega a
mente do leitor comunicando, em forma de proposições, a verdade original da
mente de Deus.
A revelação é por natureza progressiva. Podemos adotar a seguinte
definição de “revelação progressiva” oferecida por D.A. Carson que diz
Deus progressivamente revelou-Se em acontecimentos e nas Escrituras,
culminando tais eventos com a morte-ressurreição-exaltação de Jesus Cristo, e
culminando as Escrituras com o fechamento do cânon. O resultado é que os
caminhos e propósitos de Deus foram progressivamente cumpridos não
apenas nos eventos redentivos, mas também na explanação registrada nas
Escrituras.3

Em cada estágio de desenvolvimento a revelação passou por um processo


de transição entre os distintos períodos da história da redenção. Charles Hodge
comenta que “sem nenhuma transição violenta, as mais antigas revelações deste
mistério foram gradualmente desvendadas, até que o Deus Triúno, o Pai, o Filho
e o Espírito, surge no Novo Testamento como o Deus universalmente
reconhecido de todos os crentes.”4 Há quatro características do desdobramento
3
D.A. Carson, Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática, p. 60.
4
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 337.
3

progressivo da revelação especial.5 Primeiro, a revelação especial é orgânica.


Segundo, a revelação foi progressivamente manifestada. Terceiro, a revelação
especial é histórica. Por último, que a revelação foi adaptável aos tempos em que
foi entregue.

A inspiração da Escritura Sagrada


A Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo. 6 Por inspiração
plenária entendemos como sendo aquela completa e suficiente influência do
Espírito Santo estendendo-se a todas as partes das Escrituras, ou seja, todos os
assuntos abordados, conferindo-lhes uma revelação autorizada de Deus, de modo
que esta manifestação proposicional vem a nós por intermédio da mente e
palavras de homens, todavia, elas serão no sentido estrito a Palavra de Deus. A
divina influência, que envolveu os escritores sacros, obteve a sua extensão não
somente aos seus pensamentos gerais, mas também as todas as palavras que
eles usaram, de modo que os pensamentos que Deus desejou revelar-nos foram
conduzidos com infalível exatidão – que os escritores foram os instrumentos de
Deus no sentido que aquilo que eles disseram, foi de fato o que Deus disse.7
A inspiração além de ser plenária e verbal, também foi orgânica. Por
inspiração orgânica entendo que os autores não foram anulados em sua
personalidade, em sua cultura, capacidade mental, estilo pessoal, mas o Espírito
Santo agiu em, com, através e além deles. Os autores, de um modo sobrenatural,
tiveram os seus impulsos pecaminosos inibidos, de modo que não contaminassem
o resultado de seu registro. As suas faculdades foram aguçadas, de modo que,
mesmo tendo um subdesenvolvimento cultural, as suas opiniões se tornaram tão
sábias e verdadeiras, sendo evidente que ainda hoje, não conseguimos alcançar
nem reproduzir obra literária de semelhante valor e coerência como a Escritura
Sagrada. O Espírito Santo capacitou homens a conhecer, interpretar e expressar
a verdade de Deus com exatidão. Ele também os impediu de incluir qualquer
afirmação que fosse contrária a essa verdade, bem como qualquer informação
que lhe fosse desnecessária.
Os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito Santo,
envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, entretanto, eles foram
preservados livres de todo erro, fazendo com que os seus escritos fossem
inteiramente autênticos e divinos. A Escritura é a Palavra de Deus e não pode
mentir (Nm 23:19; 1Sm 15:29; Tt 1:2; Hb 6:18). Se a Bíblia contêm algum erro
histórico, geográfico, ou científico, como podemos ter certeza de que não terá
erros morais (Sl 12:6)? A Escritura tivesse erros, teríamos que questionar se
Deus mentiu, ou errou em alguma de suas informações? Ele soberanamente não
poderia livrar os seus escritores de errarem? Como poderíamos aceitar a
autoridade da Bíblia, que alega ser a verdade, ensinar a verdade, inspirada por
um Deus verdadeiro, e que ama a verdade, se sua Palavra estivesse cheia de
erros (Nm 23:19; 2Sm 7:28; Jo 17:17; Tt 1:2; Hb 6:18)? A inerrância da Escritura
está associada com a intenção da mente do autor primário, ou seja, do próprio
5
Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, pp. 59-60.
6
Lorraine Boettner, Studies in Theology, p. 11
7
Cornelius Van Til na “Introduction” da obra B.B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p. 9.
4

Espírito Santo. A inerrância é a base de autoridade para toda a Escritura (Mt


5:17-20; Jo 10:34-35).

O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO


A palavra cânon teve a sua origem no termo hebraico qâneh (Ez 40:3), que
posteriormente foi transliterado para o grego kánon, significando regra (Gl 6:16).
No século II d.C. tomou o significado de “regra de fé”, isto é, o seu uso passou a
indicar o padrão de verdade revelada. Entre 185 a 254 d.C., Orígenes usava a
palavra aplicando-a para se referir aos livros inspirados, sendo que no século IV
o seu significado técnico era recebido por toda a Igreja.

Livros não canônicos mencionados no Antigo Testamento


O livro das Guerras do SENHOR (Nm 21:14).
O livro das histórias de Salomão (1Rs 11:41).
A história do rei Davi (1Cr 27:24).
As crônicas de Samuel, o vidente (1Cr 29:29).
As crônicas de Natã (1Cr 29:29).
As crônicas de Gade, o vidente (1Cr 29:29)
O livro da História de Natã, o profeta (2Cr 9:29).
5

A profecia de Aías, o silonita (2Cr 9:29).


As visões de Ido, o vidente (2Cr 9:29).
O livro da História de Semaías, o profeta (2Cr 12:15).
O registro das genealogias (2Cr 12:15).
O livro da História do profeta Ido (2Cr 12:15; 13:22).

Os princípios da formação do cânon do Antigo Testamento


Critérios falhos de canonicidade:
A idade do livro não determina a sua canonicidade.
O fato de ter sido escrito em hebraico.
A sua concordância com a Toráh.

Critérios para se estabelecer a canonicidade:


A inspiração divina. O livro foi escrito por um profeta de Deus?
A autoridade do livro. O autor foi confirmado pelos atos de Deus?
A autenticidade. A mensagem diz a verdade procedente e acerca de Deus?
O poder transformador. O livro veio com o poder de Deus?
A aceitação pelo povo de Deus.

ESTRUTURA DO ANTIGO TESTAMENTO

Divisão Personagens Períodos Nações Estrutura


literária do da história de antigas Aliancista
TM Israel
TORÁH Adão Criação Unidade da A criação
raça
PROFETAS Noé Dilúvio A continuidade A preservação
Anteriores da raça
Posteriores humana
ESCRITOS Abraão Patriarcas Semitas: antiga A promessa
Emeth Babilônia -
[Verdade] Canaã
Meguiloth
[Rolos]
6

Moisés Saída do Egito Deserto do A Lei


Sinai
Josué - Samuel Juízes Egito O reino
teocrático
Davi Monarquia Assíria
Roboão Divisão Reino
do Sul e do
Norte
Peca Dispersão do Assíria
Reino do Norte
Isaías/Jeremias/D Exílio Neo-Babilônia
aniel babilônico
Neemias Retorno à Judá Medo-Persa
e construção
templo
Esdras Construção Medo-Persa
muros

QUADRO COMPARATIVO DO ANTIGO TESTAMENTO


Vulgata Septuagint Cânon Cânon Cânon
Latina a Hebraico Protestante Católico
LEI (5) LEI (5) TORÁ (5) LEI (5) LEI (5)
Gênesis Gênesis Gênesis Gênesis Gênesis
Êxodo Êxodo Êxodo Êxodo Êxodo
Levítico Levítico Levítico Levítico Levítico
7

Números Números Números Números Números


Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio

HISTÓRIA HISTÓRIA PROFETAS (8) HISTÓRIA (12) HISTÓRIA (14)


(12) (18) Profetas Josué Josué
Josué Josué anteriores (4) Juízes Juízes
Juízes Juízes Josué Rute Rute
Rute Rute Juízes 1 Samuel 1 Reis / 1
Samuel Samuel 1-2 Samuel 2 Samuel Samuel
Reis Reis 1-2 Reis 1 Reis 2 Reis / 2
Crônicas Paralipômenos Profetas 2 Reis Samuel
Esdras Crônicas posteriores (4) 1 Crônicas 3 Reis / 1 Reis
Neemias 1-4 Esdras Isaías 2 Crônicas 4 Reis / 2 Reis
Tobias Ester Jeremias Esdras 1 Crônicas
Judite Judite Ezequiel Ester 2 Crônicas
Ester Tobias 12 profetas Esdras-
Macabeus 1-4 Macabeus menores POESIA (5) Neemias
Jó Tobias
POESIA (7) POESIA (8) ESCRITOS (11) Salmos Judite
Jó Salmos Emeth - Provérbios Ester
Salmos Odas verdade (3) Eclesiastes
Provérbios Provérbios Salmos Cantares POESIA (7)
Eclesiastes Eclesiastes Provérbios Jó
Cantares Cantares Jó PROFETAS Salmos
Sabedoria Jó Megilloth – MAIORES (5) Provérbios
Eclesiástico Sabedoria rolos (5) Isaías Eclesiastes
Salmos de Cantares Jeremias Cantares
PROFETAS Salomão Rute Lamentações Sabedoria
(18) Lamentações Ezequiel Eclesiástico
Isaías PROFETAS Eclesiastes Daniel
Jeremias (19) Ester PROFETAS
Lamentações Oséias Daniel PROFETAS (12) (20)
Baruque Joel Esdras-Neemias Oséias Isaías
Ezequiel Amós 1-2 Crônicas Joel Jeremias
Daniel Obadias Amós Lamentações
Oséias Jonas Obadias Baruc
Joel Miquéias Jonas Ezequiel
Amós Naum Miquéias Daniel
Obadias Habacuque Naum Oséias
Jonas Sofonias Habacuque Joel
Miquéias Ageu Sofonias Amós
Naum Zacarias Ageu Obadias
Habacuque Malaquias Zacarias Jonas
Sofonias Isaías Malaquias Miquéias
Ageu Jeremias Naum
Zacarias Baruque Habacuque
Malaquias Lamentações Sofonias
Carta de Ageu
Jeremias Zacarias
Ezequiel Malaquias
Daniel 1-2 Macabeus

PENTATEUCO
8

Título
Geralmente esta seção do Antigo Testamento é comumente conhecido
como toráh (Lei). O substantivo toráh se deriva da raiz yarah, “lançar” ou
“projetar”, e significa orientação, lei, instrução. Edward J. Young observa que
como designação dos cinco primeiros livros da Bíblia, esse termo é empregado
em sentido mais restrito para destacar o elemento legal que forma tão grande
porção desses livros. Esse emprego do termo, porém, não exclui as seções
históricas ou de narrativa; antes, inclui-as, visto que formam o segundo plano
ou arcabouço apropriado para a legislação.8

A palavra “Pentateuco” é uma derivação de duas palavras gregas penta


(cinco) e teuchos (volume). Seu primeiro uso se encontra, talvez, nos escritos de
Orígenes, em que menciona em Jo 4:25 a respeito “do Pentateuco de Moisés”.
No AT o Pentateuco é chamado de:
Lei: Js 8:34; Ed 10:3; Ne 8:2,7,14; 10:34,36; 12:44; 13:3; 2Cr 14:4;
31:21; 33:8.
Livro da Lei: s 1:8; 8:34; 2Rs 22:8; Ne 8:3.
Livro da Lei de Moisés: Js 8:31; 23:6; 2Rs 14:6; Ne 8:1.
Livro de Moisés: Ed 6:18; Ne 13:1; 2Cr 25:4; 35:12.
Livro do Senhor: Ed 7:10; 1Cr 16:40; 2Cr 31:3; 35:26.
Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.
Livro da Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.
Livro da Lei do Senhor: 2Cr 17:9; 34:14.
Livro da Lei do Senhor seu Deus: Ne 9:3.
Livro de Moisés, servo de Deus: Dn 9:11, 13; Ml 4:4.

No Novo Testamento o Pentateuco é chamado de:


1. Livro da Lei: Gl 3:10.
2. Livro de Moisés: Mc 12:26.
3. Lei: Mt 12:5; Lc 16:16; Jo 7:19.
4. Lei de Moisés: Lc 2:22; Jo 7:23.
5. Lei do Senhor: Lc 2:23-24.

Autoria do Pentateuco
O Pentateuco é uma obra contínua, completa, produzida por um só autor
inspirado. É possível que se tenha feito o uso de fontes orais e escritas sob
orientação divina.

Negação da Autoria Mosaica


Alguns movimentos como o Deísmo e Racionalismo forneceram o cenário e
contribuíram para o surgimento da Teoria Documentária. Estas duas correntes
8
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 47.
9

de pensamento, embora diferentes, concordam numa coisa: a negação de uma


relação sobrenatural de Deus com o homem. Negando a premissa sobrenatural,
não se pode sustentar a doutrina da inspiração, profecias, a providência divina,
etc. A Bíblia torna-se um livro meramente humano. Foi quando começaram a
questionar a autoria mosaica, e a sua data de escrita, como também a veracidade
de seu conteúdo.
1. Thomas Hobbes em sua obra Leviathan (1651) afirmou que o Pentateuco
havia sido editado por Esdras a partir de fontes antigas.
2. Benedicto Spinoza declarou em Tractatus Theologico-Politicus (1670) que
Esdras havia editado o Pentateuco com interpolação de Deuteronômio,
questionando a autoria mosaica.
3. Jean Astruc, médico francês, foi o primeiro a dar expressão literária a essa
teoria (em 1753). Limitou suas dúvidas apenas a autoria de Gn 1. Sua tese
era que Moisés havia compilado o livro de Gênesis a partir de duas
memórias (Memoires), e outros documentos menores. Astruc identificou 2
fontes principais: Fonte A, com o uso da palavra Elohim, e fonte B, o uso da
palavra Yahweh. Todavia, aceita Moisés como autor do livro todo. Alegava
ter encontrado em Gênesis mais de dez fontes e outras interpolações
textuais!
4. Johann G. Eichorn em sua Einleitung (1780-1783), expandiu as ideias de
Astruc a todo o Pentateuco e não apenas a Gênesis. Negou a autoria
mosaica. Dividiu Gn e Êx 1-2 em fontes designadas J e E, e afirmou que
estas foram editadas por um autor desconhecido.
5. Alexander Geddes, padre católico escocês, investigou as “memoires” de
Astruc. Em 1792-1800 desenvolveu a teoria fragmentária. Segundo a
Teoria Fragmentária o Pentateuco consiste em fragmentos lendários,
desconexos entre si e de muitos autores desconhecidos, mas possuindo
apenas um redator. Foi o primeiro a sugerir a existência de um Hexateuco.
Segundo Geddes o Pentateuco foi compilado por um redator desconhecido
a partir de numerosos fragmentos que tiveram sua origem em círculos
diferentes, um elohístico, e o outro javístico. A data da composição final do
“Hexateuco” teria ocorrido em Jerusalém, durante o reinado de Salomão.
6. J. Vater (1802-1805) fez a divisão do Pentateuco em 39 fragmentos. A data
da composição final do Pentateuco foi no exílio babilônico, sendo que nesta
época adquiriu a forma que hoje conhecemos.
7. A.T. Hartmann foi o primeiro a dizer que a escrita era desconhecida no
tempo de Moisés entre os israelitas (1831). Segundo ele, o Pentateuco era
constituído de um grande número de pequenos documentos pós-mosaicos,
a que foram feitas adições, de tempos em tempos, até se tornarem nos
cinco livros. Considerava o Pentateuco como lenda e mito.
8. Wilhelm M. L. De Wette (1780-1849) em 1805 escreveu um livro, acerca de
Deuteronômio, dando este livro como pertencente ao tempo de Josias e
escrito um pouco antes da sua reforma religiosa, em 621 a.C.
9. Heinrich Ewald (+1875) rejeitou a autoria mosaica. Segundo ele o
Pentateuco é composto de muitos documentos, mas enfatizando o
documento E como sendo básico.
10

10. Tuch foi quem deu expressão clássica à teoria. Deu ênfase a dois
documentos básicos, o E e o J, tendo datado o E no tempo de Saul, e o J no
tempo de Salomão. Representa uma volta a Teoria Documentária primitiva.
Segundo essa teoria, o documento básico, original era um só, o documento
E (elohista), combinado com um suplemento principal que era o documento
J (jeovísta) formavam a base para o Pentateuco. No decorrer dos séculos
novas adições foram feitas a estes documentos, terminando na
cristalização do atual conjunto de cinco livros. Todos estes críticos
negaram a autoria mosaica do Pentateuco.
11. Hermann Hupfeldt, em 1853, ensinou que, além do Deuteronômio,
havia três documentos contínuos que eram J,E1 e E2, combinados por um
único redator.
12. E. Riehm (1854) defendeu que os documentos contínuos eram quatro
e não três. Foi o primeiro a apresentar um quarto documento principal,
chamado D. A forma dos documentos seria E1, E2, J, D.
13. Reuss (1850) acreditava em cinco documentos principais J, E1, E2, d,
P. Foi o primeiro a sugerir o documento P como sendo documento básico e
também como sendo o último deles. Atribuiu ao tempo de Esdras como
data final da redação do Pentateuco.
14. Karl H. Graff, em 1865, afirmou a literatura de Êxodo, Levítico e
Números, não pertencia ao período de Josias, mas ao cativeiro babilônico.
Rejeitou o documento E1 como sendo um documento independente. Para
ele o E1 é igual ao P, um documento procedente do período do reinado de
Josias. Para Graff a ordem dos documentos seria P–histórico, E, J, D, P-
legal.
15. Abraham Kuenen (1869-1870) desenvolveu a teoria de Graff e a
difundiu, principalmente na Alemanha. Em sua obra “A Religião de Israel”
(1869) argumentou que o P-histórico não poderia ser separado do
documento P-legal. Sua teoria resultou em J, E, D, P.
16. Julius Wellhausen foi quem deu uma popular formulação literária à
teoria, em sua obra Die Composition dês Hexateuchs, em 1876. Com ele a
teoria adquiriu o nome de Graff-Kuenen-Wellhausen. Causou um grande
impulso ao criticismo moderno.
17. Herman Gunkel (1862-1932) e Hugo Gressmann (1877-1927)
posicionaram-se contra as tendências do wellhausenismo clássico. Os
grandes expoentes na crítica das fontes. Defendiam a necessidade de se
descobrir o Sitz im Leben (contexto vital). Comparação com a mitologia
antiga.9
18. Otto Eissfeldt em sua Einleitung in das Alte Testament (1934)
defendia a classificação da literatura do AT em vários gêneros e categorias.
Tenta traçar o desenvolvimento (a influência pré-história literária) dos
diferentes documentos. Propõem a existência de um documento L (fonte
leiga). Não possui uma concepção adequada da revelação, considera a
literatura do AT como de origem meramente humana.

9
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Pentateuco, p. 4.
11

19. R.H. Pfeiffer em Introduction to the Old Testament (1941) mostra


erudição e apologia, basicamente anticristã. Ensinou a existência de um
documento S (Sul ou Seir), mas obteve aceitação popular. Nega a
revelação, milagres, etc.. Segundo Pfeiffer estas são cousas subjetivas, sem
prova científica e devem ser desconsideradas como fatos históricos.
20. Gerhard Von Rad (1934) defendeu a existência de mais dois
documentos Pa e Pb. Propôs a teoria do Hexateuco.
21. Aage Bentzen publicou em 1941 uma obra que esposa o método
histórico-crítico que presta dedicada atenção ao estudo das supostas
formas da literatura do AT.

A atual situação entre os estudiosos do AT


Atualmente o liberalismo predomina nos estudos do AT em todo o mundo.
Todavia, há vozes conservadoras que se fazem ouvir com vasta erudição. Temos
em português algumas obras acadêmicas publicas sobre Introdução ao Antigo
Testamento:

Liberais: que negam a unidade do Pentateuco e autoria mosaica


1. Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, Editora Sinodal, 1981.
2. Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, ASTE, 1968, 2 vols.
3. E. Sellin & G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, Edições Paulinas,
1978, 2 vols.
4. Werner H.Schmidt, Introdução ao Antigo Testamento, Editora Sinodal.

Conservadores: que confirmam a unidade do Pentateuco e autoria mosaica


1. Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, Edições Vida Nova, 1964.
2. Clyde T. Francisco, Introdução do Velho Testamento, JUERP, 1969.
3. Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, Edições Vida
Nova, 1991.
4. Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, Edições Vida, 1996.
5. W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento,
Edições Vida Nova, 1999.

É necessário fazermos uma breve observação a título de orientação. A


“Introdução ao Antigo Testamento” de Lasor, Hubbard e Bush, recentemente
editada (1999), pela Edições Vida Nova, deve ser estudada com ressalvas.
Embora, seja indicado “para alunos, professores e estudiosos evangélicos
conservadores”10 e os três autores pertencessem ao renomado Seminário
Teológico Fuller de seguimento conservador11. Esta obra não pode ser
considerada como totalmente conservadora, por alguns motivos muito
relevantes:12
1. Nega a autoria fundamental de Moisés, pág.10;
10
Comentário na sobrecapa do livro.
11
Este seminário, embora conservador, tem adotado uma postura mais pluralista em sua teologia e métodos, perdendo
sua identidade original.
12
Os pressupostos teológicos e metodológicos, sobre a obra, podem ser encontrados todos no cap. 1, pp. 3-15.
12

2. Adota a “teoria documentária” proposta pelo teólogo liberal alemão


Martin Noth, chamada “Tetrateuco” [Gn, Êx, Lv, Nm] e “História
Deuteromística” [Dt, Js, Jz, Sm, Rs] (págs.11-14);
3. Defende uma “unidade temática-histórica” (pág. 3-6), e uma “unidade
estrutural” (págs.14-15), mas não “literária-textual”;
4. Adota o pressuposto evolucionista hegeliano (pág.10);
5. Enfatiza que a formação do Pentateuco “é uma antologia literária” e o
produto de “comunidade de fiéis ao longo de muitos séculos”(pág. 14).
6. Aceita como premissa a teoria da “crítica canônica” de B.S. Childs (neo-
ortodoxo). Afirma que o importante é o produto final, ou seja, o cânon
(pág.14), sem importar com o método utilizado, embora, não rejeita os
pressupostos e métodos básicos da teoria documentária de Martin Noth
(veja as notas 17-19 na pág. 754 da obra).

Uma avaliação crítica da Teoria Documentária.


Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em
afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400
a.C.), quando a religião de Israel já estava bem desenvolvida.
1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando
francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria
veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a que
está vinculada durante todos esses séculos.
2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da
identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que
eles supostamente pertencem.
3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a
Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O livro de Dt foi inventado
pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de
Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas
ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento P,
composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte do
povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa
Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho
universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do Pentateuco e
do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de
diferentes”.13
4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco. 14 Não teria qualquer valor
para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o
Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente
desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de “a
Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros leitores, não
teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma vez que os
conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode
não ser para outro.
13
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 13.
14
Oswald T. Allis, The Five Books of Moses, p. 10.
13

5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco 15 é rico em


detalhes e informações. Possui informações das origens e desenvolvimento
dos povos, em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se
dado a um imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma
ordem que já estava estabelecida.
6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou
manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham
circulado em algum período soltos uns dos outros.16
7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que
um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com
o intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a
abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na
boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com
que todos a considerassem como verdadeiras!
8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Consequentemente a intervenção
divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.
9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma
referência literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer,
deixando de ser a auto-revelação proposicional de Deus.

Argumentos à favor da autoria Mosaica do Pentateuco


Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito
o Pentateuco. Todavia, há um testemunho suficiente, que apoia a sua autoria. A
ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em particular, e
com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era
basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material e
metodologia tradicionais, conforme já foi observado.

Evidências Internas
Êx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.
Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).
Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx 34:10-26, o 2º
Decálogo.
Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até Moabe
(caminhada pelo deserto).
Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.
Dt 31:22 refere-se a Dt 32.
Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e palmeiras
(Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).
Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, e do
percurso do êxodo.
Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí uma noção
estrangeira da Palestina. Os termos usados para as estações, tempo,
fauna, flora são egípcios, não palestinos. O autor estava familiarizado com
15
Veja o “Esboço do Pentateuco”.
16
Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament, p. 50.
14

a geografia egípcia e sinaítica. Menciona quase nada sobre a geografia


palestina, o que evidencia seu pouco conhecimento da região.

Evidências Externas
Livro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do Pentateuco Js
1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.
Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”
Expressões frequentes nos livros históricos: “lei de Moisés”, “livro da lei de
Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1Rs 2:3; 2Rs 14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1;
etc.

Evidências do NT
Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt 19:8; Mc
10:4-5.
O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23) como
fazendo parte da Lei de Moisés.
Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23; 13:38-39; 15:5,21;
26:22; 28:23; Rm 10:5,19; 1Co 9:9; 2Co 3:15; Ap 15:3.

Moisés era qualificado para escrever o Pentateuco


Alguns críticos questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive
até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres
puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios,
e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos
mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara
os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas
sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não
podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da
mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer
estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de
papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta.
Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os
documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione
Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível. 17

Moisés é reconhecido como o homem erudito na antiguidade bíblica. Nos


dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio,
construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na
corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito
já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era
usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.
Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu
povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real
egípcio, do seu acervo literário. Era possuidor de um vasto e detalhado
conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do

17
Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos, p. 80.
15

Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares. O modo como
o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era
palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos
nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer
outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são
geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias,
5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus
dias.18
Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel
de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor,
historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que
exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era
preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível
a todos. Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta
árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua
ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse
escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo. 19Ele
mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9,
24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.

O que se entende por autoria Mosaica?20


1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada
palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;21
2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente
existentes;
3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias
posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);
6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O
especialista em Antigo Testamento Robert D. Wilson comenta “que o
Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempo de Moisés; e
que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e
editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão
verazes como o restante, não existe dúvida.”22

Unidade do Pentateuco
Unidade literária e textual

18
G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507.
19
Martinho Lutero apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira
biblioteca. A obra completa da edição alemã de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
20
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 52.
21
Oswald T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), pp. 12-14.
22
Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p. 11.
16

Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que


se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra. Não há nenhuma
evidência história ou manuscritológica de que vários redatores tenham
“costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência de que em
algum período da história o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes
JEDP), e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação
final, como propõe a Teoria Documentária. A tradição judaica desconhece tal
coisa.

Unidade histórica
O Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve linear e
progressivamente. A ligação cronológica entre os cinco livros, transmite-nos a
ideia de que, é somente um livro de cinco capítulos. Podemos resumir a história
de Israel registrada no Pentateuco da seguinte forma:
1. Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si um povo.
2. Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar a terra de
Canaã.
3. Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhor os livrou.
4. Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.

Unidade temática
1. Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.
2. Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.
3. Em Lv vemos a santificação de Israel.
4. Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.
5. Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel

Divisões
O Pentateuco é uma unidade em cinco livros. Entretanto, entre os eruditos
liberais não há consenso quanto a isto. O pensamento crítico mais antigo
defendia que Dt não termina o Pentateuco, mas culmina com o livro de Josué.
Esta tese formulada por Julius Wellhausen e Gerhard Von Rad, é conhecida como
“Teoria do Hexateuco”(Gn+Êx+Lv+Nm+Dt+Js). Outro perspectiva crítica mais
recente defende que Dt é uma introdução teológica à subseqüente “História
Deuteronomística”. Segundo a “História Deuteronomística” o livro de
Deuteronômio faz parte de sequência de livros compilados por redatores.
Formulada por Martin Noth:

Tetrateuco História Deuteronomística


Gn Êx Lv Nm Dt Js Jz Sm Rs

As teorias críticas de G. Von Rad e Martin Noth negam tanto a autoria,


quanto a unidade do Pentateuco. Seguimos a divisão tradicional em cinco livros.
Não há evidência de que o Pentateuco tenha sido “mutilado” ou “acrescentado”
como querem sustentar os defensores de um “Tetrateuco” ou “Hexateuco”.
17

Apesar de novas teorias surgirem defendendo uma divisão diferente da


tradicional, mantemos que ela é a melhor, por ser coerente com a nossa opinião
da autoria mosaica. Algumas evidências da unidade estrutural dos cinco livros,
ou Pentateuco:
1. O Pentateuco Samaritano
2. A Septuaginta
3. Filo, filósofo judeu de Alexandria (Egito)
4. Flávio Josefo, historiador judeu
5. Designações judaicas posteriores se referiam ao Pentateuco como “os cinco
quintos da Lei” (Talmud de Jerusalém, Sanhedrin 10:1 e Koheleth rabba Ec
12:11).

Esboço do Pentateuco23
O Pentateuco é formado por cinco livros que, juntos, abrangem um período
de tempo que se estende desde a Criação até a chegada do povo de Israel aos
limites de Canaã.

Evento histórico Referência


bíblica
História primitiva com um contexto Gn 1-11
histórico amplo
História dos patriarcas Gn 12-50
Opressão de Israel e preparativos para a Êx 1-9
saída do Egito
O êxodo e a chegada ao Sinai Êx 10-19
O Decálogo e o Pacto no Sinai Êx 20-24
Tabernáculo e o sacerdócio aarônico Êx 25-31
A violação idolátrica do Pacto Êx 32-34
Acréscimo de leis acerca do Tabernáculo Êx 35-40
A lei das oferendas Lv 1-7
Consagração dos sacerdotes e oferendas Lv 8-10
iniciais
As leis da purificação Lv 11-15
O dia da expiação Lv 16
Leis acerca da moralidade e pureza Lv 17-26
Votos e dízimos Lv 27
Censos e leis Nm 1-9
A viagem desde o Sinai até Cades- Nm 10-20
Barnéia
Peregrinações até Moabe Nm 21-36
Primeiro discurso Dt 1-4
Segundo discurso com uma introdução Dt 5-11
exortativa

23
R.K. Harrison, Introdución ao Antiguo Testamento, vol. 2, p. 4.
18

Coleção de estatutos e direitos Dt 12-26


Maldições e Bênçãos Dt 27-30
Ascensão de Josué e a morte de Moisés Dt 31-34

Importância do Pentateuco
Aspecto social
O Pentateuco funcionou como uma constituição da teocracia de Israel.
Antes de refletir os costumes nacionais, o Pentateuco tencionou ditá-los. G.L.
Archer escreve que “estes seriam os alicerces morais e religiosos nos quais a sua
nação haveria de cumprir o seu destino”. 24 Quando Deus deu a Moisés a Lei, Ele
forneceu o princípio regulador que nortearia toda uma nação.

Aspecto científico
A origem do universo com um ato criativo de Deus. O movimento
Criacionista tem desenvolvido argumentos consistentes numa tentativa de
explicar cientificamente a origem do universo à partir de pressupostos bíblicos
encontrados, especialmente, no livro de Gênesis . Apresenta Deus como a
“primeira causa eficiente”. Como também transformações que podem ser
explicadas pelo evento de um dilúvio universal.

Aspecto teológico
Raízes do Cristianismo e judaísmo estão profundamente firmadas no
Pentateuco. Tudo se firma, ou tudo caí com a autoridade do Pentateuco. No
Pentateuco encontramos informações e pressupostos para o desenvolvimento da
teologia. A origem do universo, sobre a vida humana, pecado, “proto-evangelho”,
cerimonial, culto, nomes de Deus, aliança, início de Israel, etc.

Aspectos históricos
Esses livros são os únicos a traçar uma linha contínua a partir de Adão.
Todavia, não sua intenção apresentar uma história completa de todas as
gerações e raças, mas sim um relato altamente especializado da implantação do
reino teocrático no mundo. Não é mera história. Mas a história da redenção do
ser humano pecador. História especial com um motivo teológico por trás.
História apontando para Cristo.

Aspectos étnicos
Os livros do Pentateuco descrevem o começo e a expansão das divisões
raciais do mundo.

Aspectos proféticos

24
G.L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 508.
19

O Pentateuco é o fundamento para os temas proféticos mais importantes da


Bíblia. As profecias preenchem a interpelação histórica através das demais
revelações.

Propósito
Esta obra não é um mero ensaio literário, mas o registro histórico de uma
grande família, a descendência de Abraão. Toda a história gira em torno deste
povo. A sua identidade étnica se delineia nestes cinco livros. O Pentateuco
procura situar o povo de Israel dentro do mundo, especialmente em Gn,
apresentando suas origens e a origem dos povos que posteriormente viriam a
cruzar o seu caminho. Tal conhecimento da história nacional seria tão importante
para o povo no deserto, quanto para o povo já estabelecido em Canaã.
O Pentateuco foi escrito para apresentar o Deus que libertou o povo de
Israel. De modo que o povo pudesse adorar e obedecer a Deus, sabendo que Ele
é verdadeiramente o único Deus e que é poderoso, santo e glorioso.

GÊNESIS

Título
O título do Texto Massorético segue a prática hebraica de intitular a obra
com a primeira palavra, ou frase da mesma. O nome “Gênesis” procede da
Vulgata Latina (Gn 1:1 e 2:4) que por sua vez é uma transliteração da LXX. 25

Autoria
Não há nenhuma declaração direta quanto ao autor. Isto ocorre devido a
uma característica literária hebraica pois
a ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo
Testamento em particular e com as obras literárias antigas em geral. No
antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado,
limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais. A “literatura” era
mais uma propriedade comunitária que particular. 26

Jesus aponta Moisés como o seu autor (Jo 7:23). Vide* Autoria e Unidade
do Pentateuco

Gênero literário
É importante lembrar que Gênesis é uma obra narrativa hebraica. Um
trabalho que interessa diretamente os judeus, já que ela descreve a formação da
25
H.C. Leupold, Exposition of Genesis, p. 5.
26
W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 9.
20

nação Israelita, e também de outros povos no mundo. O livro segue um plano


lógico e procura evitar detalhes desnecessários. Os personagens são sempre
apresentados como seres humanos reais, descrevendo seus defeitos e pecados
cometidos, nunca como figuras mitológicas.

Data
Segundo os arqueólogos, Moisés viveu num período da história conhecida
como “Idade do Bronze”, datado aproximadamente 1550-1200 a.C.. E muitas
datas tem sido sugeridas para a escritas do livro de Gênesis, as duas mais
relevantes são 1445 e 1290 a.C..
A data de 1445 a.C. é preferida por causa da evidência interna, que se
encontra no livro de 1 Rs 6:1. Esta passagem relata que Salomão iniciou a
construção do Templo no quarto ano do seu reinado sobre Israel, o qual “era 480
anos depois que os israelitas haviam saído do Egito”. Lembrando que o quarto
ano do reinado de Salomão foi aproximadamente 965 a.C., somando aos 480, o
resultado é que o livro tenha sido escrito cerca de 1445 a.C.27

Local da escrita
Gênesis foi, provavelmente, redigido durante a primeira parte da
peregrinação pelo deserto de Sim, enquanto procurava instruir Israel sobre as
verdades fundamentais divinas.

Extensão histórica
O livro de Gênesis abrange um período de tempo maior do que qualquer
outro livro da Bíblia. Sua narrativa inicia na “pré-história” e vai até o ano 2500
a.C.. Começa com a criação do universo e termina com a morte de José, e o povo
de Israel residindo no Egito.

Extensão geográfica
A ação geográfica do livro é do vale da Mesopotâmia até o vale do Nilo no
Egito. Essa área é chamada de “Fértil Crescente”.

Propósito
Propósito teológico
Foi escrito para revelar ao soberano Deus como Criador, Juiz e Redentor do
mundo, que escolheu o povo de Israel como canal de benção. 28 Apresenta Deus
como um Ser pessoal, com atributos e governando os acontecimentos nos seus
pormenores pela sua providência.

Propósito histórico
Fornecer uma cosmovisão da origem do universo.
Descrever raízes genealógicas até a entrada de Israel no Egito.

27
R.F. YoungBlood, The Book of Genesis, pp. 14-15.
28
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 4.
21

Modelos de estrutura do livro


Estrutura Referência
temática bíblica
Raça humana 1-11
corrompida
Raça hebraica 12-50
escolhida

Estrutura temática Referência


bíblica
A criação do universo 1
O começo da raça 1-5
humana
O dilúvio 6-9
A origem da diversidade 10
das raças
A preparação de Abraão 11-25
A jornada de Isaque 21-27
Os conflitos de Jacó 25-36
A ida para o Egito 37-50

Estrutura textual de “...são estas as Referência


gerações de...” 29 bíblica
Os céus e a terra 2:4
Adão 5:1
Noé 6:9
Os filhos de Noé 10:1-2, 6
Sem 11:10
Terá 11:27
Ismael 25:12
Isaque 25:19
Esaú 36:1, 9
Israel 37:2

Esboço de Gênesis
O Começo da Humanidade...............................1:1-11:32
A Criação do Mundo...............................................1:1-2:3
O lugar do homem no mundo...............................2:4-25
A Queda e consequências......................................3:1-4:26
As Raças antediluvianas.......................................5:1-32
O Dilúvio..................................................................6:1-9:29
A posteridade de Noé.............................................10:1-11:32
29
W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 19.
22

A Vida de Abraão..........................................12:1-25:18
Chamado de Abraão...............................................12:1-14:24
Renovação e Confirmação da Aliança.................15:1-17:27
Ló é poupado em Sodoma....................................18:1-19:38
Abraão e Abimeleque.............................................20:1-18
Nascimento e casamento de Isaque.....................21:1-24:67
A Vida de Isaque e Sua Família....................25:19-26:35
Nascimento de Esaú e Jacó..................................25:19-28
Esaú vende a primogenitura a Jacó.....................25:29-34
Isaque e Abimeleque II.........................................26:1-16
A disputa em Berseba...........................................26:17-33
Os casamentos de Esaú........................................26:34-35
A Vida de Jacó..............................................27:1-37:1
Jacó no lar paterno................................................27:1-46
Jacó foge de Esaú..................................................28:1-22
Jacó com Labão na Síria......................................29:1-33:15
Retorno à terra de Canaã.....................................33:16-35:20
Os descendentes de Jacó e Esaú........................35:21-37:1
A vida de José...............................................37:2-50:26
José na Infância....................................................37:2-36
Judá e Tamar........................................................38:1-30
José promovido no Egito...................................39:1-41:57
José e o reencontro com seus irmãos..............42:1-45:15
José recebe Jacó no Egito..................................45:16-47:26
Últimos dias de Jacó e profecias finais............47:27-50:14
José garante perdão completo..........................50:15-26

Análise do Conteúdo
Gênesis se divide em duas partes principais: cap. 1-11 (a origem do mundo
e das nações) e cap. 12-50 (a origem de Israel). A primeira parte se refere à
história geral da raça humana, tendo uma perspectiva universal que é
relacionada de alguma forma com outras tradições orientais. A narrativa vai
progressivamente se estreitando até que a partir do cap. 12 a história da
humanidade em geral dá lugar à narrativa da história de Abraão e sua
descendência até o final do livro.

Fontes de Gênesis
Foram descobertos muitos escritos antigos do Oriente Próximo, que trazem
em si similaridades com as narrativas bíblicas. O Épico de Gilgamesh que contém
um épico Babilônico do Dilúvio, e a narrativa da criação conhecido como Enuma
Elish.30 Tais semelhanças são tão grandes que se levantou a questão de que tais
obras serviram de material de base para a edição de Gênesis. Vejamos algumas
propostas para a solução do problema:31
30
John H. Walton, O Antigo Testamento em Quadros, p. 80-81.
31
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 37.
23

1. Alguns pensam em coincidência acidental, ou desenvolvimento


espontâneo. Nenhum estudioso criterioso poderia aceitar tais
“coincidências”.
2. As narrativas babilônicas teriam sido derivadas das hebraicas. Mas as
narrativas babilônicas são mais antigas que as hebraicas.
3. As narrativas hebraicas teriam sido derivadas das babilônicas. Muitos
críticos pensam assim, e há possivelmente alguma verdade nisso. Abraão
veio da Babilônia e deveria conhecer muita coisa da civilização da sua terra.
Entretanto, isto não explica o problema da aparência das duas narrativas.
4. As narrativas hebraicas e babilônicas teriam uma origem comum, quer
fosse tradição oral ou escrita. A raça humana começou nas proximidades
dos rios Tigre e Eufrates. Dali se espalhou por toda a terra. Onde quer que
fossem, esses homens levariam consigo as tradições dos acontecimentos dos
primeiros dias. Sendo a Babilônia o centro dos primeiros anos da vida
humana, é presumível e natural que ali se encontrasse, estas mesmas
narrativas, mais bem delineadas do que em qualquer outro lugar. Entre
tantas diferenças, as tradições babilônicas e bíblicas são bem parecidas.
Podemos crer que, a revelação divina dada a Moisés livrou as narrativas
bíblicas do politeísmo, tão comum a todos os povos antigos.

Contribuições na Teologia do AT
1. Deus como soberano Criador.
2. Origem do pecado na raça humana altera radicalmente a criação original.
3. O julgamento de Deus se opõe ao pecado humano em todos os seus
aspectos.
4. Deus preserva, sustenta e governa a criação e os homens por sua graça.
5. Deus estabelece uma aliança, com seu povo. Elementos do
desenvolvimento da Aliança em Gênesis:
- Aliança da criação......2:15-17
- Aliança da preservação..9:8-17
- Aliança da promessa.....12:1-3.
6. Promessa messiânica
- à Adão e Eva............3:15
- à Sem...................9:25-27
- à Abraão................12:1-3
- à Judá..................49:8-12

Contribuição ao Cânon
1. Sem Gênesis não teríamos como saber nada sobre “as origens”.
2. Fornece um fundamento histórico, salvífico e teológico que unifica toda a
Escritura.

Questões debatidas na interpretação de Gênesis


Criacionismo e Evolucionismo
24

Argumentos bíblicos32
1. “No princípio Deus criou o céu e a terra”(Gn 1:1). A Bíblia começa com
Deus não propõe prová-lo, ou explicá-lo.
2. “Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de
maneira que visível veio a existir das coisas que não aparecem”(Hb 11:3).
3. Salvação e o testemunho de Jesus estão ligados intimamente com a criação
(Mc 13:19; Rm 5:12-15).

Argumentos da Teologia
1. Deus não age conforme a maneira proposta pela evolução (Mt 5:3-10).
2. A natureza do homem (criado à “Imagem de Deus”, diferente de outros
animais) argumenta contra o processo de evolução de criaturas baixas.
3. A consciência humana testemunha a verdade da criação (Rm 1:20).

Argumentos da Filosofia
1. A evolução é ilógica e impossível de ser defendida de maneira consiste.
2. A Evolução pressupõe a casualidade, mas “nada não pode produzir algo.”
a) O efeito não pode ser maior do que a causa.
b) O que não vive, não produz nada com vida.
c) O que falta de personalidade, não produz personalidade.
d) O que falta inteligência, não produz inteligência.

Argumentos da Ciência
1. A lei da termodinâmica diz que cada “sistema” do universo tende a se
gastar com o tempo, piorar, e a se tornar mais e mais caótico, não mais
ordenado e melhor.
2. Quanto às mutações. 99,9% de todas as mutações são prejudiciais. A
probabilidade de se ter uma série de mutações úteis é praticamente zero.
3. O crescimento da população mundial é de 2% ao ano. Se fosse uniforme,
então o mundo não aguentaria a população hoje. Se o mundo cresceu 2%
ao ano, e se a terra possuí alguns bilhões de anos, então onde estão todos
os fósseis de tantas pessoas?
4. Quanto aos fósseis, não há provas definitivas de nem sequer um elo
perdido! Tanto a teoria da Evolução como o relato da Criação exigem
“olhos da fé”. É impossível provar, cientificamente, um processo ou evento
que aconteceu há tantos anos atrás, porque ciência empírica exige a
experiência da observação, ou a prova da repetição.

Os “dias” de Gênesis 1
1. Só pela palavra hebraica yom é impossível calcular, gramatical e
textualmente, a sua extensão temporal.
2. O problema de Gn 1 não é exegético, mas hermenêutico. Isto significa dizer
que os pressupostos filosóficos de quem interpreta inevitavelmente
influenciará nos resultados.
32
Para informações mais detalhadas vide* David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 6.
25

A historicidade de Adão
A antiguidade da raça humana
A identidade dos “filhos de Deus”
A extensão do Dilúvio: universal ou local?

Fatos Interessantes
1. Gênesis é o quarto maior livro da Bíblia.
2. A sua narrativa é seletiva, e não inclusiva. É uma interpretação da história,
escolhendo os pontos salientes do desenvolvimento da história da salvação.
3. Os começos em Gênesis (o mundo, a raça humana, o casamento, a família,
o pecado, a promessa de redenção, a civilização, os idiomas e as nações, a
raça hebraica, o julgamento, a morte, a dor, o sacrifício, a poligamia, o
shabbath [descanso], o governo).
4. Respostas às grandes perguntas da alma (de onde veio o homem? Como
surgiu o pecado? Como pode o pecador voltar para Deus? Como pode o
homem agradar a Deus?).
5. O messias como semente da mulher (3:15); de Abraão (22:18); de Isaque
(26:4); de Jacó (28:14); de Judá (49:10).
6. Os grandes julgamentos sobrenaturais como a maldição sobre a queda (3);
o Dilúvio (6-9); a confusão de línguas (11:1-9); a destruição de Sodoma e
Gomorra (19:23-29).

ÊXODO

Título
O título em português deriva tanto da LXX, quanto da Vulgata Latina.
Ambas as versões se baseiam em Êx 19:1.

Autoria
A autoria mosaica é confirmada com a estreita conexão e unidade com os
livros restantes do Pentateuco. Neste livro, Moisés coloca-se como o personagem
principal (17:14; 24:4; 25:9; 36:1).

Data e local da escrita


Escrito entre 1445-1405 a.C. durante a primeira parte da caminhada no
deserto de Cades-Barnéia.

Extensão histórica
1. Narra período inicial da vida de Moisés: 40 anos no Egito.
2. Narra período preparatório de Moisés: 40 anos em Mídia.
3. Narra período êxodo com o povo de Israel: 2 anos (Êx 40:17)
26

Extensão geográfica
Descreve o período em que o povo de Israel esteve no deserto de Sim, na
península do Sinai, sendo preparado para ir à terra de Canaã.

Propósito
Propósito literário
Dar continuidade histórica entre Gn e o restante do Pentateuco. Isto se
percebe pela conjunção hebraica w (e)que aparece na primeira frase do livro.

Propósito histórico
Foi escrito para descrever o nascimento da “nação de Israel” que
eventualmente traria benção para o mundo, para combater a idolatria e revelar a
identidade do Deus de Israel (YHWH). Narrar como Deus livrou Israel da
escravidão e da idolatria no Egito, conduzindo-o a um lugar de destaque de povo
exclusivamente seu.

Estrutura do Livro
A libertação do Egito A entrega da Lei (20-34) A construção do
(1-19) Tabernáculo (35-40)
A libertação (1-12) As leis: civil, rituais,
moral (20-31)
A saída e jornada até Apostasia e retorno (32-
o Sinai 34)

Esboço
Livramento do Egito e jornada para o Sinai........1:1-18:27
1. Opressão dos hebreus no Egito..................1:1-22
2. Primeiros 40 anos de Moisés....................2:1-25
3. Chamado no monte Horebe........................3:1-6:27
4. Pragas e Páscoa................................6:28-13:16
5. Início do êxodo................................13:17-15:21
6. Jornada para o Sinai...........................15:22-18:27
Aliança no Sinai...................................19:1-24:18
Teofania no Sinai..............................19:1-25
Garantia da Aliança............................20:1-21
Livro da Aliança...............................20:22-23:33
Ratificação da Aliança.........................24:1-18
Instruções quanto ao Tabernáculo e aos cultos.....25:1-31:18
Tabernáculo e utensílios................25:1-27:21; 29:36-30:38
Sacerdotes e consagração......................28:1-29:35
Artesãos do Tabernáculo........................31:1-11
Observância do Shabath.........................31:12-18
Violação e renovação da Aliança....................32:1-34:35
1. Bezerro de ouro................................32:1-35
27

2. Presença de Deus com o povo....................33:1-23


3. Renovação da Aliança...........................34:1-35
Construção do Tabernáculo...........................35:1-40:38
1. Oferta voluntária..............................35:1-29
2. Chamado dos artesãos...........................35:30-36:1
3. Construção do Tabernáculo......................36:2-39:43
4. Conclusão e dedicação do Tabernáculo...........40:1-38

Cronologia
Há uma discordância entre os estudiosos de AT quanto à data do êxodo de
Israel. Aceitamos que a data do êxodo ocorreu aproximadamente entre 1440
a.C., todavia há outra data que concorre com esta datando o êxodo em 1290
a.C..33A data de 1290 a.C. esposada por alguns estudiosos é hipotética. Está
baseada na teoria de que Ramessés II (1292-1232) construiu as cidades-celeiros
de Pitom e Ramessés no Delta. Porém, esse ponto de vista está cria uma
dificuldade na cronologia bíblia. Se Moisés liderou o êxodo em 1290 a.C., então
entraria em desacordo a ocupação de Jericó e Canaã no final do século XV.
A data de 1440 a.C. é preferível pelas seguintes razões:

1. No livro de 1 Rs 6:1 registra o êxodo 480 anos antes de Salomão começar a


construir o templo, o que está fixado em 967 a.C.
2. O texto de Jz 11:26 coloca a conquista da Transjordânia cerca de 300 anos
da época de Jefté (1100 a.C.).
3. Em At 13:17-20 lemos que o período aproximado da saída do Egito a
Samuel como sendo de 450 anos. Samuel morreu por volta de 1020 a.C.
4. Se aceitarmos 1290 como data do êxodo, seremos forçados a admitir a
ocorrência desse evento entre a data 1210 a.C., pois a tribulação e a
construção das cidades começaram antes de Moisés nascer, oitenta anos
antes do êxodo. Todavia, isso é impossível de ser historicamente
demonstrado até mesmo por aqueles que advogam aquela data.

Contribuições na Teologia do AT
1. O nome de Deus é derivado do verbo hebraico haya [ser]. A expressão “Eu
sou o que sou” (Êx 3:14) indica o atributo divino de imutabilidade do seu
Ser na continuidade da Aliança de “Abraão, Isaque e Jacó” (Êx 3:6).
2. Que função tinha a Lei?
a. Ela declara o propósito divino no relacionamento de cada parte da
vida com a vontade soberana de Deus.
b. Indicava a escravidão da vontade humana ao seu egoísmo e interesse
próprio.
c. Demonstrar que o homem estava sob a condenação divina e
precisava depender de Deus para a sua salvação (o que era expresso
pelos sacrifícios).

33
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 139-152.
28

d. O aspecto moral da lei apontava ao homem sua necessidade. O


aspecto cerimonial apontava ao homem a graça redentora de Deus,
que haveria de se consumar em Cristo.
e. A Lei não foi dada com o propósito de salvar (Gl 3:31; Rm 10:5). Os 6.
O fato de estarmos sob um novo sacerdócio e desfrutarmos de uma
nova aliança indica que a Lei mosaica já não é um princípio
governante em nossas vidas como o era na antiga aliança (Hb 7:11-
12; 2 Co 3:7-11).

Fatos interessantes
1. A vida de Moisés se divide em três grandes períodos de 40 anos: Egito,
deserto e êxodo.
2. Descreve os primeiros milagres na Bíblia.
3. Instituição da Páscoa.
4. Narra a construção do Tabernáculo.
5. Os Salmos e os profetas olharam para trás e visam os eventos do êxodo
como o milagre mais impressionante na história de Israel.

Dificuldades de interpretação
O fato de Deus endurecer o coração de Faraó não elimina a sua
responsabilidade como um agente livre? A resposta a esta questão deve
harmonizar-se com o fato de que Deus prometeu endurecer o coração de Faraó
(7:3), mas não o fez contra a sua vontade (5:1-4). Por cinco vezes o
endurecimento é voluntário (7:13; 7:22; 8:15; 8:32; 9:7), só depois se diz que
Deus endureceu o coração de Faraó (9:12; 10:20; 10:27). Faraó ainda é
responsabilizado em 9:34.

Tipologia no Tabernáculo34

34
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 13.
29

As dez pragas35
Primeiro conjunto Segundo Terceiro Estrutura
conjunto conjunto
1. Água transformada 4. Moscas 7. Chuva de Moisés se apresenta
em sangue granizo a Faraó
2. Rãs enchem a terra 5. Gado 8. Gafanhotos Moisés “chega-se” a
morre Faraó
3. Piolhos 6. Feridas 9. Escuridão Moisés não vai a
Faraó

Cronologia das dinastias egípcias


O Egito teve um desenvolvimento muito longo, passando por várias
modificações:36
- Pré-História (cidade-estado)
- Período Faraônico (com 31 dinastias)
- Antigo Império 2800-2200 a.C.
- Médio Império 2200-1600 a.C.
- Novo Império 1580-1080 a.C.
- Baixa Época 1080-330 a.C.
- Período Egito-helenístico 330-30 a.C.
- Período Egito-romano 30 a.C.- 395 d.C.

LEVÍTICO

Título
O nome do livro no original hebraico é “e Ele chamou...”. Entretanto, o
nome adotado nas traduções é ambíguo, já que “levitas” pode descrever (1) os
membros da tribo de Levi, como a casa de Arão, cuja descendência sacerdotal
desempenha um papel importante no livro; ou, (2) somente os oficiais menores
cuja função era servir aos sacerdotes.

Autoria
A autoria é confirmada no próprio livro pelo fato de o texto declarar
cinquenta e seis vezes: “disse o Senhor a Moisés”. Nenhum outro livro da Bíblia
tem uma confirmação tão acentuada da autoria mosaica quanto este. É também
um dos livros confirmados por Jesus como sendo de Moisés, conforme Mt 8:4.

35
W.S. LaSor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 74.
36
J.I.Packer, Merril C.Tenney & W. White Jr., op. cit., pp. 121-133.
30

Data e local da escrita


Moisés deve ter escrito este livro logo após o Êxodo, aproximadamente
1440 a.C. Este livro foi escrito no deserto do Sinai.

Propósito
Propósito litúrgico.
Regulamentar quanto ao culto no tabernáculo e quanto à santidade na
vida. Israel tornara-se uma nação teocrática. A aliança fora ratificada com a nova
geração. O Tabernáculo erigido. O povo estava diante do Sinai. Antes do povo
prosseguir em sua jornada até a terra de Canaã, era necessário que
conhecessem as leis que os orientariam em sua adoração ao Senhor no
Tabernáculo, e o calendário com datas solenes.

Propósito teológico.
Revelar que a santa presença de Deus entre o seu povo exige uma
aproximação baseada em sacrifícios e a separação nacional de toda
contaminação e impureza.

Propósito pastoral
Convocar o povo de Deus para a santidade pessoal. Os muitos rituais são
usados como auxiliares visuais para retratar o Senhor como o Deus Santo, e para
enfatizar que a comunhão com o Senhor deve ser na base da expiação pelo
pecado e vida obediente.

Estrutura do Livro
A lei dos sacrifícios 1:1-
7:38
A consagração dos 8:1-
sacerdotes 10:20
A separação das coisas 11:1-
impuras 15:33
As exigências para a 16:1-
santidade 25:55
Recompensa: benção e 26:1-46
maldição
Os votos e os dízimos 27:1-34

Esboço
As leis dos sacrifícios............................................1:1-7:38
1. Oferta queimada (holocausto).................1:1-17
2. Manjares (cereal)........................................2:1-16

3. Sacrifícios pacíficos (comunhão)...............3:1-17


4. Oferta pelo pecado e culpa.........................4:1-6:7
Consagração dos sacerdotes.....................................8-10
31

1. Consagração dos filhos de Arão.................8:1-36


2. Arão como sumo Sacerdote........................9:1-24
3. Julgamento contra Nadabe e Abiu............10:1-20
Separação das coisas impuras.................................11:1-15:33
1. Comidas puras e impuras............................11:1-15:33
2. Purificação das mães após o parto.............12:1-8
3. Regulamentos sobre a lepra.........................13:1-14:57
4. Purificação dos corrimentos corporais......15:1-33
Dia da Expiação...................................................16:1-34
O lugar do sacrifício................................................17:1-16
A santidade prática................................................18:1-20:27
Deveres dos sacerdotes..............................................21:1-22:33
As santas convocações..............................................23:1-44
Penalidade pela profanação......................................24:1-23
Ano de descanso e jubileu........................................25:1-55
Benção e maldição....................................................26:1-46
Votos e dízimos.......................................................27:1-34

Análise do Conteúdo
Há cinco princípios básico que operam em todas as parte do livro. 37
1. Como povo singular de Deus, o Israel redimido deve: primeiro, conservar-
se puro, isto é, separado do mundo para servir e prestar culto ao único
Deus verdadeiro; segundo, conservar aberto o acesso a Deus, através da
propiciação substitutiva.
2. Visto que este acesso a Deus é possibilitado unicamente pela graça, o fiel
só pode comparecer perante Deus exclusivamente pelo meio que o próprio
Deus definiu. Portanto, todos os regulamentos quanto ao rito e ao sacrifício
tem de surgir da parte de Deus, não do homem.
3. Como povo santo, espiritualmente “casado” com o Senhor, Israel deve
abster-se de qualquer falta de castidade sexual, de qualquer violação dos
vínculos nupciais. Precisa afastar-se de qualquer contato com a corrupção
e a deterioração (inclusive cadáveres e doenças imundas).
4. Nada de corrupto, ou passível de rápida deterioração pode ser oferecido
como oferta a Deus. Isto exclui a levedura, o leite (que azeda rapidamente),
o mel (que fermenta), porcos (associados pelos pagãos com o culto às
divindades do inferno), roupas feitas de materiais diferentes (tais como a lã
com o linho, que tipificam uma mistura entre o santo e o profano).
5. O ano religioso é denominado pelo número sagrado 7 (simbolizando a obra
perfeita de Deus). Portanto, a cada sétimo ano é um ano de descanso para
a terra lavrada; depois de 7 vezes 7 anos, o quinquagésimo ano é
santificado como jubileu, no qual as terras hipotecadas tinham que ser
devolvidas aos seus donos originais; a Páscoa é celebrada no fim do
segundo período de 7 dias do mês de Abib, isto é, no fim do dia 14; a festa
37
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 158-159.
32

de pães asmos se celebra por 7 dias, depois do dia 14; a festa do


Pentecostes é celebrada depois de 7 períodos de 7 dias que se seguem à
oferta do molho movido (no quinquagésimo dia); o sétimo mês, Tisri, é
especialmente santificado por três observâncias sagradas: a festa das
Trombetas, o dia da Expiação, a festa dos Tabernáculos; a festa dos
Tabernáculos se celebra durante 7 dias (dia 15 até 22 de Tisri), mais um
oitavo dia para a convocação final.

Contribuições na Teologia do AT
1. Os sacrifícios cumpriam uma dupla função. Eles estavam ligados à
manutenção do indivíduo como membro da sociedade teocrática que era
Israel. Assim, ele sobrevivia como membro da aliança se trouxesse
regularmente os seus sacrifícios (Lv 1:4; 4:26-31; 16:20-22). Por outro lado,
havia algum vislumbre de que Deus haveria de lidar com os efeitos
espirituais do pecado de maneira definitiva e, através da fé, havia uma
eficácia espiritual nos sacrifícios (Rm 3:25).38
2. A expiação por substituição. Se o transgressor quer salvar sua vida, a
expiação pelo pecado deve ser feita por substituição. O pecador deve
trazer uma oferta que será seu substituto. Ninguém pode ser seu próprio
salvador.

Contribuição ao Cânon
1. Revela a importância de santidade no povo.
2. Provê o sistema religioso para a nação.
3. Estabelece alguns padrões de relacionamento entre Deus e o homem.
4. Dá um profundo sentimento de horror ao pecado.

Fatos interessantes
1. Deus antecipou medicina em muitos pontos da lei.39
2. De todos os livros do AT, Levítico é o que encontra maior correspondência
tipológica no NT.
3. Deus decretou vários feriados para o povo de Israel.
4. Era o manual de instruções para os sacerdotes e levitas.
5. Os termos “imundo e impuro” não significam “cheio de pecado”, mas “não
adequado para estar na presença de Deus”. Não significa que a pessoa não
pode adorar a Deus, só que ela não poderia entrar no Tabernáculo da Sua
presença.
6. Enquanto os outros livros tratam mais de história, Lv refere-se quase
somente a leis (com exceção dos caps.8-10). A sua legislação é
primordialmente sobre ritos religiosos. Trata da organização espiritual do
povo, como Êxodo e Números tratam da organização civil, social e militar.
7. A santidade consumidora de Deus. O impuro não subsiste diante do
totalmente puro. O pecado é coisa séria. Implica em morte.

38
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 11.
39
Sobre este assunto veja S.I. McMillen, A Provisão Divina Para a Sua Saúde (São José dos Campos, Editora Fiel).
33

NÚMEROS

Título
O hebreus deram-lhe o nome de “no deserto...” devido ao ser a primeira
frase. Os tradutores da LXX chamaram-no de “números” por causa do censo
registrado nos capítulos 1-3 e 26.

Autoria
A autoria mosaica é confirmada:
No próprio livro por sua estreita conexão com Lv e Dt.
Pelas inúmeras afirmações “o Senhor falou a Moisés”.
Deus ordenou que Moisés registrasse (Nm 33:2).
Jesus atribui Lv à Moisés (Jo 3:14; 5:46).
Apóstolos atribuem autoria à Moisés (1 Co 10; Hb 3; 4; 10:28).

Data e local da escrita


Concluído em 1405 a.C. no deserto do Sinai (Nm 1:1).

Extensão histórica
A narrativa de Nm começa com a ordem de fazer o recenseamento, cerca
de maio de 1444 a.C., e termina com uma assembleia às margens do Jordão,
pouco antes da morte de Moisés. A data de Abril para a segunda Páscoa é dada
retroativamente a fim de explicar a data opcional para celebrarem a Páscoa mais
tarde (Nm 9). A duração total dos acontecimentos de Nm é de 38 anos.

Extensão geográfica
1. Recenseamento e preparo para a marcha...............1-10.
2. Jornada até Cades-Barnéia. Missão de espionagem.....11-14.
3. Peregrinação no deserto em torno de Cades...........15-20.
4. Jornada em torno de Edom até as campinas de Moabe...36

Propósito
Propósito didático
Escrito para demonstrar à nova geração de Israel (pronta para entrar na
terra da promessa) as consequências da descrença e da desobediência, ou a
fidelidade ao Deus da aliança. O livro de Nm começa com um relatório sobre os
preparativos feitos para prosseguir a jornada.

Propósito teológico
Preservar um registro da paciência de Deus para com o povo que Ele
escolhera, e demonstrar que a redentora misericórdia divina não impediu que
34

Ele os castigasse severamente por causa dos pecados deles. Apesar de tê-los
redimido graciosamente, Ele não os libertou para uma vida fácil, permissiva e
independente.

Estrutura do livro
A estrutura aponta para o Referência
itinerário israelita40 bíblica
Preparo para a partida do Sinai 1:1-10:10
No deserto de Parã, em Cades-Barnéia 13:1-20:13
Jornada do Sinai até as planícies de 10:11-22:1
Moabe
Episódios nas planícies de Moabe 22-36

A estrutura aponta para a transição das Referência


duas gerações41 bíblica
Organização da primeira geração 1-10
Anarquia da primeira geração 11-20
Reorganização da segunda geração 21-36

Esboço
Preparação para a jornada do Sinai.....................1:1-10:10
Censo do exército..........................................1:1-2:34
Censo e deveres dos levitas..........................3:1-4:49
Impureza é excluída do acampamento.......5:1-31
Nazireus..........................................................6:1-27
Tesouros dedicados ao Tabernáculo..........7:1-89
Levitas instalados no seu ofício...................8:1-26
Observância da primeira Páscoa anual.......9:1-14
Seguindo a coluna de nuvem.......................9:15-10:10
Do Sinai até Cades-Barnéia...............................10:11-14:45
Primeira parte da jornada............................10:11-36
Murmurações................................................11:1-15
Setenta anciãos profetizam.........................11:16-35
Julgamento contra Miriã e Arão................12:1-16
Recusa de entrar na terra de Canaã...........13:1-14-45
De Cades-Barnéia até as Planícies de Moabe.....15:1-21:35
Diversas leis..................................................15:1-41
Rebelião de Core..........................................16:1-17:13
Relacionamento entre sacerdotes e levitas.18:1-32
Água de purificação pela impureza............19:1-22
Morte de Miriã...............................................20:1
Moisés fere a rocha em Meribá...................20:2-13
40
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 91.
41
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 47.
35

Edom proíbe a passagem de Israel.............20:14-21


Morte de Arão...............................................20:22-29
Murmuração e serpente de bronze.............21:1-20
Conquistas permanentes...............................21:21-35
Encontro com os moabitas e Balaão.....................22:1-25:18
Balaque contrata os serviços de Balaão.....22:1-25:18
A tríplice benção de Balaão.........................23:1-24:25
O pecado de Baal-peor................................25:1-18
Preparativos para a conquista de Canaã.............26:1-36:13
Planos para a conquista de Canaã..............26:1-27:23
Leis sobre sacrifícios e votos......................28:1-30:16
A vingança contra os midianitas................31:1-54
Divisão da Transjordânia............................32:1-42
Resumo das viagens do Egito até Moabe.33:1-56
Planos a divisão de Canaã...........................34:1-36:13

Análise do conteúdo
A lição ressaltada em Nm é que o povo de Deus só pode avançar na medida
de sua disposição em confiar totalmente nas suas promessas, dependendo
totalmente da capacitação divina.

Fatos interessantes
1. Em Nm a narrativa histórica tem mais espaço que em Lv e Dt.
2. O livro de Nm descreve uma jornada de 40 dias que levou 40 anos.
3. Uma nação inteira morreu no deserto, com exceção de três homens:
Moisés, Josué e Caleb.
4. 38 anos de peregrinação são ignorados na história.
5. A palavra “número” ocorre 125 vezes neste livro.
6. Dois trechos extensivos no NT usam muito o livro: 1Co 10 e Hb 3:7-4:6.
7. Os líderes do povo de Deus tem grande responsabilidade como exemplos
para o povo (20:12) e recebem maior julgamento pela desobediência.
8. A federação das tribos de Israel: cada tribo possuía seu próprio exército e
estava estrategicamente disposta no acampamento. Todas as tribos
estavam sob a teocracia de Deus, sendo que o ponto de convergência das
tribos era o Tabernáculo. A “Lei de Moisés” era o princípio regulador da
nação. Os dias de festas religiosas serviam para renovar a lealdade tribal à
aliança e julgar questões de relevância nacional entre as tribos.
9. As cidades de refúgio (Nm 35:5-34).

DEUTERONÔMIO
36

Título
O título hebraico {yrbdh hL) (“estas são as palavras...”) segue a tradição de
se nomear os livros pela sua primeira frase. Deve-se observar que o título da LXX
e Vulgata Latina está baseado numa tradução incorreta de Dt 17:18. Não
corresponde ao fato, pois, segundo Dt 17:18 o rei deveria providenciar uma
cópia e não uma segunda lei.42

Autoria
Até recentemente, os críticos adeptos da Teoria Documentária afirmavam
que esse livro havia sido escrito no tempo de Josias (621). Esta teoria, porém, foi
posta de lado em razão do pouco acordo quanto à data, ou ao autor do livro.
A autoria mosaica tem forte apoio, tanto no próprio livro. À semelhança da
maioria dos escritores bíblicos, Moisés escreveu na terceira pessoa, referindo-se
a si mesmo 38 vezes neste livro. Pouco antes da sua morte, declarou que havia
escrito esta lei antes de entregá-la aos sacerdotes (DT 31:9, 24-26). Além das
muitas referências do AT à “Lei de Moisés”, há muitas confirmações de Jesus e
dos apóstolos (Mt 19:8; Mc 10:3; Jo 1:17; 5:46; At 3:22; Rm 10:5; 1Co 9:9).
As informações aparentemente discordantes da Lei em Êx e Dt não negam
a autoria de Moisés. Enquanto um pseudo-Moisés não se desviaria de Êx, o
próprio Moisés dificilmente apenas repetiria o original. As diferenças são devido
a novas circunstâncias que precisavam dessa posterior elaboração do código
sinaíta para as novas condições.

Data
Moisés especificou a data de 1 de fevereiro de 1405 a.C., quando reuniu o
povo para entregar este conjunto final de discursos (1:3). Apesar deste
pronunciamento ter sido feito, provavelmente, em diversas sessões, a expressão
“hoje” foi repetida 67 vezes em todo o livro.

Local da escrita
Na planície de Moabe (Dt 1:1). O povo estava próximo das margens do
Jordão, todos ansiosos em conquistar Canaã. Tendo já dominado a enorme área
da Transjordânia quase sem perdas humanas sob a direção do Senhor, estavam
prontos para o desafio à frente.

Propósito
Relembrar e motivar a nova geração a amar a Deus e obedecer à aliança
para receber a benção de Deus. O erudito exegeta Keil observou que
uma descrição, explicação e ratificação hortatória sobre o conteúdo mais
essencial da revelação e das leis da aliança, com proeminência enfática dada
ao princípio da lei e seu cumprimento, além de um desdobramento da
organização eclesiástica, judicial, política e civil, tencionada como alicerce
para a vida e bem-estar do povo na terra de Canaã .43

42
D. Ross, Isagoge do Antigo Testamento, p. 14.
43
Citado por Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 101.
37

Estrutura do livro
A estrutura básica de Dt divide-se em discursos contínuos:
Primeiro discurso: O passado e a fidelidade de Deus................1-4
Segundo discurso: As estipulações da Aliança.............................4:44-26:19
Terceiro discurso: Promulgação da Lei........................................27-28
Quarto discurso: Renovação da Aliança.....................................29-34

Esboço
Fidelidade do Senhor novamente lembrada........................1-4
1. Fracassos de Israel em Cades-Barnéis..................1
2. Vitórias de Israel na Transjordânia.......................2-3
3. Responsabilidades de Israel em Canaã.................4
Fundamentos da Lei reafirmados.....................................5-11
Decálogo e “Shemá” de Israel...................................5-6
Perigos de idolatria em Canaã...................................7-9
Deveres de amor e serviço ao Senhor.....................10-11
Funcionamento da Lei referente à vida em Canaã...........12-26
1. Leis cerimoniais..................................................12-16
2. Leis civis..............................................................17-21
3. Leis sociais...........................................................26
Cumprimento da Lei para permanecer em Canaã............27-30
1. Condições para a permanência em Canaã..........27-28
2. Renovação da Aliança............................................29-30
Determinações Finais......................................................31-33
Morte de Moisés.............................................................34

Contribuições na Teologia do AT
Em Dt há várias ênfases dominando os discursos:
1. A espiritualidade de Deus (4:12-16) e sua unicidade e unidade são
descritos (4:35, 39; 6:4; 7:9: 10:17).
2. O relacionamento entre Deus e seu povo sob a aliança, é mais de amor
do que de legalismo (4:37; 7:13; 33:3).
3. Para o que crê, o requerimento básico é amor para com Deus, e este
amor tem que ser o princípio básico da sua vida (6:5; 7:8; 10:12, 15;
11:1, 13, 22; 13:3; 19:9; 30:6, 16, 20).
4. A fidelidade à aliança recebe o prêmio de benefícios materiais. A
violação e o desrespeito serão acompanhadas por desastres e perdas
materiais (28-30).
5. A admoestação característica é: lembrai-vos, e não vos esqueçais! Israel,
longe de se dedicar a uma busca de “novas verdades” para tomar o
lugar das antigas, precisa guardar e obedecer a verdade revelada que
uma vez para sempre recebeu da fonte absoluta e imutável da verdade.
38

Fatos interessantes
1. O livro de Dt é um documento de renovação da aliança.
2. O Decálogo é repetido em Dt 5.
3. Contém 259 referências aos quatro livros anteriores de Moisés.
4. Ele é citado 356 vezes nos livros posteriores do AT.
5. Ainda é citado até 200 vezes em 17 livros do NT.
6. Jesus Cristo cita Dt cerca de 90 vezes.
7. A prova para falsos profetas: inerrância (18:20-22).
8. Moisés não entrou na Terra de Canaã na conquista, mas na transfiguração
(Mt 17).
9. Resumo dos cinco livros usando o seus nomes hebraicos:
- Gn 1:1 “No princípio...” .............. tudo foi feito
- Êx 1:1 “E estes são os nomes...” ...... que saíram do Egito
- Lv 1:1 “E ele chamou...” .............. para Sua santidade
- Nm 1:1 “No deserto...” ................ foram contados
- Dt 1:1 “Estas são as palavras...” ..... que devem lembrar

OS LIVROS HISTÓRICOS
A partir daqui a disposição dos livros da tradição TM difere da LXX, como
também das bíblias modernas. Os judeus denominavam o seis livros como os
“primeiros profetas” (Js, Jz, 1-2 Sm, 1-2 Rs), em contraste com os “últimos
profetas” (Is, Jr, Ez, e os doze menores). Os livros de Js, Jz, Sm, Rs são
conhecidos na TM como profetas anteriores. Por que profetas, se são históricos?
O título na TM refere-se mais ao conteúdo do que à forma. Estes livros narram a
história da nação teocrática desde a entrada na Terra Prometida até a dissolução
da teocracia no exílio babilônico. Estes “profetas anteriores” são continuação e
complemento ao Pentateuco. Também complemento e contexto histórico para os
“profetas posteriores”.
Atualmente a historiografia busca objetividade científica. Isto é
questionável. Como realmente pode-se ser objetivo sem ser influenciado, por
alguma premissa, ou informação que não seja uma interpretação anterior? A
historiografia do AT adotada aqui pressupõe que o que é apresentado é
totalmente verdadeiro, factual e teologicamente, mesmo que algumas questões
fiquem temporariamente sem respostas. O Dr. Roos declara que “o estudioso da
Bíblia é livre para suplementar (com novas hipóteses ou com achados
arqueológicos), porém, não suplantar o texto.”44
O povo israelita era um povo de memória. A “tradição oral” que era o
ensino e a história dos antepassados contados de geração à geração mostra o
zelo e a valorização do que aconteceu, com quem aconteceu, e como aconteceu.

44
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Profetas Anteriores, p. 1.
39

A história não era meramente repetida, mas contada como uma herança de
identidade. Clyde T. Francisco comenta que
os hebreus tinham gênio para contar a história, e a sua imaginação histórica
fez com que nos legassem os antigos acontecimentos duma forma viva e real.
Mil anos nos parecem como um dia, quando lemos as admiráveis narrativas
hebraicas com que embelezaram a sua história e os seus escritos. Possuem
uma clareza tal que apela a qualquer tipo de pensamento humano, a qualquer
classe, e o sentimento que permeia tais escritos é tão forte e profundo que
desperta o mais duro coração.45

JOSUÉ
Título
O nome hebraico Yehoshua equivale ao grego “Jesus”.

Autoria
Não há indicação objetiva no texto quanto ao autor. Também não há
indicação posterior na Escritura que atribua o livro à Josué. Entretanto, devemos
considerar algumas evidências sobre a autoria:46
1. Porções do livro afirmam ter sido escritas pelo próprio Josué (24:26);
2. O autor foi testemunha ocular dos acontecimentos. No envio dos espias,
na passagem pelo Jordão, na captura de Jericó e Ai, na aliança com os
gibeonitas, sugerem a participação ativa do narrador (5:1,6; 15:4; 7-8);
3. O fato de esse livro ser o primeiro dos “Primeiros Profetas” sugere,
como seu autor, alguém com dom ou cargo profético. Josué é provável
autor;
4. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué, reforça a
opinião de que tenha sido escrito pelo sucessor de Moisés e no seu
próprio tempo, mais do que por qualquer outra pessoa em época
posterior, que poderia ter continuado a história de fé até a época de
Otoniel, em Jz;
5. Todavia, em sua forma presente, o livro não pode ter sido inteiramente
escrito por Josué, pois registra a sua morte. Isto indica que Josué foi o
autor fundamental do livro, mas o texto Js 24:29-33 foi acrescentado
posteriormente por um redator, provavelmente Finéias (Js 24:33).

Gênero literário
Nas Bíblias protestantes Js é classificado como livro histórico por causa do
seu conteúdo histórico. Mas na Bíblia Hebraica (TM) ele é listado entre as obras
dos profetas.

45
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 68.
46
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 168.
40

Data
O livro foi escrito nos primeiros anos da conquista de Canaã. Evidências:
1. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (40 anos quando
espiaram Canaã, Js 14:7), é possível supor que Josué tenha começado a
comandar a Israel com a idade de 79 anos. Visto ter morrido com 110
anos, a sua liderança durou 31 anos (24:29). Sabemos também que a
conquista inicial durou 7 anos (14:7, 10).
2. Raabe ainda vivia (6:25).
3. Os jebuseus habitavam em Israel (18:16). Foram expulsos no tempo do
reinado de Davi (2Sm 5:5-9).
4. Cidades de Canaã recebem seus nomes antigos. Como Baalá, o nome de
Quiriate-Jearim (15:9), Quiriate-Sana, de Debir (15:49), Quirate-Arba, de
Hebrom (15:13).
5. O autor afirma que os gibeonitas “até ao dia de hoje” eram “rachadores
de lenha e tiradores de água para a congregação e para o altar do
Senhor” (9:27). Isso não seria possível nos dias de Saul, pois ele
massacrou os gibeonitas (2Sm 21:1-9).
6. Jerusalém não era capital de Israel (18:16,28).
7. A data pode ser calculada aproximadamente 1400-1375 a.C. Stanley A.
Ellisen esclarece que
As escavações arqueológicas de John Garstang determinaram que a
queda de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C. Documentos descobertos
em Tel-el-Amarna, no Egito, e em Ugarite, na Síria Ocidental, parece
confirmar a data de 1400 nas correspondências reais daquele período,
as quais se referem ao habiru em Canaã.47

Situação histórica e geográfica


A liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião da morte de
Moisés. A travessia do Jordão teve lugar um pouco antes da Páscoa, época em
que o Jordão inundou as margens.
Toda a população de Israel, cerca de dois milhões e meio, estava decidida a
invadir Canaã depois da bem-sucedida conquista da Transjordânia, elas
mandaram 40.000 homens para participar da conquista.
Desde as planícies de Moabe, dominando toda a Transjordânia, até a região
norte, central e sul de Israel. A terra da Palestina estende-se do elevado monte
Hermon, ao norte, até ao sul da região deserta do Mar Morto. Seu comprimento
é de 240 km, de Dã a Berseba, e sua largura média é de 110 km, da costa do
Mediterrâneo ao planalto oriental. Grande parte desta região foi dominada
inicialmente.
Os povos que ocupavam Canaã era um misto de descendentes de Canaã
(Gn 10:15-20). Há no AT várias referências a estes povos e localidades que
ocupavam:48

47
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 69-70.
48
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 70.
41

Heteus: dos filhos de Hete, que se estabeleceram na Ásia Menor.


Girgaseus: da região ocidental do mar da Galiléia.
Amorreus: povo montanhês dos planaltos ao oeste e leste do mar Morto.
Cananeus: situando o norte.
Ferezeus: associados com os cananeus ao norte.
Heveus: os pacíficos gibeonitas perto de Jerusalém.
Jebuseus: tribo guerreira estabelecida em torno de Jerusalém.

Religiosa e moralmente, Canaã era infestada de idolatria: 49


El era o deus supremo, poemas ugaríticos descrevem-no como um tirano
cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável.
Baal era filho de El e o seu sucessor. Era considerado como “o Senhor do
Céu”, deus da chuva e da vegetação.
Anate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da
guerra. Em seus cultos envia a prostituição e sacrifício infantil.
Asterote (Astarte) e Aserá eram esposas de Baal e também deusas do sexo
e da guerra.
Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo
modo que Camos era a divindade nacional dos moabitas.

Propósito histórico e teológico


Narração de como Deus trouxe a nação de Israel do deserto para a terra de
Canaã. Objetiva preservar a história da conquista de Canaã e a divisão da terra
entre as tribos. Desse modo serve para dar prosseguimento a história da
teocracia sob Josué.
Deus em fidelidade à sua Aliança deu ao seu povo a terra prometida
visando encorajar o povo a ser fiel à Aliança (1:2-6).

Estrutura do livro
1. Conquista da terra........................ 1-12
2. Divisão da terra............................ 13-22
3. Despedida e morte de Josué....... 23-24

Contribuição para Teologia AT


O livro de Js é continuação natural de Dt. A Aliança continua. A terra de
Canaã é o cumprimento da promessa de Deus na Lei;

Contribuição ao cânon
A teoria do Hexateuco de Alexander Geddes e reformulada posteriormente
por Gehrard Von Rad, acrescenta Js ao Pentateuco. Segundo esta teoria o livro
de Js seria parte do Pentateuco, uma compilação de redatores posteriores ao
reinado de Josias. Entretanto, devemos considerar algumas evidências
contrárias:50
49
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 71.
50
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 166-167.
42

1. Não há evidência histórica alguma de que Js fosse parte integrante do


Pentateuco, formando um Hexateuco.
2. O Pentateuco Samaritano é composto dos cinco livros, não inclui Js.
3. Josefo se referiu “cinco [livros] são de Moisés”.51
4. A observação massorética, no fim do Pentateuco, fala sobre a totalidade
dos versículos da Lei, e diz “os cinco quintos da Lei estão completos”.
5. Os samaritanos aceitaram apenas o Pentateuco, não incluindo Js.
6. Peculiaridades linguísticas no Pentateuco que não aparecem em Js.
7. O livro de Js fornece a ligação histórica necessária entre o Pentateuco
e os livros históricos, mas é uma obra separada do Pentateuco.

Dificuldades de interpretação
Deus ordenou que Israel exterminasse os habitantes de Canaã? Para
respondermos esta pergunta devemos levantar algumas considerações:
1. A destruição foi um ato de juízo divino sobre um povo pecaminoso,
sendo os hebreus considerados os executores do decreto divino. O
sistema religioso e a cultura estavam fadados por si mesmos à
destruição.
2. A religião de Canaã tinha se tornado num politeísmo abominável diante
de Deus. Ellisen observa que “a adoração ao sexo demoníaco e aos
ídolos de guerra refletiam uma sociedade permeada da mais grosseira
imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que os seus
templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas
prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual
comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a
idolatria do Egito e Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em
tão profunda vulgaridade e brutalidade.”52
3. Se Israel continuasse seu convívio normal com os habitantes de Canaã,
certamente, teria se corrompido com a crueldade, a idolatria e a
imoralidade cananita. Os idumeus eram descendentes de Esaú, os
Moabitas e Amonitas descendiam de Ló, todavia, eram povos que apesar
de terem a sua origem direta na família de Abraão, haviam se
corrompido. Os povos que foram poupados para trabalho escravo entre
o povo de Israel, posteriormente, induziram Israel ao pecado.

Fatos interessantes
1. O longo dia de Josué (10:12-14).
2. Raabe, a prostituta, está incluída na linhagem messiânica de Jesus;
3. Três campanhas de guerra resultaram na derrota de sete nações com
31 reis;
4. Temas repetidos:53
- “Sê forte e corajoso” (1:6,7,18; 8:1; 10:8; 11:6; 23:6)
- Para cumprir a lei (1:7-9; 8:32; 23:6; 24:1; 24:20)
51
Flávio Josefo, Contra Ápio in: História dos Hebreus (Rio de Janeiro, CPAD, 1990), p. 712
52
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 75.
53
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 25.
43

- Deus está contigo (1:5,9,17; 3:7; 10:42)


- Levantou-se Josué de madrugada (3:1; 6:12,15; 7:16; 8:19)
- “segundo a Palavra do Senhor” (8:27; 10:40; 11:9,15,23; 15:13).

JUÍZES

Título
O título do livro tem base no modelo de governo da época. O significado
desta palavra em hebraico é mais amplo que o conceito forense em português.
Talvez, uma tradução melhor seria “libertadores”. O título descreve algumas das
características de líder militar:
1. Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar.
2. Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil.
3. Não era escolhido pelo povo, mas levantado por Deus, o legislador da
Lei.
4. Não era um governador vitalício. Não estabelecia dinastia ou uma
família governante.

Autoria
O criticismo liberal defende que Jz é uma compilação de diversas fontes.
Teria originalmente sido escrito por J e E, posteriormente alterado pelo redator
de JE. Depois da queda de Jerusalém houve a edição deuteronomista (influência
de D) do livro. Portanto, o livro em sua forma final seria uma obra pós-exílica.54
A tradição talmúdica atribuí a autoria à Samuel:
1. Ele era escritor e educador (1Sm 10:25).
2. A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul, quando
Samuel ainda julgava, antes do nome de Jebus ter sido mudado para
“Jerusalém” (Jz 1:21; 19:10).
3. A tradição talmúdica (Baba Bathra, 14b) declara que “Samuel escreveu
o livro que tem o seu nome, e o livro de Juízes e Rute”.

Data
As evidências internas indicam algum período na monarquia primitiva,
antes da tomada de Jersusalém por Davi. Aproximadamente 1043-1000 a.C..
Evidências internas para a antiguidade livro:
1. A expressão “naqueles dias não havia rei em Israel”, indica que o livro
foi composto antes da divisão em dois reinos, não menciona Judá, como
reino do sul.
2. Os jebuseus ainda residiam em Jerusalém (Jz 1:21). Foram expulsos no
reinado de Davi (2 Sm 5:6).

54
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 174-175.
44

3. Os cananeus em Gezer (1Rs 9:16).


4. Sidom é a principal cidade fenícia, e não Tiro, que começou a sobrepujar
Sidom pouco antes de XI a.C..

Situação histórica e geográfica


Este período abrange desde a morte de Josué até o surgimento de Samuel,
como profeta de Deus. Neste período consolidou-se a posse da terra de Canaã,
mas o extermínio dos cananeus não aconteceu por completo. O livro de Jz
descreve os ciclos de falhas em cada parte da terra: sul, norte, centro, leste e
oeste.

Propósito
Propósito histórico
Narra a desordem social. Embora houvessem juízes, este foi um período em
que “cada um fazia o que achava mais reto”(Jz 21:25).

Propósito didático
Preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este
não tinha um líder nacional, e enfatizar a sua necessidade de um rei teocrático.
Os fracassos preparam caminho para a monarquia. Os muitos ciclos de fracasso
e castigo salientam repetidamente a verdade deuteronômica de que o abandono
da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da servidão e o caos.

Estrutura do livro
1. Introdução de transição......1:1-2:5
2. História dos juízes..........2:6-16:31
3. Apêndice: corrupção..........17-21

Análise do conteúdo
Clyde T. Francisco oferece-nos uma excelente análise do livro
o assunto principal do livro começa com o capítulo 3 e vai até o 16.
Encontramos 13 juízes até aqui, sendo os mais notáveis: Eúde, que matou o
rei de Moabe, Eglom; Débora, que derrotou Sísera; Gideão, o conquistador
dos midianitas; Jefté, o homem do voto louco; Sansão, o rapaz das grandes
bravatas. Os restantes capítulos –17-21- não seguem a ordem cronológica do
capítulo 16. Os capítulos 17-18 relatam-nos a migração da tribo dos danitas
(Dã) e o caso de Mica e sua imagem, enquanto 19-21 nos descrevem a quase
destruição da tribo de Benjamim e, posteriormente, a busca de moças
necessárias para os 600 benjamitas que tinham escapado com vida da luta
fraticida.55

Tradicionalmente se faz uma distinção entre seis pequenos juízes e seis


grandes juízes. Esta distinção se orienta pelo volume de informações disponíveis
sobre estes homens:56
55
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 75.
56
Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 82.
45

Os grandes Os pequenos
juízes juízes
Otniel Sangar
Débora- Tola
Baraque
Jefté Jair
Eúde Ebsã
Gideão Elom
Sansão Abdom

Cronologia
A cronologia de Jz apresenta algumas dificuldades. Segundo o AT, o total de
anos do período dos Jz é de 410 anos. Conforme 1 Rs 6:1 passaram 480 anos
entre a saída do Egito e o início do reinado de Salomão. A saída do Egito ocorreu
no século XV a.C., e o início da monarquia aconteceu no século XI a.C.. Tirando
os 410 anos (Jz) dos 480 anos, sobra 70 anos, o que é pouco para todos os outros
eventos que aconteceram. Propostas para solução:
1. Houve períodos de co-regência entre os juízes. Alguns dos juízes foram
contemporâneos. A maioria, senão todos, governaram apenas parte das
tribos ao mesmo tempo. Como foi o caso de Israel sendo subjugados pelos
amonitas e filisteus simultaneamente (Jefté e Sansão).
2. O texto apresenta interesse didático. O autor de Jz não teve preocupação
em expor numa ordem rigidamente cronológica, embora não a despreze,
mas o arranjo do livro enfoca a fragilidade da fé dos israelitas, nos diversos
governos dos juízes, em diferentes tribos.

Contribuição para Teologia AT


Como se vive, ou se quebra a aliança de Yahweh. Mostra a importância da
obediência à Aliança na história de Israel e a fidelidade de Deus à Sua
Aliança;

Fatos interessantes
1. O livro de Jz é um dos livros mais tristes da Bíblia, apresentando o
“período do obscurantismo” do povo de Israel.
2. A época dos juízes foi um dos períodos mais longos da história de Israel.
3. A falha em cumprir completamente as instruções de Deus a respeito dos
pagãos (Dt 7:1-6) levou o povo ao pecado, à escravidão, e à derrota.
4. A conquista de Josué foi geral. Deus deixou algumas nações em Canaã
para provar a obediência e fé de seu povo (3:1-4).
5. A história é marcada por ciclos de falhas:
- Apostasia (pecado, corrupção interna)
- Punição/escravidão (opressão externa)
- Arrependimento
- Livramento seguido por um período de descanso.
46

RUTE

Título
O nome Rute significa amizade, uma característica muito aguçada da
personagem principal.

Autoria
Entre os críticos liberais é quase por consenso que o livro tem uma datação
pós-exílica. Muitos deles entendem como tendo sido escrito em oposição às
medidas de Esdras e Neemias contra os casamentos mistos. Vejamos alguns
argumentos destes críticos:57
1. No cânon hebraico, o livro de Rt não se encontra junto com os primeiros
profetas, onde também se encontra Jz e, sim, com os livros da terceira
coleção chamados poéticos. Dizem tais críticos que foram os últimos a
serem canonizados.
2. A influência do aramaico é notório no estilo do autor, o que indicaria um
autor influenciado pelo exílio babilônico.
3. Em 4:7 o autor menciona o costume de descalçar o sapato, para confirmar
um negócio, costume este, aparentemente, não praticado entre o povo de
Israel, quando o livro foi escrito.
4. O estilo poético do livro marcado pela simplicidade e beleza pastoril,
sugere que temos aqui uma idealização do período dos juízes.

A tradição judaica, o Talmud, Baba Bathra 14b, afirma literalmente que


“Samuel escreveu o seu livro e Juízes e Rute”. Normalmente cogita-se com
simpatia a possibilidade de Samuel ser o autor do livro de Rute. Mas há os que
consideram esta possibilidade como improvável, com base na afirmação de Rt
4:22 que parece implicar que Davi era uma pessoa bem conhecida por ocasião da
redação do texto. Todavia, devemos analisar que a genealogia vai somente até
Davi (4:17,22) não incluindo Salomão, isso indica que o livro foi escrito depois de
Davi ser ungido rei, mas antes dele tornar-se de fato regente em Israel, ou antes
de Salomão tornar-se rei. Samuel ainda vivia, e é ele o escritor mais provável do
livro.

Gênero literário
Entre os críticos o livro de Rt é entendido de muitas maneiras diferentes,
até como lenda popular ou como novela! R.H. Pfeiffer baseando-se nos

57
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 353.
47

significados dos nomes tenta interpretar simbolicamente todo o conteúdo do


livro:58
Malom....... doença;
Quilom...... esbanjador;
Orfa........ obstinado;
Noemi....... minha doçura;
Rute........ companheira.

No entanto, o NT decide a questão. Em Mt 1:5, Rute é aceito como


personagem histórico, e não como um livro de romance ou novela fictícia. A
genealogia de Lc 3:32 concorda com a que consta em Rt 4:13-22.
O texto faz sentido tal qual se encontra. Ele registra um episódio familiar
dum período pré-monárquico. O livro se enquadra dentro do cenário histórico do
período dos Juízes, e não há razões para alterações. Young comenta que
outrora relações amistosas ligavam os dois países: Israel e Moabe (1Sm 22:3-
4), [...]. Se tal livro não for histórico, mas simplesmente obra de alguém que
procurou explicar a origem da descendência de Davi, não seria porventura
mais provável que tal escritor se esforçasse por descobrir aquela origem numa
israelita e não numa estrangeira? O fato da moabita Rute ser tronco da
descendência da linha de Davi é por si argumento suficiente para a
historicidade do livro.59

Data
A questão da data está diretamente vinculada à questão da autoria do livro.
Assim, como a autoria, é difícil identificar explicitamente a data da redação do
livro.
As evidências linguísticas dão alguma pista. A linguagem e o estilo de Rt
são puros, clássicos, em nível semelhante a Sm. Via de regra, o hebraico clássico
implica em data da monarquia unida entre os reinados de Saul à Salomão.
Afirma-se também que a menção do rei Davi pelo nome implica num
período de redação obviamente não anterior ao reino davídico. Nenhum outro rei
é mencionado, nem mesmo Salomão. Para alguns, isto é indício que o livro não
foi escrito no período de Salomão. Assim, a conclusão mais segura é que este
livro foi composto no início, ou durante o reinado de Davi. Os comentaristas
judeus apontam o ano de 973 a.C. como marca em seu calendário. 60

Situação histórica e geográfica


O texto de Rt 1:1 situa a história de Rute no tempo dos juízes. O livro
começa com a circunstância não muito comum de que havia fome em Belém
(“casa do pão”). A história apresenta a característica irônica de uma mulher
virtuosa, que veio de um povo nascido de incesto (Ló e suas filhas). Os moabitas,
ancestrais de Rute, tinham atraído Israel para a idolatria e imoralidade (Nm
25:1-3), mas agora ela estava influenciando Israel com o seu amor e fidelidade.
58
R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament, p. 718.
59
Edward Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 355.
60
Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 658.
48

A história acontece no interior da Judéia, saindo da cidade de Belém, indo


para a região de Moabe, e depois retornam para Belém (Rt 1:1-7).

Propósito
Propósito histórico
O comentarista David Atkinson observa que
o que está claro é que, através de sua leitura, aprendemos algo da vida rural
do século XI ou XII a.C. na Palestina, a rotina do dia-a-dia, a necessidade do
trabalho, as alegrias familiares, a dor da morte, a separação dos parentes, o
relacionamento com a sogra. E, na ilustração de pureza, inocência, fidelidade
e lealdade, dever e amor, o escritor deseja que os seus leitores percebam a
mão de Deus, que cuida, sustenta e provê.61

Propósito teológico
A história seria o cenário para mostrar a graça divina salvando uma gentia
moabita, de origem tão vergonhosa (Gn 19:30-38), enxertando-a na Aliança,
fazendo dela uma ancestral do Messias (Rt 4:13-22; Mt 1:5). Davi teria em sua
árvore genealógica Raabe, a prostituta, uma cananita, e Rute, a moabita. “O livro
pode servir ainda para firsar que a verdadeira religião é supranacional e não se
limita às fronteiras de qualquer país.”62

Estrutura do livro
Primeira sugestão de estrutura:
1. A peregrinação de Rute.................. Rt 1
2. Encontro de Rute e Boaz............... Rt 2
3. Rute apela a Boaz............................. Rt 3
4. O casamento de Rute com Boaz... Rt 4

Segunda sugestão de estrutura:


1. Introdução: a família de Elimeleque.... 1:1-18
2. A dor e a pobreza de Noemi........ 1:19-22
3. Diálogo: Noemi e Rute.................. 2:1-2
4. Diálogo: Rute e Boaz..................... 2:3-17
5. Diálogo: Rute e Noemi.................. 2:18-23
6. Diálogo: Noemi e Rute.................. 3:1-5
7. Diálogo: Rute e Boaz...................... 3:6-15
8. Diálogo: Rute e Noemi................... 3:16-18
9. Processo legal................................... 4:1-2
10.A satisfação de Noemi................... 4:13-17
11.Genealogia: a família de Davi....... 4:18-22

Esboço

Análise do conteúdo
61
David Atkinson, A Mensagem de Rute, pp. 25-26.
62
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 355.
49

A comentarista Joyce W. Every-Clayton observa que


o livro de Rute relata a história de uma pequena família. Mas uma família é a
célula na qual age o Deus da história; como consequência, o livro e a história
da família de Rute também abordam assuntos de vida nacional e vida
religiosa. Porém a ênfase principal não é política, mas pessoal .63

Contribuição para Teologia AT


1. Oferece uma prefiguração duma benção maior do porvir: os gentios
poderão juntar-se à comunhão de Israel, na condição de se arrependerem e
de crerem no Senhor. Rute não seria uma mera exceção, mas se tornaria a
regra.64
2. A providência maravilhosa e inesperada de Deus é verificada também na
inclusão duma gentia na linhagem real do Messias.
3. O parente-redentor serve como um tipo, ou prenúncio do Messias.
4. Um entendimento de ligação entre Jz e Rt é absolutamente indispensável
para compreender a mensagem do livro. Rute é mais que um apêndice do
livro de Jz (Jz 17-21), mas agora trazendo uma história de graça e amor fiel,
não de decadência e infidelidade.

Fatos interessantes
1. Não há a ação sobrenatural divina no decorrer da história, como ocorre em
Juízes; Rute é uma das 4 mulheres na genealogia de Jesus (Mt 1:5).
2. Os moabitas eram os descendentes da união incestuosa de Ló com sua filha
(Gn 19:33-37).
3. Boaz era filho de Raabe, a prostituta de Jericó (Js 2:1; Mt 1:5). Desta forma
Davi, o bisneto de uma moabita, e trisneto de uma cananita, demonstrou
mais ainda a graça de Deus.
4. A lei levita do parente-remidor exigia que o parente tomasse a viúva como
esposa e desse filhos ao seu falecido irmão (Dt 25:5-10; Lv 25:25-31).65
5. Este livro é anualmente lido pelos judeus na Festa de Pentecoste.

1 e 2 SAMUEL

Título
No TM o livro é uma unidade, mas a LXX os dividiu em dois. Desta forma, a
versão grega do AT encontramos os livros de 1 e 2 Rs com o nome de “terceiro e
quarto Livro dos reinos”. A Vulgata seguiu a LXX na divisão dos livros. O livro de
Sm da TM ficou sendo 1 e 2 Rs na Vulgata.

63
Joyce W. Every-Clayton, Em Diálogo com a Bíblia: Rute, p. 11.
64
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 205-206.
65
Para um estudo mais detalhado do assunto veja Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 87.
50

A divisão editada na Bíblia Hebraica de Sm e Rs, em 2 livros cada, a partir


da edição de Daniel Bomberg, em Veneza, em 1516-1517. Essa prática foi
continuada nas Bíblias protestantes.

Autoria
Samuel deve ter escrito ao menos a primeira parte do livro (1Sm 10:25).
Mas certamente não escreveu tudo. Sua morte é relatada em 1Sm 25:1 e 28:3.
Há também narrativa de acontecimentos que foram posteriores à sua morte.
A tradição judaica no livro Baba Bathra 14b/15a é do parecer que a
primeira parte livro foi escrita por Samuel, e o restante pelos profetas Gade e
Nata (1Cr 29:29). Young propõe que “os livros de Samuel foram compostos sob
inspiração divina por um profeta, provavelmente da Judéia, que viveu pouco
depois do cisma, o qual encorporou em sua obra material escrito já existente”. 66

Gênero literário
O caráter e veracidade histórica desses livros podem ser verificados no fato
de serem aludidos em outras porções da Bíblia. Referências aos eventos dos
livros de Sm são encontradas em 1Rs 2:27, em 1Cr, em Jr, e no Salmo 17. Cristo
fez menção ao fato de Davi ter comido dos pães da proposição (1Sm 21:6; Mt
12:3). O apóstolo Paulo apresenta um resumo do conteúdo de Sm em At 13:20-
22.
Os autores de 1 e 2 Sm indicam uma de suas fontes utilizadas:
1. Livro dos Justos...... 2Sm 1:18
2. A tradição oral
3. Testemunho ocular

Data
Os estudiosos mais conservadores datam entre 930-922 a.C., o início da
monarquia dividida. Outros preferem 722 a.C. no período da queda de Samaria e
do Reino do norte. Devemos observar algumas evidências:
1. A pureza do hebraico indica uma época bem primitiva, mas podemos
admitir que passaram alguns anos, antes de serem escritos.
2. A explicação de termos arcaicos, como em 1Sm 9:9, e a referência de
costumes obsoletos, como em 2 Sm 13:18, do mesmo modo que a fórmula
“até hoje”, em 1Sm 5:5, 6:18, 27:6, 30:25, 2Sm 4:3, 6:8, 18:18 indicam que
algumas gerações se passaram até a escrita do livro.
3. Em 1 Sm 27:6 aparentemente a divisão da monarquia já começara quando
o livro foi redigido. O autor faz menção aos “reis de Judá” (1Sm 27:6).
Consequentemente a forma final do texto não se completou antes da
divisão dos dois reinos.
4. Apesar de não mencionar a morte de Davi, as palavras finais do livro
parece implicar no conhecimento do acontecido.

66
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 184.
51

5. O autor (ou autores) nada sabe a respeito da queda da Samaria. Logo, é


razoável que o redator final tenha terminado o livro antes deste evento,
portanto, antes do cativeiro das dez tribos pela Assíria.
6. A data de escrita mais provável é o início da monarquia dividida.

Situação histórica
Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período do
nascimento de Samuel até o fim do reinado de Davi. O livro de Sm faz a ligação
necessária entre o período dos juízes e o início da monarquia. Narra a “época de
ouro” de Israel.

Contexto religioso
O tabernáculo e a arca estiveram em Silo, 14 km ao norte de Betel, desde
os tempos de Josué até os de Eli. Quando na ocasião da morte Eli a arca foi
roubada, esses dois itens principais do sistema religioso de Israel ficaram
separados e assim permaneceram durante 75 anos até que Davi fez com que a
arca voltasse em 1000 a.C.

Propósito
Propósito histórico
Apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde um estado de
anarquia até um estado de monarquia teocrática. Samuel foi ao mesmo tempo
juiz (1Sm 7:6,15-17) e profeta (1Sm 3:20). Ele serviu para fazer essa transição do
período dos juízes com o início da monarquia.

Propósito teológico
Foi escrito para demonstrar as consequências da obediência e
desobediência à Aliança durante a monarquia, segundo a fidelidade de Deus à
mesma. O motivo dominante é a glória é a glória e o poder de uma nação que
corresponde ao Senhor soberano.

Estrutura do livro
1. A vida Samuel...............................................1Sm 1-7
2. Ministério de Samuel e reinado de Saul....1Sm 8-15
3. Reinado de Saul e origem de Davi.............1Sm 16-31
4. Triunfo de Davi sobre a casa de Saul........2Sm 1-8
5. Reinado de Davi...........................................2Sm 9-20
6. Apêndice........................................................2Sm 21-24

Análise do conteúdo
Houve duplo preparo para a monarquia.
Período de confusão e desorientação com os juízes.
Necessidade de um bom rei diante da séria ameaça dos filisteus.

Fatos interessantes
52

1. Moisés predisse a vinda do reinado (Dt 17:14-15).


2. As “escolas de profetas” começaram durante a liderança de Samuel
(1Sm 10:5,10; 19:20; 2Rs 2:3-5).
3. São os primeiros livros que usam a palavra “Messias” (1Sm 2:10) e a
frase “Senhor dos Exércitos” (1Sm 1:3).
4. Alguns erros de Saul: impaciência (13:8-14), impetuosidade (14),
desobediência (15).
5. Davi é apresentado como pastor de ovelhas, músico, poeta, soldado e
estadista.
6. Davi se tornou padrão para todos os outros reis.

1 e 2 REIS

Título
Os livros de Rs eram primariamente um só livro. Tal divisão aparece pela
primeira vez na LXX, depois seguida por Jerônimo na sua Vulgata Latina. Os
judeus não reconheceram a existência desta divisão, mas a adotaram mais por
motivos de facilidade de referências que por estarem convencidos de que se
tratava de dois livros.67

Autoria
Em Baba Bathra 15a está escrito “Jeremias escreveu o seu próprio livro, o
livro de Reis, e Lamentações.”68 Esta tradição é muito atraente, pois, há muita
semelhança entre o livro do profeta Jeremias e Reis. Notemos algumas
evidências:
1. Há muitas semelhanças entre Jr 52 e 2Rs 24-25.
2. A ênfase dos livros sugere o ponto de vista dos profetas.
3. Era um homem de notável capacidade literária.
4. Jeremias que é descrito nos capítulos finais, pode muito bem ter sido seu
autor.
5. O último capítulo não foi escrito por Jeremias, sendo um acréscimo
posterior por alguém que morava na Babilônia, e não no Egito, onde
Jeremias morreu exilado;

Gênero literário
O autor como um historiador fez consultas e menciona o uso de fontes
escritas anteriores. Provavelmente estes “livros” fossem arquivos e anais oficiais
do reino:
1. Livro da História de Salomão................ 1Rs 11:41
2. Livro da História dos Reis de Judá........ 1Rs 14:29; 15:7,23; etc
67
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 93.
68
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento II, p. 11.
53

3. Livro da História dos Reis de Israel...... 1Rs 14:19; 15:31; etc


4. Livro de Isaías........................................... 2Rs 18-20

Os livros de Rs apresentam alguns problemas textuais. A LXX tem


variações em relação à TM. A LXX, às vezes, é mais curto que TM, ou contém
matéria que a TM não tem.

Data
A data mais provável é antes de 560 a.C.. Archer observa que
a composição final tem que ser datada depois da queda de Jerusalém,
provavelmente no começo do Exílio; mas é possível que só o capítulo final
pertença à época do Exílio, sendo que a frase, que frequentemente ocorre,
“até ao dia de hoje”, pelo livro afora, indica inconfundivelmente uma
perspectiva pré-exílica.69

Extensão histórica
Os acontecimentos de 1-2 Rs estendem-se desde a morte do rei Davi, até o
cativeiro de Ezequias, o último rei de Judá. No último capítulo há ainda uma
referência à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando Evil-Merodaque
começou a reinar na Babilônia.
O período de Salomão a Zedequias é conhecido como o período do Templo
de Salomão, estendendo-se desde a construção até a sua destruição por
Nabucodonosor.

Propósito
Propósito histórico
Relatar a história da teocracia até o seu final no exílio babilônico. O relato
vai desde as últimas palavras de Davi até o final exílio babilônico.

Propósito didático
O autor narra e julga cada rei por sua conformidade ou inconformidade
com a lei de Deus. Dá ênfase ao fato de que todo pecado traz as suas
consequências, e que a fé e a justiça triunfarão finalmente. Mostra a sua
apreciação pelas reformas sociais.

Propósito teológico
Escrito para motivar o povo de Judá, antes e depois do cativeiro babilônico
a ser fiel à Aliança de Deus, porque Ele mesmo é paciente e fiel à Aliança.

Estrutura do livro
1. Transição: morte de Davi e sucessão de Salomão.... 1Rs 1-2
2. Reino unido sob Salomão............................................. 1Rs 3-11
3. Monarquia divido: Reino do Norte e do Sul.............. 1Rs 12- 2Rs 17
4. Reino de Judá (do Sul)................................................... 2Rs 18-25

69
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 215.
54

1. Reino Unido...................................... 1Rs 1-11


2. Reino Divido..................................... 1Rs 12-22
3. Reino Cativo: declínio de Israel..... 2Rs 1-17
4. Reino Cativo: declínio de Judá....... 2Rs 18-25

Análise do conteúdo
Os livros de 1 e 2 Rs apresentam uma combinação de cronologia com
julgamentos religiosos. Os episódios dos dois reinos são relatados de forma
paralela e contínua. Mostra através de contrastes e comparações o declínio e o
cativeiro dos dois.
O autor do livro segue uma metodologia rígida. Narra-se o reinado de um
rei até o fim, e então, todos os reis do outro reino durante aquele período.
Depois, dá a sua opinião a respeito do reino, discutindo vários aspectos e
acontecimentos. Finalmente, menciona as fontes de onde tomou as suas
informações, onde o rei foi sepultado e quem reinou em seu lugar.
Parece haver um certo “favoritismo” para o reino de Judá. Entretanto, a
preocupação maior é com o culto em Jerusalém. Os reis de Judá que defenderam
a monoteísmo, mas toleraram o baalismo, são censurados. Dos reis de Israel
(exceto um) é dito que agiram mal. É preciso lembrar que o Messias sairia de
Judá.
O complemento histórico de 1 e 2 Rs é feito pelos livros de Crônicas e os
livros proféticos, especialmente Jeremias.

Fatos interessantes
1. Houve 19 reis e 9 dinastias em Israel, e 20 reis e 1 só dinastia em Judá.
2. A idolatria que começou com Salomão (suas esposas) aumentou cada vez
mais, e só foi eliminada no cativeiro babilônico.
3. Eliseu pediu porção dobrada do espírito de Elias (2Rs 2:9). Há exatamente
doze milagres seus registrados, e seis de Elias.
4. Os profetas do reino do Norte: Elias, Eliseu, Amós e Oséias; os profetas do
reino do Sul: Obadias, Joel, Isaías, Miquéias, Naum, Sofonias, Jeremias,
Habacuque.
5. Os livros de reis:70
a. Começam com o rei Davi e terminam com o rei da Babilônia.
b. Começam com a construção do templo e terminam com a sua
destruição.
c. Começam com o primeiro sucessor de Davi ao trono (Salomão) e
terminam com o último sucessor, Joaquim, libertado do cativeiro pelo
rei da Babilônia.

70
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 36.
55

1 e 2 CRÔNICAS

Título
No TM o título literal é palavra dos dias, podendo significar também livro
dos eventos. Na LXX a tradução literal seria coisas omitidas, se referindo à
alguns assuntos que foram omitidos em Sm e Rs. A Vulgata apenas translitera da
LXX o seu título. A divisão de Cr em dois livros veio com a LXX. Esta divisão foi
introduzida na Bíblia Hebraica um pouco antes da Reforma do século XVI.

Autoria
A obra é anônima. Mas a tradição talmúdica Baba Bathra 15a atribuí a
autoria à Esdras. Algumas evidências da autoria de Esdras:71
1. A linguagem das Cr precedem a época de Esdras, segunda metade do
século V a.C., provavelmente entre 450-425.
2. O estilo literário, o ponto de vista sacerdotal e o objetivo claro são
coerentes com Esdras.
3. Note-se que os últimos versículos de 2 Cr são os primeiros versículos do
livro que leva o nome desse profeta posterior, o que sugere uma
continuação natural entre as duas obras.

Fontes
O cronista menciona muitas de suas fontes. Talvez, haja mais do que as
mencionadas. Mas certamente a maior fonte é o texto canônico de Sm-Rs.
1. Livro das Crônicas do rei Davi.........................1Cr 27:24
2. Crônicas de Samuel, o vidente..........................1Cr 29:29
Crônicas de Natã, o profeta
Crônicas de Gade, o vidente
3. Livro da História de Natã, o profeta................2Cr 9:29
Profecia de Aias
Visões de Ido
4. Livros de Semaías, profeta.................................2Cr 12:15
Ido, vidente
4. História do profeta Ido......................................2Cr 13:22
5. Livros dos reinos de Judá e Israel....................2Cr 16:11
6. Livro da História dos Reis................................2Cr 24:27
7. Livro da História dos Reis de Judá e Israel....2Cr 25:26
8. Visão do profeta Isaías......................................2Cr 26:22; 32:32
9. História dos Reis de Israel................................2Cr 33:18
10. História de Hozai.............................................2Cr 33:19
11. Tradição oral.

Data

71
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 402.
56

O livro termina com o edito de Ciro, em 538. Logo, não deve ser anterior ao
decreto persa. Foi escrito logo após a volta do exílio, a fim de proporcionar um
fundo teocrático para as exortações de Esdras e Neemias. O ano 500-430 a.C.,
aproximadamente seria o mais provável.

Extensão histórica
A história abrange da criação até Ciro, rei da Pérsia (538 a.C.). O seu
alcance cronológico é, portanto, maior do que qualquer outro livro da Bíblia,
desde Gênesis até Malaquias. Quando os livros de 1-2 Cr foram escritos, Judá já
não era uma monarquia, e sim apenas um pequeno grupo de exilados que tinham
retornado da Babilônia sob vassalagem persa. Ellisen observa que
os judeus não deixaram de exercer influência sobre o império persa nessa
época. Daniel chegara à posição de primeiro-ministro, tanto no império
Babilônico de Nabucodonosor como no império Persa de Ciro (Dn 2:6). Ester e
Mordecai chegaram a ser, respectivamente, rainha e primeiro-ministro do
império persa na época de Assuero, pai de Artaxerxes I Longímano, que
reinou na época de Esdras. Eles exerceram grande influência no império a
favor dos judeus.72

Propósito
Propósito didático
Estabelecer a auto-compreensão da comunidade pós-exílica como uma
entidade essencialmente religiosa, centralizada nas instituições divinas do
Templo e da dinastia davídica.

Propósito histórico
O objetivo histórico dos livros não era continuar a história de Israel a partir
do final de 2Rs, mas apresentar de maneira sucinta toda a história sob a
perspectiva divina. Em vez de começar com Samuel ou Abraão, o cronista o faz
com Adão. Nessa retomada da história, omite dos livros de Sm e Rs muito do
conteúdo referentes a guerras, política e até mesmo aos pecados do povo. Os
livros são uma “revista a história de Israel desde a aurora da raça humana até o
Cativeiro na Babilônia, e o Edito da Restauração.”73

Estrutura do livro
1. 1Cr 1-9....... Genealogia de Adão-Davi
2. 1Cr 10-29..... Reinado de Davi
3. 2Cr 1-9....... Reinado de Salomão
4. 2Cr 10-36..... História de Judá até o edito de Ciro

Análise do conteúdo
A história pré-davídica é narrada somente nas genealogias. Não há relato
dos acontecimentos que ocorreram neste período no livro de Cr. A cronista

72
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 118.
73
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 348.
57

pressupunha que seus leitores estariam familiarizados com a história de Israel,


preferindo mostrar a sequência história somente através de genealogias. As
genealogias certamente pretendem evitar a duplicação de relatos já registrados
na história anterior (Sm-Rs). Por outro lado, também mostra a continuidade do
povo na linhagem da Aliança do Senhor.
Os livros de Cr não pretendem suplantar a história anterior (Sm-Rs), mas,
complementar a mesma, fornecendo novas informações de um ângulo diferente.

Contribuição para Teologia AT


A genealogia (1Cr 1-9) demonstra a fidelidade de Deus através dos séculos à
Aliança especialmente a preservação da linhagem davídica.
A Aliança davídica é ratificada (1Cr 17:7-15).

Fatos interessantes
1. Toda a história do Reino do Norte é omitido.
2. Os livros de Rs apresentam o aspecto político da época, enquanto 1 e 2
Cr apresentam o aspecto sacerdotal do mesmo período.
3. O foco de Cr é: Judá.- Davi - Templo.
4. Cobre um período mais abrangente do que qualquer outro livro do AT
(Adão-Ciro).
5. Na Bíblia Hebraica são os últimos livros.

ESDRAS

Título
Na LXX o livro de Ed possuí o título de segundo Esdras (Ed+Ne).
Entretanto deve-se notar que o primeiro Esdras na LXX é um livro apócrifo.74

Autoria
Algumas considerações necessitam ser observadas:
Esdras.... 7:28-9:15 o uso 1ª pessoa “eu”.
Sua importância como mestre da lei no AT é com frequência comparada com
Moisés. Dentre as obrigações de Esdras para com os judeus que voltaram
do exílio incluía, reeducar o povo na lei de Moisés, e apresentar-lhes a sua
identidade de povo da Aliança.
A tradição judaica aponta Esdras, como o fundador das sinagogas locai em
Judá para o estudo da Lei, semelhantes àquelas fundadas na Babilônia, as
quais se tornaram um lugar de reunião regular dos judeus dispersos,
conforme Ez 20.

74
Vide* gráfico in: W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 601.
58

Gênero literário
vide* E.J. Young, pp. 392-393

Data
Aproximadamente entre 450 e 400 a.C..

Extensão histórica
Podemos colocar o ministério de Esdras durante o reinado de Artaxerxes I
(465-424 a.C.)

Propósito
O restabelecimento do povo na terra prometida mostra a fidelidade de
Deus à Aliança, e exige um reavivamento da verdadeira religião da Aliança. Por
isso, insiste no estabelecimento do povo na região como se fosse um reino de
sacerdotes e uma nação santa, que deve sempre caminhar sob a Lei.

Estrutura do livro
1.1. Restauração do Templo.................. 1-6
1.2. Restauração do povo....................... 7-10

2.1. Primeiro retorno dos exilados........ 1-2


2.2. Restauração do culto....................... 3-6
2.3. Segundo retorno dos exilados........ 7-8
2.4. Reforma social.................................. 9-10

Análise do conteúdo
Encontramos algumas porções em aramaico em Ed (4:8-6:18 e 7:12-26).

Unidade
Em Ed 1-6 (a seção de Zorobabel) parece haver uma dependência de listas,
cartas e documentos oficiais variados.

Contribuição ao cânon
Começa onde exatamente termina 2 Cr;
Fornece informações sobre o período pós-exílico de Israel;

Fatos interessantes
1. O decreto de Ciro, rei do império Medo-Persa, cumpriu a profecia de Isaías
feita 200 anos antes (Is 44:28; 45:1).
2. Foram 3 deportações, de 3 profetas maiores (606...Daniel, 597...Ezequiel,
586...Jeremias) e 3 retornos, com 3 grandes líderes (536...Zorobabel,
457...Esdras, 444...Neemias).
3. A partir desse tempo os israelitas são chamados judeus, porque a maior
parte deles era da tribo de Judá.
59

NEEMIAS

Título
Na LXX o livro de Ne possuí o título de Segundo Esdras (Ed+Ne). O
Primeiro Esdras na LXX é um livro apócrifo.

Autoria
Algumas evidências indicam que realmente seja Neemias. O uso do
pronome na 1ª pessoa “eu”, bem como a obra recorda a missão do autor em
Jerusalém, e as reformas que realizou.

Data
Aproximadamente 430-400 a.C.

Extensão histórica
Há dúvidas quanto a sequência histórica de Ed e Ne. Questiona-se se o
“Artaxerxes” mencionado em Ne 2:1 é o mesmo “Artaxerxes I”? O primeiro
retorno de Neemias a Jerusalém se deu em 445 a.C., depois de 12 anos como
governador (Ne 13:6). Mas, depois de aparentemente um ano em Ecbatana, ele
volta em 432 a.C. (“32º ano do rei” Ne 13:6), para uma segunda gestão de
duração incerta.
A questão toda está na relação de Esdras e Neemias. Quando foi que
ambos trabalharam juntos? A resposta tradicional é a que o “Artaxerxes” de Ed
7:1, é o “Artaxerxes I” (465-424 a.C.). Desta forma, Esdras chegou em Jerusalém
em 458 a.C. (Ed 7:8), 13 anos antes de Neemias (445 a.C., Ne 2:1).
O livro de Ne cobre um período de 100 anos de história da comunidade
israelita pós-exílica. Desde o final do exílio babilônico à reconstrução do templo
de Jerusalém.

Contexto religioso
A cosmovisão medo-persa contribuiu para o retorno dos israelitas à terra.
Ellisen comenta que
internacionalmente, um novo clima religioso foi introduzido pelos persas. Os
decretos de Ciro e Dario surgiram parcialmente inspirados por sua fé
religiosa. Esta não passava de uma mistura da visão tradicional de um panteão
de deuses, e do zoroastrismo desenvolvido recentemente, com suas duas
hierarquias: do bem e do mal. Como resultado dessa visão, eles fizeram o povo
voltar à sua terra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a paz no
império. Tal política resultou na volta de Israel à Palestina com os vasos do
templo, e uma reativação de seu sistema religioso .75

75
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 127.
60

Propósito
Propósito teológico
A reconstrução de Jerusalém como centro político da teocracia exige uma
identificação do povo com o caráter santo do Deus que soberanamente dirigiu a
restauração.

Propósito histórico
Documentar historicamente a reconstrução dos muros de Jerusalém. O
livro mostra como Deus usou uma pessoa leiga, mas interessada, para assentar
os blocos do muro de Jerusalém a fim de que houvesse proteção aos restantes e,
ao templo reconstruído, bem como defesa dos povos e da cultura pagã, que
contaminaria a religião israelita.

Estrutura e esboço do livro


1. Restauração dos muros.................... Ne 1-7
2. Reformas de Esdras e Neemias...... Ne 8-13

1. Reconstrução do Muro.................... 1-7


a. Preparação............................ 1-2
b. Reconstrução....................... 3-7
2. Restauração da Aliança.................... 8-13
a. Renovação da Aliança......... 8-10
b. Resposta à Aliança.............. 11-13

A unidade de Esdras e Neemias


Sobre este assunto temos duas posições:
1. Ambos os livros formam uma unidade:
Há escribas que tratam os dois livros como sendo um só. Há outros
estudiosos que acham que em bases históricas e literárias, os dois livros devem
ser tratados como sendo uma obra só. Os principais argumentos são:
1. O comentário talmúdico Baba Bathra 15ª entende que Ed e Ne são um
só livro.
2. O livro apócrifo Eclesiástico menciona-os como sendo um.
3. Na LXX os dois foram unidos e dado o título de Esdras B, para distingui-
los de Esdras A, o livro apócrifo.
4. A mesma posição é defendida por Flávio Josefo.
5. O TM parece demonstrar uma tradição estabelecida quanto a unidade
das duas obras. Há falta de espaço entre ambos os livros, e a estatística
massorética para ambos se acha ao final de Neemias.

2. Ambos os livros são unidades independentes:


Na verdade, assume-se que originalmente ambos eram um só livro. Isto é
duvidoso. O máximo que se pode afirmar é que foram unidos muito cedo. Há
evidências discretas de composições separadas:
61

1. Em Ne 1:1 há uma nota marginal (BHS) que expressa, talvez, ter


testemunhado a uma memória de independência.
2. Em Ed 2 e Ne 7:6-70 existe uma duplicação da lista dos exilados que
voltaram. Talvez, indique que originalmente não eram uma só obra.
3. Não está de todo excluída a possibilidade da combinação de certos
livros para se obter um total de 22 livros canônicos, o que daria o
número de letras do alfabeto hebraico. Sabe-se que Josefo referiu-se
acerca deste assunto.

3. Comparações entre Ed e Ne:


Ambos começam na Babilônia e terminam em Jerusalém.
Ambos tem por centro o homem de Deus que o escreveu.
Ambas as histórias começam com o decreto de um rei da Pérsia.
Ambos tem por tema principal a reconstrução.
Ambos contêm uma longa oração de humilhação e confissão.
Ambos terminam com a purificação do povo.

Fatos interessantes
1. No final de Ed e Ne tudo é restaurado (templo, Jerusalém, o povo, a
Aliança), menos o rei.
2. O atrito entre samaritanos e judeus já se encontra neste livro.
3. Apesar da oposição, a reconstrução do muro só levou 52 dias.
4. O cativeiro babilônico curou os judeus da idolatria.
5. Retornos à terra prometida:
- Em 536 a.C. Zorobabel retornou para reconstruir o templo;
- Em 457 a.C. Esdras retornou para reformar o povo;
- Em 444 a.C. Neemias retornou para reconstruir os muros de
Jerusalém.

ESTER

Título
O nome do livro é derivado da língua persa e significa estrela. O seu nome
hebraico é Hadessa que significa murta (Et 2:7).

Autoria
O comentário talmúdico Baba Bathra 15a afirma literalmente que “os
homens da Grande Sinagoga escreveram o livro de Ester”. Outra tradição judaica
aponta Mordecai como o autor do livro. Esta tradição encontra apoio em Josefo e
Abraham Ibn Ezra. O fundamento para esta possibilidade seria que nos últimos
dois capítulos de Et menciona-se cartas e escritos pessoais de Mordecai (9:20,
62

29).76Outra hipótese seria a autoria a cargo de Esdras, ou de Neemias. No


entanto, não há boa evidência linguística para sustentar esta posição. O estilo
com que o livro foi escrito não parece ser o de Esdras, ou Neemias.
Podemos concluir quanto a autoria:
1. O autor certamente viveu na Pérsia, talvez em Susã, ou arredores, e pode
ter sido testemunha ocular dos episódios.
2. O texto demonstra conhecimento acurado dos costumes persas e sua
história.
3. O autor pode ter usado os escritos de Mordecai (9:20), as “crônicas dos
reis da Média e da Pérsia” (2:23; 10:2), bem como a tradição oral para a
redação do livro de Et.
4. Disto é tudo o que se pode concluir quanto a autoria deste texto anônimo.

Gênero literário
Alguns eruditos modernos tem negado a historicidade de Et. 77 Por alguns é
considerado como um romance ou, novela épica. Chega-se ao extremo de se
afirmar que Et é um texto que defende interesses judaicos e “sionistas”. Eis
alguns argumentos à favor da historicidade do livro:
É preciso reconhecer que histórica e geograficamente o texto é preciso.
Os argumentos contra a historicidade do livro são fracos, e até mesmo
insustentáveis.

Data e local da escrita


Deve ter sido escrito logo após a morte de Assuero (Xerxes) em 465 a.C.,
quando os seus relatórios foram completados no livro da história dos reis (Et
10:2). Foi escrito durante o império Medo-persa, na cidade Susã.

Extensão histórica
Em 483 a.C., a rainha Vasti foi deposta, durante o terceiro ano de Assuero.
Em 479 a.C., Ester foi coroada, no sétimo ano de Assuero. Em 473 a.C., houve o
livramento dos judeus do Purim, durante o décimo terceiro ano de Assuero.
Os acontecimentos deste livro encaixam-se cronologicamente entre os
capítulos 6 e 7 de Ed. Entre os anos 483-473 a.C..

Propósito
Propósito teológico
Mostrar como Deus em sua providência governa toda a existência. Ainda
que eles sejam cativos num país estrangeiro, a proteção providencial de Deus
cuida do Seu povo como Ele prometeu na Aliança.

Propósito didático

76
Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.
77
Para uma exposição mais completa das críticas e historicidade do livro, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo
Testamento, pp. 369-371.
63

Explicar a origem e o contexto da Festa do Purim. Nesta festa celebra-se a


libertação dos judeus da sentença de Hamã.

Estrutura do Livro78
1.1. Festa de Assuero................................................ 1-4
1.2. Festa de Ester..................................................... 5-8
1.3. Festa do Purim................................................... 9-10

2.1. Perigo de destruição do povo.......................... 1-5


2.2. Proteção graciosa de Deus sobre seu povo... 6-10

Contribuição ao cânon
1. Fornece informações sobre os judeus durante o exílio babilônico.
2. Não há indicação que sua canonicidade estivesse em disputa em Jâmnia
(90 d.C.). Logo, não é justo incluí-lo entre os livros duvidosos.
3. Flávio Josefo o considerava canônico.
4. O livro é popular entre os judeus.

Dificuldades de interpretação
Como um livro que omite os nomes de Deus pode ser considerado
canônico? O exegeta judeu Abraham Ibn-Ezra declarou que o autor omitiu
intencionalmente o nome de Deus “por temer que o relato fosse traduzido pelos
persas, que trocariam o nome do Deus Eterno pela divindade pagã que o povo
adorava.”79

Fatos interessantes
1. O único livro canônico sem o nome de “Deus”.
2. O livro tem 187 referências ao rei persa.
3. Ester é o único livro não representado entre os achados de Qumran.
4. Não há menção deste livro no Novo Testamento.
5. Descreve algumas qualidades de Ester: formosa e modesta (2:15),
obediente (2:10), corajosa (7:6), cativante (2:9-17; 5:1-3), humilde (4:16),
leal e persistente (2:22; 8:1-2; 7:3-4).
6. Acusa os pecados de Ester: não revelou sua identidade judia; casou-se com
um rei pagão; não voltou à Terra Prometida (Is 48:20; Jr 50:8; Ed 1:3);

78
Para uma análise mais detalhada da estrutura do livro vide* W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo
Testamento, pp. 584-587.
79
Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.
64

OS LIVROS POÉTICOS

Título

Autoria
Há algumas opiniões discordantes quanto à autoria desta obra. A tradição
judaica (Baba Bathra 14b e 15a) declara que o autor foi Moisés o autor de Jó.
Vejamos algumas objeções à autoria mosaica:
1. A obra foi escrita no mesmo estilo de Provérbios (Mashal); este estilo
literário teve início no período do reinado salomônico.
2. Se o livro fosse de autoria mosaica, sua posição no Cânon hebraico seria
diferente. Jó é classificado como Ketubim (Escritos), e se encontra dentro
do TM entre o livro de Salmos e Provérbios. Se ele fosse uma obra
mosaica, certamente seria colocado na mesma categoria que a Lei.
3. A Lei era a referência para as demais obras do AT, seria difícil que uma
obra de natureza refletiva ou meditativa tenha sido escrita por alguém cuja
principal ocupação era a legislatura;

Sobre a autoria parece que a obra foi redigida no tempo de Salomão.


Vejamos alguns argumentos em seu favor:
1. Era uma época de paz em que as atividades literárias de sabedoria se
desenvolveram. Um período propício para compor este livro.
2. O livro de Jó tem o caráter dos livros da sabedoria (hokhmah). Os
comentaristas Keil-Delitzch observa que “é um característica daquele
período criador e incipiente da hokhmah, daquela época salomônica da
ciência e da arte, do mais profundo pensamento em matéria de religião e
da arte, do mais profundo pensamento em matéria de religião revelada e
de cultura inteligente e progressiva das formas tradicionais da arte, duma
época sem precedentes, em que a literatura correspondeu ao ápice da
magnificência gloriosa para que o reino da promissão tendia.”80
3. Há uma exaltação semelhante de sabedoria piedosa entre Pv 8 e Jó 28.
4. O autor mostra uma clara preferência pelo nome Elohim, traduzido por
“Deus”. O nome Yahweh ocorre somente duas vezes no cap. 1, uma vez no
cap. 12, uma vez no cap. 38, três vezes no cap. 40, e cinco vezes no cap.
42. Isto associa com os escritos de Salomão que geralmente utiliza o nome
Elohim, e menos o nome Yahweh.81

80
C.F. Keil & F. Deltzch, Commentary on the Old Testament: Job-Psalms vol.5, p. 19 (Books for the Ages, 1997), CD-Master
Library Christian 01/02, in loco.
81
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? p. 410.
65

Data da Escrita
Existem várias datas propostas:82
1. Na época de Salomão: Keil, Delitzsch, Haevernick.
2. No séc. VIII (antes de Amós): Hengstenberg.
3. No princípio do séc. VII: Ewald Riehm.
4. Primeira metade do séc. VII: Staehelin, Noeldeke.
5. Na época de Jeremias: Koenig, Gunkel, Pfeiffer.
6. No exílio babilônico: Cheyne, Dillmann.
7. No séc. V: Moore, Driver, Gray, Dhorme.
8. No séc. IV: Eissfeldt, Voltz.
9. No séc. III: Cornill.

O livro foi escrito durante o reinado de Salomão. Os três amigos eram


árabes. O local onde Jó residia era Harã, ao norte da Palestina, perto de
Damasco. Não há qualquer referência à Lei de Moisés, ou registro de fatos da
história judaica. “Jó pertence em pensamento e forma à corrente literária que se
originou com Salomão; daí ter maior semelhança ao livro de Provérbios do que
qualquer outro livro no Velho Testamento.”83

Gênero literário
Samuel J. Schultz considera o livro de Jó como sendo “apropriadamente
classificado como um drama épico. Apesar de que a porção principal da
composição seja de natureza poética e tenha a forma de um debate, o arcabouço
é escrito em prosa. Neste último, a narrativa provê a base para a discussão
inteira.”84
Quanto ao estilo literário, Sellin-Fohrer observam que o livro
nos mostra que seu autor é um mestre da palavra raramente superado, um
mestre dotado de poder de criatividade barroca e possuidor de elevada
cultura, como nos indicam não só as imagens, numerosas e multiformes, que
exprimem os sentimentos mais variados em um só e mesmo discurso, como
também as expressões raras, ou que já nem mesmo se usavam .85

Situação histórica
Jó foi um personagem histórico, como indicam Ez 14:14 e Tg 5:11. Parece
que Jó viveu no período dos patriarcas, embora, não se pode fazer nenhuma
afirmação absoluta. Vejamos algumas evidências:
1. O personagem é identificado como um habitante de Uz, e não de um lugar
fictício (1:1). As referências bíblicas a Uz sugerem um local a leste de
Edom (Gn 10:23; Jr 25:20; Lm 4:21). A LXX traduz terra dos Aisitai, povo,
que segundo o geógrafo Ptolomeu, se localiza no deserto da Arábia perto
dos edomitas do monte Seir.
2. Elifaz, amigo de Jó, era de Temã, localidade bem conhecida perto de Edom.
82
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 334-338.
83
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 216.
84
Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 265.
85
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 480.
66

3. Eliú pertencia aos buzitas, região perto dos caldeus.


4. A riqueza é medida pela quantidade em animais. Isso nos lembra os dias de
Abraão (Gn 13:1-11).
5. A narrativa faz menção a uma época anterior à legislação do Sinai (1:5).
6. A ausência de citações sobre as instituições israelitas, indica um cenário
patriarcal
7. Jó viveu um modelo patriarcal de vida e religião.
8. A idade avançada de 140 anos de Jó (42:16) está mais de acordo com a
idade atingida pelos patriarcas.

Propósito
Ensinar como Deus pode usar a adversidade, bem como a prosperidade,
para amadurecer o seu povo. Deus usa os piores ataques de Satanás para o
cumprimento do seu santo decreto. O soberano Deus ilustra através da vida de
Jó, que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).

Estrutura e esboço do livro


1. O Contexto Familiar............................... 1:1-2:13
2. Lamentação de Jó.................................... 3:1-26
3. Discursos Com os Três Amigos........... 4:1-31:40
1. primeiro ciclo de discursos....... 4:1-14:22
2. segundo ciclo de discursos....... 15:1-21:34
3. terceiro ciclo de discursos........ 22:1-31:40
4. Discursos de Eliú.................................... 32:1-37:24
5. Pronuncio do Senhor............................. 38:1-42:6
6. Conclusão................................................. 42:7-17

1. Prólogo (prosa)........................................ 1-2


2. Diálogos.................................................... 3-28
2.1. Lamento inicial de Jó.............. 3
2.2. Diálogo entre Elifaz e Jó....... 4-5; 15; 22
2.3. Diálogo entre Bildade e Jó.... 8; 18; 25
2.3. Diálogo entre Zofar e Jó...... 11; 20
4. Poema de sabedoria............................... 28
5. Série de discursos................................... 29-42
5.1. Jó alega inocência.................. 29-31
5.2. Discursos de Eliú.................. 32-37
5.3. Discursos de Yahweh........... 38-42:6
6. Epílogo.................................................... 42:7-17

Análise do conteúdo
Sellin-Fohrer fazem uma preciosa contribuição em perceber que
o poeta de Jó não aborda o problema da teodicéia, sob a forma do sofrimento
merecido do justo, ou sob a forma da justiça de Deus, em contraposição com a
experiência humana. Isto estaria em contradição com o pensamento concreto
67

e subjetivo do israelita. Também ele não apresenta pura e simplesmente um


acontecimento. Pelo contrário: trata-se aí de um problema vital: o problema da
existência humana vivida no sofrimento; trata-se da questão sobre o modo de
proceder corretamente dentro dessa existência. Jó vive o comportamento que
lhe parece possível e correto. Os amigos querem ensinar-lhe um
comportamento que, no seu parecer, é o melhor, e Deus o coloca diante do
problema decisivo no que respeita a seu comportamento. (...) A narrativa que
enquadra o poema interpreta o sofrimento como provação do homem que
deve, por este meio, confirmar a sua piedade que alimentar até então. Os
amigos de Jó atribuem a infelicidade às culpas do homem, e o convidam a se
desviar do mal, a se voltar humildemente para Deus e a se converter
radicalmente. (...) Passando por cima de todas estas opiniões – as ortodoxas e
as heréticas -, o poeta de Jó, que faz Deus condenar, inclusive, os amigos de
Jó, apesar de sua fé imaculada, e recomendá-los à intercessão daquele Jó que
antes parecia tão herético, parte em busca de sua própria solução, a qual
atesta a profunda influência da fé profética: a atitude correta do homem no
sofrimento é o silêncio humilde, na plena entrega de si mesmo, brotando da
paz com Deus, e baseada não somente na intuição de que o sofrimento
decorre de uma intervenção misteriosa, impenetrável, mas inteiramente lógica
de Deus, mas também na certeza da comunhão com Deus, a qual faz com que
tudo o mais seja secundário.86

O conteúdo do livro demonstra uma unidade natural e estrutural.87

Fatos interessantes
1. Jó é a maior de todas as obras dramáticas do AT.
2. Nenhum livro da Bíblia revela tanto da pessoa e do caráter de Satanás.
3. É citado explicitamente uma vez no NT (1 Co 3:19 – Jó 5:13).
4. Implica que a terra é esférica (22:14), pendurada no espaço (26:7).

SALMOS

Título
O título hebraico significa livro dos louvores. O título adotado pela LXX não
é muito apropriado, pois a palavra psalmoi (salmos) é a tradução da palavra
hebraica mizraim. A Vulgata adotou seu título transliterando da LXX.88

Autoria

86
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 496-497.
87
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 197-202, considera a prosa e a maior parte das seções
poéticas como uma unidade.
88
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 976-977.
68

A tradição judaica Baba Bathra 14b declara “Davi escreveu o livro dos
Salmos auxiliado por dez anciãos: Adão, Melquisedeque, Abraão, Moisés, Hemã,
Jedutum, Asafe e três filhos de Coré”. Evidentemente que Davi ao compor os
“Salmos” não teve a assistência destas pessoas. Esta afirmação deve ser
reinterpretada, por não possuir qualquer fundamento histórico. Melhor do que
nós, os “homens da Grande Sinagoga” que escreveram o Talmud, certamente
sabiam do distanciamento cronológico entre estes personagens bíblicos e Davi.
Provavelmente, que Davi compôs muitos dos salmos, outros foram escritos
durante o seu reinado e o reinado de Salomão, e os demais foram escritos num
período pós-exílico. Há algumas considerações que devemos fazer ao confirmar a
autoria davídica de muitos dos salmos:
1. Algumas passagens do AT indicam Davi compondo cânticos para o
santuário (1Cr 6:31; 16:7; 25:1; Ed 3:10; Ne 12:24, 36,45-46; Am 6:5);
2. Sabe-se que Davi foi talentoso músico;
3. Davi também era poeta (2Sm 1:19-27);
4. Ele era um homem de profunda sensibilidade e riqueza de imaginação.
“A riqueza da sua imaginação está patente na propriedade dos termos e
nas frequentes figuras que emprega”;89
5. Davi era um homem piedoso, de sentimentos religiosos, com uma
profunda percepção de quem Deus era e como Ele agia, um verdadeiro
adorador de Deus. Os salmos não poderiam ser escritos por alguém que
não amasse o Senhor, e que não tivesse de modo experimental
conhecido ao Senhor;
6. Era um homem vivido. Possuindo uma larga experiência de vida como
pastor, soldado, músico, chefe, rei, administrador, poeta, pai,
perseguido pelo seu rei (Saul), e traído pelo próprio filho (Absalão), com
uma família atribulada e manchada de incesto e sangue. Ele estava apto
para exprimir as alegrias da graça, e também as angústias do pecado;
7. Davi era um homem capacitado pelo Espírito de Deus (1Sm 16:13);
8. É importante lembrar que Davi escreveu muitos salmos, mas não todos;

Geralmente através do título do Salmos90 pode-se identificar o autor. A


preposição hebraica l denominada pelos estudiosos de lamedh auctoris pode
significar: escrito por, pertencente à, ligado com, dedicado à, a respeito de.
Acerca deste assunto, mesmo os eruditos liberais Sellin-Fohrer “aceitam que “a
concepção de que, no caso dos salmos, se trate de um lamed auctoris, é
reforçada pelo fato de que em várias passagens se indica a ocasião em que Davi
deve ter composto um salmo, e que dificilmente se trataria de um comentário
posterior.”91
O livro de Salmos é uma coletânea de escritos de diversos autores:
1. Atribuí-se 1 salmo à Moisés (90)
2. Atribuí-se 73 salmos à Davi (3-9, 11-32, 34-41, 51-65, 68-70, 86, 101,
103, 108-110, 122, 124, 131, 133, 138-145.
89
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 314.
90
Salmos, no plural e com letra maiúscula indica o livro, salmo no singular e com letra minúscula indica o capítulo.
91
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 410.
69

3. Atribuí-se 2 salmos à Salomão (72, 127)


4. Atribuí-se 12 salmos à Asafe (50, 73-83)
5. Atribuí-se 12 salmos aos Filhos de Coré (
6. Atribuí-se 1 salmo à Hemã, o ezraíta (88)
7. Atribuí-se 1 salmo à Etã, o ezraíta (89)
8. São 48 salmos órfãos/anônimos

Autores sugeridos pelos tradutores da Septuaginta:


1. Atribuí-se 15 salmos à Ezequias (120-134)
2. Atribuí-se 1 salmo à Jeremias (137)
3. Atribuí-se 1 salmo à Ageu (146)
4. Atribuí-se 1 salmo à Zacarias (147)
5. Atribuí-se 1 salmo à Esdras (119)

Os títulos dos Salmos


Os títulos são indicadores da natureza literária de cada salmo. Alguns
títulos se referem ao uso litúrgico dos salmos a serem cantados em certas
ocasiões.
Há títulos descritivos da característica poética:
1. 57 salmos são chamados de mizmor. Estes se referem a música que
deveria ser cantada com acompanhamento de instrumentos de cordas.
2. Shir cântico de qualquer qualidade ou espécie, ocorre 30 vezes (46,
120-134).
3. Mashkil um cântico de especial qualidade, ocorre em 13 salmos,
podendo significar vários tipos de cânticos: meditativos, didáticos (32).
4. Miktam salmo com ideia de lamentação pessoal (16, 56-60).
5. Shiggayon só ocorre uma vez (7).
6. Tephillah significa “oração” (17, 86, 90, 102, 142).
7. Tehillah somente ocorre uma vez (145), significa “louvor”.

Há títulos que indicam a direção musical:92


1. Lamnatseach é a palavra que vem ao título de 55 salmos. A Vulgata
traduz “in finem”, e a Versão Almeida “para o cantor mor” (IBB), e “ao
mestre de canto” (SBB).
2. Neginoth aparece em 6 títulos, sempre combinado com lamnatseach. O
termo significa “instrumentos de cordas”. Quatro dos títulos em que
aparece, vem associado ao termo mizmor;
3. ‘Al hashsheminith ocorre duas vezes, nos Sl 6 e 12, significa “sobre a
oitava”.
4. ‘Al ‘alamoth se encontra no título do Sl 46, significa “instrumentos de
cordas”.
5. Gittith aparece em três títulos, podendo significar “canção de vindima”.
6. Nehiloth só ocorre no Sl 5, é traduzido pela SBB “para flautas”.

92
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 978-979.
70

7. Mahalath literalmente significa “doença, aflição”, possivelmente,


indicava um salmo fúnebre. No título do Sl 88 aparece como mahalath
leannnoth que a SBB traduz “para ser cantado com cítara”.
8. Selah esta palavra não aparece nos títulos, mas no fim de algumas
seções (Sl 46:7). Esta palavra chama a atenção por ocorrer 71 vezes no
Livro I, 30 vezes no Livro II, 20 no Livro III, e 4 no Livro V. 93 É uma
indicação musical, não para ser lida, mas significando uma pausa no
cântico, para um interlúdio instrumental, ou, uma elevação de som
(forte).

Há títulos que indicam a tradição histórica da vida de Davi:


1. Salmo 3...................... 2Sm 15:1-18:33
2. Salmo 18.................... 2Sm 22:1-51
3. Salmo 30.................... 2Sm 5:11-7:29
4. Salmo 34.................... 1Sm 21:10-15
5. Salmo 51.................... 2Sm 11-12:1-25
6. Salmo 52.................... 1Sm 22
7. Salmo 54.................... 1Sm 23; 26:1
8. Salmo 56.................... 1Sm 21:13-15
9. Salmo 57.................... 1Sm 24
10. Salmo 59.................... 1Sm 19:11
11. Salmo 60.................... 2Sm 8:13; 1 Cr 18:12
12. Salmo 63.................... 2Sm 15:23-28
13. Salmo 142.................. 1Sm 24:1-3

Classificação dos Salmos


O modo como podemos classificar os salmos é diverso. Nenhuma
classificação é perfeita, mas todas são necessárias para entendermos os temas e
ênfases dos salmos. Roland K. Harrison propõe a possibilidade duma
classificação a partir da experiência religiosa:94
1. Salmos de oração, envolvendo pedidos de proteção, libertação, intervenção
ou bênçãos.
2. Salmos de adoração, por motivos gerais e específicos.
3. Salmos penitenciais, incluindo a representação da confissão.
4. Salmos de declaração de fé, em Deus como rei justo, um juiz ético, e
governador do universo.
5. Salmos homiléticos, dividido com sabedoria, poder divino, o verdadeiro
serviço a Deus, e ao lugar da Torah na vida nacional e individual.
6. Salmos imprecatórios, constituindo uma resposta aos inimigos nacionais, e
suplicando a Deus o exercício da justa retribuição.
7. Salmos sobre problemas de ordem moral, envolvendo o sofrimentos dos
justos, a prosperidade dos ímpios, e a esperança da imortalidade.

93
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 166.
94
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 997.
71

Arnold B. Rhodes realiza uma classificação mais detalhada dos salmos:95


Hino de adoração
1. Adoração por motivos diversos: 100, 113, 117, 145, 150.
2. Adoração ao SENHOR da Criação: 8, 19, 29, 104.
3. Adoração ao SENHOR da história
- A história da salvação: 68, 78, 105, 106, 111, 114, 149.
- O reinado de Deus: 47, 93, 96, 97, 98, 99.
- O reinado dos ungidos: 18, 20, 21, 45, 61, 63, 72, 89, 101, 132, 144.
4. Adoração ao SENHOR da Criação: 33, 65, 103, 115, 135, 136, 146, 147, 148.
5. Adoração ao SENHOR de Sião
-. Em geral: 46, 48, 76, 87.
-. Canções de peregrinos: 84, 122, 134.
-. Entrada em Sião: 15, 24.
Orações em tempo de aflição
1. Lamentos do povo: 12, 44, 58, 60, 74, 77, 79, 80, 83, 90, 94, 106, 123, 137.
2. Lamentos individuais
- Em geral: 3, 5, 6, 13, 22, 25, 31, 39, 42-43, 52, 54-57, 61, 63, 64, 71, 86,
88, 120, 141, 142.
- Protestos de inocência: 7, 17, 26, 59.
- Imprecações contra os inimigos: 35, 59, 69, 70, 109, 137, 140
- Orações de Confissão: 6, 32, 38, 51, 102, 130, 143.
Declarações de fé: 4, 11, 16, 23, 27, 46, 62, 63, 90, 91, 121, 125, 131.
Cânticos de ações de graças
1. Gratidão da comunidade: 67, 75, 107, 118, 124.
2. Gratidão individual: 18, 30, 32, 34, 41, 66, 92, 116, 138.
Poesia sapiencial: 1, 2, 37, 41, 49, 73, 111, 112, 119, 127, 128, 133, 139.
Liturgias
1. Liturgias didáticas: 15, 24.
2. Hino e benção sacerdotal: 134.
3. Liturgias reais: 2, 20, 110, 132.
4. Liturgias proféticas
- Em geral: 12, 75, 85, 126.
- Misto de Hino e oráculo: 81, 95.
- Estilo livre de imitação de profecia: 14, 50, 82.
Poemas mistos
1. Adaptação de materiais antigos: 36, 40, 89, 90, 107, 108, 144.
2. Composições autônomas: 9, 10, 78, 94, 119, 123, 129, 139.

Data de compilação final96


Davi se preocupou em formar uma coleção dos seus salmos. Instituiu o seu
uso litúrgico, determinando que fossem cantados no santuário (1Cr 15:16-24;
16:4-43).
É possível que Ezequias tivesse compilado e acrescentado mais salmos ao
livro que Davi havia iniciado (2Cr 23:18; 29:30). E num período posterior ao
95
Arnald B. Rhodes, “The Book of Psalms” in Layman’s Bible Commentary, vol. 9, pp. 26-27.
96
A.F. Kirkipatrik, The Book of Psalms (London, Cambridge University Press, 1910).
72

exílio babilônico Esdras e Neemias tenham dado a forma final ao realizarem suas
reformas sociais e religiosas (Ed 3:10; Ne 12:24,27).
O livro apócrifo Eclesiástico 47:8-10 mostra que uma coleção de salmos sob
o nome de Davi já circulava no tempo de Sirac (200 a.C.).

Propósito
Propósito teológico
Ao cantar, o povo aprendia e refletia sobre quem Deus é, ou seja, meditava-
se nos atributos divinos. Aprendiam acerca da Aliança da graça, sobre o perdão
dos pecados, a justiça, o proceder do justo na santificação, acerca do Messias, a
vida futura, etc. Aage Bentzen declara que “foi criado a fim de conter a
expressão autoritativa da religião de Israel, da mesma forma que a Lei, os
Profetas e a literatura sapiencial, que foram colecionados com o mesmo
escopo.”97

Propósito litúrgico
O saltério fora compilado para ser usado liturgicamente no templo, e
reuniões festivas do povo de Deus. O título do livro aponta para o seu objetivo
literário: “o livro dos louvores”.

Propósito histórico
Os salmos são parte da história de Israel, como também narram acerca
desta história (Sl 78, 105, 106, 135 e 136).

Propósito devocional
É um modelo para a prática devocional dos filhos de Deus. Um completo
livro de louvor e oração, que ensina o crente a dirigir-se a Deus, como Ele
mesmo requer. Os crentes de todas as épocas e lugares percebem a unidade do
povo de Deus, por possuírem os mesmos anseios, temores, tristezas, sofrimentos,
dúvidas, e por poderem esperar em Deus com esperança e confiança o cuidado
providencial da Aliança.

Estrutura do livro
O livro de Salmos é dividido em 5 livros. 98 Esta divisão não segue uma
ordem cronológica, nem é por autoria, como não está dividida por classificação
literária. Não se sabe qual o critério exato adotado para esta divisão. Há a
sugestão de que as divisões do saltério correspondem aos 5 livros da Lei. É
notório que cada um das 5 divisões termina com uma doxologia especial a servir
de conclusão:

Primeiro Sl Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, da eternidade para


Livro (1- 41:13 a eternidade! Amém e amém!
41)

97
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 192.
98
Para uma análise mais detalhada vide*, Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 163.
73

Segundo Sl Bendito seja o SENHOR Deus, o Deus de Israel, que só ele


Livro (42- 72:18- opera prodígios. Bendito para sempre o seu glorioso nome,
72) 20 e da sua glória se encha toda a terra. Amém e amém!
Findam as orações de Davi, filho de Jessé.

Terceiro Sl Bendito seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!


Livro (73- 89:52
89)
Quarto Sl Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, de eternidade a
Livro (90- 106:4 eternidade; e todo o povo diga: Amém! Aleluia!
106) 8
Quinto Sl Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!
Livro (107- 150:6
150)

Há certos grupos que seguem arranjos naturais:


1. Há uma sequência de 15 salmos intitulados “cântico dos degraus” ou
“cânticos da ascensão” (120-134). A versão ARA traz o título como “cântico
de romagem”, o que é uma tradução ruim da expressão hebraica shir
hammaylot. A palavra “romagem” no português significa peregrinação à
Roma, que é uma alusão à prática idólatra da Igreja Católica Romana. O
título hebraico é uma referência à peregrinação dos israelitas em suas idas
anuais à cidade de Jerusalém, que ficava sobre o monte Sião (cântico da
ascensão), quando chegavam e esperavam nas escadarias da porta do
Templo.
2. Os salmos alfabéticos ou acrósticos. Os salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112,
119, 145 desenvolvem seu texto seguindo a ordem alfabética hebraica. O
salmo 119 é o mais completo e possuí uma rígida elaboração na divisão dos
versículos.
3. Existem 11 salmos de “aleluia” (111-113; 115-117; 146-150).

Contribuição ao cânon
Para o Cânon do AT está claro que os Salmos constituem os cânticos
inspirados para serem usados na adoração pública e como devocionário
individual e familiar. O conteúdo deles ajustou-os para servirem como “o Livro de
Louvor”.

Dificuldades de Interpretação
Princípios de interpretação dos Salmos:
1. Se o título dá a situação histórica, deve ser considerado. Se não, há
pouca chance de recriar o contexto.
2. Tentar classificar o salmo segundo as formas já existentes, mas não
forçá-lo a se enquadrar numa forma.
3. Identificar as figuras de linguagem, tipos de paralelismo, e explicar o
significado.
74

Como interpretar os Salmos imprecatórios? Como é possível conciliar a


graça e o amor de Deus com o sentimento de vingança?

Fatos interessantes
1. O livro de Salmos levou aproximadamente 1000 anos para ser completado
(Sl 90 de Moisés ... Sl 137 pós-exílico).
2. É o livro mais conhecido e usado na literatura mundial de todos os tempos.
3. São mencionados cerca 90 vezes no NT.99
4. Sinônimos de salvo/justo e de perdido/ímpio nos Salmos.100
5. O livro de Salmos era o hinário do povo israelitas.
6. O Sl 53 é uma repetição do 14, mas emprega Elohim (Deus), em vez de
Yahwéh (SENHOR.
7. Há 21 salmos que se referem à história de Israel (êxodo ao retorno do
exílio).
8. Os salmos apresentam o Messias de maneira semelhante aos evangelistas:
- Mateus (Rei) 2, 18, 20, 21, 24, 47, 110, 132
- Marcos (Servo) 17, 22, 23, 40, 41, 69, 109
- Lucas (Filho do Homem) 8, 16, 40
- João (Filho de Deus) 19, 102, 118

PROVÉRBIOS

Título
O título hebraico vem de uma raiz l#m significando ser como, e por isso,
tem primariamente o sentido de uma comparação indicando duas situações de
similar caráter.

Autoria
Há pelo menos sete indicações da autoria no próprio livro:
1:1 – “provérbios de Salomão”
10:1 – “provérbios de Salomão” (título)
22:17 – “palavras dos sábios”
24:23 – “provérbios dos sábios”
25:1 – “também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram
os homens de Ezequias, rei de Judá”
30:1 – “palavras de Agur, filho de Jaque, de Massa” (título)
31:1 – “palavras do rei Lemuel, de Massa, as quais lhe ensinou sua mãe”.

99
Vide alguns exemplos em: Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 169-170.
100
Frans van Deursen, Los Salmos, vol. 1, pp. 45-46.
75

O livro é prefaciado com o nome de Salomão, mas há uma seção atribuída


aos “sábios”, e dois capítulos que são atribuídos, um a Agur e o outro a Lemuel.
Há quem tente explicar o fato, dizendo que Lemuel e Agur são outros nomes de
Salomão, embora essa tese não tenha base histórica, nem bíblica.
A tradição judaica no Baba Bathra 15a afirma que “Ezequias e seus
companheiros escreveram os Provérbios”. Provavelmente que esta declaração
talmúdica refira-se a “Ezequias e seus companheiros” não como autores, mas
como compiladores que ajuntaram e editaram o livro, acrescentando outros
provérbios. Podemos admitir algumas conclusões:
1. A maior parte dos provérbios são realmente de Salomão. Conforme 2Rs
4:32 lemos que Salomão “disse três mil provérbios e foram o seus cânticos
mil e cinco”.
2. Agur foi o autor do cap. 30, e nada se sabe a seu respeito.
3. O rei Lemuel foi o autor 31, e também, nada se sabe sobre a sua
identidade, e não há nenhum registro de tenha existido um rei em Israel
identificado com este nome.
4. Podemos deduzir que Salomão tenha compilado e incluído os provérbios
pré-existentes aos seus, os “provérbios dos sábios”. Edward J. Young
observa que “pode ser que esta referência aos sábios não seja indicação de
autoria, mas mostre simplesmente que as palavras empregadas pelo
escritor são as aprovadas ou seguidas pelos sábios, ou pelo menos estão de
acordo com os seus ditos”.101
5. Ezequias e sua equipe adicionaram em seus dias (cerca 700 a.C.), outros
provérbios, talvez do próprio Salomão, e de outros sábios, que igualmente
foram inspirados e guiados pelo Espírito Santo.
6. Os dois últimos capítulos são unidades independentes, de autores
desconhecidos. Seriam como apêndices.

Data
Não há motivos sólidos para abandonarmos a autoria de Salomão da
primeira parte do livro. Nesse caso, a data provável seria aproximadamente 950-
900 a.C. para a escrita dos capítulos 1-24, na metade final do seu reinado, e
aproximadamente 725-700 a.C. para os últimos capítulos 25-31, que foram
compilados por “Ezequias e seus companheiros”.
O livro apócrifo Eclesiástico 47:17, cita Pv 1:6. Este apócrifo é datado em
200 a.C.. Ao citar Provérbios isso aponta algumas evidências da data do livro:
1. Provérbios já existia tempo suficiente, antes de Eclesiástico, para que
tornasse reconhecido como fonte de autoridade canônica.
2. O livro de Provérbios influenciou o estilo literário de Eclesiástico, o que
indica uma imitação daquilo que se tornara “padrão” no estilo Mashal.

Propósito
Propósito didático

101
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 327.
76

Advertir dos grandes perigos que resultam inevitavelmente por seguir os


ditames da natureza ou paixões pecaminosas (Pv 1:1-7). “O propósito do escritor
aqui é traçar o contraste mais nítido entre as consequências de buscar e
encontrar a sabedoria e as de seguir uma vida de insensatez.”102

Propósito teológico
Foi escrito para dar ao povo de Deus um guia prático e memorável de como
aplicar o conhecimento de Deus (o temor do Senhor) à vida diária, para aqueles
que já entraram num relacionamento de Aliança com Ele. Mostrando como a
Aliança com Deus tem aplicação extremamente prática na vida diária.

Estrutura e esboço do livro


1. Prólogo................................................................ 1:1-7
2. Provérbios aos jovens....................................... 1:8-9:18
3. Miscelânea de Provérbios................................. 10-24
4. Coleção de Ezequias.......................................... 25-29
5. Apêndice de Agur e Lemuel............................. 30-31

1. Título e assunto................................................... 1:1-7


2. Vários discursos................................................... 1:8-9:18
3. Primeira coleção de provérbios de Salomão... 10:1-22:16
4. Primeira coleção das “palavras dos sábios”..... 22:17-23:14
5. Discursos adicionais............................................. 23:15-24:22
6. Segunda coleção das “palavras dos sábios”..... 24:23-34
7. Segunda coleção de provérbios de Salomão.... 25:1-29:27
8. As palavras de Agur............................................. 30:1-33
9. As palavras de Lemuel......................................... 31:1-9
10.O elogio à esposa prudente............................... 31:10-31

Análise do conteúdo
O livro de Provérbios é uma excelente antologia de declarações sábias.
Estimula de forma provocante a imaginação, levando o leitor a refletir nas
implicações de uma verdade simples e auto-evidente. R.K. Harrison observa que
“os provérbios consistem geralmente de breves e incisivas declarações em que
podem ser usadas com grande efeito na comunicação de verdades morais e
espirituais, sobre a conduta.”103
Klaus Homburg comenta que “no provérbio da sabedoria são formulados
expressões proverbiais segundo os critérios da analogia e do paradoxo.” 104

Contribuição ao cânon
O texto do Talmud, Shabbath 30b registra a dúvida entre os rabinos quanto
à canonicidade de Provérbios. Declara o Talmud que “o livro de Provérbios,

102
W.S. Lasor, D.A. Lasor, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 502.
103
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1011.
104
Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 188.
77

também o procuraram esconder, por haver contradições no seu contexto”. E cita


como exemplo a passagem de 26:4-5 que diz “não respondas ao insensato
segundo a sua estultícia (...), ao insensato responde segundo a sua estultícia...”.
Mas o próprio Talmud interpreta a situação afirmando que “não há dificuldade;
um refere-se a assuntos da lei e o outro a negócios seculares.”

Fatos interessantes
1. Em 1Rs 4:32, Salomão fez 3000 provérbios e 1005 cânticos. O livro de Pv
tem apenas 915 dos 3000.105
2. O cap. 31 inclui um poema acróstico (a primeira palavra de cada versículo
começa com uma letra do alfabeto hebraico, vide* TM);

ECLESIASTES

Título
O nome original deste livro é Qoheleth que deriva duma raiz hebraica lhq
[qahal], que significa chamar ou reunir. Vários significados tem sido sugeridos a
Qoheleth. Uns dizem que significa “alguém que reúne uma audiência”; outros
insinuam a ideia de um colecionador de verdades. Ainda há quem afirme que
significa aquele que debate ou discursa, ou seja, pregador. Talvez, este último
seja o melhor significado da palavra Qoheleth, como adotam a maioria de nossas
versões em português. A tradução da LXX deriva da palavra ekklhsia [ekklesia].

Autoria
A tradição judaica Baba Bathra 15ª declara que “Ezequias e seus
companheiros escreveram Eclesiastes”. Esta afirmação se refere apenas à
compilação e publicação dos livros escritos por Salomão. Em outros trechos, a
tradição judaica de forma explícita diz que Salomão foi o autor Megilla 7ª e
Shabbath 30).106
O erudito conservador Edward J. Young rejeita a autoria de Salomão e
oferece algumas objeções:107
1. Por quê Salomão usaria tão estranho título (Qoheleth)?
2. O nome de Salomão não aparece no livro, como ocorre em Cantares e
Provérbios.
3. As condições históricas não parecem ser da época de Salomão. Em 1:16
o autor afirma que sobrepujou em sabedoria “a todos os que antes de
mim em Jerusalém”. Salomão foi o segundo rei, no regime da teocracia
de Israel, a morar em Jerusalém.

105
Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 273, nota 13.
106
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? pp. 436-437.
107
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 362-363.
78

4. O livro supõe um contexto histórico de opressão (4:1-3,13; 5:8; 7:10;


8:2,9; 9:14-16; 10:6-7,16-17,20).
5. Foi autor desconhecido, que viveu num posterior pós-exílico, que
colocou as suas palavras na boca de Salomão. A linguagem, o uso das
palavras e o estilo contém muito do aramaico.

Argumentos em defesa da autoria de Salomão:


1. Visto ser o livro de Eclesiástico um livro de refinada retórica, nada
impediria Salomão referir-se a si mesmo como o título de Qoheleth.
2. É fato que há a omissão do nome de Salomão, mas, ele se identifica de
um modo inconfundível como sendo “filho de Davi, rei de Jerusalém”.
3. A afirmação “a todos os que antes de mim em Jerusalém” pode ser uma
referência aos reis da cidade-estado de Jerusalém, no período que os
jebuseus eram senhores sobre aquele lugar, ou, aos demais reis das
nações pagãs (2Cr 9:22).
4. Embora o autor fale de opressão, miséria, perversão da justiça, isso
pode ser uma descrição daquilo que Salomão viu nos outros reinos
antes dele, como também, em reinos pagãos. Todavia, não devemos cair
no erro de pensar que o reinado de Salomão fora perfeito. Foi um
reinado próspero, o melhor período da história de Israel, mas nunca
poderia ser considerado um período de perfeição magisterial, ou isento
de corrupções (1Rs 12:4); Salomão não está preocupado em fazer
propaganda positivista do seu reinado, mas mostrar a corruptibilidade
do poder.
5. As possíveis ocorrências de palavras aramaicas, podem ser explicadas
pelo contado comercial internacional (1Rs 9:10-10:29), como também
pelas esposas estrangeiras (1Rs 11:1-2).
6. Se o autor não foi Salomão, então o escritor mentiu. As auto-
identificações do autor indicam Salomão. “Caso Salomão não fosse seu
autor, a falsa personificação do mais sábio de todos os homens sábios
teria sido descoberta há muito tempo pelos rabinos de Israel, e esses
não permitiriam a inclusão do livro no Cânon.”108
a. Afirma “venho sendo rei em Jerusalém” (ARA).
b. Em Ec 2:1-11 confere com as riquezas que Salomão possuiu e
construiu (2Cr 8:1-9:28).
c. O autor identifica-se como aquele que reuniu e organizou muitos
provérbios (12:9).
d. Ninguém possuiu tanta sabedoria, prosperidade e expressão
mundial no período monárquico, quanto Salomão, de fato, ele se
tornou uma referência em muitos sentidos para seus posteriores.

Data
A data aproximada de 935 a.C. é melhor aceita. O livro é uma retrospectiva
na velhice, da vida vazia em que ele viveu com o coração desviado do temor do

108
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p.191.
79

Senhor (1 Rs 11:1-8). Ellisen observa que “o conteúdo e as conclusões


certamente combinam bem com os anos de maturidade de Salomão.” 109 Esta tese
é confirmada, pela tradição judaica na Midrash (Shir Hashirim Rabá 1,10), que
afirma ter o rei Salomão escrito o livro de Cantares na sua juventude e o
Eclesiastes na sua velhice.110
O comentarista A.R. Fausset esclarece que Eclesiastes fica “como selo e
testemunho de arrependimento de sua apostasia no período de intervenção (Sl
89:30,33) a prova de sua penitência.”111

Propósito
O propósito é descobrir qual o melhor bem da vida. Trata do prazer,
sabedoria, da riqueza, mas considerando-os vãos. O melhor bem da vida somente
pode ser conseguido se alguém teme a Deus e guarda os seus mandamentos
(12:13). A vida sem Deus, ou, fora da vontade de Deus é fútil.
Busca pelo verdadeiro significado da vida. Longe de Deus a vida não é vida,
pois só Deus lhe pode dar o verdadeiro significado.
O homem e sua relação com o mundo. “A única interpretação possível do
mundo é considerá-lo, pois como criação de Deus e usá-lo e gozá-lo apenas para
a Sua glória.”112

Estrutura e esboço do livro


1. Prólogo: tudo é vaidade........ 1:1-11
2. Monólogo: Vida sem sentido..... 1:12-12:1-8
3. Epílogo: Temor de Deus........... 12:9-14

Análise do conteúdo
O linguista Lyman Abbott faz uma análise do livro dizendo
assim, o livro de Eclesiastes é um monólogo dramático, apresentando as
complicadas experiências da vida; essas vozes estão em conflito, porém
apresentam ou relatam o conflito de uma simples alma em guerra consigo
mesma. Nesse monólogo, o homem se apresenta monologando consigo
mesmo, comparando as experiências da vida umas às outras. Assim, o livro de
Eclesiastes é deliberadamente de uma confusa intenção, porque é o quadro de
experiências confusas de uma alma dividida contra si mesma .113

Contribuição ao cânon
Vários fragmentos de Eclesiastes foram encontrado na caverna 4 de
Qumran, que datam, aproximadamente, da metade do século II a.C.. Disto pode-
se concluir que na época ele já possuía reconhecido valor canônico.

109
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 191.
110
Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 647.
111
Jamieson, Fausset, Brown, Old Testament Commentary, vol.2, pp. 93-94 (Books for the Ages, 1997), CD-Master Christian
Library 01/02, in loco.
112
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 367.
113
Lyman Abbott, Life and Literature of the Ancient Hebrews, pp. 292-293.
80

Dificuldades de interpretação
Embora o livro tenha um tom existencial negativista em seu discurso, para
que tenha o correto entendimento da sua mensagem, ele deve ser interpretado
como um todo. A chave para a interpretação de Eclesiastes é o texto final 12:13-
14.

Fatos interessantes
1. Os argumentos do livro não são os argumentos de Deus, e sim os registros
de Deus para os argumentos do homem.
2. O autor usa somente o nome Elohim (Deus), nunca o nome Yahweh
(SENHOR), “assim o autor pode estar enfatizando o relacionamento do
homem com Deus, à parte da experiência da redenção”.114
3. O judeus leem este livro na festa dos Tabernáculos. O rabino David
Gorodovits explica a razão desta prática entre os judeus “sendo Sucót
considerado Zeman Simchatênu, ou seja, ‘época de nossa alegria’, quando,
em Israel, os celeiros estão abarrotados com os frutos da colheita, seria
fácil entregar-se a futilidades e lazer, esquecendo de onde veio a benção
que resultou no sucesso do trabalho. É exatamente quando a leitura do
Cohelét, com suas mensagens profundas, conscientiza-nos da bondade e da
justiça do Eterno, sem as quais nenhum sucesso pode ser alcançado pelo
ser humano.”115

CÂNTICO dos CÂNTICOS

Título
Considerando que Salomão escreveu 1005 cânticos (1Rs 4:32),
este seria o “cântico dos cânticos”, ou seja, “o melhor de todos os
seus cânticos”.

Autoria
O Talmud Baba Bathra 15a declara “Ezequias e seus companheiros
escreveram o Cântico dos cânticos.” Mas, a mesma afirmação feita acerca do
livro de Provérbios (vide* autoria), é repetida sobre este, tendo o mesmo
significado. “Ezequias e seus companheiros” não são os autores de Cânticos, mas
apenas os compiladores das obras de Salomão. Algumas evidências internas e
externas a respeito da autoria:
1. O primeiro versículo atribui o livro a Salomão com o prefixo hebraico
para autoria (lamedh auctoris).

114
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 57.
115
Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 669.
81

2. A obra parece referir-se a uma época histórica anterior à divisão do


reino. O autor menciona várias localidades do país, como sendo único
reino, por exemplo, Jerusalém, Carmelo, Sarom, Líbano, Em-Gedi,
Hermon, Tirza, etc..
3. A comparação da noiva com “as éguas dos carros de Faraó” (1:9), é
interessante, se atendermos a que foi Salomão quem importou os
cavalos do Egito (1Rs 10:28).
4. A autor mostra-se também conhecedor de plantas e animais exóticos:
15 espécies de animais e 21 variedades de plantas (1Rs 4:33).
5. Salomão escreveu 1005 cânticos, sendo Cantares o único preservado
(1Rs 4:32).
6. Negar a autoria, afirmando que um polígamo não poderia ter escrito
este cântico de fidelidade conjugal é a mesma coisa que fazer objeção à
autoria salomônica de Provérbios, baseando-se no fato dele ter violado
tantos dos seus próprios princípios.
7. A tradição judaica considera universalmente Salomão como o autor. Os
judeus leem liturgicamente todos os anos por ocasião da Festa da
Páscoa, atribuindo-o à Salomão.

Data
Escrito depois dele ter adquirido muitas carruagens do Egito e ter
ampliado suas vinhas até o vale de Jezreel. O seu harém de esposas e concubinas
era bem menor, de 60 a 80 mulheres, em comparação com as 700 esposas e 300
concubinas como posteriormente chegou a ter.
O livro de Cantares, talvez, seja o mais antigo livro canônico de Salomão.
Reflete a sua juventude vigorosa, do mesmo modo que Provérbios reflete sua
meia-idade, e Eclesiastes mostra sua maturidade nos seus anos finais. Assim,
aceita-se a data aproximada para Cantares como sendo aproximadamente no ano
900 a.C.

Propósito
Propósito histórico
Comemorar o casamento de Salomão com a Sulamita e expressar o prazer
do sexo no casamento como uma dádiva de Deus.

Propósito didático
Edward J. Young afirma que o livro foi escrito “para leitores que vivem num
mundo de pecado, de prazeres e de paixões, onde violentas tentações nos
assaltam e procuram afastar-nos do tipo modelar de casamento, nos moldes da
lei de Deus, e lembra-nos de um modo particularmente sublime, quão puro e
quão nobre é o verdadeiro amor.”116

Análise do conteúdo

116
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 351.
82

O cântico apresenta interação entre Salomão, a Sulamita, e o coro,


passando repentinamente de uma pessoa para outra e de uma cena para outra. A
identificação é geralmente feita pelos pronomes pessoais usados.

Contribuição para Teologia AT


Sellin-Fohrer comentam que
a importância do Cântico dos Cânticos deve ser vista não só no fato de que ele
evita, de um lado, uma divinização sacral do elemento sexual, de que estavam
impregnados os cultos míticos da fecundidade do Antigo Oriente, mas de que,
por outro lado, contradiz também aquela atitude de desdém e de repulsa pelo
sexo, que partiu sobretudo do judeu-cristianismo de cunho essênio e da
mística platônico-helenística. O Cântico dos Cânticos indica que, desde o
momento em que o matrimônio está de acordo com a vontade de Deus, o amor
sexual vale igualmente como seu pressuposto e como seu fundamento .117

Contribuição ao cânon
Na tradição judaica, Mishnah, Yadim, 3:5, lemos uma afirmação do rabino
Aqiba, da escola de Hillel, acerca da canonicidade de Cantares que diz “pois em
todo o mundo nada há que possa comparar-se ao dia em que Cantares de
Salomão foi dado a Israel. Todos os escritos são santos, mas num grau superior o
Cântico dos Cânticos”.118
Fazendo uma comparação temática entre Provérbios e Cantares, William
M. Ramsay fornece um precioso motivo em favor da canonicidade deste poema
tão sensual. Ramsay observa que “livros como Provérbios, todavia, celebram a
obra de Deus na criação. A vida diária, de acordo com a literatura sapiencial, é
um dom de Deus. Assim, tão natural é a função da união sexual como parte da
boa criação de Deus. Crendo que a natureza é um dom do Criador, o sábio não
poderia separar o “secular” do “sagrado”. Deste modo, o poema de amor, é
igualmente, um poema de amor sensual, não podendo ficar fora das Escritura.” 119

Dificuldades de interpretação
Há controvérsias acerca da interpretação deste livro por muitos séculos.
Três interpretações principais:120
1. A alegorização judaica. A método alegórico é o mais antigo de todos.
Segundo esta posição o livro estaria descrevendo em linguagem figurada a
relação entre Yahweh e Israel.121

117
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 446.
118
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1051.
119
William M. Ramsay, The Westminster Guide to the Books of the Bible, p. 178.
120
Para outras propostas hermenêuticas, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 348-350.
121
Ainda hoje os judeus interpretam o livro de Cantares como sendo “símbolo do amor de Deus pela Congregação de
Israel, sendo o dia de sábado seu intermediário.” Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 648. Em outro lugar, o
comentarista faz a seguinte observação “apesar das expressões de amor e nostalgia parecerem referir-se ao amor humano
e à beleza física feminina, seu objetivo não é outro senão descrever alegoricamente as virtudes do povo de Israel e sua
fidelidade ao Criador e a Seus preceitos, como também o amor de Deus a Seu povo predileto”. p. 655
83

2. A alegorização da Igreja Primitiva. Seguindo o método alegórico a Igreja


Primitiva (Orígenes e Hipólito) interpretou o livro como sendo uma
descrição do amor de Cristo e a Igreja:
a. 1:5 fala da cor morena, ou negra, pelo pecado, mas bela pela
conversão (Orígenes).
b. 1:13 “entre os meus seios” refere-se às Escrituras do AT e NT, entre
os quais se encontra Cristo (Cirilo de Alexandria).
c. 2:12 alude à pregação dos apóstolos (Pseudo-Cassiodoro).
d. 5:1 é uma alusão à Ceia do Senhor (Cirilo de Alexandria).
e. 6:8 refere-se às oitenta heresias (Epifâneo).
3. A alegorização no período moderno. Os dois heruditos em AT,
Hengstenberg e Keil, aplicam a interpretação alegórica neste livro.
Também a Versão Autorizada Inglesa em seus títulos de divisão:
a. 1-3.... O mútuo amor de Cristo e da sua Igreja.
b. 4...... As graças da Igreja.
c. 5...... O amor de Cristo para com ela.
d. 6-7.... A Igreja manifesta a sua fé.
e. 8...... O amor da Igreja para com Cristo.
4. A interpretação do método gramático-histórico e o histórico-crítico
interpretam como uma descrição do amor humano, num relacionamento de
pureza conjugal conforme Deus estabeleceu para o casamento desde o
princípio.

Fatos interessantes
1. Os judeus leem este livro na Páscoa.
2. Assuntos não mencionados: nenhum dos nomes de Deus; pecado; culto de
Israel; nem alusão a outro livro do AT.
3. Na época da escrita, Salomão já tinha 60 rainhas e 80 concubinas (1Rs
11:3, 700 rainhas e 300 concubinas).
4. O Novo Testamento não faz citação de Pv.
5. O único livro dedicado completamente ao amor conjugal, romântico e
sexual.
6. Os nomes Salomão e Sulamita são sinônimos. Seria o casamento do
“pacificador” e da “pacificadora”.

LIVROS PROFÉTICOS
Profetas da “Palavra”122
Estes foram aqueles que não escreveram suas profecias. Encontramos no
AT a sua identificação como “profetas”. Todavia, eles não registraram suas

122
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 212-213.
84

profecias, mas, outros foram inspirados para escreverem as suas revelações, e


perpetuarem sua memória na história de Israel. Alguns deles nem sequer são
mencionados pelo nome, mas apenas a importância do seu feito.
Eis alguns desses profetas da “Palavra”:
1. Gade.......................................... 1Sm 22:5
2. Natã........................................... 2Sm 12:1
3. Ido............................................. 2Cr 9:29
4. Aías............................................ 1Rs 11:29
5. Semaías..................................... 1Rs 12:22
6. “Homem de Deus”................ 1Rs 13:1
7. “Velho profeta”...................... 1Rs 13:11
8. Azarias...................................... 2Cr 15:1
9. Hanani...................................... 2Cr 16:7
10. Jeú, filho de Hanani............. 1Rs 16:1; 2 Cr 19:2
11. Jaaziel...................................... 2Cr 20:14
12. Elias........................................ 1Rs 17:1
13. “Profeta desconhecido”...... 1Rs 20:13
14. Micaías................................... 1Rs 22:14
15. Eliseu..................................... 2Rs 2:1
16. “Jovem profeta”.................. 2Rs 9:1
17. Zacarias, filho de Joiada..... 2Cr 24:20
18. Obede.................................... 2Cr 28:9

Profetas Maiores

ISAÍAS

Título
O livro recebeu o nome do próprio profeta. No título TM o nome ocorre
hy($y igualmente em Baba Bathra 14b. No texto da profecia, e noutras porções
do AT, o nome já ocorre numa forma mais longa, isto é why(#y embora a forma
mais breve também aparece (1Cr 3:21; Ed 8:7, 19; Ne 11:7).123
Quanto ao significado do nome “Isaías”, quer dizer “o SENHOR é a
salvação”.

Autoria
O texto o descreve como “filho de Amoz”, marido de uma profetiza e pai de
dois filhos que deveriam ser “sinais” para a nação (1:1; 8:3, 18). As tradições
judaicas indicam que ele era primo do rei Uzias e foi serrado ao meio pelo
123
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 764.
85

impiedoso rei Manassés. Ellisen o descreve como sendo “dotado de uma


espiritualidade profunda, bem-educado e capelão da corte de quatro reis de Judá
por um período aproximado de cinquenta anos, Isaías foi talvez a figura mais
monumental dos séculos intermediários da história de Israel.”124

Debate sobre a autoria de Isaias


Até 1775 a autoria do livro de Isaias era assunto irrelevante. Não se
questionava sua autoria até esse período, hoje ela é quase que universalmente
negada pela Alta Crítica.125O principal motivo relaciona-se com os detalhes das
profecias do livro, algumas cumpridas em todos os detalhes 150 anos mais tarde,
chegando mesmo a dar o nome de Ciro, o rei persa, que libertou o povo do seu
cativeiro (44:28; 45:1).
Muitos são os argumentos levantados para defender uma autoria dupla ou
múltipla, sendo que as maiores objeções negam que os capítulos 40-66 tenham
sido escritos por Isaias. A dificuldade daqueles que negam a unidade e autoria
fundamental de Isaias se encontra em suas premissas antissobrenaturais. Alguns
argumentos que negam que Isaias tenha sido seu único autor:
1. O nome de Isaías não é mencionado em 40-66.
2. O cenário histórico de Is 1-39 difere do cenário dos capítulos 40-66.
3. O estilo literário de Is 1-39 difere do estilo dos capítulos 40-66. Esta
premissa espera que o mesmo autor não varie o seu estilo literário, bem
como não tenha liberdade linguística em sua redação.
4. Os conceitos teológicos de Is 1-39 são diferentes em 40-66. É possível que
o mesmo autor use a mesma palavra com significados diferentes (usus
loquendi), bem como, enfatizando um aspecto, mais do que outro do
mesmo vocábulo. Ignora-se a progressão da revelação no decorrer do livro.

Defesa da autoria de Isaias126


1. O próprio Isaias em 1:1 se indica como sendo o autor. O versículo 1 se
refere intencionalmente ao livro inteiro. O fato de Isaías não ficar
mencionando seu nome em todo livro, inclusive nos capítulos 40-66,
deixa claro que, a sua preocupação central, não era a sua autobiografia,
mas a mensagem do Senhor. Isso fica evidente quando ele deixa para
descrever o seu chamado ao ministério somente no capítulo 6.
2. A regra quase invariável que os antigos hebreus seguiam para aceitar
aos escritos dos profetas como canônicos, era saber o nome do profeta.
3. A evidência dos manuscritos estão em favor da autoria de Isaias. Não
há indício de interrupção ou mudança de autoria em nenhuma das suas
divisões, e em nenhum dos seus manuscritos. Mesmo os manuscritos da
LXX, e de Qumran apresentam Is como sendo uma unidade. Não há
evidência de que o livro tenha circulado mutilado, em dois, ou até
mesmo em três porções nalgum período.
124
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 214.
125
Veja Resumo histórico da negação da autoria de Isaías, in: Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 211-
214.
126
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 214-219.
86

4. Nas obras de Dn, Ed e Ne percebemos a influência e presença


aramaica, por serem obras pós-exílicas. Entretanto, na linguagem de Is
o hebraico é perfeitamente puro, livre de quaisquer características pós-
exílicas.
5. O cenário histórico de 40-66 ajusta-se melhor à Palestina do que à
Babilônia. Isto fica claro, pelo fato do autor não demonstrar
familiaridade com a terra, ou com a religião babilônica, o que seria
natural se estivesse entre os exilados. Mas, são abundantes as
referências sobre Jerusalém, as montanhas da Palestina, árvores
nativas da Palestina (41:19; 44:14).
6. As cidades de Judá são descritas como ainda existindo. Se Is 40-66
fosse posterior dum período posterior seria ininteligível as afirmações
de 40:9 e 62:6.127
7. As referências à idolatria de Judá como ainda existindo, indicam um
período anterior ao exílio na Babilônia (40:9; 44:9-20; 57:4-7; 62:6;
66:17). A idolatria foi exterminada no exílio, e depois de 586 a.C. já não
era um problema em Judá.
8. O autor quando escreveu não se encontrava na Babilônia, mas na
Palestina. Em 43:14, o Senhor fala em enviar para a Babilônia. Algumas
expressões indicam que o autor escrevia como olhando o mundo a
partir de Jerusalém, para o judeu centro do mundo (41:9; 45:22; 46:11).
9. As duas seções 1-39 e 40-66, possuem uma simetria teológica nos seus
conceitos acerca de Deus e do Messias. A expressão “o Santo de Israel”
usada raramente por outros escritores, é encontrada vinte e cinco vezes
no livro, doze em 1-39 e catorze em 40-66.
10. Estudiosos conservadores indicaram no mínimo quarenta ou cinquenta
frases que aparecem em ambas as partes de Is 1-39 e 40-66, indicando
que ambas pertencem ao mesmo autor;128
11. Profetas do período pré-exílico mencionam os escritos de Isaías 40-66
(Na 1:15 e Is 52:7; Sf 2:15 e Is 47:8; Jr 31:35 e Is 51:15), o que indica
que Is sempre foi uma unidade, desde quando esses profetas
escreveram.
12. A tradição judaica atribui o livro integralmente a Isaias. O apócrifo
Eclesiástico 49:17-25 cita e comenta a profecia de Isaías como uma
unidade literária.
13. Os escritores do NT citam esse profeta mais do que todos os outros
juntos, tendo Isaias como o autor de ambas as seções (Mt 3:3 e Is 40:3;
Jo 12:38-41 e Is 6:9-10, 53:1; Rm 9:27-29,33, 10:20 e Is 10:22-23; 1:9;
28:16; 65:1).
14. Se Is 40-66 não foi escrito por Isaías, é estranho que a identidade do
seu autor se tenha perdido, quando é certo que autores de menor porte
e que escreveram na mesma época tenham sido conservados.
15. Edward J. Young observa acertadamente que “quando alguém começa a
separar ou dividir Isaías, é impossível aceitar apenas duas ou três
127
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 275.
128
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 282-283.
87

divisões mais latas. Mas o indivíduo é compelido a continuar a analisar


e a dividir, até que resta apenas uma conglomeração de fragmentos. A
história do criticismo literário de Isaías tem demonstrado que o fim de
tal processo divisor em realidade é o ceticismo.” 129

Data e local da escrita


A sua data é aproximada entre 740-680 a.C., pelos seguintes motivos:
1. Isaías profetizou durante mais de sessenta anos, desde antes da morte
de Uzias [740], até algum tempo depois da morte de Senaqueribe [681]
(Is 1:1; 6:1; 37:38);
2. Tudo indica que ele escreveu a maior parte do livro (1-39) durante os
reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e o restante dos capítulos
(40-66), durante o impiedoso reinado de Manassés, entre 697 e 680
a.C.. “Seu sofrimento sob o reinado desse rei pode ter contribuído para
o texto pungente do ‘Sofrimento Vicário do Servo do Senhor’ (52:13-15;
53). Ele próprio teve sorte semelhante.”130
3. Foi escrito em Jerusalém.

Contexto histórico
O cenário internacional era a ascensão do império Assírio. Tiglate-Pileser
veio ao ocidente para invadir Israel e a Transjordânia, em 745 e 734 a.C..
Isaías foi um profeta do reino do Sul (Judá). O cenário nacional era uma
época de opressão e desordem. O reino do Norte (Israel) havia se corrompido,
após o reinado de Jeroboão II, sob o governo de reis impiedosos. O reino do Sul
(Judá) havia se tornado uma grande potência sob o reinado de Azarias e Jotão,
mas também declinara sob o reinado do idólatra Acaz. Muitas alianças foram
feitas com potências estrangeiras a fim de adiar a sujeição total à Assíria, que
procurava conquistar todo o ocidente (Is 7:12). Quando Judá foi atacada pela
Síria e Israel, Acaz sacrificou o seu filho mais velho num altar, e depois pediu
auxílio aos assírios. Como resultado, tornou-se vassalo de Tiglate-Pileser, da
Assíria.
Com a ascensão de Ezequias ao trono de Judá, surgiu um movimento de
reforma (2Cr 30:1-13). A reforma apressada e o entusiasmo pelo reavivamento
promovido por Ezequias evitou a destruição de Judá, como ocorreu com Israel
em 722 a.C. Entretanto, as alianças com o Egito e Babilônia, feitas
posteriormente pelo próprio Ezequias, trouxeram renovada agressão da Assíria
contra Judá, que ameaçou destruí-la, até que o rei aceitou o conselho de Isaías e
confiou no Senhor para o livramento. Em 701 a.C. aconteceu o livramento
esperado, quando o Anjo do Senhor destruiu o exército de Senaqueribe, de
185.000 homens, e pôs fim à campanha do invasor do ocidente. O registro desse
acontecimento está na parte central da profecia de Isaías.
Alguns dos profetas menores eram contemporâneos de Isaías. O profeta
Miquéias complementou o ministério de Isaías na região rural de Judá. Enquanto

129
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 218.
130
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 218.
88

Isaías profetiza à corte real e à aristocracia de Jerusalém, Miquéias pregava ao


povo interiorano de Judá. Enquanto isso, o profeta Oséias pregava no reino do
Norte (Israel).

Propósito
Ensinar que a salvação vem pela graça, ou seja, só Deus salva, não o
esforço humano. Esta verdade se encontra inclusive no nome do profeta “Yahweh
é a salvação”. Lembrar à nação a Aliança com o Senhor, especialmente o seu
programa redentor pela mediação do Messias, que primeiro viria como Servo
Sofredor e, mais tarde, como governador de toda a terra (52:13-53:12). A
salvação vem do Senhor, não de ídolos, nem de alianças seculares.
Admoestar a nação do iminente julgamento devido à idolatria e às alianças
com povos pagãos.

Estrutura do Livro
I.Condenação (1-39)
1. Contra Judá............... 1-12
2. Contra as Nações pagãs.... 13-23
3. O Dia do Senhor........... 24-27
4. Julgamento e Benção....... 28-35
5. Parêntese histórico....... 36-39
II.Consolação (40-66)
1. A salvação da Nação....... 40-48
2. O Salvador (Servo)........ 49-57
3. O futuro da Nação......... 58-66

Fatos interessantes
1. Conforme a tradição judaica Isaías sofreu uma violenta morte, cortado ao
meio no reino de Manasses.
2. É citado no NT mais do que outro profeta.
3. É considerado o melhor escritor entre os profetas. Seu estilo literário inclui
bastante variedades. Seu vocabulário possui quase 2200 palavras
diferentes no original, mais do que qualquer outro autor do AT.

JEREMIAS

Título

Autoria
89

A formação do profeta Jeremias é toda envolvida em profecia. Sabe-se mais


acerca da vida desse profeta, do que de qualquer outro. Eis algumas informações
sobre ele:
1. Nasceu cerca de 647 a.C., em Anatote, uma cidade sacerdotal, a nordeste
de Jerusalém (cerca 5 Km). Era filho de Hilquias, que provavelmente, foi o
sumo sacerdote na ocasião da reforma de Josias. Hilquias, que também foi
bisavô de Esdras (Ed 7:1).
2. Constituído profeta pelo Senhor antes do seu nascimento (1:5) e chamado
pelo Senhor no décimo terceiro ano do reinado de Josias, aos 20 anos de
idade (1:2).
3. Não se casou, pois o Senhor proibiu que o fizesse como um sinal ao povo
da próxima destruição de Jerusalém (16:2).
4. Jeremias pregou em Jerusalém durante quarenta anos (627-586) e no
Egito, durante cinco anos (Jeremias 43-44). Aconselhou cinco reis e um
governador de Judá, bem como os rebeldes judeus que fugiram para o
Egito.
5. Foi considerado um traidor devido a esses julgamentos. Parece que não viu
uma só pessoa converter-se no seu longo ministério de mais de quarenta
anos.

A autoria de Jeremias é fato provado e não tem recebido séria contestação.


Pode ser afirmada:
1. O livro possuí numerosas referências biográficas e autobiográficas de
Jeremias como autor e Baruque como seu escriba, ou secretário.
Nenhum outro profeta teve o seu nome tantas vezes repetido, cerca de
131 vezes, e o nome de seu escriba citado 23 vezes.
2. O livro é atribuído a Jeremias em Dn 9:2 e em Ed 1:1.
3. A tradição judaica indica Jeremias como o autor do livro.

Data e local
O ministério de Jeremias começou no reinado do rei Josias e continuou em
Jerusalém durante os dezoito anos de reforma e os vinte e dois anos de colapso
nacional. Foi levado cativo para o Egito com o resto rebelde dos judeus em 586
a.C., ali profetizou durante cinco anos, condenando a idolatria dos judeus (44:8)
e anunciando a vinda próxima de Nabucodonosor para conquistar o Egito, o que
de fato ocorreu em 568 a.C..
O livro foi escrito entre 627-580 a.C..

Contexto histórica e geográfico


No cenário político mundial, essa foi uma época em que os três grandes
impérios, a Assíria, Babilônia e Egito, estavam lutando pelo domínio entre as
nações. Em 626, Nabopolasar da Babilônia, com o auxílio dos medos, tomou essa
cidade do domínio dos assírios, que controlavam o mundo por quase dois séculos.
Em 612, destruíram Nínive e em 610 tomaram Harã. Em 605, a Babilônia
derrotou o exército egípcio em Carquemis e assumiu o controle da Palestina.
Nesse ano Nabucodonosor chegou ao poder em 605, ano da morte do seu pai,
90

apesar, de o Egito só ser finalmente conquistado em 568 a.C.. Durante a maior


parte daquele período, o Oriente Médio esteve em desordem, e Jeremias advertia
em vão, os filhos de Josias a submeterem-se à Babilônia, e não se rebelarem.
Mas, em 586 a.C., Jerusalém e o templo foi destruído por Nabucodonosor depois
da rebelião e um cerco de dois anos à cidade.131
A história abrange uma vasta região. Toda a Palestina, especialmente o
reino de Judá. A temível Babilônia. A região do Egito, aonde um grupo de judeus
buscaram refúgio, e Jeremias seguiu para repreendê-los.

Contexto religioso
O reavivamento do rei Josias, embora promovido com sinceridade, foi
evidentemente seguido de modo superficial pelos líderes e pelo povo. A nação
viu-se diante da destruição, por causa da idolatria e iniquidade de Manassés e da
incorrigível decadência dos judeus. Logo depois da prematura morte de Josias na
batalha do Megido, a nação retornou quase imediatamente à idolatria e
corrupção.

Propósito
O grande tema que atravessa todas as mensagens de Jeremias é acerca do
julgamento contra Judá. O livro registra tanto a rejeição da lei divina, como
também a recusa inflexível da correção dos profetas de Deus.

Estrutura do livro
A ordem dos capítulos é mais tópica do que cronológica:
1. Chamado de Jeremias............ 1
2. Profecias contra Judá.......... 2-45
3. Profecias contra as Nações..... 46-51
4. A Queda de Jerusalém........... 52

Análise do conteúdo
Ao contrário do apelo de Isaías para que confiassem na libertação do
Senhor, a mensagem de Jeremias era que a nação deveria submeter-se ao
julgamento do Senhor aceitando o cativeiro da Babilônia, para que assim a
cidade e a nação fossem salvas da destruição total. O livro demonstra como esse
solitário clamor.

Fatos interessantes
1. O livro Jr menciona a Babilônia 164 vezes, mais do que qualquer outro livro
bíblico.
2. Ele é o segundo maior livro da Bíblia.

131
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 802-803.
91

LAMENTAÇÕES de JEREMIAS

Título
Os hebreus chamavam-no de como?, pelo fato de ser essa a primeira
palavra do livro. De fato, esta é uma palavra característica de lamento.
Posteriormente os rabinos mudaram-lhe o nome para qînath (Jr 7:29) que
significa “alto choro” ou lamentações, como num canto fúnebre.
O título em português “Lamentação” é a tradução latina do termo grego
krenoi que significa “alto choro”.

Autoria
O livro é anônimo. O título não se encontra no hebraico, sendo o seu nome
mencionado somente nas traduções. A sua autoria é atribuída à Jeremias, tanto
pelas tradições judaicas, como cristãs. Algumas evidências internas reforçam
esta tese:
1. Foi ele um dos líderes a lamentar a morte de Josias.
2. O Senhor o instruiu a “prantear sobre os altos desnudos” (Jr 7:29).
3. Jeremias estava intimamente ligado aos trágicos acontecimentos como
testemunha ocular. O que se pode deduzir pela vivacidade geral da
descrição, é ainda o fato do poeta parecer identifica-se com o destino da
cidade. Baruque poderia ter sido o escriba a tomar nota das expressões de
pesar, ditadas pelo profeta (Jr 36:4; Lm 1:13-15; 2:6,9; 4:10).
4. Embora os estilos literários sejam um tanto diferentes nos dois livros,
muitos dos temas e expressões são muito semelhantes. Edward J. Young
observa as semelhanças notáveis entre os dois livros: “opressão da virgem
filha de Sião” (Lm1:15; Jr 8:21); os olhos do profeta “se desfazem em
águas” (Lm 1:16; 2:11 e Jr 9:1, 18; 13:17), “há terror por todos os lados” (Jr
6:25; 20:10 e Lm 2:22), “veja eu a tua vingança sobre eles” (Jr 11:20 e Lm
3:64-66), etc.132
5. O título deste livro na LXX se lê o acréscimo dizendo: ”aconteceu, depois
de Israel ter sido posto em cativeiro e Jerusalém em desolação, que
Jeremias se sentou a chorar e lançou estas lamentações sobre Jerusalém,
dizendo...”. A Vulgata repete as mesmas palavras, e acrescenta ainda: “com
espírito amargo e lamentoso”.
6. A tradição judaica Baba Bathra 15a afirma que “Jeremias escreveu as
lamentações”.

Gênero literário
No TM este livro se encontra entre os “Escritos”, mais especificamente,
entre os cinco “Meguiloth” (Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester).
Enquanto o livro de Jr é uma obra profético-preditiva que contém poesia, o livro
de Lm é a poesia da profecia cumprida.
O acróstico que encontramos em Lm aumenta ainda mais o valor literário
desta obra poética (vide* “Estrutura do livro”).
132
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 358.
92

Não podemos esquecer de mencionar que Lm também é um registro


histórico por alguém que foi testemunha ocular daquilo que descreveu.

Data
O livro foi escrito aproximadamente em 586 a.C.. Veja as seguintes
considerações:
1. As expressões e o conteúdo emocional de tristeza. Sua linguagem sugere
uma época logo após a queda de Jerusalém, quando a lembrança era bem
recente.
2. A redação bem elaborada, apresentada em formato de acróstico alfabético
sugere, por outro lado, período mais longo de reflexão e construção
literária.
3. É possível que o profeta tenha escrito o livro na esteira dos acontecimentos
e que mais tarde tenha formado o texto com requintes de acróstico para
melhor memorização.

Contexto histórico
A fuga e captura de Zedequias pôs fim à dinastia de Davi em sua sequência
histórica. O rei Zedequias rejeitou com arrogância a exortação de Jeremias, bem
como em virtude da deslealdade e ingratidão a Nabucodonosor, que havia
conquistado o reinado de Joaquim e o dera a Zedequias. A última cena
contemplada antes de ter os seus olhos furados, foi a chacina dos seus filhos e
dos nobres. Levaram-no em cadeias para a Babilônia (Jr 39:6-7).
A queda de Jerusalém em 586 a.C., ocorreu depois de um cerco de
dezenove meses, que trouxe fome e peste. Embora Jerusalém já tivesse sido
ameaçada e saqueada algumas vezes, essa destruição era inaceitável à
mentalidade judaica que a via como cidade eterna (1Cr 17:12; 22:10).
A época da redação desse livro, foi sem dúvida o mais sombrio período da
religião de Israel. A cidade escolhida por Deus estava arrasada, o templo
projetado e habitado pelo Senhor estava destruído, o povo havia sido levado para
a terra idólatra da sua origem, a Babilônia.
A destruição do templo trouxe levou a religião de Israel a um novo modus
operandi, a origem da sinagoga. Não havendo templo muito do sistema sacrificial
foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os rituais só podiam
ser feitas no altar do templo. Na Babilônia os judeus adaptaram-se a adorar em
conjunto, para estudar a Lei, em pequenas reuniões (Ez 11:16). Nestas reuniões
os fiéis eram obrigados a lembrar e aprimorar a sua fé a fim de sobreviver como
raça no meio duma cultura pagã.

Propósito
Expressar o grande pesar dos fiéis de Israel pela enorme perda do templo e
sua cidade sagrada. Outro propósito foi registrar como o Senhor cumpriu
completa e literalmente as suas admoestações sobre o julgamento da cidade e do
santuário, devido ao povo ter persistido na idolatria e rebelião.
93

Estrutura e esboço do livro


Cada capítulo é um poema, e todos os capítulos são acrósticos:
cap. 1-2.... 22 vs., cada vs. com 3 linhas
cap. 3...... 66 vs., cada vs. com 1 linha
cap. 4...... 22 vs., cada vs. com 2 linhas
cap. 5...... 22 vs., cada vs. com 1 linha

Análise do conteúdo
As lamentações expressam a profunda solidão de Israel quando a Glória do
Senhor que afastou-se envergonhada. “O sujeito do poema é aqui o de uma
pessoa que se identifica com o povo.”133
O livro de Lm confirma a soberania de Deus, reconhecendo-o como o
promovedor da devastação, e não apenas a Babilônia (2:17; 3:37-38). O livro fala
do juízo de Deus, mas apontando para a sua fidelidade à Aliança com o seu povo.
A esperança está vinculada às promessas de benevolência divina condicionadas
ao arrependimento (3:22-23).
Alguns dos eventos na destruição da cidade são mencionados: o massacre
dos reis (2:6,9; 4:20), dos príncipes (1:6; 2:2,9; 4:7-8; 5:12), dos anciãos (1:19;
2:10; 4:16; 5:12), sacerdotes (1:4,19; 2:6,20; 4:16), dos profetas (2:9, 20), dos
cidadãos comuns (2:10-12; 3:48; 4:6), a prática do canibalismo (2:20; 4:10), a
deportação (1:3, 18) e enfim, a destruição de Jerusalém (1:4, 10).

EZEQUIEL

Título
O nome significa “Deus fortalece”.

Autoria
A formação de Ezequiel preparando-o para o ministério profético:
1. Nasceu na família de Buzi, o sacerdote, em 622 a.C., no auge da reforma
de Josias em Jerusalém. O “trigésimo ano” de 1:1 é geralmente entendido
ser a idade de Ezequiel no ano de 592 a.C.. Portanto, teria 30 anos quando
lhe foi dada a primeira visão. Essa é também a data do quinto ano do
reinado de Joaquim, pois o ministério de um sacerdote começava aos 30
anos (1:2-3).
2. Foi exilado com Joaquim em 597 a.C., quando Nabucodonosor levou para a
Babilônia o que havia de melhor na terra. Na Babilônia viveu em sua
própria casa numa colônia judia chamada Tel-Abibe, junto ao rio Quebar
(canal do Eufrates), evidentemente perto de Nipur (1:1; 3:15).

133
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 220.
94

3. Ezequiel era casado, mas a sua esposa faleceu em 588 a.C., dia em que
começou o cerco de Jerusalém (24:1, 15-18).

Não há contestações da autoria de Ezequiel. Embora seu nome não nome


seja mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, é identificado de diversas
maneiras como o seu autor:
1. Identifica-se pelo nome em 1:3 e 24:24, em todo o livro apresenta um estilo
autobiográfico.
2. A similaridade de pensamento usando um singular estilo gráfico de visões,
parábolas, alegorias e ações simbólicas no livro, deixa claro que a obra é
resultado de uma única mente.
3. A ênfase sacerdotal do livro também sugere ser Ezequiel um sacerdote;

Data e local da escrita


O exílio de Ezequiel era numa colônia judia de Tel-Abibe perto de Nipur,
cerca de 80 Km a sudeste da Babilônia, nas proximidades do grande canal
Quebar. Esse canal corria em volta da Babilônia entre os rios Eufrates e Tigre,
estava aproximadamente a 240 Km ao sul da moderna Bagdá, e cerca de 200 Km
ao norte de Ur, cidade natal de Abraão. O nome Tel-Abibe significa “outeiro de
grão”, que sugere a fertilidade da planície bem irrigada. O estabelecimento
naquele local privilegiado, pode ter sido arranjado por Daniel, que governava
com Nabucodonosor a província da Babilônia desde 603 a.C. (Dn 2:48).
Escrito aproximadamente entre 592-570 a.C..

Contexto religioso
O lugar de reunião religioso era na casa de Ezequiel, onde ele aconselhava
os anciãos. Esses anciãos eram provavelmente, os primeiros líderes das
sinagogas, que se tornaram mais tarde os dirigentes do povo.
A situação espiritual do povo no exílio nos dias de Ezequiel, não era muito
diferente de Jeremias. Ezequiel empregava a frase “casa rebelde”, cerca de 16
vezes. A mudança do local não mudou os seus corações.

Propósito
Convencer os cativos de que não iriam voltar para a Judéia, nem para a
cidade de Jerusalém por muitos anos. Os cativos deveriam procurar uma vida de
paz e prosperidade na Babilônia, durante a sua permanência ali, pois Deus ainda
restauraria o seu povo.

Análise do conteúdo
A narrativa do livro vai desde a época da submissão de Judá à Babilônia até
a época do cativeiro na Babilônia.
Nenhum outro profeta fez tanto uso de linguagem figurada, acompanhada
de ações simbólicas como Ezequiel. Foram formas usadas especialmente para
chamar a atenção e imprimir as verdades no restante do rebelde povo judeu. Eis
alguns exemplos:
95

1:4-28........... visão da glória do Senhor


2:9-3:3.......... Ezequiel come o rolo de lamentações
3:16-27......... Ezequiel torna-se mudo
4:1-17........... encena o cerco de Jerusalém e a fome
5:1-17........... barbeia-se com espada afiada, dividindo o cabelo
6:1................. profetiza na direção das montanhas de Jerusalém
8:2................. Em visão, é levado para observar a idolatria
10:2............... Querubim espalha brasas sobre Jerusalém
10:4-22......... A Glória afasta-se da cidade e do templo
12:3............... encena a queda de Jerusalém
13:10-16....... Jerusalém é comparada a uma parede prestes a cair
14:13-23....... Julgamento inevitável
15:2-6........... Jerusalém é comparada com uma videira queimando
16:2-63......... Jerusalém é comparada a uma esposa meretriz
17:2-10......... Alegoria de Israel como cedro
18:2-3........... Provérbio dos pais que comeram uvas verdes
19:1-9........... Alegoria de Israel como leoa aprisionada
19:10-14....... Alegoria de Israel como videira desarraigada
21:3-22......... Parábola da espada do Senhor
22:18-22....... Israel é comparada à escória da fundição
23:2-49......... Jerusalém e Samaria são comparadas à duas irmãs adúlteras
24:2-14......... Alegoria da panela e da carne rejeitada
24:16-27....... Não chora pela morte da esposa, como um sinal para Israel
27:1-36......... Alegoria do orgulho e do navio que afunda
28:12-19....... Retrato da criação e expulsão do Querubim
29:2............... O Egito é comparado ao dragão do Nilo
31:2-18......... Alegoria do corte de dois cedros, Assíria e Egito
34:2-10......... Líderes de Israel são comparados maus pastores
37:1-14......... Parábola dos “ossos secos”
37:16-22....... Parábola dos “dois pedaços de pau”
40-42............ visão de um agrimensor medindo Jerusalém
43:2-7........... visão da volta da Glória do Senhor ao novo templo.

Fatos interessantes
1. Ezequiel esteve no exílio durante todo o seu ministério, que durou 22
anos aproximadamente.
2. Ocorre 65 vezes a expressão “saberão que eu sou o Senhor”.
3. Ocorre 89 vezes o título messiânico “Filho do Homem”.
4. O livro contém mais datas do que qualquer outro livro profético.
5. Daniel é mencionado 3 vezes, embora fosse contemporâneo de Ezequiel
(14:14, 20; 28:3).
6. Traça a história do povo de Deus desde o cativeiro até a consumação da
sua redenção.
96

DANIEL

Título
O nome Daniel significa “Deus é meu juiz”.

Autoria
Daniel era membro da família real, nascido em Jerusalém, em 623 a.C.,
aproximadamente, durante a reforma de Josias e no princípio do ministério de
Jeremias. Ele foi levado para a Babilônia por ocasião do primeiro exílio (605), e
sendo selecionado para o serviço real, depois de um período de três anos de
estudos, tendo recebido o nome de “Beltessazar” uma das divindades da
Babilônia.
Em 603 a.C., Daniel foi declarado governador da província da Babilônia e
chefe de todos os sábios. Como conselheiro-mor de Nabucodonosor durante o
período da destruição de Jerusalém e do exílio para a Babilônia, tendo exercido
influência favorável aos judeus cativos.
Durante um período de quase setenta anos, Daniel serviu a seis
governadores babilônicos e a dois persas. No governo de três deles
(Nabucodonosor, Belsazar e Dário I) foi elevado a primeiro-ministro. Ocupou essa
função durante o cativeiro final de Judá e o regresso dos cativos.
Quanto à autoria é universalmente contestada pelos adeptos da Alta
Crítica. A autoria foi pela primeira vez negada por Porfírio em 275 d.C. Segue um
sumário dos argumentos que negam a autoria de Daniel:
1. Sua posição no cânon hebraico com as “Escrituras” (Ketubim) sugere
uma data posterior. Esse argumento pressupõe que o cânon dos
profetas foi completado em 425 a.C. aproximadamente, e as
“Escrituras” em 165 a.C. É essa uma suposição errada, pois muitos
livros das “Escrituras” foram escritos antes do tempo de Daniel (ex.,
Salmos, Jó, Provérbios, etc.). Daniel faz parte dos Escritos, porque é
uma literatura sapiencial, ou por causa da demora de sua aceitação no
cânon, devido à sua porção aramaica.
2. As “imprecisões históricas” sugerem que o livro tenha sido escrito mais
tarde. Apesar de lhe apontarem muitas discrepâncias, pesquisas
posteriores e descobertas arqueológicas forneceram explicações
adequadas.
3. Suas características literárias, especialmente o uso de termos persas e
gregos, indicam que sua escrita é tardia, chegando ao período
Macabeu. Daniel, porém, também viveu durante o reinado persa, e
muito antes dele já existia ativo o comércio com os gregos (Jl 3:6).
Houve tempo suficiente para Daniel adquirisse um vocabulário persa de
quinze palavras. Se o livro fosse do período Macabeu, o livro deveria ter
mais de três palavras gregas em todo o seu conteúdo (3:5).
97

4. Seus últimos conceitos teológicos, tais como o advento do Messias, sua


ênfase nos anjos, na ressurreição e no julgamento são considerados
anacrônicos, mais relacionados à literatura apócrifa do terceiro e
segundo século a.C. Todavia, esse argumento ignora que esses
conceitos já existiam em livros mais antigos (Gn 3:15; 18:1; Jz 13:17-18;
Jó 1-2; Sl 16:10; Ec 12:14; Is 2:4-22).
5. Suas profecias detalhadas acerca da época dos Macabeus (Dn 11), não
poderiam ter sido escritas antes de 165 a.C., quando muitas delas
foram cumpridas. Esse é o principal em rejeitar o livro Dn, a negação
da profecia. O resultado de tal ponto de vista é também negar a
soberania de Deus em sua revelação dos eventos futuros.

Argumentos em favor da autoria de Daniel:


1. Seguindo o estilo de narrativa veterotestamentária (Moisés, Samuel,
Esdras, etc), Daniel registra os capítulos históricos na terceira pessoa.
Mas, ao narrar as quatro visões (7-12), escreve sempre na primeira pessoa,
identificando-se muitas vezes: “eu, Daniel”.
2. As várias partes da mesma seção encontram-se em mútua relação. Observe
3:12 com 2:49; o transporte dos vasos sagrados (1:1-2) prepara-nos para a
compreensão do festim de Belsazar do cap. 5; relacione 9:21 com 8:15ss. e
10:12 com 9:23. Se a lermos atentamente, sem dúvida, descobriremos
como as diferentes partes se ligam e dependem umas das outras
3. Todas as narrativas históricas são uniformes na sua finalidade de
demonstrar a soberania de Deus sendo glorificado sobre todas as nações.
4. O autor demonstra conhecimento dos hábitos, costumes, história e
religiões Babilônicas e Persas, do sexto século a.C. (1:5, 10; 2:2; 3:3, 10;
8:2; etc.).
5. Ezequiel reconheceu a historicidade de Daniel na sua época, mostrando ser
ele comparável sua sabedoria e caráter aos de Noé e Jó (Ez 14:14, 20;
28:3).
6. Jesus reconheceu Daniel como o autor das visões de Dn 9:27; 11:31 e
12:11, as últimas partes do livro (Mt 24:15).
7. Josefo (aproximadamente 75 d.C.), mencionou que Alexandre, o Grande foi
anunciado no livro de Daniel e na sua profecia sobre o poder em ascensão
na Grécia e o primeiro rei que conquistaria a Pérsia (8:21; 11:3). Isso
aconteceu bem antes da época dos Macabeus.134

Gênero literário
Categoria história profética-preditiva (Dn 2:19, 29).
Contêm porções em aramaico (2:4 – 7:28).

Data
Texto ano Acontecimento
1:1 605 Deportação de Daniel e três anos de treinamento

134
Flávio Josefo, Obras Completas: Antiguidades Judaicas, Livro 11, viii.
98

2:1 603 Interpretação do sonho por Daniel, e engrandecimento


5:31 559 Interpretação da “escritura na parede”
6:1 558 Daniel na cova dos leões
7:1 553 Visão dos “quatro grandes animais”
8:1 551 Visão de um carneiro e um bode
9:1 539 Visão das “setenta semanas” de Israel
10-12 536 Visão da Pérsia, da Grécia e do tempo do fim
É provável que o livro tenha sido completado em 535, logo após a última
visão.

Contexto histórico
Durante um período de 20 anos, começando em 605 a.C., os exércitos
babilônicos invadiram Judá por três vezes. Saqueando e destruindo as cidades e
levando para a Babilônia milhares de judeus, incluindo Daniel.
No ano 586 a.C., a cidade de Jerusalém, e o templo foi destruído (2Rs 24:1-
25:30; 2Cr 36; Dn 1:1-7). Os babilônios dominaram o mundo durante 75 anos,
sendo derrotados posteriormente pelo império Medo-Persa, do rei Ciro no ano
536 a.C.135

Propósito
Seu objetivo principal é declarar a soberania de Deus sobre todas as
nações. Uma garantia da sobrevivência do povo de Deus, e do cumprimento de
todas as suas promessas. Motivar o povo à fidelidade da Aliança, no cativeiro.

Estrutura do livro
1. Seção histórica.................... 1-6
2. Seção profética................... 7-12

1. A vida de Daniel............................ 1
2. História: o tempo dos gentios..... 2-7
3. História: a situação de Israel........ 8-12

Fatos interessantes
1. Daniel foi cativo na primeira deportação, cerca de 10.000 pessoas, em 605
a.C. (2Rs 24:12-14).
2. Viveu 90 anos, sendo por 72 anos como oficial nos reinos pagãos.
3. Ele conhecia a profecia de Jeremias de que o cativeiro duraria apenas 70
anos (Jr 25:12; 29:10 e Dn 9:2-3).
4. Um dos poucos homens na Bíblia, de quem não há menção de suas
imperfeições.

135
John C. Jeske, Comentário de Daniel, p. 2.
99

Profetas Menores
O povo de Deus é o povo da Aliança, e o tema Aliança aparece em larga
escala em toda a sua literatura. Esses livros podem ser agrupados em três
períodos de crise à medida que a nação avança em direção ao julgamento.

Antes do cativeiro do Reino do Norte (722 a.C.)


Profe Local de Data
ta atuação aproximada
Oséias a.C.
Joel a.C.
Amós a.C.
Obadi a.C.
as
Jonas a.C.
Miqué a.C.
ias

Antes do cativeiro do Reino do Sul (606-586 a.C.)


Profeta Local de Data
atuação aproximada
Naum
Habacu
que
Sofonias

Depois do retorno do cativeiro (536-425)


Profet Local de Data
a atuação aproximada
Ageu
Zacaria
s
Malaqu
ias

Quanto à ordem dos livros há divergências. O TM conta os doze Profetas


Menores como sendo somente um, junto aos “Profetas Posteriores”. Embora
exista algumas teorias, nenhuma delas é satisfatórias136.

136
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 260.
100

OSÉIAS

Título

Autoria
Sabe-se pouco de Oséias, exceto que é “filho de Beeri” e que profetizou
para Israel, reino do Norte, nos últimas trinta anos antes do cativeiro Babilônico.
Evidentemente foi profetizar também para Judá, antes do cativeiro em 722 (1:1).

Destinatários
A profecia deste livro destinava-se originalmente ao reino do Norte (Israel).
Embora sejam mencionados os nomes dos reis de Judá, isto foi feito com a
finalidade de localizar a época (1:4,6,10; 3:1; 4:1,15, etc). Refere-se à Israel
chamando-o “Efraim” (cerca de 37 vezes), em virtude desta poderosa tribo do
centro descendentes do filho de José.

Data
Profetizou durante os reinados de quatro reis de Judá, Uzias a Ezequias,
entre 769 a 697 a.C., e durante o reinado de Jeroboão II de Israel, entre 793 a
752 a.C.
Escrito aproximadamente em 740 a.C. Tendo como contemporâneo o
profeta Isaías.

Contexto histórico
O Sitz im Leben de Oséias era de desordem e inquietude (2Rs 14:2-17:6). A
pressão da Assíria tornava-se cada vez mais intensa e temível. Internamente, a
nação vivia dias de uma diplomacia de mentiras e traições.

Propósito
O propósito deste livro é registrar o convite divino ao arrependimento do
indiferente reino do Norte que se afundava na corrupção. Teria de vir um período
de purificação, quando Israel passaria muitos dias em condição incomum. Deus
revela sua fidelidade com Israel, apesar da sua “prostituição espiritual”.

Análise do conteúdo
O profeta descreve o estado abominável da nação que, à semelhança de
sua esposa, tinha-se entregue à prostituição. Fala sobretudo do infinito amor do
Senhor, sempre pronto a receber o povo de volta para a Aliança, mediante
arrependimento.

Dificuldades de interpretação
101

Como entender a ordem “vá, tome uma mulher adúltera e filhos da


infidelidade” (Os 1:2, NVI)?

Fatos interessantes
1. Oséias é conhecido como o “profetas do amor divino”;
2. “Efraim” como a maior tribo de reino do Norte, simboliza Israel nas
profecias do livro (5:3,5,11,13);
3. Os filhos de Oséias possuíram nomes que indicavam a sua mensagem:
- Jesreel (espalhado) o povo seria espalhado no cativeiro
- Lo-Ruhamah (desfavorecida) o povo entraria em juízo
- Lo-Ami (não povo meu) o povo seria rejeitado

JOEL

Título
O nome do profeta significa Yahweh é Deus. O nome do profeta ajusta-se ao
tema principal de sua profecia “sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus” (2:27
e 3:17).

Autoria
Segundo o conteúdo do livro sabemos que era filho de Petuel, profetizou e
residiu em Jerusalém, e pode ter sido sacerdote. Existem na Bíblia, pelo menos,
outras quatorze pessoas com o nome Joel.
O apóstolo Pedro no dia de Pentecoste, inspirado pelo Espírito Santo disse:
“isto é o que foi dito pelo profeta Joel (At 2:16 e Jl 2:28).

Data
Para datarmos este livro precisamos considerar que:
1. Joel é um dos seis Profetas Menores que não tem uma indicação
específica de data no próprio texto (como Obadias, Jonas, Naum,
Habacuque e Malaquias).
2. A importância dos sacerdotes e anciãos e a ausência de referências aos
reis de Judá. Isto subentende-se que o rei era menor de idade, e que
eram os anciãos e sacerdotes os responsáveis pela liderança nacional
(2Rs 11:4).
3. A ausência absoluta de referência à idolatria ao falar dos pecados do
povo;
4. A denúncia de inimigos locais (filisteus e fenícios 3:4, egípcios e
edomitas 3:19), e a total ausência de referências à Assíria, à Babilônia
ou à Pérsia.
5. A posição de Joel antes de Amós no cânon sugere uma data anterior (Jl
3:18 e Am 9:13);
102

6. Joel é mencionado por outros profetas pré-exílicos, tais como Amós,


Isaías e Miquéias. O contrário é altamente improvável (compare Jl 3:10
com Is 2:4 e Mq 4:3; Jl 3:16 e Am 1:2; Jl 3:18 e Am 9:13).
7. A referência ao vale de Josafá, somente mencionado em Jl, é
apropriado, pois foi ele o último rei aprovado naquela época.
8. Por esses motivos a data aceita é 830 a.C., aproximadamente.

Contexto histórico
No cenário internacional, não havia projeção de nenhum grande império.
Todavia, Judá se encontrava em conflito com várias inimigos vizinhos, tais como
Tiro, Sidom, Filístia, Edom e Egito (3:4, 19).
Judá passava por um período de construção após o perverso reinado da
rainha Atalia (841-835 a.C.). Essa reconstrução ocorreu principalmente sob a
liderança do velho sumo sacerdote Joiada, que contribuiu para a morte da rainha
e tornou o Joás, aos seis anos de idade, rei de Judá (2Rs 11:21).

Contexto religioso
A profecia de Joel foi entregue cerca de vinte anos depois que Obadias
exerceu o seu ministério. Joel precedeu os ministérios de Jonas e Amós junto a
Israel, que profetizaram cerca de sessenta anos mais tarde. Joel profetizou para
Judá, Elias pregou em Israel num longo ministério que durou entre 850 a 798
a.C.
O período da adoração a Baal tinha terminado com a purificação de Jeú em
841 a.C., e a de Joiada em Judá em 835 a.C.. Todavia, após aquela purificação, a
verdadeira santidade não se perpetuou, mas passou a prevalecer um espírito de
indiferença. O próprio templo não foi reparado adequadamente antes de 813
a.C., o vigésimo terceiro anos de Joás (2Rs 12:6).

Propósito
Chamar a nação de Judá ao arrependimento como uma reação adequada
aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e seca, para que uma calamidade
mais devastadora não viesse sobre eles. Mantendo-se continuamente fiéis à
Aliança do Senhor.
Apresentar o futuro Dia do Senhor, no qual ele dominará os pagãos,
libertará o seu povo para habitar com ele.

AMÓS

Título
O nome Amós significa “carregador de fardos”.
103

Autoria
Há pouca controvérsia entre os estudiosos quanto à autoria de
Amós. O livro revela algumas características do autor:
1. Nascido em Tecoa, uma pequena aldeia a 8 Km ao sul de Belém.
2. Era homem de negócios, fazendeiro e pregador, embora não fosse um
profeta treinado na escola de profetas. Ocupava-se com a criação de
ovelhas e bois, como também na plantação de frutas (1:1; 7:14).
3. Era hábil escritor e pensador. Seu livro é considerado clássico, tanto no
conteúdo quanto na expressão artística.
4. Tinha um claro senso de justiça social e coragem para confrontos;
5. Foi uma profeta missionário.
6. Estava perfeitamente a par dos acontecimentos sociais e nacionais,
obviamente por ir sempre ao Norte a fim de comerciar os seus
produtos.

Data
Escrito aproximadamente em 760 a.C. Ellisen fornece uma preciosa
contribuição quanto à data da escrita comentando que “o grande terremoto de
1:1 foi evidentemente acompanhado de um eclipse solar, conforme está sugerido
em 8:8-10. Segundo astrônomos, esse eclipse ocorreu em 15 de junho de 763
a.C. A profecia sobre Israel foi proferida dois anos antes, em 765 a.C., e escrita
algum tempo depois do terremoto. Este foi tão violento que Zacarias se referiu a
ele 270 anos mais tarde (Zc 14:5).”137

Contexto histórico
Durante este período tanto o reino do Norte, quanto o Sul desfrutavam de
prosperidade (Am 6:1; 2Rs 14:23-15:7; 2Cr 26). A ideia de um julgamento ou
colapso nacional estava longe do pensamento de todos. Ninguém suspeitava que,
nos próximos dez anos, desordens políticas e assassinatos estremeceriam o país.
Amós foi chamado do seu lar no sul (Judá, governado por Uzias) para
desempenhar um ministério no reino do Norte (Israel, governado por Jeroboão
II). Foi expulso daquele país depois de denunciar Amazias, sacerdote de Betel
(7:10-14).

Contexto religioso
O sistema de adoração do bezerro de ouro em Betel já durava 170 anos.
Betel era também o centro de adoração ao deus Baal.
A nação está moralmente corrompido. A aristocracia era rica e perversa.
Profetas e sacerdotes viviam a serviço dos seus próprios interesses. O poderosos
usurpavam os pobres e viviam na suntuosidade e no vício.
Amós atribuiu toda essa corrupção ao rei e ao sumo sacerdote. Por esse
motivo, declarou que as famílias de Jeroboão II e Amazias, o sacerdote, seriam
destruídas pela espada (7:8, 7).

137
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 287.
104

Extensão geográfica
Amós vivia a 7 Km ao sul de Jerusalém, nas altas colinas de Judá, perto da
estrada que ia de Jerusalém a Hebrom e Berseba.
Betel (onde Amós profetizou) localizava-se a cerca de 35 Km ao norte de
Tecoa, e a 3 Km ao norte dos limites de Judá. Era o principal santuário de Israel,
residência do sumo sacerdote, enquanto que Jeroboão II morava em Samaria,
cerca de 40 Km também ao norte. Foi daquele centro religioso que Amós se
dirigiu ao povo.

Propósito
Repreender a aristocracia de Israel do iminente julgamento divino sobre a
nação. Essa admoestação não visava apenas a idolatria, mas especialmente à
corrupção espiritual, moral e social.
O povo de Israel estava confiante na crença que, sendo o povo escolhido,
não poderiam ser alcançados por calamidade alguma.

Estrutura do livro
1. 8 profecias contra as nações..... 1-2
2. 3 sermões...................................... 3-6
3. 5 visões.......................................... 7-9:10
4. 5 promessas.................................. 9:11-15

Fatos interessantes
1. O uso da linguagem rural (3:4-5,12; 5:8,19; 9:9);
2. Citações no NT: 4:11 (Rm 9:29); 5:25-27 (At 7:42-43); 8:9 (Mt 24:29);
9:11-12 (At 5:16-18);
3. Os pecados do povo (2:6-8; 3:10; 4:1; 5:10-12; 8:4-6;

OBADIAS

Título
Obadias significa “servo do Yahweh”.

Autoria
Não deve ser confundido com o contemporâneo de Elias, que teve o mesmo
nome (1Rs 18:1-15). As datas não conferem entre este e aquele.

Data
É um dos livros que oferece mais dificuldades para datá-lo. Os estudiosos
conservadores dividem-se, dependendo de como consideram a calamidade de
105

Jerusalém referida nos versículos 10-14. A capital do reino do Sul foi pilhada
cinco vezes durante a monarquia:
926 – pelo Egito, quando Roboão reinava (1Rs 14:25-26);
845 – pelos filisteus e árabes (depois da revolta de Edom, 2Cr 21);
790 – por Israel, quando Joás reinava em Judá (2Cr 24:23-24);
597 – pela Babilônia, quando Joaquim foi exilado (2Rs 24:10-16);
586 – pela Babilônia, quando a cidade e templo foram destruídos (2Rs 25);

Os edomitas envolveram-se apenas nas pilhagens de 845 e 586 a.C.


Mas data de 845 a.C. é preferida pelas seguintes razões:
1. O livro foi colocado na primeira parte do cânon pelos hebreus;
2. O desastre referido por Obadias não chegou a ser necessariamente a
destruição completa, seguido de exílio. Foi apenas uma pilhagem;
3. Obadias é citado em Jr 49:7-22, quase literal, cerca de 240 anos mais
tarde.

Contexto histórico e geográfico


O cenário histórico pode ser encontrado nos livros históricos de 1Rs 8:16-
22 e 2Cr 21.
Edom ficava na cadeia de montanhas e nos planaltos do monte Seir, a
sudeste de Judá, além do mar Morto. Seu território estendia-se desde Moabe, no
rio Arnom, até o golfo de Acaba, distante cerca 160 Km, com Sela (Petra) no
meio. Após o cativeiro de Judá em 586 a.C., Edom tomou o sul da Judéia, fazendo
de Hebrom a sua capital.

Contexto religioso
Elias e Eliseu foram contemporâneos de Obadias. Enquanto Obadias
profetizava contra Edom, Elias e Eliseu falavam no reino do Norte.
Cerca de 845 Judá estava sob o governo de Jeorão, rei ímpio, que com a
iníqua rainha Atalia permitiu o culto a Baal. Acabe e Jezabel tinham introduzido
esse culto em Israel cerca de 25 anos antes. Isso fez com que o Senhor usasse a
invasão estrangeira para punir Judá.

Propósito
Anunciar a destruição final de Edom devido a sua violência, orgulho e
vingança insaciável contra Israel. Reafirmar o triunfo final do monte Sião no Dia
do Senhor, quando Israel possuirá a terra de Edom.

Estrutura do livro
1. Condenação de Edom......... vs. 1-18
2. Restauração de Israel...... vs. 19-21

Fatos interessantes
1. O livro mais curto do AT.
2. A nação de Edom surgiu de Esaú, irmão gêmeo de Jacó.
106

3. Herodes, o Grande era descendente deste povo.


4. Edom deixou de existir durante o império romano, cerca de 79 d.C..
5. Não há referências à Obadias no NT.

JONAS

Título
O nome Jonas significa “pomba”.

Autoria
A autor foi o próprio Jonas. O fato de tê-lo escrito na terceira pessoa não
nega a sua autoria. Outros escritores do AT seguiram essa prática literária.
Ele é identificado com o profeta de 2Rs 14:25, como o “filho de Amitai”. A
sua cidade natal era Gate-Hefer, uma pequena aldeia de Zebulom, cerca de 3 Km
a nordeste de Nazaré.

Data
Essa profecia foi entregue no início do reinado de Jeroboão II, cerca de
793-753 a.C., anunciando a Israel que o Senhor teria novamente misericórdia
dele (2Rs 14:23-28).
A visita de Jonas a Nínive ocorreu, provavelmente, no fim do seu longo
ministério em Israel, aproximadamente em 765 a.C. O profeta certamente
escreveu o livro após seu retorno e procurou, por meio dele, ministrar a Israel.

Contexto histórico
A Assíria era uma ameaça para Israel desde o tempo de Onri (880 a.C.),
forçando os israelitas a pagarem impostos nos últimos cinquenta anos até
Jeroboão II tornar-se rei. No tempo de Jonas, Israel sentia-se seguro e estava em
ascensão, enquanto a Assíria estava em declínio político.
Esse declínio político havia começado com a morte de Adad-nirari III em
782 a.C., e se estendeu até a vinda de Tiglate-Pileser III em 745 a.C. Depois de
Adad-nirari reinaram Salmanasar IV (782-773) e Asurdam III (773-754). A visita
de Jonas foi provavelmente durante o reinado deste último.

Extensão geográfica
Jonas residia em Gate-Hefer, uma pequena aldeia de Zebulom, cerca de 3
Km a nordeste de Nazaré. Recebeu a “palavra do Senhor” para ir à Nínive.
Todavia, pegou um barco para Társis, cidade portuária ao sul da Espanha, em
direção oposta à que Deus lhe ordenou. No percurso pelo mar Mediterrâneo foi
engolido por um “grande peixe” (1:17) que o levou de volta para o ponto de
partida (2:10).
107

Nínive estava localizada a leste do rio Tigre, e distante de Israel,


aproximadamente 960 Km, uma viagem de três meses, naqueles dias. Era uma
das cidades mais antigas do mundo, fundada por Ninrode (Gn 10:11). Embora o
muro interno da cidade tivesse menos de 5 Km de diâmetro, a suas aldeias e
subúrbios espalhavam-se numa circunferência de mais de 32 Km (3:3).
Inicialmente Jonas foi mais fiel ao seu nacionalismo, do que do Deus de sua
nação.

Propósito
O seu objetivo era declarar a universalidade tanto do julgamento, quanto
da graça divina. A história também retrata a verdade de que, quando o povo de
Deus deixa de ter interesse pelos perdidos, perde a perspectiva do seu papel
como representantes e proclamadores da graça e julgamento de Deus.

Estrutura do livro
1. A primeira comissão de Jonas.... 1-2
2. A segunda comissão de Jonas..... 3-4

Análise do conteúdo
O livro Jn é o mais biográfico de todos os profetas. No nacionalismo de
Israel, o povo se esqueceu de sua responsabilidade como representantes de Deus
no mundo.
O livro possui algumas ironias:138
1. Jonas foge da presença de Deus, que ele mesmo crê ser o Deus que
criou o céu e a terra. Nenhum homem consegue fugir da presença de
Deus, pois o seu encontro torna-se mais terrível;
2. Todos obedecem a Deus, menos o próprio profeta;
3. Os marinheiros estão orando, enquanto o profeta está dormindo;
4. O profeta prefere a própria morte, em vez de orar por conversões.

Dificuldades de interpretação
A historicidade dos acontecimentos do livro tem sido desafiada pelos
críticos modernos. O problema não se encontra na hermenêutica, e sim nos
pressupostos que irão norteá-la! Existem duas linhas de interpretação, o
alegórico e o histórico. A primeira afirma que a narrativa é um mito, ou uma
figura fictícia visando transmitir uma verdade moral, semelhante às parábolas. A
segunda perspectiva reconhece-a como fato acontecido. Algumas motivos para
aceitar-se a historicidade do livro:
1. Nenhuma alegoria do AT apresenta um personagem histórico.
2. A narrativa é apresentada como verdadeira, referindo-se a povos e lugares
antigos específicos, a relação com a Assíria (Os 5:13; 10:6; 2 Rs 15:19), o
ateísmo de Nínive (Jn 1:2; Na 3:1; Sf 2:13-15), extensão de Nínive (Jn 3:3).
Não possuí características de ficção.139
138
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 79.
139
W.G. Kunstmann, Os Profetas Menores, p. 91.
108

3. Jonas é apresentado como “filho de Amitai” em Jn 1:1 e 2Rs 14:25.


4. Toda a tradição judaica testifica a historicidade de Jonas e sua jornada a
Nínive, tal como aconteceu;
5. Cristo confirmou a historicidade de Jonas, mencionando ambos os milagres
como sendo acontecimentos verdadeiros (Mt 12:4-42; 16:4; Lc 11:29-32).
Associando a historicidade de Jonas com a historicidade de Salomão.
6. Não aceitar essa narrativa como um evento literal por causa dos seus
elementos miraculosos é questionar toda a estrutura sobrenatural da
Bíblia, inclusive a sua própria inspiração.
7. É possível alguém ser engolido por uma baleia, e durante um tempo
continuar vivo. Archer menciona um caso assim.140

MIQUÉIAS

Título
O nome significa “quem é como a Yahweh?” É um nome que expressa bem
a mensagem do livro: “quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a
iniquidade?”(7:18). A nome ocorre de duas modos no hebraico, como aparece no
título hkym ou numa forma mais longa whykym.

Autoria
A autoria de Miquéias é geralmente reconhecida, com exceção de alguns
modernos comentaristas que atribuem as seções de esperança (4-7) a uma época
posterior. Todavia, o livro de Jr (26:18) afirma que Miquéias foi muito respeitado
naquela época (cerca 600 a.C.). O conteúdo do livro é compatível com a época e
as circunstâncias de Miquéias.

Data
Profetizou durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias, que reinaram
consecutivamente de 740 a 697 a.C.(1:1). A sua escrita deve ter se dado antes da
queda da Samaria que ocorreu em 722 a.C.
A data aceita é 730 a.C. aproximadamente.

Contexto histórico e geográfico


Contemporâneo do profeta Isaías, Miquéias defrontou-se com um cenário
semelhante, no que se refere à política, corrupção social e religião da época.
Esse profeta era da zona rural ocidental de Morasti Gate, uma cidade
localizada nos limites entre Judá e a Filístia. Esse local ficava a 320 Km a
sudoeste de Jerusalém, longe da política e do comércio da capital.

Contexto religioso
140
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 245.
109

Miquéias é reconhecido como o único profeta cujo ministério foi


desempenhado tanto em Israel como em Judá (1:1). Isaías também profetizou a
destruição de Samaria, mas a sua profecia era “a respeito de Judá e Jerusalém”
(1:1).

Propósito
Enfatizar o peso da juízo que estava próximo sobre a nação, por causa de
seus pecados de violência e injustiça social, enquanto fingiam ser religiosos.
O objetivo adicional de Miquéias era lembrar-lhes da futura vinda do
Messias, que surgiria de origem humilde para governar, com justiça e verdade.

Estrutura do livro
1. Ameaça de julgamento........ 1-3
2. Promessa de restauração..... 4-5
3. Chamada ao arrependimento... 6-7

Fatos interessantes
1. A citação de Mq 3:12 em Jr 26:18 (100 anos depois) foi instrumental na
libertação de Jeremias da morte.
2. Na época, a Assíria dominava o mundo, mas Miquéias viu a conquista de
Judá pelos Babilônicos (4:10).
3. Profecias cumpridas:
- A queda da Samaria em 722 a.C...... 1:6,7
- A invasão de Judá em 702 a.C....... 1:9-16
- A queda de Jerusalém em 586 a.C.... 3:12; 7:13
- O exílio babilônico em 586 a.C..... 4:10
- O retorno em 520 a.C............... 4:1-8,13; 7:11,14-17
- Nascimento do Messias em Belém..... 5:2

NAUM
Título
Naum significa “consolação”.

Autoria
Temos pouca informação acerca deste profeta. É provável que tenha
nascido em Elcós, perto de Cafarnaum (do aramaico “cidade da consolação”), na
parte norte da Galiléia (1:1, NVI).

Gênero literário
O livro de pertence ao gênero profético. Contudo, Naum inicia seu livro
com um salmo profético (1:2-2:2).
110

Data
Naum é um dos seis Profetas Menores que não tem data no próprio texto.
Os estudiosos conservadores apontam duas datas diferentes. A primeira, em 710
a.C. durante o reinado de Ezequias, ou 650 a.C. durante o reinado de Manassés.
Entretanto, a data mais provável é 710 a.C., pelos seguintes argumentos:
1. Em 710, os assírios representavam uma grande ameaça a Judá, pois se
dirigiam para o ocidente mais do que em 650, quando o seu poder começou
a cair.
2. A profecia de “consolação” enquadra-se melhor em 710, época de
Ezequias. Quase não havia necessidade de consolação para Judá em 650,
sob o corrompido reinado de Manassés, o mais depravado rei de Judá, cujo
reinado trouxe o julgamento divino.

Contexto histórico
A Assíria continuava a sua conquista para o ocidente, enquanto a Babilônia
exercia o controle no oriente. Diante do ameaçador deslocamento da Assíria para
o ocidente, Ezequias procurou reforçar suas defesas com o auxílio do Egito e da
Babilônia (2Rs 10:12ss; 18:21).
Era uma época de reformas no cenário político mundial e Judá precisava de
consolação divina.

Estrutura do livro
1. Decreto da destruição......... 1
2. Descrição da destruição....... 2-3

Fatos interessantes
1. O seu nome é mencionado apenas uma vez na Bíblia.
2. Os três Profetas Menores que enfatizaram o julgamento contra os inimigos
do povo de Deus: Obadias (Edom), Habacuque (Babilônia) e Naum
(Assíria).
3. Nínive caiu em 612 a.C., cumprindo a profecia de Naum. O rio Tigre
superabundou nas margens, e destruiu uma parte do muro (1:8), por onde
os babilônios entraram, e destruíram a cidade (1:10; 2:13; 3:13-15). A
cidade somente foi descoberta em 1845 d.C..
4. Naum não é citado no NT.

HABACUQUE

Título

Autoria
111

Habacuque não é mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, apenas


duas vezes no seu próprio livro (1:1 e 3:1).
A porção apócrifa “Bel e o Dragão” (vs.33-39) afirma que ele levou uma
sopa a Daniel, enquanto se estava na cova dos leões. Outro apócrifo “Vida dos
Profetas” descreve-o como pertencente à tribo de Simeão, e que fugiu quando
Nabucodonosor avançou contra Jerusalém (587 a.C.), todavia, estas informações
não são confiáveis.

Data
Embora o livro não possua uma datação específica, podemos fazê-lo pelo
seu contexto. Algumas considerações devem ser feitas para encontrarmos uma
data aproximada:
1. A referência aos caldeus, que viriam numa impetuosa ferocidade (1:6),
sugere uma anterior a 605 a.C., ano em que o Egito foi derrotado.
2. A ausência de qualquer referência a Nínive sugere uma data posterior à
destruição dessa cidade em 612 a.C..
3. A grande preocupação do profeta quanto à violência de Judá sugere uma
época posterior à morte de Josias, cerca de 609 a.C., no início do reinado
de Jeoaquim.
4. Portanto, a data mais provável seria 607 a.C., durante o iníquo reinado de
Jeoaquim, antes de Judá ser subjugado por Nabucodonosor em 605 a.C..

Contexto histórico
Verificando a disputa internacional pelo domínio mundial, entre Assíria,
Babilônia e Egito, se encontrava favorecida pelas circunstâncias a Babilônia.
Nínive caiu em 612 a.C., e o exército egípcio seria derrotado em 605 a.C., em
Carquemis. Nabucodonosor estava em ascensão.
Habacuque era contemporâneo do profeta Jeremias, tendo profetizado com
ele para o reino do sul, que caiu num caos nacional. A reforma de Josias
terminou com a sua morte em 509 a.C., e a corrupção implantada por Manassés
perpetuou com rapidez sob o reinado de Jeoaquim. O seu dever como profeta era
enfatizar a santidade divina ao julgar o violento reino de Judá pelos seus
pecados.

Fatos interessantes
1. As predições referentes à queda da Babilônia foram cumpridas cerca de 70
anos depois.
2. No ano de 612 a.C. os babilônios conquistaram Nínive, e construíram o seu
império que dominou toda aquela região.
3. A profecia em 2:14 é pela quinta vez declarada: “a terra se encherá do
conhecimento da glória do Senhor” (Nm 14:21; Sl 72:19; Is 6:3; 11:9).
112

SOFONIAS

Título

Autoria
O profeta é identificado com o trineto de Ezequias (1:1). Certamente, uma
referência ao rei Ezequias que reinou setenta e cinco anos antes dele. Conclui-se
que Sofonias foi o único Profeta Menor pertencente à família real.
Sendo da família real, Sofonias tinha acesso à corte e conhecia bem a
situação religiosa em toda a cidade de Jerusalém.

Data
Sofonias profetizou durante o reinado de Josias, entre 640-609 a.C., e antes
da queda de Nínive em 612 a.C. (1:1; 2:13). Os pecados condenados por
Sofonias, são os mesmos lamentados por Josias (2Cr 34-35; 2Rs 22-23).
A condenação da idolatria e rebeldia, sugere que ele tenha profetizado
antes de 621 a.C., se não antes de 628 a.C., quando Josias executou a sua
reforma. Se a profecia tiver precedido a primeira purificação, a data mais
provável será 630 a.C., mas, se precedeu a purificação posterior, então a data de
escrita será 625 a.C.

Contexto histórico
Sofonias profetizou no início do ministério de Jeremias. A situação mundial
passava por profundas transformações. A Assíria estava em declínio, a Babilônia
ascendia sob o poder de Nabopolassar e o Egito entrava na Palestina, mas com
dificuldades.
Josias começou a reinar em 640 a.C., com oito anos, uma nação
enfraquecida, tanto política quanto moralmente.
Josias começou a reinar após 55 anos de corrupção no reinado de
Manassés e Amom.

Propósito
Advertir a nação sobre a condenação que se aproximava. Ele descreve o
dia da ira do Senhor, mas, também aponta para o livramento que estava mais
adiante.

Estrutura e esboço do livro


1. Punições sobre os povos....................... 1-2
2. Restauração de Judá................................ 3

1. Apresentação do profeta.............. 1:1


2. A destruição vindoura................... 1:2-3
3. A punição de Judá......................... 1:4-13
4. O Grande Dia do Senhor............ 1:14-2:3
113

5. A punição da Filístia...................... 2:4-7


6. A punição de Moabe e Amom.... 2:8-11
7. A punição da Etiópia.................... 2:12
7. A punição da Assíria..................... 2:13-15
8. O Futuro de Jerusalém................. 3

Fatos interessantes
1. Considerado o mais severo dos profetas;
2. Três espécies de pecadores serão destruídos: 1) os que estão divididos
em sua Aliança com Yahweh, 2) os que abandonaram a Yahweh, 3) os
que nunca procuraram Yahweh;

AGEU

Título
O seu nome está relacionado ao maior objetivo da sua profecia, que era
completar o templo para reiniciar as festividades religiosas.

Autoria
Não fugindo à regra dos demais Profetas Menores, pouco se sabe de Ageu.
Seu nome é mencionado por Esdras (5:1; 6:14).
A tradição judaica afirma que Ageu nasceu na Babilônia, e estudou sob a
orientação de Ezequiel. Provavelmente, veio para Jerusalém após o retorno do
primeiro grupo de exilados em 537 a.C., pois o seu nome não consta na lista dos
que retornaram (Ed 2:2).

Data
Este profeta pertence aos pós-exílicos.
O livro de Ag é um livro muito preciso em sua datação. Datado do segundo
ano do rei Dario Histaspes, cerca 521 a 486 a.C., rei da Pérsia.

Contexto histórico
Após setenta anos de exílio no cativeiro na Babilônia, os judeus
regressaram para a Judéia, sob nova política persa que encorajava os cativos a
sua origem.
O profeta Zacarias foi contemporâneo de Ageu. Os dois tornaram-se os
principais incentivadores dos trabalhos de restauração do templo, convocando o
povo recém chegado do exílio ao trabalho. Durante a sua permanência na
Babilônia, os exilados estavam acostumados viver sem o templo.
A oposição à reconstrução do templo veio dos samaritanos, povo vizinho,
situados ao norte. Essa oposição teve como resultado perseguições e a
construção ficou parada durante 14 anos. A pausa na reconstrução esfriou o
114

entusiasmo de todos, e eles se voltaram para os interesses seculares, esquecendo


do seu compromisso com o templo.
O não cumprimento de antigas profecias quanto às glórias da restauração,
tendia a desenvolver indiferença e ceticismo religiosos.
O Senhor enviou seca e má colheita ao povo a fim de alertá-lo. Ageu e
Zacarias denunciaram que a causa do problema econômico era a sua negligência
com o templo, e que cuidassem da sua responsabilidade mais importante, a
reconstrução.

Propósito
Alertar aos que retornaram do exílio que continuassem a reconstruir o
templo, mostrando-lhes que os fracassos eram resultado da negligência na obra
do Senhor.

Fatos interessantes
1. É um dos poucos profetas que experimentou o sucesso de sua pregação.
2. É um dos três profetas pós-exílicos.
3. Ageu era mais velho que seu contemporâneo, o profeta Zacarias.
4. Profetizou durante o governo de Zorobabel.
5. A história revela que a impureza e desânimo são mais contagiantes do que
a santidade.

ZACARIAS

Título

Autoria
Zacarias foi um sacerdote, nascido no cativeiro, que voltou para Israel com
seu pai e eu avô (1:1), no primeiro retorno da Babilônia com Zorobabel (Ne 12:4,
16).
A unidade de Zc não contestada até o surgimento da Alta Crítica, com o
erudito de Cambridge, Joseph Mede, em 1653. Desde então, os últimos seis
capítulos de Zc tem sido atribuídos a desconhecidos autores, embora haja o
reconhecimento de que Zacarias tenha escrito os capítulos 1-8. A contestação da
autoria de Zacarias a todo livro, tem se baseado nos seguintes argumentos:
1. Mt 27:9-10 parece atribuir Zc 11:12-13 a Jeremias;
2. A referência à Assíria (Zc 10:10-11) parece sugerir uma época anterior
a 612 a.C., data da queda de Nínive;
3. A referência à Grécia em 9:13 sugere uma data posterior a Alexandre, o
Grande;
4. O conteúdo apocalíptico de 9-14 sugere uma data depois do terceiro
século;
115

5. A diferença de estilo literário indica autores diferentes;

Entretanto, existem bons motivos para a unidade do livro, bem


como para sustentar-se a autoria de Zacarias:
1. O livro de Zc possui uma pureza de linguagem, livre de aramaísmos;
2. A tradição judaica reconhece a sua unidade;
3. A referência de Mt 27:9-10 combina as duas profecias, a de Jr 32:6-9 e
a de Zc 11:12-13, declarando somente o profeta mais velho, Jeremias,
que se referia à compra de um campo. Zacarias apenas fazia parte dos
“Doze”;
4. A referência à Assíria foi apenas uma menção simbólica dos inimigos de
Israel;
5. A referência à Grécia (9:13) foi preditiva, mas foi declarada após a
Grécia ter se tomado expressão mundial (cerca 490 a.C.);
6. O conteúdo apocalíptico de 9-14 não foi influenciado à literatura
apocalíptica posterior (período inter-bíblico), mas sim, subordinado sob
orientação divina como Ezequiel e Daniel;
7. As diferenças de estilo não são tão grandes quanto as semelhanças;

Data
As três seções de Zacarias possuem data exata, mas os últimos seis capítulos não
tem:
1:1-6................ 520 a.C. depois da primeira mensagem de Ageu (Ag 1:1)
1:7-6:15.......... 519 a.C. depois da última mensagem de Ageu (Ag 2:18)
7-8................... 518 a.C.
9-14................. 480 a.C. aproximadamente.

Contexto histórico
O cenário dos capítulos 1-8 envolve problemas na reconstrução do templo,
com considerável oposição local e desencorajamento do povo. O contexto dos
últimos capítulos 9-14 parece ser diferente. O templo já não é a preocupação
central. Dário tentou aumentar seu reinado persa até a Europa, mas foi
derrotado pelas cidades gregas na batalha de Maratona, em 490 a.C. Seu filho
Assuero (marido de Ester), numa investida em 480 a.C., sofreu uma derrota
ainda maior em Salamina, o que mudou o curso do avanço persa no ocidente.
Foi nesse contexto histórico que Zacarias escreveu os capítulos 9-14,
começando com a descrição detalhada de uma invasão grega que se apossaria de
toda a Palestina com exceção de Jerusalém, que seria poupada e protegida
miraculosamente pelo Senhor (9:1-8). Os exilados que ainda se achavam na
Babilônia foram incentivados a voltar devido à promessa do Senhor de defendê-
los e lhes dar poder.

Estrutura do livro
1. 8 visões.................. 1-6
2. 4 mensagens.......... 7-8
116

3. 3 reprovações........ 9-14

Fatos interessantes
1. Zacarias é o único Profeta Menor identificado como sacerdote. Sendo
que Jeremias e Ezequiel, Profetas Maiores, também foram sacerdotes.
2. Zacarias profetizou aos cativos que retornaram da Babilônia com
Zorobabel, era parceiro de Ageu (Ed 5:1; 6:14).
3. O maior dos Profetas Menores.
4. As 8 visões foram dadas numa só noite.
5. “Assim diz o Senhor” ocorre 89 vezes.
6. “O Senhor dos Exércitos” ocorre 36 vezes.

MALAQUIAS
Título
Malaquias significa “meu mensageiro”, pode ainda ser, uma contração das
palavras hebraicas malak Yah que significa “mensageiro do Senhor”. É possível
que este não seja propriamente um nome, mas um título.

Autoria
Do profeta nada mais se sabe, senão o seu nome. Seus ancestrais não são
identificados, nem nenhum personagem de importância histórica, nem cidade
natal, cargo secular ou data de ministério.
Algumas versões antigas obscurecem a autoria. No Targum de Jonatas ben-
Uzziel são adicionadas as palavras “cujo nome é chamado Esdras, o escriba”. A
LXX traduz “Sentença do Senhor a Israel, pela mão de seu mensageiro”.141
Não há motivos sólidos para se negar a autoria de Malaquias pelo fato de
nenhum outro livro bíblico falar da família, ou função do autor, que se preocupou
mais em entregar a sua mensagem com fidelidade, do que apresentar uma
esclarecedora autobiografia.
Malaquias foi a voz profética final. Contemporâneo de Esdras, sacerdote e
historiador que escreveu antes e depois dele. Foi o último profeta para o povo da
antiga Aliança, ministrando cerca de 1.000 anos depois de Moisés.

Data
Malaquias é o último dos seis Profetas Menores não datados. Todavia,
pode-se chegar à data aproximada pelas referências históricas do texto:
1. Os edomitas tinham sido levados do monte Seir, mas não tinham voltado, o
que sugere uma posterior a 585 a.C. (1:3-4).
2. Os exilados tinham voltado, reconstruído o templo e caído no comodismo e
na formalidade ritualista (1:6 ss).
141
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 958.
117

3. Não estavam mais sob o governo de Neemias, mas sob domínio persa, que
era passível a suborno (1:8).
4. Os problemas morais e religiosos eram semelhantes aos enfrentados por
Esdras e Neemias. Por exemplo, materialismo (Ne 13:15 e Ml 3:5,9), e
casamento com pagãos (Ed 10:2 ss, e Ml 2:1 ss).
5. Essas observações sugerem uma data aproximada de 430 a.C.. Depois de
Neemias ter voltado para a Pérsia em 432 a.C., por um curto período, e que
estando ausente de Jerusalém, antes do seu retorno depois de 430 a.C. (Ne
13:6-31).

Contexto histórico e geográfica


O contexto histórico de Malaquias é o mesmo que Neemias. O rei era
Artaxerxes I, que então reinava sobre o grande império persa (465-424 a.C.).
A Palestina fazia parte da quinta satrápia. Embora Zorobabel tinha sido
escolhido para ser governante da Judéia em 537 a.C., e a data de sua morte seja
incerta, nenhum dos seus filhos foi designado para substituí-lo.
Neemias, pertencente a corte de Artaxerxes I, foi escolhido como
governador em 444 a.C., e exerceu o cargo até o seu retorno à Pérsia em 432
a.C. (Ne 5:14), e posteriormente retornou para a Judéia, encontrando desordem,
tendo que tomar rígidas decisões (Ne 13:6-31). O império Pérsia, sob reinado de
Artaxarxes I.

Contexto religioso
O templo havia sido reconstruído sob o governo de Zorobabel, em 516 a.C.,
o sistema de culto restaurado em 457 a.C. por Esdras, e o muro de Jerusalém
reconstruído, por Neemias em 444 a.C.. Todavia, a situação espiritual
predominante era de infidelidade, indiferença e ceticismo.

Propósito
Seu objetivo foi despertar o povo de sua indiferença, e repreendê-lo em sua
infidelidade, para que o Senhor os abençoasse.

Estrutura do livro
O livro segue uma estrutura de um diálogo imaginário entre Deus e a
situação de Judá. Este diálogo compõe-se de acusação, interrogação e refutação:
1. Reprovação contra a hipocrisia dos sacerdotes...... 1:1-2:9
2. Reprovação contra a infidelidade conjugal.............. 2:10-16
3. Reprovação contra a indiferença do povo.............. 2:17-3:6
4. Reprovação contra a infidelidade dízimo................ 3:7-12
5: Reprovação contra o ceticismo................................ 3:13-4:6

1. O amor de Deus por seu povo................................. 1:1-5


2. A infidelidade do povo............................................... 1:6-3:15
3. A esperança do futuro................................................ 3:16-4:6
118

Esboço
1. Tema e apresentação do profeta................................ 1:1
2. O amor incondicional por Israel................................ 1:2-5
3. A rejeição dos sacrifícios impuros............................. 1:6-14
4. A Repreensão dos sacerdotes..................................... 2:1-9
5. A infidelidade conjugal................................................ 2:10-16
6. O Dia do Julgamento.................................................. 2:17-3:5
7. A infidelidade nos bens.............................................. 3:6-12
8. O ceticismo sobre a justiça divina............................ 3:13-18
8. O Dia do Senhor......................................................... 4

Análise do conteúdo
Em Ml temos a profecia dentro da Lei. Reafirma verdades ensinadas pelos
profetas anteriores a si mesmo, quanto ao amor e providência divina, e
julgamento do impiedade e infidelidade. Sua apresentação tolerante recebe
severa condenação. Sua exortação final é “lembra-te da Lei de Moisés (4:4).

Fatos interessantes
1. Contemporâneo de Neemias (2:7; 3:1);
2. A última profecia refere-se explicitamente à João Batista e à Jesus (3:1-
3);
3. João Batista é realmente o único profeta que é objeto de qualquer
profecia;
4. A última palavra do AT é “maldição”;
5. De 55 versículos, Deus fala 47.

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