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Panorama do
Antigo Testamento
Curso de Teologia
2018
1
Introdução
1
Doravante será usada a abreviatura AT.
2
A última revisão do texto foi em 2008.
2
PENTATEUCO
8
Título
Geralmente esta seção do Antigo Testamento é comumente conhecido
como toráh (Lei). O substantivo toráh se deriva da raiz yarah, “lançar” ou
“projetar”, e significa orientação, lei, instrução. Edward J. Young observa que
como designação dos cinco primeiros livros da Bíblia, esse termo é empregado
em sentido mais restrito para destacar o elemento legal que forma tão grande
porção desses livros. Esse emprego do termo, porém, não exclui as seções
históricas ou de narrativa; antes, inclui-as, visto que formam o segundo plano
ou arcabouço apropriado para a legislação.8
Autoria do Pentateuco
O Pentateuco é uma obra contínua, completa, produzida por um só autor
inspirado. É possível que se tenha feito o uso de fontes orais e escritas sob
orientação divina.
10. Tuch foi quem deu expressão clássica à teoria. Deu ênfase a dois
documentos básicos, o E e o J, tendo datado o E no tempo de Saul, e o J no
tempo de Salomão. Representa uma volta a Teoria Documentária primitiva.
Segundo essa teoria, o documento básico, original era um só, o documento
E (elohista), combinado com um suplemento principal que era o documento
J (jeovísta) formavam a base para o Pentateuco. No decorrer dos séculos
novas adições foram feitas a estes documentos, terminando na
cristalização do atual conjunto de cinco livros. Todos estes críticos
negaram a autoria mosaica do Pentateuco.
11. Hermann Hupfeldt, em 1853, ensinou que, além do Deuteronômio,
havia três documentos contínuos que eram J,E1 e E2, combinados por um
único redator.
12. E. Riehm (1854) defendeu que os documentos contínuos eram quatro
e não três. Foi o primeiro a apresentar um quarto documento principal,
chamado D. A forma dos documentos seria E1, E2, J, D.
13. Reuss (1850) acreditava em cinco documentos principais J, E1, E2, d,
P. Foi o primeiro a sugerir o documento P como sendo documento básico e
também como sendo o último deles. Atribuiu ao tempo de Esdras como
data final da redação do Pentateuco.
14. Karl H. Graff, em 1865, afirmou a literatura de Êxodo, Levítico e
Números, não pertencia ao período de Josias, mas ao cativeiro babilônico.
Rejeitou o documento E1 como sendo um documento independente. Para
ele o E1 é igual ao P, um documento procedente do período do reinado de
Josias. Para Graff a ordem dos documentos seria P–histórico, E, J, D, P-
legal.
15. Abraham Kuenen (1869-1870) desenvolveu a teoria de Graff e a
difundiu, principalmente na Alemanha. Em sua obra “A Religião de Israel”
(1869) argumentou que o P-histórico não poderia ser separado do
documento P-legal. Sua teoria resultou em J, E, D, P.
16. Julius Wellhausen foi quem deu uma popular formulação literária à
teoria, em sua obra Die Composition dês Hexateuchs, em 1876. Com ele a
teoria adquiriu o nome de Graff-Kuenen-Wellhausen. Causou um grande
impulso ao criticismo moderno.
17. Herman Gunkel (1862-1932) e Hugo Gressmann (1877-1927)
posicionaram-se contra as tendências do wellhausenismo clássico. Os
grandes expoentes na crítica das fontes. Defendiam a necessidade de se
descobrir o Sitz im Leben (contexto vital). Comparação com a mitologia
antiga.9
18. Otto Eissfeldt em sua Einleitung in das Alte Testament (1934)
defendia a classificação da literatura do AT em vários gêneros e categorias.
Tenta traçar o desenvolvimento (a influência pré-história literária) dos
diferentes documentos. Propõem a existência de um documento L (fonte
leiga). Não possui uma concepção adequada da revelação, considera a
literatura do AT como de origem meramente humana.
9
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Pentateuco, p. 4.
11
Evidências Internas
Êx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.
Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).
Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx 34:10-26, o 2º
Decálogo.
Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até Moabe
(caminhada pelo deserto).
Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.
Dt 31:22 refere-se a Dt 32.
Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e palmeiras
(Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).
Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, e do
percurso do êxodo.
Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí uma noção
estrangeira da Palestina. Os termos usados para as estações, tempo,
fauna, flora são egípcios, não palestinos. O autor estava familiarizado com
15
Veja o “Esboço do Pentateuco”.
16
Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament, p. 50.
14
Evidências Externas
Livro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do Pentateuco Js
1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.
Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”
Expressões frequentes nos livros históricos: “lei de Moisés”, “livro da lei de
Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1Rs 2:3; 2Rs 14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1;
etc.
Evidências do NT
Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt 19:8; Mc
10:4-5.
O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23) como
fazendo parte da Lei de Moisés.
Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23; 13:38-39; 15:5,21;
26:22; 28:23; Rm 10:5,19; 1Co 9:9; 2Co 3:15; Ap 15:3.
17
Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos, p. 80.
15
Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares. O modo como
o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era
palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos
nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer
outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são
geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias,
5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus
dias.18
Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel
de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor,
historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que
exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era
preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível
a todos. Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta
árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua
ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse
escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo. 19Ele
mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9,
24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.
Unidade do Pentateuco
Unidade literária e textual
18
G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507.
19
Martinho Lutero apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira
biblioteca. A obra completa da edição alemã de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
20
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 52.
21
Oswald T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), pp. 12-14.
22
Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p. 11.
16
Unidade histórica
O Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve linear e
progressivamente. A ligação cronológica entre os cinco livros, transmite-nos a
ideia de que, é somente um livro de cinco capítulos. Podemos resumir a história
de Israel registrada no Pentateuco da seguinte forma:
1. Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si um povo.
2. Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar a terra de
Canaã.
3. Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhor os livrou.
4. Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.
Unidade temática
1. Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.
2. Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.
3. Em Lv vemos a santificação de Israel.
4. Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.
5. Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel
Divisões
O Pentateuco é uma unidade em cinco livros. Entretanto, entre os eruditos
liberais não há consenso quanto a isto. O pensamento crítico mais antigo
defendia que Dt não termina o Pentateuco, mas culmina com o livro de Josué.
Esta tese formulada por Julius Wellhausen e Gerhard Von Rad, é conhecida como
“Teoria do Hexateuco”(Gn+Êx+Lv+Nm+Dt+Js). Outro perspectiva crítica mais
recente defende que Dt é uma introdução teológica à subseqüente “História
Deuteronomística”. Segundo a “História Deuteronomística” o livro de
Deuteronômio faz parte de sequência de livros compilados por redatores.
Formulada por Martin Noth:
Esboço do Pentateuco23
O Pentateuco é formado por cinco livros que, juntos, abrangem um período
de tempo que se estende desde a Criação até a chegada do povo de Israel aos
limites de Canaã.
23
R.K. Harrison, Introdución ao Antiguo Testamento, vol. 2, p. 4.
18
Importância do Pentateuco
Aspecto social
O Pentateuco funcionou como uma constituição da teocracia de Israel.
Antes de refletir os costumes nacionais, o Pentateuco tencionou ditá-los. G.L.
Archer escreve que “estes seriam os alicerces morais e religiosos nos quais a sua
nação haveria de cumprir o seu destino”. 24 Quando Deus deu a Moisés a Lei, Ele
forneceu o princípio regulador que nortearia toda uma nação.
Aspecto científico
A origem do universo com um ato criativo de Deus. O movimento
Criacionista tem desenvolvido argumentos consistentes numa tentativa de
explicar cientificamente a origem do universo à partir de pressupostos bíblicos
encontrados, especialmente, no livro de Gênesis . Apresenta Deus como a
“primeira causa eficiente”. Como também transformações que podem ser
explicadas pelo evento de um dilúvio universal.
Aspecto teológico
Raízes do Cristianismo e judaísmo estão profundamente firmadas no
Pentateuco. Tudo se firma, ou tudo caí com a autoridade do Pentateuco. No
Pentateuco encontramos informações e pressupostos para o desenvolvimento da
teologia. A origem do universo, sobre a vida humana, pecado, “proto-evangelho”,
cerimonial, culto, nomes de Deus, aliança, início de Israel, etc.
Aspectos históricos
Esses livros são os únicos a traçar uma linha contínua a partir de Adão.
Todavia, não sua intenção apresentar uma história completa de todas as
gerações e raças, mas sim um relato altamente especializado da implantação do
reino teocrático no mundo. Não é mera história. Mas a história da redenção do
ser humano pecador. História especial com um motivo teológico por trás.
História apontando para Cristo.
Aspectos étnicos
Os livros do Pentateuco descrevem o começo e a expansão das divisões
raciais do mundo.
Aspectos proféticos
24
G.L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 508.
19
Propósito
Esta obra não é um mero ensaio literário, mas o registro histórico de uma
grande família, a descendência de Abraão. Toda a história gira em torno deste
povo. A sua identidade étnica se delineia nestes cinco livros. O Pentateuco
procura situar o povo de Israel dentro do mundo, especialmente em Gn,
apresentando suas origens e a origem dos povos que posteriormente viriam a
cruzar o seu caminho. Tal conhecimento da história nacional seria tão importante
para o povo no deserto, quanto para o povo já estabelecido em Canaã.
O Pentateuco foi escrito para apresentar o Deus que libertou o povo de
Israel. De modo que o povo pudesse adorar e obedecer a Deus, sabendo que Ele
é verdadeiramente o único Deus e que é poderoso, santo e glorioso.
GÊNESIS
Título
O título do Texto Massorético segue a prática hebraica de intitular a obra
com a primeira palavra, ou frase da mesma. O nome “Gênesis” procede da
Vulgata Latina (Gn 1:1 e 2:4) que por sua vez é uma transliteração da LXX. 25
Autoria
Não há nenhuma declaração direta quanto ao autor. Isto ocorre devido a
uma característica literária hebraica pois
a ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo
Testamento em particular e com as obras literárias antigas em geral. No
antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado,
limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais. A “literatura” era
mais uma propriedade comunitária que particular. 26
Jesus aponta Moisés como o seu autor (Jo 7:23). Vide* Autoria e Unidade
do Pentateuco
Gênero literário
É importante lembrar que Gênesis é uma obra narrativa hebraica. Um
trabalho que interessa diretamente os judeus, já que ela descreve a formação da
25
H.C. Leupold, Exposition of Genesis, p. 5.
26
W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 9.
20
Data
Segundo os arqueólogos, Moisés viveu num período da história conhecida
como “Idade do Bronze”, datado aproximadamente 1550-1200 a.C.. E muitas
datas tem sido sugeridas para a escritas do livro de Gênesis, as duas mais
relevantes são 1445 e 1290 a.C..
A data de 1445 a.C. é preferida por causa da evidência interna, que se
encontra no livro de 1 Rs 6:1. Esta passagem relata que Salomão iniciou a
construção do Templo no quarto ano do seu reinado sobre Israel, o qual “era 480
anos depois que os israelitas haviam saído do Egito”. Lembrando que o quarto
ano do reinado de Salomão foi aproximadamente 965 a.C., somando aos 480, o
resultado é que o livro tenha sido escrito cerca de 1445 a.C.27
Local da escrita
Gênesis foi, provavelmente, redigido durante a primeira parte da
peregrinação pelo deserto de Sim, enquanto procurava instruir Israel sobre as
verdades fundamentais divinas.
Extensão histórica
O livro de Gênesis abrange um período de tempo maior do que qualquer
outro livro da Bíblia. Sua narrativa inicia na “pré-história” e vai até o ano 2500
a.C.. Começa com a criação do universo e termina com a morte de José, e o povo
de Israel residindo no Egito.
Extensão geográfica
A ação geográfica do livro é do vale da Mesopotâmia até o vale do Nilo no
Egito. Essa área é chamada de “Fértil Crescente”.
Propósito
Propósito teológico
Foi escrito para revelar ao soberano Deus como Criador, Juiz e Redentor do
mundo, que escolheu o povo de Israel como canal de benção. 28 Apresenta Deus
como um Ser pessoal, com atributos e governando os acontecimentos nos seus
pormenores pela sua providência.
Propósito histórico
Fornecer uma cosmovisão da origem do universo.
Descrever raízes genealógicas até a entrada de Israel no Egito.
27
R.F. YoungBlood, The Book of Genesis, pp. 14-15.
28
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 4.
21
Esboço de Gênesis
O Começo da Humanidade...............................1:1-11:32
A Criação do Mundo...............................................1:1-2:3
O lugar do homem no mundo...............................2:4-25
A Queda e consequências......................................3:1-4:26
As Raças antediluvianas.......................................5:1-32
O Dilúvio..................................................................6:1-9:29
A posteridade de Noé.............................................10:1-11:32
29
W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 19.
22
A Vida de Abraão..........................................12:1-25:18
Chamado de Abraão...............................................12:1-14:24
Renovação e Confirmação da Aliança.................15:1-17:27
Ló é poupado em Sodoma....................................18:1-19:38
Abraão e Abimeleque.............................................20:1-18
Nascimento e casamento de Isaque.....................21:1-24:67
A Vida de Isaque e Sua Família....................25:19-26:35
Nascimento de Esaú e Jacó..................................25:19-28
Esaú vende a primogenitura a Jacó.....................25:29-34
Isaque e Abimeleque II.........................................26:1-16
A disputa em Berseba...........................................26:17-33
Os casamentos de Esaú........................................26:34-35
A Vida de Jacó..............................................27:1-37:1
Jacó no lar paterno................................................27:1-46
Jacó foge de Esaú..................................................28:1-22
Jacó com Labão na Síria......................................29:1-33:15
Retorno à terra de Canaã.....................................33:16-35:20
Os descendentes de Jacó e Esaú........................35:21-37:1
A vida de José...............................................37:2-50:26
José na Infância....................................................37:2-36
Judá e Tamar........................................................38:1-30
José promovido no Egito...................................39:1-41:57
José e o reencontro com seus irmãos..............42:1-45:15
José recebe Jacó no Egito..................................45:16-47:26
Últimos dias de Jacó e profecias finais............47:27-50:14
José garante perdão completo..........................50:15-26
Análise do Conteúdo
Gênesis se divide em duas partes principais: cap. 1-11 (a origem do mundo
e das nações) e cap. 12-50 (a origem de Israel). A primeira parte se refere à
história geral da raça humana, tendo uma perspectiva universal que é
relacionada de alguma forma com outras tradições orientais. A narrativa vai
progressivamente se estreitando até que a partir do cap. 12 a história da
humanidade em geral dá lugar à narrativa da história de Abraão e sua
descendência até o final do livro.
Fontes de Gênesis
Foram descobertos muitos escritos antigos do Oriente Próximo, que trazem
em si similaridades com as narrativas bíblicas. O Épico de Gilgamesh que contém
um épico Babilônico do Dilúvio, e a narrativa da criação conhecido como Enuma
Elish.30 Tais semelhanças são tão grandes que se levantou a questão de que tais
obras serviram de material de base para a edição de Gênesis. Vejamos algumas
propostas para a solução do problema:31
30
John H. Walton, O Antigo Testamento em Quadros, p. 80-81.
31
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 37.
23
Contribuições na Teologia do AT
1. Deus como soberano Criador.
2. Origem do pecado na raça humana altera radicalmente a criação original.
3. O julgamento de Deus se opõe ao pecado humano em todos os seus
aspectos.
4. Deus preserva, sustenta e governa a criação e os homens por sua graça.
5. Deus estabelece uma aliança, com seu povo. Elementos do
desenvolvimento da Aliança em Gênesis:
- Aliança da criação......2:15-17
- Aliança da preservação..9:8-17
- Aliança da promessa.....12:1-3.
6. Promessa messiânica
- à Adão e Eva............3:15
- à Sem...................9:25-27
- à Abraão................12:1-3
- à Judá..................49:8-12
Contribuição ao Cânon
1. Sem Gênesis não teríamos como saber nada sobre “as origens”.
2. Fornece um fundamento histórico, salvífico e teológico que unifica toda a
Escritura.
Argumentos bíblicos32
1. “No princípio Deus criou o céu e a terra”(Gn 1:1). A Bíblia começa com
Deus não propõe prová-lo, ou explicá-lo.
2. “Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de
maneira que visível veio a existir das coisas que não aparecem”(Hb 11:3).
3. Salvação e o testemunho de Jesus estão ligados intimamente com a criação
(Mc 13:19; Rm 5:12-15).
Argumentos da Teologia
1. Deus não age conforme a maneira proposta pela evolução (Mt 5:3-10).
2. A natureza do homem (criado à “Imagem de Deus”, diferente de outros
animais) argumenta contra o processo de evolução de criaturas baixas.
3. A consciência humana testemunha a verdade da criação (Rm 1:20).
Argumentos da Filosofia
1. A evolução é ilógica e impossível de ser defendida de maneira consiste.
2. A Evolução pressupõe a casualidade, mas “nada não pode produzir algo.”
a) O efeito não pode ser maior do que a causa.
b) O que não vive, não produz nada com vida.
c) O que falta de personalidade, não produz personalidade.
d) O que falta inteligência, não produz inteligência.
Argumentos da Ciência
1. A lei da termodinâmica diz que cada “sistema” do universo tende a se
gastar com o tempo, piorar, e a se tornar mais e mais caótico, não mais
ordenado e melhor.
2. Quanto às mutações. 99,9% de todas as mutações são prejudiciais. A
probabilidade de se ter uma série de mutações úteis é praticamente zero.
3. O crescimento da população mundial é de 2% ao ano. Se fosse uniforme,
então o mundo não aguentaria a população hoje. Se o mundo cresceu 2%
ao ano, e se a terra possuí alguns bilhões de anos, então onde estão todos
os fósseis de tantas pessoas?
4. Quanto aos fósseis, não há provas definitivas de nem sequer um elo
perdido! Tanto a teoria da Evolução como o relato da Criação exigem
“olhos da fé”. É impossível provar, cientificamente, um processo ou evento
que aconteceu há tantos anos atrás, porque ciência empírica exige a
experiência da observação, ou a prova da repetição.
Os “dias” de Gênesis 1
1. Só pela palavra hebraica yom é impossível calcular, gramatical e
textualmente, a sua extensão temporal.
2. O problema de Gn 1 não é exegético, mas hermenêutico. Isto significa dizer
que os pressupostos filosóficos de quem interpreta inevitavelmente
influenciará nos resultados.
32
Para informações mais detalhadas vide* David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 6.
25
A historicidade de Adão
A antiguidade da raça humana
A identidade dos “filhos de Deus”
A extensão do Dilúvio: universal ou local?
Fatos Interessantes
1. Gênesis é o quarto maior livro da Bíblia.
2. A sua narrativa é seletiva, e não inclusiva. É uma interpretação da história,
escolhendo os pontos salientes do desenvolvimento da história da salvação.
3. Os começos em Gênesis (o mundo, a raça humana, o casamento, a família,
o pecado, a promessa de redenção, a civilização, os idiomas e as nações, a
raça hebraica, o julgamento, a morte, a dor, o sacrifício, a poligamia, o
shabbath [descanso], o governo).
4. Respostas às grandes perguntas da alma (de onde veio o homem? Como
surgiu o pecado? Como pode o pecador voltar para Deus? Como pode o
homem agradar a Deus?).
5. O messias como semente da mulher (3:15); de Abraão (22:18); de Isaque
(26:4); de Jacó (28:14); de Judá (49:10).
6. Os grandes julgamentos sobrenaturais como a maldição sobre a queda (3);
o Dilúvio (6-9); a confusão de línguas (11:1-9); a destruição de Sodoma e
Gomorra (19:23-29).
ÊXODO
Título
O título em português deriva tanto da LXX, quanto da Vulgata Latina.
Ambas as versões se baseiam em Êx 19:1.
Autoria
A autoria mosaica é confirmada com a estreita conexão e unidade com os
livros restantes do Pentateuco. Neste livro, Moisés coloca-se como o personagem
principal (17:14; 24:4; 25:9; 36:1).
Extensão histórica
1. Narra período inicial da vida de Moisés: 40 anos no Egito.
2. Narra período preparatório de Moisés: 40 anos em Mídia.
3. Narra período êxodo com o povo de Israel: 2 anos (Êx 40:17)
26
Extensão geográfica
Descreve o período em que o povo de Israel esteve no deserto de Sim, na
península do Sinai, sendo preparado para ir à terra de Canaã.
Propósito
Propósito literário
Dar continuidade histórica entre Gn e o restante do Pentateuco. Isto se
percebe pela conjunção hebraica w (e)que aparece na primeira frase do livro.
Propósito histórico
Foi escrito para descrever o nascimento da “nação de Israel” que
eventualmente traria benção para o mundo, para combater a idolatria e revelar a
identidade do Deus de Israel (YHWH). Narrar como Deus livrou Israel da
escravidão e da idolatria no Egito, conduzindo-o a um lugar de destaque de povo
exclusivamente seu.
Estrutura do Livro
A libertação do Egito A entrega da Lei (20-34) A construção do
(1-19) Tabernáculo (35-40)
A libertação (1-12) As leis: civil, rituais,
moral (20-31)
A saída e jornada até Apostasia e retorno (32-
o Sinai 34)
Esboço
Livramento do Egito e jornada para o Sinai........1:1-18:27
1. Opressão dos hebreus no Egito..................1:1-22
2. Primeiros 40 anos de Moisés....................2:1-25
3. Chamado no monte Horebe........................3:1-6:27
4. Pragas e Páscoa................................6:28-13:16
5. Início do êxodo................................13:17-15:21
6. Jornada para o Sinai...........................15:22-18:27
Aliança no Sinai...................................19:1-24:18
Teofania no Sinai..............................19:1-25
Garantia da Aliança............................20:1-21
Livro da Aliança...............................20:22-23:33
Ratificação da Aliança.........................24:1-18
Instruções quanto ao Tabernáculo e aos cultos.....25:1-31:18
Tabernáculo e utensílios................25:1-27:21; 29:36-30:38
Sacerdotes e consagração......................28:1-29:35
Artesãos do Tabernáculo........................31:1-11
Observância do Shabath.........................31:12-18
Violação e renovação da Aliança....................32:1-34:35
1. Bezerro de ouro................................32:1-35
27
Cronologia
Há uma discordância entre os estudiosos de AT quanto à data do êxodo de
Israel. Aceitamos que a data do êxodo ocorreu aproximadamente entre 1440
a.C., todavia há outra data que concorre com esta datando o êxodo em 1290
a.C..33A data de 1290 a.C. esposada por alguns estudiosos é hipotética. Está
baseada na teoria de que Ramessés II (1292-1232) construiu as cidades-celeiros
de Pitom e Ramessés no Delta. Porém, esse ponto de vista está cria uma
dificuldade na cronologia bíblia. Se Moisés liderou o êxodo em 1290 a.C., então
entraria em desacordo a ocupação de Jericó e Canaã no final do século XV.
A data de 1440 a.C. é preferível pelas seguintes razões:
Contribuições na Teologia do AT
1. O nome de Deus é derivado do verbo hebraico haya [ser]. A expressão “Eu
sou o que sou” (Êx 3:14) indica o atributo divino de imutabilidade do seu
Ser na continuidade da Aliança de “Abraão, Isaque e Jacó” (Êx 3:6).
2. Que função tinha a Lei?
a. Ela declara o propósito divino no relacionamento de cada parte da
vida com a vontade soberana de Deus.
b. Indicava a escravidão da vontade humana ao seu egoísmo e interesse
próprio.
c. Demonstrar que o homem estava sob a condenação divina e
precisava depender de Deus para a sua salvação (o que era expresso
pelos sacrifícios).
33
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 139-152.
28
Fatos interessantes
1. A vida de Moisés se divide em três grandes períodos de 40 anos: Egito,
deserto e êxodo.
2. Descreve os primeiros milagres na Bíblia.
3. Instituição da Páscoa.
4. Narra a construção do Tabernáculo.
5. Os Salmos e os profetas olharam para trás e visam os eventos do êxodo
como o milagre mais impressionante na história de Israel.
Dificuldades de interpretação
O fato de Deus endurecer o coração de Faraó não elimina a sua
responsabilidade como um agente livre? A resposta a esta questão deve
harmonizar-se com o fato de que Deus prometeu endurecer o coração de Faraó
(7:3), mas não o fez contra a sua vontade (5:1-4). Por cinco vezes o
endurecimento é voluntário (7:13; 7:22; 8:15; 8:32; 9:7), só depois se diz que
Deus endureceu o coração de Faraó (9:12; 10:20; 10:27). Faraó ainda é
responsabilizado em 9:34.
Tipologia no Tabernáculo34
34
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 13.
29
As dez pragas35
Primeiro conjunto Segundo Terceiro Estrutura
conjunto conjunto
1. Água transformada 4. Moscas 7. Chuva de Moisés se apresenta
em sangue granizo a Faraó
2. Rãs enchem a terra 5. Gado 8. Gafanhotos Moisés “chega-se” a
morre Faraó
3. Piolhos 6. Feridas 9. Escuridão Moisés não vai a
Faraó
LEVÍTICO
Título
O nome do livro no original hebraico é “e Ele chamou...”. Entretanto, o
nome adotado nas traduções é ambíguo, já que “levitas” pode descrever (1) os
membros da tribo de Levi, como a casa de Arão, cuja descendência sacerdotal
desempenha um papel importante no livro; ou, (2) somente os oficiais menores
cuja função era servir aos sacerdotes.
Autoria
A autoria é confirmada no próprio livro pelo fato de o texto declarar
cinquenta e seis vezes: “disse o Senhor a Moisés”. Nenhum outro livro da Bíblia
tem uma confirmação tão acentuada da autoria mosaica quanto este. É também
um dos livros confirmados por Jesus como sendo de Moisés, conforme Mt 8:4.
35
W.S. LaSor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 74.
36
J.I.Packer, Merril C.Tenney & W. White Jr., op. cit., pp. 121-133.
30
Propósito
Propósito litúrgico.
Regulamentar quanto ao culto no tabernáculo e quanto à santidade na
vida. Israel tornara-se uma nação teocrática. A aliança fora ratificada com a nova
geração. O Tabernáculo erigido. O povo estava diante do Sinai. Antes do povo
prosseguir em sua jornada até a terra de Canaã, era necessário que
conhecessem as leis que os orientariam em sua adoração ao Senhor no
Tabernáculo, e o calendário com datas solenes.
Propósito teológico.
Revelar que a santa presença de Deus entre o seu povo exige uma
aproximação baseada em sacrifícios e a separação nacional de toda
contaminação e impureza.
Propósito pastoral
Convocar o povo de Deus para a santidade pessoal. Os muitos rituais são
usados como auxiliares visuais para retratar o Senhor como o Deus Santo, e para
enfatizar que a comunhão com o Senhor deve ser na base da expiação pelo
pecado e vida obediente.
Estrutura do Livro
A lei dos sacrifícios 1:1-
7:38
A consagração dos 8:1-
sacerdotes 10:20
A separação das coisas 11:1-
impuras 15:33
As exigências para a 16:1-
santidade 25:55
Recompensa: benção e 26:1-46
maldição
Os votos e os dízimos 27:1-34
Esboço
As leis dos sacrifícios............................................1:1-7:38
1. Oferta queimada (holocausto).................1:1-17
2. Manjares (cereal)........................................2:1-16
Análise do Conteúdo
Há cinco princípios básico que operam em todas as parte do livro. 37
1. Como povo singular de Deus, o Israel redimido deve: primeiro, conservar-
se puro, isto é, separado do mundo para servir e prestar culto ao único
Deus verdadeiro; segundo, conservar aberto o acesso a Deus, através da
propiciação substitutiva.
2. Visto que este acesso a Deus é possibilitado unicamente pela graça, o fiel
só pode comparecer perante Deus exclusivamente pelo meio que o próprio
Deus definiu. Portanto, todos os regulamentos quanto ao rito e ao sacrifício
tem de surgir da parte de Deus, não do homem.
3. Como povo santo, espiritualmente “casado” com o Senhor, Israel deve
abster-se de qualquer falta de castidade sexual, de qualquer violação dos
vínculos nupciais. Precisa afastar-se de qualquer contato com a corrupção
e a deterioração (inclusive cadáveres e doenças imundas).
4. Nada de corrupto, ou passível de rápida deterioração pode ser oferecido
como oferta a Deus. Isto exclui a levedura, o leite (que azeda rapidamente),
o mel (que fermenta), porcos (associados pelos pagãos com o culto às
divindades do inferno), roupas feitas de materiais diferentes (tais como a lã
com o linho, que tipificam uma mistura entre o santo e o profano).
5. O ano religioso é denominado pelo número sagrado 7 (simbolizando a obra
perfeita de Deus). Portanto, a cada sétimo ano é um ano de descanso para
a terra lavrada; depois de 7 vezes 7 anos, o quinquagésimo ano é
santificado como jubileu, no qual as terras hipotecadas tinham que ser
devolvidas aos seus donos originais; a Páscoa é celebrada no fim do
segundo período de 7 dias do mês de Abib, isto é, no fim do dia 14; a festa
37
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 158-159.
32
Contribuições na Teologia do AT
1. Os sacrifícios cumpriam uma dupla função. Eles estavam ligados à
manutenção do indivíduo como membro da sociedade teocrática que era
Israel. Assim, ele sobrevivia como membro da aliança se trouxesse
regularmente os seus sacrifícios (Lv 1:4; 4:26-31; 16:20-22). Por outro lado,
havia algum vislumbre de que Deus haveria de lidar com os efeitos
espirituais do pecado de maneira definitiva e, através da fé, havia uma
eficácia espiritual nos sacrifícios (Rm 3:25).38
2. A expiação por substituição. Se o transgressor quer salvar sua vida, a
expiação pelo pecado deve ser feita por substituição. O pecador deve
trazer uma oferta que será seu substituto. Ninguém pode ser seu próprio
salvador.
Contribuição ao Cânon
1. Revela a importância de santidade no povo.
2. Provê o sistema religioso para a nação.
3. Estabelece alguns padrões de relacionamento entre Deus e o homem.
4. Dá um profundo sentimento de horror ao pecado.
Fatos interessantes
1. Deus antecipou medicina em muitos pontos da lei.39
2. De todos os livros do AT, Levítico é o que encontra maior correspondência
tipológica no NT.
3. Deus decretou vários feriados para o povo de Israel.
4. Era o manual de instruções para os sacerdotes e levitas.
5. Os termos “imundo e impuro” não significam “cheio de pecado”, mas “não
adequado para estar na presença de Deus”. Não significa que a pessoa não
pode adorar a Deus, só que ela não poderia entrar no Tabernáculo da Sua
presença.
6. Enquanto os outros livros tratam mais de história, Lv refere-se quase
somente a leis (com exceção dos caps.8-10). A sua legislação é
primordialmente sobre ritos religiosos. Trata da organização espiritual do
povo, como Êxodo e Números tratam da organização civil, social e militar.
7. A santidade consumidora de Deus. O impuro não subsiste diante do
totalmente puro. O pecado é coisa séria. Implica em morte.
38
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 11.
39
Sobre este assunto veja S.I. McMillen, A Provisão Divina Para a Sua Saúde (São José dos Campos, Editora Fiel).
33
NÚMEROS
Título
O hebreus deram-lhe o nome de “no deserto...” devido ao ser a primeira
frase. Os tradutores da LXX chamaram-no de “números” por causa do censo
registrado nos capítulos 1-3 e 26.
Autoria
A autoria mosaica é confirmada:
No próprio livro por sua estreita conexão com Lv e Dt.
Pelas inúmeras afirmações “o Senhor falou a Moisés”.
Deus ordenou que Moisés registrasse (Nm 33:2).
Jesus atribui Lv à Moisés (Jo 3:14; 5:46).
Apóstolos atribuem autoria à Moisés (1 Co 10; Hb 3; 4; 10:28).
Extensão histórica
A narrativa de Nm começa com a ordem de fazer o recenseamento, cerca
de maio de 1444 a.C., e termina com uma assembleia às margens do Jordão,
pouco antes da morte de Moisés. A data de Abril para a segunda Páscoa é dada
retroativamente a fim de explicar a data opcional para celebrarem a Páscoa mais
tarde (Nm 9). A duração total dos acontecimentos de Nm é de 38 anos.
Extensão geográfica
1. Recenseamento e preparo para a marcha...............1-10.
2. Jornada até Cades-Barnéia. Missão de espionagem.....11-14.
3. Peregrinação no deserto em torno de Cades...........15-20.
4. Jornada em torno de Edom até as campinas de Moabe...36
Propósito
Propósito didático
Escrito para demonstrar à nova geração de Israel (pronta para entrar na
terra da promessa) as consequências da descrença e da desobediência, ou a
fidelidade ao Deus da aliança. O livro de Nm começa com um relatório sobre os
preparativos feitos para prosseguir a jornada.
Propósito teológico
Preservar um registro da paciência de Deus para com o povo que Ele
escolhera, e demonstrar que a redentora misericórdia divina não impediu que
34
Ele os castigasse severamente por causa dos pecados deles. Apesar de tê-los
redimido graciosamente, Ele não os libertou para uma vida fácil, permissiva e
independente.
Estrutura do livro
A estrutura aponta para o Referência
itinerário israelita40 bíblica
Preparo para a partida do Sinai 1:1-10:10
No deserto de Parã, em Cades-Barnéia 13:1-20:13
Jornada do Sinai até as planícies de 10:11-22:1
Moabe
Episódios nas planícies de Moabe 22-36
Esboço
Preparação para a jornada do Sinai.....................1:1-10:10
Censo do exército..........................................1:1-2:34
Censo e deveres dos levitas..........................3:1-4:49
Impureza é excluída do acampamento.......5:1-31
Nazireus..........................................................6:1-27
Tesouros dedicados ao Tabernáculo..........7:1-89
Levitas instalados no seu ofício...................8:1-26
Observância da primeira Páscoa anual.......9:1-14
Seguindo a coluna de nuvem.......................9:15-10:10
Do Sinai até Cades-Barnéia...............................10:11-14:45
Primeira parte da jornada............................10:11-36
Murmurações................................................11:1-15
Setenta anciãos profetizam.........................11:16-35
Julgamento contra Miriã e Arão................12:1-16
Recusa de entrar na terra de Canaã...........13:1-14-45
De Cades-Barnéia até as Planícies de Moabe.....15:1-21:35
Diversas leis..................................................15:1-41
Rebelião de Core..........................................16:1-17:13
Relacionamento entre sacerdotes e levitas.18:1-32
Água de purificação pela impureza............19:1-22
Morte de Miriã...............................................20:1
Moisés fere a rocha em Meribá...................20:2-13
40
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 91.
41
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 47.
35
Análise do conteúdo
A lição ressaltada em Nm é que o povo de Deus só pode avançar na medida
de sua disposição em confiar totalmente nas suas promessas, dependendo
totalmente da capacitação divina.
Fatos interessantes
1. Em Nm a narrativa histórica tem mais espaço que em Lv e Dt.
2. O livro de Nm descreve uma jornada de 40 dias que levou 40 anos.
3. Uma nação inteira morreu no deserto, com exceção de três homens:
Moisés, Josué e Caleb.
4. 38 anos de peregrinação são ignorados na história.
5. A palavra “número” ocorre 125 vezes neste livro.
6. Dois trechos extensivos no NT usam muito o livro: 1Co 10 e Hb 3:7-4:6.
7. Os líderes do povo de Deus tem grande responsabilidade como exemplos
para o povo (20:12) e recebem maior julgamento pela desobediência.
8. A federação das tribos de Israel: cada tribo possuía seu próprio exército e
estava estrategicamente disposta no acampamento. Todas as tribos
estavam sob a teocracia de Deus, sendo que o ponto de convergência das
tribos era o Tabernáculo. A “Lei de Moisés” era o princípio regulador da
nação. Os dias de festas religiosas serviam para renovar a lealdade tribal à
aliança e julgar questões de relevância nacional entre as tribos.
9. As cidades de refúgio (Nm 35:5-34).
DEUTERONÔMIO
36
Título
O título hebraico {yrbdh hL) (“estas são as palavras...”) segue a tradição de
se nomear os livros pela sua primeira frase. Deve-se observar que o título da LXX
e Vulgata Latina está baseado numa tradução incorreta de Dt 17:18. Não
corresponde ao fato, pois, segundo Dt 17:18 o rei deveria providenciar uma
cópia e não uma segunda lei.42
Autoria
Até recentemente, os críticos adeptos da Teoria Documentária afirmavam
que esse livro havia sido escrito no tempo de Josias (621). Esta teoria, porém, foi
posta de lado em razão do pouco acordo quanto à data, ou ao autor do livro.
A autoria mosaica tem forte apoio, tanto no próprio livro. À semelhança da
maioria dos escritores bíblicos, Moisés escreveu na terceira pessoa, referindo-se
a si mesmo 38 vezes neste livro. Pouco antes da sua morte, declarou que havia
escrito esta lei antes de entregá-la aos sacerdotes (DT 31:9, 24-26). Além das
muitas referências do AT à “Lei de Moisés”, há muitas confirmações de Jesus e
dos apóstolos (Mt 19:8; Mc 10:3; Jo 1:17; 5:46; At 3:22; Rm 10:5; 1Co 9:9).
As informações aparentemente discordantes da Lei em Êx e Dt não negam
a autoria de Moisés. Enquanto um pseudo-Moisés não se desviaria de Êx, o
próprio Moisés dificilmente apenas repetiria o original. As diferenças são devido
a novas circunstâncias que precisavam dessa posterior elaboração do código
sinaíta para as novas condições.
Data
Moisés especificou a data de 1 de fevereiro de 1405 a.C., quando reuniu o
povo para entregar este conjunto final de discursos (1:3). Apesar deste
pronunciamento ter sido feito, provavelmente, em diversas sessões, a expressão
“hoje” foi repetida 67 vezes em todo o livro.
Local da escrita
Na planície de Moabe (Dt 1:1). O povo estava próximo das margens do
Jordão, todos ansiosos em conquistar Canaã. Tendo já dominado a enorme área
da Transjordânia quase sem perdas humanas sob a direção do Senhor, estavam
prontos para o desafio à frente.
Propósito
Relembrar e motivar a nova geração a amar a Deus e obedecer à aliança
para receber a benção de Deus. O erudito exegeta Keil observou que
uma descrição, explicação e ratificação hortatória sobre o conteúdo mais
essencial da revelação e das leis da aliança, com proeminência enfática dada
ao princípio da lei e seu cumprimento, além de um desdobramento da
organização eclesiástica, judicial, política e civil, tencionada como alicerce
para a vida e bem-estar do povo na terra de Canaã .43
42
D. Ross, Isagoge do Antigo Testamento, p. 14.
43
Citado por Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 101.
37
Estrutura do livro
A estrutura básica de Dt divide-se em discursos contínuos:
Primeiro discurso: O passado e a fidelidade de Deus................1-4
Segundo discurso: As estipulações da Aliança.............................4:44-26:19
Terceiro discurso: Promulgação da Lei........................................27-28
Quarto discurso: Renovação da Aliança.....................................29-34
Esboço
Fidelidade do Senhor novamente lembrada........................1-4
1. Fracassos de Israel em Cades-Barnéis..................1
2. Vitórias de Israel na Transjordânia.......................2-3
3. Responsabilidades de Israel em Canaã.................4
Fundamentos da Lei reafirmados.....................................5-11
Decálogo e “Shemá” de Israel...................................5-6
Perigos de idolatria em Canaã...................................7-9
Deveres de amor e serviço ao Senhor.....................10-11
Funcionamento da Lei referente à vida em Canaã...........12-26
1. Leis cerimoniais..................................................12-16
2. Leis civis..............................................................17-21
3. Leis sociais...........................................................26
Cumprimento da Lei para permanecer em Canaã............27-30
1. Condições para a permanência em Canaã..........27-28
2. Renovação da Aliança............................................29-30
Determinações Finais......................................................31-33
Morte de Moisés.............................................................34
Contribuições na Teologia do AT
Em Dt há várias ênfases dominando os discursos:
1. A espiritualidade de Deus (4:12-16) e sua unicidade e unidade são
descritos (4:35, 39; 6:4; 7:9: 10:17).
2. O relacionamento entre Deus e seu povo sob a aliança, é mais de amor
do que de legalismo (4:37; 7:13; 33:3).
3. Para o que crê, o requerimento básico é amor para com Deus, e este
amor tem que ser o princípio básico da sua vida (6:5; 7:8; 10:12, 15;
11:1, 13, 22; 13:3; 19:9; 30:6, 16, 20).
4. A fidelidade à aliança recebe o prêmio de benefícios materiais. A
violação e o desrespeito serão acompanhadas por desastres e perdas
materiais (28-30).
5. A admoestação característica é: lembrai-vos, e não vos esqueçais! Israel,
longe de se dedicar a uma busca de “novas verdades” para tomar o
lugar das antigas, precisa guardar e obedecer a verdade revelada que
uma vez para sempre recebeu da fonte absoluta e imutável da verdade.
38
Fatos interessantes
1. O livro de Dt é um documento de renovação da aliança.
2. O Decálogo é repetido em Dt 5.
3. Contém 259 referências aos quatro livros anteriores de Moisés.
4. Ele é citado 356 vezes nos livros posteriores do AT.
5. Ainda é citado até 200 vezes em 17 livros do NT.
6. Jesus Cristo cita Dt cerca de 90 vezes.
7. A prova para falsos profetas: inerrância (18:20-22).
8. Moisés não entrou na Terra de Canaã na conquista, mas na transfiguração
(Mt 17).
9. Resumo dos cinco livros usando o seus nomes hebraicos:
- Gn 1:1 “No princípio...” .............. tudo foi feito
- Êx 1:1 “E estes são os nomes...” ...... que saíram do Egito
- Lv 1:1 “E ele chamou...” .............. para Sua santidade
- Nm 1:1 “No deserto...” ................ foram contados
- Dt 1:1 “Estas são as palavras...” ..... que devem lembrar
OS LIVROS HISTÓRICOS
A partir daqui a disposição dos livros da tradição TM difere da LXX, como
também das bíblias modernas. Os judeus denominavam o seis livros como os
“primeiros profetas” (Js, Jz, 1-2 Sm, 1-2 Rs), em contraste com os “últimos
profetas” (Is, Jr, Ez, e os doze menores). Os livros de Js, Jz, Sm, Rs são
conhecidos na TM como profetas anteriores. Por que profetas, se são históricos?
O título na TM refere-se mais ao conteúdo do que à forma. Estes livros narram a
história da nação teocrática desde a entrada na Terra Prometida até a dissolução
da teocracia no exílio babilônico. Estes “profetas anteriores” são continuação e
complemento ao Pentateuco. Também complemento e contexto histórico para os
“profetas posteriores”.
Atualmente a historiografia busca objetividade científica. Isto é
questionável. Como realmente pode-se ser objetivo sem ser influenciado, por
alguma premissa, ou informação que não seja uma interpretação anterior? A
historiografia do AT adotada aqui pressupõe que o que é apresentado é
totalmente verdadeiro, factual e teologicamente, mesmo que algumas questões
fiquem temporariamente sem respostas. O Dr. Roos declara que “o estudioso da
Bíblia é livre para suplementar (com novas hipóteses ou com achados
arqueológicos), porém, não suplantar o texto.”44
O povo israelita era um povo de memória. A “tradição oral” que era o
ensino e a história dos antepassados contados de geração à geração mostra o
zelo e a valorização do que aconteceu, com quem aconteceu, e como aconteceu.
44
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Profetas Anteriores, p. 1.
39
A história não era meramente repetida, mas contada como uma herança de
identidade. Clyde T. Francisco comenta que
os hebreus tinham gênio para contar a história, e a sua imaginação histórica
fez com que nos legassem os antigos acontecimentos duma forma viva e real.
Mil anos nos parecem como um dia, quando lemos as admiráveis narrativas
hebraicas com que embelezaram a sua história e os seus escritos. Possuem
uma clareza tal que apela a qualquer tipo de pensamento humano, a qualquer
classe, e o sentimento que permeia tais escritos é tão forte e profundo que
desperta o mais duro coração.45
JOSUÉ
Título
O nome hebraico Yehoshua equivale ao grego “Jesus”.
Autoria
Não há indicação objetiva no texto quanto ao autor. Também não há
indicação posterior na Escritura que atribua o livro à Josué. Entretanto, devemos
considerar algumas evidências sobre a autoria:46
1. Porções do livro afirmam ter sido escritas pelo próprio Josué (24:26);
2. O autor foi testemunha ocular dos acontecimentos. No envio dos espias,
na passagem pelo Jordão, na captura de Jericó e Ai, na aliança com os
gibeonitas, sugerem a participação ativa do narrador (5:1,6; 15:4; 7-8);
3. O fato de esse livro ser o primeiro dos “Primeiros Profetas” sugere,
como seu autor, alguém com dom ou cargo profético. Josué é provável
autor;
4. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué, reforça a
opinião de que tenha sido escrito pelo sucessor de Moisés e no seu
próprio tempo, mais do que por qualquer outra pessoa em época
posterior, que poderia ter continuado a história de fé até a época de
Otoniel, em Jz;
5. Todavia, em sua forma presente, o livro não pode ter sido inteiramente
escrito por Josué, pois registra a sua morte. Isto indica que Josué foi o
autor fundamental do livro, mas o texto Js 24:29-33 foi acrescentado
posteriormente por um redator, provavelmente Finéias (Js 24:33).
Gênero literário
Nas Bíblias protestantes Js é classificado como livro histórico por causa do
seu conteúdo histórico. Mas na Bíblia Hebraica (TM) ele é listado entre as obras
dos profetas.
45
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 68.
46
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 168.
40
Data
O livro foi escrito nos primeiros anos da conquista de Canaã. Evidências:
1. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (40 anos quando
espiaram Canaã, Js 14:7), é possível supor que Josué tenha começado a
comandar a Israel com a idade de 79 anos. Visto ter morrido com 110
anos, a sua liderança durou 31 anos (24:29). Sabemos também que a
conquista inicial durou 7 anos (14:7, 10).
2. Raabe ainda vivia (6:25).
3. Os jebuseus habitavam em Israel (18:16). Foram expulsos no tempo do
reinado de Davi (2Sm 5:5-9).
4. Cidades de Canaã recebem seus nomes antigos. Como Baalá, o nome de
Quiriate-Jearim (15:9), Quiriate-Sana, de Debir (15:49), Quirate-Arba, de
Hebrom (15:13).
5. O autor afirma que os gibeonitas “até ao dia de hoje” eram “rachadores
de lenha e tiradores de água para a congregação e para o altar do
Senhor” (9:27). Isso não seria possível nos dias de Saul, pois ele
massacrou os gibeonitas (2Sm 21:1-9).
6. Jerusalém não era capital de Israel (18:16,28).
7. A data pode ser calculada aproximadamente 1400-1375 a.C. Stanley A.
Ellisen esclarece que
As escavações arqueológicas de John Garstang determinaram que a
queda de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C. Documentos descobertos
em Tel-el-Amarna, no Egito, e em Ugarite, na Síria Ocidental, parece
confirmar a data de 1400 nas correspondências reais daquele período,
as quais se referem ao habiru em Canaã.47
47
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 69-70.
48
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 70.
41
Estrutura do livro
1. Conquista da terra........................ 1-12
2. Divisão da terra............................ 13-22
3. Despedida e morte de Josué....... 23-24
Contribuição ao cânon
A teoria do Hexateuco de Alexander Geddes e reformulada posteriormente
por Gehrard Von Rad, acrescenta Js ao Pentateuco. Segundo esta teoria o livro
de Js seria parte do Pentateuco, uma compilação de redatores posteriores ao
reinado de Josias. Entretanto, devemos considerar algumas evidências
contrárias:50
49
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 71.
50
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 166-167.
42
Dificuldades de interpretação
Deus ordenou que Israel exterminasse os habitantes de Canaã? Para
respondermos esta pergunta devemos levantar algumas considerações:
1. A destruição foi um ato de juízo divino sobre um povo pecaminoso,
sendo os hebreus considerados os executores do decreto divino. O
sistema religioso e a cultura estavam fadados por si mesmos à
destruição.
2. A religião de Canaã tinha se tornado num politeísmo abominável diante
de Deus. Ellisen observa que “a adoração ao sexo demoníaco e aos
ídolos de guerra refletiam uma sociedade permeada da mais grosseira
imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que os seus
templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas
prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual
comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a
idolatria do Egito e Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em
tão profunda vulgaridade e brutalidade.”52
3. Se Israel continuasse seu convívio normal com os habitantes de Canaã,
certamente, teria se corrompido com a crueldade, a idolatria e a
imoralidade cananita. Os idumeus eram descendentes de Esaú, os
Moabitas e Amonitas descendiam de Ló, todavia, eram povos que apesar
de terem a sua origem direta na família de Abraão, haviam se
corrompido. Os povos que foram poupados para trabalho escravo entre
o povo de Israel, posteriormente, induziram Israel ao pecado.
Fatos interessantes
1. O longo dia de Josué (10:12-14).
2. Raabe, a prostituta, está incluída na linhagem messiânica de Jesus;
3. Três campanhas de guerra resultaram na derrota de sete nações com
31 reis;
4. Temas repetidos:53
- “Sê forte e corajoso” (1:6,7,18; 8:1; 10:8; 11:6; 23:6)
- Para cumprir a lei (1:7-9; 8:32; 23:6; 24:1; 24:20)
51
Flávio Josefo, Contra Ápio in: História dos Hebreus (Rio de Janeiro, CPAD, 1990), p. 712
52
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 75.
53
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 25.
43
JUÍZES
Título
O título do livro tem base no modelo de governo da época. O significado
desta palavra em hebraico é mais amplo que o conceito forense em português.
Talvez, uma tradução melhor seria “libertadores”. O título descreve algumas das
características de líder militar:
1. Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar.
2. Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil.
3. Não era escolhido pelo povo, mas levantado por Deus, o legislador da
Lei.
4. Não era um governador vitalício. Não estabelecia dinastia ou uma
família governante.
Autoria
O criticismo liberal defende que Jz é uma compilação de diversas fontes.
Teria originalmente sido escrito por J e E, posteriormente alterado pelo redator
de JE. Depois da queda de Jerusalém houve a edição deuteronomista (influência
de D) do livro. Portanto, o livro em sua forma final seria uma obra pós-exílica.54
A tradição talmúdica atribuí a autoria à Samuel:
1. Ele era escritor e educador (1Sm 10:25).
2. A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul, quando
Samuel ainda julgava, antes do nome de Jebus ter sido mudado para
“Jerusalém” (Jz 1:21; 19:10).
3. A tradição talmúdica (Baba Bathra, 14b) declara que “Samuel escreveu
o livro que tem o seu nome, e o livro de Juízes e Rute”.
Data
As evidências internas indicam algum período na monarquia primitiva,
antes da tomada de Jersusalém por Davi. Aproximadamente 1043-1000 a.C..
Evidências internas para a antiguidade livro:
1. A expressão “naqueles dias não havia rei em Israel”, indica que o livro
foi composto antes da divisão em dois reinos, não menciona Judá, como
reino do sul.
2. Os jebuseus ainda residiam em Jerusalém (Jz 1:21). Foram expulsos no
reinado de Davi (2 Sm 5:6).
54
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 174-175.
44
Propósito
Propósito histórico
Narra a desordem social. Embora houvessem juízes, este foi um período em
que “cada um fazia o que achava mais reto”(Jz 21:25).
Propósito didático
Preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este
não tinha um líder nacional, e enfatizar a sua necessidade de um rei teocrático.
Os fracassos preparam caminho para a monarquia. Os muitos ciclos de fracasso
e castigo salientam repetidamente a verdade deuteronômica de que o abandono
da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da servidão e o caos.
Estrutura do livro
1. Introdução de transição......1:1-2:5
2. História dos juízes..........2:6-16:31
3. Apêndice: corrupção..........17-21
Análise do conteúdo
Clyde T. Francisco oferece-nos uma excelente análise do livro
o assunto principal do livro começa com o capítulo 3 e vai até o 16.
Encontramos 13 juízes até aqui, sendo os mais notáveis: Eúde, que matou o
rei de Moabe, Eglom; Débora, que derrotou Sísera; Gideão, o conquistador
dos midianitas; Jefté, o homem do voto louco; Sansão, o rapaz das grandes
bravatas. Os restantes capítulos –17-21- não seguem a ordem cronológica do
capítulo 16. Os capítulos 17-18 relatam-nos a migração da tribo dos danitas
(Dã) e o caso de Mica e sua imagem, enquanto 19-21 nos descrevem a quase
destruição da tribo de Benjamim e, posteriormente, a busca de moças
necessárias para os 600 benjamitas que tinham escapado com vida da luta
fraticida.55
Os grandes Os pequenos
juízes juízes
Otniel Sangar
Débora- Tola
Baraque
Jefté Jair
Eúde Ebsã
Gideão Elom
Sansão Abdom
Cronologia
A cronologia de Jz apresenta algumas dificuldades. Segundo o AT, o total de
anos do período dos Jz é de 410 anos. Conforme 1 Rs 6:1 passaram 480 anos
entre a saída do Egito e o início do reinado de Salomão. A saída do Egito ocorreu
no século XV a.C., e o início da monarquia aconteceu no século XI a.C.. Tirando
os 410 anos (Jz) dos 480 anos, sobra 70 anos, o que é pouco para todos os outros
eventos que aconteceram. Propostas para solução:
1. Houve períodos de co-regência entre os juízes. Alguns dos juízes foram
contemporâneos. A maioria, senão todos, governaram apenas parte das
tribos ao mesmo tempo. Como foi o caso de Israel sendo subjugados pelos
amonitas e filisteus simultaneamente (Jefté e Sansão).
2. O texto apresenta interesse didático. O autor de Jz não teve preocupação
em expor numa ordem rigidamente cronológica, embora não a despreze,
mas o arranjo do livro enfoca a fragilidade da fé dos israelitas, nos diversos
governos dos juízes, em diferentes tribos.
Fatos interessantes
1. O livro de Jz é um dos livros mais tristes da Bíblia, apresentando o
“período do obscurantismo” do povo de Israel.
2. A época dos juízes foi um dos períodos mais longos da história de Israel.
3. A falha em cumprir completamente as instruções de Deus a respeito dos
pagãos (Dt 7:1-6) levou o povo ao pecado, à escravidão, e à derrota.
4. A conquista de Josué foi geral. Deus deixou algumas nações em Canaã
para provar a obediência e fé de seu povo (3:1-4).
5. A história é marcada por ciclos de falhas:
- Apostasia (pecado, corrupção interna)
- Punição/escravidão (opressão externa)
- Arrependimento
- Livramento seguido por um período de descanso.
46
RUTE
Título
O nome Rute significa amizade, uma característica muito aguçada da
personagem principal.
Autoria
Entre os críticos liberais é quase por consenso que o livro tem uma datação
pós-exílica. Muitos deles entendem como tendo sido escrito em oposição às
medidas de Esdras e Neemias contra os casamentos mistos. Vejamos alguns
argumentos destes críticos:57
1. No cânon hebraico, o livro de Rt não se encontra junto com os primeiros
profetas, onde também se encontra Jz e, sim, com os livros da terceira
coleção chamados poéticos. Dizem tais críticos que foram os últimos a
serem canonizados.
2. A influência do aramaico é notório no estilo do autor, o que indicaria um
autor influenciado pelo exílio babilônico.
3. Em 4:7 o autor menciona o costume de descalçar o sapato, para confirmar
um negócio, costume este, aparentemente, não praticado entre o povo de
Israel, quando o livro foi escrito.
4. O estilo poético do livro marcado pela simplicidade e beleza pastoril,
sugere que temos aqui uma idealização do período dos juízes.
Gênero literário
Entre os críticos o livro de Rt é entendido de muitas maneiras diferentes,
até como lenda popular ou como novela! R.H. Pfeiffer baseando-se nos
57
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 353.
47
Data
A questão da data está diretamente vinculada à questão da autoria do livro.
Assim, como a autoria, é difícil identificar explicitamente a data da redação do
livro.
As evidências linguísticas dão alguma pista. A linguagem e o estilo de Rt
são puros, clássicos, em nível semelhante a Sm. Via de regra, o hebraico clássico
implica em data da monarquia unida entre os reinados de Saul à Salomão.
Afirma-se também que a menção do rei Davi pelo nome implica num
período de redação obviamente não anterior ao reino davídico. Nenhum outro rei
é mencionado, nem mesmo Salomão. Para alguns, isto é indício que o livro não
foi escrito no período de Salomão. Assim, a conclusão mais segura é que este
livro foi composto no início, ou durante o reinado de Davi. Os comentaristas
judeus apontam o ano de 973 a.C. como marca em seu calendário. 60
Propósito
Propósito histórico
O comentarista David Atkinson observa que
o que está claro é que, através de sua leitura, aprendemos algo da vida rural
do século XI ou XII a.C. na Palestina, a rotina do dia-a-dia, a necessidade do
trabalho, as alegrias familiares, a dor da morte, a separação dos parentes, o
relacionamento com a sogra. E, na ilustração de pureza, inocência, fidelidade
e lealdade, dever e amor, o escritor deseja que os seus leitores percebam a
mão de Deus, que cuida, sustenta e provê.61
Propósito teológico
A história seria o cenário para mostrar a graça divina salvando uma gentia
moabita, de origem tão vergonhosa (Gn 19:30-38), enxertando-a na Aliança,
fazendo dela uma ancestral do Messias (Rt 4:13-22; Mt 1:5). Davi teria em sua
árvore genealógica Raabe, a prostituta, uma cananita, e Rute, a moabita. “O livro
pode servir ainda para firsar que a verdadeira religião é supranacional e não se
limita às fronteiras de qualquer país.”62
Estrutura do livro
Primeira sugestão de estrutura:
1. A peregrinação de Rute.................. Rt 1
2. Encontro de Rute e Boaz............... Rt 2
3. Rute apela a Boaz............................. Rt 3
4. O casamento de Rute com Boaz... Rt 4
Esboço
Análise do conteúdo
61
David Atkinson, A Mensagem de Rute, pp. 25-26.
62
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 355.
49
Fatos interessantes
1. Não há a ação sobrenatural divina no decorrer da história, como ocorre em
Juízes; Rute é uma das 4 mulheres na genealogia de Jesus (Mt 1:5).
2. Os moabitas eram os descendentes da união incestuosa de Ló com sua filha
(Gn 19:33-37).
3. Boaz era filho de Raabe, a prostituta de Jericó (Js 2:1; Mt 1:5). Desta forma
Davi, o bisneto de uma moabita, e trisneto de uma cananita, demonstrou
mais ainda a graça de Deus.
4. A lei levita do parente-remidor exigia que o parente tomasse a viúva como
esposa e desse filhos ao seu falecido irmão (Dt 25:5-10; Lv 25:25-31).65
5. Este livro é anualmente lido pelos judeus na Festa de Pentecoste.
1 e 2 SAMUEL
Título
No TM o livro é uma unidade, mas a LXX os dividiu em dois. Desta forma, a
versão grega do AT encontramos os livros de 1 e 2 Rs com o nome de “terceiro e
quarto Livro dos reinos”. A Vulgata seguiu a LXX na divisão dos livros. O livro de
Sm da TM ficou sendo 1 e 2 Rs na Vulgata.
63
Joyce W. Every-Clayton, Em Diálogo com a Bíblia: Rute, p. 11.
64
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 205-206.
65
Para um estudo mais detalhado do assunto veja Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 87.
50
Autoria
Samuel deve ter escrito ao menos a primeira parte do livro (1Sm 10:25).
Mas certamente não escreveu tudo. Sua morte é relatada em 1Sm 25:1 e 28:3.
Há também narrativa de acontecimentos que foram posteriores à sua morte.
A tradição judaica no livro Baba Bathra 14b/15a é do parecer que a
primeira parte livro foi escrita por Samuel, e o restante pelos profetas Gade e
Nata (1Cr 29:29). Young propõe que “os livros de Samuel foram compostos sob
inspiração divina por um profeta, provavelmente da Judéia, que viveu pouco
depois do cisma, o qual encorporou em sua obra material escrito já existente”. 66
Gênero literário
O caráter e veracidade histórica desses livros podem ser verificados no fato
de serem aludidos em outras porções da Bíblia. Referências aos eventos dos
livros de Sm são encontradas em 1Rs 2:27, em 1Cr, em Jr, e no Salmo 17. Cristo
fez menção ao fato de Davi ter comido dos pães da proposição (1Sm 21:6; Mt
12:3). O apóstolo Paulo apresenta um resumo do conteúdo de Sm em At 13:20-
22.
Os autores de 1 e 2 Sm indicam uma de suas fontes utilizadas:
1. Livro dos Justos...... 2Sm 1:18
2. A tradição oral
3. Testemunho ocular
Data
Os estudiosos mais conservadores datam entre 930-922 a.C., o início da
monarquia dividida. Outros preferem 722 a.C. no período da queda de Samaria e
do Reino do norte. Devemos observar algumas evidências:
1. A pureza do hebraico indica uma época bem primitiva, mas podemos
admitir que passaram alguns anos, antes de serem escritos.
2. A explicação de termos arcaicos, como em 1Sm 9:9, e a referência de
costumes obsoletos, como em 2 Sm 13:18, do mesmo modo que a fórmula
“até hoje”, em 1Sm 5:5, 6:18, 27:6, 30:25, 2Sm 4:3, 6:8, 18:18 indicam que
algumas gerações se passaram até a escrita do livro.
3. Em 1 Sm 27:6 aparentemente a divisão da monarquia já começara quando
o livro foi redigido. O autor faz menção aos “reis de Judá” (1Sm 27:6).
Consequentemente a forma final do texto não se completou antes da
divisão dos dois reinos.
4. Apesar de não mencionar a morte de Davi, as palavras finais do livro
parece implicar no conhecimento do acontecido.
66
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 184.
51
Situação histórica
Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período do
nascimento de Samuel até o fim do reinado de Davi. O livro de Sm faz a ligação
necessária entre o período dos juízes e o início da monarquia. Narra a “época de
ouro” de Israel.
Contexto religioso
O tabernáculo e a arca estiveram em Silo, 14 km ao norte de Betel, desde
os tempos de Josué até os de Eli. Quando na ocasião da morte Eli a arca foi
roubada, esses dois itens principais do sistema religioso de Israel ficaram
separados e assim permaneceram durante 75 anos até que Davi fez com que a
arca voltasse em 1000 a.C.
Propósito
Propósito histórico
Apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde um estado de
anarquia até um estado de monarquia teocrática. Samuel foi ao mesmo tempo
juiz (1Sm 7:6,15-17) e profeta (1Sm 3:20). Ele serviu para fazer essa transição do
período dos juízes com o início da monarquia.
Propósito teológico
Foi escrito para demonstrar as consequências da obediência e
desobediência à Aliança durante a monarquia, segundo a fidelidade de Deus à
mesma. O motivo dominante é a glória é a glória e o poder de uma nação que
corresponde ao Senhor soberano.
Estrutura do livro
1. A vida Samuel...............................................1Sm 1-7
2. Ministério de Samuel e reinado de Saul....1Sm 8-15
3. Reinado de Saul e origem de Davi.............1Sm 16-31
4. Triunfo de Davi sobre a casa de Saul........2Sm 1-8
5. Reinado de Davi...........................................2Sm 9-20
6. Apêndice........................................................2Sm 21-24
Análise do conteúdo
Houve duplo preparo para a monarquia.
Período de confusão e desorientação com os juízes.
Necessidade de um bom rei diante da séria ameaça dos filisteus.
Fatos interessantes
52
1 e 2 REIS
Título
Os livros de Rs eram primariamente um só livro. Tal divisão aparece pela
primeira vez na LXX, depois seguida por Jerônimo na sua Vulgata Latina. Os
judeus não reconheceram a existência desta divisão, mas a adotaram mais por
motivos de facilidade de referências que por estarem convencidos de que se
tratava de dois livros.67
Autoria
Em Baba Bathra 15a está escrito “Jeremias escreveu o seu próprio livro, o
livro de Reis, e Lamentações.”68 Esta tradição é muito atraente, pois, há muita
semelhança entre o livro do profeta Jeremias e Reis. Notemos algumas
evidências:
1. Há muitas semelhanças entre Jr 52 e 2Rs 24-25.
2. A ênfase dos livros sugere o ponto de vista dos profetas.
3. Era um homem de notável capacidade literária.
4. Jeremias que é descrito nos capítulos finais, pode muito bem ter sido seu
autor.
5. O último capítulo não foi escrito por Jeremias, sendo um acréscimo
posterior por alguém que morava na Babilônia, e não no Egito, onde
Jeremias morreu exilado;
Gênero literário
O autor como um historiador fez consultas e menciona o uso de fontes
escritas anteriores. Provavelmente estes “livros” fossem arquivos e anais oficiais
do reino:
1. Livro da História de Salomão................ 1Rs 11:41
2. Livro da História dos Reis de Judá........ 1Rs 14:29; 15:7,23; etc
67
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 93.
68
D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento II, p. 11.
53
Data
A data mais provável é antes de 560 a.C.. Archer observa que
a composição final tem que ser datada depois da queda de Jerusalém,
provavelmente no começo do Exílio; mas é possível que só o capítulo final
pertença à época do Exílio, sendo que a frase, que frequentemente ocorre,
“até ao dia de hoje”, pelo livro afora, indica inconfundivelmente uma
perspectiva pré-exílica.69
Extensão histórica
Os acontecimentos de 1-2 Rs estendem-se desde a morte do rei Davi, até o
cativeiro de Ezequias, o último rei de Judá. No último capítulo há ainda uma
referência à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando Evil-Merodaque
começou a reinar na Babilônia.
O período de Salomão a Zedequias é conhecido como o período do Templo
de Salomão, estendendo-se desde a construção até a sua destruição por
Nabucodonosor.
Propósito
Propósito histórico
Relatar a história da teocracia até o seu final no exílio babilônico. O relato
vai desde as últimas palavras de Davi até o final exílio babilônico.
Propósito didático
O autor narra e julga cada rei por sua conformidade ou inconformidade
com a lei de Deus. Dá ênfase ao fato de que todo pecado traz as suas
consequências, e que a fé e a justiça triunfarão finalmente. Mostra a sua
apreciação pelas reformas sociais.
Propósito teológico
Escrito para motivar o povo de Judá, antes e depois do cativeiro babilônico
a ser fiel à Aliança de Deus, porque Ele mesmo é paciente e fiel à Aliança.
Estrutura do livro
1. Transição: morte de Davi e sucessão de Salomão.... 1Rs 1-2
2. Reino unido sob Salomão............................................. 1Rs 3-11
3. Monarquia divido: Reino do Norte e do Sul.............. 1Rs 12- 2Rs 17
4. Reino de Judá (do Sul)................................................... 2Rs 18-25
69
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 215.
54
Análise do conteúdo
Os livros de 1 e 2 Rs apresentam uma combinação de cronologia com
julgamentos religiosos. Os episódios dos dois reinos são relatados de forma
paralela e contínua. Mostra através de contrastes e comparações o declínio e o
cativeiro dos dois.
O autor do livro segue uma metodologia rígida. Narra-se o reinado de um
rei até o fim, e então, todos os reis do outro reino durante aquele período.
Depois, dá a sua opinião a respeito do reino, discutindo vários aspectos e
acontecimentos. Finalmente, menciona as fontes de onde tomou as suas
informações, onde o rei foi sepultado e quem reinou em seu lugar.
Parece haver um certo “favoritismo” para o reino de Judá. Entretanto, a
preocupação maior é com o culto em Jerusalém. Os reis de Judá que defenderam
a monoteísmo, mas toleraram o baalismo, são censurados. Dos reis de Israel
(exceto um) é dito que agiram mal. É preciso lembrar que o Messias sairia de
Judá.
O complemento histórico de 1 e 2 Rs é feito pelos livros de Crônicas e os
livros proféticos, especialmente Jeremias.
Fatos interessantes
1. Houve 19 reis e 9 dinastias em Israel, e 20 reis e 1 só dinastia em Judá.
2. A idolatria que começou com Salomão (suas esposas) aumentou cada vez
mais, e só foi eliminada no cativeiro babilônico.
3. Eliseu pediu porção dobrada do espírito de Elias (2Rs 2:9). Há exatamente
doze milagres seus registrados, e seis de Elias.
4. Os profetas do reino do Norte: Elias, Eliseu, Amós e Oséias; os profetas do
reino do Sul: Obadias, Joel, Isaías, Miquéias, Naum, Sofonias, Jeremias,
Habacuque.
5. Os livros de reis:70
a. Começam com o rei Davi e terminam com o rei da Babilônia.
b. Começam com a construção do templo e terminam com a sua
destruição.
c. Começam com o primeiro sucessor de Davi ao trono (Salomão) e
terminam com o último sucessor, Joaquim, libertado do cativeiro pelo
rei da Babilônia.
70
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 36.
55
1 e 2 CRÔNICAS
Título
No TM o título literal é palavra dos dias, podendo significar também livro
dos eventos. Na LXX a tradução literal seria coisas omitidas, se referindo à
alguns assuntos que foram omitidos em Sm e Rs. A Vulgata apenas translitera da
LXX o seu título. A divisão de Cr em dois livros veio com a LXX. Esta divisão foi
introduzida na Bíblia Hebraica um pouco antes da Reforma do século XVI.
Autoria
A obra é anônima. Mas a tradição talmúdica Baba Bathra 15a atribuí a
autoria à Esdras. Algumas evidências da autoria de Esdras:71
1. A linguagem das Cr precedem a época de Esdras, segunda metade do
século V a.C., provavelmente entre 450-425.
2. O estilo literário, o ponto de vista sacerdotal e o objetivo claro são
coerentes com Esdras.
3. Note-se que os últimos versículos de 2 Cr são os primeiros versículos do
livro que leva o nome desse profeta posterior, o que sugere uma
continuação natural entre as duas obras.
Fontes
O cronista menciona muitas de suas fontes. Talvez, haja mais do que as
mencionadas. Mas certamente a maior fonte é o texto canônico de Sm-Rs.
1. Livro das Crônicas do rei Davi.........................1Cr 27:24
2. Crônicas de Samuel, o vidente..........................1Cr 29:29
Crônicas de Natã, o profeta
Crônicas de Gade, o vidente
3. Livro da História de Natã, o profeta................2Cr 9:29
Profecia de Aias
Visões de Ido
4. Livros de Semaías, profeta.................................2Cr 12:15
Ido, vidente
4. História do profeta Ido......................................2Cr 13:22
5. Livros dos reinos de Judá e Israel....................2Cr 16:11
6. Livro da História dos Reis................................2Cr 24:27
7. Livro da História dos Reis de Judá e Israel....2Cr 25:26
8. Visão do profeta Isaías......................................2Cr 26:22; 32:32
9. História dos Reis de Israel................................2Cr 33:18
10. História de Hozai.............................................2Cr 33:19
11. Tradição oral.
Data
71
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 402.
56
O livro termina com o edito de Ciro, em 538. Logo, não deve ser anterior ao
decreto persa. Foi escrito logo após a volta do exílio, a fim de proporcionar um
fundo teocrático para as exortações de Esdras e Neemias. O ano 500-430 a.C.,
aproximadamente seria o mais provável.
Extensão histórica
A história abrange da criação até Ciro, rei da Pérsia (538 a.C.). O seu
alcance cronológico é, portanto, maior do que qualquer outro livro da Bíblia,
desde Gênesis até Malaquias. Quando os livros de 1-2 Cr foram escritos, Judá já
não era uma monarquia, e sim apenas um pequeno grupo de exilados que tinham
retornado da Babilônia sob vassalagem persa. Ellisen observa que
os judeus não deixaram de exercer influência sobre o império persa nessa
época. Daniel chegara à posição de primeiro-ministro, tanto no império
Babilônico de Nabucodonosor como no império Persa de Ciro (Dn 2:6). Ester e
Mordecai chegaram a ser, respectivamente, rainha e primeiro-ministro do
império persa na época de Assuero, pai de Artaxerxes I Longímano, que
reinou na época de Esdras. Eles exerceram grande influência no império a
favor dos judeus.72
Propósito
Propósito didático
Estabelecer a auto-compreensão da comunidade pós-exílica como uma
entidade essencialmente religiosa, centralizada nas instituições divinas do
Templo e da dinastia davídica.
Propósito histórico
O objetivo histórico dos livros não era continuar a história de Israel a partir
do final de 2Rs, mas apresentar de maneira sucinta toda a história sob a
perspectiva divina. Em vez de começar com Samuel ou Abraão, o cronista o faz
com Adão. Nessa retomada da história, omite dos livros de Sm e Rs muito do
conteúdo referentes a guerras, política e até mesmo aos pecados do povo. Os
livros são uma “revista a história de Israel desde a aurora da raça humana até o
Cativeiro na Babilônia, e o Edito da Restauração.”73
Estrutura do livro
1. 1Cr 1-9....... Genealogia de Adão-Davi
2. 1Cr 10-29..... Reinado de Davi
3. 2Cr 1-9....... Reinado de Salomão
4. 2Cr 10-36..... História de Judá até o edito de Ciro
Análise do conteúdo
A história pré-davídica é narrada somente nas genealogias. Não há relato
dos acontecimentos que ocorreram neste período no livro de Cr. A cronista
72
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 118.
73
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 348.
57
Fatos interessantes
1. Toda a história do Reino do Norte é omitido.
2. Os livros de Rs apresentam o aspecto político da época, enquanto 1 e 2
Cr apresentam o aspecto sacerdotal do mesmo período.
3. O foco de Cr é: Judá.- Davi - Templo.
4. Cobre um período mais abrangente do que qualquer outro livro do AT
(Adão-Ciro).
5. Na Bíblia Hebraica são os últimos livros.
ESDRAS
Título
Na LXX o livro de Ed possuí o título de segundo Esdras (Ed+Ne).
Entretanto deve-se notar que o primeiro Esdras na LXX é um livro apócrifo.74
Autoria
Algumas considerações necessitam ser observadas:
Esdras.... 7:28-9:15 o uso 1ª pessoa “eu”.
Sua importância como mestre da lei no AT é com frequência comparada com
Moisés. Dentre as obrigações de Esdras para com os judeus que voltaram
do exílio incluía, reeducar o povo na lei de Moisés, e apresentar-lhes a sua
identidade de povo da Aliança.
A tradição judaica aponta Esdras, como o fundador das sinagogas locai em
Judá para o estudo da Lei, semelhantes àquelas fundadas na Babilônia, as
quais se tornaram um lugar de reunião regular dos judeus dispersos,
conforme Ez 20.
74
Vide* gráfico in: W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 601.
58
Gênero literário
vide* E.J. Young, pp. 392-393
Data
Aproximadamente entre 450 e 400 a.C..
Extensão histórica
Podemos colocar o ministério de Esdras durante o reinado de Artaxerxes I
(465-424 a.C.)
Propósito
O restabelecimento do povo na terra prometida mostra a fidelidade de
Deus à Aliança, e exige um reavivamento da verdadeira religião da Aliança. Por
isso, insiste no estabelecimento do povo na região como se fosse um reino de
sacerdotes e uma nação santa, que deve sempre caminhar sob a Lei.
Estrutura do livro
1.1. Restauração do Templo.................. 1-6
1.2. Restauração do povo....................... 7-10
Análise do conteúdo
Encontramos algumas porções em aramaico em Ed (4:8-6:18 e 7:12-26).
Unidade
Em Ed 1-6 (a seção de Zorobabel) parece haver uma dependência de listas,
cartas e documentos oficiais variados.
Contribuição ao cânon
Começa onde exatamente termina 2 Cr;
Fornece informações sobre o período pós-exílico de Israel;
Fatos interessantes
1. O decreto de Ciro, rei do império Medo-Persa, cumpriu a profecia de Isaías
feita 200 anos antes (Is 44:28; 45:1).
2. Foram 3 deportações, de 3 profetas maiores (606...Daniel, 597...Ezequiel,
586...Jeremias) e 3 retornos, com 3 grandes líderes (536...Zorobabel,
457...Esdras, 444...Neemias).
3. A partir desse tempo os israelitas são chamados judeus, porque a maior
parte deles era da tribo de Judá.
59
NEEMIAS
Título
Na LXX o livro de Ne possuí o título de Segundo Esdras (Ed+Ne). O
Primeiro Esdras na LXX é um livro apócrifo.
Autoria
Algumas evidências indicam que realmente seja Neemias. O uso do
pronome na 1ª pessoa “eu”, bem como a obra recorda a missão do autor em
Jerusalém, e as reformas que realizou.
Data
Aproximadamente 430-400 a.C.
Extensão histórica
Há dúvidas quanto a sequência histórica de Ed e Ne. Questiona-se se o
“Artaxerxes” mencionado em Ne 2:1 é o mesmo “Artaxerxes I”? O primeiro
retorno de Neemias a Jerusalém se deu em 445 a.C., depois de 12 anos como
governador (Ne 13:6). Mas, depois de aparentemente um ano em Ecbatana, ele
volta em 432 a.C. (“32º ano do rei” Ne 13:6), para uma segunda gestão de
duração incerta.
A questão toda está na relação de Esdras e Neemias. Quando foi que
ambos trabalharam juntos? A resposta tradicional é a que o “Artaxerxes” de Ed
7:1, é o “Artaxerxes I” (465-424 a.C.). Desta forma, Esdras chegou em Jerusalém
em 458 a.C. (Ed 7:8), 13 anos antes de Neemias (445 a.C., Ne 2:1).
O livro de Ne cobre um período de 100 anos de história da comunidade
israelita pós-exílica. Desde o final do exílio babilônico à reconstrução do templo
de Jerusalém.
Contexto religioso
A cosmovisão medo-persa contribuiu para o retorno dos israelitas à terra.
Ellisen comenta que
internacionalmente, um novo clima religioso foi introduzido pelos persas. Os
decretos de Ciro e Dario surgiram parcialmente inspirados por sua fé
religiosa. Esta não passava de uma mistura da visão tradicional de um panteão
de deuses, e do zoroastrismo desenvolvido recentemente, com suas duas
hierarquias: do bem e do mal. Como resultado dessa visão, eles fizeram o povo
voltar à sua terra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a paz no
império. Tal política resultou na volta de Israel à Palestina com os vasos do
templo, e uma reativação de seu sistema religioso .75
75
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 127.
60
Propósito
Propósito teológico
A reconstrução de Jerusalém como centro político da teocracia exige uma
identificação do povo com o caráter santo do Deus que soberanamente dirigiu a
restauração.
Propósito histórico
Documentar historicamente a reconstrução dos muros de Jerusalém. O
livro mostra como Deus usou uma pessoa leiga, mas interessada, para assentar
os blocos do muro de Jerusalém a fim de que houvesse proteção aos restantes e,
ao templo reconstruído, bem como defesa dos povos e da cultura pagã, que
contaminaria a religião israelita.
Fatos interessantes
1. No final de Ed e Ne tudo é restaurado (templo, Jerusalém, o povo, a
Aliança), menos o rei.
2. O atrito entre samaritanos e judeus já se encontra neste livro.
3. Apesar da oposição, a reconstrução do muro só levou 52 dias.
4. O cativeiro babilônico curou os judeus da idolatria.
5. Retornos à terra prometida:
- Em 536 a.C. Zorobabel retornou para reconstruir o templo;
- Em 457 a.C. Esdras retornou para reformar o povo;
- Em 444 a.C. Neemias retornou para reconstruir os muros de
Jerusalém.
ESTER
Título
O nome do livro é derivado da língua persa e significa estrela. O seu nome
hebraico é Hadessa que significa murta (Et 2:7).
Autoria
O comentário talmúdico Baba Bathra 15a afirma literalmente que “os
homens da Grande Sinagoga escreveram o livro de Ester”. Outra tradição judaica
aponta Mordecai como o autor do livro. Esta tradição encontra apoio em Josefo e
Abraham Ibn Ezra. O fundamento para esta possibilidade seria que nos últimos
dois capítulos de Et menciona-se cartas e escritos pessoais de Mordecai (9:20,
62
Gênero literário
Alguns eruditos modernos tem negado a historicidade de Et. 77 Por alguns é
considerado como um romance ou, novela épica. Chega-se ao extremo de se
afirmar que Et é um texto que defende interesses judaicos e “sionistas”. Eis
alguns argumentos à favor da historicidade do livro:
É preciso reconhecer que histórica e geograficamente o texto é preciso.
Os argumentos contra a historicidade do livro são fracos, e até mesmo
insustentáveis.
Extensão histórica
Em 483 a.C., a rainha Vasti foi deposta, durante o terceiro ano de Assuero.
Em 479 a.C., Ester foi coroada, no sétimo ano de Assuero. Em 473 a.C., houve o
livramento dos judeus do Purim, durante o décimo terceiro ano de Assuero.
Os acontecimentos deste livro encaixam-se cronologicamente entre os
capítulos 6 e 7 de Ed. Entre os anos 483-473 a.C..
Propósito
Propósito teológico
Mostrar como Deus em sua providência governa toda a existência. Ainda
que eles sejam cativos num país estrangeiro, a proteção providencial de Deus
cuida do Seu povo como Ele prometeu na Aliança.
Propósito didático
76
Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.
77
Para uma exposição mais completa das críticas e historicidade do livro, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo
Testamento, pp. 369-371.
63
Estrutura do Livro78
1.1. Festa de Assuero................................................ 1-4
1.2. Festa de Ester..................................................... 5-8
1.3. Festa do Purim................................................... 9-10
Contribuição ao cânon
1. Fornece informações sobre os judeus durante o exílio babilônico.
2. Não há indicação que sua canonicidade estivesse em disputa em Jâmnia
(90 d.C.). Logo, não é justo incluí-lo entre os livros duvidosos.
3. Flávio Josefo o considerava canônico.
4. O livro é popular entre os judeus.
Dificuldades de interpretação
Como um livro que omite os nomes de Deus pode ser considerado
canônico? O exegeta judeu Abraham Ibn-Ezra declarou que o autor omitiu
intencionalmente o nome de Deus “por temer que o relato fosse traduzido pelos
persas, que trocariam o nome do Deus Eterno pela divindade pagã que o povo
adorava.”79
Fatos interessantes
1. O único livro canônico sem o nome de “Deus”.
2. O livro tem 187 referências ao rei persa.
3. Ester é o único livro não representado entre os achados de Qumran.
4. Não há menção deste livro no Novo Testamento.
5. Descreve algumas qualidades de Ester: formosa e modesta (2:15),
obediente (2:10), corajosa (7:6), cativante (2:9-17; 5:1-3), humilde (4:16),
leal e persistente (2:22; 8:1-2; 7:3-4).
6. Acusa os pecados de Ester: não revelou sua identidade judia; casou-se com
um rei pagão; não voltou à Terra Prometida (Is 48:20; Jr 50:8; Ed 1:3);
78
Para uma análise mais detalhada da estrutura do livro vide* W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo
Testamento, pp. 584-587.
79
Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.
64
OS LIVROS POÉTICOS
JÓ
Título
Autoria
Há algumas opiniões discordantes quanto à autoria desta obra. A tradição
judaica (Baba Bathra 14b e 15a) declara que o autor foi Moisés o autor de Jó.
Vejamos algumas objeções à autoria mosaica:
1. A obra foi escrita no mesmo estilo de Provérbios (Mashal); este estilo
literário teve início no período do reinado salomônico.
2. Se o livro fosse de autoria mosaica, sua posição no Cânon hebraico seria
diferente. Jó é classificado como Ketubim (Escritos), e se encontra dentro
do TM entre o livro de Salmos e Provérbios. Se ele fosse uma obra
mosaica, certamente seria colocado na mesma categoria que a Lei.
3. A Lei era a referência para as demais obras do AT, seria difícil que uma
obra de natureza refletiva ou meditativa tenha sido escrita por alguém cuja
principal ocupação era a legislatura;
80
C.F. Keil & F. Deltzch, Commentary on the Old Testament: Job-Psalms vol.5, p. 19 (Books for the Ages, 1997), CD-Master
Library Christian 01/02, in loco.
81
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? p. 410.
65
Data da Escrita
Existem várias datas propostas:82
1. Na época de Salomão: Keil, Delitzsch, Haevernick.
2. No séc. VIII (antes de Amós): Hengstenberg.
3. No princípio do séc. VII: Ewald Riehm.
4. Primeira metade do séc. VII: Staehelin, Noeldeke.
5. Na época de Jeremias: Koenig, Gunkel, Pfeiffer.
6. No exílio babilônico: Cheyne, Dillmann.
7. No séc. V: Moore, Driver, Gray, Dhorme.
8. No séc. IV: Eissfeldt, Voltz.
9. No séc. III: Cornill.
Gênero literário
Samuel J. Schultz considera o livro de Jó como sendo “apropriadamente
classificado como um drama épico. Apesar de que a porção principal da
composição seja de natureza poética e tenha a forma de um debate, o arcabouço
é escrito em prosa. Neste último, a narrativa provê a base para a discussão
inteira.”84
Quanto ao estilo literário, Sellin-Fohrer observam que o livro
nos mostra que seu autor é um mestre da palavra raramente superado, um
mestre dotado de poder de criatividade barroca e possuidor de elevada
cultura, como nos indicam não só as imagens, numerosas e multiformes, que
exprimem os sentimentos mais variados em um só e mesmo discurso, como
também as expressões raras, ou que já nem mesmo se usavam .85
Situação histórica
Jó foi um personagem histórico, como indicam Ez 14:14 e Tg 5:11. Parece
que Jó viveu no período dos patriarcas, embora, não se pode fazer nenhuma
afirmação absoluta. Vejamos algumas evidências:
1. O personagem é identificado como um habitante de Uz, e não de um lugar
fictício (1:1). As referências bíblicas a Uz sugerem um local a leste de
Edom (Gn 10:23; Jr 25:20; Lm 4:21). A LXX traduz terra dos Aisitai, povo,
que segundo o geógrafo Ptolomeu, se localiza no deserto da Arábia perto
dos edomitas do monte Seir.
2. Elifaz, amigo de Jó, era de Temã, localidade bem conhecida perto de Edom.
82
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 334-338.
83
Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 216.
84
Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 265.
85
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 480.
66
Propósito
Ensinar como Deus pode usar a adversidade, bem como a prosperidade,
para amadurecer o seu povo. Deus usa os piores ataques de Satanás para o
cumprimento do seu santo decreto. O soberano Deus ilustra através da vida de
Jó, que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).
Análise do conteúdo
Sellin-Fohrer fazem uma preciosa contribuição em perceber que
o poeta de Jó não aborda o problema da teodicéia, sob a forma do sofrimento
merecido do justo, ou sob a forma da justiça de Deus, em contraposição com a
experiência humana. Isto estaria em contradição com o pensamento concreto
67
Fatos interessantes
1. Jó é a maior de todas as obras dramáticas do AT.
2. Nenhum livro da Bíblia revela tanto da pessoa e do caráter de Satanás.
3. É citado explicitamente uma vez no NT (1 Co 3:19 – Jó 5:13).
4. Implica que a terra é esférica (22:14), pendurada no espaço (26:7).
SALMOS
Título
O título hebraico significa livro dos louvores. O título adotado pela LXX não
é muito apropriado, pois a palavra psalmoi (salmos) é a tradução da palavra
hebraica mizraim. A Vulgata adotou seu título transliterando da LXX.88
Autoria
86
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 496-497.
87
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 197-202, considera a prosa e a maior parte das seções
poéticas como uma unidade.
88
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 976-977.
68
A tradição judaica Baba Bathra 14b declara “Davi escreveu o livro dos
Salmos auxiliado por dez anciãos: Adão, Melquisedeque, Abraão, Moisés, Hemã,
Jedutum, Asafe e três filhos de Coré”. Evidentemente que Davi ao compor os
“Salmos” não teve a assistência destas pessoas. Esta afirmação deve ser
reinterpretada, por não possuir qualquer fundamento histórico. Melhor do que
nós, os “homens da Grande Sinagoga” que escreveram o Talmud, certamente
sabiam do distanciamento cronológico entre estes personagens bíblicos e Davi.
Provavelmente, que Davi compôs muitos dos salmos, outros foram escritos
durante o seu reinado e o reinado de Salomão, e os demais foram escritos num
período pós-exílico. Há algumas considerações que devemos fazer ao confirmar a
autoria davídica de muitos dos salmos:
1. Algumas passagens do AT indicam Davi compondo cânticos para o
santuário (1Cr 6:31; 16:7; 25:1; Ed 3:10; Ne 12:24, 36,45-46; Am 6:5);
2. Sabe-se que Davi foi talentoso músico;
3. Davi também era poeta (2Sm 1:19-27);
4. Ele era um homem de profunda sensibilidade e riqueza de imaginação.
“A riqueza da sua imaginação está patente na propriedade dos termos e
nas frequentes figuras que emprega”;89
5. Davi era um homem piedoso, de sentimentos religiosos, com uma
profunda percepção de quem Deus era e como Ele agia, um verdadeiro
adorador de Deus. Os salmos não poderiam ser escritos por alguém que
não amasse o Senhor, e que não tivesse de modo experimental
conhecido ao Senhor;
6. Era um homem vivido. Possuindo uma larga experiência de vida como
pastor, soldado, músico, chefe, rei, administrador, poeta, pai,
perseguido pelo seu rei (Saul), e traído pelo próprio filho (Absalão), com
uma família atribulada e manchada de incesto e sangue. Ele estava apto
para exprimir as alegrias da graça, e também as angústias do pecado;
7. Davi era um homem capacitado pelo Espírito de Deus (1Sm 16:13);
8. É importante lembrar que Davi escreveu muitos salmos, mas não todos;
92
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 978-979.
70
93
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 166.
94
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 997.
71
exílio babilônico Esdras e Neemias tenham dado a forma final ao realizarem suas
reformas sociais e religiosas (Ed 3:10; Ne 12:24,27).
O livro apócrifo Eclesiástico 47:8-10 mostra que uma coleção de salmos sob
o nome de Davi já circulava no tempo de Sirac (200 a.C.).
Propósito
Propósito teológico
Ao cantar, o povo aprendia e refletia sobre quem Deus é, ou seja, meditava-
se nos atributos divinos. Aprendiam acerca da Aliança da graça, sobre o perdão
dos pecados, a justiça, o proceder do justo na santificação, acerca do Messias, a
vida futura, etc. Aage Bentzen declara que “foi criado a fim de conter a
expressão autoritativa da religião de Israel, da mesma forma que a Lei, os
Profetas e a literatura sapiencial, que foram colecionados com o mesmo
escopo.”97
Propósito litúrgico
O saltério fora compilado para ser usado liturgicamente no templo, e
reuniões festivas do povo de Deus. O título do livro aponta para o seu objetivo
literário: “o livro dos louvores”.
Propósito histórico
Os salmos são parte da história de Israel, como também narram acerca
desta história (Sl 78, 105, 106, 135 e 136).
Propósito devocional
É um modelo para a prática devocional dos filhos de Deus. Um completo
livro de louvor e oração, que ensina o crente a dirigir-se a Deus, como Ele
mesmo requer. Os crentes de todas as épocas e lugares percebem a unidade do
povo de Deus, por possuírem os mesmos anseios, temores, tristezas, sofrimentos,
dúvidas, e por poderem esperar em Deus com esperança e confiança o cuidado
providencial da Aliança.
Estrutura do livro
O livro de Salmos é dividido em 5 livros. 98 Esta divisão não segue uma
ordem cronológica, nem é por autoria, como não está dividida por classificação
literária. Não se sabe qual o critério exato adotado para esta divisão. Há a
sugestão de que as divisões do saltério correspondem aos 5 livros da Lei. É
notório que cada um das 5 divisões termina com uma doxologia especial a servir
de conclusão:
97
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 192.
98
Para uma análise mais detalhada vide*, Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 163.
73
Contribuição ao cânon
Para o Cânon do AT está claro que os Salmos constituem os cânticos
inspirados para serem usados na adoração pública e como devocionário
individual e familiar. O conteúdo deles ajustou-os para servirem como “o Livro de
Louvor”.
Dificuldades de Interpretação
Princípios de interpretação dos Salmos:
1. Se o título dá a situação histórica, deve ser considerado. Se não, há
pouca chance de recriar o contexto.
2. Tentar classificar o salmo segundo as formas já existentes, mas não
forçá-lo a se enquadrar numa forma.
3. Identificar as figuras de linguagem, tipos de paralelismo, e explicar o
significado.
74
Fatos interessantes
1. O livro de Salmos levou aproximadamente 1000 anos para ser completado
(Sl 90 de Moisés ... Sl 137 pós-exílico).
2. É o livro mais conhecido e usado na literatura mundial de todos os tempos.
3. São mencionados cerca 90 vezes no NT.99
4. Sinônimos de salvo/justo e de perdido/ímpio nos Salmos.100
5. O livro de Salmos era o hinário do povo israelitas.
6. O Sl 53 é uma repetição do 14, mas emprega Elohim (Deus), em vez de
Yahwéh (SENHOR.
7. Há 21 salmos que se referem à história de Israel (êxodo ao retorno do
exílio).
8. Os salmos apresentam o Messias de maneira semelhante aos evangelistas:
- Mateus (Rei) 2, 18, 20, 21, 24, 47, 110, 132
- Marcos (Servo) 17, 22, 23, 40, 41, 69, 109
- Lucas (Filho do Homem) 8, 16, 40
- João (Filho de Deus) 19, 102, 118
PROVÉRBIOS
Título
O título hebraico vem de uma raiz l#m significando ser como, e por isso,
tem primariamente o sentido de uma comparação indicando duas situações de
similar caráter.
Autoria
Há pelo menos sete indicações da autoria no próprio livro:
1:1 – “provérbios de Salomão”
10:1 – “provérbios de Salomão” (título)
22:17 – “palavras dos sábios”
24:23 – “provérbios dos sábios”
25:1 – “também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram
os homens de Ezequias, rei de Judá”
30:1 – “palavras de Agur, filho de Jaque, de Massa” (título)
31:1 – “palavras do rei Lemuel, de Massa, as quais lhe ensinou sua mãe”.
99
Vide alguns exemplos em: Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 169-170.
100
Frans van Deursen, Los Salmos, vol. 1, pp. 45-46.
75
Data
Não há motivos sólidos para abandonarmos a autoria de Salomão da
primeira parte do livro. Nesse caso, a data provável seria aproximadamente 950-
900 a.C. para a escrita dos capítulos 1-24, na metade final do seu reinado, e
aproximadamente 725-700 a.C. para os últimos capítulos 25-31, que foram
compilados por “Ezequias e seus companheiros”.
O livro apócrifo Eclesiástico 47:17, cita Pv 1:6. Este apócrifo é datado em
200 a.C.. Ao citar Provérbios isso aponta algumas evidências da data do livro:
1. Provérbios já existia tempo suficiente, antes de Eclesiástico, para que
tornasse reconhecido como fonte de autoridade canônica.
2. O livro de Provérbios influenciou o estilo literário de Eclesiástico, o que
indica uma imitação daquilo que se tornara “padrão” no estilo Mashal.
Propósito
Propósito didático
101
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 327.
76
Propósito teológico
Foi escrito para dar ao povo de Deus um guia prático e memorável de como
aplicar o conhecimento de Deus (o temor do Senhor) à vida diária, para aqueles
que já entraram num relacionamento de Aliança com Ele. Mostrando como a
Aliança com Deus tem aplicação extremamente prática na vida diária.
Análise do conteúdo
O livro de Provérbios é uma excelente antologia de declarações sábias.
Estimula de forma provocante a imaginação, levando o leitor a refletir nas
implicações de uma verdade simples e auto-evidente. R.K. Harrison observa que
“os provérbios consistem geralmente de breves e incisivas declarações em que
podem ser usadas com grande efeito na comunicação de verdades morais e
espirituais, sobre a conduta.”103
Klaus Homburg comenta que “no provérbio da sabedoria são formulados
expressões proverbiais segundo os critérios da analogia e do paradoxo.” 104
Contribuição ao cânon
O texto do Talmud, Shabbath 30b registra a dúvida entre os rabinos quanto
à canonicidade de Provérbios. Declara o Talmud que “o livro de Provérbios,
102
W.S. Lasor, D.A. Lasor, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 502.
103
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1011.
104
Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 188.
77
Fatos interessantes
1. Em 1Rs 4:32, Salomão fez 3000 provérbios e 1005 cânticos. O livro de Pv
tem apenas 915 dos 3000.105
2. O cap. 31 inclui um poema acróstico (a primeira palavra de cada versículo
começa com uma letra do alfabeto hebraico, vide* TM);
ECLESIASTES
Título
O nome original deste livro é Qoheleth que deriva duma raiz hebraica lhq
[qahal], que significa chamar ou reunir. Vários significados tem sido sugeridos a
Qoheleth. Uns dizem que significa “alguém que reúne uma audiência”; outros
insinuam a ideia de um colecionador de verdades. Ainda há quem afirme que
significa aquele que debate ou discursa, ou seja, pregador. Talvez, este último
seja o melhor significado da palavra Qoheleth, como adotam a maioria de nossas
versões em português. A tradução da LXX deriva da palavra ekklhsia [ekklesia].
Autoria
A tradição judaica Baba Bathra 15ª declara que “Ezequias e seus
companheiros escreveram Eclesiastes”. Esta afirmação se refere apenas à
compilação e publicação dos livros escritos por Salomão. Em outros trechos, a
tradição judaica de forma explícita diz que Salomão foi o autor Megilla 7ª e
Shabbath 30).106
O erudito conservador Edward J. Young rejeita a autoria de Salomão e
oferece algumas objeções:107
1. Por quê Salomão usaria tão estranho título (Qoheleth)?
2. O nome de Salomão não aparece no livro, como ocorre em Cantares e
Provérbios.
3. As condições históricas não parecem ser da época de Salomão. Em 1:16
o autor afirma que sobrepujou em sabedoria “a todos os que antes de
mim em Jerusalém”. Salomão foi o segundo rei, no regime da teocracia
de Israel, a morar em Jerusalém.
105
Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 273, nota 13.
106
Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? pp. 436-437.
107
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 362-363.
78
Data
A data aproximada de 935 a.C. é melhor aceita. O livro é uma retrospectiva
na velhice, da vida vazia em que ele viveu com o coração desviado do temor do
108
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p.191.
79
Propósito
O propósito é descobrir qual o melhor bem da vida. Trata do prazer,
sabedoria, da riqueza, mas considerando-os vãos. O melhor bem da vida somente
pode ser conseguido se alguém teme a Deus e guarda os seus mandamentos
(12:13). A vida sem Deus, ou, fora da vontade de Deus é fútil.
Busca pelo verdadeiro significado da vida. Longe de Deus a vida não é vida,
pois só Deus lhe pode dar o verdadeiro significado.
O homem e sua relação com o mundo. “A única interpretação possível do
mundo é considerá-lo, pois como criação de Deus e usá-lo e gozá-lo apenas para
a Sua glória.”112
Análise do conteúdo
O linguista Lyman Abbott faz uma análise do livro dizendo
assim, o livro de Eclesiastes é um monólogo dramático, apresentando as
complicadas experiências da vida; essas vozes estão em conflito, porém
apresentam ou relatam o conflito de uma simples alma em guerra consigo
mesma. Nesse monólogo, o homem se apresenta monologando consigo
mesmo, comparando as experiências da vida umas às outras. Assim, o livro de
Eclesiastes é deliberadamente de uma confusa intenção, porque é o quadro de
experiências confusas de uma alma dividida contra si mesma .113
Contribuição ao cânon
Vários fragmentos de Eclesiastes foram encontrado na caverna 4 de
Qumran, que datam, aproximadamente, da metade do século II a.C.. Disto pode-
se concluir que na época ele já possuía reconhecido valor canônico.
109
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 191.
110
Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 647.
111
Jamieson, Fausset, Brown, Old Testament Commentary, vol.2, pp. 93-94 (Books for the Ages, 1997), CD-Master Christian
Library 01/02, in loco.
112
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 367.
113
Lyman Abbott, Life and Literature of the Ancient Hebrews, pp. 292-293.
80
Dificuldades de interpretação
Embora o livro tenha um tom existencial negativista em seu discurso, para
que tenha o correto entendimento da sua mensagem, ele deve ser interpretado
como um todo. A chave para a interpretação de Eclesiastes é o texto final 12:13-
14.
Fatos interessantes
1. Os argumentos do livro não são os argumentos de Deus, e sim os registros
de Deus para os argumentos do homem.
2. O autor usa somente o nome Elohim (Deus), nunca o nome Yahweh
(SENHOR), “assim o autor pode estar enfatizando o relacionamento do
homem com Deus, à parte da experiência da redenção”.114
3. O judeus leem este livro na festa dos Tabernáculos. O rabino David
Gorodovits explica a razão desta prática entre os judeus “sendo Sucót
considerado Zeman Simchatênu, ou seja, ‘época de nossa alegria’, quando,
em Israel, os celeiros estão abarrotados com os frutos da colheita, seria
fácil entregar-se a futilidades e lazer, esquecendo de onde veio a benção
que resultou no sucesso do trabalho. É exatamente quando a leitura do
Cohelét, com suas mensagens profundas, conscientiza-nos da bondade e da
justiça do Eterno, sem as quais nenhum sucesso pode ser alcançado pelo
ser humano.”115
Título
Considerando que Salomão escreveu 1005 cânticos (1Rs 4:32),
este seria o “cântico dos cânticos”, ou seja, “o melhor de todos os
seus cânticos”.
Autoria
O Talmud Baba Bathra 15a declara “Ezequias e seus companheiros
escreveram o Cântico dos cânticos.” Mas, a mesma afirmação feita acerca do
livro de Provérbios (vide* autoria), é repetida sobre este, tendo o mesmo
significado. “Ezequias e seus companheiros” não são os autores de Cânticos, mas
apenas os compiladores das obras de Salomão. Algumas evidências internas e
externas a respeito da autoria:
1. O primeiro versículo atribui o livro a Salomão com o prefixo hebraico
para autoria (lamedh auctoris).
114
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 57.
115
Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 669.
81
Data
Escrito depois dele ter adquirido muitas carruagens do Egito e ter
ampliado suas vinhas até o vale de Jezreel. O seu harém de esposas e concubinas
era bem menor, de 60 a 80 mulheres, em comparação com as 700 esposas e 300
concubinas como posteriormente chegou a ter.
O livro de Cantares, talvez, seja o mais antigo livro canônico de Salomão.
Reflete a sua juventude vigorosa, do mesmo modo que Provérbios reflete sua
meia-idade, e Eclesiastes mostra sua maturidade nos seus anos finais. Assim,
aceita-se a data aproximada para Cantares como sendo aproximadamente no ano
900 a.C.
Propósito
Propósito histórico
Comemorar o casamento de Salomão com a Sulamita e expressar o prazer
do sexo no casamento como uma dádiva de Deus.
Propósito didático
Edward J. Young afirma que o livro foi escrito “para leitores que vivem num
mundo de pecado, de prazeres e de paixões, onde violentas tentações nos
assaltam e procuram afastar-nos do tipo modelar de casamento, nos moldes da
lei de Deus, e lembra-nos de um modo particularmente sublime, quão puro e
quão nobre é o verdadeiro amor.”116
Análise do conteúdo
116
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 351.
82
Contribuição ao cânon
Na tradição judaica, Mishnah, Yadim, 3:5, lemos uma afirmação do rabino
Aqiba, da escola de Hillel, acerca da canonicidade de Cantares que diz “pois em
todo o mundo nada há que possa comparar-se ao dia em que Cantares de
Salomão foi dado a Israel. Todos os escritos são santos, mas num grau superior o
Cântico dos Cânticos”.118
Fazendo uma comparação temática entre Provérbios e Cantares, William
M. Ramsay fornece um precioso motivo em favor da canonicidade deste poema
tão sensual. Ramsay observa que “livros como Provérbios, todavia, celebram a
obra de Deus na criação. A vida diária, de acordo com a literatura sapiencial, é
um dom de Deus. Assim, tão natural é a função da união sexual como parte da
boa criação de Deus. Crendo que a natureza é um dom do Criador, o sábio não
poderia separar o “secular” do “sagrado”. Deste modo, o poema de amor, é
igualmente, um poema de amor sensual, não podendo ficar fora das Escritura.” 119
Dificuldades de interpretação
Há controvérsias acerca da interpretação deste livro por muitos séculos.
Três interpretações principais:120
1. A alegorização judaica. A método alegórico é o mais antigo de todos.
Segundo esta posição o livro estaria descrevendo em linguagem figurada a
relação entre Yahweh e Israel.121
117
E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 446.
118
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1051.
119
William M. Ramsay, The Westminster Guide to the Books of the Bible, p. 178.
120
Para outras propostas hermenêuticas, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 348-350.
121
Ainda hoje os judeus interpretam o livro de Cantares como sendo “símbolo do amor de Deus pela Congregação de
Israel, sendo o dia de sábado seu intermediário.” Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 648. Em outro lugar, o
comentarista faz a seguinte observação “apesar das expressões de amor e nostalgia parecerem referir-se ao amor humano
e à beleza física feminina, seu objetivo não é outro senão descrever alegoricamente as virtudes do povo de Israel e sua
fidelidade ao Criador e a Seus preceitos, como também o amor de Deus a Seu povo predileto”. p. 655
83
Fatos interessantes
1. Os judeus leem este livro na Páscoa.
2. Assuntos não mencionados: nenhum dos nomes de Deus; pecado; culto de
Israel; nem alusão a outro livro do AT.
3. Na época da escrita, Salomão já tinha 60 rainhas e 80 concubinas (1Rs
11:3, 700 rainhas e 300 concubinas).
4. O Novo Testamento não faz citação de Pv.
5. O único livro dedicado completamente ao amor conjugal, romântico e
sexual.
6. Os nomes Salomão e Sulamita são sinônimos. Seria o casamento do
“pacificador” e da “pacificadora”.
LIVROS PROFÉTICOS
Profetas da “Palavra”122
Estes foram aqueles que não escreveram suas profecias. Encontramos no
AT a sua identificação como “profetas”. Todavia, eles não registraram suas
122
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 212-213.
84
Profetas Maiores
ISAÍAS
Título
O livro recebeu o nome do próprio profeta. No título TM o nome ocorre
hy($y igualmente em Baba Bathra 14b. No texto da profecia, e noutras porções
do AT, o nome já ocorre numa forma mais longa, isto é why(#y embora a forma
mais breve também aparece (1Cr 3:21; Ed 8:7, 19; Ne 11:7).123
Quanto ao significado do nome “Isaías”, quer dizer “o SENHOR é a
salvação”.
Autoria
O texto o descreve como “filho de Amoz”, marido de uma profetiza e pai de
dois filhos que deveriam ser “sinais” para a nação (1:1; 8:3, 18). As tradições
judaicas indicam que ele era primo do rei Uzias e foi serrado ao meio pelo
123
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 764.
85
Contexto histórico
O cenário internacional era a ascensão do império Assírio. Tiglate-Pileser
veio ao ocidente para invadir Israel e a Transjordânia, em 745 e 734 a.C..
Isaías foi um profeta do reino do Sul (Judá). O cenário nacional era uma
época de opressão e desordem. O reino do Norte (Israel) havia se corrompido,
após o reinado de Jeroboão II, sob o governo de reis impiedosos. O reino do Sul
(Judá) havia se tornado uma grande potência sob o reinado de Azarias e Jotão,
mas também declinara sob o reinado do idólatra Acaz. Muitas alianças foram
feitas com potências estrangeiras a fim de adiar a sujeição total à Assíria, que
procurava conquistar todo o ocidente (Is 7:12). Quando Judá foi atacada pela
Síria e Israel, Acaz sacrificou o seu filho mais velho num altar, e depois pediu
auxílio aos assírios. Como resultado, tornou-se vassalo de Tiglate-Pileser, da
Assíria.
Com a ascensão de Ezequias ao trono de Judá, surgiu um movimento de
reforma (2Cr 30:1-13). A reforma apressada e o entusiasmo pelo reavivamento
promovido por Ezequias evitou a destruição de Judá, como ocorreu com Israel
em 722 a.C. Entretanto, as alianças com o Egito e Babilônia, feitas
posteriormente pelo próprio Ezequias, trouxeram renovada agressão da Assíria
contra Judá, que ameaçou destruí-la, até que o rei aceitou o conselho de Isaías e
confiou no Senhor para o livramento. Em 701 a.C. aconteceu o livramento
esperado, quando o Anjo do Senhor destruiu o exército de Senaqueribe, de
185.000 homens, e pôs fim à campanha do invasor do ocidente. O registro desse
acontecimento está na parte central da profecia de Isaías.
Alguns dos profetas menores eram contemporâneos de Isaías. O profeta
Miquéias complementou o ministério de Isaías na região rural de Judá. Enquanto
129
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 218.
130
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 218.
88
Propósito
Ensinar que a salvação vem pela graça, ou seja, só Deus salva, não o
esforço humano. Esta verdade se encontra inclusive no nome do profeta “Yahweh
é a salvação”. Lembrar à nação a Aliança com o Senhor, especialmente o seu
programa redentor pela mediação do Messias, que primeiro viria como Servo
Sofredor e, mais tarde, como governador de toda a terra (52:13-53:12). A
salvação vem do Senhor, não de ídolos, nem de alianças seculares.
Admoestar a nação do iminente julgamento devido à idolatria e às alianças
com povos pagãos.
Estrutura do Livro
I.Condenação (1-39)
1. Contra Judá............... 1-12
2. Contra as Nações pagãs.... 13-23
3. O Dia do Senhor........... 24-27
4. Julgamento e Benção....... 28-35
5. Parêntese histórico....... 36-39
II.Consolação (40-66)
1. A salvação da Nação....... 40-48
2. O Salvador (Servo)........ 49-57
3. O futuro da Nação......... 58-66
Fatos interessantes
1. Conforme a tradição judaica Isaías sofreu uma violenta morte, cortado ao
meio no reino de Manasses.
2. É citado no NT mais do que outro profeta.
3. É considerado o melhor escritor entre os profetas. Seu estilo literário inclui
bastante variedades. Seu vocabulário possui quase 2200 palavras
diferentes no original, mais do que qualquer outro autor do AT.
JEREMIAS
Título
Autoria
89
Data e local
O ministério de Jeremias começou no reinado do rei Josias e continuou em
Jerusalém durante os dezoito anos de reforma e os vinte e dois anos de colapso
nacional. Foi levado cativo para o Egito com o resto rebelde dos judeus em 586
a.C., ali profetizou durante cinco anos, condenando a idolatria dos judeus (44:8)
e anunciando a vinda próxima de Nabucodonosor para conquistar o Egito, o que
de fato ocorreu em 568 a.C..
O livro foi escrito entre 627-580 a.C..
Contexto religioso
O reavivamento do rei Josias, embora promovido com sinceridade, foi
evidentemente seguido de modo superficial pelos líderes e pelo povo. A nação
viu-se diante da destruição, por causa da idolatria e iniquidade de Manassés e da
incorrigível decadência dos judeus. Logo depois da prematura morte de Josias na
batalha do Megido, a nação retornou quase imediatamente à idolatria e
corrupção.
Propósito
O grande tema que atravessa todas as mensagens de Jeremias é acerca do
julgamento contra Judá. O livro registra tanto a rejeição da lei divina, como
também a recusa inflexível da correção dos profetas de Deus.
Estrutura do livro
A ordem dos capítulos é mais tópica do que cronológica:
1. Chamado de Jeremias............ 1
2. Profecias contra Judá.......... 2-45
3. Profecias contra as Nações..... 46-51
4. A Queda de Jerusalém........... 52
Análise do conteúdo
Ao contrário do apelo de Isaías para que confiassem na libertação do
Senhor, a mensagem de Jeremias era que a nação deveria submeter-se ao
julgamento do Senhor aceitando o cativeiro da Babilônia, para que assim a
cidade e a nação fossem salvas da destruição total. O livro demonstra como esse
solitário clamor.
Fatos interessantes
1. O livro Jr menciona a Babilônia 164 vezes, mais do que qualquer outro livro
bíblico.
2. Ele é o segundo maior livro da Bíblia.
131
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 802-803.
91
LAMENTAÇÕES de JEREMIAS
Título
Os hebreus chamavam-no de como?, pelo fato de ser essa a primeira
palavra do livro. De fato, esta é uma palavra característica de lamento.
Posteriormente os rabinos mudaram-lhe o nome para qînath (Jr 7:29) que
significa “alto choro” ou lamentações, como num canto fúnebre.
O título em português “Lamentação” é a tradução latina do termo grego
krenoi que significa “alto choro”.
Autoria
O livro é anônimo. O título não se encontra no hebraico, sendo o seu nome
mencionado somente nas traduções. A sua autoria é atribuída à Jeremias, tanto
pelas tradições judaicas, como cristãs. Algumas evidências internas reforçam
esta tese:
1. Foi ele um dos líderes a lamentar a morte de Josias.
2. O Senhor o instruiu a “prantear sobre os altos desnudos” (Jr 7:29).
3. Jeremias estava intimamente ligado aos trágicos acontecimentos como
testemunha ocular. O que se pode deduzir pela vivacidade geral da
descrição, é ainda o fato do poeta parecer identifica-se com o destino da
cidade. Baruque poderia ter sido o escriba a tomar nota das expressões de
pesar, ditadas pelo profeta (Jr 36:4; Lm 1:13-15; 2:6,9; 4:10).
4. Embora os estilos literários sejam um tanto diferentes nos dois livros,
muitos dos temas e expressões são muito semelhantes. Edward J. Young
observa as semelhanças notáveis entre os dois livros: “opressão da virgem
filha de Sião” (Lm1:15; Jr 8:21); os olhos do profeta “se desfazem em
águas” (Lm 1:16; 2:11 e Jr 9:1, 18; 13:17), “há terror por todos os lados” (Jr
6:25; 20:10 e Lm 2:22), “veja eu a tua vingança sobre eles” (Jr 11:20 e Lm
3:64-66), etc.132
5. O título deste livro na LXX se lê o acréscimo dizendo: ”aconteceu, depois
de Israel ter sido posto em cativeiro e Jerusalém em desolação, que
Jeremias se sentou a chorar e lançou estas lamentações sobre Jerusalém,
dizendo...”. A Vulgata repete as mesmas palavras, e acrescenta ainda: “com
espírito amargo e lamentoso”.
6. A tradição judaica Baba Bathra 15a afirma que “Jeremias escreveu as
lamentações”.
Gênero literário
No TM este livro se encontra entre os “Escritos”, mais especificamente,
entre os cinco “Meguiloth” (Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester).
Enquanto o livro de Jr é uma obra profético-preditiva que contém poesia, o livro
de Lm é a poesia da profecia cumprida.
O acróstico que encontramos em Lm aumenta ainda mais o valor literário
desta obra poética (vide* “Estrutura do livro”).
132
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 358.
92
Data
O livro foi escrito aproximadamente em 586 a.C.. Veja as seguintes
considerações:
1. As expressões e o conteúdo emocional de tristeza. Sua linguagem sugere
uma época logo após a queda de Jerusalém, quando a lembrança era bem
recente.
2. A redação bem elaborada, apresentada em formato de acróstico alfabético
sugere, por outro lado, período mais longo de reflexão e construção
literária.
3. É possível que o profeta tenha escrito o livro na esteira dos acontecimentos
e que mais tarde tenha formado o texto com requintes de acróstico para
melhor memorização.
Contexto histórico
A fuga e captura de Zedequias pôs fim à dinastia de Davi em sua sequência
histórica. O rei Zedequias rejeitou com arrogância a exortação de Jeremias, bem
como em virtude da deslealdade e ingratidão a Nabucodonosor, que havia
conquistado o reinado de Joaquim e o dera a Zedequias. A última cena
contemplada antes de ter os seus olhos furados, foi a chacina dos seus filhos e
dos nobres. Levaram-no em cadeias para a Babilônia (Jr 39:6-7).
A queda de Jerusalém em 586 a.C., ocorreu depois de um cerco de
dezenove meses, que trouxe fome e peste. Embora Jerusalém já tivesse sido
ameaçada e saqueada algumas vezes, essa destruição era inaceitável à
mentalidade judaica que a via como cidade eterna (1Cr 17:12; 22:10).
A época da redação desse livro, foi sem dúvida o mais sombrio período da
religião de Israel. A cidade escolhida por Deus estava arrasada, o templo
projetado e habitado pelo Senhor estava destruído, o povo havia sido levado para
a terra idólatra da sua origem, a Babilônia.
A destruição do templo trouxe levou a religião de Israel a um novo modus
operandi, a origem da sinagoga. Não havendo templo muito do sistema sacrificial
foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os rituais só podiam
ser feitas no altar do templo. Na Babilônia os judeus adaptaram-se a adorar em
conjunto, para estudar a Lei, em pequenas reuniões (Ez 11:16). Nestas reuniões
os fiéis eram obrigados a lembrar e aprimorar a sua fé a fim de sobreviver como
raça no meio duma cultura pagã.
Propósito
Expressar o grande pesar dos fiéis de Israel pela enorme perda do templo e
sua cidade sagrada. Outro propósito foi registrar como o Senhor cumpriu
completa e literalmente as suas admoestações sobre o julgamento da cidade e do
santuário, devido ao povo ter persistido na idolatria e rebelião.
93
Análise do conteúdo
As lamentações expressam a profunda solidão de Israel quando a Glória do
Senhor que afastou-se envergonhada. “O sujeito do poema é aqui o de uma
pessoa que se identifica com o povo.”133
O livro de Lm confirma a soberania de Deus, reconhecendo-o como o
promovedor da devastação, e não apenas a Babilônia (2:17; 3:37-38). O livro fala
do juízo de Deus, mas apontando para a sua fidelidade à Aliança com o seu povo.
A esperança está vinculada às promessas de benevolência divina condicionadas
ao arrependimento (3:22-23).
Alguns dos eventos na destruição da cidade são mencionados: o massacre
dos reis (2:6,9; 4:20), dos príncipes (1:6; 2:2,9; 4:7-8; 5:12), dos anciãos (1:19;
2:10; 4:16; 5:12), sacerdotes (1:4,19; 2:6,20; 4:16), dos profetas (2:9, 20), dos
cidadãos comuns (2:10-12; 3:48; 4:6), a prática do canibalismo (2:20; 4:10), a
deportação (1:3, 18) e enfim, a destruição de Jerusalém (1:4, 10).
EZEQUIEL
Título
O nome significa “Deus fortalece”.
Autoria
A formação de Ezequiel preparando-o para o ministério profético:
1. Nasceu na família de Buzi, o sacerdote, em 622 a.C., no auge da reforma
de Josias em Jerusalém. O “trigésimo ano” de 1:1 é geralmente entendido
ser a idade de Ezequiel no ano de 592 a.C.. Portanto, teria 30 anos quando
lhe foi dada a primeira visão. Essa é também a data do quinto ano do
reinado de Joaquim, pois o ministério de um sacerdote começava aos 30
anos (1:2-3).
2. Foi exilado com Joaquim em 597 a.C., quando Nabucodonosor levou para a
Babilônia o que havia de melhor na terra. Na Babilônia viveu em sua
própria casa numa colônia judia chamada Tel-Abibe, junto ao rio Quebar
(canal do Eufrates), evidentemente perto de Nipur (1:1; 3:15).
133
Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 220.
94
3. Ezequiel era casado, mas a sua esposa faleceu em 588 a.C., dia em que
começou o cerco de Jerusalém (24:1, 15-18).
Contexto religioso
O lugar de reunião religioso era na casa de Ezequiel, onde ele aconselhava
os anciãos. Esses anciãos eram provavelmente, os primeiros líderes das
sinagogas, que se tornaram mais tarde os dirigentes do povo.
A situação espiritual do povo no exílio nos dias de Ezequiel, não era muito
diferente de Jeremias. Ezequiel empregava a frase “casa rebelde”, cerca de 16
vezes. A mudança do local não mudou os seus corações.
Propósito
Convencer os cativos de que não iriam voltar para a Judéia, nem para a
cidade de Jerusalém por muitos anos. Os cativos deveriam procurar uma vida de
paz e prosperidade na Babilônia, durante a sua permanência ali, pois Deus ainda
restauraria o seu povo.
Análise do conteúdo
A narrativa do livro vai desde a época da submissão de Judá à Babilônia até
a época do cativeiro na Babilônia.
Nenhum outro profeta fez tanto uso de linguagem figurada, acompanhada
de ações simbólicas como Ezequiel. Foram formas usadas especialmente para
chamar a atenção e imprimir as verdades no restante do rebelde povo judeu. Eis
alguns exemplos:
95
Fatos interessantes
1. Ezequiel esteve no exílio durante todo o seu ministério, que durou 22
anos aproximadamente.
2. Ocorre 65 vezes a expressão “saberão que eu sou o Senhor”.
3. Ocorre 89 vezes o título messiânico “Filho do Homem”.
4. O livro contém mais datas do que qualquer outro livro profético.
5. Daniel é mencionado 3 vezes, embora fosse contemporâneo de Ezequiel
(14:14, 20; 28:3).
6. Traça a história do povo de Deus desde o cativeiro até a consumação da
sua redenção.
96
DANIEL
Título
O nome Daniel significa “Deus é meu juiz”.
Autoria
Daniel era membro da família real, nascido em Jerusalém, em 623 a.C.,
aproximadamente, durante a reforma de Josias e no princípio do ministério de
Jeremias. Ele foi levado para a Babilônia por ocasião do primeiro exílio (605), e
sendo selecionado para o serviço real, depois de um período de três anos de
estudos, tendo recebido o nome de “Beltessazar” uma das divindades da
Babilônia.
Em 603 a.C., Daniel foi declarado governador da província da Babilônia e
chefe de todos os sábios. Como conselheiro-mor de Nabucodonosor durante o
período da destruição de Jerusalém e do exílio para a Babilônia, tendo exercido
influência favorável aos judeus cativos.
Durante um período de quase setenta anos, Daniel serviu a seis
governadores babilônicos e a dois persas. No governo de três deles
(Nabucodonosor, Belsazar e Dário I) foi elevado a primeiro-ministro. Ocupou essa
função durante o cativeiro final de Judá e o regresso dos cativos.
Quanto à autoria é universalmente contestada pelos adeptos da Alta
Crítica. A autoria foi pela primeira vez negada por Porfírio em 275 d.C. Segue um
sumário dos argumentos que negam a autoria de Daniel:
1. Sua posição no cânon hebraico com as “Escrituras” (Ketubim) sugere
uma data posterior. Esse argumento pressupõe que o cânon dos
profetas foi completado em 425 a.C. aproximadamente, e as
“Escrituras” em 165 a.C. É essa uma suposição errada, pois muitos
livros das “Escrituras” foram escritos antes do tempo de Daniel (ex.,
Salmos, Jó, Provérbios, etc.). Daniel faz parte dos Escritos, porque é
uma literatura sapiencial, ou por causa da demora de sua aceitação no
cânon, devido à sua porção aramaica.
2. As “imprecisões históricas” sugerem que o livro tenha sido escrito mais
tarde. Apesar de lhe apontarem muitas discrepâncias, pesquisas
posteriores e descobertas arqueológicas forneceram explicações
adequadas.
3. Suas características literárias, especialmente o uso de termos persas e
gregos, indicam que sua escrita é tardia, chegando ao período
Macabeu. Daniel, porém, também viveu durante o reinado persa, e
muito antes dele já existia ativo o comércio com os gregos (Jl 3:6).
Houve tempo suficiente para Daniel adquirisse um vocabulário persa de
quinze palavras. Se o livro fosse do período Macabeu, o livro deveria ter
mais de três palavras gregas em todo o seu conteúdo (3:5).
97
Gênero literário
Categoria história profética-preditiva (Dn 2:19, 29).
Contêm porções em aramaico (2:4 – 7:28).
Data
Texto ano Acontecimento
1:1 605 Deportação de Daniel e três anos de treinamento
134
Flávio Josefo, Obras Completas: Antiguidades Judaicas, Livro 11, viii.
98
Contexto histórico
Durante um período de 20 anos, começando em 605 a.C., os exércitos
babilônicos invadiram Judá por três vezes. Saqueando e destruindo as cidades e
levando para a Babilônia milhares de judeus, incluindo Daniel.
No ano 586 a.C., a cidade de Jerusalém, e o templo foi destruído (2Rs 24:1-
25:30; 2Cr 36; Dn 1:1-7). Os babilônios dominaram o mundo durante 75 anos,
sendo derrotados posteriormente pelo império Medo-Persa, do rei Ciro no ano
536 a.C.135
Propósito
Seu objetivo principal é declarar a soberania de Deus sobre todas as
nações. Uma garantia da sobrevivência do povo de Deus, e do cumprimento de
todas as suas promessas. Motivar o povo à fidelidade da Aliança, no cativeiro.
Estrutura do livro
1. Seção histórica.................... 1-6
2. Seção profética................... 7-12
1. A vida de Daniel............................ 1
2. História: o tempo dos gentios..... 2-7
3. História: a situação de Israel........ 8-12
Fatos interessantes
1. Daniel foi cativo na primeira deportação, cerca de 10.000 pessoas, em 605
a.C. (2Rs 24:12-14).
2. Viveu 90 anos, sendo por 72 anos como oficial nos reinos pagãos.
3. Ele conhecia a profecia de Jeremias de que o cativeiro duraria apenas 70
anos (Jr 25:12; 29:10 e Dn 9:2-3).
4. Um dos poucos homens na Bíblia, de quem não há menção de suas
imperfeições.
135
John C. Jeske, Comentário de Daniel, p. 2.
99
Profetas Menores
O povo de Deus é o povo da Aliança, e o tema Aliança aparece em larga
escala em toda a sua literatura. Esses livros podem ser agrupados em três
períodos de crise à medida que a nação avança em direção ao julgamento.
136
Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 260.
100
OSÉIAS
Título
Autoria
Sabe-se pouco de Oséias, exceto que é “filho de Beeri” e que profetizou
para Israel, reino do Norte, nos últimas trinta anos antes do cativeiro Babilônico.
Evidentemente foi profetizar também para Judá, antes do cativeiro em 722 (1:1).
Destinatários
A profecia deste livro destinava-se originalmente ao reino do Norte (Israel).
Embora sejam mencionados os nomes dos reis de Judá, isto foi feito com a
finalidade de localizar a época (1:4,6,10; 3:1; 4:1,15, etc). Refere-se à Israel
chamando-o “Efraim” (cerca de 37 vezes), em virtude desta poderosa tribo do
centro descendentes do filho de José.
Data
Profetizou durante os reinados de quatro reis de Judá, Uzias a Ezequias,
entre 769 a 697 a.C., e durante o reinado de Jeroboão II de Israel, entre 793 a
752 a.C.
Escrito aproximadamente em 740 a.C. Tendo como contemporâneo o
profeta Isaías.
Contexto histórico
O Sitz im Leben de Oséias era de desordem e inquietude (2Rs 14:2-17:6). A
pressão da Assíria tornava-se cada vez mais intensa e temível. Internamente, a
nação vivia dias de uma diplomacia de mentiras e traições.
Propósito
O propósito deste livro é registrar o convite divino ao arrependimento do
indiferente reino do Norte que se afundava na corrupção. Teria de vir um período
de purificação, quando Israel passaria muitos dias em condição incomum. Deus
revela sua fidelidade com Israel, apesar da sua “prostituição espiritual”.
Análise do conteúdo
O profeta descreve o estado abominável da nação que, à semelhança de
sua esposa, tinha-se entregue à prostituição. Fala sobretudo do infinito amor do
Senhor, sempre pronto a receber o povo de volta para a Aliança, mediante
arrependimento.
Dificuldades de interpretação
101
Fatos interessantes
1. Oséias é conhecido como o “profetas do amor divino”;
2. “Efraim” como a maior tribo de reino do Norte, simboliza Israel nas
profecias do livro (5:3,5,11,13);
3. Os filhos de Oséias possuíram nomes que indicavam a sua mensagem:
- Jesreel (espalhado) o povo seria espalhado no cativeiro
- Lo-Ruhamah (desfavorecida) o povo entraria em juízo
- Lo-Ami (não povo meu) o povo seria rejeitado
JOEL
Título
O nome do profeta significa Yahweh é Deus. O nome do profeta ajusta-se ao
tema principal de sua profecia “sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus” (2:27
e 3:17).
Autoria
Segundo o conteúdo do livro sabemos que era filho de Petuel, profetizou e
residiu em Jerusalém, e pode ter sido sacerdote. Existem na Bíblia, pelo menos,
outras quatorze pessoas com o nome Joel.
O apóstolo Pedro no dia de Pentecoste, inspirado pelo Espírito Santo disse:
“isto é o que foi dito pelo profeta Joel (At 2:16 e Jl 2:28).
Data
Para datarmos este livro precisamos considerar que:
1. Joel é um dos seis Profetas Menores que não tem uma indicação
específica de data no próprio texto (como Obadias, Jonas, Naum,
Habacuque e Malaquias).
2. A importância dos sacerdotes e anciãos e a ausência de referências aos
reis de Judá. Isto subentende-se que o rei era menor de idade, e que
eram os anciãos e sacerdotes os responsáveis pela liderança nacional
(2Rs 11:4).
3. A ausência absoluta de referência à idolatria ao falar dos pecados do
povo;
4. A denúncia de inimigos locais (filisteus e fenícios 3:4, egípcios e
edomitas 3:19), e a total ausência de referências à Assíria, à Babilônia
ou à Pérsia.
5. A posição de Joel antes de Amós no cânon sugere uma data anterior (Jl
3:18 e Am 9:13);
102
Contexto histórico
No cenário internacional, não havia projeção de nenhum grande império.
Todavia, Judá se encontrava em conflito com várias inimigos vizinhos, tais como
Tiro, Sidom, Filístia, Edom e Egito (3:4, 19).
Judá passava por um período de construção após o perverso reinado da
rainha Atalia (841-835 a.C.). Essa reconstrução ocorreu principalmente sob a
liderança do velho sumo sacerdote Joiada, que contribuiu para a morte da rainha
e tornou o Joás, aos seis anos de idade, rei de Judá (2Rs 11:21).
Contexto religioso
A profecia de Joel foi entregue cerca de vinte anos depois que Obadias
exerceu o seu ministério. Joel precedeu os ministérios de Jonas e Amós junto a
Israel, que profetizaram cerca de sessenta anos mais tarde. Joel profetizou para
Judá, Elias pregou em Israel num longo ministério que durou entre 850 a 798
a.C.
O período da adoração a Baal tinha terminado com a purificação de Jeú em
841 a.C., e a de Joiada em Judá em 835 a.C.. Todavia, após aquela purificação, a
verdadeira santidade não se perpetuou, mas passou a prevalecer um espírito de
indiferença. O próprio templo não foi reparado adequadamente antes de 813
a.C., o vigésimo terceiro anos de Joás (2Rs 12:6).
Propósito
Chamar a nação de Judá ao arrependimento como uma reação adequada
aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e seca, para que uma calamidade
mais devastadora não viesse sobre eles. Mantendo-se continuamente fiéis à
Aliança do Senhor.
Apresentar o futuro Dia do Senhor, no qual ele dominará os pagãos,
libertará o seu povo para habitar com ele.
AMÓS
Título
O nome Amós significa “carregador de fardos”.
103
Autoria
Há pouca controvérsia entre os estudiosos quanto à autoria de
Amós. O livro revela algumas características do autor:
1. Nascido em Tecoa, uma pequena aldeia a 8 Km ao sul de Belém.
2. Era homem de negócios, fazendeiro e pregador, embora não fosse um
profeta treinado na escola de profetas. Ocupava-se com a criação de
ovelhas e bois, como também na plantação de frutas (1:1; 7:14).
3. Era hábil escritor e pensador. Seu livro é considerado clássico, tanto no
conteúdo quanto na expressão artística.
4. Tinha um claro senso de justiça social e coragem para confrontos;
5. Foi uma profeta missionário.
6. Estava perfeitamente a par dos acontecimentos sociais e nacionais,
obviamente por ir sempre ao Norte a fim de comerciar os seus
produtos.
Data
Escrito aproximadamente em 760 a.C. Ellisen fornece uma preciosa
contribuição quanto à data da escrita comentando que “o grande terremoto de
1:1 foi evidentemente acompanhado de um eclipse solar, conforme está sugerido
em 8:8-10. Segundo astrônomos, esse eclipse ocorreu em 15 de junho de 763
a.C. A profecia sobre Israel foi proferida dois anos antes, em 765 a.C., e escrita
algum tempo depois do terremoto. Este foi tão violento que Zacarias se referiu a
ele 270 anos mais tarde (Zc 14:5).”137
Contexto histórico
Durante este período tanto o reino do Norte, quanto o Sul desfrutavam de
prosperidade (Am 6:1; 2Rs 14:23-15:7; 2Cr 26). A ideia de um julgamento ou
colapso nacional estava longe do pensamento de todos. Ninguém suspeitava que,
nos próximos dez anos, desordens políticas e assassinatos estremeceriam o país.
Amós foi chamado do seu lar no sul (Judá, governado por Uzias) para
desempenhar um ministério no reino do Norte (Israel, governado por Jeroboão
II). Foi expulso daquele país depois de denunciar Amazias, sacerdote de Betel
(7:10-14).
Contexto religioso
O sistema de adoração do bezerro de ouro em Betel já durava 170 anos.
Betel era também o centro de adoração ao deus Baal.
A nação está moralmente corrompido. A aristocracia era rica e perversa.
Profetas e sacerdotes viviam a serviço dos seus próprios interesses. O poderosos
usurpavam os pobres e viviam na suntuosidade e no vício.
Amós atribuiu toda essa corrupção ao rei e ao sumo sacerdote. Por esse
motivo, declarou que as famílias de Jeroboão II e Amazias, o sacerdote, seriam
destruídas pela espada (7:8, 7).
137
Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 287.
104
Extensão geográfica
Amós vivia a 7 Km ao sul de Jerusalém, nas altas colinas de Judá, perto da
estrada que ia de Jerusalém a Hebrom e Berseba.
Betel (onde Amós profetizou) localizava-se a cerca de 35 Km ao norte de
Tecoa, e a 3 Km ao norte dos limites de Judá. Era o principal santuário de Israel,
residência do sumo sacerdote, enquanto que Jeroboão II morava em Samaria,
cerca de 40 Km também ao norte. Foi daquele centro religioso que Amós se
dirigiu ao povo.
Propósito
Repreender a aristocracia de Israel do iminente julgamento divino sobre a
nação. Essa admoestação não visava apenas a idolatria, mas especialmente à
corrupção espiritual, moral e social.
O povo de Israel estava confiante na crença que, sendo o povo escolhido,
não poderiam ser alcançados por calamidade alguma.
Estrutura do livro
1. 8 profecias contra as nações..... 1-2
2. 3 sermões...................................... 3-6
3. 5 visões.......................................... 7-9:10
4. 5 promessas.................................. 9:11-15
Fatos interessantes
1. O uso da linguagem rural (3:4-5,12; 5:8,19; 9:9);
2. Citações no NT: 4:11 (Rm 9:29); 5:25-27 (At 7:42-43); 8:9 (Mt 24:29);
9:11-12 (At 5:16-18);
3. Os pecados do povo (2:6-8; 3:10; 4:1; 5:10-12; 8:4-6;
OBADIAS
Título
Obadias significa “servo do Yahweh”.
Autoria
Não deve ser confundido com o contemporâneo de Elias, que teve o mesmo
nome (1Rs 18:1-15). As datas não conferem entre este e aquele.
Data
É um dos livros que oferece mais dificuldades para datá-lo. Os estudiosos
conservadores dividem-se, dependendo de como consideram a calamidade de
105
Jerusalém referida nos versículos 10-14. A capital do reino do Sul foi pilhada
cinco vezes durante a monarquia:
926 – pelo Egito, quando Roboão reinava (1Rs 14:25-26);
845 – pelos filisteus e árabes (depois da revolta de Edom, 2Cr 21);
790 – por Israel, quando Joás reinava em Judá (2Cr 24:23-24);
597 – pela Babilônia, quando Joaquim foi exilado (2Rs 24:10-16);
586 – pela Babilônia, quando a cidade e templo foram destruídos (2Rs 25);
Contexto religioso
Elias e Eliseu foram contemporâneos de Obadias. Enquanto Obadias
profetizava contra Edom, Elias e Eliseu falavam no reino do Norte.
Cerca de 845 Judá estava sob o governo de Jeorão, rei ímpio, que com a
iníqua rainha Atalia permitiu o culto a Baal. Acabe e Jezabel tinham introduzido
esse culto em Israel cerca de 25 anos antes. Isso fez com que o Senhor usasse a
invasão estrangeira para punir Judá.
Propósito
Anunciar a destruição final de Edom devido a sua violência, orgulho e
vingança insaciável contra Israel. Reafirmar o triunfo final do monte Sião no Dia
do Senhor, quando Israel possuirá a terra de Edom.
Estrutura do livro
1. Condenação de Edom......... vs. 1-18
2. Restauração de Israel...... vs. 19-21
Fatos interessantes
1. O livro mais curto do AT.
2. A nação de Edom surgiu de Esaú, irmão gêmeo de Jacó.
106
JONAS
Título
O nome Jonas significa “pomba”.
Autoria
A autor foi o próprio Jonas. O fato de tê-lo escrito na terceira pessoa não
nega a sua autoria. Outros escritores do AT seguiram essa prática literária.
Ele é identificado com o profeta de 2Rs 14:25, como o “filho de Amitai”. A
sua cidade natal era Gate-Hefer, uma pequena aldeia de Zebulom, cerca de 3 Km
a nordeste de Nazaré.
Data
Essa profecia foi entregue no início do reinado de Jeroboão II, cerca de
793-753 a.C., anunciando a Israel que o Senhor teria novamente misericórdia
dele (2Rs 14:23-28).
A visita de Jonas a Nínive ocorreu, provavelmente, no fim do seu longo
ministério em Israel, aproximadamente em 765 a.C. O profeta certamente
escreveu o livro após seu retorno e procurou, por meio dele, ministrar a Israel.
Contexto histórico
A Assíria era uma ameaça para Israel desde o tempo de Onri (880 a.C.),
forçando os israelitas a pagarem impostos nos últimos cinquenta anos até
Jeroboão II tornar-se rei. No tempo de Jonas, Israel sentia-se seguro e estava em
ascensão, enquanto a Assíria estava em declínio político.
Esse declínio político havia começado com a morte de Adad-nirari III em
782 a.C., e se estendeu até a vinda de Tiglate-Pileser III em 745 a.C. Depois de
Adad-nirari reinaram Salmanasar IV (782-773) e Asurdam III (773-754). A visita
de Jonas foi provavelmente durante o reinado deste último.
Extensão geográfica
Jonas residia em Gate-Hefer, uma pequena aldeia de Zebulom, cerca de 3
Km a nordeste de Nazaré. Recebeu a “palavra do Senhor” para ir à Nínive.
Todavia, pegou um barco para Társis, cidade portuária ao sul da Espanha, em
direção oposta à que Deus lhe ordenou. No percurso pelo mar Mediterrâneo foi
engolido por um “grande peixe” (1:17) que o levou de volta para o ponto de
partida (2:10).
107
Propósito
O seu objetivo era declarar a universalidade tanto do julgamento, quanto
da graça divina. A história também retrata a verdade de que, quando o povo de
Deus deixa de ter interesse pelos perdidos, perde a perspectiva do seu papel
como representantes e proclamadores da graça e julgamento de Deus.
Estrutura do livro
1. A primeira comissão de Jonas.... 1-2
2. A segunda comissão de Jonas..... 3-4
Análise do conteúdo
O livro Jn é o mais biográfico de todos os profetas. No nacionalismo de
Israel, o povo se esqueceu de sua responsabilidade como representantes de Deus
no mundo.
O livro possui algumas ironias:138
1. Jonas foge da presença de Deus, que ele mesmo crê ser o Deus que
criou o céu e a terra. Nenhum homem consegue fugir da presença de
Deus, pois o seu encontro torna-se mais terrível;
2. Todos obedecem a Deus, menos o próprio profeta;
3. Os marinheiros estão orando, enquanto o profeta está dormindo;
4. O profeta prefere a própria morte, em vez de orar por conversões.
Dificuldades de interpretação
A historicidade dos acontecimentos do livro tem sido desafiada pelos
críticos modernos. O problema não se encontra na hermenêutica, e sim nos
pressupostos que irão norteá-la! Existem duas linhas de interpretação, o
alegórico e o histórico. A primeira afirma que a narrativa é um mito, ou uma
figura fictícia visando transmitir uma verdade moral, semelhante às parábolas. A
segunda perspectiva reconhece-a como fato acontecido. Algumas motivos para
aceitar-se a historicidade do livro:
1. Nenhuma alegoria do AT apresenta um personagem histórico.
2. A narrativa é apresentada como verdadeira, referindo-se a povos e lugares
antigos específicos, a relação com a Assíria (Os 5:13; 10:6; 2 Rs 15:19), o
ateísmo de Nínive (Jn 1:2; Na 3:1; Sf 2:13-15), extensão de Nínive (Jn 3:3).
Não possuí características de ficção.139
138
David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 79.
139
W.G. Kunstmann, Os Profetas Menores, p. 91.
108
MIQUÉIAS
Título
O nome significa “quem é como a Yahweh?” É um nome que expressa bem
a mensagem do livro: “quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a
iniquidade?”(7:18). A nome ocorre de duas modos no hebraico, como aparece no
título hkym ou numa forma mais longa whykym.
Autoria
A autoria de Miquéias é geralmente reconhecida, com exceção de alguns
modernos comentaristas que atribuem as seções de esperança (4-7) a uma época
posterior. Todavia, o livro de Jr (26:18) afirma que Miquéias foi muito respeitado
naquela época (cerca 600 a.C.). O conteúdo do livro é compatível com a época e
as circunstâncias de Miquéias.
Data
Profetizou durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias, que reinaram
consecutivamente de 740 a 697 a.C.(1:1). A sua escrita deve ter se dado antes da
queda da Samaria que ocorreu em 722 a.C.
A data aceita é 730 a.C. aproximadamente.
Contexto religioso
140
Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 245.
109
Propósito
Enfatizar o peso da juízo que estava próximo sobre a nação, por causa de
seus pecados de violência e injustiça social, enquanto fingiam ser religiosos.
O objetivo adicional de Miquéias era lembrar-lhes da futura vinda do
Messias, que surgiria de origem humilde para governar, com justiça e verdade.
Estrutura do livro
1. Ameaça de julgamento........ 1-3
2. Promessa de restauração..... 4-5
3. Chamada ao arrependimento... 6-7
Fatos interessantes
1. A citação de Mq 3:12 em Jr 26:18 (100 anos depois) foi instrumental na
libertação de Jeremias da morte.
2. Na época, a Assíria dominava o mundo, mas Miquéias viu a conquista de
Judá pelos Babilônicos (4:10).
3. Profecias cumpridas:
- A queda da Samaria em 722 a.C...... 1:6,7
- A invasão de Judá em 702 a.C....... 1:9-16
- A queda de Jerusalém em 586 a.C.... 3:12; 7:13
- O exílio babilônico em 586 a.C..... 4:10
- O retorno em 520 a.C............... 4:1-8,13; 7:11,14-17
- Nascimento do Messias em Belém..... 5:2
NAUM
Título
Naum significa “consolação”.
Autoria
Temos pouca informação acerca deste profeta. É provável que tenha
nascido em Elcós, perto de Cafarnaum (do aramaico “cidade da consolação”), na
parte norte da Galiléia (1:1, NVI).
Gênero literário
O livro de pertence ao gênero profético. Contudo, Naum inicia seu livro
com um salmo profético (1:2-2:2).
110
Data
Naum é um dos seis Profetas Menores que não tem data no próprio texto.
Os estudiosos conservadores apontam duas datas diferentes. A primeira, em 710
a.C. durante o reinado de Ezequias, ou 650 a.C. durante o reinado de Manassés.
Entretanto, a data mais provável é 710 a.C., pelos seguintes argumentos:
1. Em 710, os assírios representavam uma grande ameaça a Judá, pois se
dirigiam para o ocidente mais do que em 650, quando o seu poder começou
a cair.
2. A profecia de “consolação” enquadra-se melhor em 710, época de
Ezequias. Quase não havia necessidade de consolação para Judá em 650,
sob o corrompido reinado de Manassés, o mais depravado rei de Judá, cujo
reinado trouxe o julgamento divino.
Contexto histórico
A Assíria continuava a sua conquista para o ocidente, enquanto a Babilônia
exercia o controle no oriente. Diante do ameaçador deslocamento da Assíria para
o ocidente, Ezequias procurou reforçar suas defesas com o auxílio do Egito e da
Babilônia (2Rs 10:12ss; 18:21).
Era uma época de reformas no cenário político mundial e Judá precisava de
consolação divina.
Estrutura do livro
1. Decreto da destruição......... 1
2. Descrição da destruição....... 2-3
Fatos interessantes
1. O seu nome é mencionado apenas uma vez na Bíblia.
2. Os três Profetas Menores que enfatizaram o julgamento contra os inimigos
do povo de Deus: Obadias (Edom), Habacuque (Babilônia) e Naum
(Assíria).
3. Nínive caiu em 612 a.C., cumprindo a profecia de Naum. O rio Tigre
superabundou nas margens, e destruiu uma parte do muro (1:8), por onde
os babilônios entraram, e destruíram a cidade (1:10; 2:13; 3:13-15). A
cidade somente foi descoberta em 1845 d.C..
4. Naum não é citado no NT.
HABACUQUE
Título
Autoria
111
Data
Embora o livro não possua uma datação específica, podemos fazê-lo pelo
seu contexto. Algumas considerações devem ser feitas para encontrarmos uma
data aproximada:
1. A referência aos caldeus, que viriam numa impetuosa ferocidade (1:6),
sugere uma anterior a 605 a.C., ano em que o Egito foi derrotado.
2. A ausência de qualquer referência a Nínive sugere uma data posterior à
destruição dessa cidade em 612 a.C..
3. A grande preocupação do profeta quanto à violência de Judá sugere uma
época posterior à morte de Josias, cerca de 609 a.C., no início do reinado
de Jeoaquim.
4. Portanto, a data mais provável seria 607 a.C., durante o iníquo reinado de
Jeoaquim, antes de Judá ser subjugado por Nabucodonosor em 605 a.C..
Contexto histórico
Verificando a disputa internacional pelo domínio mundial, entre Assíria,
Babilônia e Egito, se encontrava favorecida pelas circunstâncias a Babilônia.
Nínive caiu em 612 a.C., e o exército egípcio seria derrotado em 605 a.C., em
Carquemis. Nabucodonosor estava em ascensão.
Habacuque era contemporâneo do profeta Jeremias, tendo profetizado com
ele para o reino do sul, que caiu num caos nacional. A reforma de Josias
terminou com a sua morte em 509 a.C., e a corrupção implantada por Manassés
perpetuou com rapidez sob o reinado de Jeoaquim. O seu dever como profeta era
enfatizar a santidade divina ao julgar o violento reino de Judá pelos seus
pecados.
Fatos interessantes
1. As predições referentes à queda da Babilônia foram cumpridas cerca de 70
anos depois.
2. No ano de 612 a.C. os babilônios conquistaram Nínive, e construíram o seu
império que dominou toda aquela região.
3. A profecia em 2:14 é pela quinta vez declarada: “a terra se encherá do
conhecimento da glória do Senhor” (Nm 14:21; Sl 72:19; Is 6:3; 11:9).
112
SOFONIAS
Título
Autoria
O profeta é identificado com o trineto de Ezequias (1:1). Certamente, uma
referência ao rei Ezequias que reinou setenta e cinco anos antes dele. Conclui-se
que Sofonias foi o único Profeta Menor pertencente à família real.
Sendo da família real, Sofonias tinha acesso à corte e conhecia bem a
situação religiosa em toda a cidade de Jerusalém.
Data
Sofonias profetizou durante o reinado de Josias, entre 640-609 a.C., e antes
da queda de Nínive em 612 a.C. (1:1; 2:13). Os pecados condenados por
Sofonias, são os mesmos lamentados por Josias (2Cr 34-35; 2Rs 22-23).
A condenação da idolatria e rebeldia, sugere que ele tenha profetizado
antes de 621 a.C., se não antes de 628 a.C., quando Josias executou a sua
reforma. Se a profecia tiver precedido a primeira purificação, a data mais
provável será 630 a.C., mas, se precedeu a purificação posterior, então a data de
escrita será 625 a.C.
Contexto histórico
Sofonias profetizou no início do ministério de Jeremias. A situação mundial
passava por profundas transformações. A Assíria estava em declínio, a Babilônia
ascendia sob o poder de Nabopolassar e o Egito entrava na Palestina, mas com
dificuldades.
Josias começou a reinar em 640 a.C., com oito anos, uma nação
enfraquecida, tanto política quanto moralmente.
Josias começou a reinar após 55 anos de corrupção no reinado de
Manassés e Amom.
Propósito
Advertir a nação sobre a condenação que se aproximava. Ele descreve o
dia da ira do Senhor, mas, também aponta para o livramento que estava mais
adiante.
Fatos interessantes
1. Considerado o mais severo dos profetas;
2. Três espécies de pecadores serão destruídos: 1) os que estão divididos
em sua Aliança com Yahweh, 2) os que abandonaram a Yahweh, 3) os
que nunca procuraram Yahweh;
AGEU
Título
O seu nome está relacionado ao maior objetivo da sua profecia, que era
completar o templo para reiniciar as festividades religiosas.
Autoria
Não fugindo à regra dos demais Profetas Menores, pouco se sabe de Ageu.
Seu nome é mencionado por Esdras (5:1; 6:14).
A tradição judaica afirma que Ageu nasceu na Babilônia, e estudou sob a
orientação de Ezequiel. Provavelmente, veio para Jerusalém após o retorno do
primeiro grupo de exilados em 537 a.C., pois o seu nome não consta na lista dos
que retornaram (Ed 2:2).
Data
Este profeta pertence aos pós-exílicos.
O livro de Ag é um livro muito preciso em sua datação. Datado do segundo
ano do rei Dario Histaspes, cerca 521 a 486 a.C., rei da Pérsia.
Contexto histórico
Após setenta anos de exílio no cativeiro na Babilônia, os judeus
regressaram para a Judéia, sob nova política persa que encorajava os cativos a
sua origem.
O profeta Zacarias foi contemporâneo de Ageu. Os dois tornaram-se os
principais incentivadores dos trabalhos de restauração do templo, convocando o
povo recém chegado do exílio ao trabalho. Durante a sua permanência na
Babilônia, os exilados estavam acostumados viver sem o templo.
A oposição à reconstrução do templo veio dos samaritanos, povo vizinho,
situados ao norte. Essa oposição teve como resultado perseguições e a
construção ficou parada durante 14 anos. A pausa na reconstrução esfriou o
114
Propósito
Alertar aos que retornaram do exílio que continuassem a reconstruir o
templo, mostrando-lhes que os fracassos eram resultado da negligência na obra
do Senhor.
Fatos interessantes
1. É um dos poucos profetas que experimentou o sucesso de sua pregação.
2. É um dos três profetas pós-exílicos.
3. Ageu era mais velho que seu contemporâneo, o profeta Zacarias.
4. Profetizou durante o governo de Zorobabel.
5. A história revela que a impureza e desânimo são mais contagiantes do que
a santidade.
ZACARIAS
Título
Autoria
Zacarias foi um sacerdote, nascido no cativeiro, que voltou para Israel com
seu pai e eu avô (1:1), no primeiro retorno da Babilônia com Zorobabel (Ne 12:4,
16).
A unidade de Zc não contestada até o surgimento da Alta Crítica, com o
erudito de Cambridge, Joseph Mede, em 1653. Desde então, os últimos seis
capítulos de Zc tem sido atribuídos a desconhecidos autores, embora haja o
reconhecimento de que Zacarias tenha escrito os capítulos 1-8. A contestação da
autoria de Zacarias a todo livro, tem se baseado nos seguintes argumentos:
1. Mt 27:9-10 parece atribuir Zc 11:12-13 a Jeremias;
2. A referência à Assíria (Zc 10:10-11) parece sugerir uma época anterior
a 612 a.C., data da queda de Nínive;
3. A referência à Grécia em 9:13 sugere uma data posterior a Alexandre, o
Grande;
4. O conteúdo apocalíptico de 9-14 sugere uma data depois do terceiro
século;
115
Data
As três seções de Zacarias possuem data exata, mas os últimos seis capítulos não
tem:
1:1-6................ 520 a.C. depois da primeira mensagem de Ageu (Ag 1:1)
1:7-6:15.......... 519 a.C. depois da última mensagem de Ageu (Ag 2:18)
7-8................... 518 a.C.
9-14................. 480 a.C. aproximadamente.
Contexto histórico
O cenário dos capítulos 1-8 envolve problemas na reconstrução do templo,
com considerável oposição local e desencorajamento do povo. O contexto dos
últimos capítulos 9-14 parece ser diferente. O templo já não é a preocupação
central. Dário tentou aumentar seu reinado persa até a Europa, mas foi
derrotado pelas cidades gregas na batalha de Maratona, em 490 a.C. Seu filho
Assuero (marido de Ester), numa investida em 480 a.C., sofreu uma derrota
ainda maior em Salamina, o que mudou o curso do avanço persa no ocidente.
Foi nesse contexto histórico que Zacarias escreveu os capítulos 9-14,
começando com a descrição detalhada de uma invasão grega que se apossaria de
toda a Palestina com exceção de Jerusalém, que seria poupada e protegida
miraculosamente pelo Senhor (9:1-8). Os exilados que ainda se achavam na
Babilônia foram incentivados a voltar devido à promessa do Senhor de defendê-
los e lhes dar poder.
Estrutura do livro
1. 8 visões.................. 1-6
2. 4 mensagens.......... 7-8
116
3. 3 reprovações........ 9-14
Fatos interessantes
1. Zacarias é o único Profeta Menor identificado como sacerdote. Sendo
que Jeremias e Ezequiel, Profetas Maiores, também foram sacerdotes.
2. Zacarias profetizou aos cativos que retornaram da Babilônia com
Zorobabel, era parceiro de Ageu (Ed 5:1; 6:14).
3. O maior dos Profetas Menores.
4. As 8 visões foram dadas numa só noite.
5. “Assim diz o Senhor” ocorre 89 vezes.
6. “O Senhor dos Exércitos” ocorre 36 vezes.
MALAQUIAS
Título
Malaquias significa “meu mensageiro”, pode ainda ser, uma contração das
palavras hebraicas malak Yah que significa “mensageiro do Senhor”. É possível
que este não seja propriamente um nome, mas um título.
Autoria
Do profeta nada mais se sabe, senão o seu nome. Seus ancestrais não são
identificados, nem nenhum personagem de importância histórica, nem cidade
natal, cargo secular ou data de ministério.
Algumas versões antigas obscurecem a autoria. No Targum de Jonatas ben-
Uzziel são adicionadas as palavras “cujo nome é chamado Esdras, o escriba”. A
LXX traduz “Sentença do Senhor a Israel, pela mão de seu mensageiro”.141
Não há motivos sólidos para se negar a autoria de Malaquias pelo fato de
nenhum outro livro bíblico falar da família, ou função do autor, que se preocupou
mais em entregar a sua mensagem com fidelidade, do que apresentar uma
esclarecedora autobiografia.
Malaquias foi a voz profética final. Contemporâneo de Esdras, sacerdote e
historiador que escreveu antes e depois dele. Foi o último profeta para o povo da
antiga Aliança, ministrando cerca de 1.000 anos depois de Moisés.
Data
Malaquias é o último dos seis Profetas Menores não datados. Todavia,
pode-se chegar à data aproximada pelas referências históricas do texto:
1. Os edomitas tinham sido levados do monte Seir, mas não tinham voltado, o
que sugere uma posterior a 585 a.C. (1:3-4).
2. Os exilados tinham voltado, reconstruído o templo e caído no comodismo e
na formalidade ritualista (1:6 ss).
141
Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 958.
117
3. Não estavam mais sob o governo de Neemias, mas sob domínio persa, que
era passível a suborno (1:8).
4. Os problemas morais e religiosos eram semelhantes aos enfrentados por
Esdras e Neemias. Por exemplo, materialismo (Ne 13:15 e Ml 3:5,9), e
casamento com pagãos (Ed 10:2 ss, e Ml 2:1 ss).
5. Essas observações sugerem uma data aproximada de 430 a.C.. Depois de
Neemias ter voltado para a Pérsia em 432 a.C., por um curto período, e que
estando ausente de Jerusalém, antes do seu retorno depois de 430 a.C. (Ne
13:6-31).
Contexto religioso
O templo havia sido reconstruído sob o governo de Zorobabel, em 516 a.C.,
o sistema de culto restaurado em 457 a.C. por Esdras, e o muro de Jerusalém
reconstruído, por Neemias em 444 a.C.. Todavia, a situação espiritual
predominante era de infidelidade, indiferença e ceticismo.
Propósito
Seu objetivo foi despertar o povo de sua indiferença, e repreendê-lo em sua
infidelidade, para que o Senhor os abençoasse.
Estrutura do livro
O livro segue uma estrutura de um diálogo imaginário entre Deus e a
situação de Judá. Este diálogo compõe-se de acusação, interrogação e refutação:
1. Reprovação contra a hipocrisia dos sacerdotes...... 1:1-2:9
2. Reprovação contra a infidelidade conjugal.............. 2:10-16
3. Reprovação contra a indiferença do povo.............. 2:17-3:6
4. Reprovação contra a infidelidade dízimo................ 3:7-12
5: Reprovação contra o ceticismo................................ 3:13-4:6
Esboço
1. Tema e apresentação do profeta................................ 1:1
2. O amor incondicional por Israel................................ 1:2-5
3. A rejeição dos sacrifícios impuros............................. 1:6-14
4. A Repreensão dos sacerdotes..................................... 2:1-9
5. A infidelidade conjugal................................................ 2:10-16
6. O Dia do Julgamento.................................................. 2:17-3:5
7. A infidelidade nos bens.............................................. 3:6-12
8. O ceticismo sobre a justiça divina............................ 3:13-18
8. O Dia do Senhor......................................................... 4
Análise do conteúdo
Em Ml temos a profecia dentro da Lei. Reafirma verdades ensinadas pelos
profetas anteriores a si mesmo, quanto ao amor e providência divina, e
julgamento do impiedade e infidelidade. Sua apresentação tolerante recebe
severa condenação. Sua exortação final é “lembra-te da Lei de Moisés (4:4).
Fatos interessantes
1. Contemporâneo de Neemias (2:7; 3:1);
2. A última profecia refere-se explicitamente à João Batista e à Jesus (3:1-
3);
3. João Batista é realmente o único profeta que é objeto de qualquer
profecia;
4. A última palavra do AT é “maldição”;
5. De 55 versículos, Deus fala 47.
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